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O àiyé é terra estranha; nosso lar é o îrun

Só se recebe a felicidade que se oferece


Um árabe não adora outro
As penas que o papagaio perde renascerão
Cuidado ao dar, para que não tenhas que pedir
Ninguém perde quando divide sua casa com um awo
Quem trabalha com ûlù tem a roupa manchada
Com o repouso da mente se vence o inimigo

Otura Meji

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Òtúrá Meji

*Por mando de Olódúmarè, Îrúnmìlà fiscaliza o àiyé Ökërë e sua boca grande
*O abençoado povo de Ìhehújû Îñun chorava por seu amor
*Òrìñà Ògìyàn cria os alicerces das civilizações O Comerciante linguarudo
*Àlùké, filha de Olódúmarè Olófin se agrada como o awo humilde
*Òñúbùdó e seus muito seguidores A morte da esposa de Òtúrá Meji
*O casamento de Sálúbàtà e Ësë Îrúnmìlà prende os ladrões de sua lavoura
*Gbólú, o visionário e ingênuo A ascensão de Òtú
*A boca do falador é o que o mata Por que a cabeça de Caranguejo é diferente
*Îrúnmìlà apazigua Öbalúwayé, Èñù e Ìyàmi Ñàngó tira a instabilidade de um povo
*O acordo mal sucedido de Îrúnmìlà
*Îrúnmìlà monta Àrokò para seu Ëgbý
*Îrúnmìlà perdoa o povo de Ìpàpó
*O cego mendicante
*Îrúnmìlà vai ao îrun em busca de sabedoria
*Àlùkándí, o matador do îrun
*Os ûwî de Òtúrá Meji
Graças a Òtúrá a riqueza chega ao àiyé
Òtúrá pratica Ìfá entre os árabes
Òtúrá ensina que Verdade é mais poderosa que Mentira
A razão do sofrimento da raça negra
“Traje de Tecido Fino” e seu caminho para a imortalidade
Por que o awo senta-se na esteira para ler Ìfá
Por que os brancos são céticos
Homem jovem recebe àñë de Olófin
Îrúnmìlà é salvo pelo Polvo e pelo Caranguejo
O líder dos Ìmîlû há de prosperar sem grande esforço
O pacto entre Òrìñà Oko e os Espíritos da Terra
Por que os orangotangos não são homens completos
Egún pàribò traz doenças ao povo de Öbanìyèn
O porquê de caprinos não ficarem próximo a plantações
Òtúrá era o preferido de Olófin
Um cavalo não emprenha
O homem que era rico, e tolo
Òrìñà Ìgbò chega no àiyé
Òtúrá faz ëbö por filhos e boa sorte
Ñàngó descobre o ìyàngareò
Ògùn sele derò

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Òtúrá Meji

Essência

a) Aqui nascem as disputas, o jejum, o ìyàngareò, o ceticismo espiritual, a verborragia, a cegueira, a

mendicidade, as raças humanas, as grandes religiões, a igualdade, as armas de guerra, os pássaros


cantores, os legumes, a fraternidade; o povo mulçumano, o uso das roupas, o som das ondas, o domínio
do homem sobre o animal, os segredos dos galhos e das árvores, o sistema parassimpático, as civilizações
primitivas, a pureza da mulher, a cólera dos homens; as armas de fogo; a separação entre os povos; a
bolsa dos Babalawo.

b) Kafere fun Ñàngó, Öbàtàlá, Îñun, Öbalúwayé, Ìyàmi Òñòròngá, Òrìñà Oko,

c) Òtúrá Meji corresponde a uma visão mística do Universo. Quando em ire, o Orí se alinha com Olódúmarè,
favorecendo sabedoria, intuição, religiosidade, trabalho espiritual e consideráveis bênçãos. Quando em ibi, o
alinhamento em questão favorece vaidade, orgulho e o egocentrismo nas mais variadas formas (nacionalismo,
racismo, etc.).

Ire

a) Ao se manifestar em ire, Òtúrá Meji avisa que todas as bênçãos do àiyé serão alcançadas pela pessoa para quem
esse Odù se manifesta. Isso acontece por que em outras ocasiões (nessa ou em outras vidas), a pessoa já serviu mais
do que adequadamente a Olódúmarè, e por isso, nessa vida, será abençoada das maneiras mais distintas.

b) Não são apenas serviços prestados à evolução espiritual da humanidade que atrai a devida recompensa; Òtúrá Meji
ensina que também serão abençoados abundantemente aqueles que perceberem a importância do trabalho sério, e
dedicarem suas vidas a tão abençoada prática. Ou seja, sob a influência desse Odù, o trabalho constante e honesto
atrairá os devidos reconhecimentos, que por sua vez redundarão em vida consideravelmente agradável.

c) O próprio Òtúrá Meji é citado aqui, em sua ascensão à sua considerável prosperidade. Definitivamente, esse Odù,
quando em ire, é um excelente presságio de melhora e desenvolvimento dos aspectos financeiros. É preciso ressaltar
a imensa contribuição que o comportamento pessoal tem nessa questão, como será visto mais à frente. Num outro
ìtan que narra a ascensão social de Òtúrá Meji, a dedicação ao trabalho, mesmo em condições adversas, aparece
como uma importantíssima contribuição ao sucesso.

d) Ìfá revela que a pessoa para quem esse Odù se manifesta, está preocupada se alcançara sucesso financeiro em sua
vida. Ìfá diz que o sucesso certamente será alcançado, se a oferenda adequada for realizada, e ainda mais

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importante, se o comportamento sugerido por Òtúrá Meji for observado. Ao seguir os conselhos, Ìfá diz que essa
pessoa experimentará a riqueza, a opulência e o amor de outras pessoas, até o final de seus dias.

e) Òtúrá Méjì é um Odù que prenuncia liderança. Ìfá diz que seremos abençoados com muitos seguidores, e que nossa
liderança favorecerá o bem estar de muitos. Também poderemos alcançar a bênção de ser amado, respeitado e
querido por nossos liderados, desde que façamos o ëbö e sigamos as demais orientações de Ìfá a respeito.

f) Em um de seus ìtan, Òtúrá Méjì faz referência a situações de herança. No ìtan em questão, o personagem herda a
posição de liderança de seu pai. Diversas formas de receber um legado por ser consideradas quando esse Odù se
manifesta.

g) Ìfá prevê grande bênção de prosperidade a alguém que, apesar das dificuldades encontradas, persiste em sua
ocupação profissional, quando recebe de Ìfá orientação para assim agir. Ìfá diz que o comportamento visionário dará a
essa pessoa uma posição de destaque em seu meio profissional, e seus produtos ou serviços, quando exclusivos ou
diferenciados, serão muito requisitados, favorecendo assim a manifestação da abundância. Por último, Ìfá enaltece a
importância de saber negociar, valorizando-se profissionalmente.

h) Nos caminhos desse Odù, ao se predispor a servir Olódúmarè tal qual lhe fora pedido, Îrúnmìlà se credenciou a vir
ao àiyé e espalhar as seguintes bênçãos: longevidade, prosperidade, esposas e filhos. Ìfá assegura que todos esses
benefícios encontrarão uma maneira de chegar até nós, se observarmos ìwa pûlû, nos esforçarmos para contribuir
com a obra de Olódúmarè, prestarmos auxílio a quem dele necessitar, e realizarmos as oferendas adequadas às
Divindades citadas na ocasião.

i) Nos caminhos desse Odù, Îrúnmìlà recebeu todo o apoio necessário de seu Ëgbý îrun para conseguir todas as
bênçãos do àiyé, sendo elas vida longa, sucesso financeiro, boas esposas, bons filhos, casa confortável, bons meios de
locomoção. Assim sendo, desde que sejam adequadamente compreendidas as questões de Òtúrá Meji, Ìfá nos fala
sobre circunstâncias abençoadas que garantirão o alcance dessas situações abençoadas, antes que chegue nossa hora
de retornar ao îrun.

j) Nos caminhos de Òtúrá Meji, os serviços de Îrúnmìlà eram requisitados em todos os cantos da terra ioruba, a
ponto dele mal ter tempo de voltar para casa. Ìfá fala sobre bênçãos profissionais à pessoa que se esmerar e se
destacar na prática de sua profissão.

k) Como será visto à frente, Òtúrá Meji é um caminho de inimigos, mas o ponto a ser salientado aqui é a grande
chance de vitória sobre tais inimigos, desde que o ëbö adequado seja realizado e a postura sugerida por Ìfá seja
seguida.

l) Òtúrá Meji foi o Odù Ìfá que viajou para longe, onde hoje estão os países árabes. Ìfá nos fala sobre viagens
potencialmente benéficas quando esse Odù se manifesta.

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m) Òtúrá Meji exalta a relação existente entre a devoção e as bênçãos. Ìfá diz que a pessoa para quem esse Odù se
manifesta deve se esforçar em levar uma vida de devoção, e que tal postura atrairá consideráveis benefícios à pessoa
em questão. Da maneira que Ìfá expõe essa situação, é muito provável que Öbàtàlá, de uma maneira ou de outra,
esteja indissoluvelmente associado à espiritualidade dessa pessoa.

n) Aqui Òrìñà Oko faz um pacto com os Espíritos da Terra, e desde então suas lavouras são abençoadas com
abundância. Òtúrá Meji é um excelente presságio para sucesso profissional, desde que as oferendas necessárias
sejam realizadas, e o comportamento sugerido por Ìfá seja corretamente seguido.

o) Em mais de uma ocasião, a agricultura recebe destaque nesse Odù. Essa atividade é imensamente abençoada
quando Òtúrá Meji se manifesta, e embora problemas iniciais possam ocorrer, ao final fartas e abundantes colheitas
será a recompensa para aquele que, sob a tutela da sabedoria de Ìfá, trabalhar duro e seguir os demais conselhos. É
óbvio que tal abençoada situação possa ser aplicada a muitas outras atividades profissionais, mas considerando-se o
fato de que esse é o Odù que explica o porquê das lavouras de Òrìñà Oko serem tão profícuas, não parece correto
deixar de dar à agricultura um destaque especial.

p) Ire ömö está presente nos caminhos de Òtúrá Meji. Um dos personagens desse Odù conseguiu “incontáveis filhos
no àiyé”. Esse personagem em questão era o Milho, e seus grãos os respectivos filhos. Isso por si só exprime a
dimensão de ire ömö nesse Odù. Mas é precioso estar atento ao lado perigoso da situação, como será tratado
adequadamente em “ibi”.

q) Òtúrá Meji é o Odù Ìfá que narra como Òñòógìyàn trouxe para o àiyé as “pedras” que serviram de base para a
chegada de novos seres a esse mundo. Independentemente das questões míticas, cósmicas, físicas e metafísicas da
questão, o importante aqui é salientar que esse Odù favorece o “novo”. Novas fundações, novas casas, cidades, vilas,
etc. Novos empreendimentos serão abençoados por Òtúrá Meji, se as oferendas adequadas forem realizadas tal qual
Ìfá as prescrever.

r) Òtúrá Meji traz inspiração à resolução de problemas e desafios profissionais. Ìfá avisa que a engenhosidade ou
criatividade estarão favorecidas sob a manifestação desse Odù. Ele diz que com o apoio do ëbö e de Orí,
encontraremos maneiras criativas de resolver nossas questões profissionais, favorecendo ganhos, desenvolvimento e
lucros.

s) Quando Òtúrá Meji se manifesta em ire, Ìfá nos assegura que oportunidades de crescimento, prosperidade e
reconhecimento se manifestarão. Nosso maior empecilho para que isso ocorra será a falta de ëbö e a impaciência. Aos
bons e pacientes devotos, não faltarão oportunidades com as citadas, mesmo que elas demorem a se manifestar.

t) Aqui Îrúnmìlà recebeu reconhecimento por seu trabalho, desde então sentar-se na esteira para consultar Ìfá é sinal
de honra para quem o faz. Ìfá nos fala que com o correto ëbö e comportamento, teremos nossa atividade profissional
reconhecida; alcançaremos honras e consideráveis honorários pela mesma.

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Ibi

a) Ìfá nos avisa que, motivados pela inveja, inimigos e conspiradores podem se unir com o objetivo de nos destruir.
Ìfá também diz que esse perigo se estende aos nossos entes queridos. O ëbö e o comportamento apropriado
certamente nos protegerão desse grande infortúnio de Òtúrá Meji. Por último, Ìfá avisa que a força de nossos inimigos
diminuirá consideravelmente, se conseguirmos gerar a desunião ou desconfiança entre eles.

b) Ìfá avisa sobre consideráveis infortúnios que certamente se manifestarão como consequência da verborragia
irresponsável ou estúpida. Manter constante controle sobre as palavras é essencial para evitar perdas e demais
sofrimentos.

c) Inimigos e conspiradores estarão presentes quando Òtúrá Meji se manifestar em ibi. Ìfá diz que com o ëbö e o
comportamento apropriado, sobrepujaremos tais ameaças. As chances de sucesso serão ainda mais acrescidas, caso a
dúvida e a desconfiança se instale entre nossos desafetos.

d) Apesar de evocar com intensidade a presença da prosperidade, quando em ibi, Òtúrá Meji fala sobre ruína
financeira, e associa essa situação à Öbalúwayé e inimigos. Ìfá nos orienta a aplacarmos a ira dessa Divindade com as
oferendas apropriadas, e também a mantermos um comportamento pessoal correto.

e) Òtúrá Meji pode ser considerado um mau presságio quando se manifesta para falar sobre arranjos ou acordos
financeiros. Em seus caminhos, Îrúnmìlà participou de um consórcio que ajudou todos os Ìrúnmîlû prosperar, mas
quando chegou sua vez, esqueceram-se dele. Aqui o jovem engana o velho, quando esse lhe confia a guarda
provisória de seu dinheiro. Em outra ocasião, um homem confia um saco com milho a um amigo, e depois o cobra,
dizendo que no saco havia dinheiro. Ìfá nos orienta a não entrarmos em fundos financeiros, acordos de ajuda mútua
ou em sociedades quando esse Odù se manifesta. Devemos fazer ëbö para evitar prejuízos, e investir nosso dinheiro
de maneira segura. De uma maneira geral, Òtúrá Meji adverte sob a presença de péssimos companheiros financeiros
ou sócios.

f) Ìfá revela que o Ëgbý îrun da pessoa para quem esse Odù se revela sente sua falta, e exige sua presença imediata.
Assim sendo, há o risco de morte iminente quando esse Odù se manifesta em ibi. Por outro lado, ao seguir os
conselhos de Ìfá no que diz respeito a ëbö e conduta, não só evitaremos o risco de morte precoce, como atrairemos
consideráveis bênçãos para nossa vida.

g) Como já foi visto nesse Odù, Îrúnmìlà era tão requisitado em diversas cidades, que mal tinha tempo de voltar para
casa. Graças a essa situação, sua esposa foi espancada e vendida como escravo, pois ele não estava lá para defende -
la. Aqui Ìfá nos fala sobre o alto preço que uma família pode ter que pagar pelo sucesso profissional de seu provedor.

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h) O povo de Ìpàpó surrou e vendeu como escrava a mulher de Îrúnmìlà, como represália por ele não esta na cidade
para lhes dar assistência. Ìfá nos fala aqui sobre pessoas que acreditam nos possuir, ou pensam que nosso objetivo
na vida é cuidar de seus assuntos. A tais pessoas, Ìfá diz que infortúnios e vergonham serão a recompensa por um
pensamento tão estúpido.

i) Ainda no que diz respeito ao ìtan do povo de Ìpàpó, Ìfá nos avisa sobre grandes traições, vindas por parte de
pessoas que sempre nos esforçamos para auxiliar. Ìfá fala sobre um tipo de traição que nos deixará pasmos, sem
acreditar que tiveram coragem de assim agir conosco.

j) Nos caminhos desse Odù, Ìfá narra uma situação em que um ser poderoso do îrun vem ao àiyé para “fazer justiça”,
matando várias pessoas que ele considerava malfeitores. Esse detalhe de Òtúrá Meji não deixa de ser uma alusão ao
flagelo social conhecido por atentados. Logo, a manifestação esse Odù em ibi requer a realização imediata das
oferendas prescritas para lidarmos preventivamente com esse grande mal.

k) Ainda sobre a questão tratada acima, mesmo que os critérios de atentado não estejam totalmente presentes numa
situação, ainda assim esse Odù fala sobre morte ou infortúnios ocorridos em locais públicos ou abertos. Assim sendo,
o ideal é considerar os aspectos mais amplos desse lado tão perigoso de Òtúrá Meji.

l) Vários personagens desse Odù estiveram próximos a alcançar significativas bênçãos, mas não puderam por que,
apesar de realizarem oferendas, não seguiram as demais orientações trazidas por Ìfá. Aqui, tão importante quanto o
ëbö é conhecer e seguir os tabus desse Odù. Ìfá nos orienta a sermos extremamente cautelosos na observância dos
ûwî de Òtúrá Meji, pois o desleixo a esse respeito atrairá os mais diversos e atrozes sofrimentos à nossa vida.

m) Um dos personagens desse Odù, depois que voltou de viagem, encontrou sua mãe morta de inanição. Ìfá nos fala
aqui sobre infortúnios que podem se abater sobre entes queridos durante nossa ausência.

n) Òtúrá Meji é o Odù Ìfá que trouxe o alerta sobre a perda de àñë dos antigos povos negros, que culminaram na
escravidão imposta pelo homem branco. No contexto, Ìfá ensina que desde o início os povos negros foram avisados
de que entrariam em contato com uma raça diferente, que tentaria explorá-los de toda forma possível. Mas, devido a
um estúpido afastamento das tradições de seus Ancestrais, o homem negro permitiu que o branco adentrasse em seu
meio, e aos poucos fosse lhe dominando totalmente. O resultado disso foram guerras, exploração, dor e escravidão.

o) Ìfá avisa ao vetusto que sua posição, apesar de sua idade, não é garantia de continuidade de bênçãos. Isso é dito
por que Òtúrá Meji narra a situação em que os jovens acabam recebendo tanto àñë quanto os velhos. Ou seja, alguém
que teoricamente goza dos benefícios de sua idade, ou de seu longo tempo prestado a uma determinada causa, Ìfá
diz a essa pessoa para não repousar nos louros da vitória; diz a essa pessoa para que faça ëbö e se mantenha atenta,
pois sua posição pode, do dia para a noite, ser ameaçada por alguém mais jovem.

p) Aqui Îrúnmìlà foi rechaçado por um povo incrédulo, que não queriam conhecer a sabedoria de Ìfá. Graças a ajuda
de Polvo e Caranguejo, Îrúnmìlà sobrevive e mantém intacto os segredos de Ìfá. Devemos estar abertos à

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possibilidade de, por melhores que sejam nossas intenções, o meio em que vivamos não nos compreendam e nutram
por nós profundo desrespeito ou ódio.

q) Aqui Òrìñà Oko sofreu prejuízos em sua lavoura. Ìfá nos fala sobre consideráveis problemas que podem se abater
sobre os aspectos profissionais de nossa existência, gerando perdas, prejuízos, etc. Felizmente, ao seguir os
conselhos de Ìfá, encontraremos solução para tão complexo problema.

r) Uma vida caracterizada por doenças, dificuldades financeiras ou desarmonia, pode ser um indício de falta de
alinhamento com os Ancestrais. Caso Ìfá confirme tal possibilidade, oferendas devem ser realizadas como as aqui
descritas, para que possamos voltar a contar com o apoio de nossa Ancestralidade, e com tal apoio conquistar uma
vida melhor, em todos os seus aspectos.

s) Nos caminhos desse Odù, o Milho (aqui, um personagem) é abençoado com muitos filhos, mas por sua negligência
em fazer ëbö, alguns desses filhos são atacados por caprinos até hoje. Além da óbvia possibilidade de exposição de
nossos filhos a perigos, Òtúrá Meji nos fala sobre uma possibilidade mais ampla, em que nossas conquistas possam
ser expostas a situações perigosas em geral. Prudência, previdência e ëbö são nossa proteção contra esse perigo
iminente.

t) Òtúrá Meji narra uma situação em que um funcionário aprende uma técnica de trabalho, emancipa-se e depois a
utiliza em suas próprias questões profissionais, levando concorrência e prejuízo ao outrora patrão. Ìfá avisa a um
patrão que seja cuidadoso com seus segredos, e discreto em seu comportamento, para não dar “alimento” a futuros
adversários comerciais.

u) Aqui Îrúnmìlà possuía uma lavoura, que era constantemente saqueada. Ìfá nos avisa que a manifestação de Òtúrá
Meji em ibi pode ser prenúncio de roubos, desfalques, furtos ou situações semelhantes. O ëbö apropriado nos ajudará
a revelar os ladrões.

v) Aqui os chefes criam condições desfavoráveis de trabalho, cometem erros administrativos, e ainda assim cobram
resultado de seus subalternos. Ìfá recomenda ao subalterno que faça ëbö, tal qual o fez o Criador de Cavalos de
Olófin, que recebeu a incumbência de dar potros a seu patrão, mesmo quando não havia éguas para tal. Ìfá assegura
que com ëbö, paciência e inteligência, encontraremos meios de mostrar a nossos superiores quão equivocados estão
na organização das tarefas que nos são confiadas.

u) Ìfá nos fala aqui sobre um grupo de pessoas, que no momento em que Òtúrá Meji se manifesta em ibi, está
desnorteado, sem critérios, sem rumo. Ìfá diz que isso não pode continuar assim, e que oferendas a Ñàngó ajudarão
tais pessoas a se reencontrarem na vida.

