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UMA VIVA ESPERANÇA


1 Pedro 1.3-12
INTRODUÇÃO
“Entender a obra como uma carta circular enviada aos cristãos que já estavam
suportando sofrimentos, e que esperavam ser provados ainda mais” (NVI)
I – REGENERADOS PARA UMA VIVA ESPERANÇA (vv. 3-5) – Pai
1. Regenerados mediante a ressurreição de Jesus Cristo dentre os mortos
Regeneração: expressa a ideia de um nascimento para uma nova realidade.
Porém, aqui é algo que Deus faz! – Ele nos fez nascer de novo. O pronome oblíquo está
no plural: “nos”. Aqui pode indicar tanto a regeneração do indivíduo quanto o
nascimento de um povo, o Novo Israel (Is 66.8; Ez 36). 2.9-10: Pedro fala da nova
realidade da comunidade cristã em linguagem comunitária.
A motivação divina: “segundo a sua muita misericórdia”. No AT a misericórdia
divina já era vista como a mola propulsora do agir divino, de seus grandes feitos
poderosos. Aqui ela aparece como a motivação do ato poderoso que possibilita a
regeneração para uma nova vida.
A ressurreição de Jesus dentre os mortos (1.3, 21; 3.21). No AT esta era uma
esperança escatológica. Dn 12.13 é um dos textos que fazem alusão a esta esperança:
“ao fim dos dias te levantarás para receber a tua herança”. Alguns, como os fariseus,
não criam na ressurreição (Mt 22.23; At 23.6). Era uma ressurreição para a vida eterna,
em uma nova criação. Com a ressurreição de Jesus, algo que ocorreria apenas no fim
da história já começou no meio da história – assim, Jesus é a primícias dessa grande
colheita (1 Co 15.20-23). O mesmo Espírito que ressuscitou a Jesus dentre os mortos
habita em nós (Rm 8.11).
Uma esperança viva: diante do que Deus fez em Jesus, a esperança do cristão é
viva, ou seja, não se acaba. Uma esperança sempre nova.
2. Uma herança reservada nos céus
Herança: a terra prometida por Deus a Israel é chamada de herança em
diversos momentos no AT. Aqui herança se apresenta quase como um termo técnico
para expressar uma promessa superior: uma herança nos céus. E aqui indica a
totalidade da salvação. A conclusão final da obra redentora e restauradora de Deus.
Pedro qualifica esta herança: incorruptível, sem mácula e imarcescível
(inalterável). “O propósito, sem dúvida, é ressaltar a singularidade e a
incomparabilidade da herança” (Mueller, p. 77). A única comparação possível é por
aquilo que ela não é! – E mais, ela está reservada. Aqui serve para ressaltar a dignidade
dos leitores.
3. Guardados pelo poder de Deus, mediante a fé
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Enquanto a herança está reservada nos céus, os crentes estão sendo


guardados/protegidos pelo poder de Deus. Um processo contínuo enquanto estamos
aqui. Muita coisa ainda pode acontecer até os crentes chegarem à sua herança.
Embora às vezes parece que não percebemos a proximidade de Deus, o cristão pode
contar com a sua presença a todo o momento. Porém, não é um poder autoritário.
Aqui esta proteção se dá mediante a “fé”. A fé em Deus que nos é possibilitada por
intermédio de Jesus Cristo (1.21).
Transição: “Nisso exultais...”. Para a igreja sofrida, Pedro mostra a posição do cristão:
regenerado para uma viva esperança, uma herança inigualável para a qual somos
protegidos pelo poder de Deus. Porém, como entender esta realidade do cristão em
meio às provações?

