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Tribunal de Justiça de Minas Gerais

Número do 1.0183.16.008132-3/001 Númeração 0081323-


Relator: Des.(a) Catta Preta
Relator do Acordão: Des.(a) Catta Preta
Data do Julgamento: 21/02/2019
Data da Publicação: 01/03/2019

EMENTA: APELAÇÃO CRIMINAL - PORTE DE ARMA - CONDENAÇÃO


MANTIDA - DETRAÇÃO DOS DIAS DE RECOLHIMENTO NOTURNO NO
TEMPO DE PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS À COMUNIDADE -
COMPETÊNCIA DO JUÍZO DA EXECUÇÃO. - Dispõe o art. 387, §2o, do
Código de Processo Penal, que "o tempo de prisão provisória, de prisão
administrativa ou de internação, no Brasil ou no estrangeiro, será computado
para fins de determinação do regime inicial de pena privativa de liberdade". -
O art. 42 do Código Penal determina que "computam-se, na pena privativa de
liberdade e na medida de segurança, o tempo de prisão provisória, no Brasil
ou no estrangeiro, o de prisão administrativa e o de internação em qualquer
dos estabelecimentos referidos no artigo anterior". - Compete ao juízo da
execução o exame da adequação e da forma de aplicação do instituto da
detração no tempo de cumprimento da pena imposta ao condenado.

APELAÇÃO CRIMINAL Nº 1.0183.16.008132-3/001 - COMARCA DE


CONSELHEIRO LAFAIETE - APELANTE(S): MINISTÉRIO PÚBLICO DO
ESTADO DE MINAS GERAIS - APELADO(A)(S): COSME MAYKON
FERREIRA TEIXEIRA

ACÓRDÃO

Vistos etc., acorda, em Turma, a 2ª CÂMARA CRIMINAL do Tribunal de


Justiça do Estado de Minas Gerais, na conformidade da ata dos julgamentos,
em DAR PARCIAL PROVIMENTO AO RECURSO E ISENTAR DE CUSTAS
O RECORRIDO.

DES. CATTA PRETA

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RELATOR.

DES. CATTA PRETA (RELATOR)

VOTO

Trata-se de recurso de apelação criminal interposto pelo MINISTÉRIO


PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS contra a r. sentença (fl. 59/60)
em que o Exmo. Juiz de Direito julgou procedente a denúncia, condenado o
réu como incurso nas sanções do art. 14 da Lei no 10.826/03, ao
cumprimento das penas de 2 (dois) anos de reclusão e 10 (dez) dias-multa,
no regime inicial aberto, substituída por duas restritivas de direitos

Nas razões recursais, a acusação sustentou, em suma, a possibilidade


de afastamento da detração estabelecida na apuração do tempo de
prestação de serviços a ser cumprida pelo período de liberdade provisória
com recolhimento noturno e, subsidiariamente, o reconhecimento da
competência do juízo da execução (fl. 67/73).

Em contrarrazões, a defesa manifestou-se pelo não provimento do


recurso ministerial e concessão da isenção de custas (fl. 74/76).

No parecer, a d. Procuradoria de Justiça opinou pelo não provimento do


recurso (fl. 81/83).

É o relatório.

Presentes os pressupostos extrínsecos e intrínsecos de admissibilidade,


CONHECE-SE do recurso.

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Narra a denúncia que, no dia 28 de julho de 2016, em via pública, nas


imediações do imóvel da rua Joemy Faria, no 351, bairro Jardim América, em
Conselheiro Lafaiete/MG, o denunciado, sem autorização, portava arma de
fogo de uso não restrito, qual seja, 1 (um) revólver calibre .32, no bolso de
sua blusa (fl. 1/2).

Não se insurgem as partes contra a condenação, mas argumenta o


recorrente a impossibilidade de reconhecimento da detração dos dias de
recolhimento noturno no tempo de duração da pena de prestação de serviços
à comunidade, desde a concessão da liberdade provisória até a data da
sentença, como determinado em primeiro grau.

Entende-se que razão parcial assiste à acusação, principalmente quanto


à necessidade de reforma da sentença, visto tratar-se de competência do
juízo da execução a análise da possibilidade de aplicação da detração para
alteração do tempo de cumprimento da pena alternativa.

Ao juízo da fase de conhecimento cabe a consideração da detração


apenas para a fixação do regime inicial, como dispõe o art. 387, §2o, do
Código de Processo Penal.

Nos termos do art. 66, inc. III, "c", da Lei de Execuções Penais, a
competência para apreciação do instituto da detração é originária do Juízo
das Execuções Criminais.

