Você está na página 1de 11

Etapas do Casamento

1. Primeira etapa: A era românica ou “lua-de-mel”


Esta etapa tem o seu início na época do namoro e permanece (com
freqüência) até certo tempo após o casamento. A paixão desencadeia a busca
do outro. Há uma atração incompreensível. O desejo de estar com a outra
pessoa pode desconcentrar de qualquer atividade. Pode-se verificar uma força
de busca surpreendentemente forte nesta fase. Ah! Se pudéssemos
permanecer neste estado de efusão passional por toda a vida!
Sonhos e ilusões permeiam os pensamentos dos enamorados nesta
etapa. E não importa se as pessoas têm 15 ou 40 anos de idade. Qualquer um
desenvolve sonhos de ser feliz. Imagina-se que um estado de eterna felicidade
será alcançado por intermédio da união com outra pessoa. Ilusões de
complementaridade, de plenitude fácil, de realização e felicidade lendária (“...
e foram felizes para sempre! ”) Marcam os sentimentos e o raciocínio deste
período. Não é por acaso que se diz que a paixão é cega ou que é cor-de-rosa.
O outro é idealizado. Não se consegue ver claramente seus defeitos, suas
dificuldades. O que ele (a) faz de agradável é enfatizado, o que faz de
desagradável é desculpado e justificado, prognosticando que quando estiveram
casados, isso mudará. Qualquer virtude que o namorado ou a namorada
apresenta é potencializada, exagerada. O amor (leia-se: “a paixão”) promete
ser o remédio para todos os sofrimentos, para todas as falhas e mesmo para a
imaturidade. Se os pais ou amigos chamam a atenção para alguma dificuldade
previsível, esta é prontamente afastada de qualquer tentativa de análise
crítica. Nada pode ser visto com critérios realistas. Tudo é visto através dos
“óculos” da paixão.
Desenvolve-se uma relação simbólica. Simbiose é uma forma de
parasitismo. Um precisa do outro para ser feliz. Parece que, sem o outro, a vida
não seria possível. Um depende do outro. Desenvolvem-se jogos em que o
outro é forçado a adotar atitudes e ações que farão com que um padrão de
convivência se cristaliza, cronifique, por mais doentio que ele seja. A simbiose
também define que o outro é responsável por minha felicidade, por meu bem-
estar. Ela retira de mim a responsabilidade de crescer, de enfrentar conflitos,
de decidir coisas de minha vida. Instalada e mantida, rouba das pessoas a
autonomia, a independência e dificulta o crescimento individual.
Durante a etapa romântica, os parceiros fazem muitas promessas. E a
expectativa de felicidade tal como aquela dos filmes românticos é construída
sobre estas promessas. Não digo que elas não são sinceras e bem-
intencionadas. São enunciadas como expressão e desejo de ser feliz. Parecem
“garantir” a felicidade. Podem ser explicitas ou implícitas. De fato, diz-se
muitas coisas que depois, na luta do dia-a-dia, não são tão facilmente
executáveis. Muitas promessas são implícitas. Isto é, o enamorado pensa que o
outro esta prometendo o que ele precisa e deseja. Ele interpreta uma série de
ações como promessas. Por exemplo, quando ele traz flores, ela pode entender
que ele promete trazer flores sempre, em todas as ocasiões especiais e nas
não especiais também. Bem, sabemos como é esta questão das flores no
cotidiano dos casais, não é mesmo? Além disso, há muitas boas intenções e
promessas que são irreais e impossíveis de serem realizadas. “Construirei um
castelo de amor para nós dois! ” “Vou amar você por toda minha vida! ” Quem
já não disse essas frases? Depois, a construção pode ser uma choupana, onde
é difícil olhar nos olhos um do outro, ou em que até o sorriso é difícil.
A felicidade é a relação entre as expectativas de uma pessoa e as suas
habilidades de realizar a sua felicidade. Quanto maiores forem as expectativas,
mais hábil deverá ser a pessoa para realizar sua felicidade. É possível ser feliz
diminuindo as expectativas, aprendendo um estilo mais simples de vida. O
estilo simples de vida que Jesus viveu e pregou facilitará uma convivência com
mais plenitude, onde o relacionamento, o afeto, a pertença, a fidelidade e
outros valores estão acima dos valores materiais do conforto e consumo. Um
estilo simples de vida é fruto do ser, e não do ter, do saber, nem tão pouco do
fazer.
A etapa é romântica. O sentimento que o par tem é que tocará a
felicidade ao dobrar a esquina. E assim, o casal continuará correndo de esquina
em esquina. Em todas as corridas, algum dia as pessoas cansam. E não é
diferente no casamento.

