Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Fraturas Trocantéricas: - Introdução
Fraturas Trocantéricas: - Introdução
FRATURAS TROCANTÉRICAS
- EPIDEMIOLOGIA.
- CLASSIFICAÇÃO.
- Qualidade da Redução:
Fig.18. Principais grupos e subgrupos da classificação AO/OTA, agregados de acordo com o ambiente mecânico
resultante. Ver texto para descrição detalhada. PPED= Parafuso/Placa extramedular de deslizamento, PHIB=
Parafuso/Haste intramedular bloqueada, PTS: Parafuso Trocantérico de Sustentação, PCP= Placa de compressão
percutânea, PMST: Placa Modular de Suporte Trocantérico, TT=Tirante de Tração, PA= Placa Angulada. P-M=
Póstero-Medial.
Deste método resultaram cinco abaixo da linha trocantérica. Embora todas
diferentes grupos de fraturas com caracte- estas fraturas tenham estabilidade intrín-
rísticas mecânicas diferentes (Grupo I fratu- seca e tratamento semelhante, procuramos
ras sem desvio, Grupo II com instabilidade diferenciar os casos em que o trocanter
longitudinal, Grupo III fraturas com insta- menor é envolvido pelo traço de fratura.
bilidade póstero-medial, Grupo IV fraturas Esta diferenciação tem somente o objetivo
com instabilidade lateral e Grupo V, de alertar o cirurgião para os casos de
fraturas com instabilidade combinada). fratura sem desvio, em que extensões
Evidentemente, como já discutido muito discretas e de difícil visualização,
na mecânica das fraturas, estes grupos frequentemente espirais curtas, somente
referem-se à instabilidade predominante, são observadas intraoperatoriamente.
uma vez que em maior ou menor grau Eventualmente existe a possibilidade dos
todos os eixos estão envolvidos no fragmentos se desviarem no ato cirúrgico
carregamento estático ou cíclico, e assim durante a fresagem, ou durante a intro-
podem contribuir para o desvio dos dução do parafuso (sobretudo no quadril
fragmentos. Características particulares de esquerdo em que a fresagem tende a
cada grupo, oriundas do envolvimento de provocar a rotação externa e assim desviar
estruturas adicionais de suporte que o fragmento proximal). Desta forma
possam dar personalidade própria ao consideramos as seguintes situações:
ambiente mecânico da fratura, são
consideradas como subgrupos (2 sub- A. Fraturas Estáveis (4.8%): Fraturas com
grupos para cada grupo), que descrevemos 2 fragmentos ao longo da linha trocan-
a seguir. térica, sem desvio, em que a única
Saliente-se o fato de que o objetivo perturbação da anatomia radiográfica do
desta abordagem está longe de ser a fêmur proximal é o traço de fratura. A
proposição de uma nova classificação, mas fixação de eleição é feita por implantes ex-
tão somente o de analisar os tipos tramedulares deslizantes. O contato entre
morfológicos da classificação AO/OTA, à os fragmentos provê uma estabilidade tri-
luz do ambiente mecânico resultante, em axial e assim pouco deslizamento do
seus diferentes grupos e subgrupos e, parafuso é observado (Fig.19 A-E).
desta forma propor o método de fixação
mais adequado com os implantes
disponíveis.
Nesta abordagem os eixos de
instabilidade são considerados em relação
à topografia da fratura, ao envolvimento
dos batentes ósseos e ao desvio primário
dos fragmentos principais. Assim, de
acordo com um levantamento retrospectivo
de 331 radiografias de pacientes
acometidos por fraturas trocantéricas e
tratados inicialmente em nosso serviço, ou
encaminhados para tratamento após a
perda da fixação primária, as ocorrências
mais encontradiças foram: Fig.19 (A-E): Fratura sem desvio, estável. O contato e
a estabilidade entre os fragmentos promove pouco
I- Fraturas Sem Desvio (6.3%) : deslizamento do parafuso. PPED= Parafuso/Placa
extramedular, de deslizamento.
