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UNIVERSIDADE FEDERAL DO AMAZONAS – UFAM

INSTITUTO NACIONAL DE PESQUISAS DA AMAZÔNIA –INPA

CICLO DE VIDA E DINÂMICA POPULACIONAL DO CAPARARI


Pseudoplatystoma tigrinum VALENCIENNES 1840 (PISCES;
PIMELODIDAE), no rio Apure, bacia do rio Orinoco.

ALFREDO PEREZ LOZANO

Tese apresentada ao Programa de


Pós-graduação em Biologia Tropical
e Recursos Naturais do convenio
INPA-UFAM como parte dos
requisitos para a obtenção do titulo
de Doutor em Ciências Biológicas,
área de concentração em Biologia
de Água Doce e Pesca Interior.

Orientadora: Profa. Dra. Nidia Noemi Fabré

Manaus-AM
2005

1
FICHA CATALOGRÁFICA

Perez Lozano Alfredo

Ciclo de vida e Dinâmica populacional do caparari Pseudoplatystoma


tigrinum Valenciennes 1840 (Pisces; Pimelodidae), no rio Apure, bacia
do rio Orinoco.
225p.
tese (Doutorado)- INPA/UFAM, 2005.

1. Pseudoplatystoma tigrinum; 2. estoque; 3. idade e crescimento; 4. ciclo


de vida; 5. manejo pesqueiro; 6. Orinoquia.

CDD- CDU

SINOPSE
A identificação de estoques do caparari (Pseudoplatystoma tigrinum) na
bacia do rio Apure, foi avaliada por médio da análise morfológica dos
crânios e otólitos. Por outro lado, o ciclo de vida foi analisado através da
análise de estrutura de tamanhos, sexo, peso e idade, assim como:
parâmetros populacionais como: crescimento, mortalidade e rendimento
por recruta. A pesca comercial explora todas as classes de comprimento
acima de 34 cm. A pesca tem reduzido o comprimento médio de captura e
as classes etárias dominantes são 2 e 3 anos. com um predomínio das
fêmeas nas capturas O caparari forma uma marca de crescimento por ano
(otólito). O nível ótimo de mortalidade por pesca para atingir o rendimento
ótimo sustentável foi menor que o atual, indicando sobrepesca de
crescimento. Propõe-se um novo enfoque de manejo baseado no manejo
adaptativo usando as informações do caparari como referencial.

2
ÍNDICE

DEDICATORIA.................................................................................................VII
AGRADECIMENTOS.......................................................................................VIII
RESUMO...........................................................................................................IX
ABSTRACT........................................................................................................X
LISTA DE TABELAS........................................................................................XI
LISTA DE FIGURAS........................................................................................XV

INTRODUÇÃO GERAL.....................................................................................01

CAPÏTULO I
SITUAÇÃO ATUAL DA PESCA DO CAPARARI NOS LLANOS
VENEZUELANOS
Aspectos geográficos e ambientais...................................................................05
Clima e hidrologia .............................................................................................07
O caparari .........................................................................................................11
Biologia e dinâmica populacional ......................................................................11
A pesca na Venezuela ......................................................................................13
Possibilidade de uso e manejo do caparari ..................................................... 20

CAPÍTULO II
IDENTIFICAÇÃO DOS ESTOQUES DO CAPARARI ATRAVÉS DA
MORFOLOGIA GEOMÉTRICA
INTRODUÇÃO ..................................................................................................23
A Morfometria Geométrica na Identificação de Estoques (Bases teóricas).......24
Métodos de marcos anatômicos .......................................................................25
Métodos de contorno ........................................................................................27
MATERIAIS E MÉTODOS ................................................................................29
Amostragem ......................................................................................................29
Análise dos neurocrânios ..................................................................................30
Análise da forma através dos marcos anatômicos (análise de procrustes) ......31
Análise de deformação relativa e de deformações de placas (RWA e TPS) ....32
Análise de otólitos através dos descritores elípticos de Fourier .......................34
Cálculo das amplitudes harmônicas .................................................................35
RESULTADOS...................................................................................................38
Análise da forma do neurocrânio ......................................................................38
Análise da forma dos otólitos ............................................................................51
DISCUSSÃO .....................................................................................................55
Análise de marcos anatômicos .........................................................................57
Análise de contorno ..........................................................................................60
Definição de estoque ........................................................................................63

3
CAPÍTULO III
DETERMINAÇÃO DA IDADE E CRESCIMENTO SAZONAL DO CAPARARI
NO RIO APURE
INTRODUÇÃO ..................................................................................................64
MATERIAIS E MÉTODOS ................................................................................66
Coleta de dados ................................................................................................66
Análise de dados ..............................................................................................67
Processamento dos otólitos ..............................................................................67
Análise qualitativa .............................................................................................68
Análise quantitativa ...........................................................................................68
Periodicidade de formação das marcas de crescimento ..................................69
Definição da idade ............................................................................................71
Fatores sazonais que condicionam o crescimento do caparari ........................72
Coeficiente de regressão peso-comprimento ...................................................72
Índice de condição ............................................................................................73
Estágios de maturação sexual .........................................................................73
RESULTADOS .................................................................................................74
Padrão de marcação dos otólitos .....................................................................74
Análise qualitativa .............................................................................................74
Análise quantitativa ...........................................................................................75
Periodicidade de formação das marcas ............................................................79
Definição da idade do caparari .........................................................................83
Chave idade-comprimento ................................................................................85
Distribuição das classes etárias do caparari no Baixo Llano ............................86
Fatores sazonais que condicionam o crescimento ...........................................87
Análise do coeficiente de regressão da relação peso-comprimento.................87
Análise do índice de condição do caparari na bacia do rio Apure.....................89
Estádios de maturação sexual ..........................................................................92
DISCUSSÃO .....................................................................................................94
Determinação da idade .....................................................................................94
Crescimento sazonal ........................................................................................95
Índices biológicos ..............................................................................................98
Variação sazonal dos ciclos reprodutivos .........................................................99
Variação sazonal da relação peso-comprimento ............................................100
Variação sazonal do indice de condição K .....................................................100

CAPÍTULO IV
VARIAÇÃO ESPACIAL E TEMPORAL DA ESTRUTURA POPULACIONAL E
CICLO DE VIDA DO CAPARARI NO RIO APURE
INTRODUÇÃO ...............................................................................................102
MATERIAIS E MÉTODOS .............................................................................104
Coleta de dados .............................................................................................104
Análise de dados ............................................................................................105
Distribuição espacial e temporal das freqüências de comprimento ...............105
Variação espacial e temporal da Relação peso-comprimento .......................105
Variação espacial e temporal dos comprimentos Lopt e L50 ............................106
Variação espacial e temporal da proporção sexual ........................................107
Distribuição espacial e temporal das classes de idades .................................107

4
RESULTADOS ................................................................................................108
Distribuição espacial dos comprimentos do caparari no Alto Llano ................108
Distribuição temporal dos comprimentos do caparari no Baixo Llano ............110
Variação espacial e temporal dos coeficientes de regressão da Relação peso-
comprimento................................................................................................... 113
Variação espacial e temporal do comprimento médio de maturidade sexual (L50)
, e Comprimento ótimo (Lopt). ..........................................................................114
Variação espacial e temporal da proporção sexual ........................................116
Distribuição espacial das classes etárias do caparari no alto Llano ...............117
DISCUSSÃO ...................................................................................................121
Distribuição espaço temporal dos comprimentos ...........................................121
Análise espaço temporal das classes etárias .................................................124
Distribuição espaço temporal dos comprimentos de maturidade sexual.........126
Análise espaço temporal da proporção sexual ...............................................126
Análise espaço temporal da relação peso-comprimentos ..............................127
Ciclo de vida ...................................................................................................128
Hipótese do modelo de migração ...................................................................132

CAPÍTULO V
DINÂMICA POPULACIONAL DO CAPARARI
INTRODUÇÃO ................................................................................................135
MATERIAIS E MÉTODOS...............................................................................137
Crescimento do caparari no sistema do rio Apure ..........................................137
Modelo de retrocálculo ....................................................................................138
Parâmetros de crescimento ............................................................................139
Mortalidade total (Z) ........................................................................................141
Mortalidade natural (M) ...................................................................................141
Estimativas da Idade de maturação sexual, recrutamento e captura .............142
Índice de crescimento .....................................................................................142
Análise de populações virtuais (VPA) .............................................................143
Rendimento por recruta ..................................................................................143
Biomassa por recruta ......................................................................................144
Estimativas de sobrepesca .............................................................................145
Descrição dos indicadores ..............................................................................145
RESULTADOS ...............................................................................................147
Relação corpo-estrutura .................................................................................147
Modelos de retrocálculos ................................................................................148
Parâmetros de crescimento.............................................................................153
Longevidade e mortalidade .............................................................................156
Idades da primeira maturidade sexual, recrutamento e de captura ................157
Análise de populações virtuais (VPA) .............................................................158
Rendimento e Biomassa por recruta ..............................................................161
DISCUSSÃO....................................................................................................167
Modelos de retrocálculos ................................................................................168
Parâmetros de crescimento ............................................................................169
Estratégias de vida .........................................................................................171
Mortalidade .....................................................................................................173
Rendimento por recruta ..................................................................................174

5
Biomassa por recruta ......................................................................................176
Análise de populações virtuais (VPA) .............................................................177
Estimativas de sobrepesca .............................................................................178

CAPITULO VI
PROPOSTA DE ORDENAMENTO PESQUEIRO PARA O SISTEMA
HIDROGRAFICO DO RIO APURE
INTRODUÇÃO................................................................................................182
Ferramentas de manejo .................................................................................185
Pesqueiras .....................................................................................................186
Ecológicas ......................................................................................................186
Econômicas ....................................................................................................187
Projetos pilotos ...............................................................................................187
Situação atual da pesca no rio Apure ............................................................187
Manejo Pesqueiro: A Abordagem Adaptativa e Precautória ........................189
Desenvolvimento da proposta de ordenamento pesqueiro ............................190
Objetivo geral .................................................................................................190
Objetivos específicos......................................................................................190
Abrangência geográfica..................................................................................191
Desenho Experimental das Estratégias de Manejo Pesqueiro.......................191
Sistema de informação pesqueira (Estatísticas pesqueiras) .........................192
Zoneamento das estratégias de manejo pesqueiro .......................................192
Ordenação baseada no controle espacial da pesca.......................................199
Ordenação baseada nos direitos de propriedade ..........................................199
Ordenação baseada no controle temporal da pesca......................................197
Ordenação baseada na recuperação da integridade biótica .........................198
Restabelecimento da comunicação lateral ....................................................199
Fiscalização ambiental ...................................................................................200
Considerações finais ......................................................................................200

CONCLUSÕES ..............................................................................................203

RECOMENDAÇÕES .....................................................................................204

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .............................................................205

6
DEDICATÓRIA

A minha filha Oriana, por ajudar-


me a entender que, quando se é
pai de um filho, se é pai de todos
os filhos do mundo!!!.

7
AGRADECIMENTOS

Quando a gente alcança uma meta na vida, deve virar as costas e


olhar para as pessoas, agradecendo pelo sucesso obtido, mesmo que sua
contribuição tenha sido pouca, porque na vida da gente, essas pessoas
de um jeito ou de outro fizeram uma contribuição para que hoje eu
chegasse até aqui. Por isso devemos ser gratos, especialmente com
aqueles que nos ajudaram a chegar mesmo sem nossas próprias forcas, a
todos eles muito obrigado, valeu!!!

A minha Orientadora Dra. Nidia Fabré pela colossal ajuda, e com quem tenho
uma divida quase impagável, mas mesmo assim muito obrigado pela
compreensão, desprendimento e assistência que muitas vezes foram muito
além de suas obrigações como orientadora.

A Juan Carlos Alonso quem como um salva-vida apareceu no ultimo momento


para revisar o texto e que realizou importantes observações.

A minha Oriana, Lorennys e Nayibe pela compreensão e paciência por estar


tanto tempo fora do lar.

A meus colegas do laboratório de Biologia Pesqueira: Hender Castillo e Rafael


Tovar, pelo tratamento e processamento dos crânios e otólitos.

A meus colegas da Unellez: Salome Baroni; Álvaro Piñeres; pela compreensão


e liberação do tempo para culminar esta pesquisa. A Otto Castillo e Donald
Taphorn pela ajuda dada para culminar este trabalho.

Aos referes deste trabalho, em especial a Ronaldo Barthem, Vandick Batista e


Carlos Lasso, pelas observações colocadas nesta tese, que melhoraram o a
versão final deste trabalho.

Ao instituto Nacional de Investigaciones Agropecuárias (INIA) através do


pesquisador Anielo Barbarino por ceder o banco de dados dos surubins do rio
Apure. Assim como ao FONACIT pelo financiamento dado para esta pesquisa.
Ao grupo de pesquisa da UFAM PYRA, pela utilização da infraestrutura,
serviços e insumos para culminar este trabalho.

A meus amigos do Laboratório de Ecologia da UFAM: Elisabeth, Lenize ,


Samantha, pelas correções ortográficas do português.

A meus estudantes de biologia pesqueira da Venezuela: Carmen e Pilimar,


pela organização dos dados de campo.

A mis amigos pescadores del rio Apure Pedro Carrillo, piquinha, Rafael
Alfonso, pela ajuda nas pescarias dos surubins no rio Apure.

E como olvidar a minha amiga e irmã da alma Beth, com quem tenho também
uma divida impagável.

8
RESUMO

O caparari é uma das espécies de maior importância para o consumo


humano da bacia do rio Apure, com uma ampla distribuição tanto no alto como
no baixo llano(savana). A dinâmica da estrutura populacional do caparari
(Pseudoplatystoma tigrinum) no rio Apure foi avaliada a partir de dados da
pesca comercial desembarcada no alto (2002-2003) y baixo llano (1996-2003).
Foram analisados aspectos como: identificação de estoques através da analise
morfológica geométrica; Analise dos comprimentos por sexo, áreas e épocas;
parâmetros populacionais; avaliação do recurso através de modelos
retrospectivos (VPA) e prospectivos (Y/R) de estrutura de idade. Os resultados
da analise morfométrica mostraram que o caparari, está formado por um único
estoque. Foi observada uma redução de comprimento médio de captura nos
últimos seis anos. Assim como uma variação sazonal do comprimento. A
estrutura de idade mostra uma distribuição truncada a partir dos três anos de
idades tanto no alto como no baixo llano. a proporção sexual esta dominada
pelas fêmeas em ambas regiões. O fator de condição para o total e por sexo
não mostrou variação sazonal. A relação peso comprimento durante o período
de estudo mostrou uma diminuição progressiva do coeficiente regressão no
baixo Llano. As estimativas dos parâmetros populacionais foram, Lf=119,9*[1-e
(-0,17*(t-1,052)
] para fêmeas e Lf= 108,6*[1-e(-0,19*(t-1,184)] e para machos. A
mortalidade natural e total foi estimada em 0,42 e 1,33 respectivamente com
uma longevidade em 14 anos. os parâmetros populacionais do caparari
mostraram aspectos que possa ser considerado como uma espécie k-
estrategista ou r-estrategista. Os resultados da análise de rendimento por
recruta indicam sobrepesca de crescimento. Uma proposta de manejo
pesqueiro é proposta baseado no manejo adaptativo e precautorio.

9
ABSTRACT

The caparari (Pseudoplatystoma tigrinum) is a species with high


commercial importance for human food in the Apure basin with wide
distribution in the high and low plains The population dynamic of this species
was assessed using commercial fishery landing data in the high plains (2002-
2003) and low plains (1996-2003). The identification of the stock was done
using geometric morphological analyses. Population structure was also
analyzed by length and age. Population parameters were estimated (growth,
mortality, recruitment) for fish stock assessment by yield per recruitment. The
result of stock identification procedures using morphometric data for the
cranium and otoliths, confirme just one population present in the Apure river
basin, with some differences noted for catfish from the Caparo River. The
population struture is dominated by fish from the annual class of three years.
The age structure also showed a truncate distribution from three year class in
both the high and low plains. This species’ mean length at capture has been
declining constantly for the last six year, and seasonal variation in size was
detected. The sex ratio was dominated by females in both regions. The
condition factor did not show seasonal variation. The weight-length relationship
showed a reduction of regression coefficient in the low plains and the growth
(-0,17*(t-1,052)
parameters of von Bertalanffy model were Lt=119,9*[1-e ] for females
and Lt= 108,6*[1-e(-0,19*(t-1,184)] for males. The natural and total mortality were
0,42 and 1,33 respectively, and longevity was estimated to be 14 years. The
population parameters of P. tigrinum showed aspects characteristic of a k-
strategist species. The resulted of yield compared with recruitment indicates
that there is increasing overfishing. A proposal for fisheries management based
on adaptive management discussed.

10
LISTA DE TABELAS

CAPÏTULO I
Tabela 1. Desembarques anuais, em toneladas, da frota pesqueira da
Venezuela durante o período entre 1984 -1998............................................... 14

CAPÏTULO II
Tabela 1. Definição dos pontos homólogos de referência no neurocrânio do
caparari para a análise de morfologia geometria. .............................................30

Tabela 2. Resultado da análise de componentes da forma dos peixes do alto


Llano no sistema do rio Apure, para os dois primeiros componentes. .............40

Tabela 3. Resultados do teste Goodall’s com reamostragem (bootrap) da


distância de procrustes, aplicado entre os tributários do alto llano...................45

Tabela 4. Resultado do CVA/MANOVA no reconhecimento dos padrões


morfológicos dos neurocrânios do caparari nos grupos previamente
estabelecidos por tributário no alto Llano. Onde: λ= coeficiente de Wilki’s; χ2 =
Chi-quadrado; gl= graus de liberdade; P= probabilidade critica. ......................50

Tabela 5. Resultados da classificação da análise variante canônica (CVA),


entre os peixes dos tributários do alto Llano. Onde: A= Rio Arauca; C= Rio
Caparo; R= Rio San Carlos; G= Rio Guanare; S= Rio Sarare; P= Rio
Portuguesa. Os valores entre parênteses (x) foram reagrupados pelo CVA. ...51

Tabela 6. Resultados da análise de componentes principais obtidos para os


descritores elípticos de Fourier dos otólitos Asteriscus do caparari no Alto
Llano..................................................................................................................51

CAPÍTULO III
Tabela 1. Descrição das técnicas de clarificação e coloração utilizadas nos
otólitos Asteriscus do caparari...........................................................................67

Tabela 2. Classificação empírica dos estádios de desenvolvimento gonadal


segundo os critérios de Arboleda (1989) e Vazzoler (1996)..............................73

Tabela 3. Resultados da regressão linear simples entre o comprimento furcal e


o raio total do otólito Asteriscus (direito e esquerdo) onde: a= intercepto da
ordenada; b= coeficiente de regressão; s.e= erro padrão; n= número de
observações; p-critico probabilidade de significância. ......................................74

Tabela 4. Estatística descritiva da distribuição da freqüência dos tamanhos das


marcas de crescimento nos otólitos onde x= média; σ= desvio padrão; s=
coeficiente assimetria; K= curtose; D = teste de normalidade de Kolmogorov-
Smirnov; p-critico= probabilidade de significância; n= número de
observações.......................................................................................................77

11
Tabela 5. Chave idade-comprimento do caparari no baixo Llano, mostrando as
freqüências absolutas e relativas (sexos combinados).....................................85

Tabela 6. Relação peso-comprimento (w=a*Lb) do caparari por mês no baixo


llano (2000-2003). Onde: n= número de observações; a= intercepto na
ordenada; b= coeficiente de regressão; r= coeficiente de correlação; s.e. = erro
padrão de b; p= valor critico de probabilidade...................................................87

CAPÍTULO IV
Tabela 1. Estatísticas descritivas do comprimento furcal dos caparari
capturados no alto Llano. Onde: x= media; Mo= moda; σ= desvio padrão; CV=
coeficiente de variação; n= observações. .......................................................108

Tabela 2. Estatísticas descritivas do comprimento furcal anual do caparari no


baixo Llano. Onde: x= média; Mo= moda; σ= desvio padrão; CV= coeficiente de
variação; n= observações. ..............................................................................110

Tabela 3. Resultados das probabilidades do teste LSD da comparação dos


comprimentos do caparari entre os anos no baixo Llano................................111

Tabela 4. Estatísticas descritivas do comprimento furcal do caparari por sexo e


ano, no baixo Llano. Onde x= média; Mo= moda;σ= desvio padrão; CV=
coeficiente de variação; n= observações. .......................................................113

Tabela 5. Relação peso comprimento (w=a*Lb) do caparari por tributário,


mostrando n= número de observações a= intercepto da ordenada; b=
coeficiente de regressão; r= coeficiente de correlação; s.e. = erro padrão de b;
p= valor critico de probabilidade. (sexos combinados). ..................................114

Tabela 6. Relação peso comprimento (w=a*Lb) do caparari por sexo, no baixo


Llano (1996-2002), mostrando: n= número de observações; a= intercepto da
ordenada; b= coeficiente de regressão; r= coeficiente de correlação; s.e. = erro
padrão de b; p= valor crítico de probabilidade. ...............................................115

Tabela 7. Resumo dos comprimentos médios de maturidade sexual (L50) e do


comprimento ótimo (Lopt) do caparari para o alto Llano (sexos combinados).
.........................................................................................................................116

Tabela 8. Resumo dos comprimentos médios de maturidade sexual (L50) e


rendimento ótimo (Lopt) do caparari para o baixo Llano durante o período 1996-
2003 (sexos combinados). ..............................................................................116

Tabela 9. Resultados da aplicação do teste G para testar a independência da


proporção sexual do caparari com relação aos tributários no alto Llano no
período 2002-2003. .........................................................................................117

Tabela 10. Resultados da aplicação do teste G para testar a independência da


proporção sexual do caparari com relação aos anos no período (1996-2003).
.........................................................................................................................117

12
CAPÍTULO V

Tabela 1. Resultados do ajuste ao modelo exponencial, multiplicativo e linear


para a relação entre o comprimento furcal (cm) e o raio total dos otólitos (mm)
do caparari de uma subamostra. a= intercepto da ordenada; b= coeficiente de
regressão; r= coeficiente de correlação; s.e.= erro padrão; n= número de
observações; EMR= erro médio relativo. ........................................................147

Tabela 2. Resultados da regressão múltipla entre o comprimento furcal (LF),


raio total (Rt) e da idade (T) (r=0.86). .............................................................149

Tabela 3 Distribuição da freqüência dos comprimentos retrocalculados do


caparari usando o método de Monastrysky no baixo Llano (sexos combinados)
onde: LF-N= comprimento furcal; x=média; sd=desvio padrão; cv=coeficiente de
variação; ∆= incremento entre idade; n= número de observações. ...............150

Tabela 4 Distribuição da freqüência dos comprimentos retrocalculados de


caparari usando o método de Everhart no baixo Llano (sexos combinados)
onde: LF-N= comprimento furcal; x=média; sd=desvio padrão; cv= coeficiente
de variação; ∆= incremento entre idade; n= número de observações. ..........151

Tabela 5. Distribuição da freqüência dos comprimentos retrocalculados do


caparari usando o método de Morita-Matsuishi no baixo Llano (sexos
combinados) onde LF-N= comprimento furcal; x=média; sd=desvio padrão; cv=
coeficiente de variação; ∆= incremento entre idade;n= número de observações.
.........................................................................................................................152

Tabela 6. Distribuição da freqüência dos comprimentos retrocalculados pelo


método de Morita-Matsuishi (machos); x= média; sd= desvio padrão; cv=
coeficiente de variação; ∆= diferença no tamanho; n= número de
observações.....................................................................................................152

Tabela 7. Distribuição da freqüência dos comprimentos retrocalculados usando


o método de Morita-Matsuishi (fêmeas); x= média; sd= desvio padrão; cv=
coeficiente de variação; ∆= diferença no tamanho; n= número de observações.
.........................................................................................................................153

Tabela 8. Parâmetros de crescimento segundo o modelo de von Bertalanffy


com seus intervalos de confiança estimados pelo método de MSV (baseado
nos comprimentos retrocalculados) ................................................................154

Tabela 9. Estimativas dos parâmetros de crescimento da função de von


Bertalanffy (L∞; k; to); índice de crescimento (∅) e tmax (longevidade), usando
as equações empíricas para o baixo Llano (sexos combinados)....................154

Tabela 10 Estimativa da mortalidade natural (M) para o baixo Llano (sexos


combinados) estimados por diferentes métodos empíricos.............................156

13
Tabela 11 Estimativa da mortalidade total (Z) anual para o período 1996-2003
no baixo Llano (sexos combinados)................................................................157

Tabela 12. Resumo das idades médias de maturidade sexual (T50), idade de
recrutamento (Tr) e da primeira captura (Tc) do caparari para o baixo llano
durante o período 1996-2003 (sexos combinados). .......................................158

Tabela 13. Resultados obtidos da análise virtual de populações para o período


1996-2003 (sexos combinados) no baixo Llano. Onde: Tmedio= idade média de
captura; T critico= idade ótima de captura; Lm=comprimento médio de captura;
Lcritico= comprimento ótimo de captura; Fmedio=mortalidade média por pesca;
Btotal=biomassa total; Bssb=Biomassa do estoque desovante. ........................158

Tabela 14. Estimativas de parâmetros populacionais pela análise de


populações virtuais (VPA) para o caparari no baixo Llano no ano 1996.........159

Tabela 15. Estimativas de parâmetros populacionais pela análise de


populações virtuais (VPA) para o caparari no baixo Llano no ano 2003. .......160

Tabela 16. Porcentagem dos indicadores de sobre-exploração proposta por


Froese (2004) aplicado ao caparari no sistema do rio Apure. ........................165

Tabela 17. Parâmetros populacionais para o caparari na América do sul. Onde:


L∞ = comprimento assintótico (cm); k= constante de crescimento; to= idade no
comprimento zero; M= mortalidade natural. ...................................................170

CAPITULO VI

Tabela 1. Proposta de gestão dos recursos pesqueiros para o alto Llano do


sistema hidrográfico do rio Apure. ..................................................................193

Tabela 2. Proposta de gestão dos recursos pesqueiros para o baixo Llano do


sistema hidrográfico do rio Apure....................................................................194

14
LISTA DE FIGURAS

CAPÍTULO I
Figura 1. Localização dos Llanos ocidentais venezuelanos, da bacia do rio
Orinoco, área de estudo deste trabalho. ...........................................................05

Figura 2. Esquema indicando a topografia da Venezuela. ...............................06

Figura 3. Sistema hidrográfico do rio Apure mostrando a divisão entre o alto e o


baixo Llano. .......................................................................................................07

Figura 4. Esquema hidrográfico do rio Apure e parte do rio Arauca, assim como
o delta interno do rio Apure na Venezuela. .......................................................08
Figura 5. Embarcação e tripulação padrão da frota comercial pesqueira, rio
Apure (Foto cortesia: A. Barbarino & N. Ortiz). ...........................................................18

CAPÍTULO II
Figura 1. Representação do espaço de Kendall: A) representa a posição de
uma forma no espaço curvo de Kendall; B) é a posição correspondente no
hemisfério depois de aplicar algum método de superposição (exemplo:
procrustes), quando tem se ajustado ao tamanho do centróide; C) é a projeção
estereográfica do ponto A sobre o espaço tangencial; e D) é a projeção
ortogonal do ponto B sobre o espaço tangencial. .............................................25

Figura 2. Exemplos da aplicação dos métodos Procrustes (A) e Thin Plate


Spline (B), na morfologia do neurocrânio do caparari. .....................................26

Figura 3. Exemplo da aplicação dos descritores elípticos de Fourier, mostrando


a conformação da silhueta do otólito através das harmônicas (lado esquerdo) e
a conformação da forma pelos coeficientes ajustada a elipse (lado direito),
usando o programa SHAPE ver 1.2. .................................................................28
Figura 4. Distribuição dos pontos de amostragem na região do alto Llano para
análise morfológica dos crânios e otólitos do caparari. ....................................29
Figura 5. Localização dos pontos de referências homólogos (Landmarks) na
análise geométrica representados pelo sistema de coordenadas bidimensionais
(x,y) do neurocrânio do caparari. ......................................................................31

Figura 6. Resultado da aplicação do método de sobreposição (procrustes) dos


pontos de referência homólogos para cada tributário, assim como a
configuração de consenso.................................................................................39

Figura 7. Distribuição dos fatores de ponderação da análise de componentes


da forma baseados nos neurocrânios dos caparari no alto Llano. ...................40

Figura 8a. Resultados da comparação entre os tributários Arauca-Caparo do


alto Llano, da análise de componentes da forma. O simbolo representa o
grupo de referencia e o tributário a comparar. ................................................41

xv
Figura 8b. Resultados da comparação dos fatores de ponderação entre os
tributários Arauca-Sanare do alto Llano, da análise de componentes da forma.
O simbolo representa o grupo de referencia e o tributário a comparar. .....42

Figura 8c. Resultados da comparação dos fatores de ponderação entre os


tributários Arauca-Portuguesa do alto Llano, da análise de componentes da
forma. O simbolo representa o grupo de referencia e o tributário a comparar.
...........................................................................................................................42

Figura 8d. Resultados da comparação dos fatores de ponderação entre os


tributários Arauca-Guanare do alto Llano, da análise de componentes da forma.
O simbolo representa o grupo de referencia e o tributário a comparar. .....43

Figura 8e. Resultados da comparação dos fatores de ponderação entre os


tributários Arauca-San Carlos do alto Llano, da análise de componentes da
forma. O simbolo representa o grupo de referencia e o tributário a comparar.
...........................................................................................................................44

Figura 9a. Resultados do grau de torsão de placas (Thin Plates Spline), das
coordenadas dos pontos de referência homólogos do neurocrânio do caparari,
baseadas nos fatores de ponderação da inflexão parcial (partial warp score) do
rio San Carlos (abaixo) e configuração de consenso (acima). .........................46

Figura 9b. Resultados do grau de torsão de placas (Thin Plates Spline), e da


conformação do consenso, das coordenadas dos pontos de referência
homólogos do neurocrânio do caparari, para o rio Portuguesa (acima) e
Guanare (abaixo). .............................................................................................47

Figura 9c. Resultados do grau de torsão de placas (Thin Plates Spline), e da


conformação do consenso, das coordenadas dos pontos de referência
homólogos do neurocrânio do caparari, para os rios Caparo (acima) e Sarare
(abaixo). ............................................................................................................48

Figura 10. Distribuição dos escores da análise CVA, onde o círculo representa
o rio Arauca; estrela rio Caparo; o triangulo rio San Carlos; a cruz Sarare; o
quadrado rio Portuguesa e o asterisco rio Guanare. ........................................49

Figura 11. Resultados da análise de componentes principais baseados nos


coeficientes dos descritores elípticos de Fourier para o alto Llano. .................52

Figura 12. Reconstrução dos contornos dos otólitos Asteriscus, aplicando


descritores elípticos de Fourier na forma dos otólitos do caparari por tributários,
(Harmônicas analisadas = 20), mostrando os contornos gerais, médios e com o
desvio padrão (±2 dp). ......................................................................................53

Figura 13. Comparação dos valores das amplitudes das sete primeiras
harmônicas, que definem o contorno do otólito Asteriscus com relação ao
comprimento furcal do caparari. .......................................................................54

xvi
Figura 14. Localização das sub-populações do caparari (P. tigrinum)
encontradas na bacia do rio Orinoco (modificada de Escobar, 2001).
...........................................................................................................................60
CAPÍTULO III
Figura 1. Localização da área de amostragem do caparari, correspondente ao
baixo Llano do sistema hidrográfico do rio Apure. ............................................66

Figura 2. Otólito (Astericus) do caparari mostrando as medidas no ângulo 0º


utilizados para análise do incremento marginal relativo (IMR) onde: N= núcleo;
Mn = são marcas de crescimento; Rt= raio total, Rn= distância até a última
marca observada e Rn-1= distância até a penúltima marca observada. ..........70

Figura 3. Reta de regressão linear, com distribuição dos resíduos da relação


raio total (Rt) e comprimento furcal (LF), medidos com o ângulo 0° no otólito
Asteriscus. ........................................................................................................76

Figura 4. Distribuição da freqüência relativa dos tamanhos das marcas de


crescimento observadas no otólito Asteriscus do caparari no baixo Llano.......78

Figura 5. Variação mensal dos valores médios do incremento marginal relativo


IMR com seus correspondentes desvios padrões (maio-2000/abril-2003) e do
nível do rio. .......................................................................................................80

Figura 6. Resultado do modelo de regressão periódica, ajustado aos dados de


IMR do caparari no rio Apure, para o período mai/2000 e de abril/2001 e
maio/2002 até abril/2003, comparado com o nível do rio Apure. .....................81

Figura 7. Distribuição das marcas de crescimento no otólito Asteriscus do


caparari no baixo Llano. ....................................................................................82

Figura 8. Estados de crescimento de otólitos. A linha sólida representa marcas


completas alternando-se com áreas hialinas representando áreas de rápido
crescimento. As linhas com traços são marcas incompletas. A área
intermédiaria (jul-dez) pode representar uma área nova de crescimento sobre a
margem do otólito. O terceiro estágio representa duas possibilidades, cuya a
marca pode ou não ter começado a formar um anel nesse ano. .....................84

Figura 9. Distribuição etária identificada na amostra do caparari no baixo Llano


nos anos 2001, 2002 e 2003. ...........................................................................86

Figura 10. Variação mensal do coeficiente de regressão da relação peso-


comprimento do caparari nos anos 2000 e 2002 comparados com o hidrociclo
anual do rio Apure. ............................................................................................88

Figura 11. Variação mensal do índice de condição total (2002-2003) do caparari


no baixo Llano. ..................................................................................................89

Figura 12. Variação mensal do índice de condição por sexos (anos 2000-2002
combinados), comparados ao hidrociclo anual do rio Apure. ...........................90

xvii
Figura 13. Freqüência relativa mensal dos estádios de maturação sexual das
fêmeas de Caparari no sistema hidrográfico do rio Apure.................................91

Figura 14. Freqüência relativa mensal dos estádios de maturação sexual das
fêmeas de Caparari durante a enchente no alto e baixo Llano. .......................92

CAPÍTULO IV
Figura 1. Localização das áreas de amostragem do caparari, correspondente
ao alto e baixo Llano do sistema hidrográfico do rio Apure. ...........................104

Figura 2. Distribuição das freqüências de comprimento no alto Llano (sexos


combinados). ..................................................................................................109

Figura 3. Distribuição da variação do comprimento médio anual (sexos


combinados) do caparari no baixo Llano. .......................................................111

Figura 4. Variação temporal da distribuição das freqüências de comprimentos


do caparari em cada ano no baixo Llano. .......................................................112

Figura 5. Variação do coeficiente de regressão da relação peso comprimento,


com seus intervalos de confianças separados por tributário no alto llano.......114

Figura 6. Variação espacial da estrutura etária do caparari nos principais


tributários (alto Llano) do rio Apure no período 2001-2003 ............................118

Figura 7. Variação temporal distribuição etária do caparari no baixo Llano no


período 1996-2003. .........................................................................................119

Figura 9. Modelo esquemático do ciclo de vida do caparari no sistema


hidrográfico do rio Apure. ................................................................................133

CAPÍTULO V
Figura 1. Exemplo hipotético de uma espécie mostrando a distribuição de
freqüência de comprimentos, onde: Lm indica o comprimento de primeira
maturidade sexual, Lopt indica o comprimento onde o rendimento máximo pode
ser atingido e Lmax é o comprimento máximo atingido durante a vida. ...........146

Figura 2. Comparação da relação entre raio total do otólito (Rt) e comprimento


furcal (LF), analisada pela função linear, no otólito Asteriscus do caparari. ...148

Figura 3. Comparação da relação entre raio total otólito (Rt) e comprimento


furcal (LF), analisada pela função multiplicativa, no otólito Asteriscus do
caparari. ..........................................................................................................148

Figura 4. Comparação da relação entre raio total otólito (Rt) e comprimento


furcal (LF), analisada pela função e exponencial, no otólito Asteriscus do
caparari. ..........................................................................................................148

xviii
Figura 5. Variação dos comprimentos médios retrocalculados de cada idade
para as diferentes classes etárias no caparari. ..............................................150

Figura 6. Curvas de crescimento obtidas com as estimativas dos parâmetros de


crescimento da função de von Bertalanffy, usando o método de máxima
semelhança verdadeira, para fêmeas e machos.............................................155

Figura 7. Variação da mortalidade total (Z) do caparari no baixo Llano no


período 1996-2003 estimada pelos métodos de Berverton & Holt (1956) e
Ssentongo & Larkin (1973). ............................................................................157

Figura 8. Comparação da produção nacional do caparari (A), com respeito a


biomassa do estoque (B). ...............................................................................160

Figura 9. Simulações de Rendimento por recruta (Y/R) e Biomassa por recruta


(B/R), utilizando os parâmetros de crescimento para o caparari no baixo Llano,
com dois níveis de mortalidade natural (M) e com diferentes níveis de idade de
primeira captura (Tc). ......................................................................................162

Figura 10. Variação interanual (1997-2003) do rendimento por recruta do


caparari no baixo Llano....................................................................................163

Figura 11. Curva de consenso do rendimento por recruta do caparari no baixo


llano, mostrando o ponto de referência biológico (F0,1); o rendimento máximo
sustentável (MSY) e o nível atual de exploração pesqueira. ..........................164

Figura 12. Distribuição da freqüência de comprimentos ( ) e de biomassa ( )


usados para aplicação dos indicadores de sobre-exploração proposta por
Froese (2004) aplicado ao caparari no sistema do rio Apure em 1996. .........165

Figura 13. Distribuição da freqüência de comprimentos ( ) e de biomassa ( )


usados para aplicação dos indicadores de sobre-exploração proposta por
Froese (2004) aplicado ao caparari no sistema do rio Apure em 2003. .........166

CAPITULO VI
Figura 1. Mapa esquemático do sistema hidrográfico do rio Apure, mostrando
os tributários ( ), reservatórios ( ), principais vilas ou comunidades de
ribeirinhos ( ) assim como os projetos pilotos ( tratamentos), cinco no alto
llano (Caparo=1, Guanare=2, Guaritico=3, Arichuna=4). .............................. 000
Figura 2. Áreas propostas para o estabelecimento de uma rede de reservas de
pesca para o sistema do rio Apure. ................................................................196

Figura 3. Áreas propostas para designar direitos de propriedade do recurso,


considerando as principais comunidades de ribeirinhos, no sistema do rio
Apure. .............................................................................................................197

Figura 4. Áreas propostas para aplicação do período de defeso no alto Llano e


baixo Llano, no sistema hidrográfico do rio Apure. .........................................198

xix
Figura 5. Seleção das áreas para a recuperação dos habitats de tributários
críticos no alto Llano do sistema do rio Apure. ...............................................199

Figura 6. Localização dos principais pontos de fiscalização (a criar ). ......200

xx
INTRODUÇÃO GERAL

Um dos desafios na ordenação da pesca e dos espaços aquáticos é

minimizar os efe itos da perda de biodiversidade. Entre as causas das ameaças

da biodiversidade, está a destruição dos habitats, que implica em mudanças

ambientais que colocam a biodiversidade em perigo em todos os níveis de

organização (desde os genes até os ecossistemas) (Wilson,1992). O homem

está modificando, alterando ou destruindo o habitat, seja por: desmatamento,

construção de barragem, garimpo ilegal, expansão das cidades,

desenvolvimento agrário, mudança do regime hidrológico, afetando, como um

todo, a persistência e o funcionamento do ecossistema. O incremento das

taxas de destruição associado ao crescimento da população humana estão

agravando esses impactos ainda mais (Noss & Cooperrider, 1994).

