Você está assistindo O Senhor dos Anéis. De um lado da batalha, tem essas
pessoas:
Do outro lado, tem isso:
Para quem você torce? Fácil. Se amanhã você topasse com um grupo de caras
em um beco lutando contra orcs, você iria se juntar aos caras, sem sequer
perguntar sobre a natureza da briga. Não importa – você iria lutar ao lado dos
humanos, mesmo que eles fossem neonazistas.
É isso que acontece com a maioria das pessoas que você vê lutando por uma
causa realmente terrível ao lado de pessoas terríveis: elas estão fazendo isso
porque pensam que estão lutando contra um inimigo que é pior ainda.
As pessoas definem-se principalmente pelo que odeiam. É mais comum ouvir
alguém falando mal de Bieber do que defendendo sua banda preferida, ou
xingando um candidato político do que exaltando outro.
A verdade é que um grupo de pessoas de fato alimenta a adesão a outro grupo
de pessoas com ideias opostas e há uma relação simbiótica estranha entre
esses dois “lados”, que é o que garante a sobrevivência de ambos.
Esse também é o motivo pelo qual as pessoas sempre atribuem características
negativas a seus “inimigos” que não são de fato relacionadas com quem elas
discordam. Por exemplo, não é o suficiente dizer que os antifeministas estão
errados ou equivocados; temos que dizer que eles são gordos frustrados
assexuados (então a resposta desses gordos frustrados assexuados é que
feministas são mulheres irritadiças e fracas ou homens efeminados). Os
conservadores são caipiras ignorantes, os liberais são hippies sonhadores, e
assim por diante – essa é a chave para manter o foco sempre em quão
desumano o outro lado é, de modo que nunca temos de olhar para nossos
próprios umbigos.
Nós vamos desculpar qualquer coisa dentro do nosso próprio movimento,
porque não importa o quão errado, bisonho ou ilegal ele seja, pelo menos nós
não somos orcs.
Crença no inferno reduz comportamento criminoso?
3. Pertencer a um grupo importa mais do que ter uma opinião sensata
Se você chegar em casa e ver um estranho batendo em sua mãe, você não vai
perguntar: “Senhor, qual é a natureza de sua disputa? O que ela fez para
você?”. Não, você vai pegar uma faca e mergulhá-la nas costas desse filho da
p***. Naquele momento, a lealdade a sua mãe supera qualquer outra coisa.
Da mesma forma, se você conversar com alguém que esteve em uma guerra e
perguntar-lhe como ele conseguiu fazer tudo o que fez, a pessoa
provavelmente não vai dizer que foi o seu amor pelo país ou sua crença na
causa (muitos soldados nem sequer podem articular a razão que levou às
batalhas nas quais lutaram). Não. O soldado certamente vai responder que
aguentou firme pelo cara que estava do lado dele. Ele precisava ajudá-lo, do
mesmo modo que o colega o estava protegendo também. É assim que as
pessoas em guerras sobrevivem e não pensam no que estão fazendo – porque
precisam cuidar umas das outras.
É também a razão pela qual nós gostamos de torcer por equipes esportivas, é
a razão pela qual adolescentes formam panelinhas e é a razão pela qual as
pessoas se unem a gangues.
Queremos pertencer a um grupo, uma “tribo”. Desde que essa tribo não tenha
qualquer crença que seja absolutamente repulsiva para você, qual é a crença
em si não importa. Por exemplo, um ex-neonazista já contou que se juntou a
um grupo de skinheads antes mesmo de saber que eles eram skinheads. Antes
apenas um grupo de pessoas que saíam juntos, foi como se eles tivessem
decidido um dia que agora odiavam judeus. E esta é a chave: se alguém
aparecesse e falasse para esse ex-neonazista que seus amigos eram idiotas
vendedores de ódio, ele teria ouvido isso como uma crítica às pessoas mais
próximas a eles. “Vendedores do ódio?!? Eu confio nos meus manos com a
minha vida!”.