2. Segunda etapa: Volta à realidade ou à “rotina”


“Como jaz solitária a cidade outrora populosa! Tornou-se como viúva a
que foi grande as nações: princesa entre as províncias, ficou sujeita a
trabalhos forçados!”.1 Embora este texto fale da cidade de Jerusalém, ele
sintetiza o estado em que os casamentos entram depois que todo romance
tiver sido substituído pelas exigências do dia-a-dia. Quem se sentia
pertencendo “jaz solitário”. A sensação de ter sido abandonado nas
expectativas torna os cônjuges como “viúvos”. E a economia doméstica, a
vinda dos filhos, o trabalho e a rotina instalam os “trabalhos forçados”, pois se
possível fosse, o jovem casal continuaria apenas a namorar. A etapa da volta à
realidade ou a rotina apresenta-se quando um ou dois cônjuges saem para
trabalhar a fim de pagar as obrigações financeiras, quando existem tarefas
diárias e repetitivas a serem executadas. Com freqüência, o primeiro filho está
a caminho... sem aviso prévio! Não há tempo nem tranqüilidade para sonhar. A
dureza do dia-a-dia que o sistema econômico impõe às pessoas envolve
também quem vive o esplendor do romantismo. O encanto passional se vai
dissipando-se como a névoa; a realidade começa a apresentar os seus
verdadeiros contornos. A performance real do jeito de ser de cada um é
percebida sempre mais nitidamente. Fica difícil idealizar tudo o que acontece.
A outra pessoa é de uma maneira que, se ela continuar assim, não cumprirá
todas as promessas explícitas ou implícitas feitas.
E a simbiose entre o par se rompe. Conta a malévola história do folclore
popular que, quando ele a conheceu, dizia: “Querida, aonde vamos tem pedras
no chão, e eu vou tirar uma por uma para que você não machuque seus pés!”
Quando as núpcias já se passaram, ele dizia: “Querida, cuidado ali tem uma
pedra!” Depois de vários anos de convivência, dez metros adiante de sua
esposa e dos vários filhos, grita: “Você não tem olhos para ver que tem pedras
por aí?” Ele não permite mais que ela dependa dele. E se ela não aprender a
andar sozinha, ele a ensinará com muita rudeza. Nesta história, a crueldade
partiu do homem. Mas as mulheres também conseguem ser bem cruéis.
Há um acumulo de sentimentos de frustração. Havia-se imaginado tantas
coisas lindas para o resto da vida! A realidade evidencia que talvez não seja
bem assim! Mas o desejo dificilmente morre. A esperança da vivência de uma
história lendária faz com que os dois cônjuges nutram expectativas de que as
coisas ainda voltarão a ser como antes. E em torno desta esperança,
desenvolvem-se muitos esforços para fazer com que o outro se torne como era
antes. O outro é justificado por não realizar o que prometeu, por não cumprir
1
Lamentações de Jeremias 1.1.
as expectativas. Acham-se explicações para a impossibilidade de ser tão feliz
quanto sonhado.
Cada cônjuge desenvolve fantasias de reciprocidade, pensando: “Se eu
for suficientemente bom, meu cônjuge também o será. Ele então voltará ser
como antes!” Assim, voltam a acontecer momentos maravilhosos entre o casal.
Mas, em geral serão rapidamente substituídos pela dureza da realidade
externa (trabalho, filhos etc.) ou interna (temor da verdadeira intimidade,
sentir-se sufocado por tantas expectativas, falta de habilidades românticas,
pouca criatividade para gerar um relacionamento interessante etc.)
Instalam-se jogos de manipulação com o intuito de voltar à etapa
anterior. Criam-se surpresas que antigamente mobilizavam as reações
românticas. Muitos casais iniciam a dolorosa experiência de falar mal do
cônjuge diante de outras pessoas, tentando operar uma melhora no outro.
O casal, sedento de felicidade, tem a nítida sensação de que a mesma
está escapando como água por entre seus dedos, antes que ela possa ser
bebida.

Tarefa 1
Reflita e escreva sobre as expectativas com relação ao casamento na sua
historia familiar.

Expectativas no casamento
Expectativas que seus pais tiveram no casamento deles.
1. Quais foram as expectativas com que seus pais iniciaram o
casamento? Se você não tiver esta informação, escreva o que você
imagina terem sido as expectativas deles.
2. Quais as expectativas realizadas e cumpridas?
3. O que fizeram com as expectativas não realizadas e não cumpridas?
4. Como seus pais resolveram as mágoas e as frustrações resultantes do
casamento?

