Você está na página 1de 15

APELAÇÃO CÍVEL Nº 539375-7, DE ANDIRÁ - VARA

CÍVEL E ANEXOS
APELANTE¹:MARINALVA DA SILVA AZEVEDO
PODANOSQUE
APELANTE²: JOSÉ CLÁUDIO PODANOSQUE
APELANTE³: SÉRGIO RAFAEL DE GODOY FAEDA
APELADOS:OS MESMOS
RELATOR : DES. JOSÉ CICHOCKI NETO

APELAÇÃO CÍVEL – DESPEJO C/C FALTA DE PAGAMENTO –


CONTRATO ASSINADO PELO CÔNJUGE VARÃO - CASAL EM
PROCESSO DE SEPARAÇÃO – IMÓVEL COMERCIAL REMANESCENTE
EM FAVOR DA CÔNJUGE VIRAGO – AUSÊNCIA DE NOTIFICAÇÃO DO
FIADOR - SENTENÇA QUE JULGOU PROCEDENTE O PEDIDO EM
DESVAFOR DO CÔNJUGE VARÃO – APELAÇÃO¹ – ALEGAÇÃO DE
VÍCIO CONSENTIMENTO (SIMULAÇÃO) – LOCAÇÃO DISSIMULADA –
FICHA CADASTRAL DE BANCO CONSTANDO O EX-MARIDO
LOCATÁRIO COMO SENDO DE SUA PROPRIEDADE O IMÓVEL
LOCADO – SIMULAÇÃO NÃO CONFIGURADA – RECURSO
DESPROVIDO.
APELAÇÕES 2 E 3 – EXCLUSÃO DO CÔNJUGE VARÃO DO PÓLO
PASSIVO - ART. 12 DA LEI Nº 8.245/91 – SUB-ROGAÇÃO LEGAL –
SEPARAÇÃO DE CORPOS - DESNECESSÁRIO QUALQUER OUTRO
PROVIMENTO PARA PERFAZER A SUB-ROGAÇÃO – INCLUSÃO DA
CÔNJUGE VIRAGO NO PÓLO PASSIVO – RECURSOS PROVIDOS –
SENTENÇA REFORMADA.
Desarrazoado pautar-se exclusivamente na ficha cadastral apresentada ao
Banco John Deere, na qual consta o Sr. José Claudio como proprietário do
referido imóvel para caracterização da simulação. Necessário um conjunto
probatório substancial para caracterizar tal vício social.
Tão somente a ruptura da sociedade conjugal é suficiente para a sub-

Documento assinado digitalmente, conforme MP n.° 2.200-2/2001, Lei n.° 11.419/2006 e Resolução n.° 09/2008, do TJPR/OE
O documento pode ser acessado no endereço eletrônico http://www.tjpr.jus.br
Página 1 de 15
Apelação Cível nº 539.375-7 fls. 2

rogação do contrato locatício. A expressão “automaticamente” esculpida no


artigo 12 da Lei nº 8.245/91 enfatiza ser desnecessário qualquer outro
provimento para que a substituição seja perfectibilizada.
Cediço que os vínculos obrigacionais se estabelecem ou em virtude de
contrato ou em virtude de lei. Vez que a lei prevê a substituição automática
da locação ao cônjuge remanescente no imóvel, quando da separação do
casal, por certo, todos os direitos e obrigações firmados transferem-se
independentemente de notificação ao locador.

VISTOS, relatados e discutidos estes autos de Apelação


Cível nº 539375-7, de Andirá - Vara Cível e Anexos, em que é Apelante¹
MARINALVA DA SILVA AZEVEDO PODANOSQUE, Apelante² JOSÉ
CLÁUDIO PODANOSQUE, Apelante³ e Apelados OS MESMOS.

