O Design de Baralho
e a Criação de um Produto
Banca Avaliadora:
Ao orientador
Prof. Hugo Reis Rocha
E aos professores
A Origem
¹ “A cluster of early literary references refer to the game being introduced by ‘a Saracen’, ‘the Moorish Game’ etc. Etymological evidence also suggests
that the Arabs introduced playing cards into Europe in the second half of the fourteenth century [...].” In <www.wopc.co.uk/history/1.html>
² Carter, Thomas (1955). The Invention of Printing in China. pp. 102–111.
³ Hargrave, Catherine Perry. A History of Playing Cards and a Bibliography of Cards and Gaming. p.227
4
“This coincided with the Nasrid Kingdom of Granada in Andalusia (13th - 15th century), the last Islamic stronghold in the Iberian Peninsula.” In
<www.wopc.co.uk/egypt/mamluk/index.html>
5
Cf. <www.wopc.co.uk/egypt/mamluk/index.html>
6
Cf. <www.i-p-c-s.org/>
14
7
Dummett, Michael (1980). The Game of Tarot. p.67
8
Cf. <copag.com.br/port/baralho_no_mundo.asp>
9
“More expensive cards were produced from engravings in copper using the skills of the goldsmith and engraver and illuminated with many colours
including gold and silver. These cards have greater detail and a more naturalistic use of line. Such packs were given as wedding gifts, bequeathed as
heirlooms and regarded as valuable items. They were often produced for collectors or as curios for princely display cabinets.” In <http://www.wopc.
co.uk/history/1/2/3/4/5/6/7.html>
15
bubônica (a “Peste Negra”) ter assolado a Europa padronizados como uma importante característica
em meados do século XIV; fato que coincide com das cartas produzidas na França, Itália, Espanha e
o surgimento das cartas de baralho no Ocidente10. Portugal, com diferenças em sua simbologia e no-
Os objetos, roupas e outros pertences das vítimas menclatura, mas basicamente com os mesmos sig-
eram queimados, na tentativa de se evitar conta- nificados. Foi a partir do século XVIII que o padrão
minações, o que justifica o fato de muitas evidên- francês de naipes – espadas, ouros, copas e paus
cias de baralhos da época não terem sobrevivido11. –, passara a predominar na produção de baralhos
Não obstante, diferentemente de outros na Europa, devido a sua facilidade de reprodução e
jogos da época, tão logo os jogos de cartas se tor- padronização das cartas, o que, por sua vez, ajuda-
navam cada vez mais populares, mais seus joga- ria a evitar trapaças, aumentando sua audiência.
dores eram mal vistos pelas autoridades12, e assim Orientados por essas questões que os fa-
as cartas eram então censuradas, pois acreditava- bricantes a partir de então, no temor de perder
se já naquela época que o baralho era responsável seus clientes, procuravam cada vez menos por
por comportamentos antissociais e motivo de de- inovações em demasia. Ao buscarem uma padro-
sonestidade alheia. Isto inevitavelmente acabou nização constante, mantinham-se extremamente
levando à sua proibição e à interdição dos locais conservadores em suas cartas figurativas de reis,
onde aconteciam os jogos, com a Igreja e prega- damas e valetes (as “cartas da corte”) e nos nai-
pes. Isso talvez tenha impedido uma evolução
dores exorcizando a sua prática e as autoridades
maior no design de baralhos.
buscando formas de regulamentar a novo vício.
Este fato corrobora para a afirmação de que os
baralhos já eram muito populares no século XV
ao passar de itens colecionáveis da nobreza e da
pequena burguesia emergente, a passatempo das
classes mais baixas. De qualquer forma, o baralho
estava se tornando um bom negócio até para as
autoridades, que tentaram durante algum tempo
coibir, sem sucesso, o surgimento de um dos pri-
meiros nichos de mercado gráfico da história.
