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CURSO DE SERVIÇO SOCIAL

SERVIÇO SOCIAL:
INTRODUÇÃO E HISTÓRIA
Profª. Daniela Alves de Lima

Semestre 1

UNIVERSIDADE METROPOLITANA DE SANTOS


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Curso de Serviço Social: Atividades Curriculares Acadêmicas Adicionais
(por)
Prof. Xxxxx Xxxxx Xxxxxx. Semestre 1. Santos:
UNIMES VIRTUAL. UNIMES. 2010. XXp.

1. Serviço Social 2. Atividades Curriculares Acadêmicas Adicionais.

CDD 371

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 SERVIÇO SOCIAL: INTRODUÇÃO E HISTÓRIA
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Prof. Flávio Américo Tometti
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Prof. Marco Antonio Di Pinto Amanda Andrade Simões Pereira
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Prof.ª Neuza Maria Souza Feitosa Cinthia da Silva Reis
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Prof. Sérgio Correa Leite Jonia Antonia Fraiha Nunes
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Prof.ª Denyse Moreira Guedes Juliana Martins Silva
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Luiz Felipe Silva dos Reis - Supervisão
Carlos Eduardo Lopes
Clécio Almeida Ribeiro
Eldes da Silva Santos Filho
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Flávio Celino - Supervisão de Operações
William Souza - Supervisão de Edição
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Gabrielle Pontes
Joice Siqueira
Lílian Queirós
Luiz Henrique Andrade de Oliveira
Raphael Xavier
Stenio Elias Losada
Victor Ruas da Costa
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 SERVIÇO SOCIAL: INTRODUÇÃO E HISTÓRIA
AULA INAUGURAL

Olá! Seja Bem-Vindo ao Curso de Serviço Social e à disciplina de Serviço


Social: Introdução e História.

É uma enorme satisfação poder contar com a sua presença neste curso.
Nesta disciplina, vamos falar um pouco sobre o que é o Serviço Social e sua
importância histórica para a sociedade e para a profissão enquanto catego-
ria profissional.

Embora ainda estejamos no início do curso, é importante conhecer todo o


processo histórico que precedeu a profissão do assistente social, para que
assim você possa fazer uma interdisciplinaridade com as outras disciplinas
que virão.

Desejo que juntos possamos compartilhar saberes, vivências e experiências,


e que você possa ampliar ainda mais a sua maneira de enxergar o mundo!

Bons Estudos!

Daniela Alves de Lima

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SERVIÇO SOCIAL: INTRODUÇÃO E HISTÓRIA 
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 SERVIÇO SOCIAL: INTRODUÇÃO E HISTÓRIA
Índice

Unidade I - O que é o Serviço Social?................................................................. 11


Aula: 01 - Breve síntese sobre o Serviço Social.......................................................... 12
Aula: 02 - Áreas de Atuação do Assistente Social...................................................... 15
Aula: 03 - Mercado de Trabalho na contemporaneidade............................................. 17
Aula: 04 - Relação entre Filantropia, Assistência e Assistencialismo.......................... 21
Aula: 05 - Legislação Profissional................................................................................ 25
Aula: 06 - Conselhos Federais de Serviço Social e Conselhos Regionais de Serviço
Social.......................................................................................................................... 28
Aula: 07 - Associação brasileira de ensino e pesquisa em Serviço Social – ABEPSS....... 30
Aula: 08 - Executiva Nacional de Estudantes de Serviço Social – ENESSO................. 32
Resumo - Unidade I..................................................................................................... 33

Unidade II - História do Serviço Social............................................................... 39


Aula: 09 - Vertentes europeias, americanas e latinas no Serviço Social...................... 40
Aula: 10 - História do Serviço Social na América Latina.............................................. 46
Aula: 11 - História do Serviço Social no Brasil............................................................ 48
Aula: 12 - Positivismo, Funcionalismo e Marxismo .................................................... 53
Aula: 13 - As encíclicas papais................................................................................... 55
Aula: 14 - Serviço Social e o capitalismo monopolista................................................ 58
Aula: 15 - O assistente social na divisão sócio- técnica do trabalho........................... 60
Aula: 16 - A profissionalização do Serviço Social enquanto categoria profissional......... 62
Resumo - Unidade II.................................................................................................... 64

Unidade III - Paradigmas do Serviço Social........................................................ 69


Aula: 17 - Carta de Araxá e Teresópolis...................................................................... 70
Aula: 18 - Conservadorismo: um breve histórico......................................................... 71
Aula: 19 - Movimento de Reconceituação: um breve histórico................................... 73
Aula: 20 - Instrumentalidade em Serviço Social.......................................................... 76
Aula: 21 - Fenomenologia em Serviço Social.............................................................. 78
Aula: 22 - Racionalismo em Serviço Social................................................................. 80
Aula: 23 - Metodologia em Serviço Social................................................................... 82
Aula: 24 - Representação Social: o que é?.................................................................. 84
Resumo - Unidade III................................................................................................... 86

Unidade IV - O Serviço Social no mundo contemporâneo.................................. 91


Aula: 25 - Questão social no Brasil contemporâneo.................................................... 92
Aula: 26 - As novas expressões da questão social no Brasil e o Serviço Social.......... 94
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Aula: 27 - O projeto de formação profissional- a categoria profissional....................... 95
Aula: 28 - Assistente Social: agente transformador da realidade?.............................. 97
Aula: 29 - Breve Histórico sobre Políticas Sociais....................................................... 99
Aula: 30 - A importância do Código de Ética para a categoria Profissional................ 103
Aula: 31 - Lei de Regulamentação da Profissão para a categoria Profissional........... 105
Aula: 32 - Perspectivas e tendências atuais da profissão.......................................... 107
Resumo - Unidade V.................................................................................................. 109

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10 SERVIÇO SOCIAL: INTRODUÇÃO E HISTÓRIA
Unidade I
O que é o Serviço Social?

Objetivos
Conhecer o que é o Serviço Social e como se dá o âmago da profissão no mercado
de trabalho, perpassando pelas entidades que dele fazem parte. Breve introdução
sobre as leis que regem a profissão e distinção do que é filantropia, assistência
e assistencialismo.

Plano de Estudo
Esta unidade conta com as seguintes aulas:

Aula: 01 - Breve síntese sobre o Serviço Social


Aula: 02 - Áreas de Atuação do Assistente Social
Aula: 03 - Mercado de Trabalho na contemporaneidade
Aula: 04 - Relação entre Filantropia, Assistência e Assistencialismo
Aula: 05 - Legislação Profissional
Aula: 06 - Conselhos Federais de Serviço Social e Conselhos Regionais de
Serviço Social
Aula: 07 - Associação brasileira de ensino e pesquisa em Serviço Social – ABEPSS
Aula: 08 - Executiva Nacional de Estudantes de Serviço Social – ENESSO

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SERVIÇO SOCIAL: INTRODUÇÃO E HISTÓRIA 11
Aula: 01

Temática: Breve síntese sobre o Serviço Social

Talvez você tenha uma ideia generalista do que seja o Ser-


viço Social, de como é a atuação do profissional formado
nessa área. Esqueça a ideia que o assistente social apenas
ajuda as pessoas, que é aquela moça boazinha e rica doando cestas bási-
cas ou fazendo caridade. A profissão é mais do que isso, é também uma
classe social comprometida com o bem comum.

Para Estevão (2007, p,7), a definição do que é Serviço Social está amalga-
mado por duas visões: a popular e a dos profissionais do Serviço Social.
Para a autora, estas visões contêm dois elementos – a moça e o pobre,
com uma preposição aparentemente verdadeira, porém só aparência,
como define Estevão.

Uma definição bem clara que a autora supracitada confere à profissão é que
o Serviço Social é produto da junção entre cidade e indústria, pois nasceu
no cenário das desigualdades sociais imposta pelo crescente capitalismo.
A profissão nasce do desejo de minimização das desigualdades existen-
tes, e esse profissional lida constantemente com a pobreza, portanto, esta
é uma questão social emergente que faz parte da nossa sociedade.

De certo modo, vale ressaltar que a origem da profissão está vinculada à as-
sistência despendida aos pobres, onde mulheres da alta nobreza dispunham
de um pouco de seu tempo para “alimentar e cuidar” dos mais desvalidos.

Da época em que o Serviço Social era conhecido como “ajudador” dos


mais pobres, muita coisa mudou e hoje a profissão tem seu reconhecimen-
to como categoria profissional. Atualmente, os profissionais estão bem
mais preparados, não ficam atrás de uma mesa esperando que alguém
vá pedir algo, o assistente social sai às ruas, faz visitas, emite laudos e
relatórios técnicos que embasam a sua prática profissional.

O profissional formado em Serviço Social tem ampla formação na área de


Humanas, com suporte de disciplinas gerais como Filosofia, para amplia-
ção reflexiva de sua visão de mundo até disciplinas mais específicas como
esta, que dão um embasamento histórico sobre a gênese da profissão.

A proposta geral de formação do curso é formar profissionais preparados


para intervir na realidade social, executando, planejando e administran-

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12 SERVIÇO SOCIAL: INTRODUÇÃO E HISTÓRIA
do programas e políticas públicas, expandindo, assim, a participação dos
usuários aos direitos e benefícios sociais que por ventura necessitem.

O curso de Serviço Social da Unimes, além de fornecer sólida formação


acadêmica, prepara o aluno de Serviço Social para analisar com criticida-
de a realidade, desenvolvendo alternativas técnicas-práticas para intervir
nesse contexto.

O Serviço Social tem um caráter extremamente sócio-político e interven-


tivo, onde o profissional formado está totalmente habilitado para, dentre
as amplas atribuições da profissão, monitorar e avaliar as políticas pú-
blicas, elaborar programas e projetos de intervenção, prestar orientação
individual e em grupo aos usuários que procuram os serviços, prestando
assessoria, etc.

Esse profissional atua diretamente nas expressões da questão social: de-


semprego, miséria, falta de acesso aos serviços públicos como saúde e
habitação, atuando em seu enfrentamento, por meio do setor público, pri-
vado, Organizações Não Governamentais e até mesmo nos Movimentos
Sociais como os Sindicatos.

Nesse sentido, tomemos como exemplo as reflexões de Maria Esolina Pi-


nheiro sobre o Serviço Social:

De fato, já se admite e já se experimenta o estudo


da determinação individual ou social dos casos de
desajustamento; e, conseqüentemente, ensaia-se
a organização dos meios mais eficientes para a sua
compensação ou debelação. O Serviço Social não
visa outra coisa. Ele compreende o estudo dos males
coletivos para, com base no conhecimento de sua de-
terminação, congregar esforços no sentido de adap-
tar e por em funcionamento os órgãos que os possam
minorar, ou mesmo eliminá-los, desde os pontos de
origem. Na essência, o seu espírito é do da fraterni-
dade entre os homens. Mas, em sua forma, reclama
a inteligência ao serviço do sentimento: quer a cari-
dade iluminada pela verdade. Do ponto de vista das
modernas tendências do Estado, interessa aos fins de
governo. É um fator de equilíbrio e concórdia social,
para não dizer já uma condição de democracia. (PIN-
HEIRO, 1985, p.11).

Assim, a profissão é embasada por um trabalho coletivo que está direta-


mente comprometido com os valores éticos e direitos humanos, abarcada
pelo Código de Ética da Profissão, que analisaremos com mais intensidade
na unidade IV da nossa disciplina.

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SERVIÇO SOCIAL: INTRODUÇÃO E HISTÓRIA 13
Para quem não se conforma com as injustiças sociais, com o crescimento
injusto do capitalismo e deseja construir uma sociedade justa e igualitária
encontrará neste curso os embasamentos necessários para atuar e intervir
nessa realidade que nos é imposta.

A partir do terceiro ano do curso, o aluno inicia sua prática de estágio


de campo, pois o período do estágio prático capacita o futuro assistente
social para o exercício profissional, articulando, assim, os conhecimentos
teórico-práticos.

Como vocês puderam observar, apontamos uma breve sín-


tese do que vem a ser o Serviço Social, na próxima aula
elencaremos o campo de atuação da profissão.

Até mais!

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14 SERVIÇO SOCIAL: INTRODUÇÃO E HISTÓRIA
Aula: 02

Temática: Áreas de Atuação do Assistente Social

O profissional formado em Serviço Social dispõe de um le-


que de opções enquanto atuação profissional. Estes profis-
sionais são requisitados em diversos setores: públicos e pri-
vados, empresas, organizações não governamentais, as chamadas ONGs,
saúde, habitação, sistemas penitenciários, judiciário, previdência social,
assistência, sindicatos, movimentos populares, dentre muitos outros.

O assistente social concretiza o seu fazer profissional intervindo nas relações


de reprodução das relações sociais do cotidiano, fazendo com que os sujei-
tos alcancem a sua emancipação enquanto indivíduos dotados de direitos.

Algumas competências do assistente social são:

I) Orienta os indivíduos quanto ao direito de concessão dos benefícios


sociais do governo;

II) Presta assessoria às entidades privadas, ONGs, movimentos sociais e


sindicatos;

III) Elabora, executa e implementa políticas públicas;

IV) Coordena planos e projetos na esfera do Serviço Social;

V) Realiza perícias, emite laudos técnicos e pareceres sob o olhar do Ser-


viço Social;

VI) Realiza visitas de intervenção;

VII) Atua no magistério de Serviço Social, tanto em nível de graduação


como de pós-graduação;

VIII) Coordena núcleos de pesquisa em Serviço Social;

IX) Atua em órgãos e entidades representativas da profissão como o


CRESS, CFESS, fiscalizando as práticas profissionais - os quais estudare-
mos mais adiante na aula 6 desta unidade;

X) Supervisiona estagiários de Serviço Social, dentre outras atribuições.

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SERVIÇO SOCIAL: INTRODUÇÃO E HISTÓRIA 15
Como se pode observar, a atuação enquanto profissão do assistente so-
cial é bastante ampla e diversificada, este profissional atua em diversos
setores da sociedade investigando, gerindo e formulando estratégias para
minimizar as desigualdades que se originam na relação de exploração en-
tre classe dominante e classe dominada.

Na maioria das vezes o assistente social atua em uma equipe multidiscipli-


nar, contribuindo com a especificidade de seu saber profissional, atuando
frente às demandas que surgem nas relações sociais de exploração.

Nesta aula definimos algumas áreas de atuação da profis-


são. Na próxima aula continuaremos elencando o rumo pro-
fissional do assistente social na contemporaneidade.

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16 SERVIÇO SOCIAL: INTRODUÇÃO E HISTÓRIA
Aula: 03

Temática: Mercado de Trabalho na contemporaneidade

O mercado de trabalho para o Serviço Social na atualidade é


muito promissor e diversificado, sempre estão surgindo no-
vas demandas, novos fazeres, novas perspectivas que im-
pulsionam o fazer profissional. Hoje o mercado é muito amplo, onde além
das atuações já postuladas na aula anterior, o assistente social poderá
atuar também como autônomo na prestação de consultorias e elaboração
de projetos sociais, como também em clínicas atuando nas terapias indi-
viduais e em grupos.

Com as novas demandas sociais, cada vez mais o setor público necessita
deste profissional, como é o caso do Programa Saúde da Família, do go-
verno Federal, o qual foi uma conquista para a classe.

Outro setor que será promissor é a educação, pois tramita no Congresso


Nacional o projeto de Lei 060/2007, o qual dispõe sobre a prestação de
serviços de Psicologia e Serviço Social nas escolas públicas de educação
básica do Brasil. Certamente a aprovação desse Projeto de Lei impulsiona-
ria ainda mais a representação e reconhecimento da profissão na socieda-
de. O setor público é o que mais emprega atualmente o assistente social,
onde o mesmo poderá atuar nos Estados e Municípios e em autarquias
federais, pois o governo federal nos últimos anos vem atuando de forma a
descentralizar as políticas na área da assistência social e da saúde.

Vale ressaltar um setor que também vem ganhando notoriedade são as


empresas, onde esse profissional tem seu campo de atuação em departa-
mento próprio ou no RH da instituição, com o foco na melhoria da qualida-
de de vida de seus funcionários. O salário inicial gira em torno de R$ 800,
00 e em algumas empresas chegam a atingir um salário de R$4.000,00.

De acordo com uma pesquisa recente realizada pelo Conselho Regional


de Serviço Social de São Paulo – CRESS, em conjunto com um professor
universitário, o setor público é o que mais emprega atualmente o profis-
sional do Serviço Social, depois vêm as grandes empresas nas áreas de
Recursos Humanos.

Novas demandas de trabalho estão sendo articuladas também na área


das Organizações Não Governamentais, onde, com as novas normas e
diretrizes do Ministério do Desenvolvimento Social, torna-se obrigatório

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SERVIÇO SOCIAL: INTRODUÇÃO E HISTÓRIA 17
a presença de um profissional de Serviço Social nesse segmento, caso
contrário a mesma pode deixar de existir por não haver repasse de verbas,
por exemplo.

Com as explanações supracitadas acima, já podemos ter uma percep-


ção que a profissão, embora não tenha tanto reconhecimento ainda no
mercado se comparada com outras categorias profissionais, está em um
momento histórico muito promissor, de modo que novas demandas são
constituídas a cada momento na sociedade, levando a uma ampliação do
campo de trabalho e atuação profissional.

Um recente e ao mesmo tempo remoto desafio desse profissional é atuar


frente às mazelas impostas pelo capitalismo na nova conjuntura da socie-
dade que se apresenta, devendo a profissão ser caracterizada como fonte
contributiva e tentar responder a essas novas demandas sem perder o seu
reconhecimento enquanto categoria profissional, com a sua visão crítica
da realidade ampliada, estabelecendo relações com base na ética e com
vistas a promover a cidadania do usuário.

Neste contexto, a assistência social deve ser encarada como direito adqui-
rido da população, e não ser compreendida como um favor ou filantropia
(estudaremos esta terminologia na aula seguinte). Cabe ao Estado elaborar
mecanismos para enfrentamento das desigualdades sociais, com políticas
públicas compensatórias, e é nesse contexto que a profissão se apresenta
visando à promoção da inclusão e reinserção do indivíduo na sociedade.

Quem opta por cursar Serviço Social deve estar atento às novas questões
societárias, pois a realidade não é estática, as relações vão sendo mol-
dadas de acordo com o processo histórico. É preciso estar comprometi-
do para executar a profissão com qualidade e respeito aos usuários bem
como para o fortalecimento da profissão.

É notório que a profissão vem se expandindo gradativamente, principal-


mente por ser compreendida como um reflexo das políticas públicas que
nos últimos cinco anos vêm sendo difundidas.

Com a implementação do SUAS – Sistema Único de Assistência Social,


foram criados inúmeros postos de trabalho nos municípios. De acordo com
Ministério de Desenvolvimento Social, desde 2005 foram criados mais de
5000 Centros de Referência e Assistência Social, os CRAS, que é a porta
de entrada para a escuta dos problemas dos usuários, e quase 1500 Cen-
tros de Referência Especializado em Assistência Social, os CREAS, que as-
siste os usuários quando seus direitos foram violados, como por exemplo
violência contra a mulher.

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18 SERVIÇO SOCIAL: INTRODUÇÃO E HISTÓRIA
Ainda podemos citar a atuação do assistente social nos CAPS – Centro de
Atenção Psicossocial, na área da saúde. Esses centros de referência sur-
giram para eliminar as internações de pessoas com doença ou transtornos
mentais, e é fruto das políticas públicas do governo federal e que foram
descentralizadas, passando a incumbência para os municípios.

O poder judiciário também é responsável pelo crescimento da empregabi-


lidade da profissão, pois, logo após o advento do Estatuto da Criança e do
Adolescente, percebeu-se que a atuação do Serviço Social tornou-se um
elemento obrigatório para articular-se com outros profissionais em uma
visão multidisciplinar de atendimento.

O Estatuto da Criança é bem claro quando ressalva que é indispensável a


atuação desse profissional, postulado este que se encontra nos seguintes
artigos:

Art. 86. A política de atendimento dos direitos da criança e do adolescen-


te far-se-á através de um conjunto articulado de ações governamentais
e não-governamentais, da União, dos estados, do Distrito Federal e dos
municípios.

Art. 87. São linhas de ação da política de atendimento:

I) políticas sociais básicas;

II) políticas e programas de assistência social, em caráter supletivo, para


aqueles que deles necessitem;

III) serviços especiais de prevenção e atendimento médico e psicossocial


às vítimas de negligência, maus-tratos, exploração, abuso, crueldade e
opressão;

IV) serviço de identificação e localização de pais, responsável, crianças e


adolescentes desaparecidos;

V) proteção jurídico-social por entidades de defesa dos direitos da criança


e do adolescente.

Art. 88. São diretrizes da política de atendimento:

V - integração operacional de órgãos do Judiciário, Ministério Público, De-


fensoria, Segurança Pública e Assistência Social, preferencialmente em
um mesmo local, para efeito de agilização do atendimento inicial a adoles-
cente a quem se atribua autoria de ato infracional.
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SERVIÇO SOCIAL: INTRODUÇÃO E HISTÓRIA 19
Assim percebe-se que nas últimas décadas o mercado de trabalho expan-
diu-se gradativamente. Vale ressaltar que para a atuação profissional é ne-
cessário que o assistente social tenha seu registro no Conselho da classe,
O CRESS – Conselho Regional de Serviço Social, por determinação legal.

Outro campo que está se mostrando promissor é o Meio Ambiente, apesar


de ainda não ser tão difundido. Nessa área, o assistente social pode rea-
lizar estudos socioambientais e socioeconômicos da população que está
diretamente ligada com as questões de implementação de indústrias, por
exemplo.

Vocês conheceram até aqui a profissão e seus campos de


atuação, na próxima aula será explanado a diferença de as-
sistência, filantropia e assistencialismo visando compreen-
der a importância destes conceitos para a intervenção profissional. Aguar-
do vocês!

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20 SERVIÇO SOCIAL: INTRODUÇÃO E HISTÓRIA
Aula: 04

Temática: Relação entre Filantropia, Assistência


e Assistencialismo

Talvez você já tenha ouvido falar do que vem a ser assistên-


cia social, filantropia e assistencialismo, mas você já parou
realmente para pensar o significado destas palavras?

