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Brasília-DF.
Elaboração
Produção
APRESENTAÇÃO................................................................................................................................... 4
INTRODUÇÃO...................................................................................................................................... 7
UNIDADE I
A SAÚDE MENTAL.................................................................................................................................. 9
CAPÍTULO 1
SAÚDE MENTAL ONTEM E HOJE................................................................................................ 9
UNIDADE II
A SAÚDE MENTAL EM FASES DECISIVAS DA VIDA................................................................................... 16
CAPÍTULO 1
SAÚDE MENTAL DO BEBÊ E DA CRIANÇA PEQUENA.................................................................. 16
CAPÍTULO 2
SAÚDE MENTAL DO ADOLESCENTE.......................................................................................... 29
CAPÍTULO 3
SAÚDE MENTAL NA TERCEIRA IDADE........................................................................................ 38
REFERÊNCIAS..................................................................................................................................... 43
Apresentação
Caro aluno
Conselho Editorial
4
Organização do Caderno
de Estudos e Pesquisa
A seguir, uma breve descrição dos ícones utilizados na organização dos Cadernos de Estudos
e Pesquisa.
Provocação
Textos que buscam instigar o aluno a refletir sobre determinado assunto antes
mesmo de iniciar sua leitura ou após algum trecho pertinente para o autor
conteudista.
Para refletir
Questões inseridas no decorrer do estudo a fim de que o aluno faça uma pausa e reflita
sobre o conteúdo estudado ou temas que o ajudem em seu raciocínio. É importante
que ele verifique seus conhecimentos, suas experiências e seus sentimentos. As
reflexões são o ponto de partida para a construção de suas conclusões.
Praticando
5
Atenção
Saiba mais
Sintetizando
Exercício de fixação
Atividades que buscam reforçar a assimilação e fixação dos períodos que o autor/
conteudista achar mais relevante em relação a aprendizagem de seu módulo (não
há registro de menção).
Avaliação Final
6
Introdução
Não se pode falar de Saúde da Família sem se abordar o campo de Saúde Mental. Esta
disciplina visa fornecer aos profissionais que atuam em saúde da família noções básicas e
alguns aprofundamentos acerca da saúde mental, fornecendo, ainda, um amplo material
suplementar, com o objetivo de instigar os alunos a buscarem mais informações.
A segunda parte do nosso curso aborda a saúde mental em fases decisivas da vida:
infância, adolescência e terceira idade. Estas se configuram em momentos fundamentais,
em que ocorrem transformações psíquicas que refletem no bem-estar mental dos
indivíduos. É imprescindível que os profissionais em saúde mental compreendam
as vicissitudes de cada uma dessas fases do desenvolvimento humano que trazem
inúmeros desafios ao nosso entendimento e atuação.
7
Objetivos
»» Conhecer a evolução histórica dos conceitos e das abordagens em saúde
mental.
8
A SAÚDE MENTAL UNIDADE I
CAPÍTULO 1
Saúde Mental Ontem e Hoje
A saúde mental é um campo relativamente novo nos estudos da saúde humana. Para
melhor compreendê-la, é necessário conhecer sua evolução histórica, bem como as
noções de “normalidade” e “anormalidade”, ao longo dos séculos.
9
UNIDADE I │ A SAÚDE MENTAL
séculos ao jargão médico, têm origem nessa época. Mas foi Kraepelin (1856–1926) que
desenvolveu o primeiro sistema de classificação considerado científico.
Este movimento teve fortes correntes em países como Inglaterra, França e Itália e
grande repercussão no Brasil e, ainda que não se tenham eliminado definitivamente os
hospícios, a Reforma Psiquiátrica deixou, como legado, a conscientização da necessidade
premente de se pensar alternativas de compreensão e prática no cuidado da loucura.
<http://portal.saude.gov.br/portal/arquivos/pdf/relatorio_15_anos_caracas.pdf>
A Lei Federal no 10.216, de abril de 2001, conhecida como Lei Paulo Delgado, trata
da extinção progressiva dos manicômios e da criação de serviços comunitários
para o tratamento da doença mental. Confira o texto integral em: <http://www.
planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/LEIS_2001/L10216.htm>.
10
A SAÚDE MENTAL │ UNIDADE I
<http://www.ccs.saude.gov.br/nise_da_silveira/homepage.html> e <http://
www.ccs.saude.gov.br/nise_da_silveira/homepage.html>
11
UNIDADE I │ A SAÚDE MENTAL
nas crises, a uma desintegração psíquica, que, por sua vez, causa alterações
no estado de consciência, perda do contato com o mundo, desorganização
da personalidade e incapacidade de julgamento (teste de realidade). Pode
haver ruptura das relações sociais, delírios, alucinações e demência ou
degradação das capacidades cognitivas. As esquizofrenias e os quadros
paranoicos figuram neste grupo.