Comportamento

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a) Nos caminhos de Òtúrá Meji, Îrúnmìlà recebe a incumbência de periodicamente vir ao àiyé, a fim de observar se os
planos de Olódúmarè para esse mundo estão se cumprindo; e caso não estejam, de cuidar para que as coisas voltem
aos eixos. Òtúrá Meji representa grandes responsabilidades, grandes ocupações. Por outro lado, desde que se
cumpramos com êxito aquilo que nos foi incumbido, Ìfá diz que seremos regiamente recompensados com uma vida
repleta de ganhos e felicidades.

b) Trabalho árduo é importantíssimo quando Òtúrá Meji se revela. Ìfá assegura sucesso e vida consideravelmente
agradável àqueles que fizerem do trabalho sua bandeira no àiyé. Ele diz que a pessoa trabalhadora, sob a luz de
Òtúrá Meji, tornar-se-á tão abençoada, que outras pessoas a considerarão um modelo, uma referência do que é ter
uma vida agradável. Chega a ser desnecessário que apenas o trabalho, sem a devida orientação profissional ou o
apoio do ëbö, mantém esse aspecto de Òtúrá Meji apenas como um potencial, e não como um fato consumado.

c) É preciso ressaltar a íntima relação existente entre prosperidade e comportamento nesse Odù. Aqui, quando Òtúrá
Meji levou seu desejo de crescimento financeiro a Ìfá, lhe foi dito que ele teria tal bênção, assim como honra e
reconhecimento, se mantivesse uma postura humilde, jovial e acessível, em todos os momentos de sua vida. Então
além do ëbö necessário, Òtúrá Meji foi instruído a observar esse comportamento. Ou seja, as bênçãos inerentes a
esse Odù (que não são poucas) precisam de um ambiente adequado para se manifestarem. Tal ambiente é
primeiramente o trabalho árduo, sério e digno, coroado com a paciência, humildade, gentileza e amor perante todas
as criaturas de Olódúmarè. Aos que seguirem seus conselhos, Ìfá assegura bênçãos e mais bênçãos sob a luz de
Òtúrá Meji.

d) Como já foi visto, Òtúrá Méjì é um Odù que prenuncia liderança. Aqui é importante salientar as características de
tal liderança, quando se manifesta nos caminhos desse Odù. Ìfá diz que seremos levados a uma posição de destaque,
e que muitos estarão sob nossa influência, mas ele também afirma que será nossa humildade, gentileza e
predisposição ao auxílio que não só nos içará para a posição em questão, mas que nos manterá na mesma, recebendo
o afeto e admiração daqueles a quem auxiliamos com a liderança alicerçada em ìwa pûlû. Ou seja, Òtúrá Méjì
prenuncia liderança, quando nos comprometemos com o comportamento aconselhado por Ìfá.

e) Ìfá avisa à pessoa que prosperou em sua vida, que não se enalteça por isso. Ele diz que mesmo que não tenhamos
o desejo, expor nosso sucesso atrairá consideráveis infortúnios para nós mesmo. Aqui, a prosperidade e as conquistas
devem ser acompanhadas de tranquilidade e discrição. Infelizmente sempre estaremos ladeados por pessoas que, ao
ouvirem nossas histórias de sucesso, se sentirão diminuídas e estimuladas em nos fazer sofrer. Ao incauto que já
ocorreu em tal erro, Ìfá aconselha oferendas imediatas a Èñù Îdàrà e uma total mudança comportamental.

f) Como já foi visto, o hábito de falar demais sobre si mesmo pode atrair toda classe de infortúnios à pessoa sob
influência de Òtúrá Meji. Ìfá nos avisa sobre a extrema importância de desenvolvermos a discrição e humildade. O
desejo (consciente ou não) de revelar ao mundo nossas conquistas ou ações, cedo ou tarde causará nossa ruina. Ìfá
avisa que muitos dos que ouvirem nossa conversa conspirarão contra nós. É absolutamente necessário prestar
atenção ao ûsû de Òtúrá Meji que diz, “Ninguém escapa à armadilha criada pela prñpria boca”.

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g) Demonstrações efusivas de felicidade são altamente desaconselháveis quando Òtúrá Meji se manifesta. Ìfá diz que
ao lançarmos nas faces alheias nossa alegria, estaremos intensificando a dor e o sofrimento de pessoas menos
afortunadas, e cedo ou tarde isso retornará em forma de inveja, perseguição, perdas, ruína, desastres e sérios
problemas matrimoniais. Ìfá nos aconselha a sermos reservados em nosso comportamento; agradeçamos a
Olódúmarè e seus Servos por todas as bênçãos que atinjamos, mas façamos isso de maneira interiorizada, calma e
discreta.

h) Como já foi visto, aqui Îrúnmìlà teve grande prejuízo ao entrar num acordo financeiro com outros Ìrúnmîlû. O
ponto a ser destacado é que Îrúnmìlà foi avisado por Ìfá para abandonar o acordo, mas negou-se a fazê-lo, pois
temia que todos seguissem seu exemplo, e assim ninguém se beneficiaria com o lado bom do acordo financeiro. Aqui
há a tendência pouco sábia em colocar os interesses econômicos alheios à frente dos nossos. Ìfá nos aconselha a
ajudarmos sempre que possível, desde que durante o processo, não venhamos a sofrer consideráveis prejuízos.
Quando esse Odù se manifesta durante uma transação financeira, Ìfá nos avisa a sairmos o quanto antes da situação,
e utilizarmos nosso dinheiro de maneira mais segura.

i) Òtúrá Meji revela que antes de vir ao àiyé, Îrúnmìlà era um membro importantíssimo de seu Ëgbý îrun, e
administrador de todos os assuntos que envolvia sua família espiritual. Situações administrativas são excelentes
opções profissionais quando esse Odù se manifesta. Importantíssimo salientar a importância de desenvolver
popularidade sadia para que sejamos reconhecidos como importantes e imprescindíveis. Por popularidade sadia
considera-se aquela que se baseia em trabalho árduo e beneficente, devoção a Deus e correto cumprimento das
responsabilidades.

j) Como já foi visto, Îrúnmìlà sofreu uma grande traição do povo de Ìpàpó, que em sua ausência surrou e vendeu sua
esposa como escrava. Mas apesar da gravidade desse ato, a mensagem de Ìfá foi para que Îrúnmìlà não se
permitisse ter seu coração contagiado pela maldade, e encontrasse em si forças para o perdão. É importantíssimo
salientar que por maiores que sejam os erros conosco cometidos, a mensagem de Ìfá em Òtúrá Meji é de perdão! Não
significa que seja fácil; significa que é necessário.

k) Nos caminhos de Òtúrá Meji, um rei ao tentar assassinar um mendicante, causou a morte do próprio filho. Uma das
principais premissas de Òtúrá Meji está na sentença: “Se você pratica o bem ou o mal, os faz a si mesmo”. Quando
esse Odù se manifesta, Ìfá nos orienta a nos abstermos totalmente da prática do mal, e nos concentrarmos em
realizarmos obras caracterizadas pela bondade, pois é certo que o resultado de nossas ações não demorarão a
chegarem até nós.

l) Òtúrá Meji é sem dúvida um dos Odù Ìfá que mais abordam questões comportamentais como fundamentais para
boa sorte e desenvolvimento. Ìfá nos avisa que “Durante um vendaval, não se proteja sob uma árvore”; e “Se o rio
está cheio, é melhor não nadar nele”. Ou seja, é imprescindìvel, sob a influência desse Odù, desenvolver a capacidade
de identificar situações perigosas ou no mínimo desconfortáveis. Perante tais situações, Ìfá aconselha considerável
prudência, para que com afobação e estupidez não nos lancem para dentro de problemas ou perigos insolúveis.

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m) Através de Òtúrá Meji, recebemos de Ìfá a seguinte orientação: “Não se altere nem se enraiveça, sem antes
deliberar sob todos os aspectos de uma situação”. Esse foi o conselho que impediu Îrúnmìlà de matar o próprio filho
que ainda não conhecia, quando, ao chegar de uma viagem, encontrou-o dormindo na mesma esteira que sua mulher.
Ìfá nos avisa que nos depararemos com situações que imediatamente nos gerará raiva, mas ceder a tal impulso
atrairá os mais profundos dissabores. Paciência e autocontrole podem ser a chave evitar situações absurdamente
lancinantes em nossa vida.

n) Nos caminhos de Òtúrá Meji, Îrúnmìlà faz uma longa viagem ao îrun, com o intuito de aprimorar seus
conhecimentos e desenvolver sabedoria. Como consequência, além da sapiência em si, Îrúnmìlà trouxe do îrun
consigo as mais diversas bênçãos que apoiaram sua longa existência no àiyé. Similarmente falando, Ìfá nos inspira
aqui à busca da sabedoria. Estudo e reflexão sobre temas e tópicos de caráter espiritual e filosófico são extremamente
necessários quando Òtúrá Meji se manifesta. Aos que se esforçarem pelo desenvolvimento da sabedoria, Ìfá assegura
oportunidades que conduzirão às mais diversas bênçãos. Por último, Ìfá avisa que a busca pela sabedoria será
consideravelmente favorecida ao nos relacionarmos com pessoas reconhecidamente mais sábias que nós.

o) Um dos personagens desse Odù foi severamente punido por fazer mal uso de um poder adquirido perante
Olódúmarè. O poder em questão foi revogado e o personagem caiu em desgraça. Ìfá avisa à pessoa poderosa que
faça uso adequado, construtivo, bondoso e justo de seu poder, caso contrário perderá sua posição, possivelmente de
maneira permanente.

p) Sob a influência desse Odù, podemos nos perceber acreditando que somos “justiceiros de Deus”; que cabe a nñs
por “os pingos nos is” e dar a cada um conforme seu merecimento. Ìfá avisa que esse comportamento não contará
com o apoio de Olódúmarè, pois somente Ele e os Ìrúnmîlû podem punir os maus feitos realizados nessa vida. Àquele
que se considerar um justiceiro divino, Ìfá prevê descrédito, desaprovação, prisão e vergonha.

p) É extremamente importante observar e respeitar os ûwî de Òtúrá Meji. A desobediência a esses tabus atrairão os
mais diversos sofrimentos, como morte familiar, perdas financeiras, descrédito, repúdio, vícios, etc. O ponto a ser
destacado aqui é que muitas vezes alguém acreditará que sua desdita se deve à ação de inimigos, mas Ìfá afirma que
nenhum inimigo terá o poder de nos prejudicar se observamos os ûwî que Ìfá indica nesse Odù. Há aqui a tendência
responsabilizar outros por nossos sofrimentos, quando na verdade nossa boa sorte sempre esteve e sempre estará
em nossas próprias mãos.

q) Òtúrá Meji fala sobre dificuldades ou sofrimentos que podem se abater sobre nossos entes queridos durante nossa
ausência. Assim sendo, a prudência aconselha a cuidarmos de todos os detalhes referentes ao bem estar daqueles
que amamos, antes de nos ausentarmos por períodos longos ou não.

r) Òtúrá Meji é o Odù Ìfá que enaltece a verdade; que ensina que a mentira, por mais forte e elaborada que seja, será
sempre mais frágil que a pura verdade. Na verdade, mentir é um ûwî desse Odù, pois Ìfá diz que a mentira será
revelada, e vergonha e repulsa social se manifestarão junto com a verdade. Assim sendo, mentir nunca é uma atitude
sábia, mas mentir sob a influência desse Odù pode até ser considerado estupidez.

11
s) Como já foi visto, Òtúrá Meji narra a trajetória da raça negra do apogeu à escravidão imposta pelo homem branco.
Em linhas gerais, Ìfá ensina que o que levou a tudo isso foi a negligência religiosa. O homem negro afastou-se de
suas Divindades, permitiu a profanação de seus espaços sagrados e deixou-se corromper pelo dinheiro. Ìfá diz que tal
comportamento atrairá sobre a pessoa para quem esse Odù se manifesta, a mesma série de infortúnios que ainda
hoje se abatem sobre a raça negra. Sob a influência de Òtúrá Meji é preciso se aproximar de Òrìñà e dos Ancestrais;
louvá-los e propiciá-los da melhor maneira possível. É preciso estreitar os laços com a religiosidade Ancestral, e
manter-se fiel à mesma. Ao agirmos dessa maneira, continuaremos contando com o apoio das Divindades em todas
as questões de nossa vida. Por último, e não menos importante, esse verso de Ìfá de forma alguma pode ser
interpretado como uma permissão à xenofobia. Não se trata aqui de questões de raça, e sim de postura.

t) Os babalawo cubanos ensinam que Òtúrá Meji era o Odù que vivia mais próximo a Olófin, mas tal posição lhe
fomentou a vaidade, e seus privilégios a esse respeito se perderam. Ìfá nos inspira aqui a mantermos humildes
nossas atitudes, caso contrário perdas generalizadas se manifestarão em nossos caminhos.

u) Òtúrá Meji é o Odù que “explica” por que o homem branco tende ao ceticismo. Da maneira que o ìtan expõe a
situação, trata-se de uma falta de paciência em esperar as leis espirituais seguirem seu curso. O homem branco (na
verdade, a pessoa cética, independentemente da raça) interfere na obra de Olódúmarè, com o desejo de aprimorá-la,
mas sem ter conhecimento de todos os detalhes do processo. Similarmente, Ìfá nos fala sobre a impaciência, e como
ela pode se converter em tendências comportamentais céticas, que não nos favorecerão de maneira alguma.

v) Em mais de uma ocasião, Òtúrá Meji nos mostra como é importante resguardar os segredos de caráter religioso ou
espiritual. Sob a manifestação desse Odù, devemos impedir que o sagrado se profane, ou que o profano tenha acesso
ao sagrado; pois se o sagrado se perder ou se contaminar, com ele perderemos o apoio das Divindades e dos
Ancestrais. Se alguém demonstra incredulidade ou desrespeito para o sagrado, devemos seguir os conselhos que Ìfá
nos dá através desse Odù, e proteger nossos mais íntimos credos dos incrédulos.

u) Nos caminhos de Òtúrá Meji, mesquinharia será acompanhada por perdas e sofrimentos. Isso é dito por que aqui,
apesar de realizarem a oferenda prescrita por sua evolução, os orangotangos reclamara às costas do awo, dizendo
que esses os explorara. Isso foi o suficiente para que Èñù não apenas retirasse seu apoio na situação, mas tramasse
para que as bênçãos desejadas não se manifestassem. Ou seja, não é prudente demonstrar mesquinharia ou avareza
quando se está sob a influência de Òtúrá Meji.

t) Aqui o Caranguejo ficou desprovido de uma cabeça, por que saiu pelo mundo avisando a todos que cabeças
estavam sendo distribuídas. Ìfá nos avisa que a verborragia, que muitas vezes caracteriza o comportamento sobre
esse Odù, não deve se apoiar na filantropia como desculpa. Mesmo que nossas intenções sejam puras e verdadeiras,
falar sobre nossas bênçãos podem evitar que as mesmas aconteçam, ou até mesmo poderemos perder as já
realizadas.

u) Por ser extremamente curiosa, a esposa de Òtúrá Meji acabou sendo morta pelos filhos de Ìkú e Àrun. Ìfá nos avisa
que um comportamento indiscreto, dominado pela curiosidade leviana, acarretará consideráveis infortúnios a quem
optar agir dessa maneira.

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v) Os ìtan dizem que apesar de babalawo, Òtúrá Meji possuía uma bela e produtiva lavoura. Isso era possível por que,
embora não tivesse tempo para lavrar, Òtúrá encontrou quem pudesse fazer por ele. Ìfá nos fala sobre boa sorte
profissional, mas nos avisa sobre a importância que uma boa equipe tem para favorecer essa situação.

x) Aqui o Milho (um personagem) é orientado a fazer ëbö em nome da proteção de seus filhos, mas recusa-se a fazê-
lo. Desde então é comum que os caprinos comam seus filhos, quanto têm oportunidade. Ìfá nos fala aqui sobre uma
tendência comportamental em não avaliar corretamente riscos ou perigos. Situações potencialmente perigosas são
consideradas “besteiras”, e os resultados podem ser catastrñficos. Quando o assunto é proteção pessoal, todo o
cuidado é pouco quando se está sob a influência de Òtúrá Meji. Também é preciso salientar que “filhos” podem
representar conquistas generalizadas; nesse caso, os cuidados em questão são direcionados para a proteção de
nossas realizações, independentemente de quais âmbitos de nossas vidas tais realizações pertençam.

z) Ìfá nos fala aqui sobre a importância da disciplina e planejamento. Ele diz que sem observar esses detalhes tão
importantes, poderemos nos surpreender numa vida errante, sem paradeiro, sem propósito e sentido. Oferendas a
Ñàngó nos ajudarão a encontrar um rumo, e nos aprumar numa realidade norteada e disciplinada.

Saúde e bem estar

a) Nos caminhos desse Odù, Ìyàmi tende a arrancar os filhos das pessoas que a tenham ofendido. Ìfá nos orienta a
sermos extremamente cautelosos quanto a saúde e bem estar de nossos filhos, para que eles não venham a sofrer as
consequências de nossos desvios de conduta.

b) Como já foi visto, aqui o Ëgbý îrun de Îrúnmìlà clamava por sua presença. Quanto tal quadro se estabelece, a
prudência manda considerar a possibilidade de situações que possam gerar morte precoce, inesperada ou fulminante.

c) Òtúrá Meji narra situações em que mulheres encontram grandes dificuldades no trabalho de parto. Tal infortúnio
pode se esperado sobre a égide desse Odù, mas felizmente Ìfá também nos mostra como procedermos a respeito.

d) Um dos ìtan de Òtúrá Meji aponta para a possibilidade de alcoolismo ou algum outro tipo de dependência química.

e) Um dos personagens citados por Òtúrá Meji sofria de disfunção erétil. Da maneira que Ìfá expõe a situação, além
de ëbö e tratamento médico apropriado, seria prudente se houvesse mudanças na dieta da pessoa que sofre de tal
mal.

f) Doenças sem causa aparente podem ser manifestação do descontentamento dos Ancestrais. A confirmação de Ìfá a
esse respeito torna necessárias as oferendas prescritas por esse Odù para realinhamento com a Ancestralidade, e
consequente melhora da saúde.

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g) A esposa de Òtúrá Meji foi morta pelos “filhos” de Ìkú e Àrun; as Divindades da morte e da doença. Ìfá nos avisa a
estarmos sempre atentos à saúde de nosso cônjuge, com o intuito de evitar morte precoce.

Amores e relacionamentos

a) Nos caminhos de Òtúrá Méjì aconteceu o casamento entre Pé e Sandália. Isso por si só evidencia o bom auspício
que esse Odù representa em questões sentimentais. Mas apesar de tamanha positividade, é necessário ressaltar o
bom senso de Sálúbàtà (a Sandália) quando foi se consultar a respeito de um eventual casamento. Para tal,
exporemos a íntegra do texto:

Quando Sálúbàtà foi ao babalawo,


Ele disse, “Serei a pessoa certa para Ësë”?;
Ele disse, “Serei capaz de cuidar das necessidades dela”?;
Ele disse, “Poderemos ficar juntos até o final de nossas vidas”?;
Ele disse, “Ela está apaixonada por mim, assim como eu estou por ela”?;
Ele disse, “Ela me amará e cuidará de mim, assim com farei por ela”?;
Ele disse, “Acima de tudo, nñs combinamos fìsica, social e espiritualmente”?.

Apesar de estar apaixonado por Ësë (o Pé), Sálúbàtà expôs com clareza suas preocupações, de uma maneira
direta e muito objetiva. Sua paixão não faria sentido para ele, se alguma das questões levadas a Ìfá recebessem não
como resposta. Ou seja, não se trata apenas de se apaixonar e se casar com o alvo da paixão; é preciso ter a
consciência de todas as reais necessidades e obrigações que um matrimônio exige, principalmente no que diz respeito
a reais afinidades, exposta na última pergunta feita pelo personagem. Observando tais cuidados, e realizando as
oferendas pertinentes, Ìfá assegura bênção de bom marido ou amorosa esposa à pessoa para quem esse Odù se
manifesta.

b) Òtúrá Meji explica que Èñù tem o poder de infernizar um casamento, até que a dissolução do mesmo ocorra. Assim
sendo, matrimônios ou relacionamentos que estejam sob ameaças provavelmente estarão sobre o julgo de Èñù
quando esse Odù se manifestar. Ìfá diz que apaziguando adequadamente essa Divindade, e acrescentado oferendas a
Îrúnmìlà, encontraremos meios de reestabelecer a saúde e harmonia de um relacionamento em crise. A discrição
sugerida por Ìfá nos assuntos referentes a Òtúrá Meji, se aplica totalmente no presente contexto.

c) Em mais de uma ocasião, “boas esposas” são citadas como uma das principais bênçãos requeridas pelos
personagens citados em Òtúrá Meji. Assim sendo, pode-se considerar que um matrimônio caracterizado por afinidades
reais e positivas seja não só necessário, como altamente possível quando esse Odù se revela.

d) Aqui a mulher de Îrúnmìlà foi surrada e vendida como escrava em sua ausência. Ìfá nos fala sobre os problemas
que um relacionamento pode enfrentar devido à ausência de uma das partes. Se possível, talvez o melhor fosse
conciliar trabalho e questões familiares, sem permitir que as obrigações do primeiro afetem de forma
irremediavelmente o segundo.

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e) Nos caminhos desse Odù, Îñun chorava por estar apaixonada, mas distante de seu amor. Ìfá nos avisa sobre
situações semelhantes, em que pelos mais diversos motivos, não possamos estar próximos da pessoa amada.

f) Os ìtan revelam que a esposa de Òtúrá Meji foi morta, por que descobriu um perigoso segredo que seu marido
guardava a sete chaves. Ìfá nos diz que sob a influência desse Odù, é possível que um cônjuge tenha segredos, e que
será bem melhor se o outro não tentar se inteirar do assunto. Respeitar o espaço alheio pode ser vital para a saúde
de um relacionamento.

- É conhecido como Baba iyè, embora seja Odù de vida curta.


- Há uma certa relação entre o local de trabalho e roubos.
- Òtúrá Meji fala da aspiração do homem pela sabedoria, por isso é Odù que mais se aproxima de
Olófin.
- Mas esse Odù também fala que sem a luz de Orí ìnù, o homem pode transformar-se num monstro.
- Òtúrá Meji representa a metade do corpo do inimigo.
- Fala sobre a idéia da desunião.
- Evita-se brigas para não ser derrotado.
- Fala sobre abandono e descuido.
- Necessidade de agradecimento e gratidão.
- Òtúrá ensina que a humanidade apenas passa pelo àiyé.
- Odù de vida curta devido a doenças. Não há irè àikú.
- Aqui o corpo caminha sem alma, graças às decepções da vida.
- Nesse Odù Òñàlá alimenta, e Ñàngó traz salvação.
- Sofre-se por viver entre feras.
- Desejo de viajar.