Referem-se somente às fraturas
sem desvio significativo dos 2 únicos B. Fraturas com Instabilidade Potencial
fragmentos presentes (proximal e distal) e, (1.5%): Inclui as fraturas também com 2
portanto com estabilidade nos três eixos fragmentos e sem desvio, em que o traço
(estabilidade tri-axial). Nestes casos o de fratura envolve o trocanter menor. Em 2
ambiente mecânico pressupõe que as pacientes deste subgrupo observamos
forças deformantes não foram capazes de fratura trocantérica com extensão distal do
superar a estabilidade intrínseca da fratura. traço de fratura, não reconhecido préopera-
A morfologia radiográfica do fêmur proximal toriamente, que se desviou durante o
só é perturbada pela presença do traço de período pós-operatório. Portanto uma vez
fratura que se localiza ao nível ou logo
identificada esta situação preoperato- A. Ausência de instabilidade póstero-medial
riamente, placas mais longas com 3 funcional (10.7%):
parafusos abaixo da extremidade distal da Nesta circunstância, o deslizamen-
fratura devem ser utilizadas para evitar a to entre os fragmentos pelo plano de fratura
perda da fixação durante a evolução pós- promove o encurtamento, porém o contato
operatória. (Fig.20A-F). entre os dois córtices mediais (do
fragmento proximal e distal) é mantido e
assim pouca tendência ao varismo do
fragmento proximal é observada. Nestas
fraturas de elevado cisalhamento longitu-
dinal entre os fragmentos, enquadram-se
os tipos morfológicos descritos como 31-
A1.3 e suas variantes (1) ou (2) da
classificação AO/OTA, assim como outros
casos onde a situação de um traço de
fratura bem verticalizado domina o
ambiente mecânico da fratura, como pode
ocorrer no tipo 31-A1.1. (Fig.21).
Nesta condição, mais do que o tipo de Fig.24. A-C: Fratura com instabilidade póstero-medial
implante, tem grande relevância a redução estrutural patente que inclui os tipos morfológicos
e fixação adequadas que podem restaurar AO/OTA 31-A2.2 e 31-A2.3. A opção por implantes
o suporte ósseo e assim promover um PPED deve considerar que o tirante de tração tem a
função de sustentação e assim receberá grande parte
ambiente mecânico propício à consolidação do carregamento. D: Observe que o fio de aço
dos fragmentos em boa posição anatômica. utilizado (de diâmetro insuficiente para resistir ao
Inclui-se neste grupo as fraturas 31-A2.1 e carregamento), E: se rompeu precocemente e assim,
algumas variantes onde exista fratura ou mesmo com redução adequada da fratura houve o
colapso em varo e arrancamento da placa devido a
cominuição de pequeno fragmento da falta de suporte medial.
extremidade do trocanter maior, que não irá
interferir na estabilidade dos fragmentos Este ambiente mecânico requer
principais da fratura. Mecanicamente, neste assim, a estabilização mediante o suporte e
caso, a estabilidade pode ser obtida com a a sustentação, feitas preferencialmente por
redução acurada e a fixação com implantes PHIB. Como segunda opção,
implantes convencionais PPED associados pode-se justificar a utilização de implantes
à um parafuso superior de sustentação extramedulares somente quando asso-
(PTS) com a função de aumentar a ciados à diminuição das tensões rotacio-
resistência aos esforços longitudinais, são nais, flexurais e longitudinais, feita pelos
usualmente suficientes. Contudo a implantes PCP. Os dispositivos tipo PPED,
possibilidade de violação da parede lateral, além de estarem associados à migração
que impõe assim um ambiente mecânico excessiva, comprometendo a estabilidade
de instabilidade combinada a este tipo de em outros planos, sua implantação pode
fratura, nos leva a aconselhar a utilização provocar a ruptura da parede lateral
da placa modular de suporte trocantérico, transformando o ambiente mecânico em
que pode ser igualmente substituída pelo
uma instabilidade combinada. Desta forma
só se pode considerar sua utilização se B. Instabilidade Lateral + Longitudinal
associado à fixação tipo tirante de tração (0.9%):
(TT) do grande trocanter As fraturas obliquas reversas
simples (31-A3.1) apresentam um ambiente
IV. Instabilidade Lateral (1.5%): mecânico único em que os esforços
longitudinais são paralelos à direção dos
A integridade da parede lateral parafusos deslizantes e assim o fragmento
resiste à translação lateral do fragmento proximal desliza lateralmente caso não haja
proximal e, através do mecanismo tirante suporte mecânico lateral. (Fig. 26).
