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Sinopse:

O único homem que ela quer é aquele que nunca a perdoará.


Apaixonar-se pelo belo e milionário vizinho de sua chefe foi fácil para a jovem
Emma Copeland. Apesar das grandes diferenças entre eles, e um passado que deixou
Connor Sinclair recluso e cauteloso, Emma arrisca seu coração em um desejo que
envolve os dois. Mas há algo que Connor não sabe: Emma é a responsável pelo acidente
que mudou a vida dele para sempre.
Connor vive por regras destinadas a proteger tanto ele quanto sua vasta riqueza. A
inocência de Emma é a única coisa que o faz perder a frieza, mas agora sua confiança
está abalada. No Momento em que ele percebe o quanto perdeu, pode precisar de um
milagre para reconquistá-la. Mas é um desafio que ele terá prazer em enfrentar pela
mulher e a família que ele precisa mais do que respirar...

UNDAUNTED (INABALÁVEL)

CAPÍTULO 1
Emma Copeland estava sentada no final da doca, balançando os pés descalços na
água. Minnows1 apareceram e mordiscaram seus dedos dos pés, e ela riu. Seus longos
cabelos loiros platinados caíam em volta de seus ombros como uma cortina de seda,
esvoaçando, soprados pelo vento, bonita. O rosto emoldurado não era lindo. Mas tinha
características suaves. O nariz era reto. Ela tinha maçãs do rosto altas e um queixo
arredondado. Sua melhor característica era seus olhos, grandes, castanhos e gentis, bem
como a própria Emma.
Ela cresceu em uma pequena fazenda em Comanche Wells, Texas, onde seu pai
criava gado de corte black baldie.2 Ela podia montar, laçar e sabia como amarrar um
bezerro. Mas aqui, no lago Lanier, no norte da Geórgia, ela trabalhava como assistente
de Mamie van Dyke, famosa e muito rica escritora de novelas de suspense. Os livros de
Mamie estavam sempre no topo da lista de bestsellers do New York Times. Isso fazia
com que Emma se sentisse orgulhosa, porque ajudava fazendo a pesquisa, bem como a
revisão dos romances, muito antes de serem entregues aos editores e a gráfica.
Ela havia encontrado o trabalho on-line, de todos os lugares. Uma amiga do
Facebook, que sabia que Emma tinha feito administração na escola técnica local,
mencionou que uma amiga da mãe dela estava procurando uma assistente particular,
alguém confiável e leal para ajudá-la a pesquisar e digitar. Só depois que ela se
inscreveu e foi aceita, e após um completo exame de antecedentes, que Emma descobriu
quem era sua nova chefe. Mamie era uma de suas autoras favoritas, e ela estava um
pouco fascinada quando chegou, com seus excassos pertences, à porta da casa do lago
no norte da Geórgia , a casa de dois andares, era chamativa e luxuosa.
Emma estava preocupada que sua roupa barata e a falta de traquejo social pudessem
fazer a mulher mais velha despedi-la. Mas Mamie a acolheu como uma criança perdida,
tomou-a sob sua proteção e ensinou-lhe como lidar com os muitos hóspedes ricos e
famosos que às vezes participavam de festas lá.
Um desses convidados era Connor Sinclair. Connor era um dos dez homens mais
ricos do país, algumas pessoas diziam que era o mais rico do mundo. Ele estava
próximo dos quarenta anos, os cabelos negros ondulados mostravam apenas alguns fios
prateados. Ele era grande, musculoso e forte, tinha um rosto leonino e cinzelado, e
lábios perfeitos. Tinha uma pele ligeiramente azeitonada, maçãs do rosto altas e olhos
profundos sob sobrancelhas proeminentes. Ele estava bonito e elegante em um smoking
impecável branco, camisa e gravata pretas3. Os vincos nas calças eram tão perfeitos
quanto o polimento em seu sapato escocês. Ele tinha lindas mãos, grandes e fortes, com
dedos que pareciam poder esmagar os ossos. Ele usava um anel olho de tigre4 em seu
dedo mindinho. Nenhuma outra joia, salvo um relógio Rolex que parecia mais funcional
do que elegante.
Emma, com seu vestido de noite preto, com delicados brincos e colar de prata com
uma pequena turquesa sentiu-se deselegante na companhia de tantas pessoas ricas. O
cabelo louro claro estava preso no alto da cabeça em um coque. Ela tinha a pele perfeita
e sedosa. Um pó leve e um batom suave eram sua única maquiagem. Ela segurava uma
taça de champanhe cheia de ginger ale.5 Ela não bebia, embora aos vinte e três anos,
pudesse fazer isso legalmente.
1 - Minnows ou vairão - O vairão, é uma pequena espécie de peixe (Oregonichthys crameri) que vive apenas no estado de Oregon,
nos Estados Unidos, entrou para a lista as espécies ameaçadas de extinção no ano de 1993, mas foi a primeira a abandonar a lista de
espécies ameaçadas dos Estados Unidos anos mais tarde.

2 3 4
5 - Ginger Ale é um refrigerante comum nos Estados Unidos, Canadá, Japão e Inglaterra feito à base de gengibre.
Emma se sentia infeliz na festa, e desejou poder ir a algum lugar e se esconder. Mas
Mamie estava perto e talvez precisasse de um iPad ou de seu telefone, que ficava com
Emma, pronta para escrever algo para ela. Então não podia deixar a festa.
Do outro lado da sala, o homem grande estava olhando para ela. Ela se contorceu sob
seu olhar, imaginando o que poderia ter feito para despertar sua raiva. Ela nunca o tinha
visto antes.
Então se lembrou. Ela esteve no lago com a lancha de Mamie uma vez. Ela amava a
lancha. Isso a fazia sentir-se livre e feliz. Era uma das poucas coisas que fazia. Tinha
ficado louca por um menino da sua turma na escola vocacional onde cursava
administração. Quando ele a convidou para sair, todos os seus sonhos se tornaram
realidade. Até que ele soube que seu pai criava gado de corte. Eles até foram noivos por
um curto período. Infelizmente, ele era membro fundador do grupo local de direitos dos
animais, PETA.6 Ele disse a Emma que achava a profissão de seu pai nojenta e que ele
nunca teria nada a ver com uma mulher que fizesse alguma parte disso. Ele tinha saído
de sua vida e rompido o compromisso. Depois disso, ele a ignorou na escola. Seu
coração ficou partido. Foi uma das poucas vezes que ela tinha tido um encontro. Ela ia à
igreja com seu pai, mas era uma pequena congregação e não havia homens solteiros,
exceto por um viúvo muito mais velho e um homem divorciado que era da idade de seu
pai.
Sua vida familiar não era muito melhor. Ela e seu pai moravam em uma casa no
rancho que estava na família por três gerações e deixava transparecer isso. O mobiliário
não combinava. Os pratos eram antigos e muitos estavam rachados. A água saía de um
poço através de uma bomba que parava de funcionar toda vez que havia uma
tempestade, e havia muitas tempestades no Texas. Seu pai era um homem austero,
profundamente religioso, com um caráter exemplar. Ele criou a filha para ser da mesma
maneira. Sua mãe havia morrido de parto quando ela tinha oito anos e ela tinha visto
acontecer. O pai tinha ficado transtornado no momento em que ela mais precisava dele.
Isso foi antes dele começar a beber. Ele raramente esteve sóbrio nos últimos anos,
deixando a maior parte do trabalho e a tomada de decisões no rancho para o seu capataz.
Ele nunca pareceu sentir muito carinho por sua única filha. Claro, ela não era um
menino, e era um filho que ele queria desesperadamente, alguém para herdar o rancho,
para mantê-lo na família. Meninas, ele dizia com frequência, eram inúteis.
Ela afastou as lembranças para encontrar o homem grande caminhando em sua
direção. Algo dentro dela queria fugir. Mas seus antepassados haviam lutado contra
inundações, ladrões de gado e ataques de índios. Ela não era do tipo de fugir.
Ela mordeu o lábio inferior quando Connor Sinclair parou logo na frente dela. Ele
não estava bebendo champanhe. A menos que ela estivesse enganada, ele segurava um
grande copo de cristal com whisky, e apenas um cubo de gelo.
Ele a fuzilou com os olhos claros e brilhantes.
─ Eu conversei com a polícia do lago sobre você. - Ele disse com um tom breve e
brusco. ─ Eu falei para quem você trabalha e onde você mora. Outra proeza igual a de
ontem no lago, e você descobrirá o que acontece com crianças que se arriscam
insanamente em lanchas velozes. E também conversei com Mamie.
Ela respirou fundo.
─ Eu não vi o Jet Ski!
─ Você não estava olhando quando virou. - Ele acusou. ─ Você estava indo muito
rápido de qualquer modo.

6-

*PETA - People for the Ethical Treatment of Animals é uma organização não governamental de ambiente fundada em 1980, a qual
já conta com mais de 2 milhões de membros e se dedica aos direitos animais. A PETA tem, como lema: "Animais não são nossos
para comer, vestir, usar em experiências ou para entretenimento"
Ela estava quase extraindo sangue dos lábios com os dentes. Sua mão, que segurava
a taça de champagne, tremia. Ela colocou a outra mão sobre ela para estabilizá-la.
─ Não havia ninguém lá quando comecei...
─ Sua geração é uma piada. - Ele disse friamente. ─ Crianças indisciplinadas que não
têm boas maneiras, que pensam que o mundo lhes deve tudo, que podem fazer o que
quiserem, e fazem o que querem, sem consequências! Vocês passam a vida causando
tragédias e não se importam!
Ela sentiu lágrimas ardendo em seus olhos.
─ Me desculpe. - Ela disse com voz rouca, virando-se.
Mas ele a pegou firmemente pelos ombros e a virou.
─ Eu nunca faço ameaças. - Ele disse friamente. ─ Lembre-se disso.
As lágrimas escorreram de seus olhos. Ela não pode evitá-las. E mostrar fraqueza
diante do inimigo a envergonhava. Ela se afastou bruscamente dele, com o rosto pálido
e tremendo.
Ele franziu a testa, como se não esperasse essa reação. Ela virou-se e correu para a
cozinha. Colocou a taça de champagne sobre balcão e saiu pela porta dos fundos para o
ar fresco da noite, desesperada por se afastar dele. Ninguém sabia onde estava. Ninguém
se importava. As lágrimas caíram sobre suas bochechas frias. Ela cresceu sem amor,
sem a mais simples demonstração de carinho depois que sua governanta Dolores deixou
o rancho, exceto por um abraço ocasional das mulheres em sua igreja. Ela viveu
sozinha, teve seus sonhos de romance destruídos. E agora, aqui estava ela, seu orgulho
em ruínas, perseguida em sua casa por um inimigo implacável que parecia pensar que
ela era uma delinquente juvenil inclinada a matar pessoas. Tudo isso, porque ela ficou
um pouco selvagem na lancha.
Quando se controlou e voltou a entrar, Connor Sinclair não estava em parte alguma.
Ela voltou para o lado de Mamie e ficou lá o resto da noite, esperando que ele não
voltasse.

***

Tinha sido um confronto sério. Ela esperava que nunca mais tivesse que ver Connor.
Sentada na doca, ela moveu os dedos dos pés na água fresca, rindo suavemente para os
pequenos peixes que mordiam seus dedos. O lago era glorioso no outono. As folhas
estavam apenas começando a cair, em cada sombra de vermelho e dourado que a mente
poderia imaginar. Havia uma brisa suave, preguiçosa e quente, porque o outono chegou
tarde ao norte da Geórgia. Emma, com seu longo vestido de algodão, com estampa em
marrom, amarelo e verde, parecia parte da paisagem de um cartão postal.
─ O que diabos você está fazendo na minha doca? - Uma voz fria e irritada grunhiu
atrás dela.
Ela pulou, assustou-se e pegou os sapatos, demasiado inquieta para pensar em
colocá-los.
─ Sua doca? - Ela pensou que a casa estava fechada. Não tinha visto luzes nela por dias
e nunca tinha considerado quem poderia ser o dono. A doca sempre estava deserta. Há
vários dias vinha aqui para apreciar os peixinhos e a vista do lago.
─ Sim, minha doca. - Ele disse com raiva. Suas mãos estavam enfiadas profundamente
nos bolsos de sua calça social. Ele usava uma polo marrom, que enfatizava os músculos
em seu peito e braços.
─ Eu... me desculpe. - Ela balbuciou, seu rosto ficando vermelho. ─ Eu não pensei que
alguém morasse aqui.
─ Garota engraçada. - Ele disse. ─ Mamie sabe que fico aqui três meses por ano. Você
sabia.
─ Eu não sabia. - Ela respondeu, sentindo as lágrimas ameaçando cair de novo. Ela se
afastou dele. ─ Desculpe. - Acrescentou. ─ Eu sinto Muito. Eu não sabia...
─ Eu venho aqui para fugir das pessoas, repórteres, telefones que nunca param de tocar.
Eu não quero minha privacidade invadida por menininhas vulgares com vestidos
baratos. - Ele acrescentou insolentemente, zombando de seu vestido de pronta entrega.
Seu lábio inferior tremia. Lágrimas ameaçavam cair. Mas seu orgulho ferido não
permitiria que esse insulto fosse ignorado.
─ Meu vestido pode ser barato, Sr. Sinclair, mas eu não sou. - Ela ergueu o queixo. ─
Eu vou a igreja todos os domingos!
Algo brilhou nos olhos que mal podia entender.
─ Igreja! - Ele zombou. ─ A religião é a grande mentira. Peca durante toda a semana,
depois vai se confessar. Senta-se no banco no domingo e pula de cama em cama durante
o resto da semana.
Ela apenas olhou para ele.
─ Pelo que eu ouvi, pular de cama em cama é a sua escolha de passatempo. Não a
minha.
Ele riu rapidamente.
─ As mulheres fazem qualquer coisa por um preço.
Como em resposta aquela observação cínica, uma bela morena em um vestido
elegante colocou a cabeça na porta da casa do lago.
─ Connor, apresse-se. - Ela chamou. ─ O suflê está ficando frio!
─ Estou indo - Ele deu uma olhada para o vestido de Emma. ─ Você conseguiu isso em
um brechó? - Ele perguntou insolentemente.
─ Na verdade, eu o comprei em uma loja de departamentos. E por um preço muito bom.
─ Parece barato.
─ É barato.
─ Fique longe da doca. - Ele disse friamente.
─ Não se preocupe, nunca mais andarei por aqui. - Ela murmurou quando se virou para
ir embora.
─ Se você for levar essa lancha para o lago novamente, preste atenção por onde você
está dirigindo. A polícia do lago estará observando.
Ela não se virou. Suas costas rígidas contava sua própria história.
─ Descarada presunçosa. - Ele murmurou.
─ Porco arrogante.
Ela pensou ter ouvido uma risada atrás dela, mas não se virou. E continuou andando.

***

Mamie ergueu os olhos quando Emma entrou na sala de estar. A casa tinha dois
andares, com vista para o lago. Tinha graça e beleza muito parecida com a própria
Mamie. Parecia se mesclar sem esforço com os arredores. Ela estava sorrindo, mas o
sorriso desapareceu quando viu o rosto da jovem. Estava corado, e com traços de
lágrimas que marcavam a linda pele.
─ O que há de errado, docinho? - Perguntou gentilmente.
Emma respirou profundamente.
─ Eu não sabia que Connor Sinclair era o dono da casa da margem. - Disse ela. ─ Eu
estava sentada na doca, balançando os pés na água. Ele me encontrou e me madou para
fora da propriedade.
Mamie fez uma careta.
─ Desculpe, eu deveria ter contado a você. Ele conversou com você na festa, sobre a
lancha, não é?
─ Sim, se você chama as ameaças e intimidações de uma conversa. - Ela respondeu com
um sorriso triste. ─ Eu não estava sendo imprudente absolutamente. Eu simplesmente
não vi o Jet Ski. Ele apareceu do nada.
─ Você deveria prever que as pessoas fazem loucuras com o Jet Ski. O mesmo acontece
com outros condutores de lancha. Tivemos uma tragédia aqui no lago alguns anos atrás.
Uma lancha em alta velocidade atingiu uma casa flutuante e matou duas pessoas.
─ Que horror!
─ O condutor estava bêbado. Ele foi preso e processado, mas os moradores da casa
flutuante continuam mortos.
─ Eu vou ter mais cuidado. - Prometeu Emma. Ela fez uma careta. ─ Eu não entendo
por que ele tem tanta antipatia por mim. - Ela murmurou distraidamente. ─ Ele foi
horrível comigo na festa. E ele me olha como se me odiasse. - Acrescentou.
Mamie tinha uma opinião sobre isso, mas não ia dizer qual era. Ela apenas sorriu.
─ Eu vou construir uma doca no lago, só para você, querida, para que você possa
balançar seus pezinhos. - A casa de Mamie era uma das poucas no lago que não tinha
uma doca particular. Emma tinha que dirigir o carro de Mamie até a marina para usar a
lancha. Ou caminhar, se Mamie estivesse viajando, como era frequente, já que Mamie
era excêntrica e só guardava um carro de luxo na casa do lago. Não era uma longa
caminhada para alguém tão jovem e atlética como Emma.
Emma riu.
─ Você não precisa se incomodar. Eu vou caminhar até a marina e balançar meus pés
nas docas de lá. Não é como se eu pudesse fazer isso por muito mais tempo, de qualquer
maneira. Já é outubro.
─ Com sua sorte, é capaz de você escolher a marina em que Connor mantem seu
veleiro. - Mamie riu. ─ As docas não custam tanto, são principalmente tambores vazios
com tábuas por cima. Eu mandarei alguém ver isso na próxima semana. - Ela balançou a
mão impedindo os protestos de Emma e disse: ─ Venha aqui, está bem, querida? Quero
ditar alguns pensamentos caóticos e ver se você pode me inspirar a colocá-los em uma
forma compreensível.
─ Eu ficarei feliz. - Respondeu Emma.
***

─ Quem era a garota na doca? - Ariel perguntou enquanto Connor e ela compartilhavam
o suflê cozido demais que tinha tirado do forno.
─ Uma da nova geração. - Ele disse friamente. ─ E isso é tudo o que quero falar sobre
ela.
Ela suspirou.
─ Tudo o que você quiser, querido. Vamos sair esta noite?
─ Onde você quer ir? - Ele perguntou, renunciando a sua esperança de uma noite
tranquila com um bom livro e um whisky sour.7
─ The Crystal Bear. - Ela disse imediatamente, nomeando um lugar novo e moderno
nos arredores de Atlanta, perto de Duluth, onde a principal atração era um enorme urso
esculpido em cristal e uma banda de garagem8 que era o assunto na cidade. A comida
também não era ruim. Não que ele se importasse muito com isso. Mas ele faria amor
com Ariel. E já estava começando a ficar nervoso. Ele fez uma breve avaliação do corpo
delgado e se viu desinteressado. Sentia-se assim há vários dias. Desde que esse pequena
pirata loira quase bateu no seu Jet Ski e ele a infernizou por isso na festa de Mamie.
A menina era estranha. Bonita de uma maneira que pouco tinha a ver com a
aparência. Ele a via, da varanda da casa do lago, geralmente quando ela não o via. A
mulher loira, qual era o nome que Mamie a chamava? Não conseguia lembrar, um dia,
encontrou uma garotinha perdida na praia, ele a viu se abaixar para confortar a
garotinha, pegar a criança no colo, a abraçar e secar suas lágrimas. Ele a viu caminhar
pela praia, aparentemente procurando o pai desaparecido.
7 -whisky sour - uma dose de whisky; uma dose de limão; uma colher de açúcar, bata tudo na coqueteleira, passe limão na boca do
copo e jogue açúcar para incrustar.

8 - Banda de garagem - É o nome muito utilizado nos EUA, dado usualmente a grupos de músicos principiantes, frequentemente
constituídos por adolescentes ou adultos jovens. O termo provém do fato de que estes iniciantes geralmente ensaiam em locais
"alternativos" de suas próprias residências, como quartos e garagens.

A visão o perturbou. Ele não queria filhos, nunca. Inúmeras mulheres, durante uma
década, tentaram convencê-lo, tentaram enganá-lo, mas ele sempre foi cuidadoso.
Sempre usou preservativos, apesar das mulheres garantirem que estavam tomando
anticoncepcional. Ele sempre foi cauteloso porque era rico demais. As mulheres
tentavam fazê-lo cair em uma armadilha. Uma criança seria uma responsabilidade que
ele não queria, além disso, também significava um apoio caro para a mãe da criança. Ele
não ia cair em nenhuma armadilha. Ele tinha visto isso acontecer com seu único irmão,
que vivia na miséria por causa de uma mulher gananciosa que engravidara sem outra
razão além de obrigá-lo a um casamento sem amor. O casamento, do seu irmão,
terminou em morte, nesse mesmo lago. O magoava lembrar as circunstâncias. A mulher
loira trouxe tudo de volta.
Ainda assim, a visão da mulher loira com a criança nos braços, os cabelos longos e
brilhantes esvoaçando pela brisa, o deixavam com fome de coisas que ele não conseguia
compreender. Ela não tinha dinheiro e nem era tão bonita. Ele ficou intrigado por ter
uma resposta tão imediata a ela. Naquela noite, na festa, ele a olhava insistentemente,
faminto, ele a desejava.
Ele a fez chorar, assustou-a com sua raiva desenfreada. Ele não teve a intenção. Ela
não parecia com outras mulheres que ele conhecia que fingiam chorar para conseguir
coisas. As lágrimas dela eram verdadeiras, como o medo que sentia dele.
Ele ficou chocado quando ela se afastou dele. Fazia muito tempo, muitos anos, que
alguém havia feito isso. Mas, nunca uma mulher.
Então ele a encontrou sentada em sua doca, rindo enquanto balançava os pés na água.
A visão o atingira no coração com tanta força que tinha inflamado seu temperamento
novamente. Ele não precisava desta mulher loira. Ele tinha Ariel, brilhante e linda, que
faria qualquer coisa que ele pedisse, porque ele a cobria com os diamantes caros que ela
amava.
A loira no vestido barato usava joias ainda mais baratas. Seus sapatos eram
arranhados e velhos. Mas ela tinha um orgulho majestoso. O divertia recordar a defesa
fria de sua moral. O que não lhe dizia respeito, ele pensou, e rapidamente a ignorou.

***

Mamie chamou Emma em seu escritório algumas manhãs mais tarde, quando estava
fechando o último dos vários envelopes que continham as pequenas mensagens que
Emma havia digitado e imprimido para ela. E que Mamie tinha acabado de assinar.
─ Eu teria feito isso por você. - Protestou Emma.
─ Claro que você teria, mas eu tinha algum tempo. - Ela colocou os envelopes em uma
pilha arrumada. ─ Você pode selá-los e colocar as etiquetas de endereço. É o seguinte
docinho, eu vou ficar fora por cerca de dois ou três meses. Um sheik me convidou para
ficar em seu palácio e ver as atrações em Qawi com sua família. Vamos assistir a
corridas de cavalos, participar de eventos culturais em todo o Oriente Médio, até mesmo
passar algum tempo na Riviera, em Mônaco e Nice a caminho de casa. Você quer ficar
aqui ou ir para casa do seu pai?
Emma engoliu em seco.
─ Bem...
─ Você pode ficar aqui. - Disse ela suavemente, porque sabia como o pai de Emma a
tratava. Emma morava com outra família no Texas, mas ela disse que não queria se
impor a eles. ─ Eu sei o quanto você odeia viajar. É por isso que nunca a levei para o
exterior. Mas você me faria um favor de verdade, porque eu não teria que fechar a casa
do lago. O que você acha?
─ Eu adoraria!
Mamie sorriu.
─Eu achei que iria. Ok. Você sabe o que fazer. Você também pode conduzir a lancha,
mas não exceda o limite de velocidade. - Ela acrescentou com firmeza. ─ Você não
quer irritar Connor. Na verdade, você não vai querer.
Emma franziu a testa para a chefe. Havia algo estranho na maneira como ela havia
dito isso.
Mamie sentou-se e cruzou as mãos no colo.
─ Eu nem sempre fui uma autora famosa. - Ela começou. ─ Eu comecei como repórter
de jornal em um pequeno semanário. De lá, mudei para revistas de entretenimento,
cobrindo histórias de celebridades. - Ela fez uma careta. ─ Uma delas era Connor
Sinclair. Seu melhor amigo, que era um conhecido meu, garantiu que tinha permissão
de Connor para me contar coisas sobre sua vida particular. Então citei o homem como
minha fonte e segui com a reportagem.
─ Isso parece ter terminado de maneira infeliz. - Disse Emma quando sua companheira
ficou muito quieta.
─ E acabou. O homem que me deu as informações era um rival nos negócios que odiava
Connor e viu uma oportunidade de até mesmo conseguir uma transação comercial que
Connor perdeu. A maioria do que ele me disse era verdade, mas Connor é fanático sobre
sua privacidade. Eu não sabia disso até que fosse tarde demais. Para encurtar a história,
a revista me demitiu para evitar um processo.
─ Ah não.
─ Era um momento ruim. - Lembrou Mamie calmamente. ─ Eu estava divorciada, sem
dinheiro próprio. Eu dependia desse trabalho para manter minhas contas pagas e um teto
sobre a minha cabeça. Eu consegui outro emprego, em uma revista rival, algumas
semanas depois. Para minha sorte, esse editor não gostava de Connor e não foi forçado a
me colocar na rua como a outra revista.
─ Ele tentou tirá-la desse trabalho também? - Emma perguntou, horrorizada com o
gosto do homem por vingança.
─ Sim ele tentou. Então, quando eu digo para ser cuidadosa em lidar com ele, não estou
brincando. - Concluiu Mamie. ─ Eu nunca a demitiria, não importa as ameaças. Mas eu
ainda trabalho para editores que podem ser ameaçados.
─ Eu entendo. - Ela disse calmamente. ─ Eu não vou fazer dele um inimigo. Vou me
certificar de ficar fora do caminho dele de agora em diante.
─ Boa garota. - Disse gentilmente. ─ Você é muito especial, Emma. Confio em você, o
que é mais do que posso dizer sobre a maioria das pessoas que conheço. Eu queria
filhos, mas meu marido não. - Ela sorriu tristemente. ─ Foi melhor assim, por causa do
modo como acabou.
─ Por que o Sr. Sinclair é tão amargo? - Emma perguntou de repente. ─ Quero dizer, ele
nunca sorri e ele está sempre chateado com algo ou com alguém. Parece estranho para
mim.
─ Ele perdeu o único irmão, em um acidente nesse lago. Um condutor bêbado em um
barco bateu na casa flutuante onde ele e a esposa estavam e fugiu. Ambos morreram. -
Ela engoliu em seco. ─ Connor, dizem, gastou uma fortuna, procurando a localização
do homem para a polícia. Ele foi julgado e preso. Ele ainda está preso.
─ O homem bêbado tem família?
Mamie assentiu.
─ Tinha uma esposa e uma garotinha. Elas perderam a casa, a renda... A criança foi
mandada para o serviço social. A mãe morreu de uma overdose de drogas. Foi uma
tragédia do começo ao fim.
─ A vida é tão difícil para as crianças. - Murmurou Emma, pensando na pobre menina.
─ Connor Sinclair é vingativo.
─ Ele é. - Mamie olhou em volta. ─ Bem, é melhor eu seguir meu caminho. Venha me
ajudar a fazer as malas, Emma. Tenho alguns vestidos de noite que eu quero lhe dar.
Eles são muito pequenos para mim, e eles vão te servir muito bem.
─ Eu nunca vou a lugar algum para precisar de vestidos de noite. - Emma riu. ─ Mas
muito obrigada pelo pensamento.
Mamie olhou para ela.
─ Você deve namorar, encontrar homens, pensar em começar uma família.
─ Eu não encontrei ninguém por quem eu sentisse alguma coisa, exceto Steven. - Ela
estremeceu. ─ Eu pensei que ele era o homem perfeito. Agora não sei se posso confiar
em meu julgamento sobre homens novamente.
─ Você vai superar com o tempo, querida. - Disse Mamie, um sorriso gentil no rosto. ─
Há muitos homens bonitos e elegantes no mundo, e você tem um coração amável. Você
não pensa assim agora, mas os homens vão querer você, Emma. Essa natureza
acolhedora é algo que a maioria dos homens não consegue resistir. Eles não se
importam tanto com a beleza física quanto com quem está disposta a se sentar com eles
quando estão doentes, alimentá-los e lhes dar xarope para tosse. - Ela sorriu.
Emma riu,como deveria fazer.
─ Bem, um dia. Talvez.
Mamie partiu em um turbilhão de atividade, entrou em uma limusine com um
imponente motorista em terno e gravata. Ela deu a Emma um punhado de tarefas de
última hora, uma pesquisa para completar seu próximo livro e uma advertência para ter
cuidado ao sair após o anoitecer. Seu último aviso na despedida foi para ficar fora do
lago com a lancha até Connor ir para casa dele no sul da França como sempre fazia
todos os anos antes do Natal.
Emma prometeu ter cuidado, mas não mais do que isso. A lancha se tornou seu
consolo. Quando ela estava no lago, com o vento soprando através de seus longos
cabelos e os respingos de água no rosto, ela sentia-se viva como nunca sentira antes.

***

Ela não havia dito a Mamie, mas ainda estava ferida pela rejeição de Steven vários
anos depois. Ela estava muito magoada para confiar em outro homem. Ela se sentia
próxima de Steven, sentia que pertencia a alguém pela primeira vez em sua jovem vida.
A rejeição dele tinha sido dolorosa. Ela sempre foi tímida, não tinha autoconfiança.
Agora desconfiava de seu próprio julgamento sobre as pessoas. Steven parecia tão
perfeito. Mas ele tinha preconceitos sobre os quais ela não sabia.
Os ideais valiam a pena, sem dúvida, mas foi à escolha de carreira de seu pai que o
afastou. Ele não levou em consideração que ela não tinha os mesmos interesses que seu
pai. Ele simplesmente se afastou, sem olhar para trás.
Durante várias semanas, ela esperou que ele telefonasse ou escrevesse, que ele
pudesse se desculpar por fazer suposições sobre ela. Mas ele não fez isso. Em
desespero, ela escreveu para uma ex-namorada dele em San Antonio, para onde Steven
se mudou, uma amiga em comum do ensino médio. A amiga disse-lhe que Steven
estava envolvido com uma nova organização, um grupo radical de direitos dos animais,
muito maior do que aquele que ele tinha pertencido quando Emma o conheceu. Ele e o
amigo aparentemente ainda estavam vivendo juntos, também. Nenhum deles estava
namorando ninguém. Steven disse que nunca mais voltaria para Jacobsville. Foi quando
Emma finalmente desistiu. Ela não iria ter aquele final feliz tão esperado dos contos de
fadas. Não com Steven, de qualquer maneira. Ela caminhou vagarosamente pela
floresta, segurando uma vara na mão. Ela tocou na parte superior das ervas daninhas de
outono enquanto caminhava perdida em pensamentos.
Ela quase trombou com o homem grande antes de vê-lo. Ela saltou para trás como se
tivesse sido atacada por ele. Seu coração estava batendo em um ritmo louco. Sentiu-se
sem fôlego, assustada, deprimida. Todas aquelas emoções lutaram pela supremacia em
seus grandes olhos castanhos.
Ela mordeu o lábio inferior.
─ Me desculpe. - Ela disse imediatamente, quase se encolhendo diante da súbita e feroz
raiva em seu rosto largo.
Suas mãos estavam enfiadas no fundo dos bolsos das calças. Ele estava usando uma
camisa bege com calça marrom, e parecia, como de costume, de mau humor.
Ele olhou para ela com os brilhantes olhos cinza-claros, avaliando-a, desejando-a. A
sua opinião sobre o seu longo vestido de algodão marrom com uma camiseta branca por
baixo era menos do que lisonjeiro.
─ Bem, nem todos nós podemos comprar na Saks.9 - Disse ela defensivamente.
Ele ergueu uma sobrancelha.
─ Alguns de nós nem mesmo podem comprar em um brechó decente, a julgar pelas
aparências. - Ele devolveu.
Ela parou no caminho estreito através da floresta que levava ao lago.
─ Eu não estou invadindo. - Ela falou, corando. ─ Mamie é proprietária dessa faixa
colorida na estaca, até lá. - Ela apontou para a linha da propriedade.
Ele inclinou a cabeça e olhou para ela. Ele odiava a sua juventude, seu frescor, a sua
falta de artifício. Ele odiava a sua inocência aparente, porque era tão óbvia que era
inconfundível. Toda a sua vida tinha sido um desfile interminável de mulheres
perfumadas e perfeitamente penteadas, tentando incansavelmente conseguir tudo o que
pudessem dele. Aqui estava uma pequena puritana em pé com o punho erguido.
─ Você está sempre sozinha. - Ele disse distraidamente.
─ Você também. - Ela disse sem pensar e depois mordeu a língua por sua franqueza.
Os ombros largos levantaram e caíram.
─ Eu fiquei cansado de soufflés queimados, então eu a mandei para casa. - Ele disse
friamente.
Ela franziu a testa, procurando o rosto dele. Ele aparentava a idade que tinha de uma
maneira que muitos homens mais velhos não faziam. Ele trabalhava demais. Ela sabia
sem perguntar que ele nunca tirava férias, nunca comemorava os feriados, que levava
trabalho para casa todas as noites e ficava ao telefone até que finalmente estivesse
cansado o suficiente para dormir. O trabalho era toda a sua vida. Ele podia ter mulheres
em sua vida, mas a influência delas acabava na porta do quarto. E nenhuma se
aproximava, nunca.
─ Você pode cozinhar? - Ele perguntou de repente.
─ Claro.
Ele ergueu uma sobrancelha.
─ Meu pai tem um pequeno rancho de gado no Texas. - Disse ela hesitante. ─ Minha
mãe morreu quando eu tinha apenas oito anos. Eu tive que aprender a cozinhar.
─ Aos oito anos de idade? - Perguntou ele, surpreso.
Ela assentiu. De repente, sentiu frio e envolveu seus braços ao redor do corpo.
─ Me ensinaram que o trabalho duro afasta os pensamentos frívolos.
Ele franziu o cenho.
─ Algum irmão, irmã?
Ela balançou a cabeça negando.
─ Apenas você e o fazendeiro.
Ela assentiu.
─ Ele queria um garoto. - Ela falou. ─ Ele disse que as meninas eram inúteis.
Suas mãos, enfiadas nos bolsos, contraíram. Ele estava tendo uma visão que ele não
gostava de como era a vida dela. Ele não queria saber nada sobre ela. Ele a achava
desagradável, irritante. Ele deveria se virar e voltar para a casa do lago.
─ Você estava com uma garotinha há alguns dias. - Ele disse, surpreendendo-a. ─ Ela
estava perdida.
Ela sorriu lentamente, e isso a transformou. Aqueles olhos suaves e castanhos quase
brilhavam.
─ Ela é filha de uma amiga de Mamie, uma jovem de Provença que está aqui com o
marido em uma viagem de negócios. Eles estão hospedados na cabana de um amigo. A
menina passou por aqui, procurando por Mamie.
9 - A Saks Fifth Avenue é uma loja de departamento que vende artigos de luxo e já tem
mais de 100 anos de história. A loja já tem roupas femininas e roupas masculinas de
marcas renomadas nos Estados Unidos, bolsas e sapatos de designers, acessórios como
carteiras, óculos, chapéus etc. A Saks tem também uma linha de lojas chamada "Saks Fifth
Avenue Off Fifth", que funciona como um outlet da Saks tradicional e vende produtos com
desconto, por preços bem menores que preços regulares.

─ Provença? França?
─ Sim.
─ E você fala francês, vaqueira? - Perguntou ele.
─ Je ne parle pas trés bien, mais, oui.10 - Ela respondeu.
Ele inclinou a cabeça e, por alguns segundos, seus olhos claros eram menos hostis.
─ Você estudou no ensino médio, suponho?
─ Sim. Tínhamos que aprender uma língua estrangeira. Já que falo espanhol, então o
francês era algo novo.
─ Espanhol?
─ Meu pai tinha vários cowboys que eram do México. Imigrantes. - Ele começou,
planejando mencionar que seu avô era um.
─ Suas famílias estavam aqui antes que os primeiros colonos chegassem ao Texas. -
Disse ela, defendendo-os sem pensar.
Seus olhos claros se estreitaram.
─ Eu não quis dizer isso dessa maneira. Eu ia dizer que meu avô era imigrante. - Ele
inclinou a cabeça. ─ Você não gosta mesmo da insinuação de preconceito, não é?
Ela mudou o peso nos pés.
─ Eles eram como família para mim. - Disse ela. ─ Meu pai era inflexível. Ele nem
sequer dava uma folga a um empregado para ir a um funeral. - Ela mudou o peso nos
pés de novo. ─ Ele diz que o trabalho vem em primeiro lugar, a família em segundo.
─ Encantador. - Ele disse sarcasticamente.
─ Então, todo o carinho que já tive foi de pessoas que trabalhavam para ele. - Ela sorriu,
relembrando. ─ Dolores cozinhava para a equipe do alojamento. Ela me ensinou a
cozinhar e costurar, e ela comprou o primeiro vestido que eu já tive. - Seu rosto
endureceu. ─ Meu pai o jogou fora. Ele disse que era ordinário, como Dolores. Eu disse
a ele que ela era a pessoa menos ordinária que eu conhecia e ele... - Ela engoliu em
seco. ─ No dia seguinte, ela foi embora. De repente.
Ele se aproximou um pouco mais.
─ Você hesitou. O que seu pai fez?
Ela mordeu o lábio inferior.
─ Ele disse que eu merecia...
─ O que ele fez?
─ Ele recuou o punho e me derrubou. - Disse ela, abaixando o rosto envergonhada. ─ O
marido de Dolores viu através da janela. Ele entrou para me defender. Ele derrubou meu
pai. Então meu pai despediu Dolores e ele. Por minha causa.
Ele não se aproximou, mas sentiu a raiva emanando dele.
─ Ele teria encontrado outro motivo para fazê-lo. - Disse ele depois de um minuto.
─ Ele não gostava que eles fossem amigáveis comigo. - Ela suspirou. ─ Eu me senti tão
mal. Eles tinham filhos que estavam na escola comigo, e as crianças tiveram que ir para
outra escola onde Pablo encontrou trabalho. Dolores tentou escrever para mim, mas meu
pai rasgou a carta e queimou, então eu não consegui ver o endereço para escrever para
ela.
─ Você deveria ter ido com eles. - Ele disse sem rodeios.
Ela sorriu tristemente.
─ Eu tentei. Ele me trancou no meu quarto. - Ela olhou para cima com olhos suaves e
tristes. ─ Mamie me faz lembrar de Dolores. Ela também tem um coração amável.
Ouviu um estranho som vibrante. Ela franziu a testa, olhando ao redor.
Ele pegou o celular que guardava no bolso. Olhou para ele, desligou a função
vibração e colocou-o de novo no bolso.
─ Se eu responder, há uma crise que eu tenho que resolver. Se eu não responder, haverá
duas crises que me custaram uma pequena fortuna porque não respondi.
─ Eu nem tenho um celular. - Disse distraída. Era verdade, Mamie pagava pelo dela.

10 - Eu não falo muito bem, mais sim.

Como ela pagaria por um, quase disse em voz alta. Mas ele não queria magoá-la. A
vida tinha feito um bom trabalho com isso, pelo que ele tinha ouvido.
Ele acenou com a cabeça para o céu.
─ Em breve ficará escuro. - Disse ele. ─ Você não deveria andar sozinha à noite.
Ela conseguiu dar um sorriso.
─ Isso é o que Mamie diz. Eu vou entrar.
Ela se virou um pouco com relutância, porque ele não era o ogro que pensava que
era.
Durante todo o caminho, ela sentiu seus olhos nela. Mas ele não disse outra palavra.

CAPÍTULO 2
Emma se perguntava sobre Connor Sinclair. Ela estava curiosa sobre o motivo por
que ele estava tão irritado, porque ela viu e sentiu isso nele. Ela não queria pensar tanto
nele. Ele a perturbava, a fascinava, de maneiras que não entendia. Provavelmente, o
motivo era por ele ser tão hostil a ela. Era preciso que fosse isso.
Cansada da casa do lago, ela caminhou até a marina e entrou na lancha de Mamie.
Ninguém a viu partir, mas, ela tinha a chave e podia ir e vir sempre que quisesse.
Era uma linda manhã do começo de outubro. Ao redor do lago, a maior parte
adornada por pinheiros, algumas madeiras cortadas começavam a mostrar suas lindas
cores de outono. As folhas mudavam mais lentamente aqui, no sopé das Montanhas
Apalaches. Na Carolina do Norte, as pessoas diziam que a estação das folhas estava em
pleno apogeu, atraindo turistas de todo o Piedmont.11 No norte da Geórgia, em torno do
lago, onde a casa de Mamie estava situada, os bordos 12 iriam florescer maravilhosos em
vermelho e dourado. Esta era a estação favorita de Emma. Ela amava os brilhantes
começos da estação, os diversos matizes diferentes que se combinavam para tornar o
mundo todo brilhante e novo em seu último suspiro febril antes do inverno rigoroso.
Ela virou a lancha em direção à parte aberta do lago e acelerou. Riu enquanto o vento
batia em seu rosto e jogava seu cabelo para trás, fazendo-a sentir-se viva e jovem, como
se todo o mundo fosse dela.
O sol estava baixo no horizonte, fazendo uma trilha brilhante na água quando ela
virou o barco e o dirigiu em direção ao litoral distante. Era tão cedo que ninguém estava
no lago. Ela tinha o lago todo para si mesma. Ela poderia pisar no acelerador sem se
preocupar.
Houve um som horrível de raspagem, seguido de um sacolejar igualmente horrível
que abalou o barco e Emma.
─ Droga!
A maldição irritada saiu do nada, assim como o Jet Ski que ela não tinha visto por
causa do brilho do sol da manhã que a cegou por apenas alguns segundos.
Ela tirou o pé do acelerador, tremendo pela colisão e pelo medo do que tinha feito.
Ela levantou-se na lancha, seus olhos percorrendo a água ao redor. Havia um Jet Ski no
lado do barco indo em direção à pequena enseada.
─ Oh, não, oh, não! - Ela gritou. ─ Eu sinto muito!

11 - Piedmont - É uma região localizada no leste dos Estados Unidos. Situa-se entre a planície costeira atlântica e as Montanhas
Apalaches, que se estendem desde Nova Jersey, no norte até o centro do Alabama, no sul.

12 - Bordo

Não houve resposta. O Jet Ski acelerou e se dirigiu para a doca distante. Ela soube
imediatamente a quem tinha atingido, e seu sangue gelou. Mas ele parecia estar bem.
Chegou à doca e saiu do Jet Ski. Ele sentou-se lá, aparentemente desorientado, e
chamando por alguém.
Enquanto Emma observava, três pessoas saíram da enorme e luxuosa casa do lago e
correram na direção dele.
Sem ser vista pelas pessoas na enseada, Emma colocou o barco em movimento e
levou-o de volta para a marina. Seu coração estava batendo como louco. Ela bateu em
Connor Sinclair. Ele ia querer comer o seu fígado. Ele a avisou. Ele a ameaçou. Quando
descobrisse quem o atingira, ela não teria um lugar seguro para se esconder dele no
mundo inteiro.
Ela não tinha um lugar para fugir. E não podia ir para casa. Seu pai ia querer saber
por que ela tinha voltado e por que ele não estava recebendo o dinheiro que ela deveria
enviar todos os meses para ele. E ficaria furioso. Mamie estava no exterior e ela ligou
apenas uma vez para dizer a Emma que estaria em lugares onde não tinha serviço de
telefone celular por alguns dias.
Emma tinha uns cem dólares em sua conta bancária e menos de duzentos em sua
poupança. Não era o suficiente para fugir e se esconder de um multimilionário que ia
querer prendê-la.
Ela levou o barco de volta para a marina, ciente de que tinha um amassado do lado
em que atingiu o Jet Ski. Era um barco resistente. Não parecia afetado pela colisão. Ela
dirigiu-se para o píer e saiu, parando para perguntar ao zelador se podia colocar o barco
em uma doca seca,13 porque Mamie iria ficar longe o resto do ano e estava ficando frio.
O homem mais velho sorriu e disse, claro, que eles podiam, e perguntou se ela queria
que eles consertassem aquele amassado no casco. Ela retribuiu o sorriso, muito
calmamente, e disse que seria muita gentileza. Ela atingiu um tronco na água muito
perto da enseada.
Isso acontecia com mais frequência do que as pessoas imaginavam, ele disse, rindo.
Quando a represa foi construída, a terra foi inundada e as árvores da área foram
encobertas pela água, criando o Lago Lanier. Ele faria o trabalho e enviaria a fatura a
Mammie, prometeu.
Emma voltou para a casa do lago, preparada para encontrar a polícia do lago na
varanda da frente esperando por ela.
Mas eles não estavam lá. Ela passou uma noite sem dormir, preocupada com isso,
esperando por isso. Connor Sinclair era seu pior inimigo. Ele nunca pararia até que ele a
fizesse pagar pelo que tinha feito.
Ela odiava sua própria covardia. Ela estava escondendo dele, da revanche, da
punição. Ela esperava que ele não estivesse gravemente ferido, mas e se ele estivesse?

