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PODER JUDICIÁRIO DO ESTADO DO PARANÁ

COMARCA DE NOVA FÁTIMA


COMPETÊNCIA DELEGADA DE NOVA FÁTIMA - PROJUDI
Rua Wenceslau Augusto Ross, 356 - Prédio do Fórum - Nova Fátima/PR - Fone: (43) 3552-1172

Autos nº. 0000468-15.2016.8.16.0120

Processo: 0000468-15.2016.8.16.0120
Classe Processual: Procedimento Comum
Assunto Principal: Aposentadoria Especial (Art. 57/8)
Valor da Causa: R$11.456,62
Autor(s): JOSÉ BENEDITO SOARES
Réu(s): INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL - INSS

SENTENÇA

I. RELATÓRIO

Trata-se de “Ação de Revisão de Benefício Previdenciário” proposta por JOSÉ BENEDITO SOARES em face
do INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL. Alega a parte requerente que, em 14/03/2014, protocolou
pedido administrativo perante o INSS de aposentadoria, oportunidade em que a autarquia previdenciária
concedeu a aposentadoria por tempo de contribuição proporcional.

Contudo, alega que o INSS não considerou para o cálculo do tempo de contribuição a especialidade da
atividade rural.

Por consequência, requer a revisão do benefício, para o fim de ser concedido o benefício na forma de cálculo
mais vantajosa. Instruiu a inicial com os documentos nos movs. 1.2 a 1.12.

Devidamente citado, o requerido apresentou contestação (mov. 20.1), rechaçando as matérias ventiladas em
exordial. Ao final, pugnou pela improcedência do pedido inicial.

Réplica no mov. 23.1.

Proferida decisão saneadora (mov. 32.1), fixando os pontos controvertidos. Já em decisão de mov. 40.1, foi
deferida a produção da prova pericial.

Laudo pericial e complementação nos movs. 159.1 e 170.1.

Parte autora impugnou ao laudo em mov. 174.1.

Na sequência, vieram os autos conclusos.

É o relatório.

DECIDO.

II. FUNDAMENTAÇÃO

Trata-se de revisão de benefício previdenciário.


Os pontos controvertidos restringem-se à sujeição às condições especiais que prejudiquem a saúde ou a
integridade física, durante o período indicado nos autos.

DO LABOR EM CONDIÇÕES ESPECIAIS

Tratando do reconhecimento dos períodos trabalhados em condições especiais, tem-se que o


serviço/contribuição é regido pela norma vigente à época da prestação do serviço.

O segurado que trabalhou, alternativamente, em atividade comum e especial tem direito a ter convertido o
seu tempo de serviço especial incompleto, para efeitos de concessão de aposentadoria por tempo de
contribuição, na forma do art. 57, § 5º da Lei nº 8.213/91, art. 58, inciso XXII e art. 64 do Decreto nº 2.172/97.

Isto posto, considerando a diversidade de diplomas legais que se sucederam na disciplina da matéria, faz-se
mister definir qual a legislação aplicável ao caso concreto, ou seja, qual a legislação vigente quando da
prestação da atividade pela parte autora.

Tem-se, então, a seguinte evolução legislativa quanto ao tema:

a) até 28/04/1995, é possível o reconhecimento da especialidade do trabalho quando


houver a comprovação do exercício de atividade profissional que se enquadre como
especial nos decretos regulamentadores ou houver laudo técnico (imprescindível em
caso de ruído).

Em verdade, era presumida a insalubridade para as categorias profissionais


elencadas nos Decretos 53.831/64 e 83.080/79, cujas atividades eram consideradas
insalubres, perigosas ou danosas para fins de cômputo de tempo de serviço especial,
carecendo, apenas, da verificação da habitualidade e permanência do seu exercício.

b) a partir de 29/04/1995, inclusive, foi definitivamente extinto o enquadramento por


categoria profissional, de modo que, entre esta data e 05/03/1997, necessária a
demonstração efetiva de exposição, de forma permanente, não ocasional nem
intermitente, a agentes prejudiciais à saúde ou à integridade física, por qualquer meio
de prova, considerando-se suficiente, para tanto, a apresentação de formulário padrão
preenchido pela empresa, sem a exigência de embasamento em laudo técnico.

c) após 06/03/1997, passou-se a exigir, para fins de reconhecimento de tempo de


serviço especial, a comprovação da efetiva sujeição do segurado a agentes
agressivos por meio da apresentação de formulário padrão, embasado em laudo
técnico, ou por meio de perícia técnica. Importante destacar, ainda, que é admitida a
conversão de tempo especial em comum após maio de 1998, consoante entendimento
firmado pelo STJ, em decisão no âmbito de recurso repetitivo (REsp nº 1.151.363/MG,
Rel. Min. Jorge Mussi, Terceira Seção, julgado em 23/03/2011, DJe 05/04/2011).