Por tal motivo, é preciso conhecer e estudar a dinâmica dessas

alterações ambientais. Geralmente, os zoólogos e botânicos aplicam a teoria

da biologia da conservação para prevenir a perda da biodiversidade, através do

planejamento da preservação de áreas e de todos os componentes do

ecossistema. Entretanto, os biólogos pesqueiros devem basear suas

conclusões e recomendações em resultados derivados de modelos teóricos

sobre o comportamento das populações de peixes. Os modelos de avaliação

de estoques podem não somente proporcionar uma indicação sobre os

1
processos que controlam a produtividade de um recurso pesqueiro como

também sugerir estratégias alternativas para melhorar o rendimento.

Por outro lado, precisamos adotar um enfoque baseado no manejo do

ecossistema, mais do que no manejo dos recursos pesqueiros, que permitam:

conservar a estrutura, a diversidade e o funcionamento dos ecossistemas

visando aplicar medidas de gestão centradas nos componentes biofísicos, por

exemplo: áreas de preservação (Oliver et al.,1992; Hall & Maimprize, 2004.). É

importante excluir ordenar a pesca, tentando satisfazer as necessidades de

alimentos e benefícios econômicos para a sociedade através de medidas de

manejo centradas na atividade pesqueira e nos recursos alvo.

Constituir um esquema de manejo pesqueiro baseado nesses objetivos

é muito difícil, devido ao fato da maioria das bacias hidrográficas tropicais ter

diversos usos, e a pesca ter uma menor importância para a sociedade.

Portanto, quando uma bacia é tratada como um sistema de recursos múltiplos,

existe uma notável tendência econômica para usos não pesqueiros (Hall &

Maimprize, 2004).

Por isso, as maiorias das decisões de manejo pesqueiro para o

desenvolvimento na bacia são tomadas, geralmente, por organizações

externas ao setor pesqueiro (agrícola, pecuário, florestal, industrial, turismo

etc.). Isto significa que a agência de manejo da pesca deve ordenar o recurso

com as limitações impostas por outros.

Por outro lado, a pesca é particularmente sensível a variações climáticas

naturais, principalmente ao pulso de inundação, como acontece na região

neotropical. Os rios e lagos, assim como as áreas de várzeas respondem à

variação das precipitações dentro e entre anos. Não obstante pese a resilência

2
natural, um estresse superior, em épocas críticas, pode superar a capacidade

de resistência de determinadas espécies nas comunidades de um determinado

ecossistema (Walters & Jhonson,1999). Portanto, devem ser previstas as

incertezas relacionadas com o acesso a determinados habitats, aperíodos

hidrológicos e a tipos de aparelhos de pesca.

Igualmente, o desconhecimento sobre os aspectos biológicos das

espécies comerciais é alarmante, especialmente se consideramos o alto

volume das capturas subestimado a que são submetidas, além das alterações

do ambiente introduzidas pelo homem (Ravinovich & Novoa,1992).

Considerando essa descrição do problema para as espécies de peixes

dos Llanos venezuelanos, tomou-se a iniciativa de desenvolver um estudo

sobre os aspectos mais importantes do ciclo de vida de uma das espécies mais

emblemáticas do sistema hidrográfico do rio Apure, o caparari

(Pseudoplatystoma tigrinum). Visa o projeto identificar onde se localizam as

áreas de reprodução, de alimentação e de crescimento; descrever o

deslocamento das espécies entre essas áreas, assim como sua dinâmica; e

determinar se existe mais de um estoque nesta bacia.

Desta forma, a partir do conhecimento gerado, poderíamos estabelecer

um conjunto de estratégias de manejo não apenas para o caparari, mas para

espécies com ciclos de vida similares, através de uma proposta de

ordenamento pesqueiro integral e sustentável.

Esta tese representa uma contribuição ao conhecimento da biologia

desta espécie e um ponto de partida para iniciar uma série de estudos sobre a

biologia dos grandes bagres comerciais mais importantes para a região.

3
A presente tese foi dividida em cinco capítulos, assim distribuídos: o

capitulo I apresenta uma revisão geral do ambiente, da pesca e da biologia do

caparari, o capítulo II traz uma definição do estoque no sistema hidrográfico do

rio Apure pela abordagem morfológica, estudando a geometria da forma dos

neurocrânios e otólitos, onde essas estruturas são utilizadas como descritores

dos possíveis estoques no sistema do rio Apure; no capítulo III, é determinada

a idade e o crescimento sazonal do caparari; o capítulo IV trata sobre as

variações espacial e temporal da estrutura populacional e sobre ciclo de vida

do caparari; O capítulo V aborda a análise da dinâmica populacional baseada

nas estimativas dos parâmetros populacionais determinados pelos

comprimentos retrocalculados, utilizando os otólitos Asteriscus e usando os

modelos de avaliação de estoques; e no capítulo VI, é apresentada uma

proposta de manejo pesqueiro sobre o enfoque adaptativo, tomando como

referência os resultados da dinâmica populacional do caparari.

4
CAPÍTULO I
SITUAÇÃO ATUAL DA PESCA DO CAPARARI NOS LLANOS
VENEZUELANOS

Aspectos geográficos e ambientais

As savanas ocidentais da Venezuela (los Llanos) são grandes extensões

de terras planas (131.800 Km2), que se localizam entre os paralelos 7º e 10º N

e entre os meridianos 66º e 73º W, oeste da Venezuela (Taphorn,1992). Essa

região abrange desde o rio Orinoco e os Andes orientais (Cordilheira da Costa

ao norte, e a Cordilheira de Mérida ao oeste), cobrindo os Estados de Apure,

Barinas, Portuguesa e Cojedes, e ainda parte dos Estados de Tachira e

Guarico (Figura 1).

Figura 1. Localização dos Llanos ocidentais venezuelanos, da bacia do rio


Orinoco, área de estudo deste trabalho.

5
A topografia do sistema do rio Apure é relativamente diversa. Devido aos

diferentes biótipos encontrados, observam-se rios com cachoeiras de águas

cristalinas e geladas ao sopé dos Andes a 150 metros acima do nível do mar,

assim como florestas inundáveis e grandes rios de águas brancas ou

“barrentas”, com muitos meandros desde os 70 metros acima do nível do mar

até a desembocadura no rio Orinoco (Taphorn, 1992). A área dos Llanos

ocidentais encontra-se entre 70-40 metros acima do nível do mar (Figura 2).

Figura 2. Esquema indicando a topografia da Venezuela.

Os Llanos ocupam uma grande parte da região central do país e podem

ser divididos em alto e baixo. O alto Llano é usualmente definido como a área

adjacente ao sopé dos Andes entre 70-150 m (Figura 3). São áreas com solos

bem drenados, constituídos principalmente por areia e seixo e são menos

susceptíveis a longos períodos de inundação. No baixo Llano, devido à

6
declividade do terreno, o solo é argiloso e as inundações são mais longas

(JICA, 1993).

75º0`00`` W

Alto Llano

Baixo Llano
6º0`00`` N

Figura 3. Sistema hidrográfico do rio Apure mostrando a divisão entre o alto e o


baixo Llano.
Clima e hidrologia

Segundo a classificação de Koppens, o clima dos Llanos ocidentais é de

savana tropical. A precipitação varia de 1.200 a 1.600 mm anuais no baixo

Llano e, no alto Llano, pode chegar a 2.800 mm anuais (MARN, 1991). O

período de chuva começa nos meses de maio e prolonga-se até novembro. A

temperatura média anual do ar varia entre 25ºC a 29 ºC, observando-se

temperaturas máximas em fevereiro e mínimas em julho (JICA, 1993).

O sistema hidrográfico do Apure constitui o maior tributário do rio

Orinoco, representando quase 5% da área da bacia do rio Orinoco. O rio Apure

nasce no extremo ocidental dos Andes venezuelanos próximos aos limites com

Colômbia. A área do sistema hidrográfico do rio Apure é de 111.800 Km2, até a

cidade de San Fernando. A calha principal do rio Apure possui 681 Km de

7
comprimento, desde sua desembocadura no rio Orinoco, até Guasdualito (no

alto Llano), com um caudal médio de 2.000 m3/s (Saunders & Lewis, 1988).

Seus principais tributários são: Portuguesa, Guanare, San Carlos Masparro,

Paguey, Canagua, Suripa, Caparo, Uribante e Sanare. Muitos desses rios

formam outras ramificações que se interconectam na planície aluvial,

especialmente durante a época de chuva, quando grande parte do baixo Llano

é inundada formando “um grande rio-lago”. Somente o delta interno do rio

Apure tem cerca de 5.000 km2 ou 500.000 hectares (Figura 4).

75º00`00``W

Delta
interno
6º0`00`` N

Figura 4. Esquema hidrográfico do rio Apure e parte do rio Arauca, assim como

o delta interno do rio Apure na Venezuela.

Por outro lado, as atividades antrópicas sobre a bacia do rio Apure têm

mostrado um impacto diferenciado nesta área (barragens, poluição,

desmatamento) nos rios Guanare, Portuguesa, Masparro e San Carlos, entre

outros), enquanto os tributários da zona sul do sistema hidrográfico do rio

8
Apure apresentam, em termos gerais, menos alteração do habitat e áreas de

preservação.

A limnología do rio Apure é pouco conhecida, embora existam alguns

dados gerados, principalmente, por Saunders & Lewis (1988) que indicam que

o sistema tem uma carga de sedimento médio de 233 mg/l, condutividade

variando entre 80-225 µs/cm, e os nutrientes da água apresentam altos valores

de fósforo total (188µg/L), nitrogênio total (1957µg/L) e de carbono total

(9,8mg/L), podendo ser classificado como rio de águas brancas (Sioli, 1975).

De acordo com Lewis (1988), a produtividade primária medida como

carbono total (26 mg/m2/d), registrou valores relativamente altos em

comparação com os rios Caura (13 mg/m2/d) e Caroni (4 mg/m2/d). Os valores

do fito-plâncton também foram altos, e no caso do zôo-plâncton, somente a

categoria micro-crustácea correspondeu mais de 46% da biomassa total

(1,9µg/L), sendo um dos valores mais altos registrados para rios neotropicais

(Saunders & Lewis,1988).

A alternância entre o período seco e de chuva cria mudanças no nível

dos rios entre 6 e 8 m, permitindo definir quatro períodos hidrológicos: seca

(PH1), enchente (PH2), cheia (PH3) e vazante (PH4) (Saunders & Lewis,

1988). Durante a vazante e a seca (entre outubro e abril), a quantidade de

água diminui consideravelmente, deixando grandes áreas de terras

descobertas e disponíveis para a agricultura e para pastagem do gado. Ao final

da seca, as lagoas das savanas se reduzem e algumas desaparecem por

completo, provocando grande mortalidade dos peixes que permanecem nesses

corpos de águas Durante o período da enchente (maio e junho), o nível das

águas dos tributários do rio Apure, aumentam progressivamente e invadem as

9
savanas adjacentes evento aproveitado pelas espécies de peces para iniciar

seu processo reprodutivo, e assim repetindo o ciclo anual.

Como conseqüência do pulso de inundação no baixo Llano, muitos

ambientes aquáticos desaparecem à medida que começa a seca (“verão”),

ocasionando, grande estresse para as populações de peixes que não

conseguiram alcançar o rio antes da perda da conexão durante a vazante,

ocasionando, grandes e periódicas mortandades de peixes (Machado-Allison,

1987; Taphorn, 1992). Para uma melhor compreensão do efeito do pulso de

inundação sob as comunidades de peixes, podemos imaginar os Llanos como

um deserto e uma floresta temporal (nos períodos da seca e de chuva

respectivamente), formando um contínuo de ambientes aquáticos entre ambos

os extremos de cada ano. A clássica separação limnológica entre os habitats

aquáticos lênticos e lóticos torna-se difícil de aplicar devido às mudanças

contínuas nos micros e macros ambientes (Taphorn, 1992).

Grande parte do baixo Llano está formada por áreas de várzeas criadas

pelos rios do sistema hidrográfico do rio Apure, que são utilizadas pelas

diversas espécies de peixes como áreas de criação (Machado-Allison,1987;

Castillo et al.,1988; Taphorn,1992; Novoa, 2002), incluindo aquelas espécies

de importância comercial. Portanto, é necessário considerar essas áreas de

importância não somente para a manutenção do ecossistema e das

populações de peixes que fazem parte da dieta de outros animais (répteis,

aves, mamíferos etc.), além da como também para a população humana local,

assegurando a sustentabilidade da pesca profissional e dos ambientes que

formam o sistema do rio Apure.

10
O caparari

Biologia e dinâmica populacional

Os surubins pertencem ao gênero Pseudoplatystoma e é um dos 60

gêneros de bagres da família Pimelodidae (Burgess, 1989; Eschmeyer,1998;

Reis et al., 2003). As três espécies descritas, Pseudoplatystoma fasciatum

(surubim), P. tigrinum (caparari), e P. corruscans (pintado), são endêmicas da

América do Sul. As duas primeiras estão amplamente distribuídas nas bacias

dos rios Amazonas e Orinoco, enquanto que a P. corruscans está restrita à

bacia do rio Paraná-Paraguai.

Vários autores têm indicado que P. tigrinum e P. fasciatum podem ser

pescadas em diversos ambientes, como calha dos rios, lagos, lagoas e

igarapés (Dahl,1971; Goulding, 1979; Goulding,1980; Castillo et al., 1988;

Castillo, 1988; Zuanon, 1990; Castillo, 2001;Barbarino (no prelo)). Porém,

Loubens & Panfili (2000) indicaram que existe uma segregação espacial entre

essas espécies no rio Mamoré, enquanto que, no rio Apure, não existe

diferenciação alguma entre ambientes lóticos e lênticos (Barbarino no prelo).

As informações disponíveis sobre a reprodução desta espécie ainda são

limitadas. Porém, existem evidências suficientes de que P. tigrinum, tem o

período reprodutivo é entre o final da seca e início da enchente (Novoa et

al.,1982; Reid, 1983; Castillo et al., 1988; Arboleda,1989; Zuanon,1990;

Barthem & Goulding, 1997; Ruffino & Isaac, 1999; Fabré et al., 2000).

Existem poucas informações sob a fecundidade relativa de P. tigrinum.

Segundo Ramírez & Ajiaco (1995), esta espécie produz 66.000 ovócitos/Kg

(aproximadamente 800.000 ovócitos / fêmea) no rio Meta (Colômbia). Porém,

Reid (1983) no rio Apure, estimou a fecundidade em torno de 1.000.000

11
ovócitos/fêmea, para exemplares maiores que 100 cm de comprimento padrão,

com ovócitos de 0.40 mm de diâmetro.

Segundo Winemiller (1989), P. tigrinum poderia ser considerada como

uma espécie com estratégia reprodutiva tipo r-2, já que possui alta

fecundidade, sem cuidado parental, de crescimento rápido, e alta mortalidade

natural. Reid (1983) estimou o comprimento médio de maturidade sexual em 46

cm de comprimento padrão para as fêmeas e 48 cm de comprimento padrão

para os machos.

A caracterização trófica dessas espécies como ictiófaga tem sido bem

documentada por vários autores (Goulding, 1980; Castillo et al., 1988; Arboleda

1989; Castillo, 2001), mostrando que P. tigrinum se alimenta de peixes e

crustáceos. Os juvenis alimentam-se de microcrustáceos e, gradualmente,

mudam a dieta para insetos, sendo totalmente ictiófagos na fase adulta.

Barthem & Goulding (1997) encontraram que tanto P. fasciatum como P.

tigrinum possuem uma sobreposição alimentar extremamente alta em relação

aos outros grandes bagres, o que pode ser um indício de que essas espécies

exploram os mesmos recursos alimentares. Barbarino & Winemiller (2003)

mostraram que, no rio Apure, essas espécies apresentaram um padrão

diferenciado, no qual P. fasciatum alimenta-se no fundo principalmente de

sarapó (Gymnotyformes) e bodó (Loricariidae) enquanto que P. tigrinum tem

preferência por espécies pelágicas (Characideos). Igualmente estes autores

demonstraram que estas espécies de surubins alimentam-se tanto de dia como

de noite.

De acordo com Barthem & Goulding (1997), o caparari é uma espécie

migradora, embora os seus deslocamentos sejam mais curtos em comparação

12
com a dourada (Alonso,2002) a piraiba (Petrere et al.,2004) e a piramutaba

(Barthem & Petrere,1996). Reid (1983) mencionou que a migração do caparari

no rio Apure pode ser com fins alimentares e não reprodutivos.

Estimativas de idade realizadas na década de 80, utilizando marcas de

crescimento nas vértebras, indicam que P. tigrinum pode alcançar até 22 anos

(Reid,1983). Os indivíduos desta espécie do rio Mamoré (Loubens & Panfili,

2000) também foram utilizados para a determinação da idade, usando as

vértebras, para encontrar encontrando estimativas de idade similares.

A pesca na Venezuela
Na Venezuela, a pesca comercial tem uma grande tradição e constitui

uma atividade de importância social e econômica relevante tanto nacional

como regional (Novoa, 2002). Já na metade do século XX, a produção

pesqueira venezuelana representava 0,31 % da pesca mundial e 20,5 % da

América do Sul (MAC, 1959).

Nesse sentido, a Venezuela mantém um perfil de país pesqueiro de

importância média no continente, já que, no ano de 1993, era o 36.º produtor

mundial de pescado. Essa posição tem aumentado nos anos recentes (31.º),

quando os desembarques totais ultrapassaram 500.000 ton. (SARPA, 1996),

registrando um aumento superior a 25 % em relação a 1993. Novoa et al.,

(1998) demonstraram que a tendência histórica de crescimento do setor

pesqueiro venezuelano tem sido moderado, porém, contínuo.

A produção pesqueira venezuelana está composta pela pesca industrial,

pesca artesanal marítima, pesca artesanal interior e pela aqüicultura. Porém,

neste estudo vamos fazer referencia somente a pesca marítima e pesca

interior. Destes setores o mais importante de todas é a artesanal marítima que

13
tem contribuído ao redor 50 -70 % da produção total, com tendência de

crescimento. Na Tabela 1, são apresentadas a estatísticas da produção

venezuelana.

Tabela 1. Desembarques anuais, em toneladas, da frota pesqueira da


Venezuela durante o período entre 1984 -1998.

ANO ARTESANAL ARTESANAL TOTAL INDUSTRIAL PESCA


MARINHA FLUVIAL ARTESANAL TOTAL

1987 171.858 27.441 199.299 91.264 290.563


1988 152.842 30.711 183.553 103.983 287.536
1989 183.788 23.015 206.803 135.120 341.923
1990 178.573 18.627 197.190 140.510 337.700
1991 196.306 21.298 217.604 126.672 344.276
1992 196.607 20.270 216.877 114.770 331.650
1993 247.533 28.453 275.986 118.639 394.624
1994 281.034 37.816 318.850 118.469 437.319
1995 331.611 59.983 391.594 108.454 500.048
1996 320.606 56.982 377.648 107.603 485.251
1997 286.339 40.931 327.270 124.333 451.603
1998 333.088 46.387 379.475 128.382 507.857
Fonte: SARPA

Historicamente, os dados da pesca interior da Venezuela, durante o

período entre 1959-1970, oscilaram entre 3,3 -10,6% do total da produção

pesqueira, apresentando muita variação, e sem uma tendência definida

(Canestri, 1972).

Hoje em dia, no contexto regional, e com base nas cifras da FAO, a

produção da pesca interior venezuelana também tem uma relevância na

América do Sul. Os desembarques de pescado de água doce no continente

foram 215.000-250.000 toneladas para o período 1988 –1992. A participação

da Venezuela em termos porcentuais tem oscilado entre 6,0 e 9,6 %, ou seja,

aproximadamente 20.270 ton. Já para o ano de 1996, a contribuição global da

pesca do interior foi de 56.000 ton. mantendo uma tendência crescente desde

14
1993. As exportações para Colômbia e outros países têm continuado, apesar

da diminuição da demanda na Colômbia desde 1999 devido a diversos fatores

internos (Novoa, 2002).

De uma maneira geral, a pesca interior na Venezuela constitui uma

atividade produtiva tradicional em algumas regiões do país, significando em

termos econômicos, a geração de empregos. Para confirmar este fato, um

estudo recente realizado por Novoa (2002) demonstrou que a pesca representa

uma das atividades econômicas de maior relevância nos estados Delta

Amacuro e Apure.

Os dados históricos de produção pesqueira no sistema do rio Apure,

entre 1956 e 1980, mostraram declínio na abundância das espécies de maior

valor comercial, como a dourada (B. rousseauxii) e a piraíba (B. filamentosum),

sendo posteriormente substituídas pelos surubins (P. fasciatum e P. tigrinum)

ao redor dos anos 80. Um fenômeno semelhante foi observado por Barthem et

al.,(1995) no rio Amazonas.

A pesca do surubim e do caparari (P. fasciatum e P. tigrinum) alcançou

seu maior registro histórico de captura em 1996 (mais de 10.000 ton.). Logo

depois, ambas as espécies apresentaram uma diminuição progressiva das

capturas. Paralelamente, as espécies de porte pequeno ou médio, tipo r-

estrategistas (Mylossoma sp. e Prochilodus sp.), começaram a predominar nas

capturas.

Essas estatísticas podem estar refletindo de forma difusa, a cascata trófica

(Pauly et al.,1998). Segundo essa teoria, a biomassa dos organismos produtores

de um ecossistema é controlada pela população de seus predadores primários

(herbívoros), os quais são por vez controlada pelos seus predadores topos

15
(carnivoros). Isto é, um incremento na biomassa dos piscívoros conduz a um

declínio da biomassa dos herbívoros e vice-versa (Carpenter et al., 1985; Pauly et

al., 1998; Pauly & Christensen,1995).

Em Venezuela estima-se ao rededor de 1068 especies de pecixes de

água doce com tendencia ao aumentar (Taphorn, et al.1997). Das 500

espécies de peixes descritas para os Llanos ocidentais (Lasso et al., 2003),

mais de 150 espécies têm interesse comercial (espécies ornamentais), porém,

somente um pequeno grupo delas (± 30 espécies) é de uso para consumo

humano. Entre essas espécies, destacam-se nos desembarques comerciais

procedentes do rio Apure: os surubins (Pseudoplatystoma tigrinum e

Pseudoplatystoma fasciatum); a Curimatâ (Prochilodus mariae); o tambaqui

(Colossoma macropomum); a pirapitinga (Piaractus brachypomus); a pescada

(Plagioscion squamosissimus); a tamoatá (Hoplosternum littorale), entre outros.

Entretanto, as estatísticas oficiais indicam que a porcentagem do número

dessas espécies pode variar de uma região para outra.

Os peixes dos rios Apure, Arauca e de outros afluentes são

comercializados tanto frescos como salgados em proporções que têm mudado

nos últimos anos. No início da década de 80, a maior parte da produção era

salgada e conservada refrigerada para ser inserida no mercado no período de

grande demanda (Páscoa). Atualmente, o transporte de pescado ou exportado

desde o estado do Apure até a Colômbia e estados do oeste da Venezuela que

é realizado em veículos com câmaras refrigeradas (97%), tem aumentado a

medida que a demanda pelos peixes de água doce tem incrementado tanto no

mercado interno do país, como na Colômbia (Novoa, 2002).

16
Por outro lado, a pesca tem experimentado um desenvolvimento

diferenciado no sistema hidrográfico do rio Apure, cuya a pressão pesqueira no

alto llano, produto de uma maior densidade populacional e demanda de

pescado, tem provocado uma diminuição da produção (SARPA,1996). Porém,

nos rios Caparo, Sarare e Paguey, a pesca é realizada com pouca intensidade,

devido à espessura da floresta, ao baixo número de pescadores e à presença

de áreas de preservação (Parques nacionais).

No baixo Llano ainda a produção pesqueira é relativamente alta,

principalmente devido a uma baixa densidade populacional, melhor

conservação dos ambientes aquáticos, baixa poluição e amplas áreas de

inundação.

A pesca comercial de água doce da Venezuela possui uma grande área

geográfica de atuação localizada no centro do país, embora seja de natureza

estritamente artesanal, fornecendo uma grande oportunidade de emprego para

os ribeirinhos, as autoridades do governo não têm dado importância suficiente

a esse setor para desenvolver uma estratégia de produção que seja

sustentável e que leve em consideração a sazonalidade dos ecossistemas

aquáticos.

O rio Apure é caracterizado por uma alta sazonalidade na produção

pesqueira, onde as pescarias acompanham o ciclo hidrológico do rio, tendo,

portanto, algumas características próprias para cada período hidrológico.

De forma geral, a frota comercial no rio Apure está padronizada com

respeito às seguintes características: 90% das embarcações são construídas

de ferro, tipo canoa com comprimentos entre 11-14 m e largura máxima de

17
1,5m, sendo propulsadas por motores de popa (40Hp) e geralmente levam uma

tripulação de 3-4 pescadores (Figura 5).

Figura 5. Embarcação e tripulação padrão da frota comercial pesqueira, rio


Apure (Foto cortesia: A. Barbarino & N. Ortiz).
Nas pescarias, a malhadeira é o principal aparelho de pesca utilizado

tanto no rio como nas lagoas, paraná e igapó, geralmente com 120-140 m de

comprimento e 4 m de altura e constituída por fios de nylon multifilamento

(No.12-30). Também é freqüente o uso de diferentes tipos de malhas, onde as

distâncias de 8-9 cm entre nós opostos são as mais comuns, sendo; também,

de uso freqüente as "surubimizeiras" (malhas de 12-14 cm entre nós opostos) e

as "tambaquizeiras" (malhas de 14-18 cm entre nós opostos).

A pesca na calha do rio Apure é realizada de dia, e com o método de

pesca arrastão. Nesse método, malhadeiras de grandes comprimentos (120-

240 m) são puxadas por duas canoas com motores de popa similar às

18
observadas na figura 5. As campanhas de pesca com este tipo de

embarcações têm uma duração entre um e dois dias, sendo maior durante a

vazante (7-12 dias).

Durante a vazante e a seca (entre outubro e abril), a quantidade de

água diminui consideravelmente, deixando grandes áreas de terras

descobertas e disponíveis para a agricultura e criação de gado. Nesse período,

muitas espécies de peixes deixam as savanas inundadas (várzeas),

deslocando-se para as calhas dos rios, sendo esta época a mais produtiva para

os pescadores. As malhadeiras "curimatizeiras" direcionadas para a pesca de

curimatã, pacu, aracu e de outras espécies, são puxadas por duas

embarcações rio abaixo por 15-25 minutos aproximadamente. Entretanto,

outros aparelhos de pesca, como a tarrafa, também são utilizados nesse

período.

Ao final da seca (no baixo Llano), as lagoas das savanas reduzem-se, e

algumas desaparecem por completo, provocando grande mortalidade dos

peixes que permanecem nesses corpos de águas, a saber: peixe cachorro

(Hydrolycus sp); tamoata (Hoplosternum sp); bodó (Liposarcus sp); mapará

(Hypohthalmus sp); piranha (Pigocentrus sp); pescada (Plagioscion sp); aracu

(Schizodon sp), entre outros (Taphorn,1992). Durante o período da seca, os

pescadores aproveitam para pescar os tamoatas com redinhas, já que o

tamoata representa um recurso importante na pesca da Venezuela. Porém,

com este tipo de pesca ocorre uma alta captura incidental de outras espécies

sem valor comercial ou de valor econômico, porém de pequeno tamanho

(estágio juvenil).

19
Durante o período da enchente (maio e junho), o nível das águas dos

tributários do rio Apure aumenta progressivamente e invade as savanas

adjacentes. Paralelamente nessa época, os peixes se encontram nos charcos

(poças profundas formadas nas curvaturas dos rios), que constituem habitats

de refúgio durante a seca, começa a deslocasse rio acima para cumprir com o

processo reprodutivo.

Nesse período, os pescadores aproveitam a enchente para pescar,

usando malhadeiras "surubimizeira" (malha 12-14 cm entre nós opostos). Já

durante a cheia, a pesca é mais difícil devido ao aumento dos ambientes

aquáticos e da dispersão dos peixes. Os aparelhos de pesca mais utilizados

durante a noite são os anzóis, como a ”rama” (anzóis atados a um galho de

uma árvore), e o espinhel. Já durante o dia, é mais utilizado o “gancho” (uma

vara flexível de 4 m com um anzol num extremo atado a uma corda)

principalmente para a pesca dos grandes bagres.

As redes são pouco usadas e somente de forma passiva nos remansos

dos rios ou nas savanas inundadas, principalmente para a pesca de peixes de

escama. O arpão também é utilizado nesta época, porém somente para a

captura da arraia-manta (Paratrygon aireba).

Possibilidade de uso e manejo do caparari

Um dos desafios no ordenamento da pesca e dos espaços aquáticos é

minimizar os efeitos da perda da biodiversidade. As mudanças ambientais

colocam a biodiversidade em perigo. Alem disso, e o homem está alterando os

ambientes aquáticos pelo desmatamento, garimpo, ursinas e poluição,

afetando o funcionamento dos ecossistemas (Noss & Cooperrider, 1994).

20
A pesca não responsável também, têm um alto impacto no

funcionamento dos ecossistemas aquáticos, por exemplo: Se considerarmos

que a pesca altera a organização e a estrutura trófica das comunidades ícticas,

devido à eliminação dos altos níveis tróficos (predadores topo), impactando os

consumidores dos níveis tróficos mais baixos, determinando, assim que as

populações das presas aumentem e que surjam novos alvos para a exploração

pesqueira (Steneck, 1998). Então, um manejo da pesca orientado para a

exploração dos peixes nos níveis tróficos mais baixos seria a antítese do

aproveitamento sustentável e uma clara evidência de um manejo ineficiente

(Pauly & Christensen, 1995).

Portanto, precisamos da adesão de um enfoque baseado no manejo do

ecossistema, mais que o recurso pesqueiro, já que, com a adoção deste

enfoque da pesca, poderia-se:

a) conservar a estrutura, diversidade e funcionamento dos ecossistemas

aquáticos, procurando aplicar medidas de ordenamento centradas nos

componentes biofísicos (por exemplo: áreas de preservação);

b) administrar a pesca, tratando satisfazer as necessidades de alimentos

e benefícios econômicos para a sociedade, através de medidas de manejo

para a atividade pesqueira e para a aqüicultura.

As informações sobre as características do sistema hidrográfico do rio

Apure, da pesca e da biologia do caparari, além de mostrarem uma dinâmica

sazonal dos ambientes e da produção pesqueira associada, revelam o limitado

conhecimento sobre a biologia desta espécie, apesar de sua alta importância

comercial e social.

21
O nível de conhecimento das outras espécies comerciais ainda é mais

precário. Portanto, precisa-se de informações básicas das espécies que

ajudem estabelecer estratégias apropriadas de manejo e uso eficiente,

evitando, assim, seu colapso no futuro próximo.

Nesse sentido, foi considerado pertinente desenvolver uma pesquisa

baseada na dinâmica populacional do caparari para começar a preencher as

lacunas de informação biológica, para entender seu ciclo de vida e contribuir

com elementos técnicos e científicos para o desenvolvimento de um plano de

manejo sustentável deste importante recurso pesqueiro do rio Apure.

Considerando que a identificação de estoques representa a base

fundamental para o início dos estudos sobre a dinâmica populacional de uma

espécie, este aspecto será tratado com detalhes no próximo capítulo, apartir de

uma abordagem morfológica através da análise da forma dos crânios e dos

otólitos do caparari.

22
CAPÏTULO II
IDENTIFICAÇÃO DOS ESTOQUES DO CAPARARI ATRAVÉS DA
MORFOLOGIA GEOMÉTRICA

INTRODUÇÃO

O entendimento do funcionamento das populações de peixes é

fundamental para o sucesso de qualquer plano de manejo e de conservação

dos recursos pesqueiros (Fonteles-Filho,1989). De modo geral, a dinâmica

populacional corresponde as estudo das mudanças em número e em

composição dos indivíduos de um estoque e os fatores que influenciam essas

mudanças (Margalef,1980; Gulland, 1983; Krebs, 1989). Na dinâmica

populacional são considerados seis componentes básicos: (recrutamento,

crescimento, mortalidade, proporção sexual, estrutura etária e dispersão). O

conhecimento da maneira como estes componentes funcionam é importante

para que sejam feitas estimativas das taxas de exploração, para entender

como os fatores abióticos atuam sobre a população e para predizer quando

uma espécie pode estar ameaçada de sobrepesca (Csirke,1980; King,1995).

O objetivo deste capítulo foi verificar a existência de unidades

diferenciadas de estoques do caparari em tributários do rio Apure, analisando a

geometria da forma dos otólitos e dos crânios através de ferramentas

estatísticas multivariadas utilizadas na análise da morfometria geométrica.

23
A Morfometria Geométrica na Identificação de Estoques (Bases teóricas)

Os estudos morfométricos dos estoques requerem que os contornos da

forma dos peixes sejam decompostos em uma série de medidas lineares, em

proporções ou em outros descritores matemáticos que possam ser analisados

estatisticamente (Pawson & Jennings, 1996).

Durante muito tempo, o termo morfometria foi utilizado

indiscriminadamente para qualquer estudo que analisava a variação da

morfologia dos organismos (Monteiro, 2000). Porém, isto mudou no início dos

anos 80, quando surgiu um novo paradigma com uma base teórica e filosófica,

que culminou com a criação de uma nova área de pesquisa (a morfometría

geométrica), entre a biologia, a estatística e a geometria, que foi facilitado

devido principalmente aos avanços da informática (Candrin & Friedland, 1999).

Esse avanço permitiu a utilização das formas biológicas baseadas nas

relações de Kendall, que permitem uma visualização do hiperplano tangencial

no espaço (espaço de Kendall). Assim, as premissas de ortogonalidade das

matrizes e das combinações lineares das variáveis, poderiam ser analisadas

através da estatística multivariada (Plavlinov, 2001).

Por definição, o espaço de Kendall (hiper-volume de Kendall) é um

espaço não euclidiano onde a geometria de um objeto de três dimensões pode

ser visualizada através de uma superfície de hiper-esfera, sendo os elementos

morfológicos pontos sobre esta superfície (Figura 1).

24
Y
C D

Diagrama de uma seção transversal do


maior espaço curvo de Kendall (circulo
B com raio ½), mostrando o hemisfério
ρ2 da preforma alinhada a raio referência
ρ A (metade do circulo com raio =1), e o
espaço tangente (linha superior).

X
Figura 1. Representação do espaço de Kendall: A) representa a posição de
uma forma no espaço curvo de Kendall; B) é a posição correspondente no
hemisfério depois de aplicar algum método de superposição (exemplo:
procrustes), quando tem se ajustado ao tamanho do centróide; C) é a projeção
estereográfica do ponto A sobre o espaço tangencial; e D) é a projeção
ortogonal do ponto B sobre o espaço tangencial.

Com os avanços mais recentes, a morfometria geométrica pode ser

dividida em duas categorias gerais para estudar diferenças das formas

biológicas: métodos de marcos anatômicos, métodos de contornos.

Métodos de marcos anatômicos

Existem basicamente dois métodos para o estudo dos marcos

anatômicos: o método de superposição “Procrustes” (Figura 2a) e a análise de

torsão de placas “Thin Plates Spline” (TPS) (Figura 2b), quantificando o grau de

deformação de uma forma a outra, usando um sistema de coordenadas

similares ao proposto por D’Arcy Thompson (1917), onde as coordenadas (x;y)

são pontos de referencias homólogos chamados também landmarks. Ambos os

métodos podem ser usados e avaliados através da análise estatística

multivariada convencional (Candrin & Friedland, 1999).

25
A B

Figura 2. Exemplos da aplicação dos métodos Procrustes (A) e Thin Plate


Spline (B), na morfologia do neurocrânio do caparari.

A análise da distância de procrustes permite uma otimização da forma,

através de uma superposição de vários espécimes para uma dada

configuração de referência (Figura 2a). A esta configuração padrão chamada

também configuração de consenso, pode ser qualquer exemplar da amostra ou

o produto da configuração média de todos os indivíduos da amostra

(Rohlf,1990).

A configuração média é usada como um novo consenso e o processo se

repete até que os valores convergem. A matriz resultante dos resíduos de

Procrustes é utilizada para os procedimentos estatísticos multivariados

(Rodríguez & Santos, 2001).

Por sua parte, a análise de torsão de placas Thin Plates Spline (TPS) é

uma função matemática que modela o comportamento dos pontos de

referência homólogos (landmarks) num plano cartesiano com proporções

lineares infinitas. Este método é baseado nos resultados da análise de

Procrustes (Figura 2b), cuja configuração é deformada para ajustá-la a uma

configuração dada dos landmarks. Por exemplo: o contorno do crânio do

primeiro espécime, pode ser usada como uma função de interpolação

(referência); para representar graficamente os pontos de referência homólogos

(configuração tangencial) para os correspondentes pontos de referência

26
homólogos na segunda forma do crânio nos outros espécimes (Bookstein,

1989, 1991).

Através da análise de deformação relativa (Relative Warp analysis), um

tipo de análise de componentes principais (Rohlf,1990) consegue se

transformar cada espécime da amostra de uma configuração linear em uma

simples configuração tangencial, e a variação entre os espécimes é descrita

em termos da variância dos parâmetros da função de rotação (spline), que é

uma expressão relativa da matriz de energia de torque ou de deformação

(bendy energy). A matriz energia de torque expressa o nível de deformação

requerida para apresentar a forma de um espécime de numa imagem e para

avaliar a relação forma-espaço, ajustando o conjunto dos pontos de referência

homólogos a uma forma padrão (Rohlf,1993).

Desse, os resultados dos componentes da deformação relativa (Relative

Warp) seriam os fatores de ponderação deste morfo-espaço e descreveriam a

maior ou principal tendência na variação da forma dentro da totalidade das

amostras (Rohlf, 1993).

Métodos de contorno

A maioria dos métodos de contorno está baseada na teoria de Fourier,

representando as coordenadas do contorno das formas biológicas (Rohlf &

Bookstein, 1990). A teoria indica que qualquer função não linear pode ser

descomposta por funções de seno e co-seno de diferentes freqüências.

Para simplificar os cálculos é utilizada uma curva em função do raio e,

em seguida, é usado um conjunto de funções seno e co-seno para ajustar a

curva a qualquer grau desejado (Figura 3). Se os ângulos se distribuem

27
eqüitativamente para o total de dados, a solução é simples, usando-se a

chamada análise rápida de Fourier.

Figura 3. Exemplo da aplicação dos descritores elípticos de Fourier, mostrando


a conformação da silhueta do otólito através das harmônicas (lado esquerdo) e
a conformação da forma pelos coeficientes ajustada a elipse (lado direito),
usando o programa SHAPE ver 1.2.

Os algoritmos para determinar os descritores elípticos de Fourier foram

desenvolvidos por Kuhl & Giardina (1982). Eles permitem realizar

decomposições de Fourier usando as diferenças morfológicas como funções

paramétricas acumulativas ao longo de um contorno. Então, pode-se ajustar

uma curva aos dados, usando-se n-harmônicas que adequadamente

expressem a curva, quatro coeficientes são usados para realizar estas

análises, um par de cada seno e co-seno, tanto do eixo x como y (Yoshioka et

al., 2004).

28
MATERIAIS E MÉTODOS

Amostragem

A base de dados das imagens dos neurocrânios de P. tigrinum com

comprimentos entre 37 e 100 cm (n=211) foi obtida a partir de coletas

realizadas na parte alta de cinco tributários do rio Apure (Figura 4): Sarare (n=

25), Caparo (n=20), Guanare (n= 37), Portuguesa (n= 31), San Carlos (n=44).

