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- Mestre e Doutor em Ortopedia pela Faculdade de Medicina de Rio Preto da U.S.P.

FRATURAS TROCANTÉRICAS

Wellington Marques do Carmo


-Estagiário do Grupo de Quadril do Serviço de Cirurgia e
Reabilitação Ortopédico-Traumatológica de Batatais-SP-

Luiz Sérgio Marcelino Gomes


- Mestre e Doutor em Ortopedia pela Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da U.S.P.
- Chefe do Serviço de Cirurgia e Reabilitação Ortopédico-Traumatológica de Batatais (SECROT-SP)
- Chefe do Grupo de Quadril do Hospital e Maternidade Celso Pierro – PUC-Campinas (SP)

- INTRODUÇÃO. téricas antes dos 50 anos de idade são


pouco frequentes (menos de 3% do total de
9
Dentre todas as fraturas osteoporó- fraturas do fêmur proximal) e decorrentes
ticas, aquelas que acometem o fêmur de trauma de alta energia, como em
proximal apresentam maior severidade e acidentes com veículos motorizados ou
grande impacto como causa direta ou queda de grandes alturas (Fig.1).
agravo à morbi-mortalidade, restrição
funcional e dependência social do paciente
1,2
idoso . A mortalidade pode acometer 4-7%
dos pacientes durante a internação
hospitalar, 6-10% ao final do primeiro mês,
13-17% aos 3 meses, 18-26% durante o
primeiro ano, e cerca de 36% ao final do
segundo ano subseqüente ao episódio da
3-5
fratura . A expectativa de vida pode ser
6
reduzida em até 25% , e a necessidade de
assistência adicional para atividades de vida
diária se faz presente em 50% dos
pacientes vitimados por este tipo de fratura,
resultando assim em grande prejuízo para a Fig.1- A e B: Fratura trocantérica do fêmur esquerdo
7
qualidade de vida . ocasionada por trauma de alta energia em uma
paciente de 29 anos, vítima de acidente
Os custos do tratamento das fraturas
automobilístico.
do fêmur proximal superam o de todas as
8
fraturas osteoporóticas somadas e figuram, A baixa resistência mecânica do osso
dentre os grupos de patologias ortopédico- também está associada à ocorrência de
traumatológicas em todo o mundo, que mais complicações como a falha da osteos-
se utilizam dos recursos financeiros síntese e, portanto à re-operações, que por
9,10
destinados a Saúde . No Brasil, estas sua vez podem implicar em risco adicional
fraturas pertencem ao elenco das nove para a morbi-mortalidade e deficiências
patologias do aparelho locomotor que funcionais. Desta forma, embora o risco de
consomem cerca de 90% dos recursos morte em relação à população de mesma
destinados a área de ortopedia, segundo faixa etária seja maior durante o primeiro
11
levantamento do Ministério da Saúde . ano após a fratura, as taxas de mortalidade
Sua ocorrência está ligada à maior podem estar ainda elevadas durante os 6-9
fragilidade óssea resultante da diminuição 13
anos subseqüentes . Esta condição pode
de densidade mineral, à anisotropia e à ser ainda agravada pela ocorrência, em 5-
desorganização da microarquitetura da 11% dos pacientes, de uma segunda
12
estrutura trabecular associadas à fratura, contralateral, das quais 70% acon-
osteoporose pós-menopáusica na mulher e tecem durante os primeiros 5 anos após a
ao processo senil nos homens. Por estes 14
fratura inicial .
motivos são denominadas fraturas osteopo- Em relação às demais fraturas do
róticas, por insuficiência ou fragilidade e fêmur proximal (colo e cabeça), as fraturas
assim ocasionadas por traumatismos de trocantéricas são extra-articulares o que
baixa energia (mais frequentemente por lhes confere características próprias como a
queda da própria altura). As fraturas trocan-
consolidação mais previsível e incidência
muito rara de necrose avascular (0.3 a
15
1.16%) . Ocorrem ainda em faixa etária
mais tardia e, portanto estão associadas à
maior redução da densidade mineral óssea
(DMO) e maior número de doenças
coexistentes.

- EPIDEMIOLOGIA.

