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Curso de Direito Processual Penal Militar para

Analista do Ministério Público da União

Olá amigos,

Inicialmente gostaria de manifestar minha felicidade e


satisfação em fazer parte de seu projeto profissional. Espero ser um
auxiliar presente em sua caminhada para a vitória.

Meu nome é Pablo Farias Souza Cruz, atualmente advogado e


professor de Ciências Penais e Direito Constitucional nas Faculdades
Doctum e Estácio de Sá de Juiz de Fora, onde também tive a grata
experiência como professor da UFJF - Universidade Federal de Juiz de
Fora/MG -, minha cidade por adoção1, onde também leciono em
vários cursos preparatórios para concursos desde o ano de 2007.
Atuo ainda como professor em cursos preparatórios virtuais sediados
na cidade do Rio de Janeiro, meu grande recanto familiar e também
profissional.

Desde minha formação acadêmica, foquei meus estudos para


área pública, sendo brindado, ainda antes de minha colação de grau,

1
Pois, apesar de brasileiro nato, nasci na cidade do Panamá situada no país
Panamá na América Central. Sendo filho de pais brasileiros, fui registrado na
Embaixada Brasileira e vim para o Brasil ainda bebê, com apenas dois anos de
idade. Morei no Rio de Janeiro por toda minha infância e me mudei para Juiz de
Fora na adolescência, onde, hoje, felizmente, construo minha vida com minha
esposa e minha cadelinha.
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Curso de Direito Processual Penal Militar para
Analista do Ministério Público da União
com a aprovação para o cargo de Delegado de Polícia no concurso da
Polícia Civil do Estado de Minas Gerais, promovido em 2005.

Minha experiência como Delegado de Polícia contribuiu para o


meu ingresso na carreira docente, o que, rotineiramente, tem me
dado ótimos frutos, como a aprovação de vários de meus alunos em
concursos nesse nosso país continental. Quem já ministrou aulas
sabe bem como é gratificante ter um aluno logrando aprovação em
concursos públicos, pois a vitória dele é também a nossa vitória.

Outra felicitação (outro fruto) é a de que, muito em breve, no


ano de 2013, terei minha obra de Direito Processual Penal publicada
pelo Grupo Gen, respeitado grupo editorial do qual fazem parte a
tradicional editora Forense, e a inovadora editora Método. A obra será
intitulada: Processo Penal Sistematizado e está em fase de conclusão
editorial.

Para você, estudante, leitor, candidato, conhecer melhor o


expositor da presente aula, apresentarei, logo abaixo, um breve
currículo com os dados que reputo mais interessantes para a
aproximação de nossa relação e o ajustamento do nosso trabalho.

Antes, porém, parafraseando meu amigo e professor Décio


Terror, lembro que: Críticas ao material e à abordagem do professor
são sempre bem-vindas e não há qualquer melindre em recebê-las,
mesmo porque o foco é seu aproveitamento e Você tem todo o direito
de sugerir, questionar, solicitar mais explicações, mais questões etc.

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Curso de Direito Processual Penal Militar para
Analista do Ministério Público da União
Pablo Farias Souza Cruz
Professor de Ciências Penais e Direito Constitucional das
Faculdades Doctum e Estácio de Sá.
2009 – 2011 Professor de Processo Penal e Prática Penal da
Universidade Federal de Juiz de Fora – UFJF/MG.
Professor em cursos preparatórios de Juiz de Fora/MG e Rio de Janeiro/RJ.
Professor de Direito Penal e Processo Penal do Ponto dos Concursos
no curso Discursivas OAB.
Advogado e Consultor Jurídico.
Pós-Graduado em Ciências Penais pela
Universidade Federal de Juiz de Fora - UFJF- (MG).
2006 - 2007 Delegado de Polícia em Minas Gerais.
Outras informações importantes:
A) 22/01/2006 19/05/2006 Curso de Formação de Delegado da Policia Civil do Estado de
Minas Gerais. Portaria Nº 005/ACADEPOL/PCMG/2006 - Concurso Público - Provimento
2005/1 Delegado de Polícia,
(http://www.sesp.mg.gov.br/internas/concursos/iConcursos.php).
B) 06/2006 Aprovado em Concurso Público para o cargo de Delegado de Polícia em Minas
Gerais.
C) 02/2007 Aprovado em Concurso Público para o cargo de Analista Judiciário da Justiça
Federal do Tribunal Regional Federal da 1ª Região (Disponível em:
http://www.fcc.telium.com.br/concursos/trf1r106/lista_redacao/MG/habs_class_cidade_carg
o_reda_Juiz_de_Fora.pdf publicado no Diário Oficial da União - Seção 3, de 28/02/2007).
D) 03/2007 Aprovado em Concurso Público para o cargo de Analista Processual do Ministério
Público Federal (Disponível para consulta pelo CPF em:
http://www.concursosfcc.com.br/concursos/mpund106/result/index.html) Edital Publicado no
Diário Oficial da União, edição de 30 de março de 2007.
E) Aprovado no 3º Concurso Público para o cargo de Defensor Público da União em 16 de
maio de 2008, resultado disponível em: http://www.cespe.unb.br/concursos/DPU2007 -
subjudice.
Endereço para acessar o CV do autor: http://lattes.cnpq.br/6411695844676609

Bom, nosso propósito aqui é expor os pontos primordiais do


Direito Processual Penal Militar, necessários para sua aprovação no
concurso para o cargo de Analista do Ministério Público da União.
Assim, exporemos nossas aulas com base no edital atual (Cespe
2013), sempre expondo temas que tenham maior probabilidade de
cobrança nas questões objetivas.

