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A função da História como matéria ao longo

do tempo: temporalidade e formação da


visão crítica do jovem.

Aluna: Letícia Venancio Moreira

SÃO JOÃO DEL REI


2018
INTRODUÇÃO

Compreender o papel da história como matéria ao longo das transformações que


ocorreram no currículo escolar é algo considerado relevante, mas, quando se entende esse
processo e os contextos históricos responsáveis por tais mudanças, é possível formar um
olhar crítico em relação aos acontecimentos (sejam políticos, econômicos ou sociais) que
ocorrem a todo momento á nossa volta.

Este artigo parte de uma discussão relacionando os autores Vygostky , Piaget , Bittencourt
e Mara, onde irei analisar o contexto da trajetória da História como disciplina e a apartir
disso relacioná-la com a perspectiva de cada autor mediante ao assunto discutido durante
o desenvolvimento deste artigo.

Palavras-chave: Temporalidade - Percepção - Crítica - Disciplina

RESUMO: Este artigo tem como objetivo relacionar a trajetória da história como
disciplina visando relacionar a mudança de seu objetivo como matéria com a
problemática de desenvolver um senso crítico no aluno a partir da escola.

ABSTRACT:This article aims to relate the history trajectory as a discipline aiming to


relate the change of its objective as a subject with the problematic of developing a critical
sense in the student from the school.
Circe Maria Fernandes Bittencourt em seu texto "Os confrontos de uma disciplina
escolar: da história sagrada à história profana" explica que a história no ínicio (século
XIX), tinha como função relatar e ensinar a história do cristianismo desde a descoberta
do Brasil. Nessa época, houve um conflito em relação ao implantamento da "História
Laica" como matéria nas instituições públicas brasileiras, isso ocorreu por conta da
grande influência da Igreja Católica no espaço educacional.

Em 1855, á História do Brasil foi introduzida como matéria autonôma , e graças a


influência da Reforma Francesa de 1850, ocorreu a volta da influência religiosa. Após
várias discussões e propostas, a história passou a ter como objetivo a formação política
do cidadão nacional, mas continuou como uma disciplina fundamental no currículo
escolar dos brasileiros.

Mesmo com as várias mudanças ocorridas no currículo escolar e o estabelecimento do


regime republicano, á História Sagrada permaneceu , com isso deixou claro ainda a
influência da Igreja Católica. A História Sagrada tinha seu objetivo como matéria, narrar
os acontecimentos na ordem histórica contidos na bíblia para fins de manipulação moral
da população. Os textos dados nessa matéria tinha o objetivo de apenas remorar os fatos
ocorridos e narrados e por conta disso, a visão predominante no séc.XIX era a cristã por
conta disso.

Na década de 50 , história sofreu constetamentos sobre seus objetivos e papel na


formação do jovem, ainda nessa mesma época, os franceses continuaram como
fundamento pedagógico nas escolas públicas. Já na segunda metade do séc.XIX os
históricos tanto conservadores quanto liberais, concordavam na idéia da divisão entre
"periodo contemporâneo" e "periodo moderno", além do papel político do Estado que
controlava as transformações históricas do país.
Em seguida, na década de 70, houve uma preocupação em como narrar a história do
Brasil e a dificuldade nisso estava em estruturar e articular uma noção histórica que tinha
como sujeito principal o estado brasileiro. Graças ao cronista Cônego Joaquim Caetano
Fernandes Pinheiro , foi possível fazer uma adaptação do Brasil a partir da seleção de
fatos de acordo com uma lógica transcental.

Essa história do Brasil enfrentou outros problemas, sendo objeto de disputa entre os
intelectuais e pela sua falta de nacionalismo. Nesta fase só eram considerados cidadãos os
afalbetizados e os que sabiam escrever ,com isso surge a obrigatoriedade do ensino da
História Nacional em diferentes currículos escolares e esse ensino tinha como objetivo
situar o Brasil no mundo civilizado. Após isso, os historiadores começaram a pesquisar
nos fatos nacionais possíveis "heróis" da pátria para enaltecer o espírito de Amor à Pátria
e a Nação, neste momento que grandes figuras históricas como Tiradentes foram postas
nos papéis que contavam a História do País.

