Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
DOMINGOS SÁVIO
2 TER�SIO BOSCO
COLECÃO BIOGRAFIAS
�
�Pauio'·
SÃO PAULO
"Sun Domenico Savio“. edição original nos unimos da Editora L,D. C. —
“run-mmm (Itália).
Tradução do P, Futuro Sªnta Cum-inn, nos cuidados dl Edital-[:| Dun
Bosco, São Paulo.
5. Encontro e propósitos
A Primeira Comunhão era um acontecimento
tão grande que não se celebrava nas pequenas ca«
pelas esparsas pelas colinas: dirigiam-se todos à
grande igreja paroquial de S. André, em Castel-
nuovo.
12
/,Í,ja“—
.
1/3
».
X/Z—v
. .
» «
com vontade certa e decidida, escreveu: (pág. 14)
Pais orgulhosos de seus bastos bigodes e de
seus pimpolhos, desciam pelos atalhos que risca-
vam os campos para ganhar a estrada larga que
conduzia a paróquia.
Mostravam-se surpresos ao verem Carlos Sá-
vio com aquele menino pequeno e pálido.
A igreja estava toda resplandescente. Houve
confissões, a preparação, a Santa Missa com a Co.
munhão.
Ao lembrar esse dia Domingos dizia: "Oh! Foi
deveras para mim o dia mais belo, e um grande
dia!”.
Ao voltar a casa, com a letra grande e incerta
dum menino de sete anos, mas com vontade certa
e decidida, escreveu:
Lembranças de minha Primeira Comunhão:
1 — Confessar-me-ei com muita frequência e
farei a Comunhão todas as vezes que o
confessor me der licença.
2 — Quero santificar os dias festivos.
3 — Meus amigos serão Jesus e Maria.
15
Chegou-se por fim a uma decisão: iria de ma-
nhã e de tarde a Castelnuovo.
Sapatos pendurados às costas e pés no chão.
Domingos começou sua peregrinação à. escola mu-
nicipal. Cinco quilômetros de ida pela manhã. e cin«
eo de volta à tarde. Tinha dez anos!
Não eram estradas asfaltadas, mas caminhos
de roça. Algumas vezes chovia, soprava o vento, o
sol caia. a. pino. Estugando o passo, ia repetindo o
que ouvira em aula, porque com 10 quilômetros
diários e várias horas de aula sobrava pouco tem-
po para. estudar.
Todavia seu professor de Castelnuovo (P. Ale-
xandre Allora) pôde escrever: “Progrediu no es-
tudo de maneira. extraordinária, e mereceu inva-
riavelmente o primeiro lugar. Resultado tão feliz
não se deve apenas a uma inteligência não comum,
mas também ao grandíssimo amor ao estudo e à
virtude".
Os camponeses atarefados no cultivo das vi-
nhas ou dos trigais levantavam & cabeça.
— Quem é aquele menino tão pequeninho?
Aonde vai sozinho todos os dias?
— É o filho do Carlos, o ferrador. Vai ao co«
légío.
— Ao colégio?! — repetia espantado alg-um ve-
lho agricultor. — E não basta o que temos em Mu-
rialdo? Que é que ele quer ser?
— Dizem que vai ser padre.
Um dia um camponês que ia também a Castel.
nuovo, ao mercado, perguntou-lhe:
— Não tem medo de andar sozinho por estes
caminhos?
16
Ladrões e assaltantes não eram pura inven.
ção. Havia de verdade.
— Nunca estou só, respondeu Domingos.
Anjo da Guarda sempre me acompanha.
_
O
— Nadar!
— Mas eu tenho que voltar para casa.
— Nós também, mas vai ser rápido. Depois de
um bom banho o calor passa, abre-se o apetite e a
gente se sente bem. Vamos.
Domingos não estava convencido, mas depois
aderiu. No meio do campo corria um riacho, à
sombra das amoreiras. Deixaram a roupa sobre a
17
relva e atiraram-se à água. Domingos estava conten-
te, mas logo ficou triste. As conversas dos colegas,
as brincadeiras, enveredaram pela grosseria, deixa-
vam-no mal à vontade.
Minutos depois estava na estrada de Murial-
do, ao passo que seus companheiros continuavam
a brincar na água.
A noitinha contou tudo à mãe, e lhe pergun-
tou se havia agido bem ou mal. Dona Brígida disse
a Domingos que não fosse mais: havia perigo de se
machucar; muitas vezes com efeito naqueles córre-
gos aparentemente tão tranquilos houve quem en-
contrasse a morte, bastava um desmaio, um escor-
regão, um redemoinho. Mais que tudo, porém, lon-
ge dos pais e com aqueles companheiros havia pe-
rígo de ofender & Deus.
Domingos obedeceu. Os coleguinhas voltaram
à. carga:
— Vem conosco para uma nadadinha?
— Não, obrigado. Acho perigoso.
— Perigoso, nada! Nós lhe ensinamos a nadar,
venha.
— Não. Não vou porque há perigo de ofender
& Deus.
—— Quem disse isso? N ão vê
que todos vão?
— Isso não quer dizer nada. De todo o jeito,
primeiro vou pedir licença a mamãe, e se ela dei-
xar. ..
— Está louco? Falar com sua mãe? Se nos-
sos pais souberem a gente apanha.
— Se nossos pais não gostam quer dizer que
não é coisa boa e por isso não vou. Vocês me en-
ganaram uma vez, por que me querem enganar
18
outra vez? Acho que seria melhor vocês não irem
também.
Desse modo Domingos, bem diferente de tan-
tos meninos que diante de maus companheiros fa-
zem o papel de um ratinho nas unhas do gato,
soube responder à altura e fazer o que ele queria,
não o que os outros queriam.
para estudar?
— E. Parece-me que temos boa fazenda.
— E para que pode servir essa fazenda?
— Para fazer uma roupa e dá-la de presente
a Nosso Senhor.
—- Então eu sou a fazenda, o sr. é o alfaiate;
leve—me e faça de mim uma bela roupa para Nosso
Senhor.
— Receio que sua constituição franzina não
agiiente os estudos.