Com o passar do tempo, do século XVI ao
XVII os naipes dos baralhos europeus foram sendo
10
“It is of possible relevance as background knowledge that the date of the last outbreak of Bubonic plague (Black Death) wich afflicted the west in
the middle of the fourteent century coincides with the earliest dates relating to the appearance of playing cards in Europe.” (Wintle, Simon. A “Moorish”
Sheet of Playing Cards.) In <wopc.co.uk/assets/files/moorish.pdf>
11 “
It is to be supposed that any clothes, bedding, papers or other personal effects belonging to plague victims would have been burnt, and so it is hardly
surprising that no evidence to do with cards has survived from prior to these dates, even if there was any.” Ibid. Cf. <wopc.co.uk/assets/files/moorish.pdf>
12
“It was on 22nd October 1628 that Charles I granted the charter to the Company of the Mistery of Makers of Playing Cards of the City of London, and
from 1st December that year all future importation of playing cards was forbidden. In return, a duty on playing-cards was demanded, and the subsequent
history of attempts to extract that duty makes an unedifying and contradictory story [...].” In <http://i-p-c-s.org/history.html>
PRODUÇÃO GRÁFICA
NO DESIGN DE BARALHO
17
D esde o seu surgimento até as primeiras ino- sabia ler nem escrever.
vações nos processos de impressão, as cartas de O primeiro método a ser adotado com a fi-
baralho eram produzidas e fabricadas de forma nalidade específica de produzir baralhos foi a xilo-
artesanal, de maneiras distintas e não havia uma gravura4. Daí em diante cada nova técnica de produ-
padronização de cores, formatos ou materiais – ção surgida no meio gráfico era, mais cedo ou mais
que dependiam do estilo de determinado artis- tarde, adaptada à fabricação de cartas de baralho,
ta ou artesão1. Pode-se dizer que as cartas foram devido a sua popularidade3 cada vez mais elevada.
por muito tempo veículos de expressão artística e Além da xilogravura, o uso do estêncil5 foi
cultural, pois carregavam em si características de se tornando cada vez mais comum. As primeiras
autênticas obras de arte e, só posteriormente, na cartas, ainda no século XIV, eram produzidas de for-
era industrial, passariam a constituir objeto e pura ma artesanal, em papelões, sob várias camadas de
expressão do Design. papel. Entretanto, para baratear a produção, ago-
Do entalhamento em madeira2 até as ra também voltada às classes mais populares e se
pinturas sob o papelão, e dos acabamentos mais adequar ao novo método xilográfico, os papéis utili-
rebuscados, obtinha-se essa exclusividade das zados como suporte direto das matrizes passaram a
cartas, o que tornava o baralho um item de arte ser menos densos. Por volta do século XVI, as cartas
colecionável em sua origem e que somente as clas- eram produzidas da combinação de vários métodos
ses mais altas podiam possuir. Entretanto, com o de impressão, entre xilogravura, estêncil, pintura à
aumento crescente de sua popularidade, e conse- mão e mesmo os tipos móveis, apesar de ser raro a
quentemente das demandas de fabricação, e dos utilização da Tipografia nas cartas dessa época, que
amantes dos jogos de cartas, o aperfeiçoamento de ainda possuía um caráter secundário ou decorativo
novos métodos de produção mais rápidos e mais nos baralhos.
baratos para esta finalidade era iminente. Dessa Com o limiar da era industrial no século
forma, com a invenção da Imprensa no século XIV, XVIII, alguns novos processos de impressão foram
o baralho foi sem dúvida um dos primeiros nichos importantes para um aumento na qualidade e pa-
de mercado gráfico, de produção em massa, já que dronização das cartas, o qual era uma preocupa-
os livros, os principais beneficiados dessa revolu- ção recorrente dos fabricantes de baralhos. Entre
ção, continuariam como um privilégio de poucos, eles a litografia, processo que utiliza a pedra como
pois como sabe-se, a maior parte da população não matriz, inventado em 1798 por Alois Senefelder, e
1
“Early packs involved artisan methods of card production which was time-consuming but the resulting cards were very sturdy. [...] Luxury hand
-painted packs were only available to a few, who enjoyed them privately or with elite company as objects of fashionable esteem.” In <www.wopc.
co.uk/history/1/2/3/4/5/6/7.html>
2“
Wood engraving and traditional woodcuts, despite the modern developments of chemical, mechanical or electronic processes, still remain the most
expressive forms of illustration, adding a sense of vibrancy, old world chivalry and romance.” Cf. <wopc.co.uk/history/1/2/3/4/5/6/7.html>
3“
As card-playing became more popular production was accelerated by these alternative processes, including hand-made cards, cards printed from
woodblocks or using stencils, or other improvised techniques.”