Elas são classificadas em três grupos, de acordo com o efeito que produzem no Sistema
Nervoso Central.
<http://portal.saude.gov.br/portal/arquivos/pdf/A%20politica.pdf>
12
A SAÚDE MENTAL │ UNIDADE I
<http://portal.saude.gov.br/portal/arquivos/pdf/alcool_reducao_danos.pdf>
O que o profissional de saúde deve ter em mente é que qualquer que seja o diagnóstico ou
a causa, o adoecimento mental acomete um sujeito que sofre e o foco deve ser a melhoria
das condições da saúde global da pessoa e da família, visando a sua autonomia, a partir
da melhora ou, se possível, da eliminação do sofrimento, com redução das limitações e
consequências negativas para sua vida em geral. Para isso, o atendimento comunitário
e interdisciplinar em redes de atenção vem se mostrando uma abordagem eficaz, em
substituição ao modelo hospitalocêntrico.
Sobre a nova política de saúde mental no Brasil, que destaca, dentre outras
coisas, a construção de uma rede de cuidados comunitária:
<http://portal.saude.gov.br/portal/arquivos/pdf/relatorio_15_anos_caracas.pdf>
<http://www.paho.org/portuguese/gov/ce/ce128_18-p.pdf>
Hoje há um consenso cada vez maior de que a saúde mental, pela sua complexidade,
não deve ser objeto de apenas um olhar, uma disciplina, qualquer que seja ela. A
complexidade e a multiplicidade dos fatores envolvidos no adoecimento mental
requerem um acompanhamento interdisciplinar, o que não significa a mera soma de
vários saberes isolados, mas a existência de um diálogo e a troca entre eles.
13
UNIDADE I │ A SAÚDE MENTAL
Outra questão que permeia o trabalho em saúde mental para qual o profissional deve
estar atento é a delimitação entre o que é saúde e doença. Vale ressaltar que a linha
entre o normal e o patológico é muito difícil de ser traçada e sua delimitação pode
variar de acordo com fatores socioculturais e históricos. Isso quer dizer que fenômenos
considerados patológicos numa certa sociedade ou época podem ser aceitáveis,
cotidianos ou até mesmo valorizados em outra e vice-versa.
14
A SAÚDE MENTAL │ UNIDADE I
<http://machado.mec.gov.br/arquivos/pdf/contos/macn003.pdf>
15
A SAÚDE MENTAL EM
FASES DECISIVAS UNIDADE II
DA VIDA
CAPÍTULO 1
Saúde Mental do Bebê e da
Criança Pequena
Até os anos 1950, a ciência considerava o bebê um ser passivo, cuja atividade primordial
se resumia à função da alimentação (lactente). A concepção reinante era que bastava
fornecer os cuidados básicos de alimentação e higiene, até que a criança crescesse e, a
partir dos 6 ou 7 anos, entrasse, de fato, em uma fase de desenvolvimento e aprendizagem.
Entretanto, a partir da segunda metade do século XX, houve uma mudança gradual mas
decisiva na forma de conceber o bebê, quando se passou a reconhecer que a criança,
mesmo no início da vida, era muito mais que um mero “tubo digestivo” (GOLSE, em
ARAGÃO, 2004).
Um fator primordial para essa mudança conceitual deu-se durante a Segunda Guerra
Mundial. O alto índice de patologias mentais e mortes em crianças abrigadas em
orfanatos do pós-guerra começou a chamar a atenção dos estudiosos. Percebeu-se que,
apesar de receberem cuidados de alimentação e higiene, as crianças apresentavam
comportamentos estereotipados, apatia, desinteresse, dentre outros sintomas,
sugerindo a existência de um sofrimento que extrapolava as condições materiais e os
cuidados físicos a elas oferecidos. A partir daí, deu-se início a um período de grande
pesquisa acerca da vida mental da criança nos primeiros anos de vida.
Outro teórico que merece menção é Bowlby (1969/2002, 1976/2001), que desenvolveu
a Teoria do Apego, segundo a qual um vínculo seguro entre o bebê e sua mãe (ou
cuidador) proporciona à criança um posterior sentimento positivo de segurança em
relação ao mundo. Segundo Bowlby, o comportamento de apego, ou de vincular-se, é
um mecanismo básico do ser humano. Esse vínculo afetivo vai se formando a partir
das capacidades cognitivas e emocionais do bebê, e da responsividade e sensibilidade
dos cuidadores (a mãe, o pai ou outra pessoa que cuide dele). Assim, as primeiras
relações de apego que a criança estabelece em tenra infância afetam o estilo de apego
do sujeito ao longo de sua vida, influenciando, consequentemente, na formação de
sua personalidade.