I – Trata-se de recursos de apelações cíveis interpostos


contra sentença (fls. 216/225) proferida pela MMª Juíza Substituta da Vara
Cível e Anexos da Comarca de Andirá que, em ação de despejo por falta de
pagamento c/c pedido de cobrança de aluguéis vencidos apresentada por
Sérgio Rafael de Godoy Faeda contra José Cláudio Podanosque e Marinalva
da Silva Azevedo Podanosque, julgou extinto o processo sem julgamento de
mérito quanto a Marinalva (art. 267, III, CPC), condenando o autor a pagar
honorários advocatícios ao procurador da mesma, estes fixados em R$
1.000,00 (art. 20, §4º, CPC) e julgou procedente o pedido inicial quanto ao réu
José Cláudio Podanosque, declarando rescindido o contrato de locação,
condenando-o ao pagamento das parcelas atrasadas a partir de 10/01/2003, no
valor de R$ 250,00 cada, atualizadas monetariamente pelo INPC, acrescidas
de juros de mora de 1% a.m. desde a citação. Decretou o despejo do imóvel e

Documento assinado digitalmente, conforme MP n.° 2.200-2/2001, Lei n.° 11.419/2006 e Resolução n.° 09/2008, do TJPR/OE
O documento pode ser acessado no endereço eletrônico http://www.tjpr.jus.br
Página 2 de 15
Apelação Cível nº 539.375-7 fls. 3

condenou, ainda, o réu, no pagamento das despesas processuais e honorários


advocatícios, estes fixados em R$ 2.000,00 (art. 20, §3º, CPC). Determinou a
notificação para desocupação voluntária no prazo de 30 dias (art. 63, da Lei nº
8245/91), sob pena de despejo forçado. E, em caso de execução provisória,
deverá o autor prestar caução relativa a doze vezes o valor do aluguel (§4º, art.
63, da Lei de Locação).

O réu, José Cláudio Ponadosque, embargou de


declaração alegando omissão e obscuridade na decisão (fls. 227/230). O autor
também opôs embargos para esclarecer ponto que entendeu obscuro no
decisum (fls. 232/234).

A magistrada substituta, às fls. 236/237 rejeitou ambos os


embargos, salvo quanto ao dispositivo legal em que se baseou para declarar a
extinção do processo em análise meritória em face da segunda ré.

As partes, autor e réus, apelaram.

Inconformada a segunda ré afirmou que o autor não é


proprietário do imóvel reclamado conforme demonstram documentos juntados
aos autos e nunca possuiu contrato de locação consigo, tudo não passando de
uma maneira ardil de tentar excluir o bem da partilha entre o casal porquanto o
imóvel foi adquirido pelo primeiro réu em abril de 2001, além do que quando ela
ajuizou ação de separação litigiosa no ano de 2001 (autos nº 240/2001),
referido imóvel já fazia parte dos bens arrolados na partilha do casal. Alegou
restar claro que o autor não é proprietário do imóvel e nem tampouco locador e
o réu José Cláudio não é locatário mas sim o verdadeiro dono, não passando
esta ação de um conluio entre ambos para frustrar a correta divisão de bens.

Documento assinado digitalmente, conforme MP n.° 2.200-2/2001, Lei n.° 11.419/2006 e Resolução n.° 09/2008, do TJPR/OE
O documento pode ser acessado no endereço eletrônico http://www.tjpr.jus.br
Página 3 de 15
Apelação Cível nº 539.375-7 fls. 4

Sustentou ser a única prejudicada com o despejo e estar em sérias dificuldades


financeiras para tentar manter a loja em funcionamento não passando a ação
de despejo de uma maneira ardil e fraudulenta de prejudicá-la. Afiançou que
ainda há que se considerar a ausência de notificação de ambos os recorridos
conforme determina a Lei nº 8.245/91 logo, se a lei exige a notificação válida e
eficaz, necessário se proceda primeiramente a notificação regular e depois, se
não atendida, seja proposta a ação de despejo. Arguiu, na remota hipótese de
improcedência da apelação, seja lhe resguardado o direito de indenização e
retenção por benfeitorias que incorporou ao imóvel a serem apuradas em
liquidação de sentença, conforme demonstrado pelas notas fiscais juntadas.

Ao final, requereu o provimento da apelação para julgar


improcedente a ação de despejo bem como a cobrança de aluguéis. Caso não
seja esse o entendimento, pediu a compensação entre os valores
supostamente devidos pelos réus, com os valores a serem pagos a título de
indenização pelas benfeitorias comprovadamente pagas e o fundo de
comércio, os quais deverão ser apurados em liquidação de sentença (fls.
239/250).