4
Técnica de gravura que utiliza a madeira como matriz e que possibilitou a passagem do pergaminho ao papel durante a Idade Média, para a obtenção
de cópias impressas, processo semelhante a um carimbo.
5
O estêncil consiste num processo onde um molde vazado é utilizado como matriz.
18
5
A litografia e a cromolitografia consistem no fundamento de que água e óleo não se misturam; o desenho era feito sobre a pedra polida e utilizava-se
pigmentos gordurosos; e um ácido era aplicado nas áreas incolores deixando as áreas pintadas intactas , sendo assim utilizada como uma matriz. As
gradações de cores eram obtidas através de pequenos pontos para cada cor em cada matriz.
6
[It] “was one of the more popular methods of printing playing cards during the 19th century and at its height produced very high quality colour
prints. It continued to be used until the late 1930s to produce inexpensive, “cheap and cheerful” colour images and zinc sheets eventually replaced
the heavier and more expensive limestones. The B. Dondorf factory in Germany was especially famous for its beautiful chromolithography playing
cards, and Spanish, French, Belgian, Swiss, British and American firms also used this process for playing card production.” In <www.wopc.co.uk/cards/
chromolithography.html>
O BARALHO
NO BRASIL
21
1
“Printing in Brazil was controlled by the Portuguese government, although some unauthorised printing did take place. Playing card production in
Brazil was officially sanctioned when a royal alvará (charter or document granting certain rights and privileges) of August 8 1770 gave “privileges and
tax exemptions to people occupied in making playing cards” in Bahia. A royal decree in 1808 established in Brazil the Real Fábrica de Cartas de Jogar
as a part of the Impressão Régia, a similar arrangement as that in Lisbon, for the printing of playing cards.” In <www.wopc.co.uk/brazil/?=header>
2
Denis, Rafael Cardoso. Design brasileiro antes do design. pp. 272–273
ANÁLISE VISUAL:
LINHA DO TEMPO
23
Século VII
O s primeiros registros de baralhos da história datam
do século VII e vem da China. As cartas eram estreitas,
feitas de tiras de papel e se pareciam muito com os
dominós modernos que vemos hoje, numeradas de 2
à 9. Era utilizada somente a cor preta e representava
elementos da cultura chinesa.
(Fig.1)
Século XIV
O s primeiros baralhos encontrados na Europa são
de origem Moura – os conquistadores muçulmanos
da península Ibérica – e carregam as características
da cultura árabe. Os traços eram simples, com
cartas feitas de papelão e maiores em sua altura.
Suas ilustrações e elementos gráficos eram feitos
de maneira bem simples, sem preenchimento, pois
eram produzidos manual e artesanalmente, sem
recursos de impressão. Lembravam a arquitetura e
a arte islâmica em sua origem e sua face neutra
(verso das cartas) era lisa, utilizando-se somente
de tinta preta, na parte frontal.
Século XV
N o século XV os baralhos já floresciam na Europa
e podia-se observar uma notável mudança de
estilos, i. e. fig. 5, onde observa-se uma folha ainda
sem corte com oito cartas, contendo ilustrações ao
estilo italiano mais detalhistas de artistas da Baixa
Idade Média do século XV. É possível observar os
valores de cada carta pela quantidade de taças (ou
cálices), ainda em preto.
Na fig. 7 é possível observar cartas de um
baralho Mameluco (árabe), desenhadas e pintadas
à mão, o que agregava bastante valor às cartas, que
Cartas de baralho italiano (Fig. 5)
eram grandes, medindo cerca de 25 x 9 cm. Neste
baralho a divisão por naipes já pode ser notada e a
arquiterua e a arte islâmica (arabescos) ainda são
uma influência predominante para as ilustrações.