Também foram coletadas amostras do rio Arauca (n=56), sendo este um rio

representativo de outro sistema hidrográfico e considerado como grupo-

controle ou de compararção (out-group). Portanto, o rio Arauca foi considerado

como grupo de referência com certa variabilidade associada que permitiu

avaliar qualquer variação dos crânios nos peixes do alto Llano. Foi também

utilizada uma amostra (n=62) dos 650 neurocrânios de caparari do baixo Llano.

75º0`00``W
San Carlos

Portuguesa

Guanare

Caparo
San Fernando
Alto Llano
Arauca

Sanare
6º0`00``N

Figura 4. Distribuição dos pontos de amostragem na região do alto Llano para


análise morfológica dos crânios e otólitos do caparari.

29
Análise dos neurocrânios

A cabeça de cada peixe foi colocada em água quente (±100°C; 10 min.)

para desarticular o crânio. Em seguida, o neurocrânio foi submerso em uma

solução de Meta-aquil-benzeno-sulfonato de sódio (18%; ±70°C) com Na2(OH)

(7% p/v; 5 min.), para eliminação de restos de tecidos. Posteriormente, o

neurocrânio foi imerso em um banho de peróxido de hidrogênio (10%v/v; 20

min.) e colocado num forno (±75°C; 30 min.) para sua conservação final a seco.

O neurocrânio de cada exemplar foi digitalizado usando um scanner de

mesa. As imagens foram armazenadas com formato TIFF, a partir das quais

foram definidas as coordenadas cartesianas para 22 pontos de referência

homólogos (Tabela 1 e Figura 5).

Tabela 1. Definição dos pontos homólogos de referência no neurocrânio do


caparari para a análise de morfologia geometria.
Código Pontos homólogos de referência (Landmarks)
L01 Extremo distal do supraoccipital
L02 Base direita do supraoccipital
L03 Borda direita do pterótico
L04 Sínfise direta do pterótico-parietal
L05 Sínfise direta do parietal-frontal
L06 Sulco direito do frontal
L07 Processo lateral direito do frontal
L08 Sulco direito do paraesfenóides
L09 Processo lateral direito do paraesfenóides
L10 Sulco direito do etmóide
L11 Processo lateral direito do etmóides
L12 Borda central do etmóides
L13 Processo lateral esquerdo do etmóides
L14 Sulco esquerdo do etmóide
L15 Processo lateral esquerdo do paraesfenóides
L16 Sulco esquerdo do paraesfenóides
L17 Processo lateral esquerdo do frontal
L18 Sulco esquerdo do frontal
L19 Sínfise esquerda do parietal-frontal
L20 Sínfise esquerda do pterótico-parietal
L21 Borda esquerda do pterótico
L22 Base esquerda do supraoccipital

30
Para este procedimento foi usado o programa TpsDig (versão 1.34 ©

2003 por F. James Rohlf), que facilita a localização e marcação dos pontos de

referência homólogos com base nas imagens digitalizadas.

Para a seleção dos landmarks, foram considerados aspectos

promitentes ou ressaltantes do neurocrânio, assim como elementos de fácil

reconhecimento e não sujeitos à fratura com facilidade, assim como as sínfises

cranianas por apresentar em uma relativa estabilidade na posição do crânio.

L21 L20 L19 L17 L16 L14


L18 L15 L13
L22
L1 L12

L2 L6 L10
L3 L4 L5 L8 L9
L7 L11

Figura 5. Localização dos pontos de referências homólogos (Landmarks) na


análise geométrica representados pelo sistema de coordenadas bidimensionais
(x,y) do neurocrânio do caparari.

Todas as coordenadas dos pontos de referência homólogos de cada

indivíduo foram compilados num único arquivo, utilizando o programa TpsUtil

(versão 1.19 © 2003 por F. James Rohlf), que permite a manipulação dos

arquivos TPS, para serem utilizados como arquivo “input” em outros programas

de geometria morfológica e para a análise estatística.

Análise da forma através dos marcos anatômicos (análise de procrustes)

Os dados morfométricos foram analisados usando algoritmos gerais de

procrustes (GPA), onde cada espécime é representado por um número de

pontos de referência homólogos que formam uma figura. Como primeiro passo,

31
o algoritmo de procrustes realiza uma normalização do tamanho ao padronizar

todos os indivíduos num tamanho do centróide, de forma que a figura é

trasladada e rotada para determinar o melhor ajuste para todos os landmarks.

Posteriormente, através de um processo interativo, calcula-se a forma média

(consenso) e estimam-se os resíduos de procrustes que representam as

diferenças entre a posição dos pontos de referência homólogos do espécime

em relação aos landmarks homólogos do consenso.

Com o programa Tpsrelw (versão 1.34 © 2003 por F. James Rohlf), e

APS calculou-se a variação da forma dos neurocrânios ao estimar uma

configuração média dos pontos de referência homólogos, minimizando a soma

das distâncias ao quadrado entre os pontos de referência homólogos (Rohlf &

Slice, 1990), usando a técnica de procrustes do tipo GLS (Generalized Least

Squard Orthogonal procrustes), descrito por Rohlf & Slice (1990).

Análise de deformação relativa e de deformações de placas (RWA e TPS)

A partir dos dados gerados da análise de procrustes tanto pelos

programas Tpspls (versão 1.34 © 2003 por F. James Rohlf) como APS (versão

1.2 © 1999 por Penin), foi criada uma matriz simétrica a partir dos resíduos de

procrustes na qual é utilizada para produzir uma matriz de variância-

covariância para obter as estimativas dos fatores de ponderação na análise de

componentes principais ou componentes da forma. Desta forma, foi avaliada a

variação entre as amostras dos cinco tributários através da análise relativa das

formas biológicas, usando-se a análise de deformação relativa (RWA) e a

análise de deformações de placas (TPS) (Rohlf, 1993), para determinar a

existência de diferenças nas formas dos neurocrânios do caparari nestas

localidades.

32
O propósito da análise de deformação relativa é explorar toda a

diversidade da variação da forma dentro de uma amostra e proporcionar,

através de uma análise fatorial, uma estimação espacial da forma dos

neurocrânios em diferentes áreas desse morfo-espaço. Os componentes da

forma foram calculados com a opção escalar α=0, que distribui o mesmo peso

para todos os pontos de referência homólogos com o programa IMP-PCAGen6

(versão 1,1. 2000  por H. David Sheets).

Por sua parte, a análise do TPS foi utilizada para ajustar uma função de

interpolação para as coordenadas dos pontos de referência homólogos de cada

espécime em função da configuração de consenso. As grades usadas no TPS

foram utilizadas para mostrar os padrões de variação da forma entre os

landmarks, com o programa IMP-Regres6 (versão 1,1. 2000  por H. David

Sheets).

Com o propósito de validar os resultados da formação dos grupos

gerados pela análise de componentes da forma, foi utilizada uma análise

canônica variante (CVA), verificando-se a discriminação entre os tributários.

O CVA é um tipo de análise de variância multivariada (MANOVA) que

verifica as diferenças na conformação da forma de consenso em cada

tributário, permitindo determinar se os grupos de peixes definidos pelos

tributários podem ser reconhecidos nas mesmas localidades após serem

reagrupados pelo CVA.

O programa IMP-CVAGen6j (versão 1,1. 2000  por H. David Sheets),

parte do pacote (Integrated Morphometric Package), calcula os valores dos

parcial warp (autovalores) para uma referência comum e produz uma matriz

que mostra os grupos determinados pelo usuário do programa em fila e em

33
coluna com os novos grupos determinados pelo CVA. O estudo dessa matriz

permite avaliar a efetividade do CVA na discriminação dos grupos. O teste de

significância da MANOVA é baseado no valor estatístico Wilk’s lambda (λ), com

um nível de significância P=0,05.

A distância de Mahalanobis (D2) foi usada para determinar a qual grupo

pertence cada exemplar baseado nos valores do CVA. Já que o grupo

estimado pelo CVA é determinado pela função de cada exemplar em referência

ao grupo no qual em média esteja mais próximo deste (Bookstein,1990).

Todos esses programas e outros similares usados neste estudo estão

disponíveis na internet. (http://life.bio.sunysb.edu/morph/.)

Análise de otólitos através dos descritores elípticos de Fourier

Os contornos dos otólitos foram digitalizados utilizando uma câmara

digital de vídeo acoplada num microscópio esteroscópico (Leica MZ5)

conectado a um computador via cabo BNC. O aumento da lente do microscópio

foi ajustado ao tamanho dos otólitos para assegurar a maior resolução possível

usando a combinação: 10x1.25. Os otólitos foram posicionados numa base

côncava negra e submergidos em óleo para microscopia. O rostrum foi

ajustado na linha horizontal para minimizar os erros da distorção dentro do

processo de normalização das imagens. As imagens de alto contraste foram

produzidas com luz refletida. Cada otólito foi digitalizado, proporcionado entre

400-600 pares de coordenadas cartesianas por otólito.

Os métodos de análise de contorno, como os descritores elípticos de

Fourier (DEF), foram usados para representar a forma dos otólitos na ausência

de marcos anatômicos reconhecíveis (Ferson et al., 1985; Liu et al., 1996).

34
Os coeficientes de Fourier foram calculados usando-se o programa

disponível na internet SHAPE (versão.1.2 Copyright  2001 por Hiroyoshi

Iwata). Este programa avalia quantitativamente as formas biológicas, baseadas

nos descritores elípticos de Fourier, e está constituído por três módulos

(ChainCode.exe; chc2nef.exe e PrintComp.exe), permitindo a utilização dos

dados para outras análises estatísticas. Igualmente, os coeficientes foram

normalizados para se eliminar qualquer influência do contorno que pudesse ser

originada pela posição, rotação e pelas representações baseadas nas

propriedades internas da forma dos contornos (Kuhl & Giardina, 1982).

Cálculo das amplitudes harmônicas

Para o cálculo das amplitudes harmônicas, foi utilizado o algoritmo FFT

(Fast Fourier Transform) já existente no programa SHAPE 1.2 (archivos.nef),

que, utilizando os pontos localizados pelas coordenadas polares em cada

imagem, calcula os coeficientes de Fourier que, posteriormente, foram

utilizados para determinar as amplitudes harmônicas.

R(θ) = a0 + Σ∞k=1 Ak cos (kθ + φk)

Ak= √a2k +b2k φk = arctan (bk/ak) a0 = 1/2π ∫π-π R(θ)dθ

Onde:
R = comprimento do raio
θ = ângulo polar
a0 = amplitude da harmônica 0 (zero)
Ak = amplitude da enésima harmônica
φk = ângulo de fase da enésima harmônica
k = número de harmônicas
ak e bk = coeficientes de Fourier da enésima harmônica

Para este trabalho, foi utilizado apenas o termo Ak (amplitude

harmônica), calculando-se 20 amplitudes. O algoritmo também dispõe de uma

função que normaliza as harmônicas, ou seja, dividi todos os coeficientes pela

35
amplitude da harmônica 0 (zero). Esse procedimento impede que os diferentes

tamanhos afetem o método em questão.

O cálculo dos coeficientes dos descritores elípticos de Fourier foi

estimado pelas transformações discreta de Fourier, seguindo o procedimento

proposto por Kuhl & Giardina (1982). Segundo esse método, a forma

digitalizada de um contorno qualquer pode ser representada como uma

seqüência de coordenadas Y, X de pontos ordenados no sentido das agulhas

do relógio, começando desde um ponto arbitrário. Assumindo-se que o

contorno entre dois pontos adjacentes é linearmente interpolado e que o

comprimento da seção linear entre o primeiro ponto (i-1)th e o seguinte ponto

(ith) é a diferença entre eles (∆ti), então o comprimento do contorno desde o

ponto de início até o último ponto (pth) é a soma de todos os segmentos

p
( ∆t p = ∑ ∆ti ), e o perímetro do contorno é definido pela expressão T=tk, onde:
n =1

k é o número total de pontos de contorno.

Observe-se que cada ponto Kth é equivalente ao ponto de início. Na

p
coordenada X cada ponto pth é definido como: X p = ∑ ∆xi onde: ∆xi é o
n =1

deslocamento ao alongo do eixo X do contorno entre o primeiro ponto (i-1)th e

o seguinte ponto ith. Para a coordenada Y, o procedimento seria o mesmo.

Portanto, a expansão elíptica de Fourier das seqüências das coordenadas X e

Y seria:

36
∞ 2n * π * t p 2n * π * t p ∞ 2n * π * t p 2n * π * t p
Y p = Ysen + ∑ c ak cos + d bk sen X p = X sen + ∑ a ak cos + bbk sen
n =1 T T n =1 T T
Onde:
T k ∆X 2n * π * t p 2n * π * t p −1

p
an = * * (cos − cos )
2n * π
2 2
p =1 ∆t p T T

T k ∆X 2n * π * t p 2n * π * t p −1

p
bn = * * ( sen − sen )
2n 2 * π 2 p =1 ∆t p T T

T k ∆X 2n * π * t p 2n * π * t p −1

p
cn = * * (cos − cos )
2n 2 * π 2 p =1 ∆t p T T

T k ∆X 2n * π * t p 2n * π * t p −1

p
dn = * * ( sen − sen )
2n * π
2 2
p =1 ∆t p T T

Nessas equações, x e y representam as coordenadas do ponto central

da função, e n= número de harmônicas dos coeficientes (a,b,c, e d). Este

procedimento permite recriar o contorno original com uma exatidão arbitrária

dependendo do número das harmônicas, onde cada harmônica representa uma

função parcial de uma série periódica de senos e co-senos.

A utilização de 20 harmônicas proporcionou uma alta precisão na

reconstrução dos contornos dos otólitos, de acordo com a recomendação de

Liu et al., (1996). Nesse sentido, o programa SHAPE extrai o contorno da forma

através dos Descritores Eclípticos de Fourier e analisados através de 80

coeficientes para cada otólito (quatro por cada uma das 20 harmônicas). Os

coeficientes das harmônicas foram utilizadas na análise de componentes

principais (PCA) para resumir a informação da forma em um número menor de

dimensões.

37
RESULTADOS

Análise da forma do neurocrânio

Com aplicação da análise de procrustes, foram obtidas, para cada um

dos tributários do alto Llano, cinco configurações baseadas nos 22 pontos de

referência homólogos escolhidos. Na Figura 6, é apresentado o resultado da

sobreposição dos pontos de referência homólogos, de cada crânio, assim como

a configuração de consenso, que será utilizada na análise TPS. A variação

entre todos os pontos de referência homólogos em termos gerais, foi baixa e

consistente, indicando que todos os pontos de referência homólogos

apresentaram variação dentro de certo limite. Pouca variação (<5%) foi

encontrada nos processos laterais dos ossos frontais da região próxima da

órbita ocular.

Uma inspeção das configurações criadas para cada tributário, usando-se

a análise de procrustes, permite observar que os exemplares dos rios Caparo,

Sarare e Guanare apresentaram uma variação maior que os capturados nos

rios San Carlos e Portuguesa.

Por outro lado, os resultados da análise de componentes principais da

forma para os tributários do alto Llano mostraram que o primeiro componente

explicou 68,59% da variância total, e o segundo componente PC2 explicou

18,40% (Tabela 2). Uma avaliação do gráfico (Figura 7) indica uma

configuração ao acaso dos autovalores para este morfo-espaço. Na Tabela 2,

observa-se que, no primeiro componente, os rios Caparo e Sarare com sinal

positivo estão separados do resto dos tributários formando um grupo à parte.

38
Distancia média de
procrustes D=0,006

RIO SAN CARLOS

Distancia média de
procrustes D=0,090

RIO GUANARE

Distancia média de
procrustes D=0,041

RIO PORTUGUESA

Distancia média de
Procrustes D=0,150

RIO SANARE

Distancia média de
Procrustes D=0,190

RIO CAPARO

CONFIGURAÇÃO DE CONSENSO

Figura 6. Resultado da aplicação do método de sobreposição (procrustes) dos


pontos de referência homólogos para cada tributário, assim como a
configuração de consenso.

39
Tabela 2. Resultado da análise de componentes da forma dos peixes do alto
Llano no sistema do rio Apure, para os dois primeiros componentes.
Variáveis PC 1 PC 2
Arauca -0,002 0,012
San Carlos -0,003 -0,034
Portuguesa -0,009 -0,052
Guanare -0,007 0,047
Sarare 0,001 -0,002
Caparo 0,013 -0,047
Variância explicada 68,590% 18,407%

Figura 7. Distribuição dos fatores de ponderação da análise de componentes


da forma baseados nos neurocrânios dos caparari no alto Llano.

Por outro lado, foram explorados possíveis relações ou padrões entre os

crânios dos peixes nos diferentes tributários. Para isto, cada tributário do alto

Llano foi comparado com o rio Arauca, usando-se este último como grupo de

referência externo (out-group).

40
No rio Caparo, foi observada uma segregação (Figura 8a) mostrando

uma diferenciação entre os rios Caparo e Arauca, definida unicamente pelo

segundo componente desse morfo-espaço.

Caparo

Arauca

Figura 8a. Resultados da comparação entre os tributários Arauca-Caparo do


alto Llano, da análise de componentes da forma. O simbolo representa o
grupo de referencia e o tributário a comparar.

Para o resto das comparações, foi observada uma mistura parcial no

lado direito do gráfico em relação aos crânios mais compridos entre os escores

dos tributários analisados, sendo mais evidente em alguns tributários que em

outros. No caso do rio Sarare (Figura 8b), também foi observada uma

segregação parcial. O primeiro componente conseguiu explicar uma boa parte

da variância (71%), porém os escores misturam-se com os do rio Arauca.

41
Arauca - Sanare

Figura 8b. Resultados da comparação dos fatores de ponderação entre os


tributários Arauca-Sanare do alto Llano, da análise de componentes da forma.
O simbolo representa o grupo de referencia e o tributário a comparar.

Arauca - Portuguesa

Figura 8c. Resultados da comparação dos fatores de ponderação entre os


tributários Arauca-Portuguesa do alto Llano, da análise de componentes da
forma. O simbolo representa o grupo de referencia e o tributário a comparar.

42
Por outro lado, nos rios Portuguesa e Guanare (Figura 8c,8d) a mistura

dos escores foi alta para todos os componentes. No caso do rio Portuguesa, o

segundo componente parece separar dois grupos, porém, devido a alguns

grupos localizam-se próximo ao intersecto dos eixos, resulta difícil sua

discriminação.

Arauca - Guanare

Figura 8d. Resultados da comparação dos fatores de ponderação entre os


tributários Arauca-Guanare do alto Llano, da análise de componentes da forma.
O simbolo representa o grupo de referencia e o tributário a comparar.

Por último, na análise do morfo-espaço representado pelo rio San Carlos

(Figura 8e), a distribuição dos escores, foi semelhante ao rio Sarare, noqual o

primeiro componente conseguiu explicar uma boa parte da variância (68%),

enquanto que, no segundo componente, a discriminação dos escores foi

limitada (9%).

43
Arauca - SanCarlos

Figura 8e. Resultados da comparação dos fatores de ponderação entre os


tributários Arauca-San Carlos do alto Llano, da análise de componentes da
forma. O simbolo representa o grupo de referencia e o tributário a comparar.

Em forma geral foi observado que a variabilidade do grupo de referencia

(out-group) sempre foi maior que os grupos testados, inclusive no caso do rio

San Carlos foi menor, tudo isto além de se apresentar em forma misturada.

Paralelamente aos resultados da análise de componente da forma,

foram comparadas as distâncias de procrustes entre os tributários, para se

determinar o nível de segregação entre os diferentes morfotipos dos

neurocrânios e as distâncias médias entre esses grupos. Os resultados do

teste estatístico (Goodall’s F-test) mostrados na Tabela 3 indicam uma

diferença dos caparari do rio Caparo com respeito ao grupo de referência (rio

Arauca) seguido pelo rio San Carlos. A diferença apenas não foi significativa

para a comparação com o rio Sarare.

44
Tabela 3. Resultados do teste Goodall’s com reamostragem (bootrap) da
distância de procrustes, aplicado entre os tributários do alto llano.
Goodall’s F g.l.1 g.l.2 P Dist. Linf Lsup α=0,01 Re-
F-test Media amostragem
Arauca- 7,31 40 2680 <0,005 0,0175 0,015 0,022 99% 1000
caparo
Arauca- 6,39 40 3240 <0,005 0,0111 0,009 0,013 99% 1000
SnCarlos
Arauca- 4,93 40 2960 <0,005 0,0116 0,010 0,014 99% 1000
Guanare
Arauca- 5,27 40 2720 <0,005 0,0145 0,011 0,021 99% 1000
Portuguesa
Arauca- 3,08 40 2880 0,386 0,0090 0,009 0,012 99% 1000
Sarare

A análise de torsão de placas (Thin Plates Spline), iniciando-se com uma

configuração de consenso obtida através do metodo de procrustes (Figura 9a),

para revelar tendências na configuração dos marcos anatômicos (landmarks),

encontrando um padrão de deformação na maioria dos tributários. Esta

configuração foi chamada de “configuração Arauca”, caracterizada pela

compreensão dos pontos de referência homólogos 06, 19, 07 e 17,

correspondentes aos processos laterais, direito e esquerdos dos ossos frontais,

assim como ao sulco direito e esquerdo também do frontal. A configuração dos

pontos de referência homólogos da região do etmóide e do maxilar

permaneceu com pouca variação.

Essa configuração padrão foi comparada com cada peixe dos diferentes

tributários, sendo observado que os exemplares do rio Caparo apresentaram

uma configuração diferenciada obtida nos tributários restantes. Neste, as

distâncias entre os landmark antes mencionados foram maiores, por

apresentarem uma dilatação entre os pontos de referência homólogos da

região ótica e da região do etmóide do neurocrânio do caparari (Figuras 9b, 9c,

9d).

45
Configuração de consenso

Rio San Carlos

Figura 9a. Resultados do grau de torsão de placas (Thin Plates Spline), das
coordenadas dos pontos de referência homólogos do neurocrânio do caparari,
baseadas nos fatores de ponderação da inflexão parcial (partial warp score) do
rio San Carlos (abaixo) e configuração de consenso (acima).

46
Rio Portuguesa

Rio Guanare

Figura 9b. Resultados do grau de torsão de placas (Thin Plates Spline), e da


conformação do consenso, das coordenadas dos pontos de referência
homólogos do neurocrânio do caparari, para o rio Portuguesa (acima) e
Guanare (abaixo).

47
Rio Caparo

Rio Sanare

Figura 9c. Resultados do grau de torsão de placas (Thin Plates Spline), e da


conformação do consenso, das coordenadas dos pontos de referência
homólogos do neurocrânio do caparari, para os rios Caparo (acima) e Sarare
(abaixo).

48
Com o propósito de validar este padrão de segregação do rio Caparo

com o resto dos tributários, foi aplicada a análise variante canônica (CVA), que

indicou diferenças significativas entre os tributários (Wilks λ= 0,304; F[22, 196] =

4,475; p<0,001). A projeção dos escores individuais para as duas primeiras

variáveis canônicas, observadas na Figura 10, mostra uma separação entre os

tributários do rio Apure, particularmente discriminando o rio Caparo. No

primeiro eixo da variável canônica (CVA1, 70%), os peixes deste tributário são

separados do resto do sistema do rio Apure. O segundo eixo (CVA2, 20%)

mostra um padrão de separação do rio Arauca com respeito aos rios

Portuguesa, San Carlos e Sarare.

Figura 10. Distribuição dos escores da análise CVA, onde o círculo representa
o rio Arauca; estrela rio Caparo; o triangulo rio San Carlos; a cruz Sarare; o
quadrado rio Portuguesa e o asterisco rio Guanare.

49
Os resultados desses classificação foram significativos (P<0,001), porém

nem todos estavam corretamente localizados nos respectivos tributários

(Tabela 4). Destes tributários, os rios Guanare e Sarare não foram

reconhecidos pela CVA.

Tabela 4. Resultado do CVA/MANOVA no reconhecimento dos padrões


morfológicos dos neurocrânios do caparari nos grupos previamente
estabelecidos por tributário no alto Llano. Onde: λ= coeficiente de Wilki’s; χ2 =
Chi-quadrado; gl= graus de liberdade; P= probabilidade critica.
Eixo λ χ2 g.l. P-critico
1 (Caparo) 0,0132 757,3484 280 <2,22045e-016
2 (Arauca) 0,0691 467,7108 234 <2,22045e-016
3 (San Carlos) 0,1819 298,2271 190 =8,6267e-007
4 (Portuguesa) 0,3207 199,0144 148 =0,0032879
5 (Sarare) 0,4207 209,0143 128 >2,4332879
6 (Guanare) 0,3207 108,1440 181 >3,3287009

Na Tabela 5 é apresentado o resultado da redistribuição dos grupos de

peixes por tributários. O resultado da matriz gerada pela CVA mostrou o

reconhecimento dos tributários Caparo (eixo 1), Arauca (eixo 2), San Carlos

(eixo 3) e Portuguesa (eixo 4). Os peixes dos rios Guanare e Sarare não foram

reconhecidos pela CVA.

À distância de Mahalanobis D2 foi utilizada para avaliar o nível de

similaridade entre os peixes de cada tributário, mostrando um grau de variação

e de diferenças entre os grupos de peixes distribuídos por tributários (Tabela

5). Isto significa certa semelhança em relação à análise de componentes da

forma (Figura 7), com a diferença de que o CVA conseguiu mostrar uma

segregação mais clara do rio Caparo em comparação ao resto dos tributários.

50
Tabela 5. Resultados da classificação da análise variante canônica (CVA),
entre os peixes dos tributários do alto Llano. Onde: A= Rio Arauca; C= Rio
Caparo; R= Rio San Carlos; G= Rio Guanare; S= Rio Sarare; P= Rio
Portuguesa. Os valores entre parênteses (x) foram reagrupados pelo CVA.

A C R G S P
Tributários 1 2 3 4 5 6
A 1 47(47) 0(0) 0(1) * 0(2) * 0(0) 0(0)
C 2 0(0) 10(10) 0(0) * 0(0) * 0(0) 0(0)
R 3 0(0) 0(0) 18(13) * 0(5) * 0(2) 0(3)
G 4 0(0) 0(0) 0(2) * 16(7) * 0(2) 0(1)
S 5 0(0) 0(0) 0(1) * 0(2) * 21(17) 0(0)
P 6 0(0) 0(0) 0(1) * 0(0) * 0(0) 14(10)
* grupos não reconhecidos pela análise variante canônico.

Análise da forma dos otólitos

Uma a análise de componentes principais dos otólitos do caparari do alto

Llano, foi realizada baseados nos resíduos dos coeficientes dos descritores

elípticos de Fourier, com objetivo de identificar padrões diferenciáveis na forma

dos otólitos. Os resultados mostram que o primeiro componente explicou

47,33%, e o segundo componente explicou 23,94% da variância total (Tabela

6).

Tabela 6. Resultados da análise de componentes principais obtidos para os


descritores elípticos de Fourier dos otólitos Asteriscus do caparari no Alto
Llano.
TRIBUTARIOS FATOR 1 FATOR 2
Rio San Carlos 0,500 0,071
Rio Guanare 0,771 0,582
Rio Portuguesa 0,654 0,624
Rio Sarare 0,532 0,333
Rio Caparo 0,511 -0,654
Variância explicada 47,33% 23,94%

Em geral, não foi observado um claro padrão da forma nos primeiros

componentes principais, sendo que o segundo componente conseguiu separar

51
o rio Caparo (com sinal negativo) do resto dos tributários. É importante

destacar uma configuração tipo arco, observada na distribuição dos tributários

neste morfo-espaço do alto Llano (Figura 11).

Figura 11. Resultados da análise de componentes principais baseados nos


coeficientes dos descritores elípticos de Fourier para o alto Llano.

Finalmente, foram calculados os descritores elípticos de Fourier para

cada tributário com o propósito de reconstruir os contornos dos otólitos. Através

do programa SHAPE, foram calculados os três primeiros componentes do PCA

que permitiram visualizar a variabilidade inserida na forma dos otólitos, como

uma confirmação do padrão da variação, dentro do conjunto de dados. A

reconstrução dos contornos dos otólitos também facilitou a visualização na

ordenação dos dados dos componentes. A Figura 12 apresenta a conformação

geral dos otólitos para cada tributário, mostrando uma singularidade na forma

dos otólitos no rio Caparo.

52
Río Arauca Río Sanare Río Guanare

Río Portuguesa Río San Carlos Río Caparo


Figura 12. Reconstrução dos contornos dos otólitos Asteriscus, aplicando
descritores elípticos de Fourier na forma dos otólitos do caparari por tributários,
(Harmônicas analisadas = 20), mostrando os contornos gerais, médios e com o
desvio padrão (±2dp).

Na análise da relação entre o tamanho (comprimento furcal) do peixe e

as amplitudes das harmônicas, foi estabelecido seguindo o procedimento

descrito por Feitosa (2004), observando-se que as primeiras 10 harmônicas

explicam mais de 75% da variabilidade da forma do otólito Asteriscus. Os

resultados das primeiras 6 harmônicas (Figura 13) mostraram uma

diferenciação pelos tamanhos, indicando que a forma do otólito tem relação

com crescimento do otólito, ou seja, um aumento da diversidade ou

53
variabilidade de padrões de contorno em otólitos de maior tamanho, conforme

aumenta o tamanho do peixe.

Figura 13. Comparação dos valores das amplitudes das sete primeiras
harmônicas, que definem o contorno do otólito Asteriscus com relação ao
comprimento furcal do caparari.

54
DISCUSSÃO

O conceito de estoque, historicamente, tem sido fonte permanente de

controvérsias, sempre na busca de uma definição apropriada para um grupo de

peixes, assim como para o manejo das espécies e ordenamento da atividade

pesqueira. A definição mais geral considera que “o estoque refere-se a

qualquer grupo de peixes disponível para a exploração numa determinada

área” (Milton & Shaklee, 1987).

Um dos primeiros autores a apresentar uma definição de estoque foi

Marr (1957): “O estoque é uma população ou uma porção da população onde

todos os membros são caracterizados pelas similaridades hereditárias, porém,

induzidas pelo ambiente, podem existir como membros de diferentes

subpopulações”.

Esta definição mostra uma visão ecológica do conceito de estoque,

porém, desde uma perspectiva genética do conceito indicaria que “O estoque é

um conjunto de organismos que compartilham um "pool" de genes comum,

suficientemente discreto para garantir um sistema próprio de perpetuação que

pode ser manejado” (Larkin, 1977).

Considera-se que a diferenciação de um grupo de peixes é uma

propriedade dinâmica que resulta das interações entre os processos ecológicos

e genéticos em ambientes aquáticos estocásticos (Waldman,1999). Então, no

conceito de estoque, a diferenciação ecológica é o resultado da

heterogeneidade espacial e temporal na distribuição da população e a

diferenciação genética dependerá das forças evolutivas da natureza (fluxo

gênico, seleção natural, deriva genética e mutação) (Ihssen et al.,1981).

55
Alguns autores sugerem que os estudos genéticos para a separação de

estoques (identificação) devem ser conduzidos junto com os estudos

morfométricos (Pawson & Jennings, 1996), pois um estudo realizado com estas

duas abordagens, permite avaliar os fatores genéticos e ambientais que

explicam a variação total observada (Ihsee et al., 1981).

Alguns estudos sobre a identificação de estoques pesqueiros têm sido

desenvolvidos na região neotropical, baseados em aspectos genéticos, como

análises de eletroforese em Calophysus macropterus (Ramirez, 1993), ou por

sequenciamento de DNA nas espécies de surubins P. fasciatum e P. tigrinum

(Ramirez, 2001) e na dourada Brachyplatystoma flavicans no eixo dos rios

Solimões-Amazonas (Batista, 2001).

Os estudos de estoques baseados na análise morfométrica aplicados a

espécies de peixes neotropicais são igualmente escassos, e, na sua maioria,

são realizados com espécies que não pertencem ao Superordem Ostariophysi.

Por exemplo, Worthmann (1979) trabalhou com Plagioscion squamosissimus

do rio Solimões usando análise de correlação linear, e Rabello-Neto (2002),

utilizando a técnica de box truss em Osteoglossum ferrerai do rio Negro.

Por outro lado, Feitosa (2004) trabalhou com a dourada

(Brachyplatystoma rousseauxii), analisando a forma do otólito Asteriscus

através das transformações rápidas de Fourier (FFT) para verificar a existência

de grupo intraespecíficos. Igualmente, Alonso (2002), usando outra abordagem

(parâmetros populacionais), não demonstrou a existência de grupos

populacionais na dourada, confirmando a hipótese de um único grupo de

indivíduos distribuídos na calha principal do rio Amazonas.

56
Estudos morfométricos em peixes têm sido aplicados para uma vasta

quantidade de espécies (Loy et al., 1996; Carpenter, 1996; Corti & Crosetti,

1996; Jeffrey,1997; Fink & Zelditch,1997; Calvacanti, 1999; Jeffrey et al., 2000;

Duglas et al, 2001; Ruber & Adams, 2001; Neves & Monteiro, 2003; Calvacanti,

2004). No entanto, são poucos os estudos realizados com a análise de

morfologia geométrica para identificação de estoques. Os estudos realizados

com esta nova abordagem estão quase todos enfocados na morfologia externa

dos peixes preservados em museus de história natural, que nem sempre

apresentam a forma mais natural do organismo devido ao processo de

preservação.

Por outro lado, o estudo da análise morfológica geométrica utilizando

partes especificas do corpo dos vertebrados, como crânio, vértebras, cleitro,

entre outros, também são escassos. Os crânios têm sido a estruturas mais

utilizadas para a diferenciação de populações entre mamíferos, usando a

morfometria geométrica (Swtderskt et al., 2000), porém, no caso dos peixes, os

estudos morfológicos que utilizam crânios são limitados.

De fato, na bibliografia consultada, foi encontrada somente uma

referência utilizando a cabeça de tubarão nos estudos da análise morfológica

geométrica (Calvacanti, 2004). Já que os trabalhos desenvolvidos com a

morfometria geométrica têm usado o expecime enteiro, portanto, este trabalho

é pioneiro no estudo morfológico dos crânios em peixes teleósteos de água

doce na região neotropical.

Análise de marcos anatômicos

Na análise de procrustes aplicada aos crânios do caparari, considerando

cada tributário, foi observado que os rios Caparo e Guanare uma limitada

57
diferenciação entre os outros tributários, mostrando também, uma baixa

distância morfométrica, indicando que os padrões morfológicos observados no

neurocrânio aparentemente são poucos distintivos para permitir a identificação

de grupos.

A maioria dos peixes do alto Llano apresentou um padrão de distribuição

relativamente homogêneo dos pontos de referência homólogos. Esta

disposição foi comum para todos os peixes dos tributários do sistema

hidrográfico do rio Apure, com exclusão da amostra correspondente ao rio

Caparo. O fato é que este subgrupo foi caracterizado por uma tendência

completamente diferente na posição dos pontos de referência homólogos,

especificamente devido aos processos e sulcos dos ossos frontais e ao

tamanho do processo supraoccipital em comparação com o resto dos

tributários. Essa conformação singular na literatura não foi encontrada

referência alguma a respeito. Assim que, a variação morfológica encontrada no

caparari do rio Caparo pode ser produto da filogenia ou de adaptações a

condições ecológicas locais ou uma combinação de ambas, o que poderia ter

alguma influência na origem do padrão observado na morfologia dos

neurocrânios neste tributário do rio Apure.

Os resultados obtidos pela análise de deformações indicam que as

variações na posição dos pontos de referência homólogos podem refletir

mudanças funcionais nas proporções do neurocrânio, ou representar a história

filogenética da população ou as adaptações (pouco conhecidas) para as

condições ambientais.

Este último aspecto pode ser altamente significativo, já que nos rios

Sarare e Caparo são os únicos tributários do rio Apure que apresentam baixas

58
densidades de populações humanas, sem fontes de poluição e habitats poucos

alterados além de unidades de conservação, características não observadas no

resto dos tributários analisados neste estudo.

Essa variação encontrada na morfologia dos crânios dos capararis pode

estar relacionada com vários fatores. A identificação da origem desta

singularidade encontrada nos crânios dos caparari do rio Caparo é dificultada

pela variabilidade interanual dos ambientes. Pois trata-se de uma

caracateristica osteológica pouco evidente, gerada por alguma mutação que

pode ter ou não uma vantagem adaptativa. Uma abordagem diferente como,

por exemplo, os estudos baseados na genética sobre os capararis do rio

Caparo poderia revelar aspectos que permitam compreender melhor a variação

morfológica observada nos crânios desta espécie.

Na atualidade, não existe nenhum estudo que indique a manutenção ou

perda da variabilidade genética dos estoques do caparari ou de qualquer outra

espécie no sistema hidrográfico do rio Apure. Há somente um trabalho sobre a

variabilidade genética do caparari na bacia do rio Orinoco, usando técnicas de

eletroforeses de proteínas (Escobar, 2001). Este autor identificou quatro sub-

populações desta espécie na bacia do rio Orinoco, que aqui vamos de chamar:

Apure, Caura, Meta e Delta (Figura 14).

59
Estoque 4 (Delta)
Estoque 3 (Caura)
Estoque 2 (Apure)
Estoque 1 (Meta)

Figura 14. Localização das sub-populações do caparari (P. tigrinum)


encontradas na bacia do rio Orinoco (modificada de Escobar, 2001).

O estudo de Escobar (2001) (Bacia do rio Orinoco) mostrou através, de

técnicas genéticas, que, no sistema hidrográfico do rio Apure, conformado

pelos afluentes Sarare, Caparo, Guanare, Portuguesa e San Carlos, entre

outros, o caparari constitui um único estoque, coincidindo com os resultados

encontrados neste trabalho, utilizando a análise geométrica da morfologia do

neurocrânio.

Análise de contorno

A análise da forma dos otólitos está sendo utilizada cada vez mais como

uma ferramenta para a identificação de espécies e estoques (Frieldland &

Reddin,1994; Stransky, 2001). De modo que a forma dos otólitos tem mostrado

ser específica para espécies (Hecht & Appelbaum, 1982) e para populações

60
(Messich, 1972; Neilson et al., 1985). Em alguns casos, a forma dos otólitos

pode revelar variações geográficas que podem estar associadas a diferentes

estoques (Castonguay et al., 1991; Campana & Casselman, 1993; Berg &

Brown, 2000).

Alguns trabalhos têm mostrado que a forma dos otólitos é altamente

específica para as espécies de peixes (Gaemers, 1984), ou a forma do otólito

pode mostrar uma variação clinal pela distância ou pela localização geográfica

(Worthman, 1979; Smith, 1987; Begg & Brown, 2000; Gauldie & Jones, 2000).

A variação clinal da forma dos otólitos tem sido explorada como ferramenta

para a discriminação dos estoques (Bird et al., 1986).

O estudo da forma dos otólitos, analisado através de séries de Fourier

para diferenciar estoques de muitas espécies marinhas não é uma novidade.

Já no início da década de 90, vários estudos foram realizados usando as

transformações rápidas de Fourier para a discriminação de estoques como, por

exemplo, a macarela (Scomberidae) (Castoguay et al., 1991). O uso dos

descritores elípticos de Fourier para a reconstrução do contorno da forma tem a

vantagem de poder detectar precisamente pequenas variações na forma dos

otólitos, especialmente pela variância explicada dos componentes um, dois e

três (Iwata et al.,2002).

A variação observada na forma dos otólitos Asteriscus no rio Caparo

pode ter duas fontes: a primeira pode estar associada à existência de um

polimorfismo dos otólitos, como tem sido observado em outras espécies

(Gauldier & Crampton, 2000) ou poderia estar vinculada com a idade, visto que

a borda dos otólitos tende a ser mais irregular conforme os peixes aumentam

de tamanhos. A alta freqüência de peixes com idades maiores encontradas no

61
presente trabalho no rio Caparo (ver capitulo IV), confirmam o mencionado

polimorfismo. Portanto, os otólitos Asteriscus de capararis pequenos tendem a

ser mais circulares que os otólitos de peixes maiores, apresentando estes

últimos uma forma mais estrelada ou irregular.