A programação será a seguinte:

Direito Processual Penal Militar para o cargo de cargo de


Analista do Ministério Público da União.

Aula 00 (Aula Demonstrativa): A especialidade do Direito Penal


Militar e do Direito Processual Penal Militar.

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Analista do Ministério Público da União
Aula 01 (04/04): Processo Penal Militar e sua aplicação. Polícia
judiciária militar. Inquérito policial militar.

Aula 02 (11/04): Ação penal militar e seu exercício. Processo.


Denúncia.

Aula 03 (18/04): Juiz, auxiliares e partes do processo.

Aula 04 (25/04): Competência da Justiça Militar da União.

Estabelecida essas premissas, vamos ao conteúdo, vamos ao


estudo introdutório dessas duas disciplinas apaixonantes e modernas
que são o Direito Penal Militar e o Direito Processual Penal Militar.
Digo moderna, pois ao contrário do que se poderia pensar, os
diplomas penais militares são mais “novos” que do que os comuns.
Nesse sentido, bem destaca Denilson Feitoza, que, ao tratar da lei
processual penal militar, afirma: “O CPPM, ao contrário do que se
pensa, apesar de sua adjetivação – militar – e de ter sido feito na
época de ditadura militar, é uma lei razoavelmente mais avançada
que o CPP em vários aspectos.”2
Registre-se que, no panorama das ciências criminais, da
legislação especificamente (CP, CPP, CPM e CPPM), somente a parte
geral do CPM não é mais nova que a correspondente legislação
comum (CP), haja vista a reforma ocorrida em 1984 no Código Penal.
Outro alerta precioso é o exposto pelo Defensor Público Federal
Esdras dos Santos Carvalho:

“Cumpre aclarar, ainda, a ideia equivocada do imaginário


popular e de grande parte dos operadores da área jurídica de
conceber a Justiça Militar somente como uma instituição que
tende a preservar os integrantes das corporações quando da

2
FEITOZA, Denilson. Direito processual penal: teoria, crítica e práxis. 7ª ed., rev. e
atual. Niterói, RJ: Impetus, 2010, p. 112.
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prática de delitos, com sanções penais mais brandas e
julgamentos com espírito corporativo e que se inclina a
preservar seus pares, membros da caserna.
No entanto, a realidade é muito diversa da ficção
popular. Vê-se uma justiça muito mais severa, pois além
dos bens jurídicos tutelados pelo direito penal, apesar
do descompasso histórico, (...), muitos ainda afiram que
esta agasalha, de igual forma, os pilares fundamentais
das Forças Armadas, hierarquia e disciplina, pois
acredita-se que esses foram igualmente violados pela
prática da conduta delituosa.”3

3
CARVALHO, Esdras dos Santos. O direito processual penal militar numa visão
garantista. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2010, p. 63.
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Analista do Ministério Público da União
A especialidade do Direito Penal Militar e do
Direito Processual Penal Militar

Antes de tratarmos dos pontos específicos do edital do MPU,


devemos alertar ao estudante, mormente aquele que já estuda o
direito penal e o direito processual penal comum, sobre a
peculiaridade do ramo que passaremos a analisar.
Assim, propomos a presente aula de apresentação de modo a
elaborar uma ponte entre os conhecimentos de direito comum e as
peculiaridades do direito especial, haja vista nossa preferência pela
interpretação sistematizada do Direito.
Ademais, se perceberá que o estudo inicial do Direito
Processual Penal Militar depende, em certa medida, de questões
relacionadas ao Direito Penal Militar.
Como o direito processual é sempre instrumental, pois visa
efetivar as disposições das normas de direito material, o que se diz a
respeito da especialidade do Direito Penal Militar também se aplica ao
Direito Processual Penal Militar.
Conforme se verifica, doutrinadores de peso como Magalhães
Noronha, José Alberto Romeiro, José Frederico Marques, Damásio de
Jesus, entre outros, sustentam (sustentavam) que a distinção entre o
direito penal militar e o comum reside na natureza do órgão
competente para julgar tais fatos. Em que pese a importância do
referido entendimento, não é esse o raciocínio que permeia a
dogmática atual, haja vista a proeminência da natureza do bem
jurídico para o delineamento da referida distinção. No sentido da

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dogmática atual encontram-se os entendimentos de Esmeraldino
Bandeira, Nelson Hungria e Heleno Fragoso.
Refletindo o entendimento mais seguro para as provas
objetivas, citamos a referência feita por Álvaro Mayrinck da Costa às
lições de João Mendes de Almeida Júnior:

“(...) o termo comum tem como correlativo oposto o


termo próprio. ... Os crimes distinguem-se, como qualquer
ente, quer por seus elementos essenciais, constitutivos da sua
espécie, quer por condições particulares, constitutivas da sua
individualidade. ... Assim, por exemplo, (...) os crimes de
deserção, indisciplina e outros puramente militares –
não são crimes comuns, são próprios da classe militar,
por isso o homem, sem a qualidade de militar, não pode
cometê-los;”4 Grifos acrescidos

Desse modo, a primeira constatação que o estudante que


ingressa no estudo do direito processual penal militar é a de que o
mesmo, sendo instrumento de aplicação do direito penal militar,
também deve ser interpretado nesse contexto, qual seja, o de que
nessa seara a principal finalidade é a proteção da hierarquia e
disciplina militar, que, direta ou indiretamente, acabam por
resguardar a segurança nacional.
Por Segurança Nacional, reputamos mais seguro o conceito
elaborado pela Escola Superior de Guerra, que define: Segurança
nacional é o grau relativo de garantia que, através de ações políticas,
econômicas, psicossociais e militares, o Estado proporciona, em
determinada época, à Nação que jurisdiciona, para a consecução ou
manutenção dos objetivos nacionais, a despeito dos antagonismos ou
pressões existentes ou potenciais.5