Nesse sentido, manifestou-se este eg. Tribunal de Justiça, inclusive:

APELAÇÃO CRIMINAL - DISPARO DE ARMA DE FOGO EM LOCAL


HABITADO - AUTORIA E MATERIALIDADE COMPROVADAS -
CONDENAÇÃO MANTIDA - PRESTAÇÃO DE SERVIÇO À COMUNIDADE -
PENA ALTERNATIVA - REDUÇÃO DO LAPSO TEMPORAL DE
CUMPRIMENTO - IMPOSSIBILIDADE - DETRAÇÃO - TEMPO DE PRISÃO
PROVISÓRIA - COMPETÊNCIA DO JUÍZO DA EXECUÇÃO. 01.
Demonstradas a autoria e a materialidade do delito de disparo de arma de
fogo em local habitado, a condenação, à falta de causas

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excludentes de ilicitude ou de culpabilidade, é medida que se impõe. 02. A


pena restritiva de direito na modalidade de prestação de serviço à
comunidade terá a mesma duração da pena privativa de liberdade
substituída. Entretanto, será facultado ao condenado, cuja pena for superior
a um ano, cumpri-la em menor tempo, nunca inferior à metade da pena
privativa de liberdade fixada. 03. A norma insculpida no art. 387, §2º, do CPP
permite que o juiz da cognitio compute o tempo da prisão provisória apenas
para determinação do regime inicial de pena. Não autoriza, contudo, a
detração da pena privativa de liberdade, cuja competência é do juízo da
execução. (TJMG - Apelação Criminal 1.0245.11.031508-3/001, Relator(a):
Des.(a) Fortuna Grion , 3ª CÂMARA CRIMINAL, julgamento em 21/03/2017,
publicação da súmula em 04/04/2017)

APELAÇÃO CRIMINAL - EMBRIAGUEZ AO VOLANTE - ABSOLVIÇÃO -


IMPOSSIBILIDADE - MATERIALIDADE E AUTORIA DEVIDAMENTE
COMPROVADAS - ATENUANTE DA CONFISSÃO ESPONTÂNEA
RECONHECIDA NA SENTENÇA - REDUÇÃO DAS PENAS-BASE AQUÉM
DO MÍNIMO LEGAL - IMPOSSIBILIDADE - DETRAÇÃO - COMPETÊNCIA
JUÍZO EXECUÇÃO - RECURSO DESPROVIDO. - 1. Restando devidamente
comprovadas nos autos a materialidade e a autoria do crime de embriaguez
ao volante, imperiosa a manutenção da condenação firmada em primeira
instância, por seus próprios fundamentos. 2. As atenuantes não fazem parte
do tipo penal, não tendo, portanto, o condão de reduzir as penas-base abaixo
do mínimo legal. 3. Nos termos do art. 66, inciso III, alínea c, da LEP, a
competência para apreciação do instituto da detração é originária do Juízo
das Execuções Criminais, não podendo este Tribunal manifestar-se a
respeito, neste momento, sob pena de supressão indevida de instância.
(TJMG - Apelação Criminal 1.0016.13.014397-3/001, Relator(a): Des.(a)
Eduardo Machado , 5ª CÂMARA CRIMINAL, julgamento em 04/12/2018,
publicação da súmula em 10/12/2018)

APELAÇÃO CRIMINAL - CRIME DE TRÂNSITO - EMBRIAGUEZ AO


VOLANTE (ART. 306 DO CÓDIGO DE TRÂNSITO BRASILEIRO) -
SENTENÇA CONDENATÓRIA - PLEITO ABSOLUTÓRIO - INVIABILIDADE -
AUTORIA E MATERIALIDADE COMPROVADAS - ALTERAÇÃO DA

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CAPACIDADE PSICOMOTORA EVIDENCIADA - ATIPICIDADE DA


CONDUTA - NÃO VERIFICAÇÃO - CRIME DE PERIGO ABSTRATO - PENA
BASE - REDIMENSIONAMENTO - NECESSIDADE - PRETENSÃO DE
APLICAÇÃO DA DETRAÇÃO PENAL - MATÉRIA ATINENTE AO JUÍZO DE
EXECUÇÃO - REVERÊNCIA AO PRINCÍPIO DA SEGURANÇA JURÍDICA E
INTELIGÊNCIA DO ART. 66 DA LEP - RECURSO PARCIALMENTE
PROVIDO. - O art. 306 do Código de Trânsito Brasileiro, a partir da Lei n.
11.705/08, passou a ser crime de perigo abstrato, que prescinde da
demonstração de dano potencial à incolumidade de outrem. -De acordo com
o disposto no art. 306 da Lei nº 9.503/97, com redação dada pela Lei nº
12.760/12, a alteração da capacidade psicomotora do réu, em razão da
ingestão de bebida alcoólica, diante da recusa à realização do teste do
etilômetro, pode ser demonstrada por outros meios de prova. -Comprovadas
a materialidade e a autoria delitivas, a manutenção da condenação do réu
pela prática do delito previsto no art. 306 do CTB é medida que se impõe. -
Havendo incorreção do juízo a quo no que se refere à valoração das
circunstâncias judiciais do art. 59 do Código Penal, mostra-se necessária
reestruturação. - Em reverência ao Princípio da Segurança Jurídica e
inteligência do art. 66, III da Lei de Execuções Penais, não se mostra viável a
análise da detração penal em sede de apelação, eis que referida matéria é
de competência do Juízo da Execução, o qual detém maior abrangência para
análise e cálculo. (TJMG - Apelação Criminal 1.0148.15.002370-0/001,
Relator(a): Des.(a) Wanderley Paiva , 1ª CÂMARA CRIMINAL, julgamento
em 12/09/2018, publicação da súmula em 19/09/2018)