— Não receie isso; o Senhor que me deu até
agora saúde e graça, ajudar-me—á também no futuro.
25
— E que desejaria fazer depois do curso de
latim?
— Se Deus me conceder tamanha graça, de-
seja ardentemente abraçar o estado eclesiástico.
— Bem: agora vou saber se você tem capa-
cidade para o estudo. Torne este livrinho (era um
fascículo das Leituras Católicas), estude hoje es-
ta página, amanhã voltará para dá-la de cor.
Dizendo isto deixei-o em liberdade para que
fosse brincar com os outros meninos, e em segui
da pus-me a falar com o pai. Passaram não mais
de oito minutos e eis que Domingos volta sorri-
dente à minha presença dizendo:
— Se quiser, posso recitar agora a minha pá-
gina.
Tomei o livro, e com minha surpresa per-
cebi que não só havia literalmente estudado a pá-
gina cornbinada, mas que compreendia muito
bem o sentido do assunto nela tratado.
— Muito bem, disse—lhe, você antecipou o es-
tudo de sua lição e eu antecipa a resposta. Sim,
virá a Turim, e já o conto entre meus queridos
filhos; comece desde já a pedir a Deus que aju-
de a mim e a você a fazer sua santa vontade.
Não sabendo como ezprimir melhor sua ale-
gria e gratidão, tomou-me pela mão, apertou-a,
beijou-a diversas vezes e disse por fim:
— Espero proceder de tal forma que nunca
tenha a queixar-se de meu procedimento,
Recordando as palavras do P. Cugliero, aque-
la noite, Dom Bosco chegou à conclusão de que
não eram nada exageradas. Se São Luís tivesse
nascido nas colinas do Monferrato e tivesse sido
26
filho de camponeses, não haveria de ser diferen-
te daquele menino sorridente, que queria tomar-
se ”uma bela roupa para. ser presenteada. ao Se.
nhor".
10 . Cartaz comercial
de outubro de 1854.
29
Domingos fez um embrulho com livros e rou.
pa. A mãe preparou-lhe um pacotinho de coisas
gostosas para comer durante a viagem. Chegou
a hora da partida.
Beija demoradamente a mãe, beija os irmão-
zinhos, e depois, na companhia do pai tomª 0 ea-
minho dos campos que o levará. à estrada de Tu-
rim.
E a primeira vez que se aparte da mãe. A se-
paração e' dolorosa, mesmo imaginando Turim e
o Oratório como um Paraíso.
Mas quem mais sofre naquele momento e' mãe
Brígida. Vê partir o melhor filho. E tão fraco, tão
delicado. Como qualquer mãe, imagina a cidade
distante como uma grande máquina, barulhenta,
em que o filho tão pequenino, correrá perigo de se
perder.
De sua casa branca vê o filho, pequeno emi—
grante, desaparecer à distância.
Turim, a capital do pequeno reino sardo-pie-
montês, saiu ao encontro de Domingos com o tinir
dos guizos de centenas de coches, os anúncios co-
loridos das casas de negócio, :) alegre burburinho
das barracas de Porta. Palazzo.
27
Desceram para Valdocco beirando o triste
“rondô” onde os condenados à morte eram enfor-
cados. Chegaram à porta do Oratório.
Atravessaram um prado cheio de meninos que
corriam, gritavam, riam. Subir-am uma pequena es-
cada, bateram no escritório de Dom Bosco. En—
traram.
Domingos lançou um olhar ao redor: era uma
sala pobre mas muito asseada. Uma estante de li-
vros, uma mesa atulhada de papéis e cartas, e um
cartaz pendente da parede com uma misteriosa
frase latina escrita em grandes caracteres: Da mihi
animas, coetera tolle.
Quando o pai partiu, Domingos esforçou-se por
vencer a comoção e disse a Dom Bosco:
É a primeira vez que fico longe de papai e de
mamãe. Mas não estou triste, porque sei que o sr.
vai me ajudar.
Ao depois, superando os primeiros momentos
de hesitação, indagou () significado das palavras
penduradas a parede. Dom Bosco ajudou-o a tra—
duzir: ”Dai-me almas, Senhor, e ficai com todo o
resto". Era o lema que Dom Bosco escolhera para
o seu apostolado. Inteligência vivaz e profunda,
escritor de vastos recursos e dono de palavra
fácil, Dom Bosco renunciam a uma carreira bri-
lhante no mundo para dedicar-se inteiramente a di-
fusão do Reino de Deus entre os jovens. Havia dí-
to ao Senhor: “Não sei que fazer da glória, do di-
nheiro, da vida cômoda. Dai essas cousas a outros.
Concedei-me ser apenas um conquistador de almas
para Vós”. O cartaz pendurado à parede de seu
quarto era um pacto firmado entre ele e Deus.
28
Domingos, assim que captou o sentido destas
palavras, ficou um instante pensativo, e depois
acrescentou :
— Compreendi: aqui não se trata de negócio
de dinheiro, mas de almas. Espero que minha al-
ma fará parte desse comércio.
29
Entre as panelas uma velha senhora com um grau-
de lenço a cabeça.
— Quem é?
—— Mamãe Margarida, & mãe de Dom Bosco. A
16 . Fórmula mágica
Já. seis meses eram passados desde que Domin-
gos se encontrava no Oratório. Findara o inverno
e voltara a primavera devolvendo aos prados de
Valdocco a relva e as andorinhas.
Nessa primavera de 1855 Domingos Sávio co-
meçou & sonhar de olhos abertos.
Foi assim. No primeiro domingo de abril,
Dom Bosco fizera uma pregação a seus meninos:
as pregações de Dom Bosco eram sempre bonitas,
e todos escutavam-no com gosto pelos fatos que
sabia contar com cores vivas e pelos argumentos
fáceis que tratava.
Naquele domingo Dom Bosco falou da santiA
dade, e dividiu o argumento em três pontos:
1 — E vontade de Deus que nos tornemos to-
dos santos.
2 — É muito fácil consegui-lo.
3 — Há um grande prémio preparado no céu
para quem se faz santo.