Suas expectativas em seu próprio casamento


1. Quais foram as expectativas com que você iniciou o se casamento?
2. Quais foram as expectativas realizadas e cumpridas?
3. O que vocês fizeram com as expectativas não realizadas e não
cumpridas?
4. Como vocês resolveram as mágoas resultantes de frustrações no
casamento?
5. Quais são as expectativas que você tem ainda hoje a respeito do
casamento?

3. Terceira etapa: A luta pelo poder ou “amargura e


agressão”
Paira um ceticismo no ar de nossos tempos quanto à real possibilidade de
que o ser humano pode mudar, e para melhor. A Palavra de Deus nos confirma
que “Eu nasci na iniqüidade e em pecado me concebeu a minha mãe”. 2 Mas
diante da queda mortal do ser humano, existe a vinda gloriosa e salvífica do
Filho de Homem, que “veio buscar e salvar o perdido”. 3 Assim é possível vencer
o maligno (“jovens... tendes vencido o Maligno” 4) e “todo aquele que é nascido
2
Salmos 51.5
3
Lucas 19.10
4
1 João 2.13b
de Deus não vive na pratica do pecado; pois o que permanece nele é a divina
semente...”.5 Existe uma fase na convivência de todos os casais em que esta fé
não existe mais. Quando a pessoa deixa de pedir ou esperar e começa a exigir
que o outro cumpra suas promessas, então se instala a luta do poder, que
muitas vezes se manifesta por amargura e agressividade.
Quem está frustrado e decepcionado, vê somente as promessas não
cumpridas e a infidelidade rondando ou até assaltando a casa. Um sentimento
de pânico de perder para sempre o sonho da felicidade assalta o coração. Algo
tem de ser feito, urgentemente. É nesta fase da convivência matrimonial que o
casal destrói dois “ministérios de defesa” e monta um “exercito altamente
especializado”. Se estrategistas de guerra quisessem aprender como guerrear
criativamente de todas as formas possíveis, estudariam casais nesta fase.
Omissão da relação sexual, manipulação do dinheiro, queixas contra a sogra,
chorar no ombro da mamãe, ficar até mais tarde no trabalho e não fazer
comida, todas estas atitudes e ações deploráveis têm uma intenção nobre: a
recuperação e a busca da felicidade.
Mas até esta fase, a felicidade parece apenas depender do outro. Na
interpretação do sofrimento desta etapa, ainda é o outro que boicota a
realização dos sonhos e dos desejos. Os cônjuges não buscam cada um por si a
sua felicidade, seu bem-estar, silenciosamente em Cristo, através de suas
próprias ações e decisões.
Eles se queixam que foram enganados, que houve “propaganda
enganosa” a respeito das qualidades do outro. Percebe-se que o outro não é
tudo aquilo que se imaginava e que se construiu castelos de ilusões. Toda a
infelicidade e todo o sofrimento parecem ser exclusivamente culpa e
responsabilidade do outro. “Se não fosse por sua causa...” é uma frase comum
nesta fase.
Muitas ações, senão todas indicam: “Vou lhe obrigar a cumprir as
promessas que me fez”! Ameaças silenciosas e queixas audíveis iniciam um
projeto de manipulação e controle das ações do outro, com a finalidade de que
ele faça o casamento feliz. As brigas tornam-se contínuas. “Não agüento
mais...” é uma frase pensada ou dita que indica que o casal está em crise do
relacionamento. Algo sério tem de acontecer, pois assim, não dá para
continuar.
É nesta fase que se procura, pela primeira vez, uma ajuda externa para
falar sobre o casamento. Mas em geral, a ajuda que se solicita é para o
tratamento do cônjuge, não de si mesmo. Ainda não se consegue entender que
cada um tem de mudar por si mesmo para que o relacionamento se torne algo
agradável.
O casamento corre sério perigo de desabar. Quando, nesta fase os
confidentes são colegas de trabalho do sexo oposto ou antigos (as) namorados
(as), então um envolvimento passional pode ser uma desagradável
conseqüência. Quando os confidentes são familiares de origem, certamente
haverá tomada de partido e, assim, se desenvolverá uma armadilha da qual
não será fácil escapar. É vital que se encontrem pessoas maduras e sérias,
isentas como confidentes para que se possa avançar no desenvolvimento e
crescimento da relação do casal.
Esta etapa é marcada pelo sentimento: “Se ele (a) mudasse tudo seria
melhor!” Ma como ninguém muda ninguém, a crise continua. Mudanças
acontecem somente de fora para dentro, não sob demanda do cônjuge. É
preciso que cada um reconheça e entenda a sua participação neste processo.

