Você está na página 1de 32

!

"#$%&'

'"789:;<=>?7@"A@"7>B:;8@CD:E"*:FF@"789:;<=>?7@">@"FG@"B:;8@CD:E
01 DE AGOSTO DE 2012 EDIÇÃO # 01 | ANO 01

!"#$%
&'%()'
!"#$%&'(#)*!+,-./012*345*4*
6'"'(#$4*7)*8%9%()*%*%:;6'"'(#$4*
7)(*<%=)>?%(*!:#%$'4$%(

!"#$%&'()$&*+",&" -0*,'$&*+!4",'" 0$"6'/'*2!"


-&.*'*,!"/01!"&"'" %!/5+#('"6.'4#/&#.' ,!4"6.#(4
.&'23!",!"$&.(!40/
EDITORIAL
A PRIMEIRA REVISTA COM CONTEÚDO
EXCLUSIVO SOBRE O CACD NO BRASIL!
  Pela   primeira   vez   no   mercado,   a   Revista   Sapientia   é   uma  
…‘’‹Žƒ­ ‘ †‡ …‘–‡ï†‘• †‹”‹‰‹†‘• ‡•’‡…‹Ƥ…ƒ‡–‡ ƒ‘• …ƒ†‹†ƒ–‘• ƒ‘
Concurso   de   Admissão   à   Carreira   de   Diplomata.   O   Curso   Sapientia,  
preparatório   para   o   CACD,   apresenta   com   grande   entusiasmo   esta   nova  
iniciativa,  desejando  aos  leitores  que  aproveitem  ao  máximo  tudo  o  que  foi  
preparado  com  tanto  esmero  a  vocês!
  Espaço  democrático,  a  Revista  Sapientia  trará  mensalmente  artigos  
e  opiniões  de  personalidades  do  cenário  político  e  acadêmico  nacional,  além   Direção  Geral
de   entrevistas   com   diplomatas   que   relatarão   suas   experiências   na   carreira   e   Priscila  Canto  Dantas  do  Amaral
darão   preciosas   dicas   aos   que   estão   em   busca   da   realização   do   sonho   de  
ingresso  no  Ministério  das  Relações  Exteriores  (MRE).  Oferecemos,  também,   Coordenador  e  Editor-­‐Chefe
—‡•’ƒ­‘‰”ƒ–—‹–‘†‡…Žƒ••‹Ƥ…ƒ†‘•ƒ•‡­ ‘Dz”‘“—‡ƒ’‹‡–‹ƒdzƒ‘•‹–‡”‡•-­‐ Sílvia  Carolina  Sebben
sados   em   vender,   comprar,   doar   ou   trocar   materiais   de   preparação   para   o  
CACD.    Além   disso,   como   bom   humor   e   criatividade   não   podem   faltar   na   Editor
preparação  de  um  candidato   que   se   preze,   teremos   sempre  um  espaço  para   Žž˜‹‘‘‰±”‹‘ ‡Ž‹š†ƒ‹Ž˜ƒ
ƒ•…Šƒ”‰‡•‹–‡Ž‹‰‡–‡•†‡ƒ”Ž‘•ƒ–—ơ‡…”ؐ‹…ƒ•ƒ•‡­ ‘Dz‹†ƒ†‡‘…—”-­‐
•‡‹”‘dzǤ ‘†‡‹š‡†‡…‘ˆ‡”‹”ǡƤƒŽ‡–‡ǡƒ•‡­ ‘Dzƒ’‹‡–‹ƒ †‹…ƒdzǡ’ƒ”–‡‡ Revisão
que   selecionamos,   por   todo   o   Brasil,   eventos   e   congressos   que   acontecerão   Claudia  R.  D.  Simionato
ao  longo  do  mês  com  temas  pertinentes  ao  concurso.
  A   edição   inicial   da   Revista   Sapientia   tem   a   satisfação   de   poder   Colaboradores
…‘–ƒ”…‘…‘Žƒ„‘”ƒ­Ù‡•†‡’‡•‘ǣ‘‡–”‡˜‹•–ƒ†‘†‘²•±‡Ž•‘—‹œ—‡•
ƒ”Ž‘•ƒ–—ơ
‘”‹ǡƒ–—ƒŽ‹‹•–”‘†ƒ‡ˆ‡•ƒ‡‡šǦ‹‹•–”‘†ƒ•‡Žƒ­Ù‡•š–‡”‹‘”‡•Ǥƒ
Claudia  R.  D.  Simionato
•‡­ ‘ Dz’‹‹ ‘dzǡ †”‹ƒƒ ”–ŠƒŽ „†‡—”ǡ …‘‘”†‡ƒ†‘”ƒ †‘   ‘Ž‹…›
‡–‡”‡’”‘ˆ‡••‘”ƒ†‡‡Žƒ­Ù‡• –‡”ƒ…‹‘ƒ‹•†ƒǦ‹‘ǡ‡•…”‡˜‡•‘„”‡ƒ
Edição  de  Arte
…ƒ’ƒ…‹†ƒ†‡ †‡ ‡••‡ ‰”—’‘ •‡ …‘•‘Ž‹†ƒ” …‘‘ …‘Ž‡–‹˜‹†ƒ†‡ ‡ ‹ƪ—‡…‹ƒ” ‘
Ž—‡Š‡””›‘—‹…ƒ­ ‘
cenário   internacional   contemporâneo.   Os   professores   Sapientia   também  
colaboraram:  Diego  Araujo  Campos  examina  os  acontecimentos  recentes  no  
ǡ ƒ‘
‘­ƒŽ˜‡• ˆƒŽƒ — ’‘—…‘ †‡ •—ƒ ˜‹†ƒ †‡ †‹’Ž‘ƒ–ƒ ‡
Claudia  Simionato   inaugura   uma   seção   com   suas   preciosas   dicas   de   Portu-­‐
guês.  
  E   como   a   Revista  Sapientia   não   é   só   veículo   de   informação,   mas   de  
formação   também,   convidamos   alunos   e   candidatos   a   publicarem   seus  
ƒ”–‹‰‘•‘‡•’ƒ­‘Dz”–‹‰‘‡˜‹ƒ†‘dzǤ‡•–‡²•ǡ‘•ƒ…ƒ†²‹…‘•†‘…—”•‘†‡
‡Žƒ­Ù‡• –‡”ƒ…‹‘ƒ‹• †ƒ ‹˜‡”•‹†ƒ†‡ ‡†‡”ƒŽ †‘ ‹‘
”ƒ†‡ †‘ —Ž Agradecimentos  especiais
ƒ‹ŽŽ‡ ‡‘†‡ƒ— ‡ ”‡†‡”‹…‘ ‹…• ‡”–‘Ž ƒ’”‡•‡–ƒ „”‹ŽŠƒ–‡ ‡•–—†‘ Adriana  Erthal  Abdenur,  Silvio  Caccia  Bava,  
sobre  os  fundamentos  da  política  brasileira. Antonio  Marcio  e  Equipe  da  Le  Monde  
 ˜‘…²ǫ—‡”’—„Ž‹…ƒ”•‡—ƒ”–‹‰‘ǡƒ—…‹ƒ”‘•‘••‘•…Žƒ••‹Ƥ…ƒ†‘•ǡ ‹’Ž‘ƒ–‹“—‡”ƒ•‹Žǡ‡–Šƒ•ƒǡ
apontar  sugestões?  Entre  em  contato  com  a  Equipe  da  Revista  Sapientia  pelo   Camille  Remondeau,  Diego  Araujo  Campos,  
e-­‐mail  revistasapientia@cursosapientia.com.br. ‡Ž‹’‡ƒ––‡‹ǡ ”‡†‡”‹…‘‹…•‡”–‘Žǡ
  E  agora,  boa  leitura! —…‹ƒƒ
Š‹‰‰‹ǡ—‹œ ‡Ž†ƒǡ
‘†”‹‰‘‘…Šƒ‡ƒ‘
‘­ƒŽ˜‡•Ǥ
Equipe  Revista  Sapientia
ƒ’‹‡–‹ƒ‡†‹Ƥ…ƒ–

A  Revista  Sapientia  é  uma  publicação  do  Curso  Sapientia,  preparatório  para  o  Concurso  de   Rua  Alexandre  Dumas,  1171
Admissão  à  Carreira  de  Diplomata.  Seu  conteúdo  tem  cunho  estritamente  acadêmico  e  não   São  Paulo  –  SP
‰—ƒ”†ƒ ‡Š—ƒ ”‡Žƒ­ ‘ ‘Ƥ…‹ƒŽ …‘ ‘ ‹‹•–±”‹‘ †ƒ• ‡Žƒ­Ù‡• š–‡”‹‘”‡• ‘— “—ƒ‹•“—‡” CEP  04717-­‐003  –  Santo  Amaro  
‘—–”‘•ה‰ ‘•†‘‰‘˜‡”‘Ǥƒ’‘—…‘ƒ•‘’‹‹Ù‡•†‘•‡–”‡˜‹•–ƒ†‘•‡ƒ—–‘”‡•†‘•ƒ”–‹‰‘• São  Paulo/SP-­‐  Brasil
publicados   expressam   ou   espelham   as   opiniões   da   instituição   Sapientia.   Esta   revista   é  
imparcial   política   e   ideologicamente   e   procurará   sempre   democratizar   as   discussões,   ‡ŽǤǣή͙͙͚͝͝͝͡͡Ǧ͛͛͛͠
‘—˜‹†‘†‹ˆ‡”‡–‡•‘’‹‹Ù‡••‘„”‡—‡•‘†‹Ž‡ƒǤ‘••‘ƒ‹‘”‘„Œ‡–‹˜‘±ˆ‘‡–ƒ”‘ revistasapientia@cursosapientia.com.br
debate,  salutar  à  democracia  e  à  construção  do  conhecimento  e  da  sabedoria  dos  candida-­‐
tos  à  carreira  de  diplomata.
É  permitida  a  reprodução  das  matérias  e  dos  artigos,  desde  que  previamente  autorizada  
por  escrito  pela  Direção  da  Revista  Sapientia  e  com  crédito  da  fonte.
www.cursosapientia.com.br
SUMARIO

CAPA AGOSTO 2012 20 VIDA DE DIPLOMATA


ENTREVISTA COM O DIPLOMATA
SAMO GONÇALVES

23 CAFÉ COM A CLAUDIA


DICAS DE PORTUGUÊS

25 TROQUE SAPIENTIA
CLASSIFICADOS

ENTREVISTA
06 CELSO AMORIM 27 SAPIENTIA INDICA
MINISTRO DA DEFESA E EX-­MINISTRO AGENDA DE EVENTOS
DAS RELAÇÕES EXTERIORES

08 PROFESSOR SAPIENTIA COMENTA 28 INICIATIVAS SAPIENTIA


O IMPEACHMENT DE FERNANDO LUGO
E A REAÇÃO DO MERCOSUL: INTERESSES E DESAFIOS

11 ESPAÇO ABERTO 29 VIDA DE CONCURSEIRO


FUNDAMENTOS DA POLÍTICA BRASILEIRA UM CALOURO NO TPS

18 OPINIÃO
ARTIGO CRÍTICO DE CONVIDADO 31 CHARGE
BALANÇO DOS BRICS
ENTREVISTA

CELSO
AMORIM
POR EQUIPE SAPIENTIA

A SORTE AJUDA
OS BONS. OU,
EM OUTRA
VERSÃO, TER
SORTE DÁ
MUITO
TRABALHO.

A Revista Sapientia apresenta, em sua primeira edição, uma entrevista com CELSO AMORIM.

Amorim, diplomata de zação Mundial do Comércio e com ampliação dos quadros


carreira da turma de 1965 do no Reino Unido. diplomáticos e promoção da
Instituto Rio Branco, esteve à Nos anos de 1990, o inserção internacional do país
frente do Itamaraty por quase ex-chanceler teve uma mediante a diversificação de
10 anos, tornando-se o atuação direta em grandes parcerias. O ministro con-
chanceler com maior tempo momentos das relações inter- tribuiu para as chamadas
no desempenho desta função nacionais, como a adesão do Coalizões Sul-Sul, em período
- superando, inclusive, o Brasil ao Tratado de Não- em que se criaram o G-20 no
patrono da diplomacia Proliferação Nuclear e a âmbito da OMC, o Fórum IBAS
brasileira, Barão do Rio Branco criação da Organização Mun- e o BRIC.
(1902-1912). Foi Ministro das dial do Comércio na Rodada Fã de cinema nacional,
Relações Exteriores durante o do Uruguai. Na primeira Amorim apresenta uma varie-
governo Itamar (1993-1995) e década do século XXI, dade de interesses típica dos
o governo Lula (2003-2010), Amorim marcou seu nome na grandes diplomatas, atuando
além de chefiar Missões diplomacia brasileira em um também em outras áreas,
Permanentes do Brasil nas período em que se reva- como a cultura. Seu trabalho
Nações Unidas, na Organi- lorizou o papel do Itamaraty, como diretor da Embrafilme

06
(1979-1982), aos 37 anos,
CURSO SAPIENTIA: CURSO SAPIENTIA:
prenunciava o interesse do
futuro chanceler no desen- Como foi a preparação para o Apesar de o concurso não
volvimento e na valorização CACD? Há algum episódio exigir dos candidatos uma
da cultura nacional. durante este período que gos- formação acadêmica especí-
Em 2009, a revista americana taria de dividir com os candi- fica para o ingresso no Rio
Foreign Policy indicou Celso datos? Branco, há um perfil ou
Amorim como o sexto entre características imprescin-
MINISTRO AMORIM:
os cem maiores pensadores díveis para a aprovação do
globais, sendo chamado de “o Decidi fazer o concurso três candidato no CACD?
melhor Ministro das Relações meses antes da “primeira
etapa”. A cinco dias da prova MINISTRO AMORIM:
Exteriores do mundo” por
“transformar o Brasil em um de História, comecei a ler os O fundamental, para mim, é
ator global”. Amorim exerce o livros indicados, que eram ter interesse pela política inter-
cargo de Ministro da Defesa muito factuais, repletos de nacional e desenvolver um
desde agosto de 2011. nomes e datas. Após um dia e grande senso crítico da reali-
meio, tinha chegado apenas dade. O resto se adquire.
CURSO SAPIENTIA: na página 80, de uma obra de
Que lembranças remetem 600 páginas. Vi que não teria CURSO SAPIENTIA:
Vossa Excelência à descoberta tempo de decorar tudo. Fui a Qual mensagem final o Minis-
da vocação internacional? uma livraria e deparei com tro gostaria de passar aos can-
uma bibliografia mais nova, didatos (aos iniciantes e aos
MINISTRO AMORIM:
interpretativa, que dava mais que já prestam o concurso há
Lembro-me da intervenção de latitude para as respostas. Para tempos e estão quase desis-
San Tiago Dantas na reunião minha felicidade, as perguntas tindo...)?
de Punta del Este, em 1962. A foram exatamente nessa linha
cena fez parte do filme Os mais analítica, já que os mem- MINISTRO AMORIM:
Cafajestes, de Ruy Guerra, de bros da banca eram de uma
quem fui assistente. Foi um Confiem na sorte e estudem.
escola mais moderna. Isso Como diria um famoso joga-
grande momento de nossa mostra que seguir o instinto
política externa, que me dor de xadrez, a sorte ajuda os
não deixa de ser importante. bons. Ou, em outra versão, ter
estimulou a fazer a prova do
Itamaraty. sorte dá muito trabalho!

O filme "Os Cafajestes",


lançado em 1962, narra
as desventuras de dois O fundamental, para
malandros cariocas nas
mim, é ter interesse
praias do Rio de Janeiro.
Foi dirigido por Ruy pela política
Guerra e indicado ao
Urso de Ouro.
internacional
e desenvolver um
grande senso crítico
da realidade.

07
PROFESSOR  SAPIENTIA  COMENTA
O IMPEACHMENT DE FERNANDO LUGO E A REAÇÃO DO MERCOSUL:
INTERESSES E DESAFIOS
Por  Diego  Araujo  Campos¹

DIEGO ARAUJO CAMPOS é professor de Política Internacional do Curso


Sapientia. Diego também é pesquisador da Divisão de Cooperação Técnica Internac-
ional da Coordenação de Articulação Internacional do Instituto Nacional de Metrolo-
gia, Qualidade e Tecnologia (Dicoi/Caint/Inmetro) e professor colaborador do
Mestrado em Metrologia e Qualidade do Inmetro, na cadeira Inserção Internacional.
Diego é Mestre em Ciências Sociais pela PUC-Rio e coautor do livro: CAMPOS, Diego
Araujo; TÁVORA, Fabiano. Direito Internacional: público, privado e comercial.
Coleção Sinopses Jurídicas. São Paulo: Saraiva, 2012.