42
Um ou outro menino ao ouvir tais palavras
torcia o nariz, porque a santidade parecia-lhe coisa
muito difícil e impossível. Mas Domingos Sávio
ouviu com atenção. A medida que Dom Bosco
prosseguia com sua bela voz quente e persuasiva,
parecia a Domingos que a pregação fosse feita
somente para ele. Conquistar a santidade, como o
principezinho S. Luís, como o grande missionário
S. Francisco Xavier, como os martires. Parecem—lhe
sempre uma coisa dificil, eriçada de obstáculos:
Dom Bosco ao contrário dizia-lhe agora que era
fácil, muito fácil até.
Desde então Domingos começou a sonhar, e
seu sonho foi a santidade: "Deus me quer santo,
quero pois tomar-me santo". Dom Bosco havia
dito que se podia ser santo mesmo estando alegre.
Está bem. Mas como conseguir? Devia fazer peni-
tência como S. Luís, que se flagelava até o sangue?
Ou passar noites inteiras em oração como S. Fran-
cisco de Assis?
Eram coisas impossíveis para ele. Se fosse
mais velho haveria de partir para as missões como
S. Francisco Xavier, como os Apóstolos. Mas desse
jeito, entre livros e aulas, pátio e refeitório, como
fazer-se santo?
Andava preocupado, menos alegre que de cos-
tume. Dom Bosco percebeu. Procurou Domingos:
— Como vai de saúde, Domingos?
— Bem.
— Entretanto você não é o mesmo de antes.
Não ri mais: sofre algum mal?
— Não —— gracejou Domingos — ao contrário,
sofro de um bem.
— Que quer dizer?
43
— Veja, sinto o desejo e a necessidade de tor-
nar-me santo. Antes eu pensava que a santidade
fosse uma coisa difícil. Mas agora que o Sr. me
disse que é uma coisa fácil, e que todos podem
atingi—la, quero de jato, tenho absoluta necessida-
de de tornar-me santo. Mas não sei o que é que
preciso fazer, como devo comportar-me.
Dom Bosco sorriu. Domingos já havia progre-
dido muito no caminho da santidade, mesmo sem
se dar conta. Com efeito a santidade consiste em
querer bem 3 Nosso Senhor e a nossos irmãos.
E Domingos queria bem de fato, mesmo quando
lhe custava, mesmo quando devia fazer graves
sacrifícios.
Disse-lhe :
—— Vou dar-lhe a fórmula da santidade. Preste
bem atenção. Primeiro: alegria. O que inquieta e
tira a paz não vem de Deus. Não a alegria dos mo-
leques, mas a alegria que nasce da paz com Deus
e com os outros. Segundo: deveres de estudo e
e de piedade. Atenção na aula, aplicação ao estudo,
empenho em rezar bem. Tudo isso não por ambi-
ção, para receber elogios, mas por amor de Deus
e para tornar-se um verdadeiro homem. Terceiro:
Fazer bem aos outros. Ajude os colegas sempre,
mesmo à custa de sacrifício. Aí está toda a santi-
dade.
24 de junho era o dia. onomástico de Dom Bos-
co. Fez-se grande festa no Oratório, todos queriam
manifestar-lhe amor e gratidão. Dom Bosco, em
retribuição, disse:
44
— Veia, sinto o desejo e a necessidade de tomar-me santa (pág. 44)
— Cada um escreva num bilhete o presente que
deseja de mim. Garanto-lhes que farei todo 0 pcs—
sivel para contenta—los.
Quando leu os bilhetes, Dom Bosco encontrou
pedidos sérios e sensatos, mas encontrou outros
bem extravagantes que o fizeram sorrir: houve
quem lhe pedisse cem quilos de torrone “para. pro—
ver o ano inteiro”. No bilhete de Domingos Sávio
havia. cinco palavras: “Ajude-me a tornar-me san-
to”.
18 . Arte difícil
48
sigo salvar uma alma, poderei estar certo da salva-
ção da minha alma.
Sábado era dia de confissões. Dom Bosco ia
para a sacristia, e os meninos confessavam-se com
ele. Havia quem se confessasse toda a semana, ea
da 15 dias, cada mês. Mas havia também quem não
se confessava já de há muito tempo. Esses tais ao
se encontrarem com Dom Bosco desviavam-se e
sumiam.
Domingos conhecia esses meninos pelo olhar
esquivo e pela alegria forçada. Fazia de tudo para
levá—los a Deus.
Travava com eles encamiçada luta de “rã", e
quando o jogo estava apaixonante murmurava:
“Você vai confessar-se sábado?". Mais para conti-
nuar o jogo e não começar uma conversa embara-
çosa, o colega respondia: “Está certo". E o jogo
continuava..
Domingos, porém, uma vez obtida a promessa,
ia trabalhando o amigo durante o resto da semana.
Todos os dias achava um pretexto para lembrar-
-lhe a palavra dada. Chegado o sábado, acompa-
nhava-o a igreja, confessava-se antes dele e juntos
faziam a ação de graças.
A coisa, porém, não era sempre assim tão sím-
ples. Algumas vezes, chegava o sábado, e o amigo
não aparecia. Domingos todavia não se dava por
vencido. Assim que o tornava a ver brincava:
— Você me fez uma, hein?
— Eu?
— Sim Você. Tinha-me prometido que se ia
confessar, mas. . .
— Não tinha vontade.
49
— Isso é feio. Se não tinha coragem é porque
havia algo de podre. Não percebe que está sempre
mal-humorado? Acredite em mim, vá confessar-se.
Vai sentir—se melhor.
Muitos, mais dia menos dia, cediam a suas
boas maneiras e punham a consciência em ordem,
em paz com Deus.
0 altar
de Nossa Senhora ante o qual Domin-
gos Sávio se ajoelhara no dia 8 de dezembro pa—
ra consagrar-se a Maria Santíssima, e que tantas
57
vezes o vira de volta para renovar sua. consagra-
ção, estava todo enfeitado. Começava o mês de
Maio.