17
UNIDADE II │ A SAÚDE MENTAL EM FASES DECISIVAS DA VIDA
chega a descrevê-lo como uma “doença normal” e enfatiza que tal condição fornece o
contexto necessário para o início da constituição psíquica da criança.
Com sua célebre frase “um bebê sozinho não existe”, Winnicott ressaltou a importância
de a mãe (ou o cuidador) ser “suficientemente boa”, isto é, nem tão perfeita a ponto de
responder a todas as demandas do bebê, tampouco indiferente a elas. Isso significa que a
mãe, aos poucos, deve deixar de responder de imediato às demandas do filho, à medida
que vai percebendo nele uma capacidade de suportar sua falta e satisfazer-se sozinho.
Este estado reflete o trabalho psíquico que a mãe deve efetuar em relação às
várias transformações que a vinda de um filho promove, tais como o encontro
com o bebê real, sempre diferente do bebê imaginado; a modificação de
sua posição na estrutura familiar – de filho para mãe; e mudança na imagem
corporal – não é mais grávida, tampouco recuperou o corpo de mulher. Ainda
que seja passageiro e reversível e não acarrete prejuízos à saúde mental do
18
A SAÚDE MENTAL EM FASES DECISIVAS DA VIDA │ UNIDADE II
As descobertas não pararam por aí. A partir da década de 1970 e 1980, com o avanço
tecnológico dos métodos de ultrassonografia e monitoramento fetal, foi possível
demonstrar que os bebês desenvolvem capacidades e habilidades impressionantes desde
19
UNIDADE II │ A SAÚDE MENTAL EM FASES DECISIVAS DA VIDA
Experimentos sobre a visão dos recém-nascidos revelaram que, logo já nas primeiras
horas após o nascimento, as crianças preferem o rosto materno ao de qualquer outra
mulher (idem). Também foram descobertas nos bebês uma capacidade de imitar os
gestos do adulto. Desse modo, constatou-se que o bebê, antes mesmo de nascer, já
dispõe de uma gama de habilidades que o tornam extremamente ativo e apto para a
interação e vinculação afetiva com o outro.
A partir das pesquisas sobre a constituição psíquica na primeira infância, foi possível
constatar que as vivências dos primeiros meses e anos de vida são fundamentais e
estruturantes para a saúde mental do indivíduo. E os efeitos de tais vivências poderão
ser positivos e/ou negativos a depender da qualidade e intensidade delas. Assim,
desmistifica-se a ideia segundo a qual pouco ou nada se pode fazer em termos de saúde
mental do bebê ou da criança pequena. Ao contrário, cada vez mais os profissionais
que lidam com a primeira infância – enfermeiros e auxiliares de enfermagem de UTI
neonatal, neonatologistas, pediatras, educadores de creche, psicólogos infantis, entre
outros – tornam-se conscientes da importância do cuidado da saúde psíquica da criança
em seus primeiros anos, meses, dias e até mesmo já no ventre materno.
20
A SAÚDE MENTAL EM FASES DECISIVAS DA VIDA │ UNIDADE II
O ser humano não nasce falando. A palavra “infância” vem do latim infans e significa
“aquele que não fala”. A introdução na linguagem, que antecede o sujeito, dá-se aos
poucos. Dessa forma, o bebê expressa que algo não vai bem no seu psiquismo por
meio de sintomas no seu corpo, como, por exemplo, dificuldades de alimentação ou
de sono sem causas orgânicas, choros frequentes sem motivo aparente, evitação do
olhar, entre outros. A forma como a mãe “concebe” e cuida de seu filho, o que pode ser
percebido por sinais não verbais e pelo seu discurso, também fornece indícios de como
está caminhando o desenvolvimento da relação entre aquela mãe e seu bebê. Assim,
um trabalho em saúde mental com bebês e crianças pequenas deve considerar o que se
passa na díade mãe-bebê, abrangendo desde a observação dos sinais não verbais até a
escuta do discurso da mãe em relação ao seu filho.
21
UNIDADE II │ A SAÚDE MENTAL EM FASES DECISIVAS DA VIDA
Caso sejam constatadas dificuldades em alguns desses itens, é necessária uma investigação
mais aprofundada por parte de um profissional especializado em saúde mental infantil.