15
- Instabilidade matrimonial.
- Esse Odù fala sobre a ilusão do conhecimento absoluto. Soberba, orgulho.
- Praticar o bem atrairá bênçãos; praticar o mal atrairá todo tipo de infortúnio.
- Mudanças repentinas de pensamento.
- Não guarde nada de ninguém em sua casa.
- Cuidado com roubos e com o fogo.
- O ëbö realizará sonhos.
- Sono excessivo.
- Inimigos feiticeiros.
- Esse Odù representa renascimento.
- A humildade atrairá bênçãos. Haverá deveres que a princípio não pareçam dignos, mas que devem
devem ser realizados.
- Tendência a falar mais do que deve atrairá consideráveis perdas.
- Há “presentes de grego” nesse Odù.
- A ingestão de álcool é peremptoriamente desaconselhável.
- Odù de abandono e descuido.
- Ensina que os mortos trabalham à noite.
- Fala sobre inconstância e da necessidade de se estabelecer na vida.
- O homem se estabelece hierarquicamente acima dos demais animais.
- Òñàlá nunca deixa seus filhos sem comida.
- O corpo caminha sem alma devido as decepções da vida. Ñàngó é aquele que pode salvá-lo.
- Aqui há sofrimento por viver entre feras.
- Assinala a pureza da mulher.
- Odù de saudações e reverências (lei do bom viver).
- A vaidade é a perdição desse Odù. A conduta vaidosa afastará a pessoa de um caminho abençoado.
- Dinheiro e questões judiciais andam de mãos dadas.
- Òtúrá sugere a gratidão do bem que se recebe.
- A pessoa tem relações com Òdùdúwà, mas Ñàngó lhe apadrinha. Se recebe Îrúnmìlà e se pergunta a
Ñàngó o que quer.
- Desapego ao Ûlûdà.
- Há boa sorte em quase tudo, menos no amor.
- Aqui a desobediência se paga com a morte.
- Não se faz nada religioso na companhia de outra pessoa. Haverá perdas e falta de reconhecimento.
- Kafere fun Òrìñà Oko, Öya, Ñàngó
- Esse Odù ensina que Ìfá já pertenceu aos brancos, mas o perderam.
- O consulente está em sérias dificuldades materiais.
- Diferenças entre irmãos.

16
- Ire mötari.

17
Obras de Òtúrá Meji

1) Realizaremos oferendas às Divindades indicadas por Ìfá para que;

- Sejamos abençoados com todas as coisas boas do àiyé;

2) Ofereceremos dezesseis pombos à Divindade (ou Divindades) indicadas por Ìfá, para que nosso
trabalho árduo nos resulte em vida absolutamente abençoada.

3) Ofereceremos duas tartarugas às Divindades indicadas por Ìfá, para que ire l’ñwñ se manifeste em
nossa vida.

4) Façamos as oferendas sugeridas por esse Odù, para que possamos ser abençoados com uma posição
de liderança, e seguidores que por nós terão amor e respeito.

5) Realizaremos as oferendas adequadas para sermos abençoados com amorosa esposa, ou amoroso e
responsável marido.

6) Èñù Îdàrà (e outras Divindades a serem indicadas por Ìfá) devem ser propiciadas tal qual instruiu o
ìtan específico, para que possamos sair de um difícil momento profissional e financeiro para uma realidade
caracterizada pela abundância.

7) Èñù Îdàrà deve ser propiciado adequadamente, para que recebamos proteção contra inimigos e
conspiradores.

18
8) Öbalúwayé e Îrúnmìlà devem ser propiciados tal qual esse Odù ensina, para que a ruína financeira não
se estabeleça em nossas vidas.

9) Èñù deve ser propiciado tal qual esse Odù ensina, para que nossos problemas matrimoniais não
evoluam a uma situação de insustentabilidade.

10) Ìyàmi Òñòròngá deve ser propiciada tal qual esse Odù ensina, para que o resultado de nossos erros
não se transformem em perigos mortais para nossos filhos.

11) Ìfá deverá ser propiciado tal qual esse Odù ensina, para que possamos escapar sem prejuízos de
acordos financeiros que nos conduzirão ao prejuízo.

12) Aqui monta-se o carrego chamado Àrokò, que visa avisar ao Ëgbý îrun que ainda não é hora de
retornar aos planos imateriais, visto que nossas missões no àiyé ainda não se completaram. Esse carrego
também evoca o auxílio do Ëgbý îrun na conquista de nossas bênçãos, pois desejosos que retornemos
para “casa”, nossos Ancestrais nos darão todo o apoio necessário para nosso sucesso no àiyé.

13) Uma cabra será oferecida como ëbö, para que o flua normalmente um trabalho de parto.

14) Dois cabritos serão oferecidos como ëbö, para que possamos lidar com o desdobramento perigoso e
doloroso de uma grande traição.

15) Uma cabra madura será oferecida como ëbö, para que possamos escapar da profunda maldade que
alguém possa querer nos cometer.

16) Será preciso fazer ëbö com nove bolsas de dinheiro, para que sejamos abençoados em viagens ou
missões. O mesmo ëbö também favorecerá contatos com pessoas cuja sabedoria ou conhecimento podem
fazer enorme diferença positiva em nossas vidas.

17) Um cabrito maduro deve ser oferecido como ëbö, para que possamos evitar situações semelhantes a
atentados, ou mortandade que possam ocorrer em locais públicos ou abertos. A oferenda em questão
deverá ser completada com um galo a Èñù Îdàrà.

18) Èñù será propiciado com um cabrito, para guiar nossos pés a oportunidades que nos conduzirão à
prosperidade.

19
19) Oferendas serão realizadas a Èñù, Ògún, Îrúnmìlà e quaisquer outras Divindades indicadas por Ìfá,
para que tudo corra bem durante uma viagem, e para que nossos entes queridos não sofram durante
nossa ausência.

20) Ìfá recomenda ëbö, tratamento médico e mudança de dieta a uma pessoa que sofre de disfunção
erétil.

21) Devemos propiciar as Divindades relacionadas à honra (Ògún, Ñàngó, Onílû, Îrúnmìlà, Öbàtàlá) para
fazer a verdade se sobrepor à mentira.

22) É preciso sempre realizar o ritual do ìyàngareò após as cerimônias propiciatórias, para manter um
clima de paz e cordialidade entre os participantes.

23) Oferendas a Olófin, coroadas por um comportamento humilde, nos protegerá de consideráveis perdas
em nossa vida.

24) Oferendas a Öbàtàlá, quando acompanhadas por um culto devocional sincero e profundo, atrairão
consideráveis bênçãos a quem assim se comportar.

25) Aqui se prepara uma magia, tal qual esse Odù ensina, para que consigamos o perdão de pessoas que,
de uma maneira ou de outra, possamos ter ofendido ou desapontado.

26) Quando Òtúrá Meji se manifestar em ibi, faremos a oferenda prescrita por Ìfá, à Divindade por ele
indicada, para que alguém mais jovem não ocupe nosso lugar, ou receba uma bênção ou posição que
inicialmente nos pertencesse. Quando em ire, a oferenda deve ser feita para que, apesar de nossa pouca
idade, não sejamos tolhidos do direito ao desenvolvimento ou prosperidade.

27) Òrìñà Oko será propiciado da maneira que Ìfá indicar, para que possamos ser abençoados em nossas
questões profissionais.

28) Egún e Ñàngó devem ser propiciados como esse Odù ensina, para que saúde, paz e prosperidade se
manifeste na vida de quem é perseguido por doenças.

29) Aqui é preciso fazer ëbö e agir com presteza e discrição, para que não sejamos os últimos a chegar, e
assim ficarmos privados de bênçãos ou realizações positivas.

20
30) Realizaremos as oferendas indicadas por Ìfá, para que possamos encontrar uma boa equipe de
trabalho, que cuide de nossos assuntos e favoreça nosso desenvolvimento e prosperidade.

31) Um ëbö, que entre outras coisas possua uma corda, deve ser realizado nos caminhos de Èñù. Isso
será feito pela proteção de nossos filhos, ou de nossas mais caras realizações pessoais.

32) Òñòógìyàn deve ser propiciado da maneira que Ìfá indicar, para que possamos contar com bases
sólidas, sobre as quais construiremos nossos sonhos ou projetos.

33) Faremos oferendas à Divindade indicada por Ìfá, para que possamos encontrar meios e inspirações
que nos possibilitem vencer dificuldades, obstáculos ou desafios profissionais.

35) Olófin deverá ser propiciado da maneira que Ìfá determinar, para que enfim se manifestem em nossa
vida oportunidades de crescimento, prosperidade e reconhecimento.

36) Um ëbö deverá ser montado nos caminhos de Èñù, para que possamos descobrir quem vem há
tempos nos prejudicando com roubos ou furtos. Entre outras coisas, será necessário que uma corda faça
parte desse ëbö.

37) Realizaremos a oferenda indicada por Ìfá, para que nossos superiores percebam seus erros e parem
de nos exigir resultados inexequíveis em nosso trabalho.

38) Faremos a Ñàngó as oferendas que Ìfá prescrever, para que ele nos ajude a organizar nossa vida, nos
mostrando um norte, nos favorecendo com força e disciplina para aprumar nossa existência.

39) Aqui se faz um preparo para ajudar uma mulher considerada estéril a engravidar. Para tal usa-se ewé
dòdo nlá (VOACANGA AFRICANA, Apocynaceae); ewé làálí (LAWSONIA INERMIS, Lythraceae; hena);
alúbïsà eléwé (bulbo de ALLIUM AESCALONICUM, Liliaceae; cebolinha-branca). Tudo deve ser fervido e
acrescido ao iyëfá. Eis o encantamento:

Dòdo nlá kí ó gbïmö sí dodo fún mi Dòdo nlá deve carregar uma criança no umbigo para mim.
Làálí ni kí ó fi la înà ömö fún mi Usarei làálí para abrir o caminho da gravidez para mim.
Àlùbïsà ni kí ó fi sa ömö fún mi Usarei àlúbïsà para colher uma criança para mim.

21
40) Uma das magias de Òtúrá Meji ajudarão um marido a contar com a obediência de sua mulher. Para tal
usaremos a folha e fruto de Coix LACRYMA-JOBI, Gramineae (capim-de-nossa-senhora). Tudo deve ser
queimado, misturado ao iyëfá e posto sobre o erè de Èñù.

41) Caso seja necessário gerar situações de briga para outra pessoa, devemos usar ewé ìjà òké (EHRETIA
CYMOSA, Boraginaceae), e também ewé abíríkolo (CROTALARIA LACHNOPHORA, Leguminosae
Papilionoideae). As folhas devem ser moídas, e o pó será usado para marcar Òtúá Meji. O preparo será
posto sobre o erè de Èñù.

Ìjà òkè ní kí wïn máa bá lámörín já Ìjà òkè diz que devem brigar com fulano
Abíríkolo jý kí lámörín ó máa bínú Abíríkolo, permita que fulano fique sempre zangado
Òtúá méjì tú ìjà bá a. Òtùá méjì, arranje briga para ele

42) Aqui se faz um preparo para auxiliar na cicatrização dos gbûrû da iniciação. Para tal usaremos ewé
añobíabe (DALBERGIA SAXATILIS, Leguminosae Papilionoideae); ewé rìnrin (PEPEROMIA PELLUCIDA,
Piperaceae). As folhas devem ser moídas, e o pó será usado para marcar Òtúá Meji. O preparo será
esfregado nas marcas tribais.

Añobíabe ní í wo ilà sàn Añobíabe sempre cicatriza as marcas


Àwòsàn ni ti rìnrin Rìnrin sempre cura por completo

43) Quando Òtúá Meji se manifesta para um ilé àñë, é necessário reforçar o àñë da cumeeira.

44) Em guerras com mulheres, se prepara um boneco representando a si mesmo e se despacha na mata.

45) Se prepara um tronco de árvore sagrada; se enfeita com miçangas do Ûlûdà e come junto com o
mesmo (inñý Îsànyìn).

46) A prenda desse Odù é preparada com feto humano, várias miçangas e oito ötá.

22
Ûwî de Òtúrá Meji

1) Nenhum filho de Òtúrá Meji deve se envolver em situações financeiras comunitárias ou cooperativas, para evitar
ser enganado, logrado ou roubado;

2) Não se deve comer carne de esquilo, para evitar exposições aos inimigos ou conspiradores;

3) Não se deve gabar-se nem pavonear-se, para evitar ser derrubado pelos inimigos;

4) Não se deve beber em excesso, para evitar ações contra o próprio destino;

5) Não se deve envolver em discussões, para não carregar a aura e a espiritualidade com negatividades;

6) As filhas dos filhos de Òtúrá Meji não podem seguir o mesmo caminho profissional das mães, para que elas não
encurtem suas vidas ou sofram profunda e desnecessariamente;

7) Não se pode mudar de emprego ou profissão desnecessariamente, para evitar a ruína do próprio destino financeiro;

8) Não se pode recorrer à vingança, para evitar que mais dores e sofrimentos recaiam sobre si mesmo;

9) Nunca se deve agir maldosamente, para não sermos tratado da mesma maneira por nossa comunidade;

10) Nunca se deve mentir, para evitar ser exposto e ridicularizado publicamente;

11) Não se deve jejuar. Filhos de Òtúrá Meji que jejuam jamais conseguirão alcançar suas metas na vida;

12) Não se deve ter inveja do sucesso alheio, ou isso atrairá o ódio de todos;

13) Não se deve dar muita ênfase à defesa dos próprios direitos, para evitar confrontos com as Anciãs da Noite;

14) Não se deve ser egoísta, para evitar a perda de tudo aquilo que se alcançou na vida;

15) Não se deve usar para nada o pássaro îpýûrû, para evitar perder grandes oportunidades na vida;

16) Não se deve usar nenhuma parte da árvore àràbà, para evitar ser desqualificado para uma posição de liderança
ou destaque.

17) Não se deve comer polvo ou caranguejos, para que não percamos o apoio e a proteção das Divindades
e dos Ancestrais.

23
Por mando de Olódúmarè, Îrúnmìlà fiscaliza o àiyé

Ògbólógbòó babalawo níí ji Um babalawo versátil é aquele que acorda pela manhã,
Nìì f’ôwï t’ôpïn Ìfá E imprime as marcas no öpïn Ìfá;
Ògbólógbòó oniñègún jíí ji, Um oniñègún versátil é aquele que acorda pela manhã,
Nìì f’owï të ðìgìdì l’áyà E prepara seu ñígídí.
Ògbólógbòó Olóòòñà níní ji O grande devoto de Òrìñà acorda pela manhã,
Nìì f’ôwï b’àlà s’ïh÷n-ún E se adorna com as roupas adequadas.

Àlùmî kýrûbýte, o aprendiz de Àgbönnírègún,


Foi ele que criou Ìfá para Îrúnmìlà,
Quando ele estava vindo do îrun para o àiyé.
Antes dessa viagem em particular,
Îrúnmìlà já participara de várias incursões pelo àiyé.
Quando era necessário deixar esse mundo apto à vida,
Îrúnmìlà esteve aqui; e participou do projeto em questão.
Îrúnmìlà fez parte dos Ìrúnmîlû que estiveram aqui,
Quando a primeira humanidade foi criada e assentada.
Quando chegou o momento da chegada da segunda humanidade,
Îrúnmìlà também esteve presente, com outros Ìrúnmîlû.
Olódúmarè então incumbiu Îrúnmìlà de vir ao àiyé de tempos em tempos,
Para chegar se as coisas estavam acontecendo como o previsto,
E se não estivessem, para fazer tudo entrar nos eixos novamente.
Para essa nova e grandiosa missão,
Îrúnmìlà resolveu consultar Ìfá,
Para saber o que seria necessário fazer,
A fim de que ele alcançasse êxito em tão importante missão.
Àlùmî kýrûbýte, o aprendiz de Àgbönnírègún no îrun,
Foi ele que criou Ìfá para Îrúnmìlà,
E disse que, devido suas anteriores e bem sucedidas missões,
Îrúnmìlà seria abençoado por Olódúmarè e todas as grandes Divindades,
24
E seria exitoso nessa mais recente tarefa.
Para tal, ele deveria oferecer dois pombos,
Duas galinhas, dois preás,
Duas angolas,
Dois patos e dinheiro.
Ele também deveria propiciar seu Ìfá com dois preás,
Dois peixes,
Uma galinha,
E uma cabra madura.
Îrúnmìlà ouviu, e fez o ëbö.
Depois da oferenda,
Îrúnmìlà rumou à casa de Àjàlá Mîpín, o guardião dos destinos,
A fim de escolher sua própria sina.
Ele disse,
Èmi yññ l’ñwñ l’ïwï ni’lé ayé “Estou indo ao àiyé”;
Ele disse, “Kí n tóó wá”? “Quando retornar de lá, serei próspero”?.

Em uníssono, as Divindades presentes responderam:

Àlùmî kýrûbýte Àlùmî kýrûbýte, por favor, lembre-se disso


Àlö ö rë yóó dára Sua ida ao àiyé será bem sucedida
Àbî ö rë yóó dára Seu retorno ao îrun será recompensado
Àlùmî kýrûbýte Àlùmî kýrûbýte, por favor, lembre-se disso

Então Îrúnmìlà disse, “Èmi yññ l’áya m’áya ni’lé ayé” “Estou indo ao àiyé”;
Ele disse, “Kí n tóó wá”? “Quando retornar de lá, tereis esposas”?.

Em uníssono, as Divindades presentes responderam:

Àlùmî kýrûbýte Àlùmî kýrûbýte, por favor, lembre-se disso


Àlö ö rë yóó dára Sua ida ao àiyé será bem sucedida
Àbî ö rë yóó dára Seu retorno ao îrun será recompensado
Àlùmî kýrûbýte Àlùmî kýrûbýte, por favor, lembre-se disso

Dessa forma, Îrúnmìlà foi abençoado com todas as bênçãos da vida;


Quando aqui chegou, atingiu sucesso financeiro,
Boas esposas, filhos obedientes e bem comportados,
Saúde firme e constante,
Vitória sobre inimigos e dificuldades,
Paz de espírito, alegria e longevidade.

25
O abençoado povo de Ìhehújû

Àkàlà Ìpàpó,
O pássaro da terra de Ìpàpó,
Ele usa suas duas pernas para poder coletar comida.
Essa foi a mensagem de Ìfá para o povo de Ìhehújû,
No dia que eles perguntaram,
Se todas as bênçãos do îrun chegariam até eles.
O povo de Ìhehújû,
Há tempos eles tinham percebido a importância do trabalho árduo;
Eles perceberam que sem esforços,
Não havia sentido em esperar por melhoras;
E criaram as gerações subsequentes sob tal pensamento.
Eles trabalhavam duro, em nome de seu bem estar.
O povo de Ìhehújû;
Alguns buscavam por sucesso financeiro;
Outros queriam boas esposas;
Outros filhos adoráveis;
Outros buscavam por forte e robusta saúde;
Outros ainda desejavam vida longa.
Quando eles foram se consultar com Àkàlà Ìpàpó,
Òtúrá Meji se revelou.
O babalawo disse que todas as coisas boas do àiyé,
Elas chegariam na terra Ìhehújû;
Ele disse que tamanhas seriam as bênçãos,
Que Ìhehújû tornar-se-ia referência na região.
Para que tal situação se concretizasse,
O povo de Ìhehújû foi instruído a fazer ëbö com dezesseis pombos.
Eles ouviram e fizeram a oferenda.
Depois de um tempo,
Aqueles que buscavam por sucesso financeiro, prosperaram.

26
Os que buscavam por esposas, se casaram.
Os que buscavam filhos, os conceberam.
E dessa forma, todas as bênçãos pretendidas foram alcançadas.
Eles cantavam e regozijavam,
Louvavam o awo, que louvava Ìfá,
Pois a palavra mostrou-se verdadeira.

Àkàlà Ìpàpñ nìì f’ësø méjèèjì O pássaro àkàlà possuiu duas pernas
Gbé kolo omi gbé kolo mi E as usa no processo de se alimentar
Ëbö ire gbogbo ni wïn ni ki wïn wáá ñe Oferenda por todas as bênçãos e o que faremos
Díá fun àwïn ará Òde Ìhehújû Ìfá foi criado para o povo de Ìhehújû
N ñ l’ñwñ l’ïwï Eu serei abençoado com dinheiro abundante
Bí ara Òde Ìhehújû Como o povo de Ìhehújû
N ñ l’áya rere Eu serei abençoado com boas esposas
Bí ara Òde Ìhehújû Como o povo de Ìhehújû
N ñ bì’mô rere Eu serei abençoado com filhos adoráveis
Bí ara Òde Ìhehújû Como o povo de Ìhehújû
N ñ kï’lé mï’le Eu serei abençoado com uma casa confortável
Bí ara Òde Ìhehújû Como o povo de Ìhehújû
N ñ j’ogbñ j’atï Eu serei abençoado com feliz longevidade
Bí ara Òde Ìhehújû Como o povo de Ìhehújû
N ñ n’ire gbogbo l’áyé Eu serei abençoado com todas as bênçãos do àiyé
Bí ara Òde Ìhehújû Como o povo de Ìhehújû

27
A ascensão de Òtú

Quando Òtúrá Meji se manifesta,


Ìfá avisa que alcançaremos sucesso financeiro,
Se fizermos a oferenda adequada,
E se nos mantivermos humildes e gentis com todos.
Você vê o porquê de Ìfá falar assim?
Pére ni ò tñ’níìsè,
Esse foi o awo que criou Ìfá para Òtú,
Que era da cidade de Ìpàpó.
Òtú era muito trabalhador,
E extremamente dedicado a suas tarefas.
Um dia ele foi até o babalawo citado,
Ele disse, “Serei prñspero em minha vida”?;
Ele disse, “Serei respeitado, em função de minha riqueza”?;
Ele disse, “Alcançarei honra e reconhecimento”?.
O babalawo afirmou que Òtú seria próspero,
Honrado e reconhecido;
Ele disse que as pessoas o amariam,
Se ele se mantivesse humilde,
Mesmo após suas conquistas.
Òtú foi instruído a fazer ëbö com duas tartarugas e dinheiro;
Ele ouviu e fez a oferenda.
Depois de um tempo,
Os negócios de Òtú tiveram grandes melhoras;
Vinham pessoas de longe e de perto,
Para negociar os tecidos que Òtú comercializava;
Pelo fato dele se manter jovial e prestativo,
A todas as pessoas que o encontrava,
Sua reputação espalhou-se como fogo selvagem!
Ninguém o encontrava arrogante ou orgulhoso.

28
Com o passar do tempo,
As pessoas começaram a comentar,
“Quem é o Òtú que todo mundo vive falando”?
Quem o conhecia, respondia:
“Òtú ofereceu duas tartarugas e prosperou”.
Todos passaram a conhecê-lo como “Òtö tñ r’áhun méji”,
A quem nós chamamos até hoje de Òtúrá Méjì.

Ñàngó descobre o ìyàngareò

É Òtúrá Meji que nos conta como Ñàngó,


Em suas andanças pelo mundo,
Foi parar na terra Ara Malè.
Quando ele ali chegou,
Ficou intrigado ao ver o povo executar um ritual para ele desconhecido.
As pessoas andavam em círculo,
Em volta de uma vasilha com sàràûkî.
Depois disso, elas fizeram ìtá.
Quando a cerimônia acabou,
Ñàngó perguntou sobre o ritual que presenciara.
Explicaram que se tratava do ìyàngareò,
E que tinha por finalidade dar conta a Olófin e aos ancestrais,
Sobre os ritos realizados.
Enquanto esteve em Ara Malè,
Ñàngó percebeu como aquele povo era pacífico,
E como a harmonia imperava em suas vidas.
Quando Ñàngó regressou para Tápà,
Espantou-se com o contraste que encontrou!
Brigas, discussões, desavenças...
Então Ñàngó determinou que à partir daquele dia,
Após a realização das grandes oferendas,
O ìyàngareò deveria ser realizado.
Depois disso a tranqüilidade finalmente chegou naquelas terras.

