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Aparição: O Esquecimento
 Um Jogo de Narrativa de Paixão e Horror

Aparição: O Esquecimento Criado por Mark Rein•Hagen, Jeniffer Hartshom e Sam Chupp
2a. Edição por Richard E. Dansky
Versão 2.0.0

Créditos
Design Original e Conceito por: Mark Rein•Hagen, Jennifer Hart-
shorn e Sam Chupp
Design Segunda Edição & Desenvolvimento por: Richard E. Dansky
Sistema de Jogo Storyteller: Mark Rein•Hagen
Contribuidores em Design e Desenvolvimento: Andrew Bates, Beth
Fischi, Nicky Rea, Mark Rein•Hagen, Cynthia Summers e Fred Yelk
Escrito por: Bill Aguiar, Jackie Cassada, Mark Cenczyk, Ben Ches-
sell, Richard E. Dansky, Graeme Davis, Ian Lamke, Steve Long, Ja-
mes A. Moore, Joshua Mosquiera, Nicky Rea, Ethan Skemp, Wendy
Soss, Cynthia Summers, Richard Watts e Fred Yelk
Ficção Original por: Rick Haytala
Edição por: Cynthia Summers
Edição Adicional por: Ken Cliffe
Vice Presidente à cargo da Produção: Richard Thomas
Direção de Arte por: Laurence Snelly e Aileen Miles
Arte por: Mike Chaney, John Cobb, Mike Danza, Guy Davis, Dar-
ren Frydendall, Michael Gaydos, Pia Guerra, Anthony Hightower,
Fred Hooper, Leif Jones, Eric Lacombe, Brian LeBlanc, Vince Lo-
cke, Larry MacDougall, Heather McKinney, George Pratt, Jonathan
Rhea, Andrew Ritchie, E. Allen Smith, Ron Spencer, Joshua Gabriel
Timbrook, Drew Tucker
Capa por: Larry Friedman e Henry Higginbotham
Layout e Tipografia por: Katie Mccaskill
Playtesters: Fred Yelk, Ronni Radner, Cynthia Summers, Ethan
Créditos da Versão Brasileira:
Grupo Dictum Mortuum de tradução.
gothmate (a noite vai longe) igni delirium, por não deixar o Esqueci-
mento vencer
Ciro (acho que consigo) Luna, por ter feito esse logo maravilhoso
V0rt3X (vamos em frente) MaelStorm, por ter dado uma força gigantesca
lá no início
Folha (a gente consegue) do Outono, por passar noites em claro criando
os termos
Matheus (não posso parar) Vinicius, por ter se empolgado tanto
Daniel (aqui está) Ferraresi, pela ajuda muito bem vinda
2 Aparição: O Esquecimento
Skemp (As Primeiras Vítimas); Michael Rollins, Joshua Gorfain,
Andrew Bates e Laura Perkinson (O resto dos Críticos), Adina
Adler, Roger Dingledine, Chris Douglas, Elizabeth Ditchburn,
Heather Grove, Jeffrey Howard, David Kern, Larry Lenoff, Harold
MacKieman, Gwendolin Piper, Sybil Shearin e Andrew Twyman
(Somerville), Catherine Hackett, Edward Sleight Jr., Brad Alan
Townsend, Forrest Marchington, Catherine Little, Shawn Carter,
Stewart Mac William e Deena McKinney (Athens), Tad McDivitt,
Andrea McDivitt (né Wyatt), Michael Tracey, David Dilks, G. Scott
Smith, Charles Gentner e Caliope Reeves Alien Budd (Asheville)
Dedicado a três homens dos quais seus trabalhos foram
essenciais para criar o livro que vocês seguram:
Edgar Allan Poe, que convidou tantos de nós para dançar com Li-
geia e Annabel Lee em “the Masque of the Red Death”, e de quem as
palavras são tão sedutoras que não nos passou pela cabeça recusar
o convite.
H.P. Lovecraft, que nos mostrou como é vasta, profunda e terrível a
escuridão e quão desejável é aprender os seus segredos.
Ray Bradbury, que, mais que qualquer outro autor, dividiu conosco
os segredos: de que existe um delicioso prazer no medo, diversão
na escuridão e que à meia-noite, mesmo fantasmas e duendes se
rastejam para o parque para se divertir. Por “A Queda da Casa de
Usher”, “A Cor que Caiu do Céu”, “Coluna de Fogo”, “Israfel”, “O
Caso de Charles Dexter Ward”, “A Árvore do Halloween”, “O Verme
Conquistador”, “Nas Montanhas da Loucura”, “Algo Sinistro Vem
Por aí” e tantos outros, eu lhes agradeço. Que este livro sirva como
um pequeno pagamento pelas horas de magia e maravilhosas noites
de sono que vocês proporcionaram.
Llew (vamos começar) Roque, pelo esforço na revisão
Fred (para o alto e avante!) Oliveira, pelo trabalho significante
Luiz (rato de biblioteca) Menezes, pela revisão singela
João (projeto entregue) Paulon, pelo tempo curto, mas bem gasto.
Lipe (eterno narrador) Daen, pela ajuda em tempos difíceis.
José Dirceu, Jorge, Claudio, Sócrates, Marcel, Vitor Bornéo, Alessandro...
E a todos que passaram pelo projeto nesses vários anos que ele perdurou.
Gostaria de colocar o nome de todos vocês aqui. Algumas pessoas aju-
daram com algumas poucas linhas, outras perdemos contato, mas todos
foram de grande ajuda. A todos vocês, obrigado!
Essa tradução é dedicada àqueles que, de outra forma, jamais teriam
acesso a esse material. Vocês também fazem parte da comunidade.
 Índice
Prelúdio 4
Livro Um: Morte 12
Capítulo Um: Introdução 16
Capítulo Dois: Ambientação 28
Capítulo Três: Regras 76
Livro Dois: Renascimento 88
Capítulo Quatro: Personagem 90
Capítulo Cinco: Características 108
Capítulo Seis: A Sombra 162
Livro Três: O Lado Sombrio 190
Capítulo Sete: Narrativa 192
Capítulo Oito: Sistemas 222
Capítulo Nove: Drama 242
Índice 3
 Bem-vindo, caro leitor...
oi-se um curto período, no esquema das coisas
desde minha última missiva, e ainda assim
estou inspirado para escrever-lhe novamente.
Posso dizer que grandes mudanças na terra
dos mortos me compeliram a compensá-lo pelo
que fiz, mas isso é apenas parte do motivo.
Houve mudanças, e tenho esperanças crescen-
tes de que assim continue, ainda agora são pequenas comparadas às
mudanças que queremos. São pontos de luz na porta do celeiro. Pro-
metendo que nem tudo precisa ser escuridão.
Na verdade, minha inspiração vem dos efeitos que minha
última carta causaram desse lado da Mortalha. Tal foi a decepção
dos Senhores da Morte quanto à minha quebra do seu velho Dictum
Mortuum – suas leis que proíbem o contato com aqueles que ainda
respiram – que estão loucos para botar suas mão em mim, e juraram
torturar e visitar esse seu valoroso servo; que não pude resistir em
Os Mortos
A morte sempre foi o grande mistério da vida. Essa terra
desconhecida de onde nenhum viajante jamais voltou inspira medo e
curiosidade em iguais proporções. Alguns tentam não pensar no as-
sunto; outros entregam suas vidas para tentar descobrir o que está
além da linha que divide esses mundos.
Sendo assim, será a morte realmente misteriosa? Claro, em
todas as culturas desde o início dos tempos conta-se histórias de mor-
tos que retornam ao mundo dos vivos. Impelidos por algo inacabado,
por um amor muito forte ou por vingança contra um algoz. Seme-
lhante a isso, há aqueles que têm ou fingem ter o dom de ver ou falar
com os mortos, através de sussurros ou de mesas ou alguma forma de
comunicação psíquica nos últimos anos.
Até onde a morte pode ser temerosa? Disso, pouco se sabe.
Com certeza há amplas oportunidades para os vivos perguntarem aos
mortos e determinarem sua condição, ou a natureza do mundo que
habitam. E ainda assim, as perguntas que têm sido feitas são as que
menos tem importância – a localização de uma vassoura perdida ou
onde um espírito perdido acha o outro mundo ao desejá-lo.
A morte assusta as pessoas. O que
vem depois da morte as assusta mais ain-
da. Elas não fazem perguntas científicas,
porque têm medo das respostas. Como Geor-
ge disse, é mais fácil pensar assim. Além
disso, a Hierarquia tem sua lei chamada
Dictum Mortuum para deter os mortos que
insistem em lidar com os vivos. Não é
surpresa que os vivos saibam tão pouco.
De outra forma, não estaríamos escreven-
do isso agora. Digo nós, pois espero man-
ter o mundo no limite de vez em quando.
Alguém tem que esconder as ervas do Se-
nhor aqui. De outra forma ele nos jogará
aquela conversa mole.
De Safo a Catulo, metaforicamente! Eu juro, querido Er-
nest, minha companhia o está melhorando! Seu ponto de vista já
abraçar esse caminho novamente. Não me sinto mais vivo, ou alegre,
nem vitalizado, se você assim acha; que a excelência da Inglaterra
arruíne meus versos antes de corromperem seus filhos.
Assim, através de um amor travesso e da crescente facilida-
de em controlar essas máquinas elétricas que você possui; eu começo
a botar outra pedra no sapato da Hierarquia. Meu amigo, Ernest
profetizou que se eu continuar a iludir seus fervorosos seguidores, o
vício em quebrar as leis vai me fazer escrever semanalmente e ele terá
me tornado um entregador de jornal. Da minha parte, prefiro solene-
mente me arremessar ao Esquecimento antes de me tornar algo assim
seco e sem direção como o que ele diz ser o trabalho de repórter. Apesar
disso, ele é uma companhia excelente e concordamos em tudo exceto no
aspecto literário. Continuaremos a torcer os narizes dos Senhores da
Morte pelo tempo que pudermos, cada um de nós à sua maneira.
Só de pensar que o ensinei a digi-
tar. Posso ter criado um monstro.
fez por demais (se de alguma forma for deselegante como forma de
expressão) e já me considero punido por mudar o assunto da minha
dissertação. Minha intenção é me ater à natureza daquelas sombras
que se proclamam aparições, suas várias condições e a operação das
forças que se movem e os mantém nesse lamentável estado. Para isso,
devo agora me despir de qualquer pudor.
George sem pudor algum? Vou acre-
ditar quando ver.
Saiba, antes de tudo, que espíritos que se tornam o que
chamamos de aparições não são de forma alguma todos os que partem
do mundo dos vivos. Sua condição não constitui tudo que está do ou-
tro lado, mas é apenas uma interrupção para a viagem da alma para
a Eternidade – o que quer que Eternidade signifique. Irônico, que
aquele que procura respostas para os mistérios da Morte, não as en-
contre ao cruzar a Mortalha, mas apenas mais mistérios. Logo falarei
mais sobre isso.
As coisas que prendem o espírito no mundo sombrio que é
essa Terra Morta são o que as aparições chamam de Paixões e Gri-
lhões. Apesar de você não conhecer os nomes, caro leitor, você já viu
essas coisas sob inúmeras formas. Pois poucas histórias de fantasmas
já foram contadas em que não havia pelo menos uma delas.
Uma Paixão é o que evita que o espírito desapareça e assim
o prende ao doloroso processo fantasmagórico. O homem assassina-
do deseja vingança contra seu algoz, o pai afastado que se importa
com um filho favorito – essas e muitas outras são Paixões. Não seria
exagero dizer que existem tantos tipos de Paixões como existam apa-
rições.
Grilhões, ao contrário, são coisas materiais que o espírito
não consegue largar e que o prende nas Terras das Sombras. Se pre-
ferir, um Grilhão é o objeto no qual a Paixão é consumida: o ouro de
um sovina, um ente querido ainda vivo, um local especial. Somente
quando o espírito consegue resolvê-los, a força dessas ligações com o
mundo vivo deixa a aparição ir para o outro estágio da existência.
 Os Infantes que acabaram de surgir, o nome dado às no-
vas aparições, chegam desse lado da Mortalha tão indefesos, como
as crianças que nascem no mundo vivo. Enquanto estiverem cobertos
com a Coifa de plasma, seus sentidos estarão nublados e sua mente
confusa, e toda a Terra das Sombras parecerá para ele como um sonho
distante. Algumas poucas almas determinadas conseguem se libertar
de suas próprias Coifas sozinhas, mas a grande maioria acaba inevi-
tavelmente como Cativos.
Almas são, ocasionalmente, o alimento e a moeda das apa-
rições, assim como também sua população; e a captura de um Infante
removendo sua Coifa torna o captor mais rico. De maneira similar
o Cativo se torna um miserável como qualquer escravo da história e
alguns ainda são salvos de abusos piores do que a mente de um vivo
possa imaginar levando em conta seu valor material.
Pode variar. Existem bons Senhores
e maus Senhores. Alguns são sádicos, e
outros só estão nessa por dinheiro. Exis-
tem uns poucos que querem mesmo ajudar.
Um Cativo de uma aparição poderosa está a
salvo de outras aparições, e pode apren-
der como as coisas funcionam. Alguns Se-
nhores se vêem mais como professores. Um
bom número deixa seus Cativos andarem
soltos. A maioria, no entanto, está no
negócio. Algumas coisas não mudam desse
lado da Mortalha.
Na verdade, em sua maioria é preferível uma vida de Cati-
vo à árdua existência de ser uma Lêmure. Essas são as almas que, de
alguma forma, arrancaram suas próprias Coifas e evitaram o aprisio-
namento por outros. Prenderam-se nas Terras das Sombras por suas
Paixões, ainda são relativamente jovens e fracos e são presas fáceis
para aparições mais velhas e poderosas caso resolvam caçá-los. Por
isso as Terras das Sombras está tão livre de Lêmures independentes
quanto uma cidade está livre de camundongos; individualmente fra-
cos apesar de serem sempre em grande número.
Ainda assim, Cativos e Lêmures não são as aparições mais
A Sombra
No entanto, esses atores no palco fantasmagórico são ape-
nas a metade da história de cada aparição; há a luxúria assim como a
nobreza nas Paixões. Eu falo agora da ganância bestial e egoísmo que
faz parte de cada alma, que existe somente para afastar as aparições
de seus objetivos. É normal que em certos – mortos, claro – círculos se
rotule essa voz sinistra com uma variedade de apelos psicológicos que
a identificam. Essa voz é uma tentação, freqüentemente forte e ofe-
recendo prazeres e poderes que se provam ser a droga dos mortos; tor-
nando as coisas piores, é um pequeno demônio pessoal. Seus sussurros
só podem ser ouvidos no silêncio de sua mente; seus argumentos são
tão audíveis que não podem ser negados ou ignorados pela voz calma
de seus associados e todos devem enfrentá-la com pouca ou nenhuma
assistência.
Todos temos nosso lado negro. Quan-
do estamos vivos ele é parte de nós, e
desafortunadas. Os Drones são a classe mais baixa apesar de serem
eles a sustentar esse título, nem ao menos são aparições, mas algo
como um eco recorrente na Terra dos Mortos. Um eco ingênuo que têm
a aparência de uma aparição, mas não sua substância ou consciên-
cia. São criaturas desoladas, sem vontade que não podem fazer nada
além de seguir suas Paixões e repetir as mesmas ações pela eternidade.
Como um leão enjaulado que anda de um lado pro outro sem parar
no zoológico. Tão atrelados estão aos seus Grilhões, essas patéticas
criaturas existem na membrana da própria Mortalha e são mais vistos
pelos vivos que outras aparições.
Grilhões podem ser algo bom ou algo
ruim. Drones estão fortemente ancorados
aos seus Grilhões, e não podem fazer nada
longe deles. Mas sem Grilhões, uma apa-
rição nem ao menos pode permanecer nas
Terras das Sombras. Com todos os proble-
mas, as Terras das Sombras são ainda um
bom lugar para se estar.
É verdade, e os Herdados – aquelas aparições que tiveram
seu acesso negado às Terras das Sombras por perderem ou negarem
seus Grilhões – devem encontrar para si um nicho seguro, ou se arris-
carem com o Esquecimento. Muitos abraçam a Hierarquia, que – não
importa o quanto falem mal – é o melhor modelo de estabilidade. Ou-
tros entram em cultos Hereges que se integram às suas inclinações e
filosofias. É necessário, no entanto, um espírito forte para sobreviver
à perda de um Grilhão.
Talvez as mais fortes aparições são aquelas chamadas de
Estornados. Mantendo algumas de suas Paixões, e ainda sendo for-
tes o suficiente para viajar livremente pelas Terras das Sombras, eles
podem ir e vir sempre que quiserem. Essa liberdade ganha grande au-
toridade, pois todos reconhecem a força que isso demanda. Muitas
entidades podem ser mais temidas que os Estornados, mas somente
os Barqueiros são mais respeitados; falarei mais deles logo, pois eles
não são devidamente numerosos entre os Mortos sendo talvez, algo
diferente.
podemos lutar contra ele, mas fazemos
isso silenciosamente. Para nós fantas-
mas, a luta se torna mais difícil por
conta daquela voz na cabeça que ganha
consciência própria aqui. É chamada de
Sombra, e tem grande prazer em tentá-lo
a fazer coisas que não faria. Claro, se
você ouvi-la, ela ficará mais forte. Um
dia, pode tomar o controle completamen-
te e, quando isso acontece, não é nada
bonito. Há meios de manter a Sombra sob
controle, mas ela também tem seus truques
na manga. Toda aparição tem uma guerra
Civil particular dentro da própria cabe-
ça, e não há prisioneiros de guerra lá.
 As Terras das Sombras
Devo pausar meu discurso sobre os Mortos e sua sociedade
e expor um pouco sobre o mundo que habitam e seu relacionamento
com o mundo dos Breves. As Terras das Sombras, como são chamadas,
são a parte do nosso mundo que tocam diretamente o seu. As Terras
A Mortalha
Separando as Terras das Sombras do mundo vivo está o que
chamamos de Mortalha. De certo modo, a Mortalha é a experiência
da morte, pela qual somente alguns poucos podem passar sem ter re-
almente morrido. De algumas formas, pode ser visto como uma mem-
brana, opaca em alguns lugares, transparente em outros; por onde
aqueles que conhecem os meios podem passar, e onde outros devem
parar.
Apesar, como eu mencionei, de as Terras das Sombras e o
mundo dos vivos serem em alguns lugares e em certas épocas quase
iguais, a Mortalha serve sempre como um separador entre eles. O que
quer que esteja do outro lado da Mortalha parece estar apodrecido
Nihils
George está certo. É algo difícil
de aceitar. Mas há lugares em que o mundo
dos Mortos pode afetar o dos vivos. Nem
sempre isso é bom, no entanto. Nihils
são exemplos disso. Eles são lugares nas
Terras das Sombras onde há uma espécie
de buraco que se conecta à Tempestade.
Coisas estranhas podem acontecer nos ar-
redores de um Nihil mesmo nas Terras da
Carne. O que acontece nos arredores de
Locais Assombrados, Cidadelas e Necropoleis
Às vezes, as Terras das Sombras tomam forma baseada
nos limites do mundo vivo, como um manto negro sobre uma fina
escultura. De alguma forma, nesses lugares onde há concentrações de
aparições, elas são fortes o bastante para levar seus feitos ao mundo
dos Breves.
Esses lugares são geralmente aterradores e as almas dos vi-
vos mais sensíveis que vão até eles, sabem com uma certeza infalível
que estão entre os Mortos. Estes são os grandes cemitérios, as cida-
des abandonadas, labirintos e casas em ruínas de má fama, reforçada
por superstições. Nós os chamamos de Locais Assombrados, pois lá os
das Sombras e o mundo dos Breves se cruzam em certos pontos. Eles
são, como se fossem imagens espelhadas e ainda assim ocupam, ou ao
menos compartilham, o mesmo espaço físico.
e decadente, sua majestade cai em pedaços, e ainda parece sólido o
suficiente para uma aparição tocar. O som que atravessa a Mortalha
parece distante e distorcido; as vozes são ouvidas como ecos com um
estranho vazio. Tentar tocar algo que está do outro lado é inútil pois
suas mãos atravessam como se fossem névoas; apesar do objeto dese-
jado permanecer sólido mesmo com as mãos fantasmagóricas atraves-
sando sua superfície. Quantas lágrimas eu derramei, eu e cada nova
aparição, tentando abraçar meus amados Breves e quão amarga foi a
visão daquelas lágrimas caindo através e não sobre suas mãos e rostos
distantes! Eu choro, me perdoe; e a despeito dos anos e séculos, ainda
é algo que me amargura.
um Nihil nas Terras das Sombras é ainda
pior.
A prosa medida de Ernest mal pode supor a aura que cir-
cunda um Nihil. Visão e som se distorcem enquanto a Tempestade
suavemente se aproxima das Terras das Sombras; para os vivos, o
local terá má fama com os desaparecimentos inexplicáveis e eventos
estranhos. É a existência dos Nihils que lembram às aparições da ne-
cessidade da Mortalha, pois ela ao menos protege os Breves do caos
da Tempestade.
Mortos permanecem.
Se o Local Assombrado for um prédio – ou até uma rua
– nas Terras das Sombras, então uma Necropolis é uma verdadeira
cidade de Mortos, composta de uma coleção de Locais Assombrados
como uma cidade viva é composta por prédios. Quanto maior e mais
forte for o Local Assombrado em uma Necropolis às vezes dá o direito
de ser chamado de Cidadela e fica como o castelo de um barão na ci-
dade como um símbolo de segurança e poder. É raro uma Cidadela que
não responda à Hierarquia em nome dos Senhores da Morte e sob seu
comando.
 O Enorme Mundo Inferior
Se as Terras das Sombras fossem tudo no mundo dos Mor-
tos, então esse trabalho seria mais fácil. Esse que está tão perto do
mundo dos Breves que é quase uma sobreposição do mesmo e no qual
Esquecimento
Se aceitar que no Mundo Inferior a escuridão é nossa luz, o
espírito nosso corpo e a entropia nossa energia; então o Esquecimento
é nosso sol. Tudo no Mundo Inferior vêm do Esquecimento, e tudo
volta para ele. Contudo, desqualificar esse tipo de assunto soaria de-
masiadamente desesperado.
A ciência humana, assim acredito, concluiu que força
e matéria são uma única coisa, e que qualquer forma substancial é
um monte de energia que de alguma maneira tornou-se condensada e
ganhou forma material. Pelo contrário, a divisão de um átomo (que
ironia, para aqueles que sabem Grego!) faz com que a matéria se re-
-agrupe como energia. Refletindo sobre esse princípio com relação ao
espelho negro da Mortalha, alguém chegou à conclusão que o plasma
que faz tudo e está no Mundo Inferior é uma forma semelhante, po-
rém revolta de entropia, que por um ínfimo momento toma forma ma-
A Tempestade
A Tempestade é, se você desejar, o oceano do Mundo In-
ferior. Pois ela circunda tudo e permeia toda e qualquer parte que de
alguma forma esteja nele. Mesmo o Esquecimento, aquela escuridão
titânica, manifesta-se dentro dessa tormenta sem fim como um pode-
roso Vácuo como uma pedra lapidada por um joalheiro nas profunde-
zas do Labirinto.
Além disso, devo confessar que essas palavras – e meu que-
rido Ernest, somente elas – em particular quase me faltam. Meu po-
bre vocabulário não é apropriado para o trabalho de descrever a Tem-
pestade e de fato é somente com dificuldade que me mantenho calmo
enquanto penso a respeito. Mais que qualquer outra parte do Mundo
Inferior, a Tempestade é quase literalmente indescritível. É em parte
como o pior e mais tempestuoso mar que um marinheiro mortal ja-
mais viu, talvez bem pior que isso. Há caminhos chamados Atalhos,
rotas livres através da tormenta doentia, mas essas avenidas tomam
muitas formas. Aparecem como rios, ou estradas, ou longos trilhos
de locomotivas, ou em coisas que nem Ernest se atreveria a nomear.
E ainda assim, enquanto viaja pelo Atalho qualquer um pode ver o
próprio coração da Tempestade, onde, luzes multicoloridas cintilam
como línguas através de nuvens de gases pulsantes e tempestades de
vidro estilhaçado direto do abismo.
ambos formam e são formados é por natureza mais fácil de se imagi-
nar para o leitor vivo, e mais fácil de explicar. O mesmo não acontece
com o resto.
terial. Assim, é possível dizer que o plasma pode a qualquer momento
se dissolver e tornar-se entropia novamente, dadas as circunstâncias
congênitas da transformação.
Se isso for verdade – e isso é muito debatido – então o
Esquecimento é aquilo do que somos feitos, e para o qual devemos,
com toda certeza, um dia retornar. Assim como o Mundo Inferior e o
plasma do qual ele é feito, há mais a se perguntar do que se ele surge
espontaneamente, ou por alguma escolha consciente dos Breves ou
dos Mortos, ou talvez se alguma vontade sombria e incompreensível
que algumas almas acreditam residir no Esquecimento o fez sozinha.
Essas perguntas, porém, são para cientistas e filósofos; não para po-
etas, jornalistas ou revolucionários. No fim, é suficiente dizer que
o Esquecimento é aquela fome sombria que devora a todos nós, nos
mandando numa espiral descendente, como Ícaro, para seus braços.
De todas as aparições, apenas aquelas deformadas e in-
sanas criaturas chamadas Espectros podem viajar pela Tempestade
sem perder a sanidade, e isso só porque eles já a perderam. É senso
comum entre as aparições que os Espectros eram antes como eles e
tornaram-se Espectros ao se renderem aos fragmentos de sussurros
do Esquecimento em suas mentes. Há um certo teor de justiça poé-
tica nessa história, e ajuda que aparições criem novas teorias sobre a
origem dos Espectros. Sabe-se que durante os Pesadelos, os horríveis
dramas pelos quais a aparição é forçada a passar por grandes agonias
dentro da Tempestade, o elenco desses dramas assustadores é inevita-
velmente formado por Espectros que procuram atormentar a aparição
azarada que caiu em seus domínios. Talvez eles estejam recrutando,
ou, como a Lanterna caída de Milton, procurando por companhia em
seu tormento.
Os Barqueiros, que eu já mencionei antes, parecem ser ca-
pazes de atravessar a Tempestade sem se ferirem, e até guiar outros
através dela se assim desejarem; eu sei que ainda não falei sobre esses
seres extraordinários, e peço ao leitor um pouco mais de paciência,
até que meu relatório sobre a ‘geographia infernis’ esteja finalmente
terminado.
 Os Hereges
Não há, claro, nenhum incentivo maior à piedade nos vivos
que o medo do que acontecerá ao seu espírito depois do fim da vida. Se
existe um Inferno, um Tartarus, um Niflheim ou um Apsu; ou se vai
encontrar um padre caridoso, bem alimentado por sua congregação
temerosa. Devo segurar o riso ao considerar o que os padres vivos
fariam nas Terras das Sombras, e como eles reagiriam ao descobrir que
acontecem as mesmas coisas aqui também. Talvez isso seja pertinente;
não tenho certeza.
Seja como for, tem se falado que a fé provê ajuda ao espírito
na adversidade, e não é menos verdade dizer que isso continua post
funera. Outro benefício que uma fé inabalável provê é o prazer e a
segurança de uma sociedade, atraindo para si almas semelhantes. Sem
nos esquecer da promessa de que algo melhor está por vir. A pobre
aparição tem tanta necessidade desse conforto quanto às almas vivas,
talvez mais.
Renegados
A melhor maneira de descrever os
Renegados é “nenhum dos acima.” Alguns
são bandidos separatistas, outros são
refugiados ou dissidentes tentando evi-
tar a Hierarquia, e outros ainda são ver-
dadeiros anti sociais. Eles geralmente
se opõem à Hierarquia, e a Hierarquia
nega-lhes o direito de existir. Grupos
A Hierarquia
A Hierarquia, na verdade, merece um espaço maior do que
recebeu até agora nessas páginas; por bem ou por mal, sua influência
é sentida em quase qualquer parte do Mundo Inferior. Com o gran-
de Caronte à frente no comando do modelo despotista idealizado por
Platão, a Hierarquia era toda e qualquer força para o bem dos Mor-
tos, oferecendo proteção aos fracos e resistindo em benefício de todos,
Vou poupá-lo da visão de George
sobre a natureza da religião. O que ele
jamais dirá é isso: Há grupos nas Ter-
ras das Sombras que estão unidos por uma
crença em comum, como cultos, religiões e
filosofias das Terras da Carne. Nós os cha-
mamos de Hereges, que é como eles geral-
mente se chamam uns aos outros. Em troca
da lealdade, seus seguidores ganham o
suporte da organização. Alguns Hereges
dizem ter a chave para a Transcendência.
Isso é algo que requer uma explicação de-
talhada, mas não agora, pense nisso como
o atalho que as religiões dos vivos ofe-
recem para o paraíso.
surgem e somem, alianças se formam e se
perdem. A única constante entre eles é a
mudança.
Algumas pessoas chamam a mim, Ge-
orge e os outros de Renegados. A Hierar-
quia com certeza. Esse é um nome tão bom
quanto outro qualquer, e eles não são os
primeiros a usarem.
aos Espectros e outros horrores que às vezes fugiam da Tempestade.
Com o tempo, porém, a forte mão de Caronte deixou que a
Corrupção, interesse próprio e guerra pelo poder, crescessem num rom-
pante dentro das fileiras Hierárquicas, transformando sua bondade
quase paternal em uma tirania sombria e sangrenta. Os principais
atores nessa tragédia foram dois: os Senhores da Morte e as Guildas.
 Maelstroms
Assim como os oceanos podem, algumas vezes e em certos
lugares, invadir a terra com terrível força, a Tempestade pode visitar
o resto do Mundo Inferior com seu próprio tufão. Essa manifesta-
ção sem igual é conhecida pelas aparições como Maelstrom; o próprio
Esquecimento parece vomitar essas abominações, através da Tempes-
tade, devastando Necropoleis inteiras e arrasando várias outras. O
Estigia
Dentro da loucura da Tempestade existe uma ilha, e nessa
ilha se estabelece uma grande cidade, que se chama Estigia. Mais de
uma vez, como a fabulosa Atlântida, ela foi atingida por Maelstroms,
e cada uma dessas vezes ela foi reconstruída das ruínas do passado e
galgou degraus cada vez mais altos em sua glória e grandeza. Para
muitos que lá residem, Estigia é o centro do Mundo Inferior, assim
como Londres representa para muitos londrinos, toda a Inglaterra, e
Paris, para os parisienses, toda a França. Centro pode não ser a pala-
vra certa, mas é muito marcante.
A história de Estigia você poderá encontrar ao seu alcance
nas páginas que se seguem. Não deixaria de fazer ao menos alusão ao
trabalho desse notável vulto que a construiu com as próprias mãos.
Por ora, o leitor precisa ter em mente apenas que a cidade foi funda-
da pelo grande Caronte, e sob sua sábia e benevolente lei durou por
As Costas Distantes
Existem vários argumentos sobre os lugares aos quais as
aparições se referem como Costas Distantes. Muitos até mesmo duvi-
dam de sua existência. Mesmo assim nunca me perguntei se fosse ver-
dade, nem espero fazer isso um dia. Eu aceito a existência das Costas
Distantes como um vivo aceita a existência de, digamos, a cidade de
Essex sem tê-la visto. E posso dizer que a existência de Essex nunca
me causou desejo.
George foi capturado por seu pró-
prio ego. Pode passar um tempo antes que
ele recupere seu bom senso. Não faço
idéia do que ele quis dizer com Essex,
mas ele parece achar bastante divertido.
As Costas Distantes são ilhas na Tem-
pestade, como aquela em que se encontra
Estigia. Dependendo da história que você
acredite, eles podem ser o céu e o infer-
no que qualquer religião prega, ou são
imitações, fingindo ser esses mesmos céus
e infernos de forma a iludir os fanáticos
a algum destino desagradável. O último
aparecimento de um Maelstrom é geralmente ligado a uma terrível
cadeia de eventos no mundo dos Breves – a queda do Império Ro-
mano, a Peste Negra, e as duas Grandes Guerras desse século foram
todos seguidos por um desses terríveis desastres – mas um Maelstrom
pode visitar o Mundo Inferior inspirados por uma força maligna do
Esquecimento.
muitos séculos, a maior e mais nobre das Cidadelas dos Mortos. Mais
tarde, contudo, Caronte foi engolido pela Tempestade quando lutava
com um apóstolo titânico do Esquecimento; e sem sua mão severa
os Senhores dos Mortos que regiam o Senado de Caronte Augustus
tornaram-se uma sanguinária e tirânica oligarquia tendendo ao es-
cravagismo.
É tão imperativo desprezar esses Senhores da Morte e a
Hierarquia que a eles serve, que eu e meus colaboradores colocamos
essas palavras à prova. Faço isso para que o verdadeiro estado dos
assuntos do Mundo Inferior seja conhecido por Breves e Mortos, e os
déspotas Hierarcas possam ser vistos, de uma vez por todas, pelo que
são. A vontade de calar a todos deve ser suficiente para fazer com que
todos falem, e para que uma Babel se erga para derrubar suas menti-
ras.
ponto de vista é decisão oficial de Esti-
gia, ou algo que o valha.
Pessoalmente, não sei o que acho
sobre as Costas Distantes. A princípio,
eu não concordo com a visão oficial de
Estigia. Por outro lado, acho muito con-
veniente ter a promessa de cada religião
para a vida após a morte apenas esperando
lá na Tempestade. Isso soa como isca para
idiotas. Talvez elas nem existam. Mui-
tas aparições acreditam nelas. E tantas
outras querem acreditar. Alguns assumem
enormes riscos tentando alcançá-las por
conta própria. Outros procuram sem parar
por um Barqueiro disposto a guiá-los. Al-
gumas aparições se oferecerão para guiar
outras até as Costas Distantes, mas o que
acontece na jornada ninguém sabe. Já vi
vigaristas levando imigrantes e refugia-
dos antes.
 As Guildas
Apesar dos feitiços que nós aparições chamamos Arcanoi
serem diferentes de qualquer capacidade artesanal praticada pelos ar-
tesãos vivos, eles são tão importantes para as coisas por aqui quanto
as habilidade em carpintaria, arquitetura e metalurgia são para uma
nação viva. Para desenvolver a estrutura e os aparatos da Hierar-
quia, Caronte achou válido organizar em Guildas as aparições que
tinham habilidades em um ou outro arcanos, tanto para promover e
desenvolver cada feitiço de maneira a impor um tipo de ordem entre
as aparições livres que não eram escravos nem soldados.
As Guildas eram sempre fracionadas, discutindo entre si
e tramando uma contra as outras, mas nisso talvez esteja sua força.
Pois apesar de sempre discutirem umas com as outras, seu maior de-
sagrado era com os que não possuíam Guilda alguma – incluindo os
Senhores da Morte e suas Legiões. Logo que Caronte estabeleceu as
Guildas, eles mesmos podem confirmar, eles começaram a ignorar seus
comandos, e os comandos de qualquer um que não fosse seus Senhores
e Senhoras de Guilda. Na verdade, muitas aparições de Guilda dizem
que seus cabais criaram suas próprias Guildas, e que Caronte sim-
Os Senhores da Morte
O grande Caronte fundou Estigia nos modelos da repúbli-
ca. De acordo com o conhecimento convencional dos Mortos, sobre
o modelo nada menor que o da República Romana. Com ele mesmo
como Cônsul, Caronte escolheu sete outros de sua confiança para Se-
nadores, cada um teria o controle para governar uma parte do Mundo
Inferior.
Com o passar dos tempos e o crescimento de Estigia, além
das mudanças no mundo dos que respiram que ecoaram entre os Mor-
tos, também mudou Caronte, mais ou menos na época das Cruzadas,
e mudou sua administração num modelo feudal. Esse foi o verdadeiro
nascimento da Hierarquia, pois abaixo de Caronte e dos Senhores da
Morte surgiram ordens e classes de mortos; Cavaleiros e Legiões, Guil-
das e Cativos.
Enquanto o tempo do desaparecimento de Caronte passa-
Os Barqueiros
Ao menos posso me redimir da promessa e dar conta dos
Barqueiros. Agradeço por isso, querido leitor, por sua paciência em
ter esperado tanto, acredito que entenderá que com o resto do Mundo
Inferior já em mente, meu trabalho com os Barqueiros será mais com-
pleto e compreensível.
Os Barqueiros são uma ordem antiga e poderosa, se é que
podem ser chamados de ordem. Para ser exato, é difícil saber do que
devem ser chamados, além de Barqueiros; pois não têm raça ou Guil-
da, nem aparecem particularmente organizados entre eles; ainda as-
sim são todos Barqueiros, todos ou todas em seus direitos.
Caronte era um Barqueiro – talvez o maior Barqueiro, no
entanto é difícil uma comparação entre eles – antes de fundar Esti-
gia. Há uma tradição entre os Mortos que ele tenha sido de fato o
primeiro Barqueiro, e os outros um dia haviam servido a ele; mas seja
plesmente ganhou o crédito por sua iniciativa. Essa arrogância ou se
torna divertida ou odiada, dependendo da perspectiva, mas ao menos
é reconfortante.
A Hierarquia lhe dirá que as Guildas se dispersaram, e não
podem mais usar seu monopólio de conhecimento como arma política.
Isso é uma meia verdade. Com certeza os Arcanoi não são mais de
controle exclusivo das Guildas, mas as Guildas permanecem em se-
gredo, assim como o Ernest e eu. Talvez uma em dez aparições deva
fidelidade a uma Guilda, apesar de um alto preço ser cobrado de quem
é descoberto.
Nos tempos difíceis que enfrentamos, as Guildas são uma
ponta de esperança, mesmo em sua condição reduzida atual. A natu-
reza dos Arcanoi que as Guildas ensinam e lidam pode ser encontrada
descrita em quaisquer dessas páginas, por uma mão mais hábil que a
minha. Embora eu deva minha contínua existência em grande parte à
proteção das Guildas em tempos de necessidade, não passo de um po-
bre viajante a quem falta aprendizado e sem a capacidade de escrever
sobre os grandes mistérios.
va, os Senhores da Morte se tornaram mais ferrenhos e mais abertos
às suas intrigas. No meio de tantas alianças forjadas, esquemas e
traições, eles brigavam pelo lugar de Caronte no trono. Eles são ex-
tremamente poderosos, têm muitos seguidores e praticamente recursos
inacabáveis; e apesar de não ter se iniciado um confronto aberto, os
efeitos de seus esquemas são dificilmente menos destrutivos à paz e
à liberdade dos Inquietos. Cada Senhor da Morte não mede esforços
– em nome do melhor para a Hierarquia, claro – para arrastar os vi-
vos para suas Legiões de Mortos, e escravizar qualquer aparição que
permanecer em liberdade antes que um rival ganhe controle sobre elas.
Ser livre é ser considerado um inimigo desses déspotas, e os Senhores
da Morte tratam seus inimigos de uma forma que os Terroristas, a
Santa Inquisição ou os guerrilheiros do Khmer Rouge invejariam e
admirariam.
isso verdade ou invenção nenhuma aparição pode dizer, afinal ne-
nhuma ouviu essa história da boca de um Barqueiro. Apenas os mais
destemidos fariam perguntas a um Barqueiro, e apenas os mais tolos
esperariam uma resposta.
Entre eles, o leitor encontrará outros nomes que lhe são
familiares, além de Caronte. Como Hermes, Brunhilde e suas irmãs,
Namtaru e outros. Os Barqueiros já existiam antes da Hierarquia,
antes de Estigia e alguns deles existem desde a aurora dos tempos.
Nenhum poder pode retirá-los de seus objetivo, e nenhum poder pode
tirá-los do curso; pois as mais solitárias criaturas do Mundo Inferior
podem atravessar a Tempestade à vontade, sem temer os Espectros ou
qualquer outra coisa que encontrem.
George está ficando um pouco entu-
siasmado aqui. Os Barqueiros existem há
muito tempo mesmo. Contudo, não acho que
sejam tão indestrutíveis assim. Existem
várias histórias de Barqueiros resgatan-
do de Espectros aparições perdidas na
Tempestade. Ainda assim, os Espectros
não caem simplesmente nessas histórias.
O que acontece é que não se ouve mais fa-
lar de quem não volta. E é improvável que
os Barqueiros falem sobre isso, afinal de
contas.
Você não tem fé, Ernest? Os Barqueiros são figuras do mis-
Transcendencia
Estou assumindo esse tópico, por-
que mal posso imaginar que vôos poéti-
cos esse nobre senhor prepararia com um
assunto desses. Deixando de lado esse
misticismo todo, a Transcendência é para
as aparições o que a redenção é para os
vivos que nela acreditam. Com a vida no
Mundo Inferior sendo como é, existem pou-
cas aparições que queiram acreditar nes-
se fio de esperança. É ainda mais difícil
encontrar qualquer um que tenha visto
isso acontecer.
Muito é falado sobre Transcendên-
cia, incluindo uma boa leva de contra-
dições. O que parece se repetir é que
Transcendendo, uma aparição pode sair do
Mundo Inferior como se nunca tivesse pas-
sado por lá depois de sua morte. Como
a Transcendência é alcançada também é
motivo de discussão. Alguns dizem que
Transcendência é um estado de espírito,
ou iluminação. Outros dizem que se li-
vrar das Paixões e Grilhões pode levar à
Transcendência se você estiver preparado
pra ela. Devo dizer que eu teria que es-
tar em estado de graça antes de volunta-
Notas Finais
Por enquanto, fizemos o que podíamos, assim como nos foi
permitido. É hora de permitir que outros escrevam, outros com maior
conhecimentos em suas próprias esferas. Preparamos o palco, como
deveríamos e o preenchemos com o contexto necessário para que, es-
peramos sinceramente, o leitor possa estar agora mais preparado para
digerir o que se segue. Se parecer incrível, não nos desculparemos por
isso, pois também achamos quando vimos pela primeira vez. Nosso
terioso imaginário, e ainda assim você insiste em reduzi-los a moto-
ristas de ônibus da Tempestade. Não vou deixar isso assim; fico com
a responsabilidade de restaurar-lhes a majestade! Agora, com isso à
mão... acho que a única coisa maior que seu poder seja seu mistério,
pois vão aonde quer que desejem, falam com poucos e seus motivos e
interesses só podem ser imaginados por nós, criaturas inferiores. Em-
bora suas barcas de junco pareçam frágeis e suas lanternas lancem
longas sombras, não há lugar mais seguro nem curso mais certo ante
a Tempestade que aquele que pode ser encontrado na companhia enig-
mática de um Barqueiro.
Se você está dizendo, George.
riamente abandonar uma das coisas que me
mantém aqui nas Terras das Sombras e me
impedem que eu seja dragado para me des-
fazer na Tempestade. Outros ainda dizem
que boas ações permitem a uma aparição
pagar quaisquer débitos cósmicos que o
prendem ao Mundo Inferior, mas isso me
soa mais esperança que realidade. Existem
outras versões, sem contar as descrições
do evento, incluindo pilares de fogo até
coros de anjos, ou algo parecido. George
diz que minha alma é pequena, sem visão e
desiludida demais para apreciar a idéia.
Transcendência existindo ou não,
não faz diferença. Ela representa espe-
rança e dá a muitos a força que neces-
sitam para continuar quando, de outra
forma, não o fariam. Também leva algu-
mas aparições a resistirem à Hierarquia,
quando outros motivos não são suficientes.
Tenho certeza que as religiões de algu-
mas pessoas deu-lhes força para resistir
aos poderes fascistas da Europa, com o
simples pensamento de que não resistir a
eles seria pecar.
desejo, como antes, é que você não entre nessa existência desprepara-
do como nós entramos, mas que esteja avisado de certos pormenores
e assim mais apto a evitar certas dificuldades e abusos que nós não
desejaríamos nem ao nosso mais amargo inimigo.
Adeus, caro leitor, e bons sonhos. O dia pode não raiar tão
cedo, pois a passagem pela Mortalha torna o sonho uma dura realida-
de.
 Livro um: Morte

Eu
não a
conheci
antes que ela
morresse, mas
tudo bem. Eu
também tinha
morrido, na ocasião.
Uma aparição, tecni-
camente. Um fantasma,
condenado a assombrar meu
último trabalho até... bem, não
sei direito até quando. Não é como se
tivesse um manual de instrução para ser
uma aparição, não importa o que digam
os filmes. Eu não assombrava muito, também - Nin-
guém nem sabia que eu estava lá. Ninguém vivo, pelo me-
nos. Então, eu me encolhi dentro do meu Local Assombrado,
remoendo minha existência fantasmagórica e rezando para que a
eternidade terminasse rápido. Não parecia haver muitas opções.
Mas uma noite, olhei pela janela onde as outras aparições estavam reunidas
na rua abaixo, então a vi. E ela, bem, ela olhou pra mim e sorriu. Mas não foi o sufi-
ciente pra me fazer descer.
Então, os fantasmas soldados vieram e ela não conseguiu se esconder rápido o suficiente.
Um açougueiro fantasma a agarrou e levou embora. Mas não foi o suficiente pra me fazer descer.
Não a tempo para ajudá-la, de qualquer forma.
No fim, tive que me obrigar a sair, por minhas próprias razões. Descobrindo que agora ela signi-
ficava mais que tudo, mesmo com meu velho escritório me puxando de volta. Mas ela ainda está lá fora, em
algum lugar nessa terra morta e eu preciso encontrá-la. Pensar nisso me enche de uma força que nunca tive antes.
Queria poder explicar.
12 Aparição: O Esquecimento
Vou encontrá-la. Encontrarei o homem (fantasma) que a feriu. E quando encontrar, ele vai descobrir que há
destinos muito piores que a morte.
Capítulo Um: Introdução 13
 to, padrões começam a emer- abaixar para um lado e me
Renascimento gir. Fracos flashes de amarelo preparar para o impacto.
e branco piscam na escuridão Sim! Houve um im-
A consciência volta
como luzes. Formas amórfi- pacto!
lentamente, como um cober-
cas translúcidas como grandes O pensamento era
tor pesado e escuro que é reti-
amebas luminosas avançam e tão palpável quanto um tapa
rado por mãos invisíveis...
se afastam simultaneamente. no rosto.
Sinto meu rosto, peito
Rostos, seus detalhes De repente um som
e barriga no chão duro e des-
perdidos numa sombra impe- sibilado como uma tira de
confortável. Meus dedos estão
netrável, rodam à minha volta tecido molhado enche meus
pendurados como garras num
como folhas de outono levadas ouvidos. Eu tremo inadver-
balanço irritante. Um rugido
por redemoinhos que me jo- tidamente, lembrando um
torturado se forma no fundo
gam para todas as direções ao som seco e pesado, seguido
da alma, mas não importa o
mesmo tempo. Pensamentos de um coro de vozes trêmu-
quanto eu tente, não consigo
vagos e ecos de vozes ininte- las.
libertá-lo.
ligíveis salpicam como fantas- E havia algo mais.
É como se eu tivesse es-
mas na minha cabeça. Mesmo Algo sobre um rio.
quecido como.
que tentasse agarrar qualquer Lutei para aquecer
A escuridão me con-
pensamento em particular, ele minhas lembranças.
funde, me deixa tonto e pres-
escapulia como areia da praia Eu havia ficado acor-
siona impiedosamente meu
entre os dedos. dado até tarde, talvez até
corpo contra a terra. Sempre
Então o pensamento perto de amanhecer. Eu es-
que tento respirar, não sinto o
desvaneceu... tava na ponte da East Street,
menor movimento dos mús-
Perdeu-se pra sempre. olhando para o rio Strou-
culos do meu peito ou das cos-
Perdido como você está, dwater.
telas expandindo, nenhuma
uma fina voz sussurra no fun- O céu estava enco-
rajada de ar gelado passa por
do da minha cabeça. berto. Sem lua ou estrelas.
meus pulmões ou garganta.
Acho que lembro quem Naquela noite, o rio parecia
O que está acontecendo
sou. óleo queimado, escorrendo
comigo?
Meu nome é David... com um gorgolejar fantas-
Um medo frio inco-
David Robinson. magórico pelos pilares de
mensurável, mais forte que
Finalmente, uma única sustentação da ponte. Re-
qualquer coisa que eu tenha
imagem queima mais clara- demoinhos e espuma apa-
experimentado se apodera de
mente que todas as outras. reciam pela superfície da
mim enquanto eu observo a
Luzes. água, e algo – uma voz fan-
escuridão que pulsa atrás dos
Lembro-me de ver dois tasmagórica, assustadora –
meus olhos.
círculos de luz giratórios vin- chamava meu nome.
Não consigo dizer se
do na minha direção direto da Lembro da minha
meus olhos estão fechados ou
escuridão. mão suando contra o apoio
abertos.
Meu corpo está tenso, e de metal que ainda irradiava
Depois de encarar o
lembro-me da sensação de me o calor de um dia quente. O
vazio por um instante infini-
ar noturno secava minha gar-
ganta, queimando quando eu
o engolia como água indo para
os pulmões.
Águas negras...
E me lembro ter ouvido
um sussurro distante e sibila-
do que talvez fosse o tráfego,
que passava pela interestadu-
al. Não havia muito tráfego na
ponte da East Street.
Não àquela hora.
Eu sempre andava por
ali de madrugada... para pen-
sar, trabalhar as idéias para
histórias.
Sim, sou escritor. Bem,
ao menos costumava ser. Sem-
pre que não conseguia dormir,
vinha pra cá contemplar o
que estivesse errado na minha
vida, agora – mais uma vez –
isso mudou drasticamente.
Mas essa noite, eu me
lembro, eu disse pra mim mes-
mo que já tinha pensado tudo
que tinha pra pensar. Hoje eu
havia determinado – final-
mente – que faria!
E por que não?
Sara, que havia sido
minha esposa por 10 anos,
me deixou um ano atrás, e o
divórcio já havia terminado a
muito tempo. Isto, combinado
à carreira decadente – apior de
todas – a morte da minha úni-
ca filha, Karen, seis anos antes,
finalmente destruíram minha
vontade de viver.
Descobri que havia me
trancado numa concha de so-
lidão, que era esquecida ape-
nas pelas ondas de fúria. A
maior parte delas direciona-
das à minha esposa, mas vejo
agora que a verdadeira raiva –
aquela pura – deveria ser dire-
cionada a mim mesmo.
Por isso decidi ir adian-
te com meus planos hoje.
O que eu deveria fazer,
juntar os cacos e ir em frente?
Não, era melhor mor-
rer.
Então, era como eu de-
veria estar.
Morto.
Mas se eu estou morto,
como ainda posso sentir meu
rosto contra o chão?
Eu rosno internamente
quando imagens fragmenta-
das se fundem na minha men-
te. Algumas dessas lembranças
quase fazem sentido.
Eu estava de pé na pon-
te, olhando para o rio lá em
baixo e desejando – não, oran-
do a Deus para que eu tives-
se coragem de terminar com
aquilo.
Ultimamente, eu sabia
que poderia ser bem fácil.
Tudo que eu precisa-
va fazer era saltar por entre o
corrimão e cair. Deixar a gra-
vidade fazer seu trabalho.
Muitas vezes durante o
último ano eu tentei imaginar
como seria. Talvez essa seja
uma das negativas em ser um
escritor. Eu podia imaginar
coisas violentas e perigosas
muito mais vívidas.
Eu quase podia sentir
a densa água do rio entran-
do pelo meu nariz e boca.
Podia imaginar a corrente-
za sombria, fortes e escura;
escoando entre as pilastras,
como mãos ondulantes me
puxando para o fundo. Po-
dia sentir a necessidade do
ar queimando enquanto
meus pulmões se enchiam,
me afogando, me estrangu-
lando como mãos invisíveis
que me pegavam e arranca-
vam a vida do meu corpo.
E então...?
Então eu não tinha a
coragem para fazê-lo! Eu dei
pra trás.
Aquele pensamen-
to me queimava por dentro
com um quê de desespero
que quase se podia ouvir, eu
não me sentia tão miserável
desde que Karen havia mor-
rido.
Mas quando vim até
aqui para isso, saltar daquela
ponte, não encontrei cora-
gem!
Algo deu errado, mas
o que?
Se ao menos eu lem-
brasse…
16 Aparição: O Esquecimento
 Capítulo Um:
Introdução
Fantasma, s.m. Um sinal estranho e visível de um
medo interno.
- Ambrose Bierve, o Dicionário do Diabo.
eseja ouvir uma história de fantasmas?
Temos contado histórias desde a pré-
-história, quando as fogueiras nas ca-
vernas dançaram pela primeira vez nas
paredes e nos deu o tempo para refletir
sobre o fato de que um dia, morrere-
mos. Desde então, tornamo-nos fasci-
nados pela morte e pela esperança de
que, talvez, algo venha depois.
É sobre isso que Aparição: O Esquecimento é feito,
histórias de fantasmas, mas aquelas que são descobertas no
lugar de escritas, e contadas por um grupo de jogadores e seu
Narrador. Ao sentar para jogar Aparição no fim da tarde, está
concordando a ajudar a contar uma história que nunca foi con-
tada antes, e da qual ninguém sabe o final.
O livro que está segurando é a chave para essas histó-
rias de fantasmas. Ele contém as regras básicas para o jogo que
você está prestes a começar, e dá aos Narradores as ferramen-
tas com as quais vão criar a moldura para as histórias surgirem
como jogo. Este livro permitirá que você torne-se uma aparição
(um fantasma preso pela Paixão ao mundo dos vivos) e experi-
mente todos os triunfos e falhas do seu personagem. Contudo, a
partir do momento que seu personagem é criação sua, a falhas e
vitórias são verdadeiramente suas também.
No íntimo, Aparição é um jogo, mas um jogo de
contar histórias, não de “vencedores” e “perdedores”. Se você já
jogou outros jogos de interpretação, esse material é como um
chapéu velho pra você, mas se nunca experimentou nada pare-
cido, pode ser algo um pouco confuso. Não se preocupe, é mais
simples do que parece, e a maior parte do que isso envolve, você
têm feito durante toda sua vida.
Mas agora é a hora de contar algumas histórias de fan-
tasmas: histórias de amor além da morte e mãos esqueléticas
nas janelas de mansões, histórias de martelos ressoando em for-
jas fantasmagóricas e navios fantasma navegando para sempre
na noite tempestuosa. No centro de cada uma dessas histórias,
contudo, está você: a aparição. Isso não é como assistir um filme
ou ouvir alguém lendo pra você. Essas são histórias que você
ajuda a criar, assim sendo, são suas histórias de uma forma que
um filme ou série de TV jamais seriam.
Capítulo Um: Introdução 17
Narrativa
ontar histórias é parte integral da con-
dição humana. Temos passado por len-
das e contos desde tempos imemoriais;
bardos gregos eram aplaudidos mera-
mente por recitarem a lista de navios
na Ilíada de Homero. Temos uma rica
e variada tradição oral, uma que tem
fugido de nós enquanto a televisão e o
rádio cresceram muito mais persuasivos.
Agora, no lugar de contarmos histórias, apenas as
escutamos. No lugar de criar novas aventuras para nossos he-
róis favoritos, esperamos que inúmeras sequências cheguem
à locadora de vídeo. Nós abdicamos do nosso direito de criar
histórias, nos contentando em ser mera audiência travestida de
cultura.
Não precisa ser assim. Todos podemos ser ainda nar-
radores, é sobre isso que é Aparição. Esse jogo é uma chance de
contar histórias, no lugar de apenas ouvi-las. É uma oportuni-
dade de criar algo com outros, não simplesmente compartilhar
uma experiência passiva com eles. Uma combinação de jogo
e narração colaborativa, Aparição nos permite tomar, à nossa
maneira, o manto dos bardos e trovadores antigos.

Interpretando
Além de ser um jogo de narrativa, Aparição é um
“jogo de interpretação”. O termo pode assustar algumas pes-
soas, mas na verdade, interpretar é algo que temos feito desde
crianças. Toda vez que brincamos de polícia e ladrão, cada vez
que vamos pra um parquinho e fingimos que voamos, estamos
interpretando. Entramos facilmente na persona de outro, os no-
bres policiais e os malvados ladrões, bravos soldados ou pode-
rosos super-heróis, até que alguém nos diz que isso é “bobo” e
“infantil”. E assim, paramos de adotar esses papéis, e abandona-
mos a interpretação com as memórias da infância.
Aparição o chama para escavar essas lembranças
e mais uma vez entrar na pele de outro. Claro, precisamos de
mais regras (mas nem tantas) que em nossas brincadeiras - “Te
peguei!” “Não pegou, não!” “Peguei, sim!” não é mais uma base
aceitável para esse tipo de jogo. Tudo que as regras de Aparição
fazem é adotar um parâmetro para a história, permitindo que o
Narrador decida quando uma aparição é capaz de algo. Regras
guiam e dão direção à história, eliminando conflitos e decidin-
do quando as ações de um personagem são plausíveis. Elas não
ditam a ação, nem a restringem.
Todas as regras que você vai precisar para jogar Apa-
rição estão localizadas no Capítulo Três deste livro. Além disso,
a história é o que importa.
Não tem um limite de tamanho em um jogo de Apa-
rição, mas nada maior que meia dúzia de jogadores é recomen-
dado. Mais que isso, os jogadores serão forçados a disputar a
atenção do Narrador, e isso significa que cada personagem tem
menos tempo para ser um herói - ou vilão.

18 Aparição: O Esquecimento

O Narrador
E tu vais também destruir mundos, meu filho?
- Neil Gaiman, Livros da Magia
Aparição pode ser um pouco diferente da maioria dos
jogos que você está acostumado. Não há tabuleiro, nem marca-
dores, moedas ou cartas. No lugar disso, todo o jogo se passa
na cabeça e na descrição do Narrador, um jogador que se vo-
luntaria a criar e narrar as histórias onde os outros jogadores
estrelarão.
Ser um Narrador leva a pessoa pra um lugar entre
Deus e professor substituto. Todos os poderes de criação são
seus, ao menos os que formam o quadro da história. Você des-
creve e cria o mundo, popula, decide seus pormenores e produz
sua grandeza. Por outro lado, você é responsável por inserir os
jogadores e seus personagens na sua criação e enquanto você
decide os destinos dos personagens controlando as ações de
seus inimigos, você cede controle da sua criação, permitindo
que eles ajam como desejarem dentro dela. No entanto, é ainda
um preço baixo a se pagar por ser o criador de histórias e até
mesmo de lendas.
O maior trabalho do Narrador é garantir que todos
os jogadores estejam se divertindo. Isso significa contar uma
boa história que envolva todos os personagens, tratando per-
sonagens e jogadores de forma justa e equilibrada e escutando
tudo que acontece no seu mundo assim como criá-lo. Você cria
o esqueleto da história, então deixa que os personagens ajam
e coloquem os músculos nos seus ossos, balançando entre juiz
e narrador sempre que a situação se mostrar necessária. Você
deve determinar que regra aplicar e como aplicá-la para cada
situação, além de descrever a situação de forma vívida para que
os jogadores reajam apropriadamente. Você deve se servir da
máscara de cada personagem do seu mundo, dando a cada um
uma personalidade e uma voz diferentes quando os jogadores se
encontrarem com eles.
Soa intimidador, não é? Talvez, mas ao mesmo tem-
po, é incrivelmente recompensador. Tomar o lugar de árbitro e
apresentador pode ser difícil, mas este livro é feito para tornar
a tarefa o mais fácil possível. Narrar Aparição jamais será fácil,
mas esse livro pode tornar o processo mais agradável e menos
desgastante. A recompensa para um Narrador é, afinal de con-
tas, a própria história.
O papel do Narrador é explicado em maiores deta-
lhes no Capítulo Oito.
Jogadores
Nem todo mundo pode ser o Narrador; a maioria dos
envolvidos numa Crônica de Aparição terá o papel de jogador.
Enquanto o Narrador prepara o cenário e cria as cenas para o
jogo, são os jogadores que exploram o cenário e criam a ação
dentro dele. Ser jogador consome tempo e preparo, mas ambos
trazem riqueza e textura à história que seu Narrador criou.
Em Aparição, você interpreta um fantasma, um Mor-
to Inquieto. Você cria o personagem com o qual vai jogar na
história ou histórias e decide o que seu personagem fala e faz.
Ator e diretor em partes iguais, você movimenta sua aparição
pelo mundo criado pelo seu Narrador, agindo e reagindo como
você achar melhor.
Como jogador, você é responsável pelas ações e dis-
cursos do seu personagem. Tudo que seu personagem falar,
você fala. Tudo que seu personagem fizer, você anuncia. Seu ob-
jetivo, é claro, é ajudar seu personagem a superar os obstáculos
que se apresentam fazendo com que ele fale e faça coisas que
permitam que ele desvie ou atravesse qualquer dificuldade.
Ocasionalmente, você decidirá realizar uma ação com
seu personagem na qual o Narrador pedirá um rolamento de
dados para determinar se houve ou não sucesso. Fora essas situ-
ações, simplesmente volte ao tempo do faz-de-conta. É tudo que
precisamos. Crie sua aparição, dê a ela personalidade como uma
máscara de Halloween e de repente é hora de tornar-se outra
pessoa; ser o herói de uma história de fantasma.
Personagens
Para poder jogar Aparição, você deve adotar uma per-
sona e dentro do contexto do jogo, interpretar esse papel. Como
atores interpretam personagens no palco, você interpretará um
personagem na história que você e seus amigos criaram.
A diferença, claro, é que um ator está preso ao script
por um roteiro, enquanto um personagem de Aparição é cria-
do por você. O processo de criação de um personagem é rela-
tivamente simples; detalhado no Capítulo Cinco e geralmente
leva menos que meia-hora. Escolher as Características e outras
estatísticas permite que você crie funcionalidade para as capa-
cidades do personagem. A parte difícil, dar carne aos ossos na
ficha, vem a seguir.
Já que você vai interpretar esse personagem por horas
a fio, faz sentido fazê-lo real, tão completo quanto possível. O
que seu personagem gosta de fazer? Ele tem alguma fobia ou tic
nervoso? Ele começa um diálogo sempre com a mesma frase, ou
ele está sempre manipulando uma faca entre suas mãos durante
uma conversa? Esses pequenos detalhes trazem mais vida que
um monte de pontos numa folha de papel e torna o personagem
que você criou o mais real possível. Toda grande história co-
meça com um grande personagem, afinal de contas; e você não
quer que o seu seja a exceção.
Uma Pequena Dança
Uma das coisas únicas de se jogar Aparição é
que você não está preso a jogar apenas com seu perso-
nagem. Você tem a chance de jogar com o lado negro de
alguém, chamado de Sombra. Dessa forma, mesmo que
seu personagem não esteja diretamente envolvido na his-
tória, como jogador, você ainda é parte vital do que está
acontecendo.
Como um Guia de Sombra, você deve tentar
outro personagem a fazer coisas que ele sabe que não de-
veria fazer, ou talvez você só dê a ele corda suficiente para
se enforcar. Lembre-se, no entanto, que da mesma forma
que você está interpretando a Sombra de alguém, outro
está interpretando a sua.
Capítulo Um: Introdução 19

Vencedores e Perdedores
m Aparição não há “vencedores” e
“perdedores”; não existe um objetivo
fixo ou condição de vitória para que
os jogadores alcancem. A ideia do jogo
não é derrotar os outros jogadores e
cooperar com os outros personagens
pode ser até necessário para a sobrevi-
vência do próprio personagem. Nem é
o objetivo “vencer” o Narrador, já que
o Narrador e os jogadores devem trabalhar juntos para criarem
a melhor história possível. De muitas formas, nem mesmo é
possível “perder” um jogo de Aparição. Mesmo que seu per-
sonagem seja destruído, sempre há um novo papel para inter-
pretar, uma nova máscara para vestir e uma nova história pra
contar.
Aparição, como todos os jogos de narrativa, é sobre
um tipo completamente diferente de vitória do que estamos
acostumados a ver, acumulando cartas coloridas ou chegando
ao final do tabuleiro. Sucesso num jogo de Aparição pode ser
obtido por muitas razões: superando os inimigos durante a his-
tória (apesar disso poder atrair atenção de inimigos mais pode-
rosos e colocar novas histórias em movimento...); resolvendo
suas Paixões e Grilhões de forma satisfatória; descobrir algum
plano maligno de seu pior inimigo e o ver se enrolar em sua
própria corrente; alcançar a tão sonhada Transcendência; der-
rotar aquele último e desesperado ataque dos Espectros; escapar
pelos dedos da Hierarquia quando a captura parecia certa; ou
ainda simplesmente sair do jogo com histórias que seu persona-
gem passou e que colocarão mais tarde um sorriso no seu rosto.
O que é Necessário
Não se precisa muito para jogar Aparição além da sua
imaginação. Esse livro, alguns lápis, cópias impressas das fichas
de personagens e alguns dados de 10 lados é tudo que se precisa.
Se seu Narrador for desenhar mapas ou usar miniaturas, uma
mesa pode ajudar, mas nada além disso.
Não é como dizer, contudo, que alguns adereços não
vão ajudar ou ser úteis. Cartas escritas à mão, velas já utilizadas,
matérias de jornais - tudo isso pode ajudar a experiência de jo-
gar Aparição e tornar o jogo mais real. O truque é lembrar que,
não importa o quão bons sejam os adereços utilizados, eles são
só adereços e é a história que importa.
Ação ao Vivo
Apesar de estranha a noção que um jogo ao vivo de
fantasmas pode ter, pode ser uma experiência intensa e memo-
rável de interpretação. O mundo de Aparição é feito essencial-
mente de improvisação, assim, ações ao vivo permitem que você
deixe a mesa e os dados pra trás e aja e fale como faria seu per-
sonagem.
Na maioria dos jogos de interpretação de papéis, você
descreve o que seu personagem faz e rola dados para determinar
se ele consegue ou não. Num jogo ao vivo, você tem a oportuni-
20 Aparição: O Esquecimento
dade (dentro de alguns limites) de fazer o que seu personagem
faria e falar por ele, sem a necessidade de rolar dados para de-
terminar se é bem sucedido pelo que tentou.
Claro, sem os dados deve haver um meio de determi-
nar quando você é bem sucedido ou não no que está tentando,
particularmente se isso afeta outro personagem. Regras alter-
nativas, como as descritas na série Teatro do Olho da Mente,
da White Wolf, ou a decisão do Narrador são boas alternativas
para resolver quaisquer conflitos; o mecanismo não importa
desde que seja consistente e justo e que todos se divirtam no
processo.
As Regras de Ação ao Vivo
A Ação ao Vivo envolve certos riscos que não estão
presentes nos jogos de mesa (a não ser, claro, que um de seus
amigos seja viciado em jogos de azar com dados). Enquanto jo-
gos de Ação ao Vivo permitem que mais jogadores participem
e interajam do que seria possível em um jogo de mesa, também
aumentam a possibilidade de alguém sair ferido. Com isso em
mente, sempre lembre dessas pequenas regras:
• Não toque - A partir do momento que na Ação ao
Vivo você pode agir como seu personagem, há algumas coisas
(como combate, pular de escadas de incêndio, fugas em carros
em velocidade e por aí afora) que são melhores se deixadas por
conta da imaginação, apesar de tudo. Como é fácil se empolgar
no calor do momento e permitir que seu personagem tome o
controle, você não deve nunca esquecer que isso é apenas um
jogo. Jogadores que se excederem devem ser retirados da ação
para que possam se acalmar; se continuarem a cruzar essa linha,
devem ser retirados do jogo. Nenhuma história ou vitória do
personagem vale o risco de se machucar.
• Nada de Armas - Por mais bonita que uma espada
possa parecer como parte da caracterização, ou por mais apro-
priado que uma arma pareça (mesmo uma réplica) para seu
personagem assassino, nenhum tipo de arma deve ser permiti-
do num jogo de Ação ao Vivo. Mesmo réplicas ou imitações de
armas reais (especialmente revólveres e pistolas) podem parecer
reais e levar alguém a se machucar, sem falar na suspeita que
pode gerar em pessoas que não estão no jogo.
• Respeite Pessoas que não Estão Jogando - Ou res-
trinja a área de jogo para um lugar onde não haja ninguém por
perto (Ex.: sua casa, uma sala alugada na sua faculdade ou um
sítio alugado), ou lembre-se que pessoas que não sabem que
está ocorrendo um jogo estão ao redor da área e não fazem ideia
do que está acontecendo. Respeite o espaço delas e não as faça
parte da ação sem que deem permissão. O que ninguém precisa
é que o zelador do prédio atrapalhe aquela cena do Pesadelo
que estava acontecendo achando que era algum tipo de ritual
satânico. Informar às autoridades que você era só um Espectro
sugando a alma do personagem do seu amigo pro Esquecimen-
to, sem dúvida, não vai ajudar.
• Saiba Quando Parar - Sempre lembre que é só um
jogo. Não importa o quão profundamente se identifica com seu
personagem, nem se a ação é muito empolgante, ainda é só um
jogo. Se a interpretação for intensa demais para alguém, é hora
de parar, sem perguntas.