Segundo o dicionário Houaiss da Língua Portuguesa:

ASSISTÊNCIA: Ato ou efeito de assistir. Ato ou efeito de proteger, ampa-


rar, de auxiliar, modalidade de intervenção de terceiros, no pleito, tanto para
zelar por seus interesses, como para proteger os interesses de quem está
sob sua guarda ou proteção. Fato de uma pessoa relativamente incapaz ser
acompanhada, na prática dos atos civis e políticos, por quem legalmente
lhe supre a deficiência. Prerrogativa que, por lei, se assegura às pessoas
provadamente pobres de virem a pleitear o benefício da gratuidade da justi-
ça, para a demanda ou defesa de seus direitos. Toda espécie de auxilio, cui-
dado ou apoio prestados pelos poderes públicos às pessoas, comunidades
ou corporações que deles necessitem. Conjunto de medidas através das
quais o Estado (ou entidades não governamentais) procura atender às pes-
soas que não dispõem de meios para fazer frente a certas necessidades,
como alimentação, creches, serviços de saúde, atendimento à maternida-
de, à infância, a menores, a velhos, etc. (HOUAISS, 2004, p.323)

ASSISTENCIALISMO: Doutrina, sistema ou prática (individual, grupal,


estatal, social) que preconiza e/ou organiza e presta assistência a mem-
bros carentes ou necessitados de uma comunidade, nacional ou mesmo
internacional, em detrimento de uma política que os tire da condição de
carentes e necessitados. Sistema ou prática que se baseia no aliciamento
político das classes menos privilegiadas através de uma encenação de
assistência social a elas; populismo assistencial. (HOUAISS, 2004, p.323)

FILANTROPIA: Profundo amor a humanidade, desprendimento, generosi-


dade, para com outrem, caridade. (HOUAISS, 2004, p.1341)

Ainda de acordo com o dicionário Houaiss, encontramos estes sinônimos


para as palavras assistencialismo e filantropia:

BENESSE: aquilo que se doa, presente, dádiva. Solidariedade pelos fla-


gelados. Vantagem ou lucro que não deriva de esforço ou trabalho. (HOU-
AISS, 2004, p.433)
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SERVIÇO SOCIAL: INTRODUÇÃO E HISTÓRIA 21
BENEVOLÊNCIA: qualidade ou virtude de benévolo. Bondade de ânimo
para com algo ou alguém. Magnanimidade (para com os que estão sob
orientação ou comando), complacência, disposição favorável, boa vonta-
de, manifestação de afeto, afabilidade. (HOUAISS, 2004, p.433)

Muitas pessoas, balizadas pelo senso comum, confundem a assistência


social com ajuda, assistencialismo e benesse. No ano de 1993 a assistên-
cia social foi regulamentada com a LOAS – Lei Orgânica de Assistência
Social, onde ficou instituído que todos os usuários são possuidores de
direitos. Essa lei nada mais é do que uma política pública de defesa dos
direitos fundamentais dos cidadãos.

A referida lei veio para eliminar a compreensão de assistência social como


ajuda,caridade, pois tais atos soavam como clientelismo político. É válido
lembrar que a assistência social é um direito garantido na Constituição
Federal de 1988, lei maior que rege nossa nação.

A Constituição Federal instituiu um modelo descentralizador e democrá-


tico de assistência social, cuja participação da população transformou o
campo da assistência, haja vista a criação da lei federal 8742 de dezembro
de 1993, a LOAS, como já citada anteriormente.

Com advento dessa lei, alguns órgãos federais de assistencialismo foram


extintos, onde em seu lugar foi implementado o sistema da Assistência
Social, pois antes o modelo de gestão usado era a relação ONGs/ usuários,
como o exemplo da ONG Comunidade Solidária, administrada pela então
ex-primeira dama Ruth Cardoso. Dado a mudança do modelo de assistên-
cia para uma gestão descentralizada e participativa, há um esforço muito
grande para que esse novo modelo se firme como uma política pública
capaz de atender plenamente as necessidades dos usuários.

Para Estevão (2007), há certa confusão entre esses termos, pois o Serviço
Social tem suas raízes no assistencialismo. A autora relata que a assistên-
cia era exercida em um caráter não profissional, como um apoio voluntário
dos mais ricos para os mais pobres e necessitados.

Como disserta Martinelli (2006), a prática assistencial historicamente es-


teve longe das relações sociais, pois o que se pregava era a caridade. A
autora traça em seu livro, Serviço Social: identidade e alienação um roteiro
histórico da prática da assistência com essa conotação filantrópica:

Desde a Antiguidade há referências à prática da as-


sistência com essa conotação. No velho Egito, na
Grécia, na Itália, na Índia, enfim, nos mais diferentes

Para saber mais sobre clientelismo acesse o artigo de Seibel e Oliveira no site da
UFSC/artigo.
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22 SERVIÇO SOCIAL: INTRODUÇÃO E HISTÓRIA
pontos do mundo antigo a assistência era tarefa reser-
vada às confrarias, que tem sua origem nas Confrar-
ias do Deserto, cujo surgimento remonta a 3000 anos
antes de Cristo, com o objetivo de facilitar a marcha
das caravanas no deserto. Muitos anos mais tarde,
porém ainda na época pré-cristã, as confrarias se
estenderam para as cidades buscando, por analogia,
ajudar a caminhada daqueles que sofriam, seja por
privações, pela dor, por doenças, perdas ou rupturas.
A ajuda, nessa fase da história da humanidade, con-
cretizava-se na esmola esporádica, na visita domi-
ciliar, na concessão de gêneros alimentícios, roupas,
calçados, enfim, em bens materiais indispensáveis
para minorar o sofrimento das pessoas necessitadas.
(MARTINELLI, 2006, p.96).

Como se pode observar, desde os tempos remotos o assistencialismo se faz


presente, é entendimento como um auxílio aos pobres sem condições e sem
empoderamento social. Martinelli ainda pondera sobre a relação da prática
assistencialista com a religião, onde a assistência como caridade ampliou-
se, sendo fundamentada também pelo ideário de justiça social. Nesse mo-
mento da história a assistência caracterizou-se pela dimensão espiritual.

A prática da assistência foi um assunto incessante na organização da Igre-


ja Católica como mais pura expressão da caridade cristã. Santo Tomás
de Aquino foi um ideário da caridade e fé cristã, pois o mesmo colocava
a caridade como um dos pilares da fé e de justiça social a quem dela ne-
cessitasse.

Não vamos nos ater neste momento às concepções da Igreja e assis-


tencialismo, pois analisaremos com mais intensidade essa relação mais
adiante na aula 31.

Parafraseando Martinelli (2006), a assistência ao longo da história trilhou


muitos caminhos, bem como a maneira de operacionalizá-la, todavia, se-
gundo a autora, um elemento esteve atrelado a este conceito: a caridade.

Vale ressaltar que a prática da caridade muitas vezes denota exploração,


alienação e dominação política, como aponta Martinelli:

Desde a era medieval e avançando para épocas mais


recentes, que atingiram até mesmo o século XIX, a
assistência era encarada como forma de controlar
a pobreza e ratificar a sujeição daqueles que não
detinham posses ou bem materiais. Assim, seja na
assistência prestada pela burguesia, seja naquela
realizada pelas instituições religiosas, havia sempre
intenções outras além da prática da caridade. O que
se buscava era perpetuar a servidão, ratificar a sub-
missão (MARTINELLI, 2006, p.97).
UNIMES VIRTUAL
SERVIÇO SOCIAL: INTRODUÇÃO E HISTÓRIA 23
Como observado nas linhas acima, a assistência social sempre foi vis-
ta como ação paternalista atrelado à ajuda aos mais pobres, fazendo do
usuário um assistido do sistema, e não como um indivíduo de um serviço
a que é seu por direito. Confundia-se muito a assistência social com as
práticas caridosas da igreja católica, sendo interpretada como filantropia e
espaço de exclusão, e não entendida como um mecanismo de superação
das desigualdades sociais.

Entende-se, dessa maneira, que a assistência social é um mecanismo,


uma política pública para atender as necessidades dos indivíduos, garan-
tindo condições dignas de vida, bem como garantir formas de superação
das desigualdades sociais. Já o assistencialismo é o acesso a um bem
comum através da caridade, é uma benesse, uma ajuda, doação.

Entendendo a assistência social como política pública, compreende-se


também que a mesma opera para a superação da exclusão social, de-
fendendo prontamente os direitos dos excluídos, garantindo dignidade e
cidadania. Basicamente podemos sintetizar que a assistência social é uma
política de atenção e defesa dos direitos.

Há uma autora na área do Serviço Social, Maria do Car-


mo Brant, que retrata a questão da assistência social pelo
viés da seguridade social como política pública. Isso im-
plica pensar que a assistência social deve ser e estar configurada como
proteção social do individuo, garantindo os mínimos de proteção aos seus
usuários.

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24 SERVIÇO SOCIAL: INTRODUÇÃO E HISTÓRIA
Aula: 05

Temática: Legislação Profissional

A profissão, ao longo de seu processo histórico, foi abarca-


da por alguns Códigos de Ética e mais recentemente pela lei
de Regulamentação da Profissão em 1993. Esses documen-
tos foram e são de suma relevância, uma vez que são os eixos norteadores
que dão suporte à prática profissional.

Durante a dinâmica da profissão do assistente social, foram criados alguns


códigos de ética (1947, 1965, 1975, 1986 e 1993), códigos estes que sig-
nificaram os momentos sócio-históricos vivenciados pela profissão.

O último Código de Ética aprovado em 15 de março de 1993 dá um norte


maior à profissão, pois assinala os direitos e deveres desses profissionais,
além de dispor em suas alíneas sobre a ética com os usuários, a relação
com os outros profissionais do Serviço Social, dentre outros. Não vamos
nos ater neste momento sobre a descrição dos códigos de ética, pois os
analisaremos com mais intensidade na aula unidade IV, na aula 30. De-
pois de anos de luta, em 07 de junho de 1993 foi sancionada a lei 8662
que regulamenta a profissão em todo território nacional, declarando livre o
exercício da profissão, substituindo uma lei anterior de 1957.

Imagine que mesmo depois de tantos anos de participação na história


e nas questões sociais, a profissão só foi realmente regulamentada no
século XXI. Esta nova legislação que orienta a profissão definiu as compe-
tências e atribuições do assistente social.

O CFESS – Conselho Federal de Serviço Social (o qual estudaremos na


próxima aula) publicou um artigo sobre a comemoração dos 16 anos do
Código de Ética do Serviço Social, publicado em 13/03/2009 e um artigo
sobre a comemoração dos 16 anos da Lei de Regulamentação da Profissão
em 05/06/2009, os quais merecem ser visualizados, pois irão enriquecer
o seu conhecimento sobre as legislações que regem a nossa profissão, e,
em seu exercício profissional, será indispensável à prática e a consulta
dessas leis inerentes à profissão.

Há algumas leis dentro da assistência social que envolve diretamente a


nossa profissão, como é o caso da LOAS – Lei Orgânica de Assistência
Social, que deu um norte à assistência social no pais pois organização
da assistência social tornou-se descentralizada, cabendo aos Estados e

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SERVIÇO SOCIAL: INTRODUÇÃO E HISTÓRIA 25
Municípios a sua efetivação, tendo como parâmetro a implementação das
políticas públicas. É nesse contexto que o assistente social se apresenta,
pois os Estados e Municípios precisaram contratar esses profissionais para
dar conta da nova demanda oriunda das novas legislações pertinentes.

Vejamos o artigo 5° da LOAS:

Artigo 5º - A organização da assistência social tem como base as seguin-


tes diretrizes:

I - descentralização político-administrativa para os Estados, o Distrito Fe-


deral e os Municípios, e comando único das ações em cada esfera de
governo;

II - participação da população, por meio de organizações representativas,


na formulação das políticas e no controle das ações em todos os níveis;

III - primazia da responsabilidade do Estado na condução da política de


assistência social em cada esfera de governo.

A lei supracitada estabelece os objetivos, princípios e diretrizes das ações


da assistência social, onde ficou instituído que o sistema que comporia
esta lei trabalharia de forma descentralizado e com participação do poder
público e da sociedade civil. Neste contexto, o Ministério de Desenvolvi-
mento Social e Combate à Fome planificou o SUAS – Sistema Único de
Assistência Social, onde este órgão ficou responsável pela articulação da
execução dos programas e serviços e também pelos benefícios sociais
como O BPC – Benefício de Prestação Continuada.

Sintetizando essa questão, este programa estabelece as diretrizes da as-


sistência social no país, e fazendo valer todos os seus objetivos. De acordo
com o MDS esse programa organiza a oferta da assistência social em
todo o Brasil, promovendo bem-estar e proteção social a famílias, crian-
ças, adolescentes e jovens, pessoas com deficiência, idosas e a todos que
dela necessitarem.

O Conselho Nacional de Assistência Social - CNAS, aprovou em 2004 a


Política Nacional de Assistência Social – PNAS, cujo documento define as
ações que serão executadas dentro da oferta da assistência social. Outro
documento do governo federal muito importante é a NOB/SUAS –Norma
de Operação Básica do Sistema Único de Assistência Social, que está sob
sua competência a descentralização deste sistema nos âmbitos dos Muni-
cípios e Estado e a regulação de como serão aplicados os recursos.
UNIMES VIRTUAL
26 SERVIÇO SOCIAL: INTRODUÇÃO E HISTÓRIA
É importante frisar que esse inovador modelo de gestão da assistência
social é uma forma de controle social da sociedade civil para com as atu-
ações governamentais, resultando em uma gestão cristalina, que por con-
sequência promove o acesso dos usuários aos programas sociais, consoli-
dando, dessa forma, o papel do Estado quanto à questão do enfrentamento
à pobreza.

Para terminarmos esta aula, indico o site do CFESS/ publica-


ções_manifesta para que vocês possam visualizar os artigos
sobre a comemoração dos 16 anos da Lei de Regulamen-
tação da Profissão e a comemoração dos 16 anos do Código de Ética do
Serviço Social. Na próxima aula convido você a aprender um pouco mais
sobre os Conselhos que regem a nossa profissão.

Até mais!

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SERVIÇO SOCIAL: INTRODUÇÃO E HISTÓRIA 27
Aula: 06

Temática: Conselhos Federais de Serviço Social


e Conselhos Regionais de Serviço Social

Em algumas aulas anteriores vocês já puderam conhecer o


que significa as siglas CFESS E CRESS – que são os órgãos
normativos da nossa profissão. Nesta aula vamos aprender
a importância desses órgãos e sua representatividade para a classe do
assistente social.

O CFESS – Conselho Federal de Serviço Social, assim como o CRESS –Con-


selho Regional de Serviço Social, são entidades que fiscalizam o exercício
da profissão. Dados do CFESS indicam que a criação desses Conselhos
de fiscalização tem origem na década de 50. Nessa época, a função dos
conselhos era apenas a burocrática, não tinham autonomia, pois foram
criados apenas para desempenharem o papel controlador do Estado.

Citamos anteriormente a lei 8662 de 1993 que regulamenta a profissão do


assistente social, porém existiu outra lei de regulamentação da profissão,
a lei 3252 de 1957, que foi regulamentada pelo decreto 994 de maio de
1962. Através desse decreto ficou instituído que a incumbência da fiscali-
zação do exercício profissional ficaria a cargo desses órgãos, que na época
se chamavam CFAS – Conselho Federal de Assistentes Sociais e CRAS
– Conselhos Regionais de Assistentes Sociais.

De acordo com o portal do CFESS, estas entidades tinham uma visão con-
servadora de atuação, pois refletiam a perspectiva da profissão na época,
que nada se familiarizava às questões sócio-políticas. Ainda de acordo
com o CFESS, os Códigos de Ética de 1965 e 1975 traziam ranços de uma
visão conservadora da profissão. Hoje o CRESS atua em quase todas as
regiões do país e é uma entidade de direito público, onde o Tribunal de
Contas da União analisa anualmente as contas da entidade, daí já se ob-
serva a sua seriedade.

São atribuições do CRESS:


» Orientar, disciplinar, fiscalizar e defender o exercício da profissão de Ser-
viço Social;
» Zelar pelo livre exercício, dignidade e autonomia da profissão;
» Organizar e manter o registro profissional dos Assistentes Sociais e das
pessoas jurídicas que prestam serviços de consultoria;

UNIMES VIRTUAL
28 SERVIÇO SOCIAL: INTRODUÇÃO E HISTÓRIA
» Zelar pelo cumprimento e observância do Código de Ética Profissional.
(Dados CRESS – São Paulo).

O CRESS e o CFESS foram instituídos para que o serviço prestado pelos


assistentes sociais aos usuários seja realizado em sua totalidade. Eles de-
vem garantir que a população atendida seja beneficiada e possa acessar o
serviço com qualidade.

A questão da importância dessas entidades é abalizada pelo CFESS:

Em uma conjuntura assim, o Conjunto CFESS/CRESS


reafirma e fortalece, em sua programática, o debate e
ações estratégicas em torno da valorização da ética,
da socialização da riqueza e da defesa dos direitos, na
perspectiva de reconhecer, analisar e se contrapor às
formas de mercantilização de todas as dimensões da
vida social. Nosso compromisso com o projeto ético-
político profissional, expressos nos valores e princípios
estabelecidos no Código de Ética dos/as Assistentes
Sociais, nos mobiliza para a luta em defesa de uma
cultura política com direção emancipatória e respeito à
diversidade, além de nos sensibilizar, em nosso cotidi-
ano profissional, para conhecer as reais condições de
vida da população e buscar formas de intervir contra
todos os processos de degradação da vida humana.
(CFESS-Conselho Federal De Serviço Social)

Podemos então sintetizar que todos os instrumentos normativos são coe-


rentes entre si: o código de ética, a Lei de Regulamentação da Profissão,
os regimentos internos, dentre outros.

Nesta aula você pôde conhecer um pouco das funções e im-


portância das entidades normativas da profissão. Convido
você a um desafio: pesquise em um site de busca o CRESS
de sua região. É só digitar a sigla CRESS e o nome de seu Estado, por
exemplo: CRESS São Paulo e conheça um pouco mais sobre o assunto.

Até a próxima aula!

UNIMES VIRTUAL
SERVIÇO SOCIAL: INTRODUÇÃO E HISTÓRIA 29
Aula: 07

Temática: Associação Brasileira de Ensino


e Pesquisa em Serviço Social - ABEPSS

A ABEPSS foi criada no ano de 1946, porém como outra


nomenclatura- Associação Brasileira de Escolas de Serviço
Social, depois novamente mudou de nomenclatura – Asso-
ciação Brasileira de Ensino em Serviço Social. No ano de 1979, com o
Congresso da Virada, essa instituição passou a ser responsável pela coor-
denação e articulação do projeto de formação da profissão.

Os anos de 1980 foram muito intensos no que concerne ao ensino e pes-


quisa na área do Serviço Social, pois surgiram inúmeros programas de
pós-graduação. Nos anos 90 essa entidade de ensino e pesquisa passou
a se chamar como é conhecida hoje - Associação Brasileira de Ensino e
Pesquisa em Serviço Social, onde se articula em um tripé: ensino, pes-
quisa e extensão, bem como se articula com os programas de graduação
e pós-graduação, onde se é explícito a sua natureza cientifica através da
publicação periódica da Revista Temporalis.

É de suma importância ressaltar que o processo histórico da ABEPSS vêm


articulando ações de cunho democrático, pois a entidade promove debates
nos níveis de formação acadêmica. Essa entidade também foi responsável
pela elaboração das Diretrizes Curriculares para o Curso de Serviço Social,
as quais a categoria aprovou no ano de 1996.

Na contemporaneidade, um desafio é posto a essa entidade: acompanhar,


de uma forma geral, a implantação das Diretrizes Curriculares Nacionais
em níveis de graduação e pós-graduação.

Nesse sentido a ABEPSS aponta esse e outros desafios a enfrentar:

Um desafio permanente da ABEPSS é acompanhar a


implantação das Diretrizes Curriculares. Isso envolve
pensar um processo de formação continuada que
venha a atingir os docentes de todas as universidades
e/ou faculdades que tenham em seu quadro o curso
de graduação em Serviço Social como um instrumen-
to necessário e urgente para que a implementação
das Diretrizes não seja fraturada em seus elementos
mais relevantes, e para que seus fundamentos não
sejam diluídos em seus aspectos mais importantes.
Esse acompanhamento vem ocorrendo sistematica-
mente pelas várias diretorias da ABEPSS, por meio
UNIMES VIRTUAL
30 SERVIÇO SOCIAL: INTRODUÇÃO E HISTÓRIA
da realização de oficinas, de visitas às unidades de
formação acadêmica, que vêm sendo realizadas des-
de a aprovação das Diretrizes, as quais subsidiam a
elaboração e implantação dos projetos pedagógicos
das diversas unidades de formação acadêmica fili-
adas. (ABEPSS-Associação Brasileira de Escolas de
Serviço Social)

Essa entidade realiza anualmente encontros nacionais de pesquisadores em


Serviço Social, o ENPESS e algumas convenções. Recentemente a entidade
vem tentando se articular com a América Latina (veremos na unidade II a
importância do Serviço Social na América Latina), mais especificamente se
aliando à ALAEITS, um movimento latino que é pautado na ideologia do Mo-
vimento de Reconceituação (o qual estudaremos na aula 18).

Convido você a conhecer no site da ABEPSS- onde se encon-


tra o Estatuto da Entidade está disponível para download.

Até a próxima!

UNIMES VIRTUAL
SERVIÇO SOCIAL: INTRODUÇÃO E HISTÓRIA 31
Aula: 08

Temática: Executiva Nacional de Estudantes de


Serviços Social - ENESSO

A ENESSO - Executiva Nacional de Estudantes de Serviço


Social é uma entidade representativa dos estudantes de
Serviço Social no Brasil. Como qualquer outra entidade re-
presentativa a ENESSO possui um estatuto próprio.
Durante o I Encontro Nacional de Estudantes de Serviço Social – ENESS,
em 1978, percebeu-se entre os estudantes de Serviço Social um desejo
de unificar suas lutas e debater a profissão em todos os seus aspectos,
principalmente o acadêmico. Foi também nesse evento que se cogitou a
possibilidade de reformulação do currículo. Ano após ano ocorre o ENESS,
cada um deles com uma temática específica, de acordo com o movimento
sócio-histórico e também com a realidade acadêmica.
A criação da ENESSO possibilitou que a entidade tivesse uma autonomia
maior perante a União Nacional dos Estudantes – UNE.
Para sintetizar o exposto acima segue o quadro:

Você percebeu como é importante uma categoria profissional


ter a sua representatividade? Sugiro que você reflita sobre cada
entidade estudada nas aulas textos dessa unidade e pense
como suas deliberações se articulam positivamente com a prática profissional.