29
Àlùké, filha de Olódúmarè

Quando Òtúrá Meji se manifesta,


Ìfá diz que essa pessoa é um favorito de Olódúmarè;
Ele diz que essa pessoa fez muitas bondades,
E agora será recompensada com ire ajé;
Ìfá diz que enquanto ela for humilde, trabalhadora,
Amorosa consigo mesmo e com os outros,
Temente a Olódúmarè e às Divindades,
Seu sucesso estará garantido.
Você vê o porquê de Ìfá falar assim?
Olïbînhùn-bônh÷n nìì f’apá méjèèjì dá gbødu îrun;
Olïbînhùn-bönhùn;
O besouro é aquele que usa dois braços,
Para produzir um som semelhante ao tambor gbûdu.
Esse foi o awo que criou Ìfá para Àlùké, filho de Olódúmarè;
Essa ave era assim chamada,
Devido ao amor que Olódúmarè tinha por ela;
Por seu lado,
Àlùké tinha amor e tenência a Olódúmarè e às demais Divindades.
Ela era muito trabalhadora, e jamais reclamava;
E sempre trabalhava arduamente por seu sucesso.
Quando ela foi ao babalawo,
Ela disse, “Serei abençoada com sucesso financeiro?.
Essa era a grande preocupação em sua mente.
O awo assegurou que ela seria bem sucedida;
Ele disse que ela seria abençoada para além de suas expectativas;
Ela foi instruída a continuar trabalhando duro,
E a manter sua devoção e temor a Olódúmarè.
Ela também foi instruída a ser amorosa com todos,
Da mesma maneira que ela desejava,

30
Que as pessoas lhe fossem amorosas.
O awo lhe aconselhou a oferecer duas ovelhas e dinheiro,
Para que todas as predições se manifestassem.
Àlùké ouviu, e fez o ëbö.
Não demorou muito,
E ela alcançou ire Ajé;
Ela era estimada por todos,
E estava muito feliz.
Viveu uma vida longa,
E até o final de seus dias,
Conheceu a opulência e o esplendor.

Olïbînhùn-bônh÷n nìì f’apá méjèèjì dá gbødu îrun O besouro é aquele que usa dois braços
Díá fun Àlùké, ömö Olódúmarè Ìfá foi criado para Àlùké, filho de Olódúmarè
Ëbö Ajé ní wïn ni kó wáá ñe Ela foi instruída a fazer ëbö por ire Ajé
Ó gb’ëbô, ñ röbô Ela ouviu e fez a oferenda
Àlùké mà mà dé o, ömö Olódúmarè E aí vem Àlùké, filha de Olódúmarè
Ûyin ò mî pé ire Ajé là n sá kiri? Você não sabe que são os esforços que garantem Ajé?

Òtúrá ensina que Verdade é mais poderosa que Mentira

Eu lanço uma pedra e acerto um enganador;


Quem usa um longo manto esconde nela suas mentiras;
Quem assim procede abre-se a perigos e malefícios.
Ìfá foi consultado para Verdade e Mentira,
No dia que elas discutiram para saber quem era mais poderosa.
Òtúrá disse-lhes que o poder da Mentira era transitório e efêmero;
E que Verdade, mesmo que lenta e fragilmente,
Acabaria superando Mentira.
Òtúrá disse que não importa o poder da Maldade,
Pois a Virtude vencerá no final.

31
Òñúbùdó e seus muito seguidores

Ìfá diz que essa pessoa;


Ela será abençoada com muitos seguidores;
Ela será levada a um papel de liderança,
E será amada e respeitada por seus seguidores,
Que sempre falarão bem dela em sua ausência.
Na casa dessa pessoa,
Sempre deve haver comida e bebida,
Para o desfrute de qualquer visitante.
Agindo dessa maneira,
Sempre haverá amor e respeito de seus seguidores,
Além do que tal comportamento,
Aumentará o número daqueles que a seguirem.
Essa pessoa deverá assistir seu povo de várias maneiras,
Financeiramente, espiritualmente,
Socialmente, e até administrativamente.
Sempre que alguém se aproximar dela,
Será necessário ajudar tal pessoa da melhor maneira possível.
Você vê o porquê de Ìfá falar assim?
Quando o cavalo acorda e se levanta,
Deixa as marcas de suas patas onde quer que vá.
Ìfá foi criado para Òñúbùdó, filho de Tahö;
No dia que ele foi instruído a fazer ëbö,
Para que pudesse ser seguido por muitos.
Havia Òñúbùdó, cujo pai, Tahö,
Era uma importante personalidade da cidade de Ìpàpó.
Tanto pai como filhos eram muito populares na cidade;
E então chegou o momento de Òñúbùdó receber o oyè do pai.
Ele era jovial e gentil,
Era também humilde,

32
E tratava a todos da mesma maneira,
Independentemente de posição social;
Por isso era amado por todos em Tahö.
Então um dia Òñúbùdó foi se consultar;
Ele disse, “Conseguirei ter tantos seguidores quanto meu pai”?;
Ele disse, “Terei a mesma liderança e influência de meu pai”?;
Ele disse, “Serei amado e respeitado em minha posição”?.
Essas e outras questões passavam por sua cabeça.
Durante a consulta, Òtúrá Méjì se revelou;
O awo assegurou que haveria amor,
Respeito, liderança e adoração,
Tão grande quanto ocorrera com seu pai.
Ele deveria fazer ëbö com dois pombos,
Duas galinhas-d’angola,
Duas galinhas,
Dois galos,
Dois patos e dinheiro.
Òñúbùdó ouviu e fez o ëbö.
Ele foi instruído a sempre ter comida e bebida em seu lar,
Para que pudesse oferecer a seus visitantes.
Também foi instruído a ser humilde e gentil com todos.
O awo disse que em qualquer lugar que fosse,
Ele deveria tentar deixar uma marca positiva,
Assim como o cavalo,
Que sempre deixa as marcas de seus cascos por onde anda.
Òñúbùdó ouviu e seguiu os conselhos de Ìfá.
Depois de um tempo,
Todos em Ìpàpó sabiam que a qualquer momento,
Encontrariam comida e bebida na casa de Òñúbùdó;
Ele começou a ser louvado por essa situação.
Diziam que quem fosse chorando à casa de Òñúbùdó,
Certamente voltaria de lá com um sorriso.
Como as coisas se mantiveram assim,
Òñúbùdó foi recebendo bênçãos de todas as Divindades.
Ele foi amado, respeitado e aceito por todos;
Tornou-se a personalidade do momento,
E teve uma vida longa e feliz.

Ti ëñin bá ji Quando o cavalo acorda e se levanta


Ëðin a m’àwo înà kñtñ-kótó-kótó Deixa marcas nos caminhos por onde suas patas passam
Díá fun Òñúbùdó, ömö Tahö Ìfá foi criado para Òñúbùdó, filho de Tahö

33
Ëbö îpî èníyàn ni wïn ni kó wáá ñe Instruíram-no a fazer ëbö para por muitos seguidores
Ko a maa toju àlejò daadaa E a tratar visitantes e estrangeiros com cortesia
Ó gb’ëbô, ñ rö’bô Ele ouviu os conselhos, e fez a oferenda
Njý ôtì ò lè tán ni’lé Òðöb÷dñ, ômô Tahô Vejam! Nunca falta bebidas na casa de Òñúbùdó, filho de Tahö
Òñúbùdó o dé o, ömö Tahö Aí vem Òñúbùdó, filho de Tahö

O homem que era rico e tolo

Ìfá foi criado para Homem Rico,


No dia que ele foi aconselhado a fazer ëbö,
E a ser prudente ao prestar favores.
Homem Rico ouviu, mas não fez o ëbö.
Depois de uns dias chegou até ele um conhecido que estava para viajar,
E pediu que o mesmo guardasse um saco onde estavam suas riquezas.
Homem Rico esqueceu-se da palavra de Ìfá e guardou o saco.
O que ele não sabia é que na verdade ali não havia dinheiro,
Apenas grãos de milho.
Quando o conhecido voltou,
Pediu seu saco de volta.
Ele fez um escândalo ao ver o conteúdo,
Exigindo “seu dinheiro” de volta.
Para não passar como ladrão,
Homem Rico teve que reembolsar o conhecido.
Èñù dançava e regozijava.

34
O casamento de Sálúbàtà e Ësë

Ìfá nos fala sobre bênçãos de amor,


Para a pessoa a quem Òtúrá Méjì se manifesta.
A um homem, Ìfá fala sobre uma boa e amorosa esposa;
A uma mulher, Ìfá fala sobre um amoroso e responsável marido.
Você vê o porquê de Ìfá falar assim?
“Arraste as pernas gentilmente, e as mova majestosamente”;
Essa foi a mensagem de Ìfá para Sálúbàtà (a Sandália),
Quando ele quis tomar Ësë (o Pé) como esposa.
Sálúbàtà estava convencido que algo faltava em sua vida;
Ele sabia que não alcançaria todo seu potencial,
Se continuasse a viver sem uma parceira.
Então ele começou a procurar alguém com afinco;
Até que ele viu Ësë pela primeira vez.
Ele sabia que um tinha sido feito para o outro,
E não havia quem pudesse demovê-lo de tal pensamento.
Quanto mais ele pensava a respeito,
Mas se convencia que Ësë era a esposa perfeita para ele.
Ele então desejou revelar seus intentos,
Mas antes resolveu procurar Ìfá.
Enquanto isso, Ësë sentia que não poderia continuar sozinha;
Ela deseja alguém que a amasse e lhe cuidasse adequadamente.
No dia que ela encontrou Sálúbàtà,
Imediatamente soube que ele lhe seria perfeito.
Ela sonhava com Sálúbàtà todas as noites,
E rezava para que ele viesse lhe propor casamento,
Uma vez que seria considerado indecoroso,
Se ela tomasse as iniciativas a respeito.
Quando Sálúbàtà foi ao babalawo,
Ele disse, “Serei a pessoa certa para Ësë”?;
Ele disse, “Serei capaz de cuidar das necessidades dela”?;

35
Ele disse, “Poderemos ficar juntos até o final de nossas vidas”?;
Ele disse, “Ela está apaixonada por mim, assim como eu estou por ela”?;
Ele disse, “Ela me amará e cuidará de mim, assim com farei por ela”?;
Ele disse, “Acima de tudo, nñs combinamos fìsica, social e espiritualmente”?.
Essas eram as questões que dominavam a mente de Sálúbàtà,
E durante a consulta, Òtúrá Méjì se manifestou.
O awo lhe assegurou que Ìfá dissera sim,
Para toda as questões levadas até ele;
Ele disse que rapidamente Sálúbàtà deveria propor o casamento,
E que sua vida seria plena e feliz até o final.
Ele foi instruído a oferecer duas galinhas,
Dois preás, dois peixes e dinheiro*.
Sálúbàtà ouviu e fez o ëbö.
Ele expôs toda a situação a sua família,
Que rapidamente mandaram o Alárenà propor o casamento.
A família de Ësë aceitou os termos,
E o casamento enfim aconteceu.
Desde então, ninguém via Ësë,
Se ela não estivesse protegida por Sálúbàtà.
Eles foram felizes em sua abençoada união.

Sún kërë Arraste as pernas gentilmente


Gbà kërë E as mova majestosamente

Díá fún Sálúbàtà Ìfá foi criado para Sandália


Ti nlô rèé gbé Ësø n’iyàwñ Quando ele foi tomar Pé como esposa
Ó gb’ëbô, ñ rö’bô Ele ouviu e fez a oferenda prescrita
Kò pý kò jinnà Não demorou muito
Ë wá bá ni b’áyî Venham e se juntem a nós
Ë wáá wo’re o Nessa grande bênção matrimonial

*No caso de uma mulher, as galinhas do ëbö são substituídas por dois galos

36
Gbólú, o visionário e ingênuo

Îpýørý a bi lø÷ l’áyà;


Esse foi o awo que criou Ìfá para Gbólú,
Quando ele foi fazer sua plantação anual.
Gbólú era um fazendeiro,
Mas a lavoura que ele preparara no ano interior,
Tinha sido um grande fracasso,
E ele teve que arcar com grandes prejuízos.
Motivado por tais dificuldades,
E pela grande dívida que tinha contraídos com vários credores,
Gbólú pensou na possibilidade de mudar sua atividade profissional.
Essa foi a questão que ele levou a Ìfá,
Mantendo em seu interior a disposição de seguir os conselhos,
Sejam eles quais fossem.
Durante a consulta, Òtúrá Meji se revelou.
O awo lhe disse para não desistir de sua lavoura,
Disse que a próxima colheita seria muito melhor,
E ele teria muitos lucros.
O awo disse que ele deveria focar na produção de inhames,
Mas que ao invés de vender os inhames que colheria,
Ele deveria preparar èlùbî (farinha de inhame);
O awo disse que era isso que lhe traria ganhos consideráveis.
Por fim, Gbólú foi aconselhado a não falar de si mesmo,
Nem se expor desnecessariamente,
Depois que sua situação melhorasse.
Gbólú foi instruído a fazer ëbö com dois pombos, dois galos e dinheiro;
Ele também deveria propiciar Èñù Îdàrà com um grande galo e dendê.
Gbólú ouviu e fez o ëbö.
Naquele ano, a colheita de Gbólú foi de fato muito boa;
Tanto ele como sua família focaram na secagem do inhame,

37
Visando a preparação de èlùbî,
Tal qual Ìfá o havia orientado.
Ao mesmo tempo, os outros fazendeiros vendiam seus inhames em natura.
Então veio a seca...
Rapidamente os inhames foram consumidos,
E as plantações ainda na lavoura se perderam.
A fome se instalou, e todos procuraram pelo èlùbî de Gbólú.
Mas ele negava-se a vender.
As pessoas fizeram ofertas melhores,
Mas Gbólú ainda não estava disposto a vender.
Quando o preço oferecido foi de fato muito bom,
Aí então Gbólú vendeu parte de seu èlùbî.
Rapidamente ele tornou-se um homem rico,
Do tipo que todas as pessoas admiram ou invejam.
Depois de um tempo, Gbólú percebeu que ninguém em sua comunidade,
Era tão previdente e próspero quanto ele.
Então ele se decidiu em expor ao mundo seu sucesso,
Pensando que assim inspiraria pessoas a se comportarem igualmente.
Ele começou a cantar para quem quisesse ouvir:

Baba ad’ødà, Ìfá gbà wá o ò Pai de milagres, Ìfá nos valha!


Baba ad’ødà o Pai de milagres
Àðànwéwé, awo al’átiòro Àñànwéwé, cujo corpo é coberto com as belas plumas do àtíòro
Baba ad’ødà, Ìfá gbà wá o ò Pai de milagres, Ìfá nos valha!

Gbólú dançava e regozijava,


Numa apreciação sincera sobre o que Olódúmarè tinha feito por ele.
Ele comparava-se ao àtíòro, pássara que possui penas de quatro diferentes cores,
Simbolizando as muitas bênçãos que recebera.
Mas apesar das boas intenções de Gbólú,
De relacionar suas bênçãos com a bondade de Olódúmarè,
Muitas entre as pessoas que ouviram seu canto,
O consideraram orgulhoso e arrogante.
Essas pessoas se sentiram diminuídas, devido seu desfortuno,
E decidiram dar a Gbólú uma lição.
Eles tramaram queimar sua casa; destruir sua nova plantação,
E surrar tanto a ele, como sua família.
Se alguém morresse no processo, seria bem merecido.
Os conspiradores decidiram iniciar o plano em cinco dias.
Mas Èñù, que havia recebido um galo de Gbólú,
Não podia deixar que isso acontecesse.

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Èñù disse a Gbólú que,
Como resultado de sua cantoria,
E por não ter seguido todos os conselhos do awo,
Agora Gbólú tinha vários inimigos que desejavam destruí-lo.
Èñù então ensinou a Gbólú outra cantiga,
Que deveria ser entoada imediatamente.

Ömö sàndà, Ìfá gbà wá o ò O protetor, Ìfá nos valha


Ömö sàndà O protetor
T’’ár÷n n hô’k÷n l’ñde Se Ìkú e Àrun planejam nos eliminar
Ömö sàndà, Ìfá gbà wá o ò O protetor, Ìfá nos valha

Gbólú cantou e dançou por toda a cidade,


E seus inimigos não entenderam a mensagem da cantiga.
Foi aí que Èñù falou com os conspiradores,
Èñù disse que Gbólú já conhecia seus planos;
Que um entre eles era um traidor;
Disse que as autoridades já sabiam de tudo,
E que se algo acontecesse com Gbólú,
Todo o grupo seria levado a julgamento.
Assim a suspeita cresceu no grupo, e sem poderem confiar uns nos outros,
O grupo se dispersou.
Assim, Gbólú e sua família viveram para apreciar sua prosperidade,
E a nova posição que atingiram,
Até o final de suas vidas.

Îpýørý a bi lø÷ l’áyá Îpýørý a bi lø÷ l’áyá


Awo Gbólú ló díá fún Gbólú O awo que criou Ìfá para Gbólú
Gbñlö nlô s’ñko àlerò l’ïdön Quando ele começou sua plantação anual
Ëbö ni wïn ni kó wáá ñe Ele foi instruído a fazer ëbö
Ó gb’ëbô, ñ rö’bô Ele ouviu, e realizou a oferenda
Një Baba ad’ødà, Ìfá gbà wá o ò Agora, pai dos milagres, Ìfá nos valha
Baba ad’ødà o Pai dos milagres
Àðànwéwé, awo al’átiòro Àñànwéwé, awo do senhor do àtíòro
Ömö sàndà, Ìfá gbà wá o ò O protetor, Ìfá nos valha
Ömö sàndà O protetor
B’ìkö bá nðá’ký Se Ìkú planeja nos eliminar
T’ár÷n n hô’k÷n l’ñde Se Àrun promete nos judiar
Ömö sàndà, Ìfá gbà wá o ò O protetor, Ìfá nos valha

39
A boca do falador é o que o mata

Boca que fala muito;


Conversas descuidadas;
Não há ninguém que possa escapar,
À armadilha feita pela própria boca.
Essas foram as mensagens de Ìfá para Òrofó.
Sim, havia Òrofó, que era uma mulher muito triste.
A razão de sua tristeza era a ausência de filhos,
Enquanto as mulheres ao seu redor eram mães orgulhosas.
Foi isso que a motivou ir a Ìfá.
Ela disse, “Viverei e morrerei como uma mulher estéril”?
Ela disse, “O que preciso fazer para ter filhos”?
Durante a consulta, Òtúrá Meji se revelou.
O awo assegurou que Òrofó teria filhos,
Mas ele também disse que uma oferenda deveria ser feita,
Para que as crianças que viessem a esse mundo,
Não fossem expostas a perigos,
Devido a verborragia descuidada de Òrofó.
Ao ouvir essas declarações, Òrofó encheu-se de raiva;
Ela pensou que o awo apenas deseja lhe depenar;
Ela pensou que se poderia ter filhos,
Então também seria plenamente apta a cuidar deles;
E assim sendo, qual a finalidade do ëbö então?
Norteada por tais pensamentos, Òrofó negou-se a fazer o ëbö.
Logo depois disso, Òrofó botou dois ovos,
E então dois bebês nasceram.
Ela se tornou a mãe orgulhosa desses filhos, e estava muito feliz.
Sempre que era convidada a algum evento,
Òrofó fazia questão de chegar atrasada.
Quando lhe perguntavam o porquê,

40
Ela dizia que, agora que era mãe,
Seus dois filhos lhe ocupavam o tempo todo;
Que era muito difícil cuidar de dois filhos ao mesmo tempo;
E que devido seus novos filhos,
Sua casa estava repleta de víveres.
Ela repetia o tempo todo, “Ilé kun ðïðï” (minha casa está abarrotada).
Um dia algumas pessoas ouviram o canto de Òrofó;
Elas pensaram que não era justo passarem por necessidades,
Enquanto a casa de Òrofó estava cheia de comida.
Então essas pessoas tramara ir à casa de Òrofó,
A fim de obterem muito alimento.
Lá chegando, as pessoas mataram Òrofó e seus filhos,
E fizeram deles sua próxima refeição.
Foi assim que Òrofó criou uma armadilha com sua boca,
E caiu dentro dessa armadilha.

Ayïïrï ënu Boca que fala muito


Ayïïrï ënu Conversas descuidadas
Ûbìtì ënu ni ò t’ásø Quem cria armadilha com a boca, cai na armadilha
Díá fú Òrofó Ìfá foi criado para Òrofó
Tì yññ bì’mô méji Que deu à luz dois filhos
Tì yññ ni’lé òhun ti kön ðïðï Que dizia ter a casa cheia de comida
Ëbö ni wïn ni kó wáá ñe Ela foi instruída a fazer ëbö
Ó kô’ti îgbônyin ð’ëbô Mas negou-se a dar ouvidos e fazer a oferenda
Ënu Òrofó níí porófó Foi a boca do falador que o matou
Ënu Òrofó níí porófó Foi a conversa descuidada do falador que cavou sua cova

41
Îrúnmìlà apazigua Öbalúwayé, Èñù e Ìyàmi

Ará iwájú, wïn ò bá Os que vão à frente, você não pode alcançar
Èrò ûyín, wïn ò dúró dè Os que vêm atrás, você não quer esperar
Bá ò bá bá ará iwájú Se não se pode alcançar quem vai à frente
Èrò ûyín làá dúró dè É melhor esperar quem vem atrás

Essas foram as mensagens de Ìfá para Öbalúwayé,


No dia que ele veio do îrun para o àiyé.
Seria apenas mais uma das várias vezes que ele aqui veio,
Mas nesse caso, Olódúmarè o incumbiu de promover progresso financeiro;
Todos que quisessem progredir,
Deveriam se aproximar de Öbalúwayé.
Mas ele rejeitou esse oyè;
Ele disse que preferia acabar as riquezas de alguém,
Se achasse que isso era necessário.
Olódúmarè aquiesceu a seu pedido.

Ará iwájú, wïn ò bá Os que vão à frente, você não pode alcançar
Èrò ûyín, wïn ò dúró dè Os que vêm atrás, você não quer esperar
Bá ò bá bá ará iwájú Se não se pode alcançar quem vai à frente
Èrò ûyín làá dúró dè É melhor esperar quem vem atrás

Essas foram as mensagens de Ìfá a Èñù Îdàrà,


Quando Olódúmarè o incumbiu de promover esposas,
A quem precisa de uma.
Èñù não aceitou o oyè;
Ele preferiu o àñë para causar separação entre casais,
Sempre que achasse que isso era necessário.
Olódúmarè aquiesceu a seu pedido.