Graças aos avanços nos estudos e nas pesquisas, não é mais possível pensar a primeira
infância apenas como uma fase anterior à infância propriamente dita ou de preparação
para a vida adulta. Torna-se mister pensar o bebê como um sujeito em constituição, que,
em sua especificidade, já conta com uma singularidade, com uma história, vivências,
cujos primórdios se encontram nas fantasias de sua mãe a respeito do filho imaginado,
na experiência da gravidez e no encontro e no estabelecimento das primeiras relações
com o bebê real.
É preciso estarmos atentos ainda ao outro lado da moeda, ou seja, ao fato de que as
impressionantes descobertas acerca das capacidades dos recém-nascidos podem gerar
uma euforia desmedida, levando profissionais a desenvolverem práticas que buscam o
desenvolvimento precoce da criança, no furor de produzir superbebês, alinhando-os aos
valores de competividade e alta produtividade apregoados pela sociedade moderna. Aqui
fica a pergunta: não corremos o risco de negar às crianças o direito a uma infância digna,
que respeite seu tempo, seus limites e sua singularidade como sujeito em formação?
Aquarela
(Toquinho)
Numa folha qualquer A voar no céu... Tudo em volta colorindo Não tem tempo, nem piedade
Eu desenho um sol amarelo Com suas luzes a piscar... Nem tem hora de chegar
E com cinco ou seis retas Vai voando Sem pedir licença
É fácil fazer um castelo... Contornando a imensa Basta imaginar e ele está Muda a nossa vida
Curva Norte e Sul Partindo, sereno e lindo E depois convida
Corro o lápis em torno Vou com ela Se a gente quiser A rir ou chorar...
Da mão e me dou uma luva Viajando Havaí Ele vai pousar...
E se faço chover Pequim ou Istambul Nessa estrada não nos cabe
Com dois riscos Pinto um barco a vela Um menino caminha Conhecer ou ver o que virá
Tenho um guarda-chuva... Branco navegando E caminhando chega no muro O fim dela ninguém sabe
É tanto céu e mar E ali logo em frente Bem ao certo onde vai dar
Se um pinguinho de tinta Num beijo azul... A esperar pela gente Vamos todos
Cai num pedacinho O futuro está... Numa linda passarela
Azul do papel Entre as nuvens De uma aquarela
Num instante imagino Vem surgindo um lindo E o futuro é uma astronave Que um dia enfim
Uma linda gaivota Avião rosa e grená Que tentamos pilotar Descolorirá...
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A SAÚDE MENTAL EM FASES DECISIVAS DA VIDA │ UNIDADE II
Como nos fala este trecho da música de Toquinho, ser criança é descobrir o mundo, por
meio da fantasia. Coisas simples, como “uma folha qualquer”, podem virar seres e objetos
fantásticos. É a idade do faz de conta, das fadas e bruxas, dos mocinhos e bandidos. É
a idade do brincar, das descobertas, mas também do aconchego do colo. Que, um dia,
findará. Mas marcará para sempre nosso futuro, nossa forma de ser no mundo.
Como vimos no item anterior, o trabalho com a primeira infância possui um grande
caráter preventivo. A prática clínica mostra que, quando as dificuldades psíquicas que
apontam nesses primeiros anos não são devidamente cuidadas, elas podem surgir
de forma mais grave nas etapas seguintes do desenvolvimento, como dificuldades de
aprendizagem, de relacionamento interpessoal, entre outros. Partiremos agora ao
estudo da saúde mental das crianças maiores.
Freud, já postulava, no início do séc. XX, que a criança (moderna) ocupa um lugar
privilegiado no narcisismo, ou amor-próprio inconsciente, dos pais, ou seja, ela recebe
todo o tipo de aposta e esperança no sentido de realizar os desejos frustrados dos pais:
23
UNIDADE II │ A SAÚDE MENTAL EM FASES DECISIVAS DA VIDA
Após o período da primeira infância, a criança entra em uma fase de gradual abertura
para o mundo. O núcleo familiar deixa de ser suficiente para as crescentes capacidades
da criança e ela passa a frequentar outros ambientes, engajar-se em diversas atividades:
visita a casa de parentes, brinca com coleguinhas, vai à escola etc.
Esta é uma virada importante e dificuldades nessa área devem ser diagnosticadas,
investigadas e tratadas, pois entre outras coisas, o uso da linguagem diz da capacidade
de simbolização da criança, imprescindível para um bom desenvolvimento de sua
saúde mental. A capacidade de simbolizar permite à criança prescindir dos objetos
concretos. Daí é que derivará a capacidade de apreender operações lógicas cada vez
mais complexas, além do pensamento abstrato.
