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Maíra Rúpolo Koshiba Galinskas1


O objeto deste artigo é a relação entre a história do Direito do Trabalho e a dignidade da pessoa
humana.
Ao longo da história da humanidade os direitos humanos, e principalmente os dos trabalhadores, foi
muito desrespeitado por conta do capitalismo, cujo principal objetivo é o lucro. No entanto, o que se observa
é que o Direito do Trabalho e a dignidade da pessoa humana estão intimamente relacionados, pois é este
princípio que norteia as suas normas.
 !dignidade da pessoa humana; direito do trabalho; direitos humanos.

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The object of this paper is the relationship between the history of labor law and human dignity.
Throughout human history human rights, and especially the workers, were very disrespected on
account of capitalism, whose main goal is profit. However, what is observed is that the labor law and human
dignity are closely related, in fact it is this principle that guides their rules.
$%&'!human dignity; labor law; human rights.


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Após o advento da II Guerra Mundial instaurou-se o Estado do Bem-Estar Social, a forma mais
avançada e moderna do Estado promover a proteção social (FIORI, p. 2).
É justamente por conta da proteção social, calcada na dignidade da pessoa humana, que o Direito do
Trabalho surge e se desenvolve no decorrer da história. O Estado do Bem-Estar Social surge para amparar a
sociedade, principalmente os trabalhadores, e regular direitos e deveres na relação de trabalho, que não mais
poderiam ser negligenciados.

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Do latim, þ  , dignidade significa tudo aquilo que merece respeito, consideração mérito ou
estima, logo a dignidade da pessoa humana é o respeito que se deve à pessoa humana (LEAL, 2007, p. 2).
Desde a antiguidade a dignidade do homem é objeto de estudos filosóficos. No entanto, foi com o
advento do Cristianismo que a ideia ganha grande reforço, pois a par de ser característica inerente ao ser
humano e este ter sido criado à imagem e semelhança de Deus, violar sua dignidade seria, em última análise,
violar ao Criador (BERNARDO, 2006, p. 5).

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pEstudante de Direito do 2º período da Universidade de Mogi das Cruzes
RGM: 11101101928
e-mail: makoshiba@gmail.com
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Após a II Guerra Mundial e seus horrores a dignidade da pessoa humana passa ser positivada na
maioria das Constituições pós-guerra e na Declaração Universal das Nações Unidas de 1948, logo em seu
primeiro artigo (BERNARDO, 2006, p. 6).
No Brasil tal direito foi positivado na Constituição de 1988, como Fundamento da República
Federativa do Brasil (BERNARDO, 2006, p. 6).
Assim, a dignidade da pessoa humana, segundo Maria Helena Diniz, ³é o princípio moral de que o
ser humano deve ser tratado como um fim e nunca como meio´.