“Mas”, você insiste, “eu nunca odiaria todo um grupo étnico de pessoas só para
agradar meus amigos!”. Talvez não, mas há maneiras mais sutis de ser
arrastado para dentro de um grupo sem concordar totalmente ou sequer
entender suas ideias e crenças. Seja honesto: você provavelmente nem
conhece todas as propostas que seu candidato político fez, e votou nele
mesmo assim. Pior: o defendeu mesmo sem poder dizer o que ele defendia.
Muitas vezes, quando uma nova controvérsia de qualquer natureza surge –
biscoito ou bolacha? -, a maioria das pessoas não estuda cuidadosamente a
questão para descobrir como se sente e o que pensa dela. Não. Elas apenas
seguem sua tribo. Frequentemente, adotam opiniões alheias como suas
(porque foi meu pai que falou, ou aquele amigo que eu acho que é inteligente!).
Além disso, acham que entendem de algo porque viram uma única informação
vinda de uma fonte conhecida (mas não necessariamente com credibilidade),
quando a realidade é que provavelmente têm chocantemente pouco
conhecimento sobre o assunto o qual estão opinando.
Meu ponto não é que todo mundo seja idiota e hipócrita. Meu ponto é que nós
não temos espaço em nossos cérebros para manter controle de tanta
informação, e nossa primeira prioridade é pertencer a um grupo – isso garante
companhia, apoio, sobrevivência. Não é culpa de ninguém, mas significa que
você não vai mudar a cabeça das pessoas apenas bombardeando-as com
informações.
O inesperado lado moral da violência
Se você procurar livros que explicam por que as pessoas brancas são a raça
superior do mundo, você vai encontrar uma coincidência surpreendente quando
olhar para os seus autores: eles são todos brancos.
Louco, não? Qual a probabilidade???
Ano passado, a revista TIME fez um experimento no ano passado onde
antecipou com precisão as convicções políticas de americanos apenas
pedindo-lhes que respondessem uma série de perguntas completamente não
políticas, como “Você prefere gatos ou cães?” e “Seu espaço de trabalho é
organizado ou bagunçado?”. Outro estudo descobriu que você pode antever a
posição política de alguém estudando como seu cérebro processa riscos.
É. Não é difícil prever o grupo no qual uma pessoa pensa que se encaixa.
Geralmente, elas acreditam que a pior característica que uma pessoa pode ter
é justamente algo que para elas é fácil não ter. Por exemplo, muitas pessoas
em forma acham que os gordos são “lesmas preguiçosas” – para elas, as
pessoas não estão no mesmo nível que elas por culpa própria. Muitos ricos
também pensam que pobres são inferiores por serem vagabundos que não
querem trabalhar ou estudar. E daí por diante.
Tudo isso pode parecer preconceito – e provavelmente é -, mas assim que é a
vida: você apoia os grupos dos quais você por um acaso faz parte. Você pode
pensar nisso como sua “Configuração de Padrão Moral”, e ela é em grande
parte determinada por onde você nasceu, como você foi criado e em qual
grupo de amigos você caiu.
Porque o preconceito é racional, natural e até moral
Se você quiser ver sua Configuração de Padrão Moral em ação, imagine que
você e sua mãe foram visitar um país estrangeiro. Na entrada, eles exigem que
todas as mulheres removam suas camisas e sutiãs para que possam ser
fotografadas para fins de identificação. Você acha isso nojento e misógino –
secretamente, eles só querem ver tetas e são uma cultura estranha e machista.
E, no entanto, quando mulheres muçulmanas levantam essa mesma objeção
quando precisam remover suas coberturas de cabeça para fotos de
identificação em países estrangeiros, nós dizemos que SUA cultura é primitiva
e misógina – porque as suas regras arbitrárias sobre quanto do corpo de uma
mulher deve ser coberto em público são lógicas e respondem ao bom senso,
enquanto as dos outros são o resultado de superstição e loucura.
Na realidade, ambos estão apenas reagindo ao seu “Ambiente Moral Padrão”,
como se fosse uma verdade absoluta proferida na criação do universo. Que
outras pessoas têm diferentes padrões – e acreditam neles tão fortemente
quanto você – é um fato quase impossível de compreender.