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15-23) (7)
Dentro deste plano soberano e majestoso de Deus, várias etapas são cumpridas
na história.
O auditório para o qual Paulo pregou era constituído de mulheres (At 16.11-13).
Narra Lucas:
Este é o modo essencial do Senhor agir. Lídia, não foi uma exceção, antes, uma
demonstração do que Deus faz no processo de constituir a Sua igreja. Ele nos al-
cança pela graça que nos advém pela Palavra, nos fazendo entender a Sua mensa-
gem, e a confessar a Cristo como nosso Senhor.
Paulo trataria posteriormente deste assunto: “Se, com a tua boca, confessares
Jesus como Senhor e, em teu coração, creres que Deus o ressuscitou dentre os
mortos, serás salvo. Porque com o coração se crê para justiça e com a boca se con-
fessa a respeito da salvação” (Rm 10.9-10).
Quando o carcereiro de Filipos fez a pergunta mais significativa de toda a sua vi-
da: “Senhores, que devo fazer para que seja salvo?” (At 16.30), ouviu a resposta de
alcance temporal e eterno: “Crê no Senhor Jesus e serás salvo, tu e tua casa” (At
16.31). Assim como Lídia, ele e sua família creram no Senhor. Isso, foi pela graça.
Ele não estava teorizando sobre teologia. Na realidade, apresentou a sua convic-
ção conforme o próprio Senhor lhe demonstrara ao levá-lo à casa de Cornélio (At
10.1-43; 11.1-18).
1
Veja-se: Philip Schaff, History of the Christian Church, Peabody, Massachusetts: Hendrickson Pub-
lishers, 1996, v. 1, p. 456.
2
Broadus B. Hale, Introdução ao Estudo do Novo Testamento, Rio de Janeiro: JUERP., 1983, p. 17.
Variando as estimativas entre 394 e 480 (Cf. Philip Schaff, History of the Christian Church, Peabody,
Massachusetts: Hendrickson Publishers, 1996, v. 1, p. 457).
A Oração intercessória do Apóstolo (Ef 1.15-23) (7) - Rev. Hermisten – 30/01/2016 – 3
“Justificados, pois, mediante a fé, temos paz com Deus por meio de nosso Se-
nhor Jesus Cristo; 2 por intermédio de quem obtivemos igualmente acesso, pela
fé, a esta graça na qual estamos firmes; e gloriamo-nos na esperança da glória de
Deus. (...) 11 e não apenas isto, mas também nos gloriamos em Deus por nosso
Senhor Jesus Cristo, por intermédio de quem recebemos, agora, a reconciliação”
(Rm 5.1,2,11/Rm 1.7; 16.20,24; 1Co 1.3).
3
“Agora, pois, já nenhuma condenação há para os que estão em Cristo Jesus” (Rm 8.1). “ Que di-
31
remos, pois, à vista destas coisas? Se Deus é por nós, quem será contra nós? Aquele que não
32
poupou o seu próprio Filho, antes, por todos nós o entregou, porventura, não nos dará graciosamente
com ele todas as coisas? Quem intentará acusação contra os eleitos de Deus? É Deus quem os
33
4
conforme o propósito de Deus, para as boas obras, fruto da fé, preparadas pelo
próprio Deus para o Seu povo (Ef 2.10). A justificação é frutuosa.
4
Vejam-se: Catecismo de Heidelberg, p. 86; Confissão Belga, Art. 24; Segunda Confissão Helvética,
XVI.2; Confissão de Westminster, XVI.2.
5
“.... nunca se deve abrir uma lacuna entre a justificação e a santificação. (...) Você não
pode, você não deve tentar dividir Cristo. É falsa a doutrina que diz que você pode ser justi-
ficado sem ser santificado. É impossível; você é ‘santo’ antes de ser ‘fiel’. Você foi separado.