24
A SAÚDE MENTAL EM FASES DECISIVAS DA VIDA │ UNIDADE II
As mães já constatam, desde muito cedo, que seus bebês buscam não apenas o leite
quando amamentam, mas o aconchego, o olhar, as palavras, o toque, os carinhos
maternos. Freud nos fala de uma manifestação da sexualidade infantil já presente aí, e
a amamentação seria seu primeiro protótipo.
25
UNIDADE II │ A SAÚDE MENTAL EM FASES DECISIVAS DA VIDA
Fonte: Zornig, S. A-J. (2006). Pelo viés do corpo. Revista A mente do bebê. (com adaptações).
A partir dos 6 anos, a criança entra num período que Freud denominou de latência,
em que a energia sexual é direcionada para a aprendizagem, o desejo de saber e de
descobrir o mundo. Esta fase coincide com a idade escolar e o período de alfabetização.
Na puberdade, o sujeito entra na fase genital, marcada por uma sexualidade que se
aproxima à adulta, havendo o predomínio das pulsões em torno da zona genital. O
prazer se encontra dividido entre a ternura (amor) e a paixão (desejo), dirigido às
relações sociais, aos parceiros sexuais, que podem ser do mesmo ou outro sexo.
Existem alguns quadros que são descritos com mais frequência no campo da saúde
mental infantil. Porém, antes de abordá-los, vale ressaltar que não devemos utilizá-los
para rotular os pequenos pacientes, o que pode ter efeitos nefastos para o seu futuro.
Sabemos que a palavra de um especialista tem um peso muito grande para a criança
e sua família. Deste modo, é fundamental adotarmos uma postura ética no sentido de
26
A SAÚDE MENTAL EM FASES DECISIVAS DA VIDA │ UNIDADE II
»» O Autismo é uma patologia grave que surge até os três anos de idade.
A criança apresenta comprometimento (e às vezes impossibilidade)
na interação com o meio. Os sintomas principais são movimentos
estereotipados, respostas inadequadas a estímulos visuais ou auditivos,
grande desorganização em situações que saem da rotina, dificuldade no
desenvolvimento da linguagem e na comunicação, agressividade, distúrbios
no sono e na alimentação. Não existe consenso em relação à etiologia do
autismo. Prefere-se pensar que é uma doença multifatorial, em que fatores
genéticos, hereditários e também psíquicos estejam em jogo.
Psicose Infantil
Autismo
<http://www.fundamentalpsychopathology.org/art/v08_03/02.pdf>
<http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0103-65642000000100006&script=sci_
arttext&tlng=es>
27
UNIDADE II │ A SAÚDE MENTAL EM FASES DECISIVAS DA VIDA
»» Desatenção.
»» Dificuldade de concentração.
Do grupo da Hiperatividade.
»» Agitação.
»» Impulsividade.
Este site traz uma conferência proferida pelo psicanalista Alfredo Jerusalinsky,
em 2003, na qual ele levanta importantes questionamentos acerca do
diagnóstico do TDAH e o tratamento medicamentoso <http://www.appoa.com.
br/noticia_detalhe.php?noticiaid=35&PHPSESSID=bbea8b84cbb064f37445c2e
5eac26344>.
28
CAPÍTULO 2
Saúde Mental do Adolescente
A canção Xote das Meninas, de Luís Gonzaga, ilustra uma mudança por que passa
a menina numa determinada fase da vida. Os esforços do pai de curar o “mal” que
acomete a filha, ao levá-la ao médico, são em vão, pois o doutor bem sabe do que se
trata e lhe adianta: “o ‘mal’ é da idade” e acrescenta que para ele “não há um só remédio
em toda a medicina.”
Eis que mudanças surgem. O corpo cresce... A voz já não é a mesma. Ora engrossa, ora
afina… Os órgãos sexuais ganham volume e pelos. Não se quer mais saber da boneca...
ou do carrinho. Aquela criança, até então desenvolta com seu corpo, depara-se com
uma nova imagem corporal e novos interesses.
Mas, antes de falar do adolescente, vamos conhecer um pouco sobre como surgiu esse
conceito ou fase.
29
UNIDADE II │ A SAÚDE MENTAL EM FASES DECISIVAS DA VIDA
A adolescência nem sempre foi reconhecida como uma etapa do desenvolvimento. Isso
se deu relativamente há pouco tempo, a partir do século XIX, com o surgimento das
famílias nucleares modernas.