Já o primeiro réu disse ter o autor ajuizado a demanda


pretendendo o despejo das partes e que lhe pagassem os valores da locação
em atraso. Alegou que era casado com Marinalva à época da assinatura do
contrato de locação para abrigar uma loja de roupas e, em setembro de 2001 a
mesma ajuizou ação de separação judicial litigiosa e de corpos conforme
sentença de fls. 217. Relatou ter sido retirado do lar conjugal e, de
consequência ter ficado privado da administração da loja permanecendo a ex-
esposa no local sem ter pago qualquer valor a título de aluguel e a
responsabilidade desse débito em relação a ela ficou comprovado. Asseverou

Documento assinado digitalmente, conforme MP n.° 2.200-2/2001, Lei n.° 11.419/2006 e Resolução n.° 09/2008, do TJPR/OE
O documento pode ser acessado no endereço eletrônico http://www.tjpr.jus.br
Página 4 de 15
Apelação Cível nº 539.375-7 fls. 5

que a sub-rogação contratual opera-se com o simples dato da separação e a


comunicação serve para a substituição do fiador e da garantia locatícia,
portanto, a sentença está divorciada da realidade jurídica devendo ser
reformada/anulada em sua totalidade para condenar a ré Marinalva ao
pagamento dos aluguéis e da sucumbência. Aduziu que não ocupa o prédio
locado por isso não pode ser decretado seu despejo; não se despeja ninguém
que não tenha a posse de imóvel locado.

Pugnou, por fim, a reforma total da sentença para anular


a decisão e proferir novo julgamento, condenando a 2ª ré ao pagamento dos
alugueis atrasados desde 10 de janeiro de 2003, corrigidos monetariamente;
inverter o despejo decretado para condená-la ao despejo e não ele; anular o
contrato de locação e inverter o ônus de sucumbência tendo em vista a
responsabilidade pela locação ser totalmente da ex-esposa após ruptura da
vida em comum (fls. 254/262).

O autor, por sua vez, entendeu que não assiste razão ao


juízo a quo em excluir os efeitos da sentença à apelada Marinalva, haja vista
que em caso de separação ou divórcio, o cônjuge que continua no imóvel
alugado fica responsável pelo pagamento do aluguel, a menos que tenha sido
feitio acordo diferente no ato da separação. Alegou que o apelado José Cláudio
desde o final de 2001 não ocupava o imóvel, portanto, a apelada sub-rogou-se
na posição de locatária, entendimento amparado através do art. 12 da Lei de
Locações. Afirmou restar claro que a comunicação tem o único propósito de
substituição e garantia não havendo que se considerar a apelada parte
ilegítima na demanda.

Pediu o provimento do apelo para ser parcialmente

Documento assinado digitalmente, conforme MP n.° 2.200-2/2001, Lei n.° 11.419/2006 e Resolução n.° 09/2008, do TJPR/OE
O documento pode ser acessado no endereço eletrônico http://www.tjpr.jus.br
Página 5 de 15
Apelação Cível nº 539.375-7 fls. 6

reformada a decisão monocrática, tornando a apelada Marinalva da Silva


Azevedo Podanosque parte legítima no processo com a consequente
condenação da mesma no pagamento dos aluguéis atrasados a partir de 10 de
janeiro de 2003 com correção monetária, despesas processuais e honorários
advocatícios (fls. 268/273).

Contrarrazões apresentadas somente pelo autor quanto a


apelação da segunda ré, pelo desprovimento do recurso (fls. 291/295).

É o relatório.

II - Os recursos são próprios e tempestivos, presentes os


pressupostos intrínsecos e extrínsecos de admissibilidade, razão pela qual
merecem conhecimento.

III - Da Apelação¹

Aduz a apelante Marinalva que: o autor não é proprietário


do imóvel reclamado conforme demonstram documentos juntados aos autos e
nunca possuiu contrato de locação consigo, tudo não passando de uma
maneira ardil de tentar excluir o bem da partilha entre o casal, além do que
quando ela ajuizou ação de separação litigiosa no ano de 2001 (autos nº
240/2001), referido imóvel já fazia parte dos bens arrolados na partilha do
casal; ser a única prejudicada com o despejo; que ainda há que se considerar a
ausência de notificação de ambos os recorridos conforme determina a Lei nº
8.245/91; eventualmente, lhe seja resguardado o direito de indenização e
retenção por benfeitorias que incorporou ao imóvel a serem apuradas em
liquidação de sentença, conforme demonstrado pelas notas fiscais juntadas.