É por isso que você crê. Estas coisas estão entrelaçadas indissoluvelmente. Não permita Deus
que as separemos ou que as dividamos, jamais!” (D.M. Lloyd-Jones, O Supremo Propósito de
Deus, São Paulo: Publicações Evangélicas Selecionadas, 1996, p. 33).
6
“ nos predestinou para ele, para a adoção de filhos, por meio de Jesus Cristo, segundo o benepláci-
5
to de sua vontade, (...) em quem também vós, depois que ouvistes a palavra da verdade, o evange-
13
lho da vossa salvação, tendo nele também crido, fostes selados com o Santo Espírito da promessa;
o qual é o penhor da nossa herança, até ao resgate da sua propriedade, em louvor da sua glória”
14
(Ef 1.5,13-14).
7
“ Porque pela graça sois salvos, mediante a fé; e isto não vem de vós; é dom de Deus; não de o-
8 9
bras, para que ninguém se glorie. Pois somos feitura dele, criados em Cristo Jesus para boas o-
10
bras, as quais Deus de antemão preparou para que andássemos nelas” (Ef 2.8-10).
A Oração intercessória do Apóstolo (Ef 1.15-23) (7) - Rev. Hermisten – 30/01/2016 – 5
8
8.14), desenvolvendo em nós, ou seja, em todos os cristãos, o caráter de Cristo que
9
consiste no fruto do Espírito.
F. CONFIRMA-NOS
“4 Sempre dou graças a meu Deus a vosso respeito, a propósito da sua graça,
que vos foi dada em Cristo Jesus; 5 porque, em tudo, fostes enriquecidos nele,
em toda a palavra e em todo o conhecimento; 6 assim como o testemunho de
Cristo tem sido confirmado em vós, 7 de maneira que não vos falte nenhum dom,
aguardando vós a revelação de nosso Senhor Jesus Cristo, 8 o qual também vos
confirmará até ao fim, para serdes irrepreensíveis no Dia de nosso Senhor Jesus
Cristo. 9 Fiel é Deus, pelo qual fostes chamados à comunhão de seu Filho Jesus
Cristo, nosso Senhor” (1Co 1.4-9).
Paulo dirigindo-se à igreja de Tessalônica que vivia sob pressão, a consola e es-
timula na certeza do cuidado preservador de Deus: “Todavia, o Senhor é fiel; ele vos
confirmará e guardará do Maligno” (2Ts 3.3).
8
Veja-se: Hendrikus Berkhof, La Doctrina del Espíritu Santo, Buenos Aires: Junta de Publicaciones de
las Iglesias Reformadas; Editorial La Aurora, (1969), p. 80. Do mesmo modo, A.A. Hoekema, Salvos
pela Graça, São Paulo: Cultura Cristã, 1997, p. 37.
9
Veja-se: James M. Boice, Fundamentos da Fé Cristã: Um manual de teologia ao alcance de todos,
Rio de Janeiro: Editora Central Gospel, 2011, p. 330-333.
A Oração intercessória do Apóstolo (Ef 1.15-23) (7) - Rev. Hermisten – 30/01/2016 – 6
Aqui aprendemos também que devemos reservar um tempo para orar pelos nos-
sos irmãos e por nós mesmos. Nem sempre somos tão dignos de amor como imagi-
namos. Paulo ora no sentido de que o amor aumentasse reciprocamente. Este cres-
cimento no amor se manifestaria em santidade na presença de Deus.
Deus cuida de sua igreja de forma amorosa e terna. Ele nos conduz suavemente
em prol de uma vida mais rica na sua presença. A igreja é constituída de crentes
que ainda são pecadores, mas, que são amados e mantidos próximos de Deus, sen-
do assim guardados.
10
Ocorre apenas duas vezes no NT., unicamente em Efésios: 5.29 e 6.4. A palavra apresenta a ideia
de alimentar, sustentar, nutrir, educar. Calvino diz que este verbo “inquestionavelmente comunica
a ideia de gentileza e afabilidade” (João Calvino, Efésios, (Ef 6.4), p. 181).