A figura 6 mostra um baralho bastante
colorido e com ilustrações das cartas da corte (as
cartas figurativas), ao estilo europeu e já reproduzia
a sociedade feudal, sendo provavelmente produzido
na França. Nestas cartas é possível observar dois
diferentes naipes e o aparecimento de uma borda
interna, e eram produzidas por uma espécie de Cartas produzidas na França ou Borgonha (Fig. 6)
papelão mais fino e trabalhado.
Século XVI
N o século XVI os jogos de cartas estão disseminados
pela Europa e os baralhos, mais padronizados em
formatos, são menores na altura, afastando-se assim
de sua origem árabe, de cartas altas e estreitas. As
cores predominantes passam a ser o vermelho, o azul,
o amarelo e o preto, e as cartas da corte começam a
ter ilustrações mais detalhadas e estilizadas. O padrão
de naipes anglo-franceses, como observados na fig. 8,
começa a se sobrepor a outros baralhos encontrados
pela Europa, como o baralho alemão (fig. 9).
Século XVII
O s baralhos espanhóis ganham popularidade a
partir do século XVII; seus naipes eram bastante
característicos, e se baseavam nos naipes das
cartas de Tarô surgidas na Itália, que se tornaram
bastante populares e difundidas. As figuras da
corte também mostravam figuras classificadas
por diferentes classes sociais; as cores passam a
assumir um padrão e a face neutra, antes lisa, passa
a adotar grafismos com repetições de símbolos,
como triângulos e círculos, tomando futuramente
um caráter definitivamente decorativo.
Século XVIII
C om o século XVIII e a ascensão da classe burguesa
e do advento da Revolução Industrial, sobretudo na
Inglaterra, os padrões tradicionais inglês e francês
de baralhos começam a predominar, principalmente
quanto aos naipes. Algumas inovações podem ser
observadas, como na fig. 14 onde as personagens
das cartas da corte são vistas inteiras. A qualidade
da impressão melhora e as cores se padronizam,
bem próximas do que se conhece hoje – com as cores
primárias da serigrafia da época: azul, vermelho,
amarelo e preto (fig. 13).
Baralho inglês séc. XVIII (Fig. 12)
Cartas da corte de baralho inglês (Fig. 13) Baralho italiano (Fig. 14)
29
Século XIX
O fato mais marcante no design de baralhos no
século XIX é a popularização das cartas com figuras
espelhadas, possibilitando ao jogador identificar
a carta de maneira mais rápida, i. e., fig. 16. A
tipografia agora é um elemento gráfico fucional e
não apenas de caráter decorativo, pois ela também
identifica as cartas (fig. 15).
Há o aparecimento de várias inovações no
campo da produção gráfica, como a cromolitografia
e o início da impressão offset.
Século XX a XXI
A partir do século XX até os dias atuais as
mudanças são constantes e baralhos de diversos
estilos surgem; as ilustrações e a diagramação das
cartas tornam-se bastante geométricas, simétricas,
como um impacto do Modernismo nas Artes e no
Design. (fig. 18).
Os jogos mais populares em todo o mundo
se consolidam como aqueles praticados com os
baralhos francês e inglês, sobretudo com o baralho
inglês e sua disseminação na cultura americana.
Baralho inglês moderno(Fig. 17)
Hoje há baralhos das mais diferentes
formas de produção e de estilização; há os baralhos
produzidos em 100% plástico, mais duráveis;
baralhos em hotstamping, translúcidos, com tintas
especiais ou com acabamento UV.
A
intuito de se comunicar com o maior número de
partir daí procurou-se desenvolver uma lin- pessoas possível, já que a língua inglesa é hoje
guagem que buscasse apresentar ao mesmo tem- internacionalmente reconhecida. Além disso, outro
po todas as características de um baralho conven- fator que impulsionou sua escolha foi a sonoridade
cional, bem como transmitir o conceito proposto, da palavra em inglês que é mais pregnante.
como uma reflexão acerca do design contemporâ-
neo. Não sob a forma de um baralho “conceitual”
– feito por designers para designers – ao contrário,
Painel Semântico
A
como os antigos produtores de baralho, que este
tivesse apelo às massas. Após uma reflexão cro- través dessas ideias foi desenvolvido um painel
nológica sobre o design de baralhos, surgira um semântico, com imagens que representam pictori-
forte desejo de criação de um produto que reunis- camente o conceito do projeto gráfico do produto.