Os otólitos apresentam um conjunto de características influenciadas pelo

comprimento ou idade dos peixes, que podem ser relacionadas a uma espécie

ou população específica. Por exemplo, Grygiel (1987) usou as medidas dos

otólitos para a separação dos estoques da sardinha do Atlântico (Clupea

harengus).

Seguindo essa mesma linha de pensamento, Feitosa (2004) demonstrou

que existem formas variadas de otólitos na dourada (Brachyplatystoma

rousseauxii) para as diferentes classes de idade encontradas na área do

estuário (Belém). O autor verificou que essas diferenças podem estar

associadas a diferenças na taxa de crescimento dos indivíduos e ao

polimorfismo dos otólitos. No caso dos otólitos do caparari no baixo Llano,

essas diferenças também foram observadas, e, particularmente, no alto Llano

foi mais evidente, o que poderia ser explicado pela irregularidade na forma dos

otólitos dos peixes de tamanhos maiores observados no rio Caparo.

Estes resultados poderiam indicar falhos de amostragem na análise ao

comparar exemplares de diferentes tamanhos, porém, o programa SHAPE

versão1, 2 tem um algoritmo que normaliza o tamanho dos otólitos sem afetar

sua geometria. Portanto, o crescimento (como atividade fisiológica) altera a

taxa de incremento do otólito tanto em tamanho como em forma, fato

observado por outros autores (Smith 1992; Campana & Casselmann,1983).

62
Definição de estoque

Com base nos resultados aqui apresentados, é possível concluir que a

utilização da ferramenta DEF-PCA para a discriminação de estoques não

permitiu uma diferenciação baseada na formas dos otólitos para esta espécie.

O resultado da análise dos marcos anatômicos no neurocrânio do

caparari, através das técnicas de Procrustes e Thin plate spline, indicaram que

não existiram elementos suficientes para a discriminação entre esses

tributários que pudessem considerar-lo como estoques diferentes.

Considerando as informações obtidas pela análise de contorno dos

otólitos e comparadas com as informações obtidas na análise morfométrica dos

neurocrânios, é possível concluir que houve constatação de alterações no

padrão morfológico dos neurocrânios e dos otólitos, mas não foram tão

evidentes como para deduzir que se trata de populações diferentes. Portanto,

neste estudo, com a evidência obtida, vamos a considerar ao caparari como

um único estoque para o sistema hidrográfico do rio Apure, destacando que,

no momento de definir as estratégias de uso e manejo da espécie, estas

informações sejam consideradas para criar pautas preliminares para o manejo

do recurso e da pesca (ver capítulo VI)

Uma vez determinada a identidade do estoque do caparari no rio Apure,

estamos em condições de relacionar estas informações com a estrutura

populacional e índices biológicos a fim de entender melhor seu ciclo de vida,

aspectos que serão abordados no próximo capítulo de forma detalhada.

63
CAPÍTULO III
DETERMINAÇÃO DA IDADE E CRESCIMENTO SAZONAL DO CAPARARI
NO RIO APURE

INTRODUÇÃO

A determinação da idade é essencial nos estudos de crescimento para

estimar o tamanho do estoque, a mortalidade, o recrutamento, entre outros, já

que a taxa de crescimento é influenciada pela variação sazonal da

disponibilidade de alimentos, pelo habitat e pela temperatura

(Weatherley,1972). A estimativa da idade pode ser realizada através da análise

de distribuição de comprimento no tempo e por interpretação das marcas de

crescimento nas escamas, otólitos, vértebras e opérculos dos peixes (Bagenal

& Tesch, 1978).

O método mais comum para estimar a idade é a contagem do número

de marcas de crescimento em estruturas calcificadas (Bagenal & Tesch, 1978;

Everhart et al.,1976; Beamish & McFarlane,1987; King,1995). Nas regiões

temperadas, onde a formação das marcas está associada à variação sazonal

da temperatura, este método tem sido utilizado continuamente. Nas regiões

subtropicais e tropicais, onde as variações térmicas anuais têm menor

amplitude, a interpretação das marcas de crescimento é mais difícil. Não

obstante, vários estudos associaram as variações no ritmo de crescimento

anual com fatores tais como: ciclo reprodutivo, ritmos fisiológicos, nível do rio

(Lowe-McConnell,1987; Muñoz–Sosa, 1996; Villacorta-Correa,1997; Oliveira,

1997; Fabré & Saint-Paul,1998; Vieira, 1999, 2003; Alonso, 2002).

64
Para definir a idade dos peixes, o conhecimento sobre a determinação

da periodicidade de formação das marcas de crescimento (quantidade de

marcas que o peixe forma por ano) é uma condição indispensável (Beamish &

Mcfarlane, 1983; Casselman,1983). A formação das marcas está relacionada

com a diminuição parcial ou completa do crescimento durante um ou mais

períodos do ano (Casselman,1983; Welcomme, 1992).

Nos peixes das regiões tropicais, a relação entre as variações anuais no

crescimento dos peixes e o regime hidrológico tem sido bem documentada

para espécies que habitam nas áreas alagáveis tais como: Prochilodus

nigricans (Oliveira,1997); Brycon cephalus (Villacorta-Correa,1997); Schizodon

fasciatus (Fabré & Saint-Paul, 1998); Semaprochilodus insignis (Vieira,1999);

Brachyplatystoma rouseauxii (Alonso, 2002); Calophysus macropterus (Pérez &

Fabré, 2003); Semaprochilodus sp (Vieira, 2003). Porém, as relações deste tipo

ainda são desconhecidas para a maioria das espécies neotropicais.

Este capítulo tem por objetivo determinar a periodicidade na formação

das marcas de crescimento observadas nos otólitos Asteriscus do caparari dos

Llanos venezuelanos e verificar sua relação com mudanças sazonais

características dos ambientes de planície de inundação e com o ciclo de vida

da espécie.

65
MATERIAIS E MÉTODOS

Coleta de dados

Os dados biológicos do caparari foram obtidos por meio de amostragens

mensais no mercado municipal de San Fernando (Figura 1) durante 2000-2003,

período no qual foram coletados 954 indivíduos.

Foi selecionada uma subamostra, procurando-se obter dez exemplares

por classe de comprimento de cinco centímetros, considerando todas as

classes de comprimento representadas na amostra. Para cada indivíduo da

subamostra foram registrados os dados biológicos e extraídos os otólitos

Asteriscus. Foram também realizadas eventuais pescarias exploratórias na

mesma área para obtenção de indivíduos de pequeno porte.

75º00`00``W

San Fernando

Baixo Llano
6º00`00``N

Colômbia

Figura 1. Localização da área de amostragem do caparari, correspondente ao


baixo Llano do sistema hidrográfico do rio Apure.

66
Análise de dados

Processamento dos otólitos

Os otólitos foram montados sobre moldes de vidros em resina epóxica,

com propósito de realizar cortes das barras de resina com um micrótomo

petrográfico de baixa velocidade Isomet, modelo 150, onde as barras foram

mantidas e alinhadas com a lâmina da serra de diamante, fazendo se cortes

transversais de 0,5 mm de espessura.Todo o procedimento foi realizado no

laboratório de Biologia Pesqueira da Universidad Nacional Experimental de los

Llanos Occidentales Ezequiel Zamora (UNELLEZ), equipado com um sistema

digital de imagens.

Uma subamostragem de 68 otólitos Asteriscus foi utilizada unicamente

para determinar a melhor técnica para a visualização das marcas de

crescimento. Os otólitos inteiros foram tratados com a técnica de clarificação

proposta por Villacorta-Correa (1997), e pela técnica de coloração desenvolvida

por La Marca (1966) (Tabela 1).

Tabela 1. Descrição das técnicas de clarificação e coloração utilizadas nos


otólitos Asteriscus do caparari.
Etapa Processo Reagente Concentração Tempo
TÉCNICA DE CLARIFICAÇÃO
1 Limpeza Água, 50°C ----- 1 min.
2 Clarificação Glicerina/2-propanol 1:1 30 dias
3 Conservação Álcool etílico 70% Indefinido
TÉCNICA DE COLORAÇÃO
1 Limpeza Água, 50°C ----- 1 min.
2 Coloração Vermelho de Alizarina /Na(OH) 1:9 12 hs
3 Lavagem Água, 26°C ----- 5 min
4 Conservação Álcool etílico 70% Indefinido

Usando um microscópio esteroscópico com aumento de 10x1.25,

conectado a uma câmara digital de vídeo, acoplada a um computador, a

67
observação dos Asteriscus inteiros foi realizada com luz refletida numa base

côncava de fundo negro, submergidas em óleo de microscopia.

As imagens foram digitalizadas, gravadas e processadas com as

ferramentas do computador. As imagens foram filtradas para acentuar os

contornos das marcas. As leituras dos otólitos consistiram na observação e

contagem de marcas concêntricas e completas.

Para a definição do ponto inicial das medidas, foram selecionados vários

ângulos próximos ao núcleo. A maioria dos Asteriscus apresentou um núcleo

bem definido, facilitando a marcação externa a partir deste ponto. A

caracterização das marcas de crescimento presentes nos Asteriscus do

caparari foi realizada por meio da análise qualitativa e quantitativa.

Análise qualitativa

As marcas de crescimento foram caracterizadas de acordo com os

critérios utilizados em estudos anteriores de determinação de idade e

crescimento realizados pelo grupo de pesquisa Pyrá da UFAM, onde este

estudo está inserido (Oliveira, 1997; Valeruz-Rego et al., 1998; Perez, 1999;

Vieira; 1999; Alonso 2002; Vieira, 2003), considerando-se: a) a nitidez: boa,

regular ou ruim; b) tipo de marca: simples, dupla ou bifurcada; e c) diminuição

dos espaçamentos conforme aumento da idade. Igualmente foram calculadas

as distribuições de freqüência para cada um destes critérios.

Análise quantitativa

A definição do melhor ângulo das medidas das marcas de crescimento

no otólito Asteriscus foi obtida através da relação entre os diferentes ângulos

0º, 180º, 225º, 270°, 315° e o comprimento furcal do peixe, observando o

coeficiente de correlação e a distribuição dos resíduos.

68
Para verificar se os critérios de leituras foram mantidos durante o estudo

e constatar um padrão de distribuição dessas marcas nos otólitos Asteriscus,

foi realizada uma distribuição de freqüência do tamanho das marcas,

identificando os valores modais e avaliando a sobreposição das distribuições e

o espaço entre as modas. A relação entre o número de cada tipo de marca e o

comprimento furcal do caparari também foi considerada, observando-se moda,

amplitude, curtose, assimetria, média, variância e coeficiente de variação

(Sokal & Rohlf, 1981; Zar, 1996). Para verificar a normalidade dos dados, foi

realizado um ajuste dos dados para uma curva de distribuição normal, avaliada

pelo teste de Kolmogorov-Smirnov (Zar, 1996).

Periodicidade de formação das marcas de crescimento

Para determinar o período de formação das marcas de crescimento,

foram utilizados os otólitos Asteriscus coletados durante 30 meses (maio/2000

até abril/2003) nos principais centros de desembarque do baixo Llano. Foi

utilizado o método do incremento marginal relativo IMR (Fabré & Saint Paul,

1998), como método de validação indireta do crescimento sazonal (Figura 2).

IMR= (Rt-Rn/RN-Rn-1)
Onde:
Rt = raio total do otólito
Rn = raio do centro da estrutura até a última marca
Rn-1= raio do centro da estrutura até penúltima marca de crescimento

Para o cálculo do IMR, as medidas foram tomadas em milímetros desde

o núcleo do otólito até a borda externa. Assim como, as medidas obtidas de

cada marca de crescimento, com ajuda das ferramentas do programa Imagen

Pro Express versão 4.0. (Média Cybernetic Inc.).

69
Borda
M4 Rt
M3 Rn
M2 Rn-1

M1

Figura 2. Otólito (Astericus) do caparari mostrando as medidas no ângulo 0º


utilizados para análise do incremento marginal relativo (IMR) onde: N= núcleo;
Mn = são marcas de crescimento; Rt= raio total, Rn= distância até a última
marca observada e Rn-1= distância até a penúltima marca observada.

A diminuição dos valores médios do IMR, seguida de um aumento do

mesmo deve indicar o período de formação das marcas. Estes resultados

foram confirmados, verificandose a existência de diferenças significativas entre

as variâncias dos valores médios IMR, utilizando os meses como fator.

Para determinar o mês (meses) em cujos valores apresentaram

diferenças significativas, foi aplicado o teste LSD (Least Significant

Differences), calculando os correspondentes intervalos de confiança (Sokal &

Rohlf, 1981; Zar, 1996). Essas informações foram relacionadas com os níveis

médios do rio Apure (no baixo Llano) para os últimos três anos, proporcionados

70
pela direção setorial de hidrologia do Ministério do Ambiente e dos Recursos

Naturais da Venezuela (MARN-Apure).

Por outro lado, os dados do incremento marginal relativo também foram

ajustados a um modelo de regressão periódica (Bliss,1970) com a finalidade

de se verificar a ocorrência da periodicidade na formação das marcas de

crescimento. A regressão periódica é uma ferramenta útil para avaliar ritmos

biológicos (Angelini et al.,1992), sendo que a fórmula usada no cálculo da

regressão periódica foi definida pela seguinte equação:

y ≡ α + β1 ∗ cos(θ ) + β 2 ∗ sen(θ ) + δ
Onde:
y= variável dependente
β= coeficiente de regressão
α= média geral
θ= freqüência angular (2π*t / K)
t= variável independente
K= número de dias ou meses
π= pi
δ= erro aleatório

A validação do modelo foi feita através da inspeção visual dos resíduos,

permitindo observar as discrepâncias entre os valores esperados e os valores

amostrados.

Definição da idade

Para a determinação da idade foi designada uma data de aniversário,

que não necessariamente precisou coincidir com a data biológica de

aniversário. Para tal, consideramos os grupos etários que representam um

número determinado de anos (Holder & Raitt,1974). Portanto, foi considerada

como época de reprodução os meses entre abril e junho, final do período de

seca, que apresenta a maior freqüência de fêmeas maduras observadas,

coincidindo com o período citado por Reid (1983) e Castillo et al.(1988). Dessa

71
forma, foi estabelecido arbitrariamente 1º de junho como data de aniversário,

embora o período de desova pudesse antecipar ou retardar um ou dois meses,

dependendo da variação do pulso de inundação.

Outro critério utilizado foi à análise do resultado do crescimento sazonal,

em que, assumimos o aniversário num mês determinado de um ano X, e a data

de formação da primeira marca de crescimento aconteceria no ano seguinte.

Fatores sazonais que condicionam o crescimento do caparari

Para analisar a relação do crescimento sazonal do caparari com a

variação periódica de eventos sazonais e relacionar-los com o nível do rio, que

pode influenciar o crescimento desta espécie, foram analisados os coeficientes

de regressão da relação peso comprimento, o índice de condição e o ciclo

reprodutivo da espécie.

Coeficiente de regressão peso-comprimento

O coeficiente de regressão foi obtido da relação peso-comprimento

analisada por mês e expressada pela função potência:

W= a*L b
Onde:
W= peso (g)
a= intercepto da ordenada
b= coeficiente de regressão
L= Comprimento furcal (cm)

Os pesos e os comprimentos foram transformados numa escala

logarítmica, e os resultados foram ajustados em uma relação linear, utilizando a

análise de regressão linear simples, tendo o peso como variável dependente.

ln(W) = ln(a)+ b*ln(L)

72
Índice de condição

O indice de condição (K) avalia o grau de bem-estar dos peixes,

considerando a variação do peso observada em relação ao comprimento

esperado para esse peso (Anderson & Gutreuter, 1983). Neste estudo, o índice

de condição mensal foi estimado para machos, fêmeas e sexos combinados

pela seguinte equação:

Wev
Kn= -------------
aLb
Onde:
Kn = índice de condição
Wev= peso eviscerado (g)
aLb = peso estimado, sendo a e b constantes da relação peso-comprimento e L
o comprimento furcal do peixe.

Estágios de maturação sexual

Para descrever o ciclo reprodutivo do caparari no sistema hidrográfico do

rio Apure, foi analisada a freqüência absoluta dos diferentes estádios de

maturação sexual ao longo do período de estudo, tanto no alto Llano como no

baixo Llano. Para a definição dos diferentes estádios gonadais (I, II, III, IV, e V)

dos grandes bagres da Amazônia, foi usada uma classificação qualitativa das

gônadas proposta por Arboleda (1989) e Vazzoler (1996) (Tabela 2).

Tabela 2. Classificação empírica dos estádios de desenvolvimento gonadal


segundo os critérios de Arboleda (1989) e Vazzoler (1996).
FASES GONADAIS CARACTERÍSTICAS
ESTÁDIO I Ovários filiformes translúcidos, de tamanho muito reduzido; ovócitos
(imaturo) invisíveis a olho nu.
ESTÁDIO II Característico de indivíduos virgens em maturação; os ovócitos podem ser
(em maturação) observados com auxílio de um microscópico esteroscópico.
ESTÁDIO III Os ovários apresentam-se túrgidos, ocupando quase totalmente a cavidade
(maduros) abdominal; os ovócitos se desprendem sob ligeira pressão do abdômen
ESTÁDIO IV Os ovários complemente flácidos de coloração arroxeada, ocupando menos
(esvaziado) de 1/3 da cavidade abdominal; poucos ovócitos em estado de reabsorção.
ESTÁDIO V Os ovários apresentam tamanho reduzido cerca de 1/3 da cavidade
(em repouso) celômica sendo maiores que dos estádios II, são translúcidos com fraca
vascularização; os ovócitos não podem ser vistos a olho nu.

73
RESULTADOS

Padrão de marcação dos otólitos

Muitos dos otólitos Asteriscus do caparari foram quebrados no processo

de corte ou de polimento. Por esse motivo, foi abandonado o programa inicial

das leituras das marcas de crescimento através dos cortes transversais. Com a

técnica de clarificação dos otólitos, foram observadas as marcas de

crescimento no corpo inteiro do otólito, sem maiores dificuldades, enquanto

que, com a técnica de coloração, as leituras foram muito difíceis de se observar

e confusas. Dessa forma, foi decidido utilizar para a análise de idade e

crescimento o otólito inteiro clarificado.

Depois de se verificar a inexistência de diferenças significativas nos

tamanhos entre os otólitos direito e esquerdo pelo teste t, entre médias com

variância similar (ttab[0,05,58]=1,671; tobs=0,45) e validadas, através de uma

análise de regressão linear entre o comprimento furcal e o raio total dos otólitos

esquerdo e direito (Tabela 3), foi utilizado arbitrariamente o Asteriscus do lado

direito para a leitura e medição das marcas de crescimento.

Tabela 3. Resultados da regressão linear simples entre o comprimento furcal e


o raio total do otólito Asteriscus (direito e esquerdo) onde: a= intercepto da
ordenada; b= coeficiente de regressão; s.e= erro padrão; n= número de
observações; p-critico probabilidade de significância.
Relação a b se r n p- critico
Rt-LF O- esquerdo 2,72 0,340 0,314 0,737 30 0,01
Rt-LF O- direito 2,96 0,290 0,314 0,681 30 0,01

Análise qualitativa

Nos otólitos Asteriscus foram identificados três tipos de marcas: as

marcas simples foram as mais freqüentes (59,3%), uma proporção menor de

otólitos possuía marcas bifurcadas (30,5%), e a porcentagem de marcas duplas

74
apresentou o menor valor (10,2%). Estas marcas duplas geralmente apareciam

quando a forma do otólito era muito irregular, e o padrão de marcação era difícil

de identificar.

As marcas simples possuem boa nitidez (49,2%), porém uma

porcentagem importante foi catalogada como regular (47,5%) e somente uma

baixa porcentagem de otólitos opacos foi encontrada (3,3%) na amostra

estudada. A presença de marcas intermediárias nos otólitos foi baixa (17,4%).

Quando encontradas essas marcas, apresentavam-se como simples e pouco

nítidas entre a primeira e a segunda marca. Excepcionalmente, eram

observadas mais de duas marcas intermediárias num mesmo otólito.

Outro aspecto constatado foi à alta porcentagem de marcas simples que

apresentaram uma contração dos espaçamentos entre elas, conforme aumenta

o número de marcas no otólito (94,9%).

Em resumo, poucas foram as dificuldades encontradas na leitura dos

otólitos Asteriscus. Em alguns casos, devido à proximidade das marcas,

principalmente quando duas marcas apareciam juntas (em uma série); nesse

caso, foi dada maior atenção ao padrão esperado de crescimento.

Análise quantitativa

O resultado da análise quantitativa para selecionar o melhor ângulo das

medições sobre o otólito Asteriscus mostrou que o ângulo 0o apresentou o

maior coeficiente de correlação (r= 0,89), e a distribuição de resíduos mais

uniformes em torno de zero (Figura 3) e baixo valor do erro padrão.

75
Raio total (mm)

LF= -34,56+41,79*Rt
r= 0,89
se = 0,35
n = 120

Raio total (mm)


Figura 3. Reta de regressão linear, com distribuição dos resíduos da relação
raio total (Rt) e comprimento furcal (LF), medidos com o ângulo 0° no otólito
Asteriscus.

Na análise da distribuição das marcas de crescimento nos otólitos

Asteriscus do caparari, foi verificada a presença de sete marcas (Figura 4).

Segundo os resultados da estatística descritiva (Tabela 4), identificou-se os

valores dos desvios padrões e coeficientes de variação foram baixos.

Os resultados da distribuição das marcas de crescimento mostraram, de

forma geral, um deslocamento das modas para cada marca, conforme aumenta

76
o tamanho, indicando que os critérios de leituras foram mantidos (duas leituras

por um leitor) durante o processo de contagem de anéis (Figura 4). Por outro

lado, as marcas I, II, III, IV e V mostraram um bom ajuste à distribuição normal,

enquanto que as marcas VI, e VII não apresentaram um ajuste à curva normal

devido ao baixo número de observações para estas marcas.

Tabela 4. Estatística descritiva da distribuição da freqüência dos tamanhos das


marcas de crescimento nos otólitos onde x= média; σ= desvio padrão; s=
coeficiente assimetria; K= curtose; D = teste de normalidade de Kolmogorov-
Smirnov; p-critico= probabilidade de significância; n= número de observações.
Marcas x (mm) σ S K D p- critico n
I 1,446 0,150 -0,248 -0,045 0,570 <0,05 593
II 2,021 0,164 0,483 1,523 0,069 <0,10 360
III 2,283 0,148 -0,694 0,866 0,098 <0,05 216
IV 2,504 0,102 -0,906 1,510 0,094 <0,10 195
V 2,707 0,107 -0,059 -0,104 0,085 >0,20 70
VI 2,877 0,098 -0,216 0,487 0,073 >0,20 46
VII 3,060 0,069 -0,284 -0,830 0,168 >0,20 10

77
Figura 4. Distribuição da freqüência relativa dos tamanhos das marcas de
crescimento observadas no otólito Asteriscus do caparari no baixo Llano.

78
Periodicidade de formação das marcas
Na avaliação do crescimento sazonal do caparari no baixo Llano, o IMR

foi calculado por 30 meses para aumentar a confiabilidade das estimativas

deste método de validação. O teste de Bartlett indicou homogeneidade de

variâncias para os períodos 2000-2001 (χ20,05 [11]=19.7> Bartlett=5,819); 2001-

2002 (χ20,05 [6]=12.6> Bartlett=5,469) e 2002-2003 (χ20,05 [10]=18.3>

Bartlett=1,820). Uma ANOVA, utilizando o mês como fator, revelou diferenças

significativas em cada período.

O teste (LSD) aplicado nos períodos: 2000-2001 (Figura 5a) e 2001-

2002 (Figura 5b) demonstraram que, entre os meses de janeiro e fevereiro,

houve diferenças significativas (P<0,05) nos valores do incremento marginal

relativo (IMR). Igualmente uma diferença significativa (P<0,05) foi observada

entre os meses de fevereiro e março no período 2002-2003 (Figura 5c).

Assim, o IMR foi diferente entre janeiro-fevereiro, e o resto dos meses

nos anos 2001 e 2002. Enquanto para o 2003, o mês de março foi diferente ao

resto dos meses, indicando uma clara relação entre o IMR com o hidrociclo do

rio particularmente no final da seca e inicio da enchente.

Estes resultados mostraram uma diminuição significativa no IMR e,

conseqüentemente, no ritmo de crescimento sazonal entre os meses de janeiro

e março, incrementando novamente os valores do IMR a partir do mês de abril

de cada ano (Figuras 5a, 5b ,5c).

79
A

Figura 5. Variação mensal dos valores médios do incremento marginal relativo


IMR com seus correspondentes desvios padrões (maio-2000/abril-2003) e do
nível do rio.

80
Neste sentido, ao longo dos três períodos hidrológicos amostrados o

caparari apresenta uma diminuição de seu ritmo de crescimento durante o final

da seca e início da enchente, formando uma marca de crescimento por ano.

Igualmente, a análise de regressão periódica mostrou um padrão associado

entre o IMR e o nível do rio, mostrando a influencia da época de estiagem. Os

dados se ajustaram-se bem ao modelo de regressão periódica, com a exceção

do período 2001-2002, o qual mostrou um limitado ajuste ao modelo, devido à

ausência de amostras em vários meses desse período. Por esse motivo, a

análise foi limitada a 24 meses de dados (Figura 6).

M J J A S O N D J F M A M J J A S O N D J F M A

Figura 6. Resultado do modelo de regressão periódica, ajustado aos dados de


IMR do caparari no rio Apure, para o período mai/2000 e de abril/2001 e
maio/2002 até abril/2003, comparado com o nível do rio Apure.

81
Igualmente na Figura 6, observa-se que existem dois momentos de

menor crescimento, sendo um mais intenso que o outro, sendo mais acentuado

em torno de fevereiro, final da seca, período de muito alimento disponível, mas

também momento em que os adultos estão amadurecendo as gônadas. No

entanto, há um crescimento reduzido durante a cheia sem chegar a marcar um

anel.

Conhecida a periodicidade de formação das marcas de crescimento, o

próximo passo foi caracterizar as marcas de crescimento identificadas para,

posteriormente, definir a estrutura etária do caparari no sistema do rio Apure.

Considerando as subamostras selecionadas do baixo Llano, a

distribuição de freqüências das marcas de crescimento apresentou uma única

moda na marca 2 (Figura 7).

Número de marcas de crescimento

Figura 7. Distribuição das marcas de crescimento no otólito Asteriscus do


caparari no baixo Llano.

82
Definição da idade do caparari

Foi utilizado um sistema de determinação de idade que considera as

classes etárias de acordo com a data de captura, além de outros fatores. A

grande maioria das espécies de peixes da região neotropical sincroniza seus

ciclos reprodutivos com o pulso de inundação, coincidindo com o período da

enchente. Isto foi fundamental para selecionar arbitrariamente 1º de junho

como a data de aniversário. As marcas foram assinaladas a sua

correspondente classe etária, de acordo com a data em que o peixe foi

capturado, considerando a sua data de aniversário.

Tomando como referência os capararis nascidos em junho de 2001,

estes peixes marcaram seu primeiro anel em fevereiro de 2002, depois de 8

meses de vida (durante a seca), sendo designados como grupo etário “0”.

Deste modo, peixes capturados em maio de 2002 teriam uma marca de

crescimento, porém, ainda pertenceriam ao grupo etário “0”. Os peixes

capturados em junho 2002, por sua vez já teriam alcançado seu primeiro ano

de vida e seriam designados à classe etária 1. Por outro lado, aqueles peixes

capturados em abril de 2003 teriam duas marcas e ainda pertenceriam ao

grupo ”1+”. Se esses peixes fossem capturados em junho 2003, já teriam dois

anos de idade. Já os capararis capturados em junho de 2004 teriam duas

marcas e uma área de crescimento (2+) de modo que, em maio desse ano

poderia existir duas possibilidades: a) os peixes têm duas marcas e uma área

de crescimento; b) os peixes têm três marcas, mas continuam no grupo etário

dois. Esses mesmos peixes capturados em agosto de 2003 já pertenceriam ao

grupo “3” (Figura 8).

83
Figura 8. Estados de crescimento de otólitos. A linha sólida representa marcas
completas alternando-se com áreas hialinas representando áreas de rápido
crescimento. As linhas com traços são marcas incompletas. A área
intermédiaria (jul-dez) pode representar uma área nova de crescimento sobre a
margem do otólito. O terceiro estágio representa duas possibilidades, cuya a
marca pode ou não ter começado a formar um anel nesse ano.

Chave idade-comprimento

Depois de designar, em cada peixe amostrado, as marcas de

crescimento a uma determinada classe etária, foi possível definir a idade dos

indivíduos capturados pela frota comercial do rio Apure. Com base nestes

resultados, foi construída uma chave idade-comprimento que permitiu

transformar a distribuição dos comprimentos numa distribuição de idade

(Tabela 5).

A chave idade-comprimento foi construída sem fazer uma diferenciação

entre sexos, apesar de que, no capítulo V, foram estimados os parâmetros de

crescimento por sexos, principalmente porque as fêmeas são maiores e mais

abundantes que os machos (capítulo IV). Uma explicação poderia ser que os

machos são realmente menores que as fêmeas com a mesma idade, e não são

emalhados pelas redes de pesca.

84
Tabela 5. Chave idade-comprimento do caparari no baixo Llano, mostrando as
freqüências absolutas e relativas (sexos combinados).
Grupos idade 0 % I % II % III % IV % V % VI %
2003 2002 2001 2000 1999 1998 1997
Classes
Comprimento
10
15
20 11 100
25 39 100
30 52 100
35 77 96,3 3 3,7
40 27 77,1 8 22,9
45 12 24,0 33 66,0 5 10,0
50 6 12,2 35 71,4 8 16,3
55 3 4,6 52 81,3 9 14,1
60 1 2,2 18 40,0 24 53,3 2 4,4
65 6 12,8 32 68,1 9 19,1
70 7 20,0 12 34,3 12 34,3 4 11,4
75 7 21,9 4 12,5 15 46,9 5 15,6 1 3,1
80 4 19,0 6 28,6 3 14,3 7 33,3 1 4,7
85 1 5,8 2 11,8 0 0,0 11 64,7 2 11,8 1 5,8
90 5 35,7 1 7,1 2 14,3 5 35,7 1 7,1
95 0 0,0 2 25,0 4 50,0 2 25,0
100 1 20 1 20,0 2 40,0 1 20,0
105 1 50,0 1 50,0
110 1 100

Distribuição das classes etárias do caparari no Baixo Llano

Os resultados da distribuição etária do caparari no baixo Llano (sexos

combinados) apresentaram uma distribuição uni modal, porém para as classes

etárias dos anos 2001 e 2003, foram observadas baixas freqüências nos

extremos da distribuição. Por outro lado, observa-se na Figura 9 que uma

coorte que apresentou um alto recrutamento (>60%), dominando o resto das

classes etárias para esse ano, especificamente a classe de dois anos (coorte

2000) no ano 2002. Essa classe dominou as capturas desse ano. No ano

seguinte essa mesma coorte ainda continuava dominando as capturas (classe

etária 3) (Figura 9).

85
2001

Figura 9. Distribuição etária identificada na amostra do caparari no baixo Llano


nos anos 2001, 2002 e 2003.

Fatores sazonais que condicionam o crescimento

Análise do coeficiente de regressão da relação peso-comprimento.

A relação peso-comprimento calculado mensalmente para todos os anos

(sexos combinados) apresentou um coeficiente de correlação alto (r>0,94), o

coeficiente de regressão mostrou uma variação entre 2,81-3,21 e o erro padrão

variou de 0,01 a 0,07 (Tabela 6). Aparentemente, existe uma variação sazonal

do coeficiente de regressão, sendo baixo nos meses de janeiro e de fevereiro,

mostrando a diminuição do crescimento somático e início do crescimento

86
fisiológico, relacionado com o processo reprodutivo, já que, durante a

enchente, de abril a maio, os valores do coeficiente de regressão se

incrementam-se (Tabela 6). Igualmente foi observada uma queda dos valores

do coeficiente em outubro e em novembro.

Tabela 6. Relação peso-comprimento (w=a*Lb) do caparari por mês no baixo


llano (2000-2003). Onde: n= número de observações; a= intercepto na
ordenada; b= coeficiente de regressão; r= coeficiente de correlação; s.e. = erro
padrão de b; p= valor critico de probabilidade.
Meses N a b r s.e. p-critico
Jan 185 -5,405 3,21 0,94 0,057 <0,05
Fev 269 -3,648 2,91 0,95 0,071 <0,05
Mar 145 -4,036 2,97 0,96 0,048 <0,05
Abr 258 -4,327 3,19 0,97 0,056 <0,05
Mai 166 -5,241 3,16 0,97 0,042 <0,05
Jun 168 -5,128 2,81 0,98 0,048 <0,05
Jul 41 -3,648 3,05 0,95 0,071 <0,05
Out 92 -5,213 3,17 0,98 0,067 <0,05
Nov 277 -3,768 2,81 0,97 0,072 <0,05
Dez 186 -3,901 2,97 0,99 0,010 <0,05

Porém, a análise de covariância (sexos combinados) previa verificação

das homogeneidades das variâncias (χ20,05 [7]=14,07> Bartlett= 11,130), não

mostraram diferenças significativas entre os meses (F0,05 [12;356]=2,3120< Fobs=

1,09). Apesar disso, os coeficientes de regressão nos anos 2000 e 2002

observa-se uma pequena diminuição do coeficiente durante a vazante, entre os

meses de outubro e novembro (Figura 10).

87
2000

Figura 10. Variação mensal do coeficiente de regressão da relação peso-


comprimento do caparari nos anos 2000 e 2002 comparados com o hidrociclo
anual do rio Apure.

Análise do índice de condição do caparari na bacia do rio Apure

O fator de condição (K) para o período 2002-2003 (sexos e anos

combinados) apresentou pouca variação que pudesse estar associada a algum

padrão de mudança sazonal (Figura 11).

88
2002-2003

Figura 11. Variação mensal do índice de condição total (2002-2003) do caparari


no baixo Llano.

Porém, analisando esse índice por sexo para o período de 2000-2002

observa-se uma variação sazonal. Apesar da hetegeneidades das variâncias, o

que impossibilitou aplicar uma análise de variância, observa-se no gráfico da

Figura 12 que, para ambos os sexos, o índice de condição apresentou uma

queda ao longo do ano. No caso dos machos, o índice mostrou valores baixos

desde março até junho, sendo este comportamento mais pronunciado nas

fêmeas durante o mês de março. Essas quedas nos valores do índice de

condição foram observadas durante a enchente, tanto em fêmeas como em

machos.

89
Figura 12. Variação mensal do índice de condição por sexos (anos 2000-2002
combinados), comparados ao hidrociclo anual do rio Apure.

90
Estádios de maturação sexual

Juntando os valores dos estádios de maturidade sexual dos peixes do

alto e baixo Llano (1996-2003), foi observada uma baixa freqüência de

indivíduos em processo de maturação sexual (estágios I e II), porém, uma alta

freqüência de fêmeas ovadas (estagio III), ocorreu principalmente em fevereiro,

assim como de fêmeas prontas para a desova (estágio IV), nos meses de

março até maio (Figura 13).

Figura 13. Freqüência relativa mensal dos estádios de maturação sexual das
fêmeas de Caparari no sistema hidrográfico do rio Apure.

Como uma verificação da localização das áreas reprodutivas do

caparari, foram separados os valores das freqüências dos diferentes estádios

91
de maturidade sexual por áreas (alto e baixo Llano), conformando que, durante

o período da enchente, o caparari está em pleno desenvolvimento gonadal.

Por outro lado, foi observada uma alta freqüência de fêmeas nos

estádios III e IV, enquanto que, no baixo Llano, durante esse mesmo período a

freqüência de fêmeas maduras ou em processo de desova foi baixa ou nula

(Figura 14).

Figura 14. Freqüência relativa mensal dos estádios de maturação sexual das
fêmeas de Caparari durante a enchente no alto e baixo Llano.

92
O caparari inicia sua migração durante a vazante, como uma resposta a

mudanças nos ambientes. Porém, é possível que nem todos os indivíduos

adultos migram. Inclusive, durante a enchente, uma parte da população fica em

repouso reprodutivo no baixo Llano, como se evidencia na Figura 14.

Esse conjunto de informações sobre alguns aspectos reprodutivos do

caparari foi comparado com os relatos dos pescadores profissionais do rio

Apure (etno-conhecimento), observando-se uma interessante coincidência com

os resultados obtidos neste estudo.

Segundo os pescadores do baixo Llano, eles capturam o caparari

durante o período da vazante (outubro - dezembro) quando se inicia a

piracema e os caparari estão perseguindo os cardumes de curimatã, aracu e

pacu, entre outros. Ao se misturar com esses peixes, o caparari é capturado

durante a safra do coporo (Prochilodus mariae), pelas malhadeiras usadas na

calha do rio.

Os pescadores do alto Llano afirmam que, no início da enchente, todos

os peixes (não somente os capararis) estão ovados. Esse fato foi verificado

através de uma amostragem realizada nos meses de fevereiro a abril nos

principais mercados municipais do alto Llano, onde foi observado que quase

todos os peixes adultos de diferentes espécies estavam ovados.

Alguns pescadores do rio Portuguesa indicaram que a desova do

caparari deve acontecer no fundo das poças quase isoladas que se formam na

calha principal dos rios durante a seca no alto Llano, entre 150-200 m acima do

nível do mar, no sopé dos Andes, onde começam os leitos de pedra e seixo

dos rios.

93
DISCUSSÃO

No presente estudo foi utilizado o otólito Astericus do caparari para a

determinação da idade, por ser uma estrutura que permite uma fácil leitura dos

anéis de crescimento. Uma vez selecionada a estrutura calcificada, o próximo

passo foi o estabelecimento dos critérios para as leituras das marcas de

crescimento. Considerando que essas leituras dependem de julgamento

subjetivo do pesquisador, é importante que os critérios sejam mantidos ao

longo do trabalho (Holden & Raitt,1974; Brothers, 1983).

Por outro lado, uma caracterização tanto quantitativa como qualitativa

das marcas de crescimento foi realizada, assim como do padrão de marcação.

Na maioria dos casos, as marcas de crescimento não apresentaram um alto

grau de nitidez, porém um número relativamente alto de marcas simples

facilitou as leituras dos anéis. A presença de algumas marcas intermediárias

com pouca força de marcação parece não ter influenciado a interpretação do

ritmo de crescimento.

Determinação da idade

Um dos critérios utilizados para a determinação da idade é utilizar um

método de validação de idade, é dizer para determinar a cronologia das marcas

de crescimento em estruturas calcificadas e diminuir as possibilidades de erro.

Existem vários métodos, tanto diretos como indiretos, para a validação das

marcas de crescimento nos otólitos (Brothers,1990).

Entre os métodos usados para validar as marcas de crescimento em

peixes, a análise do incremento marginal é o mais prático e utilizado (Beamish

& McFarlane,1983). A validação da periodicidade na formação das marcas de

crescimento por méio do IMR requer uma amostragem representada por peixes

94
de diferente tamanhos, idades e sexos (Brothers, 1983). Geralmente, esta

condição é difícil de satisfazer. Por esse motivo, Campana (2001) sugere que a

validação da idade de uma espécie, através do IMR, deve incluir, no mínimo,

dois ciclos completos de modo que a sobreposição dos resultados possa definir

a validade do mesmo. Seguindo as recomendações deste autor, no presente

trabalho, a validação foi completamente estabelecida ao se analisar dados

correspondentes a três ciclos hidrológicos, sendo confirmada a periodicidade

anual de marcação nos otólitos entre fevereiro e março (período de seca),

coincidindo com a diminuição dos coeficientes de regressão da relação peso-

comprimento e do índice de condição, quando foi observada uma diminuição

significativa do ritmo de crescimento.