Em função das várias características


comuns às fraturas trocantéricas (extra-
capsulares) e às fraturas do colo femoral
(intracapsulares), são frequentes os relatos
epidemiológicos que as agrupam sob a Fig. 2- Sobrevida por gênero após a admissão
denominação genérica de fraturas do quadril hospitalar por fratura de quadril. Probabilidade de
ou fraturas do fêmur proximal. A baixa sobrevida cumulativa e esperada por gênero após a
admissão hospitalar por fratura de quadril no período
freqüência relativa das fraturas subtro- de 1987 a 1996. Pacientes acima de 50 anos e
cantéricas as confere um menor peso população de comparação por idade, sexo e ano de
estatístico nas avaliações epidemiológicas. morte. Fonte: Giversen IM. Time trends of mortality
A proporção de ocorrência entre as fraturas after first hip fractures. Osteoporos Int 2007; 18:721–
732 3
intra e extracapsulares é variável nas
diferentes partes do mundo, com predileção Assim, Kanis et al
20
estimam que uma
para as fraturas intracapsulares na América fração de aproximadamente 25% das
9
do Norte e Europa (54%, 38% e 8%) , mortes sejam relacionadas diretamente às
respectivamente para fraturas do colo fraturas. Da mesma forma Khan et al
21
femoral, trocantéricas e subtrocantéricas. observaram que as readmissões
Contudo, em um Hospital terciário do hospitalares após o tratamento operatório
sudeste brasileiro a avaliação de 1.054 das fraturas do quadril se devem mais
fraturas do fêmur proximal evidenciou a frequentemente à complicações clínicas e
proporção, para os mesmos grupos de não cirúrgicas e estão associadas à elevada
fratura, de 36%, 59% e 5%, com nítido morbidade e mortalidade. Vários relatos se
16
predomínio das fraturas trocantéricas .
utilizam de preditores de mortalidade como
A incidência das fraturas do quadril, a escala da Associação Americana de
mesmo ajustada para sexo e idade, Anestesiologia
22
(ASA) , originalmente
apresenta diferenças geográficas,raciais e desenvolvida para classificar o paciente de
17
sazonais , sendo mais freqüentes no sexo acordo com o risco pré-operatório. Sakaki et
feminino (entre 400 a 700/100.000 pessoas- 23
al em uma revisão de literatura que incluiu
ano) que no sexo masculino (entre 248 a 24.062 pacientes acima de 60 anos, vitimas
270/100.000 pessoas-ano), com uma razão de fratura do fêmur proximal, encontraram
18,19
entre gêneros que varia de 2-8:1 . Desta uma taxa média de mortalidade de 5.5%
forma espera-se que a mulher enfrente um durante a internação hospitalar e
risco de 40% de ser acometida por fratura identificaram como fatores intimamente
do quadril, enquanto no homem este risco é relacionados com a maior chance de morte:
de aproximadamente 13 por cento. Ainda a idade avançada, o número de doenças
que as mulheres sejam mais freqüente- coexistentes, o sexo masculino e a
mente acometidas e a faixa etária quando presença de deficiências cognitivas. Os
da ocorrência da fratura seja maior que a autores mostraram ainda uma fraca
dos homens, a mortalidade no sexo correlação com a mortalidade para: a
feminino é significativamente menor (Fig.2). capacidade deambulatória prévia, a escala
O aumento da mortalidade é, em ASA, anemia, hipoalbuminemia, linfopenia e
grande parte, atribuído à presença de acidente vascular cerebral prévio. Entre nós,
comorbidades, uma vez que o paciente Souza et al
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em um estudo sobre a
acometido por fraturas trocantéricas aplicação de medidas de ajuste de risco
apresenta maior número de doenças para a mortalidade em fraturas proximais do
coexistentes quando comparado à fêmur, encontraram que para a mortalidade
população geral de mesmo sexo e idade. aos 90 dias, a escala ASA não foi um bom
Morbidades clínicas são detectadas em até preditor dos óbitos, constatados em 7.4%
90% dos pacientes com fratura do quadril. dos pacientes. Segundo esta pesquisa, o
número de comorbidades é um preditor
mais adequado de mortalidade, com 44% de
aumento da chance de morrer para cada
patologia adicional. Um estudo em que as
causas de morte durante a internação
hospitalar foram avaliadas por necropsia,
revelou a freqüên-cia percentual de
broncopneumonia em 35.1%, Insuficiência
cardíaca congestiva em 16.2%, Insuficiência
ventricular esquerda em 10.8%,
Tromboembolismo pulmonar em 8.1%,
Carcinomatose em 8.1% e o Acidente
25
vascular cerebral em 2.7 por cento.
Vários relatos, nesta última década, Fig.3- Participação relativa da população dos grandes
grupos de idade na população total - Brasil -
têm apontado para a queda da incidência 1980/2050. Fonte: IBGE, Diretoria de Pesquisas,
das fraturas do quadril em pacientes acima Coordenação de População e Indicadores Sociais.
de 50 anos de idade, sobretudo para o sexo Projeção da População do Brasil por Sexo e Idade para
feminino, na Europa e Estados Unidos, o Período 1980-2050 - Revisão 2008. *Milhões de
habitantes ; **Números redondos em anos,
muito provavelmente em função da aplica-
***Percentual da População.
ção de medidas preventivas ao processo de
osteoporose e de quedas no paciente idoso local este dotado de inserções musculares
17,18
. Contudo, o número absoluto de pacie- extensas e caracterizado pela presença de
ntes acometidos se eleva progressivamente osso trabecular denso, adequado à
devido ao aumento crescente da população transmissão de esforços mecânicos.
idosa e pelo fato de que a ocorrência destas A ocorrência da fratura trocantérica
fraturas tem relação exponencial com a no idoso está associada ao estado de
26-28
idade, na faixa etária acima de 50 anos . fragilidade óssea conseqüente ao processo
29
Gullberg et al. estimaram que o metabólico de osteoporose, circunstância
envelhecimento populacional será respon- em que a densidade mineral óssea (DMO)
sável pelo aumento percentual do número encontra-se diminuída em relação à mesma
de fraturas do quadril nos homens (310%) e faixa etária e sexo. Contudo, a resistência
mulheres (240%) no ano de 2025. Ainda mecânica do osso é dependente não só de
que a epidemiologia e freqüência apresen- seu conteúdo mineral (inorgânico), que tem
tem diferenças geográficas significativas, característica frágil porém resiste às tensões
estimou-se que cerca de metade das 1,66 de compressão, como também de seu
milhões de fraturas do quadril diagnos- componente orgânico representado princi-
ticadas em 1990 em todo o mundo, palmente pelo colágeno, que acrescenta
ocorreram na Europa e Estados Unidos. elasticidade e assim resistência mecânica a
Contudo, projeta-se que esta proporção caia outros tipos de tensões como a tração e o
para cerca de ¼ das 6,26 milhões de cisalhamento. Portanto igualmente influi na
fraturas esperadas mundialmente em 2050, resistência mecânica do osso, o processo
em virtude do grande aumento do número de remodelação e a velocidade de minera-
de casos a ser observado principalmente na lização, que podem determinar sua
30
Ásia e America Latina. De fato, o habilidade em reparar, espontaneamente,
crescimento populacional e a expectativa as micro-fraturas por fadiga, as quais são
média de vida no Brasil projetam uma responsáveis pela diminuição adicional da
contribuição populacional na faixa etária resistência óssea aos esforços. Neste
acima de 60 anos de 13,67% em 2020, e sentido também tem um papel importante a
cerca de 30% em 2050, que quando micro-arquitetura da estrutura trabecular
comparadas com os dias atuais (9.49% em assim como a qualidade do colágeno .
12
2008) representam um aumento de 44% e Estes fatores podem dar subsídios aos
214% respectivamente (Fig.3), e portanto recentes relatos de que a DMO tem valor
bem acima do percentual da população preditivo para fraturas futuras em menos de
acima de 60 anos observado, por exemplo, 50% dos casos .
19
26
em Genebra nos dias atuais (19%) . Ainda que a alteração da resistência
mecânica do tecido ósseo seja o fator de
- ETIOPATOGENIA E MECANISMO DO grande relevância na ocorrência das fraturas
TRAUMA. trocantéricas no idoso, é necessária a
atuação de um fator externo de sobrecarga,
A fratura trocantérica localiza-se na mesmo que de baixa energia, para que a
região do trocanter maior e menor do fêmur, fratura ocorra, ou seja, ainda que osteopo-
rótico o osso não se quebra sem trauma que é resistida pela integridade do batente
externo. A queda da própria altura é o fator póstero-medial (ou calcar).
determinante da fratura do quadril em 92%
dos pacientes idosos com fragilidade óssea.
31
Em nosso meio, Perracini e Ramos , em
um estudo envolvendo uma coorte de 1.667
pacientes com idade acima de 65 anos,
reportaram a freqüência de quedas anuais
de 31% entre os sujeitos da pesquisa, em
que 11% afirmaram ter sofrido dois ou mais
episódios. Inúmeras condições patológicas
ou ambientais estão relacionadas ao
aumento do número de quedas em idosos,
como distúrbios neuro-musculares, altera-
ções cognitivas, doenças cardio-vasculares,
diminuição da acuidade visual, falta de
atividade física, entre outros. Uma vez que
grande percentual das quedas ocorre no
próprio domicílio do paciente, fatores rela-
Fig.4. As trabéculas ósseas (ao fundo) alinham-se em
cionados ao ambiente doméstico devem ser relação às tensões principais, originadas pelos esforços
cuidadosamente avaliados. representados em cada eixo, que geram: o Momento
fletor (Mf), o Momento torcional (Mt) e as Tensões
- MECÂNICA DA FRATURA. longitudinais (Ta). Saliente-se que, em cada ponto de
cada eixo, os esforços principais representam a
resultante das tensões de tração, compressão e
O ambiente mecânico a que está cisalhamento. R= Força resultante inclinada em 159º.
sujeito o fêmur proximal durante as ativi-
dades de vida diária decorre das tensões O osso íntegro resiste a estas
estáticas e cíclicas, oriundas do carrega- solicitações mecânicas através de deforma-
mento produzido pela contração muscular e ções compressivas, trativas e de cisalha-
suporte de carga, cuja magnitude pode mento, de diferentes intensidades, em dife-
variar entre 4 a 8 vezes o peso corporal. A rentes regiões dependendo da direção,
resultante originada no quadril, inclinada em magnitude e velocidade do carregamento
159º em relação ao eixo vertical, é a tra- imposto. Com a ocorrência da fratura na
dução dos esforços axiais, flexurais região trocantérica, as forças deformantes
(momento) ou rotacionais (torque) que são passam a atuar através de um braço de
dependentes não só da intensidade da momento bem maior e assim, diante da
força, como também da geometria e da tração muscular independente em seus
posição espacial do fêmur proximal em fragmentos, o fêmur proximal tende a se
relação às estruturas ósseas, musculares e encurtar, varizar, transladar lateralmente,
ligamentares adjacentes. rodar posteriormente e produzir uma
Tridimensionalmente podemos reco- angulação anterior dos fragmentos ósseos.
nhecer (Fig.4): A morfologia da fratura per se,
- as tensões axiais longitudinais que assim como a participação de grupos
promovem, no plano frontal, a compressão musculares como elementos deformantes
entre dois pontos da estrutura óssea neste podem determinar locais de contato e atrito
eixo, graças ao efeito tirante dinâmico ósseo que resistem, promovem ou acen-
desempenhado pela banda iliotibial e tuam o desvio dos fragmentos:
musculatura lateral da coxa e quadril;
- o momento flexural que tende a produzir, 1. A parede lateral (região do córtex lateral
no plano frontal, a deformação em varo do situada logo abaixo da inserção do músculo
fêmur proximal, resistida pela integridade da vasto lateral) quando íntegra, resiste às
cortical lateral do fêmur proximal e pelo forças de translação que tendem a
batente póstero-medial. No plano sagital a lateralizar o fragmento proximal (Fig.5A). Na
tendência ao antecurvato da região proximal ocorrência de sua ruptura, além da
relaciona-se com a ocorrência de tensões translação lateral, o fragmento proximal fica
trativas (tensões de tração) anteriormente, e sujeito ao momento fletor varizante de alta
compressivas posteriormente; magnitude (rotação medial no eixo a-p)
- as forças torcionais que geram um torque ocasionado pela perda do efeito tirante
posterior, manifesto pela tendência à exercido por esta região do córtex lateral.
retroversão da região proximal do fêmur, A mecânica da produção do desvio em
varo, neste caso, é dependente em parte Nesta circunstância o efeito tirante lateral
das tensões longitudinais, porém está mantido e, portanto a estabilidade da
principalmente pela ação dinâmica da reconstrução requer primariamente a
musculatura abdutora, que mesmo na restauração do batente póstero-medial.
ausência de cominuição medial, utiliza Quando este batente não está cominuído, a
este ponto de contato como fulcro para a redução adequada dos fragmentos e a
ação do momento fletor (Fig.5B). A fixação convencional com implantes tipo
estabilidade da reconstrução da fratura, PPED são suficientes para a estabilidade
neste caso, requer a restauração do mecânica, enquanto que na presença de
mecanismo tirante, que é realizado pela cominuição (Fig. 5E,F),implantes de fixação
parede lateral do fêmur quando da ação da com função de sustentação (PHIB) são
musculatura abdutora, seja dinamicamente necessários.
através da associação de um tirante de
tração (TT) à síntese convencional com 3. A migração longitudinal é resistida pelo
sistemas de parafuso/placa extra-medulares contato entre os fragmentos ósseos e,
deslizantes (PPED), ou por dispositivos de portanto dependem não só do envolvimento
suporte e sustentação, como os sistemas de dos batentes póstero-medial e lateral, como
parafusos deslizantes/hastes intramedula- também da inclinação do traço de fratura no
res bloqueadas (PHIB). plano frontal e sagital, que pode permitir o
cisalhamento entre os fragmentos. Desta
forma, a instabilidade longitudinal é uma
conseqüência inevitável da solução de
continuidade estrutural do fêmur proximal e
assim está presente em maior ou menor
intensidade em todas as fraturas
trocantéricas. Instabilidades longitudinais
importantes podem ser causadas por:
a. Ausência de contato entre os fragmentos
principais (fratura em 4 partes, fraturas com
grande cominuição póstero-medial, Fig. 5E-
F, ou na aposição em baioneta entre os
fragmentos, Fig. 1B) , ou
b. Ainda que na existência de contato
ósseo, pode ocorrer por cisalhamento dos
Fig.5- Ver texto para descrição detalhada. (C): * fragmentos decorrente de um traço de
calcar femoral fratura mais vertical, no plano frontal e
sagital, mesmo na ausência de instabilidade
lateral e póstero-medial (Fig.5G).
2. O batente póstero-medial, ou calcar
Na circunstância de instabilidade
corresponde ao local de ossificação da
longitudinal com apenas 2 fragmentos, o
apófise do trocanter menor, e determina a
desvio em varo do fragmento proximal,
formação de uma barra de tecido ósseo
quando da presença de parede lateral
denso que se estende da região póstero-
íntegra e batente póstero-medial estru-
medial da diáfise até a região posterior do
turalmente preservado, pode ocorrer em
colo femoral (Fig 5C), e é responsável pela
associação com a perda funcional do
transmissão de cargas e resistência da
suporte ósseo medial como o observado
região trocantérica e medial do colo femoral.
na condição em que a extremidade distal
Esta verdadeira viga óssea resiste, a partir
e medial do fragmento proximal se
de seu componente medial, à varização do
intromete na cavidade medular do
fêmur e através de seu componente
fragmento distal (Fig.5H).
posterior resiste à retroversão e à angulação
Na ocorrência de instabilidade
anterior dos fragmentos (Fig.5D). Quando
longitudinal sem tendência à varização do
do comprometimento do batente póstero-
fragmento proximal, a estabilização pode
medial, na presença de uma parede
ser feita através de redução adequada da
lateral íntegra, a varização do fragmento
fratura e utilização de implantes tipo PPED
proximal se faz pelas tensões longitu-
associados a elementos adicionais de
dinais estáticas e dinâmicas, que não são
compressão entre os fragmentos. Assim o
resistidas, uma vez que não há suporte
conhecido parafuso ―anti-rotatório‖, é na ver-
ósseo estrutural medialmente.
dade utilizado nesta situação como suficiente para receber grande parte do
elemento de sustentação, aumentando a carregamento, poupando o ambiente da
resistência aos esforços longitudinais de fratura de forças que tenham intensidade
cisalhamento. Adicionalmente resiste ao deformante (implantes de suporte e de
momento fletor pelo seu efeito tirante no sustentação ou Load Sparing). Entre estes
plano frontal, e ao torque rotacional extremos podemos ter situações de graus
posterior. Por estes motivos preferimos diferentes de instabilidade dependendo dos
denominá-lo parafuso trocantérico de elementos de suporte acometidos pela
sustentação (PTS), uma vez que recebe fratura.
grande parte do carregamento aplicado, e
assim contribui com o parafuso deslizante, - DIAGNÓSTICO.
para a estabilidade da reconstrução.
Também placas que apresentem O paciente com fratura trocantérica
dois parafusos deslizantes como a PCP desviada se apresenta com aumento de
(Percutaneous compression plate, Fig.14F) volume na região da coxa e o membro
podem resistir com maior efetividade aos inferior afetado encurtado e em rotação
esforços longitudinais, flexurais e externa, cuja intensidade é maior que nas
rotacionais. Nestas circunstâncias a rigidez fraturas intracapsulares. A deambulação, e
dos implantes aos esforços longitudinais é até mesmo a posição ortostática não são
aumentada significativamente. A estabili- possíveis. O mecanismo de trauma deve
dade longitudinal pode ser resgatada ainda, ser inquirido e, nestes casos, não se
por dispositivos que se utilizam do justificam manobras mais vigorosas para
mecanismo de sustentação como nos avaliação da movimentação do quadril com
32
implantes PHIB. objetivo simplesmente diagnóstico. A dor à
Nos casos em que a tendência a compressão suave e simultânea de ambos
varização se associa à condição de trocanteres é característica. O estado
elevados esforços de cisalhamento, além circulatório dos membros inferiores deve
da redução adequada dos fragmentos, esta ser avaliado pela palpação dos pulsos
tendência ao desvio em varo pode ser pedioso e tibial posterior na busca por
neutralizada por implantes tipo PPED com patologias circulatórias concomitantes. A
um componente adicional de suporte que dorsiflexão e a flexão plantar ativa e
impeça a medialização do fragmento distal passiva do pé devem ser solicitadas e
(placa modular de suporte trocantérico- avaliadas pelo médico, assim como o teste
PMST), ou ainda através de implantes de sensibilidade tátil na região plantar,
PHIB, pois apresentam uma função como screening grosseiro e provisório para
intrínseca de suporte, além da função de distúrbios neurológicos associados. Em
sustentação através dos parafusos de pacientes muito debilitados ou já acamados
bloqueio. previamente ao episódio da fratura,
Estes conhecimentos são funda- evidências de maus tratos devem ser
mentais para o entendimento do comporta- pesquisadas.
mento mecânico da fratura trocantérica e Pacientes portadores de fraturas
suas implicações para a restauração da sem desvio podem se apresentar em
estabilidade, seja pelo restabelecimento do estado ambulatório com ou sem suporte,
suporte ósseo ou pela substituição ou ainda em cadeira de rodas, com queixa
temporária de todo o suporte através de de dor de intensidade variável na virilha,
implantes de fixação (suporte e/ou após episódio de queda. Nesta
sustentação). Nas circunstâncias em que a circunstância, caso um antecedente de
estabilidade pode ser obtida através do trauma não fique bem caracterizado, as
contato ósseo estável entre os fragmentos, possibilidades de fratura patológica ou
os implantes deslizantes terão menor ainda a fratura por fadiga em pacientes
participação no carregamento e atuarão mais jovens devem ser consideradas. De
mais especificamente na função de orientar qualquer forma, toda a circunstância de dor
a impacção natural entre estes fragmentos na virilha deve ser investigada adequada-
(tutor), e assim compartilham do suporte de mente.
carga com o osso (Implantes de compar- O diagnóstico radiográfico deve ser
tilhamento, estabilização ou Load Sharing). feito pela avaliação de imagens em
Por outro lado na impossibilidade da projeção ântero-posterior da pelve e no
restauração dos batentes ósseos o que plano sagital do fêmur afetado, mediante a
implica em instabilidade inerente à fratura, aplicação de discreta tração e rotação
os implantes deverão ser rígidos o interna do membro inferior. Aconselhamos
o perfil verdadeiro para que o paciente não
seja mobilizado em demasia o que pode
provocar dor. A radiografia no plano frontal
evidencia a obliqüidade do traço de fratura,
as regiões envolvidas, assim como o
estado do batente medial. Contudo, a
radiografia efetuada somente no plano
frontal é na maioria das vezes insuficiente
para uma classificação adequada da fra-
tura, principalmente no que diz respeito à
avaliação do batente póstero-medial, que é
fundamental para a determinação da esta- Fig.7. Observe a relação da linha trocantérica
bilidade dos fragmentos ósseos (Fig. 6). (tracejada) com o ângulo cérvico-diafisário (C-D). (A):
Para ângulos menores (varos) a linha trocantérica
projeta-se bem acima do centro de rotação (CR) da
cabeça femoral e, por convenção, tem um valor
negativo. (B): o inverso se dá com ângulos maiores
(valgos), com a projeção da linha trocantérica bem
abaixo do CR da cabeça femoral, que conven-
cionalmente tem valores positivos.