4
Apud LOBÃO, Célio. Direito Penal Militar. Brasília: Brasília Jurídica, 2006, p. 45/46.
5
Entre os juristas, o tema tem merecido algumas especulações doutrinárias mas sem precisar as
características e conteúdo da segurança nacional. O Prof. Caio Tácito, num repasse histórico sobre a
segurança nacional nos idos de 1962, demarcou o campo de sua atuação, numa apreciação analítica em
que demonstra tratar-se de uma situação de defesa dos interesses nacionais, e nos aponta os seus
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No âmbito do direito militar: é a disciplina e não a liberdade a
nota suprema predominante e necessária. ... O emprego eficaz da
força combativa só é possível se todas as vontades individuais, que
integram o seu efetivo, se unificarem rigidamente sob a vontade
suprema de quem comanda.6
Inicialmente, para contextualizar a proteção que as normas
militares objetivam, insta transcrever importante artigo de nossa
Constituição Federal sobre o tema:

Art. 142. As Forças Armadas, constituídas pela Marinha, pelo


Exército e pela Aeronáutica, são instituições nacionais
permanentes e regulares, organizadas com base na hierarquia
e na disciplina, sob a autoridade suprema do Presidente da
República, e destinam-se à defesa da Pátria, à garantia dos
poderes constitucionais e, por iniciativa de qualquer destes, da lei
e da ordem.

No que tange ao conceito de segurança nacional, importante é


a reflexão proposta por C. SYLLUS:
O conceito de Segurança Nacional tem sido muito
deturpado em nosso país. Pelo fato da Segurança Nacional ter
sido objeto de preocupação principalmente dos militares, tem-
se atribuído à mesma uma conotação de autoritarismo e de
cerceamento das liberdades individuais.
Entretanto, justamente no entendimento contrário é que
se constitui a correta interpretação deste conceito. A
Segurança Nacional representa, entre outros aspectos, a
garantia de que os direitos individuais estarão
assegurados. Estamos nos referindo aos direitos do

objetivos nestes termos: «Se a ordem social contemporânea é, por natureza, instável e evolutiva, exige,
para o seu desenvolvimento pacífico, um conjunto de fatores permanentes, que representam, a nosso ver
os objetivos da segurança nacional a saber: a) defesa da integridade territorial; b) preservação da
soberania nacional; c) manutenção da ordem pública; d) estabilidade das instituições políticas; e)
equilíbrio econômico; f) equilíbrio socia1» («A Segurança Nacional no Direito Brasileiro», in RDA
1962, vol. 69/19 e segs.). Poder de polícia e segurança nacional, por Hely Lopes Meirelles, disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/revista/Rev_40/panteao.htm
6
MAYRINK DA COSTA, Álvaro. Crime Militar. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2005, 2ª edição, p. 33.
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cidadão contemplados na Constituição, o que inclui, mas
não se esgota no direito à liberdade de opinião e
expressão, de propriedade, de locomoção, de proteção
física, bem como à solução dos problemas básicos de
subsistência, moradia, saúde, educação e justiça social.
Como extensão da segurança individual teremos a
segurança da comunidade, da sociedade e da nação
como um todo.
A Segurança Nacional, portanto, é muito mais do que a
segurança física ou da propriedade contra ameaças internas ou
externas. Não é uma atribuição exclusiva das Forças
Armadas, mas uma responsabilidade do Estado, da
sociedade e, portanto, de todos nós.7

Nesse contexto, deve-se ter cautela, por exemplo, ao


transportar o princípio da insignificância para seara militar. Assim,
verificamos que referida adoção ou restrição do referido princípio
acarreta consequências processuais, haja vista que sua aplicação, por
ter aptidão para gerar a denominada atipicidade (material:
conglobante), poderá ensejar uma decisão de rejeição inicial da
denúncia, nos moldes do que dispõe o art. 78 do CPPM.
Vejamos a disposição legal para então expor o panorama do
princípio no STM e no STF.

Art. 78. A denúncia não será recebida pelo juiz:


a) se não contiver os requisitos expressos no artigo
anterior;
b) se o fato narrado não constituir evidentemente
crime da competência da Justiça Militar;
c) se já estiver extinta a punibilidade;
d) se fôr manifesta a incompetência do juiz ou a
ilegitimidade do acusador.

No que tange ao princípio da insignificância, ilustramos o


posicionamento dos tribunais superiores a respeito do art. 290 CPM.