Hoje, na nossa sociedade, a adolescência é vista como uma fase específica, ainda que haja
divergências quanto à sua delimitação. Para a Organização Mundial de Saúde (OMS),
a adolescência é um período que vai de 10 a 19 anos. O nosso Estatuto da Criança e do
Adolescente (ECA) estabelece o período de 12 a 18 anos.
30
A SAÚDE MENTAL EM FASES DECISIVAS DA VIDA │ UNIDADE II
o brincar, o desejo de saber). Com isso, o adolescente vai deparar-se com questões
que se encontravam em suspenso e/ou que não puderam ser enfrentadas (até pela
imaturidade do aparelho psíquico infantil).
O Adolescente e a Loucura
Por ser uma fase que coloca para o jovem uma série de desafios (físicos e psíquicos) aos
quais ele tem que responder sem o até então habitual apoio dos pais, a adolescência é
um período propício para a eclosão de psicopatologias nos sujeitos que possuem alguma
fragilidade psíquica. O sujeito é convocado a realizar escolhas e posicionar-se diante das
várias exigências colocadas pela vida, principalmente no campo do amor e do trabalho.
Isso coloca para o adolescente, de forma veemente, a questão do desamparo, de que
todo ser humano padece, mas que, nesta fase, surge em tons mais intensos. Os jovens
conseguirão atravessar esse período de forma mais ou menos turbulenta, a depender de
uma multiciplicidade de fatores como suas vivências infantis, características pessoais,
circunstâncias sociais, ambientais e culturais. Quando há uma fragilidade herdada da
infância, as exigências da vida podem ser maiores que a capacidade do aparelho psíquico
de enfrentá-las e o jovem sucumbe e adoece, seja por meio de um surto psicótico ou
do surgimento de sintomas neuróticos graves. A psicose configura-se num quadro
onde há uma desorganização psíquica, com possibilidade de quebra com a realidade,
desenvolvimento de pensamentos delirantes (paranoia) e deterioração das capacidades
cognitivas (esquizofrenia).
31
UNIDADE II │ A SAÚDE MENTAL EM FASES DECISIVAS DA VIDA
Depressão na Adolescência
A depressão é um estado patológico em que há perda de vitalidade, falta de estratégias
de busca de prazer, desânimo exagerado a ponto de abandonar atividades que antes
proporcionavam grande prazer. Aqui é necessário estar atento a duas questões: não
confundir depressão com tristeza, que é um sentimento temporário e natural do ser
humano, ou com o desinteresse dos jovens por atividades antes prazerosas, já que o
adolescente tende mesmo a abandonar interesses da infância.
<http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0103-166X2006000100003&script=sci_
arttext&tlng=pt>
<http://redalyc.uaemex.mx/redalyc/pdf/307/30701007.pdf>
Transtornos Alimentares
A anorexia e a bulimia são doenças que acometem principalmente jovens do sexo
feminino. A anorexia (do grego an, ausência e órexis, apetite) caracteriza-se por uma
perda de peso excessiva devido à recusa em se alimentar. Há distorção na imagem
corporal, com a busca incessante pela magreza, podendo causar sérias complicações
orgânicas, como alterações ou até mesmo interrupção do ciclo menstrual. Mesmo
estando extremamente magras, as jovens se veem gordas e persistem em dietas muito
restritivas. A bulimia (do grego bou, grande quantidade e limos, fome) é caracterizado
por episódios de ingestão exagerada de alimentos, seguidos de atos que visam
eliminar o risco de engordar, como a indução de vômito, o uso de laxantes, jejum e a
prática excessiva de exercícios físicos. Em geral, na bulimia, a imagem corporal não
32
A SAÚDE MENTAL EM FASES DECISIVAS DA VIDA │ UNIDADE II
se encontra tão distorcida como na anorexia e as meninas não atingem uma magreza
tão extrema.
É certo que uma baixa autoestima, insatisfação com a imagem corporal e os padrões
modernos de beleza que cultuam a magreza contribuem para o desenvolvimento e o
aumento dos transtornos alimentares nas adolescentes. Entretanto, pesquisas têm
demonstrado que a anorexia e a bulimia estão relacionadas à forma como a jovem
vivencia as alterações em seu corpo que adquire formas femininas, aproximando-o
ao de sua mãe. As investigações psicanalíticas têm mostrado que a origem desses
transtornos remonta a relação precoce mãe e filha (primeira infância) e os processos de
identificação (da filha com a mãe), apontando uma dificuldade de separação psíquica
nos primórdios da vida. Assim, a magreza excessiva (e também a obesidade) se configura
numa tentativa de apagamento da feminilidade, da eliminação de qualquer traço que
represente uma indiferenciação com a mãe.