1. Este artigo é de responsabilidade exclusiva do autor e não representa o ponto de vista do Inmetro.
O   estopim   da   situação   ocorreu   com   a  
Introdução 1 O contexto interno invasão   da   fazenda   do   ex-­‐senador  
colorado  Blas  Riquelme,  em  15  de  junho  
O   Paraguai   presenciou,   em   junho   de  
2012,   o   impeachment   do   presidente  
do julgamento político de   2012,   o   que   propiciou   17   mortos,  
entre   policiais   e   trabalhadores   sem-­‐
Fernando  Lugo  com  base  no  artigo  225   sobre Fernando Lugo –‡””ƒǤ  ‹˜ƒ• ‘ ‡ ƒ• ‘”–‡• Ƥ…ƒ”ƒ
da   Constituição   desse   país.   Os   outros   conhecidas   como   “Matanza   de  
membros   do   MERCOSUL,   contudo,   Aliançƒ ƒ–”‹×–‹…ƒ ’ƒ”ƒ ƒ —†ƒ­ƒǡ “—‡ —”—‰—ƒ–›dz΅Ǥ
analisaram  a  situação  como  desrespeito   ‡…‡””‘— •‡‹• †±…ƒ†ƒ• †‡ ’‘†‡” †‘ Nesse   cenário   de   crise   fundiária   e   de  
à   “ordem   democrática”,   embora   não   Partido  Colorado.  Lugo,  todavia,  chegou   falta  de  apoio  político  do  presidente  da  
haja,   nos   Protocolos   de   Ushuaia   I   e   II,   ’”‡•‹†²…‹ƒ•‡ƒƒ‹‘”‹ƒ‘‡ƒ†‘ǡ República,   ocorreu   o   julgamento  
“—ƒŽ“—‡” †‡Ƥ‹­ ‘ •‘„”‡ ‘ “—‡ ± ‘— sustentando-­‐se   sobre   coalizão   que   político   de   Fernando   Lugo,   de   acordo  
quais  elementos  embasam  uma  democ-­‐ englobava   o   Partido   Liberal   Radical   com   o   artigo   225   da   Constituição  
racia.   Permite-­‐se,   assim,   que   a   discri-­‐ —–²–‹…‘ǡ †‘ ‡– ‘ ˜‹…‡Ǧ’”‡•‹†‡–‡ paraguaia.   Segundo   Juan   Gabriel  
cionariedade  permeie  ações  do  bloco  na   Frederico  Franco.  Elucide-­‐se  que  liberais   ‘ƒ–Ž‹ƒΆǡDz‡Ž’‘†‡”Ž‡‰‹•Žƒ–‹˜‘•‹‰—‹×Ž‘
defesa  das  instituições  democráticas.   e   colorados   são   tradicionais   rivais   na   contemplado   en   el   artículo   225   de   la  
Neste   breve   artigo,   abordar-­‐se-­‐á,   política   interna   paraguaia,   tendo   ‘•–‹–—…‹×ǣ Žƒ žƒ”ƒ †‡ ‹’—–ƒ†‘•
primeiramente,   o   contexto   político   historicamente   a  Argentina   apoiado   os   acusa   y   el   Senado   juzga,   con   los   dos  
interno  do  Paraguai.  Na  segunda  parte,   liberais  e  o  Brasil,  os  colorados²³. tercios   de   votos   respectivos”.   Lugo  
†‹•…—–‹”Ǧ•‡Ǧž ƒ ‹ƪ—²…‹ƒ ‡š×‰‡ƒ †‘ Nos   últimos   anos,   Lugo   aproximou-­‐se   sofreu   cinco   acusações.   Entre   elas,   a  
MERCOSUL   no   cenário   interno   dos   colorados   a   ponto   de   ter   nomeado   crescente   insegurança   do   país,   o  
Paraguaio,   com   implicações   para   as   um  integrante  do  Partido  Colorado  para   suposto   apoio   à   tomada   de   um   quartel  
relações  paraguaias  com  os  vizinhos  do   ‘‹‹•–±”‹‘†‘ –‡”‹‘”Ǥ••ƒ‘‡ƒ­ ‘ ‡͚͘͘͡‡ƒ”ƒ–‹Ƥ…ƒ­ ‘†‘”‘–‘…‘Ž‘†‡
Cone   Sul.   Em   seguida,   concluir-­‐se-­‐á   o   levou   ao   protesto   do   Partido   Liberal,   Ushuaia  II  (MERCOSUL)  ,  o  qual  feriria  a  
artigo. culminando   com   a   renúncia   de   quatro   Constituição   paraguaia   ao   permitir   a  
Espera-­‐se   que   pontos   importantes   do   ministros   liberais.   O   então   presidente   intervenção   interna   em   caso   de   ameaça  
debate   sobre   o   julgamento   político   de   paraguaio   perdia,   assim,   o   apoio   do   ‘”†‡†‡‘…”ž–‹…ƒΈǤ
Lugo  e  a  visão  dos  outros  membros  do   ’”‹…‹’ƒŽ ’ƒ”–‹†‘ †‡ •—ƒ …‘ƒŽ‹œ ‘ǤŽ±
MERCOSUL   sobre   o   assunto   sejam   de   não   ter   maioria   no   Senado,   Lugo  
levantados   como   contribuição   para   a   perdeu  o  alicerce  político  na  Câmara  dos   Entre  os  elementos,  quase  todos  eles  
”‡ƪ‡š ‘ •‘„”‡ ‘• Ž‹‹–‡• ‡ ƒ• …‘–”ƒ-­‐ Deputados.   Governar,   nesse   contexto,   essencialmente   paraguaios   (salvo  
dições  da  atuação  em  bloco,  mormente   •‡”‹ƒ‹…‘…‡„À˜‡Ž΄Ǥ que  as  invasões  de  terras  também  se  
em   assunto   tão   delicado   quanto   a   seara   Ademais,   as   oligarquias,   ligadas   aos   Ƥœ‡”ƒ…‘–”ƒ’”‘’”‹‡–ž”‹‘•„”ƒ•‹Ž‡‹-­‐
política  de  um  Estado. interesses  agrários,  recearam  os  atos  de   ros,   o   que   deve   ter   sido   informado  
A   eleição   de   Fernando   Lugo   para   a   invasão  de  terra  dos  movimentos  camp-­‐ pelo   Itamaraty),   existe   um   curioso,  
’”‡•‹†²…‹ƒ †‘ ƒ”ƒ‰—ƒ‹ ‡•–”—–—”‘—Ǧ•‡ esinos   e   dos   carperos   (sem-­‐terra),   que   é   o   Protocolo   de   Ushuaia   II,  
em  coligação  política  de  centro-­‐esquerda,   tradicionais   aliados   de   Fernando   Lugo.  
08
uma   vez   que   o   último   empecilho   à   cas   não   comprovarem   o   respeito   à  
também   assinado   pela   presidente,   adesão   plena   da   Venezuela   residia   na   †‡‘…”ƒ…‹ƒǡ †‹Ƥ…‹Ž‡–‡ •‡ ƒ’Ž‹…ƒ”‹ƒ ƒ
na   reunião   do   MERCOSUL   em   oposição   do   Senado   paraguaio.  Com   a   Cláusula   Democrática   do   MERCOSUL  
†‡œ‡„”‘†‡͚͙͙͘ǡ‡‘–‡˜‹†±—ǡ‡ suspensão   do   Paraguai,   sucumbiu   o   contra  a  Venezuela,  por  falta  de  vontade  
que   supostamente   se   destina   a   último  obstáculo  para  que  o  MERCOSUL   política   do   Brasil   e   da  Argentina   e   pela  
”‡ˆ‘”­ƒ” ƒ …Žž—•—Žƒ †‡‘…”ž–‹…ƒ †‘ tivesse  cinco  membros,  a  partir  de  31  de   •‹’Ž‡• ˆƒŽ–ƒ †‡ †‡Ƥ‹­ ‘ †‘ “—‡ ±
MERCOSUL,  ao   sancionar   o   país   que   Œ—ŽŠ‘†‡͚͙͚͘ǡ‡’”‹…À’‹‘΁΀Ǥ ordem   democrática   nas   normativas   do  
‡ˆ”‡–ƒ” —ƒ ”—’–—”ƒ †‡‘…”ž–‹…ƒ Alguns   analistas,   como   Tokatlian,   „Ž‘…‘Ǥ”‘–‘…‘Ž‘†‡‘–‡˜‹†±—•‘„”‡
(alegadamente  a  derrubada  violenta   ƒƤ”ƒ “—‡ Š‘—˜‡ — ‡š‡’Ž‘ †‡ Compromisso   com   a   Democracia   no  
de  um  presidente). neogolpismo  no  Paraguai.    ȋ•Š—ƒ‹ƒ Ȍ ƒ’‡ƒ• ”‡œƒ
 ƒ”Žƒ‡–‘ ’ƒ”ƒ‰—ƒ‹‘ Œž –‹Šƒ que:
criticado   violentamente   esse   instru-­‐ El  "nuevo  golpismo"  es  formalmente  
mento,   como   informado   aqui   ‡‘• ˜‹”—Ž‡–‘ǡ ‡•–ž Ž‹†‡”ƒ†‘ ’‘”
também  (...). civiles   (con   soporte   implícito   o  
artigo  1
Ou   seja,   existe   um   elemento   que   complicidad   explícita   de   los    ’”‡•‡–‡ ”‘–‘…‘Ž‘ •‡”ž ƒ’Ž‹…ƒ†‘
interessa  à  política  externa  brasileira,   militares),  mantiene  una  cierta  apari-­‐ em   caso   de   ruptura   ou   ameaça   de  
‘—–ƒŽ˜‡œ†‘‹•ǣƒŽ±†ƒ‘’‘•‹­ ‘†‘• encia   institucional,   no   involucra   ”—’–—”ƒ †ƒ ‘”†‡ †‡‘…”ž–‹…ƒǡ †‡
congressistas   paraguaios   ao   dito   necesariamente   a   una   potencia   uma   violação   da   ordem   constitu-­‐
Protocolo,  que  segundo  eles  viola  os   (Estados  Unidos)  y  pretende  resolver,   cional   ou   de   qualquer   situação   que  
†‹”‡‹–‘• •‘„‡”ƒ‘• †‘ •‡— ’ƒÀ•ǡ Šž ƒ al   menos   de   entrada,   una   impase   ponha   em   risco   o   legítimo   exercício  
questão   pendente   do   ingresso   da   social   o   política   potencialmente   do   poder   e   a   vigência   dos   valores   e  
‡‡œ—‡Žƒ ‘  ruinosa. ’”‹…À’‹‘•†‡‘…”ž–‹…‘•Ǥ
ȋ ǡ͚͙͚͘ȌΉǤ La   sucesión   neogolpista   reciente   es  
reveladora:   la   remoción   "legal"   de  
Jamil  Mahuad,  en  Ecuador,  en  2000;   Sendo   assim,   a   suspensão   do   Paraguai  
Percebe-­‐se,   assim,   que   questões   do  MERCOSUL  foi  recurso  da  subjetivi-­‐
el   derrocamiento   "institucional"   de  
associadas   direta   ou   indiretamente   à   dade   dos   governantes   dos   três   outros  
—‰‘Šž˜‡œǡ‡‡‡œ—‡Žƒǡ‡͚͚͘͘Ǣ
política  externa  paraguaia  foram  usadas   ‡„”‘•ǡ ƒŽ± †ƒ Ƥ”‡ ˜‘–ƒ†‡
Žƒ̺•ƒŽ‹†ƒ̺ˆ‘”œƒ†ƒ†‡ ‡ƒǦ‡”–”ƒ†
como  pretexto  para  o  impeachment  de   política   do   Brasil   e   da   Argentina   de  
Aristide,   en   Haití,   en   2004;   la  
Fernando   Lugo.   Outrossim,   o   concretizarem  a  adesão  da  Venezuela  ao  
sustitución   "constitucional"   de  
julgamento   político   de   Lugo   foi   o   bloco,  conforme  o  Protocolo  de  Acessão  
Zelaya,   en   Honduras,   en   2009,   y   el            
argumento   para   críticas   de   países   Ƥ”ƒ†‘‡͚͘͘͞Ǥ‡ˆƒ–‘ǡ•Š—ƒ‹ƒ ‡ 
"putch  "  policial  contra  Rafael  Correa,  
vizinhos,   com   a   consequente   suspensão   deixam   espaço   para   tal   subjetividade,  
en  2010.
do  Paraguai  do  Mercosul. tornando   a   suspensão   legítima   de  
La   "destitución"   de   Fernando   Lugo  
por   mal   desempeño   en   sus   funciones   acordo  com  o  arcabouço  jurídico  merco-­‐
•‡‹•‡”–ƒ‡Žƒ†‹ž‹…ƒ†‡’”‡•—-­‐ sulino.   Não   se   pode   esquecer,   todavia,  
2 O contexto externo tos  "golpes  benévolos",  en  los  que  sus  que   o   Paraguai   pode   acionar,   como  
anunciou  que  faria,  o  sistema  de  solução  
autores   se   vieron   "compelidos"   a  
do impeachment de "salvar"   la   democracia   (TOKATLIAN,   †‡ …‘–”‘˜±”•‹ƒ• †‘ ǡ †‡
2012)¹¹.   forma   a   reverter   a   suspensão   –   o   que  
Fernando Lugo: –ƒ„±’‘†‡”‹ƒ•‡”ˆ‡‹–‘‘Ÿ„‹–‘†ƒ
‘”–‡ –‡”ƒ…‹‘ƒŽ †‡ —•–‹­ƒ ȋ ȌǤ
elementos exógenos A  ideia  de  neogolpismo  está  intrinseca-­‐ Dessa   forma,   os   membros   do   MERCO-­‐
mente   relacionada   à   queda   de   Lugo,   SUL   podem   ser   responsabilizados  
na política interna pois   pode   ser   vista   como   um   “golpe   internacionalmente,   desprestigiando   o  
paraguaia branco”¹²   ,   em   que   se   recorre   ao   bloco.  
arcabouço  legal  para  derrubar  um  chefe  
de   Estado   em   nome   da   defesa   da  
Os   membros   do   MERCOSUL,   com   democracia.  Por  outro  lado,  não  se  pode  
Conclusão 3
exceção   do   Paraguai,   reuniram-­‐se   em   ƒƤ”ƒ” “—‡ Š‘—˜‡ †‡•”‡•’‡‹–‘ †‡
Mendoza,  Argentina,  em  29  de  junho  de   qualquer  lei  ou  norma  paraguaia,  o  que  
2012,   em   reunião   de   Cúpula   para   foi  comprovado  pela   Suprema  Corte  do  
país.   Buscou-­‐se,  no  presente  trabalho,  discor-­‐
analisar,   entre   outros   assuntos,   a  
questão   da   retirada   de   Fernando   Lugo   Elucide-­‐se   que   a   Venezuela   não   rer   sobre   os   desdobramentos   da  
da  presidência  paraguaia.   Mesmo  que  a   corrobora   princípios   básicos   do   Estado   situação   política   paraguaia   e   sobre   a  
Cláusula   Democrática   do   MERCOSUL,   democrático   de   direito,   como   a   atuação   do   MERCOSUL   na   situação,  
consubstanciada   no   Protocolo   de   liberdade   de   expressão.   Em   2009,   por   com   a   suspensão   dos   direitos   do  
•Š—ƒ‹ƒ ȋ͙͡͡͠Ȍǡ  ‘ †‡Ƥƒ ‘ “—‡ ± exemplo,   órgãos   reguladores   venezue-­‐ Paraguai   de   participar   dos   órgãos  
“democracia”  ou  “ordem  democrática”,   lanos   retiraram   do   ar   dezenas   de   mercosulinos.   A   suspensão   cessará  
os   governos   de   Brasil,   Argentina   e   estações   de   rádio   críticas   ao   governo   “—ƒ†‘•‡˜‡”‹Ƥ…ƒ”‘Dz’Ž‡‘”‡•–ƒ„‡Ž‡…‹-­‐
Uruguai   decidiram   aplicar   a   sanção   de   venezuelano,   como   constatou   o   mento   da   ordem   democrática   na   parte  
suspensão   do   bloco   ao   Paraguai,   com   Committee   to   Protect   Journalists   afetada”,  como  está  expresso  no  §  5º  do  
„ƒ•‡ ƒ Žž—•—Žƒ …‹–ƒ†ƒǤ Ž± †‹••‘ǡ (CPT)¹³.     Será   que   o   Protocolo   de   Comunicado   Conjunto   dos   Presidentes  
aprovou-­‐se   a   entrada   da   Venezuela   Ushuaia   deveria   ser   acionado   contra   a   dos  Estados  Partes  do  MERCOSUL,  com  
Venezuela?  Apesar  de  eleições  periódi-­‐ menção  ao  artigo  7º  do  Protocolo  de  
como  Estado-­‐membro  do  MERCOSUL,  
09
Ushuaia.  
‘‘‡š’‘•–‘ǡ‘†‡•ƒƤ‘‡•–žƒˆƒŽ–ƒ†‡
†‡Ƥ‹­ ‘ †‘ “—‡ •‹‰‹Ƥ…ƒ Dz‘”†‡
†‡‘…”ž–‹…ƒdz‘—“—ƒ‹•• ‘‘•’”‹…À’‹‘•
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
†‡‘…”ž–‹…‘• …‘•‡•—ƒŽ‡–‡
‡•–ƒ„‡Ž‡…‹†‘• ’ƒ”ƒ ƒ ƒ’Ž‹…ƒ­ ‘ †‡
ALMEIDA,  Paulo  Roberto  de.  O Paraguai e o Protocolo de Ushuaia II -­ libelo acusatório.
•ƒ­Ù‡•Ǥ•”‘–‘…‘Ž‘•†‡•Š—ƒ‹ƒ ‡ 
…ƒŽƒǦ•‡ “—ƒ–‘ ƒ †‡Ƥ‹­Ù‡• ’”‡…‹•ƒ•ǡ Disponível  em:  <http://diplomatizzando.blogspot.com.br/2012/06/o-­paraguai-­e-­o-­protocolo-­de-­
’‡”‹–‹†‘“—‡ƒ•—„Œ‡–‹˜‹†ƒ†‡’‡”‡‹‡ ushuaia-­ii.html>.  Acesso  em:  17  jul.  2012.  
ƒ•†‡…‹•Ù‡•†‘Ǥ‡••ƒ˜‹• ‘ǡ BRANCO,  Lívia  Castelo;;  MILANEZ,  Marcos.  Paraguai  –  o  intrincado  alinhamento  de  interesses  e  a  
’‡”‰—–ƒǦ•‡ …‘‘ ‘ ƒ”ƒ‰—ƒ‹ ’‘†‡ •‡” diversidade  na  base  de  apoio  como  determinantes  da  destituição  de  Fernando  Lugo.  In:  Mundorama.
•—•’‡•‘ ‡ ƒ‡‡œ—‡Žƒ ƒ†‹–‹†ƒǡ ‡ Disponível  em:  <http://mundorama.net/2012/06/26/paraguai-­o-­intrincado-­alinhamento-­de-­interesses-­e-­a-­
”‹–‘ “—‡ ’‘†‡ •‡” ‹–‡”’”‡–ƒ†‘ …‘‘
diversidade-­na-­base-­de-­apoio-­como-­determinantes-­da-­destituicao-­de-­fernando-­lugo-­por-­livia-­castelo-­
‘…‹˜‘ ƒ‘ – ‘ ’”‘’ƒŽƒ†‘ Dz…‘•‡•‘dz
…‘‘ ’”‘…‡••‘ †‡…‹•×”‹‘ ‘ „Ž‘…‘Ǥ branco-­marcos-­milanez/>.  Acesso  em:  18  jul.  2012.
‡…‘”†ƒ‘•ǡ ƒ‹†ƒǡ ‘• †‡•ƒƤ‘• ƒ‘ DORATIOTO,  Francisco.  Relações Brasil-­Paraguai: afastamento, tensões e reaproximação
•–ƒ†‘ †‡‘…”ž–‹…‘ †‡ †‹”‡‹–‘ ’‘” “—‡ (1889-­1954). Brasília:  FUNAG,  2012.  
’ƒ••ƒƒ‡‡œ—‡Žƒ†‡ —‰‘Šž˜‡œǡ…‘ MARTUSCELLI,  Patrícia  Nabuco.  Golpe  “Branco”  no  MERCOSUL.  In:  Mundorama. Disponível  em:  
‰‘˜‡”‘“—‡ƒŽ‡Œƒƒ”‡‡Ž‡‹­ ‘ƒ†ƒ‡–‡”Ǧ <http://mundorama.net/2012/07/15/golpe-­branco-­no-­mercosul-­por-­patricia-­nabuco  martuscelli/>.  Acesso  em:  
—Ǥ
18  jul.  2012.  
 ƒ”ƒ‰—ƒ‹ ’‘†‡”‹ƒ ƒŽ‡‰ƒ” †‡•”‡•’‡‹–‘
ƒ‘ ’”‹…À’‹‘ †ƒ  ‘ ‹–‡”˜‡­ ‘ ‡ MERCOSUL.  Protocolo  de  Ouro  Preto.Disponível  em:  <  http://www.sice.oas.org/trade/mrcsrp/ourop/
ƒ••—–‘•‹–‡”‘•ǡ’”‡•‡–‡ƒƒ”–ƒ†ƒ• ouropinp.asp>.  Acesso  em:  18  jul.  2012.
ƒ­Ù‡•‹†ƒ•‡‡‹ï‡”ƒ•‘•–‹–—Ǧ ___________.  Protocolo de Ushuaia. Disponível  em:  
‹­Ù‡•ǡ …‘‘ ƒ „”ƒ•‹Ž‡‹”ƒǤ ‘†‡”‹ƒ <http://www.mercosur.int/msweb/Normas/Tratado%20e%20Protocolos/1998_PROTOCOLO%20DE%20US
ƒ”‰—‡–ƒ” •‘„”‡ ƒ ˆƒŽ–ƒ †‡ Ž‡‰‹–‹‹Ǧ HUAIA-­Compromiso%20democrático_port.pdf>.  Acesso  em:  18  jul.  2012.
†ƒ†‡ǡ†‡’‡†‡†‘†‘’‘–‘†‡˜‹•–ƒǡ†ƒ
___________.  Protocolo de Ushuaia II.  Disponível  em:  <http://www.sice.oas.org/trade/mrcsrs/decisions/
ƒ†‡• ‘†ƒ‡‡œ—‡Žƒƒ‘ǡ‘
“—‡’‘†‡•‡”‹–‡”’”‡–ƒ†‘…‘‘†‡•”‡•Ǧ DEC_027-­2011_p.pdf>.  Acesso  em:  15  jul.  2012.  
’‡‹–‘ƒ‘ƒ”–‹‰‘͛͟†‘”‘–‘…‘Ž‘†‡—”‘ MILANI,  Carlos  R  S.  Crise  política  no  Paraguai:  um  teste  para  a  região?  In:  Carta Capital. 02  de  julho  de  
”‡–‘Ǥ ƒ•‘ ‘ ƒ”ƒ‰—ƒ‹ ƒ…‹‘‡ ƒŽ‰— 2012.  Disponível  em:<http://www.cartacapital.com.br/internacional/crise-­politica-­no-­paraguai-­um-­teste-­
•‹•–‡ƒ †‡ •‘Ž—­ ‘ †‡ …‘–”‘˜±”•‹ƒ•ǡ para-­a-­regiao/>.  Acesso  em:  19  jul.  2012.
’‘†‡”ž ’Ž‡‹–‡ƒ” ƒ •—ƒ ”‡‹–‡‰”ƒ­ ‘ ƒ‘ TOKATLIAN,  Juan  Gabriel.  El  auge  del  neogolpismo.  La Nación.  24  de  junho  de  2012.  Disponível  
„Ž‘…‘Ǥ
em:<http://www.lanacion.com.ar/1484794-­el-­auge-­del-­neogolpismo>.  Acesso  em:  12  jul.  2012.  
‘‡–‡ ‘ –‡’‘ ‡Ž—…‹†ƒ”ž ƒ• †ï˜‹†ƒ•
“—‡ ’ƒ‹”ƒ ‘ ƒ”Ǥ  •—•’‡• ‘ †‘
ƒ”ƒ‰—ƒ‹ †‹Ƥ…—Ž–ƒ”žǡ ‘ ‡–ƒ–‘ǡ ‘
†‹žŽ‘‰‘…‘‘ƒ–—ƒŽ‰‘˜‡”‘’ƒ”ƒ‰—ƒ‹‘ǡ
Ž‹†‡”ƒ†‘ ’‘” ”‡†‡”‹…‘ ”ƒ…‘ǡ ƒŽ± †‡
•—•…‹–ƒ” ‹–‡”’”‡–ƒ­Ù‡• †‹˜‡”‰‡–‡•
•‘„”‡ ƒ ’‘••‹„‹Ž‹†ƒ†‡ Œ—”À†‹…ƒ ”‡ƒŽ †ƒ
ƒ†‡• ‘†ƒ‡‡œ—‡Žƒƒ‘‡”…‘•—ŽǤ
ƒ”ƒ‰—ƒ‹˜‹˜‡…‹‘—‹ï‡”‘•‰‘Ž’‡•‡
…”‹•‡• ‹•–‹–—…‹‘ƒ‹• ‡ •—ƒ Š‹•–×”‹ƒǤ 
’ƒÀ• Œž ˆ‘‹ ƒ–± ƒŽ˜‘ †ƒ ”‹˜ƒŽ‹†ƒ†‡ ‡–”‡
”ƒ•‹Ž‡”‰‡–‹ƒ’‘”‹ƪ—²…‹ƒ‘‘‡
—Žǡ …‘‘ ‘•–”ƒ ‘ Ž‹˜”‘ †‡ ”ƒ…‹•…‘
‘”ƒ–‹‘–‘΁΄ǡ ‡Žƒ­Ù‡• ”ƒ•‹ŽǦƒ”ƒ‰—ƒ‹ǣ 2  MILANI,  Carlos  R  S.  Crise  política  no  Paraguai:  um  teste  para  a  região?  In:  Carta  Capital.  02  de  julho  de  2012.  Disponível  
ƒˆƒ•–ƒ‡–‘ǡ –‡•Ù‡• ‡ ”‡ƒ’”‘š‹ƒ­ ‘ em:<http://www.cartacapital.com.br/internacional/crise-­politica-­no-­paraguai-­um-­teste-­para-­a-­regiao/>.  Acesso  em:  19  jul.  2012.
3  BRANCO,  Lívia  Castelo;;  MILANEZ,  Marcos.  Paraguai  –  o  intrincado  alinhamento  de  interesses  e  a  diversidade  na  base  de  
ȋ͙͠͠͡Ǧ͙͜͡͝ȌǤ ”‘„Ž‡ƒ• ‹•–‹–—…‹‘ƒ‹• ‡ apoio  como  determinantes  da  destituição  de  Fernando  Lugo.  In:  Mundorama.  Disponível  em:  
<http://mundorama.net/2012/06/26/paraguai-­o-­intrincado-­alinhamento-­de-­interesses-­e-­a-­diversidade-­na-­base-­de-­apoio-­
†‡‘…”ž–‹…‘•  ‘ • ‘ǡ ‡–”‡–ƒ–‘ǡ como-­determinantes-­da-­destituicao-­de-­fernando-­lugo-­por-­livia-­castelo-­branco-­marcos-­milanez/>.  Acesso  em:  18  jul.  2012.
‡š…Ž—•‹˜‹†ƒ†‡’ƒ”ƒ‰—ƒ‹ƒǤ‡‘•’ƒÀ•‡•†‘ 4  MILANI,  Carlos  R  S,  op.  cit.
5  BRANCO,  Lívia  Castelo;;  MILANEZ,  Marcos,  op.  cit.
ǡ“—‡–ƒ„±• ‘‡„”‘• 6  TOKATLIAN  Juan  Gabriel.  El  auge  del  neogolpismo.  La  Nación.  24  de  junho  de  2012.  Disponível  em:    
<http://www.lanacion.com.ar/1484794-­el-­auge-­del-­neogolpismo>.  Acesso  em:  12  jul.  2012.  
†ƒ ‹ ‘ —ŽǦ‡”‹…ƒƒ †‡ ƒ­Ù‡• 7  Segundo  o  artigo  11  do  Protocolo  de  Ushuaia  II:  “Uma  vez  que  todos  os  Estados  signatários  e  aderentes  do  Protocolo  de  
ȋȌǡ “—‹•‡”‡ ƒ’Ž‹…ƒ” •ƒ­Ù‡• Ushuaia  sobre  Compromisso  Democrático  no  MERCOSUL,  Bolívia  e  Chile,  tiverem  ratificado  o  presente  Protocolo,  o  primeiro  
ficará  sem  efeitos.”  Até  19  de  julho  de  2012,  faltava  a  ratificação  paraguaia  para  a  entrada  em  vigor  de  Ushuaia  II,  o  que  
…‘ „ƒ•‡ ‡ †‡•”‡•’‡‹–‘ ƒ‘ •–ƒ†‘ significa  a  não  vigência  deste  segundo  excerto  também  presente  no  artigo  11:  “O  presente  Protocolo  entrará  em  vigor  trinta  
(30)  dias  após  o  depósito  do  instrumento  de  ratificação  pelo  quarto  Estado  Parte  do  MERCOSUL.”
†‡‘…”ž–‹…‘†‡†‹”‡‹–‘ǡ•‘„ƒ±‰‹†‡†ƒ• 8  Ver  texto  do  Protocolo  de  Ushuaia  II.  Disponível  em:  <  http://www.sice.oas.org/trade/mrcsrs/decisions/DEC_027-­2011_p.pdf  
…Žž—•—Žƒ• †‡‘…”ž–‹…ƒ• †ƒ• ”‡•’‡…–‹˜ƒ• >.  Acesso  em:  15  jul.  2012.  
9  ALMEIDA,  Paulo  Roberto.  O  Paraguai  e  o  Protocolo  de  Ushuaia  II  -­  libelo  acusatório.  Disponível  em:  
‘”‰ƒ‹œƒ­Ù‡•ǡ Šƒ˜‡”ž ‡•’ƒ­‘ ’ƒ”ƒ <http://diplomatizzando.blogspot.com.br/2012/06/o-­paraguai-­e-­o-­protocolo-­de-­ushuaia-­ii.html>.  Acesso  em:  17  jul.  2012.  
10  MARTUSCELLI,  Patrícia  Nabuco.  Golpe  “Branco”  no  MERCOSUL.  In:  Mundorama.  Disponível  em:  <  
—‹–ƒ••—•’‡•Ù‡•Ǥ http://mundorama.net/2012/07/15/golpe-­branco-­no-­mercosul-­por-­patricia-­nabuco-­martuscelli/>.  Acesso  em:  18  jul.  2012.  
11  TOKATLIAN,  Juan  Gabriel,  op.  cit.  
12  MARTUSCELLI,  Patrícia  Nabuco,  op.  cit.
13Disponível  em:  <http://cpj.org/pt/2011/02/ataques-­a-­imprensa-­em-­2010-­venezuela.php>.  Acesso  em  18  jul.  2012.  

10
alista  ou  patrimonalista  burocrático.  Na  
visão   de  Victor   Leal,   o   clientelismo   e   o  
ESPACO  ABERTO patrimonialismo   ainda   estão   presentes  
nas   relações   sociais   do   campo,   onde   a  
FUNDAMENTOS DA Dzˆ”ƒ“—‡œƒ Ƥƒ…‡‹”ƒ †‘• —‹…À’‹‘• ±
um   fator   que   contribui   relevantemente  

POLÍTICA BRASILEIRA para   manter   o   ‘coronelismo’,   na   sua  


expressão   governista”   (LEAL,   1976,   p.  
45).    
‘” ”‡†‡”‹…‘‹…•‡”–‘ŽƬƒ‹ŽŽ‡‡‘†‡ƒ—΁΅ Pode-­‐se   dizer   que   o   patrimonialismo   é  
uma  forma  de  dominação  anacrônica.  O  
Confusão   entre   público   e   privado,   Estado   brasileiro,   nessa   percepção,   é  
desigualdade   entre   as   regiões,   debili-­‐ No   patrimonialismo,   o   governante   centralizador  e  administrado  em  prol  da  
dade  moral  das  autoridades,  excesso  de   trata   toda   a   administração   política   camada  político-­‐social  que  o  governa.  
burocracia,   mau   funcionamento   das   como  seu  assunto  pessoal,  ao  mesmo  
instituições...   A   lista   de   reclamações   é   modo  como  explora  a  posse  do  poder  
Em   uma   sociedade   patrimonialista,  
longa,  mas  a  compreensão  é  pouca.  Se   político   como   um   predicado   útil   de  
‡ “—‡ ‘ ’ƒ”–‹…—Žƒ”‹•‘ ‡ ‘ ’‘†‡”
sairmos  do  senso  comum,  veremos  que   sua  propriedade  privada.  Ele  confere  
pessoal   reinam,   o   favoritismo   é   o  
as   mazelas   da   nossa   vida   política   têm   poderes   a   seus   funcionários,   caso   a  
meio   por   excelência   de   ascensão  
explicações  bem  mais  complexas  do  que   caso,   selecionando-­‐os   e   atribuindo-­‐
social,   e   o   sistema   jurídico,  
o   velho   jargão   de   que   “a   culpa   é   do   ŽŠ‡•–ƒ”‡ˆƒ•‡•’‡…ÀƤ…ƒ•…‘„ƒ•‡ƒ
englobando   o   direito   expresso   e   o  
povo”.   Ao   destilar   conceitos,   como   …‘Ƥƒ­ƒ’‡••‘ƒŽ“—‡‡Ž‡•†‡’‘•‹–ƒ
direito   aplicado,   costuma   veicular   o  
clientelismo,   coronelismo,   patriarcal-­‐ e   sem   estabelecer   nenhuma   divisão  
poder   particular   e   o   privilégio,   em  
ismo   e   patrimonialismo,   passando   por   de   trabalho   entre   eles.   (BENDIX,  
detrimento   da   universalidade   e   da  
importantes   nomes   do   pensamento   1986,  p.  270-­‐1)
igualdade   formal-­‐legal.  O   distancia-­‐
social   brasileiro,   os   tópicos   a   seguir   mento   do   Estado   dos   interesses   da  
buscam   reacender   um   velho   debate:   ƒ­ ‘ ”‡ƪ‡–‡ ‘ †‹•–ƒ…‹ƒ‡–‘ †‘
Outro  ponto  levantado  por  Max  Weber  é  
será  que  o  Brasil  tem  jeito? estamento  dos  interesses  do  restante  
a  relação  entre  países  europeus  ociden-­‐
tais  com  um  sistema  descentralizado  de   da  sociedade.  (CAMPANTE,  2003,  p.  
Interpretando o Brasil traços   feudais   no   passado   e   o   grande   155)
desenvolvimento   econômico   ocorrido  
2 ’‘••À˜‡Ž ‹†‡–‹Ƥ…ƒ” †—ƒ• ƒ„‘”†ƒ‰‡• no   século  XVI.   Há   continuidade   entre   o  
distintas   que   tratam   das   relações   entre   sistema   organizacional   feudal   e   a   domi-­‐ Segundo   Raimundo   Faoro,   o   desen-­‐
Estado   e   sociedade   no   Brasil.   De   um   nação   racional-­‐legal   contratual,   a   qual   volvimento  de  um  Estado  é  um  processo  
lado,  a  interpretação  preocupada  com  o   surge   associada   à   emergência   do   não  apenas  político,  mas  também  social  
peso  opressor  do  Estado  sobre  a  socie-­‐ capitalismo.  No  Brasil,  entretanto,  esse   e   econômico,   existindo   uma   determi-­‐
dade   brasileira.   Do   outro,   a   interpre-­‐ padrão  não  se  estabeleceu: nação   entre   esses   três   elementos   na  
tação   voltada   para   a   formação   da   nossa   dinâmica   do   Estado.   Logo,   não   é  
sociedade   de   modo   a   entender   os   possível   alcançar   o   desenvolvimento  
Quando   o   capitalismo   brotar,  
problemas   intrínsecos   do   sistema   político   se   houver   subdesenvolvimento  
“—‡„”ƒ†‘ …‘ ˜‹‘Ž²…‹ƒ ƒ …ƒ•…ƒ
político  brasileiro. econômico  e  social.
‡š–‡”‹‘”†‘ˆ‡—†ƒŽ‹•‘ǡ“—‡‘’”‡’ƒ”ƒ
no   artesanato,   não   encontrará   no  
Do ponto de vista do patrimonialismo   as   condições   propí-­‐ O  caráter  centralizador  do  patrimoni-­‐
cias   de   desenvolvimento   [...]   A   alismo   brasileiro   reside   na   resumida  
Estado ƒ–‹˜‹†ƒ†‡ ‹†—•–”‹ƒŽǡ “—ƒ†‘ ‡‡”‰‡ ‹ƪ—²…‹ƒ †ƒ •‘…‹‡†ƒ†‡ …‹˜‹Ž …‘‘
(no   Brasil),   decorre   de   estímulos,   força   refreadora   dos   mandos   unívo-­‐
Para   entender   a   formação   do   Estado   ˆƒ˜‘”‡•ǡ ’”‹˜‹Ž±‰‹‘•ǡ •‡ “—‡ ƒ cos   do   Estado   nacional.   A   ausência  
brasileiro,   desde   suas   origens   no   Impé-­‐ empresa   individual,   baseada   de   identidade   política   nacional   está  
rio   português,   é   necessário   resgatar   o   racionalmente   no   cálculo,   incólume   diretamente   ligada   às   liberdades  
conceito   de   “patrimonialismo”,   que   às   intervenções   governamentais,   econômicas   da   sociedade.   As  
remonta  a  Max  Weber  e  está  associado  a   ganhe  incremento  autônomo  [...]  Daí   †‡Ƥ…‹²…‹ƒ• †‘ Ž‹„‡”ƒŽ‹•‘ ’‘ŽÀ–‹…‘
um  modo  de  dominação  política  no  qual   •‡‰‡”ƒ…‘•‡“—²…‹ƒ•‡…‘Ø‹…ƒ• ‡•– ‘ ƒ „ƒ•‡ †ƒ• ˆ”ƒ“—‡œƒ• †‘
não  há  divisões  nítidas  entre  as  esferas   ‡‡ˆ‡‹–‘•’‘ŽÀ–‹…‘•ǡ“—‡•‡’”‘Ž‘‰ƒ liberalismo   econômico.   Embora,  
de   atividade   pública   e   privada.   De   no   século   XX,   nos   nossos   dias.   entre   nós,   um   não   tenha   saído   do  
acordo   com   a   teoria   weberiana,   o   (FAORO,  2001,  p.40) ‘—–”‘ǡ…‘ƒ‹•†‡•‡…‘–”‘•†‘“—‡
patrimonialismo,  enquanto  exercício  de   encontros,  na  base  da  racionalidade  
dominação,  é  legitimado  pela  roupagem   do   liberalismo   econômico   estão   os  
Ž‰—• –‡×”‹…‘• ƒƤ”ƒ “—‡ ‘ •‹•–‡ƒ
da  tradição  e  sustentado  por  um  aparato   elementos   previsíveis   e   calculáveis  
político   brasileiro   atual   mantém   o  
administrativo   recrutado   pelo   do  Estado  de  direito.  Esta  irracionali-­‐
patrimonialismo,   ainda   que   restrito   a  
governante   com   base   em   critérios   dade   formal   é   o   grande   obstáculo   de  
‹ŽŠƒ• ‡•’‡…ÀƤ…ƒ• †ƒ ž“—‹ƒ ’ï„Ž‹…ƒǡ
unicamente  personalistas.   um  e  de  outro  para  vencer  o  patrimo-­‐
podendo  ser  chamado  de  neopatrimoni-­‐

