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DUAS MÃOS

Com estas mãos feitas para louvar


E que depois se esqueceram do fim
Perco-me a imaginar
Coisas
Castelos
Sonhos e imagens fugazes
Se diluem com o sopro da brisa
Que de uma janela
De repente aberta
Soprou.

Belezas incomensuráveis nascem


E os homens como vermes
Não sabem de que maneira apreciá-las.
O mundo em guerra constante
Desperdiçando vidas a todo instante
Não sabe o que fazer com todos esses dons
Que a natureza
Por vontade de um ente
Imensamente grande
Criou.
Ao seu dispor
Colocou.

Seria válido imaginá-las


Criadas para o nada?
Seria sensato imaginá-las
Criadas para o nada?
E mais nada?
Ou será para serem usadas?

As mãos do homem que constrói


São por Deus abençoadas.
Rios de realizações que podem daí advirem
No entanto, num piscar
Estão acabadas

Na imensidão de uma planície


Dos homens totalmente isolada
Cresce uma palmeira
Que da terra
Suga a seiva da vida.
De um instante pra outro
Alguém que da vida tem rancor
Olha para aquela palmeira
Decide:
Morra.

É tão fácil destruir e exterminar


Entretanto, como e difícil repor.
É tão fácil acabar com uma vida
Entretanto, gerá-la requereu um Deus
A bondade suprema de imaginá-la.

Como é simples a vida depois de pronta.


E como é complexa para estar pronta.

Não importa a coisa feita


Importa em fazê-la
Criar e muito mais digno que o continuar.
Mãos que destroem
Mãos que constroem
Que abismo separa as duas.

(MASCARENHAS, Marcio. O outro coração, Ed. Number One, Belo Horizonte, 1994, poema nº 28)

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