***

No segundo dia após o acidente, ela se acalmou o suficiente para telefonar para a
casa do lago. Não constava o nome do proprietário na lista telefônica, apenas o nome da
propriedade: Pine Cottage. Apenas as pessoas do lugar sabiam que era a casa de Connor
Sinclair.

13 -Doca seca - Ou dique seco é um recinto cavado à beira de um braço de água (mar, rio, etc) de forma a receber uma ou mais
embarcações em simultâneo para vistorias, fabrico, limpeza ou construção, sendo mais uma Oficina-Naval que um Estaleiro,
propriamente dito.

Emma ligou e deixou tocar. Seu coração estava acelerado enquanto esperava tocar
uma vez, duas vezes, três vezes, quatro...
Ela estava prestes a desligar quando uma voz feminina atendeu.
─ Pine Cottage. - Disse ela, usando o nome que as pessoas do lugar deram à casa de
férias.
─ Eu poderia falar com o Sr. Sinclair por favor? - Ela perguntou em seu tom mais
profissional.
─ Connor? - A mulher perguntou. ─ Ah, não, ele está no hospital. Ele caiu do jet Ski e
bateu a cabeça. Pobrezinho, ele não tem ideia de como aconteceu... é Jewell?
─ Não, é a assistente pessoal de Adrian Merrell. O Sr. Merrell esperava falar com o Sr.
Sinclair sobre uma próxima conferência que ambos participariam. - Ela mentiu.
─ Merrell? Eu tinha ouvido esse nome. Não importa, Connor não irá a qualquer lugar
tão cedo, receio.
─ Sinto muito por saber sobre o acidente dele. Eu direi ao Sr. Merrell. Obrigada. Adeus.
Ela desligou. Connor estava vivo. Ele bateu a cabeça. Por que ele não iria a qualquer
lugar tão cedo? Emma gemeu enquanto se perguntava quanto dano tinha feito. Não
havia ninguém no lago, estava certa disso!
Mas o sol estava nos olhos dela. Estava sonhando acordada, sem prestar atenção.
Como não percebeu onde estava, com a enseada tão perto? Ela poderia ter chorado por
sua falta de bom senso, por sua própria imprudência. Não queria machucá-lo. Mas isso
seria importante no final?

***

Ela se torturou sobre isso durante o resto da semana. Em seus passeios, aproximou-se
o suficiente da grande casa para observar se as pessoas ainda estavam indo e vindo. Não
parecia haver qualquer atividade frenética. Ela não viu a polícia do lago ou ambulâncias
lá. Talvez ele soubesse que tinha sido Emma que o atingiu, e estava esperando o
momento certo, esperando que ela se desesperasse com o que ele faria sobre o acidente.
Ela finalmente percebeu que não era bom gastar o tapete de Mamie andando pra lá e
pra cá. Ela estava escondida, como uma covarde. Quaisquer que fossem as
consequências, ela tinha que pedir desculpas e implorar a ele que não desse parte à
polícia. Ela se ofereceria para trabalhar para ele de graça, para fazer qualquer coisa
dentro do razoável para se redimir por tê-lo ferido. Certamente ele perceberia que não
tinha feito isso intencionalmente. Então ela lembrou suas advertências, sua raiva por ela
antes do quase acidente. Ele não seria misericordioso. Ele ia querer o seu sangue. Mas
esconder-se também não a estava ajudando. Ela estava uma pilha de nervos. E tinha que
arcar com as consequências. Ela não queria que Mamie sofresse por algo que foi culpa
sua. Por mais doloroso que fosse, ela tinha que enfrentar as consequências.

***
Ela caminhou lentamente em direção a Pine Cottage. Era tarde de sábado. Havia
barcos espalhados pelo lago. Os veleiros eram elegantes e lindos. Emma adorou olhar
para eles. Ela se perguntou se o Sr. Sinclair já navegava. Mamie havia dito que ele era
dono de um veleiro. Se ao menos ele estivesse na semana anterior com o barco, e não
com aquele estúpido Jet Ski.
─ Oh! - Ela exclamou quando quase correu diretamente para um homem enorme de pé
na margem do lago. ─ Eu sinto muito.
Sua voz prendeu em sua garganta quando ela encontrou os olhos pálidos e brilhantes
de Connor Sinclair. Ela mordeu o lábio inferior. Ela tinha esquecido o quão perigoso ele
era. Esse olhar frio trouxe tudo de volta. Ele provavelmente chamaria a polícia assim
que ela lhe dissesse o que tinha feito.
─ Minha culpa. - Ele disse. ─ Eu não posso te ver.
─ Você não pode me... ver? - Ela ofegou. O horror do que tinha feito fazia cada
músculo em seu corpo delgado retesar. Ela o cegou. Ela o cegou!
Ele encolheu os ombros.
─ Concussão. - Disse ele, virando-se para o lago como se pudesse ver. ─ Eu caí de um
Jet Ski e bati minha cabeça. Foi o que disseram. Não me lembro de nada disso. Eles
disseram que foi um milagre eu ter conseguido voltar para a doca.
─ Eu... sinto muito. - Ela engasgou. ─ Sua visão... vai voltar?
─ Eles não sabem. Cinco mil dólares de testes para me dizer que não tem certeza se
voltarei a ver. Nada mais de Jet Skis, com certeza. De qualquer jeito.
Ela parou ao lado dele.
─ Eu pensei que Jet Skis eram perigosos. - Ela começou.
─ Eles são. Eu gosto de coisas perigosas. - Ele disse secamente. ─ Para-quedismo,
corrida de carros, aviões, Jet Skis. - Ele acrescentou com um leve sorriso. ─ Eu fiz
minha governanta me trazer aqui. Eu vou ter que encontrar meu próprio caminho de
volta. Como eu disse. - Ele acrescentou caprichosamente. ─ Eu gosto de coisas
perigosas.
─ Por quê?
As duas sobrancelhas grossas subiram. Ele se virou para a voz dela.
─ O que diabos você quer dizer com "por quê?"
─ A vida é preciosa. - Disse ela.
─ A vida é tediosa, monótona, exasperante e triste. - Ele revidou. ─ É difícil, e então
você morre.
─ Você roubou essa frase de um programa de televisão retrô. - Ela acusou
involuntariamente, com uma risada abafada e corando em seguida.
Mas ele riu, surpreso.
─ Sim eu fiz. Dempsey e Makepeace. Você pode encontrar os vídeos no YouTube.
Então ele franziu a testa.
─ Quem é você, e por que você está aqui?
Ela teve que pensar rápido. A confissão era boa para a alma, pensou, mas ainda não.
─ Eu vou ficar com uma amiga por algumas semanas. Eu estou desempregada. Eu me
perdi. Eu pensei que a cabana era nessa direção, mas nada parece familiar aqui.
─ Qual é a sua profissão?
─ Cirurgia cerebral. - Disse ela descaradamente. ─ Eu fiz o curso por correspondência...
Ele explodiu em risadas.
Ela ficou surpresa, porque ele era um homem que mal sabia sorrir.
─ Vá enganar outro. - Ele pediu.
Ela sorriu.
─ Ok. No meu tempo livre, faço coleiras personalizados para rãs. Então você pode
passear com elas.
Ele soltou um suspiro e sorriu.
─ O que você faz? - Ele persistiu. Ela encolheu os ombros.
─ Eu sou digitadora em um escritório de advocacia. Ou eu era.
─ Por quê?
─ Eu me tornei desnecessária. Me demitir parecia o melhor, no entanto. - Ela olhou para
ele. ─ Está ficando escuro. Você deveria estar aqui sozinho quando não pode ver? O
lago é muito profundo.
─ Você deveria sair sozinha quando pode ficar perdida? - Ele revidou.
─ Não, eu não deveria. - Disse ela. ─ Mas você também não deveria.
─ Quer me levar até à minha porta? - Ele convidou.
─ Eu poderia muito bem. Pelo menos você não está perdido. - Acrescentou.
Ele estendeu a mão.
Estranho, como se sentiu ao segurar a mão dele, sentir a força quente dessa mão
grande e bonita contra sua pele. Ela teve que lutar para evitar que seu desconcerto se
mostrasse.
─ Onde você mora? - Ela perguntou, porque não deveria saber.
─ Pine Cottage. Há uma placa.
Ela soltou um suspiro.
─ Oh, está ali. Eu estou vendo. - Ele hesitou. Ela o puxou gentilmente. ─ É por aqui. -
Disse ela suavemente, deixando-o liderar sem fazer questão disso. Ela caminhava muito
devagar, com muito cuidado, de modo que ele seguisse o caminho e não encontrasse
obstáculos como pedras que pudessem desequilibrá-lo.
─ Três degraus. - Disse ela. ─ Este é o primeiro.
Ele os subiu sem dificuldade aparente e parou.
─ Você é muito boa nisso.
─ Eu pratico com velhinhas que não conseguem encontrar seus óculos. - Ela respondeu,
ironicamente.
Ele sorriu. Também não era um sorriso frio, formal ou social. E ele não tinha largado
a mão dela.
─ Quem é você? - Ele perguntou.
─ O coelhinho da Duracell? - Ela sugeriu.
─ Tente novamente.
─ Eu sou Emma. - Ela disse, lutando contra o impulso de mentir para ele. Mas havia um
zilhão de mulheres chamadas Emma. Ele não ligaria o nome à pessoa. Ele
provavelmente nem sabia o nome dela. Ele não tinha motivos para querer saber disso.
Ele a havia ligado ao quase acidente com o Jet Ski antes da festa de Mamie, quando ela
estava dirigindo a lancha, mas isso foi apenas reconhecimento físico. Mamie havia dito
que ele não conhecia Emma, exceto como sua assistente. Ele não sabia o nome dela.
─Emma, o quê? - Ele perguntou.
─ Copeland. - Ela respondeu.
Seus lábios franziram.
─ Acredita que você poderia encontrar o caminho de volta daqui?
Ela hesitou.
─ Eu o encontrei porque estava perdida.
─ Vou mandar Barnes levá-la para casa. - Ele disse surpreendentemente. ─ Ele pode ir
pegá-la onde a deixar, Ok?
Seu coração estava acelerado.
─ Por que eu gostaria de ser pega?
─ Café da manhã. - Ele disse simplesmente.
─ Café da manhã?
─ Ovos, bacon, panquecas... café preto forte. - Acrescentou.
─ Minha amiga tem bolachas. - Ela gemeu.
Ele sorriu.
─ Ovos, bacon, panquecas...
─ Não! Você está me torturando! A que horas?
─ Oito da manhã.
─ OK.
─ Você não dorme até tarde?
─ Eu vou para a cama às nove. - Disse ela. ─ Oito da manhã está tarde para mim.
Ele riu.
─ Justo. Vejo você em breve, Emma.
─ Quem é você? - Ela perguntou, porque não podia se entregar. Ainda não.
─ Connor.
─ Connor. É legal.
─ Eu não sou. - Ele advertiu, seus olhos de prata piscando para ela.
─ Bolacha pode não ser tão ruim... - Ela comentou.
Ele sorriu.
─ Vou tentar ser legal. Apenas no café da manhã.
─ Ok.
─ Barnes! - Ele chamou.
Um homem baixo e mais velho entrou, sorrindo.
─ Sim senhor?
─ Leve Emma de volta a sua colega de quarto. - Disse ele, indicando Emma. ─ E
certifique-se de lembrar onde você a deixar, então você pode pegá-la pela manhã e
trazê-la de volta para o café da manhã.
─ Sim senhor. Você está pronta para ir, senhorita Emma? - Ele perguntou em seu lento
e doce sotaque da Geórgia.
─ Eu estou.
─ Boa noite, Emma. - Connor disse com um sorriso.
─ Boa noite.

***

Ela deixou Barnes deixá-la na casa da francesa amiga de Mamie. Ela acenou e depois
perguntou a Jeanne Marie se estava certo fingir que morava lá. Ela não podia explicar,
acrescentou, mas prometeu que não era nada ilegal ou imoral.
Jeanne riu e disse, claro, tudo bem. Quando Emma lhe contou sobre o compromisso
da manhã seguinte, Jeanne disse que também estava bem. Ela estava curiosa. Emma
apenas corou e Jeanne não fez mais perguntas.

***

Durante a noite, Emma se torturou sobre ir tomar o café da manhã com Connor.
Parecia uma boa ideia, conhecê-lo, apenas um pouco, e então confessar o que ela havia
feito. Se a conhecesse, ele não poderia tirar conclusões precipitadas de que ela o
atropelou de propósito.
Mas era arriscado, mesmo assim. Ela não podia voltar a morar com o pai. E também
não podia ficar com seus amigos em Jacobsville, sem colocá-los na linha de fogo. Ela
sabia que eles não se importariam, mas já tinham feito o suficiente por ela.
Às oito horas da manhã seguinte, ela entrou no sedan caro com Barnes ao volante e
deixou-o levá-la para Pine Cottage.
─ Ovos, bacon, panquecas. - Ela se entusiasmou quando entrou na sala de jantar e
respirou profundamente. ─ Que cheiro delicioso!
Connor estava sentado na cabeceira da mesa, o rosto largo sorrindo, a cabeça
inclinada ligeiramente para um lado. Ele usava uma camisa polo verde com calça
marrom e sapatos. Ele parecia rico e tão sexy que fez os dedos de Emma contraírem.
Mas esses pensamentos eram destrutivos. Ele era apenas um homem que conhecera
no lago. Isso era tudo o que ele poderia ser.
─ Tem um gosto melhor do que o cheiro. - Ele assegurou a ela. ─ Edward cozinha para
mim há mais de uma década, mas ele não queria viver em um lago na Geórgia. Então eu
o deixei em minha casa na Riviera anos atrás e contratei Marie. - Ele indicou uma
mulher mais velha com cabelos prateados e um sorriso brilhante. ─ Que tem um jeito
com ervas e especiarias.
Emma começou a puxar uma cadeira para si mesma quando Barnes apareceu do nada
para fazer isso por ela.
─ Senhorita. - Ele disse educadamente, curvando-se.
─ Obrigada. - Ela respondeu timidamente.
─ Barnes praticamente veio com a propriedade. - Connor riu. ─ Sua mãe manteve a casa
para o meu pai, em suas raras visitas aqui. - Seu rosto se retesou, como se a memória
não fosse agradável.
─ É verdade. - Disse Barnes, sorrindo. Seus olhos cintilaram. ─ Ele é um chefe terrível.
- Ele acrescentou de repente. ─ Você precisa vê-lo quando fica zangado.
─ Cale-se enquanto você ainda tem um trabalho. - Murmurou Connor, mas seus olhos
também estavam brilhando. Ele acenou uma mão. ─ Vá fazer alguma coisa.
Barnes piscou para Emma e saiu, sorrindo.
Connor riu.
─ Ele faz cestas como hobby. Ele pega cipó da floresta e os molda em todos os tipos de
formas. Há um deles em uma mesa lateral. Por ali, acho. - Ele indicou uma cesta de
aparência elegante em uma mesa lateral.
─ É realmente bonita. - Disse ela, surpresa. Seu conhecimento de cestas era escasso,
mas aquela parecia profissional.
─ Ele poderia ganhar a vida com elas se quisesse. - Disse ele. ─ Ele tem seu próprio
site. Ele vende para designers em todo o país. - Ele balançou a cabeça. ─ Quando ele
tiver seu primeiro milhão, eu vou ter que contratar um estranho para me levar em todos
os lugares. - Ele ergueu a voz. ─ Provavelmente vou morrer em um acidente horrível!
─ Eu nunca vou ter milhões! - Retrucou Barnes. ─ E se eu tiver, eu ainda vou dirigir
para você!
─ Tudo bem. - Connor respondeu. Seus olhos sem visão brilhavam. Barnes levantou a
mão e saiu pela porta dos fundos.
─ Ele me irritou primeiro. Mas eu tendo a ficar mal-humorado. Eu não gosto de
estranhos na minha casa, via de regra.
Ela tocou sua xícara de café vazia e ficou quieta.
─ Eu não quis dizer você, se é por causa disso o silêncio. - Ele disse.
Ela riu suavemente.
─ OK.
Ele olhou na direção de sua voz.
─ Bem? Você está servindo o café ou meditando sobre isso? - Ele a repreendeu.
─ Eu, bem, eu não tinha certeza se você falou de graça ou... dê Graças?
Seus olhos se arregalaram com o veneno em seu tom.
Os olhos pálidos dele brilharam com mal-humor.
─ Não sou muito religioso. Apenas sirva o café. E se você quer dar graças, faça
silenciosamente, por favor. - Ele acrescentou secamente.
Sem saber o que mais podia fazer. Ela assentiu concordando. Então percebeu que ele
não podia vê-la, e a culpa recaiu sobre ela como uma onda.
─ Bem? - Ele perguntou, seu tom cortante.
─ Desculpa. Café?
─ Obviamente eu quero café. Daí a caneca vazia aqui. ─ Ele tateou, achou e agitou a
caneca.
─ Você é um homem muito desagradável! - Ela apontou.
─ E eu trabalho duro nisso também.
Ela fez uma careta quando serviu seu café.
Ele tateoou novamente a procura da caneca, conseguiu achá-la na segunda tentativa e
levou-a à boca.
─ Eu quero bacon e ovos. Sem panquecas.
Ela se levantou e serviu um prato. Ela colocou o prato na frente dele, pegou sua mão
grande e colocou um garfo nela.
─ Bacon às três horas, ovos às nove horas. Torrada com manteiga? - Perguntou.
─ Eu não como muito pão. - Ele procurou seu café da manhã, comeu um pouco dos
ovos, bebeu o café e abaixou a caneca. ─ Como você aprendeu a fazer isso? - Ele
perguntou.
─ O que?
─ As posições no prato.
─ Oh. Tínhamos uma senhora cega que frequentava a nossa igreja. Eu costumava sentar
com ela quando fazíamos piqueniques. Ela me ensinou. Era assim que ela organizava o
prato de comida. Ela tinha oitenta e seis anos e podia andar de bicicleta e tocar piano.
Eu gostava muito dela.
Ele terminou de comer, depois se recostou com um suspiro e franziu os lábios.
─ Ela ensinou mais alguma coisa sobre pessoas cegas a você?
─ Que você nunca deve segurá-las. Isso as desconcerta, elas é que devem segurar em
você. - Ela falou sobre o cão-guia que a mulher tinha e sua determinação em aprender
Braille.
Ele estava sorrindo fracamente.
─ Você aprendeu muito.
─ Eu escuto. - Disse ela simplesmente. ─ A maioria das pessoas não escuta. Elas
querem falar sobre si mesmas, querem discutir a última votação nos reality shows e as
tendências da moda. - Ela suspirou. ─ Eu nunca me importei com essas coisas. E quase
não vejo televisão.
─ Eu escuto as notícias. Não vejo nada, exceto o mercado de ações. - Houve um breve e
compartilhado silêncio enquanto ela terminava o café. ─ Você disse que estava
desempregada.
─ Apenas temporariamente. Vou deixar meu nome em uma das agências temporárias
em Gainesville...
─ Venha trabalhar para mim.
Ela quase deixou cair a xícara.
─ O que?
─ Venha trabalhar para mim. - Ele repetiu. ─ Tenho secretárias em todas as minhas
empresas, mas não tenho secretária particular. Assistente Administrativa. Seja como for
que você chama isso. Alguém para tomar ditado, atender o telefone, agendar
compromissos e me lembrar deles. Coisas assim. Eu costumava chamar alguém do
escritório de Atlanta, mas não quero que minha condição seja de conhecimento de
todos.
Ela sabia o que ele queria dizer. Qualquer notícia sobre um problema de saúde dele,
provavelmente reduziria os preços das ações. As pessoas fofocavam.
Então ele estava oferecendo-lhe um emprego. Ela não se atrevia. Ela não podia. Mas
ela queria.
─ Por quanto tempo? - Perguntou sem fôlego.
─ Vamos combinar um período de experiência de um mês para ver se nos adequamos.
Que tal? - Ele perguntou, e seu rosto ficou tenso, como se sua resposta realmente
importasse.
Ela sorriu. Um homem como ele não se importaria se ela dissesse sim ou não. Seria
loucura concordar. Se ele já tivesse descoberto quem ela era, se ele já tivesse
reconhecido sua voz...
Por outro lado, ela poderia ajudá-lo, cuidar dele, tentar compensar o que tinha feito.
Doía ver o preço que ele pagou por sua estupidez. Se ao menos ela não tivesse pilotado
aquela lancha estúpida, se tivesse olhado para onde estava indo!
─ Bem? - Ele perguntou secamente.
─ Eu... eu gostaria. - Ela se ouviu dizendo com horror absoluto. Estava louca!
Seu rosto relaxou. Ele respirou fundo.
─ Bem. Você vai morar aqui. Marie pode mostrar seu quarto mais tarde e ajudá-la a se
instalar. - Ele mencionou um salário que era seis vezes maior do que o que Mamie lhe
pagava.
Ela pestanejou. Seu suspiro foi audível.
─ Não é suficiente? - Ele perguntou.
─ Não é suficiente? - Ela explodiu. ─ Eu não ganho isso em um ano!
─ Você vai ganhar. - Ele disse, e seus olhos pálidos cintilaram fracamente. ─ Eu sou um
homem difícil, Emma. Você pode desejar nunca ter aceitado esse emprego.
─ Se você ficar muito difícil, eu vou empurrá-lo de cabeça em um lago e usar meu apito
de jacaré.
Ele pensou por um minuto, e então explodiu em risadas.
─ Se você puder encontrar um jacaré em qualquer lago do Norte da Geórgia, eu dobro o
seu salário. - Ponderou.
─ Está bem. Vamos fazer uma experiência de um mês.

***

Os primeiros dias foram agitados. Houve um processo de aprendizado, porque ele


não era tão descuidado como alguns dos seus chefes tinham sido. Ele era aplicado,
metódico, exigente e às vezes enlouquecedor. Ele queria os arquivos em uma
determinada ordem. Ele queria que as cartas fossem digitadas exatamente como ele as
havia ditado, mesmo que nem sempre fossem educadas. Ele queria rotina em tudo.
Emma achava isso irritante.
─ Você está fazendo esse som novamente. - Ele disse bruscamente de sua mesa. ─
Agora, o que é?
─ Eu sinto que preciso pedir permissão para mudar minhas roupas. - Ela murmurou.─
Organização. Céus! Nunca consegui organizar nada na minha vida. Eu sou muito
distraída.
─ Você vai aprender. Você pode fingir que está nas forças armadas.
─ Eu não vou aderir ao horário militar, e não vou bater continência pra você. - Ela
revidou.
Ele riu.
─ OK.
─ Você tem dois mil e-mails sem resposta. - Acrescentou.
─ Passe por eles e exclua as propagandas. Isso deve eliminar noventa por cento.
─ Preciso de um programa que faça isso automaticamente. - Ela murmurou.
─ Então, procure na Internet e baixe um. - Disse ele.
Ela quase suspirou novamente, mas ele estava mau-humorado esta manhã.
─ Sim, senhor. - Disse ela em vez disso.
─ Que doce isso soa. - Ele grunhiu.
─ Doce como o vinagre, senhor, melhor para embeber você. - Ela murmurou.
Ele riu.
O telefone tocou e ela atendeu.
Era uma mulher. Ela queria falar com Connor. Emma não tinha ideia de quem, na
verdade, era a mulher. Ela apenas entregou o telefone para Connor e voltou ao trabalho.
Houve uma conversa discreta. Que terminou com uma pequena maldição e o telefone
sendo jogado na mesa.
─ Nunca mais volte a me passar a ligação dessa mulher, você entendeu, Emma? - Ele
falou.
─ Sim, senhor! - Ela disse imediatamente, corando.
Ele passou uma mão pelos cabelos.
─ Malditas sejam todas as mulheres. - Ele amaldiçoou. ─ Eu dei-lhe um vison, uma
Ferrari e um diamante do tamanho de um ovo de galinha, e ela não conseguiu entender
que era para tirá-la do meu caminho!
─ Pobre homem, seduzido por mulheres, não consegue ficar em segurança nem mesmo
em sua própria casa. - Murmurou Emma. ─ Talvez devêssemos construir uma cerca.
─ Porra! - Ele explodiu. Ele levantou-se, seus olhos brilhando, furiosos. ─ Você acha
que estou brincando?
Ela respirou fundo. Ele parecia maravilhoso quando perdia a paciência. Ela sentou-se
calmamente, esperando o resto da explosão.
─ Ela quer reatar. - Ele grunhiu. ─ O que significa que ela quer ganhar mais presentes, e
está disposta a fazer qualquer coisa, absolutamente qualquer coisa, para voltar à minha
vida. Preferiria alimentar um tubarão comigo mesmo!
Ela queria tão desesperadamente agradá-lo, mas na atual situação seria um desastre.
Ela simplesmente ficou parada, como uma estátua.
─ Eu não quero me casar. Não quero uma família. Estou feliz com a minha vida do jeito
que é. Ela disse que eu precisava de um filho para herdar o que eu tenho. Um filho. - Ele
bateu o punho na mesa e Emma saltou. ─ O que ela queria dizer era que ela queria
engravidar do meu filho e me obrigar a sustentá-la pelos próximos dezoito anos!
Maldição! De jeito nenhum.
Ela não disse uma palavra.
─ Sempre tive cuidado. - Disse ele entredentes. ─ Sempre preparado. Elas diziam que
estavam tomando anticoncepcionais, mas nunca acreditei. Toda a minha vida adulta,
tenho tentado me esquivar das armadilhas do casamento. Tudo o que eu quis foram
romaces breves. Elas queriam para sempre. Não há para sempre! - Ele disse. ─ Somente
os malditos idiotas acreditam que existe!
Ela estava quase tremendo agora. A intensidade de sua raiva era intimidante, mesmo
ele estando cego.
─ E você me passou a ligação. - Ele acrescentou, olhando para onde ele acreditava que
ela poderia estar. ─ Você a colocou diretamente em contato comigo sem perguntar se eu
queria falar com ela. Por Deus, se você fizer isso novamente, e eu vou te jogar no
gramado da frente vestida só com com a sua maldita camisola!
Ela lutou contra lágrimas.
─ Você entendeu? Fale comigo!
─ Eu entendo, Sr. Sinclair. - Disse ela com voz trêmula.
─ Bom!
Ela tentou digitar, mas suas mãos estavam tremendo demais.
─ Pegue um pouco de café. - Ele criticou.
─ Sim, senhor. - Ela se levantou da cadeira, ainda vacilante. A voz soava trêmula.
─ Emma!
Ela parou.
─ Sim, se...senhor? - Ela balbuciou.
Ele hesitou. Carrancudo.
─ Emma, venha aqui. - Ele disse em um tom macio como o veludo, suave e gentil. ─
Venha aqui.
Ela foi até ele devagar, perturbada e tremendo.
Ele tateou seu ombro e puxou-a, de repente, para os seus braços, aconchegando-a
num abraço quente e vigoroso. Ela pousou bochecha contra o peito dele e as lágrimas
mancharam o tecido da camisa.
─ Você está chorando. - Ele a repreendeu. ─ Vamos, Emma, eu não sou um ogro.
─ Sim, você é. - Disse ela através de lágrimas. ─ Você é assustador como um.
─ Assim as pessoas me dizem. - Ele beijou seu cabelo. Ela o fazia se sentir culpado.
Havia passado anos desde que uma mulher conseguiu isso. ─ Vamos. Pare de chorar.
Não vou mais gritar.
─ Eu não sabia quem ela era. - Ela soluçou.
Ele a segurou mais perto, enterrando seu rosto em sua garganta, acariciando os
cabelos suaves e longos que desciam pelos ombros. Em seguida, suas mãos grandes
alisaram delicadamente a coluna dela.
─ Eu não percebi isso. - Sua boca percorrendo o pescoço dela.
Ela ofegou. Seu coração acelerou. Estar perto dele, a fazia sentir coisas estranhas,
ondas de prazer que ela nunca experimentou antes, nem mesmo com Steven. Este
homem tinha um magnetismo sensual que era exclusivamente dele.
─ Você gosta disso. - Ele provocou.
─ Sr. Sinclair... - Ela protestou.
Ele riu, guturalmente.
─ Eu tenho que ir...
Sua bochecha deslizou contra a dela.
─ Você tem? - Ele sussurrou enquanto sua boca se aproximava da dela, pairava sobre a
dela.
─ Eu deveria... - Ela engasgou.
─ Você deveria? - Ele sussurrou.
Ela não sabia o que fazer. Só teve Steven em sua vida, e ele mal a tinha tocado.
Aquele tinha sido um tipo de relacionamento platônico, até ele descobrir qual era o
ramo de trabalho do seu pai e a abandonar. Ela não tinha nenhuma experiência com o
tipo de flerte a que Connor a estava sujeitando. Ela ficou rígida em seus braços.
Ele recuou, seus olhos se estreitaram. Ele desejou poder ver o rosto dela. Seu corpo
jovem estava rígido como um tábua. Mas a respiração dela estava ofegante. Ele podia
sentir seu coração batendo como as asas de uma borboleta. Ela estava atraída por ele.
Muito atraída a julgar pela reação dela. Mas também estava assustada.
Ele franziu a testa.
─ Do que você tem medo, Emma? - Ele sussurrou.
Suas duas mãos pressionaram contra o peito largo, sentindo o músculo duro e quente
debaixo da camisa.
─ Por favor. - Ela vacilou.
Ele a deixou ir. Ele já não parecia estar com raiva. Parecia mais intrigado do que
qualquer outra coisa.
Ela quase saiu da sala. Mas ela não fez. Ela ficou firme. E voltou para a mesa.
CAPÍTULO TRÊS
Emma estava anotando uma carta que ele estava ditando para o advogado. Ela estava
vagamente consciente do que estava escrevendo. A raiva desenfreada e flagrante dele a
perturbou. Mas, o que aconteceu depois a perturbou ainda mais.
Ela era vulnerável com ele. Era surpreendente, porque ele era muito mais velho do
que ela, quase uma geração. Mas quando ele a tocava, a diferença de idade desaparecia.
Ela sentia coisas muito diferentes com ele, coisas que nunca sentiu com Steven, e isso a
assustava.
Ela tentou dizer a si mesma que ele era muito experiente com mulheres. Era por
causa disso. Mas tinha que ter uma atração em primeiro lugar. Ele se divertiu com suas
reações, mas depois ficou em silêncio. Ainda estava em silêncio, nas pausas do ditado.
Ele estava franzindo a testa, como se tivesse um enigma em sua mente.
─ Leia isso pra mim. - Ele disse quando terminou de ditar.
Ela leu a carta para ele.
Ele respirou irritado e correu uma mão frenética através de seus cabelos grossos e
ondulados.
─ Odeio não poder ler minhas próprias malditas cartas. - Ele murmurou.
─ Ficará mais para você com o passar do tempo. - Disse ela calmamente.
Ele ergueu e virou a cabeça, como se estivesse tentando encontrar onde ela estava.
─ Você acha isso? - Ele perguntou com uma risada áspera. ─ Eu duvido muito disso.
─ Todos nós temos provações na vida. - Disse ela simplesmente. ─ Nós passamos por
elas. Tudo passa: tristeza, raiva, esperança, alegria, tudo isso. É uma bênção e uma
maldição.
─ O que você já superou? Você já tem idade suficiente para ter tido provações?
Ela começou a contar-lhe sobre o seu pai, então rapidamente mordeu a língua.
Haveria armadilhas, trabalhando para ele. Aqui estava uma das maiores. Ela se lembrou
de contar, quando ele enxergava, sobre Dolores, sobre seu pai, e o rapaz que havia
rompido o noivado quando descobriu que seu pai tinha uma fazenda de gado de corte.
─ Todos nós já passamos por provações. - Ela respondeu.
─ Quantos anos você tem? - Ele perguntou de repente.
Ela sabia que nunca tinha dito isso a ele. E duvidava que Mamie tivesse, ou que ele
tivesse se incomodado em perguntar.
─ Tenho vinte e três anos. - Disse ela suavemente.
─ Vinte e três. - Seu rosto estava impassível. Seus olhos semicerrados. Seus lábios
retesados. ─ Vinte e três anos.
Ela não podia ver a mente dele ou ficaria surpresa com o motivo pelo qual ele reagiu
dessa maneira ao saber a sua idade. Ele estava vendo as portas se fechando. Ela tinha
vinte e três anos. Ele tinha trinta e oito anos. A vida dela estava começando. A dele
estava se aproximando da metade. Mesmo que ele estivesse interessado, e ele estava, a
idade os afastava. Ele se recostou na cadeira e respirou fundo.
─ Meu irmão morreu neste lago. - Ele disse abruptamente.
─ Seu irmão?
─ Ele e a esposa estavam em uma casa flutuante. Houve uma festa. Era tarde da noite de
uma sexta-feira. Um casal de adolescentes em uma lancha veio voando em torno de uma
das enseadas e se chocou com a casa. Meu irmão e a esposa se afogaram enquanto
esperavam o resgate chegar aqui e começar a procurá-los.
─ Sinto muito. - Ela disse enquanto entendia, clara e tardiamente, a reação exagerada
dele ao excesso de velocidade na lancha de Mamie.
─ Ele era o último parente vivo que eu tinha. - Ele respondeu. ─ Nós éramos próximos.
- Ele olhou a sua maneira. ─ Você tem família, Emma?
Ela hesitou.
─ Sim. Meu pai vive em uma pequena fazenda na Carolina do Norte. - Não havia
nenhuma razão para ele verificar isso, afinal.
─ Você são próximos?
─ Não muito. Ele é muito independente. Mas minha mãe e eu éramos. Ela era muito
doce e gentil.
─ Como ela morreu?
Ela engoliu em seco.
─ Ela morreu no parto.
Uma sombra passou por seu rosto largo.
─ Incomum, não é, nesses dias e época? Qualquer obstetra decente deve chamar
especialistas se houver problemas.
─ Ela teve um trabalho de parto longo e tinha um problema cardíaco não detectado. Ela
morreu de um ataque cardíaco.
─ Entendo. E a criança?
─ Uma garotinha. Ela nasceu morta. Eles disseram que estava morta há vários dias. Eles
não poderiam salvá-la. - Essa não era toda a verdade. Ela não disse a ele que seu pai
tinha deixado sua mãe deitada em trabalho de parto por dois dias horríveis, ou que ela
morrera, ironicamente, enquanto ele estava fazendo o parto de um bezerro no pasto a
várias milhas da casa. No momento em que finalmente chegou em casa ele encontrou
Emma soluçando e a esposa fria na cama, era tarde demais para salvá-la.
O pai de Emma fez o parto de Emma em casa, e ele planejava fazer o mesmo com
seu segundo filho. Aparentemente, nunca tinha-lhe ocorrido que deveria ter levado sua
esposa para o hospital quando ela começou a reclamar de dor no peito.
Ela tinha um problema cardíaco não diagnosticada que o estresse do parto
prolongado tinha tornado crítico. Ela morreu de um ataque cardíaco.
Perder a mãe, especialmente em uma idade tão jovem, doeu muito. Emma a observou
morrer, impotente sem poder fazer qualquer coisa. Ela conseguiu viver em casa até a
formatura, mas no momento em que conseguiu um emprego, se mudou para a cidade e
nunca olhou para trás. Emma não teve mais qualquer relação com o pai durante todo
esse tempo. Ela não tinha certeza se estava disposta a lhe pedir ajuda nem mesmo em
uma emergência. Ou que ele lhe daria qualquer ajuda. Ele raramente estava sóbrio o
suficiente para se preocupar com alguma coisa, de qualquer forma. Ele conseguia sair
para trabalhar no rancho, o suficiente para mantê-lo em funcionamento, mas o seu
consumo exagerado de bebida se tornou um problema e ele agora tinha uma grande
rotatividade de cowboys.
Emma tinha muita vergonha da maneira com que ele se comportava. Embora seu
rancho ficasse em Comanche Wells, todo mundo sabia sobre ele na vizinha Jacobsville,
onde Emma tinha trabalhado no café local. Pelo menos, ela não contou a Connor sobre
o vício de álcool do pai quando ele estava enxergando. Tinha muita vergonha de
admitir, mesmo para um estranho.
─ Emma?
─ Oh. Desculpa. Eu estava... perdida no passado. - Ela confessou.
─ Você estava com ela quando morreu, não estava? - Ele perguntou de repente, como se
soubesse.
Ela hesitou.
─ Sim.
Ele cruzou as pernas longas.
─ Minha cunhada estava grávida quando morreu. - Seus olhos brilharam. ─ Ela não
queria o bebê. Ela disse isso muitas vezes.
─ Então por que...?
─ Meu irmão nunca teria se casado com ela se não houvesse uma criança a caminho.
Ela se gabava disso, de como ela o havia atraído com a criança, e que ele teria que
sustentá-los, até a criança ser maior de idade. Ela disse que teria tudo o que queria e riu
dele. - Seus olhos se fecharam. ─ Ele era um homem doce. Tentei dizer-lhe como ela
era, mas ele era ingênuo. Ele nunca tinha se apaixonado antes, e ela era uma boa atriz.
Ele só descobriu a verdade quando era tarde demais.
─ É uma vergonha que uma mulher faça isso com um homem. - Disse ela calmamente.
─ Nós tínhamos um doce senhor idoso que frequentava a nossa igreja que foi casado
com a mesma mulher por cinquenta anos. Quando ela morreu, uma viúva o envolveu e o
convenceu a se casar com ela. Então, ela tomou tudo o que ele tinha, e até vendeu a casa
escondido dele. Ele foi morar com o filho, e ela telefonava para ele, todas as noites, para
rir do quão crédulo ele tinha sido. - Ela suspirou. ─ Ele se matou.
─ Por quê? - Ele perguntou, chocado.
─ Ele a amava. - Disse ela.
─ Amor. - Ele zombou. ─ Eu me apaixonei quando era adolescente. Eu logo soube que
amor é apenas um eufemismo para sexo. Isso é tudo, uma reação química.
Ela suspirou.
─ Você provavelmente está certo. - Disse ela. ─ Mas eu gostaria de manter minhas
ilusões até crescer e me tornar rabugenta como você é.
As sobrancelhas dele arquearam.
─ Como é?
─ Rabugento. Isso é o que você é. - Ela explicou pacientemente. ─ Você é rude,
arrogante e seu temperamento podia coalhar o leite.
Ele riu suavemente.
─ Você está se sentindo corajosa?
─ Eu posso digitar.
─ Isso é uma desculpa?
─ Uma mulher que pode digitar pode sempre trabalhar. - Explicou. ─ Então, se você me
despedir, vou sair e procurar outro emprego.
Ele se alongou preguiçosamente, ainda sorrindo.
─ Sempre a otimista. Não há nada que a deixe deprimida, jovem Emma?
─ Vermes.
Ele piscou.
─ O que?
─ Vermes. Você os coloca em um gancho e os afoga na tentativa de pegar peixes que
você também precisa matar para comer. É tão deprimente. Imagine como o verme se
sente. - Ela provocou.
Ele explodiu em risadas.
─ Você parece legal quando ri. - Ela disse suavemente.
─ Eu raramente rio. - Disse ele depois de um minuto. ─ Talvez você esteja me
corrompendo.
─ Essa é minha influência maligna, tudo bem. Eu vou ter que procurar meu tridente.
─ De volta ao trabalho, minha menina. - Disse ele. ─ Leia a próxima carta da pilha.
─ E-mail não tem pilhas.
─ Claro que sim. Arranje o que fazer.
Ela sorriu.
─ OK.
***

Naquela noite, algo a acordou. Ela não conseguia perceber o que. Ela se sentou na
cama, franzindo a testa e olhou em volta. A casa parecia tranquila. Também não havia
nada acontecendo lá fora. Ela saiu da cama com sua camisola esvoaçante de algodão
com as mangas bufantes e vestiu o robe, jogou seus cabelos para trás. Se aproximou da
porta e a abriu.
Talvez fosse sua imaginação... não! Lá estava de novo. Um gemido. Um gemido
áspero.
Ela caminhou pelo corredor, franzindo a testa. O som aumentou. Ela parou em uma
porta e bateu.
─ O que diabos você quer? - Veio uma voz áspera e irritada por trás da porta.
Ela entreabriu a porta.
─ Sr. Sinclair? - Ela chamou suavemente.
─ Oh. Emma. Você poderia vir aqui?
Ela hesitou.
─ Você... usa pijama?
Ele riu mesmo com a dor.
─ A parte de baixo, sim. Entre. - Ela abriu a porta e entrou, deixando-a aberta atrás dela.
Ele estava sentado ao lado de uma enorme cama king-size. Um edredom de estampa
paisley marrom estava jogado para trás sobre lençóis também marrons. Os travesseiros
estavam espalhados por toda parte. Sua cabeça estava entre suas mãos, apoiada em suas
coxas largas.
─ Você está bem? - Perguntou ela.
─ Não. Está doendo como o inferno. Entre no banheiro e olhe no armário de
medicamento. Há um frasco com cápsulas azuis e brancas nele, para enxaquecas. Traga-
me uma, e uma garrafa de água do frigobar no canto.
─ Frigo o que?
─ Frigobar. - Ele levantou a cabeça. Seus olhos estavam injetados de sangue e seu rosto
contraído de dor. ─ É como uma pequena geladeira. - Ele explicou gentilmente.
─ Desculpa. Nunca vi um.
─ A maioria dos hotéis tem frigobar. - Ele apontou.
─ Bem, nunca fiquei em um hotel. Ou um motel. - O que era verdade. Mamie viajava,
mas Emma ficava para cuidar da casa e digitar os rascunhos para os novos livros de
Mamie. Ela entrou no banheiro, inconsciente das sobrancelhas levantadas dele.
Ela encontrou o frasco, leu as instruções, colocou uma cápsula na palma da mão e
fechou a tampa do frasco. Ela guardou o frasco e depois pegou a água.
─ Abra. - Ela pediu. Ele abriu a boca e ela colocou a cápsula em sua língua. Era íntimo.
Também era sexy, sentir sua boca assim. Ela tentou não reagir quando abriu a garrafa de
água e colocou-a cuidadosamente na mão dele.
─ Está aberta. - Disse ela.
Ele levou a água até os lábios cinzelados e tomou um longo gole. A sensação dos
dedos de Emma perto de sua boca o afetou, mesmo através da dor. Ele estremeceu.
─ Você tem enxaquecas, Emma?
─ Não.
─ Alguém em sua família tem?
─ Não. - Ela ia mencionar que sua patroa, Mamie tinha, até que percebeu que não devia
saber sobre Mamie. ─ Eu tinha um amigo que sofria com enxaquecas. - Ela disse. ─
Elas eram terríveis.
─ Terrível é uma boa palavra para descrevê-las. Elas o deixam doente, e então depois
eles lhe dão uma dor de cabeça que faz você querer bater sua cabeça contra uma parede.
─ Eu nunca tive dores de cabeça. - Disse ela.
─ As minhas não eram tão ruins até eu ficar cego. - Disse ele.
Ela estremeceu. Ela não havia se dado conta de como se sentiria, ao vê-lo sofrer,
sabendo que havia provocado isso. Ela o cegou. Era muito difícil, conviver com isso.
Ela queria dizer a verdade a ele, mas a cada dia isso se tornava mais difícil.
─ Sente-se. - Disse ele. ─ Há uma cadeira junto à cama. Fique comigo por um minuto,
até aliviar.
─ Claro.
Ele não estava se movendo muito. Ela observou o leve tom bronzeado que o cobria
da cintura para cima, os músculos em seus braços grandes. Ele era lindo sem a camisa.
Uma grossa camada de pelos descia do seu peito até a cintura das calças cor de vinho do
pijama, e provavelmente mais abaixo. Ela corou. Ela nunca viu um homem de pijama
antes, exceto na televisão ou nos filmes. Ele era muito sexy. E ele não parecia ter a
idade que tinha.
─ Você não fala muito, não é? - Perguntou depois de um minuto.
─ Achei que falar não ajudaria realmente a dor de cabeça.
─ Boa observação.
─ Você teve enxaqueca toda a sua vida?
Ele assentiu e estremeceu, porque o movimento fez doer mais.
─ Minha mãe as tinha. Dores de cabeça terríveis. Tínhamos que levá-la muito
frequentemente à sala de emergência, porque ficavam insuportáveis.
─ O médico não ia à sua casa? Quero dizer, você é muito rico...
Ele sorriu.
─ Eu nem sempre fui rico.
─ Mesmo?
─ Eu herdei um pequeno serviço aéreo privado de meu pai. Eu estudei administração de
empresas e o tornei um serviço aéreo privado muito maior. Depois incorporei a ele uma
empresa que fabricava jatinhos e um serviço regional de táxi aéreo falido. Demorou
muito tempo, mas quando eu atingi o sucesso, eu atingi o sucesso.
─ Construtores de Impérios.
─ O que é isso?
─ Você é um construtor de império. - Disse ela simplesmente. ─ Eu li sobre eles quando
estava na escola. Homens como Carnegie, Rockefeller, Sinclair. Homens que
começaram do nada, mas tinham bons cérebros, força de vontade e ganharam fortunas.
─ Era um pouco mais fácil naqueles dias. - Ele riu. ─ Não havia imposto de renda14
naquela época, você sabe.
Ela inclinou a cabeça.
─ Você possui uma das maiores empresas de fabricação de aeronaves do mundo. -
Lembrou. ─ Um artigo disse que você mesmo faz a prova de voo dos aviões sozinho.
─ Eu faço.
─ Por quê?
Suas sobrancelhas arquearam.
─ Quer dizer, você é rico. É arriscado, certo, testar aviões?
─ Muito arriscado.
Ela ficou em silêncio. Não pressionou. Apenas esperou.
Ele respirou fundo. Geralmente não discutia coisas pessoais com funcionários, nem
mesmo com Barnes ou Marie. Mas ela era diferente de alguma forma.