Aparições
Sua vida é uma fuga e privado dos sentidos
Além da esperança de sobrevivência, ele sofre seu quinhão,
Pálido sob o raio, envelopado sob o manto da morte…
- O Destino dos Homens, S.A.J. Bradley, tradutor
em lá no fundo, a maioria de nós acre-
dita em fantasmas. Muitos querem acre-
ditar que a morte não é um fim, que
nossas personalidades - nossas almas
- não desaparecerão para sempre com
nosso último suspiro. Então acredita-
mos em fantasmas para nos convencer
que a morte não é o fim de tudo, afinal
de contas.
Em Aparição, a morte não é o fim. É apenas o come-
ço. Muitas almas, após a morte, passam pela Transcendência
ou pelo Esquecimento, mas algumas tornam-se residentes das
Terras das Sombras como aparições. Essas almas são especiais,
trazendo consigo desejos e deveres não realizados, emoções e
necessidades tão poderosas que são mais fortes que a própria
morte. Raiva, amor, medo, ódio - são algumas das Paixões que,
até que sejam solucionadas, ligam uma aparição às sombras do
mundo mortal. Guiados pelas Paixões e ancorados por seus
Grilhões, aparições são pegas entre essa vida e a outra.
Vivendo no Mundo Inferior, entre memórias de lo-
cais vivos e o horror desesperador da Tempestade, aparições
caminham sobre uma linha fina entre os mundos. Podem afe-
tar o mundo mortal, mas apenas raramente se manifestam nele;
podem viajar para a Tempestade, mas nunca a chamam de lar.
Iluminados por suas paixões e obscurecidos pelo medo, a exis-
tência de uma aparição pode ser cheia de terror.
Muitas aparições atravessam rapidamente sua exis-
tência nas Terras das Sombras até sua sina. Ligados apenas por
Grilhões fracos e guiados por Paixões estremecidas, eles logo
resolvem as pendências que os prendiam. Personagens de jo-
gadores, no entanto, possuem Paixões e Grilhões poderosos,
que os fazem permanecer por muito tempo na comunidade dos
mortos. Ligados tão severamente ao mundo dos vivos, que po-
dem permanecer no Mundo Inferior por décadas ou mais, se o
Destino permitir.
O Mundo Inferior
Esse deve ser um lugar onde se aprende o que não aprenderia na
Terra.
- Peter Himmelman, “11 Meses para Limpar os Maus Espíritos”
Tempestade, Estigia e Terras das Sombras: esses, com-
binados com As Costas Distantes, formam o reino dos Mortos
Inquietos. Coletivamente conhecidos como Terra dos Mortos
ou Mundo Inferior, que define as fronteiras da existência de
uma aparição.
As Costas Distantes são as mais alienígenas à terra
dos vivos. Existindo além do Mar Sem Sol depois das torres
de ferro de Estigia, elas oferecem um buffet de céus e infernos
para qualquer aparição corajosa e hábil suficiente para ir até lá.
Demônios e salvadores podem ser encontrados aos montes por
Capítulo Um: Introdução 21
 lá, assim como réplicas habilmente construídas de praticamente
todas as crenças pós-morte já imaginadas. Todas são farsas, no
entanto, de acordo com a monolítica Hierarquia de Estigia, que
proibiu o tráfego organizado pelo Mar Sem Sol.
Ao pé desse oceano soturno, fervilha a tormenta in-
terminável da Tempestade, na qual os Espectros uivam esfome-
ados. Há ilhas seguras no meio desse furioso Maelstrom eterno;
Estigia, a capital do império dos mortos, descansa num desses
oásis. No coração da tormenta existe um Labirinto titânico, ro-
ído nas entranhas do Esquecimento pelos monstruosos Espec-
tros conhecidos como Malfeanos. No centro do Labirinto está
a boca do Vácuo: O próprio Esquecimento, a boca da entropia.
Poucas aparições, se é que existe alguma, olharam pra lá e retor-
naram pra contar. Mesmo Espectros temem o lugar, apesar de
serem controlados por ele.
Também há caminhos seguros através da tormenta,
Atalhos que levam de Estigia até a grandeza arruinada das Ter-
ras das Sombras. Sobreposta à terra dos vivos (também chama-
da de Terras da Carne), as Terras das Sombras são cheias de
memórias e ecos que tomam forma. Uma Mortalha nascida da
descrença separa as Terras das Sombras e Terras da Carne, mas
as aparições ainda podem ver vagamente, através dela, o mundo
vivo que deixaram para trás.
Essa geografia, é claro, não corresponde ao Céu, In-
ferno ou qualquer crença que as massas mortais estão familia-
rizadas e muitas aparições consideram sua chegada na Terra
dos Mortos uma decepção. O fato da vasta maioria dos mortais
nunca terem aparecido no Mundo Inferior depois de morrer
leva à crença de que a Terra dos Mortos seja uma espécie de
Purgatório, uma parada antes de algo muito melhor, ou pior.
Aparições sustentam essa visão mais que outra qualquer, acre-
ditando que estão “fazendo hora” no Mundo Inferior por cente-
nas ou até milhares de anos e se for questionada privadamente,
muitas aparições admitiriam preferir esse “Purgatório” que o
que quer que esteja depois dele. Além do mais, aqui eles ao me-
nos podem tocar os vivos e entes queridos que conheciam… ou
quase.

Características das Aparições

Ser uma aparição vêm com certas vantagens. Toda
aparição, em virtude de sua natureza fantasmagórica, possui as
seguintes habilidades:

• Visão da Morte - Existindo do outro lado do tú-

mulo, aparições vêem o mundo através de lentes desfocadas.
Prédios parecem decréptos, plantas são secas e murchas, carros
parecem enferrujados anos antes da hora e pessoas próximas
da morte parecem mais pálidas. Aparições podem ver quanto
das coisas (e pessoas) foram tocadas pelo Esquecimento. Apesar
disso parecer ruim, permite que uma aparição possa acessar o
ponto fraco de um objeto ou a saúde geral de um ser vivo.

• Visão da Vida - Assim como vêem a morte em seres

vivos, aparições podem ver a vida. Essa habilidade toma for-
ma tornando aparições capazes de ler auras de seres vivos (ou
mortos), as cores rodopiantes que cercam as coisas. As auras
mudam de cor a todo momento de acordo com o humor e saúde

22 Aparição: O Esquecimento
dos seres que a geram; aparições podem definir o humor atual,
saúde e estado mental de alguém só olhando para ela.

• Sentidos Aguçados - Toda aparição tem uma sen-

sibilidade sensorial extraordinária. Ouvir sussurros e ler letras
miúdas não representam problemas para nenhuma aparição.
Entre outros usos, isso pode ajudar a ler placas, ouvir conversas
secretas e detectar o primeiro cheiro de gasolina quando um
incendiário se prepara pra incendiar seu Local Assombrado.
Por outro lado, luz forte, som alto e outros estímulos excessivos
podem ser muito desconfortáveis para os Inquietos, os incomo-
dando, deixando tontos ou até mesmo os ferindo.

• Insubstancialidade - Ao mesmo tempo uma benção

e uma maldição para uma aparição, insubstancialidade é o que
permite a aparição passar através de objetos sólidos sem muita
resistência. Gastando um ponto de Corpus, uma aparição pode
atravessar paredes, pessoas ou balas com facilidade.

A Sombra
Vou te ferir até que precise de mim.
- Richard Thompson, “Cruz do Calvário”

Cada aparição carrega seu pior inimigo com ela e per-

manece no fundo de sua mente. Ao atravessar a Mortalha, o
lado mais sombrio de uma alma assume uma identidade sepa-
rada e busca todas as oportunidades para exercer sua vontade
malévola. Enquanto parte da mesma mente e alma, a Sombra
(como esta malícia senciente o chamada) mantém uma exis-
tência independente e maligna dentro da cabeça da aparição.
Egoísta e sádica, a Sombra vai adulterar e persuadir, subornar
e ameaçar sua melhor metade. Ela pode oferecer poder ou usar
seus dons únicos (chamados de Espinhos) para tornar seu ou-
tro lado (chamado de Psique) mais maleável às suas sugestões
sedutoras.
Não importa quão agradáveis sejam as ofertas da
Sombra, todas elas levam a um único objetivo: a destruição final
da aparição. A Sombra é o lado autocentrado e autodestrutivo
da personalidade de todas as aparições, o desejo de morte que
é dado por uma voz e uma vontade. A Sombra tem tudo a ver
com o caminho mais fácil, fazendo o que é bom no momento e
para o inferno com as conseqüências. Para o modo de pensar da
Sombra, a aniquilação completa é preferível a pagar o flautista e
os gritos da Psique naquele último e longo declive são a música
mais doce que se possa imaginar.
De todos os conflitos que uma aparição enfrenta, sua
luta com sua própria Sombra é a mais cruel e terrível. Não há
trégua da voz sussurrando em seu ouvido, sem cessar com as
hostilidades possíveis. Os maiores triunfos alcançados por uma
aparição e as piores derrotas que ela sofrerá virão no campo de
batalha de sua própria alma.
Mais sobre a Sombra pode ser encontrado no capí-
tulo seis.

Capítulo Um: Introdução 23


O Fim de Todas as Coisas
Para todas as coisas, há um final. A maioria das apa-
rições eventualmente sucumbe ao Esquecimento, talvez cum-
prindo um dever como um Espectro primeiro ou simplesmente
sendo engolido pelo Vácuo. É contra a inevitável atração des-
cendente do Esquecimento, a gentil gravidade do nada, que a
maioria das aparições luta. O medo do Esquecimento é o moti-
vo pelo qual os Inquietos agarram-se com tanta força aos seus
Grilhões, pois enquanto os Grilhões podem amarrar uma apa-
rição à Terra, eles também a ancoram contra o Esquecimento. A
maioria das aparições crê que o Esquecimento é o seu fim ine-
vitável e não há nada na sua existência nas Terras das Sombras,
exceto a luta contra a não-existência.
Algumas aparições, no entanto, acreditam que há ou-
tro fim possível. Eles falam da Transcendência, uma ascensão
para um estado mais elevado do ser. O yin yang do Esqueci-
mento, é a entrega deliberada do eu em oposição à destruição
da personalidade que o Esquecimento representa. Para Trans-
cender, é preciso resolver os Grilhões e deixar as amarras da
vida para trás.
É claro que a doutrina da Transcendência provavel-
mente teria mais adeptos se alguém soubesse o que o processo
realmente implica. Afinal, ninguém que supostamente tenha
Transcendido jamais voltou para compartilhar sua experiência.
Há histórias, é claro, de aparições levadas ao Paraíso em feixes
de pura luz branca. Em oposição, há histórias que dizem que a
coisa toda é uma farsa, inventada por Espectros, que leva a apa-
rição “Transcendente” ao Vácuo. Em qualquer caso, a maioria
das aparições é muito tímida para abandonar seus Grilhões de
bom grado e assim a Transcendência continua sendo um so-
nho e um rumor para eles. Ainda assim, fornece algo de valor
inestimável nas Terras das Sombras. Mesmo entre aqueles que
preferem o inferno que conhecem à Transcendência, a própria
menção da palavra pode inspirar esperança.
No Coração das Coisas
No coração de Aparição estão a paixão e o horror, ine-
xoravelmente entrelaçados. Paixão é o que se recusa a permitir
que um fantasma descanse tranquilamente em seu túmulo, o
que alimenta sua existência pós-morte e lhe dá a força para re-
sistir ao Esquecimento e à sua própria Sombra. Sem as paixões
para seguir, para proteger, para vingar (de alguma forma, para
agir) uma aparição é, na melhor das hipóteses, uma lembrança.
Sem paixão, uma aparição não é nada.
Equilibrando o poder da paixão está o horror. O grito
de todo prisioneiro sempre tem sido: “Você pode partir meu
corpo, mas minha alma é minha!” No Mundo Inferior, essa di-
cotomia não existe mais. O espírito pode ser quebrado, forjado
ou moldado por capricho. Sem os limites da física e biologia,
criaturas de pesadelo são uma coisa cotidiana aqui. As apari-
ções podem deliberadamente moldar-se em monstruosidades,
se isso servir aos seus propósitos e os abusos dos Arcanoi per-
mitem a violação do corpo e da alma. Até mesmo a paixão, a
força motriz da existência de uma aparição, pode ficar distorci-
24 Aparição: O Esquecimento
da nas mãos da Sombra, trabalhando avidamente na direção da
destruição e da preservação. No mundo de Aparição, tanto os
vivos como os mortos têm muito a temer.
Paixão e horror, amor e medo, ação e destruição - es-
sas dicotomias colidem em Aparição. Paixão sem horror para
superar é desperdiçada; o horror que não inspira paixão é real-
mente fraco. Entre os dois e ligados a eles estão os Mortos In-
quietos.
Léxico
Uma nova existência exige novos termos para descre-
vê-la. Abaixo estão algumas das frases e nomes usados para de-
finir a existência no Mundo Inferior.
• Açougueiro: Uma aparição que possui os vivos.
• Agência, A: Gíria para a burocracia da Hierarquia.
• Angústia: A energia mental negativa que a Sombra
(e os Espectros) alimentam e usam.
• Aparição Livre: Uma aparição que não está ativa-
mente servindo nas forças armadas.
• Aparição: Um fantasma, um espírito que mantém
apegos tão fortes às terras dos vivos que não consegue ultrapas-
sar esse nível de existência. Também chamado de Inquieto.
• Arcanos: Uma das habilidades sobrenaturais que os
fantasmas possuem, permitindo que eles afetem os vivos e os
mortos. O plural é Arcanoi.
• Arcanum, O: Uma coleção de estudiosos e caçado-
res de fantasmas entre os Breves.
• Artefato: Um objeto no Mundo Inferior que possui
poderes incomuns de algum tipo.
• Atalho: Um caminho estável através da Tempestade.
• Bife: carne mortal.
• Bifinho: Uma aparição cujo maior arrependimento
foi não ter vivido enquanto teve a chance. Bifinhos são surpre-
endentemente comuns.
• Boojum: Um bicho desagradável, geralmente um
dos habitantes não identificados da Tempestade.
• Breves, Os: Os vivos.
• Caronte: Fundador e governante da Hierarquia, de-
saparecido desde 1945.
• Carrasco: Uma aparição especializada em caçar
Epectros.
• Cativo: Uma aparição que está a serviço de outra.
Em essência, um escravo.
• Ceifador: Uma aparição que remove a Coifa do In-
fante.
• Ceifar: O ato de soltar os Infantes de suas Coifas
e iniciá-los nas Terras das Sombras. Muitos Ceifadores são na
verdade escravistas e a iniciação que eles oferecem consiste de
um par de algemas ligadas por correntes de Aço Estígio.
• Cidadela: A construção central e fortaleza de uma
Necropolis.
• Círculo: Um grupo de fantasmas, geralmente envol-
vidos em negócios comuns.
• Cohorte: Um Círculo composto por aparições afilia-
dos à Hierarquia. As Cohorts devem ter 10 membros.
 • Coifa, A: O saco amniótico do nascimento de uma
aparição nas Terras das Sombras. O revestimento translúcido
feito de ectoplasma com o qual todas as aparições renascem.
• Consorte: Uma pessoa viva em sintonia para ser
usada como Hospedeiro.
• Corpus: O “corpo” de uma aparição. Plural é Corpo-
ra.
• Costas Distantes, As: As terras do outro lado da
Tempestade, correspondendo ao Céu, Inferno e muito mais.
• Culto: Um nome pejorativo para as inúmeras seitas
Hereges.
• Dia do Juízo: O dia em que o Esquecimento engole
•o dia em que as Terras das Sombras e Terras
tudo; inversamente,
da Carne se fundem. O Dia do Juízo aparece proeminentemente
em muitas filosofias dos cultos Hereges, mesmo que nem dois
Hereges concordem sobre o que exatamente é.
• Dictum Mortuum: Decreto de Caronte proibindo o
tráfico com mortais.
• Dízimo: A quantidade de Pathos que uma aparição
extrai de um Local Assombrado ou Grilhão.
• Domínio: Território mantido por uma aparição ou
um Círculo de aparições.
• Drone: A concha de uma aparição, fadada a repetir
infinitamente uma única tarefa até ser reivindicada pelo Esque-
cimento. Drones não têm mente ou vontade.
• Escada Venosa: A passagem no coração de Estigia
para o Labirinto.
• Espectro: Uma aparição cuja a Sombra alcançou um
domínio permanente. Os Espectros servem ao Esquecimento.
Também conhecido como o Devorados pela Sombra.
• Esquecimento: A manifestação e a fome da entropia,
também conhecida por alguns como o Grande Desfazer. Esque-
cimento é o destino final de todas as coisas no Mundo Inferior,
salvo aqueles que transcendem. A manifestação física do Esque-
cimento é chamada de Vácuo e se abre no coração do Labirinto.
• Estigia: O Reino Negro do Ferro, a maior organi-
zação de aparições no mundo Ocidental. Também a capital do
império dos Inquietos Ocidentais.
• Fogo Fátuo: Cristais de Pathos concentrados, usados
no forjamento da alma.
• Gangue: Um Círculo de Renegados.
• Grilhões: Aquelas coisas que permanecem nas terras
dos vivos que amarram uma aparição à sua antiga vida.
• Guilda: Uma das organizações supostamente proi-
bidas de Aparições Livres dedicada ao estudo e uso de um dos
Arcanoi. Haviam 13 Grandes Guildas e três menores.
• Hereges: Fanáticos religiosos entre os mortos, em-
bora muitas religiões bizarras tenham surgido entre os Inquie-
tos. A maioria dos Hereges têm algum tipo de crença central em
torno da noção de transcendência.
• Hierarquia, A: A burocracia monolítica do Reino
Negro do Ferro, ou simplesmente o Império de Estigia. Neste
ponto, o Império e a Hierarquia se tornaram intercambiáveis
na maioria das mentes das aparições. A Hierarquia é a maior
coleção de aparições ocidentais no Mundo Inferior.
• Hospedeiro: Uma pessoa viva possuída pelo uso do
Arcanos Titerismo.
• Ilha das Lamentações, A: A ilha na Tempestade na
Capítulo Um: Introdução 25
qual a cidade de Estigia foi construída.
• Iluminados: Aparições que Transcenderam.
• Infante: Uma aparição que renasceu no Mundo In-
ferior, geralmente envolto em uma Coifa.
• Inferno: Supostamente, um lugar de punição para
almas perversas. No Mundo Inferior, uma piada da primeira or-
dem; Há tantos infernos falsos que eles se tornaram uma espécie
de atração turística para os mais aventureiros entre os mortos.
• Inquietos, Os: Aparições em geral. Também conhe-
cido como os Mortos Inquieto.
• Legado: Maneira arcaica de se referir a um Grilhão
muito potente.
• Legiões: Os militares e policiais de Estigia, embora
tecnicamente todo cidadão de Estigia deva lealdade a uma das
Legiões. Cada Legião é supervisionada por um Senhor da Mor-
te.
• Lêmure: Uma jovem aparição, recentemente faleci-
do mas não mais um Infante.
• Local Assombrado: Um lugar onde a Mortalha é
fina e os Inquietos se sentem em casa.
• Maelstrom: As terríveis tempestades que surgem
a partir da boca do Vácuo em direção às Terras das Sombras,
levando Espectros e destruição em seu rastro. Crescendo com
mais frequência nos últimos anos, eles são a causa ou o resulta-
do de eventos horríveis nas Terras da Carne.
• Marmota: Aparições que afirmam ter experimenta-
do o estereotipado “túnel da luz”. O termo não é considerado
um elogio.
• Modorra: O sono de cura no qual as aparições po-
26 Aparição: O Esquecimento
dem entrar.
• Mundo Inferior, O: Os reinos dos mortos, das Cos-
tas Distantes às Terras das Sombras e incluindo Estigia, a Tem-
pestade, o Labirinto e o Vácuo.
• Necropolis: Uma cidade dos mortos. Também usa-
do para especificar as regiões dos Breves mais densamente habi-
tadas por aparições. Plural é Necropoli ou Necropoleis.
• Nihils: Um rasgo no tecido das Terras das Sombras,
rompendo a realidade da superfície e expondo a Tempestade
que surge por baixo. Alguns Nihils levam ao Labirinto.
• Obolus: A unidade básica de moeda Estigia, forjada
a partir de uma alma.
• Pathos: Pura emoção, que as aparições alimentam e
usam em suas existências diárias. A essência utilizável da pai-
xão.
• Pesadelo, O: Um passeio de trenó pelo pior lado do
subconsciente de uma aparição, cortesia de sua Sombra e dos
Espectros da Tempestade. Mais de uma aparição foi destruída
durante um Pesadelo.
• Plasma: A matéria física do Mundo Inferior. Apari-
ções, relíquias e Artefatos são todos feitos de plasma.
• Projeções: Visitantes do Mundo Inferior nas Terras
da Carne. Também conhecido como Garotos da Carne.
• Reerguido: Uma aparição que encontrou uma ma-
neira de reanimar seu cadáver. A maioria das aparições acredi-
tam que Reerguidos são lendas.
• Relíquia: A memória de um objeto, feita de plasma.
• Renegados: Aparições que se opõem à Hierarquia.
Eles não têm estrutura, organização ou qualquer outra coisa
além da rebelião. Renegados variam de verdadeiros combaten-
tes da liberdade para os fantasmas até rufiões que procuram
uma vida após a morte mais fácil.
• Senhor da Morte: Um dos sete fantasmas atualmen-
te governando a Hierarquia. Cada um tem domínio sobre as ví-
timas de um certo tipo de morte (ou seja, violência, pestilência,
mistério, etc.).
• Serviço Bu: Uma tentativa premeditada de assustar
os Breves.
• Sombra, A: O lado mais sombrio da personalidade
de uma aparição. A Sombra é egoísta, egocêntrica e sádica, e
dirige seus esforços para destruir todos os amores da aparição
(incluindo a própria aparição).
• Suco: Pathos.
• Surfar na Tormenta: Tomar um caminho curto
através da Tempestade, o exato oposto de usar um Atalho.
• Tempestade, A: A grande tormenta do Mundo In-
ferior, separando as Terras das Sombras de Estigia e as Costas
Distantes.
• Terras da Carne, As: As terras dos vivos.
• Terras das Sombras, As: O reino fantasmagórico do
outro lado da Mortalha, vindo das terras dos vivos.
• Torre de Onix, A: o palácio de Caronte, agora aban-
donado.
• Transcendência: O momento em que uma aparição
reconcilia Sombra e Psique, movendo-se para uma existência
superior. A transcendência é considerada lenda pela maioria
das aparições e temida por muitos outros.
• Vácuo, O: O abismo no coração do Labirinto.
• Vultos Condenados: Um Espectro.
Capítulo Um: Introdução 27
 e estouravam numa cortina de cheio de umidade, mas agora
Ceifa energia. Tudo, eu lembro, foi to- eu não tenho qualquer sensa-
mado por uma penumbra escura ção de temperatura. Mesmo o
Ainda estou no chão com
e densa até que, de alguma for- ar parece estranhamente neu-
a cabeça virada ao contrário en-
ma, essa figura fez algo para que tro e... distante.
quanto ouço o vento. Ele ruge
aquela penumbra desaparecesse. Meu senso de tempo
como um furacão nos meus ou-
Sinto uma leve rajada de parece distorcido também.
vidos, mas não sinto a menor
medo e essa lembrança logo se Não faço idéia de quanto tem-
sensação dele tocando meu cor-
esvanece. Eu lembro de um mo- po passou desde que estava na
po.
mento de dor, como se uma ca- ponte, olhando o rio abaixo.
Isto é, se ao menos eu ti-
mada de pele fosse arrancada do Podem ter sido minutos ou
vesse um corpo!
meu rosto. dias... pode ter sido por toda
Eu fecho os olhos com
Tenho certeza que a fi- uma vida.
relutância e aprecio a escuri-
gura falou comigo, não lembro Será isso? Estou mor-
dão crescente, tentando lembrar
o que ela disse, contudo. Não te- to? Me pergunto por um mi-
exatamente o que houve. Minha
nho certeza se quero lembrar. Só nuto, mas rapidamente esque-
cabeça é invadida por imagens
de pensar nisso tenho calafrios ço a idéia.
fragmentadas e lembranças va-
que gelam os ossos. Meu conceito do que
gas que eu mal posso começar a
Requer um enorme esfor- é a morte não inclui autoava-
unir os cacos.
ço, mas finalmente consigo me liação. Sempre imaginei que a
Uma das piores imagens,
sentar. Abraçando os joelhos fir- morte fosse puro e total esque-
contudo (e uma das que mais
memente com ambos os braços. cimento e era isso que eu pro-
fazem sentido) é a de uma figu-
Olho para a rua acima e abaixo, curava hoje à noite.
ra borrada se debruçando sobre
tentando descobrir onde estou, Esquecimento.
mim. O rosto da pessoa desapare-
mas nada me parece familiar. Aquela palavra, pro-
cendo nas sombras. Lembro-me
O vento sopra com um nunciada por uma voz dentro
de ter sentido mais do que visto
assobio alto como um apito. As da minha cabeça, me enche de
seu olhar penetrante. E lembro-
construções dos dois lados da medo e eu mal posso resistir à
-me como minha visão foi estra-
rua são escuras e assustadoras. estranha sensação de que eu
nhamente distorcida, como se eu
Janelas quebradas e portarias es- havia sido removido da rea-
estivesse debaixo d’água olhan-
curas parecem tomar conta de lidade, que de alguma forma
do para o céu em sua superfície.
suas dependências. A noite de eu flutuava fora da realidade
Para qualquer lugar que olhasse,
verão estava quente, com o ar numa bolha e olhava pra ela.
flocos de luz brilhante surgiam

28 Aparição: O Esquecimento
 “Mas que merda está ha-
vendo aqui?” eu sussurrava, sur-
preso com o som seco da minha
própria voz.
Me levanto devagar e es-
palmo as mãos. Elas fazem um
som fantasmagórico que ecoa
assustadoramente pela noite. Es-
tremeço ao olhar para minhas
mãos. Posso senti-las se tocando,
mas é uma sensação que estra-
nhamente não está associada ao
toque, como se eu usasse luvas de
borracha.
Uma dor solitária me
preenche quando descubro que
não reconheço o lugar onde es-
tou. Obviamente não lembra ne-
nhum lugar próximo à ponte da
East Street.
Ainda é noite, pelo me-
nos disso eu tinha certeza, mas
não posso saber se é ou não a
mesma noite que decidi dar um
passeio pela ponte.
A luz dos postes ilumina
a rua com feixes de luz em tons
de roxo e azul lançando peque-
nas sombras pelo chão. O céu
noturno parece fechado e denso,
como uma neblina baixa.
Quando levanto a mão
até a testa, as sombras que são
lançadas pela rua se desfazem
como um ninho de cobras aos
meus pés. Eu tremo ao dar um
único passo, mas o efeito de vá-
rias sombras se movendo comigo
me desorientou completamente e
perco o equilíbrio quase caindo.
Me agarrando, olho ao
redor e vejo que estou no meio
de uma débil rua de uma cida-
de que parece abandonada. Para
qualquer lugar que eu olhe, vejo
sinais de podridão. Consigo cap-
tar pequenos movimentos nas
sombras, mas sempre que olho
diretamente para eles, não posso
ver o que os causam.
Uma sensação de frio es-
tremece minha espinha até a base
da nuca. Não consigo deixar de
pensar, que na escuridão, alguma
coisa me observava e estudava
cada movimento. Eu quero an-
dar, só pra fazer algo, mas não te-
nho idéia de qual direção seguir
até que ouço um leve bater de pés
no chão bem atrás de mim.
Me viro para ver uma fi-
gura sombria lentamente vindo
em minha direção. A silhueta é
assustadoramente familiar. Uma
perna (a esquerda) se arras-
ta atrás dele como se estivesse
Capítulo Dois: Ambientação 29
paralisada. A luz dos postes
contrastam com seu rosto, dei-
xando os sulcos do rosto e seu
pescoço numa escuridão pro-
funda.
Enquanto a figura se
aproxima, posso notar que é
um homem (ou ao menos algo
que havia sido um). Seu rosto
parece decomposto. Com pe-
daços de pele apodrecida pen-
durados na testa e bochechas
que balançam a cada passo
dado.
“Pare bem aí.” Eu digo,
surpreso comigo mesmo pela
força em minha voz.
A figura ameaça parar,
apóia-se de lado, e me encara.
A luz alcança seu olho direito,
fazendo-o brilhar com uma luz
apavorante.
“Eu farei o que eu qui-
ser fazer.” O homem diz. “Não
preciso de você para dizer o
que fazer.”
30 Aparição: O Esquecimento
 Capítulo Dois:
Ambientação
A flor que hoje sorri, amanhã morre.
- Percy Bysse Shelley, “Mutabilidade”.
mundo de Aparição não é o nosso
mundo. Entretanto, é o que nós teme-
mos que o nosso mundo possa ser. Tudo
que é belo e tudo que é terrível destaca-
-se em grande contraste com a mono-
tonia de cada dia de vida. Fé, esperança
e amor são forças potentes no mundo,
mas ganância, terror e desespero são as
mais fortes e a mácula pode ser encontrada tanto nas manche-
tes como atrás das cenas. O mundo de Aparição é um Mundo
de Trevas, um mundo onde o sol se apressa para pôr-se no hori-
zonte e então os fantasmas e monstros saem para brincar.
De diversas formas, o Mundo das Trevas é familiar. O
mesmo show de televisão continua cativando milhões de teles-
pectadores; os mesmos poluentes continuam deixando o por do
sol mais brilhante e todos os marcos antigos permanecem no
lugar. No Mundo das Trevas, contudo, o mistério e a loucura
abaixo da superfície podem ser vislumbrados mais claramente.
A influência do sobrenatural é onipresente, e mesmo o mais es-
túpido e insensível pode sentí-la trabalhando.
Certamente, este ambiente de medo é em parte causa-
do pela proximidade com o Mundo Inferior, a terra dos mortos.
Os ecos das Terras das Sombras podem ser ouvidos no mundo
dos vivos e os ecos das coisas mortas podem ser de fato poten-
tes.
Este capítulo descreverá em detalhes o mundo de
Aparição. Tudo sobre a cosmologia do Mundo Inferior à polí-
tica a respeito da ilha de Estigia estão aqui, concedendo a você
um primeiro olhar para geografia, cultura e história do mundo
dos mortos.
Capítulo Dois: Ambientação 31
O Mundo dos Vivos
Há sacramentos malígnos e benígnos sobre nós e vive-
mos e nos movemos à minha crença num mundo desconhecido,
um lugar onde há cavernas, sombras e moradores do crepúsculo.
- Arthur Machen
empre nos sentimos em casa no mun-
do Gótico-Punk de Aparição, ao me-
nos no início. Reconhecemos todos os
nomes das cidades, todos os bestsel-
lers, políticos e muitas das manchetes.
Quanto mais tempo ficamos, no entan-
to, mais diferenças notamos. Cidades
no Mundo das Trevas são mais sujas e
mais tumultuadas, seus imaculados arranha-céus muito mais
altos que os nossos pequenos e pobremente idealizados. É um
mundo Noir, onde até mesmo os detetives que permanecem
abaixo dos postes de luz não se sentem confortáveis ou a salvo.
A natureza física deste novo mundo é melhor descrita
como “Gótica” no senso clássico. Gárgolas e estátuas estão por
todos os lugares e a impressão de épocas passadas permanece
no ar. As coisas não parecem querer mudar no Mundo das Tre-
vas, talvez porque haja seres nas sombras que não querem que
elas mudem. As burocracias são maiores e mais impessoais; ho-
mens e mulheres sem rosto correm para muitas vidas por trás
de ternos e óculos escuros idênticos. A superstição corre impa-
ciente e seu aviso parece ser onipresente.
Por outro lado, o irresponsável elemento “Punk” ame-
aça esmagar todos os edifícios Góticos. A contra-cultura aqui é
violenta; anarquistas reinam nas ruas e os crimes nem sequer
são noticiados. Agressões e rebeliões vão de mão em mão pelas
cidades e sob o céu as luzes de neon dos clubes noturnos prome-
tem a privacidade necessária.
É um mundo perto de se tornar uma terra fantasma,
mas apenas perto. Aparições podem adentrar neste reino ape-
nas brevemente, mas a miséria e dor desse mundo os chama e os
alimenta. É uma existência onde a morte pode sempre observar,
mas raramente tocar.
Claro, cada grupo terá as suas próprias preferências e
a forma de balancear os elementos do Gótico e Punk do Mundo
das Trevas. A Melancólica arquitetura gótica e as reuniões clan-
destinas entre as gárgolas podem adequar-se ao gosto de um
grupo, outros podem preferir correr como uma gangue de rua
divertindo-se com a destruição que eles realizam juntos.
O Narrador tem total liberdade de escolha para dar
atenção a um ou outro espectro, movendo-se de um extremo
a outro como desejar. Contanto que o clima sobrenatural, tão
importante para uma história de fantasmas seja mantido, os de-
talhes dificilmente importarão.
32 Aparição: O Esquecimento
O Mundo Inferior
“O lugar não é bom para a imaginação e não traz sonhos agra-
dáveis a noite”
- H.P. Lovecraft “A Cor que caiu do espaço”
s Terras dos mortos consistem nas Cos-
tas Distantes, a Tempestade (e todas
as coisas nela), Estigia e as Terras das
Sombras são coletivamente conhecidas
como Mundo Inferior. Tecnicamen-
te os outros Reinos Negros, como são
chamados, povoados pelos mortos da
Ásia, África, Índia e alguns outros lu-
gares também fazem parte do Mundo
Inferior, mas como eles fazem pouca diferença na existência da
maioria das aparições de Estigia, tendem a ser mencionados
apenas como “se você não os vê, não precisa se lembrar deles”.
Quando os fantasmas ocidentais referem-se ao Mundo Inferior,
geralmente não se referem às Terras dos Mortos da China e Po-
linésia.
Ambiente: Cuspindo no olho do Esquecimento
A existência no Mundo Inferior pode ser horrível,
apesar de aparições permanecerem agarradas a ela numa pai-
xão imortal. A paisagem das Terras das Sombras está repleta
de sonhos caídos e memórias deterioradas, ainda que aparições
encontrem a força necessária nos sonhos e emoções dos vivos
para resistir à atração do Esquecimento. A possibilidade para
o horror eterno existe nas Terras dos Mortos, mas assim como
existe a possibilidade para o amor eterno ou as realizações que
a vida não ofereceu. O desespero é comum aqui e por uma boa
causa, mas mesmo nas Terras dos Mortos há quem atreva-se a
ter esperança, resistir e sonhar.
Esquecimento
O passivo e paciente aspecto da destruição, o Esque-
cimento é uma parte da ordem natural das coisas. Ele espera
por todas as coisas até se desfaçam, tudo precisa eventualmente
morrer de forma a abrir caminho para que novas coisas possam
nascer. Quando mantido sob controle pelas forças da criação, o
Esquecimento é uma parte essencial do ciclo de morte e renasci-
mento. Sem piedade e eterno, o Esquecimento sempre esperou
para engolir aquelas almas que não possuem mais seus Grilhões
os ancorando às Terras da Carne, mas também não estão pron-
tas para a Transcendência.
Hoje em dia, no entanto, parece que o Esquecimento
se tornou uma fúria incontrolável. Sua força aumenta diaria-
mente à medida que aumenta o apetite por almas. Sua presença
margeia o Mundo Inferior e as Terras da Carne de forma sem
precedentes e seu toque contaminado está em toda parte. Na
forma de Espectros, há cada vez mais servos entre os mortos
que cavalgam Maelstrons com cada vez mais frequência para
guerrear com os Inquietos. Simplificando, o Esquecimento está
crescendo e ninguém sabe ao certo o porquê. Muitas aparições
resolve lutar contra a corrupção invasiva; muitas se renderam,
no entanto.
Supostamente, chegará o dia em que o Esquecimento
engolirá tudo. Amplamente conhecido como Juízo Final, este
dia é temido por todas as aparições e ansiosamente aguardado
por todos os Espectros. Com o Juízo Final chega o fim de tudo,
dizem eles, tanto para os vivos como para os mortos.

Almas: Blocos de Construção do Mundo Inferior

A economia e a sociedade do Mundo Inferior foram
ambas erigidas sobre as almas. A maioria dos objetos no Mundo
Inferior é feita de memórias; o restante é composto de almas
fundidas ou reformadas. A moeda corrente consiste em moedas
forjadas de almas; Diz-se que estes oboli gemem nas mãos da-
queles que os possuem.
Como as almas são a base da economia, elas são con-
sideradas menos como indivíduos e mais como recursos. A es-
cravidão é um negócio em expansão nas Terras das Sombras,
baseado não em cor ou credo, mas na proposta que os fortes
escravizam os fracos porque podem. Os Ceifadores aprisionam
o maior número possível de aparições novas e indefesas, en-
quanto os Drones irracionais são vistos uma forma de enrique-
cer fácil por um Ceifador sortudo o bastante para encontrá-los.
As aparições escravizadas são então conduzidas aos mercados
de Cativos ou, se tiverem azar, às forjas de almas.
É um sistema desumano e horripilante. Existem aque-
las aparições que afirmam que até a alma forjada ou as apari-
ções Modeladas ainda estão conscientes e sofrem infinitamente;
até mesmo a possibilidade disso ser verdade é impensável pela
maioria das aparições. No entanto, o sistema persiste. Está em
vigor há muito tempo e há muitas aparições que têm muito a
perder se o comércio da Forja de Almas terminar. Além disso,
existem justificativas: o aço de alma é necessário para resistir ao
Esquecimento; almas que são fundidas ou Moldadas em objetos
do cotidiano não estão mais em perigo de alimentar e fortalecer
o Esquecimento; alguns acreditam que forjar uma alma acaba
com a Sombra daquela aparição; e assim a coisa continua. Ain-
da assim, a razão mais estranha para que a prática continue é
simples: não existe outra alternativa. E assim os Ceifadores ain-
da trazem suas presas pra casa acorrentadas e as forjas de alma
ainda ecoam com os gritos dos condenados e as periferias das
Cidadelas ainda estão cheias de Cativos remodelados em tochas
flamejantes.

Negociação das Almas

A vasta maioria das almas nunca passa pelo Mundo
Inferior. Engolidos imediatamente pelo Esquecimento ou ele-
vados à Transcendência, elas evitam a meia-existência das apa-
rições. Para aqueles que se tornam aparições, no entanto, seus
companheiros Inquietos representam uma ameaça quase tão
grande quanto o Esquecimento.
Objetos no Mundo Inferior são de dois tipos: memó-
rias ou almas. Relíquias, objetos que atravessam as Terras da
Carne, são em essência criadas pela energia emocional inves-
tida nelas pelos vivos; um ursinho de pelúcia muito amado ou
uma única meia indefinidamente amaldiçoada reaparecem em
forma de relíquia quando forem jogados fora ou destruídos. No
entanto, mesmo com os melhores esforços de certas aparições

Capítulo Dois: Ambientação 33

 para escolher o que atravessará a Mortalha, a seleção ainda é
aleatória e especialmente inclinada a itens não essenciais. Por
exemplo, as armas relíquias são comuns, mas as balas relíquias
não são. Bonecas relíquia são abundantes, mas as vigas relíquias
ou tratores são lamentavelmente escassos. Além disso, a maioria
das relíquias existe como objetos de estado sólido, duplicando
a forma mas não a função, a menos que seja investido com o
Pathos. Artefatos, objetos investidos com poderes especiais, às
vezes chegam diretamente das Terras da Carne, mas com pouca
frequência. Assim, existe a necessidade de outra fonte de objetos
inanimados que forneça materiais mais maleáveis e versáteis.
Em outras palavras, almas.
Se um novo Infante não tiver sorte, ele acabará sendo
Ceifado por um traficante. Esses Ceifadores vagam pelas Ter-
ras das Sombras colecionando aparições que estão muito fracas,
desorientados ou incapazes de se defender. Aparições que são
escravizadas (o termo técnico é Cativo) se encontram presas
a correntes forjadas de aço Estígio e levadas para a Necropolis
mais próxima para serem vendidas ou fundidas. Algumas pou-
cas afortunadas simplesmente são vendidas em uma eternidade
de servidão como Cativas; o resto se torna matéria-prima na
crescente economia de Estigia.
Quase tudo pode ser forjado a partir de almas: vigas,
correntes, armas, móveis, etc. Os objetos que exigem uma mão
mais delicada durante a criação são frequentemente criados por
aparições habilidosas no Arcanos Modelar, que podem moldar
Corpus com um pensamento e um toque. Até mesmo as mo-
edas do Mundo Inferior são feitas de almas, com cada obolus
consistindo de uma alma, moldada em uma prensa.
É claro que nem toda alma é destinada às forjas. Uma
pequena porção de sorte, combinada a um mínimo de poder
intelectual, permitirá que uma aparição iluda os Ceifadores até
que ela seja capaz de fugir de suas garras. Muitas aparições são
Ceifadas por guias mais amigáveis na vida após a morte; algu-
mas até conseguem se libertar de suas Coifas sozinhas. Além
disso, a lei de Estigia impede o forjamento de quaisquer almas,
exceto Espectros, criminosos e Cativos. Por outro lado, as defi-
nições de “criminoso” e “Cativos” são convenientemente frou-
xas para a maioria dos Ceifadores e acabam dando um bom lu-
cro. Tirando o Esquecimento, não há destino mais permanente
para uma aparição do que ser forjada e a maioria preferirá se
arriscar ao Vácuo do que nas forjas.

A Construção do Mundo Inferior

Conhecido por muitos nomes, mas nunca mapeado,
o Mundo Inferior não existe como um “lugar” geograficamen-
te, como pensariam os vivos. No lugar disso, é uma espécie de
pesadelo não-Euclidiano para qualquer um que pense que uma
linha reta ainda é a menor distância entre dois pontos. Mesmo a
maioria das aparições não compreende bem a natureza do reino
em que habitam; elas tendem a recorrer a modelos imprecisos e
simplistas para explicar seu entorno.
Também conhecido Umbra Sombria ou Baixa por
alguns, o Mundo Inferior é melhor compreendido como con-
sistindo de camadas que, como o reino mítico de Nárnia, de
C.S. Lewis, crescem mais à medida que você avança. A mais ex-
terna, chamada Terras das Sombras, é idêntica em localização
ao mundo dos vivos. Em qualquer lugar onde os vivos vão, os
mortos também vão e apenas uma Mortalha metafísica separa

34 Aparição: O Esquecimento
os dois. Teoricamente, uma aparição poderia andar de Ohio até
a China, sem nunca deixar as Terras das Sombras. Tudo o que
seria necessário seria paciência e um bom conjunto de botas
relíquia.
Logo “abaixo” da superfície das Terras das Sombras
está a eterna turbulência chamada Tempestade, uma potente
tempestade de pesadelos que têm crescido incessantemente por
meio milênio. Não importa onde se vá nas Terras das Sombras,
a Tempestade nada mais é que um pequeno rasgo no tecido da
realidade. De fato, a Tempestade descrita como uma espécie de
hiperespaço subjacente à “realidade” das Terras das Sombras.
Serpenteando por esta tempestade de pesadelos exis-
tem caminhos de relativa segurança chamados Atalhos, levan-
do de um ponto a outro dentro das Terras das Sombras, ou das
Terras das Sombras para reinos mais profundos. Viajar de pon-
to a ponto pela Tempestade sem recorrer a um Atalho também
é possível e muitas vezes é mais rápido do que tomar um dos
caminhos seguros e sinuosos. Por outro lado, os viajantes na
tempestade estão expostos aos seus perigos e às coisas que nela
habitam.
Além de rotas seguras existem ilhas de estabilidade
dentro da Tempestade também. A cidade de Estigia repousa em
uma dessas ilhas; e em um sem número de outras, estão as Cos-
tas Distantes. Nestes lugares, a Tempestade é coberta por um
oceano enganosamente plácido chamado Mar Sem Sol, através
do qual as almas já viajaram com maior entusiasmo. Outras
ilhas seguras também existem dentro da Tempestade: Feng-
-tu, Swar, o Mar que Não Conhece o Sol, o Bosque Fantasma
e outras, a realidade da morte de outras culturas e sociedades.
Algumas negociam almas com Estigia ou travam guerras pelos
mares dos mortos.
No fundo da Tempestade está o sombrio Labirinto.
Ninguém sabe do que são feitas as paredes desse lugar horri-
pilante, embora os poucos exploradores que voltaram de lá re-
latam que a própria substância das passagens muda à medida
que se caminha. Corredores de hospital, labirintos espelhados,
fluxos lentos de rocha derretida - tudo isso pode ser encontrado
no Labirinto. Lá também podem ser encontrados os adormeci-
dos Malfeanos, os mais antigos e mais poderosos Espectros.
No fundo do Mundo Inferior fica a entrada para o Vá-
cuo. Quem quer que tenha colocado o Vácuo na base da Tem-
pestade fez isso deliberadamente, pois a entropia serve como
gravidade e a manifestação do Esquecimento exerce um poder
sobre todas as coisas na Tempestade e em suas ilhas. O Vácuo é
escuridão e destruição máximas, um abismo que se abre no cen-
tro do Labirinto. Ninguém que tenha entrado no Vácuo jamais
retornou, embora a crença de alguns seja que a reencarnação
aguarda do outro lado da destruição. Infelizmente, evidências
para esta hipótese estão faltando no momento.
As Terras das Sombras
Gêmea natimorta da terra dos vivos, as Terras das
Sombras, correspondem às Terras da Carne em termos de ge-
ografia. Uma aparição em pé na Times Square, nas Terras das
Sombras, está de certo modo, em pé na Times Square, nas Ter-
ras da Carne e corre o risco de ser pisoteada por mortais que
não a vêem e correm por cima de sua posição.
Tudo o que existe nas Terras da Carne existe nas Terras
das Sombras, mais ou menos. Quanto mais emoção um objeto
ou um lugar inspirou nas terras dos vivos, mais concretamente
ele aparece nas Terras Mortas, edifícios há muito desaparecidos
nas Terras da Carne ainda se erguem do outro lado da Morta-
lha. Ao mesmo tempo bela e terrível, a paisagem das Terras das
Sombras é construída de memórias costuradas como teias de
aranha sobre os lugares que ainda estão em terras viventes.
Objetos nas Terras das Sombras são irredutivelmente
sólidos para uma aparição, mas as coisas nas Terras da Carne
são menos. Uma parede pode inicialmente prender uma apa-
rição em uma sala, mas ao gastar um mínimo de Corpus, ela
pode atravessá-la. Uma aparição pode ser capaz de sentir um
peso de papel ou um lápis, mas sem o uso de seus Arcanoi ela
não pode tocá-los. São apenas os ecos dessas coisas nas Terras
das Sombras, uma vez destruídas, que uma aparição pode afetar
diretamente.
O que se passa nas Terras da Carne é claramente visí-
vel para aparições nas Terras das Sombras. Elas podem assistir
TV ou espionar a bordo de reuniões com facilidade, invisíveis
e intangíveis. No entanto, essas percepções das Terras da Carne
são muitas vezes marcadas pelo toque da morte, como as apa-
rições vêem a decadência rasteira em todas as coisas. Ainda as-
sim, mesmo os mais contaminados entre os vivos parecem mais
saudáveis e mais vitais do que as terras além da Mortalha, que
são cinzentas e sombrias, com a majestade apodrecida.
A Mortalha
A barreira da descrença e do desespero que separa a
terra dos vivos do Mundo Inferior chama-se Mortalha e é o di-
visor entre a vida e a morte. Criada espontaneamente durante
a misteriosa catástrofe chamada de a Separação, a Mortalha é
o que limita as formas pelas quais as aparições podem tocar as
Terras da Carne. Quanto mais forte a Mortalha estiver em um
determinado lugar, mais difícil será para uma aparição alcançar
as Terras da Carne lá.
Mais forte em lugares de descrença e razão, a Mortalha
é quase impenetrável em lugares como laboratórios e salas de
aula. Inversamente, em lugares onde a crença e o medo da mor-
te são fortes, a Mortalha enfraquece correspondentemente e as
aparições podem interagir com as terras dos vivos. Cemitérios
e casas com adolescentes problemáticos são frequentemente lu-
gares onde a Mortalha é particularmente fina. Além disso, há
certas noites em que, no mundo todo, a Mortalha enfraquece.
Estas são as noites em que os vivos seriam bem aconselhados a
ficar dentro de casa, pois em todo o mundo os fantasmas estão
saindo para assombrar.
Locais Assombrados
Certas casas, como certas pessoas, conseguem de algu-
ma forma proclamar seu caráter malígno.
- Algernon Blackwood, “A Casa Vazia”
Lar doce lar para os mortos, Locais Assombrados são
lugares onde fortes emoções desgastaram o tecido da Mortalha
e deixaram-na fina. Aqui as Terras das Sombras e as Terras da
Carne quase se sobrepõem; aqui estão os lugares que os vivos
chamam supersticiosamente de “Locais Assombrados”.
São as emoções mais obscuras que se desgastam atra-
vés da Mortalha mais facilmente, embora um amor poderoso,
a esperança ou a coragem também o façam. Mesmo assim, os
Locais Assombrados tendem a ser encontrados em lugares de
Capítulo Dois: Ambientação 35
aflição, desespero ou tristeza. Cemitérios, favelas, campos de
batalha, casas abandonadas, prisões, boates, encruzilhadas so-
litárias e curvas traiçoeiras muitas vezes servem como Locais
Assombrados.
A maioria dos Locais Assombrados são vigorosamen-
te protegidos por uma aparição ou um Círculo de aparições e
defendidos ao máximo; como fontes de emoção e locais para
se abrigar, os Locais Assombrados são muito procurados. Os
visitantes geralmente não são bem vindos. Outras aparições
preferem usar seus Arcanoi para reduzir a Mortalha, criando
Locais Assombrados em lugares de sua escolha. Recentemente,
alguns fantasmas empreendedores tentaram criar os seus Locais
Assombrados online, se conseguiram ou não é uma questão de
perspectiva.
Para os vivos, Locais Assombrados são na maioria das
vezes lugares sombrios e deprimentes. Ninguém sem transtor-
nos mentais graves ou mentalidade de poetas deprimidos vive-
ria voluntariamente em um Local Assombrado. Aqueles poucos
que tentam são geralmente expulsos imediatamente, a menos
que as aparições que possuem o Local Assombrado prefiram
manter a vida ao redor como alimento emocional para suas Pai-
xões.
A maioria dos Domínios está centrada em torno de
um único Local Assombrado, e quanto mais potente é o Local
Assombrado, geralmente maior é o Domínio ao seu redor. Se
pressionadas, as aparições desistirão de cada centímetro do res-
to de seu Domínio antes de desistirem de seu Local Assombra-
do. Afinal, ele representa força e abrigo.
Estigia
A Necropolis Eterna de Estigia é a coleção de todos
os sonhos mortos do império que a humanidade já realizou.
Quando Cartago e Gomorra caíram, suas ruínas fantasmagóri-
cas foram reunidas e levadas para a construção das cortes e tor-
res de Estigia. Quando Roma e Bizâncio foram saqueadas, seus
destroços foram recuperados e levados para construir uma Es-
tigia cada vez mais alta. Jerusalém e Paris, Londres e Nova York,
toda cidade imperial que já existiu forma um eco na arquitetura
da capital dos mortos. Construída sobre as sete colinas da Ilha
das Lamentações, Estigia a cidade e Estigia o império se torna-
ram sinônimos.
Vista do chão, Estigia é um pesadelo claustrofóbico. O
peso das eras pressionou os edifícios mais antigos, e os Maels-
troms e as invasões cobraram seu preço. Suas ruas são apertadas
e sujas e seus edifícios são esmagados sob o peso das constru-
ções mais novas. Somente os pobres e os desesperados podem
ser encontrados aqui, em meio aos destroços dos séculos.
Quanto mais você sobe na cidade, mais surpreendente
a visão se torna. Edifícios mais novos e tesouros da antiguidade
mais bem preservados são a norma. A Biblioteca de Alexandria
pode ser encontrada lá e os palácios brilhantes dos Senhores da
Morte. É onde moram os ricos e poderosos entre os mortos, em
impressionante contraste com o desespero nos labirintos sub-
terrâneos abaixo.
Delimitada por uma barreira marítima trabalhada a
partir de milhares de almas, a cidade é o lar de milhões mais.
As paredes não podem conter todos os que desejam habitar em
Estigia e assim, pontes foram lançadas através das águas do Mar
Sem Sol para as Colinas de Ferro, ilhas que se erguem das águas
36 Aparição: O Esquecimento
próximas. Colônias secundárias e edifícios ocupam essas ilhas
menores, mas mesmo em face da superlotação, alguns edifícios
em Estigia ficam vazios. O Grande Templo dos Pescadores, por
exemplo e a Torre Onyx de Caronte estão abandonados; mesmo
entre os mortos eles possuem reputações desagradáveis.
A Tempestade
Dizer apenas que a Tempestade é uma tormenta eter-
na nas Terras Mortas é ser completamente inacurado. Eterna-
mente furiosa com uma força inconcebível nas terras dos vivos,
a Tempestade é a fúria crua que está por baixo de todas as Terras
das Sombras, separando-as de Estigia e das Costas Distantes.
Habitada por gritos Espectrais e outras coisas mais sujas, é um
mar de caos em que o tempo, o espaço e a distância deixam de
ter sentido.
A paisagem da Tempestade está mudando constante-
mente; chuvas de vidro quebrado, gases nocivos, erupções em
ebulição e coisas piores, são pontos de interesse para os viajan-
tes. Fragmentos de realidades e memórias são constantemente
infligidos sobre aqueles que viajam pela tormenta infindável,
enquanto cada aparição que passa pela Tempestade deixa algo
de si para trás. Mesmo aquelas almas que despencam direta-
mente para o Esquecimento após a morte deixam uma lembran-
ça, uma relíquia ou um sentimento flutuando na Tempestade
para serem encontrados por um viajante imprudente em dias
futuros.
Aparições que passam pela Tempestade frequente-
mente passam por revelações, muitas delas indesejadas. Visões
de Grilhões ou outras vidas, premonições, vislumbres das Ter-
ras da Carne e outras cenas são jogadas na consciência da apari-
ção enquanto ela navega na escuridão.
Existem algumas ilhas e espaços estáveis dentro da
Tempestade. O primeiro inclui a própria Estigia, assim como
a miríade de Costas Distantes e os outros reinos dos mortos.
Caminhos mais estreitos de segurança relativa são chamados
de Atalhos e eles se estendem entre reinos no Mundo Inferior.
Alguns conectam locais diferentes nas Terras das Sombras, en-
quanto outros se estendem para Estigia ou até para as Costas
Distantes. Aparecendo como rios ou estradas passando in-
contestavelmente através da Tempestade, os Atalhos oferecem
viagens relativamente seguras e rápidas. O maior dos Atalho é
conhecido como o Rio da Morte, que supostamente percorre
todas as Terras das Sombras e até mesmo os portões do próprio
Labirinto.
No coração da Tempestade está o Labirinto assombra-
do pelos Espectros, que segundo a lenda foi roído a partir do
nada por Malfeanos no alvorecer das eras. No centro do Labi-
rinto, muito pior do que qualquer Minotauro poderia ser, está
a boca do Vácuo, personificação do Esquecimento. Poucas apa-
rições olharam para o Vácuo e voltaram para contar aos outros
suas impressões.
Nihils
A realidade não é sólida, particularmente não nas Ter-
ras das Sombras. As Terras das Sombras estão constantemen-
te se dividindo e se quebrando e onde o tecido desta parte do
Mundo Inferior se rasga, a Tempestade passa.
 O Rio da Morte
O maior de todos os Atalhos, o Rio da Morte suposta-
mente toca todos os pontos das Terras das Sombras. O
Rio da Morte tem muitos nomes, mas a maioria dos habi-
tantes do Mundo Inferior simplesmente o chamam de “O
Rio”. Largo e sinuoso em alguns lugares, áspero e coberto
de pedras em outros, conduz pela Tempestade ao inevitá-
vel porto de Estigia. Muitos grupos de Renegados e Here-
ges fizeram suas casas no rio, seja ao longo de suas mar-
gens ou nas ilhas que pontilham sua extensão. Também
se sabe que os Espectros se escondem ao longo do rio em
números cada vez maiores nos últimos anos. Legionários
em baleeiros e barcos a remo fantasmagóricos patrulham
a extensão do rio em busca de bandidos como esses, mas
até mesmo os Centuriões mais endurecidos vão ceder aos
verdadeiros guardiões d’O Rio: os Barqueiros. Mais des-
sas enigmáticas jangadas de viajantes podem ser vistas no
rio do que em qualquer outro lugar do Mundo Inferior.

Por definição, um Nihil é um rasgo nas Terras das

Sombras, permitindo acesso à Tempestade abaixo. A maioria
dos Nihils são eventos únicos, embora muitos sejam abertos e
fechados em ciclos regulares. Alguns poucos estão permanen-
temente abertos; estes são muitas vezes fortemente guardados
por quaisquer aparições que morem nas proximidades. Assim
como um Nihil permite um acesso da aparição nas Terras das
Sombras à Tempestade, ele pode dar aos moradores da Tempes-
tade uma saída. De fato, os Carrascos fazem algumas de suas
melhores caçadas na boca de Nihils na Tempestade; Espectros
tendem a se agrupar em torno dessas aberturas em uma espécie
de perversa expedição de pesca para presas.
Nihils aparecem como poças de escuridão negra nas
Terras das Sombras. Eles podem abrir em qualquer lugar: po-
ços de elevador, sob cadeiras de balanço, em cantos cobertos de
teias de aranha ou no meio de ruas movimentadas. Geralmente
eles não têm mais do que alguns centímetros de largura, mas al-
guns podem ter pés ou até metros de diâmetro. Rumores quan-
to aos estranhos poderes de Nihils abundam; alguns dizem que
olhar para eles causa alucinações ou fortalece a Sombra. Afinal,
a advertência contra a contemplação do abismo foi emitida há
muito tempo, no mundo dos vivos …

Maelstroms
Visto por alguns como o punho do Esquecimento, os
Maelstroms são pancadas de chuva que fervem da Tempestade
e causam estragos em todo o resto do Mundo Inferior. Essas
tempestades titânicas também carregam dentro de si hordas de
Espectros que usam os ventos estridentes como uma espécie de
corcel monstruoso, montando-os a fim de fazer a guerra contra
as Cidadelas e as Necropolis. Os Maelstroms varrem tudo o que
está à sua frente: aparições desprotegidas, Locais Assombrados
isolados, tudo. Cidadelas e Locais Assombrados fortes podem
resistir ao ataque, mas coitada de qualquer aparição capturada
fora dos portões da Cidadela, quando os ventos da Tempestade

Capítulo Dois: Ambientação 37

 A Escada Venosa
Não exatamente um Nihil, a Escada Ve-
nosa desce diretamente do coração de Estigia até
as profundezas do Labirinto. Nomeada pelos fios
pulsantes de pedra rosa sangrenta que se contorce
dentro de suas paredes negras, a Escada foi des-
cida ao seu fundo apenas uma vez, por Caronte,
quando ele recuperou Nhudri da prisão em mãos
Espectrais. Grupos de trabalho de Cativos tra-
balham na Escada, minerando minério da mor-
te para uso nas forjas, mas raramente alguém se
atreveu a ir mais do que na metade do caminho.
Quem o esculpiu e com que propósito permanece
um mistério.

começarem a uivar.
Ser pego em um Maelstrom é como viajar pelas piores
seções da Tempestade. A fuligem enche o ar e o próprio Corpus
de uma aparição é aniquilado pela força dos ventos. Tudo é es-
curo, se não escuro como breu e há uma constante cacofonia de
gemidos das feras que cavalgam a tormenta. Em vários aspectos,
os Espectros são a tempestade, pois até que sejam derrotados, o
Maelstrom não retrocederá.
Os desastres das Terras da Carne e os Maelstroms
têm uma relação de causa e efeito peculiar. Um inevitavelmente
causará no outro, embora o que vem primeiro esteja aberto ao
debate. A detonação do dispositivo atômico sobre Hiroshima
desencadeou o Quinto Grande Maelstrom, mas um Maelstrom
menor pode anunciar uma catástrofe menor nas Terras da Car-
ne, como um colapso de edifícios, um furacão ou um terremoto.
Os Maelstroms são considerados as grandes unidades
do tempo na sociedade de Estigia. Como as horas são contadas
pelas marés do Mar Sem Sol, os anos são contados a partir do
último Grande Maelstrom. Atualmente, há pouco mais de meio
século desde o Quinto Grande Maelstrom e aparições mais an-
tigas observaram com preocupação que o tempo entre essas
monstruosas tempestades está diminuindo.

As Costas Distantes
Diz-se que muito além das brumas do Mar das La-
mentações estão milhares e milhares de reinos em ilhas isoladas,
coletivamente conhecidos como Costas Distantes. A história de
Estigia registra que, há muito tempo, os Barqueiros conhecidos
como Os Iluminados abriram Atalhos que levam a cada um
desses reinos. Esperança e fé atraíram espíritos para estas ilhas
e desde então continuaram a seduzí-los, pois estas terras pro-
metem proteção contra o Esquecimento pois se moldam como
Infernos e Paraísos, Sukhavatis, Edens, Zions e Valhallas de in-
contáveis culturas. O pós-vida criado para, e talvez por, almas
perdidas pode ser encontrado em todas as formas e tamanhos
em todas as Costas Distantes.
Em última análise, apostando na esperança de liberta-
ção do sofrimento, os faróis do Paraíso, Nirvana, Purgatório e
milhares de outras condições espirituais baseadas na fé brilham

38 Aparição: O Esquecimento
intensamente nas histórias da maioria dos poucos viajantes que
foram para lá e de volta. Essas histórias podem ser ouvidas não
apenas em Estigia, mas também em outras terras mortas, pois
os Atalhos para as Costas Distantes originam-se nos domínios
da morte de todos os povos.
Nem todos os contos inspiram confiança nas boas in-
tenções da liderança das Costas Distantes, no entanto. Histó-
rias sobre líderes tirânicos exigindo obediência inquestionável
dos fiéis e atormentando os “profanos” abundam; de aparições
abandonadas e algemadas umas às outras, trancadas e há muito
esquecidas em minúsculas antecâmaras sob o solo, ou jogadas
às bocas de criaturas inomináveis como sacrifícios aos “deuses”;
de fanáticos sádicos que se aprisionam em caixões de aço de al-
mas incandecentes para purgar suas iniqüidades; e de mares su-
focados com aspirantes atormentados por Espectros esperando
para serem admitidos em sua ilha escolhida. Seres demoníacos,
provavelmente (mas não se tem certeza) aparições Modeladas,
tentam torturar as vítimas, jogando estacas de aço Estígio atra-
vés de suas espinhas e plantando-as em poças de ácido que bor-
bulham de lugares desconhecidos dentro da Tempestade. Para
muitas aparições de Estigia, até mesmo a fantástica promessa da
Transcendência não é suficiente para atraí-las a esses lugares.
Milhares e milhares de aparições habitam os reinos
das Costas Distantes, muitas vezes dando origem a histórias
horríveis de superlotação cruel e completa perda de individu-
alidade que os viajantes contam do outro lado do Mar Sem Sol.
Mas a imagem não é totalmente sombria. Ilhas paradisíacas
incrivelmente belas, hospedam legiões de Angelics perolados e
aparições angelicais. Geralmente, esses seres abrigam os que es-
tão cansados da viagem na Tempestade, os curam e os obrigam
a permanecer. Mais raramente, eles adotam viajantes cansados e
ensinam-lhes os caminhos suaves da esperança e da Transcen-
dência.
Barqueiros, Espectros, piratas de almas, traficantes e
criaturas estranhas de outros reinos também fazem suas apari-
ções em todas as ilhas das Costas Distantes. Diz-se que muitos
Barqueiros ainda levam as almas dos mortos a seus destinos
justos nas Costas Distantes, e que algumas das ilhas nada mais
são do que as estações dos Barqueiros. Alguns sustentam que os
Iluminados que forjaram os caminhos originais para os reinos
agora governam muitas das ilhas.
Contos de Espectros assumindo a liderança fanática
de certos reinos modelados como os vários infernos (e mesmo
aqueles modelados como os paraísos) podem realmente ser ver-
dadeiros, assim como os rumores de um intenso comércio de
escravos conduzido por piratas de almas sob o disfarce de recru-
tamento religioso e proselitismo. Os piratas de almas costumam
usar Ceifadores de Estigia como intermediários na obtenção de
Lemures para venda como “convertidos” para vários reinos das
Costas Distantes.
Necropoli
Em todas as cidades humanas há uma parte da cidade
que, quando mencionada pelos vivos, inevitavelmente produz
a reação: “Você não vai querer ir lá.” A grande probabilidade, é
que seja a Necropolis local.
A Necropolis é uma cidade dos mortos, um lugar onde
as aparições se reúnem e os Nihils abrem com mais frequência.
Nas Terras das Sombras, é um centro de atividade fervilhante e
vibrante, já que a maior parte das aparições de uma cidade pode
ser encontrada aqui em algum momento durante o dia ou à noi-
te. Para os vivos, no entanto, as ruas e prédios em ruínas que
correspondem à Necropolis são hostis e desolados, manchados
de terrenos abandonados e cheios de ruídos de ratos e outros
animais.
A maioria das Necropoli podem ser consideradas co-
lônias de Estigia e são parte e parcela da Hierarquia. Centrada
em uma cidadela e dividida em domínios, a Hierarquia da Ne-
cropolis é um lugar relativamente estável para os mortos mora-
rem. As Necropoli dos Renegados, por outro lado, tendem a ser
de linhas grosseiras, onde qualquer serviço pode ser comprado
(por um preço) e aparições incautas sempre correm o risco de
serem escravizadas ou aniquiladas.
Domínios
Um Domínio é definido como a quantidade de ter-
ritório que uma aparição ou um Círculo de aparições podem
controlar. A Hierarquia distribui oficialmente os Domínios na
Necropolis, frequentemente marcando as fronteiras dos terri-
tórios controlados pela Cidadela local com Cativos Modelados
As Outras Terras Mortas
Estigia, também conhecida como o Rei-
no Negro do Ferro, dificilmente é o único destino
final para os Mortos Inquietos. Além da cultura
ocidental, outras têm suas próprias pós-vidas e
Mundos Inferiores, cada uma tão real e podero-
sa quanto Estigia. Genericamente chamados de
“Reinos Negros”, esses outros reinos são muitos e
variados e a maioria é tão amplamente separada de
Estigia que poucas aparições Ocidentais sabem de
sua existência.
Daqueles que são conhecidos, o Império
de Jade (conhecido como as Fontes Amarelas por
seus habitantes) e o Reino Negro de Marfim (tam-
bém conhecido como os Arbustos Fantasmas) são
aqueles com os quais a Hierarquia tem o maior nú-
mero de transações. Cada um fez guerra e tratados
com Estigia no passado, geralmente sobre a dispo-
sição de almas retiradas de suas terras ancestrais.
Escondidos dentro da Tempestade es-
tão outras Terras Mortas: Karta, o Mar que Não
conhece o Sol, Swar e muito mais. Cada um deles
reflete a natureza da morte para uma cultura di-
ferente e as leis que governam a existência fantas-
magórica em Estigia podem funcionar de maneira
diferente por lá, se é que vão funcionar.
Capítulo Dois: Ambientação 39

