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Acont @CCL Especial 15

CEDI – Centro Ecumênico de Documentação e Informa ção

|GENAS
NO BRASIL/1984
*
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POVOS INDÍGENAS NO BRASIL/CEDI

PUBLICAÇÕES DA SÉRIE
POVOS INDIGENAS NO BRASIL

Aconteceu -
POVOS INDIGENAS
NO BRASIL
3AMapa nonre no PARA POVOS
INDÍGENAS
N{
BRASIL/83

| | | | | | | | | | | | |

18 VOLUMES, POR ÁREA ACONTECEU ESPECIAL:


ATUALIZAÇÃO PERMANENTE

Plano da Obra: Povos Indígenas no Brasil é uma obra com Além dos livros, que vão saindo aos poucos, anualmente se
posta de 18 volumes que sistematiza os resultados de uma publica um número do ACONTECEU ESPECIAL, com
ampla pesquisa-movimento, envolvendo antropólogos, mis informações sobre os povos indígenas de todo o país. Desde
sionários, indigenistas, índios, fotógrafos, lingüistas, jorna o nº 14 (1983), o ACONTECEU está organizado interna
listas, médicos e outros, sobre os povos indígenas que exis mente segundo as mesmas "Áreas” da série de livros, fun
tem hoje no Brasil. Cada um desses volumes contém texto, cionando assim como uma espécie de “livro do ano”, um
fotos, iconografias, mapas, documentos, depoimentos e espaço para atualizações permanentes.
fontes sobre os povos indígenas existentes em cada Área

1. Noroeste da Amazônia Todas essas publicações


2.1. Roraima – lavrado podem ser conseguidas
2.II, Roraima-mata no CEDI

@ Amapá/Norte do Pará
4 Solimões Av. Higienópolis, 983
5 Javari 01238 São Paulo, SP
Brasil
6. Juruá/Jutaí
10 tel.: (011). 66.7273
7 Tapajós/Madeira
8 Sudeste do Pará Rua Cosme Velho, 98 – fundos
Maranhão 22241 Rio de Janeiro, RJ
9 Brasil
Nordeste tel.: (021) 205.5197
11. ACre
Rondônia
Oeste do MT
Parque Indígena do Xingú
Goiás / Leste do MT
16. Leste
17. Mato Grosso do Sul vols. Já
PUBLICADOS
18. Sul
sL7-Acervo
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Aconteceu

[…]
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2

Raoni, chefe Mentuktire (Txukarramãe) ao Ministro Andreazza: “Aceito ser seu


amigo, mas você tem que ouvir o índio” (Brasília, maio/84).
sL7-Acervo
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CEDI • •

Centro Ecumênico de Documentação e Informação


R. Cosme Velho, 98 fundos Cosme Velho :
22241 Rio de Janeiro RJ Brasil •

tel. (021) 205.5197


Av. Higienópolis, 983
Q1238 São Paulo SP Brasil
tel. (011) 66,7273

Conselho editorial •

Aloizio Mercadante Oliva, Jether Pereira Ramalho,


José Oscar Beozzo, Rubem Alves e Zwinglio Mota Dias.
Equipe de edição deste Aconteceu
Carlos Alberto Ricardo •

Dominique Gallois •

Fany P. Ricardo
Vincent Carelli

Editor de texto
Carlos A. Ricardo

Editor de foto
Vincent Carelli

Pesquisa e edição de notíci


Fany Ricardo '.

Montagem dos quadros


Fany P. Ricardo

Projeto gráfico
Delfim Fujiwara .

Revisão
Dominique Gallois
Fany P. Ricardo
Regina Müller

Mapas .
Mauricio Piza

Arte final
Marco Antonio Teixeira de Godoy

Foto da capa:
Beth Cruz/AGIL

Composição •

Forma Composições Gráficas Ltda.


R. Caramuru, 1196
São Paulo, SP

Fotolito.
Fototraço Ltda.
Impressão. - *: .:: .. *-*

GRÁFICA E EDITORA FCA


Av. Humberto de Alencar CasteloBranco, 3972
São Bernardo dó Campo, SP, Brasil

Colaboraram: • •

Agência F4, Agil Fotojornalismo, Ângela Cristina Fernandes,


CIMI Norte I, CIMI AC, CIMIRO, Edna Maria Souza, Kátia Aguiar,
Loretta Emiri, Maria do Rosário Carvalho, Marco Antonio Lazarin,
Marta Azevedo, Robin Wright, Sérgio Alli, Sonali Bertuol,
Terri Vale de Aquino, Virgilio Lorencetti.

Sagarana Editora Ltda.


Caixa Postal58071
01397 São Paulo SP
Brasil
Aconteceu Especial 15

Povos NDÍGENAs
No BRASIL/84

CEDI Centro Ecumênico de Documentação e Informação |


*Ov3S fNDiGENAS NO BRASIL/CEDi

Fontes
A Crítica (Manaus, AM)
A Notícia (Manaus, AM)
A Tribuna(Santos, SP)
Cidade de Santos (SP)
Correio Braziliense
Correio do Estado (Campo Grande, MS
- Diário do Acre -

Diário do Comércio (MG)


Diário do Comércio e Indústria (SP)
Diário
Diário do Congresso
de Cuiabá Nacional(BSB)…
(MT) .… •
...
Diário do Grande ABC (SP) •

Diário da Manhã (Goiânia, GO) -


Diário de Minas
Diário Oficial da União (BSB)
Diário de Pernambuco
Diário do Povo (Campinas, SP)
Diário Popular (SP)
Estado de Minas
Folha do Acre
Folha de Boa Vista (RR)
Folha de São Paulo (FSP)
Fôlha da Tarde (SP)
Gazeta de Alagoas
Cazeta Mercantil(SP)
Gazeta de Notícias (RJ)
Jornal da Bahia
Jornal do Brasil (JB)
Jornal de Brasília
Jornal do Comércio (Manaus, AM}
Jornal do Commércio (Recife, PE)
Jornal de Minas
Jornal de Sata Catarina
Jornal da Tarde (SP)
Notícias Populares (SP)
O Acre
O Dia (RJ)
O Estado (Florianópolis. SC)
O Estado do Paraná
D Estado de São Paulo (ESP)
O Estadão (RO)
O Fluminense
O Globo (RJ)
O Guaporé (RO)
O Liberal (Belém, PA)
O Popular (Goiânia, GO)
O Povo (Fortaleza, CE)
O Rio Branco (AC)
O Roraima
Popular da Tarde (SP).
Porantim (BSB)
Revista Brasil Mineral (SP)
Revista Minérios Extração e Processamento (SP)
Tribuna da Imprensa (RJ)
Tribuna da Ribeira (SP)
Última Hora (BSB)
Zero Hora(RS) .
*
(*)

Indice

Apresentação...................... ……… . 11

A UNI e o Movimento Indigena (Ailton


Krenak)..................................... 13

IIº Encontro dos Povos Indígenas ................. 16


Simpósio “Indios e Estado”............... - - - - - - - 18
CMPI .................. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. 18
Comissão do Indio............................ ... 19
FUNAI ........... ………… . . . . . . . . . . . . . . . . 20 . .
Juruna . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 25
Itamaraí Nambiquara........... - - - - - - - - - - - - - - - - 27

Mineração em Areas Indígenas............... 29

FUNAI ........... . . . . . . . . . . . - - - - - - - - - - - - - - - - . 30
Entidades de Apoio ...... : : : : : : ::::::::::::::::: 31
Estatais ......... ** • • • • • • • • • * * * * * * • • • • = = = = = = = • • . 34
Geólogos ............* • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • 34
No Congresso ................... - - - - - - • • • • • • • • . 36
CIMI/CNBB .......................... • • • • • • • • 37
MME/DNPM , , , , , , . . ., - - - - - - - - - …… - - - - - - 37
| Decreto Suspenso ............. • • • • • • • • • • • • • • • • • 38
Empresas Estaduais ............................ 38
Empresas Privadas ........... *• • • • • • • • • * * * * * = + • • 39
Pecuaristas ............... . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 41

As Populações Indígenas e a Constituinte


( BrunaFranchetto e Claudia Menezes)...... 42

Constituinte ..... ………………………… 45

Demarcações: uma Avaliação do GT-Inter


ministerial (Alfredo Wagner B. de Almeida
e João Pacheco de Oliveira Fº)............... 48

As Áreas Indígenas e o Mercado de Terras


(Alfredo Wagner B. de Almeida)............. 53
Os empresários e as demarcações ..... • • • + + + + + + + + ... 60
Polêmica: o Convênio SIL/FUNAI............... . 61
*
=/ #
Ecºs NoiceNAs No enasl/cED
Noroeste Amazônico ........................ 65
Mapa - . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . - - - - - - - . . . . . . . . . . . . 66
Quadro .. . . . . . . . . . . . - - - - - - - - - - - - * # # $ $ * # 4 + · · · · = 67
Febre do Ouro no Alto Rio Negro (Gabriel dos Santos
Gentil e Álvaro F. Sampaio) ..................... . 68
I Demarcação Urgente (Renato Athias) ............. 70
| Escola ....... . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . * # & = = ** * * "... 72
Território Federal Indígena .................. .... 72
Mineração . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 73
Ipadú ................ . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 74

Roraima I............... * * * * = = = = = + + + + + + + + + + + 75

Mapa . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . * # + + + + + + + H = = = 76
Quadro ........." + s = º * ,
* * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * 77
: Assembléia de Tuxáuas do Lavrado (Alcida Rita Ra
• mos e Marco A. Lazarin) ........................ 78
: Gerais ................................. .* * * * * * * 83

Roraima II...... • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • . 85

Mapa ................. • • • • • • • • - - - - - - - - - - - - - - - 86
Quadro . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 87
Garimpeiros e Mineradoras disputam Surucucus
(Cláudia Andujar) ........ ….... . . . ....
* * # à # # % ~ + 88
| • • Geral ..................... . . . . . . . . . . . . . . . . . . ... 93
; Yanomami .......... - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - 93
Waimiri-Atroari .......... - - - - - - - - - - - - * * * * ** * * * * 98

| Amapá/Norte do Pará ..... - - - - - - - - - - - - - - - - - 99

Mapa - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - . . . . . . . . . . . . - - - - . 100
Quadro ............... . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . -- 101
Notícias de Oiapoque (Frederico de Oliveira) ........ 102
Gerais ...........--- . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 104
Os Waiãpi e os Garimpos (Dominique Gallois)...... 106
Waiãpi …....... - - - - - - - - - - - - - - ................. 109
GT-FUNAI Identifica AI-Paru de Leste (Lúcia Hussak
van Valthem) ................................ ... 110
Parque Indígena Tumucumaque .................. 111
Wayana-Aparai ..... . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 111
Arredios do Cuminapanema ..................... 112

Solimões .................................... 113

Mapa ........ * - - - - - - - - - • • • • • • • • • • • • • •
* 114
# # # # # 4 &

Quadro ........................... - - - - - - - - - - - . . 115


Invasões, Conflitos e Mais Promessas de Demarcação
para os Ticuna (João Pacheco de Oliveira Fº e Vera
Paoliello) .....................................
117
Ticuna ....................................... 124

Javari ........... ………………………… "


Mapa - - - - - - - - - - - . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . * * * * * * * 128
Quadro ..….......…...................- * * * * * * . 129
A Petrobrás e os Arredios do Itacoaí e Jandiatuba
(Araci Maria Labiak e Lino João O. Neves) ......... 130
Parque do Javari .......... * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * 133
A Petrobrás e o Gás do Juruá ...................... #33
“Korúbo” ........ . . . . . . .. ... .. . . . ----------. .. 134
Juruá/Jutaí/Purus ...................... .... 135
Mapa ............... · · · · · · · · · · · · - - - - - - - - - - - - - 136.
Quadro .............. • • • • • • • • • • • • + + + + + + + + + + 137 + + -=

Gerais ....... • • • • • • • • • * - - - - - - - - - - - - - - - - - - ... . . 139


Deni ..................... . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 139
Katukina/R. Biá ....... *• • •= = 139= + + + + * * * * * * * * * * * * * .s =

Kanamari/R. Itucumã ................ 140 ** + • • • • • • + =

Kanamari/R. Jutaí ............................. 140. .


Kulina ......... • • • • • • • • • • • • • • - - - - - - - - - - - - - - - - - 141
Zuruahá ..... . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . ..... 142

Tapajós-Madeira ............................ 143

Mapa ............ . . . . . . . . . . . .. * * .* * * * * * * * 144 * * • • • •

Quadro .............. • • + + + + + + + + + + + - - - - - …… 145


GT-FUNAI Identifica AI-Tenharim (Miguel Menedez) 146
Tenharim ..................................... 148
Mura-Pirahã ......... • + + ā + * * * * * • • • • = s = + • • • • • + + 148
O Caso Elf (Epílogo) ............................ 148

Sudeste do Pará ............................. 151

Mapa ... . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 152


. = s = + + + +

Quadro ........... . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 153


Indenizações e jogo de flechas: a Guerra dos Gavião
(Iara Ferraz) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . - - - - . . . . . . . . . 155
Gavião .............. • • • • • • • • • • • • - - - - - - - - - - - - - 158
Juruna . . . . . . . . . . . . . . . • • • • • • • • • • • • • - - - - - - - - - - - - 160
Gorotire/Cumarú ............... + + + + ā ã å * • 163
• • • • • ' =

Mekragnoti .............. . . . . . . * * * # à = # * ..... 165


* *

Xikrin do Cateté .......... " + * * * * * • • • • = * * * . . . . . . . 165


Parakanã . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . - - - - - * * * * * * ..... 165

Maranhão ............. * * * * - - - - - - - - • • • • • ..... 169

Mapa .............. * * * * * * * * * * . .. . . . . .. ..----- 170


Quadro ............... • • • • • • • • • • • • • - - - - - - - - - - - 171
Guajajara ............. * * * * # + + 4 * * * * * * = = = = • • • • • + 172

Nordeste ............ • • + s = * * * * * - - - - - - - - - - - - - - 175

Mapa . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . - - - - - - - - - - 176
Quadro ............... . . . . . . . . . . . . . . . - - - - - . . . . 177
Os Xokó e a Luta pela Terra (José Apolônio) ....... 179
Gerais ........... … . . . . . . . . . . . . . . . . . - - - - - - - - - - - 180
Atikum ..... 4* * * * * * * * * * * * * * 181 |
* * * * * * * * * * * * * • • • • • • •

Fulni-ô ................................. ...... 181


Kiriri . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . - - - • • • • • • • • 182
Pankararé............................ - - - - - - - - - 183
Pankararú ............... * - - - - - - - - - - - - - ........ 184
Tapeba . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . - 184
Tingui-Botó ....................... . . . . . . . . . . . . 185
Tuxá ...... - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - 185
Wassu ............... - +- + • • * * * * * * * * * * * * * * • • • • • • • 186
*# •

—/^ | Ecºs INDIGENAs No BRASIL/CED


Acre........................................ . 187.

Mapa . . . . . . - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - 188
Quadro . . . . . . . - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - 189 * * * * * * * # + + + +

Auto-Demarcação Kulina e Kaxinauá (Rosa Monteiro,


Walter Sass, Lori Altmann e Roberto Zwetsch) ..... 191
“Fogo nos arraiais do Indigenismo” ............... 195
Ajacre . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . - - - - - - - - - - - - - * * * * * * * 207
Demarcação ............ + + + + + + -4 + g = = = = = = & ........ 210
Educação ............. . * # : ; . i + # : ; # # : ; # = #, &, s = . … . . . . 210
Alto Purus/Transacreana ......................... 212
BR-364 ...... * * * * * * * - - - - - - - - - - - - • • • • • • • • • • • • • • 214
Apurinã do 45 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
214
Apurinã de Pauini .................... * * * * * * * * * * 215
Kaxinawá ....... - - - - - - - - - - … * * * * * * * * * * * * * * * * * * 216
Katukina/Kaxinawá .................. .......... 216
Grupos arredios ......................... ....... 216

Rondônia ................................. . . 217

Mapa .................. * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * 218 |


Quadro ....................................... 219
Avaliação do Polonoroeste: uma Proposta (Bety Min
dlin) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . - - - - - - - ….… ........
221
Gerais ....... + + + + + + + + + + + 225
+ + + + + + + + = * * * * * * * * * * = = =

Arara/Gavião ........................... * * * = = = = 226


Cinta-Larga ................................... 228
Mequém ..................* * * * * * * * * * * * * *- - - - - - - 229
Uru-Eu-Wau-Wau ................. . = = = = * * * * * * * * 229 |

Oeste do Mato Grosso ....... * # 4 = # = * * * * * * * * * = 231

Mapa ...... * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * - - ........ 232


Quadro .................... * :s s + ,$ * * * * * * * * i = i + i + 233
A História de Jacutinga (Silbene de Almeida) ....... 234
Kayabi e Apiaká ................ ... * a = * * * * * * * * * * 238
Geral .......................…....... * * * * * * * * * * 239.
Nambiquara ............ • • • • • • • • • • • - - - - = * * * * * * * 239
Pareci . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . # 4 # # # # # # E = E = + + + 240
Pareci/Iranxe ..... • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • 241
Rikbaktsá ............... * * * * * * * * *. . . . . . . . . . . . . 241
Enauenê-Nauê ................... * # = = = = = . 241
= = = +' + =

Parque Indígena do Xingú .................. 243

Mapa - - - - - - - - - - . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 244
Quadro - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - 245
“A Guerra no Xingú”: Cronologia (Vanessa Lea e Ma
riana K. L. Ferreira) ..................... . . . . . . . 246

Goiás/Leste do Mato Grosso ................ 259

Mapa . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .* * * * * * * * , 260
Quadro ........... .* * * * * * * * * * * * * * + + + + + + + + + + + + + + 261
Mutirão Guerreiro Conquista Demarcação Apinayé
(Vincent Carelli) ............................... 262
Ajarina ....... - - - - - - - * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * *** * 267
Apinayé ........
Avá-Canoeiros: os *Indios
* * * * * *na
* * *Clandestinidade
* * * * * * * * * * * * * * (André
** * * * * 268 •

A. Toral) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 274
Avá-Canoeiro ................................ . . 276
Karajá e Javaé ............... * *276 * * # * * * # # % d & é # # # à

5º DR .................. - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - 279
Xavante . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 279
Leste …...............…................... 281

Mapa ........ ……….…….……………. 282


Quadro ...................... * * * * * * * * * * * * * * * • • • 283
Promessas Oficiais (José Carlos de A. Libânio e Már
cio Metzker) ................................... 284 -
Geral . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 286
Guarani/Bracuí .............................. , , 287
Krenak ......... * * * * * * * - - - 288
* * * * * * • • • • • • + * * * * * * +

Maxakali ....... + + + + + a = • • • • • • • * * * ** * * * + + + + 4 * * * * 289


Pataxó/Barra Velha ........... ………….…… 290
Pataxó Hã-Hã-Hãe ...... . . . . . . . . . . . . . . . . . . ..... 291
Xakriabá ..................................... 295

Mato Grosso do Sul ......................... 297

Mapa - . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . ............... 298


Quadro .................. 299 • 4 • * * * + + + 4 * * * * = s = • • • •

Guarani/Geral ................................. 301


Guarani/Guaimbé ............... . . . . . . . . . . . . . . 302
Guarani/Paraguasu ....... 303
+ + + + + + + + + + • • • • s s • • • • •

Guarani/Rancho Jakaré ................... ------ 303


Guarani/Te'yi Kue ...... ..................... .. 303
Terena .. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . ... 303
PIDourados ............…………………… 304
Kadiweu ........... - - - - - - - - - - - - - …………… 305
Ofaié-Xavante ................................. 308

Sul .......................................... 309

Mapa ......... - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - . . . . . . . . . 310


Quadro .......... * * * * * * * * * * * * * * - - - - - - - - - - - - - - - 311
Toldo Chimbangue: Centro da Luta Kaingang (Jura
cilda Veiga) ................................... 313
Kaingang/Chimbangue ....... * * * * + + + + + + + + = a = = = • • 316
O Caso da 12° DR (Bauru) ........... • • • * * * * * * * * 321
Geral ................... * - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - 325
Kaingang/Inhacorá ............................ 325
Kaingang/Mangueirinha ........................ 326
Kaingang/Nonoai . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 327
Kaingang/Guarani ............................. 327
Xokleng . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
327
Kaingang/Guarapuava ................ - - - - - - - - - - 328
Kaingang/Guarita .................. 328 • • • + + + + + 4 * *

Guarani/SP ......... . . . . . . . . * * * * * * * 330 * + + + + + + * * * *

Guarani/Itariri ................................ 330


Guarani/Peruíbe .................. - - - - - - - - - - - - - 331
Guarani/Pró-Mirim ............. - - - - - - - - - - - - - - - 332
Guarani/Rio Branco ........ * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * 332
Guarani/Silveiras .............................. 332
APRESENTAÇÃO

Essa publicação apresenta um resumo do que ocorreu nas áreas indígenas


do país, no âmbito da política indígena, a nível local, regional e nacional
e da política indigenista oficial, durante o ano de 1984.
Esse quadro foi montado pela equipe de edição de POVOS INDÍGENAS
NO BRASIL/CEDI, com base no acompanhamento das notícias
veiculadas por 54 jornais diários de todo o país, um jornal mensal
e duas revistas, além da colaboração de dezenas de pessoas (missionários,
antropólogos, indigenistas, fotógrafos, jornalistas, índios, etc.), que conhecem
de perto a situação e compõem uma rede alternativa (à visão oficial)
de informações.
Pretende ser um subsídio, com informações fidedignas, atualizadas
e abrangentes, para todos aqueles que estão empenhados no apoio
às lutas dos povos indígenas por direitos permanentes, no Brasil.
Na versão integral (parte geral -- 19 capítulos por Area), conforme
aparece no “Índice”, a publicação contém 23 comentários assinados,
a maior parte escrita especialmente para este número,
21 mapas, 26 quadros e 90 fotos.
A partir deste ano, as notícias deixaram de ser, em vários capítulos,
apenas aquilo que “Aconteceu na imprensa” e se passou a incorporar
informações de primeira mão, assinadas pelos seus remetentes.
Em seu conjunto, as notícias aparecem classificadas cronologicamente
em 125 títulos (povos ou temas), ocupando 332 páginas. Há informações
sobre 165 povos, além do registro de 23 evidências de grupos
considerados “arredios”.
O primeiro bloco de comentários e notícias, impresso em papel
de cor amarela, inclui matérias de interesse geral para o público
a que se destina a publicação.
A crise crônica da FUNAI, política e administrativa, tornou-se aguda em 84,
com a troca de três presidente e o acúmulo de demandas indígenas
não atendidas. No início de 1985, um grupo de lideranças indígenas
coordenadas pela UNI, se reuniu em Brasília e expressou essa insatisfação
quando apresentou um documento (publicado a seguir, com uma introdução
de Ailton Krenak) de análise e reivindicações, entre elas pela criação
r • de um novo órgão indigenista.
O emperramento político e administrativo no processo de demarcação
das terras indígenas, já visível em 83, aprofundou-se, como demonstra

11
INDÍGENAS NO BRASIL/CED

a análise feita pelos antropólogos João Pacheco de Oliveira Fº


e Alfredo Wagner B. de Almeida. •

Mas a questão certamente mais debatida publicamente em 84, foi a


da entrada (e em que condições) de empresas de mineração
em área indígena. As posições e retóricas dos vários setores
que se pronunciaram a respeito, aparecem extensamente mapeadas,
num capítulo especial, além das inúmeras informações contidas
nos capítulos por Área.
Os interesses indígenas e a Constituinte, no horizonte de 1986,
sobretudo a possibilidade de uma participação direta de índios na Assembléia
e as razões do interesse de empresários e instituições financeiras
internacionais na demarcação de terras indígenas, completam os assuntos
tratados através de comentários assinados, nas páginas amarelas.
Seguem-se 19 capítulos por Area, numa divisão geográfica que permitisse
agrupar as informações sobre todos os povos indígenas e, ao mesmo tempo,
viabilizasse tecnicamente a montagem de versões parciais (separatas)
da publicação. Especialmente dedicadas aos “leitores locais”
(índios e pessoas ligadas às agências de contato direto), as separatas incluem
parte das “páginas amarelas”, isto é, as notícias e comentários gerais
sobre o movimento indígena e a FUNAI, e o caderno referente a uma
(ou duas) das áreas, com a intenção
e estimular de facilitar a consulta
a leitura. •

Nessa edição não se repetiu, nos quadros de dados básicos por povo
e por Area, a coluna de informações sobre a situação jurídica
das terras indígenas. Pretende-se fazer uma versão atualizada
e mais completa dessas informações na edição do próximo ano.
S. Paulo, junho de 1985

12
A UNI E O
MOVIMENTO INDIGENA

Ailton Krenak

coordenador de publicações, UNI-SUL, SP.

Foram em número de cinco os eventos com participação do movimento


indígena organizado na UNI — União das Nações Indígenas — no período
de maio/84 a maio de 1895. Este ano político, que teve início no II? Encontro
Nacional de Lideranças Indígenas, em maio/84, passando pelo “Iº Congresso
Indígena Mineiro” (julho/84) e pela “I? Assembléia Indígena do Acre e Sul
do Amazonas, que reuniu representantes de 22 áreas desta região,
em trabalhos que duraram mais de 10 dias, neste período pela instalação
de uma Regional da UNI em Rio Branco.
Em setembro, tivemos a participação de uma delegação da UNI
no IVº Congresso Mundial dos Povos Indígenas — Panamá, onde,
pela primeira vez, o Movimento Indígena do Brasil pôde ter
uma representação formal junto ao Conselho Mundial dos Povos Indígenas
— CMPI. Em 85 houve a Assembléia Geral dos Tuxáuas, realizada
em Surumú—Território de Roraima, marcando uma nova relação
das comunidades Makuxi, Wapixana e Yanomami com os povos que já
vinham integrando o Movimento Indígena (vejam no capítulo “Roraima I”).
Sem falar na importante reunião Guarani realizada em março último,
na área de Ocoi, com representantes de comunidades de vários estados.
Deste período de intensa articulação indígena, nas regiões mais diversas
do país, de uma comunicação permanente com os vários grupos
que acorreram, seja a Brasília ou qualquer outro centro de decisão política,
permitiram a Coordenação do Movimento Indígena definir um programa
de reestruturação da política indigenista do estado. Este programa passa
obrigatoriamente por uma intervenção na FUNAI, na sua ocupação e controle
por parte dos que têm realmente interesse na sua transformação.
O texto que segue foi resultado de reunião de 2 dias, realizada em Brasília,
dias 5 e 6 de maio, por representantes da UNI além da presença de todos
os Coordenadores Regionais. Este texto é um basta na situação de abuso
e corrupção a que chegou a política indigenista oficial, e sobretudo a exigência
de mudanças urgentes!

13
S INDÍGENAS NO BRASIL/CEDI

o momento atual em que se discute a indicação de A maioria de nossas nações indígenas não foram beneficia
um novo presidente da Funai, o movimento indí das com os recursos financeiros que foram administrados
gena aqui representado pelas lideranças dos povos pelas sucessivas presidência da Funai, inclusive a atual.
Tukano, Apurinã, Kaxinauá, Tuxá, Kiriri, Pataxó, Bo Tais recursos foram mal distribuídos e desviados pela Fu
roro, Cayabi, Apiacá, Nambiquara, Xavante e Kaingang, nai, não sobrando nem migalhas para as nossas comuni
reunidos em assembléia com todos os representantes e coor dades indígenas da Amazônia, Nordeste, Centro-Oeste e do
denadores da União das Nações Indígenas (UNI) fazemos Sul do país. Não houve apoio efetivo da Funai, outras só
as seguintes denúncias e reivindicações: receberam esmolas e assim mesmo porque alguns de nossos
representantes e lideranças vieram de longe para pressionar
em sua sede em Brasília. As delegacias regionais da Funai
Mudanças profundas não têm autonomia e competência para resolver os proble
e um novo órgão mas de nossas comunidades, ocasionando uma grande con
centração de índios na sede de Brasília com gastos enormes.
I — Exigimos uma mudança profunda na Funai, que até e desnecessários. O atual presidente da Funai não tem com
agora não tem resolvido os nossos problemas mais premen petência para solucionar os nossos problemas e o órgão se
tes. As sucessivas administrações da Funai desde a sua cria desgasta politicamente, mais parece um órgão da Máfia de
ção têm privilegiado apenas os seus funcionários em detri vido à corrupção e à mordomia de seus dirigentes e funcio
mento das demarcações de nossas terras e de programas de nários nestes últimos anos dos governos militares.
saúde e educação em nossas comunidades indígenas. A
maior parte dos recursos da Funai é para pagar os seus Além de mudanças profundas, reivindicamos a criação de
3.200 funcionários e agora mesmo estão gastando milhões um novo órgão indigenista em lugar dessa Funai para resol
de cruzeiros para realizar concursos e treinamentos de 200 ver as nossas dificuldades, ou uma secretaria ou um Minis
novos empregados brancos para serem os intermediadores tério do Índio ligado diretamente à Presidência da Repú
de nossas nações indígenas. blica e que haja uma participação crescente de nossos repre
sentantes e lideranças em todo que diz respeito aos nossos
A Funai não cumpriu o seu papel de tutor, não demarcou as próprios destinos. E para dirigi-lo sejam escolhidas pessoas
nossas terras, segundo as leis vigentes neste país, e ainda competentes, comprometidas com as nossas lutas e reivindi
permitiu que companhias mineradoras, garimpeiros, fazen cações e que sejam indicadas pelo consenso de nosso mo
deiros, seringalistas e grandes projetos de barragens e estra vimento indígena. Queremos que esse novo órgão indige
das invadissem as nossas terras ou áreas indígenas. A gran nista seja sério, representativo e democrático."
de maioria de seus funcionários atuais não tem sensibili
dade e capacidade para tratar de nossos problemas. Estão
mais preocupados com seus altos salários e mordomias. Direitos específicos
A Funai está desmoralizada, enfraquecida, sem dinheiro e 2 — “Apesar de todo genocídio e etnocídio praticado con
pouca democracia. Seus funcionários estão atualmente mais tra nossos povos indígenas neste país, de vivermos atual
preocupados em disputas pelo poder dentro do órgão indi mente sem as nossas terras demarcadas, sem programas de
genista oficial do que com as nossas verdadeiras reivindica saúde e de educação bilíngüe decente e de projetos econô
ções. Eles dividem e querem mandar em nossas áreas indí micos que beneficiem as nossas comunidades, sem assistên
genas como se elas fossem verdadeiras capitanias hereditá cia por parte do governo brasileiro para as nossas 180 na
rias. Alguns se agridem fisicamente na sede de Brasília e os ções indígenas, de assistirmos os crimes e assassinatos co
delegados-regionais e chefes de postos disputam o poder metidos contra as lideranças de nosso movimento indígena,
entre si e não se entendem e não respeitam as nossas lide de vermos as nossas áreas serem saqueadas por minerado
ranças indígenas. O atual presidente interino da Funai está res, fazendeiros, seringalistas e construções de estradas e hi
confundindo a cabeça com dinheiro público e quer a cons droelétricas em nossas áreas, apesar de tudo isso estamos
ciência de muitos de nossos irmãos índios, manipulando ainda vivos e querendo viver com mais dignidade humana.
vergonhosamente e dividindo o movimento indígena para O preço que já pagamos não pode mais ser cobrado por um
permanecer no poder, assinando portarias que permitem Estado que seja verdadeiramente democrático e que de
garimpeiros e companhias mineradoras invadirem e sa fenda a instalação de uma nova República neste país. O go
quearem as riquezas existentes dentro de nossas áreas indí verno deve assumir de vez essa responsabilidade, asseguran
genas. do o direito de nossos diferentes povos resguardar as nossas
identidades de nação indígenas, para não sermos tratados
A nova República para os índios deve ser uma nova Funai, como estrangeiros dentro do nosso país. Somos povos dis
administrada por pessoas competentes e responsáveis, e tintos, cidadões brasileiros e com direitos específicos.
com a participação crescente de nossas lideranças e repre
sentantes indígenas. Por isso, reivindicamos que o Governo Lembramos aqui os últimos crimes e assassinatos cometidos
brasileiro faça uma intervenção na Funai para avaliar os impunemente contra as lideranças de nosso movimento in
gastos, o desmando e a falta de uma política indigenista dígena como: Angelo Kretan, Alcides Maxacali, Angelo
voltada para a resolução de nossos problemas fundamen Pancararé, Marçal de Souza Guarani e José Carvalho Ki
tais. Queremos que as novas autoridades deste país abra riri, que perderam as suas vidas porque lutavam pelos di
um inquérito dentro da Funai para que nos explique os gas reitos e reivindicações."
tos do órgão que foram gastos pelo órgão oficial. Queremos
que os funcionários corruptos sejam demitidos imediata
mente da Funai.

14
sL7-Acervo
_/\ | <> A

Revogação do 88.118/83 de nossas nações indígenas. Exigimos médicos e enfermei


ras competentes que organize vacinas preventivas em nossas
3 — "Exigimos as demarcações de nossas terras e que elas áreas e que se preparem os próprios índios para sermos os
não sejam invadidas, porque isto é de fundamental impor agentes de saúde de nossas comunidades porque temos mais
tância para a vida de nossos povos indígenas. A Funai tem compromisso com elas do que os funcionários da Funai, que
gastos muitos recursos com as delimitações de nossas terras, raramente conseguem se adaptar nas nossas áreas.
baseadas em estudos de eleições de áreas indígenas quase
sempre desonestos e incompetentes, porque não partem das Queremos também que programas de educação sejam reali
legítimas aspirações de nossas nações indígenas. Apesar de zados pelos próprios índios e com materiais didáticos que
tudo isso pouco ou quase nada tem sido feito no sentido de falem sobre as nossas próprias realidades, não esquecendo
demarcá-las efetivamente. Exigimos as demarcações ime de ser uma educação bilíngüe e que dê maior autonomia
diatas de nossas áreas indígenas e que elas não sejam intru para as nossas populações indígenas. Reivindicamos que o
zadas por nenhum tipo de invasores. Coverno brasileiro nos dê condições para freqüentarmos as
universidades independentes das normas exigidas pelo ves
Queremos a revogação do decreto 88.118/83, que veio com tibular.”
plicar ainda mais a regularização fundiária de nossas terras
indígenas e a anulação do decreto 88.985/83, que provocou
uma corrida desenfreada de garimpeiros e companhias mi Reconhecimento oficial da UNI
neradoras para dentro de nossas áreas, saqueando as rique
zas minerais existentes em muitas de nossas terras. Reivin 4 — “Reivindicamos ainda que o Governo brasileiro reco
dicamos que todas as riquezas existentes no solo e sub-solo nheça oficialmente a UNI como autêntica representante dos
de nossas terras sejam de posse efetiva de nossas nações
indígenas. •
nossos povos indígenas. Somente a UNI será capaz de re
presentar democraticamente a vontade política de nossas
diversas nações indígenas. Somente pelo fortalecimento da
Enfim, reivindicamos que a Nova República e um Estado UNI seremos capazes de absorver democraticamente as nos
que se diga democrático não protele mais as demarcações sas divergências, buscando um consenso dentro de nosso
de nossas áreas indígenas. E que nossos representantes e movimento indígena. Queremos negociar diretamente com
lideranças possam participar com direito a voz e a voto nas o Governo brasileiro, sem os nossos antigos intermediários
de nossas terras sejam de posse efetiva de nossas nações da Funai. Nós, representantes e lideranças das 180 nações
indígenas. indígenas hoje existentes no país, queremos ficar indepen
dentes e libertos desses intermediários e interlocutores que
Ao lado das demarcações imediatas de nossas áreas reivin atualmente desempenham tais papéis dentro da Funai.
dicamos ainda projetos econômicos discutidos previamente
e administrado diretamente pelas nossas comunidades para A UNI representada pelos seus diferentes coordenadores re
que possam ocupá-las produtivamente por conta própria e gionais e pelas lideranças e representantes de nosso movi
segundo os nossos costumes e tradições. Sofremos atual mento indígena exigimos que sejam expulsas de nossas áreas
mente muita exploração econômica em nossas terras. E o Instituto Lingüístico de Verão, as missões Novas Tribos e
preciso que o Governo brasileiro ajude com recursos as outras entidades religiosas que não querem se comprometer
nossas nações indígenas para que essa exploração econô com as nossas reivindicações e problemas. Estas missões es
mica que sofremos não seja tão prejudicial às nossas vidas. tão mais interessadas em realizar uma expropriação espiri
Precisamos deles para que possamos organizar por conta tual de nossos
caminhada povos
pela dolibertação.
nossa que nos ajudar
” concretamente nessa •

própria as nossas áreas indígenas, sem a intermediação dos


funcionários da Funai.

Queremos participar das decisões sobre as nossas terras di Participação indígena


retamente com o novo Ministério da Reforma Agrária. Exi na Constituinte
gimos que as mineradoras, os fazendeiros, as hidroelétricas
e estradas fiquem fora de nossas terras. Queremos fazer 5 — "Finalmente para terminarmos este nosso documento,
uma paz duradoura e permanente com os brasileiros sem conclamamos ao país para que o nosso movimento indígena
terras, que não tendo mais para onde correr começam a possa participar dos grandes debates e simpósios públicos
invadir as nossas áreas indígenas. Para isso é preciso haver sobre a constituinte, porque nós também queremos mudar
uma verdadeira reforma agrária que beneficie efetivamente as leis relativas aos nossos povos indígenas. Pelas atuais leis
milhões de brasileiros Sem Terras, mas que isso não seja vigentes somos considerados relativamente incapazes e tute
feito em detrimento de nossas áreas indígenas, lados pela Funai que tem história, vergonhosa. Durante este
período de Constituinte exigimos que nossos representantes
As precárias condições de saúde são alarmantes em nossas indígenas participem diretamente nas formulações de leis
4reas indígenas. Todos os anos epidemias de sarampo, co que nos dizem respeito. Queremos que nas novas leis não
queluche, malária, tuberculose e outras tantas têm ceifado haja mais lugar para os falsos intermediadores que hoje
muitas vidas humanas em nossas comunidades, principal usam a Funai apenas para defender os seus próprios inte
mente na Amazônia aonde estão concentradas as maiorias resses, em vez de defender os nossos direitos. A Funai, que
surgiu durante estes anos de ditadura militar, que herdou
todos os defeitos e desmandos do antigo SPI, está com os
seus dias contados a partir da Nova Constituição.

15
s! Z> Acervo
_/\ | S A INDÍGENAS NO BRASIL/CEDI

Solicitamos o apoio concreto do Governo Federal, do Se Assinam: Paulo Nonda Xavante


nado e Congresso Nacional, especialmente a Comissão do Domingos Veríssimo Marcos Terena
Indio, para executar reestruturação total da FUNAI, e que Gabriel Gentil Tukano (UNI-AM)
º novo responsável por esse órgão indigenista não pague pe Paulo Meriecureu Bororo (UNI-Centro-Oeste)
los abusos de corrupção e de incompetência dos adminis Antonio da Veiga Kaxinawa
tradores da Velha República. Samado dos Santos Pataxó
Osaias Sales Kaxinawá
Na certeza de sermos compreendidos no Senado e no Con Biraci Brasil Yanawá
gresso Nacional, a UNI exige para os representantes do povo Lázaro Kiriri
brasileiro, independente departidos, analisem a nossa ques Francisco dos Santos Tuxá
tão com delicadeza e carinho para edificação da NOVA RE Modesto Pereira Terena
PUBLICA.”
José Augusto Xucurú-Kariri
Brasília, 06 de maio de 1985.

Polícia para proteger de oito xavantes, entre eles o cacique


a FUNAI Aniceto Tsudzaveré e do deputado Na
dir Rossetti (PDR-RJ). Juruna foi soli
As cenas lembravam um campus uni citar a retirada da polícia.
versitário na década de 60, em dia de O presidente da Funai não recebeu Ju
assembléia estudantil: tropas de cho runa. Mandou dizer que estava em reu
Pedida a demissão
que, policiais armados de cassetete e nião. O deputado conversou apenas com
de Otávio
revólveres, agentes federais circulando um dos diretores do órgão, Carlos Gros
Pintados de vermelho, cocar na cabeça com walkie-talkies, cães pastores pron si, que lhe disse não ter competência
e borduna nas mãos, num traje exclu tos para avançar. Foi assim que os fun para retirar os policiais.
sivo para os dias de festas, os represen cionários da Funai encontraram o pré Há mais de uma semana o presidente da
tantes das tribos pataxós, xerentes e ba dio onde funciona o órgão tutor dos ín Funaivinha se prevenindo contra a inva
kairis, que sentaram na primeira fila da dios, no Setor de Indústria, às oito e são do prédio. Determinou a instalação
sala de comissões da Câmara dos Depu meia da manhã de ontem. -

de interfones em todo o prédio, mandou


tados, conseguiram transmitir sem pa Do outro lado da cidade, na Esplanada colocar mais uma porta para proteger
lavras o significado maior do II Encon dos Ministérios, as mesmas cenas. O seu gabinete e na última sexta-feira, vi
tro Nacional dos Povos Indígenas: paz bloco do ministério do Interior, ao lado sitou uma a uma todas as salas do órgão,
para negociar as reivindicações, mas da Catedral, estava cercado pelos poli dizendo aos funcionários que não have
união para fazê-las valer. ciais. Tanto o ministro Mário Andreaz ria risco, pois as medidas de defesa esta
Esse foi o clima predominante nas za, como o presidente da Funai, Octávio vam sendo implantadas. (Cidade de
abertura do II Encontro dos Povos Indí Ferreira Lima, temendo uma invasão Santos, 04/04/84).
genas, do qual participaram cerca de dos 450 líderes indígenas que estão reu
300 índios representando 170 povos e nidos em Brasília, solicitaram à Secreta
250 mil pessoas. Eles vieram trazendo ria de Segurança Pública precauções Incidente no Congresso
várias reivindicações. Mas o ponto cen contra os índios.
tral de suas discussões se refere à mu Enquanto isso, os líderes indígenas, reu O II Encontro de Líderes Indígenas ter
dança do presidente da Funai. “Assim nidos na sala da Comissão de relações da minou, ontem, em Brasília com um inci
como o povo brasileiro quer eleger o Câmara dos Deputados, concluíam o dente entre os índios e o deputado malu
presidente da República, os povos indí documento que foi encaminhado ao pro fista Diogo Nomura (PDS-SP), que no
genas querem escolher o presidente da curador-geral da República, Inocêncio início dos debates, à tarde, exigiu a pa
Funai”, explicou o deputado Mário Ju Mártires Coelho.Em ordem, sem qual ralisação da reunião que estava sendo
runa, que durante a sua exposição foi quer intenção de invadir a Funai ou o realizada na Comissão de Relações Ex
muito aplaudido. Ministério do Interior, eles escolhiam a teriores da Câmara. O deputado, que é
Ontem de manhã, os índios decidiram comissão de representantes que levaria o presidente da Comissão, disse que a reu
realizar uma eleição simulada para le documento. nião ficaria suspensa até a chegada do
vantar nomes capazes de assumir a pre Só às dez da manhã o xavante Mário deputado Mário Juruna, afirmando que
sidência da Funai. Esses nomes, prof. Juruna (PDT-RJ), que coordena o en o índio Marcos Terena, que falava no
Dalmo Dallari, Carlos Moreira Neto contro das lideranças, soube que a Fu momento, estava incitando os índios
(antropólogo) e Pedro Paulo Fatorelli nai estava cercada. Indignado com a contra os brancos. Logo após o inci
(ex-superintendente da Funai) serão “Falta de respeito”, o deputado dirigiu dente, Juruna chegou ao local e, depois
apresentados ao presidente Figueiredo se ao Setor de Indústria em companhia de determinar o reinício dos debates,
em audiência a ser marcada, mas caso afirmou que não podia admitir que um
ela não seja concedida, o documento se deputado japonês expulsasse os índios
rá entregue por outras vias. (Diário Po
pular, 03/04/84).
16
No II? Encontro Nacional
dos Povos Indígenas no Brasil,
# os índios armaram um acampamento
nas proximidades do Congresso Nacional,
em Brasília.

Durante os dias do Encontro,


o prédio da FUNAI foi “protegido”
pela tropa de choque da PM.

No final, uma delegação foi à PGR


reivindicar a revogação
do dec. 88.118/83.

17
Acervo
| @A INDÍGENAS NO BRASIL/CEDI

da comissão. O deputado Amaury Mul de terras indígenas — determinando atual sistema de deliberação para de
ler (PMDB-SP) pediu desculpas aos ín que seja feito por um grupo de trabalho marcação de áreas indígenas, com a vol
dios. “Vocês índios — afirmou — são interministerial e não mais apenas pela ta desta prerrogativa à Funai. (Correio
mais civilizados do que a gente”. Funai como prevê o Estatuto do Índio. Brasiliense, 27/11/84).
“Aqui não é casa de japonês, de ameri Inocêncio entendeu que esses atos nor
cano ou de alemão” — disse Juruna. mativos não contrariam a Constituição
“Aqui é casa de brasileiro. Os índios es Federal, nem extravasam os limites fi Entregue documento
tão aqui a convite da Comissão do Indio xados na Lei nº 6.001, de 19 de dezem a Tancredo
e quem manda hoje aqui é Juruna, re bro de 1973 (Estatuto do Índio).
presentante de todas as nações indíge Em abril passado, quando do II Encon A reformulação de toda a política indí
nas”. Ainda indignado com a atitude de tro dos Povos Indígenas Brasileiros, 400 gena no país, com base em contatos per
Nomura, Juruna perguntou aos presen líderes assinaram um documento solici manentes com as diversas comunidades
tes: “Vocês sabem quem é o presidente tando a argüição de constitucionalidade indígenas, foi a promessa feita, ontem
do Incra?” Ele mesmo respondeu: “É daqueles documentos governamentais, e pelo candidato Tancredo Neves, ao rece
um japonês”. E prosseguindo: “Vocês o entregaram ao Procurador-Geral da ber em seu escritório eleitoral 15 índios,
sabem quem é o presidente da Petro República, porque estavam certos de de várias nações. Os índios entregaram
brás? Também é japonês”. Concluindo, que o objetivo do decreto e da portaria é ao ex-governador mineiro documento
Juruna afirmou: “Depois das eleições o de esvaziar a autoridade do órgão tute contendo as conclusões de seminário
diretas muita gente vai cair”. lar, o que prejudica seus direitos. (Jornal realizado nos dias 26 e 27, na Câmara
No final do encontro os índios divulga de Brasília, 12/06/84). dos Deputados, promovido pela Funda
ram um documento de repúdio à exposi ção Pedroso Horta, do Distrito federal.
ção de motivos 055, de agosto de 83, as O candidato da Aliança Democrática
sinada pelos ministros da Justiça, Abi defendeu a manutenção das populações
Ackel e de assuntos fundiários, Danilo indígenas no seu território de origem e
Venturini, que entre outras coisas esta comprometeu-se em realizar, no seu go
belece que, em casos de perturbações da verno, a demarcação das terras indíge
ordem, ou necessidade de assegurar o nas. A promessa de Tancredo foi feita a
exercício dos poderes constituídos, as “Nova política indigenista” 15 representantes da comunidade indí
Forças Armadas poderão intervir nas gena, antropólogos e membros de enti
áreas indígenas. Os índios criticam par Mudança total nas relações entre o Es dades pró-índio.
ticularmente a exposição quando ela es tado e os índios, abrindo canais para que Em nome das tribos indígenas, Jano
tabelece que a intervenção nas áreas in as comunidades participem das deci cula, do Parque do Xingu, fez a entrega
dígenas por forças policiais ou milita sões, e criação de um novo órgão tutor, do documento e pediu a Tancredo uma
respoderá ser desencadeada a pedido da que seja “órgão de representação” dos mudança na política indigenista no país.
Funai ou por particulares interessados índios junto ao poder executivo. Estas O candidato das Oposições foi ainda
(Diário do Grande ABC, 05/04/84). são as diretrizes-mestras de uma nova saudado pelo presidente das Uniões In
política indigenista brasileira, que está dígena, Ailton Krenak, e pelo Pataxó,
sendo elaborada por entidades de apoio Nailton Muniz. (Jornal de Brasília, 29/
Dallari assumiria ao índio de todo o País, no simpósio “In 11/84).
FUNAI “desatrelada” dios e Estado”, promovido pela Funda
ção Pedroso Horta, do PMDB, a pedido
O jurista Dalmo Dallari, integrante da do candidato da Aliança Democrática,
Comissão Justiça e Paz de São Paulo, Tancredo Neves.
afirmou ontem que teria o máximo pra O simpósio com encerramento previsto
zer em assumir a presidência da Funai, para hoje, conta, também, com a parti IV Assembléia Geral
“desde que o órgão estivesse desatrelado cipação de lideranças indígenas e do de
do ministério do Interior, conseqüente putado Mário Juruna. O antropólogo Os milhares e milhares de metros qua
mente da política econômica do gover Olímpio Serra, que presidiu ontem os drados de carpetes com desenho exclu
no, e pudesse desenvolver uma verda trabalhos, disse que o “mote principal sivo, no suntuoso Centro de Convenções
deira política indigenista, inexistente no de uma nova política indigenista deve Atlapa, na capital do Panamá, foram
País”. (FSP, 5/4/84). ser a mudança de postura do Estado, diligentemente pisados, durante a úl
que até hoje tem seguido uma tradição tima semana de setembro, por mais de
colonialista, considerando os índios sob 200 lideranças indígenas, procedentes
Negada uma perspectiva de “futuros não-ín de 23 países, que ali se encontravam
inconstitucionalidade dios”. para a IV Assembléia Geral do CMPI —
O presidente do PMDB, deputado Ulis Conselho Mundial de Povos Indígenas.
O Procurador-Geral da República, Ino ses Guimarães, encerrará o seminário O tema central — autodeterminação —
cêncio Mártires Coelho, indeferiu o pe hoje, à noite, recebendo os subsídios foi discutido com entusiasmo pelos re
dido de arguição de inconstitucionali para a elaboração da política indigenis presentantes das cinco regiões (de três
dade do Decreto nº 88.118, de 23 de fe ta de Tancredo Neves. Entre os partici continentes) que compõem o CMPI: Re
vereiro de 1983, e da Portaria do MIN pantes — representantes de todas as en gião do Pacífico (Austrália, Nova Zelân
TER e do MEAF, nº 002, de 17 de mar tidades de apoio ao índio do País —,
ço do mesmo ano, que dispõem sobre o duas posiçõesjá são consenso: a reestru
processo administrativo de demarcação turação total da Funai, com sua retirada
do âmbito do Ministério do Interior (al
guns sugerem sua vinculação direta à
Previdência da República) e o fim do

18
PALAVRAS DE
TANCREDO NEVES:

| “O grande problema indígena no


Brasil é a demarcação. E a
demarcação, que é realmente muito
pequena, em face da extensão dos
territórios ocupados pelos índios e dos
territórios a que eles têm direito, tem
de ser realmente incentivada.”

(JT, 12.02.85, trecho de uma resposta dada durante


entrevista coletiva à imprensa nacional e internacional,
no Congresso, em Brasília, no dia 11).

Delegação indígena
entrega ao candidato Tancredo Neves
o documento final
do seminário “Índios e Estado”
(Brasília, 28.11.84).

dia e várias ilhas sob dominação colo A questão havia sido levada à Comissão
nial); Conselho Nórdico Sâmi(Noruega, de Constituição e Justiça pelo próprio
Finlândia e Suécia); Região da América Juruna, (O Globo, 12/04/84).
do Norte (Canadá e Estados Unidos); ÍNDIO
Corpi – Coordenadoria Regional de Po
vos Índios (América Central e México); e Parecer da Comissão é contra Juruna continua
Cisa — Conselho Indio da América do
Sul (o qual inclui, entre seus organis Por 12 votos a nove, a Comissão de Cons Graças ao presidente da Câmara, Flávio
mos-base, a UNI — União das Nações tituição e Justiça da Câmara decidiu on Marcílio, o deputado-cacique Mário Ju
Indígenas, que enviou para a Assem tem que o Deputado Mário Juruna runa vai poder continuar a exercer o seu
bléia três representantes: Ailton Lacer (PDT-RJ) não será reconduzido à Presi mandato de presidente da Comissão do
da, Krenak, de São Paulo; José Apolô dência da Comissão do Indio, cargo Indio, pelo menos até que o plenário de
nio dos Santos, Xokó, de Sergipe; e Bi para o qual foi eleito em setembro de libere sobre a decisão da Comissão de
raci Brasil, Yawanawá, do Acre. (Po 1983 e no qual permaneceu menos de Justiça. (JB, 16/04/84).
rantim, nov. 84). três meses.
O entendimento dominante — dos De
putados do PDS — foi o de que deveria
ser observado dispositivo do Regimento
Interno, segundo o qual, no início de ca
da sessão legislativa, deve ser realizada
eleição para a renovação dos mandatos
dos dirigentes.
19
Acervo
| S A IDÍGENAS NO BRASIL/CED]

Juruna criticou a assinatura dos convê que estão reunidos em Brasília, solici
nios, que, segundo afirmou, “não pas taram à Secretaria de Segurança Públi
O ex-presidente da Funai, Jurandy Mar sam de mais um artifício do Ministro caprecauções contra os índios. Enquan
cos da Fonseca, afirmou, ontem, na Co Andreazza para a campanha sucessó to isso, os líderes indígenas, reunidos na
missão do Indio da Câmara, que dos 296 ria”. (O Globo, 01/02/84). sala da Comissão de Relações da Câma
pedidos de ingressos em áreas indígenas ra dos Deputados, concluíam a docu
feitos por mineradoras, 97 pertencem a mento que foi encaminhado ao procura
empresas estrangeiras. Ele reafirmou Verba para demarcações dor-geral da República. Em ordem, sem
para os deputados que a sua demissão qualquer intenção de invadir a Funai ou
da Funai foi causada pela não assina O FINSOCIAL destinará um bilhão e o Ministério do Interior, eles escolhiam
tura da portaria que iria regulamentar o quinhentos milhões para a FUNAI; que a comissão de representantes que levaria
decreto 88.985, de 1983, que permite a serão aplicados na identificação, demar o documento. O cacique Aniceto, chefe
exploração de minérios nas áreas da Fu cação e regularização fundiária de terras da reserva Xavante de São Marcos, em
naipor empresas particulares. indígenas localizadas em 16 estados e Mato Grosso, manifestou sua tristeza.
Jurandy foi criticado por dois parlamen nos territórios do Amapá e Roraima, be “É assim que nos recebem. Nós nunca
tares: O deputado Mário Juruna, que foi neficiando mais de onze mil índios. Os recebemos chefe da Funai com guerrei
recursos serão liberados sob a forma não ros armados. Isso está acabando. Funai
atacado por Jurandy, quando afirmou
no mês passado que os Pataxós da Bahia reembolsável, pelo BNDES, órgão vin está acabando. Não é mais tutor, agora
não eram índios e, por isso, deveriam ser culado à SEPLAN e responsável pela ad vem agredir com desrespeito. Nós não
assistidos pelo Incra e não pela Funai, e ministração do FINSOCIAL. (Diário somos inimigos. Queremos apenas segu
deputado João Batista Fagundes, do Popular, 13/03/84). rança para nossas terras”. (FSP, 4/4/
PDS de Roraima, defensor da portaria 84).
condenada pelo ex-presidente da Funai.
Jurandy apresentou, ao final, o que cha FUNAI define
mou de resultados dos seus três meses de política de atração Andreazza demite
administração: o levantamento de 37 presidente da FUNAI
áreas indígenas para efeito de demarca A Funai divulgou portaria definindo,
ção. (Jornal de Brasília, 20/03/84), pela primeira vez desde sua criação, O Ministro do Interior, Andreazza, de
uma política para atração de índios ar mitiu ontem o Presidente da Funai, Otá
redios. Segundo a orientação, as frentes vio Ferreira Lima, em troca da liberta
Pela extinção de atração para contato com índios iso ção dos funcionários da Fundação, re
lados — hoje cerca de 15 mil — só serão féns do Txukahamãe, rebelados no Xin
O deputado Mozarildo Cavalcanti (PDS constituídas no exclusivo interesse das gu. As negociações entre o Governo e os
RR), membro da Comissão do Indio, comunidades indígenas, quando estiver índios prosseguirão hoje, quando será
deu entrada na Câmara dos Deputados comprovado algum perigo que coloque debatida a questão da faixa de 40 qui
a um Projeto de Resolução (nº 214, de em risco a integridade do grupo. A Fu lômetros reivindicada pelos Txukaha
1984), propondo a extinção da Comissão naitem hoje seis frentes de atração para mãe. (O Globo, 1/5/84).
do Indio e a criação da Comissão de De contato com os grupos isolados na Ama
fesa dos Direitos Humanos. Na justifica zônia legal. As frentes de atração serão
tiva do projeto, o Deputado alega que é chefiadas somente por sertanistas e sua Fonseca assume a FUNAI
um privilégio o índio ter uma Comissão transformação em posto indígena será e nomeia índios
específica em relação a outras minorias sempre precedida de parecer do chefe da
como os negros e as mulheres, que deve frente. (O Globo, 22/3/84). O novo presidente da Funai, Jurandy
rão estar contemplados na nova Comis Marcos Fonseca, advogado, 44 anos, foi
são proposta (setembro de 1984). nomeado ontem e já escolheu dois índios
Tropa de choque para cargos de chefia: Marcos Terena,
contra presença chefe de gabinete, e Megaron, diretor do
de líderes indígenas Parque Indígena do Xingu. Esta é a pri
meira vez que os índios assumem postos
As cenas lembravam um campus univer importantes dentro do órgão tutor e
Convênio interministerial sitário da década de 60, em dia de as Fonseca justificou sua escolha dizendo:
sembléia estudantil: tropas de choque, “Hoje a realidade é outra e por entender
O Ministro do Interior, Mário Andreaz policiais armados de cassetete e revólve essa nova realidade, convidei índios pa
za, assinou ontem convênios com o Mi res, agentes federais, cães pastores ra minha administração. Eu teria o
nistro da Agricultura, AmauryStabile, e prontos para avançar. Foi assim que os maior orgulho da minha vida se no final
com a Ministra da Educação, Esther de funcionários da Funai encontraram o da minha gestão passasse o cargo de pre
Figueiredo Ferraz, estabelecendo uma prédio onde funciona o órgão tutor dos sidente para um índio. Não posso pro
ação conjunta entre os três Ministérios índios, na manhã de ontem. Do outro meter nada, mas quem sabe...”
para o atendimento das comunidades lado da cidade, as mesmas cenas: o Mi Jurandy Marcos Fonseca não é leigo na
indígenas do Brasil nos campos da agri nistério do Interior estava cercado pelos questão indígena. Foi chefe de gabinete
cultura e da educação. A solenidade foi policiais. Tanto o ministro Andreazza de dois ex-presidentes (generais Bandei
assistida por cerca de 20 índios — dos como o presidente da Funai, temendo ra de Melo e Ismarth Araújo de Olivei
grupos Bororó, Bakairi, Terena, Txu uma invasão dos 450 líderes indígenas ra). Nasceu na aldeia indígena de Tau
carramãe, Xerente e Carajá — que rei nay, município de Aquidauana (MS),
vindicaram maior participação das co onde vivem os Terena. Seu pai partici
munidades indígenas nas decisões que pou da comissão Rondon e trabalhou no
lhes digam respeito. O Deputado Mário
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extinto SPI. Seu nome recebeu incondi Segundo ele, enquanto o CIMI entende “Tudo não passa de um grande engo
cional apoio do deputado Mário Juruna os povos indígenas com todos direitos de do”, declarou, acrescentando que os lí
e ontem mesmo os dois se reuniram para ocupar suas terras, viver com seus pa deres indígenas e ex-contestadores da
discutir os problemas mais urgentes da drões culturais, enfim luta pela preser Funai “acalmaram-se nas mordomias
Funai: demarcação e falta de recursos. vação da identidade do índio, a Funai e a do poder em Brasília”. E eles só voltarão
(FSP, 9/5/84), política desenvolvimentista do Governo a criticar a fundação quando “voltar a
se voltam contra os povos indígenas, isso política de se atender qualquer índio”.
porque faz uma política de assimilação e “Essa é a verdadeira história da abertu
Substituições integração gradativa, que virá transfor ra da Funai”, afirmou, “uma farsa da
mar o índio num brasileiro comum, ou qual me recuso a participar”. O serta
Na Funai, em Brasília, informou-se que seja, o desrespeito total de sua identi nista denunciou que “estão corrompen
o novo Superintendente Executivo do ór dade. (O Popular, 02/06/84). do o índio com podere cargos” e isso, em
gão será o funcionário da Sudeco Eraldo sua opinião, vai resultar na anulação de
Pereira dos Santos, que substituirá La verdadeiros líderes indígenas, que po
martine Ribeiro de Oliveira, um dos re Mais verbas deriam estar nas aldeias cuidando de
féns dos txucarramãe. A Diretoria de do FINSOCIAL suas comunidades.
Assistência aos Indios, antes ocupada Segundo Apoena Meirelles, o deputado
por Carlos Grossi (outro dos reféns) fi O Finsocial liberou ontem Cr$ 2,09 biMário Juruna — “que sempre se mos
cará com Gerson da Silva Alves, ex-Di lhões para financiar o Programa de De trou um crítico permanente da Funai”
retor do órgão e ex-Delegado em Mato senvolvimento e Assistência às Comuni — está apoiando a atual administração
Grosso. (O Globo, 15/05/84). dades Indígenas, que inclui 140 projetos porque sua mulher foi contratada como
de sustentação alimentar, geração de ex secretária da fundação, em Brasília, e
cedentes comercializáveis e melhor ocutem um filho e mais quatro sobrinhos
Posse no Amazonas pação das terras. As comunidades indí exercendo funções na delegacia de Barra
genas de 14 Estados deverão usar o di do Garça. Para esconder “desmandos”
O presidente da Funai, Jurandir Matos nheiro para o plantio de amendoim, al como estes — “feitos para atender e si
Fonseca participou ontem, em Manaus, godão, arroz, batata, feijão, milho e lenciar seus ex-críticos" —, os boletins
da posse do novo delegado da Funai, Al soja. da Funaihoje são restritos aos diretores,
do Gomes da Costa, ex-secretário de Os índios pataxós e quiriris, da Bahia, quando desde o início sempre circula
Educação, substituto de Kazuto Kawa foram ainda beneficiados com um con ram entre todos os funcionários, denun
moto, que durante mais de oito anos vênio que a Funai firmou ontem com a ciou ainda o sertanista.
presidiu a delegacia do órgão no Ama Cobal, no valor de Cr$ 39 milhões; eles “Lamento profundamente, sem má
zonas. Jurandir Fonseca disse que a vão receber gêneros alimentícios sem in goas, mas com imensa tristeza, que a
“Amazônia receberá uma prioridade es termediação e ainda terão o direito de oportunidade dada a esses críticos da
pecial, porque existem áreas calmas ho escolher o tipo de alimento desejado. Funai tenha sido aproveitada de forma
je, mas que podem gerar tensões. Por Antes de serem entregues, os alimentos. tão desonesta, uma verdadeira traição à
isso, vamos dar prioridade à demarca vão receber laudo técnico da Secretaria causa do índio”. Para Apoena, em fun
ção da Amazônia”. (Folha da Tarde, da Saúde, atestando sua qualidade. Os ção desta situação, não existe uma lide
23/05/84). supermercados da Cobal em Alagoinha rança indígena a nível nacional: “Todos
e Ilhéus estão encarregados da distribui representam grupos e facções e convi
ção. (ESP, 07/06/84) vem com contradições internas tribais
Novo delegado do NE muito grandes”. O episódio em Bauru,
segundo ele, deixou isso bem claro. “O
O presidente da FUNAI, esteve na posse Apoena: abertura na FUNAI futuro próximo mostrará o quanto esta
de Leonardo Reis como novo delegado é “ºblefe?? irresponsabilidade na condução da polí
do NE, em Recife, substituindo a Di tica indigenista será de difícil solução”.
narte Nobre de Madeiro. (Correio do Es Diante dos últimos acontecimentos em Referindo-se à declaração do presidente
tado, 28/05/84). Bauru, o sertanista e delegado da Funai da Funai, Jurandy Fonseca, de que o
em Porto Velho, Apoena Meirelles, fez movimento em Bauru é “subversivo”,
ontem duras críticas ao órgão, acusando Apoena afirmou que quem está “subver
FUNAI com índios só, de ser um “grande blefe” a sua “propa tendo a ordem” é ele, “de uma forma
é pouco lada” abertura. Para Apoena, a funda irresponsável, vendendo uma falsa ima
ção visa, na verdade, a “iludir as verda gem da Funai e conseguindo a adesão e o
O presidente do CIMI e bispo do Xingu, deiras lideranças indígenas e a opinião silêncio dos índios e ex-funcionários,
dom Erwin Krautler, afirmou ontem, pública com objetivos político-demagó que anteriormente criticavam o órgão,
em Goiânia, não acreditar que somente gicos”. O sertanista ainda acusou o de colocando-os em funções gratificadas e
a presença de índios na direção da Funai putado Mário Juruna de estar apoiando em Brasília”. E mandou um recado di
possa provocar mudanças na política in a atual administração da Funai, porque reto a Jurandy Fonseca: “Ele não deve
digenista oficial. Considerou o fato seus “interesses pessoais foram aten ria esquecer que muitos de seus atuais
como uma perspectiva animadora pois didos”. Segundo Apoema, Juruna conse assessores, como Cláudio Romero, fo
foi uma vitória dos povos indígenas, mas guiu emprego para parentes seus na fun ram acusados de ter criado o episódio do
ressaltou a existência de uma diferença dação. Xingu” (quando os índios mantiveram
fundamental entre a política indigenista funcionários da fundação como reféns).
defendida pelo CIMI e a colocada em “Eles não foram punidos, mas promovi
prática pelo Governo em atenção aos dos”, disse Apoena, acrescentando:
grupos empresariais nacionais e multi
nacionais.

21
; INDÍGENAS NO BRASIL/CED]

“Jamais pensei que pessoas que se di outro, Porfírio Carvalho, Odenir Pinto Além dessa briga do novo contra o velho,
ziam defensoras dos interesses indígenas de Oliveira, mais jovens, com idade mé a crise de Bauru revela ainda um fato
pudessem ceder tão facilmente às delí dia de 30 anos, a geração que conheceu a
triste: é fácil arregimentar índios. De
cias do poder”. (ESP, 14/07/84). pois de tantos anos, séculos de sofrimen
agressiva redução dos territórios indíge
nas e se preocupa com a conscientização
to e espoliação, eles se apegam ao pri
política dos caciques. meiro que lhes proporciona uma forma,
Marcos Terena reage A primeira geração, integrada pelos
qualquer forma de protesto, mesmo que
mais velhos, sente saudades do “índio esse protesto seja para defender um re
A participação do índio na Fundação bom”, do índio que ainda não havia des presentante.
Nacional do Indio (Funai) não é desor coberto seus direitos, não conhecia as
denada, mas com responsabilidade, dis leis e que, principalmente, ainda não Riscos
se ontem ao Estado, em Brasília, o chefe aprendera a manejar a língua do invasor O movimento continua. Bauru não é um
de gabinete do órgão, Marcos Terena, branco. A nova geração — menos céleb caso encerrado e pode se transformar em
após ler as declarações do chefe da dele bre porque se embrenhar nas matas per uma luta de índios contra índios. Da
gacia de Porto Velho, Apoena Meireles. deu o sabor da aventura a partir das es mesma forma que meia dúzia de funcio
“É entristecedora essa história de que o tradas — está diante de uma realidade nários reuniram um numeroso grupo de
índio está sendo corrompido com cargos inegável: os índios são tão bons ou maus caingangues e guaranis, outros índios,
e salários. Isso não passou na cabeça do quanto os brancos, ou seja, são pessoas temendo o retorno, poderão reunir um
índio”. e, por isso, com necessidades não apenas número igual ou superior aos rebeldes
Terena manifestou grande admiração de comer, mas também de participar de de Bauru.
pelo chefe da delegacia de Porto Velho. sua própria história. Os índios do Xingu, entre eles o cacique
“Além de ser um grande piloto, um Em meio a tudo isso, o problema da au Raoni, que há muito tempo deixaram de
companheiro de profissão, Apoena Mei todeterminação. Os mais velhos não ser “índios bons”, chegam hoje a Brasí
reles, como o presidente da Funai, nas conseguem assimilar a idéia de que as lia. Eles não querem perder os direitos
ceu em comunidade indígena.” Lem nações indígenas brasileiras estão em mínimos que adquiriram na guerra, en
brou, no entanto, que setores conserva plena caminhada que fatalmente de tre eles, o direito de terem como admi
dores começaram a se sentir afetados a sembocará na autodeterminação. Essa nistrador do parque um índio, Mega
partir do novo movimento dentro da Fu palavra não consta do dicionário dos ser ron. Outros grupos também pretendem
nai, de participação do índio, “Infeliz tanistas mais velhos. E por não aceitar a vir à capital para defender não o presi
mente, estes setores sempre olharam tomada de consciência dos líderes e me dente da Funai, Jurandy Fonseca, mas a
para o índio como objeto de preservação
nos ainda sua participação na política manutenção de um novo tempo no qual
de empregos e interesses pessoais. Sem indigenista, eles não admitem a existên eles têm esperança de que suas vidas me
pre avaliaram o índio como incapaz de cia de um xavante na Câmara dos Depu lhorem.
exercer qualquer atividade.” tados, um terena na chefia de gabinete Os rebeldes também querem vir a Brasí
Apesar de muitos funcionários do órgão da Funai e um caiapó dirigindo um ter lia e o chefe de gabinete da Funai, o ín
terem-se afastado — toda a antiga dire ritório indígena. Essas funções, na men dio Marcos Terena, vai precisar de toda
toria, por exemplo —, o chefe de gabi talidade antiga, são próprias do branco, sua habilidade para evitar o maior risco
nete da Funai acredita que muitos ainda ocidental, superior. Não perceberam a dessa crise: enfrentamento de índio.”
não conseguiram assimilar a nova polí mudança dos tempos e tentam recupe (artigo de Memélia Moreira, repórter da
tica e “continuam tentando sorrateira rar a imagem que eles mesmos fabrica sueursal de Brasília, FSP, 15/07/84).
mente fechar a possibilidade de partici ram dos índios: pintados, dançando,
pação do índio dentro da Funai”. Mas obedecendo os gritos do “pai branco”. A
ele garante que não haverá um retro imagem do “paraíso”. -

cesso. “Estamos vivendo uma nova pá Irreversível Juruna e indigenistas


gina da história do indigenismo brasilei contam tudo a Ackel
ro. O governo, quando resolveu mudar Mas a politização dos índios é irreversí
sua atitude para com a questão indíge vel, como irreversível também o fato de
Acompanhado dos indigenistas Porfírio
na, não cedeu. Muito pelo contrário: re que, aos poucos, cabe a eles o controle
Carvalho e Odenir Pinto de Oliveira (as
conheceu o direito do índio e sua capaci do órgão governamental destinado a sessores do presidente da FUNAI) e de
dade de participação nas negociações protegê-los. O atual presidente da Fu Marcos Terena (chefe de gabinete), o
que envolvem seus interesses legítimos”, nai, Jurandy Marcos da Fonseca, não é a deputado Mário Juruna (PDT-RJ) foi
justificou. (ESP, 15/07/84). “salvação da pátria”, mas percebeu que recebido em audiência pelo Ministro da
não poderia dirigir sem o apoio dos líde Justiça, Ibraim Abi-Ackel e advertiu on
res e teve a coragem de assumir os novos tem para o perigo de novas crises entre
tempos, chamando os índios para admi os índios e a FUNAI, como a desenca
“Caso Bauru revela nistrar o órgão. deada pelo sertanista Álvaro Villas Boas
conflito de gerações A reação não tardou. Álvaro Villas-Boas em Bauru.
indigenistas” •

fez seu protesto, acusou índios, antropó Segundo Juruna, muitos funcionários
logos e todos aqueles que vivem a nova da Funai“estão botando minhoca na ca
“A crise na delegacia da Funai em Bau - época. Apenas traduziu a mentalidade beça” de lideranças indígenas, visando
ru, que ainda não está encerrada, é um de sua geração, criando um problema desestabilizar o atual presidente da Fu
conflito entre duas gerações de sertanis difícil para embaraçar o novo presiden nai, Jurandy Marcos da Fonseca, que
tas. De um lado, a geração Villas-Boas, te, que pretende introduzir algumas mu está interessado em impor uma “política
esses valorosos homens que criaram o danças inadmissíveis para os mais ve indigenista séria ao órgão”.
Parque Indígena do Xingu, imprimindo lhos. Juruna pediu ao ministro a mesma cola
sua marca no indigenismo brasileiro, e boração do ano passado, quando Ackel
todos com idade mínima de 60 anos. Do solicitou providências junto à antiga di
reção da Funai, após denúncia, da de
22
putado, “de maus tratos praticados con “Sem recursos” trarem nas áreas indígenas, os índios
tra os índios por funcionários do órgão morrerão e o governo brasileiro será res
tutor em São Paulo. Segundo declarou o chefe de gabinete da ponsável por esta mortandade”. O mi
Segundo Juruna, o incidente ocorrido FUNAI, Marcos Terena, durante sua nistro disse desconhecer que o ex-supe
em Bauru não será o único, pois as mu estada em Campo Grande, na semana rintendente do DPF em São Paulo ga
danças na política da Funai “ainda en passada, a Fundação está com suas ati nhou repercussão nacional ao prender,
contram sérias resistências por parte da vidades reduzidas em 50% por falta de em 1981, o argentino Adolfo Perez Es
queles que não aceitam que os índios se recursos. Caso o Ministério do Planeja quível, Prêmio Nobel da Paz. Andreazza
jam ouvidos ou que participem da admi mento não libere os Cr$4 bilhões prome assegurou que será mantida a participa
nistração do órgão”. tidos para o final do primeiro semestre, ção de lideranças indígenas em cargos
Juruna citou outro indigenista da Funai, o órgão poderá ser desativado ou permi importantes da Funai — iniciativa de
Apoena Meirelles, que já demonstrou, tir o surgimento de uma nova crise entre
Jurandy adotada há cinco meses. (ESP,
segundo o deputado, sua discordância os índios e a direção da FUNAI. (Correio 20/9/84).
da ação do atual presidente, Jurandy do Estado, 04/09/84).
Marcos da Fonseca e que, a exemplo de
Álvaro Villas Boas, “habita revistas e Jurandy denuncia
jornais, pousando como herói da selva, Marabuto admite mineradoras
que consegue amansar índios bravios e a mineração
perigosos”. Dos 296 pedidos de autorização para
O deputado explicou a situação ao mi O novo presidente da Funai garantiu on pesquisa mineral e lavra em território
nistro através de uma carta e anexou a tem que a assinatura da Portaria nº indígena, 97 foram apresentados por
cópia de um telegrama, enviado por 88.984/83 não lhe foi colocada pelo mi empresas de capital multinacional. A
Apoena Meirelles na época do movimen nistro do Interior, como condição para a denúncia foi feita ontem pelo ex-presi
to dos índios do Xingú, onde ele de sua nomeação para o cargo, mas defen dente da Funai, Jurandy Marcos da
monstra “claramente sua posição anti deu que as riquezas minerais das áreas Fonseca, na Comissão do Indio da Câ
índio e reacionária”. Nesse telegrama — indígenas podem ser exploradas, desde mara dos Deputados. Desses pedidos,
contou Juruna — o indigenista aconse que haja uma legislação que realmente 33 são de capital não identificado, 136
lhava o então presidente da Funai a não proteja essas comunidades, o que não de empresas estatais e o restante de mi
ceder às pressões dos índios com relação acontecia com a portaria preterida pelo neradores de capital nacional. Fonseca
a mudança da presidência e nem condi ex-presidente do órgão, Jurandy Fonse foi explicar à Comissão do Índio as ra
cionar a política indigenista à vontade ca. “A portaria era muito genérica, atin zões de seu afastamento da Funai e de
dos índios. (FSP, 19/07/84). gindo indiscriminadamente as comuni nunciou a empresa Paranapanema por
dades indígenas. Na minha opinião, o ter criado uma subsidiária, a Acaraí,
trabalho das mineradoras poderia ser para minerar na terra dos Waimiri
“Demissão, eu não peço” permitido apenas nas áreas onde vivem Atroari, em Roraima. Disse que “a Pa
tribos mais aculturadas”, disse Mara ranapanema criou mais uma subisidiá
“Se o problema é demissão, então, que buto. (FSP, 19/9/84). ria para explorar minérios dentro da
ele cumpra o seu dever, fazendo-o ago área indígena. Elas funcionam ilegal
ra. Não retiro nada do que eu disse, mente e até alteram os mapas para se
mantenho minha posição.” As declara “Fui derrubado instalarem. A presença dessas empresas
ções foram feitas pelo sertanista Apoena porque não assinei” acarretará o extermínio dos índios”, in
Meireles, delegado da FUNAI em Ron formou Fonseca. (FSP, 28/9/84).
dônia, a propósito da entrevista dada O quinto presidente da Funai no gover
pelo presidente do órgão, em Cuiabá, no Figueiredo, Jurandy Marcos da Fon
quando anunciou que iria demiti-lo. seca, foi demitido ontem e substituído Marabuto demite
(Jornal de Brasília, 21/07/84). pelo chefe da assessoria de segurança e 11 funcionários
informação da Fundação, Nelson Mara
buto, ex-superintendente da Polícia Fe O presidente da Funai afastou ontem #1
“Fim do caciquismo” deral em São Paulo. Revelando que o de funcionários que ocupavam cargos de
putado e ex-cacique Mário Juruna parti confiança na fundação, Na lista inicial
A crise de Bauru, gerada pela demissão cipou da indicação de Marabuto, o mi constavam os nomes dos sertanistas Or
do sertanista Álvaro Villas Boas e a ex nistro Andreazza afirmou que Fonseca lando e Cláudio Villas-Boas, assessores
tinção da delegacia da Funai naquela ci foi demitido por ter tratado “inadequa da presidência. O afastamento dos dois
dade, em meados deste mês, marcou so damente um problema de natureza ad irmãos foi proposto pela auditoria do
bretudo o princípio do fim do caciquis ministrativa”. Jurandy Fonseca deu a Ministério do Interior, mas Marabuto,
mo no indigenismo brasileiro. Quem seguinte explicação: “Fui demitido por “em homenagem ao passado dos dois”,
pensa assim é nada mais nada menos do que não assinei a portaria que regula decidiu convocá-los a discutir sua situa
que um dos últimos auxiliares diretos do menta o Decreto nº 88.985 (referente à ção funcional. Cláudio e Orlando estão
marechal Rondon, o sertanista José Ma mineração em áreas indígenas). Contu aposentados da Funai desde 1976. Em
ria da Gama Malcher, hoje com 78 anos do, continuo mantendo a minha posi bora a notícia tenha causado impacto
e aposentado. Ele manifestou essa posi ção, e acho que, no momento em que as entre os funcionários, Marabuto man
ção a um seu amigo íntimo, que mora empresas mineradoras particulares en tém nos cargos de confiança os sertanis
em Brasília, e foi mais além ao conside tas e antropólogos da chamada “linha
rar absolutamente “correta” a forma de frente”. Permanecem também nos
como o presidente da Funai, Jurandy cargos de direção os índios convidados
Fonseca, encerrou a crise. (Jornal de pelo ex-presidente, entre eles, Marcos
Brasília, 28/07/84).

23
S INDjGENAS NO BRASIL/CFD!

Terena, chefe de gabinete, Megaron, no Liberados os 4 bi sediada em Belém, tem 304 funcionários
Parque do Xingu e Coxini, no Araguaia. para atender 7.491índios.
A medida, até agora, não provocou pro A Seplan liberou verba de Cr$ 4 bilhões O CIMI também manifestou apreensão
testos de antropólogos ou entidades de para a Funai, com recursos do Finsocial. “pela lenta tomada da FUNAI pela Polí
defesa dos índios, porque Marabuto está A grana é para saldar uma dívida de cia Federal”, citando os mesmos exem
tentando limpar a imagem da Funai, Cr$ 2 bi, com a compra de gasolina de plos do presidente da UNI, acrescentou
sempre acusada de “cabide de empre avião e medicamentos. Parte dos recur ainda que também a Divisão de Educa
gos”. (FSP, 3/10/84). sos será empregada na demarcação de ção está sendo chefiada por um ex-agen
áreas indígenas. (Notícias Populares, te policial. “O espaço que deveria ser
10/10/84), ocupado — salienta — por antropólo
Andreazza ordena readmissão gos e indigenistas competentes que inte
de Villas Boas gram os quadros da FUNAI, está sendo
Afastada coordenadora invadido por agentes federais”. (Diário
Um telegrama do ministro do Interior, dos Projetos Especiais de Pernambuco, 03.11.84).
Mário Andreazza, ao presidente da Fu
mai, Nelson Marabuto, às 19h20 de ter A presidência da Funai decidiu afastar a
ça-feira, tornou sem efeito a demissão economista Anadyr Alverca, responsá Marabuto acusa Jurandy
dos sertanistas Cláudio e Orlando Villas vel pela Coordenação dos Projetos Espe de “ladrão”
Boas. O ministro, segundo afirmaram ciais, que envolvem as áreas do Polono
assessores do presidente da Funai, mos roeste e Carajás. A medida foi tomada “Não pretendo ser mais um presidente
trou-se preocupado com a repercussão depois de reunião entre representantes da Funai mentiroso e ladrão.” A acusa
da demissão anunciada no começo da da Funai, Polonoroeste e Banco Mun ção foi feita ontem, em Belém, pelo
tarde e pediu que os dois permaneces dial, que financia a implantação de me atual presidente do órgão, o delegado da
sem no cargo de assessor 3 da presidên lhorias nas áreas dos índios afetados Polícia Federal Neison Marabuto, numa
cia, ganhando Cr$ 2.460.000. (Diário do pelo Polonoroeste. O afastamento da nova investida contra o seu antecessor,
Grande ABC, 04/10/84), funcionária deve-se à apresentação de Jurandy Fonseca. Segundo Marabuto,
um relatório ao órgão tutor dos índios, ele foi afastado porque “não tinha ido
segundo o qual houve má distribuição de neidade moral nem honestidade para
recursos liberados pelo Banco Mundial. defender o índio”. Marabuto afirmou
“Grupão” não se reúne
(FSP, 12/10/84). que não existe portaria alguma regula
O processo de homologação de áreas in mentando as atividades minerais em
dígenas já demarcadas, para registro área indígena, “e isso foi um engodo do
obrigatório no SPU, está sendo retar A FUNAI e a PF ex-presidente da Funai; enquanto dizia
dado pelo grupo de trabalho responsá que não assinava tal portaria, o que es
vel, em Brasília, pela aprovação das de “Todo mundo agora é Polícia Federal tava fazendo era lesar o patrimônio indí
marcações de reservas indígenas. Co dentro da FUNAI”, reagiu Álvaro Tu gena”. (ESP, 29/11/84).
nhecido como “grupão”, ele é integrado kano ao saber da indicação do agente da
pelo Conselho de Segurança Nacional, . PF, Luis Flávio Costa, para chefiar a de
através do Ministério de Assuntos Fun legacia do órgão em Manaus. Os números do DPI
diário, Incra, Ministério do Interior e Álvaro esteve em Brasília, reunido com o
Funai. Mesmo reservas como a de Pi- . presidente da FUNAI, Nelson Mara Segundo relatório oficial, a Diretoria do
mentel Barbosa e Parabubure, dos Xa buto para tratar da questão da 1? DR, Patrimônio Indígena da FUNAI reali
vantes, criadas por decreto do presiden há mais de um mês sem responsável e zou, em 1984, a identificação de 65 áreas
te Figueiredo, em dezembro de 1979, também para pedir o afastamento do ex indígenas, abrangendo uma superfície
ainda não foram homologadas. agente da PF, Kazuto Kavamoto, da as de 12.233.690 ha. Enviou ao GT-Inter
O “grupão” foi instalado em fevereiro sessoria da presidência — e que durante ministerial MINTER/MEAF, para de
8 anos esteve à frente da Delegacia em cisão final, 48 áreas, das quais 9 foram
do ano passado, a partir do decreto pre Manaus. •

sidencial, mas seu poder é retroativo e, aprovadas.


nesse caso, as áreas demarcadas antes “Exigimos — salientou Álvaro — a saí Foram demarcadas 19 áreas, num total
da existência do grupo sofrem uma nova da imediata deste assessor, que tem um aproximado de 2.145.003 ha. Deu-se
análise para confirmação ou redefinição vasto currículo conhecido entre todos os andamento aos processos de regulariza
dos limites. Os mais prejudicados com índios. Ele permitiu o ingresso da em ção fundiária, visando o registro imobi
essa medida são os índios cujas terras presa mineradora Paranapanema nas liário, de 17 áreas,
são disputadas por grandes grupos eco terras dos Waimiri-Atroari. Permitiu, Foram expedidas 105 certidões negati
nômicos, principalmente os Kaiapó do igualmente, a entrada da empresa pe vas e, além destas, sete foram indeferi
Pará. trolífera francesa, Elf-Aquitaine, no ter das definitivamente e dezesseis, tempo
rariamente. •

Há três semanas o “grupão” não se reú ritório Sateré-Maue. Em sua adminis


ne. Normalmente, as reuniões deveriam tração, a Delegacia sempre foi desassis 64 pedidos de concessão de Alvarás de
ocorrer toda quarta-feira. Mas a simples tida, embora seja a que tenha a maior Pesquisa Mineral foram indeferidos (to
viagem de qualquer um de seus inte população indígena do País. dos incidentes em áreas indígenas locali
Com uma população de 39.771 índios, zadas no Amapá, Maranhão e Pará) e
grantes adia os estudos de aprovação das
áreas. Na pauta do grupo encontra-se, a Delegacia conta apenas com 211 servi nove foram deferidos (8 no AP e um no
agora, a proposta de criação do Parque dores”. Por outro lado, a 2º Delegacia, PA). Estas informações foram retiradas
Ianomami, mas a reunião de amanhã foi do relatório intitulado Visão Geral dos
transferida. (Folha da Tarde, 09/10/ Trabalhos Realizados, DPI/FUNAI/
84). BSB, 1984.

24
sL7-Acervo
—/\{ 1 SA

JURUNA Acusações a — Exemplifiquei estes casos para que


*********** Alvaro Villas-Boas os companheiros tenham noção da si
tuação dos índios no Brasil. Embora sa
Omissão da FUNAI Pendurado no falso mito Villas-Boas, bendo que cada nação indígena enfrenta
no PIX você conseguiu enganar por muito tem- problemas particularizados, há, entre
po a opinião pública, entretanto, os ín tanto, um inimigo comum, o avanço
Na nota que divulgou ontem, o depu dios Guaranis de São Paulo são os prin acelerado da sociedade brasileira rumo
tado Mário Juruna acusa a Funai de cipais testemunhos de que você é um aos territórios dos índios — disse Juru
omissão na crise do Xingu, afirmando péssimo administrador, inimigo dos ín na. (O Globo, 01/08/84).
que, quando os índios apreenderam a dios, mau caráter e incompetente — este
balsa, o diretor do Parque, através de é um dos trechos da carta enviada, on
radiogramas, tentou alertar o presiden tem, pelo deputado Mário Juruna ao ex Demissão da esposa
delegado da Funaiem São Paulo, Álvaro
te, no sentido de que sua simples presen
ça poderia evitar o desencadeamento de Villas-Boas, demitido anteontem pelo O presidente da Funai demitiu ontem a
conflitos maiores. Mário Juruna chama presidente da Fundação. secretária nível três Doralice de Carva
atenção, ainda, para a necessidade de Juruna refere-se às declarações de Vil lho Silveira, mulher do deputado Mário
uma solução para o caso, lembrando las-Boas, publicadas em jornais paulis Juruna, que havia sido contratada no
que também está em risco a integridade tas e que atingem sua pessoa e vida par mês passado para o cargo. O afasta
física dos reféns. (ESP, 01/04/84). ticular. Por isso revida, assinalando na mento de Doralice foi pedido pelo pró
carta: “Sr. Álvaro, chegou o seu fim. prio deputado, que enviou carta ao pre
Acabou a era dos falsos indigenistas e gi sidente da Funai afirmando que com o
PL proíbe arrendamentos golôs de índios”. (Última Hora, 07/07/ gesto procurava “resguardar o bom no
84). me da atual administração do órgão e de
De agora em diante, qualquer funcioná sua independência como líder indíge
rio da FUNAI que permitir o arrenda Os “agentes na”. A atitude de Juruna foi tomada de
mento das terras habitadas por indíge desestabilizadores” pois que algunsjornais publicaram a no
nas poderá ser demitido sumariamente tícia da contratação de Doralice a pe
do serviço público, além de punido com O Deputado Mário Juruna, temeroso de dido do parlamentar, informando que
a pena de três anos de prisão. As mes que novos movimentos contestatórios à seu salário seria de Cr$ 1.300.000,00. A
mas punições se aplicam aos que permi Funai acabem desestabilizando a atual Funai, ontem, esclareceu que como se
tirem a exploração de riquezas minerais administração, resolveu cortar “o mal cretária nível três ela estava recebendo
por pessoas ou empresas nas terras habi pela raiz”: ontem ele entregou ao Minis Cr$ 680.000,00. (ESP, 2/8/84).
tadas por índios. tro da Justiça, Ibrahim Abi-Ackel, um
Essas normas proibitivas, entre outras, relatório, no qual aponta o sertanista
constam do projeto de lei aprovado on Apoena Meirelles como um provável Juruna defende fazendeiros
tem pela Comissão do Indio, por unani “agente desestabilizador” da adminis e é expulso
midade, de autoria do deputado Mário tração de Jurandy Marcos da Fonseca à
Juruna, presidente da comissão. O mes frente da Funai, podendo repetir o mes O deputado xavante Mário Juruna
mo projeto exige ainda que sejam puni mo que fez Álvaro Villas-Boas na Dele (PDT-RJ), ex-cacique da aldeia de No
dos todos aqueles servidores que não to gacia de Bauru. (O Fluminense, 19/07/ mukura (MT), defendeu ontem a reivin
marem providências até 30 dias após o 84). dicação dos cacaueiros que disputam
conhecimento da invasão das terras ha terras com os índios pataxós hã-hã-hães
bitadas pelos índios. em Pau Brasil, sul da Bahia. Ao desem
Essas providências determinadas pelo Na ONU barcar em Brasília, procedente do muni
projeto vão desde a expulsão dos inva cípio baiano, num jatinho alugado pelos
sores, ou declaração de nulidade de ex Queixando-se de tudo e de todo mundo, fazendeiros, Juruna declarou: “Não
tinção dos efeitos de atos jurídicos de o Deputado Mário Juruna discursou on quero saber daqueles lá da Bahia. Não
qualquer natureza que tenham por ob tem pela primeira vez num foro ligado às são índios, são caboclos. Nélson (Sara
jeto o domínio, a posse ou a ocupação de Nações Unidas, ao participar da reu cura, cacique pataxó) só quer confu
terras habitadas pelos silvícolas confor nião de um grupo de trabalho sobre po são”. No hangar de uma empresa de táxi
me pede a Constituição. pulações indígenas da Subcomissão de aéreo, Juruna era esperado por Jenner
O projeto, que agora será apreciado pe Minorias do Comitê dos Direitos Hu Pereira Rocha, ex-proprietário da fa
las Comissões de Constituição e Justiça e manos. O texto de sete páginas sobre as zenda São Lucas, onde vivem hoje os pa
do Interior, procura, segundo Juruna, atrocidades atribuídas às empresas mul taxós.
responsabilizar a Funai que comprova tinacionais em terras das tribos Satare Juruna seguiu na tarde de anteontem
damente não cumpre as obrigações fi Maioe, Munduruku, Waimiri-Atroari e para Pau Brasil na companhia de três
xadas por lei, segundo a Constituição. Yanomami foi distribuído aos partici deputados federais da Bahia, levando
(Correio Braziliense, 15/06/84). pantes da reunião sem que Juruna o les uma proposta dos fazendeiros para os
se no plenário. Em vez de ler o discurso, índios: transferência da tribo para a re
o Deputado denunciou longamente a serva florestal de Una, onde vivem os
inércia do Governo brasileiro em procu mico-leão. A alternativa para os índios,
rar solução para o problema do índio no
País e os métodos usados pela Funai,
“inadequados e contrários aos interesses
das populações indígenas”.

25
sL7-Acervo
__/ >A DÍGENAS NO BRASIL/CEDI

também proposta dos fazendeiros, era Pau Brasil, Durval Santana, fora agre Atitude estranha
indenização individual para que os pa dido a pedrada pelos índios, o deputado
taxós pudessem comprar terra onde qui França Teixeira informava que as pe Representantes de 14 comunidades indí
sessem. Até o final da tarde de ontem os dradas atingiram dois fazendeiros. In
genas ligadas à União das Nações Indí
fazendeiros já haviam mobilizado 3 bi dagados sobre a presença de cacaueiros genas divulgaram nota ontem acusando
lhões de cruzeiros para indenizar os ín na área, disseram que não viram que os
o deputado Mário Juruna de ter adotado
dios. fazendeiros “estavam nos acompanhan atitude “estranha” no episódio dos ín
Antes da chegada do deputado xavante do com seus carros, chovia muito”. (ar dios pataxós ha-ha-hae da Bahia. “Sen
à área pataxó, o gado de Jenner Pereira tigo de Memélia Moreira, FSP, 31/08/ timos a dor em nossas peles — afirmam
Rocha invadiu a terra ocupada pelos ín 84). — e perguntamos ao deputado quanto
dios, mas não houve reação. Os pataxós foi que custou para ele declarar que não
se limitaram aprender apenas um boi. E existe mais índios no posto indígena Ca
ontem de manhã, acompanhado pelos “Brancos inescrupulosos”, ramuru e em todo o Nordeste”. (ESP,
fazendeiros e parlamentares, Juruna foi segundo M. Terena 04/09/84).
apresentar a proposta aos pataxós que
há três anos insistem em permanecer na “Elamentável que brancos inescrupulo
área da fazenda São Lucas, parte da re sos estejam envolvendo o deputado Má Explicações
serva indígena Caramuru-Paraguassu, rio Juruna num jogo de interesses visan
demarcada para os índios em 1937 e ar do a tirar os índios Pataxó da Bahia de O deputado Mário Juruna negou ontem,
rendada para os cacaueiros a partir da suas terras, na Fazenda São Lucas. Ju em entrevista coletiva, as acusações de
década de 40. runa foi uma pessoa fundamental nos haver cedido às ofertas de fazendeiros e
Na manhã de ontem, quando a comitiva últimos anos na luta dos índios e, inclu seus representantes para deixar de de
de Juruna chegou à fazenda, os pataxós
sive, quase perdeu o seu mandato na Câ fender os interesses dos índios em troca
exigiram uma conversa com o cacique mara dos Deputados, quando no ano de presentes, favores e dinheiro. Confir
xavante separado de seus acompanhan passado chamou os ministros do Gover mou, contudo, haver recebido três mil
tes. No curral da fazenda, Juruna apre
no Figueiredo de “ladrões”, ao fazer um dólares do “comandante Carvalho”, pi
sentou a proposta que foi recusada pelos
discurso denunciando o problema dos loto e amigo do presidente da Funai,
índios. Além disso, os pataxós apreenPataxó."A afirmação foi feita pelo chefe para participar da reunião da ONU, na
deram os carros que transportavam os de gabinete da Funai, o índio Marcos Suíça, sobre direitos das minorias. “Fa
deputados e fazendeiros. Terena, que também acusou a comissão lei com Carvalho para quebrar o galho; e
Os parlamentares retornaram ontem a de deputados que esteve na área indíge eu não tinha dinheiro, mas não é dinhei
Brasília. Enquanto o deputado Jorge na de ter agido de forma irresponsável. ro de fazendeiro”, afirmou, em tom in
Viana informava que o ex-prefeito de (Útima Hora, 03/09/84). dignado, acusando a imprensa de fazer

O deputado Juruna, em tempo, “desmalufou”: depositou 30 milhões na conta de Calim Eid.

26
Acervo

"X | S A
intrigas e de dizer mentiras. Juruna dis Saracura quer encontro Ele também denunciou Jurandy Fonse
se ter visitado a área dos índios Pataxó, ca de ter permitido a exploração de ma
na condição de parlamentar, “acompa O cacique Nélson Saracura, da tribo Pa deira em área de reserva indígena no
nhado de dois deputados, e não de fa taxó, reconheceu ontem que houve um Pará.
zendeiros”. “Eu não sabia que o pessoal mal-entendido entre ele e o deputado A pedido do ministro, Juruna prometeu
vinha atrás; só vi quando chegamos à - Mário Juruna, durante a visita que uma apresentar um relatório, que também
reserva”, assinalou, negando que sua comissão de parlamentares da Câmara será entregue ao ministro do Interior,
viagem a Pau Brasil resultasse de algu Federal fez, recentemente, à reserva in Mário Andreazza, com a descrição de
ma articulação com os proprietários de dígena da Fazenda São Lucas. Saracura outros fatos. (Última Hora, 05/10/84).
fazendas na área em disputa e de que pediu um novo encontro com Juruna
houvesse sido pago. Mesmo assim, reco para que tudo fique esclarecido, “por
nheceu ter realizado a viagem à Bahia que índio não deve jamais ficar contra O dinheiro de volta
em avião fretado pelo sindicato patronal índio”. (Notícias Populares, 12/09/84).
de Pau Brasil. Também reafirmou ser a O deputado Mário Juruna devolveu ao
reserva Caramuru-Paraguassu ocupada Careca (apelido que escolheu para Ca
por uma maioria de caboclos e apenas Sem tutelas, lim Eid, “preposto de Paulo Maluf") os
meia dúzia de índios, e admitiu ter de com muita grana Cr$ 30 milhões “indecentes” que havia
fendido os Pataxó (enfrentando inclu recebido como primeira parte do paga
sive o risco de cassação do mandato) sem O deputado-cacique Mário Juruna quer mento para votar no candidato do PDS
conhecê-los, só percebendo agora que os ver os índios brasileiros ricos, prósperos, — ou deixar de votar no colégio eleito
índios puros são poucos. (FSP, 04/09/ donos das riquezas minerais extraídas ral. O dinheiro foi depositado na agên
84). das suas terras, inclusive recebendo os cia do Banco do Brasil da Câmara, em
dólares das empresas estrangeiras. Em Brasília. E continuaram ontem as de
entrevista exclusiva ao JBr, o parlamen núncias de tentativas de suborno por
Tentativa em vão tar xavante disse que “seu sonho” é ver parte do candidato do PDS. (ESP, 27/
os índios “independentes da tutela do 10/84).
Os principais líderes indígenas do País Estado e do paternalismo dos Cimis”.
estiveram ontem em Brasília para tentar Ele acha que a portaria da Funai regu
afastar o Deputado Mário Juruna de lamentando a exploração mineral em
suas recentes posições contra os índios território indígena deve ser discutida
Pataxó, que lutam com fazendeiros pela com os chefes tribais, para que toda a
ITAMARAÍ
garantia de posse de suas reservas. Após riqeuza dessas terras fique para as co HAMBIQUARA
uma reunião de duas horas, na sede da munidades e apenas 10% vá para a Fu
Funai, os caciques Raoni (Txucahamãe) nai. “Sou muito mais socialista do que A morte do cacique
e Cipriano (Xavante) e o chefe do Parque os picaretas que falam em nome dos ín ambulante
do Xingu, Megaron, não conseguiram dios”, disse. (Correio Braziliense, 21/
persuadir Juruna a mudar de opinião, 09/84). Atacado a golpes de faca e espeto de fer
mas saíram menos desconfiados. Mega ro, na noite de 15 de julho na rua XV de
ron desmentiu que exista um conflito Novembro, no centro de São Paulo, Ita
com o Deputado. E disse: “Nós vamos Doralice readmitida maraí Nhambiquara morreu na tarde do
continuar apoiando Juruna quando ele dia 21 de julho no Hospital Municipal do
estiver falando coisas certas”. (O Globo, A esposa do Deputado Mário Juruna Vergueiro.
7/9/84). (PDT-RJ), Doralice Silveira, que foi ad O assassinato foi esclarecido algumas
mitida e exonerada do cargo de funcio semanas depois, com a prisão do pisto
nária da Funai durante a administração leiro Manoel Gomes de Sá, o Bigode,
Brizola defende de Jurandy Fonseca, foi novamente con que recebeu 2 milhões de cruzeiros para
tratada pelo órgão na quarta-feira, atra executar o serviço a mando de José
O governador Brizola disse ontem que o vés da Portaria 771, assinada pelo novo Araújo Irmão, vulgo Mãozinha, chefe
deputado federal Mário Juruna foi víti Presidente, Nelson Marabuto. Doralice, da máfia dos vendedores ambulantes no
ma de um envolvimento, com o propó que durante o mês em que foi funcioná centro de São Paulo. Manoel disse à po
sito de desacreditá-lo, no episódio com ria da Funai, em junho, não compareceu lícia que Itamaraí foi morto porque era o
os índios Pataxós da fazenda São Lucas, ao trabalho, voltará para o mesmo car único que enfrentava Mãozinha e não se
na localidade de Pau Brasil, na Bahia. go: secretária, com salário superior a deixava “enquadrar”. Três esposas, 21
Ao desembarcar no Aeroporto Interna Cr$900 mil, de acordo com informações filhos, seis netos, Itamaraí tinha 59 anos
cional do Rio procedente de Brasília, o do órgão. (O Globo, 29/9/84). e sua história era incomum.
governador afirmou que a questão foi o Nasceu em Taruacamã (AM) e quando
tema predominante da reunião da ban menino, acompanhava os índios mais
cada do PDT, em Brasília, anteontem à Jurandy denunciado velhos nos ataques aos homens que cons
noite. (Diário Popular, 12/09/84). truíam a estrada de ferro Madeira-Ma
O deputado Mário Juruna transmitiu, moré. Roubavam tudo que podiam, des
ontem, ao ministro da Justiça, Ibrahim de madeira usada para calçar os trilhos
Abi-Ackel, a denúncia dos índios Kadi até os dormentes, que jogavam no rio.
weu conta o ex-presidente da Funai, Ju
randy Fonseca, que teria prorrogado
contratos de arrendamentos a fazendei
ros para utilização de terras indígenas.

27
s! Z> Acervo
_/\ | S.A S INDÍGENAS NO BRASIL/CED
Foi capturado num destes ataques, leva Depois de trabalhar na lavoura, Itama É
do para Sangradouro e entregue aos pa raí Nhambiquara decidiu vender ervas #-

dres salesianos, em Mato Grosso. Tinha que curam dores de estômago, mal-estar E
C
oito anos e ficou na missão até os 18 <r
e dores de cabeça, e também vendia pe *>
Ex}
anos, trabalhando na lavoura. Seguiu ças de artesanato: arcos, flechas e cola ·
8
para o Exército sendo encaminhado ao res. Já estava na reserva de Peruíbe e, E
E
Marechal Rondon, no 2º Batalhão da depois de andar com um grupo índio pe C
<r
Fronteira, em São Luís de Cáceres, em los bairros da Capital e cidades do Inte Q
*C
Mato Grosso. Foi mandado depois para rior do Estado, decidiu morar na reserva * E
# Ex}

o forte Príncipe, na margem do rio Ma de Parelheiros, próximo a Santo Amaro. E


Cl)
L
deira, e aprendeu a ser telegrafista. Em De seu primeiro casamento com a Índia S
1943 sua mãe casou-se com um cacique Dahari, teve apenas um filho, hoje com S
da tribo tupi-guarani, deixou o Ama 32 anos, motorista de ônibus em Brasí
zonas e foi morar na reserva de Caça lia. A segunda mulher de Itamaraí foi
pava, no Vale do Paraíba. E ele, autori uma loura, filha de italianos e com ela
zado pelo Marechal Rondon, acompa teve 12 filhos. Sua terceira mulher, Us
nhou a mãe e se engajou no Batalhão do la, teve dez filhos, e ultimamente vinha
Exército da cidade, onde aprendeu a morando com Urzala de Castro, de 24
guiar caminhões. 311108.

Nhambiquara tornou-se amigo de mui As discussões de Itamaraí ficaram famo


tos oficiais e quase foi para a Itália, le sas como a que teve com policiais mili
vado pelo general Gentil Falcão. Era tares num hotel perto da antiga estação
pracinha da FEB, mas se envolveu com rodoviária. Estava embriagado e se en
outros soldados, numa bebedeira, tom volvera em uma briga. Os policiais ati
bou um caminhão e por isso foi conde raram bombas de gás para que saísse do
nado a dois meses de detenção, desli quarto e ele se vingou atirando nos po
gado do Batalhão e mandado para a re liciais uma cobra Salamandra de Vare
}
serva indígena onde estava a mãe. da, idêntica à jibóia, sem veneno, que
comprara no Butantã. Os PMs mataram Itamaraí, na Praçada Sé (SP),
a cobra com duas rajadas de metralha
dora. Em setembro de 1979 pretendia
autorização para vender arcos e flechas e
como não conseguia invadiu o Senado
para falar com o então líder do governo
Jarbas Passarinho. Teve que brigar com
os seguranças e saiu com a promessa de
que seria atendido. Denunciou também
a morte do filho que teve desidratação,
em maio de 1980, entrando com a crian
ça doente no Ministério do Interior.
(ESP, 02/09/84).

28
- MINERAÇÃO
EM AREAS INDIGENAS

A entrada de empresas de mineração em áreas indígenas, sobretudo


as empresas estatais federais, mas também as empresas nacionais em
“casos excepcionais” e reservando-se aos índios a atividade de garimpagem,
está autorizada desde a promulgação do decreto nº 88.985 de novembro
de 1983 (acompanhado pela E.M. Interministerial MINTER/MME
nº 88, de 21.10.83).
Na ocasião, organizações civis de apoio aos índios protestaram veementemente
contra a medida, mas o assunto saiu momentaneamente de pauta, uma vez
que o decreto exigia uma regulamentação
a entrada que viabilizasse, na prática,
das empresas. •

Em agosto de 84, o então presidente da FUNAI Jurandy da Fonseca convocou


índios e organizações de apoio para discutirem uma minuta de portaria
para regulamentar o 88.985. Apesar das reuniões em Brasília,
na sede da FUNAI, índios e organizações de apoio mantiveram suas posições
pela inconstitucionalidade do 88.985 e não se dispuseram a entrar
no mérito da portaria.
Desde então, a questão não saiu mais de pauta, até as repercussões
de um novo decreto, assinado pelo presidente
e suspenso Figueiredo no início de 1985
um dia depois. •

Mas, de fato, o que está ocorrendo com a exploração de riquezas


minerais em áreas indígenas? Que setores estariam interessados
na regulamentação dessa atividade, a curto ou médio prazos?
Como desvendar a lógica desse jogo de interesses e pressões?
A equipe de ACONTECEU/CEDI montou em extenso quadro das posições
dos diferentes setores envolvidos na disputa, que merece leitura e reflexão
atentas. De fato, garimpeiros, articulados ou não com redes locais
de pequenos e médios empresários, têm invadido e explorado minerais
em várias áreas indígenas, ganhando no chão, aquilo que as grandes
empresas tentam ganhar primeiramente no papel: a legalização das áreas
de pesquisa e lavra como uma condição para grandes investimentos
de capital. •

Entre as empresas, as estaduais e as privadas parecem as interessadas


a mais curto prazo. As estatais federais procuram, no momento, se antecipar
nas requisições.
A FUNAI tem indeferido, ao longo dos últimos anos, a maior parte
dos processos enviados pelo DNPM, mas também aceitou alguns convênios
bi-laterais com empresas estatais, com conhecidos efeitos danosos
às populações indígenas afetadas (como, por exemplo,
o convênio 018/82 com a PETROBRÁS).
23
=LAcervo
_… #AbiGENAs No BRASIL/CED

Aconteceu
Decreto nº 88.985, § 2º. As empresas com autorizações de
novembro de 1983 pesquisa ou concessionárias de lavra,
na forma do parágrafo anterior, deve
Regulamenta os artigos 44 e 45 da Lei rão ter seus setores de produção e Jurandy consulta entidades
nº 6001, de 19 de dezembro de 1973, e. comercialização dirigidos por brasilei
dá outras providências. ros, tendo em vista o disposto no artigo O presidente da FUNAI, Jurandy Mar
O Presidente da República, no uso das 45, § 2º, da Lei nº 6.001, de 19 de de cos da Fonseca, convidou para uma reu
atribuições que lhe confere o artigo 81, zembro de 1973, combinado com o nião hoje, em seu gabinete, representan
itens III e V, da Constituição, e tendo artigo 1º, item VII, da Lei nº 5.371, de tes de entidades de apoio à luta indí
em vista o disposto pelos artigos 44 e 5 de dezembro de 1967. gena, quando apresentará a minuta de
45, da Lei nº 6.001, de 19 de dezembro Art. 5º. A exploração das riquezas do portaria regulamentando o decreto pre
de 1973, subsolo das áreas de que trata este De sidencial que permite a exploração de
Decreta: creto, somente será efetivada mediante minérios por empresas particulares nas
Art. 1º. A exploração de riquezas mi lavra mecanizada e atendidas as exi áreas indígenas.
nerais, em terras indígenas, observará gências que a Fundação Nacional do O presidente disse que essa reunião faz
as normas estatuídas pela Lei nº 6.001, Indio – FUNAI estabelecer na salva parte do seu projeto de participação e
de 19 de dezembro de 1973, a legislação guarda dos interesses do patrimônio abertura da FUNAI e que espera receber
sobre atividades minerárias e as dispo indígena e do bem-estar dos silvícolas. das entidades propostas para melhor
sições deste Decreto. Art. 6º. A FUNAI representará os inte resguardar os interesses das comunida
Parágrafo único. Entende-se por terras resses da União, na forma do § 1º do des indígenas. (Diário Popular, 27/08/
indígenas, para os efeitos deste De artigo 45, da Lei nº 6.001, de 19 de 84).
creto, as áreas descritas pelo artigo 17 e dezembro de 1973, fazendo reverter,
seguintes da Lei número 6.001, de 19 de em benefício dos índios e comunidades
dezembro de 1973. indígenas, os resultados econômicos A minuta de Portaria
Art. 2º. As riquezas e as utilidades decorrentes da exploração minerária,
existentes no solo das terras indígenas indenizações e rendas devidas pela ocu A minuta de Portaria da FUNAI, que
somente serão exploradas pelos silví pação do solo. fixa normas relativas à mineração em
colas, cabendo-lhes, com exclusividade, Art. 7º. E assegurado à FUNAI, o áreas indígenas, regulamentando o de
o exercício das atividades de garimpa direito de exigir a adoção, por parte das creto 88.985, foi distribuída pelo presi
gem, faiscação e cata. empresas beneficiárias da autorização à dente Jurandy Fonseca à imprensa e às
Art. 3º. A Fundação Nacional do Indio pesquisa e lavra, de medidas acaute entidades de apoio ao índio.
(FUNAI) adotará as providências ne ladoras, objetivando a preservação da O documento (com 25 artigos) prevê a
cessárias para garantir aos indígenas o cultura, costumes e tradições indí concessão de autorizações de pesquisa e
exercício das atividades referidas pelo genas. lavra de “minérios considerados estraté
artigo anterior, cabendo-lhe orientar a § 1º. À FUNAI, como órgão tutelar é gicos, necessários à segurança e ao de
comercialização do resultado da explo reservado o direito de, na forma do senvolvimento nacional” (definidos em
ração. Estatuto do Índio, suspender os traba Portaria do Diretor-Geral do DNPM)
Art. 4º. As autorizações de pesquisa e lhos de pesquisa e lavra, quando veri preferencialmente às “empresas estatais
de concessões de lavra em terras indí ficados prejuízos à cultura, costumes e integrantes da administração federal, e,
genas, ou presumivelmente habitadas tradições indígenas. somente em casos excepcionais, a crité
por silvícolas, serão outorgadas a em § 2º. A empresa autorizada à pesquisa rio da FUNAI, poderão ser conferidas a
presas estatais integrantes da adminis e lavra, em área indígena, assinará empresas privadas nacionais.”
tração federal e somente serão conce termo de compromisso explicitando que As atividades mineradoras a serem im
didas quando se tratar de minerais não terá direito a indenização contra a plantadas em áreas indígenas deverão
estratégicos necessários à segurança e União, o órgão de assistência ao índio ser precedidas de um contrato assinado
ao desenvolvimento nacional. ou aos silvícolas, quando determinada a entre a empresa e a FUNAI, de acordo
§ 1º. Em casos excepcionais, conside suspensão dos trabalhos, pela FUNAI, com uma série de obrigações, tais como
rado, cada caso, pela Fundação Na na defesa dos direitos e interesses dos a utilização exclusiva de lavra mecani
cional do Índio e pelo Departamento seus tutelados, nos termos da Lei nº zada, o pagamento de renda e indeniza
Nacional de Produção Mineral 6.001, de 1973. ção por destruição de benfeitorias. Fica
DNPM, poderão ser concedidas autori Art. 8º. Sempre que possível e com a vedada a concessão de qualquer autori
zações de pesquisa e concessões de lavra necessária autorização da FUNAI, as zação nas áreas de índios em processo de
a empresas privadas nacionais, habili empresas beneficiárias de autorização atração ou recém-contatados. Em com
tadas a funcionar como empresas de de pesquisa ou concessão de lavra, em pensação, “sempre que possível e com a
mineração. área indígena, utilizarão a mão-de-obra necessária autorização da FUNAI, as
indígena, levando em conta a capaci empresas de mineração poderão utilizar
dade de trabalho e o grau de acultu mão-de-obra indígena...”.
ração do silvícola.

30
s! Z_Acervo
_A @A

A garimpagem, faiscação e cata só po obtido com a exploração mineral pode índios e indigenistas são alijados do pro
derão ser exercidas pelos “silvícolas”. ria ser revertida para outras comunida cesso de redemocratização do País, por
No caso da requisição de autorização des, sob o controle da Funai”, afirmou um instrumento, que até mesmo extin
por “empresas privadas de mineração Marabuto. gue a eficácia de objetivos fundamentais
nacional”, as interessadas deverão aten No entanto, o novo Presidente da Funai da existência do órgão tutelar que se
der a requisitos, tais como: terem direto garantiu ontem que ao ser escolhido quer foi consultado”. (ESP, 10/01/85).
res brasileiros nos setores de produção e para o cargo não recebeu qualquer ori
comercialização, 51% de capital sob entação do Ministro do Interior, Mário
controle nacional, 2/3 de trabalhadores
Andreazza, no sentido de regulamentar “Proibida a entrada”
brasileiros e outros. o decreto presidencial que permite a ex
Os pagamentos das rendas, por parte ploração mineral nas reservas indíge O presidente da FUNAI, Nelson Mara
das empresas, deverão ser efetuados na nas. (O Globo, 21/09/84). buto, enviou um radiograma a todas as
conta da Renda do Patrimônio Indí
delegacias regionais do órgão, na manhã
gena/FUNAI, Agência do Banco do de ontem, proibindo o ingresso de com
Brasil. As alegações de Jurandy panhias de mineração e garimpeiros em
na Câmara áreas indígenas, o que, segundo ele, fa
talmente colocaria “em risco seus bens e
Entidades criticam, Dos 296 pedidos de autorização para a integridade física, pela inevitável e na
Jurandy defende pesquisa mineral e lavra em territórios tural reação dos índios em defesa do seu
indígenas, 97 foram apresentados por patrimônio e de suas vidas”. (JT, 11/
Asentidades de apoio ao índio presentes empresas de capital multinacional. A 01/85).
à reunião com o presidente da FUNAI, denúncia foi feita ontem pelo ex-presi
em Brasília, manifestaram-se contrárias dente da Funai, Jurandy Marcos da
à regulamentação da presença de em Fonseca, na Comissão do Indio da Câ Indigenistas vão manter
presas privadas de mineração nas áreas mara dos Deputados. Desses pedidos, mobilização indígena
indígenas e levantaram a inconstitucio 33 são de capital não identificado, 136
malidade do decreto 88.895. de empresas estatais e o restante de mi Os assessores do presidente da FUNAI,
O presidente Jurandy Fonseca é favorá neradores de capital nacional. Nelson Mafrabuto, decidiram que não
vel à regulamentação e afirmou que na Fonseca foi explicar à Comissão do In irão desmobilizar os índios que se con
realidade “as áreas indígenas estão sen dio as razões de seu afastamento da Fu centraram em Brasília, através das dele
do exploradas clandestinamente e com naie denunciou a empresa Paranapane gacias regionais do órgão, para protes
esta portaria a FUNAI passaria a fiscali ma por ter criado uma subsidiária, a tar contra o decreto autorizando a mine
zar a entrada de estranhos, aprovando Acaraí, para minerar na terra dos wai ração nas áreas indígenas.
apenas aqueles projetos de exploração miri-atroari, em Roraima. Disse que “a Os indigenistas pretendem manter os ín
de minérios que não fossem nocivos aos Paranapanema criou mais uma subsi dios a par de tudo, “de prontidão para
índios”. diária para explorar minérios dentro da agirem rapidamente”. Tal medida é ne
E acrescentou: “eu poderia assinar a área indígena. Elas funcionam ilegal cessária, porque, segundo a avaliação
portaria sem consultar as entidades de mente e até alteram os mapas para se feita pelos auxiliares mais diretos do
apoio ao índio ou líderes indígenas. Mas instalarem. A presença dessas empresas presidente da FUNAI, o governo recuou
quando assumi a presidência da FU acarretará o extermínio dos índios”, in apenas taticamente, diante da mobili
NAI, prometi sempre discutir as ques formou Fonseca. zação dos índios, antropólogos, serta
tões mais sérias com os interessados. O Após ter reafirmado que sua exoneração nistas e entidades de defesa da causa in
ideal seria que a própria FUNAI pudes ocorreu porque se recusou a assinar a dígena contra o documento. Além do
se explorar as riquezas minerais que portaria regulamentando as minerado mais há um enorme contingente de jor
existem nas terras indígenas, cujo lucro rasparticulares em áreas indígenas, Ju nalistas de todo o país e do exterior em
poderia ser revertido em benefício das randy Fonseca foi criticado pelo depu Brasília, para cobrir a reunião do Colé
comunidades. No entanto, estudos de tado João Baptista Fagundes (PDS-RR, gio Eleitoral no dia 15 de janeiro, sensí
senvolvidos pela minha assessoria indi malufista), favorável à exploração de vel à questão indígena. (Jornal de Bra
caram que ainda não temos know-how minérios nas áreas indígenas por parte sília, 11/01/85).
para este trabalho”. (ESP, 28/08/84). de empresas. (FSP, 28/09/84).

Marabuto apóia mineração FUNAI protesta


em área indígena
O presidente da FUNAI, Nelson Mara
“Não sou contra a exploração em si, mas buto e seus assessores, divulgaram nota
contra o aspecto generalizado da regula de repúdio ao decreto presidencial auto
mentação, que iguala índios que jamais rizando a exploração de minérios em “Minérios, índios
tiveram contato com os brancos e índios áreas indígenas. Depois de assinalar que e (in)dependência”
aculturados. Isso poderia ser corrigido o decreto burla a Constituição Federal, o
com a elaboração de um outro docu Estatuto do Indio e a própria Declara A existência de riquezas minerais em
mento normativo, que assegurasse a ele ção Universal dos Direitos Humanos e terras indígenas é, neste momento, a ra
vação do nível de vida das comunidades de apontar as conseqüências nefastas da zão de uma série de ameaças que, se fo
aculturadas, propiciando mais trabalho: ação das mineradoras para os índios, a rem concretizadas, significarão a degra
e riqueza para os índios. Parte do lucro nota conclui: “no momento em que a dação e a morte de mais da metade dos
sociedade brasileira se volta para assu índios brasileiros.
mira gerência de seu próprio destino, os
31
s! Z> Acervo
_{ | @A. INDÍGENAS NO BRASIL/CEDI

As ameaças partem do governo brasi o Brasil celebrou um acordo secreto com esquecendo que sua obrigação é pedir
leiro, que precisa de dólares para entre a República Federal Alemã, envolvendo mais recursos e não colaborar com a ile
gar aos felizes banqueiros internacio reservas de urânio, necessário para a galidade.
mais, especialmente estadunidenses, que produção de energia atômica. Por esse A par disso tudo, através de uma enxur
hoje governam de fato o Brasil. Vão-se acordo o Brasil receberá oito usinas nu rada de projetos de lei, decretos e porta
os minérios, mudam-se em dólares, os cleares, a começar pela de Angra dos rias, vem-se tentanto criar uma legali
cofres dos bancos ficam mais recheados Reis, já em construção. Em troca a Ale dade especial, à margem da Constitui
e o Brasil fica dono de um buraco. E manha receberá urânio, que se encontra ção, para estimular e proteger a corrida
amanhã a história dirá que num grande em Roraima, na Serra do Surucucu, aos minérios. Na verdade, essa operação
país da América Latina houve tempo em área notoriamente ocupada pelos índios mata-índio é inconstitucional, pois o ar
que existiam riquezas minerais e índios. da triboyanomami. A abertura da estra tigo #98 da Constituição assegura aos in
Existem outros estrangeiros interessa da Manaus-Boa Bista, que passa por dígenas a posse permanente das terras
dos naquelas riquezas. São empresas de essa região e não tem objetivo definido, que ocupam e o usufruto exclusivo de
mineração que, há vários anos, favoreci bem como a obstinada recusa do gover todas as riquezas nelas existentes. E o
das pelo complexo militar-tecnocrático no brasileiro em criar o Parque Indígena Estatuto do Indio, que é lei federal, em
que decide em lugar do povo brasileiro, Yanomami, levam à conclusão de que o seu artigo 18 reafirma o dispositivo cons
vêm obtendo todas as informações e to “New York Times” não andava longe da titucional e proíbe qualquer negócio ou
das as facilidades para conhecer o sub verdade. atividade “que restrinja o pleno exercí
solo brasileiro e tirar dele o que lhes in Ma os minérios existentes em áreas indí cio da posse direta pela comunidade in
tereSSar. •
genas já despertaram também a cobiça dígena ou pelos silvícolas”. E no pará
No ano de 1977 foi publicado nos Esta de alguns brasileiros, que conseguiram grafo 1º desse mesmo artigo veda a qual
dos Unidos um livro muito importante aliados no Departamento Nacional de quer pessoa estranha aos grupos tribais
para os brasileiros, de autoria do antro Produção Mineral, do Ministério das ou comunidades indígenas a prática de
pólogo Shelton Davis, da Universidade Minas e Energia, e no próprio Congresso "atividade extrativa,
de Cambridge. Nesse livro, que já tem Nacional. Ignorando totalmente a Cons As empresas de mineração que preten
edição brasileira com o título As vítimas tuição e, pior do que isso, desprezando o dam extrair riquezas em áreas indígenas.
do milagre, o autor demonstra que um fato de que os índios são seres humanos deverão, antes, atentar para a garantia
dos aspectos subterrâneos da grande com direito à vida, um verdadeiro “co constitucional da posse indígena, para
farsa que foi o “milagre brasileiro” era amando antiíndio” entrou em ação nos não sofrerem grandes prejuízos. Ainda
entrega de riquezas minerais às empress últimos anos. recentemente a empresa estatal francesa
sas multinacionais. Nesse livro Shelton Na última campanha eleitoral foram de petróleo Elf Aquitaine foi obrigada a
Davis enumera noventa projetos de mi amplamente distribuídos em Roraima, pagar uma indenização de trezentos mi
neração em terras indígenas, benefi no Amazonas, no Acre e em outros lu lhões de cruzeiros aos índios sateré
ciando empresas multinacionais, espe gares onde há índios e minérios, panfle maué e mundurucu, por haver penetra
cialmente a U.S. Steel Corporation, a tos de propaganda eleitoral através dos do em suas terras com autorização, sem
Alcan Aluminum Company e a Bethle quais alguns candidatos, do PDS e do valor legal, da Petrobrás, para efetuar
hem Steel Corporation. PMDB, prometiam aos eleitores que prospecções.
Os interesses estrangeiros não param aí, trabalhariam pela abertura dos garim É necessário que a consciência brasileira
pois graças à generosidade dos militares pos e pela entrada de empresas minera reaja a essas investidas, que levarão à
e tecnocratas as portas estão abertas, es doras em áreas indígenas. Os próprios morte e à degradação física e moral mui
cancaradas, para quem quiser vir ao governadores dos Estados e territórios tos índios, além de trazer prejuízos e não
Brasil abastecer-se em condições muito em que isso ocorreu apoiaram essa cri benefícios ao povo brasileiro. Os miné
vantajosas. A Petrobrás, especialmente minosa abertura, ocultando ao povo que rios irão embora, os bolsos de um peque
através do setor de contratos de risco, o lugar de onde se tira o minério não fica no grupo de ambiciosos ou aventureiros
passa tranqüilamente por cima da Cons com a riqueza nem com alguma parte ficarão mais cheios e o Brasil ficará mais
tituição, usurpa atribuições que são ex substancial dela, mas apenas com os bu pobre em riqueza mineral e em prestígio
clusivas do presidente da República e racos, como aconteceu em Minas Ge perante a história. (artigo de Dalmo de
autoriza empresas estrangeiras a pene rais. Abreu Dallari, FSP, 14.09.84).
trarem em terras indígenas. Uma das O “comando antiíndio” vem atacando
conseqüências é o desmatamento de no Congresso Nacional, onde o deputa
áreas consideráveis, com a derrubada de do Mozarildo Cavalcanti já se revelou o Parecer das entidades
grande número de árvores de madeira de mais obstinado protetor das minerado de apoio
lei, que nunca poderão ser repostas. Ou ras, apresentando inúmeros projetos de
tra conseqüência é a matança direta ou lei, evidentemente inconstitucionais, vi Reiteradamente as empresas minerado
indireta dos índios brasileiros. sando a legalizar a invasão de áreas indí ras e as empresas econômicas ligadas à
Mas a invasão estrangeira não termina genas. Um dos argumentos apresenta mineração têm tentado explorar as ri
aí. O jornal “New York Times” publi dos pelos deputados, especialmente Mo quezas do subsolo dos territórios indíge
cou, em 1975, uma denúncia gravíssi zarildo Cavalcanti (PDS de Roraima), nas e reiteradamente os povos indígenas
ma, que nunca foi desmentida pelo go é o que chamam “aspecto fático”, que é e as sociedade nacional tem respondido
verno brasileiro. Segundo aquelejornal, a existência de muitos garimpos clan a tempo.
que implicitamente revelou a existência destinos, sem que a Funai, que é a prote
de uma disputa entre poderosos grupos tora oficial dos índios, tenha meios para
estrangeiros, pelas riquezas brasileiras, impedi-los. E o próprio representante da
Polícia Federal na Funai repete esse ar
gumento, como se fosse coisa natural,
sL7-Acervo
_/\ | <> A

Uma vez mais se dá essa tentativa. O Ao entrar no regime industrial de traba


Uma resposta
Exmo. Sr, Presidente da República assi lho, como propõe o Decreto, os índios ao sr. Roberto Marinho
nou o Decreto nº 88.985 de 10 de novem além do abandono das suas atividades
bro de 1983 que abre essa possibilidade, de subsistência tradicionais, serão le Rio de Janeiro, 24 de setembro de 1984.
mas que necessita de uma portaria regu vados a abandonar as práticas sociais e Prezado Senhor,
lamentadora. Quase um ano depois, a cerimoniais indispensáveis à reprodução
discussão é colocada em pauta, 170 em do seu modo de ser e de pensar. Diante Os argumentos apresentados pelo recém
presas já pediram oficialmente autori disso a preocupação do Decreto com os exonerado Presidente da FUNAI, ao se
zação para entrar em áreas indígenas. A prejuízos à Cultura Indígena é mera re negar a assinar a Portaria que regula
assinatura da Portaria resultou em uma tórica. menta a exploração de minérios em ter
crise administrativa na Fundação Na E no mínimo suspeita a pressa com que, ras indígenas, são mais complexos que
cional do Indio; seu Presidente, Jurandy às vésperas da sucessão presidencial, os supostos pelo Sr. Roberto Marinho no
Marcos da Fonseca, acabou sendo exo tais medidas pretendam ser tomadas. seu Editorial “A Verdadeira Segurança
nerado por terentendido que sua assina Argumenta-se que é premente a explo Nacional”, publicado no Jornal O Glo
tura significaria anuência com o genocí ração mineral em área indígena para bo, 13/9/84. O perigo de moléstias ori
dio. pagar a dívida externa. Ao contrário, undas dos brancos é apenas uma entre
No jogo de pressões que alcançou rele manter intactas reservas minerais é o as muitas razões apresentadas no Pare
vância pública no Editorial “A Verda mais racional. O esgotamento de tais cer Jurídico, Antropológico e Político
deira Segurança Nacional” do jornal O reservas como resposta à pressão para o elaborado pelas lideranças indígenas e
Globo, assinado pessoalmente pelo Sr. pagamento de juros aos credores inter as Entidades de apoio ao índio, e dirigi
Roberto Marinho, os argumentos utili nacionais não lesa apenas os povos indí do à FUNAI. A inconstitucionalidade
zados não são novos: O Brasil necessita genas, mas empobrece a Nação brasilei do Decreto 88.985, que abre as áreas in
extrair e exportar minérios para salvar ra como um todo. dígenas
dente. à exploração de minérios, é evi

sua economia e não pode ficar a mercê A regulamentação desse lamentável De


de um pequeno contingente indígena creto é não só anti-índio, como também Previsível e fatal é o impacto das ativi
que exige a conservação ecologicamente contrária aos interesses populares. Sem dades de lavra, sobretudo a mecânica,
harmônica do seu território para sua consultar a Nação Brasileira, os repre sobre o equilíbrio ecológico e as organi
sobrevivência. sentantes legisladores, ainda que de le zações sócio-econômicas indígenas.
Por outro lado, menos divulgados mas gitimidade contestável, encaminharam O Sr. Roberto Marinho faz-se porta-voz
verdadeiros e antigos são os argumentos o Decreto e a Portaria. dos interesses das mineradoras, compa
dos Povos Indígenas e sua luta por so A Constituição Brasileira em seu artigo rando falaciosamente o processo de de
breviver. Se agrega a isso, agora, o fato 198 diz taxativa e peremptoriamente que senvolvimento do Brasil com os Estados
de que, além de verdadeira, justa e ur é dos índios o usufruto exclusivo das ri Unidos e Japão. Não há equivalência. É
gente, a preservação das áreas indígenas quezas naturais e de todas as utilidades sabido que a economia norte-ameri
é exigência legal. existentes nas terras indígenas, não po cana, predatória em outros Países, é
Os argumentos são verdadeiros porque dendo, portanto, lei, decreto ou portaria mais cuidadosa em casa: prefere com
os fatos têm demonstrado que o impacto disporem contrário. A alegação de que o prar barato de seus “aliados” a esgotar
da extração mineral sobre os territórios Subsolo se diferencia da terra não en os seus próprios recursos. O Brasil e fon
índios, afeta a integridade e o equilíbrio contra, tampouco, respaldo na Consti te perene de matéria-prima a preços irri
das relações estabelecidas pelas socie tuição, já que o fundamento desse argu sórios e, com isso, alimenta não o bem
dades indígenas com o meio ambiente, mento é o artigo 168 que se refere ao solo estar de sua população mas a riqueza
causando danos irreversíveis. e não à terra. Para os índios a Constitui norte-americana. Por fim, o Editorial
O contato direto e indireto das popula ção usou Terra, que quer dizer solo e sugere que se importe o modelo norte
ções índias com a população branca subsolo. americano de genocídio para encher os
acarretará necessariamente surtos epi Diante dessa ameaça cumpre a socie cofres nacionais com covas cheias de ín
dêmicos dificilmente controláveis, con dade civil assumir como sua a luta dos dios. E isso que nós queremos?
tra as quais, é sabido, os índios não têm Povos Indígenas. (Súmula do parecer O Sr. Roberto Marinho afirma que se
resistência imunológica, razão pela qual Jurídico, antropológico e político) pretende frear o progresso do Brasil por
povos inteiros foram levados à extinção. Rio de Janeiro, 24/set/1984. “critérios ideológicos e antropológicos”.
Os efeitos ambientais da lavra, sobre União das Nações Indígenas Não é insanidade muito maior conceber
tudo a mecânica, desencadeiam proces Associação Brasileira de Antropologia um sistema econômico todo voltado para
sos variados de disrupção ecológica; rios Associação Nacional de Apoio ao Índio bens de mercado ignorando o bem-estar
poluídos, a cobertura vegetal afetada, do Rio Grande do Sul da população, da qual fazem parte os ín
assim como, os hábitos alimentares, a Associação Nacional de Apoio ao Índio dios, poucos graças a séculos de depre
reprodução e a distribuição da fauna. As da Bahia dação e condenados agora por viver em
alterações no nível demográfico se refle Conselho Indigenista Missionário cima de substâncias inorgânicas cobi
tirão sobre o nível social. A organização Comissão Pela Criação do Parque Yano çadas pelos interesses multinacionais?
de cada sociedade terá de se ajustar a mami Será que o Sr. Roberto Marinho não está
mudanças profundas causadas pela in utilizando critérios ideológicos incon
trodução de novas técnicas, pela mone fundíveis defendendo o modelo norte
tarização da economia, pela transfor americano e propondo que se pague os
mação de cadá indivíduo em trabalha juros da dívida externa com as riquezas
dor assalariado. naturais indígenas transformadas depa
trimônio inalienável em mercadoria?

33
-

* # Nogenas no BRasil/cro
=A_E^s
O que queremos enfatizar é que o mais FUNAI como empresa Segundo as entidades a regulamentação
importante é garantir às populações in de mineração da exploração de riquezas minerais em
dígenas os direitos mínimos de sobrevi terras indígenas, através do Decreto nº
vência. Já repetimos ad nauseam que a Um termo de convênio que a Fundação 88.985, de 10.11.83, “tem trazido preo
Constituição Federal garante esses di Nacional do Índio (Funai) pretende cele cupações à opinião pública ante a possi
reitos: aos índios é assegurado “o usu brar com a Companhia de Pesquisa de bilidade de extinção das últimas comu
fruto exclusivo das riquezas naturais e Recursos Minerais (CPRM), visando à nidades indígenas existentes no Brasil,
de todas as utilidades existentes nas ter pesquisa e exploração de minérios em mormente na Amazônia, região que
rasindígenas”. terras indígenas, foi denunciado ontem, possui grande potencial de riquezas mi
Gratos pela atenção que o Seu Jornal nos pelo presidente da Coordenação Nacio nerais e sofre no momento presente o
dedica, aproveitamos a ocasião para nal dos Geólogos (Conage), Gerôncio assédio constante por parte dos grupos
apresentar os votos da mais elevada es Rocha. Ele o considera “nocivo aos inte econômicos atuantes no setor mineral.
tima e consideração. resses das comunidades indígenas e do Considerando não ser essencial, para o
Atenciosamente setor mineral”. Cópia do documento foi conhecimento do potencial de riquezas
Dra. Alcida Rita Ramos apresentada à Agência Folhas durante o minerais do País, o desenvolvimento de
Comissão de Assuntos Indígenas 33º Congresso de Geologia, que se rea trabalhos técnicos nos domínios das co
Associação Brasileira de Antropologia liza no campus da Universidade Federal munidades indígenas e que as riquezas"
do Rio de Janeiro. minerais existentes nessas áreas não
A minuta do convênio Funai/CPRM constituem reservas consideráveis ou in
(ainda não assinada), com seis páginas e dispensáveis à atividade mineraldo País,
treze cláusulas baseadas no decreto e só o imediatismo da política de explo
88.985, de 10 de novembro do ano pas ração de ouro e cassiterita explica o afã
CVRD nega interesse imediato sado, propõe que a Funai se torne uma com que esse Decreto coloca as áreas in
empresa de mineração associada à dígenas à disposição das empresas de
Nem a CVRD, nem as suas subsidiárias CPRM e coloca a pesquisa dos bens mi mineração.
têm qualquer interesse em que seja assi nerais em áreas indígenas “como uma Considerando que os trabalhos de pes
nada a portaria regulamentar do decreto espécie de monopólio destes organis quisa e lavra, em territórios indígenas,
que permite a mineração em áreas indí mos”, segundo o presidente da Conage. constituem fator de desagregação inter
genas, segundo declarações do sr. Breno (Folha da Tarde, 31/10/84). na na estrutura destas comunidades,
Augusto dos Santos, chefe da Província com conseqüente risco de extinção das
Mineral Norte da DOCEGEO, em Be mesmas, processojá bastante conhecido
lém. Ainda segundo o sr. Santos, a em CPRM desmente através de nossa história, exacerbado,
presa mantém inalterada a sua filosofia hoje, pela desenfreada e perniciosa ati
de que as reservas indígenas devem ser Procurado por estejornal, o general Sal vidade de garimpagem nestas áreas, in
excluídas de todas as pesquisas e proje vador Mandim, presidente da CPRM, clusive com beneplácito de órgãos que
tos de mineração, pelo menos até que se negou que a empresa já se tenha asso deveriam coibi-la, conforme legislação
criem condições para uma aproximação ciado à Funai. vigente;
não traumatizante entre brancos e ín Mandim explicou que, há tempos, a em Considerando que, em se tratando de
dios. presa estatal foi procurada por represen “minerais estratégicos necessários à se
Como exemplo prático dessa filosofia, o tantes da Funai para examinar o Decre gurança e ao desenvolvimento nacio
representante da CVRD lembrou o en to nº 88.985/83, que estimula a mine nal”, como previsto pelo Decreto e “ou
caminhamento dado pela empresa sob ração na área indígena, mas disse que a torgadas a empresas estatais integrantes
controle estatal, após concluir as pesqui proposta, até agora, não foi aprovada da administração federal”, as autoriza
sas que constataram a riquíssima jazida por nenhum dos lados. O presidente da ções de pesquisa e as concessões de lavra
de cassiterita dentro do território Yano CPRM ressaltou que “a CPRM sempre em terras indígenas, ou “presumivel
mami, em Roraima (ver, a respeito, a saberá respeitar a comunidade indígena mente habitadas por silvícolas” repre
justificativa do projeto de lei apresen e assegurar respeito às leis de proteção a sentam um atentado à sobrevivência das
tado pelo deputado Márcio Santilli, estas áreas”. (Gazeta Mercantil, 01/11/ comunidades tribais brasileiras, tendo
adiante). Ele admitiu, todavia, que, se 84). em vista o choque resultante do contato
no futuro, houver condições de trabalho entre dois sistemas sócio-econômicos di
em áreas indígenas, estabelecendo-se ferentes, fato já observado no dia-a-dia
um consenso entre a FUNAI e os pró vivido em várias regiões;
prios antropólogos, de que esse trabalho EÓLOGOS Considerando que o bem mineral locali
zado nestas áreas deve ser avaliado em
não será danoso às populações indíge
nas, então a empresa poderá repensar a Nota da CONAGE e SBG consonância com os interesses das co
postura que adota hoje. munidades indígenas, respeitando-se
Breno confirmou que a DOCEGEO, A Coordenação Nacional dos Geólogos e sua opinião quanto à oportunidade e às
como subsidiária da CVRD, tem efetiva a Sociedade Brasileira de Geologia, di condições de mineração em seus territó
mente vários pedidos de pesquisa, mui vulgaram nota conjunta sobre a minera rios específicos;
tos deles envolvendo áreas de ocupação ção em áreas indígenas, um dos temas Julga-se que não se deve admitir que esta
indígena. “Mas mesmo nessas áreas não debatidos durante o XXIII Congresso atividade de mineração coloque em risco
trabalharemos desde que haja a menor Brasileiro de Geologia, realizado entre o bem-estar destas populações e a garan
possibilidade de prejudicar o índio. E de 28/10 e 04/11, no Rio de Janeiro e que tia das condições essenciais de sua so
certa forma estaremos preservando es reuniu mais de 3 mil técnicos e empre brevivência; ao contrário, é necessário
sas áreas de outros concorrentes que sários do setor mineral. que a atividade esteja em sintonia com o
possam não ter os mesmos cuidados e os processo efetivo de auto-determinação
mesmos escrúpulos que nós temos”, fi destes povos.
nalizou. (O Liberal, 23/09/84).
34
O Decreto 88.985/83, além de não con
siderar estes pontos, permite que surjam
proposições de empresas que ferem fron
talmente as normas legais do setor mi Processos de pesquisa mineral/DNPM
neral, conforme atestamos no termo de INDEFERIDOS/FUNAI, por área indígena
convênio proposto pela CPRM à FU e tipos de empresa. Período: 13/01 a 15/10/1982
NAI. Tal documento propõe que a FU
NAI se torne uma Empresa de Minera
ção associada à CPRM, que a pesquisa empresa - emp, privada emp, privada não

de bens minerais em áreas indígenas seja Área indígena estatal nacional linternacional ident. total

monopólio destes organismos e que os


direitos minerais sobre estas áreas sejam PIAripuanã (RO/MT) *** -. 32 4 36
negociados com outras empresas de mi A Roosevelt (RO/MT) - …-- } 1 2
neração, abrindo totalmente as áreas AI 7 Setembro (RO/MT) «… - 4 1 5
indígenas à exploração, Karitiana (RO) y= - 2 - 2

A CONAGE e a SBG, através deste do Yanomami (RR/AM) *-+- 5 3 - 8

cumento, vêm denunciar à opinião pú Waimiri-Atroari 4 1 - - 5

blica este termo de convênio proposto (RR/AM)


pela CPRM à FUNAI, cuja efetivação é AITenharim (AM) …… - - 1 1

viabilizada pelo Decreto 88.985/83, de Cateté (PA) 3 2 - - 5

monstrando sua total inadequação fren RI Kayapó (PA) … - - 2 2


te aos interesses das comunidades indí Bau-Mekranotire (PA) •- - 13 - 13

genaS. AI Turiaçu (MA) - - - 5 fy

Pela demarcação das Terras Indígenas. Áreas não identificadas (*) 3 19 40 15 77

Pela transformação das Terras Indíge


nas em Reservas Nacionais. TOTAL 10 27 05 30 162

Pela aprovação do Projeto Lei nº 4.558/


84, de Márcio Santilli, o qual transfor Fonte: “Relação de Processos indeferidos referentes a Pesquisa Mineral — Exercício de 1982”,
ma em Reserva Nacional de Minerais as DGPI/FUNAI/DF: #5/10/82.

terras Yanomamis.
Pela revogação do Decreto 88.985/83 Nota: (*) processos indeferidos com base no item 3 da Portaria Interministerial006/3.1.
que abre as terras indígenas às empresas
de mineração.”
Levantamento parcial de processos de pesquisa
mineral/DNPMINDEFERIDOS
Não há mais garimpo e EM TRAMITAÇAO/FUNAI,
como antigamente por área indígena e tipo de empresa, 1984.
Para o geólogo Elmer Prata Salomão, o
garimpo que atualmente existe na região empresa Hemp, privada emp. privada F1ão
de fronteira da Amazônia está comple Area indígena estatal (*) nacional I internacional ident. total
tamente descaracterizado, não manten
do mais qualquer semelhança com o ga indef. em tr.indef. em tr, indef. em tr. indef. em tr.: indef. em tr.
rimpo tradicional, onde o trabalho de
extração era essencialmente manual. Alto R. Guamá (PA) 1 2 - — - - … …"- 1 2
Hoje, segundo Helmer, a mecanização Cateté (PA) 9 28 - - - - - -- 28
atingiu todas as frentes garimpeiras e Turiaçu (MA) - 4 *_*_*_* - - •- - |- — º 4

está em completo desacordo com aquilo RI Kaiapó (PA) - 20 - 3 - - - 1 - 24


que prevê o Código de Mineração. Aliás, Waiãpi (AP) 46 1 4 5 - - 1 - 51 7
para ele o Código está desatualizado ou Sararé (MT) - - += =y · .… 1 #… 1 -

pelo menos inadequado a esse novo tipo Yanomárni (RR/AM) 1 .… .…… += => ---- *= * 1 -

de garimpo e sugere que se introduza Jacamin (RR) 1 •- ---- …Sº …-mam- - … … 1 -

uma nova figura, a da Lavra de Risco. Zorós (MT) - ---- –*-*- ---- 2 - - - 2 -

Embora considere o garimpo socialmen Igarapé Lourdes


te importante, já que é absorvedor de e Alto Urupá (RO) 1 - - - - - -_- … 1 *=-

mão-de-obra tangida pelo desemprego, Parakanã (PA) } - - - - - - - 1 -

o geólogo defende que a atividade pre Koatinemo/Paquiçamba/


cisa ser contida, em função do quadro Bacajá (PA) ] •- --… <m- •- … … - 1 *-*

social de desigualdade que gera e dos


conflitos que acarreta. Mas não vê, a Subtotal 61 55 4 9 2 - 2 1 69 (35
curto prazo, uma solução viável para o
problema. (Brasil Mineral, nº 12, nov. TOTAL 116 13 2 3 134
84, SP, pg.30).
Fonte: Processos DNPM.

| (*) A quase totalidade dos processos de pesquisa mineral estatais são da Companhia Vale do Rio
Doce (CVRD), sobretudo de suas subsidiárias.

35
s! Z_ Acervo -

_A EVAs indiceNAs no BRASIL/cED


“A política de exploração de minérios (Às Comissões de Constituição e Justiça,
não pode ser determinada somente pelo de Minas e Energia e de Finanças.)
interesse imediatista das empresas de O Congresso Nacional decreta:
Indianidade e mineração exploração que hoje querem saquear as Art. 1º Constitui reserva nacional de
terras que a República assegurou aos in ouro, cassiterita e associados, à área in
Em artigo assinado pelo deputado João dígenas. Nem pode ser definida pelos dígena Yanomami, situada no Estado
Batista Fagundes (PDS-RR), publicado interesses predatórios dos credores in do Amazonas e no Território Federal de
na seção “Ponto de Vista” da Revista ternacionais, que não se importam com Roraima.
Veja (03.10.84) com o título “Somos to a dilapidação de nossos recursos natu § 1º Os limites da reserva ficam estabe
dos caboclos”, pode-se ler sete longos rais, contanto que seus saldos se refa lecidos, ao norte, pela linha divisória en
parágrafos de preconceitos contra os po çam. tre o Brasil e a Venezuela, até o meri
vos indígenas, a pretexto de esclarecer A localização das reservas minerais em diano de 66º 2000 W, ao sul, pelo tra
quem, afinal, é índio de verdade. terras indígenas é uma bendita proteção çado da Rodovia BR-210 e, a leste pelo
Mas o essencial mesmo está no final: “A de bens que pertencem à nacionalidade. meridiano de 62º 00'00W.
questão ganha especial relevo no presen O sacrifício dessas comunidades clama § 2º A reserva constituída neste artigo
te momento, quando interesses diversos por uma reflexão sobre o que as gerações não suspende o direito exclusivo de ga
pretendem impedir que se abra o Terri presentes devem ao legado material do rimpagem, fasicação e cata, previsto no
tório de Roraima à mineração, utilizan passado.” art. 44 da Lei nº 6.001/73.
do a “proteção do índio” como pretexto. (...) Art. 2º A área constituída como reserva
Em Roraima, há índios que falam inglês “Todas as Constituições brasileiras en nacional, segundo esta lei, permanecerá
e pagam táxi em dólar quando vêm a tenderam, como afirmou Pontes de Mi interditada até o término da sua demar
Boa Vista. Ao mesmo tempo, uma co randa, que a República assegurou às co cação e o cumprimento de todas as pro
missão pretende criar o Parque Yano munidades indígenas o usufruto pleno vidências previstas na Portaria GM nº
mami, como primeiro passo para a cria do solo, estendido aos minerais, vegetais 025/82, do Ministério do Interior, fi
ção de uma nação dentro da nação bra e animais. A exploração por terceiros cando proibidas as atividades de pesqui
sileira. Essa medida, totalmente atenta dos minérios contidos nas terras indíge sa mineral, lavra, licenciamento, garim
tória à integridade e à integração nacio nas irá implicar, comojá se demonstrou, pagem, faíscação e cata, por pessoas fí
nal, merece veemente repulsa dos verda restrição incontornável ao pleno exercí sicas ou jurídicas, públicas ou privadas.
deiros patriotas”. cio da posse direta pela comunidade in Art. 3º Esta lei entrará em vigor na data
dígena, representando flagrante incons da sua publicação, revogadas as disposi
titucionalidade. ções em contrário.
Haroldo Lima propõe Se juridicamente o decreto e a portaria Os índios Yanomamiconstituem o maior
reservas minerais são uma afronta à consciência constitu grupo ainda, em parte, isolado do con
cional brasileira em sua tradição de pro tato com a sociedade dita civilizada.
O deputado federal Haroldo Lima teção das comunidades indígenas, cul Dessa forma, torna-se necessário criar
(PMDB-BA), apresentou no dia 11.09. turalmente é vergonhoso que, nas véspe condições para que o contato com a po
84, na Câmara, projeto de lei nº 4285/ ras do terceiro Milênio, não tenhamos pulação branca seja conduzido dentro
84 dispondo sobre as reservas minerais mais condições de fazer respeitar o le de certos princípios e regras, de forma
em áreas indígenas. Pelo decreto, as ri gado de Rondon. Enquanto no final do que se complete sem traumas culturais
quezas do subsolo das terras indígenas século 19 e início do século 20 o exército ou contágios que comprometam a saúde
“constituem reservas minerais pelo pra norte-americano trucidava os índios, o e a sobrevivência das comunidades indí
zo de 20 anos, sem que atividade extra exército argentino fazia a campanha do genas.
tiva nelas seja realizada”. Idem para as deserto, dizimando suas comunidades Esse tipo de problema, aliás, além de ser
atividades de aproveitamento hidráuli indígenas, no Brasil o marechal-candi uma constante em todo e qualquer pro
co. O projeto prevê ainda o cancelamen dato Rondon defendia o direito dos ín cesso de aculturação, já deixou suas
to das pesquisas e lavras ainda não ini dios à sobrevivência. Onde está a digni marcas no povo Yanomami. Face à exis
ciadas. O projeto recebeu parecer do re dade republicana que não se levanta tência comprovada de minérios nessa re
lator da Comissão de Constituição e Jus para pôr cobro a essa ameaça que enxo gião, têm sido freqüentes as invasões de
tiça, deputado Jorge Arbage (publicado valha a obra e o legado do grande mi garimpeiros que deixam atrás de si a vio
no DCN, dia 06/12/84), foi aprovado litar? lência, a prostituição, os vícios, as epi
pela CCJ, com emenda e, no início de Apelamos ao presidente da República demias e as mortes. Além disso, é evi
março de 85 estava na Comissão de Mi para que não perpetre essa agressão ao dente, a espoliação das riquezas legal
nas e Energia, devendo seguir posterior interesse nacional e à cultura indígena.” mente atribuídas com exclusividade às
mente para a Comissão do Indio. (FSP, 04/10/84). populações índias.
Não é sem razão, pois, que entidades
internacionais, ligadas ao indigenismo e
aos direitos humanos vêem com muita
“Entre Custer e Rondon” PL de Santilli propõe
reserva mineral preocupação a sobrevivência dos Yano
É o título do artigo do senador Severo mami. Afinal, segundo os últimos cálcu
Gomes (PMDB-SP) criticando a regula Projeto de Lei, nº 4.558, de 1984, do los, são aproximadamente 20.000 cria
mentação do decreto que autoriza em deputado federal Márcio Santilli turas, distribuídas em mais de trezentas
presas a minerar em reservas indígenas, (PMDB-SP):
conforme alguns trechos reproduzidos a Cria reserva nacional de ouro, cassite
seguir: rita e associados, em área do Estado do
Amazonas e no Território Federal de
Roraima.

36
s! Z> Acervo
_/\ | <> /\
aldeias, que correm todos os riscos sem cassiterita do Território de Roraima em CNBB pede revogação
que, de fato, as autoridades competen Reserva Nacional, conforme previsto no
testomem quaisquer providências. art. 54 do Código de Mineração.” Em artigo intitulado “Em defesa dos
Do lado brasileiro, além do descaso com Infelizmente, o DNPM não aceitou, na Povos Indígenas”, o secretário-geral da
o qual a questão sempre foi enfrentada, quele instante, a valiosa sugestão da CNBB, D. Luciano Mendes de Almeida,
ocorre, atualmente, uma grande inves CVRD. Hoje, porém, continuam pre faz uma extensa consideração a respeito
tida em busca da liberação da área para sentes as mesmas razões e, além do da questão da exploração mineral em re
o garimpo. Estão aí, com certeza, pelo mais, cumpre afirmar que o processo de servas indígenas e termina por apelar ao
menos 4.000índios que, como tem ocor Roraima não pode ser pensado desvin Presidente da República para que revo
rido em outros lugares, ficarão expostos culadamente do progresso da sua gente. gue o decreto assinado no dia 9 passado.
a todos os malefícios já citados e, o que é E, no caso, por tratar-se da única uni (FSP, 12/01/85).
pior, transformados em agentes da des dade federal habitada majoritariamente
truição de todo o seu próprio povo. por índios e seus descendentes, este
Assim, para aquelas consciências lúci princípio adquire foros de prioridade
das, que ainda se preocupam com a pre quanto à questão indígena. Não pode,
servação dos valores humanísticos e cul portanto, haver um preço lógico a se pa
MME/DNPM_
turais dos povos indígenas, surge a ne gar pelo desenvolvimento de Roraima, Garimpos X Empresas
cessidade de fazer alguma coisa no sen que implique no esfacelamento da nação
tido de se resguardar o direito imemorial Yanomami. O Diretor de Fomento à Produção Mi
desse povo ao território que habita, se A constituição da Reserva Nacional pre neral do DNPM, Manoel da Redenção,
gundo a tradição oral e os relatos dos ex vista neste projeto de lei, portanto, vem disse que o garimpo é hoje o principal
ploradores e de membros de expedições de encontro às concretas e inadiáveis responsável pela produção de ouro no
científicas, desde a Comissão de Limi necessidades de assegurar à comuni País, e que a política do governo tem
tes Portugueses, em 1787. dade nacional a sobrevivência da popu sido a de incentivar e controlar essa pro
Foi nesse sentido, aliás, que a Compa lação Yanomami e da sua incalculável dução. Em 1983, por exemplo, das 47,5
nhia Vale do Rio Doce, em fevereiro de cultura, riqueza, sem dúvida, bem mais toneladas de ouro produzidas no Brasil,
1980, enviou um documento ao Depar valiosa do que a eventualmente obtida apenas 6 vieram de minas mecanizadas,
tamento Nacional de Produção Mineral com a mineração. É uma medida ditada sendo o restante oriundo dos garimpos.
onde afirma: pela emergência e de natureza temporá Para este ano, a previsão do DNPM é de
“Realmente, se não bastasse a integri ria, que, em nada, prejudicará o desen que os garimpos produzam 50 tonela
dade física, cultural e social da Tribo volvimento do nosso País. (Brasília, 18 das, contra 10 toneladas obtidas pelas
Yanomami que constitui interesse a ser de outubro de 1984. — Márcio Santilli). empresas. Outro dado importante men
resguardado e, por si só, supera qual cionado pelo técnico, é que 90% da pro
quer exploração industrial, as circuns dução dos garimpos não sofre qualquer
tâncias para a comercialização da cassi tipo de tributação e que, para compra de
terita daquela região esvaziam os resul ouro naqueles locais, a Caixa Econômi
tados econômicos por dois fatores pre ca Federal, além de postos de compra
ponderantes: CIMI considera crime próprios, mantém 340 firmas autoriza
a) o país possui outras áreas produtoras das a atuarem na comercialização do
e em desenvolvimento ao Sul da Amazô D. Erwin Krautler, bispo da Prelazia do OLITO,
nia e na Região Centro-Oeste, com ca Xingú e presidente do CIMI, considera Quanto ao problema das invasões de
pacidade de atendimento, suficiente a “um crime a presença de mineradoras áreas de empresas pelos garimpeiros,
longo prazo, das necessidades internas em áreas indígenas” e apontou “o capi Redenção afirmou que a atuação do
de cassiterita, inclusive grandes exce tal internacional como principal ele DNPM inicialmente ia no sentido de dar
dentes exportáveis; mento intensificador do crime”. Tais apoio aos empresários, solicitando a in
b) as condições de acesso àquela região, declarações foram feitas no encerramen tervenção da Polícia Federal. Posterior
possível apenas por via aérea encarece to do “Seminário sobre os Grandes Pro mente, o órgão passou a realizar traba
rão demais os custos de pesquisa, extra jetos na Amazônia”, promovido pelo lhos com seu geólogos nas frentes de ga
ção e comercialização do minério, colo CIMI, em Manaus. rimpo e, atualmente, apenas recomenda
cando a produção em desvantagem de Como exemplo, Egídio Schwade, da que as empresas cujas áreas foram inva
concorrências com a produção das ou equipe indigenista da Prelazia de Ita didas recorram ao Judiciário procuran
tras partes em atividade ou em vias de coatiara, apresentou o caso do extermí do, elas mesmas, criar meios para defen
ativação. nio dos Waimiri-Atroari, que eram 3 mil derem seu patrimônio. Para isso, a reco
Considerando os fatos apontados, o em 1968 e hoje não passam de 500. Eles mendação do órgão é a de criar seguran
Conselho de Administração da CVRD “assistem passivamente a atuação da ça particular nas empresas, o que já vem
acolheu a proposta da Diretoria da em empresa Paranapanema” em seu terri sendo feito por várias delas.
presa, no sentido de que fosse apresen tório, onde ela mantém inclusive policia O diretor do DNPM também defendeu a
tado ao Departamento Nacional de Pro mento próprio. política de criação de reservas garimpei
dução Mineral a sugestão de que esse Segundo Schwade, o Governo passou ras, concentrando os garimpeiros em
departamento promovesse estudos com por cima das leis de proteção aos índios, certas áreas e dando prioridade para as
o objetivo de transformar os depósitos de aplicando à terra dos Waimiri Atroari empresas em outras. (Brasil Mineral, nº
uma “interdição temporária” (reduzin 12, nov. 84, pp. 30-31).
do e retroagindo na proteção legal da re
serva) e permitindo, assim, que a Para
napanema explorasse livremente as ri
quezas “fora” da reserva. (A Notícia,
17/09/84).

37
<LAcervo •

__/ Erºs NDIGENAs no BRASIL/ceo


Os cálculos do sr. Belfort Decreto na contra-mão
DECRETo
“As reservas indígenas e florestais atual. O Porta-voz da Presidência da Repúbli
mente se comportam como territórios
negados ao Brasil e aos brasileiros. Tra
SUSPENSO ca, Carlos Átila, confirmou ontem que o
Presidente João Figueiredo assinou o
tam-se de nichos de vazios demográficos Decreto-lei autoriza Decreto-Lei que autoriza a pesquisa e a
mantidos sob o regime de independência a pesquisa e a lavra lavra mineral nas reservas indígenas,
vigiada, onde é proibida a entrada de mas condicionando a publicação do tex
brasileiros, sob a alegação, no caso das O Presidente Figueiredo assinou ontem, to legal (para que este entre em vigor), a
reservas indígenas, de que estaríamos em seu leito na Casa de Saúde São José, uma análise posterior da Secretaria do
influindo na cultura e nos costumes dos decreto-lei autorizando a pesquisa e la Conselho de Segurança Nacional e do
índios que habitam ou perambulam em vra de minérios nas reservas indígenas. Gabinete Civil.
extensas áreas do Território Nacional. O texto do decreto foi apresentado ao Com a confirmação, Átila mostrou que a
Com o Decreto 88.985 de 10.11.83 ficou Presidente pelo Ministro das Minas e elaboração, pelos Ministérios das Minas
estabelecido de que seriam fornecidos tí Energia, Cesar Cals. e Energia e do Interior, do Decreto-Lei
tulos mineiros às empresas de capital Segundo Cals, a nova legislação, a ser (e sua imediata assinatura pelo Presi
nacional, desde que, ouvida a Funai. Na regulamentada pelo Gabinete Civil, dá dente da República), obedeceu a uma
prática, deverá haver ainda a regula exclusividade aos índios para o garimpo, seqüência inversa à de praxe. Neste ca
mentação da Lei pela Funai, de forma ou seja, para cata artesanal de minérios, so, as áreas interessadas do Poder Exe
que as minerações possam satisfazer exi reservando a mineração industrial às cutivo analisam o problema, preparam
gências quanto ao relacionamento com empresas estatais ou empresas privadas uma minuta e submetem o assunto, já
os índios, inclusive garantindo um ren de capital nacional que tenham na dire estudado, à apreciação do Presidente.
dimento a título de indenização pela ção de produção e comercialização ape O Ministro do Interior, Mário Andreaz
ocupação do solo e de royalties. As reser nas brasileiros. za — que veio tratar do problema da sus
vas indígenas, só na Amazônia Ociden Segundo o Ministro o decreto prevê que tação da publicação do Decreto-Lei com
tal, ocupam mais de 40 milhões de hec os resultados das indenizações e paga o Ministro-Chefe do Gabinete Civil, Lei
tares, sendo que algumas delas, como a mentos de royalties serão empregados tão de Abreu, e com o Secretário do Con
dos Ianomamis, detêm 50% do Territó nas próprias terras indígenas. (O Globo, selho de Segurança Nacional, Ministro
rio de Roraima e se estende por grande 10/01/85). Danilo Venturini — não soube explicar
área do norte do Amazonas, abrangen O decreto-lei passa a vigir a partir da por que o Decreto-Lei tramitou na con
do inclusive o Pico da Neblina. A reserva data da publicação e apenas depois é tramão e foi sancionado antes de ter sido
Waimiri-Atroaris, com uma população apreciado pelo Congresso Nacional. O analisado por aquelas duas áreas do Po
de 500índios, ocupa 1.850.000hectares, Legislativo apenas tem o poder de apro der Executivo. (O Globo, 12/01/85).
perfazendo a densidade 0,000027 habi vá-lo ou rejeitá-lo, num prazo de 60 dias
tante/ha. a partir do seu recebimento. Se não hou
As minerações quando são de grande ver deliberação dentro do prazo, será Tancredo recebe índios
porte ocupam, na Amazônia, com infra considerado automaticamente apro
estrutura, frentes de lavra, etc., área vado. O candidato da Aliança Democrática à
não superior a 10.000 hectares. No Pi Segundo o Ministro Cals, o decreto pre presidência da República, Tancredo Ne
tinga, essa área não atingiu ainda 2.000 vê a mediação da FUNAI nos casos em ves, prometeu, ontem, que em seu go
hectares e detém uma população resi que não houver acordo entre índios e verno terá o cuidado de respeitar os di
dente de 2.300 pessoas. Assim, é possí empresas de mineração. O Ministro jus reitos adquiridos e a integridade física
velvisualizar que as minerações são pon tificou o documento afirmando que das comunidades indígenas e que estu
tuais e dificilmente poderão causar im “existe uma enorme quantidade de ter dará seriamente a revogação do decreto
pacto danoso à ecologia e à cultura dos ras indígenas com minerais estratégicos assinado pelo presidente Figueiredo.
índios. Este é um assunto que necessita ou relevantes ao desenvolvimento nacio Tancredo Neves fez essa promessa ao re
ser melhor pensado e solucionado, tendo nal e a legislação da FUNAI impedia ceber no início da noite de ontem, em
em mente que a nação precisa reduzir que eles fossem retirados”. (FSP, 10/ seu escritório, extra-agenda, 25 repre
sua vulnerabilidade mineral, garantir a 01/85). sentantes de várias tribos indígenas
segurança nacional e criar riquezas para O texto do decreto foi proposto pelos mi (Kaiapó, Xerente, Xavante, Karajá, Te
todos os brasileiros.” nistros do Interior e das Minas e Ener rena, Kariri, Tuxa e outros), cujo porta
Esta é a opinião do sr. José Belfort dos gia. (ESP, 10/01/85). voz foi Marcos Terena, chefe de gabi
Santos Bastos, expressa no artigo “O su nete da FUNAI. (Jornal do Commercio,
cesso atual é fruto do mapeamento bá 10/01/85).
sico”, publicado na Minérios, Extração Figueiredo susta a publicação
& Processamento (dezembro de 1984,
SP, pp.24-26). O decreto que permite a pesquisa e lavra
de minerais em terras indígenas, assi
Na época em que o artigo foi publicado o nado no dia 9, teve sua publicação no
EMPRESAS
autor era diretor do 8º Distrito do Diário Oficial da União adiada, pelo ESTADUAIS
DNPM em Manaus e manteve acirrada próprio presidente Figueiredo, que reco
polêmica com o CIMI sobre os efeitos mendou à Secretaria do Conselho de Se ABREMIN quer regulamentação
das mineradoras em áreas indígenas da gurança Nacional e ao Gabinete Civil da
Amazônia, veiculada pelo jornal A Crí Presidência da República. A informa “Regulamentar a exploração das rique
tica, na segunda quinzena de setembro. ção foi prestada pelo Ministro Leitão de zas minerais em terras indígenas, com
Atualmente, é o diretor-geraldo DNPM, Abreu. (O Liberal, 11/01/85). patibilizando o desenvolvimento econô
em Brasília. mico com o propósito de integrar as co

38
munidades indígenas, progressiva e haroriundas do branco civilizado, fazem o O Brasil pretende, nesta altura da histó
moniosamente, à comunhão nacional”. País retornar às primeiras manifesta ria, atribuir as suas dificuldades à malí
Esta é uma das seis recomendações que ções “nacionalistas”, contrárias à extra cia dos banqueiros internacionais, e à
constam do documento divulgado pela ção das reservas de ferro de Nova Lima e cobiça das multinacionais, propondo,
Associação Brasileira de Entidades de do Vale do Rio Doce." (...) como medida de salvação, barreiras ao
Mineração, como contribuição à elabo “Com isso está se pretendendo nova programa da tecnologia e deixar os re
ração de uma nova política mineral no mente impedir o progresso, restabelecer cursos naturais como reserva para as fu
país. (Brasil Mineral, nº 13, dez. 84, o clima que imobilizou o Brasil durante turas gerações no sentido de assegurar o
p.24). séculos, deixando adormecidas no ven seu lema de “país do futuro”...
Atualmente existem 21 empresas asso tre da terra as riquezas que poderão sal Tudo isso poderia servir de subsídio
ciadas à ABREMIN, formando o Sis var o País das tremendas dificuldades para um programa humorístico de tele
tema Estadual de Mineração: CRM que nos assoberbam. A mineração e a visão ou para uma comédia teatral se
(RS), CODISC (SC), MINEROPAR agricultura constituem segmentos da não estivesse em jogo o destino do País
(PR), PROMINÉRIOS (SP), CODE atividade econômica capazes de respon numa das mais dramáticas encruzilha
SUL (MS), DRM (RJ), METAMIG der de modo mais imediato aos investi das da nossa história.”
(MG), CBPM (BA), METAGO (GO), mentos de capital e tecnologia na expan Os excertos reproduzidos acima foram
CODISE (SE), EDRN (AL), MINÉ são da renda nacional.” (...) retirados do editorial assinado pelo sr.
RIOS (PE), CDRM (PB), CDM (RN), “Antes de enfrentar a incompreensão da Roberto Marinho, presidente das Em
CEMINAS (CE), CONDEPI (PI), CO burocracia do Fundo Monetário Inter presas Globo de Jornalismo. (publicado
PENAT(MA), COMIPA (PA), META nacional impõe-se lutar contra a insani na capa de O Globo, 13/09/84).
MAT (MT), CMR (RO) e CODESAI dade da burocracia de setores adminis
MA (RR). trativos nacionais que pretendem resol
É importante lembrar que a criação das ver questões econômicas com critérios “A demagogia contra
primeiras entidades estaduais de mine ideológicos ou antropológicos.
ração, deu-se no início da década de ses
a mineração”
O Brasil e os Estados Unidos têm prati
senta, no bojo de uma luta nacionalista camente a mesma idade como nação in Com o título acima, o jornal O Estado de
que se vivia àquela época. Entretanto, dependente. Todavia, enquanto os pio S. Paulo dedicou um dos seus editoriais
foi a partir da década seguinte e em de neiros americanos conquistaram, suces do dia 7 de outubro para criticar dura
corrência da promulgação do Decreto sivamente, as diversas fronteiras do seu mente os setores da sociedade contrários
Lei nº 1.038, de 21.10.69, estabelecendo território levando a tecnologia mais à regulamentação da extração mineral
normas relativas ao Imposto Único so avançada de cada época, nós nos con em áreas indígenas, como apareçe no
bre Minerais (IUM), que os Estados, tentamos em louvar e cantar as riquezas trecho reproduzido a seguir:
tendo assegurado o recebimento de 70% do nosso solo. Com isso, a América do “Há zelosos padres estrangeiros, antro
da arrecadação daquele tributo, cria Norte chegou ao final do século XX como pólogos escravos de ideologias totalitá
ram seus órgãos de fomento à minera o maior credor do mundo. E o Brasil rias e líderes do grupo quanto pior,
ção, objetivando o ordenamento da polí como o maior devedor. melhor, vivamente empenhados em im
tica mineral e institucionalizando o A circunstância de que os bens econô pedir a exploração mineral em áreas
apoio à mineração como ação política de
Governo. •
micos de que dispomos, largados ao ocupadas por índios que vestem calças
abandono no Interior do País, represen jeans, ouvem rádio de pilha e se encon
tam um valor talvez superior ao meio cir tram em marcha batida para integrar-se
culante mundial constitui um escândalo plenamente na civilização. O assunto
*Mestrinho apóia o decreto que surpreende a qualquer observador está na ordem do dia neste país de fábu
desapaixonado. la. onde o cidadão que trabalha e paga
O governador do Amazonas, Gilberto Somos mais de cem milhões de pessoas impostos se dispõe a tirar do subsolo re
Mestrinho, disse ontem, no Rio, que a sofrendo os mais graves problemas eco cursos naturais que cumpre transformar
iniciativa (referindo-se ao decreto assi nômicos caminhando sobre riquezas em riqueza para redimir o Brasil dos
nado por Figueiredo) “foi uma atitude que constituem um dos maiores patri males gravíssimos que o acometem, mas
correta... pois irá beneficiar, principal mônios nacionais do nosso tempo. O Ja se vê a braços com dificuldades que se
mente, as próprias tribos indígenas”. pão que dispõe de uma população quase riam cômicas, se não fosse de causar
(ESP, 10/01/85). do tamanho da nossa, podendo utilizar tristeza e desânimo. Uma portaria que
apenas quinze por centro do seu terri regulamentaria o Decreto nº 88.985,
tório — que não se iguala a qualquer um permitindo o ingresso de empresas de
dos maiores Estados do Brasil — conse mineração em áreas em que os índios
guiu através do trabalho e do uso inten mencionados estão sentados em cima de
sivo da tecnologia transformar-se no trilhões de cruzeiros (sem nada fazer
maior rival econômico dos Estados Uni para aproveitá-los em benefício dos 125
dos. milhões de brasileiros), ensejou a demis
“A verdadeira são do diretor da Funai. Patrioticamen
te, ele decidiu que deixaria o cargo que
Segurança Nacional”
ocupava, mas não se acumpliciaria com
“Os argumentos apresentados pela dire a execução da portaria em questão —
ção da FUNAI e referendados pelo Mi com o que acatava a posição defendida
nistro Mário Andreazza, ao recusar o por indigenistas e líderes dos índios.”
pedido de demissão do Diretor desse ór (ESP, 07/10/84).
gão, para coibir a exploração de rique
zas minerais nas áreas indígenas alegan
do o perigo da contaminação de doenças

39
| ,_Acervo
_%"| Eyºs INDIGENAs No BRASIL/cFD
O IBRAM e o “clima Segundo declaração do próprio Ministro O produto final resultante destes acon
César Cals, na Comissão de Minas e tecimentos é a deterioração progressiva
para o investimento” Energia da Câmara, havia em 1983 cer do “clima de investimentos” mencio
O Instituto Brasileiro de Mineração, en ca de 300 mil garimpeiros em atividade nado, daí advindo não só dificuldades
tidade privada, sem fins lucrativos, que no País. Alguns dos seus assessores esti crescentes para o aporte de novos capi
congrega e representa as empresas de mam que este número deva crescer para tais privados ao setor, como também a
mineração do País, oferece aos candida 1 milhão de pessoas até 1985, a persistir intranqüilidade hoje largamente disse
tos à Presidência da República, através o quadro atual de desemprego generali minada entre os empresários tradicio
do presente documento, um programa zado nas grandes cidades brasileiras. nais da mineração brasileira.
mineral mínimo para o governo que se E o que tem sido feito, a nível governa Uma tarefa que se impõe, portanto,
irá instalar a partir de 15 de março de mental, para a regulamentação deste como absolutamente prioritária no cam
1985. tipo de trabalho que envolve hoje enor po mineral para o governo que irá se ins
No entendimento do IBRAM, os cinco mes contingentes humanos, responsá talar em 1985, é o restabelecimento ime
pontos enfocados: veis por grande parte da produção bra diato da segurança jurídica quanto aos
º restauração do clima para investi sileira de ouro? Em termos práticos, direitos adquiridos, sem o que não po
mentos no setor; nada. Enquanto se sucedem, principal derá haver desenvolvimento ordenado
º incentivos às empresas de mineração; mente na região amazônica, grandes da mineração no País. A garantia de
º ativação do Conselho Superior de Mi conflitos entre garimpeiros e empresas manutenção das regras do jogo é essen
Il3S, de mineração, a Comissão do Ministério cial a qualquer atividade que envolva
º mapeamento básico/recursos finan das Minas e Energia encarregada de ela planejamento, e particularmente crítica
ceiros para o DNPM; borar o anteprojeto de reforma do Có para o caso da indústria mineral, dadas
º prospecção mineral/sustentação do digo de Mineração não se reúne desde as suas carcterísticas de maturação dos
sistema estadual de mineração; outubro de 1982, há precisamente dois investimentos a longo prazo.”(trechos
constituem a moldura de suporte para 211108. extraídos da versão integral do docu
que a indústria de mineração receba im Diante deste quadro, instala-se rapida mento “Programa mínimo para o setor
pulso compatível com as necessidades mente a “lei da selva”. Áreas objeto de mineral”, publicado na Revista Brasil
do Brasil neste final de século, em que a direitos minerários são invadidas com Mineral, nº 13, dez. 84, pp. 19-23).
retomada da atividade econômica virá freqüência cada vez maior, e por trás do
certamente determinar um crescimento biombo de um pretenso romantismo da
correspondente na demanda de produ garimpagem, pratica-se uma verdadeira IBRAM condena
tos minerais indispensáveis ao nosso de depredação das resevas minerais do suspensão de decreto
senvolvimento industrial. País.
Quanto ao chamado “clima para o in A figura do “dono” ou “patrão” de ga A decisão do Presidente Figueiredo de
vestimento”, o documento do IBRAM rimpo se consolida como a do titular de sustar o Decreto-lei que permitia a pes
lembra que em abril de 1980, a Revista empresas de mineração operando fora quisa mineral em reservas indígenas foi
World Mining Equipment divulgou o da lei, que só não chamamos de clan duramente criticada ontem pelo Presi
resultado da pesquisa feita, a nível mun destinas porque esta palavrase aplica ao dente do Instituto Brasileiro de Minera
dial, a respeito do assunto. “A tabela que é feito às ocultas, quando a ativida ção, Sérgio Jaques de Moraes. Segundo
publicada, com notas variando de zero a de em questão é desenvolvida às escân ele, “uma atitude como essa intranqüi
dez, mostra o Brasil com grau 5, situado caras e seus personagens são conhecidos liza os empresários, pois a área mineral,
no “ranking geral abaixo da República de todos. em que os investimentos são de retorno a
dos Camarões, do Chile, de El Salvador, No outro extremo do espectro estão os longo prazo, exige segurança jurídica
da Etiópia, da Bolívia, da Tanzânia, do operários do garimpo, verdadeiros bóias com projeções para o futuro”.
Paquistão, da Síria, da Mauritânia, e de frias da mineração marginal, com direi O presidente do Ibram se referiu, ainda,
muitos outros países que imaginávamos to a uma diária ao nível da estrita sobre como exemplos de indecisões do Gover
menos atrativos. Como, de 1980 para cá, vivência e a todas as malárias e demais no no cumprimento da política mineral,
a "atmosfera mineral brasileira veio a se doenças endêmicas da região onde à liberação do garimpo de Serra Pelada
tornar consideravelmente mais carrega atuam. Estes homens, que constituem a após a rebelião dos garimpeiros lidera
da, uma atualização daqueles dados nos quase totalidade da chamada população dos pelo Deputado Sebastião Curió
deixaria agora, com certeza, em posição garimpeira do País, vêm de se transfor (PDS-PA) e às recentes invasões de áreas
bem pior. mar, por falta de alternativa de trabalho de pesquisa de cassiterita no Estado de
Com efeito, nos últimos anos, assistimos regular de onde possam obter o seu sus Rondônia.
no Brasil ao progressivo esvaziamento tento, na grande massa de manobra dos Sérgio Jaques de Moraes afirmou que a
das garantias jurídicas necessárias à ati interesses em jogo na manutenção de si proibição da pesquisa mineral nas reser
vidade empresarial no campo da mine tuações tipo Serra Pelada. vas indígenas representa enorme prejuí
ração, resultante, em grande parte, do Nos últimos tempos, a invasão de áreas zo para a atividade, pois justamente nes
que poderíamos chamar de “síndrome legalmente concedidas a empresas de sas reservas há indicações de grandes de
de Serra Pelada”. mineração por mineradores fora da lei pósitos minerais, que precisam ser pes
travestidos de garimpeiros — de modo quisados e explorados. (O Globo, 12/
geral equipados com moto-bombas, tra 01/85).
tores, dragas, moinhos, compressores,
explosivos, etc. — deixou de constituir
um episódio amazônico, passando a
ocorrer, também com freqüência em
Mato Grosso, Goiás, Minas Gerais e,
mais recentemente, no Rio Grande do
Sul.