14 - Imposto de renda - Em 1910, o presidente Theodore Roosevelt tentou impor o imposto de renda progressivo para pessoas
físicas nos EUA, mas a Suprema Corte do país declarou o imposto inconstitucional, Roosevelt aplicou-o para corporações,
tributando o lucro, posteriormente, com a décima-sexta emenda à Constituição norte-americana, finalmente o imposto de renda
progressivo sobre pessoas físicas passou a ser cobrado naquele país. O modelo adotado nos EUA tornou-se, então, base para a
cobrança deste imposto pelo mundo.

─ Eu me casei quando eu tinha dezoito anos. - Disse ele depois de um minuto. ─ Ela era
linda, por dentro e por fora. Tinha cabelos pretos e olhos azuis, e eu a amava além da
medida. Naquela idade, pensei que era invencível. Eu pensei que ela também era. Nós
saímos de férias. Foi antes dos telefones celulares se tornarem populares, quando você
costumava ter um telefone fixo para falar com as pessoas. Estávamos em uma ilha sem
comunicações externas, exceto uma linha para o continente, para ser usada em caso de
emergências. Era um lugar calmo apenas para casais em lua-de-mel. O barco vinha uma
vez por semana. Tivemos os melhores dias de nossas vidas, deitados na praia,
cozinhando para nós mesmos. Ela estava grávida de cinco meses com nossa criança.
Seus lábios contraíram Ela olhou para ele.
─ Ela estava saudável, perfeitamente saudável. Os médicos disseram que era arriscado,
viajar assim, mas nós éramos jovens e estúpidos. Algo deu errado. Ela estava em agonia
e eu não sabia o que fazer. Tentei pedir ajuda, mas houve uma tempestade e as linhas
para o continente deixaram de funcionar. Eu nem consegui acender um fogo para enviar
um sinal, por causa da chuva. - Ele baixou a cabeça. A memória ainda era dolorosa. ─
Ela morreu em meus braços. O bebê morreu com ela. Pelo menos, suponho que sim,
porque não tinha ideia de como salvá-lo. Teria sido muito cedo de qualquer maneira.
Quando o barco veio para trazer suprimentos, eu estava meio louco. Eles me tiraram da
ilha, me colocaram no hospital e me sedaram. Meu pai, minha mãe, e minha sogra,
vieram fazer os arranjos para o translado dela e me levar para casa. - Seu rosto
endureceu. ─ Eu nunca quis uma criança depois disso. Eu odiava a ideia de um bebê,
porque um bebê me custou Winona.
Ela fez uma careta. Que vida trágica ele teve. Agora ela entendia sua atitude sobre o
amor. Ele teve um grande amor, e agora se convenceu de que o amor e o sexo era a
mesma coisa. Era uma pena.
─ Sinto muito. - Disse ela suavemente. ─ Não consigo imaginar como me sentiria no
seu lugar.
Ele hesitou um minuto antes de falar novamente.
─ Eu tive breves romances, mas nunca deixei uma mulher me envolver novamente. E eu
me asseguro de que nunca haverá outro filho. Pensei em fazer uma vasectomia, mas
meu médico me convenceu do contrário. - Ele encolheu os ombros e apertou o maxilar.
─ Todas as mulheres com as quais me relacionei queriam uma criança. Eu disse a elas
que se engravidassem, era o fim.
As palavras soaram geladas. Ele era o tipo de homem que amaria uma criança se
tivesse uma. Mas ele estava obviamente determinado a nunca deixar isso acontecer.
Para Emma, que amava crianças, era um golpe. Ela se surpreendeu. Por que deveria
incomodá-la? Ela era apenas sua assistente. Ela se sentou mais ereta.
─ É triste, culpar um bebê por algo que não foi culpa dele. - Ela disse com muita calma.
─ O bebê matou Winona. - Ele disse com dureza.
Ela sentiu sua tristeza, sua raiva.
─ Você sabe, nós pensamos que estamos no controle. Que podemos decidir o que nos
acontece com as ações que tomamos. Mas a vida não é assim. Nós somos como folhas,
flutuando rio abaixo. Nem podemos determinar o caminho. Temos a ilusão de controle.
Isso é tudo.
Ele se sentou.
─ E agora podemos falar sobre Deus e como Ele ama as pessoas e cuida de todos. - Ele
zombou.
─ Não. Podemos falar sobre como há um plano para todas as vidas e que o que nos
acontece é parte disso. Se fosse para ela viver, ela teria vivido.
Seus olhos começaram a brilhar.
─ Vinte e três anos , e já é uma filósofa. - Ele disse sarcasticamente.
─ Eu não sou amarga, do jeito que você é. - Disse ela. ─ Eu não tive coisas ruins
acontecendo comigo. - Isso era uma mentira, mas ela não podia dizer a verdade. ─
Então eu vejo as coisas de uma perspectiva diferente.

─ Pollyanna.15
Ela sorriu.
─ Suponho que sou. O otimismo não é caro. Na verdade, é barato. Você só precisa levar
a vida um dia de cada vez e fazer o melhor que puder com ela.
─ A vida é uma série de tragédias que termina na morte.
─ Oh, isso é ser otimista, ok.
Um meio sorriso tocou sua boca dura.
─ A felicidade é uma ilusão.
─ Claro que é, se você pensar dessa maneira. Você está morando no passado, com sua
mágoa. Você não confia nas pessoas, não quer uma família, não acredita em nada, e
tudo pelo que você vive é ganhar mais dinheiro.
─ Garota inteligente.
─ Agora você está sendo sarcástico. - Disse ela. ─ Mas o que estou tentando dizer é que
você não espera mais da vida do que uma luta e mais desgosto.
─ Isso é o que eu ganho.
─ E você é feliz?
Ele franziu o cenho.
─ É uma pergunta fácil. - Ela insistiu. ─ Você é feliz?
─ Não. - Seu maxilar retesou. ─ Ninguém é feliz.
─ Eu sou. - Disse ela.
─ O que te faz feliz?
─ Pássaros chamando uns aos outros nas árvores. As folhas caindo, ao menor contato
com a brisa, quando se tornam laranja e douradas. Velas brancas no lago logo após o
amanhecer. Grilos cantando em uma noite de verão. Coisas assim.
─ Que tal as noites na cidade? Dançar em uma boate? Ir para um concerto de rock?
Assistir o Grande Prêmio em Le Mans? - Ele divagou.
─ Ver marcianos jogando em tempestades de poeira? Porque eu tenho a mesma
probabilidade de ver o último como o primeiro. Não é o meu mundo.
─ Vou dançar em uma boate antes de escutar seus grilos numa noite de verão. - Ele
disse sarcasticamente.
─ Brilho. É o que você tem. Brilho. É uma ilusão.
─ Os grilos também são. Tenho certeza de que eles só existem nos desenhos animados e
estrelando os filmes da Disney.
─ Eu desisto.
─ Faz bem. Você nunca mudará minha perspectiva mais do que eu mudarei a sua. - Ele
riu.
─ Como está a sua cabeça?
Ele piscou. A pergunta o surpreendeu.
─ Melhor.
─ Provavelmente foi toda a conversa sobre grilos e folhas enrugadas. - Disse ela com
atrevimento.
─ Mais provável que tenha sido o seu engraçado conceito ultrapassado de felicidade.
─ O que deixar você feliz. - Disse ela. E levantou. ─ Se você estiver melhor, eu vou
voltar para a cama.
─ Você poderia ficar. - Ele sugeriu. ─ Nós poderíamos nos deitar e discutir sobre
veleiros.
Ela riu suavemente.
─ Não, obrigada.
─ Você já esteve apaixonada, Emma? - Ele perguntou, curioso.
Ela respirou fundo.

15 - Pollyana - Para os que não conhecem e acho isso muito difícil, Pollyana é um romance de Eleanor H. Porter publicado em
1913, considerado um clássico da literatura infanto-juvenil que teve um segundo livro lançado em 1915, intituldo Pollyana moça.
Pollyana era uma órfã que foi viver com sua única tia. Sua filosofia de vida estava centrada no que ela chmava de "Jogo do
contente", uma atitude otimista que ela tinha aprendido com o pai e consistia em encontrar sempre algo positivo e estar contente em
qualquer situação.

─ Eu pensei que estava uma vez. - Disse ela. ─ Nós ficamos noivos. Mas não
funcionou.
Ele não gostou disso. Isso o surpreendeu, ele estava com ciúmes, mesmo ela sendo
muito jovem para ele e uma empregada, isso só para começar. Ela esteve noiva. Mesmo
as pessoas religiosas faziam sexo quando estavam noivas. Isso mudava a forma como
ele pensava nela.
─ Por que não? - Ele perguntou.
Ela não ousou dizer a ele a verdade, porque havia contado sobre o ex-noivo antes que
ele ficassesse cego.
─ Descobrimos que não conseguíamos pensar da mesma forma em áreas onde isso
importava. - Disse ela finalmente. ─ Ele não era religioso...
─ E isso importava? - Ele repreendeu.
─ Importava pra mim. - Ela disse rigidamente.
Ele inclinou a cabeça e olhou para na direção de sua voz.
─ Você é um enigma.
─ Obrigada.
─ Não foi um elogio.
─ Agora você está ficando desagradável. Eu estou indo.
─ Que tal me trazer outra garrafa de água antes de me deixar aqui, com dor, no escuro,
por minha própria conta?
─ Oh, pelo amor de Deus, você é um homem adulto! Você está sempre sozinho no
escuro - Ela murmurou quando abriu o frigobar e tirou outra garrafa de água.
─ Nem sempre. - Ele disse com uma voz profunda e sensual.
Ela corou, e estava feliz por ele não poder ver.
─ Tudo bem. - Disse ela. ─ Eu coloquei uma garrafa aqui na mesa de cabeceira... Oh! -
Enquanto ela estava falando, ele estendeu a mão e a pegou pela cintura, puxando-a para
passar por cima dele e a deitou na cama.
Ele era muito forte, e ela sentiu o calor de seu corpo enquanto ele fazia uma gaiola
com os braços grandes e a prendia suavemente sob a leve pressão de seu amplo e
musculoso peito.
─ Sr. Sinclair. - Ela começou nervosamente.
Ele levantou uma grande mão e tocou seu cabelo.
─ Apenas fique quieta. - Ele disse calmamente. ─ Eu quero te ver. Esta é a única
maneira que eu posso, agora.
A culpa a fez ficar quieta em seus braços enquanto os dedos dele traçavam suas
sobrancelhas, sua testa, suas maçãs do rosto e o nariz reto. Eles se demoraram em seu
queixo arredondado e na boca macia e em forma de arco. De lá, os dedos desceram até a
garganta e acalmaram a pulsação que certamente era visível, como se ele pudesse ver.
Seu batimento cardíaco estava quase fazendo-a estremecer e ela teve que lutar para
respirar.
─ Você está nervosa. - Ele disse suavemente.
Ela mordeu o lábio.
─ Sim.
─ Não há necessidade. Estou curioso. Certamente você já fez isso com seu ex-noivo? -
Ele censurou. Ela empurrou suavemente contra o peito dele. Seus dedos formigaram em
contato com o músculo duro e quente.
─ O que fiz com ele não é da sua conta, Sr. Sinclair. - Ela disse. Se ele pudesse ter visto,
seu rosto estava vermelho flamejante.
Ele não gostou da afirmação de que não era da conta dele.
─ Eu só estou curioso. - Ele disse sarcasticamente. ─ Essa coisa religiosa a bloqueou
quando você dormiu com ele?
─ A religião é tudo que eu tive a maior parte da minha vida, Sr. Sinclair. Por favor, não
me ridiculize porque acredito em algo mais poderoso do que os seres humanos.
Ela era tão devota. Mas ele nunca se sentiu tão próximo de alguém como dela. O
pensamento o chocou. Ela era uma empregada. Era uma digitadora super valorizada. Ela
não conhecia a vida sofisticada, os homens, o mundo. Ou ela conhecia? Ele tinha tido
muitas mulheres que fingiam inocência e tinham mais experiência do que ele.
Ele traçou com os dedos a boca macia e sentiu os dentes mordendo o lábio inferior.
─ Pare com isso. - Disse ele, soltando-o.
Ela engoliu em seco e respirou fundo. A sensação dele era como um narcótico em
seus sentidos. Ela sentia cheiro de sabonete e o fraco e persistente aroma de loção pós-
barba ou colônia. Ele era musculoso sem ser evidente, e quando seu peito subia e descia,
parecia que sua própria respiração não estava tão estável.
─ Você está tomando pílula? - Ele perguntou de repente.
Ela o empurrou, ficando frenética quando não conseguiu sair da gaiola de seus
braços.
Ele riu.
─ Tudo bem. - Disse ele. ─ Acalme-se. Eu entendo a ideia. Primeiro você se apaixona,
então você entra em um relacionamento sério, então você faz sexo.
Ela quase o corrigiu, que nada menos do que uma aliança de casamento a levaria
para a cama de qualquer homem, até que ele riu novamente.
─ Não é engraçado. - Murmurou com raiva.
Ele respirou fundo. Houve um sorriso persistente, mas não mais de diversão.
─ Você luta por seus ideais, não é, jovem Emma? - Ele murmurou. ─ Eu não concordo
com eles. Mas eu respeito você por eles.
─ Obrigada. Posso me levantar, agora que concordamos que estou vivendo no passado?
Os dedos dele tatearam sua boca macia, sentindo sua resposta desamparada. A casa
estava muito quieta. Os únicos sons eram a respiração rápida e a batida furiosa de seu
próprio coração. O remédio o relaxou um pouco enquanto tirava a dor. Talvez o tivesse
relaxado demais.
─ Estou com fome, Emma. - Ele sussurrou, inclinando-se lentamente até os lábios dela.
─ Eu quero provar o seu gosto.
A última palavra foi quase um gemido quando ele encontrou sua boca com a dele e
se apossou dela com uma ternura que ele não sentia desde Winona. Ele podia sentir a
incerteza de Emma quando sua boca provocou a dela, explorou-a suavemente, separou
seus lábios e se moveu contra eles com sensualidade lenta e doce.
Emma queria lutar. Mas era como uma droga. Ele era terno e metódico. Ele não se
apressou. Ele não exigiu. Ele seduziu. Ele persuadiu.
Seus lábios estavam se separando por conta própria agora, seguindo os dele enquanto
a provocavam e tentavam.. Ele riu do fundo da garganta, com a súbita rendição dela.
Apesar do seu alto padrão moral. Ela estava tão faminta quanto ele. Ele respirou
rapidamente quando sentiu as mãos dela deslizarem sobre seu peito musculoso através
dos pelos e reagiu involuntariamente. Há muito tempo ele não se excitava tão
rapidamente com uma mulher.
Queria puxá-la contra ele e deixá-la sentir sua fome, mas ele hesitou. Mesmo que a
moral dela fosse apenas conversa fiada, ele não queria diminuir a fome que ela estava
começando a revelar. Ele capturou o lábio superior dela com os seus e provou o de
baixo com a língua, roçando e estimulando. Ele sentiu as mãos dela em seus braços
agora, suas unhas cravando involuntariamente enquanto se elevava para ele.
Suas mãos deslizaram para baixo das costas dela, sob o robe, e ele se abaixou contra
ela, a pressão de seu peito, mesmo através do robe causava sensações estranhas e doces
em todo o corpo inexperiente.
Uma mão grande e forte veio para brincar com o algodão debaixo do braço. Ela a
segurou com um pequeno suspiro, porque mesmo através de seu robe e camisola, seu
toque era eletrizante. Mas sua boca cobriu a dela novamente e seus dedos relaxaram
cada vez mais até se afastarem. Ela não queria detê-lo de qualquer forma. Ele estava
fazendo seu corpo cantar. Ele passou seus dedos sobre sua caixa torácica, o polegar
apenas roçando o lado de seu seio firme e fazendo-a tremer. Ele escorregou a mão por
aí, sobre os quadris, e cobriu o estômago plano.
Por que de repente ele pensou em bebês? Sua própria respiração presa contra a boca
de Emma. Uma criança. Ele gemeu. Sua boca tornou-se repentinamente insistente,
exigindo. Ele se moveu contra ela.
Através da camisola e do robe, ela podia sentir seu tórax esfregando-se contra seus
seios pequenos, roçando-os, excitando-o. Seus quadris roçando os dela e ela sentiu os
contornos da mudança no corpo dele.
Um som saiu da sua garganta e subiu até sua boca. Ele reconheceu o que era.
Ela também. Mesmo quando ela se ouviu gemer, sabia que tinha que detê-lo. Isso
nunca podia acontecer. Ele era um homem que tinha amantes descartáveis. Ela era a
mulher que o cegara. Ela não podia, não se atrevia a deixar isso avançar. Suas mãos
pressionaram forte contra o peito dele e ela afastou a boca da dele, não sem tremer um
pouco de angústia.
─ Por favor. - Ela sussurrou fracamente. ─ Por favor, não...!
Ele ergueu sua cabeça. Estranho, que ele tivesse uma imagem súbita de rosas brancas
e rendas em sua mente.
Ele se afastou dela e lutou para recuperar o fôlego. Era difícil deixá-la ir, porque ela
tinha sabor de um vinho inebriante.
Sentiu que ela começava a relaxar enquanto ele se afastava dela. Mas seus dedos
ainda se moviam em sua caixa torácica, muito devagar, provocando próximo ao seu
seio. Ele sentiu sua reação até ao toque inocente. Ela o queria. Podia não estar pronta
para a intimidade, mas não resistiria muito, se ele insistisse. Estava certo disso.
Emma estava dividida entre o que seu corpo queria e o que ela sabia que tinha que
fazer. O toque dele acendeu uma fome que não era familiar a ela. Nova. Também não
era a atração do sexo. Era algo mais, algo mais doce.
Ele suspiro uma última vez.
─ Você é muito esbelta, Emma. - Ele disse suavemente. ─ Quanto você pesa?
Ela riu.
─ Cinquenta quilos. - Disse ela, surpresa.
─ Você é alta.
─ Bem, não muito. Apenas 1,65 m.
Sua mão levantou, relutantemente, e encontrou seu cabelo. Estava trançado nas
costas. Ele sorriu.
─ Você não o deixa solto à noite?
─ Ele enrola.
─ Eu suponho que sim. De que cor é?
─ Louro. Loiro claro.
─ E seus olhos?
Ela sorriu.
─ Eles são castanhos. Castanho-escuro.
─ Uma combinação interessante.
─ Eu não sou bonita. - Ela acrescentou calmamente. ─ Tenho características comuns,
mas não são lindas. Nada como... - Ela mordeu a língua. Ela ia dizer, como aquela
mulher que tinha preparado um suflê uma vez pra você e que se queixava. Ela era linda.
Mas a mulher que ele odiava, que o cegara, não lembraria isso. A mulher que ela fingia
ser não saberia sobre o suflê, e falar sobre essa lembrança seria o mesmo que um peixe
mordendo um verme. Ela tinha que ser cuidadosa com o que dizia a ele.
─ Nada como...? - Ele perguntou.
─ Nada como o tipo de mulheres que você provavelmente conhece. - Disse ela em vez
disso. Ele deu de ombros.
─ Todas começam a ficar parecidas depois de um tempo. A falar da mesma maneira. A
soar parecido. - Ele suspirou. ─ Eu suponho que eu tenha ficado cansado na minha
idade, Emma. As mulheres vão e vêm. Principalmente elas vão. Tenho trinta e oito
anos. Estou indo mais devagar. Eu despachei a última algumas semanas atrás. Aquela
que você me passou a ligação recentemente. - Ele adicionado com os lábios franzidos.
─ Oh céus.
─ Você vai aprender quem pode falar comigo e quem não.
─ Elas pegam um número e esperam na fila? - Perguntou.
Ele riu.
─ Não exatamente.
Sentia-se confortável deitada na cama com ele. Ela gostou muito disso.
─ Eu deveria ir para a cama. - Disse ela.
─ Eu acho que você deveria. - Ele se sentou e a buscou com o braço, puxando-a
suavemente para levantar com ele.
─ Sua cabeça está melhor? - Perguntou enquanto se levantava.
─ Muito melhor. - Ele inclinou a cabeça e sorriu perversamente. ─ Se eu tiver outra
enxaqueca, você vai voltar?
Ela riu suavemente.
─ Não sem algumas promessas suas primeiro.
─ Covarde.
─ Pode apostar.
Ele respirou profundamente e alongou-se preguiçosamente. Observando-o, Emma
quase gemeu pelo modo como estava, meio vestido. Ele era lindo, como uma pintura.
Como uma escultura.
─ Vejo você de manhã, então. - Disse ela abruptamente, porque percebeu que estava
gostando muito de observá-lo.
─ Obrigado, Emma. - Ele disse de repente.
─ De nada. Fico feliz que sua cabeça esteja melhor.
Ele apenas assentiu.
Ela saiu e fechou a porta.
Ele gemeu e pôs a cabeça em suas mãos. Seu corpo estava em agonia. Ela não era
como suas outras mulheres, e ele a queria. Mas ela esperaria um compromisso, um
casamento, o serviço completo, se ele cedesse a seus impulsos. Então, o que diabos ele
ia fazer agora?
No corredor, Emma estava se perguntando o mesmo. Ela adorava beijá-lo. Adorava
ser abraçada por ele. Ela deveria ter resistido mais. Em vez disso, ela tinha desfrutado
de tudo o que ele fez com ela.
Sentia-se como nas descrições dos romances que adorava ler. Ela tinha sonhado ser
beijada assim por um homem que a amaria, se casaria e formaria um lar com ela.
Mas ela tinha que ter em mente que Connor era um milionário, talvez até um
bilionário. E vivia a vida em um ritmo acelerado. Casinos, shows na Broadway e todas
as coisas glamorosas. Ela nunca entraria nesse mundo. E era melhor lembrar que ele não
queria casamento ou filhos. Seria loucura se envolver com ele, mesmo de maneira
inocente.
Acima de tudo estava a lembrança de que ela o cegara, que ele não podia ver, porque
ela tinha enlouquecido em uma lancha no mesmo lago onde alguém tinha matado seu
único irmão. Ela estremeceu quando pensou na vingança que ele provavelmente
realizaria se descobrisse quem ela realmente era. Tinha sido loucura fazer isso, pensar
que ele poderia suavizar se a conhecesse, que ela pudesse dizer a verdade e ele a
perdoaria. Este era um homem que nunca perdoava ninguém, que pagava na mesma
moeda todas as ofensas. Este era um homem que não sabia o que era piedade.
Ela não dormiu muito. De manhã, tomou uma decisão. Não foi fácil.

CAPÍTULO QUATRO

Emma foi tomar café na manhã seguinte, arrastando os pés. Ela ia comunicar a ele
sua decisão. Só o pensamento de deixá-lo a fazia se sentir doente. Era a última coisa que
queria fazer. Mas era suscetível a ele. Vulnerável, e ele estava acostumado com
mulheres que não pensavam duas vezes em subir na cama com ele. Ela não podia fazer
isso. Não era sua maneira de ser.
Ela entrou na sala de jantar, cabeça alta, determinada. E... ele não estava lá!
Confusa, sentou-se. Havia apenas um lugar arrumado à mesa, para ela.
Marie entrou com um prato de ovos e salsicha. Ela sabia que Emma adorava salsicha,
o melhor de todos os alimentos no café da manhã. Ela adicionou biscoitos amanteigados
ao prato e empurrou um pote de geleia de amora caseira em direção a Emma.
─ Meus alimentos favoritos. - Exclamou ela. ─ Uau! Obrigada, Marie.
─ De nada. - Disse a mulher mais velha suavemente.
─ Onde está o Sr. Sinclair? - Ela perguntou com os olhos baixos.
─ Na verdade ele foi a uma conferência. - Ela riu. ─ É a primeira vez desde que ele,
bem, você sabe, tinha saído de casa. Ele disse que era hora de retomar o ritmo normal e
cuidar dos negócios. Ele levou seu advogado com ele. Você gostaria dele. Alistair Sims.
Ele é britânico.
─ Oh, meu. - Exclamou Emma. ─ Esta é uma pequena comunidade de montanha. Ele é
britânico e quis viver aqui? Bem, Bear Lake, onde estamos, é uma cidade pequena. Mas
estamos perto de Gainesville, que tem mais de cinquenta mil habitantes.
─ Mais perto de trinta e cinco mil. - Marie riu novamente. ─ Sim, Alistair casou-se com
uma mulher americana e mudou-se para cá há anos. Ela morreu, mas ele nunca voltou
para casa. Ele disse que se sentia mais perto dela aqui, onde ela está enterrada.
─ Que homem meigo ele deve ser. - Ela respondeu.
─ Ele é muito gentil. E também pode guardar segredos. Isso é importante para um
homem como o Sr. Sinclair. Você não acreditaria nos problemas que o dinheiro pode
ocasionar para alguém rico.
─ Eu não posso, e não me importo. - Emma sorriu. ─ Estou feliz com a minha vida.
Marie olhou para ela.
─ Você também faz as pessoas à sua volta felizes, senhorita Emma. - Ela disse
suavemente. ─ O Sr. Sinclair realmente ri agora. Ele nunca fez isso antes, mesmo
quando podia ver. Ele sempre foi sombrio e frio. Ninguém sabia que ele tinha senso de
humor. Não até você chegar.
─ Isso me faz sentir muito bem. - Confessou Emma. No fundo, a culpa ainda a estava
corroendo. Nem mesmo o que Marie estava dizendo fazia muita diferença.
─ Bem, vou voltar ao trabalho. Me chame se precisar de alguma coisa, senhorita
Copeland.
─ Apenas Emma. - Ela corrigiu, sorrindo.
─ Tudo bem então. Apenas Emma. - Marie sorriu de volta.

***

A casa ficou de repente vazia. Fria. Assombrada pelas memórias. Emma entrou no
estudio que Connor usava como escritório e sentiu o vazio como algo vivo. Quando
Connor estava aqui, sua própria presença enchia o mundo. Ele trazia cor e vida para a
casa. Ele parecia maior do que a vida.
Agora, sem ele pela primeira vez desde que aceitou o trabalho, Emma começou a
perceber o quanto o homem grande significava para ela. Eram perigosos, esses
sentimentos. Por um lado, ela não podia se envolver com ele, de maneira alguma. Ela
morria de medo de cometer um deslize, e então ele finalmente perceber quem ela era.
Embora ninguém a tivesse visto na lancha na manhã do acidente, ele era rico. Se ele
quisesse, poderia pagar muitos detetives para procurá-la.
Mas ele não se lembrava de como havia se acidentado. Esse era o seu único consolo.
Isso lhe dava a oportunidade de olhar por ele, cuidar dele, compensar um pouco o que
tinha feito. Mas se ele descobrisse...
Ela estremeceu, mesmo na sala quente, pensando em quão vingativo ele era. As
palavras de Mamie ecoaram em seus ouvidos. Connor sempre ajustava contas com
quem quer que fosse que o traía. Sua vingança, se ele percebesse que a mesma mulher
que o cegara estava trabalhando para ele, seria total. Ele poderia até pensar que ela tinha
feito isso por outro motivo, para enganá-lo e tentar tirar dinheiro dele. Ela já sabia que
ele lhe daria qualquer coisa que pedisse, porque ele gostava dela.
Mas ela não pedia nada. Nunca faria isso. Ela trabalhava pelo que tinha. Nunca iria
ser como as mulheres que ele conhecia, gananciosas, mulheres ávidas que só queriam o
que ele tinha.
Ela se perguntava por que ele gostava desse tipo de mulher, como aquela morena que
fazia suflês, ou ao menos isso ele dizia. Ele as conhecia até os ossos. Talvez fosse por
isso que ele nunca se apegava a elas, porque sabia o que eram.
Ela lembrou o que ele contou, a respeito de sua falecida esposa e a forma como ela e
o bebê morreram por complicações na gravidez. Isso a ajudou a compreendê-lo, apenas
um pouco. Ele culpou o bebê de ser a causa da morte dela. Mas isso foi apenas a
vontade de Deus, pensou, e ficou triste por ele não compartilhar de suas crenças. Ela
sorriu. O dele não era um ponto de vista único. No mundo de hoje, muitas pessoas
pensavam que Deus era apenas um mito.
Ela lembrou coisas sobre as quais tinha lido nos livros de história, sobre outros
períodos de tempo em que os homens se tornaram obcecados por seu próprio poder,
somente para que algum desastre natural ocorresse, e mostrasse a eles que os homens
não eram tão poderosos como acreditavam.
No inverno de 1811-1812, houve um terremoto devastador na falha de New Madrid
no Missouri (que se pronuncia New Mádrid, não New Madríd). Isso causou danos em
muitos estados vizinhos, incluindo a Geórgia. O terremoto foi tão poderoso que mudou
o curso do rio Mississipi, fazendo-o correr para trás. Areia e água eram ejetadas a
dezenas de metros no ar em toda parte na zona de impacto. Havia alguns relatos de
testemunhas oculares. Não houve muitos mortos, porque naquela época a área não
estava tão povoada quanto hoje. Mas depois do terremoto, as igrejas ficaram cheias. Foi
apenas para mostrar, pensou Emma, que às vezes as pessoas não eram tão poderosas.
Ela sentou-se na grande cadeira atrás da mesa de Connor, seus dedos acariciando os
braços da cadeira. Ela sentia falta dele. Era uma loucura deixar esses sentimentos terem
controle sobre seu coração, porque inevitavelmente teria que partir. Seu ótimo plano
para ganhar sua confiança e então dizer-lhe o que ela tinha feito tinha sido em vão.
Percebia agora que nunca poderia fazê-lo. Ela não queria ir embora. Não podia suportar
o pensamento de sua revolta, seu desgosto, se ele soubesse quem o cegara. Ele a
odiaria...
Ela se levantou da cadeira como se tivesse ficado em brasa e saiu da sala. Ela fechou
a porta atrás dela, quase vencida pelo medo silencioso. Não tinha mais ninguém a quem
culpar senão a si mesma. Ela se colocou na cova do leão e agora estava esperando para
ser devorada.
Em pânico, ela foi até o quarto e pegou a mala. Poderia fugir. E ir para casa em
Jacobsville. Não para o rancho de seu pai; Ela nunca quis voltar para lá. Mas os Grier
certamente a aceitariam de novo. Cash e Tippy a haviam tratado com o carinho que
nunca conseguira de seu pai. Era só que ela sentiu que já tinha se imposto demais sobre
eles. Ela tinha uma prima em Victoria, perto de Jacobsville, onde poderia viver até
conseguir um novo emprego. A prima Ella a deixaria morar na casa grande que acabara
de herdar, e sempre havia trabalho nas grandes fazendas próximas, ou talvez pudesse
trabalhar como cozinheira em um restaurante em algum lugar.
Mesmo enquanto pensava nisso, enquanto seus dedos tocavam o vinil frio da mala de
viagem, ela percebeu que não podia fazê-lo. Ela pensou em Connor aqui sem ninguém
para ajudá-lo com o emaranhado de e-mails diários, ou com coisas rotineiras como onde
a comida estava em seu prato, quantos passos tinha que dar para ir à margem do lago,
onde Emma o levava quase todas as noites quando ele estava em casa. Quem se sentaria
com ele quando tivesse as enxaquecas horríveis que o atormentavam? Quem o
provocaria e afastaria a melancolia que caracterizava sua personalidade?
Ela colocou sua mala de volta no armário e fechou lentamente a porta. Até agora, ela
não tinha percebido o quanto se importava com ele. Isso era um grande erro. Mas ele era
o tipo de homem que atraía mulheres. Não só por sua técnica amorosa, que era
formidável, mas também por sua inteligência, cortesia e o coração suave que ele
escondia da maioria das pessoas.
Ele se preocupava com as pessoas que trabalhavam para ele. Marie contou-lhe o
quanto ele havia feito por sua família e a de Barnes. Ele também tinha feito isso para
outras pessoas. . Ele era generoso ao extremo. Ele também era assim com Emma. Ele
queria comprar coisas para ela, mas ela recusava todas as vezes que ele tentava.
Inevitavelmente chegaria o momento em que ele descobriria a verdade, com sorte,
muito depois que ela o deixasse. Ela não queria que ele lembrasse que ela aceitou
presentes caros dele. Pareceria como se tivesse motivos ocultos para começar a
trabalhar para ele. Seu único motivo tinha sido tentar compensar um pouco a coisa
horrível que tinha feito.
Ela tinha pesadelos com a lancha batendo nele. Agora que ela o conhecia, tinha
sentimentos por ele, estava atormentada pelas lembranças. Ela devia ter parado a lancha,
saído, ajudado, pedido desculpas, tentado explicar. Mesmo que ele enviasse o
departamento do xerife atrás dela, o que ele teria que fazer já que a casa do lago não
estava dentro dos limites da cidade, ela teria arcado com as consequências, fosse o que
fosse, corajosamente.
Em vez disso, ela o deixou lhe dar um emprego que nunca deveria ter aceitado sob
falsos pretextos.
Mas olhe o que ela teria perdido, disse a si mesma. Noites tranquilas junto ao lago.
Café com ele todas as manhãs. Trabalhar juntos no escritório, ouvindo sua voz profunda
e aveludada enquanto ele ditava. Aliviar suas dores de cabeça com remédio e
companhia até que ele adormecia. Estar com ele. Olhar para ele. Adorar o rosto bonito e
o físico musculoso que definia o homem que ele era. Ela nunca viu o milionário. Ela via
o homem.
Ela andou para o deck com vista para o lago. Havia uma área plana entre esta casa do
lago e a casa de Mamie, mesmo na costa. Havia um tronco lá onde Emma gostava de se
sentar. Foi onde ela estava sentada na primeira vez que Connor a encontrou e gritou
com ela acusando-a de invadir a propriedade. Ficava perto de onde ele havia oferecido o
café da manhã mais tarde, quando perdeu a visão. Ela tinha brincado com ele e ele riu.
Marie disse que ele quase nunca ria antes de Emma ter vindo trabalhar para ele. Isso
a fez ficar orgulhosa por poder trazer um pouco de luz em sua escuridão. Ela desejava
poder voltar no tempo e desfazer o que tinha feito.
Ele tinha ido embora de repente. Seria por causa da noite passada? Teria significado
algo para ele, além de atração física que era tão evidente para ambos? Ele se arrependeu
de seu comportamento porque ela trabalhava para ele? Ele estava embaraçado?
Envergonhado?
Ela riu. Ele nunca ficava embaraçado, e dificilmente ficaria envergonhado. Nada
aconteceu. Ela se afatou dele antes que qualquer coisa pudesse acontecer. Mas ela
lembrou a dureza súbita do corpo dele. Ele a desejava, demais. Ele achou que ela o
deixaria tocá-la por ter outras intenções, que ela queria algo por estar com ele? Ela
estava horrorizada que ele pudesse pensar que ela estava fingindo ser inocente. Ela
havia dito que foi noiva uma vez. Ele achava que ela tinha dormido com o noivo como
muita mulheres faziam antes do casamento?
Sua mente foi mais à frente. Como ele agiria quando voltasse? Ela esperava que ele
não a perseguisse, porque sabia que não seria capaz de resistir. Ela adorava estar em
seus braços grandes, e adorava beijá-lo. Isso era imprudente por muitas razões. Ela
esperava poder controlar seus hormônios antes dele voltar. Porque definitivamente não
podia deixá-lo chegar perto dela. O pensamento a deprimiu tanto que ela esqueceu o
almoço e foi passear pelo lago como uma alma perdida.

***

Faltavam alguns e-mails que ele queria enviar, então ela cuidou disso. Depois, não
havia muito o que fazer. Ela ajudou Marie na cozinha. A mulher mais velha gostava de
fazer pratos exóticos e congelá-los, para quando tivessem companhia. Não que houvesse
muitos visitantes ultimamente. Connor tinha sido famoso por suas festas no lago quando
enxergava, comentou Marie poucos dias depois. A casa era animada com luzes, música
e o som das conversas.
─ Eu acho que ele conhece muitas pessoas importantes. - Disse Emma enquanto cortava
ervas frescas para o omelete que Marie estava fazendo para o jantar. Eles tinham
refeições leves desde que Connor não estava em casa. Marie fazia a comida, uma tarefa
que compartilhava com o cozinheiro chefe de Connor, Edward, que ficou na França na
outra casa de Connor na Riviera. Emma adorava omeletes, em qualquer refeição. Este
tinha muitas ervas, com pequenos bolinhos para acompanhá-lo.
Marie ouviu a nota melancólica em sua voz e olhou para ela.
─ Demasiados, é o que parece às vezes. Você sabe, eu sempre senti que ele se escondia
nas pessoas, em um grupo grande de pessoas, para evitar enfrentar seus demônios
pessoais. A casa estava cheia, mas ele estava sozinho, assim mesmo.
─ Ele me contou sobre a esposa. - Ela confessou.
As sobrancelhas de Marie levantaram.
─ Ele contou? Meu Deus, ele nunca fala sobre ela com ninguém, que eu saiba.
Emma riu suavemente.
─ As pessoas tendem a confiar em mim. Sempre foi assim.
─ É porque você ouve. Você realmente ouve. - Enfatizou Marie. ─ A maioria das
pessoas quer falar sobre si mesmas. Elas não ficam quietas o suficiente para ouvir o que
as outras pessoas estão dizendo, eles estão pensando à frente para o que querem dizer a
próxima pessoa.
Emma sorriu.
─ Eu nunca pensei nisso assim.
Marie riu suavemente.
─ As mulheres do Sr. Sinclair não ouvem, elas falam. - Disse ela.
Emma gemeu interiormente por lembrar das mulheres dele. Claro que ele tinha
mulheres. Tinha visto a mulher deslumbrante que fazia suflês. Ela quase deixou escapar
isso para Marie. Seria fatal, se alguma vez dissesse algo a Connor e ele fizesse a
ligação. Ele lembraria que a mulher que o cegara tinha visto a mulher na casa do lago.
Ela quase deixou isso escapar para ele, na noite anterior, antes dele deixar a casa do
lago.
De certo modo, lamentava ter aceitado esse trabalho tão impulsivamente. Seus
motivos haviam sido nobres, na época, mas eles a levariam à uma tragédia se ela não
fosse cuidadosa. Mamie havia dito a ela o quão perigoso era Connor, quão vingativo.
Mamie não foi a única pessoa que ele perseguiu implacavelmente por tê-lo irritado. Se
apenas a lembrança transtornava Mamie, deve ter sido muito ruim.
─ Tudo bem, despeje-as. - Marie cortou seus pensamentos.
Emma levou um momento antes de lembrar que estava ajudando com o jantar. Ela
jogou as ervas na tigela onde Marie estava batendo os ovos.
─ Como você veio trabalhar para o Sr. Sinclair? - Perguntou Emma.
Marie sorriu.
─ Meu marido morreu e eu não tinha para onde ir. Vivemos em uma granja por anos,
desde que nos casamos. Quando ele morreu, eu não queria fazer o trabalho sozinha,
então a empresa para a qual ele trabalhava queria mandar outra família para trabalhar na
granja. Eu vim para cá, para a casa do lago, por um impulso, porque um amigo disse
que havia um milionário excêntrico que precisava de uma cozinheira local. Eu estava
assustadíssima com ele. Você sabe, eu tenho um forte sotaque do sul, sou uma mulher
camponesa, tudo isso. Ele não se importou, apesar de seu chefe muito francês e muito
elegante, Edward. Barnes também é como eu, ele é local, então você nunca poderá dizer
que o chefe é preconceituoso com as pessoas que não têm dinheiro.
Emma riu enquanto imaginava a pobre Marie em sua primeira entrevista.
─ Eu também tive medo dele, quando vim aqui pela primeira vez. - Ela confessou.
─ A princípio era para ser por alguns meses por ano, enquanto ele estivesse aqui. Mas
ele gostou de mim, então eu continuei durante o ano todo. Normalmente, sozinha. - Ela
sorriu. ─ Já que ele leva Barnes com ele quando vai para o exterior. Nós temos pessoas
temporárias para ajudar quando ele dá festas, mas somos só Barnes e eu quando ele está
sozinho. Quando ele viaja, somos só eu e o telefone, na verdade. Toca constantemente
quando ele não está aqui. Repórteres que procuram uma história confidencial, rivais
acompanhando seus movimentos no exterior, parceiros de negócios tentando rastreá-lo.
E mulheres. - Ela gemeu. ─ Eu não entendia por que ele morava na Riviera por vários
meses por ano. Agora eu entendo. - Ela acrescentou com ironia.
─ O que ele faz lá? - Perguntou Emma.
─ Ele nada. Toma sol. Vai a festas na casa de amigos. Ou ele mesmo as faz. - Ela
acrescentou calmamente. ─ Agora... bem, não tenho certeza. - Ela acendeu o calor no
queimador de cerâmica dianteiro do fogão e colocou a panela para aquecer antes de
adicionar os ovos. ─ Você sabe, muitas vezes pensei que ele precisava de pessoas do
jeito que algumas pessoas precisam de álcool. - Emma sabia muito bem a necessidade
de álcool em algumas pessoas. ─ Ele não gosta da própria companhia.
─ Ele não recebeu pessoas aqui desde que eu vim trabalhar para ele.
Marie adicionou os ovos à panela e começou a mover a mistura para o centro
enquanto as bordas borbulhavam.
─ Ele não parece precisar de outras pessoas quando você está por perto, Emma. - Foi a
resposta suave. ─ Ele é como uma pessoa diferente com você, e não quero dizer isso de
maneira ruim. Ele está em paz. Sim. - Acrescentou, mexendo os ovos. ─ Essa é a
palavra que eu queria achar. Ele está em paz.
Emma não disse outra palavra. Ela sentiu uma espécie de orgulho silencioso. Pelo
menos, ela tinha algum valor para Connor, mesmo que ela fosse uma inutilidade como
substituta amorosa.
Talvez fosse por isso que ele tinha ido embora. Para encontrar uma mulher que faria
com ele o que Emma não faria. O pensamento a deprimiu além das palavras. Ela
terminou o jantar, deu uma desculpa sobre querer ler um livro e foi para a cama cedo.
.
***

Emma vagou pela orla, tocando as ervas daninhas altas de outono levemente com um
galho que encontrou. Fazia uma semana inteira desde que Connor tinha partido. Ela
concluiu o pouco trabalho que ele deixou, ajudou Marie, meditou em seu escritório,
frequentou o lago onde passou tanto tempo com ele quando não estavam trabalhando.
Nada ajudou. Era como estar separado de um braço ou uma perna. Engraçado, o quanto
ele havia significado para ela no curto período de tempo em que ela trabalhava aqui.
Ela se perguntou se ele sentia a sua falta, então riu alto. Claro que ele sentia falta
dela. Ele provavelmente estava se afogando em atraentes morenas que o estavam
ajudando a aproveitar qualquer cassino que ficasse perto de onde quer que ele tivesse
ido. Ele gostava de brilho e glamour. E ela tinha ouvido que as Convenções eram
terreno fértil para todos os tipos de comportamentos selvagens.
O pensamento desse corpo grande e musculoso com uma mulher em uma cama a
deixava louca. Ela odiava pensar nele com outras mulheres. Ela disse a si mesma pela
centésima vez que nunca teria lugar permanente na vida dele. Ela trabalhava para ele.
Sim, ele a beijou, mas só estava curioso. Ele disse isso. Ele queria prová-la, e ela
preferia ter o gosto de um remédio ruim, ou teria grandes problemas muito em breve.
Ela olhou para o outro lado do lago, curtindo a brisa fresca que arrepiava o cabelo,
uma pitada de outono, dando-lhe um sabor único. Ela fechou os olhos e sorriu. Uma
coisa tão simples, para dar tanto prazer.
─ Emma! Onde diabos você está?
O coração dela saltou. Connor estava em casa! Ela se virou para a casa do lago,
correndo alegremente.
─ Estou aqui! - Ela respondeu, a alegria em sua voz.
O homem parado na varanda não sorriu. Ele enrijeceu como se uma bala o tivesse
atingido. Ele tinha ido embora para esquecer que ela subia a sua cabeça como álcool,
que ele a queria com uma obsessão que nunca sentira em sua vida. E aqui estava ela, a
alegria em sua voz, excitação em seus passos, ele podia ouvir claramente enquanto ela
se aproximava.
Ela parou na frente dele para recuperar o fôlego. Mas a alegria que sentiu em seu
retorno não era compartilhada. Ele estava tão frio e inalcançável como ele tinha sido no
primeiro dia em que ela falou com ele, quando ele a repreendeu sobre correr na lancha
de Mamie. Este não era o companheiro amável, malicioso e provocante das últimas
semanas.
─ Venha comigo. Temos trabalho para fazer . - Ele disse friamente, e voltou para a
porta.
Ele atingiu uma cadeira que estava fora do lugar e quase perdeu o equilíbrio.
─ Quem tirou minha cadeira do lugar? - Ele exigiu saber enquanto parava bruscamente.
─ Nós temos uma mulher que vem fazer a limpeza pesada.
─ Inferno, eu sei disso! Quero saber por que não foi colocada de volta no lugar! - Ele
falou bruscamente. Ela respirou fundo.
─ Me desculpe senhor.
Ele respirou lenta e deliberadamente, enquanto controlava seu humor.
─ Chame Barnes. - Disse ele sucinto. ─ Eu vou precisar de ajuda para chegar ao
escritório.
─ Senhor, não me importo... - Ela começou, colocando uma mão macia em seu braço.
Ele se sacudiu violentamente. Os olhos pálidos voltados em sua direção.
─ Não me toque! - Ele falou. ─ Chame Barnes! Agora!
Ela respirou profundamente para se estabilizar. Estava tremendo com a agressividade
na voz dele.
─ Sim, senhor. - Disse ela. Sua voz tremendo também. Ela odiava isso.
Ele ouviu isso e seu corpo ficou tenso. Ele não queria magoá-la, mas ela estava muito
próxima. Ele não podia deixar isso acontecer. Ele não tinha mais nada para dar.