Passemos para a unidade II, até lá.

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32 SERVIÇO SOCIAL: INTRODUÇÃO E HISTÓRIA
Resumo - Unidade I

Nesta unidade, você teve a oportunidade de conhecer e se


apropriar sobre a definição de Serviço Social, bem como
o campo de atuação no passado, presente e perspectivas
para a profissão na atualidade.

Você pode conferir também algumas determinações legais que regem a


profissão e quais são os órgãos legais que a norteiam.

Referências Bibliográficas

BRASIL. Estatuto da Criança e do Adolescente. Lei Federal nº 8069, de 13


de julho de 1990. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/
Leis/L8069.htm>. Acesso em: 08 de nov. de 2010

_______. Lei de Regulamentação da Profissão. Disponível em <http://


www.cfess.org.br/arquivos/legislacao_lei_8662.pdf >. Acesso em: 15 de
ago. 2010.

______. Lei 8662/93 de 7 de junho de 1993. Dispõe sobre a profissão de


assistente social e dá outras providências. Disponível em: http://www.
cfess.org.br/arquivos/legislacao_lei_8662.pdf. Acesso em: 10 dez. 2010

CÂMARA DOS DEPUTADOS DO BRASIL. Projeto de Lei 060/2007. Dispo-


nível em: <http://www.senado.gov.br/atividade/materia/detalhes.asp?p_
cod_mate=82215> Acesso em: 18 de ago. 2010.

CONSELHO FEDERAL DE SERVIÇO SOCIAL (CFESS). Código de Ética Pro-


fissional do Assistente Social. 1993. Disponível em: <http://www.cfess.
org.br/arquivos/Informe_sobre_a_Posicao_do_CFESS_sobre_os_Proje-
tos_de_Lei_.pdf:> Acesso em: 25 nov. 2010.

ESTEVÃO, Ana Maria Ramos. O que é Serviço Social. São Paulo: Brasilien-
se, 2007.

PINHEIRO, Maria Esolina. Serviço Social: Documento Histórico. São Paulo:


Cortez, 1985.

UNIMES VIRTUAL
SERVIÇO SOCIAL: INTRODUÇÃO E HISTÓRIA 33
HOUAISS, Antônio. Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa. 1. ed. Rio de
Janeiro: Ed. Objetiva, 2001.

ALGO SOBRE. Mercado de trabalho no serviço social. Disponível em:


<http://www.algosobre.com.br/guia-de-profissoes/servico-social.html>.
Acesso em: 25 de ago. 2010.

MDS. Sistema Único de Assistência Social. Disponível em: <http://www.


mds.gov.br/assistenciasocial/suas>. Acesso em: 28 de ago. 2010.

Glossário

Advento: Aparecimento. Chegada de alguém ou de algo.

Amalgamado: Que se misturou com alguma coisa ou mais de uma coisa.

CFESS: Significa Conselho Federal de Serviço Social. Sua função é fiscali-


zar o exercício profissional dos assistentes sociais no Brasil.

Classe Dominante: É uma classe social que controla o processo político


e econômico de um país.

Classe dominada: É classe dominada pela classe dominante no processo


de produção capitalista.

Clientelismo Político: É um princípio vinculado ás relações políticas onde


um individuo recebe de outra proteção em troca de apoio político.

CNAS: Significa Conselho Nacional de Assistência Social. É um órgão do


governo, vinculado ao Ministério de Desenvolvimento Social e Combate
à Fome, cuja responsabilidade é definir políticas, em âmbito nacional, de
assistência social.

CAPS: Significa Centro de Atenção Psicossocial. É um serviço da rede


de saúde, na área da saúde mental que atende pessoas com transtornos
psíquicos, com o objetivo de evitar internações e com vistas á reinserção
do usuário na vida familiar e comunitária.

CRAS: Significa Centro de Referência em Assistência Social. É uma uni-


dade pública estatal, descentralizada, visando o atendimento socioassis-
tencial a quem dela necessite. Visa a ampliação dos direitos sociais e
fortalecimento dos vínculos familiares e comunitários.

UNIMES VIRTUAL
34 SERVIÇO SOCIAL: INTRODUÇÃO E HISTÓRIA
CREAS: Significa Centro de Referência Especializado de Assistência Social.
É uma unidade pública estatal atuando na proteção social especial de média
e alta complexidade, quando os direitos dos usuários foram violados.

CRESS: Significa Conselho Regional de Serviço Social. É uma autarquia


de direito público com vinculação ao CFESS, que visa, dentre algumas
atribuições, fiscalizar, assim como o CFESS, o exercício profissional, zela
pelo cumprimento do Código de Ética, dentre outras.

Despendida: Fazer despesa, gastar, distribuir, espalhar.

Emancipação: Ato ou efeito de emancipar-se. Libertação, alforria.

Empoderamento Social: Exprime, em geral, uma ação coletiva realizada


pelos indivíduos quando participam de espaços privilegiados de decisões,
de consciência social dos direitos sociais.

Gênese: Fonte, origem, início, nascimento.

LOAS: Significa Lei Orgânica de Assistência Social. Essa lei estabelece


princípios, diretrizes e objetivos para quanto á gestão das políticas públi-
cas.

Políticas Públicas: São um conjunto de ações, benefícios ou programas


que visam à garantia dos direitos coletivos.

Questão social: São fenômenos sociais que ocorrem devido ao cresci-


mento do capitalismo como a fome, pobreza, violência.

Usuários: Diz-se que são os sujeitos que utilizam os serviços oferecidos


pelo Serviço Social.

UNIMES VIRTUAL
SERVIÇO SOCIAL: INTRODUÇÃO E HISTÓRIA 35
Exercício de autovaliação I

1) Hoje o profissional do Serviço Social é dotado de competências e habilidades. Descre-


va como era visto esse profissional nas primeiras décadas do surgimento da profissão:

a) Era um profissional que se utilizava de referenciais teóricos- técnicos no seu agir profis-
sional.
b) Era visto como uma pessoa, geralmente uma moça rica, que fazia caridade.
c) Um profissional que só atendia as pessoas mais ricas e que podiam pagar pelos seus
serviços.
d) n.d.a.

2) De acordo com Estevão (2007), como surgiu o Serviço Social?

a) A profissão surgiu do desejo da classe burguesa em ajudar os mais necessitados.


b) O aparecimento da profissão se deu quando um padre anglicano decidiu ajudar as pes-
soas pobres.
c) O Serviço Social é fruto do cenário das desigualdades sociais oriundas pelo capitalismo
desenfreado.
d) Os mais pobres foram ouvidos em um determinado momento histórico e então a profis-
são surgiu desse contexto.

3) Analise a charge abaixo e responda:

UNIMES VIRTUAL
36 SERVIÇO SOCIAL: INTRODUÇÃO E HISTÓRIA
a) O surgimento da globalização faz com que a riqueza seja distribuída de forma igualitária.
b) A charge retrata que todos, independente da classe social, têm as mesmas oportunida-
des.
c) A globalização faz com que todas as pessoas conquistem seu papel de destaque na
sociedade.
d) A globalização em si não é maléfica, porém, ao ponto que ao seu surgimento o pobre
cada vez fica mais pobre, as desigualdades sociais só aumentam.

4) Indique um campo de atuação do profissional do Serviço Social:

a) Esse profissional atua nos serviços de urgência e emergências em hospitais, no socorro


imediato de doentes.
b) O assistente social pode atuar em setores públicos e privados, empresas, ONGs, na
saúde, habitação, sistemas penitenciários, judiciário, previdência social, assistência, sin-
dicatos, movimentos populares, dentre outros.
c) Esse profissional não tem um campo de atuação definido, podendo atuar em quase todos
os seguimentos profissionais.
d) O assistente social atua somente na área jurídica.

5) O que é a Filantropia para o Serviço Social?

a) É somente um tipo de ajuda e caridade.


b) É a forma do Serviço Social agir profissionalmente na atualidade.
c) Filantropia é a forma mais clara e objetiva de se obter a emancipação do indivíduo.
d) n.d.a.

UNIMES VIRTUAL
SERVIÇO SOCIAL: INTRODUÇÃO E HISTÓRIA 37
UNIMES VIRTUAL
38 SERVIÇO SOCIAL: INTRODUÇÃO E HISTÓRIA
Unidade II
História do Serviço Social

Objetivos
Analisar como se deu a inserção do Serviço Social no Brasil e na América Latina,
bem como explanar algumas teorias que o embasaram, ressaltando a profissão
como categoria profissional.

Plano de Estudo
Esta unidade conta com as seguintes aulas:

Aula: 09 - Vertentes europeias, americanas e latinas no Serviço Social


Aula: 10 - História do Serviço Social na América Latina
Aula: 11 - História do Serviço Social no Brasil
Aula: 12 - Positivismo, Funcionalismo e Marxismo
Aula: 13 - As encíclicas papais
Aula: 14 - Serviço Social e o capitalismo monopolista
Aula: 15 - O assistente social na divisão sócio- técnica do trabalho
Aula: 16 - A profissionalização do Serviço Social enquanto categoria profissional

UNIMES VIRTUAL
SERVIÇO SOCIAL: INTRODUÇÃO E HISTÓRIA 39
Aula: 09

Temática: Vertentes europeias, americanas


e latinas do Serviço Social

Durante algum tempo a ideia de que o Serviço Social na


América Latina era consequência da vertente europeia per-
durou. Para Castro (2003, p.17), as condições do exercício
profissional foram fundamentadas nas condições econômicas vivenciadas
por alguns países da América Latina, em especial o Chile, Brasil e Peru.
Para Castro, o “Serviço Social é uma resposta à evolução do capitalismo
nesses países”, principalmente através das lutas sociais e pela hegemonia
do poder político.

Sendo assim, acompanhemos uma síntese do autor supracitado sobre a


inserção do Serviço Social na América Latina:

É preciso reconhecer que o caráter do “espaço pro-


fissional” é dinâmico, possuindo um movimento que
estabelece correlações de forças de acordo com os
desenvolvimentos das profissões no interior da for-
mação profissional, entendida como uma abstração
da formação social. A inserção do Serviço Social no
meio concreto em que opera é como a ocupação de
um território habitado por outras profissões e ofícios,
gerando-se conseqüente pressão pela delimitação do
“espaço” próprio. Já se instituiu suficientemente sobre
a inexistência de espaços vazios - aduzamos, apenas,
que está super população dos mesmos só pode de dar
sob a forma de presenças conflituais ou complemen-
tares, mas nunca neutras. (CASTRO, 2003, p.18).

Martinelli (2006, p.114) relata que definir os rumos da prática da profissão


não foi uma tarefa nada fácil, pois o capitalismo exacerbado no século XX
dominava toda a Europa e Estados Unidos. Tanto Castro como Martinelli
refletem em suas obras os rumos tomados pela profissão em todo o seu
processo sócio-histórico, pois, de acordo com Castro: “apreender o sig-
nificado real e os efeitos da prática dos assistentes sociais ao longo da
história supunha inserir seu estudo no interior das relações sociais histori-
camente determinadas”.

Para o autor, analisar o passado histórico da profissão significa ter um


olhar voltado para o futuro. Segundo ele, Chesnaux apresenta:

UNIMES VIRTUAL
40 SERVIÇO SOCIAL: INTRODUÇÃO E HISTÓRIA
O presente só reclama o passado em função do fu-
turo: ele pode nos ajudar a compreender melhor a
sociedade em que vivemos hoje, a saber, o que de-
fender e preservar, e, no nosso caso específico,
a equacionar e ultrapassar os óbices que desafi-
am o Serviço Social contemporâneo. (CASTRO,
2003, p.25).

Alguns questionamentos nos vêm à cabeça quando estudamos a História


do Serviço Social na América Latina: quais mudanças estruturais ocorre-
ram? Como foi a inserção do Serviço Social em nosso continente? Para
tentar responder a essa e a outras questões relacionadas à gênese da
profissão, autores como Manoel Manrique Castro, Maria Lucia Martinelli e
Maria Esolina Pinheiro farão parte de nosso estudo nesta unidade. A partir
destes questionamentos é que se constrói o grande debate que adentra a
história da profissão, na ótica de Castro.

Martinelli destaca que no plano político ocorreram mudanças de ordem


estrutural na Europa, como por exemplo, a Revolução Russa de 1917, uma
vez que a Rússia, embora pertença ao continente asiático, também perten-
ce ao continente europeu. Essa revolução derrotou o Czarismo e passou a
adotar o sistema socialista de economia estatal e planificada.

Neste momento da história essa revolução causou um verdadeiro dese-


quilíbrio no movimento dos trabalhadores europeus por toda a Europa. Os
trabalhadores, inconformados com a nova posição governamental, se or-
ganizaram em sindicatos e partidos para lutar por melhores condições de
trabalho.

Veja o que relata Castro (2003) sobre esse período:

Organizados em partidos trabalhistas nacionais e em


sindicatos, os trabalhadores lutavam para consolidar
suas conquistas políticas, em termos da organização
e da legislação referentes ao processo de trabalho. Ha-
via, porém, em contraponto, uma política fascista em
ascensão, que desde a década de 1920 espalhava-se
pelo continente europeu, produzindo sensíveis mu-
danças na estrutura da sociedade. O recrudescimento
da repressão sobre o movimento dos trabalhadores
era evidente, assim como era também a profunda ra-
chadura do sistema social. Aos impérios econômicos
que começaram a despontar na esteira de uma eco-
nomia fascista e de um capitalismo monopolista, cor-
respondeu a intensa pauperização de uma grande faixa
da população européia.( CASTRO 2003, p.26)

UNIMES VIRTUAL
SERVIÇO SOCIAL: INTRODUÇÃO E HISTÓRIA 41
O que se observou no continente europeu nesta ocasião foi uma grave falta
de condições de se manter como centro hegemônico da economia, onde
os Estados Unidos se declarou vencedor da I Guerra Mundial, tornando-se
uma grande potência capitalista.

Assim, logo se estabeleceu nos Estados Unidos as classes dominantes e


a burguesia, pois havia um crescente processo de industrialização neste
país. Neste sentido, a burguesia era compreendida como o eixo controla-
dor dos processos econômicos e sociais.

As questões sociais, como define Martinelli, que ora fora imposta, era in-
terpretada como uma forma reducionista, ou seja, passíveis de serem con-
troladas. Neste contexto, de acordo com a autora, foi enfatizada a busca de
inúmeros conhecimentos científicos para explicar esse fenômeno, como a
Psicologia e a Medicina, pois se entendia que essa questão era interpreta-
da como manifestações individuais, suscetíveis ao controle social.

Para Pinheiro, o espírito de independência e de liberdade dominou a mente


do povo americano, e é nesse contexto de lutas de classe que o Serviço
Social se apresenta, porém com um norte de atuação individualista, pelos
motivos já explicitados acima. No ano de 1919 a Escola de Filantropia de
Serviço Social foi incorporada a uma grande universidade do país, passan-
do a se chamar Escola de Trabalho Social.

Vocês devem ter observado na unidade I as entidades representativas da


profissão no Brasil e nos Estados Unidos em 1920, a classe do assistente
social também tinha uma entidade que os representasse, cujo nome era
Associação Nacional dos Trabalhadores Sociais. Já na Europa a busca
pela identidade da profissão se firmou por outro viés, deixando a linha de
abordagem individual e passando a atuar pela vertente de atuação nas
Sociedades de Organização da Caridade, no sentido de combater as ações
por elas exercidas, controlando os conflitos e desajustes.

Esse período ansiava por busca de novas teorias que compreendessem o


contexto histórico vivenciado na sociedade, teorias estas que visassem à
superação do atendimento individual, agindo e buscando compreender os
problemas sociais de uma forma mais ampla.

Martinelli salienta que esse período foi marcado pela busca de novas ci-
ências para explicação das questões sociais como a Sociologia, Economia
e Pesquisa Social. A linha de atendimento individual foi então substituída
pela linha baseada nos preceitos da Sociologia, onde a atuação passou a
ser a grupal. Todavia, o ideário da Sociologia nessa época era o conserva-
dor, com influências de pensadores como Auguste Comte, Le Play e Emile
Durkhein.
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42 SERVIÇO SOCIAL: INTRODUÇÃO E HISTÓRIA
A linha de pensamento de Comte era a Positivista, e, como discorre Mar-
tinelli, este pensador era considerado um teórico da burguesia, pois de-
fendia que a sociedade poderia ser controlada pelas leis sociais e, dessa
maneira, se obter equilíbrio e progresso.

Veja o que Valentim (2010) nos esclarece sobre o Positivismo:

A gênese do Positivismo ocorreu no século XIX, num


momento de transformações sociais e econômicas,
políticas e ideológicas, tecnológicas e científicas pro-
fundas decorrentes da consolidação do capitalismo,
enquanto modo de produção, através da propagação
das atividades industriais na Europa e outras regiões
do mundo. Portanto, o “século de Comte” e sua ama-
da França mergulharam de corpo e alma, numa “de-
usa” chamada razão, colocando sua fé numa “Nova
Religião”, caracterizada pela junção entre a ciência e
a tecnologia, tidas como a panacéia da humanidade,
no contexto da expansão, pelo Globo, do Capitalismo
Industrial.” (VALENTIM 2010, p.25 )

Para Le Play, a base de toda sociedade estava enraizada na família, na pro-


priedade e na religião, sempre sob a égide conservadora. Já Durkhein, que
é considerado o pai da Sociologia, sintetizou que os problemas enfrentados
pela sociedade eram de ordem moral e apoiava o controle social do Estado.

Acompanhemos esta definição sobre a linha conservadora de Durkhein


sob a ótica de Martinelli:
Validando plenamente a sociedade de classes e a
ação da classe “nobre” poderosa em relação à outra,
considerava que só mediante rigoroso controle moral
sobre os indivíduos ou grupos portadores ou mani-
festações dos problemas é que se poderia garantir a
organização e o funcionamento adequado da socie-
dade (MARTINELLI, 2003, p.116).

Este pensamento conservador de atuação esteve vinculado aos preceitos


também conservadores da Igreja Católica, trazendo para a prática profis-
sional a dimensão do controle, repressão e ajustamento aos padrões fun-
dados na sociedade capitalista.

A igreja pregava uma doutrina humanista, porém atrelada a um pensamen-


to conservador dominante do Serviço Social na Europa, onde a sociedade
burguesa detinha o controle social. Era notória a linha de pensamento con-
servador na prática do Serviço Social europeu e americano neste período.
No mesmo momento em que se avançavam as ações e a abordagem de
ação grupal para minimização dos conflitos sociais, crescia também a for-
ma repressiva de controle social através das práticas profissionais.
UNIMES VIRTUAL
SERVIÇO SOCIAL: INTRODUÇÃO E HISTÓRIA 43
Os profissionais do Serviço Social iam ao encontro dos trabalhadores, porém
não em detrimento as suas causas, mas estavam ali para atender os interes-
ses da burguesia, no sentido de conter as manifestações dessa classe.

A luta dos trabalhadores não era compreendida como mera luta de classes
e sim como conflitos sociais, o que despendeu certo controle por parte
da burguesia que nesse momento estava representada pela classe dos
assistentes sociais.

A profissão do Serviço Social, até então, não se voltava para atender às


necessidades dos usuários como acontece hoje, pois, segundo Martinelli,
as ações do Serviço Social nesse dado momento histórico “significava a
tentativa de equacionar os conflitos e de recuperar o equilíbrio aparente,
de forma a garantir a regularidade do processo social”.

Observe o que Martinelli sintetiza sobre essa prática do Serviço Social:

A função econômica da prática social impunha-se


soberanamente, levando os assistentes sociais a
produzir ações distanciadas das contradições e an-
tagonismos que marcavam a sociedade européia no
início do século XX. Sua preocupação em manter o
equilíbrio do todo social, em administrar racional-
mente os conflitos sociais, em humanizar as relações
industriais, na prática expressava-se como um verda-
deiro freio ao movimento do proletariado que lutava
por melhores condições de vida e de trabalho, por sa-
lários dignos, por legislação social e trabalhista e não
por ações oscilantes entre o controle repressivo e a
caridade (MARTINELLI, 2006 p.117).

Note que a luta da classe trabalhadora não se voltava para o âmbito indi-
vidual, foi uma luta política em busca de melhores condições de trabalho e
de acesso aos direitos sociais.

A classe dos trabalhadores era consciente quando se tratava de não legiti-


mar sua prática em preceitos religiosos ou conservadores, que nada trazia
de benefício para suas lutas. Porém, para a classe mais pauperizada, que
sofria com o desemprego, com a fome, com doenças, o assistencialismo
advindo era essencial, mesmo que fosse uma estratégia de controle do
sistema capitalista.

A burguesia, que detinha seus interesses,apoiava as práticas dos assisten-


tes sociais, engendrada em uma conjuntura cada vez mais complexa, onde
as lutas de classes a cada dia se tornavam cada vez mais acentuadas, cujo
grande objetivo era preservar a hegemonia que ora fora imposta.
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44 SERVIÇO SOCIAL: INTRODUÇÃO E HISTÓRIA
O Estado e a burguesia se aliaram e ofertaram políticas assistenciais como
forma de controlar a classe trabalhadora, fazendo com que a essa classe
enxergasse o Estado por um viés paternalista.

Nesta ocasião histórica a classe dos assistentes sociais tinha uma identi-
dade atribuída pela sociedade burguesa: atuavam como relata Martinelli,
sob a forma de controle social e de difusão do modo de pensar capitalista.

A trajetória histórica do Serviço Social foi marcada então, neste contexto,


por uma contradição que marcou a sua prática: ora estava a favor da clas-
se trabalhadora e ora a favor do Estado e da burguesia.