36
“Reliefstructure” de Gerard Caris, 2000 (Fig. 23) “Gif arte”de Rick Silva, 2011 (Fig. 24)
“With the Egg” de Paul Klee, 1917 Abstracionismo geométrico de Jessica Eaton “Sem título” de Max Bill, 1970 (Fig. 27)
(Fig. 25) 2011, (Fig. 26)
37
Postêr olimpiada de Munique de Max Bill , 1972 (Fig. 29) “Rose Garden”, de Paul Klee, 1920 (Fig. 30)
“White Pyramid” de James Turrel, 1968 (Fig. 31) “Tri-Colour Angles de Jessica Eaton “Ciclo” de M. C Escher, 1938
2011, (Fig. 32) (Fig. 33)
PROJETO GRÁFICO
39
O Logotipo
Os Naipes
As cores
A face neutra
A face neutra foi pensada, mais do que ape- Sobre a composição decorativa, Frutiger diz que:
nas como um grafismo, de forma integrante a todo o “o sinal disposto de forma a compor um or-
projeto visual, já que suas formas estão na gênese do namento esconde-se como unidade e torna-se
conceito desenvolvido. Seguindo a tradição de orna- parte integrante de uma estrutura. Frequente-
mentos nos versos das cartas de baralho, o grafismo mente, quase não é possível reconhecê-lo em
foi criado a partir da concepção de um diamante detalhes, mas sua presença misteriosa reforça
que se desdobra em muitas composições de forma a a busca por seu significado, por sua expressão.
constituir um padrão geométrico, com a função de (FRUTIGER, 1999, p. 47).
ornamentar o verso e ao mesmo tempo preservar a
não identificação das cartas durante o jogo.
Tipografia
Din 1451
ABCDEFGHIJKLMNOPQRSTUWXYZ
abcdefghijklmnopqrstuwxyz
01234567890 Família tipográfica Din 1451 (Fig. 44)
As cartas numeradas
O Ás
A palavra “Ás” vem do francês antigo “as” (do A elevação do ás à proeminência tem seu
começo já no século XIV. Nos primeiros jogos, os
latim “as”), significando “uma unidade” e provém
do nome de uma pequena moeda romana. Original- reis eram sempre as maiores cartas, mas a partir do
mente, designava o lado de um dado com o menor final do século XIV, um significado especial come-
valor, antes de tornar-se um termo associado aos çou a ser atribuído à carta de menor valor do bara-
jogos de cartas. Por ter servido como referência ao lho, chamada “a Carta” ou “o Ás”. Este costume foi
menor lado do dado, tradicionalmente o ás conota- mais tarde amplamente difundido durante o fervor
va “má sorte” na Inglaterra medieval, mas ao passo republicano da Revolução Francesa (1789-1799),
que o ás era em muitos jogos ingleses a carta mais onde muitos jogos começaram a ser jogados com o
elevada, seu significado mudou para então desig- ás no topo das cartas, em oposição à figura do rei1.
nar “alta-qualidade, excelência”. Essa conotação Tradicionalmente, o ás de espadas é con-
tem sido, até hoje, ampliada, até mesmo no campo siderado como a carta símbolo de um baralho e é
dos esportes, como no tênis, onde “ace” significa usado como uma insígnia para representar o lo-
uma jogada em que o adversário não tem a chance gotipo ou o nome da marca do fabricante, como
de defendê-la. um atestado de qualidade e distinção. Este hábito
teve início no século XIX, na Inglaterra, onde um
Assim, historicamente, e ainda em alguns jo-
imposto começou a ser cobrado para os fabrican-
gos populares na Europa, o às representa a carta de
tes locais de baralho. No às de espadas era intro-
menor valor do baralho. Tendo como referência o ba-
duzida a insígnia da Casa onde era impresso, e
ralho tradicional francês, como exemplo, em que o “A” dessa forma esta podia ser identificada, além de
de uma carta ás é substituído pelo número “1”. servir como um selo de qualidade, prova do im-
Entretanto, com a popularização do ba- posto pago2. Apesar do imposto ter sido abolido, a
ralho inglês pelo mundo e sobretudo a partir dos prática de inserir o símbolo da marca no ás de es-
EUA, o às passou a constituir a carta de maior valor padas permanece ainda hoje em alguns baralhos.
do baralho em muitos jogos.