***

Barnes guiou Connor para o escritório dele. Emma, o rosto corado de vergonha e
tristeza, os seguiu lentamente, porque ele não havia dito a ela o que fazer, agora que
estava em casa.
─ Obrigado. - Disse ele ao outro homem.
─ Em qualquer momento, senhor - Disse Barnes, educadamente. Ele olhou para o rosto
perturbado de Emma e fez uma careta, então tentou sorrir.
Ela assentiu e não encontrou seus olhos. Ele saiu, fechando a porta.
─ Você está aqui, Emma? - Connor falou quando se sentou atrás de sua mesa.
─ Sim, senhor. - Ela parecia calma novamente, graças a Deus, mesmo que ela não
estivesse.
─ Bom. Vamos trabalhar.
Ela poderia ter mencionado que ele tinha acabado de chegar em casa de uma viagem
de negócios, e perguntar se ele não gostaria de trocar o terno cinza-escuro risca de giz
que ele estava usando com uma camisa branca e gravata azul, por algo mais
confortável? Mas aquele urso pardo não aceitaria qualquer observação pessoal. Ela
sabia disso. Ela não ia se arriscar a provocar outro ataque de mau-humor.
Ele ditou cartas para dois congressistas e um senador. Elas diziam respeito a uma
futura legislação que, aparentemente, impactaria a aviação. Ela não fez perguntas. Ela
simplesmente tomou o ditado.
─ Eu quero essas impressas no papel para poder assinar. - Ele acrescentou quando
terminou. ─ Metade do tempo eles fazem o mesmo que eu faço com os e-mails, apenas
os ignoram. É mais difícil ignorar uma carta registrada. É assim que você as enviará
também. Carta registrada. Vou mandar Barnes colocá-las na agência dos Correios na
cidade.
─ Sim senhor.
Ele se levantou, respirando profundamente.
─ Chame a Sra. Harris na Floricultura Urso do lago. Quero que ela envie flores para
Ariel Delong em Atlanta. - Ele deu o endereço e o número de telefone. ─ Mande-a
colocar no cartão " Eu tenho doces lembranças". Entendeu isso?
Seu coração estava morrendo.
─ Sim senhor.
─ Envie para ela duas dúzias de rosas vermelhas. - Acrescentou.
─ Sim senhor.
Ele sorriu sarcasticamente.
─ Você esqueceu que eu tenho mulheres, Emma? - Ele a repreendeu. ─ O mundo segue
em frente, enquanto você se senta no seu quarto à noite e sonha com cercas de madeira
brancas e felizes para sempre.
Ela não comentou. Ela pensou que poderia engasgar com suas próprias palavras.
Além disso, ela não ia tentar justificar seus ideais para um homem que apenas os
ridicularizaria.
─ Nada a dizer? - Ele persistiu.
─ Nada, senhor.
─ Eu vou levá-la a boate hoje à noite. - Ele acrescentou com um sorriso sensual. ─ É
aniversário dela. Vamos a cidade e depois a levarei para casa. Barnes irá comigo. Eu
não voltarei até amanhã à tarde, então faça essas cartas o mais rápido possível.
─ Sim, senhor. - Ela era um papagaio. Precisava fazer uma gravação de sua voz dizendo
isso, então, ela poderia simplesmente apertar o play quando ele fizesse uma pergunta ou
uma declaração.
─ Ela gosta de dançar. - Disse ele. ─ Como eu. - Seu rosto endureceu. ─ É difícil fazer
mais do que um preguiçoso "dois pra lá dois pra cá" agora, naturalmente. Não consigo
ver! Não consigo ver uma maldita coisa!
Ela mordeu o lábio. Ele não a estava acusando; Ele não sabia quem era ela. Mas a
dor era como uma faca em seu coração. Ela tinha feito isso com ele!
Ele lutou para se recompor.
─ Eu amo valsas vienenses. - Disse ele. ─ Eu dancei com uma condessa em Viena uma
vez, num baile dada pelo consulado americano. Dancei um tango na Argentina com a
filha de um conde. E agora eu não posso andar se alguém tirar uma maldita cadeira da
posição que eu lembro! - Seu punho bateu na mesa com tanta força que Emma pulou. ─
Eu odeio ser cego! Eu odeio isso!
Ela engoliu em seco.
─ Sr. Sinclair . - Disse ela suavemente. ─ Eu sinto mais do que você possa imaginar,
pelo que aconteceu. Mas você tem que seguir em frente. A vida não tem um botão de
rebobinar.
Ele se inclinou pesadamente sobre a mesa por um minuto, um leão enjaulado rugindo
ante seu destino. Depois de um minuto, ele se afastou da mesa e deslizou a mão na parte
de trás de uma cadeira de couro.
─ Diga a essa mulher da limpeza que, se ela tirar outro móvel do lugar nesta casa, e não
a colocar de volta, ela está demitida.
─ Sim senhor.
Ele quase chegou até a porta.
─ Diga a florista que adicione uma caixa de chocolates ao pedido. - Disse ele. ─ Ela
gosta de doces.
─ Eu vou. - O "sim, senhor" estava cansando.
─ Você não dança, não é, Emma? - Ele repreendeu, virando a cabeça para ela. ─ Deus
não permita que você chegue tão perto de um homem! Dançar é pecaminoso, não é?
Tudo o que dá prazer às pessoas é proibido!
Na verdade, ela dançava bastante bem. Houve uma festa que ela tinha ido antes de
começar a trabalhar com Mamie. Cash Grier, chefe de polícia de Jacobsville, tinha
ouvido de sua esposa, Tippy, que Emma não sabia dançar. Ele tomou para si o encargo
de ensiná-la e foi muito bem sucedido nisso. Tippy sorriu para ela com o novo bebê em
seus braços, riu quando Emma tropeçou e disse que ela ia matá-lo com seus dois pés
esquerdos e iria para a prisão. Todos riram. Emma tinha ido a uma festa logo depois, e
tinha sido a rainha do baile.
Então Emma podia dançar. Mas ela não daria ao homem grande mais chances de
zombar dela. Ela ficou em silêncio.
Ele amaldiçoou baixinho e saiu da sala.
Emma não entendia sua mudança de atitude. Ou talvez ela o fizesse. Ele a culpava
por ter ficado fora de controle. Ele não lembraria que a tinha puxado para a cama, que
ele tinha sido o perseguidor. Estava com raiva por ter cedido a uma fome que nunca
deveria ter tido por uma jovem que trabalhava para ele. Mas ele não cometia erros
assim, naturalmente, Emma era a culpada. Ela o tentou.
Ou talvez fosse só que a nova mulher em sua vida o fizesse perceber que estava
desesperado por sexo. Emma estava acessível e ele estava faminto. Simples assim.
De qualquer maneira, a alegria tinha ido da casa do lago. Emma sabia em seu
coração que era melhor assim. Ela não se atrevia a se envolver com ele. Mas ela tinha
sonhado. Sonhos estúpidos. Por que um homem assim, urbano, rico e sofisticado, ia
querer alguma coisa com uma caipira que comprava roupas em brechós e valorizava a
moralidade acima da diversão?

***

Ela terminou as cartas. Ela tinha alguma ideia de que iria ajudá-lo a assinar. Era
perigoso estar sentindo falta de contato com ele. Ela lembrava muito bem a sensação de
estar perto desse corpo musculoso.
Mas ele trouxe Barnes para o escritório com ele e o outro homem o ajudou com a
assinatura.
─ Eles têm assinaturas eletrônicas agora. - Emma ousou, desafiando seu temperamento.
─ Você se inscreve no serviço e, em seguida, simplesmente pressiona um botão na tela
para fazer assinaturas legais em documentos.
─ Isso é algo que estudaremos mais tarde. - Respondeu Connor. Não havia rispidez em
sua voz desta vez. Ele parecia exausto.
Ela queria dizer isso, e muito mais. Ele não deveria ir à uma boate quando estava tão
evidentemente cansado. Ela sabia, por causa de Mamie, que muita excitação, junto com
qualquer número de outros gatilhos, podiam desencadear uma enxaqueca. Ela lembrou o
quão ruim a última dor de cabeça tinha sido. E odiava vê-lo sofrer.
Mas valeria a pena dizer isso a ele?
─ Que horas são?
Barnes olhou para o relógio.
─ Apenas as quatro e trinta, senhor.
─ Leve essas cartas para o correio assim que Emma terminar com elas. Então volte e me
ajude a trocar de roupa. - Disse ele, e sorriu. ─ Eu tenho um encontro quente. - Ele
ignorou Emma completamente quando Barnes abriu a porta para ele e ele seguiu seu
caminho pelo corredor até seu próprio quarto.
Emma o observou ir. Então ela voltou para as cartas, dobrando-as cuidadosamente e
inserindo-as nos envelopes já endereçados. Ela as selou. Quando Barnes enfiou a cabeça
na porta, tudo já estava pronto para ir. Ele deu um sorriso triste.
─ Parece que você terá a noite livre, senhorita Emma. - Disse ele. ─ Você deveria ir ver
um filme com Marie. Ela gosta de filmes. Isso faria bem as duas. Vá falar com ela.
─ Eu farei isso. Obrigada, Barnes. - Ela acrescentou suavemente.
Ele apenas assentiu. Ele estava mentalmente comparando a doce e gentil Emma com
o tipo de mulher que Connor trazia para casa. Que vergonha o chefe ser ainda mais cego
do que parecia. Emma se importava muito com o Sr. Sinclair. Ele imaginou que cortava
o coração dela ouvi-lo se vangloriar de seu encontro. Mas não havia nada que ele
pudesse fazer para ajudá-la.

***

Connor usava um smoking com uma camisa branca e gravata preta, calças
impecáveis e sapatos pretos lustrosos. Ele usava um relógio Rolex em um pulso, e um
anel de rubi no dedo mindinho que provavelmente custou tanto quanto a casa do lago.
Emma teve que morder a língua para não lhe dizer o quão devastador ele parecia.
─ Eu voltarei tarde amanhã. - Ele repetiu. ─ Isso não a deixa livre do trabalho na parte
da manhã, Emma. - Ele acrescentou secamente. ─ Haverá e-mails para excluir e alguns
para responder. Deixe de lado os que eu preciso responder e nós vamos cuidar deles
quando eu voltar.
─ Sim, senhor. - Ela realmente parecia um papagaio. Mas sua voz era leve e tranquila.
Ela fez isso deliberadamente. Ele não conseguia ver a dor em seus suaves olhos
castanhos, e isso também era bom.
Marie viu e fez uma careta. Ela não entendia o que estava acontecendo. A Ariel com
quem Connor ia a uma boate era a mesma morena que ele dispensou, porque tinha
ficado cansado dos suflês. Agora ele estava namorando com ela novamente, e ele estava
realmente se vangloriando disso. Ele sabia que estava machucando Emma apenas por
mencionar a mulher?
Ela estudou seu rosto duro pois ele olhava para a voz de Emma. Sim, ele sabia disso,
ela percebeu de repente. Ele estava fazendo isso deliberadamente. Ele queria machucá-
la. Mas por que? Ela tinha sido mais gentil do que qualquer mulher que Marie pudesse
se lembrar de ter visto com o Sr. Sinclair. Que razão ele teria para tratar Emma assim?
Havia uma muito óbvia. Ele gostava de variedade e não tinha tendências religiosas,
enquanto Emma era conservadora e religiosa. Talvez ela tivesse dito alguma coisa sobre
seu estilo de vida e ele não gostou disso. Ele estava se vingando. Não. Tinha que ser
mais do que isso. Ele a estava provocando com outra mulher. Ele havia sido muito
atrevido com Emma e ela o recusou? Isso certamente explicaria o que estava
acontecendo. Marie pensou, particularmente, que ele faria muito melhor ficando com
Emma do que com todas as mulheres purpurina, como Emma as chamava, que ele
estava acostumado. Emma o amaria. Ela cuidaria dele. Mesmo que ele perdesse tudo, o
que era improvável, Emma nunca o deixaria.
Mas ele estava saindo com uma mulher que ele podia comprar. Era uma pena. Não
era problema seu, disse ela a si mesma.
─ Você tem a noite livre. - Connor disse a Emma. ─ Eu acho que você pode ler um de
seus romances e sonhar com o Príncipe Encantado, não pode? - Ele provocou.
─ Eu vou ver um filme com Marie. - Ela respondeu calmamente.
─ Melhor do que ler em livros, acho, é ver o romance passando.
─ Trata-se de um grupo de mercenários que resgata um refém. - Disse Marie com
frieza. Ele registrou seu tom desaprovador. Ele pensou em Emma na cidade à noite.
A maioria dos cinemas ficava em áreas que poderiam ser perigosas no escuro.
─ Marie, ligue para o serviço de limusine que eu uso e chame um carro para levá-las ao
cinema. - Disse ele bruscamente.
As sobrancelhas de Marie arquearam. Ele nunca tinha feito isso antes.
─ Eu posso ir dirigindo. - Ela começou.
─ Faça o que eu digo. - Ele falou. ─ Barnes, vamos. - Ele hesitou na porta. ─ Tenha
cuidado com os arredores. - Acrescentou às mulheres.
─ Sr. Sinclair... - Começou Marie.
─ Não consigo cozinhar. - Disse ele, como se fosse uma explicação. ─ E eu com certeza
não posso digitar.
Marie riu.
─ Sim senhor.
Emma não disse nada. Isso a fazia sentir-se aquecida por dentro, que mesmo com seu
mau humor, ele se preocupava com seu bem-estar. Bem, também com o de Marie.
Aparentemente, mesmo os ursos pardos tinham corações, pensou com fraca diversão.

CAPÍTULO CINCO
O filme foi emocionante. Foi até engraçado. Mas tudo o que Emma podia pensar,
enquanto comia pipoca e tentava prestar atenção à tela, era que Connor estava na cama
com outra mulher.
Ele ridicularizou sua ideia de diversão, ouvindo sons noturnos no lago e desfrutando
a paisagem tranquila. Ele queria barulho, excitação, brilho. Eles estavam em mundos
separados nas coisas que realmente importavam na vida. Ele não tinha fé. Sua fé era
tudo o que ela tinha. Ele não iria sossegar. Odiava crianças. E era obcecado por nunca
gerar nenhuma. Emma amava crianças. Ela as queria mais do que tudo.
Pensando bem, ela devia ter ficado em Jacobsville e se casado. Havia muitos
solteiros lá. Ela poderia ter se casado e morado em uma fazenda. Ela adorava o gado de
seu pai, os cães boiadeiros que ele mantinha. Se ele não tivesse sido tão cruel, sua vida
poderia ter sido muito diferente. Ela tinha sido a única estabilidade em casa. Seu pai
bebia tanto nos últimos anos do ensino médio que ela, constantemente, tinha que
distribuir as tarefas para os vaqueiros, cuidar da folha de pagamento e coisas como o
transporte de gado e ajudar na marcação. Tinha sido assim por tanto tempo. Ele sempre
estava apertado com dinheiro, mas ela não se lembrava de ele beber tanto quando era
pequena, quando sua mãe ainda estava viva.
O último ano em que viveu em casa tinha sido preocupante. Ela odiava ir embora,
mas não podia aguentar mais a fúria de seu pai. Quando ele tinha muito para beber, ele
batia nela por qualquer motivo. Ele a agrediu logo após a formatura.
O machucado tinha sido visível, e Cash Grier tinha ido ao rancho para conversar com
seu pai. Ela trabalhava para Bárbara Ferguson no café em meio período enquanto fazia
o curso de administração na escola profissional local. Cash e Tippy a viam no almoço
na maioria dos dias. Ela era como da família para eles. Cash ficou lívido quando viu o
hematoma na bochecha dela, e sua tentativa quase patética de tentar escondê-lo com
maquiagem.
Ele voltou com a mala de Emma, a mesma que ela tinha em seu armário agora, e ele
a havia levado para morar com sua própria família. Ela estava nervosa, tímida e pouco à
vontade no primeiro dia. Mas então o irmão de Tippy, Rory, a levou para pescar, e
Tippy pediu a ela para ajudar com o bebê e a pequena Tris. E depois disso, ela
realmente se sentiu parte de uma família pela primeira vez.
Ela provavelmente teria ficado lá, morando com Cash e Tippy, cozinhando para
Bárbara. Mas então ela conheceu Steven na escola profissional e começou a namorar
com ele. Ele acabava de se mudar para a cidade, com seu amigo Willie Armor. Ele
estava se inscrevendo na escola quando ele e Emma começaram a conversar e
encontraram muito em comum.
Steven e Willie se mudaram para um apartamento no centro de Jacobsville. Steven
não iniciou as aulas imediatamente, mas Emma estava trabalhando no café, e Steven e
Willie iam lá para a maioria das refeições. Logo depois, a mãe e o pai de Steven
compraram uma pequena casa perto de seu filho e se mudaram para lá também. Emma
gostava da mãe de Steven. Na verdade, ela e o marido frequentavam a mesma igreja
metodista que Emma.
Steven não frequentava muito a igreja. Mas ele e Emma pareciam ter muita coisa em
comum. Começaram a conversar e Steven parecia achá-la realmente interessante.
Apenas duas semanas depois, ele propôs e ficaram noivos. Ele não comprou um anel
para ela. Sua família era bem-sucedida, ele poderia ter comprado, mas ele disse que
realmente não acreditava em todas essas coisas, que eles poderiam apenas informar a
todos que estavam noivos.
Ele nunca mencionou uma data de casamento, e nunca fez perguntas sobre a família
de Emma, embora soubesse que ela morava com os Griers. Cash fez alguns comentários
estranhos que nunca realmente, se fixaram na cabeça de Emma, sobre o quão próximo
Steven era do seu colega de quarto. Ela estava loucamente apaixonada, provavelmente
porque Steven era o primeiro homem que já lhe havia prestado atenção. Além disso, ele
gostava de plantar flores, árvores e adorava ir à casa dos Griers, com Willie,
naturalmente, e assistir a um desfile de moda na televisão que Tippy gostava tanto. A
famosa modelo, Tippy abandonou sua carreira para se casar com Cash. Steven estava
fascinado com aquele mundo e sempre fazia perguntas sobre roupas e maquiagem.
Cash era compreensivo, mesmo quando ela ficou noiva, embora ele e Tippy estivessem
preocupados. Emma presumiu que era porque Steven era tão eloquente sobre animais
serem usados para a alimentação, e ele nunca perguntou sobre a verdadeira família de
Emma ou o que eles faziam para ganhar a vida. Ela não tinha certeza de que Steven
entenderia se ela lhe dissesse que seu pai criava gado. Havia outra coisa estranha,
Steven insistia que eles levassem seu amigo Willie com eles onde quer que fossem.
Honestamente, havia momentos em que se sentia claramente deixada de lado. Ela
gostava de Willie. Ele era um homem gentil e doce, muito parecido com Steven. Mas
parecia estranho que um casal levassem o melhor amigo do noivo a todos os lugares em
que fossem.
Não importava, ela pensou, porque Steven quase nunca a tocava. Ele disse que
gostava muito dela, mas se sentia mal por beijá-la. Ele fazia isso muito rara e
relutantemente. Ele disse uma vez que acreditava que tais coisas deveriam esperar até
depois do casamento. Mas ele não era religioso, não ia à igreja e quase nunca
mencionava realmente se casar.
Eles estavam conversando um dia no café em seu horário de descanso, quando ele
soube que seu pai era dono de uma fazenda de gado de corte. Steven, que estava agindo
estranhamente durante dias, de repente explodiu e disse que não poderia se casar com
uma mulher cuja família matava animais indefesos para comer. Ele disse que lamentava
muito, mas ele estava voltando para San Antonio com Willie e não queria vê-la
novamente.
Ele saiu sem mais uma palavra. Emma estremecia até agora quando se lembrava de
como foi humilhada. Cash, estranhamente, não parecia surpreso com o noivado
rompido, embora ele sentisse muito por Emma. Ele e Tippy fizeram tudo o que podiam
para animá-la.
Jacobsville era uma cidade pequena, como Comanche Wells, onde era a fazenda do
pai de Emma. Todos sabiam o que havia acontecido. Ninguém falava disso com Emma,
mas todos os que frequentavam o Café da Bárbara olhavam para ela com simpatia nos
olhos. Não ajudava que a mãe de Steven ainda estivesse por perto, certificando-se de
que todos soubessem que Emma e seu filho haviam ficado noivos, e não era uma pena
que as coisas não funcionassem para eles? Ela simpatizava com Emma e, muitas vezes,
pedia desculpas pela estranha reação do filho, mas, lembrava a mulher mais nova que
ele era um ativista dos direitos dos animais. No entanto, Emma também lembrava que
ele adorava bife mais do que qualquer outro alimento, e nunca pareceu ver nada errado
em comê-los, apesar de dizer que ajudou a fundar o ramo local da PETA.
Emma continuou com sua vida, indo para o trabalho e para a igreja e tentando
esquecer a mágoa. Mas não foi fácil. Ela ficou cada vez mais deprimida.
Tippy viu o que estava acontecendo com Emma. Ela tinha uma amiga no Facebook
que conhecia Mamie van Dyke, uma autora muito famosa que acabara de perder sua
antiga secretária. Ela enviou uma mensagem à sua amiga, que conversou com Mamie.
Tippy disse a Emma sobre um anúncio de trabalho, uma mentira branca, não havia um,
para digitadora, e perguntou se ela queria se candidatar ao cargo? Era nas montanhas do
norte da Geórgia, longe de Jacobsville e de toda a notoriedade dolorosa.
Emma concordou. Tippy, que salvou o orgulho de Emma ao não confessar que tinha
interferido, foi com Cash colocá-la em um avião para Atlanta. Eles também
providenciaram um carro para pegá-la no aeroporto.
─ Mas e se ela não gostar de mim? - Emma tinha se preocupado no portão de
embarque. Cash riu.
─ Ela vai gostar de você.
─ Sim, ela vai. - Assegurou Tippy. ─ Se ela não gostar, você vem direto para casa. - Ela
abraçou Emma. ─ Vou sentir sua falta.
Emma a abraçou. Em uma vida desesperada pelo conforto feminino, Tippy tinha sido
sua fada madrinha.
─ Eu vou sentir mais sua falta. - Ela lamentou.
─ Chega disso. - Cash também abraçou Emma. ─ Suba nesse avião e nos ligue quando
chegar a casa de Mamie, então saberemos que você chegou bem.
─ Eu vou ligar. - Emma olhou para eles com olhos tristes. ─ Ninguém nunca foi... tão
gentil comigo. - Ela disse com voz trêmula.
─ Vá logo, antes que eu comece a chorar também, pelo amor de Deus. - Disse Cash, e
ele não estava brincando. Ele e Tippy se tornaram muito apaixonados pela jovem tímida
e despretensiosa que eles mais ou menos adotaram.
─ OK. Obrigada. Por tudo. - Acrescentou.
Ela entrou no avião. Mamie, encantada com o que lhe disseram e ainda mais com o
que viu quando Emma chegou à sua porta, contratou-a na hora.
Então, Emma aprendeu sobre roupas, prazos e pessoas ricas. Ela ligou para casa
todas as noites por uma semana. Então ela começou a se sentir em casa no lago Lanier.
Ela ainda sentia falta dos Griers. E conversava com Tippy no Skype com frequência,
mas teve que parar quando foi trabalhar para Connor. Ele havia mencionado uma vez
que um fazendeiro do oeste do Texas chamado Cort Grier estava interessado em investir
em alguma tecnologia nova, e ele o conhecia bastante bem. Cash tinha um irmão
chamado Cort, que tinha um rancho no oeste do Texas. O nome podia ser uma
coincidência, mas se Cort era o irmão de Cash e se Connor conhecia Cort, ele poderia
conhecer Cash. Ela não podia correr o risco de ter Connor descobrindo que sua família
vivia no Texas, porque ele podia lembrar que a mulher que ele havia avisado sobre a
lancha também veio de lá. Isso poderia indicar que sua secretária era a mulher que o
cegara. Então ela enviou e-mails e mensagens de texto para Tippy, explicando que seu
chefe era excêntrico e não gostava de que sua vida fosse comentada por outras pessoas.
Ela nunca disse quem ele era, na verdade. Ela simplesmente disse a Tippy que estava
fazendo um favor para este amigo de Mamie que era cego e precisava de uma secretária
temporária enquanto Mamie estava fora do país.
Ela não contatou o pai. Quando ela se mudou com os Griers, ele lavou suas mãos
sobre ela. As pessoas disseram que ele ainda estava bebendo como um gambá. Mas em
seus momentos sóbrios, ele conseguia manter o rancho funcionando. Fofocas corriam
pela cidade. Havia uma mulher, alguém que ele conhecera através de um agente de uma
das grandes empresas de embalagem de carne, que foi morar com ele. Então, talvez ela
estivesse mantendo as coisas funcionando para que ele não fosse à falência.
Emma colocou tudo isso no fundo da sua mente e tentou esquecer a nuvem negra sob
a qual havia deixado sua casa. Ela ainda estava ferida pelas lembranças de Steven. Sua
separação a deprimiu, especialmente em uma pequena cidade onde as fofocas corriam
desenfreadas. Todos sabiam que ele a tinha abandonado. Isso foi cruel. Ela estava
apaixonada por ele, e ele foi embora. Ela estava destruída. Era como se sua feminilidade
fosse defeituosa, como se ela não fosse mulher o suficiente para manter um homem.
Então, ela não tentou novamente, depois de Steven, atrair outros homens. Nas raras
ocasiões em que um jovem tentou flertar com ela, ela tinha sido tímida e reservada e no
mínimo isso era desencorajador.
Não tanto desde que ela tinha ido trabalhar para Connor. Mas ele a estava ferindo
ainda mais. Ela nunca ficou tão perturbada com Steven. Ela não havia se preocupado
tanto...
Ela afastou os pensamentos com força. Ela não se atrevia a se envolver com Connor
Sinclair, de forma alguma. Era fácil esquecer por que ela trabalhava para ele. Ele estava
cego. Ele poderia nunca mais ver. Foi Emma quem o cegou. Se ele descobrisse, sua vida
seria o inferno. Ele nunca esquecia as pessoas que o prejudicavam, e ele sempre se
vingava.
Seu coração apertou quando ela percebeu o quão desesperadora era sua situação. Ela
estava pilotando uma lancha rápido demais, atropelou Connor no lago e o cegou. O que
ele faria com ela se soubesse? Ela lembrou como Mamie sentiu quando ele a perseguiu,
e o motivo foi apenas um artigo de jornal que ele não gostou. Emma lhe custou a visão.
Ele ia querer sangue. Seus olhos fecharam e ela estremeceu.

***

Era o final da tarde do dia seguinte, quando Barnes guiou Connor pela casa até o
quarto.
Emma pairava perto, mas ele não chamou por ela. Ele chamou por Marie em vez
disso. A mulher mais velha saiu de seu quarto silenciosa e desconfortável. Ela olhou
para Emma e fez uma careta. Aparentemente, seu encontro não foi muito bem. Ele não
agia como um homem que encontrou satisfação com sua morena fogosa. De modo
nenhum. Emma tentou muito não se importar.
No meio da noite, ela ouviu Connor gemer. A dor devia ser muito forte, pensou, e
quis se levantar e ir até ele. Ela até começou a levantar. Mas, então ela se lembrou de
como ele ficou furioso quando tentou guiá-lo para a mesa dele, e ele gritou para ela
chamar Barnes. Ela não ia se arriscar a desafiar seu humor novamente. Ela se deitou na
cama com um suspiro. Pobre homem. Era uma enxaqueca, ela adivinhou. Ele chegou
esgotado, então tinha ido a uma boate. Ele gostava de lugares com música alta e
provavelmente foi para onde a morena o havia levado. Combinado com a pressão, isso
provavelmente provocou a dor de cabeça. Ela tentou voltar a dormir, mas não
conseguiu. Ela ouviu uma porta abrir no corredor e outra porta abrir logo depois. Vozes,
uma forte e irritada. Ela estremeceu. Ela reconhecia essa voz.
A porta se fechou. Uma outra porta fechada. Paz novamente. Até que o gemido ficou
ainda pior.
Ouviu outra porta ser aberta, mais próxima da dela. Marie, ela adivinhou quando
ouviu passos suaves passando por sua porta. Ela sabia que Marie tinha um interfone que
ligava ao quarto de Connor. Barnes também, mas aparentemente Barnes não conseguiu
ajudar seu chefe.
Uma porta se abriu novamente e a voz alta parecia um pouco mais calma. Minutos
depois, houve um toque suave na porta de Emma.
─ Entre. - Ela falou, acendendo a lâmpada da cabeceira.
Era Marie.
─ Você pode vir? - Perguntou gentilmente. ─ Eu não sei onde está o remédio dele para
enxaqueca ou o quanto lhe dar, e ele não pode me dizer. Ele está muito doente.
─ Claro. Emma pegou seu robe e seguiu a mulher mais velha
pelo corredor. Connor estava no banheiro, aparentemente perdendo o jantar e tudo antes
dele.
─ Eu cuidarei dele. - Ela disse a Marie gentilmente. ─ Volte para a cama. - Marie a
abraçou.
─ Obrigada.
Emma entrou no banheiro e molhou uma toalha de banho. Connor estava no chão
com um braço em volta do vaso, sua testa apoiada nele. Seu rosto estava cinza. Ela o
limpou e deu a descarga.
─ A pia é três passos à sua direita. - Disse ela suavemente.
─ Emma?
─ Sim senhor.
Ele gemeu novamente.
─ Eu disse a Marie para não te acordar!
─ Ela não sabe sobre o remédio de enxaqueca e eu sei. Aqui. É um enxaguante. - Ela
entregou um copo com um pouquinho para enxaguar a boca. Ele fez uma careta quando
devolveu o copo. ─ Venha e deite-se. Eu pego o seu remédio. Você acha que pode
mantê-lo no estômago? - Ela perguntou com naturalidade.
─ Há ginger ale no frigobar. Isso geralmente funciona. - Ele disse com muita esforço.
Ela o ajudou a se acomodar na cama e deitar nos travesseiros.
─ Eu volto já. - Ela tirou as cápsulas do armário de medicamentos e parou o tempo
suficiente para pegar o ginger ale antes de sentar-se ao lado dele na beira da cama.
─ Talvez se eu bater no meu dedo do pé com um martelo, me distraia o suficiente para
esquecer o quão forte minha cabeça dói. - Ele murmurou.
─ Então você teria uma dor no dedo do pé para acompanhar sua dor de cabeça. - Ela
devolveu. ─ Aqui. Abra a boca.
Ele abriu a boca e ela colocou uma cápsula em sua língua. Ele se sentou. Ela
entregou-lhe o ginger ale.
─ Está aberta. - Disse ela.
─ O que, o ginger ale ou você? - Perguntou sarcasticamente.
Ela apenas suspirou.
Ele engoliu a cápsula e um pouco de ginger ale antes de devolver a garrafa.
─ Isso foi grosseiro, eu suponho.
─ Eu nunca pensei que a ginger ale era grosseira. - Disse ela alegremente.
Ele conseguiu dar uma risada fraca. Ele respirou fundo, sua mão sobre os olhos.
─ Deus, dói, Emma!
─ Eu sinto Muito. ─ Você sente? Por quê? Não é sua culpa.
Era culpa dela. Ela o cegou. Isso queimava em sua consciência como um ferro
quente. Mas dificilmente poderia admitir isso agora.
─ Maneira de dizer.
─ Você não tem ideia do que há de errado comigo, não é? - Ele perguntou pesadamente.
─ Se eu tivesse que adivinhar, diria que seu encontro jogou um balde de água fria em
você e o colocou para dormir na varanda.
Seus olhos sem visão se abriram e ele riu de repente, estremecendo quando isso fez
doer sua cabeça.
─ Desculpe. - Ela disse com falso recato.
─ Você é uma chata. - Ele acusou. ─ Eu sou o seu chefe.
─ Você é um urso em um terno risca de giz.
─ Você deveria se envergonhar.
─ Ninguém mais vai te dizer a verdade. Eles temem que você os despeça.
─ E você não está com medo?
─ Eu sou temporária. - Ela lembrou. ─ É por isso que trabalho para agências
temporárias. Eu não quero ser algemada a vida toda com um homem que pensa em
mulheres como guardanapos descartáveis.
Ele riu suavemente.
─ Eu senti sua falta, Emma. - Disse ele.
─ Eu estive aqui mesmo. - Ela lembrou.
Ele se recostou com um longo suspiro.
─ Eu acho que você esteve. - Seus olhos doloridos se estreitaram. ─ Apenas não
construa sonhos românticos sobre mim, Emma. - Ele acrescentou surpreendentemente.
─ Eu não acredito em felizes para sempre, e você sim.
Ela ficou chocada que ele dissesse uma coisa dessas. Ele era um milionário e ela
trabalhava por salários. Pior, ela trabalhava para ele. Era embaraçoso que ele soubesse
como se sentia em relação a ele. Ela procurou uma maneira de manter a dignidade.
─ São os filmes.
─ O que? - Ele perguntou, franzindo o cenho.

─ Jane Eyre16. - Ela explicou. ─ Eu vi o filme meia dúzia de vezes. Você é o Sr.
Rochester, com uma expressão imperturbável e má. Tudo o que falta é o cachorro.
Ele riu.
─ É assim então?
─ Sim senhor. Estive observando muitos filmes antigos a noite na televisão, e quando
você teve a dor de cabeça, lembrei que Jane Eyre salvou o Sr. Rochester de um incêndio
em seu quarto no meio da noite. Exceto que eu estou salvando você de dores de cabeça
no meio da noite.
─ E você fez conexões românticas, não é? - Ele perguntou, sorrindo.
─ Certamente.
Ele conseguiu dar uma risada.
─ Bem, é uma maneira de interpretar as coisas. Mas nós dois deveríamos concentrar-
nos mais na indústria aeronáutica do que nos encontros românticos altas horas da noite,
mesmo que sejam provocados por dores de cabeça. Certo?
─ Certamente.
─ É melhor registrar essa palavra se você planeja continuar a usá-la. - Ele falou.
─ Vou ligar para o escritório de direitos autorais a primeira hora de amanhã. -
Prometeu.
─ A cabeça melhorou?
Ele se moveu um pouco na cama.
─ Um pouco. É melhor você voltar a dormir antes que Marie e Barnes comecem a falar
sobre nós. Nós precisamos parar de nos encontrarmos dessa forma.
─ Sim, senhor. - Ela concordou.
Ele riu.
─ Amigos novamente, Emma?
─ Amigos novamente, senhor.
Ele tinha um olhar estranho no rosto.
─ Eu nunca tive uma mulher me ajudando em um banheiro antes. - Disse ele.
─ Todos ficamos doentes às vezes. - Ela respondeu.
─ Obrigado, da mesma forma.
─ De nada. - Ela se levantou, colocou o frasco de remédio no banheiro, limpou a pia e
apagou a luz.
Ela parou ao lado da cama.
─ Tudo bem?
─ Sim. Acho que posso dormir agora. Boa noite, Emma.
─ Boa noite, senhor.
─ Eu estava me perguntando...
─ Sim? - Ele olhou para o som de sua voz.
─ Quem rompeu o noivado? - Ela hesitou.
─ Ele fez.
Suas sobrancelhas arquearam.
─ Por quê?
─ Meus pais tinham alguns animais de fazenda que eles criavam para comer. Ele era um
ativista dos direitos dos animais.
─ Ele não sabia disso quando vocês ficaram noivos?
─ Eu acho que não.
─ Suponho que você sentiu falta do contato físico depois que ele se foi. - Ele jogou,
porque isso ajudaria a explicar por que ela era tão vulnerável a ele.
Mas ela não ia contar a ele mais nada. Isso feria seu orgulho demais.

16 - Jane Eyre - Considerada uma obra-prima da literatura inglesa, Jane Eyre é um romance da escritora inglesa Charlotte Brontë,
publicado no século XIX, mais precisamente em 1847. Jane Eyre é uma autobiografia ficcionada da protagonista que, depois de
uma infância e adolescência desprovidas de afeto, se torna preceptora em Thornfield Hall e se apaixona pelo seu proprietário, Mr.
Rochester. Plenamente correspondida nos seus sentimentos, Jane julga ter encontrado o amor por que ansiara toda a vida, mas
Thornfield Hall esconde um segredo tenebroso que ameaça ensombrar a sua felicidade. Uma história sobre a liberdade humana,
repleta de elementos dramáticos (incêndios, tempestades, tentativas de homicídio) que compõem uma atmosfera de mistério
e suspense.

─ Sim, eu senti... senti muito. - Ela mentiu.


Então ela tinha ido para a cama com o noivo. Ele suspeitava disso, mas doeu de uma
maneira estranha ouvi-la dizer isso. Ele se fechou novamente.
─ Boa noite então.
─ Boa noite senhor.
Ela voltou para o quarto dela. Era bom que ele estivesse falando com ela novamente.
Talvez eles pudessem voltar para a maneira como as coisas estavam entre eles. E talvez
algum dia em breve, ela pudesse dizer a verdade a ele sobre o por que dela ter aceitado
esse trabalho. Talvez ela pudesse ter coragem suficiente para admitir o que tinha feito e
pedir perdão por isso. Talvez.

***

Connor estava mais animado à mesa do café do que tinha estado em dias. Ele falou
sobre o design que sua equipe havia desenvolvido para um novo jatinho, uma
reformulação básica de um modelo já existente. Emma perguntou por que eles não
fizeram um novo design. Ele disse que os processos jurídicos eram demorados quando
um projeto completamente inovador surgia. Era muito mais seguro, por muitos motivos,
adaptar um design antigo do que criar um novo.
─ Então é por isso que todos se parecem. - Emma comentou.
─ Bom Deus, mulher, eles não se parecem! Qualquer idiota pode diferenciar um Cessna
de um Learjet!
─ Eu não posso. - Ela respondeu.
Ele tomou um gole de café. Sua expressão era difícil de ler.
─ Eu não posso diferenciá-los mais, eu posso, Emma? Somente pessoas que enxergam
podem fazer isso.
Ela fez uma careta.
─ Sr. Sinclair...
Seu punho bateu na mesa.
─ Porra! - Exclamou. ─ Oh Deus, porque? Que uso eu tenho sem enxergar? Não
consigo pilotar um avião, muito menos desenhar um!
Emma sentiu a culpa percorrê-la até as solas dos pés.
─ Você pode recuperar sua visão. - Ela disse fracamente. ─ Milagres ainda acontecem,
se você acreditar neles.
─ Eu não acredito em nada. - Ele disse sem rodeios.
─ Eu sei. - Ela mordeu o lábio inferior. ─ Sinto muito. - Ela acrescentou com voz rouca.
─ Por quê? Eu destruí o Jet Ski. - Ele colocou uma mão em sua cabeça. ─ Eu lembro
disso. Gostaria de me lembrar de como aconteceu. É tudo um borrão, tudo.
─ Talvez você se lembre, um dia. - Disse ela calmamente, e depois lembrou que se ele
alguma vez lembrasse, ela teria que correr para garantir sua própria vida.
Ele se recostou na cadeira.
─ Talvez. - Ele estava pensando novamente.
─ Há cerca de uma centena de e-mails corporativos no computador. - Ela começou.
Ele fez uma careta.
─ Isso nunca acaba. O maldito telefone está tocando desde as cinco da manhã. -
Acrescentou. ─ Está no meio da manhã em vários outros lugares ao redor do mundo.
Eles nem sequer respeitam o fuso horário quando me telefonam.
─ Por que você não desliga o telefone à noite? - Perguntou Emma, horrorizada. ─ As
pessoas não têm o direito de incomodá-lo quando você está tentando dormir.
─ Eles pensam que sim.
─ Basta ativá-lo no silencioso.
Ele riu suavemente, depois respirou fundo e se alongou, os músculos do seu peito e
dos braços ondularam com o movimento. Ele era tão sexy que Emma sentiu um arrepio
descer pela coluna vertebral.
─ Eu preciso de uma mudança. Você tem um passaporte? - Ele perguntou a Emma. Ela
piscou.
─ Bem, eu tenho um passaporte. - Ela arriscou. ─ Steven disse que nós poderíamos ir
para algum lugar no Caribe em nossa lua de mel, então eu o tirei, por via das dúvidas.
Por quê?
─ Eu pensei que poderíamos voar para Cancún por alguns dias e tomar um pouco de
sol. - Ele respondeu.
Os lábios dela se separaram.
─ México?
─ Ou poderíamos ir para a Jamaica ou Bahamas...
─ Eu adoraria ir às Bahamas! - Exclamou ela. ─ A minha vida inteira eu quis ir para lá!
Ele riu divertido.
─ Por quê?
─ Piratas. - Ela respondeu. ─ Woodes Rogers que foi governador das Bahamas no final
dos anos 1600 e no início dos anos 1700, começou como capitão da marinha inglesa e
tornou-se um corsário. Na verdade, Henry Morgan foi um notório pirata galês do século
16, tornou-se vice-governador da Jamaica.
─ Você gosta de piratas.
Ela deu de ombros e sorriu.
─ Bem, sim.
Ele contraiu os lábios sensuais.
─ Seu personagem favorito no filme Star Wars era o Darth Vader, aposto.
Ela fez uma careta.
─ Na verdade, sim era. Eu sempre pensei que ele era apenas mal-entendido. Então eu
comprei essa camiseta que dizia "Vader foi incompreendido". Eu usei até as letras
desaparecerem.
Ele riu.
─ Você é cheia de surpresas, Emma.
─ Eu acho que sou.
Ele não reagiu visivelmente à menção de que seu noivo era o motivo pelo qual ela
tinha um passaporte. Ele odiava tudo o que se relacionasse com o noivo dela, e não
entendia o porquê. Ela trabalhava para ele. Era por isso que ele se sentia protetor com
ela. Agora, se ele conseguisse manter suas mãos longe dela! Mas mesmo que ele não
pudesse, ela já admitiu que sentia falta da intimidade com seu noivo, então talvez ele
pudesse persuadi-la a ir para a sua cama se ele tivesse paciência. Ele não conseguia se
lembrar de uma fome tão arrebatadora por alguém, em toda a sua vida.
Connor tateou por seu telefone celular.
─ Barnes, faça com que preparem o jato para amanhã de manhã. A primeira hora
estaremos saindo. Faça o que você tem antes disso. Todo mundo ouviu isso?
─ Sim, senhor. - Marie e Barnes responderam juntos e depois riram porque o tinham
feito.
─ Você também, jovem Emma. - Disse Connor com um sorriso.
─ Eu estarei pronta! - Prometeu. ─ Nós vamos levar o laptop do escritório conosco?
─ Nós teremos que levar. - Ele respondeu. ─ É a minha tábua de salvação quando viajo.
Há um case para ele no armário do escritório.
─ Eu vou encontrá-lo hoje. - Prometeu Emma.
─ Barnes, você precisará me levar para a cidade após o café da manhã. Eu preciso de
uma nova roupa de banho. Você tem uma, Emma?
Ela tinha, mas estava na casa de Griers no Texas.
─ Não. - Ela disse sem rodeios.
─ Qual o tamanho e a cor? Nós vamos escolher algo pra você.
─ Médio. - Ela disse a ele. ─ E eu gosto de azul.
─ Feito.