O mês de maio, que o povo cristão dedicou à
Rainha do Céu, chamava-se nas casas de Dom Bos-
co Mês de Nossa Senhora. Os meninos manifes-
tem seu amor à Mãe de Deus, recolhendo rama-
lhetes de flores espirituais para oferecerem a Ela
no dia de sua Festa.
Domingos Sávio com alguns dos meninos me
lhores decidiram armar um altarinho a Nossa Se-
nhora no dormitório, Era. preciso providenciar
uma toalha branca, dois castiçais artísticos, dois
belos vasos, uma cortina para servir de fundo ao
quadrozinho de Nossa Senhora das Dores que já
pendia da parede.
“Providenciar", porém, é uma palavra. Como
todos os estudantes do mundo, estavam sem vin-
tém. Fixou-se pequena contribuição que cada um
deveria desembolsar. Mas alguns não tinham se-
quer essa irrisória quantia, e entre eles estava Do-
mingos.
Revolveu sua carteira e encontrou alguns li-
vros. Gostava muito deles porque os recebera co«
mo prêmio de Dom Bosco. Levou-os aos organiza-
dores:
Não tenho mais nada. Será que servem?
——
58
Decidiu-se armar o altar naquela mesma noi-
te, mesmo a custo de ir muito tarde para a cama.
Terminaram à meia-noite e se ajoelharam, com
os olhos cansados mas cheios de alegria, murmu-
rando: Ave Maria.
E a Dom Bosco:
— Quero entregar—me todo a Nosso Senhor.
Sinto necessidade de tornar-me santo, e se não
me torno santo, nada faço. Ajude-me & tornar-me
santo, e depressa!
25 . A cólera
O verão e o outono daquele ano foram parti-
cularmente quentes.
Ao tempo em que sobre Turim parecia pesar
uma capa oprimente, correu célere uma notícia
assustadora: a cólera está se alastrme pela ci-
dade. A terrível doença que de onde em onde gras-
sava e fazia vítimas nas cidades e nos campos co-
mo uma guerra atômica, fora trazida ao Piemon-
te talvez por algum veterano da guerra da Cri-
méia.
63
O rei, Vitor Emanuel II, e toda a família real
abandonaram precipitadamente Turim num car.
ro fechado, e refugiaram-se no solitário castelo de
Caselette.
A peste dízimava a cidade. Mais de cem ata-
cados todos os dias. As famílias ainda sãs fecham-
se em casa, trancam as portas, evitam todo con-
tato com outras pessoas. Os atingidos morrem so-
zinhos, abandonados.
O prefeito de Turim lança um apelo aos mais
corajosos: é preciso entrar nas casas, transportar
os doentes para o lazareto, tratar deles.
Arriscar & vida para salvar a cidade.
Dom Bosco reúne seus 500 jovens:
— O prefeito lançou um apelo aos corajosos.
Se algum de vocês está disposto a sair comigo pa-
ra ajudar os colerosos, garanto em nome de Nos-
sa Senhora que nenhum de nós será atingido pela
doença. Contanto que conserve a graça de Deus e
traga consigo uma medalha de Nossa Senhora.
Naquela mesma noite quarenta e quatro, den-
tre os maiores, ofereceram-se como voluntários.
Entre eles, Domingos Sávio.
Dias de trabalho pesadissimo. Ha tempo ape-
nas para comer alguma coisa, e em seguida per-
correr ruas, visitar casas. Em macas improvisa-
das, os doentes são transportados para o lazare-
to. Muitos, porém, não estão em condições de se-
rem carregados. São então atendidos pelos meni-
nos, que os confortam nos últimos momentos.
Quando o calor amainou, a cólera pareceu es«
morecer. Já são poucas as vítimas. A cidade volta
a viver.
64
Ao passar uma noite pela rua. Cottolengo, Do-
mingos Sávio olha para a fachada de uma casa,
e como se uma voz o chamasse, entra e precipita-
-se escadas acima. Sem titubear bate a uma. porta
0 dono atende.
— Desculpe — diz Domingos — deve haver
aqui uma pessoa doente de cólera que precisa de
assistência.
O pobre homem arregala os olhos:
— Não, não, aqui não há ninguém! Só falta-
va isso.
— Mas tem certeza?
— Absoluta, com os diabos!
—— Mas está enganado. Deixe-me dar uma es-
piada?
O homem cai das nuvens. Sabe muito bem
que em sua família, graças a Deus, todos estão
bem. Mas aquele rapaz insiste de um jeito que
parece. ..
— Entre, entre. Vamos ver então. Mas verá
que está errado.
Exsxninam os quartos, a cozinha, o depósito.
Nada.
— Mas não haverá algum quartinho, um des-
vão qualquer?
-— Ah! — faz o dono batendo com a mão na
testa. — Há um quartinho, sim! Será a Maria?
Sobem. Sob o telhado há uma mísera alcova.
Agachada a um canto, rosto crispado pela agonia,
uma pobre mulher está. nas últimas.
—— Depressa, chame um sacerdote, diz baixi-
68
Seguiam-se 21 artigos do regulamento. Eis os
quatro primeiros:
1.“ Nossa primeira regra será uma rigorosa
obediência aos superiores, aos quais nos
submetemos com ilimitada confiança.
2 .º O cumprimento dos próprios deveres será
nossa primeira e especial ocupªçâo.
3.“ A mútua caridade unirá. nossas almas e
fará. amar indistintamente nossos irmãos,
aos quais admoestaremos com amabilida-
de quando parecer útil fazer uma corre
çâo.
4 .º Escolher-se-á meia hora na semana para
reunir-nos, e após a invocação do Espírito
Santo, feita breve leitura espiritual, se
tratará dos progressos da Companhia na
devoção e na virtude.
Eis agora o 21.º e último artigo. Nesse se con-
densa o espirito da Companhia e o amor de Do—
mingos a Nossa Senhora.
21.“ A sociedade é posta sob os auspícios da
Imaculada Conceição, da qual teremos o
título e usaremos uma medalha. Uma
sincera, filial, ilimitada confiança em
Maria, um especial carinho para com Ela,
uma devoção constante nos tornarão
vencedores de qualquer obstáculo, fir-
mes nos propósitos, amáveis com nosso
próximo e exatos em tudo.