AO
Lacombe quer regulamentação A seu ver, as áreas nas quais o governo “O recente pedido de demissão do pre
deverá regulamentar a mineração são sidente da Funai que se recusou a con
por decreto
aquelas onde existe a expectativa em re cordar com o decreto sobre a criação de
As empresas de mineração ainda espe lação a vários tipos de minérios, locali parques indígenas em regiões não habi
ram que o Presidente Figueiredo regu zadas nos limites das estruturas geoló tadas por índios com o único objetivo de
lamente, por decreto, a pesquisa, pros gicas já pesquisadas. (O Estado, SC, 15/ favorecer as mineradoras multinacio
pecção e lavra de minérios nas reservas 01/85). nais é a prova cabal dessas manobras.
indígenas, afirmou o empresário Octá As terras indígenas já criadas, com 13
vio Lacombe, presidente do Conselho da Km por índio, já são suficientes para a
Paranapanema Mineração e também comunidade indígena e devem ser pre
presidente da Associação Brasileira dos servadas, mas criar novas reservas indí
Mineradores de Ouro (ABRAMO). Ele genas em regiões com grande produção
acredita que o presidente Figueiredo Criadores X Mineradoras agropastoril, onde não existem índios,
sustou a publicação do decreto a respei mas são levados por missões religiosas
to, para que se realizem novos estudos. Esta é a íntegra do telegrama enviado ao para fixá-los, não passa de interesses das
Confirmou que sua empresa tem inte presidente João Figueiredo, pelo sr. José mineradoras multinacionais, camufla
resse em “algumas áreas, além de já es Mário Junqueira de Azevedo, presidente das de defensoras de princípios cristãos.
tar trabalhando nas regiões do Pitinga e da Associação de Criadores de Nelore do Apelamos a V. Exa. para que rejeite o
do Xingú, onde contribui com a assis Brasil: projeto concedendo o subsolo das terras
tência das populações indígenas locais. indígenas para as mineradoras”. (Tri
Ele fez uma distinção entre as áreas ocu buna da Imprensa, 14/9/84).
padas por índios arredios (nas quais é
contra a entrada das empresas) e aque
las habitadas por índios aculturados ou
em processo de aculturação.

41
#INDIGENAS NO BRASIL/CEDI

AS POPULAÇÕES INDÍGENAS
E A CONSTITUINTE
Em discussão
a representação indígena em caráter especial
e outras propostas

Bruna Franchetto
• Claudia Menezes (*)

m dezembro de 1983, o antropólogo João Pacheco Os textos constitucionais de 1934 (art. 129), de 1937 (art.
de Oliveira, comemorando o primeiro decenário da 154), de 1946 (art. 216), de 1967 (art. 186) e de 1969 (art.
promulgação do Estatuto do Índio, apresentou um 198) fundamentalmente se repetem. Com exceção da Cons
balanço crítico desse diploma legal em artigo publicado tituição de 1967, que não cogitou da inalienabilidade, todos
pelo JB (18/12/83): Até então, segundo observou Pacheco os demais textos estabelecem três normas fundamentais que
de Oliveira, indigenistas e antropologos tinham apontado definem a relação jurídica do Estado e das populações indí
“como politicamente inoportuna discutir sobre o Estatuto genas com as terras que estas ocupam, sendo evidentemente
do Indio, ponderando que qualquer modificação seria em foco de atenção a questão do tipo de propriedade a ser defi
detrimento dos interesses indígenas. De algum modo, ali nida: (I) O Estado detém a propriedade propriamente dita,
mentou-se a crença de que a salvação dos índios dependia conservando-se as terras indígenas como bens da União,
de uma ação paternalista do Estado...”. Considerando o bens públicos com um caráter especial; (2) aos índios é reco
momento nacional e as sucessivas regulamentações da lei nhecido o direito inalienável à posse, embora seu trata
por parte de decretos presidenciais que caracterizaram o mento seja de posseiros especiais; (3) aos índios é reservado
ano de 1983, concluia o autor “A hora é de não atrelar as o direito ao usufruto das “riquezas naturais”.
estratégias de ação e as ideologias étnico-políticas dos índios
as soluções do passado, procurando, ao contrário, apro Esses dispositivos não fazem outra coisa senão consagrar o
fundar a busca de uma nova consciência da problemática indigenato, figura jurídica herdada da época colonial. A
indígena. A defesa dos direitos dos índios não terá muita configuração do indigenato está consubstanciada ideologi
eficácia se for conduzida em uma perspectiva isolacionista camente na teoria da tutela, concebida como versão da an
ou como um apelo à consciência da nação. Passa, sim por tiga custódia. As populações indígenas não são encaradas
impor uma crítica as bases coloniais e autoritárias do Es como Povos soberanos ou — se preferirmos o termo — Na
tado brasileiro, supondo alianças com outros grupos sociais, ções soberanas e, como tal, sujeitos de direitos plenos, mas
dentro de um projeto mais amplo de Nação, no qual o indí sim como povos conquistados e submetidos ao regime colo
gena: seja respeitado como índio e não visto como em evo nial, tutelados orfanologicamente. O conceito de tutela tem
lução "para o não-índio”. sido modernizado até os dias de hoje, mas subsiste como um
legado colonial. Assim, se as terras indígenas não podem
O mesmo problema se coloca agora, às vésperas da convo ser consideradas terra nullius à luz do discurso jurídico ho
cação de uma Assembléia Nacional Constituinte. Devemos dierno e se os povos indígenas não são liberados da tutela, a
manter os direitos garantidos pela Constituição, encarados alternativa desse discurso foi atribuir o direito de proprie
como o melhor dentro de uma determinada conjuntura de dade ao Estado, criando complementarmente uma figura
relações coloniais? Ou precisamos iniciar uma avaliação sé de posse especial. Esse quadro permanece inalterado, mes
ria da legislação vigente frente a uma nova vontade política? mo quando, modernamente, a tutela passa a ser concebida
de maneira um pouco distinta, em termos da lei ordinária e
não da Constituição.
O que existe
A este propósito, veja-se a justificativa do projeto de Lei
A concessão indigenista do discurso jurídico brasileiro re 6001/73, elaborado pelo Ministro Themistocles Cavalcanti,
vela um continuísmo exacerbado. Restringimo-nos tão so em que a tutela foi objeto de particular atenção. A idéia era
mente às Constituições deste século. dar um sentido adequado à verdadeira natureza da suposta
incapacidade de que decorre a tutela, sendo que tanto os
indivíduos índios com os índios em geral são caracterizados
pelo Código Civil, desde 1916, como relativamente incapa
(*) antropólogas, fazem parte do GT/Populações Indígenas do Depto. de zes, equiparados no exercício de seus direitos aos menores
Pesquisa e Documentação da OAB-RJ.

12
entre 16 e 21 anos, Themistocles Cavalcanti, inspirado no 2) Quanto à inalienabilidade, trata-se de norma de sentido
direito americano, visto como paradigma da modernidade proibitivo, de eficácia plena e de aplicabilidade imediata. O
jurídica, insinua ter aperfeiçoado o conceito privatista de texto de 1967 é mais preciso do que os anteriores, pois vin
custódia — concebido o tutor como educador e administra cula tanto os índios como a União. Diante disso todas as
dor de bens — adicionando-lhe o sentido de assistência e disposições que prevêm deslocamento de grupos indígenas
proteção. E o Estado que deve garantir a sobrevivência dos de seus territórios são inconstitucionais, incluindo o art. 12
índios e seus direitos políticos. Um Estado napoleônico, so da Convenção 107 de Genebra, ratificada pelo Decreto Lei
berano, abstrato. nº 58.824 de 14/7/66, e o art. nº 20 da Lei 6001/73 (Esta
tuto do Indio).
Considerando esse contexto ideológico e histórico, podemos
dizer que, se a Carta Magna de 1934 foi o primeiro texto 3) O usufruto das riquezas naturais — vegetais, animais e
constitucional a reconhecer esses direitos, a de 1969, uma minerais — é exclusivo, “com exclusão até mesmo do titular
vez incorporada a Emenda nº 1 que modificou a redação da propriedade que é a União” e é intransferível, como o
anterior de 1967, parece apresentar avanços quanto à ques próprio Pontes de Miranda salientou em seu Comentário à
tão das terras, conservando os mesmos pressupostos. A Constituição de 1967, T. VI. — Podemos acrescentar que,
aprovação da Emenda nº I se deu em situação bastante por extensão, são também inconstituciónais as disposições
dramática, segundo o testemunho do indigenista Nilo Vel que pretendem regulamentar a exploração de minérios em
áreas indígenas. •

lozo, porquanto o texto de 1967 tinha simplesmente elimi


nado a garantia à inalienabilidade e a sustentação da Emen
da só foi possível graças a uma vigília de alguns poucos in A interpretação que corresponde ao espírito da lei constitu
teressados, passando desapercebida aos grupos de interes cional, no que concerne aos direitos fundamentais das po
ses anti-indígenas representados no parlamento. Tudo isso pulações indígenas, explicitada em Pontes de Miranda, não
ocorreu num clima autoritário que informou à elaboração, tem contudo informado a jurisprudência, inclusive a fir
os estudos e, enfim, a redação e discussões constitucionais. mada pelo Supremo Tribunal Federal. Ações e decisões es
pecíficas têm levado a perdas territoriais em função de deci
Por que o artigo 198 da Constituição vigente é considerado sões que desconsideram a correta informação histórica so
um “avanço”, por ser “mais abrangente e preciso"? Em bre a localização e permanência de grupos tribais, freqüen
primeiro lugar, houve o deslocamento da qualificação de temente por falta de definições e terminologia técnico-an
“permanente” do termo “localização" para o termo “pos tropológicas adequadas, tais como habitat, áreas de peram
se", configurando, assim, uma proteção à posse das terras bulação, exploração de recursos, marcos simbólicos, etc.
mais ampla do que teria no direito privado qualquer possui
dor segundo o sistema jurídico brasileiro. Em segundo lu Lembremos, também, que por outra via, a do Poder Execu
gar, definiu a exclusividade do usufruto. Em terceiro lugar, tivo, a edição de decretos-leis propiciou a implementação de
acrescentou dois parágrafos que estabelecem a nulidade e medidas lesivas aos interesses e direitos indígenas. Embora
extinção dos efeitos jurídicos de qualquer natureza que te contrários ao preceito constitucional de inalienabilidade das
nham por objeto o domínio, a posse e a ocupação de terras terras tais decretos se valeram das possibilidades deixadas
habitadas pelos índios (§ 1) e tal nulidade e extinção não em aberto pela Lei 6001/73. Sem dúvida, cabe à nova or
dão aos eventuais ocupantes direitos a qualquerindenização dem jurídica revogá-los.
ou ação contra a União e a FUNAI($2).

Num artigo publicado pelo Boletim Jurídico da Comissão Propostas para um novo
Pró-Indio de São Paulo (ano I, nº 3, abril de 1984), o Prof. texto constitucional
José Affonso da Silva demonstra cabalmente o caráter de
auto-aplicabilidade do art. 198, estabelecendo uma inter Caso a alternativa seja a de manter o tipo de relação até
pretação do texto legal que nos parece a mais favorável aos agora existente entre Estado e povos indígenas, numa pers
interesses indígenas. Resumamos sua argumentação quanto pectiva que confirma a tutela como assistência e proteção e
aos três direitos fundamentais à terra: admite uma concepção de Estado soberano e homogêneo, é
evidente que a atual constelação de direitos à terra deve ser
1) Cabe aos índios a posse permanente, entendida não mantida por ser "a melhor”.
como figura do direito civil comparável ao direito de ocupa
ção — direito adquirido — mas como direito congênito, pri Se, ao inverso, essa relação e visão histórica se tornam ob
mário e legítimo por si, não precisando de título ou outro Jeto de reexame crítico, reformuladas num novo texto cons
registro de legitimação. As terras indígenas não são devo titucional, os conceitos de posse e de tutela, bem como de
lutas. Posse, além disso, se refere ao território permanente incapacidade relativa e de cidadania, necessitarão ser revis
mente ocupado pelos índios, no sentido de habitat necessá tos. A idéia é criar novos institutos legais que garantam de
rio a sua vida econômica, social e cultural, respeitados os finitivamente as terras indígenas e, ao mesmo tempo, res
moldes de sua reprodução tradicional. E posse imediata de pondam às reivindicações de autonomia e auto-determina
usufrutuário. (Por sua vez o advogado Carlos F. Marés — ção expressas pelos movimentos indígenas. Os últimos anos
“A Cidadania e os Índios”, em O Indio e a Cidadania, Bra têm revelado o avanço da mobilização dos Povos índios em
siliense, São Paulo, 1983 — já tinha afirmado que a posse defesa de seus direitos mínimos e testemunharam a crescen
indígena é altamente qualificada: “Ela pode mais do que a te e positiva intromissão de suas lideranças nos affairs
propriedade, é mais do que a propriedade". Este instituto, d'Etat. Essa experiência inédita com relação ao silêncio an
contudo, tem sido pouco entendido pelos responsáveis pela terior, precisa encontrar ressonância no debate constitucio
política indigenista brasileira, acarretando prejuízos inco nal.
mensuráveis aos territórios indígenas".)
</I_Acervo
__/ #INDIGENAs No BRASIL/cED

Reflexão nesse sentido pode ser inferida de propostas jurí No que toca à Constituinte de 1946, sua composição política
dicas apresentadas por diferentes categorias — índios, ad oferecia um traço distinto das anteriores, conseqüência da
vogados, antropólogos, missionários. Entre outros pontos, estruturação partidária e da formação de uma opinião pú
as propostas salientam consensualmente o reconhecimento blica nacional. Não há dúvida, porém, sobre o predomínio
do Estado brasileiro como pluri-étnico e politicamente hete das forças oligárquico-burguesas representadas nos parti
rogêneo. dos conservadores. O ímpeto liberal foi contido por disposi
ções restritivas: a tutela sobre a organização sindical, a ne
Eembremos, a esse propósito, o que o advogado Carlos F. gação do voto ao analfabeto e aos praças e a propriedade da
Marés observou por ocasião da mesa-redonda organizada terra intocada. Uma vez mais a participação indígena não
em 1982 pela Associação Brasileira de Antropologia sobre o foi sequer cogitada.
tema “Os Índios e a Cidadania”.
A Constituição de 1967, formulada no curso de militariza
O texto constitucional vigente não trata da cidadania dos ção do País, consagrou o conservadorismo, modernizado
índios e a cidadania ou seja a ligação política e jurídica das pela ideologia desenvolvimentista e instituiu formas que re
pessoas dos indígenas com o Estado, no que tange a um duziram ao mínimo a participação popular.
elenco de direitos e deveres que obrigam indivíduos e Es
tado. Os índios, pelo simples fato de terem nascido no Bra Espera-se que a Constituição resultante da Assembléia de
sil são brasileiros perante a lei. Há, no entanto, um conflito 1986 reflita, diferentemente das anteriores, uma ruptura
de nacionalidades, não admitido juridicamente, uma vez com o pacto das elites. Em decorrência, diferentes estraté
que o Estado e a lei brasileira e a comunidade internacional gias podem e devem ser acionadas concomitantemente pelos
não reconhecem as populações indígenas como Nações, em índios para assegurarem sua participação na reforma cons
virtude da sobreposição territorial e do fato de não apresen titucional:
tarem sua organização política sob a forma de Estado, As
sim na lei ordinária o índio é considerado cidadão brasileiro 1) Na hipótese de a discussão do problema restringir-se a
como os demais nacionais, o que leva ao não reconheci articulação partidária, cabe um trabalho de informação e
mento da autodeterminação das Nações Indígenas e dos de pressão sobre os parlamentares dos diferentes partidos
seus territórios; esta condição os tornaria, entretanto, capapara que a questão indígena passe de ítem das plataformas
zes de atribuirem cidadania a seus próprios nacionais. políticas a programas de ação. Nesse trabalho, o envolvi
mento do Dep. Mário Juruna é fundamental e a participa
O acatamento desse novo pressuposto implica na discussão ção das entidades de apoio ainda útil e eficaz. No que con
de várias outras categorias que estruturam o texto legal. Se cerne à Constituinte, o que se deveria reivindicar é uma par
gundo Marés deveria ser estudada uma “norma que ao ticipação indígena paritária e efetiva na Assembléia, com
mesmo tempo proteja o território indígena de possível rapi um número adequado de componentes. Cabe lembrar que
na internacional e garanta aos índios a sua autonomia total, um dos desdobramentos possíveis do movimento indígena,
o que significa a validade da lei e querer dos índios, trans em suas diversas formas de expressão e de organização, é a
formando a tutela em instituição de proteção cultural e a postulação de índios para novos cargos eletivos. Se se che
posse em propriedade coletiva indisponível, intransferível e gar a uma Assembléia livremente eleita, sem dúvida outro
imprescritível. Uma nova Constituição deverá igualmente trabalho necessita ser feito de modo a garantir a expressão e
dispor que o povo brasileiro e suas leis respeitem as concep participação das diferentes correntes que existem no movi
ções e modus vivendi indígenas dentro dos seus territórios. mento indígena.

Há, ainda que se efetuar, a revisão da terminologia atual 2) Há também propostas que prevêem candidaturas indí
mente utilizada no discurso jurídico, ou seja índio, silvícola, genas desvinculadas de compromissos partidários. O pró
integração, graus de integração, assimilação etc. em virtude prio Ministro da Justiça colocou em pauta os chamados
do comprometimento ideológico de tais figuras. “candidatos avulsos”, hipótese criticada por alguns setores,
posto que permite um acesso direito de lobbies econômicos.

A participação dos índios Deve-se convir que a possibilidade e probabilidade de elei


ção de deputados indígenas para uma Assembléia Nacional
Foi eleito como ponto programático da chamada Nova Re Constituinte em 86 são por demais reduzidas. O “eleito
pública a participação ampla de todos os segmentos sociais. rado” indígena está fora da máquina eleitoral. Isso não
Para que haja coerência nessa proposta e que se passe da quer dizer que cada povo indígena não tenha meios e meca
retórica à realidade histórica, deverão ser adotados meios nismos para escolher e indicar seus representantes a partir
que assegurem a representatividade indígena no debate de cada região ou território. A discussão e prática com rela
constitucional, o que significará fato inédito no processo po ção a esse processo político têm acontecido em inúmeras
lítico brasileiro. ocasiões nos últimos anos (reuniões, assembléias, etc.).

A Assembléia Constituinte de 1933 foi marcada pela repre O que se propõe é que se admita uma representação em
sentação classista, através das associações profissionais e caráter especial no sentido de:
sindicais de patrões e empregados. A idéia de representação
classista visava reduzir o peso da máquina política da oli
garquia, entretanto a influência de setores populares e da
classe operária foi praticamente nula. Os povos indígenas
foram, como era de se esperar, decididamente excluídos.

44
1) Calcular um número adequado de representantes, consi Os direitos à cidadania, à terra, aos recursos de exploração
derando a população indígena em termos numéricos e de das riquezas existentes nos territórios indígenas, e outros
correlação com a sua composição pluri-étnica. mais, que serão abordados inevitavelmente no debate cons
titucional, só serão discutidos e definidos democraticamente
2) Esses representantes seriam eleitos, aí sim por sufrágio se garantirmos à voz indígena um lugar ao lado de todos os
direto, pelos próprios índios, segundo seus próprios proces outros segmentos sociais.
sos políticos.
Há que se superar o alijamento que tem marcado historica
Parece-nos que esta seria a melhor maneira de garantir a mente as relações entre o Estado e os Povos Indígenas, aos
presença indígena na Assembléia, a partir do princípio, rei quais tem sido vedado, mais do que a qualquer outro seg
teradamente afirmado pelo próprio Governo, de que cada mento marginalizado, o acesso a canais jurídicos e parla
}77877 fdreS.
segmento social mencionado no texto constitucional possa
ser representado de fato na elaboração de uma nova Carta.
Como primeira iniciativa, poderia haver indicações de re A formulação de um novo diploma constitucional é um en
presentante(s) indígena(s) na Comissão Constituinte a ser tre tantos problemas nacionais que intervêm no destino dos
implementada até 15 de maio e incumbida de elaborar um índios brasileiros e atingem o “to be or not to be” da FU
anteprojeto de Constituição, sugerimos seja criado um gru NAI, passando pelos ajustes financeiros internacionais que
po de trabalho integrado por representantes indígenas e es influenciam o futuro dos Programas de Desenvolvimento.
pecialistas familiarizados com a realidade indígena e em Vive-se um momento catalizador no jogo de forças sociais
contato com entidades e indigenistas, cujo papel seria de de um governo que se inicia e que se diz democrático e plu
assessoramento da comissão governamental. ralista.

Até 86 a população indígena, com certeza, não estará inte No entanto, as conquistas não virão facilmente. Para que a
grada de modo a tornar-se um eleitorado standard, e nem questão indígena venha a ser matéria divulgada fora do âm
desejamos que tal integração aconteça. Se seu contingente é bito de discussão das classes dominantes, orientadas pelos
numericamente pouco significativo, seu peso político e sua seus imperativos econômicos é preciso que as forças que
importância social são indiscutíveis. -
atuam conjuntamente ao movimento indígena estejam uni
ficadas e alertas, sob pena de amargarem um processo de
retrocesso jurídico-institucional.

a essa transitoriedade, segundo observa


o índio, acrescentando: “Porque a Cons
tituição, a lei maior da Nação, estaria
Participação direta, garantindo o direito desses povos, ga
rantindo suas áreas como territórios. É o
direitos permanentes que eu chamaria de relativa autonomia
“Nossa preocupação com a Constituinte desses territórios, onde os índios podiam
é fazer com que os direitos transitórios
se organizar e se relacionar com a socie
sejam transformados em direitos permadade nacional, a partir de suas necessi
nentes”, afirmou Ailton Krenak, coor dades e expectativas e, não, para ser
denador de publicações da UNI, regio usado, invadido, metralhado, loteado
nal Sul. pelo Incra”.
Krenaklembra que, ao invés de prever Diz Ailton Krenak: “Basicamente, as
seus direitos na Constituição, preferiu pessoas perguntam — por que esses ín
se criar o Serviço de Proteção ao Indio, dios falam tanto em terra? Só falam em
em 1911, numa forma de manter o cará terra, terra, terra... Mas eles só falam
ter provisório desses direitos. O coorde em terra, porque a única condição dos
nador de Publicação da União das Na povos indígenas continuarem existindo,
ções Indígenas qualifica o SPI (cujo su não só fisicamente, mas também cultu
cedâneo é a atual Funai) de “muleta”, ralmente, é garantindo seus territórios.
observando que “enquanto Rondon vi Ailton Krenak insiste na questão da ter
veu, existiu o SPI. Quando ele morreu, o ra, explicando que “se entendemos que
SPI acabou”. Se tais direitos estivessem esses territórios são indígenas, ali dentro
na Constituição, eles não seriam sujeitos tem que se desenvolver uma economia e
uma forma de organização que atendam
os interesses das comunidades indígenas
e, não, aos interesses econômicos dos Ailton Krenak.

grupos que estão em torno dessas áreas”.

45
<LAcervo -

__/ Svºs INDIGENAs No BRASIL/CED

A inclusão dos direitos indígenas na Os índios contam, hoje, com o apoio dos discutidas, para não se transformarem
Constituição, na sua interpretação, eli membros da Comissão do Índio da Câ em iniciativas individuais, sem compro
minaria a discussão da relativa incapaci mara dos Deputados e destacam a figura missos com seus principais interesses:
dade do índio no Código Civil: “A partir de Domingos . Leonelli (PMDB-BA), “Nossa preocupação, agora, é ver como
do momento que temos oportunidade de Márcio Santilli(PMDB-SP), Aldo Aran essas candidaturas não sejam iniciativas
participar dessa Constituinte, temos tes (PMDB-GO), Haroldo Lima pessoais. A candidatura do Mário (Ju
também a oportunidade de alterar essa (PMDB-BA) e de Eduardo Suplicy (PT runa), por exemplo, foi uma candida
condição. Se os povos indígenas têm di SP). Além desses, é claro, contam tam tura pessoal. Ele não submeteu essa can
reitos permanentes em relação à socie bém com o deputado xavante Mário Ju didatura à discussão e a um compromis
dade brasileira, acho que essa relativa runa que “pode, de alguma forma, via so anterior com os vários parentes das
incapacidade deixa de ter sentido. bilizar a introdução de nossas reivindi comunidades indígenas. Queremos fa
Quando você admite que o outro é dife cações na Constituinte”. Na avaliação zer uma discussão séria, para ver a que
rente, você não pode avaliar se o outro éde Krenak, o deputado Mário Juruna, nível essas candidaturas estão compro
capaz ou incapaz. Ele apenas é diferen em sua experiência no Congresso Nacio metidas com os interesses e os destinos
.te. Se você tem uma cultura diferente da nal, “tem feito o que as condições polí de nossas populações. Se for uma pers
minha, como posso dizer que você é “in ticas e o que a realidade do País têm pectiva individual, então ele milita, se
capaz” de entender a minha? Você é permitido, onde a prática política é sub candidata, vence ou perde. Se for uma
apenas diferente. Na verdade, seria o fim metida a uma série de pressões, de con candidatura submetida às populações
do império da estupidez”. veniências de perseguições. Espero que indígenas, aí ela vai ter toda a população
Krenak explica que os índios não pre eu esteja entrando num outro tempo (fa indígena articulada apoiando. Se for
tendem formar territórios independen zendo alusão à Nova República), onde a uma candidatura individual, não discu
tes: “Não seriam territórios independen pessoa que assumaum compromisso pú timos. É uma opção dele, seja índio, seja
tes, não seriam territórios autônomos. blico com seus eleitores, possa realmen branco”. (extraído da reportagem “Os
Seria buscar uma forma de colocar na te cumpri-lo”. índios e a Constituinte”, de Edson Baú,
Constituinte, na Constituição, a garam O coordenador de Publicações da União Última Hora, Brasília, 29/04/85).
tia desses territórios às comunidades in das Nações Indígenas vai tentar garantir
dígenas, o seu direito permanente de a participação do índio na Constituinte
uso, de se organizarem social e econo de 86 sem qualquer vinculação parla
Sugestão
micamente e, a partir daí, estabelece mentar. Isto é, Krenak defende o direito
rem as suas formas de relação com a so de qualquer grupo social, incluindo-se o para a Constituinte
ciedade envolvente”. indígena, fazer-se representar na Cons “A mineração em reservas indígenas
tituinte e defender seus interesses. O ín também deve ser considerada na nova
Representatividade dio usa uma referência história para jus Constituição. O aproveitamento dos re
tificar sua proposta: “Há 150 anos atrás, cursos minerais existentes em áreas indí
Não apenas antigamente, mas, até hoje, um sujeito chamado José Bonifácio pro genas deve ser decidido pelos próprios
a maioria dos índios nunca ouviu falar pôs que povos diferenciados cultural índios, assinando contratos com as pró
em Funai, Estatuto do Índio, Constitui mente tivessem formas diferenciadas de prias empresas de mineração que teriam
ção, como afirma Ailton Krenak. Como, se representarem dentro das leis de uma que ser referendados pelo Congresso Na
então, representar os 180 povos indíge Nação. Continuo defendendo a mesma cional. As nações indígenas não devem
nas na Constituinte? Ele sabe que isso é tese. Na prática, funciona assim: cada ficar sob a tutela do Poder Executivo,
impossível, mas explica o seguinte: “O grupo que desejar participar indica seus mas, tão somente, do Poder Legislativo,
que podemos fazer agora é que as popu representantes para as discussões, sem a naqueles casos de relevante importância
lações indígenas, que já têm compreen necessidade de concorrer às eleições de para as tribos.” Esta é uma das suges
são do que é a sociedade brasileira, o que 86”. tões apresentadas pelo geólogo Wander
significam as leis, vão, de alguma for Ao ser indagado se essa proposta seria o lino Teixeira de Carvalho (ex-diretor da
ma, poder influenciar na criação das ponto-chave da articulação indígena em Metais de Goiás S.A. e atual mestrando
leis, em favor dos grupos que não acom relação à Constituinte, ele respondeu: em Administração e Política de Recur
panharão esse processo. Historicamen “Não só seria o ponto-chave da nossa sos Minerais da UNICAMP), no artigo
te, eles só vão entrar em contacto com proposta, mas do próprio País. Seria fi intitulado “O setor mineral quer deba
essa realidade daqui a cinco ou dez anos. nalmente a Nação admitindo aquilo que ter as mudanças na Constituição”. (FSP,
Mas não podemos esperar que as 180 po José Bonifácio queria, pois somos uma 17/02/85).
pulações indígenas do País saibam ple Nação pluralista. Ela acolhe, dentro de
namente o significado das leis para po si, 180 nações menores, que são as na
der influenciar, porque corremos o risco ções indígenas, que têm línguas diferen
de, daqui a pouco, esses povos não exis tes, religiões diferentes e formas de ana
tirem mais. Essas leis são, na verdade, lisar diferentes”.
uma garantia da continuidade da sobre
vivência desses povos e de que possam Candidaturas
participar, no futuro, de um aperfeiçoa
mento maior desse processo de represen O índio Krenak disse que seus irmãos já
tação”. •

têm vários candidatos às próximas elei


ções, entre eles Marcos Terena, hoje tra
balhando com o ministro José Apare
cido, da Cultura. Mas ele acha necessá
rio que as candidaturas sejam submeti
das às comunidades indígenas, por elas

46
CNBB escolhe comissão Apontamentos para o Neste momento pré-Constituinte, antes
de se entrar em discussões exaustivas so
debate pré-Constituinte
A 23º Assembléia da CNBB (Conferên bre reformas e vinculação de uma nova
cia Nacional dos Bispos do Brasil) apro Atualmente, o índio é tutelado por ter agência indigenista estatal, convém re
vou ontem de manhã, em Itaici, muni ainda um conhecimento razoável da lín ver as figuras jurídicas da integração e
cípio de Indaiatuba (SP), os nomes de gua portuguesa, dos usos e costumes da da tutela como tais. Se reformamos o
quatro bispos para integrarem a comis sociedade nacional e por não exercer órgão tutor antes de remover o “entulho
são de acompanhamento da nova Cons uma atividade útil, nesta sociedade (art. autoritário” da legislação indigenista e
tituição brasileira. Foram eleitos os bis 9, da Lei 6.001). A filosofia integracio antes de discutir os parâmetros de con
pos de Bauru (SP), dom Cândido Padin, nista o coloca numa linha de montagem, vivência da sociedade nacional para com
70; de Duque de Caxias (RJ), dom Mau onde ele percorre as etapas de “iso os povos indígenas, colocamos o carro
ro Morelli, 50; de Rubiataba (GO), dom lado”, em vias de integração”, até ser na frente dos bois. Questões como a ga
José Carlos de Oliveira, 54; e de Afoga “integrado” (art. 4, da Lei 6.001). A tu rantia do território indígena e do seu
dos da Ingazeira (PE), dom Francisco tela não é a proteção da alteridade étni subsolo, a participação dos índios nas
Austregésilo de Mesquita Filho, 61. Na ca, mas a assistência ao desconhecimen questões que lhes dizem respeito, a pre
próxima semana, os 270 bispos reunidos to e não-produtividade do índio que se servação da sua identidade étnica, a li
em Itaici deverão aprovar a estratégia pressupõem passageiros. berdade de organização — todas essas
de atuação da igreja diante da Consti Ocorre que o projeto de vida das comu questões devem ser objeto de ampla dis
tuinte. nidades indígenas — em termos gerais cussão. Não temos a ilusão de que uma
Na entrevista coletiva de ontem de ma — não caminha para esta integração Constituinte possa esgotar todas as ques
nhã, os bispos de Nova Hamburgo (RS), prevista nos dispositivos legais. Em con tões levantadas. Mas, ela pode abrir o
dom Aloísio Sinésio Bohn, 51, Tocanti seqüência disso, geram-se inúmeros caminho para o seu equacionamento.
nópolis(GO), dom Aloísio Hilário do Pi conflitos que provêm, em parte, do não Haveria ainda que levantar a questão da
nho, 51, e de Vitória da Conquista (BA), cumprimento da Lei (demarcação das representação, numa Assembléia Nacio
dom Celso Pinto, 52, adiantaram alguns terras), em parte, do não-reconheci nal Constituinte, dos índios e de outros
elementos desta discussão preliminar na mento de que o Brasil é um País pluriét setores marginalizados. Os representan
assembléia. Segundo dom Celso, a igre nico, composto por micronações indíge tes indígenas devem ter acesso a essa As
ja defenderá uma ampla participação na nas, com sistemas de organização sócio sembléia, sem vinculação partidária.
Constituinte, publicará cartilhas popu próprias.e econômica e com cosmovisões Não convém simplesmente transformar
político •

lares sobre o tema, sugerirá que a nova o Congresso Nacional, onde, historica
carta inclua tópicos sobre a autonomia mente, se encontram as elites políticas e
dos três poderes, a reforma agrária e os os interesses antiíndios, em Assembléia
direitos ao trabalho, moradia e educa Nacional Constituinte. Se os defensores
ção, entre outros. “O fundamental é que da causa indígena conseguem substituir
não tenhamos uma Constituição saída a filosofia (e depois a prática) integra
dos gabinetes, mas expressiva da von cionista pelo reconhecimento da pluri
tade popular, incluindo não só os princí nacionalidade do País, não só os índios,
pios da democracia liberal, mas também mas todos os setores populares podem
da democracia social, como a hipoteca comemorar uma vitória. Hojê já não
que pesa sobre a propriedade privada e a basta mais cumprir a Constituição muti
primazia do trabalho sobre o capital”, lada. É preciso mudá-la. (excerto do ar
afirmou o bispo, (FSP, 14/04/85). tigo do Pe. Paulo Suess, “Alteridade X
Integração”, publicado no jornal PO
RANTIM, do CIMI, abril de 1985).

47
*
—A #%
lºves INDIGENAs No BRASIL/cED

DEMARCAÇÕES:
UMA AVALIAÇAO DO
GT-INTERMINISTERIAL Nos últimos dois anos, •

o chamado “Grupão” emperrou as demarcações


das áreas indígenas. Mas o novo
quadro institucional abre outras perspectivas

João Pacheco de Oliveira Fº


E

Alfredo Wagner Berno de Almeida (*)

decreto 88.118, de 23.02.1983, instituiu uma siste Dos processos de delimitação com tramitação regular ape
O mática nova para a demarcação das áreas indígenas,
substituindo dispositivo anterior, o decreto 76.999,
nas 14 foram efetivamente concluídos, a resolução de 3
outros sendo imposta por outros canais e decorrente de seu
de 08.01.1976. Este situava tal processo inteiramente no cárater emergencial (a crise do Xingu, com a interdição da
âmbito das atividades da FUNAI, sendo ao final submetido BR-080, e o aprisionamento de um avião, em maio de 84; o
à homologação do Presidente da República. confronto iminente entre índios Apinayé e moradores de
Tocantinópolis, com o início da demarcação pelos próprios
A intenção explícita e formal dessa mudança, já manifes índios e a interrupção do tráfego na rodovia Transamazô
tada na Exposição de Motivos Interministerial nº 003, de nica. Quanto aos processos de homologação da demarca
07.02.1983, era promover um ajustamento e compatibili ção, apenas um caso, relativo a uma área indígena muito
zação entre as diretrizes Gerais da Política Agrária, con reduzida (736 ha) e bastante conflituada, foi de fato
con
substanciadas então pelos decretos nºs 87.457/82 e 87.700/ cluído.
82 (que criaram, respectivamente, o Programa Nacional de
Política Fundiária, e as atribuições de Ministro Extraordi O quadro abaixo destaca algumas variáveis, permitindo
nário para Assuntos Fundiários), e a atuação da FUNAI. uma apreciação sintética dos resultados da atuação do GT
Isto com o intuito de reguardar os direitos dos índios à posse Interministerial. Face as finalidades com que foi constituí
e usufruto permanente das terras que ocupam ou que lhes do, de aprimorar as normas para demarcação das terras
são atribuídas (em conformidade com a Constituição Fe indígenas, o “Grupão” apresentou resultados assustadora
deral, art. 198 e a Lei nº 6.001), mente baixos. As 12 áreas onde a delimitação foi concluída
seguindo os procedimentos regulares totalizam uma ex
Completou-se recentemente dois anos de vigência e funcio tensão de 1,2 milhões de ha, correspondendo a tão somente
namento do GT-Interministerial, o chamado "Grupão", 8% a da extensão total das áreas encaminhadas pela FU
criado por esse Decreto, tornando bastante oportuna e pos NAI ao GT-Interministerial. Em termos de homologação da
À * T = . ** * * + *

sível uma análise da eficácia dos procedimentos aí estabele demarcação, a única área concluída corresponde a 0,032%
cidos. Impõe-se como uma necessidade urgente localizar. da extensão total do conjunto de áreas já demarcadas enca
onde se situam os pontos de inércia e estrangulamento desse minhadas para homologação pela FUNAI.
processo, tendo em vista a perspectiva de instituir uma Tais cifras deixam meridianamente clara a inoperância da
outra sistemática, ajustada ao novo arcabouço político sistemática instituída pelo Decreto 88.118/83, indicando a
legal. Tal necessidade se acentua com a redefinição, ora em necessidade de sua revogação. Para a elaboração de novas
curso, das diretivas, atribuições e modos de ação dos órgãos normas para demarcação das terras indígenas é, no en
fundiários (criação de Ministério da Reforma e Desenvolvi tanto, imprescindível diagnosticar com precisão os pontos
mento Agrário, em substituição a estrutura anterior do críticos de estrangulamento existente na sistemática ante
MEAF; a definição institucional do INCRA no conjunto de rior, bem como estimar a eficácia do processo demarcatório
órgãos fundiários; a elaboração do Plano Nacional de Re face as necessidades sociais existentes, de assegurar os di
forma Agrária, prevendo ampla discussão social), reitos indígenaseàsobrevivência
de subsistência terra onde habitam
étnica. ou exploram com fins •

Inoperância
(*) antropólogos, participaram do “Grupo de Terras Indígenas” (INCRA)
que elaborou subsídios para o Plano Nacional de Reforma Agrária
Durante esse período foram encaminhados pela FUNAI ao (MIRAD).
GT-Interministerial 50 processos. Objetivaram a criação de
áreas indígenas mediante a delimitação por decreto presi
dencial, e 15 destinavam-se a homologar, igualmente por
ato do Presidente da República, demarcações já realizadas.

48
Intensificação de conflitos Pareceres conclusivos bloqueados
Ao avaliar a atuação do GT-Interministerial nesses dois Esquematicamente, é essa a dinâmica do processo de de
últimos anos sobressai com nitidez uma estagnação pro marcação segundo o decreto 88.118/83. A FUNAI procede
gressiva do ritmo das delimitações e homologações. Em ao reconhecimento da área, com levantamentos chamados
uma comparação inicial, a extensão total das áreas delimi antropológicos e fundiários (para esse último, requisitando
tadas por Decreto em 1983 atinge a cifra de 655.556 ha, a colaboração de funcionários locais do INCRA). Uma vez
enquanto no ano seguinte fica em torno de 598.663 ha. identificada, a área é remetida pela FUNAI ao GT-Inter
ocorre porém, que uma parte dessas delimitações corres ministerial para delimitação. Inicialmente o caso é estudado
ponde a processos cuja entrada no GT se deu no ano an em separado pelos representantes do MINTER e do MEAF.
terior, estando portanto apenas concluindo sua trajetória Quando esses consideram concluída sua análise, tendo for
institucional. Apenas 5 das 28 áreas remetidas ao GT para mado opiniões sobre a matéria, notificam à FUNAI para
delimitação no ano de 84 receberam decretos presidenciais, que essa marque uma reunião para discussão daquele caso.
somando 367.850 ha. Excluindo crises de grande porte que
atrairam a atenção da opinião pública e das autoridades, Ao chegar a um acordo sobre os limites da área (algumas
tendo uma solução negociada em particular, ficam apenas vezes isso exigindo retificações da proposta original, inclu
três pequenas áreas totalizando tão somente 42.850 ha para sive com novos levantamentos de campo), os componentes
atestar da continuidade da sistemática do Decreto 88.118/ do GT firmam um parecer-conclusivo. Em seguida a pro
83 nesse último ano. Ainda que isso aponte que não houve posta de delimitação é levada à aprovação dos Ministérios.
uma completa paralização das delimitações, fica claro que a Por fim é remetida à Presidência da República, juntamente
tramitação regular conseguiu delimitar uma proporção pra com uma Exposição de Motivos Conjunta MINTER/MEAF
ticamente desprezível (0,31%) da extensão total das pro e uma minuta de decreto, o qual uma vez assinado e publi
postas encaminhadas pela FUNAI ao GT. cado no D.O.U., encerra o processo de delimitação, após
haver sido concluída a demarcação física daquela área de
Nesse contexto, a ausência de respostas institucionais, fun acordo com os limites fixados no decreto presidencial, o
cionou como um fator definitivo de insatisfação e um ver caso retorna à consideração do GT, devendo seguir a trami
dadeiro gerador de crises. Em tais casos eram aplicadas So tação anterior, com a emissão de parecer conclusivo, com a
luções casuísticas, mas que do ponto de vista dos interessa aprovação dos Ministros e por último o decreto presidencial
de homologação da demarcação. * •

dos revelavam-se como melhores do que a sistemática esta


belecida. As duas áreas obtidas no correr da crise institu
cional do Xingu (abril/maio de 84) somam juntas 325.000 Ao decompor com intuitos analíticos uma tal sistemática de
ha, o que corresponde a mais de 7,5 vezes a extensão das demarcação em suas fases constitutivas, (vide quadro abai
àreas delimitadas segundo a rotina introduzida pelo De xo), o observador pode perceber que a grande maioria das
creto 88.118. É importante ter presente que a falta de res áreas encaminhadas ao GT-Interministerial não se encon
postas institucionais é um estímulo ao agravamento das tram paralisadas em um ponto inicial de tramitação, com o
relações interétnicas nas regiões onde existem casos pen caso ainda em consideração pelos membros do GT. Das 50
dentes e um incentivo a adoção de formas mais radicais de áreas encaminhadas para delimitação, apenas 22 ficam
luta por parte dos índios. E como se todos os canais de aten nessa situação, não sendo esse o caso de qualquer um dos
dimento as suas demandas quanto a terra estivessem pratiº processos para homologação da demarcação. Na leitura
camente fechados, só podendo haver resposta com a inten desses dados é preciso ter presente que a inclusão, com
sificação do conflito. 9.149.108 ha, da área indígena Yanomami nessa fase, a
inflaciona fortemente. As demais 21 áreas em estado inicial
Comparada não somente com as propostas encaminhadas de delimitação totalizam somente 4.361.380 ha."
pela FUNAI, mais com as necessidades reais dos grupos O ponto de inércia desse processo reside, indiscutivelmente,
indígenas, quanto à regulamentação de sua posse, a insol no que sucede a fase intermediária. Em 11 casos (em um
vência da sistemática instituída pelo Decreto 88. I18/83, total de 50) os processos de delimitação receberam um pa
torna-se ainda mais manifesta. Segundo indicações da FU recer-conclusivo de GT, esbarrando em obstáculos poste
NAI, as áreas indígenas identificadas no Brasil montam a riores para completar o seu percurso institucional. Assim o
67,3 milhões de ha, a parte que já foi demarcada montando GT posicionou-se favoravelmente quanto a áreas que tota
a 12,6 milhões. Os 51,9 milhões de ha, distribuídos em 159 lizam 3.492.207 ha, a que correspondem a mais de 3 vezes a
áreas indígenas, representam com mais fidedignidade as extensão total das áreas que receberam decreto presiden
demandas reais existentes (muito embora caiba ressalvar cial.
que existem áreas indígenas ainda não identificadas pela
FUNAI, cuja mensuração não é possível por enquanto). Esses dados revelam como são improcedentes as críticas ao
confrontado com isso, a extensão total das áreas delimi GT que atribuem sua ineficácia a diversidade de órgãos e
tadas pelo GT do Decreto 88.118/83, em dois anos de ativi interesses que reúne, preconizando que a solução recomen
dade, é irrelevante, chegando a aproximadamente 2,4% da dada seria fazer cumprir todo (ou quase todo) o processo
extensão total das terras identificadas pela FUNAI (isso dentro de única instituição. A idéia de que o controle de
incluindo até aqueles casos resolvidos através de crises). todo o processo, recaindo sobre um mesmo órgão signifi
Tais cifras mostram a dramaticidade da situação dos grupos caria uma simplificação, corresponde de fato a um raciocí
indígenas, imprensados em seus territórios pelas frentes de nio falacioso. O ponto de estrangulamento é, inicialmente,
expansão, sem dispor de alternativas legais efetivas para a na aprovação individual dos Ministros (e em especial o do
defesa das terras que habitam ou utilizam. MEAF) e, mais adiante, na própria assinatura do decreto.
Resultava isso claramente de um veto de natureza política,
derivado de orientação e prioridades estabelecidas pelo C.
S.N. e em grande parte compartilhadas pela Presidência da

49
*
–/* #
#vºnDiGENAs No BRASIL/cED
República. A rigor o embargo não procedia da MEAF na A inobservância do dado de atualização levou os grupos
sua condição de organismo fundiário, mas da sua natureza indígenas a reivindicarem a ampliações de áreas cuja deli
Singular naquela conjuntura institucional, onde o Ministro mitação foi homologada. Um exemplo seria o dos Kaxinawa
era o Secretário-Geral e a estrutura (inexistente) do Mi do Rio Jordão.
nistério tendia a identificar-se com a do C. S. N.

Recomendações
Entraves na FUNAI
O novo quadro institucional, dando uma estrutura inteira
Acrescente-se a estes pontos de estrangulamento aqueles mente diversa aos órgãos do sistema fundiário, com a cria
que podem ser detectados internamente ao âmbito de atua ção do Ministério da Reforma e Desenvolvimento Agrário
ção da FUNAI. O fluxo de documentos interno à burocracia (MIRAD), coloca novas perspectivas para a demarcação
do órgão apresenta inúmeros entraves que refletem uma das terras indígenas.
descontinuidade de ação que pode conduzir a novos con Um ponto em que o MIRAD pode contribuir positivamente
flitos. Nos casos das áreas indígenas Raimundão e Boquei a questão indígena e auxiliar no controle das invasões reali
rão localizadas no território de Roraima, tem-se que os pa zadas sobre territórios indígenas, promovendo um levanta
receres do DPI ao Presidente da FUNAI datam respectiva Fr2entO. *

mente de 10 de junho de 1983 a 17 de novembro de 1983, a) das glebas pertencentes a projetos fundiários da INCRA
enquanto que as propostas ao GT-88.118/83 datam ambas que incidem em áreas indígenas;
de 12 de junho de 1984. b) dos imóveis rurais que, para o pagamento do Imposto
Nota-se também que há em que a data do levantamento Territorial Rural, se auto-declaram como situados den
fundiário dista por demais daquela da elaboração da pro tro das terras indígenas. Outras modalidades de defesa
posta. No caso da Area Indígena Truaru esta separação das áreas indígenas podem ser estudadas inclusive com
data de dois anos. •

a redefinição do sistema de cadastramento e com a ado


Em decorrência, verifica-se casos de propostas aprovadas ção de outros critérios para o seu preenchimento. E ur
que acabam resultando em homologação de delimitações gente promover um inventário completo de todos esses
baseadas em dados gerais e levantamentos fundiários intei casos, tendo em vista o cancelamento dessas glebas e dos
ramente defasados. Registra-se que as informações que registros em cadastro, nesse último caso sendo estudada
constam do memorando remetido pela FUNAI, concer a possibilidade de acionamento de instrumentos pena
nentes ao tópico intitulado “situação atual" (tal como pre lizadores.
visto no artigo do decreto 88.118) datam de três ou mais Um último e importante ponto é a revogação do Decreto
anos anteriores, não contemplando portanto, com a exa 88.118/83, com a elaboração de uma minuta de decreto
tidão necessária, certas informações relativas aos seguintes onde seja delineada uma nova sistemática para a demarca
aspectos: •

ção das terras indígenas. A revisão das normas para delimi


— deslocamentos geográficos do grupo indígena em ques tação e demarcação das áreas indígenas é algo que implica
tão; em definições político-institucionais maiores, bem como no
- aumento significativo de casos de invasões, notadamente reestudo das articulações INCRA/MIRAD e FUNAI/MIN
em áreas de frente de expansão; TER e em uma nova reestruturação interna do próprio
- alterações relevantes na densidade demográfica da área INCRA/MIRAD para atender às atribuições constantes em
indígena a partir da incorporação de famílias de índios tal proposta. *

que anteriormente se achavam dispersas.


PROCESSOS PARA DELIMITAÇÃO, REMETIDOS AO GT-DEC. 88.118 NO ANO DE 1983
NOME DA ÁREA INDÍGENA UF SUPERFÍCIE (HA) | PARECER DECRETO
POTIGUARA PB 20 . 820 002/83 89.256/83
RIO GREGÓRIO AC 92.000 003/83 89.257/83
RANCHO JACARÉ MS 736 001/83 89.258/83
UTIARITI MT 4l2.304 O05/83 | 89.259/83
TIRECATTINGA MHT L30 - 575 004/83 | 89.260/83
FUNIL GO 10 - 620 = *>##

BOM JESUS RR l.313 004/84 89.594/84


SERRA DA MOÇA RR 12.500 005/84 89.593/84
TUBARÃO/IATUNDÊ RO 118.000 *= +=

ESTIVADINHO MT L.970 = *#

FIGUEIRAS MT 10.000 *=== =

FORMOSO MT L2.000 *= *PP=

KAXINAWA DO RIO JORDÃO AC 92.000 030/84 90.645/84


KAXINAWA RIO HUMATTÃ AC 125.000 031/84 90.644/84
sL7-Acervo
_A ISA
PROCESSOS PARA DELIMITAÇÃO, REMETIDOS AO GT-DEC. 88.118 NO ANO DE 1984

NOME DA ÁREA INDÍGENA UF | SUPERFÍCIE (HA) | PARECER DECRETO.


KATURINA - KAXINAWA DO FEIJÓ AM/AC }_7. 750 002/84 || 89.488/84
PAQUIÇAMBA PA 6.000 001/84 | 89.489/84
RIO DAS COBRAS ER 19.100 008/84 | 90.744/84
CAPOTO MT 186.000 006/84 || 89.643/84
APINAJÉ GO 1.43.000 = 90.960/85
KOATINEMO PA 288.600 = w$

BOQUEIRÃO RR 13.950 Ol8/84 =

ANTA RR 2.550 017/84 | massa

RAIMUNDÃO RR 4.300 020/84 *#

TRUARU RR 6.640 016/84 *

TABA-LASCADA RR 7. Q00 019/84 *=

BOCA DO ACRE AC 26 - L67 025/84 *=

COATA-LARANUAL AM 805.000 024/84 =

NHAMUNDÃ-MAPUERA AM/PA | 1.022.400 021/84 =

RIO BIÃ AM l. 180.200 022/84 = .

JACAMIN RR L07.000 023/84 =

JARINA/TXUCARRAMÃE MT l39.000 005-A/84 || 89.618/84


Faixa de 15 km/MD. Xingú
APURINÃ AM 8.650 *= *$#

PARAKANÃ PA 317.000 035/85 | 91.028/85


STçº ANTONIO (TIKUNA) AM 1.450 #= +==

PIUM RR 3.810 = ----

YANOMAMI AM/RR | 9.149.108 *= ==

SÃO DOMINGOS MT 5.474 ---- *=

KULINA DO RIO EIRO AM 356.000 +== =

POYANANÃ AC L9 - 98,7 = *=

CAMPINAS/KATUKTNA AC 28.862 E= =>ã

TOLDO CHIMEANGUE SC 1 - 817 * *=

WAT-WAT RR 330.000 #= sº=

51
*
-+- © O

=/\ = ºs noiceNAs no BRasil/cºb

PROCESSOS PARA DELIMITAÇÃO, FEMETIDOS AO GR-DEC. 88.118 NO ANO DE 1985


NOME DA ÁREA INDÍGENA UF SUPERFÍCIE (HA) | PARECER DECRETO

ZOR5 MT 4 31.700 ----- *=+

URU-EU-WAU-NAU RO ] - 888.000 = *=+

WAIÃPI AP 543.000 == *=

NUKINTE AL 30.900 == +=

KAXARART AL L27.540 + #

PROCESSOS PARA HOMOLOGAÇÃO DE DEMARCAÇÃO - GT. DEC. 88.118


NOME DA ÁREA INDÍGENA UF SUPERFÍCIE (HA) | PARECER DECRETO
RANCHO JACARÉ MS 736 ---- 89 - 422
ERIKEATSA MT 79,943 10/84 *=>

ROOSEVEIT (MT/RO) 233. O 55 9/84 *=

PIMENTEL BARBOSA MT 320.900 12/84 =

PIRAJUÍ MS 2.121 26/84 *>

SARARE MT 67. 149 28/84 +=

ARARTBOTA MA 413.587 27/84 =

PACAAS NOVA RO 279.906 29/84 "=

KARITIANA RO 89 - 682 38/84 #=

TIRECATTINGA MT L30 - 575 32/84 =

UTILARITIL MT 412.304 33/84


VALE DO GUAPORÉ MT 242.593 34/84 #=

PROCESSOS ENCAMINHADOS AO GT-DEC. 38. L18

EM CONSIDERAÇÃO C/PARECER CONCLUSIVOS C/DECRETO


PROCESSOS | ANO NÇ| EXTENSÃO *** Fºgº • *-*

NQ | EXTENSÃO || ? | NQ | EXTENSÃO $ | NQ | EXTENSÃO| $

1983 ||14| 1. 139. 838 | 5 152.590 |l4,6% — += = 9 | 887.248||85,4%

1984||28||14.200.815||12|10.336.758 72,78||11 | 3.492.207||24,5ê || 5 || 371.850||12,3ê


DELIMITAÇÃO - 7

1985 || 5 | 3.021. 140 | 5 | 3.021.140| 100% || — == EPs *=> *=> =

TOTAL|50||18.261.893||22|13.510.488/79,33||11| 3.492.207|24,53 | 14|1.259.098 6,8%


HOMOLOGAÇÃO] - [12# 2.272.551 | — = — | 11 | 2.271.815 | 99% || 1 736 0,03%
DEMARCAÇÃO

52
AS ÁREAS INDÍGENAS
E O MERCADO DE TERRAS
Por que empresário e organizações financeira
internacionais estão defendendo
a imediata demarcação das áreas indígenas?

Alfredo Wagner Berno de Almeida (*)

E# de representação, que congregam grandes


empresários rurais, e organizações financeiras interna
apenas destas extensões ocupadas, mas também, e sobre
tudo, daquelas áreas de pretensão. Sublinhe-se que, não
cionais estão se perfilando de forma ostensiva face a obstante os sucessivos conflitos, os dados sobre a elevação do
cada evento que, atualmente, se insurge no problema maior preço das terras na Amazônia assinalam uma curva ascen
dos conflitos relativos às terras indígenas. Embora os mate dente (I), que não passa despercebida aos cálculos de “ava
riais disponíveis à análise sejam precários e insuficientes, liação de patrimônio” das empresas cujos projetos estão sen
compostos em geral de extratos de documentos veiculados do implantados.
pela imprensa periódica, não permitindo generalizações
mais amplas, pode-se adiantar que, a cada novo aconteci A titulação liberaria, pois, recursos básicos juridicamente
mento, tais organizações têm se manifestado e, não raro, se imobilizados e cuja valorização crescente apresenta-se como
constituído em aliados inesperados das entidades de apoio ao uma constante. Ela pressupõe, entretanto, a inexistência de
movimento indígena. conflitos e a absoluta redução dos litígios sobre limites. Neste
ponto é que, da ótica empresarial, o problema da titulação
pode ser aproximado daquele da demarcação das áreas indí
A demarcação como uma etapa para a genas. Em primeiro lugar porque também elas encontram-se
imobilizadas, já que são considerados nulos de pleno direito
regularização dos imóveis e sem qualquer eficácia os atos, fatos e negócios jurídicos que
Numa orientação preliminar para o entendimento e a apre envolvem posse ou ocupação de terras classificadas como de
ensão dos fundamentos desta recente postura dos empresá "posse imemorial dos silvícolas". Uma possível anulação e a
rios, pode-se destacar que a manifestação será tanto mais certeza do cancelamento de semelhantes operações mercan
contundente, quanto mais sejam retardados ou prorroga tis condicionam o chamado risco empresarial desaconse
dos, junto aos órgãos públicos competentes, os processos de lhando uma aplicação de recursos, que não possui nenhuma
titulação dos extensos domínios que pretendem. O quadro de garantia jurídica. Em segundo lugar porque a definição legal
indefinição do reconhecimento das posses não tem agradado dos limites destas áreas indígenas constitui um passo decisivo
aos responsáveis pelos projetos agropecuários e de explora para a regularizaçãofundiária dos imóveis confinantes, quer
ção mineral e madeireira nem às empresas colonizadoras que dizer, de parcela significativa daqueles domínios pretendi
operam na região amazônica. No Norte de Mato Grosso, no dos por inúmeros empresários rurais que integram entidades
Sul do Pará, no Acre e no Maranhão os conflitos de terra e as como: a Associação dos Criadores de Nelore, a Sociedade
ações de contestação mantêm extensas áreas sub-judice. Isto Nacional de Agricultura, a Associação dos Empresários da
impede, de acordo com os dispositivos legais, que sejam ob Amazônia e o Conselho Nacional de Pecuária de Corte.
jeto de transações comerciais e de captação de recursos no
sistema financeiro. Mediante esta imposição jurídica as ter Segundo esta concepção empresarial as terras indígenas se
ras neste contexto, não se realizariam enquanto mercadoria, riam classificadas como parte do conjunto de áreas conside
no seu sentido pleno não podendo ser objeto de atos de com radas de preservação permanente. J. C. de Souza Meirelles,
pra e venda registrados em cartório, nem servir de hipoteca Presidente do Conselho Nacional de Pecuária de Corte, acre
ou depenhora para empréstimos bancários. dita que, definindo-se legalmente, o estoque de terras a se
rem utilizadas estaria automaticamente disposto a uma rá
Do ponto de vista de empresários, que possuem nestas áreas pida titulação. Ele assevera o seguinte:
além de benfeitorias elementares, grandes rebanhos, lavou
ras comerciais e unidades de beneficiamento e transforma
ção (serrarias, usinas de álcool, garimpos semi-mecaniza
dos) torna-se fundamental obter a titulação definitiva e não (*) antropólogo, faz pesquisas sobre estrutura fundiária, sobretudo na
Amazônia e é autor de vários trabalhos publicados sobre o assunto,
INDiGENAS NO BRASIL/CED]

“... o que urge fazer é a definição das áreas ecologi os empresários das áreas onde serão demarcadas
camente viáveis para o uso social e econômico, resul áreas indígenas passariam a colaborar com parte da
tantes da prévia identificação e a exclusão das áreas verba necessária. (3)
de preservação permanente.
(...) Dispomos de informações e tecnologia que per Propondo concorrer com recursos materiais para a demar
mitem definir as áreas de preservação permanente: cação das áreas indígenas os empresários evidenciam mais
reservas indígenas, ecológicas, biológicas e parques uma vez que a indefinição da propriedade não se coaduna
nacionais, especialmente na Amazônia...” (Meirel com seus interesses mais imediatos quais sejam: habilitar as
les; 1984)(2). terras às transações comerciais considerados legítimas. Ma
nifestam seu desacordo com a chamada "morosidade" da
As áreas indígenas (as quais, de acordo com dados divulga FUNAI e do INCRA e defendem uma posição que aparente
dos pela FUNAI correspondem aproximadamente a 7,8% do mente não é distinta daquela das entidades de apoio ao movi
território nacional) são classificadas no mundo natural não mento indígena: agilizar as demarcações. --

sendo reconhecidas como integrando o processo produtivo.


A definição legal seria iniciada, portanto, pelas áreas que A regularização fundiária torna-se vital para empresários
não teriam ingresso no mercado nacional de terras. Uma vez rurais que desejam dispor suas extensões, deforma plena, no
demarcadas legalmente, torna-se imediato o reconhecimen mercado nacional de terras. Admitem inclusive de maneira
to da legitimidade da ocupação dos confrontantes. Começar explícita que "ocupam indevidamente terras de índios ou
pelo que não é apresenta-se como uma solução ideal para os próximas às reservas” (ibid.) atribuindo isto a órgãos fede
empresários definirem domínios cujas extensões não se rais que forneceram certidões negativas atestando a inexis
acham rigorosamente delimitadas e nem juridicamente reco tência de índios nas áreas pretendidas. Procuram se distin
nhecidas, guir do Estado e suas ramificações e reivindicam uma parti
cipação direta nas instâncias decisórias de demarcação.
Nos meandros desta lógica, de maneira concomitante, se lo
graria o fim dos conflitos com os grupos indígenas e daquelas Ainda que sabedores de que o fato de uma intervenção go
situações nomeadas de "tensão social”: vernamental teria que forçosamente efetuar desapropriações
de parte de seus domínios pretendidos os empresários advo
“Os conflitos que resultam na falta desse planeja gam tal demarcação. Acreditam que as possíveis perdas de
mentol essencial quer os de natureza social, como as algumas extensões que pretendem, face à declaração oficial
invasões de áreas indígenas, quer os de natureza eco de "posse permanente dos grupos indígenas", poderão ser
lógica, como a ocupação de áreas inadequadas ao uso minimizadas pelo ingresso formal das demais partes no mer
agropecuário não mais se justificam.” (Meirelles; cado. Semelhante crença seria tanto mais verdadeira para as
ibid.) empresas de colonização particular, que passariam a operar
com domínios juridicamente configurados beneficiando-se
Embora nada se tenha mencionado com respeito aos movi de um impacto positivo sobre seu valor de mercado.
mentos camponeses, suas regras peculiares de cultivo e seu
peso relativo nos conflitos de terra, a versão empresarial in Intentam, pois, uma operação conclusiva que do ponto de
siste em representar como idealmente superados os impasses vista jurídico-formal transforma as terras da região em mer
d definição legal e exata de seus domínios. Sendo bastante cadoria, no seu significado mais completo. Com isto abrem,
escassas as razões de tal omissão esta versão pode, com toda inclusive, novas perspectivas para uma concentração de ter
certeza, ser considerada como parcial e não-compreensiva. ras através de atos, devidamente registrados, de compra e
venda. Afinal, a grilagem, enquanto operação fraudulenta
II nos cartórios não interessa mais a empresários que já se bene
ficiaram direta ou indiretamente de apossamentos ilegítimos
“Esta semana a questão empresários X índios come e das muitas concessões (terras, estradas, incentivos fiscais)
çou a ser discutida em Brasília entre a FUNAI e a AS que o Estado lhes poderia propiciar.
sociação dos Empresário da Amazônia. A iniciativa
partiu do Presidente da A.E.A., Jeremias Lunardelli Do prisma empresarial os quesitos elementares à organiza
Neto que também tem terras no Sul do Pará. Ele afir ção e estrutura do mercado de terras na Amazônia estariam,
ma que os empresários estão cansados do papel de vi deste modo, começando a serpreenchidos banindo as transa
lões que desempenham sempre que eclodem conflitos ções paralelas e marginais, os litígios e demais conflitos que
em áreas indígenas. concorrem para desacreditá-lo (4).
Dos entendimentos entre a FUNAI e a A.E.A., sairá
um documento, que está sendo elaborado pelos em }T
presários. Ele vai sugerir uma maior colaboração
dos empresários em troca da participação da A.E.A. Mostra-se consoante com esta perspectiva o alinhamento da
no chamado “GRUPÃO”, grupo de trabalho criado quelas entidades empresariais nas manifestações de crítica,
pelo Decreto 88.118/83, integrado por representam recusa e protesto contra o decreto que autoriza a exploração
tes do Ministério Extraordinário para Assuntos Fun mineral em área indígena. O Presidente da Sociedade Nacio
diários, Ministério do Interior, FUNAI e INCRA, nal de Agricultura, Otávio Melo Alvarenga, recém-empos
além de órgãos estaduais. Este GT tirou da FUNAI sado Presidente do Comitê Permanente do Qilinqüênio de
a autonomia de deliberar sobre a criação de áreas Conservação da Natureza (PRONATURA) considerou-o um
indígenas. Em contrapartida, a A.E.A. vai sugerir a “decreto nocivo” e previu “uma corrida de empresas mine
criação de fundos especiais para arrecadar dinheiro radoras e de garimpeiros às terras indígenas" (5) ameaçan
destinado à demarcação de áreas indígenas. Em fun do-as.

ção da crônica falta de recursos vivida pela FUNAI,

54
Em carta enviada ao Presidente da República a Associação mobilização, quase permanente, num quadro em que os mo
dos Criadores de Nelore solicitou que ele rejeitasse o decreto vimentos de reapropriação de terras indígenas têm logrado
concedendo o subsolo de terras indígenas para empresas mi certo êxito, com toda certeza agrava os impasses que os em
neradoras (6), assinalando que as multinacionais cobiçam presários visam contornar. Mencione-se os conflitos de maio
ardilosamente tais terras: de 1984, ao norte do Parque do Xingu, de julho dos Kre
naque (Resplendor, MG) e ainda os dos Pataxó (BA) e Api
nayé (GO). •

“O Presidente da entidade, José Mário Junqueira de


Azevedo, diz na carta, que o recente pedido de de
missão do Presidente da FUNAI, que se recusou a Tais mobilizações indígenas, ainda que defensivas no
concordar com o decreto autorizando as minerado contexto dos conflitos de terras, têm conseguido reverter os
ras multinacionais a explorarem o subsolo das terras confinantes que as transações paralelas ao mercado formal
indígenas, é a prova cabal dessas manobras.” (ibid.) de terras e a grilagem cartorial ilegitimamente estabele
ceram. Inclua-se aí as próprias concessões governamentais
As entidades empresariais, num nacionalismo de retórica, que tem sido representadas hoje pelos empresários como "a
participaram das pressões que levaram o Presidente da Re origem da usurpação das terras indígenas” (10), isto é,
pública a sustar o andamento do decreto que autoriza a ex casos em que os empresários chegaram a receber certidões
ploração mineral em áreas indígenas. O Presidente ordenou negativas da FUNAI atestando “inexistência de índios" em
que o assunto fosse reestudado pela Secretaria do Conselho áreas que de fato constituem-se em territórios indígenas. O
de Segurança Nacional e pelo Gabinete Civil da Presidência significado disto é que as atuais delimitações e pretensões
da República (7). Neste contexto colidiram os interesses mais podem ser redefinidas levando, por vezes, os empresários à
imediatos daquelas entidades com o das empresas minera condição legal de “invasores” e “intrusos", ou seja, uma
doras e suas respectivas associações. Enquanto para as pri posição incômoda e que agrava o chamado sentimento de
meiras interessa definir prioritariamente a titulação dos do insegurança da propriedade. Daí a iniciativa dos empresá
mínios para as outras interessa resolver também, simul rios e a persistência na imediata definição legal dos domí
taneamente, a questão do subsolo das terras indígenas e sua nios de posse permanente dos grupos indígenas precavendo
exploração. Assim, a Associação Brasileira dos Mineradores se de possíveis atos de reapropriações.
de Ouro (ABRAMO) (8), cujo Presidente Octavio Lacombe
dirige também o Conselho da Paranapanema Mineração, e o “As terras indígenas — diz a carta da Associação
Instituto Brasileiro de Mineração (IBRAM)se posicionaram dos Criadores de Nelore — já criada com 13 quilô
favoráveis ao decreto, Sérgio Jacques de Moraes, Presidente metros quadrados por índio, já não são suficientes
do IBRAM, para a comunidade indígena e devem ser preser
“afirmou que a proibição da pesquisa mineral em re vadas. Mas criar novas reservas indígenas em regiões
servas indígenas representa enormes prejuízos para a com grande produção agropastoril, onde não exis
atividade, pois justamente nessas reservas há indica tem índios, mas são levados por missões religiosas
ções de grandes depósitos minerais, que precisam ser para fixá-los, não passam de interesses de minera
pesquisados e explorados”. (Moraes; 1984) (9). dores multinacionais, camuflados de defensores do
princípios cristãos.” (estado de Minas, ibid.).
Segundo ele a decisão de sustar o decreto “intranqüiliza os Ao se perfilarem contra as pretensões das mineradoras e
empresários, pois, a área mineral, em que os inves pela imediata demarcação das terras indígenas, inclusive,
timentos são de retorno a longo prazo, exige segu reconhecendo, de maneira surpreendente, que tais exten
rança jurídica com projeções para o futuro.” (Mo sões podem até ser insuficientes, os empresários estão se an
raes; ibid.). tecipando ao que imaginam como um possível golpe de su
cessivas ações de reapropriação e ocupação de territórios
A despeito de pretenderem de maneira unânime a formali indígenas de posse imemorial. A imediata demarcação além
zação jurídica de seus pretensos domínios as empresas mine de possibilitar o pronto reconhecimento formal dos imóveis
radoras e as agropecuárias mostram divergências, quanto à confinantes, os defenderia também destas possíveis amplia
posição tática face aos territórios indígenas. ções de áreas indígenas, tal como agora delimitadas, e evi
taria o que representam como uma tendência ao agrava
dosprocessos
mento dos conflitos
litígios e de com o conseqüente retarda
titulação. •

IV

As empresas agropecuárias e aquelas de colonização parti


cular parecem avaliar com maior precaução os efeitos das As organizações financeiras internacionais
mobilizações do movimento indígena, contrárias ao decreto e os sistemas de direito consuetudinário
de autorização de exploração mineral em seus territórios,
entendendo que este fato mantém um clima permanente de As organizações financeiras internacionais, que ar
conflito e tensão social. Isto contraria seus objetivos mais cam com parte dos recursos disponíveis aos projetos de de
imediatos de pôr fim a eles e lograr tão logo a titulação senvolvimento rural integrado (PDRR) do Polonordeste, do
definitiva. Polonoroeste e do Projeto Ferro Carajás, tem exigido do
governo brasileiro, como integrante a sua contrapartida, a
Nesta tomada de posição parecem levar em conta que a mo demarcação das áreas indígenas. Tanto para o Banco In
bilização dos diferentes grupos indígenas se renova com teramericano de Desenvolvimento (BID) quanto para o
maior intensidade a cada vez que esta pretensão governa Banco Mundial a demarcação coloca-se, atualmente, den
mental de permitir a exploração mineral vem à baila. Tal
S INDÍGENAS NO BRASIL/CED!

tre as medidas necessárias à “regularização fundiária" que A ação dos organismos financeiros internacionais reforçaria,
preconizam para o país. Desde 1960, o primeiro, e 1975, o deste modo, a perspectiva daquele segmento de empresários,
segundo, atuam nas áreas rurais dos chamados "países em anteriormente mencionado, que procura exercer sua domi
desenvolvimento” facilitando a incorporação de novas ex nação através de uma formalização jurídica da propriedade.
tensões a um “mercado formal de terras", através da su Representam como natural o código e os aparatos legais da
pressão dos mercados ditos paralelos e informais, que não sociedade nacional e consideram uma burla o que possa vir a
estariam, de acordo com estes organismos internacionais, transgredir suas disposições. Exaltam o contrato de compra
com seus recursos adequadamente integrados ao que desig e venda como a justiça de um mundo afinal ordenado e re
nam de “processo produtivo”. O BID vem financiando pro gular. Esta representação distingue-se, pois, daquela de uma
jetos de titulação diversos, assim como alguns de irrigação e vertente autoritária (13) que viola seguidamente as regras de
drenagem, que se encontram localizados, dentre outros, nos mercado, caracterizando sua ação por apossamentos ilegíti
seguintes países e regiões: Norte do Peru (Desenvolvimento mos e grilagens, além de propugnar, à revelia dos disposi
Regional de Jaen San Ignacio-Bagua), Caribe (criação de tivos legais, uma submissão dos camponeses e dos grupos
registro de terras e de cadastros gráficos), Nicarágua (regu indígenas pelo aparato repressivo. Semelhante concepção
larização fundiária com aproveitamento de fazendas esta marcou etapas iniciais do desdobramento das frentes de ex
tais), Chile (regularização fundiária no período democrata pansão e caracterizou, por outro lado, a ação colonial, no
cristão de Frei), El Salvador, (Programa “Terra para o La tadamente, em contextos das chamadas guerras coloniais e
vrador") e Equador ) Desapropriação dos Huasipungos) delibertação (14).
(! f).
A expansão capitalista, nesta etapa, inibe os métodos de vio
A partir de 1975 com as sucessivas inversões e o auxílio téc lência que foram a essência da política colonial e da ocupa
nico do Banco Mundial, que redefiniu sua política em rela ção das fronteiras agrícolas, e procura implementar regras
ção à terra (12), tal ação foi intensificada abrangendo uma de mercado, que legitimem a reprodução dos processos de
série de projetos cadastrais (Tunísia, Camarões...), de pro concentração da terra e a centralização do capital, facilitan
jetos de desenvolvimento rural (Marrocos...), de programas do ao máximo, em termos operacionais, as transações imo
de titulação (Tailândia, Colômbia) e de projetos de coloni biliárias. A titulação é vista como exaltando a segurança da
zação (Filipinas). O citado organismo passou a dispor de propriedade e permitindo maior incentivo para os investi
um elenco de quadros especializados, muitos deles tomados mentos. O resultado destas inversões mais elevadas tanto
à experiência colonial inglesa, e a ter um importante know poderá ser maior produção por área, quanto aumentar as
how acumulado na Ásia, África e na América Latina princi transações de valores mais expressivos. Daí porque aquelas
palmente no trato com sistemas de direito consuetudinário organizações bancárias mobilizarem vultosos recursos para
de diferentes grupos étnicos. organizar um mercado de terras, inclusive demarcando áreas
indígenas, sem qualquer perspectiva de retorno imediato. O
O objetivo geral desta ação é dirigido contra os fatores con capitalismo financeiro (capital bancário e capital industrial
siderados imobilizantes, que não autorizam conferir à terra simultaneamente) que a atualiza, supõe certo nível de forças
um sentido pleno de bem passível de mercantilização. Si produtivas e, sobretudo, requer formas organizadas de vida
tuam-se dentre estes fatores as determinações jurídicas — econômica. Elas podem ser traduzidas, num plano de reali
como no caso das terras mantidas sub-judice — as infrações dades empiricamente observáveis, como os elementos tidos
das disposições legais, como a grilagem cartorial e as ope como organizadores de um mercado de terras — pelas enti
rações clandestinas de transferência, e o desconhecimento do dades financeiras internacionais, pelo segmento de empresá
código jurídico da sociedade nacional por grupos étnicos que rios aludido e pelas agências governamentais — quais sejam:
acatam um sistema de direito consuetudinário, em que são cadastramento, titulação, administração fundiária e o con
outras as regras de ocupação, de sucessão e outros os signi trole da transferência dos direitos sobre a terra. Em seu con
ficados das próprias categorias terra e mercado. São conside junto objetivam homogeneizar o sistema de transmissão,
rados em seu conjunto como não permitindo uma ampla pelo registro do imóvel e pelo controle de sua transferência,
comercialização de terras e impedindo que imensos domínios montando mecanismos “eficientes" de registro e cadastra
sejam transacionados nos mercados imobiliários capitalis mento. Isto acarreta um aumento da base tributária e, por
tas. Seriam, pois, segundo o ponto de vista daqueles organis tanto, interessa de perto ao Estado; e dá apoio ao processo de
mos internacionais, elementos de imobilização que precisa transferência estimulando os mercados imobiliários, o que
riam ser desativados para que os referidos mercados e suas interessa sobremaneira às organizações financeiras e aos em
agências respectivas pudessem absorver livremente novas presários.
extensões, com valores monetários fixados. Representados
como formas ideológicas de imobilização que favorecem a Tais transações imobiliárias e o respectivo registro legal des
família, a comunidade ou a uma etnia determinada em de tas ocorrências pela escrituração constituem mecanismos
trimento de sua significação mercantil, tais sistemas de di fundamentais ao desenvolvimento capitalista em detrimento
reito consuetudinário passam a ter ameaçada sua existência. das práticas de mercado de sistemas econômicos subordina
dos. Os mercados informais, que abarcam as transações de
As iniciativas de “regularização fundiária” visam destruir terras entre camponeses, que não são escrituradas e apóiam
tais formas convertendo as terras à possibilidade permanente se em contratos verbais, como as licenças de capoeira ou as
de comércio, resgatando-as ao mercado pela desmobilização transações que envolvem as denominadas “posses itineran
daqueles fatores que são vistos como subvertendo o caráter tes"; que compreendem regras de sucessão e transferência
legal que pretendem imprimir. que não conhecem formal de partilha e inventários; carac
terizam, antes de uma relação mercantil, uma situação de re
ciprocidade positiva entre grupos familiares de pequenos
produtores diretos. Isto tanto em frentes de expansão, quan
to em regiões de colonização antiga. Nestas últimas seriam
exemplos mais flagrantes as denominadas terras de preto,

55
sL7-Acervo
_/\ | <> A

terras de Santo, terras de igreja e demais situações que po Jeremy Lawrance, consultor do Banco Mundial para Assun
dem ser cobertas pelo significado genérico de terra comum. tos Fundiários, apresentou no referido Simpósio uma comu
Segundo se observa, esta noção vigente comporta uma arti nicação asseverando que, desde os anos 1950-60, tem havido
culação entre domínios de usufruto comunal (poços, cami notável interesse pela modernização dos registros de terra.
nhos, reservas de mata, cocais, campos naturais, babaçuais, Destaque-se que o consultor é inglês e beneficiário de toda a
áreas de caça, pesca e coleta) e domínios permanentemente situação histórica de dominação colonial, que perdurou, no
privados (casas, giraus, roças) ou apenas temporariamente caso africano, até fins dos anos 1950-60.
privados (local onde se erguem as roças). Da articulação
entre eles é que se tem o equilíbrio econômico que sustém Lawrancesublinha uma “reconciliação":
unidades familiares camponesas e de inúmeros grupos étni
C{}$,
“O surgimento de técnicas bem-sucedidas para re
conciliar os aspectos tradicionais da posse da terra,
especialmente na África, com um sistema de registro
A intervenção governamental: de terra, por exemplo, terras de famílias na Nigéria,
as pastagens comunais de clãs do Quenia.”(Lawran
assentamentos sem demarcação ce; 1984) (16).
Quanto à viabilidade técnica desta proposição de entidades Nada mais adianta, todavia, sobre o resultado destas expe
financeiras internacionais e empresários observe-se que, no riências e sobre o que considera ser uma “reconciliação”. Ao
decurso do Simpósio Internacional de Experiência Fundiá contrário, David Stanfield, do Land Tenure Center e da
ria, realizado na Bahia, entre 20 e 24 de agosto de 1984, sob o Univ. of Wisconsin, foi mais explícito acerca dos resultados
patrocínio do MEAF, do INCRA, do BIRD e do BID ficou obtidos pela intervenção fundiária na América Latina. Após
evidente que há um descompasso na utilização dos instru proportim esquema para o entendimento da diversidade dos
mentos de ação fundiária ao alcance dos devidos órgãos. A projetos afirma:
modernização de seus componentes (controle aerofotogra
métrico, desenhos assistidos por computadores, processos de “O terceiro tipo de programa de titulação é o resul
ortofoto) permite fornecer limites precisos, de maneira rá tante de levantamentos cadastrais e registro das ter
pida, em qualquer litígio. Entretanto, não têm sido utiliza ras. (...) Esses programas normalmente extinguem
dos em áreas de conflito ou mesmo para a demarcação de direitos tradicionais sobre a terra, caso daqueles
territórios indígenas. Com aqueles recursos tecnológicos a oriundos da propriedade comunal ou intrafamiliar
definição dos limites das áreas indígenas torna-se perfeita que são formas de posse que ocorrem em grande nú
mente factível a curtíssimo prazo, sem maiores problemas mero no Caribe e nos Andes.” (Stanfield; 1984) (17)
operacionais relativos às medições e demais trabalhos de
agrimensura. A modernização aludida parece, no entanto, Observa-se que tais programas resultam necessariamente em
estar sendo acionada tão só para efeitos de registro e aper titulação da propriedade individual. Individualiza-se os di
feiçoamento da máquina arrecadadora ou seja de recolhi reitos desorganizando as unidades sustentadas em relações
mento do imposto territorial rural. interfamiliares e no próprio grupo étnico.

A tentação de remeter a "modelos africanos e asiáticos", que A demarcação de áreas indígenas, no caso brasileiro, en
estão sendo igualmente objeto destes instrumentos de ação quanto proposta das agências financeiras internacionais ex
fundiária, está plenamente justificada na ideologia dos ór pressa, entretanto, uma especificidade, dado o acirramento
gãos oficiais e dos organismos financeiros. No que tange ao dos conflitos de terra e indica, pelo menos no que tange aos
controle da venda agrária, com técnicas aperfeiçoadas na grupos indígenas, uma via de "reconciliação" (Lawrance;
Europa Ocidental e que também foram desenvolvidas pelos 1984). Esta significa o reconhecimento formal dos direitos de
colonizadores ingleses na Índia e no Paquistão — que pos posse imemorial dos indígenas. Ainda que o mesmo não pos
suem cadastros dos mais “completos do mundo" (Law sa ser afirmado com respeito aos camponeses pode-se dizer
rance: 1984) — a inspiração parece explícita. que, no momento atual, a proposta é manter as áreas indí
genas precisamente configuradas e apregoar que as formas
Já os recursos de aerofotogrametria foram apresentados pe tradicionais de ocupação "se coadunam com a modernização
los professores da Univ. ofNew South Wales, Austrália, com em curso. As demais experiências aventadas no Simpósio
abundantes referências sobre as experiências no Quênia, na funcionam como elemento contrastante e deixam indagações
Indonésia e nas Filipinas relativas à fotogrametria adequada sobre os possíveis desdobramentos da “regularização fundiá
para o mapeamento cadastral (15). ria" que está sendo implementada, já que os órgãos que
atuam junto aos grupos indígenas não possuem uma unidade
Quanto aos sistemas de direito consuetudinário também de ação (18).
denominados de “formas tradicionais de ocupação", tanto
indígenas, quanto camponesas e que se fundam em regras de Nutrindo o MEAFe, por conseguinte, o INCRA, o GETAT e
usufruto comunal e não necessariamente na privatização do o GEBAM com recursos materiais e técnicas refinadas e com
meio de produção básico; observou-se pelo menos duas posi os resultados de experiências africanas, asiáticas e latino
ções. Quadros especializados daqueles organismos interna americanas com grupos étnicos e camponeses, o Banco Mun
cionais enfatizaram tanto o reconhecimento destas formas dial está favorecendo a formação de quadros com vistas à
em determinadas conjunturas, quanto à sua possível supres estruturação do mercado de terras, emoldurada numa con
&#{}, juntura de repetidos conflitos,

57
s! Z> Acervo
_/\ | @ A INDÍGENAS NO BRASIL/CEDI
IP Percebendo, em certa medida, a fragilidade da garantia da
manutenção de seus territórios certos grupos indígenas tem
Com a demarcação das áreas indígenas e com o ingresso dos se mobilizado encetando movimentos de reapropriação de
imóveis rurais confinantes no mercado nacional de terras partes essenciais de seus domínios que têm sido ilegitima
nada desdiz que as terras indígenas não continuem a ser alvo mente ocupados. Reivindicam a ampliação de áreas já deli
de pressões inassimiláveis. Há uma regularidade histórica mitadas e começam a executar uma autodemarcação (Poty
assinalando que, a despeito das determinações jurídicas, as guara, Kaxinauá, Kulina, Apinayé...). Esta decisão ocorre,
áreas indígenas vêm sendo gradativamente reduzidas. A entretanto, meio a imensas dificuldades, numa correlação de
omissão deliberada, nos argumentos empresariais, de con forças que lhes é inteiramente desfavorável permitindo êxi
.flitos que envolvem a expansão camponesa conduz este exer tos relativos. Com esta mobilização de caráter autodefensivo
cício a uma reflexão sobre medidas que podem levar àquela o chamado “clima de conflito e tensão social” se agrava,
confirmação. Destaca-se as iniciativas de assentamento de assim como aqueles impasses, que segundo a concepção em
colonos adotadas pelos projetos de colonização oficial. Os presarial deveriam ser removidos imediatamente para propi
órgãos governamentais encarregados da regularização fun ciar a definição legal dos domínios que pretendem. O acirra
diária (INCRA, GETAT) parecem propiciar uma expansão mento fica condicionado a decisões que emanem do campo
camponesa para os territórios indígenas. Isto de maneira político,
indireta e segundo os procedimentos seguintes:

a) assentar colonos em áreas limítrofes às reservas indígenas As práticas que desdizem formulações
através de atos sumários de arrecadação (19);
Estas observações são bastante parciais, porquanto traba
b) e não coibir as chamadas “limpezas de área" que os gran lhadas segundo fragmentos de formulações de um segmento
des empresários têm perpetrado ao expulsarem dos imensos específico de empresários e de alguns documentos de organi
domínios que pretendem para seus projetos centenas de mi zações financeiras internacionais, e procuram chamar a
lhares de pequenos produtores agrícolas, usualmente deno atenção para o fato de que nem sempre os apossamentos
minados posseiros. ilegítimos e os atos ilegais é que orientam as ações dos grupos
empresariais interessados na concentração da terra. Deli
Estas famílias camponesas expulsas findam por se deslocar neia-se esboços dê um capítulo da expansão vertical do capi
para outras áreas nas quais se incluem os territórios indí talismo financeiro no campo pela incorporação de novas ex
genas. Ergue-se assim uma espécie de cerca viva, que além de tensões a um mercado de terras formalizado e pela supressão
conter os grupos indígenas em limites determinados, pode das situações de mercado ditas paralelas, informais e de “mi
resultar em estímulo à invasão de seus territórios. Estes são norias étnicas" que não estariam integradas adequadamente
freqüentemente considerados de um lado como possível área aos mercados imobiliários. A partir desta reflexão o artigo
de expansão camponesa e, de outro, como área de pretensão insinua-se como uma crítica a um tipo usual de reformismo
de grandes empresários. teórico que tanto constata, quanto favorece pela aplicação
direta, todos os elementos de adaptação requeridos por tal
Por intermédio deste tipo de intervenção a ação colonizadora expansão. O endosso acrítico da atuação das agências finan
oficial poderia ser aproximada daquela dos empresários, cu ciadoras transnacionais e daquele segmento de empresários,
jos imóveis localizam-se nos confrontantes de áreas indíge sem sequer voltar-se para discernir as contradições internas e
nas. Ambas as situações representam formas acabadas de as subjacentes supressões de “formas tradicionais de ocu
uma estratégia de intrusamento. pação", com a destruição de princípios essenciais acatados
por diferentes etnias encontra-se eivado de funcionalidade,
E mais factível para a frente camponesa e os colonos assen porquanto coextensivo à atuação daqueles.
tados penetrarem em terras indígenas, transformando-as em
suas áreas de expansão do que permanecerem ou penetrarem Sublinhe-se, por outro lado, que apressão destes organismos
em terras pretendidas pelas agropecuárias, mineradoras, transnacionais em composição com entidades empresariais
madeireiras e empresas de colonização particular. Estas pode tornar-se bem-sucedida numa conjuntura de transição
mantêm uma vigilância constante e milícias privadas, con político-institucional, dado que são políticos os obstáculos
tratadas especialmente para assegurar a inviolabilidade dos atualmente erigidos à consecução dos processos de demar
domínios que pretendem. cação. Todavia, frise-se também, que tal posição não pode
ser generalizada para todos os grandes empresários, cujos
Tanto os empresários, quanto os camponeses sabem também imóveis são confinantes ou invadem áreas indígenas. Certa
que a manutenção dos picadões divisores e dos marcos das mente aqueles das regiões de colonização antiga, como os do
reservas indígenas é precária e que é quase impossível à FU município de Pau-Brasil, Bahia, pensam numa outra solu
NAI conservá-los. São sabedores igualmente que não há um ção para os Pataxó; assim como aqueles de Tocantinópolis,
controle rigoroso das invasões dos ocupantes não-índios em Goiás, perpetram uma ação de força contra os Apinayé. A
terras indígenas. Aliás, o único levantamento realizado (20) composição social das forças que propugnam soluções ema
é bastante incompleto e pouco criterioso não autorizando nadas de uma vertente autoritária parece não ser sempre a
aproximações estatísticas ou se avançar no valor sociológico mesma, devendo ser investigada a cada situação particular
das listagens elaboradas. Tudo isto faz com que as terras de conflito que dispõe de maneira distinta as organizações
indígenas sejam percebidas, a despeito da definição legal, financeiras internacionais, empresas mineradoras e agrope
como aquelas mais factíveis de serem invadidas e ocupadas cuaristas versus os denominados "fazendeiros tradicionais",
ilegitimamente. os chamados “posseiros" e os “colonos". A imposição de
uma representação unívoca da terra provoca inúmeros im
passes correlatos que afetam a linearidade dos alinhamen
fOS.

58
Percebe-se, no esforço deste discernimento, que estão sendo ( 8). Cf. Sobre a posição da ABRAMO vide: "Andreazza afirma que nada
lançadas as bases para uma provável redefinição da política há definido sobre os índios. "Jornal do Brasil, Rio da Janeiro, 12/01/
oficial relativa às terras indígenas na qual as normas de in 85, p. 9.
tervenção são repensadas face ao desenvolvimento das regras ( 9) Cf. "IBRAM condena suspensão de decreto sobre lavra nas reservas in
de mercado. Visando sua consecução agências financiadoras dígenas". O Globo. Rio de Janeiro, 12 de janeiro de 1985, p. 17.
internacionais e o segmento empresarial citado parecem es
tar concorrendo com recursos técnicos e materiais para via (10) Cf. José. Brasília, DF, Ano IX, nº420, agosto de 1984.
bilizar as medidas governamentais necessárias. (II) A partir de 1983 o BID concedeu 376 financiamentos para o setor de
Agricultura e Pesca com um montante de US$ 5.548 milhões. Os pro
Mesmo com a ressalva de que elas não são consensuais e jetos beneficiados têm um custo total de US$ 13.820 milhões conside
revelam visões divergentes, entre diferentes segmentos de rando-se as contribuições de outras entidades cofinanciadoras e recur
empresários, cabe enfatizar que, quando se recorre à obser sos dos próprios países-membros. Previram a incorporação de 1,1 mi
vação direta, acompanhando de perto o desenrolar dos con lhões de ha. ao que chamam de “processo produtivo" e melhorias em
14,7 milhões de ha, cf. Informe Anual, 1983. Banco Interamericano
flitos, diluem-se certas distinções. Os diferentes segmentos de Desarrolo. Washington, Febrero, 1984. Apud Villamizar, Fernan
apresentariam práticas similares, que dificilmente podem do — "Financiamento Interamericano dos Programas de Titulação de
ser separáveis ou distinguíveis. Somente em situações limi Terras Rurais”.
Fundiária, agosto Salvador,
de 1984. Simpósio Internacional de Experiência

tes, como talvez no caso Apinayé, os alinhamentos apresen


tam-se menos obscuros. Não deixam, entretanto, entrever
(2) Vide Falloux, François — "Financiamento Internacional para Progra
elementos que assegurem que serão mantidos os resultados mas de Titulação de Terras Rurais". Salvador, Simpósio Internacional
das demarcações propostas evidenciando que, a despeito das de Experiência Fundiária, agosto de 1984. Não se conseguiu obter
prováveis alterações na política oficial, a questão dos confli dados quantitativos relativos à ação do BIRD na área rural no último
&###-
tos em áreas indígenas permanece desenganadamente agra
vada.
(I3) Cf. Barrington Moore Jr. — As origens sociais da ditadura e da demo
cracia — senhores e cãmponeses na construção do mundo moderno.
(1) A elevação dos preços de terras nas regiões de fronteira está associada, Lisboa, Ed. Cosmos, 1975, pp 499-520.
segundo empresários, ao incremento da pecuária de corte, com as co
tações do boi de engorda se elevando acima de 400% no ano; ao plan (14) Apropósito consulte-se Bourdieu, P. e Sayad, A. — Le Déracinement
tio de arroz e soja em áreas antes consideradas próprias tão só para a — La crise de l'agriculture traditionnelle em Algérie. Paris, Minuit,
f964. •

pastagem; ao reaproveitamento dos cerrados; à intensificação da ex


ploração mineral, em particular, no Sudeste do Pará e à "infra-estru (15) Cf. Angus-Leppan, P. V. e Lynn Holstein — “Aerofotogrametria na
tura” que foi sendo montada com rodovias, ferrovias, portos, etc. demarcação e medição de terras rurais e o tuso do processamento de
Para maiores esclarecimentos relativos a esta formulação, consulte-se: dados na titulação”. Salvador, Simp. Inter. de Exp. Fundiária, 22 de
Carvalho, Luiz — “maior procura para colonização, diz Meirelles", agosto, 1984,
in Correio Agropecuário, 12 a 25 de março de 1984, pg. II, seção Mer
cados e Estatísticas; e Carvalho, Murilo — "Valorização causa eufo (16) Cf. Lawrance, Jeremy — “Cadastramento de Terras". Salvador,
ria em Goiás”, in Folha de S. Paulo, SP, 13/08/1984. Simp, Intern. de Exp. Fund., agosto de 1984.

(2) Cf. J. C. de Souza Meirelles — "Ecologia e Desenvolvimento". Folha (17) Cf. Stanfield, David — "Programa de titulação de terras rurais na
de S. Paulo, São Paulo, íºde outubro de 1984. América
A 984. Latina”, Salvador, Simp. Intern, de Exp. Fund., agosto de

(3) Cf. Eliane Lucena — “A origem da usurpação das terras indígenas".


José. Brasília, DF. Ano IX, nº420, agosto de 1984, (I8) Para um aprofundamento leia-se: João Pacheco de Oliveira Filho —
Terras Indígenas no Brasil: uma tentativa de abordagem sociológica.
( 4.) Para um maior aprofundamento leia-se: Almeida, Alfredo Wagner B. Boletim do Museu Nacional, nº 44, Rio de Janeiro, 30 de outubro
de — “Estrutura fundiária e expansão camponesa” — Um estudo so" de # 983.
bre a ação fundiária do GETAT e o desenvolvimento espontâneo do
campesinato na região amazônica sob a influência do Projeto Grande (19) Vídeasseguintes portarias do GETAT:
Carajás. Setembro, 1984, — arrecadação da Gleba Araguaxim, que limita com o Parque Indí
gena Kayapó. Port, nº 04 de 10.66.1980, DOU, Seção I, Brasí
(5) Cf. “Figueiredo reexamina mineração em reservas". Jornal do Brasil. lia, 15.07.80, p. 14171,
Rio deJaneiro, II de janeiro de 1985, p. 9.
— arrecadação da Gleba Mãe Maria, que limita com a AI Gavião,
( 6) “Criador de Nelore acusa multinacional de enganar índios". Estado de Port. nº 119, de 26.01.1981. DOU, Seção I, Brasília, 10.07.81,
Minas. Belo Horizonte, 14 de setembro de 1984. p. 12921,
— arrecadação da Gleba Seringa A, que limita com a Reserva Indí
(7) Cf. "Figueiredo suspende ato que libera área indígena. "O Estado de gena Cateté. Port. nº 55, de 15.04.1982. DOU, Seção I, Brasília,
S. Paulo. São Paulo, 11 dejaneiro de 1985, p. 10. 10.05.1982, p. 8284.

(20) Trata-se das listagens resultado do Convênio nº 069/79 que entre sifi
zeram a FUNAI e a Fundação Projeto Rondon, visando a realização
de levantamento sócio-econônico junto às populações civilizadas, resi
dentes em áreas indígenas. O convênio foi firmado em 16.07.1979 e o
levantamento realizado no decurso de 1981. •
Acervo
| S. A INDIGENAS NO BRASIL/CEDI

Aconteceu na imprensa
antes da chegada do branco, do empre Empresários propõem fundo
OS EMPRESÁRIOS sário, para evitar que o Governo venha a
vender terras em áreas indígenas. Desta O Presidente da AEA, Jeremias Lunar
E AS DEMARCAÇÕES forma seriam evitados também proble delli, disse ontem, após um encontro
mas semelhantes ao que ocorreu no Par com o Presidente da FUNAI, Jurandy
AEA quer dar recursos que Indígena do Xingu, onde toda a área Marcos da Fonseca, que está negocian
para demarcação foi negociada, no final da década de 50, do com a Funai a criação de um fundo de
pelo governo do Estado. Hoje, em conse contribuição de empresários para de
A criação de um fundo financeiro patro qüência da vitória dos Txucarramãe, o marcação das terras indígenas, desde
cinado por empresários, cujas terras fa Governo Federal terá de dispender uma que possam participar do grupo intermi
zem limites com áreas reconhecidamen soma elevada de recursos para indenizar nisterial que determina as demarcações.
te indígenas, para a definição das reser os empresários ali estabelecidos. Lunardelli e Jurandy estão estudando
vas, foi a proposta levada ontem ao diri A proposta do empresário, apresentada propostas para conciliar os interesses
gente da FUNAI, Jurandy Marcos da às administrações anteriores da Funai, dos índios e dos empresários e evitar
Fonseca, pelo presidente da Associação foi muito bem recebida pelo atual pre conflito pela posse da terra. As normas
dos Empresários da Amazônia, Jere sidente: “Se ela realmente beneficiar as que forem aprovadas serão consolidadas
mias Lunardelli. Conforme o empresá comunidades indígenas é muito boa”, em um documento que será divulgado
rio, a classe tem interesse na definiçãodisse Jurandy Fonseca, que pretende ini em dez a 15 dias, segundo o empresário.
das áreas indígenas para que sejam evi ciar um trabalho de pesquisa junto aos No caso das áreas indígenas tituladas,
tados os conflitos. indigenistas para saber como as comuni Lunardelli propõe uma permuta o Go
Em sua proposta, Lunardelli sugeriu dades indígenas reagirão diante desta verno daria ao empresário terras em ou
ainda ao presidente da Funai que, na proposta. (Correio Braziliense, 07/06/ tra região em troca da devolução aos ín
região da Amazônia, a demarcação das 84). dios da área titulada. Os empresários
reservas indígenas obedeça os acidentes sugerem também que o limite das reser
geográficos naturais. Comisso, ficam vi vas indígenas sejam marcados por aci
sualmente determinados o início e tér dentes geográficas, para facilitar a iden
mino da área, dispensando grandes des tificação.
pesas que envolvam, normalmente, os Para Lunardelli, a Funai está “disposta
trabalhos demarcatórios. ao diálogo”, porque, embora este ponto
O empresário salientou que existem ainda não esteja acertado, já vem convi
muitos territórios indígenas para serem dando empresários para as reuniões do
definidos. Esta definição deve ocorrer grupo interministerial que examinam
casos de terras tituladas. (O Globo, 07/
08/84).
< > Ace –

_/ EA

Aconteceu

CONVÊNIO. Nº 28/83, QUE ENTRE SI CELEBRAM A FUNDAÇÃO NACIONAL


DO INDIO – FUNAI E O SUMMER INSTITUTE OF LINGUISTICS – INSTITUTO
LINGUÍSTICO DE VERÃO, NA FORMA ABAIXO:
POLÊMICA:
Aos 21 dias do mês de Dezembro de 1983, a FUNDAÇÃO NACIONAL DO INDIO – FU
O CONVÊNIO
NAI, instituída de conformidade com a Lei nº 5.373, de 05 de dezembro de 1967, com sede e foro
em Brasília-DF, nesse ato representada pelo seu Presidente, Dr. OCTAVIO FERREIRA LIMA e o
SIL/FUNAI
SUMMER INSTITUTE OF LINGUISTICS (Instituto Lingüístico de Verão). SIL (ILV), Sociedade
civil de caráter assistencial e filantrópico, com Estatutos próprios registrados no Cartório de 1º Ofí Parecer da UNICAMP
cio de Registro de Títulos e Documentos de Pessoa Jurídica, sob o nº 672 Livro A/4 em 26.02.70,
com sede e foro em Brasília-DF, neste ato representado pelo seu Diretor Presidente, STEVEN NEIL O Conselho do Departamento de Lin
SHELDON, doravante denominados simplesmente, FUNAI e SIL (ILV), respectivamente, celebram güística do Instituto de Estudos da Lin
o presente convênio mediante as cláusulas e condições seguintes:
guagem da Universidade Estadual de
Campinas apreciou, na sua reunião de
CLÁUSULA PRIMEIRA – Do Objeto 27 de setembro de 1984, o convênio FU
|
NAI/SIL de 21.12.83 (dado ao conheci
O presente convênio tem por objetivo, autorizar ao “SIL" a manter atividades assistenciais
de lingüística; educação, saúde e desenvolvimento comunitário junto aos grupos indígenas abaixo mento dos membros do Departamento
discriminados sob a jurisdição das Delegacias Regionais da FUNAI, nas suas respectivas áreas: somente naquela ocasião) e divulgaram
um parecer, contendo 4 pontos:
13 DELEGACIA REGIONAL:
1º) ao se apresentar, no convênio em
— Grupo Makú-Nadeb, do Rio Uneiuxi
questão, como uma sociedade civil de
— Grupo Sateré, do Rio Andirá
caráter assistencial e filantrópico, “para
23 DELEGACIA REGIONAL manter atividades de lingüística, educa
— Grupo Apalaí, do P.I. Tumucumaque ção, saúde e desenvolvimento comunitá
- Grupo Arara — Frente de Atração Arara rio”, o SIL estaria eludindo suas finali
— Grupo Karipúma, do Rio Curipi
— Grupo Kayabí, do Rio Teles Pires dades evangelizadoras, além de garantir
— Grupo Kayapó, dos PIs Menkranontire, Baú e Kuben Kran Keen uma área de atuação praticamente ilimi
- Grupo Oiampí, do Rio Amapari tada;
— Grupo Palikur, do P.I. Palikúr 2º) A mesma “indefinição” dos termos
- Grupo Yanomami — Parque Yanomami
de outros artigos do convênio, faculta ao
4° DELEGACIA REGIONAL SIL um acesso quase ilimitado a todos os
— Grupo Guaraní, do P.I. Rio das Cobras grupos indígenas em território brasilei
— Grupo Xokléng, do P.I. Ibirama ro, além daqueles discriminados nomi
5° DELEGACIA REGIONAL
nalmente na “Cláusula primeira”;
— Grupo Bakairi, do P.I. Bakairi
3°) Ao facultar ao SIL uma série “ou
— Grupo Kayabi, do P.I. Tatuí tras atividades” de colaboração com a
— Grupo Nambikúara, da Reserva (área indígena) Nambikúara FUNAI (como aparecem discriminadas
— Grupo Parecis, da Reserva (área indígena) Parecis na “Cláusula terceira”), o convênio
— Grupo Rikbaktsa, do Rio Juruena
“desloca para o âmbito de uma institui
6* DELEGACIA REGIONAL ção estrangeira, de caráter "assistencial
— Grupo Canela, do P.I. Canela e filantrópico", atividades cuja realiza
- Grupo Guajajára, do P.I. Angico Torto ção estão caracteristicamente no domí
— Grupo Urubu, do P.I. Canindé nio dos nossos quadros acadêmicos”; e
7? DELEGADA REGIONAL
|49) ao conferir ao SIL poder de arbitrar
— Grupo Xavante, do P.I. Marechal Rondon º sobre o ingresso de determinadas pes
soas nas áreas indígenas (conforme o
8° DELEGACIA REGIONAL
item ida “Cláusula terceira”), estariam
— Grupo Apurinã, do Rio Purus abertos os caminhos para o SIL “inter
— Grupo Jamamadí, do Igarapé Curiá
— Grupo Karitiana, do P.I. Karitiana ferir na metodologia e natureza do tra
— Grupo Múra-Pirahã, do Rio Maici •
balho científico de outros pesquisado
— Grupo Paumarí, do Lago Marranã, Rio Purus res..., assim como a desenvolver con
— Grupo Suruí, do P.I. Sete de Setembro frontos de ordens religiosas”. Como a
— Grupo Tenharim, na Estrada Transamazônica (AM-21), perto do Rio dos Marmelos - FUNAI não dispõe de quadros técnicos
9* DELEGACIA REGIONAL para julgar projetos, o SIL poderia ter
— Grupo Kadiwéu, do P.I. Bodoquena -> # controle sobre a aprovação dos projetos
— Grupo Kaiwá, do P.I., Dourados que envolvam questões indígenas.
— Grupo Terena, do P.I. Cachoeirinha e Taunay A análise resumida acima, levou o Con
11° DELEGACIA REGIONAL selho do Depto. de Lingüística às se
— Grupo Maxacali, do P.I. Maxacali e Pradinho guintes decisões: 1. Manifestar estra
nheza diante deste acordo tanto pelo seu
conteúdo, quanto pelo fato de ter sido
61
Acervo
| <> Povos INDIGENAs No BRASIL/CED
PARQUE INDIGENADO ARAGUAIA – POARA celebrado sem que entidades pesquisa
— Grupo Karajá, da Ilha do Bananal doras brasileiras que trabalham na área
Parágrafo Primeiro — Para fins de confronto do trabalho técnico de lingüística realizado indígena tenham sequer sido consulta
junto aos índios das aldeias citadas, os lingüistas que realizam os estudos poderão visitar outras dos ou informados. A este propósito se
aldeias da mesma área indígena, ria bom lembrar que quando, há poucos
Parágrafo Segundo — Os grupos indígenas não mencionados neste artigo e aonde o SIL já anos atrás, houve rompimento da FU
realizou trabalhos lingüísticos, poderão ser assistidos em conformidade com este Convênio através
de termo aditivo a ser celebrado na ocasião oportuna.
NAI com o SIL também a questão não
Estes Grupos são os seguintes: foi adequada e publicamente discutida,
o que permitiu que agora se tenham
1* DELEGACIA REGIONAL criado situações tão pouco convenientes
— Grupo Atroari, do P.I. Abonari para o desenvolvimento da pesquisa so
— Grupo Hixkaryná, do P.I. Cassaná
— Grupo Makú-Hupda, da Serra dos Porcos bre os índios e para a solução dos pro
— Grupo Makú-Yahup, do Rio Tiquié blemas envolvidos na causa indígena.
— Grupo Mundurukú, do Rio Tapajós Lembre-se, aqui, que outros países
como México e Equador vêm rompendo
23 DELEGACIA REGIONAL
seus convênios com este grupo de mis
— Grupo Asuriní, do P.I. Trocará
sionários. 2. Solicitar das entidades que
3° DELEGACIA REGIONAL trabalham na área das questões indíge
— Grupo Fulniô, do P.I. Águas Belas nas posicionarem-se diante desse convê
4* DELEGACIA REGIONAL
nio, depois de uma discussão clara e pú
— Grupo Kaingáng, do P.I. Rio das Cobras blica sobre o mesmo e sobre a ação do
SIL no Brasil. Seria inclusive o caso de
5° DELEGACIA REGIONAL solicitar que o SIL, que faz este ano 28
— Grupo Borôro, do P.I., Gomes Carneiro anos de ação no Brasil, preste contas de
— Grupo Mamaindê, da Área Indígena Nambikuára
modo público de suas atividades aqui.
6° DELEGACIA REGIONAL ass.: Prof. Dr. Eduardo R. J. Guima
— Grupo Cinta Larga, do P.I. Roosevelt rães, Chefe Adjunto do Departamento
— Grupo Dení, da Cabeceira do Rio Tapauá de Lingüística. (Parecer sobre o Convê
13* DELEGACIA REGIONAL
nio FUNAI/SIL, Campinas, 27/09/84).
— Grupo Kaingang, do P.I. Guarita

PARQUE NACIONALDOXINGÚ Carta da UFBA pede


— Grupo Kamayurá
— Grupo Kuikúro
pronunciamento da ABRALIN
— Grupo Txukarramãe Uma vez informados dos termos do con
— Grupo Waurá
vênio FUNAI/SIL de 21.12.83, profes
— Grupo Kayabí
sores do Instituto de Letras da UFBA
AJUDANCIA DE ARAGUAINA elaboraram um parecer que recebeu a
adesão de 33 colegas e foi encaminhado
— Grupo Apinayé, do P.I. Apinayé ao professor Ataliba Teixeira de Casti
— Grupo Krahô, do P.I. Kraholândia
lho, presidente da Associação Brasileira
Parágrafo Terceiro — Á FUNAI ficará reservada a escolha seletiva de grupos não nomina de Lingüística, solicitando um posicio
dos na presente cláusula, desde que haja condições técnicas e viabilidade operacional para o estudo namento da entidade.
do(s) grupos(s) escolhido(s), Em síntese, o documento critica os ter
mos do convênio por: 1) delegar o dever
CLÁUSULA SEGUNDA – Do Prazo de tutela, que é atribuição legal do Es
tado Brasileiro, a uma instituição es
O presente Convênio terá prazo de duração fixado em 02(dois) anos, a contar da data de sua geira; 2) permitir que uma instituição
assinatura ou publicação em Diário Oficial da União, podendo ser prorrogado conforme interesse confessional assuma o direcionamento
das partes convenientes.
da educação indígena, o que implica
CLÁUSULA TERCEIRA – Do Compromisso da Entidade uma interferência nos padrões culturais
dos diversos grupos indígenas; 3) conce
Compromete-se o SIL, por força deste instrumento a: der ao SIL poderes policialescos que
a) — Prestar aos índios dos grupos mencionados, assistência lingüística e educacional, de
saúde e comunitária; propiciem o arbítrio indiscriminado e a
a 1. — apresentar previamente à FUNAI os planos de trabalho específico, a serem proibição da presença em campo de pes
desenvolvidos em cada aldeia. quisadores que, ao seu critério, possam
b) — Colaborar com a FUNAI nos estudos e pesquisas de outras línguas ou dialetos indí ser taxados de “provocadores de animo
genas falados no território nacional, quando solicitado, e de acordo com a disponibi
lidade de seus técnicos. -
sidade no seio indígena, prejudicial à
c) — Assessorar suas equipes no que se refere a estudos e andamento de projetos de alfa ação da FUNAI” (cf. Cláusula Terceira,
betização bilíngüe, mediante visitas periódicas de consultores e realização de seminá itemi); 4) conceder virtual monopólio da
rios específicos. pesquisa lingüística a instituição estran
d) - Colaborar com a FUNAI, de acordo com a disponibilidade de seus técnicos, nas diver geira sobre cerca de 50% dos grupos in
sas programações que envolvam: dígenas remanescentes (sic) no Brasil;
1) — palestras sobre assuntos lingüísticos;
2) — cursos de indigenismo, e/ou de capacitação lingüística promovidos pela FU 5) dar prioridade a estrangeiros na as
NAI, com a participação de professores solicitados com seis meses de antece sessoria da FUNAI para a programação
dência.

62
e) — Colaborar com a FUNAI em desenvolver juntos, estudos no campo para a alfabetiza da chamada Educação Indígena; e 6)
ção dos grupos indígenas, sempre sob a iniciativa e com a participação dos próprios permitir que estrangeiros com precário
#"#" estudos: domínio do português preparem carti
2) — estimular os grupos a prepararem, eles próprios, livros de leitura, tais como lhas e traduções de textos necessários ao
lendas, mitos e histórias sobre a vivência indígena, nos idiomas específicos processo de literatização das populações
acompanhados da respectiva tradução em português, para serem utilizados indígenas brasileiras. (Salvador, 28/09/
como textos de leitura; 84)
3) — traduzir, para a língua dos grupos, material sobre assuntos considerados de in- +

teresse dos mesmos, como por exemplo, trechos da história do Brasil.


f) – Respeitar a cultura e costumes do índio, evitando a implementação de quaisquer prá
ticas que possam confundir ou desestruturar ou, ainda, despertar conflitos na Comu
nidade Indígena. • +

g) – Evitar qualquer interferência nos assuntos estritamente comunitários e religiosos da O Corpo Deliberativo do Departamento
vida indígena. de Antropologia do Museu Nacional
h) – Prestigiar a ação da FUNAI, junto aos índios, através das autoridades que lhe cum- (RJ), examinou o Convênio FUNAI/
prempermitir
i) – Não as determinações.
o ingresso ou permanência de pessoas, mesmo que membros de entida- SIL, em reunião de 17 de setembro de
* +

des religiosas, que pela exteriorização de suas atitudes possam vir trazer situações que 1984. Na carta enviada dia 18 ao presi
provoquem animosidade no meio indígena e prejudiquem a ação da FUNAI. dente da Funai, assinada por Geralda
j) — Remeter, semestralmente, relatórios das atividades e experiências vivenciadas, de- Seyferth, os antropólogos apontam as
vendo constar de tais relatórios toda a atividade desenvolvida na área, bem como, as sérias implicações negativas dos termos
realizações e beneficiamentos mantidos, . A * +

do convênio, tanto para o desenvolvi


CLÁUSULA QUARTA – Do Compromisso da FUNAI mento de pesquisas e projetos por mem
+ bros de instituições nacionais quanto
Compromete-se a FUNAI, por força deste instrumento, para o correto atendimento às popula
a) – Prestigiar a ação do SIL, no cumprimento de suas obrigações decorrentes da vigência
deste # #
*

ções indígenas.
* + º

b) — Auxiliar o sil no deslocamento de seus técnicos, quando a serviço da missão conjunta. Além de apontar o virtual monopólio
FUNAI/SIL; por parte dos missionários-lingüistas do
c) — """* # " e procedimentos que se façam necessários ao cumprimento SIL em 53 áreas indígenas e outros pri
O prese OrlVEI110;
d) – Autorizar os integrantes relacionados pelo SIL a entrar em áreas indígenas, tendo em vilégios, OS pesquisadores do Museu Na
* 1 * * +

vista a continuidade de atividades lingüísticas interrompidas; cional consideram inaceitável a atribui


e) — Autorizar o deslocamento de índios oportunamente indicados aos centros do SIL, por ção dada ao SIL, pelo Convênio, de pres
períodos curtos, para poderem participar de "###""" # li###ll ". # tar assistência lingüística, educacional,
## #" em realização, sem ônus para a º sºº º Pºººººººººººº" de saúde e comunitária aos índios, clas
f) – Reunir sistematicamente com o SIL com o objetivo de discutir e buscar soluções para sificada como um "subestabelecimento
problemas porventura existentes decorrentes dos estudos e pesquisas realizadas ou em dos deveres de tutela” pela FUNAI.
realização;
g) – Custear despesas decorrentes de tarefas específicas realizadas por aquela entidade por
solicitação do órgão tutor; + P+

h) — Fornecer o SIL as informações que solicitar, desde que não envolvam assuntos consi- FUNAI estuda desativação
derados sigilosos pelo órgão tutor; do convênio
i) – Supervisionar o SIL, tomando conhecimento de suas dificuldades êxitos ou de qual- + * + A - s

quer infração ou inadimplemento ao presente Convênio: A Funai poderá desativar o convênio que
j) Levar o índio a entender o SIL como instituição amiga e que tem por objetivo ajudá-lo vem mantendo desde dezembro do ano
enquanto tal condição for evidente; e finalmente passado com os missionários norte-ame
k) – Cobrar os relatórios semestrais, quando não houver recebido em tempo, a partir do
ricanos do Summer Institute of Linguis
vigésimo dia do semestre subseqüente, e avaliar por escrito os relatórios mandados.
• tics, seguindo orientação de antropólo
CLÁUSULA QUINTA – Da Modificação ou Rescisão gos e indigenistas do órgão que conside
+ ram a presença dos lingüistas protestan
O presente Convênio pºderá SCT alterado a qualquer tempº, de comum acordo cºm as P*** tes nas áreas indígenas uma ameaça aos
convenentes, com vistas à melhoria do cumprimento de seu objeto ou mesmo rescindido, mediante • • •

aviso prévio de qualquer das partes, por inadimplência de qualquer de suas cláusulas, ou ainda, por padrões culturais religiosos dos grupos C

interesse comum dos convenentes poderá, inclusive, ser alterado por Termo Aditivo ao presente. tribais. A informação foi dada pelo pre
sidente da Funai, Nelson Marabuto que
CLÁUSULA SEXTA – Do Foro está analisando os pareceres dos antro
Fica eleito o foro de Brasília-DF, com renúncia de qualquer outro, para dirimir toda e qual- pólogos sobre o Summer, que está atu
quer questão oriunda da execução deste convênio ou dúvida suscitada que não seja passível de so- ando em 18 áreas na Amazônia Legal.
lução entre as partes convenentes, A polêmica em torno da presença do
E, por estarem assim ajustados, firmam o presente Convênio em 06(seis) vias de igual teºrº Summer é antiga, não só no Brasil mas
forma, para um só efeito, na presença das testemunhas abaixo nomeadas e assinada. também em outros países, como o Mé
Brasília-DF, 21 de dezembro de 1983 xico, onde a entidade não mais atua por
determinação do governo. O próprio
assinam: OCTAVIO FERREIRA LIMA presidente do Instituto Interamericano
– Presidente da FUNAI – de Indigenismo, Oscar Orze Quintallina
que esta semana participou, em Brasí
STEVEN NEIL SHELDON lia, do encontro da OEA encara com res
Diretor Presidente SUMMER INSTITUTE trições o trabalho do Summer, afir
OF LINGUISTICS mando que os missionários, embora de
TESTEMUNHAS:
senvolvam um trabalho de lingüística
importante, têm como objetivo final ca
tequizar os índios, traduzindo a Bíblia
para as diversas línguas indígenas.

63
* #%
=A_E^noiceNAs No enas"/ceb
A Funai, até 1977, manteve um convê SIL contesta Marabuto sai material didático com ideologias ex
nio com o Summer, que dispõe, inclu pressas. O material de leitura é elabo
sive, de uma amplainfra-estrutura mon O vice-presidente do Summer Institute rado a partir das lendas e mitos contados
tada em Brasília. Esta cooperação foi of Linguistics, James Wilson, esclareceu pelos povos, e tem como finalidade in
suspensa pelo então presidente da Fu ontem que a entidade não foi expulsa em centivar a leitura”.
nai, general Ismarth de Araújo de Oli 1977 do país, como disse o presidente da Por outro lado, ele disse que o Instituto
veira. O Summer, no entanto, conti Fundanção Nacional do Índio, Nélson tem uma clara motivação cristã, e que se
nuou fazendo gestões junto ao órgão e Marabuto Domingues, ao anunciar a reflete no desejo de traduzir trechos da
conseguiu reativar a colaboração, em sua intenção de denunciar o convênio Bíblia para a língua do grupo tribal. As
dezembro de 1983, durante a adminis firmado com a entidade no ano passado: sim, ele ressalva que “a Bíblia realmente
tração de Otávio Ferreira Lima. O atual “Por falta de um convênio, nossos técni não é um livro da nossa cultura, nem dos
cos não podiam
presidente da Funai, Nelson Marabuto, indígenas”, mais residir nas áreas povos indígenas, mas do meio Oriente,
explicou. •

criticou os termos do convênio, afirman que pertence a todos os povos. O nosso


do que ele dá amplos poderes ao Sum A decisão do então ministro do Interior, objetivo é deixar essas traduções no meio
mer, transferindo, para a entidade, in Rangel Reis, segundo James Wilson, foi dos índios, para que tenham mais uma
clusive, o poder de polícia da Funai nas severamente criticada por antropólogos. opção quanto ao desejo de entenderem a
áreas indígenas. Isto porque o ministro pretendia eman cultura envolvente”,
“O ideal — afirmou Marabuto — é que cipar os povos indígenas de forma muito James Wilson assegurou, contudo, que o
a Funai assuma o trabalho de educação rápida. “Ele não concordava com o nos trabalho do Summer não é eclesiástico.
e assistência nas áreas indígenas, e para so trabalho, com o nosso interesse pela “Não organizamos igrejas e os nossos
tanto precisamos reforçar o nosso depar língua e pela cultura indígena. Os que técnicos não fazem pregações. Este fator
tamento de educação. Aos poucos a Fu querem a integração ou a emancipação nos separa das outras missões, como as
nai quer substituir, o trabalho não só do rapidamente não podem concordar com católicas, que convidam os índios a par
Summer, mas de outras missões religio o nosso trabalho, que é muito lento, Pri ticipar dos seus eventos. Além disso, não
sas de vários credos que atuam junto aos meiro alfabetizamos o índio na sua lín se pode obrigar o índio a fazer nada”.
índios.” Mas em alguns casos, Marabu gua e depois lhe ensinamos o portu Segundo ele, o SIL tem um trabalho pu
to reconhece que o órgão não tem condi guês, como uma segunda língua”, pon ramente técnico, que não visa a implan
ções ainda de substituir o trabalho das derou o vice-presidente do Summer. tação de qualquer igreja ou seita, o que
missões, como é o caso dos índios Xa: Ele disse que o trabalho das missões é lhe permite atuar ao lado de qualquer
vante de São Marcos e Sangradouro e os um esforço positivo na preservação da missão. Ele queixou que desde sua posse
Bororó, de Merure, no Mato Grosso, cultura indígena. Dentre vários objeti Nélson Marabuto não recebeu os repre
que, segundo ele, estão melhor assisti vos, as missões buscam dinamizar o uso sentantes do SIL, embora haja um pe
dos pelas missões do que pela Funai. (O da língua pela própria tribo. “Para nós, dido de audiência, com vistas a conhecer
Liberal, 18/11/84). que somos lingüistas — salientou James mais de perto as atividades desenvolvi
Wilson —, a língua é a alma de um povo. das. (Correio Braziliense, 22/11/84).
Quando o índio é impedido de falar sua
língua, ele começa a perder a sua identi
dade. Por isso, achamos importante a
preservação da identidade tribal, com o
índio lendo e escrevendo na sua língua e
registrando seu pensamento”.
A intenção do presidente da Funai, na
sua opinião, reflete as pressõesfeitas por
antropólogos que sempre criticam a pre
sença de qualquer missão entre os gru
pos tribais. “O problema não vem do
relacionamento entre os índios e as mis
sões”, acrescentou.
Quanto à elaboração de cartilhas, con
tendo trechos da Bíblia como forma de
evangelização dos povos indígenas, con
testada por Nélson Marabuto, James
Wilson disse que o material didático é
sempre revisado pelo órgão tutor. “Da
nossa instituição — garantiu — nunca

64
NOROESTE AMAZONICO
S INDÍGENAS NO BRASIL/CED;

Povos INDiGENAs No BRASIL / C E Di


*-

“X «ariu-º sãº
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.…" S .……/
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GÁRIMPO SERRA
B05 PGREGs

Missão
# *Asi cactiogIRA Bus

º Negro

TERRITÓRIO FEDERAL INDj GENA


ALTO RIO NEGRO (Proposta de re
presentações das, comunidades da
região — Taracud,) Jan. 1985
e 1- NoRoESTE AMAzônico :
NOROESTE AMAZÔNIco 3

QUADRO GERAL DAS POPULAÇÕES INDÍGENAS DA ÁREA NOROESTE AMAZÔNICO


NÇ NÇ DE ALDEIAS OU
POVÃO MAPANO NOME DA ÁREA | MUNICÍPIO NOME DAS ALDEIAS POPULAÇÃO FONTE E DATA

TARIANOS, TUKANOS (L),


PIRATAPUIAS, KUBEOS, #

WANANOS, DESANOS, AI Yauaretê | Yauareté Missão


TUYUKAS, HUP"DE * IAI Taracuá Iyavareté 3.915 |Salesiana: 83
(MAKCS), ARAPAÇO,
CARAPANÃ } 72
TUKANOS, DESANOS,
TÍTI • 1
TUYUKAS, HUP "DE AI Pari té
(MAKUS), BARASANAS, º lcachoeira Yallºtrº= 2.596 | Sucam: 82
*#

BARAS, KARAPANAS,
MTRITEI-TAPUTAS

BANINAS, KURIPAKOS, AI Içana/ S. Gabriel da


NANANOS, KUBEOS 3 Aiari Cachoeira
• 4.737 Sucam: 82
BANINAS, WAREQUENAS 4 AI Içana/Xié |idem 122

AS, D S, AI Cubat 200 84


&#LE idem FUNAI:
TUKANOS 5

KANA-MAKU . 6 dispersos idem 56 Athias: 85

BARÉ 7 dispersos idem 50 Athias: 85

(l) Os nomes Tukanos, Baniwas, Kuripakos e Makus são nomes da língua geral Nheengatu. Se referem a nu
merosos subgrupos que, na realidade, são conhecidos pelos seus próprios nomes.
(*) Estima-se que a população atual da região é de 10 a 15 mil índios, dos quais uns 1.000 moram na
área urbana (São Gabriel e Manaus) e em povoados ao longo do Rio Negro, fora da área indígena.

S?
DiGENAS NO BRASIL/CEDl

FEBRE DO OURO
NO ALTO RIO NEGRO
Garimpeiros invadem a região,
também cobiçada por empresas de mineração.
Os índios estão garimpando e pretendem
“fechar” a área, em benefício próprio.

Gabriel dos Santos Gentil


e

Álvaro Fernandes Sampaio (*)

N> é a primeira vez que as nações indígenas vêm sen


do roubadas, pois nesses dias, com a crise econômica e
2) Em novembro do ano passado os garimpeiros invadiram o
rio Uaupés e descobriram ouro e evidentemente incentiva
política que o ESTADO passa, os mesmos crimes são ram os índios a seguirem o mesmo caminho, o que por outro
bem premeditados. E, graças ao trabalho desenvolvido por desequilibrou a estrutura política de nosso costume. Um dos
nós, da União das Nações Indígenas — UNI e pelas entida grandes problemas que as nossas nações sofreram foi por
des de apoio à nossa luta, e pelo trabalho de organizações falta de preparo para receber esse tipo de civilização, por
internacionais, estamos vendo que muitos líderes indígenas que como já foi dito ali é uma área exclusivamente indígena.
estão aceitando o desafio para sobreviverem como NAÇOES. O que mais nos tem dado preocupações é uma grande inva
são de brancos garimpeiros nos últimos dias e o fluxo tende
Esse desafio é quando as nossas lideranças promovem gran aumentar para violência, ou seja, estamos muito próximos
des reuniões nas comunidades. No caso do Amazonas — os de uma luta armada para defender a nossa terra.
líderes da UNI tomaram posições opostas diante das inten
ções do Governador Gilberto Mestrinho que é totalmente a 3) Nos dias 15, 16, 17, 18, 19 e 20 do corrente ano as lide
favor
genas.
das invasões de empresas mineradoras em áreas indí

ranças do rio Uaupés fizeram uma reunião extraordinária
para analisar sobre todos esses fatos. Convocaram também
com os responsáveis da FUNAI e da Polícia Federal para
Nos dias 04 e 05 de fevereiro do corrente ano, os governadores outra reunião para expulsar um pouco de 200 garimpeiros.
de toda Amazônia e mais os parlamentares formalizaram o 16 deles foram presos e outros foram se retirando gradatiº
documento para o futuro presidente — Dr. Tancredo Neves. vamente e ocorrendo o mesmo no rio Içana. No momento,
Esse documentofoi chamado A Carta da Amazônia, o que no em meio a tanta vigilância dos índios, ainda existem na área
fundo nos significa uma falsidade dos governadores, porque aproximadamente
didos. uns 100 garimpeiros que vivem escon

eles não estão a par de nossa realidade triste quando chegam


em nossas áreas os milhares de garimpeiros. Assim, a dita
carta não traz nenhuma esperança de Paz para as nações 4) Depois de algumas reuniões, sendo a última que foi rea
Indígenas e, isso já é conhecido por nós no Alto Rio Negro: lizada nos dias 02 e 03 de fevereiro do corrente ano, na mis
1) No começo de outubro do ano passado os índios do rio são de Taracuá — no rio Uaupés onde é o centro de nosso
Içana prenderam duas balsas do governador Gilberto Mes território indígena. Alí estiveram presentes os representan
trinho, ambas bem carregadas de instrumentos de garimpo. tes de Pari Cachoeira, Iauareté e Içana e juntos assim deci
Todos os garimpeiros foram barrados e, obviamente assim diram: defender a integridade territorial indígena que é Alto
começou a nossa briga com os brancos depois de um século Rio Negro; acabar a divisão entre as paróquias dos missio
que ficamos calados. Hoje, pelo jeito que o Gilberto Mestri nários salesianos que sempre nos causaram prejuízos na de
nho é sustentado pelas empresas estatais e multinacionais fesa de nossas terras e, enfim, explorar as riquezas tão cobi
conseguiu levar muito dinheiro para recuperar suas balsas. çadas pelos brancos.
Também os índios do rio Uaupés ou Caiari prenderam uma
balsa do mesmo indivíduo no mesmo período e pelo mesmo 5) Depois de 100 anos ou mais de contato com o mundo dos
motivo. Enfim, todas as três balsas se encontram na cidade brancos, isto é, sem contar outros 50 anos de conflitos nas
de São Gabriel da Cachoeira, porque eles pensam que o épocas de expansões espanholas e portuguesas em nossas
Tancredo lhes favorecerá a entrada novamente, o que para derras, foi preciso reiniciar novas negociações de estilos tra
nós é pelo contrário — eles não entrarão. dicionais. Nos últimos dias, segundo as necessidades de di
nheiro, os parentes que estavam longe de suas famílias —

(*) Gabriel é vice-presidente da Associação da União das Comunidades


Indígenas do Rio Tiquié (AUCIRT) e Álvaro faz parte da coordenação
Regional Sul da UNI. Ambos são Tukano.

68
s! Z_Acervo
–/\{ 1 SA NOROESTE AMAZÔNICO 5

Baniwa, garimpando
no Rio Içana.

|$

* … " * *

de Bogotá e Manaus — começaram regressar para seus seios


familiares. Eles voltaram com princípios de defender e ex
plorar a terra. Os garimpos existentes na área são: Tunui,
São Joaquim, Serra dos Porcos e a Serra de Traira.

6) No momento o maior garimpo está na Serra do Traira,


no rio Uaupés onde estão 2000 homens e, calcula-se dentro
de poucos meses teremos uns seis mil homens. Essa situação
é muito triste, porque as nossas famílias ficam cada vez
mais dependentes dos brancos. Nas aldeias ficam somente
as mulheres e crianças. Garimpo a vida é dura, não tem
comida e longe de qualquer segurança. A necessidade de
ganhar dinheiro é uma coisa tão difícil de ser controlada,
porque, na verdade como já dissemos não existe lucro. Hoje
entra no rio Uaupés a corrida muito grande de barcos dos
brancos, por exemplo, três ou quatro, entre 20 voadeiras
com motores de popa, e sem contar com as canoas dos ín
dios que se destinam para Serra de Traira. Fica meio difícil
a gente dizer como andam as coisas no rio Içana, porque a
região é tão grande e difícil de ser controlada.

7) Os índios do rio Uaupés, não sabendo como se defender


diante de tanta agressão capitalista resolveram abrir crédito
no Banco do Brasil, porém existe uma diferença muito gran
de se comparando com os grandes comerciantes. A cota de
34 milhões de cruzeiros não cabe a tantas famílias. Os ín
dios não dispõem de força suficiente para combater os inva
sores, por isso, tiveram que recrutar nova turma de mili 8) Quem engorda com a produção dos índios são os bran
tares índios para guarnecer a entrada dos brancos. Os nove cos, porque têm as facilidades de negociar junto ao governo
guardas não têm mínima segurança diante dos garimpeiros estadual que os incentiva criar tensões nas comunidades in
que portam armas em grandes quantidades por serem mui dígenas. E bom a gente frizar que, o governador Gilberto
tos. Os índios, na verdade, estão de guerra e se encontram Mestrinho quando vê tanta riqueza nas terras indígenas até
no povoado que chama Itapenima. Por sua vez os barcos se auto-denomina como “filho de índio” Parintintin. Por
dos brancos levam as bebidas alcoólicas, bolacha, redes, e isso, esse governador não quer aceitar a nossa proposta,
todos os gêneros de primeira necessidade para uma família. porque ele quer tomar as Serras de Traíra e Tunui, e sem
O pior não é isso, é que esses barcos levam os garimpeiros contar com outras áreas, como por exemplo, nas terras dos
brancos que não tem mínimo de educação e são atrevidos e Yanomami onde nos dias de carnaval um dos com …dantes
se demonstram muita selvageria quando se discutem com os da Polícia Militar desse governador e juntamente com ou
indios. Por isso, a vida de guardas é muito arriscada. Por tros, todos para-militares, invadiram e cortaram os meios
outro lado, existem outros querendo ser militares, isto é, os de comunicação no posto da FUNAI.
índios para defender a nossa terra. Também, para quem é
dirigente indígena se torna cada vez a gente se arriscar per
der a vida. Não há dúvida de que a guarnição pode aumen
tar mais, porque é o que exige o movimento naquela região.
sL7-Acervo
_/\ Evº MDICENAs No BRasil/cED

DEMARCAÇÃO URGENTE
* #=

Enquanto a região contínua


sendo invadida por garimpeiros,
a demarcação pretendida pelos índios
só recebe promessas da FUNAI

Renato Athias (*)

ào Gabriel da Cachoeira está prestes a viver o clima E praticamente impossível saber exatamente quantas pes
S? euforia e confusão dos anos 74/75, quando a popu
lação da então pacata cidade do Alto Rio Negro tripli
soas se encontravam no garimpo da Serra do Traíra, ao
longo de 1984. Em S. Gabriel, fala-se em milhares, incluin
cou num piscar de olhos. do os próprios Tukano que estão se dedicando à garimpa
gern.
Desta vez não se trata da construção de uma estrada, mas
de ouro. São milhares, talvez um pouco menos ou mais, não No garimpo do Panãpanã, segundo fontes de São Gabriel,
se sabe ao certo, os garimpeiros que estão chegando em há menos ouro do que no Traíra. Os garimpeiros vêm de
busca da Serra do Traira (nas cabeceiras do Rio Curicu outras partes do país e já se encontra, na boca do Rio Içana,
riari) e do Panāpanã (no Alto Içana), locais que estão den uma grande balsa (Canutama) da Mineradora Gold Ama
tro de áreas indígenas. Eles vêm de outras partes do país, zon, de propriedade do governo do Estado do Amazonas
mas também moradores de S. Gabriel estão partindo atrás (Gilberto Mestrinho, PMDB), aguardando autorização para
de riqueza. Até mesmo os trabalhadores do BEC (Batalhão entrar em operação, mobilizando a mão-de-obra barata dos
de Engenharia e Construção), encarregados da construção Baniwa e outros grupos indígenas da região. Será o mais
da estrada que liga S. Gabriel a Cucuí, estão abandonando novo “patrão”, no velho esquema de exploração extrativa
seus postos e partindo para os garimpos. implantado no Rio Negro, há pelo menos dois séculos.

Essa corrida, deixa de lado um outro debate político: a mu


dança de prefeito. São Gabriel, como outros tantos municí A demarcação em primeiro plano
pios brasileiros, deixou de ser "área de segurança nacio
nal". O poder local está em disputa eleitoral e, enquanto Os povos indígenas da bacia do Uaupés também vivem seus
muitos vão garimpar ouro, alguns ficaram garimpando o momentos de crise e divisão interna. A FUNAI, como ou
poder. Mas nenhuma das facções em disputa deixará de tras instituições que atuam na área, sabem se aproveitar
lado os benefícios do ouro que os garimpeiros do Traíra po desta divisão em detrimento dos próprios índios, como pode
derão trazer ao município, ser demonstrado pelas sucessivas protelações da demarca
ção das terras. Delimitadas desde 1979, a demarcação das
A descoberta de ouro no Traíra remonta ao ano de 1983, éreas indígenas da região têm sido cobradas da FUNAI so
pelos índios Tukano. O grito foi dado. A notícia se espa bretudo pelos Tukano de Pari-Cachoeira.
lhou. O garimpo do Traíra, diferentemente do de Panã
panã (Rio Içana), tem muitas vias de acesso. A Serra do Já os povos indígenas da área de Yauareté estiveram mais
Traíra, tem mais de 70 km" de extensão e, ao seu redor, mobilizados em 84 pela implantação de um novo município,
existem nascentes de vários rios e igarapés, os quais, em desligado de S. Gabriel, acreditando que isso traria novos
determinadas épocas do ano, são completamente navegá empregos e ajuda econômica da União.
veis, facilitando a entrada de embarcações, mesmo sem o
consentimento dos Tukano e Makú, ou mesmo da inope
rante Ajudância do Rio Negro/FUNAI. Refiro-me aos iga (*) antropólogo, está elaborando tese de doutoramento sobre os Maku e
rapés Castanho, Samaúma e Ira (afluentes do Rio Tiquie); e é bolsista do CNPq,
aos rios Curicuriari, Marié (afluentes do Negro) e o Traíra
(afluente do Japurá).

70
NOROESTE AMAZÔNICO 7

Mas uma decisão do STF (novembro/34) anulou a criação Quanto ao garimpo, os próprios índios passaram a incre
de 27 novos municípios do estado do Amazonas e os índios mentar sua presença diretamente nas atividades de produ
habitantes de Yauareté passaram a buscar no ouro da Serra ção e outras formas de controle para barrar a crescente en
do Traíra uma fonte de recursos. trada dos não-índios (ver na seção de notícias, adiante).

A grande discussão no final de 84, entre os vários povos Mas o ouro e outros minerais que existem na região são co
indígenas da região, era para saber a quem pertencia o ga biçados também por uma série de empresas de mineração,
rimpo. que se mobilizam nos corredores das repartições em Brasília
para garantir o acesso legalizado das atividades de pesquisa
Pela regra vigente localmente há muito tempo, é conside e lavra (ver relação dessas empresas na seção de notícias,
rado "dono da terra” o grupo que ali chegou primeiro. No adiante).
caso da Serra do Traíra, desde a migração Tukano/Desana
do Rio Papuri ao Tiquié ela “pertencia” aos Tukano de Ta
F{}{'{if}.
Colonização
Ainda segundo regras tradicionais, as terras vão sendo divi O governo estadual tem outro plano que afetará o território
didas pelos pioneiros com os grupos que ali vão chegando. dos povos indígenas do Noroeste Amazônico: trata-se da
Asso está sendo feito agora na Serra do Traíra, entre os Tu colonização que se pretende fazer ao longo da estrada S.
Itano da bacia do Uaupés. Gabriel-Cucuí,

Mas em relação aos "brancos”, como fazer? Tanto as lide Diante de tantas pressões que dificultam o controle do ter
renças indígenas de Pari-Cachoeira, como as de Taracuá, ritório pelos próprios povos indígenas, uma centelha de es
comunicaram à ajudância da FUNAI em S. Gabriel da in perança desponta nas reuniões locais que os índios estão
vasão de não-índios na região do garimpo. Mas o chefe da realizando para equacionar uma estratégia de enfrenta
ajudância alegou nada poderfazer sem a ajuda da PF. En }#1e/2#O.
quanto isso, passaram-se meses e a Serra do Traíra sendo
invadida por um fluxo de garimpeiros não índios incontro
lável pelos índios. Numa tentativa de solucionar o proble
ma, as lideranças indígenas das três áreas da bacia do Uau
pés se reuniram em Taracuá, nos dias 1 e 2 de janeiro de 85.

A luta pela demarcação das terras, de acordo com um mapa


elaborado na ocasião (ver o mapa no início desta separata),
foi colocada em primeiro plano. Representantes deste en
contro foram a Brasília falar com o presidente da FUNAI.

71
S INDÍGENAS NO BRASIL/CEDI

No dia 24 de dezembro de 1984, o povo solicitamos que os senhores faça força e


do Rio Tiquié se reuniu no salão da Co insista perante o Ministério do Interior,
munidade, em Pari Cachoeira e sob a porque precisamos dessa demarcação de
Censo Escolar (1984) coordenação de Luis Gomes Lana, ele nossa terra o que significa a nossa ga
geu a nova diretoria da Associação da rantia e nossa preservação. Queremos
Segundo relatório da Diocese de São Ga União da Comunidade Indígena do Rio ser livres de qualquer empecilho ex
briel da Cachoeira, as escolas salesianas Tiquié: Afonso Machado, presidente; terno. Por que é que outras reservas fo
registraram, em 1984: Gabriel dos Santos Gentil, vice-presi ram demarcadas e nossa ainda não? So
501 alunos internos dente; Conrado Brandão Serra, secretá mos povos que quer garantia e liberdade
120 cursaram o 2º Grau (Magistério) rio e Henrique Vaz, tesoureiro. para o nosso desenvolvimento intelec
1.125 de 5° a 8º série do 1º Grau tual, social e comercial, acompanhado
1.571 de 13 a 4° série do 1º Grau de nossa estrutura e tempo.”
3.002 de 1° a 4° série nas Escolas Dis Pedimos e solicitamos aos Senhores que
tritais publique esta mensagem e divulge na
183 alunos cursaram o Curso de Inte vossa edição “ACONTECEU”.
gração Não havendo mais a tratar, aproveita
366 o de Alfabetização mos o ensejo a dar os nossos protestos de
399 o Pré-Escolar estima e consideração.
113 o Projeto Casulo Pari-Cachoeira, 12 de dezembro de 1984
6.879 total Atenciosamente:
Estão funcionando 128 Escolas Distri Da: Comunidade de Pari-Cachoeira (Lo
tais, 288 salas estão ocupadas e 330 pro cal Pari-Cachoeira) Henrique Castro
fessores lecionando. Ao: Centro Ecumênico de Documenta Capitão da Vila de Pari-Cachoeira.
Para pagar os ordenados dos professores ção e Informação.
dos Centros de Barcelos, Santa Isabel,
São Gabriel, Taracuá, Pari-Cachoeira e Estamos enviando aos Senhores Agentes Taracuá, 02 de janeiro de 1985.
Marauiá, existe um Convênio com o Go da Editora ACONTECEU algumas
verno Estadual. Os pagamentos são re mensagens a serem publicadas. Das: Comunidades Indígenas do Alto
gulares e as carteiras de trabalho assi Desde o ano de 1970 pelejamos enviar Rio Negro.
nadas. documentos à FUNAI e o MI Ministério
Nas Escolas Distritais, cujos professores do Interior mas fomos negados. Aos: Exmo. Sr. Presidente da República
são quase todos do mesmo grupo lin Sobre isso temos algum ponto a citar Ilmo. Sr. Ministro do Interior.
güístico da tribo, o pagamento, que não veja a seguir: Ilmo. Sr. Presidente da FUNAI.
chega ao salário mínimo, custa a sair e “Quanto a nossa negada e renegada
as carteiras de trabalho não são assina questão de demarcação de terras que Exmos. Srs.:
das. anda a menos que os passos de lesma da
Ainda segundo o relatório da Diocese, as indecisão das autoridades responsáveis; No dia 1º de Janeiro de 1985, no Distrito
Escolas Distritais foram abertas para di Ministério do Interior, Fundação Na de Taracuá — Alto Rio Negro reuniram
minuir o número de alunos internos, o cional do Índio, órgãos diretamente li se as várias nações indígenas que se se
que não pode ser feito totalmente por gados ao assunto. guem: Tucanos, Deçanos, Piratapuias,
que nelas, os índios só podem cursar até "Por isso voltamos a insistir com veemên Banyuas, Macus, Arapaços, Miriti-Ta
a 4.° série. “Os melhores alunos, termi cia e vexame. Pois já decorreu tempo de puias, Tarlanos, Baraçanos, Wananas,
nada a 4° série, poderão continuar seus mais após o nosso pedido e a apresen Cubéus, Tuiucas, Carapanãs e Juritis,
estudos no internato ou externatos em tação da demarcação. para discutirem assuntos referentes aos
seis centros.” (Cf. Relatório da Diocese Pois com a descoberta de ouro da Serra interesses das Comunidades daquela re
de S. Gabriel da Cachoeira, 14/08/84). do Traira a qual faz parte da nossa terra g1a0.
conforme consta no nosso mapa! Esta
região está ameaçada de invasores bran
cos e proliferação de gente de todas as
espécies, sem escrúpulos e sem senti
mentos de coração, gente cheia de ga
nância e de cobiça, pelos quais são dis
postos a qualquer barbaridade. Por isso

72
s! Z_ Acervo
_/\ | <> A NOROESTE AMAZÔNICO 9

Como resultado desta reunião, dentre Esperamos que V. Excias. acatem nos
outros assuntos, decidimos englobar as sas idéias, dêem oportunidade de mos
áreas das Nações acima citadas em uma trar o que somos capazes de fazer, reco
só, formando assim um único Território nhecendo as necessidades básicas dos Garimpeiros serão retirados
Indígena que seria composto pelas se nossos povos, para que venham a colher
guintes áreas atuais: Iauareté, Pari-Ca aqui em nossas terras, os frutos do tra O delegado regional da Funai, Kazuto
choeira, Taracuá Uaupés, Içana Aiari, balho de um povo que nunca teve uma Kawamoto, estará seguindo hoje em
Içana-Chié, Rio Cubate, no intuito de voz ao encontro dos nossos interesses. companhia de agentes da PF, para o alto
unidos encontrarmos mais facilmente 1 — Fundar a Capital do Território In rio Negro. A missão é retirar os invasores
soluções para nossos problemas. Por dígena do Alto Rio Negro. das áreas indígenas, ou mais precisa
tanto, vimos através deste, solicitar à V. 2 — Criar no Território Indígena uma mente, os garimpeiros, que retornaram.
Excia., a criação do Território Federal Superintendência da Receita Federal, Kazuto explicou que recebeu novas de
Indígena do Alto Rio Negro — Amazo uma Agência do Banco do Brasil e Caixa núncias de que os garimpeiros voltaram
nas, conforme nossa explanação acima e Econômica Federal, estimulando em a invadir o rio Içana, no rio Negro, área
Planta em anexo, baseados nos Artigos préstimos e venda direta do produtor ao pertencente aos indígenas. Desde que
26— Parágrafo Único e Artigo 30 da Lei consumidor sem intermediários. foi anunciada a descoberta de ouro, no
6.001 de 19 de Abril de 1973, visto que, 3 — Criar fiscalização do Conselho Na rio Negro, são constantes as invasões das
somos mais de 15.816 (Quinze Mil Oito cional de Marinha Mercante através de áreas dos índios residentes na região.
centos e Dezesseis) habitantes indígenas indígenas trabalhadores. (Notícias Populares, 14/04/84).
formando mais de 99% da população 4 — O Governo Federal, junto com a
daquela localidade e ali habitando há Petrobrás, autorizar a compra de petró
mais de 6.000 anos. leo na fronteira, localidade Cucuí à Ve Uma das maiores
Para tal criação citaremos algumas su nezuela. reservas-de nióbio
gestões: 5 — Abrir os garimpos no Território
Artigo 65 do Decreto do Presidente Gar Indígena somente para os indígenas. Foi descoberta uma nova reserva de mi
rastazu Médici em 1973. Em vez de criar 6 — Instalar energia elétrica ou hidro nério de nióbio na Amazônia, amplian
os Territórios Indígenas, permitiram elétrica. do as reservas brasileiras de 4,576 bi
criar um novo Município em IAUARE 7 — Maior proteção ao acervo cultural lhões de toneladas (equivalentes a 95,4%
TE, para onde poderão colocar os seus indígena. das reservas mundiais) para 7,473 bi
protegidos para ganhar dinheiro na no 8 — Autorizar o ensinobilíngüe ou seja lhões de t de minério bruto. Essa nova
va Prefeitura. Além disso o Governo ao o ensino através da Língua Indígena, reserva, situada no município de São
criar o novo Município nas Terras Indí além da Língua Nacional. Gabriel da Cachoeira, foi avaliada em
genas, nem indenizou e nem vai indeni 9 — Criar mais escolas de 19 e 2° Grau 2,897 bilhões de toneladas, com um teor
zar os antigos moradores e donos de ter com ensino profissionalizante e assistên médio de 2,81% de pirocloro. O projeto,
ra, os indígenas. Isso é um novo tipo de cia direta aos alunos de remédios, mate denominado Uapes, aguarda novos in
invasão para tomar a nossa terra, orga rial escolar, fardamento e merenda esco vestimentos da CPRM, tendo recebido
nizada pelo Governo do Estado do Ama lar sendo entregue diretamente ao índio. no ano passado recursos da ordem de
zonas através do ITERAM (Instituto de 10 — Criar uma Universidade Federal Cr$ 146,9 milhões para a continuidade
Terras do Amazonas) instituído pelo no Território. da pesquisa — 7,1% do orçamento
Decreto Lei Nº 1335, aos 13 de Julho de 11 — Funcionamento de uma repre anual da empresa, avaliado em Cr$2,071
1979. Sentimos, o governo não tem di sentação da COBAL para abastecer as bilhões. (Rev. Minérios-Extração e Pro
nheiro? O governo é quem manda rou áreas. cessamento, junho 84).
bar e invadir nossas terras. Se criar o 12 — O Governo, antes de abrir estra
novo Município Iauareté, o Prefeito vai das como a BR-210, Perimetral Norte,
fazer loteamento da terra, vai exigir os deve consultar os indígenas ou dirigen Empresas de mineração
impostos caros e se os indígenas não pa tes do Território Federal. interessadas no Rio Negro
garem, corta-os e perdem a terra. Se in Somos a população indígena que forma
dígenas invadirem sem permissão do a fronteira do Brasil com a Colômbia, e Segundo relação fornecida pelo DNPM,
branco, o indígena vai ser preso, com já faz muito tempo que estamos espe as seguintes empresas de mineração têm
isso, os indígenas não poderão ir caçar rando a demarcação das nossas terras interesses em andamento na região do
no mato e nem pescar no seu rio com que teria que ser realizada pelo Minis Rio Negro:
tranqüilidade. Aí os indígenas perdem tério do Interior, ao qual pertence a FU CRPM, com onze alvarás e um requeri
de verdade a sua autonomia e quem vai NAI, conforme mento de pesquisa, na Serra do Padre,
ser dono é o Prefeito e os brancos ricos. Sem mais para o momento, apresenta Serra do Aracá e no Alto Rio Iá;
Mas vai tornar-se piada: Nós os indíge mos-lhes protestos de alta estima e con Edgar Rohnelt Mineração Ltda., com
nas os donos da terra, irmos comprando sideração. treze requerimentos e um alvará de pes
a terra da Prefeitura! Isto é injustiça quisa, para a Serra Tunuí e Rio Içana;
diante dos direitos humanos. Cordialmente. Ernesto Medeiros de Moraes, três alva
Outra reivindicação a ser feita é que nos (assinam vários representantes indíge rás de pesquisa e um requerimento, to
concedam eleição direta para os cargos nas da região de Taracuá, Pari-Cachoei dos na bacia do Rio Cauaburi;
representativos da FUNAI ou seja desde ra e Iauarete.) Francisco Plinio Valério Tomaz, com
Presidentes até Delegados e que sejam cinco requerimentos de pesquisa para a
lideranças indígenas preferencialmente, Serra do Curicuriari;
e também que seja a FUNAI, alienada
do Ministério do Interior e ligada direta
mente à Presidência da República.
*
—/\ #
| #NDIGENAs no enas ucro
Guido Magalhães Arantes, cinco reque A operação, que começou no último dia Guerra biológica
rimentos de pesquisa para o Rio Içana; 20 de setembro e que se estende até de contra o epadu
Mineração Itacua Ltda., com 22 autori zembro próximo, foi desempenhada, até
zações de pesquisa para as Cabeceiras agora com recursos da ordem de Cr$ 300 O Brasil será o primeiro país do mundo a
do Rio Demini e Serra do Curicuriari; e milhões provenientes do fundo contra fazer uma guerra biológica contra as
N. J. Scalabrin Firma Individual, com entorpecentes do governo norte-ameri plantações de ipadu (coca) e maconha,
20 requerimentos de pesquisa para o Rio cano. O secretário do Ministério da Jus segundo informou o presidente do Con
Içana, Serra do Caparro e Serra do Tu tiça, Arthur Pereira de Castilho, está fen, Arthur Pereira de Castilho, que ini
fllll. tentando obter mais recursos da União ciou ontem com a Embrapa os primeiros
As áreas pretendidas por esse conjunto para esta finalidade e caso o governo acertos para a construção de um centro
de empresas somam 673.889 ha. brasileiro não reparasse a verba em cur onde especialistas em engenharia gené
to espaço de tempo, a operação será in tica desenvolverão fungos e bactérias
terrompida. destruidores de folhas de coca e canna
Nesta primeira fase da operação Frede bis-sativa (maconha).
rico, a PF indiciou cerca de 3 mil e 500 A iniciativa, de acordo com o Confen,
donos de plantações de coca ou epadu, justifica-se: o Brasil detém hoje uma
Operação contra o epadu na sua grande maioria, caboclos. Mui área plantada de ipadu capaz de superar
tas tribos indígenas, entre as quais, Tu a produção da Bolívia e Peru juntos. O
O Confen está estudando a realização de cano e Macu, que antes colhiam a planta trabalho de erradicação, entretanto, é
mais uma gigantesca investida, nos mol nativa no meio da mata para os seus ri lento e caro: os agentes federais são obri
des da Operação Pantanal, para erradi tuais religiosos, estão cultivando em gados a se embrenhar em plena selva,
car da região fronteiriça da Amazônia grande escala para vender aos trafican contraindo, muitas vezes, malária e ou
com a Colômbia as plantações do epadu tes e donos de laboratório de processa tras doenças contagiosas da região. To
— utilizando no processamento da pasta mento de cocaína. da a operação, que inclui a queimada de
base da cocaína. Como os índios não podem ser indicia ipadu de até sete metros de altura, de
O Secretário da Justiça e Presidente do dos, a operação Frederico leva em todas mora dias, permitindo o deslocamento
Confen, Artur Castilho Neto, explicou as suas buscas, dois funcionários da Fu dos traficantes em aeroportos clandesti
que a Operação Epadu, que provavel naipara conversarem com os líderes das nos no meio da mata.
mente começará em março próximo será aldeias. O quilo da folha do epadu ou A guerra biológica consistiria na cria
o ponto principal dos trabalhos que o (eritroxylum coca nova granatense) é ção, em laboratório, de fungo, vírus e
Brasil exibirá no Plenário da VIII Reu vendida pelo caboclo ou índio ao trafi bactérias que ao longo do tempo dizima
nião do Comitê de Entorpecentes da cante, por Cr$ 500, segundo informação riam todas as espécies de coca e maco
ONU, de 6 a 10 de fevereiro, em Viena, da divisão de entorpecentes. nha sem, no entanto, atingir outras
Áustria. O diretor da divisão, que coordena a plantas nativas e a agricultura. Um mé
Nesta semana, o Presidente do Confen operação, Hugo Povoa, informou que todo, conforme Castilho, “eficaz e não
pretende encaminhar ao Ministro da durante as buscas e destruição das plan poluente”, ao contrário de outros países
Justiça, Ibrahim Abi-Ackel, uma expo tações, foram descobertos quatro cam — como México e Colômbia — que pul
sição de motivos demonstrando a neces pos de pouso clandestinos e houve con verizam plantações com o herbicida
sidade de erradicação da vasta planta fronto da polícia com plantadores, em “paraquat”, cujos efeitos são malignos
ção de epadu, na região amazônica. Se bora sem mortes ou ferimentos graves. para o homem e acabam prejudicando
gundo ele, se isso não acontecer, em bre Ele disse, porém, que os agentes estão plantações de alimentos. (ESP, 20/12/
ve o Brasil poderá ostentar o infeliz tí contando com a colaboração de vários 84).
tulo de o maior produtor de cocaína do moradores das localidades dessas plan
mundo. (O Globo, 15/01/84). tações e de tribos indígenas que hoje cul
tivam a coca em grande escala.
Muitas informações são obtidas pelos
Mais plantações de coca moradores e até plantadores que não fa
destruídas zem idéia dos malefícios e implicações
do cultivo da coca e por tribos indígenas
Nos últimos vinte dias, a operação Fre que hoje plantam por que são obrigados
derico (composta por agentes da PF) e até escravizados pelos traficantes. De
destruiu 82 grandes plantações de coca acordo com informações da divisão de
na região amazônica, perfazendo um to entorpecentes, muitos índios se queixam
tal de 6 milhões 171 mil 807 pés dessa dos maltratos dos traficantes.
planta, da qual se extrai a cocaína. A in A equipe da operação também conta
formação foi prestada ontem pela Divi com médicos e enfermeiros. Eles consul
são de Repressão a Entorpecentes do tam, levam remédios e a população
Dep. da PF. agradecida, muitas vezes aponta pes
soas envolvidas. Como alguns tribos e
pequenas comunidades vivem hoje na
região amazônica da plantação de epa
du e mandioca, a Funai está preparando
um projeto para incentivar outras cultu
ras que substituiriam a de coca.
(O Liberal, 11/10/84).

74
|

-
|-

Taurepang

RORAIMA |

75
sL7-Acervo
__/ E ºs INDÍGENAs No BRASIL/cED
POVOS INDIGENAS NO BRASIL/CED

RMANDIA

Sºs
RAR COER # BONFIM

URARA COER

RAIMUNDÃO
(O

76
RORAIMA || 3

QUADRO GERAL Dos Povos INDÍGENAS DA ÁREA RORAIMA (I)


POVO "…" NOME DA ÁREA MNICÍPIO * #|POPULAÇÃO FONTE E DATA
INGARIKÓ l sem providência 13 459 -k

TAUREPANG (1) 2 cºlºnia Agrícola


Indigena Sao Marcos
Boa Vista …
em aldeias mistas
#
80

3 AT Ananas Boa Vista 90

4 AI Aningal Alto Alegre L15


5 AI Cajueiro Boa Vista 108

6 AH Ouro |Boa Vista {35

7 AI Sta. Inês Boa Vista 100

8 AT Sucuba Boa Vista 130


MAKUXI (2) 22 AI Mangueira Alto Alegre 433

24 AI Araçã/Amajari Boa Vista 222

23 AI Ponta da Serra BCà Vista 165

81 kºk 9 - 636

em aldeias mistas 1.433

cidades e fazendas 2.000


L4.497 (T)
9 AI Manoá-Pium Bonfim 230

/WAPIXANA 23. AL Boqueirão Alto Alegre 413


#E AI Bom JeSUS Bonfim 3}.

|3 789
10 À I Truaru Boa Vista 122

ll AI Arita Boa Vista |102

12 AI Serra da Moça Boa Vista 380


13 AI Taba Lascada Bonfim L70

l4 AI Malacacheta EÇnfim 280

15 Al Canauanim Bonfim 230

16 AI Barata/Livramento Boa Vista 367

17 AT. Piura/Uraricoera Boa Vista 158


WAPIXANA 18 AI Jacarnin Bonfim 2O5

19 AI Moscou (Recanto da Bonfim 130

Saudade)
20 AI Jaboti BOrlfim 76

8 (3) 865

em aldeias mistas 695


cidades e fazendas 700
4.480 (T)
MAKUXI/NAPIXANA/
TAUREPANG (aldeia l 155
mista)
(*) levantamento realizado em 1983 por Amodio (coordenador) , Pira, Miranda, Winters, Cardoso, Secchi, Dal

Ben, membros da Equipe de Pastoral Indigenista da Diocese de Roraima.


(**) Dessas 81 áreas, foram identificadas em 82: AI Raimundão, no Município de Alto Alegre; em 84: AI Raposa,
Município Normandia; AI Surumu, Município Boa Vista e AT Xununuetamu, Município Normandia.
(1) 8.000 na Venezuela (Vilda: 78) e -100 na Guiana (Butt: 65)
(2) 6.000 na Guiana (Pe. Connors: 82)
(3) algumas dessas aldeias estão localizadas nos municípios de Bonfim e Alto Alegre. Todas as demais aldei
as do quadro estão localizadas no Município de Boa Vista.

77
–/ #
* <\/A, INDÍGENAS NO BRASIL/CEDI

ASSEMBLÉIA DE TUXÃUAS
DO LAVRADO
Mais de cem Hideranças
Makuxi, Wapixana, Taurepang e outras
se reunem para avaliar suas
lutas e encaminham reivindicações

Alcida Rita Ramos e


Marco Antonio Lazarin (*)

H á dez anos vêm sendo realizadas reuniões anuais de


lideranças indígenas na região do lavrado em Rorai
A dinâmica da reunião

ma. Elas têm lugar na Missão de Surumu mantida Os trabalhos foram iniciados no dia 7 de manhã, tendo como
pela Ordem da Consolata sob a égide da Diocese de Rorai membros da mesa Clovis Wápixana, Jaci Macuxi e o cate
ma. Segundo o bispo da Diocese, D. Aldo Moggiani, desde quista Anísio, também Macuxi. Começaram com uma ora
1977 o caráter desses encontros têm mudado, passando de ção e leitura da Bíblia, seguidas de um discurso em Macuxi,
simples reuniões grupais promovidas pela Igreja, a eventos depois em Wapixana; a seguir houve a apresentação dos pre
de cunho cada vez mais político e reivindicatório. Também sentes por região e afiliação grupal, na seguinte ordem: re
a última, realizada de 7 a 9 de janeiro de 1985, destacou-se gião da Serra, com cerca de 50 tuxáuas e secretários; região
por uma postura e linguagem próprias do movimento indí do Taiano, com sete, de Normandia com seis, de Surumu
gena atual, ainda que abordando problemas específicos à com aproximadamente 25; do Amajari com seis; Yanomami
região do lavrado e, secundariamente, à situação dos Yano (três), Mundurucu (dois), Apurinã (um), Krenak (um), Tu
mami da floresta. Enquanto anteriormente famílias inteiras kano (um) e todos os representantes de entidades não índias.
compareciam à reunião, por insistência dos religiosos, mu Foram formados sete grupos de trabalho: Surumu, Taiano,
lheres e crianças ficam agora excluídas do encontro. região da Serra, Raposa, Amajari, Serra da Lua, e um grupo
de observadores formado por índios não pertencentes à re
Participaram da reunião cerca de 150 pessoas, principal gião do lavrado.
mente representantes de seis nações: Macuxi, Wapixana,
Taurepang, Yanomami, Mundurucu e Apurinã, além dos Todos os grupos de trabalho seguiram a pauta previamente
representantes da UNI, Ailton Krenak e Alvaro Tukano, preparada, constando dos seguintes itens:
Dentre os observadores não índios estiveram presentes,
além do bispo de Roraima, vários padres e seminaristas da Dia 7 — Apresentação — por Regiões
Consolata, representantes da FUNAI, do CIMI/Porantim — Em seguida grupos para discutir sobre as conclu
de Brasília, do CIMI Norte I, do GTME (Grupo de Traba sões da última reunião; 8Pontos;
lho Missionário Evangélico), da CCPY, da ABA e da IWGIA Iº — Os conselhos devem visitar e orientar todas as co
(International Work Group for Indigenous Affairs), da Di munidades, favorecendo o trabalho juntos e resol
namarca, nas pessoas de Tereza Aparício e René Fuerst, vendo unidos todos os problemas, que aparecerem,
convidados especiais da UNI. inclusive indo na FUNAI quando é necessário.
2° — Proibir a entrada de bebida alcoólica e nunca to
Os recursos para a sua realização, traduzidos em alimen mar para ser o primeiro a dar o exemplo.
tação e transporte, foram supridos pela missão: um cami 3º — Lutar para que saia a demarcação das terras, insis
nhão da Consolata transportou a maioria dos participantes tindo junto às autoridades: não abrir mão disso.
vindos de Boa Vista e ao longo da estrada para Surumu, e as — Explicar para que todos saibam os limites certos
refeições foram preparadas porfreiras e alunos indígenas de das terras indígenas.
ambos os sexos, destacados de suas férias do internato para — Ocupar as terras com retiros, roças, plantações e
essa tarefa. Algumas lideranças indígenas também contri não deixar construir novas casas, cercas ou currais.
buíram com pequena parte da alimentação. — Aceitar só as terras que nós pedimos e não aquelas
que as autoridades querem demarcar.

(*) Alcida Ramos é antropóloga e professora na UNB, Marco Lazarin tam


bém é antropólogo, fazendo doutoramento na UNB. Ambos estiveram
presentes à Assembléia de tuxáuas, em Surumu e escreveram este texto
por solicitação da equipe de edição de Aconteceu.

78
RORAIMA | 5

Terêncio Makuxi,
na Assembléia de Surumú.

4º — Cuidar dos projetos de gado para que aumente o milhões de hectares, incluindo a região de Raposa. A maioria
rebanho. dos Macuxi que aí vivem é favorável a essa proposta. Entre
— Aumentar o número dos projetos de gado. tanto, o grupo liderado pelo tuxaua Odilon não aderiu a ela,
— Organizarroças comunitárias e individuais. defendendo, ao invés, a demarcação de sua área específica.
— Os tuxáuas da Serra não aceitam roças mecaniza A proposta de área contínua foi encaminhada à 10º DR, em
das. Boa Vista, porém, dado o impasse entre os índios, o processo
— Roças mecanizadas devem ser cuidadas só depois não foi adiante. Esta informação vem da representante da
de terroças particulares e depende da comunidade FUNAI, Maria Guiomar de Melo. Segundo depoimentos de
se está em condições de aceitar o projeto. índios, de padres e da representante da FUNAI, Odilon teria
5º — Participar todos os domingos ao culto e apoiar os tido a promessa do ex-governador Otomar..., de demarcar as
catequistas. terras de Raposa, se for novamente governador, ou por no
6º — O professor da maloca deve ser índio e possivel meação, ou por eleições diretas, caso Roraima seja trans
mente da mesma maloca. Ele deve ensinar a língua formado em estado. Nas eleições municipais de 16 de dezem
e a cultura indígena. - bro, Odilon foi eleito vereador pelo PDS.
— O Tuxáua controla o andamento da escola.
7º — Planejar os trabalhos nos garimpos; enviar quatro Na área do Taiano foi demarcada em dezembro a área da
pessoas de cada comunidade. Com este produto Serra da Moça e em breve o será também a de Boqueirão. São
comprar gado e fazendas de propriedade das co pequenas e descontínuas. Por outro lado, a maloca do Barata
munidades e coordenadas pelos Conselhos. continua sofrendo atos de agressão praticados pelo fazen
8º — A política foi boa ou ruim — uniu ou atrapalhou deiro Epitácio Andrade Lucena, desde 1981. Em junho de
a comunidade? 1983, este fazendeiro mandou dois homens à maloca do Ba
Dia 8 — Continuação do dia anterior. rata para intimidar os índios (só havia mulheres em casa na
Dia 9 — INTERNATO SURUMU, Casa de hospedagem ocasião) a desocupar duas casas, pois Epitácio voltaria para
em Boa Vista, Centro de formação de Líderes. Ex derrubá-las. Os índios, cientes da notícia, colocaram pedras
posição pelo Pe. Sérgio S. Weber. na estrada como sinal ao fazendeiro para não avançar. Uma
semana depois, dois agentes da polícia civil e nove soldados
da PM, de posse de uma ordem do juiz prenderam o tuxáua
A luta pela demarcação Alcides Teixeira, seu pai e um tio, depois de aquele haver
dado conhecimento dos fatos à FUNAI. Ficaram detidos
e outras dificuldades
onze dias, até que um advogado da FUNAI chegou de Bra
Os resultados de cada grupo foram apresentados em plenária sília para soltá-los. Este relato é do próprio Alcides. Segundo
na tarde do segundo dia. Destacam-se aí os seguintes pontos: um funcionário da 10° DR, o juiz justificou a ordem de pri
são, alegando que, preso, estaria melhor protegido do fa
1) A preocupação com a demarcação das terras, numa re zendeiro e seus capangas!
gião onde é endêmica a invasão de fazendeiros. Os tuxáuas
presentes concordaram em que as demarcações devem ser
feitas em áreas contínuas, sem deixar corredores abertos à
penetração de fazendeiros. As regiões mais problemáticas no
momento são as de Normandia e do Taiano. A primeira,
compreendendo várias malocas, no meio das quais está a
fazenda melhor organizada do Território de Roraima, é ob
jeto de proposta para demarcação de área contínua de dois

79
da Assembléia,
organiza o
garimpo indígena
em Maturuca.

Um dos grupos
de trabalho,
durante a
Assembléia
|- - : de Surumú.

Em novembro, com uns poucos homens presentes na malo problemas das suas malocas através de 17 conselhos comuni
ca, um agente da justiça e seis PM voltaram para queimar as tários. O marcante em sua recente trajetória tem sido, sem
duas casas, desabrigando onze pessoas. Essas casas estavam dúvida, o trabalho garimpeiro. Se, para muitos grupos indí
na rota de expansão de Epitácio, que pretende alargar sua genas, ocorrências minerais são uma ameaça real de perda
fazenda em direção leste. Já ocupa dez mil hectares da área de território, epidemias e outros males — o caso dos Yano
indígena, segundo Alcides. Para isso, ele e os PM voltaram mami do Apiaú hoje é dos mais gritantes —, o mesmo não se
no dia seguinte à queima das casas para instalar uma cerca. dá com os Macuxi da Serra. Até 1977 os Macuxi daquela
A ação conjunta dos índios, maciçamente presentes, exi região submetiam-se ao controle de quatro intermediários
gindo ver uma ordem do juiz que permitisse a instalação da que sobre-exploravam seu trabalho em garimpos localizados
cerca, conseguiu sustar o fazendeiro. no próprio território Macuxi. Essa situação inverteu-se
quando os conselhos comunitários Macuxi, em especial o da
A FUNAI entrou com processojudiciário contra o fazendeiro maloca de Maturuca, criaram cantinas para fornecimento de
em Brasília (nem Alcides nem os funcionários da 10° DR mercadorias e comercialização do ouro e diamante. Simul
souberam dizer em que instância se encontra o processo) e taneamente, impediram a entrada de garimpeiros brancos e
indenizou os índios em dois milhões de cruzeiros. Como me a venda de cachaça em algumas cantinas. As cantinas, que
dida de segurança, recomendou-lhes depositar o dinheiro em funcionam nos moldes de uma cooperativa, têm sido, sob a
caderneta depoupança, já que não poderia garantir proteção liderança dos tuxauas, as principais responsáveis pelo suces
aos índios contra novos atos de violência do fazendeiro, caso so da exploração de garimpos do alto Maú, do alto Cotingo e
as barracas fossem reconstruídas. Por sua vez, Epitácio, cujo do alto Kinu, três regiões das serras próximas à fronteira com
filho é promotor em Roraima, entrou com outra ação para a Venezuela. Para os regionais os missionários da Consolata
proibir a demarcação da área. (em especial o Pe. Jorge Dal Ben, trabalhando com os Ma
cuxi desde 1969)seriam os “culpados "pelos bons resultados
Além de Epitácio, existem na área dez posseiros, beneficia das cantinas e dos garimpos dos Macuxi da Serra. Todavia, é
dos com lotes do INCRA, os quais, no entanto, concordaram ao crescente senso comunitário que se deve debitar tal su
em assinar um termo de compromisso aceitando indeniza cesso. Nos garimpos usam bateias, caixas de lavagem de mi
ção, quando a área indígena for demarcada. A maloca do nério e até mesmo um escafandro para a busca de diamantes.
Barata foi delimitada em 1981-82. Quando há necessidade de os homens se ausentarem por
algum tempo de suas malocas, os que permanecem se res
Enquanto isso, na região do Amajari, cujas terras estão de ponsabilizam por suas famílias. O saldo do minério garim
marcadas, as invasões de fazendeiros continuam, proibindo pado, após a comercialização direta com comerciantes de
os índios de pescar, fazer roças ou construir malocas. confiança em Boa Vista, é revertido para os interesses da
comunidade. Em oito meses de trabalho em 1984, os Macuxi
2) O desenrolar da reunião dos tuxauas demonstrou clara compraram 40 reses, e hoje o trabalho com gado intercala-se
mente a necessidade de as comunidades se articularem em com as atividades de roça. Quanto a estas, os Macuxi man
busca da autonomia econômica. Exemplo maior foi apresen têm a posição generalizada entre os índios de que roças me
tado pelos Macuxi da Serra que têm procurado resolver os canizadas só criam problemas, seja pela desestruturação na
divisão de trabalho comunitário, seja pelo endividamento
que a mecanização fatalmente acarreta.
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|- } ………

3) A atuação dos conselhos de comunidades deixou a desejar pretendem induzir o bispo de Roraima a transformar a Mis
em praticamente todas asseis regiões, com exceção da Serra. são de Surumu em “centro de formação de líderes indíge
A principal razão apontada para isso foi a falta de apoio dos nas". Esta concepção de liderança parece, pois, estar ligada
tuxauas, cujo papel de articuladores não foi desempenhado à noção de especialização e/ou profissionalização, talvez re
satisfatoriamente. velando uma tendência à elitização no processo político in
terno das comunidades.
4) Foi dada muita ênfase ao problema do alcoolismo. Todas
ao regiões insistiram na necessidade de se banir o uso de be 6) Quanto à participação dos índios na política regional,
bidas alcoólicas nas comunidades. Os discursos mais infla vários representantes declararam-se contrários a ela, por não
mados giraram em torno desse tema. Porém, uma observa entenderem, nem quererem entender de política partidária.
ção mais detida da questão indica: a) que a atitude ostensi Outros afirmaram que a campanha política para as eleições
vamente antibebida alcoólica harmoniza-se muito bem com municipais de dezembro causou transtornos às comunida
o contexto eclesiástico em que têm lugar as reuniões anuais, e des, provocando divisões, bebedeiras e desunião.
b) que o álcool é uma espécie de bode expiatório conveniente
para os fracassos que as comunidades experimentam em seus Mesmo assim, houve sete candidatos indígenas a vereador
projetos econômicos, tais como a manutenção de cantinas. (pelo PMDB, PDS e PTB), dos quais dois foram eleitos: o
Macuxi Odilon (PDS) da maloca de Raposa, e o Wapixana
5) Os representantes das seis regiões foram unânimes em Alcides (PTB) da maloca do Barata.
afirmar a insuficiência do sistema educacional a que estão
sujeitos. Reclamam que a maioria dos professores não fala a Não faltaram manobras políticas envolvendo líderes indíge
língua indígena, nem tem interesse em manter a cultura tra nas. Na maloca do Barata, o governo confiscou o caminhão
dicional, mesmo sendo eles próprios Macuxi ou Wapixana. da comunidade em represália à candidatura de Alcides pelo
Os tuxauas declararam não querer professores brancos, e PTB. Para recuperar o caminhão o segundo tuxáua candi
vários afirmaram que os professores devem ser filhos das co datou-se pelo PDS. Perdeu, mas foi convidado a administrar
munidades onde lecionam. a Colônia do Taiano, núcleo composto também de regionais
não índios. Alegando compromissos com a própria comuni
Foi levantado o problema da evasão de jovens que, educados dade, recusou.
até o fim do 2º grau, preferem ir para a cidade, abando
nando seus parentes. Foifortemente questionada a validade Por sua vez, o Macuxi Odilon teve sua campanha apoiada
de uma educação mais prolongada que, muitas vezes, resulta pelo ex-governador Otomar..., que, como já vimos, prome
na perda de membros para as comunidades. Segundo a re teu-lhe demarcar as terras da Raposa.
presentante (aliás, uma índia Xerente) de Amajari, o sistema
de internato da Missão de Surumu, que educa jovens até a 8° O envolvimento de índios na política eleitoral do Território é
série, “não tem trazido benefícios; ao contrário, sempre per visto com desconfiança por parte dos próprios índios e com
demos um filho”. Os índios presentes na reunião declara franco desagrado pela maioria dos padres da Consolata. Es
ram-se favoráveis a um sistema de capacitação de adultos, tes, gradativamente perdendo terreno na gestão dos destinos
com treinamento em marcenaria, enfermagem, catecismo,
veterinária, etc., vendo nesse treinamento uma maneira de
operacionalizar o conhecimento adquirido em escolas, em
benefício direto e imediato das comunidades. Para tanto,

81
*_ /> Acervo
–/ | S.A INDÍGENAS NO BRASIL/CED]

dos índios, têm, por outro lado, sofrido o crescente antago fundos necessários para manter os dois hospitais em funcio
nismo dos fazendeiros. Suas relações com o Estado (Secre namento. Contra essa proposta, outros tuxauas como Alci
taria de Saúde, de Educação, FUNAI) vêm esfriando na des e Clovis, ambos Wapixana, argumentaram que não ca
medida em que recebem desses órgãos cada vez menos recur bia aos índios financiar a cura de doenças causadas pelos
sos para manter suas escolas e hospitais. Manifestação con brancos. Foi proposta de Alcides, corroborada enfaticamen
creta disso tem sido o fechamento de vários prédios, como o te por Ailton Krenak, que os tuxauas se organizassem e, em
hospital N. S. de Fátima em Boa Vista, o próprio prédio grupo, fossem pressionar o governo do Território e a FUNAI
sede da Prelazia, atualmente alugado à Secretaria de Edu para liberar as verbas devidas e necessárias à manutenção
cação e o iminente fechamento dos hospitais de Taiano e Su dos hospitais.
}"######.