5
1 João 3.9
Infelizmente, é preciso que haja ainda mais sofrimento para que os cônjuges
possam finalmente iniciar o verdadeiro processo de crescimento. Entretanto,
antes do crescimento, apresenta-se a etapa seguinte.

4. Quarta etapa: Desilusão e separação ou “já me cansei”


Quando um ou os dois decidem que não vale a pena lutar por alcançar o
sonho de felicidade então dá-se inicio à desilusão que pode acabar em
separação. Parece não valer a pena lutar por alcançar o sonho da felicidade,
pelo menos não com esta pessoa.
Assim, cada um entra em dúvida a respeito da continuidade da relação.
Esta dúvida certamente não era tão explícita nos casamentos de nossos avós,
pois não se dispunha da possibilidade do divórcio. Tradicionalmente e
sociamente o divórcio não era aceito nem permitido, portanto, a tensão desta
fase era canalizada para outras saídas (trabalho, filhos, alcoolismo). Porém, em
tempos em que o divórcio é visto como possibilidade, mesmo casais cristãos
nutrem esta idéia como tentativa de alívio e busca da felicidade em outros
relacionamentos.
Nesta etapa, o casal se acomoda na relação, mas já não se aproxima
mais. Estabelece-se uma distância/proximidade tolerável e se mantêm o
relacionamento e as aparências. Mesmo aqueles casais que por obediência à
Palavra de Deus e pela sua fé não se separam de fato, podem se acomodar
definitivamente numa distância fria e assim permanecer por toda a vida.
Com freqüência, estes casamentos continuam na mesma cama, com
atividade sexual e gerando filhos, mas afetiva e espiritualmente estão
distanciados. Os médicos sabem que muitos destes casamentos são
interrompidos por doença psicossomática letal. O cônjuge mais sensível pode
desenvolver uma doença, e o sofrimento termina com a sua morte.
Para suportar esse afastamento, cada um se dedica a algo para
preencher o vazio e o tempo. Ele pode “afundar-se” no seu trabalho e ela pode
“ser uma mãe por excelência”. Deste modo, um foge do outro e busca um
sentido de vida que permita a continuidade da existência com um mínimo de
sofrimento.
O casal está pronto para uma decisão muito importante: crescer ou
separar-se. Vejamos primeiramente o que acontece quando o casal decide
separar-se.

Rompimento da relação: separação


As estatísticas evidenciam que a grande maioria das pessoas que se
separam já estão envolvidas com outro parceiro quando a decisão é tomada.
Os homens, em geral, já desenvolveram um novo relacionamento quando
decidem sair de casa. As mulheres nem sempre decidem se separar somente
em função de um novo relacionamento. Assim, ao iniciar um novo
relacionamento sem ter tratado e elaborado as questões pessoais (internas e
externas), incorrerão nos mesmos equívocos da primeira escolha matrimonial.
O novo relacionamento também passará pelas mesmas etapas, iniciando pelo
romantismo, continuando pelo confronto com a realidade e entrando na luta
pelo poder. Não é possível aplicar muitas das coisas que se aprendeu do
primeiro relacionamento num segundo relacionamento, pois o novo cônjuge é
diferente do primeiro. Novos hábitos, novos padrões a partir da família de
origem etc., exigem que um novo relacionamento passe por novos
aprendizados. Se essa aprendizagem não acontecer, então a quarta etapa,
mesmo num novo relacionamento, se apresentará rapidamente. Aliás, as
pesquisas indicam que segundos e terceiros casamentos costumam durar bem
menos do que os primeiros.
A separação e o divórcio não garantem que haja um distanciamento
definitivo da outra pessoa. Se o casal já tem filhos, se a lei define uma pensão,
se há bens em comum, então uma separação em termos absolutos já não é
mais possível. Mesmo divorciado, o antigo casal terá de aprender a lidar com
alguns conflitos e da vida dos filhos, a respeito de finanças ou qualquer outro
assunto que concerne aos dois. E mais, será preciso construir uma nova
relação com outra pessoa a partir dos fundamentos. Poucas coisas da relação
anterior serão aproveitadas como padrão de conduta na nova relação.
É recomendável que alguém que se separou permaneça sozinho por um
bom tempo (em torno de dois anos), e que neste tempo avalie a si mesmo,
quem sabe através de terapia para, ao começar uma nova relação, não incorrer
nos mesmos erros da anterior.
Entretanto, em vez de separar-se, é possível decidir o crescimento
através da crise.