7
Disponível em: http://www.esg.br/departamento-de-estudos/dactec/leitura-basica/tecnologia-poder-e-
seguranca-nacional/
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O STF o aplica de forma comedida e o STM o repele
veementemente. Vejamos os precedentes, que facilmente podem ser
cobrados numa prova objetiva, ainda mais quando se fala em uma
prova CESPE:
STM: EMENTA: Apelação. Porte de substância entorpecente em lugar
sujeito à administração militar (CPM, art. 290). Soldado do Exército flagrado
com maconha no interior do quartel durante revista de rotina na unidade
militar. Princípio da Insignificância. Inaplicabilidade. Jurisprudência
pacificada na Corte Castrense no sentido de que a tese da
insignificância, em crime dessa natureza, não tem a aplicação no
âmbito da Justiça Militar da União, em razão das especificidades
exigidas pela vida na caserna, principalmente no tocante a ordem
militar, sustentada pelas bases da hierarquia e disciplina.
Comprovadas a autoria, em razão da confissão do Acusado e dos
depoimentos das testemunhas, bem como a materialidade delitiva, de
acordo com o laudo pericial, inexistindo excludentes de ilicitude e de
culpabilidade. Provido parcialmente o apelo defensivo para, tão só, retirar
do decisum a quo as alíneas a e f das condições do "sursis". Unânime.8

STF: Analisemos de forma cronológica de modo a perceber o


entendimento mais seguro para as provas atuais.
2008: Info 512: SEGUNDA TURMA
Art. 290 do CPM e Princípio da Insignificância
Em face do empate na votação, a Turma deferiu habeas corpus
para reconhecer a atipicidade material da conduta por aplicação do
princípio da insignificância a militar condenado pela prática do crime
de posse de substância entorpecente em lugar sujeito à
administração castrense (CPM, art. 290). Inicialmente, salientou-se
que a mínima ofensividade da conduta, a ausência de

8
Processo: AP 154420097030303 RS 0000015-44.2009.7.03.0303 - Relator(a): Francisco José da Silva
Fernandes - Julgamento: 06/04/2010 - Publicação: 14/05/2010 Vol: Veículo: DJE Ementa. Disponível
em: http://www.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/18816972/apelacao-ap-154420097030303-rs-0000015-
4420097030303-stm
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periculosidade social da ação, o reduzido grau de
reprovabilidade do comportamento e a inexpressividade da
lesão jurídica constituem os requisitos de ordem objetiva
autorizadores da incidência do aludido princípio. Enfatizou-se que a
Lei 11.343/2006 veda a prisão do usuário, devendo a este ser
oferecidas políticas sociais eficientes para recuperá-lo do vício.
Asseverou-se, ainda, que incumbiria ao STF confrontar o princípio da
especialidade da lei penal militar, óbice à aplicação da Nova Lei de
Drogas, com o princípio da dignidade humana, arrolado como
princípio fundamental (CF, art. 1º, III). Ademais, afirmou-se que
outros ramos do Direito seriam suficientes a sancionar o paciente.
Vencidos os Ministros Ellen Gracie, relatora, e Joaquim Barbosa que
denegavam a ordem ao fundamento de que, diante dos valores e
bens jurídicos tutelados pelo aludido art. 290 do CPM, revelar-se-ia
inadmissível a consideração de alteração normativa pelo advento da
Lei 11.343/2006. Assentaram que a conduta prevista no referido
dispositivo legal ofenderia as instituições militares, a operacionalidade
das Forças Armadas, além de violar os princípios da hierarquia e da
disciplina na própria interpretação do tipo penal. HC 90125/RS, rel.
orig. Min. Ellen Gracie, rel. p/ o acórdão Min. Eros Grau, 24.6.2008.
(HC-90125)
Entretanto o Plenário do STF decidiu, posteriormente à
decisão acima, no ano de 2012, que:
“1. O princípio da insignificância incide quando
presentes, cumulativamente, as seguintes condições
objetivas: (a) mínima ofensividade da conduta do agente, (b)
nenhuma periculosidade social da ação, (c) grau reduzido de
reprovabilidade do comportamento, e (d) inexpressividade da
lesão jurídica provocada. Precedentes: HC 104403/SP, rel. Min.
Cármen Lúcia, 1ªTurma, DJ de 1/2/2011; HC 104117/MT, rel. Min.
Ricardo Lewandowski, 1ª Turma, DJ de 26/10/2010; HC 96757/RS,

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rel. Min. Dias Toffoli, 1ª Turma, DJ de 4/12/2009; RHC 96813/RJ, rel.
Min. Ellen Gracie, 2ª Turma, DJ de 24/4/2009) 2. O Plenário desta
Corte firmou precedentes referentes aos militares incursos no
delito do art. 290 do CPM, entendendo ausentes as condições
necessárias à aplicação do princípio da insignificância,
porquanto os bens jurídicos resguardados pela norma penal
referida são a hierarquia e disciplina militar. Precedentes: HC
94.685/CE, Relatora Min. Ellen Gracie, Tribunal Pleno, Julgamento em
11/11/2010; HC 107.688/DF, Relator Min. Ayres Britto, Segunda
Turma, Julgamento em 7/6/2011). 3. In casu, os pacientes foram
presos portando um papelote de cocaína nas dependências do 3º
Regimento de Cavalaria de Guarda, unidade sujeita à Administração
Militar. 4. É que, in casu, “na ocasião da revista, o Tenente […] veio a
encontrar, dentro da carteira do Soldado […], um papelote de plástico
branco, com um pó branco dentro, sobre o qual o ora denunciado
veio a confessar tratar-se de uma buchinha de cocaína, entorpecente
que tinha adquirido o 2º denunciado Soldado [...]”. 4. Ordem
denegada. Decisão: A Turma denegou a ordem de habeas corpus, nos
termos do voto do Relator. Unânime. Presidência do Senhor Ministro
Dias Toffoli. 1ª Turma, 14.2.2012. - Acórdãos citados: HC 94685 -
Tribunal Pleno, HC 96757, RHC 96813, HC 104117, HC 104403, HC
107688. Análise: 15/03/2012, SEV. Revisão: 16/03/2012, ACG.9
O que se raciocina é que, diante da atividade naturalmente
perigosa que o militar exerce, não seria admissível aferir
insignificância no comportamento de quem, andando naturalmente
fardado e armado para assegurar a defesa da lei e da ordem e de