Nesse dia, 8 de junho de 1856, nascia a obra-
-prima de Domingos Sávio: a Companhia da
Imaculada.
69
Restavam-lhe agora apenas 9 meses de vida,
mas sua Companhia haveria de durar mais de cem
anos. Em todos os Institutos da Congregação Sa-
lesiana, em todos os Oratórios, haveria de preparar
os jovens para intensa vida cristã.
Com o nome de “Amigos de Domingos Sávio"
ou “Sávio Club", a associação continuaria & crea
cer e a promover o bem até nossos dias.
— De que lugar?
— De Saluggia.
— Em que ano está?
— Na Segunda Gramática (mais ou menos,
sexta série ginasial).
— Então você sabe latim! Qual e' a etimologia
de “sonâmbulo”?
E pusemo—nos & conversar. De repente pergun-
tei:
—- Mas quem é você?
— Sou Domingos Sávio, de Mondônio. Vamos
ser amigos, não?
-— Claro.
Desde esse momento tive oportunidade de
estar com ele muitas vezes e em muitas circunstân-
cias íntimas até. Domingos foi para mim um “ver-
dadeiro amigo".
A Companhia não tardou a escolher também
uma segunda. categoria de “clientes": os meninos
mais relaxados, indisciplinados, inclinados a. blas-
femar e brigar. Os sócios da Imaculada dividiram
entre si esses “clientes" mais difíceis, para com
bondade e delicadeza, fazê-los reencontrar o bom
caminho. Nem sempre era fácil. A paga que Do-
mingos recebeu foram muitas vezes insultos, pala-
vrões e bofetões. Eis uma reminiscência do mesmo
Francisco Cerruti:
71
"No inverno de 1857, inverno bastante rigoro-
so, um menino divertia-se & lançar bolas de neve
até dentro do locutório, o único lugar protegido
onde nos reuniamos nos recreios para desfrutar o
calor. Havia lá. uma estufa, a única do Oratório.
Quando transiclos de frio os estudantes voltavam
da cidade, refugiavam—se no locutório. Um apren-
diz chamado Rattazzi e um colega entraram um
dia correndo e "guerreando" com bolas de neve.
Domingos disse a Rattazzi:
— Vão brincar lá fora. Não atirem neve aqui
dentro.
——Rattazzi, um sujeito pouco recomendável,
ficou furioso, cobriu-o de insolências e ameaças e
deu—lhe uns tapas. Eu estava presente, vi Domin-
gos corar, cerrar os punhos, mas não reagiu se-
quer com uma palavra mais forte".
31 . Fazei penitência!
Algumas frases do Evangelho impressionar-am
sobremaneira a Domingos. Ei-las:
“Naqueles dias apresentou-se João Batista a
pregar no deserto da Judéia, e dizendo: “Fazei peni-
tência, pois bem próximo já está o reino no céu. . .'
Trazia uma veste de pelos de camelo e um cinturão
de como nos rins; o seu alimento eram gafanhotos
e mel silvestre" (Mt 3, 1-4).
77
“Tomando a palavra, Jesus ensinava nas se-
guintes termos: “Entrai pela porta estreita. Pois
larga é a porta e espaçosa a estrada que conduz à
perdição, e muitos são os que enveredam por ela.
Mas estreita e' a porta, e apertada a estrada que
conduz à vida, e quão poucos são os que a encon-
tram!” (Mt 7, 13-14).
”E Jesus disse 'Se não fizerdes penitência,
perecereis todos do mesmo modo” (Lc 13,3).
Depois de ler o Evangelho, Domingos decidiu
fazer penitência. E não se contentou com & morti-
ficação dos olhos, com a compostura exten'or,
com o empenho no estudo, mas procurou alguma
coisa que o fizesse de fato sofrer.
Foi assim que disseram a Dom Bosco que
Domingos tinha começado a Quaresma jejuando
todos os dias & pão e água. Chamou—o imediata-
mente, e fazendo-lhe notar a pouca saúde, proibiu
que jejuasse.
— Pelo menos aos sábados, em honra de Nos—
sa Senhora — implorou Domingos.
Dom Bosco foi decisivo. Nenhuma mortifica—
ção na alimentação. Devia estudar e crescer com
boa saúde. Isso é que Deus queria dele.
Mas as frases do Evangelho voltavam-lhe com
insistência à. mente. E tomou uma decisão: à. noite
suportaria um pouco de frio. Com o aproximar—se
de dezembro, ao passo que seus companheiros
começaram a amontoar cobertores debaixo da col-
cha branca (nesse tempo nem se sonhava em aque—
cimento no dormitório), Domingos conservou sua
cama leve como em pleno verão. E debaixo dos
lençóis colocou pedaços pontudas de tijolo, para
o molestarem um pouco durante o sono.
78
Chegou janeiro, e um dia de manhã Domingos
não se sentiu muito bem.
Os colegas desciam, mas ele deixou-se ficar no
dormitório, todo encolhido, com um pouco de
febre.
Avisado, Dom Bosco subiu imediatamente para
ver de que se tratava. Encontrou-o & tremer debai-
xo de um cobertor pequeno e fino, sorrindo sem—
pre seu eterno sorriso. Dom Bosco ficou sério:
— Mas, Domingos, quer morrer de frio?
—— Não, Dom Bosco, não morrerei
por tão pou-
co. Jesus na gruta de Belém e quando pendia da
cruz estava menos coberto que eu.
Dom Bosco não quis argumentar.
— Escute, Domingos. Proíbe-lhe absolutamen-
te qualquer penitência. Antes tem que me pedir
licença. Entendidos?
Acrescenta Dom Bosco que Domingos “àquela
ordem, submeteu-se, embora com pesar". Encon-
trou-o alguns dias depois, e percebeu que Domin-
gos estava preocupado.
— Que há de novo?
— Estou mesmo atrapalhado — suspirou. —
Jesus disse que se não faço penitência não irei
para o céu; e o Sr. me proibiu.
