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-A-
Ação É o desenrolar dos acontecimento que determinam o tema da narração; é o desenvolvimento de episódios por meio de personagens, em
cenas que reproduzem ou transfiguram a realidade.
Alegoria Uma forma de figuração verbal. caracterizada pela superposição de metáforas. Consiste numa proposição de duplo sentido: um sentido literal e um ideológico ou espiritual.
Aliteração Repetição do mesmo ou similar fonema consonântico, dentro do mesmo verso ou estrofe, sobretudo nas tônicas iniciais.
Alba (ou Alva) Composição lírica provençal (aubade) que relata fatos ocorridos ao alvorecer: quer de amantes que reclamam o fim da noite dormida juntos, quer daqueles que
saúdam o novo dia.
Ambiente Circunscrição da ação narrada. Um dos elementos estruturais da narrativa, podendo ser de natureza físico-geográfica ou metafísico. O ambiente é uma das formas de ser
do espaço interior ou exterior.
Anadiplose Figura que resulta da repetição, no início do verso, de palavra ou palavras deixadas no final do verso anterior.
Anáfora Figura que consiste em repetir a mesma palavra (ou palavras) no início de cada verso.
Anagrama Palavra ou seqüência de palavras que se pode obter, através da transposição ou inversão das letras, outra palavra e outro entendimento. Ex.: Roma > amor; gato > toga.
Antífrase Figura marcada por um tipo de ironia verbal: é um enunciado frasco que quer dizer o oposto do que expressa.
Antístrofe Responsório entoado pelo coro nas odes gregas que ponderava o curso dos acontecimentos.
Antítese Figura que aproxima termos opostos para, intencionalmente, demonstrar os contrastes da significação.
Apólogo Narração alegórica de caráter moralizante geralmente protagonizada por seres inumanos que, animizados, desempenham e representam papéis humanos.
Apóstrofe Desvio discursivo, em forma exclamativa, feito para aludir outra ideia ou outra pessoa alheia ao contexto do discurso.
Arremedilho Espécie de teatro cômico-popular de caráter picaresco, voltado sobretudo para a paródia de situações.
Assonância Repetição da vogal tônica nos versos; tipo de rima, também chamada de vocálica.
Atafiinda Freqüente na poesia trovadoresca, esse processo consistia em encadear versos. O final de um adentra no início do outro, à semelhança do enjambement.
Aurea mediocrizas Expressão latina (mediania dourada, aprazível) que definia uma das utopias do Arcadismo. Seguindo os Antigos e a Renascença, os árcades atribuíam à
existência bucólica um ideal supremo, por estar distanciada dos transtornos da vida urbana; viver aí seria digno de exaltação.
-B-
Bailada (ou Bailia) Composição poética, de origem trovadoresca , marcada sobretudo pelo ritmo que a tornava também dançante daí sua designação.
Balada Uma das formas poéticas mais primitivas, mesclando letra e música, que narrando um episódio, vai desenhando uma coreografia que contagia a platéia e a diverte,
simultaneamente.
Barbarismo Espécie de impropriedade idiomática, marcada pela inadequação terminológica, reveladora de falta de domínio lingüístico.
Barcarola Na Idade Média, era uma cantiga de amigo que versava sobre assuntos referentes ao mar, lago ou rio; também denominada de marinha. Modernamente, denomina toda
composição sentimental e melodiosa que desenvolve um tema marítimo.
Bucolismo Sentimento atribuído ao espírito que, entre os árcades, voltava-se para o ambiente campeste, pastoril (boukolikós) e demais encantos da natureza. Tal sentimento domina
a poesia chamada de bucólica, retratada em éclogas e idílios.
-C-
Cacofonia Combinação, intencional ou não, de efeitos sonoros desagradáveis na linguagem poética ou coloquial, geralmente descambando para a ambigüidade, para a polissemia ou
obscenidade.
Canção Geralmente uma composição lírica culta, cheia de artifícios poéticos (introdução, fiinda, leixa-pren...). Vários tipos existentes: trovadoresca, clássica, ligeira, cançoneta... A
Canção de gesta, exaltando heróis, santos e feitos religiosos, chegaram a conter traços épicos.
Cantata Gênero poético culto, versando temas nobres em estilo elevado. Possui uma estrutura: uma exposição (em decassílabos); um recitativo (em versos de seis sílabas) e um
fecho (também chamado de ária) em versos curtos (de quatro sílabas).
Cantiga Denominação genérica dada às composições medievais. Com predominância de um teor lírico sobre o satírico, eram poemas curtos em versos de cinco a sete sílabas,
marcados pela repetição de versos. A variedade é grande: de amigo de amor, cantiga de escárnio e de maldizer, de mestria, de refrão, de romaria, dialogada, paralelística, de
atafiinda...
Cantilena Curtas canções, repetitivas no tema, pendendo para a monotonia temática e rítmica.
Caracterização Denominação dada à idealização e concretização de personagens (character, ingl.), especificando pormenores importantes para a consistência e coerência de cada
tipo apresentado.
Carnavalização M. Bakhtine fez do carnaval um princípio explicativo da sua poética. Verificando a visão de mundo carnavalesca, construiu um sistema de interpretação literária,
bastante flexível e heurístico, capaz de detectar sutilezas do discurso literário que, nesta visão, é violador do normativo e capaz de operar mésalliances típicas do mundo ao avesso.
Catarse
Depuração, purgação, purificação das emoções é o sentido do termo em grego. Estende-se esse conceito para uma teoria em que a realização
da tragédia, através das personagens, é uma forma de depuração sentimental e aliviadora das tensões humanas.
Cesura Pausa vocal no interior do verso; por extensão, é a sílaba átona, não acentuada do verso.
Chave de ouro Geralmente é o verso final do soneto, concentrador de maior carga poética, imagética... um fecho de ouro.
Clímax Em textos narrativos, é o ápice da ação que espera por um desfecho, face às tensões e conflitos existentes. Em poesia, é a denominação dada a um tipo de gradação, a
ascendente, executada sobretudo por uma seqüência de verbos.
Cobra (ou Talho) Denominação dada às estrofes (coblas), no trovadorismo medieval; corruptela do termo copla. Variedade: singular (rima própria em cada estrofe), uníssonas
(mesma rima em todas as estrofes), doblas (mesma rima em duas estrofes.
Comédia Representação satírica de costumes, caracteres e acontecimentos sociais. Pela etimologia (kómos = aldeia) esse tipo de representação se originou nas manifestações
populares cujo fim era mais o burlesco e risível dos fatos.
Comparação Aproximação de pares cujo objetivo é verificar semelhanças e dessemelhanças; realização de equivalências terminológicas, devido à similitude, analogia entre objetos,
por meio de conectivos (como, assim como, tal, tal qual...).
Conto Narrativa curta, centrada geralmente numa ação, envolvendo poucas personagens em pequenos ambientes.
Coriambo Tipo de pé (sílaba métrica) greco-romano: uma longa, duas breves e uma longa.
Crítica Atividade que, partindo da análise e investigação, procura avaliar a obra de arte dentro de critérios (juízos) estabelecidos por sistemas ideológicos, filosóficos, científicos... A
variedade da Crítica é uma decorrência da visão expansiva do homem: científica, dogmática, empírica, hermenêutica, impressionista, normativa...
-D-
Décima Estrofe de versos de arte menor, dispostos no esquema rimático seguinte: abbaaccddc.
Dedicatória Uma das partes em que se divide a Epopéia, aquela a que(m) se oferta a obra criada.
Discurso Enunciação que se propõe a um interlocutor com o fim de influenciá-lo. Forma-se de um encadeamento de sintagmas e se revela numa pluralidade de textos: literário,
épico, científico, parodístico...
Ditirambo Poema lírico de pequena extensão destinado a celebrar Baco; a músicalidade é fundamental em detrimento do conteúdo.
Dobre Figura de repetição de palavras, em versos diversos e em posições semelhantes que, na poesia trovadoresca, era estratégia de rimas, segundo a Poética Fragmentária.
Drama Genericamente, toda e qualquer representação teatral. Em grego a palavra significa ação. Distingue-se da tragédia pela inexistência da morte do protagonista, e da comédia,
pela falta de ênfase dada ao teor burlesco. O drama concentra-se na seriedade e na forte dosagem de tensão porque passam as personagens. Variedade: histórico, naturalista,
romântico, satírico, burguês, de costumes...
-E-
Eco Som repetido insistentemente no mesmo verso. O mesmo que ressonância. Tanto pode ser considerado um defeito poético como uma virtude, quando usado como espécie de
rima.
Écloga Poema escrito sob a forma de diálogo, celebrando a vida campestre, os amores pastoris. Entre os antigos, servia também como meio para reflexões morais, estéticas e
filosóficas. Variedade: pastoril, piscatória, venatória.
Elegia Composição que expressa sentimentos de tristeza, causada por situações funestas; lamento ou canto fúnebre
Elipse Elipse centrada na supressão de uma palavra ou frase que, mesmo oculta, é facilmente apreendida na compreensão. Ver: Zeugma.
Eloqüência Capacidade de desenvolvimento de um tema, expresso de modo agradável, fluente e convincente ao ouvinte (leitor).
Emblema Espécie de macro metáfora. Figura que contém em si, simbologia, alegoria, alusões, agregadas numa sentença ou num mote de teor moralizante.
Endecha Forma fixa de origem ibérica, composta por quatro versos de cinco sílabas (romancilho), seis sílabas (real), de dez sílabas (heróico). A essência do conteúdo dessa
composição era o planger, o lamento.
Enjambement É a separação daquilo que sintática e semanticamente deveria estar unido. Nos versos, a separação é feita do final de um verso para o início de outro. Também
chamado de cavalgamento, é uma forma moderna da atafiinda trovadoresca.
Enredo Organização dos fatos, episódios, acontecimentos de uma ação narrativa. O enredo pode ser linear ou fragmentado, obedecendo à estruturação sucessiva ou simultânea de
apresentação. É comum estar como termo correlato de: intriga, trama, história, "plot".
Ensaio Texto em prosa que propõe um debate ou discussão em torno de um assunto ainda em exame (significado etimológico) e investigação. Geralmente os ensaios não devem
possuir tom dogmático ou conclusivo.
Entremez Representação já em desuso e que fora, nas cortes da Idade Média à Renascença, lugar comum durante as refeições de recepção da nobreza. Consistia em breves
encenações levadas a efeito entre um prato e outro que se servia à mesa. Conteúdo do entremez: os contrastes do mundo, mesclado, carnavalescamente, o riso e o choro, tendendo
mais para a comédia.
Epicédio Breve composição poética do tipo ode, com a qual se celebra ou exalta a figura de ilustres seres mortos, destacando-lhe as virtudes. Outras odes fúnebres: nênia, treno.
Épico Qualidade do texto narrativo, dotado de tom elevado, de fatos grandiosos e de heróis espetaculares.
Epigrama Genericamente é toda inscrição existente acima (sobre) de algo. Em poesia, designa uma composição curta (quarteto) de tema livre, indo dos elogios à bebida ao auto-
retrato sintético de alguém.
Epílogo Qualquer final de obra. Nas representações dramáticas era a palavra final de despedida do ator. Parte final da epopéia, (...)
Epinício Hino grego entoado nas vitórias dos jogos olímpicos. Ver: Hino.