O Expresso da Meia-Noite
Gritando através da escuridão da noite Esti-
gia, o Expresso da Meia-Noite é um meio de transporte
como nenhum outro no Mundo Inferior. Criado pelos
Barqueiros do Artefato de uma monstruosa locomotiva
a vapor, o Expresso é composto por centenas de vagões
ferroviários interligados, mais cheios de aparições que
buscam passagem, emprego ou apenas um lugar para fa-
zer negócios longe de olhares indiscretos. Os carros são
retirados de uma seção transversal da história da loco-
motiva, sendo o único elo comum deles que cada um foi
destruído, violentamente.
O Expresso, liderado pelo Motor #13, entra
em cada uma de suas paradas exatamente à meia-noite,
horário local, embora a forma como ele consegue fazer
isso em várias paradas no mesmo fuso horário está além
da compreensão da maioria das aparições. Nem todos
os vagões estão “lá” em cada parada; uma aparição que
deseja desembarcar na Necropolis de Nova York pode
descobrir, para seu horror, que seu vagão nunca chega
lá, mesmo enquanto o próximo vagão do trem estiver
embarcando com passageiros fantasmagóricos na Gran-
de Estação Central. O trem pára em todo território da
Hierarquia, bem como em Singapura e na Tempestade.
Paradas especiais podem ser solicitadas, mas há uma
taxa por isso.
em tochas flamejantes.
Extraoficialmente, a maioria das aparições reclama a
área em torno de seus Locais Assombrados como seu Domínio
(ou “território”) e pode tomá-lo de fato, se ninguém reclamar.
Embora muitos desses Domínios de Renegados não sejam reco-
nhecidos pelas autoridades locais da Hierarquia, a maioria dos
Legionários tem a inteligência de não se aproximar sem a força
necessária.
Cidadelas
O maior e mais forte Local Assombrado de uma Ne-
cropolis é chamado de Cidadela e tem a mesma função de um
castelo medieval. Fortes pontos de defesa contra invasão e cen-
tros de comércio, Cidadelas são coração e mente de suas Necro-
polis. Embora a maioria das Cidadelas não pareça um castelo
ou fortaleza, elas ainda permanecem como barreiras contra ata-
ques de Espectros, Renegados ou Hereges.
Normalmente, uma Cidadela corresponderá nas Ter-
ras da Carne a um armazém abandonado ou a uma série de
edifícios, uma mina esquecida, um depósito ou alguma outra
extensão dedicada à decomposição e destruição. Nas Terras das
Sombras, no entanto, as Cidadelas são muitas vezes fortalecidas
com vigas e madeiras relíquias, ou reforçadas com contrafortes
e tijolos forjados. Toda Cidadela é construída com os Maels-
troms em mente; Uma Cidadela que não pode sobreviver à fúria
da Tempestade, não é uma Cidadela.
A maioria das Cidadelas é mantida pela Hierarquia e
tem uma forte presença de uma ou mais Legiões militares. Teo-
40 Aparição: O Esquecimento
ricamente, as Cidadelas da Hierarquia são exclusivas dos cida-
dãos da Hierarquia, mas nas Terras das Sombras, regras rígidas
podem ficar rápida e convenientemente borradas. Afinal, cada
mão que pode segurar uma arma é bem-vinda quando os Es-
pectros vierem chamando. As aparições Renegadas e Hereges
são frequentemente permitidas nos portões da Cidadela para
fins de comércio, se alguém puder ser encontrado para atestar
por elas.
Há Cidadelas de Renegados e Hereges espalhadas
pelas Terras das Sombras. A maioria são capturadas Cidadelas
da Hierarquia que foram tomadas e reformadas por seus novos
proprietários; outras são criadas em áreas tão dispersas e esté-
reis que não valem a pena o esforço da Hierarquia para derru-
bá-las.
Os Inquietos
Minha cabeça está pesada, meus membros estão cansados
E não é vida que me move.
- Percy Bysse Shelley, “Morte em Vida:
Um Fragmento”
aixão mais forte que a morte e perigos
que fazem a morte parecer dócil: esses
são os fundamentos da vida após a mor-
te. De muitas maneiras, é uma existên-
cia de extremos. A destruição final é o
preço do fracasso, mas o amor eterno e
a Transcendência também são possibilidades reais.
A vida como uma aparição, tal como é, pode ser um
compêndio de horrores. As visões dos vivos são marcadas pelo
toque da morte e até mesmo a flor mais viva aparece manchada
pela corrupção. O Mundo Inferior em si é triste e mortífero para
os sentidos; cores brilhantes são raras, exceto pela chama voraz
dos cristais de fogo da alma ou o verde brilhante de um olho
Solicitante. Mas nem mesmo isso é perceptível, pois a Sombra é
onipresente e está sempre disposta a piorar uma situação que já
é ruim. O Esquecimento ameaça por dentro e por fora e muitas
aparições acham mais fácil simplesmente desistir da luta e dei-
xar que o Vácuo as reivindique.
Por outro lado, há aqueles que aproveitam a oportuni-
dade de uma segunda existência. Vendo a si mesmos como ten-
do uma segunda chance de corrigir os erros da vida, ou talvez
simplesmente teimosos demais para ceder ao Esquecimento,
essas aparições aproveitam ao máximo as suas pós-vidas.
Amizade e amor eternos são muitas vezes prometidos
nas Terras da Carne, mas nas Terras das Sombras eles podem se
tornar reais. Poder e riqueza podem ser reunidos por aparições
implacáveis o suficiente para realizar essas ascensões; a trans-
formação espiritual também é procurada por muitos. As terras
dos mortos acenam para alguns explorarem, assim como os
novos reinos da Tempestade e as Costas Distantes que os mor-
tais jamais viram. Dotado dos poderes chamados Arcanoi, os
Inquietos podem passar séculos aprimorando suas habilidades,
ou usando-as para interagir com os vivos. Muitas aparições fre-
quentemente cruzam a Mortalha por uma infinidade de razões.
Existem aqueles que procuram acabar com os negócios dei-
xados para trás, ou para proteger aquelas coisas e pessoas que
amam. Outras aparições simplesmente se intrometem, agindo
como poltergeists ou invadindo os sonhos dos mortais por pura
diversão. A possessão dos Breves, indiretamente mostrando
suas alegrias e prazeres, é um passatempo popular, enquanto a
vingança do além-túmulo também é algo que os Inquietos prá-
ticam (se tiverem a chance). E há sempre a luta contra o Es-
quecimento e seus asseclas, uma luta que alguns acreditam que
é para o bem de toda a criação. Para aparições como essas, a
morte é apenas o começo.
MetafísicaAs aparições estão presas em uma existência na corda
bamba entre a vida e o Esquecimento e sua perspectiva refle-
te isso. Apenas a espessura da Mortalha os mantém longe das
terras dos vivos; eles estão, todavia, eternamente separados da-
queles que amavam. Por outro lado, cada ação, pensamento e
palavra é uma reação contra a atração constante do Esqueci-
mento, gritando desafiadoramente ao Vácuo. É esse equilíbrio
entre a vida e algo pior que a morte que os Inquietos mantêm,
enquanto puderem.
Tocar nas Terras da Carne é algo que a maioria das
aparições deseja, não importa o que o Dictum Mortuum orde-
ne. Fazer isso nem sempre é fácil, pois a natureza da existência
dos Inquietos dificulta chegar do outro lado da Mortalha. Ob-
jetos nas Terras da Carne têm um tipo estranho de solidez para
eles; é quase impossível para uma aparição mover um objeto do
mundo real, mas com um investimento mínimo de Corpus, ela
pode simplesmente desincorporar e atravessá-lo. Por exemplo,
se uma aparição tenta empurrar a frente de um carro estaciona-
do, o toque dela não terá efeito, e ela se verá incapaz de afetar
o carro. Por outro lado, se o freio de mão do carro quebrar de
repente e o carro anda para frente, ele atravessará (quase) ino-
fensivamente pela aparição enquanto ela desincorpora.
É claro que as aparições há muito tempo descobriram
maneiras de fortalecer suas vontades mais concretamente no
mundo real. Certos Arcanoi permitem que o Inquieto afete ou
até mesmo ingresse nas Terras da Carne; assim surgem lendas
de poltergeists, aparições e fantasmas em máquinas. Todos esses
fenômenos podem ser atribuídos a aparições que estendem suas
habilidades através da Mortalha.
Enquanto muito pouco no mundo real pode infligir
dano duradouro no Corpus de uma aparição, no Mundo Infe-
rior é uma questão muito diferente. Objetos existentes nas Ter-
ras da Carne podem ser passados ou rebatidos, enquanto coisas
existentes no Mundo Inferior (relíquias, artefatos, outras apa-
rições, etc.) são bastante sólidas para qualquer fantasma. Uma
lâmina de aço pode zumbir através do Corpus de uma aparição
sem causar dano duradouro; uma espada de aço da alma nas
mãos de um Legionário, por outro lado, pode partir um fantas-
ma em dois. Aço Estigio (ou outros metais forjados pela alma),
Artefatos, relíquias, outras aparições, Espectros, os moradores
da Tempestade, até mesmo a magia espiritual dos vivos: todos
estes podem afetar uma aparição concretamente.
Paixões e Grilhões
Paixões e Grilhões são as coisas que definem e man-
têm a existência de uma aparição. Em um nível básico, os Gri-
lhões são as coisas nas Terras da Carne com as quais uma apari-
ção se preocupa mais profundamente, enquanto as Paixões são
Capítulo Dois: Ambientação 41
as coisas que uma aparição mais quer fazer.
Os Grilhões são o que ligam uma aparição às Terras
das Sombras, dando-lhe âncoras nas Terras da Carne que ela
pode usar para resistir à atração do Esquecimento. É em um
Grilhão que uma aparição pode entrar em Modorra e se curar,
e muitas vezes é mais fácil para uma aparição usar seu Arcanoi
perto de seus Grilhões. Por outro lado, se um Grilhão for dani-
ficado ou destruído, os efeitos podem ser catastróficos. Além
disso, aparições sem Grilhões não podem ficar muito tempo nas
Terras das Sombras e assim toda aparição se esforçará ao máxi-
mo para proteger seus Grilhões.
As Paixões são os desejos que uma aparição segue na
morte, os imperativos emocionais que impulsionam e alimen-
tam sua existência. Em suma, cada Paixão tem uma emoção;
seguindo a diretriz de sua Paixão (ou estando na presença do
sentimento no âmago da Paixão), uma aparição coleta uma
energia chamada Pathos. Sem Pathos, os Arcanoi de uma apari-
ção não funcionarão, nem ela será capaz de se curar. Evitar que
uma aparição cuide de suas Paixões e Grilhões, então, talvez seja
o pior tormento que pode ser infligido a uma aparição.
Status e Sociedade
Agora que eu estou morta
Meu agente finalmente disse
Que queria almoçar comigo.
- French, Frith, Kaiser & Thompson, “Agora que estou morta”
É quase tristemente previsível notar que os mortos,
tendo séculos para ponderar os dilemas e os grandes mistérios
da existência, se lançam às estruturas sociais rígidas e gastam
42 Aparição: O Esquecimento
uma grande parte de suas pós-vidas, certificando-se de que as
sutilezas sociais sejam adequadamente mantidas. O status na
comunidade dos Inquietos é baseado no poder, é claro, mas
também na idade, experiência nos Arcanoi e liberdade de mo-
vimento. Uma aparição velha e poderosa que mantém seus Gri-
lhões e pode, portanto, viajar das Terras das Sombras a Estigia
obtém mais respeito do que uma aparição de poder e idade se-
melhantes cujos Grilhões foram destruídos há muito tempo.
À medida que as décadas passam, uma aparição pode
gradualmente adquirir mais status entre os mortos, e o poder
social nas “classes” é razoavelmente comum. Por outro lado, a
intensa camaradagem de algumas aparições (particularmente
os fortes Estornados de Estigia) tem uma impressionante seme-
lhança com a dinâmica social da dirigência de uma escola, com
aparições recusando-se a lidar com outras aparições que não
são da idade certa, poder ou especialização em Arcanoi. São os
Estornados Estigios, em particular, que mantêm as rígidas dis-
tinções sociais entre Herdados e Estornados, Infantes e Lemures
e os Cativos e todos os outros.
Status Social
Infante - Infantes são os recém-falecidos que ainda
não se acostumaram com as Terras das Sombras. Eles tem ge-
ralmente entre alguns dias e algumas semanas de idade e são
cobertos por uma Coifa de plasma que os mantém em um esta-
do semionírico, incapaz de ver ou ouvir totalmente o que está
acontecendo. Esta Coifa também obscurece os pensamentos e
percepções do infante, de modo que seus primeiros dias de vida
após a morte são uma neblina sonolenta e confusa de imagens
borradas e vozes pouco lembradas. Até que sua Coifa seja remo-
vida por outra aparição, o Infante não poderá ver, ouvir ou pen-
sar com clareza. Umas poucas sortudas aparições conseguem de
alguma forma remover suas próprias Coifas, geralmente aqueles
Infantes que possuíam extraordinária força de vontade em seus
dias mortais.
Drones - Estas são as aparições que a maioria dos ha-
bitantes das Terras da Carne vê nos Locais Assombrados. Sem
senciência ou força de vontade, suas identidades mortais perdi-
das para eles, os Drones ficam presos no local de sua morte. Eles
são incapazes de fazer mais do que eternamente reencenar últi-
mos momentos, repetindo roboticamente seus últimos minutos
entre os vivos. Um Local Assombrado povoado por Drones é
considerado uma mina de ouro para os Ceifadores.
Cativos - Estão entre as aparições mais miseráveis da
existência, mantidos em servidão por outras aparições. Alguns
foram capturados e forçados à escravidão, enquanto outros fo-
ram condenados à Escravidão por crimes reais ou imaginários.
Algumas aparições se vendem voluntariamente em Escravidão
como forma de pagar suas dívidas. Embora tal escritura deva ter
apenas uma duração limitada, muitos Cativos descobrem, para
seu desalento, que essa cláusula em seus contratos é frequente-
mente ignorada…
Os Cativos geralmente são algemados e não podem
viajar livremente sem seus mestres. Embora algumas variantes
do Código de Caronte proíbam os maus tratos a Cativos, tais
abusos raramente são denunciados ou punidos. A Sombra dos
Cativos freqüentemente tem um prazer sádico em atormentar a
Psique até seu limite e muito mais Cativos são perdidos para os
Pesadelos e as maquinações da Sombra do que são fundidos ou
libertados.
Lêmures - São as aparições cujas Coifas foram remo-
vidas e que ainda retêm a maioria de seus Grilhões. Eles são
geralmente muito jovens em termos de vida após a morte e são
considerados imaturos e indisciplinados por aparições mais
antigas e estabelecidas. Lêmures compõem a maioria das apa-
rições encontradas nas Terras das Sombras e a maioria deles
deseja ficar perto de seus Grilhões.
Herdados - Herdados são aparições que não podem
mais viajar livremente para as Terras das Sombras e portanto,
estão restritos à Estigia e outros lugares de segurança dentro da
Tempestade. Embora a maioria dos Herdados sejam mais anti-
gos, alguns deles podem ser Lêmures, exceto pelo fato de que
seus Grilhões não existem mais. Uma aparição morta há apenas
cinco anos, cujo os Grilhões foram todos destruídos em um in-
cêndio, instantaneamente adquirirá o status de Herdado, já que
ela não será mais capaz de manter sua presença nas Terras das
Sombras. Por outro lado, estes Herdados “emergentes” dificil-
mente recebem o respeito concedido aos mais velhos.
Normalmente, a maioria dos Herdados viaja para Es-
tigia para trabalhar na burocracia da Hierarquia em constan-
te expansão. Renegados e Hereges não têm essa opção e sua
transição para Herdeiros pode levá-los a qualquer lugar, desde
uma busca em tempo integral por Transcendência, até às forjas.
“Herdar” é uma tática popular entre certas gangues de Renega-
dos, onde eles livram Necropoli locais de seus oficiais mais com-
petentes ou viciosos, encontrando e destruindo seus Grilhões.
Estornados - Aparições antigas e poderosas, Estorna-
dos conseguiram manter seus Grilhões, permitindo-lhes viajar
para as Terras das Sombras. A grande maioria dos Estornados
também viajou profundamente dentro da Tempestade, possivel-
mente para as Costas Distantes ou até mesmo para o Labirinto.
Temidos e respeitados por seu conhecimento e poder, Estorna-
dos exercem uma influência na sociedade dos mortos despro-
porcional ao seu número.
Senhores da Morte - Este poderoso corpo de fantas-
mas foi originalmente criado para se tornar o Senado de Caron-
te, seguindo o costume da República Romana. Com a recriação
de Estigia como um Império, cada Senhor da Morte recebeu
uma legião como seu cargo e um trono para governar seus sú-
ditos. Sem a mão de ferro de Caronte, no entanto, os Senhores
da Morte caíram em desordem, usando suas Legiões para com-
petirem entre si enquanto cada um se esforça para se declarar o
novo Imperador de Estigia. Como um Senhor da Morte com o
maior número de almas é mais poderoso, naturalmente, os co-
-regentes de Estigia freqüentemente se intrometem nos assun-
tos mortais para encorajar um número maior de mortes que, de
alguma forma, aumentem as fileiras de suas próprias Legiões.
Ceifadores
Um Ceifador pode ser o melhor amigo de um Infante
ou o pior pesadelo, dependendo das circunstâncias. Tecnica-
mente, um Ceifador é uma aparição que corta a Coifa de ou-
tra aparição e a liberta, facilitando seu “nascimento” nas Terras
das Sombras. Muitos são almas gentis que procuram facilitar a
transição que os novos Infantes estão fazendo; outros são recru-
tadores de cultos Hereges, Legiões da Hierarquia ou gangues de
Renegados. Esses tipos de Ceifadores profissionais (e amadores)
tendem a tratar bem suas cargas, doutrinando-as nas Leis do
Mundo Inferior e ajudando-as a se ajustarem à existência além
da Mortalha.
Outros Ceifadores são menos gentis. Mestres de escra-
vos mortos, eles colhem novas almas para vendê-las ao maior
lance nos mercados das Necropoli. As almas são a moeda e ma-
téria-prima do Mundo Inferior e para muitos Ceifadores, colher
Infantes e acorrentá-los é puramente uma proposta de negócio.
Ceifadores são freqüentemente encontrados dispu-
tando posição em lugares como hospitais, prisões ou casas de
repouso. Os mais empreendedores gostam de andar de ambu-
lâncias, enquanto os talentosos com o Arcanos Fatalismo mos-
tram uma habilidade inusitada para estar no lugar certo na hora
certa. Os Ceifadores constantemente buscam estabelecer reivin-
dicações em lugares que geram ricos tesouros de almas e quan-
do tal riqueza está em jogo, a violência dificilmente é incomum.
Bens da Sepultura
Você terra, que possa manter as posses dos coitados, agora que os
heróis não poderiam.
- Beowulf, S.A.J. Bradley, trans.
A morte não consegue remover o desejo humano ina-
to por bens materiais. Só porque as aparições não podem tocar
os objetos que possuíam, não significa que elas os querem me-
nos, nem as impede de tentar adquirir riqueza do outro lado
da Mortalha. Mesmo os mortos têm uma economia próspera,
embora os fundos mútuos e as opções de ações não participem
dela. Ao contrário, é uma economia de almas e relíquias, as duas
únicas coisas que podem ser mantidas no Mundo Inferior.
Capítulo Dois: Ambientação 43
 A grande maioria dos objetos no Mundo Inferior é
feita de almas por um dos dois processos. Espíritos azarados
(Cativos, criminosos, Espectros e aqueles que são simplesmente
desafortunados) são enviados para as forjas de almas, para se-
rem martelados em moedas, lâminas e outras necessidades da
existência no Mundo Inferior. Às vezes, essas almas fundidas
são misturadas com o que tem sido chamado de “minério da
morte”, material extraído da Escada Venosa, criando materiais
especializados para a construção ou a guerra.
Outras vítimas são dadas aos peritos no Arcanos Mo-
delar, para serem transformadas em tochas, móveis ou outras
necessidades de vida após a morte. A divisão entre as duas for-
mas de transformação é simples; qualquer coisa que teria sido
metal ou pedra nas Terras da Carne é substituída por objetos
forjados pela alma, enquanto coisas cujos equivalentes nas Ter-
ras da Carne são madeira ou materiais mais macios são feitos
através de Modelar.
Há outra classificação de objetos no Mundo Inferior:
Relíquias. Estas são memórias de coisas, trazidas através da
Mortalha, uma vez que seus originais nas Terras da Carne fo-
ram destruídos. Quanto mais forte a emoção gerada por uma
relíquia antes de sua destruição (um unicórnio de pelúcia muito
amado, um desprezado cinto de couro usado para propósitos
disciplinares), mais perfeitamente se traduz nas Terras das Som-
bras depois que finalmente se desfaz em pó. A maioria dos edifí-
cios nas Terras das Sombras são na verdade relíquias; o restante
são aqueles construídos a partir de materiais forjados por almas.
Algumas aparições da safra recente são horrorizadas
pela natureza da economia do Mundo Inferior, mas no longo
prazo a maioria de suas objeções morais é substituída por uma
espécie de pragmatismo. Há múltiplas justificativas morais para
esse tipo de objetificação final das almas: toda alma forjada é al-
guém que não pode cair para o Esquecimento; muitos Ferreiros
de Almas acreditam que eles martelam as Sombras diretamente;
ainda assim, no final é tudo uma questão de conveniência e de-
sejo.
Almas
As almas são o começo e o fim no Mundo Inferior.
Almas são riquezas, almas são recursos e almas são o que ali-
menta o Esquecimento. A fim de evitar o último, os Senhores da
Morte (como Caronte antes deles) decretaram que almas fracas,
sem Paixão e contraproducentes seriam fundidas. Uma apari-
ção que se tornou a pedra de pavimentação de um Atalho não
periga fortalecer o Esquecimento; um Renegado transformado
em uma almofada não emboscará os Legionários e ajudará a
mandá-los para Pesadelos. Apontar o fato de que o comércio
de almas também torna certas aparições muito ricas, de fato, é
considerado déclassé.
Relíquias
Uma relíquia é uma memória que tomou forma no
Mundo Inferior. Os únicos objetos do outro lado da Mortalha
que não são formados por almas, relíquias são aquelas coisas
que inspiraram grande paixão em vida e que assim permanecem
na morte. Tendo sido destruídas nas Terras da Carne, relíquias
podem sobreviver por séculos nas Terras das Sombras.
Só porque algo é destruído nas Terras da Carne não
44 Aparição: O Esquecimento
significa que automaticamente se torne uma relíquia. Para atra-
vessar a Mortalha, um objeto deve ter inspirado forte emoção
antes de sua destruição. Amor, ódio, medo: os detalhes são ima-
teriais. Animais empalhados e luvas de beisebol surradas estão
entre as relíquias mais comuns, mas também há facas, algemas
e edifícios como escolas e prisões. É a força da emoção que um
objeto invoca que dita se ele vai ou não retornar como uma re-
líquia, mesmo depois que sua forma nas Terras da Carne tenha
sido destruída ou enterrada.
A criação de uma relíquia é um processo simples: um
item que provoca forte sentimento é destruído ou enterrado.
Coisas que não inspiram de um jeito ou de outro não se tornam
relíquias; por exemplo, há muito poucas latas de atum relíquia
do outro lado da Mortalha. Um objeto que se torna uma relíquia
reaparece nas Terras das Sombras depois de sua destruição ou
sepultamento, geralmente no local preciso onde encontrou seu
criador. Muitas vezes, as relíquias se materializarão no Mundo
Inferior ao mesmo tempo em que seu dono, quase como se es-
tivessem esperando que ele aparecesse e tomasse posse delas.
É costume dar um presente, como uma relíquia para o próprio
Ceifador que o encontra, particularmente se o Ceifador tiver a
gentileza de se abster de vender o Infante como Cativo.
Mesmo relíquias desaparecem, eventualmente. Quan-
to mais forte a fonte de cuidado que as criou, mais elas duram
e mais sólidas elas são. No final, porém, todas menos as mais
potentes perdem sua solidez e se dissolvem lentamente, lamen-
tavelmente.
A maioria das relíquias não é “útil” no sentido de ser-
vir como equipamento de sobrevivência nas Terras das Sombras.
Pequenas coisas que significam muito para alguém - uma cópia
assinada de O Chamado de Cthulhu, um medalhão favorito, um
ursinho de pelúcia valorizado na juventude e guardado para os
próprios filhos - compõem a grande maioria das relíquias en-
contradas nas Terras das Sombras. Relíquias desse tipo tendem
a não durar mais do que algumas décadas antes de desaparecer.
Relíquias mais potentes, como computadores ou ar-
mas de fogo em funcionamento, automóveis em funcionamento
e afins, são muito mais raras e frequentemente têm existências
no Mundo Inferior medido em menos de 10 anos. Desinteres-
sadamente rotulados de “brinquedos” por Estornados e Herda-
dos, relíquias como essas precisam de investimentos de Pathos
antes que possam funcionar como nas Terras da Carne. Um
computador relíquia que não foi abastecido com Pathos é uma
caixa retangular; um computador relíquia carregado com suco
pode fazer maravilhas.
Há também relíquias de status lendário, que duram
séculos ou mesmo milênios. A adaga de Brutus e o bloco de
esboços de Da Vinci são exemplos de coisas que inspiraram a
paixão necessária para manter suas existências pelos séculos.
Posses de Almas Forjadas
As forjas dos Artífices estão sempre famintas por mais
almas. Há um grande número de itens que a sociedade de Esti-
gia necessita desesperadamente e que não aparecem em quan-
tidade como relíquias (espadas, blocos de concreto e similares)
e que devem ser fabricados de alguma forma. O único recurso
que se encaixa no projeto, infelizmente, é o plasma que compõe
os corpos dos mortos.
A própria Forja de Almas consiste em drenar uma
aparição de sua senciência e vontade tanto quanto possível, sem
tentar o Esquecimento e então segurá-la sobre cristais de fogo
da alma até que seu Corpus torne-se macio e maleável. Neste
ponto, o Artífice irá trabalhar com seu martelo, moldando o in-
feliz fantasma em uma forma inteiramente nova. Ferreiros de
Almas habilidosos (geralmente aqueles associados à Guilda dos
Artífices) podem criar obras de delicadeza e beleza surpreen-
dentes, bem como as vigas e couraças necessárias para afastar os
ataques do Esquecimento.
Ocasionalmente, os Ferreiros de Almas misturam
a matéria pura da alma com o minério da morte extraído da
Escada Venosa ou trazido da Tempestade. O Aço Estígio, que
consiste de plasma, minério da morte e supostamente pedaços
das paredes do Labirinto, é de longe a substância mais forte co-
nhecida no Mundo Inferior. Outras fundições têm proprieda-
des diferentes, dependendo de seus ingredientes. Aço de Alma
é uma gíria usada para aparições moldadas sem fundir a outras
substâncias e este é de longe o produto mais comum das forjas.
Itens Forjados de Almas tendem a quebrar muito mais
lentamente do que relíquias, garantindo uma permanência e so-
lidez que são muito valorizados no Mundo Inferior. Por outro
lado, muitas aparições afirmam ouvir suas posses gemendo ou
chorando baixinho e alguns chegaram a ponto de jurar que ou-
viram seus preciosos Artefatos falarem.
O processo de forjar almas é irreversível e a maioria
das aparições acredita fervorosamente que a consciência de
uma alma fundida seja destruída para sempre pelo processo.

Artefatos
Artefato é um termo abrangente para itens no Mundo
Inferior que possuem poderes especiais. Algumas relíquias tam-
bém são Artefatos, mas muitos Artefatos são criados do outro
lado da Mortalha. Extremamente raros e muito procurados, Ar-
tefatos poderosos são tesouros sem preço nas terras dos mortos.
Os Artefatos relíquia são difíceis de criar e ainda mais
difíceis de serem encontrados. A paixão de multidões de Breves
é necessária para capacitar uma relíquia assim; também é ne-
cessária a crença, por parte daqueles mortais, de que o objeto
é de alguma forma especial. Então, o futuro relicário deve ser
destruído, liberando-o para atravessar a Mortalha e se manifes-
tar no Mundo Inferior. Excalibur, o Graal, a Arca da Aliança e a
Guilhotina original de Maria Antonieta seriam todos exemplos
de artefatos relíquia. Diferentemente da maioria das relíquias,
os artefatos relíquia nunca desaparecem.
A outra variedade de Artefato é do tipo forjado por
almas. Itens criados nas forjas dos Artífices e investidos com Ar-
canoi, esses Artefatos são relativamente mais comuns. Máscaras
de Ofício e espadas de Anacreontes são frequentemente Artefa-
tos deste tipo. Por conta do grande custo pessoal de fabricá-los,
os Ferreiros de Almas são particularmente reservados quanto
para quem eles criam esses Artefatos.
Tecnicamente, qualquer item forjado de alma é um
Artefato, mas ninguém se refere a um tijolo forjado de alma
como um Artefato. Somente itens exclusivos e poderosos são
rotulados como “Artefatos”.

Capítulo Dois: Ambientação 45

 Equipamento Operacional Padrão
Há certos itens com os quais todas as aparições de Es-
tigia estão familiarizadas. Estas são as ferramentas básicas da
existência através da Mortalha e qualquer Infante que escapar
dos Ceifadores aprenderá sobre eles em pouco tempo.
• Armas - Por razões de economia, são as armas clássi-
cas que funcionam melhor no Mundo Inferior. Pistolas relíquia
exigem um investimento de Pathos e munição relíquia é escassa,
de modo que a maioria das aparições recorre a espadas, facas e
coisas do gênero. É simples criar lâminas e armaduras de almas
e muitas aparições preferem a bênção que vem de ter uma espa-
da no quadril ou uma adaga na bota.
Armas ornamentadas são vistas como símbolos de
status e relíquias ou Artefatos, essas lâminas são altamente va-
lorizadas. Pequenas guerras entre Necropoli são conhecidas por
ter começado pela posse de Artefatos de armas lendárias.
• Oboli - A unidade básica de moeda Estigia é o obo-
lus. Forjado a partir de uma única alma, um obolus é a única
moeda legal em território Estígio. A maioria dos bandos de Re-
negados e Hereges também os usa, por falta de uma alternativa
aceitável.
Os Oboli, teoricamente, podem ser cortados para
“troco”, mas pedaços de um único obolus que estão separados
tendem a se juntar novamente o mais rápido possível. Por outro
lado, pedaços de moedas diferentes nunca se aglutinam. Algu-
mas aparições mais sensíveis desistiram completamente da ideia
de meio-oboli, ao refletirem sobre o efeito de ser esquartejado
depois de ter a alma fundida.
• Algemas e Correntes - As ferramentas bem-utiliza-
das dos Ceifadores comerciais, correntes e algemas são usadas
de várias maneiras em todo o Mundo Inferior. Sua principal
função, é claro, é ligar e aprisionar aparições. Muitas correntes
são habilitadas para impedir que as aparições presas usem seus
Arcanoi para escapar; outras são usadas como acessórios de
moda por jovens Herdados. Poucos objetos no Mundo Inferior
são tão completamente detestados quanto as correntes Estigias;
todos os Renegados, quase todos os Hereges e até mesmo mui-
tos dos Lêmures de Estigia as vêem como lembretes das forjas
sempre famintas.
• Máscaras - Extremamente elegantes entre muitas
aparições, máscaras forjadas de almas servem para “desperso-
nalizar” oficiais. Útil como um meio de obter respeito ao cargo
de comando, no lugar do comandante em si, as máscaras dos
funcionários da Hierarquia são repassadas aos sucessivos titu-
lares dos cargos. Até mesmo os Senhores da Morte são conhe-
cidos apenas pelas máscaras e outros emblemas de seus ofícios;
pouco importa qual aparição os usa.

Marcas da Morte
Séculos atrás, os Barqueiros notaram que certas apa-
rições chegaram às Terras das Sombras com estranhas marcas
em sua Corpora, visíveis através do uso do Arcanos Fatalismo.
Essas marcas foram classificadas de acordo com os padrões
que faziam e pareciam existir vários tipos. Aqueles que podiam
vê-las sugeriam que eram como sinais de nascença dos vivos,
embora a semelhança terminasse ali. Algumas marcas pareciam
estar esculpidas no próprio Corpus de cada aparição afetada, al-
gumas eram levemente elevadas como cicatrizes, e outras eram

46 Aparição: O Esquecimento
apenas mudanças na coloração da superfície, como tatuagens.
Originalmente, parecia haver uma correlação distinta
entre a padronização e o tipo de pessoa que a aparição havia
sido na vida e os Barqueiros viram isso como sendo o melhor
indicador de como cada aparição deveria procurar a Transcen-
dência. O tempo e as circunstâncias, no entanto, conspiraram
para mudar isso drasticamente. Com o banimento dos Hereges
e a denúncia da Transcendência como uma farsa, o propósito
original das marcas foi ignorado em favor da classificação das
aparições de acordo com a maneira de suas mortes. Agora, as
aparições são marcadas com as marcas da morte como um
meio de marcar a propriedade de um determinado Senhor da
Morte. Alguns Inquietos levaram isso a extremos, Modelando-
-se em elaborados padrões para proclamar sua lealdade a seus
senhores e senhoras.
A Sociedade dos Mortos
‘Tchau, meu amor tolo. Me ouça agora. Durma seu
sono singular e sonhe muitos outros. Eles também fazem parte de
você, parte de nós. Morra neles e deixe-me em paz’
- Thomas Ligotti, “Dream of a Mannikin”
s seres humanos são animais sociais,
e um detalhe como a morte não muda
esse fato. Há uma sociedade complexa e
antiga entre os Inquietos, completa com
guerras, politicagem, fanatismo religio-
so, comércio e todas as outras coisas
que podem ser encontradas nas ruas das
cidades dos vivos. Aparições que enten-
dem e tiram proveito de suas regras podem prosperar imen-
samente, enquanto aqueles que não conseguem entender suas
lições básicas alimentam as forjas ou o Vácuo.
A sociedade fantasmagórica é uma estranha coleção
de tudo que esteve antes na terras dos vivos. Estigia é baseada
em um ideal ateniense clássico, revestida com uma estrutura da
República Romana com armadilhas do Império e com noções
modernas sobre o feudalismo europeu padrão. Observadores
políticos astuciosos rotularam a coisa toda como “uma bagun-
ça” e poucos discordam. Para complicar, o fato é que muitas
aparições de Estigia datam de vários séculos e não acharam ade-
quado modernizar seus pontos de vista. Uma discussão sobre as
comunidades Inquietas pode ser uma lição de história viva (ou
morta, se desejar).
Círculos
Os círculos são grupos de aparições bem unidas, liga-
das socialmente por proteção mútua de escravistas e Espectros.
O Círculo, de muitas formas, substitui a família como unidade
fundamental da sociedade no Mundo Inferior, permanecendo
com seus membros nas vitórias e derrotas. Aparições sem Cír-
culos tendem a ser os últimos sobreviventes de Círculos que se
desintegraram, ou suicidas ao extremo. Uma aparição sem um
Círculo não tem ninguém para observar suas costas fantasma-
góricas e provavelmente não escapará por muito tempo dos pe-
rigos da existência no Mundo Inferior.
A maioria dos Círculos varia em tamanho de três a
trinta aparições, raramente mais que isso. Os membros de um
Círculo são geralmente ligados pelo Local Assombrado (ou Lo-
cais Assombrados) que compartilham, não é diferente de vários
mortais agrupados em uma casa coletiva. Não é incomum que
os membros de um Círculo sejam de uma gama de facções do
Mundo Inferior, muitas vezes levando a brigas internas fortes o
suficiente para acabar com o Círculo.
Politicagem
Com centenas de anos se estendendo diante deles,
os fantasmas se destacam nos jogos políticos. Como a guerra
aberta entre os mortos praticamente envolve o Esquecimento,
as aparições tentam se mover contra seus inimigos de manei-
ra mais sutil, não atiçando nem o destino nem suas Sombras.
No entanto, só porque as manobras dos velhos mortos não são
evidentes, não significa que elas não possam ser fatais. As forjas
e o Vácuo recebem seu quinhão daqueles que subestimaram o
poder de seus oponentes ou as conseqüências da derrota.
Facções
grosso modo, as Terras Mortas do mun-
do ocidental estão divididas em três fac-
ções mutuamente antagônicas, embora
isso dificilmente signifique que cada apa-
rição esteja com a arma apontada contra
seu vizinho. A maioria dos Inquietos está
contente em lidar com seus compatriotas
individualmente, independentemente da
afiliação política. No entanto, cada facção tem seus fanáticos
e agitadores e expressar simpatia por um Renegado na frente
de um Legionário errado pode ser uma passagem de ida para a
eternidade como um cinzeiro.
Os Renegados são rebeldes, colocando-se contra qual-
quer um que os incomode, seja Hierarquia, Hereges ou outros
Renegados. Alguns são Hierarcas que se desiludiram com o
sistema, outros fugitivos que buscam refúgio, enquanto seus
irmãos de armas podem ser bandidos, políticos radicais ou
simplesmente pensadores livres. Quaisquer que sejam os ide-
ais mais nobres que alguns possam ter sobre uma Estigia livre
da escravidão, um número cada vez maior de Renegados estão
muito bem familiarizados com a violência e suas muitas aplica-
ções. Para cada Renegado que se infiltrar em uma Cidadela na
esperança de colocar as forjas de almas fora de ação, há outra
que de bom grado, venderá o herói que retorna como escravo.
Os Hereges são aqueles que buscam um estado mais
elevado, talvez na Transcendência, talvez nas Costas Distantes,
talvez em algum lugar ainda desconhecido. O título é um termo
coletivo para os muitos cultos díspares que defendem crenças
religiosas antes dos políticos e foi primeiro dado a eles por Ca-
ronte após a debandada dos Iluminados. Ocasionalmente, esses
grupos se unem contra Renegados violentos ou os agentes Hie-
rárquicos dominadores, mas essas ocasiões são raras. Os cultos
Hereges geralmente passam mais tempo lutando entre si por
doutrina e seguidores em potencial. Eles vão desde guerreiros
sagrados fanáticos a gentis cuidadores e professores e tudo mais.
Seu vínculo comum é sua fé inabalável em suas crenças, seja
na deusa-mãe, um panteão, Caos Encarnado, o judaico-cristão
Yahweh ou divindades desconhecidas para o mundo mortal.
Capítulo Dois: Ambientação 47
Acima de tudo, os Hereges procuram convertidos, já que cada
grupo está convencido de que eles e somente eles conhecem os
segredos da vida após a morte. Infelizmente, muitos destes são
enganados por Espectros ou, pior ainda, os “deuses” das Costas
Distantes.
A Hierarquia é o lado mais antigo e mais poderoso do
triângulo, reivindicando sua autoridade a substituir a partida de
Caronte. Seus senhores exigem respeito de todos e usam as Le-
giões para respaldar tais pedidos. Enquanto a Hierarquia pode
ser a mais estável, é também a facção mais sufocante e conserva-
dora. As paredes de suas Necropoli aguentam os Espectros, mas
a um custo terrível. A aparição comum na rua provavelmente
será da Hierarquia, não muito diferente do cidadão mortal mé-
dio cumpridor da lei. As aparições da Hierarquia aceitam as leis
de Estigia, juntamente com as ofensas e os erros administrati-
vos, como o melhor meio de proteção contra os fanáticos e os
Devoradores de Sombras.
Os Renegados
Toda a vida eu joguei pelas regras. Paguei meus impos-
tos, obedeci limite de velocidade - pode crer. Agora estou morto e
eles estão me dizendo que tenho que fazer a mesma coisa tudo de
novo, para sempre? De jeito nenhum, cara. De jeito nenhum.
- Amos Coulter, Renegado, Incorrigíveis de Doyle
O termo “Renegado” é mais frequentemente usado
como um termo amplo para descrever aqueles que estão fora
da Hierarquia, mas não pertencem a um culto Herege organi-
zado. Os mais renomados “Renegados” consideram o termo um
insulto e preferem uma variedade de nomes que vão de “Fo-
rasteiros” a “Fora do meu caminho”. Geralmente, os Renegados
reunem em gangues com apelidos, embora essas gangues pos-
sam assumir a forma de anarquistas furiosos, gangues de rua ou
comunistas pacifistas.
Não existe algo como um Renegado “padrão”. Existem
tantas razões para não ser um deles, quanto há Renegados. Al-
guns simplesmente reagem com repugnância ao escravagismo
da Hierarquia, enquanto para outros, pouco importa quem está
no comando... desde que não seja a Hierarquia. Muitos eram
rebeldes em vida e simplesmente não querem mudar. Alguns
são fugitivos da justiça da Hierarquia, preferindo a vida precária
de um refugiado à segurança da eternidade forjado como um
vaso. Entre os Renegados também se encontram os bandidos
que preferem obter seu ganha-pão do assalto em Atalhos do que
de um Capitão Legionário qualquer.
Boa parte das gangues são bandos de mercenários,
vendendo suas espadas e serviços a qualquer um que possa pa-
gar seus preços, incluindo Hierarcas temporariamente presos
por Legionários. Por outro lado, muitas comunidades de Re-
negados são grupos pacíficos, tentando se esconder o máximo
possível. É essa mesma desorganização de propósito que isenta
os esforços periódicos de certos Renegados em apresentar uma
frente unificada e que inadvertidamente serve à Hierarquia.
A principal fonte de tensão entre a Hierarquia e os
Renegados é a simples guerra de classes. Uma certa quantida-
de de esnobismo é parte integrante da vida em Estigia como
um membro da classe “governante” óbvia e muitos Hierarcas
48 Aparição: O Esquecimento
acreditam que é seu direito e privilégio fazer os Renegados so-
frerem um inferno, afinal, eles são socialmente inferiores. Para
alguns Renegados, o pensamento de ser capaz de derrubar um
Hierarca apenas para limpar aquele sorriso superior de seu ros-
to aquece o plasma do mesmo nas noites mais frias. Por outro
lado, há muita troca de almas entre membros individuais das
facções e até mesmo os Legionários costumam fechar negócios
com os Renegados locais se não acharem que seus superiores
estão olhando.
As Gangues Estão Todas Aqui
Grupos de Renegados conhecidos incluem:
A Irmandade do Coelho Negro - Um
grupo de ex-mágicos de palco, expandido para in-
cluir psíquicos e espiritualistas do século XIX, os
Irmãos se uniram para proteger esses grupos dos
abusos da Hierarquia. Mesmo na morte, eles con-
tinuam estudando o ocultismo e o sobrenatural, às
vezes auxiliando médiuns mortais dignos e fazen-
do incursões diplomáticas a outros Reinos Negros
para estudar seu conhecimento espiritual.
Cavaleiros da Tempestade - Ciclistas em
vida, esses Renegados não foram atrasados pela
morte nem um pouco. O trovão de suas bikes relí-
quias ocasionalmente quebra a paz das Necropoli,
para insatisfação de muitos Anacreontes. Os Cava-
leiros da Tempestade detestam a autoridade mo-
nolítica da sufocante Hierarquia e muitos seguem
um código de Robin Hood de ajudar o inimigo e
ferir os fortes. No entanto, outros não adotam ne-
nhum código além do seu, o que inclui derrubar
quem quer que esteja em seu caminho.
A Coluna Voadora — Este grupo de Du-
blin continua a boa luta mesmo na morte. Alguns
lutaram para expulsar os ingleses da Irlanda, ou-
tros foram vítimas dos “problemas” na Irlanda do
Norte. No entanto, eles chegaram, agora procuram
libertar a Necropolis de Dublin da lei de ferro da
Hierarquia.
Os Hereges
Olhe ao seu redor e diga-me que você não acredita re-
almente no inferno, meu amigo. Nosso líder sabe o caminho para
um lugar melhor e lamento muito ficar lá, sabendo que você per-
maneceu aqui entre os condenados.
- Daniel Avrams, Pastor, Os Filhos da Nova Massada

O termo “Herege” foi usado pela primeira vez por Ca-

ronte após a descoberta do verdadeiro estado das Costas Dis-
tantes. No entanto, como cada culto se vê no verdadeiro cami-
nho para a salvação, ele simplesmente atribuiu o nome “Herege”
a todos os outros cultos equivocados com os quais compartilha-
va as Terras Mortas. Para a Hierarquia e os Renegados, é claro,
faz pouca diferença como os Hereges chamam de si mesmos e o
termo é usado apenas com uma frequência ligeiramente maior
do que “aqueles malucos”.
Se os Hereges pudessem superar suas diferenças e
apresentar uma frente ecumênica, eles poderiam ser um inimi-
go formidável para a Hierarquia. Para muitos Hereges, o poder
de suas crenças os sustenta com tanta certeza quanto o salário
de Pathos sustenta algumas de suas contrapartes nas Legiões.
No entanto, o conflito de sistemas de crença entre os cultos im-
pede que isso seja uma possibilidade.
Para os de fora, as razões que separam os Hereges
parecem uma simples questão de obstinação, uma recusa em
admitir que as crenças de qualquer outra seita poderiam ser tão
viáveis quanto as suas. No entanto, esta é uma explicação mui-
to simplista, dada a variedade e complexidade dos sistemas de
crença trabalhadas. Não importa quão amigável ou de mente
aberta um membro do culto possa ser, ela defenderá sua seita
à porta do Esquecimento como sendo a maneira certa e úni-
ca de dar o próximo passo espiritual. Numa guerra em que as
apostas são tão altas, não há espaço para tolerância em relação
ao inimigo. Muitas vezes foi dito que aquele que controla a re-
ligião controla a região. Os Hereges carregam esse credo como
um corolário de suas próprias crenças e desejam liderar seus
companheiros Inquietos para o Céu, mas em suas normas.
Por enquanto, os vários cultos brigam tanto uns com
os outros quanto com a Hierarquia. A questão da Transcendên-
cia é o principal ponto de discórdia que a maioria dos Hereges
tem com Estigia, como Caronte declarou ser uma farsa ao des-
mentir os Iluminados. Desde então, muitos Hierarcas tratam
a noção de Transcendência como um conto de fadas e veem os
Hereges como uma propaganda prejudicial à saúde da socieda-
de Estigia. Os Hereges refutam calorosamente esse argumento
como evidência de que a Hierarquia está apenas com medo de
perder o poder quando as almas Transcenderem.
A mais famosa “Heresia” é a dos Pescadores, cujo en-
volvimento com Estigia é bem conhecido e registrado. Desde
então, vários outros cultos surgiram, a maioria deles definida de
acordo com seus hábitos de proselitismo.

Capítulo Dois: Ambientação 49


Um Coro de Cultos
Cultos Hereges conhecidos incluem:
Os Hospedeiros - Estas aparições acre-
ditam sinceramente que eles se tornaram anjos,
assim como suas crenças religiosas disseram que
fariam. Encontrando-se nas Terras das Sombras,
eles explicam seu estado fantasma dizendo que
não encontraram o Céu porque ainda não são
dignos. Portanto, para se tornarem dignos, eles
visitam as Terras da Carne, tentando orientar e au-
xiliar mortais sempre que possível. Talvez não seja
uma pequena coincidência que o culto mortal da
crença angelical tenha aumentado dramaticamen-
te não muito depois da formação desse grupo.
Filhos do Verde - A maioria dos Filhos
eram neo-pagãos em vida ou desde que morre-
ram. Numa tentativa de conciliar a dicotomia dos
ensinamentos terrenos da Grande Roda da Vida e
seu próprio estado, eles acreditam que incorporam
uma Roda menor que funciona a partir da outra
na forma de uma polia. Eles devem viajar pela se-
gunda roda para alcançar a Transcendência. O que
quer que eles façam nesta roda poderia colocar a
primeira (e maior) roda fora de equilíbrio. Infeliz-
mente, com todos os outros tão descuidados sobre
o equilíbrio, os Filhos vêem como seu dever sa-
grado prevenir as violações do Dictum Mortuum,
impedir a escravidão da alma e alcançar a paz, de
preferência até amanhã, no máximo.
Cavaleiros da Roda - Uma vez dedica-
dos à fé da Roda da Fortuna, essas aparições agora
crêem no Acaso cegamente. Eles mantêm o cassi-
no dos Jardins Suspensos nas Terras das Sombras
em Atlantic City como um templo para o Acaso e
vêem as apostas como uma forma mais sincera de
adoração.
50 Aparição: O Esquecimento
A Hierarquia
Estamos em guerra pelo bem de tudo que existe, e não
temos o luxo de discordar. Se você não está conosco, você está con-
tra nós, e se você está contra nós, você está trabalhando para o
esquecimento.
- Genevieve Buck, Anacreonte da Violência, Manchester Necro-
polis
Esta organização monolítica é a mais antiga e longeva
de todas as Terras Mortas. Fundada por Caronte como meio de
unificar e ordenar a caótica vida após a morte, transformou-se
em uma burocracia estratificada e calcificada “liderada” por Se-
nhores da Morte em disputa e baseada na escravização de mi-
lhares de almas para uso como Cativos ou matéria-prima. Cri-
minalizando qualquer oposição e esmagando aqueles que estão
em seu caminho, as Legiões armadas da Hierarquia cruzaram os
oceanos para se certificar de que a lei de Estigia é mantida em
todas as Terras Mortas. O fato de que muitas aparições encon-
trarem as leis Estigia duvidosas não está aberto a debate, já que
a maioria da Hierarquia se vê como pessoalmente segurando
a linha contra o Esquecimento. Os Renegados são vistos como
dispostos abrir os portões da Cidadela para os Espectros; He-
reges querendo que todos contemplassem seus próprios deva-
neios enquanto os Maelstroms uivam. Não, não importa quão
desagradáveis alguns de seus aspectos possam ser, de acordo
com cidadãos leais de Estigia, a Hierarquia é a melhor aposta
para que o mundo seja engolido pelo Vácuo.
Apesar das muitas falhas, a Hierarquia é talvez a me-
lhor chance que uma aparição comum tem de sobreviver a ame-
aças de Espectros, Maelstroms e outros monstros e uma das
poucas fontes de lei e ordem a serem encontradas num Mundo
Inferior caótico. Aparições que foram cidadãos comuns e cum-
pridores da lei em vida, descobrem que a Hierarquia fornece um
estilo de vida similar ao que estavam acostumados, dando-lhes
um refúgio reconfortante quando tudo o mais em sua nova exis-
tência é estranho. Esses cidadãos comuns são uma face invisível
da Hierarquia, só é reconhecida por outras aparições através do
Legionário que aponta sua espada relíquia ou do servo burocrá-
ta sádico.
Enquanto os níveis mais altos da Hierarquia são indu-
bitavelmente corruptos (como qualquer Renegado ou Herege de
bom grado o informará), os níveis mais baixos conseguiram es-
capar de grande parte da infecção. Lá podem ser encontrados os
idealistas, as aparições diligentes e trabalhadoras empurrando
documentos ou mantendo a paz em um quarteirão da Necro-
polis. Os poucos altruístas que conseguiram chegar a posições
de poder vêem Estigia como um império, outrora poderoso, em
tempos difíceis. Apesar da Hierarquia ter suas falhas, Caronte
ainda tinha boas intenções e idéias que deveriam continuar a
defender esses ideais, mesmo que os Senhores da Morte tenham
se esquecido deles.
A maioria das aparições faz parte da Hierarquia e con-
trola a maioria das Necropoli e Cidadelas nas Terras das Som-
bras. Muitos Atalhos são construídos e mantidos pela Hierar-
quia e Estigia constantemente envia patrulhas para manter essas
rotas seguras longe de Espectros e Renegados. Naturalmente,
a definição de “seguro” depende de quem é perguntado, ainda
mais se essa pessoa for um Renegado.

As Legiões
Em teoria, todo cidadão de Estigia pertence a uma Le-
gião. Delineada ao longo das linhas de morte de cada aparição,
as Legiões servem como uma forma de classificar os mortos.
Cada Legião é governada por um Senhor da Morte, que exi-
ge obediência de todos dentro de sua tropa. Autoridade vêm
do Senhor (ou Senhora) da Morte em uma cadeia de comando
quase militar, com Legionários civis recebendo postos militares
em um esforço para colocá-los dentro da estrutura da Legião.
O lado burocrático das Legiões é tão importante quan-
to as forças armadas e a maioria dos membros de uma Legião
não está lá fora punindo Espectros e Renegados. Em vez disso,
eles estão processando almas, aplicando leis, fazendo recensea-
mento, consertando Necropoli, educando os Infantes e manten-
do a sociedade de Estigia funcionando sem problemas.
Então, novamente, há os aspectos marciais de cada Le-
gião. As patrulhas de Atalhos, as expedições de caça aos Espec-
tros, o abate de Renegados e outras atividades similares exigem
uma presença militar permanente entre os mortos e cada Se-
nhor da Morte faz o melhor que pode. Esta é a cara das Legiões
com as quais Renegados e Hereges estão mais familiarizados e
esses estranhos frequentemente confundem o lado militar da
Legião com a Legião como um todo.
Enquanto os Senhores da Morte competem pelo po-
der, confrontos entre Legiões estão se tornando mais frequen-
tes. Embora as coisas estejam muito longe da guerra aberta nas
ruas de Estigia, nos cantos escuros, uma hostilidade mais aberta
inter-Legiões têm ocorrido com maior frequência. Um Centu-
rião solitário da Legião Indigente que vagueia em um refúgio
frequentado por soldados da Legião Óssea pode estar pedindo
por problemas, dependendo de como as relações entre o Senhor
Sorridente e o Senhor Pedinte estão naquela semana.
Existem outras organizações menores que também
conhecidas como Legiões, embora esta seja geralmente uma al-
cunha por mérito. Por exemplo, a Quinta Legião, assim como
a Legião do Falcão Negro, é um corpo de elite militar criado
por Caronte formada pelos melhores soldados em cada uma das
Legiões dos Lobos da Morte, enquanto a Legião On-line contém
aparições da Hierarquia mestres no Arcanos Habitar. Alguns
dos Senhores da Morte também têm Legiões dentro de Legiões,
como o Senhor Pedinte que honra seus guarda-costas com o
título de Legião da Lágrima de Ônix. Geralmente, assume-se
que quando o termo “Legião” é usado, fala-se de uma das oito
Legiões dos Senhores da Morte. Se uma aparição deseja men-
cionar uma das organizações menores, ela geralmente a chama
pelo nome completo apenas para evitar confusão.
Patentes da Legião
• Legionário - Legionários são como os grunhidos do
Mundo Inferior, ocupando o posto mais baixo nas Legiões. A
maioria não tem deveres fixos e em vez disso, são transferidos
de Necropolis para Necropolis, conforme a necessidade. Patru-
lhas geralmente consistem de Legionários.
• Centurião - Um Centurião é uma aparição que su-
pervisiona uma patrulha e os Legionários que servem nela. Os
Centuriões são grandes representantes de Estigia e ganham
atenção considerável em campo. Poucos Centuriões se conten-
tam muito tempo nessa posição, depois que iniciam sua escala-
da de status como Legionário.
• Marechal - Nomeado pelo Anacreonte local, um
Marechal é responsável por um pequeno domínio fora de uma
Cidadela. Os Marechais geralmente lideram múltiplas patrulhas
designadas a eles e cada um se reporta diretamente a seu Suse-
rano.
• Regente - Essencialmente um Marechal de confian-
ça, um Regente tem responsabilidade por locais mais distantes
da Cidadela local e, portanto, mais independência. Os Domí-
nios da Hierarquia que não estão centrados em uma Necropolis
estão geralmente sob a jurisdição de um Regente.
• Suserano - O segundo nível de autoridade em uma
Cidadela, um Suserano geralmente é um assistente do Anacre-
onte que é confiável para tomar decisões políticas. Supõe-se que
os Suseranos falem por seus Anacreontes e freqüentemente co-
ordenam todas as patrulhas e oficiais menores da Hierarquia em
uma Necropolis.
• Anacreonte - O Anacreonte de uma dada Legião é
o membro de mais alto nível daquela Legião dentro de uma Ci-
dadela. Cada Necropolis é governada por um conselho de sete
Anacreontes (a Legião do Destino desdenha o envolvimento na
política local), e um Anacreonte tem poder supremo sobre os
membros de sua Legião dentro de sua jurisdição.
As Legiões consistem em:
• A Legião Silenciosa, governada pelo Se-
nhor Calado do Trono do Silêncio e consistindo das
vítimas do Desespero.
• A Legião dos Indigentes, governada pelo
Senhor Pedinte a partir do Trono das Lágrimas Dou-
radas e consistindo das vítimas do Mistério.
• A Legião Esmeralda, governada pelo Se-
nhor Esmeralda a partir do Trono de Espinhos e con-
sistindo das vítimas das Circunstâncias.
• A Legião Óssea, governada pelo Senhor
Sorridente no Trono das Águas Ardentes e consistin-
do das vítimas da Violência.
• A Legião Férrea, governada pela Senhora
Cinzenta do Trono das Sombras, e consistindo das
vítimas da Velhice.
• A Legião Penitente, governada pela Senho-
ra Risonha do Trono do Socorro, e consistindo das
vítimas da Loucura.
• A Legião Esquelética (também chamada
de Legião Magra), governada pelo Senhor Esqueleto
do Trono da Poeira, e consistindo das vítimas da Pes-
tilência.
• As Legiões do Destino, governadas pelas
Damas do Destino a partir do Trono do Destino e
consistindo daquelas que o Destino marcou para si.
Capítulo Dois: Ambientação 51

Barghests
Estes Cães de Tindel dos mortos já foram aparições
antes de serem selecionados para as unidades K-9 das Legiões.
Cada novo bando é Modelado em uma criatura semelhante a
um cão de caça e depois é lobotomizado para ter um focinho es-
pecialmente preparado de aço Estígio enxertado em seu corpo.
O resultado é um “cão” obediente que responde apenas para a
pessoa que detém a sua coleira e tem o apito. Muitos são usados
para rastrear os Devorados pela Sombra, enquanto outros são
simplesmente usados como tropas de choque, para o desespero
de seus alvos. Quando eles pegam o cheiro de um Espectro ou
outra presa, barghests (eles sempre caçam em pares ou bandos)
estabelecerão um uivo tão feroz que pode ser ouvido pelos vi-
vos. Renegados com uma inclinação científica supõem que es-
tes cães estão realmente usando uma modificação do Arcanos
Lamúria, mas muito poucas aparições que fazem pesquisas de
campo sobre o assunto retornam para publicar suas descober-
tas.
Lei de Caronte
Sonhe se você se lembrar de que existem leis de ferro
- Johnny Clegg e Savuka, “Jericho”
Hierarquia tem seu próprio sistema de
leis, com o antigo código de Caronte e
o Dictum Mortuum em seu centro. Este
código (traduzido literalmente, “A Pa-
lavra dos Mortos”) foi criado durante a
Idade Média para regular o tráfego entre
mortais e aparições. Muitas aparições se
uniram aos vivos através de Cavalgadas,
pesadelos, materializações e muitos outros horrores. Outros se
disfarçavam de demônios para iludir supostos feiticeiros. Com
pouca resistência organizada ou ameaça de punição, essas apa-
rições continuaram seus jogos até que a Igreja respondeu com
exorcismos e proteções.
Caronte decidiu acabar com isso e instituiu o Código
de Caronte. Visando proteger os vivos dos abusos dos mortos,
colocando uma interdição pesada em toda a interação com
mortais. Também deixou muito claro que apenas Caronte e seus
designados autorizados tinham permissão para reunir e despa-
char almas.
O Código é continuamente atualizado e a Hierarquia
de Estígea continua a mantê-lo. A maioria dos agentes das Ter-
ras das Sombras não tem tempo nem energia para lê-lo, muito
menos para reforçá-lo e concentram-se apenas em manter a
paz. Muitos suspeitam que enquanto eles mantiverem o supri-
mento de almas nos escritórios oficiais, não importa quantas
intromissões aconteçam.
O Judiciário
A lei da Hierarquia foi criada tanto para punir quanto
para proteger. A maioria dos Inquietos seguem os ditames em
voz baixa, da mesma forma que seguiam a lei das Terras da Car-
52 Aparição: O Esquecimento
ne em seus dias de respiração. No entanto, há um elemento de
medo que vem com a obediência, um medo que a lei da Hierar-
quia não hesita em capitalizar em nome da lei e da ordem. Ofi-
ciais de Estigia são rápidos e eficientes em capturar os infratores
da lei, enquanto muitas das Legiões e outros agentes da Hierar-
quia nas Terras das Sombras tendem a ignorar infratores me-
nores com intenção de manter a paz e agarrar peixes maiores.
Aqueles que infringem a lei vêm perante um magistra-
do da Hierarquia para serem julgados. Uma aparição pode ape-
lar para comparecer perante um magistrado “superior”, mas os
recursos raramente são ouvidos, a menos que o acusado tenha
alguma posição na Hierarquia local. Em alguns casos, um jul-
gamento pode ser apelado à Mão do Destino, e se as Damas do
Destino anularem a decisão, a Hierarquia, na maioria dos casos,
cumprirá a nova decisão. Poucos sabem o que acontece com os
réus em casos onde não são tratados de maneira tão educada.
Sentença e Punição
Se uma aparição quebra uma lei e é considerada cul-
pada de um crime, pelo menos no território de Estigia, ela é
punida por isso. Obviamente, certas punições, como a pena de
morte, significam pouco para os que já estão mortos e exilar os
infratores à Tempestade apenas corre o risco de fortalecer ainda
mais o Esquecimento. Como resultado, a Hierarquia se tornou
um pouco mais criativa em suas punições.
• Escravidão - O ofensor é acorrentado com algemas
de Estigia, fazendo dele o Cativo de outra aparição, normalmen-
te um oficial da Hierarquia. Esta é a punição mais comum em
território Estígio, embora não seja a mais severa.
• Aprisionamento - Às vezes criminosos são presos
em reflexos das Terras das Sombras de prisões mortais, com pa-
redes reforçadas e barras de metal Estígio para evitar a fuga.
Esta punição devastadora funciona de várias maneiras. Antes de
mais nada, impede que a aparição visite seus Grilhões ou reno-
ve suas Paixões, enfraquecendo sua capacidade de resistir à sua
metade mais escura. Além disso, quando uma aparição é deixa-
da sozinha no escuro para mofar, sua Sombra inevitavelmente
irá redobrar seus ataques à sua Psique.
• Branding - Branding é uma forma de marcar cri-
minosos, efetivamente ostracizando-os da sociedade e evitando
outros possíveis malfeitores de tentarem o mesmo. O tamanho
e a forma das marcas variam de acordo com a gravidade do cri-
me. Crimes graves (supondo que o ofensor escape das forjas ou
dos Mascarados) resultam nos criminosos sendo marcados em
sua testa, expondo-os a um desprezo implacável.
• Desincorporação - Esta é a punição mais severa
dentro do poder da Hierarquia. O agressor é transportado para
as forjas mais próximas e é fundido em um objeto de alma. Al-
ternadamente, alguns criminosos são entregues às aparições es-
pecializadas em Modelar e remodelados em outros implemen-
tos “úteis”.
Forasteiros
“Pode ser”, pensou para si mesmo ... “será que essas pes-
soas são as pessoas do crepúsculo, que amam apenas à noite sua
vida real, e saem honestamente apenas com o anoitecer?”
- Algernon Blackwood, “Ancient Sorceries”

As Guildas
s Guildas começaram como “faculdades”
soltas entre os mortos para ensinar as ar-
tes fantasmagóricas dos Arcanoi àque-
les que usavam ou desejavam buscar o
domínio neles. Mais tarde, as Guildas
evoluíram para organizações políticas
de Aparições Livres, existindo fora das
Legiões e adquirindo poder suficiente
na sociedade de Estigia para deixar até mesmo os Senhores da
Morte nervosos. Como suas contrapartes mortais medievais, as
Guildas guardavam seus segredos com inveja, ocultando-se em
camadas de mistérios que nem mesmo muitos de seus compa-
nheiros podiam ver no passado.
Enquanto a maioria das aparições de Estigias acredi-
tam que as Guildas foram há muito desfeitas, existem 16 Guil-
das atualmente em atividade, cada uma delas especializada em
um Arcanos em particular. Cada uma tem uma reputação per-
sistente desde os dias antigos, quer opte por reconhecê-los ou
não. Os membros de certas Guildas ainda são respeitados desde
sua época junto de Caronte, enquanto outros são odiados por
sua afiliação com os ecos do passado.

A Guerra das Guildas

O Dictum Mortuum fez muito para azedar as rela-
ções das Guildas com Caronte. Para as aparições das Guildas,
o decreto de Caronte impedindo a interferência com as Terras
da Carne foi um golpe terrível em suas atividades e diversões.
Oneiros, Procuradores, Assustadores, Zombeteiros, Titereiros e
facções menores dentro das outras Guildas que dependiam do
contato com o mundo mortal sofreram mais e resolveram não
levar o assunto a sério. Sua resposta foi continuar seu trabalho
como se nada tivesse acontecido, uma atitude que não agradou
a Hierarquia. A contenção pelo contato com os vivos se torna-
ria um dos pontos mais complicados nas relações entre os dois
grupos nos séculos vindouros e quase levou à revolta aberta em
várias ocasiões.
Durante a Idade Média, as Guildas ganharam desta-
que. As aparições proficientes em seus Arcanoi escolhidos se or-
ganizaram como artesãos mortais, oficialmente se codificando
como Guildas. Grupos mais antigos, como o coletivo milenar
dos Ferreiros de Almas, rapidamente se adaptaram ao novo pa-
radigma e logo as Guildas eram um elemento permanente na
paisagem política. Relações estreitas de simbiose se desenvol-
veram entre muitas das Guildas e Estigia, com Aparições-Livres
oferecendo serviços em troca de riqueza, poder e status. No
entanto, uma vez que a riqueza de Estigia fluía das forjas dos

Capítulo Dois: Ambientação 53

Artífices, eles reivindicaram a primazia entre as Guildas e mui-
tas vezes subverteram as agendas de outras Guildas por conta
própria. O ressentimento cresceu entre outras Guildas, ferven-
do em uma guerra não oficial que se estendia das Terras das
Sombras até as ruas de Estigia. Este conflito, chamado Guerra
das Guildas, durou de 1096 a 1354. Embora nunca houvesse ba-
talhões de membros das Guildas nas ruas, o que aconteceu a
portas fechadas foi um assunto inteiramente diferente. Os Mne-
moi atraíram os Oneiros para a guerra, alegando que Caron-
te planejava arrasar vários teatros em favor das forjas da alma,
enquanto os Monitores guiavam a todos para os Grilhões mais
bem protegidos de seus adversários. Um Bardo que desfrutasse
do favor de um certo Anacreonte o “persuadiria” (com a ajuda
da cumplicidade dos Solicitantes) a investigar a questão dos Ar-
tífices forjando armas que não iam pro arsenal, na esperança de
condenar os estelionatários a suas próprias forjas. Outras Guil-
das com contatos nas Terras da Carne (Procuradores, Titerei-
ros, Assustadores e Zombeteiros) os colocam contra o inimigo
principal, enquanto aproveitam o caos para ajustar os inimigos
secundários de suas Guildas. Artífices lutaram de volta, criando
uma série de novos objetos artísticos encantadores da Corpora
de seus inimigos, entregando-os como resposta a esse sensacio-
nalismo apócrifo.
A guerra foi iniciada para remover os Artífices do po-
der, mas acabou tornando-os mais fortes do que nunca. Vários
“acidentes” precisavam ser eliminados e os Ferreiroes eram a
escolha óbvia. Eventualmente, as coisas acabaram em um im-
passe e com o aumento da interferência dos Senhores da Morte,
uma queda das hostilidades fez um maior sentido. Nos últimos
54 Aparição: O Esquecimento
meses de 1354, o Compacto das Guildas foi ratificado pelas 13
Grandes Guildas. Dos excluídos, os Solicitantes e Alquimistas
foram considerados sem importância e portanto, não foram
convidados a assinar, enquanto os Mnemoi eram tão profun-
damente desacreditados a ponto de serem propositalmente des-
prezados.
O Compacto objetivava o fim de todos os conflitos en-
tre as Guildas. Um Conselho de Guildas seria formado para jul-
gar disputas entre Guildas ou membros de Guildas oponentes.
Os Artífices, como a Guilda Mais Velha, se sentariam como a
liderança do Compacto e do Conselho. Isso originalmente cau-
sou mais ressentimentos e sentimentos anti-Artífices, mas esses
sentimentos foram silenciados quando os Artífices distribuiram
alguns artefatos para “encorajar” a cooperação.
A Quebra
Apesar dos problemas em seu início, o Conselho uni-
ficou as Guildas como uma força política. Enquanto brigavam
atrás de portas fechadas, eles apresentavam uma frente unida
ao resto de Estigia. Eles se sobrepunham ao resto da popula-
ção de Estigia no poder, superados apenas pelos Senhores da
Morte (sem dúvida para o alívio coletivo daquelas angustiadas
aparições). No entanto, os ventos da mudança estavam sopran-
do, particularmente na forma de agitação entre os Hereges
e Renegados. Certos Mestres de Guilda viram a instabilidade
forjada por esses grupos como uma chance de tomar o poder
obviamente enfraquecido de Caronte. Em 6 de abril de 1598, as
Guildas, lideradas pelos Artífices, tentaram realizar um golpe de
estado. Os Usurários ajudaram a iniciar a revolta, mas abando-
naram o projeto suspeitamente rápido. Quando eles partiram,
seus aliados mais próximos, os Mascarados, os seguiram e o
golpe começou a afundar. Acabou com um fracasso miserável e
muitos dos ofensores foram destruídos pela próxima maré.
No início da rebelião, Caronte tinha preocupações de
que muito poder estava sendo concentrado ao alcance das Guil-
das. Um golpe mais organizado, poderia ter sido bem-sucedido
onde a desajeitada falta de poder dos Artífices fracassara. Ele
decidiu remover a ameaça de usurpação dissolvendo essa con-
centração ameaçadora de poder e o fez banindo as Guildas das
Aparições-Livres de Estigia.
O Decreto da Ruptura, como era chamado, delineou a
política de Caronte contra as Guildas, a saber: As Guildas exis-
tentes foram dissolvidas como organizações oficiais; quaisquer
grupos que se chamem Guildas foram banidos das terras de Es-
tigia; A filiação com Guildas tornou-se crime; e Legionários es-
pecialmente treinados estariam tomando o lugar dos membros
das Guildas na sociedade de Estigia. Como o golpe, o Decreto
estava errado na intenção e fadado ao fracasso. Após 20 anos
de sabotagem e paralisações, Caronte descobriu que as Legiões
não podiam substituir as Guildas. Aliás, a Ruptura não fez nada
para inibir os membros de Guilda. Eles ainda possuiam as ferra-
mentas e os talentos pelos quais as aparições pagariam genero-
samente.
Ainda assim, seria um mau precedente para Caronte
reverter sua decisão. Tal reviravolta teria sugerido que ele não
poderia criar mandatos políticos firmes nem impor sua vontade
e na instabilidade pós-golpe, parecer fraco diante dos Senhores
da Morte predatórios teria incitado mais rebeliões. No final, ele
escolheu reintegrar os “antigos” membros das Guildas individu-
almente, na condição de que eles entendessem que as Guildas
não existiam mais. No entanto, a ficção de que as Guildas foram
destruídas ainda circulava entre a população e por fim, a popu-
lação passou a acreditar nela.
O Decreto da Ruptura
Neste dia, Ano Estígio de 246 Post Secundum,
decretamos que as Guildas serão desfiliadas de suas posi-
ções por seus crimes: Que eles tentaram derrubar o pró-
prio poder que lhes garante seu lugar e posição; que eles
colocaram os poderes de seu domínio contra o Impera-
dor e a população; que suas maquinações sujas tentaram
desvanecer o próprio tecido de Estigia, suas colônias e
protetorados. Portanto, decretam-se as seguintes interdi-
ções:
• Estarão as Guildas banidas de Estigia. Que
seus Mestres não mais escureceçam minha porta; que
seu poder desvaneça e se espalhalhe como um exército
cativo. Eles não encontrarão refúgio em qualquer lugar
da cidade ou de suas terras onde nossa bandeira se ergue.
• Que qualquer aparição encontrada pertencen-
te a uma Guilda ou reivindicando a adesão a uma Guilda
é considerada uma criminosa da pior espécie. E estarão
sujeitas à justiça de Estigia que os senhores têm sobre
cada Aparição.
• Estejam as Guildas dissolvidas de seu poder,
organização, participação e autoridade. Não mais existe
uma organização como Guilda e qualquer um que rein-
vindique será preso e sentenciado pela justiça de Estigia.

Jogando Com os Outros • Que as Legiões preencham as vagas deixadas

em comando na partida das Guildas. Que sejam treina-
As Guildas ainda existem, independente da política. das nos caminhos do Arcanoi e assim, assumam os pos-
Não importa que histórias ou linhas partidárias sejam dissemi- tos vazios abandonados pelas Guildas orgulhosas.
nadas, as Guildas ainda são uma força vital no Mundo Inferior.
Muitas fornecem acesso organizado a serviços que nenhuma
Esta é nossa vontade, a nossa lei e o nosso de-
aparição gostaria de viver sem, enquanto outras têm poderes
que se tornaram necessidades políticas. No final, as Guildas sus- creto. Ai do desgraçado que quebrar a palavra da lei.
tentam que qualquer talento que se queira o bastante persuadirá Erigida neste dia de 14 de abril, Ano Estígio de
uma aparição a abandonar seus princípios superiores para pro- 246 Post Secundum, com o qual colocamos nossas mãos
curá-las, onde quer que estejam. e selos.
Apenas cerca de um décimo das aparições em Estigia
são membros de Guilda e a maioria das aparições acredita que
as Guildas não existem. O mero conhecimento da especialidade Caronte
de uma Guilda não é suficiente para condenar uma aparição de Imperador
ser membro e espera-se que os cidadãos de Estigias conheçam
algo de ao menos um ou dois Arcanoi. No entanto, as Guildas
foram banidas pelo decreto de Caronte e portanto, pertencer a
uma tecnicamente faz de uma aparição um Renegado. Como
os criminosos são elegíveis para serem fundidos nas forjas, a
associação a uma Guilda pode ser uma coisa perigosa.