Crescer e construir
O símbolo chinês para a palavra crise é composto de dois diagramas:
“perigo” e “oportunidade”. Todas as crises contém um potencial periculoso de
destruição e ameaça. Mas ao mesmo tempo, toda a crise está grávida de
oportunidades de crescimento e mudança. A acomodação e a estagnação se
transformam na ferrugem das intenções matrimoniais e familiares. E, aos
poucos vão corroendo tudo, sem que as pessoas o percebam, até que as
estruturas caiam. Portanto, a crise pode ser fundamental para que as pessoas
tenham uma chance de rever e refazer o que for necessário. A quarta etapa da
relação dos casais tem essa função.
Até esta etapa, os cônjuges esperavam do outro a sua felicidade. Ao
escolher o crescimento e a construção da relação, definirão (os dois ou cada
um individualmente) de quem é a responsabilidade para viver bem. Quem sabe
até encontrem aquele que prometeu “plenitude de vida”, 6 pois com certa
freqüência nesta altura as pessoas são confrontadas com a necessidade de
mudança de filosofia de vida e o fazem aceitando a Cristo como Senhor e
Salvador.
Os cônjuges viviam expectativas e ilusões novelescas e lendárias. Nesta
fase da convivência, cada um percebe que a realidade é muito mais complexa,
quem sabe dura, e que a qualidade de vida depende, em grande parte, de
cada pessoa.
Assim, cada um poderá assumir a responsabilidade e o compromisso de
amadurecer e de crescer. Por exemplo, para melhorar a comunicação: em vez
de usar palavras externas como “sempre, nunca...”, pode-se desenvolver o
habito de ser menos contundente nos julgamentos, dizendo: “as vezes, vez ou
outra, com freqüência...”. Em vez de usar insistentemente a segunda pessoa
do singular, “tu, você...”, pode-se conjugar na primeira pessoa do singular, “eu,
para mim, a mim parece...” Em vez de falar de fatos, “Você esqueceu pela
décima vez de fechar a porta...” pode-se falar de sentimentos, “Preocupo-me
quando percebo que você se esquece algumas vezes seguidas de fechar a
porta! ” Ou “sinto raiva quando percebo que meu pedido não é atendido! ” Na
verdade, todas essas sugestões são simples! Mas quando um casal em
conflitos procura aplicá-las, logo verifica que o padrão doentio e os maus
hábitos são muito difíceis de serem mudados. O egoísmo e o medo de perder o