Episódio Em textos narrativos é a reunião de vários acontecimentos dispostos numa seqüência que possua início, meio e fim. Nas epopéias, os episódios constituem as partes
autônomas ali existentes.
Epístola Do grego (carta), manteve sua forma aparente: qualquer texto cuja aparência contiver a missiva semelhança. Diz-se, também, de um gênero a serviço de poetas e
prosadores: epistolografia.
Epizeuxe Figura que repete sem intervalo, no mesmo verso, várias vezes, a mesma palavra.
Epopéia Poema narrativo (épos), em estilo grandioso, das façanhas heróicas de um povo, em que intervêm seres sobrenaturais (o maravilhoso).
Estásimo Uma das partes da tragédia grega: aquela que antecedia a entrada do coro.
Estética Oriunda do grego, essa palavra designa, hoje, uma maneira de perceber a arte. Concentrada na raiz da palavra, sensação, a estética amplia a dimensão poética no
conglomerado de outras visões e de outras artes. É uma espécie de ciência (fenomenologia) da arte moderna ou a nova filosofia da arte.
Estilo Traço expressivo, individual ou coletivo, revelador de tendências e peculiaridades da linguagem artística. Visto como desvio do padrão, como idioleto, identidade com o
outro-eu, o termo evoluiu de uma significação etimológica (estilete, em grego), para uma anatomia lingüístico-semântica, identificadora dos estilemas (traços mínimos do estilo).
Estrofe Conjunto de um número limitado de versos, possuindo uma disposição fixa de rimas e de metros.
Eufemismo Figura que atenua ou disfarça o impacto que um outro termo expressaria de modo chocante, desagradável ou repugnante.
Eufonia Oposto a cacofonia, este termo designa o agradável e harmónico efeito que as palavras combinadas apresentam num verso.
-F-
Fábula Tradicionalmente, narrativa oral ou literária, em que animais protagonizam lições de vida. Aristóteles usa tal conceito para especificar o conjunto de ações que a obra perfaz.
Os formalizas russos usaram, opostamente à trama, como ordem sucessiva que os fatos tiveram na realidade.
Farsa Espécie de composição cômica que, em tom zombeteiro e picante, documenta e satiriza os costumes de uma época. Origem medieval.
Ficção Geralmente usado como sinônimo de prosa ou complemento desse termo: a narrativa que inventa. Popularmente: mentira.
Figura faz intencionalmente de alguma palavra, provocando um desvio de uso. Expressões literárias que diferenciam o discurso coloquial do artístico, do poético.
Forma Termo de uso discutível que pretende definir a aparência (da expressão ou do conteúdo) de alguma manifestação artística. Segundo uma parte da Crítica, a forma é instância
que dá o estatuto artístico da produção literária.
Formalismo Tendência surgida, na Rússia pré-soviética, de grupos de estudiosos da literatura e da lingüística, preocupados com os
elementos imanentes da obra ou do discurso, cuja ambição era fundar uma teoria da literaridade. Variedade: formalismo francês.
-G-
Gênero Designação tradicional que tenciona congregar em sistema, em grupos ou tipos, toda manifestação artística. Pelo fato de a arte ser um objeto complexo, fica cada vez mais
difícil determinar géneros puros. Variedade: bucólico, pastoril, dramático, didático, épico, epistolar, histórico, lírico, literário, oratório, romanesco...
Gradação Figura que dispõe os termos de locução numa ordem progressiva dentro do discurso. Variedade: numérica, intensiva (de palavras mais fracas para mais fortes), regressiva
(degradando a intensidade dos termos).
-H-
Hemistíquio Pelos cânones gregos de metrificação seria cada uma das partes do verso dividido pela cesura. Diz-se, também, da metade de um verso alexandrino (doze sílabas).
Hiato Considerado um defeito grave nos compêndios de métrica, é o encontro de duas ou mais vogais semelhantes num mesmo verso. Há poetas que o empregaram com a intenção
de ressaltar o efeito.
Himeneu Canto nupcial que celebra a entrega amorosa dos cônjuges; o mesmo que Epitalâmio.
Hino Qualquer composição poética que, acoplada à música, exalta uma circunstância importante. Tardiamente, eram cantos religiosos ou cívicos.
Hipálage Figura que atribui a um ser ou coisa, designados por uma palavra, qualidade ou ação pertencente a outra realidade, mas que por via do subentendimento, fica evidenciada a
lógica da transposição.
Hipérbato Figura centrada na inversão violenta da ordem das palavras, capaz de diminuir o entendimento do verso.
Hipérbole Figura que consiste no exagero dos termos, querendo dar ênfase ao pensamento. Convém lembrar que o exagero existe nos dois sentidos: tanto para aumentar como para
diminuir a dimensão do pensamento.
-I-
Icto Em versificação, é o som forte de uma sílaba do verso. Termo latino que esclarece a origem de pé (ictus) silábico. Idílio Breve e antiga composição poética de temática
campestre, destacando os quadros (eydilion) da vida pastoril. Difere da écloga que se apresenta em diálogo.
Imagem Em sentido lato, engloba figuras como a metáfora, o símbolo, a alegoria... figuras criadas por uma comparação. Em sentido restrito designa o símile: comparação em que
todos os termos estão expressos.
Impressionismo Uma das tendências da Pintura do séc. XIX, cujo objetivo era, segundo Claude Monet, captar com a impressão do momento a cena registrada. Em literatura, os
irmãos Goncourt assimilaram a técnica do pontilhismo que, através de descrições minuciosas e cores fortes, enfatizava as cruezas e enfermidades humanas, emprestaram à literatura
essa nova mania. No território da Crítica, impressionista é rótulo pejorativo: aquele que abdica dos parâmetros científicos ou cabíveis à análise e interpretação em benefício de
impressões subjetivas que determinariam o julgamento da obra.
Invocação Uma das partes da epopéia: aquela em que o poeta, dirigindo-se às divindades, solicita a inspiração para o novo canto.
Ironia Figura pela qual se sugere, intencionalmente, o contrário do que se quer dizer. Na dramaturgia grega, a ironia era um dos ingredientes motivadores da tragédia. Variedade:
ironia verbal, de situação e do destino.
-J-
Jogral Nome dado àquele que executava as composições dos trovadores, na Idade Média. Por sua atividade, recebia pagamento. Modernamente, denomina-se com este rótulo os
grupos que recitam e representam com cânticos, peças poéticas ou dramáticas.
Juízo crítico Expressão designadora de um parâmetro usado para julgar elementos da arte a ser analisada.
-L-
Lírica Denominação de uma boa parte das composições poéticas dotadas de concentração do lirismo (Ver).
Lírico Um dos gêneros tradicionais da Poética de Aristóteles, marcada pelo maior grau de lirismo.
Lirismo Essencialmente, define-se pelo sentimentalismo individual, pelas emoções subjetivas que predominam em composições literárias. Modernamente, tem assumido o uso que a
Crítica lhe dá como sinônimo de individualismo ou cosmovisão de um determinado autor.
Loa Composição poética de cunho laudatório. Loar é forma arcaica de louvar; daí louvação ser sinônimo de loação.
-M-
Madrigal Espécie breve de composição poética (uma estrofe de dez versos redondilhos ou decassílabos) usada para expressar o amor, um galante pensamento, idéias amenas.
Maravilhoso Termo usado para designar a mitologia pagã da antiga Grecia. Também usado para definir uma espécie do
realismo fantástico da literatura narrativa da segunda metade do séc. XX.
Melodrama Muito remotamente, conforme a etimologia, eram dramas acompanhados de música instrumental (melos). Hodiernamente, predomina um sentido pejorativo: exageração
do drama, em que as atitudes e gestos do "herói", descambam para o sentimentalismo piegas.
Metáfora Transferência de significado próprio de um vocábulo para outro, devido à semelhança existente ambos. A metáfora pura é a comparação elíptica, ou seja, aquela
comparação da qual foram retirados os termos comparativos.
Meta-romance Oportunismo terminológico, na esteira de metalinguagem, que atribui ao romance uma auto-consciência, reveladora da sua própria carpintaria. Uma escritura que em
si traz a explicação do seu próprio fazer-poético.
Metonímia Figura pela qual se designa uma realidade por meio de um termo referente a outra que está objetivamente relacionada com a primeira, quer pela parte, quer pelo
conteúdo, quer pelo efeito...
Milagre Representação de origem medieval, centrada em episódios referentes à vida de homens exemplares ou santos, com o objectivo de persuadir ou converter fiéis tementes a
Deus.
Mimo Inicialmente, no século III a. C. era uma espécie de representação de quadros breves, sem enredo, que satirizava tipos e costumes. Mimos, em grego era o ator desses quadros
que, imitando animais e coisas, prendia a atenção dos passantes, em via pública para, satirizando, fazer a imitação burlesca.
Mistério Representação do teatro medieval religioso que tratava de temas bíblicos, destacando sobretudo a Paixão do Cristo.
Mito Qualquer narração de estórias anônimas, relativas às origens e aos destinos; explicações do mundo, do comportamento humano. É uma explicação (ambígua?!) àquilo que se
quer saber. É uma linguagem cujo sentido excede a denotação lógica e se projeta para conotações que cada um poderá, de acordo com suas necessidades, depreender do que está
dito.
Modinha Composição popular sempre acompanhada de viola (moda de viola), ou violão cujo teor se volta para a exaltação da beleza da mulher, da natureza, dos sentimentos
elevados.
Momo Espécie de encenação cômica, semelhante ao arremedilho que, dispensando as palavras, pode manter-se na pura imitação pitoresca das coisas e acontecimentos e, sempre,
provocando o riso.
Monólogo Espécie de estratégia literária em que o apresentado ou narrado é feito com base num único foco (monos) do qual emana a palavra. No moderno romance, destaca-se a
existência do monólogo interior.
Moralidade Uma das formas de ser do teatro religioso medieval: encenações alegóricas, expositoras de algum caso do qual se deveria inferir uma lição ou moral para a vida.
Mozdobre (ou Mordobre) Artifício poético, comum às manifestações trovadorescas, que consistia em repetir (dobrar), na palavra final de um verso, uma variante gramatical da
última palavra (motz) do verso precedente.
-N-
Narração Uma das partes da Retórica clássica, caracterizada pela exposição pormenorizada de uma proposição. Para a Crítica literária é um relato enfatizado pelo ponto-de-vista do
narrador que orienta e simula situações para a versão que queira dar ao narratário (leitor virtual). Modernamente, há uma preferência substitutiva: narrativa.
Naturalismo Tendência literária do séc. XIX que trazia para a ficção as prerrogativas do cientificismo da época, sobretudo do geneticismo, tornando as personagens verdadeiras
conseqüências do ambiente em que viviam ou decorrências raciais. O naturalismo levou ao extremo a hipótese do condicionalismo existencial, apregoando o lado patológico,
animalesco dos seres humanos da ficção.
Nênia Tipo de ode coral que, como o epicédio é uma espécie de poema fúnebre, pouco maior que este.
Neo-realismo Manifestações, sobretudo na narrativa de ficção italiana e portuguesa, enfatizando o teor ideológico, numa linha materialista, rumo à conscientização transformadora
da sociedade.
Nouveau roman Tendência da metade do séc. XX, originária da França, seguindo a desagregação do romance tradicional. Apoiava-se na perspectiva de esvaziamento da
personagem que, por sua vez, implica nova maneira de narrar, melhor, de testemunhar sensações, com arranjos técnicos, desuniformizando a figura do narrador.