Na última seção planetária, por volta das 22 horas do dia 9.


.Sobre estes dois hospitais, houve longo debate na reunião de foi aprovada e coletivamente assinada uma carta ao Presi
tuxauas. Jaci, o tuxaua Macuxi de Maturuca, chegou a su dente Tancredo Neves contendo as principais reivindicações
gerir que as próprias comunidades indígenas fornecessem os dos povos indígenas do lavrado representados nessa reunião
em Surumu.

CARTA DOS TUXÃUAS AO PRESIDENTE


Surumu, 9 de janeiro de 1985 5. Exigimos a criação do Parque Ya Assinam os tuxáuas: Arnaldo Silva de
nomami com a retirada dos garimpei Souza, Hilário Lima, Rafael Candido
ros que lá se encontram. da Silva, Dermano Silva dos Santos,
Exmo. Sr. Antonio Farias, Evaristo das Chagas
Tancredo Neves Questão de Saúde: Barbosa, Cristóvão da Silva, Braz
Presidente da República Gomes Pereira, Manoel Guilherme
O abandono a que fomos lançados de Souza, Inocencio Laureano, Nar
tem nos custado a vida de centenas de ciso Boaventura, João Batista de Oli
Senhor Presidente, membros de nossas comunidades, veira, Manoel Paulo Lopes, Manuel
sendo que agora temos a ameaça de Silva dos Santos, José Lima de Agui
fechamento dos hospitais da Missão ar, Bento Adelino Peres, Salomão
Nós Tuxáuas e lideranças das comu Consolata que até esta época nos têm Batista Marques, Altair Dias Ferrei
nidades indígenas do Território Fe assistido. ra, Agrícola Pacheco, Gregório Her
deral de Roraima, reunidos em nossa nandes, Silvério Isidoro Messias,
Assembléia Geral e Anual, debate Questão de Educação: Aderaldo Demétrio da Costa, Bento
mos juntos os assuntos que passamos Laredo da Silva, Joaquim da Silva,
a seu conhecimento. A garantia de escolas e formação a Carlos Antonio Sevino, Liberalino
que temos direito e sabemos ser obri dos Santos Ribeiro, Terêncio Luis Sil
Questão da Terra: gação da Fundação Nacional do In va, Melquíades Peres Neto, Alcides
dio, FUNAI, e da Secretaria da Edu Constantino, Constâncio Constanti
1. Representamos aprçximadamen cação, não nos é dada. no, Floriano da Silva, Bento Alfredo
te aproximadamente 40% da popu Necessitamos de atendimento e de re da Silva, João de Souza, Luiz Ro
lação deste Território e queremos que cursos para que nossos filhos tenham mualdo da Silva, Antonio Trajano,
isso seja levado em consideração por garantido este direito. Pedro Alcides Pereira, Albertino Ra
seu governo, quando for definido al São os seguintes os povos indígenas mos, Juscelino Joaquim Marques,
gum projeto para este Território, que habitam o Território de Roraima: Bento Padrinho, Orlando Pereira,
2. Temos contra nós a ação continua João Batista, Afonso José Anfriso,
dos parlamentares Mozarildo Caval Waiwai Jonsso Clementino, Raimundo Alves,
canti e João Batista Fagundes que Yanomami Armando José de Souza, Domingo
vêm insistindo na entrada de minera Wapixana Batista, Clovis Ambrosio, Geraldo
doras em nossas áreas. Macuxi Delfonso Silva, Eurico Inácio, Luis
3. Exigimos a demarcação das nos Taurepang Henrique, Damaceno Augustinho,
sas áreas indígenas deste Território Maiongong Luciano Batista, Célio Joaquim Mar
com a retirada dos invasores como Ingaricó ques, Anselmo A. Silva, Ansélio A.
condição indispensável para a sobre Ixcariana Silva, Damasceno Alves, Lucas Ro
vivência de nosso povo. Katuena drigues, Aquilino Rodrigues Mes
4. Exigimos a criação e demarcação Mauyayana quita, Anísio Militão, Alcides Tei
de uma área contínua que atenda às Karatayana xeira, Davi Xiriamá Yanomami, Julio
condições de sobrevivência das comu José de Souza, Cícero Benício Lino
nidades Macuxi que habitam a região Souza, Neusa Urbieta S. Sakamãe,
entre os rios Surumu, Tacutu e Maú, Esperando contar com toda a sua Lino da Silva, Hilário Lima, Jorge
com limites ao norte na fronteira com atenção, subscrevemo-nos, Afonso de Souza, Valdemar Militão
a Venezuela. Muito respeitosamente, Fidelis e Gabriel Joaquim Guariba.

82
RORAIMA | 9

Liderados pelo pecuarista Jair Alves dos Tuxauas denunciam invasão


Reis, um dos maiores criadores de gado
da região do Cotingo, onde possui diver Reunidos na maloca Perdiz, os Tuxauas,
Padre ameaçado de morte sas fazendas, os pecuaristas se mostra conselheiros das comunidades indígenas
vam revoltados com a atitude da FUNAI do território federal de Roraima, redigi
O secretário do CIMI e a CNBB Regio e do INCRA, informaram que esta se ram documentos denunciando invasão
nal Norte I estão denunciando políticos, mana uma equipe composta por funcio de suas terras e reservas por fazendeiros.
fazendeiros e garimpeiros do Território nários da FUNAI e do INCRA esteve na Revelam ainda que os fazendeiros estão
de Roraima de ameaçarem de morte o região fazendo “um levantamento com utilizando a polícia para prender os indí
padre Lírio Girardi, da Paróquia de pleto das propriedades, sem o consenti genas, ao mesmo tempo em que amea
Normandia. A informação chegou aos mento dos proprietários”, deixando re çam exterminar um rebanho bovino que
veículos de comunicações locais através voltados os criadores e causando um cli foi doado pela diocese daquele territó
de “nota de solidariedade” distribuídas ma tenso em toda a região. Disseram rio.
pelo CIMI e CNBB protestando contra a eles que não foram consultados e que As constantes invasões estão sendo con
atitude dos agressores e pedindo provi não sabiam dos objetivos do levanta cretizadas porque as reservas indígenas
dências das autoridades de segurança do mento. Além disso, informaram que do território ainda não foram demarca
país. esses órgãos, que deveriam primar pela das. Isso não leva somente à penetração
A nota afirma que o padre Lírio Girardi obediência às leis, respeitando a pro de fazendeiros, mas, também, de em
vem sofrendo as mais duras persegui priedade alheia, fazem exatamente o presas de mineração, como é o caso de
ções nos últimos dias, a mando de fa contrário, estando, por isso, enquadra Codesaima, CRPM e garimpeiros, que
zendeiros, garimpeiros e políticos regio dos no crime de “turbação de posse”. Os em troca do minério que retiram do solo
nalistas, “que buscam por todos os fazendeiros denunciaram, ainda, as deixam doenças e bebidas alcoólicas
meios obstaculizar a ação da Igreja jun ameaças feitas pelos funcionários da “com o único objetivo de matar os ín
to às nações indígenas daquele Territó FUNAI, de que os proprietários pode dios” diz mais o documento. (Notícias
rio. “E o caso do deputado João Batista riam ter suas terras confiscadas e distri Populares, 09/10/84).
Fagundes, do PDS, que vem articulando buídas aos indígenas que vivem nas ma
uma campanha difamatória contra os locas das redondezas.
padres e o bispo daquela Diocese em Segundo o delegado regional da FUNAI Nota dos Tuxauas
benefício de grupos mineradores”, afir Ubiratã Tupinambá da Costa, através
ma a nota. de uma Portaria da Presidência da FU Na maloca do Perdiz, de 19 a 4 de ou
Em resposta às agressões, segundo a no NAI, a 10° DR deverá realizar um com tubro, 25tuxauas e mais 13 membros do
ta, a Igreja de Roraima reunida em As pleto e minucioso levantamento antro “Conselho Regional Indígena” da re
sembléia Geral aprovou uma Nota de pológico e fundiário de todas as proprie gião das Serras, além de outros líderes,
Protesto, esclarecendo a opinião pública dades existentes na região compreendi se reuniram para debater as principais
sobre os acontecimentos; também foi ce da entre a Maloca da Raposa e a Serra dificuldades. Ao final do encontro, le
lebrada uma missa presidida por D. Al do Sol, no Município de Normandia e vantaram os seguintes problemas gra
do Mongeano, com a participação de parte do Município de Boa Vista, con Ves, em uma nota.
centenas de pessoas. (Comércio, 27/07/ tando com o apoio do INCRA, na parte “19 — A nossa área indígena ainda não
84). fundiária. foi demarcada. Através de não serem de
Sobre a denúncia de invasão das pro marcadas vêm os invasores. Os fazen
priedades dos fazendeiros pela equipe deiros não deixam fazer suas roças, não
Pecuaristas acusam a FUNAI da FUNAI, o titular da 10° DR afirmou deixam fazer seus retiros, queimando
que “o que acontece é que a equipe che seus barracos que estão fazendo para os
Um grupo de pecuaristas da região do ga nas fazendas e não encontra o pro retiros, prendendo os tuxáuas, tentando
Cotingo deslocou-se para Boa Vista, na prietário, então estabelece o contato comprar malocas, levando a polícia para
última quinta-feira, para denunciar a com o vaqueiro, que não impede a en as malocas ou querendo expulsar o gado
invasão de suas propriedades por parte trada, e inicia o trabalho”. Disse, ainda que foi recebido do projeto da Diocese
da FUNAI e do INCRA à Cooperativa que esse serviço de levantamento antro que o índio recebeu. Através desse pro
Mista dos Pecuaristas de Boa Vista, com pológico, por parte da FUNAI, e fundiá jeto os fazendeiros estão ameaçando os
a finalidade de solicitar providências ur rio, pelo INCRA, deverá ser feito em to padres, como aconteceu com o Pe. Lírio
gentes junto às autoridades locais. da a região, pois somente assim se pode e o Pe. Jorge.
rá dar subsídios ao Departamento do
Patrimônio Indígena da FUNAI, no es
tudo da área a ser demarcada, porém, a
decisão final caberá ao MEAF. (O Ro
raima, 04/08/84).
s! Z_Acervo
_/\ >> A NDÍGENAS NO BRASIL/CEDI

Um dia que os fazendeiros chegar a Para isso não temos uma lei nº 6.001/ desse nível não protege os direitos con
expular o nosso gado recebido do projeto 12/73, o Estatuto do Índio, para não in sagrados dos índios, informou fonte da
da Diocese, nós vamos fazer o mesmo ventar mais outra lei, a nossa leitem que FUNAI.
serviço com o gado deles. ser respeitada em todo Brasil”, (Poran Antônio Anunciação rejeitou o recurso
29 — Assunto: invasão dos garimpei tim, Dezembro/84). do advogado da FUNAI, que alegou ter
ros como firmas Codesaima, CPRM, e tomado conhecimento da decisão so
outros maquinários acabando a nossa mente no dia 25 de outubro, embora a
mineração, através de nossas áreas não Ordem do Juiz sentença tenha sido publicada no Diário
está demarcada, cada vez mais entrando derrubar as casas Oficial local dia 22 daquele mês. O de
muitos garimpeiros, trazendo muita be fensor do órgão tutelar solicitou que o
bida alcoólica só para destruir a comuni Colocar abaixo as casas dos índios Ma cumprimento da sentença fosse adiado
dade. O preço da compra de mineração cuxi, na Aldeia da Barata, região de até a próxima segunda-feira para que o
é muito explorado. Taiano — Roraima — foi a ordem dada caso fosse acompanhado pelo Procura
Então nós muito preocupados em estas. pelo Juiz de Direito, Antônio Anuncia dor-Geral da FUNAI, Irineu de Olivei
coisas nocivas para as nossas comunida-: ção Ferreira Neto, ao acatar o pedido de ra, o que foi negado.
des, esperando uma ajuda das autorida manutenção de posse impetrado em Na fase de instrução processual o juiz já
des como: governadores, deputados, 1981 pelo posseiro Epitácio Andrade havia tomado essa decisão. Como os ín
mas pelo contrário, os deputados de Ro Lucena e outros contra os silvícolas. Es dios se negaram eles próprios a derruba
raima vem fazendo projeto de lei como: ta é a primeira vez na história do indi rem suas casas, ontem ele mandou um
lei nº 4.147 de 1984, feito pelo deputado genismo brasileiro que uma autoridade destacamento da PM acompanhado de
Mozarildo Cavalcanti, na Câmara dos um Oficial de Justiça para executarem a
Deputados. sentença. A PF, apesar de solicitada,
Com isso, nós índios de Roraima, fica negou-se a participar do ato. (Jornal de
mos muito sentido e por isso nós não Brasília, 10/11/84).
aceitamos esse projeto de lei.
sL7-Acervo
–/ { | <> A

Yanomami

RORAIMA ||

85
INDÍGENAS NO BRASIL/CED!

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86
RORAIMA || 3

QUADRO GERAL DOS POVOS INDÍGENAS DA ÁREA RORAIMA II

NOME DA NQ DE ALDEIAS OU
POVO
ÁREA MUNICÍPIO POPULAÇÃO FONTE E DATA
NOME DAS ALDEIAS

WATWAI (1) AT Waiwai |Boa Vista l 172 MeVa: 83

Novo Airão,
WAIMIRI-TI Waimiri, Itapiranga, Pres:
ATROART |Atroari Figueiredo, 7 400 FUNAI: 84
Moura (AM),
Caracarai (RR)
S. Gabriel da
Cachoeira, Santa
Izabel do Rio

Parque Negro,
#" inais…
YANOMANI *P* Barcelos (AM
(AM), 150 = 9.000 copy: 84
Yanomami Caracaraí, ?>

Boa Vista,
Alto Alegre e

Mucajaí (RR)
YEKUANA dentro da
(MAION- área do PI 3 125 CCPY: 84
GONG) Yanomami

(*) Este total aproximado inclui os Yanomami arredios (aproximadamente 2.000) e só


foi possível pela compilação de recenseamentos feitos. Pºr várias entidades (ME
V,MNTB,Missão Salesiana, Diocese de RR e CCPY) entre 1981 e 1984.
(l) 80 na Guiana ( MEVA: 83);ver também na Área Amapá/Norte do Pará:
(2) 8.500, aproximadamente ,na Venezuela (CCPY:84) .

87
|_Acervo
| EA !NDÍGENAS NO BRASIL/CEDI

GARIMPEIROS E
MINERADORAS
DISPUTAM SURUCUCUS
Recrudesce a violência
na disputa pelo
acesso ao território Yanomami.
E o Parque?

Cláudia Andujar (*)

P~ primeira vez, os Yanomami no Brasil levantam a


voz e reivindicam seus direitos à criação do Parque Ya
Em Roraima, a Diocese Católica denunciou a gravidade da
situação do garimpo do Apiaú, onde existiriam cerca de 250
nomami em área contínua e solicitam a expulsão dos garimpeiros e exigiram dos órgãos competentes a retirada
garimpeiros. Numa carta dirigida ao Deputado Mário Ju imediata dos mesmos. A CODESAHMA, interessada em en
runa, nopontos:
guintes final de 1984, alguns Yanomami colocaram os se

fatizar “a ocupação” e criar um fato consumado, calcula a
presença de garimpeiros em 3.000 homens. Na opinião da
FUNAI, o número de invasores está diminuindo, em conse
“Nós índios Yanomami queremos que você nos ajuda a re qüência do alto índice de mortalidade e se comenta que a
tirar os garimpeiros de nossas terras indígenas. Os garim região está cheia de sepulturas em pleno mato, de vítimas
peiros estão invadindo as terras dos Yanomami, tirando da malária e hepatite.
nosso ouro, trazendo doenças, querendo e tirando nossas
mulheres, roubando nossas roças há dois anos. No último O vale do rio Uraricaá, invadido por cerca de 200 garim
ano centenas de garimpeiros estão trabalhando no rio Apiaú, peiros na altura do igarapé Paca-Sibi (divisa da área indí
no rio Uraricaá em Roraima e perto do rio Ia e Cauaburi no gena com o garimpo Santa Rosa), também continua funcio
Amazonas. nando impunemente. A exploração da grota do Xicuti é um
dos sítios mais importantes daquele garimpo em plena ex
Nossas terras não são demarcadas e nós índios Yanomami pansão, invadindo a área indígena e é o lugar de comercia
queremos a demarcação logo porque daqui dois anos todas lização do ouro, com pista particular de pouso, bebida e mu
as terras vão ser invadidas por garimpeiros e fazendeiros. lheres.

Nós estamos vendo os fazendeiros tomando as terras dos Como se tudo isso não bastasse, em dezembro, a CODE
Macuxi e queremos que não aconteça isso com nossas terras SAIMA informou à FUNAI que 5.000 homens aliciados por
porque nós queremos viver com nossas mulheres e filhos em um sujeito chamado Alcenha Pavão, vindos de um garimpo
paz. Se os garimpeiros não saiem das nossas terras vamos desativado em Peixoto Alencar (MS), pretendiam ocupar as
avisar mais uma vez e se não saiem mesmo vamos brigar”. áreas periféricas Yanomami. No mesmo momento, correu a
notícia de que a CODESAIMA perdeu a concessão de lavra
Há mais de dois anos, várias entidades civis de apoio, na de extração de cassiterita na região de Surucucus, junto ao
cionais e internacionais, solicitam a retirada dos garimpei DNPM. A Companhia informou à FUNAI que uma subsi
ros, sem sucesso. Em conseqüência, está havendo uma pro diária do poderoso grupo econômico Brumadinho, de São
gressiva ocupação dos vales dos rios Apiaú e Uraricaá, em Paulo, a Mineração São Lourenço pretendia entrar na re
Roraima e do vale do rio Ia, no Amazonas. A malária está gião. Outra ameaça pairando sobre as terras Kanomami
aumentando com o contato desordenado e garimpeiros e vem do grupo econômico ligado ao Governador do Amazo
índios estão morrendo. nas, Gilberto Mestrinho, interessado na Serra de Couto de
Magalhães (RR) e Cauaburi (AM), locais ricos em ouro.
(*) coordenadora da Comissão Pela Criação do Parque Yanomami (CCPY). No Congresso Nacional, em 1984, houve uma verdadeira
ofensiva para abrir Surucucus à mineração, encabeçada pe
los Deputados Federais Mozarildo Cavalcanti e João Batista

88
s_> Acervo
_/\ | @A RORAIMA || 5

Fagundes, ambos membros da Comissão do Índio. Em com Conforme as recomendações da Portaria GM 025 de 1982, a
pensação, atendendo às pressões contínuas feitas pela CCPY FUNAI ainda criou, por portaria, 5 postos indígenas para a
e outras organizações civis de apoio, no fim do ano, o De área, 4 já existentes de fato e um para ser implementado.
putado Federal Márcio Santilli (PMDB-SP) apresentou o
Projeto de Lei n° 4.558 visando criar uma reserva nacional Em 8 de janeiro de 1985, a FUNAI baixou a Portaria Nº
de ouro, cassiterita e associados na área Yanomami interdi 1817/E determinando para efeitos de controle administrati
tada em 1982, nos seguintes termos: vo a área definida como espaço vital pela FUNAI e membros
da CCPY em 1984, doravante denominado Parque Indígena
“A constituição da Reserva Nacional prevista..., vem de en Kanomami, conforme os processos administrativos FUNAI/
contro às concretas e inadiáveis necessidades de assegurar à BSB/2152/79 e 2192/84. Para todos os efeitos essa Portaria
comunidade nacional a sobrevivência da população Yano encaminha a proposta do Parque Yanomami para aprecia
mami e da sua incalculável cultura, riqueza, sem dúvida, ção do Grupo Interministerial, definindo que a FUNAI re
bem mais valiosa do que a eventualmente obtida com a mi conhece a área como Parque Indígena.
neração. E uma medida ditada pela emergência e de natu
reza temporária, que em nada prejudicará o desenvolvi
mento do nosso País. "
Invasão truculenta em Surucucus
Concomitantemente às ações de entidades de apoio e parla Conforme relatório da Associação dos Faiscadores e Garim
mentares, 1984 assistiu ao surgimento de intervenções dos peiros de Roraima, de maio de 1985, José Altino Machado,
próprios Yanomami em defesa de seus interesses, como se “dono de táxi aéreo e de garimpos” foi um dos líderes da
expressa, por exemplo, nas declarações de Davi Yanomami, invasão da serra de Surucucus.
feitas durante uma Assembléia indígena realizada recente
mente, em Surumá: Ainda segundo o relatório da Associação, "no fim de 1984,
tendo tomado conhecimento de que se preparava um artifício
“Primeiro o Yanomami não sabia que os garimpeiros inva para entregar o garimpo do Surucucus a três empresas de
diram suas terras. Agora nós estamos sabendo; àqueles que mineração, uma das quais com forte participação estrangei
moram perto dos rios Catrimani, Demini, Couto de Maga ra, Altino iniciou seus contatos com a classe garimpeira do
lhães e do Erico. Têm Yanomami que sabe que é ruim para Território Federal de Roraima, e juntos, começaram a ideali
eles e ficam tristes porque pegam doenças. Têm outros que zar a ocupação pacífica do Surucucus, como meio de chamar
acham bom porque recebem terçados, machados, panelas e a atenção das autoridades, e pleitear, em nome da classe,
fósforos. uma solução legal e definitiva para a exploração da área
pelos garimpeiros. Implementando o planejamento feito, de
Estou contando isso para vocês porque estou preocupado e cidiu a criação da ASSOCIAÇAO DOS FAISCADORES E
zangado. Quero vocês conhecer nossa situação, saber nossa GARIMPEIROS DO TERRITÓRIO FEDERAL DE RO
preocupação e quero vocês lutar com nós”. RAIMA, e José Altino passou a visitar autoridades, auscul
tando de todos sua posição e sua reação face a uma ocupação
pacífica do garimpo do Surucucus".
Proposta do Parque no “Grupão”
No dia 1º de fevereiro de 1985, foi realizada uma Assem
Na segunda metade de 1984, por iniciativa da FUNAI, a bléia Geral, e nela foi fundada a Associação, com 824 mem
área do Parque Indígena Yanomami foi redefinida. A nova bros.
proposta compreende todas as aldeias conhecidas atual
mente, ou seja, 149 malocas Kanomami e 3 Yekuana, abran Realizada nova Assembléia no dia 12.02.1985, foi eleita a
gendo o espaço vital ao seu redor (área de caça, pesca, roça Diretoria, ficando José Altino como Vice-Presidente da As
e perambulação), que consiste a área necessária para a so sociação. “Nessa data, em reuniões paralelas de pequenos"
brevivência das duas etnias. comitês, decidiu-se pela ocupação pacífica e imediata do
garimpo do Surucucus". (Cf. Relatório da Associação dos
Esse estudo foi realizado por um grupo de trabalho com Faiscadores e Garimpeiros).
posto de técnicos da FUNAI e membros da CCPY. A área
está contida em um quadro que tem como limites: ao sul A operação começou no dia 14, com a chegada de 5 aviões
00° 20'S, ao norte o paralelo 5° N, a oeste o meridiano no período de duas horas, com 67 dos 3.000 garimpeiros
66°30' W e a leste o meridiano 61° 15', numa extensão con previstos para tomar posse da serra, área de maior concen
tínua de 9.419, 108 ha. e com um perímetro de 3.071 km, tração de índios Yanomami que ainda vivem isolados do
em grande parte com limites naturais. Em anexo há um contato com a sociedade “branca”.
relatório de 1981 elaborado a partir de uma visita à área
feita por uma equipe mista do Conselho de Segurança Na Um contingente de para-militares, armados e em roupa do
cional, SNI, FUNAI e o Serviço de Informação do MIN exército, desembarcou na pista de pouso da FUNAI, to
TER. O pronunciamento deles é favorável a criação do Par mando conta da mesma e conseguindo temporariamente
que, recomendando a criação “de um único organismo de dominar s 4 policiais destacados para Surucucus, desde a
dicado, exclusivamente, a planejar, administrar, coordenar
e executar as ações visando àquele grupo indígena (Kano
mami)".
</I_Acervo
#ês INDIGENAs No BRASIL/cED

véspera dos acontecimentos. Os invasores, em tempo recor Esse mito está sendo alimentado pelos políticos, que fomen
de, conseguiram limpar uma segunda pista de pouso exis tam o boato de que Surucucus, há várias décadas, está sen
tente na serra, a três horas de marcha do Posto da FUNAI, do clandestinamente explorada pelos americanos, que tra
a chamada antiga pista da DOCEGEO, aberta em 1980 e balham na região como falsos missionários com a permissão
atualmente desativada. da FUNAI. Como se isso não fosse o bastante, o mito ne
cessita apoiar-se na crença de que Surucucus não é área
O ponto de partida da operação Surucucus era uma pista indígena. Segundo essa versão os Yanomami teriam sido le
particular de fazenda, pertencente à vereadora de Boa Vista vados do rio Mucajaí pelos “americanos" (missionários) e
Maria de Lourdes Pinheiro, personagem ligada ao empresá pela FUNAI para a "área pretendida” pela FUNAI, que é a
rio amazonense José Altino Machado, líder da operação. serra "da Cobra”, ou seja, Surucucus. Assim, o governo
passado não conseguiu controlar o avanço sobre terras bra
Por ordem do Governador, todas as pistas de pouso do Ter sileiras, não conseguiu governar e manter a ordem no Bra
ritório foram interditadas e proibido qualquer vôo sem sua sil. Atualmente, dizem os garimpeiros, com a Nova Repú
ordem expressa para qualquer parte do Território. Assim, a blica, a ordem vai se fazer e as terras ricas em minérios,
situação ficou contornada, como Surucucus, serão devolvidas ao povo sofredor do Bra
sil.
Quarta-feira de cinzas, dia 19 de fevereiro, a FUNAI, com a
ajuda de dois aviões bimotores e com reforço da Polícia Mi Assim, os “americanos", a FUNAI e o Governo (que está
litar, evacuou os garimpeiros de Surucucus. Sessenta e sete saindo) são os vilões, enquanto a esperança está no novo
invasores foram trazidos de volta para Boa Vista. José Al governo, e especificamente na figura de Aureliano Chaves,
tino Machado foi colocado em prisão preventiva, os “garim novo ministro de Minas e Energia, agora tendo o poder de
peiros "ficaram presos, assim como as armas utilizadas du colocar à disposição do povo o tão esperado Eldorado. De
rante a invasão. O governador, "para não criar um pro fato, quer o mito que Aureliano Chaves seja parente de Al
blema social”, ofereceu aos demais garimpeiros, aliciados tino Machado, que é encarado como embaixador dos garim
de fora por Altino, pagar a volta a seus lugares de origem. peiros, lutando em seu nome. Os políticos de Roraima se
Nesse meio tempo, o deputado João Batista Fagundes man utilizam do discurso populista, e em nome da democracia
dou um telegrama e fez várias comunicações por rádio, en pregam uma nova ordem social, ou seja, a reconquista para
corajando a tomada de Surucucus. os brasileiros das terras “pretendidas pela FUNAR” e dos
minérios entregues aos "americanos".
A CCPY, muito preocupada com a situação, despachou um
telegrama ao Presidente eleito Tancredo Neves, solicitando O atentado a Surucucus é um alerta para todos nós. No caso
seu apoio. Desta vez a invasão da Serra de Surucucus foi da invasão de fevereiro, a última grande nação indígena re
debelada, mas a ameaça continua e nossa preocupação lativamente isolada foi ameaçada de extinção, mas, além
diante desse crime inédito de vandalismo é imensa. A inva dessa gravíssima constatação, ficamos surpreendidos com o
são só não teve êxito em virtude de um fato casual: um fato de que existam poderosos grupos econômicos e políticos
"furo" da imprensa na véspera do carnaval, alertando a organizados e dispostos a alcançar pela violência suas ambi
FUNAI sobre a situação (“Garimpeiros vão invadir o terri ções, desobedecendo a lei e dispostos a criar desordem So
tório Ianomami”, A Crítica, Manaus, 13.02. 85). cial dentro do país, que se prepara para o retorno à demo
cracia. Os inimigos dos povos indígenas desconsideram os
Com o apoio do General Arídio Martins de Magalhães, go direitos mais elementares dos seres humanos e estão cínica e
vernador de Roraima, e da PM, a FUNAI conseguiu, du friamente preparados para invadir, saquear e matar.
rante os quatro dias de carnaval, o mínimo de apoio para
sustar a operação. Mesmo assim, nossa apreensão continua, A invasão do Parque Indígena Yanomami parece demons
diante das pressões existentes para que se abra Surucucus trar a existência de um plano de vandalismo em preparação
para a mineração de "qualquer modo”. para que nos próximos dois anos Surucucus seja explorada
de qualquer jeito e a qualquer custo.
O comando da invasão parece ter tido apoio de Brasília e
fala-se em nomes como João Fagundes, Cesar Cals e Gil De fato, para o dia 30 de março estava convocada uma reu
berto Mestrinho, além de outros notórios interessados nas nião em nome da Associação dos Garimpeiros e da Classe
riquezas de Surucucus dentro do governo estadual do Ama Trabalhadora, em Roraima, organizada pelo empresário
zonas e no próprio Território Federal de Roraima. José Altino Machado, que nesse meio tempo conseguiu ne
gociar sua liberdade, aguardando seu julgamento em Boa
Vista. Nesse encontro, chamando Iº Enclat de Roraima,
O mito de Sururucus estava prevista a participação de mil garimpeiros do Ama
zonas e Pará, aliciados por Altino e levados para Roraima
A grande maioria da população de Boa Vista e com certeza em 50 a 80 aviões. O evento não se concretizou, graças ao
todos os garimpeiros do Território e de fora, assim como alerta que foi dado por altos funcionários do Governo de
muitos donos de táxis aéreos da Amazônia, acreditam fir Roraima reforçado pela CCPY e à intervenção de certos se
memente que Surucucus será a salvação do Brasil, por con tores do Governo em Brasília, termerosos do resultado da
ter minérios que podem pagar a dívida externa, e a salvação reunião.
do Território que, através da exploração, terá os meios para
se colocar financeiramente independente para transformar
se em Estado individualmente, os garimpeiros e donos de
táxis aéreos acham que vão fazer fortuna através da explo
ração de Surucucus, onde existe MUITO ouro.

30'
_
<r
#
•=
->
= Davi Yanomami, na Assembléia de Surumú,
>
Q explicando a Ailton Krenak, da UNI,
* #3
C
+-
as invasões de garimpeiros
C
+-+-+ na região do Apiaú.
-

Yanomami garimpeiro
em Santa Rosa.

Os garimpos da região Apiaú e na bacia do rio Catrimani ultimamente está se tor


nando virulenta e há muitos casos resistentes à cloroquina.
do Apiaú e Ericó Na bacia do rio Anaualina a malária apareceu somente de
Não é só Surucucus que está ameaçada, dentro da área Ya pois de 1983, entre populações totalmente desprevenidas,
nornami. em conseqüência da expansão das atividades garimpeiras
na região do Apiaú, transmitida pelo contato desordenado
No último ano, morreram vários Yanomami e muitos ga com índios isolados. Entretanto, parece que os garimpeiros
rimpeiros na região da bacia do rio Apiaú, área tradicional não se incomodam com esses fatos, ou pelo menos não o
mente indígena e interditada pelo MINTER em 1982. Tanto bastante para desativar seus sítios de trabalho.
uns como outros foram vitimados por surtos de malária e
sua conseqüência, a hepatite. A malária na região do rio

91
*
–/ #
| #A INDÍGENAS NO BRASIL/CED]

Os índios, porém, revoltados com as mortes e doenças de Em 1984, pelo menos três Yanomami da comunidade dos
seus parentes, estão se organizando. Mesmo aqueles que no Apiauprautheri morreram em conseqüência da malária, en
passado próximo viam vantagens na presença garimpeira quanto dezenas de outros sofreram as nefastas conseqüên
por oferecer facilidades na troca de bens, em janeiro último cias das invasões. Uma das vítimas era mulher do Tuxaua
se rebelaram contra os invasores e tomaram a iniciativa, Vital, que ainda mantém dolorosas lembranças das nefastas
junto com outras comunidades Yanomami, de exigir a ime conseqüências da construção da Perimetral Norte. Seu gru
diata retirada dos invasores. Os quase 50 guerreiros, pin po local, em 1977, perdeu a metade da população em conse
tados de preto, armados com arcos e flechas, e umas espin qüência de um surto de sarampo.
gardas adquiridas dos próprios garimpeiros, invadiram os
sítios de trabalho de dois garimpos localizados entre os rios Vale a pena ainda mencionar que todos os índios da região
Catrimani e Apiaú. Os guerreiros vieram dos rios Catri do alto rio Catrimani, Jundiá, Lobo d'Almada e Apiaú são
mani, Pacu, Anaualina e Mucajaí, liderados pelo índio Davi índios isolados e que entre eles se encontram pequenos gru
Xiriana, um dos Yanomami que mais compreende as trági pos arredios.
cas conseqüências que a penetração desordenada está tra
zendo para seus parentes. Atualmente a FUNAI está instalando um posto de vigilân
cia no rio Apiaú, nas imediações dos limites do Parque In
Durante esta primeira incursão, os guerreiros queimaram dígena, para melhor controlar a entrada de não-índios na
barracas e roças de um garimpo, quebraram as ferramentas área indígena daquela região.
dos invasores e depois enfrentaram uns 40 homens arma
dos, em plena atividade de garimpagem, num segundo lo *y}
Pequenos grupos de Yanomami que habitavam a região do
cal, onde havia “muitas casas iguais à da vila de Mucajaí.", Apiaú e que nos últimos anos se refugiaram na área do mé
roças plantadas com produtos de curto e longo ciclo, duas dio Mucajaí, freqüentemente se empregam entre os colonos
cantinas e bastante cachaça. da região de Alto Alegre, encontrando-se em situação pre
caríssima de saúde, muitos atingidos por tuberculose e
Depois das primeiras horas de tensão, com alguns índios prontos para retornar ao seu habitat tradicional, o Apiaú,
cobrando a morte de seus parentes, os Yanomami decidi perto do posto, tão logo seja instalado.
ram não entrar em briga aberta com seus adversários, mas
simplesmente explicar-lhes que estavam agindo contra a Lei Outra área sob grande ameaça é a região dos rios Ericó,
garimpando dentro dos limites do Parque Indígena Yano Uraricaá e Surubai, no noroeste do Parque Indígena. Até
mami, exigindo sua retirada imediata. Estes, por sua vez, pouco tempo atrás, os garimpeiros da região de Santa Rosa
alegaram que não sabiam que estavam garimpando em área restringiram suas atividades até o limite da área indígena,
indígena. isto é, até o igarapé Pacasibi. Atualmente, todavia, esse li
mite foi superado e inúmeras grotas e barrancos estão sendo
Os índios, no dia seguinte, se retiraram da área prometendo explorados rio Ericó acima, aproximando-se perigosamente
voltar com mais homens, caso os garimpeiros não saíssem de malocas indígenas e do próprio Posto de Vigilância da
de suas terras. FUNAI em Ericó. O grande movimento de garimpeiros,
mercadorias e máquinas, através das duas pistas de pouso
No dia 26 de fevereiro, um novo grupo de homens, acima de — ambas dentro da área indígena — leva a crer que as
vinte, acrescido das Polícias Militar e Federal, armados, di pretensões dos garimpeiros não se resumem à exploração da
rigiu-se para a área do Apiaú para expulsar os garimpeiros. área já invadida, mas também à ocupação de outros trechos
do território Yanomami, onde há indícios de minérios.
Entre os rios Apiaú e o alto Catrimani funcionam vários
garimpos clandestinos de ouro há pelo menos três anos e
meio, com centenas de garimpeiros brancos espalhados em Hidroelétrica Paredão
pequenos grupos recebendo lançamentos de gêneros básicos
através de aviões, em clareiras abertas na mata. Em certos Há ainda o empenho da parte da Secretaria de Planeja
sítios de trabalho conseguiram, inclusive com a ajuda de mento do Territorio de se construir uma hidroelétrica no
certos índios Kanomami, cultivar milho, feijão, banana e médio rio Mucajaí, utilizando a Cachoeira do Paredão. A
macaxeira. concorrência para a realização da obra está composta por 4
firmas, a Mendes Júnior, Enge-Rio, CONTRAN, COEMSA
Seus pontos de partida para os garimpos do Apiaú são as e a Sociedade Brasileira de Eletricidade S/A.
vilas de Mucajaí e Caracaraí, lugares de onde penetram na
área indígena por via fluvial e/ou a pé. Tudo indica que o projeto prevê a inundação de pelo menos
uma maloca Yanomami e da comunidade de Concha Velha.
Em 1983 a FUNAI, junto com a PF, tentou a evacuação dos (O projeto substituirá um outro, abandonado, ao longo do
garimpeiros, sem sucesso. No mesmo ano, a FUNAI foi in Rio Cotingo, que se tivesse sido construído, teria inundado
formada do falecimento de um dos garimpeiros brancos no boa parte da área dos índios Macuxi). Espera-se, portanto,
Apiaú, cuja morte não foi possível apurar mas que, segundo que o projeto seja amplamente discutido com todos os en
os índios Yanomami, resultou de conflitos entre os invaso volvidos, sobretudo com as comunidades atingidas, para
res e um grupo Yanomami ainda arredio, os Moxihatete. não ocorrerem injustiças irreversíveis.

92
s! Z> Acervo
_/\ | S A RORAIMA || 9

| Aconteceu
Projeto para criação com emenda. Em 10/04/85 foi apro
_GERAL de Reserva Mineral vado na Comissão do Interior o parecer
favorável do relator, Dep. Inocência Oli
Explicação da FUNAI Em outubro de 84 o deputado Marcio veira, com emenda e adoção da emenda
Santilli (PMDB-SP) apresentou um pro da CCJ. (PRODASEN).
O delegado da Funai em Roraima, Ubi jeto de lei (nº 04558) na Câmara dos De
ratan Tupinambá, recebeu com surpre putados propondo constituir a área indí
Sa, Ontem, as acusações do deputado gena Yanomami em reserva nacional de
João Fagundes, de que há negligência ouro, cassiterita e associados. Segundo a
por parte do órgão ao permitir a presen lei proposta a área constituída como re
YANOMAMI
ça de estrangeiros e de aviões nas reser serva nacional permaneceria interditada Apelo a Figueiredo
vas indígenas. Segundo o delegado, o até o término de sua demarcação e o
que existe na região “é a Meva, formada cumprimento de todas as providências Um apelo para que os índios yanomami
por religiosos brasileiros e americanos, previstas na portaria GM nº 025/82 do do Brasil sejam salvos do extermínio, e
mas autorizada pelo governo de Brasí Ministério do Interior, ficando proibi para que possam manter intactas suas
lia”. (ESP, 22/05/84). das as atividades de pesquisa mineral, características culturais tradicionais,
lavra, licenciamento, garimpagem, fais está contido numa carta que em breve
cação e cata, por pessoas físicas ou jurí chegará ao presidente João Figueiredo,
Convênio FUNAI/Secretaria dicas, públicas ou privadas. Com des Segundo comunicou ontem em Milão,
da Educação pacho inicial para as Comissões de na Itália, a “Survival Internacional”.
Constituição e Justiça, de Minas e Ener Além da carta a organização também
Para assinatura de um convênio desti gia e Finanças, no dia 27/11/84 a Co imprimiu um grande número de cartões
nado à educação indígena, esteve terça missão de Constituição e Justiça apro postais que serão entregues ao presiden
feira em Boa Vista o presidente da Fu vou o parecer do relator Jorge Arbage te da Itália, Sandro Pertini, solicitando
nai, Jurandy Marcos da Fonseca. Se pela constitucionalidade, juridicidade e que ele seja o portador de um apelo em
gundo Jurandy, por esse convênio o go técnica legislativa, com emenda. No dia favor dos yanomami perante as autori
verno de Roraima, através da Secretaria 11/03/85 o projeto entrou em tramita dades de Brasília.
de Educação, vai dar todo o apoio ao en ção na Comissão de Minas e Energia A carta foi redigida anteontem à noite
sino nas áreas indígenas. Outro convê avocado pelo Deputado João Batista Fa em Milão, depois de uma conferência
nio, na área de saúde, também está em gundes. (PRODASEN). organizada pela “Survival”, em colabo
estudos e dentro em breve será apresen ração com o Fundo Mundial para a Na
tada uma minuta que prevê o atendi tureza (WWF), durante a qual o padre
mento às comunidades indígenas por Projeto para definição italiano Carlos Zaquini (que há 15 anos
meio de um trabalho desenvolvido con vive entre os Yanomami) lançou um gri
de áreas indígenas
juntamente entre a Secretaria de Saúde to de alarma pelo destino deste povo da
e a Funai. Jurandy participou também Em setembro de 1984 o deputado Moza Amazônia brasileira. O padre Zaquini
de uma reunião convocada pelo gover rildo Cavalcanti (PDS-RR) apresentou disse que a chegada dos brancos àquela
nador Arídio Magalhães para a discus na Câmara dos Deputados o Projeto de região levou doenças, como a gripe e o
são sobre a Surucucus. O presidente da lei (Nº 04147) com despacho inicial para sarampo, devido às quais centenas de
Funai disse ainda que a convite do depu as Comissões de Constituição e Justiça, yanomamis morrem, já que não contam
tado Mozarildo Cavalcanti foi feita uma do Interior e do Indio. O projeto propõe com anticorpos específicos. (Correio
reunião com a Cooperativa dos Pecua a sustação de todos os trabalhos de iden Braziliense, 23/02/84).
ristas, onde foi abordado o problema re tificação, delimitação e demarcação de
cente ocorrido entre um fazendeiro e in todas as áreas pretendidas pela Funai no
dígenas da maloca da Raposa. Território de Roraima como terras indí Acordo para saúde
Revelou que se reuniu ainda na terça genas. Em contrapartida ele propõe a
feira com as comunidades indígenas e, constituição de uma Comissão para defi A Funai fez ontem acordo com entida
também a convite do deputado Mozaril nição destas áreas composta pelo Min des européias para promoção de um pro
do Cavalcanti, iria encontrar-se com as ter, Funai, CSN, INCRA, Governo do jeto de saúde na área dos índios yano
comunidades não índias interessadas, Território e prefeituras municipais, e mami, a se iniciar em março, com re
no caso os fazendeiros, com o que pre deputados federais do Território mem cursos de US$ 20 mil mensais, financia
tende evitar os conflitos. (Folha de Boa bros da Comissão do Indio. Em 27/11/ dos pelo Mercado Comum Europeu, du
Vista, 17/08/84). 84 foi aprovado na Comissão de Consti rante um ano, em medicamentos e equi
tuição e Justiça o parecer do relator, pamentos hospitalares.
Dep. Osvaldo Melo, pela constituciona
lidade, juridicidade e técnica legislativa,

93
=LAcervo
_A Eyes INDIGENAs No BRASIL/CED

Participam do projeto de saúde para os Segundo Alcida Ramos, “toda vez que risco de desaparecer, caso não seja de
índiosyanomamia CCPY e as entidades há uma campanha para maior proteção clarada “parque indígena” a zona que
estrangeiras “Medicins de Monde” e dos Yanomami, o deputado Mozarildo habitam. O religioso está efetivando um
“Aescolapius International”, além de procura difamá-la, com o objetivo de levantamento da situação dos Ianoma
antropólogos brasileiros e europeus. O que seu projeto, que propõe a reaber mi, e com ele apresentará um docu
projeto deverá realizar um trabalho de tura do garimpo de Surucucus com uti mento para ser assinado por autoridades
medicina preventiva, incluindo a vaci lização da mão-de-obra indígena, ofere internacionais, inclusive pelo presidente
nação dos índios e formação de pessoal cendo 20 por cento da produção à FU italiano. (ESP, 17/4/84).
paramédico. A Funai deverá enviar dois nai, seja aprovado pelo Congresso. Por
funcionários para acompanhar os traba trás dessa sua campanha, aparentemen
lhos da equipe de médicos brasileiros e te em favor dos índios, desconfiamos Santilli tenta barrar
europeus. (O Globo, 24/02/84). que existem outros interesses”. Alcida “o genocida”
destacou que esta não é a primeira vez
que o parlamentar critica o projeto, cujo O deputado Mozarildo Cavalcanti (PDS
Mozarildo ataca o Acordo convênio não tem nenhuma cláusula que RR) requereu ontem vistas do parecer
fale em experimento de novas medica que o relator da Comissão do Indio, de
A Funai foi acusada de celebrar convê ções nos índios Yanomami. putado Márcio Santilli (PMDB-SP),
nio com uma organização médica da A única inovação, segundo a professora, deu a respeito do projeto de lei nº 1.179/
França, permitindo que ela realize pes é a instalação de geladeiras que funcio 83 de autoria daquele parlamentar e que
quisas médicas entre os índios Yanoma nam à base de energia solar em alguns dá poderes ao Poder Executivo de auto
mi, e esta entidade estaria procedendo a pontos do Parque, destinadas à conser rizar a abertura e a exploração do ga
testes de drogas contra a malária nos sil vação de vacinas. Afirma, ainda, que rimpo de cassiterita na Serra das Suru
vícolas. A denúncia é do deputado Mo não existe vacina contra malária sendo cucus, em Roraima, em área dos índios
zarildo Cavalcanti (PDS-RR). testada entre a comunidade Yanomami. Yanomami. Márcio Santilli propõe o re
Na última reunião da comissão do índio, (Correio Braziliense, 10/04/84). torno do Projeto à Comissão de Consti
o deputado já alertara para o fato de que tuição e Justiça, considerando que ele foi
recebera denúncia da existência dessa aprovado por seus membros por desco
autorização sem que a mesma fosse sub FUNAI também nhecerem que se baseia em fato inverí
metida, como é norma, ao Congresso dico, ou seja, diz que garimpos se locali
Nacional. A Fundação Nacional do Indio também zam em áreas pretendidas pela Funda
Segundo o deputado, a droga que está contestou as denúncias do parlamentar. ção Nacional do Indio. Na verdade, os
sendo testada nos índios brasileiros é Em nota oficial divulgada ontem o órgão minérios estão, em região imemorial, re
uma vacina contra a malária. Como dro desmente as declarações de Mozarildo conhecidamente dos Yanomami. Se esse
ga nova, ela exige testes para conseguir Cavalcanti de que os Yanomami esta projeto chegar a ser aprovado em plená
sua homologação e lançamento no mer riam sendo usados para testes de medi rio “será o fim daqueles índios”, garante
cado, e os índios estão sendo utilizados camentos e de vacinas contra malária. O ,a indigenista Cláudia Andujar, coorde
criminosamente para isso. acordo firmado entre a Funai, a Medi nadora da Comissão Pela Criação do
Denúncias do deputado Mozarildo Ca cens du Monde, que é filiada à Aesco Parque Yanomami.
valcanti, foram contestadas pelo serta lapius International Medicins e a Co Mozarildo surpreendido com o parecer
nista Ubiratan Tupinambá da Costa, missão pela Criação do Parque Yano de Santilli pediu vistas antes que o seu
chefe da 10? Delegacia Regional da Fu mami, com respaldo financeiro do Mer projeto, conhecido como “genocida”
nai, em Roraima, afirmando que tanto o cado Comum Europeu, visa prestar as chegasse a ser votado pelos 19 membros
irmão do parlamentar, dentista Nilo Ca sistência médica e odontológica àquela dos 23 que compõem a Comissão do In
valcanti, como seu primo, o médico José comunidade, que inclui vacinação e trei dio, e que ontem compareceram àquela
Pereira de Melo, ambos da Funai, po namento de pessoal médico e paramé sessão. Eles se reunirão, novamente, na
dem atestar que tudo não passa de boa dico com o acompanhamento de técni próxima quarta-feira para deliberar a
tos. (Jornal de Santa Catarina, 07/04/ cos do órgão. (Correio Braziliense, 10/ respeito. •

84). 04/84). Santilli acredita que a Comissão de


Constituição e Justiça vai rever sua deci
são, apesar do Regimento Interno rezar
Antropóloga nega Missionário denuncia que não cabe a qualquer comissão ma
nifestar-se sobre a constitucionalidade
denúncia de Mozarildo genocídio
da proposição, contrariamente ao pare
A denúncia do deputado Mozarildo Ca O missionário italiano Carlo Zacquini, cer que ela der, por concluir que há um
valcanti de que os índios Yanomami es que vive com os Ianomami desde 1965, fato novo, que é a informação de que as
tão servindo de cobaias para a organiza denunciou ontem — em entrevista à re terras são dos Yanomami. (Jornal de
ção internacional Medicins du Monde vista Panorama — que está sendo come Brasília, 15/06/84).
foi contestada ontem pela professora de tido um genocício contra aquela tribo,
antropologia da UNB, Alcida Ramos, em conseqüência de decretos governa
pertencente também à CCPY, que con mentais que permitem a invasão de suas O nacionalismo
siderou “mais uma calúnia do deputado terras. Zacquini acrescentou que os de Fagundes
contra um projeto sério de saúde que se 8.500 Ianomami que vivem em Roraima
vem fazendo na área indígena”. “O de formam o mais importante grupo indí O Deputado do PDS de Roraima, João
putado”, advertiu a antropóloga, “a gena brasileiro, conservando as tradi Batista Fagundes, apresentou projetos
continuar com estas calúnias terá de ções de seus ancestrais. Mas correm o de-lei na Câmara dos Deputados, em
provar suas acusaçõesjudicialmente”. Brasília, tornando obrigatória a nacio
nalidade brasileira para quem pretenda

94.
RORAIMA Il 11

exercer qualquer atividade no meio das com 9 milhões 419 mil hectares, num território seja concretizada, através da
comunidades indígenas. Segundo o de perímetro de 3.071 quilômetros, distri criação de um parque indígena amplo e
putado, o Artigo 47 do Estatuto do in buídos pelos municípios de Boa Vista, contínuo”. A criação do parque mere
dio, em consonância com o novo Esta Alto Alegre, Macajaí e Caracaraí, em ceu parecer favorável de uma missão es
tuto dos Estrangeiros, prevê essa obriga Roraima e Santa Isabel do Rio Negro, pecial que visitou aquela área indígena.
toriedade, e João Fagundes quer que São Gabriel da Cachoeira e Barcelos, no A comissão foi integrada por represen
seja disciplinado o abuso que hoje se ve Amazonas. O parque terá 11 postos da tantes do Conselho de Segurança Nacio
rifica em Roraima, onde os estrangeiros Funai e 8 missões. O parque abrigará as nal, Serviço Nacional de Informações e
(missionários e aventureiros), arvo nações Ianomami e Iecuana (Màion Departamento de Segurança e Informa
rando-se no direito de fiscalizar, impe gong). A população Ianomami é esti ção do Ministério do Interior e Funai.
dem o livre trânsito de brasileiros nas mada em 9.000 índios e a Iecuana em (FSP, 7/10/84),
áreas indígenas, contrariando o direito 250 pessoas. A área Ianomami é rica em
de locomoção assegurado pela Consti ouro, cassiterita e minérios radioativos
tuição para os brasileiros, dentro do ter e, por esta razão, são contínuas as inva Semana Yanomami
ritório nacional. sões de garimpeiros. (FSP, 15/9/84). em Turim
O Deputado João Fagundes, que se vem
caracterizando por constantes denún Uma semana de Solidariedade aos índios
cias contra a ação da Igreja nas comuni Nota da SBG ianomamis está marcada para a segun
dades indígenas, também denunciou a da semana de dezembro, em Turim, Htá
tentativa de criação de uma Nação Indí A Sociedade Brasileira de Geologia en lia, segundo informa o jornal “La Stam
gena dentro da própria Nação Brasilei viou a todos os membros da Comissão do pa”, daquela cidade. O encontro reuni
ra, o que considera um verdadeiro aten Indio no Congresso Nacional um tele rá estudiosos e especialistas ligados à
tado à integridade e à integração nacio grama com o seguinte texto: “Tomando sobrevivência física e cultural dos ín
nal. (O Dia, 28/06/84). conhecimento da próxima votação do dios.
projeto de lei nº 1.179, relativo à aber O interesse por estudiosos de Turim pela
tura dos garimpos de cassiterita em Su Amazônia intensificou-se na década de
Bispo denuncia invasão rucucus, Roraima, esta sociedade e a co sessenta, com a realização de expedi
munidade que ela representa vêm mani ções, que reuniram uma farta documen
O bispo de Roraima, dom Aldo Mon festar sua oposição a tal medida. A aber tação sobre a luta dos indígenas pela so
giano, denunciou que 400 garimpeiros tura dos garimpos, além de desnecessá brevivência. Fotos, filmes, livros e re
invadiram a área dos índios Ianomami ria e inoportuna, significa o comprome portagens foram realizados sobre a rea
através do rio Apiaú, colocando em risco timento cívico e cultural da nação Yano lidade dos indígenas em confronto com a
a vida dos indígenas, muitos ainda sem mami. Desse modo, a posição dessa so abertura de estradas e outras atividades
nenhum contato com brancos, ameaça ciedade é no sentido de que os referidos que modificam o meio ambiente.
dos por epidemias e conflitos. Ontem, o depósitos minerais devam constituir re Durante a semana de solidariedade aos
problema foi levado ao presidente da serva nacional associada à área indígena Ianomamis, que tem o apoio da prefei
Funai pelos dirigentes da comissão para Yanomami e deverá permanecer interdi tura de Turim, será realizada uma expo
a criação do Parque Ianomami. Ficou tada até o final de sua demarcação, sição de milhares de fotografias e peças
decidido que a Funai implantará um quando, então, poderá ser explorada, de de artesanato indígena. A exposição está
posto de vigilância no rio Apiaú, para acordo com o artigo nº 44 do Estatuto do sendo preparada pelo padre Silvano Sa
controlar a entrada de novos garimpei “Índio”. (Correio Braziliense, 17/09/ batini. (FSP, 06/11/84),
ros, e a Polícia Federal retirará os que já 84).
estão no local. Na carta que enviou à
Funai, o bispo afirma que já se registra “Parque é manobra
ram mortes entre brancos e índios Mo
estrangeira”
xilhateteme (grupo Ianomami ainda não Lévi-Strauss pede
contatado). Segundo a denúncia, no dia criação de Parque A criação do Parque Yanomami, com
11 de julho, um garimpeiro roubou o uma área de nove milhões de hectares,
ouro e atirou nos índios que o acompa Uma petição assinada pelos antropólo visa apenas atender a uma misteriosa co
nhavam como caçadores. O bispo afir gos Claude Lévi-Strauss e Jacques Sous missão presidida por uma senhora es
ma que os índios estão revoltados e or telle, da Academia Francesa, e mais 44 trangeira, numa ação alienígena que de
ganizando vingança. (ESP, 14/8/84). membros da comunidade científica in seja, através de uma falsa defesa da cau
ternacional, foi encaminhada ao presi sa indígena, ludibriar a consciência na
dente Figueiredo, pedindo a criação do cional para obter a posse de riquezas na
FUNAI encaminha Parque Indígena Ianomami. No docu turais, principalmente minério da Ama
mento, os cientistas afirmam: “É com zônia.
ao “grupão” extrema preocupação que vimos acom A denúncia foi feita esta semana pelo
O presidente da Funai anunciou ontem panhando nos últimos anos a situação deputado Mozarildo Cavalcanti (PDS
sua decisão de encaminhar ao “grupão” dos Ianomami vítimas de graves epide RR), que também denunciou a existên
(Conselho de Segurança Nacional, Mi mias e repetidas invasões de seus terri cia de pressões internacionais para levar
nistério do Interior e Funai), a proposta tórios... Considerando os perigos do in O governo venezuelano a adotar seme
de criação do Parque Indígena Iano definido prolongamento de uma situa lhante medida na sua área de fronteira
mami. Em 1981, o Conselho de Segu ção legal tão precária, apelamos no sen com Roraima, o que resultaria na cria
rança deu parecer favorável à criação do tido de que a demarcação definitiva do ção de um grande país Yanomami, des
parque. A nova proposta da área Iano caracterizando-se as fronteiras brasi
mami sugere um território contínuo, leira e venezuelana.

95
s! Z_ Acervo
_/\ | @ ºs INDÍGENAs NO BRASIL/CED
“Criando-se o parque, futuramente a denúncias vão mais além, e incluem o conhecida. Segundo Marabuto, o dele
nação Yanomami pela voz dos que se caso de uma índia de catorze anos, que gado, além de tirar férias em meio a um
autoproclamam seus defensores, estabe foi “comprada” por um rádio e um reló problema grave, o fez sem comunicar os
lecerá convênios com os países desenvol giovelho para ser prostituta no garimpo. ébitos. (JB, 03/01/85).
vidos para a exploração de suas riquezas O bispo e o padre pedem que seja criado
minerais com o objetivo de promover o um posto de fiscalização da Funai no rio
seu “desenvolvimento”. (A Crítica, 30/ Apiaú. (FSP, 6/12/84). Readmitido
11/84),
Sebastião Amâncio da Costa, depois de
Doença já matou dez 4 ou 5 dias foi reconduzido ao cargo de
Fagundes quer delegado da FUNAI em Boa Vista, de
liberar o Apiaú Uma epidemia ainda não identificada, pois que o presidente Nelson Marabuto
que mata em 72 horas, depois de febre, avaliou melhor as circunstâncias da sua
“Em Roraima pretendo diminuir essa dores no corpo e na cabeça, está atin exoneração, com informações colhidas
imensidão de terras que estão bloquea gindo os índios yanomami, de Roraima, em Roraima. (Folha de Boa Vista, 18/
das a qualquer atividade econômica. nas áreas invadidas por garimpeiros de 01/85).
Acho de inteira justiça, por exemplo, Mato Grosso do Sul. Até agora dez pes
deixar de fora da reserva o garimpo soas já morreram, inclusive duas crian
Apiaú, onde existem 3 mil garimpeiros e ças, e trezentos índios do subgrupo tisi FUNAI formaliza
nenhum índio num raio de 150 km”. poratheri pediram socorro ao posto de proposta do Parque
Quem falou isso foi, nada mais nada me atendimento da Funai, na serra das Su
Através da Portaria nº 1817/E de 08/
nos, que o deputado malufista João Ba rucucus. Os índios doentes, sem exce
tista Fagundes (PDS-RR) — porta-voz ção, haviam entrado em contato com ga 01/85, o Presidente da Funai reconhe
dos setores antiindígenas do Território rimpeiros de Mato Grosso do Sul que ceu “para efeito de apreciação” do cha
de Roraima — em entrevista ao jornal invadiram as áreas dos rios Uraricaá e mado “grupão” (Grupo Interministe
Folha de Boa Vista, em 2 de novembro. Apiaú. A denúncia foi feita ontem por rial) os limites do Parque Yanomami
Criado somente no papel pela Funai, o Cláudia Andujar, coordenadora da com superfície aproximada de 9.419.108
posto de vigilância de Apiaú tem a fun CCPY. Um grupo yanomami, conheci ha.
ção de fiscalizar e impedir o acesso de do por opketeri, “fugiu para a mata com
garimpeiros à área dos Yanomami. En medo da doença, mas alguns deles da
tidades de apoio à luta dos índios tentam vam mostras de ter contraído a infec Invasão de Surucucus
concretizar, na prática, o real funciona ção”.
mento deste posto. Muitos problemas já No último dia 22, a Funai deslocou uma No aeroporto internacional Eduardo
começam a aparecer com o garimpo de equipe médica para a região de Surucu Gomes, Marabuto voltou a mostrar-se
Apiaú. Exemplo: na cidade de Mucajaí, cus, local de maior concentração popu surpreso com o ineditismo da operação
há um surto de malária, levado ao Apiaú lacional dos yanomami, para tentar militar na invasão da serra de Surucucu,
por garimpeiros que ali se abastecem. identificar a doença. Informa ainda onde encontram-se 60 homens forte
Alguns Yanomami que tiveram contato Cláudia Andujar que a Funai não conta mente armados, e disse que atos como
com esses garimpeiros também contraí com recursos financeiros suficientes pa este devem preocupar não somente a
ram malária: os da área da Missão Ca ra o atendimento dos índios e despejo FUNAI como o próprio sistema de segu
trimâni foram os mais atingidos pela dos garimpeiros invasores. rança pública, o Conselho de Segurança
doença. Em vista disso, a Missão Catri A invasão dos garimpeiros, denuncia Nacionale as Forças Armadas.
mâni pediu ajuda à Funai para poder Andujar, começou há um mês, quando Ele revelou que os invasores não foram
enfrentar melhor a situação. Outro pro “cinco mil pessoas aliciadas por um in inteligentes ao ponto de neutralizarem a
blema: dia 11 de julho pp. o garimpeiro divíduo conhecido por “Pavão”, de Mato estação de rádio SSB do posto da FU
conhecido como Negão roubou o ouro do Grosso do Sul, começaram a chegar a NAI em Surucucu, o que permitiu con
índio Yanomami Adriano Hewenahlipi Santa Rosa, no rio Uraricaá e na região tatos sistemáticos com a área.
theri, atirando ainda em suas costas. Confirmou a prisão do fazendeiro Altino
do rio Apiaú, onde outros quatrocentos
(Porantim, dez. 84). Magalhães que prestou depoimento em
garimpeiros já haviam invadido a área”.
Eles procediam de um garimpo desati inquérito instaurado na Divisão da Polí
vado por ordem do governo, e a invasão cia Federal em Boa Vista, à tarde, de
Bispo faz nova denúncia da área Yanomami conta com o apoio de quinta-feira, e assegurou existir “um
deputados federais de Roraima. (FSP, apoio político-empresarial evidente, e o
D. Aldo Mongiano, bispo da Diocese de 01/01/85). envolvimento de gente com vínculos po
Roraima, e o padre Guilherme Damioli, líticos em Manaus e Boa Vista”, citando
responsável pela missão Catrimani, dis entre outros a vereadora Maria de Lour
tribuíram nota em que denunciam a in Marabuto demite Amâncio des Pinheiro em cuja fazenda a Polícia
vasão de garimpeiros na área indígena Federal conseguiu reter cinco aviões que
Yanomami, na região do Rio Apiaú. Có O presidente da FUNAI, Nelson Mara deveriam levar mais 30 seringueiros para
pia do documento foi enviada ao minis buto, demitiu ontem o chefe da 10° DR, Surucucu, e o ex-governador de Rorai
tro do Interior, Mário Andreazza, que sediada em Boa Vista, por ele não ter ma, Brigadeiro Ottomar de Souza Pin
interditou a área Yanomami, e às diver comunicado à direção do órgão a morte to, interessado segundo denúncia do de
sas entidades. Eles denunciam proble dos yanomami vítimas da epidemia des putado federal Mozarildo Cavalcante
mas causados aos índios pela presença (PDS-RO) em voltar ao Poder através de
dos garimpeiros, inclusive o atentado ampla mobilização iniciada com o pro
contra o índio Adriano Hewenahipi cesso de invasão. (A Crítica, 16/02/85).
theri, baleado por um garimpeiro. As

8E
*_ --Acervo
_/\ _> A
RORAIMA || 13

“Invasão para Uma comissão de garimpeiros, eleita na médico e um enfermeiro da CCPYacom


desestabilizar o governo” reunião realizada em praça pública, ten panhados por três assessores da CCPY
tou uma audiência com o governador do atuaram na área.
A tentativa de ocupação de parte do ter Território de Roraima, Arídio Martins, Dando prosseguimento à atuação na
ritório da nação Yanomami, no Territô para pedirem o seu apoio na invasão de área, uma parte da equipe foi deslocada
rio de Roraima, por cerca de mil garim Surucucu, mas não foram atendidos. O para o Posto do Paapiú (região da Serra
peiros comandados por Altino Macha governador não recebeu a comissão e ne Couto de Magalhães), para debelar um
do, tem um fundamento político com a gou-se a dialogar com os garimpeiros. surto de gripe (conforme comunicação
finalidade de desestabilizar o futuro go O contingente de soldados da Polícia via rádio, do chefe de Posto) e foi cons
verno local, conforme admitiu ontem, Militar do Território que está em Suru tatada uma epidemia de gripe associa
em Manaus, o deputado federal Moza cucu, com o Delegado da FUNAI Ma da, em alguns casos, à malária e alguns
rildo Cavalcanti, para quem “o clima de noel Amâncio, tenta negociar a retirada casos de suspeita de blenorragia. Na
insegurança que está sendo criado vai dos 60 garimpeiros que ficaram retidos e ocasião, foram diagnosticados e trata
inviabilizar o encaminhamento político sem alimentos. Eles estão fortemente ar dos 37 casos de gripe, 65 casos de gripe
para um governo civil em Roraima”. mados e não querem se retirar pacifica com superinfecção brônquica, 20 casos
Para Mozarildo Cavalcanti, Otomar de mente. O Delegado da FUNAI espera a de suspeita de blenorragia, 10 casos de
Souza Pinto, é o mentor intelectual da chegada do presidente de seu órgão, malária, 13 casos de impertigo/ferimen
tentativa de ocupação da área indígena, Nelson Marabuto, para tentar resolver o tos cutâneos, 30 casos de problemas gas
com o objetivo de desestabilizar os en impasse. (A Crítica, 18/02/85). trintestinais.
tendimentos entre o PMDB e a Frente Em Surucucus, desenvolveu-se um tra
, Liberal para a indicação do novo gover balho médico propriamente dito (con
mador do Território que seria um civil. Garimpeiros prometem sulta/tratamento), e iniciou-se uma en
Como o ex-governador não tem condi nova invasão quete epidemiológica sobre sarampo, té
ções de retornar ao governo e nem de in tano, poliomielite (grau de imunização,
dicar um candidato — disse o deputado Depois de 67 deles terem sido mandados porcentagens da população, faixas etá
— tenta criar um impasse para trazer à de volta da Serra de Surucucus, cerca de rias, etc.), com a finalidade de avaliar
baila a questão da área de segurança na300 garimpeiros, vindos de diversos pon o estado atual de imunização da popu
tos do País, reuniram-se em frente ao
cional, inviabilizando a indicação de um lação da área e facilitar a programação
governador civil pela Aliança Democrá Palácio 31 de Março, numa manifesta das futuras campanhas de vacinação.
tica, para substituir o atual governador ção pacífica que visava a abertura do ga Também foi efetuada uma enquete epi
Arídio Martins. rimpo, na reserva indígena Yanomami, demiológica sobre oncocercose, consta
Ontem em Manaus, de passagem para e a solidariedade a José Altino Macha tando-se uma alta prevalência da mes
Boa Vista, Mozarildo Cavalcanti voltou do, preso na Penitenciária Agrícola de II13.
a defender a exploração dos minérios da Boa Vista desde a noite de sábado, 16, No final do ano, a FUNAI incumbiu a
serra dos Surucucus de maneira orde acusado de perturbar a ordem pública, CCPY/MDM de atender os Yanomami
nada, de formas a beneficiar o Território “como principal responsável pela inva — Tisiporatheri, durante um surto de
de Roraima e garantir também a inte são coletiva na reserva Yanomami”. En uma doença virótica de origem desco
gridade dos índios Yanomami. Ele disse quanto isso, um representante dos ga nhecida que os vitimou na região de Su
que, inclusive, já apresentou projeto à rimpeiros discutia com o governador rucucus. Em dezembro, durante uma
Câmara dos Deputados, que já foi apro Arídio Martins de Magalhães a situação reunião de saúde em Boa Vista, entre a
vado em três comissões. (A Crítica, 16/ destes em Roraima. Como as conversa FUNAI e a CCPY, discutiu-se a forma
02/85). ções não tiveram o resultado esperado º ção de uma subcoordenação para aten
pelos garimpeiros, ficou decidido por der os Yanomami, composta de dois re
estes que o garimpo deve ser invadido presentantes da FUNAI (um da 1° DR
Retirada dos garimpeiros novamente. (Folha de Boa Vista, 15 e e outros da 10° DR) e um da CCPY,
22/02/85). cobrindo as áreas Yanomami de Rorai
Notícias chegadas de Roraima dão conta ma e do Estado do Amazonas.
de que a situação está sobre controle. O Ainda em 1984, concomitante com o
governador do Território, a pedido da Convênio de saúde trabalho médico, foi efetuado um rela
FUNAI, colocou a Polícia Militar na tório de saúde de 80 páginas, produto do
Serra das Surucucus, com auxílio de um Durante o mês de fevereiro, reuniram
Projeto Piloto de 1983, juntando dados
Búfalo da Força Aérea Brasileira. se em Boa Vista, a Comissão pela Cria de saúde e da situação da terra nas seis
Os garimpeiros que ficaram em Boa Vis ção do Parque Yanomami, Médicine e a áreas visitadas(Boas Novas/Ericó, Cou
ta, depois que a invasão foi abortada Fundação Nacional do Indio. CCPY/ to de Magalhães, Surucucus, Mucajái e
com a denúncia de “A Crítica”, inicia MDM/AIM juntamente, elaboraram Agarani (em RR) e Aracá (no AM). Há
ram um movimento em frente ao monu um projeto interdisciplinar de saúde a também um trabalho sobre a interpre
mento em homenagem ao garimpeiro, partir de recomendações que haviam fei tação tradicional das doenças entre os
exigindo a abertura do garimpo de Su to à FUNAI em 1983, no término do Pro Yanomamielaborado por Bruce Albert,
rucucu. Faixas, cartazes, com palavras jeto Piloto de Saúde. antropólogo que fazia parte das equipes.
de ordem do tipo, “Estamos com Fome, O novo Projeto, aceito pela FUNAI com (Cláudia Andujar, da CCPY, especial
a Solução é Surucucu”, estão espalha duração inicial de 2 anos, visa dar conti para o Aconteceu).
das por quase toda a cidade. nuidade à vacinação, elaboração de fi
chas individuais e de manuais de saúde e
ao levantamento de dados em relação a
questão da terra Yanomami. Em 1984,
3 médicos e uma dentista da MDM, um

97
nhado à FUNAI, referente “aos proces 5. Efetivamente, coroando toda essa
sos de declaração de nulidade dos Alva trama contra esses povos indefesos, ja
rás nºs 459, 460, 461, 462 de 31.01.79, mais consultados para qualquer ativi
Balbina ameaça Reserva instaurados por este Departamento por dade e penetração no seu território ime
interferência na reserva indígena.—Ter morial, a 23.11.81, o Presidente da Re
A hidrelétrica de Balbina, cujo funcio ritório dos índios Waimiri/Atroari.” pública, João Figueiredo, assina o De
namento está previsto para 1988, inun Essa atitude correta do Sr. Diretor Geral creto 86.630. Esse Decreto, contrarian
dará todo o território tradicional da con
do DNPM, pretendia corrigir um erro e do toda a tradição da Legislação Indi
federação indígena Waimiri-Atroari, no restituir a justiça para os índios. Mas genista brasileira, muda o “status” jurí
norte do Amazonas e sul de Roraima. A teve encaminhamento favorável ao Gru dico da Reserva Waimiri/Atroari,
denúncia foi feita esta semana pelo mis po Paranapanema, porque a própria di transformando-a em “área temporaria
sionário Egidio Schwade, através de do reção da FUNAI na época, como tutora mente interditada”, um instrumento le
cumento enviado às entidades interna infiel do patrimônio dos índios, advogou gal, fantasma, ou nem sequer existente
cionais de defesa aos índios. a causa da Empresa, contra a opinião do na legislação do país. E para atender ex
No documento, o missionário afirma DNPM. plicitamente os interesses da Paranapa
que a simples presença de trabalhadores Temos a certeza que essa documentação nema, desmembrou da Reserva Waimi
da Eletronorte (empresa encarregada da está em mãos do DNPM, a menos que ri/Atroari, toda a região a que se refe
construção da hidrelétrica) “empurrou alguma ação ou fogueira criminosa a te rem os alvarás acima citados, onde a
os índios para fora de seu habitat e ne nha destruído. Além desse, muitos ou Empresa já estava atuando ilegalmente.
nhum levantamento antropológico ou tros documentos da FUNAI, DNPM e da Numerosos documentos podem ser exi
etnológico sério foi feito para determi própria Paranapanema evidenciam a bidos pela FUNAI DNPM, CIMI, Equi
nar se há índios e quais os lugares que sua ação em terra indígena. Relaciona pe de Pastoral Indigenista da Prelazia de
eles mais freqüentam para caçar e pes mos alguns que o DNPM sempre precisa Itacoatiara, e outras entidades, que
car, enfim, qual a sua dependência da ter presente na sua atividade na região comprovam a política desonesta que foi
área a ser inundada”. (FSP, 30/09/84). do Rio Pitinga: destruindo o patrimônio, as condições
1. O Decreto nº 68.907 de 13/07/71 de vida e a própria vida dos índios Wai
que cria a reserva Waimiri/Atroari. O miri/Atroari, visando o favorecimento
DNPM rebate CIMI memorial descritivo e os mapas que o de Mineradoras, especialmente da Para
acompanham incluem na reserva Wai panema. Só para quem considera as re
O diretor do 8º Distrito do Departa miri/Atroari, a área onde atua hoje a servas indígenas “nichos de vazios de
mento Nacional de Produção Mineral, Mineração Taboca S/A (Paranapa mográficos negados ao Brasil”, e não a
DNPM, José Belfort Bastos, refutou nema). terra-mãe de povos com direitos iguais a
acusações feitas pelo Cimi e a equipe de 2. Os Alvarás de 31/01/79 — supra ci nós mesmos, tem a audácia de ainda de
indigenistas da prelazia de Itacoatiara tados —, do DNPM concedem à Timbó fender uma política colonialista, viola
sobre as ameaças que pesam sobre a re — Indústria de Mineração Ltda. — hoje dora das leis do País e da mais elementar
serva dos waimiri-atroari, em vista da Mineração Taboca S/A, autorização justiça. Gostaríamos que o Sr. José Bel
invasão das terras por empresas para a para “pesquisar cassiterita em terrenos forte todos quantos pensam como ele,
exploração mineral. Ele afirma “desco devolutos” do Município de Novo Airão. tivessem também a “audácia” de pedir
nhecer as entidades, sem qualquer auto Acontece que esses terrenos não eram para as suas famílias as desgraças que
ridade para chamar a si o direito de opi devolutos, mas pertencentes à Reserva semelhante mentalidade trouxe para as
nar sobre legislação mineral”. Cita o de Waimiri/Atroari. famílias Waimiri/Atroari nos últimos
creto 86.630, do presidente da Repúbli 3. Por isso, em 02/04/80 o DNPM atra quinze anos.
ca, criando a reserva waimiri-atroari, no vés do Diário Oficial da União, intima a Se as reservas indígenas são “nichos de
qual o DNPM se apóia, segundo Belfort Paranapanema S/A a apresentar sua vazios demográficos negados ao Brasil”,
Bastos, para impedir a invasão da re defesa em processo de nulidade dos Al o que dizer do império da Paranapa
serva. (FSP, 02/10/84). varás que concedera, “face à informa nema, que se estende por diversos esta
ção da FUNAI, de que as pesquisas es dos brasileiros (inclusive por outras
tariam sendo desenvolvidas, em 80% em áreas indígenas como a dos Tenharim,
Paranapanema lavra mineração terras indígenas.” no Igarapé Preto), todo mantido sem
dentro da Reserva 4. E em 03/10/79, a FUNAI deu conhe que o povo brasileiro tenha livre acesso
Waimiri-Atroari cimento ao DNPM pelo “Of. nº 042/ às áreas onde atua, para saber como se
GAB das medidas tomadas no sentido originou, para onde transporta a nata de
Em entrevista publicada num jornal lo da paralisação das atividades da Mine nossa matéria-prima, a que preços e
cal, o Sr. José Belfort, Diretor Regional radora na área indígena” e que estava quem são os reais favorecidos.
do DNPM — Departamento Nacional promovendo a anulação dos supra-cita
de Produção Mineral — contestando o dos alvarás. Mas, em seguida, a FUNAI Itacoatiara, 21 de setembro de 1984
CIMI declarou que a “Paranapanema e o Ministério do Interior iniciaram uma Movimento de Apoio à Resistência Wai
lavra a mineração fora de qualquer área trama contra a reserva Waimiri/Atroa miri/Atroari
indígena”. ri, que incluem instruções técnicas forja Equipe indigenista da Prelazia de Ita
Para auxiliar a memória do Sr. José Bel das, exposições de motivos, e minutas de coatiara e
fort, lembramos o Ofício nº 01750 de decreto visando extingüir a reserva Wai CIMI de Itacoatiara.
15/09/81, do Diretor Geral do DNPM, miri/Atroari. Assim, por exemplo, duas
Sr. Ivan Barretto de Carvalho, encami instruções técnicas cujo autor é o Coro
nel Claudio Pagano, Diretor do Depar
tamento Geral do Patrimônio Indígena,
com o mesmo número de ordem e a mes
ma data tem conteúdo diferente.

98
|

Waiãpi

AMAPÁ/NORTE
DO PARA

99
–/ #%
* | S. A INDÍGENAS NO BRASIL/CEDI

3 + AMAPÁnoRTE Do PARÁ

\, GUIANA
SURINAME A FRANCESA

ALENQUER MONTE
ALEGR

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>> s<> |-

100
AMAPÁ/NORTE DO PARÁ 3

QUADRO GERAL DOS POVOS INDÍGENAS DA ÁREA AMAPÁ/NORTE DO PARA


Nçº NO N@ DE AT_DETAS OU
NOME DAS ALDEIAS POPULAÇAO FONTE E DATA
---- **i

POVO MAPA NOME DA ÁREA MUNICÍPIO

AP) Oliveira/
PALf KUR
}
RI do Uaça
-

Oiapoque (AP)

6 56° AJATO: 84

GALIBI DO UAÇÃ 2 idem idem } 878 |idem

KARIPUNA 3 idem idem 5 300 idem


GALIBI/ &l minã idem •

UNA • AI do JUmina 2 75 idem

GALIBI 5 AI Galibi idem 1 {36 idem

Vila Nova • i ^>


KAREPUNA 6 do Taparabu idem 1 32 LC#IT!

AI Amapari Macapá/Mazagão 6 255 Gallois: 85


WAIÃPI 3 PI Tumucumague Almeirim (PA) ll idem

9 isolados idem 40 Oliveira: 83

10 PI TuTucumaque idem 213 ||Van Velthem: 84


WAYANA-APARAÍ
ll AT Rio Paru de Leste lidem 68 idem

TIRTYÓ/ Óbidos, VEur)


|KAXUYANA 12 |PT TUTITUCUmaque Almeirim 1 (} ººº velthem:35

WALWAI L3 AI Nhamundá Oriximiná } 705 MICEB: 82

HiXKARYANA 14 idem Fal_C l 308 Almeida: 81

KAXUYANA 15 idem idem l 24 idem

Arredios 15 Rio Cuminapanema doidos,


Oriximina
•+ 3 ? MNTB: 84

+ • Alto Rio Trombetas e ==

Arredios 17 UruCara 3 ? Baines: 83


afluentes

101
S INDÍGENAS NO BRASIL/CED

NOTÍCIAS
DE OLAPOQUE
o andamento das pendências das demarcações
e uma avaliação do papel da AJAIO

Frederico M. de Oliveira (*)

D (nº 3, da série POVOS INDÍGENAS NO BRASIL/


esde a publicação do volume Amapá/Norte do Pará Para agilizar a homologação, os índios querem que sejam
redemarcados os dois pontos que foram erradamente ex
CEDI), ocorreram algumas novidades no que diz res cluídos na demarcação de 1979: amarrar o marco situado
peito à definição e complementação da tramitação jurídica dentro da área do aeroporto de Oiapoque, ao limite noroes
das terras indígenas da região de Oiapoque, relatadas a se te da Reserva e, sobretudo, incluir o Lago Lençol, situado
gtulr. próximo ao Igarapé Taparabu. A inclusão desses trechos é
reivindicada pelas comunidades há seis anos,
Redemarcação da Em 1984, 40 Karipuna participaram da aviventação de li
Reserva Indígena do Uaçá mites da Reserva, colocando 51 placas indicativas do MHN
TER/FUNAI, de dois em dois km, ao longo do trecho da
Em agosto e setembro de 1983, os Karipuna iniciaram a re Reserva cortado pela BR-156 e no interior das picadas do
demarcação dos limites sul e oeste da Reserva do Uaçá, Km 64 e 112. O apoio logístico para esse trabalho foi for
abrindo duas picadas para atingir as cabeceiras dos rios Cu necido pela AJAIO e pela Prefeitura de Oiapoque. Essa me
ripi e Uaçá. Delimitaram assim uma área que inclui as nas dida fazia parte do “Termo de Compromisso GTFA/Comu
centes dos três rios que formam a reserva, com cerca de nidades Indígenas" assinado em 1980. A AJAPO tentou re
14.000 ha, passando a se denominar Uaçá II. Desta primeira solver, no decorrer de 1984, algumas pendências relativas
fase dos trabalhos participaram também agrimensores da 2° ao compromisso, por parte do Governo do Território, de in
DR/FUNAI e do INCRA e funcionários da AJAIO, unidade denizar 592 km de madeira extraídos da reserva para a
da FUNAI que forneceu apoio logístico para a demarcação. construção de pontes, no valor de cerca de 23 milhões dê
Faltou abrir uma picada que ligue as duas linhas abertas cruzeiros. Falta ainda indenizar os índios pela faixa de terra
pelos índios, fechando assim a demarcação do Uaçá II. Para da rodovia, no valor de 307.000 cruzeiros. Até agora, o
isso, os índios estão aguardando a designação de um topó GTFA não demonstrou interesse em saldar essa dívida, cu
grafo. Terminados os trabalhos de demarcação física, a área jas negociações pela passam pela AJAXOe 2º DR/FUNAI.
do Uaçá II poderá ser anexada à área do Uaçá I. Uma alter
nativa para a anexação dessa área seria, conforme sugestão Do termo de compromisso de 1980 consta também a im
da AJAIO aprovada pelos índios, a sua “aquisição a preço plantação de Postos de Fiscalização ao longo da BR-156. O
simbólico "junto ao INCRA (Oliveira: 1984 e Paulo Orlando primeiro, no km 70, funciona há três anos e se transformou
Fº: 1984). numa aldeia Karipuna. O segundo, está sendo implantado
à altura das cabeceiras do Rio Uaçá, no local denominado
A área denominada Uaçá I corresponde à Reserva parcial Tuka-y pelos Galibi que ali se transferiram, Com o incre
mente demarcada em 1979 que os índios querem ver homo mento da garimpagem no Rio Cassiporé, cujas águas já es
logada, uma vez que a demarcação física não foi acompa tão poluídas, os índios têm intensificado incursões nos limi
nhada de decreto. Em resposta a uma carta das lideranças tes da Reserva, para fiscalizar a entrada de invasores.
do Oiapoque reunidas em Kurmenê, o presidente da FU
NAI, Jurandy M. da Fonseca, informou que a Reserva do Por outro lado, como ocorre em todas as áreas indígenas da
Uaçá não fora ainda homologada porque falta finalizar sua região Amapá/norte do Pará, os índios do Uaçá — sobre
demarcação e que o acréscimo do Lago Lençol deveria ser tudo Karipuna — estão explorando o ouro nos igarapés e
submetido ao “Grupão", instituído pelo dec, nº 88.118/83, nas cabeceiras do Rio Curipi. Trabalham manualmente, em
regime de mutirão, repartindo o ouro no final do trabalho.
Têm mantido certo sigilo sobre esta atividade, a fim de não
(*) chefe da AJATO/FUNAI, em Oiapoque (AP).
atrair garimpeiros que transitam pela BR-156. A atividade

102
s! Z> Acervo
_/\ _> A AMAPA/NORTE DO PARÁ 5

#::: Aldeia Galibi/Karipuna


do Juminá (AP).

===-- *#

é desenvolvida sobretudo pelos jovens, supervisionados pelo O GT verificou que não há incidências de posses na área
Seu Henrique, chefe da aldeia Km-70. Ninguém assume a requerida pelos índios. Os direitos alegados pela fazendeira
garimpagem como atividade permanente, mas é vista como já haviam sido desmentidos anteriormente, por ocasião de
uma fonte de recursos complementar, alternativa às saídas uma entrevista entre a representante dos Galibi, Luíza Nu
periódicas para a Guiana Francesa (ver abaixo: "Aumenta nes e o ex-prefeito de Oiapoque que informou que a posse
trânsito de índios na fronteira"). da fazendeira não está cadastrada.

Identificação da Área Indígena Juminá Área indígena Galibi registrada no SPU


Em julho de 1984, um GT criado pela Port. nº 1651/E da As terras dos Galibi do Oiapoque, cuja demarcação foi ho
FUNAI procedeu à identificação da Area Indígena Juminá, mologada pelo decreto nº 87.845/82, foram registradas no
no município de Oiapoque. Esta área, situada ao norte da Cartório de Registro de Imóveis da Comarca de Oiapoque,
Reserva Indígena do Uaçá e da Area Indígena Galibi, já no em 14.10.83 e no SPU-PARA, conforme a certidão nº 71/
estuário do Rio Oiapoque, é ocupada por 65 índios Kari 83 de 12.12.83. Com isso, esse território indígena constitui
puna e Galibi, formando duas aldeias: a Ilha do Laranjal, se como a única área de terras registradas no municípoio de
ocupada por 40 Galibi e Cunanã, com 25 Karipuna. Oiapoque, conforme declaração do representante do IN
CRA local, numa reunião na cidade de Oiapoque, em se
Informações preliminares sobre esta área foram registradas tembro de 1984.
no volume Amapá/Norte do Pará (CEDI, 1983), onde se
mencionava o conflito com a fazendeira Maria do Carmo
Viana, “proprietária" do Retiro São Francisco, situado na O papel da AJAIO
margem esquerda do Igarapé Juminá. Há alguns anos, esta
fazendeira procura expulsar os Galibi da Ilha do Laranjal, Criada em 1982 pelo presidente da FUNAI, Paulo Moreira
que ela pretende usar para ampliar sua criação de gado. Leal, através da Port. nº 764/N, a "Ajudância da Area do
Inicialmente, Maria do Carmo foi apoiada pela comuni Oiapoque" (AJAIO), representava, para os povos da re
dade Karipuna, que não seria desalojada e pelo missioná gião, a esperança de passarem a dispor de uma assistência
rio da MNTB que reside no Cunanã. A partir de 1982-83, os bem mais constante e eficaz da parte da FUNAI, principal
Galibi foram procurar ajudar na cidade de Oiapoque e na mente nos campos de saúde e educação. Galibi, Karipuna e
AJAIO. Suas reivindicações passaram a ser apoaidas pelas Palikur reclamavam de que a FUNAI não lhes dava a aten
demais comunidades indígenas da região do Oiapoque. ção merecida e que ela tentava transferir gradativamente
seus encargos assistenciais à responsabilidade do GTFA
A área identificada pelo GT engloba a duas aldeias, e uma que, por sua vez, não demonstrava interesse em assumi-los
área de 24.000 ha de extensão. A maior parte desta área é (ver “A Reserva do Uaçá", no vol. 3 da série Povos Indí
formada por campos alagados e as únicas áreas propícias genas no Brasil, CEDI, 1983).
para atividades agrícolas são as ilhas e as encostas das mon
tanhas. A criação da AJAIO, no entanto, foi seguida de alguns
equívocos: criou-se uma Ajudância sem a realização de um
levantamento prévio de suas necessidades quanto à
organização física e funcional. Após sua criação, a AJAIO

103
s! Z> Acervo
_/\ | S A S INDÍGENAS NO BRASIL/CEDI
passou a funcionar com um único funcionário, Rodolfo Va No final de 1984, quando a FUNAI/BSB suspendeu as ver
lentim Junior que residia a maior parte do tempo longe das bas destinadas à AJAIO — alegando o surgimento de situa
áreas indígenas, em Macapá e que desconhecia por com ções de conflitos em outras áreas indígenas no país, para
pleto os problemas da região. Nessas condições, a AJAIO onde foram canalizadas os recursos disponíveis — o chefe
tornou-se praticamente inoperante e, no primeiro semestre da Ajudância procurou a colaboração de agências locais,
de 1983, encontrava-se sob absoluto descrédito diante das ligadas ao GTFA, para dar continuidade aos trabalhos de
comunidades indígenas e outros órgãos de assistência local, assistência na área (Prefeitura de Oiapoque, ASTER/
a ponto da Câmara de Vereadores de Oiapoque — da qual SEAG, SEAS/UMSO/CEF, SEC).
participam vários índios — enviar documento à FUNAI so
licitando a substituição do chefe da AJAIO. Nesse período, os esforços da AJAIO se voltaram principal
mente para resolução de pendências na questão da demar
A chefia da Ajudância foi então assumida pelo indigenista cação da Reserva do Uaçá e, apoiando as com unidades in
Frederico de Miranda Oliveira que enfrentou os mesmos dígenas, retomou entendimentos com o Governo do Terri
problemas da fase anterior: verba insuficiente, falta de veí tório para uma melhor fiscalização dos limites da Reserva e,
culo e de pessoal. com a FUNAI, para a homologação da demarcação desta
Reserva.
No final de 1983, a AJAIO pôde iniciar uma série de traba
lhos de infra-estrutura (com a construção da nova sede e A criação do Posto de Vigilância do Encruzo, na confluên
melhorias nas sedes dos Postos) e a contratação de pessoal cia do Rio Oiapoque e do Rio Curipi — por onde entram inv
para a área (foi dada preferência aos índios: 8 foram con vasores da Reserva — permitiu melhor fiscalização da área.
tratados, entre atendentes de enfermagem, professor, chefe No local, agora dotado de infra-estrutura mínima e cujo tra
de posto e auxiliares). Foram implantados programas de piche foi reconstruído, permanece um chefe de Posto, índio
apoio (ver “Mais escolas na região do Oiapoque") amplian Fulni-ô casado com uma Karipuna.
do-se o atendimento às aldeias antes não assistidas: Flecha
e Tawari na área Palikur, Açaizal e Km-70 na área Kari Com essas atividades, a AJAIO procurou atender as reivin
puna e Juminá, aldeia situada fora da Reserva do Uaçá. dicações dos índios apresentadas nas assembléias e reuniões
locais. Houve de fato maior aproximação entre a adminis
tração e as comunidades; por diversas ocasiões, em 1984,
estas apoiaram a AJAIO e se mostraram totalmente contrá
rias à transferência da AJAIO para a cidade de Macapá.

uma olhada maior pra nossa região”, so Também a escola bilíngüe “Lekol Kheu
licitando em particular a homologação ol”, com programa de educação na lín
da Reserva Uaçá I e a demarcação da gua creoulo, foi estendida a outras al
Reunião das lideranças Reserva Uaçá II (ver acima, no texto). deias. O programa foi inicialmente im
em Kumenê (Carta de 28/05/84, assinada por 14 tu plantado pelo CIMI na aldeia Karipuna
xáuas do Oiapoque). do Espírito Santo, hoje com 4 monito
Os líderes de todas as aldeias da Reserva res. Em 1984 foi implantado na aldeia
do Uaçá, da Reserva Galibi e do Juminá, Galibi de Kuramumã, com 4 monitores
assim como representantes dos Palikur Mais escolas na região locais e 130 alunos, na aldeia Palikur do
da Guiana Francesa participaram da do Oiapoque Tawari com um monitor Karipuna e na
reunião, promovida pelos Palikur da al aldeia Karipuna do Manga onde o pro
deia Kumené, em maio. Estavam pre Nos dois últimos anos, a contratação de grama sofreu modificações. Nessa al
sentes também, a convite dos índios, novos professores, a construção de esco deia, poucas crianças falam o creoulo e
funcionários da AJAIO e o delegado da las e a reativação de outras deu um im um novo método está sendo experimen
2º DR/FUNAI. Na reunião, discutiram pulso importante à educação escolar na tado.
problemas internos, relacionamento região do Oiapoque. Na aldeia Kumarumã foi realizada uma
com órgãos de apoio e com missões reli Atualmente todas as aldeias da área têm experiência de funcionamento do ensino
giosas. À FUNAI, pediram “mais di pelo menos uma escola, passando de 5 de 1º Grau; a experiência não deu certo
nheiro e pessoal prá mais coisas ser fei em 1983 para 11 em 1984. Novas escolas devido às dificuldades criadas pela su *

ta”. Num documento enviado ao presi foram abertas nas aldeias Karipuna do pervisão da SEC/AP que não reconhe
dente da FUNAI, pediram “prá dar Km-70 e Açaizal e na aldeia Palikur do ceu a 5° série implantada na aldeia.
Flecha.
No início de 1985, essas escolas reinicia
ram suas atividades com 15 professores,
sendo 8 da FUNAI (7 novos professores
foram contratados em 1984), 2 da
MNTB e S do CIMINORTE II.

104
* #Z_Acervo
_/\ | <> A AMAPÁ/NORTE DO PARÁ 7

Os professores das diversas entidades A entrada de índios da Guiana no Uaçá Quanto à religião, nós somos católicos e
que atuam na região se reuniram num — alguns deles passando longos perío outra religião aqui não ajudaria em
curso preparatório, organizado com a dos, inclusive para pescar no Rio Uru nada e sim serviria apenas para dividir a
colaboração do CIMI, SEC, DEC e FU cauá, com a autorização dos Palikur de comunidade, como está acontecendo
NAI, em março de 1984, quando partici Ukumenê — tem criado atritos com ín com os índios Palikur do Kumenê, in
param de um “Seminário de estudo, dis dios de outras aldeias e moradores não fluenciados por missionários dessa Mis
cussão e elaboração do currículo da área índios da região. Estes estão interessa são que pede permissão prá entrar. Esse
indígena” e do curso “Noções de antro dos em garimpar na área indígena mas é nosso pensamento”. (21/05/84).
pologia para trabalho em áreas indíge foram impedidos pelos índios, que os AMNTB mantém atualmente duas mis
mas”. (Frederico Oliveira e Rebeca Spi ameaçaram com a tradicional punição sionárias no PI Palikur, que atuam em
res, 1985, ip.). reservada aos invasores, chamada “fa serviços de saúde, no MOBRAL e no es
xina” (Declaração de A. Gomes, 14/06/ tudo da Bíblia, a pedido da comuni
84). dade. Na aldeia do Juminá, trabalham
Aumenta trânsito Fora os Palikur, que mais freqüente quatro missionários desta organização,
dos índios na fronteira mente visitam o Uaçá, outras famílias prestando serviços nas áreas de saúde e
indígenas da Guiana estiveram naquela educação. (F. Oliveira, 1985, ip).
Em 1983 e 1984 prosseguiram os deslo área em 1984. Os Galibi do Oiapoque
camentos de índios da região do Oiapo receberam também visitas dos índios
que para a Guiana Francesa, e vice Galibi do Maná e, segundo o líder Ge Aumenta a população
versa, pelos motivosjá conhecidos: visita raldo Lod, é bem possível que algumas indígena no Taparabu
a parentes, procura de empregos tempo famílias do Maná se mudem para a Re
rários e transações comerciais. São so serva Galibino verão de 1985. Ainda em A área ora identificada como AIJuminá
bretudo rapazes solteiros, das aldeias do 1984, os Emerillon estiveram na aldeia tem seu limite sudeste contíguo à área da
Manga e Kumarumã e famílias Palikur do Manga e convidaram os Karipuna Reserva Indígena do Uaçá. Ao sul faz li
que saem para a Guiana, onde permane para conhecer sua aldeia no Rio Camo mite com a Vila Nova do Taparabu, pe
cem por tempos variáveis, entre 3 e 15 pi. Dessa área, situada no alto Oiapo quena povoação situada à margem di
Ii1CSES. que, lado francês, vieram também dois reita do Igarapé de mesmo nome que,
Inversamente, muitos Palikur — das al Waiãpi que, após uma primeira visita à por sua vez, se constitui como limite da
deias próximas de Saint Georges de AJAIO em 1984, foram encaminhados Área Indígena Galibi. A Vila do Tapa
l'Oyapock — visitaram parentes na Re por esta Ajudância para visitar parentes rabu está portanto encravada entre 3
serva do Uaçá. O Capitão Auguste la no Amapari, em março de 1985. (Fre áreas indígenas e, em função disto, é ha
Bonté, da aldeia Perséverence, partici derico Oliveira, 1985, ip). bitada por um número cada vez maior
pou da reunião de lideranças em Kume de famílias indígenas.
nê, em maio de 1984. Naquela ocasião, a Na Vila propriamente dita vivem 3 famí
afirmou que “se a reserva indígena (do Indios do Oiapoque lias formadas por mulheres Karipuna
Uaçá) continuar melhorando, muitos recusam MNTB casadas com regionais, num total de 20
índios que estão do outro lado voltarão pessoas (1982). Ali perto, na margem do
pro lado brasileiro”. Segundo Auguste, Em 1984, a MNTB solicitou permissão à Igarapé Taparabu, já dentro da Área In
“a política do governo francês é de dar FUNAI para trabalhar em todas as al dígena Galibi, vivem mais 30 Karipuna
bens aos índios, mas não o principal que deias da região do Oiapoque. À exceção (Souza, 1983). A ocupação indígena
é a terra” (Paulo Orlando Fº, 18/06/ dos Palikur da aldeia Kumenê, onde nesse local aumentou em 1984, com a
84). missionários evangélicos atuam há mais chegada de mais algumas famílias Kari
de dez anos, todas as outras aldeias re puna originárias do PI Uaçá. Formam
cusaram a entrada dos missionários em hoje um grupo de 38 pessoas, no local
suas áreas, mandando cartas à AJAIO que passou a ser chamado “aldeia Kari
como esta: puna do Taparabu”. (Oliveira, 1985,
“Nós tuxáuas dos índios Galibi Marwor ip).
no, Manoel Floriano Macial e Manoel
Felizardo dos Santos, a respeito da con
sulta faz a nossa comunidade se aceitava
a vinda de missionários protestantes da
Novas Tribos do Brasil, prá ficar traba
lhando com a gente, nós consultamos a
comunidade e a comunidade não acei
tou. A FUNAI está nos ajudando, te
mos atendentes de enfermagem índios,
temos professores bastante então não es
tamos precisando de ajuda no momento.

105
* #7_- Acervo
_/\ Egyº
# INDÍGENAS NO BRASIL/CED]

OS WAIÃPI
E OS GARIMPOS

Os índios extraem pequenas quantidades


de ouro, e ritmo próprio
e querem carteira de garimpeiro para
vender a produção diretamente

s Waiãpi começaram a trabalhar na garimpagem de No decorrer de 1984, novos “negócios" voltaram a ser pro
O ouro em 1982, quando o chefe do grupo local do Ma
riry — Capitão Waiwai — resolveu prender um dos
postos aos índios, por intermédio do chefe de Posto. Este,
de fato, tem feito planos para incentivar o “garimpo dos
garimpeiros invasores do Igarapé Aimã, obrigando-o a ensi índios", incluindo a pesquisa de novos filões em áreas mais
nar técnicas de garimpagem a um pequeno grupo de rapa próximas das aldeias onde poderiam trabalhar os membros
zes. Trabalharam um mês e, após a fuga do garimpeiro — de outros grupos locais, distantes do Mariry. Entrou em
que saiu como todo o ouro recolhido — os índios ficaram contato com garimpeiros moradores da estrada e propôs aos
com algumas ferramentas e batéias. Desde então voltaram índios a compra de uma chupadeira que seria paga, em
várias vezes ao garimpo. No início, só iam jovens, em gru ouro, pelos próprios Waiãpi. Isso implica no trabalho de
pos de 4 ou 5, trabalhando poucos dias, para recolher al uma turma de pelo menos 10 pessoas, durante dois a três
gumas gramas de ouro (duas ou três por pessoa), à custa de meses. Os Waiãpi, aparentemente, aceitaram o “negócio”
muito esforço, desperdício e malária. mas não demonstraram suficiente interesse, segundo o che
fe do Posto, para que a compra seja concretizada. Eviden
Em 1982, o Capitão Waiwai aceitou a presença de um ga temente, como todos esses planos são feitos pelo funcioná
rimpeiro que havia se apresentado com credenciais da FU rio, sem a real participação dos Waiãpi, que são vistos, nes
NAI — o então delegado Paulo Cesar de Abreu, da 2° DR, ta história, como os "braçais" que pagarão a máquina; e
o havia de fato autorizado — para trabalhar no garimpo do como não têm acesso nem condições de acompanhar o cál
Aimã. Propôs um “negócio” aos índios: ele traria equipa culo do “pagamento", os Waiãpi não tomaram a frente na
mentos e tiraria uma certa quantidade de ouro, como "pa realização do plano. Por outro lado, já foram “enrolados"
gamento". Retirou de fato “um vidro de Nescafé cheio”, muitas vezes nessas propostas de mecanização do garimpo e
segundo os índios, e saiu, sem ter trazido a “máquina "pro por isto se mostram bastante céticos e desconfiados.
metida. Os índios ficaram apenas com a balança, apreen
dida na saída do garimpeiro, já no Posto da Perimetral. O Finalmente, nos últimos meses, toda a questão da garimpa
ouro, que eles haviam também apreendido, foi devolvido ao gem esbarrou na comercialização, feita somente através da
invasor, por pressões do então chefe de Posto, João de Car FUNAI, o que os índios resolveram não aceitar mais.
valho, alegando a autorização da FUNAI.

Em 1983, outro garimpeiro, morador da estrada e vizinho O garimpo Yjy Piriri


da área indígena, voltou a propor o “negócio". Para faci
litá-lo, trouxe presentes para o Capitão Waiwai e para al Enquanto não se resolvia a compra da chupadeira, em 1984
guns membros do grupo Mariry, que iriam acompanhá-lo os Waiãpi da aldeia Mariry estiveram duas vezes no garim
até o garimpo. Esteve duas vezes na área, mas não trouxe a po — o antigo “Três Pedaços”, rebatizado por eles Yjy Pi
"máquina". Na segunda estadia, acabou sendo expulso pe riri — tirando cerca de 150 gramas de ouro. Na primeira
los índios, a pauladas. Havia insultado um deles, que aca estadia, de 15 dias, foram acompanhados pelo chefe de Pos
bara de perder um filho, e desrespeitado um importante to. Enquanto uma parte do grupo trabalhava no garimpo, a
proibição de caça dos Waiãpi, matando uma cobra sucu
riju. Na fuga, deixou mais algumas ferramentas e um motor
de luz que os Waiãpi utilizam agora nas suas estadias do
garimpo.

106
AMAPÁ/NORTE DO PARÁ 9

Um funcionário da FUNAI pesou o ouro


dos Waiãpi, na aldeia Mariry,
mas os índios não concordaram em vender.

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outra derrubava uma grande roça, nas proximidades do ga — quem trabalhou no buraco — mercadorias a serem com
rimpo. Na segunda estadia, de dois meses, foram também pradas após a venda do ouro. O ouro, entretanto, não foi
mulheres e crianças. Trabalharam cerca de 20 dias nos "bu vendido. Os índios não querem entregá-lo ao chefe de Posto
racos", inclusive as mulheres. Segundo os índios, foi um e este, por sua vez, se recusa a levar os Waiãpi para Macapá
trabalho penoso e a alimentação era deficiente. Voltaram onde eles querem “ver e vender nós mesmos "seu ouro. Mas
todos com gripe. A situação teria sido bem pior se não esti isto não está nos planos do chefe de Posto que, desde que
vessem acompanhados de um funcionário do PIA que tra assumiu o PIA no final de 1983, tem reduzido drastica
tou dos doentes. Parte das famílias se dedicaram à planta mente que ele chama de "passeios" dos índios, recusando
ção da roça nova, e construíram novas habitações. Essa se a levá-los para a cidade a não ser para tratamentos de
roça, com muita mandioca, vai permitir aos Waiãpi perma saúde que não possam ser feitos no Posto.
necer mais tempo no garimpo, sem depender da farinha que
conseguiam trazer da aldeia, a três dias de viagem. Por ou “Ouro tá guardado, não estraga", respondeu o Capitão
tro lado, com essa roça, as atividades desenvolvidas no Yjy Waiwai. Como as famílias da aldeia Mariry receberam este
Piriri vão se inscrever no ciclo tradicional do grupo, consti ano o dinheiro da venda de artesanato — vendido em São
tuindo-se como mais uma aldeia secundária onde várias fa Paulo — puderam comprar uma certa quantidade de muni
mílias podem permanecer meses a fio, recebendo visitas de ção, pano e outras mercadorias que lhes permitem dispen
outros grupos locais por ocasião das festas de caxiri. sar, por algum tempo, a venda do ouro.

Consideram também que com esta nova aldeia será muito Essa questão da comercialização cria tensão nas suas rela
mais fácil reativar a aldeia e a roça do Inipuku, situada a ções com os chefes de posto que se sucederam na área desde
dois dias de caminhada e que foi abandonada em 1981 por 1982, quando os Waiãpi perceberam terem sido enganados
pressões dos funcionários da FUNAI. na primeira venda de ouro que fizeram. Embora confiem no
atual chefe de Posto e apóiem sua atuação em outras ques
E são sobretudo esses fatos, muito mais que a mecanização tões, insistem em vender o ouro, eles mesmos. Exigem in
do garimpo, que importam para os Waiãpi. clusive que a FUNAI obtenha para um deles uma “carteira
de garimpeiro" — documento sem o qual a CEF não aceita
comprar ouro. “Por que garimpeiro tem carteira e nós, na
“Ouro fica guardado” minha terra, não tem?".

As 150 gramas de ouro extraídas em 1984 foram distribuí


das, em partes desiguais, entre 5 pessoas, embora muito Em projeto, um novo garimpo no Kumakary
mais tenham trabalhado no garimpo. O ouro vai para quem
abriu um “buraco" e este deverá fornecer a seus ajudantes Por razões de distância e sobretudo sociais, os membros de
outras aldeias Waiãpi têm tido dificuldades em trabalhar
no garimpo Yjy Piriri, associado territorialmente ao grupo
do Capitão Waiwai. Ocasionalmente, um ou outro rapaz
solteiro, esteve garimpando no Aimã, "ajudando" parentes
da aldeia Mariry.

107
s! Z> Acervo
_/\ @A INDÍGENAS NO BRASIL/CED]

Os membros das aldeias Capoeira, Taitetua e Araçá não A maior parte dos colonos instalados, à beira da Rodovia
demonstraram até agora, muito interesse para o garimpo. Perimetral Norte, entre Serra do Navio e o Posto Aramirã,
O mesmo não ocorre com os Waiãpi das aldeias Ytu-Açu e têm tido, em algum momento, participação nas invasões da
Aramirã — esta última, a aldeia do Posto — que apoiaram 4rea Waiãpi. Todos conhecem relativamente bem a área e
o projeto do chefe de Posto de “compra” de uma chupa suas possibilidades em termos de garimpo: encontra-se ali,
deira. Querem que esta máquina seja instalada no Igarapé segundo eles, o melhor ouro do Amapá. Afirmam que exis
Kumakary (Agua Preta) no limite leste da área indígena. tem vários filões não explorados e que a maior parte dos
Obteriam assim recursos para comprar os bens industriali outros foram “estragados”. Reconhecem de fato que como
zados que, sobretudo nessas aldeias assistidas diretamente deviam entrar na área “meio escondidos" e muitas vezes
pela FUNAI e pela MNTB, têm se tornado de uso diário trabalhar passar
deveriam à noitepor
para nãosegunda
uma serem vistos, os buracos abertos
lavagem. •

(pilhas, panelas, munição, pano, roupas, etc.). A idéia é


abrir um novo garimpo no Kumakary, a certa distância do
filão já aberto por invasores nos últimos anos. O Kumakary Consideram também que agora, com os índios trabalhnado
constitui uma antiga área de ocupação Waiãpi, desativada no ouro, esses filões estão sendo “estragados de vez”. Todos
por muitos anos, após a morte da maior parte dos membros aguardam a abertura das áreas indígenas para mineração,
daquele grupo local por doenças contraídas no contato com conforme notícias que circulavam na região em meados de
as primeiras frentes de garimpeiros na região do Rio Ama 1984... Enquanto isso, evitam entrar no território Waiãpi,
pari (1969-70). Por outro lado, essa área era o caminho uti pelo menos na parte central da reserva, isto é, no Aimã.
lizado pelos garimpeiros que por ali se dirigiam ao garimpo Temem tanto os índios como o chefe de Posto, conhecido na
“Três Pedaços”, no Aimã, e os Waiãpi preferiam evitar região por não mais facilitar a entrada de garimpeiros e ca
contatos com esses invasores. çadores na área, como ocorria no passado. Por isso, procu
ram através dos “negócios” e da venda de maquinário, res
A situação mudou nos últimos dois anos e os Waiãpi têm gatar parte do “ouro dos Waiãpi".
expulsado os invasores que encontram nas suas terras. Ao
mesmo tempo, reativaram a região do Kumakary para ca Por outro lado, continuam envolvidos com a invasão de ou
çadas e foi assim que um grupo de caçadores percebeu que tra parte do território indígena, próximo à aldeia Pupuindy,
a área continuava sendo trilhada por garimpeiros que ha no limite sul da área proposta, onde garimpeiros passam es
viam destruído os pupunhais do antigo grupo Waiãpi, ali tadias intermitentes de 3 em 3 meses, saindo da Perimetral
residente. Esses garimpeiros teriam, segundo os índios, no seu cruzamento com o Riozinho, (D.G.)
“acabado” com o ouro da margem direita do Kumakary, ou
seja, um filão localizado dentro da área proposta. Por isso,
os Waiãpi querem agora instalar seu novo garimpo “na ter
ra de carai-ko”, na margem esquerda do Kumakary, onde
existiriam outros filões, segundo informações dos regionais,

108
AMAPÁ/NORTE DO PARÁ 11

moradores do “Riozinho”, na Rodovia Casos de lepra


Perimetral Norte, em junho, 15 homens entre os Waiãpi
estavam trabalhando no Karawowo. Em
Nova eleição fevereiro de 1985, a invasão prosseguia, Um levantamento iniciado em 1984 e
da Área Indígena Waiãpi com mais de 30 pessoas. Esse garimpo é realizado em várias etapas, pela Dra.
financiado pelo comerciante João Oli Amiris Fusco da Silva, chefe do Pro
A Port. nº 1.651/E da presidência da veira Souza, ou João Pacola, da locali grama de Hanseníase do TFA, detectou
FUNAI constituiu um GT que, em ju dade de Pedra Branca. Não existe pista quatro casos de hanseníase entre os
nho de 1984, esteve na área Waiãpi para de pouso no local, e as mercadorias são Waiãpi do Amapari. Dois casos foram
efetivar a nova eleição desta área indí jogadas por avião. O acesso é feito bei diagnosticados ainda em 1984 e outros
gena. Uma “Proposta de demarcação da rando a área indígena, pelo Riozinho dois casos novos, confirmados em março
reserva indígena Waiãpi” havia sido en que constitui seu limite; segue-se então de 1985, através de biópses analisadas
caminhada à FUNAI/BSB, pela antro por um caminho, durante 5 dias. em Bauru.
póloga Dominique Gallois, em janeiro. Os funcionários da FUNAI fizeram en Os indivíduos atingidos pela doença —
Indicava a área pleiteada pelo grupo, tão uma rápida visita no garimpo da Mi dois deles apresentam deformações nas
conforme consultas realizadas na área neração Monte Negro Ltda., situada nas mãos e insensibilidade nas pernas até
em 1983 (reproduzida no vol.3 da série cabeceiras do Igarapé Etonéwaka, for então tratados como “reumatismos” —
Povos Indígenas no Brasil, CEDI, 1983). mador do Rio Inipuku. Esse garimpo são homens, entre 13 e 60 anos, residen
O trabalho do GT consistiu em confir funciona desde 1979, ilegalmente, con tes em várias aldeia (Ytu-açu, Taitetua e
mar, junto aos Waiãpi e na presença de siderando que João Batista de Oliveira Aramirã). Pertencem a famílias que,
funcionários da FUNAI, aquela propos Costa, sócio fundador da Mineração, nos últimos anos, residiram por vários
ta. Houve apenas uma pequena modifi teve seus pedidos de alvará indeferidos meses junto à antiga sede do Posto Ama
cação no limite sul da área, que passa pela FUNAI e pelo DNPM em 1984. pari, na aldeia Mitiko.
agora pelo Rio Mucuru, afluente do Rio Enquanto não se definiam os limites da O sertanista João Evangelista de Carva
Jari. A área eleita tem cerca de 680.000 área Waiãpi, outras mineradoras inte lho, que trabalhou entre os Waiãpi de
ha, englobando todas as áreas efetiva ressadas nessa áreativeram seus pedidos 1978 até 1983, quando foi transferido
mente ocupadas pelos 5 grupos locais indeferidos, em março-abril de 1984. para a Frente de Atração Parakanã,
Waiãpi, cada um com mais de uma al Dos 50 processos indeferidos pelo então também apresentou hanseníase, do tipo
deia, separadas por 1 a 4 dias de viagem. presidente da FUNAI Octavio Ferreira “MHbordeline reacional”, tipo de lepra
Uma das atribuições do GT foi o levan Lima, 32 eram pedidos de subsidiárias contagiante. A doença do sertanista foi
tamento de invasores, a cargo do repre da CVRD, 13 da CPRM e 5 de J. B. Oli constatada em 1984 pelo Dr. J. P. Bote
sentante do INCRA. Este constatou “a veira Costa, invasor da área do Inipuku. lho Vieira Fº, da Escola Paulista de Me
não existência de colonos” dentro da A proposta do GT foi apresentada ao dicina, que levou o caso ao conhecimen
área indígena. Ali, de fato, só existem grupo interministerial na reunião de 03/ to da FUNAI. Em função disto, João de
garimpos e uma mineradora. Nos últi 05/1985 e obteve parecer favorável. Carvalho foi afastado temporariamente
mos anos, cessaram as invasões na re Quando o GT chegou à área Waiãpi, em do trabalho em áreas indígenas, tendo
gião do Aimã, onde a garimpagem é julho de 84, estes achavam que desta vez sido reintegrado, recentemente, pelo
agora feita pelos próprios Waiãpi (ver a equipe vinha para efetivamente “de chefe da Ajudância de Marabá.
“Os Waiãpi e os garimpos”). Ao sul marcar” e retirar os invasores. No se Fora os quatro casos confirmados entre
da área, no local conhecido como Ka gundo semestre de 84, procuraram solu os Waiãpi, há outros em suspeita. Como
rawowo, um garimpo funciona inter ções para demarcarem, eles mesmos, o o tempo de incubação da doença é longo
mitentemente há 10 anos. Segundo os seu território. Foram apoiados pelo che (de 5 anos, podendo chegar até 10 anos),
fe do PIA, que requereu à FUNAI uma novos casos possivelmente vão surgir nos
verba para iniciar os trabalhos durante próximos meses. (Dominique Gallois,
os primeiros meses de 1985. Como a ver 1985, ip).
ba prometida pelo DPI não veio, os
Waiãpi resolveram aguardar, até a pró
xima estação de chuvas. (Dominique
Gallois, 1985, ip).

109
s! Z_ Acervo
_/\ º A. INDÍGENAS NO BRASIL/CED!

GT-FUNAI IDENTIFICA
AI PARU DE LESTE

Uma área anexa e contínua,


ao sul do Parque Indígena de Tumucumaque,
para abrigar aldeias Wayana-Aparai

Lúcia Hussak Van Velthem"

m setembro de 1984, a Port. nº H.768 da FUNAI Essa área, assim como toda a região do PIT é uma região
E criou um GTpara definir os limites da ocupação indí
gena ao sul do Parque Indígena do Tumucumaque. A
“esquecida", dado seu isolamento geográfico e o difícil aces
so. Este isolamento se aprofunda, estruturalmente, em re
necessidade de um reestudo desse limite, que não respeita a lação ao resto da Amazônia, toda retalhada pelas frentes de
efetiva ocupação da área pelos Wayana-Aparai, nem suas penetração. Mas o PIT é sobretudo “esquecido” politica
relações simbólicas e ecológicas com este território, já vinha mente. E um Parque mas não detém esta prerrogativa: desde
sendo apontado há vários anos, pela antropóloga Lúcia Hus sua criação sempre se viu em penúria ou ainda sem chefe de
sak van Velthem. Posto. O isolamento político, neste caso, assume contornos
peculiares em relação à atuação do órgão tutelar. Engloba
Em 1982, após dois anos de emperramento burocrático em falta de empenho e descaso, unido à incompreensão dos pro
que a documentação se sucedia nos diversos departamentos blemas da área. “Me preocupar com o Tumucumaque, mas
da FUNAI/BSB, as reivindicações lograram chegar à presi por quê? Aqueles índios não me dão problemas..." resumia
dência do órgão para esbarrarem em argumento desfavorá antigo delegado da 2° DR, em Belém (ver adiante "Antonio
vel do então presidente, Cel. Paulo Moreira Leal. Demons Tiriyó denuncia omissão da FUNAI” no Aconteceu na Im
trava este que o Parque seria suficientemente grande para prensa).
abrigar a todos os Wayana-Aparai. Apoiando-se unicamente
em dados físicos, reproduzia mecanicamente o pensamento Cansados da tutela, fatigados da intromissão em seus assun
no qual "qualquer terra serve para os índios”. No caso do tos internos, os Wayana-Aparai retomaram antigas formas
Tumucumaque, rejeitou-se este argumento com base na efe de troca assim como práticas sociais e de ocupação espacial.
tiva ocupação da área e nos critérios de ocupação espacial e A partir de 1976, iniciou-se um movimento de dispersão, ao
de aproveitamento ambiental desenvolvido pelos Wayana contrário do que ocorria antes, com a concentração da maio
Aparai. A contraproposta, provinda deste mesmo presi ria dos Wayana-Aparai na aldeia do Posto, denominada hoje
dente, previa o cancelamento do decreto de instituição do Aldeia Apalai. O resultado foi o despovoamento dessa aldeia
PIT e a delimitação de duas áreas — duas estreitas faixas ao que, em 1984, contava com apenas 84 habitantes, muitos em
longo dos rios Paru de Oeste e Paru de Leste, para os Tiriyó/ caráter temporário.
Raxuyana e Wayana-Aparai, respectivamente — permane
cendo amplo corredor entre as mesmas. Esta proposta era Este processo, aparentemente, não foi compreendido - ou
inadmissível porque aniquilaria a única garantia jurídica da não deseja ser compreendido — pelo órgão tutelar, pois im
área — o decreto presidencial nº 62.998/68—. Foi recusada plicaria na dinamização da assistência sanitária e na criação
e os trabalhos retornaram à estaca zero até a criação do GT de pelo menos um sub-posto para atender — junto com o
em 1984. -
atual Posto — as 19 aldeias deste povo e especialmente as 5
aldeias situadas ao sul do Parque, na área ora identificada
A proposta do GT será encaminhada em breve à FUNAI/ como “Area Indígena Rio Paru de Leste".
BSB, constituindo-se na identificação de uma área de apro
ximadamente 1.000.000 ha, denominada “Área Indígena Embora tenha sido realizados esforços no sentido de melho
Rio Paru de Leste” e contínua ao PIT. rar o atendimento médico na região, o mesmo continua pre
cário, uma vez que, efetivamente só abrange a Aldeia Apalai
e as aldeias circunvizinhas. As situadas no médio curso do
(*) antropóloga, trabalha no MPEG (Belém) e realiza pesquisas entre os Rio Paru não recebem qualquer atendimento e vários índios
Wayana-Aparaí há vários anos. Recentemente integrou o GT/FUNAI para têm morrido em busca de socorro.
a identificação da AF Paru de Leste,

110
s! Z_Acervo
_A SA AMAPA/NORTE DO PARÁ 13

Aconteceu
_

Em área mais vasta, compreendendo Além do peixe, permutam remos, fari


PARQUE INDÍGENA uma faixa que vai do Paru de Leste ao
Rio Jari (incluindo o Rio Mopecu e aflu
nha, canoas, breu, recebendo o paga
mento em ouro, com o qual compram
TUMUCUMAQUE entes, assim como o Rio Ipitinga e seus mercadorias a preços exorbitantes. Mui
afluentes, Igarapés dos Patos e do Infer tas vezes, entretanto, não recebem ne
Antonio Tiriyó denuncia no), a CPRM realiza pesquisa mineral nhum pagamento, mas seu saldo posi
omissão da FUNAI no PIT com base em alvarás concedidos pelo tivo é anotado para futuro e dificultoso
DNPM. Este trabalho é sazonal, ocor recebimento.
A invasão da área do Parque indígena rendo nos meses de estiagem, de junho a É contra esses pagamentos muitas vezes
Tumucumaque por garimpeiros e o des novembro. No Mopecu, a CPRM tem não realizados que três homens da al
caso da Funai para com o problema fo um acampamento permanente. Esta deia Kumarkapan decidiram garimpar.
ram denunciados, ontem, pelo represen Companhia e os garimpeiros do 13 de Encontraram um veio no local denomi
tante daquela comunidade, Antônio Ti Maio atuam na área independentemen nado Mérietopo, à montante de sua al
rios. Ele queixou-se de não ter sido rece te, em relações definidas como de “coe deia e aí dedicam-se a esta atividade,
bido pelo presidente da Funai, Nélson xistência pacífica”. vendendo o ouro conseguido em Ana
Marabuto, a quem pretendia entregar Esta expressão não pode ser aplicada tum. Seguindo este exemplo, vários ho
um documento da situação naquela aos contatos entre os Wayana-Aparai e mens da Aldeia Apalai pretendem, no
área. Ali — de acordo com o seu relato os garimpeiros. Para estes últimos, “a verão de 1985, iniciar-se nesta atividade,
— cerca de 50 garimpeiros procedentes terra dos índios é no alto Paru e a área como opção para a obtenção de recursos
de Santarem se dedicam à exploração do dos “amazonas" (regionais) é até o Cita financeiros e alternativa à tradicional —
ouro, com a conivência do titular da 2? ré”. É com base nesta afirmativa que mas mal remunerada — venda de “arte
Delegacia Regional da Funai, Salomão penetram rio acima, infiltrando-se nos sanato”. (Lúcia Hussak Van Velthem,
Santos. Tirios pede que Marabuto colo afluentes do Paru de Leste: Itapecurú 1985, ip).
que a equipe da Funai encarregada da Apopó, Axiki, onde procuram ouro e no
demarcação da área em contato com os Igarapé Castanheira, onde garimpam
próprios índios, “para esclarecimento cassiterita.
detalhado do trabalho”. Pede, ainda, “Vai entrar muita gente, garimpeiro fa WAYANA-APARAI
estabelecimento de novos postos da Fu zendo muita sujeira, trazendo muita ca
nai dentro do parque, para uma melhor chaça e doença”, se queixam permanen Nova missão
assistência às comunidades ali estabele temente os índios. Em dezembro de
cidas, “que, hoje, se encontram total 1984, quando os índios advertiram os in A Aliança Batista Missionária da Ama
mente carentes de assistência”, e mu vasores de que estavam em “terra de zônia/ALBAMA iniciou suas atividades
danças na administração do parque, Aparai”, estes afirmaram que “não po entre os Wayana-Aparai em julho de
“para uma melhor fiscalização de seus dia provar nada pois nem tinha placa de 1983. Essa organização, cuja sede está
limites”. (Correio Braziliense, 10/10/ demarcação”... em Brasília, tem como objetivo a forma
84). Os garimpeiros penetram impunemente ção de Igrejas dentro da linha de ação da
no médio Paru porque não existe qual Convenção Batista Nacional, da qual faz
quer forma de fiscalização e interdição parte. Atua notadamente na área educa
CPRM e garimpos de suas atividades: a ausência da FU cional e, inicialmente, dedicava-se ex
no Tumucumaque NAI permite-lhes trânsito livre, como clusivamente às populações ribeirinhas
eles mesmo argumentam. da Amazônia. Os Wayana-Aparai re
No interflúvio Jari/Paru de Leste, mais Muito embora temam os garimpeiros presentam portanto a primeira experi
precisamente no Igarapé Gavião, aflu pelas doenças trazidas (principalmente ência dessa missão com povos indígenas.
ente do Rio Mopecu, localizam-se diver gripe e moléstias venéreas) como tam As duas missionárias que se instalaram
sas frentes de garimpo, “barrancos”, no bém pelo clima de desordem e as rixas na aldeia Apalai — sede do Posto —
falar regional. São indistintamente de constantes nos garimpos, várias famílias chegaram a convite do SIL, que também
nominados de Garimpo 13 de Maio, no Wayana-Aparai vêem na permuta com retomou suas atividades nesta área a
me derivado da pista de pouso. Trata-se aqueles uma forma alternativa de aqui partir de 1983. O trabalho da ALBAMA
de garimpos de ouro, administrados por sição de bens industrializados. Assim, se atrela ao do SIL, visando dar-lhe con
Reimar Uchoa, de Santarém. Em 1984 em suas pescarias estivais, esforçam-se tinuidade. Fundamenta-se na tradução
operavam na área mais de 100 garimpei por uma captura suplementar de pesca da Bíblia em língua Aparai: “nossos ob
ros, sem licença de lavra. do que salgam ou moqueiam. Apenas os jetivos são a educação e a palavra de
homens, em dias de semana — porque,
segundo os índios, estes são os dias em
que não há brigas no garimpo — vão ao
entreposto de Adonias Xavier, situado
em Anatum, à beira do Paru de Leste.

111
s! Z> Acervo
_/\ | <> A S INDÍGENAS NO BRASIL/CEDI
Deus, porque este povo já está acostu com o avião da missão. Viajaram vinte Contudo, não ficou claro qual o grupo
mado, então tudo gira em torno da pala dias para chegar ao local onde realiza lingüístico a que pertencem os índios
vra de Deus”, explica uma das missio ram o contato e somente encontraram contactados pela MNTB, uma vez que o
nárias. colonos no curso baixo do rio. A área intérprete Aparai (língua Caribe) que
SIL e ALBAMA dividem hoje as ativida habitada pelo grupo arredio é de difícil acompanhava a expedição não teria con
des religiosas entre os Wayana-Aparai: acesso, devido às cachoeiras. Foi somen seguido entendimento verbal com eles.
várias reuniões por semana, durante as te após novas tentativas de contato, sem E o pequeno vocabulário, de algumas
quais são comentados trechos da Bíblia. êxito, que a MNTB notificou o contato palavras, levantado por ocasião desse
Por outro lado, as missionárias da AL realizado à AESP/FUNAI, em junho de rápido encontro foi interpretado como
BAMA ministram aulas em língua Apa 1983. Na ocasião, a 2° DR/FUNAI se mais próximo de uma língua Tupi, con
rai, da alfabetização até a 3° série, va pronunciou sobre a impossibilidade de forme um missionário desta organiza
lendo-se de cartilhas preparadas pelo mandar uma Frente de Atração, por fal ção que trabalha atualmente entre os
SIL. Ao terminarem os quatro cartilhas, ta de recursos financeiros e humanos. O Waiãpi.
os alunos fazem a transição para a escola atual delegado mantém esta posição. O grupo arredio habita uma área conhe
da FUNAI, onde serão alfabetizados em Não há, portanto, previsão para o con cida como “Cuminapanema”, nome de
português, e, paralelamente, ingressam tato com o grupo arredio. A MNTB, por um afluente do Amazonas, que corre pa
na leitura do único livro disponível: sua vez, mantém a equipe na base do ralelo ao Paru de Oeste ou Cumina.
“Gênesis abreviado na língua Aparai”. Cuminapanema, mas aguarda uma po Conforme mapas recentes da FUNAI, a
(Lúcia H. van Velthem, 1985, ip.). sição para retomar as atividades de atra área delimitada para atração do grupo
ção. Conforme um missionário desta or tem cerca de 200.000 ha, em torno do
ganização, possivelmente a equipe de PIA criado pela COAMA, em 1976.
verá desistir, devido à indefinição por Nunca houve, porém, alocação de ver
ARREDIOS DO parte da FUNAI. bas para este Posto que não foi ativado
As informações disponíveis sobre este até hoje.
CUMINAPANEMA povo são escassas. No relatório sucinto Desconhece-se a situação da área, em
enviado pela MNTB à AESP, os missio termos de invasões. Ao norte, coincidin
Interrompido contato nários se referem à “atitude pacífica” do do com o limite sul do PIT, a invasão de
pequeno grupo (cerca de 20 homens) garimpeiros foi denunciada em 1984 por
Ainda não foram efetivados contatos de com o qual entraram em contato. Men Antonio tiriyó. (Dominique Gallois,
finitivos com os índios arredios no médio cionam ainda o uso de tembetás, cabelos ip).
Cuminapanema, ao sul do PIT (muni amarrados tipo “rabo de cavalo”, pele
cípio de Oriximiná). Os primeiros con clara e estatura média. Características
tatos foram realizados por missionários essas bastante comuns entre vários po
da MNTB, em setembro de 1982. Os vos Caribe que habitam, tradicional
missionários, cuja sede situa-se em San mente, aquela região do norte do Pará.
tarém abriram uma picada e construí Os atuais Tiriyó e Kaxuyana do PIT,
ram uma base a certa distância das qua justamente, mencionam a existência de
tro aldeias, localizadas num sobrevôo um pequeno grupo Ingarune (subgrupo
Kaxuyana) na região do Igarapé Água
Fria ou Ponekru, afluente do Paru de
Oete (ou Cumina, ou Erepecuru). Esse
grupo foi contactado em 1970-71 por
uma expedição da FUNAI; mas os ín
dios encontrados não quiseram aproxi
mação (ver no vol.3 da série POVOS
INDIGENAS NO BRASIL, capítulo
Kaxuyana).

112
|-

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E
(…)
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–1
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2
º

Ticuna

SOLIMÕES

113
EVARE E SÃO LEOPOLDO

CONSTANT

4º3O
ÁREASPROPosTAs PELO GE.
ALDEIAS EXCLUIDAS DOS LIMITES
MALCCAS SOLADAS

: ALDEIAS
POSTO INDÍGENA

*=>

# 4- SOLIMÕES (MAPA 1) { POVOS INDIGENAS NO BRAS11_ / CEDI #

114
sL7-Acervo
_/\ | <> A
SOLIMÕES 3

Al AUATI-PARANÃ

“tBJUTA!
A ! ESTRELA
DA PAZ

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4 _---- #

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_> } |-

ATAi. AlA DO
NORTE

PROPOSTA DO GRUPO DE ESTUDO


— LEVANTAMENTO FUNDIARIO
- - - REESTUDO
# ___* |

O mapa acima se refere às áreas Ticuna consideradas pelo GE/FUNAI-Port


1.692/84. Não aparecem plotadas as áreas Ticuna de Tonantins, Jutaí, Lago
Beruri, Japurá e Maraã, nem as áreas correspondentes aos outros povos da
Área Solimões.

175
sL7-Acervo
=/… E º INDIGENAs No BRASIL/cED
QUADRO GERAL DOS POVOS INDÍGENAS DA ÁREA SOLDOES
POVO NOME DA ÁREA MUNICÍPIO ##### POPULAÇÃO FONTE E DATA
AI Évare Tabatinga, S. 30 8.909 3.

Paulo de Olivença
AI Tikuna S. Leopoldo|Benjamim Constant 3 340
AI Betânia Sto. Antônio do Içá 2 } . 438
AI Auati-Paranã Fonte BC3 3 209

AI Estrela da Paz Jutaí l. 80

AI Macarrão Jutaí l 400

AI Tikuna Sto. Antônio B. Constant 4 698

AI Tikuna Umariaçú Tabatinga l 2.810


TICUNA (1) AI Tikuna Lauro Sodrél B. Constant 3 323

AI Tikuna Porto B. ConStart } 146


Espiritual •

AI Tikuna Wui-Uata-In|S.Paulo de Olivença 6 1.310


Tonantins Tonantins 1 50

AI Jutaí Jutaí 5 250

AI Lago Beruri Beruri 2 370

Japurá Japurá l 10

Maraã Maraã 1 L85


• L7.528 (T)
AT Lago Uarini Uarini l. 280 BarbCSa: 82

MIRANHA Alvarães 77 |Barbosa: 82


(2) Japurá * * * #a >
457 (T)
CAMBEBA AL Lago Jaquiri Alvarães l 59 Barbosa: 82

MAIORUNA AI Boca do Japurá Alvarães l 199 |Barbosa: 82

#… Maraã/Japurá 3 65 Prel.Tefé: 83

CCCAMA AI Nova Esperança Jutaí 5 176 | Prel.Tefé: 83

MACU (4) Japurá 3 …, |x-josé


Antonio: 81

Arredios Japurá/Jandiatuba ?

(*) Levantamento da População Ticuna realizado pela Equipe de Pesquisa do Museu Nacional (RJ) coorde
nada por João Pacheco de Oliveira Filho, em 1984, com a colaboração de Silvio Cavuscens da Equi
pe de P. Indigenista da Prelazia do Alto Solimões. A população Ticuna dos municípios de Japurá e
Marãa foi avaliada pelo Ir. João Antonio, entre 1976 e 1981.
(1) 5.000 no Peru e 2.000 na Colômbia (Baldinger: 81).
(2) 200 na Colômbia (81).
(3) ver também nas Áreas Javari e Jutaí/Juruá/Purus.
(4) ver também na Área Noroeste Amazônico.

116
* #Z_Acervo
_/\ | @A
SOLIMOES 5

INVASOES, CONFLITOS
E MAIS PROMESSAS
DE DEMARCAÇAO
PARA OS TICUNA
João Pacheco de Oliveira Fº
G

Vera Paoliello

O ano de 1984 foi marcado pela existência de muitos conflitos entre


os regionais brancos e os índios Ticuna em função da invasão
e arrombamento de lagos, por constantes investidas no território indígena
para extração de madeira. Quando esses invasores eram descobertos
e expulsos pelos índios das localidades próximas, reagiam com raiva,
desacatando os capitães e líderes Ticuna, afirmando que “a FUNAI
não mandava nada no Alto Solimões”. Faziam também ameaças de voltar
para vingar-se e ainda de preparar represálias para os índios quando
esses fossem à cidade para comercializar seus produtos.

Com a conivência e até mesmo a participação das autoridades (Delegados


e contingente local da Polícia Militar), aconteceram diversos casos
de violência e arbitrariedades praticadas contra os índios nas cidades
de São Paulo de Olivença, Benjamim Contant e Tabatinga. Um Ticuna
de Campo Alegre foi esfaqueado em São Paulo de Olivença, o capitão geral
Pedro Inácio foi ameaçado pelo Delegado e por moradores dessa cidade,
índios foram presos em Tabatinga, houve diversos atritos com elementos
da PM e índios de Urique. O fato mais grave ocorreu no domingo
de Carnaval, onde oito índios de diversas localidades foram feridos pela PM
de Benjamim Constant (seis desses à bala). A situação de hostilidade
da população branca da região contra os Ticuna vem crescendo
sucessivamente pela não apuração desses casos e total impunidades
dos culpados, além da demora por parte da FUNAI na definição
e demarcação da áreas indígenas.

Alguns líderes estiveram em Brasília pressionando os diferentes


ocupantes (3) da Presidência da FUNAI no ano de 1984, no sentido
de acelerar a demarcação de suas terras. Disso resultou o término da fase
de identificação das áreas indígenas destinadas aos Ticuna
no Alto Solimões. O último Presidente da FUNAI, Dr. Nelson Marabuto,
em uma reunião realizada em Umáriaçu, no dia 18.02.85, assumiu perante
os Ticuna e perante aquelas
as autoridades brancas o compromisso de demarcar
brevemente áreas (ver o mapa do Alto Solimões, •

com as áreas indicadas).

117
INDÍGENAS NO BRASIL/CED)

As invasões seus pertences e em seus motores abandonaram o local. O


mesmo ocorreu com alguns moradores da margem direita
s problemas com os “civilizados" que exploram ma do rio Solimões, na altura entre o Cajari e o Vendaval, dei
O deira e pesca no Paraná Ribeiro, no Maitê e alto do
Camatiã já começaram com as ameaças que o Sr.
xando aquela parte da área indígena livre de invasões. A
madeira retirada foi confiscada e transportada para Ven
Santinho Castelo Branco fez ao capitão-geral dos Ticuna, daval.
em São Paulo de Olivença, em 29-12-83. Ele afirmou que
iria continuar a extrair madeira dos lagos Maitê e Maguari, Em conseqüência desse fato diversos capitães e líderes Ti
dos quais se diz dono, embora essas terras estejam dentro cuna passaram a ser ameaçados de morte por madeireiros e
da área incluída em propostas anteriores da FUNAI. (Ma pesqueiros. Em abril de 84, no Rio de Janeiro, Pedro Inácio
güta nº 8). e Adércio fizeram uma denúncia ao Dr. Mario Sérgio Duar
te Garcia, então Presidente do Conselho Federal da Ordem
No início de janeiro de 84 os Ticuna que moram em Santa dos Advogados do Brasil — OAB, das ameaças de morte
Clara, como forma de advertênia a D. Delicia Mafra, pre que vinham sofrendo, bem como das violências que vinham
tensa proprietária do lugar, e que ali mantém inúmeras ca ocorrendo contra índios no Alto Solimões devido à hostili
beças de gado, mataram um dos bois que comumente in dade das autoridades policiais e a falta de recursos (ou de
vadem as suas roças. No dia seguinte a interessada, acom sinteresse) da FUNAI. Mensagens foram enviadas ao Go
panhada de seu marido, sr. Altair Ramos, e de policiais de vernador do Amazonas, Dr. Gilberto Mestrinho, e ao Mi
SPO, estiveram no local, ameaçando de prisão e morte a nistro da Justiça, advertindo para a gravidade do caso.
diversos Ticunas e matando a tiros, como forma de intimi
dação, um cachorro pertencente ao vice-capitão (depoimen Depois desses fatos, os problemas diminuíram um pouco
to de Armando Guedes, em reunião realizada no IAB - RJ). nessa parte do território Ticuna. Em uma reunião de 26
capitães, realizada na aldeia de Vendaval, em 15 de julho
Pouco mais de duas semanas depois, trabalhadores do sr. de 1984, foi elaborada uma lista com os nomes de 11 pes
Epitácio Mafra, que estavam invadindo trechos do Paraná soas que costumam invadir as terras indígenas e criar con
Ribeira para retirar madeira, foram expulsos sem qualquer fusão com os Ticunas (ver no quadro). No final do ano, em
violência por um grupo de Ticunas que por ali passavam. dezembro, um grupo de famílias que haviam se deslocado
Como represália, poucos dias depois, em 24 de janeiro, o de Vendaval para as proximidades do Lago Preto, foi amea
cantineiro de Campo Alegre, Jorge Manoel Avelino, foi çado por indivíduos que estariam usando terras dos índios
agredido brutalmente por um desses elementos, acompa para acobertar contravenções. Posteriormente a Polícia Fe
nhado de outros moradores da cidade. Apanhou muito, le deral esteve por várias vezes na área, realizando sindicân
vou uma facada na parte traseira e só não foi morto por cias e destruindo plantações clandestinas,
que outros brancos interferiram (depoimento de Adércio
Custódio, capitão de Campo Alegre, ao Conselho Federal
da Ordem dos Advogados do Brasil — Rio de Janeiro, 11 de
abril). Quando o capitão-geral foi pedir providências ao De LISTA DE INVASORES
legado de Polícia, foi logo admoestado por esse: “Você não DA ÁREATICUNA
pode se alterar aqui na delegacia porque você não tem di
reito. Você não manda nada aqui. Se você se alterar eu 1. Ditimar, morador de São Paulo de Olivença,
meto dentro do xadrez" (carta de Pedro Inácio, em 05-02 2. Calistinho Calitro, morador de Santa Rita
34) repetida em depoimento prestado na Ordem dos Advo 3. Quintino Mafra, morador de São Paulo de Olivença
gados do Brasil, em 11 de abril). Nessa hora o Delegado 4. Lastimar Castelo Branco, morador de São Paulo de
questionou o próprio capitão-geral, dizendo que ele não ti Olivença
nha mais direito porque não era índio. "Aqui no Amazonas . Duquito Mafra, morador de São Paulo de Olivença
não tem mais índio, porque índio é aquele que mata gente,
come gente, anda nú” (idem).
?. Boaventura Mafra (Mico), morador de São Paulo de
Olivença
7. Epitácio Mafra, morador de São Paulo de Olivença
No dia 3 de fevereiro correu a notícia de que os trabalha 8, Ricardo Henrique, morador de Campo Alegre
dores do sr. Epitácio Mafra estavam retirando madeira no 9. João Pongó, aldeia Feijoal.
Supão e que o seu patrão havia jurado de morte o capitão 10. Delícia Mafra, moradora de São Paulo de Olivença.
geral e outros Ticunas de Vendaval. Um grupo de 150 Ti 11. Magalhães (Vitor), morador de Benjamin Constant.
cunas de Vendaval estiveram procurando-o no barracão do (extraída do documento da Assembléia do Conselho Geral
seu parente, sr. Boaventura Mafra Filho, conhecido como da Tribo Ticuna — CGTC, de 15/07/84).
Mico, que nos últimos anos tem levado diversas famílias de
brancos a estabelecer-se à sua volta, como fregueses, em
pleno território indígena. A casa foi arrombada e todos os
seus bens destruídos, arrastados para fora e jogados no rio. Em outras partes do território Ticuna, porém, continua
Não houve roubo, nem qualquer pessoa saiu machucada, ram os conflitos gerados por invasões principalmente de
os índios não levando nada para si. No dia seguinte todas as pescadores. Em uma reunião ocorrida em 15-07 em Venda
famílias que estavam invadindo a área indígena reuniram val, foram feitas reclamações contra os funcionários Fortu
nato e Euzébio, da SUDEPE, que tomavam peixe dos Ti
cuna, e contra pescadores que entravam armados na área
indígena, desrespeitando os capitães e os representantes ofi
ciais da FUNAI. Um desses fiscais era acusado de ter man
dado a PM de Tabatinga prender os índios Osvaldo Mendes
e Bernaldo Pinto, que apanharam muito na Delegacia.
(nota do Conselho Geral da Tribo Ticuna — CGTT).

118
SOLIMÕES 7

passa para a dir. Arminar…Tºm"…rs…………………………………"TerriedaoAB/RJ. "

Para resolver esse problema, foi realizada uma reunião em


21 de agosto, em Tabatinga, com a presença de 9 capitães e CARTA DE PEDRO R. GABRIEL
mais uma dezena de outros índios, juntamente com repre
sentantes do CF-SOL, da Polícia Federal, da Prefeitura de Uriqui, 25 de janeiro de 1985.
Tabatinga e da FUNAI, além de outros civilizados interes
sados em continuar com a pescaria nas áreas indígenas. 12 Tikunas reunirão-se para fazer a fiscalização dos limi
Dessa reunião resultou: 1) que estava proibida a “batida" de tes da sua área que dividi o Tawarú dos civilizado, com
peixes ou atravessar malhadeiras nos igarapés ou lagos, po Uriquido Tikuna.
dendo os próprios Ticuna apreenderessas malhadeiras e en Este grupo de 12 pessoas fizeram isto porque si encon
tregá-las à FUNAI, CF-SOL ou Prefeitura; 2) o pescador trava um elemento do serviço militar, chamado C. B. Ro
que entrar sem consentimento da SUDEPE, não obedecer drigues, que entrou sem permissão, do capitão da área,
aos Ticuna ou carregar consigo malhadeira, não será aceito; para pescar, num dos lagos, que fica dentro da área da
3) o fiscal Fortunato não vai mais entrar em área indígena; reserva indígena de Uriqui, para ir pescar com seus uten
4) os índios podem vender peixe na feira do Marco, mesmo cilios de pesca. O tal falou que ninguem importava a en
sem estarem vinculados à Associação de Pescadores (jornal trada deli neste lago e disse que todo o ticuna que apa
Magüta, nº II). recesse, para corrigir, ele metia bala.
Na ocasião que os 12 Tikuna chegaram na margem do
Apesar dessa iniciativa, o problema não foi inteiramente lago chamado lago da Menina, não encontraram o tal ele
resolvido porque muitos civilizados ainda questionam que mento. E foram seguindo até o fim do piqui do limite, e ao
essas áreas de pesca sejam parte das terras indígenas, des chegar numa certa parte encontraram uma canoua feita
respeitando a proibição de pesca predatória e tentando às pelos civilizados dentro da área, de uma madeira cha
escondidas continuar com a extração de madeira (ver carta mada jacareuba com 12 metros de comprimento, e esta
de Pedro Ramos Gabriel, de 25-01-85). Ainda recentemente
canoua foi levada para a comunidade do Sacambu e la
os Ticuna de Urique apreenderam 250 toras de madeira e ficou.
60 kg de pescado de um só desses elementos; posterior Mais no dia seguinte que foi no dia 13 os civilizados foram
mente uma patrulha da PM esteve no local pretendendo a buscar a canoua, ameaçando os ticunas, com balas e por
liberação da madeira, ocorrendo uma briga com os Ticuna radas; aonde no momento falou um dos civilizados di
zendo que os Ticunas são uma raça de comunista, tomam
as coisas na base do comunismo.
E a Funai com a Policia Federal dão apoio, porque a Fu
nai com a P.F. só vivem a custa de roubo e são os mais
ladrões que tem e porisso que eles fazem isto. E esta nota
foi tomada no dia 12.1.85 na hora que acontecia o caso,
por: Pedro Ramos Gabriel.

119
Acervo
| @ A INDÍGENAS NO BRASIL/CEDI

Encontro dos capitães Ticuna,


na aldeia de Vendaval,
abril de 1984.

##|

Capitão
Basílio João Rosindo
(à esquerda).
Capitão
Mauricio Laureano Bento

moradores dali. Não foram utilizadas armas, mas alguns Foi estabelecido que no mês de outubro seria realizado um
soldados voltaram muito irritados, querendo uma desforra levantamento dos ocupantes não-índios por uma equipe da
dos índios. Esse estado de espírito da força policial vai ter FUNAI, sob a orientação de André Villas-Bôas, comple
repercussão nos excessos praticados pela PM de Benjamin mentando algumas informações sobre parte da A.I. Evare
Constant contra os índios (vide, a seguir, notícia do confli não incluídas em propostas anteriores (trechos da margem
to, através de relatório à ABA). direita e de terra-firme no Camatiã), no Auati-Paraná, Ma
carrão e Estrela da Paz. Esse planejamento foi cumprido
com sucesso, sendo possível ainda chegar a um acordo com
A definição das áreas as comunidades de Nova Itália e Umariaçu quanto aos li
mites desejados de suas respectivas áreas).
Em setembro de 1984 a FUNAI criou um Grupo de Estudos
que teria como finalidade analisar as diferentes propostas O Grupo de Estudos fez ainda uma recomendação à FU
existentes e definir uma proposta de identificação e delimi NAI para a criação de uma Coordenadoria Especial para a
tação das áreas Ticuna. Havia duas propostas divergentes, Area Ticuna, centralizando assim todas as ações e decisões
elaboradas por duas equipes da FUNAI, uma apresentada do órgão quanto àquele grupo indígena, procedendo a um
no 1º semestre de 1982, a outra resultante de trabalho de levantamento cuidadoso das reais necessidades (destacan
campo realizada de janeiro a março de 1984. Outra tarefa do-se a questão da educação e da saúde) e elaborando um
também desse Grupo de Estudo era avaliar a atuação da programa de ação sistemática em conformidade com as li
FUNAI naquela área e fazer recomendações quanto a ações deranças Ticuna e apoiando-se em uma assessoria técnica
prioritárias. Para cumprir essas duas finalidades, a FUNAI fornecida pelos integrantes do citado Grupo de Estudos.
instituiu um Grupo de Estudo, a ser reunido em sua sede, (vide Boletim da Pastoral Indigenista do Alto Solimões,
de 10 a 16 de setembro, em Brasília, composto por funcio nº4).
nários do órgão (Maria Auxiliadora C. Leão, Silvia Tafuri e
André Villas-Bôas), por integrantes da Pastoral Indigenista
do Alto Solimões (Frei Arsenio Sanpalmieri e Silvio Cavus A visita do presidente da FUNAI
cens), pelo Dr. Roberto Cardoso de Oliveira e pela equipe
de pesquisa em antropologia do Museu Nacional (Maria Em atendimento a um convite feito pelo capitão-geral Pedro
Jussara C. Gruber, Vera M. N. Paoliello e João Pacheco de Inácio, o então Presidente da FUNAI, Nelson Marabuto,
Oliveira). (Portaria nº 1692 de 23/8/84). visitou o Alto Solimões entre os dias 16 e 19 de fevereiro de
1985. Em decorrência de seu não comparecimento no dia
Como resultado das discussões entre os membros desse marcado inicialmente para a reunião (dia 07/02, em Ven
Grupo de Estudo, foram consideradas desde já aprovadas daval), houve uma reação de raiva e descrédito no cumpri
as identificações de 7 áreas: Evare (incluindo ainda um ter mento dessa promessa, o que culminou no aprisionamento
ritório não contínuo na margem direita do Solimões, abran do indigenista André Villas-Bôas até que efetivamente se
gendo de um lado Feijoal, de outro o conjunto de lagos e concretizasse a viagem do Presidente da FUNAI àquela re
igarapés que vão do Assacaio até o Paraná do Ribeiro, e gião. (vide notícias de jornal em anexo).
pelo centro até o Camatiã), São Leopoldo, Betânia, Auatí
Paraná, Estrela da Paz, Macarrão e Santo Antônio (englo
bando ainda terras em torno de Bom Intento). Outras áreas
exigiriam ainda um maior estudo de alternativas e uma dis
cussão com a comunidade, para conhecer melhor seu posi
cionamento. E o caso de Nova Itália, Porto Espiritual, Lau
ro Sodré e Umariaçu.

120
SOLIMÕES 9

Capitão Armando Manuel.

Capitão Fidelis José


(à direita).

Contornado esse incidente e minizadas as suas repercussões O conflito com a PM


graças à atuação tranqüila e habilidosa daquele indigenista,
bem como de alguns líderes indígenas, a reunião com o Pre Um dos barcos em que retornavam às aldeias os índios saí
sidente da FUNAI realizou-se na manhã de domingo, dia dos da reunião, o Marubo, com cerca de 85 índios das al
17, na aldeia de Umariaçu, contando com a participação de deias de Urique, Cajari, Vendaval e Santa Clara, parou
capitães e professores índios de mais de 30 comunidades. para pernoitar na cidade de Benjamin Constant devido à
Foram assim detalhadamente apresentadas ao dirigente da falta de holofote, necessário para viagem noturna. Por volta
FUNAI as principais reivindicações quanto à demarcação de meia-noite dois índios, Paulo Mendes e Tertuliano, que
das terras e a uma assistência mais permanente e sistemá estavam cantando, dançando e bebendo, festejando carna
tica. Em resposta, a FUNAI prometeu criar imediatamente val em uma das principais esquinas da cidade, foram rispi
uma Ajudância do Solimões, a ser sediada em Tabatinga, damente abordados por três PMs que faziam a ronda. Os
exclusivamente para tratar de assuntos relativos aos Ticu policiais resolveram conduzir preso um deles (Paulo). Um
nas, ficando diretamente ligada à Presidência e não à Iº dos PMs porém logo o identificou como um dos dos seus
DR. Seriam organizadas programas especiais de saúde e agressores quando estivera em Urique para liberar a ma
educação, sendo constituída uma equipe médica de alto ní deira retida pelos índios (vide item 3 desse relatório). Se
vel (com médico, enfermeira, dentista e laboratorista) além gundo o depoimento dos índios, os policiais passaram então
de contar com um barco próprio para locomoção) e instituí a proceder com violência, acertando uma estocada com cas
da uma Coordenação das Atividades Educacionais (para su setete em seu fígado e derrubando-o com socos e pontapés.
pervisionar os convênios, coordenar a ação dos monitores O outro índio tentou interferir, mas foi igualmente derru
índios e organizar cursos de capacitação). Nas palavras do bado com um forte golpe de cassetete nas costas (do qual
presidente da FUNAI, essa nova equipe de ação da FUNAI lhe ficou um hematoma típico, exibido no dia seguinte ao
na área deveria atuar sob a orientação do indigenista André próprio Presidente da FUNAI, em reunião havida em Taba
Villas-Boas, contando com a assessoria do antropólogo João tinga). Outros índios que estavam nas proximidades inter
Pacheco de Oliveira e com a colaboração permanente do feriram e nesse momento foi espancado o índio Aristides,
Grupo de Estudo já anteriormente referido. A FUNAI com deixado inconsciente e com a cabeça aberta por golpes de
prometeu-se também a apressar o encaminhamento da pro cassetete. A confusão atraiu a atenção geral, aí intervindo
posta de criação das áreas Ticuna a esferas mais elevadas de outros índios que passeavam pela cidade. Em inferioridade
decisão, lutando pela aprovação mais rápida possível disso. numérica, os policiais sacaram de suas armas, alegando
A reunião encerrou-se em clima de grande harmonia, as contudo terem dado apenas tiros de advertência (segundo
lideranças voltando a suas aldeias muito satisfeitas com seu eles próprios, tiros para o chão, e não tiros para o alto,
contato direto com o dirigente máximo da FUNAI (nunca como é de praxe nessas circunstâncias). Um índio, Pedro
antes um Presidente desse órgão estivera em uma reunião Mendes, de Urique, foi ferido na perna por uma dessas ba
com os índios dela) e com os planos de atuação ali exibidos. las. Por fim os índios dominaram a situação, saindo os três
PMs bastante feridos, um na cabeça (provavelmente por
pau ou pedra), outro no rosto (com um talho superficial,
possivelmente produzido por canivete), e um terceiro no ab
dômen (com diversos cortes, certamente feitos pelo mesmo
objeto já referido). Findo o entrevero, os índios se retiraram

121
s! Z_Acervo
_A Kºvºs INDÍGENAs No BRASIL/CED

para o barco, carregando os seus companheiros feridos, lá ao tentar interferir, os funcionários da FUNAI foram amea
permanecendo cerca de uma hora aguardando a chegada de çados fisicamente e insultados, o primeiro conseguindo es
um funcionário da FUNAI, encarregado de dirigir aquela quivar-se de um golpe com o cabo do mosquetão, o segundo
embarcação. Durante esse tempo outros policiais mistura pulando pelo barranco para esconder-se na vegetação pró
dos a alguns regionais ocuparam-se em apedrejar o barco xima ao rio. O índio foi conduzido preso à Delegacia local.
Marubo, gritando insultos e zombarias, enquanto outros
barcos igualmente ancorados no porto fixavam no Marubo
os seus holofotes para favorecer a pontaria da turba ali reu
nida. Os índios permaneceram dentro do barco, não res MANCHETES DOS JORNAIS
pondendo às provocações. SOBRE O CONFLITO
Com a chegada do funcionário da FUNAI, sr. Marreta, o Polícia Militar embosca e fere a tiros índios ticuna
barco dirigiu-se para o porto do Hospital de Benjamin (O Liberal, Belém, Pará, 19/02/85).
Constant. Alertados para isso, os policiais deslocaram-se
PM embosca e atira em índios no Amazonas
por terra para o Hospital e ali puseram-se de tocaia. Quan
(O Estado de S. Paulo, SP, 19/02/85).
do os índios saíram do barranco e aproximaram-se da en
trada do Hospital carregando os parentes feridos, foram re Policiais abrem fogo contra 7 indígenas
cebidos à bala pelos 3 PMs escondidos nas imediações, dois (Jornal de Brasília, 20/02/85).
deles embaixo de um caminhão estacionado próximo, o ter Grave estado de Tikuna ferido domingo em choque com
ceiro atrás de um monte de tábuas empilhadas em uma brancos
construção próxima. Na frente seguiam três pessoas carre (O Globo, Rio de Janeiro, 20/02/85).
gando o índio Aristides, respectivamente o funcionário da
Policiais militares baleiam oito índios ticuna no Amazo
FUNAI e os índios Paulo Mendes e Juvenal (da aldeia do
11315
Cajari). Desse confronto resultaram cinco Ticunas feridos à
bala por disparos de revólver calibre 38, inclusive alguns (Folha de S. Paulo, 20/02/85).
rapazes menores (um dos índios alvejados tem apenas 14 Fuzilados índios ticuna em duas emboscadas da PM
anos e no cortejo havia também mulheres, velhos e crian (O Dia, Rio de Janeiro, 20/02/85).
ças). O caso mais grave é o do Ticuna Juvenal, que recebeu Estado de saúde do índio Juvenal Ticuna é bastante grave
três balaços na clavícula, no abdômen e um último acima (O Liberal, Belém, 20/02/85).
dos quadris (denotando portanto que ele, ferido, estava em
fuga, e que o autor do disparo não tinha intenção mera Indio baleado por PMs passa mal e deve ser removido
mente defensiva). Um dos disparos alojou-se no pulmão, para Manaus
inspirando sérios cuidados médicos. Os policiais continua (Folha de S. Paulo, 21/02/85).
ram a atirar até esgotar toda a sua munição, quando então Antropólogo desmente embriaguez de ticunas
debandaram perseguidos pelos índios enfurecidos, que nes (Jornal do Brasil, Rio de Janeiro, 22/02/85).
se instante agrediram a esposa e a filha do citado funcio
Antropólogo teme que ocorram novos conflitos com ti
nário (as quais, afirmam os índios, teriam instigado a PM a {'t1IR#13
abrir fogo contra eles). Em seguida os índios deixaram os
(O Globo, Rio de Janeiro, 22/02/85).
seus feridos no Hospital, ali permanecendo apenas Paulo
Mendes para fornecer os dados referentes a cada um, todos
os restantes retornando ao barco Marubo.
A FUNAF foi informada dos acontecimentos através do
Entre esses dois incidentes, o Delegado de Benjamin Cons Cap. Mauro, do Cornando Militar de Tabatinga, Devido a
tant, um subtenente licenciado da PM, solicitou reforços à uma pane no avião que o conduziria a Manaus, o Presidente
PM de Tabatinga, alegando que os Ticuna estavam amea da FUNAI e seus acompanhantes ainda permaneciam na
çando ocupar e destruir o Hospital. Oito policiais foram en região, hospedados em Tabatinga. Seguiram então para
tão enviados às pressas a Benjamin Constant, sendo trans Benjamin Constant, na lancha da Capitania dos Portos, três
portados em uma lancha de 115 HP pertencente e pilotada funcionários da FUNAI (Lucio Acosta, chefe da Hº DR,
pelo sr. Oséas Martins (que, de acordo com informações com sede em Manaus; André Villas-Bôas, indigenista que
procedentes da Polícia Federal da área, é elemento notoria coordena a atuação da FUNAI na área Ticuna; e João Sil
mente vinculado ao tráfico de cocaína). Ali chegando, ar verio Dias, chefe da AJUSOL, sediada em Atalaia do Nor
mados de revólveres e mosquetões, encontraram dois fun te), o antropólogo João Pacheco de Oliveira e quatro ele
cionários da FUNAI, srs. Washington e Helio, respectiva mentos da Polícia Federal. Chegando à cidade por volta de
mente chefes dos P.Is. Campo Alegre e Belém do Solimões, duas horas da madrugada, esse grupo pôde perceber o cli
que, acompanhados por Paulo Mendes (que haviam en ma de ódio criado contra os índios e os funcionários da FU
contrado anteriormente no Hospital) buscavam localizar se NAI. Diversos grupos de pessoas à paisana, ostensivamente
havia outros índiosferidos circulando pela cidade. Esses po armados com revólveres e espingardas, percorriam as ruas.
liciais iniciaram imediatamente nova agressão ao Ticuna e, .Segundo uma versão ouvida de moradores de Benjamin
Constant, no dia seguinte, tais pessoas teriam sido convo
cadas pelo próprio Delegado de Polícia, para atuar como
uma força paralela e auxiliar). Ao aproximar-se do Hospital
foi vista uma patrulha da PM, armada de mosquetão, revól
veres e cassetetes, escoltando, algemado, para a Delegacia

122
sL7-Acervo
_/\ 1 S-A SOLIMÕES 11

um jovem Ticuna encontrado nas imediações, isso após já A realização de um inquérito policial de rotina nessas cir
haver sido antes submetido a outras violências e humilha cunstâncias é inteiramente inócuo e deformadora da ver
ções. Ajudados pela Polícia Federal os funcionários da FU dade: para a PM local e o Delegado os fatos já estavam
NAI conseguiram libertar esse rapaz. Depois de providen bastante claros naquela noite, sendo fácil recolher inúmeros
ciar a remoção para o Hospital de Tabatinga dos doentes depoimentos de seu corpo de voluntários de modo a com
mais graves, esse grupo dirigiu-se à Delegacia onde encon provar sua versão oficial. Os Ticuna estariam embriagados,
trou o índio Paulo Mendes estirado em um cubículo imun promovendo desordens na cidade; ao serem abordados pelo
do, sem qualquer iluminação ou ventilação, com sintomas los policiais, os atacaram com armas brancas e tomaram o
evidentes de dor e bastante dificuldade para conseguir er revólver de um dos PMs; "dirigiram-se para o Hospital no
guer-se e caminhar. Apesar disso o Delegado negou ter sido intuito de matar os policiais que já lá estavam feridos; a in
cometida qualquer violência contra aquele Ticuna. A exal tervenção da PM no segundo choque teria visado apenas
tação dos ânimos era patente, em frente à Delegacia per proteger o Hospital e impedir que os índios fossem "lincha
manecendo um grupo de civis armados. Já às 5 horas da dos por populares justamente exaltados” com os aconteci
manhã, com todos os feridos (índios e soldados) tendo sido mentos. Esse desdobramento do caso foi confirmado pela
removidos para o Hospital de Tabatinga, que apresentava versão divulgada em Manaus, no dia 20, pelo Major Orlei
melhores condições de atendimento, alguns elementos da son, porta-voz do Comando da PM do Estado do Amazonas
PM mantinham-se em prontidão próximo ao Hospital. (vide JB, 21-02-85, p. 4). As suas afirmações são inteira
Quando o antropólogo e dois funcionários da FUNAI diri mente improcedentes: a) os índios não estavam "armados
giram-se ao barranco para saber se havia mais algum índio de terçados, facas e espingardas”, não trazendo consigo
ferido, o capitão-geral dos Ticuna, Pedro Inácio, subiu para qualquer espécie de arma (no máximo um canivete) pois
relatar àquelas pessoas os acontecimentos. Nessa ocasião vinham de uma reunião com o Presidente da FUNAI, b)
PMs postaram-se em linha de tiro, colocando bala na agu ainda que alguns deles houvessem bebido, os índios não es
lha de suas armas, afastando-se do local apenas devido à tavam embriagados, pois disso não se encontrou qualquer
cobertura dada pela Polícia Federal. sintoma quando com eles se conversou menos de duas horas
depois; c) a tentativa de culpabilizar um índio (dito “acul
No dia seguinte os oito índios feridos tiveram seu atendi turado”) como responsável por promover "verdadeira ba
mento médico completado no Hospital de Tabatinga e, com derna pública”, corresponde plenamente à tática adotada
exceção de Juvenal, tiveram alta para fazer sua recuperação pelas autoridades locais, caracterizando os índios e comuni
em casa, acompanhados por atendentes de enfermagem dades mais agressivas na defesa de seu território como
deslocados pela FUNAI para as aldeias de onde provinham. “não-índios” e “agitadores” (ver carta-denúncia do índio
No final da tarde Juvenal foi operado com bastante sucesso, Pedro Mendes, um dos feridos no confronto, colocada em
os médicos classificando como muito boa a sua recupera Anexo, pois indica claramente as acusações de que são ví
ção, pois se tratava de caso extremamente delicado. Apesar timas tais lideranças). O índio citado pela PM é um legítimo
disso permanecia com uma sonda no pulmão, para retirar o Ticuna, filho de um extenso ramo da família Mendes e do
sangue que lhe impedia respirar normalmente. clã do avaí, casado com uma índia Ticuna e morador da
aldeia de Urique. A acusação de ser “aculturado” procede
A situação de enfrentamento entre a PM e os Ticuna (em de interesses espúrios, que querem caracterizá-lo como não
especial algumas aldeias e suas lideranças) é extremamente índio devido às denúncias que vem realizando em jornais, e
grave e está a pedir providências urgentes de todas as auto às autoridades e à FUNAI sobre a invasão de áreas de pesca
ridades responsáveis. Os incidentes descritos envolveram a situadas em território indígena, bem como por sua função
totalidade (6) do contingente policial de Benjamin Cons de articulador no movimento de lideranças Ticuna pela de
tant, três deles saindo feridos no primeiro embate, os três marcação de suas terras.
restantes tendo alvejado diretamente e por vingança os ín
dios (pelos quais foram identificados). O próprio Delegado
procedeu de modo destemperado, no mínimo aceitando que
a população se armasse para agir sem qualquer obediência
à lei, tendo ademais infringido outros dispositivos legais ao QUEM É ÍNDIO TICUNA?
encarcerar um índio. A rivalidade parece se estender tam Outros pode
que não foi colocado, que a PM acha que os Acul
turado deixar de ser Índio. •

bém, ainda que em menor escala, ao contingente da PM


sediado em Tabatinga, dos quais alguns membros conti .Mais eu Paulo Mendes sou Indio puro da Nação de avaí e
nuaram a hostilizar os índios no cais da Portobrás, enquan tenho meu nome usado na tribo (Tsheverurü Memaücü) e
to um outro soldado postou-se do lado de fora do Hospital sou casado com Tikuna da nação de Maguari e ela tem o
de Tabatinga, proferindo ameaças contra os Ticuna que lá nome usado na Tribo (Pütü-ãna) e tenho filhos com ela,
SE EF2CO??frgPtFH72.
inclusive com o nome da nação.
E por isso não deixo de ser Indio Tikuna, quem disse que
Indio deixa de ser, é somente o indio mesmo mais não o
Branco.
Assina, do Conselho Geral da Tribo Tikuna, Paulo Men
des Honorato. (extraído do jornal MAGUTA, nº 14,
Umariaçú, 27/03/85).