9 HC 107689 / RS - RIO GRANDE DO SUL HABEAS CORPUS Relator(a): Min. LUIZ FUX Julgamento: 14/02/2012

Órgão Julgador: Primeira Turma Publicação PROCESSO ELETRÔNICO DJe-047 DIVULG 06-03-2012 PUBLIC 07-03-2012
RSJADV abr., 2012, p. 49-53 Parte(s) RELATOR : MIN. LUIZ FUX PACTE.(S) : ANDERSON PADILHA DA
COSTA PACTE.(S) : ANDRE LUIS DA ROSA RODRIGUES IMPTE.(S) : DEFENSORIA PÚBLICA DA UNIÃO
PROC.(A/S)(ES) : DEFENSOR PÚBLICO-GERAL FEDERAL COATOR(A/S)(ES) : SUPERIOR TRIBUNAL MILITAR
Ementa: PENAL. HABEAS CORPUS. PORTE DE ENTORPECENTE EM ÁREA SOB ADMINISTRAÇÃO MILITAR (ART.
290 DO CPM). PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA. NÃO-INCIDÊNCIA. AUSÊNCIA DE CUMULATIVIDADE DE SEUS
REQUISITOS. BEM JURÍDICO. PROTEÇÃO. HIERARQUIA E DISCIPLINA MILITAR. PRECEDENTES. ORDEM
DENEGADA.

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eventual ataque estrangeiro, atue de forma embriagada nesse
desiderato.

No que se refere à especialidade do Direito Processual Penal


Militar, entendemos conveniente expor as peculiaridades de seu
órgão, a Justiça Militar.
Nesse contexto, com base nas lições da Juíza-Auditora Zilah
Maria Callado Fadul Petersen, podemos afirmar a origem da Justiça
Militar se confunde historicamente com o próprio surgimento das
forças militares e suas especificidades. Durante a colonização do
Brasil, essa Justiça era integralmente portuguesa, quer quanto à
criação de suas normas, ou quanto aos órgãos que as aplicavam. A
partir de 1º de abril de 1808, Alvará, com força de lei, de Dom João,
Príncipe Regente de Portugal, criou órgão que configurou o embrião
da Justiça Militar no Brasil, pois o processo militar passou a ser
integralmente aplicado no Brasil e em âmbito nacional, embora o País
ainda se encontrasse na condição de Colônia portuguesa.
Com a independência do Brasil, as leis portuguesas, quer
materiais, quer processuais e de organização, foram sendo
gradativamente substituídas por leis nacionais, mantidas algumas
características originais daquela Justiça, como a existência e
preponderância numérica, nos Colegiados, de julgadores leigos,
militares integrantes do Serviço Ativo, além das alterações
decorrentes da própria dinâmica do Direito. Entretanto, a Constituição
Brasileira de 1824 não cogitou da Justiça Militar apesar de sua
evidente e marcante existência, mas a Constituição de 1891,
prescreveu, na Seção concernente à Declaração de Direitos, que os
militares teriam um foro especial para os delitos militares.
Foi a Constituição de 1934 que incluiu a Justiça Militar no Poder
Judiciário Nacional, com a competência de processar e julgar os
crimes militares definidos em lei, situação mantida em todas as

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demais Constituições Federais, inclusive na atualmente vigente, de
1988. Essa competência foi alterada no período do governo militar
com a inclusão da competência para o processo e julgamento dos
crimes contra a Segurança Nacional, e excluída pela atual
Constituição, ressaltando-se que, nesta, houve posterior introdução
de alteração para ampliação da competência da Justiça Militar dos
Estados e do Distrito Federal.
A Lei nº 8.457, de 04 de setembro de 1992, revogou o Decreto-
Lei nº 1.003, de 21 de outubro de 1969, e dispôs sobre a estrutura e
organização da Justiça Militar da União.
Logo se percebe, desde a origem, a especificidade da jurisdição
da Justiça Militar, sua estrutura e organização, bem como o processo
que viabiliza atividade jurisdicional adequada à especialidade do
Direito Penal que visa aplicar.

Tendo em vista que a presente aula se destina aos alunos que


pretendem uma carreira federal e que tal matéria detém ainda mais
utilidade aos que forem designados para o Ministério Público Militar
(componente do MPU), convém apontar o organograma da Justiça
Militar da União com os respectivos órgãos do MPU ali atuantes.
Vejamos:

Superior Tribunal Militar


Procurador Geral Militar da União

Conselho Juízes Auditores Conselho


Permanente Especial
Promotor de Justiça Promotor de Justiça Promotor de Justiça
Militar da União Militar da União Militar da União

Registres-se que os Conselhos de Justiça (Permanente e


Especial) atuam após o recebimento da denúncia, ou seja, com a

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Curso de Direito Processual Penal Militar para
Analista do Ministério Público da União
instauração do processo, pois durante a fase de investigação
preliminar, todas as questões suscitadas à jurisdição militar são
decididas elo Juiz-Auditor monocraticamente.
Ao Conselho Permanente incumbe o julgamento dos praças
(militar não detentor de posto de oficial) e dos civis.
Ao Conselho Especial incumbe o julgamento dos Oficias, com
exceção dos Oficiais-Generais que tem seu foro no STM.
Sobre o tema, elucidativo o quadro exposto pelos professores
Cláudio Amin Miguel e Nelson Coldibelli10, que sintetizamos da
seguinte forma:

Conselho Especial Conselho Permanente


de Justiça de Justiça
Composição Juiz-Auditor e Juiz-Auditor e
Quatro Militares Quatro Militares
(de posto elevado ou mais (sendo um oficial superior e
antigos que o acusado, três oficiais de posto até
desde que haja ao menos Capitão-Tenente ou Capitão)
um Oficial-Superior ou
General)
Competência Processar e Julgar os Processar e Julgar os praças
Oficias, com exceção dos e os civis.
Oficiais-Generais.
Duração Constituição para cada Constituição a cada
processo. trimestre.