Como vocês puderam observar, o Serviço Social esteve pre-


sente antes da eclosão da Segunda Guerra Mundial, prin-
cipalmente em alguns países da Europa, Estados Unidos e
alguns países latinos, e é nessa perspectiva de atuação que avançaremos
à nossa próxima aula. Até mais.

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SERVIÇO SOCIAL: INTRODUÇÃO E HISTÓRIA 45
Aula: 10

Temática: História do Serviço Social na


América Latina

O que percebemos durante a leitura da aula anterior foi


como se originou o Serviço Social nos países americanos
e europeus, e uma pequena introdução sobre a gênese do
Serviço Social na América Latina. Nesta aula vamos adentrar na história
do Serviço Social na América Latina e na trajetória histórica do Serviço
Social neste continente, acompanhe.

Segundo Castro (2003, p.27), a primeira escola de Serviço Social na Amé-


rica Latina surgiu em 1925 no Chile, cujo fundador foi o médico Alejandro
Del Rio. Para Castro, foi a partir daí que a profissão se “latino-america-
niza”, sendo caracterizada por um perfil inicialmente voltado para as de-
mandas existentes.

Desde o seu início, a escola no Chile recebeu grande influência externa,


principalmente advindas da Europa, Estados Unidos, Bélgica, Alemanha
e França onde, a partir de 1940, os Estados Unidos passou a ser a única
referência para a escola chilena.

Seguindo essa linha linha de raciocinio, Castro cita Barreix, onde o autor
salienta que Alejandro Del Rio, criador da escola de Serviço Social chilena,
foi um médico que esteve preocupado com um trabalho multidisciplinar.
Veja que nesse momento o Serviço Social não ganhou status de profissão
independente, surgindo, neste contexto, como uma subprofissão, estando
subordinada à ações médicas. As instituições de beneficencia também
contrataram os assistentes sociais, porém com uma conotação assisten-
cialista, de fazer o bem por amor a Deus.

O ponto de partida para se compreender o surgimento do Serviço Social na


América Latina e no Brasil está em realizar um passeio histórico pelo Ser-
viço Social europeu e americano, que já foram descritos na aula anterior.
Para Castro, a criação da escola de Serviço Social no Chile denota um novo
rumo da profissão em termos da mesma em nível acadêmico superior.

Para que você compreenda com clareza a relação existente entre o modelo
de Serviço Social europeu e americano e sua relação com o modelo latino-
americano basta visualizar o que foi estudado na aula anterior no que tange
às lutas reivindicatórias dos trabalhadores e qual foi o papel do Serviço
Social neste contexto.
UNIMES VIRTUAL
46 SERVIÇO SOCIAL: INTRODUÇÃO E HISTÓRIA
Observe que o proletariado no Chile, nos anos 20, esteve abarcado em
ideias socialistas advindas da Revolução Russa de 1917, onde se foi exigi-
do novas demandas do governo para atender as novas questões oriundas
da exploração da força de trabalho surgidas pelo capitalismo desenfreado.

Assim, foi estabelecido que o Estado se articulasse para atender essa


nova realidade social. O Estado chileno, neste instante, era conduzido pela
força burguesa, estando a favor da classe dominante.

No Chile houve grande êxito econômico devido à exploração de cobre e,


por consequência, a exploração da força de trabalho, onde as empresas
norte- americanas, dominaram as empresas nacionais chilenas. Note que
estes mecanismos de exploração da força de trabalho foram os responsá-
veis pelo crescimento econômico do Chile. Foi notório o grande desenvol-
vimento econômico neste país, onde se instaurou um grande projeto de
ampliação da economia.

Juntamente com esse grande crescimento econômico, vieram também as


consequências das relações de produção do capitalismo, onde as ques-
tões sociais se acentuaram. Houve muita miséria, elevado crescimento
urbano e outras mazelas decorrentes do capitalismo descomedido, e é,
nesse cenário, que o assistente social irá se apresentar. Percebe-se que
a influência do Serviço Social europeu para com o Serviço Social latino-
americano se configurou no campo ideológico.

Neste contexto Castro (2003) destaca:

Ora, o nosso juízo, se se recorreu à Europa como mod-


elo para a legislação trabalhista, para a previdência
social ou para a assistência pública, foi porque existia
uma compatibilidade entre os projetos de classe que
algumas faixas das classes dominantes sustentavam
e o conteúdo das mensagens das formulas de ação
importadas. Era este nível de identidade que criava as
condições para que se visualizassem naquelas fórmu-
las um mecanismo de ação aplicável ás realidades de
nossos países (CASTRO, 2003,p.39).

Perceberam como as influências europeias e americanas


foram modelos para o Serviço Social na América Latina?
Na próxima aula você perceberá também essa influência na
gênese do Serviço Social no Brasil. Até a próxima!

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SERVIÇO SOCIAL: INTRODUÇÃO E HISTÓRIA 47
Aula: 11

Temática: História do Serviço Social no Brasil

Na aula anterior nós vimos como os modelos externos


foram determinantes para a criação do Serviço Social na
América Latina. Nesta aula veremos como se deu a origem
do Serviço Social no Brasil.

O surgimento do Serviço Social no Brasil se dá por volta da década de 30,


por intermédio da burguesia respaldada pela Igreja católica, onde o Serviço
Social europeu serviu como base de referência. Faz-se necessário esclare-
cer, para que você compreenda com mais destreza, que o Serviço Social
no Brasil, assim como na América Latina, não é um simples resultado de
ideias ou modelos já citados pois, como bem coloca Martinelli, o quadro
histórico-conjuntural do Brasil vai colaborar para o seu surgimento.

A economia, nesse período, passava por uma grande transição, pois a


mesma não girava mais em torno das atividades agrárias, mas no ama-
durecimento do mercado de trabalho, na consolidação do polo industrial e
na vinculação da economia ao mercado mundial. (Martinelli, 2006, p.122).
Nesse período, o movimento dos trabalhadores ficou evidente, estavam
desejosos por melhores condições de vida e de trabalho, o que não agra-
dava em nada a burguesia.

Diante deste quadro, a classe dominante uniu-se ao Estado e a Igreja para


estabelecer estratégias para desmontar a classe dos proletariados. O que
ocorreu nesse dado momento histórico foi o grande crescimento das ques-
tões socias, onde os trabalhadores e pobres se viram penalizados pela
barbárie do capitalismo.

Houve períodos de grande tensão nas lutas de classes, e, neste contexto,


foi-se diluindo a República Velha e instaurando-se o movimento de 1930,
a República Nova. Esse novo Estado pregava um conceito mítico, onde se
intitulava como o único digno de resgatar a harmonia social sob forma de
estratégia de diminuir a tensão existente entre Estado e classe trabalha-
dora.Para tal, o Estado buscou aliar-se com a Igreja e com alguns setores
burgueses, a fim de que prevalecesse a sua hegemonia.

Martinelli nos mostra com clareza essa questão quando aponta que existi-
ram alguns movimentos que apoiavam a classe trabalhadora na luta contra
a dominação do Estado, sendo criados Centro de Estudos para qualificação
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48 SERVIÇO SOCIAL: INTRODUÇÃO E HISTÓRIA
de seus participantes para a prática social, sendo constituídos por mulhe-
res católicas da classe burguesa. É nessa comjuntura de fortalecimento da
classe trabalhadora que a burguesia vai perdendo forças. A autora revela
que esse momento marcou o início da história do Serviço Social no Brasil
em um contexto estratégico e conservador, atrelado à ideologia burguesa.

Para simplificar essa questão, e para que você compreenda esse contexto,
basta pensar que a profissão do Serviço Social teve a sua identidade atri-
buída pela classe burguesa, produzindo suas práticas em um mecanismo
de reprodução das relações sociais na sociedade capitalista.

Veja o que nos diz Martinelli (2006) sobre essa questão:

Tal identidade era, portanto, especialmente útil para a


burguesia, pois, além de lhe abrir os canais necessári-
os para a realização de sua ação de controle sobre a
classe trabalhadora, fornecia-lhe o indispensável su-
porte para que se criasse a ilusão necessária de que a
hegemonia do capital era um ideal a ser buscado por
toda a sociedade.(MARTINELLI, 2006,p.124).

Fica envidente que o Estado, atrelado à burguesia, procurou através de


práticas assistencialistas, estabelecer uma política de controle de pre-
servação da ordem social. O objetivo maior de tais práticas advindas do
Estado era controlar a tensão vivida pela sociedade, principalmente nas
manifestações dos trabalhadores.

Para equacionar essas tensões, o governo criou órgãos, sob forma de ma-
nipulação política, para disciplinar as relações de trabalho. Surgiu então o
Ministério do Trabalho Indústria e Comércio, com o principal objetivo de
neutralizar a pressão da classe trabalhadora.

Em meio a este processo, e com o advento do Estado Novo em 1937, é que


se inicia a trajetória do Serviço Social brasileiro, onde a identidade de sua
prática social estava voltada para atender ás especificidades do capitalismo.
Essa ação ideológica da profissão do assisnte social em atender as necessi-
dades imediatas dos trabalhadores só fortalecia a ilusão de que o Estado era
o provedor dos benefícios sociais, uma espécie de Walfare State.

Como vocês puderam observar, a prática do Serviço Social, neste momen-


to, esteve nitidamente atrelada à questão econômica como estratégia de
domínio de classe. Abarcado nessa identidade atribuída pelo capitalismo,
o Serviço Social no Brasil foi acolhido pela burguesia católica e pela Igreja
em si, como relata Martinelli, assumindo tarefas nada condizentes com o
Serviço Social que se apresenta hoje, voltado para amenizar as desigual-
dades sociais. Neste contexto, o Serviço Social irá se apresentar como elo
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SERVIÇO SOCIAL: INTRODUÇÃO E HISTÓRIA 49
para fortalecer a fé da família operária cristã, onde a Igreja, vinculada ao
Estado, ansiava recuperar a sua hegemonia.

Tão obstante, o movimento católico, aos poucos, veio ganhando notorie-


dade e, quando o Serviço Social despontou no Brasil, logo encontrou uma
organização e causas a serem defendidas. Fica evidente o papel controla-
dor do Serviço Social, como nos mostra Martinelli (2006):

O fetiche da prática, fortemente impregnado na estru-


tura da sociedade, se apossou dos assistentes sociais,
insuflando-lhes um sentido de urgência e uma pron-
tidão para a ação que roubavam qualquer possibilidade
de reflexão e crítica (MARTINELLI, 2006, p.127);

Desde a sua origem, o Serviço Social esteve pronto para tentar responder
às questões mais imediatistas, produzindo práticas de interesse apenas
da classe dominante, onde se objetivava apenas o ajustamento político e
ideológico instituído pela burguesia.

Assim, as práticas dos assistentes sociais se configuravam como domi-


nação e exploração burguesa, cristalizando uma ação política articulada
pela sociedade burguesa para conservar a sua hegemonia, garantindo o
controle social.

Ainda para Martinelli (2006), as práticas sociais da profissão estavam vol-


tadas para a manutenção da hegemonia, onde a identidade do profissional
do Serviço Social era construída pela linha do controle e dominação, de
acordo com o padrão imposto pela classe dominante.

Essa identidade do assistente social perdurou por longo tempo. A profis-


são, neste momento, ganhou um status de alienante e alienada, se distan-
ciando das verdadeiras causas a serem defendidas.

Veja você que essa alienação transpôs as práticas dos assistentes sociais,
o que se configurou em um grande obstáculo para que pudessem verda-
deiramente manifestar a sua consciência política e de classe, ou seja, não
era considerada uma categoria com identidade própria. Aliada ao Estado,
a classe burguesa deu vazão para que o Serviço Social se institucionalizas-
se. Entre as décadas de 40 e 60 o Estado foi o maior empregador dos as-
sistentes sociais, configurando o controle que detinha sobre esta classe.

Com a Revolução de 30 o movimento católico no Brasil retomou a sua


intervenção quanto ao seu fazer social, pois um novo poder hegemônico
se instaurou, onde o proletariado passou a reivindicar os seus direitos,
demandando novas estratégias políticas por parte do Estado e da classe
burguesa, tendo a Igreja que intervir nessa nossa trama social.
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50 SERVIÇO SOCIAL: INTRODUÇÃO E HISTÓRIA
Getúlio Vargas, com a decorrência da Revolução de 30, estimulou o proces-
so industrial no Brasil, favorecendo, dessa maneira, a indústria nacional.
A Igreja se aliou ao governo Vargas, pois vislumbrou algumas vantagens
como o reconhecimento do catolicismo como religião oficial, promulgado
na Constituição de 1934.

Neste período de industrialização e com uma urbanização crescente, as


disparidades sociais cada vez mais foram acentuando-se, surgindo lutas
reivindicatórias por parte dos trabalhadores, onde o Estado aparece para
apaziguar essa situação. É nessa conjuntura que o Serviço Social no Brasil
passar a existir e, nesse contexto, destaca Iamamoto (2004, p.18): “o de-
bate sobre a ‘questão social’ atravessa toda a sociedade e obriga o Estado,
as frações dominantes e a Igreja a se posicionarem diante dela”.

Diante desse cenário da sociedade brasileira nasce no ano de 1936 a pri-


meira escola de Serviço Social no Brasil, a escola de Serviço Social de São
Paulo. No ano seguinte surge a Escola de Serviço Social do Rio de Janeiro,
ambas sob forte influência da Igreja Católica.

Existe uma autora importante no Serviço Social, Maria Ozarina da Silva


e Silva que destaca que desde a década da criação da primeira escola
de Serviço Social até 1945 a profissão foi embasada por 3 eixos, que se
seguem:

1. Formação científica, no qual era necessário o conhecimento das


disciplinas como Sociologia, Psicologia, Biologia, Filosofia, favore-
cendo ao educando uma visão holística do homem, ajudando-o a
criar o hábito da objetividade;

2. Formação técnica, cujo objetivo era preparar o educando quanto


sua ação no combate aos males sociais;

3. Formação moral e doutrinária, fazendo com que os princípios ine-


rentes à profissão sejam absorvidos pelos alunos.

Note que o Brasil, neste período, estreitou sua relação com os Estados
Unidos onde os campos econômicos, políticos e sociais sofreram influên-
cias deste país, onde o Serviço Social muda sua linha de prática passando
a adotar a linha americana como, por exemplo, os métodos de Serviço
Social de Caso, Serviço Social de Grupo, Organização de Comunidade e,
em seguida, Desenvolvimento de Comunidade

As décadas de 50 e 60 foram marcadas pela visão do assistente social


como agente de implantação dos programas sociais, com grande influên-
cia no padrão de desenvolvimento do país. A partir desse contexto a pro-
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SERVIÇO SOCIAL: INTRODUÇÃO E HISTÓRIA 51
fissão busca um novo modelo de atuação teórico-prático para atuar frente
à realidade. Para agir frente a esses novos fenômenos, o Serviço Social
fundamenta as suas práticas nas Ciências Sociais, tentando mostrar aos
indivíduos a importância da luta de classes frente ao capitalismo.

Na década seguinte, 1970, um novo pensamento é tomado pelos assis-


tentes sociais, onde a profissão ansiava por um novo método de atuação,
buscando romper com o conservadorismo, ou seja, com as práticas assis-
tencialistas.

Nesse momento o Serviço Social se laiciza, ou seja, passa a atuar ver-


dadeiramente a favor das classes menos desfavorecidas, deixando a de
sofrer, em partes, influência direta da Igreja Católica.

Os anos 80 é tomado pelo debate da Ética na profissão, visando à ruptu-


ra da ética em um contexto cristão. Observem que nessa conjuntura de
transformações é criado o Código de Ética da profissão em 1986, que tinha
por um de seus objetivos o compromisso com a classe trabalhadora.

Com o advento da Constituição de 1988, o Brasil busca a democracia o


assistente social deixa de ser agente da caridade e passa a se legitimar
como profissão, atuando em políticas públicas, fazendo com que os usuá-
rios saibam dos seus direitos enquanto participantes da sociedade.

Nos anos 90 o Serviço Social é tomado pelas concepções do neoliberalis-


mo, onde as questões do mundo do trabalho e a economia estão em pauta
nas discussões da profissão, e o Estado se vê obrigado a articular políticas
sociais para garantir os direitos sociais dos indivíduos. A instrumentalida-
de da profissão é fruto de ressignificação, são criados novos instrumentos
de atuação como as mediações objetivando a emancipação do usuário.

Finalmente nos anos 2000 o que está em pauta são as ques-


tões sociais advindas do processo do capitalismo e o pa-
pel do Serviço Social frente às tais questões. Este assunto
remete a novas discussões para fortalecimento do projeto ético-político
da profissão, para que as ações do Serviço Social visem tão somente o
acesso dos indivíduos aos direitos sociais.

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52 SERVIÇO SOCIAL: INTRODUÇÃO E HISTÓRIA
Aula: 12

Temática: Positivismo, Funcionalismo e Marxismo

Na aula 9 vocês tiveram uma breve introdução do Positivismo


e sua contribuição para explicar as práticas o Serviço Social.
Nesta aula vamos condensar esse termo e explicar outras
vertentes que contribuíram para a história do Serviço Social.

O Positivismo foi difundido na Europa por Augusto Comte. É uma corrente


filosófica que defende a ideia de que o conhecimento científico é a única
forma de conhecimento verdadeiro. Para essa corrente filosófica, os co-
nhecimentos advindos de crenças, valores e que não pudessem ser com-
provados cientificamente não poderiam ser considerados verdadeiros. Na
visão positivista não há divisão de classes sociais, apenas considera que
há os dominantes e os dominados e que os dominantes devem sempre
influenciar a classe dos dominados.

No positivismo não há liberdade nem democracia, onde a força é o que


fundamenta sua ideologia. Transpondo essa ideia para o Serviço Social,
verifica-se que no século XX a profissão foi fundamenta por um pensa-
mento sociológico, porém conservador, sob a influência do pensamento
positivista. Releiam a aula 9 e observem que o positivismo pregava que a
sociedade era passível de controle, o que resultava em um suposto equi-
líbrio da sociedade.

Esse pensamento conservador, fortemente vinculado à Igreja Católica, do-


minou o Serviço Social europeu, e como o Serviço Social no Brasil sofreu
a influência americana, o Positivismo também esteve presente nas ações
dos assistentes sociais no nosso país, emergindo a ideia do controle e
ajustamento aos padrões impostos pela classe dominante.

O Funcionalismo procura visualizar que as funções de uma determinada


sociedade são idealizadas por instituições. Para essa corrente cada insti-
tuição tem o seu papel determinante, que atenderia cada necessidade in-
dividual. Martinelli (2006, p.116), destaca que, para Emile Durkheim, havia
implicações morais nos problemas sociais e só com grande controle moral
é que uma sociedade poderia funcionar adequadamente.

Finalmente podemos sintetizar que o Marxismo são ideias de cunho ide-


ológico que integram as questões políticas e sociais de uma sociedade.
Seus percussores são Karl Marx e Friedrich Engel. Essa corrente enxerga o

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SERVIÇO SOCIAL: INTRODUÇÃO E HISTÓRIA 53
homem como ser histórico, onde esse mesmo homem faz parte do contex-
to de sua produtividade, ou seja, seu trabalho desenvolve cada vez mais
suas potencialidades humanas.

Nesta teoria, a sociedade era visualizada a partir da forma


de como os bens de produção são distribuídos, determi-
nando como a política, a cultura, as condições econômicas
se configuravam nessa conjuntura. A visão do marxismo é a distribuição
igualmente das riquezas socialmente produzidas. Só assim, na visão mar-
xista, uma sociedade igualitária seria possível.

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54 SERVIÇO SOCIAL: INTRODUÇÃO E HISTÓRIA
Aula: 13

Temática: As Encíclicas Papais

A Igreja Católica detém um discurso doutrinário que visa a


elucidação de muitos problemas da humanidade, determi-
nando normas para o exercício da fé católica. Dentre essas
normativas advindas da Igreja estão as Encíclicas Papais, cujas diretrizes
figuraram modificações no que concernem as doutrinas e às ações políti-
cas da igreja.

Repare que no momento em que o Serviço Social avança para sua profis-
sionalização, duas encíclicas papais assumiram um papel importante para
seu desenvolvimento, posto que a ação católica, sob forma ideológica, foi
responsável pelo perfil das primeiras escolas de Serviço Social.

A encíclica Rerum Novarum, promulgada por Leão XII em 15 de maio de


1891, tratava-se de uma espécie de carta aos sacerdotes da Igreja e tra-
tava das condições vividas pelos trabalhadores. Castro (2003) nos mostra
que essa encíclica era dividida em duas partes: uma parte falava da solu-
ção proposta pelo socialismo e a outra da solução difundida pela Igreja. O
documento, em linhas gerais, expõe como a questão do operário era vista
naquele contexto de sociedade exploradora. Castro cita um trecho dessa
encíclica em sua obra:

Os progressos recentes da indústria e os novos


caminhos trilhados pelos ofícios, a mudança op-
erada nas relações entre patrões e trabalhadores, o
enriquecimento de uns poucos e o empobrecimento
da multidão, a maior confiança dos operários em sim
mesmos e a união com que se juntam entre si, en-
fim, a corrupção de costumes fizeram eclodir a guerra
(CASTRO, 2003, p.52).

As normativas desta encíclica incitavam os trabalhadores para que se for-


talecessem em sindicatos, porém defendia o direito à sociedade privada.
A Rerum Novarum destaca alguns princípios que deveriam ser usados na
busca de uma sociedade justa, onde as riquezas fossem melhor distribuí-
das e o Estado estivesse a favor dos menos favorecidos.

Essa encíclica traçou um levantamento do contexto social da época, des-


tacando as mazelas as quais os trabalhadores estavam submetidos em
razão do capitalismo desenfreado.

UNIMES VIRTUAL
SERVIÇO SOCIAL: INTRODUÇÃO E HISTÓRIA 55
Nas linhas gerais do documento, se aponta que a classe dominante e a
classe dominada não devem estar em desacordo, e somente a Igreja pode
apaziguar essa situação de conflito. Esta encíclica sustenta uma refor-
ma social como meio para enfrentar as questões sociais que surgiram. A
Igreja em si propunha práticas assistencialistas através das linhas desta
encíclica, pois seu principal objetivo era cumprir sua função política, rea-
firmando seu poder perante o Estado e mantendo forte influência sobre os
mais desfavorecidos.