6
João 10.10b
controle mobilizam as pessoas a recorrerem aos padrões de conduta
manipulativos e agressivos. O amor é afogado na angustia de perder o controle
das coisas.
Se um casal decide crescer e amadurecer, fará pequenos ajustes. Em
geral, não são grandes as coisas que devem ser mudadas. Um pouco mais de
respeito, uma pitada de empatia para entender o que motiva o outro a reagir
como reagiu, um pouco mais de tempo para conversar, estender um pouco
mais os braços e as mãos para ser carinhoso... os pequenos ajustes com
freqüência não requerem mais do que isso, não serão cruciais para o
crescimento salutar.
Para alguns casais, é necessário que renegociem a relação. Se ela recorre
à mãe cada vez que tem um pequeno problema, em vez de procurar o marido
para discutir e achar com ele a solução, então terão de repensar a forma da
pratica da resolução de conflitos. Talvez ele tenha sido muito brusco, concreto,
racional, prático em excesso e ela não tenha se sentido compreendida. Ambos
terão de aplicar uma mudança para que os conflitos possam ser tratados entre
eles, sem envolver a mãe.
Se ele se sente seguro quanto aos gastos financeiros que ela faz e por
isso ela tem de pedir cada centavo para que possa comprar qualquer coisa,
então deverão negociar uma nova forma de lidar com o dinheiro. A quantia
fixa, uma conta particular para gastos particulares, ou um cartão de credito de
uso exclusivo da esposa poderão valorizá-la. E assim, uma nova fórmula de
interação com o dinheiro pode evitar que ela se sinta mendiga.
Enfim, se nesta quarta etapa da relação do casal os cônjuges decidirem
crescer e amadurecer, o foco de atenção mudará por si mesmo. Um não
cuidará mais do crescimento do outro, das ações do outro, mas cada um
cuidará de si. Esse é o grande segredo do crescimento, do amadurecimento, da
responsabilidade e da verdadeira liberdade. A mudança de foco precipita
também o inicio da quinta etapa na relação do casal.
Até este momento, pressupomos que eles decidiram crescer juntos. Mas
pode acontecer que somente uma pessoa decida crescer e a outra permaneça
na simbiose. Será bem mais difícil crescer e ficar bem para quem decidiu
cuidar de suas próprias necessidades, sem esperar tudo do outro. O cônjuge
que adotou a postura da responsabilidade necessitará constante fortaleza do
Senhor, sua presença e seu conforto. É possível crescer sozinho e é possível
manter o casamento enquanto somente um dos cônjuges progride para a
etapa seguinte. Porém, será um trabalho árduo.
Consideremos um segundo aspecto quanto ao crescimento solitário de
um só cônjuge. É praticamente impossível continuar sendo da mesma forma
como sempre se foi quando o outro cônjuge mudou. O relacionamento
matrimonial é como um jogo com regras previsíveis e estabelecidas. Se as
regras mudarem para um dos cônjuges o outro não saberá como vai continuar
o jogo. Imaginemos um jogo de futebol. De repente, um dos times modifica as
regras quanto ao “impedimento”, invade a área do outro time e faz gol.
Ninguém vai defender a bola se o adversário estava impedido. A não ser que o
outro time também mude as regras para, então, defender seu espaço. O
mesmo acontece quando um dos cônjuges muda as regras do jogo, os padrões
de interação, os hábitos e o jeito de ser. Não é possível continuar a jogar da
mesma forma que antes por muito tempo. A mudança é contingente. O outro
vai ter que mudar também, mais cedo ou mais tarde. A este processo de
mudança, porque o sistema mudou, os especialistas de família denominam de
resiliência. Mesmo que alguém não queira mudar, diante da mudança do meio
não poderá permanecer inerte.
5. Quinta etapa: Transformação ou “tomada de
responsabilidade”
Quando cada um aceita a responsabilidade pelo que é e pelo que espera
da vida, de si e do outro, então se inicia uma nova fase.
O casal assume a disposição de renegociar a relação com bases mais
solidas. Agora, ambos buscam entender um ao outro. Há um esforço em ouvir o
que o outro pensa, sente e propõe. Encara-se a realidade dos fatos. Evita-se
construir planos apenas sobre desejos e vontades. São lembrados os limites e
as possibilidades reais do outro e de si mesmo. Busca-se o conselho de pessoas
experientes e a orientação da bíblia e do espírito Santo.
Alem disso, os dois dispõem-se a se comprometer um com o outro, Os
acordos que se estabelecem transformam-se em compromissos e são levados
a sério. Um passa a aceitar o outro como ele é, com as suas potencialidades,
com seus defeitos, com seus jeitos e trejeitos. Dispõe-se a enxergar o outro
como ele é não como se desejou e idealizou. Assim, desenvolvem-se atitudes e
posturas de respeito e ajuda mútuos. Agora que o outro não é mais
responsável pela minha felicidade, posso admitir que ele tenha falhas,
fraquezas, e posso apoiá-lo em suas deficiências sem me ressentir disso.
Talvez, a característica mais saliente e importante desta etapa é que não
analisará quantas e quais necessidades do outro cada um pode satisfazer.
Talvez ela tenha que desenvolver um relacionamento de amizade com uma
amiga confidente que a ouça e compreenda se ele é muito fechado e tímido, se
ele realmente não consegue desenvolver diálogos longos e profundos. Talvez
ele tenha de dividir sua vontade de praticar esportes diariamente com um
amigo que tenha o mesmo interesse, ou quem sabe, um filho possa partilhar
desse interesse do pai.
Nesta etapa, é importante que o casal defina suas áreas de
individualidade e de mutualidade. Cada pessoa precisa de um espaço
particular e privativo, mesmo dentro do casamento, assim como outro espaço
em que compartilhará a sua vida, em que pertencerá ao outro, em que
dividirão as suas coisas. Os conflitos desenvolvem-se a partir do momento em
que os cônjuges não conseguem mais fazer acordos em torno de quanta
individualidade e privacidade cada um precisa, ou quanta mutualidade deve
ser desenvolvida. Se a esposa exige mais mutualidade do que ele é capaz de
fornecer, então ele provavelmente se sentirá sufocado, e ela se sentirá
solitária. Portanto, na quinta etapa, o casal definirá a área de mutualidade e de
espaço livre da individualidade de cada um. O casal aceitará estes espaços e
aprenderá a lidar com as necessidades não supridas que eventualmente
poderão surgir a partir desta decisão.
Feliz quem conhece aquele que pode suprir as necessidades, que
desenvolveu uma intimidade espiritual com o Senhor Jesus de maneira que a
solidão, o afeto, o sentido e o significado possam ser supridos por ele!
Na quinta etapa da relação do casal, o conceito de amor é transformado.
Se até então o amor era muito sentimento, muitas vezes confundido com
paixão, agora será entendido e vivenciado como atitude, compromisso,
aceitação e respeito. O amor pode ser compreendido como ação: pode ser visto
como uma linguagem falada em vários idiomas. Cada um aprenderá a
interpretar a fala e a linguagem do outro, que pode ser expressa pelos serviços
prestados, por palavras de afirmação, por presentes, por qualidade de tempo,
por toque e carinho. E cada um tentará “falar” a linguagem de amor do outro
para alcançá-lo e satisfazer as suas necessidades de ser amado. 7
Nesta etapa cada um dos cônjuges desenvolve a sensação e o
aprendizado de uma maneira mais madura de amar.