Documento assinado digitalmente, conforme MP n.° 2.200-2/2001, Lei n.° 11.419/2006 e Resolução n.° 09/2008, do TJPR/OE
O documento pode ser acessado no endereço eletrônico http://www.tjpr.jus.br
Página 6 de 15
Apelação Cível nº 539.375-7 fls. 7

III.I - Da simulação

Pois bem, sustenta a recorrida que a presente ação de


despejo, em verdade, trata-se de simulação entre o autor e o 2º recorrido, no
intuito de excluir o referido imóvel da partilha do casal. O que de fato não
merece guarida.

O instituto da simulação caracteriza-se pela prática de ato


ou negócio jurídico que esconde a real intenção das partes, acobertando
mediante disfarce, exteriorizando negócio que camufla a vontade dos
contraentes. Há todo um processo simulatório, sendo que o ato simulado
esconde o verdadeiro ato, este dissimulado.

Entretanto, inobstante as afirmações laçadas na peça


contestatória da recorrente, não se mostraram harmônicas com a fase
instrutória do processo.

A testemunha arrolada pela apelante Aparecida Dábis


Aparecido, em seu depoimento de fls. 176, em nada elucidou as questões
controvertidas, eis que declarou não ter presenciado os fatos sustentados pela
recorrente, tão somente ouvir dizer da própria ré Marinalva.

Com relação à depoente Vimana Carla Zanatta consignou


que “acredita que o imóvel tenha sido adquirido do autor” e que “ninguém
presenciou as negociações” (fls. 175). Diametralmente oposto das alegações
consignadas na contestação pela recorrente donde afirma que a negociação foi
“acompanhada e presenciada, não só pela Requerida como por outras
pessoas” (fls. 18), contudo carente de qualquer suporte probatório, sequer

Documento assinado digitalmente, conforme MP n.° 2.200-2/2001, Lei n.° 11.419/2006 e Resolução n.° 09/2008, do TJPR/OE
O documento pode ser acessado no endereço eletrônico http://www.tjpr.jus.br
Página 7 de 15
Apelação Cível nº 539.375-7 fls. 8

arrolou qualquer testemunha que tivesse presenciado os fatos aventados na


sua impugnação.

O depoimento pessoal da recorrente de fls. 173


demonstrou-se incongruente os fatos alegados haja vista as provas colhidas no
processo. Em verdade, pautou em historiar novos fatos divorciados de qualquer
cunho probatório. Não logrou êxito em provar o valor supostamente pago de R$
6.000,00 ao pai do autor, como também os R$ 20.000,00 restantes ao Sr. Zé
Ferreira, este na qualidade de credor do então proprietário Sergio Faeda.

A testemunha do Juízo José Ferreira de Melo de fls. 185,


instado sobre o suposto empréstimo, repeliu qualquer transação com o Sr.
Sergio Faeda posto que “nunca emprestou dinheiro ao pai do autor, e
tampouco para seu cunhado José Cláudio” e continuou afirmando que: ”nunca
teve a importância mencionada, de R$ 20.000,00” e “em 2000/2001 já estava
aposentado, com um salário mínimo por mês”.

Já o engenheiro José Adilson dos Santos, responsável


pela reforma do imóvel, inquirido como testemunha do Juízo consignou que
“acha que a loja ocupada por Marinalva, na época, foi trocada pelo terreno e
entrou no negócio por cerca de R$ 30.000,00”.

Ora, inicialmente a recorrente sustentava existir


testemunhas das quais presenciaram a referida venda e compra do imóvel,
entretanto, nada ficou provado. No segundo momento, afirmou ter ocorrido
empréstimo de terceiro, da mesma sorte, frustrada sua comprovação. Após a
oitiva do engenheiro da obra, nova versão veio à tona, todavia, carente de
qualquer carga probatória.