Na verdade, esse documento faz com que a Igreja se coloque à frente


do Estado, com o propósito de fazer o bem por amor a Deus. Para Castro
(2003, p.52) a encíclica “converte-se em elemento doutrinário que reorien-
ta o seu esquema de atuação frente às classes sociais, com nítida inten-
ção de introduzir uma formulação que lhe permita colocar-se à cabeça dos
programas de caráter geral”.

A Rerum Novarum pregava que a religião era o fundamento de todas as


leis, e só ela era capaz de proporcionar paz e a prosperidade entre os ho-
mens.

Outra encíclica bastante importante para a história do Serviço Social foi a


“Quadragésimo Ano”, difundida por Pio XI em 15 de maio de 1931, dois
anos depois da crise no mundo capitalista em 1929. Nesta encíclica con-
tinha também orientações sobre a doutrina social da Igreja, porém de uma
forma mais frenética. Em linhas gerais essa encíclica estabelece normas
para que o Serviço Social esteja voltado para seu princípio de “fazer o bem
aos outros”.

Observe que, de acordo com essa encíclica, o Serviço Social assume o


seu papel, porém com um olhar “caridoso”. Analise o que Castro (2003)
sinaliza sobre essa questão:

Eis como a caridade, o messianismo, o espírito de sac-


rifício, a disciplina e a renuncia total passam a ser parte
constitutiva dos aspectos doutrinários e dos hábitos
que acompanharam o surgimento da profissão sob a
perspectiva católica, e não só por autodefinição inter-
na, mas por desígnio vaticano (CASTRO, 2003, p.64).

Tal encíclica também enfatizou que aspectos técnicos de atuação assis-


tencial fossem retomados, onde a Igreja estimulasse a criação de Centros
de Estudos.

“A Quadragésimo Ano” defende que uma sociedade do capital é benéfica,


porém defende também que o mundo não pode deixar ser levado pela

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56 SERVIÇO SOCIAL: INTRODUÇÃO E HISTÓRIA
economia, fazendo desta um fim em si mesma. A caridade e a justiça
social aparecem neste documento como uma espécie de “alma” para que
a sociedade se organize. Cabe lembrar que tais encíclicas, embora defen-
dessem em parte a população pobre e trabalhadora, tinham uma visão
conservadora e monoteísta, isto é, consideravam que toda filosofia moder-
na é responsável pelos problemas do mundo contemporâneo, portanto as
encíclicas sofreram influência dessa corrente filosófica, a monoteísta.

Esse texto ainda faz uma crítica forte ao capitalismo, desta-


cando que o poder e os recursos estão nas mãos da classe
mais favorecida, onde os “dominados” clamam pela justa
distribuição da riqueza e da justiça social, e defende também que o direito
à propriedade promove harmonia entre as classes sociais.

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SERVIÇO SOCIAL: INTRODUÇÃO E HISTÓRIA 57
Aula: 14

Temática: O Serviço Social e o capitalismo


monopolista

No decorrer de nossas aulas falamos sobre capital, capi-


talismo, relações sociais. Para Martinelli, o capitalismo é
compreendido além das transações monetárias, é entendi-
do como um determinado meio de produção, marcado pela dominação do
processo de produção do capital.

Para Marx, o modo de produção compreende a natureza técnica da produ-


ção e também pela maneira pela qual a propriedade era definida nos meios
de produção e sua relação entre os sujeitos, Assim, de acordo com Mar-
tinelli (2006, p.118) “o modo de produção capitalista definia uma forma
específica de relações sociais entre os homens e sua forma de produção,
mediadas pela posse desses meios de produção”. Nesse contexto o capi-
talismo é entendido como modo de produção, cuja concentração desses
modos de produção é marcada pela compra e venda da força de trabalho.

Como já discutido nas aulas anteriores, o Serviço Social surge como pro-
fissão para o enfrentamento das questões sociais, mesmo que, em seu
início, suas práticas fossem assistencialistas. Todavia, o histórico da pro-
fissão não se resume apenas às questões sociais, mas no contexto da
sociedade burguesa monopolista. As lutas de classe acentuam-se com o
capitalismo, pois a classe trabalhadora se mobiliza e o Estado responde a
essas manifestações através de políticas públicas.

Note que, desde as aulas anteriores, sempre falamos de conflitos entre


classe dominante e classe dominada. Esses conflitos, em tese, são ine-
vitáveis, pois a classe dominada sempre vai lutar para que seus direitos
sejam reconhecidos, a não ser que estejam submetidos a uma forma de
alienação que os impeça de analisar com criticidade a sua realidade.

Partindo do pressuposto que o Serviço Social é uma ciência participante


do processo histórico social, o mesmo enquanto profissão sempre está
inserida nas questões econômicas, políticas e culturais.

Você lembra o que já estudamos anteriormente? O Serviço Social se origi-


nou pelo advento do capitalismo, então é inegável que a profissão sempre
esteve atrelada a esse contexto de lutas de classes.

Veja o que Iamamoto (2004) nos diz sobre esse contexto:


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58 SERVIÇO SOCIAL: INTRODUÇÃO E HISTÓRIA
Em decorrência do novo equilíbrio de forças, verifica-se
uma mudança significativa nas relações de trabalho,
expressa através da política salarial e sindical, que tra-
duzem um aumento do nível de exploração da classe
operária (...). A conseqüência da implantação das no-
vas estratégias de desenvolvimento, altamente con-
centradoras de renda e de capital, é a queda do padrão
de vida dos assalariados (IAMAMOTO, 2004, p.82)

Em, tese, podemos sintetizar que o Serviço Social surgiu da


expressão das inúmeras questões sociais, da desigualdade
latente, onde o capitalismo se engendra no viés do antago-
nismo entre capital e trabalho.

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SERVIÇO SOCIAL: INTRODUÇÃO E HISTÓRIA 59
Aula: 15

Temática: O assistente social na divisão


sócio-técnica do trabalho

Percebam que, como já estudado na aula anterior, o Serviço


Social se viu atrelado ao contexto da sociedade capitalista.
Assim, aprenderemos nesta aula como se deu a inserção do
Serviço Social na divisão do trabalho, onde suas novas perspectivas são
fruto da condição sócio-histórica em que estão inseridos.

Esta inserção vai depender de como a profissão se apresenta frente ao


capitalismo monopolista, de como as políticas do Estado são articuladas
e como esses elementos se configuram nas especificidades na divisão
social do trabalho do Serviço Social.

Você sabe que no nosso mundo contemporâneo mudanças de ordem es-


trutural vêm acontecendo e novas relações de trabalho e de produção são
engendradas. Estamos na era em que as inovações tecnológicas fazem
parte dos processos de trabalho, onde novas modalidades de produção
são constituídas. Neste tocante, note que o Serviço Social irá se apre-
sentar vinculado às novas formas de organização da sociedade, onde as
questões tecnológicas se fundem ao processo produtivo.

Ao longo de nossos estudos até aqui, você deve ter observado que o pro-
cesso de institucionalização da profissão tem sua marca no processo de
racionalização do Estado burguês e hoje as novas articulações da profissão
apontam para um estudo histórico da profissão e se configura nas funções
que a profissão desempenha na sociedade capitalista atual.

De acordo com Guerra (2002), faz-se necessário que se resgate a ques-


tão da inserção do Serviço Social na divisão social e técnica do trabalho
configurada pelo processo de produção capitalista. Assim, de acordo com
a autora “a maneira pela qual o processo de divisão do trabalho cria, insti-
tucionaliza, define a funcionabilidade e sustenta ideologicamente a profis-
são, constitui-se na preocupação que mobiliza este momento”.

Reflitamos juntos: As problemáticas na divisão do trabalho desenvolvido


pelo assistente social na sociedade capitalista devem ser compreendidas
pelas determinações e articulações da divisão do trabalho sob formas de
reflexão enquanto classe. Há de se pensar que nessa contradição em que
estamos inseridos, atuando ora a favor da classe dominante, ora a favor
da classe dominada, o processo de institucionalização da profissão é de-
UNIMES VIRTUAL
60 SERVIÇO SOCIAL: INTRODUÇÃO E HISTÓRIA
corrente dos interesses das classes sociais que travam uma luta histórica
no processo produtivo capitalista.

No processo de organização do trabalho atual, o assistente social tem seu


espaço legitimado, onde sua força de trabalho é um reflexo da organização
do trabalho no mundo capitalista. Para Guerra (2002), a força produtiva
do assistente social só terá validade se articulada á outras forças que
estão sob o domínio de classe, como os trabalhadores assalariados. As-
sim, observando que essa questão do trabalhador assalariado é um traço
característico da produção capitalista, as relações que são engendradas
neste contexto constituem-se em ações objetivas para a intervenção pro-
fissional do Serviço Social.

É interessante destacar que o Serviço Social, ao ponto que se distingue


como especialização do trabalho, atua no mercado por intermédio de um
contrato de compra e venda de sua força de trabalho, assim como um ope-
rário. Neste sentido, o trabalho do assistente social transforma-se em um
tipo de trabalho de contexto mais amplo, onde esse profissional torna-se
parte do movimento capitalista enquanto categoria de classe assalariada.

Se analisarmos o trabalho do assistente social sob o prisma do capitalis-


mo, veremos que esse profissional, como afirma Guerra (2002, p.155),
“vende um conjunto de procedimentos histórica e socialmente reconheci-
dos, que tanto determina as condições de existência da profissão quanto
circunscreve previamente a intervenção profissional”.

É necessária a compreensão que essa forma de entender


a intervenção profissional encontra-se na dinâmica da re-
alidade. Em outras palavras, as dificuldades de atuação do
assistente social, embora opere de maneira peculiar, em vistas ao seu
projeto político, de certa forma está á mercê da sociedade capitalista.

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SERVIÇO SOCIAL: INTRODUÇÃO E HISTÓRIA 61
Aula: 16

Temática: A profissionalização do Serviço Social


enquanto categoria profissional

Tenho por pensamento que antes de você conhecer as pre-


missas do curso de Serviço Social você talvez tenha pen-
sado que a profissão perpetuava suas ações com vistas ao
assistencialismo.

A profissionalização do Serviço Social implica na ampliação da produção


das relações sociais na sociedade capitalista, as quais foram impulsiona-
das pelo crescimento da industrialização as quais deram origem às ques-
tões sociais. Como já estudado nas aulas anteriores, os trabalhadores, ao
longo da história, travam lutas por seus direitos, de onde, nesse contexto,
o Estado vê-se obrigado a gerir estes conflitos, buscando um funciona-
mento equilibrado da sociedade.

A partir deste pressuposto o Estado passa a ser o eixo centralizador das


políticas sócio-assistenciais e, desse modo, cria-se o mercado de trabalho
para o assistente social. O Estado passa a ser o mote da qualificação pro-
fissional e ao mesmo tempo a profissão a cada dia vai sendo acentuada.
O Serviço Social passa a ser um mecanismo de execução das políticas
públicas impetradas pelo Estado, deixando de atuar, fundamentalmente,
nas práticas de caridade e filantropia, onde o Estado e as empresas se
tornaram os seus maiores empregadores.

Note que o assistente social, mesmo atuando para garantir a viabilização


das políticas públicas enquanto classe que luta a favor dos menos favo-
recidos se vê na prática profissional sem condições de trabalho, onde os
recursos a cada dia mais estão escassos. Com a expansão capitalista, a
demanda do trabalho do assistente social se modifica, pois, como já des-
crito nas linhas anteriores, a classe passa a se tornar assalariada.

A questão social, entendida como conjunto das desigualdades sociais é a


base da especialização do trabalho do assistente social. Os profissionais
do Serviço Social, ao prestarem serviços nas organizações de cunho pú-
blico e privado, de certo modo adentram as relações sociais no viés de
seu atendimento, acolhendo, em seu cotidiano, as mais variadas questões
da expressão social vividas pelos usuários como falta de moradia, saúde,
desemprego, etc.

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62 SERVIÇO SOCIAL: INTRODUÇÃO E HISTÓRIA
Sabe-se hoje que o Serviço Social é considerado uma profissão de cunho
liberal, onde encontra em seus estatutos preceitos para uma atuação éti-
co-política que conduz o seu fazer profissional. Contudo, é necessário que
você saiba que o exercício da profissão se realiza também mediante a
condição de trabalhador assalariado, havendo uma dicotomia entre o seu
fazer profissional, abarcado em sua autonomia e a condição de trabalhador
assalariado.

É de suma importância que você compreenda o que foi postulado acima,


pois, ao mesmo tempo em que o assistente social luta contra as desigual-
dades sociais, estando a favor da classe trabalhadora, este profissional
também é integrante desta classe, estando nesta luta ora como trabalha-
dor e ora como mediador.

Assim, entende-se que o assistente social é um trabalhador


assalariado que, de sua força de trabalho especializada, ob-
tém o seu meio de subsistência

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SERVIÇO SOCIAL: INTRODUÇÃO E HISTÓRIA 63
Resumo - Unidade II

Nesta unidade você teve a oportunidade de se deparar com


as vertentes que impulsionaram a História do Serviço So-
cial. Também pôde perceber como se deu a profissão na
sociedade capitalista e seu surgimento enquanto categoria profissional na
divisão sócio-técnica do trabalho.

Referências Bibliográficas

CASTRO, Manoel Manrique. História do Serviço Social na América Lati-


na. 6ª ed. São Paulo: Cortez, 2003.

GUERRA, Yolanda. Instrumentalidade do Serviço Social. 3. ed. São Pau-


lo: Cortez, 2002.

IAMAMOTO, Marilda Vilela. O Serviço Social na Contemporaneidade.


São Paulo: Cortez, 2004.

MARTINELLI, Maria Lúcia. Serviço Social: identidade e Alienação. 10ª


ed. São Paulo: Cortez, 2006.

PINHEIRO, Maria Esolina. Serviço Social: Documento Histórico. São


Paulo: Cortez, 1985.

SILVA, Maria Ozarina da Silva (Org). A política social brasileira no século


XXI: a prevalência dos programas de transferência de renda. 3ª ed: São
Paulo: Cortez, 2007.

VALENTIM, Oséias Faustino. O Brasil e o Positivismo. Rio de Janeiro:


Publit, 2010.

Glossário:

Controle social: Entende-se que controle social é aquele que exercido


sobre o governo sob forma de discussão coletiva dos problemas sociais
que afetam uma determinada sociedade.

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64 SERVIÇO SOCIAL: INTRODUÇÃO E HISTÓRIA
Czarismo: Foi um regime político russo regido por uma monarquia abso-
lutista.

Dicotomia: Modalidade de classificação em que cada uma das divisões e sub-


divisões contém apenas dois termos. Repartição de um conceito em dois.

Economia estatal: É aquela em que os meios de produção provêm do


Estado, onde o Estado detém parte ou total do capital social.

Hegemonia: Supremacia ou superioridade econômica, política e cultural


de um povo ou Estado.

Laiciza: Eliminação de qualquer principio de caráter religioso, tonar leigo


algo.

Neoliberalismo: Doutrinas propostas por economistas europeus voltadas


para o princípio de um Estado regulador e assistencialista, que deveria ter
o controle do mercado.

Walfare State: Esse termo, oriundo da Europa, significa Estado do Bem


Estar Social, onde se enxerga o Estado como agente regulador da econo-
mia, vida social e política de uma nação.

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SERVIÇO SOCIAL: INTRODUÇÃO E HISTÓRIA 65
Exercício de autovaliação II

1) Como se deu o surgimento do Serviço Social na Europa?

a) A profissão surgiu através de um decreto de lei onde todos os países europeus assi-
naram.
b) O Serviço Social na Europa surgiu pelo descontentamento da classe trabalhadora,
onde a profissão passou a existir para equalizar os conflitos existentes entre classe
burguesa e classe trabalhadora.
c) Surgiu através do desejo de se criar uma sociedade igualitária.
d) Todas as opções acima se complementam.

2) Como se deu o surgimento do Serviço Social América Latina?

a) Do grande crescimento industrial, onde os mecanismos de exploração da força de


trabalho foram os responsáveis pelo crescimento econômico do Chile, demandando
a existencia de profissionais para mediação de conflitos.
b) O surgimento do Serviço Social na América Latina teve motivos diferentes do surgi-
mento do Serviço Social europeu.
c) A profissão brotou de forma natural, pois era um desejo antigo de muitos burgue-
ses.
d) O Serviço Social na América Latina surgiu pela vontade e empenho de freiras ameri-
canas que se instalaram neste continente para fazer caridade.

3) Como se deu o surgimento do Serviço Social no Brasil?

a) Foi um desejo do então presidente da República Washington Luís, na década de 30,


mas que só foi concretizado pelo presidente Getúlio Vargas.
b) A profissão foi fruto da luta da classe de médicos que estavam desejosos de profis-
sionais para auxílio no campo da medicina.
c) O surgimento do Serviço Social no Brasil se dá por volta da década de 30, por inter-
médio da burguesia respaldada pela igreja católica, onde o Serviço Social europeu
serviu como base de referência.
d) Surgiu na década de 60, mas se firmou somente na década de 70.

4) Como Augusto Comte definiu o Positivismo?


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66 SERVIÇO SOCIAL: INTRODUÇÃO E HISTÓRIA
a) O Positivismo foi uma corrente filosófica que defendia a livre manifestação de pen-
samento.
b) Foi uma doutrina da igreja católica que foi criada estrategicamente para difundir a fé
cristã pelo mundo.
c) Foi uma corrente filosófica que acreditava que os problemas sociais são consequên-
cia das influências espirituais.
d) Foi uma corrente filosófica que defendeu a idéia de que o conhecimento científico é a
única forma de conhecimento verdadeiro e a sociedade era passível de controle.

5-(ENADE 2010) As primeiras formulações teóricas do Serviço Social no Brasil se-


guem os princípios propostos pela Igreja Católica, determinados basicamente nas en-
cíclicas Rerum Novarum e Quadragésimo Ano, documentos que propunham o envolvi-
mento dos católicos com os problemas sociais. Essa perspectiva de formação teórica
visa subsidiar a prática profissional dos assistentes sociais sob uma visão teórica:

a) fenomenológica.
b) neopositivista.
c) materialista.
d) neotomista.

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SERVIÇO SOCIAL: INTRODUÇÃO E HISTÓRIA 67
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68 SERVIÇO SOCIAL: INTRODUÇÃO E HISTÓRIA
Unidade III
Paradigmas do Serviço Social

Objetivos
Demonstrar a relação entre teoria e método com explanações dos modelos de
correntes filosóficas que influenciaram a história do Serviço Social na Europa,
América Latina e Brasil.

Plano de Estudo
Esta unidade conta com as seguintes aulas:

Aula: 17 - Carta de Araxá e Teresópolis


Aula: 18 - Conservadorismo: um breve histórico
Aula: 19 - Movimento de Reconceituação: um breve histórico
Aula: 20 - Instrumentalidade em Serviço Social
Aula: 21 - Fenomenologia em Serviço Social
Aula: 22 - Racionalismo em Serviço Social
Aula: 23 - Metodologia em Serviço Social
Aula: 24 - Representação Social: o que é?

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SERVIÇO SOCIAL: INTRODUÇÃO E HISTÓRIA 69
Aula: 17

Temática: Carta de Araxá e Carta de Teresópolis

Estes documentos são fruto de seminários de teorização do


Serviço Social que foram promovidos pelo CBCISS – Centro
Brasileiro de Cooperação e Intercâmbio de Serviços Sociais
nas cidades de Araxá, em 1967 e em Teresópolis em 1970. Esses se-
minários tinham por objetivo analisar os aspectos teóricos e práticos da
atuação profissional até então, avaliando formas de se atuar sob a égide
da cientificidade.

O seminário de Araxá marcou o processo de reconceituação da profissão,


que estudaremos na aula seguinte. Durante este seminário, novas formas
de ações profissionais vinculadas à realidade social e política do país fo-
ram propostas. Este evento reuniu certa de 38 assistentes sociais de todo
o país, dando origem ao que chamamos hoje de Carta de Araxá.

Outro encontro importante foi o seminário de Teresópolis, que foi um even-


to para a discussão das metodologias tomadas pelo Serviço Social. Tal
evento foi concebido como uma continuidade do seminário de Araxá, uma
perpetuação das ideias já discutidas no evento anterior. Este mesmo semi-
nário conseguiu reunir cerca de 35 profissionais do Serviço Social, os quais
foram divididos em grupos aonde foi discutido as metodologias científicas
a serem utilizadas na prática profissional. No seminário de Teresópolis não
houve um documento oficial como a Carta de Araxá, apenas os relatórios
de cada grupo de profissionais foi publicado pelo Centro Brasileiro de Coo-
peração e Intercâmbio de Serviços Sociais.

Os escritos resultantes destes encontros são reflexos do pen-


samento contemporâneo dos profissionais daquela época, os
quais ansiavam por novas perspectivas da profissão, consti-
tuindo um marco teórico para o Serviço Social, resultando no movimento de
Reconceituação, o qual estudaremos na próxima aula. Até mais.

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70 SERVIÇO SOCIAL: INTRODUÇÃO E HISTÓRIA
Aula: 18

Temática: Conservadorismo: um breve histórico

O pensamento conservador acompanhou o Serviço Social


desde as suas origens, onde a sua matriz era fundamenta-
da na tradição católica advinda da Europa. O pensamento
conservador tinha como objeto de discussão contrapor o pensamento mo-
derno, pois se acreditava que tais pensamentos separavam o homem de
Deus. Até a década de 1960 o pensamento conservador perdurou, até que
um novo processo se iniciou na trajetória do Serviço Social, a Reconceitu-
ação da profissão, que a estudaremos na aula seguinte.

A busca pela atuação de natureza científica levou o Serviço Social a rom-


per com as práticas de assistencialismo. Observe que essa busca científi-
ca foi fruto de discussão nos diversos encontros da categoria, como vimos
na aula anterior através da Carta de Araxá e do documento de Teresópolis.
Neste momento o Brasil ainda vivia sob o controle da sociedade burguesa,
onde o que se destacava na sociedade era a teoria desenvolvimentista. O
desenvolvimentismo pregava um falacioso progresso, onde as empresas
estrangeiras de instalavam no país com a promessa de desenvolvimento,
garantindo assim, que a classe trabalhadora não se rebelasse.