6. Sexta etapa: estabilidade e compromisso ou “agora sim


que me caso com você”
Em quanto tempo um casal pode chegar a esta etapa? Cada casal terá o
seu tempo. Depende da maturidade emocional e espiritual de cada um dos
cônjuges; modelo de casamento que tiveram através dos seus pais (ou de
outros casais com os quais conviveram enquanto crianças e adolescentes), da
disposição de cada um para mudar e crescer; da permissão que darão a Deus
para que ele mude, trabalhe e edifique o verdadeiro sentido do ser em cada
cônjuge.
Quando cada um dos cônjuges sentir que pode compartilhar sem se
impor e sem temer receber imposições do outro, estarão livres para
experimentar a estabilidade na relação.
Agora sim pode surgir e se intensificar o que de fato é essencial a um
casamento: a intimidade. O casal compartilha seus sentimentos e
pensamentos sem medo. Algumas coisas, até ameaçadoras, podem ser faladas
sem desencadear grandes discussões e conflitos como antes. O sentimento do
outro é somente um sentimento, ainda não é uma ação. E assim,
compreendendo-se e aceitando-se mutuamente, podem ser feitas as melhores
decisões e praticadas as ações mais úteis. Intimidade verdadeira é aquela em
que se conhece o outro, não se teme o que existe no outro, se compartilha a
confiança de que um estará com o outro independente do que aconteça. Isso
melhora também a intimidade sexual. Mas quando se fala de intimidade nesta
etapa, não estamos falando em primeiro lugar da intimidade física.
Mesmo que cada um siga os seus próprios afazeres do dia-a-dia, existe
um sentimento de participar de algo comum. Os denominadores comuns
podem existir em torno dos filhos e netos, ou em torno de um trabalho em que
ambos estão engajados. Ainda que ambos não estejam engajados no mesmo
trabalho, o compartilhar das coisas faz com que um se sinta participante
daquilo que o outro faz. Há um dialogo mais aberto, freqüente e eficaz,
simplesmente falando e ouvindo, sem estar preocupado se o que o outro diz
corresponde às expectativas. Haverá sentido e significado naquilo que o outro
realiza, seja profissional, relacional ou espiritual. Nesta etapa, é possível o
retorno à devocional do casal e da família com profundo aproveitamento e
verdadeiro crescimento espiritual.
Também é possível que o casal desenvolva novas amizades,
passatempos e interesses mútuos. Não havendo mais expectativas excessivas,
não é projetado sobre o outro a responsabilidade pelo suprimento das
necessidades e da felicidade; desenvolve-se um espaço maravilhoso de
compartilhamento. Fazer algo em comum pode se transformar em um gostoso
jogo de convivência.
Instala-se a nítida sensação e certeza de que cada um está crescendo,
realizando-se. Será possível andar com a mesma pessoa até o fim da vida e
gostar verdadeiramente disso.

7. Sétima etapa: Generatividade ou “verter-se aos demais”

7
Gary Chapman, As cinco linguagens do amor
Erik H. Erikson definiu esta etapa como a da generatividade. 8 Pela
primeira vez na interação do casal, este não está concentrado em si, na sua
própria interação. Agora, toda a atenção se volta para questões e fenômenos
exteriores. O casal está concentrado nas coisas que acontecem ao redor, seja
com os filhos, com os netos, com a profissão, com a comunidade ou com a
sociedade.
Quando o casal já não está absorto em sua própria relação e sente que
se pode doar aos demais sem desvalorizar sua própria relação, estará diante
do sentido mais completo da convivência matrimonial (e certamente do
sentido mais profundo, real e espiritual do ser: viver para que haja vida).
Todo o potencial individual e em conjunto transborda e é possível dar aos
outros e doar-se a si mesmo sem medo. É tempo de gastar as vidas pelas
gerações futuras, pela comunidade, pela igreja e o Reino de Deus. Vive-se o
verdadeiro sentido do ser: “Em verdade, em verdade vos digo: se o grão de
trigo, caindo na terra, não morrer, fica ele só; mas, se morrer, produz muito
fruto.9 A morte para os próprios desejos egocêntricos, a morte das expectativas
excessivas a respeito do amor que os outros poderiam nos dar, a morte da
insegurança, do medo de não ser feliz, do controle sobre todas as coisas é que
desencadeia aquele processo em que pode haver muito fruto. A entrega é o
inicio do receber. Sabe-se então, que a vida não é vã; ela faz sentido.