11
Não   podemos   alegar,   contudo,   que   a   ±”‰‹‘—ƒ”“—‡†‡ ‘Žƒ†ƒǡ’‘”•—ƒ˜‡œǡ
visão  de  Faoro  (formulada  na  década  de   Do ponto de vista da ‹†‡–‹Ƥ…ƒ ‘ Š‘‡ …‘”†‹ƒŽǡ –‹’‘
͘͟Ȍ•‡Œƒ†‡Ƥ‹–‹˜ƒ‘…ƒ’‘†ƒ•ƒžŽ‹•‡• humano  que  foi  herdado  da  colonização  
da   política   brasileira.   Certos   cientistas  
sociedade ibérica  e  é  fundamental  para  entender  a  
políticos   acreditam   que   importantes   nossa   cultura   política.  Os   nossos   coloni-­‐
Segundo   Oliveira   Vianna,   o   povo   zadores   buscavam   empreendimentos  
mudanças   estruturais   ocorreram   no   brasileiro   é   desagregado   e   pensa  
sistema  político  brasileiro  e  que  este  se   ousados,  demonstravam  alta  adaptabili-­‐
prescindir   da   organização   em   socie-­‐ †ƒ†‡‡˜‹•ƒ˜ƒƒ‘Ž—…”‘”ž’‹†‘ǡ†‹•’‡-­‐
–‘”‘— ƒ‹• †‡‘…”ž–‹…‘ ƒ‘ Ž‘‰‘ †ƒ dade.   Isso   pode   ser   atribuído   ao   modo  
história.   A   partir   da   Revolução   de   30,   sando   a   disciplina   contínua   que   é  
como   se   deu   o   povoamento   inicial   do   atribuída  aos  povos  do  Norte  da  Europa.  
surge  no  aparelho  estatal  brasileiro  uma   país.  Ao  distribuir  sesmarias  de  grandes  
distinção   de   natureza   formal   entre   o   • ‹„±”‹…‘• –‡”‹ƒ †‹Ƥ…—Ž†ƒ†‡ ‡
proporções   para   as   famílias,   por   exem-­‐ entender  o  esforço  coletivo  de  maneira  
público  e  o  privado.  Até  esse  período,  a   plo,   individualizava-­‐se   o   sistema   de  
administração   pública   era   reinada   pelo   racional,   ou   seja,   de   trabalhar   conjunta-­‐
propriedade   da   terra   –   os   engenhos   mente   tendo   como   objetivo   o   bem   de  
estilo   patrimonial   do   favoritismo   eram  uma  organização  produtiva  autos-­‐
político  e  social.   um   grupo.   No   lugar   disso,   desenvolv-­‐
•—Ƥ…‹‡–‡ǡ ˆƒ–‘ “—‡ ‹‹„‹ƒ ‘ …‘–ƒ–‘ eram   uma   cultura   da   personalidade,  
entre   os   habitantes.   A   escassez   de   centrada  na  autonomia   de   cada   um   dos  
As   oligarquias   do   Império   e   da   ”‡Žƒ­Ù‡••‘…‹ƒ‹••‹‰‹Ƥ…ƒ˜ƒ“—‡‹‡š‹•–‹ƒ homens   em   relação   aos   seus   semelhan-­‐
‡’ï„Ž‹…ƒ‡ŽŠƒǡ‡„‘”ƒ‡Ƥ…ƒœ‡•ƒ um   sentimento   de   solidariedade   para   tes,  elevando  o  mérito  pessoal  e  o  livre-­‐
‰ƒ”ƒ–‹ƒ †ƒ —‹†ƒ†‡ –‡””‹–‘”‹ƒŽǡ  ‘ além   da   órbita   familiar.   O   isolamento   arbítrio   a   virtudes   supremas.   Nesse  
…Š‡‰ƒ”ƒƒ–‡–ƒ”ƒ‘†‡”‹†ƒ†‡†‘ também   implicava   a   ausência   de   uma   …ƒ•‘ǡ Šž ƒ ˆ”ƒ“—‡œƒ †ƒ• ˆ‘”ƒ• †‡
ƒ’ƒ”ƒ–‘ „—”‘…”ž–‹…‘ †‘ •–ƒ†‘ entidade  pública  que  exercesse  a  função   organização   que   impliquem   solidarie-­‐
„”ƒ•‹Ž‡‹”‘Ǥ ‘‹ •‘‡–‡ …‘ ƒ •‹„׎‹…ƒ†‡ƒžŽ‰ƒƒ•‘…‹ƒŽǤ‹˜‡‘•ǡ dade   e   ordenação   entre   agrupamentos  
”‡˜‘Ž—­ ‘†‡͛͘“—‡•—”‰‡–ƒŽ‹‹…‹ƒ-­‐ em   vez   disso,   um   padrão   clânico   de   humanos.   “Em   terra   onde   todos   são  
–‹˜ƒǤ  ’ƒ”–‹” †‡••‡ ‘‡–‘ǡ ‘ relações   sociais,   sendo   três   os   tipos   barões   não   é   possível   acordo   coletivo  
•–ƒ†‘„”ƒ•‹Ž‡‹”‘…‘‡­‘—ƒ•‡ˆƒœ‡” ‹†‡–‹Ƥ…ƒ†‘• ’‘”‹ƒƒǣ ‘ …Ž  ˆ‡—†ƒŽǡ †—”ž˜‡Žǡƒ ‘•‡”’‘”—ƒˆ‘”­ƒ‡š–‡”‹‘”
’”‡•‡–‡ ‡ ˜‹•À˜‡Ž ƒ ‡•–”—–—”ƒ baseado   nas   relações   do   “povo-­‐massa”   ”‡•’‡‹–ž˜‡Ž ‡ –‡‹†ƒǤdz ȋ ǡ
’‘ŽÀ–‹…ƒ†‘’ƒÀ•Ǥȋǡ͚͘͘͜Ȍ΁Ά com   o   senhor   do   feudo   (senhor-­‐de-­‐ ͙͛͡͞ǡ’Ǥ͚͛Ȍ••ƒƒƤ”ƒ­ ‘‘•”‡‡–‡
engenho,   sesmeiro,   fazendeiro,   senhor   série  de  ditaduras  militares  que  tiveram  
de  currais,  estancieiro   etc.);   o   clã   paren-­‐ lugar   em   quase   todos   os   países   ibero-­‐
O   desenvolvimentismo   econômico   de  
–ƒŽǡ —ƒ ‘”‰ƒ‹œƒ­ ‘ ƒ”‹•–‘…”ž–‹…ƒ “—‡ americanos.  
Vargas   estava   aliado   ao   seu   plano   de  
surge   das   relações   entre   as   grandes   A  incompatibilidade  entre  as  formas  de  
reformulação   da   estrutura   política  
famílias;  e  o  clã  eleitoral,  que  representa   vida   copiadas   de   nações   socialmente  
nacional,   viabilizando,   dessa   maneira,  
a   arregimentação,   em   um   só   bloco,   do   mais  avançadas,  de  um  lado,  e  o  patriar-­‐
uma   mudança   no   sistema   até   então  
clã  feudal  e  do  clã  parental,  adequado  ao   …ƒŽ‹•‘ ‡ ’‡”•‘ƒŽ‹•‘ Ƥšƒ†‘• ‡–”‡
regente  no  país.  Ou  seja,  é  nesse  período  
ambiente   urbano   e   ao   regime   político   nós   por   uma   tradição   de   origens  
que   o   modelo   administrativo  
inaugurado  em  1822,  momento  em  que   seculares,   de   outro,   deixam   sinais   na  
„—”‘…”ž–‹…‘±‹•‡”‹†‘‘…‘–‡š–‘•‘…‹ƒŽ
o   povo-­‐massa   passou   a   participar   da   †‹Ƥ…—Ž†ƒ†‡ ‡ ‘ ƒ–”ƒ•‘ …‘ “—‡ •‡
e  político  brasileiro.
vida   pública   e   a   valer   como   força   numé-­‐ †‡•‡˜‘Ž˜‡— ƒ ‹†ï•–”‹ƒ ‘ ”ƒ•‹ŽǤ •
rica   mediante   o   voto.   Em   outras   sentimentos   e   deveres   advindos   das  
ƒ”‰ƒ• †ž ‹À…‹‘ ƒ —ƒ ‹±†‹–ƒ ’ƒŽƒ˜”ƒ•ǡ ‘• …Ž • ‡Ž‡‹–‘”ƒ‹• •‹‰‹Ƥ…ƒ ‘ relações  de  facção  –  em  torno  da  família  
”‡ˆ‘”ƒ ƒ†‹‹•–”ƒ–‹˜ƒ ‘ ”ƒ•‹Žǡ prolongamento   dos   vínculos   anteriores   patriarcal   –   sobrepõem-­‐se   ao  
‹•‡”‹†‘ ƒ ƒ†‹‹•–”ƒ­ ‘ ’ï„Ž‹…ƒ entre  senhor  do  feudo  e  povo-­‐massa,  e   empreendimento  guiado  por  interesses  
„—”‘…”ž–‹…ƒǡ…‘‘ˆ‘”ƒ†‡‹–‹‰ƒ”ƒ entre  famílias  senhoriais,  para  dentro  do   e   ideias   típicos   da   burguesia.   Segundo  
Š‡”ƒ­ƒ†‘’ƒ••ƒ†‘’ƒ–”‹‘‹ƒŽ‹•–ƒǡ regime  eleitoral.   ‘Žƒ†ƒ ȋ͙͛͡͞Ȍǡ ‘ •–ƒ†‘ ’”‡••—’Ù‡
ƒ—‡–ƒ†‘ ƒ …‡–”ƒŽ‹œƒ­ ‘ †‘ O   funcionamento   do   regime   uma  transgressão  da  ordem  familiar  que  
’‘†‡”‡•–ƒ–ƒŽ‡ƒ‹–‡‰”ƒ­ ‘’‘ŽÀ–‹…ƒǡ †‡‘…”ž–‹…‘‘”ƒ•‹Žǡ•‡‰—†‘‹ƒƒǡ representa   o   triunfo   do   geral   sobre   o  
‘—–”‘”ƒ †‹Žƒ…‡”ƒ†ƒ ’‡Žƒ ˆ‘”­ƒ †‘• –‡ …‘‘ …‘†‹­ ‘ ‹†‹•’‡•ž˜‡Ž ‘ particular.   Os   detentores   das   posições  
…‘”‘±‹•‡•‡—•”‡†—–‘•‡Dz…—””ƒ‹•dz sentimento  do  Estado  Nacional,  isto  é,  a   públicas   de   responsabilidade   teriam  
‡Ž‡‹–‘”ƒ‹•Ǥȋ ǡ͚͙͘͘ǡ’Ǥ͡Ȍ consciência,  em  cada  cidadão  do  povo-­‐ †‹Ƥ…—Ž†ƒ†‡‡…‘’”‡‡†‡”‡••ƒ†‹•–‹-­‐
ƒ••ƒǡ†‡—†‡•–‹‘‘—†‡—ƒƤƒŽ‹-­‐ ção   entre   o   domínio   particular   e   o  
‡”…‡„‡‘•ǡ ‡– ‘ǡ “—‡ Šž —ƒ ˆ‘”–‡ dade   nacional   que   permeia   o   mecan-­‐ domínio   público,  por  terem  sua  origem  
‹ƪ—²…‹ƒ†‡ƒ­Ù‡•‡”‡•—Ž–ƒ†‘•‡–”‡‘• ismo   do   governo   e   da   administração.   nos   ambientes   marcados   pelos   fortes  
programas   de   desenvolvimento   Sem   ele,   os   detentores   do   poder,   ao   ˜À…—Ž‘• †ƒ ˆƒÀŽ‹ƒ ’ƒ–”‹ƒ”…ƒŽǤ ƒŽ
econômico,  político  e  social  na  estrutura   exercerem   as   funções   para   as   quais   ’‡”•‘ƒŽ‹•‘ –ƒ„± ’‘†‡ •‡” ˜‡”‹Ƥ-­‐
do   Estado   brasileiro.   Atualmente,   foram   eleitos,   favorecerão   sempre   o   cado  no  tipo  de  laços  que  unem  os  mem-­‐
‰”ƒ­ƒ• ƒ‘ ƒ˜ƒ­‘ †‡‘…”ž–‹…‘ǡ ‘ interesse  do  clã,  em  vez  de  se  inspirarem   „”‘•†‡—’ƒ”–‹†‘’‘ŽÀ–‹…‘‘”ƒ•‹ŽǤƒ
’ƒ–”‹‘‹ƒŽ‹•‘ ’‘ŽÀ–‹…‘ ‡•–ž …ƒ†ƒ ˜‡œ no   interesse   da   coletividade   nacional.   nossa   sociedade,   esses   laços   são  
mais   restrito   às   esferas   municipais,   Esse   sentimento   deve   estar   presente   na   …‘•–‹–—À†‘• ‘ ƒ–‘ †‡ ƤŽ‹ƒ­ ‘ǡ
ainda   que   persistam   resquícios   desse   cultura   do   povo   e,   consequentemente,   momento  em  que  o  novo  membro  passa  
fenômeno   no   âmbito   Estadual   e   na   psicologia   dos   cidadãos,   caso   a   dever   compromissos   que   não   podem  
Federal.   …‘–”ž”‹‘ǡ ‘ •–ƒ†‘ ƒ…‹‘ƒŽ †‡ „ƒ•‡ ser  rompidos,  como  se  fossem  laços  de  
†‡‘…”ž–‹…ƒ•‡†‡‰‡‡”ƒǤ parentesco.  

12
ˆ‘”ƒǡ ƒ ”‡‹˜‹†‹…ƒ­ ‘ †‘ ˆ‡†‡”ƒŽ‹•‘
“No   Brasil”,   escrevia   em   1885   o   e   de   modo   enérgico   sobre   o   destino   …‘ ƒ ”‘…Žƒƒ­ ‘ †ƒ ‡’ï„Ž‹…ƒ ‡
naturalista   norte-­‐americano   Herbert   de  um  povo.  A  rigidez,  a  impermeabi-­‐ ͙͠͠͡ ‘…‘””‡— ƒ–—”ƒŽ‡–‡Ǥ ‡••ƒ
Smith,   “vigora   quase   universal   a   lidade,   a   perfeita   homogeneidade   da   ±’‘…ƒǡ Šƒ˜‹ƒ ƒ …‘Š‡…‹†ƒ ’‘ŽÀ–‹…ƒ †‘•
ideia   de   que   é   desonroso   para   uma   legislação   parecem-­‐nos   constituir   o   ‰‘˜‡”ƒ†‘”‡•ǡ — ’ƒ…–‘ ‡–”‡ ƒ• ‡Ž‹–‡•
pessoa   abandonar   seu   partido;   os   único   requisito   obrigatório   da   boa   ”‡‰‹‘ƒ‹• ‡ ‘
‘˜‡”‘ ‡†‡”ƒŽǡ ƒ “—ƒŽ
que   o   fazem   são   estigmatizados   ordem  social.  Não  conhecemos  outro   ˜‹•ƒ˜ƒ–”‘…ƒ†‡ˆƒ˜‘”‡•’‘ŽÀ–‹…‘•‡–”‡
como   traidores.”   E   acrescentava:   recurso.  (HOLANDA,  1936,  p.  178) ‡••‡• †‹ˆ‡”‡–‡• À˜‡‹• †‡ ’‘†‡”Ǥ ‡••‡
Dz”ƒǡ ‡••‡ ‡•’À”‹–‘ †‡ Ƥ†‡Ž‹†ƒ†‡ ± •‡–‹†‘ǡ’‘†‡‘•ƒƤ”ƒ”“—‡‘ˆ‡†‡”ƒŽ-­‐
bom   em   si,   porém   mau   na   aplicação;   ‹•‘ˆ—…‹‘ƒ˜ƒƒ’‡ƒ•‡–‡‘”‹ƒǡ’‘‹•
um   homem   não   age   bem   quando   ƒ ’”ž–‹…ƒ ‡Ž‡ ”‡ƒƤ”ƒ˜ƒ ‘ ’‘†‡” †ƒ•
deserta  de  um  parente,  de  um  amigo,   Federalismo brasileiro: ‘Ž‹‰ƒ”“—‹ƒ• ”‡‰‹‘ƒ‹•Ǥ  ˆ‡†‡”ƒŽ‹•‘
de   uma   causa   nobre;   mas   não   age   „”ƒ•‹Ž‡‹”‘ ƒ•…‡—ǡ ’‘”–ƒ–‘ǡ ƒ••‘…‹ƒ†‘
necessariamente   mal   quando   se   centro e periferia ƒ‘”‡’—„Ž‹…ƒ‹•‘†ƒ•‡Ž‹–‡•’”‘˜‹…‹ƒ‹•ǡ
retira  de  um  partido  político:  às  vezes   ”‡•—Ž–ƒ†‘ ‡ — Dzˆ‡†‡”ƒŽ‹•‘
o   mal   está   em   apegar-­‐se   a   ele”.   ž †‘‹• •‹‰‹Ƥ…ƒ†‘• ’ƒ”ƒ ‘ –‡”‘ ‘Ž‹‰ž”“—‹…‘dzǤDz‡˜‘Ž—­ ‘†‡͛͘dz”‡’”‡-­‐
(HOLANDA,  1936,  p.  80)   Dzˆ‡†‡”ƒŽ‹•‘dzǤ’”‹‡‹”‘†‡Ž‡••‡”‡ˆ‡”‡ •‡–‘—  ‘ ƒ’‡ƒ• —ƒ —†ƒ­ƒ ‘
ƒ‘ ‘†‡Ž‘ ‡•–ƒ†—‹†‡•‡ †‡ ‘”‰ƒ‹-­‐ ‰‘˜‡”‘ „”ƒ•‹Ž‡‹”‘ǡ …‘‘ –ƒ„± ƒ
œƒ­ ‘’‘ŽÀ–‹…ƒ“—‡…‡–”ƒŽ‹œƒ‘’‘†‡”‡ ‡•–”—–—”ƒ†‡•‡—ˆ—…‹‘ƒ‡–‘Ǥ‡••‡
ƒ–‘ Ž‹˜‡‹”ƒ ‹ƒƒ “—ƒ–‘ ±”‰‹‘
— •–ƒ†‘ ”‡•—Ž–ƒ–‡ †ƒ —‹ ‘ †‡ ’‡”À‘†‘ǡŠ‘—˜‡—ƒˆ‘”–‡…‡–”ƒŽ‹œƒ­ ‘
—ƒ”“—‡ †‡ ‘Žƒ†ƒ …‘…‘”†ƒ “—‡
—‹†ƒ†‡• ’‘ŽÀ–‹…ƒ• ’”‡‡š‹•–‡–‡•ǡ “—‡ †‘ ’‘†‡”ǡ ”‡†—œ‹†‘ ƒ ƒ—–‘‘‹ƒ †‘•
Šƒ˜‡”‹ƒ —ƒ …‘–”ƒ†‹­ ‘ „ž•‹…ƒ ƒ
 ‘ ƒ…‡‹–ƒ •‡” †‹••‘Ž˜‹†ƒ• †‡–”‘ †‡ ‡•–ƒ†‘• ‡ǡ ‹…Ž—•‹˜‡ǡ ‡š–‹‰—‹†‘ ‘
•‘…‹‡†ƒ†‡„”ƒ•‹Ž‡‹”ƒ‡–”‡ƒ‘”‰ƒ‹œƒ­ ‘
— •–ƒ†‘ —‹–ž”‹‘Ǣ ‘ •‡‰—†‘ ’”‡˜² ƒ ”‡‰‹‡ ˆ‡†‡”ƒŽ‹•–ƒǤ  ͙͜͡͝ǡ ‘ ‘†‡Ž‘
’ï„Ž‹…ƒ ‡ ƒ …—Ž–—”ƒ ’ƒ”–‹…—Žƒ”‹•–ƒ †‘
†‡•…‡–”ƒŽ‹œƒ­ ‘ †‘ ’‘†‡” ‡ •–ƒ†‘• ˆ‡†‡”ƒŽ‹•–ƒˆ‘‹”‡•–ƒ„‡Ž‡…‹†‘‡’‡”†—”‘—
’‘˜‘Ǥ’—”ƒ‡•‹’Ž‡••—„•–‹–—‹­ ‘†‘•
…‡–”ƒŽ‹œƒ†‘•ǡ…‘‘±‘…ƒ•‘†ƒ”‰‡-­‐ †—”ƒ–‡–‘†‘‘’‡”À‘†‘…‘Š‡…‹†‘…‘‘
†‡–‡–‘”‡•†‘’‘†‡”’ï„Ž‹…‘ ‘”‡’”‡-­‐
–‹ƒ‡†‘”ƒ•‹ŽǤ ‡’ï„Ž‹…ƒ ‘˜ƒǤ ‘‰‘ǡ –‘†ƒ ƒ ‘••ƒ
•‡–ƒ —ƒ •‘Ž—­ ‘ǡ †‡˜‡†‘ •‡” ’”‡…‡-­‐
‹†ƒ“—‡ŠƒŒƒ†‹˜‹• ‘†‡–ƒ”‡ˆƒ•ǡ ‘Šž Š‹•–×”‹ƒ ”‡’—„Ž‹…ƒƒ •‡ ”‡•—‡ ƒ
†‹†ƒ ’‘” –”ƒ•ˆ‘”ƒ­Ù‡• …‘’Ž‡šƒ• ‡
†—’Žƒ•‘„‡”ƒ‹ƒ‘•–ƒ†‘ˆ‡†‡”ƒŽ‹•–ƒǢ‘ †‹Ƥ…—Ž†ƒ†‡ †ƒ• ‡Ž‹–‡• ƒ…‹‘ƒ‹• ‡
˜‡”†ƒ†‡‹”ƒ‡–‡‡•–”—–—”ƒ‹•ƒ˜‹†ƒ†ƒ
‡Ž‡‡–‘“—‡‘†‹•–‹‰—‡†‘•‹•–‡ƒ†‡ ”‡•‘Ž˜‡” ‘ …‘ƪ‹–‘ ƒ’ƒ”‡–‡‡–‡
•‘…‹‡†ƒ†‡Ǥ Ž± †‹••‘ǡ ƒ„‘• …‘…‘”-­‐
‰‘˜‡”‘ —‹–ž”‹‘ ± ‘ ˆƒ–‘ †‡ ‘• ה‰ ‘• ‹…‘…‹Ž‹ž˜‡Ž ‡–”‡ ƒ …‘•–”—­ ‘ †‡ —
†ƒ “—ƒ–‘  ‹‡Ƥ…ž…‹ƒ †ƒ Ž‡‰‹•Žƒ­ ‘
…‡–”ƒ‹• †‡ ‰‘˜‡”‘ •‡”‡ …‘’‘•–‘• •–ƒ†‘ ƒ…‹‘ƒŽ ˆ‘”–‡ ‡ ‘†‡”‹œƒ–‡ǡ
’ï„Ž‹…ƒ ‹†‡ƒŽ‹œƒ†ƒ ’‡Žƒ• ‘••ƒ• ‡Ž‹–‡•Ǥ
’‡Ž‘• ”‡’”‡•‡–ƒ–‡• †ƒ• —‹†ƒ†‡• †ƒ †‡—Žƒ†‘ǡ‡ƒ…‘•‘Ž‹†ƒ­ ‘†‘”‡‰‹‡
…‘•–—ƒ†ƒ• ƒ ‹’‘”–ƒ” ‹†‡‹ƒ•
‡†‡”ƒ­ ‘Ǥ‘‘ƒƤ”ƒ‘•–ƒȋ͚͘͘͜Ȍ΁·ǣ ”‡’”‡•‡–ƒ–‹˜‘‡†‡‘…”ž–‹…‘ǡ†‡‘—–”‘Ǥ
‡—”‘’‡‹ƒ• ‡ ˜‡œ †‡ ‘ŽŠƒ” ’ƒ”ƒ †‡–”‘
Dz ˜ƒ–ƒ‰‡ †‘ ˆ‡†‡”ƒŽ‹•‘  ‘ ‘ƒ“—‡†ƒ†‘•‹Ž‹–ƒ”‡•‡͙͡͠͝‡ƒ
†‘ ’ƒÀ•ǡ ‡Žƒ• –‡–ƒ”ƒ ‹’‘”  •‘…‹‡-­‐
…‘•‹•–‡‡‡Ž‹‹ƒ”ƒ’‘••‹„‹Ž‹†ƒ†‡†‡ ”‡†‡‘…”ƒ–‹œƒ­ ‘ †‘ ’ƒÀ•ǡ ‘• ‰‘˜‡”‘•
†ƒ†‡ „”ƒ•‹Ž‡‹”ƒ —ƒ ‡•–”—–—”ƒ ’‘ŽÀ–‹…ƒ
…‘ƪ‹–‘• ’‘ŽÀ–‹…‘• ‡–”‡ ‘• ‡•–ƒ†‘• ‡•–ƒ†—ƒ‹•‡—‹…‹’ƒ‹•ƒ—‡–ƒ”ƒ•—ƒ
‹ƒ†‡“—ƒ†ƒ  ‘••ƒ ”‡ƒŽ‹†ƒ†‡Ǥ ƒ•
‡„”‘•ǡ ƒ• ‡ …”‹ƒ” ”‡‰”ƒ• †‡ ‹ƪ—²…‹ƒ ‘• ƒ••—–‘• ƒ…‹‘ƒ‹•ǡ
’ƒŽƒ˜”ƒ•†‘•’”×’”‹‘•ƒ—–‘”‡•ǣ
”‡•‘Ž—­ ‘†‡••‡•…‘ƪ‹–‘•dzǤ ƒ–‹‰‹†‘ •‡— ž’‹…‡ ƒ‘ …‘•‘Ž‹†ƒ” ‘
‘…ƒ•‘„”ƒ•‹Ž‡‹”‘ǡ…‘–—†‘ǡƒ†‹˜‹• ‘†‡ ’”‘…‡••‘†‡†‡•…‡–”ƒŽ‹œƒ­ ‘†‘•”‡…—”-­‐
1)  Na  vida  política  do  nosso   povo,  há   …‘’‡–²…‹ƒ• ‡–”‡ ‘• ‰‘˜‡”‘• •‘• –”‹„—–ž”‹‘•Ǥ ••‡ ’‡”À‘†‘ǡ …‘–—†‘ǡ
um   direito   público   elaborado   pelas   ˆ‡†‡”ƒŽǡ‡•–ƒ†—ƒŽ‡—‹…‹’ƒŽ ‘‹’‡-­‐ ˆ‘‹ƒ”…ƒ†‘’‘”—ƒ‰”ƒ˜‡…”‹•‡Ƥ•…ƒŽ†‘
elites  e  que  se  acha  concretizado  na   †‹— “—‡ ‘ ‡š‡”…À…‹‘ †‡Žƒ• —†ƒ••‡ ƒ‘ ‰‘˜‡”‘ ˆ‡†‡”ƒŽǡ †‹Ƥ…—Ž–ƒ†‘ ƒ …ƒ’ƒ…‹-­‐
Constituição. Ž‘‰‘†‘–‡’‘Ǥ‘†‡‘•ƒ–±”‡••ƒŽ–ƒ” †ƒ†‡†‡‹˜‡•–‹‡–‘‡†‹‹—‹­ ‘†ƒ•
2)   Este   direito   público,   elaborado   “—‡ ƒ ’‘ŽÀ–‹…ƒ „”ƒ•‹Ž‡‹”ƒ ± ƒ”…ƒ†ƒ ’‘” †‡•‹‰—ƒŽ†ƒ†‡•‡–”‡ƒ•”‡‰‹Ù‡•Ǥ
pelas  elites,  está  em  divergência  com   — …‹…Ž‘ †‡ …‡–”ƒŽ‹œƒ­ ‘ ƒ—–‘”‹–ž”‹ƒ ‡ ”‡•—‘ǡ‘’”‘…‡••‘†‡…‡–”ƒŽ‹œƒ­ ‘
o   direito   público   elaborado   pelo   †‡•…‡–”ƒŽ‹œƒ­ ‘ ’”‡†ƒ–×”‹ƒǤ ƒ”ƒ †‘’‘†‡”ƒ• ‘•†‘‰‘˜‡”‘ˆ‡†‡”ƒŽǡ
’‘˜‘Ǧƒ••ƒ‡ǡ‘…‘ƪ‹–‘ƒ„‡”–‘’‘” …‘’”‡‡†‡” ‘• ˆ‡Ø‡‘• †‡ ‘••ƒ “—‡ Šƒ˜‹ƒ •‹†‘ ‘ ’”‹…‹’ƒŽ ‹•–”—‡–‘
esta  divergência,  é  o  direito  do  povo-­‐ ’‘ŽÀ–‹…ƒǡ ± ’”‡…‹•‘ǡ ƒ–‡• †‡ –—†‘ǡ †‡ ƒ†‹‹•–”ƒ­ ‘ †‘ ˆ‡†‡”ƒŽ‹•‘ ’‡Ž‘
massa  que  tem  prevalecido,  pratica-­‐ …‘Š‡…‡” ƒ Š‹•–×”‹ƒ „”ƒ•‹Ž‡‹”ƒǤ  ‡•†‡ ƒ ‡‘• †‡•†‡ ͙͛͘͡ǡ †‡— Ž—‰ƒ” ƒ —
mente. ±’‘…ƒ …‘Ž‘‹ƒŽǡ ‘ ”ƒ•‹Ž ± †‹˜‹†‘ ‡ ’”‘…‡••‘†‡•‘”‰ƒ‹œƒ†‘†‡†‡•…‡–”ƒŽ‹-­‐
3)   Toda   a   dramaticidade   da   nossa   ”‡‰‹Ù‡• ƒ†‹‹•–”ƒ–‹˜ƒ•ǡ ˜‹•–‘ “—‡ •‡— œƒ­ ‘ ‘ “—ƒŽ ‘• ‡•–ƒ†‘• ‡ —‹…À’‹‘•
história   política   está   no   esforço   –‡””‹–×”‹‘±—‹–‘‰”ƒ†‡’ƒ”ƒ’‘†‡”•‡” ƒ–—ƒ”ƒ…‘‘ƒ‰‡–‡•Dz’”‡†ƒ†‘”‡•dz†‡
improfícuo   das   elites   para   obrigar   o   …‘–”‘Žƒ†‘ ’‘” —ƒ •× ‹•–Ÿ…‹ƒǤ ••‡ — ‰‘˜‡”‘ ˆ‡†‡”ƒŽ ‡ˆ”ƒ“—‡…‹†‘Ǥ
povo-­‐massa   a   praticar   este   direito   ˆ‡Ø‡‘‹ƪ—‡…‹‘—–‘†‘‘’ƒ†” ‘†‡ ȋǡ͚͘͘͜ǡ’Ǥ͙͟͞Ȍ
por  elas  elaborado,  mas  que  o  povo-­‐ ‘”‰ƒ‹œƒ­ ‘ –‡””‹–‘”‹ƒŽ „”ƒ•‹Ž‡‹”‘ǡ †‡•†‡ ‘ •‡” ’”‘—Ž‰ƒ†ƒ ƒ ‘•–‹–—‹­ ‘ †‡
massa  desconhece  e  a  que  se  recusa   ‘ –‡’‘ †ƒ• …ƒ’‹–ƒ‹ƒ• Š‡”‡†‹–ž”‹ƒ•ǡ ͙͡͠͠ǡ ‘• —‹…À’‹‘• •‡ –‘”ƒ”ƒ
obedecer.  (VIANNA,  1974,  p.  27) ’ƒ••ƒ†‘ ’‡Ž‘ ’‡”À‘†‘ †ƒ• ’”‘˜À…‹ƒ• ƒ—–ؐ‘‘•ǡ•‡†‘‡“—‹’ƒ”ƒ†‘•‹ ‘
Outro   remédio,   só   aparentemente   ‹’‡”‹ƒ‹•ǡ ƒ–± …Š‡‰ƒ”  ±’‘…ƒ †‘• ‡ ƒ‘• ‡•–ƒ†‘•Ǥ ƒ„‡ ƒ‰‘”ƒ ƒ ‡Ž‡• ƒ
mais  plausível,  está  em  pretender-­‐se   ‡•–ƒ†‘•ƒ–—ƒ‹•Ǥ’‡•ƒ”†‡–‡–ƒ–‹˜ƒ•†‡ …‘’‡–²…‹ƒ †ƒ ’”‡•–ƒ­ ‘ †‡ •‡”˜‹­‘•
compassar   os   acontecimentos   …‡–”ƒŽ‹œƒ­ ‘’‘ŽÀ–‹…ƒǡ‘‹–‡”‹‘”†‘’ƒÀ•ǡ †‡•ƒï†‡’‘”‡‹‘†‘‹•–‡ƒl‹…‘†‡
segundo  sistemas,  leis  ou  regulamen-­‐ †—”ƒ–‡ ‘• ’”‹‡‹”‘• •±…—Ž‘• †‡ ”ƒ•‹Žǡ ƒï†‡Ȍ‡†‡’ƒ”–‡†‡–ƒ”‡ˆƒ•‡†—…ƒ-­‐
tos  de  virtude  provada,  em  acreditar   ‡”ƒ ƒ†‹‹•–”ƒ†‘ ‡ …‘ƒ†ƒ†‘ ’‡Žƒ• …‹‘ƒ‹•Ǥ
“—‡ƒŽ‡–”ƒ‘”–ƒ’‘†‡‹ƪ—‹”’‘”•‹•× ‡Ž‹–‡•Ž‘…ƒ‹•ǡ‘•†‹–‘•Dz…‘”‘±‹•dzǤ‡••ƒ