O pensamento conservador era uma espécie de contramovimento da mo-


dernidade, pois queriam a manutenção da ordem vigente, ou seja, a ca-
pitalista. Na década de 1960 o capitalismo mundial avança e é imposto
à América Latina, em especial ao Brasil, um estilo de desenvolvimento
que nada favorecia a classe trabalhadora e aos menos favorecidos, onde,o
que se percebeu, foi um desenvolvimento desigual e excludente. Como o
Conservadorismo foi uma prática para conter os avanços da modernidade,
as suas ações logo são de se preservar o que já está instaurado, ou seja,
a ordem capitalista.

Neste momento o Serviço Social vai buscar suporte na teoria positivista,


que visa o atuar de forma imediata e manipuladora. De acordo com Yazbe-
ck (2009, p.5) “o método positivista trabalha com as relações aparentes
dos fatos, evolui dentro do já contido e busca a regularidade, as abstra-
ções e as relações invariáveis”.

Observem que este pensamento positivista não visualiza mudanças, vol-


tando-se apenas para o ajustamento de conservações. Com a América La-
tina vivendo um auge de desenvolvimento econômico, a profissão caminha
UNIMES VIRTUAL
SERVIÇO SOCIAL: INTRODUÇÃO E HISTÓRIA 71
para assumir um papel questionador da linha tradicional de atuação, onde
os conceitos operativos, teóricos e metodológicos começam a despontar.

Essas inquietações resultam em um processo da História


do Serviço Social que chamamos de “Reconceituação da
Profissão”.

Na próxima aula desmembraremos esse conceito. Vamos em frente!

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72 SERVIÇO SOCIAL: INTRODUÇÃO E HISTÓRIA
Aula: 19

Temática: Movimento de Reconceituação:


um breve histórico

Na aula passada estudamos sobre o Conservadorismo e


como a classe dos assistentes sociais ansiava por novas
técnicas de atuação profissional. Nesta aula analisaremos
como se deu essa busca.

O processo de renovação do Serviço Social passou por três direções dis-


tintas:

A primeira foi a perspectiva modernizadora, que teve seu auge na formula-


ção dos documentos de Araxá e Teresópolis, as quais estudamos na aula
17. Esta vertente objetivou assegurar respostas à realidade brasileira, em
concordância com o desenvolvimento, buscando a reflexão sobre caráter
científico do Serviço Social.

A segunda perspectiva foi a Ritualização do Conservadorismo, cuja ver-


tente visava recuperar os componentes mais estratificados da herança
histórica e conservadora da profissão. Uma outra vertente, talvez a mais
importante para a compreensão desta aula, é a perspectiva de intenção da
ruptura, onde, o objetivo era romper com a herança teórico-metodológica
do pensamento conservador, bem como seus paradigmas de intervenção.

Mudanças de ordem conjuntural no país fizeram com que o Serviço Social


repensasse a sua prática e foi nesse contexto histórico que surgiu o Mo-
vimento de Reconceituação no início dos anos 1960. A partir desse novo
pensamento novas conjunturas para a situação social do país foram tra-
çadas. Os grupos de assistentes sociais passaram a questionar o Serviço
Social quanto à sua natureza e operacionalidade. Nesta época os grupos
estavam ligados aos planos do governo, porém desejosos de reformas
sociais para a população.

Se assim podemos sintetizar, o movimento de Reconceituação nasceu


com um desejo de superar o Serviço Social tradicional – aquele modelo
trazido da Europa e Estados Unidos, modelos estes os quais já visualiza-
mos nas unidades anteriores.

Essa nova vertente de atuação profissional tinha como uma de suas pre-
missas a adequação á realidade latino-americana e também pela neces-

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SERVIÇO SOCIAL: INTRODUÇÃO E HISTÓRIA 73
sidade de atualizar as posturas e correntes norteadoras da profissão. A
Reconceituação não atendia as expectativas do segmento profissional
mais tradicional, pois este segmento se utilizava de referências teórico-
ideológicas como o pensamento estrutural funcionalista. (já estudamos
esse conceito na aula 12).

O movimento de Reconceituação buscou transformar as práticas conser-


vadoras já existentes (filantropia, assistencialismo) em um direcionamen-
to teórico-prático. Foi no movimento de Reconceituação que se iniciaram
intensos debates relacionados à prática da profissão.

Veja o que Yazbek (2009) nos apresenta sobre essa questão:

É importante assinalar que é no âmbito do movimento


de Reconceituação e em seus desdobramentos, que se
definem de forma mais clara e se confrontam, diver-
sas tendências voltadas a fundamentação do exercí-
cio e dos posicionamentos teóricos do Serviço Social.
Tendências que resultam de conjunturas sociais par-
ticulares dos países do Continente e que levam, por
exemplo no Brasil, o movimento em seus primeiros
momentos, (em tempos de ditadura militar e de impos-
sibilidade de contestação política) a priorizar um projeto
tecnocrático/modernizador, do qual Araxá e Teresópo-
lis são as melhores expressões.(YAZBEK 2009, p.6)

Como já vimos, as práticas profissionais até então eram orientadas pela


burguesia em detrimento aos seus interesses, ou seja, a vida social era
balizada pelo contexto capitalista. Nessa linha de raciocínio o Movimento
de Reconceituação do Serviço Social contesta as práticas profissionais
tradicionais, questionando a ordem burguesa e o contexto do Welfare Sta-
te, que se configuravam uma falaciosa atenção por parte do Estado.

Foi notória a negação da neutralidade da profissão, contribuindo para que os


assistentes sociais observassem e reconhecessem que há o lado das clas-
ses dominantes e o lado das classes dominadas, levando à classe do Servi-
ço Social a fomentar discussões sobre a dimensão política da profissão.

Quando a ditadura no Brasil vai perdendo as suas forças, o Movimento de


Reconceituação desponta, e os assistentes sociais começam atuar sob
uma perspectiva dialética, com raízes no marxismo, censurando claramen-
te o pensamento tradicional.

Entre os anos 1970 e 1980, os movimentos sociais ganharam notorieda-


de, como é o caso dos sindicatos, e, nesse contexto de lutas de classes,
os assistentes sociais buscavam romper com as práticas tradicionalistas.

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74 SERVIÇO SOCIAL: INTRODUÇÃO E HISTÓRIA
Note que este movimento está diretamente comprometido com os interes-
ses dos trabalhadores e população, e, a partir dessa conjuntura, se buscou
novas tendências acadêmicas no Serviço Social, com investimentos em
pesquisas, por exemplo.

Sintetizando essa questão, o que se pode observar do Mo-


vimento de Reconceituação é que o mesmo se constituiu
com e para a ruptura do Serviço Social tradicional e con-
servador, com ações voltadas para atendimento da classe trabalhadora, e
com uma visão total de intervenção teórico-operativa. Neste tocante um
novo projeto de atuação profissional vai sendo delineado, estando este
comprometido com as demandas das classes subalternizadas.

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SERVIÇO SOCIAL: INTRODUÇÃO E HISTÓRIA 75
Aula: 20

Temática: Instrumentalidade em Serviço Social

Na aula passada fizemos um passeio histórico sobre o con-


ceito da Reconceituação da profissão, onde a mesma passa
a ter um olhar diferenciado sobre a prática. Com as novas
práticas despontando, o Serviço Social necessitava de instrumentais de
atuação que estivessem em consonância com a nova realidade. Nesta
aula vamos tecer uma breve análise sobre a instrumentalidade do Serviço
Social e sua relevância para a profissão na conjuntura atual.

Tecendo uma análise inicial, a instrumentalidade no exercício da profissão


denota ser algo que remete ao uso dos instrumentos primordiais para a
ação profissional. Todavia, se condensarmos a nossa pesquisa sobre o as-
sunto, iremos notar que, a instrumentalidade da profissão não se resume
apenas ao conjunto de instrumentos e técnicas, mas nos leva a compreen-
der essa instrumentalidade como um fator indispensável á profissão, que
vai sendo construído e reconstruído no processo sócio-histórico.

Seguindo esta linha de raciocínio observe o que Yolanda Guerra (2002) nos
apresenta sobre essa questão:

O ensaio crítico de reflexão sobre a instrumentalidade


do Serviço Social que se apresenta ao público não
se constitui apenas em termos teórico-filosóficos. An-
tes essas reflexões são constituintes dos processos
históricos da realidade social e tem como matéria-pri-
ma a profissionalidade do Serviço Social, profission-
alidade esta cotidianamente construída, conduzida e
reconstruída no movimento entre conservadorismo
e renovação, que mobiliza a intervenção dos assis-
tentes sociais. (GUERRA, 2002, p.13).

Assim, note que a compreensão da dimensão instrumental da profissão per-


passa pela prática em si. Essa compreensão requereu que se fossem adota-
das novas referencias teórico-metodológicas que suplantaram o campo do
Serviço Social, interferindo na forma de ser, pensar e agir profissional.

A instrumentalidade é um campo do agir profissional que visualiza con-


cretizar os objetivos de atuação. Ela permite que os assistentes sociais
ajustem a intencionalidade na ação profissional para então transformar a
prática profissional a realidade em que estão introduzidos. Ao passo que
transformam as suas ações profissionais, no campo da intervenção, onde
UNIMES VIRTUAL
76 SERVIÇO SOCIAL: INTRODUÇÃO E HISTÓRIA
são modificados os instrumentos existentes, transformando-os em meios
para alcançar os objetivos da profissão, os assistentes sociais estão pro-
duzindo instrumentalidade em suas ações.

Assim, a instrumentalidade deve ser compreendida como


condição indispensável para que se constitua o modo de
trabalho profissional. Podemos dizer então que a instrumen-
talidade molda e transforma a realidade em detrimento às necessidades
de atuação profissional.

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SERVIÇO SOCIAL: INTRODUÇÃO E HISTÓRIA 77
Aula: 21

Temática: Fenomenologia e Serviço Social

Talvez você nunca tenha ouvido falar sobre essa termino-


logia, ou se já ouviu talvez não a tenha compreendido. Es-
clareceremos nesta aula a relação da fenomenologia com o
Serviço Social.

Para que possamos descrever essa relação com o Serviço Social, antes de
tudo deve-se elucidar o que vem a ser Fenomenologia e, para tal, a defini-
ção segundo o Dicionário Aurélio da Língua Portuguesa é: Fenomenologia
- Estudo descritivo de um conjunto de fenômenos. Pavão (1988, p.9) destaca
que a fenomenologia está relacionada à autodeterminação para o Serviço
Social, ou seja, estuda esse fenômeno na prática do assistente social.

Para explicar como a Fenomenologia atua no Serviço Social é necessário


entender que as práticas do assistente social necessitam de uma vertente
que as impulsione, que permite uma maior consistência em suas ações,
como bem define Pavão. A Fenomenologia permite ao assistente social
compreender as questões da problemática humana, ampliando, assim,
sua visão de mundo, fazendo com que este profissional adquira consciên-
cia da realidade a qual atua.

Sintetizando essa questão, podemos assim definir que a Fenomenologia


representa uma reflexão que torna visíveis os fenômenos da consciência.

Pavão (1988) descreve com clareza o que vem ser Fenomenologia:

A fenomenologia assim é o estudo do que surge à


consciência como fenômeno, no sentido de explorar
e descrever a essência desse fenômeno. Ele é apre-
sentado e revelado à consciência, e no qual se pensa
e do qual se fala, evitando suposições, tanto sobre
a relação que o liga ao ser do qual ele é fenômeno,
como sobre a relação que o liga à consciência para
quem ele é fenômeno (PAVÃO, 1988, p.16)

Nesse sentido podemos compreender que a Fenomenologia descreve o


fenômeno, o dado, a realidade.

Em relação ao Serviço Social, a Fenomenologia compreende o homem


como sujeito participante, como ser livre, capaz de intervir na sua realida-

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78 SERVIÇO SOCIAL: INTRODUÇÃO E HISTÓRIA
de, buscando novos modos de ser. Na Fenomenologia há uma compreen-
são de que o homem molda sua existência através de suas decisões, de
suas experiências, e o assistente social, neste contexto, deve respeitar
essa autodeterminação, como bem destaca Pavão.

O profissional do Serviço Social, através dessa dimensão filosófica que


é a Fenomenologia, questiona o valor do mundo, agindo, através da sua
instrumentalidade, sobre essa realidade. Como o eixo central da Fenome-
nologia é a autodeterminação do homem, ou seja, considerar esse homem
como ser livre, o Serviço Social concebe, enquanto prática, que o indivíduo
é possuidor de direitos, onde a dignidade é inerente ao ser humano. Veja
que para o Serviço Social a compreensão desta dimensão implica ampliar
as proposições sobre as problemáticas humanas, em especial as questões
sociais que incidem sobre a prática do Serviço Social.

A Fenomenologia em Serviço Social, através das práticas dos assistentes


sociais, faz com que os sujeitos reflitam sobre a sua realidade, abarcados
pelo princípio da autodeterminação que já foi elencado acima, e levem
esses sujeitos a serem participantes de seu contexto social, tornando-os
seres conscientes no mundo.

Nesse sentido o homem compreende a si como existência, onde sua sub-


jetividade e liberdade se tornam essenciais para que se reconheça como
ser pertencente ao mundo que o rodeia. Pavão (1988, p.36) destaca que
“o homem para agir, livre o conscientemente, necessita de uma atitude
reflexiva que, a partir de situações vividas, poderá levá-lo a buscar novos
modos de ser”.

Assim, a prática do Serviço Social deve ser a de mediar condições para


que o sujeito exerça sua capacidade crítica e consciente e se relacione
com o mundo.

Observe que o homem, nessa compreensão fenomenológica, é visto como


uma pessoa que está conectada dialogicamente à sua realidade. Esse ho-
mem reconhece a si como pertencente ao mundo quando adquire consci-
ência de si mesmo, entende realmente quem é.

O papel do Serviço Social é fazer reconhecer que, antes des-


se sujeito tomar consciência do mundo, o mesmo deve ter
consciência do próprio eu, para poder depois agir sobre sua
realidade.

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SERVIÇO SOCIAL: INTRODUÇÃO E HISTÓRIA 79
Aula: 22

Temática: Racionalismo e Serviço Social

Antes de explanarmos a relação do Serviço Social com o


Racionalismo, é necessário que você compreenda a raiz
desta matriz filosófica.

O Racionalismo é uma doutrina idealizada por René Descartes, que fun-


damenta o seu pensamento assegurando que para tudo o que existe há
uma causa compreensível, mesmo que não possa ser comprovado, onde
podemos tomar como exemplo a criação do Universo.

A razão, neste contexto, é privilegiada, onde a experiência com o mundo


real é um norte para o acesso ao conhecimento. Para esse filósofo, Descar-
tes, a dedução racional é compreendida como superior às questões filosó-
ficas, onde o que é racional é associado ao o que é real, fazendo com que
esse real seja perfeitamente compreendido. No racionalismo é destacada
a busca pela certeza, balizada por conhecimentos que não demandam de
experiências, mas organizados pela razão. Essa tendência filosófica hoje
influi a conduta moral de muitas sociedades, atribuindo à razão a capaci-
dade do ser humano de bem se relacionar no mundo.

Para o Serviço Social, esse fundamento é entendido como capaz de revelar


os processos sociais que se conjecturam nas novas relações socioeconô-
micas e políticas. Deste modo, em relação ao Serviço Social, tomemos
como explicação para contextualizar o Racionalismo as teorias de Émile
Durkheim e Auguste Comte. Durkheim relaciona o Racionalismo com a
conduta humana, onde todo objeto de conhecimento é reconhecido como
“coisa”, onde se deve recorrer à experimentação e à observação por meio
da abstração do real, elaborando teorias e conceitos por meio da constru-
ção, focando atingir objetivos.

Durkheim compreende os fatos sociais como toda maneira de fazer algo


capaz de exercer influência sobre o indivíduo, em ampla dimensão. Assim,
na visão deste filósofo, os fatos sociais exprimem uma dimensão exterior,
superior aos indivíduos que só podem adquirir nexo através das confluên-
cias das individualidades, como destaca Guerra (2002).

O Racionalismo pensa somente nas individualidades, não há história, por


isso Durkheim não contempla os fatos sociais como questão coletiva.

UNIMES VIRTUAL
80 SERVIÇO SOCIAL: INTRODUÇÃO E HISTÓRIA
Nesse contexto veja o que Yolanda Guerra (2002) nos esclarece sobre
essa questão:

Deste modo, o caminho metodológico não pode partir


das ideias, valores ou “prenoções”, senão das formas
objetivas dadas pelas estruturas políticas da socie-
dade, que por serem anteriores aos indivíduos, es-
tabelecem formas de convivência entre os homens.
Dito de outro modo: as instituições sociais (Estado,
família, direito) produzem e reproduzem, por meio da
repetição, formas de ser coletivas, que adquirem um
significado simbólico para os indivíduos, exercendo-
lhes ascendência. As sínteses ai produzidas possuem
existência real, porque se derivam de leis constantes;
a sua razão de ser é determinada por caracteres que
lhe são imanentes e não segundo o ponto de vista do
observador. Este caminho, seguindo regras básicas
para a construção do objeto, apóia-se na premissa de
que a realidade fenomenal dos fatos sociais exprime
as características que os constituem daí a necessária
vinculação entre conteúdo e forma. O suposto é de
que se deve tomar como ponto de partida os fatos
sociais tais como são, pois o critério objetivo dos fa-
tos sociais encontram-se neles próprios (GUERRA,
2002,p.59).

O ponto de vista de Durkheim revela que a sociedade é uma teia articula-


da por partes, onde cada indivíduo se coloca de forma independente nos
papéis que exercem. Para ele não há uma relação direta entre a razão do
fenômeno e a sua função no cerne da sociedade.

Portanto, a explicação do Racionalismo nas causas sociais


implica conhecer que cientificamente os fatos sociais pro-
movem a busca das causas que os impulsionam, pois são
passíveis de observação e comprovam a sua existência em si.

UNIMES VIRTUAL
SERVIÇO SOCIAL: INTRODUÇÃO E HISTÓRIA 81
Aula: 23

Temática: Metodologia e Serviço Social

Segundo o Dicionário Aurélio da Língua Portuguesa, meto-


dologia significa parte de uma ciência que estuda os mé-
todos aos quais ela se liga ou de que se utiliza. No Serviço
Social metodologia é compreendida como um programa de estratégias
flexíveis na articulação da especificidade da profissão em um contexto
determinado.

Observe que a metodologia não tem receita pronta, ela irá depender do
contexto social, cultural, ideológico em que em os profissionais se encon-
tram. Dependendo desse contexto, sempre irá haver uma nova análise da
realidade, onde o assistente social, através de sua atuação, irá auxiliar o
usuário a atingir seu patamar de dignidade.

Faleiros (1997, p.98) destaca que a metodologia busca compreender a


realidade da atuação profissional no percurso histórico das relações so-
ciais, explicitando como essas relações, por muitas vezes complexas, se
estabelecem.

Veja o que nos mostra Faleiros (1997) sobre essa temática:

Pretende-se uma reflexão dialética que tem a crítica


como instrumento de penetração nos meandros da
produção de uma atividade profissionalizada, insti-
tucionalizada e organizada no contexto político das
relações entre capital e trabalho. O específico da
profissão só se torna específico na medida em que
é visto nas relações mais globais da sociedade, onde
adquire presença na dinâmica dos conflitos de ma-
nutenção e transformação da ordem social capital-
ista. Esta ordem não se mantém ou se transforma
automaticamente, mas supõe a articulação de uma
complexidade de movimentos, de trabalhos concre-
tos, específicos, cuja generalidade está sempre pre-
sente (pressupostos), e é arrancada pelo pensamento
através do movimento do abstrato ao concreto. (FA-
LEIROS, 1997.p.98).

Ressalta-se que a metodologia no Serviço Social busca a reflexão ao ponto


que rejeita vários tipos de vertentes a serem ideologicamente adotadas,
onde Faleiros compara essa conjuntura com um “buquê de flores de plás-
tico”, que não se orienta por um viés único.
UNIMES VIRTUAL
82 SERVIÇO SOCIAL: INTRODUÇÃO E HISTÓRIA
Para o autor, esse tipo de generalidade no que concerne à condução da
prática do Serviço Social não se apresenta como um conjunto de elemen-
tos permanentes, não é superada nas mediações das relações. Note que
para desenvolver essa mediação, se faz necessário desenvolver reflexões
sobre o objeto (que no nosso caso é o usuário e suas demandas sociais),
como também refletir sobre a sociedade capitalista e as relações de explo-
ração e dominação que nela se estabelecem.

Fazendo um passeio histórico pela História do Serviço Social, observamos


que a sua metodologia se abarcou em três técnicas distintas:

• Serviço Social de Caso: Esta técnica é realizada através da abordagem


individual para identificação dos problemas sociais que afetam a popu-
lação, para depois se pensar em uma abordagem grupal.

• Serviço Social de Grupo: É utilizada nas questões sócias identificadas


através de um significativo número de usuários, onde os grupos são or-
ganizados de forma a solucionar as questões apresentadas fazendo com
que esses usuários participem do processo social como um todo.

• Serviço Social de Comunidade: Estabelecia atividades conjuntas através


das instituições, onde as necessidades comunitárias eram priorizadas, para
que assim se aproveitasse os recursos existentes de uma forma coletiva.

Iamamoto (2004) nos revela que, para que possamos compreender a me-
todologia em Serviço Social, não se pode pensar em uma sociedade se-
parada desse conceito, pelo contrário, é entendido como uma forma de se
relacionar com a realidade social.

Sugiro que você revise as aulas 4, 9 e 10 e esquematize um paralelo com


esta aula. Observe que a metodologia do Serviço Social, em sua gênese,
era abarcada por um propósito assistencialista, onde a caridade era o “car-
ro chefe” da prática do assistente social.

Após o período de Reconceituação (reveja também este conceito na aula


19), o assistente social abarca a sua metodologia tecendo uma leitura crí-
tica da realidade, mobilizando a consciência política dos sujeitos sociais.

