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A EUTANÁSIA NO PENSAMENTO DE JAMES RACHELS

Luiz Augusto Castello Branco de Lacerda Marca da Rocha1

GT IV – Direitos referentes à Biotecnologia, Bioética e Regulação da Engenharia


Genética

PALAVRAS-CHAVE: EUTANÁSIA – VIDA- INTERESSES

O presente trabalho tem por finalidade analisar o livro The End of Life:
Euthanasia and Morality, publicado em 1986, de autoria de James RACHELS, no qual o
autor enfrenta a temática da eutanásia, sob um ponto de vista moral e jurídico.
RACHELS aponta a oposição à eutanásia centrada na ideia de santidade
da vida, a qual atribui a duas tradições: o janinismo oriental e o cristianismo no Ocidente,
com sua proibição moral de por fim a uma “vida humana inocente”. Ambas as tradições
são apresentadas e criticadas como inadequadas a explicar as razões pelas quais o ato de
matar alguém seria moralmente inadequado.
Em seguida, o autor propõe sua própria versão de santidade de vida,
pautada numa dissociação de seus sentidos biológico (to be alive) e biográfico (to have a
life), detendo a segunda concepção primazia sobre a primeira, conforme se depreende da
seguinte passagem:
The point is not to preserve as many living things as possible, but to
protect the interests of individuals who are the subjects of lives.. It’s
a derived rule, inferred from a more fundamental rule having to do with
the protection of lives. It is as though we had formulated the rule by
reasoning thus: ‘it’s morally important to protect lives, and the
individuals who are subjects of lives. If those individuals are killed,
their biographical lives, and not just their biological lives will be
destroyed. Therefore, such killing is wrong (RACHELS, 1986., p. 28)

1
Professor do Centro Universitário Augusto Motta – UNISUAM. Bacharel em Direito pela Universidade
Federal do Rio de Janeiro – UFRJ. Pós Graduado em Direito Civil e Processual Civil pela Universidade
Estácio de Sá- UNESA. Mestrando em Direito na Universidade Católica de Petrópolis– UCP. Email:
augustocastellobranco@gmail.com ;
http://buscatextual.cnpq.br/buscatextual/visualizacv.do?id=K4299866A6
Superada esta análise preliminar, centra-se a obra numa apreciação moral
da eutanásia, na qual são apresentados argumentos favoráveis e contrários à sua prática.
Neste sentido, o artigo pretende desenvolver tais argumentos, contrastando-os com outros
autores, em especial FINNIS e DWORKIN. Para FINNIS, os traços que caracterizam o
“ser humano” são comuns à humanidade em si, não desaparecendo ainda que alguma das
habilidades que compõem esta humanidade venham a ser eventualmente comprometidas:
The human being’s life is not a vegetable life supplemented by an animal
life supplemented by an intellectual life; it is the one life of a unitary being. So a being
that once has human (and thus personal) life will remain a human person while that life
(the dynamic principle for that being’s integrated organic functioning) remains—that is,
until death. Where one’s brain has not yet developed, or has been so damaged as to impair
or even destroy one’s capacity for intellectual acts, one is an immature or damaged human
person (FINNIS, 2013, p. 221).
A noção de interesses críticos apresentada por DWORKIN pode
complementar o sentido proposto por RACHELS para a defesa da vida, na medida em
que representam aquilo que, para o sujeito titular de tais interesses, seria uma vida boa.
Assim:
As pessoas consideram importante não apenas que sua vida contenha uma
variedade de experiências certas, conquistas e relações, mas que tenha uma estrutura que
expresse uma escolha coerente entre essas experiências – para algumas, que demonstre
um compromisso inequívoco e autodefinidor com uma concepção de caráter ou de
realização que a vida como um todo, vista como uma narrativa integral e criativa, ilustre
e expresse. Sem dúvida esse ideal de integridade não define, por si só, uma forma de vida:
pressupõe convicções substantivas (DWORKIN, 2016, p. 290).
Por fim, RACHELS traça uma avaliação jurídica da eutanásia, e apresenta
– à luz do contexto jurídico norte-americano – sua proposta de utilização como meio de
defesa. Este paper pretende discutir a viabilidade –ou não- de aplicar tal pensamento ao
modelo jurídico brasileiro.

REFERÊNCIAS
BARROSO, Luís Roberto. A Morte como ela é: dignidade e autonomia individual no
final da vida. In: GOZZO, Débora, et. al., Bioética e Direitos Fundamentais. São Paulo:
Saraiva, 2012.
DIAS, Roberto. O Direito Fundamental à morte digna – uma visão constitucional da
eutanásia. Belo Horizonte: ed. Forum, 2012.
DWORKIN, Ronald. The right to Death. Disponível
em http://www.nybooks.com/articles/1991/01/31/the-right-to-death/Acesso em
18.10.2016.
_________________ O Domínio da Vida. Trad. Jefferson Luiz Camargo. 2ª ed. São
Paulo: Martins Fontes, 2016
FINNIS, John. Human Rights and Common Good. Collected Essays, v. III. Nova York:
Oxford University Press, 2011.
GUEST, Stephen. Ronald Dworkin. 3ª ed., Stanford University Press, 2013.
HARRIS, John. The value of life. Taylor & Francis e-Library, 2001
HOLLAND, Stephen. Bioética: enfoque filosófico. Trad. Luciana Pudenzi. São Paulo:
Centro Universitário São Camilo; Loyola, 2008
PESSINI, Leo; BARCHIFONTAINE, Christian de P. Problemas Atuais de Bioética. 11ª
ed. São Paulo: Edições Loyola, 2014.
PESSINI, Leo. Eutanásia: Por que abreviar a vida? São Paulo: Centro Universitário
São Camilo; ed. Loyola, 2004.
RACHELS, James, RACHELS, Stuart. A coisa certa a fazer: leituras básicas sobre
filosofia moral. Trad. Delamar José Volpato Dutra. 6ª ed., Porto Alegre: AMGH, 2014.
RACHELS, James. The End of Life: Euthanasia and Morality (Studies in Bioethics).
Oxford, UK: Oxford University Press, 1986.

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