Desse modo, exposta de forma breve a especialidade da Justiça


Militar, voltamos ao tema inicialmente proposto, qual seja, a
especialidade o Direito Processual Penal Militar.

10
MIGUEL, Claudio Amin e COLDIBELLI, Nelson. Elementos de Direito Processual Penal Militar.
Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2011, 3ª edição, p. 10.
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Curso de Direito Processual Penal Militar para
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Voltando à esse contexto, lembramos o cuidado proposto nas
lições do mestre Célio Lobão a respeito da inutilidade do critério que
diferencia o direito comum do especial pelo órgão de julgamento:

... o critério do órgão encarregado da aplicação do


direito positivo não se presta para distinguir o direito penal
especial do comum. Como assinala Romeu Campos Barros, há
crimes especiais que são processados e julgados na justiça
comum, por determinação expressa da lei. A recíproca é
verdadeira, excepcionalmente o delito comum pode inserir-se
na jurisdição da justiça especial, como aconteceu com
determinados crimes previstos no DL nº 898/69, na Lei
1.802/53 e ocorre no Código Penal Militar.11

Assim, parece superada a distinção do direito penal comum do


especial com base no critério do órgão encarregado de aplicar o
direito objetivo, isso por duas razões:

1) Tal distinção pode confundir disposições materiais com


disposições processuais penais; e
2) As conclusões decorrentes dessas distinções não são imunes,
pois é possível que a justiça comum julgue militar e que a
justiça militar julgue civil, bem como já se admitiu que a
justiça militar aplicasse o direito comum (como era no caso
de homicídio de militar contra civil).

Quanto à última observação, aproveitamos a oportunidade par


alertar o leitor sobre a recente disposição legal (lei 12.432/1112) que,
ampliando as competências da Justiça Militar, incluiu o julgamento do
crime de homicídio doloso contra civil, se sua prática se dê no âmbito

11
LOBÃO, Célio. Direito Penal Militar. Brasília: Brasília Jurídica, 2006, p. 47.
12
Alterou o § único do art. 9º do Código Penal Militar que passou a ter a seguinte redação: Art. 9o ...
Parágrafo único. Os crimes de que trata este artigo quando dolosos contra a vida e cometidos contra
civil serão da competência da justiça comum, salvo quando praticados no contexto de ação militar
realizada na forma do art. 303 da Lei no 7.565, de 19 de dezembro de 1986 - Código Brasileiro de
Aeronáutica.” (NR)
16
Curso de Direito Processual Penal Militar para
Analista do Ministério Público da União
de ação militar realizada contra aeronave que se encontre em uma
das seguintes hipóteses:

Art. 303. A aeronave poderá ser detida por autoridades


aeronáuticas, fazendárias ou da Polícia Federal, nos seguintes
casos:
I - se voar no espaço aéreo brasileiro com infração das
convenções ou atos internacionais, ou das autorizações para tal
fim;
II - se, entrando no espaço aéreo brasileiro, desrespeitar
a obrigatoriedade de pouso em aeroporto internacional;
III - para exame dos certificados e outros documentos
indispensáveis;
IV - para verificação de sua carga no caso de restrição
legal (artigo 21) ou de porte proibido de equipamento
(parágrafo único do artigo 21);
V - para averiguação de ilícito.13

Sobre o tema, crime contra a vida e competência da justiça


militar, questionou o CESPE no concurso para analista do STM em
2004:

De acordo com a legislação penal militar, os crimes


culposos contra a vida, em tempo de paz, praticados por
militar em serviço são considerados crimes militares.
Certo ou Errado

A afirmação está correta e assim se mantém, pois somente será


competência do Tribunal do Júri o crime doloso contra a vida, que,
entretanto, só não irá à júri se for praticado nas circunstancias
estabelecidas pela lei 12.432/11, explicitada acima.

Contextualizada a distinção entre direito comum e especial,


passamos a definir o Direito Penal Militar e o Direito Processual Penal

13
Código Brasileiro de Aeronáutica. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l7565.htm
17
Curso de Direito Processual Penal Militar para
Analista do Ministério Público da União
Militar, isso por ser a especialidade do direito material um
consequente lógico da especialidade do direito formal.
Num âmbito mais amplo se verifica que o Direito Militar
desperta o interesse por cuidar de uma categoria de funcionários
públicos especiais, com direitos e prerrogativas que, na sua maioria,
não são assegurados aos funcionários civis. Contudo, se tais
funcionários possuem direitos especiais, os militares também
possuem obrigações excepcionais, como, por exemplo, o sacrifício
maior, que é o eventual enfretamento hostil que coloca em risco o
bem jurídico mais relevante, qual seja, a própria vida. Considerando
tal peculiaridade, o legislador constituinte originário assegurou aos
militares o direito de serem processados e julgados perante uma
Justiça Especializada.
Assim, podemos definir o Direito Penal Militar como ramo do
direito público que interpreta e sistematiza as normas penais
militares, entendidas estas como as que regulam a pretensão punitiva
estatal no âmbito das infrações penais que atingem a ordem jurídica
militar.
Segundo o mestre Romeiro (1994, p. 01), pode-se afirmar que
o Direito Penal Militar "consiste no conjunto de normas que definem
os crimes contra a ordem jurídica militar, cominando-lhes penas,
impondo medidas de segurança e estabelecendo as causas
condicionantes, excludentes e modificativas da punibilidade".
Para Pietro Vico, “a lei penal militar [...] mira diretamente a
incriminação de ofensas a especiais deveres, e tem em consideração
a qualidade da pessoa enquanto ela se torna culpada da violação de
tais deveres; nem se afasta do direito comum, senão somente
quando as disposições deste são incompatíveis com a índole dos
crimes militares” [3]. Aduz o preclaro jurista que, “assim, a lei penal
militar, embora formando o direito próprio e particular dos militares,