Além dessas hipóteses de enquadramento, sempre possível também a verificação da especialidade da


atividade no caso concreto, mediante perícia técnica, nos termos da Súmula nº 198 do extinto Tribunal
Federal de Recursos.

O autor aduz que a atividade rural desenvolvida nos períodos de 10/06/1974 a 27/04/1976, 04/05/1976 a
23/09/1976, 06/01/1977 a 20/10/1977, 28/10/1977 a 03/11/1977, 09/11/1977 a 13/12/1977, 19/12/1977 a
20/03/1981, 01/12/1981 a 13/01/1988, 01/08/1988 a 03/09/1988, 27/04/1989 a 10/02/1990, 01/03/1990 a
15/01/1993, 19/04/1993 a 30/06/1993, 19/07/1993 a 11/12/1993, 25/04/1994 a 05/10/1994, 06/10/1994 a
26/12/1994, 02/01/1995 a 07/02/2003, 14/04/2003 a 07/11/2003, 03/05/2004 a 10/12/2004, 03/01/2005 a
07/11/2005, 23/03/2006 a 06/11/2006, 01/02/2007 a 13/12/2007, 05/05/2008 a 05/12/2008, 09/02/2009 a
25/03/2009, 01/04/2009 a 14/12/2009, 01/04/2010 a 12/12/2010, 01/04/2011 a 30/12/2011, 16/05/2012 a
21/11/2012, 16/04/2013 a 09/08/2013, 13/08/2013 a 01/12/2013, enquadra-se como atividade especial.

Em perícia realizada em Juízo, o Sr. Expert apresentou o parecer conclusivo:

05.1) Ruído contínuo ou intermitente:

O Anexo n° 1 da NR-15 descreve e analisa os níveis de ruídos e a máxima exposição


diária permissível para cada nível. As atividades do Autor não são insalubres para o
agente ruído contínuo ou intermitente.

05.2) Ruído de impacto:

O Anexo n° 2 da NR-15 descreve e analisa os limites de tolerância para o ruído de


impacto que podem ser prejudiciais ao trabalhador. As atividades do Autor não são
insalubres para o agente ruído de impacto.

05.3) Calor radiante:

(...)

Assim, temos convicção de que, durante oito meses por ano, o ambiente é insalubre
em grau médio, de vinte por cento, para o trabalhador exposto ao calor do SOL, pois
ultrapassa o limite de tolerância. Note bem que não estamos interpretando o ambiente
insalubre devido à exposição ao sol, pois desta maneira até no inverno seria insalubre,
mas sim devido à exposição ao excesso de calor emitido pelo SOL. E esta conclusão
é puramente matemática, pois usamos a equação definida neste Anexo 3 da NR 15,
para ambientes externos com carga solar: Sendo assim, o quadro acima mostra que
em oito meses do ano o ambiente estava insalubre. O adicional de insalubridade é em
grau médio, de vinte por cento. São os dados que percebemos neste tipo de atividade.

Pois bem.

Apesar da irresignação da parte autora, não verifico qualquer inconsistência capaz de afastar a conclusão
dada pelo Auxiliar da Justiça.

Não houve qualquer indicação de período que o autor tenha laborado no corte de cana de açúcar, sendo que
não se pode presumir que durante todo o período indicado ele laborou somente dessa qualidade.

Outrossim, ainda que tivesse laborado, no quesito 2 apresentado pela autora, o Expert fez o seguinte
esclarecimento:

(...)

2. Em vários períodos o autor laborava no corte de cana, exposto a fuligem da cana! A


fuligem da cana tem em sua composição HPA´s – Hidrocarbonetos Policíclicos
Aromáticos? Esta exposição é insalubre?
Resposta: Não que seja insalubre.

Em complementação (mov. 170.1), o Sr. Perito ainda esclareceu que:

2) Após a queima da cana, os trabalhadores aguardam quanto tempo para realizar o


corte da cultura? Esse período é suficiente para amenizar a fumaça presente na
lavoura?

Resposta: 12 ou mais horas. A queimada já aconteceu e se extingue em poucos


minutos. Fica a fuligem na cana.

Assim, ficou claro que o autor durante o labor no corte de cana fica exposto a fuligem da cana, contudo,
como concluído pelo Perito, a exposição não é suficiente para ser considerada atividade insalubre.

De outro norte, no laudo pericial, nos quesitos do autor, também constou que:

3. O autor estava exposto a agentes biológicos? Esta exposição é insalubre?

Resposta: Não.

4. Quais outros agentes insalubres o autor estava exposto?

Resposta: só ao calor.