II – ESPERANÇA EM MEIO ÀS PROVAÇÕES (vv. 6-9) – Jesus Cristo


1. Contristados por várias provações (peirasmós)
A qual tipo de provação Pedro se refere? Há crentes que vivem na prova – tudo
é prova na sua vida. Pedro destaca algumas situações difíceis que provocamos a nós
mesmos devido a escolhas erradas: 4.16, quanto a estas devemos “suportar com
paciência”.
Porém, as provações que confirmam o valor da fé e das quais Pedro fará
referência em sua carta são de outra natureza: elas são fruto do testemunho cristão.
Ser guardado pelo poder de Deus não nos isenta do sofrimento que advém através do
nosso compromisso com a vontade de Deus.
Pedro exorta os crentes a tornarem-se santos em toda a sua maneira de ser
(1.15), a manterem um comportamento exemplar diante dos de fora (2.12). Esse
comportamento nada mais é do que resposta àquilo que Deus faz em favor dos
crentes, em Cristo Jesus. É consequência de sua nova posição, de seu novo
nascimento.
No entanto, a nossa herança celestial não nos tira das responsabilidades do
“ser cristão dentro das estruturas da sociedade”. Mas ao contrário, nos mostra uma
nova perspectiva para vivermos em meio a estas estruturas sociais (Pedro aborda três:
autoridades governamentais [2.13-17], escravos domésticos [2.18-25] e o matrimônio
[3.1-7]).
Este novo jeito de ser gente, de viver a vida, não é compreendido por muitos,
aos quais Pedro chama de ignorantes insensatos (2.15). Também porque o que motiva
a vida do cristão é diferente: o cristão foi resgatado de uma maneira vazia de viver
(1.18), foram regenerados pela palavra (1.23), são um novo povo (2.9-10), somos
chamados a viver segundo a vontade de Deus (4.2).
Isso causa estranhamento: “por isso, difamando-vos, estranham que não
concorrais com eles ao mesmo excesso de devassidão” (4.4).
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2. O valor (dokímion) da fé
Porém, o fogo da provação não consome a fé, antes, “confirma o seu valor”!
Pedro compara a situação dos crentes para quem escreve com o processo de
purificação do ouro. Porém, após a prova, o valor da fé é muito maior. A fé garante a
entrada a uma herança que ninguém pode furtar, e que não se consome.
Agora os cristão sofrem pelo fogo da prova, mas na revelação de Jesus Cristo, a
fé preciosa redundará em “louvor, glória e honra” (1.7).
3. Jesus Cristo – alegria em meio às tribulações
Aqui podemos citar Hb 12.2: “olhando firmemente para o autor e consumador
da fé”. “É a confiança deles em enxergar a glória revelada de Cristo que os capacita a
se alegrar em meio às tribulações”. Sem terem visto Cristo com seus próprios olhos, os
crentes o amam e sem o verem no momento, exultam com alegria indizível e cheia de
glória. É esse amor e essa fé que transformam tão radicalmente a natureza dos
problemas que enfrentam. Uma alegria impossível de ser expressa em palavras
(indizível) adentra o mundo dos crentes.
Enquanto que no v.6 os crentes se alegravam com as bênçãos da salvação, aqui
alegram-se pelo próprio Cristo. E em meio a esta alegria eles obtém o fim da fé: a
salvação da vida (alma).
Transição: Assim como os sofrimentos por ser cristão são parte da experiência
dos crentes, e olhar para Jesus traz uma alegria indizível, Pedro agora vai apresentar a
Jesus (a quem eles ama e no qual se alegram) como grande exemplo de sofrimento
suportado. Aprofundando um pouco mais a questão da relação entre o cristão e o
sofrimento.
III – OS SOFRIMENTOS E AS GLÓRIAS DE CRISTO (vv. 10-12) – Espírito Santo
1. Os profetas: os sofrimentos (páthema) e as glórias (dóxa) de Cristo
Os profetas inquiriram a respeito desta salvação desfrutada pelos leitores de
Pedro. E pelo Espírito de Cristo que neles estava deram “de antemão testemunho
sobre os sofrimentos referentes a Cristo e sobre as glórias que os seguiriam” (v. 11).
Embora alguns profetas não soubessem claramente as possibilidades de significado de
suas palavras diante da manifestação de Cristo, podemos citar Is 53, o Servo Sofredor –
que será uma figura através da qual será lida a obra de Cristo. O próprio Pedro faz
alusão a este texto em 2.25. A obra de salvação passou por um caminho de
sofrimento.
2. Os pregadores do evangelho: coisas que os anjos anelam perscrutar
A salvação anunciada pelo Espírito aos profetas do antigo testamento agora é
proclamada aos crentes. O que Deus fez em Cristo até os anjos anelam perscrutar
(investigar mais atentamente).
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A cruz de Cristo é ao mesmo tempo redentora e exemplo. No que se refere ao


aspecto redentor da cruz, esta é uma exclusividade do sofrimento de Cristo. Nada em
nosso sofrer como cristãos vale como mérito salvífico diante de Deus.
Porém, “Cristo sofreu em vosso lugar, deixando-vos exemplo para seguirdes os
seus passos” (2.21). Assim, em meio às provações os crentes são convidados a se
alegrarem na medida em que são “co-participantes dos sofrimentos de Cristo” (4.13).
No entanto, assim como sofremos com ele também participaremos com ele na
revelação de sua glória. Quem sofre como cristão deve glorificar a Deus com esse
nome, pois o sofrimento em um mundo avesso ao projeto de Deus não é nada de
extraordinário.
Transição: nesta semana li uma pergunta interessante: qual seria o objetivo da
mensagem? E como ensaio de uma resposta havia uma citação de Finley Peter Dunner:
“conforte o aflito e aflija o confortado”. À luz desta afirmação e dos pontos até aqui
apontados, gostaria de fazer algumas considerações.
IV – APLICAÇÃO
1. O papel da esperança na vida
Dois extremos: i) negação da vida terrena ou ii) valorização excessiva
Ponto de equilíbrio: viver o aqui e agora tendo em vista a nossa nova vida em
Cristo, encarando as consequências do viver da fé. – Compromisso com a vontade de
Deus na vida. Ex.: irmã que pediu demissão da empresa de remédios....
2. O sofrimento do cristão por causa do evangelho
Dois extremos: i) o sofrimento não faz parte da vida do cristão ou ii) o cristão
deve estar sofrendo a todo momento.
Ponto de equilíbrio:
✓ “Se, entretanto, quando praticais o bem, sois igualmente afligidos e o suportais
com paciência, isto é grato a Deus” (1 Pe 2.20).
✓ “... por terem sido considerados dignos de sofrer afrontas por esse nome” (At
5.40-42)
✓ “Pois vos foi concedida a graça de padecerdes por Cristo e não somente de
crerdes nele” (Fl 1.29)
✓ “Bem-aventurados os perseguidos por causa da justiça, porque deles é o reino
dos céus. Bem-aventurados sois quando, por minha causa, vos injuriarem, e vos
perseguirem, e, mentindo, disserem todo mal contra vós. Regozijai-vos e
exultai, porque é grande o vosso galardão nos céus; pois assim perseguiram aos
profetas que viveram antes de vós” (Mt 5.10-12)

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