18
Curso de Direito Processual Penal Militar para
Analista do Ministério Público da União
é sempre, por outro lado, uma lei especial em confronto com a lei
penal geral”.14
Diante de sua especialidade, o Direito Penal Militar e o Direito
Processual Penal Militar são prevalentes em relação à legislação penal
comum.
Quando afirmamos que um ramo é especial (pois segundo o
entendimento majoritário, o direito penal militar é especial), não
necessariamente queremos dizer que o mesmo não goza de
autonomia, mas sim que, diante de sua peculiaridade, é necessário
que o intérprete observe a diferença de tratamento que o mesmo se
submete, o que, por sinal, reforça ainda mais sua independência.
Sobre a autonomia do Direito Penal Militar e sua peculiaridade
natural, afirma Álvaro Mayrinck da Costa:

“O Direito Penal Militar possui objeto específico, porque


se constrói sobre uma categoria de bens e interesses que lhe é
privativa por natureza. (...)
Assim, são militares, por natureza, os crimes que
atentam contra os fundamentos das instituições armadas, que
constituam uma violação do dever militar. O Direito Penal
comum tutela como fundamental o direito a vida, mas o
Direito Castrense pune, severamente, por crime de
covardia, o militar que, em determinadas circunstâncias,
deixa de enfrentar a eventualidade do sacrifício
supremo. E a eximente do estado de necessidade, se
prevalecesse, na ordem castrense, com a amplitude que lhe
reconhece no ordenamento comum, redundaria na negociação
frontal da ação militar.”15 Grifos acrescidos

No que tange ao Direito Processual Penal Militar, reputamos


proeminente à definição elaborada por Jorge César de Assis: Direito
Processual Penal Militar é conjunto de princípios e normas que

14
FERNANDES NETO, Benevides. Crime militar e suas interpretações doutrinárias e
jurisprudenciais. Jus Navigandi, Teresina, ano 14, n. 2115, 16 abr. 2009 .
Disponível em: <http://jus.com.br/revista/texto/12637>. Acesso em: 27 mar. 2013.
15
MAYRINK DA COSTA, Álvaro. Crime Militar. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2005, 2ª edição, p. 37.
19
Curso de Direito Processual Penal Militar para
Analista do Ministério Público da União
regulam a aplicação do direito penal militar. Regulam ainda as
atividades preliminares de polícia judiciária militar.16
Logo, podemos sistematizar o seguinte:
A finalidade do Direito Penal Militar: Proteger os bens
jurídicos mais relevantes à manutenção da regularidade das
instituições militares. Por regularidade das instituições militares
entenda-se a hierarquia, a disciplina, a autoridade, o serviço, a
função e o dever militar.
A finalidade do Direito Processual Penal Militar é promover
a adequada aplicação da lei penal militar.
Diante dessa introdução passaremos a tratar, em nossa aula 1,
do Processo Penal Militar e sua aplicação, da Polícia Judiciária Militar e
do Inquérito Policial Militar.
A partir daí poderemos trabalhar, de forma aplicada, os
conteúdos mais cobrados nessas matérias. Assim, informamos que
nessa aula de apresentação, não utilizamos a citação de questões por
tratarmos de assuntos ainda introdutórios e abstratos, mas que, com
certeza, terão um papel didático estrutural importante para a
definição e escolha da conclusão correta. Assim, agradecemos a
leitura da presente aula e aguardamos sua presença em nossa aula 1.

Aproveitamos para listar algumas das questões que iremos


trabalhar na aula 1, de modo a provocar a curiosidade do estudante,
elemento fundamental para a fixação de qualquer conteúdo.

1 - CESPE – 2010 – MPE/ES – PROMOTOR DE JUSTIÇA


Com base no direito processual penal militar, assinale a opção
correta.

16
ASSIS, Jorge César de. Código de Processo Penal Militar Anotado - Artigos 1º a 383 - Vol. I . Revista
e Atualizada, Paraná: Juruá, 4ª Edição, 2012, p. 21.
20
Curso de Direito Processual Penal Militar para
Analista do Ministério Público da União
a) Segundo a lei processual penal militar, o princípio da imediatidade
é aplicado aos processos cuja tramitação esteja em curso,
ressalvados os atos praticados na forma da lei processual anterior.
Caso a norma processual penal militar posterior seja, de qualquer
forma, mais favorável ao réu, deverá retroagir, ainda que a sentença
penal condenatória tenha transitado em julgado.
b) O CPPM dispõe expressamente a aplicação de suas normas, em
casos específicos, fora do território nacional ou em lugar de
extraterritorialidade brasileira. Nesse ponto, o CPPM difere do CPP.
c) O sistema processual penal castrense veda, em qualquer hipótese,
o emprego da interpretação extensiva e da interpretação não literal.
d) Se, na aplicação da lei processual penal militar a caso concreto,
houver divergência entre essa norma e os dispositivos constantes em
convenção ou tratado de que o Brasil seja signatário, prevalecerá a
regra especial da primeira, salvo em matéria de direitos humanos.
e) Os casos omissos na lei processual penal militar serão supridos
pelo direito processual penal comum, sem prejuízo da peculiaridade
do processo penal castrense. Nesses casos, o CPPM impõe que haja a
declaração expressa de omissão pela corte militar competente, com
quorum qualificado.