Novela Espécie literária, em prosa, que narra acontecimentos dentro de uma área temporal e espacial condensada, com tratamento limitado das personagens e com uma ação de
desenvolvimento rápido.
-O-
Ode Composição poética, lírica, feita para exaltar feitos nacionais (cívica), a vida campestre (pastoril), o amor e a vida (báquica ou anacreôntica)... Outras variedades: coral, epódica,
heróica, olímpica, ode pessoal, pindárica, sáfica, ...
Oitava Estrofe de oito versos decassílabos, com rima cruzada nos seis primeiros e rima emparelhada nos dois últimos.
Onomatopéia Espécie de harmonia imitativa, na qual o som dos fonemas tenta realizar a idéia real ou semelhante da ação ou do objeto a ser representado.
-P-
Palavra perduda Expressão usada, no Cancioneiro da Biblioteca Nacional, para designar o verso branco, inserido nas estrofes das cantigas medievais.
Pantomima Espécie de mimo, mesclado com fundo musical e desempenhadopor um só ator. (Existe, também a forma pantomimo).
Parábola Modalidade de texto escrito ou oral que por meio de alusões transmite ensinamentos de caráter moralizante.
Paráfrase Composição que, com fins explicativos, converte o poema em prosa, e vice-versa. Considera-se, também, paráfrase toda e qualquer ampliação explicativa que dialoga
com outro texto no qual se inspira.
Paralelismo Repetição de uma estrutura da frase ou do verso, não necessitando que as palavras repetidas sejam as mesmas. Nas cantigas medievais era uma estratégia comum aos
trovadores.
Parenética Termo retórico, usado em Crítica para revelar um tipo de eloquência severa com certos temas que defende.
Párodo Uma das partes em que se dividia a tragédia grega: era o primeiro canto do coro, que precedia o primeiro episódio.
Paródia Texto literário que, com intenções satíricas ou burlescas, imita a forma e o conteúdo de um outro texto célebre.
Pastorela Uma das variedades da cantiga medieval, centrada na figura da pastora que às vezes reclama a infidelidade do seu amigo, ou dialoga com suas parceiras sobre o Amor.
Perífrase Substituição de uma palavra por uma seqüência frasal (perífrase lexical), ou troca de um termo por circunlóquios eufemísticos (perífrase estilística), de que resulta a
alusão.
Personagem Um dos elementos estruturais da narrativa, aquele que desempenha a ação, recebendo atribuição, caracteres (marcas) que o definem e que podem conturbá-lo no
desenrolar da trama. Variedade: principais, secundárias, densas, antagonista, protagonista, deuteragonista...
Pleonasmo Figura que se concentra no reforço da idéia contida numa palavra pela utilização doutra palavra ou grupo de palavras que contêm um sentido que está implícito na
primeira.
Poema Uma dos modos de concretizar a poesia; se a poesia é sentimento (abstrato), o poema é de natureza material (concreto), composto de palavras ou extensões de palavra,
dotado de ritmo e de extensão variável. Variedade: lírico, didático, épico, herói-cômico...
Poesia Arte de combinar palavras e, desse resultado, transmitir emoções, idéias, fatos... que agradem ao espírito. Casar idéia (conteúdo) com expressão (forma) sempre foi a arena
onde poetas, na luta pela expressão, venceram ou foram vencidos.
Polissemia Variedade de significados que uma palavra pode conter com a mesma grafia.
Prolixidade Atribuição dada ao discurso carregado de ruídos. Considerado como defeito retórico por ser uma expressão preocupada mais com a seleção de palavras eruditas ou
ornamentais do que com o entendimento que elas poderiam dar ao ouvinte ou leitor.
Prólogo Genericamente, é todo início de poema ou prosa. No domínio da dramaturgia, é uma das partes (a inicial) da tragédia.
Proposição Uma das partes em que se divide a epopéia; aquela em que, sumariamente, se declara a essência da ação.
Prosopopéia Espécie de animização em que se atribui fisionomia, fala e atitudes a coisas ou pessoas, sobretudo mortas.
Protagonista Personagem principal; aquele em quem se concentra a maior carga dramática da ação narrativa.
-Q-
Quadra Composição poética composta de quatro versos; estrofe popular de quatro versos, também chamada de quarteto, quadrinha ou trova.
-R-
Realismo Denominação dada à tendência literária que, na literatura do séc. XIX, impulsionada pelo cientificismo e materialismo de então, procurava desficcionalizá-la, abordando
temas chãos, cruéis, próximos mesmo da realidade factual.
Retórica Outrora definia-se como a arte de bem falar. Modernamente, à semelhança de estética, designa uma teoria normativa da literaridade ou o conjunto de processos estilísticos
de um escritor, de uma época ou de um gênero.
Rima Homogeneidade ou semelhança de sons, internos ou externos entre versos da mesma estrofe
Ritmo Existência de repetidas ocorrências sonoras, numa duração e freqüência capazes de marcar uma cadência que modula frases ou versos.
Romance Forma narrativa contendo várias ações, personagens, espaços e tempos; de complexo grau de intriga. Variedade: de aventuras, de cavalaria, de costumes, de ficção
científica, histórico, naturalista, picaresco, policial, realista, social... Como forma poética, é um antigo poema narrativo, em redondilhas, marcado pela assonância das rimas.
-S-
Sátira Qualquer composição, inicialmente era em poesia, que em tom desabusado, burlesco, desdenha dos erros e defeitos alheios.
Semiologia Conjunto de conhecimentos e de técnicas que permite distinguir onde se encontram os signos, definir o que os faz signos, conhecer suas leis e liames com a realidade;
compreensão da linguagem dos signos.
Simbolismo Tendência ou estética literária do final do séc. XIX que prefere, por sugestões, evocar imagens, estados melancólicos, o nebuloso da realidade... A linguagem
impressionista foi muito útil aos simbolistas que preferiram abandonar o lirismo confessional pela sensação vaga dos estados anímicos.
Símbolo Expressão metafórica, carregada de intencionalidade; são emblemas de uma realidade. Se a metáfora estabelece uma relação de semelhança, o símbolo estabelece uma
relação de significação, sobretudo ideológica.
Sinalefa Liberdade prosódica que consiste na união da vogal final de uma palavra com a vogal inicial da seguinte, numa mesma sílaba métrica.
Sinédoque Caso particular da metonímia, pelo qual se exprime o todo pela parte ou a parte pelo todo.
Sinestesia Figura que resulta da fusão de percepções relativas a diversos dados sensoriais; conjugar várias sensações numa só imagem.
Solau Composição medieval de caráter épico-lírico cujo teor se concentra no relato mais melancólico que narrativo.
Soneto Conjunto de catorze versos, compostos de duas quadras e dois tercetos (soneto italiano) ou três quadras e um dístico (soneto inglês).
Sottie Espécie de teatro cômico, de origem medieval, que recorria a um típico bobo, instrumento das troças e críticas dirigidas aos políticos.
-T-
Tautologia Figura que consiste em repetir a mesma idéia dizendo-a sob outra forma.
Teatro Gênero dramático em que as composições representam ações. Variedade: clássico, da vanguarda, do absurdo, épico, existencialista, expressionista, medieval, teatro
psicológico, social, vicentino...
Tema Termo bastante amplo com o qual se pretende conceituar o conjunto de acontecimentos de uma narrativa, a linha condutora das idéias de um poema, ou de uma ação narrada.
Tenção Espécie de cantiga provençal e trovadoresca em que os trovadores dialogam, ora com outro trovador, ora com a pastora. Também
conhecida como cantiga de contrate ou debate.
Terceto (ou terza rima) Estrofe de três versos ou cada uma das que compõem o soneto. A terza rima foi muito usada por Dante e sua característica é a existência de uma rima do
primeiro com o terceiro verso que por sua vez rimam com o segundo verso da estrofe anterior.
Tipo Aquela personagem que reúne traços distintivos de uma classe, de um grupo. Variedade: social e psicológico.
Tragédia Representação de conflitos humanos oriundos das paixões em cujo termo é sempre o mortal ou fatal destino que preside. É composto de um prólogo e quatro ou cinco
episódios ( ou atos) que obedecem às unidades de ação, tempo e espaço. A tragicomédia mescla os dois gêneros dentro da mesma estrutura.
Triolé Curto poema de forma fixa, composto de oito versos. O primeiro verso se repete no quarto e sétimo; o segundo é repetido ao final. Obedece à rima abaaabab. É uma forma
correspondente do rondel francês.
Trocadilho O mesmo que os franceses chamam de calembour: um intencional jogo de significação obtido com alteração da forma da palavra ou da frase.
Tropo Tipo de linguagem figurada, marcada pela translação elegante de sentido, quer de uma palavra ou de uma frase, de modo que fala-se do objeto pela tangência e não pela
objetividade. Vários são os retóricos, como a metáfora, a alegoria, a ironia, a sinédoque...
Trova Qualquer composição composta por quatro versos (quarteto, quadrinha); na Idade Média era o equivalente à cantiga, donde o Termo trovador para quem fizesse a cantiga.
Trovador Na Idade Média era o poeta lírico que compunha os versos e não os interpretava, deixando-a para o jogral ou menestrel.
Trovadorismo Denominação dada ao movimento poético, em Provença, no século XI, e difundido em várias outras regiões européias até o século XVI.
Continha as chamadas canções ou cantigas de teor lírico e satírico, quase todas centradas na concepção da vida cultural e do amor Cortês
edieval.
-U-
Unidade Termo aristotélico que, como espécie de lei, rege as produções literárias. Segundo ele, deveria existir, em todas as obras, uma unidade temática, outra espacial, outra
temporal. A ausência da unidade desagregaria a obra que ficaria sem consistência.
Uníssonas Tipo de cobras (estrofes) que os trovadores usavam: mesmo esquema de rimas nas estrofes do poema.
-V-
Vaudeville Tipo de comédia com ação complexa e, no século XVIII, entremeada de cançonetas. Equivalente da chamada comédia Ligeira
Variante Denominação dada às composições que o autor dá à mesma ideia em outras produções, proporcionando um comparativismo expressivo, estilístico da sua produção.
Versilibrismo Execução dos versos poéticos desprovidos de rima; o mesmo que Versos brancos
Verso É a linha do poema que, com sentido completo ou não, obedece a determinados rigores poéticos como ritmo, rima ou diagramação poética, pelos quais se distingue da prosa.
Vilancete (ou vilancico) Poema irregular pelo numero de sílabas; é a forma mais arcaica da glosa. Sua estrutura: um mote (ou estribilho) que se repete ao fim De cada estrofe que
desenvolve o tema glosado.
Vilanela Poema formado por uma série de tercetos rimados, sendo que uma rima se prolonga: a do último verso do terceto. Ver: "Chama e fumo"de Manuel Bandeira.
Volta Versos que compõem a glosa e que nela se repetem com insistência.
-X-
Xácara Um forma de narrativa em verso, de origem popular, usada com freqüência nos intervalos teatrais do século XVII, sobretudo pelos autores espanhóis.
-Z-
Zéjel Poema de origem hispano-árabe que se estrutura da seguinte forma: um estribilho em dístico rimado, seguido de estrofes de três versos e mais um outro verso (chamado de
volta) que rima com o estribilho.