Analisando este contexto nos dado por Circe, é possível perceber a partir de Vygotsky
que o Estado utilizou maneiras de mediar as informações que seriam ensinadas no
currículo escolar brasileiro. Segundo Vygostky essa mediação é feita através do
instrumennto e do signo. O instrumento tem função de regular as ações sobre os objetos.
Provocador de mudanças externas, pois amplia a possibildade de intervenção na natureza
e o signo regula as ações sobre o psiquismo das pessoas, serve para solucionar um dado
problema psicológico (lembrar, comparar coisas, relatar, escolher,etc.). Com o auxílio dos
signos o homem é capaz de controlar voluntariamente sua atividade psicológica e ampliar
sua capacidade de atenção, memória e acúmulo de informações.

O Estado desenvolveu a noção de nação e pátria apartir da utilização de signos, como a


criação dos "heróis nacionais" durante a formação da história do Brasil. Um signo
importante nesse momento foi a figura de Tirandentes que ficou marcada na memória do
povo brasileiro. Tiradentes teve participação na inconfidência mineira e foi o único a ser
condenado entre os rebeldes por conta de ser o menos favorecido economicamente, e por
isso, foi crucificado e esquartejado. A maneira que a história de Tiradentes foi contada
demonstra como a matéria de história foi importante na formação da nacionalidade do
povo brasileiro e que ao entender tal importância da maneira em que a história é passada
nas escolas, se forma uma visão mais crítica sobre cada história que passamos e que nos é
passada.

“ O aprendizado pressupõe uma natureza social específica e um processo através do qual as


crianças penetram na vida intelectual daqueles que as cercam ” (VYGOTSKY, 1984, p. 99).

A linguagem utilizada então nesse processo de formação do jovem, é outro aspecto que
Vygotsky dá suma importância. A linguagem é um sistema simbólico fundamental em
todos os grupos humanos , elaborado no curso da história social e que segundo Vygostky
causou três mudanças essenciais nos processos psíquicos do homem. A primeira permite
lidar com os objetos do mundo exterior mesmo quando estão ausentes - compreensão do
fato mesmo não tendo vivenciado ele. A segunda nos diz que através da linguagem é
possível analisar, abstrair e generalizar ás características dos eventos, objetos, situações
presentes na realidade. E a terceira afirma que a linguagem tem função de comunicação
entre os homens que garante, como consequência, a preservação, transmissão e
assimilação de informações a experiências pela humanidade ao longo da história. fornece
significados precisos para a comunicação entre os homens. E apartir dessas mudanças
fornecidas pela linguagem transmitida na história, o Estado é capaz de modelar e
transmitir as informações que serão passadas para esse jovem através da escola.

Outro aspecto da analíse de Circe que deve ser chamada a atenção, é a questão da
temporalidade em que os fatos históricos são narrados ao longo do desenvolvimento da
matéria.

"...não se pode falar de um tempo histórico único, mas de tempos históricos plurais, como
são plurais as sociedades; não se pode falar de um tempo histórico homogênio, pois as
sociedades são heterogêneas; não se pode falar de um tempo linear, pois as mudamças,
quando não reduzidas ao número, não têm direção dada antecipadamente, e as sociedades
se relacionam, diferentemente, em cada época, ao seu próprio passado e ao seu futuro. (Reis,
1994)"

Lana Mara nos fala que a cronologia embora essencial, só adquire valor quando
relacionada a uma cadeia de relações que lhe imprime sentido. A evolução da história
como matéria nos mostra as mudanças sofridas em relação á forma que os fatos são
cronoligicamente narrados, um exemplo disso é ordem cronológica passada pela História
Sagrada (que narrava os acontecimentos em ordem histórica contidos na bíblia). Após
várias mudanças ocorridas na matéria, a história deixa de ser uma narração cronológica e
passa a ser uma história-problema que visa à elaboração de um exame analítico de um
problema, ou de questões que podem se apresentar em diferentes periodos, ou seja, o
objeto central da história deixa de ser o estudo do passado para ser o estudo da relação
entre presente e passado, nas suas relações de continuidade e mudanças. Isso nos mostra
que o sentido dado ao tempo não se referencia apenas aos eventos de ordem política
institucional.A partir disso, Le Goff nos dirá que cabe fazer desse dado,o vivido cotidiano
da História, um objeto científico.