Capítulo Dois: Ambientação 55


Uma Nota Sobre os Títulos
Qualquer um que pratique um Arcanos, particu-
larmente se esse Arcanos for sua habilidade principal, será
marcado com o nome “apropriado”, seja membro de Guil-
da ou não. Uma aparição habilidosa em Phantasma será
chamada de Oneiro, mesmo que ela não seja membro da
União dos Sonhos, também conhecida como Guilda dos
Oneiros. Aparições membros de Guildas tendem a usar
termos mais específicos como Ferreiros ou Mergulhadores
do Inferno, quando falam entre si.
Muitos ex-membros de Guilda ou ladinos procuram
grupos de Renegados nos quais se esconder, o que é uma ques-
tão de grande preocupação para aqueles que desejam manter as
Guildas especializadas em determinados Arcanoi. Alguns des-
ses desistentes de Guildas podem atuar, mas aqueles que ensi-
nam segredos de Guilda a pessoas de fora estão jogando dados
com suas pós-vidas, já que a Guilda em questão provavelmente
cobrará por essa traição. Os Artífices e Titereiros, em particular,
têm prazer em caçar traidores que ensinam segredos da Guilda.
Hereges tendem a ver as Guildas como grupos secula-
res desaparecidos ou simplesmente não possuem ciência dessas
organizações. De acordo com alguns cultos Hereges, a Ruptura
foi uma retribuição divina contra os blasfemadores dos Zom-
beteiros, Artífices ou qualquer outro grupo que tenha sofrido
a ira do culto. Por outro lado, muitos cultos também podem
abrigar ex-membros de Guildas, mas é dada ênfase no aspecto
“ex”. Abrigo entre os crentes vem com um preço e nem todas
as aparições estão dispostas a pagar o preço para evitar a ira da
Hierarquia.
Apesar do Decreto, o Conselho das Guildas continua
a se encontrar e a brigar, como sempre fez. Os Artífices, como
a mais antiga Guilda, reivindicam certos direitos e privilégios
que lhes são devidos, exigindo respeito e obediência. Esse ar de
superioridade irrita os Assustadores, Zombeteiros e Usurários,
entre outros, contribuindo para as relações difíceis entre os gru-
pos. As Guildas mais jovens têm frequentemente propósitos
opostos sobre o que fazer e quem tem precedência, muitas vezes
transformando as reuniões do Conselho em puro caos. Nas ra-
ras ocasiões em que as Guildas são unificadas em direção a um
objetivo, no entanto, elas ainda podem exercer uma quantidade
assustadora de influência. Com tantos membros infiltrados na
sociedade de Estigia, livres de suspeitas, as Guildas têm seus de-
dos em mais alavancas de poder do que os os Senhores da Morte
podem sonhar.
As Guildas Hoje
A maioria das aparições, sejam elas da Hierarquia,
Hereges ou Renegados, não acredita ativamente na existência
das Guildas. Caronte as desfez séculos atrás, afinal de contas,
e nunca mais se ouviu falar delas. O Ferreiro de Almas na rua?
Ele é apenas um Ferreiro de Almas, não um Mestre Artífice. O
Oneiro do outro lado da cidade que faz turnês de sonhos toda
quinta-feira? É apenas uma artista de rua, não um membro da
chamada União dos Sonhos. Mesmo na burocracia bizantina da
56 Aparição: O Esquecimento
Hierarquia, poucos são os que conhecem a verdade e parecem
contentes em deixar a mentira incontestada.
Para aparições com séculos para tramar, uma política
elaborada é a regra do dia a dia. As Guildas não são exceção.
Muitos membros de Guilda estão preocupados com degradação
da sociedade de Estigia sob controle dos Senhores da Morte e se
vêem como uma alternativa viável para as disputas mesquinhas
que tem feito parte do dia a dia. Apesar dos esforços das Guildas
para se manterem por baixo dos panos, elas fazem parte da mo-
vimentação política como as Legiões ou Hereges. Isso leva todos
os envolvidos a riscos terríveis; se a existência das Guildas fosse
desmascarada, a profundidade de seu envolvimento na políti-
ca de Estigia poderia enviar literalmente milhares de aparições
para as forjas (desde que houvesse alguém lá para moldá-las).
Oficialmente, aparições são convidadas a dedicar seus
talentos nos Arcanoi à Hierarquia, sejam eles de entretenimen-
to ou serviços mais vitais. Extra-oficialmente, cada Guilda tem
uma determinada política inclinada a ela, com os talentos dos
membros frequentemente fornecendo pistas sobre sua afiliação.
Por causa do Dictum Mortuum, Zombeteiros, Procuradores e
Titereiros continuam sendo as Guildas que permanecem es-
condidas. Nunca oficialmente sancionados pela Hierarquia,
eles tendem a uma postura de Renegados linha-dura. Bardos
e Oneiros caminham na corda-bamba, já que seus serviços são
valorizados, mas seus temperamentos artísticos os conduzem
a uma postura política mais Renegada. Seus companheiros de
cerca de prisão são: Assustadores, Adivinhos, Usurários e Mas-
carados, todos os quais tendem a mudar de acordo com a forma
como a brisa política está soprando. Artífices, Mensageiros, Mo-
nitores e Conciliadores ainda estão atuando, relativamente con-
trolados e organizados em sua posição contra o Esquecimento.
Por outro lado, tanto os Artífices quanto os Conciliadores exibi-
ram algumas tendências Hereges marcantes nos últimos tempos
e seu extremismo em certas questões perturba as outras Guildas
de maneira notável.
Buscar os serviços de um membro de Guilda não é
tão difícil quanto se poderia pensar. Se um Conciliador pen-
dura para fora sua lanterna de ferro (um reconhecido símbolo
da Guilda nos livros de história dos mortos) para indicar que
está aberto para negócios, é improvável que um esquadrão de
Legionários corra para capturá-lo por violar o Decreto da Rup-
tura; todo mundo precisa de um Conciliador mais cedo ou mais
tarde. Da mesma forma, sem Artífices, não haveria aço Estígio,
nem correntes, nem alma de qualquer tipo. É a organização
desse talento que deixa a Hierarquia ansiosa. A maioria dos
funcionários da Hierarquia não-Estigios e das Legiões tendem
a adotar uma atitude de “deixe rolar” em relação à questão de
membros únicos de Guilda se estabelecerem em lojas. Um Ar-
tífice se torna um Ferreiro de alma, enquanto um Mascarado é
um alfaiate ou esteticista, e um Adivinho é meramente o carto-
mante local. Os Conciliadores recebem muito mais liberdade
do que outras aparições de Guilda por sua necessidade. No ter-
ritório da Hierarquia, a maioria das aparições que demonstram
um nível suspeito de treinamento em um Arcanos geralmen-
te recebem uma advertência “Não me diga nada que me faça
ter que prendê-lo” e deixam elas em paz enquanto não fizerem
nada ultrajante.

Barqueiros
Fique por perto, Tu Estigia,
Com Dirce em um barco transportado
- Walter Savage Landor
ozinho no Mundo Inferior, o Barqueiro
é um enigma e lenda de partes iguais.
Todas as aparições encontraram um (ou
conhecem alguém que tenha encontra-
do ou conhece alguém que conhece al-
guém...), mas ninguém sabe muito sobre
eles. É de conhecimento geral que ne-
nhuma aparição interromperá um Barqueiro em sua jornada e
até mesmo as Legiões lhes darão passagem livre. Eles varrem os
Atalhos de incursões de Espectros e mantêm os caminhos para
as Costas Distantes e Estigia seguros, mas não reivindicam leal-
dade com a Hierarquia, Hereges ou Renegados. Ninguém sabe
de onde vêm, para onde vão ou porque viajam sem parar.
Os Barqueiros foram originalmente criados e empo-
E Mais Três
As chamadas “Guildas Menores” não são con-
sideradas socialmente iguais às 13 originais, uma antipa-
tia que os membros dessas Guildas retornam em igual
medida. Ativamente caçados, meramente ignorados ou
simplesmente condescendentes, essas Guildas são eter-
namente marcadas com status menor.
Já banidos de Estigia quando a Ruptura entrou
em vigor, os Solicitantes gozaram de uma reputação de
serem mais uma cabala hermética do que uma Guilda.
Seu Arcanos, Intimação, com seus poderes sobre dese-
jos e ódios, eram um dos mais procurados pelos clien-
tes, mas esse conhecimento vinha com riscos terríveis.
Aqueles que procuraram os Solicitantes para se tornarem
seus clientes poderiam facilmente se tornar suas vítimas
também. Bem antes da Ruptura, a Guilda foi expulsa de
Estigia e até mesmo da companhia das outras Guildas.
Hoje em dia, os Solicitantes ainda não são bem-vindos
em situações sociais, mas não são tão indesejáveis a pon-
to de aparições individuais não buscarem seus serviços
caros.
Os Alquimistas, um desdobramento dos Ar-
tífices, procuraram entender a energia dentro dos ob-
jetos e como usar essa energia para inspirar a vida em
objetos não vivos. Eles trabalharam em conjunto com
os Artífices até a Ruptura. Poderiam ter continuado em
suas pesquisas, apesar das circunstâncias, mas a pressão
da aplicação do Dictum Mortuum diminuiu fortemen-
derados por Caronte nos inebriantes dias antes da República de
Estigia. Enviando-os para levar as almas em segurança para as
Costas Distantes e Transcendência, Caronte fez o seu trabalho
muito bem; quando os Barqueiros sobreviventes sentiram que
Caronte havia abandonado sua missão original e compartilha-
da, a grande maioria deu as costas ao Imperador de Estigia e
tornou-se um agente independente. Agora eles viajam pelos
Atalhos e as Terras das Sombras, em missões desconhecidas.
Muitas vezes, os Barqueiros fazem uma pausa em suas
viagens para embarcar passageiros. Embora eles não possam
transportar seus convidados para seus destinos tão rapidamente
quanto alguns gostariam, os Barqueiros irão protegê-los mesmo
que sejam destruídos; a segurança da alma de outra pessoa é
algo que levam muito a sério. Além disso, os Barqueiros têm
uma reputação incontida de destemor e honestidade e a palavra
de um desses andarilhos encobertos é tão boa quanto a verdade
em qualquer lugar das Terras das Sombras.
Barqueiros sempre exigem um preço por sua ajuda,
seja um juramento, um artefato ou uma tarefa. Quebrar uma
promessa feita a um Barqueiro marca quem jurou pela eterni-
dade e sujeitará uma aparição à sua justiça.
te suas atividades. Como seus outros irmãos de Guilda,
os Alquimistas fornecem um serviço que as aparições
podem e vão pagar. Uma aparição querendo fortalecer
um Grilhão ou apodrecer outro pode frequentemente se
convencer a contatar um Alquimista, deixar alguns oboli
no ponto designado e se encontrar em tal hora para ver
o trabalho sujo feito. Ao contrário de seus colegas exclu-
ídos, os Alquimistas ainda desfrutam de um relaciona-
mento amigável com outras Guildas, particularmente
com sua organização mãe.
Os Mnemoi já serviram como detetives para o
judiciário de Estigia, seu Arcanos que distorce a memó-
ria, permitindo-lhes penetrar em uma mente criminosa
para descobrir os detalhes de um crime. Infelizmente, a
ganância chegou as Guildas e os anciões levaram a ven-
der seus talentos aos mais altos licitantes. Quando foram
desmascarados por Caronte, os traidores foram derreti-
dos e seus seguidores esmagados. Os Mnemoi, despreza-
dos e caçados, foram afastados de Estigia. Agora moram
nos cantos mais escuros das Necropoli, oferecendo seus
produtos para clientes cuidadosamente selecionados.
Muito além do pálido contato social educado que qual-
quer aparição digna de seu Corpus preferiria ser fundida
do que lidar com eles, os Mnemoi são um dos mais de-
sagradáveis da existência nas Terras das Sombras. Todo
mundo sabe que eles estão lá, mas ninguém vai admitir
isso até que precise.
Capítulo Dois: Ambientação 57
 Além de sua lendária reputação de orientar as almas
em busca da Transcendência, os Barqueiros são espíritos pode-
rosos, bem treinados em combate e nos Arcanoi. Rodeados por
Espectros e feras da Tempestade toda vez que viajam, eles são
forçados a lutar onde quer que estejam e um Barqueiro fraco
não vai muito longe.
Todos os Barqueiros podem ser conhecidos por seus
capuzes e foices, que usam para empurrar suas jangadas relíquia
pelos Atalhos e através do Mar Sem Sol. Cada Barqueiro se veste
com uma túnica preta idêntica e agarra a madeira envelheci-
da do cabo de sua foice com dedos esqueléticos e finos. Dizem
que os olhos dos Barqueiros brilham na presença de Espectros,
mas a maioria das aparições descarta essa ideia como uma lenda
exagerada.
As Guildas
As 13 Guildas mais ou menos oficialmente reconhe-
cidas pelo governo de Caronte eram:
• Artífices - Os Ferreiros de Almas, habili-
dosos no Arcanos Habitar.
• Bardos - Cantores dos mortos, usuários
dos Arcanos Lamúria.
• Mensageiros - Guias através da Tempesta-
de, qualificados no Arcanos Argos.
• Zombeteiros - Mestres do Pandemonium,
os Zombeteiros semeiam discórdia e estranheza.
• Mascarados - Guerreiros, espiões e artis-
tas, Mascarados torcem Corpora com Modelar.
• Monitores - Especializados no Arcanos da
Teia Vital, os Monitores trabalham com os Grilhões.
• Adivinhos - Aqueles que lêem a teia do
Destino, guardiões dos segredos do Fatalismo.
• Conciliadores - Aqueles que confrontam
as Sombras, Conciliadores são mestres de Castigar.
• Procuradores - violando flagrantemente o
Dictum Mortuum, os Procuradores se especializam
em Encarnar.
• Titereiros - Possuem os vivos, Titereiros
exibem o Arcanos Titerismo.
• Oneiros - Tecelões de sonhos e pesadelos,
os Oneiros conhecem os segredos de Phantasma.
• Assustadores - se intrometendo telecine-
ticamente com as Terras da Carne, os Assustadores
entendem o Arcanos Insulto.
• Usurários - Temidos por suas habilidades
de sugar Pathos e Corpus, os Usurários praticam o
Arcanos Usura.
58 Aparição: O Esquecimento
Espectros
Vá lá fora
O que há para ver?
Apenas uma grande sombra para me consolar.
- Oingo Boingo, “Quando as luzes se apagam”
oda guerra tem suas baixas e a guerra
contra o Esquecimento não é exceção.
Aparições cujas Sombras se tornam do-
minantes deixam as Terras das Sombras
para habitar a Tempestade e o Labirin-
to; esses espíritos imundos são coleti-
vamente conhecidos como Espectros.
Servos do Esquecimento, a maioria dos
Espectros procura fazer com que outros se juntem ao seu tor-
mento. Eles trabalham incessantemente para o dia em que o Vá-
cuo conquistará tudo, mas até que esse tempo chegue, não vão
evitar de ter alguma diversão sádica com qualquer aparição que
encontrem.
A maioria das aparições pouco sabe sobre os Espec-
tros, com exceção de que devem ser temidos e odiados. Os De-
vorados pela Sombra assaltam Atalhos e Cidadelas, montando
Maelstroms em missões de destruição. Poucas aparições estão
interessadas em saber mais sobre eles, exceto talvez por melho-
res maneiras de combatê-los.
O que se sabe de mais aterrorizante sobre os Espec-
tros é o fato de que eles parecem ser capazes de falar diretamen-
te com a Sombra das aparições, trabalhando com ela em uma
aliança profana. Espectros freqüentemente parecem conhecer
todas as fraquezas e medos de uma aparição e às vezes podem
fortalecer a Sombra de maneira assustadora.
Há rumores de que haja uma vaga sociedade de Es-
pectros dentro do Labirinto, mas exploradores sociais tem sido
poucos. O que se sabe é que alguns Espectros ainda mantêm
seus Grilhões e portanto, podem se infiltrar nas Terras das Som-
bras.
Entre as muitas castas de Espectros, as mais conhecidas incluem:
• Replicantes - Espectros que retêm Grilhões e uma
aparência relativamente normal, Replicantes voltam suas aten-
ções para subverter Cidadelas por dentro.
• Nephwracks - Ainda possuindo Grilhões, mas for-
jados em formas monstruosas pela Tempestade, os Nephwracks
vivem na Tempestade eterna e atacam os viajantes. Eles rara-
mente aparecem nas Terras das Sombras, para grande alívio da
maioria das aparições.
• Vultos - Quase sem mente, mas incrivelmente pode-
rosos, Vultos estão entre os mais poderosos Espectros encontra-
dos fora do Labirinto. As sombras tendem a ser distorcidas em
formas que só podem ser descritas como inumanas.
• Malfeanos - Os Sacerdotes-Reis do Labirinto, os
Malfeanos são tão poderosos e maus que estão além da com-
preensão de uma aparição comum. Muitas vezes chamados de
Nunca-Nascidos, os Malfeanos supostamente saíram do Vácuo
no início dos tempos e tramaram, adormeceram e guerrearam
entre si desde então.
Mais informações sobre Espectros podem ser encontradas na
página 270.
 Historia Popularis Stygiae
(Uma História Popular de Estigia)
Agora Musas, cujo alto Gênio guiou meus pensamentos
e visões no antigo e fugaz mundo da carne, alcançam suas mãos
benéficas através da santa Mortalha que cobre esse não-mundo de
todos os outros, revelam para mim o caminho da verdade, permi-
tem que meu humilde estilo para narrar os feitos desses espíritos,
poderosos e básicos, que trouxeram este império ao seu estado
atual.

Prólogo
m vida fui testemunha de grandes e ater-
rorizantes visões. Vi o que percebi ser o
outro mundo, o Céu e o Inferno e o Ca-
minho do Meio, o lugar do Purgatório.
Incontáveis legiões de almas eu vi, suas
transgressões em Vida colocadas nuas e
cruas diante da justiça do Todo-Pode-
roso: reis e plebeus, homens e mulheres
santos, amantes e tolos, suas almas irreais despojadas, esfoladas,
desmembradas, submersas em lagos de fogo e rios em ebulição,
embutidos em cavernas de gelo há quilômetros de profundi-
dade, suas entranhas arrancadas de seus corpos, mastigadas e
engolidas por demônios e diabos e diabólicas monstruosidades
reptilianas de muitas cabeças, somente para ser reconstituído e
ter todo o processo repugnante a repetir-se, de novo e de novo,
mais e mais até o som da Última Trombeta.
Mas o que vi nos níveis mais baixos do Inferno e das
esferas mais veneradas do Céu não foi suficiente para me pre-
parar para o que vi nos últimos sete séculos e além. Aquilo que
escrevi em Vida e os pesadelos que suportei não poderiam me
cingir para este plano de existência; este cinzento não-mundo;
esta dança viva, eterna e árdua, à qual todos nós somos conde-
nados.
Para você, minhas companheiras aparições, escrevo
esta história. Pela verdade, viajei pelas estradas distorcidas deste
império, olhei para os lugares mais escuros de seu coração e fiz o
papel de escrivão fiel de tudo o que aprendi. Onde outros fecha-
ram os olhos e se recusaram a ver, olhei para os santuários do
poder e os sepulcros do Esquecimento. Onde os outros bloque-
aram seus ouvidos para os incessantes cantos deste lugar sufo-
cante, me sentei vigilante absorvendo seus sons. Muita atenção,
leitor, sobre estas palavras e saiba que o que escrevi, escrevi claro
e inacabado, como as coisas foram e como são, não como eu ou
os outros gostariam que fossem.

Capítulo Dois: Ambientação 59

 I - A Escuridão Antes do Tempo
Houve uma época antes do tempo, antes que os Rei-
nos Negros surgissem. As lendas falam de um mundo onde os
limites entre vivos e mortos eram mais finos do que são ago-
ra, separados por uma frágil película através da qual os mor-
tos poderiam passar de volta ao mundo dos vivos. E os vivos
poderiam passar por essa ruptura insubstancial para o mundo
dos mortos, para ouvir a voz do seus bem aventurados amigos
do outro lado do vazio. Alguns personagens heróicos surgiram
(Gilgamesh, Enéias) estes e outros arriscaram as dificuldades
inerentes à travessia.

A Separação
Foi então que uma grande fissura apareceu no mundo
e o reino dos vivos e dos mortos foram forçados a se separar no
período conhecido como a Separação. O corte entre os mundos
se ampliou de maneira intransponível, forçando uma grande
Mortalha a ser desenhada entre os dois reinos. Os reinos se di-
vidiram entre o dos Breves, conhecido posteriormente como as
Terras da Carne e a Terra dos Mortos, conhecida também como
o Mundo Inferior.
Quando este rasgo dividiu os dois mundos, sentiu-se
uma forte presença do Esquecimento nas Terras das Sombras,
uma fúria terrível de inexistência. Não se sabe de onde veio o
Esquecimento, mas sua essência não pode ser ignorada, exis-
tindo sempre para puxar os fracos e os desesperados para sua
escuridão. Da violência da Separação sugiram do Esquecimento
os primeiros Malfeanos, enormes, com presas e cheios de ódio
e destruição eles vieram. Cavaram os lugares abaixo das Terras
das Sombras, tecendo e enterrando suas essencias sem rumo até
que seus infernais túneis em forma de larvas criaram sua pró-
pria prisão, o Labirinto, cujo temido entrelaçamento de caver-
nas não leva a lugar nenhum além do cerne do Esquecimento.

A Dama do Destino
Foi também durante a Separação que a Dama do Des-
tino emergiu do caos da fenda entre os reinos dos Breves e dos
Mortos e leu o fio do Destino e previu a vinda de um grande
guia, um viajante chamado Caronte, que iria Navegar pelo Rio
da Morte e conduziria as almas que haviam passado pela fenda
para as Costas Distantes em segurança, longe dos lacaios do Es-
quecimento.

II - Caronte
Foi da destruição de Micenas que o grande Caronte
surgiu para criar este reino morto. Tendo previsto a sua vinda, a
Dama do Destino acolheu-o e apresentou-lhe uma jangada para
navegar no Rio da Morte. Sozinho, Caronte navegou por essa
via turbulenta por muitos anos, rio acima e abaixo, conhecendo
cada enseada, aventurando-se em todas as praias. Chegou final-
mente ao delta, onde o rio corria para o amplo Mar Sem Sol,
tomado pelas víceras de espíritos encalhados. No delta do rio, a

60 Aparição: O Esquecimento
Ilha das Lamentações erguia-se das profundezas, um penhasco
saliente de perigosas subidas e margens brutais perigosas para
aportar em embarcações normais. Mas a Dama do Destino
guiou a pequena embarcação de Caronte até as margens da Ilha
e apareceu para ele, seus olhos ofuscando o firmamento escuro,
falando com ele em uma voz tão doce quanto a língua dos anjos:
Contemple! Depois de ti virão as massas dos Mortos,
uma multidão contínua que vagará pelas Terras das Sombras sem
orientação nem luz, salvo pela a tua ajuda. E entre estes erran-
tes encontrarás os Inquietos, ainda atrelados à Vida como a ti.
Aprende bem o poder da vida, para que o uses na morte. Tu deves
tirar o teu dízimo dos Mortos como eles o oferecem, para iluminar
a tua própria existência neste mundo cinzento. Ajude outros a
encontrarem sua verdadeira luz interior, para que possam passar
deste lugar e atravessar este Mar até as Costas Distantes, onde
poderão encontrar o seu descanso.
Tomado pelo fogo do comando da Dama, Caronte
partiu e apresentou-se aos Mortos errantes nas Terras das Som-
bras e falou da visão da Dama para aquela raça miserável e eles
reconheceram Caronte como seu líder. Ele os guiou pelo Rio
da Morte até o vasto Mar Sem Sol e ensinou os Mortos a mol-
dar suas próprias jangadas de junco como a sua, cortadas das
plantas que cresciam entre os pântanos do delta do Rio. Caronte
ensinou os Mortos a navegar pelo Rio e pelo Mar Sem Sol até
as Costas Distantes e muitos dos mortos ouviram suas palavras
e se aventuraram pela grande expansão para encontrar seu des-
canso.
Os Barqueiros
Os Inquietos, como previsto pela Dama do Destino,
vieram até Caronte e ele ensinou-lhes a dominar as profundezas
do rio e uma forma de navegar em seu curso serpenteante atra-
vés da Terra dos Mortos. Alguns dos Inquietos ouviram as pa-
lavras de Caronte e o seguiram, mas outros se recusaram a dar
ouvidos às suas instruções, contentando-se em vagar em luga-
res longínquos, a cortejar as tentações do Esquecimento em sua
própria obstinação. Alguns dos Inquietos também preferiram
vigiar os Breves, tornando-se protetores de certos indivíduos ou
famílias do outro lado da Mortalha. Àqueles Inquietos que vie-
ram a Caronte para aprender seus ensinamentos, ele nutria um
amor especial, pois foram eles que se comprometeram a ajuda-
-lo a transportar as almas pelo Rio da Morte até o Mar Sem Sol.
Durante esse tempo, muitas almas se aventuraram
através do Mar Sem Sol, algumas delas tão leves que podiam
flutuar nos ventos suaves que se moviam sobre a face das águas
em direção às Costas Distantes. Mas Caronte sabia, pelas pala-
vras da Dama do Destino, que nem todas as almas poderiam
alcançar seu descanso eterno por conta própria; por essa razão,
ele levou aqueles Inquietos que se juntaram a ele e fez deles Bar-
queiros e a Ilha das Lamentações seu local de encontro. Na Ilha,
os Barqueiros se reuniam para discutir seu trabalho e trocar
idéias uns com os outros. Eles ofereceram ajuda uns aos outros
em troca de pequenas relíquias e fragmentos de luz recolhidos
dos recém-mortos, o dízimo que lhes foi oferecido por Caronte
de acordo com as palavras da Dama do Destino. Eles também
se uniram e fizeram um juramento de proteger as almas sob sua
responsabilidade e salvaguardar o mundo dos Breves dos In-
quietos que haviam se voltado contra o caminho de Caronte e
começaram a causar inquietação aos vivos.
Foi depois da fundação dos Barqueiros que o Labirin-
to vomitou pela primeira vez uma litania de Espectros bizarros
e grotescos, cujos gritos ferozes se agitaram na noite atemporal.
Assim, os Barqueiros se firmaram contra o ataque cacofônico e
redobraram seus esforços para conduzir seus rebanhos através
desses animais pelo Mar Sem Sol.
Logo após a erupção do Esquecimento, vários dos
Barqueiros embarcaram no próprio Mar Sem Sol, para estabele-
cer uma rota para transportar as almas por todo o caminho até
essas terras de tranquilidade. Esses Barqueiros eram chamados
de os Iluminados, pois suas explorações iluminavam o caminho
para os outros encontrarem as terras distantes. Caronte ficou
triste ao ver os Iluminados irem, mas sabia que suas ações aju-
dariam a tornar a passagem para o descanso eterno mais fácil
para aqueles que viriam depois.
A Primeira Descida e a Vinda de Nhudri
A Dama do Destino apareceu para Caronte pela se-
gunda vez, depois que os Iluminados deixaram sua companhia
para encontrar rotas para as Costas Distantes e o convenceu a
descer o Labirinto e confrontar a vasta Escuridão Absoluta abai-
xo, a Sombra do Esquecimento, a incessante entidade sombria
que sempre procura aplacar a fome as desesperadas almas vivas.
Caronte ouviu as palavras da Dama e viajou para a Escada Ve-
nosa, com seus degraus de mármore ensanguentados pulsando
com a ira do Esquecimento. Com apenas os Barqueiros, sua foi-
ce e lanterna, Caronte entrou naquele caminho selvagem para
o Labirinto. Não se sabe por quanto tempo Caronte percorreu
as constrições do Labirinto sombrio, sua lanterna era o único
ponto de luz naquele lugar hediondo. Os Barqueiros, persegui-
dos por seu juramento, patrulhavam fielmente o Rio da Morte,
levando as almas ao Mar Sem Sol e imaginando o destino de
seu mentor. Sons de uma grande batalha podiam ser ouvidos
O Labirinto
“A descida para Averno é fácil”, disse Vir-
gílio. A descida para o Labirinto é ainda
mais fácil e ainda mais horripilante, pois é encon-
trada em todos os momentos de degradação e ca-
lúnia, cada sentimento de desânimo e inutilidade.
Suas entradas podem ser encontradas em qualquer
lugar, às vezes nos lugares mais remotos de Esti-
gia, às vezes em plena luz do dia em um caminho
com tráfego pesado. A descida é onde e quando o
nosso lado mais sombrio apodrece em plena vista,
batendo a nossa psique com os seus Pesadelos, os
malditos jogos mentais das nossas Sombras. O La-
birinto está repleto de Espectros, sempre disposto
a perfurar as almas dos desafortunados que abrem
caminho por suas veias subterrâneas, lançando os
infelizes mais e mais adiante.
Capítulo Dois: Ambientação 61

O Juramento dos Barqueiros
Baseado na ordem dada a Caronte pela
Dama do Destino, o Grande Juramento dos Bar-
queiros foi concebido pelo primeiro grupo de In-
quietos que ouviu a mensagem de Caronte. Segue
como ocorreu:
Eu me comprometo como um instrumento
de passagem segura e salvação para todas as almas
que busquem ajuda para alcançar as Costas Distan-
tes.
Eu me comprometo com a propagação das
palavras de nosso grande líder, Caronte, cuja prote-
ção deste reino lhe foi dada pela Dama do Destino.
Eu me comprometo a manter-me firme
como um baluarte de defesa para a Mortalha que
separa este mundo do primeiro e para garantir a se-
gurança na Terra dos Breves daqueles elementos ilu-
didos na Terra dos Mortos, que trabalhariam para
rasgar o tecido da Mortalha e perturbar a passagem
de almas do mundo antigo para o nosso para seus
próprios propósitos egoístas.
Eu também me comprometo a me proteger
contra a sempre presente ameaça do Esquecimento e
seus agentes, para impedir as ações daqueles que são
hostis à orientação pacífica das almas para seu des-
canso eterno e sacrificar minha alma se necessário na
defesa deste reino dos poderes das trevas e entropia
que procuram alimentar-se dos fracos e dos inocen-
tes.
Eu prometo estas coisas e todo o seu valor e
me reporto ao nosso líder Caronte e à guardiã deste
mundo, a Dama do Destino. Pelo remo de Caronte e
pelas palavras da Dama, encontrarei força e sabedo-
ria.
A frase na última sentença, “Pelo Remo
de Caronte”, é usada por todos os Barqueiros como
um brado de adeus, tanto em comunicações verbais
quanto escritas e passou para o vernáculo Estígio
como o maior juramento que uma aparição pode
dar a outra, sendo usado em todos os documentos
oficiais do Imperio para garantir sua autenticidade.
Diz-se que quebrar este juramento marcará para
sempre a aparição para a justiça dos Barqueiros.
- De Locais Sem Sol e Alto Grão What-
chamacallits: Uma História da Estigia Vernacular
e seus Contos, por Everett Edward Fotheringay, d.
1964.
62 Aparição: O Esquecimento
do eterno negrume que abrigava a Escada Venosa, mas nenhum
Barqueiro era suficientemente corajoso para descer.
Finalmente, Caronte subiu daquele abismo doloroso,
com os olhos brilhantes como a lanterna que segurava e trouxe
consigo um antigo fantasma chamado Nhudri, que havia resi-
dido como prisioneiro do Esquecimento. Nhudri era há muito
tempo experiente na arte da forja, usando como seu material o
material das almas e Caronte colocou nele o poder e a responsa-
bilidade de moldá-lo nas Terras das Sombras.
O Retorno dos Iluminados
Depois que Caronte retornou do Labirinto, navegou
o Rio da Morte em seu barco para a Ilha das Lamentações, e
convocou os Barqueiros para a Ilha soprando um grande chifre.
Quando essas sentinelas chegaram à Ilha, Caronte contou sobre
seu tempo lá embaixo e que confrontou a Escuridão Total e viu
que o Esquecimento estava crescendo. Ele falou a seus Barquei-
ros de um grande poço, onde as almas dos que foram negligen-
ciados e não vigiados e muitos dos Inquietos que se recusaram
a se tornar Barqueiros e tomaram suas peregrinações separadas
para as Costas Distantes, foram lançados no Vácuo abaixo.
Caronte repreendeu seus Barqueiros por seu desleixo
em seu dever para com as almas das Terras das Sombras e eles
escolheram acatar suas palavras e redobrar seus esforços em
direção à salvaguarda das almas. Muitos Barqueiros vigilan-
tes partem para todos os pontos da bússola, em busca de uma
defesa contra a ameaça invasiva. Depois que esses Barqueiros
partiram, aqueles que haviam viajado para encontrar as Costas
Distantes, os Iluminados, retornaram. Eles vieram a Caronte,
contando histórias de grandes Salões dos Mortos, onde guer-
reiros caídos e homens e mulheres virtuosos de todas as esferas
da vida festejavam juntos. Disseram a Caronte que as Costas
Distantes eram lugares reais, cheios de aparições que tinham
encontrado a paz interior pela qual haviam lutado por tanto
tempo.
III. A Fundação do Império
Armado com o conhecimento adquirido pelos Ilumi-
nados, Caronte embarcou novamente em sua jangada de juncos
e navegou sozinho através do Mar Sem Sol, seguindo as cartas
fornecidas por aqueles Barqueiros que o haviam percorrido an-
tes dele e encontrado as Costas Distantes. Caronte se foi por
muitos anos, durante os quais os Barqueiros ainda mantinham
sua vigilância contra o inimigo Esquecimento.
Quando a grande República das Terras da Carne foi
fundada em Roma, Caronte retornou das Costas Distantes, car-
regando sete grandes sinais daqueles que brilharam no Mar Sem
Sol e que tinha tomado sob sua custódia esses variados reinos.
Por esses sinais foi a Caronte dado poder sobre os mortos, um
único magistrado com poderes para julgar e submeter o destino
de todas as almas que vieram e viriam para as Terras das Som-
bras. Caronte pegou esses sete sinais e os colocou em uma gran-
de placa de ferro nas Terras das Sombras. Por sua autoridade, ele
criou a pedra angular de uma nova Cidade, o Assento Eterno, o
olho da civilização neste Mundo Inferior dos Mortos.

A Construção da Cidade
Sobre a pedra angular dos sete sinais dos Iluminados,
Caronte começou a construir sua cidade. De Sodoma e Go-
morra, Egito, Jericó, Babilônia, Ilium e Atenas e Esparta, dessas
cidadelas desoladas e caídas, Caronte recolheu as pedras mais
fortes e construiu uma fortaleza maravilhosa na Ilha das La-
mentações. Caronte construiu sua cidade na forma das grandes
cidades de Atenas e Roma: avenidas largas e grandes, praças
enormes, estruturas de colunas elevadas e monumentos para
aqueles Barqueiros caídos, cujos sacrifícios ajudaram a levar os
Mortos a esse novo bastião da paz. No centro da cidade havia
um imponente farol, empoleirado no topo do maior promon-
tório da ilha, no qual Caronte colocou a lanterna que usou no
Labirinto durante sua primeira descida. A lanterna brilharia e
iluminaria a cidade (que foi chamada desde então Estigia), ser-
vindo de testemunho dos grandes feitos de Caronte e anuncian-
do a todas as almas a promessa de segurança.
A República
Caronte instituiu o primeiro governo de Estigia ao
longo do modelo da República Romana. Esta grande Repúbli-
ca de Estigia tinha um Senado de sete lugares, preenchido por
Caronte com sete de seus tenentes mais confiáveis. Cada Sena-
dor recebeu o controle sobre uma parte diferente do mundo dos
Mortos, com Caronte atuando como Cônsul. O primeiro ato do
Senado foi conceder terras perto das docas que se derramavam
sobre o Mar Sem Sol para os Iluminados, as quais poderiam
usar para construir seus templos como portais nos quais os
Mortos poderiam se reunir antes de partir em sua jornada para
as Costas Distantes.
O Senado também recebeu emissários dos Reinos Ne-
gros, reinos distantes que, como Estigia, governavam os Mortos
do Oriente e a África. Frequentemente Caronte e os Senadores
se encontraram e negociaram com a Rainha do Marfim, monar-
ca do Reino Negro de Marfim que governava a África e mara-
vilharam-se com a visão dos emissários do Imperador de Jade,
governante do Reino Negro de Jade, cortando o Mar sem Sol
para a Ilha das Lamentações em uma maravilhosa e elegante
barcaça do mais puro jade verde.
A Pax Romana e a Era Dourada de Estigia
Como o grande império em Roma, na Terra dos Bre-
ves, prosperou sob os Césares, Estigia amadureceu e tornou-se
uma república jovem e saudável sob a tutela de Caronte. Não é
difícil declarar que esses primeiros séculos sob a liderança de
Caronte foram uma época de ouro em Estigia, anos em que esse
minúsculo posto avançado na foz do Rio da Morte, única cida-
dela contra o Esquecimento, transformou-se em uma sociedade
justa dos Mortos, através dos trabalhos de Caronte.
Como lhe foi permitido pela Dama do Destino, Ca-
ronte levou o dízimo de todos os Mortos que passaram pelas
Terras das Sombras, exigindo duas moedas para a passagem
pelo Rio da Morte; Para garantir que os dízimos fossem pagos,
aqueles que morriam sem pagamento precisavam perder os
olhos ou as mãos. As aparições passavam sem pagamento e pa-
gavam o sacrifício corporal apropriado, mas quando a notícia se
espalhou através da Mortalha para o mundo dos Breves, poucos
que morreram não foram enterrados sem o preço da morte de
duas moedas pressionadas em seus olhos.
Caronte levou todos os dízimos dados a ele e deu-os
ao ferreiro, Nhudri, e pediu-lhe para criar as primeiras armas
Estigia
Construída sobre as sete colinas mais altas
da Ilha das Lamentações, a cidade de Estigia, trans-
formou-se ao longo dos séculos; a fortaleza original
estabelecida por Caronte mal lembrando seu esque-
leto contemporâneo de arquitetura incompatível. Se é
verdade que uma cidade não é apenas uma coleção
de prédios e pessoas, mas uma entidade que respira,
então Estigia é o melhor e o pior exemplo disso. À me-
dida que civilizações e impérios surgiram e caíram e
as conseqüências desses eventos de divisores de água
na história dos Breves foram sentidos nas Terras das
Sombras, a própria Estigia mudou com eles, muitas
vezes abrupta e violentamente. As ruas se ampliaram
e se estreitaram mesmo quando as águas de um rio
inundado transbordaram e depois retrocederam. Mo-
numentos e edifícios tiveram suas estruturas esticadas
e compactadas pelo motor da história. Não é uma vi-
são incomum se aventurar em um edifício que remon-
ta ao tempo da República e ver uma colcha de reta-
lhos de estilos arquitetônicos aqui, pilares clássicos ali,
contrafortes voadores ali, janelas paladianas em volta,
topos rococó de filigrana justapostos com esterilidade
de bauhaus; todos colidindo em um ruído branco de
estilos de construção e engenharia que não poderiam
existir em nenhum outro lugar.
Os tremores secundários dos vários Maels-
troms e perturbações civis em Estigia também afe-
taram a estrutura dos edifícios; muitos dos grandes
cargos do poder governamental tiveram seus locais
de trabalho destruídos por batalhas e bolsões de Es-
pectros enfurecidos. Reconstruir e repensar são em-
preendimentos delicados; muitas das estruturas mais
antigas são Relíquias compostas de pedra inatingível
neste mundo, o que obriga a reparar e remodelar, a
fim de que ela seja reconstruída por hordas de almas
forjadas. Chamar o resultado final de estranho seria
um eufemismo (chamá-lo de aterrorizante seria mui-
to próximo da verdade).
- Da Metamorfose Municipal: Sendo uma
História de Renovação Urbana em Estigia, por Quen-
tin Andrew Macaulay, d. 1905
Capítulo Dois: Ambientação 63
e armaduras de Estigia. Nhudri obedeceu e criou três objetos
com seu dízimo: Siklos, a lâmina de Caronte e bastão de ofício;
Lumen, a lanterna de Caronte, a primeira usada para acender
o grande farol no centro de Estigia; e por ordem de Caronte,
as Máscaras dos Senadores. Nhudri pegou um pedaço de cada
Máscara que ele havia forjado e re-fundiu o metal em uma
Máscara para Caronte, para mostrar aos senadores e todos as
aparições de que Caronte era parte deles e eles fazem parte de
Caronte, na grande luta contra a atração da escuridão abaixo.
Com a ajuda de Nhudri, Caronte construiu uma enor-
me rede de estradas pelas Terras das Sombras, cortando a es-
curidão turbulenta que era a Tempestade primordial, tudo le-
vando ao Mar Sem Sol. Pois Caronte sabia que o Esquecimento
estava crescendo, rachando e fissurando nas Terras das Sombras
na forma dos odiosos Espectros e ele sabia bem que se os habi-
tantes das Terras das Sombrasdeveriam encontrar salvação, ele
precisaria assegurar isto. Quando a glória de Roma se espalhou
nas Terras da Carne, Caronte orientou Nhudri a seguir aquelas
legiões mortais, estabelecendo estradas que levavam a Estigia
até o Mar Sem Sol. As estradas de Caronte levaram a Britiain
e Gália, Roma, Trácia, Jerusalém e Damasco, Egito e Armênia
e Ibéria. Milícias romanas leais, derrubadas em batalhas pelo
bem do Império, tornaram-se soldados nas fileiras Estigias. Eles
escoltaram os Barqueiros ao longo dessas vias recém-pavimen-
tadas, sempre alertas para a presença de Espectros.
Lux Veritatis
O segundo grande pronunciamento de Caronte como
Cônsul foi a doutrina da Lux Veritatis, a Luz da Verdade. Por
essa doutrina, Estigia se comprometeu com a coleta e preser-
vação das grandes obras da humanidade. Todos estavam obri-
gados a recolher, onde quer que fosse encontrado, as melhores
obras de arte e escultura, as grandes obras e pensamentos da
antiguidade, onde seriam trazidos para a Cidade e guardados
nas profundezas dos cofres de arquivo sob o Senado. Pois Ca-
ronte lembrou-se das palavras da Dama e levou-as ao coração
“O esquecimento deve ser combatido onde quer que Ocorra,
seja no campo de batalha ou na mente”. Caronte acreditava que,
através do preceito de Lux Veritatis, os melhores e mais sábios
pensamentos da Vida ajudariam os Mortos Inquietos a encon-
trar a paz que tanto desejavam.
IV. A Queda da República
Caronte havia se aventurado nas Terras das Som-
bras em seu início, uma terra sem forma, repleta de tumulto-
sos Nihils. Sozinho ele viajou pelo Rio da Morte e sozinho ele,
marcado pela guerra, emergiu como um escolhido para trazer
ordem a esse lugar indesejado. A partir do nada ergueu uma
grande cidade sobre sete colinas, esta honraria não-mundana à
grandeza de Roma. Entre almas errantes e desesperadas Caron-
te encontrou bravos Barqueiros para guiar os Inquietos até as
Costas Distantes e defender a República contra o Esquecimen-
to. De um frágil posto avançado no alto das cristas da Ilha das
Lamentações, Caronte fundou uma República que serviu como
a mais importante atração mundial para a bem-aventurança da
Transcendência.
64 Aparição: O Esquecimento
Os Renegados
No entanto, mesmo quando a República se opunha ao
Esquecimento, nem tudo estava bem nas Terras das Sombras.
Os primeiros desmoronamentos do grande império dos Breves
em Roma apareceram e foram sentidos neste mundo. Quando
os descontentes e rebeldes vivos se levantaram contra Roma e
foram esmagados, eles passaram para as Terras das Sombras,
e alimentaram seus apetites de amargura e descontentamen-
to com o que viram como uma Roma dos mortos. Orgulhoso
demais, insolentes demais para aceitar a derrota com a morte,
eles carregaram suas queixas contra a liderança de Caronte, tor-
nando-se os primeiros Renegados. Viajando pelas estradas de
Caronte, como lobos carniceiros, eles atacaram os Barqueiros
no transporte de almas para as Costas Distantes. Caravanas de
almas foram interceptadas e destroçadas, deixando inocentes
cegamente tateando, uma presa mais fácil para Espectros. Ou-
vindo as ações dos Renegados, Caronte partiu instituindo um
bando de soldados de cavalaria, chamados Equitaes e os ca-
pacitou a escoltar Balsas ao longo das estradas das Terras das
Sombras. Esses cavaleiros da morte serviriam para policiar as
estradas de Caronte. Eles manteriam a integridade das carava-
nas dos Barqueiros desses baderneiros contra a ordem criada
por Caronte pela benevolência da Dama do Destino.
Declínio e Queda
Chegou o dia em que a cidade eterna de Roma caiu
para como caem todas as coisas que pelas mãos mortais são fei-
tas. Um império em sete colinas, outrora sem idade, caiu em
decadência.
Em meio ao caos da derrubada, aqueles que seguiram
Cristo logo chegaram às Terras das Sombras. Esses Pescadores
chegaram ao Mar Sem Sol e construíram suas próprias embar-
cações a partir da madeira flutuante que coletavam na praia.
Eles evitavam a orientação dos Barqueiros e partiam para o “Pa-
raíso”, uma Costa Distante desconhecida de Caronte ou qual-
quer um de seus Barqueiros.
O Fim do Mundo como Eles Conheciam
...ela irrompeu da terra como uma grande onda
negra crepitante, vomitando da Escada Venosa e de todos
os outros portais, seu fedor abominável e miserável subin-
do para o céu cinzento. A terra tremeu e rompeu abismos
sem fundo que levavam diretamente ao Esquecimento e que
engoliram milhares de almas inocentes. As estradas constru-
ídas por Nhudri e seus aprendizes se esfacelaram e o calor
palpável da escuridão derreteu os tijolos de almas em uma
massa negra fervente. O Rio da Morte ferveu e queimou as
jangadas dos Barqueiros que o navegavam e os Espectros que
cavalgavam aquele inferno surgiram das profundezas atra-
vessando em cascatas o Rio intransponível, muitos deles com
as cabeças escaldadas vomitando suas entranhas nojentas
para todo o lado...
- Do Diário de Datian Severus, Barqueiro
O Primeiro Grande Maelstrom
Enquanto o Império dos Breves oscilava à beira do
abismo, a agitação passou para as Terras das Sombras e se tor-
nou clara entre todas as aparições. Muitos diziam ter visto um
grande número de Espectros, com seus brilhantes olhos odio-
sos. Os Devorados pela Sombra apareceram mais em todos os
cantos imagináveis, semeando ódio, destruição e Esquecimento.
Logo foram vistos cruzando para a Terra dos Breves, Condicio-
nando as tribos indomadas enquanto desciam sobre a própria
Roma. Após a morte, os espíritos desses bárbaros atravessaram
para as Terras das Sombras. Vendo outra Roma na República de
Caronte, eles a atacaram também, com Espectros seguindo em
seu caminho como javalis selvagens. Equitaes foram convoca-
dos para defender Estigia; Barqueiros pousaram seus remos e
lanternas e pegaram armas contra os saqueadores. Até mesmo
o próprio Caronte apareceu no campo de batalha, sua lâmina
Siklos cortando faixas nas fileiras dos invasores. Muitos bravos
Legionários caíram, mas os invasores não foram páreo para
Caronte e seus homens e foram empurrados para trás. Infeliz-
mente, o cerco que se seguiu à Estigia pelos Espectros acompa-
nhantes testou ao máximo os pontos fortes da grande Cidade de
Caronte.
No ano de Nosso Senhor de 476, a cidade de Roma
caiu ante bárbaros invasores. Seus grandes templos e locais de
aprendizado e governo foram destruídos, sua população aba-
tida, morta ou escravizada. Construção após construção apa-
receu nas Terras das Sombras, repleta de tropas de Inquietos.
O caos que se seguiu mostrou-se excessivo para que Caronte
e seus Barqueiros lidassem sozinhos, por mais que tentassem
pastorear almas para as Costas Distantes.
No auge da loucura, ouviu-se um grande berro das
profundezas do Labirinto, e Caronte sabia de onde vinha. Suas
sentinelas tocavam os grandes alarmes de gongo, ressoando em
vão a aproximação da hora mais sombria até hoje - a erupção do
Primeiro Grande Maelstrom.
O Maelstrom deixou uma desordem em chamas em
Estigia e seus arredores, mas a situação mais terrível ocorreu
quando os Espectros, gravitando em direção à destruição como
chacais miseráveis e famintos, atacaram a Ilha das Lamentações.
Ninguém foi capaz de impedir a queda das paredes ao se espa-
lharem pela cidadela como pragas de ratos, monumentos arra-
sadores, derrubando templos e mansões, e até mesmo colocan-
do a Torre de Onyx na fogueira. Felizmente Caronte desocupou
seu palácio para encontrar as Legiões infernais no campo de
batalha, onde ele e seus Barqueiros, por puro poder de vontade,
conseguiram agarrar a vitória e salvar a cidade.
Ah, mas que vitória! A Cidade dos Mortos era uma
casca queimada oca! O Rio da Morte represado e suas águas
poluídas transbordando seus bancos! As estradas gloriosas,
uma vez conectando todas as Terras das Sombras aos pontos de
partida das Costas Distantes, rasgaram e quebraram! E o odor
do triste sacrifício acre! Caronte olhou para os campos de bata-
lha, vendo o Esquecimento reclamar seus corajosos Barqueiros
e chorou por eles, pela coragem que demonstraram. Caronte viu
sua República morrendo, seu Senado destruído, suas aparições
se amontoando em seus aposentos superiores e esconderijos te-
mendo outro ataque, ou tornando-se Renegados, enraizando-se

Capítulo Dois: Ambientação 65

na Escuridão pelo lixo trazido pelo Maelstrom. E ele chora por
eles, por todos eles, pelo homem e Caronte sabia bem que, mais
uma vez, só ele se adiantaria e construiria uma nova cidade,
uma nova Estigia, mais forte e mais brilhante que a anterior,
que todos os Inquietos encontrariam paz e segurança em suas
buscas pelo objetivo das Costas Distantes.
V. A Era da Ressurreição
Das cinzas da República, Caronte ressuscitou sua ci-
dade, de modo que surgiu do desespero formado pelos terre-
motos do Esquecimento. As torres destruídas da velha repúbli-
ca testemunharam a nova fundação, as fachadas rachadas e em
queda dos anos da glória pareciam ainda um pouco mais retas,
brilhando um pouco mais, na companhia da nova cidade de Ca-
ronte.
Forja de Almas
Eu vi o jovem acólito, um Ateniense chamado
Aristogeiton, avançar para a lendária forja Kyklops. Ali, o
Grande Artífice Nhudri aguardava em antecipação, com o
martelo golpeando como sempre. Depois de alguns mur-
múrios e escolha de encantamentos, Nhudri se ajoelhou
na base de Kyklops, pegou o fole e bombeou a chama a
uma altura tão alta que eu jurei que senti sua intensidade
sufocante escorrendo pelas minha espinha.
O Artífice Nhudri sussurara mais falação mís-
tica, quase de improviso e então apresentava seu jovem
aprendiz com seu próprio martelo, sua cabeça negra po-
lida brilhando à luz da forja. Aristogeiton pegou sua nova
ferramenta intocada em sua mão direita e então Nhudri
agarrou o braço esquerdo do jovem e o enfiou no fogo
ardente. Enquanto o segurava lá, eu só pude assistir em
completo espanto quando a mão do jovem acólito mudou
de cor mais rápido que a luz através de um copo. Mais bri-
lhante e mais brilhante, através das sombras de cores mais
virulentas que eu nunca tinha visto antes. O jovem grego
soltou um grito tão profano que achei que o próprio teto
cairia sobre nós. Ele torceu, apertou e quase arrancou o
braço do ombro tentando se afastar, mas Nhudri segurou-
-o rapidamente dentro do fogo, o calor não o incomodou
e seu rosto plácido nunca mudou.
Finalmente, depois do que pareceu uma eterni-
66 Aparição: O Esquecimento
As Consequências
Nosso grande líder, Caronte, começou imediatamente
a reconstruir sua cidade a partir dos ossos mortos que então
enchiam as terras. A velha República estava morta e nenhuma
vontade dos espíritos poderia aspirar a vida nela novamente.
Caronte sabia disso muito bem e começou a criação de uma
nova Estigia, padronizada após os líderes do mundo dos vivos,
mas construída sobre as fundações da antiga República, man-
tendo-se fiel às palavras da Dama.
A exemplo dos Césares, Caronte chamou-se Impera-
dor e manteve seus sete Senadores, a quem concedeu a deno-
minação de Senhores da Morte e ordenou que eles assumissem
a administração dos diferentes grupos de almas que vinham
a eles. Cada Senhor da Morte recebeu autoridade sobre certas
aparições, de acordo com a maneira de suas mortes: os idosos;
dade, Nhudri puxou o braço do acólito, brilhando como
uma coisa possuída, das chamas. Conduziu o jovem até
a bigorna e apoiou seu braço, sua forma que já começava
a se deformar e girar como uma cobra ferida. Ele então
colocou um modelo para uma moeda de Estigia ao lado
do braço e ordenou que o jovem Aristogeiton martelasse
um pedaço de seu próprio Corpus na forma de moeda que
foi colocada ali. O jovem olhou para Nhudri em total des-
crença com a automutilação que ele estava propondo, seus
olhos implorando ao velho Artífice por qualquer outro
teste de vontade, exceto por isso. Mas havia algo nos olhos
vazios do antigo Nhudri, um olhar intransigente em seu
semblante invejável e legível, que fazia o Ateniense pegar
seu novo martelo e jogar seu peso em sua própria carne.
Aristogeiton martelou e martelou, cada golpe ressoando
pela câmara, até que ele havia batido uma pequena moeda
do molde dado a ele. Nhudri trouxe um vaso de plasma
para encharcar o espancado Corpus do jovem e ao deter
a dor, o jovem caiu exausto de joelhos. Nhudri pegou a
moeda e prendeu-a a uma corrente fina. Ele colocou ao
redor do pescoço do jovem, dizendo três palavras: Não se
esqueça.
Tenho certeza de que ele não esqueceu. Eu sei
que não esqueci e nunca esquecerei.
- Atrophilos, Barqueiro e testemunha ocular dos primei-
ros Rituais dos Ferreiros de Almas
os fracos e doentes; as vítimas da violência, tanto auto-infligidas
como outras; os desgraçados pegos na crueldade da natureza;
todos foram presididos por seu respectivo Senhor da Morte.
Os Equitaes e Legiões se tornaram o primeiro grande
exército de Estigia, como Caronte lhes confiou a tarefa primária
de salvaguardar a cidade e as terras circunvizinhas, enquanto
permite a reconstrução do Império para seguirem invencíveis.
Tão precioso foi o renascimento de Estigia contra o Esqueci-
mento e a necessidade de que seu novo crescimento continuasse
sem impedimentos, que as fileiras de Legiões e Equitaes rapida-
mente se transformassem em números formidáveis, suas fileiras
e arquivos um grande panorama de determinação e bravura.
Os Barqueiros ficaram indignados com as ações de
Caronte, recusando-se a servir qualquer um que se chamasse
Imperador. Muitos renunciaram às suas comissões, quebrando
seus juramentos e recusando-se a transportar espíritos para os
novos Senhores da Morte. Em frustração e raiva, Caronte baniu
os desertores, ordenando que seus nomes fossem apagados de
todos os registros, seus prêmios despojados, suas reivindicações
inválidadas. Os Barqueiros eram obrigados a proteger as almas
contra o Esquecimento; se eles não honrassem seu juramento
à Estigia e ao Mundo dos Mortos, eles teriam que sobreviver
apenas às Trevas. À luz de seu coração embrutecido, Caronte
mandou banir os Barqueiros disruptivos da Ilha das Lamenta-
ções. Muitos se voltaram para os Renegados, ou partiram para
as Costas Distantes, ou renderam-se ao Esquecimento em um
desafio final belicoso.
Décadas se passaram e Estigia foi lentamente recons-
truída. Mas se mostrou uma tarefa cansativa, pois grandes tem-
pestades a destruíram, o eflúvio do Maelstrom ainda batendo
em sua ira eterna. Renegados selvagens construíram aldeias ao
longo do Rio e das estradas destruídas, procurando evitar ou
desafiar a autoridade de Caronte e espalhar o descontentamen-
to. À medida que a crença em Cristo crescia no mundo dos vi-
vos e os dias dos deuses pagãos chegavam ao fim, os Iluminados
também encontravam seu poder diminuindo. A Mortalha foi
rompida por aparições maliciosas e rancorosas, que pareciam
assustar os mortais como demônios purulentos, exigindo tribu-
to e sacrifício.
Reconstrução e Reforma
Séculos depois dos últimos Espectros a serem vomi-
tados pelo Primeiro Maelstrom terem sidos destruídos ou leva-
dos de volta ao forno choroso do Labirinto, Caronte se adiantou
para homenagear aqueles que lutaram por Estigia durante os
ataques dos Espectros e àqueles que ficaram vigilantes e fortes
contra esses agentes infernais após a queda da República. Ca-
ronte instituiu a Ordem Imperial da Foice e concedeu-a a todos
aqueles que lutaram ao lado da República, incluindo aqueles
Equitaes e Barqueiros que não haviam abandonado Estigia de-
pois de suas muralhas terem caído pelos Espectros. Muitos se
uniram a Caronte para elogiar os feitos desses corajosos guer-
reiros e logo foi possível que aparições se juntassem às fileiras
daquelas milícias ainda ativas que continuavam a patrulhar as
Terras das Sombras, na esperança de um dia ser recebida como
membro da Ordem.
Caronte começou a reconstruir as fachadas de sua ou-
trora orgulhosa Cidade. Nhudri e seus aprendizes trabalharam
febrilmente na forja para consertar as estradas e os edifícios.
Construíram novas estruturas, incluindo um novo paredão ao
redor da Ilha das Lamentações e a reconstrução da grande Torre
de Onyx. A natureza fugaz da vida nas Terras da Carne fornecia
à Estigia muitas mãos para o trabalho, refazendo estradas ou re-
cuperando antiguidades perdidas na torrente dos Maelstroms.
Foi durante a reconstrução que os Pescadores chega-
ram para tornarem-se conhecidos no Mundo Inferior. O Navio
Dourado dos Pescadores, pelo qual faziam o transporte até a
Costa Distante do Paraíso, era visto com frequência na costa
da ilha das Lamentações, abordando em seus cargueiros apari-
ções cheias de esperança. Os Pescadores também construíram
um grande Templo em uma das colinas da Ilha das Lamenta-
ções, dentro das grandes novas muralhas da cidade. Eles foram
a Caronte e exigiram seu dízimo pelo templo. Caronte os ouviu,
mas recusou-se a compartilhá-lo, dizendo que servia à Dama do
Destino e o Mundo dos Mortos como um todo e não às Costas
Distantes. Os dois lados se encontraram e falaram demorada-
mente e Caronte fez uma proposta sábia aos Pescadores; se eles
doassem as Relíquias que eles coletavam, Caronte daria todas as
almas crentes que procurassem o Paraíso aos cuidados dos Pes-
cadores. Este acordo, chamado Tratado do Paraíso, serviu para
trazer ordem e cooperação em Estigia entre o novo Império e o
crescente número de Pescadores.
A Hierarquia
As Santíssimas Cruzadas na Terra dos Breves permiti-
ram que milhares de aparições, tanto Cristãos quanto Mouros,
atravessassem a Mortalha e entrassem nas Terras das Sombras,
amarradas rapidamente por sua fé e recolhidas pelas Legiões
quando caíam em campos de batalha e em cidades de cerco.
Não era uma visão incomum naqueles tempos ver o paradoxo
dos Cristãos e dos Mouros, por um lado, ainda tentando lutar
entre si neste mundo, mas também ajudando Nhudri e seus se-
guidores a consertar e estabelecer novas estradas ou até mes-
mo se juntando às fileiras das milícia de Estigia, suas diferenças
jogadas fora, lutando lado a lado contra bolsões itinerantes de
Renegados e Espectros.
À medida que a estrutura da vida no mundo antigo
Os Corcéis das Legiões
Normalmente, espíritos animais não atra-
vessam a Mortalha. Houve apenas uma exceção
nas Terras de Estigia: os grandes garanhões negros
que outrora perambulavam pelos pântanos do Rio
da Morte. Domados na antiguidade pelo próprio
Caronte, eles têm servido por um tempo além da
imaginação como os corcéis dos Senhores da Mor-
te e dos Legionários de elite chamados Equitaes.
Curiosamente, estes cavalos não se alimentam nem
dormem e ninguém sabe como eles se sustentaram
ao longo dos séculos. O que se sabe é que são velo-
zes como o vento, mortais em combate e totalmente
leais aos seus mestres escolhidos.
Capítulo Dois: Ambientação 67
 O Código dos Mortos
O Dictum Mortuum, ou Código dos
Mortos, foi criado por Caronte para deter o abuso
do poder das aparições que se libertara na Idade
das Trevas. Embora sejam longos volumes, sua es-
sência pode ser resumida no preâmbulo, do qual
uma parte é reimpressa aqui:
Eu, Caronte, Imperador de Estigia, pelo
poder das palavras da Dama do Destino, por meio
deste decreto estabeleço estas leis para que elas pos-
sam servir para trazer ordem entre este mundo e o
primeiro; que nenhuma aparição sob nenhuma cir-
cunstância, por qualquer razão, penetre a barreira
que divide a Terra dos Mortos da Terra dos Breves;
se engajar em congresso com aqueles que ainda não
morreram, ou falar com um Breve dos eventos ain-
da por vir; ou de qualquer forma, maneira ou con-
figuração assediar, ameaçar, ferir ou de outra forma
compelir aqueles na Terra dos Breves a atuar nos as-
suntos daqueles na Terra dos Mortos; ou transmitir
àqueles da Terra dos Breves qualquer desejo ou com-
pulsão de tirar uma vida, seja dela ou de outrem,
a fim de efetuar a passagem de um ou mais para a
Terra dos Mortos, sejam eles amigo ou inimigo, pai,
filho ou amante…
- De Q.A. Macaulay, cap. 7, ibid.
mudou, Caronte também remodelou seu Império de Estigia à
moda dos reinos da Europa. Assim, fundou a Hierarquia e ba-
seou-se nos costumes e modos dos reinos dos Breves, por meio
dos quais as aparições poderiam conhecer seu lugar neste mun-
do como conheciam antes e não serem levadas para as tentações
assombradas do Esquecimento. Assim, a Hierarquia foi forma-
da, com Caronte e seus Senhores da Morte no topo, seguidos
pelas Legiões e Cavaleiros (aqueles que uma vez chamaram-se
Equitaes) e aqueles Barqueiros ainda leais a Caronte. O lugar
mais baixo foi preenchido por aqueles chamados Cativos, ser-
vos-aparições ligados em correntes de aço Estígio, usados como
escravos ou como pagamento em espécie entre os vários mem-
bros da nova alta classe.
À medida que os reinos dos Breves começaram a or-
ganizar os vários ofícios e artesãos em sociedades para a pro-
teção e propagação de seus ofícios entre si e a população em
geral, Caronte também organizou as aparições possuidoras de
Arcanoi especiais, para que eles próprios se tornassem parte
da sociedade de Estigia e estivessem protegidos de forasteiros.
Aparições Livres com certos talentos e influências foram vistos
para se juntar aos membros dessas várias Guildas, o que serviu
para verificar o uso de seus talentos e poder neste mundo e no
antigo. As Guildas encontraram um lugar na Hierarquia, abaixo
da dos Cavaleiros e Legiões.
68 Aparição: O Esquecimento
O Segundo Grande Maelstrom
No ano de Nosso Senhor de 1347, uma grande pra-
ga desceu sobre os reinos da Europa, reivindicando dezenas e
mais dezenas de vidas; Não tendo pena nem do príncipe nem
do camponês, a Peste tomou conta de famílias inteiras, aldeias
inteiras, cobrindo a paisagem com seu ar fétido de morte e com
doença. Almas começaram a atravessar a Mortalha a um ritmo
alarmante que anunciava a chegada de um segundo Maelstrom,
causado pelo enorme aumento do sofrimento. Aparições acu-
mulavam-se nas Terras das Sombras, classes e ofícios misturan-
do-se uns com os outros de uma forma que nunca teria sido
tolerada no mundo antigo. Muitos deles ainda carregavam as
cicatrizes e as lesões da doença debilitante que os trouxeram.
Desta vez, Estigia não caiu. Caronte e a nova Hierar-
quia apareceram como visões familiares às novas aparições,
assegurando-lhes assim seus papéis habituais nas Terras das
Sombras. O grande paredão manteve-se firme, as estradas não
racharam ou sibilaram, os Equitaes e aparições-Cavaleiros cor-
taram rápida e eficientemente através dos Espectros liberados.
Com as novas aparições chegando em números impressionan-
tes, Caronte estabeleceu um recenseamento de todos os súditos
de Estigia e tomou dízimos para ajudar o Império a atender às
exigências desses novos espíritos.
Revolta e Traição
O dízimo enfureceu o líder dos Pescadores, chama-
do Arcebispo, que pediu audiência com Caronte. Ele exigiu que
o Imperador reduzisse a quantia pedida aos Pescadores, que
haviam crescido e já representava o maior grupo de aparições
em Estigia, com seus próprios cavaleiros-Cruzados e bispos
da Morte. Caronte via o poder dos Pescadores e sabia que eles
poderiam se tornar uma ameaça ao comércio de almas para as
Costas Distantes, pois os agentes dos Pescadors vinham empre-
gando meios duvidosos e falando meias-verdades às almas para
aumentar suas fileiras. Caronte recusou-se a reduzir, ordenan-
do a dissolução dos cavaleiros-Cruzados e dobrando a taxa dos
Pescadores.
Por muitos meses, o Templo dos Pescadores ficou es-
curo no topo da colina nos arredores de Estigia, patrulhado por
Cruzados recalcitrantes desafiando abertamente as palavras de
Caronte. Então aconteceu que os Cruzados formaram uma divi-
são de soldados e marcharam até a Torre Ônix, atacando a guar-
da do palácio dos Equitaes. Sem o conhecimento dos Cruzados,
no entanto, um dos seus próprios membros não estava disposto
a ir junto com seus camaradas arrogantes. Ele os havia traído e
informado sua vinda para os Equitaes, que se fortificaram con-
tra a horda que se aproximava e os derrotou, tirando-os de suas
montarias e pendurando-os em correntes em brasa no alto farol.
Lá, os corpos desses traidores queimaram por sete dias.
Caronte e seus Equitaes foram ao Templo dos Pesca-
dores e encontraram ali grandes depósitos de tesouros e relí-
quias, prometidos pelos Pescadores, mas escondidos em viola-
ção direta do Tratado do Paraíso. Irritado por tal ilegalidade,
Caronte enviou seus Cavaleiros mais confiáveis para as Ilhas das
Costas Distantes para falar com os Iluminados que residiam lá,
e emitiu uma ordem para que todos os Iluminados que residis-
sem na Ilha das Lamentações partissem para as Costas Distan-
tes até a próxima maré.
O tempo passou e ouviu-se o som do grande gongo
através das colinas da ilha. De todos os portos e docas, em to-
dos os barcos, esquifes e jangadas disponíveis, os Iluminados
deixaram a Ilha das Lamentações na grande Desocupação. Com
seus barcos abarrotados, os Iluminados espalharam-se pelo Mar
Sem Sol para as Costas Distantes, agarrando tudo o que podiam
carregar para longe da grande Cidade, vista apenas pela luz das
chamas tumulares infligidas em seus templos.
Os Hereges
Então os Cavaleiros retornaram de sua jornada atra-
vés do Mar Sem Sol e seus corações estavam confusos e tris-
tes, pois trouxeram de volta a notícia da natureza mais horrí-
vel a Caronte. As Costas Distantes não eram como antes, nem
reinos maravilhosos de tranquilidade. Os Iluminados haviam
abandonado as palavras de Caronte e da Dama do Destino e
abandonaram seus deveres nas Terras Distantes, exigindo obe-
diência eterna das almas desesperadas e atadas em tormentos e
sofrimentos em sua violência e louca brutalidade. E as massas
de almas negligenciadas, cheias de esperança, que arriscaram-se
no Mar Sem Sol à procura de libertação, multidões reunidas em
currais e há muito ignoradas! Pensar que durante séculos esses
monstros gananciosos recusaram a terra prometida às suas acu-
sações, de modo que nenhum deles havia encontrado a Trans-
cendência, foi um grande peso para o coração de Caronte. Ele
havia confiado nos Iluminados, alguns deles os primeiros Bar-
queiros e eles o haviam traído, tudo pela embriaguez inebriante
de um poder isolado e fugaz.
Caronte se retirou para seus aposentos internos e nada
dele foi ouvido durante semanas. Muitos em Estigia temiam o
pior, que as notícias das ações dos Iluminados o haviam deses-
perado tanto que ele estava perdido para sempre para o Esque-
cimento. Finalmente, Caronte apareceu em sua varanda e diri-
giu-se à Estigia com a Proclamação da Razão, condenando os
Iluminados e sua turma por todo o tempo que viria: Visto que
os Barqueiros chamados Iluminados quebraram seu juramento
de pastorear almas para os reinos da Transcendência; abando-
naram seu dever de lutar contra o Esquecimento e em vez disso,
abusaram e atormentaram almas inocentes para seus próprios
propósitos; conspiraram para enganar, atrair e espalhar palavras
enganadoras para afastar os inocentes da verdadeira luz interior;
não lhes concedemos mais audiência, nem passagem segura, nem
assistência nas Terras das Sombras. Nós, portanto, marcamos
os Iluminados e todos os seus como Hereges, e pelas palavras da
Dama do Destino nós nos comprometemos com sua erradicação
final e definitiva.
Para fazer cumprir esta Proclamação da Razão, for-
mou-se um grande Conselho de Inquisidores, o Magisterium
Veritatis, baseado no arbítrio da Igreja na Europa, seus agentes
Capítulo Dois: Ambientação 69
 capacitados a arrasar e destruir todos os Hereges e suas más in-
fluências. Seu ramo militante, a Ordem do Olho Sem Pálpebra
(também conhecida como os “Cavaleiros Esqueléticos”), per-
corria as estradas e o Rio da Morte, procurando por todas as
influências perniciosas.
Caronte não proibiu as almas que ainda buscavam
a Transcendência de fazer seu próprio caminho para as Cos-
tas Distantes, mas infelizmente, que esperança esses viajantes
tinham? Que esperança teria alguma alma, se aqueles a quem
Caronte confiara todos aqueles séculos, com quem ele havia se
encontrado, tinham a ele traído?

VI. O Tempo da Discordância

Quando os Iluminados transgrediram, os Pescado-
res atacaram, os Hereges se cravaram na fonte da autoridade,
o mundo das Terras das Sombras se encheu de desconfiança
e traição. A relutância em seguir as palavras de Caronte e da
Dama do Destino levou muitas aparições a se rebelarem, escon-
dendo-se como vozes maldosas na Escuridão.