***

Ele voltou para casa com uma bolsa de uma loja de departamentos famosa e a
ofereceu para a Emma.
─ Espero que você goste. Tivemos que ir quase até Atlanta para encontrar a loja que eu
procurava. Não é que fosse longa a viagem. Aqui.
Seu coração pulou quando tirou o saco da bolsa. Era uma sinfonia de azul, um maiô
inteiro cavado e com um decote baixo.
─ Não crie caso. - Connor disse a ela. Era um traje de marca e provavelmente custava
mais do que ela ganhava em um mês. Ela procurou as palavras certas.
─ OK. Obrigada, Sr. Sinclair.
─ Barnes diz que é um pouco ousado, mas estaremos em uma praia particular. Ninguém
vai te ver. - Seu rosto endureceu. ─ Nem mesmo eu.
─ É lindo. - Ela respondeu.
─ Se você não gostar das cores, pode culpar Barnes. Eu tive que aceitar a palavra dele
sobre isso.
Barnes riu.
─ Bem, é azul. - Ele se defendeu. ─ Sinto muito pelo estilo, senhorita Copeland, mas eu
tive que confiar na palavra da vendedora de que era o maiô mais conservador que
vendiam.
─ Ele não nada. - Disse Connor com fraco sarcasmo.
─ Nem eu. - Marie falou.
─ Bem, eu nado. - Ele afirmou. ─ Emma pode ter que me salvar dos tubarões, mas eu
não vou me sentar na praia!
O coração de Emma saltou. Ela riu.
─ Não se preocupe, senhor. Eu posso pegar três tubarões de cada vez se eu tiver que
fazer.
─ Mentirosa. - Connor ronronou.
─ Eu posso pegar um tubarão, se tiver um arpão. - Ela corrigiu.
Ele riu.
─ Nisso, eu acreditaria.

***

Não foi uma longa viagem a Nassau. Emma ficou fascinada com tudo, começando
pelo pequeno jato que Connor possuía. Ele não gostava de transporte público de
qualquer tipo, Barnes sussurrou, então ele nunca usava aviões comerciais.
Emma estava agradecida, porque não gostava de multidões. Sua primeira viagem de
avião tinha sido do Texas para Atlanta, e ela ainda ficava enjoada lembrando-se disso.
Ela ficou encurralada entre um casal brigando e uma mãe com duas crianças pequenas.
Quando o avião aterrissou, ela estava ouvindo o rádio no vôo, com o volume aumentado
até o máximo. Ela ficou preocupada de que provavelmente ficasse surda por causa
disso, mas era muito melhor do que os gritos dos pré-escolares e casais malditos.
─ Você está muito quieta. - Comentou Connor.
─ Estou deslumbrada. - Ela respondeu. ─ Eu nunca estive em um avião particular.
Nunca sobrevoei o oceano. Eu nunca estive em nenhum lugar, na verdade, exceto a
Geórgia e... - Ela hesitou. ─ Carolina do Norte. - Ela acrescentou rapidamente. Estava a
ponto de dizer o Texas. Grande erro.
Ele sorriu, aparentemente ignorando a hesitação.
─ Faz muito tempo que experimentei algo pela primeira vez. - Disse. E recostou-se em
seu assento. ─ Mas é bom estar livre do telefone por um par de horas. Assim que disse
isso, o telefone tocou. Ele estava rindo enquanto atendia.

***

O primeiro vislumbre de New Providence17 deixou Emma sem fala.


─ É verdade. - Ela gritou quando começaram a pousar. ─ A água realmente é dessa cor!
Eu pensei que era apenas uma imagem ruim! É turquesa, azul escuro, azul claro e quase
néon azul, tudo de uma vez!
Connor riu.
─ Sim. A água surpreende as pessoas que a vêem pela primeira vez. - Seu sorriso
desapareceu. ─ Eu adorava ver as pessoas na praia.
─ Você ainda pode. - Prometeu. ─ Vou descrevê-las todas para você. Vou descrever
tudo.
Seu mau humor o deixou.
─ Eu vou fazer você manter sua promessa, Emma.
─ Tudo bem. - Ela respondeu. ─ Você sabe, eu lhe daria meus olhos, se eu pudesse. -
Ela disse tão solenemente que seu silêncio a deixou desconfortável.
Ele respirou fundo.
─ Obrigado. - Disse ele. Acabava de lhe ocorrer que nem uma vez na sua vida uma
mulher cuidou dele como Emma fez. Ele se lembrou dela segurando um pano frio e
úmido na sua cabeça quando ele teve enxaqueca, ficando com ele até que a dor
diminuísse. Ela despertava emoções que ele tinha certeza de nunca ter sentido antes,
nem mesmo com sua primeira esposa.
Ele não tinha certeza de que estava gostando disso.
CAPÍTULO SEIS
Emma adorou a sensação da areia quente e branca como açúcar sob seus pés
descalços. A água se arrastava da baía, girando em torno de seus pés enquanto
caminhava pela praia. Havia muitas pessoas, mas Connor tinha ficado na villa enquanto
tratava de uma crise em uma das empresas que fabricavam seus aviões.
Estava sozinha sem ele. Ouviu as gaivotas grasnando enquanto voavam sobre sua
cabeça e ria enquanto elas mergulhavam e depois voavam novamente. Ela fechou os
olhos e ouviu o ritmo contínuo das ondas na baía. Perto, os altos pinheiros-casuarina
balançavam graciosamente na brisa que parecia constante e eterna na praia.
Connor possuía uma grande villa na baía. Era uma sinfonia de branco e azul real,
com arcos graciosos, pátios e pisos em pedra. Ao redor, as flores desbrochavam
deixando um aroma mais sutil do que o perfume mais fino.
Emma não vestiu o maiô que Connor comprou. Eles acabavam de chegar, e ela
queria se acomodar antes de tentar nadar na água salgada. Ela podia nadar, apenas um
pouco, mas não podia boiar. Ela afundava como uma pedra. Não que ela tivesse nadado
muito desde que era pequena. As Bahamas tinham que estar perto do paraíso, pensou
enquanto caminhava. Ela nunca esteve em qualquer lugar assim. Sempre sonhou em
visitar lugares estrangeiros, mas isso ultrapassava sua imaginação. Os piratas já haviam
caminhado por aqui nos séculos passados. Viajantes de todo o mundo chegavam a
Nassau para passar as férias. Era incrivelmente lindo. Connor prometeu levá-la em um
passeio, para ver os fortes e o centro de Nassau. Poderia, ele provocou, até mesmo levá-
la ao cassino em Paradise Island, do outro lado da ponte de Nassau. Ela poderia tentar
sua sorte com a máquina de caça-níqueis.
Ela enterrou o nariz em um livro de viagem enquanto Marie desfazias as malas para
ele. Ele estava falando ao telefone novamente. E estava gritando com alguém quando
ela passou pela porta para dar o passeio. Ele era o chefe, e a corporação de aviões, pelo
que ela pode observar durante seu trabalho como secretária, era gigantesca e mundial.
Algo sempre dava errado, e muitas vezes ele não podia delegar quando surgiam
problemas. Havia decisões que só ele poderia tomar.

17 - New Providence - É a ilha mais populosa das Bahamas, contendo mais de 70% da população total. É também sede da capital
nacional, Nassau.

─ Emma! - Ele chamou, entrando em seus pensamentos.


─ Estou bem aqui. - Ela correu até a varanda, onde ele estava parado, esperando, na
sombra do beiral. Ele estava usando bermuda branca com uma camisa vermelha e
branca com botões, aberta na frente. Ela nunca o tinha visto com tão pouca roupa e não
podia deixar de comê-lo com os olhos. Ele era o homem mais bonito que ela já havia
visto, perfeito fisicamente, poderoso e sensual. Ela tinha que apertar os dentes para não
se esticar e tocar aquele peito bronzeado largo e musculoso com pelos pretos
encaracolados.
─ O que você está fazendo? - Ele perguntou. ─ Já estava nadando?
─ Eu não nado tão bem. - Ela confessou. ─ Acabei de andar pela praia, escutando os
sons e sentindo os cheiros. É o lugar mais lindo que já vi!
Ele riu suavemente de seu entusiasmo.
─ Estou feliz que você goste. Meu avô construiu essa propriedade. Eu gosto mais da
França, mas aqui é mais próximo de casa quando eu quero fugir por alguns dias.
─ Por que você gosta mais da França? - Perguntou, curiosa.
─ Minha avó era francesa. - Disse ele simplesmente. ─ Eu fui criado por meus avós.
Minha mãe morreu quando eu tinha uns quatro ou cinco anos. Meu pai estava muito
ocupado em ganhar dinheiro para se importar com o que acontecia com seus dois filhos.
William e eu fomos jogados para nossos avós. Eles moravam na Riviera. Dinheiro
antigo. - Ele riu. ─ Eles tiveram ancestrais que foram decapitados na Revolução
Francesa.
─ Meu Deus!
─ Todos nós temos esqueletos no armário dos nossos ancestrais. - Ele provocou.
─ Bem, nós tivemos um ladrão de cavalos que foi enforcado, nos anos de 1800. - Ela
confessou.
─ Viu?
Ela riu.
─ Você quer vir andar na praia? - Ela perguntou. Ele balançou a cabeça negando.
─ Estou supervisionando algumas mudanças na equipe de design em nossas instalações
do norte de Atlanta. - Disse ele de forma severa. ─ Eu dei ordens que não foram
seguidas, então cabeças vão rolar.
─ Eu acho que você tem muitos funcionários.
─ Demasiados, algumas vezes. Não fique fora no sol por muito tempo. Pode ser mortal.
─ Eu não vou. Estou apenas explorando.
Ele conseguiu dar um sorriso para ela.
─ OK. Eu vou ter algumas cartas para ditar em cerca de uma hora. Você está livre até lá
então.
─ Eu voltarei à tempo. - Prometeu.

***

Ficou solitário quando ele saiu. Estranho, como a simples presença dele parecia
colorir seu mundo, pensou enquanto arrastava seus pés descalços pela areia. Ele não era
o homem que ela achava que ele era quando o conheceu. Ele era surpreendentemente
agradável e amável, para um milionário.
Ela pegou algumas conchas e as levou para dentro quando Marie anunciou que o
almoço estava na mesa.
Havia sopa de mariscos e uma salada de manga com frango e macarrão, seguido de
torta de creme de limão.
─ Isso é maravilhoso! - Exclamou Emma enquanto provava cada prato.
Marie riu.
─ Obrigada. O Sr. Sinclair fez vir um chef de um dos restaurantes locais e ele me
ensinou como fazer todos os pratos da ilha. Ele era muito bom.
─ Eu gosto de comida local quando viajo. - Disse Connor simplesmente. Ele terminou o
café e se alongou, movimentando os músculos do seu amplo peito. ─ Tudo bem, Emma,
vamos trabalhar um pouco se você já terminou.
─ Eu terminei. - Disse ela, comendo o último pedaço de torta. ─ Obrigada, Marie!
─ De nada.
Connor fez uma pausa.
─ Estava realmente muito bom, Marie. - Acrescentou.
A cozinheira arqueou ambas as sobrancelhas. Ela trabalhava para ele há anos. Essa
foi a primeira vez que ele realmente elogiou uma de suas refeições.
─ Obrigada. - Disse ela.
Connor virou-se e seguiu o caminho para o grande escritório, uma mesa de carvalho,
várias estantes para livros e cadeiras de couro eram os móveis existentes. As janelas
ficavam de frente para a baía e uma persiana de madeira evitava a entrada do sol, no
chão um tapete bege. Havia também um enorme ventilador de teto em madeira com
luzes, e girava preguiçosamente, espalhando o ar.
─ Isso é magnífico. - Murmurou Emma enquanto observava os móveis.
Ele riu.
─ Eu sempre gostei deles. Barnes disse que colocou o laptop na mesa.
─ Sim, ele colocou. - Ela o puxou para a frente dela e sentou-se em uma das cadeiras de
couro espaçosas que cercavam a mesa de seis pés.
Connor seguiu seu caminho em volta da mesa e se colocou na frente da enorme
cadeira por trás dela. Ele sentou-se com cautela e soltou um suspiro.
─ Bem, isso já é alguma coisa, eu acho. - Ele pensou.
─ O que?
─ Eu deixei ordens estritas de que os móveis não deveriam ser movidos um milímetro
sequer, antes de chegar aqui. A equipe de limpeza foi informada. - Seu rosto endureceu.
─ Eu ainda estou aprendendo o caminho em torno dos lugares que costumava ser capaz
de ver.
Ela mordeu o lábio.
─ Não há alguma chance de que sua visão possa retornar? - Ela perguntou.
Ele se recostou na cadeira.
─ Um dos meus médicos é um neurocirurgião famoso, outro é um neurologista famoso.
Eles fizeram todos os testes conhecidos pelo homem e eu passei por eles com louvor.
─ Então, não há dano físico? - Perguntou hesitante.
─ Claro que não existe! É por isso que eu estou cego! - Ele bateu na mesa com o punho,
seu humor ficou azedo em um instante. ─ Testes, malditos testes e os malditos testes
não mostraram nada! Se eu estou bem, por que não posso ver? - Ele gemeu e passou a
mão pelo rosto. ─ Oh, Deus, por que não posso ver?
─ Você não se lembra... de nada? - Ela persistiu.
─ Não. - Ele flexionou os ombros e sentou-se ereto. ─ Lembro-me da dor. Eles
disseram que minha cabeça estava sangrando. Houve uma concussão leve, mas nada
sério o suficiente para causar a cegueira. Eu estava sozinho no lago. Havia outros
barcos, mas estavam longe. Se alguém tivesse me atingido, certamente teria destruído o
Jet Ski. - Ele acrescentou irritado.
─ Ele não foi atingido? - Ela jogou.
─ Bem, sim, foi. - Disse ele depois de um minuto. ─ Eu tinha esquecido isso. Havia um
amassado no lado. Então talvez algo tenha me atingido. - Ele franziu a testa. ─ Houve
um incidente. Eu acho que estava com raiva de alguém, por ter acelerado no lago. - Ele
rangeu os dentes enquanto Emma se encolhia interiormente. Ele franziu o cenho. ─
Porra, não consigo lembrar!
Ela estava quase prendendo a respiração agora. E desejou não ter abordado o assunto.
Mas precisava saber se havia esperança de algum dia ele poder perdoá-la se a sua visão
voltasse.
─ O que eles acham que é? - Perguntou.
Ele apertou os punhos na mesa.
─ Oh, isso é bom. - Ele disse, seu sorriso cheio de sarcasmo. ─ Eles dizem que é
cegueira histérica.
O coração dela pulou.
─ Mas você é a pessoa menos histérica que eu já conheci. - Disse ela.
Isso trouxe um sorriso fraco para o rosto dele.
─ Obrigado.
─ É um longo nome científico, não é? Como amnésia temporária ou algo assim? - Ela
imaginou.
─ Eles disseram que se eu vi algo vindo em minha direção e imaginava que poderia
ficar cego, os meus sentidos poderiam me enganar para acreditar que eu estava. Mas já
faz semanas, Emma. - Acrescentou. ─ Se eu fosse voltar a ver, eu já teria. Não, acho
que há algo mais, algo que eles perderam. - Ele juntou as mãos grandes. ─ Talvez eles o
encontrem eventualmente. Eu tenho que ter esperança. Não posso suportar o
pensamento de viver nesta escuridão pelo resto da minha vida.
Seu coração apertou. O que ele disse fazia sentido. Se fosse psicossomático,
provavelmente não duraria tanto tempo.
─ Não vamos resolver o problema hoje, de qualquer forma, então vamos trabalhar.
Leia-me a mensagem da Cybernetic Systems. Eles produzem os computadores que
usamos em nosso jato executivo, aquele com o qual estamos tendo problemas.
Ela o atendeu, sua voz suave e calma na quietude do escritório. Mas quando ela
terminou, não tinha ideia do que a mensagem queria dizer.
─ É grego para mim. - Ela murmurou.
Ele riu.
─ Não exatamente. Nós temos uma falha em um dos sistemas de backup, um erro que
continua a surgir no software. É o que ele e sua equipe estão tentando resolver. Pronto?
Aqui está a resposta...

***

Trabalharam por um período de três horas. Emma estava aprendendo muito sobre a
indústria da aviação e seus componentes. Ela não tinha percebido que tantas empresas
diferentes estavam envolvidas na construção de uma aeronave. Mas quando começou a
pensar nisso, percebeu que entre outras coisas havia o tecido usado nos assentos, o
material das caixas de armazenamento, o forno na pequena cozinha, o encanamento e os
equipamentos nos banheiros, e todas as peças dos motores, a parte eletrônica, a fiação
infinita e os sistemas de informática que realmente faziam o avião voar.
─ Como demônios um avião já sai do chão com tantas coisas que podem dar errado? -
Ela se perguntou quando enviou o último e-mail.
─ Isso foi mais fácil para os irmãos Wright. - Ele concordou com uma risada. ─ Na
verdade, antes da Primeira Guerra Mundial, os aviadores não tinham como aterrisar o
avião a menos que conseguissem que alguns carros se alinhassem e iluminassem a pista
de pouso.
─ Meu Deus!
─ Meu bisavô voou com a Esquadrilha Lafayette na França durante a Primeira Guerra
Mundial. - Lembrou ele. ─ Ele ainda estava vivo quando eu era menino. Ele pode me
contar algumas histórias. Como o momento em que ele disparou na sua própria hélice e
caiu atrás das linhas inimigas. Foi antes do desenvolvimento das metralhadoras que
dispararam através da hélice mediante a sincronização da ação.
─ Eu adoraria ter ouvido essas histórias. - Ela suspirou. ─ Deve ter sido uma grande
aventura

─ Ouvi-lo contar isso, certamente. Ele disse que quando o Barão Vermelho acertou o
seu Triplano18, os britânicos voaram e jogaram uma coroa de flores no quartel general
do inimigo em sua homenagem. Eles eram uma raça especial, aqueles primeiros
aviadores. Era uma guerra de cavalheiros no ar.
─ Eu li sobre o Barão Vermelho. - Ela confessou.
Ele assentiu.
─ Eu também. Os primeiros aviões me fascinavam. Eu acho que é por isso que entrei
para a fabricação de aeronaves em primeiro lugar. Eu queria construir algo novo, algo
inovador. Eu acho que consegui. O primeiro jatinho que criei ganhou prêmios e ganhei
meus primeiros milhões com ele.
─ Eu nunca serei inteligente o suficiente para projetar qualquer coisa. - Disse ela.
─ Eu sempre fui bom em matemática. - Disse ele simplesmente. ─ A eletrônica era uma
moleza. Aprendi tudo o que pude com homens como meu bisavô e melhorei seus
projetos. Mas eu me formei em gestão negócios em Harvard. - Acrescentou. ─ Eu
precisava saber como gerenciar o que eu tinha. Não gostava de delegar. - Ele se
recostou na cadeira cansado. ─ Eu ainda não gosto. Mas eu tenho que fazer isso agora.
Eu nem consigo ver os desenhos, muito menos aprová-los. Tenho que contar com os
meus executivos para que não nos levem a falência.
─ Se seus executivos são como Marie e Barnes, eles devem ser maravilhosos no que
fazem. - Disse ela. ─ Você tem uma habilidade para escolher as pessoas certas para o
trabalho.
Ele sorriu.
─ Eles são ótimos, não são? - Ele divagou. E inclinou a cabeça. ─ Você não é ruim,
jovem Emma. Você toma um ditado muito bem. E é boa no computador, também.
─ Eu tive que aprender no meu primeiro trabalho. - Disse ela. ─ A senhora para a qual
trabalhei não se incomodava em escrever notas. Ela apenas começava a falar e esperava
que eu escrevesse tudo. Então eu aprendi.
─ Que tipo de trabalho ela faz?
Pergunta complicada, Emma. - Avisou a si mesma. Tenha cuidado.
─ Ela era advogada. - Ela mentiu. ─ Ela dizia que ficar na frente de um júri era como
contar histórias, se você contasse uma história melhor do que o advogado de defesa,
você poderia ganhar o caso. - Na verdade, ela tinha aprendido isso de um dos amigos
dos Griers, o promotor distrital de Jacobsville, Blake Kemp.
─ É como contar histórias, não é? - Ele perguntou. ─ Mas eu vou te contar um segredo,
Emma. Geralmente é o cliente com mais dinheiro que ganha o caso. Inocência ou culpa
é relativa.
─ Isso é muito cínico. - Ela apontou.
Ele encolheu os ombros.
─ Eu sou um homem cínico. - Seus olhos sem visão olharam para a frente, cheios da
desilusão que sentia. ─ A maioria das pessoas está muito longe de conseguir o que quer.
Especialmente as mulheres.
─ Nem todas elas.
─ Pequena Miss Sunshine. - Ele repreendeu. ─ Você não quer um carro esportivo para
dirigir?
─ Eu não gosto de carros esportivos. - Disse ela simplesmente.
As sobrancelhas grossas levantaram-se.
─ Do que você gosta?

*Triplano - É uma aeronave com uma configuração de asas de tal modo que há três superfícies de sustentação verticalmente
paralelas.

─ Pickup trucks19. - Ela sorriu. ─ Era o que eu dirigia em casa, uma caminhonete de
vinte anos com um pára-choque amassado.
Meu Deus! Linha da pobreza!
─ Eu vivia dentro das minhas possibilidades. - Ressaltou ela.
─ E gostava? - Ele repreendeu.
─ Sim. - Ela sorriu ao ver sua expressão de descrença. ─ Eu lhe disse, eu gosto de ouvir
os grilos. Você pode ficar com seus cassinos e suas luzes chamativas. Gosto de ter uma
boa noite tranquila.
─ Você realmente precisa ser corrompida. - Disse ele. ─ Eu vou ter que trabalhar nisso.
─ Faça o seu pior, você não vai me mudar. - Ela ousou dizer. ─ Eu sou apenas uma
simples garota do campo. De qualquer forma, você é um milionário e pode ter todas as
mulheres bonitas e glamourosas que você aquiser. Sou muito simples para alguém como
você, mesmo que eu não fosse pobre e sem instrução.
─ Você se formou no ensino médio?
─ Claro. - Disse ela. ─ Mas eu nunca fui para a faculdade, a menos que você considere
a Escola Superior de Formação Profissional. Eu trabalhava e fazia cursos paralelamente.
─ Trabalhava como digitadora.
─ Na verdade, meu primeiro trabalho foi cozinhando. - Ela confessou. ─ Eu fazia todos
os bolos, tortas e doces para um restaurante.
─ Eu odeio doces. - Ele riu.
─ Não é de admirar que você tenha dentes brancos tão perfeitos. - Ela suspirou.
Ele franziu os lábios.
─ E um ótimo dentista. - Ele acrescentou, ironicamente. Ele se levantou da mesa. ─
Você gostaria de ir ao cassino esta noite?
Seus lábios se separaram.
─ Eu nunca estive em um cassino. - Ela fez uma careta. ─ E, honestamente, não tenho
roupas para isso...
─ Você assistiu muitos filmes de James Bond. - Ele zombou. ─ As pessoas usam
qualquer coisa, desde shorts até jeans.
─ Mesmo?
─ Mesmo. Então. Você quer ir?
─ Sim, por favor. - Ela respondeu.
─ Nós iremos logo depois do jantar. - Ele disse a ela.

***

─ Oh, meu Deus, é como... como o Natal. - Exclamou enquanto a limusine os levava
pela ponte para Paradise Island. ─ Os barcos na marina se acendem! - Ela se
entusiasmou. ─ E a cidade parece uma árvore de Natal!
Ele riu suavemente de seu entusiasmo. Ela estava usando jeans, uma blusa com
botões e tênis. Ele estava com calça azul marinho e uma camisa esportiva branca. Isso a
deixou menos inibida. Na verdade, ele não parecia um milionário esta noite.
─ Espere até ver dentro do cassino. - Ele disse a ela. ─ Tem lustres de cristal e enfeites
importados de vidro entalhado.
─ Você esteve lá antes.
─ Sim. O proprietário do Bow Tie é um amigo meu. O nome dele é Marcus Carrera.
Sua esposa é do Texas.
19 - Pickup truck

Emma sentiu como se tivesse sido golpeada no estômago com um bastão. Ela
conheceu Délia Mason antes dela se tornar a esposa de Marcus Carrera. Delia fazia
pequenos reparos para uma lavanderia e tinha um modesto atelier de costura, e Emma
trabalhava no café, em Jacobsville. Ela fez um vestido para Emma usar no único baile
que ela foi com Steven antes dele terminar o noivado.
Se Delia visse Emma, ela a reconheceria logo, e isso levaria a perguntas que ela não
poderia responder na frente de Connor. Ele pensava que ela era da Carolina do Norte. A
alegria drenou-se dela como água através de uma peneira.
─ Você ficou quieta. - Disse ele, olhando em sua direção. ─ O que está errado?
─ Nada. - Ela assegurou. ─ Eu apenas estou embevecida com a visão. Vamos conhecer
o Sr. Carrera?
Ele hesitou. Havia uma nota estranha na voz dela. Ele não conseguia entender o que
era.
─ Acho que não. Pelo menos, não esta noite, de qualquer forma. Ele e Delia levaram
seu garotinho para ver a tia na Califórnia. Ela é uma artista gráfica. Ela era casada com
o falecido irmão de Marcus. Eles tiveram dois filhos.
─ Talvez em outro momento, então. - Disse ela, e tentou não deixar o alívio que sentiu
transparecer na sua voz. ─ Oh, estamos aqui!
***

Ela segurou a mão de Connor discretamente, e sussurrou instruções para ele. O


contato era elétrico. Apenas tocá-lo a deixava atordoada. Ele tinha ombros largos e
fortes. Sua presença o fazia parecer muito mais alto do que ele era. Ela amava o toque
ligeiramente caloso de sua grande mão na dela, o cheiro picante de sua colônia. Suas
mãos também eram bem cuidadas. Ele era um homem exigente, Por toda a sua
determinação.
Enquanto caminhavam, as cabeças se voltavam para eles. Connor atraía os olhares
das mulheres. Uma delas, uma loira maravilhosa, ofegou e se dirigiu para ele.
─ Connor! - Ela exclamou, e agarrou seu braço com tanta força que quase o
desequilibrou. ─ É tão bom vê-lo! Como você tem estado?
─ Eu estou bem, Grace, e você? - Ele perguntou, sorrindo para o som de sua voz. ─
Desculpe, mas estamos atrasados. Estou mostrando o cassino a Emma.
─ Oh. - A boca perfeita da loira formou um beicinho enquanto encontrava os olhos de
Emma. ─ Bem, vou voltar para meus amigos. Muito bom te ver! Me liga!
─ Claro. - Disse ele. Ela saiu tão rápido quanto se aproximou deles.
─ Desculpe. - Ela disse suavemente. ─ Eu não a vi a tempo de avisá-lo. - Ela sabia que
ser segurado, de repente era desconcertante para as pessoas sem visão.
─ Tudo bem. - Ele respirou fortemente. ─ Ela não percebeu que não posso ver, não é?
─ Não.
─ Eu fiquei quieto. Os repórteres adoram expor as imperfeições. - Ele acrescentou
friamente. ─ Eu não quero alimentar a roda de fofocas.
─ Eu me certificarei de que ninguém perceba. - Ela prometeu, e sussurrou instruções
que os levaram ao caça-níqueis.
─ Aqui. - Disse ele, tirando uma nota de vinte dólares do bolso. Ele pediu a Barnes
para colocar várias notas em um clipe para ele antes. ─ Troque por algumas moedas e
vá jogar. Espero aqui. Ele se debruçou contra a máquina desocupada enquanto
ela corria para fazer a troca. Só demorou um minuto. Então sentou-se.
─ Aqui vou eu. - Ela riu.
─ Boa sorte.
Ela inseriu e inseriu as moedas, puxando a alavanca e esperando ganhar. Ela perdeu
mais do que ganhou. Mas continuou ganhando rodadas extras. o que a deixou jogar por
mais tempo do que esperava. Então, em sua última moeda, a máquina tocou
selvagemente e mostrou os ganhos.
Connor riu.
─ Jackpot.20
─ Sim! Oh, meu Deus! - Ela estava sorrindo de orelha a orelha. ─ É uma fortuna! -
Exclamou.
─ Quanto?
─ Cinco mil dólares!
Ele estava pensando que eram apenas alguns trocados, mas Emma parecia que tinha
tirado a sorte grande. Ele riu com indulgência.
─ Pronta para trocar o dinheiro, ou quer jogar mais? - Ele provocou.
─ Não, estou pronta. Isso é ótimo!
─ OK. Vamos.
Ela segurou a mão dele e o guiou discretamente através da multidão até o guichê de
pagamento, onde ela entregou o bilhete e recebeu seu dinheiro.
─ Agora que você está rica, está planejando me deixar? - Ele provocou enquanto
caminhavam para o ar quente da noite.
─ De forma alguma. - Ela riu. ─ Na verdade, eu sei exatamente o que quero fazer com
isso. O motorista pode nos levar ao centro de Nassau?
─ Claro. - Ele disse, deixando-a guiá-lo para o carro que estava esperando. ─ Diga a ele
onde você quer ir. Mas a maioria das lojas não vai estar aberta tão tarde...
─ Não é uma loja. - Ela disse ao motorista seu destino antes de sentar ao lado de
Connor.
─ Não consegui ouvir o que você disse a ele. Para onde vamos? - Ele perguntou.
─ A uma pequena igreja, no centro da cidade. - Disse ela. ─ Eu a vi quando passamos.
─ Uma igreja.
─ Sim. Deve ter uma pequena caixa dentro. - Acrescentou. ─ É aí que vou colocar meus
ganhos.
Ele ficou em silêncio por tanto tempo que ela achou que havia dito algo errado.
─ Está... está tudo bem, não é? - Perguntou depois de um minuto.
─ Por que você não quer ficar com ele? - Ele perguntou.
─ Porque é dinheiro fácil. - Ela respondeu. ─ Coloquei vinte dólares e ganhei cinco mil
dólares. Eu gosto de trabalhar pelo que recebo. Minha mãe me ensinou que as coisas
que você recebe sem esforço não são dignas de você.
Ele soltou um suspiro. Em toda a sua vida, nunca uma mulher que ele levou a um
cassino quis dividir quanto mais doar os seus ganhos.
─ Você não está zangado? - Ela acrescentou, preocupada.
─ Eu não estou zangado, querida. - Ele disse suavemente.

***

Ele ficou em silêncio o resto do caminho para a cidade. E ficou no carro enquanto
Emma entrava na pequena igreja e colocava seus ganhos na caixa dos pobres. Ele falou
muito pouco todo o caminho de volta para a propriedade.
─ Eu te aborreço. - Ela disse preocupada quando estavam dentro da casa.
Ele encontrou seus ombros e descansou suas grandes mãos sobre eles. Elas eram
calorosas e reconfortantes.
─ O tipo de mulher que estou acostumado, não compartilha nada. - Ele disse
calmamente. ─ Elas pegam.
─ Mamãe sempre disse que dar era muito mais nobre do que pegar.
Ele sorriu gentilmente.
─ Eu acho que sua mãe deve ser uma mulher maravilhosa.
─ Ela era. - Disse ela.
20 - Jackpot é um prémio acumulado em máquinas de cassinos ou em sorteios de loterias onde o valor do prémio aumenta
sucessivamente com cada jogo efectuado e não contemplado com o prémio máximo.

─ Morreu?
─ Há muito tempo. - Ela respondeu.
Ele franziu a testa.
─ Eu pensei que você tivesse dito que seus pais moravam na Carolina do Norte.
Ela havia dito a ele que seu pai morava lá. E sabia que havia dito a ele também que
sua mãe morreu no parto.
─ Meu pai tem uma namorada. - Disse ela. Bem, ele tinha aquela mulher vivendo com
ele. ─ Ela é muito legal. - Acrescentou, esperando que não fosse uma mentira. Ela
nunca conheceu a mulher.
─ Entendo.
─ Obrigada por me levar ao cassino. Foi realmente emocionante!
─ Estou feliz que você tenha gostado. Amanhã, tiraremos um tempo para outro passeio
turístico.
─ Isso seria bom!
─ Mas teremos que fazer algum trabalho primeiro. - Disse ele, sorrindo em sua direção.
─ Deus proiba que eu me torne uma vagabunda inútil. - Ela concordou.
Ele riu.
─ Durma bem.
─ Você também.
Ela o observou seguir pelo corredor com olhos suaves. Ela não se importava muito
com as luzes brilhantes, mas adorava ir a lugares com Connor. Ela dormiu
profundamente a noite toda.

***

Na manhã seguinte, ela encontrou um urso pardo grunhindo no escritório. Ele estava
ao telefone, obviamente furioso.
─ Eu disse a você. - Ele estava irritado com alguém. ─ O aumento nos custos foi
inevitável! Se não tivéssemos feito a mudança no design, o jato nunca passaria na
inspeção! Eu quase não consegui pousá-lo sozinho, e eu tenho voado por vinte anos!...
Sim. Sim! Eu sei tudo isso. Diga ao conselho administrativo que, se puderem encontrar
alguém para me substituir que possa garantir o lucro que eu lhes dei, que façam isto. E
essa é a minha última palavra. - Ele desligou o telefone e jogou-o em sua mesa, onde ele
caiu com um baque. Ele disse um palavrão.
─ Chefe? - Ela perguntou hesitante.
Seu humor negro começou a desaparecer. Ele fez uma careta.
─ Malditos trapaceiros, traiçoeiros, ladrões. - Ele murmurou. ─ Questionando uma
decisão minha que rendeu ganhos de dez por cento, e eles estão irritados com um
aumento de custos! Nessa economia, eles têm sorte de ter uma empresa para empregá-
los!
─ Todos nós passamos por tempos difíceis. Por que você não vem caminhar na praia e
finge que é um vagabundo sem dinheiro?
Ele hesitou, então de repente explodiu em gargalhadas. Seus olhos claros estavam
iluminados com humor.
─ Um vagabundo sem dinheiro?
─ Certo! Então você pode desfrutar da praia sem preocupações com dinheiro para
assombrá-lo.
Ele respirou fundo.
─ Por que não? Vá na frente.
Ela pegou sua mão e o levou junto com ela, descrevendo o caminho e a distância até
a praia.
─ Você é muito boa nisso. - Ele observou.
─ A necessidade é a mãe da invenção. - Citou. ─ Agora. Apenas fique aqui com seus
pés nas ondas e embebede-se nesse delicioso ar!
Ele assim o fez. Ele parecia relaxar mais com cada respiração.
─ Eu nunca tenho tempo para gastar assim. - Ele observou depois de um minuto. ─
Sempre há uma reunião, um jantar, uma conferência de trabalho ou um telefonema...
Ela olhou para ele e ficou feliz por ele não poder ver seu rosto. Ela o adorava, e isso
era aparente. Ele era o homem mais másculo que já havia visto em sua vida, e nunca
poder tê-lo a feria. Além de seus sentimentos, sempre havia o medo de que um dia ele
descobrisse sua verdadeira identidade. Ela sabia o quão vingativo ele era. Não haveria
lugar onde ela pudesse ir que ele não a encontraria. A vingança seria terrível.
Ela mordeu o lábio inferior. Diziam que a confissão era boa para a alma, não é?
Talvez agora fosse a hora de lhe dizer a verdade, e rezar por sua misericórdia. Se ele
ainda não sabia o tipo de pessoa que ela era, ele nunca o faria.
─ Há algo que eu preciso dizer. - Ela começou hesitante.
Ele se virou para ela, grande, sensual e provocador.
─ Algo escandaloso?
Ela virou.
─ Bem...
As mãos dele circundaram sua cintura e ele a levantou, segurando-a contra ele, perto,
muito perto e acariciou o rosto dela com o dele.
─ Você pode me dizer qualquer coisa, Emma. - Ele sussurrou. Seus lábios deslizaram
pela bochecha dela até o canto da boca. ─ Qualquer coisa.
Seu coração acelerou. Ela deslizou seus braços em volta do pescoço dele, apenas
para se assegurar de que ele não a deixaria cair, ela racionalizou.
─ Eu posso? - Ela sussurrou de volta.
O som das ondas era muito alto. Ou era a batida alta de seu coração, ecoando para
que ele pudesse ouvi-lo.
─ Sim. - Ele murmurou quando seus lábios encontraram sua boca. ─ Você pode.
O movimento provocador a deixou faminta. Inconscientemente, ela começou a seguir
os lábios dele com os seus, tentando pressioná-los mais forte.
As mãos dele apertaram sua cintura. Ele a deixou escorregar, apenas o suficiente para
deixá-la sentir os seus polegares provocando sob seus seios, e isso fez seus braços puxá-
lo para mais perto.
Ela mal estava respirando. Tinha medo de se mover, medo de quebrar o feitiço. Ele
cheirava a café e colônia picante, e ela não queria nada além de sentir sua boca sensual
aberta, pressionando seus lábios, umedecendo-os no silêncio que pendia como um véu
de seda à sua volta.
─ Excitada, Emma? - Ele sussurrou em sua boca.
Ela engoliu em seco.
─ Sim. - Ela admitiu.
─ Mostre-me... - Sua boca se abriu em seus lábios, pressionando-os, e ele gemeu
quando o desejo cresceu dentro dele. ─ Emma! - Seus braços foram completamente ao
redor dela, e ele a beijou com um desejo tão angustiado que ela gemeu sob a paixão de
sua boca.
Ele ouviu a excitação em seu tom e sentiu isso em seus ossos.
─ Dói, não é, Emma? - Ele respirou em sua boca.
─ Dói. - Ela sussurrou enquanto ele a beijava de novo.
Seu corpo estava fazendo uma declaração enfática sobre o que queria. Ele a queria.
Ele não tentou ocultá-lo, embora sentisse seu suave suspiro e sua resistência a ele,
apenas por alguns segundos. Ele estava curioso sobre sua relutência. Ela estava
envolvida. Ela sabia como funcionava. Ele estava imaginando coisas.
─ Connor. - Ela gemeu quando ele aprofundou o beijo.
─ Logo, querida. - Ele respirou em sua boca. ─ Logo! Logo... o que?
Mas antes que ela pudesse perguntar, antes que ele pudesse se virar para a casa, a voz
de Marie chamou dos arcos arborizados.
─ Sr. Sinclair, há uma chamada para você dos Estados Unidos!
─ Oh, maldição. - Ele pousou na boca acolhedora de Emma.
Ela respirou fundo.
─ Eles querem que você salve o mundo. - Ela respirou trêmula.
─ Eu daria o mundo para levá-la para a cama, Emma. - Ele respirou em seus lábios. ─
Eu quero você. Deus, eu quero você!
Ela estremeceu um pouco.
─ Oh, mas...
─ Sr. Sinclair, você está por aí? - Insistiu Marie. ─ Eles dizem que é urgente!
Ele resmungou em voz baixa enquanto colocava Emma de novo no chão.
─ Tudo bem, leve o velho cavalo cego de volta ao celeiro, Emma. - Ele murmurou.
─ Você não é velho. - Ela disse com voz rouca. ─ Você nunca será velho.
Ele riu e seus olhos cinzentos brilharam.
─ Oh?
Ela limpou a garganta.
─ Temos que nos apressar.
─ Exatamente o que eu estava pensando. - Ele disse, e o tom de sua voz era suficiente
para fazê-la sentir-se em pânico. O que ela tinha feito?
CAPÍTULO SETE

Infelizmente, o telefonema levou a mais duas ligações telefônicas, e isso o levaram a


uma reunião no centro de Nassau com um grupo de investidores que queriam que
Connor se juntasse a suas fileiras.
─ Eu adoraria não precisar ir a reunião. - Disse Connor enquanto esperava pela
limusine. ─ Mas parece uma boa oportunidade de investimento, e com o aumento de
custos, não posso realmente me dar ao luxo de ignorá-la.
─ Você quer que eu vá e tome notas? - Perguntou ela.
Ele estendeu as mãos e apertou a mão dela nas suas.
─ Não desta vez, querida. Eles têm um estenógrafo com eles. - Ele levantou a mão para
os lábios dela. ─ Eu odiei ser interrompido. - Ele sussurrou. ─ Mas nós temos a noite
toda, não temos? - Ele ronronou.
─ Sobre isso... - Ela começou.
─ Sem mais brincadeiras, Emma. - Ele disse calmamente. ─ Você pode ter tudo o que
quiser. Eu estou falando sério.
─ Mas eu não quero nada. - Protestou ela.
─ Diamantes? - Ele tentou. ─ Esmeraldas? Uma casa de praia aqui e milhas gratuitas de
passagens frequentes para que você possa vir sempre que quiser?
─ Eu não quero nada. - Ela repetiu.
Ele a puxou para perto.
─ Você me quer. - Ele disse em voz baixa, inclinando a cabeça em direção ao rosto
dela. ─ Você me quer tanto quanto eu quero você.
─ Eu não posso. - Ela gemeu.
─ Você sabe que quer. - Disse ele suavemente. ─ Não vou deixar que nada aconteça
com você. Eu prometo.
Seu rosto ficou intensamente corado. Ele estava falando sobre a prevenção de uma
gravidez. Céus, o que ela o levou a pensar?
─ Foi apenas um beijo. - Ela vacilou.
Seus dedos se uniram lentamente com os dela.
─ Você me disse que sentia falta da intimidade que você tinha com seu noivo. Eu não
tenho uma mulher na minha vida agora.
─ Você tem... ela.
─ Ela?
─ Aquela morena brilhante que você levou à cidade e com quem passou a noite toda. -
Ela puxou a mão e recuou.
─ Ariel? - Ele lembrou que mandou Emma enviar flores e chocolates para Ariel, com a
intenção de que Emma acreditasse que ele estava dormindo com Ariel, que estava
recebendo o que Emma se negou a dar a ele. Seu peito subia e descia.
─ Ela é como todas as outras, Emma. - Disse ele depois de um minuto. ─ Elas
entorpecem a dor por um tempo. Então elas vão embora .
─ Como eu teria que ir. Depois de entorpecer a dor.
Ele franziu o cenho quando ouviu o carro parar nos degraus da frente.
─ Podemos conversar sobre isso mais tarde. Eu tenho que ir.
Ele virou-se e saiu pela porta da frente, permitindo que o motorista o ajudasse a
entrar na limusine.
Emma entrou e anotou os pontos das conversas dos e-mails que ele recebeu durante a
manhã.