13
Desequilíbrios   entre   as   regiões   afetam   poder   estadual   e   outro   que   ocupa   o  
A   estrutura   organizacional   do   os   resultados   da   redemocratização   e   da   ’‘†‡”ˆ‡†‡”ƒŽǡ†‹Ƥ…—Ž–ƒ†‘‘…‘•‡•‘‡
Sistema  de  Proteção  Social  Brasileiro   descentralização,   criando   contradições   a   implementação   de   projetos   de  
vem   sendo   profundamente   redesen-­‐ e   tensões   para   o   federalismo.   De   um   reforma  amplos.  É  bastante  complicado  
hada.  À  exceção  da  área  de  previdên-­‐ Žƒ†‘ǡƒ†‡•…‡–”ƒŽ‹œƒ­ ‘’‘ŽÀ–‹…ƒ‡Ƥƒ-­‐ para   o   presidente   governar   sem   uma  
cia,   nas   demais   áreas   da   política   ceira   contribuiu   para   a   consolidação   coalizão   congressual   ampla   e   estável   o  
social   —   educação   fundamental,   democrática   por   tornar   o   Brasil   mais   •—Ƥ…‹‡–‡’ƒ”ƒ‡—–”ƒŽ‹œƒ”‰‘˜‡”ƒ†‘”‡•
assistência   social,   saúde,   sanea-­‐ federal,  pois  proporcionou  o  surgimento   e  prefeitos  na   política   nacional   e   obter,  
mento   e   habitação   popular   —   estão   de  novos  atores  políticos.   Como  conse-­‐ então,  o  controle  sobre  o  uso  de  recur-­‐
sendo   implantados   programas   de   quência   desse   processo,   o   governo   •‘•Ƥ•…ƒ‹•Ǥ ‹‰—‡‹”‡†‘‡‹‘‰‹ȋ͙͡͡͡Ȍ
descentralização   que   vêm   transfer-­‐ federal   é   compelido   a   negociar   com   as   ƒƤ”ƒ “—‡ ‡š‹•–‡ ‡…ƒ‹•‘•
indo,   paulatinamente,   um   conjunto   esferas   subnacionais   o   encaminha-­‐ institucionais   no   Brasil   que   permitem   a  
•‹‰‹Ƥ…ƒ–‹˜‘†‡ƒ–”‹„—‹­Ù‡•†‡‰‡•– ‘ mento  de  questões  nacionais.  De  outro   governabilidade   e   a   estabilidade   por  
para   os   níveis   estadual   e   municipal   lado,  a  descentralização  reduz  as  possi-­‐ ’ƒ”–‡ †‘• ‘†‡”‡• š‡…—–‹˜‘ ‡ ‡‰‹•Žƒ-­‐
de   governo.   (ARRETCHE,   1999,   p.   bilidades   de   se   enfrentar   os   desequilí-­‐ tivo.   Ademais,   o   presidente   da  
111) brios  regionais  pelo  relativo  enfraqueci-­‐ República   conta   com   apoio   dos   princi-­‐
‡–‘Ƥƒ…‡‹”‘†‘‰‘˜‡”‘ˆ‡†‡”ƒŽǤ pais  líderes  da  coalizão  para  interferir  no  
Há   algumas   características   que   são   processo   de   tomada   de   decisão.   Dessa  
Desequilíbrios   entre   as   regiões   afetam   próprias   do   sistema   federalista   forma,   o   governo   trabalha   como   se  
os   resultados   da   redemocratização   e   da   brasileiro,   como:   a   inclusão   de   municí-­‐ houvesse   uma   fusão   entre   o   Poder  
descentralização,   criando   contradições   pios   como   membros   permanentes,   até   š‡…—–‹˜‘ǡ ƒ Ƥ‰—”ƒ †‘ ’”‡•‹†‡–‡ǡ ‡ ‘
e   tensões   para   o   federalismo.   De   um   mesmo   com   autonomia   legislativa   e   ‡‰‹•Žƒ–‹˜‘ǡ ”‡’”‡•‡–ƒ†‘ ’‡Ž‘• ŽÀ†‡”‡•
Žƒ†‘ǡƒ†‡•…‡–”ƒŽ‹œƒ­ ‘’‘ŽÀ–‹…ƒ‡Ƥƒ-­‐ tributária;   a   constante   ampliação   da   dos  partidos  da  coalizão.
ceira   contribuiu   para   a   consolidação   federação   com   a   criação   de   novos   —–”ƒ …ƒ”ƒ…–‡”À•–‹…ƒ ‹’‘”–ƒ–‡ †‡
democrática   por   tornar   o   Brasil   mais   municípios;  estados  tem  poder  residual   nosso   sistema   é   a   representação  
federal,  pois  proporcionou  o  surgimento   (possuem   autorização   para   legislar   desigual   das   regiões   na   Câmara   dos  
de  novos  atores  políticos.   Como  conse-­‐ sobre   qualquer   assunto   que   não   tenha   Deputados,   resultante   do   decreto   da  
quência   desse   processo,   o   governo   sido   reservado   exclusivamente   à  União   ‘•–‹–—‹­ ‘†‡͙͡͠͠“—‡‡•–ƒ„‡Ž‡…‡—
federal   é   compelido   a   negociar   com   as   ou   aos   municípios);   tendência   centrali-­‐ mínimo  de  oito  deputados  e  um  máximo  
esferas   subnacionais   o   encaminha-­‐ zadora  do  governo  federal.  Esse  último   †‡͘͟’‘”‡•–ƒ†‘Ǥ‘‰‘ǡ‡•–ƒ†‘•ǡ…‘‘‘
mento  de  questões  nacionais.  De  outro   ponto,   contudo,   pode   ser   motivo   de   Piauí,   têm   uma   representação   maior   e  
lado,  a  descentralização  reduz  as  possi-­‐ controvérsia,  visto  que  o  funcionamento   estados,  como  São  Paulo  (grande  densi-­‐
bilidades   de   se   enfrentar   os   desequilí-­‐ do  sistema  tributário  brasileiro  dá  força   †ƒ†‡†‡‘‰”žƤ…ƒȌǡ—ƒ”‡’”‡•‡–ƒ­ ‘
brios  regionais  pelo  relativo  enfraqueci-­‐ aos   estados   e   aos   munícipios.   Como   menor   do   que   teriam   se   a   distribuição  
‡–‘Ƥƒ…‡‹”‘†‘‰‘˜‡”‘ˆ‡†‡”ƒŽǤ exemplo   de   tal   fato,   o   ICMS,   maior   das  cadeiras  na   Câmara  dos  Deputados  
Há   algumas   características   que   são   imposto  da  país,  é  de  arrecadação  exclu-­‐ fosse   perfeitamente   proporcional   à  
próprias   do   sistema   federalista   siva   dos   estados.   A   arrecadação,   ’‘’—Žƒ­ ‘ †‡ …ƒ†ƒ ‡•–ƒ†‘Ǥ  ‡•‘
brasileiro,   como:   a   inclusão   de   municí-­‐ contudo,  não  é  igualitária  entre  os  mem-­‐ ocorre   no   Senado.  Além   desse   fator,   é  
pios   como   membros   permanentes,   até   bros   da   nação,   pois   as   regiões   Sul   e   ‹’‘”–ƒ–‡ ”‡••ƒŽ–ƒ” ƒ ‹ƪ—²…‹ƒ †‘•
mesmo   com   autonomia   legislativa   e   Sudeste   conseguem   se   sustentar   por   governadores   na   política   brasileira.  
tributária;   a   constante   ampliação   da   meio   de   tributos   recolhidos,   enquanto   Esses  acabam  sendo,  por  meio  de  fortes  
federação   com   a   criação   de   novos   as   outras   são   fortemente   dependentes   coalizões  de  governos  nas  assembleias  e  
municípios;  estados  tem  poder  residual   de   transferências   de   receitas   da  União.   de   bancadas   favoráveis   no   Congresso,  
(possuem   autorização   para   legislar   Como   efeito   perverso   da   autonomia   grandes   parceiros   do   governo   federal,  
sobre   qualquer   assunto   que   não   tenha   Ƥ•…ƒŽ‡–”‹„—–ž”‹ƒ†‘•‡•–ƒ†‘•ǡ’‘†‡‘• aprovando   ou   desaprovando   reformas  
sido   reservado   exclusivamente   à  União   …‹–ƒ” ƒ Dz‰—‡””ƒ Ƥ•…ƒŽdzǡ ƒ “—ƒŽ ˜‡ que  interessem  ou  não  aos  seus  estados.
ou   aos   municípios);   tendência   centrali-­‐ ”‡†‡•‡Šƒ†‘ ƒ ‰‡‘‰”ƒƤƒ ‹†—•–”‹ƒŽ ‡ǡ
zadora  do  governo  federal.  Esse  último   consequentemente,  econômica  do  país.   Ƥǡƒ•„ƒ•‡•’‘ŽÀ–‹…ƒ•†‘ˆ‡†‡”ƒŽ-­‐
ponto,   contudo,   pode   ser   motivo   de   Assim,   o   regime   federalista   brasileiro   ismo   são   o   resultado   dessa   combi-­‐
controvérsia,  visto  que  o  funcionamento   combina  um  presidencialismo  forte  que   nação,   às   vezes   complicada,   de  
do  sistema  tributário  brasileiro  dá  força   governa   com   o   apoio   de   um   governo   presidentes   e   governadores   fortes,  
aos   estados   e   aos   munícipios.   Como   legislativo  bicameral  (Câmara  e   Senado   legislativos   regionais   fracos   e   um  
exemplo   de   tal   fato,   o   ICMS,   maior   vinculados   a   interesses   regionais)   e   de   Congresso   bastante   fragmentado   e  
imposto  da  país,  é  de  arrecadação  exclu-­‐ um   Poder   Judiciário   independente,   e   a   instável   no   apoio   aos   programas   de  
siva   dos   estados.   A   arrecadação,   separação   de   poderes   nos   níveis   governo   que   implicam   confrontação  
contudo,  não  é  igualitária  entre  os  mem-­‐ estadual   e   municipal,   concedendo   de   interesses   regionais.   (COSTA,  
bros   da   nação,   pois   as   regiões   Sul   e   autonomia   política   a   estes.   “Desse   2004,  p.  180)
Sudeste   conseguem   se   sustentar   por   modo,  o  federalismo  brasileiro  é  o  resul-­‐
meio   de   tributos   recolhidos,   enquanto   tado  da  combinação  de  poderes  execu-­‐
as   outras   são   fortemente   dependentes   tivos   fortes   com   legislativos   multipar-­‐ Analisando   a   história   política   do   país,  
de   transferências   de   receitas   da  União.   –‹†ž”‹‘•dz ȋǡ ͚͘͘͜ǡ ’Ǥ ͙͟͡ȌǤ ••‡ percebemos   que   embora   grandes  
Como   efeito   perverso   da   autonomia   modelo   apresenta   certos   entraves   para   mudanças   tenham   ocorrido,   ainda   há  
Ƥ•…ƒŽ‡–”‹„—–ž”‹ƒ†‘•‡•–ƒ†‘•ǡ’‘†‡‘• governar  a  nação,  pois  pode  haver  uma   uma   tendência   governista   e   políticas   de  
…‹–ƒ” ƒ Dz‰—‡””ƒ Ƥ•…ƒŽdzǡ ƒ “—ƒŽ ˜‡ divergência  entre  o  partido  que  está  no   coronelismo  existentes  entre  os  donos  
14
†‘ ’‘†‡”Ǥ ‘ ”ƒ•‹Žǡ ‘ ˆ‡†‡”ƒŽ‹•‘  ‘ •‡–‹†‘ǡ ƒ• ƒžŽ‹•‡• †ƒ ‘‹•• ‘
‡•–ž ƒ••‘…‹ƒ†‘ ƒ †‡•‡˜‘Ž˜‹‡–‘ De   fato,   a   análise   de   Euclides   da   …‘Ø‹…ƒ ’ƒ”ƒ ƒ ±”‹…ƒ ƒ–‹ƒ ‡ ‘
‡…‘Ø‹…‘ǡ ‡ ƒ †‡‘…”ƒ…‹ƒǤ ••‡ Cunha   nada   mais   faz   senão   eviden-­‐ ƒ”‹„‡ ȋȌ ‘•–”ƒ “—‡ ‘ •—„†‡-­‐
•‹•–‡ƒ ‘•–”‘—Ǧ•‡ ƒ’‡ƒ• ‘ ‡ŽŠ‘” …‹ƒ” ‘ ”‡ƪ‡š‘ †ƒ ƒ”–‹…—Žƒ­ ‘ …‘–”ƒ-­‐ •‡˜‘Ž˜‹‡–‘ –‡ ”ƒÀœ‡• Š‹•–×”‹…ƒ•ǡ
’ƒ”ƒ ƒ””ƒŒƒ” ƒ ‰‘˜‡”ƒ­ƒ †‡ — †‹–×”‹ƒ ‡–”‡ ƒ †‘‹ƒ­ ‘ †ƒ• ‡Ž‹–‡• “—‡ ”‡‘–ƒ • ”‡Žƒ­Ù‡• ‡…‘Ø‹…ƒ•
‹‡•‘ ‡ †‡•ƒ”–‹…—Žƒ†‘ –‡””‹–×”‹‘ …‘ ƒ‰”ž”‹ƒ• ‡ ƒ ƒ†‘­ ‘ †ƒ ‹†‡‘Ž‘‰‹ƒ †‡•‹‰—ƒ‹• ‡•–ƒ„‡Ž‡…‹†ƒ• ‡ ±’‘…ƒ•
‘Ž‹‰ƒ”“—‹ƒ• ”‡‰‹‘ƒ‹•Ǥ ‘†‹‡”ƒ‡–‡ǡ liberal   burguesa.   Trata,   pois,   das   ƒ–‡”‹‘”‡• ‡–”‡ ‡…‘‘‹ƒ• …‡–”ƒ‹• ‡
Šž …‘””‡–‡• “—‡ †‹˜‡”‰‡ •‘„”‡ ‘ disparidades  de  estilo  entre  cidade  –   ’‡”‹ˆ±”‹…ƒ•Ǥ  †—ƒŽ‹•‘ †‡‹šƒ †‡ •‡”
˜‡”†ƒ†‡‹”‘ ’ƒ’‡Ž †‘ ‰‘˜‡”‘ ˆ‡†‡”ƒŽǤ …‡–”‘†ƒ•ˆ—­Ù‡•…‘‡”…‹ƒ‹•ǡƤƒ-­‐ ƒ–”‹„—À†‘ƒ…ƒ”ƒ…–‡”À•–‹…ƒ•‹–”À•‡…ƒ•†ƒ
Ž‰—ƒ• ƒŽ‡‰ƒǡ ƒ–± ‡•‘ǡ “—‡ Šž ceiras   e   políticas   –   e   campo,   domi-­‐ •‘…‹‡†ƒ†‡ …‘Ž‘‹ƒŽǡ ‡ ’ƒ••ƒ ƒ •‡”
— ’”‡†‘À‹‘ ‡š–”‡‘ †‡ ‹–‡”‡••‡• nado   pela   onipotência   da   grande   ƒ–”‹„—À†‘  ˆ‘”ƒ †‡ ’‡‡–”ƒ­ ‘ †‘
‡•–ƒ†—ƒ‹• ‡ —‹…‹’ƒ‹•ǡ Š‡”ƒ­ƒ †‡ — propriedade   de   terra,   unidade   social   …ƒ’‹–ƒŽ‹•‘‡••‡–‹’‘†‡†‡’‡†²…‹ƒǡ
…‘”‘‡Ž‹•‘ ’ƒ••ƒ†‘Ǥ  Š‹•–×”‹ƒ †‘ relativamente   autônoma   e   marcado   ‡ “—‡ ƒ ’‡”‹ˆ‡”‹ƒ ± ‡”ƒ ˆ‘”‡…‡†‘”ƒ
ˆ‡†‡”ƒŽ‹•‘„”ƒ•‹Ž‡‹”‘±ǡ’‘‹•ǡ…‘’‘•–ƒ ’‘” ”‡Žƒ­Ù‡• •‡‹Ǧ•‡”˜‹•Ǥ †‡„‡•’”‹ž”‹‘•’ƒ”ƒ‘…‡–”‘Ǥ
’‘” †‹ˆ‡”‡–‡• ˆƒ•‡• †‡ …‡–”ƒŽ‹œƒ­ ‘ ‡ (MIGOWSKI,  1999,  p.  16)
†‡•…‡–”ƒŽ‹œƒ­ ‘ †‘ ’‘†‡”ǡ ‹ƪ—‡…‹ƒ-­‐  ‡ˆ‡‹–‘ †‘ ‹’ƒ…–‘ †ƒ ‡š’ƒ• ‘
†ƒ• ’‡Ž‘ …‘’‘”–ƒ‡–‘ †ƒ• ‡Ž‹–‡• ƒ•ˆ‘‹ƒ‘Ž‘‰‘†ƒ†±…ƒ†ƒ†‡͙͘͡͝“—‡ capitalista   sobre   as   estruturas  
Ž‘…ƒ‹• ‡ ’‘” — …‘ƪ‹–‘ ‡–”‡ —ƒ ƒƒ„‘”†ƒ‰‡†—ƒŽ‹•–ƒ’”‡†‘‹‘—‡–”‡ arcaicas  variou  de  região  para  região,  
’‡”‹ˆ‡”‹ƒ ’‘„”‡ ‡ ‡š…Ž—À†ƒ †‘ ’‘†‡” ‘•…‹‡–‹•–ƒ••‘…‹ƒ‹•‡‘•‡…‘‘‹•–ƒ•Ǥ ao  sabor  de  circunstâncias  locais,  do  
…‡–”ƒŽ ‡ — …‡–”‘ ”‹…‘ ‡ ˆ‘…‘ †ƒ †‡•‡˜‘Ž˜‹‡–‘ —”„ƒ‘Ǧ‹†—•–”‹ƒŽ ‘ –‹’‘ †‡ ’‡‡–”ƒ­ ‘ …ƒ’‹–ƒŽ‹•–ƒ ‡ †ƒ
’‘ŽÀ–‹…ƒƒ…‹‘ƒŽǤ ’‡”À‘†‘ ’‘•–‡”‹‘” ƒ ͙͛͘͡ ȋ”ƒ ƒ”‰ƒ•Ȍ intensidade  desta.  Contudo,  a  result-­‐
Šƒ˜‹ƒ–‘”ƒ†‘…ƒ†ƒ˜‡œƒ‹•‡˜‹†‡–‡‘ ƒ–‡ ˆ‘‹ “—ƒ•‡ •‡’”‡ ƒ …”‹ƒ­ ‘ †‡
…‘–”ƒ•–‡…‘ƒ•‡…‘‘‹ƒ•”—”ƒ‹•Ǥƒ”ƒ estruturas   híbridas,   uma   parte   das  
As interpretações ƒ“—‡•ƒ„‡”–‡‘‰‡”ƒ•–‹†‡ǡ•‘…‹×Ž-­‐ quais   tendia   a   comportar-­‐se   como  
dualistas do brasil ‘‰‘•ˆ”ƒ…‡•‡•“—‡Ž‡…‹‘ƒ”ƒ‘”ƒ•‹Žǡ um   sistema   capitalista,   a   outra   a  
‘ ƒ”…ƒ‹…‘ ‡”ƒ ”‡•À†—‘ †‘ ’ƒ••ƒ†‘ ƒ–‡”Ǧ•‡†‡–”‘†ƒ‡•–”—–—”ƒ’”‡‡š-­‐
…‘Ž‘‹ƒŽ ‡ ‡•–ƒ˜ƒ ˜‹…—Žƒ†‘ ƒ‘ …ƒ’‘ǡ istente.   Esse   tipo   de   economia  
’ƒ”–‹”†‘Ƥ†‘•±…—Ž‘ ǡƒ‹†ï•–”‹ƒ
‡“—ƒ–‘ ‘ ‘†‡”‘ ƒ…‘’ƒŠƒ˜ƒ ƒ †—ƒŽ‹•–ƒ…‘•–‹–—‹ǡ‡•’‡…‹Ƥ…ƒ‡–‡ǡ‘
…‘‡­‘—ƒ‰ƒŠƒ”‹’‘”–Ÿ…‹ƒ‘”ƒ•‹Ž
‹†—•–”‹ƒŽ‹œƒ­ ‘ ‡ ’ƒ”–‹ƒ †ƒ• …‹†ƒ†‡•Ǥ fenômeno   do   subdesenvolvimento  
‡†‡–”‹‡–‘†ƒ•ƒ–‹˜‹†ƒ†‡•ƒ‰”À…‘Žƒ•ǡ
‹†ƒ ƒ †±…ƒ†ƒ †‡ ͘͝ǡ ‘ †—ƒŽ‹•‘ contemporâneo.  (FURTADO,  1961)
ƒ‘ ‡•‘ –‡’‘ ‡ “—‡ ƒ ’‘’—Žƒ­ ‘
’ƒ••‘— ƒ •‡” —–‹Ž‹œƒ†‘  ‘ •× …‘‘
†‡‹šƒ˜ƒ ƒ• ž”‡ƒ• ”—”ƒ‹• ‡ •‡ ‡•–ƒ„‡Ž‡…‹ƒ
‹…‡–‹˜‘  •—’‡”ƒ­ ‘ †‡ •‡–‘”‡• ƒ”…ƒ‹-­‐
ƒ• …‹†ƒ†‡• ’ƒ”ƒ ƒ…‘’ƒŠƒ” ƒ ‘˜ƒ
…‘• ‹–‡”‘•ǡ …‘–”ž”‹‘• ƒ‘ †‡•‡˜‘Ž˜‹-­‐ ••‹ǡ†‡ƒ…‘”†‘…‘ƒǡŠƒ˜‡”‹ƒ
†‹Ÿ‹…ƒ†ƒ‡…‘‘‹ƒǤ••‡‘˜‹‡–‘
‡–‘ ƒ…‹‘ƒŽǡ ƒ• –ƒ„± ’ƒ”ƒ †—ƒŽ‹•‘ ‘• ’Žƒ‘• ‡š–‡”‘ ‡ ‹–‡”‘ǡ
ˆ‡œ “—‡ ‡Ž‡‡–‘• ƒ”…ƒ‹…‘• †ƒ •‘…‹‡-­‐
…‘’ƒ”ƒ” ƒ –”ƒŒ‡–×”‹ƒ Š‹•–×”‹…ƒ †‘• ƒ“—‡Ž‡ ”‡•—‹†‘ ƒ †‹…‘–‘‹ƒ …‡–”‘-­‐
†ƒ†‡„”ƒ•‹Ž‡‹”ƒ•‡‡…‘–”ƒ••‡…‘‘•
’ƒÀ•‡• ’‘” ‡‹‘ †‡ —ƒ Dz–‡‘”‹ƒ †ƒ ’‡”‹ˆ‡”‹ƒǡ ‡•–‡ ƒ †‹•–‹­ ‘ ‡–”‡ •‡–‘”
‘˜‘• ˜ƒŽ‘”‡• “—‡ ƒ…‘’ƒŠƒ˜ƒ ƒ
‘†‡”‹œƒ­ ‘dzǤ  ƒ”‰—‡–‘ †‡ˆ‡-­‐ ‘†‡”‘ ‡ †‡ •—„•‹•–²…‹ƒǤ ‹ƒ–‡
‘†‡”‹œƒ­ ‘ǡˆ‡Ø‡‘“—‡‹†—œ‹—‘
†‹†‘ ’‡Žƒ –‡‘”‹ƒ †ƒ ‘†‡”‹œƒ­ ‘ •‡ †‡••‡ …‡ž”‹‘ǡ ƒ ‹†—•–”‹ƒŽ‹œƒ­ ‘ ˆ‘‹
‡‹‘ ‹–‡Ž‡…–—ƒŽ  ˜‹• ‘ †‡ — ”ƒ•‹Ž
„ƒ•‡‹ƒƒ‹†‡‹ƒ†‡“—‡ƒ•‡–ƒ’ƒ•’‡”…‘”-­‐ †‡ˆ‡†‹†ƒ’‡Ž‘•…‡’ƒŽ‹‘•…‘‘•‡†‘ƒ
…‘’‘•–‘ ’‘” †—ƒŽ‹†ƒ†‡•ǣ ƒ–‹‰‘Ȁ‘˜‘ǡ
”‹†ƒ• ’‡Ž‘• ’ƒÀ•‡• ‡ †‡•‡˜‘Ž˜‹‡–‘ ˆ‘”ƒƒ†‡“—ƒ†ƒ†‡•—’‡”ƒ”‘ƒ–”ƒ•‘‡ƒ
–”ƒ†‹…‹‘ƒŽȀ‘†‡”‘ǡ ’‡”‹ˆ‡”‹ƒȀ…‡–”‘ǡ
• ‘•‡‡ŽŠƒ–‡•“—‡Žƒ•–”‹ŽŠƒ†ƒ•’‡Ž‘• †‡’‡†²…‹ƒǤ
ƒ‰”ž”‹‘Ȁ‹†—•–”‹ƒŽǡ ”—”ƒŽȀ—”„ƒ‘ǡ ‡–…Ǥ 
’ƒÀ•‡• †‡ ‹†—•–”‹ƒŽ‹œƒ­ ‘ ƒ˜ƒ­ƒ†ƒǤ • …‘…‡’­Ù‡• †—ƒŽ‹•–ƒ• •—’—Šƒ
…‘…‡’­ ‘ †—ƒŽ‹•–ƒ …Žž••‹…ƒ ’ƒ”–‡ †‘
••‹ǡ ‘ †—ƒŽ‹•‘ ”‡’”‡•‡–ƒ”‹ƒ — •‡’”‡ — …Š‘“—‡Ȁ‘’‘•‹­ ‘ǡ •‡Œƒ ‘
’”‡••—’‘•–‘†‡“—‡†‘‹•Dz”ƒ•‹•dz‡–”ƒ
‡•–ž‰‹‘ ‹–‡”‡†‹ž”‹‘ ‘ ’”‘…‡••‘ †‡ Ÿ„‹–‘ ƒ…‹‘ƒŽǡ ‡–”‡ ‘†‡”‘ ‡
‡ …‘ƪ‹–‘ǡ ‰‡”ƒ†‘ —ƒ •±”‹‡ †‡
†‡•‡˜‘Ž˜‹‡–‘ …ƒ’‹–ƒŽ‹•–ƒǤ‘–”ž”‹ƒ• ƒ”…ƒ‹…‘ǡ •‡Œƒ ‘ ‹–‡”ƒ…‹‘ƒŽǡ ‡–”‡
…‘–”ƒ†‹­Ù‡• ‘ •‡‹‘ †ƒ ‘••ƒ •‘…‹‡-­‐
ƒ ‡••ƒ ’‡”•’‡…–‹˜ƒ ‡˜‘Ž—…‹‘‹•–ƒǡ ˆ‘”ƒ …‡–”‘‡’‡”‹ˆ‡”‹ƒǤŽƒ•–ƒ„±’ƒ”–‹ƒ
†ƒ†‡Ǥ  †‘• ’”‹‡‹”‘• ‡š’‘‡–‡• †‘
ˆ‘”—Žƒ†ƒ• †—ƒ• ‘—–”ƒ• …‘””‡–‡•ǡ †‡ †‡ˆ‡•ƒ†ƒ‹†—•–”‹ƒŽ‹œƒ­ ‘…‘‘ˆ‘”ƒ
†—ƒŽ‹•‘ ± —…Ž‹†‡• †ƒ—Šƒǡ “—‡ ‡
ˆ—†‘ •‡‡ŽŠƒ–‡Ǥ ‹…‹ƒŽ‡–‡ǡ ‘• †‡ •—’‡”ƒ” —ƒ ‡–ƒ’ƒ Š‹•–×”‹…ƒ ‡
•—ƒ ‰”ƒ†‡ ‘„”ƒǡ • ‡”–Ù‡• ȋ͙͚͘͡Ȍǡ
ƒ—–‘”‡•˜‹…—Žƒ†‘•ƒ‘ •–‹–—–‘—’‡”‹‘” …‘“—‹•–ƒ” ƒ ƒ—–‘‘‹ƒ †‘ ”ƒ•‹ŽǤ
†‡—…‹ƒ ƒ ‹…‘’”‡‡• ‘ †‘ ‰‘˜‡”‘
†‡ •–—†‘• ”ƒ•‹Ž‡‹”‘• ȋ Ȍ ƒ’‘–ƒ-­‐ ‘–—†‘ǡ ƒ• †±…ƒ†ƒ• †‡ ͘͞ ‡ ͘͟ǡ
„”ƒ•‹Ž‡‹”‘ ‡ ”‡Žƒ­ ‘ • ˜‡”†ƒ†‡‹”ƒ•
˜ƒ ’ƒ”ƒ ƒ …‘–”ƒ†‹­ ‘ Dzƒ­ ‘ •Ǥ ƒŽ‰—ƒ• …‘””‡–‡• †‡ ’‡•ƒ‡–‘
…ƒ—•ƒ•’‘”–”ž•†ƒ
—‡””ƒ†‡ƒ—†‘•Ǥ
ƒ–‹Ǧƒ­ ‘dzǡ‘—•‡Œƒǡ‡–”‡‘•ˆƒ˜‘”ž˜‡‹• …‘‡­ƒ”ƒ ƒ …‘–”ƒ’‘” ‡••‡ ‘†‡Ž‘Ǥ
…‘ƪ‹–‘ –‡”‹ƒ •‹†‘ –”ƒ–ƒ†‘ ’‡Ž‘ ”‡‰‹‡
ƒ‘ †‡•‡˜‘Ž˜‹‡–‘ ƒ…‹‘ƒŽ ‡ •‡—• ”ƒ…‹•…‘†‡Ž‹˜‡‹”ƒȋ͚͘͘͠Ȍǡ’‘”‡š‡-­‐
”‡’—„Ž‹…ƒ‘…‘‘—ƒ”‡„‡Ž‹ ‘‘ƒ”-­‐
…‘–”ž”‹‘•ǡ ”‡’”‡•‡–ƒ†‘ ‘ ’”‹…‹’ƒŽ ’Ž‘ǡ ƒƤ”ƒ “—‡ ƒ ‘’‘•‹­ ‘ ƒ ƒ‹‘”‹ƒ
“—‹•–ƒǡ “—ƒ†‘ ƒ ˜‡”†ƒ†‡ ‡”ƒ —ƒ
ƒ–ƒ‰‘‹•‘ ƒ ˆ‘”ƒ­ ‘ •‘…‹ƒŽ †‘•…ƒ•‘•±– ‘•‘‡–‡ˆ‘”ƒŽǣ†‡ˆƒ–‘ǡ
ƒ‹ˆ‡•–ƒ­ ‘ †ƒ ”‡ƒŽ‹†ƒ†‡ •‡”–ƒ‡Œƒǡ
„”ƒ•‹Ž‡‹”ƒǤ –‡•‡ †‘ ‹•‡„‹ƒ‘• •—•–‡–ƒ ‘’”‘…‡••‘”‡ƒŽ‘•–”ƒ—ƒ•‹„‹‘•‡‡
“—‡ Šƒ˜‹ƒ •‹†‘ ‡•“—‡…‹†ƒ ’‡Žƒ• ƒ—–‘”‹-­‐
“—‡ ‘• •‡‰‡–‘• ƒ”…ƒ‹…‘• ‡•–ƒ”‹ƒ —ƒ ‘”‰ƒ‹…‹†ƒ†‡ǡ —ƒ —‹†ƒ†‡ †‡
†ƒ†‡•ǣ—”ƒ•‹Ž‹•‡”ž˜‡Ž‡…‘†‡ƒ†‘
ƒŽ‹ƒ†‘• ƒ‘ ‹’‡”‹ƒŽ‹•‘ǡ ‘ “—‡ ‡š‹‰‹”‹ƒ …‘–”ž”‹‘•ǡ ‡ “—‡ ‘ …Šƒƒ†‘ Dz‘†-­‐
 „ƒ”„ž”‹‡ ’‘” ‡•–ƒ” ˆ‘”ƒ †‘ Ÿ„‹–‘ †ƒ
—ƒ—‹ ‘‡–”‡ƒ„—”‰—‡•‹ƒ‡‘•–”ƒ„ƒŽ-­‐ ‡”‘dz…”‡•…‡‡•‡ƒŽ‹‡–ƒ†ƒ‡š‹•–²…‹ƒ
ƒ­ ‘ ‘— †‡ ‹–‡”‡••‡• ‰‘˜‡”ƒ‡–ƒ‹•ǡ
Šƒ†‘”‡• ƒ…‹‘ƒ‹• •‘„ ƒ „ƒ†‡‹”ƒ †‘ †‘Dzƒ–”ƒ•ƒ†‘dzǤ
‡ ‘’‘•‹­ ‘ ƒ‘ ”ƒ•‹Ž …‹˜‹Ž‹œƒ†‘ †‘
†‡•‡˜‘Ž˜‹‡–‹•‘Ǥ ••‡ ƒ”‰—‡–‘
Ž‹–‘”ƒŽǡï…Ž‡‘†ƒƒ–‡­ ‘‰‘˜‡”ƒ‡-­‐
ˆ‡œ’ƒ”–‡†‘†‹•…—”•‘‰‘˜‡”ƒ‡–ƒŽ’‘”
–ƒŽǤ
‘…ƒ•‹ ‘†‘Žƒ‘†‡‡–ƒ•ȋ͙͡͝͞Ȃ͙͘͡͞Ȍ
†‡ —•…‡Ž‹‘—„‹–•…Š‡Ǥ‘‡•‘
15
‡ƒ•‹†‡–‹†ƒ†‡•’”‘Ƥ••‹‘ƒ‹•ƒ’ƒ”‡…‡ representa   o   conjunto   de   normas   que  
A gramática política …‘‘ „ƒ•‡ †‡ …Žƒ••‹Ƥ…ƒ­ ‘ •‘…‹ƒŽ ‡ podem   ser   utilizadas   por   todos   os  
como   referência   para   a   atribuição   de   indivíduos   de   uma   sociedade   politica-­‐
do Brasil direitos   e   obrigações.   No   Brasil,   serviu   ‡–‡ ‘”‰ƒ‹œƒ†ƒǤ Ž‡ •‹‰‹Ƥ…ƒ “—‡
’ƒ”ƒƒ„•‘”˜‡”‘…‘ƪ‹–‘’‘ŽÀ–‹…‘ǡ…‘–”‘-­‐ nenhum   membro   dessa   sociedade  
A   ideia   de   que   a   nossa   sociedade   não  
lando   e   organizando   as   classes   baixas   estará  excluído  de,  por  exemplo,  eleger  
corresponde   mais   ao   modelo   de   “dois  
por   meio   de   sua   incorporação   no   representantes   ou   se   proteger   contra  
Brasis”   levou   o   cientista   político   Edson  
sistema.   Também   chamado   de   capital-­‐ abusos   de   poder   pelo   Estado,   e   suas  
Nunes   a   apresentar   uma   nova   abord-­‐
ismo  organizado,  é  uma  maneira  de  lidar   demandas  e  deveres  serão  julgadas  com  
agem  em  seu  livro  A   Gramática  Política  
com  as  incertezas  geradas  no  mercado,   base   em   critérios   impessoais.   Este   é   um  
do  Brasil.   Segundo  ele,  a  introdução  do  
inibindo  a  emergência  de  uma  ordem  de   dos   componentes   cruciais   da   democra-­‐
capitalismo  moderno  no  Brasil  interagiu  
…‘ƪ‹–‘•†‡…Žƒ••‡Ǥƒ”ƒ‘•…‘”’‘”ƒ–‹˜‹•-­‐ cia,   embora   não   seja   garantia   de   sua  
com   a   criação   de   um   sistema   institu-­‐
tas,   o   Estado   é   uma   organização   com   existência.  Em  geral,  o  universalismo  de  
cional   sincrético,   e   não   mais   regional   e  
interesses  estabelecidos,  um  ator  princi-­‐ procedimentos  é  associado  às  noções  de  
dualista.   Esse   sistema   seria   composto  
pal,  lado  a  lado  com  os  grupos.  Uma  vez   cidadania   plena   e   igualdade   jurídica,  
por   quatro   “gramáticas”   (padrões  
que   o   Estado   tem   de   competir   com   características   dos   países   de   economia  
‹•–‹–—…‹‘ƒŽ‹œƒ†‘•Ȍ “—‡ †‡Ƥ‡ ƒ•
grupos   sociais   e,   ao   mesmo   tempo,   avançada   e   regidos   por   um   governo  
relações   entre   Estado   e   sociedade   no  
manter   seu   monopólio   sobre   a   autori-­‐ representativo.  Grupos  de  classe  média,  
Brasil:   o   clientelismo   (ou   patrimonial-­‐
dade,   muitas   vezes   fornece   incentivos   e   ’”‘Ƥ••‹‘ƒ‹• ‡ –‡…‘…”ƒ–ƒ• • ‘ —‹–ƒ•
ismo),   o   corporativismo,   o   insulamento  
limitações   à   ação   de   grupo.  O   corpora-­‐ vezes   percebidos   como   potencial  
burocrático   e   o   universalismo   de  
tivismo,   por   meio   do   qual   o   Estado   "eleitorado   do   universalismo",   isto   é,  
procedimentos.  
intermediava   os   interesses   de   grupos   que   se   opõem   ao   sistema   de  
 …Ž‹‡–‡Ž‹•‘ ’‘†‡ •‡” †‡Ƥ‹†‘ …‘‘
empresários   e   trabalhadores,   fez   parte   patronagem   e   que   insistem   em   que   os  
— ’ƒ†” ‘ ‡•’‡…ÀƤ…‘ †‡ ˜À…—Ž‘ •‘…‹ƒŽ
da   estratégia   de   modernização   benefícios   e   encargos   públicos   sejam  
marcado   por   trocas   generalizadas   e  
brasileira.   alocados  de  acordo  com  um  conjunto  de  
pessoais,  típico  das  sociedades  agrárias  
O  insulamento  burocrático  é  visto  como   regras   e   procedimentos   gerais   –   e  
onde   vigora   a   relação   de   subordinação  
uma   estratégia   para   contornar   o   universalísticos.
entre   proprietários   de   terra   e   campone-­‐
clientelismo   mediante   a   criação   de   ilhas   As   quatro   gramáticas   descritas   acima  
ses.   Nesse   sistema,   existe   a   expectativa  
de   racionalidade   e   de   especialização   podem   ser   encontradas   em   todos   os  
de  retornos  futuros,  e  cada  troca  (pode  
técnica.   Ocorre   por   meio   de   um   níveis  da  política  e  são  bastante  conheci-­‐
ser   um   favor,   um   empréstimo,   uma  
processo   de   proteção   do   núcleo   técnico   das   pelos   atores   sociais,   que   podem  
prenda)   contém   uma   referência   à  
do  Estado  contra  a  interferência  oriunda   transitar   de   uma   gramática   para   outra,  
condição   geral   do   grupo.   Em   oposição,  
do   público   ou   de   outras   organizações   dependendo   do   contexto.   Atualmente,  
‘ •‹•–‡ƒ †‡ Dz–”‘…ƒ ‡•’‡…ÀƤ…ƒdzǡ –À’‹…‘
intermediárias.  Reduzindo  o  alcance  dos   o   corporativismo   emprega   comandos  
do   capitalismo   moderno,   não   há  
interesses   e   das   demandas   populares,   o   universais   e   organiza   horizontalmente  
necessidade  de  relações  anteriores  nem  
insulamento   burocrático   permite   que   o   várias   instâncias   de   unidades   sociais.   O  
expectativa   de   relações   futuras.   No  
ï…Ž‡‘ –±…‹…‘ Ƥ“—‡ Ž‹˜”‡ ’ƒ”ƒ ”‡ƒŽ‹œƒ” clientelismo   permeia   muitas   institu-­‐
Brasil   contemporâneo,   esses   dois  
‘„Œ‡–‹˜‘•‡•’‡…ÀƤ…‘•Ǥƒ”ƒ‹••‘ǡƒ•ƒ‰²-­‐ ições,   fornece   uma   gramática  
sistemas   coexistem,   com   o   sistema  
cias   estatais   devem   desfrutar   de   um   compreensível   para   o   sistema   de  
clientelista   servindo   de   intermediário  
forte   apoio,   que   no   Brasil   se   traduz   na   relações   sociais   e   políticas,   atravessa  
entre  o  Estado  e  os  estratos  mais  baixos  
parceria   com   as   elites   industriais,   nacio-­‐ distinções  de  classe  e  organiza  vertical-­‐
da   população,   que   passam   a   ter   voz   e  
nais  e  internacionais.  Reduzir  os  limites   mente  a  sociedade.   O  universalismo  de  
‡…ƒ‹•‘’ƒ”ƒ†‡ƒ†ƒ•‡•’‡…ÀƤ…ƒ•Ǥ
de   arena   de   formulação   de   políticas   procedimentos   confere   uma   aura   de  
As   instituições   formais   do   Estado   se  
’ï„Ž‹…ƒ• •‹‰‹Ƥ…ƒǡ ‡ ‰‡”ƒŽǡ ƒ ‡š…Ž—• ‘ modernidade  e  de  legalidade  pública  ao  
tornaram   altamente   impregnadas   por  
dos   partidos   políticos,   do   Congresso   e   sistema   político   e   às   instituições  
esse   processo   de   troca   de   favores.     O  
das  demandas  populares.  Excluindo-­‐os,   formais;   representa   a   retórica   dos  
clientelismo   opera   em   um   conjunto   de  
os   atores   que   promovem   o   insulamento   intelectuais  e  jornalistas  e  ainda  confere  
redes   que   se   estendem   aos   partidos  
almejam   refrear   o   personalismo   e   a   legitimidade   a   vários   movimentos  
políticos,   burocracias,   entre   outros.   A  
patronagem  em  benefício  de  uma  base   sociais   de   classe   média.  O   insulamento  
participação   nessas   redes   não   está  
ƒ‹• –±…‹…ƒ ’ƒ”ƒ ƒ Ƥšƒ­ ‘ †‡ ’”‹‘”‹-­‐ burocrático   é   uma   forma   de   evitar   o  
…‘†‹Ƥ…ƒ†ƒ ‡ ‡Š— –‹’‘ †‡ ”‡‰—Žƒ-­‐
dades.   Entretanto,   ao   contrário   da   controle  e  o  escrutínio  públicos  sobre  as  
mento   formal;   os   arranjos   hierárquicos  
retórica   de   seus   patrocinadores,   o   atividades   do   Estado;   uma   forma   de  
no  interior  das  redes  estão  baseados  em  
insulamento  burocrático  não  é  de  forma   ’‡”•‡‰—‹” ƒ ‡Ƥ…‹²…‹ƒ ‡…‘Ø‹…ƒǡ ‘
consentimento   individual   e   não   gozam  
nenhuma   um   processo   técnico   e   desenvolvimento   e   a   privatização  
de   respaldo   jurídico.   Essa   gramática  
apolítico:  agências  e  grupos  competem   seletiva   das   benesses   que   provêm   do  
existiu   como   forma   de   lidar   com   os  
entre  si  pela  alocação  de  valores  alterna-­‐ controle   de   parcelas   substanciais   do  
políticos,   que   no   Brasil   são   intrinsica-­‐
–‹˜‘•Ǣ …‘ƒŽ‹œÙ‡• ’‘ŽÀ–‹…ƒ• • ‘ Ƥ”ƒ†ƒ• aparelho  produtivo  do  Estado.
mente  populistas,  tendo  seu  comporta-­‐
com   grupos   e   atores   fora   da   arena  
mento  reforçado  pelo  fato  de  que  é  um  
administrativa,   com   o   objetivo   de  
comportamento   esperado   e   desejado  
garantir   a   execução   dos   projetos;  
por  parte  dos  eleitores.
partidos   políticos   são   bajulados   para  
O   corporativismo   é   uma   forma   de  
proteger  projetos  no  Congresso.
organização   da   sociedade   intermediada  
O  universalismo  de  procedimentos  
pelo  Estado,  na  qual  o  atributo  trabalho  

