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Valério Mazzuoli
Direito Internacional
Aula 01
ROTEIRO DE AULA
1. Introdução
O Direito Internacional Público é aquele que rege as condutas internacionais entre Estados; também entre os
indivíduos que podem deflagrar ações perante Tribunais Internacionais para vindicarem seus direitos.
Ao lado dos Estados e Organizações não governamentais (como ONU, OEA, FMI, OIT), as pessoas físicas também
são consideradas como sujeitos (ativo ou passivo) do Direito Internacional Público.
Para esse critério o Direito Internacional é aquele que intervém em determinados sujeitos, Estados e
Organizações Internacionais em princípio. Mas, o DI também pode intervir entre os indivíduos (visão mais
moderna).
Esse conceito sozinho não consegue evidentemente explicar o Direito Internacional Público, pois lhe falta
definir quais são as matérias aplicáveis ou quais são as fontes do Direito Internacional.
Evidente que esse critério sozinho também não levaria a completude do conceito de Direito Internacional.
Por esse critério, o Direito Internacional é aquele que visa (busca) os objetivos comuns da humanidade, tais
como a paz, segurança das relações internacionais, etc. Por esse motivo que houve a criação da ONU.
Em muitas obras, os autores falam desse critério como sendo o mais citado, porém ele sozinho também é
incapaz de dar completude ao conceito.
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Por esse critério o Direito Internacional é aquele que tem fontes próprias, principalmente Tratados,
Costumes e Princípios Gerais de Direito reconhecido pelas Nações.
Obs. Cada um desses critérios isoladamente não é capaz de conceituar completamente o Direito Internacional,
mas se juntar esses e (três) critérios temos o conceito de Direito Internacional Público, sendo:
“Direito Internacional Público é aquele que regula a conduta dos seus sujeitos (Estados, Organizações
Internacionais e Indivíduos), que visam as metas comuns da humanidade (paz, segurança, estabilidade
das relações internacionais) por meio de fontes normativas próprias (Tratados, Costume, Princípios
gerais de Direito). ”
Podemos afirmar sem dúvidas que “o Direito Internacional Público hoje é o direito da sociedade
internacional”.
Esse ponto cuida da diferença entre sociedade internacional e comunidade internacional. Aonde a sociedade
internacional é aquela que os Estados, Organizações Internacionais e também os Indivíduos (em menor grau) se
unem por interesses.
Obs.: Vários Tratados Internacionais se utilizam da expressão “comunidade internacional”, como exemplo a
Convenção de Viena sobre Direito dos Tratados de 1969 em seu art. 53. Hoje como os sujeitos visam interesse
não existe uma comunidade internacional comunitária.
Dentro dessa sociedade internacional participam três principais sujeitos (Estados, Organizações Internacionais e
Indivíduos). Ocorre que além desses sujeitos há atores internacionais. Os sujeitos são aqueles que participam do
Direito Internacional propriamente, enquanto os atores (gama muito maior de pessoas) que participam das
relações internacionais.
Portanto todo sujeito é considerado um ator, mas nem todo ator, das relações internacionais, é sujeito de
direito. (Exemplo, as Organizações não governamentais são atrizes da Sociedade Internacional, mas não são
sujeitos porque não podem celebrar tratados).
Como é a ordem jurídica dessa Sociedade Internacional? Existe uma ordem, porém ela não é centralizada. Essa
ordem é descentralizada.
O artigo 103 da Carta das Nações Unidas dispõe que a ONU tem uma superioridade relativa às demais
Organizações Internacionais, mas ela teve que ser ratificada pelos Estados como qualquer outra norma.
Artigo 103. No caso de conflito entre as obrigações dos Membros das Nações Unidas, em virtude da
presente Carta e as obrigações resultantes de qualquer outro acordo internacional, prevalecerão as
obrigações assumidas em virtude da presente Carta.
Não há como igualar a ordem jurídica internacional com ordem jurídica interna, seja no aspecto material ou
formal.
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Territórios (aspecto formal) Existem territórios certos e Não há uma divisão de
determinados território
Exemplificando: antigamente a legislação brasileira previa como mar territorial 200 milhas marítimas, mas o
Direito Internacional prevê como mar territorial apenas 12 milhas. Imagine que uma embarcação pesqueira é
apreendida pela Marinha a 199 milhas da costa brasileira. Essa embarcação está de acordo com a norma
internacional, porém em desacordo com norma interna, com isso qual lei o Juiz brasileiro deverá aplicar?
Obviamente será aplicado as normas do Direito Internacional, pois se o Estado ratificou o Tratado é ele que
deverá ser aplicado.
Ocorre que doutrinariamente isso não é muito claro; surgiram duas doutrinas que tentaram resolver o problema
do Direito Internacional com o Direito Interno:
a) Doutrina dualista
Para o dualismo o Direito Internacional e o Direito Interno são dois institutos diversos e
independentes, portanto se houve a ratificação de um Tratado Internacional ele vale para fora, ou
seja, dentro do território aplica-se as suas normas internas.