Zeugma Figura que consiste na elipse de palavras, geralmente do verbo ser ou estar. Ver: Elipse.
Dicionário teatro - personalidades - acontecimentos
Compañia de Jesús:
Orden fundada en Roma, en 1540, por S. Ignacio de Loyola. La Compañia de Jesús fue inicialmente una sociedad misionera, cuyos miembros se comprometían con el papa por un
voto especial de obediencia. A raíz de la Contrarreforma adoptó también el ministerio de la enseñanza. La institución creció rápidamente por Europa y más allá de ésta, y se
manifestó en toda su importancia en el s. XVII, con las querellas en torno al janseismo. Multiples causas motivaron la supresión de la Compañía en la mayor parte de los países
católicos (1759-1768 ). Restablecida por Pío VII (1814), volvió a conocer una gran prosperidad en los ss. XIXy XX. Su espirltualidad se basa en sus constituciones y en los
Ejercicios espirituales de san Ignacio. http://www.jesuitas.es/ Vincencio Juan de Lastanosa:¿Que habia en el Coso de Huesca para que, de intento, fueran alli el rey de Espana, y el
duque de Lerma, y el de Orleans, y el marques de Torres, y Gracian, y todo el mundo, en fin? P'or que se decia en Aragón que «quien no ha visto la casa de Lastanosa, no ha visto
cosa»? ¿Seria por el leopardo, el oso, los leones?, ¿Por el formidable jardín botânico y el parque a la francesa, que cuidaban ocho jardineros?, ¿0 por el estanque navegable. que se
cruzaba en tres barquitos?, ¿Por sus fontanas?, ¿Por los muebles de Moscovia?, ¿Por los cuadros de Rubens, Tintoretto, Ribalta, Caravaggio, Ribera o Tiziano? ¿Por las diez mil
monedas antiguas?, ¿Por la ingente biblioteca?, ¿Por los raros aparatos astronómicos y físicos y químicos'?, ¿Por los petreos fosiles antediluvianos?. Frente al colegio jesuitico, en el
Coso oscense, todo eso existia, y mas, como viejas cartas de papas y de reyes, o chinas y arabes, todo acopiado por este incansable mecenas y acaudalado noble, que habita
sufragado de su bolsa en la catedral la capilla de los Santos Orencio y Paciencia, para reposar alli, algún dia, con todos los suyos. No sabemos si valdria mas su coleccion de armas
antiguas o la de piedras raras; si las esculturas clasicas o las amazonicas y precolombinas. Si sabemos que don Vincencio recogió materiales que hoy andan, dispersos a
incontrolados, por Madrid, por el Louvre, por el Museo Británico. Que fue el gran valedor de un Gracian perseguido por sus hermanos de religión. Y editor de Uztárroz. Y bravo
capitan que, mandando a la tropa oscense, defendi con las armas el paso del Cinca, cuando la guerra de Cataluña. Nada de eso quedo. Sólo la memoria admirada. Todo se perdió,
salvo el recuerdo, guardado en los papeles que dan cuenta, per ejémplo, del catalogo de sus libros, verdaderamente abrumador. No quise vivir sino en Huesca, e hixo. de su palacio
alli el centro de un pequeño universo cosmopolita, exquisito y liberal, al que tantos acudian que se vio obligado a tomar precauciones -so capa de higiene y mejor conservación- para
evitar la rapiña de algunos visitantes. Cuando Huesca requirió sus servicios. los obtuvo: no sólo como mecenas, sino como ciudadano distinguido y dispuesto a levantar su cuota en ]
as responaabilidades colectivas: por eso fue regidor del Hospital y luganenente del Justicia. Por eso mando a la pequeña tropa oscense en el asedio de Monzón. cuando la guerra de
1640. De sus tesoros ingentes, de sus raras maquinarias, incunables, cuadros y obras de arte de sus cientos de medallas y miles de monedas, nada queda. No supieron guardarlo. Pero
sin su ejemplo, curioso y admirable, a la vez, que no sería sino noticia pintoresca de no resultar que su gusto fue exquisito, su mecenazgo, generoso y brillante y su conducta,
cientifica y civill, modelo de como los bienes de fortuna pueden ponerse al servicio de fines filantrópicos y elevados. Además, escribió. De numismática, por ejemplo. Y tan bien que
se le ha edittado en nuestros dias.
Poeta español (Cordoba 1561-id. 1627), gran representante del culteranismo o gongorismo. Su obra, que incluye también dos piezas teatrales y un epistolario, se publicó en 1628
(manuscrito Chac6n), en el que las composiciones de Gongora aparecen fechadas. Sus inicios poeticos datan de 1580, con letrillas, romances y sonetos. Entre 1612 y 1613 compuso
sus obras mas importantes: Las Soledades y la Fábula de Polifemo y Galatea. Son poemas de intencionada oscuridad, que suscitaron las burlas de Quevedo y de Lope de Vega.
Dentro de un género "sencillo" (Romance de Angélica y Medoro, 1602), podía escribir en la Iínea culta que intensificaría en su dos poemas mayores o en la Fábula de Píramo y
Tisbe (1617). La dificultad de su lengua estriba en el uso de una sintaxis de base latina, complicada por el hipérbaton; la acumulaci6n de cultismos y alusiones mitológicas, la
tendencia a usar metáfoas, perífrasis a hipérboles. La obra de G6ngora fue relegada por la cdtica académica hasta su revalorización por los poetas de la generación del 27.
El Greco (Doménikos Theotokópoulos):
Pintor cretense activo en Espana (Candia, Creta, 1541 o 1542 Toledo 1614). Su actividade como pintor de iconos data de 1566. Luego paso a Venecia, donde asimiló los principios
renacentistas. En Roma conoció el manierismo miguelangelesco, completando su formación. En 1577 aparece documentado en Toledo, Ilegado quiza en busca del mecenazgo de
Felipe II, que nunca consiguió. En esta ciudad realizó para la catedral EI expolio y a partir de 1582 estableció un taller, realizando su obra mas famosa, El entierro del conde de
Orgaz (iglesia de Santo Tome, 1586-1588). Ademas de magníficos retratos (EI caballero de la mano en el pecho, Prado), pinto temas religiosos (Bautismo de Cristo, Prado) y
paisajes (sene de vistas de Toledo) en un estilo manierista muy personal.
Escritor francés (1613-1680). Sus Reflexiones o sentencias y máximas morales (1664-1678) expresan su pesimismo sobre un mundo donde los sentimientos son siempre interesados.
Escritor francés (1645-1696). En Los caracteres (1688-1696), describe y critica su época con un estilo elíptico y sintético.
Prelado y escritor francés (1651-1715). Fue preceptor del duque de Borgoña. Su Explicación de las máximas de los santos (1697), favorable al quietismo, fue condenada por la
iglesia. En las Aventuras de Telémaco (1699) - criticó al política de Luis XIV.
Corneille, Pierre:
Dramaturgo francés (Ruán 1606 -París 1684). Debutó en el teatro con comedias y se hizo célebre con la tragicomedia EI Cid (1636-1637). Se consagró luego a la tragedia (Horacio,
1640; Cinna, 1640-1641) sin abandonar la comedia a la española (El mentiroso, 1643; Don Sancho de Aragón, 1650) y los divertimentos. Evolucionó hacia la complejidad y el
patetismo (Nicomedes, 1651) pero fracasó con Pertharite (1651). Mas tarde volvi6 a la escena (Edipo, 1659). Sus heroes lo sacnfican todo por el honor y la gloria. Dio la forma
definitiva a la comedia clásica francesa.
Escrltor frances (París 1694-Id 1778). Exlliado en Gran Bretaña, elogió su sistema politico en Cartas filosóficas sobre Inglaterra (1734). Admirador de los clásicos del s. XVII,
escribió la epopeya Henriade (1728) y la tragedia Zaire (1732). Expresó sus ideas liberales, racionalistas y anticlericales a través de poemas (Poema sobre el desastre de Lisboa,
1756), cuentos y novelas cortas (Zadig 1747; Candido, 1759), ensayos históricos (EI siglo de Luis XIV, 1731; Ensayo sobre la, costumbres y el espiriltu de las naclones, 1756) y su
Diccionario filosófico (1764).
Schopenhauer, Arthur:
filósofo aleman (Danzig 1788-Franckfurt del Main 1860). Distinguió una voluntad de vivir común a todos los seres vivos, fuente de sufrimiento; consideró la obra de arte coma el
medio para superar este sufrimiento. Su estética marcó a Nietzsche e influyó en el s. XX (EI mundo como voluntad y como represenración, 1818).
escritor alemán (Frankfurt del Main 1749-Weimar 1832). Fue uno de los mas importantes representantes del Sturm and Drang con su novela Los sufrimientos del joven Werther y su
drama Gotz de Berlichingen (1774) Posteriormente, su experiencia de Italia (Torquato Tasso, 1789), de la Revolución francesa y de la política (fue ministro del gran duque de
Weimar), su amistad con Schiller (Xenias, 1796), y sus investigaciones cientificas (La metamorfosis de las plantas, 1790; La teoría de los colores, 1810) le hicieron evolucionar hacia
un ideal clasico (Wilhelm Meister, 1796; Hermann y Dorotea , 1797; Las afinidades electivas, 1809), que tomó forma autobiografica (Poesía y verdad, 1811-1833) y simb6lica
(Divan occidental-oriental, 1819; Fausto)
político español (7553-Tordesillas 1623). Grande de España y gentilhombre de cámara de Felipe II, en 1598 Felipe III le confió los asuntos de Estado. Utilizó los privilegios de su
cargo para amasar una gran fortuna, lo que le hizo muy impopular. Fue destituido en 1678.
Los Habsburgo:
casa que reinó en el Sacro imperio romano germánico (1273-1291; 1438-1740; 1765-1806), en Austria (1278-1918), en España (1516-1700) y en Bohemia y Hungría (1526-1918).
Los Habsburgo, que habian adquirido considerables territorios en Suiza y Alsacia en el s. XII, se encumbraron gracias a la elección de Rodolfo I como rey de romanos (1273). Se
adueñaron de la Baja Austria y de Estiria (1278), del Tirol (1363) y, en el s.XV, adoptaron el nombre de casa de Austria. Mediante matrimonios y herencias, ésta obtuvo, entre 1477
y 1526, los Paises Bajos, Castilla, Aragón, Bohemia y Hungría. Con la abdicación de Carlos Quinto (1556), el Imperio se dividió entre su hijo Felipe II (1556-1598), fundador de la
rama esparñola, que se extinguió en 1700, y su hermano Fernando I (1556-1564), fundador de la rama alemana. Con Carlos VI (1711-1740) se extinguió la casa de Habsburgo, cuya
heredera, Maria Teresa (1740-1780), se casó en 1736 con Francisco de Lorena, fundador de la casa de los Habsburgo-Lorena que reinó en Austria, Bohemia y Hungría hasta 1918.
Jacobo I:
(Edimburgo 1566-Theobalds Park, Hertfordshire, 1625), rey de Inglaterra y de Irlanda [1603-1625] y, con el nombre Jacobo VI, rey de Escocia [1567-1625], hijo de Maria
Estuardo. Sucedió, en 1603, a Isabel I en el trono de Inglaterra. Adversario de los católicos, escapó de la conspiración de la pólvora (1605); perseguidor de los puritanos, aceleró la
emigración de estos hacia Norteamérica. AI dar su confianza a Buckingham se granjeó la hostilidad de los ingleses.