Documento assinado digitalmente, conforme MP n.° 2.200-2/2001, Lei n.° 11.419/2006 e Resolução n.° 09/2008, do TJPR/OE
O documento pode ser acessado no endereço eletrônico http://www.tjpr.jus.br
Página 8 de 15
Apelação Cível nº 539.375-7 fls. 9

Por outro lado, a versão trazida pelo autor, bem como os


documentos apresentados (contrato de locação, registro imobiliário) e os
depoimentos das testemunhas José Claudio Podanosque e Ségio Faeda,
demonstraram serem verossímeis aos fatos narrados na inicial.

Com relação aos R$ 4.000,00 gastos com a reforma do


prédio, eis que motivada pelo fato de supostamente ser de propriedade dos
réus, da mesma sorte, não se sustenta. O simples fato de ter investido no
imóvel não caracteriza, prima facie, sua propriedade. Cediço que as exigências
mercadológicas atuais pressionam os lojistas a oferecerem infra-estrutura cada
vez mais agradável e condizente no intuito de cativarem seus clientes.
Ademais, o valor declarado não se mostra exacerbado, estando totalmente
compatível com a modalidade locação.

Portanto desarrazoado pautar-se exclusivamente na ficha


cadastral apresentada ao Banco John Deere, na qual consta o Sr. José Claudio
como proprietário do referido imóvel para caracterização da simulação.
Necessário um conjunto probatório mais substancial para levar este Juízo a
declarar tal vício social, até porque plenamente justificável o argumento trazido
pelo ex-marido no qual sustentou tratar-se de mero fortalecimento de cadastro
(fls. 172).

Eis que era imposto à apelante o ônus probandi de suas


alegações, tendo a mesma frustrado; não há outra alternativa senão afastar a
ocorrência do vício social apontado.

III.II - Da falta de notificação

Documento assinado digitalmente, conforme MP n.° 2.200-2/2001, Lei n.° 11.419/2006 e Resolução n.° 09/2008, do TJPR/OE
O documento pode ser acessado no endereço eletrônico http://www.tjpr.jus.br
Página 9 de 15
Apelação Cível nº 539.375-7 fls. 10

Pugna a recorrente que a falta de notificação do autor em


face dos réus prevista no art. 57 da Lei nº 8245/91, teria o condão de obstar a
presente ação de despejo. Entretanto, o mesmo não merece guarida.

Compulsando o contrato de locação de fls. 06/06v,


denota-se ser por tempo determinado (12 meses). Findado o prazo
estabelecido e com a permanência dos locatários no imóvel, a locação
prorrogou-se automaticamente, e por prazo indeterminado, fato que autoriza a
retomada do imóvel nos casos previstos no art. 47 da Lei do Inquilinato. A
simples incidência de um dos incisos do referido artigo autoriza, o locador,
manejar a ação de despejo.

No caso em comento, a simples constatação da


inadimplência das obrigações locatícias, devidamente comprovada, eis que
confessados pelos réus não terem pagado quaisquer alugueis, credenciou o
locador intentar esta medida, independentemente de qualquer notificação, eis
que previsto no inciso I do art. 47 do qual se reporta ao art. 9º,III. Portanto,
desnecessária notificação aos locatários para reaver o imóvel locado.

III.III - Do direito de retenção/indenização

Pugna pelo direito de indenização e retenção pelas


benfeitorias que incorporou ao imóvel a serem apuradas em liquidação de
sentença. Todavia, não merece provimento.

A Lei nº 8.245/91, ao tratar sobre o assunto assim


preconizou:

Documento assinado digitalmente, conforme MP n.° 2.200-2/2001, Lei n.° 11.419/2006 e Resolução n.° 09/2008, do TJPR/OE
O documento pode ser acessado no endereço eletrônico http://www.tjpr.jus.br
Página 10 de 15
Apelação Cível nº 539.375-7 fls. 11

“Art. 35. Salvo expressa disposição contratual em contrário, as


benfeitorias necessárias introduzidas pelo locatário, ainda que não
autorizadas pelo locador, bem como as úteis, desde que autorizadas,
serão indenizáveis e permitem o exercício do direito de retenção.
Art. 36. As benfeitorias voluptuárias não serão indenizáveis, podendo
ser levantadas pelo locatário, finda a locação, desde que sua retirada
não afete a estrutura e a substância do imóvel.