— É verdade — respondeu Dom Bosco. — To-
dos devemos fazer penitência para ir para o céu,
mas a Penitência que Deus quer de você é a obe-
diência. ºbedeça, e tudo estará. bem.
— E não poderia permitir—me qualquer outra
penitência?
— Sim — respºndeu Dom Bosco. — Permite—
-lhe suportar com paciência as ofensas; tolerar com
79
resignação o calor, o frio, o cansaço e todos as in-
cômodos de saúde que Deus permitir.
— Mas a gente já. sofre isso por necessidade ——
observou rindo Domingos, como, se Dom Bosco
estivesse brincando. Mas Dom Bosco falava sério,
e acrescentou:
— Veja, se o que deve sofrer por necessidade,
você oferece a Deus, tornarse—á virtude e mereci-
mento para sua alma.
Domingos compreendeu. De aí em diante dei-
xaria a escolha 9. Nosso Senhor. E tudo o que Ele
lhe mandasse (calor, frio, cansaço, doenças), ha-
veria de recebê—lo de sua mão, e sofreria por seu
amor. De sua parte obedecer-ia: à lei de Deus, ao
confessor. Rezaria com atenção, estudaria com em-
penho, mortificaria & vista, empenhar-seia em fa—
zer bem aos companheiros. Essa era a penitência
que Deus lhe ordenava.
Querido amigo,
pensei que ia passar apenas alguns dias em
casa e depois voltar ao Oratório, por isso deixei
aí todo o meu material escolar Estou vendo agora
que as coisas se estão prolongando, e a cura de
minha doença se torna cada vez mais incerta. O
médico afirma que vai melhor, mas para mim es-
tá pior. Veremos quem tem razão.
Querido Domingos, sinto muito ficar longe de
você e do Oratório, porque aqui não tenho facili-
dade para fazer os exercícios de devoção. Confor-
to-me somente pensando nos dias em que juntos
nos preparávamos para a Sagrada Comunhão.
90
Espero, porém, que distantes fisicamente, es-
tejamos perto espiritualmente.
Peço-lhe que vá ao meu lugar no estudo. En-
contrará alguns cadernos, e também o Kempis, ou
seja a Imitação de Cristo, Faça um embrulho de
tudo e mande para mim. A Imitação de Cristo que
está na carteira é em latim, porque, embora gos-
te, tradução é sempre tradução, e não experimen-
to nela o gosto que sinto no original latino.
Estou cansado de não fazer nada, todavia o
médico proibe-me de estudar. Dou muitos pas-
seios. .. pelo meu quarto! E muitas vezes digo com
meus botões: “Vou sarar desta. doença? Tornarei
a. ver meus companheiros? Será para mim & úl—
tima doença?".
Somente Deus sabe o que é que vai acontecer.
Parece-me estar disposto a fazer de qualquer jei-
to sua santa e amável vontade.
Se tem algum bom conselho. escreva—me. Fale-
-me de sua saúde; lembre-me em suas orações, es-
pecialmente ao fazer a Sagrada Comunhão.
Coragem, queira—me de todo o coração no Se-
nhor. Se não pudermos estar juntos por muito
tempo nesta vida, espero podermos um dia viver
felizes em agradável companhia na bem—aventura-
da eternidade.
Cumprimente nossos amigos, especialmente
os colegas da Companhia da Imaculada. O Senhor
esteja com você, e creia-me sempre seu
afmo
JoÃo MASSAGLIA
96
— Estava no café?
— Não, ele senta ao meu lado e não o vi nem
no café nem no almoço.
— E na aula?
— Também não. Seu lugar ficou vazio duran-
te as três horas, e o professor não sabia de nada.
— Estará doente?
—— Vamos ver no dormitório.
A cama de Domingos está bem arrumada. De-
le nem sombra.
— Então deve estar no salão de estudo.
Lá também não há ninguém.
— E então, será que Dom Bosco mandou-o
passar alguns dias em casa? Nesse caso avisaria
o professor.
— Sabe o que vamos fazer? Vamos contar ª
Dom Bosco. Ele resolverá o assunto.
Alertado, Dom Bosco ficou um instante pen-
sativo. Mas teve logo uma suspeita.. Sorriu e dis-
se tranqiiilo:
— Podem ir embora, eu sei onde ele está.
Desceu rapidamente as escadas, penetrou na
sacristia e depois no coro atrás do altar. Domin-
gos lá estava, de pé. Tinha uma das mãos apoia-
das a uma estante e a outra ao peito.
Aproximou—se e chamou-o. Domingos não se
moveu. Segurou—o então delicadamente por um
braço e o sacudiu. Domingos, calmo, voltou-se pa-
ra ele e perguntou:
— Já acabou a Missa?
— Olhe, — disse Dom Bosco mostrando-lhe o
relógio, — são duas horas da. tarde.
97
Domingos ficou confuso, corou pelo grande
atraso, pediu perdão.
— Agora vá almoçar — atalhou Dom Bosco.
— Se perguntarem onde estava, responda que aca-
ba de fazer uma incumbência que Dom Bosco lhe
dera.
Em outra ocasião, quando já havia termina-
do a Missa e os meninos tinham saído, Dom Bos-
co estava na sacristia fazendo, como de hábito, sua
longa ação de graças. Ouviu então no coro uma
voz de quem estivesese conversando com outra
pessoa. Ergueu—se e foi ver. Era Domingos. Olhos
fixos no tabernáculo e o sorriso angélico nos lá-
bios falava com Jesus, e depois silenciava, como
para. ouvir a resposta. Dizia, entre outras coisas:
"Sim, meu Deus, já disse e torno a dizer: eu vos
amo e vos quero amar até a morte: sim, a morte,
mas jamais ofender-vos". Dom Bosco, que já o
vira outras vezes em êxtase após a Comunhão,
chamou-o:
— Domingos, você muitas vezes se atrasa de
manhã. Que é que está acontecendo?
E Domingos com toda a simplicidade:
— Pobre de mim, assalta-me uma distração,
e então perco o fio de minhas orações. Parece-me
ver coisas tão bonitas que as horas passam como
um instante. ..