- CLASSIFICAÇÃO.

As fraturas trocantéricas se referem


às fraturas extracapsulares do fêmur
proximal, que se localizam na região
ocupada pelo trocanter maior e menor. Na
situação em que o traço oblíquo da fratura
é sediado ao longo da linha trocantérica ou
logo distal a ela, ou seja, através dos 2
trocanteres, ela é denominada fratura
Fig.6- Radiografia em projeção A-P do quadril direito pertrocantérica. O termo fratura inter-
mostrando fratura trocantérica com pequeno desvio trocantérica é reservado à situação em que
(A). Observe a radiografia do fêmur proximal em
projeção no plano sagital onde se nota um grande o traço, frequentemente transverso ou
fragmento póstero-medial e angulação anterior dos obliquo curto, descreve um trajeto entre os
fragmentos (B). dois trocanteres e não através deles. Esta
descrição morfológica é a base para a
classificação alfa-numérica proposta pelo
Grupo AO e a Orthopaedic Trauma
Desaconselhamos ainda a projeção 33
Association , atualizada em 2007 por
34
radiográfica no plano frontal somente do Marsh et al . De acordo com esta
quadril afetado, uma vez que a observação metodologia todas as fraturas trocantéricas
do quadril contralateral pode nos fornecer são classificadas como 31-A (fêmur [3],
informações importantes para comparação proximal [1] e região trocantérica [A]). As
em caso de traços de fratura de difícil fraturas pertrocantéricas são divididas em
visualização, assim como para a avaliação um grupo, no qual existem apenas 2
da altura do centro de rotação (CR) da fragmentos e o pequeno trocanter está
cabeça femoral que é um parâmetro íntegro (31-A1), e outro multifragmentar em
importante de redução intraoperatória. Com que um dos fragmentos é póstero-medial e
esta informação, evitamos utilizar a referên- envolve o trocanter menor e o córtex
cia genérica de que o CR da cabeça medial adjacente (31-A2). Nas fraturas
femoral deva estar alinhado com uma reta intertrocantéricas (31-A3) existe o envol-
que passa pela extremidade do grande vimento do córtex lateral na região abaixo
trocanter, uma vez que este parâmetro da inserção do músculo vasto-lateral,
depende fundamentalmente do ângulo chamada por alguns autores de parede
cérvico-diafisário (Fig.7). Atenção deve ser lateral. Cada um destes grupos pode ainda
dada também para a possível extensão, ser dividido em subgrupos, de acordo com
sem desvio significativo, do traço de fratura o plano especifico e extensão do traço de
para a região subtrocantérica, o que pode fratura, ou com o número de fragmentos
modificar o planejamento cirúrgico. intermediários (Figura 8).
Fig.8. Classificação AO/OTA. Ver texto para descrição detalhada. Adaptado de Marsh JL, Slongo TF, Agel
JN et al. Fracture and Dislocation Classification Compendium 2007: Orthopaedic Trauma Association
Classification Database and Outcomes Committee. J Orthop Trauma 2007; 21 (suppl 10):S1-S6 34.

