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Departamento de Artes e Tecnologias

Sintetização do Som do Violino

Licenciando: Rúben Miguel Conceição Carvalho

Unidade Curricular: Síntese Áudio

Docente: Prof. Doutor Carlos Humberto Nobre dos Santos Luiz

Coimbra, 2018
Escola Superior de Educação Instituto Politécnico de Coimbra

Objetivos

Este trabalho tem como objetivo a recriação do som de um violino através de síntese
áudio, mais concretamente, a síntese subtrativa. Pretende-se aplicar os conhecimentos teóricos
sobre a caracterização do som de um violino e sobre síntese subtrativa e de formantes, usando
instrumentos sintetizadores digitais.

1 Introdução Teórica

1.1 Síntese Subtrativa

A síntese subtrativa consiste numa filtragem seletiva duma onda complexa com bastantes
harmónicos. Esta filtragem pretende atenuar ou eliminar completamente zonas do espetro de
frequências e, graças a isso, permite a criação de sons muito próximos aos de instrumentos reais.
Este tipo de síntese torna-se bastante eficiente se for interpolada com uma etapa de análise, onde
são considerados os diferentes componentes do som e as diferentes frequências, e ajustá-los de
modo a obtermos o som que pretendemos. A aplicação de envolventes, como a ADSR, e outros
parâmetros, permitem a sintetização de um som seja muito mais realista (Henrique, 2002).

1.2 Sintetização do Violino

O violino é o instrumento clássico que possui mais estudos realizados acerca da sua
forma, construção, materiais utilizados, natureza das cordas, o efeito do cavalete, o arco, a
posição e movimento da arcada, os efeitos das diferentes arcadas, os efeitos como pizzicato e
vibrato, etc..

O sistema de excitação do violino é a corda e o arco. A corda encontra-se tencionada


entre dois pontos de âncora e o arco, feito de crina de cavalo, é colocado na perpendicular da

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corda. Ao tocar, o arco aplica uma força de deslocamento na corda e, graças ao atrito, esta
acompanha o arco e é esticada até ao ponto em que a força de restituição da corda passa a ser
maior (ver Figura 1), o que faz com que esta tente voltar à sua posição de repouso. Devido ao
momentum que é criado, a corda vai ultrapassar o seu ponto de repouso e vai se mover até ao
ponto em que a tensão diminui, onde é novamente "agarrada" pelo arco, e o processo repete-se.

Figura 1: Representação da força aplicada na corda. Fonte: (Henrique, 2002).

Visto que a corda não vibra livremente, pois está sempre em contacto com o arco, a onda
viaja de forma circular na corda (ver Figura 2 abaixo), e a velocidade à qual esta viaja, ou seja, o
que determina a sua frequência, é exatamente a mesma que a de uma corda que vibra livremente,
o que permite que as notas em pizzicato sejam iguais às notas com arco (Reid, 2003b).

Em relação à posição da arcada relativa à corda, se esta for feita precisamente a meio,
todos os harmónicos pares serão anulados, uma vez que estes necessitam que o centro da corda
esteja em repouso, o que não acontece quando está a ser excitada pelo arco. Se se fizer a arcada
a um terço da corda, o 3o , 6, 9o , e outros harmónicos múltiplos de 3 também serão anulados.
O mesmo acontece aos harmónicos múltiplos de 4o , se a arcada for feita a um quarto da corda.
Portanto, se a arcada for feita numa zona arbitrária todos os harmónicos serão mais ou menos
excitados. Mesmo assim, para determinar a forma de onda criada pelo instrumento, é necessário
considerar as forças aplicadas no cavalete (Henrique, 2002).

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Figura 2: Representação do modo de vibração da corda friccionada. Fonte: (Henrique,


2002).

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Quando o arco move a corda, as forças resultantes movem o cavalete e puxam-no para
fora da sua posição de repouso. Depois, quando a corda tenta voltar à sua posição inicial,
o cavalete volta progressivamente também à sua posição de repouso. Estes dois movimentos
sugerem que o cavalete provoca uma onda dente-de-serra, e académicos, que investigaram as
forças aplicadas no cavalete e no resto do instrumentos, descobriram que o som de um ins-
trumento de cordas friccionadas pode ser muito bem representado por ondas dente-de-serra.
Apesar de se saber que forma de onda representa os instrumentos de corda friccionada, existem
muitos fatores secundários que influenciam a forma de onda criada pelo cavalete.

Um fator que determina muito o timbre do instrumento é as propriedades de ressonância


do corpo do instrumento, principalmente os tampos superior e inferior, e o ar que se encontra
entre eles. O corpo do violino, tal como o de todos os outros, possui zonas de formantes, que
realçam certas zonas de frequências, nomeadamente, neste caso, a zona dos 300Hz, dos 700Hz
e entre 2kHz e 4kHz. Isto pode ser comprovado excitando os tampos individualmente com todas
as frequências, com uma onda sinusoidal. Com esta experiência é possível observar também que
nas frequências agudas existe uma redução de cerca de 9dB por oitava. Portanto, a onda sonora
de um violino começa por ser uma onda dente-de-serra rica em harmónicos, depois é moldada
pela ressonância do cavalete e depois este passa essa energia para o corpo do instrumento, que
a vai moldar ainda mais com a sua curva de ressonância (ver Figura 3). O resultado final é o
que se deve recriar na sintetização do som do instrumento (Henrique, 2002; Reid, 2003b).

Figura 3: Representação da curva de resposta final do violino. Fonte: (Reid, 2003b).

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Em suma, a sintetização do violino resume-se a três componentes (Reid, 2003b):

• Visto que ambos instrumentos de cordas dedilhada e friccionada são excitados por ondas
dente-de-serra, é necessário diferenciá-los recriando a ação da arcada.