42
Ará iwájú, wïn ò bá Os que vão à frente, você não pode alcançar
Èrò ûyín, wïn ò dúró dè Os que vêm atrás, você não quer esperar
Bá ò bá bá ará iwájú Se não se pode alcançar quem vai à frente
Èrò ûyín làá dúró dè É melhor esperar quem vem atrás

Essas foram as mensagens de Ìfá para Ìyàmi Òñòròngá,


Quando ela veio do îrun para o àiyé.
Olódúmarè a colocou responsável por abençoar com filhos,
Quem se aproximasse dela com tal intento.
Ìyàmi recusou o oyè.
Ela preferiu ter o àñë para arrancar os filhos de seus pais,
Se acreditasse ser isso necessário.
Olódúmarè aquiesceu a seu pedido.

Ará iwájú, wïn ò bá Os que vão à frente, você não pode alcançar
Èrò ûyín, wïn ò dúró dè Os que vêm atrás, você não quer esperar
Bá ò bá bá ará iwájú Se não se pode alcançar quem vai à frente
Èrò ûyín làá dúró dè É melhor esperar quem vem atrás

Essas foram as mensagens de Ìfá para Îrúnmìlà,


Quando ele veio do îrun para o àiyé.
O intento original de Olódúmarè a seu respeito,
Era coloca-lo como responsável de promover longevidade.
Se alguém precisasse dessa bênção,
Deveria se aproximar de Îrúnmìlà.
O àñë de prosperidade, recusado por Öbalúwayé;
O àñë de esposas, recusado por Èñù;
O àñë de filhos, recusado por Ìyàmi Òñòròngá,
Îrúnmìlà perguntou se eles poderiam ser acrescidos ao àñë de longevidade.
Olódúmarè aquiesceu a seu pedido.
Quando Öbalúwayé, Èñù e Ìyàmi Òñòròngá rejeitaram a oferta de Olódúmarè,
Eles não tinham ideia de como seria a vida no àiyé.
Quando aqui chegaram, não tinham comida, companheiros ou filhos;
Enquanto Îrúnmìlà era abençoado com tudo isso.
Os três tornaram-se invejosos da situação de Îrúnmìlà;
Eles pensaram que não estava correto Îrúnmìlà desfrutar de tanta coisa,
Enquanto eles passavam por sérias dificuldades.
Eles acreditaram que Îrúnmìlà, ao demonstrar sua alegria,
Também demonstrava insensibilidade à situação deles,
E por isso resolveram que o puniriam.
Eles chamaram Îrúnmìlà,

43
Mas como se tratava do öjï awo (dia em que o babalawo consulta para si mesmo),
Îrúnmìlà não pôde atende-los.
Numa segunda ocasião em que chamaram Îrúnmìlà,
Era o àdàbî (dia em que o babalawo cuida de seus assentos pessoais);
E Îrúnmìlà mandou avisar que os atenderia depois.
Ah! Eles viram nisso um sinal de arrogância por parte de Îrúnmìlà,
E decidiram que lhe ensinariam uma amarga lição.
Öbalúwayé jurou que acabaria com a prosperidade de Îrúnmìlà;
Èñù jurou que estragaria os casamentos de Îrúnmìlà;
Ìyàmi Òñòròngá jurou que mataria e comeria os filhos de Îrúnmìlà.
Bem, foi nessa noite que Îrúnmìlà teve um sonho,
Que o deixou extremamente sobressaltado.
Logo pela manhã ele foi se consultar,
E Òtúrá Meji se revelou.
O awo disse que uma conspiração se formava contra ele;
Disse que três irmãos estavam irados,
Devido às conquistas alcançadas por Îrúnmìlà.
Ele disse que Öbalúwayé queria arrasar suas finanças;
Que Èñù queria espalhar suas esposas;
Que Ìyàmi Òñòròngá queria atacar seus filhos;
Por que todos eles estavam descontentes com suas vidas.
Por fim, o awo disse que os planos malévolos,
Seriam postos em prática naquele mesmo dia.
Îrúnmìlà foi instruído a imediatamente fazer ëbö com três galos;
Três moringas cheias de dendê, e dinheiro.
Depois disso, ele deveria montar um cesto com as cabeças e um bom dinheiro;
Deveria levar esse cesto até Öbalúwayé e entregar como presente;
Ele não deveria deixar que Öbalúwayé percebesse seu prévio conhecimento da situação;
Deveria apenas dizer que sentia em seu coração,
Que Öbalúwayé não estava feliz com ele.
Depois ele deveria encher um cesto com dinheiro,
Deveria pegar uma de suas esposas,
E oferecer como presente a Èñù Îdàrà.
Por fim, ele deveria encher outro cesto com dinheiro,
Pegar uma de suas filhas,
E oferece-la a Ìyàmi Òñòròngá.
No final, mais uma vez ele foi alertado,
A não permitir que nenhum deles percebesse,
Que ele já estava a par da conspiração.
Já no outro dia, bem de manhãzinha,
Îrúnmìlà montou o primeiro cesto e foi à casa de Öbalúwayé.

44
Ele o encontrou deitado numa esteira, aparentando considerável desmazelo.
Imediatamente Îrúnmìlà cantou um ìyûrû:

Gbogbo owó timo ní o, tírë ni ö Todo dinheiro que possuo, é teu


Gbogbo owó timo ní o, tírë ni ö, baba Olode Todo dinheiro que possuo, é teu, Pai do Lado de Fora
Àbí owó tí mo ní o lò nbínú si? É por causa de dinheiro que está com raiva de mim?
Gbogbo owó timo ní o, tírë ni ö Todo dinheiro que possuo, é teu

Îrúnmìlà entrou na casa, e se prostrou perante Öbalúwayé;


Ele disse que devido as dificuldades da vida no àiyé,
Ele estava preocupado com Öbalúwayé,
E trouxera o dinheiro para suprir suas necessidades imediatas.
Por fim, Îrúnmìlà disse que no futuro, mais dinheiro chegaria a ele.
Ao ver o comportamento de Îrúnmìlà, Öbalúwayé ficou confuso;
Como ele poderia secar as finanças de alguém,
Que se predispunha a ajuda-lo regularmente?
Naquele cesto tinha uma quantidade de dinheiro,
Que Öbalúwayé jamais vira em sua vida!
Então Öbalúwayé jurou que não levantaria sua mão contra Îrúnmìlà;
Ele disse que se alguém atentasse contra a prosperidade de Îrúnmìlà, falharia;
Ele disse que se alguém atacasse a prosperidade de Îrúnmìlà,
Teria que lidar com ele, Öbalúwayé.
Îrúnmìlà agradeceu profundamente,
E retornou a seu lar.
No outro dia, Îrúnmìlà conversou com Agbèrù, sua esposa;
Ele disse, “Você, Agbèr÷”;
Ele disse, “Com Èñù Îdàrà é que viverá a partir de agora”;
Ele disse, “Ele não tem esposas para cuidar de suas necessidades”;
Ele disse, “Ele cuidará muito bem de você”.
Como Agbèrù tinha acabado de se casar com Îrúnmìlà,
E ainda não concebera nenhum filho,
Ela aceitou a proposta.
Îrúnmìlà fez os arranjos com a família de Agbèrù,
Montou o cesto, tal qual fora orientado,
E partiu para a casa de Èñù.
Quando lá chegou, entonou o seguinte ìyûrû:

Gbogbo aya timo ní o, tírë ni ö Todas as esposas que possuo são suas
Gbogbo aya timo ní o, tírë ni ö, Lálàlú ò! Todas as esposas que possuo são suas, Làlàlú ò!
Àbí aya tí mo ní o lò nbínú si? É por causa de esposas que está com raiva de mim?
Gbogbo aya timo ní o, tírë ni ö Todas as esposas que possuo são suas

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Îrúnmìlà explicou a Èñù,
Que não ficava bem ele ter que ir ao mercado,
Cozinhar, lavar roupa, arrumar a casa,
Tudo isso sozinho!
E que por essa razão ele trouxera Agbèrù para viver com Èñù.
Îrúnmìlà disse, “Agora, Èñù, Agbèrù cuidará de suas necessidades”.
Depois Îrúnmìlà ofereceu o cesto com dinheiro;
Quando Èñù viu o montante,
Ele disse, “Para quantas pessoas é esse dinheiro”?
Îrúnmìlà disse, “Apenas para você, Èð÷ Îdàrà”.
Então Èñù pensou consigo mesmo, “Seria certo alguém se comportar assim, e ainda ser destruìdo”?
Èñù decidiu que não participaria da destruição de Îrúnmìlà;
Ele declarou que ninguém poderia estragar os assuntos de Îrúnmìlà,
E que se alguém tentasse, teria que se ver com ele, Èñù!
Finalmente, Îrúnmìlà foi a casa de Ìyàmi.
Levou consigo o cesto com dinheiro, e uma de suas filhas;
Lá chegando, cantou o ìyûrû:

Gbogbo ömö timo ní o, tírë ni ö Todos os filhos que possuo são seus
Gbogbo ömö timo ní o, tírë ni ö, Ìyá ò! Gbogbo ömö timo ní o, tírë ni ö Ìyá ò!
Àbí ömö tí mo ní o lò nbínú si? É por causa de filhos que está com raiva de mim?
Gbogbo ömö timo ní o, tírë ni ö Todos os filhos que possuo são seus

Îrúnmìlà disse, “Ìyàmi, as dificuldades dessa vida me trouxeram até aqui”;


Ele disse, “Não é apropriado que não haja ninguém para cuidar de seus afazeres diários”;
Ele disse, “Trouxe essa filha para ser tua auxiliar”;
Ele disse, “Trouxe esse dinheiro, para que possa cuidar de todas suas necessidades”.
Quanto Ìyàmi Òñòròngá viu todo aquele dinheiro,
Ficou muito feliz.
Ela disse, “Você, Îrönmílà”;
Ela disse, “Estávamos prontos para te disciplinar”;
Ela disse, “Mas não mais participarei de sua queda”!
Îrúnmìlà agradeceu Ìyàmi profundamente,
E voltou para seu lar.
Depois que Îrúnmìlà partiu,
Ìyàmi ficou se perguntando quem teria vazado a informação,
De que uma conspiração se formava contra Îrúnmìlà.
Uma reunião foi marcada entre Öbalúwayé, Èñù e Ìyàmi;
Um acreditava que o outro havia vazado o segredo;
Mas depois de muito conversarem,

46
Perceberam que nenhum deles o fizera;
Que o próprio Ìfá havia avisado Îrúnmìlà sobre o complô.
Eles então decidiram chamar Îrúnmìlà,
Para selar o pacto de apoio e não agressão entre todos.
Quando Îrúnmìlà chegou,
Foi orientado a oferecer um òkété a cada um deles,
Como forma de firmar o pacto.
Enquanto fazia a oferenda,
Îrúnmìlà entoava o seguinte ìyûrû

Ñînpînná gb’òkété Ñînpînná, por favor, aceite o òkété


Kì o má pàà’yàn o ò Não mate seres humanos
Gbogbo owó tí mo ní o, tírë ni Todo dinheiro que possuo, é seu
Bàbá Olñde gb’òkété o Senhor do Lado de Fora, aceite o òkété
Kì o má pàà’yàn o ò Não mate seres humanos
Gbogbo owó tí mo ní o, tírë ni Todo dinheiro que possuo, é seu

Èð÷ gb’òkété Èñù, por favor, aceite o òkété


Kí o má pàà’yàn o ò Não mate seres humanos
Gbogbo aya tí mo ní o, tírë ni Toda esposa que possuo, é sua
Láàlö gb’òkété o Láàlú, aceite o òkété
Kì o má pàà’yàn o ò Não mate seres humanos
Gbogbo aya tí mo ní o, tírë ni Toda esposa que possuo, é sua

Ìyàmi gb’òkété Ìyàmi, por favor, aceite o òkété


Kì o má pàà’yàn o ò Não mate seres humanos
Gbogbo ömö tí mo ní o, tírë ni Toda esposa que possuo, é sua
Òðòròngá gb’òkété o Òñòròngá, aceite o òkété
Kì o má pàà’yàn o ò Não mate seres humanos
Gbogbo ömö tí mo ní o, tírë ni Toda esposa que possuo, é sua

Ao som dessa cantiga,


Öbalúwayé, Èñù e Ìyàmi aceitaram as oferendas,
E tudo ficou estabelecido.

47
O acordo mal sucedido de Îrúnmìlà

Ó di ñëwëlë;
Ó di ñûkún;
Esses foram os awo que criaram Ìfá para Îrúnmìlà,
Quando ele se uniu aos quatrocentos Ìrúnmîlû,
Para iniciarem um acordo financeiro.
Sim, os Ìrúnmîlû se uniam a cada cinco dias,
Para discutirem todos os assuntos referentes ao àiyé.
Numa dessas reuniões eles selaram o seguinte acordo:
Todos eles, com exceção de um,
Contribuiria com 2.500 búzios para um fundo comunitário,
Fundo esse que seria repassado a um dos Ìrúnmîlû,
Para que ele pudesse fazer suas oferendas,
E estabelecer um negócio próprio.
Assim sendo, o Ìrúnmîlû felizardo receberia um milhão de búzios,
E demoraria cinquenta e sete meses lunares,
Para que o último Ìrúnmîlû recebesse seu quinhão.
Eles gostaram muito da ideia,
E decidiram que Îñun seria a primeira a receber a contribuição;
Depois dela seria Èñù Îdàrà,
Depois Öbàtàlá, Ògún, Ñàngó;
Enquanto Îrúnmìlà seria o último.
Assim que chegou em casa,
Îrúnmìlà recorreu a seus estudantes para consultar Ìfá,
A fim de saber se aquele negócio lhe seria benéfico.
Durante a consulta, Òtúrá Meji se revelou.
Os estudantes disseram que aquele não seria um bom negócio,
E que para evitar prejuízos,
Îrúnmìlà deveria se retirar do consórcio,
E oferecer com ëbö uma cabra e dinheiro;

48
Ele também deveria oferecer uma galinha,
Dois preás e um peixe a seu Ìfá.
Îrúnmìlà disse que faria a oferenda,
Mas não se retiraria do acordo,
Pois se assim o fizesse,
Praticamente todos os Ìrúnmîlû também o fariam,
E isso acabaria com o sucesso da operação.
Então, a cada encontro, Îrúnmìlà dava sua contribuição.
Îñun recebeu sua parte,
E propiciou seu Òkè Ìpînrí com uma grande porca e uma galinha.
Öbàtàlá recebeu sua parte,
E propiciou seu Òkè Ìpînrí com dezesseis ìgbín e banha de òrí.
Ògún recebeu sua parte,
E propiciou seu Òkè Ìpînrí com um cão.
Ñàngó recebeu sua parte,
E propiciou seu Òkè Ìpînrí com um carneiro.
Òrìñà Oko recebeu sua parte,
E propiciou seu Òkè Ìpînrí com um carneiro,
Que foi cozido no ûgúsí (sopa de melão).
Öbalúwayé recebeu sua parte,
E propiciou seu Òkè Ìpînrí com sopa de inhame e camarões fritos,
Depois lavou tudo com vinho-de-palma fresco.
Isso foi o que os Ìrúnmîlû fizeram,
De depois de realizarem suas oferendas,
Seus negócios prosperaram.
Por fim, chegou a vez Îrúnmìlà;
Só que nenhum Ìrúnmîlû compareceu à reunião.
Îrúnmìlà esperou, e esperou, mas nada...
Ele voltou para casa,
E mandou seus filhos às casas do Ìrúnmîlû;
Cada um deles voltou com uma desculpa diferente.
Ao ver o fracasso da situação,
Îrúnmìlà lembrou-se dos conselhos de Ìfá,
E conformou-se com seu enorme prejuízo.

Njý Îðun j’ëlýdø tán Îñun comeu sua porca


Ó padà s’ýyìn Depois voltou atrás
Ó di Ñëwëlë, ó di Ñûkún Saudações a Ñëwëlë e Ñûkún
Öbàtàlá jø’gbìn tán Öbàtàlá comeu seus ìgbín
Ó padà s’ýyìn Depois voltou atrás
Ó di Ñëwëlë, ó di Ñûkún Saudações a Ñëwëlë e Ñûkún

49
Ògön j’ajá tán Ògún comeu seu cão
Ó padà s’ýyìn Depois voltou atrás
Ó di Ñëwëlë, ó di Ñûkún Saudações a Ñëwëlë e Ñûkún
Ñàngñ j’àgbò tán Ñàngó comeu seu carneiro
Ó padà s’ýyìn Depois voltou atrás
Ó di Ñëwëlë, ó di Ñûkún Saudações a Ñëwëlë e Ñûkún
Öbalöwayé j’àfálá tán Öbalúwayé comeu seu inhame e camarões
Ó padà s’ýyìn Depois voltou atrás
Ó di Ñëwëlë, ó di Ñûkún Saudações a Ñëwëlë e Ñûkún
Èrò Ìpo, èrò Îfà Viajantes de Ìpo, viajantes de Îfà
Ëni gb’ëbô nìbø Por favor, avisem àqueles que foram orientados a fazer ëbö
Kñ wáá ð’ëbô o Que o façam o quanto antes

Òrìñà Ìgbò chega no àiyé

Se eu fosse Îdan, seria Latererè;


Eu receberei de tudo em abundância,
Como Îdan Ìlàlà;
Terei o suficiente para minha família,
Como Îdan em Esinkin.
Ìfá foi criado para “Aquele que usa branco”,
Quando ele estava vindo ao àiyé,
Para ser adorado por muitos.
Quem cultuaremos esse ano?
Àlàbàlàñë”!
É Òrìñà Ìgbò que cultuaremos esse ano;
É você que cultuaremos esse ano.

Òtúrá era o preferido de Olófin

Quando Òtúrá Meji se apresenta,


Ìfá nos revela que esse era o Odù que vivia mais próximo de Olófin.
Mas infelizmente Òtúrá permitiu que essa posição privilegiada,
Fomentasse sua a vaidade.
Aos poucos ele foi assumindo uma forma semelhante a um dragão,
O que causava náuseas nos outros seres.
Por não alterar sua atitude,
Olófin acabou afastando-o de si,
E dessa forma Òtúrá perdeu sua grande virtude.

50
Îrúnmìlà monta Àrokò para seu Ëgbý

Ajenje ni’règön, ëgbôrô ni’dè;


Esse foi o awo que criou Ìfá para Îrúnmìlà,
Quando ele estava vindo do îrun para o àiyé.
No îrun, Îrúnmìlà era um importante membro de seu Ëgbý.
Ele cuidava de todos os assuntos,
E administrava com maestria todas as questões.
Não havia crises,
Não havia aborrecimentos.
Quando Îrúnmìlà revelou que precisava vir ao àiyé,
Seu Ëgbý aceitou relutantemente a situação.
Eles deixaram claro que não permitiriam,
Que Îrúnmìlà se ausentasse por muito tempo;
E foi essa a questão que preocupou Îrúnmìlà,
A ponto dele ir se consultar com Ajenje ni’règön, ëgbôrô ni’dè;
Um de seus aprendizes no îrun.
Ajenje ni’règön, ëgbôrô ni’dè disse a Îrúnmìlà,
Que ele seria abençoado com as circunstâncias positivas do àiyé;
Mas para evitar que seu Ëgbý o trouxesse de volta prematuramente,
Ele foi instruído a fazer ëbö com uma cabra madura,
Dois preás,
Dois peixes,
Um pombo,
Uma galinha-d’angola,
Um galo (no caso de mulheres, uma galinha);
Duas roupas usadas,
E outro cabrito.
Îrúnmìlà ouviu e ofereceu o ëbö.
Ele foi instruído a repetir a oferenda no àiyé,
Quando percebesse que seu Ëgbý,

51
Estivesse solicitando sua presença.
Enquanto Îrúnmìlà estava no àiyé,
Seu Ëgbý começou a se complicar com situações,
Que até então eram cuidadas por Îrúnmìlà.
As coisas não estavam tão tranquilas quanto antes,
E por mais que eles tentassem,
Não conseguiam lidar com as situações,
De maneira semelhante a Îrúnmìlà.
Cansados dessa situação,
Eles começaram a avisar Îrúnmìlà,
Que já era tempo de retornar ao îrun.
Foi aí que Îrúnmìlà começou a sonhar com seu Ëgbý,
Começou a ver a imagem deles em relance,
Nos cômodos de sua casa.
Quando Îrúnmìlà consultava para si ou para outros,
Via constantes mensagens de seu Ëgbý.
Foi aí que ele que ele soube que era hora de repetir a oferenda;
E ele assim o fez.
Ele juntou todo o material necessário,
E chamou um de seus estudantes,
Para ajuda-lo a montar o Àrokò,
Um carrego especialmente preparado,
Com a finalidade de mostrar ao Ëgbý îrun de uma pessoa,
Que ainda não é hora de retornar para casa;
Que primeiro é preciso alcançar as bênçãos,
E cumprir os deveres do àiyé.
Então o ëbö foi feito,
E o Àrokò montado com as cabeças dos animais imolados,
E todas as frutas que Îrúnmìlà pode encontrar naquela estação.
Bem, exatamente nessa ocasião,
O Ëgbý de Îrúnmìlà havia mandado diligentes ao àiyé,
A fim de escolta-lo de volta ao îrun.
Quando os diligentes chegaram,
Îrúnmìlà mostrou-lhes o Àrokò,
E cantou dessa forma:

N ñ l’ñwñ l’ñwñ nìlé Ayé ki n tññ wá ò Eu receberei minha bênção de dinheiro antes de deixar o àiyé
Ëgbôrô ni’dè Ëgbôrô ni’dè; eu o saúdo
Ajenje ni’règön, ëgbôrô ni’dè Ajenje ni’règön, ëgbôrô ni’dè;
N ñ l’áya m’áya nìlé Ayé ki n tññ wá ò Eu receberei minha bênção de esposas antes de deixar o àiyé
Ëgbôrô ni’dè Ëgbôrô ni’dè; eu o saúdo

52
Ajenje ni’règön, ëgbôrô ni’dè Ajenje ni’règön, ëgbôrô ni’dè;
N ñ bi’mô lé’mô nìlé Ayé ki n tññ wá ò Eu receberei minha bênção de filhos antes de deixar o àiyé
Ëgbôrô ni’dè Ëgbôrô ni’dè; eu o saúdo
Ajenje ni’règön, ëgbôrô ni’dè Ajenje ni’règön, ëgbôrô ni’dè;
N ñ kï’lé mï’lé nìlé Ayé ki n tóó wá ò Eu receberei minha bênção de moradia antes de deixar o àiyé
Ëgbôrô ni’dè Ëgbôrô ni’dè; eu o saúdo
Ajenje ni’règön, ëgbôrô ni’dè Ajenje ni’règön, ëgbôrô ni’dè;
N ñ l’ýðin m’ýðin nìlé Ayé ki n tññ wá ò Eu receberei minha bênção de cavalos antes de deixar o àiyé
Ëgbôrô ni’dè Ëgbôrô ni’dè; eu o saúdo
Ajenje ni’règön, ëgbôrô ni’dè Ajenje ni’règön, ëgbôrô ni’dè;
N ñ j’ogbñ j’atï nìlé Ayé ki n tññ wá ò Eu receberei minha bênção de longevidade antes de deixar o àiyé
Ëgbôrô ni’dè Ëgbörö ni’dè; eu o saúdo
Ajenje ni’règön, ëgbôrô ni’dè Ajenje ni’règön, ëgbôrô ni’dè;

Os diligentes não entenderam o significado de tudo aquilo,


Então Îrúnmìlà lhes mostrou o conteúdo do Àrokò.
Mostrou-lhes a cabeça do pombo,
E disse-lhes que aquilo representava sucesso financeiro;
Ele disse que precisa alcançar tal sucesso,
Antes de retornar ao îrun.
Mostrou-lhes a cabeça da galinha,
E disse-lhes que aquilo representava boas esposas.
Disse-lhes que precisava ter boas esposas,
Antes de retornar ao îrun.
Mostrou-lhes a as cabeças dos preás e do peixe,
E disse-lhes que aquilo representava bons filhos.
Ele precisava ter bons filhos,
Antes que pudesse retornar ao îrun.
Mostrou-lhes a cabeça da guiné,
E disse-lhes que aquilo representa conforto e tranquilidade;
E que ele precisava usufruir de tais situações,
Antes de retornar ao îrun.
Mostrou-lhes todas as frutas do carrego,
E disse-lhes que aquilo representava doçura e felicidade.
Disse-lhes que não poderia deixar o àiyé,
Antes de alcançar tal situação.
Ao final ele disse que por esses motivos,
Não poderia acompanha-los de volta ao îrun.
Prometeu-lhes que assim que alcançasse todas essas bênçãos,
Retornaria ao îrun.
Desapontados, os diligentes perceberam,

53
Que Îrúnmìlà não estava pronto para voltar ao îrun.
Eles lhe perguntaram quando seria seu regresso,
E Îrúnmìlà respondeu, “Em breve”.
Não entendendo a resposta de Îrúnmìlà,
Perguntaram novamente;
Îrúnmìlà lhes respondeu, “Vai demorar”.
Então os diligentes voltaram ao îrun com o Àrokò,
Mas consigo não trouxeram Îrúnmìlà.