11
Conferir, entre outros: William F. Arndt; F. Wilbur Gingrich A Greek-English Lexicon of the New Tes-
tament, Chicago: The University of Chicago Press , 1957, p. 351
12
1Ts 2.7.
13
Aqui há uma variante textual que em nada modifica o sentido ou a teologia do texto. Em muitos
manuscritos aparece a palavra Ku/rioj.
14
William Hendriksen, Efésios, São Paulo: Casa Editora Presbiteriana, 1992, (Ef 5.30), p. 317.
A Oração intercessória do Apóstolo (Ef 1.15-23) (7) - Rev. Hermisten – 30/01/2016 – 7
Na narrativa da perseguição perpetrada por Herodes, Tiago foi morto. Pedro per-
maneceu preso sob forte vigilância. No entanto, dentro do sábio propósito de Deus,
Ele libertou miraculosamente a Pedro por meio de um anjo (At 12.6-10). Na sequên-
cia, lemos:
“11Então, Pedro, caindo em si, disse: Agora, sei, verdadeiramente, que o Se-
nhor enviou o seu anjo e me livrou da mão de Herodes e de toda a expectativa do
povo judaico. 12 Considerando ele a sua situação, resolveu ir à casa de Maria,
mãe de João, cognominado Marcos, onde muitas pessoas estavam congregadas
e oravam. 13Quando ele bateu ao postigo do portão, veio uma criada, chamada
Rode, ver quem era; 14 reconhecendo a voz de Pedro, tão alegre ficou, que nem
o fez entrar, mas voltou correndo para anunciar que Pedro estava junto do portão.
15
Eles lhe disseram: Estás louca. Ela, porém, persistia em afirmar que assim era.
Então, disseram: É o seu anjo. 16 Entretanto, Pedro continuava batendo; então,
eles abriram, viram-no e ficaram atônitos. 17 Ele, porém, fazendo-lhes sinal com a
mão para que se calassem, contou-lhes como o Senhor o tirara da prisão e a-
crescentou: Anunciai isto a Tiago e aos irmãos. E, saindo, retirou-se para outro
lugar” (At 12.11-17).
À frente, fala como o Deus que o vocacionou o tem assistido em meio ao seu pro-
cesso e julgamento. Ao mesmo tempo, dá um tom escatológico à sua fé, mostrando
que Deus o guardará seguro até à eternidade:
“17Mas o Senhor me assistiu e me revestiu de forças, para que, por meu inter-
médio, a pregação fosse plenamente cumprida, e todos os gentios a ouvissem; e
fui libertado da boca do leão. 18 O Senhor me livrará também de toda obra malig-
na e me levará salvo para o seu reino celestial. A ele, glória pelos séculos dos sé-
culos. Amém!” (2Tm 4.17-18). (Vejam-se também: Rm 14.4; Ef 6.10; 2Pe 2.9).
Nos momentos mais difíceis, Deus tem preservado a sua igreja; Ele jamais a a-
bandona. O seu alvo final é escatológico conforme bem percebe o Apóstolo Paulo.
É maravilhoso para nós saber que não acasos em nossa existência, mas, tudo o
que nos ocorre está de alguma forma envolvido no grande propósito de Deus e, que
15
a nossa vida está nas mãos do Senhor. Ninguém será deixado para trás. Deus, o
Senhor nos preservará até o fim.
15
D.M Lloyd-Jones, Salvos desde a Eternidade, São Paulo: Publicações Evangélicas Selecionadas,
2005 (Certeza Espiritual: v. 1), p. 17; D.M. Lloyd-Jones, Seguros Mesmo no Mundo, São Paulo: Pu-
blicações Evangélicas Selecionadas, 2005 (Certeza Espiritual: v. 2), p. 35.