Para aplicação do Tratado ratificado aplicava-se a teoria da transformação, aonde era previsto a
transformação de um Tratado Internacional em uma Lei, Decreto, etc.
Para o monismo ocorre a unicidade das ordens jurídicas. Não tem a necessidade de transformação.
Para essa doutrina bastava a ratificação de um Tratado para que ele seja aceito.
o Monismo nacionalista
O monismo nacionalista é aquele em que o direito nacional irá dizer qual prevalece em caso de
conflito, o direito interno ou o direito internacional.
Existindo um conflito entre norma internacional e norma interna, prevalece sempre a norma
internacional independente do momento de ratificação.
Primado do Direito Internacional Público, porém com dialogismo na aplicação da norma mais
favorável ao ser humano. (Princípio pro homine).
De onde provém a obrigatoriedade do Direito Internacional. São duas as doutrinas que buscam estudar o
fundamento do Direito Internacional.
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a) Voluntarismo
Essa doutrina decorre da vontade, isto é, para os adeptos do voluntarismo o Direito Internacional se funda
na vontade dos Estados a medida que aceitam as normas internacionais que acordam entre si.
A crítica que se faz a essa doutrina voluntarista é se o consenso poderá acabar e terminar com o próprio
Direito Internacional Público? O voluntarismo não explica o fundamento do Direito Internacional, pois os
Estados podem um dia não ter mais consenso sobre o Direito Internacional (poderá acabar).
b) Objetivismo
Essa doutrina visa trazer regras objetivas de condutas para os Estados, de modo a tirar a margem de
apreciação. O Direito Internacional Público não se baseia na vontade dos Estados, mas sim na realidade da
vida Internacional.
Do objetivismo nasce um princípio, referindo-se que as normas internacionais devem ser cumpridas de boa-
fé pelos Estados independentemente de uma vontade negativa (princípio do pacta sunt servanda – Tratado
deve ser observado).
Existe um fundamento superior à vontade dos Estados. Temos aqui o chamado Fundamento preceptivo, pois
nasce da razão humana (exemplo: pegar fila).
Muito difícil encontrar o pacta sunt servanda, expressamente, porém na CVDT/69, no art. 26 aparece o
nomen juris) desse instituto.
Artigo 26 (Pacta sunt servanda): Todo tratado em vigor obriga as partes e deve ser cumprido por
elas de boa fé.
Foi consagração do jus cogens na CVDT/69 (arts. 53 e 64) que impõem limites à vontade dos Estados.
Fontes materiais: são as fontes da vida, sociológicas. São conhecidas como fatos da vida que levam o legislador a
criar determinadas normas.
Fontes formais: são os núcleos jurídicos chamados a atuarem na norma jurídica, é a Constituição, Leis,
Regulamentos, etc.
1. A Côrte, cuja função é decidir de acôrdo com o direito internacional as controvérsias que lhe forem
submetidas, aplicará:
b) o costume internacional, como prova de uma prática geral aceita como sendo o direito;
d) sob ressalva da disposição do art. 59, as decisões judiciárias e a doutrina dos publicistas mais
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qualificados dasodiferentes
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Nações, comoMateriais Sempre
meio auxiliar para de Primeira Mão
a determinação das(PONTO
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2. A presente disposição não prejudicará a faculdade da Côrte de decidir uma questão ex aeque et bano,
se as partes com isto concordarem.
Mesmo sem o dispositivo dizer expressamente, ele é considerado como as principais fontes formais do Direito
Internacional público, sendo:
Tratados internacionais
Costume internacional
Princípios Gerais de Direito
Questões
Não teria sentido dizer que um texto escrito da década de 1920 e retomado em 1945, conteria fontes
herméticas (fechadas, que não podem ser alterada ou modificadas). Claro que o art. 38 não é taxativo,
ele exemplifica as fontes colocadas pelo Direito Internacional e deixa em aberto para que os Estados
acertem novas fontes que poderão surgir.
Quando o artigo 38 elenca as fontes ele acaba estabelecendo hierarquia entre elas?
O artigo 38 apenas elenca as fontes formais do DIP, mas deixa em aberto para as demais fontes que poderão
existir.
a) Tratados internacionais
Há três possibilidades: i) Tratados entre Estados; ii) Tratados entre Estados e Organizações; iii) Tratados
entre Organizações internacionais.
Obs. Hoje os Tratados são múltiplos, pois atualmente existe uma proliferação dos tratados multilaterais.
b) Costume internacional
Conceito
O art. 38 do ECIJ, diz que costume é a prova de uma prática geral aceita como sendo o direito.
Se desmembrarmos esse dispositivo (art. 38), veremos que existem duas partes, que demostra
dois elementos principais:
o Evite ointernacional
“Costume Sub-Rateio Adquira
como prova Materiais Sempre
de uma prática de Primeira Mão (PONTO DO
geral...”