Ocorre que no contrato de locação, em especial a


cláusula VIII, a, dispõe expressamente que as benfeitorias necessárias
correriam por conta exclusiva do locatário. O mesmo ocorrendo com a cláusula
VIII, b, inclusive exigindo prévia autorização do locador. Já a alínea e, veda ao
locatário exigir qualquer indenização quanto às benfeitorias úteis, mesmo sob
autorização expressa do locador. Portanto inexiste qualquer direito
indenizatório a ser pleiteado, bem com o de retenção, eis que as partes assim
convencionaram.

Já quanto as voluptuárias, é facultado ao locatário a


retirada, desde que não afete a estrutura e a substância do imóvel em
consonância ao art. 36 da lei supramencionada.

IV - Já as apelações 2 e 2 serão analisadas em conjunto


visto tratarem da mesma matéria.

Sustenta o Apelante2 José Claudio Podanosque que:


merece reforma a r. sentença de fls. 216/225 na qual o condenou ao
pagamento dos encargos locatícios, eis que, por força do art. 12 da Lei nº
8245/91 prevê a sub-rogação automática do contrato de locação ao cônjuge
que permanecer no imóvel, nos casos de ruptura conjugal, posto que o referido

Documento assinado digitalmente, conforme MP n.° 2.200-2/2001, Lei n.° 11.419/2006 e Resolução n.° 09/2008, do TJPR/OE
O documento pode ser acessado no endereço eletrônico http://www.tjpr.jus.br
Página 11 de 15
Apelação Cível nº 539.375-7 fls. 12

imóvel encontra-se na posse de sua ex-esposa.

Por outro lado, aventa o recorrente3 Sérgio Rafael de


Godoy Faeda que: a r. sentença equivocou-se em excluir a ré Marinalva do
pólo passivo da ação de despejo, posto que, por disposição legal, em especial
o artigo 12 da Lei do Inquilinato, somente a ela deverá incidir os efeitos
decorrentes do “decisum” exarado pelo douto Juízo singular.

Pois bem, sustentam os recorrentes que, por força legal,


em especial pelo art. 12 da Lei do Inquilinato, teria o condão de retirar o réu
José Claudio do pólo passivo da presente demanda, eis que, a simples
dissolução da sociedade conjugal sub-rogaria à sua ex-mulher em todos os
direitos e obrigações assumidos por ele com relação ao contrato de locação
firmado. O que de fato merece guarida.

A interpretação do artigo 12 da Lei de Locação é o ponto


crucial a ser enfrentado. Consta no texto legal que:

“Em casos de separação de fato, separação judicial, divórcio ou


dissolução da sociedade concubinária, a locação prosseguirá
automaticamente com o cônjuge ou companheiro que permanecer no
imóvel.
Parágrafo único. Nas hipóteses previstas neste artigo, a sub-rogação
será comunicada por escrito ao locador, o qual terá o direito de exigir,
no prazo de trinta dias, a substituição do fiador ou o oferecimento de
qualquer das garantias previstas nesta Lei”.

Pretendeu o legislador que, tão somente o fato da ruptura


do casal, é suficiente para a sub-rogação do contrato locatício. A expressão

Documento assinado digitalmente, conforme MP n.° 2.200-2/2001, Lei n.° 11.419/2006 e Resolução n.° 09/2008, do TJPR/OE
O documento pode ser acessado no endereço eletrônico http://www.tjpr.jus.br
Página 12 de 15
Apelação Cível nº 539.375-7 fls. 13

automaticamente enfatiza ser desnecessário qualquer outro provimento para


que a substituição seja perfectabilizada. Entretanto a cientificação prevista no
parágrafo único, em verdade, se presta a possibilitar ao locador, diante da nova
realidade fática, perquirir novas garantias sob pena de decair desse direito,
caso transcorra período superior a 30 dias. A finalidade da lei é de impedir que
a locação remanesça sem garantias ou com garantia duvidosa.

Por disposição legal, no intuito protetivo da família (intuitu


familiae), a locação prossegue automaticamente ao cônjuge que permanecer
no imóvel locado, quando da dissolução conjugal. Não obstante tratar-se de
imóvel comercial, persiste ainda, como se observa nos autos, a proteção
invocada, eis que o referido imóvel se presta ao sustento da ex-mulher,
dispondo de todos os direitos, deveres, ações e garantias do contrato primitivo.
Neste sentido REsp. 316173 de 23/11/2004 – DJ 07/05/2007 da lavra do
eminente Ministro PAULO GALLOTTI da 6ª turma do STJ. Conserva-se o
contrato com novo titular, operando-se essa substituição por força de lei.