APELAÇÃO - EMBRIAGUEZ AO VOLANTE (ART. 306, CTB) -


PRELIMINAR: NULIDADE DO FEITO - CERCEAMENTO DE DEFESA -
REJEIÇÃO. MÉRITO: AUTORIA E MATERIALIDADE - ABSOLVIÇÃO -
IMPOSSIBILIDADE - DETRAÇÃO - MATÉRIA AFETA AO JUÍZO DA
EXECUÇÃO. 1- No Processo Penal Brasileiro, não há nulidade por
cerceamento de defesa quando não houver comprovação de prejuízo para as
partes (art. 563 do CPP). 2- A autoria e a materialidade do crime previsto no
art. 306 da Lei 9.503/97, se comprovadas, através das provas testemunhais
e documentais, não há como se acolher o pleito de Absolvição. 3- A Detração
Penal, disposta no art. 387, §2º, do CPP, somente deve ser realizada quando
importar em alteração do regime inicial de

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cumprimento da pena privativa de liberdade imposta na sentença, caso


contrário, trata-se de competência do Juízo da Execução, nos termos do art.
66, III, "c", da LEP. (TJMG - Apelação Criminal 1.0625.15.005492-6/001,
Relator(a): Des.(a) Octavio Augusto De Nigris Boccalini , 3ª CÂMARA
CRIMINAL, julgamento em 05/06/2018, publicação da súmula em
15/06/2018)

No mesmo sentido, manifestou-se o Superior Tribunal de Justiça:

HABEAS CORPUS LIBERATÓRIO. PACIENTE CONDENADO A 3 MESES


DE PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS À COMUNIDADE. LEI DE TÓXICOS. USO
PESSOAL (ART. 28, II DA LEI 11.343/06). APREENSÃO DE 5,3 GRAMAS
DE MACONHA. PRISÃO PROVISÓRIA DE, APROXIMADAMENTE, 30
DIAS. INADMISSIBILIDADE DO ACOLHIMENTO DA PRETENSÃO DE
EXTINÇÃO DA PUNIBILIDADE PELO CUMPRIMENTO DA PENA.
COMPETÊNCIA DO JUÍZO DA EXECUÇÃO PENAL PARA EVENTUAL
DETRAÇÃO DA PENA. PARECER DO MPF PELA DENEGAÇÃO DA
ORDEM.

ORDEM DENEGADA.

1. Nenhum reparo merece o acórdão proferido pelo egrégio TJMG, que, com
acerto, determinou o cumprimento da pena de prestação de serviços à
comunidade, pelo prazo de 3 meses - tal como fixado na sentença
condenatória -, competindo ao Juízo da Execução Penal eventual detração,
relativamente ao período relativo à prisão preventiva.

2. Em que pese a despenalização do uso de entorpecentes com a edição da


Lei 11.343/06, a circunstância de o sentenciado ter sido preso
provisoriamente, com amparo na Lei 6.368/76, não extingue a punibilidade
pelo cumprimento da pena; in casu, a prisão cautelar de aproximadamente
30 dias não corresponde ao período de prestação de serviço à comunidade
de 3 meses fixado na sentença condenatória, remanescendo, portanto,
sanção a ser cumprida pelo apelante.

3. Parecer do MPF pela denegação da ordem.

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4. Ordem denegada.

(HC 90.285/MG, Rel. Ministro NAPOLEÃO NUNES MAIA FILHO, QUINTA


TURMA, julgado em 11/12/2008, DJe 09/03/2009)

Logo, acolhem-se as razões recursais apenas para se afastar da r.


sentença a determinação da autorização da detração dos dias de
recolhimento noturno da pena de prestação de serviços à comunidade,
determinando-se ao juízo da execução o exame da questão.

Por fim, concede-se ao recorrido a isenção do pagamento das custas e


despesas processuais, visto que assistido pela Defensoria Pública, conforme
art. 5o, LXXIV, da Constituição da República.

Diante do exposto, com respaldo nos princípios do livre convencimento


motivado e da fundamentação dos atos jurisdicionais, DÁ-SE PARCIAL
PROVIMENTO AO RECURSO, para reformar a r. sentença apenas no
tocante à determinação da autorização da detração dos dias de recolhimento
noturno da pena de prestação de serviços à comunidade, determinando-se
ao juízo da execução o exame da aplicação do instituto, concedendo-se ao
recorrido a isenção de custas, nos termos das contrarrazões recursais,
mantida a r. sentença nos seus demais termos.

Isento de custas.

Comunicar.

DESA. BEATRIZ PINHEIRO CAIRES (REVISORA) - De acordo com o(a)


Relator(a).

DES. RENATO MARTINS JACOB - De acordo com o(a) Relator(a).

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SÚMULA: "DERAM PARCIAL PROVIMENTO AO RECURSO E


ISENTARAM DE CUSTAS O RECORRIDO."

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