A Oração intercessória do Apóstolo (Ef 1.15-23) (7) - Rev. Hermisten – 30/01/2016 – 8
Posteriormente, preso em Roma, Paulo testemunha como a sua prisão era esti-
mulante a diversos irmãos: “A maioria dos irmãos, estimulados no Senhor por mi-
nhas algemas, ousam falar com mais desassombro a palavra de Deus” (Fp 1.14).
O Senhor cuida de Sua igreja de modo surpreendente. Por vezes o nosso aparen-
te fracasso se manifesta em grandes vitórias sob o cuidado soberano e pastoral de
Deus. Outras vezes, o nosso trabalho e testemunho cotidianos, que parecem ser tão
rotineiros, se mostram, por graça, poderosos no crescimento e amadurecimento da
igreja.
O contexto de Atos nos diz que enquanto a igreja pregava a Palavra, vivia em
comunhão, participava publicamente do culto, da Ceia, orava e louvava a Deus, “a-
crescentava-lhes (prosti/qhmi) o Senhor (ku/rioj), dia a dia, os que iam sendo sal-
vos” (At 2.47). O verbo, no modo imperfeito ativo apresenta a ideia de que a obra de
Deus vinha sendo feita e continuava pelo poder de Deus (Vejam-se: At 2.41; 5.14;
11.24).
É o Senhor Quem faz a Sua igreja crescer por meio das conversões que Ele
mesmo opera. Todavia Ele o faz, ordinariamente, por intermédio da pregação da Pa-
lavra dos que foram transformados e congregados à igreja evidenciando os frutos do
Espírito tão presentes na vida destes cristãos descritos em Atos.
17
O substantivo “perseguição” (Diwgmo/j = “caça”, “pôr em fuga”) dá a entender a figura simbólica de
um animal caçado, de uma presa perseguida, de um tormento incansável e sem misericórdia. Esta
palavra denota mais especificamente as perseguições promovidas pelos inimigos do Evangelho; ela
se refere sempre à perseguição por motivos religiosos (Vejam-se: Mc 4.17; At 8.1; 13.50; Rm 8.35;
2Tm 3.11). O verbo Diw/kw é utilizado sistematicamente para aqueles que perseguiam a Jesus, os
discípulos e a Igreja (Mt 5.10-12; Lc 21.12; Jo 5.16; 15.20). Lucas emprega este mesmo verbo para
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O verbo usado para descrever a “dispersão” – diaspei/rw – (At 8.1,4), está ligado
à sementeira e semeadura, sendo empregado unicamente por Lucas no Novo Tes-
tamento e somente para descrever este episódio (*At 8.1,4; 11.19). Assim, por meio
da perseguição, os discípulos saíram de Jerusalém levando as Boas Novas do E-
vangelho (At 8.4), semeando a semente do Evangelho de Cristo (1Pe 1.23).
Filipe, um dos diáconos eleitos (At 6.5), pregou em Samaria e muitos se converte-
ram (At 8.5-8), posteriormente ele evangelizou, mediante a direção de Deus (At
8.26), um judeu etíope, que era tesoureiro da rainha Candace – título esse seme-
lhante ao de “Faraó”, não indicando o nome próprio de uma pessoa –, que se con-
verteu, sendo então batizado (At 8.38). Após o batismo do etíope, “.... Filipe veio a
achar-se em Azôto; e, passando além, evangelizava todas as cidades até chegar a
Cesaréia” (At 8.40).
Deste modo, devemos aprender a confiar em Deus, realizando a obra que Ele nos
confiou a fazer, deixando o resultado com Deus. Ele é o Senhor da Igreja. Ele aben-
çoa o nosso trabalho feito em Seu nome. No Senhor, o nosso trabalho nunca será
em vão (1Co 15.58).
descrever a perseguição que Paulo efetuou contra a Igreja (At 22.4; 26.11; 1Co 15.9; Gl 1.13,23; Fp
3.6), sendo também a palavra utilizada por Jesus Cristo quando pergunta a Saulo do porquê de sua
perseguição (At 9.4-5/At 22.7-8/At 26.14-15). Paulo diz que antes perseguia a igreja (Fp 3.6), mas,
agora, prosseguia para o alvo (Fp 3.12,14).