à
— Foi Deus que o trouxe. Depressa, depressa,
senão não chega a tempo. Meu marido teve a des-
graça de abandonar a fé há. muitos anos. Agora es-
tá para morrer e pede por piedade a confissão.
Dom Bosco aproxima-se do leito, onde jaz um
pobre homem apavorado e à beira do desespero.
Confessa-o, dá.-lhe a abolvição reconciliando-o com
Deus. Poucos minutos depois o homem morre.
Correm os dias. Dom Bosco está ainda muito
impressionado com o acontecido. Como tinha po-
dido Domingos Sávio saber da existência. daquele
doente? Aborda-o numa hora em que ninguém os
ouve:
— Domingos, aquela noite em que você veio ao
meu escritório para me chamar, quem lhe havia
falado daquele doente? Como é que você soube?
Aconteceu então uma coisa que Dom Bosco não
esperava. Domingos fixoqu com ªr tristonho e de-
satou a chorar. Dom Bosco não se atreve a fazer-
vlhe outras perguntas, mas fica sabendo que no seu
Oratório há um menino que fala com Deus.
106
Foi durante esse encontro que Domingos con-
seguiu arrancar de Dom Bosco 3. licença de voltar.
O tom amargurado de suas palavras fez Dom Bos-
co compreender que ficando em casa, mas sempre
pensando com saudades no Oratório, Domingos
sofria ainda mais, e a saúde piorava em vez de
melhorar.
— Vamos fazer assim —— concluiu. —— Volte
agora para casa e fique lá algumas semanas ainda.
Assim que você se sentir melhor poderá voltar,
certo?
Não passaram muitas semanas, e Domingos,
pálido como sempre, mas como sempre sorridente,
regressou ao que chamava “seu querido ninho".
Dom Bosco não quis que retornasse os estudos
regulares.
Ia vez por outra à. aula, abria os livros, mas
apenas para passar o tempo. ºcupava-se então
com trabalhos domésticos, ou então (era o traba—
lho que mais lhe agradava) servia os companhei-
ros doentes. Dizia sorrindo:
— Não tenho merecimento algum diante de
Deus ao servir os doentes: pareceme um belíssimo
divertimento!
Quando via alguém cheio de exigências ou
muito preocupado com a saúde dizia-lhe:
—- Afinal de contas, pensa que essa carcassa
vai durar eternamente? Devemos resignar-nos a
vê-la avariar-se aos poucos, até baixar a sepultura.
Mas então, meu caro, nossa alma livre e leve voará
gloriosa para o céu, e gozará de uma saúde inve-
jável e de uma felicidade maravilhosa!
Certa vez um colega estava embirrado por ter
de tomar um remédio amargo. Tal qual Pinóquio
107
na casa da Fada. Não queria ceder de jeito nenhum.
Domingos fez a parte da fada:
— Meu caro, os remédios, mesmo amargos,
nos fazem bem, e devemos tomá-los porque Deus
nos ordena de não descuidar da saúde. Se sente
repugnância, terá maior merecimento diante dEle.
Pensa então que o tel que ofereceram a Jesus na
cruz era menos amargo? Vamos, faça um sacrifí-
cio.
Em fevereiro de 1857 o inverno de Turim foi
rigorosíssimo. Domingos Sávio foi acometido por
uma tosse profunda, tomava-se cada vez mais pá-
lido.
Dom Bosco novamente interveio:
— Domingos, sua tosse está muito feia. E não
quer ceder.
Você deve voltar para casa. Lá estará mais
defendido do frio e poderá descansar até a prima-
vera.
Domingos olhou—o com olhos súplices. Dom
Bosco acrescentou:
— Sei, Domingos, que lhe custa muito. Mas
é preciso que você vá. Vamos, faça um sacrifício.
Dom Bosco escreveu ao pai. O senhor Carlos,
que naqueles anos com comovente esforço apren-
dera a ler e escrever, respondeu que iria buscar
Domingos no dia 1.º de março.
Na noitinha do último dia de fevereiro Do-
mingos subiu pela última vez ao quarto de Dom
Bosco. Queria cumprimenta-lo, pedir-lhe os últi-
mos conselhos. Parecia não querer separar-se dele.
— Sinto que você vá para casa tão desconten-
te. Por que não fazer companhia a papai e a ma-
mãe?
108
— Não é isso, Dom Bosco. É que queria ter-
minar minha vida aqui, no Oratório.
— Mas não fale assim! Você agora vai para
casa, se restabelece, e ao começar a primavera
volta.
—— Isso não — e Domingos sorriu abanando a
cabeça. — Eu vou e não volto mais. . Dom Bosco,
.
—— E
que mais?
—— Ofereça—lhe a vida, Domingos.
lll
il“. N Adeus à terra
Domingos chegou a Mondonio tarde da noite.
Mamãe Brigida recebeu-o com afetuoso abraço, e
os irmãos fizeram—lhe grande festa.
Os primeiros dias pareceram reavivar a espe-
rança: a tosse acalmou, voltou um pouco de ape-
tite. Parecia que março iria trazer a primavera
também para o débil organismo de Domingos.
Mas tudo não passou de breve ilusão. Na noite
do dia 4 de março Domingos sentiu—se improvisa.
mente mal. As forças o abandonavam. A tosse voi—
tou violenta e profunda. Foi preciso colocá—lo na
cama e chamar o médico.
O dr. Cafasso examinou-o e declarou:
— Trata-se de uma inflamação.
Era como então se designava a pneumonia.
Que fazer? O médico fez o que então faziam
todos os médicos com os doentes dos pulmões:
resolveu extrair sangue das veias de Domingos
para mitigar a febre. É um tratamento maluco, que
levava a morte muitas pessoas. Entretanto naque-
les tempos era o que se sabia fazer. Quatro anos
depois Camilo Cavour terá sua morte acelerada
dessa mesma maneira pelos melhores médicos de
Turim. E Sílvio Péllico três anos antes havia sido
literalmente assassinado por um cirurgião.