Assim, o que ficou demonstrado é que o autor era exposto ao excesso de calor emitido pelo sol. Contudo, a
exposição ao sol não é considerada especial, uma vez que o calor somente deve ser considerado agente
nocivo quando proveniente de fontes artificiais.

Nesse sentido tem sido as decisões proferidas pelo Tribunal Regional Federal da 4ª Região:

PREVIDENCIÁRIO. APOSENTADORIA ESPECIAL OU APOSENTADORIA POR


TEMPO DE CONTRIBUIÇÃO. SEGURADO ESPECIAL: ATIVIDADE ESPECIAL NÃO
RECONHECIDA. FONTE NATURAL DE CALOR: INSALUBRIDADE. NÃO
ENQUADRAMENTO. O exercício de atividade rural pode ser reconhecido para fins
previdenciários até 31/10/1991, sem que se faça necessário o recolhimento das
contribuições previdenciárias para a averbação de tempo de contribuição, exceto no
que se refere à carência. A atividade com exposição ao sol não é considerada
especial, tendo em vista que o calor somente pode ser considerado agente
nocivo quando for proveniente de fontes artificiais. A atividade rural, na condição
de segurado especial, não pode ser reconhecida como especial por enquadramento
em categoria profissional. Precedentes. Não demonstrado o preenchimento dos
requisitos, o segurado não tem direito à concessão da aposentadoria. (TRF4, AC
5051723-72.2015.4.04.9999, TURMA REGIONAL SUPLEMENTAR DO PR, Relator
MÁRCIO ANTÔNIO ROCHA, juntado aos autos em 19/12/2018).

PREVIDENCIÁRIO. TEMPO DE SERVIÇO RURAL. REGIME DE ECONOMIA


FAMILIAR. TEMPO DE SERVIÇO ESPECIAL. CALOR. ATIVIDADE COM
EXPOSIÇÃO AO SOL. APOSENTADORIA POR TEMPO DE
SERVIÇO/CONTRIBUIÇÃO. CONCESSÃO. CORREÇÃO MONETÁRIA E JUROS DE
MORA. HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS. TUTELA ESPECÍFICA. 1. Comprovado o
labor rural em regime de economia familiar, mediante a produção de início de prova
material, corroborada por prova testemunhal idônea, o segurado faz jus ao cômputo
do respectivo tempo de serviço. 2. Comprovada a exposição do segurado a agente
nocivo, na forma exigida pela legislação previdenciária aplicável à espécie, possível
reconhecer-se a especialidade da atividade laboral por ele exercida. 3. A atividade
com exposição ao sol não é considerada especial, tendo em vista que o calor
somente pode ser considerado agente nocivo quando for proveniente de fontes
artificiais. 4. Tem direito à aposentadoria por tempo de serviço/contribuição o
segurado que, mediante a soma do tempo judicialmente reconhecido com o tempo
computado na via administrativa, possuir tempo suficiente e implementar os demais
requisitos para a concessão do benefício. 5. Deliberação sobre índices de correção
monetária e juros de mora diferida para a fase de cumprimento de sentença, a
iniciar-se com a observância dos critérios da Lei nº 11.960/09, de modo a racionalizar
o andamento do processo, permitindo-se a expedição de precatório pelo valor
incontroverso, enquanto pendente, no Supremo Tribunal Federal, decisão sobre o
tema com caráter geral e vinculante. 6. Honorários advocatícios, a serem suportados
pelo INSS, fixados em 10% sobre o valor das parcelas vencidas até a sentença. 7.
Reconhecido o direito da parte, impõe-se a determinação para a imediata implantação
do benefício, nos termos do art. 497 do CPC. (TRF4 5044615-89.2015.4.04.9999,
TURMA REGIONAL SUPLEMENTAR DO PR, Relator LUIZ FERNANDO WOWK
PENTEADO, juntado aos autos em 27/11/2018).

Diante do exposto, deixo de reconhecer a especialidade do labor exercido pelo autor em referidos períodos.

III. DISPOSITIVO

Ante o exposto, JULGO IMPROCEDENTE o pedido autoral e extinto o presente feito com resolução de
mérito nos termos do artigo 487, inciso I, do Código de Processo Civil.

Ante a sucumbência, condeno a autora ao pagamento das custas e despesas processuais e dos honorários
advocatícios em favor do patrono do réu, os quais arbitro em 10% sobre o valor atualizado da causa, o que
faço com fundamento no art. 85 do CPC, tendo em conta o tempo e o trabalho exigidos pelo feito.

Suspendo a cobrança, uma vez que restou concedido ao demandante o benefício da assistência judiciária
gratuita.

Oportunamente arquivem-se, observadas as cautelas legais.

Nova Fátima, datado e assinado digitalmente.

Cynthia de Mendonça Romano

Juíza de Direito

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