Îrúnmìlà prende os ladrões de sua lavoura.

Ìfá foi criado para Îrúnmìlà,


No dia que estavam roubando sua lavoura.
Îrúnmìlà disse, “O que posso fazer para prender esses ladrões”?
Ìfá instruiu-o a fazer ëbö e contar com a ganância deles.
Então Îrúnmìlà fez a oferenda,
E colocou em sua lavoura muitas outras comidas.
A noite, quando os ladrões chegaram,
Encontraram muitas comidas na lavoura de Îrúnmìlà.
Eles disseram, “Hoje as coisas estão ainda melhores”.
Eles começaram a comer, e comer.
O àñë do ëbö os fez adormecer.
Depois Îrúnmìlà pegou uma corda e os prendeu.
Essa foi a corda que ele ofereceu como ëbö.
Îrúnmìlà dançava e regozijava.

54
Îrúnmìlà perdoa o povo de Ìpàpó

Ìfá declara que isso voou para longe;


Eu declaro que isso voou para longe.
Ìfá declara que isso já chegou;
Eu declaro que isso já chegou.
Perguntaram o que foi que chegou?
Îrúnmìlà respondeu que foi ele que chegou ao palácio de Alárá.
Ìfá nos conta que quando Îrúnmìlà vivia em Ìpàpó,
Cuidava de todas as pessoas de lá.
Ele curou muitos que estavam doentes;
Transformou em mães orgulhosas várias mulheres estéreis;
Transformou vários devedores em pessoas prósperas;
Criou um patamar de prosperidade e desenvolvimento,
Que até então Ìpàpó desconhecera.
Um dia chegou um emissário de Alárá,
Dizendo que aquele rei precisava da ajuda emergencial de Îrúnmìlà.
Depois de juntar seus apetrechos,
Îrúnmìlà foi até o palácio de Alárá.
Lá chegando e consultando Ìfá,
Òtúrá Meji foi o que ele viu.
Îrúnmìlà disse, “Você, Alárá”;
Ele disse, “Sua esposa está num complicado trabalho de parto”;
Ele disse, “Essa é a razão de você ter me chamado”.
Ele disse, “Uma cabra madura é o que você deve oferecer”.
Alárá confirmou as palavras de Îrúnmìlà,
E a oferenda prescrita foi realizada.
Em poucos instantes o trabalho de parto fluiu,
E a esposa de Alárá trouxe ao mundo uma bela menina.
Îrúnmìlà então quis voltar para Ìpàpó,
Mas Alárá pediu que ele ficasse pelo menos dois meses com eles.

55
Relutantemente, Îrúnmìlà concordou,
Mas no décimo sétimo dia,
Um emissário de Ajerò apareceu,
Dizendo ser urgente a presença de Îrúnmìlà naquele palácio.
Dessa forma, Îrúnmìlà teve que deixar a casa de Alárá,
Antes que o ikösûdáyé e o Imörí da menina fossem realizados.
Quando então chegou à casa de Ajerò,
Îrúnmìlà rapidamente consultou Ìfá,
E mais uma vez Òtúrá Meji apareceu,
Revelando os mesmos problemas já enfrentados na casa de Alárá.
O mesmo ëbö foi prescrito e realizado,
E rapidamente outra menina linda veio ao mundo.
Îrúnmìlà então pediu permissão para voltar à Ìpàpó,
Permissão essa dada por Ajerò.
Îrúnmìlà mais uma vez juntou suas coisas, e partiu.
Quando ele já estava na fronteira de Ìpàpó,
Chegaram em cavalos os emissários de Ajerò.
Eles disseram que assim que Îrúnmìlà virara as costas,
Eles realizaram as cerimônias de nome,
E desde então a menina não parava de chorar.
Eles tentaram de tudo, em vão.
Disseram que Ajerò desesperadamente pedia o retorno de Îrúnmìlà.
Então, resignado, Îrúnmìlà montou um dos cavalos,
E retornou imediatamente a Ìjérò Èkìtì.
Ao chegar lá e realizar as consultas,
Îrúnmìlà disse que o nome escolhido para o bebê,
Tinha sido rejeitado por seu Orí;
Ele disse que aquela criança trouxera um nome consigo do îrun.
Quando Îrúnmìlà lhe deu o nome adequado,
Imediatamente a criança parou de chorar.
Depois disso tudo,
O rei não permitiu que Îrúnmìlà deixasse a cidade,
Nos próximos dois meses.
A essa altura, o povo de Ìpàpó se queixava,
Dizendo que Îrúnmìlà não mais se interessava por eles,
Daí a razão de sua demora em retornar.
Îrúnmìlà passou ao todo cinco meses fora de casa.
Quando enfim retornou para Ìpàpó, não encontrou sua esposa.
Ao perguntar a todos o que acontecera,
Ouvira que sua esposa infelizmente falecera.
Îrúnmìlà não pode acreditar naquilo,

56
Então eles o levaram até a sepultura da mulher.
Ali Îrúnmìlà chorou, e chorou...
Apesar de saber que é um ûwî um babalawo chorar por um morto,
Ele não conseguiu segurar suas lágrimas.
Îrúnmìlà se culpava por estar ausente,
Quando sua esposa mais precisou dele.
Depois de alguns dias,
Finalmente ele teve coragem de consultar Ìfá a respeito.
Ele se perguntava como Ìfá permitira que aquilo acontecesse,
Sem lhe dar nenhum tipo de aviso,
Visto que ele estava fora, servindo Ìfá ao auxiliar outras pessoas?
Então na consulta Òtúrá Meji se revelou,
E Ìfá disse a Îrúnmìlà que sua esposa estava viva!
Ìfá disse que ela tinha sido vendida como escrava na terra Ìbàríba;
O próprio Ìfá avisara àquele povo que enquanto ela estivesse ali,
Infortúnios se abateriam sobre eles.
Dessa forma, o povo de Ìbàríba queria se desfazer da mulher o quanto antes,
Mandando-a de volta a Ìpàpó.
Por fim, Îrúnmìlà foi aconselhado a oferecer dois cabritos e dinheiro como ëbö,
E a ir pela manhã ao mercado de escravos,
Para tentar reaver sua esposa.
Îrúnmìlà rapidamente fez o ëbö,
Depois montou no cavalo presenteado por Ajerò,
E foi ao mercado de escravos de Ìbàríba.
Quando Îrúnmìlà chegou, o mercado estava fechado,
Mas assim que abriu,
Îrúnmìlà começou a procurar por sua esposa,
Até que encontrou-a!
Îrúnmìlà perguntou ao mercador quanto queria pela mulher;
O homem respondeu, “Essa aì? Pode levar de graça”!
Sim, a má sorte daquele povo era tamanha,
Desde que Îsúnfúnlûyö chegara ali,
Que eles não vinham a hora de se desfazerem dela.
Já com sua esposa, Îrúnmìlà perguntou sobre tudo que acontecera.
Ele disse que o povo de Ìpàpó estava descontente,
Dizendo que Îrúnmìlà os havia abandonado,
E que aquilo não estava certo.
Então uma manhã ela foi arrastada da esteira,
Ainda nua,
E seria morta, se alguém não tivesse sugerido vende-la como escrava,
Pois dessa forma, eles se vingariam de Îrúnmìlà,

57
E ainda ganhariam algum dinheiro.
Îrúnmìlà quis dar uma lição àquele povo maldoso!
Pela madrugada ele entrou com sua esposa em Ìpàpó,
E pela manhã, mandou chamar a todos na cidade,
Com a desculpa de que queria oferecer-lhes comida e bebida,
Como agradecimento por terem cuidado das exéquias de sua esposa,
Enquanto ele estava viajando a trabalho.
Quando todos estavam reunidos à casa de Îrúnmìlà,
Ele rogou a Olódúmarè que dessa a seus convidados,
Os mesmos cuidados que eles tinham dado à sua falecida esposa.
Ninguém disse “Àñë”!...
Foi nessa hora que Îsúnfúnlûyö apareceu,
Trazendo comidas, bebidas e obì.
Todos ficaram pasmos com a cena!
Perceberam que Îrúnmìlà sabia de tudo!
Quando eles foram servidos,
Ninguém conseguiu comer ou beber nada.
Um a um, sem nada dizer,
Eles foram deixando a casa de Îrúnmìlà.
Os conspiradores ficaram pensando, “Quem contara a Îrönmílà”?
Essa ideia não lhes saía da cabeça,
E por isso foram se consultar.
Quando o babalawo viu Òtúrá Meji, Ìfá disse;

Öti l’ôtì ëjï Essa é a bebida da discórdia


Obí l’obì ìmîràn Esse é o obì problemático
Ëmu l’ëmu àrà-jonjo Esse é o vinho-de-palma do assombro

O babalawo então soube o que estava acontecendo;


Ele disse, “Vocês, anciãos de Ìpàpñ”;
Ele disse, “Grandes infortönios vocês trouxeram à sua cidade”;
Ele disse, “Ao tratarem com tamanha traição um embaixador de Olñdömarè”.
Ele disse, “O que vocês fizeram é muito grave”;
Ele disse, “E devem rogar imediatamente o perdão de Îrönmílà”.
O povo de Ìpàpó começou a argumentar,
Dizendo que não era certo Îrúnmìlà abandoná-los,
Sem que eles estivessem prontos de viver sem ele.
O babalawo disse, “Îrúnmìlà não é propriedade de ninguém”!
Ele disse, “Ele vai onde é chamado, cumprir seu dever de auxìlio”;
Ele disse, “Se ele não estava com vocês, é por que emergências o impediram”.
Finalmente o povo de Ìpàpó começou a perceber a dimensão de seu erro.

58
Eles conseguiram convencer um contrariado babalawo,
A acompanha-los até a casa de Îrúnmìlà.
Lá chegando, eles imploraram, e imploraram,
Até que Îrúnmìlà os perdoou.
Mas a situação ainda não tinha acabado...
O rei de Ìpàpó não estava sabendo de nada,
E quando lhe contaram sobre a traição,
Ele chamou os envolvidos, principalmente os anciãos.
O rei pretendia punir a todos severamente,
Mas não o fez,
Por que Îrúnmìlà pediu que todos fossem perdoados.

Ìfá ló fò Ìfá diz que isso tudo voou para longe


Mo ló fò Eu digo que isso tudo voou para longe
Èmi náà ló bà Îrúnmìlà declarou que já chegou
Wïn ni ni’bo lñ bàsi Disseram o que tinha chegado
Îrönmílà lñ bà sì’lé Alárá Îrúnmìlà disse que ele chegara à casa de Alárá
Îrönmílà lñ bà sì’lé Ajerò Îrúnmìlà disse que ele chegara à casa de Ajerò
Îrönmílà lñ bà sì’lé Öwáràngö-Àga Îrúnmìlà disse que ele chegara à casa de Öwáràngú-Àga
Öti l’ôtì ëjï Essa é a bebida da discórdia
Obí l’obì ìmîràn Esse é o obì problemático
Ëmu l’ëmu àrà-jonjo Esse é o vinho-de-palma do assombro
Día fú Kékeré Ìpàpó Ìfá foi criado para os jovens de Ìpàpó
A b÷ f’ágbà ibø E também para os anciãos
Kékeré Ìpàpó wön kíí ti ëjï Os jovens de Ìpàpó não se casam de brigar
Ìfá mo bá wïn rò, mo ñýgun wïn Ìfá, eu os desafiei, e venci!
Àgbà Ìpàpó wön kíí ti ëjï Os anciões de Ìpàpó não se casam de brigar
Ìfá mo bá wïn rò, mo ñýgun wïn Ìfá, eu os desafiei, e venci!

59
O cego mendicante

Se você faz o bem;


Faz a si mesmo.
Se você faz maldades,
As faz para si mesmo.
Essa foi a mensagem de Ìfá para Afïju (Homem Cego),
Que costumava mendigar nas terras haúsá.
Ele foi instruído a oferecer uma cabra madura como ëbö,
Para que pudesse escapar da maldade alheia.
Afïju ouviu, e fez o ëbö.
Afïju era conhecido por seu estilo peculiar de mendigar,
Ao dizer “Se você faz o bem...”;
Ele estimulava pessoas a lhe ajudarem,
Pois essas palavras se convertiam num dilema moral.
Então aconteceu que o rei daquela região,
Ele não gostava nada do estilo de Afïju;
Ele pensava que havia conceitos filosóficos ali;
Conceitos esses que não cabiam a um mendicante discutir.
O rei pensava que apenas ele,
E também seus representantes diretos,
Tinham o direito de abordar assuntos de natureza tão complexa.
Assim sendo, ele decidiu dar uma lição em Afïju,
Do tipo que serviria de aviso a todos.
O rei determinou que um de seus caçadores,
Trouxesse da floresta a serpente mais peçonhenta que encontrasse.
Quando a serpente foi trazida,
O rei ordenou que ela fosse posta num saco, e assim o fizeram.
Então no outro dia,
Quando Afïju foi mendigar no palácio,
Ele sempre dizia

60
Se você faz o bem;
Faz a si mesmo.
Se você faz maldades,
As faz para si mesmo.

Ah! O rei mandou que o saco com a serpente,


Lhe fosse dado como esmola.
Quando Afïju recebeu o “presente”;
Acreditou ser um pangolim,
E muito feliz partiu dali.
Bem, aconteceu que Àrûmö, filho do rei,
Ele viu Afïju saindo do palácio com um saco às costas.
Àrûmö não sabia o que havia no saco,
Mas achou que seja lá o que fosse,
Era demais para um mendicante.
Então ele foi até Afïju, tomou-lhe o saco,
E lhe esbofeteou três vezes.
Afïju apenas disse,

Se você faz o bem;


Faz a si mesmo.
Se você faz maldades,
As faz para si mesmo.

Logo depois disso,


Àrûmö quis conhecer o conteúdo do saco,
Mas quando pôs sua mão ali,
A serpente, que não comia a três dias,
Injetou-lhe todo seu veneno!
Tentaram ajudar Àrûmö,
Mas ele morreu em agonia.
Quando a história chegou aos ouvidos do rei,
Ele imediatamente lembrou-se das palavras de Afïju:

Bi o ñé ire Se você faz o bem;


O ñeé fún ara à rë Faz a si mesmo
Bi o sì ð’ikà Se você faz maldades,
O ñe é fún araà rë As faz para si mesmo.

61
Îrúnmìlà vai ao îrun em busca de sabedoria

O instrumento kóñó soa como um gongo;


O som do tambor bûmbý é de fato muito alto;
Você me mandou para uma missão, e eu fui;
Você também me mandou para uma jornada, e eu fui;
E essa jornada me foi particularmente penosa.

Essas foram as mensagens de Ìfá para Îrúnmìlà,


Quando ele foi ao îrun para adquirir conhecimentos.
Îrúnmìlà vivia feliz com sua esposa, Îñunfúnnlýyî,
Que estava grávida de sete meses.
Foi nessa ocasião que Îrúnmìlà sentiu que deveria ir ao îrun,
A fim de conseguir novos conhecimentos com os Anciões de lá.
Com esse propósito em mente, ele foi se consultar.
O babalawo lhe disse que a viagem seria profícua e abençoada,
E que ele deveria oferecer nove bolsas com búzios como ëbö.
Îrúnmìlà ouviu e fez a oferenda.
Depois disso, rumou para o îrun.
Após três anos de jornada, ele finalmente chegou.
Îrúnmìlà dirigiu-se imediatamente para o conselho de Anciões,
E quando perguntado sobre qual seu propósito ali,
Respondeu que a busca pela sabedoria era seu objetivo.
Então os Anciões exigiram o pagamento de nove bolsas de búzios,
E dessa forma Îrúnmìlà iniciou seus estudos.
Sua primeira lição foi refletir sobre o seguinte tema:

Bi afýfý bá nfý, má dörñ l’ábý igi Se houver uma ventania, não se abriga sob uma árvore

Îrúnmìlà foi instruído a repetir mil vezes essa sentença,


E também a pensar em mil maneiras diferentes de interpretá-la.

62
A tarefa imposta a Îrúnmìlà custou-lhe três anos de reflexões e estudos.
Ao final do período, Îrúnmìlà se apresentou aos Anciões novamente.
Ele foi parabenizado por seu sucesso,
E instruído a oferecer um galo para festejar a situação.
Îrúnmìlà assim o fez,
Mas comunicou aos Anciões que gostaria de aprender mais.
Os Anciões concordaram,
E deram a Îrúnmìlà uma nova tarefa;
Ele deveria repetir mil vezes a frase;

B’ñdò bá kön, má wîï Se o rio está cheio, não nade nele

Îrúnmìlà deveria repetir sobre essa sentença,


E encontrar mil maneiras diferentes de interpretá-la.
Essa tarefa exigiu mais mil dias de estudos e reflexões;
E no final desse período,
Îrúnmìlà se reapresentou aos Anciões do îrun.
Ao perceber o sucesso de Îrúnmìlà,
Eles o parabenizaram,
Mas novamente Îrúnmìlà disse que queria novos conhecimentos,
E assim sendo, uma terceira oração lhe foi passada:

Má bínú öjï kan Não se apresse em se enervar, sem antes deliberar adequadamente sobre o
problema.

Depois de mais três anos de estudos e reflexões,


Finalmente Îrúnmìlà decidiu retornar ao àiyé,
Mas não sem antes oferecer uma vaca aos Anciões do îrun,
A fim de festejar o final de seus estudos.
Em sua viagem de volta,
Îrúnmìlà foi acompanhado por duas grandes personalidades do îrun:
Mèdúúgú olowo ayé, O Homem Rico do Àiyé,
Mèdúúgú olowo îrun, O Homem Rico do Îrun.
Cada um deles possuía uma grande comitiva,
Que traziam consigo diversas riquezas do îrun.
A viagem de volta tomaria mais três anos,
E houve uma ocasião em que uma ventania os assolou;
E durante essa ventania,
Mèdúúgú olowo ayé abrigou-se sobre uma árvore.
Ao ver aquilo, Îrúnmìlà lembrou-se de sua primeira lição,
E tentou dissuadir Mèdúúgú olowo ayé de ali permanecer.