Perguntas que as pessoas fazem quando pensam no


casamento como um processo de etapas

Todos os casais passam por estas etapas?


Sim, todos que seguem o desenvolvimento normal, sem interrupções ou
acomodação, e decidem crescer diante dos conflitos, passam por essas etapas.
Evidentemente, há aqueles casais que experimentam cada etapa com muita
intensidade, e outros vivenciam as mesmas etapas com mais serenidade e
complacência. Mas todos passam por todas as etapas! Alguns casais relatam
que não conseguem identificar alguma das etapas depois que estudaram este
processo. Porém, se ouvirem as observações de pessoas que os conhecem e
com quem convivem, vão identificar que também passam pelo processo de
desenvolvimento do casal como todos os outros.

É possível pular uma das etapas?


Não é possível pular, nem queimar qualquer etapa. Cada uma delas tem
função de amadurecimento das pessoas envolvidas. É preciso que se tenha
vivenciado a dor da ilusão e do desejo de fuga e desistência da quarta etapa
para que se possa chegar a maravilhosa conclusão de que todos são
pessoalmente responsáveis pela sua própria vida, pela felicidade e realização
pessoais. Assim, cada uma das etapas é vital para que as pessoas possam
crescer na sua relação.

As etapas são vivenciadas de modo seqüencial? É possível voltar a


etapas já vivenciadas?
O desenvolver das etapas não é estático, nem rigidamente seqüencial;
Há oscilações entre assimilação e acomodação de uma etapa. Alguém que já
estava na etapa cinco, assumindo toda a responsabilidade pelo seu próprio
crescimento, pode, em certo momento, fazer um súbito retrocesso à luta pelo
8
Erik H. Erikson, Infância e sociedade, p. 245
9
João 12.24
poder, tentando mais uma vez obrigar o cônjuge a fazê-lo feliz. Mas, se já
esteve na quinta etapa, retomará rapidamente a mesma. Todo crescimento
emocional, cognitivo e relacional passa pela alternância entre “aprendizado” e
“aparente retrocesso”, de fato, o “retrocesso” é estímulo para aprender mais. O
mesmo acontece na evolução da relação do casal. Um casal pode ter retornos
a etapas anteriores, mas apenas para reafirmar que não quer mais permanecer
ali.

É possível que um só cônjuge avance até a sétima etapa?


Evidentemente que não. É possível que um dos cônjuges avance uma ou
duas etapas adiante do outro. Mas, isto lhe custará muito esforço, pois terá de
vencer o desânimo e a solidão. Em geral, a etapa máxima que alguém poderá
avançar sozinho sem o crescimento concomitante do outro é a quinta etapa da
desilusão sem se separar.

Quanto tempo dura cada uma das etapas?


Não existe um tempo padrão para cada etapa, pois isso depende
exclusivamente de cada casal, da sua maturidade e disponibilidade de crescer.
Depende do espaço que eles darão a Deus para agir e operar em suas vidas.
Mas, se observarmos a média dos casais (sem avaliação estatística), podemos
defender a hipótese de que a sétima etapa é alcançada no período em que os
netos nascem e começam a se desenvolver.

Todos os casais chagam à etapa quatro ou sete?


Infelizmente, muitos casais cristalizam e estagnam em uma das etapas e
nunca mais saem dela. A estagnação no desenvolvimento é como se o casal
odiasse e gostasse ao mesmo tempo da permanência naquele estado do
relacionamento. Certamente, nenhum casal pára na primeira etapa, nunca
conheci um casal assim. A grande maioria dos casais que estagna na sua
evolução o faz na terceira ou quarta etapa. Ou vivem lutando pelo poder pelo
resto de suas vidas, ou permanecem desiludidos e queixosos, desistindo, mas
nunca rompem de fato, nem crescem. Pode haver uma estagnação na etapa
cinco, quando apenas um cônjuge avançou até a mesma. Pode também haver
uma estagnação na etapa seis, quando as pessoas apresentam um caráter
egoísta, e não desenvolvem a atitude do altruísmo da etapa sete.

Tarefa 2
Responda francamente as seguintes questões:
1. Qual a etapa máxima que você alcançou em seu casamento?
2. Como você pode alcançar a etapa seguinte e crescer através das crises?

Referencia
FRIESEN, Albert. Cuidando do casamento: para conselheiros e casais. Editora
Evangélica Esperança. Curitiba: 2004. p. 28-41.

Você também pode gostar