Ao longo das unidades até aqui estudadas, aprendemos


também, que o Serviço Social ao longo de seu processo
histórico foi se estruturando, balizando paulatinamente em
metodologias, teorias e vertentes que deram um direcionamento à práti-
ca. Hoje a profissão é concebida sobre um viés interventivo, na busca da
diminuição das disparidades sociais, visando a preservação, ampliação e
defesa dos direitos sociais.
UNIMES VIRTUAL
SERVIÇO SOCIAL: INTRODUÇÃO E HISTÓRIA 83
Aula: 24

Temática: Representação Social: o que é?

Este conceito surgiu das ideias de Émile Durkheim (o qual


já estudamos nas unidades anteriores). É um campo da fi-
losofia que significa a reprodução de um pensamento para
explicar a realidade, tentando compreendê-la ou interpretá-la. Sintetizan-
do, pode-se dizer são um conjunto de valores ou crenças que resultam das
interações sociais dos indivíduos.

Na visão de Durkheim, determinados pensamentos, em suas mais diversas


categorias, expressam a realidade do sujeito. Para esse filósofo essa seria
uma forma de manter um grupo social ligado, em uma única crença, em um
único pensamento. Retoricamente falando, as representações sociais são
matrizes discursivas presentes em um determinado tipo de sociedade, em
um determinado grupo social, onde há um mesmo compartilhar de ideias.

As representações sociais são emanadas quando esses grupos emitem


seus juízos, suas opiniões particulares sobre as questões que atingem a
sociedade. As representações sociais expressam a participação coletiva
em uma mesma formação sócio-cultrural. Outro autor importante, Serge
Moscovici, também explicou a teoria das representações sociais. Para ele
as representações sociais explicam os fenômenos do ser humano em uma
visão de coletividade, contudo o ponto de vista individual é preservado, na
ótica desse autor.

Observe que, sob o ponto de vista do supracitado autor, as representações


sociais privilegiam a construção do conhecimento compartilhado. O objeti-
vo maior dessa teoria é fazer do desconhecido o conhecido, estabelecendo
novas conexões com o que até então era desconhecido, permitindo atribuir
valores internalizados individualmente e aceitos de uma forma coletiva.

Relacionando a Representação Social com o Serviço Social, Faleiros


(1997, p.102), descreve que a Representação Social envolve mediação,
bem como elementos materiais e subjetivos como valores, culturas, ide-
ologias, mitos, etc. Para ele as Representações Sociais são uma forma
de reprodução dos sujeitos, pois os indivíduos vão estar se reproduzindo
social e culturalmente a cada mover das relações.

Vejamos o que o Faleiros (1997) nos orienta sobre essa questão:

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84 SERVIÇO SOCIAL: INTRODUÇÃO E HISTÓRIA
A reprodução está ligada à representação. Esta se
traduz tanto pela consciência de si diante do outro,
como pela mobilização das energias postas em movi-
mento nas lutas e demandas individuais e coletivas.
As condições de reprodução se transformam tanto
pelas mediações das lutas onde os coletivos e in-
divíduos se transformam em sujeitos-atores, como
pelas exigências da acumulação se reproduzirem
como objeto (FALEIROS, 1997,p.102).

Para o Serviço Social as representações sociais são manifestações princi-


palmente da cultura, das ideologias, do particular dos indivíduos e das re-
lações que são estabelecidas dentro da sociedade capitalista. Outro ponto
importante que Faleiros destaca e que você deve conhecer é em relação à
identidade dos sujeitos nesta conjuntura das representações sociais. Para
ele, a identidade dos sujeitos não é uma ação mecânica, pelo contrário,
esta identidade implica em se descobrir sujeito em um contexto político,
onde esse sujeito possa expressar-se, aliar-se, refletir, recusar, dispor de
si, estabelecer estratégias, definir demandas, chamar o adversário á luta,
construir o cenário do confronto (Faleiros, 1997, p.102).

Esta identidade só pode ser resgatada se houver um processo de relação


social que envolve os valores, os mitos, as crenças, os sentimentos, e
as desigualdades. As relações que são engendradas neste contexto não
se esgotam, pelo contrário, são fortalecidas almejando a superação das
questões que afligem estas relações.

Em um processo dialético, as Representações Sociais representam estra-


tégias de ruptura da alienação, do conformismo, da dominação, transfor-
mando as relações concretas. Essas mudanças nas relações supõem que
se estabeleça, por parte do assistente social, a elaboração de estratégias
que levem a novas estruturas de relações dos sujeitos com a sociedade.

Observe que o assistente social precisa ser o mediador na


relação entre classe dominante e classe dominada, aprovisio-
nando estratégias sólidas para minimizar as questões confli-
tantes, sendo favorável à classe dos dominados. Atuar nessa Representação
Social de classes se tornou um desafio para o Serviço Social, onde, de forma
crítica, esse profissional possa atuar a favor dos menos favorecidos.

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SERVIÇO SOCIAL: INTRODUÇÃO E HISTÓRIA 85
Resumo - Unidade III

Nesta unidade vimos as vertentes que impulsionaram o Ser-


viço Social, com ênfase em algumas matrizes filosóficas que
representaram os momentos sócio-históricos da profissão.

Referências Bibliográficas

GUERRA, Yolanda. Instrumentalidade do Serviço Social. 3. ed. São Pau-


lo: Cortez, 2002.

IAMAMOTO, Marilda Vilela. O Serviço Social na Contemporaneidade.


São Paulo: Cortez, 2004.

PAVÃO, Ana Maria Braz. O princípio da autodeterminação no Serviço


Social: visão fenomenológica. 2.ed. São Paulo: Cortez, 1981.

FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Dicionário Aurélio da Língua


Portuguesa. Ed. Positivo, 2004.

FALEIROS, Vicente de Paula. Estratégias em Serviço Social. São Paulo,


Cortez, 1997

YAZBEK, M. C. Classes Subalternas e Assistência Social. 8ª. ed. São


Paulo: Cortez, 2003

_____________. Os fundamentos do Serviço Social na contempora-


neidade. Cfess/abepss 2009. Rio de Janeiro, 2009.

Glossário

Classe subalterna: São os indivíduos excluídos socialmente, que não de-


tém os meios de produção.

Confluência: Que flui em direção ao que se tende a juntar.

Égide: Abrigo, base. O que protegem ampara.


UNIMES VIRTUAL
86 SERVIÇO SOCIAL: INTRODUÇÃO E HISTÓRIA
Falacioso: Qualquer enunciado ou raciocínio falso que, entretanto simula
a veracidade.

Inerente: Que existe com um constitutivo ou uma característica essencial


de alguém ou de algo.

Premissa: Ponto ou ideia de que se parte para armar um raciocínio.

Processo Sócio- Histórico: É o processo histórico onde o indivíduo constrói


e reconstrói suas relações e culturas em uma determinada sociedade.

Teórico- Operativo: São competências e habilidades que devem ser exer-


cidas pelos assistentes sociais de acordo com as determinações legais da
profissão.

Teórico- Prático: É um tipo de conhecimento que alia a teoria com a prática.

Walfare State: Esse termo, oriundo da Europa, significa Estado do Bem


Estar Social, onde se enxerga o Estado como agente regulador da econo-
mia, vida social e política de uma nação.

UNIMES VIRTUAL
SERVIÇO SOCIAL: INTRODUÇÃO E HISTÓRIA 87
Exercício de autovaliação III

1) O que foram as Cartas de Araxá e Teresópolis e quais foram a influência para o Serviço
Social no Brasil?

a) Esses seminários tinham por objetivo analisar os aspectos teóricos e práticos da atuação
profissional até então, avaliando formas de se atuar sob a égide da cientificidade.
b) Não tinham um caráter prático, apenas foram elaborados para se cumprir com as deter-
minações legais das entidades normativas.
c) Representaram um momento de fragilidade da categoria profissional.
d) Foram documentos que não tiveram importância e logo foram esquecidos pelos profis-
sionais que deles fizeram parte.

2) O que foi o pensamento conservador para o Serviço Social?

a) O Conservadorismo foi uma espécie de contramovimento da modernidade, pois queriam


a manutenção da ordem vigente, ou seja, a capitalista, sendo uma prática para conter os
avanços da modernidade.
b) Foi uma corrente filosófica que pregava a livre manifestação de pensamento.
c) Foi responsável pelo desenvolvimento da profissão, o que culminou no tipo de atuação
profissional que temos hoje.
d) Todas as alternativas são falsas.

3) O que foi o Movimento de Reconceituação para o Serviço Social?

a) E,sse movimento defendia a Reforma Agrária no Brasil.


b) Não consistiu em grande importância para o Serviço Social, pois a sua influência não
determinou os rumos da profissão.
c) Seu objetivo era romper com a herança teórico-metodológica do pensamento conserva-
dor, bem como seus paradigmas de intervenção.
d) Todas as alternativas são verdadeiras.

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88 SERVIÇO SOCIAL: INTRODUÇÃO E HISTÓRIA
4) Como podemos definir a instrumentalidade para o Serviço Social?

a) São um conjunto de instrumentais teórico-práticos indispensáveis ao desenvolvimento


profissional. Nada mais é do que a concretude dos objetivos de atuação.
b) Instrumentalidade é um tipo de ação profissional impulsionada pela caridade e filantropia.
c) É um modo de agir profissional que não modifica as ações por ele desenvolvidas.
d) Todas as respostas acima são verdadeiras.

5-Segundo Faleiros (1997) a metodologia busca compreender a realidade da atuação pro-


fissional no percurso histórico das relações sociais, explicitando como essas relações,
por muitas vezes complexas, se estabelecem. Em um dado momento histórico o Serviço
Social se utilizou de 3 metodologias de atuação:

a) Serviço Social de Caso, Serviço Social de Mulheres e Serviço Social de Caridade.


b) Serviço Social de Caso, Serviço Social de Grupo e Serviço Social de Comunidade.
c) Serviço Social Terapêutico, Serviço Social de Grupo e Serviço Social de Comunidade.
d) Todas as alternativas são falsas.

UNIMES VIRTUAL
SERVIÇO SOCIAL: INTRODUÇÃO E HISTÓRIA 89
UNIMES VIRTUAL
90 SERVIÇO SOCIAL: INTRODUÇÃO E HISTÓRIA
Unidade IV
O Serviço Social no mundo contemporâneo

Objetivos
Conhecer a conjuntura do Serviço Social na sociedade contemporânea, as novas
expressões sociais e as perspectivas da profissão na sociedade do século XXI.

Plano de Estudo
Esta unidade conta com as seguintes aulas:

Aula: 25 - Questão social no Brasil contemporâneo


Aula: 26 - As novas expressões da questão social no Brasil e o Serviço Social
Aula: 27 - O projeto de formação profissional- a categoria profissional
Aula: 28 - Assistente Social: agente transformador da realidade?
Aula: 29 - Breve Histórico sobre Políticas Sociais
Aula: 30 - A importância do Código de Ética para a categoria Profissional
Aula: 31 - Lei de Regulamentação da Profissão para a categoria Profissional
Aula: 32 - Perspectivas e tendências atuais da profissão

UNIMES VIRTUAL
SERVIÇO SOCIAL: INTRODUÇÃO E HISTÓRIA 91
Aula: 25

Temática: Questão social no Brasil contemporâneo

Durante as aulas das unidades anteriores a terminologia


“questão social” foi uma constante. Pelo que descrevemos
no percurso dessas aulas talvez você já tenha notado qual
é o seu significado. A compreensão de questão social está intimamente
relacionada com o conceito de capital x trabalho, onde o modo capitalista
de produção dita as regras na sociedade a qual vivemos.

Na concepção de Iamamoto e Carvalho (1983), a questão social se origina


pelo ingresso da classe operária na sociedade política, onde esta classe
passa a exigir os seus direitos. Basicamente está centrada na contradição
existente entre a classe trabalhadora e a burguesia. Note que toda ques-
tão social se expressa nas contradições do modo capitalista de produção,
onde se produz a riqueza e esta não é socialmente distribuída, ficando a
maior fatia do bolo nas mãos dos mais ricos.

Essa ideia é muito bem expressada por Faleiros (1997):

(...) a expressão questão social é tomada de forma


muito genérica, embora seja usada para definir uma
particularidade profissional. Se for entendida como
sendo as contradições do processo de acumulação
capitalista, seria, por sua vez, contraditório colocá-
la como objeto particular de uma profissão deter-
minada, já que se refere a relações impossíveis de
serem tratadas profissionalmente, através de estra-
tégias institucionais/relacionais próprias do próprio
desenvolvimento das práticas do Serviço Social. Se
forem as manifestações dessas contradições o objeto
profissional, é preciso também qualificá-las para não
colocar em pauta toda a heterogeneidade de situa-
ções que, segundo Netto, caracteriza, justamente, o
Serviço Social (FALEIROS, 1997, p. 37).

Iamamoto (2005) nos revela que o Serviço Social tem na questão social a
base para a que a profissionalização dos assistentes sociais fosse reconhe-
cida enquanto categoria profissional. Essa autora define a questão social
como o “conjunto das desigualdades da sociedade capitalista madura”,
onde o trabalho torna-se cada vez mais coletivo, todavia a apropriação dos
frutos torna-se privada em um processo de mais valia.

Relembre que a questão social não se originou por acaso, mas emergiu do
UNIMES VIRTUAL
92 SERVIÇO SOCIAL: INTRODUÇÃO E HISTÓRIA
cenário de lutas de classes na Europa no século XIX, de onde esta classe
operária buscava soluções para suas demandas sociais como a fome, as
condições de moradia, etc. Nessa lógica a questão social representa, além
dessas mazelas, a luta e resistências das classes, e com as constantes
mudanças no mundo do trabalho, as concepções de questão social vão
sendo moldadas de acordo com esse processo sócio-histórico.

Na próxima aula você irá deslumbrar como se dá o proces-


so das novas questões sociais e qual é a sua relação com o
Serviço Social. Até mais!

UNIMES VIRTUAL
SERVIÇO SOCIAL: INTRODUÇÃO E HISTÓRIA 93
Aula: 26

Temática: As novas expressões da questão social


no Brasil e o Serviço Social

Na aula passada foi delineada a questão social como fru-


to da produção da sociedade capitalista. Nesta aula vamos
aprofundar o nosso conhecimento sobre essas questões so-
ciais e suas novas premissas.

As implicações que resultam da apropriação desigual da riqueza geram


as questões sociais que são representadas por inúmeros fatores, os quais
destacaremos alguns mais latentes em nossa sociedade que são:

• Desemprego;
• Violência (em suas diversas ramificações);
• Analfabetismo;
• Falta de moradia;
• Acesso negado á saúde, dentre muitas outras.

Reflita, para que possamos discutir posteriormente, as colocações de Ia-


mamoto (2005) sobre essa temática:

Os assistentes sociais trabalham com a questão so-


cial nas suas mais variadas expressões quotidianas,
tais como os indivíduos as experimentam no trab-
alho, na família, na área habitacional, na saúde, na
assistência social pública, etc. Questão social que,
sendo desigualdade é também rebeldia, por envolver
sujeitos que vivenciam as desigualdades e a ela re-
sistem e se opõem. É nesta tensão entre produção da
desigualdade e produção da rebeldia e da resistência,
que trabalham os assistentes sociais, situados neste
terreno movidos por interesses sociais distintos, aos
quais não é possível abstrair ou deles fugir porque te-
cem a vida em sociedade (IAMAMOTO, 2005, p.28)

É neste contexto que a questão social se apresenta na con-


temporaneidade, sendo expressa nas formas de como os
indivíduos enxergam a contradição do capitalismo e como
esses sujeitos se defrontam nos embates entre classe dominante e classe
dominada.

UNIMES VIRTUAL
94 SERVIÇO SOCIAL: INTRODUÇÃO E HISTÓRIA
Aula: 27

Temática: O projeto de formação profissional:


a categoria profissional

Discussões sobre a nova tendência da formação profissional,


balizadas por inúmeros debates suscitados no projeto ético-
político da profissão tem um caráter relativamente novo.

Todavia, se você revisitar a nossa aula texto de número 18, você verá
que o ideário de um novo viés para o Serviço Social remonta as décadas
de 1970 e 1980, onde o Conservadorismo é colocado em xeque. É nesse
viés de renuncia dos moldes de atuação conservadores que se encontra
a matriz de um novo projeto profissional pautado nas alíneas de um novo
projeto ético-político.

O projeto profissional do Serviço Social é o espelho da profissão, onde


seus valores são legitimados historicamente, sendo delimitados direitos
e deveres. Tais projetos são construídos coletivamente (tomemos como
exemplo a Carta de Araxá e Teresópolis, estudados na aula 17). São elabo-
rados em conjunto e dão legitimidade á profissão.

No Brasil tais projetos são representados pelo CFESS/CRESS, ABEPSS,


e ENESSO, o que garante maior credibilidade à categoria do assistente
social. Para Netto (1999), para que um projeto profissional ganhe solidez
é necessário que haja um corpo profissional estruturado, que emanem os
mesmos ideais. O projeto profissional do Serviço Social é uma resposta da
dinâmica das relações sociais engendradas, são uma espécie de estrutu-
ra dinâmica que visa atender às reais necessidades sociais sobre qual a
profissão atua.

Por certo é conveniente que você saiba que os projetos profissionais não
são estáticos, inflexíveis, pelo contrário, eles vão se moldando de acordo
com o processo histórico, com as demandas da sociedade.

Netto (1999) afirma com clareza que um corpo profissional é sempre um


palco de lutas e tensões, pois mesmo que o projeto profissional se afirme,
haverá lutas e contradições. É necessário que existam debates para se
chegar a um mesmo objetivo profissional, excluindo qualquer tipo de poder
hegemônico. Torna-se de suma relevância trazer a tona a você que todo
projeto profissional surge por inquietações nas categorias profissionais, e
não foi diferente com o Serviço Social.

UNIMES VIRTUAL
SERVIÇO SOCIAL: INTRODUÇÃO E HISTÓRIA 95
Desde III Congresso Brasileiro de Assistentes Sociais realizado em 1979,
que ficou conhecido como o Congresso da Virada, os assistentes sociais
que tinham uma visão contemporânea logo se atrelaram ao segmento dos
trabalhadores, no sentido de romper com o conservadorismo (relembre
esse conceito nas aula18). Durante este Congresso um sentimento de plu-
ralismo político redimensionou a organização da profissão, aferindo compe-
tência às entidades norteadoras do Serviço Social como a ABEPSS e pos-
teriormente o CRESS e CFESS. Assim, a criação de um novo Código e Ética
se tornou imprescindível diante dessa nova conjuntura se que firmava.

Não iremos nos ater à parte descritiva dos Códigos de Éti-


ca e da nossa Lei de Regulamentação da Profissão neste
momento, pois na aula 30 eles serão delineados com maior
intensidade. De muitos anos para cá, o Serviço Social se viu obrigado a
redimensionar as suas práticas no sentido de formação dos profissionais,
para que esse profissional esteja apto a responder as demandas da socie-
dade brasileira com competência, ética e comprometido com os ideais da
sua profissão.

UNIMES VIRTUAL
96 SERVIÇO SOCIAL: INTRODUÇÃO E HISTÓRIA
Aula: 28

Temática: Assistente Social:


Agente transformador da realidade?

Hoje o Serviço Social atua, enquanto categoria profissional,


sob a perspectiva de transformação social do sujeito, do
usuário que acessa os serviços. Remetendo-nos às aulas
25 e 26 analisamos que as questões sociais que ora são impostas são uma
espécie de âncora para a atuação do assistente social.

Antes de tudo, esse profissional necessita balizar sua conduta nos pre-
ceitos de seu Código de Ética e na Lei de Regulamentação da Profissão
(veremos essas temáticas na aula 30), para poder lidar com a demanda
dos usuários, buscando alternativas legais para realização da sua prática.

Há um filme cujo título é “Preciosa – uma história de Esperança”, o qual


retrata o papel do assistente social perante as questões sociais apresen-
tadas. A personagem principal é uma jovem que foi violentada por seu pai,
engravidando do mesmo. Nesse filme a assistente social, com sua prática
profissional, auxilia a personagem a se reconhecer como ser participante
da sociedade, transformando, nesse contexto, a sua realidade social.

É fato que, como assistentes sociais, não devemos aceitar a realidade


posta, é preciso criar resolutividade para o problema do usuário, tomando
o cuidado para não criar expectativas. Não obstante, o assistente social,
por primazia, deve legitimar a sua prática junto aos usuários, tornando-os
sujeitos participantes de sua própria realidade. Essa prática, por vezes,
não é uma tarefa fácil, pois demanda muitos fatores, como por exemplo, a
articulação teoria/prática.

Nesse sentido, todo assistente social deve sempre estar em busca de no-
vos conhecimentos, refletir sobre as situações apresentadas, onde possa
se configurar em uma nova realidade social para o usuário.

Para tal, o vínculo com o usuário deve se tornar indispensável, pois é por
intermédio dele que o assistente social pode mediar as relações de confli-
to, onde o usuário encontrará, nesse profissional, caminhos para a busca
de sua emancipação.

Observe que todo assistente social deve fazer com que os


usuários descubram meios e novas alternativas para trans-
formar a sua realidade, onde o assistente social pode ser
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SERVIÇO SOCIAL: INTRODUÇÃO E HISTÓRIA 97
considerado um agente de transformação. Logo, torna-se indispensável
que o assistente social por vezes avalie a situação dos atendimentos, da
realidade que lhe é apresentada, mas também ter empatia pelos usuários,
conhecendo, através dos instrumentais teóricos, escuta e acolhida a histó-
ria de cada sujeito, mostrando-os a realidade como ela é e fazendo-os sair
desse estado de alienação em que se encontram.

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98 SERVIÇO SOCIAL: INTRODUÇÃO E HISTÓRIA
Aula: 29

Temática: Breve Histórico sobre Políticas Sociais

Com certeza você já deve ter ouvido falar nos noticiários


de televisão ou lido em algum jornal impresso sobre essa
temática. Ela também é conhecida como Política Pública.
Entende-se que política pública é conjunto de ações ou regras destinadas
á promoção do bem - estar da sociedade.

Essas ações são assumidas pelo governo, com ou sem participação da


sociedade em sua elaboração, a fim de concretizar os direitos coletivos e
sociais impetrados em lei. Toda política pública se molda em uma relação
Estado/sociedade, oportunizando desenvolvimentos significativos na qua-
lidade de vida da população, como por exemplo, os programas de distribui-
ção de renda como o Bolsa Família, do governo federal.