16
Conclusão
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Foram   apresentadas   neste   trabalho  
algumas   vertentes   do   pensamento   ARRETCHE,  Marta.  Políticas  Sociais  no  Brasil:  Descentralização  em  um  Estado  Federativo.  Revista
social   brasileiro   ocupadas   com   o   estudo   Brasileira de Ciências Sociais,  São  Paulo,  vol.  14,  n°  40,  1999.
dos   principais   fundamentos   respon-­‐ AVELAR,  Lúcia  (Org.);;  CINTRA,  Antônio  Octávio  (Org.).  Sistema Político Brasileiro: Uma
sáveis   por   obstaculizar   o   desenvolvi-­‐
Introdução.  Rio  de  Janeiro:  Konrad  Adenauer  Stiftung,  2004.
mento  social  e  o  bom  funcionamento  do  
regime  democrático  no  país.  Vimos  que   BAPTISTA,  Isabelle.  “Neopatrionialismo” e “Neocoronelismo”: Análise da Administração
essas   interpretações   sempre   estão   Pública no Brasil, no Contexto da Pós-­modernidade.  2010.  Trabalho  publicado  nos  Anais  do  XIX  
apoiadas   por   uma   narrativa   histórica,   Encontro  Nacional  do  CONPEDI,  Fortaleza.
ƒŽ± †‡ •‘ˆ”‡”‡ ˆ‘”–‡ ‹ƪ—²…‹ƒ †‘• BENDIX,  Reinhard.  Max Weber, um Perfil Intelectual. Brasília  :  Ed.  Universidade  de  Brasília,  1986.
paradigmas   que   predominam   em   suas   CAMPANTE,  Rubens.  O  Patrimonialismo  em  Faoro  e  Weber  e  a  Sociologia  Brasileira. Revista
épocas.     O   primeiro   tópico   tratou   das  
Dados,  Rio  de  Janeiro,  vol.  46,  n°  1,  2003.
interpretações   de   autores   que   partem  
de  uma  abordagem   centrada  no  Estado   CUNHA,  Euclides  da.  Os Sertões: Campanha de Canudos.  38.  ed.  Rio  de  Janeiro:  Livraria  
ou   na   sociedade.   Em   segundo   lugar,   Francisco  Alves  Editora,  1997.
discutiram-­‐se   as   peculiaridades   do   FAORO,  Raymundo.  Os Donos do Poder: Formação do Patronato Político Brasileiro.  3.  ed.  rev.  
federalismo   brasileiro,   marcado   por   Porto  Alegre:  Globo,  2001.
uma  discrepância  entre  zonas  centrais  e   FIGUEREIDO;;  LIMONGI.  Executivo e Legislativo na Nova Ordem Constitucional. 1.  ed.  São  
periféricas.  O  tópico  seguinte  descreveu  
Paulo:  FGV/FAPESP,  1999.
a  evolução  das  interpretações  dualistas  
que   vigoraram   no   meio   intelectual   FURTADO,  Celso.  Desenvolvimento e Subdesenvolvimento.  Rio  de  Janeiro:  Fundo  de  Cultura,  
durante   gerações   de   pensadores.   Por   1961.
último,  apresentamos  o  modelo  sincré-­‐ HOLANDA,  Sérgio  Buarque  de. Raízes do Brasil. 26.  ed.  São  Paulo:  Companhia  das  Letras,  1995.
tico   de   Edson   Nunes,   baseado   em   LEAL,  Victor.  Coronelismo, Enxada e Voto. Rio  de  Janeiro:  Alfa-­Omega,  1976.
quatro  “gramáticas”  políticas  que  repre-­‐ MIGOWSKI,  Flávio  Almeida.  Gênese e Evolução das Teses Dualistas no Brasil. 1991.    Disser-­
sentariam   a   realidade   atual   do   sistema  
tação  (Mestrado  em  Economia)  –  Faculdade  de  Ciências  Econômicas,  Universidade  Federal  do  Rio  
político   brasileiro.   Juntos,   esses   temas  
fornecem   um   guia   conciso   para   Grande  do  Sul,  Porto  Alegre.
entender   e   debater   os   limites   da   nossa   NUNES,  Edson.  A Gramática Política do Brasil: Clientelismo e Insulamento Burocrático. 3.  ed.  
democracia. Rio  de  Janeiro:  Jorge  Zahar  Ed,  2003.  
OLIVEIRA,  Francisco  de.  Crítica à Razão Dualista. São  Paulo:  Boitempo,  2008.  
SCHWARTZMAN,  Simon.  Bases do Autoritarismo Brasileiro. 2.  ed.  Rio  de  Janeiro:  Campus,  1982.  
VIANNA,  Oliveira.  Instituições Políticas Brasileiras. Brasília:  Conselho  Editorial  do  Senado  
Federal,  1999.

15  Graduandos  de  Relações  Internacionais  na  Universidade  Federal  do  Rio  Grande  do  Sul.  Os  autores  agradecem  a  revisão  
do  doutorando  em  Ciência  Política  pela  mesma  universidade,  Christiano  Cruz  Ambros,  e  a  colaboração  da  Prof.  Dr.  Maria  
Izabel  Noll,  professora  do  Programa  de  Pós-­graduação  em  Ciência  Política  da  Universidade  Federal  do  Rio  Grande  do  Sul.
16  PRATES,  Antônio  Augusto  Pereira.  Administração  pública  e  burocracia.  In:  AVELAR,  Lúcia  (Org.);;  CINTRA,  Antônio  Octávio  
(Org.).  Sistema  político  brasileiro:  uma  introdução.  Rio  de  Janeiro:  Konrad  Adenauer  Stiftung,  2004.
17  COSTA,  Valeriano.  Federalismo.  In:  AVELAR,  Lúcia  (Org.);;  CINTRA,  Antônio  Octávio  (Org.).  Sistema  político  brasileiro:  uma  
introdução.  Rio  de  Janeiro:  Konrad  Adenauer  Stiftung,  2004.