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O Direito é resultado da pressão de fatos sociais que, apreciado segundo os valores, resultam em
normas jurídicas. O Direito do Trabalho está intrinsecamente relacionado com o advento da Revolução
Industrial do final do século XVIII. Este fenômeno causou profundas mudanças na sociedade, quer no seu
modo de vida, na economia, na produção e no modo como o ser humano passou a ser explorado em prol do
lucro dos empresários (FRANCO, s/d,p. 4).
Como resposta ao Estado liberal não intervencionista, surgem movimentos dos proletariados contra
as atuais condições de trabalho. Dessa maneira, motivaram uma pressão cada vez maior para que o Estado
ampliasse suas funções e atuasse no campo social (FRANCO, s/d, p. 4).
O movimento proletário teve suas raízes no ³Manifesto Comunista´ de Marx e Engels que trouxe
uma nova e grande força no ramo dos trabalhadores, assim, o Estado e também a Igreja passaram a voltar
suas atenções para a questão social (DELGADO, 2010, p. 88).
Surgem então, normas que passam a regular o trabalho infantil e da mulher, assim, as primeiras
normas possuem um caráter humanitário, como um início do reconhecimento da dignidade da pessoa
humana.
Finalmente, em 1919, após a Primeira Guerra Mundial, surge a OIT (Organização Internacional do
Trabalho), com argumentos humanitários, políticos e econômicos e finalmente, tal Direito encontra-se em
patamar Constitucional no México (1917) e Alemanha (1919). Neste momento os direitos humanos são
ampliados e tornam-se objeto de discussões internacionais.
No Brasil, o Direito do Trabalho só aparece no século XX, pois a escravidão só foi abolida no final
do século XIX, e então neste período, não há o que se falar em relação de trabalho e trabalho livre. Este
período é destacado pelo surgimento ainda assistemático e disperso de alguns diplomas e normas trabalhistas
que tocam na chamada questão social (DELGADO, 2010, pp. 100 - 101). Diferentemente da Europa, a
dignidade da pessoa humana demora a surgir e a ser inserida no nosso ordenamento jurídico.
Em 1934 a Carta Constitucional passa a dispor, especificamente, sobre normas atinentes ao Direito
do Trabalho. Em 1937 a Constituição caracteriza-se pela Ditadura aberta na qual o governo eliminou
qualquer foco de resistência à sua estratégia político-jurídica, os sindicatos deviam permanecer sobre o
controle do Estado e não como entidades de direito privado com autonomia para a própria organização e
desenvolvimento das suas atividades. Em 1946 a Carta Constitucional rompe com o sistema corporativista
mantido pela Carta anterior, passa a admitir o direito à greve, ao repouso semanal remunerado, à estabilidade
e participação dos empregados nos lucros das empresas Em 1964 dá-se a reformulação da política econômica
e os reflexos da nova ordem fizeram-se sentir imediatamente sobre as leis trabalhistas, que passaram a ter um
caráter econômico (DELGADO, 2010, pp. 100 - 105).
Finalmente, em 1988 com a nova Constituição, o modelo justrabalhista tradicional brasileiro sofre
seu mais substancial questionamento ao longo das discussões da Constituinte de 1987/88 (DELGADO, 2010,
p. 106). É neste momento histórico que a dignidade da pessoa humana passa para o patamar Constitucional,
juntamente com inúmeros direitos trabalhistas.
O Direito do Trabalho passa em para uma nova fase, uma fase de superação democrática das linhas
centrais do antigo modelo de décadas atrás. O Estado passa a não mais intervir nas entidades sindicais, não
há mais o controle político-administrativo do Estado sobre a estrutura sindical (DELGADO, 2010, p. 107).
Agora, o Estado volta-se para as questões sociais e constitucionaliza uma série de direitos
fundamentais que, inclusive, servem de base para todos os ramos do Direito.
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Assim, pode-se concluir que a base do Direito do Trabalho, na sua origem, é a dignidade da pessoa
humana, por causa da superexploração do trabalhador na época da Revolução Industrial. Foi preciso um total
desrespeito ao homem e a perda de sua dignidade para que o Direito do Trabalho pudesse surgir, trazendo à
tona direitos fundamentais, como a saúde e à vida, que não eram respeitados pelos empresários.
No entanto, somente com a Primeira Guerra Mundial, é que foi possível notar o quanto a dignidade
da pessoa humana precisa ser respeitada e preservada. Novamente, o Direito surge quando o direito é
sumariamente violado.
Conclui-se, portanto, que o reconhecimento da dignidade da pessoa humana coincide com o
surgimento dos direitos do trabalhador, pois são temas intimamente ligados e relacionados, este não existe
sem aquele.

23*-
BERNARDO, Wesley de Oliveira Louzada. O Princípio da Dignidade da Pessoa Humana e o Novo
Direito Civil: Breves Reflexões. -#'4'''--#' /, Ano VII, n. 8, Junho de
2006. Disponível em:
<http://www.fdc.br/Arquivos/Mestrado/Revistas/Revista08/Artigos/WesleyLousada.pdf>. Acesso em: 31
ago. 2010.
DELGADO, Mauricio Godinho.  ' --# '
" ) 9ª Ed. São Paulo: LTr.
2010.
FIORI, José Luís. c#''c# -!'5 -) Instituto de Estudos Avançados da
Universidade de São Paulo. Disponível em: <http://www.iea.usp.br/iea/textos/fioribemestarsocial.pdf>.
Acesso em: 02 set. 2010.
FRANCO, Raquel Veras.   -#1- ' 6#-+  ' --# '
"  * *')
Disponível em: 7http://www.tst.jus.br/Srcar/Documentos/Historico/1-
BreveHistoricodaJusticaedoDireitodoTrabalhono_Mundo.pdf>. Acesso em 01 set. 2010.
LEAL, Larissa Maria de Moraes. Aplicação dos Princípios da Dignidade da Pessoa Humana e Boa-Fé nas
Relações de Trabalho ± As Interfaces entre a Tutela Geral das Relações de Trabalho e os Direitos
Subjetivos Individuais dos Trabalhadores. ) 6)8 Brasília, v. 8, n. 82, pp. 84-99, dez/jan 2007.
Disponível em:
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LIRA, Dorotea Amaral de Brito. /*"--'' -- ' c/0' / * **# 
0*# "-*#- - 9 '- :-'' ' -' '
" ') 2005. 220f. Dissertação
(Mestrado em Direito das Relações Sociais) ± Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, São Paulo,
2005.

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