Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
COMUNICAÇÃO E TECNOLOGIA
NO ENSINO DE LÍNGUAS
CONTEXTUALIZANDO
2
Talvez você já tenha estudado o hipertexto, até mesmo antes das novas
tecnologias digitais, e isso é perfeitamente possível, já que esse termo é utlizado
pelo menos desde 1991, quando Theodore Nelson o criou. Entretanto, foi com a
chegada da internet que esse conceito passou a ganhar força, forma e uma série
de pesquisas sobre a temática.
Afinal, o que é um hipertexto? “Por hipertexto, entendo um forma híbrida,
dinâmica e flexível de linguagem que dialoga com outras interfaces semióticas,
adiciona e acondiciona à sua superfície formas outras de textualidade” (Xavier,
2010).
O que isso significa para nossas aulas de línguas? Bem, representa uma
mudança no que muitas vezes entendemos por texto, aquele com uma estrutura
linear e construído por palavras escritas. Quando falamos de hipertexto, esse
conceito cresce; trazemos para as palavras escritas novas estruturas textuais
compostas por vídeos, sons, imagens e animações, mas, além disso, falamos em
links, aberturas para novos caminhos que podemos percorrrer nesse texto.
Está muito abstrato o raciocínio? Pense em um blog ou em qualquer site,
até em redes sociais. Você começa a ler um texto em qualquer formato e logo se
depara com um link; nesse ponto, decide se irá ou não trocar a página atual pela
nova página que se abrirá com este link. Se for como eu, abrirá a nova página
sem se desfazer da anterior, criando abas e mais abas para leitura futura; se for
mais organizado, lerá na medida do seu interesse. Há um jeito certo para navegar
pelo hipertexto? Penso que não, depende do leitor e até da forma como foi
contruído o hipertexto.
Por exemplo, se estamos navegando por uma rede social, não há um texto
principal; são dezenas de links para vídeos ou sites externos, além de imagens e
mensagens que não têm relação entre si, afinal, são vários os autores em uma
mesma timeline, não é mesmo? Nesse caso, não há uma ordem na leitura. Você
escolherá o que interessa e pronto. Contudo, imagine que está em um site de
receitas culinárias pesquisando como se faz empadão; no “modo de fazer”, há um
trecho dizendo “abra a massa podre”, e o termo “massa podre” está linkado (que
é o nome dado a termos que possibiltam a abertura de outra página por meio de
um link). Nesse caso, você tem duas opções: se não sabe ou não lembra de como
fazer a tal da massa, pode clicar no termo e abrir uma página específica com as
explicações; se já tem experiência com essa massa, simplesmente ignora esse
passo e segue adiante. Perceba que há certa ordem determinada pelo autor do
3
texto, mas dependerá do leitor seguir ou não. Nesse mesmo texto poderiam exisitir
vídeos ou animações com explicações sobre as formas de fazer o empadão, o
que faz com que o texto seja considerado um hipertexto, ou seja, uma forma não
linear de texto.
Os professores de espanhol podem estar se manifestando, afinal, Cortazar
já fez um texto não linear em 1963, muito antes da internet: Rayuela. Sim, essa
obra de Júlio Cortazar pode ser lida de diferentes formas, inclusive sugeridas pelo
autor; no entanto, com as tecnologias digitais, o conceito é ainda mais amplo que
a belíssima proposta do autor.
O hipertexto apoiado pela hipermídia possibilita a inclusão de sons,
imagens, vídeos e, principalmente, com a web 2.0, passou a abrir espaço para a
contribuição do leitor, o que no texto impresso não é possível. É exatamente com
essa possibilidade que trabalharemos.
Quer saber mais sobre o assunto? Então me acompanhe!
Aproximamos dois termos que podem não ter uma relação tão óbvia se
observados pela primeira vez, mas que, veremos, têm uma profunda e necessária
relação. Já vimos o que entenderemos como hipertexto nesta aula – trata-se de
um texto não linear composto de diferentes recursos de multimídia; por isso,
trataremos dos textos específicos para o meio digital. Como exemplo, temos
Gomes (2011) da área da linguística, que defende a ideia de um hipertexto que
exitiria apenas no meio virtual. Acompanhe o que ele apresenta sobre o tema:
5
contribuição é o que faz do hipertexto algo interativo, podendo ser mais ou menos
interativo de acordo com a classificação que apresentamos anteriormente, isto é,
caso seja um hipertexto potencial, apenas estarão disponíveis caminhos pelos
quais o leitor vai seguir já definidos pelos autor, ao passo que o hipertexto
colaborativo aumenta a interatividade quando recebe de vários autores as
contribuições, embora não haja a construção coletiva do texto, que será o próximo
nível do hipertexto cooperativo.