63
Mas Mèdúúgú olowo ayé não deu ouvidos a Îrúnmìlà,
Argumentando que já havia feito aquilo outras vezes.
Sem nada poder fazer, Îrúnmìlà se afastou,
E quase que imediatamente depois um vento rompeu um grande galho,
Que matou Mèdúúgú olowo ayé, assim que caiu sobre sua cabeça.
Um pandemônio se instalou,
Mas depois que as coisas se acalmaram,
Îrúnmìlà foi convidado pela comitiva de Mèdúúgú olowo ayé,
A realizar as exéquias.
Assim fez Îrúnmìlà,
E foi regiamente pago por seus serviços.
A vigem para o àiyé continuava,
E quando chegaram ao ponto,
Onde îrun e àiyé são separados por um rio,
Viram que o mesmo estava muito alto.
Naquela época, chovia muito por três meses,
Depois havia estiagem que durava igualmente.
Foi aí que Mèdúúgú olowo îrun decidiu atravessar o rio.
Îrúnmìlà lembrou-se de sua segunda lição,
E tentou dissuadir Mèdúúgú olowo ayé de ali permanecer.
Mas Mèdúúgú olowo îrun não deu ouvidos a Îrúnmìlà,
Argumentando que já havia feito aquilo outras vezes.
Sem nada poder fazer, Îrúnmìlà se afastou,
E quase que imediatamente depois um vento rompeu um grande galho,
Que matou Mèdúúgú olowo îrun, assim que caiu sobre sua cabeça.
Um pandemônio se instalou,
Mas depois que as coisas se acalmaram,
Îrúnmìlà foi convidado pela comitiva de Mèdúúgú olowo îrun,
A realizar as exéquias.
Assim fez Îrúnmìlà,
E foi regiamente pago por seus serviços.
Então finalmente Îrúnmìlà chegou ao àiyé!
Já era noite, e ele preferiu rumar direto para sua casa;
Chegando lá, surpresa!
Îrúnmìlà viu alguém deitado com sua esposa!
Na hora, Îrúnmìlà desejou matar o atrevido,
Mas lembrou-se de sua terceira lição,
E preferiu resolver a situação pela manhã.
Quando um novo dia chegou,
Qual foi a surpresa e alívio de Îrúnmìlà,
Ao descobrir que a pessoa que vira deitado com sua esposa,

64
Ninguém mais era que seu filho,
Que não havia nascido quando ele partira para o îrun!
Îrúnmìlà ficou pensando sobre a tragédia que teria ocorrido,
Caso ele não seguisse as orientações que lhe foram passadas pelos Anciões.
As comitivas dos falecidos Homens Ricos,
Eles levaram à casa de Îrúnmìlà tudo o que ele herdou de valor,
E dessa forma Îrúnmìlà pode viver uma vida próspera no àiyé.
Ele dançava e cantava:

Kóñó níí ró ganhúngahún O instrumento kóñó soa como um gongo


Ìbømbý gìrìgìrì l’ýyìn agbàrà O som do tambor bûmbý é de fato muito alto
O wáá tìi rán mi ni’ðë mo ti jý Você me mandou para uma missão, e eu fui
Àjò kan, àjò kàn ti ò rán mi i rè yi nkï Você me mandou a uma jornada, e eu fui
Àjò àyö ni lýnu ni Jornada que me foi particularmente penosa
Díá fún Îrúnmìlà Ìfá foi criado para Îrúnmìlà
Ti baba nre’lé îrun lîï kï kéö Quando ele foi ao îrun adquirir sabedoria
Ëbö ni wïn ni kó wáá ñe Ele foi instruído a fazer ëbö
Ò gb’ëbô, ò rö’bô Ele ouviu, e assim o fez
Jý awo ñòro ó ñe o De fato, é difícil ser um praticante de Ìfá
Ká pàjùbà kalû Para alguém que prepara a terra
Ká má lè dé’bø mï Mas depois não volta lá para plantar
Awo ñòró ó ñe o Sim, é difícil praticar Ìfá

65
Àlùkándí, o matador do îrun

Não podemos usar os cotovelos,


Para colocar um cesto sobre o telhado.
Essa foi a mensagem de Ìfá para Àlùkándí,
O mensageiro de Olódúmarè.
Ela era famoso por seu o mais eficaz mensageiro;
Se era preciso levar uma mensagem do îrun para o àiyé,
Àlùkándí era aquele que os Ìrúnmîlû escolhiam,
Para ser o mensageiro.
Mas em uma de suas missões,
Àlùkándí prestou um pouco mais de atenção aos seres humanos.
Ele viu ódio, guerras, mentiras;
Viu irmão tentando escravizar irmão;
Pessoas se ferindo das mais diversas maneiras,
O meio ambiente sendo sistematicamente destruído.
Àlùkándí pensou, “Esse é o povo que Olódúmarè ama”?
Ele pensou, “É por esses seres que os Ìrúnmîlû se desdobram”?
Ele pensou, “E em troca sñ recebem ingratidão”?
Ah! Àlùkándí pensou que aquilo não estava certo!
Ele decidiu que estava na hora de dar uma lição aos ënia.
Então ele voltou ao îrun,
E rogou por poderes especiais.
Seu pedido foi concedido.
Já no outro dia, Àlùkándí foi direto ao mercado;
Ele disse, “Eu sou Àl÷kándì”!
Ele disse, “Aquele que eu quiser matar, assim o farei”!
Assim que disse essas palavras,
Àlùkándí usou o poder que lhe foi concedido,
E começou a matar todas as pessoas que encontrava pela frente!
Um pandemônio se instalou,

66
E as pessoas fugiram, aterrorizadas.
Bem, essa situação ocorreu muitas outras vezes,
Até que os Anciões resolveram consultar Ìfá a respeito.
Ao ver Òtúrá Meji,
O awo disse que Àlùkándí estava fazendo mal uso do poder que lhe foi concedido;
Ele disse que tal comportamento não tinha a aprovação de Olódúmarè.
Para que aquilo cessasse,
Seria preciso oferecer um cabrito maduro como ëbö;
Seria preciso propiciar Èñù Îdàrà com um galo.
Rapidamente as pessoas ouviram, e fizeram a oferenda.
Então Èñù foi ao îrun,
Reportar a Olódúmarè o que estava ocorrendo no àiyé.
Ah! Assim que soube,
Olódúmarè revogou os poderes outorgados a Àlùkándí.
Quando Èñù voltou ao àiyé,
Ele disse, “Vocês que temem Àl÷kándì”;
Ele disse, “Não precisam temê-lo mais”.
Não demorou muito, e Àlùkándí fez uma nova aparição no mercado.
Ele disse, “Eu sou Àl÷kándì”!
Ele disse, “Aquele que eu quiser matar, assim o farei”!
Só que dessa vez, ninguém saiu correndo...
Quando Àlùkándí tentou matar as pessoas,
Viu que o poder que usava já não estava com ele.
Ah! As pessoas pegaram Àlùkándí,
Amarraram suas mãos e suas pernas,
E Èñù levou-o de volta ao îrun,
De onde Àlùkándí nunca mais recebeu a permissão de sair.

67
Os ûwî de Òtúrá Meji

Ëyë nsunkún eji (Os pássaros choram por chuva);


Esse foi o babalawo que criou Ìfá para Esélú Mogbe,
Quando ele chorava por não ter sucesso em suas empresas;
Òpñ gbé b÷ölø o d’erinmi (O pilar se deita e torna-se irremovível);
Esse foi o awo que criou Ìfá para Öba Ìjádó,
Que se lamentava por não ter sucesso na vida.
Îkan ðoðo ômô’k÷n, ñ b6i sìnö ok÷n ñ mï rñrñ;
(Apenas uma miçanga okùn no meio de outras contas, traz valor ao lote todo);
Esse foi o segundo babalawo que criou Ìfá para Esélú Mogbe;
Quando ele foi avisado que a não observância de seus èwî,
Estava destruindo seu destino.
Esélú Mogbe era iniciado em Ìfá,
E durante seu Ìtûlódù, Òtúrá Meji se revelou com seu Odù.
Quanto a Öba Ìjàdó,
Òtúrá Meji se revelou em seu Ikösûdáyé (cerimónia de “batismo”);
E como ambas cerimônias aconteceram quando eles eram muito novos,
Não se lembravam de nenhuma orientação a respeito desse Odù.
Öba Ìjàdó iniciou um negócio com alguns amigos;
Mês a mês todos contribuiriam para a prosperidade de um,
Fazendo doações para lhe impulsionar a prosperidade.
Öba Ìjàdó colaborou em todos os meses,
Mas quando chegou seu mês,
Nenhum de seus amigos contribuiu.
Além desse grande prejuízo,
Aconteceu que Öba Ìjàdó perdeu duas de suas filhas;
Logo as duas por quem ele tinha maior apreço!
Essas moças saíram à mãe em tudo,
Inclusive tinham a mesma ocupação,
O que trazia grande orgulho à Öba Ìjàdó.

68
Ele se perguntava, “Como duas filhas tão valiosas podem morrer assim”?
Ele chegou à conclusão que aquilo se devia à ação de seus inimigos,
Ou das Anciãs da Noite.
Bem, quanto a Esélú Mogbe;
Ele havia mudado de profissão várias vezes,
Mas jamais conseguira prosperar.
Ele estava convencido que era melhor que seus amigos em vários aspectos,
E sempre deixava isso claro a eles.
Mas acontece que muito de seus amigos eram prósperos,
E isso o deixava de tal forma amargurado,
Que ele afogava suas dores na bebida.
Quando ele tornou-se um alcoólatra,
Sua esposa e seus filhos o abandonaram.
Esélú Mogbe começou a mentir sobre sua situação,
A fim de esconder as dificuldades de sua vida;
Mas isso só lhe trouxe mais vergonha e repúdio.
Ele então concluiu que seu sofrimento se devia a inimigos,
E jurou vingança a eles.
Quando ele foi apanhado praticando o mal contra seus imaginários inimigos,
Levou a surra de sua vida!
Então um dia Öba Ìjàdó e Esélú Mogbe se conheceram,
E não demorou muito para perceberem aspectos em comum de suas vidas.
Ambos eram ridicularizados em suas comunidades;
Ambos foram da glória à lama;
Ambos eram mal sucedidos em seus negócios,
E essa situação os uniu pela dor.
Öba Ìjàdó revelou que Òtúrá Meji era seu Odù,
E Esélú Mogbe confirmou que o mesmo acontecia com ele.
Há! Ficou claro para ambos que aquilo não era coincidência.
Logo pela manhã,
Esélú Mogbe foi ao awo Ëyë nsunkún eji.
O babalawo lhe disse que sua situação não tinha nada a ver com inimigos,
Não tinha nada a ver com Àjý;
E que suas dificuldades eram oriundas da não observância de seus ûwî
Ah! Cheio de raiva,
Esélú Mogbe rapidamente saiu da casa do babalawo;
Pois ele estava convicto sobre a ação de terceiros em sua desdita.
Os dois amigos, então, decidiram por uma nova estratégia.
Eles voltariam a se consultar,
Dessa vez com dois babalawo diferentes, no mesmo dia;
E depois comparariam as informações recebidas.

69
Por serem filhos do mesmo Odù,
Acreditavam que as informações seriam idênticas,
Ou pelo menos parecidas.
Eles assim o fizeram.
Esélú Mogbe foi se consultar com “Îkan ðoðo ômô’k÷n ñ bï sìnö ok÷n ñ mï roro”;
E Öba Ìjàdó foi se consultar com “Òpñ gbé b÷ölø o d’erinmi”.
Bem, os dois awo disseram a mesma coisa;
Que os sofrimentos atuais de suas vidas eram auto-afligidos;
E que tudo se devia à inobservância dos tabus de Òtúrá Meji.
Os awo também os instruíram sob quais eram esses tabus,
E quais as consequências da inobservância dos mesmos,
Visto que quando ambos passaram por suas cerimônias eram muito jovens,
E os adultos presentes não os instruíram adequadamente ao longo da vida.
Os awo disseram;

1) Nenhum filho de Òtúrá Meji deve se envolver em situações financeiras comunitárias ou cooperativas, para evitar
ser enganado, logrado ou roubado;

2) Não se deve comer carne de esquilo, para evitar exposições aos inimigos ou conspiradores;

3) Não se deve gabar-se nem pavonear-se, para evitar ser derrubado pelos inimigos;

4) Não se deve beber em excesso, para evitar ações contra o próprio destino;

5) Não se deve envolver em discussões, para não carregar a aura e a espiritualidade com negatividades;

6) As filhas dos filhos de Òtúrá Meji não podem seguir o mesmo caminho profissional das mães, para que elas não
encurtem suas vidas ou sofram profunda e desnecessariamente;

7) Não se pode mudar de emprego ou profissão desnecessariamente, para evitar a ruína do próprio destino
financeiro;

8) Não se pode recorrer à vingança, para evitar que mais dores e sofrimentos recaiam sobre si mesmo;

9) Nunca se deve agir maldosamente, para não sermos tratado da mesma maneira por nossa comunidade;

10) Nunca se deve mentir, para evitar ser exposto e ridicularizado publicamente;

11) Não se deve jejuar. Filhos de Òtúrá Meji que jejuam jamais conseguirão alcançar suas metas na vida;

12) Não se deve ter inveja do sucesso alheio, ou isso atrairá o ódio de todos;

70
13) Não se deve dar muita ênfase à defesa dos próprios direitos, para evitar confrontos com as Anciãs da Noite;

14) Não se deve ser egoísta, para evitar a perda de tudo aquilo que se alcançou na vida;

15) Não se deve usar para nada o pássaro îpýûrû, para evitar perder grandes oportunidades na vida;

16) Não se deve usar nenhuma parte da árvore àràbà, para evitar ser desqualificado para uma posição de liderança
ou destaque.

Bem, quando ambos voltaram para casa,


Compararam as informações recebidas,
E perceberam, finalmente, os porquês de seus sofrimentos e desditas.
Ambos sentiram que deviam seguir os conselhos de Ìfá,
E reiniciarem suas vidas,
Dessa vez baseada na observância de seus tabus.
Finalmente perceberam que sua boa sorte,
Estava totalmente em suas mãos.

Por que o awo senta-se na esteira para ler Ìfá

“Olusesè awîn ni awo inu Igbò; øl÷ Îdan af’idí j’Od÷”;


Esse foi o awo que Criou Ìfá pra Îrúnmìlà,
Que foi aconselhado a oferecer seis esteiras e seis ûkòdidû,
Para que fosse apto a governar uma cidade.
Disseram que todas as pessoas o honrariam e o respeitariam em sua esteira.
É por isso que até hoje o Babalawo senta-se na esteira para consultar Ìfá.
Îrúnmìlà ouviu os conselhos,
E rapidamente fez o ëbö necessário

71
Graças a Òtúrá a riqueza chega ao àiyé

Ìfá foi criado para Oríàlá (Òtúrá ) e Oriatosì,


Quando eles vieram do îrun par a o àiyé.
Eles foram aconselhados a fazer ëbö,
Para serem bem sucedidos aqui, mas só Òtúrá o fez. Oriatosì disse que aquilo era inútil.
Quando chegaram ao àiyé,
Ambos começaram a vender lenha para sobreviver.
Òtúrá quis ir a Ìfá para mudar sua sorte,
E convenceu Oriatosì a ir também.
Os awo lhes disse que era preciso oferecer um galo, um facão e uma corda.
Ah! Essas eram as ferramentas de trabalho deles,
E mais uma vez apenas Òtúrá fez o ëbö.
Os awo disseram a Èñù que abençoasse os pés de Òtúrá,
Para que ele andasse apenas por bons caminhos.
Como já não possuía ferramentas, Òtúrá continuou trabalhando como pôde.
Com as mãos ele arrancava galhos,
E com os dentes cortava fibras para amarrar sua lenha.
Foi aí que ele viu duas tartarugas, e as guardou para si.
Então aconteceu que duas princesas ficaram doentes,
E era preciso tartarugas para o ëbö que poderia salvá-las.
Ah! Èñù fez todas as tartarugas desaparecerem!
Só restaram as duas que pertenciam a Òtúrá.
Quando os emissários do rei souberam sobre as tartarugas de Òtúrá,
Ofereceram uma fortuna por elas.
Òtúrá recebeu duzentas de todas as coisas boas do àiyé por uma das tartarugas;
E duzentas de todas as coisas boas do îrun, pela outra.
Òtúrá passou a ter dinheiro, roupas, esposas, animais, escravos, etc..
As pessoas que precisavam das tartarugas eram ara îrun,
E até então ninguém tinha visto tamanhas riquezas no àiyé.
É por isso que se diz que graças a Òtúrá a riqueza chegou ao àiyé.

72
Òtúrá pratica Ìfá entre os árabes

Ìfá foi criado para Òtúrá,


No dia que ele quis praticar Ìfá em terras desconhecidas.
Ele foi instruído a oferecer um cabrito a Èñù.
Depois de muito viajar, ele já não sabia onde estava;
Como seus mantimentos estavam acabando,
Ele decidiu voltar;
Mas naquela noite, num sonho,
Îrúnmìlà lhe apareceu e disse, “No lugar para onde vais há pessoas te esperando”;
Ele disse, “Haverá muito trabalho lá; de certo não faltará comida”.
Então no outro dia Òtúrá continuou a viagem.
Aos poucos as árvores foram desaparecendo,
E o solo ficando mais arenoso;
A temperatura foi aumentando.
Então Òtúrá deparou-se com estrangeiros,
Cujas roupas e paramentos ele jamais vira antes.
Apesar da dificuldade de comunicação,
Os estrangeiros perceberam que Òtúrá precisava de comida,
E providenciaram isso.
Depois de comer, Òtúrá consultou Ìfá,
E viu que o líder daqueles homens padecia de impotência;
Òtúrá aconselhou o homem a mudar sua dieta.
Òtúrá também viu dificuldades financeiras.
Ele disse que tais dificuldades se deviam ao abandono da religião deles.
Aquelas pessoas se maravilharam com Ìfá,
E Òtúrá começou a ensiná-los.
Mas depois de um tempo Momodu, o líder,
Teve que ir para a guerra com seus homens.
Enquanto ele esteve fora, sua mãe negou-se a comer,
E depois de trinta e um dias a anciã faleceu.

73
Quando Momodu retornou,
Òtúrá colocou-o a par do acontecido,
Então Momodu disse que jejuaria pelo mesmo período de sua mãe.
Foi assim que os filhos de Momodu começaram a jejuar até hoje.

Ñàngó descobre o ìyàngareò

É Òtúrá Meji que nos conta como Ñàngó,


Em suas andanças pelo mundo,
Foi parar na terra Ara Malè.
Quando ele ali chegou,
Ficou intrigado ao ver o povo executar um ritual para ele desconhecido.
As pessoas andavam em círculo,
Em volta de uma vasilha com sàràûkî.
Depois disso, elas fizeram ìtá.
Quando a cerimônia acabou,
Ñàngó perguntou sobre o ritual que presenciara.
Explicaram que se tratava do ìyàngareò,
E que tinha por finalidade dar conta a Olófin e aos ancestrais,
Sobre os ritos realizados.
Enquanto esteve em Ara Malè,
Ñàngó percebeu como aquele povo era pacífico,
E como a harmonia imperava em suas vidas.
Quando Ñàngó regressou para Tápà,
Espantou-se com o contraste que encontrou!
Brigas, discussões, desavenças...
Então Ñàngó determinou que à partir daquele dia,
Após a realização das grandes oferendas,
O ìyàngareò deveria ser realizado.
Depois disso a tranqüilidade finalmente chegou naquelas terras.

74
A razão do sofrimento da raça negra

“São bramidos e anseios, como se Olókun estivesse em chamas”;


“O vento rodopia, como se Öya estivesse furiosa”;
“Vinte começam a jornada, e depois se transformam em cem milhões”;
“Nñs perguntamos se é seguro sair”;
“Eles respondem que mais seguro é voltar para dentro”;
“Por que as tarefas tornaram-se inexequíveis”.
Essa foi a mensagem de Ìfá para os ara îrun,
E também para seus descendentes no àiyé,
Quando eles indagaram sobre seu destino,
E quando desejaram saber o que seria preciso,
Para que fossem perpetuamente bem sucedidos.
Os antigos sacerdotes aprofundaram-se na sabedoria Ìñèñè;
E lhes disseram para construírem grandes edificações;
Eles deveriam construir grandes muros;
Deveriam construir grandes diques;
E os responsáveis pelas guerras deveriam encerrá-los.
Eles seriam os únicos no àiyé que poderiam manipular as altas energias;
Deveriam conhecer Arusi, Òrìñà, Vodun, Mikisi e Aboson.
A grandeza deles não poderia ser vista a olho nu.
Mas chegaria um tempo em que tudo o que receberiam lhes seria tirado;
Tudo o que criassem pela graça de Dada Segbò.
Então os povos do îrun e do àiyé se angustiaram com a palavra dos Ìñèñè.
Eles perguntaram aos bOkono do îrun e do àiyé,
O que poderia ser feito para manter as muitas façanhas realizadas.
Os awo disseram que muitas oferendas deveriam ser feitas,
Aquela altura e nos tempos vindouros.
Eles disseram, “Quais oferendas”?
Os sábios responderam, “Primeiro vocês precisam concordar em manter as tradições com sucesso”;
Disseram, “Por enquanto, esse é o ëbö”.
Os ara îrun e os ara àiyé disseram que esse ëbö era fácil.
75
Então os awo disseram, “Mas também há um ëbö para o futuro”:
Disseram, “Vocês devem manter esse sucesso a qualquer custo”;
Disseram, “Não poderão renegar os juramentos às divindades de seus pais”;
Disseram, “Nem ceder à ideologia ou aos deuses de seus eternos inimigos”;
Disseram, “Deverão honrar esses juramentos através de oferendas aos seus deuses”;
Disseram, “E não esquecer quem são seus verdadeiros inimigos”.
As pessoas responderam que esse ëbö era bom,
Mas não entenderam bem a parte que falava sobre inimigos.
Os awo disseram, “Já que vocês não enxergam a sabedoria de Segbò”,
Disseram, “Iremos um pouco mais adiante”.
Disseram, “Um dia um povo sem vida chegará até vocês”;
Disseram, “Eles não serão humanos, embora possam parecer”;
Disseram, “De fato são apenas seres animados”;
Disseram, “Eles não se parecerão com vocês, não pensarão como vocês”;
Disseram, “Eles tentarão sugar a vida de vocês”;
Disseram, “Tentarão usar essa vida onde lhes falta, pois eles serão Incompletos”;
Disseram, “Eles receberão diferentes nomes de seus povos”;
Disseram, “A pele deles parecerá esbranquiçada, por alguma força não-sagrada”;
Disseram, “Por fora, parecerão desarmoniosos, tal qual o serão internamente”.
Disseram, “Eles tentarão destruir tudo o que vocês fizerem”.
Disseram, “Eles sempre estarão em oposição a tudo o que diz respeito à existência de vocês”;
Disseram, “Por que eles roubarão tudo o que vocês permitirem”.
Disseram, “Esse povo será vosso inimigo e desejará vossa morte”;
Disseram, “E depois ainda vos explorarão, se vocês o permitirem”;
Disseram, “Eles terão sucesso se vocês esquecerem e abandonarem suas divindades”;
Disseram, “Embora chegará o tempo em que a diplomacia será necessária”,
Disseram, “Para eliminar a escñria do mundo”;
Disseram, “Essa escñria jamais deverá adentrar em vossos espaços sagrados”.
Os ara îrun e os ara àiyé fizeram todos os ëbö necessários,
E naquela época os Incompletos não chegaram.
Tudo correu bem por mil anos;
Pois eles seguiram as regras sabiamente,
Observando a palavra dos antigos sobre os Incompletos.
Então chegou o tempo em que Modakeke,
Aquele que era morto do pescoço para cima,
Chegou ao trono;
E constantemente quebrou os ëwî relativos aos Incompletos.
Quando Modakeke começou a espalhar essa loucura,
Os ara îrun e os ara àiyé começaram a perder tudo,
Inclusive suas divindades.
Modakeke sempre permitia que os inimigos adentrassem aos locais sagrados,

76
E começou a ser amigo deles.
Essas violações dos preceitos irritaram as divindades;
As mesmas a quem o povo de outrora prestara juramentos!
A loucura de Modakeke se espalhou,
Até que chegou o tempo em que ela se tornou norma,
Especialmente entre os conselheiros.
Então, como os anciões haviam dito, a terra saiu de seu eixo.
Coisas que eram anormais tornaram-se normais,
Os ara àiyé viam a glória de seus ancestrais desmoronarem;
Os fracos e anormais, os Incompletos, tomaram a tomar todo o poder.
Os ara àiyé correram aos Babalawo cheios de medo,
Perguntando se o Grande Se (O Criador) havia os desamparado.
Os awo do àiyé consultaram os oráculos ancestrais de vários povos,
E todos diziam a mesma coisa;
Que devido as desrespeitosas violações dos ëwî impostos pelos anciões;
Que por terem permitido que os Incompletos adentrassem ao seu meio;
Que por terem mentido às Divindades;
E vendido a cultura de seu povo,
Os ara àiyé perderam sua natureza divina,
Ou melhor, abriram mão dela.
Eles passaram a se vender como escravos aos Incompletos,
Que assim construíram uma pseudo-civilização, à custa dos ara àiyé.
Mas não foi só isso que aconteceu;
Eles começaram a vender suas tradições aos Incompletos.
Então os awo disseram;
Que coletivamente, como um povo,
Eles corriam o risco de suas Divindades partirem para sempre!
Os aráyé perguntaram, “O que podemos fazer para restaurar as coisas como eram antigamente”?
Perguntaram, “Qual o ëbö para isso”?
Os awo disseram, “Vocês devem interromper essa loucura”;
Disseram “Devem confessar vossa ignorância e pedir perdão às Divindades”;
Eles disseram, “Devem também parar de se associar aos Incompletos”
Disseram, “E o mais importante, devem confrontar e eliminar os traidores entre vocês”;
Disseram, “Assim que eles tentarem estabelecer o mal”!
Até o dia de hoje alguns vêm fazendo esse ëbö, outros não;
E o destino dos ara àiyé ainda é incerto.