123
s! Z> Acervo
_/\ | S.A. INDÍGENAS NO BRASIL/CEDI
A FUNAI solicitou à Superintendência da Polícia Federal,
sediada em Manaus, que abrisse inquérito para apurar res DEPOIS DA BRIGA
ponsabilidades no caso, para isso sendo enviado à Area um
Delegado da DPF, especialmente para proceder a essa in As coisas que aconteceram depois da briga de B. Cons
tant foi:
vestigação. As expectativas do órgão são de que esse inqué
rito, se conduzido com isenção e competência, possa enqua 1° vez PM chamou uma mulher Tikuna que estava ven
drar alguns elementos da PM na prática de delitos graves dendo banana na feira, que ela não podia vender caro.
(como a tentativa de homicídio, com o agravante de preme 2° vez houve uma briga entre brancos e os brancos dis
ditação), passíveis portanto de expulsão da corporação e de seram que tinha sido os Tikuna.
outras punições legais. A FUNAI acredita que o inquérito Mas na verdade foi o próprio que foi avisar a família que o
realizado pela Polícia Federal possa chegar assim a conclu matou, por causa de uma briga que eles tinham 3 anos
sões efetivas, punindo alguns culpados a título de exemplo e atrás. Isso teria que ter uma investigação. Quem me in
aconselhando as autoridades competentes o remanejamento formou esta briga foi um da própria comunidade de Taua
do contingente policial de modo a esfriar o clima de revan ru, o criminoso é o filho do senhor DOCA conhecido as
che já formado na PM de Benjamin Constant e mesmo de sim, culpar os outros é um crime também.
Tabatinga. (Extraído de Relatório apresentado pelo antro 3° vez a PM invadiu o barco MUNANE de Campo Alegre
pólogo João Pacheco e Oliveira Fº à ABA, em fevereiro de para prender seis (6) paneiros de farinha, porque uma
1985). mulher que trabalha na feira tinha encontrado um pedaço
de vidro na farinha, levou a questão para polícia, e por
isso a PM levou 3 tikuna para a Delegaciajunto 6 paneiros
de farinha, e isso já foi encaminhado para Funai e a
Funai não tomou providência.
Sobre o vidro que dizem que tem nas farinhas é só uma
mulher que encontra, e os outros não encontra nada na
farinha.
Tudo isso é problema contra os Tikuna.
(trecho da carta de Paulo Mendes — Memaiicii a João Pa
checo de Oliveira Fº, de Umariaçú, 14/04/85).

existentes na área dos Tikuna. Será feito A denúncia foi levada ontem ao presi
também um levantamento documental dente do Conselho Federal da OAB,
em cartório, referente a certidões de re Mário Sérgio Duarte Garcia, por quatro
GT para levantamento gistro e de cadeias sucessórias. O grupo caciques ticunas: Pedro, Armando,
tem um prazo de 30 dias para a execução Adércio e Manduquinha. Pela primeira
fundiário
dos trabalhos. (Correio Braziliense, 13/ vez eles falaram à imprensa sobre o as
O presidente da Funai, Otávio Ferreira 01/84). sunto e ainda esta semana, antes de re
Lima, designou ontem um grupo de tra tornarem às suas tribos, pretendem avis
balho para promover um levantamento tar-se com o presidente da Funai, em
fundiário e estudar a redefinição das Denúncia à OAB Brasília, onde estiveram a semana pas
áreas dos índios Tikuna, no alto Soli sada mas nada conseguiram, porque a
mões. A Funai deverá examinar as ben Os ticunas estão sendo ameaçados de sede da Fundação estava cercada de
feitorias feitas por não-índios dentro dos morte por uma família de posseiros, os “soldados e cachorros”.
limites de área de um milhão e 390 mil Mafra, que já ocuparam grande parte Duarte Garcia prometeu levar o assunto
hectares onde vivem hoje os Tikuna e das reservas demarcadas pela Funai e à Comissão de Direitos Humanos da
identificar os conflitos existentes. em 82 mataram cinco índios a tiros. OAB e já depois de amanhã vai apresen
O levantamento fundiário, com o estudo Além dos Mafra, também o delegado de tar um resumo do problema na reunião
da redefinição das áreas, deverá ser feito São Paulo de Olivença (município onde do Conselho de Defesa dos Direitos da
por um antropólogo, um engenheiro, estão os ticunas) já ameaçou matar um Pessoa Humana, no Ministério da Jus
dois técnicos de agricultura e pecuária e dos caciques que defendem os direitos tiça, em Brasília. Na denúncia que apre
um engenheiro do Incra. O trabalho vai do grupo. sentaram ontem na OAB, os ticunas
incluir consultas ao Incra e Iteram, além
da identificação de posses e domínios

124
sL7-Acervo
SOLIMÕES 13

contaram que desde 82 os Mafra vêm Paulo Mendes Tikuna, que acompanha de um milhão e 300 mil hectares de ter
“atacando a tribo”. Segundo Pedro, são o cacique, em 1983, havia apenas um ras para os 18 mil Tikuna, em diversos
quatro irmãos: Boaventura, Quintino, plantador na área. No momento, os ín pontos do Alto Solimões. João negou on
Epitácio e Delícia, além do marido des dios conhecem quatro, entre eles o co tem a versão da RM do conflito, Se
ta, Altair Ramos. O primeiro é conhe caineiro Oscar Castelo Branco, irmão do gundo o antropólogo, um dos barcos uti
cido como “Mico Mafra” e é o líder da prefeito do município de Benjamin lizados pelos Tikuna para voltarem a
família. Juntos, os Mafra exploram ma Constant, Alcindo Castelo Branco, que suas aldeias parou na cidade de Benja
deira, borracha e criam gado. ocupa três hectares de terra na área indí mim Constant porque não tinha farol
Os caciques disseram que em 82 Quim gena Ribeiro, Posto Indígena Vendaval. que permitisse continuar a viagem à noi
tino matou três índios ticunas, pouco Além de Oscar Castelo Branco, são co te. “Dos 80 Tikuna que estavam no bar
antes de Artiete Almeida, ligado aos nhecidos também os cocaineiros Calixto co, quase a metade saltou para dormir
Mafra, ter assassinado outros dois. No Mila, com plantação na área indígena na cidade. Eles foram ver blocos que
último dia 8 de fevereiro, Os irmãos Ma Camatiã; Emílio, que ocupa terra no passavam e a confusão começou quando
fra e mais de cem jagunços ameaçaram Ribeiro; e colombianos que possuem dois, que estavam sentados no chão, be
invadir uma das comunidades ticunas. plantações entre a Colômbia e a reserva bendo, foram agredidos por dois poli
“Ficamos esperando mas eles não apa tribal de tacana. Segundo Paulo Tiku ciais, com cassetete. Outros índios e
receram”, contou Pedro, que foi cha na há mais de dois anos os índios recla mais um policial entraram na briga e o
mado à delegacia de São Paulo de Oli mam providências da Funai e também Tikuna Pedro Mendes foi baleado na
vença no dia 28 de janeiro para depor da Polícia Federal para a retirada dos perna”, disse João. Segundo o relato que
sobre roubo de gado dos Mafra. “Che traficantes, sem que tenham recebido os índios fizeram ao antropólogo, eles
guei lá e o delegado começou a acusar qualquer atenção. Por outro lado, os recolheram seus feridos e foram para o
os ticunas de roubar e matar gados dos plantadores de tóxico vivem ameaçando hospital, onde mais três soldados (que
Mafra. Eu disse que era mentira, que de morte o cacique Pedro Inácio e têm a com os outros três, feridos na briga,
queria prova e ele disse só que queria pretensão de expulsar os mais de 1.500 compõem aguarnição da PM da cidade)
respeito, porque senão me prendia e ma Tikuna que vivem às margens do Rio So prepararam uma emboscada, escondem
tava. Ficamos discutindo três horas.” limões. do-se embaixo de um caminhão e rece
Para ocupar as terras dos índios, os Ma “Na nossa área — diz Paulo Tikuna — bendo-os à bala. Quando a munição
fra chegaram a arrancar três placas de não tem problema de invasão de colonos acabou, o caminho ficou livre e os índios
marcatórias de divisa, colocadas pela ou posseiros, mas os cocaineiros estão foram tratados no hospital pelo médico
Funai. Pedro e os três caciques anuncia impedindo nós índios de utilizar a terra.
que imediatamente despachou dois de
ram que no próximo dia 25 vão fazer O Governo deveria criar uma lei para les para Tabatinga. Os policiais feridos
uma grande reunião de todas as comuni retirar os cocaineiros da área indígena, na primeira briga só tinham talhos su
dades ticunas para decidir o que fazer. em vez de fazer decreto para beneficiar perficiais. De todos os feridos, apenas o
“Chamamos até nossos irmãos da Co mineradoras”. Tikuna Juvenal, que recebeu tiros no
lômbia e Peru para essa reunião — disse Segundo Tikuna a responsabilidade por pulmão, garganta e abdômen, perma
Pedro, — Se a Funai não tomar uma parte desta situação é dos próprios fun nece hospitalizado. (O Globo, 22/2/85).
providência, temos que nos defender.” cionários da Funai que não acreditam
Hoje, o presidente da OAB vai enviar nas denúncias dos índios. (Correio Bra
um telegrama ao ministro do Interior. ziliense, 12/01/85).
Mário Andreazza, e ao governador do Indios aprisionam sertanista
Amazonas, Gilberto Mestrinho, recla
mando contra o descaso para o pro Antropólogo teme que ocorram Os índios Tikuma estão mantendo como
blema dos índios do alto Solimões. novos conflitos refém o sertanista da Funai André Vil
(FSP, 12/04/84). las-Boas no posto indígena Feijoal, entre
Atalaia do Norte e Benjamin Constant,
Se a guarnição da Polícia Militar e o De
legado de Benjamin Constant (AM), na no Amazonas. Os Tikuna exigem a de
fronteira com a Colômbia e o Peru, con marcação imediata de suas terras e que
Plantadores e traficantes
denunciados tinuarem na cidade, novos incidentes rem a presença do presidente da Funai,
entre índios Tikuna e brancos podem Nelson Marabuto, como condição para
O cacique geral dos índios Tikuna, Pe voltar a acontecer. A advertência é do libertar o sertanista. Marabuto havia
dro Inácio, que habita o alto Solimões, antropólogo João Pacheco, que esteve prometido ir até a região na quinta-feira
Amazonas, chegou esta semana a Brasí em Benjamin Constant, no domingo de passada, mas não foi, devendo estar lá
lia para denunciar à presidência da FU carnaval, após uma briga entre índios e apenas no sábado. As promessas não
NAI a ocupação de suas terras por plan a guarnição da PM, quando oito Tikuna cumpridas do órgão, além da falta de
tadores de coca. Segundo outro índio, e três soldados ficaram feridos. João es assistência educacional e de saúde fo
tava em Tabatinga durante o incidente ram as principais causas da atitude dos
em Benjamin Constant, mas domingo índios de prender André Villas-Boas.
havia participado, junto a mais de 50 (ESP, 12/2/85).
representantes de 40 aldeias Tikuna, de
uma reunião em Umariaçu com o Presi
dente da Funai. No encontro, ficou acer
tado que a Funai pedirá a demarcação

125
–/ #
* #INDIGENAs No BRASIL/CEDI
*.

PM embosca e atira quando assistiam à comemorações do como refém da tribo durante quatro
carnaval. Posteriormente, os seis outros dias, na última semana. Durante visita à
O presidente da Funai, Nelson Mara foram baleados em uma emboscada pre tribo, Marabuto prometeu também en
buto, informou ontem que um grupo de parada pela Polícia Militar de Benjamin viar ao grupo interministerial que deli
policiais militares do Amazonas basea Constant, quando os índios removiam bera sobre a demarcação de áreas indí
dos na cidade de Benjamim Constant, seus companheirosferidos para a aldeia. genas a proposta de criação do território
perto da fronteira com a Colômbia e o (ESP, 19/02/85). Tikuna, englobando 600 mil hectares,
Peru, baleou oito índios ticunas. Um Villas-Boas disse que esse é o primeiro
deles, atingido mais gravemente, foi passo para a regularização da área Ti
operado no Hospital Militar de Tabatin Presidente da FUNAI visita kuna. (O Globo, 22/2/85).
ga e ainda inspira cuidados. De acordo e promete demarcação
com a versão de Marabuto, inicialmente
dois índios foram feridos por soldados O Presidente da Funai prometeu aos ín
dios Tikuna, criar uma ajudância autô
noma do órgão em Tabatinga, para as
sistência direta aos 18 mil Tikuna da re
gião, segundo informou ontem o serta
nista André Villas-Boas, que ficou preso

126
sL7-Acervo
–/ { | <> A

JAVARI

127
#Arruí
*>
Bºil{l

A}FIHASEAPE

.…º
“--,
“…,
C. Pç VD5 INDIGENA5 Nó BRASIL #"--> CED| J #*A RI = #

128
JAVAR$ 3

QUADRO GERAL DOS POVOS INDÍGENAS DA ÁREA JAVARI

NQ NO NOME DA N? DE ALDEIAS OU Jºaº

EOVÃO MAPA ÁREA MUNICÍPIO NOME DAS ALDEIAS POPULAÇÃO FONTE E DATA
AI do Val Estirão do J.C
{=} * *--* #

MARUEO * loo Javar Equador, 14 462 *

&Väiºl || Atalaia do Melatti: 78


NCrte

Estirão do -

MAYORUNA 2 Idem Equador 8 410


l CEVUSCellS : 83

Atalaia do
MATIS 3 Idem L 87 Cavuscens: 83
NCIrte

Índios da
Confluencia
* * Atalaia do de
E 200 3. *

do Ituí C/Eta- 4 Idem NCIrte 8 300 Cavuscens: 84

coaí (KORUBO)

Indios do
E, L
#º F ?
de 120 a
i:
}uixito --} dem Atalaia do 3 (?) D. Melatti: 80

NOIte L50

Estirão do
KULINA 6 Idem
Equador
E. do Equador dispersos 29 J.C. Melatti:78

e B. Constant 35 Cavuscens: 85

CANAMART 7 Idem
Jutaí 3 582

NeVeS e
Labiak: 83

Jutaí Arredios ?

Índios do Alto B. Constant, 27 500 CavusCens: 83


8 Idem S. Paulo
Jandiatuba de Olivença
e Jutaí Arredios ?

TXUNHUAN- Ide Jutaí e * NeVES e


DUAPÃ (TUKANO) 9 fil S.Paulo de dispersos º lLabiak: 84
• Olivença

123
sL7-Acervo
–/ * # INDÍGENAS NO BRASIL/CED?

A PETROBRÁS
E OS ARREDIOS
DO ITACOAI E JANDIATUBA
“Apocalypse now”,
em silêncio

Araci Maria Labiak


E

Lino João O. Neves (*)

! o mesmo tempo que aparentemente silenciava suas


pretensões de construção do gasoduto que levaria o
A partir deste incidente a questão foi abordada pela grande
imprensa sob dois ângulos, ambos deliberadamente distor
gás do Juruá para o Sul do País, a Petrobrás, igual cidos com o objetivo de modificar o verdadeiro quadro da
mente em silêncio, invadiu o território de índios arredios na situação.
região dos Rios Itacoaí e Jandiatuba, com centenas de ho
mens armados da mais alta tecnologia, no avanço de seus Através do tratamento sensacionalista e policialesco com
trabalhos de prospecção. que cobriu os acontecimentos, a imprensa, principalmente
a amazonense, criou um clima de tensão e hostilidade con
Assim como as bombas de dinamite, que além de serem tra os índios, procurando incitar a população envolvente e
usadas para as pesquisas sismológicas foram detonadas con justificar perante a opinião pública medidas de represália.
tra os índios, como admitiu em Dezembro de 1983 o então Ao mesmo tempo, qualificando Nobre e João Praia de im
Presidente da Petrobrás, os helicópteros utilizados para o prudência e falta de cautela, responsabilizava-os pelos acon
transporte de pessoal e equipamentos passaram a ser em tecimentos que os vitimaram, ocultando assim as verdadei
pregados para intimidar grupos arredios. Vôos rasantes, ras responsabilidades de uma atuação daquela natureza em
perseguindo índios amedrontados pelos terreiros das aldeias àrea de grande concentração de índios arredios, onde tais
e levantando a cobertura de palha das malocas, tornaram conflitos já eram previstos.
se a grande diversão dos pilotos, que, entre risos, narravam
suas proezas nas cidades próximas. Apesar de não ter sido feita nenhuma referência oficial so
bre a possível ocorrência de mortes entre os índios, infor
Depois dos incidentes de Novembro de 1983, quando um mações concretas dão conta de que no incidente do dia 04/
Erabalhador foi flechado no Rio Jandiatuba, fato idêntico 9/84, pelo menos um índio arredio teria sido morto por um
ocorreria no Igarapé São José, afluente do Rio Itacoaí, dos índios que compunham a equipe da FUNAI que acom
quando em Março de 1984 outro trabalhador foi ferido. panhava os trabalhos de prospecção. Oficialmente foi divul
gado apenas que algumas malocas foram queimadas e ou
Decidida a não atrasar seus planos de trabalhos e não con tras abandonadas, o que parece indicar tanto a ocorrência
siderando os avisos de insatisfação dos índios contra a sua de ataques contra os grupos quanto a morte de seus mem
presença, a Petrobrás prosseguiu suas atividades no Rio Ita bros.
coaí através da CBG (Companhia Brasileira de Geofísica),
subsidiária da ElfAquitaine, que anteriormente já causara A situação chegou a tal ponto de tensão que as equipes de
danos aos Munduruku e Sateré-Mawé no Baixo Amaxonas. prospecção recusaram-se a continuar os trabalhos, exigindo
serem retiradas imediatamente da área.
Acompanhados de reduzida equipe da FUNAI, que não
mais contava com os índios Canamari do P.I. Massapê, co
nhecedores da área, e que por desentendimentos abando
(*) membros da equipe de pastoral indigenista da Prelazia de Tefé (AM).
naram a equipe, os trabalhos de pesquisa da CBG conti
nuaram normalmente até o dia 4 de setembro de 1984,
quando novamente ocorreram choques: um sertanista da
FUNAI e um funcionário da CBG foram mortos pelos cha
mados Korubo (ver adiante, no resumo de notícias da im
prensa),

130
Maloca “Korubo",
nas cabeceiras do Ig. Marubo:
arredios na área de influência
da sonda da Petrobrás
JD-1, no Rio Jandiatuba.

Insistindo na posição de não alterar as programações pré Operação silêncio


estabelecidas, a Petrobrás chegou a afirmar que "serão to
madas medidas para que se evite qualquer incidente com os Se por um lado a área não foi desocupada, na sua segunda
índios, mas, caso ocorra, se minimize ao máximo seus efei parte o plano se encontra em plena execução. A partir do
tos de modo que as atividades de exploração da Petrobrás rígido esquema de sigilo que foi instalado, nenhum dado
possam ter prosseguimento" oficial é divulgado sobre os grupos indígenas ou sobre os
trabalhos atualmente desenvolvidos.
Uma das medidas tomadas foi a distribuição de grande
quantidade de armamento aos trabalhadores, onde, segun Acobertados pela proibição aos seus funcionários de forne
do informações obtidas na região, cada homem recebeu cer qualquer tipo de informação ou comentar qualquer fato
uma espingarda e vinte cartuchos de munição, que são rea ocorrido, e pelo silêncio em que se colocaram os meios de
bastecidos constantemente. comunicação, os trabalhos na região do Rio Jandiatuba fo
ram retomados em ritmo acelerado, embora não tenham
Sob esse estranho esquema de segurança, FUNAI e Petro sido criadas pela Petrobrás as condições de segurança reco
brás procuraram eximir-se de suas responsabilidades. Seis mendadas pela equipe da FUNAI que acompanhava as
dias após o incidente anunciaram a suspensão dos trabalhos prospecções.
de exploração e a retirada de pessoal e material de riscos
(combustível e explosivos) da área, declarando que "se tudo Todo este silêncio só foi quebrado pelo CIMI (Porantim,
correr bem com a retirada dos 400 funcionários da CGB Novembro/84) e pela Survival International, que, de Lon
(sic) do local e do material de alta periculosidade, é possível dres, endossando a comunicação da equipe de Pastoral In
que durante muito tempo não se ouça mais falar sobre os digenista da Prelazia do Alto Solimões sobre a situação dos
kurubu". (O Estado de São Paulo, 10/9/94). grupos isolados do Vale do Javari, utilizou o seu Boletim de
Ação Urgente (08/01/85) para divulgar a questão, enquan
Entretanto, tal retirada nunca chegou a ocorrer. to enviava à Presidência da FUNAI uma carta aberta exi
gindo o atendimento de reivindicações concretas, tais como:
Ao invés de abandonar completamente a área, as frentes de a demarcação da área como medida de segurança para os
trabalho foram deslocadas para a região do Rio Jandiatuba, grupos e a imediata retirada da Petrobrás da área.
no centro do território de grupos isolados, como os Tsuhum
Djapa e outros ainda desconhecidos. Além da ameaça física
e da destruição material da área, estas frentes representam
o estreitamento das relações entre estes grupos e a sociedade
envolvente, e o surgimento de dependências decorrentes de
contatos não criteriosos como estes.

131
NDÍGENAS NO BRASIL/CEDI

@
Acampamento da Petrobrás, el
@
às margens do Rio Jandiatuba. […]
* #

* < •

*2*
* *#}
+-
=>
P=
<
Lºi
C
Malocas de índios arredios, +--

C
abandonadas. ++=

|-

Além de centenas de clareiras que foram abertas para testes Toda esta infra-estrutura montada para funcionar como
de detonação sísmica, da base de apoio às operações (Apoio base de operação e consolidação da presença da Petrobrás
II) instalada no Alto Jutaí e da Sonda Jandiatuba I — Ama na área, acrescida dos planos de estender à região do Ita
zonas (SJ-1-AM), que entrou em operação no dia 03 de ja coaí/Jandiatuba o gasoduto que escoará a produção do Ju
neiro de 1985, com seus possantes motores ligados 24 horas ruá até a foz deste rio e, de onde, por via fluvial e marítima,
por dia no centro do território de índios arredios, está sendo será levada para São Paulo, desmentem as informações da
construída no local denominado Bom Futuro, no Rio Jutaí, Petrobrás de que a sua presença na área se dá para um
uma pista de pouso para aviões de médio porte. breve período de testes de avaliação de potencial, cujo tér
mino dos trabalhos e a retirada definitiva da área estariam
Outras 4 sondas estão previstas de serem instaladas, todas previstos para no máximo até julho de 1985.
em áreas indígenas: a Sonda Jandiatuba 2, cujos trabalhos
de desmatamento já estão sendo realizados a cerca de 8 km Com o término da construção da pista de pouso, previsto
de distância da SJ-1; a Sonda Itaquai 1, a ser instalada no para Maio de 1985, o transporte de pessoal e de equipamen
local onde em Março de 84 houve choques com os índios tos será feito diretamente de Manaus para a área onde se
arredios; uma terceira sonda a ser instalada em área Kulina desenvolvem os trabalhos, estabelecendo um controle ainda
na margem do Rio Jutaí, próximo à Bom Futuro; uma mais severo sobre a área.
quarta sonda a ser instalada próximo ao Igarapé Queima
do, em área dos Tsuhum Djapa e dos Canamari do Alto Ju Assim será fechado o único canal que se tem atualmente de
taí, e cujos sobrevôos para identificação e reconhecimento conhecimento da área, que são os comentários que circulam
de terreno já foram realizados por uma equipe da FUNAI. pelas cidades próximas, ao mesmo tempo que será dado o
passo definitivo para que não apenas “durante muito tem
po", mas que talvez para todo o sempre não se ouça mais
falar sobre os índios que ocupam esta região, muitos dos
quais nossa sociedade não teve tempo nem interesse de re
gistrar sua existência, quanto mais de respeitá-los como
Povos.

132
* #7_- Acervo
_/\ | <> A JAVAHI /

Aconteceu na imprensa
FUNAI agora é contra O poço descoberto — Juburí-I — está
PARQUE DO JAVARI localizado 50 quilômetros a sudoeste da
O presidente da FUNAI, Nelson Mara cidade de Carauari, sede das operações
FUNAI propõe interdição buto, enviou ontem telegrama ao presi da Petrobrás, na localidade de Taiatu
dente da PETROBRÁS; Thelmo Dutra ba. A vazão do poço foi de 195 mil me
Para evitar um conflito sangrento — e Resende, protestando contra a decisão tros cúbicos diários, inferior à média de
proteger os três mil índios arredios e da empresa de perfurar poços de petró 300 mil a 400 mil metros cúbicos regis
contatados que vivem no Vale do Javari leo a menos de 30 km de malocas de trada na região.
(AM) da expansão da frente de extrati índios ainda não identificados. A perfu Marinho Campos informou ainda que a
vismo de borracha e madeira, e da atua ração dos poços está sendo feita no Iga descoberta representa a comprovação
ção da Petrobrás, que faz pesquisas na rapé São José, nas proximidades do Rio da existência de diversos pontos de ocor
área, a Funai elaborou proposta de de Itacoaí. rência de gás ao longo do alinhamento
creto presidencial para a interdição de Segundo o sertanista Sidney Possuelo, de 250 quilômetros pesquisados pela Pe
seis milhões de hectares na região do Al da FUNAI, os recentes ataques dos Ko trobrás no Juruá; isso além dos traba
to Solimões. rubu aos acampamentos da PETRO lhos que visam a comprovar o seu pro
O processo de interdição da área, pri BRÁS “são conseqüência de um convê longamento por outros 250 quilômetros
meiro passo para sua demarcação defi nio mal elaborado...” em 1982, e o pre até o Estado do Acre, onde a empresa
nitiva e possível criação do Parque Indí sidente Marabuto já determinou a sua continua desenvolvendo trabalhos de
gena do Javari, foi acelerado pela Funai revisão. (Cidade de Santos, 15/12/84). prospecção e exploração. Extra-oficial
depois da morte de dois funcionários no mente, estimam os técnicos que as reser
acampamento central da Petrobrás, há vas de Juruá alcancem de 120 bilhões a
dois meses, num ataque dos índios arre 200 bilhões de metros cúbicos de gás na
dios Kurubo. A proposta, abrangendo
cinco municípios amazonenses localiza
A PETROBRÁs | tural. (ESP, 06/09/84).

dos na fronteira com o Peru, foi elabo E O GAS DO JURUÁ


rada por um grupo de antropólogos, téc “Epoca do gás”
nicos da Funai e missionários que atuam Mestrinho e o gasoduto
na região. O Ministro Cesar Cals, das Minas e
A exposição de motivos do decreto — O governador do Amazonas, Gilberto Energia, anunciou a antecipação da
que será enviada pelo Ministro do Inte Mestrinho, defendeu a construção do produção das reservas de gás natural
rior, Mário Andreazza, ao Presidente gasoduto ligando Carauari a São Paulo, descobertas pela Petrobrás na região do
João Figueiredo — pede a interdição do pois “serão criadas as condições para, Juruá, com o emprego de um equipa
Vale do Javari e das cabeceiras dos rios ao longo da estrada que será construída mento portátil em cada poço antes mes
Jandiatuba e Jutaí, área onde têm ocor para a conservação e manutenção do ga mo da instalação de gasodutos.
rido conflitos entre índios arredios e fun
soduto, se estabelecer processos de colo As estimativas das reservas de gás no
cionários da Petrobrás. O documento nização”. (A Crítica, 12.07.84). Alto Amazonas, segundo o Ministro,
afirma que a medida dará condições à chegam a 160 bilhões de metros cúbicos,
Funai de atuação incisiva na região, a praticamente o dobro das atuais reser
fim de não afetar os interesses das co vas nacionais. “O país vai entrar forte
Juburí-I, novo poço
munidades indígenas e dos segmentos mente na época do gás”, disse Cals.
nacionais, e “evitar conflitos sangren O diretor de Exploração da Petrobrás, (ESP, 9/10/84).
tos”. Carlos Walter Marinho Campos, anun
A Petrobrás tem convênio com a Funai ciou ontem que a empresa fez nova des
para pesquisa de gás natural e vem fa coberta de gás natural em Juruá, no Alto Os técnicos e “o perigo”
zendo levantamentos sísmicos, possuin amazonas, em área onde até agora não
do duas linhas com 450 km de extensão. se registrara ocorrência relevante. Para Técnicos da Petrobrás que trabalham na
Na área, rica em gás natural e borracha, Marinho Campos, o gás agora desco perfuração de gás na região do Juruá, no
já foi constatada a presença de, no mí berto contém percentagem significativa Amazonas, estão apreensivos com a pre
nimo, três grupos arredios: Mayorama, de gás sulfídrico (13%), apropriado sença de um grupo de índios Kulina na
Matis e os difíceis Kurubo, que têm para utilização na indústria petroquí região onde está operando a sonda SM
reagido a todas as tentativas de contato mica. 1. Eles temem uma reação do grupo in
feitas nos últimos 14 anos. Os grupos dígena, integrado por mais de 100 pes
Maya e Tshumdjapa são semi-arredios soas, aos trabalhos que estão sendo exe
e, já contatados, estão os Marubo, Ka cutados às proximidades de suas terras.
namarie parte dos Mayorama e dos Ma Até o momento nenhum problema ocor
tis. (O Globo, 11/11/84).

133
*
–/ #
| S.A DiGENAS NO BRASIL/CEDI

reu entre os índios e o pessoal da Petro tornou-se mais econômico abrir licita Os sertanistas da FUNAI Sebastião
brás, mas o presidente do Sindicato dos ção de risco, o que permitirá que dentro Amâncio e Sidney Possuelo foram des
Petroleiros, Raimundo Gomes Filho, de quatro anos e meio a Petrobrás pos locados para a região com o objetivo de
após tomar conhecimento da situação sua o levantamento e a interpretação de acompanhar a retirada dos funcionários
em viagem recente que fez ao local, deci toda a área do Médio Amazonas. da CBG, como também os milhares de
diu pedir à direção da empresa para fa Segundo Reis, nove das 38 áreas contra litros de combustível de aviação e cem
zer um contato com a Funai a fim deve tadas já foram objeto de contratos de ris mil cargas de dinamite que estão no de
rificar se há realmente algum perigo. co anteriores com a Pecten, Elf, Ess, BP, pósito do acampamento. A gasolina tem
Enquanto isso não ocorre, o pessoal da Anschutz e Idemitsu, quando foram le sido usada para abastecer os helicópte
perfuração, como medida preventiva, vantadas, processadas e interpretadas ros que fazem a ligação do acampamen
vai continuar a presentear os índios, es cerca de sete mil linhas sísmicas e mil to com a sede do município de Atalaia do
perando, assim, mantê-los pacíficos e quilômetros de linhas de aeromagneto norte e as cargas de dinamites, para a
amigos. metria, representando investimento de abertura de picadas. (JT, 10/09/84).
A bacia do Juruá possui a maior reserva cerca de US$ 110 milhões. (FSP, 15/12/
de gás natural do Brasil. (O Liberal, 23/ 84).
10/84). Novo ataque
Um homem de identidade ainda desco
Contratos para 38 áreas nhecida foi morto a bordunadas, dia 8,
na confluência dos rios Ituí e Coari, mui
A Petrobrás assinou com a Pecten (sub Dois mortos to acima de onde ocorreu o episódio do
sidiária da Shell), a British Petroleum dia 4, no acampamento da PETRO
O Sertanista da FUNAI, Lindolfo Nobre BRÁS. Segundo a FUNAI a vítima devia
(BP) e a Idemitsu o maior pacote da his
Filho, 52 anos, e o funcionário da Com ser um madeireiro, caçador ou pesca
tória de contratos de risco, envolvendo
38 blocos no Médio Amazonas, com área panhia Brasileira de Geofísica (CBG), dor, surpreendido pelos índios na mata.
de 380 mil quilômetros quadrados e in João Praia Costa, de 25, foram assassi (JT, 18/09/84).
vestimento mínimo de US$ 38 milhões, nados a golpes de borduna por um grupo
no prazo de seis anos e meio, podendo de 50 índios Korubo, dia 4 à tarde, no
ser aumentado em US$ 40 milhões se o acampamento da Petrobrás que fica na Convênio poderá
prazo for prorrogado por dois anos. Até região do Rio Itacoaí, no município de ser revisto
agora, o maior contrato tinha sido fir Atalaia do Norte.
mado com a Paulipetro, envolvendo 27 O chefe da equipe da CBG, conhecido Os trabalhos de prospecção petrolífera e
blocos e área de 270 mil quilômetros por Manoel, relatou os cinco minutos de gás natural que a PETROBRÁS rea
quadrados. que durou o massacre: “Pela primeira liza na região do Rio Juruá estão para
Segundo o superintendente de Contra vez eles se aproximaram. Eram cerca de lisados e poderão ser definitivamente ve
tos de Risco da Petrobrás, Luís Reis, a 50 homens, mas só Lindolfo e João aten tados pela FUNAI, se forem constata
estatal já perfurou na região do Médio deram seus sinais, transmitidos através das conseqüências para os Kurubo. Essa
Amazonas, mais de 100 poços, tendo en de gestos com as mãos e muita gritaria, e poderá ser a posição da FUNAI, depen
contrado um pouco de óleo e gás, “mas acabaram puxados para a mata”, onde dendo da avaliação que o sertanista Sid
nada significativo”. Como os custos de foram mortos a bordunadas. (ESP, 06/ ney Possuelo, assessor da presidência do
exploração na área são extremamente 09/84). órgão, fará no local, para onde viajou
elevados — “só o levantamento sísmico ontem. (Jornal de Brasília, 31/10/84).
custa US$ 10 mil por quilômetro, contra
US$ 1 mil no Rio Grande do Norte” —
Retirada, Novo cerco
inclusive da dinamite
Indios arredios cercaram ontem o acam
A presidência da FUNAI em Brasília de pamento da PETROBRÁS denominado
cidiu retirar seus funcionários da região Jandiatuba I, local de difícil acesso e de.
do Rio Itacoaí, depois do ataque dos Ko onde os funcionários só podem ser reti
rubo que vitimou um sertanista e um rados de helicóptero. (Folha da Tarde,
técnico da CBG, elevando para oito o 20/11/84).
número de funcionários mortos nas vá
rias tentativas de atração desses índios.
No dia seguinte ao massacre, 29 índios
voltaram ao local e ficaram a cem metros
do acampamento onde se encontram
400 homens da CBG a serviço da Petro
brás, que realiza trabalhos de prospec
ção de petróleo na área.

134
Canamari

JUTAÍ/JURUÁ/
PURUS

135
* #Z_Acervo
_/\ @ A S INDÍGENAS NO BRASIL/CEDI

! Povos INDIGENAs No BRASIL/CED 6-JURUA/JUTAI/PURus

@{IUTA!
[…]

136
JUTAI/JURUÁ/PURUS 3

QUADRO GERAL DOS POVOS INDÍGENAS DA ÁREA JUTAÍ/TURUA/PURUS

POVO *Nº NOME DA ÁREA Interio For oco EONTE E DATA

L EnVira R. Envira/2 8].

2 Envira IR.Tarauacá/4 214 *#

3 Envira IR. Acuaruá/l 42

4 Itamarati|R.Xeruã/l 39
5 Jutaí R. Jutaí/4 117

6 Pauini |R. Purus/l 40

|KULINA Ipixuna,
7 Eirunepé,
ItamaratilR.Juruá/9 466

8 AI Eiru/Penedo/Bau||Eirunepé 259

Eirunepé |R.Gregório/l 38
10 1.362 (T)
KATUKINA (1) ll AI Biá Jutaí 4 ## 253

12 Tapauá |R.Tapauâ/l 10

(2) l. 3 Eirunepé Ig.Mirim/R.Juruá ">


CANAMART *m Itamaratie R. Xeruã/12 +

DENT l4 Itamaratil 8 492

MURA 15 AI Lago Aiapoá " 100 HGunter: 84


- Anori
JL6 AI Caitetu Lábrea
L7 AI Marahã Lábrea

18 AI Apurinã do Ig.
Tauamirim Tapauá
APURINÃ L9 AI Apurinã do Ig.
S. João - Tapauá

Lábrea,
27 dispersos Tapauá,
Pauini L. 300 (T)

137
<! 2_ Acervo
__/ Kovºs INDÍGENAs No BRASIL/CEDI

NÇ NO --g NQ DE ALDEIAS OU ºmº ; TE"


POVO i#AEA. NOME DA ÁREA MUNICÍPIO Now"pºs"…éIAS POPULAÇÃO FONTE E DATA
17 AI Marahã Lábrea
PAUMARI 20 R.Tapauá e R.
Cuniuá Tapauá 250 (T)

MARIMÃ 2l Arredios Tapauá

ZURUAHÃ (3) 22 Tapauá 123 ||FUNAI: 84

JAMAMADI (4) 23 Lábrea 4 450

JUMA 24 Canutāma 9

CATAULXI 25 Lábrea L0

ÍNDIOS DO +

JACAREÕBA 26 Arredios Canutaña

(*) o recenseamento Kulina foi feito pela "Equipe Kulina, CIMI-OPAN", integrada por agentes de
pastoral das Prelazias de Tefé e Acre-Purus, em 1983. Os demais dados foram fornecidos pe
las equipes de pastoral indigenista das Prelazias de Tefé e Lábrea.
(l) esse grupo do Jutaí, da família lingüística Katukina, é diferente dos Katukina do Acre, da
família lingüística Pano.
(2) esse grupo do Jutaí, da família Lingüística Katukina não tem afinidade com outros grupos
Canamari do Acre, das famílias lingüísticas Aruak e Pano.
(3) nome do Povo que habita a região do Coxodoá
(4) junto com os Jamamadi, vivem também os Kanamati, Jarauara e Banaua-Yati.

138
JUTAI/JURUA/PURUS 5

Vieira disse que vivem no sudoeste ama Milhares de toras


zônico entre 2.500 e 3 mil índios, cuja para a BRUMASA
situação de posse ainda é indefinida, em
FUNAI na Polícia conseqüência de invasões e do atraso na
demarcação. (O Liberal, 31/01/84). Vem crescendo assustadoramente, nos
Após breve passagem de uma equipe de últimos anos, o esbulho das riquezas na
saúde pelo Rio Jutaí, a Funai se estabe turais existentes nas terras dos índios
leceu no Rio Juruá, instalando em Eiru Katukina do rio Biá, afluente do Jutaí,
nepé uma representação com o objetivo no Amazonas.
de funcionar como uma agência de rela Apesar da denúncia feita, o ano passa
ções públicas do órgão na região e para GT vai propor area do, pelo Sindicato dos Trabalhadores
atender aos índios localizados próximos Rurais do Jutaí, e de comunicação enca
à cidade. Apesar das sucessivas permanências em minhada à Funai, nenhuma providência
Surgida da mobilização da Prefeitura Manaus para tratamento, a tuberculose foi até agora tomada. Ao contrário, os
Municipal e da Delegacia de Polícia de (principalmente ganglionar) ainda atin madeireiros e comerciantes parecem ter
Eirunepé, a representação da Funai foi gegrande parte da população Demi loca se sentido ainda mais motivados para
assumida por Benvindo Gadenha Costa, lizada na região do Rio Xeruã, afluente intensificar o roubo de madeira da área
um auxiliar de enfermagem recém do Rio Juruá. indígena.
contratado e totalmente despreparado, Com a situação de suas terras também Só neste início de ano, já foram tiradas
que aliando a sua inexperiência em indi indefinidas, e com o aumento da depen aproximadamente seis mil toras de ma
genismo aos seus interesses pessoais, es dência e necessidades criadas face o con deira da área indígena. E segundo infor
teve sempre mais voltado para a defesa tato com a sociedade branca, cada vez mações colhidas pela Equipe de Pastoral
dos interesses da população branca, e mais os Deni têm se tornado vulneráveis Indigenista da Prelazia de Tefé (e docu
em especial de seringalistas, do que dos e fracos em relação à constante invasão mentadas fotograficamente), pelo me
interesses dos índios. de seu território, sendo utilizados como nos outras cinco mil toras já estão pron
Instalada em precaríssimas condições mão-de-obra para a extração da sorva, tas para serem retiradas proximamente
num cubículo da Delegacia de Polícia, a cuja alta de preço tem se constituído da Reserva Indígena Rio Biá.
presença da Funai se tornou, desde o num atrativo a mais para comerciantes e Este roubo de madeira está sendo feito
início, um novo instrumento de intimi ribeirinhos que em número crescente pelos seguintes madeireiros e comer
dação com o qual o Delegado de Polícia, vêm invadindo a área Deni. ciantes: Délio Mafra (de Tefé), Fernan
Sargento Augusto Cesar Alves da Cu No começo de 1985 um Grupo de Tra do Honorato Filho (da Foz do Jutaí),
nha, procurou legitimar seu autorita balho da Funai percorreu a área, levan Antônio Carlos (Foz do Jutaí), Abraão
rismo e arbitrariedade sobre os grupos tando os dados necessários para a for Soares (Tefé), Lucídio Martins (Foz do
indígenas da região. mulação de uma Proposta de Área que Jutaí), Pedro Brás (Copatana) e Eduar
Frente à mobilização de seringalistas e abranja os vários grupos Deni desta re do Ribeiro (Jutaí).
políticos, aliados à autoridade policial e gião. (Araci M. Labiak e Lino João O. Mais de 30 homens, trabalhando com
ao representante da Funai, tanto os Ca Neves, de Eirunepé, mar./85). motosserras e machados, foram levados
namari quanto os Kulina reagiram em por estes madeireiros para as matas do
defesa de seus territórios, como se verá rio Biá. Além disso, os próprios índios
adiante. (Araci M. Labiak e Lino João Katukina vêm sendo usados para esse
de O. Neves, de Eirunepé, mar./85). fim. A maior parte dessa madeira está
sendo tirada para a multinacional Bru
Devastação masa, com sede no Amapá, para onde é
Relatório FUNAI levada para beneficiamento e exporta
Madeireiros, utilizando-se inclusive da ção. (Jornal do Comércio, 31.05.84).
A Funai acaba de concluir um levanta mão-de-obra indígena, retiraram, no in Todos esses madeireiros sabem perfeita
mento das áreas indígenas do sudoeste verno de 1984, onze mil toras de madeira mente que ali é terra indígena e, portan
amazônico, a fim de demarcá-las ainda da Area Katukina do Rio Biá. (Jornal do to, é proibida a retirada de madeira. A
este ano, revelou ontem o delegado do Comércio, 31/05/84). Funai já fez a eleição da área, e tem o
órgão em Porto Velho, Amauri Vieira. mapa e o memorial descritivo. Não há,
Segundo ele, um grupo de trabalho portanto, nenhuma razão que justifique
constituído por antropólogos, agrimen o retardamento da demarcação da Re
sores e técnicos do projeto fundiário do serva do Rio Biá.
Incra em Humaitá-AM, manteve conta Praticamente inexistem, até o momen
tos com os índios Apurina, Paumari, Ja to, invasores que dificultem a demarca
mamadi e Juma, encaminhando à dire ção da reserva, que vai englobar as qua
toria de patrimônio indígena o relatório tro aldeias dos cerca de 220 Katukina.
sobre os seus respectivos territórios. Fora da área do rio Biá, existem apenas

139
s! Z> Acervo
_/\ | S.A. S INDÍGENAS NO BRASIL/CEDI
umas poucas famílias de Katukina, dis No final de agosto, Raimundo Marinho Atendendo a estes propósitos, Benvindo
persas pelo Alto Rio Tapauá. Apesar de da Silva (Raimundinho Cipriano), ar Costa, representante da Funai em Eiru
quase um século de contato com a frente rendatário daquele seringal, propôs aos nepé, acompanhado por Raimundinho
extrativista do caucho e da borracha, agentes de pastoral um acordo para con Cipriano, foi para a área com um roteiro
pode-se dizer que os Katukina mantêm tinuar explorando aquelas terras. Como de interrogatório e instruções fornecidas
bastante preservada a sua cultura. Plan verdadeiros donos da área, cabia aos
pelo Delegado. Em sua volta, elaborou,
tam grandes roçados (em anos passados, Kanamari tomarem qualquer decisão. juntamente com o sargento Augusto,
chegaram a vender muita farinha de Acompanhados pelos agentes de pasto um relatório que foi enviado à Funai,
mandioca) e também extraem sorva e ral, alguns Kanamari estiveram com onde se procurava incriminar o agente
borracha, que comerciam com os rega Raimundinho Cipriano, e se defende de pastoral Lino João de Oliveira Neves.
tões. (Porantim,jun./84). ram das acusações de que estariam rou Todas estas atitudes têm como objetivo
bando tigelas (usadas na coleta do lá evidente retirar os agentes de pastoral da
tex). Disseram que roubo realmente área e demover os índios da defesa de
Denunciada expulsão ocorria, mas praticado por brancos que, seus direitos, efetivando a espoliação de
além de roubartigelas dos índios, causa finitiva do território kanamari. (Poran
Famílias Katukina estão sendo expul vam a morte de seringueiras na área. tim, nov./84).
sas, na região do Lago Aiapuá, Ilha Aceitando a proposta feita pelo seringa
Grande, Jamari, Surara e Laranjal, em lista, os Kanamari estabeleceram as ba
bora a área já esteja delimitada pela ses do acordo: permitem que os brancos GT percorre a área
FUNAI. A pressão vem sendo feita por continuem cortando seringa em suas ter
uma família que se diz proprietária das ras até o final deste ano; não permitem A partir de uma proposta de Área enca
terras, embora não apresente nenhum que nos próximos anos estes continuem minhada pela Equipe de Pastoral Indi
documento comprovatório de tal condi na área, nem que sejam colocados novos genista da Prelazia de Tefé, em GT da
ção, conforme denúncia da missionária seringueiros; farão inspeção periódica FUNAI percorreu a região fazendo um
católica que atua na região, Irmã Cris nas estradas de seringa, e, ao constatar levantamento visando a delimitação da
tina Noskoski. (A Crítica, 02/08/84). que alguém está matando seringueiras, AI Canamari do Rio Juruá, incluindo os
proibirão que o devastador continue na afluentes deste rio, onde vivem vários
área; exigem que a renda para a explo grupos da etnia. (Araci M. Labiak e
ração da seringa seja paga à comuni Lino João de O.Neves, mar./85).
KANAMARI/ dade Kanamari, e não mais a Joaquim
Serafim.
R, ITUCUMA Reconhecendo os direitos dos índios,
Raimundinho Cipriano assumiu pagar RANAMARI/
420 kg de borracha como renda e legali
Seringalistas zar o acordo em cartório. Mas, apesar R. JUTAI
continuam invadindo do compromisso assumido, Raimundi
nho Cipriano e Joaquim Serafim dirigi Madeira para exportação
Usando a mesma tática de seu pai, Joa ram-se à Delegacia de Polícia de Eiru
quim Serafim Carneiro, que se diz dono nepé, onde acusaram os índios de “usur Embora já devastada de espécies que
do Seringal Flecheiras, localizado em pação de terra” e os agentes pastorais de apresentem algum valor comercial ele
área Kanamari, vale-se dos índios para “incitamento”. O delegado de Polícia, vado, madeireiras continuam retirando
abrir colocações e estradas de seringa. sargento Augusto C. Alves da Cunha, toros de vários tipos da área Canamari
Uma vez abertas estas colocações, “dei tomando a defesa dos seringalistas, ten do Jutaí, incluindo madeiras brancas e
xa” os índios trabalharem ali durante tou intimidar os Kanamari e os agentes até aquelas que são utilizadas para a fa
dois ou três anos; então os expulsa para pastorais, ameaçando abrir processos e bricação de canos e remos, pelos índios,
mais adiante, onde vão abrir novos lo utilizar força policial para retirar os Ka e outras cujos frutos alimentam os pei
cais. namarida área. xes nos igarapés e lagos. Em sua maio
O grupo Kanamari hoje localizado no Vale frisar que há uma representação da ria, esses toros foram levados à Manaus,
igarapé Mirim, afluente do rio Itucumã, Funai em Eirunepé, que, instalada na para serem transformados em lamina
vem sendo utilizado há anos, para abrir,Delegacia de Polícia, e tendo como seu dos destinados à exportação.
em seu próprio território, estradas pararepresentante um atendente de enfer Ciente dos fatos, a 1° DR da FUNAI em
os seringalistas do Estado. magem totalmente despreparado para o Manaus disse estar movendo uma ação
Em agosto último, quando em contato trato das questões que afetam os índios judicial contra as empresas madeireiras
com os Kanamari desse grupo, agentes na região, sofre todo tipo de interferên e os intermediários envolvidos. Porém,
da Pastoral Indigenista da Prelazia de cia e direcionamento do Delegado de Po a retirada de madeiras da área indígena,
Tefé testemunharam esta prática. Joa lícia. continua. (Lino João de O. Neves e Araci
quim Serafim apossou-e de três estradas Toda esta situação tem como pano de M. Labiak, de Eirunepé, mar./85).
de seringa dos Kanamari, colocando se fundo o interesse de seringalistas que se
ringueiros não-índios para ali trabalha pretendem donos desta e de outras áreas
rem a seu serviço. O momento era de kanamari e kulina na região, fato confir
grande tensão, pois os Kanamari se ne mado pelo delegado, que revelou existir
gavam a aceitar esta situação, não dei “muita gente grande por trás disso”.
xando sua área para os brancos e exigin Outro interessado na questão é o próprio
do que fossem respeitados seus direitos delegado, que tem demonstrado alto
de ocupação imemorial do território. grau de preconceito contra os povos in
dígenas, e que, como já afirmou, está ali
para “defender os proprietários”.

140
sL7-Acervo
–/ { | <> A

Em defesa do território

Logo nos primeiros meses do ano, quan


do da presença de madeireiros e da der
rubada de árvores por seringueiros inva
sores da área, os Canamari tomaram a
defesa de seu território realizando o con
trole e levantamento da quantidade e
qualidade da madeira que estava sendo
retirada. Estes dados foram encaminha
dos à Funai, como subsídios às medidas
judiciais que este órgão afirmava que to
maria.
Quando de sua estada no Alto Jutaí, em
abril de 84, a equipe de saúde da Funai
entregou aos Canamari várias Placas de
Interdição de Área, que foram fixadas
pelos próprios índios nos locais por eles
indicados como limites de sua área. Em
seguida, passaram os Canamaria exigir
dos comerciantes uma espécie e “im
posto”, que funcionaria como uma in Tuxáuas Manduca, Isaquiel
e Geraldo:
denização dos prejuízos causados pela os Canamari do Rio Jutaí,
retirada de produtos da área. sinalizando suas terras
As placas de interdição, os remédios e com placas da FUNAI.
mercadorias distribuídas, e as promes
sas de instalar um Posto Indígena na no grupo. Além disso, material para
área, criaram entre os Canamari uma exames laboratoriais foi enviado ao Ins
enorme expectativa. tituto Evandro Chagas, em Belém, e ao
O não cumprimento destas promes Instituto Pasteur, na França, sendo que Transferência indevida
sas, acentuado pela presença da Petro apenas este último, a partir do material
brás que, sobrepondo-se à autoridade que ainda continua em estudo, conse Fruto da atuação do representante da
da Funai, invadiu a área, fez com que guiu isolar micro-organismos. Embora Funai em Eirunepé e da autoridade po
índios e ribeirinhos desacreditassem na não tenha sido identificada a doença, a licial, que em seu todo foi muito mais
legalidade das Placas de Interdição e na hipótese de TB intestinal, levantada pe negativa do que positiva, tanto para os
própria força do grupo como agente de los primeiros exames, está definitiva índios em si, quanto para as relações
garantia do território. (Araci M. Labiak mente descartada. brancos e índios, a situação atingiu seu
e Lino João de O. Neves, de Eirunepé, A partir de exames parasitológicos reali ponto crítico no final de dezembro,
mar./85). zados pelo Inpa, onde 100% dos Cana quando um índio Kulina feriu à faca um
mari apresentaram um variado quadro comerciante, desencadeando daí um
de verminose em alto grau, a equipe do acirramento de ódio e preconceitos, e fa
A situação de saúde Projeto Canamari realizou um trata zendo vir à tona o estado de tensão la
mento geral na população. tente que já envolvia aquelas relações.
Um estranho quadro de sintomas que Se hoje a situação de saúde do grupo não Como forma de evitar novos conflitos, o
diagnosticado pela Unidade da Funda pode ser tida como totalmente normal, grupo rersponsabilizado por este inci
ção Sesp-Eirunepé como tuberculose in pelo menos já não se apresenta tão alar dente foi transferido para a área de ou
testinal, fez com que várias entidades se mante quanto no início de 1984, pois tro grupo Kulina, um pouco mais afas
mobilizassem no sentido de solucionar apesar de não terem desaparecido com tado da sede do Município. Sem que lhes
os problemas de saúde que atingiam pletamente, os sintomas que levaram ao tenha sido oferecido condições suficien
50% dos 107 Canamari do Rio Jutaí. diagnóstico de TB intestinal diminuí tes de se instalarem no novo local, os
(A Notícia-AM, 12/03/84). ram consideravelmente. Kulina, por questão de sobrevivência,
Após uma série de exames realizados na Ainda quanto à saúde, em dezembro de em breve tempo terão de retornar à an
área, da qual tomaram parte o Hospital 1984 a equipe do Projeto Canamari-Pre tiga área, a fim de se abastecerem dos
de Moléstias Tropicais, o Instituto de lazia de Tefé realizou a atualização da roçados ali deixados.
Pesquisas da Amazônia-Impa, Funai, vacina contra sarampo e a 1° dose das Esta transferência, precipitada e que
Secretaria de Saúde do Estado do Ama vacinas SAbin e Tríplice. (Araci M. La não foi suficientemente analisada em
zonas-Sesau, Fundação Sesp-Regional biak e Lino João de O. Neves, de Eiru suas implicações, longe de solucionar a
Manaus, e Conselho Indigenista Missio nepé, mar./95). questão com a população branca, traz
nário-Cimi, 3 Canamari estiveram em em si sérios riscos, uma vez que reapro
Manaus para exames mais detalhados e ximou grupos que haviam se separado
uma equipe de saúde da Funai esteve no recentemente devido questões de diver
Rio Jutaí para realizar exames clínicos gências internas, o que, devido as carac
terísticas do Povo Kulina, poderá origi
nar conflitos extremamente prejudiciais
a ambos os grupos.

141
Todos os fatos ocorridos em 1984, envol de outubro, resumindo informações his O Relatório também registra que as ma
vendo os Kulina e brancos, vieram re tóricas e atuais (sobretudo a partir dos locas Zuruahá atuais estão localizadas,
forçar a evidente necessidade de redefi trabalhos que os missionários católicos entre o Igarapé Pretão e o Riozinho, in
nir os limites da atual Proposta de Área vêm desenvolvendo desde a época dos dicando um isolamento autodefensivo,
a partir das reais necessidades dos gru primeiros contatos com os Zuruahá, em “longe o mais possível do Rio Cuniuá,
pos Kulina da região. (Araci M. Labiak 1980), realizando um sobrevôo e percor onde a presença civilizada é mais fre
e Lino João O. Neves, de Eirunepé, rendo o Rio Cuniuá, entre o Riozinho e qüente.”
mar./85). Marrecão e seus respectivos igarapés. O GT constatou que o território delimi
O relatório que inclui os resultados ofi tado está sendo invadido por uma frente
ciais do trabalho do GT e assinado por de expansão extrativista, formada prin
toda a equipe, foi apresentado a 10 de cipalmente por sorveiros e seringueiros.
janeiro de 1985, propondo uma área de Apesar das placas de interdição da área,
233.900 ha, com 500 km de perímetro, colocadas pela FUNAI, a frente extra
GT delimita no Coxodoá que está localizada no recém-criado mu tivista continua explorando a área indí
nicípio de Camaruã (a ser desdobrado gena: no alto Riozinho, os patrões Rai
O GT criado pelo presidente da FUNAI, de Tapauá), no Estado do Amazonas, mundo Batista, Moreira e Evilázio man
pela Portaria nº 1764/E de 14.09.1984, assim descrita: (a) da foz do Igarapé tinham 12 homens, alguns com família,
procedeu ao estudo de identificação — Matrinxã, no rio Cuniuá, pela margem trabalhando como sorveiros; no Coxo
incluindo um levantamento fundiário — direita do rio Cuniuá até a foz do Igara doá trabalham dez seringueiros de Ma
da área a ser destinada aos Zuruahá, até pé Munguba, pela margem esquerda noel Sena, freguês de Raimundo Ba
recentemente conhecido, como “Índios deste igarapé até sua nascente; (b) da tista.
do Coxodoá”. nascente do igarapé Munguba, por li No final de julho de 1984, os Zuruahá
A equipe do GT, incluindo dois indige nha seca, até a nascente do Igarapé Ari saíram à beira do Cuniuá, atraídos por
nista da FUNAI (Ezequias Heringer Fº gó (ou Ramiro), pela margem direita elementos da Missão JOCOM (Jovens
e Lévio Natal Lopes de Oliveira) e três deste igarapé até sua foz no Riozinho; com Missão), que se utilizaram de um
missionários católicos da Prelazia de Lá (c) pela margem esquerda do Riozinho, varadouro aberto em 1983, pela “expe
brea (Gunter Kroemer, Terezinha We em toda sua extensão, até a foz do Iga dição de atração” da FUNAI chefiada
bere Gunter Francisco Loubens), traba rapé Coxodoá; e (d) da foz do Coxodoá, por Sebastião Amâncio da Costa. (Rela
lhou conjuntamente entre os dias 2 e 23 pela sua margem esquerda até a foz do tório de Viagem aos Índios Zuruahá,
Igarapé Engilhado, desse ponto, por li Brasília, 10/01/1985).
nha seca, até a nascente do Igarapé Ma
trinxã, da nascente deste igarapé, por
sua margem direita, até sua foz no Rio
Cuniuá.

142
Sateré-Mawé

TAPAJOS/MADEIRA

143
sL7-Acervo
_/\ | S.A INDÍGENAS NO BRASIL/CEDI

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ORIXIMINA

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144
TAPAJÓS/MADEIRA 3

QUADRO GERAL DOS POVOS INDÍGENAS DA ÁREA TAPAJCS/MADEIRA


Nº NO Nº IE ALDEIAS OU
POVO ##\PA NOME DA ÁREA MUNICÍPIO NoME DAS"…ELES POPULAÇÃO FONTE E DATA
} Manicoré R. Manicoré 3L

2 Auxiliadora Lg. Capanã G. 22

#URA 3 Auxiliadora R. Madeira 36 #

4 Manicoré POnta Natal 219

5 Autazes R. Autazes L. 000


1. 308 (T)
# Humaitá, R. Maici/3 L7C)
PIRAHA (1) 6
Auxiliadora

TORÁ 7 Auxiliadora Fortaleza 17

AI Munduruku Itaituba 18 2.296

MUNDURUKU (2) AI Coatá- Anixim, Borba 14 (2) 1.460 | FUNAI: 83


Laranjal
3. 756 (T)
Humaitá,
PARINTINPIN 10 4 ll4
Auxiliadora
ll Res. Projetada Manicoré, Humaitá, Transamazônica, L76 Menendez: 85
Tenharim Auxiliadora km 124

TENHARIM (3) Auxiliadora R.Marmelos (Estirão 19

Grande)
l2 AI Ig. Preto Manicoré Ig. Preto 54

l3 AI Andirã-Marau 3l

SATARÉ-MAINÉ 14 Igs Miriti, Itaituba, Maués 3 FUNAI: 84

Manjauru, Urupadi 4.850 (T)

KAJABI (4) 15 AE Kajabi Itaituba 4 234 FUNAI: 84

DIAHOI, TIKUNA,
COCAMA, DJAPÁ , 16 Maués, dipersos na SEIl

APUPINÃ, APIAKÁ, Sucunduri transamazônica dados

e MUNIDURUKU

17 Apuí, Sucundurí, lR.Barati sem dados


}_8 Manicoré, Aripuana, - +

ARREDICS Maués, Axinim, R. Madeirinha sem dados


19 Itaituba R. Parauari sem dados

(*) Todos os dados de população não especificados, foram levantados por Heringer Fº e Lange: 83.
(1) Nessa área vivem também índios Diahói e Apurinã, integrados aos Pirahã.
(2) Nessa área há também uma aldeia Sateré-Mawé.
(3) Nessa área vivem também índios Diahói, integrados às famílias Tenharim.
(4) Ver também nas Áreas PIX e Oeste do MT.

145
Acervo
| S.AS INDÍGENAS NO BRASIL/CEDI

GT-FUNAI IDENTIFICA
AI-TENHARIM

Miguel Menedez(*)

m julho de 1984, a FUNAI enviou ao rio Marmelos Comunidade do Igarapé Preto


uma equipe encarregada de delimitar a “Reserva
Projetada Tenharim" e, posteriormente, a área Te Os Tenharim do Igarapé Preto reivindicam para si o terri
nharim do Igarapé Preto, afluente do rio Madeirinha e dis tório que se estende desde o curso do Igarapé Preto até o
tante a 150 km da “Reserva Projetada”. Isto entusiasmou curso médio do Rio Machadinho, reconhecendo como tal o
muito aos Tenharim que, desde o início dos anos 70, quan território de habitação e perambulação historicamente ocu
do a BR-230/Transamazônica chegou a seu território, pado por eles. Entretanto, um terço desse território encon
aguardam por uma demarcação efetiva de suas terras. A tra-se atualmente destinado a atividades de pesquisa e lavra
delimitação não ocorreu, pois os trabalhos da equipe foram da Mineradora Mibrel. Esta firma faz quatorze anos que
contestados pelos colonos assentados pelo INCRA ao longo atua na região (o primeiro alvará de pesquisa outorgado
da rodovia e pela Mineradora Taboca S.A., atual Mibrel, pelo DNPM é de 1970). Ao longo de todo este período, a
do grupo Paranapanema, instalada no Igarapé Preto. FUNAI não tomou nenhuma providência no sentido de pro
teger as terras nem mediar no processo de contato que os
A proposta levantada pela equipe da FUNAI foi a delimi Tenharim passaram a ter, de modo indiscriminado, com o
tação de uma área contínua desde o Rio Marmelos até o pessoal da Mineradora. A sede da mesma se encontra a 2 km
Igarapé Preto, o que levaria a área Tenharim dos atuais da aldeia do Igarapé Preto e a Empresa já desmatou e explo
372.000 ha delimitadas em 1979, para a “Reserva Proje rou a maior parte do terreno que se estende em torno da
tada” com uma superfície de 1.600.000 ha, aproximada aldeia. Assim, perante a atual reivindicação pela terra por
mente. Esta proposta foi rejeitada tanto pela Mineração Ta parte dos índios, a empresa alega que chegou primeiro ao
boca, como pelos colonos sediados no limite leste da “Re Igarapé Preto e que os Tenharim chegaram depois, atraídos
serva”, que passaram a repelir de modo agressivo os inte pelas benfeitorias que a Empresa introduziu na região.
grantes da equipe da FUNAI que retirou-se da área, para
não colocar em risco a vida dos seus membros. Tudo isto levou os Tenharim a uma situação esdrúxula, já
que sua presença nessa região vem de longa data e pode ser
Quanto aos Tenharim, preocupados com a demarcação da documentada através da tradição tribal. No entanto, passa
terra nada opuseram à proposta do pessoal da FUNAI, ram a ser virtuais “prisioneiros” da Mineradora. Ninguém
mesmo que boa parte dos 1.600.000 ha esteja ocupada por entra ou sai da área de mineração sem passar pelos fortes
vegetação de campo, que não apresenta nenhum interesse controles de segurança da Empresa. Sendo que a autoriza
para eles, ou que as dimensões da área sugerida, nada tem a ção para penetrar ou deixar o território é fornecida pela
ver com suas reais reivindicações pela terra. administração da empresa, mesmo para os funcionários da
FUNAI que querem se dirigir à aldeia Tenharim. Entretam
As duas comunidades Tenharim envolvidas pelo processo to, até julho do ano passado, as relações entre os índios e a
de demarcação ocupam áreas distantes uma da outra, 150 mineradora podem ser descritas como “pacíficas". Os Te
Km aproximadamente, e apresentam problemáticas especí nharim não colocaram nenhum empecilho aos trabalhos de
ficas quanto à delimitação de seus territórios. Vejamos isto lavra e, por sua parte, a Empresa “tratou muito bem "eles.
por parte.

(*) antropólogo, participou do GT/FUNAI — 1985 que esteve na área


Tenharim e é professor da UNESP.

145
sL7-Acervo
_/\ 1 S-A TAPAJÓS/MADEIRA 5

Os Tenharim sempre contaram com livre trânsito pela área Comunidade do Marmelos
de mineração, transporte gratuito nos veículos da empresa,
escola para as crianças e livre acesso ao refeitório da mine Desde o início da década de 1970, os Tenharim do Marme
radora. As relações estabelecidas com a Mibrel, além da los vêm sofrendo os efeitos da abertura da BR-230/Transa
descaracterização cultural inevitável, levou os Tenharim a mazônica, que passa pelo meio da aldeia. Em 1977, já era
reduzirem praticamente a zero suas atividades tradicionais, possível detectar a presença de colonos na região do Igarapé
particularmente as de caráter econômico: roças pratica Mafui, afluente do Marmelos e território tradicional dos
mente não existem mais, já que o pessoal passou a depender Tenharim. Posteriormente a essa data é instalada uma ser
mais da "marmitex" do restaurante do que suas próprias raria próxima à margem esquerda do Mafui, no lado sul da
condições para a subsistência; as atividades extrativas tam Transamazônica. Após as reiteradas reclamações dos Te
bém estão paralisadas após a derrubada pela mineradora de nharim na Delegacia da FUNAI em Porto Velho (RO), em
2.205 árvores entre seringueiras, castanheiras e plantas fru 1979 a reserva e os colonos foram retirados. Parte deles
tíferas. foram recolocados no sul da estrada, a partir do entronca
mento da Transamazônica com a estrada do estanho, que
A passagem da equipe da FUNAI, em julho de 1984, e a leva à Mineração Mibrel. Outra parte foi recolocada no lado
preleção do seu responsável no sentido de que as terras onde norte da Transamazônica, a 4 km da margem direita do
atua a mineradora são de propriedade indígena, não de Mafui. Foram, então, estabelecidos os limites da “Reserva
vendo deixar atuar a mesma impunemente, fez com que os Projetada Tenharim", porém essa delimitação obedeceu a
Tenharim passassem a exigir da Empresa um pagamento uma tramitação confusa entre a FUNAI e o INCRA e não foi
pelo usufruto da terra ao longo desses quatorze anos e como homologada, passo fundamental para a posterior demarca
condição para a continuação dos trabalhos. Desse modo, os ção, em virtude da não participação de um antropólogo na
Tenharim ganharam uma aldeia nova, projeto habitacional identificação da área, como prevê o Decreto nº 76.999776,
importado de São Paulo. São ao todo treze casas de madei Art. 2º, parágrafo 1º.
ra, de quatro cômodos cada uma, chão de cimento e teto de
telhas etermit: dispostas em forma de rua, com dois banhei Com essa delimitação, os Tenharim perderam, na região
ros situados no meio da rua. A nova aldeia está sendo Leste — onde a área limita com a Gleba M-2, do projeto
construída por uma empreiteira, a poucos metros da aldeia fundiário implantado pelo INCRA, local no qual foram re
velha. colocados os colonos — parte de um castanhal e um serin
gal, importantes para as atividades extrativas dos índios.
Os Tenharim também exigiriam o pagamento de uma inde O castanhal, denominado Arara, está situado sobre o eixo
nização mensal de Cr$ 6.000.000 a serem divididos propor da linha divisória da Reserva, no lado norte da BR-230 e o
cionalmente entre os oito grupos familiares que integram a seringal no lado sul da estrada, nas cabeceiras do Igarapé
comunidade. Dinheiro este que, evidentemente, retorna em do Inferno, a uns 12 km aproximadamente do limite da Re
sua maior parte à própria Empresa, já que é no supermer serva. Apesar dessa perda, da qual os Tenharim sempre es
cado mantido pela mesma onde os Tenharim gastam todo tiveram conscientes, de lá para cá nenhum outro conflito se
seu dinheiro. registrou entre índios e colonos, respeitando ambas as par
tes a linha divisória de 1979, continuando um dos grupos de
A descaracterização do grupo pelo contato inicial indiscri trabalho Tenharim a usufruir do castanhal e do seringal.
minado, vê-se agora agravada pelas medidas tomadas pela
mineradora que, embora venham a satisfazer as reivindica Assim, a equipe enviada pela FUNAI em 1984 tinha, em
ções exigidas pelos Tenharim foram tomadas arbitraria parte, como objetivo, delimitar o já delimitado. Entretanto,
mente, sem levar em consideração os padrões tradicionais os Tenharim colocaram aos enviados pela FUNAI sua rei
do grupo nem suas reais necessidades, visando mais “acal Vindicação sobre a posse do castanhal e do seringal, o que
mar os ânimos”, para a Empresa poder continuar seus tra deu margem à proposta de uma área indígena contínua do
balhos. O problema da terra não é colocado em pauta. Em Marmelos ao Igarapé Preto. Mas, o modo em que esta pro
fins de 1984, um funcionário da FUNAI chegou à área como posta foi colocada e o encaminhamento dado aos trabalhos
encarregado da aldeia, porém a sua função parece ser tam de delimitação, fizeram com que os colonos contestassem a
bém a de manter a calma, uma vez que se empenhou em proposta de forma violenta. A equipe teve que interromper
fiscalizar o andamento da ordem tribal, condizente com o suas atividades, retirando-se da área, criando-se assim um
bom andamento dos trabalhos de mineração. foco de tensão entre índios e colonos.

No começo de 1985, uma nova equipe enviada pela FUNAI A atuação da equipe enviada em fevereiro de 85 permitiu,
voltou ao Igarapé Preto, conseguindo, após uma série de após uma série de reuniões com os Tenharim e os represen
reuniões com a comunidade indígena, estabelecer os limites tantes dos colonos, superar o impasse. No lado norte da
para a AI Tenharim do Igarapé Preto. Esta nova proposta BR-230 será respeitada a linha divisória de 1979. Na área
também foi contestada pela empresa mineradora, já que ocupada pelos colonos, o castanhal Arara se encontra muito
uma vez finalizados os trabalhos de extração de minério, danificado, não tendo mais condições de ser explorado. Já o
num prazo de dois anos aproximadamente, pensa desenvol setor do castanhal que continuou a ser explorado pelos Te
ver na região um projeto agropecuário. nharim após 1979, será incorporado definitivamente à área
indígena, uma vez aberta a linha de demarcação. Este dado
não foi levado em consideração pela primeira equipe, sendo

"147
sL7-Acervo
_A = A INDÍGENAS NO BRASIL/CEDI
uns dos motivos de irritação para os colonos. Contudo, os permite incorporar o seringal do Igarapé do Inferno; ainda
Tenharim exigiram uma indenização pelo estrago do casta esta nova linha avança para o sul, além do limite estabele
nhal além da linha divisória e pelo fato de não mais reivin cido para a “Reserva Projetada" em 1979, integrando as
dicarem para si esse pedaço do território. Essa indenização cabeceiras do Rio Marmelos e seus afluentes à área indí
está sendo negociada junto ao Polonoroeste. Quanto ao lado gena Tenharim. Este último acréscimo é significativo, pois
sul da BR-230, foi estabelecida uma nova linha divisória permite aos Tenharim o controle efetivo do Marmelos desde
que, sem afetar aos colonos localizados no eixo da estrada, as nascentes até seu curso médio, mantendo-o livre de qual
quer outra ação que não seja a que eles realizam, garan
tindo assim a pureza de suas águas, a pesca, bem como
impedindo futuros desmatamentos de toda essa região.

A nota ainda afirma que, desde 1976, a


Braselfa cumpre diversos contratos de
risco com a Petrobrás. Três deles si
tuam-se na Amazônia e abrangem par
PI no garimpo cialmente terras indígenas. Em 1983,
realizaram-se trabalhos de levantamen
O delegado da FUNAI em Porto Velho, Deputados to sísmico e a nota explica que, nessa
Apoena Meireles, anunciou que o órgão pedem providências época, foi feito “um furo exploratório
deverá criar, em Humaitá, um posto in com cartuchos de dinamite, que incluiu
dígena para garantir a zona de garimpo Os deputados amazonenses decidiram participação de mão-de-obra indígena
existente no local e dentro da reserva in ontem, em Manaus, após ouvirem o de sem incidentes com a população”. Afir
dígena. São 50 índios tenharim que vi poimento de 12 índios Satere-Mawe, no ma ainda que “os cartuchos utilizados
vem na área (km 230 da Transamazô plenário da Assembléia Legislativa, en não explodem por acidente: só por mé
nica). O delegado pretende que os índios caminhar telex ao Presidente João Fi todos específicos”. (ESP, 25/05/84).
constituam uma cooperativa de explora gueiredo e aos Ministros das Minas e
ção do minério. (ESP, 30/03/84). Energia e Interior pedindo providências
imediatas para o que consideram um Relatório
crime grave: as bombas abandonadas Dreyfus-Gamelon
pela empresa francesa Elf Aquitaine no
território indígena, que causaram pelo Paris — O relatório endereçado pela an
menos quatro mortes, segundo as de tropóloga francesa Simone Dreyfus-Ga
núncias dos índios. (O Globo, 31/3/84). melon à direção da empresa Elf Aqui
Mortos por colonos? taine estima em Cr$ 320 milhões os pre
juízos e danos causados aos índios sate
Dois índios da tribo Mura-Pirahã teriam Confirmados explosivos ré-mavé, na região amazônica, onde a
morrido anteontem em um conflito com subsidiária dessa empresa, a Braselfa,
colonos na Transamazônica. A Funai, A Braselfa, subsidiária da empresa fran realizou trabalhos de prospecção de pe
no entanto, não teve condições de confir cesa Elf Aquitaine, afirmou ontem, em tróleo. Até agora, os índios sateré-mavé
mar a denúncia, feita em Porto Velho nota oficial publicada nos jornais de receberam apenas indenizações no valor
(RO), porque não tem posto na região e Manaus, ter constatado a existência de de Cr$ 13,8 milhões, menos de 5% da
depende de informações de viajantes. Os cartuchos de explosivos não detonados quele total.
conflitos entre os índios e colonos come nas reservas indígenas de coatá-laranjal, Simone Gamelon, diretora da Escola de
çaram há três anos, próximo à cidade de na zona do rio Canumã, e andirá-ma Altos Estudos em Ciências Sociais da
Humaitá, mas por “falta de recursos” a rau, na área do rio Andirá. Já em 1983, a Universidade de Paris, apresenta em seu
Funai alega que ainda não pode tratar tribo dos saterê-mauês e mundurucus, relatório algumas reivindicações dos ín
do assunto. As visitas feitas pelos serta proprietária das terras, denunciou que a dios, entre elas a retirada das minas de
nistas em nada ajudaram na resolução e empresa invadira duas vezes sua reser dinamite instaladas ao longo das cente
eles nem mesmo sabem o número de ín va, provocando a morte de alguns ín nas de quilômetros de picadas abertas e,
dios desta tribo. (ESP, 5/4/84). dios, em conseqüência do uso de explo posteriormente abandonadas (só agora
sivos para encontrar petróleo. A desco
berta dos cartuchos — alguns enterra
dos e não utilizados e outros desenterra
dos e em posse dos índios — provocou o
deslocamento de uma expedição ao lo
cal.

148
TAPAJÓS/MADEIRA 7

esse trabalho está sendo feito), além da


promessa de não retorno da empresa Elf
Aquitaine em seu território.
Ainda no relatório, a antropóloga sugere
que as próximas negociações com os ín
dios devem contar também com a parti
cipação de representantes da Funai e
personalidades independentes que se
jam da confiança da maioria dos indí
|
genas, citando o nome do advogado Dal
mo Dallari, essas negociações deverão
ter como objetivo a reavaliação das inde
nizações devidas, pois considera que
elas não foram “seriamente calcula
das”.
O estudo feito pela cientista francesa es
pecializada em populações indígenas da
região amazônica representa apenas os
valores dos produtos florestais in natu
ra, não sendo considerado o fato de os
mesmos, por terem sido destruídos, não
poderem mais ser beneficiados e comer
cializados. Se isso fosse feito, o total po
deria atingir cerca de Cr$ 900 milhões. Na foto acima,
tuxáua Dico Sateré,
O relatório revela também denúncias =
com seu advogado
feitas sobre o mau comportamento dos 2 Edson Oliveira,
empregados da Braselfa, que exibiam e assina o termo
semanalmente filmes pornográficos e É de indenização.
distribuíram indiscriminadamente be
bidas alcoólicas para os índios. A dire
ção da Braselfa inicialmente contestou
que cargas de dinamite haviam sido
abandonadas sem explodir, mas diver
sas cargas foram retiradas pelos índios e
enviadas à Funai, sendo exibidas para a
imprensa. Diante disso, a empresa reco
nheceu sua existência. Quanto à possibi
lidade de essas cargasterem provocado a
morte de quatro índios, a empresa afir
mou que a simples manipulado do pro
duto não apresentava nenhum perigo.
Mais: os sateré-maué dizem que jamais
foram informados dos projetos de inva
+ • • Didier Aubin,
são de seus territórios, mas sobre isso a diretor da Elf
Elf lançou a responsabilidade sobre a no Brasil.

Funai. Segundo a antropóloga, a culpa…


desse organismo é irrefutável, pois em %
diversos momentos faltou às suas res- = #
ponsabilidades. Mesmo assim Simone =
Gamelon lembra que uma empresa fran- #
cesa operando num país em desenvolvi->
mento não pode ignorar que algumas*
agências governamentais, no caso a Fu
nai, nem sempre estão à altura de seu
papel.
A antropóloga francesa contesta tam
bém a afirmação da Braselfa de que os
trabalhos de prospecção, abertura de
mais de 300 quilômetros de picadas e
clareiras se desenvolveram longe das al
deias. Ela própria pôde chegar de barco
a um desses locais em apenas cinco mi
nutos e num outro, a pé, em 20 minutos.
-*-
Francisco Cardoso,
assina pelos
Mundurukú.

149
s! Z> Acervo
_/\ | S.A. INDÍGENAS NO BRASIL/CEDI
Finalmente, Simone Dreyfus-Gamelom, Um pouco antes, Dalmo Dallari havia Volta atrás
constata no relatório que a tuberculose dito ter sido totalmente ilegal a presença
está destruindo ossateré-maué e que ne na área, pois a Constituição não permite Depois de gastar US$ 150 milhões em
nhuma campanha de luta sistemática que o território indígena seja ocupado pesquisas de sete contratos de risco e de
contra a doença se está desenvolvendo. por autorização, no caso dada pela Pe cidido desativar suas operações no Bra
Por tudo isso, considera que, “no míni trobrás, “Houve invasão”, alegou Dal sil, a Elf Aquitaine do Brasil (Braselfa)
mo”, a Elf Aquitaine deve apresentar lari, recordando que apenas um decreto está revendo essa posição graças às des
publicamente desculpas por seu com do presidente da República poderia per cobertas da Pectem-Shell na bacia de
portamento na região e por ter abando mitir que a Elf Aquitaine explorasse o Santos, informou o diretor geral da em
nado cargas de dinamite na área. Até local. presa, sr. Didier Aubin. (ESP, 30/06/
agora, segundo ela, a direção da Brasel Depois da última proposta do francês, o 84).
fa vinha apenas dificultando toda e advogado das tribos apresentou a oferta
qualquer negociação sem pretender re final dos prejudicados: Cr$ 270 milhões
conhecer “que os índios devem ser trata para cada uma das aideias. Diante da Nova proposta
dos de igual para igual”. (do correspon recusa, a reunião foi encerrada e o pre
dente Reale Júnior, ESP, 13/06/84). sidente da Funai anunciou a intenção de A companhia estatal francesa Elf Aqui
ir à Justiça para ressarcir o prejuízo cau taine, que realizou pesquisas petrolífe
sado aos indígenas. Participaram do en ras na região dos índios mundurucu e
Elf será denunciada contro o superintendente da Petrobrás sateré-maué, no Amazonas, apresentou
na ONU para a Amazônia Ocidental, Alfredo ontem uma nova proposta de indeniza
Gonçalves, cerca de 50 índios, além do ção à Funai, de Cr$ 300 milhões, para
Álvaro Fernandes Sampaio, índio tu deputado-cacique Mário Juruna. Gon cobrir os danos causados com os desma
cano e membro da coordenação da UNI, çalves, não admitiu o termo invasão e tamentos na área. Os sateré-maué estão
informou ontem em Belo Horizonte que disse que a empresa atuou na área indí exigindo Cr$ 270 milhões e os munduru
irá a uma reunião sobre povos indígenas gena dentro dos trâmites legais do com cu, Cr$ 770 milhões. Com esse dinheiro
que a ONU realizará em Genebra, a par vênio que deu origem ao contrato de ser eles pretendem, também, demarcarsuas
tir de 28 de julho, acompanhado do tu viço que a Aquitaine executava em nome terras. •

xáua Sateré-Mawé Raimundo Ferreira da Petrobrás. (ESP, 20/06/84). A proposta já foi encaminhada pelo pre
da Silva. Raimundo levará duas das sidente da Funai, Jurandy Marcos da
bombas deixadas na sua aldeia pela Fonseca, aos índios. Ele afirmou que, —
companhia francesa Elf-Aquitaine. (O Elf diz no caso não seja possível um acordo, a
Globo, 17/06/84). Funai, por intermédio do advogado Dal
que vai embora
mo Dallari, tentará ganhar as indeniza
Através de sua assessoria, a diretoria da ções pleiteadas pelas duas tribos na Jus
Elf será processada empresa francesa Elf Aquitaine comuni tiça. Jurandy da Fonseca esclareceu es
cou ontem sua decisão de deixar defini
tar a Elf Aquitaine interessada em fir
A FUNAI vai acionar juridicamente a tivamente seus trabalhos de pesquisa de mar um acordo antes da viagem do de
Elf Aquitaine pelos prejuízos causados petróleo no Amazonas, retirando-se do putado Mário Juruna à França. O depu
nos territórios dos índios Sateré-Mawé e País. A nota da empresa informa que a tado pretende discutir a questão da Elf
Munduruku. Uma tentativa de acordo tal decisão já foi comunicada à Petro com o presidente François Mitterrand, a
foi feita em reunião iniciada anteontem, brás. “Lamentamos não termos chega quem já pediu audiência. (ESP, 26/07/
em Manaüs, mas não se chegou ao que do a um acordo com as comunidades in 84).
os índios queriam. O representante da dígenas”, diz ainda a nota.
. Aquitaine ofereceu uma “doação” de Durante a reunião realizada com os re
Cr$ 60 milhões para cada uma das tri presentantes dos índios, o representante Indios dizem
bos, o que foi recusado. “Doação é es da empresa, Georges Aubin, afirmou
mola e os índios não precisam de esmo que a Petrobrás, com quem a Elf assinou
que aceitam
la. Isso é uma imoralidade” — reagiu o contrato de risco para pesquisas, não
advogado
Dallari. dos índios, Dalmo de Abreu

havia esclarecido que as áreas eram indí Os índios munduruku e sateré-maué re
genas. (Folha da Tarde, 21/06/84). solveram aceitar a proposta de indeniza
Depois que três antropólogos da Funai. ção da empresa francesa Elf Aquitaine,
foram chamados a participar, relatando que está realizando exploração petrolí
a extensão dos danos provocados nas fera, sob contrato de risco, devendo ca
terras indígenas, o representante da da nação indígena receber Cr$ 150 mi
Aquitaine, Dídier George Aubin, pediu Ihões, segundo informou ontem, em
desculpas pelo termo doação, trocou-o Manaus, o delegado regional da Funai,
por uma “contribuição financeira” de Aldo Gomes da Costa.
Cr$93 milhões para cada tribo e isentou No acordo, fica estipulado o compro
novamente a Aquitaine. “Portudo o que misso por parte da Funai de demarcar as
ouvi aqui, se realmente for assim, não terras dos munduruku, e ele deverá ser
havia como autorizar a entrada em terri assinado em Brasília em agosto na pre
tório índio. Fomos enganados. Não tí sença dos representantes das nações
nhamos possibilidade de trabalhar em munduruku e sateré-maué, do presiden
um mundo tão mágico.” te da Funai, Jurandy Fonseca, do repre
sentante da Elf Aquitaine e do represen
tante da Petrobrás, (ESP, 28/06/84).

150
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Parakanã

SUDESTE DO PARA

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SUDESTE DO PARA 3

9UADRO GERAL DOS POVOS INDÍGENAS DA ÁREA SUDESTE DO PARÁ


NÇ NO NQ DE ALDEIAS OU
POVO MAPA NOME DA ÁREA MUNICÍPIO
* NOME DAS ALDEIAS POPULAÇÃO FONTE E DATA
#

AMANAYÉ 1. AI Antanaye * São Domingos do


# 4famílias|SUCAM: 84
Capim

É * + l 32 •

ANAME 2 AI Anambê Moju FUNAI: 84


dispersos 23

3 Reserva Indígena Altamira, Prainha do sul 5l Carneiro, B.: 83


Arara e Porto de MOZ do norte 2l Carneiro, B.: 83

AI Arañeté *# ==

ARAWETÊ 4 * == " Sen. José Porfirio l 136 Trevisan: 83


Igarapé Ipixuna

ASSURINT 5 AI Trocará Tucuruí l 132 Andrade, L.:84

AS SURINI 6 AT KoatineraC Sen. José Porfirio


*= * * l 56 Irm. Jesus: 84
DO XINGÚ

JURUNA (1) 7 AI Paquiçamba Sen. José Porfírio l 44 FUNAI: 83

GAVIÃO 8 AI Mãe Maria Marabá 1 176 Ferraz: 85

3 Reserva Indígena|S. Felix do Xingú [Gorotire 593 Trevisan: 83


Kayapó KikretUTil 272 Trevisan: 83
Kubenkräkein 198 Trevisan: 83
Aukre 163 Trevisan: 83

Kokraimoro l{35 Trevisan: 83


10 Reserva Indígena! Altamira Mekranoti 395 Thompson: 84
Baur-Mekranoti Altamira Pukanu/Candoca 80 Thompson: 84
KAYAPÓ (2) Altami.}Tç} BEU1
* * 49 Trevisan: 83
Altamira Xixe 155 Thompson: 84
Altamira Iriri NOVO 160 Thompson: 84
ll AI Cateté Marabá Xikrin Cateté 304 Vidal: 85

12 AI Bacajá Sen. José Porfírio|Xikrin Bacajá }_80 Fisher: 84


l3 RI Kararaô Altamira Kararaô Íriri 26 Trevisarl: 83

23 Arredios (Kararaô,

e Mgra Mrari)

l4 AI Parakanã (4) | Itupiranga


Jacundá A.Paranatí L39
E A.Marudjevara 72 |Magalhães: 84
L5 Sen. José Porfirio|Ig. Bom Jardim L33

344 (T)

153
#S INDÍGENAS NO BRASIL/CED!

NÇ NO NÇ DE ALDEIAS OU *mº -

POVÃO MAPA NOME DA ÁREA MUNICÍPIO NOME DAS ALDEIAS POPULAÇÃO FONTE E DATA

SURUÍ 16 AI Sororó S.J. do Araguaia 2 109 Ferraz: 85

Ourém e 4 255

TEMBÉ (3) 17 Reserva


ibé Indígena Vizeu deadCE
desaldea 25 CIMI Norte
II: 83

280 (T)

TURIN rº * R

TEMBÉ i3 Tomé-Açu Aldeia Velha 30 Affonso: 84

XIPÃIA e 19 Altamira Altamira$ 52 FUNAI: 84


KURUÃIA Médio Rio Curuá 15 ,
famílias
+180
(1) Ver também na Área Parque Indígena do Xingú
(2) 346 (Txukarramãe) na Área Parque Indígena do Xingú
(3) ver também na Área Maranhão
(4) fora da área indígena Parakanã

154
SUDESTE DE PARÁ 5

INDENIZAÇÕES E
JOGO DE FLECHAS:_
A GUERRA DOS GAVIAO
Saiu a indenização pela
passagem da ferrovia de Carajás,
mas o enfrentamento com o kupé
“não acaba nunca”, segundo Krohokrenhum

Iara Ferraz (*)

trem passou, dia 28de fevereiro de 1985, pela pri


Das pressões ao acordo
meira vez, percorrendo rapidamente os 17 km da Es
O trada de Ferro Carajás que ficam dentro da Reserva
Indígena Mãe-Maria dos Gavião. Assim, será, diariamente,
Os Gavião passaram a exigir, a partir de meados de 84,
uma redefinição do “projeto de apoio” levado a efeito atra
a cada duas horas, até que se acabe “a maior jazida até hoje vés do convênio com a Funai. Ao lado da reivindicação de
descoberta no mundo": 18 bilhões de toneladas de minério uma forma autônoma para a gestão dos recursos oriundos
de ferro, 80 milhões de manganês, um bilhão de t de cobre, do convênio, livre dos trâmites burocráticos CVRD/FU
40 milhões de bauxita e ainda outros minerais, NAI (o que vinha sendo pleiteado pelos Gavião desde 1982),
a principal preocupação dizia respeito a sua continuidade,
Muito antes da viagem inaugural, os Gavião — o único, dos uma vez que o prazo de cinco anos fora estipulado de modo
14 grupos indígenas situados na “área de influência" do arbitrário, bem como os próprios “projetos de apoio". Como
Projeto Carajás que tiveram sua reserva cortada pela ferro afirma Cotia hoje em dia, “fizeram tudo nas costas da gen
via — haviam iniciado pressões junto à CVRD para obter te, ninguém perguntou nada primeiro, ninguém veio con
benefícios adicionais, além daqueles fixados no grande con versar aqui (na aldeia). Quando chegaram... pessoal do
vênio CVRD/FUNAI (1982). Participar, de alguma forma, Banco Mundial, da Vale, da Funai, eles já tinham acertado
dos benefícios oriundos dos 13 milhões de dólares estipu tudo!"
lados pelo convênio (total para os 14 grupos), não parecia
aos Gavião “satisfatório" em troca da passagem, pelos pró A ameaça da paralisação das obras da ferrovia de Carajás,
ximos 400 anos, dos comboios carregados de minérios, a pelos Gavião, levou ao início das negociações, em setembro
apenas 10 km da aldeia nova. de 84, com a Vale do Rio Doce. A comunidade Parkatêjê
(como os Gavião se autodenominam) exigia o pagamento de
Já em abril de 1982, a CVRD pagou 56 milhões de cruzeiros um "pedágio" mensal, de caráter perpétuo, para a passa
aos Gavião, a título de indenização pela destruição da co gem dos trens carregados de minérios de ferro pelo interior
bertura vegetal do trecho de 17 km por 100 metros de lar do território tribal. Três reuniões consecutivas foram reali
gura (corredor para o assentamento dos trilhos), porção do zadas na aldeia de Mãe Maria — duas em outubro e uma
território indígena rica em castanhais e caça. Ali seriam em novembro — com representantes da Comunidade Par
abertas também três grandes “caixas de empréstimo", . katéjê, da Funai e da Vale, além da imprensa e, na última,
como são chamadas, para a retirada de materiais como do advogado particular dos Gavião, Carlos Marés de Souza
barro e cascalho, destinados à construção do leito da ferro Fº, especialmente solicitado por eles.
}'{{},

A intervenção da 2° DR da Funai (Belém), foi no sentido de


A passagem da ferrovia pelo interior da área indígena pro sugerir aos Gavião, logo de início, um salário mínimo por
piciou a ocupação por posseiros no trecho ao longo do leito família, como critério para a fixação do montante desejado.
da estrada de ferro, com o incentivo dos colonos assentados No entanto, a impropriedade desse critério motivou inúme
pelo GETAT no Loteamento Flecheiras, incrustado a Su ras discussões por parte de antropólogos, advogados, juris
doeste do território Gavião desde 1981. A vigilância naquele tas e representantes da Vale. O Prof. Dalmo Dallari, con
trecho e a remoção do loteamento do GETAT passaram a sultado a respeito, sugeria uma indenização em terras, al
ser cobradas pelos Gavião à Vale do Rio Doce e às emprei ternativa logo rejeitada pelos Gavião, dada a dificuldade
teiras que haviam instalado seu canteiro de obras nas proxi
midades. Esta situação viria a ter desdobramentos inespe
rados. (*) antropóloga, presta assessoria aos Gavião do Pará desde 1976. E autora
da tese de mestrado “Os Parkatejê das Matas do Tocantins: a Epopéia
de um líder Timbira”, USP, 1983, e assessora da CVRD para as áreas
Gavião e Suruí do Pará.

155
Técnicos da CVRD
acertam com os Gavião,
na Aldeia Nova,
a passagem da ferrovia
de Carajás.

CVRD INDENIZA GAVIÃO PELA PASSAGEM DA RODOVIA

Proposta da Companhia Vale do Rio Doce à Co digo sobre a proibição de utilização da terra indígena,
munidade Indígena Parakatêjê, para ressarci especialmente quanto à caça, pesca, coleta de frutos,
mento dos danos causados à Reserva Indígena extração de madeira, ou qualquer outra atividade que
Mãe Maria, em decorrência da passagem da Es restrinja o usufruto dos índios sobre a reserva;
trada de Ferro Carajás pelo seu interior. 12. O pessoal da CVRD utilizará uniforme distintivo
no interior da Reserva;
1. Destinar a importância de 3.000.000.000,00 (três 13. A CVRD sinalizará adequadamente a Reserva no
mi, digo, bilhões de cruzeiros) à constituição de um trecho em que é atravessada pela ferrovia;
fundo de recursos para custear projetos de interesse da 14. A CVRD construirá guaritas nas extremidades do
Comunidade Indígena; trecho, exercendo vigilância sobre toda sua extensão e
2. A importância mencionada no ítem anterior será comunicando à FUNAI qualquer anormalidade, bem
aplicada em estabelecimento financeiro da rede oficial, como a presença de estranhos;
a partir do dia 12 do mês fluente, em conta vinculada 15. A CVRD recuperará as caixas de empréstimo com
da CVRD; cobertura vegetal, evitando a formação de lagos putre
3. Os juros mensais decorrentes desta aplicação serão fatos e não ampliando a área já utilizada;
liberados diretamente à Comunidade, pela CVRD; 16. O cumprimento do presente compromisso pela
4. A correção monetária mensal do valor aplicado será CVRD significa total reparação dos danos causados
agregada ao principal; pela ferrovia à Reserva indígena, nada mais podendo
5. Os projetos aludidos no item primeiro serão elabo ser-lhe exigido, em qualquer tempo, a esse título.
rados pela Comunidade com a assessoria de técnicos
por ela escolhidos, com a assistência da FUNAI e da Mãe Maria, 7 de novembro de 1984.
CVRD;
6. Os custos de elaboração, implantação e execução José Valderi Teixeira
dos projetos serão debitados ao fundo mencionado no Darci de Oliveira Freire
ítem primeiro; Amado Cândido Rodrigues Filho
7. Elaborados os projetos, estes serão submetidos à ass. pela Companhia Vale do Rio Doce
aprovação da CVRD que analisará sua viabilidade;
8. Uma vez aprovados os projetos, sua implantação e
execução serão objeto de um Convênio entre a CVRD e de acordo: Byrkre Jimokre Hirãre
a Comunidade, com a assistência da FUNAI; (Comunidade Indígena Parakatejê)
9. A gestão dos recursos destinados aos projetos com Salomão Santos
petirá à Comunidade, com a assistência da FUNAI; (Fundação Nacional do Índio)
10. Permanece em plena vigência o Convênio nº 59/82
celebrado entre a CVRD e a FUNAI; testemunhas: Carlos Frederico Marés
11. A CVRD instruirá seu pessoal sobre a utilização, Iara Ferraz

156
-SUDESTE DO PARÁ 7

Jogo de flechas. E
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Em primeiro plano, #
Krohokenhum. Q
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crescente na região sudeste do Pará de eles exercerem um Até 1980, ou seja, antes da atuação do GETAT e da Vale do
controle efetivo sobre a sua ocupação; não havia ali terras Rio Doce na região, os posseiros ali se defrontavam aberta
disponíveis, “sem problemas", como afirmava Krohôkre mente com os jagunços do proprietário vizinho aos Gavião.
nhum. Com a passagem da ferrovia, a redemarcação iniciada em
1982 corrigiu limites que, em 1966, haviam sido estabele
Na terceira reunião, em novembro de 1984, a Vale do Rio cidos pelos agentes do antigo SPI, e do governo estadual,
Doce apresentou aos Gavião uma proposta de pagamento juntamente com o proprietário vizinho, beneficiando-o com
de três bilhões de cruzeiros como indenização definitiva por a inclusão de inúmeros castanhais da parte sul do território
perdas e danos decorrentes da passagem da ferrovia no inte indígena.
rior da área indígena.
E a atuação do GETAT sobrepôs, exatamente naquela por
No acordo então firmado (ver a íntegra no box), ficou esta ção, um loteamento com 46 glebas de 50 hectares cada uma,
belecido que a aplicação desses recursos — cujos juros men que passaram a ser ocupadas a partir de abril de 1981. Inú
sais de uma caderneta de poupança passaram a ser, desde meras foram as solicitações dos Gavião à Funai e à Vale do
então, tornados disponíveis aos Gavião — vai depender da Rio Doce para a remoção dos “posseiros do GETAT".
elaboração de projetos específicos, pela própria comuni
dade, visando sua auto-sustentação. Mas, a aceitação defi Em nome da defesa do território indígena, desencadearam
nitiva do acordo pelos Gavião depende, por sua vez, do con se ações repressivas conjuntas da Funai e da Polícia Fede
trole e da gestão independente desses recursos, por ora alo ral, sob o patrocínio da Vale do Rio Doce (o convênio), diri
cados apenas em nome da Vale do Rio Doce, além de uma gidas contra os posseiros que passaram a se fixar junto ao
exigência de fiscalização perene do território pela CVRD, leito da ferrovia, incentivados por grileiros de terras e pelos
protegendo-o das invasões. ocupantes dos lotes do GETAT. Caso não se verificasse um
controle da crise esboçada pelos rumores de iminente inva
O depósito bancário, em caderneta de poupança agora con são do território indígena pelos posseiros, os Gavião amea
junta (Comunidade Parkatéjé/CVRD), a ser proximamente çavam com a interdição da ferrovia, da rodovia BR-322 (que
transferida para a agência da CEF, em Marabá, por exigên liga Marabá à Belém-Brasília) e da linha de transmissão de
cia dos Gavião. Por enquanto, só os juros mensais vêm sen alta tensão, subsidiária da Usina Hidrelétrica de Tucuruí
do dispendidos pelos Gavião e nenhum projeto específico foi que, anteriormente, já haviam cortado o território indígena.
elaborado, apesar das fortes pressões locais e da própria
Ajudância da FUNAI, voltadas para o “incentivo" ao cul
tivo de cacau e à implantação de pecuária extensiva, se Crise permanente e jogo de flechas
guindo o modelo regional.
Numa situação de crise deflagrada com a morte do traba
lhador da Comunidade, o modo de enfrentamento direto
As invasões e os conflitos operado pelos Gavião remete a um sistema de representa
ções ligado às atividades guerreiras, tradicionais. A forma
Uma emboscada ocorrida no início de janeiro de 1985 levou jocosa que marca, em geral, as suas relações com os "civi
a morte um dos trabalhadores contratados pelos Gavião, lizados "impõe, de certa maneira, as regras do jogo, onde os
por empreitada, para completar a demarcação, interrom Gavião vêem-se a si mesmos como “vencedores". Assim é.
pida em 1982, da porção sul do território, exatamente o tre na guerra: o mais importante é desafiar o outro. O jogo de
cho cortado pela ferrovia. Este fato fez ver aos Gavião um flechas e as corridas com as toras, praticados com freqüên
quadro ainda mais complexo. cia pelos Gavião e intensificados nos períodos de crise da
quela sociedade, são expressões peculiares desse modo de
enfrentamento.

157
s! Z_Acervo
_A >A
INDÍGENAS NO BRASIL/CEDI

O jogo de flechas encerra práticas de guerra, onde o ato de Esse enfrentamento da "gente civilizada", como diz Kroho
enfrentar o inimigo requer aptidão esmerada por parte dos krenhum, o chefe Gavião, “é luta, luta, luta... não acaba
jogadores que, aos pares, disputam o alcance das flechas nunca!... Okupê ("civilizado") não pensa nadinha... não é
atiradas em caminhos radiais abertos, em geral, a partir de assim como gente não! parece bicho, cachorro... não respei
um acampamento na mata, situado nas proximidades da ta os outros... Como agora, que eu tou imprensado...”
aldeia. São momentos voltados para o alívio das tensões ge (nov. 84). Ele se referia às fortes e crescentes pressões que
radas no cotidiano, assim como as corridas com as toras, vêm se verificando sobre o território, de tal modo que pare
onde o alvorecer de cada dia é marcado pela reiteração de cem caracterizar um estado de crise permanente em que vi
princípios norteadores da existência da sociedade Gavião. vem os Gavião do Pará.

Os índios têm motivos para voltar a pra tensão de energia da hidrelétrica de Tu


ticar suas festas típicas: ontem, todos os curuí. Dois anos depois, a Companhia
guerreiros estavam “jogando” flechas, Vale do Rio Doce teve de pagar Cr$ 56,5
Inaugurada aldeia moderna uma atividade lúdica própria da comu milhões de indenização para o desmata
nidade indígena. Durante horas eles ati mento de uma nova faixa, ao longo de
Hoje vaiser um dia inteiro de festas para ram suas flechas com o objetivo aparen 17,5 quilômetros no interior da reserva,
os 183 índios da reserva Mãe Maria, no te de testar força e perícia no arremesso pela qual, a cada duas horas, passará
pará: eles inaugurarão a mais moderna das ágeis flechas através de rijos arcos. um trem carregado de minério de ferro,
aldeia indígena do País, com 32 casas de Na verdade, a competição é um pretexto oriundo da Serra dos Carajás, com des
alvenaria, esgoto, água encanada e luz, para reforçar a cultura tribal. Falando tino ao litoral do Maranhão dentro de
que começou a ser construída há três na línguaje, os guerreiros contam “ca três anos.
anos. A aldeia fica a 30 quilômetros de sos”, fazem revisão da vida, brincam. A modernidade, assim, atravessa a re
Marabá, e estão sendo esperados convi Nos dias anteriores, dançaram para co serva em dois pontos:por ali passa a
dados de todas as áreas próximas, índios memorar a safra de castanha, a princi energia da quarta maior hidrelétrica do
de algumas aldeias, o presidente da Fu pal atividade econômica da tribo, que, mundo e será escoada a produção da
nai e dirigentes da Companhia Vale do se não foi boa, mesmo assim rendeu maior província mineral, também do
Rio Doce. mais do que no ano anterior. mundo. A aldeia que os gaviões vão
A programação começará com a “corri Desde 1976 os gaviões libertaram-se da inaugurar hoje é contemporânea desses
da de toras”, uma competição atlética tutela da Funai no comando de sua vida eventos. Eles abandonaram a antiga al
que obriga os guerreiros a se alternarem econômica: antes, era o órgão quem as deia, que ocuparam por imposição da
num percurso de sete quilômetros, car sumia completamente a comercializa Funai, na beira da estrada Belém-Bra
regando uma tora de 60 quilos na cabe ção da castanha, coletada nos 50 mil sília-Marabá (a BR-222), e reconstruí
ça. Em seguida haverá uma partida de hectares da reserva (uma das maiores ram novas moradias do outro lado, mais
futebol, que os gaviões (donos de um ti propriedades rurais de toda a região), afastada do leito da rodovia de terra ba
me respeitável) pretendem ganhar, e um vendendo-a em Belém para os exporta tida, que agora levanta um pó vermelho
churrasco, sem hora para terminar: vai dores. Mas nunca havia saldo, pois os que a tudo impregna.
durar enquanto não forem consumidos índios, a cada ano, endividavam-se As casas são de alvenaria, com telha de
os dois bois (de propriedade dos índios) mais. Eles acabaram decidindo experi barro, azulejo, água, esgoto e luz. Seis
abatidos ontem. No encerramento, um mentar organizar a produção e fazer a das casas exibem imponentes antenas de
conjunto de rock animará uma festa venda por conta própria, com o apoio de televisão. Dentro delas, geladeiras, fo
dançante, esperada com certa ansiedade alguns antropólogos. gões modernos, ferro de engomar e ou
pelos gaviões. Cutia, 34 anos, uma espécie de primei tros eletrodomésticos comuns a uma
Kokrenum, o cacique dos gaviões, diz ro-ministro da aldeia, diz que a expe casa de “homem branco”. A residência
que resolveu fazer a festa da inaugura riência foi bem-sucedida. É verdade que do “capitão” Kokrenum chega a ser um
ção para atender ao pedido da Vale do a produção de castanha diminuiu bas imponente solar, de dois andares. Mas
Rio Doce, que ajudou na conclusão da tante, provocando prejuízos, acumula os índios não estão satisfeitos. Crua, por
obra. Mas não há uma data especial: dos nos últimos três anos em mais de exemplo, motorista e operador de tra
“Resolvemos fazer a inauguração no sá Cr$ 70 milhões (sem correção monetá tor, ainda mora em sua casa de madeira.
bado porque se fosse no domingo o pes ria). Mas já experientes no trato com a (artigo de Lúcio Flávio Pinto, enviado
soal poderia não querer trabalhar no dia vida èomercial da sociedade brasileira, especial, ESP, 23/06/84).
seguinte”, explica ele, pedagógico. os gaviões se beneficiaram de dois even
tos que, normalmente, só costumam tra
zer problemas para as comunidades in
dígenas.
Em 1980 os gaviões receberam Cr$ 80
milhões de indenização para permitir
que a Eletronorte desmatasse uma faixa
de 19 quilômetros de extensão, por 150
metros de largura (ou 285 hectares),
através da qual passou a linha de alta

158
SUDESTE DO PARÁ 9

Superada resistência Acordo Posseiros X peões na reserva

Na próxima segunda-feira, a frente de A Cia. Vale do Rio Doce vai abrir segun Um trabalhador morreu e quatro fica
serviços que constrói a ferrovia Carajás da-feira uma caderneta de poupança no ram feridos durante um ataque de lavra
Ponta da Madeira começará a penetrar valor de Cr$ 3 bilhões em favor dos ín dores contra uma turma de construção
na reserva indígena Mãe Maria. dios gaviões, como indenização pela no interior da reserva indígena dos ín
Após 4 horas e conversações com dez re passagem em suas terras da ferrovia Ca dios gaviões, no Pará. Os operáriosiriam
presentantes da FUNAI e da CVRD, os rajás-ponta da Madeira (será a principal iniciar a abertura de uma picada de 20
Gavião recuaram da disposição de não via de escoamento de minério do País). quilômetros, ligando a ferrovia de Cara
permitir a continuidade das obras por A comunidade indígena poderá sacar jás a aldeia dos índios gaviões, quando
seu território, em troca do atendimento mensalmente os juros (1%) que forem foram atacados de emboscada e alveja
de várias reivindicações e do compro creditados nessa conta, mas a correção dos por muitos tiros. Os atacantes fugi
misso de que a empresa estudará uma monetária e o próprio capital só poderão ram em seguida.
proposta para um acordo em benefício ser retirados para o desenvolvimento de A delegacia da Funai em Belém acredita
da comunidade durante todo o tempo de um projeto agropecuário em favor da que o ataque tenha sido praticado por
funcionamento da ferrovia. (ESP, 21/ tribo, que deverá começar a ser execu um grupo de lavradores que invadiu a
09/84). tado dentro de seis meses. Esses foram reserva gavião, usando o leito da ferro
os termos
gaviões. do acordo
(ESP, entre a CVRD
9/11/84). •
e os via, através da qual será escoada a pro
dução de minérios da Serra de Carajás.
Proposta dos índios Duas vezes a Polícia Federal teve que in
tervir, a pedido da Funai, para retirar os
Os índios Gaviões vão cobrar uma taxa Mais detalhes do acordo invasores da reserva, mas eles insistem
mensal correspondente a 190 salários em voltar. O ataque serviria para impe
mínimos (18,5 milhões de cruzeiros Assinaram o acordo o índio Cutia, pelos dir a construção da pequena estrada,
atualmente) como compensação pela Gavião, e o representante da CVRD, que os índios pretendem usar para au
passagem da ferrovia Carajás-Ponta da Darcy de Oliveira Freire. O acordo an mentar a fiscalização do limite Leste da
Madeira pelo interior de sua reserva. tecede um convênio, a ser assinado entre reserva. Algum tempo atrás os lavrado
A proposta, formalizando o termo de as partes no devido tempo, depois que o res já haviam expulso da área a guarda
compromisso, será enviada na próxima projeto agropecuário a ser implantado da Companhia Vale do Rio Doce, que
semana à direção da CVRD, concessio na reserva estiver pronto, Havia se proposto a ajudar os gaviões na
nária da ferrovia, e discutida em uma Além de implantar e dar assistência ao proteção de suas terras.
reunião que será realizada no dia 16, na projeto, a CVRD se comprometeu a po Agentes da Polícia Federal foram deslo
aldeia Mãe Maria. liciar a área onde vai ser implantada a cados de Marabá para retirar o corpo do
Cada família nova que se formar na al “fazenda”, como também o exido da trabalhador morto e levar os quatro fe
deia (hoje com 186 índios, mas apenas ferrovia, no trecho que passa pela reser ridos para o hospital. A partir de hoje a
36 famílias), haverá a incorporação de va. Da reunião realizada dia 7, partici Funai espera contar com soldados da
mais dois salários-mínimos. Mas o bene param também o advogado Frederico Polícia Militar para dar segurança aos
fício não será suspenso se morrer o chefe Marés e a antropóloga Iara Ferraz, as trabalhadores, que continuarão a cons
da família: a viúva passará a receber sua sessorando os índios e Salomão Santos, trução da picada. Os gaviões já enfren
parte, que variará de três a seis salários delegado regional da FUNAI. (O Libe tavam um problema com o assentamen
mínimos por família, mensalmente. (O ral, 08/11/84). to, feito pelo Getat, de 30 colonos no
Liberal, 06/10/84). * O representante da CVRD, Darci de
, interior da reserva. (Diário do Grande
Oliveira Freire, disse em Belém que vai ABC, 11/01/85).
manter os primeiros contatos com a EM
Contraproposta BRAPA visando a implantação imedia
ta do projeto agropecuário na área dos FUNAI tenta conter
A CVRD não aceitou a proposta dos Ga Gavião. Segundo ele, a CVRD não acei
vião, mas fez-lhes uma contraproposta: tou a proposta dos índios de indenização O delegado da FUNAI em Belém, Salo
a empresa indenizaria a comunidade em dinheiro, depois de consultar insíg mão Santos, informou que enviou fun
por uma área de 3.040 hectares, situada nes indigenistas e pessoas ligadas aos cionários ao território Gavião para evi
à esquerda da Ferrovia Carajás-ponta Gavião, como Carlos Moreira Neto, tar que os índios tomem medidas de re
da Madeira (que corta a reserva, numa Dalmo Dallari, Carlos Frederico Ma presália contra os posseiros (sic) que vi
extensão de 15 quilômetros), de acordo rés e Iara Ferraz, “que desaconselharam vem dentro da reserva. Eles estão sendo
com valor a ser arbitrado posteriormeno pagamento, que só serviria para tornar acusados de terem praticado as violên
te. Mas os índios continuariam com o a Vale conivente com a ociosidade dos cias contra os trabalhadores braçais
usufruto da área, podendo caçar e pes índios”. (Diário de Minas, 11/11/84), contratados pelos Gavião, redundando
car nela, enquanto a CVRD se encarre na morte de um deles. Atualmente, os
garia de protegê-la como se fosse uma Gavião contratam trabalhadores para a
reserva, evitando invasões. realização de diversos serviços, dentre
Os índios queriam o pagamento de uma eles, as picadas no meio da mata que
taxa mensal equivalente a 190 salários servem, antes de tudo, como vias de
mínimos, mas, após muita discussão, acesso a castanhais produtivos. Por in
prometeram examinar a contraproposta termédio destas picadas, os índios tam
e dar uma resposta no dia sete, quando bém fiscalizam suas terras.
será realizada nôva reunião da Aldeia de
Mãe Maria. (O Dia, 19/10/84).

15s
s! Z> Acervo
_/\ | S.A S INDÍGENAS NO BRASIL/CEDI
O delegado da FUNAI garantiu que to Concessão à CVRD convidaram o presidente da Funai, Ju
das as investigações estão sendo feitas randi Marcos da Fonseca, para ouvir
para apurar os responsáveis pela tocaia O Presidente da República, através do suas reivindicações e ameaças sutis de
do Igarapé Flecheiras. (O Liberal, 12/ Dec. nº 91.078 de 12 de março de 1985, que o confronto entre brancos e índios
01/84). concede à CVRD “autorização para pode ocorrer. Presentes ao encontro os
construir um trecho de linha férrea nu mais respeitados caciques caiapós: Beb
ma faixa de terra situada em área indí goti, Paiakã, Kanhonko, Raoni, Totoi e
Nova ameaça gena, e dá outras providências”. Parte Pombo, que usa o nome de “coronel”
deste trecho, segundo o decreto, terá Pombo. (FSP, 26/06/84).
Os Gavião estão ameaçando interditar a uma faixa de 80 metros de largura, 40
ferrovia de Carajás e interromper o for para cada lado do eixo. Uma outra par
necimento de energia de Tucuruí, caso te, a faixa será de 120 metros, 40 à di FUNAI remete ao MEAF
as autoridades não garantam a integri reita e 80 à esquerda. Os dois trechos to
dade da sua reserva. Eles temem novas talizam uma área concedida de um mi Depois de ouvir os discursos de vários ín
invasões, sobretudo no limtite sudeste. lhão — de quinhentos e vinte e dois mil dios, o presidente da Funai explicou aos
As obras que os Gavião estavam reali metros quadrados. caciques e guerreiros que o problema de
zando na reserva (abertura de picadas), Pelo art. 2º, a CVRD está autorizada a demarcação não depende apenas do ór
com trabalhadores contratados, estão “praticar todos os atos de construção, º gão tutor. Cada demarcação deve ser
interrompidas desde o conflito com os operação e manutenção do mencionado discutida com o Ministério de Assuntos
posseiros, os quais também ameaçaram trecho da estrada, sendo-lhe assegu Fundiários, governo estadual, Incra.
de morte qualquer trabalhador que acei rado, ainda, o acesso à área através de “Acho que frustrei os índios”, desaba
tasse ser contratado pelos índios. Um in caminhos adjacentes, desde que não ha fou Jurandir Fonseca ao final de seu dis
quérito policial foi aberto, mas as polí ja outra via praticável.” curso, lembrando ainda que a questão
cias Federal e Militar disseram que o À FUNAI cabe, pelo art. 3º, adotar Caiapó merece atenção especial por se
problema não é de sua competência. Já a “providências no sentido de limitar o tratar de uma terra cobiçada. Ele pre
Polícia Civil, afirma que não tem condi uso e gozo da área de terra atingida, ao tende levar o problema ao Getat ainda
ções de fazer uma fiscalização. (ESP, que for compatível com a preservação da esta semana, depois de ter percebido
23/01/85). linha férrea, e de evitar a prática de atos que os caciques não estavam se reunindo
que embaracem ou causem danos à co apenas pelo prazer de encontrar os pa
munidade indígena”. (DOU, 13/03/ rentes.

As guaritas 85). O fato é que os Caiapó não costumam


dar alertas em vão. Raoni, em janeiro
da CVRD/FUNAI
deste ano alertou para uma possível re
A CVRD comprometeu-se a construir belião de seu grupo e dois meses depois
guaritas que serão usadas na fiscaliza desencadeou a “guerra do Xingu". Ka
ção da reserva Mãe Maria, dos índios nhonke foi claro: “Não é só branco que
gaviões, no Pará, contra a invasão dela Decreto de demarcação precisa de terra. Nós também precisa
vradores e grileiros que estão penetran mos para viver e trabalhar. Se não de
do pela ferrovia Carajás-Ponta da Ma O Presidente da República através do marcar, nós vamos dar trabalho.” (Ci
deira. Ao mesmo tempo, uma advogada Decreto nº 89.489 de 29/03/84, declara dade de Santos-SP, 26/06/84).
da Funai irá ativar um inquérito policial de ocupação dos silvícolas a Área Indí
para apurar os responsáveis por uma gena Paquiçamba, no Município de Se
emboscada contra trabalhadores con nador José Porfírio (PA). A área des Divergências
tratados pelos índios. crita neste artigo, será demarcada ad sobre os garimpos
Com essas duas providências, a Funai ministrativamente pela Funai. (Diário
acredita poder satisfazer às exigências Oficial da União, 29/03/84). A presença de garimpos e de madeirei
dos gaviões. Eles ficaram irritados com ras nas áreas indígenas tem dividido a
as invasões e a falta de providências das liderança caiapó. Enquanto o chefe dos
autoridades. Deram prazo até o dia 5 de Reunião com presidente criquetum, o “coronel” Pombo, como
fevereiro para que o inquérito policial da FUNAI gosta de ser chamado o cacique, convive
reiniciasse, ameaçando interromper o sem problemas com o garimpo do Rio
tráfego na rodovia Marabá-Belém-Bra Os quatro mil caiapós que vivem no sul ranco, recebendo parte dos lucros obti
sília. Agora, os índios também já conse do Pará deram seu primeiro alerta: não dos pelos garimpeiros, outros chefes
guiram contratar trabalhadores para fa querem criar nem ter problemas, por preocupam-se com a presença não ape
zer a coleta de castanha, a principal ati isso exigem a demarcação imediata de nas dos garimpeiros, mas também de
vidade econômica da comunidade. Os seu território. Definido há mais de dez madeireiras, algumas delas atuando na
invasores vinham ameaçando os traba anos e ainda não demarcado, o território área com o aval da Funai.
lhadores da região, caso aceitassem o com dois milhões e 750 mil hectares, foi
serviço. (Jornal de S. Catarina, 30/01/ invadido por garimpeiros, fazendeiros,
85). posseiros e madeireiros e os caciques não
estão aceitando essa situação.
Para discurtir o problema de demarca
ção imediata da área, guerreiros e caci
ques se reuniram no final de semana na
aldeia dos gorotire, subgrupo caiapó, e

160
- SUDESTE DO PARÁ 11

#}||

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Os Kuben-krã-kein exigem a ampliação do limitesul da Reserva Kaiapó #{#$ dirigentes da FUNAI, em Brasília.

O cacique Canhonque, líder dos goroti “Acho que o garimpo deve continuar, fazendas antes de assumir a posse da
rê, ao contrário de Pombo, não vê com inclusive em outras áreas — opinou área, no limite sul da reserva. Embora os
bons olhos a existência de garimpos nas Pombo —, pois ele traz recursos para as índios ameaçassem atacar todos os inva
áreas indígenas: “Não aceitamos que comunidades." No entanto, ele defende sores, a situação já parecia um pouco
garimpeiros tomem conta da nossa terra que o ouro não deve ser explorado perto mais tranqüila. A Funai já enviou emis
— disse ele na reunião. Queremos que das aldeias, mas nos limites da reserva sários para um contato com os índios, a
ela seja demarcada logo e se a Funia não para evitar contatos entre índios e bran fim de que eles aguardem a visita do de
resolver nós mesmos faremos este traba cos. Ele também defende a demarcação legado regional e de um antropólogo.
lho”. Já o “coronel” Pombo, mesmo de todo o território caiapó, dizendo que, O ataque dos Kubenkankerein já era es
sem contar com o apoio de outros chefes no passado, com as perseguições que so perado. Desde 1979, todas as cinco co
tradicionais, não parece disposto a ab freram, os caiapós quase desaparece munidades que moram na reserva pro
dicar dos lucros que o garimpo do Rio ram, mas agora estão novamente cres testam contra a suspensão da demarca
Branco lhe tem trazido, apesar da polui cendo. (ESP, 26/06/84). ção dos 2,7 milhões de hectares reserva
ção do rio, e do contato constante dos dos aos Kayapó entre os vales dos rios
garimpeiros com os índios. Este contato, Tocantins e Xingu. A Funai suspendeu
segundo antropólogos, tem causado a Serraria invasora os trabalhos alegando irregularidades e
desagregação da tribo e a introdução in é ocupada a posterior falência da empresa contra
discriminada de bens de consumo supér tada. Prometeu retomar o serviço, mas
fluos na aldeia. Muitos deles, adquiri Os índios Kubenkrãkein ocuparam foi adiando-o de ano para ano.
dos a preços bastante superiores aos uma serraria, apreenderam um trator e
preços de mercado, têm modificado os armas e expulsaram funcionários de ser
hábitos dos índios. rarias que estavam ocupando parte da
área da Reserva de Kayapó, no sul do
Pará. Segundo denúncia dos fazendei
ros, o grupo de 30 guerreiros teria tam
bém morto alguns animais de uma das

161
S INDÍGENAS NO BRASIL/CED

Enquanto isso, aumentava a pressão de Direito de madeireiros Segundo afirmam, os índios já saquea
fazendas, madeireiros e garimpeiros so será examinado ram as fazendas Reunidas, Gaúcha, Pi
bre o território dos Kayapó. Além de riquitos e Santa Cristina, levando rou
várias manchas de terra roxa, ele possui Em reunião a ser mantida hoje, em Bra pas, lençóis, panelas, xícaras, cordão de
diversas ocorrências minerais, inclusive sília, com a Presidência da Funai, os ouro e mantimentos.
ouro, e a maior concentração madeirei madeireiros ficaram de apresentar do A reação dos empresários reside, princi
ra de toda a região. O avanço da frente cumentos que lhes garantem proprieda palmente, no fato de, segundo eles, o
econômica a partir do Araguaia passou de sobre as áreas exploradas. Se isso for funcionário da Funai João Batista Sou
a irritar os índios, porque algumas das comprovado, eles serão indenizados. sa, enviado para apaziguar os índios, es
áreas por eles reivindicadas — e não in Caso contrário, serão retirados com a tar acompanhando os saques, Portam
cluídas nos limites da reserva — tam devolução de máquinas e equipamentos rifles e seriam em torno de 40 índios que
bém estavam sendo ocupadas. tomados pelos índios. (Estado de Minas, fazem a invasão “em estado visível de
Uma dessas áreas, ao sul, abrigou a pri 23/11/84). embriaguez”.
meira grande aldeia onde todos os sub Até agora, eles orientaram seus funcio
grupos Kayapó viviam até se dispersa nários para não reagirem contra os ín
rem. Lá também está o primeiro cemi DR chama líderes a Belém dios, que não os têm agredido fisicamen
tério, com seu valor mitológico. Sete ma te e vão se manter nessa posição até a
deireiros e fazendeiros passaram a cor O delegado regional da Funai, Salomão próxima semana, quando manterão en
tar mogno e a formar pastagem nessa Santos, informou ontem, à tarde, que a tendimentos, em Brasília, com a Funai e
área. Os índios denunciaram o fato, sem situação está calma e sob controle na Ministério da Justiça e para Assuntos
conseguir providências da Funai. parte da reserva Kayapó, no Sul do Fundiários. (Estado de Minas, 24/11/
Desde o dia 15, uma expedição de guer Pará, invadida por cinco madeireiros, e 84).
reiros Kubenkankerein — um dos sub que foi ocupada pelos índios Kubenkan
grupos Kayapó — começou a apreender krein, desde a primeira quinzena deste
todos os equipamentos que estavam sen mês. Prazo à FUNAI
do usados para as derrubadas e expulsar Ele recebeu informes da área e autorizou
os invasores. Eles teriam encontrado 10a vinda de alguns líderes dos índios a Os índios da reserva Kayapó fixaram on
mil árvores de mogno cortadas, cada Belém para debaterem o assunto e bus tem, à tarde, prazo até o final do mês
uma das quais valeria 500 dólares. Os carem uma solução pelo menos paliati para a Funai decidir sobre a demarcação
índios foram até a sede de uma das fa va. Segundo Salomão Santos, uma des de sua reserva, cuja invasão por madei
Zendas, tendo morto alguns animais. Os sas saídas seria a delimitação de uma reiras foi confirmada. Caso não haja so
índios estão armados de arco e flecha, picada como linha de respeito, “propos lução, a briga continuará, pois eles já
alguns de espingarda. Apesar da dispo ta que agradaria a ambas as partes en esperaram há muito tempo.
sição para a guerra, não feriram ne volvidas no impasse”. Por outro lado, hoje, o presidente da Fu
nhum dos brancos. Numa segunda etapa se partiria para a mai, Nelson Marabuto, dará uma res
Informada dos acontecimentos, a Funai demarcação da área da reserva, promes posta se vem ou não a Belém para en
mandou para a área o chefe da ajudân sa que vem sendo feita aos índios desde a contrar-se com os líderes Kayapó, que
cia de Altamira e o chefe de um outro época do extinto SPI. (O Liberal, 23/ desde ontem estão nesta capital. Eles se
subgrupo, o cacique Pombo. O maior 11/84). reuniram com o delegado regional do ór
temor do órgão era com a possibilidade gão, Salomão Santos, durante várias ho
de repetição do massacre ocorrido há T3S,

dois anos, quando os Gorotire atacaram Empresários dizem Ao final, ficou acertado que o acréscimo
a Fazenda Espadilha e mataram 21 pes que a situação é tensa sugerido pelo grupo de trabalho coorde
soas. O delegado da Funai, Salomão nado pelo antropólogo Célio Horst será
Santos, advertiu os madeireiros de que mantido, o que significa que os Kayapó
A situação nas fazendas localizadas pró
não devem reagir, porque irritariamximo à reserva dos Kaiapó, no municí terão mais 200 mil hectares, área onde
ainda mais os índios. Todos os Kayapó
pio de São Félix do Xingu, Sul do Pará, está o Puka-Toti —, local sagrado para
têm mais de 800 guerreiros, sem contar
“não é de calma e sim de tensão”. E o eles, pois ali floresceu toda aquela nação
que diz nota de esclarecimentos divul indígena.
os jovens de 14 a 16 anos, que são os mais
perigosos em um conflito porque os gada ontem por empresários da área, De imediato seria traçada uma linha de
mais velhos não conseguem controlá com o objetivo de rebater as declarações 70 quilômetros aproximadamente, —
los. A Funai vai tentar resolver o climado delegado regional da Funai, Salomão no sentido Sul paralela ao Xingu — tra
de tensão reiniciando a demarcação e Santos, que afirmou ter controlado a re balho que os próprios índios querem
acrescentando à reserva às áreas que os beldia de um grupo de índios Kuben realizar com uma pequena ajuda exter
índios reivindicam ao Sul e ao Norte. Se krankren, que ocuparam uma serraria na. Mas, para isso, segundo o delegado
esses limites não forem definidos, o pró na Fazenda Santa Cristina, na última Salomão Santos, há necessidade de uma
prio órgão reconhece a possibilidade de quarta-feira. decisão política dos ministros envolvidos
choques dos índios com os brancos. Assessorados pelo advogado Rosemiro no assunto.
(Diário do Grande ABC, 22/11/84). Arrais, os empresários denunciaram
que o grupo de índios rebeldes montou
uma espécie de “QG” na serraria ocu
pada e deslocam-se para as fazendas vi
zinhas em um caminhão e um trator,
mantendo como reféns seus motoristas.

162
s! Z_Acervo
_A = A SUDESTE DO PARA 13

Já o chefe da Ajudância de Altamira, Um ponto de consenso saiu da reunião: Dezessete reféns


José Batista da Silva, negou as acusa que tanto índios como empresários que
ções que lhe foram feitas pelos empre rem uma solução imediata e sem confli Os índios Kokraimoro, subgrupo Kaya
sários na semana passada, de que esta tos. “Temos o maior prazer numa solu pó detiveram 17 homens brancos, su
ria insuflando os índios a tomarem de ção amigável e definitiva, a maioria dos postos garimpeiros ou madeireiros que
cisões mais radicais; observou que os empreendimentos — inclusive muitos faziam reconhecimento na reserva indí
Kubenkan-kren não bebem e que não com incentivos da Sudam e da Sudhevea gena Kayapó. A informação chegou à
existem reféns, como foi anunciado pe — estão há mais de sete anos na área” — Delegacia Regional da Funai através de
los fazendeiros. disse o advogado Rosemiro Arrais. rádio na hora em que o presidente na
A situação, segundo ele, é de calma e Todos os empresários, segundo o advo cional do órgão, Nelson Marabuto, es
que inicialmente uma serraria, locali gado, “têm títulos de propriedade”. tava reunido com uma comissão de 14
zada no Puka-Toti, foi ocupada por 23 “Os empresários não têm culpa, quem representantes das comunidades indíge
índios, mas hoje só há 13, sendo que a nos vendeu as terras foi o governo do nas daquela região, discutindo o pro
invasão foi debatida dentro da própria Estado e nós não temos nada contra os blema da demarcação da reserva dos
comunidade indígena. índios” — acrescentou um dos presentes caiapós. (JB, 29/11/84).
Com o acréscimo, a reserva Kayapó pas à reunião.
sará a ter aproximadamente 3 milhões Segundo um funcionário da Funai, a
de hectares, e os índios terão acesso à verdade é que quando estabeleceram-se Libertados os refens
caça, recurso que hoje está ficando cada os atuais limites (os índios são contra) da
vez mais difícil. reserva alguns empreendimentosjá esta Os índios cocraimoro libertaram os 17
Tomaram parte na reunião os caciques vam instalados na área. Então, foi fácil garimpeiros que haviam mantido como
Tutoi e Canhão, do Gorotire: Pedro e entrarem nas terras sagradas dos “Pu reféns durante dois dias no interior da
Panga, do Kubenkan-kren; Paulinho katoti” até agora de fora dos limites ofi reserva Caiapó. A decisão foi tomada
Payakã, do Aukre; e representantes dos ciais e reivindicados pelos índios. logo que chegaram à área dois caciques
Kikretum, coronel Tuto Pombo, Kaya A reunião desenrolou-se num clima de da tribo, enviados como mediadores.
pó e do Kokraimoro, representando os grande entendimento, mas os empresá Os garimpeiros foram presos por terem
interesses de cerca de 3 mil índios. (O rios ouviram aborrecidos declarações de penetrado na reserva — as invasões sem
Liberal, 27/11/84). alguns caciques: “Somos donos da ter pre foram freqüentes, mas os índios pas
ra, já tive oportunidade de sobrevoar a saram a reagir como forma de pressio
região e vi que uma estrada corta a reser nar a Funaia demarcar a reserva.
Concessão dos Kayapó va. Nós não estamos aqui para falar mal Embora amarrados, os garimpeiros não
dos madeireiros, queremos que se afas foram maltratados durante todo o tem
Os índios caiapós do Sul do Pará acei tem de lá enquanto não se resolve a de po em que permaneceram na aldeia, e,
taram desistir da área de 200 mil hecta marcação das terras. Vocês já estraga depois de serem liberados, os índios
res — ocupada por fazendeiros e madei ram muito a nossa terra, vocês deram apreenderam as armas, a canoa e uma
reiros —, que pretendiam incorporar à armas para os trabalhadores. Por que pequena quantidade de ouro que o gru
sua reserva de 2,7 milhões de hectares, não dão material para trabalho? Só se as po transportava. Os reféns seguiram de
Em troca, querem que a Funai decida armas forem para matar os índios” — canoa para São Félix do Xingu, a cidade
até o final da semana a delimitação do disse o cacique Paintuk, da aldeia Ku mais próxima. (ESP, 01/12/84).
território indígena e, até janeiro, reinicie benkankrein.
a demarcação. (ESP, 28/11/84). Segundo uma fonte da Funai, a despeito
de toda a polêmica e de quaisquer que

Caciques, FUNAI e empresários


sejam as medidas a serem aprovadas a
partir da última reunião dessa série ini GoRoTIRE/
Se relII1CIII ciada segunda-feira, uma equipe de to
pografia parte segunda-feira para a re
Os caciques da Reserva Kayapó, o dele serva Kaiapó a fim de estabelecer dois FUNAI quer mudar
gado regional da Funai, Salomão San pontos astronômicos importantes para o forma de exploração
tos, o advogado Rosemiro Arrais e algu estabelecimento definitivo do limite sul
mas das 18 empresas (Gaúcha Agrope previsto atualmente. O futuro limite — O presidente da Funai, Jurandy Fonse
cuária Ltda., Fazenda Fortaleza, Impar caso as pretensões dos índios sejam aten ca, afirmou ontem em Belém que, com
— Agropecuária, Fazenda Santa Cris didas — será uma outra etapa, mas pelo relação à existência de garimpagem de
tina, Fazenda Reunidas, Fazenda Peri menos fica definitivamente marcado o ouro em áreas indígenas, é cada vez
quitos, Fazenda Três Poderes, Fazenda sul da reserva. (O Liberal, 28/11/84). maior a idéia de que esses garimpos de
Araguaia, Grupo Irmãos Cecílio, Fa vem ser explorados pelas próprias comu
zenda Santa Cecília, Agropastoril Rio nidades indígenas e que a Funai está
Dourado, Agropastoril Gradaús, Com empenhada em regularizar o seu funcio
panhia Agropecuária Rio Piraxinim, namento. Ele lembrou o caso do garim
Agropecuária Rio Dezoito, Fazenda Rio po do Cumaru, que invadiu área da re
Arrepiado, Grupo Agrobanco e Fazen serva Caiapó, no Sul do Pará. Ali os ín
da Pedra Branca) reuniram-se para es dios estão recebendo apenas 0,1 por cen
tabelecerem pontos comuns de um acor to do valor do ouro extraído pelos garim
do para a solução do conflito de limites peiros.
das propriedades.

163
s! Z> Acervo
_/\ | @ A. INDÍGENAS NO BRASIL/CEDI
“A situação na área está tranqüila, mas Também no Posto Kikretum, dos Kaia Anunciou que o “Cumaruzinho” era ex
a forma de exploração do ouro precisa pó, existem mais três garimpos — Ar plorado por um grupo de maranhenses,
mudar. Os índios estão recebendo muito raia, Filomeno e Bateia — onde traba goianos e cearenses, que retiravam ouro
pouco, pois o mínimo que se exige nesses lham atualmente 2.500 garimpeiros. em quantidades animadoras, tudo na
casos é uma participação de 10 por cen Mas esses mantêm um acordo com o Ca mais perfeita normalidade, até que, de
to”, disse Jurandy Fonseca. Ele lern cique Pombo, apesar da posição contrá terminado dia deste ano, inesperada
brou que algumas lideranças indígenas ria dos caciques mais novos da tribo, in mente foi dada ordem para evacuarem
da reserva, embora recebendo o dinhei formou o delegado da Funai que parti do dito garimpo.
ro da exploração do garimpo, não estão cipou recentemente em Brasília, ao lado Constava que 150 guerreiros desenca
aceitando a presença dos garimpeiros. dos caciques Paiakan, Kubeni e Tapiê deariam um brutal ataque contra os ga
“Nós precisamos discutir bem toda essa de uma reunião para tratar desse assun rimpeiros ali estabelecidos, pelo que os
questão, porque achamos que o próprio to. (O Liberal, 18/09/84). garimpeiros trataram de abandonar a
índio tem condições de administrar o ga área, apavorados, deixando em seus
rimpo”, afirmou o presidente da Funai. barrancos muito material de trabalho e
(Tribuna da Imprensa, 30/06/84). Pedida a interdição a terra aurífera que estavam lavando.
Então o “Cumaruzinho” ficou sob com
do Cumaru do Sul
pleto domínio dos silvícolas e, decorri
Aumento de porcentagem das poucas semanas, ali instalou-se um
Os índios Kayapó pediram a interdição
do garimpo Cumaru Sul, aberto recente cidadão que goza de especial influência
Dentro do espírito da decisão adotada mente, por não consentirem com mais junto aos Kaiapó, chamado Alex, inte
pelo presidente da Funai, Jurandy Fon uma invasão da reserva. Nesse garimpo grante de respeitável e temida família de
seca, de não aceitar a entrada de novas já estavam trabalhando 320 garimpei Redenção.
empresas de mineração em áreas indíge ros, que agora serão evacuados. Os ín Marcelino disse que contando com a co
nas, os índios Kaiapó, da reserva Goro dios aceitam conviver apenas com os bertura de alguém importante, Alex
tire, estão dispostos a desativar alguns dois outros garimpos, Tarzan e Maria passou a recolher o ouro facilmente en
garimpos já localizados há algum tempo Bonita, que funcionam sob a coordena contrado nas catas dos garimpeiros que
em suas terras, caso os garimpeiros não ção do DNPM. Mas se aumentar o royal haviam se retirado.
aceitem um acordo para um ressarci ty. Marcelino Rodrigues Garrido disse que
mento mais justo pelo ouro que é extraí De agosto de 1981 até agosto deste ano, foi organizado um grupo de desconten
do. os Kayapó receberam 231 milhões de tes, que tratou de fortalecer a reivindi
A informação foi prestada ontem pelo cruzeiros de direitos sobre a exploração cação pró-abertura do “Cumaruzinho”.
delegado da Funai em Belém, Salomão do ouro. Foram extraídas 1,8 toneladas Alguns ficaram no terreno do Projeto
Santos, que revelou que os índios Kaia do minério, no valor de 23 bilhões de Cumaru, aguardando o resultado, en
pó recebem apenas 1 (um) por cento so cruzeiros. Os índios, portanto, ficaram quanto outros vieram a Belém, para ten
bre o valor do Imposto Único sobre Mi com 1% da produção. (O Liberal, 20/ tarem obter uma solução plausível, que
nerais (IUM) que incide no ouro extraí 09/84). até agora não foi dada.
do dos garimpos do Tarzan, Maria Bo Explicou que ficou como representante
nita e Cumaru do Sul, que formam o dos prejudicados e só pretende deixar
Projeto Cumaru, parcialmente locali Garimpeiros Belém depois de o DNPM e a Funai re
zado na reserva Gorotire. querem continuar conhecerem que os garimpeiros têm di
Segundo Salomão, mesmo sendo baixa a reito a trabalhar no Cumaruzinho,
percentagem os Kaiapó recebem atual O garimpeiro Marcelino Garrido, que se Ele disse que a situação no “Cumaruzi
mente cerca de Cr$ 22 milhões por mês encontra em Belém representando os ga nho” é de calma aparente mas de uma
da Caixa Econômica, que compra o ouro rimpeiros do Xingu na área do Projeto hora para outra poderá ocorrer um vio
do Projeto Cumaru. “Os índios querem Cumaru, denunciou a iminência de lento choque por parte dos guerreiros
que os garimpeiros descontem 10 por mortes de garimpeiros e funcionários do Kaiapó, Justificando, disse que teve a
cento do que for extraído em favor da DNPM, provocadas por índios kaiapó informação dando conta de que quase a
tribo, permanecendo ainda a percenta que, dentro do garimpo cumaruzinho, totalidade dos índios ficou irritada com.
gem sobre o IUM. E já manifestaram estão dando proteção ao garimpeiro a ordem recentemente dada de Alex
que se os garimpeiros não aceitarem esse. chamado Alex, o qual, por sua vez, de também ficar proibido de garimpar na
acordo, começarão a desativar os garim vido à proteção (estranhos não entram área.
pos, devendo o primeiro ser o do Cuma na área porque são atacados), vem sen Como solução para a questão, Marceli
ru do Sul, recentemente descoberto... do o único explorador da produção aurí no Garrido disse que o certo é o garimpo
Mas os gárimpeiros vão topar a parada, fera da área. ser reaberto o quanto antes possível não
porque eles sabem que sua permanência Marcelino Garrido disse ter ficado sur só para o pessoal de Alex mas para
na área não tem amparo legal mesmo”, preso em não ser noticiado, a questão quantos aceitam trabalhar no território
concluiu Salomão Santos. entre os garimpeiros e os índios Kaiapó, indígena.
a partir da reunião que o presidente da
Funai, Nelson Marabuto, teve com os
chefes indígenas. “O assunto não foi
ventilado na reunião ou, então, não foi
dado conhecimento à imprensa”.
Em seu entendimento, as autoridades e
os índios deveriam ter tratado, na reu
nião, do funcionamento do garimpó Cu
maruzinho e coisas correlatas, deixando
como enfoque secundário o da demarca
ção do território kaiapó.
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s! Z_Acervo
_A E A SUDESTE DO PARÁ 15

Ressaltou que os garimpeiros descon Caso haja resistência por parte dos ga FUNAI justifica
tentes providenciaram um abaixo assi rimpeiros e outros invasores, garante o
remanejamento
nado que consiste numa ampliação do delegado regional da Funai que lançará
que vinha sendo feito por Alex, em bases mão não apenas da força índia, mas O delegado da Funai diz que até novem
bem honestas. Disse que os garimpeiros também de força federal para que a área bro deverá estar concluído o remaneja
querem garantir para a tribo um percen do Cumaruzinho não seja explorada mento dos índios Mecranotire da atual
tual sobre o ouro que venha a ser obtido, como vem sendo. (O Liberal, 04/12/84). reserva, no município de Altamira, para
tudo sob rigorosa fiscalização do DNPM nova localização em Iriri Novo, onde
e da Funai. (O Liberal, 02/12/84). tem mais água e peixes. Os índios — cer
ca de 300 — já estavam passando fome e
sede em razão da falta d'água e do peixe
FUNAI diz porque nos igarapés que cercam a aldeia. Um
desativou garimpo Lideranças discutirão grupo já instalou uma aldeia no Rio
demarcação Chiché. (O Liberal, 18/09/84).
O garimpo do Cumaruzinho foi desati
vado há dois meses pela Funai, porque As lideranças indígenas Kaiapó do Sul
além do problema de poluição do rio do Pará discutirão hoje com o presidente
Branco, afetando os Gorotire e Kikre
tum a eles estava sendo destinada a
da Funai, Jurandy Marcos da Fonseca,
no posto indígena Mekragnotire a deli
ERINDO CATETÊ
quantia equivalente a 0,01% do ouro ex mitação e demarcação de suas terras. Desmatamento é denunciado
traído. Por exemplo, no mês de outubro Em setembro, técnicos da Funai se des
foram apurados cerca de 3 bilhões de locarão para a área com o fim de, ba O desmatamento do limite sul da reserva
cruzeiros e os índios receberam apenas seados no interesse dos índios, realiza dos Xicrin do rio Cateté, no sul do Pará,
38 milhões de cruzeiros. rem estudo aprofundado sobre o assun foi denunciado em nota oficial pela an
Para resolver a situação haverá uma reu to, e o encaminharem ao grupo de tra tropóloga Lux Vidal, da USP, pelo mé
nião em Brasília dentro de alguns dias balho criado pelo decreto 88.118/83, dico João Paulo Botelho de Oliveira, e
entre a direção nacional do órgão, o re que dá a palavra final sobre questões CPI-SP. Eles acusam o GETAT de se
presentante da Caixa Econômica Fede fundiárias. Os duzentos e dez mil hecta rem os responsáveis pelo crime, e de in
ral e do DNPM, “porque a atual situa res onde vivem os quatrocentos e quatro centivarem os colonos que estão assen
ção não pode continuar”, explicou on índios foram identificados em 1976. Em tando “de forma desordenada” a inva
tem, à tarde, o delegado regional da Fu 78 o antropólogo G. Versvijwer sugeriu a direm as terras dos silvícolas.
nai, Salomão Santos. Funai que lhe desse uma área de um mi Em vista disso nós pedimos ao Banco
O delegado refutou as afirmações pres lhão e trezentos mil hectares o que foi Mundial, que financia o Projeto Cara
tadas à imprensa pelo garimpeiro Mar rejeitado pelo órgão tutelar. Dois anos jás, naquela área, que suste a remessa de
celino Garrido, pessoa que ele disse mais tarde o mesmo pesquisador fez recursos até que sejam garantidas as re
“desconhecer porque não nos procurou nová proposta reduzindo para setecen servas dos índios conforme estipula o
na Funai”. A intenção da Funai, de tos e oitenta mil hectares a área a ser convênio firmado entre a Companhia
acordo com os reclamos apresentados dada aos silvícolas, mas até agora nada Vale do Rio Doce, o Banco Mundial e a
pelos índios no encontro que tiveram foi decidido. (Jornal de Brasília, 25/08/ Funai.
com o presidente do órgão, Nelson Ma 84). Segundo os defensores dos índios, no li
rabuto, na última semana é que a comu mite leste da reserva, contíguo às glebas
nidade indígena tenha uma participação Tucumã e Carapanã o desmatamento
efetiva nos lucros decorrentes da extra Remanejamento preocupa atinge às margens do Rio com inúmeras
ção do ouro e os recursos sigam um pla árvores entulhando seu leito. E, apesar
no tal de aplicação que garanta o bem Setores da Funai pretendem deslocar os da proposta do grupo de antropólogos, a
estar dos índios, especialmente quando índios Mekranotire das margens dos Funai rejeitou o oferecimento em 26 de
as reservas auríferas esgotarem. Rios Baú e Curuá, afluentes do rio Iriri, novembro último alegando caber a ela a
Na outra ponta está a questão da polui no município de Altamira, para a região responsabilidade na área. (Jornal de
ção. Até agora estão afetados os rios do rio Chiché. Para os menos avisados, Brasília, 09/12/1984).
Branco e Fresco, este por causa da ga nenhum problema. Só que o desloca
rimpagem em Cumarú, de propriedade mento significa que entrarão cerca de
da empresa Andrade Gutierrez. Para sa 150 quilômetros em terras do domínio
nar esse problema, responsável por mui pleno do Estado do Pará, o que seria
tos males a pelo menos 1.000índios, sem demasiado para quem já perdeu bas
contar com a população ribeirinha, es tante. Consta que a alegação é a falta de Gripe ataca
tuda-se o desvio de um igarapé, pelo água, não obstante o rio Curuá ser bem recém-contatados
qual os rejeitos seriam transportados provido. Eis aí mais uma preocupação
para uma área distante dos rios, já que a para o governador Jáder Barbalho. (O Um surto de gripe se instalou entre os
preocupação maior é que a sujeira não Liberal, 15/09/84). 101 Parakanã contatados por uma fren
chegue até o rio Xingú, estendendo a ele te de atração da FUNAI em dezembro
a mortandade de peixes e outros seres passado, às margens do igarapé Bom
vivos. Jardim. O grupo estava sendo transfe
rido para a Reserva da FUNAI mas a
gripe está retardando o deslocamento,
conforme informou o delegado da 2°

165
</I_Acervo
| S/A ; INDÍGENAS NO BRASIL/CED!

DR. Disse ainda o funcionário da FU para a aldeia na tentativa de dissuadi-los A Funai garante, no entanto, que na
NAI que há provavelmente casos de ma da empreitada. Os Parakanã apoiarão área Paracanã — que está a oito quilô
lária e que enviou laboratorista à área já os expropriados da ELETRONORTE metros dos colonos — não há mais que
assistida por 3 enfermeiros, “providos que pretendiam marchar de Novo Re 60 índios homens em idade adulta e que
de vários medicamentos”. (Diário de partimento à Tucuruí. Na verdade, os dificilmente tentariam uma agressão. O
Minas, 5/01/84). Parakanã serão recrutados pelos Ga delegado da Funai em Belém, Salomão
viões para impedir a colocação de trilhos Santos, e o chefe da ajudância em Ma
da ferrovia Carajás-Ponta da Madeira, rabá viajaram ainda ontem a Tucuruí
dentro da reserva indígena, caso a CVRD para verificar a situação. (ESP, 18/10/
Famílias ameaçadas não cumpra as promessas de doação de 84).
de despejo recursos às áreas indígenas da região.
O vereador Miguel Ribeiro Cavalcante (Diário Popular, 15/09/84).
do PDS formulou denúncia na Câmara FUNAI tenta
Municipal de Itupiranga sobre a ameaça evitar o ataque
de despejo pela FUNAI, de 68 famílias Parakanã querem
instaladas no vale do Cajazeiras. Segun A pedido do presidente da FUNAI, Nel
suas terras livres
do a denúncia, os posseiros se encon son Marabuto, o delegado da 2° DR ten
tram há mais de 15 anos no local e “estão Os índios Parakanã anunciaram que vão tará trazer a Brasília Híderes dos Para
se organizando para defender seu patri esperar até sábado próximo para que a Kanã que ameaçam atacar os colonos
mônio a qualquer preço”. Além dos pos Eletronorte retire de suas terras 600 fa transferidos da área a ser inundada pela
seiros, afirma o vereador, arrendatários mílias de colonos recolocados da área do represa de Tucuruí. O advogado dos co
e proprietários com títulos definitivos reservatório da hidrelétrica de Tucuruí. lonos, Felisberto Damasceno, disse que
concedidos pelo GETAT também estão Se isso não ocorrer, estão dispostos a ex o assentamento de índios e posseiros em
ameaçados de perderem suas terras. Os pulsar à força os lavradores, segundo áreas vizinhas parece significar uma
posseiros não aceitam indenização e rei informação que transmitiram a agentes ação deliberada visando a extinção dos
vindicam terras aproveitáveis, inexisten do CIMI que se encontram atualmente Parakanã. Ele mostrou em Brasília um
tes na região, conforme frisou o edil de na área. radiograma passado pelo chefe de Posto
Itupiranga. A denúncia destaca ainda o Os índios também foram transferidos da para a sede do órgão comunicando que
fato de que na vila de Jovecrelândia, dis antiga reserva porque a área está sendo os Parakanã tinham dado um prazo até
tante cerca de 15 km da área que abriga inundada pelo lago da represa, Passa ontem para que os brancos saíssem das
as famílias ameaçadas de despejo, o cli ram a ocupar 270 mil hectares a sudoes terras que estão ocupando. Os colonos
ma é de tensão diante da perspectiva dos te, mas acusam a Eletronorte e o Getat querem ser transferidos para outros lo
Parakanã serem remanejados para as de terem assentado colonos dentro do tes localizados ao longo da rodovia BR
proximidades desse local. Esse temor se seu novo território. Impacientes, os ín 422 onde se encontram as melhores ter
justifica, segundo o vereador, por dois dios estariam dispostos a atacar os inva ras mas que foram destinadas aos gran
antecedentes nos quais os Parakanã sa sores após o dia 20. Preocupados, mui des fazendeiros, segundo o advogado
quearam as famílias instaladas no vale toslavradores que estavam participando responsável pelo reassentamento dos co
do Cajazeiras. Protestando contra a in de um acampamento em Novo Reparti lonos. •

sensibilidade da FUNAI, lamenta que mento retornaram às suas casas, e se ne Responsabilizados pelos contínuos ata
esta tenha embargado a construção de cessário, estão dispostos a reagir a ata ques praticados por outra tribo, os Assu
uma estrada pelas famílias na área, as ques dos índios. (Diário do Grande rini, contra a antiga Estrada de Ferro do
sim como a colheita do arroz que deve ABC, 17/10/84). Tocantins (atualmente já erradicada),
riam realizar. No entender do Vereador os parakanãs sofreram ataques devasta
do PDS, cansado de apelar ao Ministro dores dos colonos. Em represália, semi
do Interior e ao Governo do Estado, Denúncia: nômades, eles foram se espalhando por
“para que possam ser evitados impasses uma vasta área, entre o Tocantins e o
ameaça de ataque
dessa natureza”, os problemas do muni Xingu, até serem novamente contatados
cípio devem ser resolvidos com a partici Representantes da Comissão dos Desa devido à construção da Transamazôni
pação do Poder Executivo local. Anexa à propriados de Tucuruí e do Sindicato ca, no início da década de 70. Mas nova
sua denúncia proposta para solução do dos Trabalhadores Rurais focal denun mente tiveram que ser remanejados,
caso em questão: “um pique, partindo ciaram ontem a ameaça de um ataque quando a Funai tentava reunir os diver
das cabeceiras do rio Bacuri e prosse dos índios paracanãs às mil famílias de sos grupos, e a área que habitavam ficou
guindo em linha reta de 24 km, rumo a colonos que foram transferidas da área no interior do Lago de Tucuruí.
oeste, e desta, outra linha reta, até o que será inundada pela represa de Tu Transferidos para uma nova reserva no
sul”. (O Liberal, 25/05/84), curuí. Eles estiveram ontem com os diri ano passado, já encontraram a área ocu
gentes da Eletronorte em Brasília, e as pada parcialmente. Metade dela, cor
seguraram que 150 índios estão armados tada pelo novo leito da Transamazônica,
Marcha à Tucuruí e prontos para um confronto porque não foi entregue pelo Getat aos lavradores,
e paralização •

aceitam a presença de brancos perto da com a promessa de que uma nova área
área que ocupam. seria entregue como compensação. Até
da ferrovia Carajás hoje, nem essa área foi delimitada, nem
{}$ colonos saíram. (O Dia, 19/10/84).
Preocupada com a informação de que os
Parakanã enviariam 100 guerreiros para
Novo Repartimento a 60km de Tucuruí,
a Funai deslocou funcionários do órgão

166
sL7-Acervo
__A I_s A SUDESTE DO PARÁ 17

Colonos acusam lias na beira da estrada — ameaça João O presidente João Figueiredo receberá
Eletronorte Sá, da Quarta Delegacia da Federação esta semana minuta do decreto de de
dos Trabalhadores Rurais. Entretanto, marcação de 317 mil hectares de terras
Um grupo de dez expropriados pela Ele Maria Deusamir Alves, representante de posse dos Parakanã e até o dia 22 do
tronorte, na área da barragem de Tucu de base dos expropriados, não concorda mês em curso o Exército deverá iniciar
ruí, chegou ontem a esta capital para em abandonar a área dos Parakanã. os trabalhos, segundo assessores do ór
tentar uma audiência com o governador — Antes da Eletronorte se instalar gão tutelar. Os Parakanã continuam a
do Estado, Jáder Barbalho, na esperan aqui, colono nenhum pedia esmola. exigir, contudo, a reintegração ao seu
ça de encontrar solução para o problema Agora, estão todos ameaçados de ficar território cios 64 mil hectares dos quais
das 706 famílias assentadas na gleba dos sem chão para trabalhar. Por isso, o foram retirados sob a alegação pela
Parakanã, e de outras quatro mil pes meu pessoal não vai sair da reserva sem ELETRONORTE de que seriam inun
Soas que estão acampadas há 45 dias, uma indenização justa. dadas e para onde foram assentados
aguardando uma providência das auto Os expropriados acusaram também o pela referida empresa 706 famílias de
ridades. Getat de vir incentivando os agricultores posseiros. Na verdade, apenas 15% da
Estamos entre a água do lago e a flecha a investirem contra os índios. “Uns téc área sofreu alagamento, parte que os
dos índios — disseram ontem no Sindi nicos disseram pra gente, que somos Parakanã pretendem utilizar para um
cato dos Gráficos. Reconhecemos o di muito numerosos e que devemos tratar programa de piscicultura. Os posseiros
reito dos índios sobre a gleba porque eles os índios na bala. Não é isso que dese manifestaram sua disposição de deixar a
foram enganados pela Eletronorte, que jamos”. gleba Parakanã desde que lhes sejam
garantiu que toda a reserva seria inun Sobre o acampamento, transferido de dados terrenos de 100 hectares prome
dada. Não queremos fazer o jogo da Ele Novo Repartimento para Tucuruí, dis tidos pelo Governo Federal desde quan
tronorte e do Getat, que é nos colocar seram que a concentração é pacífica e do foram assentados nas terras dos ín
contra os índios. Mas os índios armados que as notícias sobre atos de violência e dios. A nova área de 317 mil hectares
de arco e flecha, já visitaram todas as vandalismo têm sido propagadas pelo conta com a presença de 68 posseiros, 18
famílias, pedindo que saíssemos da re prefeito de Tucuruí, Cláudio Furman, dos quais ocupando efetivamente a área
serva. Nós não podemos sair porque te “cuja posição é claramente favorável à enquanto que o restante tem licença de
mos roças plantadas e queimadas há Eletronorte”. ocupação expedida pelo INCRA. (Jornal
pouco tempo. Nossas famílias estão ate Hoje, representantes dos expropriados e de Brasília, 1/11/84).
morizadas depois da visita, mas quere dos Parakanã reúnem-se em Brasília
mos evitar um confronto armado. com dirigentes da Eletronorte, ministro
Os colonos asseguram que estão com das Minas e Energia e da Funai. (Cor FUNAI anuncia recursos
cinco mil pés de café plantados, outros reio Braziliense, 23/10/84). para demarcação
tantos de cacau e que possuem outras
lavouras. Por isso querem que o gover O presidente da FUNAI anunciou aos lí
nador, em lugar de colocar os soldados Negociação em Brasília deres Parakanã que se encontram em
da Polícia Militar na área para impedir Brasília que “já existem recursos para a
que a comissão de negociação chegue ao Os chefes Parakanã que seguem hoje demarcação da Reserva Indígena Para
Serviço de Patrimônio Imobiliário da para Brasília pretendem discutir com Kanã”, proposta pelo órgão tutelar ao
Eletronorte, os coloque para proteger as Marabuto a solução do problema dos co “Grupão”. Os recursos foram alocados
famílias contra um possível ataque dos lonos assentados dentro do território in pelo Projeto Carajás que tem interesses
índios. dígena. O conflito entre índios e brancos na área. Assegurou Marabuto que até o
— Indio quando promete, cumpre — foi adiado com a promessa da ELETRO dia 22 de novembro, data de viagem do
afirma José Oliveira da Silva, delegado NORTE de construir uma estrada (de 10 presidente Figueiredo à Tucuruí, “as
rural de Tucuruí. km, já iniciada) de acesso da aldeia à questões serão solucionadas”. A FUNAI
Além dessa proteção, querem cobrar de Transamazônica, evitando a passagem espera gastar cerca de Cr$ 20 milhões
Jáder Barbalho uma promessa feita em pela área onde se encontram os colonos. com a demarcação a ser feita pelo Servi
abril de 83, de que iria falar com as au Vão a Brasília Arakitah, Montapeua e ço Geográfico do Exército que cobra
toridades federais para conseguir verba Awakah, acompanhados pelo sertanista Cr$ 800 mil por quilômetro demarcado.
do Finsocial, para ajudar os expropria João Carvalho. (Diário Popular, 27/10/ Os trabalhos se iniciam imediatamente
dos. 84). após ser baixado o decreto do presidente
— Ele desmobilizou nosso acampamen Figueiredo reconhecendo a área como
to, mas já se passou um ano e não tive habitat indigena. Ontem mesmo a FU
mos solução, apesar do governador ter Manifestação NAI elaborou a exposição de motivos
dado um prazo de 60 dias para resolver de solidariedade que será encaminhada ao Palácio do
tudo. Nesta questão com os índios, tam Planalto através do Ministro do Interior.
bém queremos uma posição clara do go Manifestações de solidariedade aos Pa Além da área aprovada ontem, os Para
vernador. Do contrário, seremos expul ranakanã estão previstas para hoje, kanã pretendem ocupar ainda as “ilhas”
sos novamente. Se isso acontecer, já te amanhã e quinta-feira no centro de Tu que serão formadas pelo lago de Tucu
mos uma área em vista que vamos ocu curuí. Os índios não querem ceder 65 ruí, área também pretendida pela ELE
par porque não vamos deixar as famí mil hectares aos colonos que estão dem TRONORTE para assentar aí as 706 fa
tro da área indígena pois neste local exis mílias de posseiros. (FSP, 1/11/84).
te um cemitério onde estão todos os seus
antepassados, conforme informou, em
São Paulo, a missionária Rebeca Spires.
(JB, 30/10/84).

167
s! Z> Acervo
_{ | S.A. INDIGENAs No BRASIL/CEDI -

“Grupão” diz Quatro índios paracanãs foram até Bra tiga “Reserva Parakanã” e da Base de
que aumenta área sília, mas não assistiram à reunião do Atração Pucuruí, entre o antigo traçado
grupo interministerial. Os índios fica da BR-422 e a nova variante da BR-230,
O grupo interministerial criado pelo De ram satisfeitos com a decisão, apesar de delimitada geograficamente pelo Rio
creto nº 88.118/83, para deliberar sobre ainda continuarem reivindicando 64 mil Bacuri, bem como pelo Córrego Ando
a demarcação de reservas indígenas, hectares de sua antiga reserva, atual rinha e o Rio Pucuruí. Pelo art. 3º, a
aprovou ontem o aumento da área dos mente ocupada por 706 famílias de colo ELETRONORTE deverá ressarcir a co
índios paracanãs. Na reunião, que con nos que vivem na gleba paracanã. (ESP, munidade Parakanã pela perda da posse
tou com a participação de representan 1/11/84). em decorrência da remoção para a outra
tes do Ministério para Assuntos Fundiá área, de acordo com valor a ser calcu
rios, Funai, Eletronorte e Companhia lado pela FUNAI. (Diário Oficial da
Vale do Rio Doce, ficou definido que a Decreto presidencial União, 06/03/1985).
área atual, de 189.681 hectares, desti reconhece 317 milha
nada aos paracanãs, será aumentada
para 317 mil hectares. Decreto presidencial nº 91.028 de 05.
03.1985, declara de ocupação dos índios
Parakanã a área de terras nos Municí
pios de Itupiranga e Jacundá, descre
vendo sua delimitação. Pelo art. 2º, re
vertem ao Patrimônio da União para uti
lização e destinação pela ELETRO
NORTE e pelo GETAT as terras da an

168
!113.180 quº3u1A oqo,
Urubú-Kaapor

A*/

MARANHAO

169
INDÍGENAS NO BRASIL/CEDI

ESC -25ooooo POVOS INDIGENAS NO BRASIL / CEDl

BOM JARDIM ARGEM GRANDE

<#*… E"

TE RESINA

W
FLORIA NO

\,

I - Al TuRIAçu
2 - AI c Aru ,
5 - A I PIM DA RE
* . A ARAR só a
5 - A G OVER NA D O R
E * AI KRIKA TI
T - Al GERALD B E T 0 CO PRETO
B - AI LAGOA COMPRIDA
9 - Al urucu/ Ju Rua
10 - A 1 # U A JA JARA / CA MA BRAVA

II - A 1 MORRO BRA M C O
12 - A I RODEADOR
lº . Aº sacurizinho
14 - Al POR QUINHOS
15 - A 1 GA MELA

s-MARANHÃO

170
MARANHÃO 3

QUADRO GERAL DOS POVOS INDÍGENAS DA ÁREA DO MARANHÃO


NQ NO Nº DE ALDEIAS OU L
POVO MAPA NOME DA ÁREA MUNICÍPTO NOME DAS ALDEIAS POPULAÇÃO FONTE E DATA
2 AÍ Carú Bom Jardim 110 | GOmes: 84

3 AI Pindaré Bom Jardim 385* | GOmes: 84

4 AI Araribóia Grajaú 2 - 496 | FUNAI: 84

C} AI Urucú/Juruá Grajaú 199 | FUNAI: 84


8 AI Lagoa Comprida | Barra do Corda 251 | FUNAI: 84

GUAIAJARA 10 AT Guajajara/
Cana Brava Barra do Corda 2. 450 | FUNAI: 84

l3 AI Bacurizinho Grajaú L - 091 | FUNAI: 84


ll AI Morro Branco | Grajaú L53 #FUNAI: 84

6.832 (T)
l. AI Alto Turiaçu | Corutaperar PL Alto Turiaçu 310 loomes: 84
• Candido Mendes * # =*

URUBU- R … PI Canindé 225

Turiaçu, Monçao
535 (T)
AI Alto Turiaçu |Idem 33 Gomes: 84
AE Carú Bom Jardim 45 GOmes: 84

Á += Arredios Santa Luzia, L50 Gomes: 84

Imperatriz (MA),
e Goiatins (GO)
228 (T)

TEMBÉ (1) l AI Alto Turiaçu lidem L43 |FUNAI: 83

GA ºs= 5 AT GOVernador #Tarante Aldeia Governador 331. Luz: 84 -

(Pukobyé)

KRIKATT 5 AT Krikati Montes Altos 2 338 Santos: 84

GAVIÃO
TI/
12
deado
AI ROCEãCOI Barra
do · …o
+

TIMEIRA 7 |AI Geralda/ Grajaú 5] ||FUNAI: 34


iTE! 2
(Pukobyé) TCXX> Preto ]

CAIXETA +

APANTE#RA l4 AI Porquinhos Barra do Corda 273 FUNAI: 84

CANELA
RANKOKAMEKRA 15 AT Kanela B arra do Corda 74 7 FUNAI:= 84

(*) Desse total de 385 índios da AI Pindaré: 320 são Guajajara, 20 Timbira Kréjé e 45 descendentes de
Tobajara (Ceará).
(1) ver também na Área Sudeste do Pará

171
s! Z> Acervo
_/\ | S.A INDIGENAS NO BRASIL/CEDI

Aconteceu na imprensa
Pedro Marizê Juruna acusa PF
é eleito novo delegado
Dois índios Guajajara, da Aldeia de
Tomada da delegacia Depois de ocuparem por 16 dias a 6° DR Barro Branco, em Barra do Corda, fo
da FUNAI da Funai, forçando a demissão do dele ram presos e torturados por agentes da
gado, 200 caciques maranhenses, repre PF; segundo denúncia do Deputado
Um grupo de Guajajara ocupou, ontem, sentando 10 mil índios, elegeram Pedro Mário Juruna, em carta enviada ao pre
o prédio da delegacia do órgão em São Marize Filho — um Guajajara de 29 sidente da Funai, Jurandy Marcos da
Luiz (MA), fazendo um refém e apresen anos — para o cargo. O resultado da Fonseca. Na carta, Juruna informa que
tando várias exigências, entre as quais a eleição não agradou a todos e os parti funcionários da Funai colaboraram com
demarcação de suas terras. O presidente dários do advogado Clésio Muniz, pro a PF que estava procurando traficantes
da Funai, Jurandy M. Fonseca, pelo te curador da Funai, prometeram fundar de maconha entre os Guajajara.
lefone, convenceu os índios a desistirem uma Ajudância em Imperatriz para seu Segundo a denúncia, “os índios Guaja
da ação, prometendo falar com eles pes candidato. Pedro é filho do cacique da jara daquela área estão apavorados com
soalmente em Brasília. O prédio da 6° aldeia de Bacurizinho e desde criança esses fatos e a maioria abandonou a al
DR foi ocupado por 25 Guajajara, de vá vive fora da tribo. Ele é formado em ad deia, refugiando-se na mata, com medo
rias aldeias do MA. Eles detiveram o de ministração de empresas e trabalha na da PF, que, anualmente, de forma vio
legado regional e fizeram reivindica Companhia de Água e Esgotos de Brasí lenta, invade suas terras sob o pretexto
ções. Depois de contato telefônico com o lia. Sua escolha foi precedida de intensa de busca a plantio de maconha”. (Fôlha
presidente, uma comissão de sete Gua campanha liderada pelo índio João Ma da Tarde, 10/07/84).
jajara embarcou para Brasília, de ôni druga a seu favor e chegou a dividir os
bus, onde deverá expor suas pretensões. índios: parte dos caciques abandonaram
Os índios querem que a Funai repasse a assembléia, antes da votação. (O Glo FUNAI demite
para eles parte dos 13,6 milhões de dó bo, 30/5/84). o novo delegado
lares de um convênio firmado com a
CVRD em 1982, e que, segundo alegam, Antes de completar dois meses no cargo,
não os está beneficiando. Juruna contorna crise o Delegado José Jaconias de Araújo, foi
A verba deve ser usada, principalmente, demitido pelo presidente da Funai. Na
para financiamento de projetos agríco Em reunião com o Chefe de Gabinete da Delegacia ninguém informou nada so
las e agropecuários, além,de infra-estru presidência da Funai, Marcos Terena, bre a demissão, mas há comentários de
tura básica de escolas e postos de saúde. Mário Juruna convenceu um grupo de mais de 20 nomeações de índios e esban
Os índios dizem que isso não está funcio Guajajara a aceitar Pedro Marize — que jamento de dinheiro em diárias e adian
nando e tudo que receberam, até agora, foi eleito delegado — como subdelegado tamento para motoristas em torno de
foram “besteirinhas”, como poços arte da Funai. A indicação de Marize deixou Cr$ 17 milhões. Além disso os Guaja
sianos que não dão água, posto de saúde revoltada a maioria das lideranças indí jara da reserva de Barurizinho, num to
sem médicos ou enfermeiras e um colé genas, provocando uma cisão entre as tal de 13 aldeias, invadiram a fazenda
gio de três salas de aula sem professores. tribos maranhenses, que o considera Belo Sonho, localizada dentro da área
Eles reivindicam também todos os docu ram com pouca experiência e convivên indígena, expulsando todos os seus ocu
mentos de posse de terras das áreas já cia com os problemas dos índios para pantes, e estão ameaçando de fazer o
demarcadas, que a Funai vem protelan exercer o cargo. Com a intervenção de mesmo com a fazenda Matusalém, do
do, além da posse do índio João Casse *Juruna e Terena, o novo delegado — que japonês Wagner Akachi. (O Globo, 16/
miro da Silva como delegado regional da será uma pessoa sem qualquer relacio 8/84).
Funai no Maranhão. (ESP, 15/5/84). namento com as tribos maranhenses,
mas conhecedora dos problemas dos ín
dios — será escolhido e nomeado até
quarta-feira, pelo presidente da Funai.
(O Globo,4/6/84).

Novo delegado é nomeado


O presidente da Funai anunciou a no
meação do economista José Jacomir de
Araújo, para ocupara a delegacia regio
nal. Os índios aceitaram a indicação do
nome do economista, levado aos Guaja
jara pelo deputado Mário Juruna, que
intermediou os entendimentos. (ESP,5/
6/84),

172
Acervo
|| 5 A MARANHÃO 5

foto Railda Herrero/Porantim

Porfiro Carvalho prefeito Mercial de Souza (PDS), contra Instaurado inquérito


é nomeado coordenador os índios guajajara. Estes, no entanto,
já não se encontravam no local, na hora A delegacia de polícia de Grajaú, instau
Acusado de omissão diante da invasão do incêndio. A passeata contou com o rou inquérito, para apurar as responsa
das aldeias dos Guajajara nas Reservas apoio da Igreja local. bilidades do incêndio da aldeia de Mor
de Angico Torto e Pindaré, por agentes A denúncia foi feita ontem mesmo, pelo ro Branco. O coordenador da 6° DR,
da PF, que chegaram a torturar alguns sertanista Porfírio Carvalho, assessor do Porfírio Carvalho acusou o prefeito da
silvícolas e apalparem índias, o delegado presidente da Funai, Nelson Marabuto. cidade, Mercial Arruda, e a Igreja, de
regional José Jaconias foi demitido. Para Porfírio disse estar sendo ameaçado pelo lançarem a população contra os guaja
substituí-lo o presidente da Funai, Ju prefeito, que pretende tomar as terras jaras.
randy da Fonseca, nomeou o sertanista dos índios guajajaras, já demarcadas A Funai decidiu reforçar o número de
Porfírio Carvalho na função de coorde pela Funai. A cidade de Grajaú encon funcionários em Grajaú, para proteger
nador. (Gazeta de Notícias, 19/8/84). tra-se em clima de tensão e os guajajaras os Guajajara, que continuam sob a
foram retirados para uma reserva vizi ameaça da população local. Ontem ne
nha, forma de se evitar um confronta nhuma criança pôde freqüentar as au
Manifestantes em passeata mento. las, porque não havia “clima”, infor
queimam aldeia indígena A manifestação estava prevista desde sá mou o assessor de imprensa da Funai,
bado. Ela começou às 9 horas da ma José Pedroso. (Fôlha da Tarde, 20/11/
A aldeia de Morro Branco, em Grajaú, nhã, com os carros da Prefeitura trans 84).
no Maranhão, foi incendiada na tarde portando a população. Tudo correu em
de ontem por manifestantes que partici ordem até o final da passeata. À tarde,
pavam de uma passeata promovida pelo uma emissora de televisão pediu para
que se repetisse a passeata, no que foi
atendida. Os manifestantes, já embria
gados, decidiram então invadir a aldeia
e atearam fogo em todas as casas. (O
Dia-RJ, 13/11/84),

173
sL7-Acervo
_/\ | @A S INDÍGENAS NO BRASIL/CED)

*#
Bispo acusa a Funai O bispo negou toda a versão da Funai e O assessor da Funai considera “co
assegurou que a passeata, teve um cará mum” a posição da Diocese de Grajaú
O bispo de Grajaú, D. Tarcísio Lopes, ter de “caminhada, procissão” a favor contra a sua pessoa, pois foi ele quem em
responsabilizou ontem a Funai pela dos índios. Ele disse, também, que o as 1979 demarcou as terras indígenas, a
queima de três casas de índios Guajajara sessor da presidência da Funai, que es serviço do órgão tutelar, tirando na oca
* ##
em 18 de setembro último, “com o fim tava na área, Porfírio Carvalho, “é per sião a Igreja que “era invasora” da área,
de destruir o estoque de maconha utili sona non grata” e colocou, em entrevis onde mantinha uma colônia agrícola de
zado para tráfico”. tas concedidas à imprensa local, a Igreja exploração de colonos a quem arrendava
O incêndio ocorreu durante passeata or muito mal, em situação delicada, as terras. “Fato que obviamente contra
ganizada — segundo D. Tarcísio — riou a instituição”, e garantiu que havia
“por diversos segmentos da sociedade, faixas na passeata com dizeres de “abai
com apoio do vigário da Catedral, Frei xo os índios” e “fora Porfírio”. (Jornal
de Brasília, 29/11/84). •

Pascoal Rota, como um protesto contra


a superproteção da Funai e o escanda
loso tráfico de maconha cultivada na re
serva indígena dos Guajajara”.

174
sL7-Acervo
_A SA

Pankararé

NORDESTE

175
s! Z> Acervo
_/\ | S.A INDÍGENAS NO BR ASIL/CED]

ESC. t : E.O.G. G, O Ô Ô POVOS INDIGENAS NO BRASIL / CED

OI

2 O} \
FORTALEZA

{=S *

S. PAULO
<\, àºsº JPETROLINA AFONSO
& dLJAZEIRO 17O

| C) - NOR DESTE

176
sL7-Acervo
_/\ 15 A NORDESTE 3

QUADRO GERAL DOS POVOS INDÍGENAS DA ÁREA NORDESTE


NQ NO NQ DE ALDEIAS OU
POVO Map2~" | NOME DA ÁREA MUNICÍPIO NOME *_*

DAS ALDEIAS POPULAÇÃO FONTE E DATA


TREMEMBÉ l (CE) ? ?

TAPEBA 2 Caucaia (CE) 200 (69)


• Baía da Traição, 15 4.4L8 |FUNAI: 84
POTIGUARA 3 AI Potiguara [Rio Tinto,
Mamanguape (PE)
T 4 c… (PE) Ilha da Assunção 375 | CIMI: 83

Curuçá (BA) dispersos ?

ATIKUM 5 Al Atikum FLOresta (PE) 16 2.645 |FUNAI: 84

Tacaratú (PE) Brejo dos Padres 3.523 | FUNAI: 84


PANKARARU 6 AI Pankararu Petrolândia (PE) várias
Água Branca (AL)
KAMBIWÁ 7 AI *
ioã "…e
Inajá (PE
(PE) Baixa da Alexandra
{
S75 #FUNAI - 84S

Inajã Tear ?

«# Águas Belas e ? 2.767 | FUNAI: 84


FULNI-Ô 8 AI Fulni-õ
Itaiba (PE)

Buíque e Mina Grande 250 FUNAI: 84


KAPINAWA 9 AI Kapinawá |Tupanatinga (PE)
Sertão Central | dispersos ? FUNAI: 84
XUKURU 10 AI Xucurú Pesqueira (PE) 15 3.391 |FUNAI: 84
WASSU ll AI Cocal Joaquim Gomes(AL)|Cocal e Pedrinhas 789 FUNAI: 84

COROPATT Sítio Terra Nova


(Tingui) =+ S.Sebastião (AL) Kariri Xok5 CEMI: 84

(arrendado) 800 (T)


Ó Pto. Real do Pto. Real do {}40
KARTRI-XOK
O 14 Colégio (AL)
* Colégio *** l- FUNAI: 84

AI Mata da Palmeira dos Mata da Cafurna 48


Cafurna Índios (AL)
XUKURU-KARIRI 12 AT. Fazenda Faz. Canto 5 LO I: 84

Carlto Igaci (AL) S.Cajazeira ?

558 (T)
TINGUI POTÓ 13 AI Tinguí Feira Grande (AL)|Olho D'Água do Meio 800 CIMI: 83
XÕKÓ 15 AI Xocó Ilha Porto da ].85 FUNAI: 84

de São Pedro Folha (SE) *#

Rodelas (BA) Rua dos Tuxá


TUXÃ l6 |AI ROdelas + FUNAI: 84
Itacuruba (PE) dispersos 668 (T)

PANKARARÉ l7 AÍ Pankararé INova Glória (BA) 1.800 || Anaí BA: 81



KAIMBÉ L$ -
AI Ma5SãCără IE. da
El Cunha
a (BA)
(BA) | Massacará 9 GO Anai BA: 81
sãº

idem Muriti L50

KIRIRI L9 Al Kiriri Rib. do POmbal/BA)|Mirandela/7 1.800 CIMI: 83

177
Ilha de S. Pedro.
Abaixo, a Igreja
da antiga missão
dos Capuchinhos.

DOIS CONTRATOS
“LEGALIZAM?? A
POSSE DA ILHA DE
SAO PEDRO

Apesar da farta documentação ofi


cial referente aos direitos de pro
priedade da Ilha de São Pedro pe
los índios Xocó, cuja origem re
monta ao século XVII, a família
Britto fez valer a sua vontade con
tra o que prescreve a própria Cons
tituição. Assim, a 7 de dezembro
de 1979, o Decreto nº 4.530 do Go
vernador do Estado de Sergipe de
clarava a área da Ilha de utilidade
pública e, a 14 de dezembro, o Es
tado de Sergipe comprava a Ilha
de quem não tinha a propriedade,
os Britto, por dois milhões e qua
trocentos mil cruzeiros, abrindo
um precedente jurídico grave na
legitimação da grilagem.

No dia 27 de junho de 1984, em


virtude da autorização contida na
lei estadual nº 2263 de 25/06/80,
o estado de Sergipe, a União Fe
deral e a Funai firmam dois con
tratos para concluir o arranjo ini
ciado com o decreto de 1979: um
João Apolônio dos Santos, contrato de Doação com Encargo
o “João de Deus".
em que o Estado de Sergipe doa os
96,5 ha da Ilha à União Federal
para uso da FUNAI (proc. MF nº
0586-01745/80) e um contrato de
Cessão, sob a forma de utilização
gratuita, em que a União Federal
cede a Ilha à Funai (proc. MF: nº
0586-001745/80).

Em ambos os contratos, a Ilha de


ve ser destinada à criação ou me
lhoramento de centro de popula
ção e seu abastecimento regular de
meios de subsistência. No contrato
de cessão, a Funai tem o prazo de 5
anos para realizar este objetivo,

178
NORDESTE 5

OS XOKÓ E A LUTA
PELA TERRA
Depois da Ilha de S. Pedro,
os índios querem
as terras da Caiçara

José Apolônio
vice-cacique Xocó da Riha de São Pedro (AL).