Evidentemente que toda clas- importância do batente póstero-medial para


sificação objetiva graduar a severidade da a estabilidade da fratura.
lesão, antever as possíveis complicações e Temos usado rotineiramente a
orientar para o tratamento mais adequado. classificação AO/OTA (1996), muito embo-
Desta forma, quanto mais se conhece ra alguns autores relatem sua dificuldade
sobre o comportamento de uma fratura, prática em função do grande número de
mais podemos aperfeiçoar o método de possibilidades e em relação a sua repro-
35
classificação. Em relação às fraturas dutibilidade. Esta classificação pode
trocantéricas, como em muitas outras, prever a incorporação de variantes e outros
vários autores já chamavam atenção para a tipos pouco comuns de fraturas, como
importância do desvio e da estabilidade constatado em sua recente atualização
34
presumida, e assim de acordo com estes (2007) . Porém quando da utilização da
critérios foram propostas inúmeras classifi- classificação morfológica é preciso uma
cações, das quais destacamos a de Boyd- minuciosa avaliação do ambiente mecâ-
Griffin (1949), Evans (1949) e sua modi- nico resultante, e suas conseqüências
ficação por Jensen e Michaelsen (1975), para a estabilidade da fratura, processo
Tronzo (1975) e Kyle e Gustilo (1979). A este que culmina com a determinação
maioria destes autores ressalta a dos implantes mais adequados à
estabilização dos fragmentos.
- TRATAMENTO. descompensadas devem aguardar a
estabilização da sua condição clínica. Caso
Os objetivos do tratamento do o ato cirúrgico seja postergado além de 48
idoso, vítima de fratura trocantérica, devem horas, medidas preventivas para úlceras de
ser voltados para a reabilitação precoce, no decúbito e infecções do trato respiratório
sentido de se evitar as complicações do devem ser adotadas.
acamamento prolongado, que incluem:
maior mortalidade, maior morbidade pela
ocorrência de pneumonia, doença trombo-
embólica, úlceras de decúbito, e grande
compromisso da qualidade de vida e do
conforto do paciente. A grande incidência
de consolidação viciosa, contraturas articu-
lares e eventualmente distúrbios da conso-
lidação, são complicações adicionais.
Por estes motivos, o procedimento
padrão pressupõe o tratamento cirúrgico
com fixação interna da fratura. Muito
embora a fixação externa possa ser
indicada para pacientes com risco cirúrgico
mais elevado em relação ao habitual para
36
esta condição , como os pacientes ASA
IV, sua utilização não nos parece adequada
dados os excelentes resultados obtidos
com os procedimentos minimamente
37
invasivos . Por outro lado, o fixador Fig.9: Suporte desenvolvido em nosso serviço para a
externo executado mediante anestesia estabilização do membro inferior em pacientes
local pode ser considerado uma alternativa portadores de fratura do quadril; (A e B) revestido com
38 espuma e dotado de um recesso (setas) para evitar o
para estes pacientes . Mais raramente
contato direto do calcanhar com o aparelho. (C): a
ainda, o tratamento conservador com extensão do suporte dá apoio também à coxa e joelho,
mobilização precoce, pode ser e resistência através de paredes laterais de
considerado, uma vez que esta última aglomerado, o que confere grande conforto, sem os
forma de tratamento está associada à inconvenientes da tração cutânea do membro.
elevada mortalidade. Devemos, portanto
durante o processo decisório sobre a forma - A anestesia geral ou espinal pode ser
mais adequada de tratamento, considerar utilizada, sem diferença significativa entre
que no procedimento conservador, mesmo elas na taxa de mortalidade pós-operatória.
em pacientes de alto risco e comorbidades Alguns cirurgiões,assim como nós, dão
significativas, o risco de morte é mais preferência à anestesia espinal em função
elevado (49.4%), quando comparado à da menor incidência de tromboembolismo
mortalidade de 21.6% reportada durante o venoso e menor tendência reportada para a
primeiro ano em pacientes submetidos ao ocorrência de infarto do miocárdio, delírios
39
tratamento cirúrgico . e hipóxia pós-operatória.
- Antibióticos profiláticos intravenosos,
A. Cuidados Peri-operatórios: reduzem significativamente a incidência de
infecções da ferida cirúrgica, do trato
- Recomendamos a utilização de um supor- urinário e respiratório. Existe ainda a
te para o membro inferior afetado,com o discussão sobre a eficácia da dose única
objetivo de promover maior conforto ao intravenosa durante a indução anestésica
paciente, evitando assim o uso de tração ou a utilização de doses adicionais, durante
seja ela cutânea ou esquelética (Fig.9); as primeiras 24 horas pós-operatórias.
- O intervalo entre a internação e o ato Utilizamos de rotina a cefazolina na dose
cirúrgico deve ser fruto de um perfeito equi- de 1-2 g (dependendo do peso corporal do
líbrio entre as condições clínicas do paciente) durante a indução. Três doses
paciente e a necessidade de estabilização adicionais são aplicadas durante as
cirúrgica da fratura. Pacientes mais jovens, primeiras 24 horas pós-operatórias.
estáveis e sem comorbidades podem ser - A prevenção do tromboembolismo
operados em períodos até inferior a 24 venoso (TEV), embora controversa, é
horas, enquanto que pacientes com várias preconizada pelo Colégio Americano de
40
doenças coexistentes e/ou patologias Cirurgiões Torácicos . Vários relatos têm
ressaltado a relação do TEV com a morbi-
mortalidade de pacientes com fratura do métodos incruentos, de modo a se obter
quadril, enfatizando a natureza assinto- um contato ósseo adequado entre os
mática desta afecção. Em um recente fragmentos. A qualidade da redução deve
estudo que avaliou por necropsia as ser observada intra-operatoriamente em
causas de morte em pacientes com fratura relação ao plano frontal (ângulo cervico-
do quadril, observou-se que o trombo- diafisário), sagital (angulação entre os
embolismo pulmonar foi responsável por fragmentos deve ser corrigida
8.1% das mortes e em nenhuma delas foi adequadamente) e rotacional, uma vez que
levantada a suspeita clinica prévia pelo em algumas circunstâncias o fragmento
25
médico assistente . Em nosso serviço proximal pode permanecer em rotação
utilizamos de rotina a prevenção estendida externa.
com enoxaparina 40mg-sbc/dia, que se As fraturas com grande
inicia na internação e se continua por 35 instabilidade, quando sujeitas aos esforços
dias pós-operatórios. decorrentes do posicionamento do paciente
na mesa de fratura, apresentam uma
B. Tratamento Cirúrgico: Conceitos tendência à angulação posterior (posterior
Gerais e Opções de Implantes. sag). Enquanto o fragmento distal se dirige
proximalmente e em rotação externa, o
B1. Conceitos Gerais. A estabilização fragmento proximal sofre varização,
operatória das fraturas trocantéricas se retroversão e se translada posteriormente.
constitui um desafio técnico para o Nesta circunstância a preponderância da
cirurgião, em virtude do ambiente mecânico ação dos potentes músculos adutores
gerado por estas fraturas, que promovem sobre o fragmento distal, induz à
um grande braço de momento para as superposição e impacção do fragmento
forças deformantes a serem neutralizadas proximal na região cominuída da diáfise
pelo implante. Adicionalmente, a qualidade femoral, manifesta na radiografia em perfil
da fixação está comprometida pela baixa por um degrau na região anterior do fêmur
DMO do osso trabecular nos pacientes proximal (Fig 10A).
idosos. Antes de analisarmos as caracte-
rísticas biomecânicas específicas para
cada tipo de implante utilizado na fixação
das fraturas trocantéricas, devemos
considerar os conceitos e técnicas gerais
que podem ser aplicados aos diferentes
processos de estabilização, entre eles:

- Qualidade da Redução:

A estabilidade da fratura trocan-


térica deve ser obtida primeiramente pela
aposição óssea que, independentemente
do tipo de implante utilizado, tem um
grande papel na rigidez da fixação,
reduzindo assim as chances de falha da
osteossíntese. Nenhum implante corrige Fig.10: Radiografia do fêmur, no plano sagital, em
os inconvenientes decorrentes de uma pacientes com fratura trocantérica. (A): angulação
posterior na mesa de tração, onde se observa um
redução inadequada da fratura. nítido degrau anterior entre os fragmentos (seta) (B):
Para as fraturas estáveis, em geral Perda de contato total entre os fragmentos proximal
a redução em mesa de tração é um (anterior) e distal (posterior).
procedimento simples, realizado pela
tração (restauração do comprimento), O não reconhecimento da sobre-
discreta abdução (correção do desvio em posição entre os dois fragmentos nos
varo) e rotação interna discreta do membro planos frontal e sagital, que pode coexistir
fraturado (10-15º, de modo que o centro da com um alinhamento adequado do ângulo
patela se dirija superiormente) para o cervico-diafisário, perpetua o desvio, man-
alinhamento rotacional e a estabilização da tendo assim a instabilidade e tensões ele-
redução. Porém nas fraturas instáveis sem vadas nos implantes a serem introduzidos.
cominuição póstero-medial (em 3 partes), a Outra situação de difícil redução é a resul-
redução também pode ser obtida por tante da perda de contato total entre os
fragmentos como a observada na Fig.10B.
Em qualquer destas duas situações compressão interfragmentária, diminuindo
o objetivo é apor a cortical anterior e medial assim as tensões de cisalhamento.
dos fragmentos proximal e distal e assim Contudo, os benefícios esperados com a
obter um contato ósseo adequado nestas redução em valgo não se mostraram
41
regiões . Para isto, após a abordagem da consistentes e reprodutíveis, quer em
44,45
fratura, o fragmento distal deve ser estudos clínicos como experimentais .
tracionado lateralmente com um gancho
inserido na região do trocanter menor para - Local de fixação e Posiciona-
que assim se proceda à desimpacção entre mento do implante:
os fragmentos. A seguir uma força dirigida
no sentido posterior para anterior deverá A fixação dos implantes a um osso
ser efetuada na região do fragmento distal de resistência mecânica diminuída pela
com o gancho ainda em posição. A baixa DMO pode ser comprometida caso
superfície anterior do fêmur deve ser alguns cuidados não sejam observados. O
palpada para verificação da correção melhor ponto de ancoragem de implantes é
adequada, não correção ou hipercorreção. feito em regiões de maior densidade
Quando a correção adequada é obtida, a mineral óssea, que na cabeça femoral se
tração e rotação interna são efetuadas para situam no centro de rotação (preferen-
se alinhar a fratura em relação ao plano cialmente), e em uma restrita região logo
frontal e ao eixo longitudinal. Uma vez inferior a ele (eventualmente, Fig.11A).
alinhada, a fixação provisória com 1-2 fios
de Kirschner de 3.2mm de diâmetro deve
ser feita, à distância da área pretendida
para a introdução do fio-guia. Um suporte
na região posterior deve ser mantido até o
final da introdução dos implantes. Caso a
opção seja feita por um implante
intramedular, uma pequena incisão lateral é
feita na altura do local pretendido para a
inserção do parafuso, por onde se introduz
o gancho de fratura, e a mesma manobra
descrita acima deve ser efetuada.
As osteotomias para a estabilização
de fraturas instáveis, como as descritas por
Sarmiento e por Dimon Hughston, não se
justificam nos dias atuais em que sistemas
de deslizamento podem tolerar a impacção
gradual dos fragmentos e os sistemas
intramedulares podem prover estabilização
Fig.11. A: Desenho esquemático de corte transversal
de suporte e sustentação de fraturas com ao nível do colo femoral, mostrando as regiões de
instabilidade acentuada. A melhor maneira maior DMO (a,c,e). Adaptado de Bonnaire F, Zenker H
de se obter a estabilização inicial da fratura Lill C et al.Treatment strategies for proximal femur
é através do contato ósseo, realizado fractures in osteoporotic patients. Osteoporos Int
.2005; 16: S93–S10246. B: Desenho esquemático
através de uma redução adequada dos mostrando a associação da posição do parafuso
fragmentos. deslizante na cabeça femoral e o percentual de falhas
Alguns autores preconizam a redu- observadas. Adaptado de Kyle RF. Fractures of the
ção em valgo, como alternativa à redução Hip. In: Fractures and Dislocations. Ramon B Gustilo,
Richard F Kyle,David Templeman Ed. Mosby 1993 pp
anatômica, nas fraturas instáveis, 835 47.
associada à utilização de dispositivos
deslizantes com ângulo maior (freqüente- Os implantes devem se apresentar
mente de 140 ou 150º), com o objetivo de estáveis, sobretudo à rotação, no interior
aumentar as forças que provocam o do fragmento proximal de modo a aumentar
deslizamento do prego e, simultaneamente, a sua capacidade de suporte de carga. São
diminuir o momento fletor sobre o bastante conhecidos os relatos que
42,43
implante . Argumentam ainda que o associam a ocorrência de falha do implante
posicionamento em valgo além de à sua posição nos fragmentos ósseos
compensar o encurtamento em fraturas (Fig.11B), observações estas que são
instáveis, também promove a reorientação válidas para os implantes extra ou intra-
do plano de fratura e assim favorece a medulares.
A distância entre a porção de suporte de cisalhamento e instabilidade axial, o que as
carga do implante no colo femoral e a confere um ambiente mecânico inadequado
32
superfície articular é inversamente aos implantes . A estabilidade inter-
proporcional à resistência da reconstrução, fragmentária é função do tipo de fratura,
como inúmeros estudos têm demonstrado. porém particularmente da orientação do
Parece haver um limite para o sucesso da traço de fratura em relação ao vetor das
osteossintese, mais previsível quando a forças deformantes. Por estes motivos,
46
DMO se encontra acima de 250 mg/cm3 . adotamos a sistemática de indicar os
Contudo a técnica cirúrgica precisa, que implantes com fundamento não só na
implica em redução adequada da fratura, e morfologia (classificação AO/OTA) como
o posicionamento adequado do implante também em nossos conceitos sobre o
são requisitos essenciais para o sucesso ambiente mecânico e a estabilidade da
da fixação. fratura, já descritos.
A relação entre o posicionamento Tão importante quanto conhecer a
do implante e a incidência de falhas na personalidade da fratura, é conhecer as
fixação foi constatada pelos estudos de vantagens e limitações dos implantes,
48
Baumgaertner et al , que descreveram a assim como a importância de uma técnica
distância ponta-ápice (DPA) como cirúrgica adequada. Falhas de implantes na
importante fator preditivo para a ocorrência vigência de reduções inadequadas e/ou
de perda da fixação das fraturas do fêmur posicionamentos imperfeitos, ocorrem
proximal. Segundo estes autores a DPA independente da natureza do sistema de
somada, nos planos frontal e sagital, fixação intra ou extramedular.
depois de corrigida para a magnificação, e
medida em milímetros, não deve ser B2. Implantes Extramedulares
superior a 25 (Fig.12). Mais recentemente Deslizantes (Parafuso/Placa, Deslizante-
se demonstrou que este conceito igualmen- PPED).
te se aplica aos parafusos associados aos
49
implantes intramedulares . Em contraposição aos
sistemas rígidos usados no passado, os
sistemas extramedulares deslizantes foram
introduzidos por poderem suportar maior
carregamento à falência. Muito embora
vários designs diferentes estejam disponí-
veis comercialmente, estes sistemas têm
uma estrutura comum representada por um
parafuso que se fixa à cabeça femoral e
que pode deslizar dentro de um tubo que
se prolonga por uma placa lateral em uma
angulação variável, mais comumente de
135º (Fig.13A). Sua ação mecânica está
em acordo com o principio do tirante de
tração em que o parafuso fica submetido às
tensões trativas e o tecido ósseo no foco
de fratura se sujeita aos esforços
Fig.12: Desenho esquemático mostrando o cálculo da compressivos. Seu design permite que haja
distância ponta-ápice como sendo a soma das
distâncias no plano frontal (A) e sagital (B) depois de a acomodação por migração do
corrigida a magnificação. Este valor não deve ser componente proximal em conjunto com o
superior a 25 milímetros. Adaptado de Baumgaertner parafuso, para uma posição de maior
MR, Curtin SL, Lindskog DM et al. The value of the tip- estabilidade pela impacção progressiva
apex distance in predicting failure of fixation of
peritrochanteric fractures of the hip. J Bone Joint entre os fragmentos. Quando sujeito ao
Surg.1995;77A:1058-1064 48. carregamento no plano frontal, a resultante
que atua no centro de rotação da cabeça
Em suma, os implantes devem ter femoral, com inclinação aproximada de
rigidez suficiente para suportar o ambiente 159º, impõe não só o deslizamento do
mecânico em situações de instabilidade. O parafuso como também um momento fletor
atrito e, portanto o contato entre os que, além de restringir a migração do
fragmentos reduz de maneira significativa parafuso, concentra tensões na região
as tensões sobre o implante. lateral da placa, que assim pode falir por
Particularmente as fraturas trocantéricas fadiga caso os esforços ao implante não
estão sujeitas a grandes tensões de sejam compartilhados com o osso.
trabecular adjacente (Fig.14D); desliza-
mento não só entre o fragmento proximal e
distal, mas também entre eles e a diáfise
(Fig.14E). De particular interesse é o
50
sistema desenvolvido por Gotfried ,
denominado percutaneous compression
plate (PCCP ou PCP), que incorpora os
conceitos de dois parafusos de menor
diâmetro que o parafuso único do PPED
(DHS), com objetivo de aumentar a
resistência rotacional e evitar a fratura
iatrogênica da parede lateral (Fig.14F). Em
nossa avaliação acreditamos que, além da
estabilidade rotacional, a presença de 2
Fig.13. A: A resultante agindo sobre o implante PPED
impõe uma componente vertical (Ff) que tende a fletir parafusos aumenta significativamente a
o parafuso e outra componente paralela (Fa) que resistência do implante em relação a
promove o seu deslizamento no interior do tubo. M: instabilidade longitudinal, como já
Momento fletor. B: Relação exponencial entre ângulo observado experimentalmente, e também
parafuso/placa e taxa de deslizamento. Adaptado de
Kyle RF. Fractures of the Hip. In: Fractures and maior resistência ao momento fletor, que
Dislocations. Ramon B Gustilo,Richard F Kyle,David tende a varizar o fragmento proximal, e ao
Templeman Ed. Mosby 1993 pp 835 47. momento torcional, que tende a rodar o
fragmento proximal posteriormente.
Adicionalmente os locais de inserção dos
Assim, a força resultante pode ser parafusos permitem que a placa tenha uma
decomposta em uma componente vertical extensão na região proximal aos orifícios e
que tende a fletir o implante, e outra na assim provê um batente mecânico
direção do parafuso que tende a promover (suporte) contra a translação lateral do
seu deslizamento. fragmento proximal em caso de violação da
A relação entre estas duas parede lateral.
componentes é fortemente influenciada
pelo ângulo do implante. Implantes de
maior ângulo (140 ou 150º) tendem a
deslizar mais e sofrer menor momento
fletor. O inverso é observado nas placas de
menor ângulo (Fig.13B).
Devemos ter em mente que o
deslizamento se acompanha de translação
no eixo horizontal (offset) e no eixo vertical
(comprimento do membro). Assim para
cada milímetro de migração do prego, se
associa 0.6 mm de diminuição do offset e
0.6 mm de encurtamento do membro, para
implantes de 135º. Embora possa não ser
significativa em relação ao beneficio da
estabilidade promovido por estes implan-
tes, devemos analisar que migrações ex-
cessivas do parafuso se acompanham de
translação igualmente significativa vertical
e horizontal e assim podem ocasionar a
falência do sistema de fixação.
O exemplo mais característico do
parafuso/placa deslizante (PPED) é o
Dynamic Hip Screw (DHS) que por isto é
frequentemente usado como sinônimo para Fig.14 (A-F): Diferentes modelos de parafusos/placa,
deslizantes (PPED). Descrição detalhada no texto.
este grupo de implantes (Fig. 14 A,B).
Inúmeras modificações foram
desenvolvidas subsequentemente, com
vistas a permitir: angulação variável entre a B3. Implantes Extramedulares
placa e o tubo (Fig. 14C); dispositivos de Rígidos (Placas Anguladas)
fixação adicional do parafuso ao osso Neste grupo incluem-se, atual-
mente, as placas anguladas de 95º (seja
com lâmina ou parafuso condíleo- DCS). Outras vantagens como facilidade
Sua utilização é fundamentada, por alguns técnica, tempo cirúrgico e menor agressi-
autores, no fato de algumas fraturas apre- vidade do ato operatório são discutíveis.
sentarem traço paralelo ao parafuso do Os primeiros sistemas intrame-
sistema deslizante extramedular (DHS), o dulares apresentavam complicações, como
que compromete assim a estabilidade da a fratura da região proximal do fêmur pela
fratura em relação aos esforços de cisalha- rigidez do parafuso deslizante (diâmetro 12
mento, como ocorre na fratura com obliqui- mm), fratura do trocanter maior pela
dade reversa, por exemplo. Mecanicamen- inclinação em cerca de 10º em valgo da
te este sistema deve ser rígido promovendo região proximal da haste, fratura na região
a compressão entre os fragmentos através distal do travamento dado pelo parafuso de
dos parafusos implantados pelos orifícios bloqueio (parafusos de diâmetro maior que
52
da placa. Pela sua direção horizontal não 6 mm). Fogagnolo, Kfuri e Paccola
apresenta deslizamento do parafuso, e o relataram complicações técnicas ou mecâ-
momento fletor é de elevada magnitude, nicas em 23.4% dos pacientes submetidos
não só pela sua direção perpendicular aos à implantação de um modelo de haste in-
esforços fletores, como também pelo gran- tramedular curta, em uma série de pacien-
de braço de momento resultante da sua tes em que 74.5% apresentaram fraturas
situação lateral em relação ao centro de instáveis. Segundo os autores as principais
rotação. Este ambiente pode causar a fadi- causas de falha foram os problemas com o
ga do material, principalmente na junção bloqueio do parafuso distal e fratura da
entre o parafuso (ou lâmina) e a placa, parede lateral do trocanter maior.
local onde ocorre a falência do implante. A evolução dos designs introduziu
Estes implantes ainda são considerados novos sistemas com 2 parafusos cefálicos,
como alternativa para o tratamento das de menor diâmetro, diminuindo assim a
51
fraturas de obliqüidade reversa . rigidez de cada parafuso individualmente, e
aumentando a rigidez do sistema como um
B4. Implantes Intramedulares todo, além de permitir menor diâmetro
(Parafusos/Haste Intramedular Bloqueada, proximal da haste. Outras modificações
PHIB) incluíram a redução da inclinação em valgo
da haste para cerca de 4º e diminuição do
Os sistemas intramedulares (PHIB) diâmetro do parafuso de bloqueio para
foram desenvolvidos com o objetivo de cerca de 5mm, possibilidade de inserção
promover maior estabilidade da fratura em dos parafusos deslizantes em diferentes
situações de grande instabilidade, em que ângulos (120º a 130-140º), e opção para
os sistemas extramedulares (PPED) são hastes longas dotadas de curvatura sagital
sobrecarregados e encontram-se em des- (Fig.15 A-E).
vantagem em relação ao ambiente mecâni-
co gerado. As principais vantagens do
sistema intramedular, quando comparado
ao extramedular são:

- Menor braço de momento das


forças deformantes, pela sua posição
intramedular;
- Redução do momento fletor;
- Maior resistência ao varismo do
fragmento proximal;
- Manutenção do deslizamento
entre os fragmentos, porém limitando sua Fig.15 (A-E). Diferentes modelos de Hastes
magnitude em função do efeito de suporte Intramedulares (PHIB). Descrição detalhada no texto.
obtido pela sua intromissão no foco de
fratura; Estas modificações resultaram em diminui-
- Efeito de sustentação, dado pelo ção da incidência de complicações, o que
(s) parafuso (s) de bloqueio distal, que por sua vez provocou uma tendência à
aumenta sua eficiência na correção e sua maior utilização destes implantes, dadas
manutenção em caso de desvios longi- suas vantagens mecânicas. A opção por
tudinais (maior estabilidade longitudinal). hastes mais longas permite, em caso de
fragilidade maior que o habitual para estas
condições de fratura, a blindagem de uma
extensa área do fêmur acometido. Embora ausência de instabilidade rotacional e cola-
54
de freqüência reduzida, a penetração medi- pso em varo do fragmento proximal .
al do parafuso para o interior da articulação Biomecanicamente, a interação entre os
ainda é relatada. O ambiente mecânico dois parafusos parece ser determinante na
diferencial a que estão sujeitos os 2 para- gênese destas complicações, uma vez que
fusos deslizantes pode ocasionar a com a remoção do parafuso superior, o
migração medial de um e a extrusão do PFN se comporta de maneira semelhante
outro. Esta complicação, denominada efeito aos outros modelos de hastes intramedu-
em Z, foi descrita inicialmente para a ocor- lares bloqueadas. Mais recentemente no-
rência do deslizamento do parafuso mais vos modelos foram introduzidos, funda-
distal, na circunstância de instabilidade mentados no conceito de parafusos
55
póstero-medial, enquanto que o parafuso cefálicos convergentes , que objetivam
proximal migra para o interior da cabeça promover maior rigidez e assim prevenir o
femoral. O fenômeno oposto, de desliza- colapso excessivo dos fragmentos em fra-
mento do parafuso proximal e protrusão turas instáveis, nas quais se espera maior
medial do parafuso distal foi denominado deslizamento dos implantes (Fig.17.A e B).
efeito em Z reverso. A instabilidade do Outro sistema preconiza o uso de para-
fragmento proximal pode levar também a fusos integrados que possibilitam a com-
extrusão dos dois parafusos (Fig.16A-C). pressão linear intraoperatória e maior esta-
56
bilidade rotacional . Embora os resultados
preliminares sejam promissores, ainda que
para fraturas instáveis, maior número de
casos deve ser avaliado.

Fig.17. Novos designs de haste medular bloqueada


incorporam ao conceito de pregos cefálicos desli-
zantes (A), a montagem convergente que objetiva
maior rigidez do sistema de fixação (B)55 ou ainda
preconizam os parafusos integrados de compressão
linear (C e D)56
Fig.16. Paciente do sexo feminino com 85 anos de
idade apresentando fratura trocantérica instável (A). A
instabilidade do fragmento proximal culminou com a
extrusão dos parafusos e colapso em varo (B e C). B5. Implantes Artroplásticos

A migração medial ocorre também em Os autores são partícipes do conceito


caso de parafuso único, e é mais freqüen- de que a fixação interna é o procedimento
temente observada quando há envolvi- de eleição para quase a totalidade das
mento do trocanter maior e do batente fraturas trocantéricas. Nos raros casos em
póstero-medial, o que permite conjecturar que a fratura acomete pacientes portadores
que a falta de suporte na porção proximal de doença articular degenerativa sintomáti-
da haste pode permitir seu balanço. Uma ca, a artroplastia total deve ser indicada.
vez que este movimento pode ser restrito Observe-se que na substituição protética
pelo fragmento proximal, durante o car- em fraturas do fêmur proximal, a incidência
regamento, o parafuso pode ser projetado de luxação pode atingir 18%, e o procedi-
53
para o interior da articulação . mento cirúrgico é mais extenso, com
Esta mecânica justifica a ocorrência dificuldades técnicas adicionais como a
da penetração do parafuso ainda que na estabilização do trocanter maior, caso em
que as placas trocantéricas devem ser as- O atrito e, portanto o contato entre
sociadas. As fraturas patológicas devem ter os fragmentos reduzem de maneira signifi-
32
manejo oncológico adequado, mais cativa as tensões sobre o implante .
freqüentemente com ressecção ampla, e A estabilidade interfragmentária é
substituição por endopróteses cimentadas. função da localização e orientação do traço
Mais polêmica é a indicação da artro- de fratura em relação ao vetor das forças
plastia em pacientes com fraturas instáveis, deformantes, assim como da intensidade
não patológicas e não associadas com do acometimento das estruturas de suporte
doença articular degenerativa, porém em do fêmur proximal, que podem gerar
situações nas quais se prevê a dificuldade diferentes graus de instabilidade em
de redução e estabilização dos fragmentos. relação aos eixos longitudinal, ântero-
Embora fundamentada no preceito de su- posterior e médio-lateral.
porte de carga imediato e recuperação fun- Uma vez que os implantes tam-
cional precoce, é preciso considerar a ex- bém apresentam características mecâni-
tensão do procedimento e as complica- cas distintas, e resistência diferencial
ções associadas, como a maior duração e em relação ao carregamento nos vários
sangramento do procedimento cirúrgico, a eixos, sua utilização deverá ser norteada
elevada taxa de luxação, assim como as pelo ambiente mecânico provocado pela
complicações inerentes à artroplastia. Fre- fratura.
quentemente implantes não convencionais Desta forma a avaliação, o enten-
são necessários. A artroplastia bipolar, a dimento dos requisitos de estabilidade e as
despeito da redução da incidência de características do implante devem ser
luxação, tem sua utilização associada à analisados em conjunto, no sentido de
penetração acetabular do implante. O promover a estabilidade da fratura.
seguimento de apenas 1 ano deste proce- Por estes motivos, em nosso
dimento, como observado rotineiramente serviço, adotamos a sistemática de agregar
na literatura de fraturas trocantéricas, é os grupos e subgrupos da classificação
insuficiente para detectar a real freqüência morfológica AO/OTA, utilizando como
desta complicação. critério os conceitos sobre o ambiente
mecânico e a estabilidade da fratura, para
C. Indicação dos Implantes que só assim possamos indicar o implante
que atenda aos requisitos de uma
Os implantes utilizados para a estabilidade adequada da reconstrução.
fixação das fraturas trocantéricas devem ter Estas informações encontram-se resumi-
rigidez suficiente para suportar o ambiente das na Figura 18.
mecânico ocasionado pelas forças
deformantes em situações de instabilidade.

Fig.18. Principais grupos e subgrupos da classificação AO/OTA, agregados de acordo com o ambiente mecânico
resultante. Ver texto para descrição detalhada. PPED= Parafuso/Placa extramedular de deslizamento, PHIB=
Parafuso/Haste intramedular bloqueada, PTS: Parafuso Trocantérico de Sustentação, PCP= Placa de compressão
percutânea, PMST: Placa Modular de Suporte Trocantérico, TT=Tirante de Tração, PA= Placa Angulada. P-M=
Póstero-Medial.
Deste método resultaram cinco abaixo da linha trocantérica. Embora todas
diferentes grupos de fraturas com caracte- estas fraturas tenham estabilidade intrín-
rísticas mecânicas diferentes (Grupo I fratu- seca e tratamento semelhante, procuramos
ras sem desvio, Grupo II com instabilidade diferenciar os casos em que o trocanter
longitudinal, Grupo III fraturas com insta- menor é envolvido pelo traço de fratura.
bilidade póstero-medial, Grupo IV fraturas Esta diferenciação tem somente o objetivo
com instabilidade lateral e Grupo V, de alertar o cirurgião para os casos de
fraturas com instabilidade combinada). fratura sem desvio, em que extensões
Evidentemente, como já discutido muito discretas e de difícil visualização,
na mecânica das fraturas, estes grupos frequentemente espirais curtas, somente
referem-se à instabilidade predominante, são observadas intraoperatoriamente.
uma vez que em maior ou menor grau Eventualmente existe a possibilidade dos
todos os eixos estão envolvidos no fragmentos se desviarem no ato cirúrgico
carregamento estático ou cíclico, e assim durante a fresagem, ou durante a intro-
podem contribuir para o desvio dos dução do parafuso (sobretudo no quadril
fragmentos. Características particulares de esquerdo em que a fresagem tende a
cada grupo, oriundas do envolvimento de provocar a rotação externa e assim desviar
estruturas adicionais de suporte que o fragmento proximal). Desta forma
possam dar personalidade própria ao consideramos as seguintes situações:
ambiente mecânico da fratura, são
consideradas como subgrupos (2 sub- A. Fraturas Estáveis (4.8%): Fraturas com
grupos para cada grupo), que descrevemos 2 fragmentos ao longo da linha trocan-
a seguir. térica, sem desvio, em que a única
Saliente-se o fato de que o objetivo perturbação da anatomia radiográfica do
desta abordagem está longe de ser a fêmur proximal é o traço de fratura. A
proposição de uma nova classificação, mas fixação de eleição é feita por implantes ex-
tão somente o de analisar os tipos tramedulares deslizantes. O contato entre
morfológicos da classificação AO/OTA, à os fragmentos provê uma estabilidade tri-
luz do ambiente mecânico resultante, em axial e assim pouco deslizamento do
seus diferentes grupos e subgrupos e, parafuso é observado (Fig.19 A-E).
desta forma propor o método de fixação
mais adequado com os implantes
disponíveis.
Nesta abordagem os eixos de
instabilidade são considerados em relação
à topografia da fratura, ao envolvimento
dos batentes ósseos e ao desvio primário
dos fragmentos principais. Assim, de
acordo com um levantamento retrospectivo
de 331 radiografias de pacientes
acometidos por fraturas trocantéricas e
tratados inicialmente em nosso serviço, ou
encaminhados para tratamento após a
perda da fixação primária, as ocorrências
mais encontradiças foram: Fig.19 (A-E): Fratura sem desvio, estável. O contato e
a estabilidade entre os fragmentos promove pouco
I- Fraturas Sem Desvio (6.3%) : deslizamento do parafuso. PPED= Parafuso/Placa
extramedular, de deslizamento.
Referem-se somente às fraturas
sem desvio significativo dos 2 únicos B. Fraturas com Instabilidade Potencial
fragmentos presentes (proximal e distal) e, (1.5%): Inclui as fraturas também com 2
portanto com estabilidade nos três eixos fragmentos e sem desvio, em que o traço
(estabilidade tri-axial). Nestes casos o de fratura envolve o trocanter menor. Em 2
ambiente mecânico pressupõe que as pacientes deste subgrupo observamos
forças deformantes não foram capazes de fratura trocantérica com extensão distal do
superar a estabilidade intrínseca da fratura. traço de fratura, não reconhecido préopera-
A morfologia radiográfica do fêmur proximal toriamente, que se desviou durante o
só é perturbada pela presença do traço de período pós-operatório. Portanto uma vez
fratura que se localiza ao nível ou logo
identificada esta situação preoperato- A. Ausência de instabilidade póstero-medial
riamente, placas mais longas com 3 funcional (10.7%):
parafusos abaixo da extremidade distal da Nesta circunstância, o deslizamen-
fratura devem ser utilizadas para evitar a to entre os fragmentos pelo plano de fratura
perda da fixação durante a evolução pós- promove o encurtamento, porém o contato
operatória. (Fig.20A-F). entre os dois córtices mediais (do
fragmento proximal e distal) é mantido e
assim pouca tendência ao varismo do
fragmento proximal é observada. Nestas
fraturas de elevado cisalhamento longitu-
dinal entre os fragmentos, enquadram-se
os tipos morfológicos descritos como 31-
A1.3 e suas variantes (1) ou (2) da
classificação AO/OTA, assim como outros
casos onde a situação de um traço de
fratura bem verticalizado domina o
ambiente mecânico da fratura, como pode
ocorrer no tipo 31-A1.1. (Fig.21).