Diante disso, o hipertexto cabe nas aulas de línguas tanto como um recurso
para a construção de textos cooperativos como um dos conteúdos a serem
tratados nas reflexões com os estudantes. E você? Como abordaria essa
temática?
Como trabalhar com os hipertextos na prática? Claro que não há uma única
forma de fazer isso, mas podemos discutir e verificar algumas pistas para o
encaminhamento dessa atividade.
Vamos falar sobre algumas características do hipertexto que você poderá
trabalhar com seus alunos na análise dessa linguagem e, especialmente, no
planejamento dessa produção.
6
Suporte multimídia – Sabe quando escrevemos um texto para explicar
alguma situação, mas somente por escrito parece não ser o suficiente?
Parece que teríamos de ligar para a pessoa ou explicar pessoalmente. Pois
é, o grande suporte do hipertexto é a hipermídia, que permite a inclusão de
qualquer recurso, ou seja, se faltaram argumentos por escrito, criamos um
vídeo, gravamos um áudio e, com isso, tornamos o conteúdo mais
compreensível e interessante também.
Autoria coletiva – O hipertexto não só apresenta links ou os chamados
“nós” para a livre navegação e escolha do leitor, mas também, na web 2.0,
permite a coautoria, uma vez que cria um espaço para criação coletiva de
textos, como nas wikis, desenvolvidas exatamente para esse fim. Dessa
forma, o texto e a autoria são ressignificados. Xavier (2010, p. 218) ainda
alerta para a morte da autoria, já que o conceito de autor estaria
“obscurecido”.
Você já sabe o que são os links, mas o que são os chamados hiperlinks?
Trata-se dos nós que, nos hipertextos, levam o leitor a outros caminhos, sejam
eles outros textos ou mesmo imagens, sites, vídeos ou outros recursos. Assim,
hiperlinks podem ser considerados sinônimos de links. O problema é que o uso
desses hiperlinks pode trazer alguns desafios. Vamos analisar com calma a
principal acusação do senso comum aos hipertextos: “O leitor se perderá na
leitura”. Será?
Analise as figuras a seguir.
7
Figura 1 – Estilos de texto
8
Para finalizar este tema, reproduzo aqui um trecho do texto “Histórias
interactivas: para que la queremos?”, da obra Teoría del hipertexto: la literatura
en la era electrónica, (Aarseth et al., 2006, p. 238) – recomendo a leitura na
íntegra:
Agora chegamos, por fim, a uma questão importante, a que tem nos
perseguido da mesma maneira que me aconteceu quando um membro
de um público para o qual eu estava fazendo uma palestra sobre o
hipertexto me seguiu timidamente até a rua: “Me deu vergonha fazer uma
pergunta tão tonta ali dentro, mas é mais forte que eu. Por que iríamos
querer que as coisas fossem interativas?”. É claro que essa pergunta
formulamos quase todos nós, às vezes com desprezo quando
descobrirmos uma última inovação, alguma invenção desenhada para
permitirmos fazer coisas que sequer nos ocorreu fazer. Provavelmente
ninguém concebia a necessidade de um aparelho telefônico quando as
pessoas poderiam comunicar-se perfeitamente por um sistema de
correios eficiente. [...]
Diante dessas questões, fica claro que não estamos apenas falando de
uma invenção da modernidade, mas de uma realidade que, anos após esse texto,
já se concretiza e, mesmo diante de desafios, representa um potencial que
promete modificar no mínimo os conceitos de materiais didáticos, de aulas e
especialmente do nosso conhecimento sobre os textos.
9
a confirmação das informações desse espaço ou, ainda melhor, poderiam fazer
um trabalho de complementação da informação citando as fontes confiáveis para
dar crédito àquela página trabalhada?