A Cidade Sitiada
Como a Proclamação rotulou todos os Iluminados
com a maldição Herege, a atmosfera em Estigia começou a con-
torcer sob a força da inquietação externa. Caronte tornou-se
governante de uma cidade atormentada em todos os flancos.
Renegados viviam como selvagens fora das muralhas da cidade,
flutuando pelo Rio da Morte e perseguindo os poucos Barquei-
ros leais que restavam. Hereges rondavam os lugares apagados,
espalhando suas doutrinas ruidosas. Cidadãos de Estigia olha-
vam furtivamente uns para o outros e com medo, entregavam
vizinhos, amigos e parentes a inquisidores. Apenas os corajo-
sos ou temerários eram vistos se aventurar fora das muralhas
da cidade e logo Estigia lotou-se até o limite com aparições. O
comércio de almas diminuiu absurdamente; não havia barcos
para as Costas Distantes. O Império havia se dobrado sobre si
mesmo, um feto encolhido, penetrando cada vez mais em suas
paredes no útero. Daí surgiram três Abominações, a primeira
de fora, outra de dentro e a última do mais horrível dos agentes
imagináveis.
A Primeira Abominação aconteceu no início de 1500
D.C., quando os Renegados se reuniram nas margens do delta
do Rio e atacaram as muralhas de Estigia. Corajosamente Ca-
ronte e seus Equitaes lutaram, mas o pânico provocado pelo ata-
que dos Renegados permitiu que os invasores invadissem a Tor-
re de Ônix e atacassem seus Artefatos, roubando entre outras
antiguidades, a Lança de Longino, a lança que perfurou o tórax
de Cristo em Sua hora da morte. Os Renegados teriam pilhado
todo o estoque de objetos sagrados, se não houvesse o último
sacrifício de muitos dos melhores e mais confiáveis Cavaleiros
de Caronte, que empurraram os invasores de volta para fora da
cidade.
A segunda Abominação veio de dentro de Estigia, e
foi a quebra das Guildas. Acontece que certos Mestres de Guilda
vãos, vendo a inquietação e o medo que se seguiram ao ata-
que dos Renegados, se esforçaram para se revoltar e arrancar
o controle da Cidade de Caronte e seus Senhores da Morte. Na

70 Aparição: O Esquecimento
manhã do sexto dia de abril, no Ano de Nosso Senhor de 1598,
as Guildas conspiraram para tentar uma usurpação de poder na
cidade. No entanto, à medida que a rebelião e traição lançam as
O Tempo do Esfolamento
sementes de sua própria destruição, acontece que as Guildas em
luta, unidas por apenas uma tênue cadeia de revolta, logo des- Mesmo quando chegamos às terras Obsidia-
cobriram que essa cadeia era o garrote da derrota. Dezenas de nas, ficou claro para todos a bordo que algum grande
membros de Guilda foram destruídos, incluindo os aprendizes mal havia se abatido neste mundo. Nossa pequena em-
originais de Nhudri, os Três que ajudaram a construir as gran-
des estradas do Império.
barcação de desembarque quase foi inundada por ondas
A Terceira Abominação foi a mais suja em natureza. de 3 metros de altura antes mesmo de chegarmos às
Foi na Terra dos Breves que os povos da Europa iniciaram uma praias. De nossa nave, pudemos ver as grossas colunas
era de exploração, com bravos marinheiros de todos os reinos de fumaça subindo em direção ao nada e ver a paisagem
navegando pelo vasto Atlântico para encontrar um Novo Mun-
do, retornando com estranhos presentes e contos de terras des- em chamas pelo negro fogo tumular do Esquecimento.
conhecidas e novas raças de Homens. Caronte e seus Senhores Eu me lembrei de histórias sobre o Primeiro Maels-
da Morte ouviram falar deste Novo Mundo e enviaram emissá- trom e como a terra sibilou e queimou com essas chamas
rios através da Tempestade para aprender mais sobre esse novo
reino. Logo voltaram os relatórios de um novo Reino Negro de
odiosas... Eu não pude compreender a visão diante de
Obsidiana, governado por Ix Chel, que presidia as aparições nós quando abrimos nosso caminho adiante. Eu mal
neste Novo Mundo. posso descrever isso agora, me entristece tão profunda-
Mas Hereges e Renegados, buscando fugir da força mente. Os grandes templos que eram escombros. As
justa dos Inquisidores, também chegaram ao Reino de Obsi-
diana, cuidando das tripulações que partiam dos portos Ibéri- rachaduras no chão que levavam direto ao centro do
cos. Desceram sobre as terras de Obsidiana enquanto o ódio Inferno. E eu podia ouvir o choro, os angustiantes
e o medo cresciam forte dentro deles. Logo suas Sombras os soluços, de todos os lugares e de lugar nenhum. Um
alcançaram e eles guerrearam com as aparições Obsidianas.
Décadas e décadas de abates e atrocidades atingiram as terras
mundo havia morrido - Não, havia sido morto.
de Obsidiana; carnificinas foram relatadas por Hereges e Rene- -Do diário do Peregrino, Henry Moore, capitão.
gados e chegaram a Caronte e aos Senhores da Morte. Então,
toda a violência parou. Ix Chel e suas aparições foram lançados
aparições tentando atravessá-la eram repelidas. Arcanoi vacila-
ao Esquecimento, sua raça massacrada, seu reino destruído no
ram, espíritos enfraqueceram.
que foi chamado, o Esfolamento. Emissários que foram para as
Foi o preço do ódio, a loucura do poder, a selvageria
terras de Obsidiana ficaram horrorizados. A Terceira Abomina-
da rebelião, que trouxe o Terceiro Grande Maelstrom sobre as
ção havia ocorrido, a extinção de um reino inteiro da face das
Terras das Sombras. Agora as atrocidades dos males do passado
Terras das Sombras. Os Hereges cometeram seu maior crime.
cercavam as Terras das Sombras, flutuavam através de Estigia
Eles atacaram um mundo inocente, arranharam e perfuraram
nas rajadas de vento predominantes, assentadas sobre todos
suas entranhas. Poderia ser chamado de bestial, se bestas fos-
como uma névoa oleosa da superfície da onipresente redoma
sem dadas a tais pensamentos sombrios. Mas estava claro que as
da Tempestade. Agora tudo estava encerrado em uma pátina de
patas ensanguentadas do animal humano haviam pintado esse
escuridão, toda encharcada no odioso lodo da Tempestade. E
mural medonho.
toda essa loucura foi forjada pelas mãos das aparições.
O Terceiro Grande Maelstrom
As Três Abominações se sobrepuseram e, novamente
VII. Os Últimos Trezentos Anos
o chão tremeu, a terra se dividiu e outro Maelstrom foi solto. Ele
A iluminação chegou à Terra dos Breves; os reinos
trovejou de todas as direções, em todas as partes das Terras das
da Europa colhendo frutos cheios de suas sementes de conhe-
Sombras, um banshee arrebatador sobre o Mar Sem Sol. Abis-
cimento, não mais propensos a atribuir o funcionamento do
mo afora soprando mau tempo, redemoinhos sufocando todo
mundo a demônios invisíveis e a uma lógica espontânea e ilusó-
o Império; ao longe, os mares profundos se fecharam e todos
ria. Caronte mais uma vez deixou a Torre de Ônix e moveu-se
mergulharam na escuridão.
entre a Cidade de Estigia e as aparições do Império, seguindo
Sobrou um mundo devastado, um império caído e
a sugestão das mudanças nas Terras da Carne para se erguer
desgastado. A Tempestade enlouqueceu; transbordou tudo, se-
depois da tremenda confusão deixada pelo Terceiro Maelstrom.
parando Estigia do resto das Terras das Sombras. Um vil Es-
Como a ciência assumiu o trono da superstição nas
pectro, chamado Coração Gelado, trazias suas divisões infernais
Terras da Carne, o mesmo fez Caronte ordenar que Estigia se
pelas rachaduras, devorando os coitados deixados pelos Rene-
modificasse para ganhar vantagem contra seus inimigos e o Es-
gados, os Hereges e as Guildas rebeldes. Ele e seus lacaios ame-
quecimento. Toda Aparição Livre, que jurou fidelidade a Caron-
drontaram o velho Rio da Morte, abandonado pelos Barqueiros
te depois da Segunda Abominação ter feito com que todas as
remanescentes, que escolheram usar as grandes estradas em vez
Guildas fossem proibidas, foram autorizados a portar espadas
de se arriscarem no Rio. A Mortalha se espessou e se alargou;

Capítulo Dois: Ambientação 71

de aço de alma, símbolo de sua lealdade e garantia de seu dever
de lutar contra o Esquecimento onde quer que ocorresse.
Caronte também se encarregou de percorrer as aveni-
das de Estigia, coletando os perdidos, os verdadeiros Inquietos
- aqueles que entraram na Terra dos Mortos com apenas pe-
quenas Paixões. Caronte impediu a atração do Esquecimento
e fez desses deformados Cativos. Enquanto a Indústria varria
os reinos da Europa, nas Terras das Sombras os Cativos eram
vistos mineirando o minério da morte da rocha da Escada Ve-
nosa, equipando Kyklops com matéria-prima para usar na má-
quina do Império. Mesmo quando os Cativos estavam cansados,
não mais capazes de trabalhar para Estigia, Caronte os manteve
longe das profundezas da Escuridão ligando-os às forjas, onde
foram martelados e moldados em coisas úteis.
A Primeira Necropolis
Como o dano causado pelo Terceiro Maelstrom tinha
para sempre bagunçado a Terra dos Mortos, tornando o Rio da
Morte intransponível e quebrando muitas das pontes que liga-
vam as partes externas das Terras das Sombras à Estigia, Caron-
te descobriu que as cidades precisavam ser estabelecidas fora de
Estigia, cidades onde os corpos principais de aparições podiam
ser recolhidos, santuários para almas recém-chegadas a fim de
A Prática dos Cativos
Muitos criticaram a prática de usar
Cativos, chamando-os de escravos. Nos anos
de turbulência no Novo Mundo, tais críticas
se tornaram mais altas e vociferantes. Eles
chamam os Cativos de explorados, proposita-
damente trabalhados à insensibilidade e então
sofrem a iniquidade final de serem forjados.
Eles chamam a doutrina de Caronte de bestial
ao extremo por iniciar essa prática.
Mas isso está longe da verdade. De-
vemos deixar estas sombras à deriva do rede-
moinho no vazio final do Esquecimento e dei-
xar que as Trevas sejam fortalecidas? Vamos
fechar os olhos para os Espectros irrompendo
das Trevas para engolir esses infelizes inteiros,
vamos fechar nossos ouvidos e segurar nossas
línguas quando estamos inclinados a chorar...
Basta! Nosso grande senhor Caronte se recu-
sou a ceder uma polegada ao Esquecimento.
Deu a esses perdulários, essas companhias
sombrias de espíritos infelizes cujas vidas
não conheciam elogios nem infâmias, uma
alternativa à destruição total pela maleficên-
cia mais primitiva. Melhor que houvesse mais
como ele.
72 Aparição: O Esquecimento
impedir que se tornassem presas das coisas que espreitam na
Tempestade abrangente. Caronte foi então até as suas Legiões e
ordenou que fundassem uma Cidadela dos Mortos, uma Necro-
polis, para atuar como um ponto de referência para os Inquie-
tos.
A primeira Necropolis foi montada em Londres e ser-
viu como uma extensão dos muros de Estigia, que estava rapida-
mente lotando com o número inimaginável de aparições que lá
chagavam. Hereges e Renegados tentaram destruir a nova Cida-
dela, mas as Legiões se mostraram poderosas demais para eles.
Ferozmente centralizaram todos os ataques à Cidadela, que logo
se tornou o bastião do Império nas Terras das Sombras. Logo
outra Necropolis foi fundadas, em Roma e depois outra em Pa-
ris e outras logo surgiram por toda a parte das Terras das Som-
bras. A chamada Quinta Legião se aventurou no Novo Mundo
para fundar uma Necropolis em Nova Amsterdã e a defendeu
contra os detritos Herege e Renegado da Terceira Abominação.
Necropoli em Boston e Filadélfia e outros lugares foram logo
fundadas por outros Legionários quando eles vieram para lim-
par as Terras das Sombras de sua praga de descrentes e rebeldes.
A Era da Indústria
A indústria cresceu, assim como as Necropoli, tornan-
do-se grandes câmaras de compensação para as almas, carre-
gando-as em grandes carruagens e levando-as aos Senhores da
Morte, que recolheram suas cargas de acordo com suas mortes
na Terra dos Breves. Grandes homens da ciência viveram e mor-
reram e trouxeram seus talentos e descobertas para o Império.
Logo o rosto de Estigia mudou de novo, tornando-se uma terra
de motores, de carrocerias sobre trilhos, de “varas-de-fogo”. E
grandes navios de ferro foram logo vistos nas águas da Tempes-
tade, lançados de novos portos na Ilha das Lamentações, que
outrora foram os templos dos Iluminados. Gigantescos maciços
eles eram, cortando as correntes confusas e carregando suas car-
gas de almas dos portos da Necropolis para a Cidade de Estigia.
Como o rosto do Império mudou, o mesmo aconteceu
com o caráter de sua população. Muitos nas garras da Indústria,
abandonaram a fé de seus ancestrais pela nova e incontestável
“divindade” da lógica, morreram sem Paixões fortes. Suas som-
bras mal passavam pela Mortalha, voando sem rumo nas Terras
das Sombras, combustível incontestável para o Esquecimento.
Logo a Escada Venosa estava apinhada de novos Cativos, traba-
lhando febrilmente na rocha da morte. Seus rejeitos se elevavam
ao longo da costa como grandes montanhas de desânimo e os
fogos das forjas brilhavam incandescentes com a fundição de
sua Corpora drenada.
Mas tal avanço custou a Caronte e a todos os habitan-
tes do Império. A Mortalha engrossou em graus impenetráveis,
virtualmente aprisionando os Inquietos neste lugar contrário,
separado do mundo vivo. Caronte foi visto visitando os portais
para a Terra dos Breves, capturando aquelas novas aparições
cujas ligações com os Breves lhes deram pontos para quebrar a
Mortalha imediatamente tornando-os membros da Hierarquia
nas Necropoli, onde seus laços com as Terras da Carne não se-
riam facilmente quebrados.
E então o impossível se tornou verdade. Caronte se
encarregou de viajar para as Terras das Sombras e quando che-
gou ao reino separado de Estigia pela Tempestade, começou a
desaparecer, a se desincorporar. Consciente do perigo, Caronte
retornou à Estigia. Ele não contou a ninguém sobre esse even-
to, nem mesmo Nhudri, mas confiou a um punhado de inqui-
sidores leais para descobrir a verdade. Enquanto procuravam
por uma resposta, outros Hierarcas elevados caíram no mesmo
destino, os Senhores da Morte, os Legionários e os Barqueiros
enfraquecendo à medida que se aproximavam das Terras das
Sombras. Aconteceu então que os Inquisidores descobriram a
causa: os Grilhões de Caronte foram destruídos, junto com os
dos Senhores da Morte e muitos Legionários. O próprio Senhor
da Morte não podia mais andar entre aqueles a quem foi con-
fiado para proteger. Os Senhores da Morte iniciaram discussões
entre si, acusando uns aos outros de propositadamente destruir
os Grilhões um do outro para se tornarem mais poderosos. Os
Legionários, frustrados, atribuem isso aos Hereges e aos Rene-
gados e partem em poderosos esquadrões para livrar a paisa-
gem deles.
Foi quando nosso senhor Caronte, Imperador de Esti-
gia, Guardião das Terras das Sombras e Protetor dos Inquietos,
se retirou para a Torre Ônix no que seria conhecido como a
Segunda Descida. Os Senhores da Morte se tornaram os gover-
nantes de fato do Império, formando uma hegemonia sobre as
Necropoli, que se tornaram cidades autônomas continuamente
fornecendo almas para Estigia. O Império continuou como an-
tes, mas sem o costumeiro olho paternal de Caronte, parecia um
tempo muito mais cinzento.
Modernidade
Infelizmente, sem a presença ativa de Caronte como
governador, o Império começou a enfraquecer. Os Senhores da
Morte se tornaram pequenos tiranos, incapazes de mostrar uma
liderança eficaz, dispostas e depois relutantes em suas vontades,
mudando de idéia com cada vento que varria as largas avenidas
da Cidade de Estigia. Eles investiram e manobraram as promes-
sas da Transcendência apenas para empilhar alma sobre alma,
competindo desnecessariamente entre si para conseguir mais
poder enquanto suas forjas ardiam.
O Quarto Grande Maelstrom
No primeiro dia de agosto do ano de Nosso Senhor
de 1914, as terras da Europa começaram a Primeira Guerra
Mundial. Duraria por quatro anos inteiros, produzindo gran-
des campos de destruição e massacres sangrentos. Os riachos da
Europa ficaram vermelhos e as batalhas encheram as Cidadelas
das Terras das Sombras com a litania de homens supostamente
corajosos e avançados. Esses soldados vieram de todas as divi-
sões, carregando as cicatrizes de suas mortes em seus corpos,
os nomes de seus locais de destruição soando como grandes si-
nos: Ypres, Gallipoli, o Somme... Sufocados pelo gás mostarda
e derrubados pelas novas metralhadoras, novos Inquietos em
carruagens das Necropoli da França e dos Países Baixos fizeram
tristes viagens para Estigia. A Hierarquia tornou-se um grande
funil para as almas, reunindo-as junto à Cidade de Estigia em
Capítulo Dois: Ambientação 73
um fluxo constante.
Logo foi assim que as velhas muralhas da Cidade de
Estigia não mais puderam conter o número de Inquietos que
vieram depois da Primeira Guerra Mundial. Durante muito
tempo, grandes pontes de ferro Estígio foram vistas sobre as
grandes muralhas da Cidade, ligando a cidade às colinas de fer-
ro circundantes, onde enormes torres foram rapidamente ergui-
das para abrigar esses novos mortos. Podia-se ficar em qualquer
ponto alto da Cidade e ver grupos de aparições se movendo
ao longo das pontes trilhando para esses enormes arsenais dos
mortos.
E quando a paz chegou à Terra dos Breves, novamente
um Maelstrom se moveu através da terra, enquanto a devora-
dora do Império com tais mortos agitava os ventos infernais do
Esquecimento. A tormenta levou a Hierarquia às suas Cidade-
las, amontoando-se e protegendo-se das torrentes de granizo e
chuva mortais e dos gritos angustiados dos Espectros. Aquele
Maelstrom fustigou a Cidade de Estigia, quebrando-se contra as
velhas muralhas e lançando sua fúria contra as novas passarelas
de ferro, mas a Cidade sobreviveu, suas torres e estruturas poli-
das pelos ventos para um brilho espelhado.
Necropoli Invadidas
Mas, se a Cidade de Estigia sobreviveu, as várias Ne-
cropoli não se saíram tão bem quanto ela. Os Espectros soltos
pelo caos encontraram as novas estradas para as Cidadelas, nas
Terras das Sombras. Eles se misturaram em meio àqueles que
moravam ali e atravessaram a Mortalha para deslizar em cidades
mortais. Espectros infiltraram-se nas Necropoli de Nova York e
Chicago e outros lugares, infestando os elementos do Mundo
Inferior e incendiando o desejo de crimes e do assassinatos. Se-
ções inteiras de cidades mortais se tornaram campos de batalha
para os Espectros, que aniquilavam os rivais de sua própria es-
pécie e às vezes brigavam entre si nos papéis dos mortais a quem
se apegavam, matando uns aos outros pela experiência da morte
e da miséria.
E depois da Primeira Guerra Mundial, as casas mer-
cantis da Europa e da América entraram em colapso e uma
grande Depressão se instalou na Terra dos Breves. Aquilo ex-
pulsou muitos de seus ofícios e lares, forçando a destituição,
semeando miséria incalculável enquanto os Espectros se delei-
tavam com a força do sofrimento e da dor do povo.
Caronte Emerge
Caronte emergiu de seu exílio auto-imposto na Torre
Ônix e olhou para o Império. Ele viu o caos nas Necropoli e os
Espectros furiosos através das terras mortais e ofereceu recom-
pensas a todos e quaisquer aparições que saíssem e destruíssem
os Espectros e trouxesse de volta seus ouvidos, dentes, ou outras
partes apropriadamente convincentes destas monstruosidades
sujas. E assim foram fundados os Carrascos, caçadores de re-
compensa de todos os Espectros das Necropoli.
A Guerra dos Mortos
Espectros também se espalharam pelas capitais da
Europa e suas danças invisíveis estavam presentes na queda do
74 Aparição: O Esquecimento
O Preço do Nosso Ódio
Isso me faz tremer até o osso para lem-
brar o que vi dos Inquietos durante a Segunda
Guerra Mundial. Juntamente com as legiões dos
homens de guerra, começaram a aparecer nas
terras das Terras das Sombras dezenas de outras
aparições, dos reinos exteriores da Polônia e da
Rússia, famílias inteiras de homens e mulheres e
bebês e avós anciãos. Eles vieram e vieram e não
pararam de vir, atravessando a Mortalha, nus, ca-
beças raspadas, marcadas e cortadas e chicoteadas
e quebradas. Seus gritos, como flechas, me atra-
vessaram. E havia uma fumaça no ar quando eles
chegaram, um fedor de queimado.
Eles eram os filhos de Abraão, de Moi-
sés e Davi e Salomão. Eles estavam todos vindo
para as Terras das Sombras e ninguém sabia o por
quê. E então descobrimos a causa e eu estava com
frio como o gelo infernal fantástico que eu ima-
ginara em vida. Estavam sendo mortos, abatidos,
seus corpos empilhados em montes apodrecidos
e transportados para grandes casas onde eram
queimados. Aquele era o cheiro no ar que não iria
embora. Eu olhei para todos eles e respirei pro-
fundamente o fedor do ódio e rememorei o tempo
da Abominação, quando os Hereges e Renegados
fizeram o Esfolamento nas terras Obsidianas e
apagaram um povo inteiro. Não conseguia imagi-
nar que algo assim pudesse acontecer novamente.
Eu estava terrivelmente errado. Quem dirá des-
tas agonias, amontoadas e novas diante de nosso
olhar trêmulo?
Czar na Rússia e no massacre na Espanha e na miséria do povo
da Alemanha. Um deles, chamado Hitler, trabalhava com as in-
seguranças do seu povo e mergulhava os reinos da Europa em
outro confronto nos campos de batalha e novamente milhares e
milhares de aparições eram enviadas através dos alimentadores
da Necropoli na Segunda Guerra Mundial.
A guerra também chegou ao Pacífico e Caronte achou
por bem guerrear contra o Imperador de Jade, que havia feito
ataques a certas Necropoli. Grandes navios de guerra, carguei-
ros de ferro Estígio, navegaram a Tempestade e lutaram com os
navios de jade do Reino Negro. A Tempestade lavou-se com os
cascos quebrados de navios e os céus explodiram com o som de
seus mísseis, uma disputa pelo destino de todas aquelas almas
de Estigia que morreriam a milhares de quilômetros da Ilha das
Lamentações, para que pudessem ser entregues a égide da gran-
de cidade de Caronte.
O Quinto Grande Maelstrom
A Segunda Guerra Mundial durou vários anos, en-
chendo as Terras das Sombras com almas de lugares com no-
mes de Anzio, Okinawa e Normandia. E então aconteceu que
uma nova arma foi criada, um explosivo que pegou o bloco de
construção da vida e virou-o e perverteu-o, tornando-se o ins-
trumento supremo da morte. Dois desses explosivos foram usa-
dos em lugares chamados Hiroshima e Nagasaki. Quando eles
explodiram, o rugido e o choque puderam ser sentidos por todo
o caminho da Mortalha até as Terras das Sombras. As chamas
de um milhão de sóis iluminaram os céus escuros do Império
por um breve segundo, antes que o Labirinto gritasse como um
ser e novamente se abrisse, liberando o Quinto Maelstrom.
O Quinto Maelstrom era de longe o mais severo, pois
ondulou pelos céus com tanto calor e intensidade que qual-
quer um pego em seu caminho imediatamente foi sugado para
o Esquecimento. E depois que a tormenta principal diminuiu,
milhares de menores Maelstroms foram vistos a atravessar a
terra, enviando muitas almas gritando para escuridão abaixo.
Ninguém podia viajar de Estigia para as Terras das Sombras,
por estradas, trilhos ou rios, pela abundância de tempestades.
Espectros apareceram em todos os lugares e se atiraram nas Ne-
cropoli. As Cidadelas se tornaram minúsculos postos avançados
lutando por sua própria sobrevivência nas Terras das Sombras
devastadas pela torrente.
Gorool
A destruição causada por esses novos explosivos, que
distorciam o poder da vida em uma morte indescritível, criara
um redemoinho que sacudiu o Labirinto e libertou um antigo
Malfeano de suas profundezas, uma fera chamada Gorool. Esse
gigante vil surgiu das profundezas da Tempestade, fortalecido
pelas tormentas e pela morte, desfraldando sua cauda ardente e
poluindo o mundo inteiro. Todos os navios enviados para com-
bater este demônio foram destruídos, enquanto a besta destruía
armas e artefatos e devorava as tripulações. Caronte viu que essa
coisa pestilenta ameaçava devorar a totalidade da própria Ci-
dade de Estigia e foi até os Senhores da Morte e às Necropoli
em busca de ajuda, mas ninguém veio. Ninguém acompanharia
Caronte contra a criatura, deixando seus tronos de poder aban-
donados.
E foi assim que Caronte colocou de lado sua Másca-
ra, pegou a espada Siklos e partiu em sua minúscula jangada
de junco, como fizera tantos séculos atrás, para enfrentar a se-
mente do Esquecimento sozinho. Quando Caronte navegou até
a Baía Chorosa, ele viu Gorool pela primeira vez, aquele ver-
me enorme escancarando suas bocas com seus dentes afiados,
agarrando e rasgando as almas que havia capturado. E Caronte
atacou a fera, tirando sua fria sombra de sua amada Cidade de
Estigia e abriu um grande redemoinho no Mar Sem Sol. Foi en-
tão que Caronte iniciou sua Terceira Descida e atirou-se com
seu barco para o grande redemoinho enquanto a fera Gorool o
seguia. Enquanto Estigia observava, o redemoinho se fechou e
nem a fera, nem Caronte emergiram das profundezas do Mar
Sem Sol outra vez.
Epílogo
Ó grande Estigia, farol brilhante no cinzento céu, eu
choro por ti. Choro por todas as minhas irmãs aparições, agora
amaldiçoadas a viver em um mundo sem Caronte. Seu desapa-
recimento foi sentido desde o primeiro instante quando o gran-
de redemoinho se fechou naquele dia fatídico.
Espectros correm soltos após a Terceira Descida, ale-
gres no conhecimento do desaparecimento de Caronte; sua gar-
galhada infernal foi ouvida nas selvas da Indochina, nas areias
ardentes da Pérsia e da Arábia. Eles foram vistos sorrindo sobre
a nova praga na Terra dos Breves, chamada AIDS e observaram
os mortais desaparecerem dolorosamente com diversão perver-
sa. Os Hierarcas finalmente aceitaram o perigo desses monstros,
chamando alarmes gerais para todas as aparições para desenter-
rarem e derrotarem esses demônios sujos do Mundo Inferior.
Os Senhores da Morte perceberam que Caronte se
foi e infelizmente pode ser para sempre, e viram que agora eles
devem mostrar alguma liderança. Mas o tráfego de almas tem
sido lento e os Senhores da Morte sentam-se no grande prédio
do Senado, preocupando-se contra os traiçoeiros Anacreontes,
mas nada fazem: uma liga de homens assustados, suas máscaras
escondendo muito mais do que suas identidades.
E você e eu, minhas companheiras aparições? O que
deve ser feito? Os céus estão mais escuros do que nunca ago-
ra; Os Maelstroms se acumulam e liberam sua chuva maldita.
Os Hereges ainda vomitam seu veneno, os Renegados atacam
e destroem as estradas, represam o Rio e nos sequestram para
seus próprios fins. Algumas almas até morrem nas Terras da
Carne com tanta violência e horror que são instantaneamen-
te transformadas em Espectros. Os longos e tristes temas me
endurecem e em todos os lugares a verdade ultrapassa minha
caneta estagnada.
De fato, e você e eu? Que esperança existe?
Está em nossos números, meus irmãos, em nossos co-
rações e mentes, na fidelidade que mostramos à memória de
Caronte e da Dama do Destino. Olhe para você, meus compa-
nheiros aparições, olhe para você na grande Cidade de Estigia,
em seus depósitos de aprendizado e maravilhas. Olhe bem para
você no que antes era nada, há muito tempo, um terreno baldio
sem forma, antes da vinda de Caronte. Lembre-se das palavras
da Dama do Destino. Veja bem o que o Caronte fez e continua a
fazer por nós, desde que mantenhamos viva a memória e o seu
ideal. Caronte nos deu, a todos nós, este mundo, que poderia-
mos ficar contra a Escuridão Total e derrotá-la, para que todos
encontrassem sua paz final. É a nossa verdadeira luz interior
que Caronte explorou, um grande reservatório de esperança vi-
vificante, onde encontraremos o descanso final para os nossos
eus errantes. Precisamos nos fortalecer para manter viva a espe-
rança interior. A pior desgraça das desgraças é ver ao nosso re-
dor a corrupção e o perigo e lamentar os velhos tempos felizes.
Tais reminiscências fatais certamente nos farão alimento para o
Esquecimento.
Aqui eu não posso ficar em silêncio, leitores. Ouça-
-me jurar para você, ao passar por este mundo, não esqueça a
esperança. Alimente-o, fortaleça-o, juntem-se uns aos outros e
encoraje-o, torne-o uma coisa poderosa e viva. Não esqueça as
palavras de Caronte, ou a Dama do Destino, que nos promete-
ram o caminho para a paz eterna. Eu lhes ordeno, sejam fieis ao
grande objetivo, e todos encontraremos a Transcendência.
Pelo Remo de Caronte.
Dante Alighieri
Capítulo Dois: Ambientação 75
 “Talvez você reconheça O velho espia vigilante
Barghests de manhã.” Ele diz, rindo inter- por sobre o ombro e desta vez
namente. “Apesar de, verdade eu também ouço algo. Um som
Uma forte sensação de
seja dita, não ficará muito cla- fantasmagórico de cães ecoa,
medo se agarra em minha gar-
ro por aqui, mesmo com o sol a ladrando pela noite.
ganta e aumenta enquanto olho
pino.” “Aposto que eles estão
para os olhos brilhantes daquele
Sou tomado de repen- vindo pra cá também.” O velho
velho. Menos de seis metros nos
te, por uma violenta vontade de diz. Ele bufa ao olhar pra mim.
separavam, mas eu tenho a desa-
sufocá-lo até que me conte tudo “Talvez eles tenham farejado
gradável sensação que aquilo é
que sabe. No lugar disso, fecho os carne nova.”
insignificante, que ele pode nem
punhos com força e me concen- Eu olho além do ve-
mesmo estar lá.
tro em controlar a fúria fervente lho, tentando descobrir o que
“Quem é você?” Pergun-
que se apossa de mim com uma fazia aquele som terrível, mas
to, já que não mais podia supor-
força surpreendente. a noite estava escura e densa
tar aquele silêncio incômodo.
“Não precisa ficar agres- demais. Não consigo ver nada
“Onde estou? O que diabos está
sivo.” O velho diz calmamente além da fraca iluminação cin-
acontecendo?”
como se lesse minha mente. “Só tilante dos postes da rua, que
A única resposta que o
estou tentando te ajudar... se você desaparecem como luzes de
velho dá é uma risada seca, mas
quiser.” uma árvore de Natal à distân-
então, como se reagindo a um
“Não preciso da sua aju- cia.
som que eu não pude ouvir, ele
da.” Eu digo. Minha voz ainda “Você pode vir comi-
enrijece e lança um olhar vigilan-
cheia de raiva. “Só quero que me go, se quiser,” o velho diz. “Mas
te por sobre o ombro.
diga onde estou.” vindo ou não, sugiro que não
“Aqui fora não é seguro à
“Pra quê? Você está nas seja pego lá fora quando eles
noite. Isso posso afirmar.” O ve-
Terras das Sombras.” O velho diz. chegarem.”
lho diz suavemente.
“Você está morto, mas creio que “O que são... eles?”
“E onde exatamente é
você já tenha percebido.” “Barghests.” Diz o ve-
aqui?” Eu não tento disfarçar o
MORTO! lho, e tenho certeza que houve
tremor na minha voz.
Não sei se falei alto ou se um tremor em sua voz. “As Le-
O velho se vira lentamen-
apenas pensei, mas novamente, giões da Hierarquia os usa. Pa-
te e me encara novamente. Seu
uma voz fina no fundo da minha trulhas intimidadoras, a maio-
rosto estava nas sombras, mas
cabeça sussurra a palavra Esque- ria, mas às vezes eles saem com
seus olhos brilham como se esti-
cimento. os Barghests para caçar.”
vessem acesos.

76 Aparição: O Esquecimento
 Sinto-me compelido a
perguntar o que eles caçam, mas
tenho medo de já saber o que é.
Eles caçam “carne nova”.
O velho se vira e começa
a se mover, lentamente para um
dos prédios sombrios do outro
lado da rua. Sua perna esquerda
se arrasta atrás dele, deixando
uma trilha na poeira.
“Você vem ou não?” O
velho chama, mas permaneço
onde estou. Os latidos estão fi-
cando mais perto. Eles ecoam
pelos prédios próximos como
uma alcatéia uivando num desfi-
ladeiro estreito.
“Eu te disse que as ruas
não são seguras.” O velho repete
por sobre os ombros antes de de-
saparecer na escuridão do portal
de um prédio. Como uma apari-
ção ele some de vista, deixando a
impressão de que nunca estivera
lá.
Os uivos, no entanto,
são bem reais. Uivos furiosos e
choros agourentos preenchem a
noite. Eles parecem estar vindo
na minha direção por todos os
lados.
Olhei para o prédio do
outro lado da rua, onde o velho
desaparecera e sinto vontade de
correr à sua procura, mas mesmo
com os Barghests se aproximan-
do, eu exito.
Não faço idéia se pos-
so ou não confiar no velho e a
verdade é que, prefiro cuidar de
mim mesmo. Posso não conhe-
cer a extensão do perigo, mas
prefiro me arriscar sozinho em
um dos prédios próximos. Exa-
tamente como quando Sarah me
abandonou, eu prefiro ficar sozi-
nho. Acho que, quando o sol nas-
cer, vou poder dar uma olhada e
descobrir que merda está aconte-
cendo. Claro, esse plano depende
da minha sobrevivência até o fim
da noite. Procurar abrigo me pa-
rece uma boa idéia.
À minha esquerda, não
mais que duzentos metros des-
cendo a rua, vejo um prédio va-
gamente familiar. Não me lem-
bro porquê, mas não me importo
mais. O som dos uivos está bem
perto, agora. Depois de dar uma
olhada pra trás, começo a correr
para o prédio. Meus passos eco-
am pelo local como tiros distan-
tes.
Antes de me abaixar den-
tro do portal sombrio, olho pra
Capítulo Dois: Ambientação 77
trás para a rua e vejo... algo.
Não tenho certeza do
que era aquilo (o que eles são).
Sob o brilho da luz dos
postes, uma massa em convul-
são de formas indistinguíveis
aparece, tão negras como bu-
racos feitos na noite. O coro
de suas lamentações é tão alto
que fere meus ouvidos. Atrás
deles há uma enorme sombra,
segurando o que só pode ser
uma correia, e ele uiva tão alto
quanto os cães que comanda.
Eu tremo de medo en-
quanto me aprofundo na escu-
ridão para o fundo do prédio.
O tremor chega pelo chão, me
tonteando a cada passo. Quan-
do encosto na parede mais
distante, me viro encolhido no
chão, lentamente. Ainda tre-
mendo como se estivesse fe-
bril, me sento acocorado com
os braços abraçando as pernas.
Perdido como estou na
escuridão, percebo que minha
única esperança é que os Bar-
ghests (o que quer que sejam)
não me vejam ou farejem es-
condido ali.
Fecho meus olhos e co-
meço a rezar.
78 Aparição: O Esquecimento
 Capítulo Três:
Regras

Então vieram as igrejas, então vieram as escolas,

Então vieram os advogados, então vieram as regras.
- Dire Straits, “Telegraph Road”

parição é um jogo como xadrez, base-
ball, ou pôquer e como qualquer jogo,
possui regras. As regras existem para
que os jogadores não percam tanto
tempo com argumentações sobre situ-
ações que ocorrem. Você já viu a cena
– “Bang, Bang! Você está morto!”, “Não
estou!”, “Está sim!”. As regras encontra-
das neste capítulo provêem a estrutura
para todos os jogadores de Aparição, esperando que elas evitem
as argumentações que surgirem.
As regras básicas de Aparição são simples e deve-se
levar pouco tempo para dominá-las. Entretanto, existem muitas
variações destas regras, permitindo que sejam alteradas de ma-
neira a satisfazê-lo. Você precisa primeiro aprender as regras
básicas; depois poderá decidir quais variações funcionam me-
lhor para seu jogo. Em Aparição, a história é sempre o mais
importante elemento do jogo, as regras são secundárias, acon-
teça o que acontecer. Assim, as regras de Aparição são bem
abstratas. Use-as conforme achar necessário.
É sempre bom lembrar que as regras são, em sua
maior parte, sugestões. Esteja avisado, no entanto, que quanto
mais se distancia das regras básicas; mais aberto a debates seu
jogo se torna. Não se sinta preso pelo sistema que este livro
oferece, mas esteja preparado para ser flexível se as regras o
atrapalharem. (Veja o Capítulo Sete para mais sobre Narra-
ção).

Capítulo Três: Regras 79

 Regras e Narrativa
Jogos de Narração são muito diferentes dos outros
estilos de jogo onde “vencer” é o objetivo. De fato, não há
perdedores e vencedores – apenas jogadores. Mesmo que
seu personagem “morra” durante o curso de uma história, se
você gostou de ter jogado, ainda será um vencedor.
Embora algumas vezes seja difícil de dizer, o Nar-
rador e os jogadores não são adversários, são colaboradores.
O Narrador e jogadores atuam juntos para tecer um conto.
Muitas vezes esses contos interligam-se com o tempo para
criar uma história conhecida como Crônica, mas tudo ad-
vém da cooperação entre os jogadores e seu Narrador. Além
disso, não há fim definitivo para o jogo. Uma vez iniciado,
continua até a história chegar a um fim ou até o término da
sessão. Da próxima vez que os jogadores se juntarem, a ação
continuará de onde parou, como no fim de um episódio de
série de TV, ou de um capítulo de livro.
Já que o objetivo da narrativa é criar uma história
no lugar de vencer, as regras são menos importantes do que
em outros jogos. Em Aparição, as regras devem servir mais
como suporte para a história do que para apenas governá-
-la. Ao entrar neste jogo, você estará entrando em um novo
mundo, um mundo que você criou. Não deveria deixar que
algo tão pequeno como uma regra atrapalhasse sua diversão.
As regras deste jogo foram modeladas para serem
simples e, ainda assim, abrangerem as vastas possibilidades
existentes. O Narrador e os jogadores devem se sentir con-
fortáveis em experimentar, usando as regras que lhe forem
úteis e descartar o resto delas. Você pode criar regras suas,
apenas lembre-se de ser consistente com todos do grupo. O
Narrador deve ter a decisão final nestes quesitos e deve se
sentir livre em aprovar mudanças nas regras, desde que fa-
çam sentido para o grupo.

A Regra de Ouro
A regra mais importante de Aparição
é o que chamamos de Regra de Ouro. Pode ser
resumida como: se você não gosta, não use. A
parte mais importante do jogo é a história. Um
sábio certa vez disse: todo o resto é comentário.
Sinta-se livre para usar, ignorar ou adicionar co-
mentários (na forma de regras, criaturas, Guil-
das, Arcanoi, Necropoli, ou o que achar neces-
sário) da maneira que achar melhor; afinal de
contas, é a sua história.

80 Aparição: O Esquecimento

Tempo
Tempo é um dos primeiros conceitos que você deve
entender quando joga Aparição. Existem cinco modos di-
ferentes para descrever as divisões do tempo, divididos da
menor para a maior unidade:
• Turno – Um turno é a menor unidade de tempo
existente no jogo de Aparição, algo entre 3 segundos e 3 mi-
nutos de duração. Um turno é tempo suficiente para se fazer
uma ação (discutido abaixo).
• Cena – Um período compacto da ação e interpre-
tação que toma parte em um local em particular. Uma cena
pode ser comparada como a de um filme ou peça de teatro.
Leva poucos ou quantos turnos forem necessários.
• Capítulo - Uma parte independente da história,
geralmente feita em uma sessão de jogo, composta de cenas
conectadas por uma linha de tempo.
• História - Um conto completo, com introdução,
desenvolvimento e clímax; que geralmente leva uma quanti-
dade considerável de capítulos para ser concluída.
• Crônica - Uma série de histórias conectadas pela
vida dos personagens e de um modo geral concedidas pelo
tema e trama. Sua crônica avançará de acordo com as ações
de seu grupo.
• Tempo livre - O período entre duas cenas, onde
os personagens podem estar descansando, se recuperando
ou possivelmente aprendendo novas perícias. Toda vez que
os personagens não estiverem participando ativamente da
história é considerado tempo livre.
Rolando os Dados
Aparição necessita de alguns dados de 10 faces, que
você pode adquirir em qualquer loja especializada. Se você
for o Narrador, vai querer possuir no mínimo 10 dados para
você. Jogadores podem precisar de menos dados, dependen-
do dos Atributos de seus personagens. O sistema que usamos
é bem simples, embora pareça complicado a princípio.
• Seu personagem possui uma certa quantidade de
dados de acordo com cada uma de suas Características (veja
abaixo). Estes pontos refletem o quão bom ele é em certas
coisas. Quando você (ou, mais exatamente, seu personagem)
pratica uma ação, você rola um dado por cada ponto que
possua na Característica ou Características que esteja usan-
do.
• Você deverá obter um determinado número de
sucessos para completar ações. Um sucesso é quando seu re-
sultado excede ou se iguala ao número de dificuldade. Este
número, que o Narrador julga, fica entre 2 e 10 e reflete o
quão difícil uma tarefa é. Quanto mais difícil de ser comple-
tada for a tarefa, maior a dificuldade na rolagem de dados.
Simples assim.
• Modificadores podem adicionar ou subtrair à
dificuldade em uma rolagem de dados, ou afetar o número
de dados que você terá em sua Parada de Dados. Um +1 de
dificuldade, por exemplo, adiciona 1 ao número de dificul-
dade que você deve alcançar. Por outro lado, subtrair um de
sua Parada de Dados significa um dado a menos na rolagem,
tornando assim mais difícil alcançar o número solicitado de
sucessos.
• Quanto mais sucessos você obtêm, melhor seu
personagem faz a tarefa. Por outro lado, se você não con-
segue nenhum sucesso, seu personagem falha naquilo que
tentou fazer. Se obtiver sucessos negativos (conhecidos tam-
bém como Falhas Críticas), seu personagem não falha sim-
plesmente, mas faz isso tão espetacularmente que sofrerá
terríveis consequências.
• É isso. O resto são apenas variações da ideia
básica.
Por Exemplo....
Tendo roubado um saco de Oboli
de um grupo de Hereges, Erik corre por sua
existência. Infelizmente, os Hereges o en-
curralaram no alto de um prédio, deixan-
do-o sem saída, apenas com a alternativa
de saltar para os prédios vizinhos. O Nar-
rador determina que a dificuldade para
saltar será 7 e que Erik precisará de ao me-
nos 3 sucessos para pousar do outro lado
em pé. Ele também diz que a dificuldade
do salto será aumentada em 1 (levando a
dificuldade total a 8), se Erik tentar saltar
de posse do saco de moedas. Mais preocu-
pado com sua segurança do que com um
saco de oboli, Erik lança o saco de moedas
por sobre os ombros em direção aos Here-
ges e salta no ar...
O Narrador pede a Erik que ele
combine sua Força com a Perícia Espor-
tes (pois estes parecem ser os mais apro-
priados para a questão) e então é feita a
rolagem para saber se ele consegue fazer
o salto. Erik possui Força 3 e Esportes 2,
permitindo que ele role 5 dados. Ele ob-
têm 2, 3, 3, 5, 7. Erik consegue apenas um
sucesso e o narrador decide que ele con-
seguiu saltar, mas agora está se segurando
no parapeito do prédio. Felizmente para
Erik, os Hereges estão ocupados demais
juntando seus oboli – por enquanto.
Capítulo Três: Regras 81

Ações
• Fraco
Durante o curso da história, os personagens farão •• Médio
várias ações. Jogadores podem ter conversas “fora dos perso-
nagens” ou descrever as ações do personagem para o Narra-
dor, sempre que for necessário. Uma ação pode ser qualquer
coisa, desde uma pequena conversa até a luta pela vida con-
tra um poderoso Espectro. determinada Característica, você tem direito a um dado na
Algumas ações são automáticas: andar pela rua
até uma loja, por exemplo. Tudo que o Narrador precisa é
manter-se atento aos passos do personagem e ao que ele está
fazendo. Entretanto, se o personagem tenta sorrateiramen-
te chegar à loja que está sendo vigiada por uma quantidade
considerável de Legionários, o Narrador pode exigir um ro-
lamento de dados para determinar as chances do persona-
gem ser localizado ou não.
Pontuação nas Características
As Perícias dos Personagens – suas habilidades ina-
tas e aprendidas são definidas por um número de pontos.
Cada Característica vai de um a cinco pontos, que descre-
vem o nível da habilidade do personagem em uma caracte-
rística em particular. Um ponto significa amadorismo, cinco
significa excelência.
Você deve considerar a média humana normal en-
tre um e três pontos, com dois sendo a média. Entretanto,
algumas pessoas podem possuir Características em quatro
(excepcional) ou cinco (excelente), ou até mesmo uma Ca-
racterística zero.
82 Aparição: O Esquecimento
x péssimo
••• Bom
•••• Excepcional
••••• Excelente
Para cada ponto que seu personagem tem numa
parada de dados. Assim, se você tem quatro pontos em Força,
você poderia rolar quatro dados quando testasse um talento
relacionado à Força. Se possuir um ponto em Percepção, você
poderia jogar um dado quando tentasse notar alguma coisa.
Entretanto, você raramente jogará apenas o número de da-
dos correspondente ao que você possui em um Atributo (suas
habilidades inatas). Normalmente, você irá adicionar ao Atri-
buto o número de dados correspondentes ao pontos de uma
Habilidade (algo que você sabe ou que tenha aprendido).
Então se o Narrador deseja saber se os personagens
dos jogadores notam um Ceifador sorrateiro, ele pedirá para
rolarem sua Percepção + Prontidão (um Atributo + uma Ha-
bilidade). Ele determinará uma dificuldade para o rolamento,
que seria o número que os jogadores precisariam conseguir
em cada um dos dados para obterem sucesso. O Narrador
também pode decidir que estes mesmo jogadores precisam de
um certo número de sucessos, dependendo de quão furtivo o
Ceifador seja.
Essa combinação de dados entre Atributos e Habi-
lidades é chamada de Parada de Dados. Esta Parada é o total
de dados que o jogador rola num turno, normalmente numa
ação única, apesar do jogador poder dividir sua Parada de Da-
dos caso ele queira fazer mais ações. (veja, “Ações Múltiplas e
Dividindo a Parada de Dados”, abaixo).
Algumas Características (Força de Vontade e Cor-
pus, por exemplo) possuem pontuações permanentes e tem-
porárias. As temporárias podem aumentar e diminuir duran-
te o decorrer da história, enquanto a pontuação permanente
normalmente continua a mesma. A maioria das mudanças é
marcada nos quadrados, que representam a pontuação atu-
al do personagem. A Parada de Dados do personagem nestas
Características é geralmente baseada em sua pontuação per-
manente (os círculos), e não na pontuação atual (os quadra-
dos).
Algumas ações não pedem ou até mesmo não pos-
suem Habilidades apropriadas. Estas são ações que caem nas
capacidades inatas do personagem (Atributos), ou na força in-
terior do mesmo (Força de Vontade ou Pathos). Se o persona-
gem fosse tentar levantar um objeto pesado, por exemplo, sua
Parada de Dados poderia consistir em um número de dados
iguais a sua pontuação em Força. Não há possibilidade onde
mais que duas Características podem ser somadas em uma
Parada de Dados. Normalmente apenas uma única Caracte-
rística pode ser usada se esta puder ter valor potencial de 10
e Características como Força de Vontade são raramente com-
binadas com outras Características. É geralmente impossível
para um personagem normal possuir mais que 10 dados em
sua Parada de Dados.
Dificuldade
e Sucesso
Agora você precisa descobrir o que necessita quando
for fazer um rolamento de dados. O Narrador lhe dará um
número de dificuldade que é o mínimo que você precisa con-
seguir em cada dado para contar como um sucesso. A dificul-
dade é sempre um número entre 2 e 10. Você deve conseguir
no mínimo um número igual ou maior que a dificuldade em
um dado na Parada de Dados para obter sucesso. Cada vez
que você consegue é chamado de sucesso. Se a dificuldade é 6 e
você rolou 2, 3, 5, 6 e 9, então marcou dois sucessos. Apesar de
precisar apenas de um sucesso para executar uma ação, quan-
to mais sucessos conseguir, melhor seu personagem faz aquilo
que pretende. Marcar apenas um sucesso é considerado um
sucesso satisfatório, três é considerado um sucesso completo,
e 5 um momento raro.
Dificuldades
3 Fácil
4 Rotineira
5 Simples
6 Padrão
7 Desafiador
8 Difícil
9 Extremamente Difícil
Grau de Sucesso
Um Sucesso Normal
Dois Sucessos Moderado
Três Sucessos Completo
Quatro Sucessos Excepcional
Cinco Sucessos Extraordinário
Quanto menor a dificuldade, mais fácil a tarefa, e vice
versa. O Narrador pode decidir que algumas ações são bem
sucedidas sem que se precise rolar os dados (sucesso automáti-
co) se o número de dados em sua Parada de Dados for igual ou
maior que a dificuldade.
Apesar de não estarem relacionados na tabela anterior,
seu Narrador pode solicitar as dificuldades de 2 e 10. Isto deve
ser raro; a dificuldade 2 é pateticamente fácil, e a dificuldade 10
é tão absurdamente difícil que é mais provável você falhar do
que ser bem sucedido. Qualquer 10 nos rolamentos de dados é
um sucesso, não importa o que aconteça. A não ser que o Narra-
dor diga o contrário, a dificuldade padrão para qualquer tarefa é
6.
Complicações
É normalmente fácil pontuar um único sucesso,
mesmo que você tenha somente um ou dois dados. Você tem
uma margem de sucesso 75% quando joga apenas dois dados
contra uma dificuldade de 6. Parece fácil, não é? Claro que há
algumas complicações para aqueles que desejem usá-las. Se seu
grupo está mergulhado na interpretação, simples rolagens e su-
cessos automáticos serão o bastante.
Falha Crítica
Sempre que rolar um “1”, ele cancela um sucesso. Re-
mova um dado que obteve sucesso para cada dado que obteve
“1”, e não os considere na contagem. Se você obtém mais “1”
que sucessos, ocorre uma falha crítica, isto significa que algum
tipo de desastre acontece. Não conte os “1” que cancelaram os
sucessos, mas se apenas um único “1” sobrou depois de todos
os sucessos tiverem sido cancelados, uma falha crítica ocorre.
Caso não tenha nenhum “1” ou sucessos sobrando, você apenas
falhou naquilo que o seu personagem tentou fazer.
Alguns grupos contam os “1” extras como falhas ter-
ríveis. Isto é uma interpretação opcional, e pode acarretar mais
problemas do que o necessário (mesmo que ocasionalmente
seja divertido...).
Por Exemplo…
Jackie, um Renegado Internauta e sua colega de Cír-
culo Casey estão cruzando a Tempestade em sua relíquia, um
Chevrolet Nova 1974, quando ela ouve um som estranhamente
desagradável, vindo por baixo do carro. Ela se reclina e olha por
baixo, conseguindo ver um Espectro preso ao veículo e a ponto
de meter as garras através do piso do carro. Sabiamente, Jackie
avisa Casey do perigo e ele imediatamente entra no Atalho mais
próximo, esperando encontrar segurança por lá. Acelerando ao
máximo…
Casey diz que se direciona a um Atalho, que está visi-
velmente bem à frente como um trecho de duas linhas de asfalto.
Ele decide que deseja tentar ir de encontro ao Atalho, esperando
atropelar o Espectro e transformá-lo em asfalto ectoplásmico.
O Narrador decide que devido a delicadeza da manobra, Casey
precisa fazer um rolamento de Destreza + Argos (dificuldade 8)
e obter dois sucessos. Casey tem três pontos em Destreza e mais
três pontos em Argos: totalizando seis dados. Ele rola: 10, 6, 4,
3, 1, 1. O primeiro 1 cancela o sucesso; o segundo 1 é conferido
como uma falha crítica. O Narrador diz que Casey perdeu o
Capítulo Três: Regras 83
Atalho completamente e ainda fez o Nova rodopiar. Desespe-
rado, Casey olha o Atalho se distanciar; enquanto o Espectro
escala para cima do carro e Jackie o está atacando com uma faca.
Isso não parece bom…
Ações Múltiplas e Divisões de Dados
Caso queira que sua aparição faça mais que uma
ação por turno, você pode dividir sua Parada de Dados entre
as ações. O número de dados usados em cada ação é escolhido
por você, mas se uma de suas Paradas for menor do que a ou-
tra (Percepção + Prontidão com quatro dados, Destreza + Briga
com seis), a menor Parada de Dados é usada para as duas ações.
No exemplo acima, o personagem poderia ter apenas quadro
dados para dividir em duas ações....
Por Exemplo.... tes para completar a ação. Nas ações estendidas, sucessos são
Agarrado desesperadamente ao peitoril, Erik tenta su-
bir para o telhado do prédio. Com bastante tempo e em uma si-
tuação de estresse menor, o Narrador provavelmente o permitiria
concluir esta ação sem pedir um rolamento de dados. Infelizmente
para Erik, um dos Hereges decide tentar um disparo contra ele,
usando uma pistola Relíquia, enquanto nosso herói se balança
tentando alcançar o telhado.
O Narrador informa a Erik que ele pode tentar subir o
prédio, ou tentar evitar as balas. Erik não quer cair e nem levar
um tiro, então ele opta por dividir sua Parada de Dados. O Nar-
rador decide que as Características de Erik que seriam usadas
para que ele consiga subir são as mesmas usadas para um salto
(Força + Esportes), enquanto as Características para esquivar
das balas seriam Destreza + Esquiva. Assim como antes, Erik
tem um total de Força + Esportes igual a cinco, enquanto sua
Destreza + Esquiva possuem um total de sete. Entretanto Erik
tem apenas cinco dados para dividir entre suas ações. Decidin-
do que chegar ao telhado é mais importante, Erik escolhe rolar
três dados para isso e apenas dois para esquivar-se.
Sucessos Automáticos
Rolar os dados sempre pode atrapalhar a interpreta-
ção. Durante maioria das cenas, especialmente quando se está
imerso na história, você pode querer não jogar dado algum e
interpretar sem qualquer interrupção. Sucessos Automáticos evi-
tam que os jogadores rolem os dados para ações que seu perso-
nagem pode fazer com um braço nas costas.
A maioria dos grupos utiliza uma combinação de jo-
gadas com dados e sucesso automáticos. Funciona desta forma:
caso o número de dados que possua na sua Parada de Dados seja
igual ou maior que a dificuldade, você tem sucesso automático.
É uma vitória normal, como se tivesse conseguido apenas um
sucesso; algumas vezes você desejará rolar de qualquer forma
para obter resultados mais favoráveis. Mas para ações simples e
comuns, sucessos automáticos eliminam muito tempo perdido.
De qualquer forma, a história é o que importa.
Você também pode gastar um ponto de Força de Von-
tade (veja Capítulo Quatro) para obter um sucesso automá-
tico. Este sucesso automático soma a qualquer quantidade de
sucessos obtidas no rolamento de dados. Você certamente não
84 Aparição: O Esquecimento
irá querer usar isso com freqüência, pois um ponto de Força
de Vontade gasto fica perdido por um tempo. Você pode gastar
apenas um ponto de Força de Vontade por turno para ganhar
um sucesso.
Ações estendidas são mais complicadas que ações
simples e não devem ser empregadas com freqüência no meio
de intensas interpretações. Como Narrador, você decide qual
tipo de ação será empregada. Um pouco de experiência será sua
melhor conselheira.
Ações Estendidas
Ações simples requerem apenas um sucesso. Algumas
tarefas, chamadas de Ações Estendidas, exigem mais que um
sucesso para serem completadas. Você pode precisar acumular
três, sete, ou possivelmente 20 sucessos (em raras ocasiões).
Uma ação estendida permite que se rolem os dados
em turnos consecutivos na tentativa de somar sucessos suficien-
cumulativos; se você precisa de 10 sucessos numa ação esten-
dida e obtém dois sucessos na sua primeira tentativa e três na
segunda, você está na metade do caminho.
Durante uma ação estendida você continua tentando
obter sucessos pelo tempo que quiser, ou até o Narrador deci-
dir que você já foi longe o suficiente. Caso falhe criticamente
durante uma ação estendida, seu personagem (por decisão do
Narrador) deve começar novamente, todos os sucessos acumu-
lados são perdidos. Por outro lado, o Narrador pode decidir não
permitir que o personagem tente de novo.
Por Exemplo…
A Sombra de Christine, a Perfeccionista, tomou con-
ta de seu corpo temporariamente. Isto resultou em comporta-
mentos de auto-destruição e abuso de outras aparições do seu
Círculo. Trancada em sua própria mente, Christine decide fazer
uma tentativa desesperada de tirar o controle de sua Sombra.
O Narrador diz a Christine que ela pode tentar sobre-
pujar sua Sombra rolando sua Força de Vontade contra uma
dificuldade de 6, mas ela precisará obter, no mínimo, cinco su-
cessos para conseguir o controle de volta. De uma forma mais
clara, ela precisa conseguir esses sucessos acumulando. A Força
de Vontade de Christine é 8, permitindo que ela jogue um total
de oito dados. Ela rola: 1, 2, 2, 4, 5, 5, 6, 9, conseguindo apenas
um sucesso (lembrando que a regra da falha diz que se perde
um sucesso para cada 1). Infelizmente, a Sombra de Christine
ainda está no controle, mas o Narrador decide que ela pode
continuar a lutar. Ela joga novamente: 9, 9, 7, 6, 4, 4, 3, 2, dan-
do a ela quatro sucessos. Christine adiciona estes quatro novos
sucessos com um que ela já havia conseguido, e então obtém os
cinco sucessos de que precisa. A Sombra é banida uma vez mais
e resta para Christine a tarefa de desculpar-se com aqueles que
seu lado sombrio causou problemas...
Ações Resistidas
Algumas vezes o esforço de seu personagem será
oposto ao de outro, assim como no cabo de guerra. Cada um
irá rolar, geralmente tendo uma Característica do outro como
dificuldade. O personagem que obtiver mais sucessos nesse tipo
de disputa consegue o que pretendia, enquanto o outro perso-
nagem falha. Contudo, só é considerado o número de sucessos
excedentes na disputa contra o seu oponente. Cada sucesso do
oponente elimina um sucesso seu, assim como um resultado
“1”. Sucessos perfeitos nesse tipo de disputa são raros e difíceis,
e mesmo que seu oponente não possa te vencer, ele ao menos
pode diminuir suas chances.
Em ações que são resistidas e estendidas, um dos oponentes
deve obter um certo número de sucessos para que possa vencer.
Cada sucesso acima do total do oponente em um turno é adi-
cionado ao total de sucessos. O primeiro que obtiver o número
de sucessos designado ganha a disputa.

Por Exemplo…
Lorde Ember, Mestre Ferreiro, agarrou McKenna, um
Renegado que foi sentenciado às forjas. McKenna tem outras
intenções e inicia um combate, tentando se soltar das garras de
Lorde Ember.
O Narrador diz que essa é uma ação resistida. Ambos,
McKenna e Ember devem rolar Força + Briga com a dificuldade
igual à Parada de Dados do seu oponente. Se o Ferreiro ganhar,
ele mantém o oponente preso, o que permite que ele agrida o
Corpus de McKenna com seu martelo no próximo turno. Se
McKenna vencer, pode tentar fugir. Infelizmente para o Rene-
gado, sua Parada de Dados é de apenas 4 enquanto a do Ferreiro
é de 8.
McKenna vai precisar de muita sorte para escapar.

Trabalho em Equipe
Personagens podem agir em equipe para juntar suces-
sos, na maioria das vezes para uma ação estendida. Sob o aval
do Narrador, dois ou mais personagens podem fazer rolamentos
separadamente e combinar seus sucessos. Eles jamais poderão
combinar suas características separadamente para um rolamen-
to, apesar de tudo.
Trabalho em equipe é útil em circunstâncias como
combates, caçar, conseguir informação e concertar coisas. Em
outras situações, isso pode ser utilizado; em muitas situações
sociais, uma aproximação conjunta pode confundir o alvo.

Tentando Novamente
Falhar é frustrante. Se está tendo problemas com seu
computador e não sabe como resolver, provavelmente sua frus-
tração aumentará e diminuirá sua produtividade. Aparição re-
flete essa frustração com a falha aumentando a dificuldade de
qualquer ação tentada novamente depois de uma falha.
Sempre que um personagem tentar uma ação que
tenha falhado anteriormente, o Narrador tem a opção de au-
mentar a dificuldade dessa ação em um. Assim se a primeira
tentativa de abrir uma porta (dificuldade 5) falhou, a frustração
do personagem com a falha inicial pode deixá-lo nervoso na
segunda tentativa. Para refletir isso, o Narrador aumenta a di-
ficuldade para 6. Claro, se o personagem falhar novamente, as
coisas podem piorar…
Em alguns casos, como combate, o Narrador não deve
usar essa regra. Errar o primeiro murro não te frustra tanto a
ponto de nunca acertar o alvo.

Capítulo Três: Regras 85


Exemplos de Rolamentos
Cada Atributo pode ser combinado com uma Habi-
lidade, permitindo cerca de 270 tipos de rolamentos a serem
feitos (isso sem contar Força de Vontade). Obviamente, não será
sempre que alguém rolará Destreza + Enigmas, mas isso pode
acontecer. A seguir damos alguns exemplos de rolamentos que
podem acontecer durante o desenrolar de uma história.
• Mônica está tentando entrar no Local Assombrado
da Hierarquia no Pavilhão do Velho Posto de Comando. Vá-
rios Legionários estão por ali, mantendo uma vigília silenciosa
contra qualquer invasor. Para evitar ser apanhada, Mônica deve
rolar Raciocínio + Furtividade (dificuldade 7) num teste resisti-
do contra o Legionário mais próximo a ela, que usa Percepção +
Prontidão (dificuldade 6). Para se aproximar, ela deve ter mais
sucessos que ele.
• Mosh foi mandado por seu superior da Hierarquia
para espionar um Local Assombrado de Renegados. Capturado
pelos Renegados que ele deveria espionar, Mosh tenta conven-
cê-los que ele veio para unir forças a eles. O líder dos Renega-
dos, um Artífice que adoraria usar seu martelo para forjar Mosh
em algo realmente útil, será difícil de convencer, assim Mosh
deve rolar Raciocínio + Lábia (dificuldade 8). O número de su-
cessos representa o quanto da história o Renegado engole – se é
que ele vai engolir algo.
• O amante mortal de Sharon morreu em um aciden-
te súbito. Ela descobre que ele foi capturado recentemente por
um Ceifador da Hierarquia e mandado para as forjas pelo seu
plasma. Para tentar libertá-lo, ela se aproxima do Ferreiro local
oferecendo uma Relíquia em troca do seu amante. Contudo, o
Ferreiro está precisando de novas almas e dificultará na barga-
nha. Sharon deve testar sua Manipulação + Burocracia (dificul-
dade 7) para conseguir um bom preço.
• Jane está tentando convencer um grupo de Lêmures
que a Hierarquia é um bando de ditadores que criam leis que
servem apenas para seus propósitos. Ela deve rolar Manipula-
ção + Expressão (dificuldade 7) para poder convencê-los. Se ela
conseguir 4 ou mais sucessos ela pode incitar uma rebelião, mas
se ela falhar pode virá-los contra ela.
• Ao voltar para seu Local Assombrado, Karl é ataca-
do de repente por um Espectro. Pego de surpresa, Karl tenta
fugir. Ele deve rolar Destreza + Esportes (dificuldade 6) num
rolamento resistido contra o Espectro, ou ser atacado antes de
conseguir correr.
• Sveyn possui um livro Relíquia sobre exorcismo. In-
felizmente, o livro foi escrito de forma arcaica. Sveyn deve rolar
Inteligência + Ocultismo (dificuldade 8) para extrair alguma
informação útil da prosa densa que leu.
• Fai Chin está tentando consertar uma espada Relí-
quia que se quebrou durante um confronto com um Espectro.
Felizmente, como um Artífice, Fai tem acesso às forjas. A espa-
da está muito danificada, (foi quebrada em três partes), então
o Narrador decide que Fai deve testar Destreza + Reparos (di-
ficuldade 9) e deve obter seis sucessos para concertar a espada
satisfatoriamente. Ele também decide que Fai só pode fazer um
rolamento por dia, mas os sucessos são cumulativos.
• Kenneth está sendo brutalmente interrogado por
inquisidores da Hierarquia sobre a localização de um Local As-
86 Aparição: O Esquecimento
sombrado de Renegados. Fanático pela causa Renegada, Ken-
neth invoca toda sua força para resistir. O Narrador diz que ele
deve rolar Vigor + Lábia (dificuldade 8) para manter sua his-
tória. Cinco sucessos permitirão convencer completamente os
inquisidores que ele está contanto a verdade, mas uma falha o
fará fraquejar.
• Yuri se uniu recentemente a um grupo de Zombe-
teiros Renegados conhecido como Apavoradores. Infelizmente,
ele sente que boa parte da gangue não confia nele. Ele pede ao
Narrador para fazer um teste de Carisma + Manha para impres-
sionar os camaradas Renegados e fazê-los aceitá-lo. O Narrador
concorda e diz que a dificuldade será 6, mas que ele precisa de
pelo menos quatro sucessos para impressionar a maioria dos
membros da gangue.
Léxico
Essa é uma lista de termos que você encontrará, lendo
esse livro ou durante o jogo, que podem ser usados para descre-
ver como Aparição funciona.
Ação Estendida: É uma ação que requer sucessos
múltiplos para atingir seu objetivo. Vários rolamentos podem
ser feitos para atingir o feito.
Ação Resistida: Uma ação onde dois personagens
disputam um contra o outro. Ambos os personagens rolam e
comparam o número de sucessos. O que tiver o maior número
de sucessos é considerado “vencedor”.
Ação Simples: Uma tentativa de ação que requer ape-
nas um sucesso (apesar de mais sucessos serem possíveis).
Ação: Uma ação é um ato que um personagem faz.
Ações vão de andar um quarteirão, usar um Arcanoi até ma-
nejar uma arma. Quando o jogador diz ao Narrador o que seu
personagem vai fazer, ele está anunciando uma ação.
Angústia: A energia emocional negativa que alimenta
a Sombra de uma Aparição. Angústia é obtida ao suprir as Pai-
xões Sombrias.
Antecedentes: Características que refletem a expe-
riência de uma aparição e sua posição social, adquiridas sepa-
radamente das Habilidades. Status, Mentor e Eidolon são exem-
plos de Antecedentes.
Arcanoi: Os poderes únicos que uma aparição possui.
O singular de Arcanoi é Arcanos.
Arrependimento: Usado unicamente por motivos de
narrativa, o Arrependimento de um personagem é aquilo que
ele mais desejava fazer nos seus dias de mortal. Usado para de-
finir um personagem no processo de criação.
Atributos: Características que descrevem o potencial
inato do personagem para ações Físicas, Sociais ou Mentais.
Exemplos de Atributos incluem Força, Carisma e Percepção.
Característica: Qualquer Habilidade, Atributo ou ou-
tra medida das capacidades de um personagem que possa ser
representada em bolinhas.
Catarse: Quando uma Sombra tenta emergir – e algu-
mas vezes consegue – e toma o controle do Corpus da aparição.
Cena: Um momento na história, que pode ser com-
posto por vários turnos, e que pode ser comparado a uma cena
de filme ou Seriado de TV.
Comportamento: A personalidade que uma aparição
mostra ao Mundo Inferior, que pode ser completamente dife-
rente de sua Natureza.
 Corpus: O “corpo” da aparição, equivalente à sua vi-
talidade. Cada sucesso em um rolamento de dano remove um
nível de Corpus da vítima.
Dificuldade: O número necessário para se obter su-
cesso em um rolamento. Quanto maior a dificuldade de uma
tarefa, mais alto o número exigido no teste. Dificuldades podem
variar de 2 a 10.
Eidolon: O mais puro aspecto da Psique, de muitas
formas o verdadeiro eu da Aparição. Em termos de jogo, um
Antecedente que a aparição pode adquirir para resistir aos efei-
tos da Sombra.
Espinhos: Habilidades especiais possuídas apenas pe-
las Sombras.
Falha Crítica: É uma falha catastrófica num rolamen-
to de dados. Diz-se que o jogador falhou criticamente se ele ob-
tiver mais “uns” do que sucessos.
Força de Vontade: Uma Característica que determina
o quão controlada e determinada uma aparição é, usada para se
defender de ataques de natureza emocional ou mental. Diferen-
te de outras Características, a Força de Vontade também pode
ser gasta no lugar de ser rolada.
Grilhões: Coisas no mundo dos vivos que ligam uma
aparição às Terras das Sombras. Quanto mais pontos em um
Grilhão, mais importante ele é.
Guia da Sombra: O jogador que, além de interpretar
seu próprio personagem, também toma para si a interpretação
da Sombra de outro jogador.
Habilidade: Uma Característica que descreve o que
um personagem sabe, aprende ou pode fazer. Habilidades são
divididas em Talentos, Perícias e Conhecimentos. Exemplos de
Habilidades incluem Esquiva, Segurança e Burocracia.
Interlúdio: Interlúdio é o tempo que os personagens
não estão ativamente no jogo. Isso inclui o tempo passado em
Modorra, estudando ou transformando rochas em pedrinhas
ou quaisquer outras opções que não são legais de se interpretar.
Narrador: A pessoa que cria e guia uma Crônica de
Aparição, descrevendo o que os personagens vêem e toma para
si a interpretação dos aliados e adversários.
Natureza: O eu arquétipo verdadeiro de uma apari-
ção.
Nível: O valor permanente (a quantidade de círculos)
que uma aparição possui em uma Característica.
Paixões: O propósito que guia uma aparição, basea-
da em emoção condensada. Aparições são capazes de acumular
Pathos resgatando suas Paixões.
Parada de Dados: O número de dados que você pode
lançar numa determinada jogada, equivalente ao número de
pontos que seu personagem possui nas Características que se-
rão testadas.
Pathos: Energia emocional pura que supre os Arcanoi
das aparições. Pathos é recuperado resgatando suas Paixões.
Personagem: Um Personagem é a representação que o
jogador adota para jogar Aparição. Assim como o papel de um
ator, o personagem é responsabilidade do jogador para interagir
no cenário do Narrador.
Pontos: O nível temporário de Características como
Força de Vontade, Pathos, Angústia e Corpus; os quadrados na
ficha de personagem, não os círculos.
Psique: A personalidade principal de uma aparição,
também conhecido como personagem.
Sistema: As regras usadas para qualquer situação em
um jogo de Aparição; mais especificamente, o tipo de rolamen-
to mais apropriado para cada ação.
Sombra: O lado negro de uma aparição, o Sr. Hyde da
personalidade dela.
Trupe: Um grupo de pessoas que se juntam para jogar
Aparição.
Vantagens: Características adicionais que um perso-
nagem possui além dos Atributos e Habilidades. Antecedentes,
Arcanoi, Paixões, Grilhões, Força de Vontade e Pathos são con-
siderados Vantagens.
Capítulo Três: Regras 87
88 Aparição: O Esquecimento
 Todos sabem meu nome,
agora.
Sou uma celebridade entre os mor- E
tos. Tenho perambulado pra cima de vez
e pra baixo a Costa Leste por três em quan-
anos, do ouço a voz
dela. É o suficien-
te para me manter
seguindo, mesmo quando
o velho escritório me inquieta,
ou outros fantasmas me convidam
para ficar com eles.