1
Cf. <www.i-p-c-s.org/faq/history_7.php>
2
Schott, Ben (2004). Card Tax & The Ace of Spades. Schott’s Sporting, Gaming & Idling Miscellany. p. 62
49
Tanto por se tratar como a carta de maior uma unidade, lhe confere distinção. Nesse sentido,
valor em muitos jogos, como a de menor valor em o grafismo empregado ao símbolo agrega valor à sua
outros, o símbolo dos naipes tradicionalmente ga- função básica de identificar os naipes, ao associar o
nha destaque nos ases da maioria dos baralhos desenho dos naipes a uma espécie de gema preciosa
modernos. Ao mesmo tempo que o identifica como ou diamante lapidado, reforçando o seu conceito.
As cartas da corte
3
Cf. <www.i-p-c-s.org/faq/history_14.php>
51
Rough personagem reis (Fig. 48) Rough personagem damas (Fig. 49)
O Joker
O baralho Diamond foi produzido em formato 6,35 gens. Uma caixa em madeira reciclada de dimensões
20, 3 x 25 x 8 cm (LxAxP); acompanhada por uma
x 8,89 cm (LxA), conhecido como poker size, um for-
mato típico para jogos de pôquer, por ser mais largo toalha de feltro; fichas de pôquer e quatro suportes
do que os baralhos usuais. Este tamanho foi delimi- de cartas. Duas caixas para conter os baralhos – azul
tado pela gráfica. O baralho foi impresso na China, e vermelho –, também foram produzidas, em papel
cartão e couché, de dimensões 6,5 x 9,4 cm x 2 cm
por questões de custo-benefício. O suporte utilizado
(LxAxP).
foi couché 280g com revestimento fosco.
Além disso, foram desenvolvidas embala-
Detalhe caixa do baralho Diamond (Fig. 66) Detalhe faces neutras (Fig. 67)
Detalhe kit completo (Fig. 68) Detalhe caixas (Fig. 69)
Ases
O propósito deste Trabalho de Conclusão de Curso to que através deste conjunto de informações, um
produto deveria ser criado afim de se compreender
foi o de elaborar um estudo preliminar, que compre-
endesse um levantamento histórico, e o de demons- melhor os fundamentos do design no século XXI.
trar, através das áreas de abrangência do design Constatou-se a dificuldade de fontes bi-
gráfico, um produto final – duas famílias completas bliográficas e, devido a este fato, a análise de ar-
de baralhos –, pondo-se em prática os ensinamen- tigos, e sites de referência em baralho, mostrou-se
tos da Academia, e constituindo dessa forma, um fundamental para o desenvolvimento deste proje-
projeto teórico-prático. to gráfico ao prover o embasamento teórico e as
Buscou-se o aprofundamento na evolução referências necessárias à criação de um b aralho
visual e nos processos de produção de baralhos e que fosse assimilável.
em como este produto da memória cultural do Oci- Por fim, conclui-se que o design é uma ativi-
dente serviu como espelho do desenvolvimento das dade que se apresenta alinhada à evolução humana
artes gráficas ao longo da história, até a urgência do como uma ferramenta capaz de promover o diálogo
design no mundo moderno. Partiu-se do pressupos- e a troca de experiências entre diferentes culturas.
REFERÊNCIAS
BIBLIOGRÁFICAS
75
DENIS, Rafael Cardoso. Design brasileiro antes do de- Acesso em: 19/06/2012.
sign. São Paulo: Cosac Naify, 2005.
WINTLE, Simon. A “Moorish” Sheet of Playing Cards. In
—. Uma introdução à história do Design. São Paulo: Blü- The Journal of the international Playing-Card Society.
cher, 2002. Londres: Vol. 15, Nº4, Maio, 1987.
Disponível em:
FRUTIGER, Adrian. Sinais e Símbolos. São Paulo: Martis <www.wopc.co.uk/assets/files/moorish.pdf>
Fontes, 2007. Acesso em 19/06/2012.