Vamos imaginar como isso pode contribuir nas aulas de línguas. É uma
língua estrangeira? A Wikipédia está disponível em diversos idiomas, portanto, as
mesmas atividades podem e devem acontecer em idioma estrangeiro. Você vai
notar que é possível fazer centenas de links em um só texto referenciando outras
páginas da própria Wikipédia ou de outras páginas.
E a autoria da página, como fica?
Como já vimos, a autoria da Wikipédia é coletiva e, nesta era digital, fica
difícil continuar pensando em autorias únicas ou ideias com propriedades de um
único indivíduo. É justamente a coautoria da Wikipédia que chama mais a atenção
para o seu uso.
Alguns AVAs, também chamamos de LMS (Learning Management
System)1, possuem recursos intitulados de “Wiki” em seus ambientes. São
ferramentas como os fóruns, chats ou bibliotecas, mas com o objetivo de
comportar propostas de textos construídos coletivamente entre alunos. Já
vivenciei pessoalmente alguns usos desse recurso e os resultados foram
animadores.
Um deles foi o trabalho de criação de um glossário da disciplina. Como se
tratava de tecnologia na educação, vários termos foram sendo utilizados e
propusemos a construção coletiva desse glossário. O interessante era verificar
que alguns termos já criados foram recebendo melhorias em sua descrição,
chegando a um conceito muito bem construído. Arrisco até dizer que não seria tão
perfeito caso fosse desenvolvido por uma só pessoa.
Outro exemplo do uso de Wiki no processo educativo se deu em uma
disciplina de metodologia científica na qual propusemos a criação de um texto
coletivo em formato de resenha sobre um dos textos trabalhados. Essa proposta
foi mais desafiadora, afinal, demandava a interpretação do texto, mas foi nessa
dificuldade que veio a melhor parte. Como as dúvidas surgiam na elaboração do
texto, isso gerou bastante debate, o que enriqueceu mais ainda a resenha
desenvolvida.
11
É importante ressaltar que os termos que emprestamos, atualmente quase
sempre do inglês, podem não ter o mesmo sentido que seu uso na língua de
origem. Caso você seja professor de língua estrangeira, será interessante um
trabalho específico sobre essas mudanças de sentido. Você pode ainda estar
sentindo certa angústia quanto ao uso da linguagem abreviada nos textos dos
seus alunos, mas essa é a parte mais desafiadora e ao mesmo tempo instigante
do tema. Ao constatarem juntos que há um léxico específico desse gênero textual,
os alunos passarão a diferenciar a escrita de um trabalho escolar/acadêmico da
escrita dos meios digitais. Também verificarão a diferença que há entre distintos
meios e a linguagem da internet, pois já existem estudos demonstrando a
vulgarização ou banalização de vocábulos com a difusão da informática. Nesse
trabalho, seja com o vocabulário, seja com as multimídias, é sempre interessante
promover a ampla exploração desses recursos e deixar o espaço educativo aberto
para reflexões e questionamentos.
Em qualquer etapa da Educação Básica, ou mesmo no Ensino Superior,
nossos alunos são capazes de perceber as mudanças e refletir sobre elas; no
entanto, é fundamental que as aulas sejam sempre bem planejadas e com
objetivos definidos, o que não quer dizer que ao longo do percurso não possam
se modificar. Elas devem ter um “norte”, um destino a chegar por meio da
construção do conhecimento. A palavra-chave é ousadia! Portanto, ouse fazer
uma aula diferente, e depois me conte como foi o resultado. Quero saber!
FINALIZANDO
12
linguagem com as tecnologias digitais; procuramos esclarecer alguns mitos que
rondam nossas aulas de línguas e estudamos algumas estratégias para que as
mudanças favoreçam as nossas aulas, tornando-as mais interessantes para os
estudantes em cada momento histórico. Não podemos parar no tempo, não é
mesmo?
Espero que tenha sido proveitosa essa trajetória e que você esteja
motivado(a) a inovar mais um pouco nas suas aulas, fazendo das tecnologias
digitais suas novas aliadas. Até breve!
LEITURA COMPLEMENTAR
Leia esta entrevista com LiAnna Davis, diretora de programas da Wiki Education
Foundation, sobre o uso dessa ferramenta no processo de ensino e
aprendizagem.
13
REFERÊNCIAS
_____. (Org.) Educação online. 4. ed. São Paulo: Edições Loyola, 2012.
14