" No seio do cotidiano há uma realidade que se manifesta de forma completamente diferente
do que acontece nas outras perpectivas da História: a memória. A grande História do
cotidiano revela-nos o sentimento daquilo que muda, bem como daquilo que permanece, a

própria percepção da História. (Le Goff, 1986, p.81). "

Lana nos diz que pensar historicamente supõe a capacidade de identificar e explicar
permanências e rupturas entre o presente/passado e futuro. Ao entender tudo isso que foi
discutido e citado até o momento, a questão deixada é como passar tais perpectivas para o
jovem e como desenvolver nele um pensamento mais crítico? Jean Piaget nos diz que
para que esse desenvolvimento se realize é que, no ambiente escolar, sejam oferecidas
aos alunos situações de ensino-aprendizagem adequadas.

Piaget afirma que as chaves do desenvolvimento são a própria ação do sujeito e o modo
pelo qual isto se se converte num processo de construção interna. O autor explica tais
processos de desenvolvimento e aprendizagem, atráves dos conceitos de assimilação,
acomodação e adaptação.

A assimilação é a incorporação de um novo objeto ou idéia ao que já é conhecido . A


acomodação, por sua vez, implica na transformação que o organismo sofre para poder
lidar com o ambiente. Assim, diante de um objeto novo ou de uma idéia, a criança
modifica seus esquemas adiquiridos anteriormente, tentando adaptar-se á nova situação.
Uma educação que se fundamente na teoria piagetiana e que proponha uma atitude
própria do método clínico repudia este modelo de intervenção do adulto e reserva o título
de escola ativa exclusivamente para as estratégias de ensino que se baseiam na atividade
do aprendiz. O ideal segundo Piaget, seria que os professores adaptassem o material
escolar em função intelectual do aluno, e para isso , seria necessário observar o aluno.

O método proposto por Piaget é teoricamente muito satisfatório, mas na prática é difícil
observar cada aluno e planejar atividades diferentes em relação ao nível de
desenvolvimento de cada um, pois , o tempo e o metódo didático dado pelo professor é
bastante limitado devido á grade curricular que lhe é dada. Por conta disso, a matéria é
dada de forma rápida para cumprir o tempo e os assuntos que lhe foi dado, com isso, o
aluno vê de forma resumida e breve tal conteúdo não tendo tempo para assimilar e
questionar quaisquer informações que lhe foram passadas.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Dessa forma, a função da História enquanto matéria foi se renovando ao longo das
mudanças que ocorreram na sociedade e é possível perceber como os contextos históricos
influenciaram na trajetória da História como disciplina escolar, e passando por diversas
modificações em seu objetivo como matéria, além de que a questão sobre como
desenvolver no aluno uma percepção mais crítica em relação ao seu redor ainda continua,
não sem resposta , mas sim sem modo de aplicá-la.
REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA

·0 BITTENCOURT, Maria. Os confrontos de uma


disciplina escolar: da história sagrada à história profana.
Disponível em < www.anpuh.org/arquivo/download?
ID_ARQUIVO=3734 >. Acessado em 08 Dez.2018.

·1 REGO, Teresa Cristina. Vygotsky: uma perspectiva


histórico-cultural da educação. Editora Vozes Limitada,
2013

·2 BARBOSA, Iris Goulart. Piaget: experiências básicas


para utilização do professor.

·3 MARA, Lana de Castro Siman. A temporalidade histórica


como categoria científico. Pensamento Histórico: desafios
para o ensino e a aprendizagem.

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