Existe um lugar para uma apa-

rição com talentos como o meu, eles di-
zem. Alguns talentos - Posso fazer com
que coisas se movam do outro lado da
Mortalha, onde os vivos estão. Isso não
faz muita diferença para ajudar a mu-
lher que procuro aqui. Não no Mundo
Inferior.

Há uma voz na minha cabeça

que nunca se cala e que está sempre me

Livro Dois:
dizendo que nunca vou encontrá-la. A
Sombra, esse é o nome que aquele fan-
tasma velho a chamou. Ele disse que é
parte de mim, meu lado sombrio. Tudo
bem, vou deixá-la agir quando encon-
trar o soldado que feriu a mulher três

Renascimento
anos atrás. Até lá, a Sombra pode ficar
agarrada às barras de sua cela fazendo
barulho. E ela faz um barulho ensurde-
cedor às vezes. Ensurdecedor.

Capítulo Três: Regras 89

 nico e da minha imaginação hi- lados da rua.
A Hierarquia perativa, mas não posso. Uma leve brisa que não
Solto um gemido en- sinto no meu rosto sopra fo-
Uma fina e cinzenta luz
quanto me espreguiço, meus lhas de jornal amarelado que
da manhã entra no prédio e len-
músculos e juntas estalam como se debatem como pássaros de
tamente acaba com as sombras.
papel amassado. Meus ossos e asas quebradas pela rua até
Ainda estou contra a parede, tão
tendões parecem que vão rachar baterem num prédio ou cerca
longe da porta quanto possível.
e estalar quando lanço meu peso enferrujada. Espero ver um
No início, mal noto a mudança
para frente e tremendo, me le- bando de híbridos mutantes
de iluminação, mas logo percebo
vando. Após um momento, gal- fuçando o lixo em alguma es-
que posso ver minhas mãos. Páli-
go meu caminho nas ruínas e quina, mas tudo estava estra-
das e esqueléticas, elas se juntam
sigo na direção da saída. Ao me nhamente calmo. Ao olhar em
apertadas ao redor dos joelhos
aproximar do portal, meus olhos volta, tudo que ouço é o baixo
dobrados.
começam a perder o foco devido e vazio sussurro do vento e o
Talvez seja só paranóia,
à ofuscante luz do dia. Quando silvo alto da poeira carregada
digo pra mim mesmo, mas quan-
olho para fora, preciso me apoiar por ele. Sinto-me compelido
do revejo a situação, percebo que
contra o batente da porta apo- a gritar, mas imediatamente
várias coisas estão erradas.
drecida. lembro-me dos Barghests da
Antes de mais nada, eu
A cidade, ou onde quer noite anterior e decido que é
estou com aquela terrível e pal-
que eu esteja, parece a foto das melhor não chamar atenção.
pável sensação de que eu não
ruínas de alguma reportagem so- Sentindo-me cansado,
posso respirar. Não importando
bre a Segunda Guerra. O sol está sem qualquer energia e mo-
o quanto tente, não sinto o me-
baixo no céu, engolido por um vendo-me com dificuldade,
nor movimento no meu peito ou
brilho vermelho enquanto nas- começo a subir a rua, olhando
garganta quando inalo.
ce por trás dos prédios distantes. de um lado para outro, tentan-
Fragmentos de pensa-
Suas luzes lançam longas e finas do avistar qualquer coisa fami-
mentos voam pela minha mente,
sombras sobre o estranho chão liar. Quando parei e olhei para
mas a maioria deles não fazem
onde o cascalho e entulho estão trás, para o edifício em que
muito sentido. As memórias mais
espalhados por todo lugar. Tijo- havia passado a noite anterior,
vívidas (especialmente aquelas
los quebrados e pedras, pilhas de uma fria lâmina de pânico me
de uma figura familiar com rosto
lixo, árvores apodrecidas, placas atravessou.
esquelético, se inclinando sobre
dentadas e enferrujadas, e ou- Acima da entrada em
mim e sussurrando) são aterro-
tros lixos se espalham pela área. arco do edifício estava um avi-
rizantes demais para contemplar
Montes de carros e caminhões so. As letras pintadas descasca-
por muito tempo. Quero dispen-
abandonados fazem fila dos dois das e borradas, mas ainda era
sá-las como um produto do pâ-

90 Aparição: O Esquecimento
possível ler o que diziam. Eu ar-
repiei ao lê-la em voz alta.
“Escola Primária de Pine
Knoll.”
Por um instante, me senti
completamente desorientado en-
quanto tentava olhar através do
prédio apodrecido e decadente
para ver a escola em que traba-
lhei por mais de trinta anos.
“Não pode ser.” Eu dizia,
pressionando as mãos contra
minha cabeça. “Que merda está
acontecendo aqui?”
“Eu deveria poder expli-
car.”
A voz, vinda de repente
de trás de mim, começou. Vi-
rei-me rapidamente para ver o
velho de pé a menos de três me-
tros. Ele sorri para mim de forma
a me mostrar uma sequência de
dentes podres, enegrecidos.
Como ele podia ter che-
gado tão perto sem que eu o ou-
visse? Fui preenchido por um
súbito rompante de fúria e medo,
que de alguma forma, consegui
controlar.
“Sei, eu... eu adoraria ou-
vir.” Retruquei.
O velho virou-se devagar.
Me vislumbrando por sobre os
ombros, ele apontou seu indica-
dor e fez sinal para segui-lo.
“Vamos, então, se você
quiser.” Sua voz quase se perden-
do sob o fraco sussurro do vento.
“Onde estamos indo?”
“Obviamente, não po-
demos ficar aqui.” Ele diz, ba-
lançando a cabeça ao lançar um
olhar furtivo subindo e descendo
a rua. “Não queremos ser vistos.”
“Porquê? Quem vai nos
ver?” Eu olhei em volta, fechan-
do a cara. “Até onde posso ver,
não há uma viva alma por quilô-
metros.”
O sorriso do velho cres-
ceu. Torcendo a cabeça para trás,
ele riu alto.
“É isso! Exatamente isso.”
Sua voz aumentou numa lon-
ga gargalhada. “Nenhuma alma
viva! Oh, essa foi boa! Quieto...”
Ele baixou o tom e vasculhou a
rua novamente. “Alguém da Hie-
rarquia pode nos ver e não que-
remos isso agora, não é?”
“A Hierarquia?” Repeti.
Não faço idéia do que ele
quis dizer com isso, mas da for-
ma que falou me encheu de uma
nervosa apreensão.
“Há uma marca de mor-
te em você,” Disse o velho, seus
olhos brilhando de maneira as-
sustadora, “mas a Hierarquia não
se importa com isso. Se encon-
Capítulo Três: Regras 91
trá-lo, eles queimam você com
suas próprias marcas. Era isso
que aquelas coisas estavam fa-
zendo ontem à noite. Caçando
almas para escravizar. Eles já
foram humanos, como você,
mas agora são cães dos Ana-
creontetes locais.”
Nada disso faz o me-
nor sentido pra mim, mas de
repente me senti mal por estar
lá fora exposto dessa forma. O
som do vento me preenchia
com uma profunda sensação
de solidão e desespero.
“Venha comigo, então.”
Disse o velho, e começou a se
afastar.
“Como sei se você não
é parte dessa… dessa Hierar-
quia e que você não quer me
escravizar?”
Ele olha pra trás por
sobre os ombros e sorri estra-
nhamente.
“Porque se eu fosse da
Hierarquia, não estaríamos
tendo essa conversa. Eu estaria
contando minha recompensa
por ter trazido uma nova alma
e você estaria assando lenta-
mente nas forjas em algum lu-
gar. Não demore.”
92 Aparição: O Esquecimento
 Capítulo Quatro:
Personagem

Oh, abençoados fantoches, recebam Minha prece, e ensinem-me

como fazer-me a tua imagem.
-Thomas Ligotti, ‘’Louca Noite de Expiação’’

ntes que você possa entrar no mundo
de Aparição, você deve primeiro criar
uma personagem. O processo de cria-
ção de personagem, porém, tem mais
do que apenas dizer ‘’Eu quero ser
um... ‘’. Antes que você possa começar
a jogar Aparição, você precisa conhe-
cer quem é a sua personagem e o que
ela tem potencial de fazer, quais são seus gostos e desgostos,
de onde ela veio, e mais. Tudo isso é trabalhado na criação da
personagem, que dá a você a chance de criar uma Aparição
com a qual você se sinta confortável interpretando.
Esse capítulo detalha como criar uma personagem
para Aparição. Contém o passo-a-passo para construir sua
Aparição desde o início, assim como um exemplo do processo
de criação para servir como referência. Essencialmente, trata-
-se de como pegar um conceito de personagem que o agrade,
e transformá-lo em números que são usados junto com as re-
gras de Aparição. É tão fácil quanto rápido de fazer.
No mundo real, ninguém tem Carisma 4 ou três
pontos em briga. Nós temos capacidades e potenciais, não es-
tatísticas. Porém, para um jogo como Aparição, essas capaci-
dades precisam ser traduzidas em números para se jogar me-
lhor; o truque é não deixar que números entrem no caminho
da história. No final das contas, um personagem com Carisma
4 pode ser vivaz, encantador, magnético ou apenas legal. A
taxação das Características é apenas uma forma para que você
possa encaixar seu personagem nas regras de Aparição.

Capítulo Quatro: Personagem 93

 Normalmente, a criação de personagem segue um
padrão definido. Você pode começar com um conceito básico
para seu personagem, atribuindo Características para deter-
minar o que ele pode ou não fazer, e então preenche as lacunas
e detalhes da história de sua vida (e morte). A idéia é usar esse
processo para criar um personagem que será interessante para
você jogar, para os personagens de seus amigos interagirem, e
para o seu Narrador trabalhar o enredo de seu grupo. A idéia
não é criar uma super-aparição que pode pegar o Labirinto
com uma mão e balançar os Espectros; se você sair se encren-
cando com todo mundo que passar pelo seu caminho, sua
Crônica se tornará extremamente tediosa. Personagens com
pontos fortes e fraquezas são bem mais interessantes, pela
simples razão de que o sucesso é sempre mais doce quando
você o alcança vindo das profundezas do fracasso.
Construir o seu personagem vai levar algum tem-
po e muita introspecção se você quiser fazê-lo corretamente.
Você começa decidindo com quem você quer jogar (Um caça-
dor de vampiros que se aproximou demais de sua presa? Um
programador encarcerado em seu velho escritório tentando
escapar? Uma vítima de execução que quer se vingar de seu
assassino?), e depois do que o seu personagem é capaz. As-
sim que tiver algo que funcione, você pode começar a atribuir
Características que encaixam nesse conceito, e você está no
caminho certo.
Começando
Essa narrativa começa com a morte de seu herói.
- Ambrose Bierce, ‘’Uma caneca de xarope’’
á algumas coisas que você deve manter
em mente antes de começar a criar o
seu personagem. Especificamente:
• Seu personagem pode ter qual-
quer idade, ser de qualquer cultura, de
qualquer religião, cor, orientação ou
qualquer outra coisa que você escolher.
O que importa é que o personagem
faça sentido e não desequilibre o resto da crônica. É geralmente
mais fácil jogar com um personagem ceifado nas últimas três
décadas; personagens mais velhos tendem a saber um pouco
demais sobre o que está acontecendo no Mundo Inferior.
• O processo de criação do personagem de Aparição
significa a criação de todo o seu personagem, não apenas seus
pontos. O ideal é que você perceba quem é sua aparição no
mesmo momento em que determina do que ela é capaz. Se, no
final deste capítulo, você acabar com uma coleção de pontos e
palavras em uma ficha de personagem e nenhuma idéia clara,
alguma coisa está errada.
• Não há nada randômico a respeito da criação de
personagem em Aparição. Não há rolamento de dados para
pegar todas as suas estatísticas básicas, nem existem quaisquer
tabelas de criação aleatórias. Seu personagem é algo que você
criou do zero através das suas escolhas. Você seleciona Carac-
terísticas e decide cada pormenor do seu personagem. Dessa
forma, você terá a certeza de jogar com um personagem que
94 Aparição: O Esquecimento
ache interessante.
• Características são classificadas numericamente de
um até cinco na maioria dos casos; em casos raros, elas vão de
um até 10. A escala funciona de forma semelhante com uma
escala de crítica de filmes: cinco estrelas (ou cinco pontos em
uma Característica) é excelente; uma estrela (ou ponto) é mise-
rável. Dois é a média, que é algo para manter em mente quando
você está determinando as escalas das Características. No final
das contas, você não tem que ser excelente em tudo; algumas
vezes, a média é tudo o que você irá precisar.
• É uma boa idéia sentar com seus jogadores e con-
ferir se todos os seus personagens são compatíveis um com o
outro. Ter um membro da Hierarquia e um Anti-escravista de
almas Herege em um mesmo Círculo pode soar divertido, mas
quando todos seus jogos de Aparição se resumem a sentar e
assistir dois personagens tentando jogar um ao outro em um
Nihil, as coisas podem ficar rapidamente entediantes. Isso não
significa que os seus Círculos devem ser todos da Hierarquia
ou todos Renegados, apenas que os personagens possam per-
manecer em um mesmo lugar sem começar um Maelstrom
local. Além da mera compatibilidade, geralmente ajuda saber
de antemão porque as aparições em seu Círculo estão saindo
juntas por aí. Partilhar um Grilhão, Paixão ou Local Assombra-
do funciona; tecer juntos seu passado também. Por exemplo,
Erik pode ter a Paixão de encontrar uma mulher com a qual se
apaixonou depois de morrer; um dos companheiros de Círculo
talvez tenha conhecido a mulher enquanto era vivo; outro pode
tê-la visto em seu caminho para o Local Assombrado do Cír-
culo, um terceiro pode ter perdido seu Amor Verdadeiro antes
de morrer e então vai tentar ajudar Erik a achar o dele. Se o seu
personagem não encaixa com o resto do Círculo, você pode
acabar sendo deixado de lado em muitas ações ou dividindo o
grupo. É bem mais fácil e bem mais divertido que as aparições
no Círculo tenham uma forte razão para estar lá, e a melhor
maneira de fazer isso é arrumar isso na criação.
Para Narradores...
Cabe ao Narrador guiar os jogadores pelo processo
de criação de personagem. Há muitas razões para tal: respon-
der quaisquer perguntas que os jogadores possam ter sobre o
processo, oferecer sugestões e idéias quando um jogador ficar
indeciso, se certificar que os personagens se encaixam na sua
Crônica com o mínimo de problemas, e o mais importante, fa-
zer com que toda a criação de personagem seja o mais simples
e rápida possível.
O primeiro passo para você como Narrador envolve
entregar as fichas de personagem para seus jogadores, depois
perguntar se eles possuem alguma dúvida sobre a ficha em si.
Depois conduzi-los pela criação de personagem passo-a-passo,
ajudando seus jogadores a criar personagens que sejam equi-
librados, nem poderosos demais nem incapazes de sobreviver
por muito tempo.
Algumas vezes, a criação de personagem pode levar
uma sessão inteira. Não há nada errado com isso, desde que
seus jogadores estejam usando este tempo para criar persona-
gens reais e “cheios de vida”. Se você não quer gastar a sessão
de jogo inteira criando personagens, você pode encorajar seus
jogadores a terem idéias de seus personagem antes de começar.
Depois que você já estiver jogando por um tempo, você vai no-
tar que o processo fica cada vez mais rápido, na medida em que
seus jogadores se familiarizam com o que faz um personagem
de Aparição funcionar.
Uma vez que todas as linhas estejam escritas e todos
os círculos estejam preenchidos, você pode aproveitar o tem-
po para começar Prelúdios para suas recém-criadas aparições.
Prelúdios servem como histórias introdutórias, permitindo
tanto você quanto seus jogadores conhecerem melhor seus per-
sonagens. Para mais sobre Prelúdios, veja a página 105.
Parte de seu trabalho será se certificar que todos os
personagens se encaixam na crônica que você planejou. Um
samurai com katana do Império de Jade talvez seja um perso-
nagem sensacional, mas se o resto dos jogadores tiverem deci-
dido jogar com Legionários ignorantes, seu samurai irá se sen-
tir deslocado. Ao mesmo tempo, você deve se certificar que um
personagem não irá perturbar os outros fazendo tudo aquilo
que quer em virtude de suas estatísticas. Isto é chamado abuso
de regras para benefício próprio e é com certeza, a forma mais
prática de fazer os jogadores abandonarem sua campanha. Não
é divertido jogar quando você sabe que não pode vencer, seja
contra um NPC ou contra um de seus companheiros aparições.
Certificar-se que todos estejam mais ou menos balanceados é
vital, ou a falta de balanço vai rapidamente destroçar sua Crô-
nica inteira.

Criação de Personagem
Passo Um: Conceito
Aqui sento em meus ossos, nos ossos acima da colina,
Observando o triste horizonte selvagem.
- Fish, ‘’MR 1470’’
primeira coisa que você precisa como
um jogador é criar um conceito bási-
co para seu personagem. Neste ponto,
você não precisa saber todos os deta-
lhes da vida e morte dele, apenas al-
guns pontos importantes que lhe darão
uma melhor idéia de quem ele é. Você
pode encaixar os porquês mais tar-
de no processo criativo. Quanto mais
tempo você gastar criando e interpretando seu personagem,
melhor compreendido ele será.
Porém, nesse momento você está apenas interessado
no básico. Seu personagem pode ser de qualquer cultura ou
período de tempo (apesar que se você está jogando com uma
aparição de mil anos de idade, você deve ter uma boa explica-
ção do porque ela não é mais forte que alguém que atravessou a
Mortalha ontem). Jogar com personagens que não tenham sido
aparições por todo esse tempo é geralmente mais fácil, mas se
você quer jogar com um fantasma de um soldado uma Guerra
Civil ou um alquimista medieval, não há nada que lhe impeça.
Tudo que você realmente precisa nesse estágio da
criação de personagem é responder três perguntas: Quem era
você, como você morreu, e o que lhe mantém como uma apa-
rição?

Capítulo Quatro: Personagem 95


Quem Foi Você ?
O que você fez enquanto vivo? Como você viveu o
dia a dia de sua vida? É geralmente melhor jogar com per-
sonagens relativamente normais - Estrelas do rock ou atores
podem gerar problemas - mas no final prevalece o que o você
desejar e o que o seu Narrador permitir. Dentre as possibili-
dades estão:
• Artista - Você possuía um trabalho artístico real-
mente bom que teria impressionado o mundo (se você tivesse
vivido o bastante para completá-lo).
• Papel em Branco - Uma verdadeira tabula rasa,
sua vida é um mistério para você.
• Policial - Talvez você tenha sido um policial der-
rotado que assistiu seu amado bairro ser arruinado. Ou você
pode ter sido do esquadrão da narcóticos, de um time da
SWAT ou até mesmo encurralado atrás de uma mesa de dele-
gacia.
• Vigarista – Crime certamente não compensou pra
você, ao menos por um tempo. Então talvez, você você tenha
sido pego.
• Trapalhão - Você não teve muito tempo enquanto
vivo para seguir seus interesses. Então você fez um pouco dis-
so e daquilo e nunca achou sua real vocação.
• Opositor do Sistema - Você viveu para subverter o
sistema de qualquer forma que conseguisse. Talvez você fos-
se um hacker, ou talvez você pensasse que era o novo Robin
Hood.
96 Aparição: O Esquecimento
• Nômade - Nada te mantém num lugar por muito
tempo. Talvez um sem teto, talvez um artista procurando por
inspiração, ou apenas um espírito livre, você não fica num lu-
gar tempo suficiente para criar raízes.
• Político - Você foi para Washington com um man-
dato de mudança, mas quem mudou foi você. Talvez você
nunca tenha nem sido eleito, ou tenha sido expulso do cargo.
• Punk - Anarquia! Se levantou, você derruba; você
viu a forma que estava olhando para você!
• Preguiçoso - Você nunca fez muita coisa enquanto
ainda respirava.
• Crente - Sua fé lhe sustentou em vida, mas isto não
é o céu que lhe foi prometido.
• Vítima - Você deixou que a vida acontecesse para
você, sempre reagindo ao invés de agir.
• Viciado em Trabalho - Trabalho de 80 horas por
semana e 2 da manhã planejando encontros devorou a sua
vida. Agora você está pensando em tudo que perdeu.
Como Você Morreu?
A forma como você morreu determina muito sobre
a sua perspectiva através da Mortalha. Afinal, uma aparição
que atravessou pacificamente e uma que tenha seu próprio as-
sassinato para vingar são propensas a ter pontos de vista bem
diferentes ao lidar com os vivos. Aqui estão algumas possibili-
dades:
• Acidente - Talvez o airbag do lado do motorista
de seu novo carro não inflou, ou a energia não fui desligada
antes de você tentar arrumar a fiação do seu apartamento. No
funeral, todos disseram que “essas coisas acontecem”, e que
não era uma vergonha...
• Doença - Talvez tenha sido repentina, ou pode ter
sido uma lenta espiral até a morte. Talvez você tenha tido cân-
cer graças aquela planta química na periferia da cidade, ou
esteja convencido de que o governo testou uma nova arma
biológica em você.
• Mistério - Você não sabe o que lhe aconteceu, e
você suspeita que talvez seja melhor dessa forma.
• Velhice - Você viveu uma longa e completa vida fa-
leceu suavemente.Ou talvez, você tenha gritado e esperneado
por alguns minutos a mais.
• Overdose - Você procurava pelo Esquecimento na
forma de drogas e álcool. Eles lhe levaram muito mais perto
do Esquecimento do que você achou que fosse possível.
• Algo estranho... - Você foi uma vítima de um em
um milhão. Talvez você tenha sido acertado por um raio, ou
teve uma rara reação alérgica a sua medicação para resfriado.
De qualquer forma, você não viu a morte chegar.
• Suicídio - Todos disseram que você estava apenas
tentando chamar a atenção, mas o que você realmente busca-
va era ajuda. Porém, agora é tarde demais...
• Violência - Do campo de batalha até o lar, a vio-
lência toma mais vítimas em todo lugar. Talvez você fosse um
soldado ou foi assassinado por um vagabundo. Alguém pode
até ter encomendado sua morte.
Porquê Você Ainda Está Aqui?
Seu arrependimento é a razão pela qual você se tor-
nou uma aparição, ao invés de mover-se quietamente para o
próximo nível de existência. O que você nunca disse ou fez
que signifique tanto para você agora, que o fez voltar? Aqui
vão algumas idéias:
• Falha - Você morreu sabendo que falhou em algo
com o qual se comprometeu. Talvez fora uma falta de confian-
ça, ou talvez apenas falta de talento, mas você não foi bom o
suficiente. Agora, porém, a história é diferente.
• Culpa - Seus pecados foram grandes demais, e não
o deixaram descansar.
• Legado - Você quis deixar algo para trás, e agora
se sente obrigado a proteger isto daqui do outro lado. Talvez
sejam seus filhos, talvez seja a empresa que você fundou, mas
o fato é que verá seu legado continuar sem você.
• Amor - Talvez você nunca tenha dito àquele que
amava como você se sentia, e você precisa retificar isso de
além-túmulo. Ou, talvez, ainda haja alguém do outro lado a
quem você ama mais que a vida (ou morte).
• Chances Perdidas - Todas as viagens que você
adiou, os amores que nunca teve, as oportunidades que dei-
xou passar; você quer uma segunda chance nelas.
• Missão Possível - Você teve uma missão em vida
- talvez uma cruzada ambiental, ou um mandato para recupe-
rar seu governo - e você não deixará algo insignificante como
a morte impedi-lo agora.
• Vingança - Alguém fez da sua vida um inferno na
terra, ou até mesmo acabou com ela. Agora é hora do troco, e
você tem toda a eternidade.
• Negócios Inacabados - Você nunca teve a chance
de retirar aquelas últimas duras palavras que você falou antes
de sua morte, agora é tarde demais para curar as feridas. Ou
não?
• Destino não Cumprido - Você foi predestinado
a coisas grandiosas das quais nunca realmente alcançou en-
quanto estava vivo.
Natureza
e Comportamento
O próximo passo é escolher arquétipos de persona-
lidade que melhor se encaixem com sua visão do mundo, e de
como você se apresenta. Eles podem ou não ser o mesmo.
Arquétipos
•
de Personalidade
Arquiteto: A criação de algo duradouro é seu obje-
tivo.
• Avant-Garde: Se não for novo e diferente, não lhe
interessa.
• Bon Vivant: A morte não vai impedí-lo de se di-
vertir.
• Valentão: Ser agressivo não é um hábito, é um cha-
mado.
• Samaritano: Mesmo os Inquietos – Especialmente
eles – precisam da sua caridade.
• Criança: Você nunca cresceu e quer que alguém
tome conta de você.
• Conformista: Um seguidor de coração acha fácil
se adaptar, se ajustar, se conformar.
• Esperto: Deve haver um meio mais fácil de conse-
guir as coisas.
• Crítico: Nada é perfeito, e nada nunca é bom de-
mais para você.
• Explorador: Nova Necropolis, novas aparições,
novas civilizações...
• Seguidor: Você é feliz por não precisar tomar deci-
sões.
• Jogador: A morte pode ter jogado primeiro, mas o
jogo não terminou.
• Gozador: O que é tão engraçado em se estar mor-
to? Tudo!
• Líder: Quando você fala, espera ser ouvido.
• Mártir: Você se sacrificará por outros, mas não so-
frerá em silêncio.
• Mediador: Você sempre confia que um acordo
pode ser acertado.
• Rebelde: Autoridades só te levam para o caminho
errado.
• Cientista: Você olha o universo racionalmente,
mesmo depois da morte.
• Sobrevivente: Você crê que essa existência vale a
pena, não importa o que.
• Tradicionalista: Ao que te diz respeito, os modos
antigos são os melhores.
• Visionário: Você tem um sonho de algo melhor
que só você pode ver.
Capítulo Quatro: Personagem 97

Sua Natureza é o Arquétipo que melhor encaixa com
a sua verdadeira personalidade. É como você realmente vê o
mundo, assim como a forma com a qual recupera Força de
Vontade. Agindo de acordo com seus mais profundos senti-
mentos e crenças (sua Natureza), você pode reabastecer sua
crença em si mesmo e sua determinação (sua Força de Von-
tade). Sua Natureza não deve ser restritiva, assim como um
personagem com a Natureza Crítico ainda pode ter algo bom
a dizer em alguma ocasião. No entanto, deve servir como um
guia básico sobre a sua perspectiva no mundo de Aparição, e
como você age e reage neste mundo.
Seu Comportamento é a face social que você veste, a
máscara que você mostra para o mundo. Para algumas apari-
ções, suas Naturezas e Comportamentos são idênticos. Outras
sentem a necessidade de esconder seus verdadeiros sentimen-
tos atrás de fachadas no propósito de proteção ou enganação.
Comportamentos podem mudar rapidamente e não tem efei-
to nas regras de Aparição. Pois, sua intenção é servir simples-
mente como uma ajuda na interpretação.
Segundo Passo: Escolhendo Atributos
Ela disse que preferia morrer a parecer uma fracassa-
da...
- Oysterband, ‘’Sapatos de Elena’’
Seus Atributos são seus potenciais inatos. Quão forte
você é, quão rápido você pensa, quão bom você é em conse-
guir que os outros façam o que você quer - todos estes são
exemplos de Atributos. Apesar de você não ter mais um corpo
vivo, você ainda possui uma forma física com capacidades fí-
sicas (sem mencionar mentais e sociais). Esta é a parte da cria-
ção de personagem onde você determina suas capacidades.
Atributos são separados em três categorias: Físicos,
Sociais e Mentais. Você deve priorizar essas categorias para
sua aparição. Qual é o mais importante? Qual é o menos? Isso
determina quantos pontos você terá para gastar em cada uma
destas categorias.
• Físicos - Atributos Físicos determinam quão forte
você é, quanta resistência você tem, e qual sua destreza. Eles
são os atributos primários para personagens construídos para
ação - assaltantes, seguranças, soldados e afins - Esses Atri-
butos detalham os pontos fortes e fraquezas de seu Corpus.
Força descreve quão forte fisicamente você é, e também diz o
quanto de dano você causa em combate corpo a corpo. Des-
treza é a medida de quão ágil você é e quão rápido você se
move, e é útil para manobras acrobáticas e uso de armas de
fogo. Vigor detalha quão boa é sua resistência à dor e panca-
das, e permite que você resista ao dano por meio de rolagens
de dados.
• Sociais - Atributos sociais são a medida de quão
bem você funciona em situações sociais. Eles indicam quão
bem você trabalha e interage com outros, sem mencionar até
onde você manipula e coage os outros. Carisma é a medida
de seu charme pessoal e força de personalidade. Manipula-
ção descreve o quão bom você é em fazer com que os outros
façam o que você quer, e Aparência é a medida de quão boa
98 Aparição: O Esquecimento
(ou impressionante) é sua aparência. Atributos Sociais são
primários para personagens políticos ou da alta sociedade, e
são úteis em crônicas que sejam focadas em intriga.
• Mentais - Atributos mentais são a medida de sua
inteligência e habilidade de pensar rapidamente. Usados para
determinar o que você pode saber e o que você pode dedu-
zir de suas especulações, os Atributos Mentais são primários
para cientistas, personagens intelectuais, assim como ladrões
de rua ou qualquer outro que precise pensar por si. Percepção
permite-lhe saber quão bem você pode acessar seu ambien-
te - tudo desde escutar o estalar de um chão de madeira até
perceber uma pista que outros deixaram passar. Inteligência
é e medida do seu nível cerebral, e a eficiência que você pode
colocar seu conhecimento para funcionar. Raciocínio mede o
quão rápido e eficiente você reage a situações novas ou impre-
vistas, como combate.
O conceito que você escolheu deve ser de ajuda na
determinação de qual categoria de Atributos deve ser sua pri-
mária, secundária, terciária. No entanto, seu conceito deve ser
mais um esboço do que um mapeamento rígido para seu per-
sonagem, e qualquer combinação que faça sentido para você
está boa.
Cada personagem começa com um ponto em cada
Atributo. Priorizando as categorias de Atributo detalham-se
quantos pontos mais você tem para distribuir em cada coluna
de Atributos. Você tem sete pontos para distribuir em seus
Atributos primários, cinco nos secundários e três nos terci-
ários. No entanto, não é necessário distribuir os pontos uni-
formemente. Ao invés disso, escolha aqueles que lhe parecem
encaixar melhor. Se você escolheu os Atributos Físicos como
terciário, você pode tanto colocar um ponto em cada Atribu-
to, ou pode colocar todos os três em Força e não por nenhum
mais em Vigor ou Destreza, ou você pode colocar dois em
Força, um em Destreza e nenhum em Vigor. Cabe a você de-
cidir.
Se você não tem os pontos que deseja em Atributos,
não se preocupe. Mais tarde você terá a oportunidade de au-
mentar seus Atributos com os chamados pontos bônus. Por
enquanto, apenas siga o que acha certo e preocupe-se em au-
mentar os números mais tarde.
Nota:
Há um espaço depois de cada Atributo e Ha-
bilidade na ficha de personagem. Isto é para preencher
suas especialidades, supondo que você tenha alguma.
Uma especialidade é uma área de uma Característica
que você é especialmente bom. Você não precisa pegar
uma especialidade, mas algumas vezes, elas serão de
bom uso. Para mais informações sobre especialidades,
veja o Capítulo Cinco: Características.
Terceiro

Passo: Escolhendo Habilidades
Assim como os Atributos são suas capacidades ina-
tas, Habilidades são as coisas que você aprendeu durante o
percurso de sua vida (ou após). Como os Atributos, também
são divididas em três categorias. Neste caso, são chamadas Ta-
lentos, Perícias, Conhecimentos.
Sua pontuação em qualquer Habilidade determina o
quão bom você é nela, quatro ponto em Esquiva significa que
você talvez tenha sido um toureiro, enquanto um único ponto
em Reparos significa que você provavelmente deu muito tra-
balho à borracharia local.
• Talentos - São habilidades intuitivas, aptidões que
você ganhou através da experiência. Talentos não são apren-
didos de livros, nem são coisas que geralmente você possa ter
praticado. Normalmente, eles são obtidos durante a vida ao
invés de ensinados.
• Perícias - Perícias são Habilidades que você pode
aprender com treino rigoroso. Qualquer coisa que pode ser
ensinada, estudada e praticada, entra na linha de Perícias.
• Conhecimentos - Conhecimentos tendem a ser as
Habilidades intelectuais clássicas. São aprendidos através de
livros, aulas, estudos rigorosos, mas também por experiência
de um campo de escolha de alguém.
Habilidades são priorizadas assim como são os Atri-
butos. A diferença aqui é que você tem 13 pontos para suas
Habilidades primárias, 9 para as secundárias e 5 para as ter-
ciárias. Novamente, haverá a oportunidade de aumentar suas
Habilidades através dos pontos bônus mais tarde, portanto
preencha seu personagem da melhor forma que puder agora e
preocupe-se com detalhes finais depois.
Não lhe é permitido colocar mais de três pontos
em qualquer Habilidade durante esse processo de criação de
personagem. Se você desejar, pode aumentar uma Habilidade
acima de 3 pontos com pontos bônus mais tarde, isto é per-
mitido, mas no momento, nenhuma Habilidade pode ter mais
do que 3 pontos.

Quarto Passo: Vantagens

Diferente de Atributos e Habilidades, você não prio-
riza suas Vantagens. No lugar disso, você pode definir um
número de pontos para distribuir em cada uma. Novamente,
você pode aumentar esse número mais tarde, através do uso
de pontos bônus.

Arcanoi
Arcanoi são os poderes únicos que as aparições
possuem. Você possui cinco pontos para comprar Arcanoi,
Apesar de um personagem iniciante não poder ter mais do
que três pontos em qualquer um dos Arcanos. Mais Arcanoi
podem ser comprados mais tarde com os pontos bônus.

Antecedentes
Antecedentes medem seu lugar na sociedade e cul-
tura dos Inquietos. Eles são uma medida de quem você co-
nhece, quais recursos você pode usufruir e o que outras apa-

Capítulo Quatro: Personagem 99

 rições pensam de você. Você tem sete pontos para distribuir
entre seus Antecedentes, mas suas escolhas devem refletir o
conceito de seu personagem.

Paixões
O que mais importa somos nós
O que mais importa é o agora
O que importa é isto
Como vem, e onde, e como.
Paixão.
- Hothouse Flowers, ‘’Isto não é Fantástico?’’
Paixões são o combustível da existência das apari-
ções. Cada Paixão tem três partes: Uma declaração de Paixão
(ex: Proteger meu amor, ou Vingar minha morte); um núcleo
emotivo para a Paixão (como Amor ou Vingança); e uma es-
cala de um a cinco.
Você tem 10 pontos para dividir entre suas Paixões
da melhor forma que encontrar. Você pode escolher ter 10
Paixões, cada uma com um ponto, ou duas paixões, cada uma
com cinco pontos. Como suas Paixões estão ligadas a quem
você é assim como em que você faz, as Paixões que são mais
importantes para você devem ter maior pontuação do que as
gerais ou acidentais. Para saber mais sobre Paixões, veja a Pá-
gina 216.

Roteiro de Criação de Personagem

• Passo Um: Conceito do Personagem
Escolher conceito, Natureza e Comportamento.
• Passo Dois: Selecionar Atributos
Priorizar as três categorias: Físicas, Sociais, Mentais em pri-
márias, secundárias e terciárias.
Escolher Atributos primários (7 pontos)
Escolher Atributos secundários (5 pontos)
Escolher Atributos terciários (3 pontos)
• Passo Três: Selecionar Atributos
Priorizar as três categorias: Talentos, Perícias, Co-
nhecimentos em primária, secundária e terciária.
Escolher Habilidades primárias (13 pontos)
Escolher Habilidades secundárias (9 pontos)
Escolher Habilidades terciárias (5 pontos)
• Passo Quatro: Selecionar Vantagens
Escolher Arcanoi (5), Antecedentes (7), Paixões
(10), Grilhões (10)
• Passo Cinco: Toques Finais
Registrar Pathos inicial (5 + Memoriam) e Força de
Vontade inicial (5)
Gastar Pontos de Bônus.
• Criação da Sombra
Veja capítulo 6.

100 Aparição: O Esquecimento

Grilhões
Grilhões são as coisas físicas que te amarram à sua
Pontos deSeusBônus
15 pontos bônus são usados para preencher os
existência passada. Um Grilhão é uma pessoa, lugar ou coisa brancos deixados durante a geração de personagem básica.
que tenha uma importância especial para você, e que continu- Você pode gastá-los em quaisquer Características que desejar,
ará a ancorá-lo as Terras das Sombras até que você seja destru- apesar disso, o preço de cada característica pode variar. Bônus
ído por forças externas ou que perca o sentido para você. podem aumentar uma Habilidade acima de 3, mas não po-
Você tem 10 pontos para distribuir em seus Gri- dem aumentar uma Habilidade ou Atributo acima de 5.
lhões, que podem ter pontuações de um a cinco. Quanto mais Você pode usar bônus para comprar Habilidades de
importante é o Grilhão, mais alta é a pontuação e vice-versa. Arcanos básicas nesse estágio. Cada Arcanos tem Habilidades
Grilhões podem ser misteriosos - você pode não se lembrar o Básicas, não tão poderosas quanto as de um ponto para aquele
porquê deles serem tão importantes para você, e toda a crô- Arcanos. Se desejar, você pode comprar apenas as Habilidades
nica pode ser construída ao redor da busca para descobrir o básicas para um Arcanos num preço reduzido, o que também
significado de um Grilhão. pode tornar mais fácil comprar os níveis regulares do Arcanos
Suas Paixões e Grilhões podem funcionar juntos. com experiência.
Por exemplo, você pode ter a Paixão Terminar meu Romance Pontos Bônus podem ser usados também para sub-
(Determinação) 5, e o Grilhão Manuscrito Incompleto: 4. trair os bônus de sua Sombra na base de um por um, ou você
pode pegar até sete pontos de bônus extras se adicionar os
Quinto

Passo: Finzalizando
O demônio mora nos detalhes, como se diz, mas ou-
mesmos à sua Sombra também. Quando você tiver acabado
seu personagem, você precisará voltar a atenção em criar o
tras coisas podem ser encontradas ali também. São os toques seu lado sombrio, e agora é a hora de começar a pensar sobre
finais que realmente humanizam um personagem, dando-o isso. As regras de criação da Sombra podem ser encontra-
as características de personalidade e manias que realmente o das no Capítulo Seis.
trazem a vida (ou o mais próximo que um fantasma pode che-
gar). Atributos - 5 bônus por ponto
É aqui onde você detalha o Pathos e Força de Vonta-
Arcanoi - 5 bônus por ponto
de de seu personagem, assim como gasta os 15 pontos bônus.
Tire um tempo para conferir as coisas antes de gastar seus
Habilidades Básicas de Arcanoi - 3 bônus

bônus. Você irá descobrir que existem várias coisas nas quais por Arcanos
você vai querer gastá-los. Apesar disso, Pathos e Força de Força de Vontade - 2 bônus por ponto
Vontade vem em primeiro lugar. Habilidades - 2 bônus por ponto
Pathos Pathos é a parada de energia emocional da qual você


Paixões - 2 bônus por ponto
Antecedentes - 1 bônus por ponto
pode requisitar poder de seu Arcanoi ou curar seu Corpus. Grilhões - 1 bônus por ponto
Seu Pathos inicial é 5, somando o que você possuir no Ante- Pathos - 1 bônus por 2 pontos
cedente Memoriam. Esta é apenas sua pontuação inicial, e sua
parada de Pathos aumentará e diminuirá durante o percurso
da crônica. Você pode adicionar bônus na sua parada de Pa-
thos, mas sua pontuação máxima nessa Característica nunca
deve ser acima de 10.
Centelha de Vida
estou sozinho nisso? Estou sozinho? Eu sou o seu gar-
çom e sou simplório e sou o mais selvagem neste mundo
Força deForça
Vontade
de Vontade é a medida de quanta determina-
- David Baerwald, ‘’O Garçom’’
Há muito mais em um personagem do que apenas
pontos e Características. Essa é sua chance de entender quem
ção e força de desejo você terá, algumas vezes permitindo que
sua aparição é e foi, e o que a conduz. É aqui onde você pode
você deseje um sucesso numa rodada. Além disso, sua Força
realmente personalizar sua criação e fazer com que ela seja uni-
de Vontade é o instrumento que lhe ajuda a resistir aos efei-
camente sua. Você não precisa escrever esses detalhes, já que
tos de sua Sombra. Sua Força de Vontade básica é 5, e pode
eles não possuem impacto nas regras do jogo, mas tê-los dispo-
ser aumentada com bônus. Sua Força de Vontade nunca pode
níveis facilita tanto você quanto seu Narrador a conhecer quem
ultrapassar 10.
é sua aparição e onde ela se encaixa na crônica.
Força de Vontade tem um caráter tanto temporário
quanto permanente. Sua Força de Vontade temporária (ou
atual) mede o quanto de Força de Vontade você tem naquele
AparênciaO Corpus de uma aparição tende a refletir sua própria
momento, enquanto a permanente indica o seu máximo. Du- imagem. Muitas aparições se parecem como eram no momento
rante a criação de personagem, todas as referências a Força de em que morreram; outras se encontram como eram no início
Vontade referem-se ao nível permanente. de suas vidas. Algumas descobrem que de alguma forma dis-

Capítulo Quatro: Personagem 101

torceram suas formas de maneira a refletir seus medos e es-
peranças; asas angelicais, olhos brilhantes, mãos esqueléticas e
outras alterações do tipo são comuns. As roupas de uma Apari-
ção também se manifestam dessa forma; elas refletem a forma
que seu personagem subconscientemente deseja aparentar.
Suas Características sociais relevantes e conceito de-
vem ser levados para o jogo quando você decidir a aparência
de seu personagem. Uma aparição que tenha sido um soldador
em vida, não é muito propensa em aparecer em um terno, e
deve haver uma razão pela qual um fantasma de Aparência 1
seja tão desagradável. Por outro lado, o soldador pode também
se encontrar em uma máscara de trabalho estilizada nas Terras
das Sombras, e a aparição com Aparência 1 pode ser descrita
com uma horrível cicatriz que corta todo seu rosto. Suas Ca-
racterísticas são apenas números, você decide para que estes
números estão lá.
Manias O que lhe faz único? Você assobia a mesma nota em
qualquer lugar que vá, ou possui aquela fala arrastada de Hum-
phey Bogard? Estes são pequenos detalhes que humanizam seu
personagem, e que o fará mais interessante para interagir com
outros. Novamente, elas não influenciam na mecânica do jogo,
mas ajudam a construir seu personagem com aquele algo mais
além de uma série de pontos.
O CírculoÉ geralmente uma boa idéia sentar, antes da criação
de personagem, com outros jogadores e certificar-se que todos
seus personagens são compatíveis. Crônicas seguem mais su-
aves se os personagens possuem uma razão para trabalharem
juntos, ao contrário de quando tentam jogar os outros no Es-
quecimento imediatamente.
Exemplo de Criaçãonnys
de Personagem
quer criar um personagem de
Aparição. Começando apenas com
uma idéia básica, ela usa o guia de
criação de personagem para desen-
volver uma personalidade aceitável e
divertida.
Primeiro Passo: Conceito
Antes de tomar qualquer decisão sobre gasto de pon-
tos, Annys tem de decidir que tipo de personagem ela quer
interpretar. Especificamente, Annys quer explorar o que pode-
ria acontecer a um eu alternativo, com alguns aspectos de sua
própria personalidade, elevados a extremos e com escolhas ra-
dicalmente diferentes daquelas que Annys tomou em vida. Ela
idealiza um personagem que dedicou sua vida para os estudos
e ensino; essa aparição não fincou raízes em nenhum lugar pre-
ferindo seguir sem rumo, indo de universidade a universidade
pelo país, nunca durando mais que um ou dois anos como pro-
fessora em cada parada.
Ela decide que esse personagem seria mais interessan-
te sendo um homem, e escolhe o nome Robin. Annys então es-
102 Aparição: O Esquecimento
colhe Natureza e Comportamento adequados para Robin - seu
eu fundamental e a fachada que ele mostra ao mundo. Ela teve
alguns problemas decidindo entre os Arquétipos de persona-
lidade. Robin pode ser um Seguidor, devido seus anos de har-
monização em várias escolas e quieta contemplação de vales,
mas Annys não acha que se divertiria jogando com ele desta
forma. Crítico parece mais apropriado de alguma forma, e An-
nys decide que Robin nunca conquistou algo durável ou nunca
se ligou a alguém porque ele estava ocupado demais procuran-
do defeitos em si mesmo e em todos ao seu redor. Annys decide
isso para acobertar a dúvida que o paralisou por toda sua vida e
que para seguir seus propósitos acadêmicos, Robin adotou um
Comportamento Analítico. Em sua máscara de calma e de um
observador imparcial ele pode dissecar friamente qualquer coi-
sa desde um drama Jacobino até as motivações subconscientes
do seu assistente de pesquisa.
Passo Dois: Atributos
Agora Annys deve distribuir Atributos para seu perso-
nagem e prioriza as categorias de Robin da seguinte forma:
A categoria primária de Robin é a Mental. Ele é bem
sucedido em desafiar teorias alheias, refutando-as ponto a pon-
to.
A categoria secundária de Robin é Física. Um tanto
quanto vaidoso e não inclinado a parecer intelectual demais, ele
se forçou a malhar regularmente por anos.
A categoria terciária de Robin é Social. Ele é capaz de
fazer alguns conhecidos superficiais e nunca ninguém desgosta
dele de verdade, mas o mais próximo que ele já chegou de um
contato humano real foi dormindo com a estudante ocasional
que achou seu jeito reservado intrigante.
Dos sete pontos atribuídos para os Atributos Mentais
de Robin, Annys coloca três pontos em Percepção (isso somado
ao ponto grátis automaticamente dado por atributo faz com que
a Percepção total de Robin seja 4). Os últimos quatro pontos ela
divide em três para Inteligência e um para Raciocínio. Robin é
um observador super astuto e tem cérebro para usar a informa-
ção que reúne, mas perde algo quando o senso comum importa.
Dois dos cinco pontos Físicos de Robin vão para sua Força e
dois para seu Vigor; Annys gasta o outro ponto em Destreza,
decidindo que enquanto músculos podem ser adquiridos por
malhação, habilidades de destreza gerais são mais difíceis de se
obter.
Para a categoria mais fraca de Robin, a Social, Annys
gasta dois dos seus três pontos em Manipulação e um em Apa-
rência. Isso significa que a Carisma de Robin é apenas 1, mas
Annys acha que isto está correto. Robin é aceitável em questão
de aparência, apenas decididamente fraco em charme. Ela tal-
vez coloque outro ponto em Carisma se ela tiver pontos bônus
sobrando mais tarde (veja abaixo), mas não está na sua lista de
prioridades.
Terceiro Passo: Habilidades
Agora Annys escolhe as Habilidades de seu perso-
nagem. Conhecimentos é o ponto mais forte de Robin, obvia-
mente, então esta se torna sua categoria primária. Talentos fica
como secundário e Annys decide que Robin nunca teve muito
interesse em se forçar a se especializar em algo que não via uma
necessidade imediata para tal.
Nome: Robin Natureza: Crítico
Jogador: Annys Comportamento: Analítico
Crnica: Sombra: Perfeccionista
Atributos
Fsicos Sociais
Força________OOOOO Carisma_______OOOOO
Destreza_______OOOOO Manipulação____OOOOO
Vigor________OOOOO Aparência______OOOOO
Vida: Professor
Morte: Acidente de Automóvel
Arrependimento: Não ter publicado sua
obra-prima
Mentais
Percepção______OOOOO
Inteligência_____OOOOO
Raciocínio_____OOOOO

Habilidades
Talentos Percias
Prontidão______OOOOO Ofícios_______OOOOO
Esportes_______OOOOO Condução______OOOOO
Consciência_____OOOOO Etiqueta_______OOOOO
Briga ________OOOOO Armas de Fogo____OOOOO
Esquiva_______OOOOO Liderança______OOOOO
Empatia_______OOOOO Meditação______OOOOO
Expressão______OOOOO Armas Brancas____OOOOO
Intimidação_____OOOOO Performance_____OOOOO
Manha_______OOOOO Reparos_______OOOOO
Lábia________OOOOO Furtividade_____OOOOO
Conhecimentos
Burocracia______OOOOO
Computador_____OOOOO
Enigmas_______OOOOO
Investigação_____OOOOO
Direito_______OOOOO
Linguística_____OOOOO
Medicina______OOOOO
Ocultismo______OOOOO
Política_______OOOOO
Ciências_______OOOOO

Vantagens
Antecedentes Paixões
Memorian
___________OOOOO Evitar que descubram meu segredo (Orgulho)
_____________________________ OOOOO
Mentor
___________OOOOO Evitar com que meu maior rival tenha sucesso (Inveja)
_____________________________ OOOOO
Local Assombrado
___________OOOOO Proteger meu livro preferido (Amor)
_____________________________ OOOOO
Status
___________OOOOO Aprender sobre magos (Curiosidade)
_____________________________ OOOOO
___________OOOOO _____________________________OOOOO
___________OOOOO _____________________________OOOOO
___________OOOOO _____________________________OOOOO

Arcanoi Corpus Grilhões

Castigar
___________OOOOO O O O O O O O O O O Livro favorito
___________OOOOO
Phantasma
___________OOOOO          Fita gravada
___________OOOOO
Titerismo
___________OOOOO Protegida
___________OOOOO
___________OOOOO Força de Vontade Cafeteria
___________OOOOO
___________OOOOO ___________OOOOO
O O O O O O O O O O
___________OOOOO ___________OOOOO
        
___________OOOOO ___________OOOOO
___________OOOOO
___________OOOOO Pathos Experiência
___________OOOOO x x
 x 
  x 
x 
x 
x   
 Com os 13 pontos que tem para gastar em Conhe-
cimentos, Annys usa três em Ciências (Psicologia no caso) e
três em Política (o emprego acadêmico de Robin consiste em
escrever revisões da história baseadas em sua nova análise ra-
dical da psique de importantes figuras). Dois pontos vão para
Computador, agora uma necessidade na maioria dos campus.
Annys, pensando na forma em que a maioria das universidades
funcionam assim como os vários administradores com quem
Robin já lidou, usa alguns pontos em Burocracia. Finalmente, o
Conhecimento Enigmas parece uma escolha óbvia para Robin,
então Annys usa seus últimos três pontos nele.
Depois, Annys tem nove pontos para gastar em Ta-
lentos. Ela começa usando três pontos em Prontidão, o que é
igualmente bom para prestar atenção no seu meio como para
notar mudanças sutis na linguagem corporal dos outros. Annys
coloca mais três pontos em Empatia, não porque Robin é uma
pessoa simpática, mas pelos seus interesses sagazes em compre-
ender as motivações alheias. Um ponto vai para Esportes, e os
últimos dois pontos para Esquiva (quando novo, ele tinha que
lidar com aquelas provocações de escola de alguma forma).
Finalizando, Annys divide os cinco pontos de Perícias
em dois para Condução, um para Etiqueta e dois para Medi-
tação (Robin geralmente opta por ganhar alguma perspectiva
observando o mundo).
Quarto Passo: Vantagens
Annys está ciente de que esse personagem pode se tor-
nar preferencialmente antissocial, mas ela acha que a perspecti-
va de Robin lhe impedirá de ser um solitário completo. Ele vê a
ironia em toda situação, incluindo sua própria, e está constan-
temente querendo compartilhar o seu humor nisso. No entanto,
Annys não está correndo qualquer risco de ter Robin isolado do
resto de seu Círculo, então ela também decide em pegar Antece-
dentes que lhe deixarão conectado aos outros. Ela começa dan-
do a Robin dois pontos de Memoriam; a última universidade
em que ele lecionou plantou uma árvore e uma pequena placa
depois de sua passagem prematura. Para sua sorte, a universida-
de escolheu um ponto de encontro popular para seu memorial,
e os estudantes são lembrados frequentemente de qual é o seu
nome, o professor que foi atropelado por um carro. Ela decide
que Robin marca ponto no saber quem é influente em qualquer
situação (mais, ele não parece o tipo que teria qualquer coisa a
ver tanto com os Hereges quanto com os Renegados), então ela
dá a ele um ponto em Status na Hierarquia. Annys então põe
dois pontos em Mentor; um professor que lecionou para Robin
na escola e tinha fortes esperanças de que ele tenha aprendido
algumas coisas nas Terras das Sombras e que deseja passar al-
guns de seus segredos. Finalmente, Annys põe o último ponto
de Antecedentes em um Local Assombrado, dando a robin um
apego ao pequeno e não usado cômodo perto de seu escritório
onde ele costumava ir para suas ‘’reuniões privadas’’.
Annys não tem muito problema quando vai escolher o
Arcanoi de Robin; penetrar na alma dos outros é o que ele sem-
pre desejou poder fazer, então ele ganha dois pontos em Casti-
gar. Na intenção de continuar manipulando os vivos, afetando
seus sonhos, ele precisa de dois pontos no Arcano Phantasma.
Annys coloca o último ponto de Arcanos de Robin em Titeris-
mo, a mais nova forma de perturbação. Isso faz de Robin um
personagem especializado de alguma forma, e
104 Aparição: O Esquecimento
Annys rapidamente debate em fazê-lo um membro ou
do Oneiros ou dos Conciliadores, mas decide que não. Ela pre-
fere deixar as opções sociais de Robin abertas.
As Paixões de Robin requerem um pouco mais de ela-
boração. Com 10 pontos para gastar, ela decide não só do que
consistem suas razões de existência, mas também o quão im-
portante cada uma é para ele. Ela acha que uma das metas prin-
cipais de Robin é proteger sua reputação póstuma. Ele desespe-
ra em ter certeza de que ninguém jamais descubra da estudante
com quem ele dormiu - o primeiro galanteio envolveu mais ini-
ciativa da parte da estudante do que da sua, mas foi se tornando
mais agressiva com o tempo. Essa Paixão é uma função clara de
Orgulho; Annys classifica-a como 4, já que a revelação do pe-
queno segredo sujo de Robin iria realmente destruí-lo. Joshua,
o Narrador, diz que essa pode ser uma Paixão difícil para Robin
seguir, mas Annys gosta da idéia de um contínuo envolvimento
com as Terras da Carne e acha que será passível de jogar com a
ajuda de Joshua e dos outros membros do Círculo. Com isso em
mente, Annys anota na ficha de personagem de Robin: Evitar
que descubram meu segredo (Orgulho) 4.
A próxima Paixão de Robin é “ajudar” seu rival acadê-
mico principal a entender a superficialidade de seus argumen-
tos(essencialmente arruinar sua vida profissional). Annys gasta
três pontos nessa Paixão; que tem um foco em Inveja, e deve es-
tar de acordo com a habilidade de Robin de aperfeiçoar. Alguns
sonhos terríveis vão fazer com que peça uma licença patética do
dever escolar, sem mencionar o reitor que pensou em promovê-
-lo. A Paixão é anotada como Evitar com que meu maior rival
tenha sucesso (Inveja) 3. Annys gosta das possibilidades que
esta Paixão oferece, e decide que indicações de sucesso podem
até encorajar Robin a mexer com outros escolares.
Outro dos desejos de Robin é certificar-se que seu
texto mais aclamado, aquele com notas cruciais para sua obra
inacabada, acabe em boas mãos (idealmente as suas próprias,
mas preferivelmente aqueles que valham o respeito de Robin.
Ele provavelmente não ficará feliz até que o livro seja consa-
grado em alguma coleção particular, longe do alcance de patas
imundas sem graduação). Annys anota isso como Proteger meu
livro preferido (Amor) 2, na medida em que este livro é uma
das poucas coisas que Robin conseguiu expressar preocupação
abertamente. Sobrando o último ponto, Annys dá a Robin um
interesse flamejante em descobrir tudo que puder sobre Magos.
Essa Paixão é impulsionada pela simples Curiosidade; é apenas
a fome de Robin de colher informações outra vez. Ela preenche
como Aprender sobre magos (Curiosidade) 1, e continua.
Com as Paixões de Robin estabilizadas, Annys agora
tem de escolher seus Grilhões, os objetos materiais que o man-
tém agarrado nas Terras da Carne. A primeira coisa que ela pen-
sa é na Cafeteria não muito na moda onde ele era conhecido por
esmagar toda a oposição em debates. Robin gostava do lugar
mais do que admitia, e elevou muito o seu ego com as reações
da sempre presente platéia filosófica. Annys atribui 1 a isso. Ela
decide também sobre uma fita misturada, feita pela última estu-
dante com quem ele se envolveu. Desde sua morte, ela caiu atrás
de um armário de arquivos em seu escritório sem ninguém per-
ceber. Essa fita é tremendamente importante para Robin como
um símbolo do que ele perdeu, apesar de ser relativamente frá-
gil como um Grilhão. Percebendo o risco da fita ser regravada,
pisada ou até jogada fora, Annys ainda dá 3 pontos a este. Então
ela coloca quatro pontos na antiga e bem ganhada cópia de seu
livro favorito, uma edição com capa de couro das Crônicas da
História Inglesa de Holinshed. Cheia de notas rabiscadas nas
margens, esse livro era sua inspiração, e também uma das fontes
de sua Paixão. Finalmente, o protegido de Robin, do qual ele
promoveu a carreira, se torna um Grilhão de grau 2.
Quinto Passo: Toques Finais
Agora, Annys nota que a Força de Vontade de Robin
começa com 5 e seu Pathos inicial é 7 (5 mais seus dois pontos
de Memoriam).
Annys agora tem 15 pontos bônus para gastar. A pri-
meira coisa que ela faz é gastar quatro pontos para aumentar a
Força de Vontade total de Robin para 7. Então ela divide e gasta
mais 5 pontos para aumentar a Carisma de Robin para 2. Dois
pontos darão a Robin um ponto na Habilidade Alerta. Annys
coloca seus quatro últimos pontos bônus em Expressão quando
percebe o quanto Robin precisa dessa Habilidade para passar
suas idéias.
Finalmente, todos os números estão prontos. Mesmo
que isso seja tudo que Annys precise para jogar com seu perso-
nagem, há mais alguns detalhes que ela quer ajustar. Enquanto
ela já chegou a conclusão de que Robin foi morto quando atro-
pelado por um carro, ela pega um minuto para detalhar o aci-
dente para ela mesma e para o Narrador. Então, ela decide que
a especialidade de Percepção de Robin é melhor descrita como
exploradora. No verso de sua ficha de personagem, ela escre-
ve algumas palavras sobre a infância de Robin, crescendo com
seus pais que viajavam muito (isso explica a sua falta de apego
a lugares ou família), e uma curta descrição de sua aparência.
Ela o descreve como alto e um pouco magro, com cabelo louro
palha e um corte de cabelo conservador. Ainda, ele não é muito
cheio de enfeites, então Annys decide que seu guarda roupas é
constituído por camisetas e calças sociais. Ela também quer dar
a ele algumas características distintas. Primeiramente, ela acha
que uma de suas manias envolverá a citação constante de auto-
res (quanto mais obscuros, melhor), mas ela decide que ela não
quer ter esforço pesquisando para interpretar o que essa mania
requer. Uma ideia melhor, ela conclui, seria ter Robin ostentan-
do severamente seu cinismo sobre todas as coisas religiosas e
espirituais. Isso faria com que ele entrasse numa discussão bem
interessante sobre os mortos... Ela também decide de que ele
tem um hábito perturbador de desconcentrar seus olhos e sus-
surrar quase inaudível (isso vem de sua Perícia de Meditação - é
o método que ele geralmente usa para se distanciar do meio),
que provavelmente deixará pelo menos um dos outros mem-
bros do círculo de Robin, totalmente patético, e dar uma brecha
para uma boa interação entre as duas aparições.
Finalmente, Annys está satisfeita com sua imagem
mental de Robin. Agora ela tem que discutir com o Narrador e,
já que ela já sabe quem será, a pessoa que estará jogando com
seu Guia de Sombra para gerar a Sombra de Robin. Para um
exemplo de criação de sombra, veja a página 173.
E Agora?
Interpretando o Prelúdio
‘A morte não dói’, disse uma das gêmeas. ‘A morte é
obscura, a morte é doce.’’
-Poppy Z. Brite, Almas Perdidas
Quando sua aparição estiver terminada, nesse pon-
to, ela estará pronta para que você comece a interpretá-la. Sua
primeira vez jogando com um novo personagem é chamado de
Capítulo Quatro: Personagem 105
Prelúdio, porque ela define toda a ação que virá depois. A maio-
ria dos Prelúdios incluem o fim da vida do seu personagem, sua
morte e renascimento no mundo dos Inquietos.
Para Narradores Subversivos
Se os jogadores do Narrador confiam nele o su-
ficiente para querer jogar qualquer coisa que ele deseje
Narrar, é algumas vezes mais efetivo para ele do que
anunciar que eles estarão jogando um jogo do Projeto
Crepúsculo ou mortais contra o Mundo das Trevas. Ele
então supervisiona os jogadores enquanto eles criam
personagens mortais em vida para o que acreditam que
será o jogo anunciado pelo Narrador. Em algum ponto
durante o Prelúdio, o Narrador acha uma maneira de
atravessar os personagens pela Mortalha.
A maioria dos bons interpretadores se tornam muito
apegados aos seus personagens. Eles começam com idéias para
personagens que eles querem jogar, customizam as idéias durante
a construção, e pegam um verdadeiro sentimento por ele. Essas
primeiras e poucas oportunidades de interpretação são críticas
no desenvolvimento do personagem, dando-lhe a chance de en-
trar na cabeça de seu personagem e reagir às coisas como ele pró-
prio deveria. Essa também é uma hora crítica para definir suas
relações pessoais, lugares e coisas que vão se tornar as Paixões
e Grilhões da aparição, tornando mais fácil e natural para seu
Narrador trabalhá-los na crônica.
Paixões e Grilhões nunca devem ser apenas números
numa página. Cada um deve representar algo devastador, po-
deroso e inegável. Você não deve ser permitido a ignorar uma
Paixão quando a escolhe, e sim se tornar mais envolvido com ela.
A única forma que você pode fazer isso é se o seu Narrador trans-
formar isto em realidade para ele, e uma das melhores formas de
se fazer isso é através de um Prelúdio. É sempre tentador, particu-
larmente se você já jogou sistemas Storyteller antes, ‘’pular para a
parte boa’’, ignorando o Prelúdio individual a favor de uma rápida
introdução grupal ou um pular para o jogo já. Não se entregue a
essa tentação.
A Experiência Pré-Morte
É totalmente essencial para você se tornar inteiramente
envolvido com quem o seu personagem era antes de sua morte
para que qualquer coisa após isso tenha sentido real. Ter uma
Paixão de Dar o troco no namorado que me traiu (Raiva) 2 na
sua ficha de personagem não tem um impacto emocional real.
Jogando em uma cena na qual você vai até a casa de seu namo-
rado duas horas mais cedo para colocar os enfeites para a festa
de aniversário surpresa dele e dar de cara com ele enquanto ele
está com outra mulher tem impacto. Mais que isso, permite que
seu personagem reaja a situação, e lhe traga numa comunhão de
sentimentos mais próxima com os sentimentos de seu persona-
gem. Se em uma cena prévia o namorado dela a deu um anel e lhe
jurou amor, a cena de traição será bem mais efetiva e afetada.
Todas as pessoas que se tornarão Grilhões, ou que tem
muito a ver com quem a aparição é (pais, professores, amigos,
etc.) devem ser descritos em alguma parte do Prelúdio (que pode
ser decorrido como séries de vinhetas da vida do personagem
106 Aparição: O Esquecimento
indo até o momento de sua morte). Lugares que seu personagem
freqüenta e coisas que significam algo para ele devem também
aparecer, não necessariamente num papel principal. Mencioná-
-los como parte da cena é o suficiente, apesar de ser efetivo mais
tarde se eles estiverem muito carregados emocionalmente. Ape-
sar de que você possa vir a escrever em sua ficha que você tem
uma chave como um Grilhão de três pontos, não significa nada
por si mesmo. Ao invés, no exemplo acima, a aparição que desco-
briu que seu namorado a traía pode descobrir que tem o Grilhão
quanto a chave do apartamento dele.
A chave agora significa algo, e também simboliza um
tempo onde havia confiança entre eles, ou que agora é tida como
uma posse odiada da qual sem ela, ela nunca teria entrado no
apartamento e descoberto sua traição. O importante não é o ob-
jeto em si, mas a emoção relacionada a ele. Grilhões não preci-
sam ser algo que a aparição almeje. Eles podem ser coisas que
importunaram a aparição em vida, e das quais ela deseja se livrar
em morte. Obviamente, perder um Grilhão trás a aparição mais
próxima a extinção, então ela pode optar por não segura-lo ou
tentar resolvê-lo?
Voltando desde o conceito preliminar de seu persona-
gem até o Prelúdio para a construção de personagem é a melhor
maneira de se certificar de que todos os Grilhões e Paixões são
honestos. Obviamente, o conceito de personagem deve se mes-
clar com as Paixões e Grilhões que ela escolher. Uma figura olím-
pica como um skatista seria improvável de, por exemplo, ter um
cavalo como um Grilhão, ela apenas não teria tempo suficiente
para praticar cavalgada. Por outro lado, se um skatista saiu de
casa para tentar a medalha de ouro, mas terrivelmente perdeu seu
cavalo o qual ela cavalgou durante todos os dias enquanto mais
nova, o cavalo talvez se qualifique. Seu Narrador precisaria então
incorporar algo sobre as cavalgadas de seu personagem e como
isso a fez sentir no Prelúdio do personagem.
O Conceito de Morte
Da mesma forma, apesar de não ser um passo requeri-
do, você e seu Narrador devem determinar o conceito da morte
de seu personagem. Enquanto o conceito de vida pode ser “atriz”
ou “bombeiro”, o conceito de morte seria algo como “suicida ro-
mântico” ou “herói”. Cada um definiria a forma da qual o perso-
nagem morreu. Apesar de ser melhor que isso venha como um
resultado do Prelúdio, você talvez queira definir a forma de que
seu personagem morre, e então jogá-la. Naturalmente, Narra-
dores tem uma forma de desenvolver a trama que possa confli-
tar com o que o jogador planejou, significando que o “suicida
romântico” possa se tornar uma “vítima de assassinato”, e que o
bombeiro que gostaria de morrer heroicamente possa ser jogado
pra fora de seu caminhão e atropelado, se tornando o “acidente
de estrada”. Essas circunstâncias talvez venham até se tornar parte
da personalidade de seu personagem, um ressentimento de que
ela não teve como escolher sua morte ou o fato de que sua morte
pareceu sem sentido.
Despertar
Os primeiros momentos através da Mortalha são tam-
bém cruciais no que diz respeito a estabelecer quem é sua apari-
ção. A forma com que você foi ceifado terá uma grande impor-
tância sobre perspectiva sobre o Mundo Inferior. Uma aparição
que é escravizada e mal escapa das forjas é propensa a ter uma
percepção diferente sobre a Hierarquia do que alguém que mor-
reu e foi instantaneamente recrutado para a Legião. Essa parte do
Prelúdio também permite que você estabeleça os Antecedentes
do seu personagem de forma realística. Se o seu personagem tem
dois pontos em Mentor, é aqui onde o Mentor pode se apresentar
e oferecer uma razão em jogo para o personagem saber tudo o
que sabe sobre o Mundo Inferior. Ao mesmo tempo, isso previne
de que jogadores que sejam um pouco mais propensos a falas
como ‘’Eu morri e fui aprendiz de um Barqueiro por 30 anos,
então eu deveria saber onde a Máscara de Charon é”.
Nem todo personagem precisa estar entre os recém fa-
lecidos, mas mesmo que sua personagem tenha se tornado um
dos Inquietos em 1776, ainda é uma boa idéia executar um Pre-
lúdio. Afinal, não diz em lugar algum que o Prelúdio deve acon-
tecer diretamente na Crônica, você pode adiantar-retornar de
seu Prelúdio até o presente sem problema algum. Só certifique-se
que você não é tentado pela longa experiência de personagem
nas Terras das Sombras a ponto de trazer conhecimento que você
tem (e que o seu personagem não deve ter) para o jogo.
P&R
Em tempo, a Divindade percebeu que a morte era um
erro; um erro, nisso era insuficiente; insuficiente, pela razão de que
era um agente admirável ao infligir da miséria sobre o sobreviven-
te, permitia que o morto conseguisse escapar...
- Mark Twain, ‘’Cartas da Terra’’
Ainda há várias perguntas não respondidas sobre o seu
personagem nesse ponto, e você talvez queira usar o Prelúdio
como uma oportunidade para responder algumas ou todas elas.
Mesmo que você não passe por todas as perguntas listadas abai-
xo durante o Prelúdio, você deve ao menos estar pensando sobre
elas. Pelo bem do seu personagem, você deve tentar conhecer as
respostas para todas elas.
Quantos anos você tem e quando você morreu?
Você foi uma criança desprovida de uma vida inteira,
ou você foi surpreendido no seu apogeu? Talvez você estivesse no
início de sua idade adulta, ou tenha vivido sete décadas. Isso de-
termina a experiência que você acumulou nos seus dias de vida, e
também pode dizer muito sobre sua aparência.
Como eram sua família e amigos quando você era
vivo?
Você teve uma vida caseira feliz, ou fugiu de casa? Você
era um desses caras que precisavam sair mais era sociável? Como
seus amigos e família reagiram a sua morte?
Qual a coisa mais vergonhosa que você fez? E a me-
lhor?
Todos fizeram coisas das quais se arrependem, alguns
mais que outros. Percebendo o que lhe dói mais (assim como o
que mais te orgulha) vai por um longo caminho na definição do
seu personagem. Você traiu o seu amor ou roubou daqueles que
confiavam em você? Por outro lado, você terminou sua obra de
arte, ou você fez algum bem maior?
Quais lugares lhe importavam quando você era vivo?
Alguns desses lugares tornarão os seus Locais de As-
sombro ou até os seus Grilhões, mas mesmo aqueles que tem
menor importância devem ainda serem levados em conta. Se fo-
ram importantes para você, você retornará a eles e eles irão pro-
ver cenas para histórias depois.
Como você morreu?
Você já deve ter feito o seu conceito de morte, mas os
detalhes podem ser importantes. “Eu fui assaltado em um ponto
de armas enquanto tentava chegar ao meu carro, levei dois tiros,
e fui deixado para morrer no meio fio. Ninguém da vizinhança
sequer veio ver”, tem muito mais impacto do que “Ummm, eu
levei um tiro, eu acho”.
Quando você morreu?
Tanto o dia quanto a data são importantes aqui. Você
morreu no seu aniversário, ou em algum outro dia que era im-
portante para você (além do óbvio). Você morreu ontem ou a
cem anos atrás? Isso determina o quanto de experiência você tem
no Mundo Inferior, sem mencionar o tipo de atitudes que você
tende a tomar em coisas como política e igualdade dos sexos.
Também pode ter influência do quão confortável você é sobre
uma determinada tecnologia; bem pouco Napoleônicas apari-
ções são confortáveis em relação a computadores, por exemplo.
Como você conheceu o resto de seu Círculo?
Você estava apenas sentado pelo bar local quando en-
trou em uma conversa com as aparições próximas a você? Vocês
todos morreram juntos, ou você conheceu o resto do seu Círculo
enquanto eram vivos? Vocês estão numa mesma Legião, ou são
membros da mesma gangue Renegada? Como você e seus com-
panheiros de Círculo se conheceram ajuda a explicar o que lhes
mantém junto, e o que vocês podem esperar ou não fazer juntos.
Como você foi Ceifado?
Sua entrada para o Mundo Inferior pode colorir sua
percepção na existência dos Inquietos permanentemente. Sua
->ceifada foi gentil, acompanhada por um Mentor ou um ente
querido? Ou você foi pego como um Cativo e salvo no último mi-
nuto? talvez tenha sido um Barqueiro quem lhe Ceifou, e cobrará
a dívida no futuro. Sua afiliação (Hierarquia, Hereges, Renega-
dos) deve ser levada em conta aqui.
O que você faz para se divertir?
Conta uma piada antiga que as coisas são muito mor-
tas em sábados à noite nas Terras das Sombras. Aparições não
ficam sentadas meditando sobre sua existência decadente; elas
gostam de se divertir tanto quanto os vivos. Então, se você gosta
de ->adulterar os Breves, ou talvez você apenas senta em frente
a loja de eletrônicos e assiste TV. Talvez você tenha uma coleção
de relíquias (Existe um Renegado que tem uma coleção de pa-
res de meia legendário) que lhe atraem, ou talvez você prefere
mergulhar na Tempestade e caçar por Espectros. Aqui há uma
boa chance de tornar sua existência como uma aparição um tanto
quanto mais leve, tire vantagem disso.
Onde seu Círculo se encontra?
Locais Assombrados são lugares valiosos; você talvez
não queira ter o resto de seu Círculo invadindo o seu toda noite.
Então vocês podem ter um local de encontro em comum, um bar,
clube ou outro ponto social que ofereça Pathos, entretenimento,
ou os dois. Toda Necropoli tem lugares onde os mortos podem se
encontrar e desanuviar - como é o seu?
Do que você está atrás?
O que lhe deixa nervoso - ou absorto? Existem certas
coisas que lhe irritarão, ou você é o quão sereno uma aparição
pode conseguir ser? No que você acredita e o que você deseja
defender?
Quando você souber todas essas coisas, você conhecerá
seu personagem. Durante o processo de decidir as respostas para
estas perguntas, você dará vida (ou algo razoável e similar a isso)
a sua aparição, o que significa que você estará pronto para jogar
com ela apropriadamente.
Capítulo Quatro: Personagem 107