O dr. Cafasso retirou da maleta os instrumen-
tos cirúrgicos, descobriu o braço alvo e fino de
Domingos e lhe disse:
— Vire—se para lá e não tenha medo.
Domingos sorriu:
—— Que é uma pequena incisão em confronto
115
— A Paixão de Jesus. esteja na minha men»
. .
te. . na minha boca, . no meu coração. Jesus,
. . . .
43 . Ele voltou
Durante a breve doença, o pároco de Mondônio
enviam notícias de Domingos 3. Dom Bosco. Os
amigos de Domingos esperavam dia após dia mais
notícias, confirmando as melhoras. Chega ao con-
trário uma carta do pai, datada de 10 de março.
Nestes termos:
”Reu.mo Senhor
Com as lágrimas nos olhos dou-lhe a mais
triste notícia: meu querido filhinho Domingos, seu
aluno, entregou sua alma a Deus ontem à noite,
9 do corrente mês de março, depois de haver rece-
bido da maneira mais consoladora possível os
santos sacramentos e a bênção papal. .”. .
9 de julho de 1933
Pio XI declara Domingos Sávio “Venerável”,
porque dos longos e minuciosas estudos reali-
zados pelos teólogos resultou claro e seguro ter
ele praticado todas as virtudes em grau heróico.
O Papa, que conheceu pessoalmente a Dom
Bosco, fez nesse dia admirável discurso evocando
a doce figura de Domingos e de seu grande mestre
Dom Bosco. Define Domingos: “Pequeno, antes
grande gigante do espírito”. E sintetiza sua vida
em três palavras: "Pureza — Piedade — Aposto-
lado".
129
5 de março de 1950
Uma comissão de médicos e de teólogos exa-
minou atentamente e reconheceu como miraculo-
sas duas curas alcançadas por intecessâo de Do-
mingos Sávio.
Sabatino Albano, de 7 anos, de Siano (Saler-
no), sarou por interecessâo de Domingos quando
já agonizante por obra de uma grave forma de
septicemia e nefrite. O médico já havia preparado
o atestado de óbito!
María Consuelo Moragas, de 16 anos, de Bar—
celona, foi curada instantaneamente de uma dupla
fratura no cotovelo. Durante uma novena ao Vene—
rável Domingos Sávio, o braço inchado, não enges-
sado, e traturado em dois pontos, sarou improvisa
e perfeitamente.
Pio XII declara Domingos Sávio Bem-aventu-
rado, e sua magra imagem de adolescente aparece,
numa apoteose de luzes, na. “Glória” de Ber-mini. O
Papa ajoelha-se diante dele e reza por toda a ju-
ventude do mundo.
12 de junho de 1954
Dois outros milagres foram alcançados pela
intercessão de Domingos Sávio.
Maria Gianfreda, mãe de seis filhos, estava nas
últimas por causa de uma hemorragia interna sem
que os médicos nada pudessem fazer, e sarou por
intercessão de Domingos, voltando ao seio da fa-
mília.
Antonina Miglietta, atacada por gravíssima
forma de sinusite, antes de enfrentar a difícil e
130
dolorosa operação, suplica & Domingos que a cure
em atenção aos quatro filhos. A 9 de março, no
aniversário da morte de Domingos, sarou antes de
se fazer a operação.
Pio XII declarou Santo Domingos Sávio a 12
de junho de 1954. Na vastíssima praça de São Pe-
dro iluminada por um magnífico sol, milhares de
jovens, provindos de todo o mundo aplaudiram o
primeiro santo “como eles": o primeiro santo de
15 anos.
131
ÍNDICE
1 — Caprichoum tanto estranho ................... 5
2 — Um amigo de roupa preta 6
3—Pegueapastaevá 8
4 — Com apenas sete anos! 11
5 —Encontro e propósitos ......................... 12
6 —Caminho longo & pés descalços 15
7 —Riacho de águas frescas . 17
—- Estufa cheia de neve
8
...... 19
9 — Oito minutos para uma. páginª
.............. 23
10 — Cartaz comercial
........
11 — Vida de todos os dias
27
29
12 — Eu vos dou o meu coração! . 31
13 — Condes e marqueses
14 — 0 mais belo divertimento
...... 34
35
15 — Pedras e sangue
16 — Fórmula mágica
.......... 38
42
17 — Comício no pátio . 46
18 — Arte difícil
............. . 48
19 — As ladainhas do carroceiro
........... 50
20 — A história de Dom Bosco
........... 51
21 — Marga-se o sonho
............
22 — Um altar para Nossa Senhora
56
57
23 — Verdes colinas de Mondºnio .. 59
24 — A grande pressa
25 — A cólera
............................... 62
26 — A obm-prima de Domingos
..........
27 — Clientes de primeira e de segunda categoriª 70
28 — Sorrir mas agir sério
................
29 — Com a. mão nas mãos de Deus
........
30 — Lenço branco nª Lama da rua ................. 76
31 — Fºwl penitência! .............. 77
32 — Olhos para ver Nossa Senhora , 80
33 — Camilo Gávío, de Tortona ..... 84
34 — Duas espigas numa gleba
...................... 88
35 —
36 —
Anjos pelo caminho ...................
Seis horas de atraso ..
94
96
37 — Numa estrada escura . . 98
38 — Uma ilha distante ................... . 100
39 — “Pelo primeiro que morrer dentre nós" ........ 103
40 —
41
A vigilia da grande viagem
—— Dinheiro
para a viagem ..
.............. 106
110
42 — Adeus à terra 112
43 — Ele voltou 118
44 — O gmnde sonho
...............
— “Que mais podemos pretender?"
121
45
........ 126
46 — No altar, junto de Deus
................. 129
134
:
Compoum Impresso nu
ESCOLAS PROFISSIONAIS SALESIANAS
Rua da Moon. 166 (Mooca)
Pm: m-uu _ P. A. B. x.
Clin roam. & 139
SAO PAUXD
MENSAGEM
'
ªgiam suas — também a energia! --
aí decisões de Domingos:
A morte mas não pecados
Os meus amigos serio Jesus e Mari-
Fazemos consistir : santidade nl alogrh. ..