17
18
OPINIAO:  ARQUIVO  CRITICO  DE  CONVIDADO

BALANÇO DOS BRICS


POR ADRIANA ERTHAL ABDENUR

ADRIANA ERTHAL ABDENUR é Coordenadora Geral do BRICS Policy Center e


professora adjunta do Instituto de Relações Internacionais da PUC-Rio. Obteve o douto-
rado pela Princeton University em 2006, após graduar-se em Estudos Asiáticos
(especialização em Relações Internacionais e China) por Harvard University. Já foi profes-
sora da Columbia University e da New School University, ambas em Nova York. É consul-
tora do Banco Mundia e do Banco Interamericano de Desenvolvimento. Recebeu um Fulbright em 2010 e foi
fellow do India China Institute entre 2007 e 2010. Áreas de pesquisa: Relações Brasil-Ásia, Desenvolvimento
Comparado, BRICS e Cooperação Sul-Sul.

ƒ•”‡Žƒ­Ù‡•‹–‡”ƒ…‹‘ƒ‹•ǡƒ‹ƪ—²…‹ƒ ˜‹•Ù‡• ‹’‡†‡ —ƒ ƒžŽ‹•‡ ƒ‹• ‘•”‘Ÿ–‹…‘•’‡…ƒ’‡Žƒ‹‰‡—‹†ƒ†‡Ǥ


†‡ — ‰”—’‘ †‡ ’ƒÀ•‡•  ‘ †‡’‡†‡ ƒ’—”ƒ†ƒǤ• ’‡••‹‹•–ƒ• ‡•“—‡…‡ “—‡  ’‘–‡…‹ƒŽ †‡ …‘‘”†‡ƒ­ ‘ ‡–”‡ ‘•
ƒ’‡ƒ• †ƒ ˜‘–ƒ†‡ †‘• •‡—• ‡„”‘• ƒ Š‹•–×”‹ƒ ‡•–ž ”‡’Ž‡–ƒ †‡ ƒŽ‹ƒ­ƒ•   ƒ‹†ƒ ‡•–ž •‡†‘ –‡•–ƒ†‘ Ȅ  ‘
‡ …‘•–‹–—À”‡Ǧ•‡ …‘‘ …‘Ž‡–‹˜‹†ƒ†‡ǡ †—”ƒ†‘—”ƒ• ‡–”‡ ’ƒÀ•‡• “—‡ ’‘—…‘ ƒ’‡ƒ• ’‡Ž‘• ‡„”‘•ǡ ƒ• –ƒ„±
ƒ• –ƒ„± †‘ ”‡…‘Š‡…‹‡–‘ …‘’ƒ”–‹ŽŠƒƒŽ±†‡‹–‡”‡••‡•‡•–”ƒǦ ’‡Žƒ’”×’”‹ƒ…”‹•‡Ǥ••ƒ•˜‹•Ù‡•’‘Žƒ”‹œƒǦ
ƒŽŠ‡‹‘ǣ ƒ ’ƒ”–‹” †‘ ‘‡–‘ ‡ “—‡ ‘ –±‰‹…‘• ȋ•–ƒ†‘• ‹†‘• ‡ ”ž„‹ƒ †ƒ•ǡ “—‡ ‡šƒ‰‡”ƒ–ƒ–‘ ‘• ‘„•–ž…—Ž‘•
‰”—’‘ •‡ ‘•–”ƒ ƒ‹• †‘ “—‡ ƒ ‡”ƒ ƒ—†‹–ƒǡ ’‘” ‡š‡’Ž‘ȌǤ ‡ †ï˜‹†ƒǡ …‘‘ ‘• ²š‹–‘• †‘•  ǡ ‡•…‘†‡
•‘ƒ†ƒ••—ƒ•’ƒ”–‡•ǡ‡Ž‡‰ƒŠƒ’‡•‘‡ ƒƤ‹†ƒ†‡•Š‹•–×”‹…ƒ•ƒŒ—†ƒƒ…‹‡–ƒ” —ƒ ”‡ƒŽ‹†ƒ†‡ „‡ ƒ‹• …‘’Ž‡šƒǤ
Ž‡‰‹–‹‹†ƒ†‡Ǥ  ͚͘͘͡ǡ ”ƒ•‹Žǡ ‹ƒǡ ƒŽ‹ƒ­ƒ•ǡ ƒ•  ‘ …‘•–‹–—‡ —ƒ ‡ •‡’”‡ ‘• ’ƒÀ•‡• …‘•‡‰—‡
A†‹ƒ ‡ Š‹ƒ Ȅ ’ƒÀ•‡• ‡š–”‡ƒ‡–‡ …‘†‹­ ‘ •‹‡ “—ƒ ‘Ǥ ’‡•ƒ” †ƒ• ƒŽ…ƒ­ƒ”—…‘•‡•‘ǣ‘ƒ‘’ƒ••ƒ†‘ǡ
Š‡–‡”‘‰²‡‘•“—‡Šƒ˜‹ƒ•‹†‘”‡—‹†‘• †‹ˆ‡”‡­ƒ• ‡–”‡ ‘•   ‘• …‹…‘ ‘•   †‡‹šƒ”ƒ –”ƒ•’ƒ”‡…‡” ˜ž”‹‘•
•‘„ƒ•‹‰Žƒ “—ƒ•‡“—‡’‘”—…ƒ’”‹Ǧ ’ƒÀ•‡•…‘’ƒ”–‹ŽŠƒ—ƒ…‡”–ƒ†‡•…‘Ǧ ’‘–‘•†‡†‹•…×”†‹ƒ‡ˆƒŽŠƒ•†‡…‘—‹Ǧ
…Š‘ †‡ — ‡…‘‘‹•–ƒ †ƒ
‘Ž†ƒ Ƥƒ­ƒ †‘ •‹•–‡ƒ ƒ–—ƒŽ †‡ ‰‘˜‡”ƒ­ƒ …ƒ­ ‘ǡ ‹…Ž—•‹˜‡ǡ ƒ –‡–ƒ–‹˜ƒ †‡
ƒ…Š• Ȅ …”‹ƒ”ƒ — ˆ×”— ‹–‡”ƒǦ ‹–‡”ƒ…‹‘ƒŽǡ ƒ‹†ƒ ƒ”…ƒ†‘ ’‡Žƒ ‘ˆ‡”‡…‡”ƒ••‹•–²…‹ƒ—”‘’ƒǤ‘”‘—–”‘
…‹‘ƒŽ’ƒ”ƒƒ”–‹…—Žƒ”…‡”–ƒ•’‘•‹­Ù‡•‡ Š‡‰‡‘‹ƒ†‘•’ƒÀ•‡•ƒ˜ƒ­ƒ†‘•Ǥ Žƒ†‘ǡ Šž ƒ‹‘” …‘‘”†‡ƒ­ ‘ ‡–”‡ ‘•
…‘—Ǥƒ••ƒ†‘•–”²•ƒ‘•‡‘‹‰”‡••‘ ƒ”ƒ ‘• ”‘Ÿ–‹…‘•ǡ ‘•   ‘ˆ‡”‡…‡Ǧ   ‘• –‡ƒ• “—‡ …Š‡‰ƒ ƒ‘
†ƒˆ”‹…ƒ†‘—Žǡ’‘†‡‘•†‹œ‡”“—‡‘• ”‹ƒ — ‘˜‘ ‘†‡Ž‘ †‡ ‰‘˜‡”ƒ­ƒǡ ‘•‡ŽŠ‘ †‡ ‡‰—”ƒ­ƒǡ ƒ••‹ …‘‘
  • ‘ — ‰”—’‘ǡ ‘— ƒ‹†ƒ •‡ –”ƒ–ƒ ‡‘• ƒ••‹±–”‹…‘Ǥ ƒ• ˜‡”•Ù‡• ƒ‹• ‘˜ƒ• ‹‹…‹ƒ–‹˜ƒ• †‡ ”‡ˆ‘”ƒ ‡ …‘‘’‡”Ǧ
†‡ —ƒ …‘Ž‡­ ‘ †‡ ’ƒÀ•‡• †‡ƒ•‹ƒ†ƒǦ ‘–‹‹•–ƒ•ǡ “—ƒŽ“—‡” ƒ••‹•–²…‹ƒ ƤƒǦ ƒ­ ‘Ǥ ‹’Ž‘ƒ–ƒ• …‘–ƒ “—‡ǡ †—”ƒ–‡
‡–‡ †À•’ƒ”‡• ’ƒ”ƒ •‡”‡ Ž‡˜ƒ†‘• ƒ …‡‹”ƒ’”‡•–ƒ†ƒœ‘ƒ†‘‡—”‘”‡’”‡•‡Ǧ ƒ•”‡—‹Ù‡•†ƒ‡†‘
͚͘ǡ”‡’”‡•‡–Ǧ
•±”‹‘ ‡ …‘Œ—–‘ǫ ‡•†‡ ƒ ’”‹‡‹”ƒ –ƒ”‹ƒ —ƒ —†ƒ­ƒ •À•‹…ƒ ‘ •‹•–‡ƒ ƒ–‡• †‘•   †‹ƒŽ‘‰ƒ ’‡Ž‘• …‘””‡Ǧ
Žƒǡ”‡ƒŽ‹œƒ†ƒ‡͚͘͘͡ǡƒ•‹‹…‹ƒ–‹˜ƒ• ‹–‡”ƒ…‹‘ƒŽǤ  ˜ƒ‰—ƒ”†ƒ †ƒ –‘”…‹†ƒ †‘”‡• Ȅ —ƒ †‹’Ž‘ƒ…‹ƒ ‹ˆ‘”ƒŽ “—‡
†‘ ƒ‰”—’ƒ‡–‘ ˜² ’”‘˜‘…ƒ†‘ —ƒ †‡Ž‡‹–ƒǦ•‡…‘‘‹‡†‹–‹•‘†ƒ˜‹•‹–ƒ†ƒ ƒŒ—†ƒƒ…‘•‘Ž‹†ƒ”ƒ•”‡Žƒ­Ù‡•Ǥ
˜ƒ”‹‡†ƒ†‡†‡”‡ƒ­Ù‡•ǡ†‘‡–—•‹ƒ•‘ƒ‘ †‹”‡–‘”ƒ†‘  ǡŠ”‹•–‹‡ƒ‰ƒ”†‡ǡ“—‡ ‘ Ƥ †ƒ• …‘–ƒ•ǡ ‘ ‰”—’‘ ”‡’”‡•‡–ƒ
ƒŽƒ”‡ǡ ’ƒ••ƒ†‘ ’‡Ž‘ †‡•’”‡œ‘ ‡ ’‡Ž‘ ˜‡‹‘ƒ‘”ƒ•‹Ž…‘’‹”‡•ƒ ‘ǡ‡ ‘ǡ —ƒ –‡–ƒ–‹˜ƒ ƒ‹†ƒ ‡„”‹‘ž”‹ƒ †‡
…‡–‹…‹•‘Ǥ …‘‘‘—–”‘”ƒǡ‘ˆ‡”‡…‡†‘‡’”±•–‹‘• ˆ‘”Œƒ”‘˜ƒ•’ƒ”…‡”‹ƒ•Ǥ—ƒ–‘ƒ‘”‡…‘Ǧ
‘• †‡„ƒ–‡•ǡ ’‡”…‡„‡Ǧ•‡ —ƒ …‡”–ƒ …‘ …‘†‹­Ù‡• †”ƒ…‘‹ƒƒ•Ǥ  „ƒ•‡‹ƒ Š‡…‹‡–‘ǡ —‹–‘• ’ƒÀ•‡• ƒ‹†ƒ
’‘Žƒ”‹œƒ­ ‘ƒ…‡”…ƒ†‘• Ǥ •‡—• ƒ”‰—‡–‘• ‡ –”²• ’”‡••—’‘•–‘• ’”‡ˆ‡”‡Ž‹†ƒ”…‘‘• ‹†‹˜‹†—ƒŽǦ
‡ǡ ’‘” — Žƒ†‘ǡ ‘• ’‡••‹‹•–ƒ• – ‘ƒ„‹…‹‘•‘•“—ƒ–‘†—˜‹†‘•‘•ǣ͙Ȍ“—‡ ‡–‡ǡ ƒ• ‘ ƒ‰”—’ƒ‡–‘ ˜‡
ƒ”‰—‡–ƒ “—‡ ƒ• †‹•’ƒ”‹†ƒ†‡• ‘ ’‘†‡” †‘• ’ƒÀ•‡• ƒ˜ƒ­ƒ†‘• ˜‡ ‰ƒŠƒ†‘ ‡•’ƒ­‘Ǥ ‘ ƒ••—‹” ƒ
‰‡‘‰”žƤ…ƒ•ǡ’‘ŽÀ–‹…ƒ•‡…—Ž–—”ƒ‹•‡–”‡‘• •‘ˆ”‡†‘  ‘ ƒ’‡ƒ• —ƒ ‡”‘• ‘ ’”‡•‹†²…‹ƒ †ƒ ‹ ‘ —”‘’‡‹ƒǡ ƒ
’ƒÀ•‡•‹’‡†‡ƒˆ‘”ƒ­ ‘†‡“—ƒŽ“—‡” –‡’‘”ž”‹ƒǡ ƒ• — †‡…ŽÀ‹‘ ’‡”ƒǦ ‹ƒƒ”…ƒ ƒ—…‹‘— “—‡ ƒ• ”‡Žƒ­Ù‡•
‰”ƒ†‡ …‘•‡•‘ǡ ‘• ”‘Ÿ–‹…‘• ‡–‡Ǣ ͚Ȍ “—‡ ƒ ƒ•…‡• ‘ †‘•   ± …‘‘• •‡” ‘—ƒ†ƒ•’”‹‘”‹†ƒ†‡•
ƒƤ”ƒ“—‡‘• ‹” ‘”‡˜‘Ž—…‹‘ƒ” ‹‡˜‹–ž˜‡ŽǢ‡͛Ȍ“—‡‘• Œž‘ˆ‡”‡…‡ †ƒ ‘˜ƒ ‰‡•– ‘Ǥ‘• ’‘—…‘•ǡ ‘•  
ƒ ‰‘˜‡”ƒ­ƒ ‰Ž‘„ƒŽǤ •   —’”‘Œ‡–‘ƒŽ–‡”ƒ–‹˜‘…‘‡”‡–‡‡˜‹ž˜‡Ž ’ƒ••ƒ†‡‡”‘ƒ‰”—’ƒ‡–‘ƒ˜‡”†ƒǦ
ƒ’ƒ”‡…‡ ‘”ƒ …‘‘ •ƒŽ˜ƒǦ’ž–”‹ƒǡ ‘”ƒ ’ƒ”ƒ ƒ ‰‘˜‡”ƒ­ƒ ‹–‡”ƒ…‹‘ƒŽǤ ‘ †‡‹”‘‰”—’‘
…‘‘‘–‹˜‘†‡…Šƒ…‘–ƒǤ ƒ’‘•–ƒ”‡ …‡‰ƒ‡–‡ ƒ …ƒ’ƒ…‹†ƒ†‡ Artigo originalmente publicado no Jornal
‘”ƒ‹••‡†—–‘”ƒ•“—‡’ƒ”‡­ƒǡƒ„ƒ• †‘• †‡•—’‡”ƒ”•—ƒ•†‡•ƒ˜‡­ƒ•ǡ O Globo em 03 de fevereiro de 2012.

19
VIDA  DE  DIPLOMATA
Na seção “Vida de Diplomata”, a Revista Sapientia entrevistará diplomatas atuantes no Ministério das Relações
Exteriores brasileiro, com o intuito de saber mais sobre a carreira diplomática, entendendo seus desafios e
dificuldades, além de investigar que caminhos traçaram para chegar ao tão-desejado sonho que é a aprovação
no Concurso de Admissão à Carreira de Diplomata.

ENTREVISTA COM O DIPLOMATA


SAMO GONÇALVES
O entrevistado desta edição da Revista Sapientia é o professor de Política Internacional
do Curso Sapientia, Samo Gonçalves. Ele é graduado em Economia pela PUC-Rio e
em Relações Internacionais pela Estácio de Sá-RJ, e é Mestre em Relações Internacionais
pela PUC-Rio e Doutorando em Economia pela Universidade Católica de Brasília. Samo
ingressou na carreira diplomática em 02/07/2010. Ele trabalha na Divisão de Política
Financeira/DPF do Ministério das Relações Exteriores.

— ƤŽŠ‘ †‡ †‹’Ž‘ƒ–ƒ “—‡ ‡•–—†ƒ˜ƒ Samo Gonçalves: Quem  entra  no  
Sapientia Pergunta: comigo   e   tentava   a   carreira.   Nessa   Itamaraty   e   diz   que   estudou   “apenas”  
Você   sempre   quis   ser   diplomata?   época,  eu  já  havia  tido  minha  experiên-­‐ um   ano   ou   relativamente   pouco   está  
‡•‹ǡ“—‡ˆƒ–‘”‡•Ƥœ‡”ƒ˜‘…² cia   em   multinacionais   e   descobri   que   mentindo.   Há   casos,   cada   vez   mais  
se   interessar   pelo   trabalho   na   não   era   nada   do   que   eu   havia   imagi-­‐ raros,   de   pessoas   que   entram   logo   após  
área  diplomática?   nado.   Então,   ao   terminar   o   mestrado,   o   término   da   faculdade,   o   que   pode  
comecei   a   pesquisar   sobre   a   carreira   e   passar  essa  falsa  impressão.  As  pessoas  
comecei,   um   ano   depois,   a   estudar   que   se   enquadram   nesse   caso   certa-­‐
Samo Gonçalves: Grande   parte   efetivamente.   mente   estudaram   de   forma   direcionada  
das   pessoas   entra   no   curso   de   relações   Entre   os   principais   fatores   que   me   para   o  CACD   ao   longo   de   toda   a   facul-­‐
internacionais   (RI)   sonhando   em   ser   despertaram   o   interesse   pela   carreira   dade.   Então,   como   todos,   tive   de  
diplomata.  O   meu   caso   foi   diferente.   Eu   diplomática   estão:   i)   A   possibilidade   de   estudar  muito  para  passar.
entrei   no   curso   de   RI   e   de   Economia   (fui   poder  viajar  e  viver  em  vários  países  de   No  meu  caso,  o  planejamento  centrou-­‐
cursando   ambos   ao   mesmo   tempo)   diferentes  culturas,  o  que  é,  a  meu  ver,  o   se   em   dois   passos:   pegar   o   edital   das  
pensando  em  trabalhar  em  multinacion-­‐ principal  atrativo  da  carreira;  ii)  A  chance   matérias  do  CACD  e  procurar  encontrar  
ais.  Eu  havia  voltado  de  intercâmbio  nos   de   poder   representar   o   Brasil   no   e   ler   livros   que   eram   considerados  
EUA   e   optei   por   fazer   Economia   e   RI.   exterior,   algo   que   sempre   me   interes-­‐ essenciais  para  cada  uma  das  matérias,  
Naquela   época,   em   1998,   só   existia   o   sou;   iii)   A   convivência,   relativamente   como,   por   exemplo,   o   livro   do   Amado  
curso  em  Brasília,  na  UNB,  na  Estácio  de   próxima,   com   o   Poder,   visto   que   os   Cervo   em   Política   Externa,   o   livro   do  
Sá,  no  Rio,  que  é  o  segundo  curso  mais   diplomatas,  pela  natureza  de  sua  função   Othon   Garcia   (Comunicação   em   Prosa  
antigo  do  Brasil  (fundado  na  década  de   e   pela   qualidade   de   sua   formação,   são   Moderna)   e   o   de   gramática   do   Cunha  
1980)   e   havia   sido   recém-­‐iniciado   o   funcionários   que   trabalham   muito   para   Português,   e   assim   sucessiva-­‐
curso  da  Puc  de  SP  (começou  em  1998).   próximo   do   Palácio   do   Planalto   e   do   mente.  Como  nunca  tive  problema  com  
Como   queria   trabalhar   na   iniciativa   Presidente;  iv)  A  possibilidade  de  poder   a   primeira   fase   do  CACD,   já   que   sempre  
privada,   optei   por   RJ   e   SP.   Na   Estácio   trabalhar  com  os  mais  diversos  temas  ao   passei   com   relativa   facilidade,   após  
passei   logo   de   primeira   e   na   PUC-­‐SP   longo  da  carreira,  o  que  é  algo  extrema-­‐ reprovar  duas  vezes  na  segunda  fase,  fui  
Ƥ“—‡‹ ’ƒ”ƒ ƒ •‡‰—†ƒ …Šƒƒ†ƒǤ mente  rico  e  prazeroso. procurar   ajuda   especializada,   leia-­‐se  
Comecei   a   cursar   no   Rio   e   logo   (três  
cursinho.   Eu   estava   estudando   justa-­‐
meses   depois)   fui   chamado   pela   Sapientia Pergunta: mente  no  que  considero  um  período  de  
PUC-­‐SP.   Porém,   como   já   estava  
Após   ter   decidido   que   seu   obje-­‐ transição   de   uma   época   em   que   muita  
gostando   de   morar   no   Rio,   por   razões  
ׄ˜‹ƒ•ǡ †‡…‹†‹ Ƥ…ƒ” ‘  Ǥ  •‡‰—‹†ƒǡ
tivo   era   ingressar   do   Itamaraty,   gente   ainda   passava   sem   fazer   cursinho  
qual  foi  seu  planejamento?  Como   para   um   momento   em   que   se   tornou  
comecei  a  cursar  economia  na  Puc-­‐Rio.  
você   se   preparou   para   encarar   as   quase   impossível  passar   sem   frequentar  
Na   verdade,   a   minha   descoberta   em  
†‹Ƥ…—Ž†ƒ†‡• ƒ’”‡•‡–ƒ†ƒ• ’‡Žƒ algum   cursinho,   ainda   que   existam  
relação  à  carreira  diplomática  só  ocorreu  
prova  do  CACD? exceções  dignas  de  louvor.
durante  o  Mestrado,  quando  conheci  
20
‡—˜‡”ǡƒƒ‹‘”†‹Ƥ…—Ž†ƒ†‡†‘ mereceram   passar,   pois   compreen-­‐ nunca   sei   o   que   vou   fazer   nos   demais  
é  psicológica,  em  suas  diferentes  dimen-­‐ deram  algo  que,  até  então,  eu  não  havia   dias   da   semana.   No   MRE,   o   trabalho  
sões.   Primeiro,   é   preciso   superar   o   compreendido,   ou   seja,   o   fato   de   que   funciona  de  acordo  com  a  demanda.  Às  
choque   inicial   quando   falhamos   a   não   é   preciso   ter   um   super   conheci-­‐ vezes,   temos   de   redigir   subsídios   para   o  
primeira   vez,   a   segunda,   a   terceira   vez   mento   para   passar   nessa   prova.   A   Ministro  de  Estado  ou  para  a  Presidenta,  
ou,   para   muitos,   quarta,   quinta   etc.,   o   segunda  razão  é  a  seguinte:  quem  passa   às   vezes   temos   de   participar   de  
que   quero   dizer:   quem   passa   no   pela   terceira   e   quarta   fases   (graças   a   Bilaterais   com   outros   países   (reuniões  
concurso   IRBr   geralmente   foi   o   melhor   Deus  passei  de  primeira  quando  cheguei   em   que   trocamos   impressões   sobre  
ou   um   dos   melhores   alunos   por   onde   pela   primeira   vez   às   últimas   fases)   tem   temas   afetos   à   economia   mundial   e   às  
passou...  É,  geralmente,  o  aluno  que  os   pesadelos  durante  um  bom  tempo.  Não   nossas   relações   bilaterais   nos   temas  
’”‘ˆ‡••‘”‡•ǡ ‘• ’ƒ‹•ǡ ‘• –‹‘• ȋ‡ ƒƤ•Ȍ estou   brincando,   é   realmente   uma  Via   ‡…‘Ø‹…‘ǦƤƒ…‡‹”‘•Ȍǡ • ˜‡œ‡•
consideravam   como   alguém   acima   da   Crúcis...   Se   não   acreditam   em   mim,   viajamos  para  participar  de  negociações  
média.   Então,   quando   essa   pessoa   perguntem   a   quem   passou   por   elas.   no   âmbito   dos   grupos   de   trabalho   que  
resolve   fazer   o   CACD   vai   cheio   de   Logo,   é   preciso   ter   muita   frieza   ao   se   existem  dentro  do  G20.  Eu  sou  encarre-­‐
ƒ—–‘…‘Ƥƒ­ƒǡƒ…Šƒ†‘“—‡•‡”žˆž…‹Žǡ‡ǡ chegar   nessas   fases,   pois   só   assim   é   gado  de  participar,  por  exemplo,  de  um  
de   repente,   leva   um   choque   ao   ser   possível  ter  a  tranquilidade  e  o  equilíbrio   grupo   de   trabalho   do  G20   chamado   de  
reprovado.  Aos  poucos,  vai  percebendo   necessários   para   fazer   provas   tão   Framework   for   Strong,   Balanced   and  
que   ele   não   é   tão   especial   assim,   uma   desgastantes.   Nessas   fases,   segura-­‐ Sustainable   Growth,   cujo   objetivo  
vez   que   todos   que,   normalmente,   mente  vocês  encontrarão  questões  que   central   é   a   tentativa   de   se   promover   o  
tentam  o   CACD  foram  os  melhores  nas   não   saberão   a   resposta,   e   a   ideia   do   equilíbrio   macroeconômico   mundial   no  
instituições   que   frequentaram.   Logo,   é   CACD   é   um   pouco   isso,   ou   seja,   ver   âmbito  do  Grupo.
preciso   ter   humildade   para   reconhecer   como   futuros   diplomatas   reagem   ante  
que   você   é   só   mais   um   entre   muitos   situações  inusitadas,  já  que  passarão  por   Sapientia Pergunta:
candidatos  preparados.   inúmeras   ocasiões   assim   ao   longo   da  
Que   características   você   crê  
Aí  entra  outro  aspecto  psicológico,  que  é   carreira.   Portanto,   quem   não   tiver   a  
serem   fundamentais   para   aque-­‐
acreditar  que,  a  despeito  da  concorrên-­‐ …ƒŽƒ ‡…‡••ž”‹ƒǡ †‹Ƥ…‹Ž‡–‡
conseguirá  passar  no  CACD.   les   que   ingressam   na   carreira  
cia,  você  é  capaz,  sim,  de  passar.  Muitos  
já   vão   fazer   a   prova   derrotados,   ainda  
diplomática?
que   inconscientemente,   já   achando   que   Sapientia Pergunta:
Interpretando
não   vão   passar...inventam   o Brasil desculpas   Como   é   ser   diplomata?  Como   é   Samo Gonçalves: Primeiro,  
para   si   mesmos   como   “estou   me   seu  dia  a  dia? gostar   de   estudar,   já   que   os   temas   são  
preparando  para  o  ano  que  vem”  e  assim   complexos   e   demandam   contínuo  
seguem   vários   anos   com   esse   discurso.   aperfeiçoamento.  Segundo,   ter   sempre  
ƒ ˜‡”†ƒ†‡ǡ ˆƒŽ–ƒ …‘Ƥƒ­ƒ ‡ •‹ Samo Gonçalves: Bom,  evidente-­‐ humildade  e  não  se  achar  melhor  do  que  
mesmo.   Eu   não   saberia   dizer   quantos   mente,   que   a   rotina   de   um   diplomata   ninguém,  já  que,  como  verão,  todos  no  
colegas   meus,   muito   mais   preparados   varia  muito   de  acordo   com   a   divisão   em   • ‘ǡ‡±†‹ƒǡ—‹–‘“—ƒŽ‹Ƥ…ƒ†‘•Ǥ
do   que   eu,   desistiram   no   meio   do   que   está   lotado:   quem   está,   por   exem-­‐ Terceiro,   não   ter   problema   com   hierar-­‐
caminho   após   anos   tentando   o   CACD,   plo,   no   Cerimonial   terá   um   dia   a   dia   quia,   que   é   uma   característica   muito  
por   não   acreditarem   em   si   mesmos.   É   muito   distinto   de   quem   está   traba-­‐ forte   da   carreira.   Os   mais   antigos   da  
triste,  mas  conheço  vários  casos  assim.   lhando  da  divisão  que  cuida  das  relações   carreia,   ainda   que   sejam   mais  novos   em  
– ‘ǡ±’”‡…‹•‘–‡”ƒ—–‘…‘Ƥƒ­ƒǡƒ• com  o  Congresso  Nacional  –  AFEPA  –  ou   termos   de   idade,   “mandam”   nos   mais  
sem   arrogância.   Olhe   meu   caso,   de   quem   está   lotado   em   uma   divisão   ‘†‡”‘•‡’‘–‘ƤƒŽǡ“—‡”‰‘•–‡‘•
reprovei   na   segunda   fase   duas   vezes,   ‰‡‘‰”žƤ…ƒǡ “—‡ Ž‹†ƒ …‘ ƒ• ”‡Žƒ­Ù‡• ou   não.   Quarto,   saber   manter   boas  
pois  achava  que,  por  ter  feito  Mestrado,   Brasil-­‐África,  por  exemplo.   relações   com   todos   os   colegas,   pois   o  
Œž‡•…”‡˜‹ƒƒ‹•†‘“—‡•—Ƥ…‹‡–‡‡–‡ •’‡…‹Ƥ…ƒ‡–‡ ‘ ‡— …ƒ•‘ǡ …‘‘ trabalho   no   MRE   é   um   trabalho  
bem   para   passar.   Pois   bem,   devido   a   estou   lotado   na   Divisão   de   Política   conjunto,   que   demanda   cooperação.  O  
essa  minha  hubris,  acabei  retardando  a   Financeira   (DPF),   minha   rotina   é   bem   espaço   para   iniciativas   individuais   é  
minha   entrada   no   MRE,   bem   feito   pra   variada,   como   geralmente   é   nas   demais   limitado.  Além   disso,   o   bom   relaciona-­‐
mim,   aprendi   a   lição.   Conselho:   não   divisões.   Na   nossa   divisão   tratamos   de   mento  com  os  demais  colegas  é  essen-­‐
repitam  isso  em  casa. –‡ƒ•ƒˆ‡–‘•ƒ…”‘‡…‘‘‹ƒ‡Ƥƒ-­‐ cial  para  a  ascensão  na  carreira,  uma  vez  
‘” Ƥǡ ‘—–”ƒ †‹‡• ‘ ’•‹…‘Ž×‰‹…ƒ ± ças   internacionais.   Então,   qualquer   que   seus   pares   hierárquicos   também  
ter  em  mente  que  o  CACD  é  uma  prova   tema  de  economia  internacional  -­‐  como   votam   em   você   nas   promoções.   Logo,  
para  diplomatas,  não  é  para  acadêmicos   crise  do  euro,  crise  nos  EUA,  FMI,  Banco   quem   não   se   dá   bem   com   os   colegas,  
‘— ’ƒ”ƒ ƤŽ×•‘ˆ‘•Ǥ ‹‰‘ ‹••‘ǡ ’‘” †—ƒ• Mundial   e   bancos   econômicos   regionais   †‹Ƥ…‹Ž‡–‡ ƒ•…‡†‡ ƒ …ƒ””‡‹”ƒǤ
razões:   primeiro,   porque   passa   quem   –  está  sob  nossa  responsabilidade.  Mas   Quinto,   estar   sempre   pronto   para   servir  
sabe   argumentar   melhor   e   não   quem   o   carro-­‐chefe   da   divisão,   que   toma   80%   ao  seu  país.  Isso  pode  parecer  um  pouco  
sabe   mais.   Eu   só   me   dei   conta   disso   †‘ ‘••‘ –‡’‘ǡ ± ‘
͚͘ Ƥƒ…‡‹”‘Ǥ abstrato,   mas,   quando   entrarem   na  
quando   três   ex-­‐alunos   meus   de   RI   (da   Somos  nós,  em  conjunto  com  a  Fazenda   carreira,  vão  perceber  que  o  diplomata,  
faculdade   em   que   lecionava)   passaram   e  o  Banco  Central,  que  representamos  o   diferentemente   de   outras   carreiras   na  
antes   de   mim   e   tinham,   em   média,   Brasil   junto   ao  G20.  Assim,   exceto   pelas   Esplanada  dos  Ministérios,  trabalha,  em  
menos  conteúdo  do  que  eu  –  e  digo  isso   segundas-­‐feiras   (quando   tenho   de   média,  muito  mais  horas  e  será,  muitas  
com  toda  a  humildade...  E  eles   elaborar  um  Boletim  de  Commodities),   ˜‡œ‡•ǡ‘„”‹‰ƒ†‘ƒ•ƒ…”‹Ƥ…ƒ”—‹–‘†‡•—ƒ