Felipe II:
(Valladolid 1527-El Escorial 1598), rey de España [1556-1598), primogénito de Carlos Quinto y de Isabel de Portugal. El emperador le hizo participar desde 1543 en las tareas del
gobierno y concerto su matrimonio (1543) con Maria de Portugal (de la que tuvo un hijo, Carlos, 1545), y posteriormente (1554), con Maria I de Inglaterra (de la que no tuvo
descendencia). En 1555 le cedió los Países Bajos y en 1556 los reinos hispánicos. Felipe II hizo de Madrid el centro de la política mundial. Liquido la guerra con Francia, heredada
de su padre, con la batalla de San Quintín (1557), y afrontó la amenaza turca con ayuda de los Estados pontificios (batalla naval de Lepanto, 1571). Religioso hasta el fanatismo,
ejerció una severa política de represión, cerrando sus dominos para protegerlos del islam (revuelta morisca de las Alpujarras, 15681570) y del protestantismo (sublevación de los
Países Bajos, 1567-1573, reprimida por el duque de Alba, y emancipación de las Provincias del Norte, 1581), y otorgando plenos poderes a la Inquisición. El comercio con America,
insuficiente para sostener sus carnpañas europeas, soportó la pirateria inglesa. Intentó sin exito invadir Inglaterra (Armada Invencible, 1588). Soberano de Portugal al extinguirse la
casa de Aviz (1580), respetó su autonomía. Casó en cuatro ocasiones. De Ana de Austria nació su sucesor el futuro Felipe III.
Juan de Austria:
(Ratisbona 1545-Namur 1578), hijo natural de Carlos V y de Bárbara de Blomberg. reconocido por su hermanastro Felipe II (1559) y trasladado a la corte, se le confió el mando de
las galeras del Mediterraneo (1568). Siendo capitán-general de Granada sofocó el elvantamiento morisco (1571). Dirigió lla flota de la Santa liga en la batalla de Lepanto (1571), y
tomó Tunez (1573). Fué gobernador de Flandes en plena insurrección (1576-1578).
Paz de Westfalia
(1648): Tratados que pusieron fin a la guerra de los Treinta arlos. Fueron firmados en Munster entre España y las Provincias Unidas y entre el Imperio germánico y Francia, y en
Osnabrack entre el Imperio y Suecia. Zanjaron los litigios confesionales y territoriales, y contribuyeron al declive del Sacro Imperio. España firmó un tratado unilateral con las
Provincias Unidas reconociendo la independencia neerlandesa y entregándoles una serie de territorios en los Países Bajos y en las colonias. Francia obtuvo la soberanía sobre
Alsacia; Suecia recibió la Pomerania occidental y los estuarios de Weser, Elba y Oder; y Brandeburgo recibió la Pomerania oriental. Sobre la "Guerra de los 30 aos”
(1659): Tratado firmado en la isla de los Faisanes, en el Bidasoa (Guipúzcoa), por Mazarino y Luis de Haro, y que puso fin, tras largas negociaciones, a las hostilidades entre Francia
y España. Esta cedía a Francia el Rose11ón, el Capcir, el Vallespir, el Conflent y parte de La Cerdaña, así como Artois y ciudades fronterizas de los Países Bajos; los franceses se
comprometían a no ayudar a los sublevados de Portugal y Nápoles. También se acordó el matrimonio de Luis XIV con la infanta Maria Teresa, hija de Felipe IV.
Corpus de sangre:
Revuelta del pueblo de Barcelona el dia del Corpus (7 julio) de 1640, que dió inicio a la Guerra de Cataluña. En el alzamiento, iniciado por los segadores, fué muerto el virrrey,
conde de Santa Coloma. Contrarreforma: Movimiento de reforma que se produjo en el s. XVI en el seno de la Iglesia católica, como reacción a la Reforma. Su objetivo era corregir
los abusos que empañaban la imagen de la Iglesia y su etapa doctrinal esencial fué el concilio de Trento (1545-1563l). Se esforzó en organizar la reconquista religiosa de las regiones
ganadas por el protestantismo, especialmente en Europa central, apoyandose en una nueva orden religiosa, los jesuítas, y favoreció el desarrollo de un nuevo estilo artístico, mezcal
de sensibilidad, misticismo y majestuosldad.
Llamado el Españoleto, pintor y grabador español (Játiva 1591-Nápoles 1652). En 1610 marchó a Italia, instalándose en 1616 en Nápoles donde alcanzó extraordinario renombre. Su
estilo se basa en violentos contrastes de luz, un denso plasticismo de las formas, un gran detallismo y una propensión a la monumentalidad compositiva (Martirio de San Felipe;
Sileno ebrio, Apolo y Marsias, El alegre bebedor, serie de Filósofos). AI final de su producción adoptó un estilo mas colorista y amable, de filiación veneciana y boloñesa. Sus
grabados fueron muy difundidos (Martino de san Bartolomé).
Zurbarán, Francisco de:
Pintor español (Fuentes de Cantos, Badajoz, 1598 - Madrid, 1664). Su pintura es una de las cumpres del realismo baroco español, al que insufló una profunda espiritualidad. Un
tenebrismo casi abstracto, el realismo textural y un peculiar geometrismo, ligado tanto a rasgos arcaizantes como a una rigurosa austeridad, son las claves del estilo, particularmente
adaptado a la temática religiosa (Santa Casilda, Prado; series para la sacristía del monasterio de Guadalupe y para la cartuja de Jerez [1637-1639]; Apoteosis de santo Tomás de
Aquino, Sevilla; Bodegón [1633], fundación Norton Simon, Los Angeles). El influjo de Zurbarán se extendió a la América española (adonde exportó cuadros) y a Portugal.
Pintor español (Sevilla 1617-id. 1682). Primero ligado al tenebrismo de Zurbarán, creó pronto un estilo propio marcado por la suavidad y la delicadeza, no exento de realismo, pero
siempre con un planteamiento amalhe a idealista. Son célebres la llamada Cocina de los Angeles (Louvre) y La Sagrada Familia del pajarito (Prado), así como sus pinturas sobre
niños (Muchachos comiendo melones y uvas, Munich; Niño jesús, Prado). Desarrolló especialmente el tema de la Inmaculada (Inmaculada Soult, Prado).
pintor español (Sevilla 1599-Madrid 1660). Creó durante su etapa juvenil de Sevilla obras claroscuristas de un realismo minucioso con una inclinación por todo popular (influencia
caravaggiesca), inicio del realismo barroco español. Pintor de cámara de Felipe IV desde 1623, realizó numerosos retratos segun el modelo tradicional y El triunfo de Baco o Los
borrachos (1628), de temática ambivalente. Sus dos viajes a Italia (1629-1631 y 1649-1651) le sirvieron para aclarar su paleta y dar gran soltura a la pincelada (La fragua de
Vulcano; vistas de la villa Medicis). Allí pintó retratos, como el de Inocencio X (1650), de aguda penetraclón sicológica. Fue dando entonces a su retratística (bufones, familia real,
personajes como La dama del abanico) una mayor perfección en naturalidad y frescura. En La rendición de Breda Ilenó de vida un solemne episodio histórico. Al final de su vida
trabajó la perspectiva aerea: Las hilanderas (c. 1657) y Las meninas (c. 1656), donde culmina la plasmación compleja del espacio, la luz y el retrato de grupo, asi como su dominio
de la técnica de la pincelada. Su original composición y sutil colorido confieren a La Venus del espejo (c 1650) una gran rareza dentro de la escasa temática del desnudo en la pintura
espanola.
Culteranismo y Conceptismo:
Son las dos principales tendencias literarias del Barroco, que se producen tanto en la poesia como en la prosa, y cuyos representantes mas emineneets son Góngora y Quevedo
respectivamente. Ambos tienen en común una misma aspiración a romper el equilibrio entre forma y contenido. El culteranismo lo altera haciendo que la expresión se desarrolle a
expensas del contenido. El tema en estos escritores suele ser mínimo, pero lo desarrollan con un estilo suntuoso, rico, lleno de metáforas, latinismos, voces sonoras y retorcimientos
gramaticales. El resultado -en los aciertos- es de gran beleza formal. El conceptismo rompe el equilibrio entre forma y contenido haciendo que este se desarrolle a costa de aquella. El
ideal de los escritores conceptistas es decir mucho con pocas palabras; estas significan, a veces, dos o tres cosas a la vez. El resultado suele admirar por la agudeza del ingenio.
poeta español (Córdoba 1561-id. 1627), gran representante del culteranismo o gongorismo. Su obra, que incluye tambi6n dos piezas teatrales y un epistolario, se publicó en 1628
(manuscrito Chacón), en el que las composiciones de Gongora aparecen fechadas. Sus inicios poéticos datan de 1580, con letrillas, romances y sonetos. Entre 1612 y 1613 compuso
sus obras más importantes: Las soledades y la Fabula de Polifemo y Galatea. Son poemas de intencionada oscuridad, que suscitaron las burlas de Quevedo y de Lope de Vega.
Dentro de un genero sencillo (Romance de Angelica y Medoro, 1602), podia escribir en la línea culta que intensificaría en su dos poemas mayores o en la Fábula de Píramo y Tisbe
(1617). La dificultad de su lengua estriba en el uso de una sintaxis de base latina, complicada por el hipérbaton; la acumulación de cultismos y alusiones mitológicas, la tendencia a
usar metáforas, perífrasis a hipérboles. La obra de Gongora fue relegada por la crítica académica hasta su revalorización por los poetas de la generación del 27.
Quevedo, Francisco:
escritor español (Madrid 1580-Villanueva de los Infantes 1645). Su poesía figuró en la antologia de Pedro Espinosa Flores de poetas ilustres (1605), aunque su propia obra fue
editada póstumamente (1640 y 1670). En su poesia, inscrita en la corriente conceptista del barroco, se da cita lo grave de los poemas amorosos y metafísicos, y lo burlesco de
muchos de sus sonetos, letrillas y romances. Como prosista escribió con una gran capacidad critica y pesimismo propios del barroco: novela picaresca (Histona de la vida del Buscón
Ilamado don Pablos, 1626), obra ascetica (Los sueños, 1627, La cuna y la sepultura,1635), obras burlescas (La culta latiniparla, 1631), contra Góngora y el culteranismo (Aguja de
navegar cultos) y obras de contenido político (Política de Dios, gobierno de Cristo, 1626; Vida de Marco Bruto, 1632-1644).
dramaturgo español (Madrid c 1571-Almazan 1648). Hacia 1600 ingresó en la orden de la Merced, en la que llegó a ocupar cargos de importancia, a pesar de las acusaciones de que
fue objeto por el caracter profano de su obra. Entre 1627 y 1636 se imprimieron las cinco partes de sus comedias, unos 300 titulos en total. Sutil a intelectualmente disciplinado,
sometió la intriga dramática a una estructura cuidadosa, entre la comedia lopesca v lo intrincado de Calderón. El condenado por desconfiado, El burlador de Sevilla (sohre el tema de
Don Juan), La prudencia en la mujer, EI vergonzoso en palacio o Don Gil de las calzas verdes, son algunos de sus títulos, donde aparecen muchas veces entremezclados el drama, la
sátira y los temas teo1ógicos.
dramaturgo español (Madrid 1600-id. 1681), gran ingenio del siglo de oro. Poeta cortesano y soldado, en 1651 se ordenó sacerdote. Su teatro (110 cornedias, 80 autos sacramentales,
entremeses, zarzuelas, loas, etc.), basado en el de Lope de Vega, introduce irnportantes modificaciones: suprime escenas innecesarias y reduce las secundarias, subordinando los
personajes a uno central; acentúa las ideas monárquicas y el tema del honor (El alcalde de Zalamea, El mayor monstruo, los celos). La angustia barroca de la existencia, junto con los
problemas teológicos, delinean los autos sacramentales, que requieren un gran aparato escenico y donde Calderón alcanza su máximo lirismo. Su lenguaje es la culminacion del
culteranismo en el teatro y su riqueza expresiva esta engarzada con cierto conceptismo intelectual (La vida es sueño). Sus obras han sido divididas temáticamente: comedias
religiosas (La devoción de la cruz), histórico-legendarias (El sitio de Breda), de enredo (Casa con dos puertas, mala es de guardar), de honor (El medico de su honra), filosóficas (EI
gran teatro del mundo, La vida es sueño), mitológicas (Eco y Narciso) y autos sacramentales (A Dios por razón de estado).