Crescimento sazonal

Na região amazônica, existem poucos trabalhos sobre a determinação

da idade em peixes baseada em estruturas calcificadas. E são menos, ainda,

os estudos com algum tipo de validação das marcas de crescimento. Alguns

trabalhos na região neotropical têm mostrado uma estreita relação entre o ciclo

hidrológico e o crescimento sazonal (Villacorta-Correa,1987,1997; Oliveira,

1997; Fabré & Saint-Paul,1998; Vieira, 1999; Perez, 1999; Alonso,2002;

Vieira,2003).

No presente estudo utilizando o metodo IMR, demonstra que o

crescimento dos otólitos do caparari está relacionado com o pulso de

inundação, ou seja, o caparari forma periodicamente, uma marca de

crescimento ao final da seca de cada ano. Isto também foi confirmado pelo

modelo de regressão periódica, mostrando que o crescimento do caparari foi

rápido durante a enchente, porém decresce em fevereiro durante a seca. Em

95
vários trabalhos publicados, alguns ciclos biológicos de espécies aquáticas,

têm sido analisados colocando num gráfico o nível de reposta ou a freqüência

de uma variável contra o tempo, proporcionando somente um teste visual

(análise qualitativa). Testes numéricos, como a análise de regressão periódica,

permitem conhecer a reposta biológica associada com diferentes períodos de

tempo (Fabré & Saint-Paul,1998). Esse método foi considerado como uma

poderosa ferramenta estatística para avaliar ciclos de taxas de crescimento e

foi utilizado para testar a hipótese da periodicidade de formação das marcas de

crescimento nos otólitos do caparari.

De acordo com os resultados observados na Figura 6, existem dois

momentos de menor crescimento. O primeiro, o mais evidente acontece em

fevereiro no final da seca, período de muito alimento disponível para grandes

predadores topos como o caparari, porém, também coincide com o periodo em

que os adultos estão amadurecendo as gônadas. O segundo momento é

menos intenso, e acontece durante a cheia, sem chegar a marcar um anel,

podendo estar relacionado com a falta de alimento, tendo em vista que as

presas estão espalhadas pela expansão dos ambientes aquáticos.

No entanto, poderíamos considerar que em anos de enchentes muito

intensas poderia chegar a produzir uma marca mais forte. Se esta idéia

pudesse ser confirmada no futuro, isto poderia ser um indicador dos efeitos de

prolongadas enchentes sobre as populações dos predadores como o caparari.

De fato espécies piscivoras de grande tamanho como Brachyplatystoma

rosseauxii foi confirmada a formação de duas marcas de crescimento por ano

(Alonso, 2002).

96
De acordo com Lowe-McConnell (1987), para os carnívoros a

disponibilidade de alimento declina na medida em que aumenta a área

inundável durante o período da cheia, e as presas estão mais dispersas onde a

competição pelo alimento torna-se uma fonte de estresse, limitando, assim, o

crescimento. Por outro lado, é difícil afirmar se as marcas de crescimento no

asteriscus do caparari podem variar de um tipo de ambiente a outro (lotico ou

lêntico) em função da disponibilidade de alimento, já que a avaliação do

crescimento não foi discriminada por tipo de habitat ou ambiente durante este

estudo (tanto no baixo como no alto Llano).

Essa periodicidade de marcação do caparari coincide com os resultados

encontrados para outras espécies de bagres, para os quais a formação das

marcas são indicativas da idade é anual como em Paulicea lutkeni (Reina et al.,

1995); Pseudoplatystoma fasciatum e Pseudoplastystoma tigrinum (Loubens &

Panfili,2000).

Welcomme (1992) considera três fatores que podem levar a uma

redução do ritmo de crescimento dos peixes: a temperatura, o pulso de

inundação e a reprodução. A migração pode também ser considerada como um

aspecto importante na alteração do crescimento dos peixes (Brett,1979).

Porém, no caso do caparari, uma combinação destes fatores caracterizados

pela escassez de alimento assim como a preparação fisiológica para

reprodução, pode alterar a taxa de crescimento durante a seca levando como

conseqüência a formação das marcas de crescimento. Inclusive mudanças no

regime alimentar devido a disponibilidade podem afetar o ritmo de crescimento,

como no caso de espécies evidentemente carnívoras como as piranhas

97
(Pygocentrus sp.), que eventualmente alimentam-se de frutas ou sementes

(Goulding, 1980).

Índices biológicos

O estudo comparativo dos índices biológicos com o nível do rio, ao longo

do ano, tem sido utilizado como um indicador de processos cíclicos, e sua

relação freqüentemente é utilizada para compreender o ciclo de vida de

espécies de peixes que habitam nas áreas alagáveis (Saint-Paul, 1984; Junk et

al.,1989; Reina et al., 1995; Oliveira, 1997; Villacorta-correa,1987 e 1997;

Fabré & Saint-Paul,1998).

Fatores abióticos e bióticos podem estar afetando mudanças nos

estádios de maturidades sexuais, freqüência alimentar, acumulação de gordura

cavitaria, proporção sexual, entre outros (Nikolsky, 1963). Portanto é comum

que na maioria das espécies, estas mudanças sejam sazonais, produto da

interação com o pulso de inundação (Henderson,1985; Junk et al.,1989; Junk,

1997).

Variação sazonal dos ciclos reprodutivos

A duração e a época de reprodução também constituem componentes

importantes nas estratégias de vida das espécies. A maioria dos peixes de

água doce da Amazônia apresenta sazonalidade no processo reprodutivo

(Lowe-McConnell,1987). O desenvolvimento das gônadas e a posterior desova

acontecem numa época em que as condições ambientais são favoráveis ao

desenvolvimento dos ovos ou larvas (Vazzoler, 1996). Para muitas espécies de

peixes de água doce do potamom, o ciclo reprodutivo está associado com o

nível do rio. A desova usualmente acontece entre a seca e o pico da cheia e

raramente durante a vazante (Welcomme,1992).

98
Os resultados do ciclo reprodutivo avaliado pela freqüência dos

diferentes estádios de maturidade sexual estão indicando que o caparari inicia

seu processo reprodutivo logo no início da enchente de fevereiro a junho.

Variação sazonal da relação peso-comprimento

A análise de covariância sobre os coeficientes de regressão da relação

peso-comprimento avaliado mensalmente, não mostrou diferenças

significativas. Esses resultados, quando são comparados com a variação

interanual do periodo1996-2003 (Tabela 6, Capítulo IV), evidenciam uma

variação significativa entre os coeficientes. Isto permite trazar um paralelismo

com a variação intra-anual dos coeficientes, mostrando uma diminuição nos

meses de janeiro-fevereiro e outubro-dezembro.

A explicação desta redução dos valores de “b” no início do ano pode ser

entendida pela contração dos ambientes aquáticos durante a seca, limitando a

oferta alimentar, ou pode estar relacionada com a migração de dispersão

durante a vazante, fato bem documentado em espécies de caracídeos, porém,

estudos mais detalhados seriam necesarios para uma melhor compreesão

destes parâmetros.

Variação sazonal do indice de condição (K)

O índice de condição (K) determina o período em que o peixe acumula

mais peso no corpo. Os valores médios mensais apresentaram pequenas

diferenças mensais, ao menos no baixo Llano. De nossos dados observa-se

que ao alongo de um período hidrológico, o fator de condição sempre se

manteve acima de um, indicando um alto grau de bem-estar do peixe. A

limitada variação sazonal observada pode ser atribuída à grande plasticidade

alimentar dessa espécie.

99
Apesar de que não existem pontos de referência biológico que considere

o fator de condição como um indicador valido no manejo pesqueiro, como a

mortalidade total rendimento otímo, entre outros (Caddy & Mahon,1995), este

indice é considerado como o equilíbrio homeostático ideal entre o tamanho e o

peso (Anderson & Gutreuter, 1983). O índice de condição usualmente está

baseado na análise da relação peso-comprimento (Bolger & Cnnolly, 1989) e

assume que um peixe mais pesado está em melhores condições “para um

determinado comprimento”. Biologicamente o índice de condição apresenta

como valor isométrico K=1, sendo que valores acima de um, representa uma

indicação ótima de bem-estar do peixe e um valor abaixo de um, uma condição

oposta.

De acordo com os estudos realizados na região neotropical para as

espécies de caracídeos, o fator de condição mostra uma marcada diminuição

durante a migração de dispersão e de reprodução (Villacorta-Correa, 1987;

Oliveira,1997; Fabré & Saint-Paul,1998; Vieira, 2003). No caso do caparari, não

foram observadas estas variações especialmente durante a migração de

dispersão (na vazante), porque o caparari aproveita esta época para se

alimentar dos cardumes de caracídeos como pacu, matrinxã, aracu, curimatã,

sardinha, entre outros (Reid,1983, Castillo et al.,1988; Arboleda, 1989;

Barbarino et.al, 1999).

A variação sazonal destes “fatores biológicos” (ciclo reprodutivo, índice

de condição, entre outros) e sua relação com o crescimento, já haviam sido

observadas para várias espécies da Amazônia Central, como matrinxã

(Villacorta-Correa, 1987); curimatã (Oliveira, 1997); aracu (Fabré & Saint-Paul,

1998) e jaraqui (Vieira 2003).

100
Considerando que o caparari forma uma marca por ano no otólito, a

determinação da idade da população sexualmente madura é possível, o

período de redução do crescimento está relacionado com o início do processo

reprodutivo e com a menor disponibilidade de alimento. Em paralelo, observa-

se uma correlação direta entre os processos biológicos e as flutuações

sazonais do nível do rio, gerando marcas que podem ser causadas por um

único fator.

Em função das informações reunidas ao longo do presente capitulo, o

caparari representa um bom exemplo de como os peixes respondem às

variações sazonais de seu habitat, seguindo um conjunto de regras que

maximizam a reprodução e a sobrevivência. Por isso, é necessário

complementar tais informações biológicas com dados sobre a estrutura e a

dinâmica populacional, a fim de permitir conhecer melhor o ciclo de vida e o

padrão de migração, aspectos que serão abordados no capítulo seguinte.

101
CAPÍTULO IV
VARIAÇÃO ESPACIAL E TEMPORAL DA ESTRUTURA POPULACIONAL E
CICLO DE VIDA DO CAPARARI NO RIO APURE

INTRODUÇÃO

Entender o ciclo de vida de uma espécie representa um elemento

importante no estudo da dinâmica populacional, já que, sem um conhecimento

prévio deste ciclo, não é possível compreender sua dinâmica (Harden-

Jones,1970; Fontele-Filho,1989; Gulland,1983; King,1995; Sparre &

Venema,1995). Nesse sentido, informações sobre a localização das áreas de

reprodução, criação e de alimentação, assim como o deslocamento entre elas

(migração) por parte da espécie alvo representam parte fundamental para o

entendimento de seu ciclo de vida (Caddy & Sharp, 1986).

A migração envolve “um deslocamento dos peixes produto da mudança

de dois ou mais habitats separados ocorrendo periodicamente, onde participa

uma grande proporção da população” (Northcote,1984). A migração se

diferencia-se de outros tipos mais difusos de movimentação, pelo fato de que a

migração é uma parte integralmente do ciclo de vida da espécie implicado no

deslocamento entre os habitats essenciais separados no espaço e no tempo

(Poulsen et al.,2002). Freqüentemente, os deslocamentos dos peixes são

direcionados por mudanças sazonais do ambiente. Portanto, esses

deslocamentos dependem de uma ampla variedade de habitats e da sua

distribuição nas regiões geográficas (Poulsen et al.,2002; VanZalinge et al.,

2002; Poulsen et al.,2004).

102
Aspectos como os que foram mencionados anteriorermente mostram

que a migração dos peixes, dentro de um contexto ecológico, não pode ser

avaliada sem conhecer adequadamente os habitats essenciais ou os

ambientes onde esses habitats estão inseridos (Poulsen et al., 2002). A

separação espacial dos habitats críticos para o desenvolvimento do ciclo de

vida das espécies dentro do sistema do rio Apure seria a principal causa para

as migrações dos peixes (VanZalinge et al., 2002).

Freqüentemente as rotas de migração e a posição espacial das áreas de

desova favorecem a sincronia dos eventos ambientais e hidrológicos que se

repetem no tempo, para garantir que os ovos e as larvas encontrem os habitats

adequados para seu desenvolvimento (Poulsen et al., 2002). O pulso de

inundação durante o período da enchente é a forca que direciona a dinâmica

dos ecossistemas aquáticos dos rios tropicais (Junk,1997). No rio Apure, como

em qualquer outro rio com planícies inundáveis, os ambientes aquáticos

sazonais de savanas inundáveis criados pelo pulso de inundação constituem a

principal área de produção de peixes.

Mesmo conhecendo alguns indícios sobre as rotas migratórias do

caparari no sistema hidrográfico do rio Apure, não existem informações sobre o

impacto na parcela da população que está sendo pescada. Por isso, ao longo

do presente capítulo, as informações disponíveis para o alto Llano foram

comparadas espacial e temporalmente para o baixo llano. Neste contexto,

foram avaliadas algumas características populacionais, com o objetivo de

relacionar essas informações com o padrão de migração da espécie, para

fornecer elementos no manejo sustentável deste importante recurso pesqueiro.

103
MATERIAIS E MÉTODOS

Coleta de dados

Os dados biológicos (comprimento furcal, peso eviscerado, sexo e

estádio de maturação sexual) do caparari foram obtidas de diversas fontes:

a) os dados do alto Llano foram obtidos nos mercados municipais, próximos

dos tributários do rio Apure, tais como: Sarare, Caparo, Guanare,

Portuguesa e San Carlos (n=211), durante o período 2002-2003.

b) os dados do baixo Llano foram disponibilizados pelo Aniello Barbarino da

Estação Experimental do Instituto Nacional de Investigações Agropecuárias

(INIA), a partir do banco de dados dessa instituição, para os anos 1996-

2001 (n=2488).

E complementados com uma amostragem mensal durante o período 2002-

2003 para sua atualização (Figura 1).

Rio San Carlos

Rio Portuguesa

Rio Guanare

Rio Caparo
San Fernando

Rio Sarare

Figura 1. Localização das áreas de amostragem do caparari, correspondente


ao alto e baixo Llano do sistema hidrográfico do rio Apure.

104
Análise de dados

Distribuição espacial e temporal das freqüências de comprimento

Foram obtidas as distribuições de freqüência dos comprimentos dos

peixes por área, ano e sexo. As distribuições resultantes foram comparadas

entre si avaliando-se média, variância, moda, coeficiente de variação, curtose e

assimetria (Sokal & Rohlf, 1981; Zar, 1996).

Para verificar a variabilidade temporal e espacial dos comprimentos de

captura do caparari, foram realizadas duas análises de variância (one-way),

usando-se como fator os anos (no baixo Llano) e os tributários do rio Apure (no

alto Llano). Para determinar o ano e tributário em que ocorreram os menores

valores de comprimento médio e que apresentaram diferenças significativas, foi

aplicado o teste LSD (Least Significant Differences), calculando-se os

correspondentes intervalos de confiança (Sokal & Rohlf, 1981; Zar, 1996).

Foi ainda, realizada uma decomposição das distribuições anuais dos

comprimentos através de uma análise das modas para o baixo Llano,

utilizando-se o método de Battacharya do programa FISAT 1.13 (FAO-

ICLARM).

Variação espacial e temporal da Relação peso-comprimento

A fim de comparar o tipo de crescimento que o caparari apresenta em

cada um dos tributários estudados e ao longo dos anos, foi calculada a relação

peso-comprimento expressa pela função potência:

W= a*L b
Onde:
W= peso eviscerado (g)
a= intercepto da ordenada
b= coeficiente de regressão
L= Comprimento furcal (cm)

105
Para detectar alometria no crescimento da espécie, foi aplicado o teste t

de Student, proposto por Pauly (1984) para machos, fêmeas e sexos

combinados terão como hipotesis Ho: b=3, H1: b≠3

dp(x) b-3 
t = ------------ * ------------ * √ n-1
dp(y) √ 1-R2
Onde:
dp(x) = desvio padrão do ln do comprimento furcal
dp(y) = desvio padrão do ln do peso eviscerado
n = número de observações
r = coeficiente de correlação do ln do comprimento furcal e peso eviscerado
b = coeficiente de regressão do ln do comprimento furcal e peso eviscerado

Utilizou-se uma análise de covariância (ANCOVA) para verificar a

existência de diferenças temporais entre os coeficientes de regressão (b) da

relação peso-comprimento dos peixes estimados por ano, no período 1996-

2002. Todas as análises foram feitas considerando os peixes de similar

amplitude de tamanho para cada ano (Zar,1996).

Variação espacial e temporal dos comprimentos ótimos e de maturidade


sexual

A fim de mostrar o efeito da pesca sobre o tamanho dos peixes, para

cada área do alto Llano e cada ano do baixo Llano, foram estimados o

comprimento médio de maturidade sexual (L50) e o comprimento ótimo (Lopt),

derivadas do comprimento infinito (L∞): L∞= Lf máx obs/0,95 (Pauly,1983),

valor que depois foi utilizado nas equações empíricas de Binolhan & Froese

(2000).

Log(L50) = 0,8979 * log(L∞) – 0,0782 (sexos combinados)

Log(Lopt) = 1,0421 * log(L∞) – 0,2742 (sexos combinados)

106
Variação espacial e temporal da proporção sexual

Para comparar a proporção sexual do caparari ao longo dos tributários

(alto Llano) e por anos (baixo Llano), foi testada a hipótese H0: a proporção

sexual é independente da área ou do ano; hipótese H1: a proporção sexual é

dependente da área ou do ano, utilizando o teste de independência R x C

através de uma tabela de contingência (fila 8 x coluna 2) aplicando o estatístico

G (Sokal & Rohlf, 1981).

Foi testada a hipótese nula (H0:) de proporção sexual 1F=1M, para o

total, por tributários e por anos. Para a confirmação desta hipótese, foi

considerada uma distribuição binominal; H0: pF:qM = 0.50, calculando-se a

estatística G para ambos os casos. Quando o tamanho da amostra fosse

menor que 200, a estatística G foi ajustada pela correção de Wiliams (Sokal &

Rohlf, 1981).

Distribuição espacial e temporal das classes de idades

Para a análise da distribuição das classes de idades foi seguida a

metodologia proposta por Chugunova (1963) e Holden & Raitt (1974). Segundo

a qual uma sub-amostra, é tomada da amostra, representando cada uma das

classes de comprimentos dos peixes capturados e designados para um

determinado grupo de idade. Esta informação é organizada em tabelas idade-

comprimento, calculando a freqüência dos indivíduos em cada grupo de idade

nas correspondentes classes de comprimentos.

107
RESULTADOS

Distribuição espacial dos comprimentos do caparari no Alto Llano

Com base nos dados de comprimento furcal de indivíduos coletados em

cinco localidades do alto Llano, correspondentes ao período 2002-2003, os

tamanhos variaram entre 37 e 110 cm. As maiores modas dos comprimentos

do caparari ocorreram nos rios Sarare e Caparo (Tabela 1 e Figura 2). De

forma geral, o menor valor médio dos comprimentos foi observado no rio San

Carlos (47,93 cm) e o maior no rio Caparo (72,08 cm). Os valores do

coeficiente de variação não apresentaram grandes mudanças (17-19%)

(Tabela 1).

Tabela 1. Estatísticas descritivas do comprimento furcal dos caparari


capturados no alto Llano. Onde: x= media; Mo= moda; σ= desvio padrão; CV=
coeficiente de variação;; n= observações.
Tributários x Mo σ CV N
Caparo 72,08 60,00 13,51 18,74 22
Sanare 60,23 71,50 10,34 17,17 92
Guanare 56,00 52,00 11,10 17,92 43
Portuguesa 53,00 49,00 8,29 17,38 83
San Carlos 47,93 48,00 9,13 17,23 49
Media 57.84 55.30 10.54 17.80

Destes resultados podemos observar que existe uma variação espacial

das modas e médias entre estes tributários no sentido San Carlos-> Caparo,

senão que nesta última localidade foram incorporadas novas modas que

representam os indivíduos de maior tamanho. Esta variação pode estar

relacionada com a integridade biótica dos ecossistemas destes tributários,

sendo baixa nos rios Guanare, Portuguesa e San Carlos onde a pressão

pesqueira é mais intensa que nos restos dos tributários do sistema hidrográfico

do rio Apure.

108
Figura 2. Distribuição das freqüências de comprimento no alto Llano (sexos
combinados).

109
Distribuição temporal dos comprimentos do caparari no Baixo Llano

A comparação dos comprimentos médios de captura entre 1996-2003

revela uma diminuição dos comprimentos médios de captura, sendo maior em

1996 (73,63 cm) e menor em 2002 (56,61 cm) (Tabela 2 e Figura 2).

Tabela 2. Estatísticas descritivas do comprimento furcal anual do caparari no


baixo Llano. Onde: x= média; Mo= moda; σ= desvio padrão; CV= coeficiente de
variação ; n= observações.

Anos x Mo σ CV n
1996 73,63 82,0 13,356 18,13 204
1997 64,77 70,0 13,264 20,47 929
1998 62,02 60,0 11,485 18,51 301
1999 75,37 72.5 11,230 14,89 466
2000 62,87 49,0 19,228 30,58 202
2001 59,02 45,4 19,495 33,03 100
2002 56,61 49,0 18,430 32,56 204
2003 60,14 45,0 13,272 22,07 187
Media 64,31 59,11 11,630 23,78

Entre os valores modais, observou-se tendência de diminuição das

modas dos comprimentos, de 1996 (82 cm) até o ano 2003 (45 cm). Os valores

do coeficiente de variação para cada ano mostraram uma relativa dispersão

dos dados com relação à média, com valores baixos entre os anos 1996 e

1999, aumentando a partir do ano 2000 (Tabela 2).

Foi verificada a homogeneidade das variâncias dos comprimentos

médios (χ20,05 [7]=11,81>Bartlett= 8,87). O resultado da ANOVA (one way)

usando os anos como fator mostrou diferenças significativas (F0,05 [7; 3586]=

2,012< Fobs = 33,92) entre os comprimentos medios. Igualmente, o teste (LSD)

revelou que os anos 1997, 1998, 2001 e 2002 apresentaram diferenças

significativas, entre os comprimentos meios anuais (Tabela 3), com progressiva

diminuição dos comprimentos médios dos (Figura 3).

110
Tabela 3. Resultados das probabilidades do teste LSD da comparação dos
comprimentos do caparari entre os anos no baixo Llano.
Fator 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003
Média geral
1996
1997 4,1E-15
1998 2,1E-18 0,0046
1999 8,2E-08 0,0007 2,5E-07
2000 7,0E-17 0,0735 0,26908 9E-06
2001 3,1E-30 1E-09 0,12005 2E-18 0,00166
2002 0,000 2E-13 2,3E-05 4E-20 4E-08 0,0004
2003 5,4E-13 0,0047 0,28952 2E-05 0,07141 0,8298 0,0456

Figura 3. Distribuição da variação do comprimento médio anual (sexos


combinados) do caparari no baixo Llano.

A decomposição das distribuições de comprimento por ano para o baixo

Llano resultou numa distribuição tri-modal, para a maioria dos anos analisados

(Figura 4). Uma moda entre as classes 40 e 55 cm (grupo 2) e outra entre os

comprimentos 60 e 110 cm (grupos 3-5), para os anos 1997, 1998 e 2000; O

ano 1999 poderia ser inserido neste grupo, porém as freqüências dos

comprimentos da primeira moda são muitos baixos. A distribuição dos

111
comprimentos para 1999 mostrando uma clara distribuição unimodal. No ano

2002 houve uma pequena amostra de peixes do grupo 1, mas nos anos 1996;

2001 e 2003 foi possível distinguir três grupos de tamanhos (2, 3, 4 e 5),

possivelmente representando diferentes coortes.

Figura 4. Variação temporal da distribuição das freqüências de comprimentos


do caparari em cada ano no baixo Llano.

A estatística associada às distribuições dos comprimentos do caparari

analisadas por sexo e por ano, mostrou que os comprimentos médios das

fêmeas são maiores que o dos machos, com exceção dos anos 2000 e 2003.

112
As diferenças entre as médias oscilaram entre 4 e 12 cm dependendo

do ano, mas nas modas estas diferenças foram mais evidentes. Em ambos os

grupos, não entanto, foi observado aumento do coeficiente de variação ao

passar dos anos, o que possivelmente está relacionado com a diminuição do

número de observações (Tabela 4).

Tabela 4. Estatísticas descritivas do comprimento furcal do caparari por sexo e


ano, no baixo Llano. Onde x= média; Mo= moda;σ= desvio padrão; CV=
coeficiente de variação; n= observações.
Período Sexo x Mo σ CV n
1996 Machos 79,97 76 14,47 18,09 195
1996 Fêmeas 84,87 86 14,87 17,52 115
1997 Machos 67,29 72 14,55 21,63 720
1997 Fêmeas 73,58 78 14,40 19,56 608
1998 Machos 67,85 67 12,29 18,12 294
1998 Fêmeas 68,54 70 11,84 17,28 171
1999 Machos 73,34 72 11,84 19,15 575
1999 Fêmeas 75,37 72 11,23 14,90 466
2000 Machos 67,58 49 17,63 26,09 386
2000 Fêmeas 62,22 49 19,22 28,17 310
2001 Machos 58,88 44 23,75 39,67 99
2001 Fêmeas 78,65 68 16,25 20,67 98
2002 Machos 56,94 57 15,97 20,06 55
2002 Fêmeas 59,57 59 19,67 33,02 47
2003 Machos 70,47 77 13,90 19,72 12
2003 Fêmeas 63,93 49 16,26 25,44 15

Variação espacial e temporal dos coeficientes de regressão da Relação


peso-comprimento.

Para a relação peso-comprimento os valores dos coeficientes de

regressão mostraram uma pequena variação (2,59-3,72) no alto Llano.

Verificou-se a homogeneidade das variâncias dos comprimentos (χ20,05

[5]=11,07> Bartlett= 5,948) entre os principais tributários do rio Apure (alto

Llano). A análise de covariância (ANCOVA) mostrou diferenças significativas

entre as declividades das regressões de cada tributário (F0,05 [5, 412]=3,760<

Fobs= 1981,46) (Tabela 5). Por outro lado, teste t-student indicou alometrias

113
positivas (b>3) nos rios Sanare, Caparo, Portuguesa e San Carlos alometria

negativa (b<3) no rio Guanare (Figura 5).

Tabela 5. Relação peso comprimento (w=a*Lb) do caparari por tributário,


mostrando n= número de observações a= intercepto da ordenada; b=
coeficiente de regressão; r= coeficiente de correlação; s.e. = erro padrão de b;
p= valor critico de probabilidade. (sexos combinados).
Tributário a b r σ n p-critico
Sanare -7,948 3,726 0,9336 0,5683 92 <0,05
Caparo -5,646 3,235 0,9707 0,1499 22 <0,05
Guanare -3,170 2,617 0,8225 0,5340 43 <0,05
Portuguesa -5,975 3,391 0,9617 0,1054 83 <0,05
San Carlos -7,158 3,590 0,9358 0,2411 49 <0,05
Media -5,519 3,192 0,929 0,2801 361

Figura 5. Variação do coeficiente de regressão da relação peso comprimento,


com seus intervalos de confianças separados por tributário no alto llano.

A relação peso comprimento calculada por anos (sexos combinados) no

baixo Llano (Tabela 6), mostrou um coeficiente de correlação alto (r>0.82), e o

coeficiente de regressão apresentou uma variação entre 2,97 e 3,33.

A análise de covariância (sexos combinados) previa verificação das

homogeneidades das variâncias (χ20,05 [7]=14,07> Bartlett= 11,130). Os

114
resultados mostraram diferenças significativas entre os anos (F0,05

[3;3050]=2,120< Fobs= 179,09), sendo que os coeficientes de regressão

apresentaram uma diminuição progressiva dos valores conforme passam os

anos (Tabela 6).

Tabela 6. Relação peso comprimento (w=a*Lb) do caparari por sexo, no baixo


Llano (1996-2002), mostrando: n= número de observações; a= intercepto da
ordenada; b= coeficiente de regressão; r= coeficiente de correlação; s.e. = erro
padrão de b; p= valor crítico de probabilidade.
Anos a b r σ n p-crítico
1996 -6,095 3,33 0,9483 0,0802 456 <0,05
1997 -5,128 3,16 0,9364 0,5683 928 <0,05
1998 -4,744 3,07 0,9707 0,1499 300 <0,05
1999 -4,533 3,02 0,8225 0,5340 613 <0,05
2000 -4,371 2,97 0,9617 0,1054 243 <0,05
2001 -4,764 2,93 0,9010 0,1763 123 <0,05
2002 -4,187 2,91 0,9649 0,2809 204 <0,05
2003 -4,965 3,01 0,9754 0,1432 183 <0,05
media -4,848 3,05 0,9350 0,2551 3050 <0,05

A relação peso comprimento obtida para o total (1996-2003) foi utilizada

para determinar o tipo de crescimento da parcela da população do caparari que

está sendo pescada. O teste t demonstrou que o coeficiente de regressão não

foi significativamente maior que [b=3] (tα0,05>1,96), indicando crescimento

isométrico. Esta confirmação do crescimento isométrico do caparari, valida a

utilização dos modelos de avaliação de estoques que serão tratados no

capitulo V.

Variação espacial e temporal do comprimento médio de maturidade


sexual (L50), e Comprimento ótimo (Lopt).

Para o alto Llano foi observado que os valores mais baixos do

comprimento médio de maturidade sexual (L50) se registraram nos rios

Portuguesa, guanare e San Carlos. Igualmente o comprimento de peso ótimo

115
(Lopt) do caparari, também foi baixo para estes rios. Em quanto que os rios

Caparo e Sarare apresentaram os valores mais altos tanto do (L50) como do

(Lopt) (Tabela 7).

Tabela 7. Resumo dos comprimentos médios de maturidade sexual (L50) e do


comprimento ótimo (Lopt) do caparari para o alto Llano (sexos combinados).
Localidade Caparo Sarare Guanare Portuguesa San Carlos
L50 56,40 50,70 46,80 42,50 47,10
Lopt 70,60 62,40 58,30 50,20 50,90

Os resultados da variação temporal do (L50) e (Lopt) no baixo Llano

mostrados na tabela 8, evidenciam que durante o período 1996-2003 no baixo

llano, os valores do L50 e Lopt, se mantiveram entre 56-65 cm e 62-84 cm,

respectivamente sem mostrar um padrão definido.

Tabela 8. Resumo dos comprimentos médios de maturidade sexual (L50) e


rendimento ótimo (Lopt) do caparari para o baixo Llano durante o período 1996-
2003 (sexos combinados)
Anos 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003
L50 56,82 56,35 50,68 59,16 65,65 56,82 58,23 53,52
Lopt 71,26 70,58 62,40 74,68 84,26 71,26 73,31 66,48

Variação espacial e temporal da proporção sexual

A hipótese de proporção sexual 1F:1M foi rejeitada para o caparari do

alto Llano (χ20,05[1]=3,84< Gobs= 71,64), sendo a relação de proporcionalidade

de 1,10:0,90 a favor das fêmeas. No baixo Llano, esta hipótese também foi

rejeitada (χ20,05[1]=3,84<Gobs=101,44) sendo, neste caso, a relação de

proporcionalidade, de 1,20:0,80 a favor das fêmeas.

Esta mesma análise da proporção sexual utilizando o teste G foi

aplicada no alto Llano para avaliar a existência de diferenças significativas

entre os tributários (Tabela 9). Os resultados continuam indicando um

116
predomínio das fêmeas durante o período (2002-2003). A relação de

proporcionalidade para o total dos peixes de ambos os sexos foi de 1,36:0,64 a

favor das fêmeas. (χ20,05[1]=3,84< Gobs= 26,39).

Tabela 9. Resultados da aplicação do teste G para testar a independência da


proporção sexual do caparari com relação aos tributários no alto Llano no
período 2002-2003.
Tributários F M Total G Gcorr p-critico
San Carlos 30 12 42 7,97 7,88 ***
Portuguesa 34 19 53 4,30 4,26 ***
Guanare 28 13 41 5,62 5,55 ***
Sanare 24 12 36 4,08 4,02 ***
Caparo 16 5 21 6,06 5,92 ***
*** diferenças significativas

A proporção sexual no baixo Llano, avaliada no período 1996-2003,

indicou a existência de diferenças significativas nos anos 1996, 1997, 1998,

1999 com predomínio das fêmeas. Porém, a partir de 2000 não se evidenciou

diferença significativa (Tabela 10).

Tabela 10. Resultados da aplicação do teste G para testar a independência da


proporção sexual do caparari com relação aos anos no período (1996-2003)
Ano F M Total G p-critico
1996 115 195 310 20,88 ***
1997 714 382 1096 102,17 ***
1998 109 154 263 7,74 ***
1999 466 145 611 177,41 ***
2000 218 173 391 5,19 ***
2001 98 99 197 0,01
2002 47 55 102 0,63
2003 115 112 227 0,04
*** diferenças significativas

Distribuição espacial das classes etárias do caparari no alto Llano

Usando a extrapolação das idades designadas aos caparari da sub-

amostra para o total dos peixes amostrados, os resultados indicam que mais de

70% dos capararis capturados no alto Llano tinha entre dois e três anos, e que

estas classes etárias representaram mais de 80% das capturas (Figura 6).

117
Figura 6. Variação espacial da estrutura etária do caparari nos principais
tributários (alto Llano) do rio Apure no período 2001-2003.
Nos rios Guanare e San Carlos predominaram os indivíduos de dois

anos, diferenciando-se dos rios Sarare e Caparo, nos quais as classes de dois,

três e quatro anos se tornam mais importantes assim como também se observa

118
um incremento progressivo das classes etárias cinco e seis, principalmente no

rio Caparo (Figura 6). Os tributários Guanare, Portuguesa e San Carlos

apresentaram valores com baixas freqüências para as classes etárias maiores.

Distribuição temporal das classes etárias do caparari no Baixo Llano.

Os resultados da distribuição etária do caparari no baixo Llano (sexos

combinados) durante o período 1996-2003 (Figura 7), demonstraram que a

maioria dos indivíduos (>60%) capturados pela frota comercial em 1996 tinha

três anos de idade, com amplitude total entre três e sete anos.

A partir do ano 2000 observa-se uma mudança no padrão da estrutura

etária das capturas do caparari no baixo Llano determinada pelo incremento

das classes etárias menores, isto é, classes zero, um e dois. (Figura 7).

Entretanto somente para o ano 2002 a moda ficou na classe etária dois.

Comparando as distribuições etárias entre o alto e o baixo Llano

observa-se que os peixes dos rios Caparo e Sarare apresentaram um padrão

diferenciado em relação ao demais tributários do alto Llano, porém, com

similaridades aos do baixo Llano pela presença de exemplares maiores.

119
Figura 7. Variação temporal distribuição etária do caparari no baixo Llano no
período 1996-2003.

120
DISCUSSÃO

O conhecimento da estrutura de uma população proporciona uma visão

das mudanças nas abundancias no espaço e no tempo, refletido estas

mudanças na estrutura etária sempre que as distribuições das idades sejam

estáveis (Pianka,1970; Rickleffs, 1993). Porém, as espécies existem sob

condições continuamente variáveis de modo que a estrutura da população

pode variar dentro de certos limites como uma resposta adaptativa às

mudanças periódicas do ambiente (Spencer & Collie, 1997).

Estas variações e adaptações podem ser avaliadas, entre outros fatores,

pela composição de tamanhos uma vez que o comprimento é a característica

demográfica mais importante para as espécies de peixes, pois ele determina

varios processos ecológicos (predação, competição, nível trófico, mortalidade),

pesqueiros (aparelhos de pesca, seletividade) e de manejo (aversão ao risco)

(Pauly,1998; Stergiou, 1998).

Distribuição espaço temporal dos comprimentos

Para o caso do caparari, a análise da estrutura dos comprimentos, tanto

no alto como no baixo Llano, têm mostrado características diferenciadas para

cada setor. No caso do alto Llano, foi observado que a composição dos

tamanhos nos principais tributários da bacia do rio Apure, tem uma alta

proporção de indivíduos entre 50-70 cm. Somente os rios Caparo e Sarare

apresentaram maior proporção de indivíduos >70 cm. Já para o baixo Llano, foi

observada uma ampla gama de tamanhos entre os 20 e 100 cm de

comprimento furcal.

Para o baixo Llano, foram registrados peixes entre 20 e 110 cm com

maiores freqüências entre 60-70 cm. Estas diferenças são confirmadas ao se

121
observar às modas no alto Llano, aumentando comparativamente na medida

em que a amostragem foi realizada mais longe da desembocadura do rio Apure

no rio Orinoco. Por sua vez, as modas no baixo Llano mostraram tendência de

ir diminuindo durante três anos seguidos, se recuperando e seguindo outro

ciclo similar.

Isto significa que espacialmente a pesca comercial deve estar exercendo

a maior pressão de exploração nos rios San Carlos, Guanare e Portuguesa, em

quanto que nas outros tributários (Sarare e Caparo) não apresentam altas

taxas de exploração. Portanto, a pesca não apresenta uma ameaça no curto

prazo para a manutenção do recurso. No caso do baixo Llano, existe uma

diferença caracterizada pelas amplas áreas de várzeas desta região, que

permite que o sistema ecológicos destes ambientes tenha uma maior resilencia

à perturbações humanas. Porém, cada ano é mais intensa, as alterações

introduzida pelo homem com as modificação da paisagem pelas tapas

(barragens para o controle da inundação) e pela pesca com agrotóxicos

(Novoa, 1996).

A forte pressão da pesca sobre o caparari seria o motivo principal da

diminuição dos comprimentos. A diminuição do tamanho médio em populações

de peixes submetidas à exploração tem sido observada por Haedrich & Barnes

(1997); Ault et al. (1998); Babcock et al.(1999), entre outros. Vários autores têm

mostrado esse efeito da pesca sobre a estrutura de tamanho e o comprimento

médio de captura (Lm) e de maturação sexual (L50) principalmente para as

espécies marinhas das regiões temperadas (Froesen & Pauly, 1998; McAllister

et al., 1992; Beacham, 1983; Zwanconberg, 2000).

122
Por isso, o comprimento médio tem sido recomendado como um ponto

de referência, pois este indicador poderia ser mantido mais alto que o

comprimento médio de maturação sexual, garantindo que ao menos 50% dos

indivíduos de uma coorte consigam reproduzir pelo menos uma vez (Caddy &

Mahon 1995; Rochet , 1998; Rochet & Trenkel, 2003).

Além da pesca o comprimento médio nas capturas do caparari pode

sofrer a influência de fatores ambientais que afetam o crescimento ou a

longevidade, ou outros fatores podem estar afetando esta diminuição dos

comprimentos (poluição, alteração do habitat, agrotóxicos, etc.).

Este efeito da pesca é chamado tropicalização dos estoques. Isto é, os

peixes adquirem características próprias da maioria das espécies tropicais

(rápido crescimento, tamanho pequeno e maturação sexual precoce) quando

são intensamente exploradas (Stergios, 2002).