<http://www2.dbd.puc-rio.br/pergamum/tesesabertas/0115556_03_cap_03.pdf>
Vale ressaltar que situações reais adversas, como violência na família, alcoolismo,
doenças crônicas, podem agravar o adoecimento do jovem, mas não são os únicos
fatores determinantes. O adoecimento mental decorre não só de fatores graves, mas
também de elementos sutis, os mais diversos a que talvez jamais se tenha acesso. Assim,
o sofrimento de um adolescente que aparentemente “tem tudo” não pode ser, de forma
alguma, desvalorizado e taxado como “frescura”.
Por outro lado, muitas das manifestações dessa fase da vida podem ser confundidas com
sintomas patológicos, tendo em vista que, tal como na psicose, por exemplo, a realidade é
modificada: o corpo muda tanto de imagem quanto de estatuto (RASSIAL, 1999).
Por tudo isso, a melhor conduta de um profissional é ter uma postura cautelosa na
hora de diagnosticar, abordar e tratar o adolescente, considerando a singularidade e
especificade de cada jovem, cada história, cada família.
Gravidez e Adolescência
O texto, a seguir, de Diana Dadoorian, doutora em Psicologia Clínica, levanta uma
interessante questão a respeito da gravidez na adolescência. Mostra que a gestação
33
UNIDADE II │ A SAÚDE MENTAL EM FASES DECISIVAS DA VIDA
nesta fase da vida não ocorre necessariamente por falta de informação, e que um desejo
inconsciente de ter um filho pode estar em jogo, como forma de se afirmar socialmente
como mulher.
Este foi o foco da pesquisa que realizei, em 1993, com adolescentes grávidas de
classes populares no Instituto Fernandes Figueira, Rio de Janeiro. Nesse estudo,
publicado no livro Pronta para voar (Rocco, 2002), privilegiei o discurso das
jovens sobre seu estado e as conclusões foram surpreendentes: a gravidez é
desejada por elas. Na investigação do significado da gestação, destacam-se entre
os principais fatores os biológicos e os não biológicos, nos quais se inserem os
aspectos culturais e psicológicos.
34
A SAÚDE MENTAL EM FASES DECISIVAS DA VIDA │ UNIDADE II
O Adolescente e as Drogas
A dependência química tem sido tratada como uma questão de saúde mental. Por estar
num período de transição identitária – nem criança, nem adulto –, o adolescente parte
em busca de novos lugares subjetivos e sociais, fora da família. E o álcool e a droga
podem configurar-se como uma tentativa de encontrar um lugar, ainda que temporário
e ilusório.
35
UNIDADE II │ A SAÚDE MENTAL EM FASES DECISIVAS DA VIDA
O tratamento que tem se mostrado mais eficiente é o ambulatorial realizado por equipe
multidisciplinar em centros especializados, com a adesão do paciente. No caso específico
do adolescente, é fundamental um trabalho de apoio e suporte com as famílias, que
muitas vezes, também precisam de tratamento. A internação só é indicada nos casos de
desintoxicação, risco de suicídio, agressividade ou, ainda, para preservar a vida/saúde
quando a pessoa se encontra muito debilitada.
<http://www.proceedings.scielo.br/scielo.php?pid=MSC000000008200500020
0066&script=sci_arttext>
36
A SAÚDE MENTAL EM FASES DECISIVAS DA VIDA │ UNIDADE II
<http://www.scielo.br/pdf/agora/v9n1/a09v9n1.pdf>
Sugestão de filmes:
37
CAPÍTULO 3
Saúde Mental na Terceira Idade
Epitáfio
(Sérgio Brito)
Devia ter amado mais Devia ter complicado menos
Ter chorado mais Trabalhado menos
Ter visto o sol nascer Ter visto o sol se pôr
Devia ter arriscado mais Devia ter me importado menos
E até errado mais Com problemas pequenos
Ter feito o que eu queria fazer... Ter morrido de amor...
A terceira idade, ou velhice, é uma fase da vida geralmente associada com iminência da
morte, improdutividade, adoecimento, falta de sexualidade. Entretanto, com os avanços
na medicina, a informação e a conscientização da importância de se ter bons hábitos
(alimentação, atividade física, combate ao stress), as pessoas estão vivendo cada vez
mais e com mais qualidade de vida.