***

Ele não voltou para a casa até depois do anoitecer. E dispensou o jantar, assegurando
a Marie que jantou com os investidores.
─ Emma, você jantou? - Ele perguntou.
─ Sim, senhor. - Disse ela. Ela tinha comido muito pouco. E passou o dia inquieta,
preocupada com o que ele esperaria dela quando voltasse para casa. Ela o adorava, mas
não ia dormir com ele. Sabia que ele acreditava que ela tinha estado intimamente com
Steven. Teria que dizer a verdade. Era a única forma de mantê-lo à distância. Ela
cederia se ele a pressionasse, e ela não podia arcar com as consequências. Seu coração
estava envolvido, mas definitivamente o dele não estava. Era o corpo dele que doía por
ela, e só até a satisfação que desejava. Ele disse isso. Ele queria que ela entorpecesse a
dor. Nada mais. E então ela teria que ir embora, como todos as outras já tinham ido
embora.
Mas Emma... o amava. Ela o amava. E sabia disso agora, e não podia ceder a ele, e
depois continuar com sua vida. Não só isso iria contra tudo o que ela acreditava, como
seria uma lembrança que a perseguiria pelo resto de sua vida. Ele continuaria com a
próxima mulher, mas Emma ficaria ligada à memória. Sem ele, ela não teria vida.
─ Eu preciso ditar uma carta aos investidores. Vou encontrá-la no escritório. Barnes!
Venha me ajudar a trocar de roupa.
─ Sim, senhor. - Disse o homem mais velho imediatamente.

***

Connor tinha duas cartas para ditar, sobre o encontro com o grupo de investidores,
uma para o Presidente do conselho de sua companhia de aeronaves, e outra para seus
acionistas. Era uma explicação do por que ele iria investir uma parte dos lucros da
empresa em um novo e inovador software que poderia revolucionar a cabine de
comando de navegação.
Ele também citou alguns dos outros investidores. Um era um homem do oeste do
Texas com um nome que Emma reconheceu. Cort Grier, o irmão de Cash. Se ele
estivesse em Nassau, ela tinha que se comportar como se não soubesse quem ele era.
Ele nunca a tinha visto, mas estava certa de que ele a conhecia através de Cash e Tippy.
Isso nunca daria certo. Se ele mencionasse essa ligação para Connor, ele poderia se
lembrar da vizinha problemática que quase o atingiu com uma lancha. Isso poderia
refrescar sua memória de um jeito letal.
Ele não lembrava quem o atingiu, quem causou sua cegueira. Mas uma vez que
soubesse quem era Emma realmente, seria fácil para ele ligar uma coisa a outra.
Atropelamento e fuga era um crime, e foi o que ela fez. Ela o atingiu no lago e não
parou para ver se ele estava bem. Pior, ele poderia pensar que ela tinha feito isso de
propósito, o que poderia levar a outra acusação de crime. Ele poderia fazê-la ser presa e
processada, e que defesa a salvaria? Tinha sido tola em aceitar esse trabalho. Ela deveria
ter voltado para o Texas logo.
─ Você ficou quieta novamente, Emma. - Ele provocou.
─ Estou com sono. - Ela mentiu, com um sorriso na voz.
─ A esta hora? Deus me livre! Espere por mim. - Ele acrescentou gentilmente. ─ Posso
ter alguns e-mails para enviar depois da reunião. Com a diferença de fuso horário, posso
fazer negócios ontem e amanhã com o resto do mundo, mesmo que as pessoas nos
Estados Unidos estejam dormindo. - Ele riu.
─ Ok. - Ela desejou não ter concordado tão rapidamente. Havia um olhar estranho,
presunçoso e quase predatório no rosto largo quando ela respondeu. Ele pensava que ela
seria uma presa fácil. Ele estava certo. Ela tinha que começar a inventar desculpas nesse
momento.
Mas antes que ela pudesse encontrar qualquer coisa útil, ele estava saindo pela porta.
─ Barnes! - Ele chamou. ─ Vamos.
─ Já os fiz trazer a limusine, senhor. Está esperando por você.
─ Obrigado. - Ele fez uma pausa o suficiente para sussurrar algo a Barnes, que olhou
para Emma com uma expressão preocupada. Mas ele era bem treinado, e rapidamente
apagou a emoção de seu rosto.
Connor saiu. Emma voltou para o escritório, para lidar com a desordem usual de e-
mails que vinham de seus vários departamentos. Ele mantinha um assistente executivo
em seu escritório em Atlanta, e outro na sede da empresa em Chicago. Emma aprendeu
seus nomes e teve o cuidado de ler qualquer coisa que eles enviassem para Connor
assim que as mensagens eram recebidas. Então ela fazia um resumo, os pontos
principais de cada um, de modo que ele não se cansasse de ouvir dezenas de perguntas.
Qualquer coisa que ela pudesse consultar a sua secretária executiva em Chicago, Tonia,
ela o fazia. Aparentemente, Tonia era praticamente seu segundo em comando. Ela
coordenava o pessoal administrativo e reportava a Connor as decisões que eram
necessárias da sua parte.
A empresa de aeronaves poderia ser chamada de internacional, mas era mais
apropriado dizer que tinha filiais no exterior. Havia filiais na maioria das nações
europeias, junto com gerentes competentes que podiam fazê-las funcionar sem ser
microadministrados. Connor deixava os gerentes sozinhos até que os problemas
surgissem. Ele os contratava por sua capacidade administrativa, ele havia dito uma vez,
e eles eram bons em seus trabalhos. Ele tinha uma cadeia de comando em cada filial, e
Tonia sabia a quem chamar em uma emergência se não pudesse localizar Connor. Ela
estava com a empresa há vinte anos. Emma pensava nela como assistente
administrativa, mas Connor disse que Tonia era mais uma gerente de mesmo nível dos
da filial. Mesmo as pessoas internas, as pessoas de gerenciamento de vôos respondiam a
ela tanto quanto a Connor.
Ela notou que, apesar de manter uma frota de jatos corporativos, capazes de viajar
internacionalmente, ele não ia para muitas reuniões. Ele disse a ela que as reuniões
geralmente eram improdutivas e caras. A menos que ele estivesse fechando um acordo,
ele deixava seus executivos lidarem com as irritações do dia-a-dia. O fato de seu rosto
ser tão conhecido era outra razão pela qual ele não gostava de ser visível. Ele comprara
a casa do lago na Geórgia com a ideia de que seu próprio isolamento o protegeria da
imprensa. E o tinha protegido. Era um condomínio fechado, então os jornalistas teriam
que passar pelo muito formidável guarda de segurança que ocupava o portão. Até agora,
ninguém entrava sem que não estivesse na lista de visitantes aprovados.
Ela deslizou as mãos lentamente sobre o tampo da mesa, rastreando onde os grandes
dedos de Connor descansaram enquanto ele estava ditando as cartas. Era patético, disse
a si mesma, ser tão louca por um homem que ansiava o toque de suas impressões
digitais. Ela riu suavemente para si e voltou ao trabalho.

***

Ele voltou tarde. Eram depois das dez horas quando a limusine o deixou na porta da
frente. Barnes já tinha ido para a cama. E Marie também. Era incomum para eles se
recolherem tão cedo, mas talvez ambos estivessem cansados, ela racionalizou. Ela não
ousou pensar em outra razão pela qual eles poderiam ter sido informados para se
retirarem. Ele parou na sala de estar, a grande mão na parte de trás do sofá, o rosto
cansado.
─ Emma? - Ele chamou.
─ Estou aqui mesmo, senhor. - Ela disse com sua voz suave.
Ele soltou um suspiro.
─ Venha comigo. Preciso de ar fresco.
Ela passou a mão na dele.
─ É assim. Dois passos para a frente, vire à direita.
Ele seguiu suas instruções, rindo.
─ Você conseguiu fazer disso uma ciência, não é?
─ Eu estou trabalhando nisso.
─ Só um segundo. - Ele tirou o casaco e o entregou a ela. Sua gravata seguiu o mesmo
caminho, junto com seu cinto. ─ Muito melhor. - Ele disse fortemente. Enquanto ela
estava colocando suas coisas na parte de trás do sofá, ele desabotoou a camisa. ─ O que
eu poderia fazer com alguns minutos de paz. Coloque isso em algum lugar, também. -
Ele tirou o celular e o entregou a ela. ─ Desligue isso. Estive disponível o suficiente por
um dia.
─ Sim senhor.
Ela desligou o celular e colocou-o na ponta da mesa. Então pegou a mão dele e o
levou para o pátio, onde uma brisa balançava as palmeiras altas e os pinheiros casuarina.
─ Há um grande divã, grande o suficiente para dois. - Disse ele. ─ Onde está?
Surgiram sinos de alarme em sua cabeça, mas a sensação da mão dele na dela fez
com que ela fosse imprudente.
─ Por aqui.
─ Eu gostaria de um copo de vinho. Não temos um pouco de branco que esteja gelado?
─ Sim. Marie colocou na geladeira.
─ Sabe como usar um saca-rolhas? - Ele provocou.
─ Eu acho que posso descobrir como.
─ Traga-me um copo. E um para você. - Ele sorriu, como se fosse uma piada particular.
─ Não demore. Eu posso tropeçar em alguma coisa. - Ele acrescentou enquanto sentava
no grande e almofadado divã no pátio, perto da enorme piscina na parte de trás da
propriedade.
─ Eu não vou
.
***

Ela encontrou o saca-rolhas. Depois de duas tentativas, conseguiu retirar a rolha de


cortiça. Encheu duas pequenas taças de vinho e voltou a colocar a rolha, colocando a
garrafa na geladeira. Ela saiu para o pátio e entregou a taça de Connor, mantendo a sua.
─ O ideal seria termos um balde de gelo e champanhe. - Ele murmurou. ─ Sente-se.
Aqui, ao meu lado.
─ Eu nunca bebi champanhe. - Ela respondeu.
─ Ou vinho, pelo som das coisas. Não estou tentando deixá-la embriagada, para o caso
que você estar se perguntando. - Ele resmungou.
─ Você ainda está me corrompendo, você é uma influência ruim. - Ela repreendeu.
─ Prove o vinho. É um chardonnay. É como beber o sol.
Ela estava hesitante. Mas colocou a taça em seus lábios e tomou um gole. E fez uma
careta. Não era um vinho doce, como o vinho de amora em que sua mãe tinha
mergulhado um pano e enrolado o bolo de frutas no Natal. Era seco. Mas depois do
primeiro gole, o próximo não pareceu tão ruim. Pelo quinto, ela já gostava do sabor.
─ Sem queixas? - Ele provocou.
─ É muito bom. - Disse ela, surpresa. ─ Eu pensei que teria gosto de remédio. O meu
pai gostava de... bebidas quentes. - Ela mentiu. Seu pai gostava de whisky puro e ela já
havia provado um gole uma vez. Não tinha sido agradável.
─ Há um mundo de diferença entre whisky e vinho, querida. - Ele disse suavemente.
Ela sorriu. O carinho a fez estremecer por toda parte. Ela realmente se sentia bem.
─ O que você está vestindo? - Ele perguntou.
─ Meu vestido de verão amarelo. - Ela disse sem pensar. ─ Está muito quente, mesmo
com o ar condicionado...
Ele riu.
─ Por que você acha que eu tirei minha jaqueta? Há sempre uma brisa aqui fora. Parece
bom. Aqui. Coloque em algum lugar, por favor? - Ele entregou-lhe a taça de cristal
Waterford.
Ela a colocou junto a dela, na mesa de vidro próxima.
─ Agora venha se esticar comigo e vamos contar os grilos.
─ Grilos? - Ela riu, surpresa.
─ Nós temos grilos aqui? - Ele perguntou quando ela deslizou para o divã ao lado dele.
─ Você sabe, eu não tenho certeza. Teremos que perguntar a um nativo.
─Boa sorte em encontrar um a esta hora da noite. - Ela murmurou, bocejando.
─ Você não está com sono? - Ele perguntou com uma surpresa fingida.
─ O vinho me deixa sonolenta, aparentemente. - Ela murmurou, deixando a cabeça
deslizar lateralmente sobre o ombro largo dele. Isso a fez sentir-se bem, então ela se
virou e deslizou a mão sobre seu amplo peito coberto de pelos. A sensação de sua pele a
abalou e seus dedos pararam.
Ele os apertou mais.
─ Está tudo bem. - Disse ele. ─ Não lamento de ter você assim comigo.
Ela sorriu.
─ OK.
Ele se virou lentamente, de modo que ela de repente estava de costas e ele estava
inclinado sobre ela. Mas ele não fez nenhum movimento agressivo. Sua mão foi até o
rosto dela.
─ Eu não posso ver você de outra maneira. Tudo bem? - Ele perguntou suavemente.
─ Sim. Mas não há muito para ver. - Disse ela com tristeza.
Seus grandes dedos, calejados e quentes, moviam-se sobre o rosto oval, levemente
sobre os longos cílios, o nariz reto, o arco da boca, o queixo arredondado. E deslizaram
para baixo.
─ Você tem pescoço longo. - Disse ele.
─ Como minha mãe.
─ E pequenas orelhas. - Ele provocou, traçando-as.
─ Como minha avó.
Sua mão deslizou para baixo, até a borda do corpete franzido, mas quando ela
enrijeceu, a mão ergueu-se e se moveu para a cintura, o estômago e para baixo sobre
uma perna.
─ Você não é alta, certo? - Ele perguntou.
─ Eu chego ao seu ombro. - Ela lembrou. ─ Mas você é alto.
─ Comparado comigo você, é baixinha. - Ele provocou.
─ Eu tenho 1,65 de altura. Isso não é ser baixinha. - Ela riu de seu próprio jeito de falar,
um som borbulhante e desinibido na escuridão.
─ Não tanto, talvez. - Ele se aproximou. Sua respiração cheirava a vinho e café. Sua
boca cinzelada roçou sua testa, suas pálpebras fechadas. Ele moveu-a sobre o nariz e
mais para baixo lentamente, provocando os seus lábios.
Ele ouviu a respiração dela mudar. Sua boca se abriu, tentadora, provocante, de
modo que o contato apenas a deixou faminta por mais.
Enquanto ele provocava sua boca, a mão alisava sua caixa torácica. Os dedos dele
exploravam abaixo do seio firme em um toque que não era íntimo, mas que ela sentia
como se fosse.
A outro mão foi para debaixo da cabeça dela e hesitou no rabo de cavalo que
encontrou lá.
─ Eu não gosto de seus cabelos amarrados. Deixe-os soltos, Emma.
─ Mas...
Sua boca deslizou suavemente sobre a dela.
─ Solte-os, querida. - Ele sussurrou em seus lábios separados.
Aquela voz! Era mais doce que o mel, entorpecente, profunda e suave no silêncio do
pátio. Era impossível não ser afetada por isso. Ela tirou o laço e deixou os cabelos
caírem como uma seda ao redor de seus ombros.
─ É muito longo. - Ele murmurou, percorrendo o comprimento enquanto levantava e
separava os fios. ─ De que cor é?
─ Loiro-claro. - Ela disse, sua voz um pouco instável.
─ Loiro-claro. - Sua bochecha acariciou a dela. Ele pegou uma mecha do cabelo dela
em sua mão e puxou seu rosto. ─ Eu nunca gostei de loiras, até você chegar...
Ela sentiu sua boca se colocar sobre a dela, sentiu a excitação e o controle nela. A
mão dele contraiu em seus cabelos, inclinando seu rosto para poder pressionar sua boca
com a dele. Enquanto ele a beijava com uma paixão crescente, sua outra mão deslizou
por sua caixa torácica e logo cingiu seu seio pequeno e firme.
Ela queria protestar. Ela queria detê-lo. Mas o vinho e seu próprio desejo amarravam
suas mãos. Ela estremeceu com o prazer que seu toque causava em seu corpo
inexperiente. Ela nunca tinha sido tocada de maneira tão perturbadora, com tanto
desejo.
Ele se aproximou. Sua boca se movia e levantava, provocando a dela enquanto a mão
dele subia e descia, de repente, a mão entrou sob o vestido e o sutiã frágil, diretamente
sobre sua carne macia.
Ela se arqueou impotente pelo prazer que a atravessou como fogo. E ofegou com a
excitação que provocou. Suas mãos entraram nos grossos cabelos pretos dele e ela
gemeu.
─ Você gosta disso? - Ele sussurrou. ─ Você vai gostar mais disso...
Enquanto falava, sua boca deslizou sobre o queixo, a garganta, a clavícula, debaixo
do tecido, diretamente sobre o seio nu. Antes que ela conseguisse protestar, ele colocou
a boca em seu seio e provocou o mamilo com a língua, tornando-o duro.
Ela gritou suavemente quando sentiu a paixão real pela primeira vez em sua vida.
Connor achou suas respostas intrigantes. Ela aceitava o que ele fazia com ela, ainda que
relutantemente, mas não correspondia como as mulheres experientes que conhecia. Não
importava. Ele a queria tanto que estava agradecido por cada consentimento.
Ele rolou, seu corpo pesado sobre o dela enquanto a boca se erguia. Ele puxou o
corpete de seu vestido e o sutiã frágil. Sua boca encontrou a dela enquanto ele se
abaixava, entre as pernas dela, o peito nu contra os seios nus.
As unhas dela arranharam as costas dele. Ela se ergueu até ele, choramingando um
pouco com o inesperado choque de desejo que ele provocava nela. Involuntariamente,
ela tentou se aproximar ainda mais do corpo pesado que estava tão perto do dela. Ele
ficou excitado. Ela nunca esteve perto de um homem excitado em sua vida, e ela
realmente deveria estar protestando agora, porque ele estava segurando o seu quadril
com uma grande mão e ele a puxava forte contra o impulso de seu corpo.
Ela estremeceu, agarrando-se mais forte a ele.
─ Emma. - Ele gemeu. Sua boca pousou na dela enquanto seu corpo se movia impotente
sobre o dela, ritmado e excitante, contra as camadas de tecido que os separavam.
Ele respirou fundo.
─ Não é bom. Não podemos ter um ao outro aqui. Temos que entrar.
Ele se levantou e a levou com ele. Seu rosto estava corado de desejo, seu corpo
rígido por isso.
─ Você está tomando anticoncepcional? Se você não está, tudo bem. Eu mantenho o
que eu preciso na gaveta ao lado da minha cama.
Ela entrou em pânico. Ele pensava que ela ia dormir com ele. Ela não sabia o que
fazer. Ele estava tão excitado que explodiria quando recusasse. Ela podia perceber isso
em seu rosto tenso.
Prevenção. Ele estava falando sobre prevenção. Claro. Ele não queria filhos. Ela
queria uma criança com ele, desesperadamente. Mas era impossível. Ele só queria
algumas horas, não uma vida inteira. Ela tinha que pensar. O que fazer?
─ Emma? - Ele perguntou com dureza.
─ Eu tenho... que parar no meu quarto por um... um minuto. - Ela balbuciou.
Ele relaxou um pouco.
─ Tudo bem então. Me ajude a entrar. Posso chegar ao quarto sem você.
─ Certo.
Ela soltou a mão dele no corredor.
─ Só vou demorar um minuto. - Ela mentiu.
Ele a puxou para si e se inclinou para beijá-la com avidez.
─ Não me deixe esperar muito tempo. - Ele sussurrou.
─ Tudo bem. - Ela concordou.
Ele a deixou ir e se moveu lentamente pelo corredor em direção ao seu quarto. Ela
entrou no quarto e fechou a porta. Quando ela ouviu a porta dele se fechar, ela trancou a
porta dela e correu para o banheiro. Abaixou a tampa do vaso e sentou-se lá, tremendo,
se amaldiçoando por deixar as coisas chegarem tão longe. Ele ficaria furioso. Ele
provavelmente a demitiria. Ela deveria ter lhe dito a verdade, toda ela, no primeiro dia
que o viu depois dele ficar cego. Agora era tarde demais. Ela deixou a chance passar.
Ele a odiaria para sempre esta noite, e ela não podia culpá-lo. Ela nunca devia ter
deixado as coisas chegarem tão longe!
Passaram-se alguns minutos. Ela ouviu uma porta ser aberta. Houve um toque em sua
porta. Ela pensou ter ouvido o seu nome ser chamado. O toque se transformou em uma
pancada seca e depois em um golpe duro. Seguiu-se pela linguagem mais suja que ela já
tinha ouvido, e ela agradeceu que Marie e Barnes tivessem quartos do outro lado da
casa. Esperava que eles não conseguissem ouvi-lo, porque certamente adivinhariam o
que aconteceu.
Finalmente, ele desistiu e foi embora. Sua porta bateu com tanta força que o chão
estremeceu. Ela relaxou. Ela tinha se afastado. Mas a que custo?
Ela foi para a cama, culpada e envergonhada. Ela o seduziu. Era uma coisa fria e
cruel de se fazer. Foi principalmente o vinho, mas não completamente. Ela o amava. Ele
era a lua e as estrelas para ela. Ela não queria nada que ele tinha. Só queria ele. Mas
depois dessa noite, ele a odiaria. Ela temia levantar-se na manhã seguinte. Isso seria
horrível.

***

Horrível era uma palavra suave para o frio ártico na mesa do café da manhã. Connor
mal dizia duas palavras e nenhuma para ela.
─ Vamos voltar para a casa do lago. - Ele disse secamente. ─ Marie, ligue para Brent.
Diga-lhe para que os empregados voltem amanhã. Peça-lhes que abasteçam o jato,
Barnes.
Eles foram cumprir suas tarefas, deixando-a sozinha com Connor.
─ Sinto muito... - Emma começou miseravelmente.
─ Empacote o laptop. - Ele a interrompeu em um tom profissional. ─ Eu convidei
algumas pessoas para o lago por alguns dias. Estou dando uma festa para os investidores
do meu grupo. Marie vai cuidar dos detalhes, mas você será necessária para tomar notas
periodicamente.
─ Claro, senhor. - Disse ela calmamente.
─ Você enviou os e-mails ontem?
─ Todos eles. Havia algumas perguntas que não consegui responder...
─ Eu lido com elas quando chegarmos em casa. Faça as malas. - Ela hesitou, mas
apenas por um minuto.
─ Sim senhor.
Era um dia quente, mas ela sentia o frio até os ossos. Ele a estava tratando friamente.
Provavelmente pensava que ela estava fazendo jogo duro para conseguir algo que queria
e que iria trocar por seu corpo. Não era verdade, mas essa era o tipo de mulher a que ele
estava costumado.
Ela queria dizer-lhe o que sentia, por que tinha se afastado dele. Queria que ele
soubesse o quão inocente era. Ele provavelmente não acreditaria nela se lhe dissesse. De
qualquer forma, ele não estava disposto a ouvi-la. E havia deixado isso claro. Ela foi até
o quarto e empacotou as coisas. Era como da outra vez em que ele a segurou e a beijou,
em uma das vezes em que ele teve enxaqueca. Ele ficou furioso por dias depois e a
tratou mal. Mas dessa vez era pior. Ele não estava impaciente ou sarcástico. Ele
simplesmente a estava ignorando. Ele a estava tratando como um dos móveis do
escritório. Doía mais do que quando ele ficava furioso.

***
Um dos primeiros convidados a aparecer foi Ariel Delong de Atlanta. Ela era a
mulher que ele havia levado à cidade. A que Emma enviou flores e chocolates. Mas
quando Ariel entrou pela porta, Emma notou algo pior. Ela era a mulher que chamou
Connor para comer o suflê, no dia em que Emma falou com ele na praia. Isso foi depois
dele ter chamado a sua atenção por causa da lancha. Ela rezou para que Ariel não
reconhecesse sua voz. Ela telefonou para a casa de Connor para ver como ele estava
após o acidente, fingindo ser secretária de outro empresário. Seu sotaque do sul do
Texas ainda era evidente, embora ela tivesse tentado ocultá-lo.
Ariel lhe deu um olhar longo, insolente e fez um som divertido antes de correr para
Connor. Ela envolveu seus braços em volta dele e baixou a cabeça para beijá-lo com
habilidade.
─ É tão bom vê-lo, amado. - Disse ela com voz rouca. ─ Eu senti sua falta!
Ele riu.
─ Eu também senti sua falta. O que você está vestindo?
─ Por cima? Ou por baixo? - Sua voz baixou sugestivamente.
Ele franziu os lábios.
─ Venha andar comigo. Você pode descrever o caminho para mim.
─ Eu adoraria!
Ela pegou sua mão e puxou-o para a porta. Emma trincou os dentes. A mulher iria
desorientá-lo e ele iria cair. Ela não tinha ideia de como orientá-lo ou guiá-lo. Mas
Connor não parecia se importar. Ele a acompanhou.
Ela não percebeu que estava olhando para eles.
─ Você precisa de um alfinete e uma boneca voodoo para fazer isso de forma adequada,
você sabe. - Disse uma voz acentuadamente britânica atrás dela.
Ela virou bruscamente, recuperando o fôlego.
─ Oh. Sr. Sims. - Ela riu. ─ Você me assustou.
─ Desculpe. - Disse Alistair Sims, sorrindo. Ele era alto, com entradas no cabelo e
lindos olhos negros. ─ Você estava lhes dando um mau olhado.
─ Não sou eu quem deve aprovar os amigos do chefe. - Disse ela suavemente.
─ Ela é uma cavadora de ouro da pior espécie. - Ele respondeu sombriamente. ─ Ele a
dispensou algumas semanas atrás. Não consigo imaginar por que ele a está trazendo de
volta a sua vida. Ela é uma ação judicial em busca de um lugar para acontecer.
─ Uma ação judicial?
─ Se ela puder seduzi-lo, e então alegar estar grávida... - Ele parou de uma vez quando
viu o rosto dela. ─ Desculpa. Isso foi brusco. Vem de muitas horas passadas no tribunal
como promotor.
─ Eu pensei que você era um... advogado corporativo. - Ela balbuciou.
Ele riu.
─ Eu sou agora. Mas eu era assistente da promotoria no condado de Fulton antes de
mudar para cá, depois que minha esposa morreu. - Seu rosto endureceu com o
sofrimento.
Ela se aproximou um pouco mais.
─ Marie me contou sobre ela. Eu sinto muito.
Ele fez uma careta.
─ Foi há muitos anos, você sabe. - Disse ele. ─ Mas eu nunca superei.
─ Meus avós foram assim. - Ela lembrou. ─ Ela morreu primeiro. Ele lamentou por
anos. Então, uma manhã, ele se sentou na cama, sorrindo e disse: "Anita está vindo me
buscar hoje!" nenhum de nós entendeu o que ele queria dizer. Naquela tarde, ele
apenas... foi dormir e não acordou. - Ela sorriu com tristeza. ─ Imaginamos que Granny
voltou para ele. Um velho ditado de quando eu era criança dizia que a pessoa que mais o
ama seria enviada para buscá-lo quando fosse seu tempo de ir.
─ Esse é um bom pensamento. - Ele refletiu.
─ É o tempo.
Ele piscou e levantou ambas as sobrancelhas.
─ O tempo é tudo o que nos separa das pessoas que amamos e que nos deixaram. Se eu
pudesse voltar doze anos no tempo, meus avós ainda estariam vivos.
Ele inclinou a cabeça.
─ Se eu pudesse voltar, minha esposa estaria aqui.
Ela sorriu tristemente.
─ Agora, se pudéssemos encontrar uma maneira de mudar o tempo. - Ela começou.
Ele riu.
─ É o que dizem.
Portas de carro se fecharam, seguidas pelo som das vozes.
─ Temos companhia. - Disse Alistair Sims com um longo suspiro. ─ Eu odeio essas
festas que ele dá. Eu não sou um animal social. Gostaria de ter uma desculpa para sair,
mas sou necessário para negociações dos contratos, receio.
─ E eu sou necessária para tomar notas. - Ela acrescentou.
─ Almas gêmeas. - Ele riu.
Ela apenas sorriu. Mas seu coração não estava nisso.

***

Ariel não saiu do lado de Connor por um só minuto. Ela parecia colada a ele, e ele
parecia estar feliz om isso. A única vez que eles ficavam separados era quando um deles
tinha que usar o banheiro. Não só isso, Connor fazia questão de falar sobre os atributos
maravilhosos dela quando pensava que Emma poderia ouvir.
Marie lançou olhares simpáticos para ela. A mulher mais velha não interferia, mas
Emma acreditava que ela suspeitava o que aconteceu. Ela conhecia Connor há muito
mais tempo do que Emma, e ela sabia como ele reagia ao ser rejeitado.
O triste era que Emma não queria rejeitá-lo. Ela só tinha um sistema de crenças que
não permitia relacionamentos casuais. Connor não era um tipo de homem para sempre.
Ele era um homem aqui e agora. Ele precisava de mulheres. E passava por elas como
quem come batatas fritas. Emma queria uma casa e uma família. Connor não podia dar-
lhe isso. Ela sabia o porquê, e não o culpava.
Tudo o que ela podia pensar ultimamente era como se sentiu ao ser abraçada e
acariciada por ele, ser querida, desejada por ele. Ele provavelmente era um amante
fantástico, a julgar pela ternura que tinha demonstrado com ela. Ele era experiente.
Emma não era. Mas até mesmo ela podia reconhecer a experiência de seu toque. Ela
pensou nas mulheres que haviam lhe dado essa experiência e isso ocasionou uma onda
de ciúmes.
Era ridículo ter ciúmes de um playboy, ela disse a si mesma com firmeza. Ele nunca
conseguiria se contentar com apenas uma mulher. Ele provavelmente começaria a ser
infiel no momento em que o anel estivesse no seu dedo. Ele não gostaria de se sentir
preso.
Emma teria amado isso. Apenas Connor, uma casa no lago e várias crianças
brincando ao seu redor. Ela fechou os olhos. Deseje a lua, sua idiota, disse a si mesma.
Você teria uma melhor chance de consegui-la! Ela entrou no estudio que ele usava
como escritório e fechou a porta para afugentar o zumbido da conversa na sala de estar.
Ele convidou várias pessoas que ainda não tinham chegado, então ficaria lotado. Ela
esperava que os próximos dias não se arrastassem. Ela queria as coisas da maneira que
eram antes, apenas com Marie, Barnes, Connor e ela. Mas esses dias pareciam ter
acabado para sempre. Ele não dirigia uma palavra a Emma se não fosse a respeito do
trabalho que ela fazia para ele. No resto do tempo, ele e Ariel eram inseparáveis. Emma
os observava com agonia nos olhos que Connor não conseguia ver. Se ele continuasse a
tratá-la desse jeito, ela teria que ir embora. Isso também não era uma má ideia. Porque
mais cedo ou mais tarde, a memória dele iria voltar. E então todos os seus problemas
começariam.
CAPÍTULO OITO

A música estava quase entorpecendo Emma, que raramente ouviu uma banda ao
vivo. Ela sorriu enquanto escutava, pensando que isso ajudava a aliviar a dor de ver
Connor passar suas grandes mãos sobre as costas nuas de Ariel enquanto eles dançavam
preguiçosamente com a música. Mesmo que ele não pudesse ver, ainda se movia com
graça sensual.
Ela se afastou dele e aproximou-se da banda, seu sorriso levemente sonhador
enquanto lembrava de tempos mais felizes na casa do lago. Momentos em que Connor
gostava dela. Quando ele queria estar com ela. Quando ela era suficiente, sem uma casa
cheia de gente, e especialmente sem uma mulher purpurina.
─ Você parece solitária. - Veio uma voz amigável por trás dela.
Ela virou. O homem era um dos novos sócios nos negócios de Connor, ela supôs. Ela
não o reconheceu, e ele chegou tarde, um pouco antes da banda. Ele era alto e magro, e
tinha uma maneira de olhar para as mulheres que deixava Emma inquieta. Ela podia ver
o leve desprezo em seu rosto duro enquanto ele a olhava. Ela o identificou como um
jogador que encontrava pouco mistério nas mulheres, mas estava sempre disposto a um
encontro a meia noite. A experiência dele a ameaçava. Então ela usou sua melhor
defesa. O humor.
─ A solidão é um estado de espírito. - Ela falou em um tom agradável, mas não
encorajador. ─ Eu não vivo nesse estado. Os valores da propriedade são muito altos
para meu bolso.
Ele piscou como se não a tivesse ouvido direito. Então, quando o que ela disse fez
sentido, ele começou a rir.
─ Essa é boa.
─ Obrigada. - Ela respondeu com um olhar exagerado e simpático. ─ Eu tento
arduamente agradar as pessoas ricas. Você é rico? Porque eu realmente não quero
perder meu tempo com você se você for apenas um vaqueiro ou algo assim.
O brilho em seus olhos revelou seu humor. Ele riu.
─ Bem, eu encontrei minha companheira. - Divagou.
─ Desculpe, não me caso com homens que acabei de conhecer. - Ela disse.
Ele franziu a testa. Então ele entendeu essa observação, também. Seu estado de
ânimo se aliviou.
─ Você tem certeza? - Ele perguntou. ─ Porque acho que tenho dinheiro mais do que
suficiente para atrair você, e ainda tenho a maioria dos meus próprios dentes.
Ela sorriu para ele. Ele revelou-se mais interessante com um pouco mais de conversa.
─ Eu vou repensar sobre você entre os goles de café. - Prometeu.
Agora seus olhos também estavam brilhando.
─ Você dança?
─ Desculpe. - Disse ela. ─ Eu tenho dois pés esquerdos.
Ele olhou para baixo.
─ Eles parecem bons para mim. Eu nem vou me queixar se você ficar em cima das
minhas botas.
Ela também olhou para baixo. Ele estava usando botas de cowboy muito caras. E
tinha pés grandes.
─ Pare de comparar meus pés com caixas de sapato. - Ele repreendeu.
Ela riu.
─ Eu fui óbvia?
Ele apenas sorriu.
─ Quem é você?
─ Eu sou Emma.
Ele se aproximou um pouco mais. Isso a deixou nervosa. Ela riu sem graça e deu um
passo para trás.
─ Quem é você? - Ela respondeu.
─ Cort. - Ele disse a ela, e agora estava claramente interessado.
O nome passou direto por ela. Ela estava observando seus pés.
─ Essas são botas realmente bonitas. - Ela era uma conhecedora de botas, tendo morado
em uma cidade cheia de criadores de gado que só usavam as mais caras, feitas à mão.
─ Eu poderia comprar um carro pelo que paguei por elas. - Ele respondeu. ─ Eu tenho
uma fazenda de raça pura Santa Gertrudis no oeste do Texas.
─ Eu tenho... - Ela parou. Ela não podia dizer que seu pai tinha uma fazenda em
Comanche Wells, Texas, quando ela disse a Connor que ele morava na Carolina do
Norte. ─ Eu tenho um primo em Comanche Wells, ao sul de San Antonio. - Ela alterou.
─ Eu não gosto do leste do Texas. - Ele disse. ─ Muita grama, árvores e terra plana.
─ Nós temos montanhas. - Protestou ela.
─ Você tem pequenos montes. - Ele revidou.
─ Você tem sujeira e sal. - Ela devolveu.
Seus olhos escuros se tornaram mais calorosos em seu rosto profundamente
bronzeado e magro, e o sorriso ficou maior, exibindo dentes perfeitos.
─ Você gostaria de aprender a dançar? Eu não sou um especialista, mas eu poderia te
ensinar o básico. - Sua voz profunda tinha baixado a um ronronar.
Emma estava tão atenta a ele que não ouviu o casal parado atrás dela.
Ele tinha feito Ariel procurar por Emma. Ela descreveu a intimidade de Emma com
seu novo amigo, e ele estava furioso.
─ Emma!
A voz de Connor a assustou tanto que ela pulou e quase derramou a xícara de café.
Ela se virou rapidamente, ruborizando.
─ Sim, se... senhor? - Ela balbuciou. Connor estava olhando para o homem que não via.
Ao lado dele, a morena estava segurando sua mão, obviamente guiando-o pela sala.
─ Eu preciso que você faça algumas anotações para mim. Se você não estiver muito
ocupada. - Ele acrescentou sarcasticamente, olhando para onde ele esperava que seu
companheiro estivesse.
─ Sim, senhor. - Ela respondeu com um tom moderado.
─ Emma é minha secretária. - Ele acrescentou, obviamente, tendo sido informado sobre
o novo amigo de Emma por sua companheira. ─ Ela não está aqui para se misturar com
os convidados.
─ Bem! - O rancheiro disse severamente. ─ Quando você disse que tinha uma pequena
assistente comum , acreditei na sua palavra.
Emma corou com a descrição que Connor tinha feito dela. Não era fácil. Muitas das
coisas que ele dizia para ela ultimamente não eram amáveis, e ela estava cansada disso.
O rosto de Connor ficou mais duro. Ele reconheceu a voz. Ele conhecia o homem das
ligações comerciais com um amigo em comum.
─ Cort Grier, não é? - Perguntou ao pecuarista.
─ Sim.
O coração de Emma saltou. O irmão de Cash Grier tinha um rancho no oeste do
Texas, e todos o chamavam de Cort. Ela ouviu Connor falar sobre ele, em Nassau.
Estava prestando tanta atenção a suas botas que não reconheceu o nome.
─ Eu acho que o homem que você quer encontrar é Matt Davis. Ele está interessado no
consórcio de mineração a qual você pertence. Ele está perto das bebidas. - Connor disse
com voz cortante.
─ Então eu acho que vou encontrá-lo. Foi um prazer conhecê-la, Emma. - Ele
acrescentou suavemente, e com um sorriso genuíno. ─ Espero ver você novamente
mais tarde.
─ Obrigada. - Sua resposta foi amigável, mas não excessivamente. Ela não lhe deu seu
sobrenome, e ela não contou a Cash e Tippy, a quem escrevia com pouca frequência,
que estava trabalhando para Connor. Com sorte, seu segredo estaria seguro. Se alguém
mencionase suas ligações de criação de gado com Connor, que pensava que sua família
era da Carolina do Norte, ele poderia fazer algumas conexões desconfortáveis entre a
Emma que trabalhava para ele e a mulher do Texas que ele chamou a atenção no lago
por excesso de velocidade com a lancha.
─ Ela vai estar ocupada mais tarde. - Disse Connor friamente.
Os lábios sensuais do fazendeiro franziram e ele olhou para Emma com um sorriso
cúmplice.
─ Que pena! - Ele disse palavras suficientes para fazer o rosto amplo de Connor
contrair de raiva. ─ Até logo, Connor. - O fazendeiro acrescentou, e deu a Emma um
olhar melancólico quando passou.
Connor estava fervendo de raiva. Emma tentou não notar, porque isso estava
afetando a companheira dele, que de repente a via como rival.
─ Bem, parece que ele gostou de você, não é? - Perguntou a morena com uma pequena
risada. ─ Ele estava comendo você com os olhos. - Ela deu a Emma um olhar sarcástico
que Connor não viu.
Os olhos cinza pálidos de Connor brilharam, sem ver.
─ Ele foi, agora? - Ele falou. ─ Apenas para o registro, senhorita Copeland, estes são
meus convidados, e não os seus. - Connor disse a Emma com firmeza. ─ Eu pago você
para trabalhar, não para flertar com rancheiros ricos!
Emma conseguiu não hesitar. Ela estava corada e abalada, mas não ia desabar na
frente daquela morena.
─ Sim, senhor. - Ela disse secamente.
Connor estava quase vibrando de mau humor. Mas mesmo com raiva, ele era
devastador. Ele parecia elegante na roupa de noite. Elas delinearam seu corpo
musculoso sem ser óbvio demais. A camisa branca que ele usava com uma gravata preta
enfatizava sua aparência morena. Ele era um homem bonito que não aparentava a idade.
─ Ariel, você pode me trazer uma bebida, por favor? - Perguntou. E estendeu o copo
que continha o que parecia a Emma com whisky sour. Não era próprio dele ingerir tanta
bebida forte. Talvez a multidão o incomodasse.
─ Onde você está, Emma? - Connor perguntou a ela um minuto depois.
─ Aqui mesmo, senhor.
Ele seguiu o som de sua voz. Uma grande mão a pegou pela cintura e puxou-a para
perto de seu amplo e quente peito. Quando ela ficou ali parada, ele guiou os braços dela
ao redor de seu pescoço.
─ Se você quiser aprender a dançar, vou te ensinar. Dançar é fácil. - Ele disse ao seu
ouvido, sua voz profunda, lenta e sensual. Ela podia sentir sua respiração quente contra
sua pele quando ele falava. ─ Você simplesmente se solta e escuta a música. Você nem
precisa olhar seus pés.
─ Por favor. - Ela sussurrou, quase entrando em pânico pelo prazer que a atraiu através
do contato quase íntimo. ─ Eu... eu realmente... não quero dançar...!
Ele passou sua bochecha contra a dela e ambas as grandes mãos deslizavam para
cima e para baixo em sua cintura, alisando seu corpo contra o dele.
─ Cala a boca, Emma. - Ele disse, mas sua voz era profunda e suave, as palavras soando
muito mais como um carinho que um comando.
Seu corpo, faminto por ele, estremeceu um pouco e de repente ficou débil em seus
braços. Ela sentiu que ele enrijecia por apenas um segundo antes que suas mãos
deslizassem ao redor dela e a aproximassem mais. Ela sentiu suas coxas roçarem as dela
enquanto se moviam em um ritmo preguiçoso como uma só pessoa. Sua respiração em
sua têmpora cheirava a whisky e estava um pouco rápida demais. Seus dedos se
apertaram em suas costas, contraindo involuntariamente quando senti-la começou a
excitá-lo.
Emma sentiu que ele reagia a sua proximidade. E tentou se afastar, mas as grandes
mãos dele espalmaram nas costas dela e a puxaram para ele.
─ Não, não faça isso. - Ele sussurrou, sua voz profunda e fracamente instável. ─ Mova-
se comigo.
Ela realmente queria se afastar e correr, mas teria causado um escândalo. Ela nunca
sentiu tais sensações em sua vida. Seu corpo reagia involuntariamente a ele enquanto se
moviam com a música. Ela tinha que morder o lábio para evitar gemer. Ela queria beijá-
lo. Queria sentir aquela boca quente mordendo a dela como na noite passava no divã na
casa de Nassau. Ela queria tirar o vestido de noite preto e a camisa dele e sentir a pele
nua sob as suas mãos. Ela queria se deitar com ele e deixá-lo fazer o que quisesse.
Era uma dor longa e lenta senti-lo movê-la preguiçosamente com a música, sentir sua
respiração na testa, no nariz, nos lábios, quando inclinava a cabeça para ela enquanto
dançavam. O desejo parecia ser viciante. Ela não queria sentir isso, porque ele estava
brincando com ela. Ela sabia que não era romance. Era vingança. Ela estava
socializando com um dos seus ricos convidados homens e ele não gostou. Ele não a
queria. Mas Emma pertencia a ele. Ele estava provando isso a ela.
Ela estremeceu quando a mão dele parou no seu quadril e a moveu contra ele em
uma sedução flagrante. Ele sentiu sua resposta indefesa. Ele a odiava por isso. Ela
estava flertando com o rancheiro do Texas. Ele não gostou disso. Ela era dele. Ela
estava fora de limites para outros homens, para qualquer outro homem. Suas mãos se
moveram para a cintura e começaram a se mover para cima e para baixo em uma carícia
preguiçosa e experiente, seus polegares arrastavam logo abaixo de seus seios em um
movimento que a fazia querer gemer em voz alta.
Sua boca pairava sobre a dela.
─ Eu pensei que você o queria. - Ele sussurrou com voz rouca. E deu uma risada
gutural. ─ Mas você não o quer, não é Emma? Você me quer.
─ Se... Senhor Sinclair. - Ela balbuciou, tentando recuar.
─ Não seja tímida comigo. Venha para mais perto. - Ele sussurrou. Sua boca provocou a
dela enquanto se movia contra ela. ─ Você gosta disso? - Ele perguntou enquanto seus
polegares encontraram o suave e sedoso lado dos seus seios firmes e os tocavam.
─ Oh, por favor. - Ela murmurou, olhando ao redor com preocupação. ─ As pessoas vão
nos ver! - Sua bochecha esfregou contra a dela.
─ Venha comigo. - Ele pediu. ─ Eu vou descer esse vestido sedoso até a sua cintura do
jeito que eu fiz em Nassau e vou sugar seus seios pequenos até você gritar!
─ Connor... - Ela sussurrou.
─ Você me quer. Eu quero você. - Ele disse em seu ouvido. ─ Vamos sair daqui!
Emma estava desesperada por se afastar dele. Ela não tinha orgulho, nem sensação
de auto-preservação. Ela queria o que ele queria. Seu corpo ansiava pelo dele, deitar
com ele, estar debaixo dele...
─ Oh, pelo amor de Deus! - Disse a morena duramente quando voltou com a bebida de
Connor. ─ Vocês não podem imaginar o que estão parecendo!
Emma corou e afastou-se de Connor.
─ Como nos parecemos? - Perguntou a Ariel com um sorriso devasso. ─ Ciúmes,
querida? - Ele provocou.
A morena olhou para o rosto envergonhado de Emma pela provocação de Connor.
─ Sim, estou com ciúmes. - Murmurou a morena.
Ele riu. Soltou Emma e virou-se para a morena.
─ Então venha me mostrar. - Ele disse com voz rouca. ─ Trouxe a minha bebida?
─ Sim querido. Aqui está. - Ela empurrou em suas mãos, desconcertando-o. Emma
facilitava as coisas para ele. Ariel não tinha ideia de como lidar com um homem cego.
Mas ele tinha que representar bem. Ele podia imaginar Emma olhando. Sabia que ele
era muito difícil para as pessoas lerem, mesmo as próximas.
─ Dança comigo. - Ele disse a Ariel e passou um braço ao redor dela, puxando-a para
perto enquanto tomava um grande gole do whisky e sentiu um ardor na parte baixa de
seu corpo. Ele poderia tomar uma garrafa inteira no momento. Emma provocava isso.
Emma se afastou quando Ariel se aproximou de Connor.
─ Por que, querido, você está com tanta fome! - Ela riu, com voz sensual.
─ Morrendo de fome. - Ele riu e se moveu com ela ao som da música.
Emma afastou-se da festa e entrou no seu quarto, sentando na beira da cama,
tremendo. Ela ficou consternada com a facilidade com que ele a controlava.
Ela tinha que se recuperar. Ele não falou sério. Nem mesmo era pessoal, e esse era o
pensamento mais repugnante. Ele não gostava de outros homens mexendo com ela, e ele
estava mostrando seu domínio. Emma adorava pássaros. Ela passou a vida observando-
os. Era o mesmo princípio que os observadores de pássaros chamavam de "pushing"
com pombos. Os pombos o usavam para controlar suas companheiras em torno de
outros pombos. Era natural. Mas parecia desconfortável entre um homem e uma mulher.
Se Connor quis dizer o que disse, se ele realmente estava com ciúmes e a queria
tanto...
Mas ele não estava. Ele estava apenas mostrando a ela que poderia controlá-la, não
só no horário de trabalho, mas depois dele. Ele estava fazendo uma declaração pública
de que ela era sua posse. O que significava que ela não poderia ter nada com outros
homens. Seu rosto ardeu, como seu temperamento. Ele não tinha o direito! Ela devia
sair do quarto, voltar para a festa, dançar com Cort Grier e desafiar Connor a fazer
qualquer coisa.
Claro, pensou com um suspiro. Esse era o tipo de tática de Ariel. Simplesmente não
era a de Emma, mesmo se ela gostasse de ser. E se ela começasse algo com Cort, ele
poderia mencionar para Cash. Ela não podia arriscar que alguém soubesse que o pai
dela tinha uma fazenda no Texas, especialmente Connor.
Ela balançou os pés na cama alta com um suspiro. Se ao menos pudesse ir para a
cama e tapar os ouvidos para a música que vinha da sala de estar. Se apenas. Mas
Connor sentiria falta dela e mandaria alguém buscá-la. Ela estava trabalhando, como ele
tinha lembrado. Não importava o quanto doía vê-lo com Ariel e saber que eles eram
amantes, ela não tinha escolha se quisesse manter seu trabalho. Ele provavelmente sabia
o quanto a machucava. Afinal, ela não conseguia esconder suas emoções facilmente, e
ele sabia como ela reagia a ele.
Ela saiu da cama, retocou o rosto, verificou os cabelos e relutantemente voltou para a
sala de estar.