Os dados de níveis de produção estão mostrando, ao menos

indiretamente, que a pesca seria a principal responsável pela redução dos

comprimentos médios do caparari (SARPA,1996). Isto sem considerar outros

aspectos antropicos ambientalmente estressantes como alteração do leito dos

rios (Rabinovich & Novoa,1982); poluição das águas com biocidas (Novoa,

1996), ursinas hidroelétricas (Balon & Coche,1974; Rabinovich & Novoa,1982;

Leite & Bittencourt,1991), entre outros que sem duvida alguma, também

contribuem com a redução das capturas. Contudo é provável que no caso do

caparari, a “tropicalização” esteja começando a introduzir fortes mudanças na

estrutura populacional passando de uma sobrepesca de crescimento a uma

sobrepesca de recrutamento, com conseqüências negativas para a

123
sustentabilidade deste recurso, se medidas de manejo não forem tomadas a

tempo de reverter esta situação.

Lebedev (1969) indicou que a distribuição de tamanhos de uma espécie

em diferentes locais da sua área de distribuição pode ser um indicador de

pequenas mudanças na composição dos tamanhos dos peixes capturados pela

pesca comercial. Sendo homogênea em cada local representariam uma

condição ambiental ou fisiológica particular.

Análise espaço temporal das classes etarias

Alguns autores consideram que a estrutura populacional de uma

determinada espécie é própria podendo refletir as relações entre essa

população e o ambiente (Severtov apud Nikolsky, 1969). Mesmo assim, as

espécies existem sob condições continuamente variáveis, de modo que a

estrutura da população pode variar dentro de certos limites como uma resposta

adaptativa às periódicas mudanças do ambiente (Pianka, 1982; Spencer &

Collie, 1997).

As distribuições normais obtidas pelo método de Battachayra indicaram

a presença de um grupo etário predominante (>50%) nos rios Guanare,

Portuguesa e San Carlos (grupo 2), assim como no rio Sarare (grupo 3).

Para o baixo Llano foram identificados cinco grupos etários, o grupo 1

apenas apareceu nas amostras do ano 2002, já os grupos 2 e 3 seriam aqueles

onde a pesca estaria explorando mais intensamente durante os oito anos

analisados.

Desta forma é oportuno discutir alguns aspectos sobre a estrutura etária

do caparari no sistema do rio Apure, que permitam entender seu ciclo de vida

e a sua interação com a pesca.

124
A composição de uma população pode ser representada pelo número e

peso dos indivíduos em cada grupo de idade ou de comprimento, podendo-se

considerar também a quantidade de adultos sexualmente maduros e a

proporção sexual, tanto de forma geral como dentro de grupos de

comprimentos (Nikolsky,1969).

As distribuições etárias, tanto do alto como baixo Llano, resultaram

similares, com a exceção dos rios Guanare, Portuguesa e San Carlos no alto

Llano onde predominando a classe etária de dois anos esta dominância pode

ser explicada pela intensa atividade humana nesta área (desmatamento,

barragens pesca, etc.). Já no baixo Llano pela baixa densidade populacional e

uma grande extensão hidrográfica poderia explicar a permanência também de

espécimes de grande tamanho.

De modo que podemos concluir que no sistema hidrográfico do rio

Apure, as classes etárias do caparari são menores no baixo Llano e maiores no

alto Llano. Uma conclusão similar foi advertida por Barbarino (no prelo). Desta

forma, a composição de idade do caparari esta indicando que a pesca esta

atuando sobre um único estoque, corroborando os resultados obtidos no

capitulo II.

A análise da variação da estrutura etária do caparari no baixo Llano

durante o período 1996-2003, revela as mudanças da contribuição de cada

coorte, observando-se que as classes etárias 5-7 estão progressivamente

diminuindo. Em 1996 estas classes representavam mais de 35% enquanto que

em 2003 somente 8%.

A partir da análise da distribuição temporal da estrutura etária no baixo

Llano outra leitura pode ser realizada com esses dados. Considerando que os

125
peixes de uma coorte podem pertencem a diferentes classes etárias, é possível

que os peixes (por exemplo), nascidos em 1996 tiveram um recrutamento

excepcional, sendo mantido ao longo do tempo e que a frota pesqueira vem

explorando por vários anos até 2003. Isto poderia explicar a alta freqüência de

indivíduos da classe etária 3 observada nos gráficos. Nas espécies marinhas

de mares temperados, este tipo de evento é mais comum que nas espécies de

água doce, devido principalmente, à disponibilidade de longas séries temporais

de estatísticas pesqueiras.

Distribuição espaço temporal dos comprimentos de maturidade sexual

Considerando os resultados com os comprimentos médios ótimos e de

maturidade sexual (56-59 cm respectivamente), o alto Llano pode ser

considerado como uma unidade de manejo formada pelo grupo "adulto

desovante" e no baixo Llano representado pelo grupo "adulto imaturo"

conformado por aqueles que esta sendo recrutados pelo aparelho de pesca. De

forma geral os dados de comprimento do baixo Llano são diferentes aos do alto

Llano, pela distribuição das modas, desvio padrão, e pela amplitude de

tamanhos.

Chama atenção a semelahança entre o comprimento da primeira marca

etária onde 80% dos peixes desta classe estão entre 45 e 60 cm de

comprimento furcal, com o comprimento de primeirta maturidade sexual (42-56

cm de compromento furcal), é muito provável que esta primeira marca no

otólito seja relacionada com o período reprodutivo.

Análise espaço temporal da proporção sexual

A análise espacial da proporção sexual no baixo Llano indicou uma

proporção sexual a favor das fêmeas. Nesta área foram encontradas fêmeas

126
em estado virgem ou em repouso e a diferença entre os sexos foi de

aproximadamente 4 cm. Do mesmo, modo para o alto Llano a proporção sexual

foi ainda mais evidente a favor das fêmeas. Estes dados confirmaram a cada

região (alto e baixo Llano) como áreas homogêneas nos qual o caparari tem

características biológicas e fisiológicas em cada setor antes mencionado.

Num estudo sobre a biologia do caparari na década dos anos 80,

quando a pesca no rio Orinoco, não tinha alcançado os volumes atuais

(<15.000 ton), Reid (1983) mostrou um claro predomínio das fêmeas do

caparari no rio Apure, sendo estas as que atingem o maior tamanho. Mas

recentemente Loubens & Panfili (2000) encontraram resultados similares no rio

Mamoré na Bolívia, observando um claro predomínio das fêmeas,

especialmente durante o período reprodutivo, num rio com baixa o moderada

intensidade de pesca. Similares resultados tem sido observados em outras

espécies de bagres pimelodideos (Perez & Fabré,2002).

Na atualidade quando a pesca da bacia do rio Orinoco tem atingido as

50.000 ton. Com esta presão sobre os recursos pesqueiros e especificamente

sobre o caparari, a variação observada na proporção sexual especificamente

no rio Apure durante o período 1996-2000, indicam que as fêmeas foram mais

freqüentes, porém, nos demais anos não foi evidenciado predomínio de

nenhum sexo indicando, também, que ao longo do tempo existem funções que

depende de cada sexo que tende a uma estabilidade da população na

proporção sexual 1:1.

Análise espaço temporal da relação peso-comprimentos

A análise temporal dos coeficientes de regressão na relação peso

comprimento no alto Llano, mostraram valores relativamente altos, porém, se

127
encontrou diferença significativa entre os tributários, indicando que os peixes

do rio Sarare apresentaram os valores mais altos. Isto poderia ser visto como

uma preparação para o próximo evento reprodutivo da espécie.

Estes dados também podem indicar que os capararis quando migram do

baixo Llano para os diferentes tributários, ganham peso na mesma proporção

que incrementam o comprimento. De acordo com isto, seria lógico esperar que

os coeficientes de regressão do rio Guanare fossem mais parecidos com

aqueles dos demais peixes do alto Llano, mas provavelmente algum tipo de

limitação relacionada à alimentação pode estar ocorrendo neste rio para que os

peixes apresentem baixos valores de “b”.

Ciclo de vida

As diferenças encontradas para o caparari entre o alto e baixo Llano

devem corresponder à dinâmica da migração desta espécie. Desta forma, os

dados obtidos até o momento estariam indicando que os capararis do baixo

Llano começam o deslocamento de uma parcela da população (geralmente

formada por peixes adultos em torno de 55 cm de comprimento furcal), rio

acima, sem propósitos reprodutivos durante a vazante.

Esta migração pode ter dois propósitos. Por um lado, aproveitar a oferta

de alimento durante a piracema dos caracídeos, fato já documentado

(Reid,1983; Barbarino et al.,1999). E por outro lado, pode ser uma mudança de

habitat direcionado pela separação dos habitats crítico para o desenvolvimento

do ciclo de vida do caparari dentro do sistema do rio Apure. Esta última opção

poderia ser a principal causa para que os caparari migrem durante a vazante,

na procura de novos ambientes para sobreviver o período de estiagem e

128
acumular suficientes reservas alimentícias para o próximo evento do ciclo de

vida do caparari, é dizer a reprodução.

Em relação a esta abordagem precisa considerar que um contexto

ecológico, a migração dos peixes não pode ser descrita sem considerar

adequadamente os habitats essenciais para a espécie e o ambiente onde estes

habitats estão inseridos (Poulsen et al.,2002).

Os estudos realizados sobre as migrações das espécies de peixes

comerciais marinhos (sardinha do atlântico) ou marinhos com uma fase na

água doce como o salmão (anádromos) ou angula (catádromos) indicam que

estas espécies migram como uma adaptação à abundância mantendo

separadas as áreas de reprodução, alimentação e criação a fim de reduzir a

competição ou predação (Nikolsky, 1963; Harden Jones,1970).

Isto ocorre mesmo onde o ambiente aquático é relativamente estável,

sem fortes mudanças sazonais com as observadas nas regiões temperadas.

Por outro lado, nas regiões tropicais as migrações mais importantes são

realizadas por espécies de água doce que cumprem seu ciclo de vida na água

doce (potadromos). Isto é uma reposta das espécies a mudança do médio

aquático, estimulada pelo pulso de inundação fazendo uma sincronização de

suas diferentes fases de desenvolvimento (reprodução, alimentação,

crescimento) com a sazonalidade dos ambientes (Pavlov,1994; VanZalinge et

al., 2002; Poulsen et al.,2004)

Os peixes dos rios tropicais têm adaptado seu ciclo de vida a correnteza

e as mudanças sazonais de acordo com a disponibilidade do habitat, deste

modo, a necessidade para a migração tem sido parte dessa adaptação

(Pousen et al., 2002).

129
A bacia do rio Orinoco constitui um complexo ecossistema que envolve

um grande número de espécies os quais desenvolveram diferentes estratégias

de vida, ajustadas à dinâmica sazonal dos ambientes aquáticos, são possíveis

realizar algumas generalizações.

Escobar (2001), realizou estudos baseado em marcadores genéticos

para o caparari presentes na bacia do rio Orinoco foram observada quatro sub-

populações que no capitulo II chamamos de: “Deltaica” (correspondente ao

baixo Orinoco), “Caurina” (médio Orinoco), “Fernandina” (do rio Apure) e

“Metaica” (alto Orinoco) (Figura 8). Portanto, cada população teria seu próprio

esquema ou sistema de migração.

Figura 8. Possíveis rotas migradoras das diferentes populações identificadas


por Escobar (2001) na bacia do rio Orinoco.

130
Nesse sentido, o rio Apure representa uma parte de um sistema de

migração do rio Orinoco, onde o padrão de migração dos capararis estaria

determinado pela presença de grandes tributários no alto Llano, e a áreas de

cria e alimentação nas áreas inundáveis no baixo Llano. Ao final da cheia os

peixes geralmente migram rio acima dentro da calha do rio Apure até atingir

alguns desses tributários.

Barbarino et al., (1999) estudando a migração do coporo (curimatã)

Prochilodus mariae, verificou o deslocamento do caparari acompanhando a

migração de dispersão dos caracídeos durante a vazante. Por isso, embora

seja conhecida a tendência migradora do caparari, seus deslocamentos são

mais curtos em comparação com a dourada e a piramutaba (Barthem &

Goulding, 1997).

Observações pessoais e estudos realizados previamente (Castillo, 2001;

Escobar, 2001), permitem considerar esta região do alto Llano como área de

reprodução para o caparari. Isto se infere pelos estádios de maturação sexual

dos peixes observados no campo.

Como já foi mencionado no capitulo III, o caparari inicia sua primeira

migração durante a vazante, como uma resposta a mudanças nos ambientes.

Porém, nem todos os indivíduos adultos migram, inclusive durante a enchente,

uma parte da população fica em repouso reprodutivo no baixo Llano. Este fato

também foi documentado por Loubens & Panfili (2000) no rio Mamoré.

Com a definição do período anual de marcação é possível dizer que o

caparari abandona as áreas de criação ou de alimentação do baixo Llano

depois de formar duas marcas de crescimento (±55 cm Cf), deslocando-se para

a parte alta dos tributários procurando os habitats de refúgio durante a seca.

131
As distribuições etárias do alto e baixo Llano mostraram o predomínio

das classes etárias 2 e 3, sendo que no baixo Llano todas as classes etárias

estavam representadas, em quanto que no alto Llano a classe 0 estava

ausente. Um caso particular foi a presença de adultos de grande porte nos rios

Caparo e Sarare correspondentes às classes etárias 4 e 5.

Hipótese do modelo de migração

Com toda a informação reunida sobre o ciclo de vida do caparari no rio

Apure, podemos colocar como hipótese um modelo de migração para o carari

no rio Apure, segundo o qual a coorte que naceram em junio de um

determinado ano. Estas larvas seria arrastadas até o baixo Llano, durante a

enchente, esta coorte que nasceu nesse ano (grupo etário “0”), estaria

representada unicamente no baixo Llano, atingindo as áreas de criação

localizadas nas savanas inundáveis e outros corpos de água (paraná, igarapé,

laogas,etc.), para seu desenvolvimento. Por outro lado, os caparari com mais

de um ano de idade, a coorte do ano anterior (grupo etário “1”) encontram-se

também na área de alimentação com a coorte dêste ano localizando-se nos

deferentes habitats do rio.

Durante a vazante a maoria abandona as savanas inundáveis e

permanece em cuerpos de água permanentes durante a estiagem no baixo

Llano. Durante a siguiente enchente invade novamente as savanas inundáveis

na procuras de das abundadtes presas (larvas e alevinos) nesta época do ano.

Já para este período os caparari com tem mais de um ano de idade, (grupo

etário “1”). Ao avandonar a savana durante a vazante volta para o rio e

permanece nas áreas de refugio durante a seca nas poças profundas formadas

nas curvaturas dos rios. Ao començo da próxima enchente os peixes desta

132
coorte, já com dois anos e mais de 50 cm comprimento furcal, comença a ser

abundante no baixo Llano, e uma parcela desta coorte permanece no baixo

Llano e a outra parcela inicia a migração para o alto Llano a fim de dar inicio ao

proceso reproductivo que deve culminar em julho, momento no cual estes

peixes já desovados, voltam para as áreas de alimentação no baixo Llano

(Figura 9).

Figura 9. Modelo esquemático do ciclo de vida do caparari no sistema


hidrográfico do rio Apure.

Este deslocamento dado ao final da vazante pode indicar o início do

processo de amadurecimento sexual, através da piracema ao abandonar as

áreas de criação. Nesta época, os peixes estariam preparando-se para a

133
perseguição dos caracídeos ou apenas procurando os habitats de refugio

durante a seca no alto Llano (Figura 9).

O retorno dos adultos para o baixo Llano durante a cheia é um fato

observado pelos pescadores e verificado durante o período de amostragem em

que se realizou este estudo. Este fato também tem sido identificado em outras

bacias como no rio Mekong no sudeste da Ásia, onde os grandes bagres após

a desova voltam para as áreas de criação nas áreas inundáveis (Poulsen et al.,

2002; VanZalinge et al., 2002; Poulsen et al.,2004).

Desta forma, concluímos que, a pesca comercial que atua no rio Apure

explora intensamente os capararis maiores de dois anos, que já estariam

formando parte do estoque desovante.

A dinâmica migratória dos caparari no rio Apure aqui proposta, mostra

que o caparari aperfeiçoa os recursos disponíveis ao longo do sistema

sincronizando seus movimentos com o regime hidrológico do rio. Estas

informações permitem criar as bases para a conservação dos habitats do rio

Caparo e assim propor um uso sustentável dos recursos pesqueiros

As informações reunidas aqui e desenvolvidas ao longo do presente

capìtulo, o caparari representa um bom exemplo de como os peixes estão em

condições de responder as variações sazonais de seu habitat seguindo um

conjunto de regras que maximizam a reprodução e a sobrevivência. Porém é

necessário, ainda obter informações sobre taxas de crescimento, de

mortalidade, longevidade, idade de maturação sexual, assim como níveis de

exploração pesqueira a fim de se obter uma perspectiva sobre o estado atual

do recurso, aspectos que serão abordados no capitulo seguinte.

134
CAPÍTULO V
DINÂMICA POPULACIONAL DO CAPARARI

INTRODUÇÃO

O entendimento do funcionamento das populações de peixes é

fundamental para o sucesso de qualquer plano de manejo e conservação dos

recursos pesqueiros (Fonteles-Filho,1989). Em geral, a dinâmica populacional

é o estudo das mudanças em número e em composição dos indivíduos numa

população e dos fatores que influenciam essas mudanças (Margalef,1980;

Gulland, 1983; Krebs, 1989). Na dinâmica populacional, consideram-se seis

componentes básicos: recrutamento, crescimento, mortalidade, proporção

sexual, estrutura etária e dispersão. O conhecimento de como estes

componentes funcionam é importante para que sejam feitas estimativas das

taxas de exploração, para se entender como os fatores abióticos mudam a

população e predizer quando uma espécie pode estar ameaçada de

sobrepesca (Csirke,1980; King,1995).

O crescimento individual de uma espécie pode ser considerado como

um aspecto quantitativo do desenvolvimento ou como uma mudança de

tamanho através do tempo (Nikolskii, 1969; Weatherley, 1972). Da considerável

literatura sobre modelos de crescimento com um amplo número de equações,

as mais conhecidas são: von Bertalanffy, Gompertz, Richards e as equações

logísticas (Gulland,1983; Hilborn & Walters, 1992).

Na literatura ictiológica existem alguns estudos sobre a biologia dos

grandes bagres de importância comercial nos quais são considerados alguns

135
aspectos sobre idade e crescimento (Barthem & Petrere, 1995; Ruffino & Isaac,

1995; SANYO, 1995; Barthem & Goulding, 1997; Loubens & Panfili, 2000).

Alguns estudos sobre a estimativa da idade do caparari, utilizando

marcas de crescimento presentes em vértebras, já foram realizados no sistema

hidrográfico do rio Apure (Reid, 1983), porém os resultados não foram

concludentes devido à ausência de critérios nas leituras dos anéis, como

discutido no capítulo III.

Estudos sobre estimativas de rendimento por recruta, biomassa por

recruta, biomassa potencial ou relação estoque-recrutamento para o caparari

são escassos, havendo um estudo para o caparari sobre rendimento por

recruta realizado por Ruffino & Isaac (1999) no baixo Amazonas.

Neste contexto, no presente capítulo, e baseados nas estimativas dos

parâmetros de crescimento, utilizamos modelos quantitativos que possam não

somente reconstruir a história do estoque e da atividade pesqueira como

também predizer o efeito das mudanças na pesca em função das medidas

propostas para o manejo dos recursos.

136
MATERIAIS E MÉTODOS

Crescimento do caparari no sistema do rio Apure

Determinada e validada a idade do caparari (Capítulo III), o passo seguinte

é determinar seu crescimento, utilizando estimativa dos comprimentos

retrocalculados (Fabré,1992; King,1995; Lai et al.,1996; Oliveira, 1997; Vieira,

1999; Alonso, 2002; Perez & Fabré, 2003; Vieira, 2003).

Para definir o tipo de relação existente entre o tamanho dos otólitos e o

comprimento do peixe, foram testadas as seguintes funções matemáticas:

Linear Cf= a + b*(Rt)


Multiplicativo Cf = a* (Rt)b
Exponencial Cf = a* (e)b*(Rt)
Onde:
Cf = comprimento furcal (cm)
Rt = Raio total do otólito Asteriscus (mm)
a = intercepto da ordenada
b = coeficiente de regressão

O melhor ajuste dos dados observados aos modelos matemáticos foi

determinado analisando-se os coeficientes de correlação junto com as

distribuições dos resíduos dos valores da variável dependente. Foi também

considerada a estimativa do erro médio relativo pela seguinte fórmula:

y –y*
EMR= ---------------
y*
n
Onde:
y = comprimento observado
y* = comprimento esperado, estimado pelos modelos matemáticos
n = número de observações

Utilizando esses critérios, foi selecionado um único modelo cujas

constantes ”a” e “b” da regressão foram utilizadas nos modelos de retrocalculo,

para as estimativas dos comprimentos retrocalculados.

137
Modelo de retrocalculo

Para o estudo do crescimento no caparari, foi aplicada a hipótese de

proporcionalidade do corpo (HPC), onde o comprimento furcal (cm) é a variável

dependente e o raio total (mm) do otólito, a variável independente. Com o

propósito de gerar as estimativas dos comprimentos retrocalculados, foram

testadas três funções matemáticas (linear, multiplicativa e exponencial).

Considerando que mais de um modelo de retrocalculo deve ser avaliado

para verificar a validação das estimativas (Francis, 1990), foram testados três

modelos de retrocalculo, a saber:

a) Everhart et al., (1976), (chamado aqui modelo Everhart)


b) Monastyrsky (Bagenal & Tesch, 1978 in: Francis, 1990)
c) Morita & Matsuishi (2001).

Os dois primeiros modelos foram testados utilizando-se a seguintes

fórmulas:

Lretroi= a*(Ri)b (Everhart) e Lretroi= (Ri /R t) b * L (Monastyrsky)


Onde:
Lretroi =Comprimento retrocalculado na idade i
L = Comprimento dos peixes no momento da captura
Ri = Distância do centro da estrutura até a marca i
Rt = Raio total dos otólitos
a = Intercepto da ordenada
b = Coeficiente de regressão

O terceiro modelo de retrocalculo testado, proposto por Morita & Matsuishi

(2001), considera o ajuste dos dados a um modelo de regressão múltipla

incluindo três variáveis:

Lobs = α+β*Rt+γ*T
Onde:
Lobs = Comprimento do peixe no momento da captura
Rt = Raio total do otólito
T = Idade do peixe
α = Intercepto da ordenada
β = Coeficiente de regressão para Rt
γ = Coeficiente de regressão para T

138
Posteriormente, no modelo de Morita & Matsuishi (2001) foram inseridos os

coeficientes da regressão múltipla, sendo a equação:

Lretroi= -α/β+(Lobs+α/β+γ/β*T)*Ri/Rt-γ/β*T
Onde:
lretroi = comprimento retrocalculado a idade i
Lobs = comprimento do peixe ao momento da captura
Ri = distância do centro do otólito ate a marca de crescimento i
Rt = raio total do otólito
T = idade do peixe no momento da captura
i = idade da marca de crescimento i
α = intercepto da reta da regressão múltipla
β = coeficiente de regressão para Rt da regressão múltipla
γ = coeficiente de regressão para T da regressão múltipla

O modelo de retrocalculo utilizado para estimar os parâmetros de

crescimento foi selecionado considerando-se os seguintes critérios:

a) As menores diferenças nos coeficientes de variação entre os

comprimentos retrocalculados para a última marca de crescimento e os

comprimentos observados no momento da captura.

b) A maior correlação entre os comprimentos retrocalculados para a

última marca de crescimento e os comprimentos observados no momento da

captura (Johnson, 1983; Morita & Matsuishi, 2001).

Os comprimentos retrocalculados foram caracterizados pela média, desvio

padrão, coeficiente de variação e pelas distribuições de freqüência dos

comprimentos em classes.

Parâmetros de crescimento

O resultado da análise dos comprimentos retrocalculados do caparari

permitiu a geração de dados suficientes para utilizar o modelo de crescimento

geral, ajustando a equação de von Bertalanffy na relação comprimento midade,

tanto para fêmeas como machos.

139
Lt = L∞ ( 1-e – k (t-t0))
Onde:

Lt = comprimento estimado na idade t


L∞ = comprimento máximo teórico esperado *
e = base dos logaritmo neperiano
k = taxa de crescimento
t = idade do peixe no comprimento Lt
to = idade teórica do peixe no comprimento zero

Os parâmetros de crescimento foram estimados utilizando-se diferentes

métodos. Foram calculados pelo ajuste não-linear das variáveis, utilizando-se o

método de Máxima Semelhança Verdadeira (MSV), a partir dos comprimentos

médios retrocalculados por idade. Nesse método, um valor é designado a um

conjunto de parâmetros de tal forma que os dados observados tenham a

máxima possibilidade de estar dentro do modelo proposto (Aubone & Wohler,

2000).

Igualmente foram utilizadas as equações empíricas de Froese & Binohlan

(2000), Welcomme (1999) e Froese & Binohlan (2003) para obter as

estimativas dos parâmetros: L∞, K, to, M e Tmax baseado no comprimento

máximo observado (Lmax).

log (L∞) = 0.044 + 0.9841 * log(Lmax)


K = 5,4*L∞ -0,6811
log (-to)= 0,3922 - 0,2752*log(L∞) -1,038* log(K)
M = 12,96*L∞ -0,7180
Tmax = 3/K

Onde:
L∞ = comprimento assintótico teórico esperado
K = taxa de crescimento
t = idade do peixe no comprimento Lt
to = idade teórica do peixe no comprimento zero
Lmax= comprimento máximo observado
Tmax= longevidade
M = mortalidade natural

140
Mortalidade total (Z)

A mortalidade total foi estimada utilizando-se várias equações. A formula

de Beverton & Holt (1956 apud Pauly,1983) e a equação de Ssentongo &

Larkin (1973).

Z= K*(L∞-L)/(L - L`)

Z= (n*k/(n+1)) (Ln{(L∞ - L`)/( L∞ -L)})- 1

Onde:
Z = coeficiente instantâneo de mortalidade total
N = tamanho da amostra
L‘= classe de comprimento melhor representado (moda) da amostra.
L = tamanho médio dos peixes maiores que L` da amostra
K e L∞ = parâmetros de crescimento de von Bertalanffy

Considerando que a menor classe de comprimento está plenamente

representada na captura, o “L‘ ” foi utilizado como limite inferior desse intervalo

de classe (Fabré, 1992; King, 1995; Sparre & Venema, 1995).

Mortalidade natural (M)

Para o cálculo desse parâmetro populacional, três métodos foram testados:

o método de Cubillos (2003), o qual calcula a mortalidade natural a partir de

uma relação empírica baseada nos dados de 175 estoques pesqueiros do

mundo; o método de Taylor (1958) (Sparre & Verema 1995), baseado na

longevidade; e a estimativa da mortalidade natural desenvolvida por Pauly

(1980), baseada numa equação empírica que relaciona os parâmetros da

função de crescimento de von Bertalanffy com a temperatura média anual da

água.

M = 3*K(1-0,62)/0,62
M = - ln(1-0,95) / A0.95; A0.95 = to + 2,996 / k
log (M) = -0,0066-0,279*Log(L∞)+Log(k) +0,4634*Log(t)

141
Onde:
A 0.95= Longevidade
to = idade do peixe no comprimento zero
M = Mortalidade Natural
L∞ e k = são parâmetros de crescimento de von Bertalanffy
T (°C) = temperatura média anual da água em graus centígrados

Estimativas da Idade de maturação sexual, recrutamento e captura.

Definidos os parâmetros de crescimento para o caparari, a idade de

primeira maturidade sexual foi estimada, transformando a equação de

crescimento de von Bertalanffy para a idade na qual 50% da população ter-se-

ia reproduzido ao menos uma vez (Sparre & Venema, 1995; King, 1995).

t50= t0 – (1/k) Ln [ 1- L50/L∞]


Onde:
L∞ = comprimento máximo teórico esperado
K = taxa de crescimento
to = idade teórica do peixe no comprimento zero
L50= comprimento médio de maturidade sexual

Igualmente a idade de recrutamento (Tr) foi estimada a partir dos

comprimentos médios de recrutamento (Lr), que indicam o tamanho no qual

50% dos capararis ingressam na área de pesca e que têm a possibilidade de

entrar em contato com os aparelhos de pesca (Gulland, 1983; Sparre &

Venema, 1995).

tr= (1/k)*ln [L∞/L∞- Lr]+ t0


Onde:
L∞ = comprimento máximo teórico esperado
K = taxa de crescimento
to = idade teórica do peixe no comprimento zero
Lr = comprimento médio de recrutamento

Índice de crescimento

Os parâmetros de crescimento de cada ano foram comparados pelo

método de Munro & Pauly (1983), conhecido como Phi prime test, sendo.

∅= log(k)+2*log (L∞)

142
Onde:
L∞ = comprimento máximo teórico esperado
K = taxa de crescimento

Análise de populações virtuais (VPA)

Com o propósito de estimar a biomassa inicial do estoque do caparari para

cada ano, assim como a mortalidade por pesca, foi utilizada uma análise de

populações virtuais (VPA). Com este procedimento, os comprimentos dos

peixes foram transformados numa composição de idade, usando uma chave

comprimento-idade. A biomassa do caparari para o período 1996-2002 foi

calculada usando as equações de Pope (1972).

Nx= Cx*(Fx+Ma/Fx); N = Na+1*Exp(Ma) + Ca*Exp(Ma/2); Fa= -Ln(Na+1/Na)- Ma


Onde:
N = número de peixes na idade i
C = captura em peso
i = anos
M = mortalidade natural
Fx = mortalidade por pesca final
F i = mortalidade por pesca no ano i
M i = mortalidade natural no ano i
N i = número de peixes no ano i
N i+1= número de peixes no seguinte ano

O procedimento de cálculo consiste em estimar o número de peixes na

última classe etária (Nx). Logo se estima o número de peixes no ano anterior

(N), depois a taxa de sobrevivência (S), mortalidade total (Z), por pesca (Fi) e

por último, o número médio de peixes durante o ano, repetindo o processo até

o início da coorte. Estes cálculos foram realizados com ajuda do programa VIT

for Windows versão 1,1 (COPEMED-FAO-CSIC).

Rendimento por recruta

Para avaliar o estado atual do estoque pesqueiro foi utilizado o modelo de

rendimento por recruta de Beverton e Holt (1957), para realizar simulações

sobre possíveis cenários de manejo, sendo:

143
Y/R= F*exp[-M*(Tc-Tr)]*W∞*[(1/z)-(3S/(Z+K))+(3S2 /(Z+2K))-3S3 /(Z+3K))]

Onde:
Y/R= Rendimento por recruta (gr/recruta)
F = Mortalidade por pesca
M = Mortalidade natural
Tc = idade de primeira captura
Tr = idade de recrutamento
W∞= Máximo peso teórico
Z = Mortalidade total
S = exp[-K*(Tc-to)]
k e to = parâmetros de crescimento de von Bertalanffy

Os valores obtidos de rendimento por recruta (Y/R) foram calculados

pelo programa Yield (versão 1.0 ©Mrag Ltd.), sendo avaliados diferentes níveis

de rendimentos, ao gerar mudanças em F para diferentes estimativas de

mortalidade natural (M) e da idade de primeira captura (Tc), mantendo-se

constante o valor de M.

Biomassa por recruta


Em algumas situações, os parâmetros de crescimento de equação de

von Bertalanffy tendem a mostrar padrões de vida em que não é possível

identificar o ponto máximo da curva e, portanto, a determinação do rendimento

máximo (Sparre & Venema, 1995).

Para estes casos, pode ser estimada a biomassa por recruta (B/R), que

expressa a biomassa média anual dos sobreviventes como uma função da

mortalidade por pesca ou do esforço, onde a biomassa média pode ser

relacionada com a captura por unidade de esforço. Portanto a B/R pode ser

definida como a biomassa da parte explorada do estoque.

A biomassa por recruta foi estimada usando a relação proposta por

Sparre & Venema (1995):

144
B/R= (1/F) *Y/R
Onde:
Y/R = Rendimento por recruta (gr/recruta)
F = Mortalidade por pesca
B/R = biomassa por recruta (gr/recruta)

Estimativas de sobrepesca

Como uma abordagem alternativa aos métodos analiticos, para

determinar o grau de exploração dos recursos pesqueiros foram utilizados os

indicadores propostos por Froese (2004), que permitem uma avaliação efetiva

do status ou das tendências da pesca utilizando um sistema que avalia a

proporção de peixes velhos, maduros e com comprimento ótimo nas capturas

da forta comercial (Figura 1).

Descrição dos indicadores

Indicador 1 (deixa-os desovarem), é medido como a porcentagem de

espécimes maduros na capturas. O objetivo deveria ser permitir que 100% dos

peixes desovassem ao menos uma vez antes de serem capturados, para se

manterem o recrutamento e a saúde do estoque desovante.

Indicador 2 (deixa-os crescerem) é medido como a porcentagem de

peixes capturados a um comprimento ótimo, sendo este o comprimento onde o

número de peixes de uma dada classe etária sem pesca multiplicada com seu

peso médio individual qual seja máxima. Permita que o comprimento ótimo seja

atingido, geralmente é uma faixa maior que o comprimento de primeira

maturidade sexual. O objetivo deveria ser que os 100% dos peixes capturados

deveriam estar dentro de ±10% do comprimento ótimo.

Indicador 3 (deixa-os aos mega-desovadores viverem), representa a

porcentagem de peixes velhos nas capturas, é dizer peixes com um tamanho

145
maior ao comprimento ótimo (Lopt + 10%). Este indicador pode ter três

interpretações.

a) não capturar (0%) os mega-desovadores existentes.

b) se a captura reflexa a estrutura populacional do estoque, valores de 30-

40% dos mega-desovadores representariam uma situação desejável.

c) se a proporção é menor ao 20% da captura, isto representaria um

assunto preocupante sobre a exploração do estoque.

Indicador 2

Indicador 3
Indicador 1

Figura 1. Exemplo hipotético de uma espécie mostrando a distribuição de


freqüência de comprimentos, onde: Lm indica o comprimento de primeira
maturidade sexual, Lopt indica o comprimento onde o rendimento máximo pode
ser atingido e Lmax é o comprimento máximo atingido durante a vida.

146
RESULTADOS
Relação corpo-estrutura
Os valores de correlação dessas funções para o total de peixes (sexos

combinados) foram diferentes nos três modelos (Tabela 1). Dos modelos

matemáticos analisados, os modelos linear e exponencial apresentaram uma

menor homocedastiscidade e coeficiente de correlação (Figuras 2 e 4). O

coeficiente de correlação mais alto e a maior homocedastascidade dos

resíduos foram observados na relação multiplicativa (r=0,92) (Figura 2). Essa

relação também foi selecionada por apresentar o menor valor do erro médio

relativo (Tabela 1).

Tabela 1. Resultados do ajuste ao modelo exponencial, multiplicativo e linear


para a relação entre o comprimento furcal (cm) e o raio total dos otólitos (mm)
do caparari de uma subamostra. a= intercepto da ordenada; b= coeficiente de
regressão; r= coeficiente de correlação; s.e.= erro padrão; n= número de
observações; EMR= erro médio relativo.
Modelos a b r s.e. n EMR
Exponencial 2,279 0,782 0,913 0,135 146 9,965
Multiplicativa 2,745 1,624 0,920 0,129 146 9,671
Linear -34,567 41,800 0,896 7,984 146 12,385

Apesar de que o modelo multiplicativo apresentou o melhor ajuste aos

dados observados da relação entre o raio total e o comprimento do peixe, no

capítulo III, foi utilizado o modelo linear para avaliar quantitativamente a

existência de uma relação entre o tamanho do otólito e o comprimento, sem

considerar qual modelo poderia explicar melhor essa relação.

147
Raio total (mm)
Raio total (mm)

Figura 2. Comparação da relação entre raio total do otólito (Rt) e comprimento


furcal (LF), analisada pela função linear, no otólito Asteriscus do caparari.

Ln Raio total (mm) Raio total (mm)

Figura 3. Comparação da relação entre raio total otólito (Rt) e comprimento


furcal (LF), analisada pela função multiplicativa, no otólito Asteriscus do
caparari.

Raio total (mm)


Raio total (mm)

Figura 4. Comparação da relação entre raio total otólito (Rt) e comprimento


furcal (LF), analisada pela função e exponencial, no otólito Asteriscus do
caparari.

Modelos de retrocalculos

Os três modelos de retrocalculos avaliados (Everhart, Monastrysky e

Morita-Matsuishi), apresentaram contração dos comprimentos médios

retrocalculados para cada idade dos peixes (Tabelas 3 e 4).

148
Porém, o modelo de Morita-Matsuishi (Tabela 5), apresentou os valores

mais altos das médias dos comprimentos retrocalculados de cada idade. Assim

como, a menor contração dos comprimentos retrocalculados para cada idade

dos peixes. Este modelo (Tabela 5), minimiza o efeito da contração das marcas

nos otólitos para cada idade do peixe, usando os coeficientes de regressão de

uma análise de regressão múltipla (Tabela 2) entre o comprimento observado

(y), raio da estrutura (x1) e a idade (x2), mostrando um baixo coeficiente de

variação, nas últimas classes etárias.

Tabela 2. Resultados da regressão múltipla entre o comprimento furcal (LF),


raio total (Rt) e da idade (T) (r=0.86)
Variáveis Constantes Estimativas Erro Padrão t-students P-Critico
LF (Y) Intercepto (α) -8,412 2,9910 -2,81204 <0,05
RT (X1) Coeficiente (β) 103,080 0,4914 7,60495 <0,05
T (X2) Coeficiente (γ) 3,737 7,6590 13,4585 <0,05

Outro aspecto que merece destaque sobre o modelo de Morita-Matsuishi

foi a leve tendência na diminuição de comprimentos retrocalculados à medida

que aumenta a idade (fenômeno de Lee). A análise dos comprimentos médios

retrocalculados por idade demonstrou que o modelo de Morita-Matsuishi, foram

menores os comprimentos médios observados, sem uma forte tendência na

diminuição dos comprimentos retrocalculados conforme aumenta a idade,

como seria o esperado no caso da presença do fenômeno de Lee (Tabela 5).

149
Figura 5. Variação dos comprimentos médios retrocalculados de cada idade
para as diferentes classes etárias no caparari.
Porém, a representação gráfica das médias dos comprimentos

retrocalculados para as 7 classes etárias, mostrou uma tendência de aumento

em direção das idades maiores determinado pelo efeito contrário do fenômeno

de Lee, conhecido como Fenômeno reverso de Lee (Figura 5).