A Oração intercessória do Apóstolo (Ef 1.15-23) (7) - Rev. Hermisten – 30/01/2016 – 11
rem à igreja. Todos os crentes recebem do Senhor talentos para servir nessa igreja.
A concessão graciosa de talentos, não elimina nem diminui a nossa responsabilida-
18
de de agir como servos (escravos) de Cristo.
Por sua vez, os dons recebidos têm muito a ver com as habilidades com as quais
nascemos, mas que na realidade, foram dadas também por Deus.
“No Novo Testamento, ninguém vinha à Igreja simplesmente para ser salvo
e feliz, mas para ter o privilégio de servir ao Senhor. E nós deveríamos ter di-
ante de nós, o benefício que recebemos de servir e trabalhar na Igreja”, a-
19
centua Karl Barth (1886-1968).
Assim, é Deus mesmo e não outro, Quem nos concede talentos para servi-Lo (Ef
4.7,11/1Co 12.11,18), portanto a nossa atitude de consciente e real humildade (1Co
4.7; 1Co 15.10), visto que Deus nos concedeu os talentos para o serviço do Reino:
“A manifestação do Espírito é concedida a cada um, visando a um fim proveitoso”
(1Co 12.7).
Paulo continua: “Para que não haja divisão no corpo; pelo contrário, cooperem os
20
membros, com igual cuidado (merimna/w = “preocupação”), em favor uns dos ou-
tros” (1Co 12.25).
18
Quanto à questão bíblica de que todos nós somos escravos de Cristo, veja-se o excelente livro:
John MacArthur, Escravo: A verdade escondida sobre nossa identidade em Cristo, São José dos
Campos, SP.: Fiel, 2012.
19
Karl Barth, The Faith of the Church: A commentary on the Apostle’s Creed according to Calvin’s
Catechism, Great Britain: Fontana Books, 1960, p. 116.
20
A palavra tem o sentido de solicitude, preocupação e inquietação. Ela ocorre 18 vezes no NT. O
seu uso no Novo Testamento não tem um sentido apenas negativo; Paulo a emprega positivamente,
como por exemplo no texto citado (1Co 12.25). Do mesmo modo, quando se refere a Timóteo: “Por-
que a ninguém tenho de igual sentimento, que sinceramente cuide (Merimnh/sei) dos vossos interes-
ses” (Fp 2.20) e, também quando descreve as suas lutas em favor da Igreja: “Além das cousas exte-
riores, há o que pesa sobre mim diariamente, a preocupação (Me/rimna) com todas as Igrejas” (2Co
11.28).
O termo também é usado negativamente: Jesus, o emprega duas vezes neste sentido: “Não an-
deis ansiosos (merimna=te) pela vossa vida...” (Mt 6.25). A Marta, inquieta com os seus afazeres e di-
ante da aparente inércia de Maria, diz: “Marta! Marta! andas inquieta (Merima=j) e te preocupas com
muitas coisas” (Lc 10.41).