O s índios Xokó sempre viveram nas terras da Ilha de


São Pedro e na "caiçara" no Município de Porto da
não esquenta a cabeça com besteira. Os Britto entraram na
justiça contra os Xokó pra pagar as vacas que foram mortas
Folha, Estado de Sergipe. Hoje só ocupam parte de pela cobrinha.
suas terras, a “Ilha de São Pedro".
Passamos vários meses sendo intimados. Veio 27 de junho
São aproximadamente 45 a 50 famílias, na faixa de umas de 1984 e se encontraram em Aracaju. Neste dia o presi
duzentas pessoas. A nossa luta pela "Ilha" começou em dente da FUNAR o ex-Jurandir, o ex-delegado Leonardo
1978 porque os Britto proibiram de plantar todo tipo de Reis, liderança Xokó, cacique Damião, Pajé Raimundo,
plantação na “Caiçara”, terra nossa, mas que está sob vice-cacique Apolônio e o governo do Estado de Sergipe
domínio dos brancos. Nós não podíamos mais plantar. João Alves Filho, e as 3 horas da tarde no Palácio Olímpio
Plantamos mais não colhemos porque o gado dos Britto foi Campos, foi assinado os documentos da “Ilha” do estado
quem comeu. Aí não deu outra coisa e tomamos a "Ilha”. para União e da União para FUNAI Neste dia foi dado fim
Isso foi em setembro de 1978, e pouco depois tivemos de ao drama da Ilha com os Britto, está nas nossas mãos a có
passar para a Caiçara onde ficamos quase um ano sendo pia do documento e do registro de imóveis em Porto da
intimados pelo Juiz, Polícia Federal, delegado de polícia e Folha.
nada se resolvia. Quando nós sentimos que a justiça estava
pendendo para o lado dos Britto, nós tomamos uma outra Mas com isso não quero dizer que os índios Xokó não tem
decisão, de deixar a terra "Caiçara" e passar todo mundo problemas mais com a terra, tem sim, lá na nossa querida
para a “Ilha de São Pedro”. Isso foi no ano de 1979. A 8 de Caiçara, será que estão pensando que nós índios Xokó não
setembro quando chegamos na “Ilha” só encontramos a têm problemas. Agora é que é problema, vamos partir fir
igreja, o cemitério e as ruínas do convento que foi detiorada mes em busca das terras da Caiçara, que estão sob domínio
pela família Britto e os pé de pau. Não tinha nenhuma de Jorge Pacheco. Ele já disse pra nós Xokó nem pensar em
casa, ficamos nos pé de pau. Tomando sol e chuva, isso foi voltar ao Caiçara porque com ele a parada é diferente, por
quase um ano. Além disso não tinha condição pra comprar que ele tem um revólver, um riflée outras armas para atirar
comida. Comia quando as comunidades não índio, davam. em nós Xokó. Sabemos que a parada é dura, mas quando
A nossa sorte foi a diocese de Propriá na pessoa do Bispo há união nada é impossível, os Xokozinhos pensam em vol
Dom José, a paróquia de Porto da Folha — Sergipe e o tar ao Caiçara. Morra quem morrer e escape quem escapar,
Sindicato Rural. Apesar desse sofrimento todos nós não de a Caiçara é nossa e não vamos abrir mão.
sanimamos, só tinha um sentido, era de conquistar a “Ilha”.
Aí foi quando os Britto colocaram pistoleiros e não foi to Para terminar as notícias dos índios Xokó quero dizer aos
mada nenhuma providência por parte da justiça. Ficamos nossos irmãos índios e aos nossos companheiros das entida
firmes na luta. Veio 7 de dezembro de 79 quando o governo des de apoio ao índio que neste ano de 85 nós vamos orga
do estado de Sergipe desapropriou a “Ilha”, pagando aos nizar uma assembléia indígena na Ilha de São Pedro, aldeia
Britto a quantia de dois milhões e quatrocentos mil cruzei dos índios, com a presença de todas lideranças do nordeste
FOS. e alguns do sul do país. Para este encontro queremos contar
com apoio de todas estas entidades.
Ficamos sendo intimado pelo Juiz de Porto da Folha. Essas
intimações eram porque o gado dos Britto entrou na nossa Caso alguém queria saber o porquê desse encontro eu co
área e estragou nossa lavoura. Nós demos parte e não foi loco à disposição dos nossos amigos nosso endereço: Rua
tomada nenhuma providência. Aí resolvemos tomar as pro Padre Soares Pinto, nº 214, 57400, Pão de Açúcar, Ala
vidências. Tinhamos uma cobrinha que estavamos criando gOúS.
com muito carinho e resolvemos soltá-la para matar o gado
dos brancos que estava entrando nas nossas roças, e não Saudações indígenas.
deu outra coisa a não ser gado morto. Aí a pressão aumen
tou. Mas os Xokó são tranqüilos, não se afobam com nada, Ilha de São Pedro 09/12/84

179
s! Z_Acervo
_A EVAs INDIGENAs No BRASIL/cED

A Casa do Indio ANAI_BA denuncia situação


pode ser fechada das terras indígenas
Indios querem deposição Além do completo abandono, passando Na Bahia nenhum grupo indígena vive
do sub-delegado fome e dormindo no chão, 15índios que em condições satisfatórias com relação à
vivem atualmente na Casa do Indio, lo posse da terra. A constatação é da Asso
Cerca de 20 índios de várias tribos, que calizada na Cidade Universitária, cor ciação Nacional de Apoio ao Indio seção
estãoa campados na Delegacia Regional rem, agora, o risco de serem despejados, Bahia e foi revelada ontem pela manhã à
da Funai, na Rua Manuel Caetano, pois no próximo dia 10 a Funai entre Comissão de Confltios de Terras da As
Dérby, querem a deposição do sub-dele gará as chaves do imóvel. “Eles dizem sembléia Legislativa, que tem o objetivo
gado Marco Antônio Xavier Levay, sob que vão fazer isso porque há três meses inicial de identificar todos os casos de li
a alegação de que ele dificulta o relacio não têm dinheiro para pagar o aluguel. tígio de terra no Estado.
namento com o titular do órgão, trata os Quem se prejudicará com isso, é claro, O diretor da Anai-Ba, Eduardo Almei
índios com agressividade, e coloca em seremos nós” — criticou Inocêncio, da da, acompanhado dos índios kiriris Bo
pecilhos no atendimento às reivindica tribo Kariri-Xokó, do Estado de Ala nifácio da Silva e Vasconcelos Batista
ções das comunidades indígenas. goas. relataram para os membros da comissão
Os índios estão há 16 dias acampados Ontem à tarde, os indígenas que estão os problemas de disputa de terras que
na delegacia, dormindo no chão em uma no Recife há vários meses, alguns, que envolvem aldeias indígenas na Bahia.
das salas e alimentando-se precariamen vieram pedir emprego na Delegacia da Segunda a Anai-Ba, a tribo dos Tuxás
te. Queixam-se que não tem direito Funai e outros que estão se submetendo de Rodelas vive hoje na expectativa de
“nem a um cafezinho”, pois os dirigen a tratamento médico, denunciaram o ver suas terras submergidas com a cons
tes do órgão alegam a falta de recursos “completo" descaso dos que integram a trução da barragem de Itaparica. In
para o não fornecimento de alimenta Funai. Eu estou por aqui desde o mês de tranqüilidade existe também entre os
ção. agosto. Preciso me operar mas, até ago Kaimbés da Vila de Massacará em Eu
Embora as reivindicações que defendem ra, não solucionaram meu caso. Agora, clides da Cunha que aguardam a demar
sejam de caráter pessoal ou em nome de se realmente a gente for despejada, não cação de suas terras prometidas pela Fu
uma ou outra tribo (já se trata de um sei o que acontecerá. Ficar desse jeito nai. Há também o problema dos Pataxós
movimento coletivo), os 20 índios estão não poderei” — disse Maria do Socorro de Porto Seguro que anteriormente ao
unânimes na decisão de só saírem da Fu dos Santos, da tribo Pancaruru, do mu problema que enfrentam no momento
nai depois de conversarem com o dele nicípio de Petrolândia. com fazendeiros tiveram a maior parte
gado, José Leonardo Reis, que se encon A insatisfação dos índios é geral e, pelas de seu território tomada pelo IBDF com
tra na Bahia, onde se registra conflito conversas, eles realmente estão dispos a instalação do Parque Nacional de
entre os Kiriri. tos a fazer valer seus direitos, cobrando Monte Pascoal. Para se ter uma idéia
Com um déficit de Cr$ 126 milhões, a da Delegacia da Funai em Pernambuco dos 22 mil e 500 hectares que pertenciam
Funai não tem condições de atender às melhor atendimento médico, emprego, aos Pataxós, apenas 8 mil 720 hectares
comunidades indígenas de Pernambu alimentação e “um tratamento mais dig ficaram para os índios e o pior é que essa
co, Paraíba, Bahia e Alagoas (território no para o indígena, que passa vários dias pequena área de terra não se presta em
que abrange), que contam com cerca de SeIII COITICT. quase sua totalidade para a agricultura.
26 mil índios. O chefe de serviço, Hélio — O que queremos de verdade, é a ime No entanto, a Anai considera a situação
Gonçalves Santana, respondendo pelo diata retirada do delegado substituto da dos Kariri em Mirandela, Ribeira do
órgão atuamente — pois além de o dele Funai, Mário Thompson Batista, que Pombal a mais grave de todas. No local,
gado estar viajando, o subdelegado en sempre jurou o índio, dizendo, inclu os conflitos entre indígenas e invasores
contra-se de férias — disse que não há sive, que um dia seria titular do órgão e de suas terras são constantes com várias
como atender às reivindicações de em mostraria a todos que lugar de indígena mortes como conseqüência. Os dois ín
prego e recursos financeiros, levantadas era na aldeia.” (Diário de Pernambuco, dios Kariris que depuseram ontem na
pelos índios acampados. (Diário de Per 28/10/84). Comissão de Terras parlamentar, de
nambuco, 24/07/84). nunciaram a impunidade do ex-prefeito
de Ribeira do Pombal, Edval Calazans,
acusado de planejar ataques contra os
índios que resultaram no assassinato em
14 de julho deste ano do índio José de
Carvalho dos Santos, pai de nove filhos,

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_{ || 5 A
NORDESTE 7

morto na feira de Mirandela sob a tes


Presos e espancados
temunha de inúmeras pessoas. Mas os FULNI-Ô,
agressores não pararam aí. Apenas um Mais um fato, ocorrido com índios Ful
mês depois do crime, o índio Acrísio José Indios querem trabalho ni-ô que vivem numa das aldeias no mu
Santiago foi baleado enquanto descan nicípio de Águas Belas, em Pernambu
sava numa rede em casa. Santiago con Indios da tribo Fulniô, de Águas Belas, co, para demonstrar o descrédito da Fu
seguiu sobreviver mas em outubro mais permanecem há cerca de 21 dias acam naiperante as comunidades indígenas e
dois atentados ocorrem contra líderes pados na sede da Funai, no Dérbi, espe a opinião pública. Tudo aconteceu na
dos Kariri. As terras em disputa perten rando serem atendidos pelo delegado re segunda semana de setembro, quando,
cem aos índios desde 1700 através de al gional, José Leonardo Reis, o que só de com a conivência da 3° Delegacia Regio
vará Régio que garantiu 1 légua em qua verá acontecer amanhã ou terça-feira. nal da Funai, os índios Isac Rodrigues
dra para os índios. O referido alvará foi Outros grupos, de Pernambuco e Ala Cavalcante e Benedito Vasconcelos da
confirmado em 1703 e posteriormente goas, regressaram às suas aldeias, após Cruz, de 16 e 18 anos, respectivamente,
pelo decreto lei nº 8.072 de 1910. obterem promessa do subdelegado, foram vítimas de um degradante ato de
Em Mirandela habitam cerca de 1.600 Marco Antônio Xavier Levay, de que violência. Por causa de umas ovelhas
índios, ocupados em trabalhos agríco suas reivindicações serão atendidas. que os dois tinham levado para o Ouri
las. Segundo o índio Bonifácio Andrade Os Fulniô querem resolver o problema curi — lugar sagrado onde anualmente é
da Silva, sua revolta “é respeitar e não de cerca de 100 crianças e adolescentes, praticado o ritual religioso fulni-ô — a
ser respeitado” pelos homens brancos. alunos do Colégio Municipal de Águas Polícia Militar de Águas Belas, a pedido
(Jornal da Bahia, 10/11/84). Belas, que não possuem fardamento es de Gilvan Luna da Silva, chefe de posto,
colar e se sentem discriminados com prendeu os índios, espancando-lhes bar
isso, além de não disporem de roupas su baramente por mais de quatro dias con
ficientes para o dia-a-dialetivo. Os adul secutivos. Esse fato revoltou toda a co
tos querem emprego e se queixam de que munidade Fulni-ô do lugar.
têm disposição para o trabalho mas não Em contrapartida, cinqüenta índios
Grileiros assassinam lhes são oferecidas chances. Fulni-ô enviaram, mês passado, um
chefe de posto A reivindicação de emprego é comum abaixo-assinado à Presidência da Funai,
entre astribos. Homens e mulheres mos em Brasília, solicitando o afastamento
O funcionário da Funai Aduvaldo Mota tram-se desejosos de trabalhar e receber imediato de Gilvan. Na exposição dos
e sua filha de 22 anos, foram mortos a remuneração condigna, como o deseja a motivos relacionados no abaixo-assi
tiros e facadas anteontem no Município maioria dos brasileiros. Os índios de nado eles explicam, entre outras coisas,
de Floresta, Sertão de Pernambuco. Se Porto Real do Colégio, em Alagoas, por que “o atual chefe do P.I. Águas Belas é
gundo a polícia, o crime foi praticado exemplo, pediram que sejam abertas indesejado não só por nós índios, como
por dois posseiros da região, revoltados frentes de trabalho em sua aldeia Kiriri. também pelos próprios funcionários e
porque Aduvaldo os denunciou na dele Alguns índios, de várias tribos que esti pais-de-família da Funai, que têm suas
gacia local por invasão de terras indíge veram acampados na Funai, como os filhas inquietadas pelo mesmo. O refe
nas. Os dois acusados — José Torres e Cariri, Xucuru, Massacará, Potiquaras, rido chefe foi recolocado no posto por
“Davi” — continuavam foragidos. Diri Kambiwari, Aticum e Tinguin-Botó, re conta do delegado da 3° DR. Leonardo
gindo o posto da Funai de Aticum, que forçaram o pedido de emprego, antes de Reis, sem que as lideranças indígenas
administra uma reserva não demarcada regressarem às suas aldeias, porém o de fossem consultadas”. (Porantim, Outu
sobre a terra Umã, há apenas 45 dias, legado em exercício (até sexta-feira úl bro/84).
Aduvaldo prestou queixa na delegacia tima) declarou que não será possível
local contra os acusados, que teriam re atendê-los, tendo em vista o decreto pre
tirado madeira da terra pertencente aos sidencial que proíbe nomeações no mo Sociedade para reivindicar
2.700 índios da região. (ESP, 16/5/84). mento atual.
Agora a esperança dos índios reside no Devido à falta de remédios e ao péssimo
diálogo com o titular do órgão, Leonar atendimento no Posto da Funai, os Ful
Zé Preto assassinado do Reis, que regressou na sexta-feira, da ni-ô decidiram se organizar para en
Bahia, onde tentava resolver conflito en frentar o problema da saúde na comuni
com tiro na garganta
tre os Kiriri. Ele prometeu conversar dade. Já está indo a todo vapor “uma
Um tiro de escopeta — disparado em um com os Fulniôs bem como com as novas pequena sociedade de índios Fulni-ô,
buraco da porta do casebre onde morava levas de indígenas que chegam costu pessoas simples e humildes”, formada
— atingiu a garganta e matou o índio meiramente à Funai em busca de resolu por eles no final de outubro. Joventino
José Antônio, o “Zé Preto”, da tribo dos ção para seus problemas. Os outros gru de Souza Araújo (Ekiô) explica por que
Atikum, na noite de segunda-feira pas pos, que tinham comparecido com as nasceu essa idéia. “Estamos fazendo
sada, no município de Floresta (PE). Ele reivindicações de emprego, recursos fi esse tipo de sociedade para encarar com
era uma das principais testemunhas do nanceiros etc., e prometiam só se retirar mais coragem um chefe de posto, uma
assassinato do chefe do posto da Funai, após audiência com o titular do órgão, autoridade”. E a idéia está ganhando a
Oduvaldo Giram da Mota, morto dia 14 acabaram voltando às suas tribos, com adesão de dezenas de famílias. Mais de
de maio em uma emboscada. (O Globo, passagem de ônibus fornecidas pela Fu 90já se associaram.
13/10/84). nai. (Diário de Pernambuco, 29/7/
84).

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A
S INDÍGENAS NO BRASIL/CEDI

Como participar? É simples. Basta a fa O massacre da aldeia dos Kiriris acon Segundo o antropólogo Ordep Serra,
mília se inscrever e contribuir com Cr$ teceu na tarde de sábado, depois do presidente da seccional baiana da Asso
500 por semana. O total está sendo de meio dia, quando fazendeiros e seus em ciação Nacional de Apoio ao Indio
positado na Caixa Econômica de Águas pregados, armados de fuzis, revólveres e (Anai), os índios foram vítimas de uma
Belas, município pernambucano onde facões, atacaram de surpresa, não per emboscada. Eles foram atraídos, de
está localizada a reserva fulni-ô. E gasto mitindo reação por parte dos indígenas. acordo com Serra, para uma conversa
somente em caso de emergência de Em seguida, os atacantes bateram em com os fazendeiros sobre os problemas
membros do grupo, ou seja, basicamen retirada, deixando no local o saldo de de roubo e morte de gado na região.
te compra de remédios e encaminha três mortos e cerca de 50 feridos, segun. Agentes da Polícia Federal estiveram
mento de índios ao hospital. (Porantim, do informações extra-oficiais. ontem na área de conflito, onde um con
Dezembro/84). O fato foi confirmado ontem pela prefei tingente da Polícia Militar permanece
tura de Ribeira do Pombal, que acres acantonado desde a ocorrência do mas
centou ter sido deslocado para a área de sacre. Há também controvérsias quanto
conflito todo o destacamento policial da ao número real de mortes. As primeiras
cidade. O prefeito solicitou também a informações dão conta de que foram três
intervenção da Polícia Federal, a fim de índios mortos e aproximadamente 50 fe
Alguns abates impedir o agravamento da situação. O ridos. Outras notícias, no entanto, di
serviço de plantão da Polícia Federal, zem que dois índios morreram. O presi
Os índios “Kiriris”, que estão passando em Salvador, confirmou ter sido solici dente da Anai-BA encaminhou telegra
fome há vários meses no distrito de Mi tado apoio policial, mas somente a par ma ao Ministério da Justiça, ao governa
randela, no município baiano de Ribeira tir de hoje serão deslocados alguns agen dor do Estado e à Polícia Federal, soli
do Pombal — a 255 km de Salvador —, tes para aquele município. citando providências imediatas.
já abateram para comer mais de 60 ca O ataque à aldeia dos índios Kiriris Todo o problema dos índios com os fa
beças de gado. A denúncia foi feita pelos aconteceu de surpresa e num momento zendeiros, em Ribeirão do Pombal, se
fazendeiros da região e confirmadas em que os conflitos pela posse da terra deve à questão de terras. Os fazendeiros
pela Funai, no Recife, que enviou uma pareciam amenizados. No entanto, lem querem ocupar as terras da reserva indí
equipe à área que constatou “alguns brou um funcionário da prefeitura, os gena denominada fazenda Picos, para
abates”, mas garante que o gado aba fazendeiros, que se dizem legítimos do onde os Kiriri foram levados pela Funai.
tido pelos índios foi encontrado solto nos da terra, há algum tempo promete (Fôlha da Tarde, 17/07/84).
destruindo as plantações dos índios “e ram tirar todos os índios dali, nem que
não juntado como alegam os fazendei tivessem que dizimar a aldeia. As autori
ros”. (O Estado do Paraná, 25/05/84). dades policiais da região, por sua vez, Revolta pelo assassinato
temem que os índios venham a reagir, de Zezito
respondendo à iniciativa dos fazendeiros
Convênio FUNAI/Cobal ros, e alegam que o contingente policial Uma equipe da Funai foi a Ribeira do
ali existente seria insuficiente para evi Pombal, composta por 5 especialistas,
Dois convênios, da ordem de 39 milhões tar uma tragédia. (Cidade de Santos, para avaliar a situação criada com a
de cruzeiros, foram assinados ontem, 16/07/84). morte sábado do índio José dos Santos
entre a Cobal e Funai, para fornecimen Carvalho, o Zezito, assassinado por pos
to de gêneros alimentícios às comunida seiros que ocupam parte da reserva indí
des indígenas dos Pataxós e Kiriris, na Massacre tem gena.
Bahia. Os convênios têm a validade de 6 várias versões O advogado Moacir Lira Filho, que che
meses, prorrogáveis, e os alimentos se fia a equipe, revelou a intenção de apoiar
rão fornecidos semanalmente, mediante Várias versões sobre o massacre dos ín os Kiriri, acompanhar o inquérito a ser
requisição da Funai, até que se alcance o dios Kiriri, ocorrido no último sábado, instaurado pela PF e fazer o possível
valor estabelecido. (Notícias Populares, no município baiano de Ribeira do Pom para solucionar a questão.
07/06/84). pal, circularam ontem em Salvador. A tensão gerada pelo crime levou os Ki
Uma delas sustentava que os fazendei riri a se preparar para vingar a morte de
ros — autores do atentado que culminou Zezito. O Chefe de Posto da Funai na
Fazendeiros atacam aldeia com a morte de pelo menos três índios e área, Wilk Celio, e o Comandante da 3?
e matam ferimentos em outros 50 — promoveram Companhia da PM, sediada em Caldas
o ataque por considerarem os Kiriri res do Cipó, capitão Freitas Neto consegui
Pelo menos três índios morreram e ou ponsáveis por roubos de gado na região. ram convencê-los a manter a calma e a
tros cinqüenta ficaram feridos depois Uma outra versão (nenhuma delas ofi aguardar a ação da Polícia e da Justiça.
que um grupo de fazendeiros e seus em cial, até o momento) dava conta de que O Presidente da ANAI-BA, Ordep Ser
pregados deflagraram um ataque contra alguns indígenas teriam ido à feira quan ra, responsabilizou ontem o ITERBA
a aldeia dos Kiriris, no povoado baiano do foram provocados pelos brancos. Os pela morte do Kiriri José dos Santos Car
de Mirandela. Esta área é palco de gran índios reagiram e um deles teria ferido valho, dizendo que o Instituto favoreceu
de conflito entre brancos e índios, que um homem com uma facada no abdo o clima de tensão em Mirandela ao “pro
disputam a posse da terra. A Funai já me. Em represália, os fazendeiros, telar e obstaculizar a demarcação das
deveria ter definido a questão de posse acompanhados de seus empregados e ar terras dos índios, negando-se também a
de algumas áreas, na localidade, mas mados de fuzis, revólveres e facões, ata fazer a transferência dos posseiros exis
até agora não interveio seriamente na caram a aldeia, perto do povoado de Mi tentes na área”. (O Globo, 17/07/84).
questão, permitindo que aconteça caso randela, distante cerca de 24 quilôme
deste tipo. tros da sede do município.

182
NORDESTE 9

Pessoal da FUNAI seção da Bahia, vai conversar também em 1981 à revelia dos posseiros, que, até
é ameaçado com o governador João Durval Carneiro, hoje, estão aguardando a indenização
para que seja feita uma maior vigilância prometida pela Funai. Há dois meses,
Várias cartas com ameaças de morte a policial na área e informar-se sobre o um índio foi assassinado e, agora, se
funcionários da Funai e integrantes do andamento dos processos de terras que gundo o líder Lázaro, “os Kiriri vão ser
grupo comunitário Bahai's que prestam garantem a posse da reserva aos indíge obrigados a enfrentar os posseiros, pois
assistência médico-social aos índios da nas. (Estado de Minas, 05/08/84). não querem esperar para morrer”. O
tribo Quiriri foram encontradas pela Po chefe de gabinete da Funai, anunciou
lícia Militar em Mirandela. As cartas se que o presidente do órgão vai desemem
rão entregues aos agentes federais que Bispo de Paulo Afonso pede brar a delegacia de Recife, criando uma
investigam as causas do conflito em que urgência na demarcação outra em Salvador para atender melhor
um índio Quiriri foi assassinado, sábado aos 30 milíndios que vivem no Nordeste.
passado, em Mirandela, para apurar Em sua primeira entrevista como novo (ESP, 10/11/84).
responsabilidades. Uma das cartas foi Bispo da Diocese de Paulo Afonso, D.
deixada na casa de uma funcionária do Aloizio José Pena pediu ontem, nesta ca
posto da Funai em Ribeira do Pombal, pital, que o governo se apresse em fazer
segundo o advogado Moacyr Lyra, que
ontem encaminhou o documento, sem
a demarcação das terras da reserva dos
índios Kiriris, no município de Ribeira
PANKARARE
assinatura, à Delegacia da Fundação do Pombal, para evitar novos conflitos
Começa auto-demarcação
Nacional do Indio, em Recife. Ameaças como o que resultou, há poucos dias, na
idênticas foram feitas a várias outras morte do índio Zequinha Kiriri, assassi Cinco turmas de índios Pankararé —
pessoas que mantêm contatos com os in nado a tiros em pleno centro do povoado quatro de homens e uma de mulheres —
dígenas do sertão baiano. (Fôlha da Tar de Mirandela. que estavam engajadas nas frentes de
de, 20/07/84). D. Aloízio Pena acrescentou que o go trabalho da seca no sertão da Bahia co
verno deve se preocupar em resolver não meçaram, por conta própria, a fazer a
apenas a situação dos índios, mas tam demarcação das terras da reserva da tri
Polícia caça ex-prefeito bém a dos posseiros que já estão nas ter bo, localizada entre o povoado de Brejo
de Pombal ras há 30, 40 e até 50 anos. “Porque do Burgo, Município de Glória, e os li
senão talvez os ânimos possam se radi mites da Estação Ecológica da Secreta
A prisão preventiva do principal acusa calizar, uma vez que eles estão na expec ria Especial do Meio Ambiente, no Raso
do pela morte do índio Kiriri José dos tativa dessa demarcação”. (Jornal de da Catarina. O Conselheiro da tribo,
Santos, em Mirandela — Ribeira do Brasília, 23/8/84). Afonso Feitosa, comunicou o fato à Fu
Pombal, o ex-prefeito Edval Calasans, nai, dizendo que “já estava cansado de
depende do juiz da comarca, segundo esperar a demarcação prometida pela
informações da Superintendência Re Novo atentado Funai”. (Fôlha da Tarde, 19/01/84).
gional da Polícia Federal, que até o final
da tarde de ontem não havia confirmado Pouco mais de dois meses depois do as
a prisão. O delegado Jamil de Souza Oli sassinato do índio kiriri José Carvalho
veira está desde ontem em Ribeira do dos Santos (Zezito), por um grupo de
Pombal, onde instaurou inquérito para fazendeiros, no distrito de Mirandela, Os Pankararé cansaram de esperar as
apurar as denúncias envolvendo o ex um atentado cometido ontem contra o providências prometidas pela FUNAI e,
prefeito, devendo retornar segunda-fei índio Acrísio Nélson Santiago voltou a no final de janeiro, tocaram a autode
ra a Salvador. (Jornal da Bahia, 28/07/ trazer a tensão à reserva dos kiriris. marcação de suas terras, conforme pro
84). O atentado foi denunciado pelo antro posta tirada no encontro das partes en
pólogo Ordep Serra, presidente da se volvidas na disputa, em junho de 1983.
ção baiana da Associação Nacional de Naquela ocasião, índios, posseiros, re
D. Avelar Brandão Apoio ao Indio (Anaí) que compareceu à presentantes do sindicato de trabalha
pede segurança Secretaria de Segurança Pública para dores rurais, da FUNAI (o então dele
gado Leonardo Reis), e do ITERBA,
pedir proteção aos kiriri de Mirandela.
O arcebispo de Salvador e Primaz do Segundo Ordep, o índio Acrísio foi atin além de políticos locais, ficara definido
Brasil, cardeal D. Avelar Brandão Vile gido por uma bala de fuzil, quando des que os Pankararé teriam uma reserva,
la, solicitou ao diretor do Departamento cansava em uma rede, dentro de sua ca nas seguintes condições: dos limites do
de Polícia do Interior, delegado Antônio sa. (Diário Popular, 08/09/84). brejo até o Raso da Catarina, onde faria
Medrado e à Polícia Federal medidas no limite com a estação ecológica de mesmo
sentido de garantir a segurança dos ín nome, mantida pela SEMA, ao Sul e a
dios Kiriris, no município de Ribeira do Temor de novos conflitos Oeste. Esse território confinaria, a Leste
Pombal, para evitar novas mortes de in com o povoado de Juá, município de
dígenas, em conflito com fazendeiros na Os índios Kiriri, da Bahia, que estive Paulo Afonso e, ao Norte, com a cidade
área, como aconteceu no dia 14 do mês ram reunidos ontem com o presidente da do Brejo. As terras seriam de uso co
passado, quando o índio José Carvalho Funai, disseram que a qualquer mo mum, sendo que índios e posseiros rece
foi morto. mento poderá ocorrer na região um con beriam títulos individuais das posses
O cardeal, que fez a solicitação depois flito de sérias proporções. A área desses que já ocupam.
de reunir-se com membros da Associa índios, onde vivem centenas de posseiros
ção Nacional de Apoio ao Indio (ANAI) e existe até uma cidade encravada, a lo
calidade de Mirandella, foi demarcada

183
*S INDÍGENAS NO BRASIL/CED]

Feito o acordo, ficou estabelecido o pra tura, e principalmente o sentido de


zo de um mês para que uma equipe da união e organização.
FUNAI viesse fazer o levantamento da Os índios revelam que esta foi a primeira
área, para posterior demarcação. Os Reféns na caçada vez que a Polícia invadiu as suas terras
meses se passaram, e a equipe da FU ao bandido para que respondessem por um crime de
NAI não veio. Os Pankararé mandaram que não tinham conhecimento. “Pedi
representantes duas vezes a Recife, na Cerca de doze índios Tapebas, que vi mos às autoridades que tomem medidas
delegacia da FUNAI, telefonaram ou vem nas terras da Marinha, no municí que protejam nossas famílias”, concluí
tras tantas vezes e nada além de pro pio de Caucaia, estiveram ontem na Ar ram. (O Povo-Fortaleza, 23/11/84).
messas. Ao tomarem conhecimento que quidiocese de Fortaleza, para pedir
posseiros do povoado de Juá estavam re apoio da Igreja tendo em vista a invasão
tirando madeira da área que pelo acordo de seus domicílios no último dia 15. Ex D. Aloísio visita
lhes pertencia, os Pankararé resolveram plicaram que, naquele dia, a Polícia es a comunidade
pela autodemarcação. Ao longo de tava procurando um criminoso. Como
1984, os Pankararé proibiram, por di os nativos conhecem bem a área, foram Dom Aloísio Lorscheider visitou a co
versas vezes, a retirada de madeira e a levados três como reféns, até que o cri munidade indígena dos Tapebas, locali
abertura de aceiros (picadas para de minoso aparecesse. O grupo de índios, zado ao longo da BR-222, no município
marcar uma área a ser ocupada) em suas oito homens e quatro mulheres, afirma de Caucaia, objetivando fortalecer os la
terras. não ter nada a ver com o crime e pede ços culturais da espécie no sentido de
Em novembro, sentaram-se com repre segurança às autoridades. O homem evitar a descaracterização dos costumes,
sentantes do Sindicato de Trabalhado que praticou o homicídio apareceu e os crenças e tradições. “Os Tapebas estão
res Rurais de Glória e, conjuntamente, indígenas foram libertados. vivendo separados por falta de terra,
elaboraram documento no qual os pos Vivendo às margens do Rio Ceará, esses sem poderem desenvolver o cultivo da
seiros ligados ao sindicato reconheciam índios vêm se queixando da falta de as terra”, explicou o Arcebispo de Forta
a área indígena e, juntamente aos Pan sistência dos órgãos responsáveis pela leza, acrescentando que é preciso que o
kararé, exigiam a demarcação pela FU preservação dos costumes e tradição de novo Governo se volte para a necessi
NAI. Do ITERBA, exigiam a titulação uma raça quase em extinção no Brasil. dade da implantação da reforma agrá
da área mista do Brejo do Burgo, como As quase duas mil famílias residentes ria. E mostrou por que: “Eles poderiam
solução para acabar com o clima de ten nas proximidades de Tabapuá denun trabalhar na agricultura, plantar, uma
são na região (extraído do texto “Os ciam estar perdendo suas terras desde vez que as terras são profundamente fér
Pankararé do Brejo do Burgo: A resis que, há 20 anos, morreu o líder ou ca teis”.
tência de um Grupo Indígena Nordes cique, “Perna de Pau”. Com isso, espa De fato, os remanescentes dos Tapebas
tino”, de José Lopes da Cunha, do CI lharam-se em vários núcleos do municí estão desenvolvendo pequenos cultivos
MI-NE). pio, lutando pela sobrevivência. A po de melancia, maracujá, maxixe, caju e
breza é retratada no olhar de todos os banana. A produção destina-se apenas à
remanescentes índios da tribo Tapeba. subsistência, pois como vivem em cons
São homens e mulheres que vivem de tantes ameaças de perder as terras não
tais como a pesca de caranguejos, siris, podem incrementar os cultivos. Às mar
camarões e peixes, venda de frutas, gens do Rio Ceará vivem aproximada
Quitéria denuncia miséria plantas e variedade de aves. mente dois mil descendentes totalmente
Há um ano os Tapebas vêm procurando desprovidos de apoio dos órgãos públi
A líder indígena Quitéria, da tribo Pan na Igreja o apoio necessário para a fixa cos. “Eu entendo que é até bom que não
kararu, de Petrolândia (PE), denunciou ção dentro da sociedade. A Assessoria haja essa proteção ao índio, pois na
a situação de miséria dos 4.500 índios de Rural da Arquidiocese procura desen maioria das vezes só atrapalha e preju
seu grupo, reivindicando intervenção volver um trabalho pastoral com os ín dica”, revelou desolado Dom Aloísio,
imediata da Funai, “antes que todos dios, no sentido de apoiar sua cultura, adiantando que eles já estão conseguin
morram de fome”. Disse ela que há mais" costumes e tradição, para que assim en do muitas coisas sozinhos.
de um mês, “a gente só encontra fome contrem seu próprio espaço. Eles reve O alicerce de uma escola profissionali
pelo caminho e cada semana tenho que , lam que em Caucaia não contam com zante, uma barragem construída sobre o
levar doentes para Paulo Afonso (BA), nenhuma entidade assistencial, preci Rio Ceará e o melhor aproveitamento da
porque a miséria está grande.” sando vir a Fortaleza para os encontros terra são obras construídas recentemen
Acompanhada por mais quatro índios, pastorais. Afirmam que a tribo não ofe te pelos nativos com orientação da Igre
Quitéria está em Brasília para reivindi rece condições de moradia, não dispõe ja. Atualmente estão trabalhando no
car a inscrição de 400 índias nas frentes de infra-estrutura alguma. Em épocas sentido de construir um paredão para
de emergência do Nordeste. Disse ela de enchentes, por exemplo, quando suas evitar as águas no período invernoso in
que “o Governo prometeu reabrir fren taperas são invadidas pelas águas, é na vadam seus casebres. No entanto, Dom
tes de emergência onde não houve safra Igreja que encontram ajuda para re Aloísio levará ao governador Gonzaga
e nós queremos inscrever as mulheres construção. Do mesmo modo estão sen Mota reivindicações dos índios, que ne
porque o dinheiro dá pra comprar pelo do feitos esforços no sentido do melhor cessitam, entre outras coisas, de um por
menos um pouco de farinha”. (Fôlha da aproveitamento da água, onde comuni to de embarcação, no Rio Ceará, insta
Tarde, 21/08/84). dade indígena e Igreja procuram ajustar lação de disciplinas profissionalizantes e
seus ensinamentos. um decreto ou regulamento que dimi
Entretanto, o receio maior dos nativos é nua a velocidade dos veículos naquela
o perigo da descaracterização da espé área da BR-222, área de grande circula
cie. Não tendo terra, reclamam alguns, ção dos moradores. (O Povo, 13/01/85).
irão se espalhando, perdendo os costu
mes, as crenças, rituais e a própria cul

184
#
Ameaça de guerra
contra fazendeiros

As vinte e sete famílias indígenas que


vivem na reserva Tingui-Botó, na locali
dade de Olho D'Água do Meio, municí
pio de Feira Grande, ameaçam entrar
em guerra contra os fazendeiros da re
gião, caso a Funai não tome providên
cias imediatas para lhes devolver os 200
ha de terras que lhes pertencem e foram
vendidos a fazendeiros locais. Há mais
de 6 meses a Funai prometeu que resol
veria o problema mas até hoje nada foi
feito. Os índios estão passando fome,
sem terras e sem sementes para plantar,
O pajé substituto da reserva, José Sarai
va Sura Aconã, disse que se a Funai não
tomar as providências que prometeu, os
índios vão agir, apesar de os fazendeiros José Saraiva.
estarem prontos para negociar suas ter
ras com o Governo Federal, através da
Funai. A preço de hoje, as terras custam Além da garantia do Governo, o que le Os índios estão satisfeitos com o novo
Cr$ 120 milhões. vou os índios a fazerem as pazes com os presidente da Funai Jurandy da Fonse
O pajé disse também que há 60 dias a fazendeiros, foi a presença do Delegado ca, e com o regresso do delegado José
Funai enviou o técnico Santana para José Leonardo Reis, da 3° Delegacia da Leonardo Reis “que muito colaborou
matner contato com a reserva, visando Funai em Pernambuco, em Feira Gran com a nossa aldeia. Acreditamos que se
uma solução do problema, tendo na oca de, depois que os índios regressaram de muitos funcionários fizessem como ele,
sião feito um levantamento total das ne Brasília. Numa reunião com os fazem nós índios estaríamos em melhores si
cessidades dos índios, prometendo que deiros e indígenas, o Delegado da Funai tuações”.
as terras seriam compradas para a reser pediu que as terras fossem ocupadas pe José Saraiva — cacique. (Porantim, Ou
va mas nada ainda foi resolvido. (Gazeta la tribo, com a conseqüente retirada dos tubro/84)
de Alagoas, 24/4/84). ocupantes, com o compromisso de que o
dinheiro da indenização seria enviado
breve. (Gazeta de Notícias, 2/9/84).
Fim da briga

A Funai resolveu acabar a briga entre os Esperança FUNAI e CHESF


integrantes da tribo Tingui-Botó e os discutem transferência
fazendeiros da localidade de Olho D'Á- Os índios Tingui-Botó, conseguiram
gua, na zona rural do vizinho município uma fazenda com 62 hectares de terra A 3° DR da Funai, em PE, iniciou en
de Feira Grande (quatro quilômetros com três açudes, dois currais, e uma tendimentos com a CHESF para definir
distantes daquela cidade), ao enviar um casa que é a sede da fazenda. Após mui detalhes do programa de relocação de
emissário com um cheque de Cr$ 40 mi tas lutas essa foi uma das conquistas cerca de 1.350 índios Tuxá, de Rodelas,
lhões para indenizar as 203 tarefas de consideradas como o início para que os que serão atingidos pela inundação da
terras das fazendas Boacica e Olho D’á- índios iniciassem com a sua plantação área da barragem de Itaparica.
gua, que pertenciam aos indígenas e vi aproveitando o bom tempo tendo a espe O Delegado Nelon Melo disse, que es
nham sendo ocupadas por fazendeiros rança de receber mais novecentos hecta tudos anteriores já previam a transferên
locais há mais de trinta anos. res. Essa foi a promessa do presidente da cia dos índios para duas localidades al
Os índios ameaçavam entrar em guerra Funai, segundo um telex que foi enviado ternativas: Riacho do Pento, na BA, e
com os brancos caso a Funai não aten à 3° Delegacia no mês de junho. Massangano, em PE, mas as lideranças
desse suas reivindicações, Para resolve Os índios pretendem vencer esta causa Tuxá não foram ouvidas e, agora, a Fu
rem o impasse, o vice-pajé, José Saraiva na paz com os fazendeiros e a Funai. As nai resolveu que qualquer resolução em
Sura Aconã e o cacique Adalberto Fer sim que receberam a escritura nas suas torno do assunto deverá contar necessa
reira, chegaram a ir a Brasília há três mãos, comemoraram com grande ale riamente, com a participação da tribo.
meses conversar com a Funai, deputado gria: dançando o Toré, cantando e lou Os detalhes da resolução envolvem, se
Mário Juruna e outras autoridades liga vando a Deus em seu dialeto. Os índios gundo ele, questões a respeito da área a
das à política indigenista do Ministério acham que a Funai deveria agir sempre ser escolhida, natureza do solo e sua vo
do Interior, conseguindo do Governo ga desta maneira para evitar desperdício ou cação para culturas agrícolas, implanta
rantia para indenização das terras vi morte dos índios. ção de núcleos habitacionais e equipa
sando acomodar as 27 famílias compos mentos de infra-estrutura, etc. (Estado
tas de 154 nativos. de Minas, 23/11/84).

185
INDÍGENAS NO BRASIL/CED]

Clima de tensão Segundo o delegado, no começo desta


semana, esteve na divisa das terras per
A aldeia indígena de Cocal, onde vivem tencentes aos índios e as fazendas para
Zumba é morto centenas de Wassu, volta a viver pela cumprir uma ordem judicial que obriga
segunda vez este ano, momentos de ten os silvícolas a recuarem a sua demarca
a facadas
são, em conseqüência da disputa de fai ção e foi recebido com hostilidade.
O cacique Zumba, da tribo Wassu, que xas de terras entre os índios e fazendei “Para evitar um confronto com os índios
vive na Aldeia Cocal, Município de Joa ros da região de Joaquim Gomes. é que nós preferimos procurar o Secre
quim Gomes, foi assassinado na noite de Os Wassu não aceitam uma decisão ju tário Ardel Juca, a fim de solicitar refor
domingo com quatro facadas. O Dele dicial, pela qual perdem parte de suas ços para nosso destacamento e ao mes
gado disse que os índios estão revoltadosterras e ameaçam resistir, inclusive com mo tempo receber orientação quanto ao
com o crime e dispostos a vingar a morte o uso da força no sentido de não permitir melhor modo de agir naquela área”.
do cacique. Soldados da PM estiveram o ingresso de fazendeiros na área. O (Notícias Populares, 21/6/84).
na aldeia para tentar acalmar os âni delegado de Joaquim Gomes esteve na
mos, mas voltaram sem nada conseguir. Secretaria de Segurança Pública de Ala
O Secretário de Segurança disse que se goas para manter uma audiência com o
for necessário enviará reforços para o secretário, Ardel Juca. Foi pedir reforço
município. (O Globo, 19/6/84). policial, e que a questão entre os fazen
deiros e os índios da aldeia Cocal seja re
solvido pelo Departamento da Polícia
Federal.

186
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187
INDÍGENAS NO BRASIL/CED!

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II - ACRE

188
ACRE3

QUADRO GERAL DOS POVOS INDÍGENAS DA ÁREA ACRE


POVO * | rowe DA ÁREA MUNICÍPIO ####POPULAÇÃO FONTE E DATA
MACHINERI l AI Mamoadate Sena Madureira 265 (T) %"

JAMINAUÁ 1 Aí MamOadate Sena Madureira 109 (T)

MACHINERI 2 Rio Iaco e cab.


JAMINAUÁ 3 rio ACre Sena Madureira L20

4 AI Colônia Tarauacá 27/44


5 AI Caucho Tarauacá 32

6 Itamarati Tarauacá 24

7 AI Humaitá Tarauacá 220

8 AI Jordão Tarauacá 720

9 Pacujá Tarauacá 15

KAXINAUÃ (l) l{} Timbaúba Tarauacá 55

ll. Rio Breu Cruz - do Sul 90

L2 AE Katuquina - Feijó L2O

Kaxinauá de Feijó
l3 | AI N. Olinda Feijó 210

l4 AI Alto Purus ManOel UrbanO 250

]... 840 (T)


KATUQUINA (2) l2 AI K.e K. de Feijó |Feijó 147 (T)
20 AT R. Gregório Tarauacá 110
KATUQUINA 2l AI R. Campinas Cruz. do Sul 86

196 (T)
14 AI Alto Purus Manoel Urbano 36].

15 "AI Kulina Feijó 137

R. Envira

KULINA (3) 16 | Liberdade Feijó L6

l7 AI Ig. do Paú Feijó 76

18 Porongaba Feijó 4l

19 Acurawá Cruz, do Sul ?


63l (T)
IAUANAUÁ 20 AI R. Gregório Tarauacá L96 (T)

183
sL7-Acervo
{
=/\_ES… NDIGENAs No BRASIL/cED

POVO **| NOME DA ÁREA MUNICÍPIO ##### POPULAÇÃO FONTE E DATA


7 AI Humaitá Tarauacá 15

22 Ig. Chimane Feijó 50


|KAMPA 1| | Rio Breu Cruz, dO Sul 58

23 | AI Amônea Cruz. do Sul • lll

235 (T)
POIANÃUA 24 Rio Mbâ Mâncio Lima 227 (T)
NUQUINI 25 AI Nukuini Mâncio Lima 238 (T)
YAMINÁRIA 26 AI Yaminãwa Cruz. do Sul 68 (T)

27 AI YamináWa/ Cruz, do Sul 22

ARARAS 28 Riozinho do Cruz. do Sul 38


Cruz, do Vale

29 QUerCSene Cruz. do Sul 55

115 (T)
3C AT BR-3]. 7 Boca do Acre 75

Km 124 e 137

3!. ÀI Boca do Acre BOca do Acre 101


Km 45 •

32 AT Peneri/ Pauini 289


APURINÃ (4) Tacaqueri •

33 AI Kamicuã |BOCa do ACre 179


34 lariane Pauini 48

3= Mixiri Pauini 25

36 Lagos Purus Pauini 248

37 Água Preta Pauini 35

900 (T)
(*) Os dados de população foram levantados pela CPI/Ac, entre 81 e 83.
(1) 828 Kaxinauá no lado peruano (Vic. Apost.P.Maldonaldo: 83).
(2) tem o mesmo nome tribal dos Katuquina dos rios Gregório e Campinas, mas trata-se de grupo distin
tO.
(3) ver também nas Áreas Javari e Jutaí/Curuá/Purus.
(4) a população total dos Apurinã é estimada pela XJACRE em cerca de 3.000 índios, espalhados desde
Os bairros periféricos de Rio Branco, passando pela BR-317 no trecho compreendido entre Rio Bran
CO e BOCa do Acre, dispersos nos seringais dos afluentes do médio Purus e ainda na periferia das
Cidades de Manacapuru e Manaus. Ver também na Área Jutaí/Juruá/Purus.

190
ACRE 5

AUTO-DEMARCAÇÃO
KULINA E KAXINAUA
No Alto Purus, índio de
quatro aldeias abrem
a picada e
fazem planos para defender a demarcação

Rosa Maria Monteiro


Walter Sass
Lori Altmann
Roberto Zwetsch (*)

P~ primeira vez na história do Acre, dois Povos Indí


genas decidiram e demarcaram, por conta própria a
Os Kulina resolveram se antecipar e, em 1979, realizaram a
autodemarcação da margem esquerda, de acordo com os
sua terra. Este é um fato histórico que há de servir de seus limites. Em 1980, houve, então, a expulsão definitiva
estímulo para os diversos Povos Indígenas do Acre que rei de todos os moradores não-índios da área, incluindo o ge
teradamente têm sido preteridos pela iníqua Política Indi rente da fazenda. Mais tarde, em 1982, uma nova proposta
genista Oficial. Esta demonstração de capacidade e decisão da FUNAI incluiria a margem esquerda do Purus, con
por parte dos Kulina e Kaxinauá não deveria surpreender forme os limites da autodemarcação.
ninguém, muito menos a FUNAI.
Ainda em 1979, os Kulina da aldeia de Santo Amaro, en
frentaram situação semelhante, com o fazendeiro Motta, da
Antecedentes Fazenda Aracaju, 3 horas de motor abaixo da aldeia. O
fazendeiro pretendia terrasque incluíam o Lago Santa Júlia,
Desde 1978 os Kulina e Kaxinauá do alto Purus, fronteira subtraindo ao controle dos índios várias estradas de seringa.
com o Peru, no município de Manoel Urbano (Acre), rei Os Kulina, entretanto, reivindicavam o limite da sua área
vindicam a demarcação de sua terra junto à FUNAI. Na até o Igarapé Prainha, incluindo as estradas de seringa e o
época, a FUNAI fez uma proposta de 3 áreas pequenas, lago; e também se adiantaram, demarcando ao longo do
dividindo as aldeias e deixando abertos entre elas verda Prainha, até atingir as estradas de seringa. Ao mesmo tem
deiros corredores que facilitariam a invasão e a diminuição po, expulsaram todos os seringueiros que ocupavam coloca
da área, atendendo com isto interesses de pretensos proprie ções naquele “centro". Também nesse caso, a ação dos ín
tários seringalistas. Nesta proposta, ficaram fora várias co dios foi determinante para que uma nova delimitação da
locações de seringa, todo um seringal, como foi o caso do àrea pela FUNAI, realizada em 1982, atendesse os seus in
Seringal Sobral, onde estava se instalando a Fazenda N. S. tereSSES.

Aparecida, de propriedade de Benedito de Oliveira Filho,


com apoio dos incentivos fiscais da SUDAM. Todo esse processo foi articulado através de uma série de
reuniões realizadas nas diversas aldeias do Alto Purus, en
Já haviam derrubado cerca de 200 ha de mata, inutilizando volvendo os Kaxinawá e os Kulina e, numa oportunidade, a
muitas estradas de seringa e construído um campo de pou população não-indígena de ocupantes da área. Desde 1977,
so, inclusive contratando os Kulina e os Kaxinawá como estas reuniões vinham sendo incentivadas por voluntários
mão-de-obra para a realização dos trabalhos. leigos do CIMI/OPAN/TVC, ligados à Pastoral Indigenista
da Prelazia do Acre-Purus, cujo bispo é D. Moacir Grechi.
Os Kulina reivindicavam a área, pois seus antepassados ti
nham vivido e sido enterrados ali. Era o território de onde Em 15 de abril de 1979 estiveram reunidos representantes
eles tiravam sua sobrevivência, das estradas de seringa e do das 3 aldeias do Purus (Maronáua, Fronteira e Santo Ama
lago de pesca da margem esquerda do Purus. A FUNAI, na ro), na aldeia de Santo Amaro, na qual combinaram o se
época, atendendo a interesses do fazendeiro, propôs uma guinte:,
àrea para os índios que, na margem esquerda, tinham como
um dos limites o Igarapé Anamã. Os Kulina reivindicavam Iº) unificação das terras — rejeição das propostas da FU
uma área até o Igarapé S. Vicente, rio abaixo. NAI (3 áreas pequenas e separadas) e reivindicação de um
território único abrangendo as 3 aldeias (duas Kulina e uma
Kaxináua), impedindo a existência de corredores entre as
aldeias.
(*) da Equipe de Pastoral Indigenista CIMI-OPAN/IECLB.

191
2º) abertura de piques pelos Kulina de Maronáua, na mar A abertura da picada
gem esquerda do Purus, para garantir os lagos e as estradas
de seringa, sendo os limites o igarapé Nazaré até o igarapé Depois de muitos preparativos nas aldeias, dos quais parti
S. Vicente. Os Kulina de Santo Amaro, por sua vez, fariam ciparam velhos, mulheres e até as crianças, na farinhada do
o pique para garantir o igarapé Prainha. pique principalmente, os homens ganharam a mata. Foram
dois grupos, um da aldeia de Maronáua, constituído só po
3°) encaminhamento de mapa e área de demarcação à FU índios Kulina, e outro formada pelos Kaxinauá das alde ·
NAI conforme o interesse das comunidades. de Fronteira e Recreio, junto com os Kulina da aldeia de
Santo amaro. Estes trabalhos se iniciaram em meados de se
4º) combinação de uma reunião com os brancos para escla tembro a só foram concluídos, com muito esforço em mea
recimento das decisões tomadas, de modo que pudessem dos de outubro, quando os dois grupos se encontraram, com
procurar os seus direitos com tempo (outra terra, indeniza muita festa, na boca do rio Cochicha.
ção, etc.).
Como infra-estrutura para esta verdadeira maratona, os ín
Desde então as lideranças dos dois Povos vêm insistindo, dios contaram com a farinha de mandioca feita por eles
reunião após reunião, para que a FUNAI viesse demarcar a mesmos, e o CIMI colaborou financeiramente com parte da
área oficializando aquilo que por direito pertence aos ín despesa de infra-estrutura do trabalho do pique, como
dios. compra de gasolina, munição, sal, açúcar, ferramentas,
6leo de cozinha, tabaco, material que foi entregue às lide
Em 1982, a FUNAI enviou novamente ao alto Purus dois de ranças Kulina e Kaxinauá que por sua vez redistribuíram
seus funcionários, os quais delimitaram no mapa a área ao seu pessoal.
pretendida por ambas as comunidades. Desta feita, de acor
do com os interesses indígenas. Esta nova delimitação foi
encaminhada ao então Presidente da FUNAI, Paulo Morei
ra leal, que a reconheceu, assinando portaria a respeito da Problemas
tada de 17 de janeiro de 1983, pela qual a Area Indígena do
Alto Purus ficou com 265 mil hectares (ver mapa). Nesta Como ocorre freqüentemente entre povos diferentes, houve
área vivem 4 comunidades indígenas, duas Kulina com uma problemas no trabalho prático:
população de cerca de 500 pessoas, e duas comunidades
Faxináuá com 400 pessoas. 1º) não se tinha uma idéia exata do tempo necessário para
completar a demarcação, daí a falta de farinha, munição e
gasolina, o que obrigou uma turma a voltar para prover o
Decisão histórica que faltava. Isto também fez com que nem todos que come
çaram o trabalho ficassem até o fim.
Em julho e agosto de 1984, nas duas Assembléias que reali
zaram, em Santo Amaro, aldeia Kulina do alto Purus, e em 2º) o mapa que se tinha era pequeno e apresentava poucos
Rio Branco (com a participação de lideranças de vários Po detalhes que numa demarcação são importantíssimos (loca
vos do Acre e sul do Amazonas), respectivamente, tanto Ku lização exata dos igarapés, por exemplo), o que levou a cer
lina como Kaxinauá, depois de aguardar em vão as promes tos erros, que deverão ser corrigidos, e o pique completado
sas não cumpridas da FUNAI, decidiram finalmente que no decorrer deste ano.
não dava para esperar mais. Julgaram ser este o momento
propício para a demarcação, sobretudo pelo perigo que re
presenta para os seus Povos a construção da Rodovia Tran
sacreana, projetada pelo Governo do Estado, como um si
nal concreto do avanço do capital monopolista sobre as ter
ras do Acre.

192
> > Acervo
_/\ _> A ACRE 7

3°) como havia várias lideranças trabalhando juntas, com Já está pronto, graças a Deus e agora vamos resolver falar
interesses por vezes particulares (facções), com língua e cos com a FUNAI novamente para ver se os engenheiros, os
tumes diferentes, houve problemas quanto ao ritmo de tra antropólogos acompanham a picada que nós fizemos pra
balho e a maneira de organizá-lo, gerando conflitos que, ver, pra poder acreditar que nós fizemos mesmo. Sobre a
não obstante, foram superados, depois de muitas conversas demarcação da área, a FUNAI tem que cumprir, a FUNAI
e definição de competências (quem vai trabalhar, e onde), o tem que tomar providências, porque por nossa conta pró
que permitiu se chegar ao fim, em ambiente de festa. pria já fizemos. Ela não precisa trabalhar não, é só andar
dentro da picada mesmo, um caminho monstro que nós fi
zemos. Então a FUNAI tem que ver isso. Agora nós estamos
Avaliação precisando das placas pra botar nos pontos que nós fize
mos... Agora precisamos cuidar da nossa área que nós mar
No final, houve uma avaliação feita na aldeia de Santo camos por nossa conta própria. Todos os anos vamos abrir
Amaro antes que cada um voltasse para a sua aldeia. Houve mais e tem que cuidar isso. Primeiro os brancos invadiram
nessa reunião algo como um solene compromisso mediante muito a terra. Primeiro nós não sabia nada. A caça foi aca
o qual os grupos se comprometeram a: bando, a pesca foi acabando. Agora estamos cuidando da
nossa área pra trabalhar, ficar mais tranqüilo, ficar mais
Iº) terminar o restante do pique (corrigir os erros cometi fácil pra nós trabalhar; a plantação, a criação, a produção
dos nesta oportunidade), no decorrer de 1985. que nós fizemos e criar nossos filhos com tranqüilidade."
Mais adiante, continua Pancho, enfático: “O índio quando
2º) limpéza de todo pique quando necessário, em ambas as cumpra é sério. Ele faz mesmo. E nós que nascemos no
margens. mato, criemos no mato, sabemos trabalhar. E nós vamos
segurar nossa área. As 4 aldeias dos índios Kaxinauá e Ku
3°) colocação de placas. lina estamos todos concordados em trabalhar juntos, uni
dos. Precisamos trabalhar juntos, ”
4º) exigir da FUNAI a regularização urgente dessa demar
cação. Relembrando a história passada, afirma o líder Kaxinauá:
“Primeiro, antes do descobrimento do Brasil, já tinha ín
5º) dar um prazo de 1 (um) ano para a saída dos brancos dio, já tinha gente aqui e os brancos vem tomando a terra, o
que vivem na área. índio tem medo e fugiu até que ficou na fronteira Peru/Bra
sil. Então o cariú vem e tomaram tudo. Nós ficamos com
6º) continuar sempre defendendo esta área única e indi um pedacinho de terra. Nós precisamos de um pedacinho
visa de chão pra viver. Aí este pedacinho de terra que nós esta
mos segurando aí não tem direito de tomar porque nós tem
direito de ganhar este pedacinho de terra pra continuar a
Papel dos agentes viver. Por que um fazendeiro tem 500 mil hectares de terra,
só uma família, e nós somos muitos e nós tem uma terra de
Os agentes de pastoralindigenista (de OPAN/CIMI/IECLB) 265 mil hectares. Só um pedacinho de terra e muita gente.
que atuam nas aldeias Kulina participaram das reuniões Tem muito reclamo: ah, índio tem muita terra, pra que ín
preparatórias, durante os trabalhos e na avaliação final. dio quer muita terra? E o fazendeiro, só uma família ten
Nas farinhadas, nos deslocamentos pelo rio, na picada pro 500 mil hectares, só uma família e não tem reclamo, e acha
priamente dita, tiveram como objetivo incentivar e apoiar as bom. E nós que somos muitos? Somos muita gente e o bran
decisões tomadas pelos índios. Embora deva-se reconhecer co acha ruim. Tanto índio, o branco vai ficar sem terra. O
que este papel foi importante, é bom frisar que a condução fazendeiro lá do Chandless, uma família só que tá moran
dos trabalhos esteve sempre a cargo das lideranças Kulina e do, tem 1 milhão de hectares e é uma família só. E nós nem
Faxinauá e sem a sua firme decisão e o consenso obtido nas temos 500 mil hectares. Somos muitos, 4 ou 5 aldeias no
comunidades nada teria sido feito. Purus e ainda reclamam e dizem que é muita terra. Nós pre
cisamos da terra pra caçar, pra pescar, pra trabalhar cau
cho e borracha, e caça que nós vamos precisar mais na
A palavra dos índios frente. Porque o índio também tá aumentando. E isto que
nós precisa. O fazendeiro só derruba mata, espanta toda
Os líderes Kaxinauá e Kulina assim se exprimiram sobre caça e estraga tudo e não aproveita não. Ninguém reclama e
esta demarcação, que há de ser um marco na sua luta histó ainda acha bom. E o índio que precisa viver, trabalhar,
rica de libertação. criar, então reclama. Os brancos reclamam. Pois bem, meu
irmão, então eu tô falando aqui a verdade. O nosso trabalho
Tuxáua Pancho (aldeia Kaxinauá do Recreio): "Bom, mi é isso. "Ele arremata: “Indio é como gente, índio fala, índio
nha gente, eu vou falar aqui um pouquinho sobre o nosso sabe caçar, sabe fazer casa pra viver, índio trabalha pra sus
trabalho. A picada foi muito importante porque nós nos tentar filho, mulher, índio dá consideração a filho, então
interessamos (por) nossa área. Tanto muito tempo espera tudo isso que branco acredita, nós também acredita. Então
mos a promessa da FUNAI. Nunca saiu. Só saiu promessa, tudo isto que é lei, índio também tem lei. Branco tem lei,
mas nunca cumpriu. Agora como resolvemos por nossa con nós também tem. Quer dizer, não precisa tá falando um do
ta própria e nós fomos, reunimos com 4 áreas, os Kaxi outro. Nós tudo somos gente. O negócio é este. A luta é uma
nauá, os Kulina, reunimos com 80 pessoas e fomos fazer a só. Eu sou lutador. Eu sou cacique da aldeia do Recreio,
picada. Os brancos não acreditaram que nós faríamos a pi Áaxinauá. ”
cada. Nós, agora, todo mundo sabe que o índio pode fazer.

193
sL7-Acervo
A
_/\ …A •

INDIGENAS NO BRASIL/CED!

Tuxáua Mário então nós podemos dar o nosso jeito, se a FUNAI não der
(aldeia Kaxinawá da Fronteira): jeito nós damos, nós podemos dar um jeito nos brancos. En
tão primeiramente meu direito de pessoa é conversar com o
“Eu falo aqui um pouco sobre o trabalho da picada. A pi pessoal da FUNAI, com a Delegacia de Rio Branco, ela que
cada foi muito complicada. Nós fizemos todo esforço de tra esta aí pra responder pelos índios, para resolver qualquer
balhar, reunimos 80 índios, Kaxinauá e Kulina, homens de negócio, qualquer tipo de negócio de índio. A FUNAI se
trabalho. Os brancos estavam achando difícil que os índios criou para isso. Então tem que resolver de qualquer ma
fazia este serviço que fizemos. Agora pra mostrar como nós neira do jeito que o índio quer.”
somos nós estamos dando uma força. Nós mesmos podemos
marcar a nossa área. Demarquemos pra Segurar a toSSd
terra para nossos povos, para nossas crianças, para nossos Tuxáua Huaqui
filhos que tem onde morar, que tem onde caçar, que tem (aldeia Kulina de Maronáua):
onde mariscar. Nós vivemos da caça, de pesca dentro desta
nossa reserva. Branco nenhum pode meter a mão na área “Fizemos um pique pra morar bem na nossa mata. Fizemos
indígena porque é proibido de um branco entrar numa aqui um pique grande para marcar uma área grande. Esta é
área indígena, porque os índios não deixam. Tem muitos uma boa notícia. Fizemos o pique pra garantir a posse da
brancos que estragam a caça, a pesca, madeira de lei como nossa terra. Ficamos felizes por ter concluído este trabalho.
já temos visto aí. Porque nós estamos muito índio aí reu {'# mulheres e homens ficamos contentes com este tra
nidos e aumentando mais famílias, aumentando as crian alho."
ças, aumentando a população da gente. Então, se a FUNAI
não dá apoio num ato deste, acho que os índios poderão
resolver por eles mesmos. Nós temos força de resolver qual Tuxáua Sabino
quer um serviço que nós podemos fazer. O índio é do mato, (aldeia Kulina de Santo Amaro):
nasceu no mato, se criou no mato, sabe caçar, sabe pescar e
sabe viver no mato. O pessoal da cidade não sabe viver na "Todas as nossas famílias ajudaram pra nós morar dentro
mata como os índios vivem. O pessoal da cidade é da cidade da área nossa. Porque nós vamos ajudar nós também. Já
e o pessoal da mata são da mata. Os índios, nós somos da tudo marcado."
mata. Por isso estamos exigindo a nossa área e nós lutou.
Eu estou exigindo para meu povo viver tranqüilo. Então, Tuxáua Rimaná
outra coisa, eu vou falar sobre a área indígena que nós
demarcamos entre os Kulina e Kaxi, é sobre os mora (aldeia Kulina de Maronáva).
dores da beira do rio Chandless onde mora muita gente.
Agora aí neste ato a FUNAI tem que tomar providên “Durante o pique ninguém passou fome. Nossas famílias
cias nesta parte dos brancos que estão dentro da área inº ficaram fazendo farinha para os homens, mulher que ficou
dígena. Eu vou lá em Rio Branco conversarcom as autori em casa cuidou de fazer farinha pros homens. Até criança
dades do pessoal da FUNAI para ver como o que elas vão ajudou pai dela carregando banana. A nossa terra está se
falar pra mim. Então na volta se não vier algum antropó gura. Os chefes aqui não estão moles. Estão todos firmes
logo, algum engenheiro pra ver nosso serviço que fizemos, segurando a terra. Nenhum cariú (= não índio, branco) vai
mexer na nossa Terra."

ÁREA INDÍGENA ALTo Rio PURus

oóWC
ºC
ÁREA APRox. - 265 ooo ha PROCESSO Nº FUNAI/ESB/3279/77
PERIMETRO APROX. – 550 km FOVOS INDIGENAS NO BRASIL/CED] - ABRIL/1985

194
ACRE 9

*FOGO NOS ARRAIAIS


DO INDIGENISMO”

“Polêmica aberta no indigenismo acreano. Em discussão


(aliás, acirrada discussão) os projetos de ajuda econômica, A ENTREVISTA DOS
financiados pela entidade assistencial inglesa OXFAM para MISSIONARIOS,
as aldeias indígenas.”
Assim o jornalista Antonio Alves, da equipe de reportagem
(CIMI-OPAN E
da FOLHA DO ACRE abriu a extensa matéria publicada em IECLB):
sete páginas das edições dos dias 29 e 31 de março de 1985.
A equipe de edição de ACONTECEU POVOS INDÍGENAS FA — Qual a avaliação que vocês estão fazendo desses pro
NO BRASIL resolveu reproduzir as entrevistas e depoimen jetos econômicos para as aldeias indígenas?
tos, praticamente na íntegra, por entender que as questões
Ievantadas a respeito das políticas de apoio a grupos indí Roberto — Bem, eu acho que tem que se colocar em pri
genas, através dos chamados “projetos econômicos” inter meiro lugar qual é a situação econômica que os índios enfren
mediados e/ou orientados por organizações de não-índios, tam nos altos rios. São comunidades pequenas, que têm uma
interessam a mais gente. -

transação econômica muito limitada. Praticamente eles li


Há muito tempo, divergências quanto à orientação desses dam com o comércio apenas dos marreteiros. Com esses é
“projetos” — incentivados sobretudo pela CPI-AC — vi que eles transacionam para comprar as coisas que precisam,
nham se acumulando, no âmbito restrito do “indigenismo
ou seja, panelas, roupa, munição, sal, as coisas básicas que
acreano”, com dificuldades de se expressar num debate mais
já foram incorporadas ao tipo de vida que eles têm. Então a
berto e fecundo.
seguir falam, primeiramente, os pastores luteramos Ro
gente conhece isso da formação econômica do Acre, o marre
teiro é um comerciante que pra poder se manter exerce uma
berto Zwetsch e Lori Altmann (da IECLB) e a missionária exploração muito grande por cima do trabalho alheio do
leiga, católica, Rosa (vinculada ao CIMI e à OPAN), que há seringueiro ou, no caso, da comunidade indígena.
vários anos vivem entre os Kulina e os Kaxinawá, no Rio
Purus. Eles demonstram especial preocupação com uma FA - Nesse caso, uma organização econômica de apoio à
“nova dependência” que esses projetos poderiam estar crian aldeia indígena seria no sentido de criar uma alternativa ao
do, por parte dos índios com relação às fontes de recursos comércio com o marreteiro?
externos.
Os tuxáuas Mário e Pancho, ambos Kaxinawá, exigiram dos
Rb — E, a Rosa podia falar mais a respeito disso porque ela
missionários que “estiva”, tecido e munição fizessem parte acompanha lá na área as primeiras iniciativas nesse sentido.
do apoio prestado por eles. Diante da recusa, procuraram a
CPI-AC, que há anos vem apoiando projetos de sustentação FA — Faz quanto tempo que vocês estão na área indígena?
econômica em várias aldeias do Acre.
Segundo o antropólogo Terri Vale de Aquino, presidente da Rosa - Eu estou há nove anos. Eles chegaram depois.
CPI-AC, “ninguém consegue vitórias políticas sem se garam
tir economicamente”; os “projetos” são decisivos para que os Rb — Nós estamos desde 80. Somos missionários da Igreja
índios se livrem da canga do aviamento e articulem estraté Evangélica de Confissão Luterana no Brasil e viemos para
gias de enfrentamento mais promissoras, sobretudo na de trabalhar na região a convite da comunidade indígena em
fesa de suas terras.
primeiro lugar e da Prelazia do Acre e Purus, para fazermos
um trabalho em conjunto, um trabalho de caráter ecumênico
e que visasse o apoio às comunidades indígenas,

195
sL7-Acervo
_>.A NDÍGENAS NO BRASIL/CEDI

Incentivar as organizações Rb — A gente já elaborou algumas teses a respeito disso,


próprias dos grupos Nós entendemos o nosso trabalho como uma pastoral de con
vivência. E a gente define essa pastoral da seguinte forma:
após estarmos no meio de um povo como membros de uma
FA — Como é esse trabalho? comunidade cristã que está lá para conviver com a comuni
dade indígena, pra partilhar da vida dessa comunidade e
Lori — Bem, o principal objetivo é incentivar as organiza lutar junto com ela pela sua sobrevivência tanto física como
ções próprias dos grupos. E nesse sentido tem-se feito uma étnica. Dentro dessa proposição básica, a gente exclui qual
série de reuniões tanto dos Kulina entre si, como dos kulinas quer caráter proselitista, de implantação de uma nova reli
com os kaxinauá e até com outros grupos como aconteceram gião no meio do povo indígena. O que nós queremos é junto.
duas assembléias de chefes indígenas no Baixo Purus. Então,com esse povo caminhar para que ele possa um dia tomar a
pra nós, isso é prioritário: que eles mesmos juntos sentem decisão que ele bem entenda, referente a qualquer religião.
e discutam seus problemas, busquem alternativas em con *Se ele quiser manter a dele, é perfeitamente direito que ele
junto. E atualmente vem se envolvendo grupos até do Juruá, faça assim.
que participaram em 84 de uma Assembléia lá em Santo
Amaro e está prevista outra Assembléia para o Juruá para Então nós achamos que o nosso trabalho é reforçar a auto
esse ano, com todo o povo Kulina. confiança desse povo. Para poder enfrentar essa avalanche
que significa uma sociedade dominadora a assaltar de diver
Rs — Isso é a nível de povo Kulina. Já é a terceira reunião sas formas a aldeia, seja através do comércio, do Estado e das
que está sendo organizada, as duas últimas por eles mesmos, próprias igrejas.
como uma forma deles se encontrarem como povo, os chefes
discutirem os problemas das aldeias. L — Os Kulina já foram atingidos de diversas formas pela
atuação direta das igrejas. Por exemplo, no Peru trabalha o
Rb — É que a Nação Kulina está muito dispersa numa re SIL, que inclusive preparou pastores para atuar nas aldeias.
gião muito vasta da Amazônia Ocidental, entre os vales do
Purus e do Juruá, São pelo menos trinta aldeias, umas pe Rb — Já traduziu a Bíblia. A Bíblia está quase toda ela
quenas como trinta ou quarenta pessoas outras com duzen traduzida para o Kulina.
tos e cinqüenta pessoas. Falando a mesma língua, também
com a mesma cultura, muita coisa em comum. Mas por L — No Juruá tem a Missão Novas Tribos e em várias outras
estarem numa região tão vasta e tão dispersos, nunca se aldeias eles foram atingidos pela pastoral tradicional da Igre
encontravam não se conheciam. Então, um dos objetivos do ja Católicajá há dezenas de anos atrás.
nosso trabalho nos últimos anos foi exatamente oportunizar
que esse povo se encontre e se reorganize. Historicamente Rb — Eu acho que o novo da proposta da gente é, de fato, se
parece que os Kulina vieram do Baixo Purus e foram sendo colocar no meio dessa comunidade como um deles. E traba
empurrados pelas frentes pioneiras principalmente a frente lharpara que eles possam garantir o seu espaço como comu
extrativista, para os altos rios e chegaram até o Peru. Hoje nidade étnica diferenciada. Diante da sociedade e inclusive
em dia eles se encontram em situação muito triste. Os grupos em questões religiosas. Senão seria uma contradição a gente
do Juruá encontram situações em que eles não têm mais batalhar pela autodeterminação dos povos indígenas, que é
terra. Os seringalistas “permitem "que eles vivam em certas uma das linhas prioritárias tanto do CIMI como da nossa
áreas, como se isso fosse uma concessão. Muito bondosos os Igreja.
seringalistas! Então a batalha é muito grande para que eles
possam segurar a sua terra, garantir o seu espaço de sobre
vivência.
Na escola: para que eles possam
&# * #

assumir por conta própria


FA — Há casos de Kulina trabalhando de peões nas fazen
das? FA — Vocês incentivam a fundação de escolas?
RS — Peão mesmo, não sei. Mas normalmente eles se locali L — As aldeias de Maronáua e Santo Amaro começaram
zam em seringais. Trabalham como seringueiro mateiro, for com a criação de uma escola. Na época eles estavam espa
necedor de caça. lhados pelos seringais e foi na época em que a Igreja, no caso
a paróquia de Sena Madureira, começou com um trabalho
de construção de escolas em seringais da região. E depois em
convênio com o Estado, foram oficializadas essas escolas. E
Pastoral de convivência: na época, os próprios Kulina cobraram do Pe. Paulino (Bal
como um deles dassari): “o senhor não gosta da gente? está construindo
escolas pros brancos mas não pra nós". Daí o Pe. Paulino
FA — E essa questão religiosa? O fato de vocês pertencerem falou pra eles: “mas como? vocês estão espalhados por aí".
a uma organização ligada a duas igrejas, como isso influên Pintão, foram construídas as escolas e essas escolas serviram
cia no trabalho? Existe alguma forma de ensinamentos de para reorganizar os grupos num determinado local, já que
caráter religioso? eles estavam espalhados em famílias pelos seringais. Então,
desde quando a Rosa chegou e depois a gente, a escola já
existia. Inclusive no nosso caso foi uma exigência deles que a
gente assumisse a escola, mesmo que a gente não se sentisse
capacitado porque ainda não conhecia a língua, mas foi uma
exigência e a gente topou o desafio.

195
ACRE 11

FA – Como é esse trabalho? RS — Bem, a experiência que a gente fez foi nessas três
aldeias em que foi implantada a cooperativa, em 1980. E
Rs — Tanto em Maronáua como em Santo Amaro já exis antes disso a gente já tinha feito outras experiências peque
tem índios alfabetizados. Em Santo Amaro, principalmente, nas, por exemplo de incentivar a eles armazenarem a bor
são os índios que assumem a escola. Do jeito deles, no horá racha pra ser vendida em Sena Madureira. Então tudo isso
rio que eles querem, o tempo que eles querem. Em Maro deu base pra gente ver que quando eles querem se organizar,
náua também eles dão assistência. eles conseguem. O primeiro projeto foi só de estiva para a
cooperativa. Então na aldeia mesmo com toda a discussão, o
Rb — A gente trabalha junto com dois professores lá. A acompanhamento da gente e tudo, eles sobreviveram com a
gente dividiu conforme a divisão de trabalho da aldeia, por mercadoria que tinha, não se preocuparam em armazenar a
sexo. Então a Lori trabalha com as mulheres e eu com os borracha, Agora, a preocupação só veio depois que acabou a
homens. E tem dois índios alfabetizados que trabalham co mercadoria na cooperativa. Aí, eles se preocuparam de pro
nosco. Então a gente tenta fazer tudo para que gradativa duzir mais borracha pra conseguir mais mercadoria. E con
mente eles possam assumir por conta própria. seguiram, no momento que toda a comunidade queria. En
tão, por isso que a gente acha que a chegada de um novo
Rs — Basicamente a aula é na própria língua. projeto não seria assim... educativo, pra eles. A gente tem
experiência de que, chegando, eles consomem e fica por isso
Rb — E o programa inicial tem sido de alfabetização. Na mesmo. Então a gente tentou nessa nova proposta, deles
língua kulina, porque o kulina quase não fala português. pedirem novo projeto, fazer uma discussão com a comuni
Eles queriam muita aula em português e a gente começou, dade, uma avaliação dessa cooperativa já existente e mesmo
mas não durou um mês, simplesmente porque não dava, eles pelo número de estradas, que a gente viu que não tem o
não avançavam por causa do problema da língua. Então a suficiente. Muitos reclamam que não conseguem aumentar a
gente viu que de fato não dá pra começar com português. produção, mas não é porque o pessoal não trabalha, éporque
não existem estradas, não existe a seringa suficiente pra eles
L — Tem essa turma que já é alfabetizada e tem a turma que cortarem e produzirem três, quatro toneladas em um mês,
não é. Então a gente trabalha, junto com esses dois já alfa
betizados como professores, na língua própria. E na parte da L — No caso do Recreio, mesmo que eles segurem toda a
tarde tem uma turma já alfabetizada em kulina que a gente borracha, que não vendam nada fora, com 8 estradas eles
trabalha em português. O número varia bastante porque nunca vão produzir pra repor um aviamento que supra as
como o Kulina é seminômade então tem um ano que a turma necessidades de toda a comunidade, só com a borracha.
dobra, chega a trinta alunos, no ano seguinte é quinze. Tam
bém como eles são seringueiros, então tem períodos que eles Rs — Então aí que veio essa deles mesmos de fazer alguma
passam cortando seringa e tem pouca gente na aldeia. Mas coisa a longo prazo, médio e longo prazo. Porque pra eles
tem então essas três turmas: uma com homem e outras com conseguirem as coisas imediatas, sal, munição, essas coisas
mulheres em kulina e outra na parte da tarde em português eles conseguem. É só eles se organizarem, que dá pra conse
que é basicamente de homens já alfabetizados. guir.

FA — Matemática, não tem? FA — Essas quatro aldeias, Recreio e Fronteira são Kaxi,
Maranauá e Santo Amaro são Kulina, quais as que já tive
L — E, não tem avançado. Só o início mesmo. ram projetos econômicos antes?

Rb — Mas a gente não tem trabalhado muito com matemá Rs — Todas elas. Maronaua, Fronteira e Santo Amaro tive
tica não. ram em 80. Como Recreio foi formada depois, em 83 foi que
recebeu projeto.
FA — Os índios geralmente têm apresentado interesse em
aprender matemática pra poder negociar, tirar saldo, não FA — Esses projetos tiveram repetição?
serem enganados. Não há uma reivindicação assim entre os
Kulina? RS – Não.

L — Tem. A gente trabalha em geral com os números e as 4 L — Houve um apoio no seguinte sentido: por exemplo, a
operações. Não deu pra avançar ainda além disso. Seria uma comunidade reunia a borracha e a gente dava um apoio as
etapa mais adiante. sim de infra-estrutura pra vender, pagava as despesas de
viagem, de gasolina, mas o trabalho era deles, a organização
era deles.
E só eles se organizarem,
que dá para conseguir Rb — Não houve mais fornecimento de mercadoria depois
daquele primeiro projeto pra todas as aldeias.
FA — Mais especificamente sobre projetos econômicos.
Qual é a experiência de vocês em relação a projetos na área Rs — Agora, a Fronteira recebeu em 81, quando foi insta
em que vocês trabalham ? Iado um posto da Funai lá, uma verba para ser aplicada.
Então a Fronteira já recebeu mais projetos do que os outros,
através da Funai.

197
s! Z> Acervo
_/\ @ A. INDÍGENAS NO BRASIL/CEDI

Rb - E isso inclusive tem significado um certo conflito en FA — Sim, legalmente está correto, mas na prática isso não
* + º -*- • •

tre as duas aldeias, já que o pessoal do Recreio acha que a é obedecido. As áreas estão todas invadidas.
Fronteira é mais privilegiada porque tem um posto da Funai
e a Funai então concentra seu esforço no Posto e assim a Rs — Não, mas aí também não quer dizer que o projeto eco
outra aldeia Kaxinawáfica sem receber nada. nômico vai evitar de ser invadida a área.

Será um novo tipo Não pode haver uma fórmula


de dependência? para todas as áreas

FA — Naquela carta dirigida à Pró-Indio vocês levantam a FA — Ele não ajudaria, por exemplo, a estender o domínio
questão de que os projetos econômicos criariam nas aldeias sobre a área ocupando mais estradas de seringa e trazendo
um determinado tipo de dependência econômica. Como é mais famílias para morar na área?
isso?
L — Não, o problema é que se usa critério de uma área para
Rb — Agente está se perguntando o seguinte: o projeto tem outras áreas. Por exemplo, no caso do Alto Purus não existe
um objetivo que seria o de permitir que a comunidade pouco seringal formado dentro da área. Lá o problema deles é o
a pouco fosse se tornando independente. Tivessem uma in marreteiro, e marreteiro não é proprietário do seringal, é só
fra-estrutura básica que permitisse não mais estar amarrada um comerciante. Então a situação é outra. A demarcação lá
aos patrões ou aos marreteiros. Isso seria então o objetivo depende da boa ou da má vontade da Funai e dos interesses
acabar com esse intermediário. Que elas tivessem autonomia que estão por trás e que a gente não sabe. A gente pode até
para juntar sua produção e vender então na cidade por pre mostrar um telegrama que chegou agora respondendo essa
ços melhores e comprar as mercadorias também por preços atitude dos índios de demarcarem a terra por conta própria.
menores do que lá no alto rio. Agora, o que a gente tem
observado? Que o que ocorre na prática é que quando projeto FA — Que é que eles dizem? Não gostaram?
vem, por diversas razões internas da comunidade, as coisas
são distribuídas e são consumidas. E chega num determi Rs — Gostaram, disseram que está dentro do programa ofi
nado momento, eles voltam a se endividar com o marreteiro. cial de demarcar terras,
E, aí, no ano seguinte, ela retorna a uma entidade ou à
própria Funai exigir um novo projeto que serviria para, de Rb — Quer dizer então que o critério de produção, ele não
novo, criar essa infra-estrutura que já foi consumida. Então, ajuda muito. Porque produzir eles sempre produziram senão
a nossa grande pergunta é essa: será que nós não estamos não estariam vivos. Só que a produção aí é a produção para o
criando um novo tipo de dependência? Criando um novo mercado, é uma outra coisa.
intermediário, aliás, um intermediário mais interessante,
porque ali a gente ganha sem precisar pagar mais nada, FA — Aprodução deles não tem sido para o mercado?
enquanto que o marreteiro não dá nada, a conta tá lá e um
dia ele tem que pagarsenão para o fornecimento. L — Basicamente é pra consumo, no caso da produção agrí
cola.
FA — Mas parece que essa questão econômica não é a úni
ca. Há também a ocupação produtiva do espaço e o seu Rb — Porque eles investem a maior parte do seu tempo pra
domínio no sentido de buscar a demarcação. Por exemplo, as sua subsistência. A borracha é uma coisa assim secundária
aldeias que estão demarcadas são justamente aquelas que dentro do todo da vida,
têm projetos econômicos mais antigos. Não haveriaum lucro
nesse aspecto político? L — Principalmente para o caso do kulina. O Kaxinauá tem
uma certa diferença.
Rb — Eu acho que não é o caso, porque no Purus a área foi
demarcada pelos próprios índios. Rb — Isso é que é, nós não podemos generalizar.

L — Sem necessidade de projetos. FA — Há diferenças tanto geográficas, de áreas por exem


plo em que não tem borracha ou castanha, como diferenças
FA — Mas não está legalizada, culturais, é isso? -

L — Mas isso é uma questão política. Rb — Exatamente.

Rb — Euma outra questão, L — Por exemplo eu acredito, pelo pouco que eu conheço da
cultura Kaxinauá, que a lista de produtos da nossa sociedade
L — E eu não concordo com esse argumento. Eu acho que a de que eles são dependentes é bem maior do que a lista dos
lei protege os índios, que eles têm direito histórico deles, Kulina.
sempre viveram ali independentes da forma que eles ocupem
esse espaço. A lei protege os direitos deles ocuparem de for FA — E, parece que eles foram bem mais integrados às em
ma como a cultura deles permitir. presas seringalistas do que...

Rb — Do que os Kulina. Ou outros povos que a gente não


conhece tão bem.

198
sL7-Acervo
_/\ 1 S-A ACRE 13

L — Entre os Kulina, se a gente for fazer um cálculo, o Outras alternativas,


tempo que eles ocupam com a seringa é mínimo em propor com resultados mais lentos
ção ao auto-sustento deles, seja em agricultura, caça e pesca
e outras atividades. Então, não dá pra usar um exemplo e L — Outra alternativa, que eles mesmos propuseram é a
generalizar para outros povos. Se, pra um grupo que tinha questão da agricultura. E a vantagem do incremento da agri
muitos patrões na área, foi importante um projeto pra não cultura é que caso não se ache mercado pra vender, pelo
depender dos patrões e poder ocupar o seringal, pra outros menos já aumenta a alimentação. E os Kaxinawá já são tra
#{{f},
dicionalmente agricultores, têm roças grandes e bonitas, os
Kulina também já cultivam, então seria apenas aumentar
FA — Quem dizer, então, que esses projetos econômicos aquilo que já é próprio da cultura deles. Implementar um
poderiam ser mais válidos para grupos que já estivessem pouco mais, dar condição para produtos que têm facilidades
mais integrados ao tipo de economia comercial? de colocar no mercado, como feijão e outros produtos.

Rb — Depende do projeto. Por exemplo, se agora no Purus Rb - Nessa questão da agricultura, por exemplo, uma das
os índios estão se dando conta de que a caça está rareando e reivindicações foi um engenho de cana manual, para que eles
eles já não comem carne todo dia, como há alguns anos atrás, pudessem plantar e fazer o mel de cana. Eles gostam muito
então tem que se pensar em alternativas para a carne, que de açúcar, só que o açúcar sai caro. Todas as aldeias já têm
poderia ser a criação de diversos animais. Então, uma das cana plantada. Se eles incrementam um pouco mais essa pro
coisas que todas as comunidades reivindicaram nesse novo dução eles podem fazer o mel de cana. E com isso não preci
projeto que nós estamos elaborando, foi algumas cabeças de sariam comprar o açúcar. Isso está incluído no projeto para
gado. Agora, todas elas já têm. Já começaram uma criação as quatro aldeias. Todos eles pediram o engenho de cana e
pequena. A maior delas está lá na Fronteira e quase todas as um tacho grande pra se fazer mel.
cabeças pertencem à família do Mário. Quer dizer, o restante
das famílias kaxinawá de Fronteira não têm gado. Então, na FA — Esse projeto de ajuda econômica, no caso, ele então
discussão que se fez lá, a gente propôs a eles de se trazer seria lento.
mais algumas cabeças de gado de modo que num prazo aí de
quatro ou cinco anos cada família possa ter a sua vaca, a sua Rb — E, ele não é um projeto de resultados imediatos. Isso é
matriz. Além daquelas que já existem lá e que pertencem à a grande discussão que a gente tem com as aldeias. Alguns
família do Mário. Então, essa foi uma das coisas que foi chefes, talvez devido ao tipo de chefia que eles exercem, eles
discutida e que o pessoal achou que era importante de ser gostariam de ter algumas coisas que teriam esse caráter mais
feito. No caso lá de Santo Amaro, por exemplo, o Pe. Paulino imediato, de consumir imediatamente. Que pudessem distri
deu um touro e uma vaca, quer dizer, uma matriz e um buir e o pessoal pudesse usar as coisas logo. No caso, seria
reprodutor. E o acerto da comunidade foi o seguinte: os dois estiva.
chefes ficaram com o reprodutor e a matriz e cada bezerro
que nasce vai para uma família. Então já tem dez pessoas lá FA — Que são produtos que eles habitualmente compram
que já têm uma cabeça de gado. E assim o processo deve do marreteiro.
continuar. Então, foi dessa forma que se colocou a discussão
para as aldeias e a coisa deveria andar nesse sentido. Até Rs — Ou na cidade, quando eles organizam e vêm vender a
borracha.
chegar a um ponto deles poderem matar todo ano duas cabe •

ças de gado e todo mundo poder ganhar daquela carne. Ago


ra, a gente pode se perguntar o seguinte: isso resolve o pro Rb — Como agora, por exemplo, o Pancho veio do Purus ele
blema deles? Eu acho que não resolve. Mas tem que se en trouxe quase uns trezentos quilos de borracha, mais quase
contrar diversas saídas para enfrentar os problemas. E uma um milhão em artesanato e então com isso ele pode repor o
maneira que está se encontrando de pensar pra daqui a dez, que o pessoal precisa lá, com a própria força da comunidade.
vinte anos...

Rs — Porque a seringa não responde. Nós não somos


agência financiadora
Rb — Além do que a gente está vendo que a borracha não
está sendo solução nem para o seringueiro, atualmente.
L — Mas, voltando à questão da borracha. A gente está
L — O preço da borracha não acompanha o das mercado assim num levantamento de questões, não é uma posição fe
rias. chada. O que eu vou falar é uma opinião pessoal, não ne
cessariamente a posição do grupo. Essa questão de avia
Rb — Ele não acompanha a inflação do país. mento de barracão no seringal, no meu entender, poderia
ser a longo prazo assumida pela própria Sudhevea. Essa
FA — E, isso se dá com todas as mercadorias, não apenas a sim eu acho que é o organismo apropriado para isso, ela
borracha. se interessa pela borracha produzida pelos índios, então
através de um contato da Funai com a Sudhevea, acho
que ela poderia financiar esses índios, assim como ela fi
nancia os seringalistas. Financiaria essas cooperativas e
como ela tem convênio com a Cobal, poderia fornecer para
essas cooperativas esses produtos a preços mais acessíveis
e preencher as necessidades das aldeias. Eu acho que ela
estaria dentro da sua função. Que não é a função da Igreja,

199
INDÍGENAS NO BRASIL/CEDI

nós não somos agência financiadora de projetos econômi Senão, eles vão passar fome e a criançada vai chorar, vai
cos, não temos interesse nenhum em entrar nessa transaçãomorrer de fome. Então, a gente dizia pra eles: pois é, então
vamos pensarjuntos que semente nova que vocês receberiam
comercial ou coisa assim. Então, pra gente um projeto desse
significa um impulso para a comunidade, no sentido de de fora, agora, e que serviriam da mesma forma, vocês
apoio, mas quando começa a ser assim, no sentido de fi recebem uma vez e não perdem mais. Assim como os ante
nanciamento, cada ano eles pedem e tal, isso aí eu acho passados de vocês deram assementes pra vocês e vocês nunca
que é mais função do governo através do órgão encarregado perderam. Tanto é que eles até hoje estão plantando maca
que seria a Sudhevea em contato com a Funai. xeira, amendoim, banana e milho e com isso garantem a
sobrevivência do povo. Então, a gente colocou dessa forma e
isso pegou muito bem. Pegou muito bem. De fato nós temos
Semente nova, que pensar numa semente nova e que a gente não perca mais,
que não se perca pra não precisar estar pedindo mais pra ninguém. Então, por
aí é que entrou a discussão de se pensar numa coisa a longo
FA — Uma questão mais melindrosa: parece que vocês te prazo e não numa coisa imediata, o sal, o açúcar, que vocês
riam feito críticas ao trabalho nesse sentido desenvolvido recebem num ano e se vocês não produzir, no outro ano ou
pela Comissão Pró-Indio, não é? Pelo fato de todo ano ter você deixa de comerou então tem que arrumar alguém que te
projeto nas aldeias. Em que consistem exatamente essas crí dê de novo. Porque o sal não é semente, nem o açúcar é
ticas? semente e munição também não. Então a gente levou a dis
cussão por aí e isso parece que calou fundo, assim, nas pes
L — Bem, não sei de onde você escutou essa crítica. Nós &#####.

oficialmente não manifestamos nada sobre isso.


L — Por isso o peso nos instrumentos de trabalho e nas se
FA — Essa é a conversa que rola, é claro que não tem nada mentes, aquilo que ajude eles a produzir alternativas pra
oficial. aumentar a produção.

Rb — A única coisa que a gente fez foram aquelas perguntas


que a gente colocou naquela carta, uma carta que foi enviada Diante da insistência
a diversas... por estivas e munição
L. — ... que são válidas inclusive para nós. Esse questiona FA — E no caso da insistência do Mário e do Pancho em
mento que a gente colocou naquela carta vale para a Comis relação a estivas e munição, por que seria isso? E um recuo.
são Pró-Indio, vale pra nós, vale para os próprios índios da parte deles?
aonde foram realizados esses projetos, e todas as entidades.
Então eu acho que é, digamos, uma proposta de parada pra Rs — E, porque parece que eles não estão representando a
pensar. Então, ver o que ocorreu até hoje, como continuar, o comunidade. Inclusive numa conversa eles falaram que vol
momento político é diferente de dez anos atrás quando come tariam e conversariam com a comunidade. Então é uma coi
çaram esses projetos. Então, ver pra onde a gente está indo. sa surgida agora deles, que não foi discutida pela comuni
dade.

Rs — Ver o que se colheu até hoje e então se é válido conti


nuar ou parar. L — Bom, pode até ter sido discutida, a gente não sabe
porque nós saímos de lá e ainda não voltamos. Mas a nossa
Rb — Agente na nossa discussão com as comunidades lá do posição é a seguinte: se houve, realmente, uma mudança na
Purus, colocava um exemplo que ajudou muito na discussão. decisão da comunidade, a nossa posição é voltar e conversar
Porque tem que ver o seguinte: quando a gente conversa com novamente com a comunidade. A gente reconhece eles como
as comunidades, tanto kulina quanto kaxinawá, são poucos chefes da comunidade e tudo, mas essa discussão foi feita
os elementos que conseguem fazer uma discussão mais teó com toda a comunidade presente, com os chefes inclusive,
rica, porque está se falando em português. E mesmo os kaxi Então, a decisão que foi tomada lá, pra nós, pra ser mudada,
nawá lá do Purus, nem todos eles têm a mesma versatilidade essa decisão tem que ser feita outra reunião na mesma situa
que o Pancho ou o Mário, que são os chefes. Então, a gente ção. Então, se é que houve uma reunião da comunidade
linha que encontrar uma imagem que pudesse ajudar as depois da nossa saída, que a gente saiu para a Assembléia e
pessoas a pensar sobre o que estava se falando. Então a gente cursos e férias inclusive, então nós vamos voltar lá e vamos
fez a seguinte pergunta pra eles: como é que foi que vocês saber isso aí.
começaram a plantar? Quem é que deu as sementes de amen
doim, de macaxeira, de milho, pra vocês. Então, eles conta FA — Eles inclusive encaminharam um projeto à Comissão
ram um pouco disso, como receberam essas sementes. E a Pró-Indio, que constasse esses pontos de estiva, munição e
gente perguntou pra eles: vocês por acaso, alguma vez na armas. Disseram que a parte deles do projeto de vocês que
vida de vocês, perderam essas sementes? Quer dizer, chegou seria para eles, que fosse dirigida para os Kulina que eles iam
num ano eles não tinham mais semente de macaxeira, de tentar transar o projeto deles com outra entidade.
amendoim, de milho e de banana pra plantar, que são as
comidas básicas? Eles disseram “não, a gentesempre guarda Rb — Einteressante, porque a munição fazia parte do nosso
essas sementes porque no ano seguinte vai precisar de novo". projeto.

Rs — Só a munição, porque armas a maioria tem.

Rb — E o que a gente discutia é que se aqueles que já têm,


trabalharam tanto pra conseguir as armas, porque é que de
repente outros iriam conseguir de graça?

200
ACRE 15

L — E com esses instrumentos de trabalho aí, eles pode Rb — Eu poderia dizero quanto que vai de gado, aqui. Ma
riam, os que não têm armas, com o seu próprio trabalho, ronaua são duas vacas. Kaxinaua da Fronteira seriam um
comprar. touro e duas vacas. Santo Amaro era um reprodutor, porque
eles venderam o deles. E o Pancho, a turma do Pancho...
deixa eu ver aqui.
Oficina, gado...
L — O projeto do Recreio foi redigido pela Cecília, uma
FA — Esses instrumentos são dirigidos para que setor de antropóloga que está fazendo uma pesquisa lá, depois de
trabalho? discutido com a comunidade.

Rb — São vários setores. São instrumentos de trabalho pra Rb — Aqui: duas vacas e um touro também. Então só os
agricultura pra seringa, pra trabalhar com madeira, mate animais, pode calcular, não sei quanto que está custando um
rial pra criação de gado, instalação de oficina. Alguns deles touro, um bom reprodutor hoje em dia mas é caro.
são ótimos ferreiros, então com um pouco de preparação em
Sena Madureira eles poderiam montar sua própria oficina, Rs — E é um projeto pesado.
consertar os motores e outras ferramentas que eles têm lá,
tudo isso. FA —Achei interessante que tivesse uma oficina.

L — Isso porque o lugar mais próximo aonde eles conse Rb — Para que eles possam consertar na aldeia mesmo os
guem consertar motor e qualquer outro instrumento é Sena instrumentos que quebram porque às vezes não leva na ci
Madureira. Isso dá quase uma semana de viagem no caso dos dade efica até um ano sem consertar.
Kulina de Maronaua.
L — No caso da Fronteira tem vários motores lá quebrados,
FA — Esse projeto é único ou está dividido por cada aldeia? que eles não têm condições de consertar. Eles tendo esse ma
terial lá, poderão fazer isso. Entre os Kulina também tem
Rb — Por cada aldeia, porque nem todas elas têm as mes vários índios quejá adquiriram motor.
mas coisas.
Rs — E os terçados, também. Hoje em dia terçado não vale
FA — O montante desse projeto para as aldeias do Recreio e nada, quebra à toa. Então tendo isso eles conseguem facil
Fronteira está orçado mais ou menos em quanto? mente fazer de novo o cabo.

Rb — Rapaz, eu não tenho nem idéia mas eu vou te dar um Rb — A gente tava colocando no projeto uma furadeira de
exemplo. Lá no Recreio, eles pediram uma serra circular ferro manual. Com ela eles poderiam consertar todos os ter
para madeira pra fazer todo o trabalho de fabricar canoa. çados na aldeia, porque conseguiriam furar o ferro. Reapro
Eles querem fazer não só o casco mas também aquela arma veitariam muitas ferramentas que estão lá, jogadas.
ção de cima, a obra. Então, só uma ferramenta está custando
hoje dois milhões de cruzeiros. Agora tu imagina um catatau Rs — Outra coisa: em Santo Amaro eles exigiram um poço
de coisas, tem instrumentos aí de 600 mil cruzeiros, um torno com bomba. Então tudo isso vai, tem que ir tijolo, cimento.
custa 300 mil cruzeiros, isso ia dar lá uns 50 milhões tran
qüilo. Só uma aldeia. Quer dizer, é um projeto grande. Rb — Lá em Santo Amaro eles colocaram material de solda,
porque lá tem um índio que trabalha muito com solda fria.
FA — Quem financiaria o projeto? Então ele mesmo sabe fazer balde de seringa, lamparina,
todo esse material. Ele reaproveita as latas de querosene ou
Rb — Até agora a gente ainda não decidiu bem, mas uma de óleo e faz essas coisas. Tendo o material lá poderia fazer
entidade que tava se interessando por isso era a OXFAM, todas essas coisas. A gente pensou incluir no projeto um
que é quem tem financiado vários projetos aqui no Acre. zinco galvanizado, que se usa pra fazer o balde. E a gente
aposta muito nisso. Como eles têm uma habilidade manual
Por exemplo, iriam alguns milheiros de tijelas. Um milheiro muito grande, com pouco tempo de permanência lá em Sena
de tijelas atualmente tá 240 mil. Como são quatro aldeias, dá Madureira com algum desses ferreiros, eles adquiriram as
pra fazer a conta. Então seria realmente um projeto grande, habilidades pra poder fazer esses consertos nas aldeias, que
de infra-estrutura basicamente, Por exemplo, dessa oficina eles já fazem mas só que com instrumentos rudimentares.
constaria uma forja. Por que eles fazem muito material de Então, tendo esses instrumentos especializados, poderiam
ponta, pra argão. Todas essas coisas eles fazem lá com ins fazer em menos tempo, poderiam até trabalhar para outros.
trumentos muito rudimentares, pegam um machado e ma
lham em cima lá do ferro, então levam um dia pra fazer uma Rs — Não, inclusive esse cara que lida com solda em Santo
porta. Tenho uma forja, eles poderiam fazer dez, quinze Amaro, ele faz baldes e tigelas para os seringueiros brancos
pontas num dia. Então a forja, atualmente, está custando da redondeza, que pegam as latas e levam lá pra ele fazer
275 mil cruzeiros. Se a gente conseguisse colocar uma forja porque o balde na cidade está caríssimo. E ele faz baratís
em cada aldeia, eles poderiam fazer esses instrumentos eles simo, só cobra o trabalho dele.
K}}{25}}{{}S.

Rs — E só o gado que vai ser não sei quantas cabeças, ima


gina o preço que está.

201
s! Z_ Acervo
_/\ #VasiMDIGENAs No BRASIL/cED

Sair do monoextrativismo Rb — Lá no Pancho uma das coisas que eles reivindicaram


da borracha foi uma malhadeira grande pra pirarucu. Cada ano lá sobem
os pescadores que colocam as malhadeiras dentro dos lagos
FA — Então, a questão não seria acabar com o projeto eco da área, põem os índios pra trabalhar pra eles. Então pescam
nômico, mas ter um projeto econômico que fosse infra-estru lá uns dez piraracus de uma vez e salgam e vão embora e
tural. E essa a idéia? pagam uma ninharia para os índios. Pagam o trabalho, só.
Não pagam o produto. Então eles sentem: por que nós não
Rb — Exatamente. E que alargasse as alternativas de tra podemos fazer isso? Além de termos carne prá nós podemos
balho nos altos rios. Sempre pensando nos altos rios, na também vender. E tarrafas, a gente contou lá quantos ho
distância toda que tem da cidade, nas dificuldades que se mens tem de cada família e fez o cálculo de quanto precisaria
enfrenta por causa dessa distância. Abrir o leque das possi de linha pra fazer as tarrafas que eles mesmos fazem. Então
bilidades de trabalho. Inclusive de poder adquirir outras fazia parte do projeto que cada homem tivesse a sua tarrafa.
mercadorias através desse trabalho. Se bem que a tarrafa é um produto perecível, quer dizer,
depois de um ano ou dois ele tem que fazer outra porque
L — Inclusive deles produzirem para o seu próprio consu acaba, os lagos são muito sujos e tal. (entrevista a Antonio
mo, como é o caso da produção do mel de cana, ou essa Alves, da equipe de reportagem da Folha do Acre, 29/03 e
máquina de pilar arroz que tem aí também. Os kulina, já foi 31/03/85.)
introduzido na dieta alimentar deles o arroz e eles produzem.
Mas pilado no pilão mesmo, ele perde muito.
Rb — Essa máquina atualmente está custando em torno de
240 mil.
MÁRIO E PANCHO,
LIDERES.
Rs — Aí entraria também casa de farinha, tanto pro con |KAXINAWA:
sumo como para venderem o excedente.

Rb — A idéia básica eu acho que é essa: sair do monoex FA - Como é que foi essa demarcação que vocês fizeram
trativismo da borracha. Não ficar na borracha como único agora lá na área?
meio, única alternativa econômica. Não sei se a gente está
certo, mas eu acho que dessa forma atenderia melhor às Mário — Quando nós tivemos na Assembléia Indígena,
necessidades das comunidades. aqui, então nós discutimos que nós ia fazer por conta pró
pria. Então quando nós chegamos lá nós fizemos uma reu
L — Eles, a nível bem pequeno e a nível de clã já estão fa nião na aldeia, juntamos nossas comunidades e cá embaixo
zendo isso. Só que não de uma forma organizada. Seria uma nas aldeias dos Kulina eles se ajuntaram também. Aí nós
questão deles se organizarem, se eles sentirem essa necessi forçemos de fazer uma picada. E metemos a cara, carregan
dade. Os kulina, eles estão produzindo feijão que eles con do farinha nas costas.
somem em pequena quantidade. Assim também como ou
bras coisas, a galinha, o porco que eles criaram. Então eles Caça nós não tinha. Nós quase morre de fome, sem carne.
estão criando outras alternativas, não estão presos só à pro Nem agua, que tava tudo seco, no verão. E metemos a cara.
dução da borracha. Aí chegamos até nas colocações dos Kulina que ficava no
centro, quase com umas 5 horas de viagem. Aí quando che
Rb — Emuito diferente do seringueiro. gamos lá nós não agüentamos porque nossa farinha tava
acabando e eu achei que tinha pouca gente também que
Rs — A gente sempre incentivou, por exemplo, o artesa ajeitaram o serviço. Aí eu voltei pra combinar com meu pri
nato. Sempre foi uma forma deles conseguirem, através do mo (Pancho) e nós entramos de novo, com mais gente. Nós
dr"fêSărtăto. fizemos outra reunião, fizemos mais farinha pra levar e aí
reunimos 80 pessoas. Uma turma pegou a parte de baixo e a
L — Mas a longo prazo a gente sabe que não é alternativa, outra vinha por cima. Tudo junto, Kulina e Kaxi. Os Kulina
pra nenhum grupo, especialmente no Acre que não tem co até sabiam mais do que nós conheciam mais a área, tinha um
mércio pra artesanato. No sul, eles ainda podem ter uma mateiro que saía na frente e nós atrás, abrindo a picada,
saída para a subsistência no artesanato, porque vivem pró
ximos às grandes cidades. Mas aqui no Acre não tem mer FA — Vocês tiveram alguma ajuda pra fazer essa demar
cado para artesanato, pelo menos não para a quantidade que cação?
eles produzem. Só no caso, por exemplo, da aldeia do Re
creio onde o Pancho está, atualmente, uma boa parte da Mário — Rapaz, ajuda que nós tivemos foi só na despesa de
mercadoria que entra na cooperativa vem do trabalho das gasolina, pra transportar o pessoal.
mulheres com artesanato. Mas isso, a longo prazo pelo me
nos, vai estacionar. Pancho — Gasolina e um pouquinho de munição. Mas a
munição não dá nem de falar que foi só umas coisinhas
mesmo, não deu nem de matar umas guaribas pra comer.

FA - Quem foi que deu essa ajuda?

Mário e Pancho — O CIMH.

202
ACRE 17

FA — Quais os produtos que vocês têm lá na área? Borra Mário — E, eles não queriam botar no projeto estiva e arma
cha, castanha? e munição. Disseram que era proibido arma e munição no
projeto e estiva eles não quiseram botar porque disseram que
Mário — Borracha. Castanha nós não temos. Agora esse não dava de maneira nenhuma. Eu de minha parte fiquei
ano nós vamos trabalhar com a borracha, o caucho e legu calado mas o meu primo foi que disse: rapaz, nós precisa.
mes. E criação.
FA — Conte aí essa história, Pancho.
FA — O que é que vocês criam lá?
Pancho — Lá em casa eles sempre andavam e conversavam e
Mário — Egado, porco e ovelha. eu falava pra eles: o pessoal tá aí trabalhando com fome,
precisa fazer a picada. Nesse tempo a área ainda não tava
FA — Vocês vendem a produção aonde? demarcada e agora nós fizemos por conta própria. Então eu,
falei: vamos fazer um projeto porque nós precisa de ajuda.
Mário — Sempre nós tem vendido na cidade, em Sena Ma Porque só dependendo do marreteiro não dá, vamos segurar
dureira. Mas o negócio é que lá nós não pode demorar muito nosso produto pra vender mais na frente. Aí eu falei com
tempo segurando o produto, por causa do alimento da gente, CIMI. Porque eu sou chefe da minha comunidade porque o
a munição o querosene. Porque a gente mora muito longe da pessoal lá me deu ordem pra eu falar. Então eu falei: nós
cidade. Aí, com qualquer necessidade a gente pega e vende precisamos de projeto para as 4 comunidades. Então eles: tá,
tudo pro marreteiro. E esse ano nós vendemos mais de mil o que você quer? Nós queremos munição, estiva, espingarda,
quilos de borracha pro marreteiro, tecido, ferramentas. Então tá muito bem, disseram, material
pode ajudar mas estiva não e nem arma e munição que é
FA — Agora estão pagando 4.200, os marreteiros. E na ci proibido comprar. Nem tecido, nem açúcar, nem sabão, nem
dade estão pagando 5.100. leite nem sal, não pode, aí vocês compram do marreteiro
mesmo. Como? Se queremos ajuntar nosso produto, vender
FA — Vocês pediram um projeto ao CIMI (trata-se, na ver na cidade que é muito melhor. Porque vocês sabem que mar
dade, da IECLB) nãofoi? Conta aí essa história. reteiro quer enganar, que muito já enganaram nós.

Mário — Rapaz, a história de projeto que nós conversamos FA — Aí você não quis o projeto?
lá com o pessoal do CIMI, eles não combinaram certo de
acordo, que isso não era ajuda. Então que nos entrava de Pancho — O pessoal ficou que não concorda com ajuda que
acordo com o pessoal da comunidade. Quando nós fizemos nós pedimos. Quanto?Nós precisamos tanto. Aí diz: ah, isso
uma reunião na aldeia, onde nós estava discutindo sobre esse é demais, rapaz. Não, esse tanto não dá ninguém pode, fala
assunto, o meu pessoal falou pra mim: rapaz, esse projeto vam. Então tá muito bem.
que eles tão querendo fazer é só projeto pra material de tra
balho. Então falta outros artigos enquanto nós segura nosso O meu pessoal falou comigo, tu vai lá no coordenador deles,
produto. Se eles não notarem o artigo de seringueiro que nós no Anselmo, conversa pra ver se é proibido mesmo botar
estava precisando, estiva, tecido, a munição que é a mais estiva e tecido no projeto. Me mandaram, a comunidade.
principal, arma... não dá. Então sendo assim você manda Então eu cheguei aqui perguntei: então, será que tá proibido
parar isso e vê o que é que vão fazer. Então eu falei com o mesmo a gente botar estiva no projeto? Anselmo me falou:
Roberto e a Rosa, pessoal do CIMI (IECLB) que estavam lá. não, tu fala com Roberto, com Lori, pra botar no meio. Aí
Roberto falou: não, não pode.
Mário — Eles moram lá, na aldeia dos Kulina.
Então nós falamos tá bom. Deixa, se não quer, a gente arran
FA — Como é o trabalho deles lá? ja em outro lugar. Combinei com meu primo aqui e fomos
com o Txai (Terri) e perguntamos: então é proibido botares
Mário — Rapaz, dessa parte aí eu não posso contar, porque tiva? Txai disse: não, a gente dá um jeito. Então vamos
eles só atuam mais na aldeia dos Kulina. Lá em casa eles só deixar o CIMI de lado pra não estar aperreando eles. Não
vão assim de passagem. quer, então vamos fazer projeto com a Comissão Pró-Indio
pra poder nós ter estiva, tecido, munição.
FA — Na reunião que teve aqui você fez umas críticas ao
trabalho deles. Mário — Com o CIMI nós dissemos, então, que não preci
sava mais, que o projeto que eles tinham podia ficar com a
Mário — Rapaz, o que eu falei pra eles aí foi que eu sei que parte dos Kulina, que eles trabalham mais com Kulina.
da minha parte eu acho que o CIMI só quer aprender dos
índios e não tem ajuda de nada pros índios. E o CIMI lá é só FA — Vocês já tiveram projeto antes lá?
entreter os pobres dos índios Kulina. E eles sempre recla
mando mas eles não fazem nada, só leva tempo entretendo os Mário — Não, igual esse que estamos querendo fazer com
Txai nunca tivemos, •

índios e aprendendo a cultura dos índios.

FA — Aí vocês vieram conversar sobre o projeto aqui em Rio Pancho — O CIMI fez um projetinho pra mim lá em 83 de
Branco. um milhão e 100 mil. Comprei um motor e material de se
ringa. Nós aumentos pessoas. Chegou pessoal de fora, mo
rava tudo desunido e agora famos unindo tudo, então precisa
maior projeto.

203
# INDÍGENAS NO BRASIL/CEDI

FA — Vocês têm conversado com outros índios que recebe DEPOIMENTO DE


ram projetos, o que é que eles dizem?
TERRI, DA
Pancho — Ah, eu falei: como a Comissão Pró-Indio faz o CPI-ACRE:
projeto de tanto que o índio quer? índio quer munição, vai
anotando. Indio quersal, vai junto. Faz projeto do tanto que
índio quer. Porque o CIMI não pode fazer também? Falei Pra gente entender melhor essa discussão sobre os projetos
pra Rosa. Ela disse: não, esse aí é outro povo, é negativo. Por econômicos nas áreas indígenas do Acre é preciso, antes de
que negativo?— perguntei. Ah, disse, porque vocês só que mais nada, compreender como é que está a situação dessas
rem projeto, projeto, e índio não trabalha? Sim, índio traba áreas indígenas. A Funai delimitou 18 áreas no Acre e até
lha, índio não fica só dormindo não. Sabe trabalhar, sabe agora só demarcou efetivamente uma. Grande parte dessas
fazer casa, sabe fazer roçado, sabe fazer tudo. Não é só àreas estão invadidas. Outras vivem à mercê dos marreteiros.
branco que sabe não. E branco aprendeu com índio, que Outras são obrigadas a comercializar com fazendas ou serin
conversa é essa? Nós sabe o que fazer. Agora, nós estamos gais próximos. A maioria, por causa dessa situação, já foi
precisando de ajuda pra segurar a nossa terra, precisamos delimitada duas ou três vezes consecutivas pela Funai, que
demarcação da área, pra criar nossos filhos e pra organizar modifica o tamanho das áreas, ora diminuindo, ora aumen
nós mesmos. Então ela disse: porque CPI faz projeto e com tando, de acordo com as pressões sofridas e com as circuns
um ano, dois anos, vai outra ajuda e CPI tá fazendo projeto tâncias.
assim todos anos porque precisa de dinheiro, que um bocado
ela dá pro índio e outro bocado fica pra eles. Por isso que todo Quando se observa o mapa do Acre, a gente percebe que a
ano tá fazendo projeto, Viciou o índio, depois o índio vai maioria das terras indígenas foi delimitada na micro-região
pedir mais. do alto-Juruá, ou seja, 16 das 18 áreas eleitas pela Funai
estão nesta região. Na maioria delas, os patrões seringalistas
Eu falei: não é assim, vocês estão dizendo isso porque vocês e grupos econômicos ligados à agropecuária ainda conti
não querem ajudar. Disseram: não Pancho o pessoal dos pro nuam mandando, porque são eles que dominam a esfera da
jetos lá (OXFAM) está desconfiando da CPI, acha que eles comercialização, dispondo das mercadorias (ou manufatu
estão querendo comer dinheiro do índio. Aí eu escutei e pen rados) e dos instrumentos de trabalho necessários à realiza
sei: não digo mais nada. ção das safras agrícolas e extrativas. Manipulam, assim, com
a força de trabalho de índios e seringueiros acreanos segundo
FA — Quer dizer que não existe projeto econômico na área. os seus próprios interesses e empreendimentos comerciais.
Epara os Kulina? Chegam inclusive a cobrar renda das estradas de seringa
existentes dentro de áreas indígenas.
Mário — Estão querendo fazer agora. Era tudo junto, mas
não dissemos pro Roberto que nossa parte não precisava nós
dava o nosso jeito. Eu falei pra Rosa lá na reunião: olha, Projetos econômicos,
Rosa, se você está achando que não dá, não custa você dizer base para vitórias políticas
pra nós. Ela disse: não, rapaz, eu faço, mas é que precisa
combinar mais de dez vezes com a comunidade. Rapaz, se
for combinar mais de 10 vezes aí as comunidades vão ficar Quando os índios começam a reivindicar a posse efetiva de
aborrecidas, né? Porque conversa comprida demais é ve suas terras, sofrem todo tipo de perseguição, desde a agres
#{{2}}{}. são até o boicote econômico, com ameaças de corte de crédito
dos produtos que já são necessários à vida dos índios de nossa
Para eu chegar na minha aldeia e dizer que eu aceitei um região, como o sal, o querosene, o sabão, a munição, armas
projeto que eles mesmos não quiseram, eles vão botar pra de caça, instrumentos de pesca, tecidos, miudezas etc. Ou
cima de mim. Então eu falei que como a comunidade não alguém acha que o índio ainda pode viver de arco e flecha?
tinha aceitado, eu também não queria.
Então, ou os índios dispõem de uma alternativa econômica
FA — O que eles acharam de vocês procurarem projeto em concreta a estes patrões ainda localizados em suas terras ou
outro lugar? próximos a ela, ou nunca poderão lutar efetivamente pela
demarcação. Ninguém consegue vitórias políticas sem se ga
Mário — O Roberto falou: não, tá tudo bem. Mas olhe lá, rantir economicamente. Portanto, esses projetos econômi
depois, vocês não vão ficar com inveja quando os Kulina cos, feitos segundo os interesses e reivindicações dos próprios
receberem esse projeto, vocês não vão dizer que nós estamos índios em suas comunidades ou através de suas lideranças,
ajudando só os Kulina. Não, negativo, Roberto. Não é por são de fundamental importância na luta que eles atualmente
causa disso que nós vamos ficar de ponta. Da nossa parte travam pela posse de suas áreas.
vocêpode ficar tranqüilo. (entrevista a Antonio Alves, Folha
do Acre, 31.03.85).
Os projetos apoiados
pela CPI-AC
É nesse sentido que a CPI-Acre vem assessorando os projetos
de cooperativas de produção e consumo em 12 comunidades
indígenas do Acre e do Sul do Amazonas. Graças a esses
projetos distribuídos em 9 áreas indígenas, nas quais se loca
lizam essas I2 comunidades, benefícios importantes têm sido
conseguidos.

204
ACRE 19

Os Poianaua do Barão, os Katuquina/Campinas, os Haua de dispersão e contribuírem para aumentar as suas produ
nauá e Katuquina do rio Gregório, os Nuquini do rio Moa, os ções agrícolas e extrativistas, esses projetos ajudaram estas
Faxinauá do Jordão e Humaitá, os Kaxinauá do rio Envira/ comunidades na luta pela posse efetiva de suas terras delimi
Paroá, os Apurinã do Peneri/Tacaqueri, os Apurinã dos tadas pela Funai. Todos estes recursos foram empregados na
kms. 45 e 124 da BR-317, todos esses povos passaram a aquisição de instrumentos de trabalho, motores, barcos,
ocupar produtivamente as suas áreas por conta própria, in combustíveis, sementes selecionadas de milho, arroz, feijão,
dependentemente do domínio comercial de patrões seringa capim e, ainda, em tropas de burros, bois de carga, gado e
listas e agropecuaristas. também na aquisição de estivas, armas, munição, tecidos e
miudezas. Graças a esses recursos a luta indígena pode avan
Graças a estes projetos econômicos os Kaxi do Jordão e Hu çar com uma certa segurança econômica nos últimos anos e
maitá, no município de Tarauacá, estão atualmente produ as comunidades já começam a garantir a posse de suas ter
zindo cerca de 30 toneladas de borracha por conta própria, #"C.S,

independentes de seus antigos patrões, que já se retiraram de


dentro da área. Graças a essas cooperativas, os Iauanauá e
Ratuquina do rio Gregório expulsaram de suas terras os ge Terra de índio
rentes da Paranacre e já asseguraram a demarcação de sua é patrimônio
àrea. Com a implantação de uma cooperativa os Poianaua do
Barão estão enfrentando os patrões seringalistas, herdeiros Há ainda os que utilizam velhos argumentos ideológicos de
do coronel Mâncio Lima que os escravizou, que "há muita terra pra pouco índio”. Mas isso não passa de
conversa fiada. Estes mesmos argumentos não são utilizados
Com os recursos que receberam através da CPI-Acre, os contra alguns poucos grupos ligados a empresas agropecuá
Apurinã do 45 continuam lutando para ampliar sua área, rias que já dominam mais de 50% das terras acreanas. Essas
incluindo as áreas de caça e pesca, cemitérios, estradas de empresas querem a terra para especular financeiramente e
seringa e castanhais que ficaram de fora na última demar pouco se preocupam em gerar riquezas. Os índios, juntando
cação da Funai. Com ajuda econômica que receberam no todas as áreas delimitadas, não chegam a ter um milhão e
ano passado, os Apurinã do Peneri/Tacaqueri estão ocu meio de hectares, o que corresponde a menos de 10% da área
pando por conta própria a sua área, independente da Agro total do Estado. Mas ocupam essa pequena área produtiva
pecuária Manasa e do Zé Cordeiro, que vinha mandando nos FrieX2te.
índios e em suas terras. A mesma coisa com os Jamináua e Além do mais, a terra de índio é um patrimônio, não apenas
Manchineri do alto Haco. uma propriedade. Terra de índio não é nenhuma mercado
ria, não se loteia entre famílias para depois ser transacionada
Toda essa lista mostra que esses projetos não estão dirigidos como um bem privado. Não é algo para compra e venda nem
a uma comunidade especificamente e que cobrem, portanto, segundo a lei do país nem segundo a vontade dos índios.
a maioria das áreas e povos existentes no Acre. E preciso Terra, para os índios, se confunde e se mistura com suas
entender estes projetos de cooperativas assessorados pela próprias vidas e suas tradições culturais. Os índios querem
CPI-Acre mais como projetos de apoio político do que desen terra para preservar sua humanidade, sua língua, seus ri
volvimentista. Por isso eles não se esgotam em uma ou duas tuais e crenças. Querem terra para preservar a natureza e
ajudas, mesmo porque não é com um ano ou dois que se pode todas as suas riquezas das depredações arbitrárias. Terra
inverter mais de um século de dominação. Quem quer dar para índios são as suas áreas de caça e pesca, são os igarapés
uma esmola pros índios e no ano seguinte dizer "se virem " e lagos, as estradas de seringa e castanhais, as madeiras de
está raciocinando como um reles colonialista igual a tantos lei, as madeiras brancas, as ervas medicinais que existem em
outros. E não é à toa, não é mera coincidência, que as áreas abundância na floresta. Terra para os índios é também o
indígenas que o Estado finalmente reconheceu e passa a de lugar onde enterram os seus mortos. E onde crescem suas
marcar definitivamente são justamente aquelas onde os ín crianças.
dios possuem projetos econômicos mais antigos e permanen
tes assessorados pela CPI. E o caso dos Iauanauá/Katuquina E por tudo isso que a CPI-Acre, através destes pequenos
do rio Gregório com 92.000 ha, dos Katuquina/Kaxinauá de projetos econômicos, pequenos porque estão bem abaixo do
Feijó com 18.000 ha, dos Kaxi do Jordão com 92.000 ha e dos que os índios realmente merecem, vem apoiando a luta dos
Kaxi do Humaitá com 125 mil hectares, índios para ocupar suas terras, promover sua autonomia eco
nômica e cultural, sua autodeterminação.
Há o caso recente e específico da área indígena do Alto Pu
rus, onde estão 2 comunidades Kulina e 2 Kaxinauá, em que
foram os próprios índios que decidiram durante a Primeira Perseguições, acusações,
Assembléia Indígena da Amazônia Ocidental realizada em polêmica
Rio Branco no ano passado, demarcar a área por conta pró
pria. Isto foi possível porque esta área está escassamente Ebem verdade que não temos sido poupados de perseguições
povoada por seringueiros acreanos ou por antigos patrões de de muita gente, muito patrão interessado na terra dos índios.
seringais pelo fato de existir nela pouca seringa e castanha. Além deles, muitos setores governamentais e religiosos não
Só no ano passado foram encaminhados recursos no valor de têm entendido o nosso trabalho. Fomos acusados de “comu
69.500.000,00 cruzeiros para implantação ou consolidação nistas" e "agitadores”, perseguidos por inquéritos policiais,
de cooperativas em 12 comunidades indígenas do Acre e sul marginalizados economicamente e politicamente. Fomos
do Amazonas. Esses recursos foram solicitados pelas pró chamados de “comunistas” pelos missionários norte-ameri
prias comunidades indígenas, através de projetos econômi canos das Novas Tribos do Brasil, que tem suas bases nos rios
cos assessorados pela CPI-Acre e financiados pela organiza Jaco entre os Manchineri e os Jaminauá, no Envira entre os
ção humanitária Oxfam da Inglaterra. Além de fixar os ín Áaxinauá e no Gregório entre os Katuquina e os Iauanauá.
dios produtivamente em suas terras, revertendo o processo

205
s! Z> Acervo
_{ | @@ INDÍGENAS NO BRASIL/CEDI

E agora passamos a ser criticados pelos missionários católi Os Kaxisão tradicionalmente excelentes agricultores e serin
cos e luteranos do CIMI-IECLB, que nos acusam de criar gueiros, eles parecem não entender isso. Existem 28 estradas
dependência entre os índios com os quais temos trabalhado de seringa no Recreio, que estão sendo ocupadas por 15famí
no sentido de ajudar. Mas temos o respeito e a amizade dos lias de Kaxi seringueiros. Existem outras 18 estradas no
índios e é isso que nos anima a continuar assessorando polí Fronteira que estão sendo trabalhadas por 18 outros serin
tica e economicamente a luta pela demarcação de suas terras gueiros Kaxi. Os seringueiros precisam de estivas e armas
e por melhores condições de vida no interior delas. para poderem juntar suas produções por 6 a 8 meses, sem
precisar vender de pouquinho para os marreteiros. Eu estou
Agora, ando mesmo magoado é com esses missionários “en do lado do Pancho e do Mário Kaxinauá porque eles são os
carnados" da CIMI-OPAN-IECLB. Alguns desses missioná líderes de suas comunidades. Esses caras não sabem nem
rios já fizeram acusações pesadas à minha pessoa e aos com ouvir os índios. Sabem é falar muito. O Mário Kaxi tem
panheiros da CPI-Acre. Não importa o nome de quem fez. E razão quando diz que fica "só cubando a conversa bonita
isso já vem fazendo algum tempo. Olha só o que saiu no ano desses missionários" que passam rapidamente pelo Frontei
passado no jornal Porantim, de circulação nacional, editada ra. Eles gostam de usar parábolas bíblicas e depois ficam se
pelo CIMI: “Para abrir mão de suas terras onde se instalou o deliciando com o som de suas próprias palavras. Aliás, um
fazendeiro, os índios Apurinã do Peneri/Tacaqueri foram desses missionários já disse que o compromisso maior deles é
convencidos a aceitar em troca um projeto de desenvolvimen com a palavra de Deus do que ajudar economicamente que,
to econômico, coordenado pelo antropólogo Terri Valle de Segundo eles, seria “papel do Estado”. Agora já passou o
Aquino". Uma pérola de maldade que foi desmentida pelas tempo de ficar denunciando o Estado. Quem tem mais tem
próprias lideranças indígenas da comunidade ali referida, que dar pra quem tem menos, essa é a matemática da cola
através de uma carta enviada ao próprio Porantim pelo Ri boração. E preciso ajudar concretamente, mas eles passam o
valdo Justino de Araújo, tuxáua Apurinã. Disse ele: “Quero tempo encarnando um culturalismo estéril. Daí ficam mes
esclarecer que não existe sequer uma palavra dessa matéria quinhando estivas e espingardas para os índios.
publicada no Porantim que seja verdade. Não é verdade esta Agora vem com esse papo de avaliar os projetos. Avaliar os
afirmação... Nós é que levamos o txai Terri no avião da Funai projetos de quem? A última vez que eles colocaram um pro
para a cidade de Terruã, capital do município de Pauini e de jeto numa aldeia foi há cinco anos atrás. Um único projeto,
lá de batelão, subindo o rio Purus por um dia. Ele discutiu e que não teve continuidade certamente pra “não viciar os
escreveu aquilo que nós, de fato, pedimos para ele escrever. índios". Nós da CPI que atuamos em 12 comunidades todos
Nós temos cópias de nosso projeto e já recebemos por conta os anos vamos parar pra ficar discutindo religião e cultura
dele Cr$ 7.500.000,00, que nos deu condições de ocupar com esses caras? Eles atuam em apenas uma área e não
produtivamente a nossa área indígena. Abrindo novas estra fazem projeto econômico. Agora querem discutir o que nós
das de seringa, colocações, piques de castanha, botamos estamos fazendo em uma dezena de áreas. De maneira quei
grandes roçados e estamos zelando por conta própria a nossa mativa ficam mandando cópias de seus “questionamentos”
área. Portanto, não há esse sentido de que fomos conven pra tudo quanto é entidade. Enquanto propõem que a gente
cidos, para abrir mão de nossas terras”. (Porantim, setem fique "avaliando” eles já recomeçam a fazer um projetinho.
bro/84). Parece brincadeira.

A partir daí a coisa não parou. Recentemente outra missio


Aº a • * # 7• A
Esses caras chegaram aqui ontem. Nós da CPI somos um
nária, segundo o depoimento público do tuxáua Pancho, grupo de acreanos que herdamos um pouco da cultura indí
Kaxinauá do rio Purus, acusou inveridicamente a CPI-Acre gena que está na nossa vida. Somos desconfiados como índio
de conseguir muitos recursos para os índios do Acre para que e também ficamos "cubando essa conversa bonita”. Eles se
possamos garantir nossos salários junto à Oxfam. isolam nos seus gestos e têm desprezo pelos acreanos. Nunca
apareceram na CPI para entregar um documento ou trocar
informações. Quando a gente precisa de seus relatórios tem
A réplica: que pedir cópias no CEDI, em São Paulo, ou mesmo na
ecumenismo etnocêntrico Funai, de quem são excelentes colaboradores embora fiquem
resmungando contra o Estado.
Esses missionários católicos e luteranos não conhecem o nos
so trabalho para ficar falando bobagens. Eles têm uma visão As vezes fico pensando no Deus desses católicos e luteranos.
muito particular das áreas indígenas do Acre pois só atuam Não consigo sentir Deus nesses mensageiros, pastores, lei
diretamente em duas aldeias Kulina em uma área do rio gos, missionários. E isso aí o que eu tenho a dizer, sem
Purus. E mesmo assim estão aproveitando de um trabalho hipocrisias e falsidades. O que tenho a dizer, digo publica
iniciado pelo Padre Paulino de Sena Madureira. No restante mente e pela frente. Ando com esses missionários atraves
das 17 áreas indígenas do Acre o CIMI e os luteranos estão sados na garganta e digo: respeitem mais a CPI-Acre, res
omissos. Que direito eles têm de fazer críticas ao nosso tra peitem mais os acreanos que não querem mais ser coloniza
balho, se nem sequer o conhecem? dos espiritualmente pelas vossas igrejas etnocêntricas. Se
Deus existe, prefiro o Deus do cipó e do Santo Daime. (depoi
Os próprios índios já começam a fazer queixa deles. Os lí mento a Antonio Alves, Folha do Açre, 31/02/85).
deres Kaxinuaá do rio Purus procuraram a CPI porque não
concordaram com a maneira deles encaminharem um pro
jeto econômico para a área deles. Ao invés de elaborarem o
projeto como os índios solicitaram, querem que os índios
concordem com as suas idéias. Que ecumenismo etnocên
trico! Recusaram-se a escrever o projeto só porque os Kaxi do
Recreio e Fronteira exigiram que incluíssem estivas e armas.

206
ACRE 21

Antropólogos defendem Antropólogo responde


Coordenadoria ao Procurador

A legalização ou não da Coordenadoria O sr. Hélio Freitas afirma e reafirma que


Procurador é contra de Assuntos Indígenas do governo do é “terminantemente contrário que se
Coordenadoria Estado tem sido um assunto que vem ge crie um órgão dentro do governo para
rando muitas discussões nos últimos apoiar os índios”, mas seus argumentos
O procurador-geral do Estado, Hélio dias. Políticos e executivos do governo já de que existem coisas mais importantes
Freitas, continua irredutível na sua posi se posicionaram favoráveis à sua efetiva e prioritárias para se fazer no Acre, não
ção de ser contrário à legalização da implantação, pois o órgão já vem funcio justifica nada, muito menos do ponto de
Coordenadoria de Assuntos Indígenas nando de fato desde o início do atual vista jurídico, matéria que devia ser de
da Fundação Cultural, pois o assunto, governo. sua competência enquanto procurador
no seu entender, não é prioritário para o Após conversar com a direção nacional geral deste Estado.
atual governo, embora esteja inserido no da Funai, o governador Nabor Júnior Sugiro que o sr. Hélio Freitas passe lá no
documento oficial que define as “dire pode finalmente, ter chegado à conclu escritório da Ajudância da Funai no
trizes do Governo de Participação e Mu são da importância que teria para seu Acre e aprenda que existem realmente
dança”. Freitas afirmou que esta Coor governo um órgão que dê um apoio efe mais de 9 mil índios sob a jurisdição da
denadoria que já funciona na Fundação tivo à população indígena do Acre — Ajacre. Que a Funai já delimitou 16
Cultural só resolve problemas dos Índios hoje 9,5 mil índios que representam cer áreas indígenas no Acre, num total de
de Boca do Acre, Ipixuna, Eirunepé e ca de três por cento da população do aproximadamente 1.500.000 hectares
outras regiões fronteiriças do Estado do Estado. de terras indígenas no Estado. Manipu
Amazonas. “Eles vivem mexendo com “Não é só criando uma Coordenadoria lar com as estatísticas com o intuito de
os índios de Boca do Acre e de outros de âmbito estadual que se resolve o pro negar a existência de uma questão indí
locais. Estes índios de Boca do Acre blema do índio no Acre. Não é só com gena no Acre sempre foi o procedimento
sempre foram pacíficos, nunca briga isso que o governo pode ficar com a cons adotado pelas autoridades locais que go
ram por terra, eles aceitavam todas as ciência tranqüila. Claro está que a lega vernaram anteriormente este Estado.
terras que lhes foram dadas pelos bran lização desta Coordenadoria pode aju Dizer, como afirma o sr. Freitas, que os
cos, mas este pessoal da Coordenadoria dar, é um espaço no Estado para que os índios do Acre não estão dentro das prio
o Cimi e outras entidades vão lá e coloca índios tenham sua vez”, ressalta o an ridades do governo desse Estado é tam
confusão na cabeça dos índios”, ressalta tropólogo Terri Aquino. Segundo ele, a bém afirmar que os seringueiros, possei
o procurador-geral do Estado. legalização da Coordenadoria “não sig ros e colonos acreanos não são grupos
Segundo Hélio Freitas, “o governo deve nifica que iremos apenas sugar dinheiro sociais importantes para o desenvolvi
ria se preocupar era com a miséria que do governo, pois pretendemos buscar re mento de nosso Estado. Hoje a vida dos
está próxima a todos nós, resolvendo as cursos fora do Estado, como sempre fi índios da região está entrelaçada com a
situações deploráveis dos bairros da Ba zemos antes de se pensar nesta Coorde vida dos seringueiros acreanos. São eles
hia, Palheiral, João Eduardo e outros”. nadoria”. que produzem, com os seus trabalhos,
Para ele, não tem sentido o governo A institucionalização da Coordenado as riquezas dessa terra. E ainda são con
apoiar a legalização de uma entidade ria, segundo ainda Terri, vai permitir a siderados fora das prioridades do Go
que se preocupa em resolver apenas os efetivação de muitos convênios, a exem verno do Acre!
problemas dos índios do Amazonas e plo dos que já foram realizados com a A questão da criação ou não de um ór
não os problemas dos índios do Acre. Funarte (2,5 milhões para desenvolver gão ligado ao Governo do Estado para
O procurador geral do Estado expli artesanato indígena) e com o MEC-Pro prestar assistência aos grupos indígenas
cou sua demora — mais de 6 meses — de memória (8 milhões para divulgação de do Acre, não deve se restringir ao pare
dar um parecer sobre a legalização da material didático para as escolinhas in cer, que nada tem de jurídico, do procu
Coordenadoria, dizendo que tem se dígenas). rador-geral do Estado, mas de uma po
preocupado em resolver outras questões Para a antropóloga Mary Helena, a exis sição política clara e objetiva do Gover
prioritárias do Estado. (O Acre, 07/01/ tência da Coordenadoria de Assuntos nador Nabor Júnior, dos deputados es
84). Indígenas representa o cumprimento do taduais, federais e senadores desse Es
programa do PMDB. (Folha do Acre, tado, principalmente dos representantes
25/01/84). do PMDB. (O Rio Branco, 11/02/84).

207
*####
–/ S.A. XiCENAS NO BRASIL/CED]

Ministro aprova Delegacia


No Ofício nº 606/84 da Fundação Na
cional do Indio, no qual o Senhor Presi
dente solicita aprovação ministerial no
sentido de que seja transformada em |2
Delegacia Regional a Ajudância do Acre
— AJACRE, em Rio Branco. Subme
tido à consideração ministerial, o Se
nhor Ministro exarou o seguinte despa
cho: “APROVO”. Em 17 de julho de
1984. Mário David Andreazza. (Diário
Oficial da União, 30/07/84).

Assembléia em agosto
As lideranças indígenas do Acre e do Sul Nivaldo Apurinã,
do Amazonas irão realizar a 1º Assem indicado pela
Assembléia
bléia Indígena da Amazônia Ocidental, Indígena,
nesta capital durante os dias 10 a 15 de para delegado
agosto próximo, no Centro de Treina da FUNAI
no Acre.
mento da Fundação Cultural. Estes líde
res, cerca de 40 índios, irão discutir os
principais problemas de suas comuni
dades relativos à situação atual de suas
terras, assistência de saúde, assistência
educacional e projetos econômicos que
lhes permitam ocupar produtivamente
as suas áreas já delimitadas, mas ainda
não demarcadas pela Funai. Irão discu
tir também a tutela exercida pela Aju
dância da Funaino Acre (Ajacre/Funai)
e a sua transformação numa delegacia
autônoma, independente da 8° delega
cia regional do órgão, em Porto Velho
RO, cujo delegado titular pouco ou qua
se nada tem feito em benefício dos índios
do Acre e do Sul do Amazonas. Irão dis
cutir ainda atuação e o papel das enti
dades de apoio, como o Cimi, a Comis
são Pró-Indio do Acre, a Associação dos
Estudantes Indígenas do Acre e a Coor
denadoria de Assuntos Indígenas do Es
tado do Acre. Afinal, as lideranças indí Começa a assembléia Apuriña candidato
genas querem saber o que concretamen
te fazem estas entidades em benefício de à Delegacia
Começa hoje o encontro de lideranças
suas comunidades. indígenas do Acre e do Sul do Amazo A Assembléia dos índios se estenderá até
Algumas lideranças indígenas do Acre, nas, com a participação de mais de 40 o dia 14, sendo que no dia 13, próxima
já convidaram o deputado Mário Juruna índios, representantes dos povos Kaxi segunda-feira, será inaugurada a Dele
e um representante da União das Nações nauá, Apurinã, Jamináua, Nuquini, gacia Regional da FUNAI do Acre, em
Indígenas para serem os interlocuto Manchineri, Kaxarari, Katuquina, Ia substituição à antiga Ajacre.
res de suas reivindicações junto à presi uanauá e Kulina. O índio Marcos Tere Falando à nossa reportagem, o índio Ri
dência da Funai em Brasília. Convites, na, chefe do gabinete da Presidência da. valdo, da nação Apurinã, disse que o
nesse sentido, já foram feitos diretamen Funai, chegou ontem em Rio Branco pa objetivo da Assembléia se resume num
te ao presidente da Funai, Jurandir Mar raparticipar da primeira Assembléia da só: “Terra”. “Precisamos de terra”, dis
cos da Fonseca, e ao Juruna, o indige Amazônia Ocidental. O presidente da se Rivaldo, “não só para morar em ci
nista José Porfírio Carvalho, ex-Chefe Funai, Jurandir Marcos da Fonseca, ma. Precisamos também das condições
da Ajacre. chegará no próximo dia 12 de agosto pa necessárias para trabalhar nela. Preci
Será um encontro aberto a todos os ín ra ouvir diretamente as principais rei samos saúde, educação e muita inicia
dios, à imprensa, àsentidades de apoio e vindicações indígenas e criar uma dele tiva no sentido de apoio econômico. Pre
a todas as pessoas interessadas na luta gacia da Funai no Acre. Um represen cisamos que as verbas da FUNAI sejam
dos índios desta terra. (Rivaldo Justino, tante da UNI (União das Nações Indí bem aplicadas, e que a delegacia tenha
líder indígena Apurinã). (Folha do Acre, genas) também se fará presente. (Folha uma preocupação completamente vol
29/07/84). do Acre, 10/08/84). tada para as nações que por aqui vivem.

208
s! Z_Acervo
_A = A ACHE 23

Precisamos mudar a direção da FUNAI Também será reivindicada a indicação Indios ocupam AJACRE
do Acre, botando um índio à frente da do apurinã Rivaldo para o cargo de De
Delegacia”. legado, e o nome do índio Ubiraci Iaua O indigenista José Carlos dos Reis Mei
Segundo o índio Rivaldo, o novo presi nauá será apontado para o cargo de Sub reles deverá ser o novo dirigente da Fu
dente da FUNAI mostrou um pequeno Delegado. Ontem a reportagem da “FO nai no Acre, por um prazo de 90 dias,
espaço democrático para as nações. No LHA" ouviu os índios sobre aquela esco período no qual irá trabalhar na trans
meou um índio para a chefia de seu ga lha, quando eles se mostraram dispostos formação da atual Ajudância (Ajacre)
binete, nomeou outros índios para al a não abrir mão da sua participação na em Delegacia.
glli1S parquêS, COmO OCOrreu recente nomeação do futuro Delegado. De acor A indicação de Meireles e o afastamento
mente no Parque do Xingu e, finalmen do com as lideranças ouvidas, quem do Chefe da AJACRE, Dimas Valencis
te, é possível que seja nomeado um índio quer que seja o escolhido terá antes de se, foi o resultado das negociações entre
para a Delegacia do Acre. (Diário do ser aprovado por todos os chefes de gru as lideranças indígenas do Estado —
Acre, 12/08/84). pos que vivem no Estado. (Folha do que por todo o dia de ontem ocuparam
Acre, 15/08/84). as dependências da Funai e o presidente
do órgão, Jurandy Fonseca, que se en
Manobra do PDS? contrava em Cruzeiro do Sul.
Jurandy cria a Delegacia Antes mesmo da chegada dos funcioná
O chefe de gabinete do Presidente da rios, mais de 40 índios postaram-se à
Funai — o índio Marcos Terema — re Afirmando que a Funai foi até hoje frente do prédio da Funai. A decisão de
velou semana passada, durante seu en omissa em relação aos problemas das co ocupá-lo foi tomada, porque eles exi
contro com as lideranças acreanas, que munidades indígenas desta parte da giam uma resposta concreta do presi
a autorização para a criação da Delega Amazônia, o presidente do órgão, Ju dente, ao documento que lhe entrega
cia foi dada pelo Ministro do Interior, randir Fonseca, anunciou ontem pela ram na véspera, contendo várias reivin
Mário Andreazza, a quem a Funai está manhã a transformação da Ajudância dicações, a primeira delas consistindo
subordinada, não tanto em função dos do Acre em Delegacia. A efetivação da no afastamento de Dimas e na sua subs
interesses do trabalho indigenista, mas medida depende da liberação de uma tituição pelo índio Rivaldo Apurinã, co
da necessidade de garantir alguns pre verba de Cr$ 1 bilhão, do FINSOCIAL, locando como segunda alternativa o
ciosos votos na convenção do PDS, rea solicitada à Secretaria de Planejamento nome de Meireles.
lizada semana passada. do Governo Federal, o que poderá ocor Assim que os escritórios foram abertos,
Agora a Delegacia foi criada e é possível rer até o final deste mês. os índios apossaram-se das chaves, mos
prever um embate pela frente: os índios Jurandir Fonseca destacou a importân trando-se dispostas a permanecer ali du
estão preocupados em evitar que ela se cia da criação da 14º Delegacia Regio rante todo o dia. Uma intensa movimen
transforme em cabide de emprego, e nal da Funai, lembrando que ela disporá tação tomou conta da Funai a partir de
querem participar diretamente da sele de estrutura maior e de melhores condi então. Marcos Terena, chefe de gabi
ção dos novos funcionários. Por outro ções, de modo a atender às necessidades nete do presidente, que viajara cedo com
lado consta que políticos do PDS teriam das nações indígenas da região. Tam destino a Brasília, foi avisado do proble
assegurados para si, o direito de preen bém revelou que a medida havia sido rei ma quando chegou a Cuiabá, de onde
cher os cargos a serem criados. Já tem vindicada pelo governador Nabor Júnior retornou logo em seguida. Enquanto
muita gente por aí, de olho na Funai. ao Conselho Deliberativo da SUDAM, isso, dois assessores de Jurandy Fonse
Aguardem. (Folha do Acre, 15/08/84). consistindo ainda de um pedido que a ca, que permaneceram em Rio Branco,
bancada do PDS havia formulado ao tentavam manter contato com ele, no rio
Ministro Mário Andreazza. Gregório, onde fora visitar uma reserva,
Presidente chega amanhã Agora que a Delegacia está para ser de Ao mesmo tempo iniciavam as primeiras
finitivamente implantada, o presidente negociações com os índios.
O presidente da Funai, Jurandir Fon da Funai afirmou que irá cobrar do go Com a chegada de Marcos foi selado um
seca, chega amanhã a Rio Branco, para verno do Acre, assim como da bancada acordo, posteriormente submetido à
participar da cerimônia de transforma do PDS, apoio para levantar os recursos apreciação do presidente, que concor
ção da Ajudância do Acre (AJACRE) em necessários. dou com a proposta. (Folha do Acre,
Delegacia, prevista para as 9 horas. Esta Depois de se reunir com os índios, quan 18/08/84),
é a segunda vez que um presidente do do recebeu documento pedindo o afasta
órgão de proteção aos índios vem ao E mento do atual Chefe da Ajudância e de
tado — a primeira foi em 1976, quando outros funcionários, e indicando os no
o General Ismarth, então presidente, mes de Rivaldo Apurinã e José Carlos Impasse continua
aqui esteve para ver de perto os proble dos Reis Meireles para ocupar o cargo de
mas dos Apurinãs do km 45 da estrada Delegado, o presidente da Funai viajou A situação na Funai do Acre chegou on
de Boca do Acre. para Cruzeiro do Sul, a fim de inspecio tem a um impasse, que terminou com a
Jurandir Fonseca deverá ser recebido no nar a demarcação de área do rio Gregó sede do órgão trancada, ficando as cha
Aeroporto Presidente Médici por um TiC). ves em poder de Dimas Valencisse, o
Embora a principal proposta de sua ad
grupo de índios, que pretendem levá-lo chefe da Ajudância afastado do cargo na
diretamente para o Centro de Treinaministração seja a de permitir o acesso sexta-feira, segundo as informações de
dos índios aos cargos da Funai, Jurandir
mento, onde está se realizando um en alguns líderes indígenas. (Outros que as
ressalvou ser necessário que o escolhido
contro de lideranças do Estado. Um do chaves foram entregues à Superinten
preencha alguns critérios, destacando
cumento será entregue, no qual os índios dência da Polícia Federal, por determi
particularmente a capacidade para de nação do Presidente da Funai).
irão expor seus pontos de vista sobre
como deva ser conduzido o trabalho sempenhar as funções, e um vasto co
dentro da nova Delegacia. nhecimento do trabalho indigenista.
(Folha do Acre, 17/08/84).

203
s! Z> Acervo
_/\ | <> A NDÍGENAS NO BRASIL/CEDI
Os problemas começaram pela manhã, conversa com o repórter da Folha no res O levantamento fundiário com o estudo
após um telefonema do Presidente, taurante do Senado Federal. Nosser in da definição das áreas indígenas obser
quando ele comunicou a José Carlos formou que o delegado que está ocu vará a natureza de ocupação de cada
Meireles (que havia sido convidado para pando o cargo no momento — indicado uma delas, contingente populacional e
chefiar a Funai) que não aceitaria nego pelos próprios índios acreanos — vai fi conflitos existentes, mediante a identifi
ciar “sob pressão”, as reivindicações das car no cargo apenas temporariamente. cação de posse, domínios, e levanta
lideranças indígenas, que exigiam o Nosser admitiu que o candidato do par mentos documentais em cartório, de
afastamento de seis funcionários do ór tido continua sendo o advogado Ismael certidões de registros e respectiva ca
gão, além do próprio Dimas Valencisse. da Cunha Netto, que tem consenso como deias sucessórias.
Durante todo o dia os índios tentaram nome pedessista para assumir o posto. O trabalho da comissão — integrada por
comunicar-se com o presidente, além do (Folha do Acre, 14/09/84). técnicos da Funai e do Incra — incluirá,
Deputado Mário Juruna, a fim de se também, consultas junto ao Instituto de
chegar a uma solução para o impasse. Terras do Amazonas e Instituto de Ter
Os próprios índios — segundo declarou ras do Acre, objetivando colher infor
José Correia, líder Jaminaua — mostra DEMARCAÇÃO mações sobre a atuação destes órgãos
vam-se dispostos a negociar em torno naquelas áreas. (Gazeta de Notícias,
das demissões, exigindo apenas o afasta Primeiro decreto no Acre 01/02/84).
mento de Francisco Edinaldo, que ocu
pa o segundo posto dentro da hierarquia No último dia 28 de dezembro o Presi
da Funaino Estado. dente da República assinou um decreto
Ao final da tarde, o líder José Correia declarando “de ocupação dos silvícolas
declarou que os índios não vão desistir para os efeitos do artigo 4º, IV e 19898,
de sua luta, permanecendo em Rio da Constituição Federal”, uma área de Monitores indígenas
Branco até que tudo seja solucionado. 92 mil hectares localizadas às margens
Por outro lado, eles mostram-se céticos do Rio Gregório, no município de Ta “A alfabetização é importante para de
em relação à Funai afirmando que “o rauacá e denominada Área Indígena Rio fender o nosso povo. Chegou um mo
melhor é dizer que não existe mais Fu Gregório. mento em que o índio não pode mais
nai, pois antes dela aparecer a gente já Naquelas terras residem 196índios Iaua ficar esperando, tem que aprender a lín
vestia, comia e trabalhava”. (Folha do naua e 124índios Katukina, sendo esse o gua dos brancos e saber como é o seu
Acre, 21/08/84). primeiro decreto criando uma área indí mundo, para não ser explorado. Mas
gena no Acre. A partir do Decreto a área tem que aprender também a manter a
fica definitivamente incorporada ao SPU sua história, a sua cultura e a sua iden
Meirelles assume (Serviço de Patrimônio da União), de tidade.” Com estas palavras, Osair Ca
vendo a Funai proceder à sua demarca xinaua definiu a proposta educacional
O indigenista José Carlos dos Reis Mei ção. que, juntamente com outros 14 monito
reles começou ontem a atuar como chefe O chefe da AJACRE adiantou acreditar res índios, vem desenvolvendo há seis
da Ajudância da Funai no Acre, depois que ainda este anos duas outras áreas meses nas aldeias indígenas do Estado
de ter se reunido na noite anterior com poderão ser objeto de Decretos seme do Acre.
as lideranças que se encontram em Rio lhantes — as Áreas Indígenas Feijó e Viajando por conta própria, bastante
Branco. Na véspera, a Funai foi palco de Igarapé Paroá — cujos traçados foram cansados mas dispostos a falar sobre o
uma grande confusão — aparentemente reformulados de modo a transformá-las seu trabalho, Osair e Francisco Apurinã
motivada por diversos telefonemas anô numa única área. passaram ontem por São Paulo (já esti
nimos, que tinham por objetivo tumul Ainda de acordo com o presidente da veram em Cuiabá e em Campinas, na
tuar a situação dentro do órgão de pro Comissão Pró-Indio, outras áreas estão Universidade Estadual de Campinas
teção aos índios. sendo estudadas pelo Grupo de Traba Unicamp). Na sede da Comissão Pró
Ouvido pela “FOLHA”, Meireles disse lho (GT) integrado pelos Ministérios do Indio narraram suas experiências e mos
ter finalmente aceitado chefiar a uni Interior e de Assuntos Fundiários, e traram a cartilha e o livro de estórias —
dade da Funai no Acre, com o que ela também aguardam a assinatura de De ambos feitos pelos índios monitores, sob
voltou a funcionar normalmente. Tam cretos presidenciais para que sejam de a coordenação da professora de Portu
bém revelou que entre ele e os índios foi marcadas. Referiu-se em especial à área guês Nietta LindembergMonte —, onde
feito um acordo de cavalheiros, no que dos índios Kaxinauá em Tarauacá, dos crianças e adultos estão aprendendo a
diz respeito ao prosseguimento do tra Katukina do Seringal Liege, em Feijó e ler e escrever por meio de desenhos e
balho. De um lado, lembrou, a Funai às terras dos Kaxinauá do Rio Humaitá. palavras ligados à sua própria cultura.
não aceitou a imposição dos índios, de (Folha do Acre, 11/01/84). Este trabalho de alfabetização é fruto do
retirar imediatamente todos os funcio esforço de várias nações indígenas do
nários cuja demissão foi pedida em do Acre que, por carta encaminhada pelos
cumento entregue ao presidente do ór Levantamento índios caxinauas à Comissão Pró-In
gão. (Folha do Acre, 22/08/84). de quatro áreas dio/Acre, em novembro de 82, mostra
ram a necessidade de se preparar os ín
O presidente da Fundação Nacional do dios para serem eles próprios os educa
PDS quer indicar delegado Indio, Octávio Ferreira Lima constituiu, dores e agentes da saúde. Sob a coorde
ontem, comissão encarregada de pro nação do antropólogo Terri Valle de
O PDS não vai desistir de indicar um mover o estudo e levantamento de cam Aquino, foi organizado no ano passado
nome do partido para ocupar a delega po para definição das áreas indígenas de o primeiro curso para monitores do qual
cia da Funai no Acre. Foi o que admitiu “Nukini” e “Povanawa”, município de participaram 25 índios (homens e mu
ontem o deputado Nosser Almeida, em Mancio Lima e “Jaminawa” e “Campi lheres) escolhidos por sua liderança em
nas”, município de Cruzeiro do Sul, to
das no Estado do Acre.

210
*/ Acervo

–/ I S. A - ACRE 25

Festa de formatura
dos monitores
de alfabetização,
que elaboraram
uma cartilha e
um livro
de histórias
(uma das ilustrações,
aparece abaixo).

suas aldeias. Destes 25, já estão traba


lhando ativamente 15, e um dos objeti
vos da viagem de Francisco e Osair é
conseguir ajuda para que possam ter
melhores condições de educar o seu
povo.
De São Paulo, Osair e Francisco segui
rão hoje para o Rio e, em seguida, para * #" |
Brasília, a fim de tentar obter auxílio #EEEEE
“com os grandes”, para poder imprimir \\ " *#|-
mais cartilhas, conseguir material e um
salário. “A Funai ganha dinheiro mas
não cuida dos índios” — acentuou Fran
cisco. E concluiu: “Trabalhamos sem
salários, sem material, sem dinheiro
para imprimir mais cartilhas. Se o MEC
paga professores brancos que não ensi
nam, por que não ajudar os professores
índios?” (Folha da Tarde, 19/09/84).

Grupo de trabalho
para educação
Adequar o programa de ensino oficial à
cultura de diversas comunidades indíge
nas do Acre, atingindo cerca de dois mil
índios, é a proposta do grupo de traba
lho integrado pela Coordenadoria de As
suntos Indígenas da Comissão Pró-Indio
do Acre, Fundação Nacional do Indio e
Secretaria da Cultura do Ministério da
Educação.
A experiência vem sendo desenvolvida
em 15 escolas indígenas do Acre, abran
gendo os grupos Kaxinawa, Katukina,
Ianaua, Apuriná, Jaminaua, e Machi
neri. Cada estabelecimento tem seu cro
nograma de funcionamento adequado
aos hábitos e costumes das comuni
dades.

211
s! Z> Acervo
_/\ | S. A INDÍGENAS NO BRASIL/CEDI

Recentemente, em Cuiabá, houve um escalão do governo estadual, pela maior grupos comandados pelos índios conhe
encontro, com a participação do Projeto autoridade militar do Estado, empresá cidos por Maurício e Geraldo, fazem
Integração da Secretaria da Cultura do rios e a imprensa, navegou o rio Purus ataques freqüentes. “O comando deles
MEC e de índios do Acre que reivindi indo até a localidade de Santa Rosa, e parte do padre conhecido por Anselmo e
caram a legalização destas escolas junto antes de chegar nesta localidade, o gru da missionária Rosa, além de outras
ao Conselho Estadual de Educação. As po navegou ainda o rio Chandless, nun mulheres italianas. Nós não passamos
sim, representantes do grupo de traba ca antes navegado por uma embarcação mais por esta localidade, é muito peri
lho deverão na próxima semana, ir até de tão grosso calibre. goso”, disse José Antônio Alves.
ao Acre para discutir uma proposta a ser O secretário de Transportes tinha o ob Seringal Recreio, Aracaju, Prainha, São
apresentada ao Conselho Estadual de jetivo de observar a calha do rio Purus, e Vicente, Sobral e Nazaré, são algumas
Educação. Este projeto, segundo os téc estudar a viabilidade de navegação na localidades que foram tomadas pelos
nicos, é uma experiência-piloto que po quele trecho, além de fazer estudos to índios, que armados de flechas e rifles,
derá dinamizar outros trabalhos com pográficos para a implantação do novo expulsaram os brancos. “Infelizmente
educação indígena em outros locais. município a se chamar Senador Oscar não podemos matá-los, pois logo sería
(Diário Popular, 03/11/84). Passos, pois, segundo Branquinho, “não mos presos e condenados. Temos que
há condições de município se desenvol aceitar tudo normalmente”, revela um
ver onde atualmente é a Vila Santa Ro ribeirinho. Anteriormente, nestas re
Convênio sa, pois ela muito próxima da margem giões eram produzidos cerca de três to
do rio”. neladas de borracha e atualmente a pro
A Funai, a Secretaria de Educação e O coronel Athos Eichler Cardoso, viajou dução não passa de 300 quilos. Estes
Cultura SEC/AC e a Comissão Pró-In com o objetivo de observar a Vila Santa quase 350 índios vivem em condições
dio/Acre assinaram um convênio (nº Rosa e escolher o local onde será insta precárias. As malocas, feitas de paxiúba
012/85) visando a implementação e re lado um quartel com um pelotão do 4º e coberta por palha, não oferecem as mí
gulamentação de escolas existentes nas BEF, que guarnecerá aquela área de nimas condições de higiene, proteção e
áreas indígenas. O convênio com vigên fronteira, que atualmente não conta Segurança.
cia de quatro anos tem recursos previs com a presença de forças do Exército “Esta é uma das piores tribos que existe
tos para o primeiro ano no valor de cento Brasileiro, apesar de um grande e bem por aqui, pois são totalmente domina
e dois milhões de cruzeiros que correrão armado destacamento do exército pe dos pelos padres do CIMI”, acusa Ro
à conta do FINSOCIAL. (Diário Oficial ruano já estar instalado naquela área há mão da Silva, de 62 anos. Quando uma
da União, 14/03/84). muito tempo. Além disso, o comandante comitiva composta de militares e autori
do 4º BEF acompanhou de perto o tra dades, entre elas o Secretário de Trans
balho de assistência médico-odontoló portes, Rubem Branquinho e o Coman
gica que prestou seus serviços à popu dante do 4º BEF, Ten.-Cel. Athos Ei
chler Cardoso desembarcou na aldeia
ALTO PURUS/ lação ribeirinha do Purus e às várias
aldeias indígenas de Kulinas e Kaxi kulina, vários silvícolas se armaram de
TRANSACREANA nauás, foram os principais objetivos flechas, enquanto outros se escondiam
desta expedição. nas matas próximas, armados de rifles.
Expedição prepara O Procurador Geral do Estado, Hélio Um aviso através de apitos, indicava a
Transacreana Freitas, observou as áreas a serem desa chegada dos visitantes, que foram rece
propriadas, em virtude de estarem no bidos pelo tuxáua Dorrô (Francisco).
Retornou na noite de quarta-feira a Rio curso da rodovia Transacreana, já em Alguns índios mostravam-se apreensi
Branco, a comitiva que, liderada pelo adiantada fase de execução. (Folha do vos com a chegada de militares, sendo
secretário Rubem Branquinho e pelo co Acre, 10/02/84). que o filho de Dorrô, Manoel, disse: “se
ronel Athos Echler Cardoso, empreen vocês estão armados, nós temos homens
deu uma viagem histórica pelo Rio Pu escondidos na floresta, que podem aca
rus, que teve seu início no dia 2 de fe Acusação contra o CIMI bar com todos”. Foi este índio que che
vereiro em Manoel Urbano, indo até a fiou em abril último, junto com funcio
vila Santa Rosa, futuro município a se Dezenas de ribeirinhos localizados no nários do CIMI, um grupo que atacou e
chamar Senador Oscar Passos. Faziam alto do rio Purus na fronteira do Estado roubou de Valdemar Rodrigues, mais de
parte da comitiva, além do Secretário de do Acre com o Peru, estão sendo expul 280 toras de madeira, calculados na épo
Transportes e o comandante do 4º BEF, sos desde o final do ano passado de suas ca em Cr$ 1,6 milhão. (O Rio Branco,
o Procurador Geral do Estado, Hélio moradias, pelos índios caxinauás e ku 10/02/84).
Freitas, o empresário do ramo madeirei linas, que também estão fazendo saques
ro, Carlos Franco Grillo, o pastor pres em algumas embarcações que trafegam
biteriano, Robert Cemenish, o sociólogo na região. A informação foi dada por Bispo defende o CIMI
William Camenish e dois jornalistas, alguns moradores, que afirmaram que a
Edson Luís do jornal O Rio Branco e o ação dos indígenas é comandada pela O padre Paulino e o bispo Dom Moacyr
repórter da Folha do Acre, além do te Comissão Indigenista Missionária (CI Grechi, da Prelazia Acre Purus, des
nente e médico do 4º BEF, Dr. Rogério, MI), que oferece armas e munições aos mentiram ontem versão de seringalistas
o Capitão dentista, Souza e um grupa índios. e marreteiros, veiculadas na imprensa,
mento de oito soldados. Alguns ribeirinhos não passam nas pro de que índios kulina e caxinauás do Pu
Pela primeira vez um barco do calado do ximidades do seringal Fronteira, onde rus e Chandless haviam sido armados e
Santo Afonso, de propriedade do senhor incitados contra os brancos pelo CIMI
Ubaldo de Souza Barros, e com uma co órgão da Igreja, que mantém agentes na
mitiva composta de homens do primeiro região.

212
ACRE 27

Segundo eles, o que estaria ocorrendo dar-lhes apoio condigno que bem preci Igrejas rejeitam
não passa de intriga de comerciantes sam, como assistência educacional, Transaereana
acostumados a vender cachaça aos indí agrícola e de saúde."
genas, e fazer exploração com as tribos, Rubem Branquinho afirmou que a si O Bispo Dom Moacir Grechi, da Prela
além de pretenderem expulsá-los das tuação dos Kulinas e caxinauás que ha zia do Acre e Purus, o CIMI (Regional
terras. A intolerância dos coronéis de bitam o Purus “é degradante, moral do Acre) e a Pastoral Indigenista da
barranco não concebe que os missioná mente falando. Eles só falam em cacha Igreja Evangélica de Confissão Luterana
rios sejam solidários com os índios e fi ça, tabaco e estão completamente desas no Brasil, rejeitam a construção pelo
cam desesperados para incriminar os sistidos” — enfatizou — daí porque dis Governo do Estado da Transacreana
agentes da Prelazia, e se possível afastá se que “defende a necessidade de que por entenderem que vai desestabilizar
los da região, para dominarem suas ter essas comunidades sejam melhores as “os povos irmãos kulinas e kaxinauás e
ras com negociatas excusas. (O Rio sistidas pelos órgãos públicos”, servir aos poderosos interesses econô
Branco, 11/02/84). Acerca da Transacreana, declarou micos em jogo”.
Branquinho que a rodovia se encontra Depois de muito sofrimento e luta, há
com 70 quilômetros prontos e acredita cerca de 10 anos os kulina e kaxinauá
Traçado da Transacreana que até o final do Governo esteja con foram tomando consciência de que ti
em discussão cluída até Santa Rosa, que será sede de nham direitos inalienáveis e sentiram na
um município. Recursos na ordem de 10carne a necessidade de defendê-los. A
Há poucas possibilidades para a Secre bilhões de cruzeiros do BNDES serão partir desta tomada de consciência, co
taria de Transportes e Serviços Públicos usados na rodovia, disse o secretário. meçaram a se organizar para defender a
realizar obras da rodovia Transacreana Sobre Santa Rosa falou que já está pro terra, o direito à saúde e à garantia de
na reserva do Alto Purus, onde habitam cessando estudos para a construção de sua sobrevivência. Um instrumento de
índios caxinauás e kulinas. Apesar de uma boa pista de pouso e debaterá com o cisivo nessa caminhada lenta foram as
ainda não ser demarcada, a determina governador Nabor Júnior sua implanta Assembléias de Lideranças Indígenas,
ção já foi feita pela Fundação Nacional ção definitiva com outras obras, deste apoiadas pelos missionários da Prelazia
do Índio ao Ministério do Interior, que município. do Acre-Purus que atuam desde essa
limitou a área, faltando oficializar a de O Chefe da Ajudância da 8° Delegacia época,
marcação. da Funaino Acre, Dimas Valencise, dis Destas reuniões periódicas saíram pro
Estas terras, assim como todas as áreas se ontem que ainda não há previsão para postas concretas como a de lutar por
indígenas, pertencem ao Serviço de Pa a demarcação da área indígenas do Alto uma terra única e contínua para os dois
trimônio da União (SPU), do Minter. Purus, onde vivem grupos de índios ka povos do alto Purus, ao contrário do que
Para que a rodovia avance nas aldeias xinauás e kulinas. Segundo Dimas, ain a Funai havia proposto em 1977 (3 pe
kulinas e caxinauás, ou em suas zonas da falta formar os grupos de trabalho do quenas áreas descontínuas). Os próprios
de caça, o Secretário de Transportes Ru Ministério do Interior e do Ministério kulina e kaxinauá passaram a marcar os
bem Branquinho deverá entrar em en dos Assuntos Fundiários, que devido à limites de sua área, de modo que hoje
tendimentos com o Governo Federal. escassez de verbas, não podem realizar a está claro para eles e para os próprios
Fontes da 8º Delegacia da Funai infor demarcação dessa área. Porém, a Funai moradores do rio que suas terras vão
maram, entretanto, que “tal possibili realizou uma delimitação administra desde o igarapé Prainha até o igarapé
dade é quase remota, apesar da estrada tiva, que será encaminhada ao Minter, Canamari, lado direito do Purus, e no
ter muita importância para o Estado do onde aponta detalhes de posse, explora fundo da área, subindo o rio Chandless,
Acre e toda região fronteiriça”. ção. Para isso teve o apoio do Incra. (O da boca do Cochicha até encontrar o iga
Além de Santa Rosa, o Governo do Es Rio Branco, 14/02/84). rapé Canamari.
tado vai instalar um outro município ao Do lado esquerdo, um pequeno trecho
longo da rodovia Transacreana. Será o que vai do igarapé São Vicente até o iga
município de Hugo Carneiro, à altura do Projeto da Transacreana rapé Nazaré (terra de residência com
quilômetro 180 desta estrada, com a está pronto provada dos kulina, com vários antigos
área sendo desmembrada de Sena Ma cemitérios, além de ser local de extração
dureira, informou ontem o Secretário de O diretor-presidente do Deracre, Mar de seringa da aldeia de Maronaua). A
Transportes, Rubem Soares Branqui cos Furtado, informou ontem ao gover reserva conta com 265 mil hectares.
nho. As duas obras deverão estar con nador Nabor Júnior que o projeto de en A exigência maior dos kulina e kaxi
cretizadas até o final da administração genharia da rodovia Transacreana está nauá neste momento é a imediata de
Nabor Júnior, prometeu Branquinho. em fase final de conclusão pelo órgão e marcação oficial de sua área por parte
Sobre o traçado da Transacreana, disse que continuam os entendimentos com o da Funai. Sobretudo, em vista da cons
Branquinho que o projeto não corta a BNDES visando ao financiamento da trução da Transacreana que trará incon
reserva indígena dos Kulinas e Caxi obra. táveis prejuízos para estes povos. É bom
náuas que vivem no Purus. Sobre a en A informação foi transmitida ao gover lembrar que eles estão dispostos a de
trevista que deu recentemente à TV nador durante o despacho que fez ontem fender sua terra a qualquer custo e ja
Acre, dizendo que pretendia debater na Secretaria de Transportes, quando se mais vão admitir qualquer tipo de reta
com a União a diminuição dessas reser -reuniu com o secretário Rubens Bran lhação ou redução dessa área. A suges
vas, esclareceu: quinho e os dirigentes das empresas Sa tão do Secretário de Transportes Rubem
“O que pretendemos é que haja uma nacre e Cohab, órgãos vinculados à Se Branquinho de concentrar os índios
adequação, porque o total de índios tran. (Folha do Acre, 16/02/84). num local é não só um absurdo do ponto
existentes no local é pequeno para o ta de vista antropológico como também
manho da reserva. Se conseguirmos uma uma proposta mal-intencionada. (O Rio
maneira de concentrá-los, poderíamos Branco, 19/02/84).