Tabela 3 Distribuição da freqüência dos comprimentos retrocalculados do


caparari usando o método de Monastrysky no baixo Llano (sexos combinados)
onde: LF-N= comprimento furcal; x=média; sd=desvio padrão; cv=coeficiente de
variação; ∆= incremento entre idade; n= número de observações.
Idade LF-1 LF-2 LF-3 LF-4 LF-5 LF-6 LF-7
1 30,04
2 29,83 40,23
3 30,26 42,26 51,13
4 29,35 41,56 51,33 59,24
5 30,40 43,59 54,50 63,63 70,96
6 32,69 45,48 56,49 66,30 74,06 81,01
7 29,85 43,49 54,06 64,05 73,15 80,45 87,19
X 30,34 42,77 53,51 63,30 72,72 80,73 87,19
Sd 1,09 1,83 2,27 2,95 1,60 0,39
Cv 3,59 4,27 4,24 4,66 2,19 0,49
∆ 12,42 10,74 9,80 9,42 8,00 6,47
N 594 503 361 221 118 69 32

150
Tabela 4 Distribuição da freqüência dos comprimentos retrocalculados de
caparari usando o método de Everhart no baixo Llano (sexos combinados)
onde: LF-N= comprimento furcal; x=média; sd=desvio padrão; cv= coeficiente
de variação; ∆= incremento entre idade; n= número de observações.
Idade LF-1 LF-2 LF-3 LF-4 LF-5 LF-6 LF-7
1 27,56
2 27,52 39,89
3 27,13 38,21 48,14
4 26,66 38,02 47,20 54,55
5 28,60 41,13 51,56 60,39 67,40
6 30,29 42,39 52,80 62,09 69,45 76,08
7 28,42 41,70 52,07 61,91 70,86 78,06 84,578
X 28,02 40,22 50,35 59,74 69,24 77,07 84,578
Sd 1,21 1,83 2,51 3,54 1,74 1,40
Cv 4,31 4,54 4,99 5,93 2,51 1,82
∆ 12,20 10,13 9,38 9,50 7,83 7,508
N 594 503 361 221 118 69 32

A análise dos comprimentos retrocalculados para idades passadas

utilizando a fórmula de Morita Matsuishi (2001), apresentou um aumento

progressivo nos valores médios. Os comprimentos retrocalculados para o total

de indivíduos mostraram desvios padrões e coeficientes de variação maiores

para as primeiras idades em comparação com os resultados obtidos com os

modelos de Monastrysky (Francis, 1990) e Everhart (1976), porém os valores

do modelo Morita Matsuishi (2001) mostraram a menor tendência na

diminuição dos comprimentos retrocalculados conforme aumenta a idade

(Tabela 5).

151
Tabela 5. Distribuição da freqüência dos comprimentos retrocalculados do
caparari usando o método de Morita-Matsuishi no baixo Llano (sexos
combinados) onde LF-N= comprimento furcal; x=média; sd=desvio padrão; cv=
coeficiente de variação; ∆= incremento entre idade;n= número de observações.
Idade LF-1 LF-2 LF-3 LF-4 LF-5 LF-6 LF-7
1 33,12
2 35,03 43,03
3 36,95 47,97 54,07
4 37,12 49,65 56,69 62,01
5 41,58 54,37 62,55 68,92 73,79
6 42,51 58,26 66,75 73,79 79,09 83,66
7 42,87 58,32 66,82 74,31 80,77 85,73 90,17
X 38,45 51,93 61,38 69,76 77,89 84,70 90,17
Sd 3,87 6,11 5,82 5,71 3,64 1,46
Cv 10,07 11,77 9,48 8,18 4,68 1,73
∆ 13,48 9,44 8,38 8,13 6,81 5,48
N 594 503 361 221 118 69 32

Os comprimentos médios retrocalculados estimados pelo modelo Morita

Matsuishi (2001) por sexo no momento da formação de cada marca de

crescimento nos otólitos, não foi observado o fenômeno de Lee (Tabela 6 e 7).

Tabela 6. Distribuição da freqüência dos comprimentos retrocalculados pelo


método de Morita-Matsuishi (machos); x= média; sd= desvio padrão; cv=
coeficiente de variação; ∆= diferença no tamanho; n= número de observações.
Idade LF-1 LF-2 LF-3 LF-4 LF-5 LF-6 LF-7
1 34,21
2 36,45 44,44
3 39,05 47,50 53,15
4 40,11 49,67 56,79 62,16
5 42,46 54,08 61,73 67,99 72,47
6 45,12 57,10 66,86 74,95 80,47 85,79
7 46,29 59,16 68,11 76,35 83,84 88,52 92,61
X 40,53 51,99 61,33 70,36 78,93 87,15 92,61
Sd 4,41 5,74 6,41 6,58 5,84 1,93
Cv 10,89 11,03 10,45 9,34 7,39 2,21 0
∆ 11,47 9,34 9,03 8,57 8,22 5,46
N 234 203 161 100 71 29 9

152
Tabela 7. Distribuição da freqüência dos comprimentos retrocalculados usando
o método de Morita-Matsuishi (fêmeas); x= média; sd= desvio padrão; cv=
coeficiente de variação; ∆= diferença no tamanho; n= número de observações.
Idade LF-1 LF-2 LF-3 LF-4 LF-5 LF-6 LF-7
1 35,93
2 36,28 43,65
3 42,32 51,47 57,77
4 40,24 50,11 57,25 62,65
5 41,41 52,44 60,58 66,91 72,01
6 50,69 61,26 69,18 75,99 81,56 85,77
7 45,50 56,93 65,39 72,48 78,53 83,45 87,82
X 41,77 52,64 62,03 69,51 77,37 84,61 87,82
Sd 5,17 6,02 5,14 5,91 4,88 1,64
Cv 12,38 11,44 8,28 8,50 6,30 1,93
∆ 10,88 9,39 7,47 7,86 7,24 3,21
N 374 353 261 121 88 39 12

Parâmetros de crescimento

Sabendo que, ao se utilizar os valores observados dos comprimentos,

aumenta-se o número de graus de liberdade, tornando as estimativas dos

parâmetros do modelo muito conservadores, opto-se por obter as estimativas

dos parâmetros utilizando-se somente os valores médios por sexo.

Para esse caso, o resultado das interações para o ajuste do modelo de

crescimento usando o método de máxima semelhança verdadeira (MSV)

apresentados na Tabela 8, indica que as estimativas dos parâmetros de

crescimento de forma geral apresentaram pouca diferença entre os sexos,

especificamente para os valores de k.

153
Tabela 8. Parâmetros de crescimento segundo o modelo de von Bertalanffy
com seus intervalos de confiança estimados pelo método de MSV (baseado
nos comprimentos retrocalculados)
Parâmetros Estimados L inf L sup
Sexos combinados R=0.96 N= 1841
L∞ 118,950 118,500 119,400
k 0,168 0,167 0,173
to -1,107 -1,167 -1,047
Fêmeas R=0.96 N= 444
L∞ 119,990 119,390 120,590
k 0,171 0,164 0,1783
to -1,052 -0,972 -1,1328
Machos R=0.95 N= 375
L∞ 108,630 108,230 109,040
k 0,197 0,191 0,2035
to -1,184 -1,2447 -1,1247

Também foram estimados os parâmetros de crescimento da função de

von Bertalanffy usando equações empíricas (Froese & Binohlan, 2000;

Welcomme,1992; Froese & Binohlan, 2003), baseados no comprimento

máximo observado para cada ano no baixo Llano. Os parâmetros estimados

indicam uma leve tendência na diminuição dos valores de L∞, to, ∅ e tmax

(Tabela 9).

Tabela 9. Estimativas dos parâmetros de crescimento da função de von


Bertalanffy (L∞; k; to); índice de crescimento (∅) e tmax (longevidade), usando
as equações empíricas para o baixo Llano (sexos combinados).
Ano Lmax L∞ k t0 ∅ tmax
1996 115,55 123,48 0,2090 -1,2248 3,453 14,090
1997 118,55 121,55 0,2053 -1,2238 3,482 14,589
1998 102,55 105,38 0,2263 -1,1624 3,400 13,238
1999 120,55 123,57 0,2030 -1,2310 3,491 14,754
2000 114,80 117,51 0,2101 -1,2093 3,463 14,257
2001 111,30 115,49 0,2126 -1,2018 3,453 14,090
2002 110,20 117,51 0,2101 -1,2093 3,463 14,257
2003 100,40 107,40 0,2234 -1,1705 3,411 13,410
Média 111,36 115,49 0,2129 -1,2041 3,451 14,086

154
Dos métodos analisados para determinar as estimativas dos parâmetros

de crescimento do modelo de von Bertalanffy, o método de máxima

semelhança verdadeira (MSV) mostrou resultados mais consistentes entre

cada uns dos parâmetros e por apresentar um alto coeficiente de correlação e

baixo erro padrão.

Somente os valores da constante de crescimento (k) apresentaram

valores mais baixos do que o esperado. Portanto, as estimativas dos

parâmetros de crescimento do modelo de von Bertalanffy obtidas por este

método foram selecionadas como base para os cálculos dos modelos de

avaliação de estoques pesqueiros e análise virtual de populações.

Figura 6. Curvas de crescimento obtidas com as estimativas dos parâmetros de


crescimento da função de von Bertalanffy, usando o método de máxima
semelhança verdadeira, para fêmeas e machos.

155
Como já foi mencionado anteriormente, obteve-se um alto coeficiente de

correlação (r=0,96) para fêmeas e machos, usando o método de máxima

semelhança verdadeira (MSV), com os dados de comprimentos retrocalculados

por idade. (Tabela 8 e Figura 6).

Longevidade e mortalidade

Os cálculos da mortalidade natural estimada pelos três métodos (Tabela

10) mostraram uma dispersão em torno de 0,350, sendo os valores mais

extremos da mortalidade natural, M=0,201 (método de Pauly, 1980) e M=0,432

(método de Taylor (apud Sparre & Verema,1995)).

Tabela 10 Estimativa da mortalidade natural (M) para o baixo Llano (sexos


combinados) estimados por diferentes métodos empíricos.
Métodos Estimador
Pauly (1980) 0,402
Taylor (apud Sparre & Verema,1995) 0,201
Cubillos (2000) 0,380
Média 0,358

Considerando que temos várias estimativas de mortalidade natural, foi

selecionado o valor mais conservativo (M=0,201) levando-se em conta os

preceitos estabelecidos no código de pesca responsável pela FAO (1994).

A partir da mortalidade total (Z) estimada para o total (sexos

combinados) pelos dois métodos, foi considerada a média geral com a

finalidade de aumentar a confiabilidade nas estimativas deste parâmetro

populacional. De acordo com os resultados obtidos para cada ano (Tabela 11),

pelo método de Berverton & Holt (1959), não mostraram tendência, enquanto

que pelo método de Ssentongo & Larkin (1973) foi observado um padrão no

qual Z tenderia a aumentar com o tempo (Figura 7).

156
Tabela 11 Estimativa da mortalidade total (Z) anual para o período 1996-2003
no baixo Llano (sexos combinados).
Ano Beverton & Holt Ssentongo & Larkin
1996 0,3635 0,994
1997 0,7541 1,567
1998 0,5100 1,610
1999 0,8579 1,890
2000 0,4903 2,327
2001 0,4053 2,072
2002 0,5222 2,135
2003 0,3853 2,083
Média 0.5360 1,832

Figura 7. Variação da mortalidade total (Z) do caparari no baixo Llano no


período 1996-2003 estimada pelos métodos de Berverton & Holt (1959) e
Ssentongo & Larkin (1973).

Idades da primeira maturidade sexual, recrutamento e de captura

A idade de primeira maturação sexual do caparari para cada ano do

período de estudo mostrou uma variação interanual de 2,3 a 3,7 anos (Tabela

12). Por outro lado, nessa mesma tabela, pode-se apreciar que os capararis do

ano de 1996 começavam a ser recrutados entre 1,48 -1,60 ano. Igualmente

para o período de estudo, os valores do Tr mostraram uma baixa oscilação

sem revelar padrão algum. Por outro lado, Tc, ao longo do período 1996-2003,

157
evidenciou uma marcada tendência na redução da idade de primeira captura,

sendo de 4,8 anos em 1996 chegando até 1,8 anos em 2003.

Tabela 12. Resumo das idades médias de maturidade sexual (T50), idade de
recrutamento (Tr) e da primeira captura (Tc) do caparari para o baixo llano
durante o período 1996-2003 (sexos combinados).
Anos 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003
Tr 1,48 1,41 1,60 1,39 1,45 1,48 1,45 1,58
T50 2,88 2,84 2,35 3,10 3,75 2,88 3,01 2,59
Tc 4,86 4,25 3,18 3,80 1,90 1,97 2,21 1,80

Análise de populações virtuais (VPA)

As estimativas de comprimento de primeira maturidade sexual (L50);

idade de primeira maturidade sexual (T50) e idade critica (Tcritico) obtidas da

análise de populações virtuais, com o programa VIT para Windows (versão 1,1

COPEMED-FAO-CSIC), e mostradas na Tabela 13, evidenciaram uma sensível

diminuição de cada parâmetro através do tempo, observando-se também uma

correspondência com os dados de idade e comprimento médio de captura

mostrada no capítulo III. A biomassa do estoque também mostrou esse

comportamento, diminuindo de 7.828 ton. (1996) para 2.005 ton. (2003).

Tabela 13. Resultados obtidos da análise virtual de populações para o período


1996-2003 (sexos combinados) no baixo Llano. Onde: Tmedio= idade média de
captura; T critico= idade ótima de captura; Lm=comprimento médio de captura;
Lcritico= comprimento ótimo de captura; Fmedio=mortalidade média por pesca;
Btotal=biomassa total; Bssb=Biomassa do estoque desovante.
Itens 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003
Tmédio 2,11 1,75 1,66 1,75 1,91 1,82 1,76 1,62
T crítico 3,00 3,00 3,00 3,00 3,00 3,00 3,00 3,00
Lm 58,84 53,33 47,74 54,09 53,58 52,12 50,34 47,62
L crítico 72,36 70,38 64,17 71,21 68,57 67,80 66,79 64,78
Fmédia 0,37 0,69 0,76 0,90 0,69 0,67 0,62 0,70
B total (ton) 7.828 4.556 3.456 3.366 2.205 2.723 2.560 2.005
B ssb (ton) 4.094 1.428 1.126 995 608 1.209 1.103 863.

158
Da análise da Tabela 14, observa-se que a composição em peso da

captura para 1996, obtida pela análise de populações virtuais, mostraram que o

peso ótimo do estoque foi a partir de indivíduos com 3 anos de idade, com um

rendimento médio de 1.418 ton, somente para essa faixa etária, já para o ano

2003 este grupo etário contribuiu com apenas 397 ton. (Tabela 14 e 15).

Tabela 14. Estimativas de parâmetros populacionais pela análise de


populações virtuais (VPA) para o caparari no baixo Llano no ano 1996.
Idade Comp. Peso captura (Kg) peso inicial peso médio Z F F/Z
Médio (cm) médio (kg) (Kg) (Kg)
0 30,53 0,39 574,14 117.725,34 287.810,97 0,20 0,00 0,000
1 44,96 1,25 3.662,31 495.524,64 748.995,78 0,21 0,01 0,048
2 57,03 2,60 11.386,89 1.010.916,47 1.262.379,80 0,21 0,01 0,048
3 66,86 4,24 514.969,45 1.499.445,80 1.418.738,04 0,56 0,36 0,643
4 75,30 6,13 520.150,97 1.310.502,28 1.114.792,47 0,67 0,47 0,701
5 82,31 8,09 472.967,68 924.940,53 684.345,78 0,89 0,69 0,775
6 88,33 10,07 220.908,35 483.963,36 362.009,75 0,81 0,61 0,753
7 93,26 11,93 139.552,20 260.302,46 176.648,35 0,99 0,79 0,798

A partir da análise da Tabela 14 se observa que a pesca no ano de 1996

começa a explorar o recurso a partir da classe etária de três anos com valores

baixos de mortalidade de pesca, sendo o mais alto no grupo etário de 7 anos

(F=0,79). Os rendimentos também foram os mais altos nessas classes etárias

(2-7 anos).

Estes mesmos resultados para o ano de 2003 mostraram valores muitos

altos em comparação os do ano 1996. A classe etária de três anos mostrou um

dos valores mais altos de mortalidade por pesca (F=1,30), na Tabela 15

observa-se também o efeito da pesca pela incorporação da classe etária de 2

anos. Por outro lado, o rendimento do caparari no ano de 2003 estava

concentrado nos grupos etários 2-4, tendo as classes etárias 5 e 7 uma

contribuição mínima para a pesca.

159
Tabela 15. Estimativas de parâmetros populacionais pela análise de
populações virtuais (VPA) para o caparari no baixo Llano no ano 2003.
Idade Comp. peso médio captura peso inicial peso médio Z F F/Z
Médio (cm) (kg) (Kg) (Kg) (Kg)
0 30,53 0,39 714,84 62.444,23 152.410,75 0,21 0,01 0,048
1 44,90 1,25 22.714,48 262.130,18 384.466,15 0,26 0,06 0,231
2 56,88 2,58 98.485,30 506.561,54 581.419,49 0,37 0,17 0,459
3 66,18 4,11 516.224,63 640.030,97 397.115,60 1,50 1,30 0,867
4 75,13 6,09 121.985,88 219.175,59 164.205,64 0,94 0,74 0,787
5 82,32 8,09 58.928,10 117.347,78 87.516,86 0,87 0,67 0,770
6 88,21 10,03 36.533,98 62.502,80 41.562,52 1,08 0,88 0,815
7 92,89 11,78 21.458,19 25.694,10 11.413,93 2,08 1,88 0,904

Realizando um paralelismo entre a produção total do caparari e a

biomassa do estoque do rio Apure, estimado pelo programa VIT para Windows

(versão 1,1 COPEMED-FAO-CSIC), pode ser observado na Figura 8 uma

sensível diminuição da produção pesqueira desde o ano 1995. Por outro lado

às estimativas da biomassa do estoque tem mostrado uma redução do 75%.

Isto é importante já que o sistema hidrográfico do rio Apure, é responsável por

mais 80% da produção nacional de caparari. No obstante se as taxas de

captura são mantidas ou incrementadas, e assumindo uma tendência linear do

esforço pesqueiro, exite uma alta probabilidade de um colapso da produção

desta espécie num futuro próximo.

A B

Figura 8. Comparação da produção nacional do caparari (A), com respeito a


biomassa do estoque (B).

160
Rendimento e Biomassa por recruta

O rendimento por recruta para o caparari foi simulado para observar a

resposta do recurso considerando diferentes níveis de exploração (Tc=1,8 a

3,0 anos) e simulando diferentes taxas de mortalidade natural (M= 0,20 e 0,40).

As simulações mostraram que considerando M= 0,40 e Tc =3 anos (Figura 9h),

os rendimentos são mínimos devido ao baixo impacto da pesca sob o recurso

(subexploração). Já com um Tc= 2,5 ou 2,0 os rendimentos são mais elevados,

porém alcançando um nível Máximo de Fmax entorno de 1,30 (considerando

Tc=2,0) (Figuras 9f, 9g). Por outro lado, para a simulação realizada com um

valor de Tc= 1,8 anos, o Fmax é atingido a um nível relativamente alto de

mortalidade por pesca, porém, com rendimentos baixos (Figura 9e).

Por outra lado, utilizando M= 0,20, o maior rendimento é atingido com

Tc=3 anos (F=0,96) (Figura 9d). Já com os valores sucessivos de Tc= 2,5; 2,0

e 1,8, observa-se que os rendimentos vão diminuindo progressivamente até

alcançar o menor rendimento com uma taxa menor de mortalidade (F= 0,56)

(Figuras 9a, 9b, 9c).

As simulações com a B/R mostraram redução em termos porcentuais de

30% do estoque até menos de 5%, em função da diminuição progressiva de

Tc, considerando M= 0,40 (Figura 9a). Por outro lado, com M= 0,20 observa-se

uma estabilidade da B/R em torno de 20-22% do estoque (Figura 9h).

161
A E

B F

C G

D H

Figura 9. Simulações de Rendimento por recruta (Y/R) e Biomassa por recruta


(B/R), utilizando os parâmetros de crescimento para o caparari no baixo Llano,
com dois níveis de mortalidade natural (M) e com diferentes níveis de idade de
primeira captura (Tc).

Levando-se em conta os resultados das simulações com o modelo

Beverton & Holt (1957), com diferentes valores de mortalidade natural e idade

de captura, foi selecionado o valor mais conservador da mortalidade (M= 0,20)

162
e o valor de idade de captura (Tc=1,8) para avaliar o efeito interanual do

rendimento por recruta calculado para cada ano para esse mesmo período.

Foi calculado o rendimento por recruta por ano, observado-se que a

forma da curva Y/R no início do período apresentou altos rendimentos (4.480 g


–1
/recruta) com um ótimo de mortalidade por pesca (Fmax) de 0,57 ano para

1997, sendo este valor menor para os atuais níveis de exploração do caparari

(Fmax= 1,29 ano –1 em 2003) (Figura 10).

Figura 10. Variação interanual (1997-2003) do rendimento por recruta do


caparari no baixo Llano.
De acordo com os valores de mortalidade por pesca obtida pela análise

de populações virtuais (F=1,8 ano-1), o estado atual de explotação está muito

além do máximo sustentável (F=1,3 ano-1) e mais ainda dos referenciais

considerados como seguros de acordo com os indicadores do estado do

estoque (ponto biológico de referência F0,1) F=1,0 ano–1 considerados pelo

código internacional da pesca responsável (FAO,1995) (Figura 11).

163
Figura 11. Curva de consenso do rendimento por recruta do caparari no baixo
llano, mostrando o ponto de referência biológico (F0,1); o rendimento máximo
sustentável (MSY) e o nível atual de exploração pesqueira.

Como uma alternativa ao uso dos modelos analíticos para a

determinação do nível de exploração de um estoque, Froese (2004) propõe um

método para avaliar a sobrepesca sem as fortes restrições dos modelos

analíticos.

Uma analise global desses indicadores nos dados do caparari (Tabela

16), observa-se que, em média, 73% das capturas do caparari têm atingido o

comprimento médio de maturidade sexual e que somente 41,45% dos peixes

capturados têm atingido o comprimento no peso ótimo e, além disso, a

porcentagem de indivíduos mais velhos isto é, a proporção das ultimas classes

etárias da população nas capturas foi de apenas 23% (Tabela 16).

164
Tabela 16. Porcentagem dos indicadores de sobre-exploração proposta por
Froese (2004) aplicado ao caparari no sistema do rio Apure.
Anos 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 media
% Ind. > (Lm) 95,59 79,12 94,67 92,35 60,25 15,41 64,04 83,69 73,14
% Ind. = (Lopt) 72,06 55,54 77,67 30,62 15,98 15,17 17,73 46,81 41,45
% Ind. Velhos>(Lopt +10%) 43,63 19,81 50,00 8,79 9,84 9,83 14,78 31,21 23,48

Realizando uma discriminação anual da Tabela 17, sobre a evoluição

destes indicadores desde 1996, mostrou que, época na qual quase todos os

peixes desovaram ao menos uma vez (indicador 1) antes de serem capturados.

O indicador 2 (70,06%) também mostrou que os peixes estavam sendo

capturados um pouco além do estimado (90%). No caso do indicador 3 os

mega-reprodutores estavam num nível aceitável (Figura 12).

Figura 12. Distribuição da freqüência de comprimentos ( ) e de biomassa ( )


usados para aplicação dos indicadores de sobre-exploração proposta por
Froese (2004) aplicado ao caparari no sistema do rio Apure em 1996.

Para o ano 2003 este cenário muda, o indicador 1 já mostra que uma

fração da população reprodutiva começa a ser afetada (83,69%). O indicador 2

165
é ainda mais afetado, evidenciando uma porcentagem baixa (46,81%) de

peixes atingindo seu comprimento ótimo. Por último o indicador 3 mostra que a

proporção dos mega-desovadores encontra-se no limite de ultrapassar seu

umbral de risco (Figura 13).

Figura 13. Distribuição da freqüência de comprimentos ( ) e de biomassa ( )


usados para aplicação dos indicadores de sobre-exploração proposta por
Froese (2004) aplicado ao caparari no sistema do rio Apure em 2003.

De acordo com estes dados, é evidente que o caparari ainda não mostra

sinais de sobrepesca de recrutamento, porém já mostra claros indícios de

sobrepesca de crescimento, para o sistema hidrológico do rio Apure.

166
DISCUSSÃO

Nossos resultados indicaram que, na relação corpo-estrutura analisado

através dos otólitos Asteriscus do caparari, utilizando diferentes modelos

matemáticos e cuyo parâmetros são utilizados, para o calculo das estimativas

dos comprimentos retrocalculados, a função multiplicativa, mostrou o melhor

ajuste aos dados analisados. Esta função matemática também evidenciou o

melhor ajuste nos otólitos da dourada (Brachyplatystoma rousseauxii) no rio

Amazonas (Alonso, 2002) e também nas vértebras de várias espécies de

bagres (Brachyplatystoma vaillanti; B. filamentosum; B. rousseauxii) do baixo

Amazonas (SANYO, 2001).

Esta função matemática descreve melhor a relação de crescimento corpo-

estrutura ao menos para as espécies da família Pimelodidae de grande

tamanho, já que, para espécies de menor comprimento, outras funções

matemáticas têm explicado melhor essa relação, como foi observado no caso

da piracatinga (Calophysus macropterus), no rio Solimões, onde a relação

corpo-estrutura foi bem explicada pela função linear (Perez, 1999; Perez &

Fabré, 2003).

O melhor ajuste da função multiplicativa pode ter relação com os resultados

encontrados no capítulo II, onde, utilizando as amplitudes das harmônicas da

análise transformada de Fourier, foi possível observar que a forma do otólito

Asteriscus muda com o tamanho do peixe sendo possível evidenciar que

existem mudanças na deposição da argonita sobre o otólito fazendo que a

forma dos otólitos de peixes de menor tamanho, sejam mais circulares,

enquanto que os peixes maiores tende a ter uma maior diversidade de formas

conforme aumenta a idade.

167
Modelos de retrocalculos

O principal pressuposto dos modelos de retrocalculo é que o crescimento

do peixe é proporcional ao crescimento das estruturas calcificadas e que pode

refletir-nos eventos periódicos mais marcantes da vida da espécie (Everhart,

1976; Morita & Matsuishi, 2001). Existem dois tipos de hipótese para a

utilização dos modelos de retrocalculo: um baseado na proporcionalidade da

estrutura (HPE) e outra, na proporcionalidade do corpo (HPC) (Lai et al,1996;

Francis,1990). Vai depender da correta definição do tipo de relação entre o

tamanho da estrutura e do corpo do peixe a aplicação dos diferentes modelos

de retrocalculos.

Por isso, quando são iniciados estudos de crescimento em peixes é

recomendável testar vários modelos de retrocalculos a fim de verificar qual

melhor se ajusta aos nossos dados. Neste estudo, foram testados três modelos

de retrocalculo (Everhart, Monastrysky e Morita-Matsuishi). O modelo de

Morita-Matsuishi (2001) apresentou o melhor ajuste aos dados do caparari e

por apresentar uma menor contração dos comprimentos retrocálculados nos

peixes mais velhos.

Este modelo também foi selecionado por Alonso (2002) para descrever o

crescimento da dourada no rio Amazonas. A grande vantagem do Modelo de

Morita-Matsuishi (2001) é que minimiza o efeito da contração dos tamanhos

dos últimos anéis de crescimento. Segundo estes autores, o modelo de

retrocalculo incorpora o efeito da idade no crescimento dos otólitos nos peixes,

partindo das premissas que em peixes de mesmo tamanho, os otólitos de

crescimento lento são maiores que os de crescimento rápido, e que o

168
crescimento dos otólitos se matém constante mesmo sem crescimento

somático (Morita-Matsuishi, 2001; Campana, 2001)

Da mesma forma, quando foram análisados os comprimentos médios

retrocálculados pelo metodo de Morita-Matsuishi (2001) para as sete marca de

crescimento observado, não foi evidenciado o fenômeno de Lee. Ricker (1975)

menciona que quando os peixes de crescimento rápido, a mortalidade

diferencial seria um dos fatores que produz esse efeito e, portanto, os peixes

maiores são menos susceptíveis a predação, porém mais vulneráveis aos

aparelhos de pesca. Porém, por incorporar o efeito da idade no modelo há

também a possibilidade de que o modelo de Morita-Matsuishi (2001) permita

eliminar o fenômeno de Lee.

No trabalho de Alonso (2002), assim como neste estudo, não foi observada

tendência na diminuição dos comprimentos retrocalculados à medida que

aumentam a idade, conforme seria esperado se houvesse fenômeno de Lee.

Até o momento, poucos trabalhos foram realizados utilizando o modelo de

Morita-Matsuishi (2001), e portanto, é difícil afirmar se este modelo permite de

fato eliminar o fenômeno de Lee.

Parâmetros de crescimento

No estudo da dinâmica de populações, quando uma população está sujeita

à exploração pesqueira, ela tenderia a apresentar uma menor densidade

espacial, e portanto, a competição intraespecífica diminuiria e a disponibilidade

de alimento aumentaria, assim como, a disponibilidade de refúgio (Csirke,

1980; Gulland,1983; King,1995;). Tudo isto permitiria que a velocidade de

crescimento dos peixes aumentasse, porém observa-se que o comprimento

médio dos peixes diminuíria com o tempo.

169
Ao longo do desenvolvimento deste trabalho (especificamente no

capítulo III) foi mencionada a limitação das estimativas dos parâmetros de

crescimento para esta espécie calculadas por Reid (1983). Entre outras razões,

destaca-se pela ausência de uma análise criteriosa do padrão de marcação

dos anéis de crescimento tanto qualitativa como quantitativa, nas vértebras do

caparari. Este autor também não mostrou uma descrição estatística da

distribuição das marcas de crescimento que permitisse evidenciar se os

critérios de leitura dos anéis foram mantidos ao longo do processo.

O padrão de crescimento observado no caparari é dizer um rápido

crescimento durante os dois primeiros anos de vida, é análogo ao observado

para outras espécies neotropicais (Oliveira, 1997; Perez & Fabré, 2003; Vieira,

1999; Alonso, 2002; Vieira, 2003). No presente estudo, foi calculada a taxa de

crescimento, encontrando-se valores similares aos apresentados por Loubens

& Panfili (2000), porém diferente aos resultados apresentados por Reid (1983)

e Ruffino & Isaac (1995) (Tabela 17).

Tabela 17. Parâmetros populacionais para o caparari na América do sul. Onde:


L∞ = comprimento assintótico (cm); k= constante de crescimento; to= idade no
comprimento zero; M= mortalidade natural.
Região Método L∞ k to M Referência
Baixo Amazonas Freq. Comprimentos 175 0,33 0,50 Ruffino & Isaac (1995)
Rio Mamoré Vértebras 128 0,15 -1,30 Loubens & panfili (2000)
Rio Apure Vértebras 174 0,09 -1,12 Reid (1983)
Rio Apure Otólitos (Asteriscus) 119 0,17 -1,04 0,20 Presente estudo

Em comparação com os valores dos parâmetros populacionais para as

espécies de bagres amazônicos obtidos por (Ruffino & Isaac, 1999; Barthem &

Fabré, 2004), uma taxa de crescimento (k) relativamente baixa para o caparari

foi observada, quando comparado com as outras estimativas registradas para a

170
mesma espécie em estudos anteriores de outras bacias hidrográficas (Reid,

1983; Ruffino & Isaac, 1995; Loubens & Panfili,2000).

O rápido crescimento do caparari poderia estar relacionado ao fato de ser

uma espécie predadora de topo de cadeia alimentar, com a possibilidade de se

alimentar de presas de maior tamanho, aumentando o seu potencial alimentar

(Nikolski,1969). Outra possibilidade é que o rápido crescimento seja uma

resposta adaptativa para evitar a predação (Lowe-McConnell, 1987).

Igualmente o desenvolvimento das gônadas do caparari durante a seca, ante

que o resto das espécies da maioria dos caracideos (Characidae,

Serrasalmidae, Anostomidae, Prochilodontidae, Hemiodontidae Cynodontidae,

entre outros), representa uma estratégia para atingir um tamanho maior para

predar as larvas ou juvenis das espécies.

Uma análise das estimativas do parâmetro "k" de von Bertalanffy por ano

para os capararis indicou que estes peixes foram menores nos anos 1996-

2000, enquanto que os maiores foram observados nos anos 2001 e 2003,

período no qual iniciou a diminuição dos comprimentos médios. Porém, apesar

desta variação dos parâmetros de crescimento, apresentam pequenas

mudanças, mas ela não indica uma mudança na estratégia de vida da espécie.

Estratégias de vida

As estratégias de vida das espécies são o resultado de um processo

evolutivo direcionado pela seleção natural, permitindo agrupar espécies ao

longo de um contínuo. Por um lado, temos predominando os fatores

dependentes da densidade (seleção K). E por outro lado, temos os fatores

independentes da densidade (seleção r) (Adams,1980; Pianka, 1982;

Winemiller, 1992), permitindo caracterizar a história de vida das espécies em

171
algum ponto desse contínuo (Winemiller & Taphorn, 1989; Clark,1991;

Winemiller, 1992).

No caso do caparari, a espécie apresenta características próprias de

ambos os extremos, dificultando sua classificação em uma destas categorias.

Por exemplo, o caparari tem uma alta fecundidade, com táctica reprodutiva

sazonal com freqüência anual (Arboleda, 1989) e apresenta idade de primeira

maturação sexual de dois anos que pode ser considerada baixa, característica

que permite classificar-lo como uma espécie r-estrategista. Por outro lado, o

caparari apresenta características tais como: alto número de classes etárias

(7), alto L∞ (117cm), esperança de vida de 14 anos e baixa mortalidade

natural (0,20), podendo ser classificada como uma espécie k-estrategista.

Uma situação similar foi detectada por Alonso (2002) com a dourada no rio

Amazonas, observando que esta espécie apresenta características próprias de

ambos extremos do continuo k-r. Apesar de Winemiller & Taphorn (1989)

considerarem as espécies de bagres da família Pimelodidae como r-

estrategistas (estratégia sazonal) é possível que esta classificação seja

insuficiente para descrever as estratégias de vida para as espécies dos

grandes bagres da América do sul.

Contudo, considerando os preceitos do manejo precautório contidos no

código da pesca responsável (FAO, 1995), e o dianostico da FAO-COPESCAL

(2000) sobre o status dos grandes bagres da América do Sul, optamos por

considerar ao caparari como uma espécie k-estrategista.

Portanto, a resposta do caparari à pressão pesqueira sobre estas

condições conduz a um panorama pessimista dadas as características

172
encontradas neste estudo, o seja diminuição da biomassa, redução dos

comprimentos médios de captura, redução do rendimento por recrutamento.

Teoricamente, o caparari poderia suportar uma alta exploração sempre e

quando mais 50% da população adulta consigam se reproduzir, e os habitats

de reprodução do estoque desovante no alto Llano sejam preservados, mas até

neste momento nenhuma das duas situações está sendo atendida pelas

agências governamentais do páis.

De fato, a pressão da pesca já revela uma eminente sobrepesca de

crescimento, pois, em 1996, o comprimento médio de captura dos peixes era

de 73,6 cm e na atualidade apenas atingem os 60,1 cm e o comprimento médio

de maturidade sexual é L50= 47,62 cm. Deste modo, os peixes não têm

oportunidade ou tempo suficiente para atingir o peso ótimo (Sparre &

Verema,1995; Froese, 2004).

Mortalidade

Os resultados obtidos para as estimativas de mortalidade natural por

diferentes métodos variaram entre M= 0,20 (Taylor 1958 apud: Sparre &

Verema,1995) e M= 0,40 (Pauly, 1980). O valor médio das estimativas de M foi

próximo ao valor obtido pelo método de Cubillos (M=0,37). Não obstante, a

mortalidade natural foi a mais baixa entre as que já foram estimadas para a

mesma espécie em bacias vizinhas (Ruffino & Isaac, 1995; Loubens & Panfili,

2000).

A mortalidade total (Z) media estimada pelos métodos de Ssetongo &

Larkin (1973) e Beverton & Holt (1956), foi menor em comparação com os

valores estimados por outros trabalhos, mesmos considerando que as

estimativas foram obtidas por diferentes métodos, estes resultados podem

173
estabelecer que a mortalidade total para o caparari é relativamente alta,

refletindo a pressão da pesca sobre o recurso.

Apesar da dificuldade na estimativa da proporção da mortalidade total

causada pela pesca, a relação F/Z representa uma indicação da pressão

pesqueira sobre o estoque. A relação F/Z= 0,5 tem sido proposta como uma

taxa de exploração sobre os modelos surplus, como uma aproximação ao Fmsy

(Gulland,1983). Por outro lado, Patterson (1992) utilizou um método empírico

baseado numa revisão de dados históricos, e recomendou que F/Z= 0,4

deveria ser usado como um valor mais conservativo, nos estoques pelágicos

das pequenas espécies. Outros autores como Rochet & Trenkel (2003)

consideram que ao menos a relação F/Z= 0,5 deveria ser considerada, como o

limite de exploração. Portanto, quando F/Z> 0,5 considera-se o estoque sobre-

explorado.

Os resultados da relação F/Z no caparari mostra que para 1996 ainda não

tinha atingido o nível de sobrepesca já que em media a relação F/Z foi menor

ao valor limite (0,47), porém, já no ano 2003 apresentavam indícios de sobre

exploração (0,61) portanto, isto também evidenciariam o fenomeno da

sobrepesca de crescimento.

Rendimento por recruta

A análise do rendimento por recruta (Y/R) e a biomassa por recruta (B/R)

foi conduzida para obter pontos de referência e avaliar o estado de exploração

do caparari. A utilização dos modelos de Beverton & Holt (1957) em

ecossistemas tropicais multiespecificos tem sido revisada por vários autores no

passado (Pauly et al.,1998; Sparre & Verema, 1995). Mostrando as limitações

dos modelos analíticos ao ter premisas muitos restritivas e não considerar as

174
interações interespecificas. No obstante a análise da B/R representa uma

alternativa para identificar outros potenciais pontos de referências.

Existem vários pontos de referências biológicos baseados na

mortalidade por pesca (F0.1, Fmax, Flow, Fmed, Fhigh, FMSY, 2/3FMSY, Fcrash, Floss,

F<M), na mortalidade total (Zmbp), ou na biomassa (BMSY, B50%R, B20%B-virg,

Bloss). Todes eles são utilizados como indicadores para avaliação dos recursos

pesqueiros dentro da abordagem do manejo precautorio (Caddy & Mahon,

1995; Grabiel & Mace,1999; Booth,2004).

Os pontos de referência biológicos geralmente são expressados como

uma função da mortalidade por pesca e derivados dos modelos de avaliação

de estoques (modelos analíticos) que descrevem a dinâmica da população

(Grabiel & Mace,1999; Rosenberg & Restrepo,1996). Infelizmente este estudo

representa o primeiro estudo da dinâmica populacional do caparari na bacia do

rio Apure, já que os outros trabalhos usando os modelos de rendimento por

recruta têm sido utilizados fora do país (Ruffino & Isaac,1999).

Neste estudo utilizamos o F0,1 que define a mortalidade por pesca no 10%

da declividade da curva de rendimento por recruta, em ausência da relação

estoque-recrutamento (Caddy & Mahon, 1995). E analisando os resultados do

rendimento por recruta para o caparari, a mortalidade por pesca (F) ótima para

atingir o Maximo rendimento pro recruta (Fmax). Foi concluído que o valor atual

de mortalidade por pesca (F=1,83) está além do valor ótimo (F=1,30) e mais

distante ainda do ponto de referência biológico recomendado pela FAO

(F0,1=1,01).

175
Os resultados obtidos para a simulação dos diferentes valores de M e Tc

mostram o efeito da sobrepesca de crescimento no sistema do rio Apure, com

o predomínio das classes etárias 2 e 3 (55-70 cm).

Estas estimativas obtidas pelo modelo de rendimento por recruta devem

ser tomadas mais como indicadores de tendência do que como valores

absolutos, devido às limitações do modelo para as espécies tropicais com

relações bióticas poucas conhecidas numa área com pescarias

multiespecíficas. Portanto, esses resultados devem ser tomados como um

ponto de referência para futuros estudos ou diagnósticos sobre os recursos

pesqueiros.

Por outro lado, a simulação de nossos dados, com respeito ao modelo de

Beverton & Holt (1957), também mostrou baixos rendimentos por recruta,

devido a que a pesca no baixo Llano é realizada quase durante todo o ano,

incluindo nas áreas de criação, onde há maior proporção de juvenis e pré-

adultos do caparari. Portanto, é importante limitar a pesca nas áreas tanto de

criação como de alimentação.