Resumo: Exame de O nascimento da tragédia, procurando verificar sua contribuição para os estudos literários no âmbito da Poética e da História da Literatura.
De fato, está mais que no tempo de avançar com um exército inteiro de malícia e sátira contra as aberrações do sentido histórico, contra o desmedido gosto pelo processo em
detrimento do ser e da vida, contra a confusão cega de todas as perspectivas (HL/Co. Ext II § 9).
Os vínculos de Friedrich Nietzsche aos estudos literários remontam à sua formação acadêmica: em 1864, começou a estudar Filologia Clássica na Universidade de Bonn, de onde se
transferiu para a Universidade de Leipzig; e, entre 1869 e 1879, lecionou aquela disciplina na Universidade da Basiléia, na Suíça. Seu primeiro livro, O nascimento da tragédia no
espírito da música, lançado em 1872, inscreve-se nesse percurso acadêmico, porque responde, de certo modo, às aspirações de um jovem professor de alçar vôos mais altos em sua
carreira docente (Silk & Stern 11, p. 39).
Na época em que o livro foi publicado, Friedrich Nietzsche já tinha produzido alguns estudos, a maior parte deles tratando do pensamento helênico, tais como as palestras
ministradas em 1870, "O drama musical grego" e "Sócrates e a tragédia", que prenunciam a perspectiva com que examinará o teatro ateniense. Em 1873, escreve "A filosofia na
época trágica dos gregos", como que fechando um ciclo dedicado à cultura da Antigüidade. M.S. Silk e J.P. Stern, no seu livro sobre Nietzsche, aludem ao fato de este, em 1871, ter-
se candidatado à cátedra de Filosofia na mesma universidade em que trabalhava; seu pleito foi indeferido, mas, na prática, ele deixou os estudos clássicos, dedicando-se doravante à
reflexão filosófica (Silk & Stern 11, p. 50).
O nascimento da tragédia constitui de certo modo o único livro em que Nietzsche se volta inteiramente a temas via de regra abrigados pela Teoria da Literatura e pela História da
Literatura. O impacto e a originalidade de suas conclusões foram tais, que obrigaram doravante os pensadores da Poética e da Estética a levarem-nas em conta, posicionando-se
contra ou a favor delas, mas jamais ignorando-as.
O livro se desenvolve em torno a teses sobre a vida, a religião e a poesia grega. A primeira dá conta de seu conceito de arte, produto de dois espíritos, o apolíneo e o dionisíaco.
Nietzsche postula aprioristicamente a existência desses dois espíritos, sob cuja influência nascem os diferentes tipos de arte: do espírito apolíneo provêm as artes plásticas; do espírito
dionisíaco, a "arte sem formas ou musical"; da fusão dos dois, procede "a obra superior que será ao mesmo tempo apolínea e dionisíaca, – a tragédia ática". Por sua vez, a evolução
da arte "resulta do duplo carácter do espírito apolíneo e do espírito dionisíaco" (GT/NT § 1). Silk e Stern resumem: "apolíneo e dionisíaco devem ser pensados como tendências ou
impulsos artísticos antitéticos; e a natureza de qualquer arte, em qualquer época, varia conforme o [impulso ou tendência] que é operativo" (Silk & Stern 11, p. 63).
A conceituação de Nietzsche abre o primeiro parágrafo de O nascimento da tragédia, e nele verifica-se de imediato uma teoria sobre a criação artística, os gêneros e a história da arte:
• conforme a poiesis de Nietzsche, a arte nasce de um impulso cons- titutivo da natureza, e não do indivíduo; como escreve num parágrafo mais adiante, os espíritos apolíneo e
dionisíaco correspondem a "forças artísticas que brotam no seio da própria natureza" (GT/NT § 2).
• a diferença entre esses impulsos determina a variedade das espécies artísticas, divididas em três grandes grupos: as artes plásticas, gênero puramente formal; a música, carente de
forma; e a tragédia, para ele "superior" por fundir os dois princípios;
• as modificações históricas sofridas pelos diferentes gêneros decorrem igualmente do modo como os dois espíritos se manifestam. Nesse ponto do ensaio, Nietzsche não é muito
preciso a respeito, porém, adiante, ele proporá que a interferência de um terceiro processo, o socrático, com seu otimismo racionalista, provocará a morte da tragédia, cujo
nascimento parece ser o principal objeto de estudo do livro.
Com efeito, dos três tópicos o que mais interessa ao autor é o que diz respeito à emergência da tragédia no contexto do mundo grego; por outro lado, dado o fato de o gênero em
questão ter tido vida breve, em menos de cem anos aparecendo e desaparecendo os grandes criadores – Ésquilo, Sófocles e Eurípides – ativos da cena ateniense, Nietzsche reflete
igualmente sobre o que motivou seu fim e, é claro, sobre o que provocaria seu renascimento. Nascimento e morte, com possibilidade de ressurreição, são os pólos entre os quais se
move o livro, o primeiro indicado pelo título da obra, o último sugerido por seu interesse pela ópera de Richard Wagner, artista que na época o entusiasmava e que o ajudou a
publicar o estudo (Silk & Stern 11, p. 58). A hipótese de se poder almejar o retorno do trágico leva-o ao entusiasmo manifestado no último parágrafo do capítulo 20:
Sim, meus amigos, acreditai também na vida dionisíaca e no renascimento da tragédia. O tempo do homem socrático já lá vai! Coroai-vos de heras, empunhai o tirso, e não vos
admireis de que o tigre e a pantera se deitem carinhosamente junto dos vossos pés. Ousai agora ser homens trágicos: ousai porque haveis de ser libertados. Tereis de acompanhar o
cortejo dionisíaco que vai da Índia à Grécia! Armai-vos para duros combates, mas acreditai nos milagres do vosso deus! (GT/NT § 20).
A idéia de "nascimento" (Geburt) contém a tripla orientação do projeto de Nietzsche, dando conta da poiesis, da variedade dos gêneros artísticos e da história da arte ocidental.
"Nascimento", noção aparentemente exclusiva da história, sobretudo em tempos de apogeu da historiografia ou romântica ou positivista, ambas de cunho progressivo, responde pelas
três exigências, e em torno a elas movimenta-se o livro inaugural daquele filósofo.
Fundando o nascimento da arte na emergência dos espíritos mencionados antes, Nietzsche trata de caracterizá-los. O espírito dionisíaco, situado para além do homem, gera a
"experiência dionisíaca", conforme a qual "o homem deixou de ser artista para ser obra de arte: o poderio estético de toda a natureza, agora ao serviço da mais alta beatitude e da
mais nobre satisfação do Uno primordial, revela-se neste transe, sob o frêmito da embriaguez" (GT/NT § 1). Na base da experiência dionisíaca está o "colapso da individuação",
quando "um homem sente que todas as barreiras entre ele e os outros estão quebradas em favor de uma harmonia universal redescoberta" (Silk & Stern 11, p. 64). Considerado seu
exato oposto, o espírito apolíneo apóia-se no princípio da individuação e da medida, equivalendo ao mundo do sonho, enquanto que o espírito dionisíaco, correspondendo à
embriaguez, suscita a desmedida e a imersão no uno primordial: Vemos em seguida a força inaudita do seu instinto dionisíaco aniquilar este mundo de aparências, para anunciar pela
aniquilação deste mundo uma primordial e suprema alegria artística no seio do Uno primordial (GT/NT § 22).
Para Nietzsche, interessa caracterizar os dois espíritos contraditórios para acentuar o momento em que eles se fundem, dando nascimento à tragédia: "e então oferece-se aos nossos
olhares a obra de arte sublime e gloriosa da tragédia ática e do ditirambo dramático, como alvo comum de ambos instintos, cuja união misteriosa, depois de longo antagonismo, se
manifestou fecunda dando à luz ao mesmo tempo Antígona e Cassandra" (GT/NT § 4). Mais importante, contudo, é constatar o que a tragédia representa, ou seja, a expressão da
"destruição do indivíduo e a sua identificação com o Ser primordial" (GT/NT § 8). Em formulação mais completa, escreve Nietzsche:
A tragédia mostra na pessoa do herói trágico a libertação do gosto rude de viver esta vida, e sugere, com um gesto de advertência, o pensamento de uma outra existência e de uma
alegria mais alta, entrevistas pelo herói combatente e para as quais ele se prepara, não pelas suas vitórias, mas pela sua derrota e pela sua ruína (GT/NT § 21).
Mais adiante, ele retoma a idéia, indicando que "o mito trágico tem precisamente por fim convencer-nos de que até o que nos parece horrível e monstruoso não é mais do que uma
representação estética, com que a vontade brinca na eterna plenitude da sua alegria" (GT/NT § 24). Em outras palavras, na tragédia fica exposto o sem sentido da vida humana, sua
trajetória rumo ao nada, portanto, a impotência da vontade perante as forças da natureza. Porém, graças à interferência do espírito apolíneo, o sujeito depara-se com a aniquilação de
sua existência e a ruína de modo contemplativo, como um espectáculo que expressa seu próprio ser, sem contudo comprometê-lo. Segundo Silk e Stern, a tragédia, na acepção de
Nietzsche, vira "o horror e o absurdo de ser" em "idéias com as quais é possível viver" (Silk & Stern 11, p. 352).
Assim sendo, a tragédia se destaca porque expressa uma visão de mundo cara ao filósofo, que a elege como gênero exemplar: é pessimista por sua própria natureza, mas coloca o
sujeito diante do espetáculo, não como vivência, mas enquanto contemplação. Nietzsche funda em um elemento estrutural da tragédia a base de seu raciocínio, destacando, de um
lado, o coro, para ele "a imagem refletida do próprio homem dionisíaco" (GT/NT § 8), de outro, os heróis trágicos, considerados "máscaras de Diónisos" por expressarem o
aniquilamento e a ruína presentes na história daquela divindade, revivida a cada encenação nas diferentes peças. Por isso, Nietzsche endossa a tese de Aristóteles, que, na Poética,
considera que a tragédia, originada dos solistas do ditirambo, assume sua forma natural quando um ator se destaca e estabelece o diálogo com o coro (Aristóteles 2, p. 72). Também
para Nietzsche, o drama começou quando um ator mascarado foi introduzido, nesse caso, "para representar o deus", o que ocorreu no século VI a.C. (Silk & Stern 11, p. 70).