77
“Traje de Tecido Fino” e seu caminho para a imortalidade

Assim como a água corre,


Também faz o caminho que leva a Eri;
Ìfá foi criado para Traje de Tecido Fino,
Que estava prestes a seguir o caminho dos Imortais.
Ele foi instruído a fazer ëbö,
E daquele dia em diante as coisas foram mais fáceis para ele.
Ìfá diz que essa pessoa deve levar uma vida de devoção,
Para que venha a receber bênçãos.
O ëbö é composto por quatro pombos,
Dois ìlûkû, um prato branco e o dinheiro definido pelo awo.
Tudo isso a Òñàlá.

Îñun chorava por seu amor

Quando Òtúrá se apresenta,


Ìfá nos fala sobre Îñun,
No dia que ela chorava por seu amor,
Que há muito não voltava para casa.
Îñun feriu seu dedo no pente,
E o sangue caiu na esteira.
Îñun pensou, “Será esse um sinal de que algo aconteceu ao meu amado”?
Quando ela ouvia um barulho,
Corria para ver se era seu amor,
Mas era apenas o vento batendo nos objetos.
Assim os dias passaram,
E mais uma vez o amor de Îñun não regressou.
O coração de Îñun se apertava; ela chorava por seu amor.

78
Ògùn sele derò

A grande água tem vários cursos;


O caramujo não erra se não for ameaçado com uma forca;
O cavalo anda majestosamente pela cidade, mas faz sujeira;
Porém, ele não é o culpado.
A primeira folha que eu colher, que funcione;
Porém, é bom quando encontramos a colmeia e o apicultor.
Que todas as minhas coisas sejam doces.
Peço a bênção dos que estão à frente e atrás de mim;
Peço a bênção dos dezesseis Anciãos, filhos do mistério;
Se a minhoca pedir licença à terra, essa abrirá sua boca.
Peço perdão, e que seja aceito.
Perdoe-me, e permitam que minhas coisas sejam boas até a noite;
Aceitem meus respeitos.
Sobre um pano branco colocaremos oñè,
E ao redor do oñè faremos um círculo com dendê.
Usaremos isso para banho pela manhã e antes da lua surgir.
Faremos isso para conseguir perdão,
E tornar nossa situação menos difícil.
A isso chamamos ògùn sele derò.

79
Por que os brancos são céticos

Acamados não são proibidos de prosperarem;


Convalescentes não são proibidos de alcançar vida longa;
Mas no dia que eles vacilarem, aí poderão esperar por problemas.
Ìfá foi criado para o Homem Branco,
No dia que ele quis saber como gerar um ser humano.
Ele teve tanto sucesso no campo das invenções,
Que achou que coroaria suas atividades,
Aprendendo de Olódúmarè como manufaturar um ser humano.
Então ele foi ao îrun,
Ayegbe Koñe Gbere,
Esse foi o awo que criou Ìfá para Homem Branco;
Ele disse, “Nenhum espelho é grande o bastante”;
Ele disse, “Para que se possa ver o desenrolar de um ano inteiro”.
Homem Branco foi aconselhado a oferecer um cabrito a Èñù,
Mas ele recusou-se,
Por que não acreditava nessas coisas.
Mesmo sem fazer o ëbö,
Ele foi a Olódúmarè e perguntou, “Como um ser humano pode ser criado”?
Olódúmarè é aquele que não deixa de responder às questões de suas criaturas;
Então Ele lhe deu um pouco de barro para modelar.
Na oficina de Olódúmarè há um grande espelho,
Onde Ele olha para saber se está tudo em ordem para a próxima existência.
Com o barro amassado pelo Homem Branco,
Olódúmarè preparou uma forma humana,
E depois disso Ele pôs o boneco para secar.
Quando Olódúmarè saiu para resolver outras questões,
Èñù entrou na oficina,
Assumindo a postura de “polìcia do îrun”;
Então Èñù flagrou Homem Branco retocando a imagem feita por Olódúmarè.
Èñù disse, “Hei! Você não poder fazer isso”!
80
Homem Branco disse, “Sim, eu posso”!
Então Èñù ordenou a Homem Branco que levasse consigo sua imagem,
Pois ela deveria falar depois que secasse.
Ah! Èñù não falou que a imagem só falaria depois que recebesse ûmì!
Homem Branco retornou ao àiyé com sua imagem,
Mas mesmo depois que secou, ela não falou nada.
É por isso que Homem Branco não consegue falar com imagens;
E tudo isso por que ele não quis fazer ëbö...

Îrúnmìlà é salvo pelo Polvo e pelo Caranguejo

Quando Òtúrá Meji se apresenta,


Ìfá nos fala de quando Îrúnmìlà estava cercado por um povo incrédulo que queria matá-lo.
Eles conseguiram encurralar Îrúnmìlà num desfiladeiro;
Não havia por onde escapar.
Eram os perseguidores ou o mar abaixo.
Então Îrúnmìlà pegou seus ìkìn,
Os amarrou num îjá e escondeu sob uma árvore,
Para que Ìfá não caísse em mãos incrédulas.
Quando os perseguidores chegaram,
Îrúnmìlà lançou-se no mar.
Então o Polvo viu o que estava acontecendo e soltou sua tinta sobre Îrúnmìlà.
Quando os perseguidores viram a mancha,
Acharam que aquele era o sangue de Îrúnmìlà e o deram como morto.
Depois que eles partiram,
Îrúnmìlà disse ao povo, “Jamais eu ou meus filhos voltaremos a te comer”.
Depois disso Îrúnmìlà foi buscar seus ìkìn,
Mas não os encontrou onde havia os colocado.
Foi aí que ele percebeu o Caranguejo,
Que havia escondido os ìkìn para que eles não fossem encontrados.
Quando Caranguejo devolveu os ìkìn,
Îrúnmìlà disse, “Nem eu nem meus filhos voltaremos a te comer”.
É por isso que os devotos de Îrúnmìlà não podem comer polvo ou caranguejo

81
Homem jovem recebe àñë de Olófin

Òtúrá Meji é o Odù que nos explica,


Como os jovens passaram a ter autoridade como os anciãos.
Antigamente só os mais velhos possuíam autoridade;
Primeiro era preciso envelhecer antes de possuir uma boa posição.
Então o homem velho consultou Ìfá,
Assim como o homem jovem.
Um queria manter sua autoridade,
E o outro queria conquistá-la.
Eles foram instruídos a oferecer duzentos e um sacos de búzios.
Já no outro dia o velho já possuía os búzios necessários,
Enquanto o jovem só havia conseguido a metade dos búzios necessários.
Então eles partiram para a casa de Olófin;
No caminho o velho se cansou,
E o jovem prontificou-se para ajudá-lo.
Ele pegou os búzios do velho e juntou aos seus.
O homem jovem disse, “Não consigo andar tão devagar”;
Ele disse, “Vou indo à frente e depois te espero”.
O homem velho concordou.
Quando o jovem chegou à casa de Olófin,
Ofereceu todos os búzios como se fossem seus.
Quando o velho chegou e pediu seus búzios,
O jovem disse, “De que bözios você está falando”?
Então eles começaram a discutir.
Olófin disse, “Você, homem velho, quantos sacos com bözios há aqui”?
O velho respondeu, “Duzentos e um”.
Olófin disse, “Você, homem jovem, quantos sacos com bözios há aqui”?
O jovem respondeu, “Duzentos e cinquenta e um”.
Olófin contou e viu que o jovem estava com a razão.
Baba deu ao jovem todo o àñë que ele queria,
E desde então um jovem pode ser tão poderoso quanto um velho.
82
Por que os orangotangos não são homens completos

Ìfá foi criado para os orangotangos,


No dia que eles desejaram se tornar homens.
Eles disseram, “Olófin nos deixou tão perto de ser homens”;
Disseram, “Por que ele não completa a obra para nós”?
Eles foram instruídos a fazer ëbö, e assim o fizeram;
Mas eles acharam que os awo estavam lhes explorando.
Eles disseram, “Ah! Olókun poderia ter nos ajudado sem cobrar tudo isso”!
Èñù não gosto nada disso.
Os awo também lhes instruíram,
A não falar absolutamente nada sobre a mudança que lhes ocorreria,
Para que todos os outros animais não viessem pressionar Olófin,
A fim de receberem bênçãos semelhantes.
Bem, depois de um tempo,
Èñù disse, “Vocês, orangotangos, hoje é o dia da transformação”.
Eles urraram e pularam de alegria;
Cantaram bem alto a quem quisesse ouvir;
Esqueceram-se das palavras dos awo.
Foi aí que Èñù foi a Olófin narrar o acontecido;
Baba disse, “Eles fizeram ëbö”?
Èñù respondeu, “Sim, Baba; mas não seguiram o preceito corretamente”.
Então Olófin disse, “Não haverá mudanças então”!
Os orangotangos choravam e se lamentavam.
Èñù dançava e regozijava.

83
O pacto entre Òrìñà Oko e os Espíritos da Terra

Ìfá foi criado para Òrìñà Oko,


No dia que sua lavoura passou a ser atacada.
Tudo aquilo que brotava em sua lavoura durante o dia,
Era devorado por algum ser durante a noite.
Ele foi instruído a fazer oferendas diretamente sobre sua lavoura,
E a vigiá-la durante a noite.
Òrìñà Oko ouviu e ofereceu o ëbö.
Quando a noite chegou,
Ele escondeu-se e ficou observando.
Depois de um tempo apareceram dezenas de caracóis;
Que pareciam ser liderados pelos oito maiores que vinham à frente.
Como nunca tinha visto aquilo,
Òrìñà Oko pôs os oito caracóis maiores em sua bolsa e os levou perante Îrúnmìlà.
Îrúnmìlà bateu os ìkìn e Òtúrá Meji se apresentou;
Îrúnmìlà disse que aqueles oito caracóis,
Eles eram a personificação dos Espíritos da Terra,
E que Òrìñà Oko não poderia abatê-los,
Pois se assim o fizesse,
Tais espíritos amaldiçoariam todas as suas plantações.
Ele disse, “O que devo fazer então”?
Îrúnmìlà lhe explicou que um pacto deveria ser criado;
Então ficou estabelecido que os Espíritos da Terra,
Eles abençoariam as plantações de Òrìñà Oko,
Tornando-as extraordinariamente férteis;
Enquanto Òrìñà Oko plantaria ervas menores,
Para que os caracóis não perecessem de fome.
Oferendas foram feitas para selar o pacto,
E desde então as lavouras de Òrìñà Oko produzem cada vez mais.

84
Ökërë e sua boca grande

Ìfá diz que quando Òtúrá Meji se manifesta,


Devemos ficar de olho em nossos amigos,
Para que eles não nos destruam.
E também devemos observar nossas esposas,
Para que elas não revelem o número de nossos filhos (segredos).
Sim!
A boca do falador mata o falador;
A boca do tagarela mata o tagarela.
Ìfá foi criado para Ökërë (um tipo de esquilo africano),
Na época em que ela deu à luz seis filhos,
À beira da estrada.
Quando seu marido saía,
Ela dizia, “Eu sustento seis filhos”;
E repetia, “Eu sustento seis filhos”.
Alguns lavradores passaram pela estrada,
E encontraram os filhos de Ökërë.
Eles disseram, “O que são essas coisas pequenas”?
Disseram, “São filhotes de Ökërë”?
Eles comeram os filhos de Ökërë.
Isso é quando Ìfá diz que essa pessoa,
Ela deve permanecer com a boca fechada,
Para que as pessoas não a prejudiquem.
Sim;
Èñù dançava e regozijava;
Como os Babalawo disseram.

85
Egún pàribò traz doenças ao povo de Öbanìyèn

Ìfá foi criado para o povo de Öbanìyèn,


No dia que uma estranha doença se abateu sobre eles.
As pessoas não tinham disposição para trabalhar,
Nem para cuidar de todos os demais assuntos de suas vidas.
Os awo disseram que tal doença era Egún pàribò;
Disseram que o desrespeito aos Ancestrais atraíra tão infortúnio.
Eles disseram, “O que devemos fazer para nos harmonizar com Egún”?
Os awo disseram que um grande ëbö deveria ser feito;
Disseram que diretamente num bananal,
Egún deveria receber um carneiro e muitas outras comidas e bebidas;
Disseram que seria preciso saraiyëiyë com vários pombos,
Em todos os habitantes da cidade.
Disseram que Òdùdúwà estaria presente durante os rituais,
E que por último eles deveriam ir à praça principal,
E ali convidar Ñàngó para receber muitas oferendas.
Disseram que se tudo isso fosse feito,
A saúde voltaria para eles.
O povo de Öbanìyèn ouviu e ofereceu o ëbö.

86
Por que a cabeça de Caranguejo é diferente

Ìfá foi criado para Caranguejo,


No dia que ele desejou ter Orí.
Bem, naqueles tempos os animais ainda não possuíam Orí;
Então Caranguejo foi até Olófin e rogou para ter Orí.
Baba disse, “To”!
Caranguejo ficou muito feliz,
E saiu pelo mundo avisando aos demais animais sobre a decisão de Olófin.
Rapidamente todos os animais se dirigiram à casa de Baba,
E Caranguejo acabou ficando para trás,
Por que ele dava três passos para frente e três para o lado.
Quando Caranguejo chegou,
Não havia mais Orí para ele.
Então pegaram duas pedras,
Fizeram dois furos em uma delas,
E com isso prepararam uma cabeça para Caranguejo.
É por isso que a cabeça de Caranguejo é diferente dos outros animais.
É assim que Ìfá nos ensina,
Como Caranguejo se viu privado de seu sexto sentido (Orí).

87
A morte da esposa de Òtúrá Meji

Ìfá foi criado para a esposa de Òtúrá Meji,


No dia que ela foi aconselhada a não ser curiosa.
Bem, Òtúrá possuía uma bela plantação,
Mas como era babalawo,
Ele não tinha tempo para cuidar da lavoura.
Um dia a mulher perguntou como ele,
Apesar de não ter tempo para lavrar,
Mantinha sua lavoura tão em ordem.
Òtúrá respondeu-lhe que isso era assunto dele,
E que seria melhor se ela não se inteirasse do assunto.
O tempo passou, mas a mulher não conseguia esquecer a situação,
E decidiu que solucionaria esse mistério.
Numa noite, enquanto todos dormiam,
Ela foi à lavoura de Òtúrá,
E para sua surpresa ouviu barulhos de ferramentas.
Quando ela ali chegou,
Encontrou Godu (Lepra), Tadò (Cefaléia), Boto (Virose), Komàsàlá (Diarréia) e Ahombo (Sífilis);
Todos esses eram filhos de Ìkú com Àrun,
E sob a ação de um pacto lavravam as terras de Òtúrá Meji.
Quando eles perceberam que alguém os vira,
Eles disseram “Ûwî”!
E decapitaram a esposa de Òtúrá.
Pela manhã, quanto Òtúrá foi ver sua lavoura,
Encontrou o corpo de sua esposa.
Ele suspirou e disse, “Por que não me ouvistes”?

88
O porquê de caprinos não ficarem próximo a plantações

Ìfá foi criado para a planta “Mani”,


No dia que ela veio do îrun para o àiyé.
Ela foi aconselhada a fazer ëbö para ter muitos filhos,
E para que eles não morressem precocemente.
Ela negou-se a fazer o ëbö;
Que deveria conter um cabrito e uma ovelha.
Quando Mani chegou ao àiyé, começou a ter muitos filhos.
Seus filhos eram incontáveis.
Então Èñù pegou o cabrito e a ovelha que ela deveria ter oferecido,
E os pôs próximos a seus filhos.
Ah! Os animais começaram a comer os filhos de Mani!
Um a um eles foram perecendo.
Foi aí que ela levou as mãos à cabeça e recorreu a Ìfá.
Os awo instruíram-na a oferecer ëbö,
E ela assim o fez.
Nesse ëbö ia uma corda;
Essa foi a corda que Èñù usou,
Para prender os animais que estavam comendo os filhos de Mani.
Desde então as pessoas não permitem,
Que cabritos ou ovelhas fiquem próximos às suas plantações.

89
Òrìñà Ògìyàn cria os alicerces das civilizações

Ìfá foi criado para Òrìñà Ògìyàn,


No dia que ele veio ao àiyé sobre mandato de Olófin;
Para criar as bases do que seria a civilização humana.
Sim, ele fora instruído a fazer ëbö,
Para que pudesse cumprir sua missão.
Quando ele aqui chegou,
Pegou quatro elementos feitos de pedra,
E os distribuiu nos quatro cantos do planeta.
Em cada uma dessas regiões adviria um povo específico,
Relacionado ao elemento que o objeto em questão representasse;
Água, fogo, Terra e Ar;
Esses eram os elementos representados pelas pedras trazidas por Ògìyàn.
Depois que ele distribuiu as pedras como Olófin determinara,
Os Òrìñà puderam vir ao àiyé.
Os primeiros humanos também vieram,
E junto com os Òrìñà,
Criaram as linhagens que representam nossa Ancestralidade.
Também vieram os filhos de Ìfá (os Odù),
E o conjunto de todos os seres que habitam o àiyé até hoje.

90
O Comerciante linguarudo

Ìfá foi criado para Comerciante,


No dia que ele foi aconselhado a fazer ëbö para prosperar.
Disseram que a prosperidade chegaria para ele,
Se sua inteligência fosse usada;
Disseram que depois que a prosperidade chegasse,
Ele não deveria revelar seus segredos.
Comerciante ouviu e fez o ëbö.
Bem, Comerciante vivia em terras montanhosas,
E as pessoas usavam mulas para escoar seus produtos.
Mas as mulas ficavam soltas,
E ao primeiro problema se assustavam e caiam pelas ribanceiras.
Por isso aquele povo não conseguia escoar com eficiência seus produtos,
E não ganhavam muito dinheiro.
Comerciante foi aconselhado a fazer ëbö,
Que entre outras coisas continha uma corda.
Essa foi a corda que ele usou para amarrar uma mula à outra.
Dessa forma elas não se afastavam e carregavam mais carga.
O problema é que Comerciante revelou esse segredo a um de seus funcionários,
Que depois de um tempo tornou-se concorrente de Comerciante,
O que acabou levando-o a prejuízos.´

91
Olófin se agrada como o awo humilde

Ìfá foi criado para um jovem awo,


No dia que ele foi instruído a fazer ëbö,
E a ser humilde e paciente;
Pois isso lhe traria consideráveis bênçãos.
O jovem awo ouviu e seguiu o conselho de Ìfá.
Bem, esse jovem awo fazia parte da comitiva de Olófin,
E quando eles chegaram a uma mata fechada,
Olófin não pôde encontrar um caminho para atravessá-la.
O jovem awo viu nisso a oportunidade que precisava;
Ele disse a Olófin que limparia a mata para a sua passagem.
Os demais awo ouviram e disseram, “Isso não é trabalho para um awo”.
O jovem não lhes deu ouvido.
A tartaruga que ele oferecera como ëbö,
O casco lhe foi devolvido.
Esse foi o casco que ele colocou à entrada da mata.
O àñë de Èñù transformou o casco num grande monte,
Que ao nascer espalhou as árvores,
Fazendo assim um caminho para a comitiva.
Olófin se alegrou e deu ao jovem awo presentes e prestígio.

92
Um cavalo não emprenha

Ìfá foi criado para o filho do Criador de Cavalos,


No dia que Olófin quis lhe decapitar.
Sim; Olófin tinha dado a Criador de Cavalos alguns animais;
Em agradecimento, Criador de Cavalos disse que daria a Olófin alguns potros.
Passou-se um bom tempo e nenhum potro chegou à casa de Olófin.
Ah! Baba enervou-se e ameaçou-lhe cortar a cabeça.
Por que Criador de Cavalos não deu nenhum potro a Olófin?
Por que não havia éguas entre os animais que recebeu!
Ele ficou desesperado, e foi aí que seu filho foi a Ìfá.
Ele foi instruído a fazer ëbö,
E a usar inteligência para resolver a questão.
O rapaz ouviu e ofereceu o ëbö.
Depois disso ele foi à casa de Olófin,
Dizendo que em poucos dias o pai lhe daria um potro,
Pois em sua fazenda um cavalo tinha emprenhado.
Olófin disse, “Isso é impossìvel”!
Foi aí que Baba lembrou-se que não havia dado éguas a Criador de Cavalos,
Por isso o liberou de seu compromisso.

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Ñàngó tira a instabilidade de um povo

Ìfá criado para um povo que não tinham eira nem beira;
Tratava-se de pessoas sem estabilidade nenhuma em suas vidas.
Iam para cima e para baixo;
Sem nenhum critério e comprometimento.
Ñàngó disse que as coisas não podiam continuar assim.
Se alguém quisesse subir,
Ñàngó dizia que não poderia mais descer.
Se alguém estivesse embaixo,
Ñàngó dizia que não poderia mais subir.
Assim aquele povo foi finalmente se estabelecendo,
Reconhecendo a importância que a estabilidade tem na vida.

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