A Oração intercessória do Apóstolo (Ef 1.15-23) (7) - Rev. Hermisten – 30/01/2016 – 12
Paulo, também trata dessa questão, dizendo aos filipenses: “Não andeis ansiosos (Merimna/w) de
cousa alguma....” (Fp 4.6). No entanto, esta exortação pode parecer inócua sem a indicação de um
caminho eficaz para a canalização de nossas ansiedades existentes... Paulo então, propõe a solução
para o problema: “... Em tudo, porém, sejam conhecidas diante de Deus as vossas petições, pela o-
ração e pela súplica, com ações de graça” (Fp 4.6). A oração oferece-nos um abrigo onde podemos
nos ocultar das preocupações mundanas, um lugar onde ficamos a sós com Deus, um refúgio onde
renovamos a esperança, onde nossos cuidados com as coisas deste século ficam amortecidas. A o-
ração é o caminho pelo qual iniciamos a caminhada indicada por Pedro; é o meio fornecido por Deus
para que possamos combater a ansiedade: “Lançando sobre ele toda a vossa ansiedade
(Me/rimnan), porque Ele tem cuidado de vós” (1Pe 5.7). (Ver: John MacArthur Jr., Abaixo a Ansieda-
de, São Paulo: Editora Cultura Cristã, 2001, especialmente, p. 27-38).
21
João Calvino, Exposição de 1 Coríntios, São Paulo: Paracletos, 1996, (1Co 4.7), p. 134.
22
João Calvino, Exposição de 1 Coríntios, São Paulo: Paracletos, 1996, (1Co 12.7), p. 376.
23
A ideia da palavra é de preparar de forma adequada e própria (espiritual, intelectual e moral) para a
execução de determinada tarefa. O seu sentido é mais funcional do que qualitativo (Cf. R. Schippers,
R. Retidão: In: Colin Brown, ed. ger. O Novo Dicionário Internacional de Teologia do Novo Testamen-
to, v. 4, p. 215). O verbo katarti/zw tem um amplo sentido de restauração: consertar as redes (Mt
4.21; Mc 1.19); boa instrução (Lc 6.40); perfeita união (1Co 1.10); aperfeiçoar/equipar [2Co 13.11; Hb
13.21; 1Pe 5.10; 2Co 13.9 (kata/rtisij)]; correção (Gl 6.1); reparo (1Ts 3.10), formar (Hb 10.5; 11.3).
O termo grego utilizado por Paulo, no campo cirúrgico, era usado para “consertar um osso quebra-
do”. “Ajustar em conjunto num só corpo” (David M. Lloyd-Jones, A Unidade Cristã, São Paulo:
Publicações Evangélicas Selecionadas, 1994, p. 172). “A ideia fundamental do termo é de pôr
nas condições em que devem estar já uma coisa ou uma pessoa” (William Barclay, Efésios,
Buenos Aires: La Aurora, 1973, p.156). Calvino diz que o termo grego “significa literalmente a mú-
tua adaptação [= coaptitionem] de coisas que devem ter simetria e proporção; assim co-
mo, no corpo humano, há uma combinação apropriada e regular dos membros; de modo
que o termo é também usado para ‘perfeição’. Mas como a intenção de Paulo aqui é ex-
pressar um arranjo simétrico e metódico, prefiro o termo constituição [= constitutio]. Pois, es-
tritamente falando, o latim indica uma comunidade, ou reino, ou província, como constituí-
da, quando a confusão dá lugar ao estado regular e legítimo” (João Calvino, Efésios, São
Paulo: Paracletos, 1998, (Ef 4.12), p. 124).
24
João Calvino, Efésios, (Ef 4.11), p. 119.
A Oração intercessória do Apóstolo (Ef 1.15-23) (7) - Rev. Hermisten – 30/01/2016 – 13
Observemos que estes ofícios (Ef 4.11), foram instituídos para o aperfeiçoamento
dos santos a fim de que estes cumpram o seu serviço na Igreja; ou seja: o trabalho
não é apenas pastoral ou dos Presbíteros Regentes e Diáconos, é também e fun-
damentalmente comunitário. Toda a Igreja é responsável: Lutero falou do Sacerdó-
cio Universal dos Crentes; pois bem, este texto nos fala do ministério universal dos
crentes. O carisma traz implicações de responsabilidade com a edificação de nossos
irmãos. Na Igreja de Cristo não pode haver a divisão entre aqueles que trabalham e
os que apenas ouvem comodamente... Todos somos chamados e capacitados ao
25
trabalho cristão.