O que realmente aconteceu, e ainda acontece, são investimentos do poder


público em setores privilegiados da sociedade como os bancos e indús-
trias, onde, em uma perspectiva falaciosa, toda a sociedade seria benefi-
ciada. Todavia, o que você e eu observamos na sociedade contemporânea
são disparidades sociais, onde o bolo, que é a renda do país, não é distri-
buído igualmente, e a cada dia vai crescendo sem a divisão justa entre os
setores menos privilegiados da sociedade.

Nesse sentido, reflita sobre o que Silva (2007) destaca sobre as Políticas
Sociais no Brasil:

Particularmente, no que diz respeito ao eixo assisten-


cial do sistema brasileiro de Proteção Social, onde
situamos os programas de transferência de renda,
aqui entendidos como aqueles que atribuem uma
transferência monetária a indivíduos ou a famílias,
mas que também associam a essa transferência
monetária, componente compensatório, outras medi-
das situadas principalmente no campo das políticas
de educação, saúde e trabalho, representado, por-
tanto, elementos estruturantes, fundamentais, para
permitir o rompimento do ciclo vicioso que aprisiona
grande parte da população brasileira nas amarras da
reprodução da pobreza (SILVA, 2007, p.19).

Cabe lembrar que o Estado, em um dado momento histórico, mais em


particular os anos entre 1930 e 1943, constituiu os primeiros sistemas de

UNIMES VIRTUAL
SERVIÇO SOCIAL: INTRODUÇÃO E HISTÓRIA 99
proteção social. O país, nesse momento, passava por grandes transfor-
mações econômicas, ocorrendo um grande reordenamento na atuação de
diversos setores como saúde, habitação e previdência.

Durante as décadas de 1970 e 1980, período da ditadura militar, alguns


programas sociais se expandiram como forma de repressão para a não
articulação da sociedade civil em busca de seus direitos. Assim, note que
essa estratégia de controle social não impediu uma grande mobilização
da sociedade, onde eclodiram, em especial na década de 1970, inúme-
ros movimentos sociais e reestruturações de partidos políticos. Para Silva
(2007, p.24) “essa dinâmica social tinha como elemento mobilizador no-
vas demandas sociais pelo resgate da dívida social acumulada e agravada
durante o período da ditadura militar, e conseqüentemente, pela ampliação
dos direitos sociais”.

Veja que com a promulgação da nossa Constituição Federal de 1988, di-


reitos sociais foram garantidos, porém, esse processo de ampliação de
direitos foi debatido durante a década de 1990, onde o governo brasileiro
passou a adotar um projeto de progresso econômico, com ideários neoli-
berais. O resultado dessa ação foi visível: estagnação da economia, pre-
carização do trabalho, desemprego e um enorme crescimento da pobreza
no país.

O que se viu foi uma sociedade marcada por um Sistema de Proteção So-
cial ineficiente, com recursos desperdiçados, ausência de mecanismos de
controle e acompanhamento dos programas, dentre outros.

Nessa conjuntura, novas formas de exclusão sociais são impetradas na


sociedade, onde o famoso termo Walfare State entra em ação. É notório
que o modelo de sociedade citado orienta suas ações por parâmetros de
um projeto neoliberal, onde o principal objetivo é a inserção do país em
uma economia mundial competitiva.

Diante deste cenário, reflita sobre as colocações de Silva (2007):

A lógica adotada pelo Estado brasileiro, justificada


pela ideologia da modernidade, faz com que se tenha
um Estado que rebaixa ainda mais sua responsabili-
dade social, quando esta demanda o atendimento das
necessidades sociais das classes subalternas. Essa
responsabilidade vem sendo transferida para uma
sociedade como se esta fosse destituída de antago-
nismos de interesses, sendo homogeneizada por uma
realidade que é complexa e heterogênea, ficando a
sociedade responsável pela solução dos problemas
sociais mediante práticas de parcerias e de solidarie-
dade (SILVA, 2007, p.25).
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100 SERVIÇO SOCIAL: INTRODUÇÃO E HISTÓRIA
Assim, os anos 1990 podem ser considerados um período de extremas
contradições, pois de um lado ocorrem avanços de ordem política como o
estabelecimento da Seguridade Social, participação social e descentraliza-
ção de ações abarcadas na Constituição de 1988. Por outro lado, ocorrem
intervenções estatais, onde fica evidenciado que a classe pobre fica cada
vez mais pobre.

A partir de então, o governo federal vem desenvolvendo uma Rede de Pro-


teção Social, direcionada principalmente à população mais pobre. Ocorre
uma articulação de programas, onde alguns desses programas se eviden-
ciam e até hoje estão em curso:

BPC – Benefício de Prestação Continuada, destinado ao idoso e/ou pessoa


com deficiência, que comprovem não possuir meios para sua subsistên-
cia;

PETI – Programa de Erradicação do Trabalho Infantil, que visa a transferên-


cia direta de renda a famílias com crianças ou adolescentes em situação
de trabalho;

Bolsa Família, que é um programa de transferência de renda destinado á


famílias em situação de pobreza ou extrema pobreza.

Observe que atualmente os programas, as políticas públicas governamen-


tais vêm se constituindo um campo heterogêneo, como bem coloca Silva
(2007, p.191), haja vista que se constituem em um nível de abrangência
nacional, com participação direta do governo federal, estadual e municipal,
onde a autora supracitada destaca algumas características importantes no
âmbito das políticas públicas:

• Transferência de Renda como uma política pública concebida no âmbito


do direito á cidadania com perspectiva de estabelecer uma relação di-
reta Estado/cidadão, com transferência monetária alocada diretamente
aos beneficiários, com possibilidade de contribuir para mudança nas
práticas políticas e na democracia, pela perspectiva de superar o clien-
telismo e o uso eleitoreiro que tem marcado as políticas sociais brasi-
leiras;

• Transferência de Renda como uma política pública de acesso dos traba-


lhadores do mercado informal ao Sistema de Proteção Social Brasileiro,
com perspectiva de construção de um novo patamar de cidadania, su-
perando as marcas meritocráticas que têm, historicamente, caracteri-
zado esse Sistema;

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SERVIÇO SOCIAL: INTRODUÇÃO E HISTÓRIA 101
• Transferência de Renda como uma política pública para complemen-
tação de outras políticas (educação, saúde, trabalho), tendo em vista
articular o traço compensatório da transferência monetária, com meca-
nismos estruturais de médio e longo prazo, fazendo dessa política um
mecanismo para melhorar a distribuição da riqueza e para enfrentamen-
to da pobreza.

Assim, entendemos que as políticas públicas são ações ad-


vindas do Estado para o alcance do bem – estar social da
sociedade.

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102 SERVIÇO SOCIAL: INTRODUÇÃO E HISTÓRIA
Aula: 30

Temática: A importância do Código de Ética para


a categoria profissional

Como já dito nas aulas anteriores, os Códigos de Ética da


profissão, bem como sua lei de regulamentação, são eixos
norteadores para a atuação prática do assistente social.

Antes de falarmos sobre o Código de Ética, faz se necessário que você


compreenda o conceito etimológico da palavra ética. A palavra ética vem
do grego ethos, que significa conduta, costumes. De acordo com o Dicio-
nário Aurélio Buarque de Holanda, ética é “o estudo dos juízos de aprecia-
ção que se referem à conduta humana susceptível de qualificação do pon-
to de vista do bem e do mal, seja relativamente à determinada sociedade,
seja de modo absoluto”.

Sabe-se que toda ética profissional tem seus fundamentos nas expres-
sões sócio-culturais das profissões, na moral profissional e também nos
embasamentos teóricos e filosóficos que norteiam a prática profissional.
Estes fundamentos estão diretamente relacionados às demandas de cada
profissão e de cada momento sócio-histórico vivenciado pelos profissio-
nais do Serviço Social. Assim como algumas profissões consolidadas, o
Serviço Social instituiu seus respectivos Códigos de Ética, com direitos e
deveres dos assistentes sociais e dos órgãos que norteiam a profissão.

O papel principal dos Códigos de Ética no Serviço Social é promover e ga-


rantir a qualidade prestada nos serviços dos assistentes sociais. Eles, seja
qual momento histórico atribuído, se abarca em mecanismos para agir so-
bre a atuação profissional, deliberando direitos e deveres dos assistentes
sociais e também dos órgãos que orientam a profissão, como o CRESS E
CFESS. O último Código de Ética em vigor, aprovado em 15 de março de
1993, foi um processo de construção coletiva da maioria dos profissionais
que estavam vinculados aos órgãos representativos.

Cabe lembrar que os três primeiros Códigos de Ética tinham uma posição
conservadora de atuação, dado os momentos históricos em que foram
criados, fundamentados no neotomismo, que é uma filosofia fundada nos
preceitos cristãos, onde considera toda filosofia e pensamento moderno
como erros e equívocos, e que são responsáveis pelas crises atuais do
mundo contemporâneo.

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SERVIÇO SOCIAL: INTRODUÇÃO E HISTÓRIA 103
Código de Ética de 1986 foi um divisor de águas, pois negava as correntes
filosóficas conservadoras dos códigos anteriores e defendia um novo perfil
profissional, não mais apenas um profissional executor do Estado, mas um
assistente social comprometido com os usuários e a classe trabalhadora.

Como já foi esboçado na aula 5, a profissão ao longo de sua existência


implementou alguns Códigos de Ética. Ao todo foram criados 5 Códigos
de Ética: 1947, 1965, 1986, 1975 e o último instituído no ano de 1993. Há
de lembrar que os Códigos de Ética foram criados ao longo dos momentos
sócio-históricos da profissão. O último Código de Ética é ratificado pela
concepção de um novo modelo de sociedade, ou seja, se direciona por
uma nova ação profissional capaz de atuar de forma concreta, minimizan-
do as conseqüências do processo crescente do capitalismo, agindo sobre
a égide dos valores ético-políticos da profissão.

Convido você a acessar o site da CFESS/LEGISLAÇÃO, e co-


nhecer na íntegra todos os Códigos de Ética da profissão.
Boa pesquisa!

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104 SERVIÇO SOCIAL: INTRODUÇÃO E HISTÓRIA
Aula: 31
Temática: A importância e da Lei de Regulamentação
da Profissão para a categoria profissional

A categoria dos assistentes sociais foi uma das primeiras


profissões a ter uma lei de regulamentação profissional. Em
27 de agosto de 1957 foi sancionada a primeira Lei de Re-
gulamentação da Profissão no Brasil, lei 3252. Esta lei vigorou por 36 anos
até a criação da Lei 8662 de 07 de junho de 1993 (nova e atual Lei de
Regulamentação da Profissão).

A lei de regulamentação da profissão de 1957 foi de grande relevância, pois


marca a criação de dois conselhos que embasaram a atuação profissional,
o CFAS e o CRAS, respectivamente Conselho Federal de Assistentes So-
ciais e Conselho Regional de Assistentes Sociais, hoje conhecidos como
CFESS e CRESS, Conselho Federal de Serviço Social e Conselho Regional
de Serviço Social. Observe que a lei 8662 de 7 de julho de 1993 constitui,
de forma clara e objetiva, as atribuições e competências do assistente
social, e alterou as denominações dos órgãos normativos da profissão,
como especificado acima.

É fato que todo assistente social deve embasar-se pela lei que regula-
menta a sua profissão, onde, além de estar submetido a essa legislação,
o profissional não pode deixar de se pautar em seu Código de Ética e em
leis sociais em vigor que estejam em consonância com a profissão, como
exemplo o SUS (Sistema Único de Saúde), Estatuto do Idoso, ECA (Estatu-
to da Criança e do Adolescente), dentre muitas outras.

Para que você compreenda com mais clareza, observe alguns artigos da
referida lei e, é fundamental conhecer a importância desta lei em nosso
cotidiano. Vejamos algumas dessas competências:

• Planejamento, organização e administração de Serviços Sociais e de


Unidade de Serviço Social;

• Elaborar, implementar, executar e avaliar políticas sociais junto a órgãos


da administração pública, direta ou indireta, empresas, entidades e or-
ganizações populares;.

• Orientar indivíduos e grupos de diferentes segmentos sociais no sentido


de identificar recursos e de fazer o uso dos mesmos no atendimento e
na defesa de seus direitos;

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SERVIÇO SOCIAL: INTRODUÇÃO E HISTÓRIA 105
• Encaminhar providências, e prestar orientação social a indivíduos, gru-
pos e à população. (Artigo 4º da Lei 8662).

Como se pode observar, a categoria profissional é balizada por uma lei de


grande relevância, uma vez que define, com clareza, as competências dos
assistentes sociais.

Na próxima aula convido você a conhecer as perspectivas


da profissão na contemporaneidade. Até a próxima!

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106 SERVIÇO SOCIAL: INTRODUÇÃO E HISTÓRIA
Aula: 32

Temática: Perspectivas e tendências atuais


da profissão

Como já vínhamos estudando ao longo de nossas aulas, o


capitalismo desenfreado é o grande responsável pelas trans-
formações societárias e pela crescente desigualdade social
em nosso país. Observe que estas mudanças de ordem social ocasionam
alterações nas demandas da profissão, onde, de maneira interventiva, faz
com que busquemos novas alternativas para a legitimidade da nossa ca-
tegoria profissional.

Diante de tais transformações, a dimensão do trabalho do assistente social


passa a validar, de forma mais que concreta, o seu projeto ético-político,
defendendo o direito a liberdade e a emancipação do usuário. O Serviço
Social possui sua peculiaridade, pois é uma prática profissional de nature-
za operativa e instrumental, lutando incansavelmente contra a hegemonia
do capitalismo.

Pensar em novas perspectivas para a profissão requer estar voltado e


atento para a conjuntura, buscando alternativas coletivas que se baseiem
em um projeto profissional comprometido com seus valores éticos e com
as competências profissionais estabelecidas no seu Código de Ética e na
sua Lei de Regulamentação da Profissão.

Com as novas demandas do século XXI ocasionadas pelo capitalismo, o


Serviço Social no Brasil se defronta com inúmeros agravantes sociais,
onde se configura graves consequências no tecido social brasileiro. Hoje
vivemos em mundo cujo ideais econômicos, sociais e culturais, dentre ou-
tros, vão se modificando apressadamente.Neste contexto, podemos citar
o processo de globalização, que apesar de trazer grandes desenvolvimen-
tos para determinada sociedade, provoca também inúmeros desajustes
sociais e o surgimento de certas classes sociais.

Reflitemos: Com certeza você já deve ter reparado que na


sociedade, nas últimas décadas, o desemprego vem se
tornando crescente, bem como a condição de vida dos
trabalhadores, a violência, a fome, a falta de moradia, dentre muitos ou-
tros fatores acarretados pelo capitalismo. Veja você que essas dinâmi-
cas societárias não só assentam novas demandas para a profissão, como
também engendram novas perspectivas para a dinâmica do processo de
trabalho do assistente social.
UNIMES VIRTUAL
SERVIÇO SOCIAL: INTRODUÇÃO E HISTÓRIA 107
A exclusão social analisada ao longo de algumas unidades nos revela que
esta exclusão é consequência do capitalismo desenfreado, disfarçado por
uma aparente “igualdade de condições e de direitos”. Entendemos que só
irá submergir as desigualdades sociais quando não mais houver explora-
ção de uns sobre os outros, onde a concentração da riqueza vai imperar
nas mãos não dos mais favorecidos, mas em uma classe que possamos
passar a chamar de “incluídos”.

Acredita-se que a desigualdade só acontece quando o sistema capitalista


priva a classe trabalhadora de seus inerentes direitos e quando não há
garantia para a sua sobrevivência nessa sociedade demasiadamente de-
sigual. Sabemos hoje que as classes estão separadas, cada qual com seu
poder econômico. Será que algum dia os cidadãos não irão abrir mão de
suas conquistas sociais e não mais serão excluídos no tocante da socie-
dade?

É nisso que acreditamos e agiremos para que essa mudança ocorra, prin-
cipalmente você, futuro assistente social.

Bem, chegamos ao final de nossas aulas. Foi um enorme


prazer poder contar com você durante esta etapa, e mais
importante ainda foi saber que você pode aprender um pou-
co mais sobre a História do Serviço Social e assim enriquecer o seu co-
nhecimento.

Sucesso!

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108 SERVIÇO SOCIAL: INTRODUÇÃO E HISTÓRIA
Resumo - Unidade IV

Nesta última unidade foram apresentadas a você as tendên-


cias e perspectivas do Serviço Social na atualidade, onde
falamos sobre as questões sociais atuais, sobre as norma-
tivas que norteiam a classe do assistente social. Realizamos também um
passeio histórico pela concepção de Política Social e, finalizamos a aula
de nossa unidade com a abordagem das expectativas impulsionadoras da
profissão no tocante do momento sócio-histórico atual.

Referências Bibliográficas

CONSELHO FEDERAL DE SERVIÇO SOCIAL. Código de Ética Profissional


dos Assistentes Sociais. Disponível em: http://www.cfess.org.br/legisla-
cao.php> Acesso em: 15 nov. de 2010.

FALEIROS, Vicente de Paula. Estratégias em Serviço Social. São Paulo,


Cortez, 1997.

IAMAMOTO, Marilda Vilela; CARVALHO, Raul. Relações Sociais e Servi-


ço Social no Brasil: esboço de uma interpretação histórico-metodológica.
São Paulo, Cortez, 1983

NETTO, José Paulo. A Construção do Projeto Ético-Político do


Serviço Social. Disponível em: <http://www.cpihts.com/PDF03/
jose%20paulo%20netto.pdf>. Acesso em: 15 de out. 2010.

Glossário

Emergir: Sair de onde estava mergulhado, elevar-se, Acontecer; ocorrer;


resultar.

Poder hegemônico: Supremacia ou superioridade econômica, política e


cultural de um povo ou Estado.

Preceitos: Doutrina; norma; prescrição; ordem.


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SERVIÇO SOCIAL: INTRODUÇÃO E HISTÓRIA 109
Walfare State: Esse termo, oriundo da Europa, significa Estado do Bem
Estar Social, onde se enxerga o Estado como agente regulador da econo-
mia, vida social e política de uma nação.

Descentralização: Disseminar por todo o país as administrações, indús-


trias, organismos, etc., que se encontravam agrupadas no mesmo lugar.

Política Pública: São um conjunto de ações, benefícios ou programas que


visam à garantia dos direitos coletivos.

Qualidade ou caráter de legítimo. Legalidade, genuinidade.

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110 SERVIÇO SOCIAL: INTRODUÇÃO E HISTÓRIA
Exercício de autovaliação IV

1-(ENADE 2010)O atual quadro sócio-histórico não se reduz a um pano de fundo para que
se possa, depois, discutir o trabalho profissional. Ele atravessa e conforma o cotidiano
do exercício profissional do assistente social, afetando as suas condições e as relações
em que se realiza o exercício profissional, assim como a vida da população usuária dos
serviços sociais. A análise crítica desse caso requer um diagnóstico mais complexo so-
bre os processos sociais e a profissão neles inscrita.

(Iamamoto, M.V. As dimensões ético-políticas e teórico-metodológicas no Serviço Social


contemporâneo. Serviço Social e saúde: Formação e Trabalho Profissional. São Paulo:
Cortez, 2006, p.76 -adaptado)

A partir do texto e considerando o exercício da assistência social no contexto atual,


assinale a alternativa correta:

a) O contexto sócio-histórico traz os elementos necessários para o profissional categorizar


os problemas sociais e vulnerabilizados, facilitando a priorização das ações e opções
técnicas. Tais procedimentos encontram respaldo no projeto ético-político profissional,
para a definição das estratégias de intervenção.
b) É sob o escopo das questões sócio-históricas que os problemas sociais configuram-se
como pessoais e delimitam os elementos teórico-metodológicos e ético-políticos que
norteiam as estratégias profissionais.
c) Os limites e possibilidades da intervenção estão impressos no terreno sócio-histórico em
que se exerce a profissão e nas referências éticas, políticas e metodológicas do assis-
tente social.
d) A prática profissional é uma relação singular entre o assistente social e o cliente e esta-
belece as bases para as estratégias profissionais, pois o Serviço Social é uma profissão
do agir.

2) Como Iamamoto (2005) define questão social e quais são alguns de seus tipos que se
manifestam na sociedade?

a) Conjunto das desigualdades da sociedade capitalista madura.


b) São idéias modernas de defensores de uma sociedade justa e igualitária.
c) Violência, desemprego, e falta de moradia são consideradas tipos de questões sociais.
d) As alternativas A e C estão corretas.

UNIMES VIRTUAL
SERVIÇO SOCIAL: INTRODUÇÃO E HISTÓRIA 111
3) Como se define o Projeto de Formação Profissional do Serviço Social?

a) O projeto profissional do Serviço Social é uma resposta da dinâmica das relações sociais
engendradas, são uma espécie de estrutura dinâmica que visa atender às reais necessi-
dades sociais sobre qual a profissão atua.
b) Não correspondem a sua realidade socio-histórica.
c) Os projetos profissionais da profissão são meramente estáticos, não podem ser alterados
em decorrência da realidade.
d) Somente a alternativa A está correta.

4) Como é visto hoje o profissional do Serviço Social?

a) Um mero reprodutor das ideologias da sociedade capitalista.


b) Um profissional que, através de seus instrumentais teórico-metodologicos tenta modifi-
car a realidade do usuário.
c) Não modifica em nada a vida dos usuários que procuram seus serviços.
d) Não busca alternativas legais para embasar a sua prática profissional.

5) O que é o programa Bolsa Família?

a) É um programa de transferência de renda destinado á famílias em situação de pobreza


ou extrema pobreza.
b) É destinado somente para famílias que ganham acima de 5 salários mínimos.
c) É um programa que, além do valor destinado as famílias, também oferece cestas básicas
como um de seus mecanismos de enfrentamento da pobreza.
d) É um Programa de Erradicação do Trabalho Infantil, que visa a transferência direta de
renda a famílias com crianças ou adolescentes em situação de trabalho infantil.

UNIMES VIRTUAL
112 SERVIÇO SOCIAL: INTRODUÇÃO E HISTÓRIA

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