de tração, aos momentos fletores no plano
frontal que tendem a varizar o fragmento
proximal. A mecânica da produção do
desvio em varo, neste caso, é dependente
em parte das tensões axiais, mas
principalmente pela ação dinâmica da
musculatura abdutora, que mesmo na
presença de suporte ósseo medial
adequado, utiliza este ponto de contato
como fulcro (pivô) para a ação do momento
fletor. Inclui-se neste grupo as fraturas de
morfologia 31-A3.1 e 31-A3.2. O ambiente
mecânico, contudo, difere de acordo com o
tipo de descrição morfológica citada:
Fig. 26. A-C: Fratura trocantérica com instabilidade
lateral e longitudinal (obliqüidade reversa, 31-A3.1).D:
A. Instabilidade Lateral + Flexural (0.6%): Os dispositivos intramedula-res com 2 parafusos
Nas fraturas 31-A3.2, os sistemas cefálicos devem ser utilizados, para maior resistência
extramedulares não dão estabilidade ao ao cisalhamento (instabilidade longitudinal).
sistema caso a força deformante do glúteo
médio não seja neutralizada através do A estabilização mecânica requer,
tirante de tração. Desta forma o tipo de portanto a utilização de um suporte lateral,
síntese deve observar esta condição. A isto porque tanto nos implantes
estabilidade da reconstrução da fratura, extramedulares deslizantes como nos
neste caso, requer a restauração do intramedulares, a direção dos parafusos
mecanismo tirante, que é realizado pela favorece o encurtamento (deslizamento por
parede lateral do fêmur quando da ação da cisalhamento). No caso de implantes PHIB,
musculatura abdutora, seja estaticamente a própria haste tem a função de suporte
através de dispositivos de suporte e contra o movimento lateral do fragmento
sustentação (PHIB) ou dinamicamente proximal e resistência aos esforços
através da associação de um tirante de longitudinais quando se utiliza de 2
tração (TT) à síntese convencional com parafusos deslizantes (Fig.25), enquanto os
implantes PPED (Fig. 25). sistemas extramedulares (PPED), neces-
sitam de suporte adicional, como a placa
modular de suporte trocantérico (PMST),
através da qual deve-se introduzir um
parafuso de sustentação para aumentar a
resistência estática às tensões longitu-
dinais e ao momento fletor frontal. Outra
alternativa quando da utilização dos
implantes PPED, seria a associação com o
tirante de tração, que fornece estabilidade
lateral dinâmica, assim como suporte
estático ao fragmento proximal. A utilização
de placas anguladas pode ser indicação
alternativa, desde que obedecidos os
Fig.25. A: Fratura com instabilidade lateral e preceitos da fixação rígida que ela envolve
instabilidade flexural acentuada.B: Observe a e, portanto deve-se procurar a redução
inadequação da síntese que além de não restaurar a
anatômica e compressão interfragmentária.
estabilidade lateral, teve o parafuso implantado em
posição imprópria. C: O resultado esperado nesta Neste caso o plano do parafuso condíleo
circunstância, só pode ser a instabilidade flexural com ou da lâmina situam-se em plano diferente
colapso em varo e arrancamento do parafuso.
do plano de fratura e, portanto oferecem e sustentação oferecidos pelos PHIB
resistência ao desvio longitudinal. Contudo (Fig.27).
os momentos fletores na junção do implan-
te são de grande intensidade devido a sua
inclinação em relação à resultante do
quadril. Desta forma a ruptura por fadiga
pode ser observada. O respeito à restrição
de carga cíclica deve ser indicado.