Ainda que interessado na expressividade da tragédia, Nietzsche não negligencia os elementos estruturais, nem históricos. Se o gênero se diferencia pela presença do coro, o autor
busca entender sua função e representatividade; se o gênero teve um começo, demarcado conforme já aponta Aristóteles, Nietzsche trata de colocá-lo numa linha de tempo, com
início, meio – quando a tragédia atinge seu apogeu, com Ésquilo e Sófocles, principalmente o primeiro – e fim.
A preocupação com o fim, quando, conforme o autor, a tragédia experimenta sua decadência, ocupa boa parte do livro. Não porque Nietzsche queira fazer um tipo progressivo de
história da literatura, em voga em seu tempo, mas que ele rejeitou (Nietzsche 10). Seu fito é refletir sobre a natureza da tragédia, que se explicita nas condições de seu nascimento;
quando essas se perdem, a tragédia naufraga. Portanto, preservar o gênero é garantir as circunstâncias originais, quando ele se manifesta em estado puro e na pujança de suas
potencialidades.
Pensar o nascimento é, portanto, pensar a essência, porque ali se congregam a natureza que deu margem ao aparecimento da tragédia – os dois espíritos em processo de manifestação
e fusão – e as formas de que carecia para se expressar – o coro e o herói trágico. Na falta de um deles ou na introdução de um elemento novo, a tragédia assume outra feição,
entrando em processo de degeneração.
É o que ocorre com Eurípides, que importa para a tragédia o que Nietzsche denomina espírito socrático. Se o espírito apolíneo e o espírito dionisíaco podem se opor, eles podem
igualmente se harmonizar, construindo uma unidade corporificada na tragédia; é quando "Diónisos fala a língua de Apolo, mas Apolo acaba por falar a língua de Diónisos" (GT/NT
§ 21). O espírito socrático, de cunho racionalista, crente de que, pela razão, podem ser superados os males da existência, impede a experiência trágica, que não admite solução; logo,
"pressupõe que os problemas essenciais da existência possam ser resolvidos pelas atividades da mente racional" (Silk & Stern 11, p. 76). Para Nietzsche, Sócrates "simboliza o
homem liberado pela razão do medo da morte, o otimista para quem toda a verdade é racionalmente acessível" (id., ibid., p. 78).
Também quando examina a tragédia de Eurípides o filósofo vai em busca dos elementos estruturais para compreender a alteração ocorrida. Assim, destaca a nova função do prólogo,
a diminuição do papel do coro e a introdução do deus ex-machina, artifício que opõe ao aniquilamento do herói a perspectiva de uma mudança favorável, antecipada na fala das
divindades que se interpolam à ação dramática. Nietzsche integra a esse processo histórico a ascensão do diálogo platônico, procedendo a uma curiosa e relevante associação entre as
duas formas, a do drama e a do discurso filosófico, fundadas ambas no diálogo, mas carente, a segunda, do elemento tétrico e ameaçador contido na trajetória do herói trágico. Platão
retoma o elemento fundamental do teatro, o diálogo, para neutralizar sua força dramática e, com isso, afastá-lo da vida, jogando-o para o plano abstrato das idéias e do pensamento.
A história do ocidente é a história do otimismo socrático, que, em obras posteriores, tomará o nome de Cristianismo. Nietzsche, ainda não o virulento crítico da moral cristã, antecipa
em O nascimento da tragédia, os votos de um retorno saudável, agora ao espírito da tragédia, corporificado na Gesamtkunstwerk de Richard Wagner, conforme o filósofo, música
trágica que, antes, teve sua expressão mais acabada nas criações de Ésquilo.
O nascimento da tragédia no espírito da música, lançado em 1872, conclui com uma utopia, a de que a arte possa retomar o bom caminho da tragédia, propiciando a expressão
harmoniosa e conjunta de dois espíritos fundamentais à vida humana, o apolíneo e o dionisíaco. Valorizando a ópera de Wagner num período anterior à consagração do compositor
em Bayreuth e almejando o renascimento do trágico no seu tempo, Nietzsche escreve um livro voltado para o presente e para os que acredita serem os problemas contemporâneos.
Assim sendo, o ensaio estabelece com a ciência literária de sua época uma relação simultaneamente de atração e de recusa. De um lado, pertence de corpo e alma à tradição
germanista dos estudos clássicos, em consolidação desde o século XVIII com Johann Joachim Winckelmann, autor de Reflexões sobre a arte antiga, de 1755, e expressos nas
pesquisas de Friedrich August Wolf, na poesia de Hölderlin e nas reflexões sobre o trágico encontráveis em ensaios de Schiller, Schelling e Hegel. Havia já cem anos que os alemães
dedicavam-se a estudar os gregos, por uma parte para chegar "à reconstrução da Antiguidade em todos seus detalhes reais" (Silk & Stern 11, p. 11), por outra para encontrar no
drama grego parâmetros para o estabelecimento de um teatro nacional, como desejam Lessing e Schiller. Graças a esses esforços, "no início do século XIX a Alemanha tornou-se o
centro europeu para os estudos clássicos, tanto tradicionais como novos" (id., ibid., p. 11), ensejando a fundação de uma disciplina, a Altertumwissenschaft, na qual se tornou
especialista.
No mesmo sentido, O nascimento da tragédia pode ser relacionado à ascensão da história da literatura, que, na Alemanha, tem entre seus fundadores Friedrich Schlegel, autor de
Sobre o estudo da poesia grega, de 1795, e de História da literatura antiga e moderna, de 1815, e August Wilhelm Schlegel, autor do Curso de literatura dramática, de 1809. Como se
vê, também na obra dos irmãos Schlegel dá-se um cruzamento entre história da literatura, estudos clássicos e reflexão sobre o drama, respondendo a questões caras aos intelectuais
alemães de seu tempo, que viam a Grécia como o padrão inspirador da Alemanha atual(1).
Nietzsche, porém, não adota nenhum dos dois modelos de investigação. Rejeita a idéia de pensar a Grécia enquanto o distante e perdido no tempo, escolhendo a tragédia ateniense
como paradigma para a arte revolucionária de que o presente carece. Também não faz história da literatura enquanto uma narrativa do passado, que, se vai em busca do início, como
procede Nietzsche ao pesquisar o nascimento da tragédia, é para contar o crescimento e o processo de maturação, retratando sua evolução rumo ao aperfeiçoamento contínuo.
O nascimento da tragédia parece querer contestar de modo visceral essa forma de fazer história, segundo a qual o início guarda um componente mítico. Com efeito, as histórias
literárias produzidas pelo Romantismo, e nem o Positivismo desmentiu essa fórmula, vão em busca do herói fundador, aquele que deu origem ao processo de produção literária a
partir de um tipo de separação radical: seja entre a literatura e as criações populares, seja entre a literatura do país dominador e a do país dependente, ou entre a literatura da
Metrópole e a da colônia, agora convertida em nação autônoma.
O começo coincide com a origem, e para narrá-la só dispomos do mito; eis por que as histórias literárias do século XIX (e muitas das do século XX) recorrem ao modelo narrativo do
mito de origem para darem início ao texto (Zilberman 12, p. 59-68). Além disso, esse começo é primitivo, as formas ainda estão em processo de constituição, sendo que sua
consolidação decorre do avançar do tempo, num permanente processo de melhora. Também essa visão é moldada pelo padrão do mito, que, ao apresentar uma origem, situa-a num
passado remoto, irrecuperável mas primordial, de que adveio a trajectória da comunidade responsável por sua criação e narração(2).
Ao apresentar seu estudo sobre a tragédia, Nietzsche não fala em origem(3), e sim em nascimento, diferença semântica que aponta para um outro posicionamento metodológico.
Além disso, a tragédia mais antiga, a de Ésquilo, é considerada exemplar, e não uma forma primitiva que, depois, teria sofrido correções na pena de seus sucessores. Pelo contrário,
quando ela veio à luz, já estava pronta, porque continha os elementos básicos, o coro – e Nietzsche admira de modo especial os coros de Ésquilo – e o herói trágico. Depois,
sobreveio a ruptura, dada a introdução do segundo ele malfadado socratismo, verificável na obra de Eurípides. Assim sendo, na sua perspectiva, a história da literatura caracteriza-se
pela descontinuidade porque não provém de algum começo, nem ruma para o cumprimento de um destino. As obras acontecem e dão certo quando ocorre de modo espontâneo e
acabado o encontro, para ele até mágico, entre Apolo e Dioniso, corporificação dos espíritos vitais existentes na natureza.
Mas o fito de Friedrich Nietzsche não é fazer história da literatura, e sim encontrar na tragédia um meio de refletir sobre:
• a natureza da criação literária, segundo a qual o verdadeiro artista é aquele que dá vazão aos espíritos vitais da natureza, nesse sentido facultando a configuração da "obra de arte
total", expressão de Richard Wagner que ilustra a utopia do filósofo;
• a possibilidade de uma experiência estética globalizante, conforme a qual se verifica o retorno à natureza primordial, quando o ser humano não se distingue do todo, podendo
contemplar o que é sua existência enquanto aniquilação e ruína, mas sem sofrer as conseqüências da catástrofe;
• a vida humana enquanto derrota, fracasso da vontade, destruição, pois, conforme apontam Silk e Stern, a "preocupação última" de O nascimento da tragédia é com "a condição
trágica do homem", encarnada pelo protagonista: "O herói sofrente da tragédia grega, Édipo ou Prometeu, é o modelo original para o Übermensch de Nietzsche, o super-homem e
NT, coerentemente, o protótipo de toda sua filosofia" (Silk & Stern 11, p. 296).
O legado do livro advém, por uma parte, de suas intenções; de outro, das relações que ele estabelece. Consideradas suas metas e seu objeto, O nascimento da tragédia transmite-nos,
pelo menos:
• as noções de apolíneo e dionisíaco, incorporadas à teoria estética enquanto princípios vitais geradores de obras de arte, no âmbito da produção, ou emanados delas, enquanto
experiência de recepção;
• uma tese sobre o nascimento da tragédia que, se de um lado carece de pesquisa de campo (aspecto em que Nietzsche se diferenciou substancialmente de seus parceiros de
Altertumwissenschaft) e revela uma série de equívocos históricos e de interpretação(4), de outro, é rica em sugestões e insights sobre a civilização grega. Destaque-se, nesse sentido,
que ele supera a visão da cultura helênica enquanto todo homogêneo, entendido como expressão da serenidade e do classicismo acabado; apresenta, pelo contrário, uma perspectiva
dialética que opõe ao perfeccionismo formal, próprio ao universo apolíneo, o sensoria- lismo, o naturalismo e a despreocupação com a aparência, característicos do comportamento
dionisíaco.
O próprio Nietzsche, em obra posterior, assinala como méritos do livro esses aspectos, sublinhando a conceituação dada aos espíritos dionisíaco e socrático, bem como a apreciação
positiva dos valores estéticos:
As duas inovações decisivas do livro são, em primeiro lugar, a com- preensão do fenômeno dionisíaco entre os gregos: o livro dá a primeira psicologia deste, vê nele uma das raízes
de toda a arte grega; em segundo lugar, a interpretação do socratismo: Sócrates considerado como instrumento da dissolução grega, reconhecido pela primeira vez como decadente
típico. A racionalidade contra o instinto. A racionalidade a todo custo considerada como força perigosa, que mina a vida! Em todo o livro um profundo e hostil silêncio sobre o
cristianismo. Este não é apolíneo nem dionisíaco; nega todos os valores
estéticos, os únicos valores que A origem da tragédia reconhece (EH/EH).