Notemos também, que Paulo está dizendo que todos os membros da Igreja são
santos. Isso aponta para o nosso privilégio (somos santificados em Cristo Jesus) e
nossa responsabilidade (devemos progredir em santidade). Neste ponto, a Igreja so-
fre tremendamente, porque ela abandonou a sua realidade e a sua meta de santida-
de (separação) e cada vez mais intensamente se parece com o mundo: na sua for-
ma de pensar, de falar, de sentir, de vestir e de fazer... Ao invés desse comporta-
mento aprendido por osmose sugerir maturidade, é, na verdade, um sintoma de in-
fantilidade crônica: temos de modo demasiado, falado, sentido e pensado como
meninos; enquanto que o propósito de Deus para o Seu povo é o inverso: que pen-
semos, sintamos e falemos como pessoas maduras na fé (1Co 13.11/1Co 3.1-2; Hb
26
5.11-14; 2Pe 3.18). Paulo contrasta aqui os “meninos” (nh/pioj = “bebê”, “imaturo”,
“criança pequena”) (Ef 4.14) com a “perfeição” (te/leioj = “maduro”) (Ef 4.13). Cal-
vino comenta: “Crianças são aqueles que ainda não deram um passo no ca-
minho do Senhor, senão que hesitam, que não determinaram ainda que ru-
mo devem tomar, mas que se movem às vezes numa direção e às vezes
noutra, sempre duvidosos, sempre ziguezagueando”.
27
25
“Não há crescimento em igrejas que dependem de algumas poucas pessoas e os demais
membros são espectadores. Sempre existe progresso e multiplicação em igrejas cujos mem-
bros são vibrantes e intentam servir a Cristo” (Iain Murray, A Igreja: Crescimento e Sucesso: In: Fé
para Hoje, São José dos Campos, SP.: Fiel, nº 6, 2000, p. 20).
26
“Eu, porém, irmãos, não vos pude falar como a espirituais, e sim como a carnais, como a crianças
em Cristo. Leite vos dei a beber, não vos dei alimento sólido; porque ainda não podíeis suportá-lo.
Nem ainda agora podeis, porque ainda sois carnais” (1Co 3.1-2). “A esse respeito temos muitas coi-
sas que dizer e difíceis de explicar, porquanto vos tendes tornado tardios em ouvir. Pois, com efei-
12
to, quando devíeis ser mestres, atendendo ao tempo decorrido, tendes, novamente, necessidade de
alguém que vos ensine, de novo, quais são os princípios elementares dos oráculos de Deus; assim,
vos tornastes como necessitados de leite e não de alimento sólido. Ora, todo aquele que se alimen-
13
ta de leite é inexperiente na palavra da justiça, porque é criança. Mas o alimento sólido é para os
14
adultos, para aqueles que, pela prática, têm as suas faculdades exercitadas para discernir não so-
mente o bem, mas também o mal” (Hb 5.11-14/2Pe 3.18).
27
João Calvino, Efésios, (Ef 4.14), p. 127.
28
Veja-se: Hermisten M.P. Costa, Eu Creio, São Paulo: Parakletos, 2002, p. 250-251.
A Oração intercessória do Apóstolo (Ef 1.15-23) (7) - Rev. Hermisten – 30/01/2016 – 14
quase morto (At 14.8-20). Por sua vez, “o progresso da igreja é marcado por
um crescimento da infância até a maturidade, na medida em que ela as-
sume o caráter de sua cabeça, Cristo”.
29
Paulo para descrever esta inconstância infantil, usa um termo náutico que se refe-
re a uma pequena embarcação que, em mar aberto não consegue manter o curso
certo (kludwni/zomai = “ser arrastado, levado pelas ondas”)(Ef 4.14). Metaforica-
mente tem o sentido de “ser agitado mentalmente”. A ideia é a de andar em círcu-
los, diante da variedade de ensinamentos. “Ele os compara com as palhas ou
outros elementos leves, os quais são rodopiados pela força do vento a soprar
em círculo ou em direções opostas”.