Com efeito, não há como figurar o recorrente José


Claudio Podanosque no pólo passivo da presente demanda, posto que, quando
da propositura da ação de despejo, pré-existia ação de separação de corpos
(fls. 217), bem como o referido imóvel permaneceu na posse de sua ex-mulher
sub-rogando-a aos direitos e obrigações decorrentes independentemente de
qualquer outro procedimento.

Neste sentido, REsp 146.563 / RJ da 5ª turma do STF da


lavra do Ministro FELIX FISCHER DJ 08/09/1998:

“LOCAÇÃO. AÇÃO DE DESPEJO. ART. 12 DA LEI 8.245/91.

Documento assinado digitalmente, conforme MP n.° 2.200-2/2001, Lei n.° 11.419/2006 e Resolução n.° 09/2008, do TJPR/OE
O documento pode ser acessado no endereço eletrônico http://www.tjpr.jus.br
Página 13 de 15
Apelação Cível nº 539.375-7 fls. 14

LOCAÇÃO QUE PROSSEGUE EM RELAÇÃO À COMPANHEIRA


QUE PERMANECE NO IMÓVEL.
Nos termos do art. 12 da Lei 8.245/91, a locação celebrada pelo
companheiro prossegue, no caso de separação, em relação à
companheira que permanece no imóvel. Nesse caso, a sub-rogação
opera-se de pleno direito, não persistindo as obrigações contratuais,
oriundas do período após a separação, para o companheiro. Recurso
especial provido”.

Cediço que os vínculos obrigacionais se estabelecem ou


em virtude de contrato ou em virtude de lei. Vez que a lei prevê a substituição
automática da locação ao cônjuge remanescente no imóvel, quando da
separação do casal, por certo, todos os direitos e obrigações firmados
transferem-se independentemente de notificação ao locador.

“Ex positis”, voto no sentido de conhecer dos recursos,


porém, negar provimento ao apelo 1; prover os recursos 2 e 3 para reformar a
r. sentença de fls. 216/225 no sentido de extinguir o processo sem julgamento
de mérito com relação ao apelante José Claudio Podanosque, bem como,
condenar o autor ao pagamento das custas processuais e honorários
advocatícios no importe de R$ 1.000,00 com fulcro no art. 20, §4º do CPC. Por
fim, julgar procedente o pedido inicial com relação à Sra. Marinalva Azevedo
Podanosque, condenando-a ao pagamento das parcelas mensais atrasadas a
partir de 10/01/2003, no valor de R$ 250,00 cada, atualizadas monetariamente
pelo INPC com juros de 1% ao mês desde a citação; decorrendo os demais
efeitos da r. sentença em desfavor da mesma.

V - DECISÃO:

Documento assinado digitalmente, conforme MP n.° 2.200-2/2001, Lei n.° 11.419/2006 e Resolução n.° 09/2008, do TJPR/OE
O documento pode ser acessado no endereço eletrônico http://www.tjpr.jus.br
Página 14 de 15
Apelação Cível nº 539.375-7 fls. 15

Diante do exposto, acordam os Desembargadores


integrantes da 12ª Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Estado do Paraná,
por unanimidade de votos, em negar provimento ao recurso de apelação 1 e
dar provimento aos recursos 2 e 3, nos termos da fundamentação.

Participaram da sessão e acompanharam o voto do


Relator o Excelentíssimo Senhor Desembargador ANTONIO LOYOLA VIEIRA,
e o Juiz Convocado MARCOS DAROS.

Curitiba, 21 de julho de 2.010.

Des. JOSÉ CICHOCKI NETO


Relator

Documento assinado digitalmente, conforme MP n.° 2.200-2/2001, Lei n.° 11.419/2006 e Resolução n.° 09/2008, do TJPR/OE
O documento pode ser acessado no endereço eletrônico http://www.tjpr.jus.br
Página 15 de 15

Você também pode gostar