Fig 20. Fratura sem desvio com instabilidade potencial


(A), não observada na radiografia pré-operatória(B) ou
pós-operatória imediata (setas, C e D). E: fratura no
local da extensão distal do traço trocantérico, que foi
resolvida pela utilização de uma placa mais longa
(Seta, F). PPED= Parafuso/Placa extramedular, de
deslizamento, PHIB= Parafuso/Haste intramedular
bloqueada.

II- Instabilidade Longitudinal (24.0%):

A instabilidade longitudinal é uma


conseqüência inevitável da solução de
Fig.21. Fratura com instabilidade longitudinal (A,B,C),
continuidade estrutural do fêmur proximal e
tratada com PPED associado a PTS. PPED=
assim está presente em maior ou menor Parafuso/Placa extramedular de deslizamento, PTS:
intensidade em todas as fraturas Parafuso Trocantérico de Sustentação, PCP= Placa
trocantéricas. Desta forma restringimos o de compressão percutânea , PHIB= Parafuso/Haste
termo instabilidade longitudinal à condição intramedular bloqueada
de um ambiente mecânico dominado por A estabilização destas fraturas
tensões axiais e, portanto quando ocorre requer a neutralização dos elevados esfor-
como forma predominante de instabilidade ços de cisalhamento inter-fragmentário nos
nas fraturas com traço simples em duas planos, frontal e sagital. Isto pode ser feito
partes, ainda que na existência de contato através de implantes tipo PPED (DHS), que
ósseo entre os fragmentos. Nestas atualmente é o padrão ouro para o
circunstâncias, as elevadas tensões de tratamento destas fraturas quando se
cisalhamento na superfície fraturária, considera também a relação custo/
decorrente de um traço de fratura mais benefício. Neste caso aconselhamos a
vertical nos planos frontal e sagital, implantação de um parafuso adicional ―anti-
ocasionam a instabilidade longitudinal rotatório‖, na verdade aqui com função de
ainda que na ausência de outras ins- aumentar a rigidez da fixação aos esforços
tabilidades resultantes do comprometi- longitudinais. Adicionalmente estes parafu-
mento do batente lateral e póstero-medial. sos funcionam como tirante de tração em
Desta forma o fragmento distal desliza relação ao momento flexural frontal e
proximalmente pelo plano da fratura, em também conferem maior resistência aos
virtude das elevadas tensões de esforços torcionais (Parafuso Trocantérico
cisalhamento, manifestando-se assim por de Sustentação- PTS).
encurtamento do osso. Na predominância Excelentes resultados têm sido
da instabilidade longitudinal devemos recentemente relatados com o uso de
reconhecer duas situações distintas: parafusos anti-rotatórios, ou de sustenta-
57,58
ção .
O sistema de placa de compressão modulares de suporte trocantérico (PMST),
percutânea (PCP) é particularmente eficaz por onde se introduz um PTS podem ser
na rigidez contra as tensões longitudinais uma opção adequada. Os implantes tipo
de cisalhamento, em virtude de apresentar PCP, simultaneamente, fornecem maior
2 parafusos cefálicos de menor diâmetro ao estabilidade rotacional, axial e suporte
invés de 1 parafuso único como no DHS,
porém é de difícil acesso comercial e de
maior custo. Os sistemas intramedulares
(PHIB) podem estabilizar o ambiente mecâ-
nico de cisalhamento, quer pelo uso de 2
parafusos cefálicos como pelo mecanismo
de sustentação, porém a relação custo/
benefício deve ser considerada.
Devemos observar, contudo as
dificuldades técnicas quando da perda de
contato total entre os fragmentos ao nível
do foco de fratura (Fig.1). Nesta condição a
redução frequentemente é difícil, muitas
vezes requerendo redução aberta direta e,
portanto, dificulta procedimentos mínima-
Fig.22.Fratura 31-A1.2 (A,B e C) tratada somente com
mente invasivos. Após a redução, a
PPED, sem o parafuso trocantérico de sustentação
utilização de um suporte posterior na região (D). Observe o grande cisalhamento 3 semanas após
do fragmento distal e a fixação provisória a osteossintese (E). PPED= Parafuso/Placa
da fratura, facilita a osteossintese em extramedular de deslizamento, PTS: Parafuso
posição adequada. Trocantérico de Sustentação, PCP= Placa de
compressão percutânea , PHIB= Parafuso/Haste
B. Com instabilidade póstero-medial intramedular bloqueada
funcional (13.3%):
Neste caso embora exista o supor- translacional, sendo, por isto, também
te medial representado pelos córtices considerados como indicação de eleição
mediais dos dois fragmentos, a incompe- para este tipo de fratura.
tência funcional deste batente decorre do Os implantes medulares, com as
defeito na cortical póstero-medial do frag- mesmas ressalvas de custo/benefício,
mento distal. Por este defeito se intromete podem ser utilizados, uma vez que
a região medial e distal do fragmento proxi- apresentam uma função intrínseca de
mal, que assim irá se alojar no interior da suporte, além da função de sustentação
cavidade medular, e produzir uma deformi- através dos parafusos de bloqueio.
dade em varo do fragmento proximal.
Desta forma, ainda que funcionalmente, III- Instabilidade póstero-medial (59.7%):
teremos uma incompetência do batente
póstero-medial, manifesta pelo varismo do Ocorre em caso de comprome-
fragmento proximal (Fig.22). Este ambiente timento do batente póstero-medial, respon-
mecânico ocorre principalmente nos casos sável pela estabilidade em relação ao
descritos como 31-A1.2, nos quais a ten- momento fletor no plano frontal e sagital, e
dência à varização do fragmento proximal em relação aos esforços torcionais.
pode existir mesmo após a redução da Sempre associada à instabilidade
fratura, em virtude da rotação e cisalha- longitudinal, o ambiente mecânico destas
mento entre os fragmentos. Por este fato, fraturas é manifesto pelo encurtamento,
além da redução adequada dos fragmen- varização, angulação anterior e rotação
tos, esta tendência ao desvio rotacional e posterior do fragmento proximal, uma vez
em varo, pode ser neutralizada por que estas tensões não são resistidas em
implantes extramedulares (PPED) com um função da falta de suporte ósseo póstero-
parafuso adicional, aqui sim com função medial.
anti-rotatória, além da função tirante de Tendo em vista que a parede
tração em relação ao momento flexural, no lateral está preservada neste tipo de
plano frontal, que tende a varizar o instabilidade, o mecanismo de tirante de
fragmento proximal. Alternativamente, a tração frontal não está acometido e assim a
adição de um suporte lateral impede a restauração de um ambiente mecânico
translação entre os fragmentos, necessária adequado, requer primariamente a
também à varização e assim as placas reconstrução do batente póstero-medial e
secundariamente da estabilidade longitu- tirante de tração (TT) que, simultanea-
dinal e rotacional. Assim, duas circuns- mente, provê suporte lateral e maior
tâncias distintas podem ser observadas em resistência dinâmica ao desvio em varo do
relação ao ambiente mecânico: fragmento proximal.

A. Instabilidade Póstero-medial Estrutural B. Instabilidade Póstero-medial Estrutural


Potencial (54%): Patente (5.7%): Nesta circunstância, a
Esta fratura em três partes apre- cominuição do batente póstero-medial difi-
senta um fragmento póstero-medial único culta a restauração do suporte ósseo.
e, portanto sem cominuição (Fig.23). A instabilidade longitudinal
promove encurtamento importante, e a
instabilidade póstero-medial origina ins-
tabilidade rotacional e flexural. Incluem-se
neste grupo, as fraturas de classificação
morfológica 31-A2.2 e 31-A2.3, com suas
variantes, além dos casos com a
cominuição de pequeno fragmento da
extremidade do grande trocanter, que não
irá interferir na estabilidade da fratura
(Fig.24).