30
Tomando as figuras usadas por Paulo, podemos observar que a criança gosta de
entretenimento, novidade e indisciplina; se não tivermos firmeza doutrinária, se não
estivermos ancorados na Palavra, seremos conduzidos de forma constante e sem
direção. Este exemplo negativo temos nos gálatas, aos quais, Paulo escreve: “Admi-
ra-me que estejais passando tão depressa daquele que vos chamou na graça de
Cristo, para outro evangelho” (Gl 1.6). “Vós corríeis bem; quem vos impediu
31
(e)gko/ptw) de continuardes a obedecer à verdade?” (Gl 5.7). Este impedimento
pode ser proveniente do diabo por meio de seus agentes (1Ts 2.14-18) ou do próprio
32
coração humano, onde reside a raiz de nossos pecados.
Calvino comentando a facilidade com que quase todos se curvaram diante do de-
creto idólatra de Nabucodonosor (Dn 3.2-7), sustenta que a base de nossa firmeza
doutrinária está no apego irrestrito à Palavra:
“..... nada é firme, nada é estável entre os gentios; indivíduos que não
foram instruídos na escola de Deus o que significa a verdadeira religião.
Pois oscilam a todo instante ao sabor de qualquer brisa. Assim como as fo-
lhas se movem quando o vento sopra por entre as árvores, assim também
todos os que não estão enraizados na verdade de Deus oscilarão e serão
lançados para frente e para trás quando algum vento começa a soprar.
O decreto régio não constitui uma brisa leve, e, sim, uma violenta tempes-
29
Ralph P. Martin, Efésios: In: Comentário Bíblico Broadman, Rio de Janeiro: JUERP., 1985, v. 11, p.
190.
30
João Calvino, Efésios, (Ef 4.14), p. 128.
31
No seu emprego militar esta palavra tinha o sentido de cortar uma árvore para causar um impedi-
mento ou, abrir uma vala que obstaculizasse temporariamente o caminho do inimigo, daí a palavra
tomar o sentido de “impedimento”, “empecilho”, “obstáculo”, “cansar”, “sobrecarregar”. (Vejam-se:
G. Stählin, Kopeto/j, etc.: In: G. Kittel; G. Friedrich, eds. Theological Dictionary of the New Testa-
ment, Grand Rapids, Michigan: Eerdmans, 1981 (Reprinted), v. 3, p. 855-860; C.H. Peisker, Impedir:
In: Colin Brown, ed. ger. O Novo Dicionário Internacional de Teologia do Novo Testamento, São
Paulo: Vida Nova, 1981-1983, v. 2, p. 417-418; William F. Arndt; F.W. Gingrich, A Greek-English Lexi-
con of the New Testament and Other Early Christian Literature, Chicago, University Press, 1957, p.
215; F.F. Bruce, Hechos de los Apóstoles: Introcucción, comentarios y notas, Michigan: Libros De-
safío, 2007, (At 24.4), p. 513-514).
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Cf. G. Stählin, Kopeto/j, etc.: In: G. Kittel; G. Friedrich, eds. Theological Dictionary of the New Tes-
tament, Grand Rapids, Michigan: Eerdmans, 1982 (Reprinted), v. 3, p. 856-857.
A Oração intercessória do Apóstolo (Ef 1.15-23) (7) - Rev. Hermisten – 30/01/2016 – 15
tade. Pois ninguém pode opor-se impunemente aos reis e a seus editos.
Por isso, sucede que os que não se acham plantados na Palavra de Deus,
e não entendem absolutamente nada do que é verdadeira piedade, são
arrastados pela investida de tal pé-de-vento”.
33
33
João Calvino, O Profeta Daniel: 1-6, São Paulo: Parakletos, 2000, v. 1, (Dn 3.2-7), p. 190.