Grilhões
“Então está me dizendo
que estou preso aqui? Que isso é
o que significa estar morto?”
O tempo parece não fazer
mais sentido, então, não tenho
certeza de quanto se passou des-
de que comecei a andar pra lá e
pra cá nessa fábrica abandonada
onde o velho me trouxe. O apo-
sento no porão é enorme, úmido
e sombrio. Lá fora, poderosas ra-
jadas de vento balançam o prédio
como pesadas pancadas de mar-
telos. Onde quer que tenha uma
fenda ou buraco, o vento assobia
estridente. Poeira e pequenos
grãos de areia caem do teto sobre
nossas cabeças. O assoalho, pare-
des e teto estão repletos de uma
podridão negra cancerígena.
O tempo todo, mantenho
um olho no velho, que está sen-
tado de pernas cruzadas no meio
do aposento. Pelas janelas estrei-
tas e encardidas do térreo, posso
ver que o sol está brilhando, mas
minha visão do mundo lá fora
parece mais uma fotografia sépia
antiga.
Apesar de não ter ouvi-
do ou visto ninguém desde que
os barghests se foram, de vez em
quando eu notava uma vibração
de movimento no canto do olho.
Quando me virava pra olhar, no
entanto, não havia nada.
“Inferno, não!” o velho
dizia.
“Ninguém sabe bem o
108 Aparição: O Esquecimento
que é estar morto. Você é uma
aparição nas Terras das Sombras.
Pelo que sei, isso é só o começo.”
“Uma aparição?”
“Um fantasma. Uma as-
sombração. Lembra? Você mor-
reu.”
“Claro, claro, mas se eu
morri, o que é isso?” digo esten-
dendo a mão e balançando na
frente do rosto dele.
“Isso é o seu Corpus, es-
pertalhão. É diferente do seu cor-
po. É o que sobrou depois que a
parte física… se esfacelou.”
“Tudo bem.” disse sem
vontade enquanto uma onda de
tontura me acometeu. “O que
você pode me dizer sobre essas
Terras das Sombras? Porque eu
estou aqui? Com toda a certeza,
não é onde eu queria estar.”
“São os seus Grilhões. Há
algo te segurando aqui, alguma
coisa te impedindo de seguir em
frente.”
“Olha, que eu saiba, não
tem nada que me mantenha em
lugar nenhum.” Eu estremeço
enquanto fragmentos da minha
vida giram na minha memória.
“Nada desde que ela… depois da
morte da minha filha e depois o
divórcio…” comecei a dizer, mas
aí minha voz falhou, e fiquei em
silêncio.
O velho olhou para mim
curioso, silenciosamente me pe-
dindo para continuar.
“Eu… não tinha motivos
para continuar vivendo.” Sussur-
rei. “A morte da minha filha ar-
ruinou meu casamento, minha
carreira… tudo.”
“Então, havia uma fi-
lha?”
Os olhos do velho bri-
lhavam com um súbito inte-
resse ao dizer isso, esticando
a última palavra. Eu mal tive
forças pra balançar a cabeça
em afirmação.
“Então, ela deve estar
aqui, também.” ele diz. “Mas
claro que aposto minhas fichas
na sua esposa…”
“Ex-esposa.” eu inter-
rompo.
“Ex-esposa,” ele conti-
nua sem perder o ritmo. “que
pode ser seu maior Grilhão.
Divórcio recente, né?” ele con-
tinua sem olhar pra cima para
me ver concordando com a ca-
beça. “Hmmm. Ela deve servir
à sua filha, também, agora que
você chutou o balde. Vou te
dizer, não é legal quando um
Grilhão morre. Não é nem um
pouco legal.”
Uma faísca de esperan-
ça se acende no meu peito, mas
é tão pequena que rapidamen-
te se contorce e desaparece.
Karen está morta e en-
terrada, eu me digo, e é tudo
que preciso saber.
Mas então outra voz
suave dentro de mim sussur-
rou. Mas e se ela tiver gasto os
últimos cinco anos aqui, sozi-
nha nesse lugar perigoso? Espe-
rando pelo papai?
Tenho que fechar os
olhos com força para controlar a
tempestade de emoções que co-
meça a se formar no meu cora-
ção.
“Talvez você devesse ten-
tar encontrá-la.” o velho suge-
re tão suavemente que eu quase
confundo sua voz com meus pró-
prios pensamentos. Olho para
ele, querendo perguntar se ele faz
ideia de como posso encontrá-la,
mas subitamente eu sei.
Assim como, de alguma
forma, eu sabia como e porque
eu havia terminado no Escola
Primária de Pine Knoll, eu sabia
onde começar a procurar pela
minha filha morta, no Cemitério
de Riverside, onde ela estava en-
terrada.
“Eu… eu preciso ir lá
fora.” eu gaguejo, e sem esperar
para ver se o velho tem algo mais
a dizer, me viro e ando para as es-
cadas de concreto, de volta àque-
le mundo com aquela luz do sol
difusa e sombras estranhas.
“Você não pode ir lá
fora!” o velho grita, mancando
atrás de mim. “É muito perigo-
so!”
“Eu não pedi por isso,
ok?” digo, me virando pra ele. “E
com toda certeza não quero ficar
aqui!”
“Você não tem muita es-
colha sobre isso.” ele diz. “A não
ser que queira abraçar o Esqueci-
mento.”
Sem saber direito o que
ele dizia, balancei a cabeça. Não
gosto do som daquela palavra.
Meu primeiro pensamento foi
que Esquecimento soava como
morte para os mortos.
“Então, enquanto estiver
aqui,” o velho continua, “você
deve aproveitar o máximo. Pode
considerar se juntar a mim.”
Balancei a cabeça, con-
fuso. Estou com dificuldades de
processar o que aconteceu até
aqui, mas quem pode me culpar?
Como poderia aceitar o fato de
ter morrido?
“Porque eu me juntaria
a você?” pergunto depois de um
momento de silêncio quebrado
somente pelo assobio do vento
nas frestas.
O velho não respon-
de imediatamente. Olho-o nos
olhos perdidos como bolas de
petróleo indo de um lado para
outro, como se ele olhasse pra al-
guém que eu não vejo.
“Porque as Terras das
Sombras são muito perigosas.”
ele diz, afinal.
“Como podem ser peri-
gosas?” digo, enquanto uma cor-
rente de tensão cresce em mim.
“Já estamos mortos! O que pode-
ria nos ferir, agora?”
“Muita coisa, acredite em
mim.” o velho retruca. “Primeiro,
tem os escravistas. Se a Hierar-
quia não te pegar, os Renegados
pegam, assim que baixar a guar-
da. E tem as outras aparições
por aí que podem te acorrentar a
qualquer momento.”
Capítulo Quatro: Personagem 109
Inclinando-se para
frente, o velho lança outro
olhar cauteloso pra lá e pra cá
e diz baixinho, “E claro, tem
sempre os Espectros e aqueles
tipos religiosos Hereges e os…
Barqueiros.”
Ele sussurra essa últi-
ma palavra tão baixo que nem
tenho certeza se ouvi direito.
“Barqueiros?” repito,
me aproximando.
Como se ouvisse, o
vento lá fora assovia mais alto,
balançando as fundações e fa-
zendo com que algo caia no
piso superior com um estron-
do enorme.
O velho me recrimina
com um olhar feroz, e diz, “De
fato, eu soube que você foi vis-
to falando com um Barqueiro.”
“Isso não é possível.”
digo, balançando a cabeça em
negação. “Nunca vi um deles,
muito menos falei com um.”
“Bem.” o velho diz jun-
tando as mãos, “Talvez você
não admita, ou talvez não lem-
bre, mas definitivamente você
foi visto falando com um e isso
não é bom. Não mesmo.”
“E porque não?” eu
pergunto.
“Porque se esse Bar-
queiro te Ceifou, ele um dia
pode voltar atrás de você.”
110 Aparição: O Esquecimento
 Capítulo Cinco:
Características

Branco... serve como um início. Roupa branca pode ser alvejada.

A página branca pode ser sobreescrita...
- J.R.R. Tolkien, A Sociedade do Anel

aracterísticas são o meio com o qual
você detalha as capacidades, as van-
tagens e as fraquezas de um persona-
gem de Aparição. Elas permitem que
você traduza um personagem para
dentro do jogo através de paradas de
dados, a medida que ajuda você a en-
tender e desenvolver seu personagem.
Características são somente o sistema no qual um
personagem é construído, mas tais estruturas são impor-
tantes. As Características de seu personagem delineiam os
parâmetros gerais do que ele pode fazer, mas o que ele real-
mente faz, vem através da sua interpretação e imaginação.
As Características de Aparição são intencionalmente aber-
tas e amplas para interpretação. Assim, mais tempo é gasto
no personagem do que na planilha de personagem. A idéia é
pegar as Características que você selecionou e usá-las como
base para delinear como seu personagem age, no lugar de
preencher um dado número de pontos e dados em situações
pré-fabricadas.
Nesse capítulo está a descrição de todas as Caracte-
rísticas básicas que você precisará considerar na criação de
um personagem de Aparição. Seu personagem não precisa
possuir todas elas, mas as descrições que são fornecidas per-
mitem que você julgue quais são apropriadas para o perso-
nagem em particular que você tenha em mente.

Capítulo 5: Características 11

Especializações
Certos tipos de Características (Atributos e Habi-
lidades) podem ter especializações. Se uma aparição tem 4
pontos ou mais numa Característica, ela pode escolher uma
especialização - um aspecto daquela Característica no qual
ele tenha uma aptidão em particular. Uma especialização de
Destreza poderia ser descrita como Velocidade; uma espe-
cialização em Condução poderia ser Hora do Rush ou Alta
Velocidade. Uma aparição com a especialização Hora do
Rush seria um bom motorista normalmente, mas especial-
mente hábil durante as estressantes horas do trânsito das 5
da tarde.
Sempre que uma aparição usa sua especialização,
ela tem a oportunidade de jogar novamente todos os 10 ob-
tidos no teste inicial numa tentativa de ganhar sucessos adi-
cionais.
Arquétipos
Você gostaria da minha Máscara?
Você gostaria do meu espelho?
Chora o homem num canto sombrio
Você pode se olhar,
Pode olhar para os outros
Ou olhar para o rosto do seu deus.
-Lorena McKennitt, “Marrakesh Night Market”
rquétipos são tipos esboçados de
personalidade nos quais as aparições
podem se enquadrar. Elas são descri-
ções básicas para a personalidade da
aparição, tanto para seu verdadeiro
eu como para o eu que o mundo en-
xerga. Nenhuma aparição preenche
exatamente Arquétipo algum, mas
normalmente existe um que descreve melhor o conceito do
seu personagem. Esse Arquétipo poderia ser escolhido como
a Natureza do personagem, enquanto um outro melhor se
aplica em descrever como ele encara o mundo deve ser mar-
cado como seu Comportamento. O conflito entre esses dois
Arquétipos ajuda a definir o personagem, assim como as
ações que o jogador deve tomar para permanecer “dentro”
do personagem tanto em Natureza como em Comportamen-
to.
Em termos de jogo, os Arquétipos são importantes
já que, ao agir de acordo com sua Natureza, são um meio
de uma aparição recuperar preciosos pontos de Força de
Vontade. Se o personagem executar uma ação que o jogador
considere ser merecedora de um ponto de Força de Vontade,
baseado em sua Natureza, ele deve informar ao seu Narra-
dor. Se o Narrador achar que a justificativa para o pedido é
válida, pode permitir que o personagem recupere de um a
três pontos de Força de Vontade. No entanto, Narradores são
livres para discordar dos pedidos dos jogadores por Força de
Vontade se eles sentirem que a lógica por trás do pedido seja
fútil ou se parecer que o personagem está executando certas
ações apenas para recuperar Força de Vontade. Arquétipos
112 Aparição: O Esquecimento
devem encorajar a interpretação, com o ganho de Força de
Vontade servindo como uma recompensa por expressar bem
o conceito do personagem dentro da estrutura da história.
Se os jogadores quiserem, eles podem se sentir
livres para criarem seus próprios Arquétipos, visto que os
listados aqui são um pequeno exemplo das muitas faces da
humanidade. Além disso, Arquétipos para a Sombra podem
ser encontrados no Capítulo Seis.
Arquiteto
A criação é o foco do Arquiteto, o processo de criar
alguma coisa do nada. Ele nega o Esquecimento continua-
mente ao criar coisas novas, quer sejam estruturas sociais,
objetos ou somente planos para o futuro. O objetivo con-
dutor de um Arquiteto é criar ou ordenar elementos desor-
denados ao seu redor. O caos o conduz a distração, assim
como a noção de que todas as suas criações cuidadosamente
planejadas algum dia irão ruir. Entretanto, “algum dia” não
significa hoje e nesse meio tempo há muito no que sua mão
pode ser necessária.
- Recupere Força de Vontade sempre que um plano
seu render frutos.
Avant-Garde
O Avant-Garde tem interesse apenas no novo. Se já
passou, não tem interesse para ele. Regras só importam para
ele quando está descobrindo ou criando algo novo ou ao me-
nos quando ele acredite ser o primeiro a descobrir alguma
coisa. A sensação da experimentação é a maior sedução para
o Avant-Garde e ele não teme assumir riscos para alcançar
um novo efeito. Cada Avant-Garde evita o dia em que atin-
girá seu limite, mas cada um também sempre trabalha como
um louco para fazer com que isso nunca aconteça.
- Recupere Força de vontade sempre que você en-
contrar uma nova solução para alguma coisa antiga.
Bon
Vivant
O Bon Vivant olha para o Esquecimento e enxerga
a negação de todas as coisas. Para evitar confrontar-se com
esse horror, ele escapa do único modo que pode: através
da negação dessas sensações de prazer. Não há nada imo-
ral sobre o hedonismo do Bon Vivant, visto que ele serve
para reafirmar o poder da existência frente ao Esquecimento.
Embora o Bon Vivant se preocupe esporadicamente quando
busca por novos prazeres e está livre do tédio, ele faz as coi-
sas no seu melhor interesse nesse meio tempo. Bon Vivants
são normalmente imediatistas, concentrados em nada mais
que sua próxima sensação.
- Recupere Força de Vontade sempre que você não
desperdiçar um bom momento.
Valentão
O Valentão reforça sua auto-estima se vangloriando
e denegrindo os outros. O medo é para ser enfrentado e a
incerteza jamais deve ser demonstrada frente ao inimigo. A
falha não é uma opção para o Valentão; mas, infelizmente, o
compromisso e a estratégia também não. O Valentão sempre
tenta dominar qualquer situação que ele encontra e sempre
se manterá alerta para tal até que ele tenha êxito ou esteja
completamente derrotado.
- Recupere Força de Vontade sempre que você fizer
alguém recuar.
Burocrata
O Burocrata se encaixa perfeitamente no sistema.
Ele o alimenta e o protege, até mesmo mantendo-o e ser-
vindo-o. Burocratas são mais frequentemente encontrados
dentro das fileiras da Hierarquia, o que não é surpresa, e sub-
verterão todas as outras considerações para continuar. Não
importa se uma dúzia de Espectros estão acampados na por-
ta, os Legionários precisam ser requisitados adequadamente
para lutar. Embora isso possa parecer ineficiente, o Burocra-
ta sabe que a ordem é a chave para resistir ao Esquecimento
e ele irá agarrá-la não importando como.
- Recupere Força de Vontade sempre que um desas-
tre é evitado (ou uma crise contornada) por seguir os proce-
dimentos corretos.
Samaritano
O Samaritano é bem visto no Mundo Inferior, já
que ele protege muitas aparições contra a atração do Esque-
cimento. Ele fará sacrifícios, mas sempre com o propósito e
um objetivo claro em mente de aliviar o sofrimento dos ou-
tros. Isso não significa que o Samaritano seja ilimitadamen-
te generoso, ingênuo e razoável; muitos possuem um senso
perspicaz de quem vale o esforço. Não é porque o Samarita-
no se preocupa com os outros que ele vai ficar cego aos seus
defeitos.
- Recupere Força de Vontade sempre que tiver pro-
vas tangíveis de que ajudou alguém.
Criança
Uma combinação de ingenuidade e egocentrismo,
o Criança é muito ingênuo sobre a existência no Mundo In-
ferior. Ele também possui uma determinação ferrenha para
ter as coisas do seu modo, não importando como e sempre
responderá refreando o mais lógico argumento com um
“Mas eu quero!”. Aparições com o Arquétipo Criança não
são necessariamente crianças: muitos adultos que chegam às
Terras das Sombras nunca atingiram a maturidade emocio-
nal quando estavam vivos. Embora a fé inocente da Criança
possa ser inspiradora para outras aparições, sua visão limita-
da e teimosia podem ser exasperadoras e até mesmo perigo-
sas.
- Recupere Força de Vontade sempre que você con-
seguir seu objetivo através de sua teimosia.
Esperto
O Esperto busca seguir em frente através da cri-
teriosa subversão do Sistema. Ele pode precisar do Sistema
para seguir em frente e conseguir status, mas ao seu modo de
pensar, o Sistema está lá para seu benefício e não para outra
coisa. Enquanto o Sistema puder ajudá-lo, ele fará seu jogo
alegremente; quando o impedir de fazer o que quer, ele de-
liberadamente o ignorará. O Esperto é exímio em conseguir
que os outros façam o que ele quer, teme o dia que ninguém
lhe dará ouvidos e ele precisará agir, sem experiência ou
proteção, por si próprio. Pior, muitos Espertos se conhecem
Capítulo 5: Características 113
bem o suficiente para desconfiar de todas as aparições que
se comportam do mesmo modo que ele e assim tem uma
grande dificuldade em confiar.
- Recupere Força de Vontade sempre que você con-
vencer outra aparição a assumir uma dura e perigosa situa-
ção por você.
Crítico
O Crítico encontra propósito na morte através das
revelações das fraquezas e defeitos dos outros, quer seja
numa obra de arte, numa organização ou nos hábitos de
uma pessoa. Ele se esforça para melhorar os outros apontan-
do suas falhas para que possam ser corrigidas. É claro que
algumas aparições o vêem meramente como um arrogante,
mas o que ele faz ele faz para seu bem e as consequências
pessoais que se danem. Ocasionalmente, o Crítico fará seu
trabalho tão bem que convencerá os outros de que eles não
apenas são falhos, mas imprestáveis; a enchente de autorre-
pugnância que pode ser gerada no Crítico pode ter repercus-
sões desagradáveis.
- Recupere Força de Vontade sempre que você
apontar um defeito em alguém ou alguma coisa que seja per-
niciosa e não tenha sido detectada.
Explorador
O Explorador encontra propósito no caminho da
descoberta. O prospecto de encontrar novos lugares, pessoas
e coisas incendeia sua existência cinzenta com excitação e ele
114 Aparição: O Esquecimento
irá vagar pelas mais sombrias florestas das Terras Esfoladas
até o coração do Labirinto em suas buscas. Ele teme o dia em
que tudo estiver descoberto, mas faz a sua parte para que isso
aconteça pesquisando o novo e o excitante sempre que que
pode. Isso algumas vezes leva seus companheiros ao encon-
tro de problemas quando se deixam levar, vacilantes, numa
jornada pelos Tesouros Perdidos de Gorool ou algo assim;
mas, aos olhos do Explorador, isso é mais que merecedor.
- Recupere Força de Vontade sempre que você che-
gar onde ninguém nunca chegou antes.
Seguidor
O Seguidor é um Arquétipo curioso e muito co-
mum nas Terras das Sombras. O Seguidor padrão não é
necessariamente um cidadão da Hierarquia, pois Hereges
carismáticos e Renegados demagogos necessitam de Segui-
dores também. O Seguidor se identifica, apesar de não im-
portando quem ele siga, seu líder sabe mais do que ele. Sua
melhor aposta para sobreviver é obedecer ordens; demons-
trar iniciativa é pisar fora da faixa. Isso algumas vezes leva
ao desastre, visto que o Seguidor permanecerá em silêncio
mesmo que seu líder esteja em um grande problema. Por ou-
tro lado, no turbulento Mundo Inferior existe muito mais a
ser dito sobre lealdade e obediência por alguém além de um
barghest.
- Recupere Força de Vontade se você sobreviver a
uma situação perigosa por seguir ordens a risca.
Caçador
de Emoções Juiz
O Jogador faz as coisas, não pelos seus fins, mas O Juiz se concentra na solução dos problemas
pela emoção que os meios fornecem. Arriscando a si mesmo
vez após vez, ele se energiza e reafirma sua não existência. O
aborrecimento é o Esquecimento e dificuldades nunca são
tão altas que elas não possam ficar maiores. Um Caçador de
Emoções tende a possuir uma Sombra muito ativa, mesmo
que algumas vezes estranhamente simpática, visto que mes-
mo seu lado sombrio precisa de uma carga de adrenalina
agora e depois. Claro, assumir muitos riscos tem seu preço
inevitável, mas para o Caçador de Emoções, é mais que um
mérito, é emoção.
- Recupere Força de Vontade sempre que você se
colocar numa situação de risco e cavar sua própria saída.
Comediante
Para o Comediante, tudo é uma piada. E bem que Rebelde
poderia ser, pois ele está morto, assim como todos estão, O Rebelde acredita que o sistema atual precisa ser
então a única reação sensata para isso é o humor. Embora
o Comediante possa não saber quando parar, continuando
a fazer piadas em todos os (e especialmente os impróprios)
momentos, sua presença e humor servem para iluminar a
tristeza que pode facilmente tomar conta daqueles que va-
gam pelo Mundo Inferior.
- Recupere Força de Vontade sempre que você que-
brar o gelo e melhorar uma situação tensa.
Líder
O Líder é aquele que assume a causa e convence
outros a seguí-lo. Não importa se a causa seja originalmente
sua ou não; o que importa é que é dele agora. Reunir outros
para segui-lo não é questão de se, mas de quando. Embora
sempre haja a possibilidade de conduzir outros para seu pro-
pósito, um Líder sempre está convencido de que sabe o me-
lhor caminho a seguir dentro - e fora - de qualquer situação.
- Recupere Força de Vontade quando outros segui-
rem você sem questionarem suas ordens e decisões.
Mártir
O Mártir está sempre procurando lançar-se no
abismo a fim de resolver o problema. Ele está sempre pre-
parado para colocar a si mesmo em risco para que outros
sobrevivam ou uma causa seja bem sucedida, mesmo quan-
do um sacrifício não seja necessário. Viciados em trabalho e
perfeccionistas, Mártires não buscam recompensas, apenas
reconhecimento pelos seus sacrifícios. Outras aparições nor-
malmente ridicularizam o Mártir como um suicida, mas no
seu íntimo a única coisa que o chateia é a idéia de se sacrifi-
car em vão. Infelizmente, muitos o fazem.
- Recupere Força de Vontade sempre que sacrificar
a si mesmo ou alguma coisa sua por um objetivo maior.
alheios. Ele é mediador de disputas, agindo como um ami-
go para ajudar alguém em dificuldade ou mesmo servindo
como um árbitro ou juiz. Compromisso e unidade são vitais
para um Juiz e ele normalmente rivaliza com o Mártir em
autossacrifício para encorajar os outros para alcançar um
acordo. O conflito é repugnante para um Juiz, especialmente
o combate, e ele tentará todas as opções disponíveis antes de
recorrer à força. O maior medo de um Juiz é que suas falhas
amaldiçoem e levem consigo centenas ou milhares de apa-
rições. Este ultrassenso de responsabilidade coloca muitos
Juízes em apuros.
- Recupere Força de vontade sempre que convencer
outros a um compromisso.
mudado, mesmo que ele não saiba o que colocar em seu
lugar. Uma força por mudança e ativismo, ele trabalha in-
cessantemente para subverter a autoridade. O mundo é em
preto e branco para o Rebelde; o inimigo não tem lado bom
e precisa ser destruído, visto que sua própria causa é pura e
imaculada. Muitos Rebeldes se pegam em dúvidas capciosas
se eles estão ou não fazendo a coisa certa, temendo a reve-
lação de que eles podem estar trabalhando para o Esqueci-
mento. Ainda sim, tais temores são raramente vistos e no
resto do tempo muitos Rebeldes podem beirar o fanatismo.
- Recupere Força de Vontade sempre que você agir
para subverter uma autoridade estável.
Cientista
O Cientista encara o mundo como uma charada a
ser resolvida. Ele toma o mundo e seus problemas, divide
em diretivas e variáveis e os resolve de uma maneira racional
usando a lógica e a dedução. Seu objetivo final é entender
cada detalhe e mecanismo. O processo pode levar algum
tempo, entretanto, pois ele pode ser distraído por uma saída
interessante tanto quanto pela pergunta original. Arquéti-
pos Cientistas nem sempre são cientistas; o nome se refere
a abordagem analítica em que o Arquétipo conduz sua per-
cepção do mundo. É claro, todos os Cientistas sabem que a
entropia sempre aumenta, mas não param de lutar contra o
Esquecimento de modo algum. A menos que é claro, que eles
estejam distraídos...
- Recupere Força de Vontade sempre que uma abor-
dagem racional e científica ajude a resolver uma situação.
Sobrevivente
O Sobrevivente tem dedicado sua vida após a morte
a salvar seu próprio Corpus, minimizando sua preocupação
com os outros em favor de proteger a si mesmo. Existência,
a qualquer custo, é o que o Sobrevivente valoriza e ele irá se
agarrar a isso com uma tenacidade assustadora. Por um lado
Capítulo 5: Características 115
isso o torna disposto a lançar seus companheiros aos lobos
para salvar sua própria pele, mas por outro, nunca permite à
aparição se render, não importa o que aconteça. Muitos So-
breviventes são egocêntricos e não gostam de assumir riscos,
mas alguns podem ser temerários.
- Recupere Força de Vontade sempre que você esca-
par de uma situação que ameaça a sua existência.
Tradicionalista
O Tradicionalista acredita que as soluções para
os problemas de hoje podem ser achadas na aplicação dos
métodos do passado. Ele resiste ao Esquecimento através da
preservação das antigas instituições, se ancorando contra a
corrente da entropia e unindo-se às estruturas existentes.
Rejeitando o novo e a inovação, o Tradicionalista vive ater-
rorizado, pelo abandono da tradição, seus companheiros es-
tão se rendendo por vontade própria a uma poderosa defesa
contra o Esquecimento.
- Recupere Força de Vontade sempre que um mé-
todo “batido” se provar eficiente, especialmente em oposição
ao Esquecimento.
Visionário
O Visionário tem como objetivo algo que apenas
ele pode ver, algo ao qual ele dedicou sua existência. Os de-
talhes exatos dessas visões não são importantes: é suficiente
que nunca tenha sido feito antes. É através dos esforços do
Visionário que o Esquecimento pode ser combatido, pois,
dessa dedicação à criação, ele nega a destruição que o Es-
quecimento representa. É claro, muitos Visionários secreta-
mente nutrem o medo de que seus objetivos possam servir
ao Esquecimento, mas eles negarão isso até mesmo aos seus
Conciliadores.
- Recupere Força de Vontade sempre que você der
um passo concreto para alcançar seu objetivo final.
Atributos tributos são descritores básicos de
uma aparição e afetam todas as suas
interações com os outros e com as
Terras das Sombras. Parcialmente
baseados na autopercepção de uma
aparição, os Atributos ainda me-
dem como o Corpus da aparição fi-
sicamente se compara (e como sua
Psique compara socialmente e men-
talmente) com seus iguais no Mundo Inferior. O Corpus e
as capacidades de uma aparição são baseadas nesse sólido
conhecimento do que ele é capaz, e não são mais suscetíveis
a mudanças do que qualquer Atributo dos vivos.
Atributos
Físicos
O motivo pelo qual uma aparição pode ser mais
forte, mais fraca ou mais ágil que outra é desconhecido, mas
o Corpus de uma aparição corresponde a sua pré-concep-
ção, que o molda e o capacita para se equiparar ao seu corpo
116 Aparição: O Esquecimento
mortal antes mesmo da Coifa ser removida. Atributos Fí-
sicos são as mais fáceis das Características de aparição de
serem definidos e compreendidas, sendo as mais frequente-
mente usadas em termos de mecânica de jogo.
Força
Força é a medida da habilidade física de uma apa-
rição para mudar o mundo ao seu redor, seja infligindo da-
nos em outra aparição, levantando peso ou tentando deslo-
car um objeto em repouso. A quantidade de dano físico que
uma aparição pode causar é baseada em seu nível de Força
e esse Atributo também é usado para saltos, pulos e outras
atividades que se valem de força física bruta. Força é usada
para determinar o número base de dados usados em ataques
físicos.
Especializações: Reserva de Força, Rasgar, Podero-
so, Pujante, Rijo, Grande, Musculoso, Saudável.
• Fraco: Sem comentários.
• • Médio: Você pode suportar seu próprio peso.
• • • Bom: Você foi excepcionalmente forte.
• • • • Excepcional: Boxeadores invejavam a força de seu
gancho.
• • • • • Extraordinário: Levantador de pesos de calibre
olímpico.
Destreza
Destreza tanto significa fineza como coordenação
motora. Ela mede o quão rápido você corre, quão bem você
manuseia uma agulha e costura, além de qualquer coisa re-
lativa entre velocidade, graça e controle. Destreza também é
usada para calcular o número de dados para determinar se
você acerta ou não um alvo em combate.
Especializações: Rápido, Veloz, Delicado, Firme,
Hábil, Reflexos Felinos, Leve, Flexível, Passo Firme.
• Fraco: Você normalmente cortava a si mesmo
quando fatiava e fazia saladas.
• •
machucar.
Médio: Você pode segurar objetos cortantes sem se
• • • Bom: Você poderia fazer malabarismos facilmente.
• • • • Excepcional: Você poderia fazer truques com facas
facilmente.
• • • • • Extraordinário: Você tem a graça e leveza de um
felino selvagem.
Vigor
Vigor é o Atributo que determina a coerência de
seu Corpus, basicamente o quão bem seu corpo se mantém
inteiro quando forças externas estão tentando rasgá-lo. Ele
também determina quão bem seu corpo resistia ao esforço
físico e doenças, tortura e dor quando você era vivo. Em ter-
mos de jogo, Vigor é usado para determinar o número de
dados usados para absorver dano.
Especializações: Resistente, Incansável, Duro, De-
terminado, Tenaz, Implacável, Resistente.
• Fraco: Resfriados geralmente afastavam você do
trabalho.
• • Médio: Companhias de seguro achavam você um
“risco aceitável”.
• • • Bom: Ossos quebrados raramente paravam você.
• • • • Excepcional: Maratonas eram passatempos;
Triatlons, uma carreira.
• • • • • Extraordinário: Você sobreviveu a venenos até
mesmo a capazes de matar elefantes, sendo alvejado três ve-
zes, esfaqueado outras dez, espancado por no mínimo cinco
pessoas, amarrado, colocado dentro de um saco e lançado
dentro de um rio congelado.

Atributos Sociais
Atributos Sociais determinam o quanto uma apari-
ção está apta a lidar com outras. Eles ajudam a definir como
a aparição se coloca dentro da sociedade e como se relaciona
com outras aparições, independente da afiliação política ou
do padrão social.

Carisma
Carisma define a força de presença da aparição com
outras aparições. Carisma determina o quão bem a aparição
atrai os outros, os persuade ou os conduz quando dispostos.
Diferente de Manipulação, aparições que são afetadas por
Carisma acreditam estarem agindo por vontade própria; Ca-
risma trabalha através de simpatia, não através de truques.
Especializações: Agradável, Eloquente, Elegante,
Bem Apessoado, Genial, Educado, Urbano, Sofisticado, So-
ciável, Cativante.
• Fraco: Mesmo no parquinho você foi rejeitado.
• • Médio: As pessoas quase sempre gostam de estar
perto de você.
• • • Bom: Você marca encontros rápido e facilmente.
• • • • Excepcional: As pessoas se sentem culpadas por
discordar de você, mesmo que levemente.
• • • • • Extraordinário: Você poderia ter liderado uma na-
ção - ou uma religião.

Manipulação
Manipulação é o outro lado da moeda de Carisma,
por ser a habilidade de trazer aparições para seu lado sem
que elas percebam, pelo convencimento através da força de
sua personalidade. Ela é a habilidade de fazer com que ou-
tros executem ações sem consentimento inicial e aceitar seus
riscos. As pessoas não gostam de saber que eles foram en-
ganadas, por isso uma falha num teste de Manipulação traz
suas consequências.
Especializações: Lisonja, Persuasivo, Astúcia, Lógi-
co, Desumano, Bravata, Língua Ferina, Engenhoso, Legal.
• Fraco: Você não conseguia fazer com que sua Mãe
deixasse você dormir mais tarde.
• • Médio: Vez por outra você conseguia o que queria.
• • • Bom: Você sempre conseguia o que queria.
• • • • Excepcional: Você poderia ser um político.
• • • • • Extraordinário: Advogados tomam nota quando
falam com você.

Capítulo 5: Características 117

 Aparência
O Atributo Aparência não é meramente seu visual,
mas também a habilidade de criar uma impressão definiti-
va. Embora os outros dois Atributos Sociais exijam tempo e
conversação para funcionarem, Aparência permite que con-
ceitos básicos sejam transmitidos instantânea e silenciosa-
mente através dos nuances da linguagem corporal, expressão
facial e outras sugestões subconscientes. Apesar do grande
uso de máscaras nas Terras das Sombras, sua habilidade de
dar e receber impressões está livre de obstáculos, visto que
não apenas o rosto trava comunicação.
Especializações: Impressionante, Deslumbrante,
Sensual, Aparência Honesta, Nobre, Digno, Agradável, Vis-
toso, Brilhante.
• Fraco: Normalmente as pessoas não gritam quando
vêem você.
• • Médio: Um rosto na multidão.
• • • Bom: Razoavelmente atraente.
• • • • Excepcional: Uma das “25 Aparições Mais Belas do
Ano”.
• • • • • Extraordinário: Rosto e porte através das eras.

Atributos Mentais
Atributos Mentais se referem a capacidade mental
da aparição: memória, percepção, pensamentos e conheci-
mento básico. Eles medem a atual consciência de uma apa-
rição e detalham o quão rápido ela pode pensar, o quão bem
ela pensa e se ela sabe sobre o que está pensando.

Percepção
Percepção determina o quanto você percebe o mun-
do (ou Mundo Inferior) ao seu redor. Seu nível de Percepção
descreve o quão bem você capta detalhes, o quão bem você
capta das conversações e quanto além do que é óbvio você
normalmente está ciente.
Especializações: Criterioso, Atencioso, Sondagem,
Paciente, Detalhista, Astuto, Observador, Bom de Pistas.
• Fraco: Você geralmente não esbarra em árvores.
• • Médio: Você está ciente sobre o básico que está ao
seu redor.
• • • Bom: Você nota as entrelinhas em anúncios e ro-
mances.
• • • • Excepcional: Os menores detalhes são captados por
seus olhos.
• • • • • Extraordinário: Agulhas? Palheiro? Brincadeira de
criança.

Inteligência
Inteligência é a soma de seu conhecimento e sua ha-
bilidade de encontrar novas conclusões. Ela é sua habilidade
para pegar peças soltas de informação e uní-las num todo
coeso, bem como a medida de quão complexas são as idéias
que você pode compreender. Inteligência não é a medida de
o quão rápido você pensa, mas sim a medida de o quão bem

118 Aparição: O Esquecimento

você pensa e, num menor grau, do que você realmente sabe.
Especializações: Versátil, Esperto, Traça de Biblio-
teca, Pesquisador, Pensamento Claro, Astuto, Pragmático.
• Fraco: Soma de números maiores que 10 eram uma
dificuldade.
• • Médio: Você poderia contar seu troco e saber se foi
enganado.
••• Bom: Você calcula gorjetas de cabeça.
• • • • Excepcional: Física Quântica e teoria micro-econô-
mica fazem sentido para você.
• • • • • Extraordinário: Um QI de 200 - ou mais.
Raciocínio
Raciocínio é sua habilidade para reagir à informa-
ção quando ela se apresenta. Essencialmente, seu nível de
Raciocínio determina o quão bem você pensa em ação, o
quão rápido você pode usar a informação que você processa
e o quão eficiente você trabalha sob estresse. Isso também in-
clui, num certo nível, humor, e pode muito bem ser descrito
como a “velocidade do cérebro”.
Especializações: Talentoso, Perspicaz, Direto, Pen-
samento Rápido, Equilibrado, Criativo, Associação Livre.
• Fraco: O que é esse som de “tick - tick - tick”?
• • Médio: Você sabia quando passar e jogar no pocker.
• • • Bom: Você capta as sutilezas das piadas logo na pri-
meira vez que as ouve.
• • • • Excepcional: Você poderia seguir um diálogo
Shakespeariano sem perder o ritmo.
• • • • • Extraordinário: Seu pensamento é tão rápido quan-
to um supercomputador.
Habilidades
...para fazer aquele vodu que fizeste tão bem...
Cole Porter, “You Do Something to Me”
Talentos stritamente intuitivos e sem necessi-
dade de treinamento, Talentos são as
coisas que você tem habilidade desde
o dia que nasceu. Muitos Talentos
nem podem ser adquiridos através
de treinamento (Briga e algumas ou-
tras são exceções), apenas através da
experiência direta e da habilidade
natural. Não há penalidades para fa-
zer um teste com um Talento que você não possua, visto que
se trata de Habilidades tão naturais que qualquer um tem ao
menos uma idéia básica de como executá-las.
Prontidão
Essa Habilidade mostra o quão ciente você está dos
seus arredores físicos. Ela não tem nada a ver com sentidos
misteriosos e sobrenaturais; ela é apenas a medida de sua
consciência do que fisicamente está ao seu redor. Prontidão
abrange sons, cheiros e tatos tanto quanto visões.
Uma aparição tem a opção de aguçar seus sentidos
(veja “Sentidos Aguçados”, página 23) à vontade e algumas
vezes isso exige um teste de Percepção + Prontidão para ver
coisas nas Terras da Carne.
• Fraco: Você sabe para que lado olhar quando al-
guém cutuca seu ombro.
• • Médio: Você poderia ver como um mágico encena
seus truques.
• • • Bom: Batedores de carteira sabem que devem evitar
você.
• • • • Excepcional: Ninguém te pega de surpresa há déca-
das.
• • • • • Extraordinário: Você pode ouvir o som de um pino
caindo e saber que tipo de granada vem por aí.
Possuído por: Vigilantes Noturnos, Guardas, Para-
nóicos, Caçadores, Agentes de Serviço Secreto.
Especializações: Vigilância, Armadilhas, Guarda-
Costas, Emboscadas, Multidões, Espectros.
Esportes
Esportes é uma medida geral de técnica e aptidão
física no uso do corpo para outros fins além de combate.
Essa Habilidade mede o quão bem você escala árvores, salta
fendas, caminha em cordas-bamba e arremessa bolas rápi-
das.
Esportes é um Talento complexo, exigindo uma
combinação de Atributos Físicos e perícias motoras. Qual-
quer teste que exija apenas um Atributo, como levantamento
de peso, não envolve Esportes.
• Fraco: Você não era o último garoto a ser escolhido
no parquinho.
• •
tball.
• • •
Médio: Você era o terror do campeonato de sof-
Bom: Você sempre fazia grandes campeonatos.
• • • • Excepcional: Você poderia ter feito parte de um
time olímpico.
• • • • • Extraordinário: Você assinaria um contrato de 15
milhões e os fãs ainda achariam que você vale mais.
Possuído por: Atletas Profissionais, Marombados,
Instrutores de Aeróbica, Dançarinos.
Especializações: Acrobacia, Ginástica, Esportes Es-
pecíficos, Aptidão Geral, Natação.
Consciência
Consciência é o equivalente psíquico de Prontidão.
Com Consciência, você instantaneamente percebe quando
as coisas não são como elas deveriam ser. Isso é útil para
detectar a evidência de Arcanoi ou Espectros, ver se outros
seres sobrenaturais estão próximos e sentir quando alguma
coisa contrária às leis da natureza está perto de ocorrer.
• Fraco: Você pode dizer se uma foto do Pé Grande é
autêntica.
• • Médio: Alguns dizem que você possui uma segun-
da visão.
• • • Bom: Você ganha dinheiro fazendo cânticos na rua.
Capítulo 5: Características 119
• • • • Excepcional: Pouco do que é estranho escapa ao
seu olhar.
• • • • • Extraordinário: Você pode aspirar a brisa e saber
quando o próximo Maelstrom está por vir.
Possuído por: Leitores de Tarô, Investigadores do
Oculto, Parapsicólogos, Psíquicos.
Especializações: Animais, Magia, Criaturas Sobre-
naturais, Casas Assombradas.
Briga
Briga é a gentil arte de acertar alguma coisa e vê-la
cair. Ela serve como um termo geral para qualquer forma
de combate desarmado, de artes marciais a dois bêbados ce-
gos se engalfinhando num mesa de sinuca. Essa Habilidade
abrange tudo desde ganchos a golpes de vista e chutes rodo-
piantes, consideravelmente qualquer manobra de combate
que não exija uma arma. Briga é geralmente menos letal que
combate armado, mas esse Talento pode ser perfeitamente
mortal.
• Fraco: Os garotinhos no parquinho temiam você.
• •
notar.
Médio: Você poderia acertar alguém e essa pessoa
• • • Bom: Quebradores de pernas profissionais deixam
o serviço com você.
• • • • Excepcional: Todos os assaltantes deixam o vagão
do metrô quando você entra nele.
• • • • • Extraordinário: Dois sons - você batendo, eles cain-
do no chão.
Possuído por: Grandalhões que pilotam Harleys,
Soldados, Policiais, Artistas Marciais, Assassinos.
Especializações: Artes Marciais, Boxe, Violência
Gratuita, Luta Livre, Apresamento. • • • • Excepcional: Você atingiu a lista dos mais vendidos.
Esquiva
Esquiva é o Talento que alguns possuem para sair
do caminho. Alguém pode se esquivar de tráfego, balas, so-
cos voadores ou qualquer coisa que se aproxime, mas o prin-
cípio permanece o mesmo. Essa Habilidade cobre a esquiva
de projéteis, armas brancas ou ataques corpo-a-corpo.
• Fraco: Você poderia atravessar a rua sem se tornar
uma vítima de atropelamento.
• • Médio: Quando as balas voam, você sabe onde se
esconder.
• • • Bom: O parquinho do colégio já era sua área de
treinamento.
• • • • Excepcional: Porque comprar um ventilador quan-
do você pode se refrescar com as pessoas se desviando de
você?
• • • • • Extraordinário: Jackie Chan
Possuído por: Covardes, Artistas Marciais, Sobrevi-
ventes, Gatunos, Militares.
Especializações: Feitos Acrobáticos, Mergulho para
Cobertura, Mergulho, Acompanhantes.
Empatia
Esse Talento é relativo a sensação e compreensão do
120 Aparição: O Esquecimento
que os outros estão sentindo. Isso não é o mesmo que dizer
que o uso de Empatia faz você automaticamente simpático
em lidar com os outros, mas você pode conseguir leituras
precisas do que eles estão realmente sentindo. Empatia tam-
bém é útil em conseguir um sentido geral para suas redonde-
zas e seja para as vibrações numa área, sejam elas boas, ruins
ou indiferentes.
• Fraco: Você pode evitar discussões desnecessárias.
• • Médio: Todos choram em seu ombro.
• • •
zem.
Bom: Você sabe porque os outros fazem o que fa-
• • • • Excepcional: É quase impossível uma mentira esca-
par de você.
• • • • • Extraordinário: Seu psicólogo fala a você sobre a
mãe dele.
Possuído por: Pais, Professores, Psiquiatras, Atores,
Vendedores.
Especializações: Motivações Profundas, Verdades,
Personalidades, Emoções.
Expressão
Expressão permite você expor seu ponto de vista de
forma clara, concisa e precisa. É a medida de o quão bem
você fala e escreve, independente do assunto. Personagens
com altos níveis de Expressão podem ser extremamente me-
moráveis pelo que dizem ou escrevem, até mesmo se não
houver nada notável sobre eles.
• Fraco: Você escreveu para o jornal de sua escola
• • Médio: Você era bem sucedido em contestar bilhe-
tes de estacionamento.
• • • Bom: Você publicou algo profissionalmente.
• • • • • Extraordinário: Você está ao lado de Cícero e Da-
niel Webster.
Possuído por: Escritores, Colunistas, Comediantes
de Palco, Apresentadores de Programas de Auditório, Ato-
res, Demagogos.
Especializações: Poesia, Improviso, Discurso, Re-
pente.
Intimidação
Intimidação permite a você gentilmente - ou não
tão gentilmente assim - coagir outros a obedecerem a sua
vontade. Usos de Intimidação abrangem de ameaças sutis a
dar amostras de severas dores físicas, cada uma dessas técni-
cas possui uma hora e um lugar. Aparições com altos níveis
de Intimidação podem amedrontar outros com apenas um
olhar e frequentemente aparentam irradiar autoridade.
• Fraco: Você poderia roubar doces de crianças.
• • Médio: Você nunca perdeu a grana do lanche pros
outros garotos.
• • • Bom: “Lugar legal você tem aqui. Seria uma pena se
alguma coisa acontecesse a ele...”
• • • • Excepcional: Você poderia aterrorizar escritores a
cumprirem seus prazos.
• • • • • Extraordinário: Você assustaria auditores da Recei-
ta Federal.
Possuído por: Bandidos, Mafiosos, Empresários,
Agentes de Receita Federal, Seguranças, Babás.
Especializações: Frio, Dor, Ameaças Veladas, Dano
Massivo à Propriedade.

Manha
Nas ruas, tudo pode ser obtido - informação, dro-
gas, armas, o que quiser. Manha é a arte de saber o que se
quer, quem quer, quem tem e como conseguir tudo isso em
segurança. Com Manha vem o conhecimento dos costumes
e gírias das ruas, bem como o modo apropriado de usar isso.
Aparições sem Manha que tentam entrar em cena nas ruas
são facilmente identificados como elementos estranhos, apa-
rições que possuem Manha automaticamente ganham um ar
de naturalidade.
• Fraco: Pessoas vêem você e não gritam “Policial na
área!”.
• • Médio: Você pode fazer conexões com algumas ho-
ras de esforço.
••• Bom: Você sabe onde os corpos são enterrados.
• • • • Excepcional: Você sabe onde os corpos foram en-
terrados, quem os enterrou e onde eles conseguiram o equi-
pamento.
• • • • • Extraordinário: Você pode conseguir qualquer coi-
sa, a qualquer hora, em qualquer lugar.
Possuído por: Prostitutas, Cafetões, Moradores de
Rua, Romancistas Policiais, Repórteres.
Especializações: Conseguir Informações, Mendi-
gar, Pilhar no Lixo, Negócios, Territórios.

Lábia
Esse Talento permite você dobrar, mutilar ou que-
brar a verdade e se safar. Além disso, você também pode
sentir quando os outros estão fazendo o mesmo ou tentan-
do esconder suas motivações. Na melhor das situações você
poderia examinar uma dissimulação em andamento; na pior
delas você poderia fazer fortuna vendendo carros usados.
• Fraco: Você poderia trapacear na prova da escola e
se dar bem com isso.
• • Médio: Você poderia ter sido um vendedor de por-
ta em porta.
• • • Bom: Você dava seus golpes no regimento do colé-
gio.
• • • • Excepcional: Você prometeu baixar os impostos
e aumentar os investimentos e as pessoas acreditaram em
você.
• • • • • Extraordinário: “Que evidência de DNA?”.
Possuído por: Agentes do FBI, Contadores, Juristas,
Garotinhos, Casanovas.
Especializações: Mentir Descaradamente, Falso
Testemunho, Tramóias Financeiras, Sedução, Mentirinhas.

Talentos Adicionais
Procura, Sovina, Astúcia, Intriga, Instrução.

Capítulo 5: Características 121


Perícias
Perícias são Habilidades que podem ser adquiridas
através de rigoroso treinamento ou aprendizado. Parte intui-
ção, parte informação aprendida, Perícias são partes iguais
de treinamento e talento. Se você tentar fazer um teste de
uma Perícia em que você tenha nível zero, a dificuldade des-
se teste será aumentada em +1, para refletir o fato de você
não ter mais de que uma vaga idéia do que está fazendo.
Ofícios
Ofícios envolve pegar matérias-primas e construir
alguma coisa útil com elas. Ela se refere às técnicas dos mes-
tres artesãos - lapidação, trabalho em vidro, trabalho em
couro, marcenaria etc. O número de sucessos no teste de
Ofícios indica quão bem feito será o objeto em questão.
• Fraco: Você poderia fazer uma casa de passarinho
de palitos de picolé.
• • Médio: Você criou alguma coisa na aula que você
poderia usar.
• • • Bom: Você foi bem na feira local de artesanato.
• • • • Excepcional: Você ensinou turmas avançadas nos
centros de artes.
• • • • • Extraordinário: Colecionadores instantaneamente
reconhecem seu trabalho.
Possuído por: Artesãos, Oleiros, Artífices, Líderes
Escoteiros.
122 Aparição: O Esquecimento
Especializações: Marcenaria, Costura, Fabricação
de Velas, Pedreiro, Ferreiro.
Condução
Presume-se que todos os personagens modernos
tem uma familiaridade básica com a Perícia Condução, per-
mitindo a eles que façam uso de um automóvel com uma
facilidade razoável em situações normais. Ao invés disso,
Condução permite você executar manobras complicadas,
dirigir em alta velocidade em perseguições. Por outro lado,
apenas porque você é familiarizado com um tipo de veículo
não significa dizer que você pode fazer uso de outro; existe
um mundo de diferença entre um compacto e um caminhão.
A dificuldade pode aumentar ou diminuir, dependendo de
quão familiar é o veículo que você está dirigindo.
Aparições mais velhas podem se considerar ter
uma familiaridade com carruagens ou cavalgar do mesmo
modo que os personagens modernos tem com automóveis.
• Fraco: Você poderia encarar longas viagens pelas
estradas.
• • Médio: Você consegue passar a terceira.
• • • Bom: Você sobreviveu dirigindo no Rio de Janeiro
no verão.
• • • • Excepcional: Você poderia ser um piloto de corri-
das profissionais.
• • • • • Extraordinário: Hora do rush em Nova Iorque?
Você pode dirigir até de ré.
 Possuído por: Taxistas, Pilotos de Corrida, Adoles-
centes, Chofers, Caixeiros Viajantes.
Especializações: Trânsito Urbano, Estrada de Barro,
Dirigir Ousadamente, Clima Ruim, Gelo.
Etiqueta
Etiqueta é a medida de sua compreensão das nuan-
ces e contrapesos de polidez da sociedade numa miríade de
circunstâncias sociais. Tal Perícia é útil durante engajamen-
tos diplomáticos, reuniões e encontros com a alta sociedade.
• Fraco: Você sabe quando manter a boca fechada.
• • Médio: Você sabe a diferença entre formal e black
tie.
• • • Bom: Você sabe qual talher usar para cada ocasião.
• • • • Excepcional: Você consegue lidar - ou ao menos
não ofender - ninguém.
• • • • • Extraordinário: Você poderia fazer a cerimônia
para aquele tal de Prêmio Nobel da Paz.
Possuído por: Diplomatas, Nobreza Hereditária,
Mediadores, Psiquiatras.
Especializações: Formalidade, Correspondência,
Negociação, Acordo, Sarais.
Armas
deEssaFogoPerícia abrange tanto sua capacidade em ati-
rar, como sua técnica de manutenção e conserto de armas
de fogo. Peças de artilharia, morteiros e daí em diante não
são cobertos por esta Perícia, tão pouco armas arcaicas como
arcos e badoques.
• Fraco: Você acertaria a porta de um celeiro com
uma escopeta.
• • Médio: Você não se complica com a mira do rifle.
• • • Bom: Você pode atingir um alvo em movimento.
• • • • Excepcional: Atirador de elite poderia ter sido uma
escolha de carreira para você.
• • • • • Extraordinário: “Pow! Eu estava mirando em seu
canto esquerdo do nariz.
Possuído por: Atiradores de Elite, Soldados, Ma-
fiosos, Caçadores, Bandidinhos, Funcionários dos Correios
Perturbados.
Especializações: Mira, Tiroteio, Pistolas, Rifles, Ar-
mas Automáticas.
Liderança
Liderança é mais que ladrar ordens. É a medida de
quão bem você consegue fazer os outros acatarem suas de-
cisões, quer elas sejam despachos, ordens ou pedidos edu-
cados. Também cobre o quanto as pessoas estão propensas
a aceitar suas ordens, pois seguidores relutantes são muito
menos úteis que os que o adoram. Liderança é mais usada
em conjunto com Carisma ou Manipulação.
• Fraco: Você decide onde o seu carona vai almoçar.
• • Médio: Quando você grita, as pessoas escutam.
• • • Bom: As pessoas rotineiramente vão até você em
busca de ordens.
• • • • Excepcional: Os outros o seguirão até a boca da
morte - e pior - sem questionar.
• • • • • Extraordinário: Você tinha traços de um outro Ale-
xandre o Grande.
Possuído por: Militares, Líderes de Gangues, Edu-
cadores, Chefes de Polícia.
Especializações: Liderança de Campo, Planejamen-
to a Longo Prazo, Militarismo, Nobreza, Comandos.
Meditação
Numa existência onde a voz de sua Sombra é uma
ameaça constante, Meditação, a Habilidade de se concentrar
e centrar seus pensamentos, pode ser uma perícia essencial.
Para meditar, não é necessário estar na posição de lótus. Essa
é uma Perícia bem pessoal e onde cada um desenvolve sua
própria técnica.
Meditação pode ser usada para recuperar tempo
perdido sem a Modorra. Para fazer isso, uma aparição testa
Vigor + Meditação (dificuldade 8). O número de sucessos
determina a quantidade de horas efetivas de Modorra ga-
nhas por hora de meditação.
• Fraco: Você poderia bloquear o som do estéreo de
seu vizinho.
• •
• • •
Médio: Você pode alcançar um repouso pacífico.
Bom: Você pode relaxar em qualquer posição.
• • • • Excepcional: Sua concentração é quase impossível
de quebrar.
• • • • • Extraordinário: Você é glacial em sua calma, total-
mente centrado e imperturbável.
Possuído por: Mestres Zen, Monges Budistas, Atle-
tas, Gurus da Nova Era.
Especializações: Biorretroalimentação, Relaxamen-
to, Zen, Centralizar-se.
Armas
Brancas
Armas Brancas é um termo geral para todos os ti-
pos de combate que envolvam armas de mão. A definição
de armas de mão é ampla, incluindo facas, espadas, garrafas
quebradas, correntes, porretes bem como qualquer coisa que
possa ser usada para infligir dano em outra aparição. Com a
Perícia Armas Brancas vem o conhecimento adequado para
cuidar da sua arma escolhida.
• Fraco: Você passou por algumas lutas sem entrar
num Pesadelo.
• • Médio: Você possui um treinamento básico militar.
• • • Bom: Qualquer objeto torna-se uma arma em suas
mãos.
• • • • Excepcional: Mestre esgrimistas em Heidelberg te-
mem você.
• • • • • Extraordinário: Sementes de laranja e aviões de pa-
pel são mortais em seu poder.
Possuído por: Esgrimistas, Bandidos, Artistas Mar-
ciais, Policiais, Soldados.
Especializações: Esgrima, Armas Pesadas, Objetos
Contundentes, Estilos de Artes Marciais, Armas Improvisa-
das.
Capítulo 5: Características 123

Performance
Diferente de Expressão que envolve mais palavras
escritas ou faladas, Performance abrange uma inteira gama
de expressão artística ao vivo. Canto, atuação, Dança, tocar
instrumentos musicais e similares são todas perícias cober-
tas nesse campo. Somando à atual habilidade performática,
esta Perícia também mede o quanto você conhece a socie-
dade relacionada à sua forma de arte e como se adaptar a
ela. Níveis avançados de Performance normalmente exigem
algum tipo de especialização.
• Fraco: Você não foi expulso durante o karaoquê da
empresa.
• •
• • •
Médio: Você participou de peças amadoras.
Bom: Você poderia interpretar papeis em filmes.
• • • • Excepcional: Suas mãos estão na calçada da fama
em frente ao Mann’s Chinese Theater.
• • • • • Extraordinário: Você foi um artista lendário da sua
época.
Possuído por: Atores, Músicos, Mímicos, Cantores,
Dançarinos, Coreográfos.
Especializações: Voz, Instrumental, Atuação, Dan-
ça.
Reparos
Consertar qualquer coisa mecânica, eletrônica ou
concreta que esteja quebrada está sob domínio da Perícia Re-
paros. Essa Perícia cobre tudo desde eletrônica avançada até
desafogar um carro - assumindo, é claro, que você tenha as
ferramentas com as quais fazê-lo. Entre os Inquietos, essa Pe-
rícia permite você encontrar seu caminho através dos siste-
mas quando você Gremlinizar ou entender onde é o melhor
lugar para arruinar um dispositivo com Insulto.
• Fraco: Você acerta o item com um martelo e espera
que o tenha consertado.
• • Médio: Você pode instalar a rede elétrica de uma
casa ou roubar o sinal de TV a cabo.
• • • Boa: Não, não precisa chamar mecânicos.
• • • • Excepcional: Você poderia fazer um pé de meia vi-
vendo como um faz-tudo profissional.
• • • • • Extraordinário: Tudo o que não esteja quebrado até
virar moléculas, você pode consertar.
Possuído por: Mecânicos, Carpinteiros, Titereiros
de Fim de Semana, Encanadores, Remendeiros, Técnicos.
Especializações: Madeira, Eletricidade, Utensílios,
Automotivo, Computadores.
Furtividade
Furtividade é a Perícia que abrange tanto mover-se
silenciosamente como ocultar-se sem ser notado. Normal-
mente os testes de Furtividade são feitos contra a Percepção
do outro personagem.
• Fraco: Você era mestre em “esconde-esconde”.
• • Médio: Você se mistura com as sombras.
• • •
queira.
Bom: Você não é percebido a menos que você o
124 Aparição: O Esquecimento
• • • • Excepcional: Você pode se mover através das árvo-
res e não mover uma só folha seca.
• • • • • Extraordinário: Mestre ninja, aquele que se move
como um fantasma...
Possuído por: Ninjas, Espiões, Sabotadores, Lará-
pios, Ceifadores,
Especializações: Espreitar, Camuflagem, Sombras,
Aproximações Silenciosas.
Outras Perícias
Forja das Almas, Cozinhar, Remo, Arqueirismo,
Disfarce, Outras Armas (Pesadas, Antigas, Medievais).
Conhecimentos
Conhecimentos são aquelas Habilidades que de-
pendem de rigorosa aplicação da mente. Pode haver um ele-
mento físico para seu uso, mas o componente chave é infor-
mação adquirida, acessada e usada. Conhecimentos podem
ser aprendidos dentro ou fora da sala de aula, mas o estudo é
necessário. Aprender por alguém é o melhor método para se
adquirir um Conhecimento, mas há várias aparições autodi-
datas.
Sem um Conhecimento em um campo específico,
você nem mesmo pode tentar fazer um teste relativo àquele
Conhecimento. As únicas excessões são quando o teste em
questão se refere a um conhecimento trivial que qualquer
aparição pode saber ou no caso de circunstâncias especiais.
Burocracia
Burocracia, o mesmo que O Sistema, é teoricamen-
te uma organização para se conseguir as coisas de um modo
mais eficiente. Com o conhecimento apropriado de como o
Sistema funciona e como utilizá-lo para alcançar seus fins,
você pode conseguir permissão para fazer o que quiser e pre-
venir os outros de fazer o mesmo. Burocracia é também é a
medida de suas perícias organizacionais e aptidões para as
coisas serem feitas e sua eficiência em manipular o Sistema
tanto vale no Mundo Inferior como nas Terras da Carne.
• Fraco: Você poderia arquivar uma declaração de
renda.
• • Médio: Você poderia arquivar uma declaração de
renda e esperar restituição.
• • • Bom: Você poderia esquivar-se de um debate - ou
de um cidadão furioso - indefinidamente.
• • • • Excepcional: Você poderia fazer todos os braços do
governo funcionarem de modo mais eficiente.
• • • • • Extraordinário: O Sistema é seu brinquedo e você
pode conseguir o que quisesse dele com um simples telefo-
nema.
Possuído por: Burocratas, Contadores, Assistentes
Pessoais, Anacreontetes.
Especializações: Regulações Governamentais, Ta-
xas, Requisições, Contabilidade.
Computação
Essa é a medida geral da aptidão de uma aparição
com computadores e todas as coisas relacionadas com eles.
Isso leva em conta as perícias necessárias tanto para progra-
mar um novo programa (ou criar um novo dispositivo) como
a destreza mental exigida para usar os programas e equipa-
mentos existentes. Existe mais usos para esse Conhecimento
que apenas hackear sistemas. No mundo onde a operação de
um editor de texto básico ainda é um mistério para muitos
adultos, até mesmo um conhecimento módico do uso de um
computador pode ser uma coisa muito poderosa.
Aparições com o conhecimento de computadores
acham a rede eletrônica o caminho mais fácil para acessar as
Terras da Carne. Manobrar através dos sistemas, reunir (ou
apagar) dados, imprimir mensagens para os vivos ou mani-
pular computadores para seus próprios fins através dos altos
níveis de Habitar são os quais esse Conhecimento é útil para
os Inquietos.
• Fraco: Você não destrói seu HD deixando um ímã
colado nele.
• • Médio: Você poderia usar um computador sem
chamar a assistência técnica imediatamente.
• • • Bom: Você poderia codificar seu próprio programa.
• • • • Excepcional: Seu nome é uma lenda dentro da In-
ternet.
• • • • • Extraordinário: A Rede foi seu parque de diversão e
seus sonhos foram todos em C++.
Possuído por: Hackers, Engenheiros, Programa-
dores, Professores de Ciência da Computação, Estudantes,
Viciados em Computadores.
Especializações: Dispositivos, Programas, A Rede,
Navegação, Compilação

Enigmas
O Conhecimento Enigmas tem relação com sua ha-
bilidade de resolver mistérios e quebra-cabeças. Em essên-
cia, ele é a medido de suas técnicas de resolver problemas e
de como você combina detalhes vitais numa solução coeren-
te. Enigmas pode ser útil resolvendo labirintos, respondendo
charadas e coisas do tipo.
• Fraco: Você poderia resolver um Quebra-Cabeças.
• • Médio: Você adivinhou o segredo de “Traídos pelo
Desejo”.
• • • Bom: Você faz cruzadinhas com caneta.
• • • • Excepcional: Você sabe o que acontece se uma ár-
vore cair na floresta e ninguém ouvir.
• • • • • Extraordinário: Os 8 Paradoxos de Zeno foram um
aquecimento.
Possuído por: Mestres Zen, Mágicos estagiários,
Lógicos, Místicos, Jogadores
Especializações: Koans (Enigmas sem solução),
Enigmas Ancestrais, Charadas Visuais, Jogos de Palavras.

Investigação
Investigação permite você acessar conhecimento
básico de criminologia para localizar evidências e executar
análises forenses. Nos níveis apropriados, você pode con-
duzir adequadamente uma investigação criminal, deduzir

Capítulo 5: Características 125

 o modus operandi e reconstruir a cena do crime. Somado
a alguns Arcanoi, esse conhecimento pode ser inestimável
para aparições que estejam procurando ou resgatando seus
Grilhões.
• Fraco: Você viu alguns filmes Investigativos.
• • Médio: Você possui o conhecimento de um oficial
de polícia.
• • • Bom: Você poderia trabalhar para uma empresa de
seguros.
• • • • Excepcional: Uma posição na agência internacional
de espionagem é sua.
• • • • • Extraordinário: Elementar, meu caro Watson.
Possuído por: Detetives Particulares, Detetives Po-
liciais, Investigadores de Pedidos de Seguros, Agentes de In-
teligência, Doutores Forenses
Especializações: Buscas Rápidas, Resíduos, Traba-
lho de Detetive, Investigação Dedutiva

Direito
Direito é a medida do seu entendimento sobre o
sistema legal no qual você está envolvido. Um conhecimento
sobre Direito permitirá você manipular o sistema legal para
seus próprios fins, confundindo seus inimigos e ajudando
seus amigos.
• Fraco: Você conhecia o absolutamente básico.
• • Médio: Defensor público a nível colegial.
• • • Bom: Você poderia ter sido um juiz.
• • • • Excepcional: Você sabe um meio legal de ganhar
milhões.
• • • • • Extraordinário: Você tem os traços de um Juiz do
Supremo Tribunal de Justiça - ou de um Senhor da Morte.
Possuído por: Estudantes de Direito, Juízes, Buro-
cratas, Contadores, Procuradores Federais.
Especializações: Criminal, Civil, Tributário, Direi-
tos Autorais, Litígio

Linguística
Mais que um registro de quantas línguas você fala
do que de quão bem você entende a teoria das linguagens,
Linguística é a medida de quantas línguas você é fluente
além de sua língua nativa. Linguística também permite você
identificar sotaques, ler lábios, entender gírias e até mesmo
uma certa capacidade de mimetismo linguístico.
• Fraco: Um idioma adicional.
• • Médio: Dois idiomas adicionais.
• • • Bom: Três idiomas adicionais
• • • • Excepcional: Quatro idiomas adicionais.
• • • • • Extraordinário: Cinco idiomas adicionais.
Possuído por: Intérpretes, Estudantes da Gradua-
ção, Professores de Línguas Estrangeiras, Viajantes
Especializações: Palavrões, Linguagem Diplomáti-
ca, Linguajar Técnico, Romance, Tradução, Línguas “Mor-
tas”.