Fig.23. Fratura com instabilidade póstero-medial


potencial (A, B e C), em que a redução adequada é de
grande importância para a estabilização. Cuidado
adicional com a parede lateral deve ser observado.
Atente para a inadequação da redução e fixação não
complementada para restaurar a estabilidade
mecânica longitudinal e póstero-medial. PPED=
Parafuso/Placa extramedular de deslizamento, PMST:
Placa Modular de Suporte Trocantérico, TT=Tirante de
Tração, PCP= Placa de compressão percutânea ,
PHIB= Parafuso/Haste intramedular bloqueada

Nesta condição, mais do que o tipo de Fig.24. A-C: Fratura com instabilidade póstero-medial
implante, tem grande relevância a redução estrutural patente que inclui os tipos morfológicos
e fixação adequadas que podem restaurar AO/OTA 31-A2.2 e 31-A2.3. A opção por implantes
o suporte ósseo e assim promover um PPED deve considerar que o tirante de tração tem a
função de sustentação e assim receberá grande parte
ambiente mecânico propício à consolidação do carregamento. D: Observe que o fio de aço
dos fragmentos em boa posição anatômica. utilizado (de diâmetro insuficiente para resistir ao
Inclui-se neste grupo as fraturas 31-A2.1 e carregamento), E: se rompeu precocemente e assim,
algumas variantes onde exista fratura ou mesmo com redução adequada da fratura houve o
colapso em varo e arrancamento da placa devido a
cominuição de pequeno fragmento da falta de suporte medial.
extremidade do trocanter maior, que não irá
interferir na estabilidade dos fragmentos Este ambiente mecânico requer
principais da fratura. Mecanicamente, neste assim, a estabilização mediante o suporte e
caso, a estabilidade pode ser obtida com a a sustentação, feitas preferencialmente por
redução acurada e a fixação com implantes PHIB. Como segunda opção,
implantes convencionais PPED associados pode-se justificar a utilização de implantes
à um parafuso superior de sustentação extramedulares somente quando asso-
(PTS) com a função de aumentar a ciados à diminuição das tensões rotacio-
resistência aos esforços longitudinais, são nais, flexurais e longitudinais, feita pelos
usualmente suficientes. Contudo a implantes PCP. Os dispositivos tipo PPED,
possibilidade de violação da parede lateral, além de estarem associados à migração
que impõe assim um ambiente mecânico excessiva, comprometendo a estabilidade
de instabilidade combinada a este tipo de em outros planos, sua implantação pode
fratura, nos leva a aconselhar a utilização provocar a ruptura da parede lateral
da placa modular de suporte trocantérico, transformando o ambiente mecânico em
que pode ser igualmente substituída pelo
uma instabilidade combinada. Desta forma
só se pode considerar sua utilização se B. Instabilidade Lateral + Longitudinal
associado à fixação tipo tirante de tração (0.9%):
(TT) do grande trocanter As fraturas obliquas reversas
simples (31-A3.1) apresentam um ambiente
IV. Instabilidade Lateral (1.5%): mecânico único em que os esforços
longitudinais são paralelos à direção dos
A integridade da parede lateral parafusos deslizantes e assim o fragmento
resiste à translação lateral do fragmento proximal desliza lateralmente caso não haja
proximal e, através do mecanismo tirante suporte mecânico lateral. (Fig. 26).
de tração, aos momentos fletores no plano
frontal que tendem a varizar o fragmento
proximal. A mecânica da produção do
desvio em varo, neste caso, é dependente
em parte das tensões axiais, mas
principalmente pela ação dinâmica da
musculatura abdutora, que mesmo na
presença de suporte ósseo medial
adequado, utiliza este ponto de contato
como fulcro (pivô) para a ação do momento
fletor. Inclui-se neste grupo as fraturas de
morfologia 31-A3.1 e 31-A3.2. O ambiente
mecânico, contudo, difere de acordo com o
tipo de descrição morfológica citada:
Fig. 26. A-C: Fratura trocantérica com instabilidade
lateral e longitudinal (obliqüidade reversa, 31-A3.1).D:
A. Instabilidade Lateral + Flexural (0.6%): Os dispositivos intramedula-res com 2 parafusos
Nas fraturas 31-A3.2, os sistemas cefálicos devem ser utilizados, para maior resistência
extramedulares não dão estabilidade ao ao cisalhamento (instabilidade longitudinal).
sistema caso a força deformante do glúteo
médio não seja neutralizada através do A estabilização mecânica requer,
tirante de tração. Desta forma o tipo de portanto a utilização de um suporte lateral,
síntese deve observar esta condição. A isto porque tanto nos implantes
estabilidade da reconstrução da fratura, extramedulares deslizantes como nos
neste caso, requer a restauração do intramedulares, a direção dos parafusos
mecanismo tirante, que é realizado pela favorece o encurtamento (deslizamento por
parede lateral do fêmur quando da ação da cisalhamento). No caso de implantes PHIB,
musculatura abdutora, seja estaticamente a própria haste tem a função de suporte
através de dispositivos de suporte e contra o movimento lateral do fragmento
sustentação (PHIB) ou dinamicamente proximal e resistência aos esforços
através da associação de um tirante de longitudinais quando se utiliza de 2
tração (TT) à síntese convencional com parafusos deslizantes (Fig.25), enquanto os
implantes PPED (Fig. 25). sistemas extramedulares (PPED), neces-
sitam de suporte adicional, como a placa
modular de suporte trocantérico (PMST),
através da qual deve-se introduzir um
parafuso de sustentação para aumentar a
resistência estática às tensões longitu-
dinais e ao momento fletor frontal. Outra
alternativa quando da utilização dos
implantes PPED, seria a associação com o
tirante de tração, que fornece estabilidade
lateral dinâmica, assim como suporte
estático ao fragmento proximal. A utilização
de placas anguladas pode ser indicação
alternativa, desde que obedecidos os
Fig.25. A: Fratura com instabilidade lateral e preceitos da fixação rígida que ela envolve
instabilidade flexural acentuada.B: Observe a e, portanto deve-se procurar a redução
inadequação da síntese que além de não restaurar a
anatômica e compressão interfragmentária.
estabilidade lateral, teve o parafuso implantado em
posição imprópria. C: O resultado esperado nesta Neste caso o plano do parafuso condíleo
circunstância, só pode ser a instabilidade flexural com ou da lâmina situam-se em plano diferente
colapso em varo e arrancamento do parafuso.
do plano de fratura e, portanto oferecem e sustentação oferecidos pelos PHIB
resistência ao desvio longitudinal. Contudo (Fig.27).
os momentos fletores na junção do implan-
te são de grande intensidade devido a sua
inclinação em relação à resultante do
quadril. Desta forma a ruptura por fadiga
pode ser observada. O respeito à restrição
de carga cíclica deve ser indicado.

V. Instabilidade combinada (tri-axial


8.5%):
Nestas fraturas, que inclui o tipo
morfológico 31-A3.3 e variantes, existe a
perda da estabilidade longitudinal pela falta
do suporte entre os fragmentos principais, Fig. 27 (A-G) Fraturas trocantéricas com instabilidade
combinada sem cominuição lateral e/ou póstero-
da estabilidade translacional pelo envol- medial. B e C:Estas fraturas devem ser estabilizadas
vimento da parede lateral, e da estabilidade preferencialmente por implantes PHIB (D).
em relação aos momentos fletores angu- E,F:Variante da fratura A3.3 em que há o traço
lares e rotacionais em virtude do compro- pertrocantérico além da fratura da parede lateral e
comprometimento do trocanter menor. G: Observe o
metimento do batente póstero-medial, seja bom resultado com a fixação por PPED + TT, uma vez
pela presença de um grande fragmento ou que a mecânica da reconstrução foi respeitada com
cominuição do trocanter menor. tirante de tração de resistência mecânica adequada à
A combinação destas instabilida- sua função estrutural.
des gera um ambiente mecânico adverso,
com tendên-cia a varização, retroversão do B. Fraturas com cominuição da parede
fragmento proximal, angulação sagital lateral e/ou do batente póstero-medial
anterior da fratura e encurtamento. Neste A3.3(2) (4.0%): O ambiente mecânico
caso, quase a totalidade do carregamento gerado neste caso, associado à dificuldade
será trans-ferido ao implante. Devemos de reconstrução da estabilidade mecânica
observar que esta circunstância pode estar em todos os 3 eixos requerem a utilização
presente quando do acometimento da de implantes que, simultaneamente produ-
parede lateral e de instabilidade póstero zam suporte e sustentação como os PHIB.
medial que por si só são suficientes para Dois parafusos deslizantes na haste
ocasionar instabilidade longitudinal. aumentam a estabilidade também nos 3
Por outro lado em casos de eixos. Desta forma a indicação de hastes
instabilidade póstero-medial em fraturas intramedulares tem prioridade sobre quais-
multifragmentares, durante o processo de quer outras formas de fixação. Outras for-
fresagem para implantação da placa tubo mas alternativas de fixação vão requerer o
pode-se iatrogenicamente promover-se a suporte lateral, fexural e torcional.(Fig. 28).
fratura da parede lateral. Desta forma
podemos reconhecer nas fraturas com
instabilidade tri-axial, as situações de:

A. Fraturas sem cominuição da parede


lateral e do batente póstero-medial-A3.3(1)
(4.5%): Nesta circunstância o ambiente
mecânico de estabilidade póstero-medial
pode ser restaurado pela redução adequa-
da dos fragmentos e a estabilidade lateral
através do suporte ao fragmento lateral, e
restabelecimento do mecanismo tirante
(dinâmico).
Desta forma implantes tipo PPED
só devem ser utilizados se associados ao Fig.28. A e B:Fratura trocantérica com instabilidade tri-
implante de tirante de tração que, axial com cominuição lateral e póstero-medial.
Observe esta fratura em uma paciente de 89 anos, em
simultaneamente, provê suporte ao frag- que há comprometimento de todo o suporte do fêmur
mento lateral e estabilização dos esforços proximal, incluindo a extensão distal do traço de
flexurais dependentes da musculatura fratura. C: Nesta paciente, a utilização de suporte
abdutora. A opção de eleição, contudo, é a lateral, aumento da estabilidade longitudinal e flexural
foram suficientes para manter a estabilidade até a
substituição das instabilidades pelo suporte consolidação da fratura (D e E).
Enfatizamos que muito embora - REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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