• O espetro de resposta final é importante, uma vez que o som do violino é determinado
pelas zonas de formantes dominantes.

• Por fim, é necessário ter em conta os efeitos que um instrumentista adiciona na sua exe-
cução, tal como o vibrato e o portamento, de modo à recriação ser mais realista.

2 Procedimento

Para a recriação do som de um violino necessitei de utilizar a DAW (digital audio works-
tation) Pro Tools, uma vez que os sintetizadores disponíveis não possuem parâmetros suficientes
para a recriação do som. Após a criação de uma pista de instrumento virtual estéreo, inseri dois
plug-ins necessários:

• Equalizador - EQ III 7-Band (plug-in da Avid)

• Sintetizador - CS-80 V3 (software da Arturia)

Apesar do primeiro plug-in a aparecer na zona dos inserts do instrumentos ser o CS-80
V3, comecei a tratar primeiro do EQ III 7-Band, visto que o equalizador será utilizado apenas
para a criação das zonas de formantes do violino e para aplicar um filtro passa-alto e passa-
baixo. De modo a evidenciar as zonas de frequência destacadas pelas formantes do violino,
utilizei 3 bandas diferentes. A primeira enfatiza a frequência de 300Hz cerca de 4dB, com um
nível de ressonância baixo; a segunda realça a frequência de 700Hz cerca de 5dB, também com
um nível de ressonância baixo; a terceira banda evidencia a zona de frequência perto da de 3kHz
cerca de 7dB com um nível de ressonância médio. O filtro passa-alto começa a atuar a partir

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dos 150Hz e o filtro passa-baixo atua a partir dos 16kHz, ambos com uma redução de 12dB por
oitava (ver Figura 4).

Figura 4: Parametrização do EQ III 7-Band.

Depois da equalização estar feita, passei para a configuração do sintetizador. No in-


terface do CS-80 V3 utilizei apenas 1 oscilador para criar uma onda dente-de-serra. Na zona
dos filtros (VCF (voltage controlled filter)) ativei ambos os filtros de passa-alto e passa-baixo
nas mesmas frequências, para enfatizar o efeito criado com equalizador, e coloquei o slider do
tempo do ataque a 0; o slider do tempo do decaimento a meio; e o slider do tempo do release
longo (ver Figura 5 abaixo) (Google-sites) . Na zona da amplificação (VCA (voltage controlled
amplifier)) existem os mesmo parâmetros (ADSR) mas com efeitos diferentes, portanto, são
definidos de maneira diferente. O som dos instrumentos de corda são bastante reconhecidos
pelo seu ataque lento, devido ao atrito do arco na corda, portanto coloquei o slider do tempo
de ataque a 248ms. O nível sonoro foi colocado um pouco mais baixo (0,6480 unidades), uma
vez que um violinista tem de exercer mais força no ataque, para ultrapassar o atrito, do que
para manter a nota. O tempo de decaimento foi colocado a um nível que soasse como uma boa
transição entre o som do ataque e o do sustain, nomeadamente a 752ms (ver Figura 6 abaixo).

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Figura 5: Parametrização do VCF.

Figura 6: Parametrização do VCA.

Com esta parametrização já é possível ouvir o som de um instrumento agudo de corda


friccionada, mas ainda soa muito sintetizado. Um violinista, ao tocar, incorpora sempre um
pouco de vibrato nas notas e, portanto, para criar uma sensação de vibrato utilizei o Sub Os-
cillator, sendo que coloquei a velocidade a 5,26Hz, para imitar a velocidade do vibrato de um
violinista, e o VCO a 0,0020 unidades, para imitar a diferença de altura do vibrato (ver Figura 7
abaixo). Depois de ter o vibrato construído fui ao Touch Response e defini a velocidade Sub Osc
After para 0,8600 unidades e o VCO para 0,1520, de modo ao vibrato que eu tinha determinado
com o Sub Oscillator começar apenas passado um pouco de tempo (ver Figura 8 abaixo).

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Figura 7: Parametrização do Sub Oscillator.

Figura 8: Parametrização do Touch Response.

Por último, inseri um pouco de portamento. Num instrumento de cordas sem trastos nem
mesmo o melhor instrumentista consegue tocar todas as notas no sítio exato e, portanto, fazem
pequenos ajustes à medida que tocam. Para recriar isso no CS-80 V3 utilizei a funcionalidade
de portamento. Escolhi a opção de Portamento On e defini o seu tempo para 19,60ms (ver
Figura 9). Com isto, o som sintetizado final já se encontra mais parecido com o som real (Reid,
2003a).

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Figura 9: Parametrização do Portamento.

3 Conclusão

Após um procura de bibliografia sobre o tema, foi, minimamente, fácil a realização prá-
tica do exercício. Apesar de não existir nenhum sintetizador que possuísse todos os parâmetros
necessários para a recriação do som, esta foi fazível com o auxílio de outro plug-in. Com uma
parametrização básica foi possível a criação de um som elementar, razoavelmente parecido ao
som real de um violino.

Referências

Google-sites. Bowed strings - violins. Synthesizer Recipes.


https://sites.google.com/site/synthesizerrecipes/bowed-strings/violin Consultado em:
janeiro de 2019.

Henrique, L. (2002). Acústica Musical. Fundação Calouste Glubenkian, Lisboa.

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Reid, G. (abril, 2003b). Synthesizing bowed strings: The violin family. Sound on
Sound. www.soundonsound.com/techniques/synthesizing-bowed-strings-violin-family Con-
sultado em: novembro de 2018.

Reid, G. (maio, 2003a). Pratical bowed-string synthesis. Sound on Sound.


www.soundonsound.com/techniques/pratical-bowed-string-synthesis Consultado em: no-
vembro de 2018.

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