2 - CESPE – 2011 – STM – ANALISTA JUDICIÁRIO


A polícia judiciária militar exerce funções idênticas à polícia judiciária,
e ambas têm como uma de suas finalidades o colhimento de
elementos que indiquem a autoria e comprovem a materialidade do
delito.
Certo ou Errado

3 - CESPE – 2004 – STM – ANALISTA JUDICIÁRIO


À polícia judiciária militar, que é exercida pelas autoridades militares,
cabe auxiliar as polícias civil e federal na apuração de infrações

21
Curso de Direito Processual Penal Militar para
Analista do Ministério Público da União
penais militares, dado que são estas que detêm a exclusividade na
apuração de quaisquer infrações penais.
Certo ou Errado

4 - FUMARC – 2011 – PM/MG – OFICIAL DA POLICIA MILITAR


Em se tratando do Inquérito Policial Militar, é importante saber que
a) o posto do indiciado induz a competência para instauração do
procedimento, mas não a delegação de instrução.
b) em regra, o Poder de Polícia Judiciária Militar é exercido pelos
Oficiais e eventualmente pode ser delegado às praças.
c) ainda que a delegação para a instrução não tenha ocorrido, os
Oficiais responsáveis pelo Comando quando da incidência de crime
militar devem proceder de ofício as providências preliminares de
investigação.
d) a solução do Inquérito é providência essencial para que a
autoridade instauradora possa prolatar o Relatório do IPM.

5 - CESPE – 2007 – DPU – DEFENSOR PÚBLICO FEDERAL


O magistrado da justiça militar da União, com lastro no CPPM, poderá
requerer diretamente à autoridade policial judiciária militar a
instauração de inquérito policial militar, em analogia à requisição
prevista no CPP.
Certo ou Errado

6 - CESPE – 2011 – STM – ANALISTA JUDICIÁRIO


O inquérito policial militar (IPM) caracteriza-se por exigir sigilo
absoluto, previsto de forma expressa no CPPM, de modo que, veda-se
ao advogado e ao investigado o acesso aos autos do procedimento
investigatório.
Certo ou Errado

22
Curso de Direito Processual Penal Militar para
Analista do Ministério Público da União
7 - CESPE – 2011 – STM – ANALISTA JUDICIÁRIO
Um oficial-general da ativa, do último posto e mais antigo da
corporação, praticou crime definido como militar, gerando dúvidas
sobre quem presidirá o inquérito policial militar para a completa
apuração dos fatos, em face da inexistência de outro oficial da ativa
de maior antiguidade. Nessa situação, deve ser convocado oficial-
general da reserva do último posto, pois prevalece a relação de
antiguidade entre militares no serviço ativo e na inatividade.
Certo ou Errado

8 - CESPE – 2011 – STM – ANALISTA JUDICIÁRIO


Um insubmisso foi capturado e apresentado ao serviço médico, sendo
considerado absolutamente incapaz para o serviço militar. Entretanto,
já havia sido instaurada investigação provisória para a apuração do
delito. Nessa situação, deve o juiz, após a indispensável promoção do
Ministério Público, determinar o arquivamento do feito.
Certo ou Errado

9 - CESPE – 2004 – STM – ANALISTA JUDICIÁRIO


O inquérito policial militar é a apuração sumária de fato, em tese,
criminoso e de sua autoria, não tendo, no entanto, valor jurídico os
exames e as perícias realizados que não forem repetidos em juízo,
durante o processo.
Certo ou Errado

10 - CESPE – 2010 – MPE/RS – PROMOTOR DE JUSTIÇA


Assinale a opção correta acerca do IPM.
a) O CPPM e o procedimento investigativo pré-processual comum
tratam do arquivamento de IPM de forma distinta, uma vez que o
CPPM prescreve hipóteses taxativas de arquivamento e disciplina

23
Curso de Direito Processual Penal Militar para
Analista do Ministério Público da União
expressamente as possibilidades de arquivamento implícito e de ofício
de autoridade judiciária militar.
b) As medidas preliminares previstas para o IPM são taxativas e
devem ser todas cumpridas, em qualquer caso e circunstância, na
sua integralidade, sob pena de ofensa ao princípio constitucional do
devido processo legal.
c) Na tramitação de IPM, assegura a norma de regência, de forma
peculiar e garantidora, o direito do investigado de ser ouvido apenas
na presença do advogado por ele próprio indicado ou de ser assistido
por defensor público.
d) No sistema processual castrense, não há previsão para o juiz
requisitar a instauração de IPM, entendendo a doutrina e a
jurisprudência ser vedado ao juiz requisitar ou ordenar a instauração
de procedimento investigativo.
e) No âmbito do IPM, em face da especialidade do sistema
investigativo castrense, é assegurada a possibilidade de se manter
incomunicável o investigado, por ato devidamente fundamentado do
encarregado do IPM, pelo prazo máximo de três dias. Essa
possibilidade vem sendo corroborada pela jurisprudência pátria.

Grande abraço e até a próxima aula!


Prof. Pablo Farias Souza Cruz

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