21
˜‹†ƒ ’‡••‘ƒŽ ‡ ’‘•–‘• †‹ˆÀ…‡‹• ‘
exterior.   Nesse   contexto,   eu   diria   que,  
para   as   mulheres,   há   um   elemento   de  
†‹Ƥ…—Ž†ƒ†‡ƒ†‹…‹‘ƒŽǡŒž“—‡ǡ‡±†‹ƒǡ
± ƒ‹• †‹ˆÀ…‹Ž ’ƒ”ƒ ‡Žƒ• ‡…‘–”ƒ”‡
…ؐŒ—‰‡•ȋˆ‘”ƒ†ƒ…ƒ””‡‹”ƒȌ“—‡‡•–‡Œƒ
†‹•’‘•–‘• ƒ Žƒ”‰ƒ” •—ƒ ˜‹†ƒ ’”‘Ƥ••‹‘ƒŽ
para   acompanhá-­‐las   no   exterior   –  
‡„‘”ƒǡ ˆ‡Ž‹œ‡–‡ǡ ‹••‘ǡ ƒ‘• ’‘—…‘•ǡ
esteja  mudando.

Sapientia Pergunta:
Que   dicas   você   daria   para   aque-­‐
les   que   estão   atualmente   se  
preparando  para  o  CACD?

Samo Gonçalves: A  principal  dica  


é:   acreditem   em   si   mesmos,   acreditem  
que  são  capazes  de  passar  no  CACD,  que  
±ǡ ƒƤƒŽ †‡ …‘–ƒ•ǡ — …‘…—”•‘ †‹ˆÀ…‹Ž
como  outro  qualquer.  Além  disso,  sejam  
pragmáticos  nos  estudos.  Não  precisam  
Ž‡” –‘†ƒ ƒ „‹„Ž‹‘‰”ƒƤƒ †‘ ‡†‹–ƒŽǤ
Tampouco   vão   passar   apenas   lendo  
”‡•—‘•Ǥ2’”‡…‹•‘‡…‘–”ƒ”—‡“—‹ŽÀ-­‐
brio  entre  os  dois  extremos.  
Estudem   as   matérias   que   menos  
dominem,  por  mais  chato  que  isso  seja.  
E  uma  dica  que  considero  o  segredo  do  
CACD:   priorizem   as   matérias   de   Portu-­‐
guês  e  de  Inglês  (que  são  as  provas  mais  
†‹ˆÀ…‡‹• †‘ …‘…—”•‘Ȍǡ ”‡•‘Ž˜ƒ ‡š‡”…À-­‐
…‹‘• ’ƒ••ƒ†‘• ȋ†‡ –‘†ƒ• ƒ• ˆƒ•‡•Ȍ
cronometrando  o  tempo  (o  que  é  essen-­‐
…‹ƒŽȌ ‡ǡ †‡ ’”‡ˆ‡”²…‹ƒǡ ‡ — Ž—‰ƒ”
barulhento,  para  treinarem  a  se  concen-­‐
trar  e  para  se  acostumarem  a  lidar  com  o  
barulho   –   desse   modo,   certamente   no  
dia   da   prova,   o   barulho   será   menor   e   a  
capacidade  de  concentração,  maior.
Para   os   que   não   dispõem   de  
Dz’ƒ‹–”‘…À‹‘dz ‡ ’”‡…‹•ƒ –”ƒ„ƒŽŠƒ”ǡ  ‘
se  preocupem,  eu  sempre  trabalhei.  Não  
vejam   isso   como   desvantagem,   pelo  
…‘–”ž”‹‘ǡ ‡‘• –‡’‘ ˆƒœ “—‡ ‘•
organizemos   e   otimizemos   nosso  
–‡’‘†ƒ‡ŽŠ‘”ƒ‡‹”ƒ’‘••À˜‡ŽǤ
relação   a   cursinhos,   para   quem   está  
começando   do   zero,   é   essencial,   pois  
ˆ‘”‡…‡ —ƒ †‹”‡–”‹œ ‘„Œ‡–‹˜ƒ •‘„”‡ ‘
que   estudar.   Para   aqueles   que   já  
conhecem   bem   a   prova   e   já   detêm  
conhecimento   razoável   da   matéria,   o  
melhor  é  estudar  por  conta.  Neste  caso  
(para   quem   já   tem   certa   quilome-­‐
–”ƒ‰‡Ȍǡ‘…—”•‹Š‘±‡••‡…‹ƒŽ•‘‡–‡
’ƒ”ƒƒ••‡‰—†ƒǡ–‡”…‡‹”ƒ‡“—ƒ”–ƒˆƒ•‡•Ǥ
‘”Ƥǡ‡—•…ƒ”‘•ǡ—’‘—…‘†‡•‘”–‡
também   ajuda,   mas   como   já   diria   o  
ex-­‐Ministro   das   RE  Celso  Amorim,   “ter  
•‘”–‡–ƒ„±†ž–”ƒ„ƒŽŠ‘dzǤ‰”ƒ†‡
abraço  a  todos.

22
CAFE  COM  A  CLAUDIA

DICAS DE PORTUGUÊS
Na seção “Dicas de Português com Claudia Simionato”, a professora de Língua
Portuguesa do Curso Sapientia dará dicas para as provas de Português da
primeira e da segunda fase do Concurso de Admissão à Carreira de Diplomata.
Segue abaixo a primeira coluna, sobre o uso do aposto e a virgulação.

Aposto sem vírgulas

Estamos  acostumados  a  reconhecer  o  aposto  por  ser  o  termo  ou  a  expressão  de  caráter  nominal  que  vem  
entre  vírgulas,  explicando  outro  termo  anterior,  também  substantivo:
“São  Paulo,  cidade  da  garoa,  faz  aniversário.”

Há   casos,   porém,   em   que   o   aposto   aparece   sem   vírgulas   e,   por   conta   disso,   frequentemente   os  
alunos  não  o  reconhecem  como  aposto.  Para  começar,  vamos    relembrar  que  além  do  aposto  expli-­‐
cativo,  há  mais  quatro  tipos  de  aposto:  o  enumerativo,  o  resumitivo,  o  distributivo  e  o  aposto  de  
‡•’‡…‹Ƥ…ƒ­ ‘Ǥ‡”‡‘• Š‘Œ‡ …‘‘ †‹ˆ‡”‡…‹ƒ” ‘ ƒ’‘•–‘ ‡•’‡…‹Ƥ…ƒ–‹˜‘ †‘ ‡š’Ž‹…ƒ–‹˜‘ ‡ ‘ —•‘ †ƒ•
vírgulas  em  cada  caso.

”‹‡‹”‘˜ƒ‘•”‡…‘Š‡…‡”‘ƒ’‘•–‘•‡˜À”‰—Žƒ•Ǥƒ’‘•–‘‡•’‡…‹Ƥ…ƒ–‹˜‘ƒ…‘–‡…‡“—ƒ†‘ ‘Šž’ƒ—•ƒ
ȋ‹•–‘±ǡ ‘Šž˜À”‰—Žƒ•Ȍ‡–”‡‘ƒ’‘•–‘‡‘–‡”‘’”‹…‹’ƒŽǡ‡•–‡•‡†‘—–‡”‘‰‡±”‹…‘ǡ‡•’‡…‹Ƥ…ƒ†‘
pelo  aposto.  Veja  os  exemplos  que  Celso  Cunha  traz  em  sua  Gramática:

“A  cidade  de  Lisboa.”  


“O  poeta  Bilac.”  

Os   termos   em   destaque   são   apostos   porque   Lisboa   é   uma   cidade   e   Bilac   é   um   poeta.  Os   termos   são  
‡“—‹˜ƒŽ‡–‡•Ǥ ‘…‘ˆ—†ƒǡ‡–”‡–ƒ–‘ǡƒ’‘•–‘‡•’‡…‹Ƥ…ƒ–‹˜‘…‘ƒ†Œ—–‘ƒ†‘‹ƒŽǤ—ƒ†‘†‹œ‡‘•

“O  clima  de  Lisboa.”


“O  soneto  de  Bilac.”  

“de  Lisboa”  e  “de  Bilac”  não  são  apostos,  pois  Lisboa  não  é  um  clima  (é  uma  cidade),  e  Bilac  não  é  um  
•‘‡–‘ȋ±—’‘‡–ƒȌǤƒ’‘•–‘ƒ’”‡•‡–ƒ—…ƒ”ž–‡”‹†‡–‹Ƥ…ƒ–×”‹‘ǡ‡Ž‡‡“—‹˜ƒŽ‡ƒ‘’”×’”‹‘•‡”ǡ ‘•‡†‘ǡ
portanto,  uma  característica  atribuída  (como  neste  caso,  em  que  os  termos  destacados  funcionam  como  
adjetivos:   o   clima   lisboeta,  ou   o   soneto   bilaquiano).  Daí  seu  caráter  substantivo  (=  aposto)  e  não   adjetivo  
(=  adjunto/  predicativo).

23
Vamos  agora  pensar  nas  vírgulas.  Quem  leu  o  Editorial  desta  Revista  (em  que  Sapientia,  por  exemplo,  é  
—•ƒ†‘…‘‘ƒ’‘•–‘†‡‡˜‹•–ƒȌ†‡˜‡–‡””‡’ƒ”ƒ†‘“—‡ƒŽ‰—•‘‡•ƒ’ƒ”‡…‡•‡˜À”‰—Žƒ•ƒ’וƒ’”‘Ƥ•• ‘
ou  cargo  da  pessoa.  Veja  o  exemplo  abaixo:  

“Neste  mês,  os  acadêmicos  do  curso  de  Relações  Internacionais  da  Universidade  Federal  do  Rio  
Grande  do  Sul  Camille  Remondeau  e  Frederico  Licks  Bertol  apresentam  brilhante  estudo  sobre  
os  fundamentos  da  política  brasileira...”

•‘‡•†‘•ƒ…ƒ†²‹…‘•ƒ‹ŽŽ‡‡ ”‡†‡”‹…‘ ‘˜²•‡’ƒ”ƒ†‘•’‘”˜À”‰—Žƒ•ƒˆ”ƒ•‡’‘”“—‡‡Ž‡• ‘• ‘
‘•…‘•ƒ…ƒ†²‹…‘•†ƒ 
Ǥ ‘ƒ’‘•–‘•‡•’‡…‹Ƥ…ƒ–‹˜‘•ǡ•‡˜À”‰—Žƒ•ǡ’‘”–ƒ–‘Ǥ‰‘”ƒǡ•‡Š‘—˜‡••‡•×
estes   dois   acadêmicos   na   Universidade,   necessariamente   os   nomes   deveriam   estar   entre   vírgulas,   pois  
•‡”‹ƒƒ’‘•–‘•‡š’Ž‹…ƒ–‹˜‘•ǡ‡ ‘‡•’‡…‹Ƥ…ƒ–‹˜‘•Ǥ

Da  mesma  forma,  quando  escrevemos  “o  ex-­‐presidente  Luis  Inácio  Lula  da  Silvadzǡ ‘†‡˜‡‘•—•ƒ”˜À”‰—-­‐
Žƒ•ǡ’‘‹•‡Ž‡ ‘±‘…‘‡šǦ’”‡•‹†‡–‡†‘”ƒ•‹ŽǤǯ—ƒ’‘•–‘‡•’‡…‹Ƥ…ƒ–‹˜‘Ǥ žƒˆ”ƒ•‡Dzƒƒ–—ƒŽ’”‡•‹†‡–‡
†‘”ƒ•‹Žǡ‹Žƒ‘—••‡ơǡ†‹••‡‡‘†”‡•“—‡ǥdzǡ‹Žƒ‘—••‡ơ˜‡‡–”‡˜À”‰—Žƒ•’‘”“—‡‡Žƒ±ƒ…ƒ
‡ ƒ–—ƒŽ ’”‡•‹†‡–‡ †‘ ”ƒ•‹ŽǤ••‹ …‘‘ ‡ Dz‘ ‹‹•–”‘ †ƒ ‡ˆ‡•ƒǡ Celso   Amorim,...”.   Nesses   casos,   os  
‘‡•• ‘ƒ’‘•–‘•‡š’Ž‹…ƒ–‹˜‘•Ǥ

•’‡”‘“—‡–‡ŠƒƤ…ƒ†‘…Žƒ”‘“—‡ƒ˜À”‰—Žƒ‘ƒ’‘•–‘†‡’‡†‡†‡‰”ƒž–‹…ƒ‡ ‘†‡Dz”‡•’‹”ƒ­ ‘dz‘—†‡
estranheza.  Estudando,  a  estranheza  passa.  

NO TPS
No  TPS  de  2007,  foi  perguntado  se  no  parágrafo  abaixo  havia  mais  de  um  aposto:

Ênio,  poeta   latino   do  século  II  a.  C.,  falava   três  línguas:  o  grego,  que  ele  tinha  aprendido  por  ser,  na  
época,  a  língua  de  cultura  dominante  no  sul  da  Itália;  o  latim,  em  que  escreveu  suas  obras;  e  o  osco  
(uma  língua  aparentada  com  o  latim),  que  era,  com  toda  a  probabilidade,  sua  língua  nativa.

”‡•’‘•–ƒ‡”ƒǤ žƒ‹•†‡—ƒ’‘•–‘‘–”‡…Š‘ǡ‡ƒƒ‹‘”‹ƒ†‘•ƒŽ—‘•”‡…‘Š‡…‡‘•ƒ’‘•–‘•‡š’Ž‹…ƒ-­‐
–‹˜‘•Ǥ•’‡”‘ǡ’‘”±ǡ“—‡˜‘…²•–‡Šƒ’‡”…‡„‹†‘ƒ‰‘”ƒ“—‡Šž‘—–”‘•ƒ’‘•–‘•ƒÀ“—‡ ‘•×‘•˜‹”‰—Žƒ†‘•Ǥ
Ž±†‘•ƒ’‘•–‘•Dzpoeta  latino  do  século  II  a.C”  e  “uma  língua  aparentada  com  o  latim”  (o  aposto  expli-­‐
cativo   pode   ser   usado   também   entre   parênteses),   havia   também   os   apostos   enumerativos   de   “três  
línguas”:  o  grego,  o  latim  e  o  osco.

Quem  quiser  aprofundar  o  tema,  vale  a  pena  conferi-­‐lo  tanto  na  Nova  Gramática  do  Português  
Contemporâneo,   de  Celso  Cunha   e   Lindley  Cintra,   quanto   no   livro   Novas   Lições   de  Análise  
Sintáticaǡ†‡†”‹ƒ‘†ƒ
ƒƒ—”›Ǥƒ”ƒ˜À”‰—Žƒ•ǡ”‡…‘‡†‘•‡’”‡”–‘‰”ƒƤƒǡ‘–—ƒ­ ‘
e  Craseǡ–ƒ„±†‡†”‹ƒ‘†ƒ
ƒƒ—”›Ǥ

24
TROQUE  SAPIENTIA:
CLASSIFICADOS  

25
•Žƒ••‹Ƥ…ƒ†‘•ƒ’‹‡–‹ƒ • ‘ — ‡•’ƒ­‘ †ƒ ‡˜‹•–ƒƒ’‹‡–‹ƒ “—‡ ‡•–ž †‹•’‘À˜‡Ž ƒ
–‘†‘•‘•‹–‡”‡••ƒ†‘•‡˜‡†‡”ǡ…‘’”ƒ”ǡ†‘ƒ”‘—–”‘…ƒ”ƒ–‡”‹ƒ‹•†‡’”‡’ƒ”ƒ­ ‘’ƒ”ƒ
‘Ǥƒ„‡‘•“—‡—‹–‘•…ƒ†‹†ƒ–‘•†‹•’Ù‡†‡ƒ–‡”‹ƒ‹•†‘•“—ƒ‹•‰‘•–ƒ”‹ƒ†‡
•‡†‡•ˆƒœ‡”ǡ‡“—ƒ–‘‘—–”‘•‡•– ‘’”‘…—”ƒ†‡Ž‹˜”‘•…—Œƒ•‡†‹­Ù‡•‡•– ‘‡•‰‘–ƒ†ƒ•ƒ•
Ž‹˜”ƒ”‹ƒ•ǡ ‡–”‡ ‘—–”‘• ‡š‡’Ž‘• †‡ •‹–—ƒ­Ù‡• …‘—• ‡–”‡ ƒ“—‡Ž‡• “—‡ •‡ ’”‡’ƒ”ƒ
’ƒ”ƒ‘ǤƤ†‡ˆƒ…‹Ž‹–ƒ”‘…‘–ƒ–‘‡–”‡…ƒ†‹†ƒ–‘•ǡƒ‡˜‹•–ƒƒ’‹‡–‹ƒ†‹•’‘‹„‹-­‐
Ž‹œƒ‡•–‡‡•’ƒ­‘‰”ƒ–—‹–ƒ‡–‡’ƒ”ƒƒ“—‡Ž‡•“—‡–‡Šƒ‹–‡”‡••‡‡‡‰‘…‹ƒ”ƒ–‡-­‐
”‹ƒ‹•ǡŽ‹˜”‘•ǡƒ’‘•–‹Žƒ•‡–…Ǥ
–‡”‡••ƒ†‘•‡’—„Ž‹…ƒ”‡‘••‘•…Žƒ••‹Ƥ…ƒ†‘•†‡˜‡‡–”ƒ”‡…‘–ƒ–‘’‘”‡‹‘†‘
‡Ǧƒ‹Ž ”‡˜‹•–ƒ•ƒ’‹‡–‹ƒ̻…—”•‘•ƒ’‹‡–‹ƒǤ…‘Ǥ„”Ǥ • ƒï…‹‘• •‡” ‘ ’—„Ž‹…ƒ†‘• ’‘”
‘”†‡†‡”‡…‡„‹‡–‘Ǥ

 

A Revista Sapientia não figura como parte nas transações de compra e venda de materiais entre os seus leitores em decorrência dos
anúncios existentes neste espaço, e, tendo isso em vista, avisa:

A responsabilidade por todas as obrigações decorrentes das transações de compra e venda, sejam de natureza trabalhista, fiscal,
consumerista ou de qualquer outra natureza, será exclusivamente do leitor vendedor;

Em caso de interpelação judicial, que tenha como réu a Revista Sapientia, fundada em ações ou omissões do leitor vendedor, este
será chamado ao processo devendo arcar com todos os ônus que desse processo decorram, nos termos do artigo 70, III do Código
de Processo Civil;

A Revista Sapientia também não pode obrigar o leitor vendedor a honrar suas obrigações ou efetivar a negociação;

A Revista Sapientia não é a proprietária dos produtos anunciados pelos leitores vendedores no espaço denominado Classificados,
não guarda a posse desses itens nem realiza as ofertas de venda e, tampouco, intervém na entrega dos produtos;

A Revista Sapientia não se responsabiliza por existência, quantidade, qualidade, estado, integridade ou legitimidade dos produtos
oferecidos, adquiridos ou alienados pelo leitor vendedor, que é o único responsável pelos produtos que anuncia ou pelas ofertas
que realiza.

‘Ƥ”ƒƒ„ƒ‹š‘‘•ƒï…‹‘•†‡•–‡²•ǣ

Ž‹˜”‘•’”‡’ƒ”ƒ–×”‹‘•’ƒ”ƒ‘ǣ

ǡ
‡‘”‰‡•Ǥ…‘‘‹ƒǡ•’ƒ­‘
 ǡƒ…Šƒ†‘†‡Ǥ•ƒï‡ ƒ…×Ǥ ‡
Ž‘„ƒŽ‹œƒ­ ‘ǣƒ—”‘”ƒ†‘±…—Ž‘ Ǥ    
 !ǡƒ—‡ŽǤ
͆͛͘ǡ͘͘ —‹Š‡–‘•‘•†‡‡”‹ˆ‡”‹ƒǤ
͙͚͆ǡ͘͘
͆͜͝ǡ͘͘
ǡƒ”…—• ƒ”‘†‡Ǥ‘ŽÀ–‹…ƒ‡
‡Žƒ­Ù‡• –‡”ƒ…‹‘ƒ‹•Ǥ
 ǡ ‘•±—”‹Ž‘†‡ǣ ǡ‹Ž–‘Ǣ  ǡƒ”Àƒƒ—”ƒǤ
‘•–”—­ ‘†ƒ”†‡‡‡ƒ–”‘
͆͛͝ǡ͘͘ ”ƒ•‹Žǣ‡””‹–×”‹‘‡‘…‹‡†ƒ†‡‘ À…‹‘
†‡‘„”ƒ•Ǥ   ǡƒ”Àƒƒ—”ƒȋ‘”‰ǤȌǤ †‘±…—Ž‘ Ǥ
͆͘͞ǡ͘͘ ‘–‹‡–‡‡Šƒƒ•Ǥ ͆͜͝ǡ͘͘
͚͆͝ǡ͘͘
ǡƒ†‘—‹œǤ •‡”­ ‘  ǡ ‘•± Žž˜‹‘Ǥ
–‡”ƒ…‹‘ƒŽǣ ‘”ƒ­ ‘†‘•
 ǡ‘„‡”–Ǥ‡•ƒƤ‘†‘ ‡Žƒ­Ù‡• –‡”ƒ…‹‘ƒ‹•Ǥ
‘…‡‹–‘•”ƒ•‹Ž‡‹”‘•Ǥ ƒ’‹–ƒŽ‹•‘
Ž‘„ƒŽǤ…‘‘‹ƒ ‘‹•±…—Ž‘•†‡ ‹•–×”‹ƒǤ‘Ž—‡• ‡ Ǥ
—†‹ƒŽ‘±…—Ž‘ Ǥ
͆͝͝ǡ͘͘ ͆͜͝ǡ͘͘ ͆͠͝ǡ͘͘

‘–ƒ–‘…‘†—ƒ”†‘˜‹ƒ‡Ǧƒ‹Ž‡”˜‹ƒƒ̻‰ƒ‹ŽǤ…‘

26
SAPIENTIA  INDICA
AGENDA DE EVENTOS
GRAMADO(RS):    01    a  04/08 RIO  DE  JANEIRO(RJ):  15    a    17/08
8º Encontro Nacional da 1º Congresso Internacional
Associação Brasileira de do Centro Celso Furtado
Ciência Política
A Associação Brasileira de Ciência Política O Centro Celso Furtado seu 1º Congresso
promoverá seu 8º Encontro Nacional, que terá Internacional, intitulado de "A crise e os desa-
o seguinte tema-eixo: “Ampliando fronteiras fios para um novo ciclo de desenvolvi-
da Ciência Política: Desafios contemporâ- mento". O evento contará com a participação
neos à democracia e ao desenvolvimento”. O de intelectuais como Luiz Carlos Bresser
evento contará com a participação de intelec- Pereira, Maria da Conceição Tavares e o
tuais brasileiros e estrangeiros, como o cien- Embaixador Samuel Pinheiro Guimarães.
tista político norte-americano James Inscrições:congressocfurtado2012@gmail.com
Mahoney e o cientista político alemão Wolf- Site:www.centrocelsofurtado.org.br/congress
gang Merkel. o2012/index.php#.UAxBALTY_30
Inscrições: encontro@cienciapolitica.org.br
Site: www.abcp2012.sinteseeventos.com.br

SÃO  PAULO(SP):    22    a  24/08


Seminário de Pesquisa de
AGOSTO
Direito Administrativo D S T Q Q S S
A Faculdade de Direito de Ribeirão Preto da
USP sediará o segundo Seminário de
Pesquisa de Direito Administrativo, voltado a
docentes e alunos de pós-graduação da área.
As discussões ocorrerão sob a coordenação
geral do professor Thiago Marrara.
Inscrições: eventosfdrp@usp.br
Site:www. direitorp.usp.br

27
INICIATIVAS  SAPIENTIA
O  Curso  Sapientia  apresenta  aos  candidatos  à  carreira  de  diplomata  o  Curso  Avançado  
de  Política  Internacional,  uma  nova  opção  na  sua  preparação  para  o  CACD!