Não é fácil delimitar a terceira idade. Quando começa a velhice? O que a define? Segundo
Secco (1999), apesar de haver algumas mudanças biológicas evidentes, o conceito de
envelhecimento também é marcado por determinantes culturais, que variam entre
diferentes indivíduos, culturas e períodos históricos.
Estudos (NOVAES, 1995) postulam que a velhice não acrescenta aspectos à personalidade
da pessoa, apenas favorece e reforça os mecanismos defensivos já existentes. Assim,
a forma como uma pessoa lida com as limitações advindas com a idade (doenças,
aposentadoria, redução ou perda do vigor físico e sexual, morte de amigos e familiares)
vai depender das características pessoais (orgânicas, psíquicas, sociais). É claro que
uma pessoa com idade avançada tende a passar por mais situações adversas. Ainda
assim, isso não leva necessariamente a um quadro patológico. Desse modo, talvez seja
melhor falar de envelhecimentos, ou terceiras idades, tendo em vista que cada sujeito
envelhecerá a seu modo.
De acordo com Novaes, o que diferencia os idosos é a capacidade de manter uma vida em
relação, ou seja, continuar estabelecendo laços sociais e afetivos: “O investimento fora
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UNIDADE II │ A SAÚDE MENTAL EM FASES DECISIVAS DA VIDA
Envelhecimento e Depressão
Muitas vezes, um quadro de depressão na terceira idade pode ser confundido com
preconceitos ou manifestações tidas como próprias desse período, como, por exemplo:
sintomas somáticos, hipocondria, desinteresse, desânimo, alterações no sono, na
alimentação, dentre outros. Assim, apenas uma equipe especializada, a partir de
uma investigação cuidadosa e dirigida, terá condições de melhor avaliar o quadro
daquele paciente.
Envelhecimento e Demência
A demência caracteriza-se por um quadro de perda cognitiva, em geral, gradual e
irreversível, cujos sintomas mais comuns são alterações em funções como memória,
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A SAÚDE MENTAL EM FASES DECISIVAS DA VIDA │ UNIDADE II
<http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/envelhecimento_ativo.pdf>
<http://www.unati.uerj.br>
<http://www.unati.uerj.br/tse/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1517-
59282002000200002&lng=pt&nrm=iso>
<http://www.ufrgs.br/3idade/portaria1395gm.html>
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Para (não) finalizar
Vimos que a saúde mental é um campo muito complexo. Em vista disso, não é possível
atuar nessa área com instrumentos estanques e acreditando em fórmulas milagrosas.
Ao contrário, a atuação em saúde mental é uma eterna construção, reatualizada a cada
paciente, a cada família, tendo em vista que cada ser humano é único e singular.
Aprendemos, também, que uma visão, uma disciplina não dá conta desse vasto
campo. Desse modo, é cada vez mais evidente a importância da atuação de equipes
interdisciplinares, cujos membros não só acrescentem suas visões, mas efetuem trocas
de conhecimento, promovendo verdadeiros diálogos.
A disciplina não pretendeu, de forma alguma, esgotar o assunto, mas teve o objetivo
de apresentar um panorama introdutório, com alguns aprofundamentos, no intuito de
fornecer algumas noções essenciais e, ao mesmo tempo, instigar ao aprofundamento
das questões abordadas e incentivar futuras pesquisas, pois o limite do aprendizado é
você, aluno, quem traça.
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Referências
ANDRADE, M. A. G. Nascimento pré-termo e formação de laços afetivos. In: CORRÊA
FILHO, L.; CORRÊA, M. E. G.; FRANÇA, P. S. (Orgs.). Novos olhares sobre a
gestação e a criança até 3 anos: saúde perinatal, educação e desenvolvimento do
bebê. Brasília: L.G.E., 2002.
_____. Cuidados maternos e saúde mental. São Paulo: Martins Fontes, 2001.
BUSNEL, M.C. A sensorialidade do feto. In: CORRÊA FILHO, L.; CORRÊA, M. E. G.;
FRANÇA, P. S. (orgs.). Novos olhares sobre a gestação e a criança até 3 anos:
saúde perinatal, educação e desenvolvimento do bebê. Brasília: L.G.E., 2002
GOLSE, B. O bebê, seu corpo e sua psiquè: explorações e promessas de um novo mundo.
In: ARAGÃO, R. O. (Org.). O bebê, o corpo e a linguagem. São Paulo: Casa do
Psicólogo, 2004.
SARACENO, B. Asioli, F.; TOGNONI, F. Manual de saúde mental: guia básico para
atenção primária. São Paulo: Hucitec, 1994.
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REFERÊNCIAS
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