213
Acervo
| <> A
INDÍGENAS NO BRASIL/CEDI

Faltam recursos — principalmente de nome Martins que

A denúncia de que o governo brasileiro


BR-364 | comprou ilegalmente a posse de seis fa
mílias de posseiros — estarem ameaçan
só repassou à Fundação Nacional do In Milhares de dólares do de morte alguns líderes e membros da
dio US$ 6 milhões dos US$ 26 milhões comunidade apurinã. No caso dos apu
para a rodovia
devidos para atender as áreas indígenas Porto Velho-Rio Branco rinãs de Boca do Acre, a direção anterior
atingidas pelo programa Polonoroeste da Funai, tendo na presidência Octávio
foi analisada pela presidência do órgão, A estrada que liga Porto Velho a Rio Ferreira Lima, chegou mesmo a encami
juntamente com representantes da Su Branco (continuação da BR-364) será nhar ao Ministério Extraordinário de
deco, IBDF e Banco Mundial. Como re pavimentada com recursos especiais já Assuntos Fundiários (que decide sobre
sultado a direção da Funai alterou a aprovados pelo BID, no valor de 58,5 questões de terras) um parecer garan
equipe da Coordenadoria de Projetos milhões de dólares. Desse total, 6 mi tindo que a área em questão não perten
Especiais, mas o fato, segundo fontes do lhões de dólares serão destinados à pro ce aos índios apurinãs, mas sim a par
órgão, poderá comprometer não só a teção das comunidades indígenas e da ticulares da área.
execução dos programas implantados ecologia afetadas pela rodovia, aos quais Nos próximos dias, o Presidente da Fu
em 55 áreas indígenas como também as se deverão somar uma contrapartida de nai enviará novo parecer reconhecendo
negociações que visavam estender os be 4 milhões de dólares do governo brasi ao Ministério dos Assuntos Fundiários
nefícios do Polonoroeste às 32 comuni leiro. Tais recursos, ainda sem prazos e o direito dos apurinãs sobre as terras em
dades indígenas que serão atingidas com condições de utilização definidos, serão questão. “Temos aqui na Funai um am
a construção da rodovia Transacreana, geridos pelas agências governamentais plo levantamento que define exatamente
extensão da BR-364 que ligará Porto Ve afins. quais as áreas de terra que pertencem
lho a Rio Branco. Na verdade, o total orçado para a execu aos apurinãs e vamos agora encaminhar
A Transacreana é considerada, pelo ção das obras foi de 72 milhões de dóla o assunto para o Ministério, que logo irá
Conselho Indigenista Missionário e pela res, dos quais 13,5 milhões estão blo resolver sobre o pagamento das indeni
Prelazia do Acre-Purus, uma séria queados porque os representantes dos zações dos posseiros existentes na área
ameaça à sobrevivência dos índios Ku EUA no BID se abstiveram durante a indígena.” Até agora, a questão dos
lina e Kaxinauá, habitantes da região do votação do projeto, pressionados que fo apurinãs ainda não foi resolvida porque
Alto Purus. ram por organizações ecológicas civis a Funai sempre entravou a solução.
“Se a situação dos Kulina e Kaxinauá norte-americanas. (informações obtidas Os dois índios apurinãs que se encontra
neste momento já é dramática, imagi oralmente por Betty Mindlin, coordena vam ontem na sede da Funai falaram à
nem se for construída a estrada Transa dora da Equipe de Avaliação do Polono “Folha” que “estão confiantes” de que
creana, quando os povos indígenas do roeste FIPE/USP, na sede do BID, em agora o problema de suas terras seja re
Alto Purus estarão finalmente cercados Washington.) solvido”. Estamos aqui desde a semana
e acuados por todos os lados”, acentuam passada e só sairemos de Brasília quan
as entidades. do a terra toda estiver garantida. Mas
Enquanto os órgãos envolvidos na cons parece que os homens daí de cima vão
trução da rodovia planejavam atender
apenas quatro comunidades indígenas,
APURINÃ Do 45 | resolver mesmo o assunto. Agora a Fu
nai melhorou mais prá índio”, disse o
a Coordenadoria de Projetos Especiais Anunciada operação índio Manoel, tendo ao lado seu irmão
negociava a assistência às 29 restantes, desarmamento José Apurinã. Ontem mesmo, os dois ín
perfazendo um total de aproximada dios acreanos conversaram com o Presi
mente 4.700 índios. Esta assistência in A presidência da Funai, com a Polícia dente da Funai e com vários de seus as
cluiria demarcação e regularização das Federal, vai organizar uma ampla ope sessores, deles recebendo a promessa de
terras, projetos nos setores de saúde, sa ração de desarmamento de fazendeiros e que sairão com toda a documentação
neamento e educação, desenvolvimento jagunços que estão ameaçando os Apu que irá dar uma solução para o antigo
de atividades produtivas (agropecuá rinãs, no Km 45 da BR-317, em Boca do conflito do quilômetro 45, na rodovia
rias). Acre (Amazonas). BR-317. (Folha do Acre, 25/05/84).
No entanto estas negociações, iniciadas Essa ação foi prometida ontem pelo Pre
ainda na administração do ex-presiden sidente da Funai aos dois líderes Apu
te Jurandy Marcos da Fonseca, foram rinãs, José e Manoel Apurinã, que se en Grupão veta a ampliação
interrompidas no decorrer da semana, contram em Brasília para resolver “de da reserva
com as alterações feitas na Coordena uma vez por todas” a questão de terras
doria, criada em 1983. (Correio Brazi de sua comunidade, cuja solução vem Um advogado da FUNAI deverá ser en
liense, 29/10/84). sendo protelada, há anos, pela Funai e viado em breve ao Km 45 da estrada de
os órgãos federais envolvidos na questão Boca do Acre, a fim de verificar os pro
fundiária. blemas que estão sendo causados por
Os líderes apurinã já se encontraram um fazendeiro de nome Martins, que te
duas vezes com o novo Presidente da Fu ria adquirido uma posse, em terra rei
nai, estando agora discutindo com os vindicada pelos índios. Determinação
técnicos dos órgãos as ações a serem pos nesse sentido foi encaminhada à Aju
tas em prática para que sejam retiradas dância da FUNAI no Acre (AJACRE),
de suas áreas cerca de 15 famílias de pos pelo presidente do órgão, Jurandy Mar
seiros que ali se instalaram. cos da Fonseca.
Segundo explicou ontem para Folha
um assessor da presidência da Funai, a
ação de desarmamento a ser empreen
dida pela PF se deve ao fato de fazen
deiros e jagunços existentes na área
214
s! Z> Acervo
_/\ | <> A ACRE 29

Paralelamente, o novo diretor do Depar Tensão aumenta Para abrir mãos das terras onde está ins
tamento de Patrimônio Indígena da FU talado o fazendeiro José Cordeiro, os ín
NAI, A. Faleiros — engenheiro que nos Caso a Funai não resolva em tempo bre dios foram convencidos a aceitar em tro
últimos meses atuou na AJACRE — en ve a questão da demarcação dos 25 mil ca um projeto de desenvolvimento eco
caminhou um relatório ao presidente do hectares de terras dos índios Aripuanã, nômico, coordenado pelo Sr. Terri Vale
órgão, sugerindo o reconhecimento de do Estado do Acre, pode haver uma luta de Aquino, que além de não substituir a
uma área de... 8.650 hectares, como armada entre eles e os colonos que estão necessidade do reconhecimento do terri
sendo território de posse imemorial e de localizados ilegalmente naquela área, tório indígena, já vem causando diver
ocupação permanente dos Apurinã. alertou ontem o coordenador do CIMI, gências inter-grupais, comprometendo
Os problemas do km 45 agravaram-se daquela região, Anselmo Forneck. os princípios de coesão que também se
em 1972, ano em que toda aquela região — No período de 1979 e 1980 a área se constituem numa garantia de sobrevi
da estrada de Boca do Acre foi grilada transformou num verdadeiro campo de vência deste povo.
por João Sorbile, conhecido por “Cabe batalha entre índios e colonos. Várias A FUNAI, traindo sua condição de tu
ça Branca”. Em 76, quando a AJACRE vezes o CSN esteve presente, e também tora legal, esquece de proteger a vida e o
foi criada, dado o clima de tensão rei chegou a ser convocado o batalhão do patrimônio dos índios, passando a de
nante, a FUNAI providenciou a demar Exército de Rondônia. Nessa ocasião fo fender interesses alheios à sua compe
cação de 17.517 hectares, trabalho esse ram feitas várias denúncias de irregula tência, como deixa claro este caso em
concluído em 78. ridades dos títulos dos colonos, emitidos que um fazendeiro está sendo privile
Contudo, ante a iminência de conflitos por um cartório do Acre, que acabou giado em detrimento dos direitos indí
graves, não houve tempo para que se sendo fechado, conta Forneck. genas. Ao encaminhar esta denúncia, o
procedesse a um rigoroso estudo, de Várias comissões da Funai que estive CIMI espera que a questão seja reestu
modo a determinar qual era a área que ram no local reconheceram que há ne dada em tempo hábil de forma a impedir
efetivamente atendia as necessidades cessidade da demarcação dos 25 mil hec que o problema atinja dimensões irre
dos Apurinã. Assim, já em 1979 surgiu a tares como área contínua para a sobre versíveis. (A Crítica, 03/03/84),
primeira reivindicação de acréscimo de vivência dos Aripuanã e para a paz na
área, pois tanto os castanhais como os quela localidade. Atualmente, perma
seringais e o acesso ao rio Acre — essen necem oito famílias de colonos — mais AJACRE cedeu no Pauini
ciais para a sobrevivência física e cultu de 20já foram embora —. As que saíram
ral dos Apurinã — haviam ficado fora passaram suas terras ao grileiro Mar Os índios enfatizaram que não aceitam
da área demarcada, tins. Este, contratou trêsjagunços que já mais o atual Chefe da AJACRE, Dimas
No ano seguinte a FUNAI enviou uma destruíram três casas de famílias indíge Valencisse, à frente da Funai, uma vez
equipe ao km 45, cujos estudos antro nas e o clima de tensão volta a crescer na que ele não teria agido conforme os inte
pológicos concluíram pela necessidade área que fica situada próximo à BR-317, resses das comunidades locais. Queixa
de se acrescentar 8.650 hectares à área que liga Rio Branco à Boca do Acre. ram-se particularmente de sua atuação
indígena. Corroborando as conclusões (Jornal de Brasília, 12/06/84), para com os Apurinãs dos rios Peneri e
desse trabalho, em setembro de 82 o en Tacaquiri, no município de Pauini
tão presidente da FUNAI, Paulo Leal, (Amazonas), quando a Funai teria ce
assinou portaria declarando como sendo dido às pressões de um fazendeiro, de
de posse imemorial dos Apurinã, a área APURINÃ nome José Cordeiro.
em questão. Segundo disseram, semanas atrás o fa
Logo a seguir foi feito um levantamento DE PAUINI zendeiro retirou da área indígena todas
fundiário do local, constatando-se a pre as placas que haviam sido colocadas
sença de 23 famílias de colonos, os quais Nota do CIMI pela Funai, quando o órgão realizou a
deveriam ser indenizados. Àquela época delimitação da área, fato ocorrido em
o custo da indenização foi estimado em É a seguinte, na íntegra, a nota do CIMI 83. José Cordeiro teria inclusive devol
Cr$ 90 milhões. Todos os colonos foram Norte I: vido as placas à AJACRE, onde elas ain
consultados, e aceitaram a proposta da “A 7º Assembléia Regional do CIMI da se encontram. Ao invés de defender
FUNAI, sendo que o INCRA se compro NORTE I, reunida nos dias 22-25 de fe os interesses dos índios, Dimas Valen
meteu a assentá-los em outrasterras. vereiro em Coari, no Estado do Amazo cisse teria enviado ofício aos Apurinãs
No ano passado, porém, com a aprova nas, discutiu a situação dos índios Apu afirmando que eles não tinham assegu
ção do Decreto 88.118 que transferiu da rinã, do município de Pauini, localiza rado o direito sobre as terras enquanto
FUNAI para um Grupo de Trabalho (in dos nos rios Seruini, Tacaquiri e Peneri. elas não fossem demarcadas. Consul
tegrado por representantes dos Ministé Este grupo indígena, constituído por tado sobre o fato, o Diretor do Patrimô
rios do Interior e de Assuntos Fundiá cerca de 250 pessoas, vem nos últimos nio Indígena da Funai, Áureo Faleiros,
rios, além da própria FUNAI e de outros anos reivindicando a demarcação da que na segunda-feira esteve em Rio
órgãos federais e estaduaisjulgados con área que lhes pertence, tendo consegui Branco quando se reuniu com as lide
venientes) a competência para examinar do recentemente a delimitação de ape ranças, afirmou que não é necessário a
as propostas de definição de áreas indí nas parte do território de ocupação ime demarcação para que os índios tenham
gena, o processo dos Apurinã do 45 foi morial. Os 82.000 hectares delimitados direitos às terras que ocupam secular
paralisado, pois a GT não aprovou a rei não correspondem às necessidades e as mente. Também disse que a atitude
vindicação dos índios. pirações dos Apurinã, pois outra parte mais coerente seria mandar afixar nova
Hoje, novamente a tensão reina na área. do território indígena foi entregue ao fa mente as placas, no local de onde foram
Os índios continuam utilizando as terras zendeiro José Cordeiro, que se instalou retiradas. Os Apurinãs que estão parti
para as suas atividades econômicas, na área ilegalmente e contra a vontade cipando do encontro das lideranças fo
além de proibirem derrubadas e de não dos índios. ram até à AJACRE, na última segunda
permitirem a entrada de não-índios. feira, quando exigiram que as placas
(Folha de Acre, 02/06/84). fossem repostas. (Folha do Acre, 15/08/
84).
215
</I_Acervo
| E ºs INDÍGENAs No BRASIL/cED

Prefeito denuncia Decretada área do Jordão 81, esses índios atacaram casas de serin
ameaça indígena gueiros e os índios Campa já contatados,
O decreto nº 90.645 de 10 de dezembro os quais organizaram uma “caçada”
Os índios Apurinãs estão ameaçando in de 1984 assinado pelo presidente da Re para vingar o ataque matando uma mu
vadir o município de Pauimi, a 915 qui pública, João Figueiredo, e pelos minis lhere uma criança.
lômetros de Manaus, para tomar posse tros Mário David Andreazza e Danilo Os índios arredios vivem numa região
do seringal Catipari, localizado a 60 qui Venturini, declara de ocupação dos sil despovoada, acima da Fazenda Califór
lômetros da cidade. A denúncia é do vícolas uma área de terra denominada nia, do Grupo Atalla, e das aldeias dos
prefeito de Pauimi, Francisco Venâncio, Área Indígena Kaxinawá do Rio Jordão, índios Kulina e Campa, na fronteira
acrescentando que há cerca de 15 dias no município de Tarauacá, no estado do com o Peru. Por não possuir castanhei
esses índios mataram a facadas Maria #" (Diário Oficial da União, 11/12/ ras e seringueiras, a região permanece
de Souza, além de ferir nove pessoas no ). inexplorada até hoje. A Funai está cer
seringal. cando a expedição de certo sigilo, por
A Delegacia Regional da Funai em Ma que prevê muitas dificuldades em fazer o
naus não tem conhecimento oficial da Decretada área do Humaitá contato, considerando que já houve con
denúncia, porque Pauimi, mesmo sendo fronto entre índios arredios e índios con
município do Amazonas, é jurisdicio O decreto nº 90.644 de 10 de dezembro tatados. Presume-se até que o grupo
nado para questões indígenas à ajudân de 1984, assinado pelo presidente da Re possua armas de fogo que tomou de se
cia da Funaino Acre. pública, João Figueiredo, e pelos minis ringueiros, que fizeram incursões na
Morando há séculos na região, os Apu tros Mário David Andreazza e Danilo área e desapareceram misteriosamente.
rinãs, segundo informações do padre Venturini, declara de ocupação dos sil (A Tribuna, 14/03/84).
Henrique Vieira, vigário da Paróquia de vícolas uma área de terra denominada
Santa Agostinha, em Pauimi, vêm se Área Indígena Kaxinawá do Rio Hu
queixando há muitos anos da ocupação maitá, no município de Feijó, no estado Ataque aos Kampa
de um lago localizado no seringal Cati do Acre. (Diário Oficial da União, 11/ do Humaitá
pari, local onde eles sempre comerciali 12/84).
zavam. O seringal teria sido vendido ile O cacique Otoliano, da tribo Campa,
galmente a Evaldo Said, um “regatão”
que habita a região do alto Rio Humai
de Pauimi, que afirma ter o título defi ta, na fronteira do Acre com o Peru, foi a
nitivo da terra. (O Estado do Paraná,
22/09/84).
KATUKINA/ Rio Branco pedir providências à ajudân
KAXINAWA cia da Funai contra os ataques de um
grupo de índios arredios. O Cacique
contou que os índios arredios são altos,
Decreto fortes, de pele clara e cabelos longos e
atacam a aldeia dos Campa quando os
Surto de sarampo O decreto nº 89.488 de 29 de março de homens saem para a caça e ficam apenas
1984, assinado pelo presidente da Repú as mulheres e crianças que são obriga
O chefe da Ajudância da 8° Delegacia blica, João Figueiredo, e pelos ministros das a se refugiarem nas matas. Disse que
da FUNAI em Rio Branco, José Carlos Mário David Andreazza e Danilo Ven eles chegam de tacape e bordunas e vão
Meirelles Júnior, confirmou ontem, nes turini, declara de ocupação dos silvíco levando tudo o que encontram na aldeia
ta cidade, que pelo menos sete índios las uma área de terra denominada Área — panelas, roupas, espingardas. O ca
kaxinauwas morreram de sarampo nas Indígena Katukina/Kaxinawá de Feijó, cique Otoliano pediu ao chefe da aju
últimas semanas, no rio Jordão, próxi nos municípios de Feijó e Envira, nos dância da Funai que organize uma fren
mo a cidade de Tarauacá, 350km de Rio estados do Acre e do Amazonas. (Diário te de atração, pois do contrário os Cam
Branco. -
Oficial da União, 30/03/84). pa terão que abandonar sua aldeia. (Jor
Meirelles acrescentou que, desde o mês nal de Brasília, 14/06/84).
de abril deste ano, vários surtos de sa
rampo foram detectados em inúmeras
comunidades indígenas do Estado do GRUPOS ARREDIOS Sai frente para o Envira
Acre. Entretanto, apenas agora come
çam a aparecer as mortes. Uma equipe Frente de atração O sertanista da FUNAI, Benamour Fon
de médicos da Secretaria de Saúde do para o Envira tes, saiu ontem de Tarauacá para con
Estado do Acre e da FUNAI retornou do tactar uma tribo desconhecida no alto
local e informou sobre as mortes. A ajudância da Funai no Acre está pre rio Envira. O trabalho de atração dos
Segundo o secretário de Saúde, José Al parando, em sigilo, uma expedição para indígenas é lento, e necessita de presen
berto de Souza Lima, o surto provém de atrair um grupo de índios arredios que tes para convencê-los das intenções dos
São Paulo e já passou por Mato Grosso e habitam a região do Alto Rio Envira, no brancos. Guiado por caxinauás, o serta
Rondônia. (Diário Popular, 30/11/84). Município de Feijó. Presume-se que este nista leva em sua bagagem muita bugi
seja o último grupo indígena que ainda ganga para distribuir. (Folha do Acre,
não foi contatado no Estado e, pelas in 12/08/84).
dicações que se têm, pertencem à tribo
dos Jaminauá.
A frente de atração será chefiada pelo
sertanista Benamour Fontes, que se en
contra em Rio Branco fazendo os prepa
rativos para a viagem. Em 1979, 80 e

216
Aº.

RONDONIA

217
sL7-Acervo
–/ | S.A, S ÍNDÍGENAS NO BRASHL/CEDI

POVOS INDIGENAS NO BRASIL/CED!


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PoRTo veL!
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218
RoNDÔNIA3

QUADRO GERAL DOS POVOS INDÍGENAS DA ÁREA RONDONIA


NÇ NO NQ DE ALLETAS OU
POVO MAPA NOME DA ÁREA MUNICÍPIO NOME LYS ALDEIAS POPULAÇAO FONTE E DATA

l Parque Indígena Aripuanã (MT), + 5


Aripuanã (1) Vilhena (RO)
2 AI Serra Morena Aripuanã (MT) A

CINTA-LARGA 3 AI R_X_Sevelt Pimenta Bueno(RO) # 8 Junqueira: 85


Aripuanã (MT)
4 AI Aripuanã Aripuanã (MT) l4 + 100
500 a
1.000 (T)
Aripuanã (MT), PI Sete de Setembro 252

SURUÍ 5 AI Sete de Setembro! P. Bueno e E"I Linha i4 104 - IMindlin: 85


- CaCOal (RO)
357 (T)

ZORO 6 AI Zoró Aripuanã (MT) l 1 72 Garbini: 84

GAVIÃO 7 AI Igarapé Lourdes|Ji-Paraná (RO) 20 236 Leonel Jr.. :84

ARARA (KARO) 7 AI Igarapé Lourdes]Ji-Paraná (RO) l 98 Mindlin: 84

KARTHIANA 8 AI Kariti 3Tlā Porto Velho (RO) } 129



Mindlin,
#ll"IL eino Leonel Jr.: 84

KARIPUNA (2) 9 AI Karipuna


+
Porto Velho (RO) H. 22 Mindlin,
Leonel Jr.: 83

-- Porto Velho (RO) a + º

KAXARART 10 AT Kaxarari Lábrea (AM)


* 3 L35 GaWilik: 84

URU-EU—WAUJ-WAU ll. AI Uru-eu-wau-wau | Ji-Paraná (RO) arredios 1.000 | Leonel Jr.: 85

URUE'#\-TN ll AI Uru-eu-wau-wau |Ji-Paraná (RO) arredios

MACURAP, l2 AT Rio Branco Guajará-Mirim 52

TUPARI, 127

ARUÁ, 5

Ê, } Leonel Jr.: 84
ARIKAPU, 3

JABOTI, 4
FOLUMETARA 15

210 (T)

TUPARI, MACURAP,
CANOÉ, JABOTI,
AJURU, ARUÁ, l3 AIPI Guaporé Guajará-Mirim Leonel Jr.: 84

ARIKAPU,MASSAÇÃ,
UARI, MEQUEM 208 (T)
Xupinguá 2{} Lima: 83

Bela Vista 36 Lima: 83

1 aldeia Aikaná 28 Lima: 83


AIKANÃ/LATUNDÊ l4 AI Tubarão/Latundê|Vilhena R. do Ouro

Latundê ]] Lima: 83

Veado Preto 13 Mindlin: 84


108 (Tº

218
Acervo
2. A INDÍGENAS NO BRASIL/CEDI

POVO "…" NOME DA ÁREA MUNICÍPIO §="# POPULAÇÃO FONTE E DATA


15 AI Pakaa-Nova Guajará-Mirim |Tanajura 266 Leonel Jr.: 84
Santo André 177

DiOlinda 30
PAKAA-NOVA 16 AI Rio Negro Ocaia|Guajará-Mirim l 250 | Arruda: 84

(ORO-UARI) 17 AI Ig. Ribeirão lidem l 85 Arruda: 84


18 AI Lages idem l 235 LeOnel Jr.: 84
• AT Sagarana idem l 113 LeOnel Jr.: 84

1.156 (T)
MACURAP e L9 AI Rio Mequens Colorado do Oeste 69 LeCnel Jr.: 84

SAKIRAP

URUEU - dispersos ?

MIGUELENO
(CUCRUBI) 20 arredios +50

ÍNDIOS DA SERRA
2l arredi©S --50
DO TAQUARAL -

(*) Os dados sobre população foram levantados entre 82 e 84 pelas pessoas que compõe a Equipe de Avalia
ção do Polonoroeste FIPE/USP: Abel Barros Lima, Betty Mindlin (coordenadora) , Carmem Junqueira, F

Edgard de Assis Carvalho, Lúcia Helena Rangel, Mauro de Mello Leonel Jr., Rinaldo Sérgio Arruda E

Roberto Gambini, com a colaboração (para Kaxarari) de Terri Vale Aquino.


(1) As áreas Cinta-Larga e Suruí fazem parte do Parque Indígena do Aripuanã, mas não são áreas contínuas.
A área total, aproximada, do Parque é de 1.880.246 ha.
(2) desse total, 8 são Karipuna e 14 Karitiana.

220
RONDÔNIA 5

AVALIAÇÃO DO
POLONOROESTE:
UMA PROPOSTA
Após três anos,
mais da metade das terras
(demarcadas ou não) está invadida.
Os índios atingidos pelo Programa
estão ameaçados de naufragar num mar de migração.

Betty Mindlin (*)

ala-se muito pouco sobre o Programa Polonoroeste, O novo Estado de Rondônia sofre a pressão dos dois lados de
F apesar de suas conseqüências desastrosas para o país.
O programa, de mais de um bilhão de dólares, com
um capitalismo desenfreado: a enxurrada dos que vêm em
busca de terras, e a ocupação empresarial aventureira. Com
financiamento parcial do Banco Mundial, tem como eixo a panhias madeireiras, mineradoras, e centenas de serrarias
pavimentação da rodovia Cuiabá-Porto velho (BR-364), em de várias regiões do país depredam a mata, com uma veloci
torno da qual giram projetos de colonização, de desenvolvi dade tão grande que o prognóstico oficial é de que daqui a
mento rural, de assistência à saúde e de defesa do meio am dez anos, se o ritmo continuar o mesmo, não haverá mais
biente e das comunidades indígenas. Imaginado como um floresta.
meio de desafogar a tensão social e o desemprego no país,
levando a população ao Centro-Oeste e dando terra aos des Estradas estaduais e vicinais e projetos estaduais de desen
tituídos, está na realidade, depois de 3 anos, provocando volvimento acompanham o Polonoroeste, facilitando o des
uma tensão social insustentável e a ocupação caótica e pre matamento. A BR-429 (Presidente Medici-Costa Marques),
datória da região. que passa ao sul do território dos Urueu-wau-wau, deve estar
pronta em abril. Pequenas cidades surgem onde, há um ano,
Os índios, no programa, são os grandes perdedores. Trata apenas havia mata, e ondas de colonos acompanham a es
se de 40 grupos indígenas, um total de 9 mil pessoas, em trada, em número muito superior ao que o projeto Bom Prin
Mato Grosso e Rondônia. Teoricamente, as terras dos índios cípio do Incra pode abrigar. Vai ser difícil aumentar o nú
e sua sobrevivência deveriam estar asseguradas pelo progra mero de projetos de colonização. Alguns já idealizados, como
ma. No entanto, no começo de 1985, só a metade das áreas o Samaúma, podem mesmo ser abandonados, por ser o solo
estava demarcada; mais da metade, terras demarcadas ou de baixa qualidade.
não, estava invadida; e 14 grupos, arredios ou desaldeados,
não tinham sido contatados pela FUNAI e não tinham terri
tório definido. Estavam previstas medidas de defesa das co
munidades indígenas, mas eram marginais ao Programa Os novos proprietários
como um todo, e não se integravam aos planos de outros
órgãos públicos. O INCRA, p. ex., não espera que os índios Mal é aberta uma nova via de acesso, o fluxo de imigrantes
arredios sejam identificados para definir a área dos projetos; estimulado pela propaganda oficial no país é muito superior
estradas são feitas onde há população indígena desconhe ao número de pessoas que o Incra pode assentar. As áreas do
cida. A política de defesa do índio é totalmente despreparada Encra e reservas florestais são invadidas por enxames de co
para a violência das mudanças trazidas pelo Polonoroeste. lonos, mas as áreas indígenas são as mais vulneráveis, mes
mo as que já estão demarcadas e com todas as garantias
Basta registrar que em Rondônia entraram, em 1984, mais legais.
de 150 mil pessoas, e que o Incra só pôde assentar, no má
ximo, 5 mil famílias. Em 1985, a previsão não é melhor: a O exemplo mais flagrante é o do P.I. Lourdes, terra dos Ga
imigração só tende a aumentar, e a capacidade do Incra con vião e Arara (Karo), área demarcada e homologada. Em
tinuará limitada ao mesmo número. Sem possibilidade de outubro de 1984, havia 750 famílias de invasores, a maioria
sobrevivência, a população excedentefica sujeito a índices de tendo chegado no último ano e meio com a Polonoroeste e a
malária crescentes, invadindo as terras que conseguir, ou BR-364, que fica muito próxima. Em outubro, mais da me
seguindo adiante, para o Acre e Amazônia. Nem sequer a tade dos invasores já havia sido retirada, numa operação que
produção agrícola tem resultados positivos ou contribuiu
muito para o abastecimento do país.
(*) antropóloga, coordenadora da Equipe de Avaliação do Polonoroeste
FIPE/USP. Utilizou para a elaboração do presente texto informação
contidas nos relatórios dos demais membros da equipe: Abel de Barros
Lima, Carmen Junqueira, Mauro de Mello Leonel Jr., Miguel Menem
dez, Rinaldo Arruda, Roberto Gambini e Terri Valle de Aquino. .

221
</_> Acervo
|-

_/\ | S. A
NDÍGENAS NO BRASIL/CED]

custou à FUNAI cem mil dólares, para pagar a Polícia, de Os indios e o desenvolvimento
pois que os índios atacaram os colonos e mantiveram 15 econômico
pessoas como reféns, durante um mês. Em dezembro, por
rém, quase todos os invasores voltaram, com o apoio de polí Diante deste quadro drástico, a população indígena tem
ticos locais e ao que se diz, também de altas autoridades de pouca capacidade de defesa e um pequeno trunfo. O Pro
Brasília. Em janeiro de 1985, a FUNAI aguardava recursos grama Polonoroeste prevê um projeto de apoio às comuni
para nova operação de retirada. dades indígenas de 26 milhões de dólares, Teoricamente de
veriam ter sido gastos até 1985, mas 19 milhões de dólares
Noutros locais, é a retirada de madeira que é assustadora. ainda não foram utilizados, por incompetência administra
Nos Mequéns, três madeireiras ilegais, entre as quais a La tiva do Governo brasileiro e por pressões econômicas e polí
vrama do Norte, retiram 50 caminhões diários de madeira de ticas contrárias aos índios. Um acordo entre o Banco Mun
lei, sem qualquer ação por parte da FUNAI, IBDF, fisco ou dial e o governo brasileiro condiciona as novas parcelas do
Polícia. Se calculamos que um caminhão de madeira deve empréstimo ao Polonoroeste, à defesa efetiva das terras e
estar valendo 250 dólares, podemos avaliar como o patri sobrevivência física e cultural das comunidades indígenas.
mônio dos índios, e público ao mesmo tempo, está sendo Pela primeira vez, talvez, os índios podem interferir na si
esbulhado em proveito de fortunas fáceis, defendidas à bala. tuação das finanças do país e exigir o cumprimento do acor
do internacional e o dinheiro a que têm direito, previsto para
Essas madeireiras clandestinas são também exemplo das re os próximos 3 anos,
lações sociais que se instalam na região. O regime de traba
lho é o de semi-escravidão, com empreiteiras que contratam Para que a pressão internacional junto ao governo brasileiro
"gatos", os quais por sua vez mantêm os peões em regime de tenha eficácia, é preciso que não apenas os empréstimos do
barracão, isolados no mato. Assassinatos e pessoas desapa Polonoroeste, mas o conjunto dos empréstimos em curso
recidas são ocorrências diárias. Será isso o que se deseja com (como os de Carajás e do Nordeste) sejam condicionados à
um Programa de Desenvolvimento? defesa das comunidades indígenas e da ecologia.

Outro roubo de madeira que foi divulgado pela imprensa foi O mais importante é que a situação dos índios e a devastação
o da área dos Cinta-Larga do Roosevelt, onde a FUNAI apre do meio ambiente estão atraindo a atenção da opinião pú
endeu 4.500 toras de madeira já cortadas por uma empresa, blica mundial. Em setembro de 1984, uma sessão do Con
que construíra uma estrada de 40 km dentro da área indí gresso norte-americano discutia os efeitos sociais do Pro
gerta. grama Polonoroeste, contestando o apoio dos EUA a uma
política tão prejudicial às minorias étnicas e à preservação
Garimpos e companhias de mineração também invadem, ecológica. Organizações como a Natural Resources Defense
sem controle por parte do poder público. Na área dos Cinta Council, IWGIA, Survival International, Cultural Survival,
Larga, havia um garimpo no rio Preto, já retirado, e há ou Anthropology Resource Center e muitas outras escreveram
tros, no rio Guariba e no rio Roosevelt. No Vale do Guaporé, ao Banco Mundial.
território dos Nambiquara, companhias de mineração e ga
rimpeiros entraram numerosas vezes, e foram expulsos por E paradoxal que, apesar da repercussão ocasional na im
índios e pela FUNAI. Nas terras dos Urueu-wau-wau, gran prensa brasileira, manifestações de organizações como Asso
des massacradores de índios mantêm seringais e se aliam a ciação Brasileira de Antropologia e Comissões Pró-Indio,
companhias de mineração e garimpos. Os exemplos pode seja do exterior que partam os protestos.
riam ser multiplicados.
A preocupação com os índios tem razão de ser. Há 55 áreas
A ação do Estado contribui para o desrespeito às áreas indí indígenas imemorialmente ocupadas por índios na área do
genas, somando-se ao efeito do capital privado. Sem qual Polonoroeste, num total de 9 mil pessoas. Nestas, a situação
quer discussão pública, pode-se dizer que, em segredo, são é a seguinte:
planejadas hidroelétricas, a maior parte em áreas indígenas.
A hidroelétrica de Juína, cujos efeitos sobre a área Cinta — 37 áreas foram abrangidas pelo Polonoroeste
Larga de Serra Morena ainda não são conhecidos, está sendo — 14 continuam não identificadas pela FUNAI
construída. Outra usina atingiu os Apiaká e Cayabi. Estudos — 4 foram arbitrariamente excluídas no começo do Pro
para possíveis hidroelétricas estavam sendo feitos no rio Ma grama
chado, no P.I. Lourdes, a mesma área invadida por colonos, e — 3, além das 55, foram incluídas em fins de 84 (as áreas
no rio Roosevelt. Bororo de Tereza Cristina, Tadarimana e Perigara)
— 7 estão homologadas (3 pelo Polonoroeste)
A política governamental não imprime uma direção centra — 4 estão registradas no S.P.U. (nenhuma pelo Polono
lizada ao Programa Polonoroeste. A ação dos vários órgãos roeste), as únicas realmente protegidas por lei
públicos — INCRA, FUNAI, IBDF, Secretaria de Saúde e — 20 áreas, quer demarcadas ou não, estão invadidas
Educação, Núcleos Urbanos de Apoio Rural, etc. — é des
coordenada. A estrada foi apresentada como um programa Desde a última informação de Aconteceu, no número espe
social, mas a realidade vem demonstrando que as conse cial 14 para 1983, foram demarcadas 5 áreas (Bakairi-A.I.
qüênciassociais são ignoradas, e que a construção da BR-364 Santana, Umutina, Vale do Guaporé, Tubarão-Latundê e
vem servindo a interesses de empresas privadas. Pareci). Está sendo demarcada a A.I. Nambiquara. Preo
cupa a situação dos 14 grupos indígenas sem território defi
nido ou não precisamente localizados e identificados. Muitos
são arredios e são dizimados pelos projetos de colonização e
construção de estradas. Acaba de ser descoberto, por exem
plo, o grupo Piripicura, na Fazenda Mudança, ao norte dos
Zoró.
s! Z_Acervo
–/ { | <> A RONDÔNIA 7

Não foram retirados invasores de nenhuma área. Resta homologar a demarcação do Vale do Guaporé, do Sa
raré, dos Tubarão-Latundê, Pareci, Utiariti, Tirecatinga,
Umutina, Serra Morena, Roosevelt, Karitiana, P.I. Rio
Um novo programa Branco, P.I. Guaporé, P.I. Pakaa-Nova e as 4 áreas não
para os índios do POLONOROESTE incluídas no Polonoroeste, Apiaká, Kayabi, Myky e Rik
baktsa — e ir providenciando a homologação à medida que a
Existem os recursos de 19 milhões de dólares para as comu demarcação vai sendo feita. O registro no S.P.U. não foi feito
nidades indígenas do Polonoroeste, que podem ser usados pelo Polonoroeste para nenhuma área, e o do Sete de Se
nos próximos três anos. Basta que a FUNAI faça uma pro tembro, por ex., aguarda decisão.
gramação bem elaborada, reivindique os fundos, prepare
um quadro administrativo eficiente e siga uma política firme
diante dos interesses econômicos contrários aos índios. Se
3. Retirar invasores
isso não ocorreu até agora, é o que se pode exigir com a das áreas invadidas
mudança do governo.
E preciso prever recursos especiais para retirar invasores,
Neste novo programa, os pontos fundamentais devem ser os uma vez que a FUNAI tem que pagar as Polícias Federal e
Seguintes: Militar, manter vigilância nas áreas, etc. Tais operações são
caras, em especial quando envolvem colonos.
Não é possível um quadro completo das invasões em pouco
1. Demarcação de todas as áreas espaço, mas chamam a atenção alguns casos:
ainda não demarcadas: 1) O Lourdes, onde há 750 colonos, garimpeiros e madei
reiras.
I. Urueu-wau-wau. 2. Zoró. 3. Cinta-Larga-A. I. Aripuanã 2) Os Zoró, onde colonos se instalaram ao longo de estrada
(P.I. Rio Preto). 4. Cinta-Larga-Serra Morena (redemarca ilegal que corta a área, estrada construída pela fazenda vi
ção). 5. Macurap-Mequens. 6. Karipuna. 7. Kaxarari. 8. zinha, Muiraquitã.
Pakaa-Nova-Sagarana. 9. P.I. Guaporé (redemarcação). I0. 3) Os Suruí, com invasão pela fazenda Catuba e por colonos
Tenharim. 11. Bakairí (redemarcação). I2. Pareci (For a Oeste.

moso, Estivadinho e Figueiras). I3. Irantxe, 14. Enauenê 4) Os Cinta-Larga do Roosevelt, invadidos por grileiros, po
Nauê (Salumã). I5. Bororó (as áreas de Tadarimana, Teresa líticos locais e colonos ao longo do rio 14 de abril e ao sul, e
Cristina e Perigara foram incluídas no Programa em fins de garimpos.
1984). 15. Piripicura. I6. Terminar a demarcação da A.I. 5) P.I. do Aripuanã, e invasões não bem-identificadas.
Nambiquara. 6) A.I. Aripuanã, invadida por garimpos.
7) Mequens, invadida por madeireiras.
Além da demarcação, é preciso fazer expedições para identi 8) Urueu-Wau-Wau, com invasões por garimpeiros, colo
nos, seringais e serrarias. •

ficar os grupos ainda não contatados e os desaldeados — é


urgente fazê-lo com os grupos próximos à BR-429, em espe 9) P.I. Rio Branco invadido pelo Seringal Milton Santos,
cial. Para todos estes, territórios devem ser identificados e que mantém os índios em semi-escravidão.
demarcados. O quadro anexo faz uma lista dos grupos de 10) P.I. Pakaa-Nova, invadido por colonos.
quejá se tem notícia. 11) Sararé e Vale do Guaporé, com fazendas invasoras.
12) Pareci, onde muitas empresas ilegalmente implantadas
Em 1984, a FUNAI, com eficácia, fez uma série de estudos abaixo do Paralelo 14 continuam funcionando, e nenhuma
de identificação de área, que tornam possível a demarcação medida é tomada para desativá-las e retirá-las.
imediata. O decreto 88.118 de dez. /83, além de inconstitu
cional, vem retardando as demarcações, pela obrigatorie Todas essas invasões, e outras, estão documentadas em de
dade de submeter à apreciação de um grupo interministerial talhe nos relatórios da equipe de avaliação do Polonoroeste.
a decisão de demarcar, que deveria ser atribuição da FU
NAI. Foram feitos estudos, e existem recursos, para a de
marcação de quase todos os grupos listados acima, São inte 4. Defesa de terras, posto de vigilância
resses econômicos apoiados por uma legislação autoritária,
que estão impedindo uma pronta ação. e equipes volantes para fiscalizar as áreas
Só um grande volume de recursos e administração eficaz
pode controlar invasões sempre crescentes. Demarcar não é
2. Homologação e Registro suficiente, um sistema de cercas e postos de vigilância nos
no Serviço de Patrimônio da União. limites mais críticos se impõe. Para 1985, a FUNAI prevê
apenas para a área Urueu-Wau-Wau, mais seis Postos de
Não é preciso ter recursos para dar garantias legais comple vigilância, e uma série de outros nas demais áreas. Seria
tas aos índios no caso das áreas já demarcadas. No entanto, o preciso que a FUNAI usasse o sistema de levantamento aero
grupo interministerial criado pelo decreto 88.118 tem se re fotogramétrico e tomasse pronta ação diante de informações,
cusado, ou obstruído a homologação. E crítico o caso das o que não faz mesmo em casos óbvios como o dos Mequens.
áreas Nambiquara do Vale do Guaporé (onde ainda perma
necem as empresas invasoras, que se recusaram a receber em
juízo as indenizações previstas em lei), apesar de toda a pres
são internacional, o da área Cinta-Larga do Roosevelt, cuja
homologação dependia, em fins de 1984, apenas do Ministro
Venturini, e o da área Pareci do Formoso, cuja demarcação
foi recusada no grupo, por pressão de uma fazenda invasora,
a Sudamata,

223
S INDÍGENAS NO BRASIL/CEDI

5. Defesa jurídica Mesmo áreas de colonização não conseguiram dobrar a tri


bo. São 4 projetos de colonização em pleno curso em volta da
Se a FUNAI contasse com um bom departamento jurídico, área dos Urueu, que têm resultado em conflitos entre colonos
os índios poderiam ganhar uma série de causas em que seu e índios, com dezenas de mortos. Fica patente a velocidade
direito é líquido e certo. Há um processo de genocídio nos de avanço do INCRA, diante do imobilismo da FUNAI, com
Urueu-Wau-Wau, por ex., outro contra o seringalista inva perda irreparável para os índios.
sor no P.I. Rio Branco; vários processos de indenização po
deriam ser abertos, como no caso Urueu-Wau-Wau. Ou de Egraças aos Urueu que se preserva uma das últimas reservas
retirada de madeira, como nos Mequens e outros, etc. Seria ecológicas do país, pois seu território inclui as cabeceiras dos
possível conduzir melhor o próprio processo de retirada das principais rios de Rondônia. Impõe-se imaginar uma forma
empresas dos Nambiquara. A anulação de títulos poderia ser jurídica e legal que preserve a área tanto como Parque Indí
feita. •

gena quanto como Reserva Florestal e Ecológica.

6. Saúde 9. Enauenê-Nauê

Quase nada foi feito na área de saúde no último ano. Em Também um grupo de pouco
várias áreas, o quadro piorou muito, como por exemplo no contato, em que a demarcação é prioritária, e onde se pode
Parque Indígena do Aripuanã. Trata-se não só de um pro tentar uma política indigenista inovadora. Neste caso, como
blema de recursos, mas principalmente de falta de adminis no dos Urueu, é preciso unir a defesa ecológica à dos índios,
tração competente. Onde existem administradores eficien pois a reserva da SEMA coincide parcialmente e é vizinha à
tes, como é o caso da Ajudância do Vale do Guaporé, a área indígena.
situação de saúde melhorou muito.

Uma distorção nos serviços de saúde implantados é o atendi 10. Zoró


mento nos centros urbanos e sedes de parque, em vez de
manterpessoal qualificado nas áreas, em tempo integral. Os A demarcação da área Zoró é fundamental, não
índios são estimulados a sair das áreas e neste sistema, em existindo dúvidas quanto à ocupação do território pela tribo.
que as equipes são de fato volantes, tão curto é o tempo que A demarcação consolida como unidade o Parque Indígena
permanecem nas áreas, fica faltando um conhecimento pro do Aripuanã, se associada à demarcação da área Cinta-Lar
fundo da população, com informações sobre cada indivíduo, ga de rio Preto e dos Piripicura.
e fichas de registro médico, que permitiriam um controle
mais eficiente de doenças como malária e tuberculose, as que
mais assolam os índios. De nada servirá injetar recursos em: 11. Nambiquara
equipes volantes de saúde e essas de fato não permaneceram
com os índios por períodos prolongados de tempo. As pressões políticas contrárias à homo
logação são tão grandes, que é preciso reforçar a pressão in
ternacional em sua defesa. Essa vitória poderá contribuir
7. Educação para a legalização de outras áreas, como Pareci e Cinta
Earga.
O programa Polonoroeste tem se limitado à
nomeação de professoras em quase todas as áreas, sem ne
nhum preparo, orientação ou conhecimento da cultura e lín 12. Pakaa-Nova
gua indígenas. Impõe-se preparar um programa de educação
e fazer cursos para os educadores. Já existe material antro A Ajudância de Guajará-Mirim, que
pológico e lingüístico sobre muitos dos grupos, e há um co administra as áreas Pakaa-Nova e outros grupos — cerca de
nhecimento dos problemas de cada área e das aspirações dos I.600 índios — tem recebido poucos recursos e atenção rela
índios. Efundamental retirar das áreas, e impedir que inter tivamente às outras unidades administrativas. Impõe-se re
venham nos programas educacionais, organizações religio tirar oseducacional.
grama missionários das Novas Tribos, e implantar um pro

sas, como por exemplo o Summer Institute of Linguistics e as


Nova Tribos, que vêm desrespeitando a cultura indígena e
ferindo a autonomia tribal.
13. Conclusões

8. Urueu-wau-wau As áreas indígenas do Polonoroeste são


bastante conhecidas hoje, e se sabe exatamente que medidas
A defesa do território Urueu-wau-wau devem ser tomadas, quais as aspirações dos índios, como
é uma prioridade absoluta do Programa Polonoroeste. A devem ser feitas as demarcações, que invasores retirar, e em
área atualmente delimitada para os índios é de quase que sentido deve atuar um programa de saúde, que faria a
1.800.000hectares. Desde o começo do século, os Urueu vêm população indígena crescer muito. Existe uma documenta
defendendo à mão armada, e com a maior coragem, as suas ção muito grande, nos relatórios da equipe de avaliação da
terras, contra os autores dos piores massacres da história FIPE como nos de funcionários da FUNAI, e não há muitas
indígena. São exemplos o massacre dos Oroin, por Manuel dúvidas sobre a direção a seguir. Preparar um quadro admi
Lucindo, os dos seringais Canaã, Santa Cruz, Bennesby, nistrativo eficiente, capaz de levar adiante um programa já
Chaves e tantos outros. elaborado, com recursos previstos, é o que se reivindica da
FUNAI no próximo governo.

224
RONDONIA 9

exige que o governo brasileiro, ao cons “Quando o Banco Mundial concedeu o


truir a estrada, respeite as comunidades empréstimo de US$ 443 milhões ao Go
indígenas, o seu habitat natural, os seus verno brasileiro (cerca de 80% dos re
Apoena reassume 8º DR costumes, a sua cultura, as suas condi cursos já foram liberados), ficou acer
ções particulares de vida. No entanto, tado, como cláusulas, que o dinheiro se
Dois anos depois de deixar a Funai, on essa cláusula não está sendo cumprida. ria usado para melhorar a vida dos ha
de chegou ao cargo de delegado em Ron Segundo os antropólogos Carmen Jun bitantes da região e não para promover a
dônia, o sertanista Apoena Meireles vol queira, Betty Mindlin e Mauro Leonel, colonização. Também foi previsto que
ta ao órgão. Ele reassumirá, dentro de encarregados pelo Banco Mundial de áreas indígenas não seriam invadidas e a
dez dias, à 8º Delegacia, com jurisdição vistoriar o cumprimento das cláusulas floresta não seria devastada”, explica
sobre Rondônia, Acre, Noroeste de Ma do contrato, a estrada foi traçada de Lutzenberger.
to Grosso e Sudoeste Amazônico. On qualquer jeito e não levou em conside Segundo ele, o Governo brasileiro está
tem Meireles retornou de uma viagem ao ração os dados ecológicos e humanos im descumprindo o que foi estabelecido na
interior de Rondônia, onde acompa plicados na obra. “Pelo contrário, ela foi ocasião do empréstimo “porque, para
nhou o trabalho desenvolvido pela Funai feita exatamente como é feito tudo em amenizar tensões sociais no Sul e no
e constatou alguns problemas de invasão nosso “processo civilizatório": levando Nordeste, o Incra está levando as ca
de reservas. (Folha da Tarde, 03/02/ em consideração simplesmente as neces madas marginalizadas para Rondônia”.
84). sidades do crescimento econômico”. Fundador e membro do Conselho de As
Além disso, o programa previa que to sociação Gaúcha de Proteção ao Am
das as áreas indígenas da região esta biente Natural (Agapan), entidade pio
Denúncia coletiva riam demarcadas até 1985. Até agora, neira no País, Lutzenberger afirma que
apenas cinco áreas foram demarcadas. o projeto do Incra é predatório, “pois
Os índios Suruí, os Cinta-Larga, os Ga Como sete já estavam demarcadas antes não respeita a hidrografia, a topografia
vião e os Arara esqueceram suas antigas do início do programa, faltam ainda 28. e o ecossistema da região. Além disto, a
divergências e agora estão, juntos, en E a Funai alega não ter verbas, muito invasão fere física e culturalmente os ín
frentando uma guerra. Suas terras estão embora exista uma previsão orçamentá dios, caboclos e seringueiros de Rondô
sendo invadidas, suas mulheres viola ria de 26 milhões de dólares. (FSP, 24/ nia”. (DCI-SP, 25/09/84).
das, seus filhos ameaçados. Madeirei 8/84).
ros, garimpeiros, colonos, seringalistas
e fazendeiros vão chegando com os seus FUNAI afasta coordenadora
capangas e sequer respeitam as mínimas Nos EUA, denúncia
garantias legais dadas aos índios. Inti contra devastação O Presidente da Funai, Nélson Mara
midam, ameaçam, matam, humilham. buto, afastou ontem do cargo a Coorde
A denúncia foi feita ontem por três che A Câmara dos Deputados dos Estados nadora de Projetos Especiais, Nadir Au
fes Suruí, Anine, Itabira e Idiaraga, que Unidos enviará documento, esta sema verga, responsável pela execução dos
estão em São Paulo e, em seguida, irão a na, ao Banco Mundial, relatando de programas de assistência aos índios nas
Brasília pedir providências. Quando núncias do ecólogo gaúcho José Lutzen áreas afetadas pelos Projetos Polono
voltarem, se a Funai não fizer respeitar berger sobre o projeto de colonização de roeste e Carajás. A Funai pretende no
os seus direitos, haverá guerra envolven Rondônia. No próximo mês de novem mear uma nova equipe — chefiada pelo
do quarenta povos indígenas de Rondô bro, o Banco Mundial mandará técnicos auditor Valdo Bittencourt — para corri
nia e do norte de Mato Grosso. ao Brasil e, se confirmar as denúncias de gir o atraso no programa de ajuda aos
Tudo começou quando o governo, com colonização, devastação florestal e inva índios do Polonoroeste, segundo infor
financiamento do Banco Mundial — 1,1 são de terras indígenas, cancelará em maram assessores da Fundação.
bilhão de dólares — instalou o Pro préstimo de cerca de US$ 100 milhões ao A discussão em torno deste programa
grama Polonoroeste e, dentro dele, co Incra. começou no início da semana, com as
meçou a construção da BR-364, que liga Lutzenberger na semana passada depôs denúncias da antropóloga Betty Min
Cuiabá a Porto Velho e, posteriormente, na Subcomissão de Recursos Naturais, dlin, contratada pelo Banco Mundial —
irá até Rio Branco. Uma cláusula do Pesquisa na Agricultura e Meio Am que condicionou seu empréstimo para a
contrato firmado com o Banco Mundial biente da Comissão de Ciência e Tecno BR-364 à ajuda aos oito mil índios de
logia da Câmara norte-americana. On Rondônia e norte de Mato Grosso —
tem, em entrevista, ele disse que, mesmo
antes do seu depoimento, o Banco Mun
dial sabia que o Governo brasileiro es
tava violando as normas do contrato de
financiamento.

225
s! Z> Acervo
_/\ | <> A INDIGENAS NO BRASIL/CEDI
para fiscalizar a prestação da ajuda aos enviada ao Banco Mundial pedindo revi Amaury Vieira revelou ao Jornal do Bra
índios. Segundo ela, dos US$ 26 milhões são da aplicação de 443 milhões de dó sil que a 8° Delegacia já oficiou ao Go
(Cr$ 65 bilhões) prometidos, apenas lares emprestados ao Brasil para serem verno estadual e à Superintendência Re
US$ 6 milhões foram revertidos para os investidos nessa região. gional da Polícia Federal no sentido de
índios. (O Globo, 12/10/84). Também o secretário do Tesouro ame retirar do território indígena as famílias
ricano, Donald Regan, foi alertado so invasoras, em sua maior parte com ben
bre o problema, através de uma outra feitorias ali implantadas. (JB, 24/06/
Afastado diretor carta responsabilizando o governo brasi 84).
leiro e o Banco Mundial de violar vários
do PIAripuanã
itens relacionados à proteção ecológica
O presidente da Funai, Nélson Mara incluídos nos acordos. E há poucos dias, Gavião sequestram
buto, afastou o diretor do Parque Indí um editorial do jornal The New York e libertam missionários
gena do Aripuanã, sertanista Francisco Times aconselha os principais envolvi
Assis da Silva, acusado de envolvimento dos na polêmica — o governo do Brasil e Os missionários Ernande Segismundo,
com a venda ilegal de madeira na área o Banco Mundial, assim como o próxi coordenador do Cimi-RO, Egon Dioni
dos índios Suruí, em Rondônia. O serta mo partido a vencer as eleições em ja sio Heck, secretário nacional do Cimi e
nista vendia madeira sem autorização neiro — a ir com calma em seus planos Justo Lobato, da Pastoral Indigenista de
da Funai e dos índios. de desenvolvimento da Amazônia. Jiparaná, permaneceram mais de vinte
Além da venda ilegal, Francisco da Silva O documento formulado pelo Conselho horas presos e como reféns na aldeia dos,
estava “aviltando o preço da madeira”, de Defesa de Recursos Naturais — en índios Gaviões, no Parque de Lourdes,
segundo informação do procurador jurí dossado por cerca de 25 entidades ecoló de sábado a domingo.
dico da Funai, Irineu de Oliveira. Ele gicas do mundo inteiro, além de ter o Segundo Ernande Segismundo, as pri
disse que o sertanista vendia o metro cú apoio de vários membros do parlamento sões ocorreram devido à tensão que hoje
bico da madeira por cinco mil cruzeiros, da Alemanha Ocidental — foi enviado existe naquele Parque Indígena, princi
quando o preço em Rondônia é de no dia 12 de outubro ao presidente do palmente pela presença constante de
Cr$ 220 mil o metro cúbico. Banco Mundial A. W. Clausen, que posseiros nas proximidades da aldeia
Francisco Assis da Silva é ex-diretor do transferiu a discussão para o Departa dos índios Araras.
Parque Indígena do Xingu, de onde foi mento do Brasil, América Latina e Ca O objetivo dessa missão ao Parque Indí
afastado há dois anos, sob acusação de ribe. Até agora, o Banco Mundial limi gena de Lourdes, conforme explicou o
desviar recursos. Na ocasião, a Funai tou-se a responder que já estão sendo coordenador do Cimi, foi para tomar
abriu inquérito administrativo e a pro mantidas conversações com o governo ciência do que realmente estava ocorren
curadoria do órgão concluiu o processo brasileiro e se realmente forem consta do na área, e fazer um trabalho de cons
pedindo punição do servidor. Para não tadas alterações nas condições impostas cientização junto aos posseiros, no sen
demiti-lo, o então presidente da Funai, antes da liberação do empréstimo, o tido de organizarem e reivindicarem
coronel Paulo Moreira Leal, transferiu obanco poderá interferir através de novas junto ao Incra, uma área para assenta
sertanista para a direção do Parque do recomendações ao Brasil. (ESP, 02/12/ mento, pois segundo Ernande Segis
Aripuanã. 84). mundo, eles (posseiros) sabem que estão
Depois de afastar o sertanista, Marabu em áreas indígenas, mas não saem por
to determinou ainda o prosseguimento que receberam promessas de terras, e
das investigações sobre derrubada de até hoje não foram cumpridas e também
madeira na área indígena dos Suruí. A por imposição de fazendeiros. Além des
derrubada foi feita pela empresa Co se trabalho de conscientização, fizeram
mexmad, que recebeu “autorização ver Deputado acusa Triangulina contatos com os índios Araras.
bal” do ex-presidente do órgão, Jurandy Lembra Ernande, que nessa permanên
Marcos da Fonseca, para explorar ma Empresários do grupo Triangulina, de cia como reféns foram ameaçados de
deira em área indígena. (FSP, 01/11/ Jiparaná, estariam invadindo a reserva morte pelos índios Gaviões. Somente fo
84). dos índios Arara e Gavião, promovendo ram liberados com a chegada do dele
ainda choques entre jagunços e índios, gado regional da Funai em Rondônia,
nos quais alguns deles morreram. A de Apoena Meireles.
Emprestimo núncia foi feita neste fim de semana pelo Declara Ernande, que todo o conflito
poderá ser revisto Deputado estadual João Dias Vieira que existe hoje no Parque de Lourdes, é
(PMDB), mas não teve confirmação da culpa do Incra, que não procurou resol
O movimento começou no início de ou Funai. ver os problemas de imediato ou fazendo
tubro, com denúncias feitas pelo ecolo De acordo com o delegado-adjunto do um melhor assentamento dessas famí
gista José Lutzenberger ao Congresso órgão, Amaury Vieira, há uma área ao lias, oriundas do centro-sul do país, que
americano sobre a devastação da Ama sul do posto indígena de Igarapé Lour vieram para Rondônia, com terras pro
zônia. O protesto cresceu e culminou des invadida há três anos por cerca de metidas pelo próprio órgão.
com a elaboração de uma carta-docu 500 colonos sulistas e nordestinos. “Essa
mento pelo Conselho de Defesa de Re gente ocupou o setor Prainha, ameaçan
cursos Naturais — uma associação ame do realmente a sobrevivência indígena.
ricana de defesa do meio ambiente - Todavia, até agora, não recebemos ne
nhum rádio do posto dando conta de
choques entre índios e jagunços”, sa
lientou.

226
RONDONA 11

A Diocese de Jiparaná, Conselho Indi A decisão dos índios foi tomada depois A FUNAI ingressou na Justiça Federal
genista Missionário de Rondônia e a Co que o Juiz federal Ilmar Nascimento de Rondônia com uma ação de reinte
missão Pastoral da Terra, lançaram on Galvão negou liminar na ação de manu gração e posse das terras dos Arara e
tem um manifesto de denúncia exigindo tenção de posse das terras requerida Gavião, que já estão até demarcadas.
providências da Funaie do Inera. pela Funai contra os invasores do Igara Como teve sua liminar negada, o órgão
Diz a nota, que diante do agravamento pé Lourdes. (O Globo, 02/08/84). aguarda, agora, os resultados de um re
da situação na área invadida no Parque curso impetrado contra essa decisão.
Indígena de Lourdes, e da iminência de (Jornal de Brasília, 06/09/84).
conflitos e de mortes. Reafirma ainda o Gavião fazem outros reféns
posicionamento na defesa dos direitos
dos índios e dos lavradores. Indios da tribo Gavião mantêm como re Gaviões liberam reféns
O manifesto, defende o direito indiscutí féns, sete das nove pessoas que prende
vel e imalienável dos índios à sua terra e ram segunda-feira, entre os invasores de Após quase um mês mantidos como re
também o direito dos lavradores do Pos suas terras, no posto indígena Igarapé féns, 10 invasores do posto indígena de
to Indígena de Lourdes a serem reassen Lourdes, informou o delegado adjunto Igarapé Lourdes foram postos em liber
tados pelo Incra em outra área. da Funai, Amaury Vieira, acrescen dade, no final da semana, pelas tribos
Denunciam o Incra pela sua cumplici tando que os índios arrombaram o depó Arara e Gavião. Os índios os prenderam
dade na invasão, através de reconheci sito do posto e ainda queriam danificar o para — conforme explicações do chefe
mento de cadastro de cerca de 19 famí equipamento de rádio. Catarino Gavião — advertir aos demais
lias na área indígena, como também o — Dos reféns, dois foram soltos. Um sobre a necessidade de deixarem o seu
roubo de madeira, que segundo a nota deles estava com malária. Nós tomamos território com urgência.
por várias pessoas, que mantém 4 cami conhecimento do problema através de Ao prestar a informação, ontem, o dele
nhões dentro do Parque Indígena. (O um rádio transmitido pela esposa do gado-adjunto da Funai, Amaury Vieira,
Estadão, 25/07/84). chefe do P.I. Antonino Carvalho, que disse que desconhecia a maneira como o
estava em Ji-Paraná fazendo compras. delegado e sertanista Apoena Meireles
Ela disse que o clima era tenso — re havia conseguido a libertação dos re
INCRA acusa CIMI velou Amaury. féns, pois as transmissões de rádio entre
O chefe Catarino, dos Gavião, determi a 8° delegacia e a sede do posto são, no
O presidente do Incra, Paulo Yokota, nou aos dois posseiros soltos, que avisas momento, precárias. Apoena deverá
fez ontem sérias acusações ao Cimi, ao sem as demais famílias para deixarem a permanecer na área até que a Justiça Fe
afirmar que “o Cimi só tem criado pro área, do contrário eles serão obrigados a deral se pronuncie sobre a intimação às.
blemas para o Incra, fomentando os atacá-las. (Jornal de Brasília, 30/08/ cerca de 300 famílias invasoras, a maior
conflitos entre posseiros e índios e pos 84). parte das quais se fixou na área cha
seiros e fazendeiros”. Segundo Yokota, mada de Prainha, próxima ao distrito de
o órgão “nunca procurou nos trazer uma Nova Colina, (JB, 18/09/84).
solução concreta para qualquer caso”. E queimam barracões
Yokota acusou missionários do Cimi de
estarem fomentando um conflito entre Os índios Arara e Gavião já haviam PF começa a retirar
posseiros e índios Gaviões e Arara, no queimado, até a tarde de ontem, mais de invasores
posto indígena Igarapé Lourdes, em Ji oito barracões de colonos que invadiram
Paraná, a cerca de 400 km desta capital. suas terras, no posto indígena do Igara Agentes da Polícia Federal, policiais mi
“As denúncias feitas pelo Cimi de que o pé Lourdes. Além disso, eles fizeram 16 litares e oficiais de Justiça, cumprindo
Incra não tem atuado na área não são reféns, dez dos quais ainda estão presos liminar concedida pelo Juiz federal An
verdadeiras, já que nós estamos procu em casas da Funai na aldeia. A infor tônio Athié, começaram ontem a retirar
rando solucionar todos os problemas de mação é do delegado da Funai em Ron as 300 famílias que invadiram as terras
terra em Rondônia”. (Jornal de Brasília, dônia, sertanista Apoena Meireles, sa dos índios arara e gavião, na reserva in
27/07/84). lientando, entretanto, que conseguiu fa dígena do Igarapé Lourdes, em Ji-Pa
zer com que os diversos grupos de índios raná, Rondônia.
que saíram para expulsar os colonos à Os invasores têm o prazo de 45 dias para
Aumenta a tensão força retornassem às suas aldeias. (O Li deixar as terras, segundo a decisão judi
beral, 04/09/84). cial. Na sentença, o Juiz lembra o clima
no igarapé Lourdes de tensão causado por eles e afirma que
Índios das nações gavião e arara come “a Lei está ao lado dos índios, porque o
çaram a se pintar ontem para uma guer Aumentam os reféns território das duas nações está devida
ra com cerca de 700 colonos que invadi mente demarcado”.
ram suas terras. A denúncia foi feita na O presidente da FUNAI, Jurandy Mar
tarde de ontem pelo Delegado da Funai cos da Fonseca, disse ontem que a ques
em Rondônia, sertanista Apoena Meire tão da invasão das terras dos índios Ga
les. Cerca de 500 índios vivem na reserva vião e Arara — onde os índios, irados,
do Igarapé Lourdes. mantêm 16 colonos como reféns — só
será solucionada por uma decisão da
justiça, quando a Polícia Federal e o
INCRA poderão ser acionados para reti
rar e reassentar em outro local as 300
famílias de colonos.

227
*
—/\ #
, #NDIGENAs no enas ucro
O Delegado-Adjunto da Funai em Ron outras prostituídas. A tensão é perma
dônia, Amaury Vieira, informou que os nente e o chefe indígena de Serra Mo
colonos estão aceitando normalmente a rena, Lampião, já ameaçou matar os in
decisão. Segundo ele, não houve, du O segundo massacre dos VHSOTES,

rante todo o dia de ontem, qualquer con A comunidade divide-se entre os que se
Cinta-Larga
flito entre policiais, oficiais de justiça e deixam seduzir pelos pequenos presen
posseiros. Ainda estão impunes os mandantes do tes e aqueles que os sentem como amea
Ele teme, entretanto, que essa atitude -massacre do Paralelo 11 e já se arma um ça. Após a dinamitação, este povo de
seja apenas inicial. Para ele, as invasões novo confronto com os Cinta-Larga. Um caçadores, coletores e pescadores terá
nas áreas dos arara e gavião “são co dos participantes da expedição assas perdido irrecuperavelmente grande par
mandadas por pessoas que se escondem sina de 1963, das muitas que dizimaram te de seu território natural de perambu
por trás dos colonos e que já têm inú aldeias inteiras nas décadas de 50 e 60 a lação e habitat. Não contarão mais com
meros lotes de terra”. (O Globo, 19/09/ mando da empresa Arruda Junqueira, os peixes, parte fundamental de sua nu
84). relatou como lançavam crianças ao alto trição, então retidos nas cabeceiras pela
para acertá-la na quadra a tiro ou faca. barragem.
Antes que pudessem os Cinta-Larga es Junto com a barragem, os invasores
FUNAI entra com ação quecer seus mortos e mulheres violadas, multiplicaram-se. Uma das fazendas vi
encontram-se ameaçados, de maneira zinhas, estimulada pela invasão promo
A 8° Delegacia da Funai em Rondônia mais sutil, mas não menos cruel. vida por órgãos de governo, simples
entra hoje com uma ação de esbulho Os Cinta-Larga dividem com os Suruí o mente loteou terras demarcadas por De
possessório contra o administrador do parque do Aripuanã, onde está prevista creto-Lei da Presidência da República e
distrito de Nova Colina, no município de a integração das terras ainda não de pertencentes à União. Os índios puse
Ji-Paraná, a 400 quilômetros desta capi marcadas de outras aldeias Cinta-Larga ram a correr, depois de desarmarem e
tal. O administrador do distrito, Usino e dos Zoró. De saída, já é difícil com despirem, um agrimensor acompanha
Caetano de Andrade, é acusado de in preender por qual conluio de interesses e do por guarda-costas que pretendia defi
vadir terras dos índios Arara e Gavião, incúria não contam estas comunidades nir o traçado de uma estrada até o “lo
na reserva indígena do Igarapé Lourdes indígenas com suas terras totalmente teamento”. Francisco de Assis da Silva,
e incentivar terceiros a que ajam da mes definidas. Não bastaria, como a indeni o novo administrador do parque do Ari
ma maneira. zação de guerra que lhes é devida pelos puanã, conseguiu em maio do ano pas
De acordo com o delegado da Funai autodenominados “civilizados”, mas sado expulsar uma dezena de garimpei
para Rondônia, Apoena Meireles, Usi lhes ofereceria uma promessa de tran ros que trabalhavam no vizinho rio Roo
no é um dos principais responsáveis pelo qüilidade. sevelt, ao lado de outra aldeia Cinta
conflito recente entre índios e brancos Com a maior das sem-cerimônias, há Larga.
naquela área. (Diário Popular, 24/09/ mais de um ano a empresa estatal Cemat Mas dois outros garimpos invasores lá
84). invadiu a área reservada pela União ao estão, um no rio Guariba, outro em Ou
usufruto perpétuo da comunidade Cin ro Preto. Este último, pertencente à An
ta-Larga de Serra Morena. O local conta com Mining, obteve autorização de per
Yokoto culpa a FUNAI hoje com cerca de 20 construções, desti manência a seus 150garimpeiros ao lado
nadas ao alojamento de centenas de tra de outra aldeia Cinta-Larga. Mãos po
O presidente do INCRA, Paulo Yokota, balhadores, cantina, depósitos, oficinas derosas ajudaram a mineradora, que só
acusou a FUNAI por todos os problemas e farmácia. O objetivo é a construção de partirá em julho se a Funai mantiver
que vêm se verificando na reserva indí uma hidrelétrica nas cabeceiras do Rio uma atitude intransigente. Não está pre
gena do Igarapé Lourdes, em Ji-Paraná, Aripuanã, a 60kms da cidade de Juína e vista indenização aos índios, embora a
a 400 km desta capital, onde cerca de a 20 kms da aldeia de Serra Morena. Ancon há anos enriqueça em suas ter
700 famílias invadiram as terras dos ín Homens, máquinas e caminhões entra T31S,

dios Arara e Gavião. ram na área sem consulta prévia à comu O Parque do Aripuanã fica na fronteira
De acordo com Yokota, a Rondônia já nidade indígena ou à Funai, legalmente de Mato Grosso com Rondônia. A Pre
não tem mais condições de atender a to responsável pela proteção do parque. E feitura de Espigão d'Oeste, com o apoio
dos os migrantes que chegam à procura o governo do Mato Grosso planeja dina do governo do Estado de Rondônia, tem
de terras, “apesar dos novos projetos de mitar neste mês de abril a cachoeira de planos não menos preocupantes.Quer
colonização que estamos implantando”. Aripuanã e alagar cerca de 6 a 10 qui abrir uma estrada cortando o Parque ao
A solução, segundo o presidente do IN lômetros quadrados de terra indígena. meio, atravessando-o nas proximidades
CRA; é que novos projetos sejam abertos As conseqüências sobre o modo de vida de três aldeias Cinta-Larga. O resultado
em outros Estados. (Diário Popular, 29/ dos Cinta-Larga já se fazem sentir. Vin será o conhecido em outras comunida
10/84). te índios instalaram-se nas proximida des: exploração e prostituição.
des dos canteiros das obras. A empresa
multiplica presentes e promessas en
quanto procura garantir pelo adiantado
da obra a sua irreversibilidade. Uma
menina Cinta-Larga de 11 anos teria si
do violada por um dos trabalhadores e
s! Z_ Acervo
_{ |SA
RONDÔNIA 13

Cabe à Justiça garimpar o rico filão de


interesses que move governos estaduais e
particulares a invadirem o patrimônio
MÉQUEM
Uma equipe de caça da tribo Cinta-Lar
da União. Poderia remontar uma longa ga matou com três flechadas, no último Invasão de “toureiros”
espiral de ligações entre os grandes pro sábado, José João Pereira da Conceição,
prietários vizinhos que verão suas terras mais conhecido como “Sapecado”. Ex Indios e brancos podem entrar em con
valorizadíssimas com o alargamento da funcionário da Funai em Rondônia, ele flito nos próximos dias no município de
terra Cinta-Larga. Passar das ligações trabalhava, nos últimos tempos, para Ji-Paraná, em função da invasão, por
de políticos e proprietários de Juína com a fazendeiros do Mato Grosso, e foi morto parte de madeireiros e “toreiros”, de
programação da barragem, ao financia após ser acusado de matar diversos ín áreas dos índios Mequem. O clima, de
mento francês que a viabilizou, à cons dios, inclusive uma mulher grávida de acordo com o subdelegado da Funai
trutora, e descobrir assim como outros três meses. para Rondônia, Amaury Vieira, é de
interesses escondem-se atrás do direito A morte do sertanista aconteceu no rio tensão na região.
irrecusável da população de Juína à luz Roosevelt, no Mato Grosso, fronteira Segundo informações da Funai, madei
elétrica. com o município rondoniense de Espi reiros e “toréiros” invadem a área dos
Descobriria assim a estreita combinação gão D'Oeste, quando ele retornava de Mequem, que ainda não foi demarcada
desta ótica embaçada como “desenvol canoa para o posto indígena da Funai na oficialmente, de onde retiram os diver
vimentista”, com interesses menores e na reserva Capitão Cardoso. Os índios, sos tipos de madeira-de-lei. Até o mo
inconfessáveis. Por que não se buscaram de acordo com policiais rondonienses, mento não se verificou nenhuma morte
outras cachoeiras em terras devolutas da retiveram o corpo de “Sapecado”, como no local, mas os índios estão dispos
União, do Estado ou particulares desa forma de vingança pela morte dos seus tosa defender seu território de qualquer
propriáveis? Não será difícil responder. companheiros. (Correio Braziliense, 14/ maneira. (Diário Popular, 02/08/84).
Há ainda a ignorância e a má memória. 08/84).
Ignoram estes interesses etnocidas o pri
vilégio de sermos contemporâneos de ci
vilizações milenares, conhecedoras pro Colonos invadem URU-EU
fundas da vida da selva, de sua fauna e
flora. Ignoram que estes povos, de con A 8º Delegacia da Funai, sediada nesta
WAU-WAU
tato recente, não sobreviverão assim capital, encontra-se, desde ontem, man
transformados em colonos, com peque tendo contatos com o posto indígena Ca Novo ataque
nos lotes do Incra. Tentar forçá-los a pitão Cardoso, no Roosevelt, para con
passarem, em menos de uma década, firmar novas invasões de colonos ao ter O Delegado Substituto da Funai, Amau
por transformações vividas por nossos ritório dos Cinta-Larga, no município de ry Vieira, confirmou na tarde de ontem
antepassados em séculos de história, é Espigão do Oeste. que os índios Uru-Eu-Wau-Wau, locali
criminoso. E ainda não andamos mais O delegado-adjunto, Amaury Vieira, zados na região entre os municípios de
tão seguros das vantagens de nossa civi disse que manterá nas próximas horas, Costa Marques, Vilhena, Ariewu Ari
lização. novos contatos via-rádio, com o posto, quemes e Guajará Mirim, e que não ata
Sobra aos Cinta-Larga, e a todos os po pois as primeiras conversas sofreram cavam ninguém desde 1978, quando
vos índios de Rondônia e Noroeste de uma série de interferências. Também o mataram dois rapazes e raptaram outro,
Mato Grosso, a esperança que ressurgiu delegado Apoena Meirelles, que se en voltaram a atacar, matando um serin
com a volta à 8º Delegacia Regional da contrava viajando, deverá se deslocar gueiro no Vale do Rio Guaporé e um
Funai, de Apoena Meireles, talvez um até o Roosevelt. (Última Hora, 15/08/ caçador nas proximidades de Arique
dos seus últimos indigenistas que ainda 84). mes, no espaço de uma semana.
conserva a confiança dos índios. Apoe Amaury disse que esses dois ataques de
na, filho de Francisco Meireles, nasceu monstram que os índios estão nervosos
em uma aldeia indígena e, com seu pai, FUNAI contra madeireira outra vez com a entrada de famílias de
foi o responsável pela defesa de vários colonos na região do Vale do Guaporé,
destes grupos, tantas vezes ameaçados O procurador-geral da Funai, Irineu área de reserva e nas proximidades de
de extermínio. (FSP, 23/03/84, artigo Oliveira Filho, vai entrar hoje com uma onde o governo do Estado pretende im
de Carmen Junqueira, antropóloga da queixa-crime na Polícia Federal contra a plantar 25 mil famílias dentro do pro
PUC-SP, e Mauro Leonel Jr., jornalista, Comercial Exportadora de Madeira grama do Polonoroeste. (Tribuna da
ambos membros da Equipe de Avalia Ltda. (Comex), por estar a empresa ex Imprensa, 07/01/84).
ção do Polonoroeste FIPE/USP). plorando, ilegalmente, várias espécies
de madeira existentes na reserva indí
gena do Roosevelt, na divisa de Rondô
nia com o Mato Grosso, onde vivem os
índios Cinta-Larga.
A informação foi fornecida pelo dele
gado da Funai em Rondônia, Apoena
Meireles, salientando que o órgão deve
rá entrar, ao mesmo tempo, com uma
ação na Justiça, pedindo uma indeniza
ção para os Cinta-Larga, já que a explo
ração de madeiras de lei na área do Roo
sevelt vem acontecendo há muito tempo.
(Diário Popular, 24/09/84).

229
sL7-Acervo
–/ { _>.A INDÍGENAS NO BRASIL/CED

FUNAI teme mais reações Nova aproximação Apoena quer mais recursos
A Funai resolveu voltar a proibir a área O sertanista Apoena Meirelles, dele O delegado da Funai em Rondônia, ser
de circulação dos índios Uru-Eu-Uau gado regional da Funai, seguiu ontem tanista Apoena Meireles, propôs à presi
Uau aos brancos, para evitar que acon para a região do rio Jamary, de onde, dência do órgão, através de relatório, o
teçam mais atritos entre os dois lados, quarta-feira, o sertanista Pedro Azzi, destacamento de pessoal especializado
como os ocorridos durante a segunda que dirige um posto de atração, infor para consolidar a atração dos índios
quinzena de dezembro, quando os Uau mou que estava havendo uma movimen Uru-Eu-Au-Au, entre Ariquemes e
Uau mataram dois homens, atacando tação de aproximadamente 200 índios Guajará-Mirim. Segundo Meireles, a
depois de cinco anos sem qualquer ato Uru-Weu-Wau-Wau. Apesar de um frente de atração, devido à falta de téc
belicoso. •
grupo de 15 Wau-Wau ter-se aproxi nicos em indigenismo e sertanistas — a
Todo o trabalho na frente de atração do mado para dialogar, o sertanista pediu Funai perdeu vários nos últimos dois
rio Jamari, coordenado pela Funai, está reforço de comida e brindes que sempre anos —, vem sendo comandada preca
paralisado, como medida de segurança são solicitados pelos índios. Antes de riamente por servidores não qualifica
para evitar que os índios, já mais arre viajar, Apoena disse não temer novo dos e sem grande experiência em traba
dios, se irritem ainda mais e ataquem os ataque dos Wau-Wau — que desde lhos dessa natureza. Esse problema, se
próprios funcionários da Funai que se 1979, quando mataram três irmãos e gundo o delegado da Funai em Rondô
encontram na frente, em três postos. (O raptaram um mais novo, atacaram uma nia, preocupa constantemente o órgão,
Liberal, 18/01/84). uma vez, ano passado, ferindo um fun pois os índios estão ainda arredios e são
cionário da Funai —, mas pretende con imprevisíveis em caso de ataque. (Folha
seguir rápido, junto ao IBDF, a inter da Tarde, 09/04/84).
dição da área de perambulação dos ín
dios, para evitar que haja invasão de co
lonos que estão chegando a Rondônia.
(ESP, 30/03/84).

230
|

Enauenê-Nauê

OESTE DO MATO GROSSO

231
* #%
=A_EVÂNDIGENAs no BRasil/cro

Povos INDIGENAS NO BRASIL/cED


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BR-35°
DIAMANTINO

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13-OESTE DO MATO GROSSO

232
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OESTE DO MATO GROSSO 3

QUADRO GERAL DOS POVOS INDÍGENAS DA ÁREA OESTE MT


N@ NO N? DE ALDEIAS QU
EXCVC) N}\PA NOME DA ÁREA MUNICÍPIO Nó####"###s POPULAÇÃO FONTE E DATA
V-
ENAUENÊ-NAUÊ alumã Bela da santiss…
•• =

(S •
} l AI Sakuma Trindade, Aripuanã,
+ + === - 85
3 160 Canas:
Diamantino

MYKY 2 AI Myky Diamantino l 34 Amarante: 34

APIAKÃ 3 RI Apiaká Juara 2 42 Wanzel: 84

RTKEAKESA 4 RI Rikbaktsa Diamantino ll 493 Loebens: 85

IRANXE (l) E RE IrañXE #Diamantino 3 162 Bussatto: 85

KAYABI (2) 6 RI Kayabi Juara 2 120 Dornstauder:84

7D AI Estivadinho Tangará da Serra


7E3 RT Pareci Tang. da Serra e
Diamantino
PARECI 7E AL Utiariti Diamantino Lima: 83

7À AI do Formoso Tangará da Serra


7C AI Capitão Figueiras|Tangará da Serra
7F |AI Capitão Marcos | Vila Bela da S.Trindade 631 (T)
8 AI Umutina Barra do Bugres PI URTutina LLO

Humaitá I.3
UMUTINA (3) Tpiapó º lFUNAI: 83
CaChoerinha 15

Aideia Velha 12

L60 (T)
9C AI Pirineus de Souzal V.B. Sant. Trindade LO 3 FUNAI: 84
9B Al Sararé Pontes e Lacerda 5]. FUNAT: 84
NAMBIQUARA (4) 9D AI Vale do Guaporé V.B.S. Trindade 239 FUNAI: 84
OE AI TiraCatinga Diamantino 52 Arruda: 83
9. A AI Nambiquara V. B.S. Trindade 204 FUNAI: 82

699 (T)
(1) nesse total há mulheres Pareci, Rikbaktsa, Cinta-Larga, Nambiquara e Kayabi.
(2) ver também nas Áreas Parque Indígena do Xingú e Tapajós-Madeira.
(3) do total, 90 são Pareci e 10 são de vários povos (Nambiquara, Kayabi, Terena, Iranxe e mestiços).
(4) ver também na Área Rondônia.

233
s! Z> Acervo
_/\ …A INDÍGENAS NO BRASEL/CED!

A HISTÓRIA
DE JACUTINGA
A saga de um Nambiquara
que, durante oito anos,
tenta voltar à sua aldeia.

Silbene de Almeida"

acutinga fugira de Cuiabá em maio de 1976. Junto A área é um cerrado grosso, e mata ciliar entre os Rios Casca,
com Antônio. Lá, encontraram na Chácara Ambu Jardinzinho, Jardinzão, Conceição, nas fraldas da Chapa
latório da Funai, Rosinha Waikisu que viera se tra da. Pouco habitada.
tdF. Jacutinga foge com ela, Marco e Antônio. Na semana da
fuga, toda a Funai se mobilizou, teve ajuda do Exército, da Voltamos para Cuiabá e noticiamos na Rádio Difusora e
Polícia e não mais viram. Rádio Nacional de Brasília, um apêlo aos moradores de tal
região se vissem índios não os maltratassem e avisassem a
Funai.
Em 14 de junho, na estrada da Sorana, encontro Antonio que •

voltava só. Onde ficou Jacutinga e família? Não sabe, mor


reram todos, civilizado matou. Passaram num lugar, tiro Voltamos ao Posto e em fins de maio desloco para Cuiabá,
muito. (Depois deduzi pelo caminho que vieram, que fugin novamente, agora com José, filho de Jacutinga, e Erico, seu
do de Cuiabá não poderia atravessar o rio, a menos que ti cunhado.
vessem ajuda de canoeiro, que não procuraram pois fugiam
dos civilizados. Assim iam ao encontro de vau nas cabeceiras Em Cuiabá encontramos na Funai Sr. Zeferino, sitiante do
dos rios e atravessaram pela Chapada dos Guimarães área de Pingador, área em questão, que escutara pelo rádio nosso
experiência de tiro do Exército). Nesta área nesta guerra apelo e viera avisar que havia índio em sua região e foram
Antonio se perdeu dos outros. vistos há mais de mês. Dia seguinte, com José e Erico e Sr.
Zeferino partimos para a estrada do Rio Manso até a Fa
Em outubro de 1979 soubemos que andavam pela área de zenda 3 Barras, pois a notícia nesta fazenda era mais recente
Acorizal, Rosário Oeste. Fomos lá com os índios Camaruto e que a do Sr. Zeferino. De qualquer modo não era longe do
Cristóvão. Não vimos rastros. Vestígio de taquara cortada, sítio dele, o Pingador, e ele iria a pé dali.
fogo velho e pau de fogo.

Em dezembro 1979 chegam a Diamantino Jacutinga e famí Pernoitamos nas 3 Barras.


lia com duas crianças, Marco e outro nascido no caminho.
Aparecem ao redor da cidade e são encaminhados aos Jesuí Clair, o colono, que havíamos conhecido na viagem anterior
tas da Prelazia que os recolhem e os enviam de avião, no com Sr. Fritz, enquanto viéramos até o PI buscar os outros
vamente, para Cuiabá. Chegam de novo à Chácara Ambula índios, correra pela redondeza e viu vestígio de uma casinha e
tório. No outro dia à noite fogem. favo de mel.

11 de maio de 1984 30 de maio de 1984

Soubemos pelo Aimoré que encontraram Jacutinga e família Saímos rumo à fazenda do Dr. Milton para deixar o sr. Ze
numa fazenda perto de Cuiabá. Desloco para lá. De Cuiabá ferino mais perto do sítio dele. Chegando na fazenda, duas
à Fazenda 3 Barras, estrada do Rio Manso, município da famílias, e o capataz que nos saudara como amigo, pois me
Chapada — há 100kms. Fomos com Sr. Fritz e motorista da conhecera no Guaporé, na Fazenda Kananxuê quando certa
5° DR. Regionais haviam visto os índios há mais de uma vez os índios do Sararé atacaram seu barraco.
semana. Um homem meio cego, mulhere4 crianças.
O capataz nos diz que viram os índios semana passada, um
tal Tinca vira um buraco enorme que eles furaram, rastros de
crianças, outro vaqueiro havia encontrado com eles tomando
(*) indigenista, chefe do PI-Manairisú, entre os Nambiquara do Gua banho num tal lençol.
poré, desde 1975.

234
OESTE DO MATO GROSSO 5

Corremos os lugares que ele dissera e nada vimos. Estavam 19 de junho de 1984
um pouco alcoolizados e achamos que poderia ser engano.
Deixamos aí o Sr. Zeferino e voltamos para pernoite em 3 Saímos novamente rumo à Fazenda do Dr. Milton, para
Barras. •

buscar Tinca, o homem que havia visto os rastros das crian


ças na cabeceira de um córrego.
31 de maio de 1984 Encontramo-lo numa aldeia chamada Varginha. Eram pe
quenos sitiantes, cunhados e irmãos que se agrupavam em
Pela manhã saímos rumo à Fazenda Areia Branca, onde torno de uma matriarca, Dona Margarida. Uma areia ver
Clair vira vestígio de casa e favo de mel. Era uma casa já melha, uma pequena escola, limpos e pobres, muita laranja.
abandonada, um acampamento dos índios, e havia um pau
de fogo embrulhadinho, como se estivesse protegido para No caminho da Varginha, passamos pela Fazenda do Dr.
não molhar. Jacutinga certamente pousara ali há meses. Milton e não estava o tal Capataz Kananxuê. Só sua mulher.
Onde era o favo de mel — nada que pudesse afirmar que Estavam campeando ele e o vaqueiro Sr. João. Deixamos
seria dos índios. recado com sua mulher que iríamos em busca do Tinca e
voltaríamos para saber se havia notícia dos índios, campean
Voltamos até a fazenda do Sr. Marco Aurélio, saber notícia, do que estavam.
nada.
Tinca nos trouxe onde ele vira os rastros das crianças.
Até uma outra, do Sr. Zezinho e nada. Voltamos para per
noite na Fazenda 3 Barras.

Os Qualisateçu (outro grupo Hahai) Na seca de 1975 tentamos fazer uma


moravam num braço do rio 32, ti roça.
nham como pátio da aldeia a pista de Nesta época que Jacutinga fôra prá
OS pouso da Fazenda Zillo (Agrop. Vale Cuiabá já estávamos comendo do mi
do Guaporé) e defronte a Serraria, lho. Pouco sobrou, pois mal havia
HAHAINTESU pensão, ambulatório, casa sede e casa mos plantado a roça, veio o avião com
de peões. Ao redor, tudo pasto. Pás semente de colonião e semeou, polvi
saros mais próximos os aviões e anus. lhou por tôda a área. Comiam cará da
E o ronco do avião, o cortante da ser mata, e arroz que ganhavam de al
1976 raria, o gargarejo dos motores diesel. gum, mandioca que apanhavam na
Na temporada das derrubadas, gran roça de outros, numa resistência he
Os Hahaintesu eram 48 indivíduos des derrubadas (600 alqueires, etc.) róica e apocalíptica.
em abril de 1975 voltaram a pé do vinham mais de 300 peões. Eram
Sararé pela BR-364. Campo, areia, acampamentos por todos os córregos,
falta d'água. Uma briga com a tribo o tombar das árvores e as quinquilha
do Sararé, morte de dois adultos e rias civilizadas. 1984
duas crianças na Serra de São Vicen Haviam 5 crianças.
te, após uma experiência frustrada de Suas terras foram liberadas (certidão Hoje, os Hahaintesu somam 73 indi
transferência para a área interditada negativa) para incentivos da SUDAM víduos,
entre o Sararé e o Galera. Foram aos industriais paulistas. Temos várias e lindas crianças.
transportados de avião pelo missioná Fui o primeiro Chefe de Posto na Têm roça farta, de tudo, um pomar
rio Gustavo e o antropólogo David área. Olhava todos os índios do Vale, com laranjas a perder. Tem uma re
Price em dezembro de 1974. Sua re e ficava pulando 3 ou 5 dias de aldeia serva em fase de demarcação, têm as
gião original, entre os rios Piolhinho e em aldeia, Alantesu, Waikisu, Wa sistência econômica e de saúde, As
Piolho, já estava praticamente toma susu e Sararé. aldeias que eram pelos pastos, conti
da pela Agropecuária Vale do Gua Os Hahai mais sofriam o impacto. O nuam como aldeias, porque o foram e
poré, Fazenda São João, Cofap, Rio administrador da Fazenda, então, tem seus mortos. Vieram todos para
Vermelho. não gostava dos índios. Dava tiro as mais noroeste, entre o rio Vermelho e
A aldeia dos Yodunçu (grupo Hahai) sustando, tentou envenená-los com o Corgão. Ainda assim andam em to
era em meio a pasto, mata longe, re arsênico, deu choque elétrico. Proi do território que lhes pertence, extra
tiro de gado ao lado. Impossível fazer bia que o farmacêutico tratasse ou polando os limites da reserva. Têm
roça. Tudo capim. As vacas, enquan ajudasse. Os índios saíam prá caçar e agora uma variante da BR-364, asfal
to dormíamos comiam até a palha das só achando vacas, flechavam-nas. tando, passando ao norte e cortando
casas. Saíam prá caça e a paisagem Sempre 9 ou 10 reses flechadas ou a reserva e vizinhando às outras tri
era colonião e vaca. No céu, duas ve abatidas pelos índios. Não comiam , bos. O Tordon já não é aplicado de
zes por ano os aviões com Tordon suas carnes. Era o demônio. Assalta avião. Aplicam-no manualmente nos
101, 105, choviam sobre todos. Os ca vam barracos de peões. Uma vez en acuris e assa-peixes. Nasceram 4
minhos, as trilhas ancestrais, eram traram à noite no armazém da Fazen crianças com defeitos genéticos. Duas
cortados por cercas e arame. da e fizeram uma limpeza. sobrevivem.

235
Acervo

"X #Ves INDIGENAs No BRASIL/CED


Maravilha! Olha aí! José e Erico eufóricos volteiam pelo ter Voltar. A mulher levanta. Levo Kwasita. José o Tarlenka,
reno tentando achar o rumo das pegadas. O chão é cascalho e Jacutinga e demais civilizados todos felizes rumo ao carro,
pouco legível. destino ao lar. Um pneu furou. Eram mais ou menos 16:00.
Já na estrada do Rio Manso, há uns 80 kms de Cuiabá, outro
José chama alto, grita. Quando passávamos pelas cabeceiras pneu. Agora sem estepe. E noite, A estrada é pouco movi
do Lençole José também chamara pelo pai. mentada. Solução dormir por aquí. Fogo e assamos o tatu.
Foi uma noite alegre de confraternização. Comemos do tatu
Estávamos olhando os rastros com Tinca quando um baru que o Jacutinga havia caçado no Inferninho com os carás do
lho no mato. Era o capataz do Dr. Milton num burro, cor Friato.

rendo e gritando que havia encontrado os índios, que fôs


semos rápido. Deixou Sr. João entretendo Jacutinga e veio
nos avisar. Voltou no burro e saímos na viatura atrás. Quan Conversa a noitetôda.
do chegamos na sede deixou o burro e nos acompanhou. A
mulher dissera que o Sr. João viera buscar açúcar, roupa e As 9:00 da manhã conseguimos carona para Cuiabá e leva
fumo pros índios e já voltara. Fomos atrás. mOS OS pneus para arrumar.

O Capataz nos informa que assim que passamos de carro, ele Mais ou menos 13:30 voltamos com o pneus. Arrumamos e
que estava campeando com o João passou logo atrás. E na chegamos na Chácara Ambulatório pelas 16:00. E sábado.
triagem recente do carro rastros do Jacutinga e das crianças Combinei com os índios que precisava de esperar segunda
por cima, atravessando a estrada. Foram nos animais atrás e feira para fazer compras, fazer manutenção da viatura e re
os encontraram caçando tatu numa furna de nome Inferni tornaríamos para o Guaporé na terça. A Chácara arranjou a
nho. Deixamos o carro na estrada. Andamos e chegamos no casa de isolamento e aí eles ficaram. Compramos peixe no rio
buraco do tatu. e comiam muito com mandioca.

Ninguém. Rastros do cavalo, rastros dos índios. Será que o Na terça viemos. Comprei bastante peixe para assarmos à
Sr. João não os perdeu também enquanto viera na casa bus noite, quando dormiríamos.
caras coisas? Vamos seguir os rastros. Andamos, andamos.
Rastros deles e do animal. Deve estar junto. Já num outro Tudo indo bem. Passamos Cáceres. Já é tarde. Atravessando
espigão. Canela de ema, pequizeiro, mais cascalho, taqua o Jauru. Penso em dormir no espigão entre Jauru e o Gua
ral. Um barulho de conversa. Estamos chegando. poré, pros lados do Pedro Neca. A friagem soprando. Temos
que acampar cedo para arranjar lenha. Encontramos um
Vínhamos José, o capataz do Dr. Milton. Clair já na frente. posto, e uma casa de palha abandonada. Fizemos fogo arru
mamos no jirau os peixes. •

O Erico atrás. Eu não acreditava. ali estavam. Sr. João no


cavalo, o Clair e Jacutinga, a mulher e 4 crianças. José eufó
rico falando papai, papai. Jacutinga reconhece. Alegria e Jacutinga calado. Me dá um puxão de orelha e um beliscão
emoção. na barriga (?).

Jacutinga também me reconhece. A mulher um pouco assus Os peixes assados comemos com mandioca, José, Erico e eu.
tada. Jacutinga não comia. Está calado e sentado. A mulher cisca
um pouco do peixe e continua deitada com as crianças. Lá
As crianças retraídas e assustadas. Todos nus. No balaio un fora a friagem.
poucos carás do mato. Uma faca velha, um pau e um ma
chado já bastante velho e gasto, uns5 cms lâmina, quase já só Josévai dormir dentro do carro. O Erico tira a roupa e dorme
punho. Um par de pau defogo. perto dofogo.

Era tudo. Nenhuma arma a não ser um porrete e o machado. Jacutinga com a família no outro lado do fogo. No meio, eu
na minha rede.
Na região não havia madeira para arco. Havia taquara prá
flecha, e daí? De madrugada acordo. O Jacutinga na mesma posição. Será
que não dormiu? Não eram ainda 5:00 quando o frio nos
Viveu caçando tatu, comendo insetos, corós, bebendo mel, e acorda e vamos para a beira do fogo. José acorda, sai do carro
carás do mato. Não queriam contato com os civilizados. Ten e vem profogo.
tando aqui chegar. E como atravessar o Rio Manso? E o Rio
Casca?E aqueles monturos chapadões ao redor? Eu que estou mais perto do Jacutinga levo uma estocada
dele. O Érico me puxa para o seu lado e se interpõem. Jacu
E as crianças nascendo. Nasceram três — o Tarlenka (que tinga cutuca o Erico. Outro cutucão. Jacutinga diz — Sil
significa aquele que nasceu numa gruta de pedra), Kwasita bene você falou que me daria machado novo, faca, facão e
(que tem lábio leporino) e Suna, ainda de peito. Todos fortes. panela e mentiu, você está mentindo... Eu vou falar e ele
Jacutinga enxerga um pouquinho de um olho. Anda apal levanta com o seu toco de machado e avança sobre mim.
pando. A mulher carregava Suna. Jacutinga carregava o Erico corre, eu corro. Ele vem em cima. Saímos da casa. Ele
Tarlenka e Marcos, agora com 10 anos, carregava o Kwasita. atrás. Avança para o carro e começa a bater o machado.
José conta que estão todos com saudade, que nunca esque
ciam, que ele devia voltar, voltar prá área dele, que alí era
terra desconhecida, etc...

235
* #Z_Acervo
_/\ | <> A
OESTE DO MATO GRosso 7

Quebra o vidro da porta direita, vai batendo, quebra o que Na estrada, rumo a Porto Velho, passa uma carreta carre
bra-vento. Outra pancada e lá vai o pára-brisa. José e eu com gando um elefante de algum circo. O elefante dançando em
pau gritando pra ele parar e ele avançando em cima de nós. cima e mexendo a tromba. Tomara que os índios não vejam
José cutuca ele com o pau. Ele joga o machado tentando — o que pensaria Jacutinga vendo um animal tão desconhe
acertá-lo. Corro e escondo o machado. Ele volta onde está a cido?José manda eu tocar o carro depressa. Eu lhe digo que
mulhere os filhos. Arranca a roupa da mulher e dos meno devo parar no Posto Sapé, pois é a última borracharia que
res. Arranca também a sua. Rasga as roupas. Marcos escon poderia consertar o pneu. Jacutinga gritando, cantando,
de com o irmão José. Jacutinga pega a família e sai a pé. chorando, as crianças assustadas chorando. Paro o carro na
Outra fuga? José e Erico revoltados. Essa friagem tôda e borracharia.
agora sem pára-brisa, sem vidro na janela. Jacutinga desa
parece. Estamos desolados. Lá está o elefante. Coloco o carro numa posição que a tra
seira dê para o mato, para evitar acesso de civilizado e visão
Abastecer o carro, levantar acampamento e pegar a estrada. do Jacutinga. Jacutinga furioso começa a jogar tudo de den
Ainda falo com o José e Erico que deveríamos ir atrás do tro do carro. Entra em luta corporal com o filho José. Dá um
Jacutinga que ele ainda não estava longe, que ia se perder soco na boca dele. José estásangrando. Grito com Jacutinga.
outra vez. Os índios não querem, dizem que o Jacutinga é Ele pára um pouco e José salta do carro. Jacutinga começa a
maloqueiro, que bebeu pinga (a forma de dizer que não está jogar tudo do carro prá fora. Laranjas, bananas, panelas,
com a cabeça certa — os nambiquara não bebem álcool). cobertas, linhas, batendo na capota, nós gritando a ele, ele
joga uma laranja que me acerta na cara. Sai com a mulher e
Foi embora nosso homem. Agora sem o machado velho, sem as crianças. Digo ao José que deixe ele ir embora. Agora já
os pau de fogo. estamos dentro do Vale e o máximo que pode ocorrer é ele
cair na aldeia dos índios do Sararé, inimigos.
O Marcos se esconde comigo. Vai embora outra vez Jacutin
As crianças em meio à friagem. ga com a família. Ainda o vejo cruzar o asfalto e pegar a
estrada que vai dar na Fazenda Sapé.
Saímos no carro. Devagar, devagarinho evitando ao máximo
o vento que entra esfriando, enregelando a cabina. Poucos Começamos a recolher tudo que ele jogou fora. Arrumamos a
metros na estrada e lá vai descendo o asfalto Jacutinga com a
*# 4
carga no carro e vamos embora. Dará tempo para eu chegar
família. no Posto e avisar o Ariovaldo no Sararé.

Falo a José que quando o carro passar perto chamá-lo para Chegamos ao PH ainda a tempo do rádio. Falamos com o
entrar, que ainda está longe do Guaporé. Passando ao seu Sararé.
ladoJosé lhe fala. Ele avança sobre o carro e entra na cabine.
José sai e coloca a mulher com as crianças atrás. Na frente só Ari não está. Só a Caia e a enfermeira. Dizem que chegou o
Jacutinga e eu. Chamo o José para ficar entre nós, segurar a casal de índios com as crianças. Elas estão intranqüilas, pois
barra com o pai. Conversa, conversa, conversa. Diz que no ele está inquieto e os índios do Sararé caçoando dele. Vem o
carro estão as panelas dele, que no PI está o machado, etc. Tito e lhe leva a mulher com as crianças para a aldeia, Fica
Vou andando devagarinho. Os dedos estão duros na direção. Jacutinga só. No território inimigo, sem a família, num paiol
Digo a Jose que deverei pararem Pontes e Lacerda para colo de milho. Caia e a enfermeira intranqüilas.
car novo pára-brisa. Ele conversando com Jacutinga. Os
olhos cegos de Jacutinga cospem fogo. Vamos andando. En Ari atende em Vilhena, comunico-lhe os fatos. Ele diz que
tro em Pontes e Lacerda. Ainda é cedo e nem toda a cidade deslocará amanhã para o Sararé. Enoite.
despertou. Ótimo. Compro o pára-brisa e vou trocá-lo. Jacu
tinga está atrás do carro com a família e José e Erico. Parece Outro dia. Pelo rádio estamos em contato direto com o Sa
estar mais calmo. Desce do carro e me chama. Diz que já raré. Jacutinga se recusa a beber e comer. A mulher Tito
acabou, que está alegre. Otimo. O mecânico terminando de levou. A tardinha chega o Ari no Sararé. Em contato pelo
colocar o vidro, rádio, ele diz que Jacutinga está com olhar estranho, que está
inseguro, que junto com os índios do Sararé vão amarrá-lo e
Aparecem um homem e uma mulher civilizados e encostam trazê-lo. Replico que não. Que deveria buscar a mulher com
no carro para ver os índios. Jacutinga se enfurece. Grita. Os as crianças que estão com o Tito. Então tentar trazê-lo. Dito
civilizados correm. Atira laranja neles. O mecânico acaban efeito. Coloca a mulher as crianças e Jacutinga. Junto traz o
do de colocar o vidro, ligo o carro e vou andando. Só eu na Américo e Luiza, o Tito, o Nilo, o Jorge, o Domingos, índios
frente. Atrás estão todos. Pelo retrovisor vejo o Jacutinga do Sararé. Combinamos com o Ari e ele vem até o Postinho
batendo no Erico. As crianças chorando. José dando sinal Comodoro e daqui saiu eu com outros índios, cunhados do
para eu não parar. Jacutinga a cantar. Canta a música dos Jacutinga e vamos encontrá-los.
espíritos. Arranca a roupa do Tarlenka e pega uma laranja.
Vai benzendo, esfregando laranja, cantando, chupando o Chegamos no Postinho pelas 9:00 da noite. Já estão lá. Os
corpo do garoto e cuspindo. Puff Fura outro pneu. Tenho Hahai vão descendo do carro encaminhando ao carro do Ari.
que parar, Jacutinga violento. Diz que todos estão mentindo. Jacutinga está com os pulsos amarrados. Tentara pular do
Que a estrada é outra, que está demorando muito. Eu tiro o carro no caminho e os índios do Sararé o amarraram. Vou
estepe e vou trocando. José querendo manter o pai. Jacutinga colocando a mulher no meu carro. Os Hahai conversando
gritando. Parece que está demorando horas a troca dos com Jacutinga, ele reconhecendo a todos, desamarram-no e
pneus. vêm todos para o meu carro, Saio de volta pro PI. O Ari e os
índios do Sararé também retornam.

237
s! Z_ Acervo
_/\ | S A INDÍGENAS NO BRASIL/CEDI
Chegando aqui já quase meia-noite. Toda a aldeia espe Até que enfim, solta a criança. Jacutinga alegre, bate no
rando-nos. peito como vitória. Me chama, me abraça e diz que ele que
tirou a criança.
Tudo bem. Está frio e eles levam Jacutinga e família para a
casa do Padraico. Enfim, em casa. Ótimo. Enfim reconciliado, enfim tribalizado, participou de
uma ação comum.
Durante os próximos dias, os índios conversam com ele sem
parar. Dia 20 de junho ele vem me solicitar machado e lima pra
derrubar.
Dizem que ele ainda não sarou. Que ainda está um pouco
violento. Que eu não lhe entregue machado ou faca. Levo as Brinco com ele e questiono se não vai me jogar o machado
panelas da sua mulher. outra vez. Rimos. Entrego-lhe o machado e lima. Vai para a
roça. Estão lá todos os homens. Jacutinga apalpa a árvore e
Os dias vão lhe acalmando. Agora ouve-se gargalhada na záz com o machado. E rápido. Quando a árvore começa a
CCISC]. estalar os índios gritam com ele prá correr. E assim vai fa
zendo sua roça, comungando com todos.
Visitas e conversas. Harusa, sua mulher, já faz mingau de milho. Passa toda
tarde para banhar com as crianças. Apanham laranja no
19 de junho de 1984 pomar. As crianças ainda não brincam com as outras. Só o
Marcos que quer também participar da roça, derruba com o
Nasce Corái. Filho de Malaco e Bárbara. Um parto difícil. machado.
Dois dias a Bárbaragemendo e nada de criança. Estamos em
contato com Vilhena, vinda de avião e médica. Aparece o Agora está toda a aldeia gripada. Gripe forte. Afriagem que
Jacutinga na minha porta. Abraço ele e lhe digo que Bárbara apanharam. Jacutinga e toda família resfriou. Trouxe a gri
está tendo criança e que está difícil. Ele propõe fazer o parto. pegeral.
Levamo-lo até a casa. Ele começa massageando, mascando
casca de bananeira, passando no ventre, massagem. Horas Mas está passando.
passam.
Está tudo bem, todos calmos.

Aconteceu
não ficaram satisfeito, vendo uma faixa Juara, MT. Os Kayabi pediram para
KAYABI E APIAKÁ grande então começou o processo de am não continuar com o serviço, enquanto
pliação. Depois de 2 anos, em julho de não resolver da ampliação da reserva.
Denúncia de invasores 1978, começou o processo de ampliação Na mesma semana seguiu o engenheiro
então os Kayabi insiste nesta ampliação, Idamar para Cuiabá para tomar provi
Ainda continua grande preocupação en muita carta para Brasília para presiden dência na Funai e a Cemat. O serviço
tre Kayabi e Apiaká, os invasores nas te da Funai que nem se interessou, os ficou parado um mês e 18 dias. (...)
reservas indígenas, principalmente no Kayabi vai a Cuiabá tratar do assunto Em janeiro deste ano, de 1984, dia 14
Salto Kayabi. Continua insistindo o sr. com o delegado da Funai, no qual só voltam os pessoal da Cemate engenheiro
Américo, ex-administrador da fazenda prometia, como vinha a promessa do da Gutierre dessa vez sem coronel da Fu
Cachoeira, diz ele, o sr. Américo, que Presidente da Funai de Brasília. nai, nem funcionário trazendo o docu
entre abaixo do Salto Kayabi até córrego Passa 1982 e entra 1983, ano que deu mento da ampliação da reserva. En
Jaú pertence a ele. muita preocupação do povo Kayabi. En quanto isso em Cuiabá no palácio do go
Antes da década de 50 os Kayabi já ocu tão aí os Kayabi se prepara para luta de verno esteve reunindo presidente da Re
pava esta terra, legalmente terra Kaya espírito de guerra. Em setembro a Ce pública, assunto fundiário (NR: Minis
bi, no rio dos Peixes. De 1955, o governo mat contrata uma firma Gutierre An tro Extraordinário para Assuntos Fun
do estado de Mato Grosso e a Funai, drade para abrir a BR, e a construção da diários), o ministro do Interior, Presi
foram vendendo toda terra dos Kayabi, Usina Hidrelétrica no Salto Kayabi. No dente do Incra, governador Júlio Cam
com título negativo. No entanto, hoje os momento que os Kayabi espera esta fir pos, presidente da Cemat, tomando ati
Kayabi luta pela ampliação da terra, ma chegar com a estrada perto do Salto. tude. No documento da ampliação for
que a colonização Pinto Dias tomou di Em mês de novembro dia 15, 15 Kayabi maram uma reserva florestal, criar uma
zendo ele que esta terra era dele. De para o Salto ver o serviço da Gutierre reserva florestal a coisa é injusta no meu
1975 foi demarcada a Reserva Kayabi, Andrade; os Kayabi chegaram armado ponto de vista. Porque mais tarde como
de maio de 1975. A demarcação termi de borduna, arco e flecha, e cerca dos vai acontecer para as duas comunida
nou dia 8 de dezembro do mesmo ano. trabalhadores manda para todas as má des. No entanto os Kayabi vai esperar
Terminando a demarcação os Kayabi quinas, e 300 operários da firma. Os ho terminar todo levantamento da picada
mens todos com medo dos Kayabi, no para conversar com presidente IBDF.
mesmo instante o responsável mandou
recolher todas as máquinas e levar para
OESTE DO MATO GROSSO 9

Agora a comunidade está esperando Ele observou que Mato Grosso é um es STF garante
quantos alqueires tomamos das fazen tado-nação de 800 mil quilômetros qua
das. Só tenho a dizer porque é que o drados, dos quais 96% encontram-se Por decisão unânime do Supremo Tri
governo vendeu o território dos Kayabi? virgens; a população é de 1,6 milhão de bunal Federal, os índios Nambiquara
Sabia que esta terra tinha dono. O dono pessoas, quando comporta até 50 mi recuperaram ontem parte de suas terras
da terra era legitimamente dos Kayabi. lhões. (Diário do Grande ABC, 02/10/ no Vale do Guaporé, Norte de Mato
Depois tem um senhor chamado Amé 84). Grosso. As terras estavam sendo dispu
rico, que Kayabi ele de tratou Tatu. En tadas pelo fazendeiro Antônio Mori
tão este senhor, foi administrador fazen moto, que, em 1972, juntamente com
da Cachoeira, o proprietário era Pinto outros empresários paulistas, entre eles
Dias, residência, no estado do Paraná.
O Pinto Dias vendeu este lote ao pé do
NAMBIQUARA o proprietário da Cofap Amortecedores,
Abraham Kasinski, recebeu certidão
Salto Kayabi. Pinto Dias e Américo afir Mandado contra a FUNAI negativa da Funai afirmando que não
ma que esta terra não é dos Kayabi, afir havia índios na área.
ma ainda que os Kayabi não andava na O ex-Deputado Federal Antônio Mori Na defesa apresentada ontem no Supre
quela época. Por isso os Kayabi estão moto impetrou mandado de segurança mo Tribunal Federal, a Funai afirma
revoltados contra ele, quer pegar o Amé preventivo no Supremo Tribunal, para que “é indubitável serem as áreas, em
rico, e cortar a cabeça para fazer a dança impedir que a Funai venha a registrar apreço, “habitat permanente dos índios
kayabi, no caso se ele continuar insis como terras indígenas as três fazendas Nambiquara, tal fato constatado após
tindo na questão. Nada mas, espero pu de sua propriedade na Comarca de Cá longos estudos históricos e antropológi
blique informação, através do assinante ceres, no Mato Grosso. Morimoto diz cos. As terras não foram desocupadas
do Porantim. (Antônio Carlos Faim, que a Funai, mesmo sem obter amparo nem declaradas abandonadas”. (Folha
Kayabi, Tatuí, Juara-MT). (Carta pu judicial para a medida, decidiu demar da Tarde, 31/05/84).
blicada no Porantim, nov./84). car administrativamente uma vasta re
gião do Vale do Guaporé, incluindo as
Fazendas São Luís, Partido e Cabixi, de Peemedebista acusado
propriedade de sua família, para ali alo de exploração
jaríndios do Grupo Mamainde e Nham
bikwara, pretexto de que aquelas terras A visita do presidente da FUNAI, Juran
Júlio Campos nega pertenceram a silvícolas no passado. dy Marcos da Fonseca, ao Vale do Gua
mais área aos índios Na impetração, o advogado Antônio poré, foi uma surpresa para os Nham
Conceição faz o histórico da cadeia do biquara que ali vivem. Pela primeira
“O governo de Mato Grosso já deu um minial das terras. Nega que elas hajam vez, eles estavam conhecendo o dirigente
basta à pretensão da Funai de ampliar sido povoadas por índios e lembra que a do órgão que tem como obrigação pres
as áreas de reservas indígenas no Esta invocação do artigo 198 da Constituição tar assistência às comunidades indíge
do, tendo definido com o ministro extra de 69, com base para o confisco de terras nas, buscando integrá-las à sociedade.
ordinário para Assuntos Fundiários que que já foram de índios, foi criticada pelo No entanto, na Aldeia do Capitão Pe
não se processarão novas alterações” — Ministro Cordeiro Guerra, para quem dro, onde vivem os índios Mamaindê, a
afirmou em Londrina, o governador Jú esse dispositivo exige aplicação cautelo surpresa maior foi da comitiva de Ju
lio Campos. sa. “Ele é igual ao preceito primeiro do randy Fonseca. Os índios não espera
As ampliações visariam à compensação Decreto Bolchevique, que abolia a pro vam que fosse o presidente da Funai e
de futuras ocupações para mineração, priedade privada e revogada as disposi armaram-se para atacar quem descesse
porém, o governador se eximiu de co ções em contrário”, disse então o atual do avião. Quando o avião pousou, os ín
mentar alegando tratar-se de projeto do presidente do Supremo, no julgamento dios apontavam suas armas na direção
Governo Federal, e limitou-se a respon lembrado no pedido de segurança. (O do “inimigo”. Desfeito o equívoco, o ín
der sobre possíveis problemas que teria o Fluminense, 25/2/84). dio Lúcio explicou que por muito tempo
Estado com as frentes de colonização. eles foram atormentados pelo ex-depu
Segundo afirmou, as reservas se consti tadofederal Antônio Morimoto (PMDB
tuem de 13 milhões de hectares para Homologação da área SP), que se apossou das terras dos Ma
6.500 índios, significando que cada ín Pirineus de Souza maindê no início da década de 70, de
dio é um fazendeiro de 2.500 hectares, e vastando toda a área para criar gado.
que a reserva Nhambiquará, de 100 ín O presidente Figueiredo assinou o de Como tática para intimidar os índios,
dios, foi acrescida de 360 mil hectares, creto nº 89.579 de 24.04.84 homologan segundo a denúncia de Lúcio, Morimoto
tendo sido prejudicado o fazendeiro Os do a demarcação administrativa promo se utilizava de aviões e por mais de dois
car Martinez, do Paraná, que estava vida pela FUNAI da área indígena Piri anos impediu a construção de uma en
produzindo regularmente. neus de Souza, no Município de Vila fermaria na Aldeia do Capitão Pedro.
“Nós não aceitamos mais nenhuma am Bela de Santíssima Trindade (MT). Atualmente a pista de pouso é constan
pliação” — asseverou Campos, ressal (Diário Oficial, 25/04/84). temente, ocupada por troncos de ma
vando que tem uma visão ecológica e é a deira, para evitar o ingresso dos “ho
favor da permanência dos atuais limites, mens” do “japonês”.
a seu ver, suficiente para as tribos. O índio Lúcio informou ao presidente da
O governador Júlio Campos chegou on Funai que o gado, de propriedade do
tem a Londrina para uma palestra sobre ex-deputado, continua na área indíge
a potencialidade de Mato Grosso, tendo na, o que vem pondo em risco as lavou
por finalidade atrair capitais e mais ras por eles feitas. (Correio Braziliense,
agricultores do Norte do Paraná àquele 29/07/84).
Estado.

239
Acervo
| S.A DiGENAS NO BRASIL/CEDI

FUNAI cancela duas certidões Há quatro anos, as comunidades Pareci A compensação para conceder o direito
do Bacaval, Seringal, Salto da Mulher de passagem aos fazendeiros está con
O presidente da Funai, Nélson Marabu (1982), Justa Conta, Kotitico, Rio Ver substanciado no acordo assinado em ju
to, assinou ontem portaria que anula de, têm resistido às ofertas para permitir lho de 1984 entre a FUNAI e os produto
duas certidões concedidas em 1968 pelo a construção de uma rodovia de 40 km e res rurais e consiste no seguinte:
então presidente, José de Queiroz Cam três pontes, ligando a margem esquerda a) construir a estrada e as três pontes de
pos, aos proprietários da Fazenda do do Papagaio (atrávessando o Sacre na acordo com o traçado e pontos de tra
Sapé, Agropecuária S.A. e da Fazenda altura do P.I. Pareci), e, seguindo em vessia desejados pelos índios;
Alto Guaporé S.A., em Mato Grosso. linha reta, cruzar o Rio Verde para en b) manter a rodovia e conservá-la sem
Marabuto afirma na portaria que as troncar na rodovia MT170 (uma estrada qualquer ônus para as comunidades;
duas certidões violam o artigo 198 da que parte da BR, ao sul, e se dirige sem c) respeitar e fazer respeitar costumes e
Constituição, que trata de territórios in pre a norte rumo a Fontanilha). tradições dos índios;
dígenas, garantindo sua inalienabili A estrada vai representar uma extra d) respeitar os limites definidos em lei
dade. Na região ocupada pela Fazenda ordinária redução de custos de trans como terra indígena;
Sapé, as terras incidem nos limites de porte no escoamento da produção e in e) liberar os seringais nativos à explora
áreas indígenas do Vale do Guaporé, Sa ternação de insumos e bens para as fa ção dos seringueiros índios nas fazen
raré e Capitão Marcos. No caso da Fa zendas. das situadas à margem esquerda do
zenda Alto Guaporé, as terras estão na Finalmente em julho deste ano, produ Papagaio, em comodato, pelo perío
área habitada pelos índios mamaindê. tores rurais do Alto Juruena e do Papa do de oito anos;
Na época em que as certidões foram con gaio — entre eles fazendeiros que ocu f) abrir estradas vicinais e acessos, li
cedidas, a Sudam as exigia para liberar pam vasta área na Reserva Pareci abaixo gando o Bacaval ao Salto e deste ao
financiamentos na Amazônia, e tam do paralelo 14º — firmaram acordo on Kotitico;
bém foram aprovadas outras para agro de são parte a FUNAI, autorizada pelo g) construir duas pistas de pouso para
pecuárias que ocupavam o Vale do Gua A relativa opulência dos índios do Baca aviões de pequeno porte: uma delas
poré, onde viviam vários subgrupos de val acabaram, depois de anos, por in no Salto da Mulher e outra no Baca
índios nhambiquara. A anulação dessas fluir nos planos e decisões de líderes e val;
certidões é uma antiga reivindicação de comunidades que se situam no raio de h) formar 52 hectares de lavouras, po
índios e indigenistas. O antropólogo sua influência. A aldeia Seringal foi for mares e pastagens artificiais em lo
norte-americano David Price — que es mada com famílias que habitavam al cais a serem determinados pelas co
tudou a situação dos nhambiquara — deias ao sul do Paralelo, próximas ao munidades (arroz, milho, feijão,
chegou a afirmar que a permissão dada Rio Verde, e que exploram há oito anos mandioca, cana, abacaxi, cítricos,
pela Funai para a instalação de agrope seringueiras nativas. etc.);
cuárias na região era “uma vergonha O argumento das lideranças é que não i) fornecer durante oito anos 10 mil li
nacional”. (ESP, 07/11/84). era possível esperar mais. A ponte sobre tros de combusível, 80 litros de óleo
o Sacre, aproxima o Bacaval ao Salto da lubrificante e 20 litros de graxa, por
Mulher, ao Seringal, e às aldeias próxi ano;
mas à BR, a sudeste. Esta ponte e a j) fornecer 600 sacos de arroz durante
abertura da estrada cruzando o Kotitico os serviços de construção e formação
é uma velha reivindicação do Bacaval e de lavouras e pomares;
Estrada de fazendeiros do Seringal e interessa muito à FUNAI, k) prestar assistência técnica à agricul
cortará a reserva Utiariti que, acertadamente, fundou o P.I. Pa tura;
reci num ponto estratégico, epicentro 1) promover e gestionar junto ao Gover
Presidente do órgão na ocasião, e cerca que controla a área, distribui serviços e no de Mato Grosso no sentido de que
de duas dezenas de fazendeiros. atrai recursos para a reserva Utiariti. seja fornecido todo o equipamento e
O acordo assinala o remate de negocia Com a adesão das lideranças das aldeias materiais médico-hospitalares para a
ções iniciadas entre a FUNAI, fazendei que têm muito a ganhar (pelo menos instalação de uma Clínica nas insta
ros e líderes indígenas, notadamente re imediatamente) com o acordo, bastou lações da Embratel, hoje patrimônio
presentantes do Bacaval e Seringal e de um impulso da FUNAI para que o com da FUNAI, de acordo com lista for
outras comunidades ao sul do Paralelo promisso se concretizasse. necida pelo órgão indigenista;
(Kotitico, Justa Conta, Rio Verde). O De outra parte, os fazendeiros aceita m) obrigam-se e a seus empregados e
principal líder Pareci, porta-voz das co ram os termos exigidos. No caso de não prepostos a não caçar, pescar, cole
munidades, de longa data, assinou jun cumprimento, de inadimplência de tar frutos ou retirar materiais e ma
tamente com os demais um documento qualquer cláusula do acordo, falam as deira em qualquer área indígena.
inicial, uma carta de intenção. Muitas lideranças — a estrada será bloqueada,
famílias destas aldeias, principalmente e isto acontecerá também se o acordo O acordo configura um fato novo, de ex
as do Bacaval e Seringal, são tradicio se mostrar lesivo por outras formas aos trema importância para o futuro das co
nais exploradoras de seringa e há muitos interesses da comunidade. Outro argu munidades. Esta decisão vai provocar
anos mantêm situação distinta das ou mento: a pressão e o cerco sobre as áreas uma reviravolta nas relações entre ín
tras aldeias, tanto do ponto de vista eco Pareci é grande e tende a aumentar. dios, fazendeiros e agropecuárias, ao
nômico como cultural, acostumadas que Além disso, alegam os líderes, o Pareci mesmo tempo que sugere relações simi
estão ao regime de mercado, à produção está muito atrasado e parado. A decisão lares para outras áreas, objeto de ten
mercantil, dominando as regras básicas está tomada. Há riscos, eles dizem, mas sões e impasses ainda não resolvidos: os
do negócio da borracha, operando com têm consciência deles. casos das ominosas invasões e ocupação
pra e venda a dinheiro e com larga ex de grande área ao sul do paralelo 14º, a
periência nas relações com os “bran noroeste da Reserva Pareci; o problema
cos”. da Sudamata, no Formoso; as titulações

240
OESTE DO MATO GROSSO 11

ilegais que pesam sobre a Reserva de Fi aprovou a demarcação. A Sudamata Assinado aqui os índios Rikbaktsa que
gueiras (Cap. Generoso); a tomada da mantém em terras indígenas um grande entregaram a carta de todos os povos
área da Reserva Estivadinho (Cap. Bri projeto de plantação de soja e um outro Rikbaktsa para presidente da Funai em
to) pela Fazenda Colorado, de Valdir pecuário, insistindo em não se retirar de Brasília.
Berta; e os casos dos enclaves JK, Vivi lá. Aqui tem muito problema aqui dentro
Juininha e Cap. Marcos, ao longo da Essas demarcações solicitadas pela FU da ária, de Rikbaktsa e pediremos aju
BR, entre Juruena e Uirapuru. NAI, em Mato Grosso, fazem parte das da. Aqui é um lugar isolado, aqui, pro
Com o afastamento do Serviço Geográ 37 áreas que estão sob a influência do blema de ária é muito grande. O seguin
fico do Exército nas tarefas de demarca Projeto Polonoroeste, que recebeu fi te: quanto a fazenda ou ária é que estes
ção das áreas Pareci (o pretexto é o alto nanciamento do Banco Mundial de 600 fazendeiros sempre de olho na ária indí
custo desses serviços) e a passagem des milhões de dólares para a construção da gena. Nós não olhamos na fazenda, de
ses trabalhos para o âmbito da 5° D.R., BR-364, que liga Cuiabá a Porto Velho, tomar a fazenda. A gente sempre tem o
em Cuiabá, apenas confirmam que a es e exigiu como contrapartida do Governo respeito da fazenda. Estes caras só fa
tranha rapidez nas tomadas de decisão brasileiro a aplicação de US$ 26 milhões zem derrubada só para estragar o mato.
da Funai, estimulando acordos de ces em área indígena. (Jornal de Brasília, Aqui nós aproveitamos a terra, para
são de terras em troca de recompensas 14/11/84). plantação de comida.
materiais, vão gerar efeitos negativos E também quanto a estrada também nós
que apenas podemos imaginar. (texto de não deixamos passar na reserva e tam
Abel de Barros Lima, membro da Equi bém as ilhas também não deixamos. E
pe de Avaliação do Polonoroeste (FIPE/ porque que o índio não tem direito de
USP)). Carta pede terra de volta pescar ou acampar nas ilhas? E também
é negativo as pessoas entrarem nas re
Nós povo Rikbaktsa encaminha para o servas. E porque os índios não pode tra
Conselho Indigenista Missionários có balhar na reserva para vender suas pro
pia da carta que o povo Rikbaktsa entre duções? E quanto a Japuíra que é terra
gou para presidente da Funai pedindo dos Canoeiro (ou Rikbaktsa) também
FUNAI levanta nossos direitos de conseguir de volta às estamos querendo marcar. Nada de fa
áreas indígenas terras últimas dos nossos antepassados zendeiros porque tudo era dos Canoei
que éJapuíra que fica na margem direita ros. Este pessoal das fazendas não tem
A FUNAI, atendendo à imposição do do rio Juruena em Mato Grosso, abaixo nada que é fazenda, tudo que tem o Ja
Banco Mundial, deu início ontem aos duas horas de barco de outra reserva puíra, plantados que tem lá é dos Ca
trabalhos de levantamento topográfico nossa dos Rikbaktsa entre o rio do San noeiros. Começamos em 74 trabalhar
para definição precisa dos limites das gue e Juruena, ficando Japuíra entre rio nas seringas e nunca tivemos ajuda e
terras dos índios Parecis e Irantxe, no do Sangue e Arinos. precisamos de uma ajuda da Funai. E
Mato Grosso, nas áreas de Estivadinho, Já perdemos quase todas as nossas terras aqui a seringa é pouco. Então por isso
que conta com 1 mil e 970 hectares e últimas. por último, o padre Edgar da queremos a Japuíra de novo. (Porantim,
abriga cerca de 20 índios. Irantxe, com Missão Anchieta, em 1972, sem nós en dez./84).
42 mil hectares e 150índios, e Figueiras, tender porque fez isso, tirou a gente das
com dez mil hectares e um número de 30 nossas terras do Japuíra e levou a gente
silvícolas. Após a delimitação, o órgão para cima onde mora o restante do nosso
tutelar encaminhará proposta ao Grupo povo e sabemos que foi ruim agora nós
de Trabalho Interministerial — criado entende mais e a terra aqui é pouca. ENAUENE-NAUÊ
através do Decreto 88.118/83, para de O povo Rikbaktsa é mais de 700 pessoas (SALUMA)
finir questões fundiárias em que estejam e nós vivemos agora numa terra pequena
envolvidos grupos indígenas — a parte e que daqui a 4 anos não vai ter mais Indios atacam topógrafos.
final é a homologação da proposta pelo mato nem terra para nossas roças por Dois mortos, dois feridos
presidente da República. que o nosso povo é bastante gente, e ter
De acordo com a FUNAI, os trabalhos ra é pouca e alaga boa parte na época da Duas pessoas morreram ontem após um
naquela região serão realizados através enchente. ataque de índios no Norte de Mato Gros
da administração direta, com topógrafo A Funai agora quer marcar a nossa terra so, no município de Juína. A Funai re
do próprio órgão, o que reduzirá os cus como está agora, mas esta terra onde cebeu informações de que quatro topó
tos financeiros, que ainda não foram es estamos agora é pequena e assim não grafos que faziam a demarcação de uma
timados. “Não há posseiro naquelas ter aceitamos a Funai marcar enquanto não fazenda entre o rio Juruena e o parque
ras, nem qualquer grupo econômico ins pegar Japuíra de volta. Vamos dar pra indígena de Aripuana foram atacados
talado, o que facilita enormemente todo zo curto para Funai marcar Japuíra de por um grupo de índios desconhecidos,
o processo demarcatório, inclusive abre novo para o povo Rikbaktsa. E se a Fu em plena selva. Segundo o sertanista
via a decisão do Grupão”, diz fonte da nai não marcar vamos todos os homens Sidney Possuelo, os índios devem ser ar
FUNAI, revelando, também, que na pegar Japuíra de novo, a terra antiga do redios — provavelmente dos grupos Cin
quele mesmo Estado, em Pareci do For povo Rikbaktsa. ta Larga, Zoró ou Suruí. Os dois sobre
moso, onde vivem 60índios, a FUNAI já Pedimos apoio do Conselho para que viventes estão gravemente feridos. A Fu
delimitou uma área de 19 mil e 700 hec ajude o povo Rikbaktsa para ter Japuíra nai não possui ainda os nomes dos mor
tares para eles, mas, até agora, em vir de volta. tos e feridos e nem as circunstâncias do
tude de fortes pressões do grupo econô ataque, pois a área é de difícil acesso e o
mico Sudamata, proprietário da fábrica avião do órgão não conseguiu pousar nas
de calçados Samello, o Grupão não proximidades, impedido pelo nevoeiro.
(O Globo, 7/9/84).

241
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13 A INDÍGENAS NO BRASIL/CED4

Identificados satto, que os índios já haviam descober Os índios Enauenê-Nauê, como querem
to várias picadas no seu território, inclu ser chamados agora, tiveram o primeiro
Os índios que mataram dois topógrafos sive chegaram a destruir um acampa contato com o branco no início do sécu
e feriram dois picadeiros terça-feira pas mento que tinha até um trator de estei lo, mais exatamente em 1912, através do
sada no município de Juína, Norte de ra. No dia do ataque, os índios haviam Marechal Rondon. Depois disso, volta
Mato Grosso, são da tribo Salumá. A saído para pescar e, certamente já ner ram a ser arredios em virtude dos cons
informação é do coordenador da Opan vosos e irritados com as sucessivas inva tantes conflitos com os seringueiros que
em Mato Grosso, Ivar Busatto, que con sões de suas terras, acabaram matando provocaram muitas mortes de parte a
seguiu entrar em contato por rádio com os trabalhadores. parte. Em 1974, depois de várias tenta
Vicente Canhas, da Missão Anchieta: O delegado Amilton Monteiro alegou tivas, o missionário jesuíta Thomaz A.
Canhas vive com esses índios desde 1976. que há falta de relacionamento da mis Lisboa, conseguiu se aproximar nova
(O Globo, 10/09/84). são Anchieta com sua delegacia, e que mente dos índios. De lá para cá têm en
não foi avisado dos incidentes anterio frentado todos os problemas juntos, em
res com aqueles índios, embora o padre companhia de outro missionário, Vicen
Irritação com a invasão Tomás de Aquino Lisboa, um dos paci te Cañas.
levou ao ataque ficadores do grupo, tivesse escrito uma Thomaz propõs através da MIA, uma
carta ao DPI de Brasília, alertando so proposta de interdição de 600 mil ha.
O delegado da 5° Delegacia Regional da bre os problemas. “Hierarquicamente, como sendo a área presumida em que os
Funai em Mato Grosso, Amilton Figuei a missão teria que primeiro avisar a S? Salumã viviam, caçavam e pescavam.
Em agosto do mesmo ano, o governo do
redo Monteiro, que desloca-se hoje para delegacia. Se eu soubesse que estavam
Mato Grosso e o governo federal criaram
a área dos Salumá, para fazer um levan acontecendo essas coisas na região, cer
tamento superficial dos problemas en tamente essas mortes teriam sido evita a estação ecológica de Iquê Juruena,
frentados pela comunidade anunciou das”, ponderou Monteiro. destinando 240 milha, para o projeto. A
ontem o nome dos dois sobreviventes do Segundo ele, desde 1975 a Missão An Funai no entanto contestou a área di
ataque dos índios na terça-feira no mu chieta não renova seu contrato com a zendo que era área indígena.
nicípio de Juína são os picadeiros (ho Funai, razão pela qual reverá toda a do Em 1980, para complicar ainda mais a
mens encarregados de abrir caminhos cumentação, para depois se posicionar situação das terras dos Salumã, a Funai
na mata): Nerino Rodrigues de Camar sobre o fato. concedeu uma certidão negativa para
go e Manuel de Oliveira Costa e Silva, Nos dez anos de pacificação dos índios Pedro Schiqueti instalar uma fazenda
que foram agredidos a bordunas, golpes Salumá, do grupo Aruak, e que habitam na mesma área. O INCRA, por sua vez
de facão e pauladas em todo o corpo, as margens do Rio Juruena, a 80 quilô aprovou o projeto de colonização para a
mas conseguiram sair com vida. Os dois metros da cidade de Juína até próxima Sumatra, que loteou parte da área. Da
mortos, João Batista dos Santos, único da divisa com Rondônia, apenas quatro mesma forma, o INTERMAT expediu
topógrafo, e outro picadeiro Oswaldo equipes da Funai estiveram na área, sem títulos gerando uma superposição de
Vargas foram resgatados pela Polícia no entanto apresentar solução para de donos de área. Os índios, segundo o mis
Militar e voluntários. Eles foram enter marcação da área, que até hoje nem in sionário jesuíta, não abrem mão da área
rados em Juína. terditada foi. onde está localizada a estação ecológica
Segundo Amilton Monteiro, que colheu E, neste sábado, dia 15, uma grande de IquêJuruena, porque “aqui é a nossa
os depoimentos dos dois sobreviventes, a equipe da Funai e da Sema se deslocará terra do milho e do mel”. Por isso, sem
equipe de trabalhadores foi contratada para a área, para efetuar outro levanta esperar por decisão das autoridades, re
pelo fazendeiro Eloy Monteiro de Car mento. A presença dos técnicos da Sema solveram por conta própria retomar a
valho, para demarcar terras que foram é explicada pelo fato de que na região há área.
tituladas pelo Governo do Estado de uma reserva ecológica. Até ontem à tar Durante dois dias, os organismos envol
Mato Grosso. Nas imediações do Rio de, Brasília não havia confirmado se a: vidos na questão se reuniram na sede da
Aluína, afluente do Rio Juruena, eles to equipe viajaria para Mato Grosso. (Cor FUNAIem Cuiabá, para tentar chegar a
param com um grupo de 15 índios e ali reio Braziliense, 11/09/84). uma solução. O representante da SEMA
mesmo sofreram o ataque. porém alegou que o órgão já investiu
Mas antes, relata o delegado da Funai, muito no projeto, sem contudo revelar
os índios conversaram com eles (falaram Criada comissão quanto, e que as pesquisas a serem feitas
muitas palavras em português), oferece para o caso dos Salumã na região são importantes. A esta colo
ram-lhes mel, pediram que tirassem a cação, o representante da MIA respon
roupa, tomaram uma espingarda e um Um grupo de trabalho, formado por re deu: o que é mais importante: os bichi
revólver 38, além de facões e os equipa presentantes da FUNAI, INCRA; IN nhos que a SEMA pretende estudar ou
mentos de topografia. Depois, o chefe TERMAT, SEMA e MIA, para uma di os índios que vivem imemorialmente na
do grupo ordenou-lhes que sentassem no fícil missão: apaziguar, de um lado, os quela terra?”.
chão e aí começou a pancadaria. Nerino índios Salumã, e de outro, a população O único acordo a que chegaram, depois
e Manuel, mesmo feridos, conseguiram de Juína, instigada pelos fazendeiros, das reuniões dos dias 25 e 26 foi deslocar
escapar com vida do ataque, e o topó que já armaram mais de 400 homens. a comissão composta pelos técnicos
grafo João Batista e o picadeiro Oswaldo Dauberson M. da Silva (INTERMAT),
Vargas sucumbiram a golpes de bordu o cartógrafo Manoel Barbosa Filho, o
na e facão. delegado Amilton Figueiredo (da FU
Mas o missionário Vicente Canhas, que NAI), Paulo Jorge Ribeiro do INCRA,
trabalha com a comunidade Salumá Thomaz Lisboa e Vicente Cañas da MIA
desde 1976, relatou por rádio ao coorde e o antropólogo Rinaldo Sergio Vieira,
nador da Operação Anchieta, Ivar Bu até a região, com o propósito de resolver
o problema. (Calixto, Diário de Cuiabá,
30/09/84).

242
sL7-Acervo
—/\{ 1 SA

PARQUE INDÍGENA
DO XINGU

243
sL7-Acervo
__A ISA INDIGENAS NO BRASIL/CEDf
#

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244
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_/\ 1 S-A PARQUE INDÍGENA DO XINGU 3

QUADRO GERAL DOS POVOS INDÍGENAS DA ÁREA PIX


Nçº NO F N? DE ALDEIAS OU Fºmº

POVO …EN" | NOME DA ÁREA MUNICÍPIO NoME Dºs XIII:Tºs POPULAÇAO FONTE E DATA
Parque S. Felix do
AWE T l Indígena
•º
Araguaia,

1 36 | FUNAI: 84
+

— do Xingu Sinop, Luciara,


KALAPALO 2 canarana, 2 191 |FUNAI: 84
Paranatinga

KUIKURU , 3 1 221 | FUNAI: 84

MEHINAKU 4 •
1 95 FUNAI: 84

MATIPU/
NAHUKWÃ 5 2 74 M: 84
EPM: 8

YANALAPITT 6 1 135 |FUNAI: 84

KAMAYURÁ 7 l 207 ||FUNAI: 84

WAURÁ 8 • •
1 130 |Ireland: 83

TRUMAI 9 2 71 FUNAI: 84

TXIKÃO 10 l. 107 ||FUNAI: 84

AWETI/TRUMAI/
SUYÃ do PI ll 19 FUNAI: 84
Leonardo

SUYÃ 12 • 1 114 |FUNAI: 84

TAPAYUNA L3 l 3l FUNAI: 84

KAYABI (1) 14 l4 364 | FUNAI: 84

JURUNA (2) 15 2 82 FUNAI: 84

KRENAKORE 16 } . 83 Schwartzman: 83

METUKTIRE 1, lºº e 346 | EPM: 84


(TXUKARRAMÃE) AI Jarina Colider e Luciara 3

(1) ver também nas Áreas Oeste do MT e Tapajós=Madeira


(2) ver também na Área Sudeste do Pará

245
* #X NDIGENAs no BRasil/cro
=A_EXºs

“A GUERRA NO XINGÚ”;
CRONOLOGIA
Os povos do Parque do Xingú,
Hiderados por Raoni,
bloqueiam a BR-080, sequestram
uma balsa, fazem reféns
e negociam com as autoridades a faixa de 15 km e o Capôto

Vanessa Lea e Mariana Kawall Leal Ferreira (*)

Para o presidente da FUNAI, Fevereiro de 1984, Raoni foi a Brasília, prometendo agir se a FUNAI não demar
primeiro os fazendeiros. casse a terra reivindicada, até abril. A FUNAI tinha combinado com o Diretor do
PIX, Claudio Romero, realizar uma reunião em Brasília com fazendeiros e três
chefes Txukarramãe — Raoni, Kremoro e Kromari — no dia 20 de março, 1984.
Posteriormente no PI Kretire haveria, no dia 24 de março, uma grande reunião
entre o Presidente da FUNAI, Otávio Ferreira Lima, e as lideranças de todo o
PHX.
O Presidente da FUNAI antecipou a reunião para 12.3.84, em Brasília, sem
avisar o Diretor do PIX, conversando em separado com os fazendeiros.

Por acaso, Mairawê Kayabi, chefe do Posto Diauarum, estava em Brasília neste
dia. Ele não foi convidado à reunião, mas deve ter sido informado sobre isso logo
em seguida, porque comunicou ao PIX por rádio que naquela reunião foi deci
dido que a faixa de terra ao norte da BR-80, reivindicada pelos índios, não lhes
pertencia.
Quando o Diretor do Parque foi informado sobre isso, pelo rádio, ele se deslocou
para PI Kretire para avisar os índios do assunto e pedir a eles que aguardassem a
vinda do Presidente para discutir o assunto em 24.3.84. No meio tempo, Raoni e
Romero viajaram para o vilarejo do São José do Bangue Bangue (como é conhe
cido localmente), a 40 km da beira do Rio Xingu. Lá (onde o pessoal da FUNAI
costuma abastecer-se) foram informados de que alguns fazendeiros tinham ido a
Brasília para falar com o Presidente da FUNAI, que disse que a faixa de terra em
questão não era dos índios.

Isso foi na época da colheita de milho e arroz. Apesar disso, 23.3.84, 33 lí


deres do PIX já se encontravam no PI Kretire. As 11 horas, Raoni mandou uma
mensagem pelo rádio perguntando a que hora o Presidente iria aterrissar. As
I4:30 horas vem a resposta que o Presidente não iria mais e não tinha data pre
vista para o encontro. Posteriormente, o Presidente declarou a jornalistas que
não foi porque era próximo à data da reunião em Brasília do “IIº Encontro dos
Povos Indígenas do Brasil", à qual, aliás, ele não foi convidado.

(*) vanessa é antropóloga, professora na UNICAMP e está elaborando tese de doutorado no Museu
Nacional (RJ), com base em pesquisas realizadas entre os Txukarramãe do PIKretire (1977-82).
Mariana é estudante de Ciências Sociais na USP, foi professora da escola para índios do PI
Diauarum, no PIX, entre 1950 e 82, e em 1984: iniciou o jornal Memórias do Xingu e elaborou
duas cartilhas.

246 |
PARQUE INDÍGENA DO XINGÚ5

Os guerreiros Mentuktire
tomaram a balsa,
no Rio Xingú.

Funcionários-reféns,
BR-080 interrompida. e vendo esta recusa de diálogo ficaram revoltados. Raoni se queixou que estavam
Os guerreiros do Norte do PIX sendo tratados como meninos. Na casa dos homens alguns queriam queimar fa
estão com Raoni. zendas e abrir picadas para autodemarcar os 15 km, à margem direita do Xingu,
em frente à AIJarina.

Para mandar um rádio a Brasília, imediatamente, Romero foi ao Bangue com


líderes Kayabi e Suya. Conseguiu falar com Marcos Terena (piloto da FUNAI)
para avisar ao Presidente que o cancelamento da reunião tinha gerado muita
tensão. Na volta ao Kretire, Romero descobriu que a balsa que faz a travessia do
Xingú já tinha sido aprisionada, por guerreiros Txukarramãe, Kayabi, Juruna e
Suya, desativando a BR-80 que liga Xavantina e Cachimbo, e vai se juntar à
estrada Cuiabá-Santarém. Nos rádios seguintes, o Presidente comunicou a Ro
mero que a balsa não era assunto da FUNAI, e que Romero seria responsabili
zado pelas conseqüências. O Presidente se recusou a ir ao Xingu enquanto a
balsa não fosse liberada. Os índios, através de Raoni, se recusaram a devolver a
balsa até a ida do Presidente para discutir os 15 km.

A manchete do jornal O Globo (26.3.84) é índios “ameaçam guerra no Xingu". O


Presidente declara que Romero será seu representante. Romero declara que des
de 25.3.84 foi ameaçado com demissão pelo Presidente, pelo rádio, mas que já
era prisioneiro, junto com a Profº Maria Elisa Leite, o dentista Biral, a enfer
meira Estela, e os dois filhos deste casal. Romero disse que ele estava proibido de
usar o rádio a partir do dia 26 de março. Os presos comiam arroz, peixe, macaco
e farinha, cozidos pelos índios. Os Suya e Kayabi, chegaram a matar 25-30 ma
cacos por dia.

Desde o início Raoni estreou nos jornais como o chefe que liderou o bloqueio da
estrada. Dia 27.3.84 já havia 18 caminhões parados, e chegaram agentes da PF
de Brasília e Barra do Garças, e tropas da PM de Cuiabá. A Secretaria de Segu
rança do MT informou que os guerreiros indígenas estavam armados. Neste dia,
O Globo cita Raoni como sendo ajudado por todos os índios do norte do Parque
— Kayabi, Juruna, Kreen-Akore, Txikão, Trumai e Suya. Romero declarou que
o Presidente deveria ir ao PIX para evitar um massacre, como em 1980. O Globo
já fala da demissão de Romero por incitação. Temendo a chegada da Polícia, os
índios, em Kretire, se encontravam armados, na recepção dos aviões, como foi
noticiado pelos primeiros jornalistas que lá chegaram.

247
* INDÍGENAS NO BRASIL/CEDI

A tensão que eclodiu no início do conflito nunca diminuiu. Os índios ameaçam


afundar a balsa se o Presidente não vier. Os índios destroem o Posto da Polícia,
no PIV (Posto Indígena de Vigilância) e derrubam duas pontes no norte do Par
que. A PM chega, fortemente armada, chefiada por um Comandante Federal da
PM. Posteriormente, houve um acordo entre os índios e a polícia, com estes se
retirando até o Bangue.

28.3.84 — Haveria uma reunião entre índios e fazendeiros no PIV, os dois lados
desarmados. Os fazendeiros estavam dispostos a ceder terras, só se fossem inde
nizados. A FUNAI informou a imprensa que a faixa de 15 km contém títulos
vendidos pela INCRA em 1961 (60-80 glebas), embora não tivessem sido ocupa
dos definitivamente por causa dos conflitos anteriores. Com a chegada de 80
índios (de sete tribos) na reunião, os poucos fazendeiros que ali se encontravam se
retiraram. •

Otávio Lima 29.3.84 — FUNAI nega que tem recursos para a indenização dos 15 km, e ale
quer negociar em Cuiabá. gou que o conflito surgiu porque os índios não receberam o recado que o Presi
Mas agora, os índios querem dente negociaria num outro dia.
a sua demissão e mais 25 km.
.30.3.84 — O Presidente propõe aos índios um encontro, num lugar neutro, como
Cuiabá. O único contato direto com os índios foi através da PF no PIV e no
Bangue, e os jornalistas que periodicamente iam a PI Kretire. Mekaron foi ao
Bangue para medicamentos e combustível da FUNAI, e assegurou aos fazendei
ros que não iam atacar as fazendas porque a briga era com a FUNAI. Os fazem
deiros se queixam de que o conflito com os índios está desvalorizando a região.

FUNAI teme a adesão de outras tribos, devido à notícia de que os índios do Alto
Xingu estavam apoiando os índios do Norte do Parque. Já que os índios recusam
uma reunião em Cuiabá, a FUNAI pensa em mandar o sertanista Cícero Caval
canti (que fala Kayapó) ou Possuelo para negociar. Em contrapartida, os índios
decidem não mais aceitar a PF no PIV que, informada disso por uma carta de
Mekaron, se retira ao Bangue.

31.3.84 — O Globo mostra uma foto de mulheres Txukarramãe com facas no


punho com a manchete “Até mulheres prontas para a guerra”. Os índios dizem
que o Presidente da FUNAI os tratou como crianças. Mekaron comunica pelo
rádio que os índios agora exigem a demissão do Presidente para liberar a balsa.
Falam a jornalista que matarão o Presidente se ele vier agora. Eles falam de
demarcar, eles mesmos, em 1985 se fornecessário, invadindo as fazendas se os
fazendeiros se recusassem a sair. Os jovens ameaçam atacar o Bangue, para au
mentar a área a ser ser demarcada em 40 km (o limite do PIX até 1971).

Segundo o ESP, o Presidente da FUNAI insiste em tentar dialogar, mas se recusa


a negociar sob pressão. Cel. Ezio Soares (assessor da FUNAI) afirma que enti
dades ligadas à causa indígena estão estimulando o conflito.

Em Brasília, 200 índios estão acampados para o “II Encontro dos Povos Indí
genas", no Congresso (até 5.4.84) para discutir a entrega da FUNAI aos índios.
O Presidente da FUNAI teme uma invasão, sendo que o Presidente Leal foi demi
tido de seu cargo em 1983 devido à invasão da FUNAIpelos Xavante.

1.4.84 — O superintendente da FUNAI, Lamartine Ribeiro, comunica aos ín


dios que um intermediário da FUNAI irá ao Kretire. Eles recusam.

2.4.84 — O Ministro do Interior, Mário Andreazza, se recusa a demitir o Presi


dente da FUNAI e a FUNAI diz que Sidney Possuelo irá ao Diauarum como in
termediário (Sidney foi diretor do PIX).

248
PARQUE INDÍGENA DO XINGÚ7

Apoios e pressões externas. ANAIpede apoio agrupos indigenistas nos EUA e Europa para pressionar o Go
Impasse. verno Federal no sentido de evitar uma intervenção militar.
O CSN estuda o caso.
3.4.84 — Manchete de O Globo: “Índios têm 9.8 milhões em munição no Xin
gu", comprados no Bangue, segundo o comandante da PM de MT, embora essa
quantia tenha sido gasta em mantimentos, como Romero declarou depois. A
munição de que os índios dispunham foi inteiramente usada nas caçadas de sub
sistência da população acampada ao redor do Kretire durante a revolta, como
declarou Mekaron.

A mãe da refém Estela apela a Andreazza por uma solução. Os trezentos líderes
presentes ao Encontro dos Povos Indígenas, em Brasília, mandam uma carta a
Figueiredo pedindo a substituição de Lima na presidência da FUNAI.

4.4.84 — O Globo noticia que Raoni está posicionado estrategicamente no mato.


com toda a munição que pôde comprar no Bangue.

Paralelamente, os índios no Kretire estão tensos depois de uma estação de rádio


regional noticiar que agentes preparavam uma operação para resgatar a balsa.

Em Brasília, durante o Encontro dos Povos Indígenas, tropas de choque da PM,


com cães e cacetetes, amanheceram cercando os prédios da FUNAI, Minter e
o Congresso.

Na FUNAI, cogitaram mandar o sertanista Possuelo a Goiânia, para uma reu


nião com fazendeiros, antes de ir ao PIX (ESP). No final, o próprio Presidente da
FUNAI foi à reunião (O Globo), que foi um fracasso, porque os proprietários
queriam a indenização total e não aceitavam outro tipo de acordo. O Grupão
(FUNAI, MINTER e MEAF) busca uma solução, se reunindo diariamente (Diá
rio do Grande ABC, SP).

Em São Paulo, numa palestra no SESC, Orlando Villas-Boas apoiou os Txukar


ramãe (O Povo, CE).

5.4.84 — Raoni volta à aldeia, de seu “esconderijo”, gripado! FUNAI cortou o


fornecimento de combustível e a conta dos índios no Bangue.

No Encontro em Brasília, os Xavante tentam levantar o cerco policial; quase há


um incidente (FSP), mas neste dia, os índios que participavam do Encontro já
começavam a sair de Brasília, voltando para suas aldeias.

6.4.84 — Mekaron vai ao Bangue (dia 5) buscar remédios, carne e combustível


da FUNAI.

Fazendeiros, através da Associação dos Empresários da Amazônia (AEA), vão à


Brasília para solicitar a Andreazza, no Minter, a abertura urgente da BR-80 (JB).

Mekaron manda um rádio para Brasília dizendo que os índios recusam Possuelo
como intermediário, e querem a demissão do Presidente. A briga é com a FUNAI
e não com os fazendeiros.

7.4.84 — A manchete da FSP dá que Mekaron ameaça comandar o massacre, se


a PM for resgatar a balsa.

A mulher do Diretor do PIX, que se encontrava em Brasília, apela ao público


para que envie cartas ao Minter exigindo uma solução ao problema, e desmente
que 9,6 milhões foram gastos em munição no Bangue. Vereadores do PT e
PMDB pressionam a FUNAI para que haja uma resolução do conflito.

249
#S INDÍGENAS NO BRASIL/CEDI

8.4.84 — A PF diz que não tentará resgatar a balsa, mas se os índios atacarem,
“a força policial irá retrucar à altura” (O Globo), ou seja, com metralhadoras
contra armas de caça e bordunas. Mekaron afirma que a briga é com a FUNAI e
que não pretende atacar o Bangue.

A mãe da professora refém solicita à FUNAI notícias dos prisioneiros.

A OAB, a Igreja e a ABA pedem a demissão do Presidente da FUNAI. Um clube


estudantil de Pernambuco manda um abaixo-assinado a Figueiredo para que ele
resolva o problema

10.4.84 — O Cardeal D. Avelar Brandão Vilela exigiu uma solução de Andreaz


za. O Diretor do DGPI da FUNAI discute o problema da “guerra" com o Gover
nador do MT, mas a FUNAI continua sem qualquer proposta.
A FUNAI fica eufórica com um pedido dos índios do Kretire de retirar um doente
da aldeia por avião, na esperança de que isso poderia resultar numa trégua.

14.4.84 — O CSN está analisando a situação.

12.4.84 — Sirawe Kayabi leva uma carta a Brasília para Juruna, solicitando sua
presença e auxílio. Sirawe visita o Presidente e lhe informa que nos próximos dias
os próprios índios farão a demarcação dos 40 km, expulsando os fazendeiros lá
instalados. • •

13.4.84 — O Secretário de Segurança Pública de MT, Oscar Travassos, e o co


mandante da PM, Cel. José Silvério, dizem que se os índios romperem o acordo e
tentarém fazer a demarcação por conta própria, haverá um confronto armado
(O Globo).

Em geral, os jornais começam a criticar a FUNAI por não achar uma solução.

Um caminhoneiro, ilhado à margem do rio Xingu, precisou tomar um barco para


ir ao Bangue em busca de comida, e descobre que lá também os alimentos co
meçam a faltar. Ainda há chuva na estrada e até agora os caminhoneiros vinham
recebendo comida de avião.

Um manifesto de apoio aos Txukarramãe é assinado por vereadores, pela Asso


ciação Mineira de Defesa ao Meio Ambiente, pelo Centro para a Conservação da
Matureza, pelo Instituto de Arquitetos do Brasil e pela Iniciativa Planetária Para
o Mundo que Escolhemos.

Uma nota do CIMI afirma que a demarcação dos 15 km não implica disponibi
lidade de verba, como afirma a FUNAI. Segundo o artigo TV da Constituição,
a área é Propriedade da União. O decreto nº 68.909 de 13.07.197I determina que
a área excluída ao norte do Parque permanecerá sob o regime do Art. 198 da
Constituição (terra da União), enquanto habitada pelas tribos que atualmente
nela se encontram.

Já que os índios se recusam a negociar com o Governo do estado do MT, o Go


vernador, Júlio Campos, diz que seus oitenta policiais não se responsabilizam
pela área, e pede ao Ministro da Justiça Abi-Ackel que solicite a intervenção de
Venturini (MEAF).

250
PARQUE INDÍGENA DO XINGU 9

Comissão da FUNAI 14.4.84 — Dia 13 há muita tensão entre os índios. Já se recusaram a receber
vira refém. Possuelo, mas em seguida souberam através do noticiário no rádio que uma co
O presidente procura missão da FUNAI vinha para o Xingu. Naquele dia, o sertanista Possuelo, o Su
os “insufladores”. perintendente da FUNAI Lamartine Ribeiro de Oliveira e o Diretor do Depto. de
Assistência ao Índio, Carlos Grossi, chegaram de avião até o Bangue e de lá ao
PIV, querendo conversar somente com Raoni, Mekaron e Kromari. Os índios
ficaram novamente revoltados, porque todas as lideranças do Parque deveriam
estar participando em conjunto das decisões. Conseqüentemente, os três funcio
nários da FUNAI foram presos no PIV. Os Kayabi e Suya (que tinham um desen
tendimento antigo com Possuelo) quebraram seus óculos e deixaram ele nu. To
maram também os óculos de Grossi e de Lamartine. Romero afirma que neste
momento foi a intervenção de Mekaron que impediu um massacre, Romero diz
que em 1973 os Kayabi mataram um branco e levaram sua cabeça para a ceri
mônia tradicional de Jawasi e que pretendiam fazer o mesmo com os reféns.

Mas a morte dos reféns não se deu; continuaram presos até 2 de maio. No clima de
tensão que reinava, os índios dormiam pouco, temendo uma invasão para res
gatar os prisioneiros. Até chegaram a transferir o local de prisão dos mesmos
quando Pombo, o chefe Kayapó de Kikretum, no PA, foi lá de avião particular,
querendo ser o mediador. Os índios xinguanos temiam que ele tentasse pegar os
cativos e mandaram ele embora.

Raoni diz que não aceita a demissão de Romero por acusações de insuflação.
Mekaron afirma que não são crianças e que podem pensar sozinhos; "não adian
ta dizerem que tem outras pessoas mandando a gente fazer essa coisa toda".
(FSP).

Por causa da situação dos reféns, correndo risco de vida, Andreazza se encontra
com Venturini e Ferreira Lima, assinando uma portaria (dia 16, Correio Brazi
liense) interditando 15 km na margem direita do Rio Xingu, envolvendo vinte e
cinco fazendas. A interdição proíbe não-índios de entrar nesta área.

O Grupão cogita se apoiar na Constituição para não pagar indenização.

Alvaro Villas-Boas, da Delegacia de Bauru, acusa a CPI e o CIMI de receberem


dinheiro do exterior, de grupos de esquerda, para agitar os índios contra a FU
NAI (Jornal de Brasília). -

154.84 — Mairawê, o chefe do Posto Diauarum, escreve para a UNI, em SP;


dizendo que está tendo dificuldades em impedir o assassinato dos reféns. Maira
vê quer convencê-los de que a solução teria que partir do diálogo.

O Presidente Otávio F. Lima faz sua primeira declaração à imprensa. Culpa Ro


mero por ter provocado o conflito prometendo aos índios os 15 km e, conseqüen
temente, "agora tem que cumprir o que prometeu aos índios”. Romero é respon
sável, nas palavras de Lima, porque quando há conflitos entre índios e a FUNAI
“sempre há alguém junto aos índios insuflando a situação". Lima nega que Ro
mero e sua equipe sejam reféns. (JB).

Um dia antes (14), Mário Juruna visitou Kretire e foi aplaudido na casa dos
homens por seu apoio. Convenceu Raoni a liberar um dos prisioneiros, o que foi
recusado pelos jovens guerreiros em seguida. Uma velha também exortou os
homens para não afrouxarem. Os Txukarramãe afirmam que agora só negociam
com Andreazza ou Venturini.

O Grupão, que decide a questão das desapropriações, vai levar uma proposta a
Figueiredo, referente ao Xingu.

251
</I_Acervo
-+-

–/\{ 1 Eves NDÍGENAs No BRASIL/CED


Juruna fica como o porta-voz dos índios. Além dos Txukarramãe Raoni, Meka
ron, Kremoro e Kromari, Juruna conversou com os líderes Aritana Yawalapiti,
Sabino Kayabi, Tacuman Kamayura e Ararapã Trumai, Aritana declarou: “Ago
ra estamos todos juntos porque só temos essa terra e temos que manter essa
terra". Ararapã disse: "Nós temos cabeça e memória. Branco não pode mais
tratar a gente como antes, dava presente, enganava... Nós aprendemos a língua
do branco e ninguém vai nos enganar”.

Há dois dias os índios romperam comunicações com Brasília. Lima atribui a


tensão ao fato dos índios agora reivindicarem 40 km, e repete qeu só se afastará
de seu cargo por determinação de Andreazza, mas que demitirá Romero, o den
tista, a professora e a enfermeira, todos acusados de insuflação.

16.4.84 — Pela Portaria 291/P, de 16.04.84, foi interditada a faixa de 15 km,


na margem direita do Rio Xingú.

“Grupão” aguarda 18.4.84 — O Grupão suspendeu o estudo das reivindicações até resolver se os
parecer do STF índios têm direito aos 40 km que agora exigem. Isso depende de decisões do
sobre indenizações. Supremo Tribunal Federal.
Polêmica. O Secretário de Segurança do MT, Oscar Travassos, revelou que fazendeiros
pressionaram a polícia a invadir a aldeia e tomar a balsa.

19.4.84 — A manchete da FSP (25.3.84) anuncia: "País terá pouco para festejar
no Dia do Índio”. Fotos de Juruna com Andreazza e Venturini aparecem nos
jornais. A exigência dos 40 km será examinada por Venturini, que depois falará
com Figueiredo. Andreazza diz a Juruna que Lima não será substituído, Juruna
fala
tradaem
no transferir
Parque. a BR-80 e Andreazza culpa a Sudeco pela construção da es

Juruna atribui o boato sobre os nove milhões e tanto de munição ao Cel. Hércio
Cunha, da Assessoria de Segurança e Informações da FUNAI, e quer sua demis
são.

Marcos Terena é transferido para Cuiabá depois de criticar Lima.

20.484 — Indios do PIXpassam por Brasília indo a São Paulo para tratamento
médico, e dizem que os reféns estão bem.

No dia do Índio, em Porto Alegre, uma das decisões tomadas por entidades de
apoio foi no sentido de pressionar o Governo para resolver a situação Txukarra
mãe. Júlio Gaiger, presidente da ANAI, diz que, de acordo com a Constituição,
não deve haver indenização pelos 15/40 km, porque fazendeiros não podem
comprar terra indígena.

24.4.84 — Andreazza informa Juruna que, segundo uma consulta ao STF, os 40


km não são da União, e portanto nem dos índios; a expropriação é inviável por
que a área contém 80 fazendas e a indenização seria altíssima. Andreazza ainda
mandará dados ao Grupão e à Procuradoria Geral da República, verificando se
os 40 km já foram habitados pelos índios.

Juruna responde que os índios do Xingu só aceitam 15 km com a demissão de


Lima. Andreazza declara que se ele tirar Lima, recolocará Leal (Presidente da
FUNAI de outubro de 82 a julho de 83), oriundo do CSN. Ele enfrentou o se
qüestro do avião pelos Kayabi no PIX, e a invasão da FUNAI pelos Xavante para
demitir os vinte e três coronéis da FUNAI; muitos por ele colocados. Andreazza e
Juruna são fotografados abraçados. Nos 15 km não há benfeitorias, o que reforça
o argumento de que o interesse maior dos fazendeiros fosse a especulação imo
biliária.
* #Z_Acervo
_/\ | <> A
PARQUE INDÍGENA Do XINGÚ 11

Raoni, Mekaron Os Txukarramãe aceitam ir negociar em Brasília com Andreazza, e o Minter


e mais treze em Brasília, informa que pensa substituir Lima, achando que ele deveria ter ido pessoalmente
com Juruna e Andreazza: ao Kretire, e não ter mandado ninguém em seu lugar. Andreazza só aguardava a
mais reivindicações. hora para uma saída honrosa de Lima.

29.4.84 — Juruna chama quinze Txukarramãe para se reunirem com Andreaz


za. Ele diz que há vinte e uma reservas com problemas como o Xingu. Nesta data,
os Xinguanos começam a chegar em Brasília para negociar com o Ministro do
Interior no dia seguinte. Raoni comunica que teme que os jovens guerreiros mãº
tem os reféns. As exigências dos índios são agora: 40 km, a demissão do Presi
dente, a manutenção do Diretor do PIX e o desvio da BR-80.

01.5.84 — As fotos retratam Andreazza com Juruna e Mekaron. Também em


Brasília estão Mairawê, Yanukulá, Aritana, Canísio, Ararapã, Sirawe, Puyu e
outros. Dia 30 pela manhã, Andreazza se encontra com Juruna e Mekaron, mas
exige confirmação do Xingu se os representantes podem falar em nome dos ca
ciques. Logo vem a resposta: “Lideranças informam que seus representantes já
estão em Brasília".

Quando Juruna e os líderes do Xingu vão novamente se encontrar com An


dreazza, às 14:30hs., descobrem que o Ministro viajou para o Rio. No lugar dele
chegaram colaboradores e assessores da FUNAI. Juruna fica tão irritado que
quer ir embora. As 16 horas Juruna, Mekaron e Terena são recebidos por Ventu
rini durante duas horas. Ele acabou telefonando para Andreazza no Rio, solici
tando que concordasse em demitir Lima (empossado em 6.7.83), o que ficou
acertado.

Os índios dizem que dia 4 de maio planejam iniciar a demarcação do Parque com
quatrocentos guerreiros e os reféns na frente para serem mortos no caso de haver
resistência. Três dos prisioneiros se encontram doentes.

As fazendas na área estão minadas com tambores de explosivos e areia para


detonar se os índios avançarem.

02.5.84 — No dia anterior houve uma reunião com Andreazza, Mekaron, Juruna
e outros oito índios do Xingu, funcionários da FUNAI e do CSN. Um editorial da
FSP reclama: "A tomada de reféns é uma chantagem covarde, um ato brutal e
desumano". Não obstante, Andreazza é fotografado abraçando Aritana. O Go
verno resolve negociar por causa da saúde dos reféns. Andreazza culpa a demora
da negociação pelo fato dela envolver o Minter, o Grupão, consultas à Procura
doria Geral da República e o STF.

Andreazza diz que os 15 km não implicam indenização porque não são habita
dos, mas que razões legais impediriam a liberação dos 40 km. De outro lado,
ecologistas afirmam que há necessidade de 50 km para conter os efeitos de uma
área devastada sobre uma área preservada (FSP). Andreazza diz que a BR-80
tem quatrocentos km e não há recursos para modificar seu traçado (FSP). Ele
mostrou aos índios um decreto assinado por Figueiredo exonerando Otávio Lima.
Depois de receber estas notícias, Mekaron se comunica com Raoni, que não es
tava satisfeito, fazendo críticas aos líderes de estarem afrouxando. Conseqüente
mente, Mekaron resolve levar as notícias ao Kretire pessoalmente. Partiu para o
PIX no dia 2 com Aritana, Mairawê e o piloto Terena. Portanto os jornais con
cluem que a decisão é com Raoni, descrito como “líder máximo" (Correio Bra
ziliense). Em Brasília, os índios propõem quatro nomes para o novo Presidente

253
=LAcervo
{
–/\ 1 && INDIGENAs No BRASIL/CED

da FUNAI: Dalmo Dallari (jurista); Carlos Moreira Neto (antropólogo): Pedro


Paulo Fatorelli Carneiro (ex-superintendente); Gérson da Silva Alves (ex-funcio
nário da FUNAI). Raoni favorecia este último porque já havia simpatizado com a
proposta de demarcar o Kapôto enquanto trabalhava na FUNAI em 1982. An
dreazza lembrou aos índios que os nomes propostos para Presidente da
FUNAI são encaminhados para o MINTER, MEAF e o Palácio do Planalto; é
que é o Presidente da República quem escolhe o Presidente da FUNAI.

Álvaro Villas-Bôas atribui a saída de Lima a articulações de grupos de antropó


logos que defendem a extinção da FUNAI (JB). .."

3.5.84 — Um dia antes, Mekaron havia levado a proposta de Andreazza ao Kre


tire onde se encontrou com quatrocentos guerreiros (Jornal de Brasília). Os índios
cercaram os jornalistas e cinegrafistas que foram para a aldeia, ameaçando-os
com bordunas, arcos e flechas. Acabam aceitando os 15 km, mas querem 100km
de comprimento e não 70, afirmando que lá não há fazendas. Kromari declarou
em Kretire: “Irmão nosso, Kuben-krã-kein, Gorotire e Kokraimoro, tudo espa
lhado. Branco chegou aqui e separou nosso povo. Agora Kayapó tudo longe. Ví
sitar irmão tem que passar escondido na mata, fugindo das fazendas. Não está
certo. Terra Kayapó tem que ser uma só. Não pode ficar dividida”. Prepori Kaya
bi, grande pajé e chefe, diz: “... irmão Kayabi meu está noutro lugar... Kreen
Akore saiu de Terra sua e morreu muito” (FSP). “O Presidente da FUNAI apren
deu, agora, a respeitar os índios e entendeu que os caciques não são crianças”
(O Globo).

Cinqüenta minutos mais tarde, Mekaron estava indo a Brasília de volta junto
com quatro reféns. Dia 2, à tarde, Andreazza recebe os reféns, presos por vinte e
um dias, no aeroporto de Brasília, rodeado por jornalistas brasileiros e estran
geiros. Chegam os três reféns doentes e Romero. O Ministro é gloriosamente
fotografado abraçando Mekaron (Última Hora): “Estamos todos de parabéns”
(Jornal de Brasília), mas se queixou da falta de recursos para demarcar áreas
indígenas.

Lamartine diz que os três devem a vida a Mekaron e Raoni que acalmaram os
150 guerreiros com bordunas. Possuelo diz que os jovens foram os mais exalta
dos, que espancaram os três prisioneiros, rasgaram suas roupas e deixaram eles
vinte dias descalços. Quando os três foram presos, foram cercados por duzentos
guerreiros e derrubados no chão. Possuelo declara que os índios estavam plane
jando um ataque a uma das fazendas vizinhas para o dia 15 de maio e só não o
fizeram porque tomaram os reféns no dia 13. Romero, que também diz que os
índios queriam cortar as cabeças dos prisioneiros, acusa o Governo em Brasília
de tentar dividir os índios na “guerra" de quarenta e um dias. Declarou também
que ele era um dos cativos, o que os outros três reféns confirmaram.

Nesse mesmo dia, dezenove caciques chegam em Brasília para discutir a devolu
ção da balsa dia 7, que doravante será controlada pelos índios, sob o comando de
Bedjai Txukarramãe. Discutirão, com Andreazza, a manutenção de Romero
como Diretor do PIX, a BR-80, o novo Presidente, já que o Governo havia con
cedido os 15X70 km e o Kapoto,

Na reunião com Andreazza (dia 3), Juruna propõe Jurandy da Fonseca como
Presidente.

No Bangue (dois mil habitantes), as pessoas temem que se a estrada for cortada,
a cidade se transformará num vilarejo fantasma. Trezentos moradores fazem um
abaixo-assinado para mandar ao Governador de MT, Júlio Campos, reivindi
cando que a estrada não seja desativada para que a população sobreviva. Aliás,
este Governador está a favor de que cada estado resolva seus próprios problemas.

254
PARQUE INDÍGENA DO XINGÚ 13

Raoni, com Andreazza,


em Brasília:
reivindicações
|5
atendidas e acordo.

O Presidente da AEA, Jeremias Lunardelli, está contra a demarcação dos 15 km


e do Kapoto. Ameaça uma ação legal dos trinta fazendeiros e empresários pre
judicados, se queixando de que os proprietários da área do PIX não foram con
sultados. Declarou que “Os empresários que dedicaram suas vidas à ocupação e
ao desenvolvimento da nova fronteira, não podem ser tratados com tanto des
caso..."(Jornal de Brasília).

Todavia, alguns fazendeiros já descreveram esta área como o "filé mignon" do


Brasil. Dia 2, Lunardelli mandou um telex a Abi-Ackel, Andreazza e Venturini
em nome dos fazendeiros do Xingu e dos demais agropecuaristas da Amazônia,
preocupado com a “ausência de uma política clara acerca das áreas indígenas
que, em um futuro próximo, poderá provocar litígios incontroláveis, que cercea
rão a ocupação amazônica, criando quistos que poderão pôr em risco a integri
dade nacional".

O acordo: 4.5.84 — No dia anterior, o acordo final foi assinado no Minter, em Brasília. A
“aceito ser seu amigo, manchete do dia é: “Andreazza acaba crise com índios” (Última Hora de Brasí
mas você tem que lia). Foi visto também como “a maior vitória alcançada por índios" (Jornal do
ouvir o índio...” Brasil). Um editorial do JB teme que isto abra a porta para "a guerra de liber
tação dos índios”.

Dezessete caciques, armados de bordunas e pintados para a guerra e os quatro


reféns, assistem o ato de Andreazza assinar o acordo. Os Xinguanos incluíram
Kremoro e Kromari Txukarramãe, Melobo Txicão, Sabino e Prepori Kayabi,
Kuiussi Suya, Tessea Kreen Akore e outros líderes Yawalapiti, Waura, Juruna e
Trumai (O Globo).

Raoni culpa o ex-presidente da FUNAI, gal. Bandeira de Mello pela BR-80 e


presenteia Andreazza com uma borduna. Kromari coloca um cocar na cabeça de
Andreazza, e os dois posam abraçados (O Globo). Raoni puxa as orelhas de
Andreazza dizendo: "Aceito ser seu amigo, mas você tem que ouvir o índio..."
(Última Hora, Brasília). “Índio é gente grande e sei falar como gente grande...
Branco não pode mais enrolar índio".

255
sL7-Acervo
_/\_>A INDÍGENAS NO BRASIL/CED]
O acordo estabelece: (Iº) que será encaminhado a Figueiredo um decreto decla
ratório de utilidade pública para fins de desapropriação das terras reivindicadas
pelos índios; (2°) o Kapoto é declarado ser de posse imemorial; (3º) O documento
estabelece a reabertura da BR-80; (4°) A devolução da balsa, agora administrada
pela FUNAI e (5º) Há um acordo de que a SUDECO construa uma estrada
vicinal ligando a BR-80 às fazendas Santa Rita, Boa Esperança e Guarujá, com o
traçado fora do Parque (Última Hora, Brasília; Correio Brasiliense). O Jornal de
Brasília diz que o acordo inclui o desvio da BR para o traçado original, mas isso
parece ser incorreto.

As desapropriações A expropriação de terra titulada será de 118.000 ha. (Jornal de Brasília). Os


devem ser indenizadas? 186.000 ha do Kapoto não são titulados. A faixa de 15X60 ou 15X100 km vai da
ER-80 até a cachoeira Von Martius e, ao norte, haverá uma faixa de cinco km até
a corredeira do Travessão. A indenização de terras foi calculada em Cr$ 8 bi
lhões. A área foi interditada em 4.5.84 e posteriormente o Minter encaminhará à
Procuradoria Geral da República o processo indenizatório,

A lista tríplice de nomes para o novo Presidente da FUNAI, feitas pelos Xingua
nos e por Juruna, inclui Jurandy, Gerson e Fatorelli. Andreazza elogia Mekaron
por sua parte nas negociações.

6.5.84 — Os índios ficaram revoltados com a procura de um insuflador, Meka


ron diz que os líderes foram enganados no passado quando não sabiam falar por
tuguês. Raoni declara: “Filho nosso aprendeu língua. Ninguém engana nós”.
Mekaron afirma que foi ele que impediu que os índios invadissem fazendas, e
impediu Raoni de ir à Brasília para buscar uma solução no primeiro dia do con
flito
mais que
novodurou
como quarenta
Presidentee da
umFUNAI
dias. Um dia Mekaron
ou diretor do PIX.gostaria de ver seu filho

7.5.84 — Pelo decreto nº 89.618, o presidente da República declarou a faixa dos


I5 km de interesse social, para fins de desapropriação das propriedades particu
lares, integrando-a à AIJarina.

8.5.84 — Andreazza e Venturini dizem que o Governo não pode declarar a área
a ser demarcada como área de posse imemorial dos índios porque os Villas-Bôas e
Olímpio Serra, alguns anos atrás, não pleitearam a terra como habitat tradicio
nal dos Txukarramãe. Dia 12.05.84 (FSP) Orlando desmente ter dito que esta
área não é dos índios. Cláudio Villas-Bôas diz que a área foi desligada do PIX,
mas permaneceu sob o artigo 198 da Constituição (onde são inalienáveis todas as
terras habitadas ou consideradas como áreas de perambulação dos índios). Or
lando mantém que só pediu a interdição da margem direita (ou seja, a Reserva
Jarina) porque estava sendo invadida por fazendeiros.

Embora o Minter supostamente não saiba o número de fazendeiros envolvidos, o


Governo Federal calcula desembolsar Cr$ 1 bilhão e 900 milhões em indenizações
aos fazendeiros do Xingu. O INCRA calculou Cr$ 14.600,00 por hectare. As
terras foram desapropriadas um dia antes por um decreto assinado por Figuei
redo, transferindo 130.000 (cento e trinta mil) ha aos Txukarramãe. Mekaron
informou Raoni pelo rádio, aceitando liberar a balsa dia 8.

Na exposição de motivos para a desapropriação, Andreazza explicou a Figuei


redo que "outra alternativa seria a intervenção federal com conseqüências impre
visíveis" (Jornal de Brasília). Há decretos que reconhecem a existência de legí
timos proprietários nesta área. A Procuradoria Geral da República se encarre
gará das expropriações. Também foi no dia 8 que Figueiredo assinou um decreto
nomeando Jurandy, indicado por Andreazza, como o novo Presidente da FUNAI.
- PARQUE INDÍGENA DO XINGU 15

Megaron,
controlando a
comunicação com
o exterior, pelo
rádio e traduzindo

10.5.84 — O Presidente do INCRA diz que, agora, toda expropriação de terras


para índios pode ser indenizada, eliminando assim o artigo 198 da Constituição.

Pelo decreto nº 89.643, o presidente da República declarou de ocupação indígena


a AI do Kapoto, com um total aproximado de 186.000 ha.

Mekaron é o novo diretor. 9.5.84 — Jurandy Marcos da Fonseca, nomeia Mekaron diretor do PIX.
Começa a demarcação.
28.5.84 — A dita “festa da vitória", a posse de Mekaron como diretor, foi mu
dada do PI Leonardo para o PI Diauarum por causa da morte de um rapaz
Yawalapiti no sul do Parque. Jurandy e Juruna estavam presentes, e este prome
teu demarcar os novos limites do PIX no Governo Figueiredo. Terena foi empos
sado chefe do gabinete de Jurandy.

3.7.84 — No dia anterior a FUNAI recebeu o orçamento de Cr$ 426 milhões da


Divisão de Serviços Geográficos do Exército, que executará os trabalhos da de
marcação, aumentando o PIX em 505 km quadrados. Os índios vão acompa
nhar a demarcação que deverá ser concluída em outubro de 1984.

4.8.84 — O Diário Popular afirma que a demarcação ainda não começou porque
a FUNAI busca reduzir os custos. Portanto, a FUNAI enviou ao DSG uma pro
posta para demarcar somente os limites externos do Parque, considerando que os
15 km são contíguos ao Kapoto. A área a ser demarcada passa a ser 290 km e não
mais 505 km.

19.9.84 — O Minter liberou Cr$ 395.264.000 para demarcar o norte do PIX, in


cluindo o Kapoto. A abertura de Picadas levará cinco meses e a parte do campo
estará terminada, previsivelmente, até o início das chuvas (out. 1984).

A FUNAI declara que este dinheiro veio do FINSOCIAL e que a demarcação será
feita entre agosto de 1984 e janeiro de 1985. A superfície a ser demarcada é de
3.520.000 ha.

29.10.84 — Sem sua tradicional borduna, companheira de muitas guerras e ata


ques, o cacique Krumari, chefe dos Txukarramãe do Jarina, encostou o olho no
teodolito, marcou distância e foi fincar a primeira estaca de demarcação da área
do Kapoto, região sagrada da nação Kaiapó. Foi assim que se iniciou, na manhã
de ontem, a demarcação da faixa de 15 quilômetros de largura da margem direita
do Xingu, separando o parque indígena das fazendas.

257
=LAcervo
–/ { | S.A. S INDÍGENAS NO BRASIL/CEDI

Abrindo a picada
para a demarcação da
faixa dos 15 km,
com comemoração oficial.

A demarcação dos 15 quilômetros da margem direita e do Kapoto será feita por


satélite, sob responsabilidade do Serviço Geográfico do Exército. Para o início
dos trabalhos na área, o presidente da FUNAI, Nélson Marabuto, convidou o
general Aristides Barreto, chefe do Serviço Geográfico, que convidou Krumari
para colocar a primeira estaca de demarcação. Dentro de três meses, segundo o
general Aristides, o Kapoto e a "faixa neutra”, com 15 quilômetros de largura
por 70 de comprimento, estarão completamente demarcados.

