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SRE errr ee need ae lees 4 PATRIMONIOS NATURAL E CULTURAL: ENDEREGOS DISTINTOS NOS ESPACOS URBANOS, RURAIS ESELVAGENS José Augusto Drummond O tema deste texto € 0 das distingdes € aproximagdes entre.o al € © patrimGnio cultural. Ele é abordado num grau erSria, antropologia, biologia € ecolo; . embora nido sejam citadas passagens proposto é complexo e pode ser abordado de varios angulos. escolhido é 0 das marcas que as culturas humanas deixam nas naturais, B preciso ficar claro, desde ja, que trabalho com uma distingZio um tanto “dura” entre natureza e cultura, mesmo sabendo que a la se apropria da primeira e a altera (nfo existem grandes controvérsins iméoio, natureza cul sobfd isso) © mesmo supondo que a primeira condiciona e altera a segunda {(hiifqontrovérsias Asperas sobre isso).! Para refletir sobre a di copgensuais sobre o significado"desses cinco conceitas, farei um esforgo ar os seus conteiidos es} as afinidades qu qurexa™ (Epmunidades, populagdes. espécies, individuos, organismos, éraios, thfidos vegetais € animais etc.) que existem independentemente da ihforvengio, vontade ou cognigo humanas. Sustento, portanto, que existe ja natureza anterior & cultura human: talvez mesmo venha a ser “ frbientais previstas ocorrerem € colocarem wm fim 8 tr jidade como espécie....). Além de sustentarque existe “obj fiecesencons ta I reconhecer ¢ trabal ica ¢ empiricamente com essa distinggo, essa exterioridade da na relagdo A cultura. Esse procedimento serve para dar a medida corr japacidade limitada que a cultura tem de alterar a natureza. enire natureza ¢cullura, scm no cntanto consegultem. seus contra-efcitos sobre as socicdades humanas, 2, Paravefletirsobre anatureza como um campo de [alos processox exicrnos } cultura ‘humana, nada melhor do que Paul Ehrlich (1986); E.0, Wilson (1988) 86); James E, Lovelock (1979). Maye (2005); Richard Dawkins 104 Papinus Edliora i 1 A distingSo se sustenta ec Jevarmos em conta que a recém-surgida até de modificar a natured: biol6gicas, quanto pela const 10 de darmos nomes aos componentes 1 de descobrirmos.a sua re cultura € natureza € de influéncia merece a atengio dos estudiosos. jade. € um vetor de as, vetor este que Noentanto, a natureza, ubiética ¢ bidtica. tem a sua prépria = aistéria n espécies que perduram, comportai climaticas que persistem) e com mudangas is ou de ruptura - choques do planet a extingyo de algumas as etc). O proprio su primeiras formas de vida s6 ocorreu ti fisica do planeta ¢ dos seus componentes abi nunca parou de mudar. Ou seja. a prépria vida faz parte dessa wurdades. Essa hist6rian ieos, e desde entio a vida jiéna de forgas que jos no reldgio do tempo geoldgico). Essas forgas cor . quando esta finaimente 10s de “natureza intocada”, eza nas suas conunuidades © Faz com que 9s humanos lades ¢ transformagSes. Ou seya, a apenas porque 0 Homo sapiens a construir € (ransmitir as suas narrativas lerarmos que a natureza esti hoje em icada, os ponteiros do reldgio da istéria nat wide parte simbolizada ¢ jam a rodar, Priming nalurvsa @ cutee 105 al ta quanto inexoravelmente. Nao ha nada que a cultura humana possa para parar ou acelerar esses ponteiros —_mesmo a sempre citada guerra ppnuclear poria fim principalmente & vida humana e a apel ns de suportes naturais. E certo dizer que a cultura humana se transFormou vetor de mudangas da natyreza, mas & errado afirmar que ela suprime stitui as dindmicaS da histéyia natural Em poutas palavrass a antiga histéria natural.convive com a recente hhis{dvria cultural, con wa £ 0 conjunto de sfmbolos comunicveis, mas nao necessariamente sntes entre Si, construfdos pelos seres humanos — ou por diferentes s de seres humanos —“quando se comportam para além de seus icionamentos ou de suas detefminagdes puramente naturais (animais?). Itura se expressa também nos objetos materiais construtdos ymente pelés humanos ~ ferramentas, artesanatos ete. A cultura fem grande parte, como efeito acumulado de um esforgo do {into da espécie para éntender € controlar a natureza, se proteger e tirar ito dela, Tudo isso implica mudangas mais ou menos vistveis, mais thenos indeléveis na natureza, mas a natureza também cria (dicionamentas e Caiqinhos préferenciais para a cultura, Nesse sentido, nfo existe quaiquer.cultura humana inteiramente bhumida” na natureda, nein cultura que no modifique a natureza. A lira muda, por definigho, a hatureza -. suprimindo alguns dos seus irae fazendo proliferar dutros, alterando. sistemas © processos lexos de interagao, Ela se soma aos numerosos processos naturais de iAnca que fazem parte intiinsecé da prépria natureza. Parsee cc humana as us reg eo» narra ro os eguintes (tulos: Marvin Harris (1977), Marshall Sailing (1972); Emilio Morin (1994y; Paul Ehrlich (2000); David Barash (1986); Jared Diamond (1992); Edward spine cao Em poucas palavras: a natureza se deixa modificar pela ) € incapaz. de recons acul a natureza 4 sun vontade ou & su imager Cidade/urbanot Eo lugar onde tipicamente a cultura predomina sobre a natureza, onde a mudanga € 0 grau de controle dos humanos sobre a natureza 30 5 evidentes, densos, eficazes e incontroversos. E a morada da cultura, 6 lugar por exceléncia da acumnulagto do patrimOnio eultural/istérico, em urbanismo, monumentos, templos, informagao ete. Eo lugar onde os humanos, para permanecerem onde esto, avangam sobre reas inundéveis (aterrando-as) € sobre topografias desfavordveis srando-as e/ou nivelando-as), desviam ¢ caplam aguas (sistemas de abastecimento e esgoto, canalizacao de rios), excluem/substituem a flora € fauna nativas, usam energia e tecnologia intensivamente, instalam fabricas transformadoras de recursos naturais e escritérios. E também o lugar de ‘outras manifestagdes culturais menos festejadas mas no menos auténticas, como poluigdo, lixo ¢ barulho. De tio transformado e controlado pela cultura humana, hé quem chame ‘ambiente cidade/urbano de “segunda natureza”, ou “natureza construfda”, © moderno homem ucbano viveria nesse espago como um prisioneiro da tecnologia Sobrevivern nela, é certo, fragmentos maiores ou menores, mais menos modificados, da natureza “natural” ~ drvores e arbustos (geralmente ci icas ov utilitérias), animais domésticos e selvagens (desde que inofensivos ou impossiveis de exterminar), corpos de Agua, morros, praias, Ainda, assim, as cidades em geral no estio imunes aos efeitos de ‘muitas variveis naturais que escapam ao controle da cultura humana—chuvas, , ventos, enchentes, tsunamis, vulcanismos, terremotos etc “_ Eisalgumas refertncias para se estudar o ambiente urbano: Lewis Mumford (1934; 1938); William Cronon (1991); Eduardo Bueno (2004). 5, Esse tipo de posieionamento se encontra em autores como Robert Kurz (1995) € Jacques Ellul (1954). Patiménio, natureza e cultura 107

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