CURSO AVANÇADO DE POLÍTICA INTERNACIONAL

O   Curso  Avançado  de  Política  Internacional  é  inteiramente  online  e  aborda,  de  ma-­‐
neira   aprofundada,   os   tópicos   do   programa   de   Política   Internacional   com   maior  
relevância   nas   provas   objetiva   e   discursiva   do   concurso.   Nosso   objetivo   é   oferecer  
aulas  expositivas  focadas  em  pontos  avançados  do  conteúdo,  para  auxiliar,  principal-­‐
mente,  os  candidatos  que  já  iniciaram  sua  preparação.
 
Por   meio   de   módulos   individuais,   os   alunos   terão   acesso   aos   principais   temas   da  
agenda  internacional,  às  relações  bilaterais  do  Brasil  e  a  tópicos  da  Política  Externa  
brasileira  de  maneira  detalhada,  com  os  melhores  professores  e  com  a  qualidade  de  
ensino  à  distância  que  só  o  Curso  Sapientia  oferece!

O  primeiro  módulo  do  Curso  Avançado  de  Política  Internacional  –  De  Vargas  a  Dilma:  
a  evolução  da  política  externa  do  Brasil  desde  1945  –  enfatiza  a  evolução,  as  principais  
vertentes   e   as   linhas   de   ação   da   política   externa   brasileira   desde   1945.  Com   oito  
encontros  de  duas  horas  cada,  nesse  módulo  estuda-­‐se  o  conteúdo  de  forma  deta-­‐
ŽŠƒ†ƒǡ’‘”“—‡•‡’”‹˜‹Ž‡‰‹ƒ’‘–‘•‡…‘‡šÙ‡•‰‡”ƒŽ‡–‡˜‹•–‘•†‡ƒ‡‹”ƒ•—’‡”Ƥ-­‐
cial  pelo  aluno.  O  curso  ainda  oferece  aos  estudantes  uma  questão  dissertativa  inédita  
por   aula,   que   será   corrigida   individualmente   por   nossos   professores..   Esse   método  
busca   realizar,   além   da   revisão   e   da   consolidação   do   conhecimento,   um   treinamento  
voltado  para  a  prova  de  terceira  fase  do  CACD.  

Não  perca  mais  tempo  e  matricule-­‐se  já,  


pois  as  aulas  começam  dia  09  de  agosto!  
Maiores  informações:  querosabermais@cursosapientia.com.br      ou  
www.cursosapientia.com.br

28
VIDA  DE  CONCURSEIRO
A seção “Vida de Concurseiro” reunirá mensalmente crônicas sobre a vida daqueles que diariamente enfrentam
a luta que é a preparação para a prova do Concurso de Admissão à Carreira de Diplomata. Nossa primeira
crônica é intitulada “Um Calouro no TPS” e foi escrita por Áquila, um entre tantos concurseiros que enfrentam
essa luta.

UM CALOURO NO TPS
POR AQUILA
O   primeiro  TPS   começa   antes   do   que   se   Passada  uma  hora  e  meia,  distraído  com   rezam,   outros   praticam   ioga.   Alguns  
pode   imaginar.  Tem   início   na   hora   do   a   revisão,   uma   olhadela   ao   redor   do   conversam,   para   aliviar   o   nervosismo.  
café  da  manhã  do  dia  da  prova.  Sim.  Se   bibliomóvel.   Não   se   enxerga   uma   alma   ‘‰‘ǡ ‘–ƒ —ƒ Ƥ‰—”ƒ •‡”‡ƒǡ
˜‘…²ȋƒ‹†ƒȌ‘”ƒ…‘•—ƒ ‡ǡ•ƒ„‡”ž viva.  Ué...   Meia   hora   antes   do   início   do   †‡•–‘ƒ–‡ǡ ‹’ž˜‹†ƒǤ ‘—•ƒ —
muito  bem  do  que  estou  falando.  É  claro   concurso,   e   os   concorrentes   todos   mosquito   no   nariz.   Nada.   Nenhum  
que   os   neurônios   precisam   de   uma   ƒ–”ƒ•ƒ†‘•ǤǤǤ‡˜‡‡–‡†‡•…‘Ƥƒ†‘ǡ†ž movimento.   Concentração   absoluta.  
glicose   adicional   para   enfrentar   o   uma  conferida  no  papel  mal  dobrado  em   „ƒ‹š‘ †ƒ …ƒ†‡‹”ƒǡ ƒ ‰ƒ””ƒƤŠƒ †‡
primeiro  round  do  teste  de  pré-­‐seleção.   que   imprimiu   o   comprovante   de   ž‰—ƒ‹‡”ƒŽ‹†‘‹ƒ‡‘†‘…—‡–‘†‡
E  a  mãe  de  um  calouro  se  lembra  disso   inscrição   com   aquela   HP   antiga.   Isso   identidade.    Uma   caneta   sobressalente  
desde   o   anúncio   da   solene   decisão   de   mesmo.   Aquela   que   tem   as   cores   do   apenas,  para  economizar  recursos.  Tudo  
‹‰”‡••ƒ”ƒ…ƒ””‡‹”ƒ†‹’Ž‘ž–‹…ƒǤ Supernintendo.  Tudo  esclarecido.  Lugar   sob  controle.  Esse  vai  ser  chanceler.    Só  
Não   é   outra   coisa   que   explica   aquele   errado.   Um   ano   se   preparando   para   ’‘†‡Ǥ  …ƒŽ‘—”‘ †‹œ ’ƒ”ƒ •‹ ‡•‘ǣ
…ƒˆ±ǦƒŽ‘­‘ Œƒƒ‹• ˜‹•–‘Ǥ ƒ•–ƒŠƒ•ǡ errar  o  local  de  prova!    Como  fazer  para   Dz‘…‡–”‡Ǧ•‡ǡ ƒ…ƒŽ‡Ǧ•‡ ‡ •‡Œƒ ‘ “—‡
nozes,   ovos,   mel,   leite   com   chocolate,   chegar   do   outro   lado   da   cidade   sem   Deus  quiser”.
iogurte,   frutas   de   todo   tipo,   pão,   perder  a  prova  ou  a  vida? Depois   dos   avisos   paroquiais   quanto   à  
manteiga,   margarina   etc.   Quando   vê   Rodas   para   que   te   quero!       Depois   de   proibição  de  artigos  de  chapelaria,  acon-­‐
aquilo,   o   calouro   -­‐   bem   preparado   -­‐   pisotear   o   acelerador   do   carro,   tece  a  experiência  mais  surreal  naquela  
’‡•ƒǣ Dz—ƒ–‘ ’Ž‡‘ƒ•‘ ƒŽ‹‡–ƒ”Ǩ consegue   chegar   em   cima   da   hora.   ƒŠ Ǥž •‡ ƒ…‘•–—ƒ†‘ …‘ ‡••ƒ
Manteiga   e   margarina   são   bens   substi-­‐ Minutos   antes   de   o   portão   fechar,   cria   palavra,   surreal.   É   muito   comum   entre  
tutos!”   Nesse   momento,   é   certo,   uma   vaga   milagrosa,   espremendo   uma   os  diplomatas.  A  propósito,  calouro,  
comprova-­‐se  que  chegar  à  segunda  fase   „ƒ“—‹Šƒ†‡…ƒ‡–ƒ•„‹…ǡž‰—ƒǡŒ—Œ—„ƒ•
é   só   uma   questão   de   tempo.   Uma   e   chocolates,   na   beira   do   portão.   Me  
observação  dessas  não  é  para  qualquer   †‡•…—Ž’‡ǡ‡—•‡Š‘”ǡˆ‘‹‘Œ‡‹–‘Ǥ
um,   mas   para   os   que   internalizaram   Ele   entra,   o   portão   fecha.   Direto   à   sala  
completamente   os   rebuscados   concei-­‐ ͘͘͟Ǥ žƒ’‘”–ƒǡƒƤ•…ƒŽ’‡”‰—–ƒǣDz‡Ž×-­‐
tos   da   economia.   E   a   construção     gio,  celular,  alarme  de  carro?”  Antes  da  
‹–‡Ž‡…–—ƒŽ Dz’Ž‡‘ƒ•‘ ƒŽ‹‡–ƒ”dz ”‡•’‘•–ƒǡ‡Žƒ‡‡†ƒǣDz‘Ž‘“—‡–—†‘‘
evidencia   avançado   conhecimento   de   •ƒ…‘ ’Žž•–‹…‘Ǥ ‡— Ž—‰ƒ” ± ƒ “—‹–ƒ
português.  Certamente.   …ƒ†‡‹”ƒ †ƒ •‡š–ƒ ƤŽ‡‹”ƒǤ ƒ ‡•“—‡”†ƒ A propósito, calouro, onde
Muito   bem.   Se   sobreviveu   ao   café   da   para   a   direita.   De   quem   vê   a   turma   de   você iria usar as feias
manhã   sem   fazer   nenhuma   desfeita,   frente”.  
‡– ‘ ‘ …ƒ†‹†ƒ–‘ –‡”ž ‡‡”‰‹ƒ ’ƒ”ƒ ‘ Sentado   pela   primeira   vez   em   uma   palavras “tosco” e “bizarro”,
dia   inteiro,   não   precisaria   nem   almoçar   …ƒ†‡‹”ƒ ’ƒ”ƒ Œ—Ž‰ƒ” ƒ••‡”–‹˜ƒ• —‹…ƒ-­‐
para  as  provas  da  tarde.      Ele  vai  ao  TPS.   mente   como   verdadeiras   ou   falsas   em  
melhor falar “surreal”.
Nem  imagina  o  que  o  aguarda.   —ƒ ’”‘˜ƒ “—‡ Šƒ˜‡”ž †‡ …‘†—œ‹ǦŽ‘  Diz a mesma coisa sem
ž‘Ž‘…ƒŽ†‡’”‘˜ƒǡ…‘†—ƒ•Š‘”ƒ•†‡ glória,   resta   apenas   esperar   o   caderno  
antecedência,  quem  é  que  ele  encontra?   de  provas.  Os  mais  atentos  terão  lemb-­‐ agredir e de maneira
Ninguém.  Foi  o  primeiro  nerd  precavido   rado   que   se   pode   deixar   em   branco   ou   refinada, não é?
a   chegar.     Sem   perda   de   tempo,   anular   itens   ou   mesmo   questões  
‹‡†‹ƒ–ƒ‡–‡ …‘Ž‘…ƒ ‡ ’”ž–‹…ƒ ƒ• ‹–‡‹”ƒ•ǤǤ‘‘Šž…‡”–ƒ†‡‘”ƒƒ–±
lições   de   pragmatismo   ensinadas   na   que  façam  a  distribuição  das  provas,  não  
‘„”ƒ…Žž••‹…ƒ†‘ƒ†‘‡”˜‘Ǥ‘‡­ƒ custa   nada   uma   bisbilhotada   na  
um   procedimento   de   revisão   com   os   vizinhança.   Observando   tudo   cuida-­‐
livros   e   as   apostilas   devidamente   dosamente,   o   calouro   vê   a   cena   do  
catalogados   na   biblioteca   improvisada   desespero!  Uns  roem  unhas,  outros  
no  carro.  

29
onde   você   iria   usar   as   feias   palavras   Dz ‘ ˜ž …‘‡” ƒ†ƒ ’‡•ƒ†‘ǡ •× ˆ”ƒ‰‘ •‡ …‡”–‹Ƥ…ƒ †‡ “—‡ ‡–”ƒ”ž ƒ“—‡Ž‡
“tosco”   e   “bizarro”,   melhor   falar   ou   peixe,   arroz   e   uma   saladinha   leve!   recinto  sem  qualquer  objeto  eletrônico,  
“surreal”.  Diz  a  mesma  coisa  sem  agredir   ‡ ƒ‰”‘–ך‹…‘•ǡ ’ƒ”ƒ  ‘ ƒ–ƒ…ƒ” ‘ ’‘” ’”‡…ƒ—­ ‘Ǥ ‘ ‡–”ƒ”ǡ •‡ ‘ŽŠƒ ‘
‡ †‡ ƒ‡‹”ƒ ”‡Ƥƒ†ƒǡ  ‘ ±ǫ ‘‹• estômago!  Nada  de  Coca-­‐Cola,  toma  um   ‡•’‡ŽŠ‘Ǥ  Ƥ‘ „”ƒ…‘ –‡”ž ƒ’ƒ”‡…‹†‘
bem...   Tanto   esforço   para   manter-­‐se   suco  de  frutas!”  Tudo  válido. ‘ ”‘•–‘Ǥ ‘…²ǡ –ƒ„±ǡ •‡ ˆ‘” —
tranquilo,   e   vem   uma   sirene   de   polícia   ƒˆ”‡–‡†‘’‘”– ‘†‘Ž‘…ƒŽ†‡’”‘˜ƒ•ǡ …ƒŽ‘—”‘ Œ‘˜‹ƒŽǡ ’‘†‡ ’”‘…—”ƒ”Ǥ  ‡  ‘
ƒ—…‹ƒ†‘ ƒ Š‘”ƒ DzŠdzǤ  …‘”ƒ­ ‘ cirandas   especulativas   se   formam.   ƒ…Šƒ”ƒ“—‡Ž‡‘‡–‘ǡ±•×ƒ‰—ƒ”†ƒ”
…ƒŽ‘—”‘ ‘  “—‡” •ƒ‹” ’‡Žƒ „‘…ƒǤ —˜‡Ǧ•‡‹†ƒ‰ƒ­Ù‡•†‘–‹’‘ǣDz—‡± — ’‘—…‘Ǩ‡  ‘ –‹˜‡” „ƒ”„ƒǡ ’”‘…—”‡
‘˜‡”•ƒ•ǡ‡†‹–ƒ­ ‘‡–‘†‘•‘•±–‘-­‐ ‹ƒ—‘—–‘ǫdzǤ ‘ …ƒ„‡Ž‘ǡ Šƒ˜‡”žǡ ƒ‘ ‡‘•ǡ — Ƥ‘
†‘• ’ƒ”ƒ ƒ–‡” ƒ …ƒŽƒ ˜ ‘ ”ƒŽ‘ •“—‹œ‡Š‘”ƒ•ǡƒ•’”‘˜ƒ•Ƥƒ‹•†‘Ǥ embranquecido   por   obra   daquele   dia.  
abaixo.   É   tudo   programado,   viu   gente.   ‘ “—‡ –—†‘ ‹†‹…ƒǡ ƒ‹• –”ƒ“—‹Žƒ•Ǥ ‹ƒŽ †‡ ƒ–—”‹†ƒ†‡Ǥ ‘…² Œž •‡ –‡”ž
‘„‡ ƒ ƒ†”‡ƒŽ‹ƒ ‡ †‡•…‡ — × ƒ ƒ••ƒ” ‘…‘‘—ƒŽ‡˜‡„”‹•ƒ†‡’”‹ƒ-­‐ –‘”ƒ†‘˜‡–‡”ƒ‘‘Ǥ
garganta,   a   prova   está   nas   carteiras.   vera,   depois   da   tempestade   das  
Respira-­‐se  fundo  e,  ao  aviso  do  chefe  de   ƒ˜ƒŽ‹ƒ­Ù‡• ƒ–—–‹ƒ•Ǥ ‡”žǫ ˜‹†‡–‡-­‐
sala,  todos  começam  o  teste. mente,  a  essas  alturas,  espera-­‐se  que  o  
Desconcentrado,   o   calouro   se   vira   por   calouro  esteja  mais  sabido.
um   instante   e   se   dá   conta   de   que   o   Mas  a  sapiência  adquirida  ao  longo  das  
chanceler   já   entornou   a   água   na   prova   ’”‹‡‹”ƒ• ’”‘˜ƒ•  ‘ ‡˜‹–ƒ”ž •—”’”‡•ƒ•Ǥ
†‡ ’‘”–—‰—²•Ǥ ‘†‡ –‡” …‡”–‡œƒǣ ˆ‘‹ ƒ Ž‰‘†‡‡•–”ƒŠ‘˜ƒ‹ƒ…‘–‡…‡”ǤŽ‰—±
•‹”‡‡Ǥ —†‡”ƒǤ ×ǡ ’‘” —‹–‘ ‡‘•ǡ †—˜‹†ƒǫ  ‘ …ƒŽ‘—”‘ ƒ‰—ƒ”†ƒ ƒ•‹‘•ƒ-­‐
teria  perdido  a  paciência  e  saído  da  sala. mente  pelo  barulho  desestabilizador  da  
‘…‘ǡˆ‘…‘Ǥƒ‘•’ƒ”ƒƒ’”‹‡‹”ƒƒ–±-­‐ •‹”‡‡Ǥ  ’”‹‡‹”ƒ •—”’”‡•ƒǤ
”‹ƒǡ‘”–—‰—²•Ǥ‡š–‘ ǣ–‘†ƒ—ƒ’ž‰‹ƒ ””””””””””ǨǨǨǨǨ  ‡•–”‹†‡–‡ •‘ †‡
de   um   autor   estrangeiro,   o   Mia  Couto.   ƒ’‹–‘†‡Œ‘‰‘†‡ˆ—–‡„‘Ž±‘•‹ƒŽ’ƒ”ƒ‘
—‡†‹ƒŽ‡–‘±‡••‡ǫ‘”“—‡ ‘…‘Ž‘…ƒ …‘‡­‘ †ƒ ƒ˜ƒŽ‹ƒ­ ‘ †—”ƒ–‡ ƒ –ƒ”†‡Ǥ
— ‹ŽŽØ” ‡”ƒ†‡•Ǩǫ ‡Ž‘ ‡‘•ǡ ƒ ƒ”– ‘ ˜‡”‡ŽŠ‘ ’ƒ”ƒ ƒ •‹”‡‡Ǥ ƒ
‰‡–‡ ‹ƒ •‡ †‹˜‡”–‹”Ǥ ƒ•  ‘ ƒ†‹ƒ–ƒ verdade,   o   sistema   “sirenístico”   terá  
„”‹‰ƒ” …‘ ‘ Ǥ ž’‹†‘ǡ ”ž’‹†‘Ǥ ‹•–‡”‹‘•ƒ‡–‡ ’‹ˆƒ†‘ǡ ƒ’ו ‘• †‹˜‡”-­‐
‡•’‘†‡ ƒ ’”‹‡‹”ƒ “—‡•– ‘ ‡ ’ƒ••ƒ •‘• ƒ…‹†‡–‡• ’‡Žƒ ƒŠ ǡ …‘ ƒ•
’ƒ”ƒ‘•‡‰—†‘–‡š–‘ǡ“—‡±—’‘‡ƒǤ ‰ƒ””ƒƤŠƒ• †‡ ž‰—ƒ ‹‡”ƒŽ •‡†‘
ˆƒǡ ƒŽ‰‘ ŽÀ”‹…‘ ’ƒ”ƒ ƒŽ‹˜‹ƒ” — …‘”ƒ­ ‘ †‡””—„ƒ†ƒ• –”‡•Ž‘—…ƒ†ƒ‡–‡Ǥ  ‘
“—‡•‘ˆ”‡Ǥ”—‘†Ǩ ‘‡•–‘—‡–‡-­‐ Šƒ˜‡”‹ƒƒŽ–‡”ƒ–‹˜ƒǡƒ ‘•‡”‘ƒ’‹–‘ǡ†‹œ
†‡†‘ ƒ†ƒǤ —ŽƒǤ ‡••‡• ‘‡–‘• ± ƒ …‘‘”†‡ƒ­ ‘ǡ ‡Žƒ ‡•ƒ •‡ ”‹†‘Ǥ
“—‡ •‡ ’‡”…‡„‡ ‘ ’”‘ˆ—†‘ •‹‰‹Ƥ…ƒ†‘ Claro,   todo   mundo   vai   dar   risada.   Da  
de   frases   sábias   de   grandes   amigos   •‹”‡‡ ƒ‘ ƒ’‹–‘Ǥ  ƒŽ‘—”‘ǡ  ‘ •‡
˜‡–‡”ƒ‘•ǣ Dz”‘˜ƒ †‡ ‘”–—‰—²•ǡ ƒ…ƒ„ƒ ‡•’ƒ–‡Ǥ ••‡ ‘˜‹‡–‘ ’‡†—Žƒ” ±
logo,   ou   você   acaba   comigo”.   E   trinta   comum  nas  provas.  
minutos   voam,   mostra   friamente   o    Žž ‡•– ‘ ‡Žƒ•Ǥ • ƒ•‹‘•ƒ• ’”‘˜ƒ• †ƒ
”‡Ž×‰‹‘ƒ—ƒŽ†‡’ƒ”‡†‡Ǥ’”‘’ו‹–‘ǡ± tarde  em  cima  da  carteira,  querendo  ser  
„‘ ‘…‘Ƥƒ”—‹–‘ƒ“—‹Ž‘Ǥ ”‡•‘Ž˜‹†ƒ• †‡ “—ƒŽ“—‡” Œ‡‹–‘Ǥ ƒ„‡ †‡
Um   bom   tempo   depois,   tudo   respon-­‐ —ƒ …‘‹•ƒǫ ‘— —†ƒ” ƒ ‡•–”ƒ–±‰‹ƒǤ
dido.   O   calouro   se   deu   bem   nas   provas   ‡••ƒ ˜‡œǡ ‘ “—‡ ”‡•‘Ž˜‘ ƒ “—‡•– ‘ǡ
†ƒƒŠ ǤŽ‡•‡Ž‡„”‘—†ƒ•ƒ—Žƒ•…‘ ƒ”…‘‘…ƒ”– ‘Ǥ•‡‰—†ƒ•—”’”‡•ƒ†‘
ƒ Žž—†‹ƒ ‹‹‘ƒ–‘ ‡ǡ ƒ Žƒ”‰ƒ†ƒǡ calouro   durante   a   fatídica   tarde   de  
garantiu  uns  bons  pontos  em  português.   •ž„ƒ†‘Ǥ ‘”†‡ †‘• ‹–‡• ‘ …ƒ†‡”‘
ƒ”– ‘ †‡Ƥ‹–‹˜‘ †‡ ”‡•’‘•–ƒ• †‡ ’”‘˜ƒ  ‘ „ƒ–‡ …‘ ƒ †‘ …ƒ”– ‘ †‡
’”‡‡…Š‹†‘Ǥ ƒ”‡…‡ — …ƒ”– ‘ †‡ ”‡•’‘•–ƒ•Ǥ  ƒ†”‡ƒŽ‹ƒ …Š‡‰ƒ ƒ‘• Ƥ‘•
Ž‘–‡”‹ƒǤ ž”‡’ƒ”‘—ǫ—ƒ†‘•ƒ‹‘”‡•—Ž-­‐ de  cabelo.  Outros  candidatos  começam  
–ƒ†‘†‘•”‡…—”•‘•ǡŠž…‡”–‡œƒ†‡“—‡±Ǥ ƒ’‡”…‡„‡”‘’”‘„Ž‡ƒǤ‡…Žƒƒ­ ‘’‘”
o   tempo   de   prova   se   esgota.  Uns   candi-­‐ –‘†ƒ ’ƒ”–‡Ǥ —”ï”‹‘•Ǥ ˆ‘”ƒ­Ù‡•
datos,  no  que  levantam,  se  entreolham   †‡•‡…‘–”ƒ†ƒ• †‘• Ƥ•…ƒ‹•Ǥ ‰‘‹ƒǤ
com   um   sorriso   contido,   como   que   ‡•‡•’‡”‘Ǥ ‘ˆ”‹‡–‘Ǥ  …‘Ž‡‰ƒ †ƒ
†‹œ‡†‘ǣDz‡†‡‹ƒŽǡƒ•ƒ‹†ƒˆƒŽ–ƒƒ frente   já   tinha   largado   a   tinta   da   caneta  
parte   da   tarde.   Vai   ser   uma   corrida   de   ‘ Ž‘–±”‹…‘ …ƒ”– ‘Ǥ †‘ Žƒ†‘ †‡— —ƒ
”‡…—’‡”ƒ­ ‘dzǤ‘Žƒ†‘ǡ‘Ƥ•…ƒŽ†‡Ž‹…ƒ†ƒ-­‐ risadinha.  O  calouro  no  meio  do  tsunami  
‡–‡ƒ””ƒ…ƒ‘…ƒ”– ‘†‡”‡•’‘•–ƒ•†ƒ• que   avança   impiedoso   toma   uma  
 ‘•†‘…Šƒ…‡Ž‡”Ǥ †‡…‹• ‘•ž„‹ƒǤ ƒ­‘‘“—‡†‡”†ƒ‡ŽŠ‘”
Ƥǡ•ƒ‹”†ƒ•ƒŽƒ’ƒ”‡…‡—ƒ‡š’‡”‹²-­‐ forma   possível.   Em   alguns   minutos,  
…‹ƒ‡š–”ƒ…‘”’×”‡ƒǡ†‡••ƒ•“—‡ƒ‰‡–‡˜² tudo  volta  ao  silêncio  habitual.  O  tempo  
‡ƤŽ‡Ǥ ’ƒ••ƒ †‡•’‡”…‡„‹†‘Ǥ  –ƒ”†‡ …ƒ‹Ǥ 
É   hora   do   almoço.  O   calouro   ouve   a   voz   exame  acaba.    
†‡ …‘•‡ŽŠ‘• †‡Ƥ‹†‘ ‘ …ƒ‹Š‘ †‘ Terminadas   as   provas,   nada   mais   justo  
²š‹–‘ƒŽ‹‡–ƒ”‡†‹ƒ†‡…‘…—”•‘ǣ que  ir  ao  banheiro.  Ou  toalete.  O  calouro  

30
CHARGE

A CRISE NA EUROPA
POR CARLOS LATUFF

31
Você decide NOVIDADE
onde quer estar! REVISTA SAPIENTIA
Acesse nosso site e conheça a Edição #1

Curso preparatório para o


Concurso de Admissão à A primeira produção organizada
de conteúdos dirigidos especificamente
Carreira de Diplomata. aos candidatos do CACD do mercado!

Revista Sapientia é uma publicação online cuja ideia


é compartilhar conhecimento por meio da reunião de
artigos produzidos por professores do curso, por alunos
Sapientes e por convidados, além de entrevistas com diploma-
tas e personalidades do campo diplomático. Várias sessões
interessantes voltadas aos candidatos vão auxiliar em seu
aprimoramento, já que o acesso à Revista é livre e gratuito.
O contato com a equipe responsável pela
Revista Sapientia poderá ser feito por e-mail:
revistasapientia@cursosapientia.com.br

Troque Sapientia Área em que candidatos interessados em


trocar, doar, comprar e vender materiais pertinentes ao CACD
podem anunciar gratuitamente.
Ajude a divulgar esta oportunidade!

Cursos abertos:
Curso Online Avançado de
Política Internacional
De Vargas a Dilma: a evolução da política
externa do Brasil desde 1945.
INÍCIO DAS AULAS:
09 DE AGOSTO
DURAÇÃO:
08 SEMANAS
CARGA HORÁRIA:
16 HORAS

Curso Online Regular Extensivo


INÍCIO DAS AULAS: IMEDIATO

Um novo caminho para Os melhores professores


sua carreira diplomática. ensinando no melhor lugar
do mundo: sua casa.
INFORMAÇÕES: (11) 2599.8333 querosabermais@cursosapientia.com.br
www.cursosapientia.com.br
www.facebook.com/CursoSapientia

Você também pode gostar