Árumari, Kremoro e Raoni ouviram em silêncio o toque de clarim anunciando a


demarcação. Em seguida, o diretor do Parque Indígena do Xingu, Mekaron, fez
um breve discurso dizendo: "Faz tempo que estamos lutando pelo Kapoto e pelos
15 quilômetros. Desde que a estrada cortou o parque. Quase perdemos o Kapoto,
nossa melhor terra, nossa terra sagrada. Essas coisas não precisavam estar acon
tecendo, se branco tivesse, desde o início, respeitado e demarcado nossa terra.
Daqui para frente queremos que os fazendeiros respeitem nossos limites e nós
respeitamos suas fazendas” (Cidade de Santos, 30/10/84).
sL7-Acervo
—/\{ 1 SA

GOIÁS/
LESTE DO MATO GROSSO

259
s! Z_Acervo
–/ { S INDÍGENAS NO BRASIL/CEDI

IMPERATRIZ
ARAGUATINS

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260
GOIÁS/LESTE DO MATO GROSSO 3

SUADRO GERAL DOS POVOS INDÍGENAS DA ÁREA GOIAS/LESTE DO MT


NÇ NO -
Nº DE ALDEIAS OU •

POVÃO MAPA NOME DA ÁREA MUNICÍPIO NOME DAS ALDEIAS POPULAÇÃO FONTE E DATA

l AI Bakairi Champada dos Guimarães 312 | Arruda: 83


BAKAIRT 2 AI Santana Nobres l36 Arruda: 83

448 (T)
3 RI Merure Barra do Garças, Gal. 2 380 Maschin: 84
Carneiro

4 AI. Jarudore Poxoréu, Rondonópolis


5 CI Tereza Cristina Sto A. Leverger, 2 ll4 | FUNAI: 83
EORORO
RO Rondonópolis
***

6 AI Tadarimana Roridonópolis 105 |Serpa: 84


7 AI Perigara Barão do Melgaço 86 FUNAI = 83
8 RI Sangradouro Gal Carneiro 27 FUNAI: 83
697 (T)
9 RL Marechal Rondon | Paranatinga Batovi - 175 | FUNAI: 84
10 AÍ Parabubure Água Boa e Nova, 13 1.738 | FUNAI: 84
- Xavantina
ll RI AreCes Água Boa 2 571 | FUNAI: 84
8 RI Sangradouro Gal. Carneiro e
XAVANTE • Poxoréu 2 542 | FUNAI: 84
12 RI. SãO MarCOS Barra do Garças 5 1. 213 | FUNAI: 84
1.3 AI Pimentel Barbosa | Água Boa e 2 354 | FUNAI: 84
Canarana
4.593 (T)
LE Parque L. do Araguaia|Formoso do Araguaia 2 330 Toral: 85
JAVAÉ 14 ]Boto Velho Cristalândia 60 | Toral: 85
16 Aruanã, S.Miguel G 233 ||Toral: 82

Formoso, Luciara,
S. Felix, Conceição
KARAJÁ º ar…… •

17 Parque I. do Araguaia|Pium, Duére, 3 757 | FUNAI: 76

Cristalândia
18 AI Tapirapé/Karajá | Sta Terezinha 1 102 Irm. Jesus: 8l

1.194 (T)
KARAJÁ DO * == • 102 ||Toral: 82
NORTE(Xambioá) 19 AT XambiCã Araguaina l

CUARANE 19 AI Xambioã Araguaína 1 15 Toral: 82

TAPIRAPÉ #8 AI Tapirapé/Karajá |Sta Terezinha l 200 Toral: 85

20 PI. Araguaia Formoso do Araguaia PI Canoaná 7 TOral: 85


23 Minaçu 4 FUNAI: 83
AVÁ-CANOEIRO 2 Arredios Cristalândia 20 |Toral: 85

23 Arredios Minaçu e Cavalcante 40 Toral: 85


71 (T)
21 AI Funil Tocantinia 94 Lopes da Silva
& Pena: 84
XERENTE * *
24 RI Xerente ToCaritiria O 756 idem

850 (T)

KRAHO 25 AI Kraolândia Goiatins e Itacajá 7 912 FUNAI: 84

APINAYÉ 26 AI Apinayé Tocantinópolis 2 527 FUNAI: 84

261 |
|_Acervo
ésimDIGENAS NO BRASIL/CED

MUTIRÃO GUERREIRQ
CONQUISTA DEMARCAÇAO
APINAYE

Mas os índios prometem lutar


pela área do Gameleira

!cabou saindo a demarcação oficial, com um decreto


presidencial reconhecendo uma área de 142 mil ha
De volta para casa, ao norte de Goiás, a liderança Apinayé
passou a incrementar um plano de alianças com outros po
como território Apinayé (Dec. nº 90.960, de 14.02. vos, já em curso há algum tempo e planejar o mutirão pela
85). Custou muita luta aos 340 Apinayé, que contaram com auto-demarcação.
o apoio decisivo de mais 140 índios de outros povos, na pas
sagem do ano de 84 para 85, num mutirão guerreiro dispos Os Txukarramãe foram considerados aliados essenciais,
to a efetuar a auto-demarcação. pela experiência de luta, por falarem a mesma língua que os
Apinayé e pela tradição de relacionamento entre si, antes
Todo o episódio foi marcado por uma tensão aguda e o fi mesmo dos primeiros contatos com as frentes pioneiras da
nal feliz" divulgado pela verdadeira cadeia nacional de TV sociedade nacional.
e jornais que transmitiu diariamente os lances da disputa,
não corresponde inteiramente aos interesses dos Apinayé. A
luta deve continuar. Antecedentes do litígio
Mas “o caso Apinayé" — envolvendo índios de outros po Nos últimos anos, os Apinayé buscaram apoio na FUNAI, e
vos, vindos de Goiás, Maranhão, PIX e outras áreas do suas reclamações foram encaminhadas por delegados indí
Mato Grosso e até do Nordeste — acabou se constituindo genas e seus aliados não-índios, que percorreram paciente
num caso inédito e numa experiência muito rica para a his mente todas as vias pacíficas.
tória recente do movimento indígena, comparável, até en
tão, à chamada “guerra do Xingú", no primeiro semestre O litígio da área Apinayé, de fato, se arrasta há muito tem
de 84 (ver a respeito no capítulo “Parque Indígena do Xin po: ficou famoso entre os índios o capitão José Dias Mätuk
gú”, deste ACONTECEU, o noticiário completo do episó que, em 1926, saiu a pé até o Rio de Janeiro, para pedir
dio). providências ao governo. Já no tempo da Funai, fora ini
ciada em 1979 a demarcação de uma área de 85 mil ha, que
satisfazia aos Apinayé da aldeia de Mariazinha, porque en
Plano de alianças globava toda a sua área tradicional, mas excluía as antigas
aldeias do Cocalinho e áreas vitais para os Apinayé da al
A ligação entre os dois movimentos começou em abril de 84. deia de São José, que embargaram a demarcação.
Uma delegação de Apinayé, pela primeira vez, desembar
cou na rodoviária do Rio de Janeiro, para solicitar à CVRD Os Apinayé pediam mais terra, enquanto os políticos de To
que pressionasse a FUNAI a tomar alguma providência no cantinópolis queriam a redução da reserva para 25 mil ha.
sentido da demarcação de suas terras, incluídas na área de Diante do impasse, a Funai fez uma nova eleição de área em
influência do “Projeto Ferro-Carajás". 1980, propondo 101 mil ha, para “conciliar” os interesses
de índios e brancos. A nova proposta, que não satisfazia os
Ali, os Apinayé puderam acompanhar diariamente os lan Apinayé de São José e muito menos, é claro, ao pessoal de
ces da “guerra do Xingú "pela televisão e sentir o impacto e Tocantinópolis, ficou na gaveta.
a eficácia das pressões dos Txukarramãe (Metuktire) sobre
as autoridades e a opinião pública do país. Ao mesmo tem A questão voltou à tona com a assinatura do convênio
po, embora as redes de TV se dispusessem a gravar entre CVRD/FUNAI, em meados de 82: os grupos indígenas den
vistas, a pressão Apinayé não encontrava espaço nos tele tro da área de influência do Projeto Ferro-Carajás, entre
jornais. eles os Apinayé, deveriam ter suas áreas demarcadas.

(*) texto elaborado por Vincent Carelli, com base em entrevista conce
dida pelos antropólogos Gilberto Azanha (CTI/FUNAI) e Maria Elisa
Ladeira (CTI/CVRD).

262
EX##
–/ …

Em abril de 83, a FUNAI encaminhou ao GETAT a pro Enquanto a demarcação não vem, o GETAT inicia o cadas
posta dos 101 milha. Em julho, a CVRD enviou à FUNAI a tramento e a medição de lotes para os ocupantes, dentro do
proposta dos Apinayé, elaborada com a assessoria da antro perímetro dos 148 mil ha e a invasão da área, ao longo da
póloga Maria Eliza Ladeira (consultora da Vale), com 148 Transamazônica, se acelera.
mil ha. Mas a FUNAI, presidida na época por Otávio Fer
reira Lima, desconsiderou-a. O GETAT sequer havia se Acuados de todos os lados, os Apinayé, cujos líderes já ha
pronunciado oficialmente a respeito dos 101 mil. A inércia viam regressado do Rio sem qualquer sucesso, precisavam
dos órgãos governamentais se somou a mobilização dos po conseguir ao menos o apoio da FUNAI. Logo depois do fi
líticos e fazendeiros de Tocantinópolis, que organizaram nal da “guerra do Xingú", o sertanista da FUNAI Cláudio
passeatas, empunhando faixas contra a FUNAI e a CVRD, Romero propiciou a visita de Raoni, Kremoro, Krumare e
Encaminharam abaixo-assinados a vários Ministérios e dis mais três velhos Txukarramãe à aldeia Apinayé de São José,
seminaram um clima de terror na região, com boatos sobre que trazem sua mensagem de solidariedade e alerta: é pre
o "iminente ataque dos índios" a Tocantinópolis e fazendas ciso lutar, porque se não lutar, a FUNAI não demarca!
vizinhas.
Mais uma vez contaram também com a solidariedade dos
Krahô, Xerente e Karajá, interessados na demissão de fun
O início da auto-demarcação cionários da AJARINA. Em meados de maio invadiram a
Ajudância, em Araguaina e, desta vez, acabam se valendo
Os Apinayé, por sua vez, juntamente com outros povos sob da política de “abertura" do novo presidente da FUNAI,
jurisdição da AJARINA — Krahô, Xerente e Karajá — se Jurandy da Fonseca e conseguem as demissões pretendidas.
vêem às voltas com problemas internos da FUNAI: eles rei
vindicam a demisão de vários funcionários da Ajudância, Resolvido o impasse da AJARINA, os índios se deslocam
além da resolução dos litígios de suas terras e do território ram para Tocantinópolis e interromperam a Transamazô
Xerente. nica por três dias. O presidente da FUNAI cede mais uma
vez às pressões e autoriza, finalmente, que o levantamento
Até que, em dezembro de 83, mais de 300 índios desses fundiário se extenda à área dos 148 mil ha. Esta decisão
quatro povos ocuparam a AJARINA por 20 dias, sem conse altera profundamente a relação dos Apinayé com seu terri
guir a menor concessão da FUNAI. No auge da sua frus tório. Depois de muito tempo, eles voltam a percorrê-lo in
tração, os índios se deslocaram para a área Apinayé e ini tegralmente, sem receios e tratando de impedir que regio
ciaram as picadas de demarcação, por conta própria. nais continuassem a extrair madeiras e outros recursos.

Sabendo que a iniciativa dos índios resultaria numa reação O levantamento fundiário acusa a presença de mais 153
imediata da população exaltada de Tocantinópolis, um ca ocupantes, na área acrescida, além de apontar que vários
pitão da PM e agentes da PF negociaram uma trégua com ocupantes agiram de má-fé, por terem invadido a área dos
os índios, que só foi aceita mediante uma promessa do pre 85 mil ha depois de 1979. O valor total, corrigido, das inde
sidente da FUNAI, por telefone, de iniciar imediatamente nizações chega a 650 milhões de cruzeiros, quantia que a
um levantamento fundiário e a demarcação em março de CVRD põe à disposição da FUNAI para a resolução do
84. O levantamento foi feito, mesmo assim de acordo com a C{}^{}.

proposta dos 101 mil, mas a demarcação não. Foram regis


trados 488 ocupantes, que deveriam receber 200 milhões de
indenização, para serem reassentados. Destes ocupantes, é
importante ressaltar, 312 se encontravam no interior da me
nor área já cogitada para os Apinayé, os 85 mil ha da FU
NAI (1979).

263
DiGENAS NO BRASIL/CEDI

Fazendeiros e pistoleiros
bloqueados pela PM,
na Transamazônica.

:
# :: : - If

Empossado na chefia da AJARINA, o antropólogo Gilberto


Azanha presta todo o apoio aos Apinayé. Designa para a
chefia do Posto da aldeia São José o funcionário Erivelson, o
túnico servidor local da FUNAI que defendia o direito dos
índios sobre a área do Cocalinho, reocupada agora por 13
famílias Apinayé. Ao mesmo tempo, Azanha consegue da
FUNAI a assinatura de uma portaria que reconhecia a área
dos 148 mil ha como área indígena, permitindo a realização
de um levantamento topográfico, apesar da proposta não
ter o reconhecimento oficial do GETAT ou do Grupão In
terministerial. Com isso, os Apinayé abriram algumas pi
cadas e colocaram placas nos limites reivindicados.

A partir daí começou o confronto acirrado. Os fazendeiros


derrubaram as placas a tiros. Os índios repunham as placas
que eram arrancadas por regionais, incentivados pelo clima
de mobilização em Tocantinópolis. Os índios tornavam a
repôr as placas e montar guarda para que não fossem reti
radas. Sabendo que a CVRD havia destinado recursos financeiros
para a demarcação, os Apinayé prometiam aos seus vizi
No meio tempo, o fazendeiro João de Deus e vários pistolei nhos convidados para o mutirão demarcatório inclusive uma
ros invadiram a aldeia do Cocalinho e expulsaram as famí remuneração pelo trabalho, coincidindo com o período do
lias que lá estavam. Dias depois, o chefe de posto da FU ano em que os jovens dessas aldeias normalmente saem à
NAI e o capitão Francisco são surpreendidos e surrados em procura de trabalho remunerado nas fazendas vizinhas.
plena praça de Tocantinópolis.
As adesões foram numerosas e já na primeira semana de
janeiro de 85, os Krahô e Xerente começam a abrir picada.
Convocação dos vizinhos Nessa altura um contingente especial da PM já se encon
trava em Tocantinópolis.
Humilhações e derrotas como estas fizeram os Apinayé
compreender que sozinhos não seriam vitoriosos jamais. Re Enquanto isso, uma nova comitiva, composta pelo capitão
solveram, então, buscar apoio de grupos vizinhos. Uma co Francisco e três velhos Apinayé saiu para o Xingú, convidar
missão composta por Maria Barbosa, líder do Cocalinho, o os Txukarramãe. Na volta, via Brasília e já trazendo consi
capitão Sotero e mais 4 Apinayé passaram uma semana en go Raoni e vários velhos Txukarramãe (além de dois Kre
tre os Krahô e voltaram com mais de 40 deles. Alguns dias nakore e um Trumai), encontraram aquela concentração de
depois, outra delegação sai em busca de apoio dos Xerente, índios na capital, mobilizados pelos indigenistas para pro
que enviam 35 dos seus (aos quais se somaria outro tanto, testar contra o decreto autorizando a mineração em áreas
somando 70 no auge do conflito, mais tarde). Na última indígenas, assinado pelo presidente Figueiredo.
semana de 1984, nova comitiva Apinayé vai aos Kanela de
Porquinhos, extender a convocação. Com a sustação do decreto dois dias após sua assinatura, os
Apinayé se aproveitam da mobilização e lançam seu convite

264
Maria Barbosa,
líder do Cocalinho (à direita).
Os índios vão à picada,
enquanto Raoni (abaixo)
visita o acampamento da
PM, na Transamazônica.
|
####

C Os Krahô se arrancharam no grande barracão da escola e


5

tomavam suas refeições na casa das mulheres do grupo de
(…) Maria Barbosa, em número de dez. Outras duas, do mesmo
O
grupo, prestavam atendimento aos índios do Xingú.
5##
Os Xerente, juntamente com as três famílias Apinayé com
E" as quais três dos seus haviam contraído matrimônio no pas
3
* sado, construíram um grande barracão para abrigar a to
3 dos.

Começaram os trabalhos na abertura das picadas, inicial


mente pelo lado da aldeia de Mariazinha, o que obrigava os
índios da frente de trabalho passarem muito próximo de
Tocantinópolis. Quando a mobilização para enfrentá-los
cresceu na cidade, eles abandonaram essa picada e passa
ram a abrir uma outra, no extremo oposto da linha seca,
próximo de São José. Os grupos armados iam na frente. Os
Xerente eram o grupo de choque, o pessoal que realmente
enfrentava a picada. Os Apinayé não iam, a não ser dois ou
três rapazes; ficavam na guarda da aldeia. Os homens pe
gavam o serviço da picada às 7 da manhã e voltavam sempre
às duas da tarde, como medida de precaução para não dei
xar a aldeia muito tempo desguarnecida. São José fica a
I km da Transamazônica e apesar do acampamento da PM
a todos os índios reunidos em Brasília. Há uma forte pres que se instalou entre a estrada e o acesso à aldeia, corria o
são interna na FUNAI para conter a saída de índios para a boato que o pessoal de Tocantinópolis ia atacar a aldeia. A
área Apinayé. Mesmo assim, quando um caminhão saiu noite havia plantões contínuos de guarda.
para Tocantinópolis, a comitiva Apinayé estava acrescida
dos convidados do Xingú e mais 7 Xavante, 3 Fulniô e 2 As 2 ou 3 da tarde os índios almoçavam e depois corriam
Tuxá. com tora. No final da tarde, ouviam-se as notícias de Ara
guaina, Brasília e do Xingú na fonia, operada por Raoni.
De vez em quando ele saía até a cidade, escoltado pela PM,
para telefonar para Brasília.
Organização da empreitada
Os Krahô deram nova vida ao pátio adormecido daquela
Ao chegarem à aldeia São José, juntaram-se aos demais aldeia e toda noite os cantadores botavam a mulherada Api
convidados, somando os 140 já mencionados e passaram a nayé para cantar. Os velhos do Xingú passavam o dia fa
organizar a empreitada. zendo bordunas e praticamente não saíam de casa. A noite
eles gravavam os cantos e no dia seguinte, enquanto traba
Os índios que vieram do Xingú ocuparam logo as instala lhavam a madeira, escutavam e aprendiam as cantigas
ções do posto da FUNAI (cujos funcionários tiveram que se Frahô.
mudar para uma casa de palha), especialmente o rádio.
Raoni passou a liderar o movimento, organizando as tur
mas e tarefas dos jovens e assumindo a função de porta-voz
junto às autoridades.
265
ÁREA INDÍGENA APINAJÉ
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SINAS CONVENCIONAIS

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PÓSTO INDIGENA A
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PERÍwerro da Aerº . ------
ÁREA REVINDICADA PELos íMEIG5 —–––
MARcos DE PERíMETRO {}
ESTRADA DE RODAGEM •

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Povos Iwpiszwaa kic arras IL-CEB1- MAkºss

As negociações da FUNAI dos índios em 142 mil, o que para o grande público que
acompanhava o caso, significou o atendimento das reivin
Enquanto isso, lá fora, em Brasília, quem negociava com o dicações indígenas. Para os Apinayé isto significou a con
Grupão eram somente o sr. Aureo Falieros, diretor do DPI, quista da área do Cocalinho, além da incorporação, tam
e o sr. Nelson Marabuto, presidente da Funai. Na primeira bém ao norte, de 17 mil hectares de cerrado que eles não
reunião, eles conseguiram a suspensão dos trabalhos da pi queriam e a perda ao sul das áreas do Gameleira e terras
cada, marcando um sobrevôo sobre a área, com a FUNAI e próximas de Tocantinópolis, que são as mais férteis da re
o GETAT. Os índios faziam questão de participar do sobre gla0.
vôo, mas não foi permitido.
Esta decisão atendeu aos políticos e fazendeiros de Tocan
No dia do sobrevôo, o presidente Marabuto, que estava pre tinópolis, além de contemplar a exigência do CSN de ter a
sente, informou a seus funcionários que dificilmente o Gru Transamazônica como limite da reserva, já que um desvio
pão aceitaria até mesmo a alternativa de 130 mil ha, pro está previsto na região do Cocalinho (ver mapa). Neste tre
posta pelos índios diante do imperativo do CSN de não abrir cho, dois povoados de beira de estrada — o Veredão e o 75
mão da Transamazônica como limite sudoeste da área. — terão de ser reassentados.

Uma semana depois, no ápice do conflito e já tendo ocor A comissão de índios que foi a Brasília sem dúvida era re
rido o atentado contra um soldado da PM, os índios reto presentativa do movimento. Lá estavam Raoni, o capitão
maram as picadas e interromperam a Transamazônica. Francisco Apinayé, de São José, o capitão Sotero do Coca
linho, 3 capitães Krahô e 4 Xerente. Mas não tinha delega
ção para negociar os limites da reserva.
Comissão de índios vai à Brasília:
os limites do “final feliz” Porém negociações houveram. Para os índios de fora, a
tanto tempo longe de casa, a discussão de variantes no mapa
Nesse dia, Marabuto chegou sozinho na área, com um jor não tinha muito sentido. Sotero foi atendido nas pretensões
nal na mão, dizendo que tinha saído o decreto: uma matéria do Cocalinho e o capitão Francisco foi levado de roldão na
do Jornal de Brasília se antecipava, anunciando que o go euforia geral diante de uma solução eminente.
verno já teria resolvido assinar o decreto com 130 mil ha. O
presidente da FUNAI explicou que o Ministro do Interior Assim que a comitiva retornou à aldeia, Francisco foi de
queria um voto de confiança dos funcionários da Funai e posto pela comunidade. Os Krahô, que haviam chegado em
que o decreto seria assinado alguns dias depois. O serta dezembro, começaram a voltar para suas aldeias, mas os
nista da FUNAI Cláudio Romero fez um discurso para co Xerente ainda permaneceram por mais uns quinze dias para
municar a notícia aos índios, que resolveram tirar uma co prevenir
ocupanteanão-índio
eventualidade de vingança, por parte de algum
contrariado. •

missão que iria acompanhar o presidente até Brasília, para


receber o decreto.
Os Apinayé resolveram não fazer o levantamento fundiário
Mal sabiam eles que o decreto iria ainda ser negociado. Se dos 17 mil hectares ao norte, que eles não queriam, mas
gundo o presidente da FUNAI o governador de Goiás, Iris continuar usando a área perdida do Gameleira, inclusive
Resende, é quem teria imposto a forma final da área. Num porque a roça do São José foi plantada lá esse ano. Antes de
passe de mágica o governador transformou os 148 mil ha se dispersarem, ficou combinado entre os índios, que quan
do começasse a luta pela conquista da área do Gameleira,
todos voltariam.

266
s! Z_Acervo
_/\_>A GOIÁS/LESTE DO MATO GROSSO 9

# =

O presidente da Funai aceitou, ainda, à promessa do presidente do órgão, Otá


outra reivindicação dos índios: a substi vio Ferreira Lima, de que tudo estaria
tuição do atual representante da Funai resolvido “no máximo até 31 de março”.
Ajudância ocupada na área, Wilker Célio da Silva, pelo indi O prazo passou e nada foi feito. (JB, 09/
genista André Junqueira Ayres Villas 04/1984).
Cinco índios — quatro deles caciques Boas. Para substituir o chefe da ajudân
das tribos Apinajé, Xerente e Crao — cia, os índios enviaram ao presidente da
continuam ocupando a ajudância da Fu Funai, através de seu chefe de gabinete, Trégua em Araguaína
nai em Araguaína, no Norte de Goiás, Marcos Terena, que esteve em Araguaí
que foi invadida terça-feira à noite. O na, uma lista tríplice a ser analisada. O presidente da Funai, Jurandy Mar
novo presidente da Funai, Jurandy Mar Marques optou por André que, segundo ques da Fonseca, anunciou ontem que
cos da Fonseca, determinou que o índio afirmou, é bem aceito por todas as tribos os índios apinajé, xerente e crao, que
Marcos Terena, chefe de gabinete do ór atendidas pela ajudância de Araguaína. invadiram, no começo da semana, a se
gão, dialogasse com os índios que exi (ESP, 12/5/84). -
de da ajudância da Funai, em Araguaí
gem a demarcação de suas terras. na, Norte de Goiás, deram um prazo de
Há três meses os índios invadiram o 60 dias para que o órgão demarque a re
mesmo local e prometeram esperar 90 serva apinajé, em Tocantinópolis e inicie
dias por uma solução para as suas reivin #### um projeto de desenvolvimento de emer
dicações, as quais incluem ainda o afas gência na aldeia crao, de Itacajá. O pre
tamento do atual chefe da ajudância, Índios indagam sidente da Funai aceitou, ainda, outra
Wilker Célio da Silva. Marcos Terena, sobre dólares reivindicação dos índios: a substituição
por sua vez, deu prazo até segunda-feira do atual representante da Funai na área,
para escolher um dos nomes da lista pro Para denunciar “irregularidades” na Wilker Célio da Silva, pelo indigenista
posta pelos índios para ocupar o cargo: aplicação de 13 milhões 600 mil dólares André Junqueira Ayres Villas Boas.
Antônio João de Jesus, Fernando Schia do Programa de Apoio às Comunidades (ESP, 12/05/1984).
vini ou André Villas Boas. Indígenas na Área de Influência da Fer
Na Funai, desde que assumiu o cargo, rovia de Carajás, um grupo de índios
Fonseca vem mantendo reuniões com os apinajés e gaviões chegou ao Rio, na se Transamazônica
dirigentes da administração anterior mana passada, para participar de reu interrompida
para levantar a situação do órgão, que, niões com a diretoria da Companhia
segundo afirmou, “não apresenta gran Vale do Rio Doce. Segundo o chefe indí Os índios Apinajé dá aldeia São José in
des problemas”. Ele disse ainda que em gena Rumão Sotero Apinaxé, a Funai, terditaram a rodovia Transamazônica
sua administração não vai impedir a vin ao invés de fazer a demarcação de suas no entrosamento com a BR-153, em pro
da de índios a Brasília, mas considera reservas, emprega a verba no pagamen testo contra a não demarcação de suas
melhor dialogar com as comunidades to de salários, diárias de funcionários reservas. A ação dos Apinajé teve início
nas próprias aldeias: “Acho importante CIT1 viagem e renovação da frota de auto por volta das nove horas da manhã de
não apenas evitar o turismo de índios em móveis. ontem com um pequeno grupo e à tarde
Brasília, mas também contribuir para A liberação desses recursos — condição toda a aldeia estava no local interrom
diminuir as despesas da Funai”. (ESP, imposta pelo Banco Mundial para parti pendo por completo o tráfego nas duas
11/05/84). cipar dos contratos de financiamento da rodovias. Segundo informações da Se
ferrovia — “vem sendo dificultada pela cretaria de Segurança Pública, uma
Funai” que, em convênio firmado com a equipe de funcionários da Funai viajou
FUNAI promete Cia. Vale do Rio Doce, em 1982, deveria de avião para Tocantinópolis ainda on
investir 9 milhões de dólares em benefí tem para tentar negociar com os índios.
atender reivindicações
cios para os índios, nos dois primeiros Para a Ajudância da Funai em Araguaí
O presidente da Funai, Jurandy da Fon anos, “o que não foi feito até então”, na a situação era normal e sob controle.
seca, anunciou ontem que os índios Api afirma Sotero. Os apinaxés e gaviões Em contato telefônico, uma funcionária
najé, Krao e Xerente, que invadiram a querem saber o quanto lhes foi desti esclareceu que a interdição ocorrera,
sede da Ajudância da Funai em Ara nado e quanto ainda resta para ser apli mas já fora suspensa ontem mesmo. Ou
guaína, dera um prazo de 60 dias para cado. Querem também, participar da tra fonte afirmou que os índios conti
que o órgão demarque a reserva Api gestão do dinheiro. nuavam no entroncamento interrom
najé, e inicie um projeto de desenvolvi Em dezembro do ano passado, irritado pendo o tráfego e exigindo a presença do
mento de emergência na aldeia Kraó, de com a pouca iniciativa da Funai, os ín presidente da Funai para autorizar o iní
Itacajá. dios invadiram a ajudância de Aragua cio da demarcação da reserva. (O Popu
rina e começaram a demarcar, por conta lar, 17/05/1984).
própria, a área de suas reservas. Concor
daram em suspender os trabalhos frente

267
*
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#vºs indicENAs no BRASIL/cED
Deputado pede Esse quadro se verifica, segundo a Aju Diante da situação a Polícia Federal foi
I'CSERV3 ||19:I1OT dância da Funai de Araguaína, desde a ao local e lá permaneceu por poucos dias
última quarta-feira, quando da reunião e, assim que retornou, o clima tenso vol
O deputado Maranhão Japiassu, do mantida entre o Delegado da Funai, Gil tou, com ameaças de morte. (O Popular,
PMDB, formulou apelo ao Ministro de berto Azânia, o Prefeito de Tocantinó 1/12/1984).
Assuntos Fundiários, Governador do polis, José Sabóia de Souza Lima, e pos
Estado, Secretário de Segurança Públi seiros que estão já há algum tempo na
ca e Comandante Geral da Polícia Mili área dos índios — com o objetivo de se FUNAI apela
tar no sentido de ultimar “urgentes e evitar um possível conflito entre brancos para governador
enérgicas providências, visando sensibi e indígenas em razão de questões fun
lizar a Funai para a demarcação de uma diárias. O Getat — Grupo de Terras do Os índios apinajés, que ocupam uma
área de terras inferior a 85 mil hectares, Araguaia e Tocantins foi convidado para área de 148 mil hectares entre os muni
visto ser “diminuta a Nação Indígena essa reunião mas não mandou represen cípios de Tocantinópolis e Itaguatins, no
Apinagé, além do que a área pretendida tante. Norte do Estado, não mais viverão hu
por aquele órgão, trára prejuízo sem A situação em Tocantinópolis ficou ain milhados e ameaçados de despejo por
precedentes à economia do município de da mais complicada nos últimos dias a posseiros da região. A garantia foi dada
Tocantinópolis, levando ao confronto partir da interferência do vereador José ontem pelo governador Iris Rezende,
armado os grupos em conflitos na re Bonifácio, ex-agente da Polícia Federal. durante audiência que concedeu a uma
gião, principalmente os de ocupação, Conforme ocorrência policial registrada equipe da Fundação Nacional do Indio,
formados para invadir terra em Tocan em Araguaína, Bonifácio teria insuflado liderada pelo seu presidente, Nelson
tinópolis, liderados ou insuflados por posseiros para fazer ameaças a Erivelson Marabuto, que veio a Goiânia “apelar
elementos estranhos à comunidade indí Ribeiro de Almeida, chefe do posto São para a sensibilidade do Governador”.
gena”. (O Popular, 17/06/1984). José, e ao delegado Gilberto Azânia — o Marcos Terena, que também é índio,
que acabou acontecendo. O vereador além de chefe de gabinete da Funai; in
também é acusado de ter furtado placas formou que no último fim de semana,
Cresce a tensão indicativas de área indígena, instaladas uma equipe da FUNAI, junto com a PM
na
dio,região pela Fundação Nacional do In de Goiás, apreendeu vários armamen
• •

Conforme denúncias chegadas ontem a tos, inclusive pesados, com posseiros e


Goiânia, já se esboça um clima de ani Enquanto isso, continuam os proble fazendeiros da região. Segundo ele, es
mosidade entre brancos e índios, prin mas. Até os funcionários da Funai estão sas armas vinham sendo utilizadas con
cipalmente no município de Tocantinó sofrendo conseqüências desse quadro, tra os índios “sob o comando do verea
polis. recebendo, por exemplo, ameaças atra dor Bonifácio Gomes, do PDS de Tocan
Segundo a informação, os índios vêm re vés de telefonemas anônimos. Comenta tinópolis”, o qual acusa de “ter usado os
cebendo provocações de políticos e ou se na região que 60 homens estariam posseiros para interesse próprio”. Isso
tros “brancos” para que aceitem um preparados para destruir o restante das porque — argumentou — “a comuni
acordo onde ficariam apenas com 25 mil placas existentes. Torna-se cada vez dade de Tocantinópolis está preocupa
hectares de terra, enquanto o que reivin mais iminente a possibilidade de um da, tão-somente, no reassentamento das
dicam é aproximadamente 150 mil. Ar conflito, envolvendo brancos e índios. pessoas que se encontram na área indí
gumentam, inclusive, que a Fundação (O Popular, 24/11/1984), gena, que está sendo objeto de negocia
Nacional do Índio — Funai teria garan ção entre a Companhia Vale do Rio
tido que iria sustentar essa reivindicação Doce, Funai, Governo do Estado de
junto ao Governo Federal. Invasão do Cocalinho Goiás e, provavelmente, o Getat”. (O
Se a demarcação, motivo maior do im Popular, 05/12/1984).
passe, continuar demorando, poderá No último domingo, cerca de 25 homens
acabar sendo feita pelos próprios índios. armados e aparentemente embriaga
E, nesse particular, têm o apoio da legis dos, entre os quais estava o ex-prefeito Pressão do Banco Mundial
lação pertinente — o Estatuto do Índio de Araguatins, João de Deus, retiraram
— que diz que as placas que estabelecem mais de 40 índios apinajé da Aldeia de Brasília – O Banco Mundial está amea
os limites das áreas indígenas podem ser Cocalinho (Araguatins), e foram levados çando reter as próximas parcelas para fi
colocadas independentemente da de para as margens da Rodovia Transama nanciamento do Projeto Carajás, caso o
marcação oficial, que trata-se, apenas, zônica, onde ficaram abandonados. A Coverno não resolva o problema das ter
de reconhecimento de cunho adminis informação foi prestada por pessoa li ras dos índios Apinayé, que vivem ao
trativo. (O Popular, 15/11/1984). gada ao Centro de Trabalho Indige norte de Goiás, área de influência do
nista, que esclareceu ainda ser dramá projeto. O presidente da Funai, Nelson
tica a situação no município de Aragua Marabuto, e o chefe de Gabinete, Mar
Funcionários são ameaçados tins, podendo ocorrer, a qualquer mo cos Terena, já discutiram o assunto com
mento, morte entre os índios ou os pró o governador de Goiás, Iris Rezende,
Devido à falta de uma definição sobre a prios homens armados, em caso de rea pois o impasse para a solução do pro
demarcação de suas terras, os Apinajé ção dos índios. blema está no reassentamento das famí
vivem clima de tensão acentuado que Os índios abandonaram em sua aldeia, lias de colonos que vivem na área indí
precisa ser urgentemente contornado sob as ameaças, os mantimentos, ani gena. O Banco Mundial liberou 12 bi
pelas autoridades. mais e utensílios domésticos, além das lhões de cruzeiros para este trabalho,
terras, sob ameaças de que se voltarem
para lá serão mortos.

268
sL7-Acervo
_/\ | <> A GOIÁS/LESTE DO MATO GROSSO 11

mas estão existindo dificuldades para da Câmara Municipal, Antônio José Ro Tocantinópolis, no Norte do Estado. A
encontrar um local para a transferência drigues. O vereador José Bonifácio quer informação é do delegado da Ajudância
das famílias não índias. também que a comitiva seja engrossada da Funai de Araguaína, antropólogo
No último final de semana, os proble pelos deputados estaduais Maranhão Gilberto Azanha. Ele disse que os silví
mas entre índios e brancos aumentaram Japiassu e Brito Miranda (PMDB) e pe colas “esperaram demais” por um topó
na área, com a prisão do chefe do posto los deputados federais José Freire, Se grafo que deveria ir para a área e, como
do Apinayé, Erivelson de Almeida, por cretário da Segurança Pública, e Tobias isso não ocorreu, recomeçaram as pica
ordem do vereador de Tocantinópolis, Alves, Presidente Regional do PMDB — das, com o objetivo de demarcar os 148
José Bonifácio. O chefe do Posto, segun que tiveram votos no município de sua mil hectares pretendidos pelos indíge
do Marcos Terena, foi humilhado e qua cidade. (O Popular, 16/12/1984). I131S.

se obrigado a engolir o jornal “O Popu Por outro lado, cerca de 20 soldados do


lar”, de Goiânia, que trazia uma entre destacamento da Polícia Militar de Ara
vista sua apontando as perseguições que Posseiros incendeiam guaína estão em Tocantinópolis, sob o
os índios vêm enfrentando. o Cocalinho comando de um tenente. A missão deles,
Na reunião com Iris Rezende, pouca coi segundo explicou a corporação, é de
sa ficou definida, porque o assenta Armado de espingardas, com tochas apenas garantir a segurança pública na
mento dos colonos está afeto ao Getat — acesas na mão, um grupo de posseiros cidade, evitando que brancos se deslo
Grupo de Terras do Araguaia-Tocan invadiu na noite de terça-feira, a aldeia quem até a aldeia e que índios permane
tins, com quem o presidente da Funai Cocalinho, dos índios apinajés, em To çam em Tocantinópolis. A medida visa
deverá ter um encontro em Brasília. No cantinópolis, Norte de Goiás, queiman impedir que haja confrontos entre bran
projeto apresentado ao governador de do quase todas as casas. A notícia foi cos e indígenas. Quando estes precisam
Goiás, a Funai propõe a criação de uma transmitida ontem pelo antropólogo ir à cidade, o fazem escoltados por PMs.
área de 148 mil hectares para os índios e Cláudio Romero ao chefe de gabinete da O clima é de tensão.
a sua demarcação. (O Liberal, 10/12/ Funai, Marcos Terena. Enquanto a Funai argumenta que não
1984). Disse ainda o antropólogo que os líderes houve acordo para suspensão da demar
apinajés decidiram embarcar para o Rio cação, a outra parte diz que isso ocorreu
de Janeiro onde vão tentar manter con e alega, inclusive, que a solução do pro
Políticos querem tato com os representantes do Banco blema depende, basicamente, de três
ouvir governador Mundial para que seja suspensa a re providências — a imediata suspensão da
messa de recursos ao Projeto Carajás. demarcação pelos índios, baseando-se
Uma comissão de políticos de Tocanti Além de incendiar parte da aldeia, os na premissa de que, para ter valor legai,
nópolis deverá, nos próximos dias, pro posseiros agrediram o cacique Francisco precisa do aval do Getat (Grupo de Ter
curar o governador Iris Rezende a fim de Apinagé e o funcionário da Funai, Eri ras do Araguaia/Tocantins); a retirada
saber dele se realmente disse ao Presi velson de Almeida, que foram à cidade de índios Kraô que — alegam — ainda
dente da Funai, Nelson Marabuto — em de Tocantinópolis fazer compras. Se estariam na aldeia Apinajé, ajudando
audiência concedida dia quatro último gundo informações de Marcos Terena, os nesse trabalho; e, finalmente, a subs
— que vai proteger os índios Apinajé. “os dois apanharam muito, na frente da tituição de altos funcionários da Funai
Semana passada, o vereador José Boni delegacia de polícia”. (Folha da tarde, que trabalham em reservas indígenas no
fácio Gomes, do PDS de Tocantinópolis 27/12/1984). Norte do Estado, os quais estão sendo
— acusado de incitar posseiros contra os acusados de incitar os índios a se rebela
Apinajé — esteve em O POPULAR. rem contra os posseiros. (O Popular, 28/
Disse que não concorda com nenhuma Acordo suspende 12/1984).
das colocações feitas por Nelson Mara a demarcação
buto sobre a situação dos índios no Nor
te do Estado e que não acredita que o O deputado estadual Brito Miranda Marabuto contém
Governador tenha mesmo dito que irá (PMDB) informou ontem que o processo os índios
apoiar os indígenas. de demarcação das áreas indígenas dos
Além do esclarecimento, os políticos to Apinajé, no Norte do Estado, iniciado O Presidente da Fundação Nacional do
cantinopolinos desejam — conforme na semana passada pelos próprios silví Indio, Nelson Marabuto, chegou ontem
Bonifácio — que o Governador aprecie colas, foi cessado. Isso porque, segundo em Tocantinópolis.
uma série de documentos que a Prefei ele, na véspera do Natal “foi encontrado Conforme havia sido anunciado, a força
tura Municipal está levantando sobre o um modus vivendi em função do qual se policial foi reforçada pela Polícia Militar
assunto. suspendeu o serviço demarcatório, até do Estado com mais 20 homens. Estes,
De acordo ainda com Bonifácio, ele pro que haja uma negociação mais prática esegundo consta, não estão tendo por en
põe a formação de uma comissão supra mais objetiva que possa atender às duas quanto muito trabalho, uma vez que a
partidária. Garantiu que dela participa partes”. (O Popular, 27/12/1984). viagem de Marabuto à região fez os ín
rão, seguramente, o Prefeito e o Vice dios recuarem um pouco, ante a pers
Prefeito de Tocantinópolis — José Sa pectiva de entendimento.
boía de Souza Lima e Assad Cortez — A demarcação de 148 mil hectares, pre
Demarcação reiniciada
ambos do PMDB, bem como os 13 ve tendidos pelos índios e contestados pela
readores locais — oito do PMDB e três Suspensa na véspera do Natal, foi reini população tocantinopolina, que havia
do PDS, incluindo aí Augustinho José ciada ontem, pelos índios, a demarcação sido reiniciada esta semana, foi nova
Rodrigues, presidente de uma CPI que da reserva dos Apinajé, no município de mente suspensa ontem, conforme infor
investiga a problemática e o Presidente mações prestadas pelo destacamento da

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s! Z_Acervo
_A Evºs indíGENAs No BRASIL/CED

PM em Tocantinópolis, cujos soldados Marabuto fez questão de frisar que o mi Primeiros tiros na picada
têm acesso livre tanto na aldeia quanto nistro do Interior, Mário Andreazza, —
na cidade. que o convocou para uma reunião im O primeiro enfrentamento entre fazen
A população de Tocantinópolis conti prevista na segunda-feira — se manifes deiros e Apinagés no Norte de Goiás,
nua insistindo na substituição de altos tou sensibilizado com a grave situação ocorreu na tarde de ontem. Os índios
funcionários da Funai que no momento dos Apinagé e imediatamente entrou em que abrem a picada de demarcação da
encontram-se na direção de reservas in contato telefônico com o ministro Dani área foram surpreendidos pelos tiros.
dígenas localizadas no Norte do Estado, lo Venturini, do Meaf. O resultado disso Não houve feridos, mas a tensão na área
sob a argumentação de que estariam foi o encontro de Marabuto com Iris Pe é crescente, tanto na aldeia, como na
orientando os silvícolas para se rebela dro, que há muito se recusava a discutir cidade de Tocantinópolis.
rem contra os brancos. (O Popular, 30/ o assunto, apesar da insistência do pre Ontem, os povoados de Passarinho e
12/1984). sidente do órgão tutor, por divergir Prate, à beira da Transamazônica, ama
quanto à exigência da Funai de demar nheceram sob a proteção dos soldados
car 148 mile 600 hectares. A reunião, da da Polícia Militar de Goiás. E na estrada
Presidente quase apanha qual participaram outros membros do Belém-Brasília, a cinco quilômetros de
em Tocantinópolis CSN, não foi conclusiva. (Jornal de Bra Araguaína (Goiás), a Polícia Rodoviária
sília, 09/01/1985). Federal, com apoio da Polícia Militar,
Insuflados por dois vereadosres: José param todos os carros que trafegam nos
Bonifácio de Souza (PDS) e Agostinho dois sentidos da rodovia. Os policiais
Araújo Rodrigues (PMDB), moradores Aumenta a expectativa querem evitar a chegada de mais índios
da cidade de Tocantinópolis ameaçaram na reserva Apinagé.
e ofenderam ontem o Presidente da Fun Os nove mil habitantes de Tocantinópo Apesar disso, os kaiapô do Sul do Pará e
dação Nacional do Indio, Nelson Mara lis, Município do Norte de Goiás, estão os índios do Parque do Xingú estão se
buto, e seus assessores que ali se encon vivendo um clima de extrema tensão, te preparando para vir a área defender o
travam para discutir as providências mendo um ataque dos mil índios que se cacique Raoni, que desde a semana pas
contra os ataques que vêm sendo feitos encontram na Aldeia São José, a 20 qui sada apóia o trabalho dos Apinagés.
contra as aldeias dos índios Apinajés. lômetros daqui. Da mesma forma, na Raoni, chefe do Txukarranaê, está
Nelson Marabuto disse que a agressão aldeia, 600 apinajés e mais 400 índios de ameaçado de prisão por comandar o mo
contra ele e os assessores só não se con 12 tribos diferentes temem ser mortos vimento de abertura da picada de de
cretizou em face da presença de 10 sol pela população da cidade. marcação e as autoridades policiais acre
dados da PM, fortemente armados. (O Além dos 35 policiais que andam arma ditam que sua presença no Norte de
Dia, 31/12/1984), dos durante 24 horas por dia pelas ruas Goiás é estímulo aos demais índios.
da cidade, o Prefeito José Sabóia de Sou Na cidade de Tocantinópolis, o superin
za Lima solicitou ontem ao Município de tendente da Funai, Gérson da Silva Al
Indios procuram apoio Araguaína, como reforço, mais 50 poli ves, acompanhado por quatro índios, foi
ciais. Para garantir a integridade física cercado por seiscentas pessoas, a maio
“Esperamos falar com o Ministro Ven dos mil índios, o chefe do posto da Fu ria armada. Ele pretendia manter con
turini no máximo até quinta-feira. Sex mai, Erivelson Ribeiro Almeida, tam tato com as autoridades locais, tentando
ta-feira vamos para o Xingu e, se for pre bém solicitou o envio urgente de agentes negociar com os fazendeiros e políticos
ciso, faremos uma guerra com a ajuda da Polícia Federal, Para ajudar os api locais.
dos índios de lá”. A afirmação, do Capi najés no trabalho de demarcação, as À tarde, o superintendente da Fumai
tão Francisco Apinagé, mostra a dispo principais lideranças de 12 tribos — en tentou negociar com os índios, pedindo
sição dos nove índios Apinagés que estão tre elas as dos xavantes (Mato Grosso), mais um prazo para demarcação oficial
em Brasília para tentar uma solução pa canela (Maranhão), funio (Pernambu da reserva. O prazo dado é 30 de janeiro,
cífica com a Funai e o Ministro Extraor co) e txucarramãe (do Xingu) — deslo mas os índios não querem mais esperar
dinário para Assuntos Fundiários, Da caram-se para a aldeia na semana pas porque há doze anos reivindicam a de
nilo Venturini, no conflito entre os pos sada. .."
marcação da terra. (Folha da Tarde, 25/
seiros e os índios habitantes do norte de O Presidente da Funai, Nelson Mara 01/1985).
Coiás. (JB, 02/01/1985). buto, informou ontem que o grupo inter
ministerial que delibera sobre a demar
cação de áreas indígenas definirá no Nova trégua até o dia 31
Marabuto responsabiliza próximo dia 31 um território para os ín
O MEAF dios apinajés. Até lá, a Funai pedirá um Os mil índios que se encontram na al
prazo aos índios, pois o Getat está pro deia São José decidiram ontem suspen
“O que quer que aconteça com os índios curando outro local para reassentar as der a demarcação de suas terras até o dia
Apinagé a responsabilidade caberá ao 600 famílias de posseiros, que vivem no 31, quando o grupo integrado por repre
Grupo Executivo de Terras Araguaia território apinajé. (O Globo, 24/01/ sentantes dos Ministérios para Assuntos
Tocantins, subordinado ao Ministério 1985). Fundiários e do Interior, do Conselho de
Extraordinário para Assuntos Fundiá Segurança Nacional, Getat e Funai de
rios (Meaf), ambos órgãos componentes verá apresentar a decisão final sobre a
do Conselho de Segurança Nacional”. A área.
afirmação é de uma autoridade da Fun Até lá, entretanto, os índios permanece
dação Nacional do Índio ao sentir que o rão mobilizados para garantir a segu
encontro mantido ontem entre o presi rança da área. As lideranças indígenas
dente do órgão tutelar, Nelson Mara decidiram ainda que se o Governo fede
buto, e o do Getat, Iris Pedro da Silva, ral não der as terras eles voltarão a abrir
não resultou numa solução imediata picadas.
para o problema.
270
s! Z_Acervo
_A E A GOIÁS/LESTE DO MATO GROSSO 13

A situação continua tensa apesar da che o Grupo Interministerial, seja aprovada Ontem à tarde policiais militares de
gada do Coronel Renato Silva, coman a área de 148 mil hectares para os Api Goiás chegaram ao trevo que une a
dante do 3° Batalhão da Polícia Militar, najés. Transamazônica à rodovia que dá aces
de Araguaína, que assumiu os trabalhos No radiograma urgente que recebeu de So a Tocantinópolis, engrossando o
de segurança, até então sob a responsa Tocantinópolis, o presidente da Funai acampamento montado para evitar o
bilidade exclusiva do Delegado Lima. O foi informado de que o clima de tensão confronto entre índios e brancos. (FSP,
Coronel Renato montou um posto de vi aumentou muito com a visita do secretá 02/02/1985).
gilância no Trevo de Nazaré — entre a rio, que promoveu uma reunião na pra
aldeia e a cidade — para evitar confron ça central da cidade, com a participação
tação. de duas mil pessoas. Na ocasião, José Primeira vítima
A decisão dos índios foi comemorada em Freire teria assumido o compromisso de
Tocantinópolis como primeira vitória não deixar sair a demarcação da área Foi rompida a trégua de brancos e índios
dos fazendeiros que se dizem proprietá indígena, que irá implicar na retirada que disputam terras às margens da ro
rios de terras reivindicadas pelos apina das 500 famílias de posseiros que estão dovia Transamazônica, no extremo nor
jés, embora nenhum deles tenha títulos dentro da reserva. (Jornal da Tarde, 29/ te do Estado de Goiás, depois que o ve
comprobatórios de posse. Esses fazem 01/1985). reador José bonifácio Gomes, do PDS,
deiros, reunidos ontem na cidade, afir feriu gravemente a tiros de espingarda
mavam estar dispostos a defender suas um sargento da Polícia Militar que es
terras mesmo que, para isso, precisem Veto do CSN coltava um veículo da Funai.
usar a força. A trégua vinha sendo respeitada desde o
Um dos momentos mais tensos dos últi O Conselho de Segurança Nacional ve dia 25 último, quando os índios apina
mos dias ocorreu na tarde de quinta-fei tou, ontem, a proposta de demarcação jés, auxiliados por guerreiros de várias
ra, quando dois caminhões e seis carros, de uma área de 148.600 hectares para os tribos, sob o comando do cacique tKu
que transportavam dezenas de homens índios apinajés, no Norte de Goiás, reco carramãe Raoni, suspenderam a demar
armados, tentavam se dirigir à Aldeia mendando que a área reivindicada seja cação de 148 mil hectares de terras espe
São José. Embora não tenha aprendido reduzida em 60 mil hectares, limitando rando a chegada do presidente da Fu
as armas, o Coronel Renato Silva inter se a Oeste pela rodovia Transamazônia. nai, Nélson Marabuto, e do represen
ceptou os veículos e determinou seu re Ficou definido na reunião do grupo in tante do Ministério para Assuntos Fun
torno imediato. terministerial que está analisando a diários e Getat para uma reunião hoje,
O Secretário de Segurança de Goiás, questão que, na próxima segunda-feira, às 10 horas da manhã, na aldeia.
José Freire, reuniu-se ontem à tarde com um grupo integrado por representantes Na aldeia, o medo de ataque de brancos
15 lideranças indígenas para apresentar do Ministério Extraordinário para As aumentou, levando os índios a tomarem
uma contraproposta: 85 mil hectares suntos Fundiários, Getat do Ministério medidas especiais de segurança. Forte
para a reserva, Freire disse que 85 mil do Interior e da Funaisobrevoará a área mente armados de espingardas e bordu
onde persiste um forte clima de tensão, nas, eles formam piquetes nas estradas
eram suficientes para a comunidade api
segundo afirmou o delegado do órgão na que dão acesso à aldeia, não permitem a
najé, lembrando que esta proposta havia
sido apresentada pela Funai em 1978.área, Gilberto Azanha. entrada de brancos, e os jornalistas que
Ao sair da reunião que durou quase cin diariamente os visitam foram orientados
Os índios liderados pelo Cacique Raoni
(txucarramãe) recusaram, afirmando co horas, o presidente da Funai, Nélson a fazer sinais de identificação antes de
que não abrem mão dos 148,6 mil hec Marabuto, disse que o órgão chegou a penetrarem em seu território. (JT, 04/
tares. (O Globo, 26/01/1985). submeter ao “grupão” uma proposta al 02/1985).
ternativa, que reduziria a área indígena
em 18 mil hectares, deixando de fora dos
FUNAI acusa limites da reserva a região de Cocalinho, Enfrentamento iminente
o secretário de Segurança área reconhecida como de posse imemo
rial dos apinajés, onde, inclusive, estão
A Transamazônica poderá ser interdi
O presidente da Funai enviou telex ao localizados antigos cemitérios. Mas o tada hoje pelos índios apinajés e mais
governador de Goiás, Iris Resende, pro Conselho defende a posição da não-in 600 guerreiros de outras tribos que se
testando contra atitude do secretário de corporação de um grande trecho da ro uniram a eles para reiniciar esta manhã,
Segurança do Estado, José Freite, que dovia Transamazônica à área indígena a demarcação de suas terras. Esta é mais
assumiu compromisso com a população e, com isso, a aldeia de Cocalinho ficaria uma forma de pressão que os índios po
de Tocantinópolis, de pressionar o go fora da área a ser demarcada, proposta derão adotar, além da decisão, tomada
verno federal para que não seja demar que provavelmente será rejeitada pelos ontem, de reiniciar a picada demarcató
cada a área dos índios Apinajés. índios. (ESP, 01/12/1985). ria às 8h30. Sob a chefia do cacique txu
José Freire, segundo a Funai, vai a Bra carramãe Raoni, os índios tentarão iso
sília com outros políticos do Norte de lar uma área de 148.600 hectares em dis
Goiás para conversar com o ministro pa Novo prazo puta com fazendeiros e posseiros.
ra Assuntos Fundiários, Danilo Ventu para demarcação
rini. Ele pretenderia impedir que, na
reunião marcada para o próximo dia 31, Os índios da aldeia apinajé decidiram
ontem, após várias horas de reunião,
aguardar até segunda-feira a visita dos
membros do grupo interministerial que
estuda a demarcação da reserva indí
gena na região. A remarcação está inter
rompida há nove dias para esperar a de
cisão do grupo.

271
s! Z_Acervo
–/ { Evºs NDIGENAs No BRASIL/CED
A decisão dos índios de reiniciar as pi lizaram, anteontem, na área, ficou bem FUNAI anuncia
cadas na mata aumentou a tensão na caracterizado que o número de posses solução próxima
cidade de Tocantinópolis, a 25 quilôme existentes com benfeitorias não é grande
tros da aldeia São José, dos apinagés, e que os apinajés são os maiores produ Enquanto assessores da Funai informa
onde desembarcam, diariamente, refor tores de arroz da região. “Os posseiros vam em Brasília que o presidente Figuei
ços armados procedentes de tribos das — disse Marabuto — ocupam, na ver redo deve assinar decreto criando para
regiões próximas ao território em confli dade, 30% da área”. A Funai, segundo os índios apinajés do Norte de Goiás
to. Os reforços chegam também para os ele, estaria disposta a abrir mão de uma reserva de 130 mil hectares, 18.600
fazendeiros: pistoleiros contratados es 18.000 hectares ao Norte de Cocalinho, a menos do que a proposta apresentada
tão concentrados nas fazendas prontos masjamais deixar este antigo aldeamen anteriormente pela Funai e 27 mil a mais
para marchar em direção à aldeia, mes to fora dos limites da reserva indígena. do que queria o Ministério Extraordiná
mo sabendo da existência da barreira de “A Funai não abre mão da margem Oes rio para Assuntos Fundiários, em To
120 homens da Polícia Militar de Goiás. te da Transamazônica, como quer o cantinópolis, sob a proteção de guerrei
Os apinajés estavam dispostos a incen Meaf" — concluiu Marabuto. (ESP, ros armados, mais de cem índios come
diar as casas abandonadas pelos possei 06/02/85). çaram ontem a abrir picadas no meio da
ros, às margens da estrada que leva à mata, a menos de três quilômetros do
aldeia, sendo controlados pelo cacique centro da cidade, dando início à demar
Francisco, que reuniu seus guerreiros, Persiste o impasse cação dos 148 mil hectares de terras que
prometendo começar o dia, hoje, com a tribo quer.
uma grande concentração disposta a re Apesar das ameaças de conflitos graves O bloqueio da rodovia Transamazônica,
pelir à força qualquer tentativa de adia entre índios, posseiros e fazendeiros, o imposto por 24 horas pelos indígenas co
mento da demarcação. Referindo-se ao governo federal adiou ontem mais uma mandados pelo cacique tchucarramãe
presidente da Funai, Francisco afirmou: vez a definição da área a ser destinada à Raoni, que lidera o movimento dos api
“Marabuto precisa saber que índio não reserva indígena apinajé. najés, foi suspenso diante da promessa
é santo para viver de promessa”. O assunto provocou ontem dois encon de Marabuto apresentar hoje aos chefes
Sob o comando de Raoni, darão cober tros entre os ministros — um pela ma de oito tribos reunidos na aldeia São Jo
tura aos apinajés, guerreiros de mais seis nhã e outro, de duas horas, no início da sé, uma definição do governo federal
tribos txucarramãe, crenacarore; caro, tarde. Depois, cada um retornou à sua para acabar com o conflito, que se arras
canela, xavante e terena, como afirma área para analisar as propostas em nego ta há um mês.
o cacique, todos “de cabeça quente”. ciação. O Getat e o Ministério para As Desde que a disputa pelas terras que cir
Muitos estão a mais de um mês dis suntos Fundiários não concordam em cundam Tocantinópolis tomou aspecto
tantes de suas aldeias e famílias e per ceder as terras a oeste da rodovia Tran de guerra essa foi a primeira vez que os
cebe-se facilmente a irritação pela forma samazônica, que corta a reserva, ale apinajés comandados por Raoni chega
como estão sendo tratados nesse conflito gando razões de segurança nacional. ram tão perto da área urbana, fazendo
com os brancos. Desde que o deputado Essa recusa resulta na redução da área com que o presidente da Câmara local,
Mário Juruna, do PDT do Rio, fez um indígena para 103 mil hectares. Evandro Guimarães, reunisse em sua
discurso inflamado na aldeia contra os O governo encaminhou consulta à Pro casa mais de 20 fazendeiros dispostos a
brancos, a palavra de ordem passou a curadoria Geral da República sobre a formar milícias civis para enfrentar os
ser “índio não é palhaço”. (ESP, 06/02/ situação jurídica das terras abarcadas índios.
1985). pela reserva. A área é composta por ter O presidente da CNBB, d. Ivo Lorschei
ras particulares e devolutas da União e der, falou ontem pelo telefone com o mi
do Estado de Goiás, além de uma par nistro Danilo Venturini e com o gover
Questão agora cela ocupada ilegalmente por posseiros. nador de Goiás, Iris Resende. O general
é entre ministros A maior preocupação da Funai é o esgo garantiu que na segunda-feira surgirá
tamento das possibilidades de argumen uma solução satisfatória, enquanto o
O presidente da Funai, anunciou ontem tação com os índios. Segundo o serta governador informou que manterá a se
à tarde que as negociações entre o Meaf mista Cláudio Romero, que se encontra gurança e pensa em ressarcir os colonos
e a Funai, para uma solução do conflito na área, ontem ainda foi possível desmo que terão de sair das terras. (ESP, 08/
na área dos índios apinajés, chegara a bilizar um grupo de índios que iniciou a 02/1985).
um impasse, depois de uma reunião do interdição da Transamazônica. Hoje,
grupo interministerial que estuda o pro ela é quase inevitável. Além disso, os
blema. A questão foi transferida ontem apinajés prometem retornar as picadas Transferida luta
mesmo para os ministros do Interior, no mato, marcando o que consideram a para Brasília
Mário Andreazza, e do Meaf, Danilo sua posse. Através de rádio, Romero in
Venturini, que vão analisar hoje as duas formou também à Funai que a indefini Tão logo foram informados pelo presi
propostas que existem: a da Funai, que ção do governo está provocando intram dente da Funai, Nélson Marabuto, e
defende a demarcação de uma área de qüilidade entre os posseiros, que come pelo sertanista Cláudio Romero, que o
148.600 hectares para os apinajés e a do çam a fugir sem saber para onde ir. governo vai demarcar 130 mil hectares
Meaf, através do Getat, que insiste em Hoje Mário Andreazza e Danilo Ventu de reserva para os índios apinajés, no
diminuir a área para que a reserva não rini deverão voltar a discutir o assunto, Norte de Goiás, sete caciques, represen
englobe um trecho da rodovia Transa Uma alternativa oferecida pela Funai tando tribos em conflito com fazendei
mazônica. seria a delimitação da área apinajé em ros pela posse das terras, deixaram suas
Marabuto disse que no sobrevôo que os 130 mil hectares. Ficaria de fora da re bordunas e espingardas e tomaram o
membros do grupo interministerial rea serva uma área de 18 mil hectares loca
lizada ao norte, da qual os próprios ín
dios aceitariam abrir mão. (FSP, 07/02/
1985), •

272
sL7-Acervo
_/\ | <> A
GOIÁS/LESTE DO MATO GROSSO 15

avião Bandeirante da Funai, transferin do governador daquele Estado, Iris Re Marabuto, disse que já na próxima
do sua luta para Brasília. De lá, eles só zende. Este, momentos antes do presi quarta-feira a 4º Diretoria do Serviço
pretendem voltar com um decreto que dente João Figueiredo firmar o docu Geográfico do Exército iniciará o traba
permita a demarcação pacífica da área mento cedendo 143 mil e 600 hectares de lho de demarcação da área. (ESP, 15/
indígena. (ESP, 09/02/1985). terras para aquela comunidade indíge 02/1985).
na, convenceu-o de que deveria reduzir o
espaço argumentando que esta área se
Raoni irá ao Planalto ria aproveitada para a implantação de fndios repudiam
projetos econômicos. o decreto
O cacique Txucarramãe Raoni ameaçou Dessa forma, o governador colocou por
ontem ir ao Palácio do Planalto caso o terra o difícil, mas afinal alcançado, A definição da reserva indígena apinajé
governo federal não chegue hoje a uma acordo entre os ministros do Interior, nos termos impostos pelo governo fede
definição a respeito da demarcação da Mário Andreazza, e Extraordinário ral começou a provocar os primeiros
reserva indígena dos apinajés, Raoni para Assuntos Fundiários, general Da protestos: um grupo de quatro líderes
está em Brasília desde sexta-feira, com nilo venturini — também secretário-ge está em Brasília desde a noite de quinta
sete outros caciques, dos quais dois api ral do Conselho de Segurança Nacional feira para tentar insistir na concessão
najés, e ontem manteve encontro pela — para a resolução da questão Apinajé dos 148.600 hectares reivindicados ori
manhã com o presidente da Funai, Nél que se arrasta, em forma de conflitos ginalmente. Os índios protestam pela
son Marabuto, no qual insistiram na crescentes, desde novembro. perda de uma área ao sul da reserva,
concessão de 148.600 hectares. Iris Resende, inconformado com a deci onde estão cultivados seis alqueires de
Ontem, os ministros do Interior, Mário são dos dois ministros passou o dia nego arroz que sustentam a aldeia São José,
Andreazza, e de Assuntos Fundiários, ciando a redução do território, obtendo conforme explicou o antropólogo Gil
Danilo Venturini, estiveram permanen o seu intento ontem, com a solicitação e berto Azanha,
temente em contato, discutindo os últi retirar não apenas a parte sul da reserva, Segundo ele, o decreto criando a reserva
mos detalhes da exposição de motivos do próxima à cidade de Tocantinópolis — e autorizando a demarcação, assinado
decreto de demarcação. Segundo infor onde se situam muitos dos seus eleitores pelo presidente Figueiredo, “foi um ar
mou ontem a assessoria de imprensa do —, como também parte de limite norte, ranjo de gabinete que não tem a menor
Ministério do Interior, a previsão é de inclusive cortando uma área da aldeia relação com a realidade dos índios”.
# que este decreto seja submetido hoje ao sagrada de Cocalinho. Azanha acha que os caciques que vieram
presidente Figueiredo pelo ministro An Há um forte temor no sentido de que o a Brasília e aceitaram a proposta do go
dreazza. (FSP, 12/02/1985). Governo Federal decida baixar decreto verno foram pressionados e agora terão
autoritário, acatando a proposta de Iris de enfrentar problemas internos. A área
Rezende, “o que teria resultados inima recebida ao norte, em troca das terras
Nova proposta gináveis”. (Jornal de Brasília, 14/02/ que perderam ao sul — que ficam a oeste
1985). da rodovia Transamazônica —, é um
O presidente da Funai, Nélson Mara cerrado, onde os apinajés não costumam
buto, garantiu ontem que os ministros circular,
do Interior, Mário Andreazza e para As Decreto Presidencial O grupo que discorda dos limites da re
suntos Fundiários, Danilo Venturini, serva — ex-capitão Romão, Maria Bar
depois de muitas negociações chegaram O Presidente da República através do bosa, Grossinho e Juvelina — deve per
a um acordo quanto aos limites da área Decreto nº 90.960 de 14/02/85 declara manecer em Brasília até a segunda-fei
que será demarcada para os índios api de ocupação dos silvícolas a Área Indí ra, quando deverá retornar o presidente
najés no extremo Norte de Goiás: a re gena Apinayé, no Município de Tocanti da Funai, Nélson Marabuto, que via
serva terá 142.800 hectares. Com a nova nópolis e Itaguatins, GO. (Diário Ofi jou para o Amazonas. (FSP, 16/02/
proposta os índios perdem terras ao Sul cial da União, 15/02/1985). 1985).
próximo a Tocantinópolis, mas terão
sua área aumentada no limite Norte
Leste. Além disso, a Transamazônica Decreto assinado Denúncia de saques
passará a ser o limite Oeste do território
indígena, como postulava o Conselho de O ministro do Interior, Mário Andreaz O delegado de polícia de Tocantinópo
Segurança Nacional, a não ser na região za, anunciou ontem que o presidente Fi Eis, Domingo Teixeira de Jesus, saiu on
próxima à aldeia de Cocalinho, onde gueiredo assinou decreto concedendo tem em diligência até a localidade de Co
será construída uma variante para a ro 143 mil hectares para os índios Apina calinho, onde antes existia uma aldeia
dovia, que deixará a aldeia dentro do jés, no Norte de Goiás. A proposta final Apinajé, para confirmar denúncias de
perímetro a ser demarcado. (ESP, 13/ mente aprovada é a mesma que foi dis que os índios teriam invadido uma fa
02/1985). cutida esta semana pelos ministros do zenda, matado animais e expulsado os
Interior e dos Assuntos Fundiários, Da moradores. A fazenda fica dentro da re
nilo Venturini, e atende a exigência do serva conquistada pelos Apinajé mas a
Íris intervém Conselho de Segurança Nacional de demarcação ainda não atingiu aquela
no decreto não-anexação de longo trecho da Tran área. O Presidente da Câmara Munici
samazônica à área apinajé. Os índios pal, vereador Evandro Guimarães, in
Frustração total. Esse era o clima, on perdem terras ao Sul, mas ganham ao formou, no início da noite, que a fazem
tem, entre os índios Apinajé, de Tocan Norte, e o presidente da Funai, Nélson da de João Ressaca, a 62 quilômetros da
tinópolis, norte de Goiás, que se encon cidade de Tocantinópolis também so
travam na Funai aguardando a prome freu a invasão dos índios. (O Popular,
tida assinatura do decreto demarcatório 02/03/1985).
de suas terras para ontem, mais uma vez
adiada, e agora por intervenção direta
273
INDÍGENAS NO BRASIL/CEDI

AVÁ-CANOEIRO:
OS ÍNDIOS
NA CLANDESTINIDADE
Obrigados a uma inteminável
marcha forçada, pequenos
grupos de arredios vivem perseguidos
no centro-sul goiano

André A. Toral*

D vivem através da caça, da coleta, do abate de


ivididos em pequenos grupos “arredios” que sobre
gado,
A ausência de notícias desses índios em 1984, representa
exatamente esta tentativa de se tentar esconder o que real
cavalos e burros, bem como do saque nas roças da mente aconteceu. Em outras palavras, quem sabe silencia,
região, os Avá-Canoeiro aparentemente não apresentam ou para não se "complicar".
tras particularidades que os diferenciaram dos vários gru
pos indígenas "sem contato” que vivem atualmente no Bra
sil. Apesar de hostilizados e caçados por expedições particula
A particularidade dos Avá-Canoeiro reside não no seu modo res ou oficiais desde o século XVIII, os grupos Avá-Canoei
de vida e sim na localização da sua zona de perambulação: ro conseguiram sobreviver em areas de pouca concentração
o centro-sul goiano e parte do Distrito Federal. Deslocando populacional e fracamente relacionadas economicamente
se numa região assim tão ocupada, os Avá-Canoeiro na ver com o resto do estado de Goiás e do país. A partir dos anos
dade são obrigados a uma interminável marcha forçada que 70, esta situação começa a mudar. Com a construção da
só poderáque
daqueles terminar com uma cilada bem-sucedida por parte
os perseguem. •
rodovia Belém-Brasília veio a valorização de extensas áreas
do estado de Goiás. Encurralados, os grupos Avá-Canoeiro
têm cada vez menos chances de passarem despercebidos. Os
Em função das hostilidades da população regional, os Avá abates de animais tornam-se evidentes e expedições de
Canoeiro se mantêm permanentemente em movimento, “atração” passam a ser exigidas pela opinião pública, e pe
atingindo regiões onde sua presença é absolutamente des los fazendeiros interessados.
conhecida. Só em 1984, o grupo de arredios do alto Tocan
tins percorreu pelo menos cinco ou seis municípios, indo do Em 1973, parte do grupo do Araguaia, que vivia entre os
centro de Goiás até o município mineiro de Unaí, próximo rios Javaé e Formoso, é literalmente capturada pelo serta
aos limites dos dois estados. nista da FUNAI Apoena Meirelles, sendo rapidamente
transferido das terras que ocupava, na Agropastoril Canoa
Mestres em se esconder, sua presença só é notada pelos aba nãS.A., de propriedade do grupo BRADESCO, para o Par
tes de animais e pelos saques em roças que são forçados a que Indígena do Araguaia. O restante do grupo, refugiou
praticar, uma vez que estão impossibilitados de colocarem se na Mata do mamão, enorme formação florestal nas terras
roças ou se fixarem num local. Quando um proprietário do Parque Nacional do Araguaia (do IBDF), onde se encon
descobre sua presença, procura eliminá-los o mais rápido ram até hoje. Em 1984, fazendeiros e arrendatários do PNA
possível. Não só pelos prejuízos que já teve na sua criação e e do PQARA dirigiram-se ao chefe do Posto Indígena Ca
roças, mas também para evitar complicações na regulariza noanã, o mais próximo da região e reclamaram providên
ção do seu título de propriedade. Conversando com fazen cias ante o contínuo abate de gado. Como nenhuma medida
deiros das regiões onde os Avá-Canoeiro apareceram, ouvi
invariavelmente que “aqui nunca teve índio".

(*) André A. Toral é antropólogo e atualmente faz mestrado em Antropo


logia Social no Museu Nacional da UFRR. •

274
GOIAS/LESTE DO MATO GROSSO 17

Os quatro contatados
no PIA Avá-Canoeiro,
com o casal de funcionários
da FUNAI.

==

foi tomada pelas "autoridades competentes", á perfeita A população estimada dos Avá-Canoeiro é a seguinte:
mente possível que eles mesmos tenham se decidido a tomá
las, tratando de eliminar ou de espantar os índios para grupo do Araguaia
longe. arredios na Mata do Mamão....................... 15
contatados no P.I. Canoanã ....................... 07
O restante do grupo vive na região do alto Tocantins. Tam
bém lá existem dois grupos, os “arredios" e os "contata grupo do alto Tocantins
dos”. Os últimos foram capturados em 1983. Os arredios arredios do rio Manuel Alves ...................... 15
faziam parte do grupo que foi capturado pelos frentistas da contatados no P.I.A. Avá-Canoeiro ............. .... 04
FUNAI em 1983, e que tinha como habitat, até o final da arredios do rio Preto . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .... 15
década de 70, as serras próximas aos formadores do alto Total: . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 56
Tocantins, de onde foram expulsos a bala por fazendeiros,
especuladores e funcionários da FUNAI, como o sertanista
Israel Praxedes (recentemente falecido), que grilou as terras E evidente que esta situação só se alterará quando a locali
onde este grupo mantinha roças e, inclusive, abriu uma fa zação e a situação dos grupos arredios for conhecida com
zenda, de sua "propriedade", na zona de perambulação dos segurança. Além desse trabalho, depois do qual se inicia
índios. riam os de "atração", torna-se indispensável uma mudança
da atitude daqueles que serão responsáveis pelo contato.
Atualmente, não se sabe o número exato de grupos arredios
no alto Tocantins. Sua presença é assinalada tanto nas re Com efeito, a história dos "contatos" feitos com os Avá
giões próximas ao local onde está o grupo “contatado", Canoeiro apresenta uma constante: o imediatismo dos fren
como em regiões distantes 300 km deste ponto. Em março tista, motivados por razões de prestígio pessoal e funcional,
de 1984, chegaram ao município mineiro de Unaí, onde sua acabou por causar separações traumáticas que dividiram os
presença foi descoberta graças aos abates que promoviam. grupos em “arredios” e “contatados”. Por baixo desses eu
Foram metralhados pelo destacamento local da PM, cujos femismos na verdade está-se denominando grupos “captu
comandantes acreditavam que os índios eram “animais”. rados" e grupos ainda "soltos".
Depois desse episódio, foram cercados numa pequena mata
por uma expedição de fazendeiros locais e estavam na imi Ao invés de um trabalho de "atração" que visasse a totali
nência de serem eliminados, quando chegaram represen dade do grupo, as expedições oficiais aos Avá-Canoeiro pa
tantes da FUNAI e impediram o massacre. Esta foi a última recem ter se movido por um irresponsável pragmatismo
notícia desse grupo. Ao que tudo indica, eles aparentemente onde "mais vale um índio na mão que dois no mato". Em
retornaram à sua região de origem, buscando a proximi meio às muitas violências cometidas nas "operações de con
dade de seus parentes já "contatados". tato", é de se supor que os “arredios" busquem escapar aos
frentistas da FUNAI com a o mesmo desespero com que
procuram se safar de seus perseguidores da região, uma vez
que os métodos empregados são os mesmos.

275
*
—/\ #
| >A INDÍGENAS NO BRASIL/CEDI

Aconteceu na imprensa
denúncia foi apresentada ontem pelo Koxini vai dirigir
antropólogo André Toral, do Museu Na
o Parque
cional do Rio de Janeiro. A seqüência
Cavalos abatidos dos assassinatos, afirma Toral, “deve-se O Parque Indígena do Araguaia — loca
ao envolvimento dos funcionários da Fu lizado na Ilha do Bananal — está, a
A apenas 160 quilômetros da Capital fe nai em transações com as terras ocupa exemplo do Xingu, sendo também ad
deral, no município de Unaí (GO), um das pelos índios”. ministrado por um índio. Ontem, o pre
grupo de índios arredios vive sem qual De acordo com a denúncia do antropó sidente da Funai, Jurandy Fonseca, em
quer contato com a civilização dos bran logo, o sertanista Israel Praxedes, encar possou no cargo o karajá Daniel Coxini,
cos. A presença do grupo na região foi regado do contato com os avá-canoeiros, que volta a sua tribo depois de ter mo
descoberta por fazendeiros, que tiveram é o principal envolvido na venda de ter rado por mais de vinte anos em Brasília,
diversos cavalos abatidos e encontraram ras desses índios. “Seu método — relata onde exerceu funções até mesmo na Pre
vestígios, como flechas, facões, até mes o antropólogo — é simples: ele chega nas sidência da República.
mo três malocas de palha, no local onde proximidades do rio Maranhão (onde vi A indicação de Coxini, para a adminis
os índios, itinerantes, estiveram até o fi vem os índios) e encontra um morador. tração do parque aconteceu num mo
nal do mês passado. Esta semana, o ser Alegando a existência de índios no local mento em que os karajás se deparam
tanista Odenir Silva, funcionário da Co e usando sua autoridade de represen com uma ameaça de violação da reserva,
missão do Índio da Câmara, esteve na tante da Funai, interdita e desapropria a materializada pelo projeto de constru
região. Ele acha que os indígenas devem área para fazer a atração. Mas, ao invés ção da Transaraguaia, uma estrada que
pertencer ao grupo dos Avá-Canoeiro, e disso, vende a posse e se encarrega de cortará a Ilha do Bananal, ligando a Be
estão fazendo uma espécie de “cami “limpar a área, retirando os índios para lém-Brasília ao município de Santa Te
nhada” para o Sul, analisando-se os ves outro local, para onde ele iria logo em resinha.
tígios deixados. O sertanista — enviado seguida para fazer outra atração”. (Fo A Construção da estrada está sendo con
à área pelo Deputado Mário Juruna, que lha da Tarde, 17/09/84). siderada como um fato consumado pelo
recebeu uma carta dos fazendeiros aler novo administrador, que já pensa até em
tando para a presença dos índios — acha cobrar pedágio a seus usuários. A maio
que a situação está-se tornando cada vez ria dos caciques, no entanto, considera a
mais delicada, pois os fazendeiros estão
revoltados com a perda de seus animais,
__rARAIA E AvAE | Transaraguaia como a porta aberta para
a entrada de grileiros no parque e ainda
que os índios caçam para comer. Além Novo Testamento para a prática da caça e da pesca preda
disso, ele considera que o grupo, prova tórias, como esclareceu o cacique João,
velmente abrigado hoje na descida de O presidente Figueiredo recebeu, on da aldeia de Boto Velho.
uma pequena montanha, está ficando tem, de representantes do SIL um exem Ontem, na posse de Coxini, o cacique
“encurralado”. O Delegado de Polícia plar do Novo Testamento escrito em lín Raoni — txucarramãe — e um cacique
de Unaí enviou ofício à Funai, no último gua dos índios Carajás. A entrega do do Guajajara, do Maranhão, participaram
dia 31, pedindo a presença de uma equi cumento religioso foi feita pelo cacique das festividades na aldeia de Santa Isa
pe para tentar contato com o grupo e destes indígenas, Iajarroni. A audiência bel do Morro, onde houve danças, lutas
resolver a situação. Ele acha que tal com Figueiredo estavam presentes o di e churrascos. Eles integravam a comi
grupo é formado por cerca de 10 a 15 ín retor do Instituto, Guilherme Taylor, o tiva da Funai e, segundo o seu presiden
dios. Até agora a Funai não atendeu ao relações públicas James Wilson, acom te, estão mantendo contatos com ou
pedido. (O Globo, 15/4/84). panhados do índio Iajarroni. O Presi tras tribos para conhecerem os proble
dente da República disse aos represen mas indígenas como um todo, e não ape
tantes do Instituto que já conhecia al nas os existentes nos limites de suas al
Vítimas dos fazendeiros guma coisa da língua dos Guaranis e pe deias. (Ultima Hora, BR, 18/06/84).
e de funcionários
diu explicações sobre saudações e despe
didas em Carajá. (Correio Braziliense,
A 200 quilômetros de Brasília, nos Mu 30/03/84). FUNAI diz que vai ouvir
nicípios de Minaçu e Cavalcanti (GO), IBDF, CSN e os índios
sobreviventes do grupo avá-canoeiro es
A construção da rodovia Transaraguaia
tão sendo “perseguidos e mortos por fa
zendeiros, como se fossem animais”. A cujo traçado previsto corta o norte do
Parque I. do Araguaia, será o tema prin
cipal dos encontros que o presidente da
Funai, Jurandy M. da Fonseca, manterá
hoje à tarde no IBDF e no CSN.

276
GOIÁS/LESTE DO MATO GROSSO 19

s Karajá dançam o Aruanã, na posse do novo diretor do RA (da esq. para .) Jurandy Fonseca, Daniel Koxini (o diretor),
Juruna, um Karajá e Raoni.

Ele quer saber por que foram iniciados Dependendo do grau de aculturação que em todos os documentos a que teve
os estudos para a construção dessa estra (que ele também pretende levantar) das acesso sobre o assunto está evidente que
da — “eu peguei o bonde andando” — e tribos residentes ao Norte do Parque, Ju o objetivo seria atender a região. (Jornal
o que pensa o IBDF a respeito. O Ins randy Fonseca condenaria a construção de Brasília, 19/06/84).
tituto detém 1/3 da Ilha do Bananal e da Transaraguaia, que poderia provocar
exatamente no ponto onde suas terras se desequilíbrios na região. Ele pensa em
limitam com as do Parque é que a rodo tomar conhecimento também dos aspec Diretor do Parque
via seria construída. Depois da reunião tos puramente técnicos, já que, de acor
no IBDF, Jurandy vai ao Conselho de do com informações dos habitantes da aceita a estrada
Segurança Nacional, que teria partici área, a estrada não resistiria à primeira O diretor do Parque Indígena do Ara
pado da decisão sobre a estrada. De pos enchente do ano. guaia, o índio Daniel Koxini, em reu
se das informações colhidas nesses dois Questionado se um dos objetivos da nião realizada sábado com fazendeiros
órgãos, o presidente da Funai irá proporTransaraguaia não seria atender a inte da região, concordou com a abertura da
uma mesa-redonda, com a participação resses particulares — conforme a versão rodovia Transaraguaia que vai cortar a
da comunidade indígena, pois considera corrente em São Félix do Araguaia, um Ilha do Bananal, passando próxima à al
fundamental ouvir a opinião dos índios. dos beneficiários seria o superintenden deia Javaé de Boto Velho. Em troca, os
te da Sudeco, René Pompeo de Pina,
que tem uma fazenda no município de
Santa Terezinha — o presidente da Fu
nai descartou essa possibilidade, consi
derando-a uma especulação, e ressaltou

277
*
Acervo

__{ | #A INDÍGENAS NO BRASIL/CED]

fazendeiros interessados na abertura da


Indios querem indenização A inclusão da Mata do Mamão na reser
estrada que ligará o Vale do Rio Xingu e e fiscalização va indígena da Funai na opinião de Ma
o Vale do Araguaia à rodovia Belém rabuto, não contraria os interesses do
Brasília doarão aos índios Cr$ 300 mi Os índios Karajá, da Ilha do Bananal, IBDF de preservação da fauna e flora,
lhões. -
ameaçaram ontem incendiar os tratores, uma vez que o “índio não destrói o que
O bispo de São Félix do Araguaia, dom caminhões e máquinas para construção. foi criado pela natureza”.
Pedro Casaldáliga, prelazia que atende da estrada Transaraguaia, que corta a Daniel Koxinin — índio confirmado, no
à Ilha do Bananal, criticou a atitude to reserva, caso a SUDECO não suspenda. cargo de administrador da Reserva da
mada pelo diretor do parque, nomeado os trabalhos e mande retirar imediata Ilha do Bananal, ontem pelo presidente
pelo novo presidente da Funai, Jurandy mente o equipamento da área. A infor da Funai, disse que o que interessa basi
Marcos da Fonseca, para o cargo, afir mação é do índio Idjarrure Karajá, che camente é criar uma infra-estrutura que
mando que muitos grupos indígenas que fe do posto indígena Santa Isabel do permita a melhora de condições de vida
vivem na ilha, até mesmo os javaés que Morro, sede do Parque do Araguaia, do índio que habita na região. “Entre
serão mais diretamente atingidos, não que recebeu ontem um radiograma do essas comunidades indígenas três tribos
participaram da reunião, que foi reali diretor do parque, Daniel Coxini, infor já desenvolvem atividades agrícolas e pe
zada em Santa Isabel, onde vivem os ca mando que estava se deslocando para a cuárias, os Karajás, Tapirapé e os Ja
rajás. aldeia de Boto Velho, ao norte da Ilha, vaés. (Jornal de Brasília, 02/10/84).
Ontem, em Brasília, o assessor do presi para impedir a construção da estrada.
dente da Funai, Porfírio Carvalho, disse A construção do trecho final da Transa
que o órgão está estudando a questão raguaia — que ligará o Vale do Xingu ao Os Karajá |
mas, em princípio, não aceita a decisão Vale do Araguaia, fazendo conexão com de Marranduba
tomada pelo diretor do Parque do Ara a Belém-Brasília — estava paralisada há
guaia. alguns meses, já que a comunidade Ca Doentes e passando fome, os índios Ka
Segundo informações da área, numa rajá é totalmente contrária ao projeto, rajá da aldeia Marranduba, em Santana
primeira reunião realizada na ilha, se que destruirá um sítio sagrado em Boto do Araguaia, sul do Pará, não acreditam
'mana passada, com a participação de Velho. No final de agosto, o superinten mais na Funai. O capitão da aldeia, Má
representantes da Funai, Incra e IBDF, dente da SUDECO, René Pompeu de rio Pereira, enviou carta para Brasília
ficou definida uma posição contrária à Pina, enviou ofício ao presidente da FU pedindo socorro. Na carta, ele diz: “Nós
construção da estrada. (ESP, 15/08/ NAI Jurandy Moraes da Fonseca, avi estamos passando fome, não tem mais
84). sando que a obra deveria ser reiniciada peixe, tartaruga e tracajá, os de fora le
“com a maior urgência” e que o blo varam tudo”. Esses índios vivem às mar
queio pelos índios no local estava cau gens do rio Araguaia.
Senador critica estrada sando grandes prejuízos financeiros. Informa ainda o capitão da aldeia Mar
Segundo Idjarrure, que seguirá para a randuba que toda a tribo “está muito
“A máfia que promove a destruição em Ilha do Bananal, os índios estariam dis doente, com sarampo, febres todo dia e
grande escala da Ilha do Bananal, a qual postos a aceitar a construção da Transa ninguém mais dorme direito. Não temos
o IBDF declara não estar em condições raguaia em troca da montagem de uma remédio e nós já procuramos Funai da
de combater e eliminar, terá a seu dispor infra-estrutura na aldeia de Boto Velho, qui do Araguaia, mas, eles não resolvem
e para sua comodidade, a existência de a fim de que eles pudessem fiscalizar o nada. Não deixam a gente usar barco
uma estrada que corta toda a ilha, faci tráfego e o pagamento de uma indeniza para pescar e sempre dizem que não tem
litando grandemente o exercício de suas ção de Cr$ 300 milhões. Até agora, os óleo para o motor, porque não têm di
sinistras atividades”. A afirmação é do fazendeiros da região interessados na nheiro”. •

senador Mauro Borges, do PMDB de obra não concordaram com a proposta. Mário Pereira está sendo ameaçadotam
Goiás, em discurso proferidó da tribuna (Diário Popular, 14/09/84). bém de perder o comando da aldeia por
do Senado. Acrescentou ainda que o que os funcionários do órgão tutor dos
Parque Nacional do Araguaia, que jun índios decidiram trocar a chefia. A mu
tamente com o parque indígena compõe Indios, FUNAI dança de chefe desagrada aos demais ín
a Ilha do Bananal, se de há muito vem dios, entre eles o líder Alfredo, que pro
e empresários discutem
conhecendo a ação predatória dos seus testa, dizendo que “Funai não pode se
ecossistemas, desde que foi criado, há 24 O presidenté da Funai, Nelson Mara intrometer no nosso povo desse jeito”.
anos, ficará agora, com a construção da buto, reuniu-se ontem, na Ilha do Ba A área dos Karajá de Marranduba já
estrada, exposto à sanha devastadora manal, no Posto Indígena de Santa Isa está demarcada, mas tanto o capitão da
dessa máfia. (Jornal de Brasília, 22/08 bel, com os Híderes das comunidades in aldeia como o líder Alfredo reclamam da
84). •
dígenas, empresários da região, tendo falta de fiscalização dos limites, dizendo
como intermediário o deputado Mário que “a Funai não dá nem arame farpado
Juruna. Os caciques da região do Ara para cercar nossa terra e logo vai apare
guaia impuseram para a construção da cer invasor, por isso queremos que as
rodovia Transaraguaia que o presidente autoridades façam alguma coisa porque
Figueiredo assine um decreto que ga nosso povo é pequeno e assim nós vamos
ranta a posse e o uso das terras ocupadas desaparecer”. (Cidade de Santos, 03/
pelas sete tribos que habitam a Ilha do 11/84).
Bananal, incluindo
da Mata do Mamão. a reserva ecológica

278
SPHAN discute Outra vítima da destruição ambiental Na sede da Funai, o subdelegado Hélio
tombamento da Ilha da ilha são os índios carajás, habitantes Santana, que exerce as funções do ex
naturais da região. Hoje não chegam a delegado, não quer dar declarações, ale
Entre outubro e dezembro do ano pas dois mil, de acordo com Baiocchi. Coe gando ter sido proibido pela Funai de
sado, a Subsecretaria do SPHAN rece xistem com 20 mil cabeças de gado, cer falar sobre o assunto.
beu dois pedidos de tombamento que ca de 200 posseiros e a rodovia GO-262, O índio Terena — David de Oliveira —,
surpreenderam seus técnicos e diretores: que corta o Norte da ilha, dividindo o de 43 anos, chegou ao posto indígena de
o da Ilha do Bananal, e o do Pantanal Parque Nacional e a Reserva Indígena Berigara, no Pantanal, indicado por
Sul-Matogrossense. Um ano depois, do Araguaia. (JB, 6/12/84). seus companheiros para ser o novo dele
uma dúvida ainda persiste: seria essa a gado da Funai em Cuiabá, reafirmou
melhor forma para evitar-se o prossegui que “os índios não vão voltar atrás nas
mento da destruição nas áreas de ines suas pretensões e, caso não seja esco
timáveis riquezas ecológicas? lhido um nome da lista de cinco que en
A fim de definir qual a modalidade ideal viaram ao Ministério do Interior e à Fu
para a preservação dos patrimônios na Indios ameaçam invadir nai, se pintarão e tomarão a delegacia da
turais, cerca de 40 técnicos e pesquisa Funai”.
dores dos problemas ambientais da Re Descontentes com a nomeação de um Os cinco nomes indicados para o cargo
gião Centro-Oeste reuniram-se durante novo delegado para a DR-5, índios de de delegado da Funai na DR-5 são: Da
três dias em Brasília, na sede da 8° dire todo o Mato Grosso estão ameaçando vid de Oliveira, Estevão Taukani (índio
toria regional da SPHAN. Não chega ocupar o prédio da delegacia e impedir Bakairi), Osvaldo Cid Nunes da Cunha
ram a uma conclusão definitiva e nem que a nova autoridade tome posse. O (médico), Antônio João (indigenista) e
mesmo alcançaram uma posição co que revoltou os indígenas é o fato da Fu Idevar José Sardinha (vice-presidente da
mum sobre a questão. nai não ter ouvido suas reivindicações de Comissão Pró-Indio de Mato Grosso).
“O tombamento, de grande valor sim colocar uma pessoa de confiança dos ín (Folha da Tarde, 24/05/84).
bólico, é hoje a única saída para salvar a dios na delegacia e ter obedecido crité
Ilha do Bananal”, disse a antropóloga rios voltados a interesses políticos para a
Mari Baiocchi, professora da Universi nomeação do novo delegado, de quem só
dade Federal de Goiás e membro do se sabe o primeiro nome (Hamilton). Se
Conselho de Cultura do Estado. gundo lideranças indígenas, além de ser
“Falar em tombamento me assusta. É parente do governador de Mato Grosso, Garimpeiros ameaçam
uma atitude paternalista e sua aceitação ele foi indicado pelo senador Roberto Pimentel Barbosa
pelos índios é duvidosa”, questiona o so Campos.
ciólogo Olímpio Serra, ex-diretor do Ontem de manhã as lideranças indíge Grupos de garimpeiros da região de Ca
Parque Nacional do Araguaia, situado nas enviaram comunicado, através do rajás e do Rio Peixoto de Azevedo, no
na Ilha do Bananal conhecida como a rádio, a todos os postos da Funai do Es Pará, estão se organizando para explo
maior ilha fluvial do mundo. tado, solicitando que enviassem o maior rar ouro na reserva dos índios Xavante
A arquiteta Belmira Finageiv, diretora número possível de guerreiros para aju de Pimentel Barbosa, em Mato Grosso,
da 1° delegacia regional da SPHAN, dar na “tomada da Funai”. Os índios segundo denúncia feita, ontem, em Bra
procurou estabelecer um meio termo nos começaram a chegar ontem à noite a sília, pelo deputado Mário Juruna. De
debates. Para ela, é realmente necessá Cuiabá e estão esperando apenas a noti pois de visitar a área esta semana, Ju
rio serem repensadas as diretrizes da ficação da vinda do novo delegado para runa disse que a Polícia Federal e a Fu
atuação do órgão frente à questão do pa se dirigirem à sede da Funai e ocuparem nai conseguiram deter um grupo de 40
trimônio natural, mas acha uma “ilusão o prédio. Ainda ontem as lideranças in garimpeiros em Muritiá, onde algumas
pensar que o mero tombamento possa dígenas enviaram nova carta ao ministro pessoas haviam achado 50 gramas de
conter o processo de destruição ambien do Interior, Mário Andreazza, relem ouro em apenas dois dias de trabalho em
tal que as duas regiões vêm sofrendo”. brando o episódio ocorrido com os Txu terreno seco. Segundo o deputado, a no
A devastação da Ilha do Bananal e do carramãe e alertando para a “necessi tícia da existência de ouro nessa área
Pantanal são visíveis. Com 20 mil quilô dade do diálogo, do entendimento, en vem-se espalhando entre garimpeiros há
metros quadrados — 510 quilômetros de fim, de serem ouvidas todas as partens quatro anos. Por isso, a Funai iniciou
extensão por 140 de largura —, a ilha envolvidas em qualquer conflito”. uma campanha de esclarecimento entre
vem sendo palco da ocupação indiscri À tarde, ao tomarem conhecimento de os moradores de Barra do Garças e Xa
minada por parte de posseiros, pescado que já estaria assinada em Brasília por vantina, alertando que é proibido entrar
res, caçadores e criadores, segundo a taria que nomeou o novo delegado, uma nas áreas indígenas. Os Xavante espe
antropóloga Mari Baiocchi. “Seu ecos mensagem foi enviada ao Ministério do ram — continuou Juruna — que a FU
sistema está desequilibrado, as florestas Interior, comunicando a intenção das li NAIe a Polícia Federal impeçam a inva
acabaram, a fauna está vulnerável a deranças indígenas de não permitir a são. Mas, caso isso não ocorra, os pró
doenças, enfim, em pouco tempo não posse do novo delegado e apelando ao prios índios prometem reagir, junto com
restará mais nada”, alertou. bom senso do ministro, para que não os Xavante de outras reservas. (ESP, 27/
atenda a interesses da política mato 1/84).
grossense, “mas, sim aos interesses dos
índios”.

279
* #% •

=A_EVANINDIGENAs no esAsuced
Denúncia de invasão A reivindicação dos xavantes da aldeia Segundo o secretário, os índios Xavantes
Dom Bosco em relação à Volta Grande querem uma área que não pertence ao
Os índios xavante da aldeia Dom Bosco, — uma área de mata e cerrado, de 34 mil Estado e nem mesmo à União. “Esta
através do ex-cacique Nicolau Tsere hectares, que eles consideram sagrada área desejada pelos Xavantes pertence a
rowe e mais dois líderes, denunciaram não só por ser local de posse imemorial, particulares e tanto o Estado como a
ontem em Cuiabá a invasão de suas ter mas por ter o cemitério de seus antepas União não têm recursos para desapro
ras pelo fazendeiro Florindo Ferreira sados — é antiga. Dura há doze anos. priar os fazendeiros que estão estabele
que, segundo os líderes indígenas, diz (Diário de Cuiabá, 22/02/84). cidos naquele local”.
ter gasto mais de 200 milhões para regu Prosseguindo, Réu afirma que na reu
larizar a área junto ao governo do Es nião, foi proposto pelo Estado, apoio aos
tado. Xavantes no sentido de melhorar a pro
O Estado diz não
Os líderes xavante estão dispostos a dois dutividade da área que eles já possuem.
tipos de ação: primeiro, cobrar uma po No começo desta semana, os índios Xa Foi prometido também por parte do Es
sição do governador Júlio Campos que, vantes da Reserva de Sangradouro esti tado, ajuda na área de educação, com a
durante a campanha eleitoral, prome veram reunidos com o secretário para instalação de uma quinta série do pri
teu, em troca dos votos xavantes, resol Assuntos Fundiários, Nelson Réu, rei meiro grau e a construção de uma escola
ver o problema da terra promessa que foi vindicando junto às autoridades esta dentro da aldeia dos índios.
renovada durante a última Semana do duais e federal, que participaram da A desapropriação desejada pelos Xavan
Indio, quando o governador recebeu do reunião-a área de Volta Grande e Pin tes — disse o secretário — poderia ser
cacique Augusto, de Sangradouro, o tí daibão próximo à reserva onde residem. feito pelo Estado ou pela União, porém
tulo de “Amigo dos Índios”; segundo, se Por outro lado, na reunião ficou claro teria-se que desembolsar uma vultosa
o governo estadual ou federal não tomar que seria impossível atender o pedido quantia que Mato Grosso e a União não
uma providência concreta para expulsar dos índios e Nelson Réu explica a razão. têm, além de abrir um precedente, onde
o fazendeiro, os índios, por conta pró todos os índios que desejam aumentar
pria, vão fazê-lo, como já ocorreu ante suas reservas, tomariam como base esta
riormente em duas ocasiões, desapropriação desejada como justifica
tiva. (Diário de Cuiabá, 12/04/84).
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LESTE
Guarani/Serra da Bocaina (RJ)
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16 — LESTE

282
LESTE 3

QUADRO GERAL DOS POVOS INDÍGENAS DA ÁREA LESTE


N@ NO N? DE ALDEIAS OU
POVO MAPA NOME DA ÁREA MUNICÍPIO NoME DAS ALDEIAS POPULAÇÃO FONTE E DATA

}C AI Guarani Aldeia Paratí (RJ) 7 FUNAI: 83

GUARANI (l) Araponga - -

LA AI Guarani-Bracui Angra dos Reis (RJ)|Bracui 27 FUNAI: 82

lB AI Caieiras Velha Aracruz (ES) Boa Esperança {54 CIMI LESTE:85

KRENAK (2) 2 AI Krenak Resplendor (MG) Krenak }_02 CIMI LESTE:85

3 Faz. Guarani · Carmésia (BA) 62 Idem: 84


PATAXÓ 5 AI Barra Velha Porto Seguro (BA) 1.700 |Idem: 82

1.762 (T)

4 AI Maxakali Aldeia|Bertópolis (MG) 245 FUNAI: 84

Água Boa
MAXAKALI 4 AI Maxakali Aldeia|Bertópolis (MG) 276 | FUNAI: 84

Velha do Pradinho

521 (T)

PATAXÓ- 6A |Catarina Paraguassu|Pau-Brasil (BA) 1.200 |Idem: 83


HA-HA-HAE 6B Caramuru Itaju da Colônia(BA 1.400 |Idem: 85

(3) 2.600 (T)


lB AI Caieiras Velhas Aracruz (ES) 350 FUNAI: 84
TUPINIQUIM 7 AI Pau-Brasil Aracruz (ES) 249

AI Comboios Aracruz (ES) 285

884 (T)
Brejo do Mata Fome,
Boqueirão, Prata,
Sapé, Barreiro,
XAKRIABÁ. 8 AI Xakriabá Itacarambi (MG) e………………… CIMI LESTE: 85
Itacarambi,Ranchei
ra,Sumaré, Cezário,
São Domingos,
Riachinho, Defuntos||4.000 (T)

(1) ver também nas Áreas Sul e MS


(2) grupos dispersos em SP, MS e MT
(3) grupos na região de Ilhéus, sem informação

283
*
–/ #
| S.A. INDÍGENAS NO BRASIL/CED;

PROMESSAS OFICIAIS
O Governo de Minas, com Tancredo Neves,
reuniu os índios do Estado, ouviu
e fez promessas. Serão cumpridas?

José Carlos de Almeida Libânio (*)


C

Marcio Metzker (**)

primeira de uma série de medidas executadas pelo Essa foi a herança encontrada pelo Governador Tancredo
A então governador do Estado de Minas Gerais, Tan
credo de Almeida Neves, visando as populações indí
Neves. Sua primeira atitude: sentar-se a uma mesa de nego
ciações. Dali saiu um acordo proposto pela FUNAI com o
genas, teve origem antes mesmo de sua posse. Em 07.03.83, aval dos Krenaks (já retornados e entrincheirados em suas
a FUNAI ingressou na Justiça Federal com uma ação ordi terras às margens do Rio Doce). Essa nação concordou em
nária declaratória de nulidade de títulos de propriedade, tí ficar com apenas 1.806, 77 hectares ao invés dos 4 mil a que
tulos esses emitidos em 1974, pela empresa fundiária do tinha direito, área essa que deveria ser demarcada de ime
Governo Mineiro (RURALMINAS) "loteando" a área per diato. Por ordem do gabinete do Sr. Governador, topógra
tencente aos Krenaks do Rio Doce. fos da RURALMINAS participaram do grupo de trabalho
formado pelo INCRA e FUNAI, que procederam à demar
Desta maneira, testavam-se os novos governantes de Minas cação.
Gerais quanto à sua posição em relação à questão indígena. Percebendo a gravidade da questão indígena, o governador
Essa posição, tradicionalmente, não tem sido das mais favo Tancredo Neves designa então seu secretário do Trabalho e
ráveis. Salvo alguns atos excepcionais de doação de terras a Ação Social, deputado federal Ronan Tito de Almeida —
nações indígenas — caso de Arthur Bernardes aos próprios o qual já havia participado, na Câmara Federal, do grupo
Frenaks — a história das Minas Gerais está repleta de ca de deputados favoráveis a uma ação efetiva em favor da
sos de genocídio com apoio oficial. Nos últimos 20 anos, causa indígena — para levar à frente essa problemática,
essa prática, que já era institucional desde priscas eras (sol incluindo-a como assunto oficial de sua pasta.
do em dobro para soldados exterminadores), sofisticou-se.
Para que se tenha uma idéia, um dos responsáveis pela Nomeado como interlocutor oficial, o Secretário Ronan Tito
“limpeza de área "perpetrada contra os Krenaks era, a um recebe uma comissão Krenak que veio saber quando seriam
só tempo, Chefe da Ajudância da FUNAI-MG/BA, Chefe retirados os invasores que permaneciam em seus 1.806, 77
do Serviço Florestal mineiro, ao qual estiveram subordinahectares, já demarcados. A resposta oficial: apesar do enga
das as terras dos Krenaks. Seu nome, Capitão Manoel dos jamento da Secretaria de Estado do Trabalho e Ação Social
Santos Pinheiro, hoje molestando os Maxakalis. . (SETAS) no desembaraçamento da área, a solução deman
dará tempo, pois ou o Estado de Minas Gerais — réu da
Nos duros anos de Médici, com uma penada, os Krenaks ação em curso no STF — perde na Justiça, ou este entra em
foram declarados extintos e as suas terras férteis às margens acordo com os fazendeiros da região, indenizando suas ben
do Rio Doce trocadas por uma improdutiva fazenda doada feitorias com recursos repassados pelo MEAF (Ministério
pelo Governo de Minas Gerais. Essa tornou-se depósito de Extraordinário de Assuntos Fundiários). E esses últimos
remanescentes de nações espoliadas. Seu tutor: o mesmo ainda relutam em aceitar o acordo, pressionando, através
Capitão Pinheiro, um dos criadores da GRIN (ex-Guarda de seus diversos e poderosos aliados, no sentido da validade
Rural Indígena), reserva estratégica para o combate à sub de seus títulos emitidos pela RURALMINAS, em 1974.
versão e segurança policial do extinto Reformatório Agrí
cola Indígena, criado em 1969 no P.I. Guido Marlieri.
(*) antropólogo da Assessoria para Assuntos Indígenas da Secretaria do
Trabalho e Ação Social do Governo do Estado de MG.
(**) jornalista da Assessoria
Social do Governo de MG.de Imprensa
. •
da Secretaria do Trabalho e Ação

284
sL7-Acervo
_/\ 1 S-A i_ESTE 5

Partindo para a ação, a SETAS se mobiliza no sentido de No dia 15.08.84, numa ação planejada, os Krenaks em gru
dar voz às nações indígenas para que elas mesmas façam o po retomam uma área de 60,8 ha contígua àquela que ocu
diagnóstico de suas dificuldades, identifiquem aliados e pavam desde 1980. Tancredo Neves havia deixado o Gover
opositores, e unifiquem sua luta. no e Ronan Tito encontrava-se no exterior, negociando re
cursos sociais. Apesar de buscada a solução das negocia
Foi realizado então o I Congresso Indígena de Minas Ge ções, inaugurada pelo ex-governador -- a sugestão da SE
rais, evento promovido pela SETAS, com apoio do CIMI TAS é de se conseguir o recurso para as indenizações — pre
CNBB, GREQUI, Secretaria da Cultura, Secretaria da valeceu a solução de força. A Polícia Militar ocupou a área,
Educação, FETAEMG e RURALMINAS. expulsou a família de Augusto Paulino Krenak e montou
guarda na divisa das terras, tendo os Krenaks em vigília do
Seus resultados foram sintetizados em documento onde Xa outro lado.
kriabás, Maxacalis, Krenaks e Pataxós deixam claros os sé
rios conflitos fundiários que enfrentam; as arbitrariedades e Respondendo a um mandado de segurança impetrado pela
violências às quais encontram-se expostos; bem como a de FUNAI, o juiz Moacir Pimenta Pedroso, da Justiça Federal,
ficiente assistência que vêm recebendo no que tange à sua argumentando que, por estar o inquérito policial ainda em
subsistência, saúde e educação. andamento e devido aos aspectos sociais da questão, orde
nou a reintegração de posse aos índios, o que de fato foi
Tendo ficado evidente no Congresso e na imprensa a gravi feito.
dade e amplitude do problema, o Secretário do Trabalho e
Ação Social encomenda estudos à sua assessoria no sentido Com a concentração das forças políticas na campanha pre
da criação de uma comissão a nível estadual para propostas sidencial, a partir do final do 2º semestre, as atenções da
de soluções ao governador do Estado de Minas Gerais. SETAS se voltaram no sentido de subsidiar o então candi
dato Tancredo Neves para a formulação de uma nova polí
Em 14.08.84, seu último dia à frente do Governo de Minas tica indigenista. Daí seu engajamento decisivo na realização
Gerais, Tancredo Neves assina o decreto nº 23.806, criando do Simpósio “Indios e Estado "promovido pelas entidades e
a Comissão Executiva Estadual da Questão Indígena em indivíduos comprometidos com o apoio à causa indígena,
Minas Gerais, integrada pelos Secretários do Trabalho e com o patrocínio da Fundação Pedroso Horta, na Câmara
Ação Social, Agricultura, Educação, Saúde, Segurança Pú dos Deputados, nos dias 26 e 27 de novembro de 1984.
blica, Cultura, pelo diretor-geral da RURALMINAS, pelo
presidente da Fundação João Pinheiro e, pelo delegado re Tudo indica que na nova correlação de forças que passou a
gional da FUNAI. A Comissão é presidida pelo Secretário exercer o poder em Minas Gerais, um panorama mais favo
do Trabalho e Ação Social e tem como atribuições: rável à causa indígena se avizinha. Há experiência acumu
lada no trato político das questões sociais. Conhecem-se
I — Levantar, cadastrar e delimitar as áreas tradicional melhor as forças e interesses que atuam em cada área de
mente ocupadas pelos povos indígenas no território de Mi conflito fundiário no interior de Minas. Há interlocutores
nas Gerais; legitimados para promover negociações. Tornou-se mais fá
II — Estabelecer políticas de ação emergencial para o tra cil o acesso a documentos e informações capazes de trazer à
tamento de conflitos relacionados à questão indígena no luz pontos de agora obscuros no tratamento desta questão.
Território do Estado de Minas Gerais; Culminando todos esses fatores, a criação da Comissão Exe
III — Estudar e propor alternativas para viabilização de cutiva Estadual para a Questão Indígena em Minas Gerais
demandas apresentadas pelas nações indígenas localizadas poderá contribuir para a rápida substituição da injusta polí
no Território do Estado de Minas Gerais, tica indigenista em vigência no Brasil. Parece que final
mente chegaram ao poder homens públicos sensíveis para
Além disso, no artigo 3º. o Governo do Estado de Minas dar o tratamento político adequado à pluralidade étnica ca
Gerais se compromete a mobilizar órgãos e recursos neces racterística do povo brasileiro.
sários à execução dos trabalhos da Comissão e determina
que a SETAS fornecerá o apoio administrativo necessário
ao seu funcionamento.

Adiantando-se à instalação oficial desta Comissão, a SE


TAS tem amparado emergencialmente demandas pontuais,
articulando-se com os demais órgãos do Estado, em ação
conjunta com a agência federal responsável pela tutela indí
gena, FUNAI. Foi assim que alguns pouco remanejamentos
foram efetuados pela SSP/MG, em Itacarambi, um trator
agrícola foi emprestado para arar terras Krenaks e Pataxós;
e um plano de saúde para os Maxacalis começou a ser esbo
çado com auxílio da Secretaria de Saúde/MG.

285
* #X NDIGENAs no
=/\_>zºs BRASIL/CED]

Aconteceu na imprensa
O novo órgão vai cadastrar e delimitar as “Tudo será feito junto à Funai e ao
áreas tradicionalmente ocupadas pelos IBDF, no sentido de unirmos forças e
indígenas em Minas, além de estabele conter a exploração dos nossos índios,
cer normas de ação emergencial para o proporcionando-lhes a volta ao sistema
Major Pinheiro tratamento de conflitos relacionados tribal, através da preservação de suas
mantém posição com a questão indígena. E deverá, ain terras e de incentivos, como projetos de
da, estudar e propor medidas para viabi reflorestamento e expansão de ativida
“De dez anos para cá a minha situação lizar as demandas apresentadas pelos des agrícolas, para sustentos de suas fa
em relação aos índios não mudou, a não índios. mílias no lugar que lhes pertence”. (Es
ser o aparecimento de elementos subver A maioria das reivindicações dos indíge tado de Minas, 01/08/84).
sivos e agitadores que vêm pregando nas que chegam a cinco mil no Estado,
abertamente a luta de classe na região, diz respeito à demarcação e garantia de
tendo por alvo os índios e os fazendeiros. uso das terras. Documento do Congresso
Estes elementos estão jogando o índio Diante do genocídio a que estão expos
As autoridades constituídas e a
contra os colonos e proprietários rurais tos os índios krenaks, maxakalis, xa
que moram nas proximidades de suas comunidade em geral
kriabás e pataxós, o governador havia
aldeias, sob a alegação de que são inva determinado ao secretário do Trabalho
As nações indígenas PATAXÓ, MAXA
sores de suas terras” — foi o que decla que se incumbisse de formular e pôr em CALI, XAKRIABÃ e KRENAK, pre
rou ontem, o major Manoel dos Santos prática uma política indigenista para o sentes ao “I CONGRESSO INDÍGENA
Pinheiro, defendendo-se das acusações Estado. DE MINAS GERAIS”, passam a for
que lhe foram feitas pelas tribos Maxa Após entendimentos com a Delegacia mular as suas principais reivindicações,
calis e Krenak no “I Congresso Indígena Regional da Funai, Ronan Tito promo decorrentes das várias discussões havi
de Minas Gerais”, realizado no final do veu um encontro com as lideranças indí das no curso do referido Congresso, na
mês passado, em Belo Horizonte. genas e com representes do CIMI. Em expectativa e na esperança de serem as
Segundo o ex-chefe da Ajudância do an seguida, representantes do Sindicato mesmas encaminhadas e definitivamen
tigo SPI em Minas, hoje major reforma Rural de Resplendor foram chamados te solucionadas pelos Governos da União
do da PMMG, “tais pessoas instigam os para negociações visando à desocupação e do Estado de Minas Gerais, através
índios a incendiar e depredar as proprie do território Krenak. respectivamente da Fundação Nacional
dades particulares que estão localizadas Após os primeiros entendimentos, foi do Índio-FUNAI, Secretaria do Traba
nas proximidades de suas aldeias, com o realizado em Belo Horizonte, no auditó lho e Ação Social do Estado de Minas
propósito de nos expulsar de nossas ter rio da Federação dos Trabalhadores na Gerais e Fundação Rural Mineira-RU
ras” — disse o major, que é presidente Agricultura de Minas Gerais e no Insti RALMINAS, Secretaria de Segurança
da Comissão Representativa dos Fazen tuto de Educação o I Congresso Indí pública e Poder Judiciário:
deiros e Colonos de Bertópolis e tem, gena Mineiro, apoiado pelas secretarias
também, uma propriedade perto da al do Trabalho e Ação Social, da Cultura e I – Dos Pataxó
deia dos Maxacalis, que os índios advo pela Ruralminas. As quatro nações indí 1.1 — que a FUNAI reconheça a “Fa
gam serem suas naquele município. (Es genas apresentaram então as suas rei zenda Guarani”, situada no Município
tado de Minas, 26/08/84). vindicações. (Estado de Minas, 5/08/ de Carmésia, neste Estado, como área
84), de ocupação definitiva e permanente da
comunidade indígena Pataxó;
Tancredo cria Comissão 1.2 — que seja efetivado pelas Centrais
Proteção do IBDF? Elétricas de Minas Gerais — CEMIG, o
Como já era esperado, o governador pagamento de indenização na forma de
Tancredo Neves assinou ontem, em seu O funcionamento das reservas indígenas um trator e de garantia de fornecimento
último dia no Palácio dos Despachos, o em Minas também como reservas ecoló gratuito de energia elétrica para a comu
decreto que institui comissão presidida gicas protegidas e incentivadas pelo nidade, pela servidão de passagem de
pelo secretário do Trabalho e Ação So IBDF, será proposta à Funai pela Secre rede elétrica que atravessará a área indí
cial Ronan Tito para tratar da questão taria de Estado do Trabalho e Ação So gena;
indígena em Minas, colaborando com a cial, de modo a impedir as suas piores 1.3 — elaboração e apresentação, pela
Funai. conseqüências da exploração do solo pe FUNAI, de projetos de apoio econô
Além da Secretaria do Trabalho parti los brancos e manter, assim, os índios mico, ouvida a comunidade indígena.
cipam da Comissão as Secretarias da em suas terras. Esta informação foi
Agricultura, da Educação, da Saúde, da prestada ontem pelo secretário Ronan
Segurança Pública, da Cultura, a Dele Tito, que garantiu defender todas as rei
gacia Regional da Funai, a Ruralminas vindicações feitas pelas nações Xakria
e a Fundação João Pinheiro. bá, Pataxó, Maxacali e Krenak, presen
tes no I Congresso Indígena de Minas
Gerais realizado a semana passada na
Federação dos Trabalhadores da Agri
cultura.
s! Z_ Acervo
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LESTE 7

II – Dos Maxacali 3.5. — que a FUNAI auxilie subsidian Enquanto aguardam uma solução da
2.1 — unificação imediata das áreasin do a implantação de “oficinas de fari Funai, o Cadirj e lideranças da comu
dígenas “Água Boa” e “Pradinho”, ile nha”; nidade guarani irão ao Palácio Guana
galmente separadas por fazendas res 3.6. — que a FUNAI promova a im bara na próxima semana cobrar do Vi
ponsáveis pela morte de inúmeros mem prescindível assistência médica e educa ce-Governador, Darcy Ribeiro, e do Se
bros da comunidade indígena, através cional bilíngüe na área. cretário de Justiça, Vivaldo Barbosa, as
de: providências prometidas há dois meses
2.1.1. — levantamento etno-histórico IV – Dos Krenak para garantir a posse da área do Bracuí
da comunidade, para comprovação dos 4.1. — que o Governo do Estado de Mi aos índios. O Governo do Estado com
limites da área de seu território; nas Gerais e a FUNAI agilizem o pro prometeu-se na ocasião a estudar a desa
2.1.2. — levantamento topográfico da cesso declaratório de nulidade de títulos propriação das terras independente
área reivindicada pelos Maxacali a ser de propriedade incidentes na área, emi mente da atuação da Funai.
realizado pela RURALMINAS, FUNAI tidos ilegalmente pela RURALMINAS, O Delegado da PF em Angra informou
e INCRA; viabilizando a entrega livre e desemba ter recebido no dia 3 ofício da Funaipe
2.2. — Medidas concretas do Poder Ju raçada das terras aos seus legítimos pos dindo “colaboração para garantia de vi
diciário e da Secretaria de Segurança suidores em respeito a mandamento da dos índios guaranis”. Ontem de ma
Pública do Estado de Minas Gerais, vi constitucional; nhã, acompanhado dos agentes Noroel
sando desarquivar o inquérito policial 4.2. — que seja fornecida pela FUNAI Alves da Silva e Jorge Brito, e do indi
relativo ao assassinato do índio Alcides um trator e um tratorista para as de genista Luís Felipe Figueiredo, do Ca
Maxacali, bem como providências enér mandas agrícolas da comunidade; diri, o policial foi às fazendas do Imbu e
gicas no sentido de desarmar os fazen 4.3. — que seja fornecida pela Itinga e à casa do posseiro Benedito Aze
deiros invasores da área indígena, cons FUNAI uma máquina de limpar arroz e vedo da Silva convocá-los a prestar de
tante ameaça na região; o fornecimento de sementes para plan clarações hoje e alertá-los sobre a inter
2.3. — que a FUNAI extinga na cantina tio; venção federal.
existente na área indígena, o uso indese 4.4. — que a FUNAI resolva definitiva O Administrador da Fazenda Itinga,
jável e prejudicial, do “dinheiro bran mente o angustiante problema do trans Ryerson de Souza Lima, a quem os ín
co”, utilizados como remuneração à for porte da comunidade na região, dotan dios acusam de fazer ameaças de morte,
ça de trabalho dos índios; do-a de um barco com motor para a tra negou a denúncia e afirmou que os gua
2.4 — que a FUNAI promova a perfeita vessia do rio Doce; ranis estão sendojogados contra ele pelo
adequação da cantina, nela colocando 4.5. — que a FUNAI assuma seu dever indigenista Luís Felipe. Disse ao dele
alimentos e roupas e demais objetos de de assistência de saúde e educacional bi gado Guilherme que não anda armado e
acordo com a necessidade e solicitação língüe para toda a comunidade. sempre se deu bem com os índios.
dos índios; Ryerson Lima confirmou que a Fazenda
Esperam as nações indígenas abaixo as Itinga, propriedade de Tormar Pereira,
III — Dos Xakriabá sinadas, que o atendimento às reivindi tem uma represa construída na área em
3.1. — que em virtude da área apossea cações acima expostas, venha significar que vivem os guaranis. A água da repre
da pelos Xakriabás estar demarcada, de um passo decisivo na incansável luta sagarante o abastecimento de 900 lotes,
há muito, seja imediatamente submeti pela garantia de sua existência, — povos 200dos quais já foram vendidos e serão
da, por força de lei, à homologação pelo etnicamente diferenciados, minorias entregues nos próximos meses.
Sr. Presidente da República e seu con com direito à terra e à liberdade. Francisco Ferraz do Amaral, posseiro
seqüente registro no Serviço de Patrimô Belo Horizonte-MG, 27 de julho de 1984 da Fazenda do Imbu (espólio de José Te
nio da União e no Cartório da localidade no auditório da FETAEMG les da Cruz), negou ontem que tenha
do imóvel; que a área de Rancharia seja Assinam: ameaçado os índios. Informou que mora
reconhecida como área indígena; na região há 51 anos e tem bananais na
3.2. — que seja definitivamente afas Assinam: Sebastião Alves dos Santos. — área que está sendo estudada pela Funai
tado o problema da falta d'água nas co Pataxó; Manoel Gomes de Oliveira — para delimitação. Outro posseiro, Bene
munidades indígenas situadas nas loca Xacriabá; José Alfredo — Krenak, e dito Azevedo da Silva, disse que quer
lidades de: Morro Falhado, Sapé, Santa Kele — Maxakali. viver em paz com os índios e não se im
Cruz, Catinguinha, Tiririca, Veredi portará de ficar sem seu bananal se a
nha, Riacho do Brejo e Barreiro Preto, Funai o indenizar. (O Globo, 13/01/
com a abertura pela FUNAI de poços ou 84).
cisternas, medidas reiteradamente soli GUARANI/BRACUI
citadas pelos ocupantes indígenas;
3.3. — que seja fornecida pela FUNAI, Polícia convoca acusados FUNAI reconhece Reserva
um trator e um tratorista para:
a) um melhor desenvolvimento da pro A PF convocou ontem para prestar de A FUNAI determinou o levantamento
dução agrícola; clarações acusados de ameaçarem os ín cartorial da reserva indígena de Bracuí,
b) manutenção das estradas que possi dios guaranis nhandeva que vivem na para ser submetido à aprovação do gru
bilitem o escoamento da referida produ mata do Bracuí, em Angra dos Reis. O po de trabalho interministerial, com
ção; Delegado Guilherme Pereira dos San posto por representantes do MINTER e
3.4. — que a FUNAI exerça o seu poder tos, a pedido da Funai, percorreu a re MEAF.
de polícia impedindo o comércio, na gião alertando posseiros que reivindi O reconhecimento da reserva, atual
área, de bebida alcoólica, em especial a cam asterras. mente ocupada por cerca de 60 índios
cachaça, independentemente das san Guarani, oficializará a primeira área
ções previstas na Lei nº 6.001 de 19/ indígena do Rio de Janeiro. Os índios
12/73 — Estatuto do Índio; por inúmeras vezes reivindicaram a de
marcação de suas terras e somente agora

287
*
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E ºs NDIGENAs no BRasil/cro
terão seus pedidos atendidos pelo órgão em 1973, 310 alqueires já foram marca Krenak invadem fazenda
tutor. A área de 665 hectares resultou de
dos. A Funai afirma que deverá haver
entendimentos entre um grupo de traba uma indenização por parte do governo Cerca de 100 índios Krenak ocuparam,
lho da FUNAI e os próprios índios. (Cor por esta terra, mas os proprietários ale final da semana, a fazenda de Adão Fé
reio Braziliense, 18/01/84). gam que isso não tem sentido, pois os lix da Silva, no município de Resplen
índios Crenaques, há cerca de dez anos, dor, a poucos quilômetros de Governa
já ocupam a Fazenda Guarani — área dor Valadres. Tal fato aumentou ainda
Decepcionados reservada da Funai. (Estado de Minas, mais a tensão na área, colocando em
05/02/84). alerta a polícia de Resplendor e órgãos
Já morreu muito índio na mão dos bran governamentais encarregados da ques
cos, dos fazendeiros, dos grileiros. A tão fundiária no Vale do Rio Doce.
gente não procura guerra com os bran Deputado defende De acordo com informações da Secreta
cos, somos pouquinhos. Os brancos es ria de Trabalho e Ação social, alguns
tão enchendo o mundo. Tem que arran “Os índios são os legítimos proprietários índios Krenak resolveram invadir a fa
jar um cantinho para o índio. O verda de uma área de 3 mil982 hectares doada zenda após a morte de seu proprietário,
deiro brasileiro é o índio guarani, mas à União pelo presidente do Estado de ocorrida na semana passada. A viúva de
hoje os branco já tomaram todas as ter Minas Gerais, Artur Bernardes, para o Félix da Silva já foi convocada, através
ras dos índios. aldeamento dos Krenak, através da lei da Delegacia Regional da Funai, para
Foi o cacique CaraíTatendê, um dos 28 nº 788, de 18 de setembro de 1920 de esclarecer a situação, pois teme-se um
remanescentes da tribo guarani-nhan creto nº 5.462, de 10 de dezembro do confronto entre os índios e outros fazen
deva que hoje habita o sertão de Bracuí, mesmo ano”. A afirmação foi feita on deiros.
em Angra dos Reis, que manifestou on tem pelo deputado estadual Antônio Fa Segundo Ambrosina Vieira de Souza,
tem sua decepção ao Secretário Execu ria (PMDB), em resposta a uma matéria presidente do GREQUI, “os índios de
tivo da Comissão de Assuntos Fundiá publicada por um jornal desta capital, cidiram não mais esperar por soluções
rios da Secretaria de Justiça, Edgard Ri sob o título de “Fazendeiros denunciam do Governo e tomaram as terras por ne
beiro, ao saber que a promessa de que a índios Krenake direção da Funai”. cessidade de uma área maior para o cul
área de 700 hectares seria demarcada — Faria relatou o sofrimento desta tribo tivo de suas lavouras”. Ela explicou que
feita há seis meses pelo Vice-Governa indígena, iniciado no ano de 1958, a faixa de terra retomada é de mais ou
dor Darcy Ribeiro — está longe de ser quando foram “transferidos à força para menos 15 alqueires e estava sendo usada
cumprida. a aldeia Maxacali, no Nordeste de Mi exclusivamente para a criação de gado,
Os 10índios foram recebidos com curio nas”. A partir daí, guiados pelo apego à existindo lá apenas um curral e a casa do
sidade entre os funcionários do Palácio terra, os Krenakiniciaram uma peregri vaqueiro, que também foi expulso pelos
Guanabara. (JB, 28/04/84). nação de volta, sendo remanejados para índios, Acrescentou que: “esta atitude
outras regiões, já que encontraram suas por parte dos índios é fruto da descrença
terras ocupadas por fazendeiros. (Diário nas promessas do Governo, inclusive Es
do Comércio, 07/02/84). tadual, que, até o momento, foi coni
vente e até mesmo agente de extermínio
dos povos indígenas”. A presidente do
4 mil hectares GREQUI, acredita ser difícil para os
Fazendeiros denunciam Krenak, que atualmente vivem em “gle
índios e FUNAI Dentro dos preparativos para o I Con bas reduzidíssimas”, verem suas antigas
gresso Indígena de Minas Gerais, que se propriedades serem destinadas apenas à
Alarmados com os reflexos que a me realizará em Belo Horizonte nos próxi criação extensiva, “onde nem mesmo
dida poderá provocar, proprietários de mos dias 26 e 27, o secretário do Tra seus proprietários habitam”. (Diário de
terras do povoado de Crenaques, no mu balho de Minas, Ronan Tito, recebeu Minas, 24/08/84).
nicípio de Resplendor, no Vale do Rio ontem a visita de três representantes dos
Doce, estão tentando convencer a Funai índios Krenak, residentes no município
a não permitir a volta dos índios à re de Resplendor, para tratar da questão FUNAI diz
gião. Segundo eles, sem nenhuma justi da demarcação de suas terras. Laurita,
que controla situação
ficativa as terras que lhes pertencem Augusto e José Alfredo pedem uma solu
vêm sendo remarcadas pela Ruralmi ção urgente para o problema da posse de O delegado regional da Funai em Gover
nas e Funai com o claro objetivo de se terra que lhes foi doada em 1920 e que nador Valadares, Lúcio Flávio Coelho,
rem passadas aos nativos. hoje, após sua transferência em 1972, informou ontem estar sob controle a si
Três destes proprietários: Osório Faria para a Fazenda Guarani — onde per tuação na região de Resplendor, onde há
da Silva, Valter Von Helder e o filho maneceram até 1980 — é disputada por treze dias trinta índios Krenak ocupam
deste, denunciaram que índios legítimos fazendeiros da região. uma fazenda de propriedade da viúva
e mestiços já invadiram 11 mil alqueires No dia 19 de junho último, 35 represen Zulmira da Silva, limítrofe à área que
de terra pertencentes à Ruralminas, sem tantes dos índios Krenak se reuniram habitam. Ele disse esperar que as coisas,
que nenhuma providência tenha sido to em Valadares, na Delegacia da Funai, “voltem à normalidade” e afastou a hi
mada. com técnicos do Governo de Minas e au pótese levantada há dias de que os índios
Por outro lado, dos 822 alqueires perten toridades da Funai, inclusive de Brasí estavam agindo insuflados.
centes a mais de 50 famílias que recebe lia, para tratar da mesma questão. Ago
ram o título definitivo de posse de terra ra eles têm uma proposta para a Rural
minas e a Funai, no sentido de que lhes
seja assegurada a posse de parte desta
área, cerca de 4 mil hectares, em terra já
cultivada às margens do rio. (Jornal de
Minas, 12/07/84).
sL7-Acervo
–/{ i < A LESTES

Os Krenak, despejados por forte aparato policial. ----

Lúcio Flávio Coelho contou que, além de Juiz decide manter


funcionários da Funai, estão na área ser
vidores da Secretaria do Trabalho de Dois membros do CIMI, Zenira Gomes
Minas e agentes da Polícia Federal, ra de Souza e Fábio Martins Villas, anun
zão pela qual descartou a possibilidade ciaram ontem na Assembléia Legislativa CIMI denuncia
de ocorrência de conflitos envolvendo que o juiz do Tribunal de Alçada Moacir espancamento
índios e fazendeiros. (Folha da Tarde, Pimenta Pedroso anulou a sentença do
29/08/84). juiz de Resplendor, José Amâncio Souza O CIMI denunciou ontem mais um caso
Filho, despejando os índios Krenak da de violência contra índios. O índio Val
fazenda da viúva Zilma Soares da Silva. dir Maxacali, neste último final de se
Ameaça de prisão Com a decisão do juiz Moacir Pedroso mana, foi espancado violentamente por
anteontem, os índios que haviam sido três funcionários da FUNAI, totalmente
O secretário-adjunto de Segurança, José despejados na semana passada com um embriagados, quando retornava da lo
Resende de Andrade, advertiu ontem, forte aparato policial, vão voltar a ocu calidade de Santa Helena, próximo ao
em Belo Horizonte, que se os 30 índios para fazenda que tem 12 alqueires. município de Bertópolis, MG. O confli
Krenack abandonarem a sua reserva e Segundo Zenira Gomes de Souza, a fa to aconteceu por Valdir negar-se a des
voltarem a invadir a propriedade parti zenda que a viúva Zilma Soares da Silva cer do seu cavalo como lhe ordenaram os
cular no Município de Resplendor, no alega ser de sua propriedade, foi doada funcionários da FUNAI: Em razão de
Vale do Rio Doce, serão presos e autua aos índios Krenak, em 1920, pelo ex não ter cumprido a ordem, o índio foi
dos em flagrante por esbulho possessó presidente Arthur Bernardes, junta derrubado e espancado pelos três ho
TIO. mente com mais uma área de 4 mil hec mens, segundo nota da Diocese de Teó
Os Krenack ocuparam há pouco mais de tares que faz parte do território indige filo Otoni enviada ao CIMI. A agressão
um mês a fazenda de Zulmira Silva e só nista da região. Dos 4 mil hectares os ín tomou maiores proporções quando pes
saíram por causa de uma decisão judi dios ocupam atualmente só 129 hectares soas estranhas viram a brutalidade dos
cial que determinou reintegração de incluídos os da viúva Zilma. Os outros funcionários e intervieram em favor do
posse do terreno à proprietária. (Folha 3.800 hectares foram ocupados indevi índio, gerando uma confusão maior.
da Tarde, 07/09/84). damente por fazendeiros da região e a (Diário Popular, 24/01/84).
Funai está na Justiça tentando reaver
toda a área. (Diário de Minas, 14/09/
84).

289
*
–/ #
SA NDÍGENAS NO BRASIL/CEDI

Abandonados pitão Manoel dos Santos Pinheiro, que Delegado rebate


hoje, na reserva, exerce grande lideran críticas
O estado de quase absoluta miséria e ça policial e política na região. E é tam
abandono em que vivem os últimos ín bém um dos principais ocupantes da O delegado da Funai em Minas, Eustá
dios Maxacalis em Minas ainda não des faixa de terra reivindicada pelos índios. qui Machado, rebateu ontem às acusa
pertou a atençãodo governo mineiro, Além de pedir garantia de vida para os ções que os índios pataxós fizeram ao
passados já três anos de denúncia sobre índios Maxacalis — cujo roubo de gado, órgão, afirmando que o “grupo” não
a situação. Ao contrário da proteção fe há três anos atrás, foi comprovado pu está querendo trabalhar, pretendendo
deral e estadual a que têm direito, os blicamente como decorrência do cha viver apenas do arrendamento de um
Maxacalis continuam vítimas de pres mado “Estado de Necessidade”, pelo pasto de fazenda”.
sões e ameaças de morte, inclusive por Código Penal — as entidades indigenis Os 62 pataxós, transferidos em novem
parte de fazendeiros e políticos da re tas mineiras reconhecem e apóiam a rei bro de uma reserva do Espírito Santo,
gião. Tais denúncias foram confirmadas vindicação daquelas aldeias em recupe acusaram a Funai, durante visita de seus
ontem, em Belo Horizonte, por sete en rar aquela faixa de terra. Segundo eles, chefes à Assembléia Legislativa, de estar
tidades indigenistas que estiveram na esta é a única e prática garantia de pôr negando toda a assistência, de não for
Assembléia Legislativa em busca de fim aos assassinatos e espancamentos necer semente para o plantio e de estar
apoio dos deputados mineiros, através dos índios. (Estado de Minas, 15/05/ impedindo o arrendamento dos três mil
da possível formação de um grupo par 84). hectares da Fazenda Guarani, onde es
lamentar pró-causa dos índios. tão assentados, tirando-lhes assim, o
Segundo documentos entregues ontem único meio de sobrevivência. (Diário da
aos deputados mineiros — alguns deles Fome Tarde-MG, 09/05/84).
já sensibilizados com o problema, como
os parlamentares Antônio Faria, do Já atinge o nível de pobreza absoluta e de
PMDB, e João Batista Mares Guia, do desespero a situação em que se encon Reconquista
PT — os 500 remanescentes da nação tram os índios Pataxós e Maxacalis, que
Botocudo no País continuam abando vivem em terras mineiras. Basta dizer Reivindicar a devolução de uma área de
nados no Vale do Mucuri, Nordeste de que eles estão-se alimentando de ratos e 22 mil hectares no extremo Sul baiano
Minas, quase divisa da Bahia, vigiados brotos de bambu. Há meses não rece que consideram terras indígenas e onde
por soldados da Polícia Militar e amea bem qualquer auxílio da Funai. Estão hoje está implantado o Parque Nacional
çados por fazendeiros cujas terras fazem reivindicando apenas alimentos e se no Monte Pascoal é o objetivo dos 1.800
limite com as suas aldeias: “Sem provi mentes para plantar. Disseram que vão índios Pataxós da região de Barra Ve
dências urgentes por parte da Secretaria à luta para conseguir o atendimento de lha, dentro do município de Porto Se
de Estado da Segurança Pública, os as suas reivindicações e afirmam que estão guro. Foi o que afirmaram, ao passar
sassinatos podem continuar ocorrendo, mais confiantes com as mudanças na di ontem por Salvador com destino a Bra
daí o nosso pedido expresso e público de reção da Funai. (Estado de Minas, 19/ sília, oito representantes da tribo, de
garantia de vida para eles” — declara 05/84). nunciando que “toda nossa gente vem
ramos indigenistas. passando fome e miséria, pois temos
O documento foi assinado pelas seguin apenas oito mil hectares para explorar e
tes entidades: CIMI, GREQUI, CPT, a maior parte da terra é de areal, impres
Paróquia de Sebastião de Maxacalis, PATAXÓ/ tável para a agricultura”.
CJP da Diocese, Sindicato dos Trab. Os oitos índios, liderados pelo chefe do
Rurais de Teófilo Otoni e Sindicato Ru
BARRA VELHA
grupo, Firmo Ferreira, pretendem con
ral de Bertópolis. versar amanhã, em Brasília, com o Ca
Para pôr fim aos constantes assassina Pataxó querem cique Mário Juruna, com o presidente
tos, os índios propuseram ao Governo a demissão do delegado da Funai e com a direção do IBDF (res
devolução das terras não incluídas na ponsável pelo Parque de Monte Pas
demarcação de 1940, e que fazem parte Uma comissão de cinco índios Pataxós, coal). (O Dia-RJ, 10/06/84).
do território tradicional dos Maxacalis, chefiados pelo cacique Mongagá, da
o que representaria a ligação dos dois Fazenda Guarani, no município de Car
postos indígenas. Como até o momento mésia, esteve ontem, na Assembléia Le Mais um GT
nenhuma providência foi tomada neste gislativa, para reclamar contra o dele
sentido, a tensão continua aumentando gado da Funai em Governador Valada A FUNAI e o IBDF criaram ontem um
na região, com resultados imprevisíveis. res, Eustáquio Machado, e pedir a sua Grupo de Trabalho Permanente que vai
A Polícia Militar, segundo informaram substituição. estudar todas as questões que envolvam
os indigenistas, continua patrulhando O cacique Mongagá disse que 62 índios áreas reservadas de ambas instituições.
ostensivamente a área da aldeia de Pra estão morando na Fazenda Guarani e A decisão foi tomada em virtude dos ín
dinho, principalmente, fato este verifi acusou o delegado da Funai de querer dios Pataxó Hã-hã-hãe, da Bahia, terem
cado diariamente pelos próprios índios e expulsá-los de lá e de não dar-lhes a me solicitado a transformação do Parque
pela população envolvida. Outro foco de nor assistência. Nacional Monte Pascoal, do IBDF, em
tensão foi o espancamento recente, por Os índios, segundo o cacique Mongagá, Parque Indígena, “como forma de con
parte da polícia local, de um cidadão vão a Brasília, para uma audiência com tornar as divergências entre índios e o
casado com índia e morador da referida o novo presidente da Funai e com o de Governo Federal”. Outro problema que
aldeia, para que incriminasse os índios putado Mário Juruna, pedirem a substi já começou a ser estudado é a construção
de roubo de gado. Este fato recordou à tuição do delegado. “Nós não queremos da estrada Transaraguaia que cortará
população os tenebrosos tempos da ver aquele descomungado nem de longe. reservas dos dois organismos, na Ilha do
Guarda Rural Indígena, criada pelo ca Ele está acabando com as sete regiões Bananal.
indígenas da nossa região”. (Diário de
Minas, 08/05/84).
290
sL7-Acervo
–/ { || 5 A LESTE 11

No pedido dos Pataxó, entregue ao pre digir o documento, mas esclareceu a Sa


sidente da Funai, Jurandy Marcos da racura que não haverá violência na reti
Fonseca, pelo cacique Firmo Ferreira rada dos posseiros explicando que vários
Pataxó, e assinado por outros sete chefes deles concordaram em sair. “Os que re
de tribo, é lembrada “a situação subu sistirem serão levados à Justiça”, disse.
mana” em que vivem aqueles silvícolas, Morte de crianças (Diário do Grande ABC, 12/05/84).
em razão “de um ato inconseqüente as
sinado pelo Governo Federal”, que em O cacique Saracura, da tribo Pataxó
1960 doou ao IBDF terras dos Pataxós ha-ha-hae, denunciou ontem, nesta ca Fazendeiros desafiam
para a criação do Parque Nacional Mon pital, que 29 crianças índias morreram a FUNAI
te Pascoal. nos últimos dois anos por falta de assis
— Os motivos apresentados pelo IBDF tência médica, comida e água potável. A resistência dos fazendeiros titulados,
para a criação do Parque são realistas, Afirmou que os médicos da região, espe que não querem a saída dos arrendatá
sérios e vêm de acordo com os nossos cialmente da vizinha cidade de Pau-Bra rios da área dos índios Pataxó Hã-Hã
costumes e sobrevivência, o que não se sil, se negam a atender aos índios, mes Hãe, impediu que a comissão técnica da
pode é deixar que um grupo humano mo crianças, devido aos conflitos que Funai cumprisse determinação do novo
seja exterminado só para permanecerin envolveram a tribo e os fazendeiros. presidente do órgão, de retirar os arren
tacta uma área, pois o espírito de con (Jornaldo Brasil, 26/4/84). datários da reserva. Ontem mesmo a
servação e amor pela natureza demons comissão recebeu ordens de retornar a
trado por nós índios, pode ser compro Brasília em virtude do clima de tensão
vado por todos. Vivemos nesta região há Magalhães é acusado existente na área, onde os fazendeiros
484 anos e não a depredamos, afirmam estão armados. Os arrendatários da área
os Pataxós. (Jornal de Brasília, 21/06/ De cocar e sem camisa, como é seu cos Pataxó não pagam à Funai desde 1973 e
84). tume, o cacique Nélson Saracura pres o órgão, através de um oficial de justiça,
tou depoimento, ontem, na Comissão do preferiu recuperar o território ocupado,
Indio da Câmara dos Deputados, acu no lugar de cobrar a dívida. Eles haviam
Fazendeiro tenta aliciar sando o ex-governador da Bahia, Antô prometido ao cacique Nélson Saracura,
nio Carlos Magalhães, de ser o principal abandonar a reserva a partir do mo
O cacique Tonheira, 70 anos de idade, responsável pela situação de desespero mento em que recebessem a notificação.
— seu nome de registro é Antônio Josino pela qual estão passando os 900 pataxó A promessa não foi cumprida porque os
da Silva —, Pataxó, da aldeia de Imbi hã-hã-hãe que vivem em Pau-Brasil. fazendeiros titulados — e com forte
ribal, em Porto Seguro, se afastou do seu “O culpado de tudo isso é o ex-gover apoio político do ex-governador da Ba
povo pela primeira vez para vir a Salva nador, Antônio Carlos Magalhães, que hia, Antônio Carlos Magalhães — con
dor, ontem, denunciar as tentativas de sempre garantiu fazendeiros que inva venceram os arrendatários a permane
desapropriação das terras indígenas dem terra de índio e mata irmão nosso”, cer na terra, para “não abrir preceden
pelo fazendeiro Moacir Andrade, dono afirmou Saracura, para, em seguida, fa tes”. (FSP, 16/05/84).
da Fazenda Itaquena. Acompanhado do zer um apelo aos deputados: “Não dei
filho, Manoel Josino da Silva, 46 anos, e xem esse homem ser ministro, pois aí ele
do antropólogo mineiro Omar Rocha acaba com toda a gente nossa.” Não há reféns
Dias. Saracura relatou aos deputados as pre
A aldeia Imbiriba, onde moram cerca de cárias condições em que vivem atual O cacique Samado, dos Pataxó Hã-Hã
100 índios (16 famílias), é de difícil aces mente os pataxó, confinados na ex-fa Hãe de Pau Brasil, Sul da Bahia, des
so, localizada à margem do Rio dos Fra zenda São Lucas, uma reserva de 1.200 mentiu a notícia sobre a existência de
des, próxima ao povoado de Trancoso. hectares. dez reféns brancos na Fazenda São Lu
São aproximadamente 50 hectares de Disse Saracura que os pataxó não acei cas. “Eu não sei nada disso. E inven
terra, que o fazendeiro quer comprar tam qualquer tipo de acordo que impli ção”, afirmou o cacique. Em seguida —
por Cr$ 100 milhões — pelo menos foi aque em redução territorial. (Folha da prestando depoimento na Comissão do
proposta feita aos índios. Tarde, 11/05/84). Indio da Câmara dos Deputados — Sa
Os índios da aldeia Imbiriba moram mado reafirmou a disposição dos Pataxó
fora da reserva da Funai, da mesma de recuperarem suas terras, arrendadas
forma que outras aldeias como a da Co FUNAI anuncia retirada na década de 50 pelo extinto SPI. (Folha
roa Vermelha, famosa pelo seu artesa da Tarde, 18/05/84).
nato, e Águas Belas — na reserva ficam Cercado por líderes indígenas e tendo ao
as aldeias de Barra Velha e Boca da lado o deputado Mário Juruna, o presi
Mata. Ao todo, somam aproximada dente da Funai, Jurandy Marcos da Sindicato quer remoção
mente 1.200 índios. O cacique Tonheira Fonseca, anunciou ontem que a partir
faz questão de dizer que é “nascido e de segunda-feira começará a retirar os O Presidente do sindicato Rural de Pau
criado em Imbiriba”, assim como seus posseiros — antigos arrendatários — da Brasil, Pedro Leite, disse ontem na Co
três filhos e 19 netos. Lá eles plantam reserva Caramuru dos Pataxó ha-ha missão do Indio da Câmara que a única
mandioca, feijão e possuem alguns pés hae, no sul da Bahia. A operação será maneira de pôr fim ao conflito entre fa
de cacau. Nenhum deles quer sair das feita com o apoio da Polícia Federal. zendeiros e a tribo Pataxó é transferir os
terras. (Jornal da Bahia, 08/12/84). O cacique pataxó, Nelson Saracura, ao índios para outro local, como a reserva
ouvir a promessa do presidente da Funai do IBDF no município de Una, onde
disse que acreditava em sua palavra mas uma área de dez mil hectares está inter
queria um documento escrito para mos ditada para a preservação do mico-leão.
trar aos quase 900 índios de sua aldeia. (O Globo, 25/05/84).
O presidente da funai concordou em re

291
DÍGENAS NO BRASIL/CEDI

Delegação Pataxó Hã-Hã-Hãe


na Casa do Ceará,
em Brasília.
}|-8#

Policiais de guarda
na Fazenda Paraíso (BA).

Jorge Amado se manifesta Ele recorda o sucedido nos anos 30, “Fazendo circular boatos falsos, como o
quando “as mesmas forças que mantêm do pretenso seqüestro de funcionários
Em carta aberta enviada à Anaí-BA, o a exploração da terra no Brasil em mé da Funaihá duas semanas, armando os
escritor Jorge Amado manifestou sua todos feudais tentaram acabar de uma tensivamente seus jagunços, incitando
adesão à luta dos Pataxós hã-hã-hãe vez e para sempre com os índios Pata os pequenos posseiros contra os índios,
pela posse das terras da reserva Cara xós”. A região sul, maior produtora de os fazendeiros criam um clima de tensão
muru-Paraguaçu (36 mil hectares), afir cacau do País, é tema da maioria dos li que pretendem visivelmente levar além
mando que volta a se repetir na região a vros do escritor. (Zero Hora, 28/05/84). do limite tolerável”. (FSP, 31/05/84).
prática de métodos feudais que tentam
acabar com a tribo indígena.
Na carta o escritor baiano denuncia que Entidades divulgam Posse imemorial
“os índios estão sendo vítimas, na Ba carta de alerta
hia, mais uma vez, da violência mais Os antropólogos da UFBA, Maria Hilda
bruta, do terrorismo mais monstruoso, A ANAI-BA, CPI-SP divulgaram ontem Paraiso e Pedro Agostinho, autores de
do roubo mais indigno: invadem, assal uma “Carta Aberta à Nação”, alertando trabalhos publicados e pesquisas de
tam, ocupam suas terras e tentam liqui para o agravamento da situação dos Pa campo sobre a situação dos índios Pa
dar com os sobreviventes de outros mas taxó Hã-Hã-Hãe, “literalmente sitiados
taxó Hã-Hã-Hãe, asseguraram ontem,
sacres anteriores”. por grileiros em parcela da reserva indí na Comissão do Índio, na Câmara dos
gena Paraguaçu-Caramuru”. Os índios, Deputados, que asterras atualmente em
segundo as entidades, “resistem à fome, disputa com fazendeiros são de posse
à sede, ao desespero de verem seus filhos imemorial indígena, já que constataram
morrendo e resistem às provocações dos a presença do grupo na área desde 1651.
cacauicultores da região, que desejam
levá-los a uma atitude desesperada”.
292
LESTE 13

Os antropólogos não quiseram apresen Juruna repele acusações Três mil homens armados
tar sugestões para o conflito, pois, se
gundo Pedro Agostinho, a solução tem O deputado Mário Juruna negou ontem, Um levantamento do SNI apurou que
que ser negociada pelos próprios Pa em entrevista coletiva concedida em Bra existem 3 mil homens armados em Pau
taxó. (Zero Hora, 01/06/84). sília, as acusações de haver cedido às Brasil, onde está o foco de uma disputa
ofertas de fazendeiros e seus represen entre Pataxó-Hã-Hã-Hãe e fazendeiros
tantes, para deixar de defender os inte pela posse de 36 milha de terras férteis
Fazendeiros ameaçam resses dos índios em troca de presentes, e adequadas à produção de cacau e à pe
favores e dinheiro. Confirmou, contudo, cuária. A revelação foi feita pela asses
O clima entre índios e fazendeiros conti haver recebido três mil dólares do “co sora da presidência da Funai no Estado,
nuava bastante tenso ontem. Os fazem mandante Carvalho”, piloto e amigo do Maria Hilda Paraíso,
deiros acusam os pataxós de invadir suas presidente da Funai, Jurandy Fonseca, A tensão na área cresceu desde a madru
propriedades para roubar gado. O Pre para participar da reunião da ONU, em gada de sábado quando o índio Antonio
sidente do Sindicato Rural de Pau Bra Genebra, sobre Direitos das Minorias. Júlio da Silva, levou dois tiros na cabeça,
sil, Pedro Leite, disse que “os fazendei “Falei com Carvalho para quebrar o ga enquanto fazia uma ronda de vigilância
ros não têm mais condições de tolerar os lho, eu não tinha dinheiro, mas não é di na divisa entre a Fazenda São Lucas e a
índios. Ou eles nos destroem ou nós des nheiro de fazendeiro”, afirmou, em tom vizinha Fazenda Paraíso, de Marcos
truímos ele. indignado, acusando a imprensa de fa Wanderley. O índio foi operado e per
— Tanto os fazendeiros quanto os ín zer intrigas e de dizer mentiras. Juruna manece em estado de coma, numa clíni
dios estão armados e a qualquer mo disse ter visitado a área dos índios Pa ca da cidade de Camacã. (JB, 05/11/
mento pode acontecer um conflito onde taxó, na condição de parlamentar. 84).
pode correr sangue” — alertou. Também reafirmou ser a reserva Cara
O Juiz federal Lázaro Guimarães oficiou muru-Paraguassu ocupada por uma
ontem ao Secretário de Segurança da maioria de caboclos e apenas meia dúzia Bispos pedem
Bahia, ao Superintendente Regional da de índios, e admitiu ter defendido os Pa solução urgente
Polícia Federal e ao Comandante da Po taxó (enfrentando inclusive o risco de
lícia Militar pedindo medidas para pre cassação do mandato) sem conhecê-los, “Cremos que haverá violência e mortes
venir novas violências na Fazenda São só percebendo agora que os índios puros Se não forem dadas soluções rápidas e
Lucas. (O Globo, 01/09/84). são poucos. Indagado sobre os indícios justas para esse problema”, advertiram
que o levaram a pôr em dúvida a auten os bispos da Bahia e Sergipe, no docu
tieidade dos índios da reserva, respon mento aprovado no final da assembléia
Juruna propõe retirada deu: “Indio não tem barba, nem bigode, anual da regional Nordeste III, da
e é expulso nem cabelo no peito”. CNBB, na parte em que aborda os con
Em novo acesso de irritação contra a im flitos pela posse da terra envolvendo in
Os Pataxó-hã-hã-hãe expulsaram on prensa, Juruna ameaçou até abandonar. dios, posseiros e fazendeiros no extremo
tem de suas terras o deputado Mário Ju a política. (Fôlha da Tarde, 04/09/84). Sul e no sertão da Bahia. •

runa depois de desarmar e depredar No documento, os 22 bispos da regional


quatro dos oito carros da comitiva de Nordeste III consideram particularmen
parlamentares e fazendeiros que o acom Andreazza garante te grave a situação dos Pataxós,
panhava. Juruna foi à aldeia para pro “A nosso ver, a solução postulada pelos
por aos índios que deixassem a reserva O ministro do Interior Mário Andreaz índios, deve atender aos interesses dos
livre para os fazendeiros. Os pataxós ga za, afirmou que os índios Pataxó têm o mesmos e também dos posseiros, ca
nharam recentemente na Justiça a posse direito legal de permanecer nas terras bendo à Funai, ao Incra e ao Interba
dessas terras. De volta a Brasília, Juruna ocupadas no município de Pau-Brasil demarcar as terras e assentar índios e
disse que naquela área não há índios; enquanto a questão estiver “sub-judi posseiros”, recomendam os bispos da
mas sim “caboclos que não deveriam re ce”. O Ministério, através da Funai, vai regional Nordeste III, em outro trecho
ceber apoio da Funai”. garantir a permanência dos índios no lo do documento. (Diário do ABC, 10/11/
Depois do avião, Juruna e seus acompa cal por ser este o seu dever. (Diário Po 84).
nhantes seguiram em uma caravana de pular, 05/09/84).
oito automóveis. Quando os pataxós
perceberam a aproximação da comitiva, Todo apoio aos
desarmou seus integrantes, apreendeu “Indio não deve ficar Pataxó hã-hã-hãe
os veículos, e concordaram em falar ape contra índio”
nas com o deputado Juruna. Ele propôs Os últimos e dramáticos acontecimentos
ao cacique Nelson Saracura que sua tri O cacique Nelson Saracura reconheceu, envolvendo os índios pataxós hã-hã
bo se transferisse para a reserva florestal ontem, ter havido um mal-entendido en hães, no Sul da Bahia, mostram que se
de Mico-leão ou, então, que aceitasse di tre ele e o deputado Mário Juruna, du estão esgotando rapidamente todas as
nheiro para que os índios comprassem rante a recente visita de uma comissão possibilidades legais, para os fazendei
terras onde quisessem. Saracura recu de parlamentares da Câmara Federal à ros invasores de sua reserva, no sentido
sou a proposta de imediato e expulsou reserva indígena da Fazenda São Lucas. de transferi-los para outra área. Deses
Mário Juruna da aldeia. (ESP, 31/08/ Saracura pediu um novo encontro com perados com a resistência dos índios,
84). Juruna para que tudo fique esclarecido, apelam agora para a violência direta,
“porque índio não devejamais ficar con
tra índio”. (Diário Popular, 12/09/84).

293
3 INDÍGENAS NO BRASIL/CEDI

que está em escala crescente. Assim, a 2 como sendo “todo indivíduo de origem e O caso de argumentos racistas como jus
de novembro último, foi baleado o índio ascendência pré-colombiana que se tificativa para a negação dos pataxó hã
Antônio Júlio da Silva, que está à beira identifica e é identificado como perten hã-hães a suas terras parece não ter tido
da morte; patrulhas de jagunços cercam cente a um grupo étnico cujas caracte “eficácia” esperada pelos invasores,
e revistam carros, buscando aprisionar rísticas culturais o distinguem da socie frente ao repúdio generalizado a tais co
índios; cerca de 3 mil homens encon dade nacional”. Fala-se, portanto, em locações. Apelam, então, para a solução
tram-se armados nas vizinhanças da re características culturais e não raciais final, o extermínio puro e simples dos
serva, e até grupos de ciganos já foram como, aliás, não poderia deixar de ser índios. A não-punição aos autores do
instigados contra os pataxós. Mais ain sob pena de chocar-se com a postura atentado a Antônio Júlio da Silva, a
da: representantes de entidades de apoio contrária ao racismo contida na própria complacência e a “conciliação” da Polí
aos índios têm sido ameaçadas de morte. Constituição. Os modos peculiares de cia Federal, que até a confessar-se ame
A área ocupada pelos índios, conhecida organização econômica, política e depa drontada, asseguraram aos fazendeiros
localmente como “Fazenda São Lucas”, rentesco do grupo Pataxó Hã-Hã-Hãe uma impunidade e lhe fortaleceu em
foi objeto do Interdito Proibitório nº foram atestados em laudo antropológico uma divisão genocida. O massacre se
avizinha. •

32.096, na Justiça Federal, em Salva baseado em pesquisa de campo, elabo


dor. Em fins de outubro do ano passado, rado por profissionais indicados pela Nesse momento a única possibilidade de
o juiz federal José Lázaro Guimarães Associação Brasileira de Antropologia e se evitar o massacre é uma manifestação
reafirmou decisão liminar: segundo a requerido como material de prova na rigorosa da opinião pública e da socie
sentença final, o grupo de oitenta pes ação de Interdito Proibitório já mencio dade civil brasileira. “Não mais permi
soas, lideradas por Nélson Saracura, nada. - –- - - - - - -- - " -
tiremos o assassinato de índios em nosso
Nailton e Samado, reconhecidos como Os pataxós hã-hã-hães constituem o País. A campanha pela sobrevivência do
pataxós hã-hã-hães, são os legítimos que, em Antropologia, chama-se um povo Pataxó Hã-Hã-Hãe”, integrando
ocupantes da terra. Três agravos foram “sistema de identidade persistente”. grupos, entidades, associações, sindica
apresentados pelos fazendeiros locais, Trata-se de grupos sociais que parti tos, partidos e indivíduos sensibilizados
com o apoio do Estado da Bahia, ao Tri lham de um código simbólico específico, para a questão está sendo organizado
bunal Federal de Recursos. Os três lhes o que dá àqueles que o compõem a con para obstaculizar esse crime, e é funda
foram negados. dição essencial para a construção de sua mental a adesão urgente de todos que se
A área que, por decisão judicial, coube identidade como membros do grupo. A sintam responsáveis por essa situação.
aos índios, corresponde aproximada especificidade destes sistemas é que con Mais uma vez participe!” (Aracy Lopes
mente, a 1/36 da Reserva Caramuru seguem existir (e resistir) em diferentes da Silva é professora assistente, doutora
Paraguaçu, criada por lei em 1926 “para tipos de ambiente cultural; persistem em Antropologia Social do Departa
gozo dos tupinambás e pataxós ou ou apesar da pulverização do grupo étnico e mento de Ciências Sociais da Universi
tros ali habitantes”. Demarcada em inicial, dispersos em territórios os mais
dade de São Paulo(USP) e presidente da
1936-37, constituiu-se no último refúgio variados e expostos a situações sócio Comissão Pró-Indio de São Paulo; e
seguro para a sobrevivência dos índios culturais variadas. Omar da Rocha Jr., é indigenista e alu
do Sul da Bahia. Os desmandos da polí Para os pataxós hã-hã-hães é a memória no do curso de pós-graduação em Antro
tica indigenista oficial, e a violência que da vida em comum no território da reser pologia Social da USP, FSP, 28/11/84).
caracteriza as relações sociais e política va Caramuru-Paraguaçu e dos aconteci
regionais, fizeram, porém, com que um mentos históricos que levaram à sua dis
sistema inicial de arrendamento das ter persão, aliada a significativos laços de Solidariedade
ras indígenas a não-índios fosse o esto consangüinidade e um sistema próprio dos Tapirapé
pim de um processo de usurpação da de comunicação entre os diversos nú
terra e perseguição dos índios, cleos espacialmente dispersos que possi Ao povo Pataxó •

Além do desrespeito ao próprio Judiciá bilitou a persistência de sua identidade Nós escutamos as notícias de vocês que
rio, a pressão — que há anos se verifica e étnica diferenciada, apesar de todas as os brancos estão cercando vocês. Fica
parece agora culminar — pela transfe pressões que sofreram no sentido de sua mostristes quando nós escutamos a no
rência dos pataxós para fora do territó assimilação pela sociedade nacional. tícia pelo rádio. Então nós Tapirapé es
rio indígena, fere a Constituição (art. 4º A ocultação da identidade indígena e a tamos apoiando vocês e todos os nossos
e 198) e o Estatuto do Índio (arts. 22, 23 política de casamentos interétnicos a irmãos tem que apoiar vocês na luta con
e 25). que recorreram parcelas da população tra os fazenderos. O nosso irmão Pata
O argumento básico e sempre apresen Pataxó, foram estratégias de sobrevivên xó, nós Tapirapé sempre escutamos a
tado por fazendeiros locais e pelo Estado cia em uma região hostil aos índios. Tra notícia de vocês no jornal e no rádio. E
da Bahia — e encampado por alguns tou-se de uma imposição histórica. Isto também sempre nós ficamos tristes
parlamentares — na tentativa de negar nunca significou, porém, negação ou quando escutamos a notícia de vocês. Só
aos pataxós seu direito às terras, é dizê abandono da identidade indígena. Pelo pensando que os nossos irmãos Pataxó
los “não-índios”. De um ponto de vista contrário: a relação de oposição à socie estão sofrendo. Então era só isso que eu
jurídico, basta citar o art. 3º do Estatuto dade envolvente constitui-se em fator queria falar. Um abraço para todos vo
do Indio, que define índio ou silvícola preponderante da construção de um sis cês de lá. (Elias Tapirapé, José Pio, Ku
tema da identidade persistente. Judeus, rãpã'i Tapirapé, José Miguel Tapirapé,
bascos, irlandeses, maias, Yaques e Na (Porantim, dez./84),
vajos — estudados por E. Spicer — vi
venciaram e atualmente, em muitos ca
sos, ainda vivem esta situação e mam
têm, como os pataxós, sua identidade.

234
LESTE 15

Atentado contra Os moradores não incluídos nessa “pro


funcionários fissão” estão longe de se considerarem
felizes. Desejariam operar seus minifún
O advogado Moacir Lira, da Funai, e o dios, mas a indefinição da propriedade
chefe do posto indígena de Caramuru, não lhes faculta recorrer ao crédito ban
Rômulo Siqueira, sofreram um aten cário. Quem vai emprestar dinheiro a
tado a bala de fazendeiros no final da um Xacriabá ou suposto Xacriabá, sem
noite de anteontem, quando abriam a garantia de reembolso? Não obstante,
porteira da fazenda São Lucas, no Mu existe comércio na área. É o de cacha
nicípio baiano de Pau Brasil, onde vivem ça, proibido pela Funai mas inevitável.
os índios pataxós. Eles acabavam de vol Aliás, no dia em que se conseguisse aca
tar de Ilhéus, onde haviam deposto na bar com o consumo indiscriminado da
Polícia Federal sobre a tentativa de as cachaça no interior brasileiro, já não va
sassinato contra o índio Antônio Júlio da leria a pena viver. Ela substitui os ser
Silva, que está hospitalizado em Brasí viços públicos a que a população tem
lia com um tiro na cabeça. Ninguém fi direito, mas que lhe são negados na prá
cou ferido. (ESP, 05/12/84). tica. O grande consolo, o imenso Nir
vana, a euforia implícita na garrafa de
pinga, que dá prazer e esquecimento,
Pataxó pede intervensão ajudam a manter a unidade e a paz na
da Anistia cionais.
O problema da terra parece insolúvel,
Os caciques pataxós Nélson Saracura e pois teoricamente ela pertence aºs Xa
Nailton Pataxó, pediram, ontem, em criabás; na realidade, é objeto de transa
São Paulo, intervenção da Anistia Inter ção entre posseiros desiludidos e fazen
nacional em favor do seu povo, que está deiros que pretendem aumentar seus do
confinado em suas próprias terras por Uma história mínios. Há invasão de propriedades, por
fazendeiros da região, no Sul da Bahia, de Xacriabás falta de loteamento de áreas, e isso induz
Os caciques estavam acompanhados de a meditar sobre o que existe de vago e de
representantes da UNI e fizeram o pe No extremo norte de Minas Gerais existe fluido no conceito de reserva indígena.
dido através de documento, (ESP, 12/ um povoado com o nome de Brejo da Um Xacriabá cadastrado como rema
12/84), Fome, e outro chamado Defunto. Pre nescente, que participou da FEB e trou
cisa dizer mais? xe da Itália como galardão a sua perna
Esses aglomerados lúgubres estão situa de platina, após existência aventurosa
Campanha Nacional dos na área indígena dos Xacriabás, um chegou a adquirir na região seis glebas
povo estimado em 3 mil 800 almas agru num total de 200 alqueires, demarcados.
O cacique Saracura está em São Paulo padas em 700 famílias. Não é fácil iden pela Ruralminas. Seu império foi incor
desde terça-feira.para o lançamento da tificar um Xacriabá legítimo. Infiltra porado à área da reserva, e o índio-herói
campanha nacional pela sobrevivência ram-se na comunidade indígena pessoas de Monte Castelo não recebeu indeniza
do povo pataxó-hãhãhãi. •
provenientes de outros Estados, que, em ção. Seu nome civil é José dos Santos
Na segunda-feira o cacique esteve em face da dureza das coisas, optaram por Filho e seu apelido, Santo Rico. Com
Brasília, acompanhado do líder pataxó esse regresso às origens brasileiras. Há preende-se que ele não morra de amores
Nailton Muniz e do índio Álvaro Tuca um vereador à Câmara Municipal de pela Funai. De resto, muita gente por lá
mo, coordenador da União das Nações Itacarambi, tão Xacriabá como o ho gostaria de se ver livre desse órgão fe
Indígenas. Eles contaram que na Funai mem que assina esta coluna ou o homem deral, que, a julgar pelos depoimentos
foram aconselhados a buscar o apoio da que o lê neste momento, mas deram-lhe prestados ao repórter, lhes causa muitas
sociedade, uma vez que o problema da a etnia. atribulações e dá fraca assistência, a
terra dos pataxós será resolvido pela Jus A reserva tem singularidades. O repór começar pelo Posto de Saúde, que deixa
tiça, na qual eles não acreditam. "ter de O Jornal de Montes Claros que tanto a desejar. Um pequeno Xacriabá
Segundo Saracura, os 1.073 índios da andou por lá, e de cuja matéria extraio foi pedir mercurocromo para uma ferida
reserva estão sem água potável, o que já
estes apontamentos, observou que os na perna. “Não podemos aplicar” —
causou a morte de dezenas de crianças. Xacriabás moram do lado de fora. Diz, responderam-lhe no Posto — “o nosso
Na campanha, ele pede ao público que textualmente: “Não há um só índio que estoque está reduzido.”
envie um litro de água mineral para a habite a área ocupada pela Funai. Lá Na embrulhada da posse das terras, e no
Comissão Pró-Indio, que fica na rua dentro moram adventícios, posseiros, desassossego provocado pela livre circu
Caiubi, 126, Perdizes. Também foi etc. Moram até alguns assassinos conhe lação de criminosos (“Aqui só é respei
aberta uma conta no Banco Itaú, agên cidos, para dar uma tintura vermelha de tando quem já matou alguém”, diz um
cia 0935-Bahia, para arrecadar fundos movimento ao pobre território norte-mi dos moradores), Xacriabás e não Xa
para os pataxós. O número da conta é neiro. Como a vida está difícil, e eles criabás vivem num profundo e estranho
00067-9. (Fôlha da Tarde, 13/12/84). também precisam viver, o jeito é ir até a Brasil, nominalmente protegidos pelo
sede do município, a cidade de Itaca órgão federal, mas reduzidos a uma vida
rambi, e lá praticar uns crimes provei
tosos, feito o que asilam-se na reserva,
onde gozam de santa impunidade”.

295
*
_/\ #%
| E…NDIGENAs no BRasil/cro
que não é mais selvagem e não chega a Abrange a grande parte da população Os índios vinham sendo impedidos de
ser civilizada. E o que se conclui da re brasileira perdida nas brenhas e solidões plantar nas terras ocupadas, o que levou
portagem de Fábio Oliva, aqui resu do país, à margem do processo urbano e a delegacia da Funai a ingressar, recen
mida em alguns de seus tópicos. Parece de suas possibilidades de vida não pura temente, na Justiça Federal, com uma
que uma condenação inapelável paira mente animal. Gente condenada à semi ação de reintegração de posse. Agora,
sobre a sorte desses brasileiros obscuros, vida ou minivida, para a qual todas as eles estão tentando reaver as áreas ocu
a quem não chegaram os prazeres e be discussões e negociações do Palácio do padas por meio de plantação de roças; e,
nefícios da vida urbana. Que fazer? Não Planalto e do litoral politizado não têm o segundo o representante da Funai, ape
sou dos que mantêm preconceito contra menor sentido ou conseqüência. Gente, sar das pressões “os serviços não foram
a Funai e reconheço muitos de seus ser em suma, que jaz abandonada e esque paralisados, pois os índios ficariam mui
viços prestados à população indígena, cida num lugar chamado Brejo da Fome to prejudicados”. (Folha da Tarde, 12/
mas quero crer, a julgar pelo estado las ou noutro chamado Defunto — e haverá 07/84). •

timável da reserva Xacriabá, percorrida tantos por aí, (artigo de Carlos Drum
pelo jornalista, que o serviço nacional de mond de Andrade, JB, 31/03/84).
assistência à população indígena padece FUNAI vai ter
de graves defeitos estruturais. Lamenta que provar
velmente, o problema excede os limites
de jurisdição e competência desse órgão.
Tentativa de reaver
A Funai vai ter que provar que existem
Três milíndios Xakriabá estão tentando índios na reserva dos xacriabás, em Ita
reaver suas terras, no Município de Ita carambi (MG), para entrar na Justiça
carambi, no norte mineiro, invadidas po contra o Prefeito do município, José Fer
posseiros, há anos, apesar de demarca reira de Paula, e o fazendeiro Manoel
das. A informação é do delegado regio Caribe Filho, que, segundo ela, estão
nal da Funai em Minas Gerais, Lúcio ocupando as terras indígenas. A exigên
Flávio Coelho, ao denunciar que mais de cia foi feita pelo advogado dos acusados.
9% dos 40 mil hectares da reserva estão (O Globo, 09/08/84).
em mãos de grandes fazendeiros, que
recebem até mesmo incentivos da Su
dene. Entre os posseiros, ele cita o nome
do prefeito do Município, José Ferreira
de Paula (PDS).
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|

MATO GROSSO
DO SUL

297
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*|vºs NDIGENAs No BRASIL/cED

POVOS INDIGENAS NO BRASIL / CED1 |

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|7 - MATO GROSSO DO SUL ?

298
s! Z_Acervo
_A SA MATO GROSSO DO SUL 3

QUADRO GERAL DOS POVOS INDÍGENAS DA ÁREA MATO GROSSO DO SUL

POVO "…" Na E DA ÁREA(º) | MNICÍPIO #### POPULAÇÃO FONTE E DATA


l AI. Piraju"y Sete Quedas }=- 685 | FUNAI: 83

(+N —K) (1)


2 AI Jakare"y Mundo NOVO L. 019 ||FUNAI: 83

(N)
3 AI Sassoró (Ramada) |Tacuru l. 186 #FUNAI: 83

(+K —N)
4 AI Takuapiry Amambai l. 110 |PKN: 83 (3)
(K)
5 AI Amambai Amambai 1.974 |FUNAI: 83

(+K —N) *

6 AI Limão Verde Amambai 252 | FUNAI: 8l

(K)
7 AI Rancho Jakaré |Ponta-Porã L88 | FUNAI: '83

(K) •

8 AI Guaimbé Ponta-Porã 100 | FUNAI = 83

(K) -

9 AI Campestre Antonio João 42 | FUNAI: 83

(K)
LC AI. Pirakua Bela Vista 225 | FUNAI: 83
GUARANI (**)
(K)
},l. AI Caarapó Caarapó 1.620 | auto-Censo:83

(+K —N)
l2 AI Dourados DCurados 3.490 | FUNAI: 83

(+K —N) •

L3 AI Panambi Douradina 231 | FUNAI: 8].

(K} •

14 AI PanambiZinho Douradina ll4 |FUNAI: 81


(K)
15 AI Paraguasu Eldorado 120 |PKN: 83

(K)
li8 Maracajú (K) Maracajú * 80 lAlmeida: 85
Sta. Luzia Caarapó … l50 |PKRI: 83
(+K —N)
19 Jaguapiré TaCUTu 58 |Almeida: 85
(K)
20 Cerrito Mundo NOVO 35 PKN: 83
(N)
12.433 (T)
22 Porto Murtinho|Bodoquena 527 |FUNAI: 83
KADIMEU 23 Res. Ind. Kadiweu Porto Murtinho|São João (+Kadiweu 323 |FUNAI: 83
e Terena) 850 (7)

GUATÓ 32 laT Guató Corumbá 52O FUNAI: 85

293
s! Z_Acervo
— @ A. INDÍGENAS NO BRASIL/CED!

POVO "…º NOME DA ÁREA MUNICÍPIO #### POPULAÇÃO FONTE E DATA

KAMEA 33 Corumbá 2.000 CIMI: 79

34 Al Aldeinha Anastácio 130 FUNAI: 83

24 AI Cachoeirinha Miranda l. 761 |FUNAI: 83

25 AI Pilade Rebuá |Miranda l.056 [FUNAI: 83

26 AI Taunay Aquidauana 1.940 | FUNAI: 83

27 AT Ipegue Aquidauana 848 |FUNAI: 83


TERENA (3) 28 Lalima Miranda 682 |FUNAI: 83
29 Limão Verde ÀGuidauana 743 |FUNAI: 83
30 Nioaque Nioaque 622 | FUNAI: 83

31 Buriti Sidrolândia 1,059 ||FUNAI: 83


32 AI DOurados Dourados l. 000 |CIME: 83

9.841 (T)

(*) nas áreas Guarani mencionadas abaixo, pode haver várias aldeias ou "tekoha". Os nomes das
áreas estão de acordo com a nomenclatura indígena e, muitas vezes, diferem das denominações
Oficiais da FUNAI. •

(**) ver também nas áreas Sul, Leste e Leste do MT/Góias. Há milhares de Guarani vivendo em países
vizinhos, conforme estimativas a seguir: 22.500 no Paraguai (9 mil Paí ou Kaiowá, 5.500 Nande
va ou Chiripá, 7 mil Mºya e l mil chiriguanos). Os dados foram fornecidos em 1978 por Bartolo
meu Meliá e pela Associación Indigenista del Paraguay. Na Argentina, em 19 78, eram l.500 Mbya
(CIMI-Sul) e 500 Xiriguanos (L. Farré). Na Bolívia, também para 1978 a estimativa de L. Farré
oscilava entre 30.000 e 40.000 Chiriguanos.
(1) os sinais + e - combinado com as iniciais K (Kaiowa) e N (Nandeva) indicam o sub-grupo guara
ni majoritário em cada área. •

(2) PKN = Projeto Kaiowá/Nandeva, com sede em Amabai (MS).


(3) ver também na Área Sul.

300
s! Z> Acervo
_/\ | <> A MATO GROSSO DO SUL 5

Aconteceu na imprensa

Segundo Jaime Coelho, as investigações O primeiro crime na Reserva de Doura


GUARANI/ comprovaram que há um nítido interes dos ocorreu no dia 25 de novembro úl
GERAL se de alguns grupos organizados em não timo, com a morte do líder Guarani
permitir a expansão da Reserva de Dou Marçal de Souza. Em seguida, entre os
rados, fazendo com que os seus habitan dias 23 e 25 de dezembro, aconteceram
Assessoria tes — cerca de seis mil Kaiowa, Te mais três assassinatos, quando foram ví
renas e Guaranis — disputem os 3.539 timas os índios Guarani Belmiro Duar
para os Guarani hectares de terras. A Aldeia de Pirakwá, te, 27 anos, Guaraci de Souza e o índio
na FUNAI
reivindicada pelo Cacique Marçal de Kaiowá, Etelvino Teixeira. Além do sui
Souza como uma extensão da Reserva de cídio de Romana Duarte, após saber da
A Presidência da Funaijá recebeu a pro Dourados, melhoraria a qualidade de morte de seu filho Belmiro Duarte.
posta para o “Projeto Guarani”, que vai vida dos membros das três nações indí A própria Funai levantou a suspeita de
atender os 20 mil índios que vivem nos genas. que o assassinato de Belmiro Duarte,
Estados de São Paulo, Rio de Janeiro, Mas nem mesmo o Delegado Regional primo do líder Marçal, teve como causa
MS e Paraná, constituindo-se no maior da Funai, Carlos Amauri de Azevedo, a disputa de liderança da Reserva de
grupo étnico indígena brasileiro. De pode garantir a criação da Reserva de Dourados, uma vez que o criminoso
acordo com a proposta, elaborada pelo Pirakwá, porque essas terras indígenas Wilson Matos da Silva, é irmão do ex
antropólogo Rubem de Almeida, o pri ferem interesses de fazendeiros como capitão da aldeia, Romão Machado da
meiro trabalho para o desenvolvimento Astúrio Monteiro de Lima, proprietário Silva. (Correio Braziliense, 10/01/84).
do projeto deve ser feito com o levanta da Fazenda Serra Brava, que contesta a
mento da situação fundiária de cada demarcação feita pelo órgão. Pirakwá é
uma das 53 áreas Guarani. Até hoje, uma planície de terra fértil, com rios pis Entidades pedem
nem o extinto SPI, nem a Funai conce cosos, matas e madeira de lei, sendo esclarecimento de assassinato
deram qualquer tipo de assistência aos uma das poucas reservas onde o índio
Guarani do eixo Rio-São Paulo, e a úni ainda tem caça abundante. (O Globo, O Minter, a Funai, o governo do MS, o
ca área reconhecida como habitat natu 09/01/84). deputado Mário Juruna e o Cimi já re
ral desses índios é a Bananal, no litoral ceberam cerca de 300 cartas de 24 países
do Rio de Janeiro. Partindo daí, o antro de todo o mundo exigindo a identifica
pólogo sugere à Funai a constituição de FUNAI espera conclusão ção dos assassinos do líder indígena
“núcleos de apoio, dispostos em lugares do inquérito Marçal de Sousa. O Cimi divulgou nota
estratégicos” do Rio de Janeiro e São à imprensa afirmando que, apesar do
Paulo para atender aos índios que vivem A presidência da FUNAI não se pronun número de mensagens, “as autoridades
na região. (FSP, 19/06/84). ciou sobre a existência de agitadores, in permanecem surdas ao clamor interna
filtrados em entidades de defesa dos ín cional, não tendo tomado nenhuma me
dios e mantidos com recursos de entida
dida efetiva para a apuração deste cri
DELEGADO DA PF desfilantrópicas da Alemanha. Denún me”. (Zero Hora, 02/03/84).
cia neste sentido foi feita neste final de
investiga
semana pelo superintendente da PF de
O mistério que envolve o assassinato do Campo Grande, Jaime Coelho, respon DPF investiga entidades
Cacique Marçal de Souza, poderá ser sável pelas investigações dos recentes
desvendado ainda este mês, segundo in crimes ocorridos na Reserva Indígena de A Ford Foundation e mais 14 entidades
formou o Superintendente Regional da Dourados. internacionais com sede na América do
PF, Jaime Coelho. Adiantou já ter sido Conforme a Assessoria de Imprensa, a Norte e Europa estão sendo consultadas
comprovada a existência de agitadores Funai está esperando a conclusão do in pela Polícia Federal sobre a remessa de
ligados a entidades de defesa dos índios, quérito instaurado pela PF. No momen dinheiro para o Brasil, que está servindo
que recebem dinheiro do exterior, prin to, o órgão nada tem a dizer sobre o as para promover agitações entre os índios,
cipalmente
da Alemanha.
de instituições filantrópicas

sunto. Nos próximos 15 dias, o superin principalmente no Mato Grosso do Sul,
tendente do DPF pretende divulgar a lis segundo revelou um delegado do DPF
— Para chegarmos aos assassinos do ta de nomes das pessoas envolvidas em local. Ele explicou que diversas organi
Cacique Marçal, estamos fazendo um agitações nas áreas indígenas. zações do gênero, sediadas neste Es
levantamento da situação financeira de tado, têm insistido na invasão das reser
pelo menos outros oito líderes da Reser vas indígenas, concitando os índios a in
va de Dourados, onde ele morava com a vadirem fazendas e citou entre elas o
família. As investigações estão em fase Cimi, cujo secretário-geral, Antônio
de conclusão e já foram identificados al Brandt, poderá ser indiciado em pro
guns grupos economicamente privilegia cesso por essa prática verificada na fa
dos, encabeçados até mesmo por indí Zenda Paraguaçu, no município de
genas com significativa quantia de di Amambaí, no início deste ano.
nheiro aplicada.
301
s! Z_ Acervo
_/\ | SDVOS
A
INDÍGENAS NO BRASIL/CED!