***

Ariel veio encontrá-la. A mulher mais velha estava com um sorriso muito feliz.
─ Connor quer vê-la. - Disse ela. ─ Há algumas notas que ele quer que você tome. Ele
estava muito irritado por você ter se escondido em algum lugar.
─ Certo. - Disse Emma, sem olhar para a outra mulher.
─ Como se ele quisesse você. - Disse a mulher mais velha com uma risada depreciativa.
Ele disse a Cort que você era comum, e ele não quis dizer isso de uma forma agradável.
Você nem é bonita. Poucos homens achariam você interessante. Especialmente poucos
dos homens mais ricos do mundo. Você é apenas uma caipira pobre.
Emma apenas olhou para ela. Ela não disse nada. Sua expressão era mais de piedade
e tristeza do que de raiva.
Isso fez a outra mulher ficar tão desconfortável que ela saiu sem mais uma palavra.
Emma abriu caminho entre a multidão de presentes na festa até Connor, o coração no
chão. Nada como ter a verdade jogada em seu rosto para mudar sua perspectiva sobre a
vida, ela pensou filosoficamente. Ela estava sonhando se acreditava que Connor
encontraria algo atraente nela exceto seu corpo.
─ Eu a achei, querido. - Disse Ariel com um ronronar no tom, curvando-se sob o ombro
de Connor.
O rosto de Connor estava tenso.
─ Cort desapareceu no mesmo momento que você. Você o atraiu para o seu quarto? -
Ele perguntou com um sarcasmo gelado.
─ Não vi o Sr. Grier. - Disse Emma suavemente. ─ Eu tive que ir ao banheiro.
Connor estava quase vibrando de frustração. Apenas o som da voz dela o enchia de
desejo. Ele a queria tanto. Mais do que quis qualquer uma desde o seu primeiro
casamento, há muito tempo. Ela estava envolvida. Ela conhecia as regras. Se ela o
mantinha longe, não poderia ser por nenhuma razão religiosa, apesar de seus princípios
morais frequentemente citados. Ela queria algo dele. Tinha que ser isso. Ela estava
negociando com seu corpo. Isso o deixava furioso.
─ Matt Davis tem alguns números sobre o consórcio de mineração que ele quer
participar, juntamente com Cort Grier. Eu mesmo estou interessado nisso. Vá e fale com
ele e deixe-o dar-lhe as estimativas de custo e projeções das ações que ele fez.
─ Sim, senhor. - Emma não teria ousado dizer a ele que ela não tinha ideia do que ele
estava falando. Ela esperava que o Sr. Davis fosse um homem gentil que não passasse
correndo por todos os números sem explicar sobre o que estava falando.
Connor fazia isso às vezes, e ele ficava impaciente quando Emma parava e pedia-lhe
para explicar.
─ Diga a ele que você não sabe nada sobre finanças. - Connor acrescentou com
relutância. ─ Então ele não vai muito rápido para você.
─ Eu direi, senhor.
─ E pare de me chamar de senhor, maldição! - Ele falou.
─ Sim... - Ela engoliu em seco, ciente da diversão da morena. ─ Eu vou.
─ Vá. - Ele murmurou, puxando Ariel para perto dele quando a música começou de
novo.

***

Emma encontrou Matt Davis um idoso, amável e paciente.


─ Você não sabe muito sobre isso, não é senhorita? - Ele perguntou enquanto a ajudava
a organizar as informações e estatísticas em uma ordem que ela pudesse digitar mais
tarde.
─ Não, senhor, eu não sei. - Ela riu. ─ Estou muito grata por você ser paciente. O Sr.
Sinclair pode ser... Bem, ele às vezes vai um pouco rápido para mim quando está
ditando.
─ Você não trabalha para ele há muito tempo, não é?
─ Não, eu não trabalho.
─ Ele tem uma secretária no escritório da sede em Chicago. - Ele disse . ─ Antonia. Nós
a chamamos de Tonia. Ela está lá a uns vinte anos, conhece o negócio por dentro e por
fora. Peça a ele para lhe dar o número e ligue para ela se as coisas forem demais para
você. Ela vai ajudar. Ela tem um bom coração.
─ Eu já ouvi falar sobre ela. - Ela riu. ─ Mas eu não teria ousado perguntar a ele o
número dela esta noite. Tenho medo de que meus ouvidos não aguentem as respostas ao
pedido.
Ele riu suavemente.
─ Ele é particularmente difícil, não é? - Perguntou.
─ Temo que sim. Tenho certeza que é principalmente minha culpa. Até agora, o ditado
que eu tomava sempre era de cartas e... - Ela parou antes de dizer livros de ficção e se
entregar. ─ Bem, o que eu fazia não era algo ligado a finanças.
─ Connor adora números. Sempre adorou. E adora as pessoas de marketing, projeções
de custos e estimativas de vendas, coisas assim. Ele mesmo seleciona seus
representantes de tecnologia. Ele quer jovens, pessoas que pensem de forma criativa,
que são inovadoras. Ele está pensando em ir para a área aeroespacial, transporte
espacial, coisas assim.
─ Uau! - Ela disse suavemente. ─ Eu não sabia. Ele nunca fala sobre isso. Bem por que
ele falaria? Quero dizer, eu sou apenas uma assistente.
Ele franziu os lábios.
─ Eu vou acreditar nisso com certa reserva. - Ele disse enquanto tomava um sorvete.
Emma não entendeu.
─ Senhor?
─ Você não o viu enquanto conversava com Cort Grier. Eu pensei que ele iria explodir.
Ele é bastante possessivo com você, não é?
Emma, nervosa, procurava as palavras.
Matt Davis viu mais do que ela percebia. Ele se tornou sério.
─ Ele não é um homem que quer um futuro sossegado. Ele namorou muitas mulheres
desde que sua esposa morreu. Ele era muito jovem, e se iludiu de que era o maior amor
de todos os tempos. - Ele encolheu os ombros. ─ Ela era uma vadia, como aquela
morena deliciosa, que ele está exibindo na pista de dança agora. Sua família tinha
dinheiro, mas não como a dele. Ela gostava de levar a vida em ritmo acelerado, e ela se
casou com ele mais pelo que ele tinha do que pelo que ele era. Nunca mencionei isso, e
você não deve repetir. Mas ele está se alimentando de ilusões.
─ Ele disse que odeia crianças. Ela morreu durante a gravidez. Ele culpou o bebê.
─ Ela morreu porque era uma jovem mulher idiota. - Ele retrucou. ─ Ela conhecia os
riscos. Ela convenceu Connor a ir para uma ilha primitiva romântica onde eles poderiam
estar sozinhos. Quando surgiram complicações, não houve ajuda. Ele se culpou por
anos. É por isso que ele não quer filhos. Ele usa o bebê como desculpa para evitar o
compromisso. Mas a verdade é que ele não gosta de lembrar que a viagem era tanto sua
escolha quanto dela. É a culpa que o impede de deixar o passado para trás.
Ela arqueou as sobrancelhas.
─ Você vê profundamente.
Ele assentiu.
─ Eu sou velho. - Disse ele, sorrindo. ─ Eu tive uma vida dura, e aprendi muito com
ela. Connor é um bom homem. Ele está fugindo de si mesmo, com mulheres como essa
decoração de festa que o está rodeando. Mas ela só vai durar enquanto houver dinheiro,
assim como as outras tantas que vieram antes dela. - Ele estava observando a morena
com olhos frios. ─ Ela é o pior tipo de oportunista.
Emma mordeu o lábio. Ela se perguntou se ele estava pensando o mesmo sobre ela.
Ele olhou para baixo e viu essa expressão. Ele riu.
─ Não você, mocinha. - Ele disse suavemente. ─ Você é o tipo que entraria na batalha
junto com seu marido. Você sabia que Libbie Custer morava com o coronel George
Custer no campo de batalha durante a Guerra Civil?
─ Não! Mas ele não era general?
─ A parte do General foi uma promoção de patente que ele obteve no campo de batalha.
Sua patente real quando ele morreu era coronel.
─ Eu não sei muito sobre ele. - Ela confessou. ─ Mas a esposa dele parece muito
interessante.
─ Minha avó era de Michigan, e ela realmente conhecia Libbie. Os Custers moravam
perto da casa da família dela. Ela sempre disse que tinha direito a fama. - Ele riu. ─ Eu
tenho cópias autografadas de cada livro que Libbie escreveu. Ela viveu alguns
momentos fascinantes durante suas viagens com o marido. Boa leitura.
─ Eu vou ter que verificar isso.
─ Ela era muito mais eficiente do que foi feita para ser. Não era uma bonita flor de
estufa. Ela era uma mulher com coragem.
─ Posso ver por que, se ela morava no campo de batalha com o marido!
Ele sorriu.
─ Você deveria sair e dançar. A festa está quase encerrada. Você trabalhou o suficiente
por uma noite, não é?
Ela fez uma careta.
─ O Sr. Sinclair não gostaria disso. Ele já disse que não quer que eu me misture com os
convidados.
Sinclair estava com ciúmes, era o que Matt Davis pensava. Mas ele não disse isso em
voz alta. Em vez disso, ele reviu as estimativas com Emma, para que ela as entendesse
precisamente quando as transcrevesse.

***
A banda estava empacotando os instrumentos. Connor parecia estranho. Exausto.
Irritado. Mas seu temperamento não se acalmou um pouco quando ele disse a Emma
que ela poderia ir para a cama.
─ Apenas no caso de você se perguntar, Cort Grier está a caminho do aeroporto. - Ele
disse a ela com um sorriso frio.
Ariel ainda estava pendurada no braço dele, a cabeça contra o ombro largo.
─ Que pena, querida. - Ela contou a Emma com olhos sarcásticos.
─ Ele era um homem muito agradável. - Disse Emma involuntariamente.
─ Agradável? - Connor perguntou, franzindo o cenho.
─ Muito agradável. Ele me contou sobre o oeste do Texas e sua fazenda.
Connor parecia perplexo. Agradável. Emma não ficou impressionada com o
rancheiro que atraía as mulheres por onde passava? Isso o surpreendeu.
Por outro lado, ele ainda estava tentando esquecer a maneira como ela ficava em seus
braços. Ele não conseguiu tirar Nassau de sua mente. Sua resposta o deixou louco.
Tinha sido a noite mais longa e angustiante da sua vida. Ela o enganou. Ele a odiava por
isso. Isso foi desprezível. De alguma forma, isso era o contrário de Emma. Ela era
direta. E não fazia joguinhos como todas as outras mulheres em sua vida.
Entretanto, ele não gostou da reação imediata de seu corpo até mesmo ao leve toque
dela, e estava preocupado porque não conseguia se controlar. Pela primeira vez em sua
vida, ele estava à mercê de seus próprios hormônios descontrolados, e ele não tinha a
juventude para usar como desculpa.
─ Eu vou querer que as notas que você tomou de Matt Davis estejam transcritas a
primeira hora da manhã. - Ele disse a Emma de forma brusca.
─ Sim senhor.
─ Certifique-se de que a banda receba o pagamento e que os fornecedores arrumem a
bagunça antes de sairem.
Era mais o trabalho de Marie do que o de Emma verificar isso, mas ele estava
obviamente empenhado em dar tanto trabalho para ela quanto ele pudesse. Talvez ele
pensasse que Cort Grier, de repente, pudesse voltar e pedir para passar a noite. O
pensamento a divertiu, mas não valia a pena fazê-lo, ou mostrar algum humor.
─ Sim, senhor. - Disse ela em vez disso.
─ Avise Barnes para ter certeza de que ele contratou limusines suficientes para levar
meus convidados ao aeroporto pela manhã a tempo de pegar seus vôos. - Acrescentou.
Emma estava anotando no seu iPhone, aquele que ele havia comprado para ela. Então
eles iriam embora amanhã. Estava na hora. Graças a Deus!
─ Eu vou. - Ele poderia ter pedido a Barnes, mas isso faria Emma ter menos trabalho.
─ Certifique-se de que a maldita cadeira no meu escritório não tenha sido
acidentalmente tirada do lugar novamente. - Ele acrescentou secamente. ─ Eu quis dizer
o que eu disse sobre a mulher perder o emprego.
─ Eu sei disso, senhor. Eu vou me certificar.
─ Que cadeira é essa? - Ariel que foi ignorada, certificou-se de que eles soubessem que
ainda estava lá.
─ Alguém na equipe de limpeza moveu minha maldita cadeira no escritório. Eu tropecei
e quase caí sobre ela.
─ Cuidado, querida. - Ela disse para Emma. ─ Você deve tomar cuidado quando for
limpar as coisas.
Emma começou a dizer-lhe que ela não era a faxineira, mas Connor foi mais rápido.
─ Emma é minha assistente pessoal. - Disse ele sucinto. ─ Ela não faz limpeza.
─ Oh. Eu devo ter entendido mal. Desculpe, querida. - As palavras não eram sinceras,
certamente não naqueles olhos gelados de cobra. Emma não respondeu.
─ Vá para a cama. - Ele disse a Emma. ─ Começaremos cedo amanhã, então não pense
que você vai dormir até tarde.
─ Não, senhor. - Emma concordou mansamente. Sua complacência parecia enfurecê-lo.
─ Vá logo, então. - Ele se virou para Ariel. ─ Nós podemos beber o último copo. Todos
os outros foram para a cama, então nós temos a sala de estar só para nós mesmos. - Sua
voz quase ronronava.
─ Isso é maravilhoso! - Ela sussurrou com voz rouca.
Emma virou-se e saiu da sala com o rosto vermelho e furiosa. Connor tinha mandado
a morena para o quarto nas outras noites que ela estava aqui. Agora, parecia, ele tinha
algo além de dormir em mente.
Ela não podia suportar o pensamento daquela morena purpurina o envolvendo como
um modelador de corpo. Ela não podia suportar isso!
Lágrimas escorreram pela sua bochecha. Ela não podia detê-las. Eles eram quentes,
molhadas e copiosas. Ela procurou por um lenço de papel. Havia
vozes do outro lado da porta, altas o suficiente para ela ouvir.
─ Agora que sua tediosa secretariazinha foi para a cama, podemos nos divertir um
pouco. - Ariel estava rindo. ─ Você está excitado, amado? Oh, sim, você está! - Ele
também riu.
─ Minha secretária é apenas temporária. Ela nunca conseguiu lidar com algo mais
complicado que a correspondência, e ela vive em um mundo de sonhos próprio. Quanto
mais cedo ela for embora daqui, mais feliz eu serei.
─ Pobre garota, você vai despedi-la?
─ Mais cedo ou mais tarde. - Ele murmurou. ─ Eu não quero falar sobre Emma. Ela é a
mulher mais chata que já conheci. Quero falar sobre você, garota sexy. Venha aqui...
Emma sentiu o coração doer. Chata. Vivia em um mundo de sonhos. Não conseguia
gerenciar nada mais complicado do que a correspondência. Ia demiti-la.
As frases corriam por sua mente como ratos em uma esteira. Mas, além desses
insultos frios, estavam os sons dos beijos dentro da sala. Ela não podia suportar isso!
Ela entrou no seu quarto e fechou a porta, abafando os sons. Ela não poderia ficar
aqui outro dia. Ela tinha que ir. Estava doendo, mas só seria pior quanto mais ela
adiasse a decisão.
Connor não a queria. Ela sabia disso, é claro que ela sabia, mas doía ele ter falado tão
sem rodeios, e na frente dessa morena que só estava interessada no que ele tinha em sua
carteira. De qualquer maneira, ele a levaria para o quarto dele. E faria isso
deliberadamente, parando na porta dela, então Emma saberia. Bem, deixe ele ser feliz
com sua mulher especial. Emma não ia aguentar mais.
Ela pegou a mala e começou a guardar suas coisas.

CAPÍTULO NOVE
Emma esperou até ter certeza de que não seria vista. Ela carregou sua mala para o
estudio, onde escreveu um bilhete que Marie poderia ler para Connor. Com ele, ela
deixou o cheque não descontado da semana passada. Ela pediu a Marie que dissesse a
Connor que também não descontaria o cheque dessa semana, para que pudesse sair sem
aviso prévio. E disse que lamentava. Ela não ousou dizer por que ela estava indo
embora.
Ela pegou sua mala, deixou o bilhete e o cheque no balcão da cozinha para Marie
encontrar, saiu pela porta dos fundos e a trancou atrás dela. Ela caminhou em direção à
casa de Mamie. Ela ainda tinha a chave. A casa de Mamie mal podia ser vista daqui,
então Connor não saberia que Emma estava lá se mantivesse as luzes da frente da casa
apagadas. E teria cuidado para não ser vista do lado de fora. Então ela encontraria outro
trabalho temporário até que Mamie voltasse.
Era fácil planejar seus próximos movimentos. Mas era doloroso deixar Connor. Em
poucas semanas, ele se tornou a cor em seu mundo. Sem ele, tudo era cinza e triste.
Sentia como se o seu coração estivesse sendo arrancado dela.
Mas ela não podia ficar e vê-lo com aquela morena nos braços um do outro o tempo
todo. Ela tinha certeza de que Ariel não ia embora, amanhã. Afinal, ela tinha ido ao
quarto de Connor com ele esta noite. Ela tinha certeza de que não passaram o tempo
conversando. Isso machucava seu coração.
Sua mala era tão pesada que não podia puxá-la. Ela tinha que carregá-la. Chegou ao
grande tronco no lago entre a propriedade de Connor e a de Mamie, onde ela estava
sentada no momento em que ele a encontrou e eles conversaram. Isso foi muito antes
dela cegá-lo e depois ir trabalhar para ele.
Ela sentou no tronco com um suspiro. Esta seria uma longa caminhada. Ela também
podia descansar por alguns minutos. Todos na casa de Connor ainda estariam dormindo,
exceto Marie. Mas a mulher mais velha estava no banheiro quando Emma esgueirou-se
pela porta. Então, ninguém saberia que estava saindo. Não até o dia seguinte, quando
Connor teria o bilhete lida para ele. Era a coisa mais triste que já havia escrito.

***

A casa estava muito tranquila, exceto por sons fracos na cozinha, onde Marie estava
limpando o último dos pratos da festa.
Connor mandou uma desapontada Ariel para a cama sozinha. Ele não podia esquecer
o sabor de Emma que teve enquanto dançavam. Sua resposta angustiada a ele o tinha
impossibilitado de sentir algo por Ariel, exceto o persistente desejo por Emma que
endurecia seu corpo. Ariel pensou que ela fosse a causa disso. Ele não sentiu nada
quando a segurou, a não ser a básica excitação que qualquer homem poderia sentir. Ela
era linda e experiente. Mas hoje à noite, ela não poderia interessá-lo menos.
Ele tinha sido cruel com Emma. E estava arrependido. Ele queria pedir desculpas,
mas não podia pensar em uma maneira de fazê-lo que não destroçasse seu orgulho. Ele
não confiava nela. Sim, era isso. Ela respondia a seus avanços, agia como se morresse
para tê-lo. E então ela corria. Todo maldito tempo. Era como tentar segurar algo etéreo.
Ele não podia dormir. Seu cérebro continuava zumbindo como um motor. Ele se
levantou, deixando o telefone desligado em sua mesa de cabeceira, calçou seus
mocassins e sentiu o caminho até a porta. Ele ainda estava vestindo suas calças e a
camisa branca, aberta na frente. Não era útil vestir-se para dormir quando ele não estava
com sono.
Ele parou na porta de Emma. Bateu nela levemente e chamou seu nome. Ele franziu
a testa para o súbito vazio que sentiu, sentindo algo inesperadamente forte. Ele abriu a
porta e procurou o interruptor da luz. Estava ligado.
─ Emma? - Ele chamou.
Marie o ouviu e chegou ao fim do corredor.
─ Ela se foi, Sr. Sinclair. - Ela disse calmamente.
─ Ela fez o quê?
Ela aproximou-se dele, para que ele não acordasse o resto da casa. Ele parecia
furiosamente irritado.
─ Ela se foi. Ela deixou um bilhete para eu ler para você. Ela disse que tinha deixado o
cheque não descontado da semana passada e ela não descontaria o dessa semana, para
não ter que cumprir o aviso prévio. Ela pegou a mala e começou a andar pela costa.
─ No meio da noite? Deus sabe o que ela pode encontrar lá! Ursos pretos se aproximam
do lago!
─ Tenho certeza de que ela conhece os perigos, Sr. Sinclair. - Seu tom era tão
reprovador quanto a expressão que ele não podia ver.
O pânico que sentiu foi inesperado. Emma foi embora. Um vazio frio entrou em seu
peito ao pensar que ela não estaria na mesa do café da manhã com ele, no escritório
onde eles trabalhavam juntos, sentada com ele quando tinha uma enxaqueca e ficava
muito doente para cuidar de si mesmo. Emma era necessária para ele. Ele dependia dela,
para tudo. Ela abandonou o emprego porque a humilhou na frente de seus convidados. E
foi tudo culpa dele. Ele fez o que fez porque ela não dormia com ele. Parecia uma razão
muito frágil e indigna para machucá-la. Ela era gentil e amável, não exigente, arrogante
ou gananciosa, como a maioria das mulheres em sua vida tinha sido.
Ele respirou fundo.
─ Você pode chamar Barnes para mim, por favor? - Ele perguntou em um tom
moderado.
Suas sobrancelhas arquearam. Nem sequer parecia com ele.
─ Sim, senhor.
Barnes se juntou a ele imediatamente.
─ Sim senhor?
─ Leve-me pela costa. - Ele disse bruscamente. ─ E é melhor nos apressarmos. Emma
está partindo. - Ele estava esperando que a mala pudesse retardá-la, dependendo de
quanto ela tinha embalado.
─ Claro, Sr. Sinclair.
─ Para onde ela estava indo, Marie? - Connor perguntou. ─ Você a viu?
─ Eu vi, logo depois de encontrar o bilhete. Ela estava indo ara a estrada.
─ Obrigado.
Barnes guiou a mão de seu chefe para o seu braço e o conduziu para fora, usando o
método que Emma lhe ensinara. A estrada que levava ao redor do lago estava perto da
casa de Mamie van Dyke. Era um longo caminho. Connor só esperava que pudessem
alcançá-la a tempo.
Ele não tinha ideia de exatamente onde na Carolina do Norte sua família vivia, ou
onde ela poderia ir quando chegasse à estrada. Ela poderia estar desesperada o suficiente
para pegar carona, o que a colocaria em perigo, mesmo em uma área rural como essa,
onde a maioria dos moradores conhecia seus vizinhos.
─ Você vê alguma coisa? - Connor perguntou a Barnes, e ele parecia quase
desesperado.
Barnes estava olhando para a escuridão. Havia uma lua cheia, então ele podia ver a
uma boa distância à frente. Lá, à luz da lua, estava Emma, sentada em um grande tronco
perto da costa com a mala ao lado dela.
─ Ela está ali, senhor. - Disse Barnes. ─ Sentada em um tronco.
─ Graças a Deus. - Disse Connor em voz baixa.
─ Vamos!

***

Emma ouviu passos e se pôs de pé, assustada. Então ela viu quem estava se
aproximando, e seu coração se apertou em seu peito.
─ Tudo bem, Barnes, deixe-me aqui. - Disse Connor calmamente. ─ Se eu não voltar
em uma hora, isso significará que ela me empurrou no lago. - Ele acrescentou com um
sorriso.
─ Sim senhor.
Barnes voltou para a casa do lago. Connor ficou um pouco longe de Emma e tentou
escolher suas palavras. Ele não queria causar mais dano do que já tinha feito.
─ Você vai me empurrar no lago, Emma? - Ele perguntou suavemente. ─ Não vou dizer
que eu não mereço. Mas eu preciso falar com você.
Ele estava perguntando, não mandando. Isso era novo. Mas não achou que ele
estivesse aqui porque ele se importava. Ele precisava dela. Ela se tornou parte do
equipamento do escritório, para ser usada e guardada.
─ Não há nada a dizer. - Ela respondeu com sua voz suave e calma. ─ Eu sinto muito.
Não posso... Não posso voltar.
─ Onde você está? - Ele tentou parecer impotente, algo que sabia que não era.
─ Estou no tronco.
Ele inclinou a cabeça.
─ Algo um pouco mais específico?
Ela respirou fundo.
─ Três passos para a frente, vire à direita, sente-se.
Ele seguiu as instruções, sentindo um lugar no enorme tronco.
─ Engraçado. - Ele murmurou. ─ Eu acho que me lembro desse lugar. Está um pouco
embaçado. Havia uma mulher. Ela tinha feito algo para me irritar, e eu a aborreço. -
Lembrou ele, desconhecendo a súbita rigidez de sua companheira. ─ Eu me senti
culpado. Eu a fiz chorar, em uma festa que Mamie van Dyke deu. - Ele fez uma careta.
─ É difícil para mim admitir a culpa. É uma questão de orgulho. Eu nunca fiz uma
maldita coisa que agradasse meu pai. - Lembrou-se com ironia. ─ Ele recuava o punho
quando eu fazia algo que ele não gostava. Então ele me fazia pedir desculpar, diante de
tantas pessoas quanto ele conseguia encontrar no local. Ele gostava de me humilhar.
─ Isso é triste. - Ela disse calmamente. A referência a festa de Mamie a perturbou. Ela
tinha esperança de que ele não se lembrasse mais desse tempo.
─ Um dia, cheguei em casa da escola. Acho que eu tinha cerca de catorze anos. Ele
recuou o punho, e eu fiz o mesmo. Eu o joguei no chão e o espanquei. E o fiz pedir
desculpas pelo que ele fazia comigo e com meu irmão. - Ele se inclinou para a frente,
perdido no tempo e na dor. ─ Ele parou de me bater depois disso. Mas ele se vingou.
Ele me ameaçou com William. - Ele sorriu suavemente. ─ Eu amei meu irmão. E teria
feito qualquer coisa para poupá-lo do que eu tinha passado. Isso era errado, ser
castigado dessa maneira. Aprendi cedo que as pessoas mais próximas de você são as
mais perigosas.
─ Eu aprendi isso também. - Disse ela, sem entrar em detalhes.
─ De quem? - Ele perguntou calmamente.
─ Alguém da minha família que bebia em excesso. Era difícil perdoar o que ele fazia
com uma das minhas parentes femininas. - Ela não acrescentou que a mulher tinha sido
sua mãe. ─ Mas eu não era suficientemente grande ou forte para protegê-la. Acho que
fiquei nervosa com os homens por um longo tempo.
─ Você foi noiva uma vez.
─ Sim.
Ele apoiou os cotovelos nos joelhos e olhou, sem ver, em frente.
─ Você disse que sentia falta da intimidade. - Ele começou.
─ Eu sentia falta de alguém que eu achava que gostava de mim. - Corrigiu ela. ─ Steven
não... Bem, ele realmente não me achava atraente de nenhuma maneira física.
─ Por que não?
─ Eu nunca soube. - Ela confessou. Ela virou no tronco. ─ Ele disse que nós éramos
almas gêmeas, que ele se importava comigo. Mas era como se ele tivesse que se forçar
apenas a me beijar. Ele... nunca me quis. Não fisicamente.
Connor sentiu o coração parar e depois começou a bater de novo acelerado.
─ Você não esteve intimamente com ele? - Ele persistiu. ─ Você não dormiu com ele? -
Ele corrigiu.
Ela respirou fundo.
─ Não.
─ Por quê?
─ Principalmente porque ele não queria. Eu costumava ir à igreja todos os domingos. -
Acrescentou lentamente. ─ A religião era o que me mantinha nos tempos difíceis, e
havia muitos deles. Aprendemos o que é certo ou errado. E o que está errado não muda,
não importa como a sociedade mude. Eu não durmo por aí porque fui ensinada que as
pessoas decentes não fazem isso. - Ela virou de novo. ─ Vá em frente, ria de mim. A
maioria dos meus amigos fez isso. Eles achavam que eu era louca.
O coração dele estava acelerado.
─ Você nunca teve um homem, teve, Emma? - Ele perguntou com um tom moderado.
─ Não. - Ela disse simplesmente. ─ No meu mundo, você se apaixona, se casa, tem
filhos, vive junto até que esteja velho e então você morre com sua família ao seu redor.
Ele riu friamente.
─ No meu mundo, você toma o que pode conseguir e nunca deixa a emoção entrar no
caminho de um bom momento.
─ Grilos e cassinos.
Ele procurou por sua mão e deslizou seus dedos entre os dela em um movimento
lento e sensível.
─ Não há nada de errado com os cassinos. Você gostou das máquinas caça-níqueis.
Admita.
Ela sorriu para si mesma. O toque de sua mão grande e calosa fez com que ela se
sentisse segura, confortável, valorizada. Sentiu-se envolvida no contato quente.
─ Eu acho que os cassinos não são tão ruins.
─ Talvez eu possa me acostumar com grilos.
─ Sem chance. - Ela repreendeu.
Seus dedos puxaram os dela mais para perto.
─ Você não pode me deixar, Emma. Eu preciso de você.
─ Você substitui computadores e impressoras o tempo todo. - Ela disse. ─ Pense em
mim como uma das peças obsoletas da mobília do escritório.
─ Não. Eu não posso. - Ele respirou fundo. ─ Eu pensei que você estava jogando
comigo.
─ Você o que?
Sua mão se contraiu.
─ Provocando. Recuando. Cedendo a um homem e depois afastando-se para fazê-lo
querer você.
─ Eu não sou assim. - Ela vacilou. ─ Quero dizer, eu não sei como jogar assim...
Ele levou a mão dela até sua boca.
─ Eu não conhecia você, Emma?
─ Você pensou que sim. - Disse ela.
─ Eu vi o que eu queria ver. Perdoe a ironia. Não consigo ver nada.
A culpa a dominou.
─ Um dia, você vai. - Disse ela. Ela ia orar por isso todas as noites. ─ Um dia, você
verá novamente.
─ Pensa assim? Eu aceitaria essa aposta e ficaria mais rico se você tivesse dinheiro.
Eles estavam quietos. Os grilos cantavam ao redor deles. O fraco desfoque da água
que chegava à margem era pacífico, como a distância dos cachorros.
─ Volte. - ele disse gentilmente. ─ Eu nunca mais a colocarei nessa posição.
─ Eu estou atrapalhando. - Ela argumentou.
─ Não é isso. - Ele podia ouvi-la respirar. Era rápido. Inusualmente rápido. Ele cutucou
os dedos com os dele. ─ É Ariel. Não é?
Seus dentes se juntaram. De jeito nenhum, ela admitiria para ele que ela estava com
ciúmes, que era possessiva com ele.
Ela não podia saber que seu silêncio era uma admissão. Isso o fazia sentir coisas que
havia esquecido há muito tempo. Ele era protetor com ela. E sim, possessivo. Ela
pertencia a ele como nenhuma outra mulher que já pertenceu.
─ Eu não dormi com ela. - Ele admitiu secamente. ─ Eu a mandei de volta ao seu
próprio quarto.
O coração dela pulou.
─ Não é da minha conta!
Enquanto ela estava falando, ele a atraiu para ele e encontrou sua boca cegamente.

***

Era sempre o mesmo. Ela o amava tanto. Mais do que alguém ou qualquer coisa no
mundo. Ele a tocava e ela se derretia por ele. Era uma resposta que ela não podia evitar.
Ele sabia disso. Suas mãos eram gentis, mas não invasivas. Ele a beijou com uma
ternura que nunca tinha tido antes.
─ Uma virgem. - Ele respirou em sua boca. Isso o excitou, o pensamento de ser seu
primeiro homem. Ele nunca foi o primeiro com ninguém.
As mãos dela tocaram o rosto dele hesitantemente, sentindo a sobrancelha, as maçãs
do rosto altas, a barba por fazer em torno da boca que estava provocando a dela.
─ Eu deveria ter me barbeado. - Ele sussurrou.
─ Não me importo. - Ela respondeu com voz rouca.
─ Não? - Ele a puxou para o seu colo e a sentou, abraçando-a, na tranquila escuridão
iluminada pela lua. ─ Minha primeira esposa. - Ele disse devagar. ─ Era uma
debutante.21 Ela e eu estávamos no final da nossa adolescência quando nos casamos,
mas ela era sexualmente ativa há muito tempo. Nunca fui o primeiro homem de uma
mulher.
─ Ouça. - Ela começou com preocupação. - Eu não posso...
Ele a puxou para mais perto para que o rosto dele ficasse coberto pelos longos
cabelos e encostado a garganta macia e morna.
─ Você não precisará. - Seus braços a apertaram. ─ Você faz a vida suportável para
mim. Nunca tive ternura de uma mulher. - Ele acrescentou suavemente. ─ Paixão,
agressividade, todas as coisas usuais. Mas não conheço uma única mulher que quisesse
cuidar de mim durante uma enxaqueca. - Ele beijou sua garganta quente gentilmente. ─
Se você for embora, ninguém saberá o que fazer quando elas começarem.
Ela estava enfraquecendo. Adorava estar perto dele. Se ele não fosse exigente, se ele
parasse de pressioná-la ... Ela engoliu em seco e aproximou-se dele.
─ Você não pode mandar Ariel para outro lugar? - Perguntou miseravelmente. ─ Se ela
não estiver na casa, acho que eu poderia voltar.
─ Você está com ciúmes.
Ela engoliu em seco.
─ Ela é linda, refinada e experiente. Ela está com você há muito tempo.
Ele franziu o cenho.
─ Como você sabe disso?
─ Marie me disse. - Ela mentiu.
─ Entendo.
─ Você é meu chefe. - Acrescentou, tentando salvar o que restava de seu orgulho. ─ Eu
acho que não gosto de compartilhar você com outras pessoas. Isso soa egoísta.
Isso parecia delicioso. Seu humor sombrio desapareceu. Ele sorriu contra sua
garganta.
─ Não me importo.
O coração dela pulou.
─ Mas você não pode me seduzir. - Ela disse sem rodeios. ─ Você vai se afastar, eu não
supero as coisas com facilidade. Eu nunca superaria isso. - Seus braços se contraíram.
21 - Debutante - No Brasil a festa de debutante ocorre aos 15 anos de idade, nos EUA, uma celebração semelhante ocorre aos 16
anos. E o final da adolescência ocorre por volta dos 18/19 anos.
─ Tudo o que quiser, querida. - Ele sussurrou. ─ Qualquer coisa.
Ela respirou fundo. Ele cheirava a água de colônia e sabonete, cheiros que ela sempre
associava a ele. As palavras a acalmaram tanto quanto o abraço. Sentia-se mais segura
do que nunca.
Connor estava sentindo algo semelhante e lutando contra isso. Ela era algo fora de
sua experiência. Era por isso que era tão difícil pensar em deixá-la ir. Ele gostava dela.
Adorava beijá-la. Ela era carinhosa com ele, eficiente, ótima em reduzir grandes
quantidades de dados em pontos de discussão que ele poderia entender facilmente.
─ Você é uma das melhores Assistentes Pessoal que já tive. - Disse ele
inesperadamente. ─ Não consiguiria lidar com o peso dos negócios se eu não tivesse
você para me ajudar.
Ela sorriu tristemente.
─ Móvel de escritório. Isso é o que eu sou.
─ Carga preciosa. - Ele sussurrou. Sua cabeça se levantou, sua bochecha deslizou contra
a dela em uma carícia arrepiante. ─ A coisa mais preciosa em minha casa.
Ela sentiu seu coração acelerar com as palavras. Talvez ele precisasse dela para o
trabalho, mas a maneira como ele a segurava era nova, mais doce do que o mel.
─ Você não acredita nisso. Não de verdade. - Ela sussurrou de volta.
─ Quis dizer todas as palavras que disse. - Ele ergueu a cabeça e olhou para baixo,
desejando poder vê-la. O toque, a audição e o cheiro diziam que era desejável, mas
queria saber como ela era. Ele queria ver seus olhos enquanto ele a tocava, ver a prova
visível de sua atração por ele.
Seus dedos tocaram a bochecha dela, sobre os lábios cheios, até o queixo
arredondado.
─ Eu daria qualquer coisa para ver qual a sua aparência agora, Emma.
─ Você disse a esse fazendeiro do oeste do Texas que eu era comum. - Ela disse,
estremecendo interiormente pelo modo como ele havia falado.
─ Eu estava sendo um idiota, e você sabe disso. - Ele respondeu. ─ Você correu de mim
naquela noite em Nassau. Eu fui para a cama esperando... Bem, algo mais do que o que
eu consegui. Eu queria me vingar. Ariel me ouviu falar com Cort no telefone e ela não
conseguiu resistir a falar quando estávamos juntos na festa. - Ele suspirou. ─ Me
desculpe. - Ele disse, e foi uma das poucas vezes em sua vida que ele disse isso. ─
Verdadeiramente me desculpe. Era uma mentira. Eu nem sei como é a sua aparência,
Emma.
─ Eu sou simples. - Ela disse calmamente, descansando contra ele. ─ Essa é a verdade.
─ Sem ego. - Pensou. ─ Nenhum mesmo. Você é suave, quente e desejável. Você me
faz arder quando eu te beijo.
─ Eu faço?
Ele afastou os cabelos desgrenhados.
─ Seu noivado te desencorajou dos homens, não é?
─ Sim. - Ela confessou. ─ Eu pensei que isso comprovasse que eu não era mulher o
suficiente para fazer com que um homem me desejasse. Doeu tanto que tive medo de
tentar novamente. Eu fazia o meu trabalho E ia para casa.
─ Certamente você foi pedida em namoro de novo.
Ela sorriu contra o amplo peito.
─ Não me pediram muito. Quando Steven me namorou, fiquei tão entusiasmada com a
atenção que não questionei por que ele queria que nos envolvêssemos com tanta
rapidez. Olhando para trás, acho que a mãe dele o empurrou para mim. Ela me conheceu
no café e gostou de mim. Ela nos apresentou.
A mão dele se emaranhou em seus cabelos.
─ Talvez ela tenha gostado de você.
Ela fez uma careta.
─ Ela queria contar a todos sobre o noivado. Ela se certificou de que estivesse em todos
os jornais. Quando Steven me deixou, todos souberam disso. Foi tão humilhante. Eu não
poderia ficar lá e enfrentar a piedade. Mesmo a mãe de Steven estava chateada. Ela
disse às pessoas que seu filho era um idiota por me deixar fugir, como se eu tivesse
deixado ele, em vez dele me deixar.
─ Estranho. - Ele pensou.
─ Ela e o pai de Steven se mudaram quando ele foi para San Antonio com o amigo.
Ele estava tendo uma boa imagem do noivado dela, e não via nada a favor do
menino. Ele se perguntou se ela realmente sabia o que estava acontecendo? Para a mãe
empurrá-lo para um noivado, ela devia estar desesperada para proteger o filho, ou ela
mesma, das fofocas. Depois de um momento de silêncio, ela disse:
─ Você está muito quieto.
─ Eu gostaria de socar seu ex-noivo. - Ele disse com franqueza.
Ela aconchegou seu rosto contra o peito dele.
─ Isso foi legal. Obrigada.
Ele riu. Sob o ouvido dela, ela podia sentir a batida pesada e rápida de seu coração.
─ De nada. Então. Você vai voltar para casa?
Ele fazia soar como se ela fosse realmente para casa. Porque a casa era onde quer que
ele estivesse.
─ Bem... é um longo caminho até a estrada, e a minha mala é muito pesada. - Ela
murmurou.
Ele virou o rosto dela para o dele e colocou os lábios lentamente, com ternura, sobre
os dela.
─ Sim, é. - Ele sussurrou com voz rouca. ─ E você pode encontrar um urso ao longo do
caminho ou um coiote, ou mesmo uma pessoa com má intenção.
─ Eu acho que poderia voltar. Por um pouco mais de tempo. - Ela entrou em pânico,
pensando que Mamie voltaria para casa em menos de dois meses. O que ela faria então?
Ela trabalhava para a famosa autora. Ela poderia deixá-la e ficar com Connor? Ela
ficava gelada ao pensar em deixá-lo para sempre. Ela nem conseguiu dizer a ele a
verdade. E deveria ter dito logo após o acidente. Deveria ter ido até ele e confessado,
independentemente do castigo. Ao trabalhar para ele, ficar com ele, ela estava cavando
sua própria sepultura.
Se ele recuperasse a memória, pensaria que ela teria ficado para jogar com ele, como
ele havia dito antes, que ela só estava lá pelo que poderia conseguir. Ela nunca aceitaria
nada dele, exceto seu salário, ela decidiu. Dessa forma, quando ela saisse, se o fizesse,
ele perceberia que ela queria algo mais do que suas conquistas fáceis. Ela só queria ele.