Biomassa por recruta

Considerando os resultados das estimativas da B/R podemos considerar

que se a biomassa do estoque desovante pode ser mantida entre 30 e 60% do

estoque virgem, então a produção excedente do caparari pode ser pescada

sem riscos.

Por outro lado, a biomassa por recruta deveria ser mantida por baixo

40%. A ampla estabilidade entre o rendimento por recruta e a biomassa por

recruta, indica que a estratégia baseada na avaliação da biomassa poderia, ser

mais adequada que a estratégia baseada na regulação da mortalidade por

176
pesca. Ao menos 75% do RMS poderia ser atingido simplesmente mantendo a

biomassa do estoque entre 30-50% de seus níveis virgens sem incrementar o

risco, devido à natureza artesanal da pesca comercial.

Porém, se considerarmos que em 1996 o recurso estava sendo

explorado em quase 50% da biomassa do estoque desovante, e assumimos

uma projeção linear, de manter-se desta tendência nos próximos anos e

coincidindo com um eventual baixo sucesso na desova, a biomassa do estoque

poderia atingir até 80% de exploração no ano 2010.

Portanto se as condições ambientais não podem ser melhoradas

(diminuição do desmatamento, poluição, agrotóxicos, barragens nas savanas)

a mortalidade por pesca deveria ser reduzida ao menos até 35% para manter a

biomassa do estoque em num nível relativamente sustentável assumindo-se

também que a seletividade da pesca não mude a médio prazo. Já que, a

mortalidade por pesca em 2003 estava afetando 65% do estoque desovante,

desta forma é imperiosa a necessidade de iniciar ações de manejo para evitar

o colapso deste recurso.

O rendimento infelizmente já esta comprometido para manter a

biomassa do estoque. Portanto, no caso do caparari, se a mortalidade por

pesca é efetivamente mantida nesta taxa (F=1,80), então a sustentabilidade

das comunidades pesqueiras baseadas nas pescarias do caparari não seria

possível.

Análise de populações virtuais (VPA)

Os modelos de estrutura de idade, como a análise de populações

virtuais (VPA), apresentam uma análise retrospectiva da população e do efeito

da pesca nas diferentes coortes. Por meio desta ferramenta, é possível estimar

177
o tamanho da população e sua distribuição de idade, assim como a taxa de

mortalidade total por ano (Fontele-Filho,1989; Gulland,1983; King,1995; Sparre

& Verema,1995; Hiyama et al., 2002).

Os resultados, em termos gerais, mostram uma redução das estimativas

da biomassa do estoque, assim como incremento da mortalidade, tanto ao

longo dos anos como por classes etárias. Por exemplo, foi observado um

coeficiente de mortalidade por pesca relativamente alta (1,88) para as classes

de idade 6 e 7 (2003).

Por outro lado, observamos que o crescimento do caparari tem mudado

com relação às flutuações do tamanho do estoque de acordo com as

estimativas da biomassa do estoque desovante obtido pelo método VPA.

Em vários estudos sobre recursos pesqueiros submetidos a uma intensa

exploração pesqueira, tem sido observada uma correlação negativa entre o

comprimento do corpo e o tamanho do estoque, como, no caso, da sardinha

japonesa (Sardinops melanostictus) no mar de Japão (Morimoto,2003). Esta

correlação negativa não foi evidenciada para o caparari no rio Apure, isto

poderia indicar que o efeito da pesca sobre o estoque do caparari ainda não

produziu fortes mudanças na biomassa do estoque.

Em conclusão, a diminuição tanto em tamanho como em biomassa do

estoque do caparari é um problema que deve ser enfrentado. Em tal sentido, é

preciso uma estratégia de manejo na qual o caparari seja explorado de forma

sustentável.

Estimativas de sobrepesca

De acordo com Cushing (1981) a sobrepesca é uma medida em relação

à pesca que pode ser definida como a exploração excessiva de um recurso

178
colocado em perigo de um colapso ou que seus rendimentos sejam inferiores

do que poderia ser obtido se métodos menos intensivos ou mais seletivos

fossem aplicados.

Quando a pesca tem um reconhecido status de sobrepesca o dilema

entre os efeitos a largo e curto prazo aparece. No curto prazo o esforço

incrementasse e a seletividade decresce produzindo altos rendimentos,

além,da taxa de desconto na pesca com aceso aberto. E no longo prazo os

rendimentos diminuim, a sobrecapitalização da frota pesqueira aparece e a

sobrepesca de crescimento se tranforma em sobrepesca de recrutamento.

Existem dois tipos de sobrepesca, uma que afeta a viabilidade do

recurso, enquanto que outro se refere ao rendimento que o homem pode obter

dele, a esta distinção clássica é chamada sobrepesca de crescimento e de

recrutamento Cushing (1996).

Quando a sobrepesca de crescimento acontece, os peixes são

capturados antes que eles atingem o peso ótimo, fazendo que o rendimento

não seja sustentável. Da aqui que a sobrepesca de crescimento causa um

baixo rendimento na pesca. Neste caso o risco é para a pesca (como atividade

econômica), mas não necessariamente para o estoque.

No caso da sobrepesca de recrutamento ocorre quando o estoque

desovante declina tanto que o recrutamento em si mesmo é reduzido. Somente

uma drástica redução da mortalidade por pesca poderia evitar o risco do

colapso do estoque com graves conseqüências biológicas.

Devido que a sobrepesca de crescimento é muito mais simples de

detetar que a sobrepesca de recrutamento (relação estoque-recrutamento difícil

de estimar), usualmente a primeira é mantida mais em mente que a segunda,

179
mesmo que esta última seja mais perigosa. Este problema deveria ser

considerado no futuro ao momento de implantar uma proposta de manejo (ver

capítulo VI) em relação à abordagem precautorio na bacia do rio Apure.

Os resultados da avaliação da sobrepesca obtidos através do método

Froese (2004) confirmam o já observado com os métodos de avaliação de

estoques, mostrando sobrepesca de crescimento. Considerando todo o período

de estudo (1996-2003), o indicador 1 evidencia que não todos os peixes se

estão reproduzindo ao menos uma vez (27%). O indicador 2 se manter em um

nível aceitável. Porém, o indicador 3 mostra uma porcentagem próxima ao

limite do 20% dos mega-desovadores (23,48%).

Froese (2004) mostrou a importância dos peixes velhos na sobrevivência

no longo prazo da população. Já que as fêmeas ao serem de maior tamanho

são mais fecundas, devido a que geralmente o número de ovos incrementa-se

exponencialmente com o comprimento na maioria das espécies e, portanto, as

larvas têm mais oportunidades de sobreviver (Trippel, 1998).

Igualmente uma longevidade alta, prolonga a fase reprodutiva permitindo

ter uma reserva de reprodutores em casos de problemas no recrutamento

(Beverton, 1987). Em outras palavras os mega-desovadores, num estoque

podem ser vistos como um poder para resistir eventos estocásticos na

população.

A vantagem dos indicadores propostos por Froese (2004), é que estão

baseados nas observações das mudanças na distribuição de freqüências de

comprimentos e da biomassa das populações. Estes indicadores representam

uma importante ferramenta para ajudar na recuperação dos estoques, e para o

180
monitoramento das espécies como o caparari que são afetadas pela ameaças

da diversidade aquática entre elas a pesca, destruição do habitat, poluição etc.

Portanto, tomando em conta estes resultados, é importante considerar

que a alteração dos ecossistemas aquáticos, além da pressão pesqueira, pode

afetar a biomassa do estoque desta espécie de forma mais severa, do que

inicialmente se considerava especialmente se fatores extrínsecos (enchentes

curtas) e intrínsecos (baixo sucesso reprodutivo) são combinados num

determinado ano.

Considerando os resultados dos modelos de avaliação de estoque, junto

aos fatores políticos, sociais e econômicos, constituem a base científica para

criarem referenciais visando um manejo pesqueiro baseado no ecossistema.

Portanto, as estratégias de manejo devem ser mantidas ou modificadas com

base nos resultados das avaliações periódicas (Gulland, 1983; Hilborn &

Walters, 1992; Sparre & Venema, 1995). Em consequência, todo plano de

ordenamento pesqueiro deve ser flexível para se adaptar as mudanças

ambientais ou econômicas sempre levando em consideração o

desenvolvimento sustentável.

Dado este panorama, é necessário estabelecer um conjunto de medidas

de manejo não tanto apenas para o caparari, senão para a pesca em geral. Por

tal motivo, no capítulo seguinte foi desenvolvida uma proposta de manejo

tomando como referência os resultados encontrados no presente estudo.

181
CAPITULO VI
PROPOSTA DE ORDENAMENTO PESQUEIRO PARA O SISTEMA
HIDROGRAFICO DO RIO APURE

INTRODUÇÃO

A análise das diretrizes de uma política pesqueira é o meio pelo qual os

meio gestores do recurso decidem (ou revisam) um objetivo de manejo, sendo

as estratégias de manejo os meios para atingi-lo (Blackwell et al., 2000). Na

atualidade, existem três sistemas de manejo pesqueiros, para o

desenvolvimento de uma determinada política pesqueira: reativo, adaptativo e

precautório (Caddy & Mahon,1995).

No caso do manejo reativo, o Estado (gerenciador do recurso) somente

atua quando um evento (ambiental, econômico ou político) toma lugar e é

forçado para atuar. Este é o sistema de manejo dos recursos pesqueiros na

Venezuela, onde existem regras mais ou menos invariáveis. Quando um

problema aparece (por exemplo, à introdução de uma espécie exótica) o

Estado implementa medidas adicionais ou modifica aquelas que já existem, e

geralmente deve tomar decisões em pouco tempo sem conduzir uma análise

sobre as causas do problema. Sob essa estratégia, o Estado trata de

acompanhar a resposta do problema e do mecanismo bio-econômico que

gerou esse evento.

O manejo adaptativo (Walters, 1986; Halbert, 1993; Caddy, 1999), está

baseado em um processo de retroalimentação que envolve a atualização dos

dados pesqueiros, a avaliação dos recursos e o manejo. Os dados obtidos da

pesca são avaliados por grupos de expertos independentes, proporcionando a

182
conseqüente acessória para a agência administradora a qual é a instância que

definirá as ações que considera apropriadas. Este processo implica o diálogo

entre os três principais atores (pescadores, políticos e cientistas). O circuito de

coletas de dados-avaliação da informação– acessoria e manejo, são fechados

anualmente, para determinar o impactos das estratégias de manejo

implementadas. Esta abordagem permite aprender do sistema e sua reação a

as diferentes medidas de manejo ou adaptar o manejo a essas necessidades

(Walters, 1986; Walters & Johnson,1991).

O principio precautório consiste em aplicar um conjunto de critérios de

medidas conservadoras para evitar ou minimizar o risco de colapso dos

recursos naturais (Garcia, 1996; Garcia, 1994; Garcia et al., 1999). A estratégia

do manejo precautório está baseada em um cuidado conservador do recurso

pesqueiro, em não tomar decisões que possam colocá-lo em risco,

especialmente quando o conhecimento científico é muito limitado e, portanto,

assume que as predições teriam um alto grau de incerteza (Caddy, 1999).

Garcia (1996) realizou uma completa revisão da abordagem precautório

aplicada à pesca, mostrando a importância da aplicação do princípio

precautório no uso sustentáveis dos recursos pesqueiros.

Independentemente da abordagem utilizada para a ordenação da pesca,

é importante definir as estratégias para enfrentar o fenômeno da sobrepesca na

maioria dos estoques pesqueiros ao redor do mundo, tanto marinhos como de

água doce (Garcia, 1994; Caddy & Mahon,1995).

As causas da sobrepesca são múltiplas, mas três (biológica, econômica

e social) são as mais comuns, e é o resultado de um processo de competição

por um recurso natural renovável (Hardin, 1968). A sobrepesca se manifesta

183
quando um determinado recurso biológico diminui sua densidade populacional

e a competencia intraespecifica atinge tamanho próximo ou menor ao

comprimento de primeira reprodução. Por outro lado, as forças do mercado

podem levar um recurso a uma condição de sobrepesca quando existe uma

demanda maior que a oferta. Igualmente a sobrepesca pode surgir para

sastifazer um problema de indole social como a fome de conglomerados

sociais, com alta densidade populacional de baixa renda ou com desemprego

que encontra na pesca uma alternativa de sobrevivência.

No processo de desenvolvimento da exploração de um recurso que está

fora do estado de equilíbrio, há fases de rendimentos não-sustentáveis. Isto

acontece quando a pesca esta no início do desenvolvimento, e os rendimentos

são mais altos do que aqueles que correspondem ao estado de equilíbrio,

dando lugar à falsa percepção de abundância em função da produtividade do

recurso (Pauly & Christensen,1995).

Por outro lado, as mudanças na biomassa também não são fáceis de se

interpretar, sendo que a exploração sustentável ocorre quando há obtenção de

um determinado rendimento a partir do excedente de crescimento da

população, permitindo sua renovação no tempo. Porém, a tentação de obter no

curto prazo mais do que é responsável ganhar é muito forte. Além disso, os

sinais de sobrepesca não aparecem imediatamente nem são fáceis de

identificar.

Devido a que sobrepesca de crescimento é muito mais simples de

detectar em comparação com a sobrepesca de recrutamento (relação estoque-

recrutamento difícil de estimar), usualmente a sobrepesca de crescimento é

184
mantida mais em mente que a sobrepesca de recrutamento, mesmo que esta

última seja mais perigosa.

Até neste momento, não existem dados que permitam atribuir de forma

direta à pesca a redução dos comprimentos médios do caparari, já que outros

aspectos antrópicos igualmente estressantes para os peixes (alteração do leito

dos rios, poluição das águas com biocidas, ursinas hidroelétricas, entre outros)

podem estar afetando o crescimento da espécie. Contudo, é provável que no

caso do caparari, a pesca estejá começando a introduzir fortes mudanças na

estrutura populacional com conseqüências para a sustentabilidade deste

recurso, se medidas de manejo não forem tomadas a tempo de mudar esta

situação.

Já a tendência temporal da produção do caparari parece mostrar um

padrão de reposta frente à pressão da pesca o que poderia sugerir a

necessidade de diminuir o esforço pesqueiro por ciclos a cada dois anos onde

o terceiro ano deveria ser de defeso total.

Portanto, os resultados sobre a dinâmica populacional do caparari no

sistema do rio Apure evidenciam que a sobrepesca de crescimento é uma

realidade para esta espécie. Dada a forte pressão da pesca, é possível que

outras espécies estejam numa situação similar ao caparari.

Ferramentas de manejo

Para a implementação de um programa de manejo pesqueiro, a primeira

atividade a se realizar é a definição dos objetivos a médio e longo prazo, já que

existe um conjunto de objetivos que não sempre são compatíveis como: evitar

o colapso do recurso e maximizar a produção pesqueira, ou conservar o

185
recurso e gerar empregos, assim como minimizar as flutuações da abundancia

do recurso e maximizar o lucro.

As ferramentas de manejo são classificadas em três categorias

(pesqueiras, ecológicas e econômicas). Estão estabelecidas em função com os

procedimentos da pesca (aparelho, tempo, captura etc.), da proteção do

ecossistema aquático e na obtenção de benefícios econômicos num sentido

que se combine com os objetivos de manejo, portanto cada categoria de

manejo tem um custo e um resultado que pode ser mais ou menos fácil de

implementar, controlar e melhorar.

Pesqueiras

Várias ferramentas pesqueiras estão disponíveis para o manejo

pesqueiro que podem ser de grande utilidade para a avaliação da pesca, como,

por exemplo, esforço pesqueiro, poder de pesca, tipo, tamanho e quantidade

de aparelhos de pesca, número de barcos, defeso temporal e espacial.

Entre as ferramentas pesqueiras, deve-se prestar atenção ao número de

barcos, devido a que este é o principal mecanismo usado pelos pescadores do

rio Apure para incrementar a mortalidade por pesca.

Ecológicas

Permite dar ênfase na importância da implementação de unidades de

conservação como ferramentas ecológicas, em particular porque este

procedimento tem um especial significado para a proteção dos estoques.

Por outro lado, algumas das principais medidas de regulação ecológicas

podem ser implementadas através da conservação dos habitats. Basicamente,

os recursos pesqueiros podem ser explorados devido à disponibilidade de

certos estoques que estão diretamente relacionados com o pulso de inundação

186
e, portanto, com os deslocamentos tanto lateral (savana inundável-calha do rio)

como longitudinal (alto-baixo Llano) devem ser garantidos para o

funcionamentos dos processos biológicos das espécies.

Econômicas

As ferramentas econômicas podem ser divididas principalmente em

taxas, subsídios e programas alternativos. Porém, às vezes, são de limitada

utilização no manejo pesqueiro, devido a que sua origem não é biológica e,

portanto seus efeitos são geralmente opostos aos objetivos do manejo

pesqueiro.

Projetos pilotos

Com a implementação de projetos pilotos é possível combinar vários

tipos de manejo (Boutet, 1996). Os projetos pilotos permitem desenvolver

ações de manejo a curto e médio prazo sobre os pontos de vista biológico,

econômico e social, especialmente numa determinada região relativamente

pequena (<100.000 Km2) sobre a qual seja possível monitorar a reposta das

ferramentas de manejo, tanto de aquelas que manipulan o ambiente como a

pesca.

Situação atual da pesca no rio Apure

O trabalho de Novoa (2002) é a única referência sobre o estado atual

dos recursos pesqueiros de água doce da Venezuela, apresentando uma

revisão de forma aproximada sobre o estado atual de exploração. Nesse

estudo evidencia-se a falta da informação biológica e pesqueira sobre as

principais espécies comerciais, e muita dessas informações foram baseadas

em estudos realizados fora do país. Enquanto que as estimativas da produção

187
pesqueira foram baseadas em dados das estatísticas pesqueiras oficiais

(SARPA,1996).

Apesar da escassa informação disponível sobre a biologia de muitas

espécies comerciais do rio Apure, essas informações mesmo incompletas, não

têm sido consideradas pelos gerenciadores do recurso nos planos de manejo.

Neste sentido, dado o cenário na bacia do rio Apure, o manejo pesqueiro

deveria ser definido em função dos objetivos de manejo (aproveitamento

sustentável dos recursos pesqueiros; diminuir ou manter a sobrepesca de

crescimento até um certo nível; protegendo o estoque reprodutivo ou manter

uma exploração das espécies r-estrategistas sem restrições de tamanho de

captura).

Do amplo espectro de possíveis objetivos de manejo, um deles deve ser

selecionado e desenvolvido em função dessa idéia. Em todo caso deve existir

uma alta prioridade para evitar a sobrepesca de recrutamento e manter a

integridade do ecossistema.

No setor oficial do governo venezuelano, existe a idéia de que a pesca

interior na Venezuela apresenta uma exploração (crescimento) sustentável,

apesar de não existirem bases para esta afirmação. Os altos funcionários

consideram que a pesca não tem colapsado (apesar de que em décadas

passadas várias espécies já foram abundantes e agora estão ausentes nos

registros estatísticos) e que as capturas estão mais ou menos estáveis. Porém,

isto é uma situação não sustentável, já que o incremento da mortalidade por

pesca faz decrescer a biomassa de uma espécie, enquanto que outras

aumentam, podendo levar a captura total a um patamar constante por um

determinado período mostrando uma aparente estabilidade da produção

188
pesqueira. Infelizmente não temos séries longas de dados pesqueiros

confiáveis para testar a hipótese, que demostre a existência ou não uma

exploração sustentável no rio Apure.

Em função das informações geradas neste estudo sobre a biologia e

dinâmica populacional do Caparari no sistema hidrográfico do rio Apure,

estamos propondo um conjunto de estratégias, não apenas para o caparari

como também para espécies afins, através de uma proposta de ordenação

pesqueira integral para o rio Apure.

Manejo Pesqueiro: A Abordagem Adaptativa e Precautória

A partir dos resultados encontrados neste trabalho, baseado na dinâmica

populacional do Caparari, desenvolvemos uma proposta de manejo pesqueiro

com o propósito de combinar a teoria com a prática do princípio precautório e o

manejo adaptativo.

A pesca no sistema do rio Apure constitui um estudo de caso de estudo

em que a abordagem precautória deveria ser considerada. A atividade

pesqueira tem sido incrementada ao longo do tempo, e a informação científica

é escassa. As séries temporais de dados pesqueiros são limitadas, e não

existe um procedimento de manejo que permita aprender com o sistema

explorado. O manejo pesqueiro de água doce na Venezuela está baseado num

conjunto de regras (limitações de tamanhos de capturas, aparelhos de pesca)

com escasso fundamento científico e a maioria das medidas não é

implementada ou cumprida por falta de uma fiscalização eficiente.

Considerando que o manejo reativo até o momento não tem respondido

ás expectativas da exploração sustentável dos recursos pesqueiros do rio

Apure, é prudente experimentar novas abordagens na procura de uma via, na

189
qual a exploração dos recursos pesqueiros possa ser realizada de forma

sustentável.

Desenvolvimento da proposta de ordenamento pesqueiro

Considerando todas as informações coletadas neste estudo, foi

desenvolvida uma proposta de ordenação pesqueira, sob enfoque adaptativo.

Para desenhar ações, a diagnosticar o estado atual e marcar as pautas para

reverter a sobrepesca de crescimento, é necessário um marco conceitual que

organize os aspectos relacionados com a atividade pesqueira.

Objetivo geral

Subsidiar as ações de ordenamento do uso dos recursos pesqueiros nos

llanos ocidentais, visando a seu desenvolvimento sustentável, usando o

enfoque adaptativo, compatibilizando os interesses da sociedade com o

ambiente.

Objetivos específicos

Implantar um sistema de administração pesqueira no baixo Llano que

contemple: a incorporação da variável ambiental, incluindo a incerteza, que

facilite a comunicação entre os diferentes grupos de usuários, tratando de

minimizar os conflitos, e que reconheça a necessidade de desenvolver

hipóteses quantitativamente explícitas acerca de como funciona o sistema e

como o sistema começa a mudar pela interferência humana.

Aplicar estratégias de manejo pesqueiro sob o enfoque precautório no

alto llano para a conservação dos estoques localizados nas áreas

antropicamente menos alteradas como os rios Sarare e Caparo.

Abrangência geográfica

190
Este Plano de Manejo deverá delinear as ações de manejo para o

sistema hidrográfico do río Apure (Apuroquia), nos Estados: Apure, Barinas,

Cojedes, Guarico e Portuguesa e a seção oeste do Estado Bolívar. Para a

implementação desta proposta de ordenação pesqueira, o sistema hidrográfico

do rio Apure será gerenciadas através de um projeto piloto (Figura 1)

2
1

4
1 3 1
Bruzual

El Saman

Apurito

San Fernando

Arichuna
San Viciente

1
Quintero
Palmarito

Figura 1. Mapa esquemático do sistema hidrográfico do rio Apure, mostrando


os tributários ( ), reservatórios ( ), principais vilas ou comunidades de
ribeirinhos ( ) assim como os projetos pilotos ( tratamentos), cinco no alto
llano (Caparo=1, Guanare=2, Guaritico=3, Arichuna=4).

191
Desenho Experimental das Estratégias de Manejo Pesqueiro

O plano de Manejo compreenderá um conjunto de estratégias para sua

administração, assim como para a regulação da utilização dos corpos de água

(Tabela 1), para garantir proteção, conservação e propagação dos recursos

pesqueiros, sejam residentes ou migratórios sob o enfoque adaptativo.

Sistema de avaliação dos recursos pesqueiros (Estatísticas pesqueiras)

Dada a dispersão de lagos, lagoas e rios dentro do sistema do rio

Apure é difícil estabelecer sistemas de amostragem adequados para abarcar

todo o recurso o qual não é econômico nem viável. Portanto, propõe-se criar

um sistema de monitoramento bio-pesqueiro para o sistema hidrográfico do rio

Apure dirigido por um consórcio interinstitucional para seu financiamento e

manutenção do sistema de coleta de dados.

Zoneamento das estratégias de manejo pesqueiro

Considerando o conjunto das informações obtidas neste estudo,

combinadas com as informações compiladas por Novoa (2002) e a base de

dados da INAPESCA, é apresentada uma síntese gráfica (Figuras 2-6) das

estratégias de manejo pesqueiro considerando o enfoque adaptativo.

Ordenação baseada no controle espacial da pesca

Aplicando a teoria da biologia da conservação para prevenir a perda da

biodiversidade, através do planejamento de áreas de preservação (Wilcox &

Murphy,1985; Wilson,1992), deve-se considerar o estabelecimento de uma

rede de áreas de preservação, dependendo do padrão de distribuição das

espécies e do acesso da pesca em determinados ambientes aquáticos,

considerando o pescador como um predador com limitações para capturar as

presas.

192
Tabela 1. Proposta de gestão dos recursos pesqueiros para o alto Llano do sistema hidrográfico do rio Apure.
ABORDAGEM OBJETIVOS DE MANEJO ESTRATEGIAS DE MANEJO ATIVIDADES INDICADORES PROJETO PILOTO
Manejo Conservação (Medio - Pesqueiras: Aumentar os Estimativas de L50 ALTO LLANO
Precautorio prazo) Aumento dos tamanhos de Controle:
comprimentos médios de abertura das redes CPUE/área Rio Paguey
Recuperação dos estoques captura. Estabelecer biomassa
dos grandes bagres período de defeso Tratamentos:
pimelodidos. - Ecológicas: Rio Caparo
Proteção do período Estabelecer Mortalidade total Réplicas:
reprodutivo reservas de pesca % infrações a lei Rio Sarare
Proteção das áreas de Maximizar
alimentação fiscalização
Proteção (Longo prazo) ALTO LLANO
- Pesqueiras: Proibição de Estimativas do
Recuperação dos habitats Restrição dos aparelhos malhadeiras comprimento medio Controle:
aquáticos dos tributários do de pesca não seletivos. Rio Portuguesa
3
rio Apure. Fiscalização Vazão m /seg
- Ecológicas: manter uma coordenada sólidos totais Tratamentos:
vazão mínima na seca dissolvidos Rio Guanare
Recuperação florestal das Iniciar um Réplicas:
margens dos rios programa de # clube de pesca Rio Bocono
reflorestamento estabelecidos
- Econômicas:
Fomento da pesca Fomento de clube # de eventos
esportiva de pesca esportivos
Torneios de pesca realizados
esportiva

193
Tabela 2. Proposta de gestão dos recursos pesqueiros para o baixo Llano do sistema hidrográfico do rio Apure.
ABORDAGEM OBJETIVOS DE MANEJO ESTRATEGIAS DE MANEJO ATIVIDADES INDICADORES PROJETO PILOTO
Manejo Fomento (Curto prazo) - Pesqueiras: Censo das BAIXO LLANO
adaptativo Maximizar a produção Zoneamento da frota comunidades Estimativas de Controle:
através das espécies r- pesqueira Definição áreas de comprimento de Rio Apure
estrategistas. Proteção das lagoas na pesca recrutamento
várzea Censo da frota Tratamentos:
Regulação de pesqueira % infrações a lei Rio Chirere
aparelhos de pesca Definição de lagoas Réplicas:
- Ecológicas: proteção fechadas % caminhões com Rio Boquerones
das áreas de criação Proibição da pesca na pescados
- Econômicas: savana inundável
subsídios aos Pagamento de 3
pescadores durante a salários mínimos
cheia
Conservação (Médio - Pesqueiras: Negar novas licenças. % matrícula BAIXO LLANO
prazo) estabilizar o tamanho barcos novos Controle:
da frota pesqueira Fiscalizar as Rio Arauca
Manter a sobrepesca de - Ecológicas: construções ilegais de % barragens
crescimento das espécies Conservação das áreas barragens eliminadas Tratamentos:
r-estrategistas. de várzeas Monitoramento da Mortalidade total Paso Arauca
Estabelecer reservas comunidade íctica El saman
de pesca Aplicar o co-manejo Rendimento Réplicas:
- Econômicas: em comunidades máximo Yagual
estabelecer direitos da ribeirinhas sustentável
propriedade do recurso

194
A mortalidade ocasionada pela pesca pode ser modificada restringindo-

se a atividade pesqueira e limitando a pesca em determinadas áreas. Estas

medidas podem ser aplicadas para reduzir a taxa de mortalidade das espécies

nas etapas mais vulneráveis de seu ciclo de vida.

Por outro lado, propõem-se cinco áreas de preservação (Caparo;

Sanare; Camaguan; Guaritico e delta interno). Essas áreas de preservação

protegerão os habitats críticos restringindo a atividade pesqueira. Elas também

poderiam protegerão as espécies sedentárias, permitindo que uma parte da

população se mantenha liberada dos efeitos genéticos seletivos da pesca e

funcione como refúgio para a acumulação de biomassa e a recuperação das

áreas de pesca circundantes, seja pela migração ou pela dispersão dos

juvenis.

Estas áreas de preservação foram propostas com base nos seguintes

critérios: as reservas nos rios Sarare e Caparo são fundamentais, porque

representam uma das poucas áreas de baixa intervenção humana e porque,

nesses rios, é preciso proteger grupos etários maiores do caparari do que nos

outros tributários.

No baixo llano é preciso preservar áreas de cria e alimentação. O

igarapé Guaritico e os humedais de Camaguan são áreas já protegidas por lei,

mas não são suficientes, sendo necessário uma área maior, onde os processos

biológicos dos ecossistemas naturais sejam mantidos fora da intervenção

humana (biocidas, barragens, poluição, desmatamento). Portanto propõe se

declarar uma parte do delta interno do rio Apure (área sem vocação agrícola e

pecuária) como reserva de pesca (Figura 2).

195
Redes de
reservas de pesca

Figura 2. Áreas propostas para o estabelecimento de uma rede de reservas de


pesca para o sistema do rio Apure.

Ordenação baseada nos direitos de propriedade

Um sistema de direitos bem definidos de acesso ao recurso tem grandes

vantagens, como assegurar que os esforços de pesca tenham uma relação

com a produtividade do recurso. Existem basicamente dois tipos de direitos.

A) acesso mediante controle do esforço (direitos de insumos)

B) acesso mediante controle da captura (direitos baseados nos resultados).

No primeiro caso os aparelhos de pesca são controlados em termos de

tipos, tamanho e quantidade. No segundo caso a pesca é regulada por um

sistema de cuotas de produção por tren de pesca (embarcação+ redes+ motor

de popa). A importância deste enfoque é que considera o pescador como

elemento importante para o manejo, no sentido que lhes permitam considerar o

recurso pesqueiro como um ativo que se deve considerar, conservar e tratar

com responsabilidade.

196
As áreas El Baul, Arismendi, Saman e Aricuna são propostas como

áreas designadas para designar a propriedade do recurso como área piloto ou

de experimentação, devido à proximidade com a cidade de San Fernando de

Apure, facilitando o monitoramento da atividade pesqueira. Igualmente para o

baixo llano próximo ao delta interno do rio Apure propõe-se uma área de

administração especial baseada na pesca do tamoatá realizada nas lagoas de

planície de inundação (Figura 3).

Assinação de direitos
de propriedade do
Recurso
Controle da captura
Controle do esforço

.
Figura 3. Áreas propostas para designar direitos de propriedade do recurso,
considerando as principais comunidades de ribeirinhos, no sistema do rio
Apure.
Ordenação baseada no controle temporal da pesca

Considerando que as áreas de reprodução do caparari encontram-se

nas cabeceiras dos principais tributários do rio Apure, como medida precautória

se deve definir um período de defeso no alto llano, para garantir a realização

do processo reprodutivo. Porém, devido ao fato de que o processo reprodutivo

começa durante a enchente (abril junho), o aumento dos espaços aquáticos faz

com que a pesca seja bem limitada no baixo Llano, portanto este período é

197
considerado como de defeso natural. Nesse sentido, e levando em conta os

resultados obtidos neste estudo com respeito à dinâmica populacional do

caparari, onde é demostrando que o processo reprodutivo se inicia no final do

período seco, é interesante proteger o estoque reprodutivo nas áreas de

refugio no baixo Llano, além das outras espécies de grandes bagres de

importância comercial provavelmente tenham o mesmo comportamento, seria

mais interessante proteger o estoque desovante no período de maior

vulnerabilidade à pesca, na seca (fevereiro março) quando a redução dos

espaços aquáticos é máxima (Figura 4).

Area do período de defeso


Alto Llano (março- maio)
Baixo Llano (janeiro-março)

.
Figura 4. Áreas propostas para aplicação do período de defeso no alto Llano e
baixo Llano, no sistema hidrográfico do rio Apure.

Ordenação baseada na recuperação da integridade biótica

Fatores antrópicos, como as construções de pequenas barragens para o

desenvolvimento agrário, estão afetando a integridade dos recursos vivos

aquáticos do baixo Llano. Para isso, é preciso iniciar um plano-piloto para

restabelecer a comunicação lateral.

198
Restabelecimento da comunicação lateral

A separação das planícies de inundação laterais com relação ao canal

principal do rio, provocada pela construção de diques para o saneamento de

terras com fins agrícolas, além da construção de barragens nas cabeceiras dos

rios que reduz a enchente em cada ano, assim como a sedimentação, esta

gerando uma forte restrição ao recrutamento devido à perda das áreas de

criação nas várzeas (Figura 5).

Igualmente, no alto Llano, é necessário um plano de recuperação de alta

prioridade dos habitats aquáticos e das margens dos rios devido ao avançado

estado de degradação dos rios desta região da bacia. Neste sentido,

recomendamos um projeto piloto tomando como referência aos rios Guanare,

Acarigua e San Carlos para a recuperação dos habitas aquáticos e do padrão

de deslocamento das águas superficiais.

Áreas críticas
de recuperação

Figura 5. Seleção das áreas para a recuperação dos habitats de tributários


críticos no alto Llano do sistema do rio Apure.

199
Fiscalização ambiental

A importância de se estabelecer um sistema de multas dentro do setor

pesqueiro, para garantir a aplicação das políticas e acordos conveniados, é

fundamental para minimizar os efeitos da pesca ilegal sobre os recursos

pesqueiros. Por esta razão é importante a existência de um sistema de sanção

com peso suficiente para garantir o cumprimento da lei por parte da população

(Figura 6).

Pontos de Fiscalização

Figura 6. Localização dos principais pontos de fiscalização (a criar ).

Considerações finais

Tradicionalmente, as estratégias de manejo pesqueiro no sistema do rio

Apure não têm sido avaliadas adequadamente ou apropriadamente

monitoradas. Isto explica, em grande parte, o porque da maioria das ações de

manejo no passado não ter tido nem ainda sucesso. O monitoramento e a

avaliação permitem aos gerenciadores do recurso melhorar seu conhecimento

200
sobre o sistema que estão tentando manejar, fazendo modificações

apropriadas no seu plano de manejo.

Um enfoque mais integrador entre o monitoramento, manejo e

pesquisa são necessários. O monitoramento e os resultados das estratégias de

manejo podem indicar que as áreas requerem mais pesquisa e, portanto os

resultados desta, podem melhorar os métodos de manejo ou monitoramento.

É necessário, um sistema de avaliação implementado através dos

programas de monitoramento, que permitam uma retroalimentação com os

objetivos de manejo inicialmente propostos. Além disso, também a dimensão

hidrográfica e os usos múltiplos do sistema hidrográfico devem ser

considerados, assim como as limitações biológicas, políticas, sociais,

econômicas e culturais devem ser reconhecidas, para que a implementação de

um plano de manejo pesqueiro baseado no manejo adaptativo, tenha sucesso

o curto prazo (Walters & Johnson,1991).

A aplicação de um sistema de manejo pesqueiro baseado no enfoque

adaptativo permitiria o manejo experimental, promovendo uma base científica

para o manejo pesqueiro sem requerer uma ação que dependa de estudos

extensivos. Por outro lado, os políticos poderiam ver como uma opção política

trabalha ao ser comparada com outras estratégias de manejo (Halbert,1993).

Portanto, o manejo adaptativo a diferença do manejo convencional

requer além de usar a melhor informação cientifica disponíveis, os

gerenciadores do recurso devem testar estratégias de manejos, isto é um

reconhecimento deliberado de aprender da experiência (Oliver, et al., 1992).

Esta característica do manejo adaptativo facilita o aprendizado, porém, a

pesar que o monitoramento e a avaliação sejam ferramentas essenciais em

201
descrever o status quo, não proporciona informação sobre o porque de uma

determinada política. Por esta razão é necessário incorporar um componente

experimental dentro do planejamento da proposta de ordenamento.

Por outro lado, precisamos de um suporte institucional que permita e

promova estudos experimentais ao longo prazo, que supere a esperança de

vida de seus proponentes, e evitar uma excessiva burocratização dos

programas experimentais. Para isso será necessário, desenvolver um sistema

de incentivos que permita a persistência do programa do manejo adaptativo ou

que este sejam incorporado na lei.

Considerando que outras atividades humanas fornecem para a região

benefícios econômicos a curto e a médio prazo, é claro que a manutenção dos

ecossistemas, assim como seus recursos pesqueiros, têm pouca importância

ou menor prioridade. Isto poderia ser observado como um subsídio ao

desenvolvimento da região por parte do meio ambiente, embora a experiência

tenha demonstrado que para estas divisões paga-se caro, já que, com a perda

da saúde do ambiente, desaparecem muitos serviços valiosos dos

ecossistemas, devido a que seus custos não são valorados.

202
CONCLUSÕES

• A análise dos crânios através da analise dos marcos anatômicos permitiu

observar uma parcial segregação (Sarare e Caparo) entre os tributários do rio

Apure, porém, esta diferenciação não foi discriminante.

• Utilizando análise de contorno, a forma dos otólitos foi avaliada através dos

descritores elípticos de Fourier, também não mostraram uma clara

segregação, devido a influencia do tamanho nos peixes.

• O caparari forma uma marca de crescimento por ano no otólito Asteriscus,

entre os meses de fevereiro e março no final da seca.

• O período de formação das marcas de crescimento nos otolitos esta

associado com o processo reprodutivo da especie.

• A estratégia de vida do caparari pode ser definida como intermediaria entre

as espécies r-estrategistas e K-estrategistas.

• O ciclo de vida do caparari indica que esta espécie desova no alto Llano e a

área de criação nas savanas inundáveis tendo como área de alimentação o

baixo Llano.

• Os modelos de avaliação de estoques indicam que o caparari apresenta

sobrepesca de crescimento.

203
RECOMENDAÇÕES
1. Iniciar um programa de monitoreo dos desembarco para a coleta de dados
biológicos pesqueiros para melhorar a estatística pesqueira através de
procedimentos padronizados em toda a bacia do rio Apure.

2. Promover a avaliação dos recursos pesqueiros começando com as principais


espécies comerciais.

3. Ordenar o setor pesqueiro orientado para a implementação do manejo


adaptativo ou precautorio.

4. Usar ferramenta de manejo pesqueiro bem seja manipulando o ambiente ou


a pesca, e que sejam fácil de usar e de controlar.

5. Desenvolver pontos de referencias biológicos para detectar e prevenir a


sobrepesca de crescimento e recrutamento.

6. Regionalizar o manejo pesqueiro através do manejo adaptativo, quando seja


possível e tomar em conta os riberinhos, o mercado e os efeitos de borda das
estratégias de manejo.

7. Avaliar as mudanças introduzidas na política pesqueira para evitar


incrementos indesejados na mortalidade por pesca, já seja melhorando a
seletividades dos aparelhos de pesca ou pela proteção ou recuperação dos
ecossistemas.

8. congelar o tamanho da frota pesqueira para evitar um incremento na


mortalidade por pesca, isto deveria ser analisado e compensado por uma
redução do esforço.

9. Criar um banco de dados sobre a situação sócia econômica das


comunidades pesqueiras através de um censo.

10. Aplicar o método de avaliação rápida rural para determinar o grau de


conhecimento e entendimento da dinâmica social e econômica das
comunidades de ribeirinhos.

204
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