Segundo algumas testemunhas, entre so irmão Marçal, que até hoje continua Assinatura do Capitão das Aldeias:
elas uma das vítimas desse processo de falso e obscuro. P.I. Porto Lindos — Carlos Vilharva
aliciamento, o cacique “Pancho” decla Exigimos tomada de providência urgen . Amambaí — Mauricio Vasques
rou que o próprio Brandt prometeu-lhe te sobre o andamento dos processos so . Pirajui — Mario Vera
um trator para ir até Brasília no início do bre a morte do nosso Líder. . Sacoró — Domazio Borvão
mês passado. (Correio Braziliense, 29/ Queremos que as autoridades responsá . Limão Verde — Adolfinho Nelzon
04/84). veis assumam esse compromisso conos . Dourados — Couto de Oliveira
co, porque somos “gente” que queremos . Piraçuá — Lázaro Morel
que seja feita a justiça merecida, e que . Paraguaçú —
esse caso triste, doloroso, acorde a cons . Serrito — Adolfo Martins
Preso
{
suspeito ciência adormecida dos “grandes” que . Panambi — Ricardo Jovito Galiano
podem fazer muito, mas nada fazem pa . Panambizinho —
A PF prendeu em Ponta Porã (MS), o
principal suspeito pela morte do líder ra que a verdade sobre o assunto venha a . Campestre —
indígena Marçal de Souza, assassinado público. . Caarapó — João Martins
no dia 25/11/83. A Polícia Federal ha Esperamos já há um ano e hoje exigimos .I. Jacaré — Faustino Vilharva
via recolhido as armas dos principais que as providências acima referidas, se P.I. Barragem de S. Paulo — José Fer
suspeitos e a perícia feita em Brasília jam tomadas o mais rápido possível, e nandes Soares
confirmou que parte das balas que atin por ser verdade o que exigimos assina P.I. O Coi- do Paraná — João Centurião
giram o índio partiram da arma Taurus, mos na certeza de sermos atendidos. P.I. Taquapery — Toniko Ricarte
calibre 38, pertencente a Rômulo Ga Seguem as assinaturas.” (Diário do Assinatura de outros líderes presentes
Congresso Nacional, 28/11/84). na reunião:
marra, conhecido “Paraguaio”.
Rômulo Gamarra, desde o início do in 1 — Hermes Araújo
2 — Luiz Velario Borvão
quérito, vinha sendo apontado como um
3 — Pedro Alves
dos principais suspeitos do crime. (Diá Carta ao Presidente
4 — Adolfo Martins
rio do Povo, 05/06/84). da FUNAI
5 — Mario Martins
“25 de novembro de 1984 6 — José P. Martins
Carta às autoridades Selenticismo Sr. Presidente da FUNAI 7 — Epitácio Silva Souza
8 — Adair Gonsalves Sanches
responsáveis do Sr. desculpar nós daqui Tribos do M.
S. (Mato Grosso do Sul) Kaiua e Gua 9 — Nizio Gomes Vilharvas
Aos 24 e 25 dias do mês de novembro de rani. 10 — Valdelino Cordeiro Verissimo
Guarani São Paulo
1984 as Comunidades Indígenas das Re Prezado amigo Sr. Presidente nós aqui
11 — Eduardo Pereira
servas de Dourados, Guarany, Kayowá e estamos preocupado pela nossa terra
12 — Marta da Silva Vitor
uma representação Terena da região de sem demarcação.
Miranda estiveram reunidos na Cate Seguinte: Paraguaçú (Amambaí), Pira 13 — Itunrique Ihdi
dral de Dourados para homenagearem o qua (Bela Vista), Jaguaripe (Tacuru) e o 14 — Cláudio de Souza
finado Marçal Tupã-y, Guarany, pela Serritos (Eldourado), Panambís (Dou 15 — Paulo Martins
morte brutal deste nosso irmão, que deu radina), Panambizinhos (Dourados). 16 — Hipólito Martins
17 — Nilton Nelson
a vida para que seu sangue se tornasse Pedimos por favor pra atender o índio
para nós como uma semente de cora Guarani-Kaiuá do Estado do Mato 18 — Amilton Benites”. (Diário do
gem, amor e raça e garra pela causa in Grosso do Sul. Por que até agora não foi Congresso Nacional, 28/11/84).
dígena. Sua morte não surgiu o efeito atendido. Do jeito que índio precisa do
que os covardes assassinos desejavam Mato Grosso do Sul foi muito atrazan
em amortecer a causaindígena. do. Participantes — os índios do Paraná
Ao contrário, assim como a morte de e de São Paulo.
Cristo foi início de ânimo para os após Necessidade maior com orgência de de
tolos, a morte de Marçal Guarany nos marcar a aldeia Paraguaçu sob coman
tornou mais unidos, mais fortes, nos deu do Caciques Panchos Romeros. Aldeia
coragem para lutar e com ele vamos ven Jaguapirés, aldeia Piracuás, aldeia Ser Homologação da Reserva
CCT. ritos e precisa todas áreas indígenas com
A morte de Marçal de Souza não foi um nova medição no M. S. O Presidente da República através do
fim, mas, sim, início de uma nova vida, Sobre o medicamento, também precisa Decreto nº 89.580 de 24/04/84, homo
de coragem e força para lutar como ele, muito. E mais Escola. Para o início do loga a demarcação administrativa pro
até o fim. ano que vem. Verba para estudos ou pe movida pela Funai da Reserva Indígena
Hoje, neste dia 25 de novembro de 1984, lo reembolso postal. Interesse da comu de Guaimbé, no Município de Ponta Po
aniversário de sua morte, morte que ge nidade nós queremos a resposta até dia rã, MS. (Diário Oficial da União, 25/
rou vida, nós, Guarany, Kayowa e Te 20 de dezembro. Sim — ou não, prazo 04/84).
rena pedimos e exigimos que o seu de do trabalho para demarcação da terra
sejo seja realizado. A demarcação, lega espera até dia 30 de abril 1985 por que
lização e retirada dos invasores de todas sim ou não, atender nós índio Guarani
as áreas indígenas. Kaiuá para demarcar área nós mesmo
Exigimos também o esclarecimento cor vamo tomar providência pra demarcar
reto, honesto sobre o assassinato do nos as área indígenas.
Sinceramente sr. Presidente esperamo a
sua resposta até, no mês de abril por que
nós aqui no M. S. precisamos do seu
apoio brevemente.

302
Acervo
| >
MATO GROSSO DO SUL 7

baí para pedir a liminar”, diz João Car mazenamento para a produção agrícola
GUARANI/ los sem, no entanto, querer adiantar dos indígenas.
Foram realizadas nas aldeias Passari
quando a questão será resolvida. Acres
PARAGUASU centa apenas que é sabido que os indí nho, Esperança, União, Taunai, Ipe
genas estão indo até outra fazenda para gue, Argola, Morrinha e Cachoeirinha,
Indios retomam caçar, uma vez que “na terra de Arge aproximadamente 2.500 horas de traba
suas terras miro só existe pastos”. (Correio do Es lho de motomecanização, com derruba
tado, 04/09/84). da de cerrados, enleiramento, aração e
Os índios Kaiowa, subgrupo Guarani, gradagem, que possibilitaram a incor
retomaram neste último final de semana poração de cerca de 300 hectares de
a fazenda Paraguassu, sitada no muni áreas agricultáveis. A Agrosul fornecerá
cípio de Amambaí; no Estado de MS, de GUARANI/ . ainda sementes selecionadas de arroz,
milho, soja, feijão e outras espécies para
onde foram expulsos pela primeira vez
em 1976, pelo fazendeiro Geraldo Coim RANCHO JAKARE | suprimento alimentar. (Correio do Es
bra, proprietário da fazenda Laranjal. tado, 12/2/84).
Embora a expulsão da comunidade indí Homologação da reserva
gena, na época, tenha sido denunciada à
Funai em relatório feito pelo funcionário O Presidente da República através do Conselho Tribal
Manuel Nunes de Freitas, o órgão não Decreto nº 89.422 de 08/03/84, homo reivindica demarcação
tomou nenhuma providência e ainda loga a demarcação administrativa pro
contribuiu para frustrar várias tentati movida pela Funai da Reserva Indígena A demarcação definitiva da área das al
vas dos Kaiowa em retomar suas terras. Rancho Jakaré, no Município de Ponta deias de Pilade Rebuá e Cachoeirinha,
Atualmente a comunidade Kaiowa, Porã, MS. (Diário Oficial da União, 09/ no Município de Miranda, além de um
composta de 130 índios, é liderada pelo 03/84). técnico indigenista e um antropólogo
cacique Pancho Romero. O seu territó para a Delegacia da Funai foram pedi
rio fica situado entre os córregos Mirim, dos ontem ao delegado Chafic João To
Laranjeira e Rio Iguatemi, distante da maz. As reivindicações foram formula
cidade de Paranhos 50 quilômetros, GUARANI/ das pelo presidente da organização do
conforme comprovam documentos e Conselho Tribal Indigenista do MS,
mapas elaborados pela Comissão Ron TE"YI KUE João de Oliveira Metello,
don. Expulsos de suas terras em 1976, só A área soma um total de 1.820 hectares,
três anos depois a Funai criou uma co Indio morre enforcado sendo 162 da aldeia de Pilade Rebuá e
missão destinada a elaborar um parecer 1.658 de Cachoeirinha, que não pos
final sobre a questão. A Polícia de Caarapó encontrou na noite suem um registro definitivo, somente
Apesar de a comissão ter reconhecido a do último sábado, o corpo de um índio um memorial descritivo. Os líderes estão
área como território indígena e concluir do Posto Indígena de Caarapó, depen preocupados com falta de registro da
pela sua imediata demarcação, nenhu durado numa árvore, nas proximidades área, apesar de ser uma das mais tran
ma providência foi adotada pela Funai. de um córrego. O fato ocorreu na Fa qüilas do Estado na qual ainda não ocor
Quatro outras comissões foram consti zenda “Tarumba”, por volta das 19ho reu nenhum problema de invasão de ter
tuídas posteriormente para solucionar o ras, depois que populares comunicaram ras. (Correio do Estado, 11/07/84),
problema, mas no entanto, além de su a existência de um morto, no local.
gerirem a transferência dos índios, duas O índio Miltom Vilalba, 28 anos, se
delas auxiliaram na expulsão dos Kaio gundo a Polícia, pode ter sido assassi FUNAI forma GT
wa em favor dos fazendeiros. (Estado de nado, ou suicidado. As autoridades da
Minas, 22/08/84). quele município continuam desenvol A Funai — identificará e redefinirá os
vendo investigações para elucidar a mor limites de quatro áreas indígenas per
te do silvícola. (Correio do Estado, 06/ tencentes aos índios terenas em MS.
Juiz não concede liminar 11/84). Para proceder este trabalho, a Funai
formou um grupo que está integrado
O juiz federal Luciano Franco do Ama pela socióloga Márcia Helena Paula
ral definiu na tarde de ontem que é de Fonseca, de Brasília; pela geógrafa Ana
“competência exclusiva do juiz da Co Maria Bueno, da Coordenadoria Regio
marca de Amambaí” a concessão de li nal do Incra; pelo chefe do setor Agrí
minar para a reintegração de posse da Convênio cola da Delegacia da Fundação, agrôno
Fazenda Paraguaçu, de propriedade de AGROSUL/FUNAI mo José Resina Fernandes e pelo índio
Argemiro Sguissard, localizada naquele terena Carlos Justino, irmão de Marco
município, que foi invadida por mais de As comunidades indígenas dos municí Terena, chefe de gabinete da presidên
54índios das tribos Guarani e Caiuá há pios de Aquidauana e Miranda estão cia. Esta equipe iniciará o levantamento
mais de 17 dias. sendo beneficiadas por um trabalho de da área nesta segunda-feira.
Hoje, João Carlos Marinheiro, advoga senvolvido pela Agrosul, em convênio Além dos levantamentos topográficos,
do de Argemiro Sguissard, segue para com a Funai. Além do preparo do solo, que terão por base o sistema cartográ
Amambaí para dar entrada no pedido fornecimento de sementes, fertilizantes fico do Projeto Radam, o grupo de tra
de reintegração de posse de aproxima e outros insumos, a empresa deverá balho realizará também a identificação
damente um hectare de terras ocupa orientar a comercialização e oferecer ar ocupacional, tendo em vista a superpo
das. A invasão, segundo ele, foi coman pulação existente em pequenas áreas.
dada pelo índio Pancho Romero. Os trabalhos terão a duração de um mês
“Agora nós estamos indo para Amam e serão realizados nos postos indígenas

303
=L%2_Acervo
_A EAnDIGENAs no BRasil/cro

de Cachoeirinha, em Miranda; Pitan GAI contra arbitrariedade Fernando Jorge


guy, Ipegui e Limão Verde, em Aqui de Ramão nega denúncias
dauana; e Aldeinha, que possui uma
área de apenas quatro hectares em Anas Em nota distribuída ontem, o GAI ma “O pessoal que me procura diariamente
tácio. (Correio do Estado, 23/08/84). nifestou o seu repúdio pelos aconteci em casa até agora não denunciou atos de
mentos que se desenrolaram na noite de violência”, afirmou ontem o índio Tere
quinta-feira no Posto Indígena de Dou na Fernando Jorge, líder da chapa “Ver
rados, quando mais uma vez o “capi de” um dos signatários do acordo feito
tão” Ramão Machado cometeu arbitra no começo do ano, com o “capitão”
riedades, invadindo as terras dos índios Ramão Machado com o objetivo de acal
Denúncia contra Ramão Fernando Jorge e Cláudio Nenito, apri mara situação na reserva indígena.
sionando os familiares de Fernando, que Fernando acusou o índio Jorge Paredes
O índio Terena Jorge Paredes, um dos se encontra foragido com Nenito. de “estar agitando”, ao levar para a im
que tentam, através de eleições, tirar o Diz a nota que Ramão Machado, man prensa uma série de denúncias, muito
poder policial do “capitão” Ramão Ma tém uma liderança ilegítima e é presti embora tenha confirmado que a casa de
chado, na reserva de Dourados, foi giado pela Funai, dispondo de uma Polí Lídio Assis realmente foi incendiado,
ameaçado na tarde de sábado pelo indí cia fortemente armada, coagindo impu mas pelo próprio dono, que se mudou da
gena Julião Machado, “policial” de Ra nemente a população daquela aldeia, reserva indígena de Dourados.
mão, segundo denúncia feita ontem. chegando até mesmo à violência física, Fernando confirmou que foi contratado
Mesmo depois da vinda do então presi como no presente caso. (Correio do Es pela Funai, em fevereiro deste ano, logo
dente da Funai, Otávio Ferreira Lima a tado, 10/06/84). após a assinatura do acordo para traba
Dourados, para contornar o conflito lhar junto aos índios de Dourados, mas
entre os representantes das chapas negou que tenha sido “comprado” para
“amarela”, de Ramão Machado, e “ver Juruna pediu afastamento Se calar diante das denúncias. (Correio
de”, o clima de medo e apreensão per de Ramão do Estado, 19/07/84).
manece na reserva, disse Jorge, que
mora fora daquela área, em razão das O deputado federal Mário Juruna pediu
ameaças. “O Ramão continua o mes ontem na Assembléia Legislativa, o afas
Ramão expulsa índios
mo”, garantiu, só que agora o “capitão” tamento do “capitão” Ramão Macha da Reserva
contaria com quase 100 homens para fa do, de Dourados, e o acusou como um
zer a “segurança”, sob as vistas grossas dos perseguidores do líder guarani Mar O “Capitão” Ramão Machado expulsou
do chefe do posto da Funai, em Doura çal de Souza, assassinado no final do da reserva indígena de Dourados a famí
dos. (Correio do Estado, 18/05/84). ano passado. O pronunciamento do de lia de Cláudio “Nenito” de Souza, que
putado foi durante a visita do presidente compareceu à reunião realizada neste fi
da Funai, Jurandy da Fonseca e sua co nal de semana no educandário Santo
Conselho Tribal no MS mitiva, que cumpriam a programação Antônio, pelo CIMI, quando um dos as
na sua visita ao Mato Grosso do Sul. suntos em pauta era o assassinato do lí
“Tem muita gente falando em nome do (Correio do Estado, 17/06/84). der Guarani, Marçal de Souza, ocorrido
índio e tirando proveito disso. E foi com há um ano, na aldeia Campestre, em
o objetivo de evitar que isto continue Antônio João.
acontecendo que resolvemos criar o Con Novas denúncias Nenito de Souza, primo de Marçal, par
selho Tribal Indígena do Mato Grosso contra Ramão ticipou do encontro, desobedecendo
do Sul”. A afirmação foi feita pelo pre uma advertência feita por Ramão Ma
sidente eleito para este Conselho, o Ca Segundo as denúncias formuladas on chado. Em represália ao índio “rebel
pitão João de Oliveira Metello, da aldeia tem pelo índio Celso Maciel, mais de de”, o “capitão” e vários homens arma
de Pilade Rebuá, no Município de Mi vinte pessoas foram desabrigadas pelo dos de sua “Polícia” invadiram a sua
randa. “policiamento” e forçadas a deixarem casa, espancando seu filho, Euclides de
A primeira diretoria eleita para o Con suas terras para dar lugar a “índios vin Souza, segundo confirmou ontem Ilário
selho, em reunião de 45 líderes indíge dos do Paraguai”. O indígena chegou há Paulus, do CIMI. (Correio do Estado,
nas das aldeias espalhadas pelo Mato alguns dias a Campo Grande juntamen 27/11/84).
Grosso do Sul, ficou composta dos se te com a família e está morando na Casa
guintes índios: João de Oliveira Metello, do Indio, aguardando uma definição do
presidente; Luís Viera, vice-presidente; delegado da Funai. O clima na Reserva é Chefe do PI é afastado
Calixto Francelino, 1º secretário; Faus de tensão e medo e a tendência é a si
tino de Oliveira, 2º secretário; Abel Pe tuação piorar, prevendo-se, inclusive, Foi afastado ontem pelo delegado da Fu
reira, 1º tesoureiro; e Isaías de Amorim um confronto mais sério entre índios e a nai em Campo Grande, Chafic João
Pereira, 2º tesoureiro. São todos índios “polícia” de Ramão Machado. (Correio Thomaz, o chefe do Posto Indígena da
terenas, de tribos espalhadas pela região do Estado, 03/07/84), Reserva Caiuás, Izanoel Sodré, em con
de Miranda e Aquidauana. (JB, 10/06/ seqüência das denúncias da família de
84). Cláudio Nenito de Souza. O delegado
esteve reunido com os denunciantes até
o início da noite, onde firmou um acordo
MATO GROSSO DO SUL 9

para atender a reivindicação dos mem Posteriormente, quando assumiu o PI o os indígenas, no futuro possam exigir
bros da reserva que haviam sido expul funcionário conhecido como Alaor, ou uma posição da Funai, caso as residên
Sos esta semana. tro acordo foi assinado entre os índios, a cias, de 9 metros por quatro, mais uma
Entre os assuntos tratados com o dele Funai e uma serraria, porém a história vez, não sejam construídas.
gado foi montada uma estratégia com a se repetiu e as valorizadas madeiras de Segundo os planos do órgão indigenista
Funai de Brasília, para promover a lon lei existentes foram desviadas e o assuntutor a partir do próximo mês serão im
go e médio prazo o desarmamento total to morreu por aí. Durante o período que plantadas 2 mil casas de madeira, com a
dos índios da reserva. O assessor Rubem Vandelino Bravin administrou a Reser venda das toras; ficando o dinheiro arre
Almeida, irá enviar um relatório com va de Dourados novas denúncias surgi cadado numa agência bancária de Dou
pleto à presidência da Funai, sobre os ram de exploração ilegal. rados. No entanto, a Funai não explicou
problemas que vêm se arrastando há Vários índios disseram que no ano pas as razões para a construção de tantas
anos sem qualquer solução, entre eles as sado, que a serraria de propriedade do casas, quando moram na reserva pouco
arbitrariedades cometidas pelo capitão atual vereador Vitório Pederiva (PDS), mais de 800 famílias, observou Bonifá
Ramão Machado. (Correio do Estado, teria recebido toras para o beneficia cio Martins.
29/11/84). mento e construção de casas, “mas isso Os caiuás, que praticamente estão fi
não aconteceu e quem ia falar com ele nanciando a construção, pois somente
recebia somente casca das toras” impró em suas terras existe madeira, querem
Denunciada extração prias para a finalidade inicialmente pre que à medida que as toras forem saindo
de toras vista. do local, as residências sejam levanta
Hoje Izanoel Sodré — substituto de Bra das. (Correio do Estado, 25/07/84).
A extração de madeiras de lei de lotes de vin — autorizou que grupos de cortado
famílias caiuá, da reserva de Doura res, entrassem dentro da Reserva e na
dos, sem controle, por parte dos índios, área dos caiuá, derrubando árvores cen
foi denunciada ontem pelo indígena Bo tenárias para que sejam aproveitadas na
nifácio Martins, encarregado pela tribo serraria Universo, dentro de um acordo
de fazer os apontamentos, “pois de ape COTITUIIT1, Homologação da Reserva
nas quatro lotes mais de 100 toras foram Bonifácio Martins, ficou encarregado de
retiradas e os donos não ficaram saben fazer o controle, indicado pelas famílias, O Presidente Figueiredo assinou o de
do”. porém os cortadores, nem a Funai ou creto nº 89.578 de 24.04.84 homologan
Bonifácio, falando em nome das cente a Serraria “dão quantas toras ou me do a demarcação administrativa promo
nas de famílias caiuá, tem receio que es tros cúbicos são retirados diariamente”. vida pela FUNAI da Reserva Indígena
se projeto, que visa a construção de mo Segundo ele, portando machados e mo Kadiweu, no município de Porto Mur
radias, e supervisionado pela Funai, tosserra, os responsáveis pelo corte, “in tinho (MS). (Diário Oficial da União,
acabe em mais um fracasso, a exemplo clusive Rodolfo Rodriguez, um pistolei 25/04/84).
de cinco outros iniciados nos últimos ro de Ramão Machado”, entram nos lo
sete anos, “que acabam com a madeira e tes e fazem a derrubada. “Mesmo sem
nenhuma casa foi levantada como disse saber se o dono quer uma casa ou não. Fazendeiros querem anular
ram”. Além disso, ninguém sabe quanta ma a demarcação
Atualmente o Posto Indígena (PI) da deira está saindo”, o que tem levantado
Funai está executando um plano de suspeitas dos caiuá, em cuja reserva flo Acompanhado do presidente da FAMA
construção de 2.000 casas, mediante a restal está localizada a madeira mais no SUL, estiveram ontem com o governa
exploração das reservas florestas dos bre e o que restou. dor Wilson Martins, oportunidade em
caiuá, apesar de estarem fixadas na Re Do lote de Brasilino Ramirez foram re que pediram que ele interceda no Pla
serva de Dourados somente 820 famílias tiradas 72 toras de peroba, mas não foi nalto, junto ao presidente Figueiredo,
de Terena, Guarani e Caiuás, totalizan emitido qualquer comprovante da me no sentido de que seja anulada a demar
do pouco mais de quatro mil pessoas. tragem cúbica; do lote do caiuá Leoni, cação feita pelo Exército, a pedido da
A madeira nobre, como perobas, cedro e foram 42 toras de peroba, três de cedro e Funai, há cerca de dois anos, determi
jequitibá, será beneficiada na serraria quatro de jequitibá; das terras de Adu nando os limites da reserva Kadiweu, na
Universo, localizada nas proximidades lino Fernandes, foram 18 toras de ma Bodoquena, que já foi, inclusive, homo
da reserva, mediante um acordo feito, deira branca; e do lote de Valdomiro Ra logada pela presidência da República.
“mas que nós não sabemos quem assi mirez, 15 toras. Esse controle foi feito Segundo os queixosos, a nova medição,
.nou”, afirmou Bonifácio. por Bonifácio. que amplia a área de 373.024 hectares
A extração de madeira na reserva indí “O importante é receber as casas”, en para 538.535 hectares, abrange parcela
gena, com comprovados prejuízos para fatizou Bonifácio Martins, “mas quere particular de 165 mil hectares perten
as famílias, vem ocorrendo desde 1976. mos saber quanto de madeira está sendo centes a aproximadamente 40 fazendei
Naquela época foi montada uma serra levada daqui. Os caiuás estão exigindo ros que têm títulos de propriedade expe
ria dentro da Reserva, na região conhe um comprovante disso”, destacando didos pelo Estado.
cida como Jaguapiru (cortada pela rodo ainda que “nós não somos contra o pro O governador Wilson Martins deverá
via para Itaporã) e centenas de toras fo jeto, mas queremos uma prova da ma conversar com o presidente Figueiredo e
ram cortadas, presumivelmente para a deira que está sendo tirada”, para que o ministro para Assuntos Fundiários,
construção de casas. Mas esse primeiro Danilo Venturini, na próxima semana,
projeto não se concretizou, o material antes que a homologação seja registrada
desapareceu, assim como o dono da ser em cartório. Enquanto isso, os fazendei
raria, cujos destroços ainda podem ser ros decidiram promover uma ação con
vistos na área. tra a homologação na Justiça Federal.
(Correio do Estado, 04/05/84).

305
*
–/ #">
E ºs INDIGENAs No BRASIL/CED

TERRASUL diz que Voltam conflitos na Reserva O Procurador garantiu também que os
demarcação é arbitrária contratos foram impressos fora dos pa
Os índios Caduveo estão novamente em drões da Funai, já trazendo nas cláusu
A Terrasul concluiu ontem um docu guerra com os pequenos agricultores las o nome de Jurandy Fonseca. Ele afir
mento onde apresenta todos os aspectos que ocupam terras da reserva da Bodo mou que o Deputado Albino Coimbra
jurídicos que provam ser totalmente ar quena. No sábado, dia 8, um grupo de (PDS) foi quem encaminhou toda a do
bitrário e decreto assinado pelo presi aproximadamente 16 índios (de rostos cumentação e, inclusive, entregou os
dente João Figueiredo homologando a pintados e armados) confiscou todos os contratos nas mãos do ex-Presidente da
demarcação administrativa promovida bens de dois agricultores que ocupam Funai.
pela Funai na reserva indígena Kadi terras nas colônias Babaçu e Água Fria e — Para tanto — disse o Procurador — o
wéus. ameaçou-os de morte, dando prazo de Deputado realizou duas reuniões na As
Ontem, o diretor do órgão, Euclydes de três dias para se retirarem da área. sociação dos Dentistas de Campo gran
Faria, anunciou que o documento será Para as demais 404 famílias o prazo é de, com os fazendeiros interessados em
encaminhado ainda hoje ao ministro um pouco maior, de 90 dias. Os índios, permanecer nas terras dos cadiweus,
Danilo venturini. Esse relatório havia segundo testemunho de alguns dos pos prometendo a cada um deles a renova
sido solicitado pelo próprio Ministro na seiros, dizem que não acreditam mais ção do arrendamento, o que contraria
época da assinatura do decreto. A partir em Funai, Terrasul ou Governo do Es frontalmente o Artigo 62 da Lei 6.001/
desse documento iniciaria os entendi tado, pois estes não apresentam solu 73, que é do Estatuto do Indio.
mentos com o Ministério do Interior e ção. Os agricultores ainda acreditam e O Procurador esclareceu também que os
com o presidente da República no sen elegaram 12 representantes que, junta 85 contratos representam a ocupação de
tido de negociar uma renovação desse mente com a Fetagri, estiveram ontem 300 mil hectares, quase a metade de
decreto, (Jornal de Brasília, 15/05/84), em audiência com o governador Wilson toda a reserva, que compreende pouco
Barbosa Martins, onde solicitaram uma mais de 600 mil hectares.
nova área para recolocação, como já ha Irineu de Oliveira informou que a Presi
Medição da área via sido prometido. (Correio do Estado, dência da Funai não tem qualquer cópia
não mudará 19/09/84). da Portaria nº 1684/E, autorizando a
prorrogação do arrendamento por mais
O presidente da Funai, Jurandy Marcos cinco anos.
Fonseca, garantiu ontem que a demar Posseiros exigem solução — Tampouco saiu alguma publicação
cação da reserva Caduveo já é “um caso nesse sentido no Diário Oficial da União,
encerrado”, ao ressaltar que a posse in E mais forte ainda a possibilidade de ex como é de praxe. Os contratos, dessa
dígena é uma questão indiscutível, le plosão de um conflito armado entre pos forma, não têm valor algum, mas estão
vando-se em conta que existe uma doa seiros e índios da Reserva dos Caduveo provocando mal-estar na reserva, onde
ção, homologação e registro em cartó diante da falta de solução para um novo os índios já acenam com novos conflitos
rio. Ele chegou ontem a Campo Grande, assentamento por parte do Governo do com os brancos, podendo trazer graves
acompanhado do deputado federal Má Estado. A comissão de 12 líderes que es conseqüências caso não ocorra uma
rio Juruna, do cacique Raoni e outras teve em Campo Grande até ontem, vol ação rápida para neutralizar o movi
autoridades, e participou da solenidade tou disposta a mobilziar os companhei mento.
de posse do novo delegado da 9° Dele ros no sentido de armarem um sistema O cacique da reserva, Cipriano Mendes,
gacia Regional da Funai, Chafic João próprio de segurança contra qualquer garantiu que colocará seus índios de
Thomás, em substituição a Carlos ataque indígena, pois estão dispostos a prontidão com as armas disponíveis pa
Amaury Motta. (Correio do Estado, 15/ continuar o trabalho na terra até a co ra expulsar os invasores. (O Globo, 29/
06/84). lheita das lavouras de feijão. 09/84).
Tudo que os agricultores conseguiram,
nas diversas reuniões mantidas com au
TERRASUL contesta toridades em Campo Grande, foi a pro Deputado contesta
messa de um aumento do efetivo policial as acusações
Contestando a afirmação do presidente na área, promessa esta feita pelo secre
da Funai, de que o caso das terras dos tário aleixo Paraguassu. (Correio do Es O deputado federal Albino Coimbra
Kadiweu ficou encerrada com a homolo tado, 20/9/84). contestou ontem as irregularidades de
gação, o diretor-geral do Terrasul expli nunciadas pelo procurador da Funai,
cou que a retirada dos posseiros e pro Irineu de Oliveira, nos contratos de ar
prietários legítimos apenas se encerrará Ex-Presidente da FUNAI é rendamento de terras da Reserva Indí
com o pronunciamento final da Justiça. acusado de negociata gena dos Caduveos, feitas este ano. O
(Correio do Estado, 25/6/84). deputado alega que todos os contratos
O ex-Presidente da Funai, Jurandy Fon são válidos e foram autorizados pelo ex
seca, foi acusado ontem de ter favore presidente da Funai, Jurandy Marcos da
cido 85 fazendeiros de Mato Grosso do Fonseca, para uma renovação de mais
Sul, com contratos de arrendamento de cinco anos, por uma portaria assinada
terras dos índios cadiweus. A acusação em agosto em Brasília.
foi feita pelo Procurador Geral da Fu
nai, Irineu de Oliveira. Irineu disse que
entre os beneficiados há grandes pecua
ristas e produtores de grãos, como Hélio
Martins Coelho, irmão do atual Prefeito
de Campo Grande, Lúdio Martins Coe
lho.

306
MATO GROSSO DO SUL 11

O deputado explica ter sido procurado Irineu de Oliveira, Marcos Terena e um Os 538 mil hectares, divididos em 40 fa
pelos fazendeiros arrendatários, que grupo de índios Kadiweu, chefiado pelo Zendas, sendo 20 arrendadas e 20 em
queriam uma audiência para tratar de Cacique João Príncipe, apontaram o De poder dos silvícolas, serão repartidos
assuntos relacionados com a renovação putado Albino Coimbra como o inter entre os 600 habitantes da reserva ca
do contrato de arrendamento das terras.mediário da transação entre os arrenda bendo quase mil hectares para cada ín
E quando o ex-presidente Jurandy Mar tários e Jurandy Fonseca. Ele teria leva dio. Eles irão ficar descentralizados da
cos da Fonseca, veio a Campo Grande do aos interessados os contratos (que fo aldeia tomando conta de cada parte que
para dar posse ao delegado Chafic João ram devolvidos aos beneficiados em en lhe couber, ficando isolados de outros
Tomaz, manteve contatos com os inte velopes da Câmara dos Deputados) e es grupos indígenas, havendo a necessi
ressados na casa do deputado durante tabelecido as bases do negócio em reu dade da criação de postos de atendi
um jantar. niões na Associação dos Dentistas de mento.
Ficou então estabelecido que, Jurandy Campo Grande, onde os documentos fo O delegado Chafic João Thomaz disse
Fonseca, faria um ofício autorizando a ram datilografados. que irá pedir para a Funai de Brasília,
renovação por mais cinco anos, sendo Segundo o Procurador da Funai, esses um grupo de trabalho para elaborar um
entregue pessoalmente ao deputado Al 84 contratos, arrendando 304 mil hecta projeto de desenvolvimento de base para
bino Coimbra, que acompanhou o pro res, foram assinados na presença do ir a administração das terras. “Se este gru
cesso. Este pedido, explica o deputado, mão de Albino, o advogado Javam po vier a Campo Grande em breve, den
tem que ser feito seis meses antes do tér Coimbra, que se encarregou de recolher tro de 45 dias, poderemos ter em mãos o
mino do contrato, conforme manda a os cheques da quantia ilegalmente co projeto que vai ser instalado”, comentou
lei, para que caso não seja renovado, os brada. o delegado.
arrendatários tenham opção de procu Irineu de Oliveira e Marcos Terena afir A grande preocupação da comissão que
rar outras terras. (Correio do Estado, maram que toda a transação foi feita às visitou o delegado é com relação à edu
01/10/84). escondidas — inclusive sem o conheci cação dos jovens, porque a tendência é
mento dos Kadiweu, aos quais Jurandy ocupar toda a reserva. Baseado nisto,
Fonseca havia prometido não fazer qual pediram ao delegado a instalação de
FUNAI prova fraude quer arrendamento sem autorização da mais escolas e professores dentro da re
tribo — e ninguém na Funai soube da serva, que irá contribuir para o desen
Ao apresentar ontem provas documen existência da portaria 1.684, que deveria volvimento dos silvícolas. O delegado
tais da fraude nos arrendamentos das proceder à assinatura de qualquer con explicou que este problema será estu
terras dos índios Kadiweu, envolvendo o trato, e não ser arquivada. dado pela comissão de Brasília. (Correio
ex-Presidente da Funai, Jurandy Mar A pedido dos índios, todos esses contra do Estado, 09/10/84),
cos da Fonseca, e o Deputado Albino tos foram ontem anulados pelo Presi
Coimbra, o Procurador do órgão, Irineu dente Nelson Marabuto. (O Globo, 05/
de Oliveira, e o Chefe de Gabinete Mar 10/84). Governador garante
cos Terena disseram que os 84 arrenda
segurança aos posseiros
tários beneficiados tiveram que pagar,
além do preço contratual, Cr$ 500 por As terras de volta O governador Wilson Barbosa Martins
hectare arrendado, perfazendo um total garantiu durante audiência com os pos
de Cr$ 150 milhões, quantia que jamais A Comissão de Indígenas da Reserva seiros da Bodoquena uma melhor segu
chegou aos cofres da Funai. Bodoquena, afirmou ontem ao delegado rança na área, com envio de policiais mi
A Funai — que ainda não tem provas da Funai em Campo Grande, Chafic litares à região, na tentativa de conter a
documentais do destino dos Cr$ 150 mi João Thomaz, que não haverá mais ar decisão dos indígenas que querem ver
lhões e baseou sua acusação no depoi rendamento a partir de janeiro e querem suas terras desocupadas até o mês de ja
mento de oito arrendatários beneficia a posse definitiva de todas as terras, neiro, Esta é mais uma vez em que os
dos — apresentou vasta documentação A comissão ficou reunida com o dele agricultores daquela localidade, onde
comprovando irregularidades nos con gado durante três horas, a portas fecha ocupam terras de propriedade dos Ca
tratos. Entre elas a existência de uma das, onde tratou de diversos assuntos re duveo, vêm ao governador no intuito de
portaria fantasma, que jamais foi en lacionados com a administração das ter buscar proteção para suas famílias, se
contrada nos arquivos do órgão, assi ras da reserva e das necessidades exis gundo eles, ameaçadas constantemente
nada no dia 8 de agosto, após a celebra tentes, não fazendo nenhuma ressalva pelos indígenas que querem as terras ra
ção dos contratos (25 de julho), que de com relação aos posseiros instalados no pidamente desocupadas. Ontem, uma
veriam ser autorizados por essa porta interior da Reserva Indígena Caduveo. comissão constituída por representantes
ria. Além disso, existem irregularidades Os índios que fazem parte da comissão das 406 famílias — juntamente com a
também nos contratos, três dos quais explicaram ao delegado da Funai, que a Fetagri — foi até à Governadoria para
assinados em nome de pessoas mortas. partir da reintegração de suas posses, é ratificar a preocupação com o clima de
necessário um programa de infra-estru tensão na região. (Correio do Estado,
tura para administrar as terras. Eles dis 17/10/84).
seram que todas as 600 pessoas que vi
vem na reserva irá precisar de escolas,
professores, atendentes de enfermagem,
motoristas e tratoristas, por causa da se
paração que irá ocorrer,

307
s! Z> Acervo
_/\ | <> A NDÍGENAS NO BRASIL/CEDI
Projetos de pecuária para a implantação das fazendas de Há dois anos, quando parte dos contra
criação de gado de corte. Os índios já tos estava vencendo, os índios tomaram
Até o final deste mês, segundo a previsão contam com duas mil cabeças, aproxi 15 fazendas e agora pretendem ocupar
de Chafic João Tomaz, delegado regio madamente, que deverão ser utilizadas as demais. Entre os arrendatários, en
nal da Funai, estará em Campo Grande para início do rebanho. (Correio do Es contram-se as maiores fortunas de Mato
o grupo de trabalho que solicitou a Bra tado, 22/10/84). Grosso do Sul, como a família Coelho.
sília estudos das questões referentes às (Cidade de Santos, 23/12/84).
terras dos índios Caduveu. O delegado
regional quer uma análise dos técnicos União comprará 7 milha
sobre a forma de eliminar o arrenda no MS
mento — decidido pelos índios — garan
tindo a implantação dos projetos de pe O governo Federal vai desapropriar 7
cuária que pretendem desenvolver na milha de terras em Nioaque, para o as
área. sentamento das famílias de posseiros da Bóias-frias
O delegado se diz preocupado com a dis Reserva Kadiweu, que estão sendo
persão dos Caduveu pela área, na me ameaçados de expulsão por parte dos ín Alguns dos últimos Ofaié-Xavante já
dida em que as famílias passarão a resi dios e fazendeiros. A informação foi não falam mais a língua e trabalham
dir nas sedes das fazendas dos arrenda dada ontem pelo governador Wilson como bóias-frias na região de Brasilân
tários, localizadas dentro da área da tri Martins, revelando que o Estado fará dia, no sul do MS. O mais jovem desses
bo. Com o “desaldeamento”, a Funai gestões junto ao MEAF, no sentido de índios remanescentes é João Carlos Ma
corre o risco de ver fracassados alguns assentar parte dos trabalhadores “sem galhães, de 18 anos, que trabalha como
projetos em desenvolvimento, como os terra” no Mato Grosso do Sul nesta gle cortador de cana e tratorista para a Des
de saúde e educação. Para evitar esta si ba. (Correio do Estado, 19/12/84). tilaria Hoffing. Ele sabe apenas “vaga
tuação, Chafic João Tomaz pediu a cria mente”, a história dos Ofaié-Xavante,
ção do grupo de trabalho, que ainda fi pois seus pais morreram quando ele ain
cará incumbido de estabelecer uma for Marabuto teme conflitos da era criança.
ma para a saída pacífica dos 85 arren Outro descendente dos Ofaié-Xavante é
datários e das 406 famílias de posseiros, Os Kadiweu estão dispostos a ocupar as Ramão Lopesa Almirão, de 24 anos, que
sendo este último caso considerado mui 98 fazendas instaladas dentro da reserva trabalha numa fazenda em Xavantina, a
to difícil por Chafic, na medida em que o e cujo contrato de arrendamento expira 200 quilômetros de Brasilândia. Em 74
órgão não entrou ainda com nenhuma dentro de uma semana. Além de ocupar foi levado pela Funai para uma reserva
ação de reintegração de posse. as fazendas, os Kadiweu pretendem alu na região de Campo Grande, mas fugiu
Outra preocupação do grupo de traba gar os pastos e o presidente da Funai, de lá. Desde então, vive praticamente es
lho será a segurança da área tendo em Nélson Marabuto, teme um enfrenta condido, sem nenhum documento de
vista a possibilidade de invasões, embo mento entre índios e arrendatários. identidade, com medo de ser recaptu
ra a distribuição das famílias permita Os contratos de arrendamento se reno rado pela Funai. (O Globo, 27/05/84).
uma vigilância maior por toda a área. O vam a cada cinco anos, mas Marabuto
grupo de estudos, terá que dizer tam revogou os contratos assinados por seu
bém como tornar viável o projeto preten antecessor, Jurandy Marcos da Fonseca,
dido pelos índios, discriminando de que considerando que a renovação fora feita
forma poderão obter a renda necessária à revelia dos índios e, em alguns casos,
para arrendatários fictícios ou mortos.
Ao constatar a irregularidade, Mara
buto revogou a portaria de renovação e
deu prazo para os arrendatários aban
donarem a reservakadiwéu até o final de
janeiro.

308
sL7-Acervo
–/ { | <> A

Guarani/Ocoí (PR)

309
s! Z> Acervo
_/\ | <>A. INDÍGENAS NO BRASIL/CEDI

UR TIBA
f>

18 - SUL POVOS fNDIGENAS NO BRASIL / CED!

310
SUL 3

QUADRO GERAL DOS POVOS INEIGENAS DA AREA SUL


N@ NO NQ DE ALCEIAS OU
PQVO MAPA NOME DA ÁREA MUNICÍPIO N…"pºs"#### POPULAÇÃO FONTE E DATA
|- AL Ibirama Ibirama (SC) PI Ibirama 430 Urban: 82

#… Bugio 204

634 (T)
2 AI Araribá Avaí (SP) 210 FUNAI: 84

#… 3 Al LCatu Braúna (SP) 27 FUNAI: 84

4 AI Vanuire Tupã (SP) 153 EUNAI: 84

3 AI TC3t\l Braúna (SP) 46 FUNAI: 84

4 AI Vanuire Tupã (SP) 153

G AI Apucarana Londrina (PR) Aldeia Sede 215 FUNAI: 84

Aldeia Pinhalzinho 122 FUNAI: 84

Toldo 34 FUNAI: 84

Barreiro 33 FUNAI: 84

404 (T)

6 AT. Queimadas Crtigueira (PR) A} deia Sede 200 FUNAI: 84

Aldeia Mococa 49 FUNAI: 84

KATENGANG 249 (T)


(3) AI Tibagy Ortigueira (PR) 46 | FUNAI: 83
AI DOminial Marrecas Guarapuava (PR) 461 FUNAI: 81.

9 AI Palmas Palmas (PR) e 364 FUNAI: 84

Abelardo Luz (SC)

10 Toldo de Xirbangue Chapecó (SC) #50 CIME: 84


ll Al Ligeiro Tapejara (RS) 840 FUNAI: 84
12 AI Carreteiro Tapejara (RS) 17l FUNAI: 84
L3 AI Inhacorá Sto Augusto (RS) 388 FUNAI: 84

14 AÍ Kaingang de Iraí Iraí 118 FUNAI: 84

20 A.I. WOtOuro São Valentim (RS) 680 FUNAI: 84


10.981 ('#')

16 AI Rio das Cobras Laranjeiras do Sul (PR) 970 {K} | Picoli.: 81

418 (G)
L7 AI Marigueirinha Mangueirinha e 748 (K} | Picoli: 80

Chopinzinho (PR) 327 (G)


18 |AT Barão de S. Jerônimo da 360 (K) | Picoli: 81
Antonina Serra (PR) 43 (G)

19 AI Xapecó A. Luz, Xaxim e 5 l. 244 (K) | Nacke: 78


Xanxerê (SC) 150 (G)
2l | AI Cacique Double Cacique Double (RS) 327 (K) | Santos/
# 36 (G) |Aspelin: 78
(5) 22 AI Laranjinha Sta Amélia (PR) 9 (K)

Ll5 (G)
23 Al Guarita Ten. Portela, 2 1.635 (K) ! IECLB: 80

Miraguai {= 104 (G)


RedentOra (RS)
24 AT NonCai Nonoai, Rodeio, 8 1. 115 (K) | FUNAI: 78

Bonito (RS) l10 (G) Simoniam: 80


25 AT. Faxinal Cândido de Abreu (PR) 212 (K) | Pico}.i: 81

6 (G)

311
=LAcervo
_A Evºs INDÍGENAs No BRASIL/CED

Povo || ººoºº NOME DA ÁREA MUNICÍPIO ## População fonte e DMA


26 AI Ivaí Manuei Ribas Pitanga 6 558 (K) | Picoli: 81
(PR) 5 (G)
39 AI São Jerônimo São Jerônimo da 143 (T) | FUNAI: 84
Serra (PR)
10.981
2 AI Araribá Avaí (SP) 47 FUNAI: 84

27 AI Peruíbe Peruíbe (SP) 102 FUNAI: 84

28 Al Boa Vista do Ubatuba (SP) . 6(} Altino: 84

Sertão do Pró-Mirim
29 AI Guarani do Krukutu | S. Bernardo do É5 Ladeira: 84

Campo (SP) -
3O AI Jaraguá São Paulo (SP) ll Ladeira: 83

31 ÀI Guarani da Serra Itariri (SP) 35 Ladeira: 83

do Itatiris

32 AT M'Boi-Mirim São Paulo (SP) li3 Ladeira: 84

33 AI Guarani da São Paulo 130 Ladeira: 84

Barragem
34 AT Rio Branco de Itanhaem 35 Ladeira: 83

CUÁRANI Itanhãem -

• 35 |AI Guarani do Ribeirão S.Sebastião (SP) 30 | Ladeira: 84

Silveira
36 AI Avá-Guarani (ex Ocoí); S.Miguel do Iguaçu (PR) 97 FUNAI: 34

37 AT Guarani do Rio Areial Inácio Martins 48 FUNAI: 84


l Aí Ibirama Ibirama (SC) ?

15 IAI Pinhalzinho Tomazina (PR) 37 | FUNAI: 84


2O AT Guararii de São Valentim 20 FUNAI: 84

WOt_Cl1}{T} ·

38 A L Guarani Barra Osório (RS) 30 FUNAI: 84


D'ouro •

41 AI Guarani de Camacuã | Camacuã (RS) 04 - FUNAI: 84

40 Tapes Tapes (RS) 50 CTMI: 30

2.208 (T)

(1) No total de população Xokleng estão incluídos os mestiços Xokleng/Brancos/Kaingang mas não estão incluí
dos os 155 cafusos que vivem na área.
(2) Ver também na Área Mato Grosso do Sul.
(3) No total de população Kaingag estão incluídos os que vivem nas áreas mistas Kaingang/Guarani.
(4) No total de população Guarani estão incluídos os que vivem nas áreas mistas Kaingang/Guarani. Ver também
na Área Mato Grosso do Sul.
(5) Os dados sobre as populações Kaingang/Guarani das áreas mistas não foram atualizados, porque a fonte dis
ponível que é FUNAI: 84 não tem os totais por povo.

312
sL7-Acervo
_/\ 1 S-A SUL 5

TOLDO CHIMBANGUE:
CENTRO DA LUTA KAINGANG
“Parece que agir na ocorrência
ou eminência de conflito
não é simplesmente o limite da FUNAI,
mas propriamente uma opção”

Juracilda Veiga (*)

N o dia 20 de Novembro um grupo de índios Kaingang


caminha de madrugada pelas estradas do Toldo
Retrospectiva
Chimbangue. Caminham à noite, por razões de se A presença Kaingang às margens do Irani pode ser afir
gurança. mada com base em prova documental desde meados do sé
E o início da Marcha Kaingang pela Terra, que seguirá, culo XIX, pelo menos. “A ocupação da terra dos Kaingang
até Brasília. de Santa Catarina por colonos só começou por volta de
Sete indígenas — entre eles, duas mulheres e uma criança 1920, uma vez destruída a Rebelião de José Maria (a cha
— seguem do Toldo Chimbangue para se unirem a dois re mada “Guerra do Contestado") e resolvida a questão de li
presentantes da comunidade de Nonoai (RS)" e, com eles, mites com o Paraná (1917), quando as terras a oeste dos
percorrer as capitais do Sul do país: Florianópolis, Porto Campos de Lages foram incorporadas ao Estado de Santa
Alegre, Curitiba e São Paulo. Catarina. A ocupação das terras do Toldo Chimbangue por
sua vez, só ocorre a partir do final da segunda Guerra Mun
Em Florianópolis, estiveram acompanhados de represen dial, com o incremento da expansão agrícola,
*antes do povo Xokleng, a quem visitaram primeiro. Lidera
o grupo o cacique Clemente Fortes do Nascimento Xévuyá e Os imigrantes e descendentes de imigrantes italianos e ale
seu plano era chegar a Brasília. mães adquiriram suas terras da Empresa Colonizadora Lu
ce, Rosa & Cia., cujo título de propriedade é a sucessão do
O objetivo da Marcha era romper o isolamento a que esta título forjado em 1893 por José Joaquim de Morais. A Cons
vam sendo condenados, sensibilizar a opinião pública na tituição de 1891, transferindo aos Estados as terras devolu
cional em relação ao seu direito à terra e fazer junto aos tas, favoreceu as grilagens e distribuição de títulos com base
6rgãos do governo uma última tentativa pacífica de reavê em supostas ou forjadas posses. Assim é, que José Joaquim
la. A Marcha pela Terra viria culminar um processo de de Morais obtém o título de uma área de 39.542 ha, incluin
dois anos e meio de luta pacífica dos Kaingang pela recu do terras de muitos caboclos e as terras do Toldo Chimban
peração de suas terras à margem do rio Irani, tempo em que gue.
suportaram todo tipo de agressões e violências e em que
aprenderam a desacreditar nos meandros da burocracia e Em 1950, a Colonizadora Luce, Rosa & Cia. faz uma tenta
da política indigenista oficial. A Marcha era, pois, uma me tiva junto ao SPI para que os índios sejam transferidos. O
dida de pressão sobre a FUNAI que a essa altura, ostentava .SPI se decide pela transferência, mas esbarra na resistência
uma fachada de "abertura indigenista", para ocultar o ve dos Kaingang e é obrigado a desistir da idéia. Porém, já em
lho jogo de interesses políticos que ainda e sempre deter 1948, a maior parte da área dos Chimbangue fora vendida
minou a ação indigenista oficial. pela Luce, Rosa & Cia., aos irmãos Trentim, a quem a co
lonizadora entrega a tarefa de resolver o problema de pos
Por sua vez, os dois anos e meio de luta dos Kaingang pela seiros e índios (um documento da Luce, Rosa, de 1939, re
recuperação de suas terras são a conseqüência de quase 40 conhece a existência ali de “100 famílias brasileiras de in
anos de resistência à ocupação de seu território pelos colo trusos"). Com o serviço de pistoleiros e queima de casas, o
nos alemães e italianos e representam a recuperação do vi grande Toldo é disperso e os Kaingang se refugiam na beira
gor de um povo que até o fim do século XIX dominava a do Rio Irani.
região.

(*) é agente de pastoral, da equipe do CIMI-Sul.

313
INDÍGENAS NO BRASIL/CED]

Em 1973, os Kaingang detinham apenas 105 ha das terras A luta em 1984


que lhes pertenciam e neste ano também estas foram repar
Em princípios de 1984, a comunidade Kaingang e o CIMI
tidas entre os agricultores vizinhos. A maioria das famílias
enviaram à FUNAI relação nominal de todas as famílias
foi obrigada a sair, indo procurar refúgio junto aos parentes
do Posto Indígena Xapecó (SC), Posto Indígena Nonoai e indígenas pertencentes ao Chimbangue, com a devida loca
Posto Indígena Votouro (RS). Outras foram trabalhar de lização atual de cada uma. Enviaram ainda relação de todos
peões e algumas famílias se submeteram a ser peões dentro os ocupantes não-índios, proprietários e não proprietários,
de sua própria terra para não abandonar os antepassados juntamente com um mapa onde situavam as ocupações de
que estão enterrados ali. Essas famílias que permaneceram, cada um.
procuraram a FUNAI em 1973 no Posto Xapecó e recebe
ram orientação da funcionário João Mader para permane Em Junho de 1984, às vésperas de completar dois anos que
cer na terra, que a FUNAI tomaria providências. A partir os Kaingang haviam solicitado à FUNAI providências com
dali, a única coisa de concreto feita pela FUNAI foi aposen relação às suas terras, frente à pressão dos colonos que vi
tar alguns velhos. nham invadindo as roças dos índios para que estes não
plantassem mais e diante do reiterado silêncio da FUNAI
ante as renovadas violências, a comunidade enviou uma
O início da luta carta ao Presidente e ao Delegado Regional do órgão dando
pela recuperação da terra prazo até 30 de Junho para q e a FUNAI solucionasse o
caso. A FUNAI já era presidida então por Jurandy M. da
Conhecendo a comunidade do Chimbangue desde 1976, o Fonseca. Em Curitiba, assumira a Delegacia, um homem
CIMI, juntamente com a Igreja Católica de Chapecó, deci da confiança de Paulo Pimentel, coordenador da Campa
diu realizar, em 1978, uma reunião com os colonos para nha Andreazzista no Paraná, João D. Ruggieri.
tentar uma solução conciliatória, diante da situação penosa
que viviam os índios. Discutiu-se na reunião a possibilidade Em 29 de Junho, a FUNAI enviou Carlos Vagner Severo,
de devolução aos índios dos últimos 105 ha que lhes haviam funcionário da 4º DR, para tentar negociar com os Kain
restado até 1973. Todavia, os colonos mostraram-se intran gang um prazo maior. Os Kaingang deram à FUNAI mais 5
sigentes, afirmando que possuíam escrituras das terras e por dias para que o Delegado Regional trouxesse em mãos uma
tanto se sentiam seguros dos seus direitos. resposta concreta. Passado o prazo, os Kaingang começa
ram a se mobilizar para retirar os colonos pelos seus pró
A partir daí, tentaram de todas as formas se desvencilhar prios meios e enviaram ao Presidente da República uma
das famílias que permaneciam na terra. Foram fechando o carta dando prazo de um mês (até 5 de Agosto) para ter
cerco para obrigar os índios a sair. No inverno de 1979, uma solução definitiva.
queimaram o rancho do Cacique Francisco Marcelino, na
época com mais de cem anos, depois de obrigá-lo a sair do Diante da mobilização dos Kaingang, inclusive de outros
}?? ES}}? (). estados, a FUNAI enviou à área em fins de Julho os indi
genistas Ana Lange e Odenir Oliveira, com a proposta de
Em 1980, dois índios foram baleados pelas costas quando que os Kaingang dilatassem o prazo em troca de imediatas
saíam de um armazém na Sede Trentin (vila criada no lugar providências oficiais. Essas providências seriam o cumpri
da antiga aldeia). Não foi possível indiciar um culpado, por mento dos requisitos legais para levar o caso à apreciação
que os colonos usaram de falso testemunho. do GT Interministerial (o “Grupão” do Decreto 88.188/
83): levantamento das benfeitorias dos ocupantes não índios
Os armazéns da Vila cortaram o financiamento de alimen na área e levantamento antropológico sobre a comunidade
tos aos índios (sistema usual de crédito para pagamento na Raingang. A FUNAI se comprometia a levar ao “Grupão”
colheita). a proposta de 2.000 hectares para os Kaingang. Os Kain
gang aceitaram dilatar o prazo até Outubro, desde que ti
Em 1982, dois anos após a morte do Cacique Francisco vessem garantia de terras para plantar já a partir de Agosto.
Marcelino e diante do agravamento das violências, os Kain
gang do Chimbangue, ajudados pelos Kaingang das áreas Em 31 de Julho de 1984, a FUNAI baixou a portaria 1.675/
de Xapecó (SC) e Nonoai (RS) escolhem novas autoridades 84, liberando para os índios uma área de 137 hectares para
e decidem lutar para reaver sua terra. Em 16 de Junho de roças de subsistência.
1982, os Kaingang comparecem à 4º DR da FUNAI em
Curitiba com sua reivindicação expressa em ofício acompa No entanto, os colonos não aceitaram esta portaria e a FU
.nhado de mais de 20 documentos referentes à comprovação NAI cedeu às pressões dos agricultores, iniciando com eles
de seu direito histórico *. uma negociação que se arrastou até 6 de Setembro, quando
a FUNAI e os colonos celebraram um acordo liberando aos
º --
* *

De Junho de 82 a Dezembro de 83, a FUNAI compareceu à índios uma área de 122 hectares. Com um mês de atraso, os
área apenas duas vezes mediante muita insistência da co Áaingang começaram a trabalhar a terra em puxirão, mas
munidade, recusando-se a tomar providências em casos de as violências dos colonos não cessaram de todo.
violência, como a invasão de roças do Cacique e do índio
Gumercindo por colonos armados. Atingidos pelos 122 hectares, os colonos tiveram cerca de
dois alqueires plantados indenizados pela FUNAI, pelos
quais pagou o absurdo de 14,5 milhões de cruzeiros.

314
#||

Os levantamentos das benfeitorais dos colonos e antropoló No dia 16 de Outubro, o delegado reúne-se pela manhã com
gico encerraram-se em fins de Agosto. Em meados de Ou os colonos. No mesmo dia, por volta das 17:15 horas, agri
tubro, todo o material encontrava-se processado na FUNAI, cultores montam uma emboscada contra membros do CIMI
com os relatórios finais já elaborados. Faltava a decisão do
# +
nas terras do Chimbangue, em frente à moradia de Pedro
Presidente da FUNAI de remeter o caso ao "Grupão". Marcon. Vários atiradores disparam contra o veículo onde
viajavam os missionários Wilmar da Rocha D'Angelis e Ju
Na área, a FUNAI se mostrava cada vez mais disposta a racilda Veiga com um filho de três meses e a enfermeira
agradar os colonos e conter os índios. Para os Kaingang os voluntária Ma. Elizabeth Kleba da Silva. Oito disparos
funcionários — inclusive o delegado regional — falavam de atingiram o veículo, mas felizmente ninguém sofreu maio
uma solução somente por meados de Janeiro de 1985, na resferimentos.
época da reunião do “Colégio Eleitoral" para escolher o
próximo presidente da República. Na seqüência das negociações com os colonos, a FUNAI
novamente negocia a sorte dos Kaingang sem a participação
Nesse contexto é que os Kaingang recolhem à área três fa deles. Acerta com os colonos que novas famílias não entra
mílias de parentes seus que ficaram sem terra para traba riam e que solicitaria à Secretaria de Segurança de Santa
lhar no Município de Seara. A decisão contrariava os ter Catarina a colocação de guaritas nas entradas que dão aces
mos do Acordo da FUNAI com os colonos. Os colonos rea so às moradias indígenas, para impedir a presença ali de
gem, ameaçando romper o acordo e retirar as famílias à quaisquer outros indígenas e, também dos membros do
força. CIMI.

Atentado contra o CIMI. A marcha a Brasília

A FUNAI negocia. Do acordo definido entre o Del Regional da FUNAI e os


colonos, em fins de Outubro, para a colocação de guaritas
O Delegado Regional João D. Ruggieri negocia novamente policiais na área, prenunciava-se para os Kaingang uma si
com os colonos, disposto a ceder-lhes tanto quanto necessá tuação de total isolamento. Ademais era clara a ofensiva
rio. Acusa o CIMI de responsabilidade na transferência das dos colonos, favorecida pela atuação de João Ruggieri"
famílias índias e ameaça proibir os membros do CIMI de Além disso a impunidade quanto às violências dos agricul
entrar em contato com os Kaingang. Recebe a resposta que tores evidenciava o acobertamento destes por políticos e au
a Igreja não abre mão de seu compromisso com os Kain toridades locais.
gang do Toldo Chimbangue.

315
s! Z_Acervo
_A @ A S INDÍGENAS NO BRASIL/CEDI

Para os Kaingang, nesse momento, não havia garantias se No caso do Chimbangue, por exemplo, é certo que a FU
quer de sua sobrevivência física e, menos ainda, de uma NAI de 1982 ou 1983 agiria de idêntica forma à “FUNAI
solução favorável para a questão da terra. renovada" de 1984 ou, quem sabe, atuaria melhor? O que
determinou que a FUNAI agisse no Chimbangue em 1984
Decidem-se por pressionar a FUNAI através da Marcha a não foram as mudanças havidas no órgão, mas o avanço da
Brasília. Essa ação deixou claro para os Kaingang o inte consciência e da organização indígena. Por outra parte, o
resse da FUNAI em protelar indefinidamente a solução para modo de agir — com promessas não cumpridas, protela
esse caso. Não fosse a presença dos Kaingang em Brasília, ções, mentiras e paternalismos — nada fica a dever à velha
culminando a Marcha por todas as capitais do Sul do país, FUNAI. Afinal, a FUNAI de sempre.
o caso Chimbangue estaria ainda aguardando nas gavetas
da FUNAI sua remessa ao “Grupão”.
NOTAS DO TEXTO CHIMBANGUE...

Numa política nada original de tentar agradar a todos, o (1) A comissão Kaingang que foi a Brasília foi escolhida em reunião da
Presidente da FUNAI, Nelson Marabuto Domingues, aten comunidade do Chimbangue ocorrida em meados de Novembro, com
deu à exigência indígena de colocar o caso do Chimbangue a presença de representantes de todas as famílias e com todas as auto
imediatamente na pauta do “Grupão". De outra parte, reu ridades indígenas do Toldo. Os representantes de Nonoai foram con
vidados pelo cacique do Chimbangue, com anuência do cacique de
nido o "Grupão” no dia 5 de Dezembro para tratar do caso, Nonoai,
como era de se esperar, nada foi decidido. Isso significa que a (2) Veja-se a história desse grupo Kaingang em “Toldo Chimbangue -
pressão dos Kaingang não foi suficiente para fazer a FU história e luta Kaingang em Santa Catarina”, CIMI Regional Sul,
NAI desistir de sua postura de manter o caso indefinida 1984, 108 p.
mente sem solução". Porém, a presença da FUNAI no (3) Esse ofício e diversos outros documentos da comunidade indígena es
tão reproduzidos na obra referida à nota (2).
Chimbangue, em fins de Julho, atemorizada pela carta dos (4) Demitido da função de Delegado Regional da FUNAI em 5 de De
Kaingang ao Presidente da República, deixou evidente aos zembro, por exigência dos Kaingang, João Ruggieri iria a Chapecó se"
índios que a tática protelatória tem um limite: esse limite é manas depois para ser homenageado pelos colonos, conforme informa
o conflito ou a eminência dele. a imprensa local (Diário da Manhã, 22-23.12.84) e sua demissão con
siderada “injusta" e obra de "fofocas e insinuações do CIMI", pelo
inimigo nº I dos Kaingang, Vereador do PDS e Delegado Pedro Pe
Aliás, parece que agir na ocorrência ou eminência de con reira (Diário da Manhã, 8-9.12.84).
flito não é simplesmente o limite da FUNAI, mas propria (5) A pressão dos Kaingang ocorreu pela divulgação a nível nacional e
mente uma opção do órgão. O que se pode perguntar é: a em cada capital do Sul do país de sua luta, suas reivindicações e de
FUNAI faz essa opção por falta de recursos humanos e ma núncia da atuação da FUNAI. Em Brasília, onde entregaram à FU
NAI ofícios e abaixo-assinados de diversas instituições em apoio à sua
teriais (agir só em casos extremos) ou será um espaço de ção luta, os Kaingang decidiram usar uma forma mais forte de manifes
ação que ela reserva aos interessados nas terras indígenas tação e pressão, acampando diante do Congresso Nacional na ma
(colonos, fazendeiros, MEAF)? Nesse último caso, a con nhã do dia 4 de Dezembro. Ali permaneceram até a noite do dia 5,
clusão seria de que a FUNAI agirá sempre e quando os ín quando decidiram retornar para casa diante das vitórias obtidas:
— remessa do caso Chimbangue ao GT Interministerial e primeira
dios resistirem, apesar de toda compulsão. apreciação do caso pelo GT.
— cópia do relatório antropológico e do memorando com o qual a
Curioso é constatar, entretanto, que a readmissão na FU FUNAI encaminha o caso ao GT.

NAI de diversos experimentados indigenistas não alterou — demissão do Delegado.João Darcy Ruggieri.
essa política de atuação. — conhecimento maior dos mecanismos ministeriais e de governo.
— apoio de parlamentares a nível federal.

Os cerca de 85 indígenas reclamam uma Ele, contudo, afirmou que o Toldo Xim
KAINGANG/ definição da Funai quanto à oficializa bangue está calmo. E preferiu não escla
ção da área de dois mil hectares onde recer a real situação da reserva, argu
CHIMBANGUE moram e que recentemente foi titulada mentando que qualquer posição da Fu
pelo INCRA. A demarcação começou no nai “reconhecendo a área como indí
Em pé de guerra. gena iria criar convulsões sociais, preju
ano passado e alguns colonos já estabe
leceram benfeitorias dentro da área. dicando um diálogo com os colonos”. A
Os caingangues do Toldo Ximbangue, Ontem “ninguém entrava nem saía da sua equipe pretende, por enquanto, de
localizado no Município de Chapecó, no reserva”, confidenciou um funcionário finir a área estimada em dois mil hecta
Oeste de Santa Catarina, ameaçaram da Funai, observando que há vários dias res. E não há ainda uma estimativa para
expulsar os cerca de 900 colonos, tidos os índios passaram a pressionar o órgão o término dos trabalhos, e nem qual será
por eles como invasores de suas terras. “das mais diferentes formas”. o comportamento dos índios nos próxi
Numa tentativa de evitar o conflito uma “Estamos fazendo apreciações de ordem mos dias. (Jornal de Brasília, 13/07/
equipe da Funai, constituída de funcio técnica”, informou o delegado da Fu 84).
nários de Brasília e da Delegacia Regio nai, João Darci Ruggere, num intervalo
nal com sede em Curitiba seguiu para a da reunião em que estavam presentes,
região, mantendo um encontro com diri além de representantes do INCRA, um
gentes do INCRA, em Chapecó. advogado, uma antropóloga e um enge
nheiro agrimensor da Funai “mas qual
quer definição dependerá de Brasília”,
observou o delegado.
316
SUL ?

de produtores rurais de Sede Trentin


contra a ação da Igreja que deseja a de
volução das terras. A localidade tem 80
OFICIO DA COMUNIDADE KAINGANG
ricas colônias de terra fértil que estão
DO TOLDO CHIMBANGUE AO PRESIDENTE sendo reivindicadas, há três anos, por
DA REPUBLICA, EM 5 DE JULHO DE 1984 um grupo de Kaingang. Os índios têm o
apoio do prelado que é presidente da
Senhor Presidente, CPT. Os agricultores têm o amparo do
Pedimos para o senhor Presidente da República um apoio sobre a nossa área de Chimbangue, para Sindicato dos Trabalhadores Rurais,
que seja demarcada nossa área conforme os limites antigos que dá mais ou menos dois mil hectares, das Cooperativas de Produção Agrícola
tudo conforme os documentos que já estão na mão da FUNAI, E que seja titulada em nome da
comunidade indígena Kaingang do Chimbangue, SC.
e da Prefeitura de Chapecó, bem como
Cansados de tantos sofrimentos, que o SPI e o Governo já conhecia nossa área de quarenta anos do Governo Estadual. (O Estado, 28/
atrás, faz dois anos que fizemos a primeira viagem na FUNAI, em Curitiba, buscar nossos direitos, 07/84).
Três viagens já fizemos na FUNAI de dois anos para cá e até hoje não tivemos solução nem decisão
nenhuma. E o resultado até agora é o aumento das violências dos colonos, destruição de plantações
dos índios, invasão de roças e ameaças.
O último ofício que foi mandado para a FUNAI esgotou-se o prazo no dia 30 de Junho. Veio fun Colonos fazem proposta
cionário de Curitiba pedir mais uns dias, e foi combinado com ele e com toda a comunidade que
nós esperamos até o dia 4 de Julho uma visita do Delegado da FUNAI de Curitiba com a decisão e Um grupo de colonos de Toldo Chim
depois desse dia a comunidade não tem mais assunto com a FUNAI. bangue chegou ontem a Brasília para
Chegou o dia 4 e o Delegado não apareceu, estando toda a comunidade reunida e muitos que estão pedir ao Presidente da Funai, Jurandy
hoje obrigados a morar fora e vieram de longe para a reunião, e o Delegado não compareceu nem Marcos da Fonseca, que retire e reassen
Enandou satisfação,
te em outro local as 15 famílias de índios
Por esse motivo nos dirigimos a procura do Presidente da República, porque a FUNAI não podemos
mais esperar. :º caingangues que lá vivem e reivindicam
Não podemos acreditar que o Governo maior do Brasil vai dar força num crime como esse que foi o a demarcação dos dois milha. de terras.
roubo das nossas terras que foram dos nossos antigos. E onde que nasceram e se criaram os pais dos Há cerca de um mês, os índios fizeram
nossos avôs, e onde estão enterrados no nosso cemitério. Como é que nosso direito vai ser menor que
essas posses de 20, 30 anos dos colonos sobre nossa terra? uma proposta contrária ao Governo:
E hoje em dia, onde que é a nossa área, temos que viver apertado, sem poder plantar, por que as que retirasse os colonos da área, perten
leis que são a nosso favor não estão sendo respeitadas pelos invasores. centes aos caingangues, prometendo
Esperamos o vosso apoio que nos ajude a requisitar a nossa área de Chimbangue, porque assim, agir com violência caso não fossem aten
Senhor Presidente, nós não queremos o sacrifício de índios e colonos e para que assim as nossas didos.
famílias não seja filhos de conflitos, e nem condenados a morrer à míngua. Podemos alertar a Vossa
Excelência, caso não seja solucionado e garantida a terra de nossa comunidade indígena, e isso se As terras dos caingangues foram vendi
gerar num conflito com os colonos, a responsabilidade será somente do governo. das pela empresa de colonização Luci
O Governo está consciente de que essas terras são dos índios desde o descobrimento do Brasil, e Rosa aos produtores, em 1938. Segundo
vamos ter que ficar discutindo ainda o nosso direito? Como o índio pode compreender isso? Não o Presidente do Sindicato Rural de Cha
entendos que o governo não está enxergando.
Nos dirigimos a Vossa Excelência para sermos atendidos, para que assim não seja possível nós agir pecó, Arlindo Rama, moram hoje no lo
pela força bruta. ca1180 famílias de lavradores, que plan
Aguardamos a vossa resposta até o dia 5 de Agosto de 1984, que é o máximo que podemos esperar, tam arroz, milho, feijão e soja. (O Glo
já que começa o novo tempo de planta. " bo, 02/08/84).
Quem assina são as autoridades indígenas e auxiliares em nome de toda a comunidade do Toldo
Indígena Kaingang do Chimbangue,

Cacique Clemente Fortes do Nascimento Xêyuyá A FUNAI criará um PI


Capitão Angelin Gandão Fwóti
Antonio da Veiga Kaxínfa A Funai criará um Posto Indígena na ci
Sebastião da Veiga Koyóyt dade de Chapecó com infra-estrutura
Gumercindo Fernandes Ngóg Yuyá mínima para atendimento dos índios in
tegrantes do “Toldo Chimbangue” co
mo forma de sustar os conflitos entre
brancos e indígenas da localidade rural
Prefeito pede providências produzem riquezas gerando divisas para de Sede Trentin,
a nação brasileira e representando par A decisão está contida em documento
O Prefeito Ledônio Migliorini, preocu cela importante de homens de real valor que a Funai entregou ontem ao Cacique
pado com o conflito existente na locali imprescindível ao bem-estar da comuni Caingangue Clemente Fortes do Nasci
dade de Sede Trentin, encaminhou telex dade”. (O Estado, 20/07/84). mento, líder do grupo remanescente. A
ao Presidente da República, ao Ministro criação do posto foi decisão tomada pela
do Interior, ao Ministro do MEAF, ao 4° DR da Funai depois de reunião com
presidente da Funai, ao Delegado Re Colonos promovem especialistas e representantes da OAB
gional da 4° D.R. e para todos os depu na sede da fundação em Curitiba.
passeata
tados federais do PMDB, Solicitando A Funai também decidiu constituir um
providências. Numa organizada manifestação que grupo de trabalho para proceder ao le
No telex o Prefeito diz que “preocupa ocupou as ruas centrais de Chapecó, cer vantamento topográfico da área de terra
dos com a tensa situação na localidade ca de mil agricultores de Sede Trentim pretendida pelos índios do Toldo, assim
de Sede Trentin em vista da disputa de protestaram contra o Bispo Diocesano como a avaliação das benfeitorias lá
terras entre os índios e colonos apelamos de Chapecó e a CPT que movem cam existentes edificadas pelos colonos não
providências urgentes, tendo em vista panha de entrega de terras aos Kain índios, “justificando-se a criação do
estar gerando clima de intranqüilidade gang,
há mais de 150 famílias de colonos que O protestou reuniu jovens, crianças,
adultos e idosos, caminhões e tratores,
simbolizando o protesto das 160 famílias
317
=LAcervo
_A Svºs INDIGENAs No BRASIL/CED

grupo de trabalho porquanto tal levan comunidade indígena teme que as me Aumenta a tensão
tamento topográfico e tal avaliação de didas anunciadas pela Funai tenham o
benfeitorias são pré-requisitos sem os objetivo de, apenas, refrescar os ânimos. A Portaria 1675/E da FUNAI autori
quais o processo administrativo em tra Por isso, exigem um compromisso pú zando os índios a permanecerem numa
mitação não poderá ser encaminhado ao blico do presidente da Fundação. área dispersa de 137 ha na localidade de
grupo interministerial ao qual compete O porta-voz confirmou que fica revo Sede Trentim, começa a mostrar seus
analisar e decidir sobre a matéria”. gado o prazo de cinco de agosto para a efeitos. Os colonos armaram ontem bar
O grupo de trabalho será formado por saída dos colonos e lembrou que os ín reiras na localidade visando impedir a
membros da OAB, da UFSC e da Funai. dios querem uma solução pacífica que entrada de qualquer pessoa que tenha
Estão no local o engenheiro José Jaime não prejudica nem brancos nem Cain ligação com os índios, o que vale dizer
Mansin, da Funai, a antropóloga Neusa gangues. Eles consideram uma “solução contra o CIMI, até agora o órgão mais
Bloemer, da UFSC, e o representante da provisória” a definição da área de 137 acusado de incitamento aos indígenas.
Secretaria de Agricultura e Abasteci hectares. (O Estado, 05/08/84), O deputado Hugo Biehl encaminhou
mento, Valdir Crestani. De imediato mensagem ao presidente da Funai pe
essa equipe implantará o projeto de sub dindo a revogação da Portaria, baixada
sistência do grupo indígena, localizando Mau tempo impede visita no dia 31 de julho, e que destinou os 137
uma área de 137 hectares para os índios. ha para os índios. A escolha da área foi
Esse projeto agrícola possibilitará aos As ameaças de que os caingangues de feita, segundo o que se apurou, por
colonos o desenvolvimento de suas ativi três reservas do Sul estão dispostos a se membros do CIMI, tendo sido escolhida
dades normais e os índios, por sua vez, reunir à tribo do Toldo Ximbangue, apenas a parte nobre das terras. Com
ocuparão
dos. os quatro lotes a eles destina além dos constrangimentos físicos im

isso os colonos estariam automatica
postos pelos lavradores aos índios, leva mente expulsos. (Diário da Manhã, 16/
Outras decisões da Funai são: A Funai ram o presidente da Funai, Jurandy da 08/84).
vai usar seu poder de polícia de que dis Fonseca, com diversos assessores, e mais
põe legalmente como órgão tutelar dos o Deputado-cacique Mário Juruna, a
indígenas brasileiros somente em última viajar ontem de Brasília para Chapecó, FUNAI busca solução
instância, após esgotadas todas as alter onde localiza-se a área indígena.
nativas pelas vias judiciais; a Funai pro O avião — um Bandeirante da Funai — O Superintendente da Funai reúne-se
moverá encontro com o Governador de entretanto, não pôde aterrissar no aero hoje na Secretaria do Oeste, com as lide
Santa Catarina para tratar da questão porto local devido ao denso nevoeiro, ranças sindicais e políticas de Chapecó,
do Toldo Chimbangue/Sede Trentin. acrescido o risco de ser montanhosa a re para estudar uma solução para o con
Há uma grande expectativa sobre a gião. Restou a Jurandy da Fonseca pedir flito de Sede Trentim.
atuação da Comissão Especial que atua ao comandante que sobrevoasse a re A reunião contará com a presença do
em Sede Trentin/Toldo Chimbangue serva, para que os “colonos percebessem Delegado Regional da Funai, do Secre
porque ela será integrada também por que os índios não estão sem amparo e tário do Oeste, Henrique Deiss, do pre
representantes da OAB, do Incra e de para que a própria comunidade se tran feito de Chapecó, Ledônio Migliorini,
órgãos independentes. A definição de qüilizasse”. E prometeu a João Rugge dos Deputados João Paganella e Hugo
uma área de 137 hectares para instalar re, delegado regional da Funai com sede Biehl, da diretoria do Sindicato dos Tra
ali a comunidade indígena foi determi em Curitiba, que dentro de duas sema balhadores Rurais, membros da OAB,
nada por decreto, mas uma solução final nas estará no Toldo Ximbangue. técnicos de Incra e da Funai. (O Estado,
será objeto de análise de comissão inter A caminho de Chapecó, Jurandy da 19/08/84).
ministerial que envolve os Ministérios do Fonseca esclareceu que a situação dos 86
Interior e de Assuntos Fundiários. (JB,
05/08/84). •
caingangues do Toldo Ximbangue está
dramática: “Os índios estão impedidos Nota da FUNAI
de transitar pela própria área, não po
dem sair de suas casas para comprar ali A Funai divulgou ontem nota oficial à
Exigida presença mentos. Está ocorrendo apedrejamento imprensa, a respeito dos conflitos de Se
do presidente constante contra crianças índias, soube de Trentin, destacando que busca uma
mos que paióis indígenas foram queima
solução que assegure aos Caingangues
Um porta-voz dos índios que preferiu dos e há registros de agressões físicas re um mínimo de condições para a sua so
não se identificar para “evitar ataques centes.” brevivência.
pessoais”, antecipou ontem que os Cain Há duas semanas, a Funai havia conse O teor da nota diz que “A Funai, a pro
gangues exigirão a presença, em Chape guido uma trégua, quando 32 colonos e pósito da situação existente no Toldo
có, do presidente da Funai, Jurandir dois deputados catarinenses estiveram Chimbangue/Sede Trentin, município
Marcos da Fonseca. Os índios querem em Brasília, espontaneamente. Na opor de Chapecó, envolvendo índios e colo
garantias reais de que “o problema do tunidade, eles acataram a sugestão de nos, vem de público informar que o seu
Chimbangue será levado até o fim”. A desejo é o de que, através de um entem
permitir que os caingangues cultivassem
dimento do qual participem todas as
uma roça de 137 alqueires e a criação de
uma comissão — constituída de repre partes interessadas, seja encontrada
sentantes do Governo do Estado de San uma solução que assegure aos Caingan
ta Catarina, Funai, INCRA e CIMI —, gues um mínimo de condições para a sua
que teria a função de buscar soluções sobrevivência.
para a área, coincidentemente locali
zada na chamada região do contestado
de históricas convulsões sociais, (JB, 13/
08/84).

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sL7-Acervo
_A I_S A SUL-9

“No momento, a Funai pretende garam CIMI reage contra Devastação na Reserva
tir aos índios de Sede Trentim uma área
onde possam, provisoriamente, fazer O Cimi considerou absurda a proposta Os índios do Toldo Chimbangue denun
suas plantações de subsistência até que a do deputado federal João V. Paganella, ciaram ontem ao IBDF a devastação das
solução definitiva para a questão seja lembrando que a Constituição é clara ao últimas reservas de matas nativas da
encontrada pelo Meaf, Incra, Funai e tratar das terras de ocupação indígena, área em disputa,
Governo de Santa Catarina; conforme considerando-as patrimônio da União, A denúncia foi feita pelo cacique Cle
preceitua o Decreto 88.118/83. inalienáveis e de usufruto dos índios bra mente Fortes do Nascimento (Xeyuya) e
“A Funai esclarece que, em torno da sileiros. (O Estado, 24/08/84). pelos índios Angelim Gandão e Gomer
questão, continua aberta ao diálogo, en cindo Fernandes. Os Caingangues pedi
tretanto, como é de sua obrigação..., ram ao IBDF medidas enérgicas para
está atenta na defesa intransigente dos D. José é apoiado impedir o desmatamento, pois duas ou
interesses dos seus tutelados. três cargas diárias de toras são extraídas
em ato público
“Com referência à situação fundiária do de uma área próxima ao Lajeado Sítio
Toldo Chimbangue, deve ser destacado Um ato público de apoio ao Bispo Dio Velho, de propriedade dos irmãos Pedro
que não há a menor dúvida quanto à cesano de Chapecó, Dom José Gomes, e Alceu Marcon. (O Estado, 17/10/84).
imemorialidade da posse por parte dos reuniu ontem, na Catedral Santo Antô
índios. Em razão da existência de docu nio, 70 padres e mil fiéis das dioceses do
mentos que atestam, de modo inequí Paraná, Rio Grande do Sul e Oeste ca
tarinense. Atentato a missionários
voco, a presença da comunidade indí
gena na área em questão.” O padre Ricardo Camatti destacou que Agentes de pastoral ligados ao CIMI
Finalmente, a Funai ao demonstrar boa as intimidações não farão a igreja mudar sofreram, ontem, atentado à bala por
vontade espera reciprocidade e com seu comportamento nem sua linha de parte dos colonos que ocupam a área in
preensão de todas as partes envolvidas e atuação pastoral em favor dos trabalha dígena conhecida como Toldo Chim
está certa de que, ao final, será encon dores sem terras, dos trabalhadores ur bangue. O missionário Wilmar Dange
trada uma solução que atenda a índios e banos e dos índios. Observou que a pas lis, sua esposa e uma enfermeira, acom
colonos. (O Estado, 21/08/84). seata dos colonos de Sede Trentim contra
panhados por um funcionário da Funai
o Bispo Diocesano interessava mais a que os precedia em um veículo, ficaram
grupos que não desejam respeitar os di em meio a violento tiroteio quando atra
reitos dos índios e dos sem-terras. Disse vessavam o trecho da área indígena
Novo acordo
também que não há qualquer contradi Kaingang, invadido pelos colonos, ten
O Superintendente Executivo de Opera ção entre a ação da CPT e do Cimi pois do o seu carro atravessado por várias ba
ções da Funai, Eraldo Santos, anunciou suas gestões em favor dos sem-terras e de las. Segundo informações recebidas pela
ontem a formalização de acordo entre índios não colidem em momento algum. Funai, em Brasília, Dangelis recebeu
índios e colonos para solução provisória (O Estado, 01/09/84), um tiro na perna. (Diário do Grande
do conflito de Sede Trentin/Toldo Chim ABC, 18/10/84).
bangue: foi demarcada uma nova área,
com 120 ha, para assegurar ali a per Situação de miséria
manência dos índios e cultivo agrícola
Colonos ameaçam romper
até que seja tomada a solução final e de A antropóloga Neusa Bloemer da UFSC
finitiva. que integra a comissão mista que está A questão da posse das terras de Sede
O acordo entre índios e colonos, inter levando o problema do conflito de terra Trentim, que envolve índios Caingan
mediado pela Funai e um batalhão de entre índios Caingangues e colonos de gues e colonos ali radicados, registrou
políticos locais, assegura ao índio a sua Sede Trentin, chamou a atenção ontem ontem um fato novo: os proprietários ru
sobrevivência em uma área praticamen para a situação de miséria em que estão rais decidiram, em assembléia, que
te contínua (apenas um pedaço é des vivendo os cem índios que constituem romperão o acordo com a Funai se não
contínua) que, em sua maior parte coin aquela comunidade. forem retiradas as famílias indígenas le
cide com as delimitações da portaria Segundo a antropóloga, os Caingangues vadas à área em conflito nos últimos me
baixada pela Funai. (O Estado, 22/08/ estão vivendo “da caridade dos órgãos SCS.
84). públicos, porque impedidos de plantar Os colonos alegam que o acordo verbal
até na faixa de terra que é considerada definido entre eles, a Funai, o Ministério
sua”. E o fato, explica Neusa Bloemer do Interior e o Governo de Santa Cata
Deputado quer Trentin poderá se agravar ainda mais se o pro rina, estabelecia que nenhuma família
sem índio blema não tiver uma solução a curto pra de índio seria levada ao Toldo Chimbam
zo, pois o calendário agrícola do Oeste gue, sob nenhum pretexto, para não au
O Deputado João Paganella (PDS-SC) mentar o número daqueles que recla
vence em 15 de setembro e, enquanto os
apresentou projeto de lei na câmara, on colonos estão plantando normalmente, mam a posse das terras. Depois de se
tem, proibindo o estabelecimento de re os índios aguardam a solução.” (O Es lado o acordo, três novas famílias de des
serva indígena na localidade de Sede tado, 08/09/84). cendentes indígenas que viviam em Sea
Trentim, município de Chapecó e esta ra foram levadas ao local onde serão as
beleceu, ainda, que eventuais remanes sentados os índios em regime provisório.
centes de índios Caingangues, ali exis Os proprietários rurais vão fixar um pra
tentes, serão reassentados pela Funai na zo para que a Funai retire as famílias
Reserva Indígena de Chapecó, situada excedentes sob pena de ser rompido em
no município de Xanxerê, pertencente à definitivo o acordo, situação em que a
mesma tribo. (O Estado, 23/08/84), comunidade indígena ficaria ameaçada

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sL7-Acervo
__/ E… inDIGENAs no BRASIL/cED
de expulsão. Outra decisão dos colonos Deputado processa Funai para a demarcação de uma área
foi a de não aceitar o pagamento da in de dois mil hectares onde estão, atual
presidente da ANAI mente cem famílias de colonos.
denização das lavouras onde os índios
foram instalados, alegando que o teor O delegado Carlos Andretti informou Os índios, que ontem tentaram sem êxi
dos recibos elaborados pela Funai é ontem que o Dep. Federal João Paga to encontro com o ministro Danilo Ven
comprometedor. nella está processando o advogado e pre turini, disseram que a situação na área é
O delegado da Funai estranhou a alega sidente da ANAI, Julio Gaiger, de Porto de tensão e que somente sairão de Bra
ção dos colonos para não receberem as Alegre, por crime de calúnia. sília depois de conseguir levar a questão
indenizações. A Fundação iria pagar on Os motivos foram declarações de Júlio ao grupo interministerial que delibera
tem Cr$ 14 milhões pelo cultivo, preparo prestadas ao jornal Zero Hora, consoan sobre a criação de novas áreas indíge
de solo e adubação das áreas pertencem te as quais “este parlamentar em uma nas. (ESP, 30/11/84).
tes a sete proprietários rurais de Sede atitude de lamentável irresponsabili
Trentim, com extensão de 122 hectares, dade, vinha incitando os colonos contra
onde estão alojados os Caingangues. os índios e contra os representantes de Advogados apoiam os índios
Não se trata de nenhuma desapropria órgãos de apoio indigenista”. Naquela
ção mas simplesmente a indenização pe ocasião, o advogado, Julio Gaiger, teria Ontem ainda o Instituto dos Advogados
los trabalhos dos agricultores e pela co dito ainda que “se um deputado federal do Rio Grande do Sul expediu nota de
lheita que não terão nessas áreas que, incita à violência, é lógico que eles agri apoio à comunidade caingang do Toldo
provisoriametne, são ocupadas pelos na dem um missionário e sua família em Chimbangue, em suas reivindicações
tivos. (O Estado, 27/10/84). plena luz do dia, próximo à casa de um pela demarcação de terras. Segundo a
dos agressores, sem se importarem em nota “tal demanda está devidamente
serem reconhecidos como foram quatro fundamentada pela Lei vigente e cum
colonos.” (Diário da Manhã, 28/11/ pre ao Executivo, através dos órgãos vin
Entidades querem 84). culados à implementação da política in
esclarecimento
digenista, providenciar a imediata de
Três parlamentares gaúchos — deputa marcação do Toldo Chimbangue, já por
dos estaduais José Sartori e Carlos Araú Indios denunciam demais retardada, única garantia de so
jo e o vereador de Porto Alegre, Caio brevivência e futuro para a comunidade
arbitrariedades à OAB
Lustosa —, nove entidades civis e a Igre indígena que ali habita”. (O Estado, 13/
ja Metodista desse Estado solicitaram Dez índios Kaingang do Toldo Chim 12/84).
“urgentes providências” ao Governador bangue, estiveram ontem à tarde na sede
Esperidião Amin, “no sentido de apurar da OAB, onde denunciaram às Comis
a tentativa de homicídio contra o mis sões de Direitos Humanos e de Justiça e FUNAI envia proposta
sionário leigo Wilmar Rocha D'Ange-. Paz a morosidade no processo de devo ao “Grupão”
lis”. (O Estado, 17/11/84), lução dos 2 mil hectares de terras que
lhes pertencem e que estão na mão de A criação da área indígena kaingang, de
colonos da região. dois mil hectares, no Município de Cha
CIMI acusa a FUNAI Denunciaram também as pressões que pecó (SP), será entregue amanhã, pela
estão recebendo, pois não podem circu Funai, ao Grupo de Trabalho Intermi
Em nota oficial o Cimi acusou a Funai lar pelas estradas da região e nem utili nisterial, criado em julho, para analisar
de ter feito um “acordo de bastidores” zar os onibus regulares que ali trafegam as demarcações de reservas indígenas,
com o Governo do Estado de Santa Ca para sair do local. Para chegar a Floria antes de sua aprovação pelo Presidente
tarina e gom o MEAF no sentido de dar nópolis os 10 índios, entre eles duas mu da República. Existem no grupo de tra
àqueles silvícolas somente um quarto de
lheres e uma criança de colo, tiveram balho, “grupão” como é chamado, mais
terras a que têm direito, ou seja, 500 ha,
que deixar a região às 3 horas da ma de 50 processos de criação de áreas indí
enquanto os restantes 1.500 serão entre drugada e andar 18 quilômetros a pé, genas e até agora só 11 foram aprovados.
gues aos colonos que os estão ocupando, até a cidade de Chapecó. Segundo o assessor da presidência da
desrespeitando os interesses dos índios. Além da denúncia aos advogados da Funai, José Carlos Alves, os índios kain
Pensando em reprimir qualquer resis OAB, os índios Kaingang pretendem gangestão atualmente “ilhados” em sua
tência indígena a esse acordo a Funai conseguir das duas comissões, que inter própria terra, numa área de apenas 122
procura transformar o Toldo Chimban cedam junto à Funai, Governo federal e hectares, “também cobiçados pelos co
gue em verdadeiro campo de concentra estadual para ajudar a resolver o pro lonos”. Revelou que para evitar que os
ção, fazendo acertos com os ocupantes blema. (O Estado, 23/11/84). índios “morram de fome”, a Funai está
das terras indígenas para colocação de fornecendo um “rancho semanal” à co
postos de policiamento nas entradas da munidade.
área, impedindo o acesso de quaisquer Carta do presidente — E preferível morrer lutando do que
outros indígenas bem como das entida da FUNAI morrer de fome. Eles têm as armas, mas
des de defesa e apoio a eles, como o nós temos a certeza de que a terra é nos
Cimi, que há muitos anos atua junto Os índios caingang da aldeia Chimbang, sa — afirmou o cacique Clemente du
àquela comunidade, salienta a Regional entregaram ontem, ao presidente da rante o encontro que manteve na direção
Sul. (Jornal de Brasília, 27/11/84). Funai, Nélson Marabuto, documento da Funai. Ele permanecera em Brasília
em que pedem o imediato desarmamen durante toda a semana, aguardando a
to dos ocupantes brancos da área onde decisão do “grupão”. (JB, 02/12/84),
vivem e a demissão do delegado regional
de Curitiba, João Darcy Rugieri, que
não está intermediando, “satisfatoria
mente”, as negociações entre índios e

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s! Z> Acervo
_/\ | <> A SUL 11

Acampamento no Congresso depois de a Funai autorizar, em 1980, os analfabetos, corruptos, agitadores, ho


projetos agrícolas nas reservas para ga mossexuais e destruidores da cultura in
Um grupo de 10 índios Kaingang, de rantir a sua auto-suficiência. O retroces dígena, que transformam o índio em
Toldo Chimbangue, armou ontem um so que vem ocorrendo aumentou as dí uma criatura ridícula. Mário Juruna e
acampamento em frente ao Congresso vidas da delegacia e tornou inviável a seus capangas são bem o exemplo do que
Nacional com o objetivo de sensibilizar movimentação das equipes de saúde, as acabo de dizer”. “Os antropólogos, res
os membros do grupo de trabalho inter sistência social e agrícola. Isso gerou um saltou, são, em outro plano, o que foram
ministerial criado pelo decreto 88.118/ clima de revolta entre os índios que, em outrora os bandeirantes e os bugreiros,
83, para definir as reservas indígenas, e alguns postos, já prometem formar ca escravizadores e assassinos de índios.”
que se reunirá hoje para discutir a ques ravanas até Brasília para protestar na Disse ainda que “muitos desses antropó
tão de suas terras — dois mil hectares, sede da Fundação. Em algumas aldeias, logos recebem ajuda financeira do Ex
atualmente invadidos por 120 famílias segundo o sertanista, cresce um movi terior, principalmente da Holanda, e
de colonos. (Correio Braziliense, 05/12/ mento que objetiva desenvolver-se da este é um assunto que deverá ser inves
84). 12º Delegacia e da administração da Fu tigado pelas autoridades brasileiras”. E,
nai e manter entendimentos diretamen insistindo na atuação dos antropólogos,
te com o Ministério do Interior. Álvaro salientou que “a Funai perdeu a
FUNAI critica Para Álvaro Villas Boas, o clima de re credibilidade por causa desses elemen
atitude de coronel volta que predomina entre os índios da tos que, junto com suas mulheres, an
região da 12º Delegacia “poderá trazer dam nus nas aldeias, com penas de aves
O presidente da Funai, Nélson Mara conseqüências imprevisíveis” e é resul nas orelhas, querendo com isso demons
buto, encaminhou ontem telex ao minis tado da política excessivamente centrali trar interação com a cultura indígena,
tro Danilo Venturini hipotecando soli zadora da Funai, que acusava o serta quando, na verdade, isso representa um
dariedade à sua pessoa e recriminando a nista, “está sendo comandada por an desrespeito para com o índio”. Sobre o
atitude do representante daquele Minis tropólogos agitadores, com o apoio do novo presidente da Funai, o sertanista
tério junto ao Grupo de Trabalho Inter Cimi (Conselho Indigenista Missioná foi reticente: “Trata-se de boa pessoa,
ministerial, criado pelo Decreto 88.118/ rio), que usam o índio como instrumento mas que não está capacitada para dirigir
83, que na última quarta-feira deveria de ação política para alcançar os seus o órgão”. Já com relação ao Cimi ele
ter discutido a questão de terra dos ín objetivos”. (ESP, 05/07/84). acusou: “É um grupo de padres marxis
dios Kaingang, de Santa Catarina. O co tas infiltrados na Igreja para atuar junto
ronel Gilberto Pimentel, do Meaf, ao aos índios”, (ESP, 6/7/84).
perceber a intenção das lideranças indí FUNAI demite delegado
genas e do deputado-cacique Mário Ju
runa em assistir o encontro, retirou-se O indigenista Álvaro Villas-Boas, irmão Indios ocupam a delegacia
da sala de reuniões encerrando-o. dos célebres sertanistas Orlando e Cláu
Na ocasião, o coronel Pimentel — que dio Villas-Boas, foi afastado ontem da Cerca de 150 índios ocuparam ontem o
será substituído pelo coronel Sanches do delegacia da Funai em Bauru (SP), car prédio da 12º Delegacia Regional da Fu
CSN junto ao Meaf — alegando ter or go que ocupava há seis anos, por deter nai, em Bauru, dizendo que não aceitam
dens superiores de se retirar caso algum minação do presidente do órgão, Juran a substituição do delegado, sertanista
índio decidisse participar do encontro, dy Marcos da Fonseca. As divergências Álvaro Villas Boas, demitido anteon
abandonou a reunião. (Jornal de Brasí entre Álvaro e o presidente da Funai co tem pela direção do órgão em Brasília.
lia, 07/12/84). meçaram há pouco mais de um mês, Os indígenas, provenientes de postos
quando o ex-delegado anunciou suasdis vinculados a essa delegacia — os de Ica
posição de não tutelar os índios Guaranitu, Vanuire e Araribá, em São Paulo, e
que vivem em São Paulo. A gota d'água de Laranjinha, no Norte do Paraná —
O CASO DA aconteceu ontem, quando o presidente estão dispostos a impedir a posse do
da Funai leu, uma entrevista de Alvaro novo delegado, tenente José Carlos Al
12° DR (BAURU) onde este afirma que o órgão tutor está ves, nomeado ontem pelo presidente da
sendo manipulado por “antropólogos Fundação, Jurandy Marcos Fonseca. O
Denúncia de Villas Boas agitadores e pelo Cimi”. (FSP, 6/7/84). ambiente era de tensão, ontem, na dele
gacia.
As cinco mortes ocorridas em junho cor Esses índios têm medo que os projetos
respondem a igual número do total de “Padres marxistas agrícolas criados durante a administra
mortes de crianças indígenas registra e antropólogos homossexuais” ção do delegado demitido sejam parali
das no ano passado na região. Esse re sados e eles obrigados a voltar à condi
sultado interrompe um período de efe Quando foi informado de que estaria de ção de “bóias-frias”. (ESP, 07/07/84).
tiva assistência à saúde que a Funai vi mitido da chefia da 12º Delegacia Re
nha prestando nos postos do Sul do gional da Funai, Álvaro Villas-Boas de
País. Depois da criação da 12º Delega sabafou: “Não retiro uma só palavra do Villas Boas será processado
cia, em 1978, o índice de mortalidade que disse. A Funai hoje é um órgão con
infantil nas aldeias da região foi redu trolado por pseudoantropólogos, semi Antropólogos, sertanistas e entidades de
zido bastante. defesa dos índios, entre elas a Comissão
Atualmente, porém, segundo Villas Pró-Índio de São Paulo, mais a União
Boas, as 12 comunidades indígenas vin das Nações Indígenas (Unind) e o depu
culadas à delegacia que dirige estão cor tado Mário Juruna (PDT-RJ) vão pro
rendo o risco de voltar à condição de cessar o indigenista Álvaro Villas-Boas
“bóias-frias”, que haviam abandonado

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_/\ | Eve INDÍGENAS NO BRASIL/CED]

por calúnia, difamação e injúria. A de Considerando justificável o movimento a reserva, promovido grande manifesta
cisão conjunta foi tomada ontem, quan dos índios, pois eles não estavam infor ção contra Villas Boas, sob o comando
do o Villas-Boas reiterou suas acusa mados sobre a sua decisão de demitir do seu arquiinimigo local, o índio Tibúr
ções contra antropólogos, classificando Villas Boas, o presidente da Funai infor cio Manoel Sobrinho. Na época, Juran
os de agitadores subversivos. Afastado mou, em Brasília, que vai garantir-lhes dy da Fonseca era chefe do gabinete e
do cargo de delegado da Funai, o indi a continuidade dos projetos agrícola e assistiu a toda a manifestação.
genista acusou a Funai de ter sido omis comunitário, que estão suspensos por O presidente da Funai, Jurandy Fon
sa no socorro médico aos índios e de ser a falta de verba. E acrescentou que até seca, disse que não foi ainda a Bauru
responsável pela morte de cinco crianças quarta-feira serão enviados à 12º Dele para dialogar com os índios que ocupam
Guarani. Ao responder às acusações, o gacia recursos no valor de Cr$ 120 mi a delegacia do órgão naquela região,
presidente da Funai afirmou que “Al lhões, provenientes do Finsocial. porque não possui informações comple
varo é o principal responsável pela si Jurandy afirmou ontem que está desesti tas sobre o movimento, o que espera ob
tuação, pois recusou o médico enviado, mulando movimentos indígenas de soli ter hoje. Jurandy alega que a ocupação
sob a alegação de que não precisava de dariedade à sua decisão de demitir o ser “não foi espontânea”, já que funcioná
ninguém”. Disse ainda Jurandy que as tanista Álvaro Villas Boas do cargo de rios da delegacia teriam transportado os
lideranças Guarani enviaram uma carta delegado regional do órgão em Bauru, índios de suas aldeias para a cidade e
pedindo o afastamento de Villas-Boas e “porque, caso contrário, seria jogar ín “usado recursos da Fundação para a
a criação de uma ajudância autônoma dio contra índio e esta não é a nossa polí compra de colchões”. (ESP, 11/07/84).
para assistir os Guarani, sem qualquer tica”. Embora agradecendo a manifes
apoio da delegacia de Bauru. (FSP, 07/ tação dos líderes terena que se encon
07/84). tram na Prefeitura de Avaí, a 20 quilô Jurandy extingue
metros de Bauru, Fonseca disse que vai a Delegacia
pedir-lhes que não se organizem com
Jurandy é intimado aquela finalidade. Além de extinguir a Delegacia da 12°
Segundo o líder, Armindo Pio, o movi Região, com sede em Bauru, o presi
Depois de duas horas de reunião, os ca mento de ocupação foi organizado por dente da Funai, Jurandy Fonseca, anun
ciques dos postos indígenas de São Pau dois funcionários ligados a Villas Boas: ciou ontem, ao chegar a Brasília, a de
lo e Paraná que ocupam a 12º Delegacia Moacir Cordeiro de Melo, ex-subdele missão de 14 funcionários do órgão.
Regional da Funai, em Bauru, decidi gado, e Sebastião Aparecido. (ESP, 10/ Fonseca justificou o fato de não terido a
ram ontem à tarde convocar o presidente 07/84). Bauru negociar com os índios alegando
do órgão, Jurandy Marcos da Fonseca, que eles pretendiam constrangê-lo a as
para discutir com eles pessoalmente a sinar um documento reconduzindo o
questão da exoneração do sertanista Ál Indios não negociam sertanista Álvaro Villas-Boas à chefia da
varo Villas Boas do cargo de delegado COIi1 HSSESSOFES delegacia, e assim reproduzindo o episó
regional. Se Fonseca não for ao local até dio do Xingu. Acrescentou que os líderes
segunda-feira, uma comissão viajará a Os quatro assessores do presidente da das comunidades da área pretendiam
Brasília para entregar ao ministro do In Funai, enviados ontem a Bauru para retê-lo nas dependências do órgão.
terior, Mário Andreazza, ou ao seu as dialogar com os 220 índios que ocupam Segundo Fonseca, os 14 funcionários de
sessor, coronel Rocha Maia, uma carta a delegacia regional do órgão, encontra mitidos organizaram a ocupação da De
expondo a posição adotada por esses ín ram resistência e acabaram sendo víti legacia de Bauru e alguns deles estariam
dios. Na reunião de ontem, os caciques mas de incidentes, a ponto de o ex-dele envolvidos em irregularidades. Afirmou
resolveram também que todos continua gado Álvaro Villas Boas — pivô da crise que será aberto um inquérito adminis
rão ocupando a delegacia, rejeitando a por ter sido demitido — telegrafar ao se
trativo para apurar as irregularidades.
proposta de retorno às aldeias e manu cretário-geral do MINTER, coronel Ro A direção da Funai ainda não sabe como
tenção apenas de “guardas” no prédio. cha Camargo, solicitando providências vai administrar a área da 12º Delegacia,
(ESP, 08/07/84). “no sentido de retirar imediatamente de extinta por Fonseca. >.

Bauru os quatro elementos que o atual Enquanto isto, os índios da área terão
presidente da Funai enviou para esta ci sua assistência administrada direta
dade, em lugar de vir ele próprio. Tais mente pela sede da Funai em Brasília.
FUNAI tenta negociar elementos — prosseguiu —, além de Ao assistir pela TV a entrevista do pre
Enquanto o presidente da Funai, Juran amedrontar os índios aqui concentra sidente da Funai anunciando a extinção
dy Fonseca, garantia ontem que se reu dos, estão ameaçando funcionários com da Delegacia de Bauru, um de seus ocu
nirá hoje com as lideranças indígenas prisão, demissão, etc.” pantes, o cacique Mário Jacinto, um dos
que ocuparam a 12º Delegacia do órgão Por sua vez, os 173índios terena, que, ao 12 chefes indígenas que ali estavam, que
em protesto contra a demissão de Álvaro lado dos guaranis, habitam o posto de chorou ao saber da decisão de Jurandy
Villas Boas, em Bauru esses índios ras Arariba, no Município de Avaí, não Fonseca de não ir mais a Bauru, prome
gavam a portaria de exoneração do ser apóiam a volta do sertanista Álvaro Vil teu: “Vamos ficar aqui até uma solução
tanista e de nomeação do tenente José las Boas ao cargo de delegado regional favorável. Isso aqui vai virar casa de ín
Carlos Alves para o cargo de delegado, da Funai. Eles sempre combateram a dio”. Os 12 caciques decidiram que ago
assinada por Fonseca. Se os líderes indí política de Álvaro e de seus irmãos Cláu ra querem falar com o ministro do Inte
genas não forem discutir o problema em dio e Orlando, tendo até, em fins dos rior, Mário Andreazza, e ontem mesmo
Brasília, Fonseca disse que seguirá hoje anos 70, quando o ex-presidente do ór enviaram mensagens às suas tribos pe
mesmo para a cidade paulista. Adiantou gão, general Ismarth de Oliveira, visitou dindo que mais índios sigam até Bauru
que aceitará negociar todos os pontos, para aumentar o número de ocupantes
até o nome do novo delegado, “mas não do prédio da 12º Delegacia da Funai.
vou voltar atrás na decisão administra (ESP, 13/07/84).
tiva da demissão”

322
SUL 13

O cacique Mário Jacinto,


Kaingang,
não gostou da decisão final.

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=

Os Kaingang ocuparam
a DR da FUNAI em Baurú (SP),
mas ela foi fechada e
transferida para Londrina (PR).

323
s! Z> Acervo
_/\ | S.A. ÍNDÍGENAS NO BRASIL/CEDI
Os Villas Boas passadas, por diversas vezes transgredi Indios comemoram vitória
contra-atacam ram normas disciplinares, ferindo, in
clusive, a dignidade de diretores na épo Depois de deixar o prédio da ex-delega
O ex-delegado regional Álvaro Villas ca, e não foram punidos. Pelo contrário, cia regional da Funai em Bauru, o ca
Boas criticou ontem duramente o presi V. Exa, os promoveu a funções-chaves cique Mário Jacinto disse ontem pela
dente da Funai, Jurandy Fonseca, che na administração. Sejam quais forem os manhã no posto indígena de Laranji
gando a solicitar que o ministro do Inte riscos, não vou compartilhr dessa indig nha, no Paraná, que “foi uma grande vi
rior, Mário Andreazza, a quem está su nidade”. (JB, 15/07/84). tória o acordo que fizemos em Brasília.
bordinado o órgão, “demita esse ho Abrimos mão de Álvaro Villas-Boas na
mem”. Álvaro classificou a atitude de delegacia, mas pudemos indicar o novo
Jurandy como “arbitrária, absurda e ir Acordo em Brasília delegado e além disso dois índios para
responsável”. “Ele está agindo como se acompanhar de perto o trabalho que os
neste país não tivessem ocorrido a anis O cacique Mário Jacinto anunciou on brancos realizarão na nova delegacia em
tia nem a abertura”. tem em Brasília o fim do movimento ini Londrina”,
Na noite de quarta-feira, Cláudio e Or ciado a partir da demissão do sertanista Um dos índios a serem nomeados é ele
lando Villas-Boas receberam a visita de Álvaro Villas-Boas, que visava a sua próprio, para função ainda não defini
Jurandy Fonseca e sua mulher. Os ir readmissão. “Eu pedi um cargo para da, e o outro é Hélio Pedro, irmão do
mãos alertaram ao presidente da Funai mim também e com o passar do tempo a cacique Ademir Pedro, do posto de Ica
para o fato de que “sua atuação poderá gente pode ser até um chefe de posto”, tu, Município de Icatu, que exercerá
levar os índios à total descrença nos seus
afirmou o cacique ao fim de mais de seis funções de delegado substituto. A aju
tutores, o que é uma insensatez, pois horas de discussões em que prevaleceu a dância de Bauru será dirigida pelo tam
ninguém pode prever até onde eles irão posição do presidente da Funai, Jurandy bém índio Estevam Carlos Taukane.
no seu protesto”. Ambos também se re Marcos da Fonseca, irredutível quanto à Jacinto afirmou que ao chegar a Brasília
cusaram a servir de intermediários a readmissão de Villas-Boas e à reativação percebeu que todos lá estavam contrá
uma proposta de Jurandy para Álvaro da delegacia em Bauru, rios a Villas-Boas e que não havia outro
Villas-Boas: “Ele propôs nomeá-lo para Ficou decidido que, além de um cargo caminho senão negociar para não perder
uma assessoria, onde o Álvaro quisesse, para Mário Jacinto, a Funai garantirá a tempo. “O ponto principal que é a ma
mas nosso irmão mais novo jamais acei nomeação do índio Hélio Pedro, irmão nutenção dos nossos projetos agrícolas
taria uma oferta dessa natureza”. do cacique Jacinto Pedro, o outro líder também foi garantido pelo presidente da
Orlando citou vários exemplos de recen do grupo, para ocupar o cargo de sub Funai”, acrescentou. (ESP, 19/07/84).
tes conquistas indígenas, entre eles “os delegado em Londrina-PR, onde, desde
xinguanos que obtiveram os 15 quilôme ontem, uma equipe cuida da instalação
tros pleiteados, os apinagés que foram da delegacia. Para o cargo de delegado, Crise permanece
ouvidos na troca de encarregados do os índios concordaram com a indicação
posto e os guajajaras, no Maranhão, que do atualchefe da delegacia de Porto Ale Um mês depois do acordo entre os índios
foram atendidos no afastamento do de gre, Gilberto Antonio Borges. de São Paulo e do Paraná e o presidente
legado”. Agora, em Bauru, “são os ín Os entendimentos mantidos em Brasília da Funai, Jurandy Marcos da Fonseca, a
dios que pleiteiam a permanência do concluíram ainda que os índios concor crise da extinta delegacia do órgão, em
delegado”. dam com a nova proposta administra Bauru, ainda não está solucionada.
Ele não acredita que as declarações de tiva do presidente do órgão, que prevê, Após a demissão do delegado Álvaro
Alvaro foram o motivo de seu afasta além da criação de uma delegacia em Villas Boas, chefes de postos indígenas e
mento: “Tudo faz crer que tenha sido Londrina, a implantação de duas aju parte dos funcionários não foram demi
pelas referências feitas ao deputado Má dâncias do órgão no Estado de São Pau tidos, mas estão dispensados de ir ao tra
rio Juruna. O deputado teria exigido da lo. Uma funcionária em Bauru, para balho. Até ontem, porém, eles não ha
Funai a demissão do delegado. Teria a atender às aldeias Vaniure, Araribá e viam recebido o seu salário de julho, o
Funai, se tornado caudatária do depu Icatu, será comandada pelo índio Bai que deveria ter acontecido no dia 27 úl
tado?”. (ESP, 13/07/84). kairi, Stevam Carlos Taukane, atual timo.
funcionário da Funai em Brasília. A ou Os funcionários afirmaram que, a pró
tra ajudância funcionará em Santos, pria instalação da nova delegacia de
Apoema se solidariza para atender aos guarani do litoral pau Londrina — que substituirá a de Bauru
lista. — ainda não ocorreu e que todo o mate
com Villas Boas
Outra questão que ficou acertada: os 14 rial está guardado numa sala cedida
O delegado da Funai em Rondônia, funcionários da delegacia de Bauru que pela prefeitura daquela cidade. Aceito
Apoena Meireles em protesto contra a também teriam sido demitidos na ver para montar a nova delegacia, o ex-dele
demissão do delegado de Bauru, Álvaro dade não o foram. Existe um inquérito gado de Porto Alegre, sertanista Gil
Villas-Boas. No dia 10, telegrafou ao administrativo que vai apurar seus en berto Antonio Borges, não quis falar à
presidente da Funai: volvimentos na articulação da ocupação imprensa para confirmar ou desmentir
“Protesto contra a demissão do serta da delegacia, e somente após a conclu as versões de que Fonseca tem evitado
nista Álvaro Vilasboas, de forma intem são desse trabalho é que o caso será re um encontro entre os dois para que ele
pestiva e humilhante, sem o necessário solvido em definitivo. (ESP, 18/07/84). não possa assumir o cargo,
respeito e a consideração de que é mere O prédio onde funcionava a delegacia
cedor pelos elevados serviços prestados à está sendo reformado para a devolução
causa indígena. Alguns dos atuais asses ao proprietário, quando se previa o esta
sores de V. Exa., em administrações belecimento de uma subdelegacia da

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_/\ _> A SUL 15

Funai. Os Cr$ 120 milhões para a manu avaliação das conseqüências da mudan
tenção dos projetos agrícolas ainda não ça para os índios das reservas do Sul que KAINGANG/
foram liberados e os suprimentos de ali “ficarão ainda mais desassistidos”. Ma
mentação nos postos deve durar apenas res de Souza argumenta que os índios INHACORÁ
até o final da semana. Segundo disse mantêm uma cobrança permanente de
Villas Boas ao ser demitido, se Brasília suas reivindicações na sede de Curitiba e
não enviar recursos, os índios voltarão a que não poderão fazer o mesmo “numa Novas ameaças
serbóias-frias. (ESP, 17/08/84). delegacia instalada mais longe” e sem a No dia 27.08.84, os Kaingang de Inha
infra-estrutura que as entidades de corá (município de Santo Augusto) tive
apoio ao índio já implantaram em Curi ram parte de suas terras “re-invadidas”.
bita”
84). (Jornal de Santa Catarina, 06/11/•
Cerca de 75 famílias de camponeses sem
terra invadiram aproximadamente 700
ha de terras Kaingang em poder do Es
Novo delegado toma posse tado do Rio Grande do Sul, via Secreta
Delegado é demitido ria da Agricultura.
O presidente da Funai Jurandy Fonseca Após longo processo expropriatório os
esteve em Curitiba para empossar o novo. O tratamento dispensado pelo Delegado Kaingang de Inhacorá conseguiram a
delegado regional (Paraná e Santa Cata Regional da Funai, João Darcy Ruggeri, demarcação de uma exígua Reserva
rina) do órgão, João Darcy Ruggery. às disputas de terras entre índios e colo (1919). Mas no início dos anos sessenta,
(Gazeta do Povo-Curitiba, 9/06/84). nos de Sede Trentin/Toldo Chimbangue estes mesmos Kaingang foram nova
determinou sua demissão pela presidên mente expropriados. Então o governo
cia do órgão. estadual destinou terras aos camponeses
FUNAI entrega 25 casas A demissão de Ruggeri foi confirmada sem terra (localmente conhecidos como
ontem pela Funai e está consubstan “agrários”), à formação de um povoado
Cerca de 500 índios da região de Palmas ciada em ato do seu presidente, datado ou vila (Coroados) e à formação de uma
ganharão, neste sábado, 25 novas mora de cinco de dezembro. Em Chapecó, o “estação agrícola experimental”, a ser
dias, com infra-estrutura incluindo luz, técnico indigenista Francisco dos Santos controlada diretamente pela Secretaria
água encanada, chuveiro, pias e reparti Magalhães, admitiu que a demissão está da Agricultura. Os Kaingang foram
ções, como quartos, cozinha, dispensa e relacionada com o encaminhamento da simplesmente reduzidos à condição de
sala de estar. Trata-se de um programa problemática de Chapecó. minifundiários, sendo-lhes também im
que a Funai, através de sua DR do Pa Ruggeri, um advogado sem experiência postas as mais precárias condições de
raná, está implantando no Estado. anterior no indigenismo brasileiro, per vida e sobrevivência.
Esse plano de construir as moradias nes maneceu seis meses na Delegacia Regio Em fins de 1983, os Kaingang de Inha
ta região, começou a pouco mais de um nal de Curitiba, jurisdicionando Santa corá conseguiram recuperar, “de fato”,
ano, e não foi oneroso para a Funai e Catarina e Paraná. Segundo fontes da cerca de 700 ha, dos 1.740 ha anterior
para os índios dessa reserva, pois “todas própria Funai, ele foi nomeado por via mente reservados à “estação agrícola
as casas foram construídas à base de de “acertos políticos”. Objetivamente, experimental”. Eles haviam tentado a
permuta com madeireiros nossos clien João Darcy Ruggeri teria sido demitido recuperação de toda a área, via interfe
tes”, afirmou o delegado João Darcy por ter procurado, por conta própria, rência da Delegacia Regional da FUNAI
Ruggery. (O Estado do Paraná, 11/10/ formular acordos com os colonos de em Porto Alegre, junto à Procuradoria
84). Sede Trentin sem expressa autorização Jurídica do Estado. A Procuradoria re
da cúpula da Fundação Nacional do In conheceu seus direitos, mas negou a de
dio. Um desses acordos teria sido a ins volução das terras, argumentando sobre
Indios contra talação de postos policiais na área con a “importância social” da “estação agrí
flagrada para impedir a entrada de fa cola experimental”, o que é discutível a
a mudança da DR mílias índias e a explosão de conflitos considerar evidências sobre suas ativida
A transferência da Quarta Delegacia da armados. A medida não chegou a ser des. No entanto, a Procuradoria apon
Funai, com sede em Curitiba, para Lon implementada. (O Estado, 07/12/84). tou para a possibilidade de destinação
drina, na região norte do Paraná, está de área equivalente, mas em outra re
provocando protesto dos índios que vi gião, o que em princípio não foi aceito
vem nas reservas de Mangueirinha e Pal Novo delegado pelos indígenas. Pressionados pela insu
mas, no sul do Paraná, e em Ibirama, ficiência de terras para plantio, os Kain- -
Santa Catarina. A nova delegacia ficará Toma posse na próxima segunda-feira o gang retomaram cerca de 700 ha e de
muito distante e quase inacessível para novo delegado da Funai em Curitiba, ram início aos trabalhos de preparo das
os índios que passarão a depender de Eustáquio Machado, em substituição a terras.
eventuais idas a Londrina para tratar de João Darci Ruggere, exonerado na últi A notícia sobre a reocupação de terras
seus problemas. ma quarta-feira. Machado está atual pelos Kaingang de Inhacorá logo se es
Para o advogado Carlos Frederico Ma mente a serviço da Funai em Londrina e palhou pela região, chamando a atenção
res de Souza Filho, assessor jurídico da já foi delegado do órgão em Governador dos camponeses sem terra, que há muito
Comissão Pró-Indio de São Paulo, a de Valadares, Minas Gerais, e chefe de tempo vinham se organizando e bus
cisão de transferir a quarta delegacia posto em Ivaí, no Paraná. Ele assume cando uma área para invadir e tentar
para Londrina chegou “pronta, aca segunda-feira a 4º Delegacia da Funai,
bada e de surpresa”, sem permitir uma que tem sob sua jurisdição o sudoeste do
Paraná além de parte de Santa Cata
rina. (O Estado do Paraná, 08/12/84).

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_/\ | S A INDÍGENAS NO BRASIL/CEDI

ANAI exige providências Liminar suspende obras


da FUNAI KAINGANG/
A Anaí enviou documetno esta semana O juiz Osvaldo Stefanello, da 2a Vara da MANGUEIRINHA
ao novo presidente da Funai, Nelson Fazenda Pública Estadual, concedeu,
Marabuto, cobrando providências sobre na tarde de ontem, a liminar solicitada Denunciada serraria
o arrendamento ilegal de terras da reser pela ANAI ordenando ao DAER o sus da FUNAI
vaindígena de Guarita, no Município de tamento das obras de asfaltamento da
Miraguaí, a colonos. São pedidas tam rodovia RS-330. Um trecho de 40 quilô O Kaingang Francisco Luís dos Santos,
bém medidas urgentes contra a corrup metros da estrada passa dentro da reserdo Conselho Indígena pela UNI, denun
ção entre as lideranças dos índios Cain vaindígena de Guarita. Agora, o DAER ciou na Assembléia Legislativa irregula
gangues na região. terá 30 dias para recorrer, caso contrário
ridades na exploração de madeira na re
A associação ajuizou um pedido de in a ANAI deverá ingressar na Justiça com serva de Mangueirinha, onde está locali
terpelação judicial perante a Justiça Fe uma ação principal. De acordo com o zada uma serraria da Funai.
deral, para obter manifestação oficial do presidente da entidade, Júlio Gaiger, Segundo Francisco Luís dos Santos, o
órgão sobre esses e outros problemas an politicamente, esta é uma conquista chefe do Posto Indígena de Mangueiri
tigos da reserva. Tal ação é de julho pas muito importante. “a sensibilidade de nha, João Batista, “negociou, por meio
sado, período em que Jurandy Marcos monstrada pelo juiz, independentemen de contrato, a exploração de imbúia e
Fonseca presidia a Funai. Júlio Gaiger, te do resultado final que possa ter a cedro da reserva com um madeireiro de
presidente da Anaí, qualifica de “cala ação, significa que a situação dos índios, Xaxim (SC), Pedro Marcon”. Ocorre
mitosa” a situação da área, onde vivem em especial os do Rio Grande do Sul, que — denuncia Francisco — o madei
atualmente cerca de 2.500índios. passa a ser discutida em outro nível den reiro ultrapassava as medidas em 30 ou
Apesar de intimado em 23 de agosto, o tro do Judiciário gaúcho”, concluiu ele. 40 metros cúbicos, afirmando que isto
ex-presidente nada fez para buscar solu (Zero Hora, 13/12/84). estava previsto como “excesso contra
ções a estas questões. Por isso, esclarece tual”. Diante do abuso, Francisco afir
Gaiger, “permanece ainda sem resposta a ma que impediu o embarque final das
questão do arrendamento ilegal de ter Decreto autoriza estrada madeiras.
ras, a divisão da mesma área da reserva e “Outro contrato de exploração que pre
a corrupção patente entre as lideranças “O Presidente da República através do via a extração de madeira-de-lei com ca
dos índios”. E a carta enviada a Mara Decreto nº 91.043 de 06/03/85, concede nela, pessegueiro bravo, etc., possuía
buto acrescenta: “Estamos crendo que ao DAER/RS autorização executar cor como fiscal de sua execução um índio de
de Vossa Senhoria podemos esperar a reções plani-altimétricas e pavimenta nome Domingo Eláudio. Este índio que,
atenção devida”. (Folha da Tarde, 14/ ção da rodovia RS-330 em faixa de terra segundo Francisco, provavelmente está
11/84). situada junto à Área Indígena Guarita/ subornado pelos madeireiros, somente
São João do Irapuã, RS.” efetuava medições à noite, quando di
De acordo com o art. 2º do Decreto, o versos caminhões deixavam a reserva
ANAI entra DAER/RS está autorizado a “praticar abarrotados com madeira-de-lei. Intri
com ação cautelar todos os atos necessários à implantação gado com este procedimento, o presi
definitiva da rodovia RS-330, bem como dente do Conselho Indígena deteve um
A ANAI entrou com uma medida caute à sua pavimentação, sendo-lhe assegu destes caminhões para averiguar se a
lar inominada, distribuída para a 4° rado ainda, o acesso a alguma área de medição era corretamente executada.
Vara da Fazenda Pública Estadual, con faixa paralela desde que não haja ne Ficou surpreso ao perceber que, en
tra o DAER, responsável pela pavimen nhuma outra via praticável.” quanto a nota fiscal apresentava um vo
tação da RS-330, ligando Tenente Por À Funai compete adotar providências lume de três metros cúbicos de madeira
tela a Redentora, passando por 40 quilô “no sentido de limitar o uso do gozo da de-lei, a metragem correta era de 11.
metros dentro da Reserva Indígena de área de terras atingidas, no que for com Francisco disse que deteve todos os car
Guarita. A lei número 6.001/73 (Esta patível com a preservação da estrada e regamentos na serraria da Funai.
tuto do Índio), no entanto, exige o cum de evitar práticas de atos que embara "Além deste contínuo e irregular desma
"primento de algumas condições sem as cem ou causem danos à comunidade in tamento da reserva de Mangueirinha, a
quais a intervenção na área torna-se to dígena.” serraria da Funai que se instala naquela
talmente ilegal. E é esta a base da ação Segundo o art. 3º “caberá ao DAER/RS área, também é responsável por inúme
judicial. indenizar a comunidade indígena pelos ras injustiças”, denuncia Francisco.
O presidente da secção gaúcha da prejuízos que venha a causar em decor Toda a verba da serraria é dirigida à De
ANAI, Júlio Gaiger, enfatiza que os três rência da utilização da faixa de terras legacia da Funai em Curitiba, afirma.
requisitos do Estatuto não respeitados referida no Art. 1º, competindo ao ór
No mês passado, embora a receita da
pelo DAER são: que a intervenção deve gão de assistência aos silvícolas a fixação
serraria ultrapassasse a cifra dos 19 mi
ser previamente autorizada por decreto da indenização, através de um convênio
lhões de cruzeiros, os funcionários, ín
do Presidente da República; somente a a ser firmado entre a FUNAI e DAER/ dios na sua maioria, não receberam os
União pode efetivar a intervenção; e a RS”. (Diário Oficial, 07/03/85). vencimentos. Hoje a situação dos traba
área de terra retirada da reserva deve ser lahdores apresenta-se crítica, garante.
substituída por outra porção equivalen “Contudo — prossegue — a maior vio
te tanto em superfície, como em condi lência que se comete contra os índios da
,ções ecológicas. O único item respeitado reserva de Mangueirinha, se refere exa
pelo DAER foi o de pagar uma indeni tamente aos lucros auferidos pela serra
zação aos índios, com a realização de ria. De toda a renda da serraria, muito
obras nas estradas internas, campos de pouco reverte aos índios, que são os legí
futebol e açudes da reserva. (Zero Hora, timos proprietários das terras de Man
12/12/84). gueirinha. A eles se reserva tão-somente
326
SUL 17

madeiras de péssima qualidade como a de ocupação dos silvícolas a Área Indí IBDF pune com
ponteira do pinheiro, o cabinho, o lixo e gena Rio das Cobras, no Município de corte nas cotas
a quinta-rio (madeira farta em nó-de Laranjeiras do Sul-PR. (Diário Oficial
pinho)”. da União, 21/12/84). A Delegacia Regiona do IBDF decidiu
Francisco aponta a injustiça desta situa que não abrirá nova cota de comerciali
ção, “pois os índios continuam a ser ex zação madeireira para os índios da re
plorados pelo branco, que leva a riqueza serva Duque de Caxias, em Ibirama. O
de suas florestas e lhe deixa em troca a anúncio foi feito ontem, pelo Delegado
miséria. Quero levar ao público o que Regional Ulisses Rogério Arruda de An
acontece", afirmou ele, “para que os IBDF expulsa madeireiros drade, sustentando que os abusos come
homens que podem fazer algo tomem tidos pela comunidade indígena ocorre
conhecimento do que ocorre em Man Atendendo à solicitação da Funai, o ram pela falta de fiscalização da DR da
gueirinha”. (O Estado do Paraná, 4/ IBDf investigou e constatou a extração Funai, que teria o encargo de fazer pre
11/84). de madeira, de forma clandestina, da re valecer a cota prevista de exploração em
serva indígena Duque de Caxias, locali 1.243 metros cúbicos.
zada no município de Ibirama, autuan Ao invés de cumprir este limite, os índios
do e multando até o momento 18 empre venderam cerca de 11.768 metros cúbi
KAINGANG/ S$1S. cos às madeireiras locais, extrapolando
A informação partiu do delegado do em mais de 10 mil metros cúbicos a cota
NONOAI IBDF em Santa Catarina, Ulisses Rogé estipulada pelos técnicos do IBDF. “Fi
rio Arruda de Andrade, acrescentando zemos tudo o que tinha que ser feito.
100 anos de Kanheró que os trabalhadores que se encontra Estabelecemos critérios para a explora
vam nas matas da região foram expulsos ção e instrumentamos tecnicamente a
“Pai respeitado por toda comunidade; e as madeireiras, em caso de reincidên reserva, através de inventário para exe
padrinho; nominador (era profundo co cia, poderão ser fechadas. Segundo Ro cução da retirada”, enfatizou o dele
nhecedor dos “nomes do mato”); líder gério Andrade, as empresas receberam gado.
político, espiritual e cultural; incansável autorização, através de licitação feita Diante desta situação os índios se revol
defensor do territorio kaingang em No pela Funai/SC, para extraírem a madei taram contra a suspensão da comercia
noai, e especialmente da aldeia de Péi ra existente apenas dentro de uma área lização e estão fazendo bloqueio nas es
kãr. Eis um breve perfil da vida de Fran restrita, que deverá ser inundada pelas tradas que levam à reserva, seqüestran
cisco Kanheró por um período que su barragens de contenção de cheias que do inclusive caminhões na tentativa de
pera a marca dos 100 anos. Ele pertencia estão sendo construídas no rio Hercílio, pressionar o IBDF a voltar atrás na sua
à metade social kamé, e também era co em Ibirama. No entanto, contrariando o decisão. Quanto a esta manifestação o
nhecido pelo “nome do mato” Reicon. que fora acertado, os madeireiros esta delegado do IBDF assinalou não exercer
Sua morte, em julho pp., em princípio, vam invadindo e derrubando árvores qualquer influência na revogação da
poderia sugerir uma repentina orfan dentro da área proibida. (Jornal de San medida, servindo inclusive de fiscaliza
dade em Péikãr. Mas sua vida foi tão ta Catarina, 25/02/84). ção dos índios que não permitirão a en
cheia de realizações, plena de ensina trada de comerciantes na reserva. (O Es
mentos e exemplos que marcaram muito tado, 5/09/84).
a vida dos Kaingang de Nonoai e espe Chefe de posto não é aceito
cialmente de Péi-kãr, que há muito vêm
retomando e colocando em prática seus Os índios do Posto Indígena de Ibirama Caminhão é liberado
ideais, principalmente quando são atin estão indignados com a nomeação de
gidos pela violência e por ameaças de Antônio Vicente para a direção da reser Foi liberado ontem, às 17h30m, o cami
perda do território. va. A alegação é de que ele não tem mo nhão carregado de toras que estava re
Kanheró se tornou uma personalidade ral e bom relacionamento junto aos Xo tido desde o último domingo pelos índios
quase legendária, pois, por mais de se -kleng. Na próxima semana Vêi-Tschá da reserva Duque de Caxias. A liberação
tenta anos, esteve profundamente ligado Uvanhaccu Téiê, vice-cacique e Copacã foi promovida pelo chefe do posto da Fu
à luta em defesa do território e da cul Cuzung, capitão da aldeia vão à direto nai, João Batista Ozelame. (O Estado,
tura indígena em Nonoai. Um verda ria da FUNAI, em Brasília, tentar a exo 5/09/84).
deiro representante do “tronco velho”, neração de Vicente e a nomeação de
como dizem os Kaingang. (Trecho de uma pessoa que realmente olhe mais
um artigo de Ligia Simonian in Poran para seu povo. Governo diz que
tim, Dez. 84). Até a última sexta-feira o posto era diri vai impedir
gido (em caráter provisório) por Isaac
Barbaresco. Já no sábado, sem maiores A partir da próxima quinta-feira, o go
avisos a direção do posto passou a ser verno do Estado irá bloquear a saída de
exercida por Antônio Vicente. Este fato madeira da reserva indígena de Ibira
KAINGANG/ provocou a convocação de uma reunião ma, devido à devastação indiscriminada
GUARANI entre os índios, que ao seu final decidi que está acontecendo na região. A infor
ram não aceitar a determinação da FU mação partiu do secretário da Agricul
(Rio das Cobras) NAI. (Jornal de Santa Catarina, 03/05/ tura e do Abastecimento, Vilson Kleinu
84). bing, acrescentando que “o governo es
Descreto de delimitação tadual está se indispondo com este tipo
de coisa”.

O Presidente da República através do


Decreto nº 90.744 de 20/12/84 declara

327
*
—/\ #%
| S.A. INDÍGENAS NO BRASIL/CED

garantir a posse. Mas ao ocuparem o ainda que os índios têm que obedecer a
restante da área da “estação agrícola ex sua autoridade.
perimental”, e eles foram repelidos pe Para o cacique Domingos Ribeiro, o in
las forças de Segurança Pública do Es dígena não tem condições de viver sem
tado e pela Polícia Federal. Fazendo uso vender o seu feijão, o seu milho, ou mes
da violência os policiais destruíram as Decreto de Homologação mo alguns artefatos feitos por eles. “Por
bases do acampamento (principalmente isto nós entendemos que foi necessária a
alimentos), feriram mulheres e crianças, O Presidente da República através do nossa revolta”. (Zero Hora, 13/01/84).
jogando a todos em caminhões abertos Decreto nº 89.495 de 29/03/84 homo
das prefeituras municipais das proximi loga a demarcação da Área Dominial In
dades, e distribuindo-os em grupos, os dígena Marrecas, localizada no Municí Roubo de madeira
abandonaram em diversos municípios pio de Guarapuava — PR. (Diário Ofi
(cf. documento da Comissão dos Acam cial, 30/03/84). A Reserva Indígena de Guarita, Toldo
pados, 1984). Para dar continuidade à de São João do Irapuã, localizada no
sua luta, essas 75 famílias organizaram município de Miraguaí, tem sido alvo
um acampamento provisório em Erval constante de ladrões de madeira, que ali
Seco, em terras cedidas por um agricul encontram madeira farta, de boa quali
tor proprietário. dade e nenhum policiamento. Enfim,
Os documentos relativos ao movimento condições propícias para um negócio
destes camponeses sem terra e as raras rendoso. Preocupado com este fato que
referências nos jornais regionais, deno Revolta devido à proibição de vem se repetindo sistematicamente, o
minavam as terras invadidas como sen comércio chefe do Posto Indígena da Funai, Lidio
do “do Estado”; nenhuma alusão aos Della Betta, está adotando um esquema
direitos dos Kaingang de Inhacorá foi Os índios da Reserva Indígena da Gua de patrulhamento na reserva, especial
mencionada. Mas em 21 de dezembro de rita, em Miraguaí, voltam à calma de mente nas margens do rio Guarita, onde
1984, a Zero Hora noticiou que o Secre pois de uma certa tensão, desencadeada tem acontecidos os maiores roubos.
tário do Trabalho, Sr. João Jardim, ex no sábado passado. Naquela data, o Na última batida efetuada, a Patrulha
pôs ao Conselho do Fundo de Terras chefe da Funai no posto, Jerônimo Brás localizou, a cerca de 20 quilômetros do
(Funterra), que entre as opções coloca de Almeida, enviou uma nota à impren povoado principal, na madrugada, dois
das aos acampados de Erval Seco havia a sa de Tenente Portela e região, proibin elementos cortando ipê que viria a ser
“possibilidade de entendimento com a do qualquer tipo de negociação dos ín usado para palanques. Áureo Dias da
FUNAI para que parte da reserva flores dios com os brancos. A mesma nota Silva e seu irmão Noedi Dias da Silva,
tal (sic) de Santo Augusto — a mesma proíbe aos comerciantes das redondezas foram presos, bem como foi apreendida
invadida pelas famílias em agosto — avender bebida alcoólica aos indígenas, a madeira que já haviam cortado. O caso
seja cedida em definitivo aos acampa sendo que para os infratores se prevê foi entregue para a polícia de Reden
dos” (Zero Hora, 21/12/84, p.47). uma pena de dois anos de prisão. tora, sendo que Áureo confessou ter ven
Mais uma vez, o governo do Rio Grande Revoltados com a nota, que não teve a dido 15 palanques para um comerciante
do Sul aponta e privilegia as terras indí participação do cacique da reserva Do das redondezas. Mediante investiga
genas como o locus para a implantação mingos Ribeiro, os índios na noite de se ções, foi localizado Pompílio Lutz, que
de projetos de redistribuição de terras, o gunda para terça-feira reuniram-se e de havia comprado a madeira de Áureo.
que revela a continuidade e a força das cidiram exigir do chefe da Funai uma Em poder de Pompílio foi encontrado
políticas anti-indígenas no Estado. Ex retratação através da imprensa. cerca de 200 palanques o que provou a
periências passadas não estão servindo Assim que tomou conhecimento do fato, sua participação no caso como recepta
como ponto de reflexão. Só no Rio Gran Jerônimo Brás de Almeida, que até en dor.
de do Sul, os indígenas perderam cerca tão já estava detido pelos índios na reser Hoje, um palanque roubado da reserva
de 50% de Seu território entre 1941 e va tratou de fazer uma segunda nota, pode ser comercializado ao preço de
1965. Grande parte dessas terras foram anulando a primeira, com exceção do Cr$ 2 mil cada um, sendo madeiras pre
destinadas a projetos de “reforma agrá item de proibição da bebida alcoólica. feridas a grápia, cerno, gabriúva e gua
ria”, que na prática se mostraram “O chefe do Posto Indígena Guarita/ juvira.
“pseudo-projetos”, pois em geral não Funai, no uso das atribuições que lhe Para solucionar o problema, Della Betta
garantiram a posse da terra e demais confere, vem por intermédio deste co acredita que seja necessário um policia
condições de vida aos camponeses sem municar às comunidades de Tenente mento mais efetivo, e também a constru
terra e, muito menos, contribuíram para Portela, Miraguai, Tronqueiras, Palmi ção de casas nas margens do Rio Gua
sustar o processo de expulsão do campe tinho e demais comunidades vizinhas à rita.
sinato do campo, que tem em suas bases retirada da nota datada em 07.01.84 fi Quanto a acusações que viria sendo alvo
a política de concentração de terras sob cando assim livre a negociação entre por parte da ANAI de que seria Della
o controle de elites político-econômicas. brancos e índios, salvo materiais dentro Betta um dos maiores envolvidos no rou
(Ligia Simonian, especial para o Acon da reserva pertencente ao patrimônio in bo de madeira na reserva, apenas con
teceu). dígena e Funai.” testou dizendo: “a ANAI que tome ver
Depois da publicação da segunda nota o gonha na cara e prove o que diz. Eu de
chefe da Funai no Posto da Guarita, Je safio a ANAI para um debate público, e
rônimo Brás de Almeida, foi liberado se for provado que estou envolvido me
pelos índios. Apesar disto, ele não teve a submeto às penas da lei”. (Zero Hora,
permissão da Funai para falar sobre o 14/02/84).
assunto. Mesmo assim, garantiu que o
impasse criado foi um mal-entendido
pelos elementos da reserva. Garante

328
SUL 13

ANAI quer colonos fora “Os índios fazem este negócio ilegal tos, argumentando que, se isso aconte
mente e sem assistência da Funai, mas cer, a Funai tem que ressarcir os indí
O despejo de 242 famílias de colonos que assessorado por políticos”, diz o dele genas, porque eles ficarão sem renda e
plantam nas reservas indígenas de São gado. O prazo definitivo para que os ar correm o risco de passar fome. (Zero
Hora, 10/05/84). •

João do Irapuá, no município de Mira rendatários desocupem as terras será o


guaí, e da Guarita, em Tenente Portela, mês de maio, quando termina a colhei
pelos índios caingangues, proprietários ta. No final da nota, ainda é esclarecido
das terras no próximo mês, denunciado que “todo e qualquer arrendamento efe Indios impedem obra
pelo vice-presidente da Fetag Orgênio tuado se tornará nulo, sem qualquer res
Roth, nesta última semana, não preo sarcimento ao arrendatário”. (Zero Os índios caingangues das reservas de
cupa os dirigentes da ANAI. Muito pelo Hora, 24/03/84). Irapuá e de Guarita, no município de
contrário. E motivo de “grande alegria Miraguaí, a 450 quilômetros de Porto
Se isto realmente acontecer”. Alegre, estão impedindo o asfaltamento
O autor desta declaração foi o presiden Caciques dizem da rodovia estadual RS-330, que liga o
te da ANAI, Júlio Gaiger. Ontem pela que continuarão município a Tenente Portela e passa
manhã ele recordou que em outubro do os arrendamentos quase dentro de suas terras. (FSP, 26/
ano passado os caciques Ivo Salles — da 09/84).
reserva indígena do Irapuã — e Domin Apesar da existência de um acordo do
gos Ribeiro, da Guarita, assinaram um ano passado, de que os arrendamentos
acordo de paz, na cidade de Três Passos, para os colonos em terras indígenas ter Igrejas se pronunciam
pondo fim a uma sangrenta guerra, pela minariam neste mês de maio, alguns ca
disputa do título de chefe único da tribo. ciques, como Domingos Ribeiro, da re “Declaração à comunidade: É com sur
Ficou ácertado então que todos os bran serva da Guarita, garante que continua presa e profunda dor que tomamos co
cos seriam expulsos da área indígena nos rão com os arrendamentos, pois os ín nhecimento pela imprensa escrita e fa
meses de abril e maio e que seria reali dios recebem parte do lucro da produção lada de um “manifesto à Comunidade
zada uma eleição direta para a escolha e se os brancos saírem, ficarão sem con Indígena”, datado em Tenente Portela
de um novo chefe único para os cain dições de sobrevivência, pois não rece aos 17/9/84, feito por representantes de
gangues. bem ajuda da Funai. diversas entidades, a maioria delas de
Quando foi assinada a paz entre os dois O delegado da Funai no Estado, Gilber caráter filantrópico. Com não menos es
caciques, lembrou Gaiger, os dirigentes to Borges, alega desconhecer essa nova tranheza e indignação, tomamos conhe
da ANAÍfizeram um acordo com os sin decisão dos caciques, esperando que se cimento de uma “nota” da Câmara de
dicatos dos trabalhadores rurais de Te cumpra o combinado e a área fique só Vereadores de Tenente Portela, com
nente Portela e Miraguaí de que seria para os índios. Já o prefeito de Tenente data de 24/9/84,
feito um levantamento, detalhado, junto Portela, Lúcio Mota (PDS) acusou um O manifesto ameaça a toda comunidade
às famílias de agricultores que planta grupo de 30/40 indígenas, parentes e indígena com represálias, especialmente
vam e que viviam nas áreas indígenas amigos dos caciques, que ficam todo o no campo da assistência social, onde
para conseguir informações mais corre lucro, e os outros índios passam fome. está em jogo o valor e a dignidade da
tas a respeito da real situação destas fa Os caciques já arrendaram suas terras, vida humana.
mílias. “Mas até hoje nós ainda não re inclusive, para 1985/86/87. (O Liberal, A nota da Câmara dos Vereadores não
cebemos nada”, assegura. 11/05/84). representa nem o sentir nem a consciên
Gaiger diz duvidar da informação da Fe cia de todo o povo portelense e desres
tag de que estas 242 famílias de colonos peita princípios elementares das Leis da
vivam realmente dentro das reservas in A FUNAI fica mal Nação. A referida nota se expressa
dígenas. “O que se sabe é que a grande com os índios igualmente com uma linguagem que
maioria destes agricultores apenas são desconhece os direitos dos índios e que
arrendatários, clandestinos das terras O cacique Domingos Ribeiro não aceita não condiz com o espírito cristão. A
dos índios. São poucos os que vivem nas mais ordens da Funai em seu território, pressão contra a comunidade indígena e
reservas.” (Zero Hora, 16/03/84). a reserva indígena da Guarita. Depois a ameaça de “retribuir na mesma moe
de se reunir com seu conselho na tribo, da” revela um espírito onde vale a lei do
ontem pela manhã, Domingos divulgou mais forte.
Terras não serão a decisão que trará hoje a Porto Alegre. Esses dois documentos a que nos referi
arrendadas “Aqui dentro, Funai não manda mais”, mos são tanto mais de estranhar quanto
garantiu ele, explicando que considerou que os pedidos dos índios mostram, pelo
O delegado regional da Funai Gilberto um desaforo a atitude do delegado re contrário, um espírito de diálogo, conci
Antonio Borges, divulgou ontem, uma gional da entidade, Gilberto Borges, liação e até de abrir mão dos direitos que
nota informando que a Funai não per convocando-o para uma reunião em Mi são deles em favor dos municípios de Re
mitirá qualquer arrendamento das ter raguaí, na semana passada, para comu dentora, Miraguaí e Tenente Portela.
ras indígenas que são inalienáveis, con nicar-lhe que a Polícia Federal seria Nós, abaixo-assinados, representantes
forme preceito legal da Constituição, no acionada para vistoriar a reserva e veri da Igreja Católica e da IECLB, diri
artigo 198. Ele afirma que, mesmo em ficar se os índios ainda estão promoven gimos esta declaração às nossas comuni
menor proporção, continuam os arren do arrendamentos de terras para os dades, nas quais estão também os ín
damentos de terras em Tenente Portela, brancos. dios, com o fim de motivar uma visão
Sem exibir a mesma revolta dos índios mais justa e Cristã sobre a pessoa do
Miraguaí e Redentora.
comandados por Domingos, o cacique índio e seus direitos.” Tenente Portela,
da reserva vizinha de São João do Ira 1/10/84,
puá, Ivo Sales Ribeiro, demonstrou in seguem as assinaturas.
satisfação com o final dos arrendamen

329
*
–/ #%
_>A INDÍGENAS NO BRASIL/CED]

De acordo com o secretário, a reserva de de ter sido convidado. E no final da reu Indios no Fórum
Ibirama tem dois tipos de corte de ma nião, que contou também com a presen
deira atualmente: uma serraria que tem ça do superintendente da Fatma, José A Nação Indígena no Litoral Norte Pau
contrato com a Funai, mas que até quin Márcio Marques, decidiu-se que a ques lista, constituída por índios guaranis, si
ta-feira terá que prestar conta sobre o tão será encaminhada à Funai em Curi tuadas junto ao Rio Silveiras (São Sebas
que está acontecendo e, os próprios ín tiba, ou à sede do órgão em Brasília. Na tião), aldeia da Boa Vista (Ubatuba) e
dios que estão vendendo madeira para reunião foi lembrada a dívida dos índios também a aldeia da Barragem (São Pau
pagarem suas contas no comércio, que em algumas lojas de Ibirama, mas os lí lo) depois de se reunirem entre si, resol
já atinge a cifra de Cr$ 116 milhões. deres garantiram que ela está sendo veram comparecer ao Forum de Cara
— Os madeireiros e comerciantes locais paga. (Jornal de Santa Catarina, 13/12/ guatatuba para uma audiência com o
ficam adiantando dinheiro para os ín 84). juiz substituto Pedro Menin, em São Se
dios — explica Kleinubing — e eles, bastião. Eles queriam saber da resolu
para poderem saldar suas dívidas, são ção sobre a construção de uma porteira
obrigados a cortarem madeira para ven IBDF proibe o corte na Fazenda Água do Bento que faz
der. O que o Estado quer é acabar com divisa com a terra dos guaranis do Rio
este ciclo, por isso estamos fazendo esta Está proibida desde ontem, por ordem Silveiras, em São Sebastião. Essa portei
denúncia, e paralelamente criar meca do IBDF, a retirada e o comércio de ma ra, construída há dois anos, impedia a
nismos para que o índio se dedique à deira da reserva indígena de Ibirama. As passagem de qualquer pessoa ou veículo
agricultura e não mais seja explorado três madeireiras que exploram a área às terras indígenas, num espaço de três
pelos madeireiros, que acabam vician (Indústria Madeireira Jost, Rodolfo quilômetros. Esse caminho vinha sendo
do-os em algo que um dia vai acabar, Gumz e Rosene Rossini) tiveram seus usado pelos índios há mais de 30 anos.
além de prejudicar o equilíbrio ecológico equipamentos paralisados pelos fiscais e A proprietária da fazenda, Adelaide Ri
da região”. (Jornal de Santa Catarina, 1.120 índios estão sendo alertados para vero Gomes, negava-se a abrir o cadeado
04/12/84). que não continuem cortando porque não da porteira, inclusive a representantes
terão para quem vender. Hoje eles rece da Funai e do Governo do Estado. (No
berão esta notícia da boca de seus repre tícias Populares, 07/11/84).
Comissão fala sentantes, que ontem pela manhã esti
veram na Delegacia do IBDF para uma
com o governador
reunião com o delegado Rogério Ulisses Convênio FUNAI/SUDELPA
Um grupo de líderes indígenas da reser Arruda, com o Secretário da Agricultu
va de Ibirama, reuniu-se ontem de ma ra, Vilson Kleinubing e com o represen “O presente convênio tem por objeto a
nhã no Palácio Cruz e Sousa, com o go tante da Funai, o engenheiro florestal regularização fundiária das terras dos
vernador Esperidião Amin e o secretário Nuno Fernando Dias. Mais uma vez, índios Guarani, situadas na periferia da
da Agricultura, Vilson Kleinubing, on apesar de esperado, o delegado da Fu Capital e no litoral do Estado de S. Pau
de relataram os problemas que vêm en nai, indigenista Eustáquio Machado, lo, mediante execução de serviços de de
frentando com o não cumprimento de não compareceu. (O Estado, 14/12/84). marcação, aviventação de limites, levan
promessas e acordos feitos pela Funai, tamentos ocupacionais e documentais,
envolvendo indenizações de áreas e corte bem como prestação de assistência jurí
indiscriminado de madeiras na reserva, dica, comunitária e de saúde às comuni
que possui mais de milíndios. dades indígenas.” (20/12/84).
Um dos líderes Antônio Caxias Popo, Guarani vão ao Governador
depois de elogiar o cumprimento do
de S. Paulo
(acordo feito com o DNOS, de indeniza
ção de parte da área da reserva inun Os seis caciques que representam os cem
dada pela barragem de Ibirama, recla índios guaranis que vieram a São Paulo
mou, porém, do não pagamento de va para expor seus trabalhos de artesanato Indios querem resolução
lores que não soube precisar, também, no saguão da Secretaria do Interior esta
de indenização, da madeira localizada: rão hoje com o governador Franco Mon A Sudelpa ainda não definiu que tipo de
na parte coberta pelas águas. “A Funai toro, no Palácio dos Bandeirantes, para ação vai mover na questão dos índios da
nos prometeu que isto seria pago, e nada pedir a demarcação de suas terras. Eles tribo guarani de Itariri, que ameaçam
foi cumprido”, queixou-se o líder indí acreditam que a medida acabará de uma matar aqueles que tentarem invadir suas
gena. vez com o problema das freqüentes inva terras, embora os lotes ocupados pelos
Segundo ele a madeireira seria utilizada sões das áreas. índios — cerca de 300 hectares — este
na melhoria das novas casas dos índios Em todo Estado existem cerca de milím jam com titulação nas mãos de particu
que estão sendo construídas na nova dios guaranis, vivendo em aldeias inde lares. A ameaça de conflito e o posicio
área, para onde vão ser transferidos pendentes e em postos da Funai. Os ca namento dos índios querendo interfe
após a conclusão da barragem de Ibi ciques que falarão hoje com o governa rência do Governo do Estado, a quem
rama. Das 63 casas a serem construídas, dor Franco Montoro representam as culpam por ter negociado há algumas
30 já estão concluídas e as restantes de áreas de Itariri, Barragem, Boi Mirim, décadas, as terras por eles habitadas,
verão ficar prontas até a metade do pró Silveira, Ubatuba e Peruíbe. surgiu quando o proprietário dos lotes
ximo ano, segundo promessa da Funai, Embora o problema das invasões das 30 e 47, anunciou sua disposição de co
lembrou Antônio Caxias Popo. terras seja bastante antigo, ele só passou meçar a desmatar essas glebas, amea
A queixa dos índios não pode contudo a merecer maior atenção das autorida çando de colocar abaixo a cerca que os
ser equacionada devido à ausência do des estaduais a partir de abril do ano índios mantêm na margem esquerda do
delegado da Funai em Curitiba, apesar passado, quando uma comissão de caci Rio do Azeite, demarcando as terras que
ques esteve na Capital para pedir provi consideram suas.
dências ao governo. (FSP, 27/04/84).

330
SUL 21

Os Guarani de Itariri,
litoral de S. Paulo,
do cacique Antonio Branco,
recebe a visita de Álvaro Tukano
e Ailton Krenak, da UNI.

Já há algum tempo que a Sudelpa, atra claro porém, é a solução envolvendo de putado-cacique Mário Juruna, que che
vés do Grupo da Terra e do Convênio sapropriação já que implicaria em ônus gou a fazer um discurso indignado. O
PPI-Sudelpa, vem acompanhando o para o poder público. (Tribuna do Ri assassinato do cacique Samuel, por ele
caso dessas glebas cujos títulos estão nas beira, 24/11/84). mentos de um time de futebol, também
mãos de particulares. Segundo o diretor preocupou bastante o deputado, que já
da Equipe Territorial e de Recursos Na anunciou a designação de um advogado,
turais da Sudelpa, Ivan Carlos Maglio, pela Funai, para acompanhar o inqué
já estava tudo decidido para que a autar GUARANI/ rito. E falou, também, de um levanta
quia ingressasse com ação de anulação mento que está sendo feito, para saber
dos títulos desses lotes reivindicados pe
los índios e que ficaram fora da reserva
PERUIBE onde está a verba destinada aos índios.
(Cidade de Santos, 17/05/84).
decretada em 63, quando houve infor Cacique é morto a tiros
mação do Cimi de que a Igreja já havia
ingressado com ação semelhante, há al De certa forma, já se tornou rotina a Polícia florestal procura índios
guns meses. briga entre índios e brancos por causa de
Isso determinou um novo posicionamen terras, mas, pela primeira vez, ao que se A Polícia Florestal realizará buscas,
to da Sudelpa. Ou reforçam o processo tem notícia, um cacique indígena desen hoje, na Serra do Mar, na tentativa de
que a Igreja — através da Diocese de tendeu-se com o homem branco por cau localizar cinco famílias de tupis-guara
Registro — já ingressou e que corre na sa de uma partida de futebol. Aconteceu nis, que teriam se transferido para as
PPI, atuando no sentido de sua agiliza na Reserva Indígena de Peruíbe e teve matas e estariam sobrevivendo da co
ção ou então, subscrevem essa mesma um fim trágico. O cacique Bento Samuel mercialização de palmito, o que é proi
ação. No caso de um lote que é ocupado dos Santos, de 57 anos de idade, foi mor bido por lei. O grupo de policiais sai às
há anos por um posseiro conhecido co to a tiros e seu filho Euzébio Samuel dos 9h30, do Museu de Pesca, em compa
mo Santos, que está na área há décadas Santos recebeu tiros nas duas pernas. Os nhia do xavante Adão Irapuitã Brasil,
com plantação, está em estudos a hipó autores dos disparos, José Martins da que está há oito meses em Santos, atuan
tese de negociação com o agricultor, in Silva (23 anos) e Waldemir Rodrigues, do em favor de tribos remanescentes no
denizando-o. No caso de Waldemar teriam assassinado outros índios que es Litoral. -

Baiano, que nunca ocupou os lotes 30 e tavam em companhia das vítimas, se O xavante Brasil, que assessora o depu
47, a solução ainda não foi encontrada. eles não tivessem fugido para o meio do tado Mário Juruna, não dispõe de maio
Ivan Carlos Maglio não afasta, no en mato. Mesmo ferido, Bento e Euzébio res informações sobre os tupis-guaranis
tanto, a possibilidade de desapropriação ainda tiveram forças para empunhar da serra, nunca visitou a aldeia.
que é, na verdade, a solução que várias seus facões e com eles desferir alguns Para apurar a situação dos índios do Li
correntes vêm apontando como ideal, golpes nos agressores, que ficaram gra toral e interceder junto às autoridades
inclusive o próprio cacique da aldeia, vemente feridos: José Martins está inter em favor deles, o xavante Brasil se vê
Capitão Antônio Branco. nado na Ala D da Santa Casa de Santos, obrigado a tirar dinheiro do próprio bol
O diretor da Sudelpa, Ivan Maglio, es enquanto Waldemir está em outro hos so, para deslocamentos e alimentação.
clarece porém que não há nenhum tipo pital. (Cidade de Santos, 17/04/84). Em Santos, conta com o apoio do presi
de empecilho envolvendo o fato de uma dente do PDT local, Joaquim Ventura
autarquia governamental acionar a PPI, de Sá, mas insuficiente para garantir o
para anulação dos títulos, uma vez que Juruna visita Peruíbe desenvolvimento de seu trabalho. Ele
se obtenham provas irrefutáveis de que a precisaria, no mínimo, de um local para
negociação dos lotes foi irregular há al Muita miséria e submissão da comuni ficar e de verbas para alimentos. (A Tri
guns anos. O que não está ainda muito dade indígena à Funai. Este o quadro buna, 03/07/84).
encontrado ontem, em Peruíbe, pelo de
331
*_
–/ ©
#As NDIGENAs no BRASIL/CED]

Prefeito dá permissão A equipe da SUDELPA está há um mês


na aldeia, efetuando o levantamento da
Os índios do litoral já possuem permis situação, aplicando o teste tuberculíneo
são da Prefeitura para comercializar pe e vacinando aqueles cujo teste deu resul SILVEIRAS
ças de artesanato, raízes e ervas nas pra tado negativo.
ças José Bonifácio e dos Andradas. O Segundo o superintendente da SUDEL Levantamento da FUNAI
compromisso foi assumido ontem pela PA. Antônio Fernando dos Reis, esse
manhã, em reunião que os representan programa será extensivo a todas as al A Funai já determinou à antropóloga
tes indígenas tiveram com o prefeito Os deias do Litoral e periferia de São Paulo. Regina Muller fazer levantamento de
valdo Justo. Além da autorização, Justo (A Tribuna, 24/12/84). dados a respeito do litígio entre os índios
encaminhou o xavante Adão Brasil para da comunidade Guarani do rio Silveiras,
um encontro com o secretário de Turis ao sul de São Sebastião, por solicitação
mo, Álvaro Bandarra, que deverá pro da Justiça. Para a antropóloga, que é
gramar, no calendário da Sectur, uma GUARANI/ assistente técnica da Funai, “a preocu
mostra de produtos vindos de Peruíbe e pação do órgão não é o reconhecimento
outras localidades. (A Tribuna, 25/07/ RIO BRANCO deste territorio como área imemorial dos
84), guaranis, já que pelos autos do processo
cacique denuncia invasão a própria Justiça assim decidiu”. (FSP,
A área indígena de Rio Branco, em Ita 05/09/84).
SECTUR veta proposta nhaém, uma das mais antigas, já que a
ocupação do território ocorreu no século
A Secretaria de Turismo e Esportes não passado, está sendo invadida delibera Juiz receberá laudo
está em condições de atender à reivin damente por bananicultores. Isso foi de
dicação da comunidade indígena do Li nunciado pelo cacique Vera Jeguaka — O juiz Pedro Luís Aguirre Menin, da Co
toral Sul, que pretende montar em San José Oliveira dos Santos — na última marca de São Sebastião, no Litoral Nor
tos uma exposição permanente de arte quinta-feira, quando recebeu da Su te de São Paulo, recebe amanhã a peri
sanato. Essa impossibilidade foi comu delpa, material agrícola e mantimentos. tagem do engenheiro, antropólogo e
nicada ontem pelo secretário Álvaro A denúncia pode ser constatada sem professor Desidério Aytai, da Universi
Bandarra ao representante dos índios, muita dificuldade, como revelou Maria dade Católica de Campinas, sobre a re
Adão Irapuitã Brasil, durante reunião Inês Ladeira, que pertence ao Grupo da serva indígena Guarani de Rio Silveiras,
na Sectur para tratar da elaboração de Terra da Sudelpa, visto que já há alguns localizada em Barra do Una, São Sebas
um projeto turístico-cultural envolvendo anos a Banáurea colocou suas divisas tião. A peritagem foi requisitada em se
aquela comunidade. mais para dentro da terra dos índios. tembro de 1984 pelo juiz da Comarca de
Bandarra explicou que a falta de recur Essa área da aldeia, segundo consta, foi São Sebastião, Alcides Leopoldo da Sil
sos na Prefeitura impede o fornecimento doada pelo Governo à Fepasa, embora va, depois que os índios entraram com
de transporte, alimentação e alojamento em respeito à Constituição todas as ter uma ação de embargo de terceiro pos
para cerca de 40 índios, como foi pro ras ocupadas pelos índios devam perten suidor. É que os índios se acharam pre
posto recentemente. O que poderá ser cer tão somente a eles. judicados por não participar da ação de
acertado é um espaço na Casa da Cul Maria Inês, que já pertenceu ao CTI, reintegração de posse, movida pelo es
tura para os indígenas exporem seus tra ressaltou na oportunidade que esse ór pólio de Domênico R. Maricondi e José
balhos, mas sem qualquer ônus para a gão possui um projeto de apoio à posse e Bastos da Silva contra Omero Santos,
Sectur. (A Tribuna, 14/08/84). de incentivo ao cultivo, para que os ín nas terras que consideram suas.
dios possam subsistir com recursos pró Segundo o advogado dos índios, Marco
prios, no que se refere à alimentação. Antônio Barbosa, que pertence ao Gru
No caso da aldeia do Rio Branco, já foi po de Terra da Sudelpa, os interessados
encaminhada ao Governo, pela Sudel no espólio afirmam que os índios têm
pa, proposta de reconhecimento das um alqueire das terras, mas estes reivin
áreas indígenas. Não foi ainda iniciada a dicam 380. De acordo com Barbosa, a
demarcação do território pelo Grupo da ação de reintegração de posse, desde
Tuberculose é ameaça Terra, o que deverá ser feito mediante 1957 na Justiça, foi baseada em “docu
A SUDELPA iniciou a vacinação em levantamento topográfico e isso está de mentos antigos de limites indefinidos e
massa da comunidade indígena da al pendendo de entendimentos com a Fe de difícil localização”.
deia Boa Vista, tendo em vista o apare pasa. (Cidade de Santos, 01/04/84). Acrescentou que “o Judiciário tomou
cimento de vários casos de tuberculose. conhecimento da presença e ocupação
Segundo a médica Nadja Passos, “a ane de índios, mas continuou a dar anda
mia — que possibilita o aparecimento mento no processo, sem atentar para
da doença — é uma característica quase uma disposição constitucional. De acor
que comum nas comunidades guaranis, do com o artigo 198 da Constituição, as
na área do Litoral. A grande fonte de terras habitadas por índios são do patri
proteína dos índios, a caça e a pesca, mônio da União e de usufruto exclusivo
ficou restrita a áreas dizimadas e rios po e permanente dos índios. Segundo o pa
luidos, devido às constantes invasões de rágrafo primeiro desse artigo, são nulos
terras e à permanente ameaça a que fi quaisquer documentos sobre essas
cam sujeitos por parte de posseiros, gri áreas”. (FSP, 12/12/84).
leiros e até grandes empresários”.

332
Siglas

ABA Associação Brasileira de Antropologia


ABRALIN Associação Brasileira de Lingüística
ABRAMO Associação Brasileira dos Mineradores de Ouro
ABREMIN Associação Brasileira de Entidades de Mineração
AEA Associação dos Empresários da Amazônia
AESP Assessoria de Estudos e Pesquisas/Funai
AGAPAN Associação Gaúcha de Proteção ao Ambiente Natural
AGESP Assessoria Geral de Estudos e Pesquisas da Funai
AGROSUL Empresa de Serviços Agropecuários de Mato Grosso do Sul
AIM Aesculapios International Medicine/EUA
AJACRE Ajudância do Acre/Funai
AJARINA Ajudância de Araguaína/Funai
AJUSOL Ajudância do Solimões/Funai
AL Alagoas
ALBAMA Aliança Batista Missionária da Amazônia
AM Amazonas
ANA! Associação Nacional de Apoio ao Indio
AUCIRT Associação da União das Comunidades Indígenas do Rio Tiquié
BA Bahia
BEF Batalhão do Exército de Fronteira
BID Banco Interamericano de Desenvolvimento
BNDES Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social
CADIRJ. Comitê de Apoio aos Indígenas do Rio de Janeiro
"CBG Companhia Brasileira de Geofísica
CCPY Comissão Pela Criação do Parque Indígena Yanomami
CEDI Centro Ecumênico de Documentação e Informação
CEF Caixa Econômica Federal
CEMAT Centrais Elétricas Matogrossense S/A
CF-SOL Comando de Fronteira do Solimões
CHESF Companhia Hidrelétrica de São Francisco
CIMI Conselho indigenista Missionário
CGTT Conselho Geral da Tribo Ticuna
CJP Comissão de Justiça e Paz
CMPI Conselho Mundial dos Povos Indígenas
CNBB Conferência Nacional dos Bispos do Brasil
CNPq Conselho Nacional de Pesquisa
COAMA Coordenação da Amazônia/Funai
COBAL Companhia Brasileira de Alimentos
CODESAIMA Companhia de Desenvolvimento de Roraima
CODEVASF Companhia de Desenvolvimento do Vale São Francisco
CONAGE Coordenação Nacional dos Geólogos
CONFEN Conselho Federal de Entorpecentes
CPRM Companhia de Pesquisas e Recursos Minerais
CPT Comissão Pastoral da Terra
CPI Comissão Parlamentar de Inquérito
CPI/AC Comissão Pró-Indio do Acre
CPl/SP Comissão Pró-indio de São Paulo
CTI Centro de Trabalho Indigenista
CSN Conselho de Segurança Nacional
CVRD Companhia Vale do Rio Doce
. DAER Departamento Autônomo de Estradas de Rodagem
DGO Departamento Geral de Operações da Funai
DPI Diretoria do Patrimônio Indígena
DNER Departamento Nacional de Estradas de Rodagem
DNOS Departamento Nacional de Obras e Saneamento
DOCEGEC) Subisidiária da CVRD
DNPM Departamento Nacional de Pesquisas Minerais
DPF Departamento da Polícia Federal
DR Delegacia Regional da Funai
EMBRAPA Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária
ELETRONORTE Centrais Elétricas do Norte do Brasil
FAB Força Aérea Brasileira
FAMASUL Federação da Agricultura do Mato Grosso do Sul
FETAEMG Federação dos Trabalhadores na Agricultura de Minas Gerais
FETAGRI Federação dos Trabalhadores na Agricultura de Mato Grosso do Sul
FIPE Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas
FINSOCIAL Fundo de Investimento Social
GAI Grupo de Apoio ao Indio
GEBAM Grupo Executivo do Baixo Amazonas
GEEI Grupo Especial de Estudos Indigenistas
GETAT Grupo Executivo das Terras do Araguaia-Tocantins
GO Goiás
GREQUI Grupo de Estudos da Questão Indígena (BH, Minas Gerais)
GRIN Guarda Rural Indígena
GT Grupo de Trabalho
GTFA Governo do Território Federal do Amapá
GTME Grupo de Trabalho de Missionários Evangélicos
IBDF Instituto Brasileiro de Desenvolvimento Florestal
IBRAM Instituto Brasileiro de Mineração
INDÍGENAs No BRASIL/CED

IECLB Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil


INCRA Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária
INTERBA Instituto de Terras da Bahia
ITERAM Instituto de Terras do Amazonas
INTERMAT Instituto de Terras de Mato Grosso
ITERPA Instituto de Terras do Pará
IUM Imposto Único Sobre Minerais
IWGIA International Work Group for Indigenous Affairs
MA Maranhão
MAREWA Movimento de Apoio à Resistência Waimiri-Atroari
MDM Médecins du Monde/França
MEAF Ministério Extraordinário de Assuntos Fundiários
MEC Ministério de Educação e Cultura
MG Minas Gerais
MIA Missão Anchieta
MINTER Ministério do Interior
MIRAD Ministério da Reforma e Desenvolvimento Agrário
MNTB Missões Novas Tribos do Brasil
MíS Mato Grosso do Sul
MT Mato GROSSO
NE Nordeste
OEA Organização dos Estados Americanos
ONU Cºrganização das Nações Unidas
OPAN Operação Anchieta
PA. Pará
PE Pernambuco
PF Policia Federa!
PDT Partido Democrático Trabalhista
PDS Partido Democrático Social
PI Posto Indígena/Funai |
PIA Posto Indígena de Atração/Funai
PIV
PIX Posto
ParqueIndígena
Indígenadedo
Vigilância
Xingu - Funai

PL Projeto de Lei
PM Polícia Militar
PMDB Partido do Movimento Democrático Brasileiro
PNA Parque Nacional do Araguaia
POLONOROESTE Programa Integrado de Desenvolvimento do Noroeste do Brasil
PPI Procuradoria do Patrimônio Imobiliário
PQARA Parque Indígena do Araguaia
PR Paraná
|
• •
PRODASEN
PT Centro
Partido dos de Processamento de Dados do Senado
Trabalhadores

PTB Partido Trabalhista Brasileiro


RJ Rio de Janeiro
RO Rondônia
RR Roraima
RS Rio Grande do Sul
RURALMINAS Fundação Rural Mineira
SBG Sociedade Brasileira de Geologia
SC Santa Catarina
SEC Secretaria de Educação e Cultura
SEMA Secretaria do Meio Ambiente
SEPLAN Secretaria do PIanejamento
SIL Summer Institute of Linguistics
SNI Serviço Nacional de Informação
SP São Paulo
SPI Serviço de Proteção ao indio
SPHAN Secretaria do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional
SPO São Paulo de Olivença
SPU Serviço de Patrimônio da União
STF Supremo Tribunal Federal
SUDAM Superintendência do Desenvolvimento da Amazônia
SUDHEVEA Superintendência do Desenvolvimento da Hevea Brasileira
SUDECO Superintendência do Desenvolvimento do Centro-Oeste
SUDELPA Superintendência do Desenvolvimento do Litoral Paulista
SUDENE Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste
SUDEPE Superintendência do Desenvolvimento da Pesca
TFR Tribunal Federal de Recursos
TERRASUL Departamento de Terras e Colonização do Mato Grosso do Sul
UFBA Universidade Federal da Bahia
UFSC Universidade Federal de Santa Catarina
UNESP LJniversidade Estaduai Paulista "Júlio de Mesquita Filho"
UNE Universidade Nacional de Brasília
UNI União das Nações Indígenas
UNICAMP Universidade Estadual de Campinas
USP Universidade de São Paulo
Aconteceu Especial ACONTECEU SEMANAL

Os números especiais do O material que serve de base para fazer os


Aconteceu trazem um resumo ESPECIAIS está no ACONTECEU Semanal.
das seções da edição É uma publicação dedicada ao
semanal, complementando-se acompanhamento das lutas levadas por
com notícias de outras fontes da diversos setores populares. As notícias da
imprensa, pequenos ensaios, semana estão agrupadas em trabalhadores
comentários, documentos. São urbanos, trabalhadores rurais, índios,
publicações anuais ou movimentos populares, igreja, política
extraordinárias, quando nacional, internacionais, e outras. Contém
determinados fatos tenham também uma seção de Cartas do Leitor,
importância para aquelas lutas a onde são divulgadas datas de cursos,
que se dedica cada publicação. seminários, convocações, manifestações,
Solicitamos aos leitores que nos atos públicos, etc. Nesta seção os leitores
enviem por cartas suas críticas, têm um espaço aberto para a divulgação das
sugestões e especialmente notícias que não saem na imprensa.
recortes, boletins, ou reproduções O ACONTECEU Semanal tem como
de notícias surgidas na imprensa local sobre o tema. assinantes lideranças indigenas, sindicatos e
demais órgãos de classe. Comissões 4
Números já publicados do Aconteceu Especial: Pastorais, comunidades de base,
Trabalhadores 78 Especial 1 missionários, operários, camponeses e
Trabalhadores 79 Especial 2 outros. Para quem se interessa na questão
Trabalhadores 79 Especial 3 indígena o ACONTECEU Semanal permite
1980 ABC da Greve Especial 4 um acompanhamento detalhado e em
Novos Partidos Extraordinários profundidade da caminhada dos povos
Greve Canaviais Especial 5 indígenas na luta pela sua autodeterminação, feito com base nas
Povos Indígenas do Brasil 1980 Especial 6 notícias de jornais regionais e do eixo
Trabalhadores Urbanos no Brasil 1980 Especial 7 Rio-SP. Ideal para quem não tem acesso a
Uma Greve pelo Direito ao Trabalho: FIAT 1981 Especial 8 jornais diários ou que quer conhecer as
Trabalhadores Rurais 1980 Especial 9 diversas situações de contato, de lutas e
Povos Indígenas no Brasil 1981 Especial 10 reivindicações dos grupos indígenas de todo
Trabalhadores Urbanos no Brasil 1981 Especial 11 Brasil.
Povos Indígenas no Brasil 1982 Especial 12
Trabalhadores Rurais no Brasil 1981 Especial 13 Assinatura anual: Cr$ 10.000,00 (Brasil),
Povos Hidígenas no Brasil 1983 Especial 14 US$ 58,00 (América Latina),
US$ 66,00 (AIIIérica do Norte),
US$ 72,00 (Europa, Ásia e África).
Envie junto com seu pedido um cheque
nominal ou vale postal a

CEDI — Centro Ecumênico de Documentação e Informação


R. Cosme Velho, 98 fundos - Cosme Velho

2224Í Rio de Janeiro, RJ, Brasil


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