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É o atuar, combinar, é a constância de atos, são acordos reais. A doutrina chama essa
prática generalizada de atos de elemento material do costume.
Obs.: sem o elemento material não há costume, mas apenas esse elemento (material) as
vezes também não há costume.
Esse costume tem que ser aceito como sendo o direito, aqui temos o elemento subjetivo
ou psicológico.
Por isso quando o costume tem esses dois elementos ele passa a ser considerado “costume
internacional”.
Prova do costume
O art. 38 diz: “o costume internacional, como prova de uma prática geral aceita como sendo o
direito”
Isso significa, que a prova do costume incumbe àquele que o alega em um tribunal internacional.
Quando um novo Estado nasce (Ex: Sudão do Sul), em princípio ele deve seguir as regras já postas.
Mas, temos exceções, como os Direitos Humanos.
Será que um novo Estado é obrigado a seguir um costume contrário à sua religião? Não existe
uma resposta nítida no Direito Internacional, mas doutrinariamente a teoria do seguimento de
olhos fechados do costume, que já é estabelecido na sociedade internacional começa a ter
alguma flexibilização e limitação em razão de atitudes do Estado que demonstrem formalmente
que determinado costume viola as condições de sua existência.
São os princípios que conhecemos no plano do direito interno, como boa-fé, pacta sunt
servanda, direito a coisa julgada.
O art. 38 diz “os princípios gerais de direito reconhecidos pelas Nações civilizadas”
Evite o que
É aquele princípio Sub-Rateio Adquira
nasce no direito Materiaiscomo
internacional, Sempre
salvarde Primeira Mão (PONTO DO
a humanidade.
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7. Meios Auxiliares e novas Fontes do Direito Internacional Público
O artigo 38 do ECIJ diz na alínea “d” que existe outros meios que não são fontes, mas que ajudam a
determinação das regras do direito que também poderão ser utilizadas.
Obs. Não é fonte do Direito Internacional Público a jurisprudência e a doutrina, mas no direito internacional
privado a doutrina é quase fonte.
a) Jurisprudência
Essa Jurisprudência é a internacional e não a interna. Pode ser inclusive a própria jurisprudência da Corte
Internacional.
Obs. Também pode-se entender como meio auxiliares a Jurisprudência de tribunais arbitrais.
b) Doutrina
O artigo 38 diz “...a doutrina dos publicistas mais qualificados das diferentes Nações...”. Evidente que a
vontade do legislador era se referir ao jurista - pessoa física (aquele que escreve livros).
Cuidado: hoje em dia essa doutrina pode ser também conhecida como “coletiva”, exemplo: pareceres
internacionais, grupos de estudo internacionais pelos comitês do direito internacional.
Os Estados proclamam seus atos (unilaterais) que contém um comando dirigido a outros Estados. Esses atos
são emanados por uma autoridade pública que tem competência para tanto.
Exemplo: quando um Estado fecha sua fronteira isso prejudica (quem não podem passar) e beneficia (quem
pode passar) terceiros.
Caso julgado pela Corte Internacional de Justiça em 1974 chamado de “caso dos testes nucleares”, da
Austrália contra a França e a Nova Zelândia como interveniente. A França fez um acordo com a Austrália
para pesquisas oceanográficas, depois de um tempo a Austrália descobriu que a França fazia testes
nucleares.
Austrália e Nova Zelândia entraram com uma ação na Corte Internacional de Justiça pedindo para parar
imediatamente esses testes nucleares. Uma declaração do Ministro francês das relações exteriores dizendo
que iria parar com os testes foi utilizada como fonte na Corte Internacional.
São os atos decididos em assembleia das organizações. Esses atos são sempre autorizados pelo tratado
constitutivo
e) Jus Cogens
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Artigo 53 - Tratado em Conflito com uma Norma Imperativa de Direito
É nulo um tratado que, no momento de sua conclusão, conflite com uma norma imperativa de Direito
Internacional geral. Para os fins da presente Convenção, uma norma imperativa de Direito Internacional
geral é uma norma aceita e reconhecida pela comunidade internacional dos Estados como um todo,
como norma da qual nenhuma derrogação é permitida e que só pode ser modificada por norma ulterior
de Direito Internacional geral da mesma natureza.
Se sobrevier uma nova norma imperativa de Direito Internacional geral, qualquer tratado existente que
estiver em conflito com essa norma torna-se nulo e extingue-se.
Exemplo de Jus Cogens: Crimes contra a humanidade, autodeterminação dos povos, não agressão etc.
f) Soft Law
Também conhecido como Direito Maleável, Direito flexível, Direito Plástico, Direito Moldável. A Soft Law
representa hoje um tipo de direito flexível que pode não ter sanções rígidas em caso de descumprimento.
Isso nasceu no plano do direito internacional econômico e depois foi tomado pelo direito internacional do
meio ambiente.
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