De modo menos direto, podem-se considerar igualmente produtos de O nascimento da tragédia:
• a superação da dicotomia entre arte e vida, em que a primeira se caracteriza pelo desinteresse e a segunda pelo pragmatismo; para Nietzsche, a arte é visceralmente interessada
enquanto exposição do sentido radical da existência, em uma intensidade que a própria vida não alcança, a não ser quando revelada em sua perspectiva trágica. É o que o drama
ateniense do século V a.C. realiza e que o filósofo espera rever, no momento em que escrevia o texto acreditando que sim e, depois, decepcionando-se(5); • a proposta de uma outra
escrita da história da literatura, feita não de continuidades, mas de rupturas, em que a evolução é substituída pela manifestação. Observe-se que a literatura grega é particularmente
adequada para a contestação do modelo então vigente de história da literatura, pois ela abre com duas obras-primas, as epopéias de Homero, Ilíada e Odisséia, e se constitui de
ápices, como o da tragédia e da comédia do século V a.C.
De outra parte, o legado de Nietzsche decorre das relações que estabelece, de um lado, com o mundo grego que investigou, de outro, com a modernidade, que o inquiriu. Com efeito,
o filósofo, interpretando a tragédia ateniense, deixou-se em grande parte levar por suas leituras: Aristóteles lhe sugeriu várias idéias, entre as quais a premissa inicial, em que informa
que o gênero nasceu entre os solistas do ditirambo, de onde proveio o primeiro ator, virtualmente o herói trágico. Aristófanes lhe inspirou a avaliação da tragédia de Ésquilo,
contraposta à de Eurípides, verborrágica(6), racionalista, cheia de artifícios facilitadores, como os que Nietzsche denuncia, provavelmente informado por As rãs. O mesmo
dramaturgo o ajuda a entender a proximidade entre Eurípides e Sócrates, bem como a associação entre esse pensador e os sofistas, relação negada e sonegada por Platão em seus
diálogos, mas a que se tem acesso graças à comédia As nuvens. Grande é também a dívida de Nietzsche para com Heráclito, cujo mérito reconhece e a quem, de certo modo,
agradece, quando escreve o autobiográfico Ecce homo; deste filósofo pré-socrático procede a concepção de natureza como múltiplo em permanente conflito e mutação.
Já se vê que o mundo grego de Nietzsche é o da poesia; ou, se se quiser reservar esse conceito para uma produção de estilo mais específico, dele é o mundo grego literário, que se
transmitiu pela escrita. O filósofo confia no poder e representatividade da escrita, retirando dela as informações de que carece. A natureza múltipla e plural que privilegia é ainda a
que se corporifica no texto, âmbito de onde Nietzsche não se afasta, circunstância que, caso acontecesse, talvez relativizasse suas certezas e introduzisse a suspeita sobre o material
disponível, cuja legitimidade enquanto tradução da cultura helênica não questiona.
Examinando suas avaliações, é possível recompor as relações que Nietzsche propôs com o passado e com sua formação intelectual, homem da escrita e de gabinete, alheio à
palpitação social e natural que atribuía aos gregos, mas que parecia não experimentar. Por outro lado, verificando-se as projeções que provocou, chega-se ao impacto de sua obra
sobre contemporâneos e sucessores. Uma dessas projeções relaciona-se à teoria da história embutida no livro, manifesta desde seu título, ao privilegiar a noção de nascimento, e não
de começo, produção ou gênese, conceitos estes rejeitados igualmente
por Walter Benjamin, no ensaio que talvez possa ser considerado resposta e contradição às idéias de Nietzsche.
Com efeito, em A origem do drama barroco alemão, Walter Benjamin escolhe como tema de investigação o gênero com que, na Alemanha, a tragédia se confundiu, o Trauerspiel,
sendo os dois termos seguidamente considerados sinônimos. Elege também um período da história da arte, o Barroco, com sua respectiva localização cronológica e geográfica, a
Alemanha do século XVII, em contraposição à Atenas do século V a.C., para desenvolver sua tese principal sobre a natureza da criação artística. E detém-se sobre o conceito de
ruína, que, corporificado na alegoria, revela o significado da vida humana ou o fracasso da experiência existencial.
É quando se detém no estabelecimento das diferenças entre origem (Ursprung) e gênese (Entstehung) que Benjamin parece dialogar com Nietzsche(7). O assunto ocupa a primeira
parte de seu estudo, visando provar que origem, ao contrário de gênese ou aparecimento, não descreve o processo histórico, recusando, tal como Nietzsche, os procedimentos da
historiografia em geral e da história da literatura em particular. Característico da origem é o fato de corresponder ao momento em que o objeto toma forma, "torna-se". Escreve ele:
Acontece em cada fenômeno original uma determinação da forma na qual uma idéia vai confrontar constantemente o mundo histórico, até que ela se mostra completa, na totalidade
de sua história. A origem não é, portanto, descoberta pelo exame de seu fundo real, mas relaciona-se à sua história e subseqüente desenvolvimento (Benjamin 3, p. 45-6).
A Benjamin interessa o que ele chama de "ciência da origem" ou "história filosófica", capaz de revelar "a configuração da idéia – a soma total de todas as possíveis justaposições
significativas de tais opostos" (Benjamin 3, p. 47). Conforme explica George Steiner, origem "não significa apenas 'fonte', mas também o salto (Sprung) primordial no ser, que de
imediato revela e determina a estrutura a desdobrar a dinâmica central da forma num organismo de fenômeno espiritual" (id., ibid., p. 16).
Como se vê, o conceito proposto, em oposição ao de Nietzsche, é preferentemente idealista, rejeitando as determinações da natureza, para entender o objeto de arte como
estruturação formal que dá vazão a uma idéia. Por isso, seu estudo sobre o drama barroco alemão propõe-se como alternativa à interpretação de Nietzsche, buscando no conceito do
objeto a possibilidade de sua compreensão, conforme um centramento auto-suficiente que exclui a interferência de fatores extra-estéticos. Contrapõe-se à atitude do filósofo, que,
manifestando o propósito de estudar a tragédia, descreve as condições que lhe deram nascimento, deixando o objeto, com suas determinações, para segundo plano.
Se O nascimento da tragédia aponta para uma releitura da tradição germânica de estudos clássicos e para uma reescrita da história da literatura a partir do conhecimento que tinha da
arte grega, a discussão introjetada pela Origem do drama barroco alemão emerge da leitura que Walter Benjamin fez de Nietzsche, estabelecendo-se, graças ao elo entre as duas
obras, uma outra história, aquela que provém do diálogo intenso que se dá no interior do corpo literário.
Notas
(1) A admiração dos intelectuais alemães do final do século XVIII e do início do século XIX pela Grécia era tão grande, que eles supunham ser sua língua a que mais se
aproximava da língua grega (cf. Silk & Stern 11, p. 7). Cabe lembrar que, até 1870, a Alemanha era uma nação dividida politicamente, mas unificada pela mesma língua,
tal qual a Grécia do período clássico antigo, o que talvez justifique a expansão dos estudos clássicos nas universidades germânicas.
(3) A edição portuguesa da obra de Nietzsche, aqui citada, revela esse problema de tradução, considerando a palavra alemã Geburt equivalente à origem; nas Obras
incompletas corrige-se o erro, denominando o ensaio O nascimento da tragédia no espírito da música. Cf. Nietzsche 7.
(4) Em seu livro, M.S. Silk e J.P. Stern elencam os erros cometidos por Nietzsche, como, por exemplo, sua avaliação da música grega, a concepção sobre Apolo, a análise da
relação conflituada entre Apolo e Dioniso, entre outras. A propósito, cf. Silk & Stern 11.
(5) Quando escreveu O nascimento da tragédia, Nietzsche mantinha excelentes relações com Richard Wagner, cuja obra operística admirava, por considerar
paradigmática para os novos tempos. Contudo, logo sobreveio a decepção, sendo que, em seus últimos escritos, ele veio a considerar o compositor o exemplo acabado do
artista decadente. Em "O caso Wagner", Nietzsche acusa: "a arte de Wagner é doente". Cf. Hollingdale 6, p. 142.
(6) Em certo sentido, Paul De Man acusa Nietzsche do mesmo pecado, quando afirma: "Ainda mais do que o Discurso sobre a origem da desigualdade, de Rousseau, O
nascimento da tragédia é na realidade um discurso, uma arenga que combina o poder sedutivo da narrativa genética com a cumplicidade retórica de um sermão." De Man
4, p. 93.
(7) Walter Benjamin discute diretamente as teses de Nietzsche durante o andamento de sua pesquisa, mas não aborda questões propriamente conceituais. Cremos que esta
discussão fica subentendida no decorrer da obra, conforme propomos aqui.
Referências Bibliográficas
1. ARISTÓFANES. Obras completas. Tradução de D. Federico Baraibar y Zermárraga. Buenos Ayres. El Ateneo, 1958.
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9. Ecce hommo. Cómo se llega a ser lo que se es. Tradução de Federico Milá. Buenos Ayres, Ediciones Siglo Veinte, 1978.
10. On the advantage and disadvantage of history for life. Tradução de Peter Preuss. Indianapolis & Cambridge, Hackett Publishing Company, Inc. 1980.
11. SILK, M.S. & STERN, J.P. Nietzsche on tragedy. Cambridge, Cambridge University Press, 1995.
12. ZILBERMAN, R. "A fundação da literatura brasileira". Revista de literatura comparada. São Paulo, Associação Brasileira de Literatura Comparada/ABRALIC, 2,
maio de 1994, p. 59-68.
A-C-D-E-F-G-H-I-L
M-N-O-P-Q-R-T-V-Z
A
Ação: termo usado para descrever os movimentos que
acontecem diante da câmera.
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C
Câmera Subjetiva: câmera que funciona a partir da
ótica do ator, como se fosse seu próprio olho.
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D
Desfocar: a câmera altera o objeto focado.
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E
Elenco: conjunto de atores selecionados.
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F
Fade In: surgimento gradual da imagem a partir da tela
escura.
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G
Gancho: momento de grande interesse colocado antes
de um intervalo.
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H
Halo Desfocado: câmera desfoca em volta de um
objeto.
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I
Idéia: semente de uma história.
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L
Localização: situação de uma história no espaço.
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M
Macroestrutura: estrutura geral do roteiro.
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N
Núcleo Dramático: reunião das personagens
relacionadas entre si.
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O
Objetivo Dramático: razão de existência de uma cena.
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P
Panorâmica: visão geral de um ambiente.
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Q
Quick Motion: câmera rápida.
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R
Receptor: quem recebe a mensagem.
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S
Screenplay: roteiro para cinema.
Subtexto: entrelinhas.
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T
Take: tomada; inicia-se quando se liga a câmera e dura
até que se desliga.
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V
Varrido: câmera corre, mudando a imagem de lugar
rapidamente.
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Z
Zoom: efeito ótico de aproximação ou afastamento da
objetiva.
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Fonte: Comparato, Doc. Da Criação ao Roteiro. Editora
Rocco – 486 págs. – 1995