Medicina
Esse Conhecimento detalha o quão bem você co-

126 Aparição: O Esquecimento

nhece o funcionamento do corpo humano e como repará-lo
em caso de ferimento. É claro, isso também se aplica no que
diz respeito a ferí-lo.
Embora Medicina possa parecer um Conhecimen-
to inútil para os Mortos Sem Descanso, existem muitas apli-
cações úteis para ele, tanto benéficas como maliciosas. Co-
nhecimento nesse campo, combinado com Visão da Morte,
pode ajudar a determinar que passos tomar para proteger
um Grilhão vivo, embora uma apreciação fisiológica combi-
nada com Insulto possa produzir alguns efeitos devastado-
res.
• Fraco: Você passou no teste de primeiros socorros
da Cruz Vermelha.
• • Médio: Você poderia ter sido um paramédico.
• • • Bom: Você é capacitado o suficiente para ser um
Clínico Geral.
• • • • Excepcional: Outros médicos buscam sua consulta.
• • • • • Extraordinário: Corações artificiais e órgãos trans-
plantados são brincadeira de criança.
Possuído por: Médicos, Enfermeiros Registrados,
Peritos Médicos
Especializações: Farmácia, Cirurgia, Clínica Geral,
Emergência, Campos Especializados (Pediatria, Neurologia
etc).
Ocultismo
Existem muitos segredos sobrenaturais no Mundo
das Trevas e com o Conhecimento Ocultismo alguns deles
são seus. Ocultismo implica num conhecimento geral sobre
coisas como vodú, maldições, adivinhação, bem como in-
formações mais específicas sobre os seres sobrenaturais que
habitam o mundo.
• Fraco: Você pode pronunciar “Tarô” adequada-
mente.
• • Médio: Você leu Gardner, Cunningham e Crowley.
• • • Bom: Você sabe sobre algo mais que fantasmas.
• • • • Excepcional: O Mundo das Trevas é um livro aber-
to para você.
• • • • • Extraordinário: Nostradamus e Albertus Magnus
poderiam copiar suas anotações.
Possuído por: Nova Era, Místicos, Donos de Lojas
de Ocultismo, Magos.
Especializações: Cabalah, Magia Hermética, Espíri-
tos, Canalização, Aparições.
Política
Esse Conhecimento abrange a teoria e a prática da
política. Níveis nessa Característica, podem indicar a você
quem é quem no topo do sistema local e como ele chegou lá.
Política abrange tanto as estruturas políticas humanas como
as dos Inquietos, podendo ser essencial para lidar tanto com
autoridades vivas como mortas.
• Fraco: Você foi presidente de sala.
• • Médio: Você trabalhou numa campanha eleitoral.
• • • Bom: Você ocupou um cargo local.
• • • • Excepcional: Um político de carreira, você foi sufi-
cientemente notável para aparecer nas caricaturas políticas.
• • • • • Extraordinário: O destino das nações repousou em
suas mãos.
Possuído por: Diplomatas, Políticos de Carreira,
Conselheiros, Comentarista Político, Lobistas
Especializações: Política Real, Construção de
Alianças, Fincar Raízes, Nacional, Internacional.
Ciência
Essa Habilidade não apenas mede seu conhecimen-
to teórico mas também seu uso prático. Dá igual peso de
conhecimento em diferenciar átomos de elétrons e o torna
apto a criar um Coquetel Molotov de componentes químicos
roubados das latrinas de um banheiro. Níveis mais baixos
de Ciências indicam uma familiaridade geral com a ciência
moderna, enquanto níveis mais altos normalmente envol-
vem algum tipo de especialização.
• Fraco: Você assistia Discovery regularmente.
• • Médio: Você poderia fazer explosivos a partir de
produtos químicos domésticos.
• • • Bom: Você poderia ensinar num colégio à título de
honra.
• • • • Excepcional: Sua pesquisa ganhou dinheiro sem
você precisar suar.
• • • • • Extraordinário: Feynman, Einstein, Galileu - e
você.
Possuído por: Cientistas, Cientistas Loucos, Estu-
dantes Graduados, Cientistas Populares.
Especializações: Biologia, Química, Física, Geolo-
gia, Aplicações Práticas, Teoria.
Conhecimentos
Adicionais
Psicologia, Finanças, Arte, Filosofia, Teatro, His-
tória, Ciência Militar, Genealogia, Geografia, Teologia, Co-
nhecimentos de uma área específica ou trivial.
Antecedentes
...e enquanto passávamos por algumas mansões em
ruínas ou mosteiros sob a luz do luar, nós sabíamos que dentro
das paredes decadentes ainda haviam à espreita espíritos som-
brios do passado distante...
- Simon Marsden, The Journal of a Ghosthunter
Antecedentes são Características que estão ligadas
além das capacidades diretas físicas e sobrenaturais de uma
aparição. Elas ajudam a definir o histórico e o contexto da
personagem, devendo ser escolhidas para aprimorar e con-
solidar o conceito de sua aparição. Antecedentes também
podem completar um ao outro, assim como o conjunto de
Antecedentes escolhidos revelam muito sobre a personagem.
Personagens com vários Aliados mas com poucos Contatos
são completamente diferentes de personagens com poucos
Aliados e muitos Contatos, apesar de conhecerem o mesmo
número de aparições. O primeiro tem um grande número de
aparições em quem pode confiar em uma dificuldade, mas
poucas informações; o último tem aparições que vão con-
versar com ele, mas que não o ajudarão em momentos de
Capítulo 5: Características 127
necessidade. Normalmente, Antecedentes de uma persona-
gem, particularmente aqueles como Memoriam ou Status,
ajudam a definir os limites de uma personagem do Narrador
(ou jogador recentemente conhecido) pode saber sobre uma
aparição num primeiro encontro. Com isso em mente, é vital
escolher Antecedentes que trabalhem bem com o conceito
da personagem.
O Narrador deve ter controle sobre os Anteceden-
tes que você pode escolher. Por exemplo, numa crônica que
começa com a morte da sua personagem (e seu subsequente
renascimento nas Terras das Sombras), poderia ser impró-
prio possuir certos Antecedentes - como Mentor ou Status,
por exemplo. Outros conceitos para crônicas, tais como
numa história onde as aparições são agentes da Hierarquia,
poderia exigir que cada um dos personagens possuíssem
pelo menos dois pontos nesses mesmos Antecedentes. An-
tecedentes são um bom meio para os Narradores assegurar
que os personagens criados pelos jogadores se adaptem per-
feitamente a crônica e funcionem adequadamente.
Em certos testes, um Antecedente pode ser combi-
nado com um Atributo apropriado. Por exemplo, seu Nar-
rador pode pedir por um teste de Carisma + Aliados para
determinar quantos de seus Aliados aderem a sua causa atual
ou um teste de Manipulação + Status para decidir se você
pode ameaçar um Centurião apenas com seu posto.
Aliados
A vida entre os mortos é, necessariamente, desa-
nimadora. Seria ainda mais desanimadora se não fosse pela
tendência das aparições em se associar entre si e buscarem
companhia e consolo em seus colegas Inquietos. Criaturas
de paixão, aparições são propensas a criar e quebrar fortes
e intensas amizades entre si nas Terras das Sombras. Tais
uniões são representadas pelo Antecedente Aliados. Aliados
não necessariamente são amigos íntimos (e podem não in-
cluir os membros do Círculo da aparição), mas podem ao in-
vés disso representar camaradas de briga, pessoas de mesma
ideologia, colegas pranteadores ou qualquer outra aparição
(ou outro habitante do mundo da aparição) que tenha uma
razão para sentir afinidade com o personagem.
Aliados normalmente socorrem uma aparição em
apuros apesar de, como qualquer amigo, eles podem se can-
sar de tanta demanda de seu tempo e recursos. Aliados de-
vem ser mantidos e uma aparição que pede mas não dá nada
em troca pode ver seus Aliados partindo. Gastar pontos na
compra de um Aliado não garante serviços de um indiví-
duo infinitamente tolerante e generoso. Além disso, muitos
Aliados possuem suas próprias necessidades e uma aparição
pode ser chamada para ajudar seu amigo quando ele preci-
sar.
O Narrador e o jogador devem cooperar para de-
talhar o Aliado e muitas histórias podem se desenrolar do
relacionamento entre uma aparição e seus Aliados.
X Um personagem sem Aliados é incomum e você
deveria decidir o que em você afasta os outros.
• Um único Aliado, provavelmente muito estimado
128 Aparição: O Esquecimento
por ser único.
• • Dois Aliados, eles têm ciúmes um do outro?
• • • Três Aliados, um pode ser especial de algum modo.
• • • • Quatro Aliados, seus Aliados se conhecem entre si?
• • • • • Cinco Aliados, porque você é tão popular?
Artefato
Normalmente abastecidos por Pathos, Artefatos
possuem certas funções ou poderes para ajudar as aparições
(muitas, normalmente servas da Hierarquia) que os portam.
Artefatos são altamente valiosos e cobiçados por autoridades
aduaneiras. Qualquer aparição que escolha o Antecedente
Artefato precisa criar (lado a lado com o Narrador) uma his-
tória plausível de como obteve o Artefato e porque ainda está
com ele.
Personagens que escolhem esse Antecedente po-
dem comprá-lo mais de uma vez para representar vários Ar-
tefatos de nível apropriado. No entanto, vários pontos gastos
em um único Artefato podem ao invés disso garantir ao per-
sonagem um item mais valioso e poderoso.
X Como a maioria das aparições, o personagem não
possui Artefatos. Ele é desapegado a bens materiais, azarado
ou meramente pobre?
• Um Artefato aparentemente insignificante.
• • Um Artefato menor, como uma tocha Modelada.
• • • Um Artefato com alguma utilidade, como uma es-
pada de aço estígio.
• • • • Um Artefato único e maior, que a Hierarquia ama-
ria pôr as mãos (exemplo, uma arma de fogo que não neces-
sita de balas relíquias)
• • • • • O mais útil e poderoso dos objetos, a inveja de to-
das as outras aparições.
Contatos
Diferente de Aliados, Contatos são pessoas (ou apa-
rições) cujo o personagem se encontra e que estão dispostos
a trabalhar para ele. Eles são indivíduos que estão prepara-
dos para fazer um serviço para o personagem ou suprí-lo
com informação ou ajuda, mas geralmente por um preço. O
preço pode ser tão simples como uma promessa de um favor
futuro ou tão complicado como uma manobra política ou
ainda uma base para um débito financeiro, mas geralmente
se equipara ao valor do serviço retribuído.
O nível de Contatos de uma aparição representa
duas coisas: Contatos principais e secundários. Contatos
principais são indivíduos, detalhados pelo Narrador e/ou jo-
gador, com acesso aos serviços e informações que o jogador
deseja. Estes podem ser aparições nas Terras das Sombras,
Espectros na Tempestade ou pessoas vivas da época do per-
sonagem entre os Breves, mas todos o reconhecerão e estarão
dispostos a fazer algum tipo de acordo. Existem também os
Contatos secundários, que tão são especializados em algum
campo de influência assim como os Contatos principais. Es-
ses indivíduos podem se revelar úteis a uma aparição se um
teste de Contatos (dificuldade 7) for feito, mas os Contatos
secundários são geralmente menos informados, menos solí-
citos e menos amigáveis que os principais.
X Sem Contatos úteis. No entanto, talvez você seja o
Contato de alguma outra aparição (não de um jogador)
• Um Contato maior e alguns outros. Você provavel-
mente tem um acordo especial com esse Contato.
• • Dois Contatos principais em diferentes áreas e di-
versos Contatos secundários associados a eles.
• • • Três Contatos principais e um punhado de secun-
dários.
• • • • Quatro Contatos principais, todos em áreas distin-
tas, contudo você pode dobrá-lo e cobrir um campo particu-
lar completamente
• • • • • Cinco Contatos principais e um Contato secundá-
rio associado a quase toda esquina.
Eidolon
Eidolon é a medida de fortitude espiritual. É uma
indicação de um potencial especial numa aparição para re-
sistir às tentações, ataques e insultos da Sombra. Embora isso
não seja uma sugestão que uma aparição seja diretamente
boa ou até mesmo moral, ele revela uma salutar resistência
metafísica às manipulações da Sombra. Eidolon está ligado a
Psique da aparição, e alguns Eidolons são tão fortes que oca-
sionalmente se manifestam como uma entidade separada,
como a Sombra o faz. Muitos, no entanto, estão firmemente
integrados a Psique da aparição. Uma aparição com um alto
nível de Eidolon não necessariamente possui uma idéia das
ações de sua Sombra (apesar de poderem), mas ao invés dis-
so detêm uma habilidade especial em desfazer as tentativas
da Sombra em arrastá-lo para o Esquecimento.
Cada ponto em Eidolon representa um dado extra
por sessão que um jogador pode adicionar a qualquer teste
de resistência contra alguma intenção, plano ou manobra de
sua Sombra (incluindo os Espinhos da Sombra). Um jogador
pode usar um, alguns ou todos os dados de seu Eidolon em
qualquer teste mas não mais que seu nível total a cada sessão.
Eidolon pode ser usado também durante um Pesadelo para
exercer algum controle sob o curso dos eventos.
X Como a maioria dos infelizes, você é uma tela no
qual sua Sombra pinta.
• Você algumas vezes tem um pressentimento sobre
sua Sombra.
• • Existem dias que você está firmemente sob contro-
le.
• • • Espiritualmente resistente, sua Sombra precisa tra-
balhar duro para influencia-lo.
• • • • Você vê através de todas as manobras de sua Som-
bra.
• • • • • Sua Sombra precisa escolher cuidadosamente o
momento ou desperdiçará todos os seus esforços.
Local
Assombrado
Não é por acaso que as histórias de fantasmas fazem
referência a tendência dos espíritos a habitarem certas cons-
truções, cruzamentos ou outras locações. Aparições são nor-
malmente ligadas a um ponto nas Terras das Sombras que
Capítulo 5: Características 129
correspondem a um lugar de especial importância para eles
nas Terras da Carne. Nesses logradores a Mortalha é mais
fraca e a aparição pode estabelecer um Local Assombrado,
que serve como um lar, um santuário e um refúgio. Den-
tro do seu Local Assombrado, uma aparição pode usar seus
Arcanoi mais facilmente, mais confortavelmente, e enfrentar
sua Sombra com mais privacidade.
Algumas vezes Locais Assombrados são comparti-
lhados por várias aparições, mas esses grupos são invariavel-
mente pequenos e a confiança necessária para compartilhar
um local tão pessoal é dificilmente encontrada nas Terras
das Sombras. Locais Assombrados normalmente são ligados
a um local físico específico e seu correspondente nas Terras
da Carne é inevitavelmente abandonado e deteriorado. Um
Local Assombrado, se pertencente a uma única aparição,
normalmente é conectado a uma Paixão ou um Grilhão em
particular; assim, um Local Assombrado que também é ao
mesmo tempo um Grilhão tanto é raro como potente.
A Mortalha é reduzida pelo nível do Local Assom-
brado dentro dele e muitos também fornecem Memoriam,
que está disponível para qualquer aparição que passar tempo
lá dentro.
A critério do Narrador, personagens podem com-
binar seus pontos de Antecedentes para adquirir um Local
Assombrado compartilhado. Os detalhes de tal lugar são dei-
xados a cargo do Narrador. Outras aparições podem desejar
ter tanto um Local Assombrado comum quanto um privado.
Nesse caso, o Antecedente precisa ser comprado duas vezes,
uma para cada tipo de Local Assombrado.
X Você não tem um Local Assombrado e provavel-
mente repousa em Modorra nas ruas. Você é nômade por
escolha ou circunstância?
• Um pequeno domicílio, talvez um armário ou uma
cabine telefônica.
• • Um Local Assombrado grande o suficiente para
você viver dentro, mas nada muito luxuoso.
• • • Um amplo Local Assombrado que pode acomodar
vários visitantes confortavelmente.
• • • • Um opulento Local Assombrado, amplas acomoda-
ções para até quatro aparições. Ou um Local Assombrado
especial, como um tipo móvel ou muito bem protegido.
• • • • • Um Local Assombrado majestoso em bom estado,
talvez uma mansão assombrada sob a colina. Sem dúvida seu
Local Assombrado é invejado por muitas aparições podero-
sas não abençoadas com tal residência.

Legado
Pode ser do desejo de cada ser vivo ser lembrado,
mas as memórias humanas são como essência vital para as
aparições. Alguns indivíduos são lembrados por poucos, al-
guns por muitos (isso é coberto pelo Antecedente Memo-
riam), mas existem casos em que os trabalhos da aparição
são lembrados muito depois de seu nome ter sido esquecido.
O Antecedente Legado abrange esse tipo de memória, repre-
sentando as criações da aparição que têm perdurado mesmo
após sua morte. Um Legado pode representar uma variedade

130 Aparição: O Esquecimento

de coisas, de objetos - construções, estátuas, milhares de ár-
vores plantadas - ou coisas menos tangíveis tais como uma
coleção de arte, uma teoria política ou uma palavra que tor-
nou-se de uso comum.
Uma vez por história, uma aparição pode tentar ob-
ter concentração e conforto de seu Legado. Para fazer isso, a
aparição precisa viajar até o local do Legado (ou algum lugar
importante associado com Legados intangíveis) e testar um
número de dados equivalente ao número do Antecedente
(dificuldade 7). O número de sucessos representa o número
de níveis de dano que a aparição pode curar. Dano normal é
regenerado instantaneamente e o dano agravado leva apro-
ximadamente uma hora por nível de Corpus curado através
do Legado. Isso representa o processo de confirmação e afir-
mação para uma aparição, a manifestação física na qual o
Corpus é curado.
X Nenhum traço resta que um dia você sequer viveu.
• Uma pintura das suas em algum lugar de uma gale-
ria obscura.
• • Você fundou um campus colegial.
• • • Você replantou uma floresta devastada onde as pes-
soas passam diariamente.
• • • • Você projetou a Torre Eiffel ou a Estátua da Liber-
dade.
• • • • • Uma importante idéia na vida moderna é atribuída
a sua pessoa. Talvez você tenha fundado uma religião ou um
movimento político.
Mentor
O relacionamento entre um personagem e seu
Mentor é diferente do relacionamento entre ele e um Aliado
ou Contato. Um Mentor algumas vezes é um patrono, outras
um professor, algumas vezes um protetor e algumas outras
tudo isso. Embora um Mentor nem sempre responda aos
pedidos de ajuda de uma aparição, ele sempre age no que
acredita ser o melhor para os interesses da aparição (ape-
sar da aparição poder ver as coisas de uma forma diferen-
te). Um relacionamento de uma aparição com seu Mentor é
complexo e pessoal, assim pode ser alvo de uma detalhada
interpretação. Tal relacionamento normalmente não é nem
ao menos casual, vinculando responsabilidades de ambos os
lados.
Alguns Mentores ensinam Arcanoi para as apari-
ções sob sua tutela, mas o Mentor sempre escolhe o que é
ensinado ou não. Um Mentor pode fazer mais que ensinar
Arcanoi; talvez servindo como um advogado para o perso-
nagem em Estigia, talvez ensinando novas Habilidades ou
ainda livrando a aparição de problemas.
X Talvez você tenha problemas com autoridade ou
busque um mestre merecedor de sua atenção.
• Um Mentor um pouco mais velho que você mesmo,
mas com algumas conexões.
• • Um Mentor com alguma importância, mas pouco
poder.
• • • Um antigo e sábio Mentor, com um módico prestí-
gio.
• • • • Um Mentor politicamente poderoso que pode pu-
xar algumas cordas.
• • • • • Um Mentor quase onisciente, talvez um Barqueiro
ou um Hierarca de alto posto.
Memoriam
A essência dos mortos é complicada de ser defini-
da, mas o Pathos se condensa diretamente da emoção e é
essa emoção que os vivos sentem pelos mortos que é expres-
sada pelas recordações. Afinal, memória é o método no qual
os vivos interagem com os mortos. As pessoas possuem a
tendência de lembrar daqueles que se foram de formas es-
tranhas ou projetando pensamentos e sentimentos naqueles
que não estão mais lá para representarem a si mesmos.
Algumas aparições encontram conforto no fato de
serem lembrados por muitas pessoas (apesar de não neces-
sariamente se afeiçoarem a isso). Outras são lembradas por
poucos ou até mesmo ninguém. Há um debate entre os mor-
tos que é melhor uma única pessoa ter boas lembranças suas
que uma nação inteira lembrar de sua vida com ódio, inveja
ou ressentimento. No entanto, Memoriam não jaz julgamen-
tos.
Memoriam permite à aparição ter acesso a Pathos
extra. Invocando os sentimentos que os vivos têm por você,
uma vez por sessão uma aparição pode testar seu nível de
Memoriam (dificuldade 8), cada sucesso fornece um pon-
to de Pathos. Se acontecer uma falha crítica, um ponto de
Memoriam é perdido permanentemente, dado o inevitável
processo de obliteração e mitificação que obscurece as me-
mórias de uma aparição.
X Você viveu e morreu sozinho. Poucos, se alguém,
lembram seu nome. Por outro lado, você viveu há tanto tem-
po atrás que todas as suas recordações desapareceram.
• Uma pessoa lembra de você. Talvez isso seja sufi-
ciente.
• • Um punhado de pessoas lembram de você dada
uma oportunidade.
• • • Sua família e alguns outros lembram de você e de
algumas coisas que fizeram juntos.
• • • • A comunidade, organização ou companhia tem
você na galeria de honra - ou amaldiçoa seu nome.
• • • • • Você tem o status de lenda para uma nação inteira
(ou mais). Esse nível de reconhecimento é bem mais fácil de
ser alcançado num lado negativo que num positivo.
Notoriedade
Fama é um problema para muitos dos vivos do
mundo ocidental. Aqueles que não perseguem ativamente
ou tentam preservá-la são constantemente bombardeados
com imagens daqueles que estão em busca disso. Entre os
mortos, fama mortal tem pouco impacto, apesar daqueles
que morrem com tal reputação serem aguardados pelos In-
quietos.
No entanto, também é possível cultivar uma repu-
tação, boa ou má, além do túmulo. Renegados e outros dis-
sidentes logo conseguem reputações e muitas são invejadas.
Capítulo 5: Características 131
Notoriedade é a medida de quão bem uma aparição é co-
nhecida, quão ela é comentada e quais expectativas as outras
aparições tem dela. Uma aparição com um alto nível de No-
toriedade pode achar isso uma maldição – outras aparições
falam bastante dele, projetam suas esperanças e temores nele
e pedem favores e atenção apenas pelo seu papel como figura
pública. Fama em vida não é garantia de Notoriedade após a
morte, nem uma vida calma e sem exageros protela a quietu-
de nas Terras das Sombras.
X Como a maioria dos Inquietos, você é um rosto na
multidão. Você se mantém às escuras de propósito?
• Você deixou algumas impressões.
• • Talvez seu Local Assombrado seja visitado regular-
mente.
• • • Seu nome viajou mais que você.
• • • • Cada aparição nas Terras das Sombras reconhece
seu nome (mas não necessariamente seu rosto).
• • • • • Qualquer que seja o motivo, você não pode escapar
de ser reconhecido onde quer que você vá.
Relíquia
Relíquias são coisas que existiram nas Terras da
Carne e ainda persistem nas Terras das Sombras mesmo
após a sua destruição. As razões para essa durabilidade psí-
quica variam, mas todas foram fontes de uma forte emoção
na época em que existiam para terem atravessado a Mortalha
com a força de sua memória. Algumas relíquias foram coi-
sas importantes por si mesmas, como tesouros nacionais ou
insígnias de oficiais. Outras foram artigos que foram impor-
tantes para alguém e adquiriram peso emocional suficiente
para persistir nas Terras das Sombras - alianças de casamen-
to, bichos de pelúcia e afins. Uma relíquia não necessita ter
pertencido a aparição ou mesmo ter grande importância
para ela, a propriedade pode ser adquirida pelas aparições.
Personagens que comprarem esse Antecedente po-
dem adquiri-lo mais de uma vez para representar mais de
uma relíquia de um determinado nível.
X Você não possui nada. Você recentemente escapou
do Cativeiro, ou não é apegado a coisas materiais?
• Uma relíquia aparentemente insignificante, como
as chaves de um carro valioso.
• • Uma relíquia menor, talvez uma pequena obra de
arte.
• • • Uma relíquia com alguma utilidade, como um te-
lescópio ou uma faca.
• • • • Uma relíquia com partes móveis, normalmente
abastecida por Pathos.
• • • • • Uma enorme ou inestimável relíquia, um dispositi-
vo sofisticado ou um objeto famoso.
Status
Status é um reconhecimento mais concreto de po-
der que Notoriedade. Mas não é, no entanto, medida de mé-
rito ou êxito. Muitos burocratas no Mundo Inferior, tal qual
nas Terras da Carne, tem feito pouco ou nada para merecer a
autoridade que possuem. Status pode ser usado para ganhar
132 Aparição: O Esquecimento
favores das autoridades, de qualquer tipo.
Status não necessariamente está relacionado a Hie-
rarquia, embora muitos Hierarcas possuam ao menos algum
Status. Ele também pode representar um posto entre os Re-
negados, os Hereges ou qualquer uma das várias Guildas.
É possível, ainda que incomum, para uma aparição possuir
Status em vários grupos. Nesse caso o Antecedente precisa
ser comprado várias vezes. Com Status vem dever e res-
ponsabilidade, aparições com altos níveis de Status se vêem
responsáveis por decisões que afetam a existência de vários
Inquietos de menor categoria.
X Nenhuma organização reconhece você.
• Um iniciado de algum tipo. Você é responsável por
tarefas desagradáveis, mas ao menos é reconhecido como
parte de um grupo.
• • Após ter demonstrado sua devoção ao grupo, você
foi escolhido para uma posição de alguma responsabilidade.
• • • Você está nas sombrias posições intermediárias.
Não tão baixo o suficiente para ser empurrado ou tão alto o
suficiente para empurrar, essa é uma posição perigosa para
se estar, mas recompensadora.
• • • • Esse nível de Status representa o nível de controle
e privilégio. Você tem acesso aos recursos do grupo e é tido
como de confiança pelos seus líderes.
• • • • • É improvável que personagens jogadores cresçam
além desse nível. Tendo ganho significante poder e respeito,
você é um líder.
Corpus
O que ele tocou era, de acordo com o que acreditava,
uma boca, com dentes, e com pelos em volta, e, ele disse, não
era uma boca humana.
- M. R. James, “Casting the Runes”
O Corpus de uma aparição é seu corpo, sua mani-
festação física no Mundo Inferior. Além disso, o termo tam-
bém se refere a relativa saúde daquela forma. Quanto mais
níveis de Corpus uma aparição possui, mais sólida sua forma
ectoplasmática se mantém e mais “saudável” ela está. Apari-
ções que perdem todo o seu Corpus caem num Pesadelo ou
algumas vezes no Esquecimento. Porém, visto que o Corpus
é facilmente recuperável, aparições podem suportar uma
grande quantidade de injúria.
A aparência do Corpus de uma aparição é determi-
nada amplamente pela imagem subconsciente de si mesmo.
Embora muitas aparições vejam a si mesmas como em vida,
algumas se vêem melhor, algumas pior e algumas encontram
a si mesmas em Corpora que possuem uma aparência com-
pletamente inumana. No entanto, apenas porque o Corpus
de uma aparição possua asas não significa necessariamen-
te que ela possa voar, a maioria das modificações desse tipo
são estritamente cosméticas, não funcionais. Além disso, as
roupas de uma aparição também são parte de seu Corpus
- ela desperta como uma aparição vestindo o que quer que
subconscientemente ache apropriado. Muitas aparições en-
contrarão seu guarda-roupas mudando para vestir a situação
sem esforço consciente ou pensamento de sua parte, refletin-
do quão radicalmente a forma de uma aparição é delineada a
partir da imagem subconsciente de si mesmo.
Arcanoi
Corpus

Permanente
Corpus Permanente é a medida do máximo de
“Travessuras ou Gostosuras à moda antiga. Porém,
travessuras dos mortos...”
- Ray Bradbury, A Árvore Sagrada
níveis de Corpus que uma aparição pode possuir. Todas as
morte abre as portas a coisas
aparições começam com um nível de Corpus permanente
desconhecidas para os vivos.
de 10, mas isso pode cair se uma aparição falhar ou sofrer
Uma Aparição está Aguilhoada e
falhas críticas em Pesadelos. Isso cria um ciclo vicioso: uma
limitada, mas também possui um
aparição perde Corpus permanente, limitando seu Corpus
grande potencial para se modi-
temporário máximo. Isso significa que ele perde seu Corpus
ficar, ou às coisas que a cercam.
temporário mais facilmente, lançando ele em outro Pesadelo
Aqueles que sabem, que podem
no qual ele pode perder mais Corpus permanente e assim
desemaranhar os segredos da
por diante...
morte, notam-se capazes de es-
Não existe um método conhecido para aumentar
tranhos poderes chamados Arca-
Corpus permanente, apesar de alguns rumores correrem a
noi.
respeito das habilidades dos Usurários e dos Mascarados.
Certos Malfeanos e outros residentes da Tempestade têm de-
monstrado possuir níveis de Corpus que excedem 10, o que
poderia ser um segredo para recuperar - ou mesmo mesmo
Artes Alternativas
aumentar - o Corpus permanente.
Enquanto os Arcanoi não possuem nenhu-
Corpus

Temporário
O registro do Corpus na planilha em Aparição per-
ma arte em um nível maior que cinco, eles possuem
muitas variações em cada um dos níveis mais bai-
mite você marcar quão saudável seu personagem está. Os xos das artes. Estas chamadas “Antigas Artes” ou
círculos representam o Corpus permanente e os quadrados “Novas Artes” podem ser aprendidas no lugar das
representam o temporário. O valor temporário nunca pode- artes básicas listadas aqui, pelo mesmo custo em
rá exceder o valor permanente. pontos. Uma Aparição com o Arcanos Habitar pode
Existem dois meios básico de perder Corpus tem-
escolher aprender o primeiro nível da Antiga Arte
porário: interação com as Terras da Carne e violência no
Mundo Inferior. Cada vez que a aparição interage violenta- Mordida Elétrica (ver Livro de Guilda: Artífices) no
mente com um objeto ou uma estrutura nas Terras da Carne lugar do primeiro nível usual, Curto.
(uma bala, uma pedra, uma parede etc) ele perde marca um Uma Aparição que decide aprender uma
quadrado na planilha, indicando que aquele nível temporá- arte alternativa em vez da “arte normal” de um dado
rio foi perdido. Uma aparição sofre apenas um Nível de Cor- Arcanos simplesmente faz uma anotação em sua fi-
pus de dano não importa quão severo seja o impacto vindo cha de personagem dizendo a arte alternativa que
das Terras da Carne, uma aparição sofre a mesma quantida-
de tanto de dano de uma bola rápida de baseball como da
ela estudou. Se ela mais tarde decidir voltar atrás e
detonação de uma granada. Imediatamente após o impacto, aprender uma arte diferente com pontos de experi-
a aparição torna-se Incorpórea e não pode ser ferida por ob- ência, o custo é o seguinte:
jetos vindo das Terras da Carne por um número de turnos Custo em pontos para os níveis de Arcanos:
igual ao seu Vigor. Isso explica como as aparições podem Um 1
caminhar através das paredes, carros estacionados e estantes. Dois 3
Violência no Mundo Inferior é outra coisa, o nú- Três 6
mero de sucessos do oponente de uma aparição alcançados
no seu teste de dano é o número de Níveis de Corpus que a Quatro 9
aparição precisa riscar (sujeito a modificação via teste de ab- Cinco 12
sorção). Esse tipo de dano não torna a aparição Incorpórea e Uma aparição só pode ter artes alternativas
aparições sempre são sólidas entre si e a todos os objetos que de um nível menor ou igual ao seu nível de treina-
existem nas Terras das Sombras. mento. Artes alternativas em um Arcanos não po-
Aparições podem curar normalmente seu Corpus dem sem compradas a não ser que a Aparição tenha
tanto através de Modorra como pelo gasto de Pathos. A me-
ao menos um nível de conhecimento do Arcanos
dida em que cada nível de dano é curado, a marca de cada
quadrado é apagada. Para mais informações sobre a perda em questão.
e a recuperação de Corpus, veja “Dano”, página 231.

Capítulo 5: Características 133

 Arcanoi são segredos que podem ser tanto aprendi-
dos, ensinados, quanto adquiridos pela experiência. Eles são
formas de se utilizar matéria espiritual da aparição para alte-
rar outros aspectos do Mundo Inferior ou, em alguns casos,
das Terras da Carne. Um Arcanos é, de muitos modos, tanto
uma filosofia quanto um ofício, constituído igualmente de
pontos de vista e perícia. A maioria das aparições demonstra
aptidão para um ou dois Arcanoi imediatamente após seu re-
nascimento, e rapidamente aprendem os primeiros poderes,
ou artes, destes Arcanoi. Em termos de jogo, quanto maior
for o nível da arte (representado pelo número de • antes de
seu nome), maior será seu custo em pontos, mais difícil será
seu aprendizado, e mais poderosa ela será.
O Legado Diversificado
Assim como todas as habilidades, os Arcanoi estão
sempre se desenvolvendo. As aparições frequentemente in-
terpretam suas artes à sua própria maneira, personalizando
seus Arcanoi com nada mais que seu ponto de vista. A ex-
perimentação ativa pode ser perigosa, porém altamente re-
compensadora. Os Narradores são livres para permitir que
os jogadores inventem novas artes para qualquer Arcanos.
Se a arte proposta for apropriada e seu poder for similar ao
das artes já listadas, eles podem inclusive permitir que os jo-
gadores a incorporem ao jogo. Existem também artes mais
antigas e mais obscuras, que o Narrador pode ponderar e
permitir que os jogadores as aprendam. Exemplos destas
Artes Antigas podem ser encontrados na série de suple-
mentos Livro de Guilda.
Aprofundar-se na prática de um Arcanos pode
marcar uma aparição com um sinal daquele poder. Estas
marcas a tornam reconhecível como alguém com grandes
conhecimentos em uma habilidade arcana específica, e não
podem ser removidas por alterações cosméticas. Os detalhes
variam de Arcanos para Arcanos.
Marcas deO usoArcanos
excessivo de um Arcanos irá marcar uma
aparição permanentemente, quer esta seja ou não um mem-
bro da Guilda associada ao Arcanos em particular. Uma
aparição mergulhando na Tempestade utilizando Argos com
uma freqüência regular irá adquirir olhos completamente
negros, mesmo que ela nunca tenha encontrado um Mensa-
geiro “oficial”. É o próprio Arcanos (ou o ambiente associado
a seu uso) que cria as marcas, e não algum tipo de afiliação à
Guilda.
Entretanto, existem muitas aparições que aprende-
ram mais de um Arcanos a tal ponto que elas começam a
desenvolver mais de um conjunto de marcas distintas. Isto
não é mais incomum em uma Estigia onde cidadãos comuns
são encorajados a aprenderem vários Arcanoi. Geralmente,
a aparição talentosa irá manifestar os padrões distintos de
todos os Arcanoi que ela utilizar, a não ser que haja algum
conflito no desenvolvimento das marcas (por exemplo, Ar-
gos e Intimação modificam a aparência dos olhos do usuário
de formas mutuamente excludentes). Neste caso, as marcas
134 Aparição: O Esquecimento
do Arcanos que é utilizado com maior freqüência irão pre-
dominar, apesar de que algumas evidências das artes menos
utilizadas também se manifestarão. Por exemplo, um Men-
sageiro com algum conhecimento em Intimação (que colore
o olho esquerdo do usuário em um verde brilhante) terá os
tradicionais olhos negros, porém com um brilho claramente
esverdeado em seu olho esquerdo.
Poréns
Em termos práticos, usar um Arcanos significa
juntar sua parada de dados à de um atributo (Percepção +
Insulto, por exemplo). As forças e fraquezas mais primárias
de uma aparição estão inexoravelmente ligadas com as ar-
tes secretas que esta conhece. Ela também deve, geralmente,
gastar Pathos para ativar um Arcanos (ver “Pathos”, página
101). Qualquer custo, seja gastar Pathos, Corpus ou Força
de Vontade ou ganhar Angústia temporariamente, deverá
ser pago, quer a tentativa seja bem-sucedida ou falhe.
O ambiente também afeta o uso de um Arcanos. Os
vivos podem negar o poder da morte, tornando mais difícil
ativar os Arcanoi. Esta barreira é a Mortalha, o muro entre
a terra dos vivos e dos mortos. Para muitos Arcanoi, a difi-
culdade da maioria das jogadas é igual ao nível da Mortalha
local. De fato, a não ser que seja dito o contrário, a dificul-
dade para se usar Arcanoi é o nível da Mortalha. O nível da
Mortalha geralmente é 9, mas enfraquece em alguns lugares,
ou em algumas ocasiões. Por exemplo, a Mortalha diminui
em cemitérios, no Dia das Bruxas ou em ocasiões popular-
mente ligadas aos mortos. A Mortalha também é menos po-
derosa no Local Assombrado de uma aparição. Porém, não
importa a situação, o nível da Mortalha nunca será inferior a
4 (as regras para Narradores sobre a Mortalha podem ser
encontradas na página 240).
Falhas Críticas
De cada segredo provém um perigo, e os Arcanoi
não são exceção. Aqueles que não possuem maestria em
suas artes correm riscos terríveis. Se um personagem
sofre uma falha crítica em uma jogada de Arcanos, o
Narrador deve aplicar algum efeito. Por exemplo, uma
aparição que sofre uma falha crítica em um teste de Mo-
delar pode ficar presa à sua forma atual, incapaz de mo-
dificá-la por uma cena. Uma falha crítica em um teste de
Argos pode jogar a infeliz aparição dentro da Tempes-
tade, e uma falha crítica em uma tentativa de Castigar
é certamente um acontecimento terrível. Descrições de
possíveis acontecimentos para falhas críticas vêm inclu-
ídas junto a cada Arcanos. Porém, elas não devem ser
tomadas como escrituras sagradas; o Narrador deve es-
colher um efeito, ameno ou severo, de acordo com sua
crônica. (Às vezes, a falha em si já é uma punição.) Estas
sugestões estão aqui apenas como meios possíveis de dar
sabor a seu jogo e representar os riscos inerentes aos se-
gredos dos mortos. Seja criativo.

A Força OsdasGrilhões
Correntes
também podem alterar a dificuldade
de um Arcanos. É obviamente mais fácil afetar o mundo
dos vivos com a força de uma ligação prévia abastecendo as
Paixões de uma aparição. Para mudar a dificuldade de uma
jogada de Arcanos, o Grilhão deve representar um papel im-
portante na arte (geralmente, o do objeto visado). Uma ma-
neira de refletir isto é testar o nível do Grilhão contra uma
dificuldade 6; cada sucesso reduz a dificuldade da arte em - 1
pelo restante da cena. De uma maneira mais simples, o Nar-
rador pode reduzir a dificuldade em - 1 ou - 2, dependendo
do quão bem integrado o Grilhão está à arte. A dificuldade
de uma jogada de Arcanos nunca pode ser levada a níveis
mais baixos que 4.
Sintonia
Sintonia é o processo de praticar gradualmente um
Arcanos em determinado alvo, investindo Força de Vontade,
de forma que o Arcanos se torne mais fácil, quando lidando
com a pessoa ou objeto em questão. Este processo é muito
usado com Encarnar, Titerismo e Habitar, mas o Narrador
tem a liberdade de permitir que seus jogadores usem essa
sintonia em outros Arcanoi (como Usura ou Pandemo-
nium). Pessoas com as quais uma aparição tenha sintonia
são geralmente chamadas Consortes.
Toda vez que uma aparição tiver sucesso em se
manifestar para Cavalgar ou se esconder em um objeto, ela
pode gastar um ponto de Força de Vontade, cuidadosamen-
te se identificando com o objeto. O mais próxima, em vida,
que a aparição tenha sido do objeto, mais fácil será para sin-
tonizar-se com ele. Sintonizar-se com estranhos custa cinco
pontos de Força de Vontade; sintonizar-se a um amigo pró-
ximo ou amante pode requerer apenas dois ou três pontos.
Os resultados variam dependendo do Arcanos; por exemplo,
certas artes de Titerismo podem ser utilizadas apenas em
Consortes. Se a sintonia não oferecer resultados para um Ar-
canos, o Narrador deve escolher algum efeito que lhe pareça
razoável – se ele decidir que possa haver sintonia neste caso.
Os OutrosOs Arcanoi a seguir não são os únicos que foram
ensinados pelas Guildas, banidas há muito tempo. Três fo-
ram banidos de Estigia, e seus praticantes jogados na tor-
menta. Os Alquimistas, mestres em Fluxo, se descobriram
alvos de uma perseguição pelos poderes de seu Arcanos, que
pode reforçar, apodrecer ou animar objetos nas Terras da
Carne. As sinistras artes do desejo caracterizadas pelo Arca-
nos Intimação são igualmente procuradas e temidas, porém
seus mestres são poucos e longínquos. E as artes de reaver e
tecer memórias de Mnemosine, estas foram completamente
banidas. Para maiores informações sobre estas três Guildas e
seus Arcanoi, veja o Guia dos Jogadores para Aparição.
Capítulo 5: Características 135
 Argos
Mensageiros
stá ouvindo? Esse uivo por trás das
sombras dos becos e sob a pele de con-
creto de toda essa cidade... Você pode
ouvir? Pegue minha mão, e segure fir-
me. É para lá que o estou levando...
Argos é um Arcanos para via-
gens; especificamente, viagens pela
Tempestade. Ele permite à aparição
“nadar” pela essência da Tempestade,
encontrar trilhas secretas de um lugar para outro e realizar
jornadas razoavelmente seguras pelos reinos do Mundo In-
ferior. Mestres de Argos podem ir virtualmente a qualquer
lugar na Tempestade e voltar, sem serem molestados pelos
Espectros.
Sem Argos, porém, viajar pela Tempestade é
muito arriscado. Aparições sem conhecimentos de Ar-
gos ficam à deriva na tormenta, e só podem mudar sua
direção ao custo de um ponto de Pathos. Espectros, e
especialmente Vultos, são frequentemente atraídos
por presas tão fáceis. Além do mais, é quase im-
possível encontrar um Atalho sem algum conhe-
cimento de Argos. (Para maiores informações
sobre a Tempestade, ver a página 36.)
Um personagem com Argos pode
frequentemente “carregar” um pequeno nú-
mero de companheiros consigo, desde que
estes não ofereçam resistência. Enquanto todos
se derem as mãos, ele poderá guiar os outros.
Entretanto, estes passageiros podem aumentar a
dificuldade às ações relacionadas a Argos.
A Guilda
A Guilda dos Mensageiros se iniciou como
uma apanhado de, literalmente, mensageiros, arautos e
exploradores. Eles nunca se submeteram aos mesmos ní-
veis da enfadonha burocracia a que a maioria das Guildas
formais se submetia. Eles ocupavam um nicho na periferia
do governo de Estigia, trabalhando para a Hierarquia sem se
tornar realmente parte dela. O senso de honra comum à Guil-
da os levou a servir como uma espécie de “Guarda Costeira”
pela Tempestade, resgatando os perdidos e sitiados. Esta hon-
ra também se estende à lealdade a Estigia, e os Mensageiros
se juntaram relutantes à Grande Revolta. Porém, quando os
Mascarados e Usurários recuaram, os Mensageiros logo os se-
guiram.
Após a quebra das Guildas, tudo se tornou apenas
negócios, como era comum para a maioria dos Mensageiros,
embora de forma muito mais individual do que baseada em
uma Guilda. Vale a pena ressaltar que os Mensageiros ainda
inspiram respeito, e que a maioria das aparições considera de
má sorte interferir com o trabalho de um Mensageiro. Talvez,
para ganhar este respeito, os Mensageiros sempre irão se deter
para resgatar almas que encontram perdidas pela Tempestade.
136 Aparição: O Esquecimento
É claro que os Espectros também sabem disso, e se aproveitam
completamente, deixando armadilhas para Mensageiros des-
cuidados.
Mensageiros são excepcionalmente calmos, atentos, calados e
reservados. O tempo que eles passam na Tempestade gradu-
almente, porém invariavelmente, tinge seus olhos em um tom
completamente negro, da cor do azeviche.
Falhas Críticas
Se uma aparição tem uma falha crítica em uma jo-
gada de Argos, ela poderá ficar encalhada na Tempestade por
algum tempo. Ela também pode alucinar, vendo coisas na tra-
ma da Tempestade que não estão lá, ou não perceber as que
antes eram visíveis. De uma maneira geral, uma falha crítica
em Argos irá levar o infeliz viajante a algum tipo de perigo
– Espectros, o Labirinto ou qualquer coisa que o Narra-
dor possa conceber
Habilidades Básicas
Orientação: Tempo e espaço têm pouco significado
na estranha tormenta que é a Tempestade. Orienta-
ção permite à aparição determinar sua posição na
Tempestade e encontrar um caminho para seu
destino. Aqueles com Orientação podem viajar
para seus destinos pelo caminho mais rápido
e mais fácil (geralmente um Atalho), fugindo
à maioria dos obstáculos pelo caminho.
Apenas os tolos tentam navegar pela Tem-
pestade apenas com Orientação, mas decerto é
um excelente método para encontrar uma trilha
segura em emergências terríveis.
Aparições viajando pelas Terras das Sombras sem
apelar para caminhos pela Tempestade se movem à ve-
locidade de caminhada normal ou à velocidade de con-
duções; o padrão de tempo de viagem acima serve para este
tipo de transporte terrestre comum.
Sistema: O número de sucessos em uma jogada de
Percepção + Argos (dificuldade 8) indica a duração da viagem
até o destino da aparição. Aparições mais perspicazes podem
às vezes se utilizar das dimensões oscilantes da Tempestade
em seu próprio benefício.
1 - 3 sucessos Tempo padrão de viagem
4 sucessos Metade do tempo padrão de viagem
5 sucessos Um quarto do tempo padrão de viagem
Nota: O tempo de viagem depende do quão longe a aparição
está indo e se ela está se movendo pelos níveis do Mundo In-
ferior. Viajar entre as Terras das Sombras e Estigia geralmente
leva entre dois ou sete dias; duas semanas para alcançar as
Costas Distantes. Mover-se pela Tempestade para algum lugar
nas Terras das Sombras raramente leva mais de um dia, mas
não há garantias.
Se uma aparição falha em uma jogada de Orientação, significa
que ela foi para a direção errada e pode se perder. Isto (mais
os perigos que uma falha crítica acarreta), pode até se tornar
uma aventura, a critério do Narrador.
Ver a Tempestade: Esta arte permite à aparição olhar para
dentro da Tempestade, observando quaisquer seres ou coi-
sas à deriva nos arredores. Ela também poderá ser vista por
quaisquer seres na Tempestade próxima, e pode até se comu-
nicar com eles se houver necessidade.
Sistema: Com sucesso num rolamento de Percepção + Argos
(dificuldade 6), a aparição pode observar a área da Tempesta-
de local. O número de sucessos indica o quão limpa é a “jane-
la” pela qual a aparição observa.
Limiar da Tempestade: A maioria das aparições só pode
adentrar a Tempestade por meio de Nihils. Entretanto, aque-
les com Argos podem abrir seus próprios portais. Estes por-
tais são geralmente pequenos, e se fecham imediatamente
após a passagem da aparição.
Sistema: Abrir um portal requer uma jogada de Força + Ar-
gos (dificuldade 7).
• Envolver
Para evitar os perigos da Tempestade, aqueles que
usam Argos pela primeira vez aprendem a se esconder de
olhos hostis. Esta arte permite à aparição trazer sombras para
seu redor, tornando-a invisível na Tempestade e também nas
Terras das Sombras. Envolver faz a aparição subitamente de-
saparecer. Ela estará, então, envolta em sombras.
Sistema: Após gastar um ponto de Pathos, o jogador efetua
uma jogada de Destreza + Argos (dificuldade 7). Cada suces-
so permite à aparição continuar Envolvida por um tur-
no. Aparições Envolvidas podem efetuar ações em
outras, mesmo que violentamente, sem que sejam
reveladas.
•• Asas Fantasmas
Uma aparição usando esta arte pode
voar tanto na Tempestade quanto nas Terras das
Sombras. O vôo não é muito rápido (é mais pla-
nar do que qualquer outra coisa), mas pode ser
uma forma conveniente de sair por aí. Aparições
podem passear usando esta arte, mas nunca pode-
rão acelerar mais que uma corrida leve.
Sistema: O jogador efetua uma jogada de Vigor +
Argos (dificuldade 6); cada sucesso garante um
turno de vôo. O Narrador pode pedir uma jo-
gada de Destreza + Argos para manobrar ou
manter altitude em situações especialmente
desagradáveis (como sobre um Nihil, ou em
uma apertada torre de Estigia). Um persona-
gem deve estar Incorpóreo para voar nas Terras das
Sombras (ver Estados do Corpus, página 232).
••• Pulsar
O personagem com Pulsar pode uti-
lizar das distorções naturais da Tempestade
para viajar rapidamente de um lugar a outro.
Estes mini-saltos são bons apenas para dis-
tâncias pequenas, geralmente ao alcance da
vista. Pulsar é também uma boa maneira
de ludibriar oponentes em combate.
Sistema: O jogador efetua uma jogada de Destreza + Argos
(dificuldade 6). Cada sucesso reduz o tempo de viagem em
um turno. Por exemplo, se Henri estava tentando escalar uma
escada de incêndio e o Narrador decidiu que levaria quatro
turnos para chegar ao topo, dois sucessos significam que ele
poderia escalar em apenas dois turnos.
Se o destino desejado está fora do campo de visão,
mas ainda dentro de uma área da cidade, Pulsar ainda é pos-
sível. Entretanto, a dificuldade passa a ser 8, e qualquer falha
levará o personagem à Tempestade. De maneira similar, qual-
quer falha crítica em Pulsar prenderá o personagem na Tem-
pestade e esta arte não permite que ele saia. Pulsar substitui
Limiar da Tempestade, e pode ser utilizado sem a habilidade
anterior.
Cada “pulo” custa 1 Pathos.
•••• Salto
A aparição com esta arte pode rapidamente viajar
entre seus Grilhões, passando por trilhas secretas para estes
destinos familiares. Ela pode Saltar qualquer distância até um
Grilhão, mas apenas para Grilhões. Boatos dizem que os mais
velhos Estornados podem viajar instantaneamente para qual-
quer lugar no mundo sem o apoio de Grilhões, mas isso não
passa de boatos.
Sistema: O jogador efetua uma jogada de Vigor + Argos (difi-
culdade 8). Cada nível do Grilhão em questão reduz a dificul-
dade em 1. Quanto mais sucessos, menor o tempo da viagem
e cinco ou mais sucessos permitem o trânsito praticamen-
te instantâneo. Assim como Pulsar, a habilidade Limiar
da Tempestade não é necessária para o uso desta arte.
••••• Masmorra
Esta arte é a habilidade de jogar outros na Tempesta-
de. Ao concentrar sua vontade, a aparição pode ati-
rar outros dentro da Tempestade, ou mantê-las em
um ponto específico, não permitindo que escapem
da de lá ou das Terras das Sombras.
Sistema: O jogador rola Força + Argos (dificul-
dade da Força de Vontade do alvo). O alvo pode
resistir rolando Força de Vontade.
Aparições jogadas na Tempestade são li-
vres para usarem Argos, mas estarão com pro-
blemas se não conhecerem o Arcanos. A força
inerente ao banimento tira um nível de Corpus
do alvo, além dos outros efeitos.
Se a aparição está tentando manter o seu
alvo em algum lugar (na Tempestade ou nas
Terras das Sombras), o alvo será aprisionado
por um turno por sucesso. A aparição que
controla o aprisionamento deverá manter
uma concentração mínima para que a víti-
ma permaneça no local.
Ambos os usos desta arte custam
3 Pathos e dão ao usuário 1 ponto tempo-
rário de Angústia.
Capítulo 5: Características 137
 Castigar
Conciliadores
amais estamos sozinhos. Nunca. Não
enquanto a Sombra esconde-se às suas
costas. Eu posso ajudá-lo. Eu posso fe-
ri-la. Tenho um preço, sim, mas eu peço
muito menos do que ela pediria.
Se não fosse por Castigar, os po-
deres das Sombras permaneceriam
fora de controle. Aqueles que dominam
este Arcanos aprendem o que conduz e
alimenta a Sombra, como um prelúdio para o aprendizado do
que pode enfraquecer seu abraço.
Castigar é um Arcanos altamente personalizado. Um
Conciliador poderá usar força física, psicologia, meditação,
sermões, purificação ritual, tambores, zombarias, privação
sensorial ou outros milhares de métodos para combater
a Sombra. Os detalhes exatos dependem do gosto e das
crenças do Conciliador em questão. A maioria prefere
algum tipo de diálogo baseado na Natureza da Som-
bra-alvo, um processo chamado Dialética do Demô-
nio.
Os Narradores devem impedir seus jo-
gadores de abusarem de Castigar. Este Arcanos
traz um mínimo controle sobre a Sombra, as-
sim como grandes inspirações, e isto pode
ser usado de maneira imprópria. Mantenha
em mente que negociar com o lado negro de
uma aparição é um negócio perigoso – aqueles
que se envolvem demais em Castigar frequente-
mente encontram destinos terríveis.
A Guilda
A Guilda dos Conciliadores era quase um cul-
to Herege; e os Conciliadores certamente viam seu tra-
balho com um zelo quase religioso. No apogeu da Guilda,
lanternas de ferro marcando os serviços disponíveis de um
Conciliador estavam por todo lugar. Os Conciliadores se uni-
ram à rebelião das Guildas mais para corrigir os maus-tratos
de Estigia sobre os Hereges e outros prisioneiros, e não foram
punidos tão severamente quando Caronte esmagou a revolta.
Ainda hoje, nenhum soldado da Hierarquia prende um Con-
ciliador por expor sua lanterna. Os Conciliadores são indis-
pensáveis – sem eles, o Esquecimento já teria engolido Estigia
há muito tempo.
Os Conciliadores mais velhos tendem a descrever
Castigar com termos quase religiosos ou espirituais; as apari-
ções mais jovens preferem uma aproximação mais psicológica
da Sombra. Conciliadores são reconhecidos por seus dedos
manchados, maculados pelo contato com o lado negro das
aparições.
Falhas Críticas
Ter uma falha crítica em uma jogada de Castigar
138 Aparição: O Esquecimento
pode ser bastante perigoso. Uma Sombra pode ganhar An-
gústia temporária pelo atrapalhado desafio, ou exercer mais
força em sua próxima investida. A severidade é deixada a cri-
tério do Narrador; porém a Sombra sempre ficará furiosa pela
interferência deselegante de um Conciliador.
Habilidades Básicas
Baluarte: A aparição pode se proteger e a seus com-
panheiros de um Maelstrom. Castigar funciona como um
muro defensor, desviando os ventos tempestuosos do Maels-
trom e a protegendo de chamar a atenção de quaisquer Espec-
tros que por ali passem.
Sistema: O jogador efetua uma jogada de Vigor + Castigar
(tendo como dificuldade o nível do Maelstrom + 3). O per-
sonagem deve gastar 1 Pathos para cada nível do Maels-
trom, porém pode estender o Baluarte para si mesma e
para quaisquer aparições que toque.
Visão da Alma: Aqueles com Castigar podem exa-
minar uma aparição e ver a Sombra em sua alma.
Com cuidadoso estudo, a aparição pode medir o
poder bruto desta, e o quão próxima ela está da
superfície. O usuário não pode examinar sua
própria Sombra. A Visão da Alma pode tam-
bém detectar Espectros (como Replicantes)
por perceber e estimar a terrível força de suas
Sombras.
Sistema: A aparição faz uma jogada de Per-
cepção + Castigar (dificuldade 8). O número de
sucessos determina quanto conhecimento ela con-
segue. O Narrador descreve então a força da Sombra
como fraca, distinguível, razoavelmente forte, forte ou
eminente (dependendo da atual pontuação de Angústia
do personagem), e pode dar mais detalhes caso o jogador
tenha conseguido um bom resultado.
• Coagir
Esta arte traz algum poder sobre a Sombra do usuá-
rio. Uma aparição utilizando Coagir poderá usar da força de
sua Sombra com um risco enormemente diminuído.
Sistema: O Guia da Sombra poderá oferecer ao jogador um
número fixo de Dados da Sombra (ver página 175) para aju-
dar em qualquer tarefa. Uma aparição também pode usar
Coagir para modificar este número. O jogador deverá fazer
uma jogada de Carisma + Castigar (dificuldade 6); cada dois
sucessos permitem ao jogador adicionar ou subtrair um dado
do número oferecido.
O personagem não gasta Pathos, porém, ganha 1
ponto de Angústia para cada uso de Coagir.
•• Segredos Sombrios
Esta arte perturbadora permite ao usuário desco-
brir segredos sombrios de outra aparição pelo estudo de sua
Sombra. É claro que a Sombra pode dar ao Conciliador in- rição pode afastar Espectros e impedi-los de entrar em seu
formações falsas – espalhar mentiras pode ser de interesse da círculo de ação. Esta arte pode proteger uma construção com-
Sombra. Geralmente, quanto mais fraca a Sombra, melhor o pleta de Espectros (porém, deve-se usar a razão – apenas os
Conciliador poderá forçá-la ou manipulá-la a ser mais hones- maiores Conciliadores poderiam guardar um arranha-céu
ta. inteiro). Quaisquer Espectros na área, escondidos ou não, são
Sistema: A aparição cuidadosamente examina a Sombra do afugentados. Curiosamente, esta arte não mantém Replican-
alvo, e faz uma jogada de Percepção + Castigar (dificuldade tes igualmente à margem.
da Força de Vontade do alvo). Cada sucesso permite ao Con- Sistema: Cada sucesso em uma jogada de Carisma + Casti-
ciliador fazer uma pergunta ao jogador-alvo (ou ao Nar- gar (dificuldade 7) irá manter a proteção por um turno.
rador, se apropriado). O jogador-alvo deve responder Quaisquer Espectros já presentes devem ser derrota-
a verdade, mas pode investir em respostas enig- dos em uma jogada resistida (a jogada de Faxina
máticas ou meias-verdades (os truques prefe- do jogador contra a Angústia do Espectro).
ridos das Sombras). O personagem-alvo Um espectro que seja banido assim ficará
pode permitir à sua Sombra resistir em pela duração da arte, mesmo que outros
uma jogada de Angústia – ninguém Espectros nos arredores não sejam
gosta de ter seus segredos mais afetados.
sombrios desenterrados.
Esta arte custa 1 Pa- ••••• Desafiar
thos, e traz 1 ponto de Angús- Aqueles que possuem
tia ao usuário. esta arte podem lutar contra
o desejo de suas Sombras por
••• Purificar controle. Se a Sombra tenta do-
Ao concentrar sua minar uma aparição conhece-
vontade, uma aparição pode dora de Desafiar, o Conciliador
atacar diretamente o poder da poderá tentar colocar seu lado
Sombra de outra. Os métodos negro de volta a seu lugar. Esta
utilizados variam de Concilia- arte pode também ser utilizada
dor para Conciliador, e podem para ajudar outras aparições em
incluir sermões, música, can- suas lutas, ao custo adicional de
tos esotéricos ou até flagela- 1 ponto de Angústia.
ção. Isto é um processo longo Sistema: Para resistir às tenta-
e meticuloso, e não pode ser tivas da Sombra de assumir o
apressado sem graves riscos. controle, o personagem faz uma
Sistema: O Narrador faz uma jogada de Carisma + Castigar
jogada de Carisma + Casti- (tendo como dificuldade sua
gar em segredo. A dificulda- Angústia atual). Cada sucesso
de é a pontuação de Angústia reduz sua Angústia em 1; a Som-
permanente do alvo; o alvo bra não tem como se defender
também pode ajudar na jo- contra isso. Desafiar pode ser
gada gastando Força de Von- usado contra a Sombra de outras
tade. Cada sucesso reduz a aparições, mas a dificuldade pas-
Angústia temporária em - 1, sa a ser a Angústia atual do alvo
mas também causa 1 nível + 3.
de dano ao Corpus do alvo. Usar o Desafio custa 1
O “Castigador” recebe um Pathos, e mais um Pathos para
ponto temporário de Angús- cada sucesso. Falhar nesta joga-
tia para cada “1” na jogada da adiciona 1 ponto à Angústia
de Purificar. temporária do personagem;
uma falha crítica adicionará
•••• Faxina 1 ponto de Angústia per-
Protegendo- manente.
-se em sua pu-
reza, uma
apa-

Capítulo 5: Características 139

 Encarnar
Procuradores
bra-se para o calor. Esqueça as Terras
das Sombras, esqueça seu Corpus, es-
queça até de mim. Apenas concentre-se
no calor – ele deve aquecê-lo como o sol
costumava fazer. Lembra? Lembra dos
dias ensolarados no parque e roupas
largas de algodão? É isso...
Encarnar é a arte de se mani-
festar fisicamente no mundo mortal.
Assim como muitos Arcanoi, ela desafia o Código de Caron-
te por sua própria existência; apenas os Senhores da Morte
têm autoridade para passar pela Mortalha impunes. Porém,
os encantos da carne são fortes. A mudança nos sentidos de
uma aparição quando ela se manifesta é enorme, e sublime
suficiente para trazer a tentação até ao mais severo Centu-
rião.
A melhor maneira de se aprender a Encarnar
é abrir os sentidos de alguém, se focando no maior
estímulo sensorial disponível. Música alta, o calor de
um reator, o reflexo tremulante em um lago – tudo
pode ser a âncora pela qual a aparição poderá se
forçar através da Mortalha.
Se uma aparição Encarna fisicamen-
te, ela se expõe a ferimentos mortais. Apa-
rições imateriais perdem apenas um nível
de Corpus por um golpe ou um tiro, mas
aquelas fisicamente materializadas perderão
tantos níveis de Corpus de dano quanto perde-
riam Níveis de Vitalidade em vida. Se for “morta”,
uma Aparição Encarnada é impulsionada para um
Pesadelo Direcionado e se torna sua Motivação.
Sintonizar-se com um Consorte é particular-
mente útil no uso de Encarnar (ver Sintonia, página
135). Uma vez sintonizada, todas as dificuldades de En-
carnar naquela pessoa (e apenas naquela pessoa) são re-
duzidas em -3. Também não haverá custo em Pathos para se
manifestar para o alvo. Entretanto, apenas o Consorte pode
ver ou ouvir a aparição. Esta é uma faca de dois gumes; Ou-
tros mortais podem considerar o Consorte louco ou, conve-
nientemente, o alvo poderá convencer outros da existência
da aparição, tornando mais fácil para esta se sintonizar a
eles.
A não ser que seja indicada especificamente, a difi-
culdade de qualquer jogada de Encarnar é igual ao nível da
Mortalha local. Encarnar é teoricamente inútil na Tempesta-
de.
A Guilda
Por razões óbvias, a Guilda dos Procuradores teve
uma relação extremamente delicada com as autoridades de
Estigia por séculos. Embora eles tenham sigo empregados
140 Aparição: O Esquecimento
por Estigia, o Código de Caronte proibia os Procuradores
de praticarem suas artes por si mesmos. A maioria, porém,
desdenhava das restrições, interagindo com mortais sempre
que podiam. Entre os revoltosos mais entusiastas, os Procu-
radores receberam a maior parte da culpa quando a Revolta
falhou. Por séculos, Legionários foram encorajados a caçar
Procuradores e forçá-los ao Cativeiro – ou pior. Desde o de-
saparecimento de Caronte, esta caçada se atenuou, mas de-
monstrar talentos para Encarnar no território da Hierarquia
ainda é uma decisão infeliz.
As jornadas do Procurador pela Mortalha gradual-
mente marcam seu corpo com peculiares desenhos claros e
escuros. Procuradores experientes frequentemente têm pa-
drões em sua pele, parecidos com raios de luz por entre
árvores.
Falhas Críticas
Coisas estranhas acontecem àqueles que usam ina-
propriadamente a arte de Encarnar. Um persona-
gem pode perder sua voz nas Terras das Sombras
caso falhe criticamente em seus Sussurros, ou cair
na Tempestade caso falhe em outras artes. Pro-
curadores também correm o risco de ganhar
Angústia; quando as sensações do mundo
material são oferecidas e depois violenta-
mente levadas embora, o desespero é quase
sempre devastador.
Habilidades Básicas
Toque Fantasmagórico: A aparição pode
exercer um mínimo e delicado toque no mundo ma-
terial, mais fraco mesmo que Sibilar (Insulto • , ver
página 152). O personagem talvez não possa mover
nada maior que poeira – talvez o máximo que possa fazer
seja gentilmente escrever em uma janela embaçada, e isso
tomaria toda sua concentração.
Sistema: O jogador efetua uma jogada de Força + Encarnar
contra a Mortalha local.
Manter Forma Material: Esta não é exatamente
uma habilidade, mas sim a capacidade de manter uma forma
Encarnada por um período mais longo.
Sistema: O jogador efetua uma jogada de Vigor + Encarnar
(dificuldade 7). Cada sucesso se adiciona ao número de su-
cessos já obtidos para o poder de Encarnar já em uso.
Esta habilidade custa 2 Pathos. Uma falha dispersa
imediatamente a forma Encarnada.
• Sussurros
A aparição pode sussurrar através da Mortalha, fa-
zendo sua voz ser fracamente ouvida nas Terras da Carne.
Esta arte não é necessária para falar com seres sobrenaturais
que ignorem a Mortalha, como os changelings Sluagh.
Sistema: O jogador efetua uma jogada de Manipulação +
Encarnar. Cada sucesso permite à aparição transmitir uma
frase curta.
•• Fantasma
A aparição pode se manifestar como uma imagem
enevoada e translúcida, uma vaga reminiscência de seu cor-
po mortal. Os mortais que virem esta forma intangível reagi-
rão com intenso pavor, e serão completamente afetados pela
Névoa (ver a página 241).
Sistema: O jogador efetua uma jogada de Carisma + Encar-
nar, e a aparição se manifestará pela duração de um turno
por sucesso. Se o personagem desejar, ela também poderá
tentar assustar os espectadores por meio de uma jogada de
Manipulação + Encarnar contra a Força de Vontade do alvo.
Modelagens horríveis e outros usos criativos dos Arcanoi
podem modificar esta jogada.
Fantasma custa 1 Pathos.
••• Estátua
Esta arte permite à aparição tomar uma forma só-
lida, porém imóvel. A aparição Encarnada parece ser uma
versão idealizada de si mesma, porém em carne fria e dura.
Durante o uso de Estátua, a aparição não pode se mover, fa-
lar ou mesmo respirar. Entretanto, esta arte ainda pode ser
bastante útil para evitar Espectros ou possíveis perseguido-
res. Por exemplo, em um metrô lotado, caçadores podem
ignorar o “viajante dorminhoco” na pressa de en-
contrar sua presa fantasmagórica.
Sistema: Cada sucesso em uma jogada de Vigor +
Encarnar indica quantas vezes o personagem pode
ser tocado, ou quantas cenas ele permanecerá sólido
(o que acontecer primeiro). O jogador pode ser
ferido como se fosse mortal (ver acima).
Esta arte custa 2 Pathos.
•••• Vida-em-Morte
Esta arte permite à aparição
manifestar-se mais ou menos
como em seu corpo mortal.
Sua aparência reflete as
fracas e instáveis lem-
branças de seu eu vi-
vente; muitas aparições
tendem a idealizar sua
aparência, se tornando
mais bonitos Encarnados
do que quando estavam vi-
vos. Esta forma tem os cabelos
mais escuros e a pele mais páli-
da, mas geralmente não parece
tão diferente. A aparição usando
Vida-em-Morte tem a carne mais fria
do que deveria, e parecerá constantemente
distraíd
sária para manter esta forma). Por mais que a maioria dos
espectadores não perceba nada errado com a aparição usan-
do esta arte, aqueles que lhe foram mais próximos em vida
perceberão as diferenças.
Sistema: O jogador efetua uma jogada de Manipulação +
Encarnar; cada sucesso permite à aparição permanecer só-
lida por uma cena. Esta forma só poderá ser utilizada se o
personagem tiver uma forma humana no momento (aqueles
Modelados como objetos não poderão se utilizar de Vida-
-em-Morte). O jogador pode optar por substituir sua pontu-
ação em Manipulação por sua Aparência enquanto Encarna-
do. A aparição leva dano como os mortais levariam quando
em uso desta forma.
Esta arte custa 2 Pathos.
••••• Materializar
A aparição pode assumir uma forma quase comple-
tamente humana, duplicando brevemente sua vida mortal.
Quando Materializada, ela respira, sangra, sua e aproveita
seu antigo calor. A aparição pode fazer tudo que fazia quan-
do estava viva. A única restrição é o tempo – o custo desta
forma em Pathos e a concentração necessária são incríveis. A
sensação desta forma é quase opressiva, espe-
cialmente para aparições que estão mortas
há muito tempo.
Sistema: O jogador efetua uma jogada
de Manipulação + Encarnar. Cada suces-
so permite ao personagem permanecer
sólido pelo tempo de um suspiro. Se o
personagem está sintonizado com
a pessoa que o está vendo, ele se
manifestará à razão de uma hora
por sucesso. Enquanto Mate-
rializada, a aparição sofre dano
como se ainda fosse mortal.
Cada uso desta arte custa 3 Pathos e
1 ponto de Força de Vontade.