***

Ele a levou de volta para Pine Cottage, carregando a mala enquanto ela se agarrava à
outra mão e guiava-o até a porta dos fundos. Marie ainda estava na cozinha, quase
terminando as suas tarefas, quando entraram.
Ela sorriu de orelha a orelha.
─ Oh, estou tão feliz que você voltou! - Exclamou Marie, correndo para abraçá-la.
Emma sorriu para ela.
─ Minha mala ficou muito pesada. - Ela provocou enquanto Connor colocava a mala no
chão no corredor.
─ Além disso, provavelmente há ursos. - Ele observou.
─ Há um grande urso pardo que mora aqui. - Ela repreendeu.
Ele sorriu de orelha a orelha.
─ Ele é manso. - Ele disse a ela.
─ Nem tanto. - Ela devolveu.
─ Barnes organizará os carros para amanhã para que os hóspedes cheguem ao
aeroporto. - Disse ele a elas. ─ Por enquanto, talvez seja bom que todos nós fossemos
deitar e tentar dormir um pouco. Tenho negociações de contratos para fazer amanhã em
Atlanta. Emma, você ficará aqui e cuidará da correspondência.
─ Sim, senhor. - Ela ficou aliviada. Talvez ela não precisasse mais ver Ariel.
─ Pare com isso. - Ele repreendeu. ─ Não me chame de senhor de novo.
─ Ok, chefe.
Ele fez uma careta.
─ Patrão? - Ela persistiu.
─ Rude.
─ Ditador? - Continuou. ─ Déspota? Tirano?
─ Essa não é a forma de falar sobre o seu empregador. - Disse ele, mas estava sorrindo.
─ Chefe, então.
Ele encolheu os ombros.
─ Eu posso viver com isso. Por enquanto. - Ele acrescentou, e ele estava quase
ronronando no tom de sua voz. ─ Vá para a cama.
─ Boa noite. - Disse ela a ambos.
─ Durma bem. - Ele disse suavemente.
─ Você também. - Ela respondeu.

***

─ Estou feliz que ela voltou. - Disse Marie quando Emma fechou a porta do quarto. ─
Ela é uma grande ajudante, e não apenas no escritório.
Ele assentiu.
─ Eu quase arruinei as coisas. Ela não é o que eu pensava.
Marie avaliou o fato.
─ Eu poderia ter dito que tipo de pessoa era quando ela começou a orientar você sobre a
distribuição da comida no seu prato na hora do jantar. Ela não é como as outras
mulheres que vêm aqui . - Ela acrescentou deliberadamente.
Ele fez uma careta.
─ Não. Eu devia ter percebido isso. Ela nunca me pediu nada. - Ele observou.
─ Ela nunca faria isso. Ela trabalha pelo que recebe.
Ele sorriu.
─ Lembra-se quando eu a levei ao cassino em Paradise Island? - Perguntou a Marie. ─
Ela ganhou cinco mil dólares. E colocou cada centavo na caixa de doação em uma igreja
no centro de Nassau.
─ Bom Deus! - Exclamou Marie. ─ Tanto dinheiro, e ela usando roupas de brechós... -
Ela colocou uma mão em sua boca. Ela não deveria ter deixado isso escapar.
Ele franziu o cenho.
─ Brechós?
─ Ela é muito modesta. - Ela respondeu. ─ Eu acho que deve ter algo a ver com a
educação que ela teve. Ela disse que roupa não era importante para ela, nem o que
outras pessoas pensavam sobre o que usava. E disse que as pessoas só deveriam olhar
para o caráter de uma pessoa, não para o que ela tinha. Ela disse que o esnobismo era
uma coisa triste e ela não menosprezaria ninguém, nem mesmo se tivesse milhões.
─ Uma mulher e tanto. - Ele murmurou.
─ Ela realmente é. Senhor, você não vai dizer a ela o que eu falei? - Ela perguntou
preocupada.
─ Eu não vou. Mas ela não guarda rancor. - Seu rosto se endureceu. ─ Eu guardo.
Lembro-me de coisas que as pessoas me fizeram há anos atrás, e eu continuo a pensar
sobre elas. Eu não perdoo facilmente, e nunca esqueço. - Ele respirou profundamente. ─
Eu sou vingativo. Eu acho que isso também se deve a minha educação. Meu pai era...
rude.
Marie sorriu gentilmente. Ela sabia sobre sua educação.
─ Você é um cavalheiro, por tudo isso, Sr. Connor. - Disse ela, usando o nome com
carinho.
Suas bochechas estavam coradas.
─ Obrigado. - Ele curvou-se e levantou a mala. ─ Deixe o resto das coisas da festa para
amanhã, Marie, e durma um pouco. Você terá que fazer café da manhã para todos antes
de partirem.
─ Não me importo. Mas também vou dormir. Boa noite, senhor.
─ Boa noite.
Ele pegou a mala de Emma e tateou seu caminho pelo corredor até seu quarto. Ele
bateu na porta.
─ Entrega especial. - Ele chamou.
Emma riu quando abriu a porta e tirou a mala dele.
─ Obrigada.
─ Não levante até que todos nós tenhamos saído pela manhã. Marie pode fazer para
você um café da manhã tardio. - Ele disse solenemente.
Ela percebeu, assustada, que ele a estava protegendo de Ariel, que provavelmente
ficaria furiosa com o fato de Connor ter recusado a oferta para dormir com ele.
─ Eu acho que vou fazer isso, se você não se importar.
─ Não me importo. - Ele hesitou. ─ Eu não tenho planos em Atlanta que a incluam. -
Ele acrescentou bruscamente. ─ No caso de você se perguntar. Durma bem.
─ Você também.
Ele seguiu pelo corredor. Emma voltou para o quarto e fechou a porta. Seus olhos
estavam úmidos. Ela esperava um fim de noite diferente do que esse que conseguiu. Ela
ficou tão aliviada que não tinha que ir embora. Não conseguia imaginar a vida sem
Connor agora. Se ela o perdesse, não sabia como iria sobreviver. E ele era um homem
que não tinha nada a oferecer, exceto uma noite ocasional em sua cama. Ela tinha que
ter isso em mente.
Mas quando estava deitada à noite, toda sua mente continuava se voltando para a
ternura que ele havia mostrado na beira do lago, sentados no tronco. Era novo,
excitante, e prometia algo que ela ansiava ter.
Podia ser insesato ficar, especialmente porque ele estava tendo cada vez mais flashes
de memória após seu acidente. Mas ela tinha que ter mais um dia, mais uma semana,
mais um mês. Ela viveria um dia de cada vez, esperando que algum dia ele desejasse
mais do que uma noite com ela.
Ele prometeu não seduzi-la, no entanto. Isso era algo. Isso lhe dava a única esperança
de que eles realmente poderiam ter um futuro juntos.

CAPÍTULO DEZ
Emma ainda estava meio adormecida quando ouviu os carros chegarem e as portas
serem abertas e fechadas. Connor e seus convidados estavão a caminho de Atlanta. Ela
lembrou o que aconteceu na noite anterior e seu coração acelerou selvagemente.
Ela se levantou e se vestiu com um vestido de verão simples antes de ir pelo corredor
até a cozinha. Marie estava lavando os pratos, e sorriu quando Emma entrou.
─ Seu café da manhã está lá. - Ela disse, indicando um prato que continha ovos
mexidos, bacon, salsicha, biscoitos, batatas picadas e fritas e que estava colocado em
cima do aquecedor. ─ Só resta o suficiente. Meu Deus, como essas pessoas comem! -
Ela riu.
Emma sorriu.
─ É bom ter a casa só para nós novamente.
─ Nem me fale. - Disse Marie, balançando a cabeça. ─ Honestamente, Ariel não pode
dizer uma coisa legal sobre a comida, eu ou você. Ela estava furiosa. O Sr. Connor ficou
sentado e não falou uma palavra. Ele sorriu, o que piorou tudo.
─ Oh céus.
─ Ela é uma mulher ruim, e não quero dizer apenas porque ela gosta de uma variedade
de homens. Ela é realmente ruim, especialmente para ele. Quando ela estava hospedada
aqui, antes de você chegar, ela reclamava de tudo. Ela tentou que o Sr. Connor me
demitisse e a Edward, porque não gostava da maneira como cozinhávamos. Ela tentou
fazer Barnes ser despedido porque disse que era muito velho para fazer o trabalho. - Ela
assoviou. ─ Menos mal que o chefe não a ouviu.
Emma odiava pensar sobre o que tinha acontecido entre Connor e Ariel. Eles tinham
uma história. Ele dormiu com ela. A dor que isso causava nela era quase tangível. Ela
tinha que lembrar que foi antes de conhecer Connor, em outro mundo.
Ela respirou fundo.
─ Ela é tão linda. - Ela murmurou. E fez uma careta. ─ E ele disse a Cort Grier que eu
era comum.
─ Ele estava disfarçando. Ele disse muitas coisas. Tenho certeza que ele se desculpou
por elas agora. - Acrescentou. ─ Eu nunca o vi tão chateado como estava quando eu
disse que você estava partindo.
Isso a fez sorrir.
─ Ele estava?
─ Derrotado, essa é a palavra que estou procurando. Era tão incomum. Ele nunca é
derrotado. Mas ele não podia ir atrás de você rápido o suficientemente. - Ela parou o
que estava fazendo e se virou para Emma. ─ Estou tão feliz que você ficou. Ele precisa
de você.
─ Estou funcionando corretamente como um dos equipamentos do escritório. - Disse
Emma com perversidade. ─ É por isso.
─ Eu estava pensando em outras coisas. Você o mima. E quando ele está doente, ele não
quer ninguém além de você ao seu lado. Ele mudou desde que chegou aqui, Emma. -
Disse ela à mulher mais nova. ─ Ele ri. Honestamente, trabalhei todos esses anos e era
tão raro que ele fosse qualquer coisa além de sombrio, mesmo quando ela estava aqui. -
Ela disse com desgosto, e Emma sabia que ela estava falando sobre Ariel. ─ Ele é um
homem tão solitário. Toda a família que lhe restou era o irmão. Ele o amava muito.
─ Ele me disse.
─ Aquela mulher rancorosa levou o irmão dele como um cão em uma coleira, tratou-o
como lixo, fez com que ele fizesse coisas que nunca teria feito por conta própria. Então
ela engravidou deliberadamente. Ela se gabava de obrigá-lo a se casar com ela. O Sr.
Connor a odiava. Ele tentou separá-los, mas seu irmão verdadeiramente amava a
mulher. - Ela balançou a cabeça. ─ Sempre me surpreendeu, quantos homens
respondem às mulheres que parecem odiá-los e tratá-los como lixo. Talvez esse seja o
segredo da vida.
Emma riu e começou a tomar o café da manhã.

***

Mais tarde, sentou-se na grande cadeira de couro de Connor e tentou organizar


pontos de discussão das mensagens de e-mails que vieram das várias divisões de sua
corporação. Mas sua mente não estava realmente nisso. Ela estava relembrando à noite
passada. Connor não queria que ela fosse embora. Mesmo que fosse só por ele precisar
de suas habilidades no escritório, ou suas habilidades amadoras de enfermagem para
suas enxaquecas, a conclusão era que ele precisava dela. E isso a fez sentir aquecida por
toda parte.
Ela forçou sua mente a voltar às tarefas em questão. Ela estava aprendendo coisas
sobre corporações de aeronaves e a forma como elas eram organizadas. Algumas
divisões fabricavam motores. Algumas fabricavam acessórios. Outras faziam as rodas.
Algumas faziam os computadores que gerenciavam as tarefas na cabine de comando.
Outras faziam os assentos, enquanto outras faziam a fuselagem dos próprios aviões.
Principalmente o que ele construía eram jatos corporativos, embora ele tivesse dito a
Marie que mantinha uma divisão de pesquisa no Arizona que trabalhava em inovações
como foguetes e veículos que poderiam ir ao espaço. Isso era emocionante, que ele
tivesse uma divisão trabalhando em naves que poderiam um dia ir a lua ou até Marte.
Voo espacial tripulado, embora Emma não soubesse muito sobre isso, era fascinante.
Ela amava filmes de ficção científica.
─ Você não conseguiu construir uma como aquela nave incrível que eles tinham
naquela antiga série de TV, Firefly? - Marie disse que o provocara sobre isso.
Ele riu.
─ Desculpa. A nossa nave será mais como o ônibus espacial da NASA. - Disse ele. ─
Ou até mesmo os módulos da série Mercury. Designs testados são melhores do que
inovações. Se mudássemos nossos projetos, também tivéssemos que reequipar nossas
fábricas para produzi-los. Meu conselho de administração me afogaria no combustível
do jato se eu apenas sugerisse isso.
Marie tinha transmitido a conversa dos dois com os olhos brilhando .
─ E eu disse a ele, quem não arrisa não petisca, não é? - Ela falou. ─ E ele apenas riu.
Emma também riu. Ela adorava ouvir Connor falar. A aviação era verdadeiramente o
amor de sua vida. Entre ditar cartas e ouvir os tópicos de discussão dos projetos, ele
gostava de falar sobre seus primeiros dias como piloto, sobre herdar a empresa de seu
pai e transformá-la na corporação multinacional de hoje.
Emma gostava das conversas. Ela não entendia muitos dos termos que ele usava,
embora estivesse melhorando nisso. O que mais gostava era poder relaxar quando eram
apenas os dois, sem nenhum perigo de outra pessoa ver a maneira como olhava para ele.
Ela estava tão apaixonada que teria sido óbvio, o que sentia pelo seu chefe mesmo para
um estranho.

***
Quando ele voltou de Atlanta, ela tinha a maioria das mensagens urgentes resumidas,
juntamente com informações sobre projetos em andamento. Problemas e complicações
que ele tinha que abordar abrangiam quase três páginas impressas, separadas.
─ Vai ser um longo dia. - Ela disse com um suspiro enquanto esboçava os dados
comerciais para ele.
─ Todos os dias são longos, querida. - Ele disse suavemente, sorrindo para ela. ─ Eu
tive que delegar uma grande parte da minha rotina diária aos gerentes para que as coisas
funcionem sem problemas.
Ele balançou a cabeça quando se recostou na cadeira da mesa e fechou os olhos.
─ Eu nunca tive um momento como esse. Um tempo para simplesmente me sentar e
revisar os projetos, sem dúzia de interrupções por hora. - Ele riu. ─ Eu realmente
desligo o telefone quando estou dormindo. Eu nunca fiz isso antes. Eu estava
acostumado a cinco horas de sono por noite, voar por todo o mundo para solucionar
problemas e me encontrar com os clientes.
─ Você era um ataque cardíaco à espera de acontecer. - Ela murmurou, corando com a
própria ousadia. Ele ergueu uma grossa sobrancelha negra.
─ Você falou com o meu médico? - Ele provocou. ─ Porque essas foram quase suas
palavras exatas.
A adoração estava nos olhos dela.
─ Lamento que você teve que fazer isso, diminuir o ritmo. - Disse com tristeza genuína.
─ Eu, também. - Seu rosto endureceu. ─ Eu me lembrei de algo.
─ Algo? - Ela instigou, porque ele não estava comunicativo.
─ Sobre o acidente que causou isso. - Ele acenou uma mão sobre os seus olhos.
─ Oh? - Ela respondeu, esperando que sua voz não tremesse.
─ Havia uma lancha. - Ele disse, e sua voz profunda estava gelada. ─ Eu lembro de vê-
lo virar a curva, muito rápido. Eu estava no Jet Ski, mas o sol estava nos meus olhos.
Estava tão brilhante que não a vi se aproximar.
─ Você acha que uma lancha bateu em você? - Perguntou com preocupação.
─ Pode ter acontecido. - Disse ele, seus olhos se estreitando com o pensamento. ─ Eu
vou ter que mandar verificar o Jet Ski e ver. Supus que acertei algo na água. Agora, não
tenho tanta certeza.
─ Não consigo imaginar que qualquer pessoa queria atropelar alguém deliberadamente.
- Começou.
Ele riu friamente.
─ Você ficaria espantada. - Ele respondeu. ─ Você não os notou, porque eles são
discretos. Mas eu tenho dois guarda-costas na folha de pagamento. Sempre que viajo,
eles estão comigo.
Ela se lembrou de dois homens no jato quando eles voaram para Nassau. Ela tinha
assumido que eram apenas funcionários, porque um estava no computador o tempo todo
e o outro sentou-se na frente e conversou com o co-piloto. Ela pensou que ele poderia
ser um piloto assistente.
─ Guarda-costas. - Ela estava tentando imaginar por que ele precisava deles.
─ Eu sofri algumas ameaças. - Disse gentilmente, porque sentiu que ela não entendia o
que estava dizendo. ─ Quando você tem que fechar uma instalação, e as pessoas perdem
seus empregos, você tende a fazer inimigos. Eu só tive que fazer isso uma vez, mas
reduzi o número de funcionários em outras instalações. Uma vez foi um homem com
uma arma. Outra vez, alguém tentou sabotar meu jato. Eu tive sorte. Eles foram pegos
antes que as coisas se tornassem perigosas.
─ Oh, meu Deus. - Ela ofegou. Não poderia ter imaginado que alguém iria querer
prejudicá-lo deliberadamente.
─ Agora você vê por que eu estava preocupado quando você saiu sozinha pelo bosque
na noite passada. - Disse ele. Era uma mentira. Ele estava preocupado porque ele não
conseguia mais se imaginar seguir vivendo sem ela. Mas nunca era uma boa ideia dizer
às mulheres o quão importante elas eram.
─ Mas eu não seria um alvo. - Ela começou a dizer.
─ Você trabalha para mim. - Ele apontou. ─ Na verdade, uma vez, um ex-funcionário
descontente sequestrou Marie e tentou mantê-la presa para receber o resgate.
─ Pobre Marie! - Exclamou. ─ O que aconteceu?
─ Os guarda-costas aconteceram. - Ele disse com um sorriso. ─ Eles a rastrearam. A
polícia teve que levar os bandidos para a sala de emergência a caminho da prisão.
─ Entendo. Os guarda-costas conseguiram pegá-los. - Ela riu.
─ Na verdade, eu os peguei. - Ele corrigiu, e seus olhos escuros brilharam como
fogueiras de prata. ─ Ninguém machuca meus funcionários. Especialmente Marie.
─ Isso foi legal. - Disse ela. ─ O que você fez.
Ele encolheu os ombros.
─ Alistair me liberou com a alegação de circustâncias atenuantes. Em particular, o juiz
disse que teria feito o mesmo. Marie foi muito maltratada.
─ Eu achava estranho, você sabe? - Ela disse, pensando em voz alta. ─ Ela é muito
cuidadosa em garantir que as portas e as janelas estejam trancadas à noite, em cada
quarto.
─ É por isso. Já faz alguns anos, mas somos cautelosos da mesma forma. - Ele apoiou
os dedos fechados em seu peito enquanto se recostava, preenchendo a cadeira de couro
que tinha deixado muito espaço em torno de Emma quando ela estava sentada nela. ─
Eu não anunciei que eu vivo aqui, e a maioria dos vizinhos pensa que eu sou apenas um
empresário de Atlanta com uma casa no lago. Eu tomo muito cuidado para me certificar
de que a imprensa não saiba disso. Eu fui perseguido a maior parte da minha vida adulta
por repórteres que queriam se tornar famosos, dando uma olhada na minha vida privada.
Ele era um dos homens mais ricos do mundo, lembrou ela, mas mantinha um
comportamento discreto e ninguém o reconhecia quando saía em público.
─ No cassino, ninguém conhecia você. - Lembrou ela.
─ Entendeu? - Ele provocou. ─ Não permito que minhas fotos sejam publicadas. Muitos
tentaram. - Ele acrescentou alegremente. ─ Mas todas as tentativas falharam. Eu nem
tenho uma foto no site da nossa empresa.
─ Isso eu reparei. - Ela respondeu. Não havia considerado os repórteres. E se um deles
descobrisse que Connor estava cego e investigasse o motivo? E se ele ligasse o acidente
a mesma mulher que estava trabalhando para o milionário no lago, Emma? Seu coração
vibrou como um pássaro preso quando as possibilidades a sufocaram.
─ Emma? - Ele interrompeu seus pensamentos.
─ O que? Oh. Desculpe, chefe. - Ela vacilou. ─ Eu não tinha pensado nos repórteres.
─ Eu penso neles, o tempo todo. - Ele murmurou. ─ Você não pode imaginar o trabalho
que custou à minha empresa de relações públicas evitar que descobrissem que eu estava
cego.
─ Isso... Isso importaria? - Perguntou, curiosa.
─ Os preços das ações caíriam. - Ele disse com uma risada vazia. ─ Apesar da nossa
sociedade politicamente correta, negócio é guerra. Meu conselho administrativo faria a
festa tentando me expulsar se pudessem aproveitar uma fraqueza que poderia impactar
as vendas.
─ Eu não percebi que isso importaria tanto. - Disse ela, a culpa a atormentando.
─ Pense no conselho de diretores como um cardume de tubarões e eu como sangue na
água, se eles tivessem qualquer suspeita de que minha saúde estava prejudicada. - Ele
meditou. E apertou os lábios cincelados. ─ Caramba, que imagem.
─ Não é muito boa. - Ela respondeu.
─ Bem, isso é negócio, querida. - Ele respondeu. Se alongou e gemeu. ─ Deus, eu sinto
a minha idade às vezes. Mais ultimamente do que nunca. Não é fácil, lidar com um
mundo que é permanentemente sombrio.
─ Eu acho que não. - Ela disse com tristeza. ─ Eu sinto muito!
Ele acenou sua preocupação.
─ Isso está mais fácil. Você ajudou mais do que entende. - Ele acrescentou
inesperadamente. ─ Você ensinou a equipe a me dizer a posição e o que está no prato,
você me deixa segurar seu braço ao invés de me agarrar, essas pequenas coisas facilitam
a minha vida.
─ Estou feliz por ter ajudado. - Disse ela.
─ Mais do que você entende. - Ele repetiu. Seu rosto contraiu. De vez em quando ele
pensava na vida sem ela, e entrava em pânico. Ele não queria que ela soubesse, mas ela
se tornou sua maior necessidade, e não apenas porque ela o alimentava. Ela estava se
tornando cada vez mais importante para ele. Ele não queria arriscar seu coração
novamente, especialmente não com uma jovem ingênua que tinha pouca experiência
com homens. Ele poderia seduzi-la ou evitá-la, mas ela nunca conseguiria ter um
simples caso com ele. Ela esperaria um compromisso. Ele não podia lhe dar isso. Então,
era melhor colocar alguma distância entre eles enquanto tentava esquecer como ela se
sentia em seus braços.
Sua cabeça levantou-se decididamente.
─ Eu vou à Alemanha para negociações comerciais no final da semana. - Disse ele. ─
Provavelmente vou ficar fora por pelo menos duas semanas, talvez um pouco mais.
Avisei a Tonia que você pode precisar de ajuda enquanto estou fora. Você tem o
número dela na discagem rápida no telefone, certo?
─ Sim senhor.
Seu rosto endureceu.
─ Emma!
─ Sim, chefe. - Disse ela, forçando um tom leve na sua voz. Duas semanas. Duas
semanas sem ouvir a voz dele, sem vê-lo. Ela pensou que ficaria louca.
─ Eu acho que posso viver com isso. - Ele murmurou com uma pequena risada. ─ Tudo
bem, vamos organizar as coisas. Eu não quero deixar para trás muitas pontas soltas
enquanto estou fora.

***

O tempo se arrastava. As horas pareciam dias depois que ele partiu. Ela chamou
Tonia sobre uma conversa particularmente difícil que teve com um executivo de baixo
escalão da nova instalação no Arizona.
─ Ele disse que não sou qualificada para o trabalho que o Sr. Sinclair me faz fazer. -
Emma gemeu. ─ E ele está certo. Eu nem entendo metade dos termos que ele usa.
─ Emma. - Disse a mulher mais velha suavemente. ─ Seu maior trunfo é a sua
capacidade de acalmar o chefe e mantê-lo focado em uma tarefa por vez. Você não
sabia? Nos dias anteriores ao acidente - Ela usou o termo apenas para o caso de ser
ouvida. ─ Ele nunca conseguia se concentrar em apenas um problema. Ele tentava
resolver uma crise de combustível em uma instalação, ao mesmo tempo em que lidava
com um problema de equipe em outro. Ele resolvia os problemas sim, mas é muito mais
eficiente para enfrentar os grandes problemas e delegar os pequenos. Você o ajudou a
fazer isso.
─ Oh. - Emma sorriu para si mesma. ─ Bem, pelo menos, sou um pouco útil. - Brincou.
─ Você é muito útil. - Houve uma hesitação fraca. ─ Ele fala sobre você todo o tempo.
Você se senta com ele quando ele tem enxaqueca, ele contou. - Ela acrescentou com um
ritmo cadenciado em sua voz.
─ Bem, sim. Ele não deixaria ninguém mais perto dele...
─ Ele considera uma fraqueza, essas dores de cabeça. Ele é notavelmente saudável,
tirando as dores de cabeça. Na verdade, ele frequenta a academia quatro dias por
semana. Fazer exercícios ajuda com o estresse. Ele seguramente tem muito disso. Ele é
o primeiro em comando. Se alguma coisa der errado, ele é o melhor mediador.
─ Eu não posso imaginar ser responsável por tantas pessoas. - Ela respondeu.
─ Eu também não posso. - Tonia riu. ─ Ele o faz muito bem.
─ Ele disse que sua empresa de relações públicas lida com os jornalistas. - Ela jogou.
─ Oh, sim, sempre há isso. - Disse Tonia com resignação. ─ Não seria necessário se
eles não quisessem saber demais, e sempre tentarem bisbilhotar. Me espanta que tantas
pessoas acreditem que é sua obrigação conhecer todas as facetas da vida de uma figura
pública. A privacidade costumava ser um dever sagrado. Agora, é uma piada.
─ Ele está seguro aqui. - Disse Emma.
─ Esse é o único lugar que ele está seguro. - Disse Tonia sem rodeios. ─ Toda vez que
ele se aventura em público, há rumores, fofocas e os tablóides ficam loucos. - Ela
suspirou. ─ Você vai ver, haverá fotos dele com um interminável desfile de mulheres se
ele for a uma festa.
Emma fez uma careta.
─ Ariel esteve aqui por alguns dias. - Disse ela em um tom desanimado.
─ E partiu de repente, não é? - Foi a resposta divertida. ─ Ela é como todas as outras,
Emma. Algo bonito para manter seus fantasmas afastados. Isso é tudo o que sempre foi.
─ Ele é muito atraente.
Tonia riu.
─ Sim ele é. Anos atrás, antes de me casar, tive uma verdadeira paixão por ele. -
Confessou. ─ Mas eu não era seu tipo. Ele gostava de morenas lindas e chamativas. Eu
sou ruiva. - Disse a outra mulher.
Emma riu com prazer.
─ Eu sou loira.
─ Ai!
─ Oh, não é assim. - Emma tentou. ─ Eu apenas trabalho para ele. Ele é um grande
chefe. Ele só grita três vezes por dia, só ameaçou me jogar no lago uma vez só.
Tonia rugiu.
─ Pergunte ao pobre Edward com que frequência ele foi ameaçado com isso quando
começou a fazer frango cremoso três vezes por semana. - Ela respondeu. ─ O chefe
odeia frango. - Acrescentou.
─ É por isso que Edward ainda está na França? - Emma perguntou inocentemente.
Houve uma longa pausa.
─ Você sabe, Edward é relativamente novo, e é solteiro. Ele também é um mulherengo.
Emma ficou intrigada.
─ Como?
Tonia riu suavemente.
─ Ele estava de férias, mas antes de voltar para cá, disse ao chefe que viu uma foto sua
que Barnes tinha tirado e incluído quando lhe enviou uma mensagem sobre a nova
assistente pessoal. Ele disse que você era muito gostosa e que queria levá-la para sair.
No dia seguinte, ele foi mandado para a casa do chefe em Nice, para preparar deliciosos
pratos de frango cremoso para a equipe, antes de subir no avião para Nassau. Edward
deveria cozinhar lá. Mas, Marie assumiu o lugar dele.
Emma sentiu um calor subir por suas bochechas. Mal podia acreditar. Ela estava se
perguntando por que nunca conheceu Edward.
─ Ele é protetor com você. - Continuou Tonia. ─ Eu não lembro dele querer cuidar de
uma mulher antes. Não assim.
─ Ele tem medo que eu saia e ele tenha que contratar alguém para digitar suas
anotações, responder os e-mails e sentar com ele quando tiver dores de cabeça. -
Argumentou Emma, com ironia.
─ Eu não penso assim. - Disse Tonia suavemente. ─ Agora, de volta aos negócios.
Quem dificultou para você no Arizona?
Emma deu o nome do gerente.
─ Ah sim. Esse cara. - Tonia colocou mundos de significado nas duas palavras. ─ Eu
vou dar uma palavrinha rápida com ele e você não terá problemas novamente. O chefe
não gosta muito dele, de qualquer forma. - Acrescentou. ─ Se ele souber o que ele disse
a você, ele pode estar desempregado em breve.
─ Não diga ao chefe. - Implorou Emma. ─ Honestamente, não foi tão ruim. Eu não
gostaria que alguém perdesse o emprego por minha causa, por causa de algo que eu
disse!
Houve um suave suspiro.
─ Emma, você é uma figura. Tudo bem. Não direi ao chefe. - Houve outra hesitação. ─
Mas o Sr. Atitude está prestes a conseguir um ajuste para a dele.
─ Obrigada, Tonia. - Disse Emma.
Houve outra risada afetuosa e a linha foi cortada.

***

─ Eu não sabia que Edward deveria cozinhar para nós em Nassau. - Emma mencionou a
Marie ao fim do jantar. Depois de Barnes ter ido assistir televisão em seu quarto.
─ Sim. - Disse Marie, suspirando. ─ Mas houve algum tipo de emergência na casa em
Nice que Edward tinha que ir resolver. Eu não sinto falta de frango cremoso. - Ela
pensou. ─ Mas sinto falta dele. Ele é muito divertido. - Ela franziu a testa. ─ Não
entendo por que o chefe não o deixa voltar. - Acrescentou, completamente desorientada.
Ela encolheu os ombros. ─ Ah bem. Gostei da nossa viagem a Nassau, mesmo as custas
de Edward. - Ela riu. ─ Quer sobremesa? Eu fiz pudim de pão!
Então Marie não sabia por que Edward era mantido afastado. Mas Tonia sabia. Ou
Tonia fez a conexão? Emma ficou lisonjeada ao pensar que Connor não queria que ela
saísse com outros homens. Mas ela podia estar supondo isso. Provavelmente Connor só
não a queria distraída enquanto ela estava trabalhando. Seu coração apertou. Ela não
deveria imaginar qualquer romance com o chefe. Ele gostava de beijá-la. Mas isso era
um mundo distante do amor. Ele provavelmente teria beijado centenas de mulheres. Ele
era um homem sensual e atraente, e atraía mulheres aos montes, mesmo se ele não fosse
um importante milionário.
Ele gostava de Emma. Mas ele não podia vê-la. Se ele soubesse o quão simples ela
era, se estivesse enxergando, ele teria passado por ela na rua sem um segundo olhar. Ela
só era útil para ele porque estava cego. E nunca poderia esquecer que a cegueira dele era
culpa dela. Pensou em seu tempo com ele como penitência. Nunca compensaria a
angústia que causara a ele, mas aliviava a sua consciência.

***

Os dias foram se arrastando. Connor telefonou uma ou duas vezes para verificar os
contatos comerciais que poderiam ter ligado para casa em vez do escritório principal em
Chicago, onde Tonia estava. Mas sua conversa tinha sido estritamente sobre negócios.
Na verdade, ele estava mais irritado do que nunca. Ele mostrou que não queria falar
com Emma, que provavelmente preferia não ter que falar com ela. Ele tornou isso tão
óbvio que doía.
Ela se perguntou o que tinha feito para irritá-lo. E rezou para que não fosse sua
memória voltando. Ela não queria que ele soubesse que ela era responsável por seu
estado. Ela queria ir embora bem antes dele saber a verdade. Mas era tão doce estar em
sua casa, estar perto dele, sentar-se no escritório olhando para ele quando ele não
percebia. Ela nunca soube o que era amar até vir trabalhar aqui. Ela nunca iria superá-lo,
nunca mais quereria ninguém, nem se isso significasse passar toda a vida sozinha,
envelhecer sem um marido ou filhos. Não havia um homem na terra que pudesse
substituir Connor aos seus olhos.
Os dias continuaram se arrastando. Marie foi ao mercado comprar mantimentos.
Barnes limpou o carro. A equipe de limpeza veio para fazer o trabalho pesado, como
limpar o carpete, lavar as cortinas e os tapetes. Connor não gostava desse tipo de
interrupção quando ele estava na casa, Marie lhe contou. Isso interferia com os
negócios.
Uma vez, Marie e Emma tinham ido ao cinema ver um filme de ficção científica que
havia sido reprovado pela crítica especializada . Foi um dos melhores filmes que Emma
já havia visto.
Marie riu.
─ São apenas opiniões pessoais, Emma. - Ela observou com sabedoria. ─ Todo mundo
tem uma. Mas pobre é o consumidor que se deixa influenciar pela opinião de outra
pessoa. Eu mesma decido sobre filmes, livros e tudo mais.
─ Eu também. - Respondeu Emma, sorrindo.
─ Mas sinto falta dos filmes mais antigos. - Confessou Marie. ─ Aqueles em que você
poderia levar seus filhos para ver, e não apenas os desenhos animados. O mundo
mudou.
─ Sim, mudou. Mas eu gosto de desenhos animados! - Emma riu.
─ Eu tenho que confessar, eu também gosto. - Marie disse a ela.

***

Tinha passado duas semanas desde que ele partiu. Emma sentou-se no tronco na
margem do lago. Era um fim de tarde quente, para meados de novembro. Ela vestia um
suéter de mangas compridas com um decote em V e jeans, seus cabelos loiros-claros
longos caíam ao redor de seus ombros. Ela estava pensando porque Connor não havia
telefonado esses dias.
Pior, havia uma foto dele nos jornais, uma desfocada, porque o fotógrafo
aparentemente estava mantendo distância, com uma linda morena sob um braço grande
em algum tipo de evento beneficente em Berlim. A mulher estava tão obviamente
encantada por ele que na legenda se lia "Debutante morena encontra o fascinante
magnata da aviação."
Emma o achava fascinante. Ela podia entender o interesse da outra mulher. A
reportagem não mencionava que ele era cego, então, aparentemente, ele representou
bem em público. Marie, que também viu a reportagem, não comentou nada. Estranho
que o chefe se permitiu ser fotografado assim. Ela sabia que ele fez isso
deliberadamente uma ou duas vezes, para afastar as mulheres agressivas que o
perseguiam demais. Então, talvez houvesse uma mulher que ele queria afastar,
permitindo que a história fosse mostrada. Marie sabia, mas Emma não sabia, que
Connor tinha o poder de parar uma história que ele não gostasse, especialmente nesse
jornal particular. Ele era amigo da editora.
Emma revirou a terra com uma vara, fazendo voltas e inconscientemente traçando as
iniciais de Connor. CS. CS. Ela franziu a testa. E se perguntou se ele tinha um segundo
nome. Ela nunca perguntou.
─ Emma!
Ela ergueu a cabeça. Marie estava de pé na varanda, acenando.
Provavelmente negócios de novo, Emma pensou. Ela levantou-se com um suspiro,
largou a vara e limpou a parte de trás de seu jeans enquanto se dirigia para a casa.
─ Precisam de mim no telefone? - Emma perguntou enquanto alcançava a varanda.
Os olhos de Marie estavam brilhantes. Ela sorriu.
─ O chefe está em casa. Ele quer você no escritório.
A alegria que Emma sentia era quase tangível. Ela resplandecia com isso.
─ Ele está em casa? Mas eu não ouvi o carro!
─ Ele entrou pela parte de trás. - Disse Marie. ─ Rápido. Ele está irritado. - Ela
acrescentou com um suspiro.
─ E qual a novidade? - Brincou Emma.
Ela não correu para o escritório. Mas caminhou rápido.
A porta estava fechada. Ela respirou fundo e abriu.
─ Chefe? - Ela começou. Ele estava sentado no sofá. Sem o paletó e a gravata, sua
camisa estava meio desabotoada sobre o amplo peito. Ele parecia cansado, com raiva e
irritado.
Sua cabeça se ergueu e virou ao som da voz dela.
─ Emma? É você? Entre e feche a porta. - Disse ele tenso.
O coração dela pulou. Ele parecia furioso. Ele ia demiti-la? Ele descobriu algo,
lembrou-se de algo?
─ Sim, chefe. - Ela fechou a porta.
─ Tranque-a. - Disse ele com voz cortante.
Ela não entendeu, mas trancou a porta.
─ Venha aqui.
Ela contornou a poltrona até o sofá. Ela começou a falar quando sentiu as mãos dele
alcançando-a, encontrando suas pernas, seus quadris e a sua cintura. Ele a puxou, de
modo que ela caiu em seus braços. Ele a esmagou contra ele e encontrou sua boca em
um movimento suave, forçando a cabeça para o braço dele enquanto a beijava com tanto
desespero que ela ofegou.
Isso não era uma artimanha. Era um incêndio, uma fome dolorida que parecia não
encontrar satisfação, não importava quão urgentemente ele a beijasse.
─ Emma. - Ele gemeu contra sua boca. E a levantou, virou-a, de modo que ela estava
deitada no sofá e ele estava por cima dela.
Suas mãos deslizaram por baixo dela, aproximando-a dos contornos inchados de seu
corpo enquanto sua boca se alimentava de seus lábios macios e trêmulos.
─ Duas semanas. - Ele gemeu. ─ Duas semanas longas, malditas e infinitas, sem você...
beije-me!
Seus braços o rodearam. Ela se agarrou, deixando-o tomar o que precisava dela. Ela
registrou o tremor fraco de seus braços, a umidade do cabelo grosso, preto e ondulado,
em que seus dedos que se enroscaram nele enquanto ele se banqueteava com a sua boca.
Ele sentiu a falta dela! Ela estava tão desequilibrada pelo desejo dele que sua mente
mal funcionava, mas aquele pensamento penetrou na doce angústia de seu ardor. Ele
sentiu sua falta!
Ele não queria. Ela sentiu isso. Isso poderia explicar a irritação que ela tinha ouvido
em sua voz profunda quando ele falou com ela ao telefone. Ele se ressentia do controle
que ela tinha sobre ele. Ele não queria estar atraído por ela. Mas estava.
Este não era um abraço provocador, como os primeiros tinham sido. Ele não estava
se divertindo com sua resposta ingênua ou seu desejo igual por ele. Isso era desespero.
─ Da próxima vez, você vem comigo. - Ele murmurou contra a sua boca. ─ Eu não
posso... ficar longe de você. Maldição!
Ela amoleceu contra ele. E sorriu sob seus lábios. Se ele estava faminto por ela, não
era provável que ele tivesse deitado com aquela linda morena do jornal.
─ Você está sorrindo. - Ele resmungou. ─ Por quê? Você acha isso engraçado?
─ Você não dormiu com ela. - Ela conseguiu respirar. ─ Ou você não ficaria tão
faminto...
Ele se acalmou. Seu peito vibrou.
─ Não, eu não dormi com ela, sua irritante, implicante inocentezinha. - Ele disse com
voz rouca.
─ Estou feliz. - Ela sussurrou tremendo.
─ Você estava com ciúmes? - Ele murmurou enquanto sua boca deslizava para a curva
quente da garganta dela.
Ela engoliu em seco. Ela não deveria admitir isso, mesmo que estivesse.
Ele sentiu seu corpo esfriar. Suas mãos grandes e quentes deslizaram, seus polegares
provocando a parte inferior do sutiã de renda que ela usava sob o suéter de manga
comprida.
─ Você estava com ciúmes. - Ele respondeu a sua própria pergunta e se sentiu com três
metros de altura. Sua boca acariciou o ombro dela. ─ Eu não pertenço a você. - Ele
disse grosseiramente. ─ E nunca vou.
─ Eu sei disso. - Ela disse calmamente.
A dor em seu tom o feriu. Ele soltou um longo e pesado suspiro.
─ Ela trabalha para uma instituição para os cegos. - Ele confessou. ─ E foi comigo para
garantir que os repórteres não percebessem nada, para impedir que descobrissem que eu
não podia ver. - Ele hesitou. ─ Ela é casada e tem três filhos.
─ Ah.
Seus polegares passaram por seus seios firmes, encontrando os bicos duros que lhe
diziam quão excitada ela estava.
─ Oh? - Ele provocou. Sua boca deslizou para baixo para onde estavam os polegares, e
encontrou seu pequeno seio firme através do suéter.
Ela estremeceu e se arqueou para ele. Ela sentiu tanto falta dele que estava além de
qualquer esperança de protesto. Ela adorava suas mãos sobre ela, sua boca sobre ela.
Mesmo que fosse apenas físico, apenas por esse pequeno espaço de minutos, quando ela
podia fingir que ele pertencia a ela... Era só uma coisa, um pedaço dele, para lembrar
nos seus longos anos sozinha. Certamente, não machucaria ceder um pouco, apenas o
suficiente para que ele não tirasse a boca de seus quentes e excitados seios...
─ Você fez isso com ele? - Ele perguntou com raiva.
─ Não. - Ela gemeu. ─ Ele nunca... quis! - Ela ofegou, porque sua boca estava se
movendo para baixo, em seu estômago plano.
Enquanto ela estava tentando encontrar força suficiente para detê-lo, ele abaixou seu
jeans, junto com a calcinha de algodão e separou suas coxas.
Ela se ergueu do sofá enquanto ele movia os lábios para cima pela pele macia do
interior de suas coxas.
─ Duas semanas. - Ele gemeu. ─ Não podia comer, não podia dormir. Tudo o que eu
queria era isso. Isso!
─ Oh, por favor, você... não deve. - Ela sussurrou fracamente, com uma última tentativa
desesperada de se salvar enquanto a mão dele a tocou de uma maneira nova e chocante.
─ Eu devo. - Ele afirmou. E a tocou ardentemente e ela desistiu de qualquer esperança
de detê-lo.

CAPÍTULO ONZE
O telefone tocou na outra sala e Connor gemeu. Emma, suspensa no meio do céu,
ficou quieta, atordoada pelo som invasivo. Ele parou o tempo suficiente para procurar
por seu celular. Ele pressionar o primeiro número de discagem rápida.
─ Sem ligações por um tempo, Marie. Sem interrupções . - Ele acrescentou secamente.
─ Estou comendo corvo.22
Houve uma risada audível na outra extremidade. Ele desligou o telefone e jogou-o na
direção da mesa do café, onde ele pousou com um baque suave.
22 - Comer corvo - Expressão idiomática comumente usada nos EUA que significa admitir um erro humilhante, e que segundo a
história contada teve sua origem na guerra anglo-americana de 1812, quando um soldado americano, em território britânico, atirou
em um corvo. O soldado foi rendido por um comandante inglês que o obrigou a comer a ave, cujo gosto da carne é muito ruim.

─ E depois do corvo. - Ele sussurrou, voltando para a boca macia de Emma. ─ Temos
sobremesa.
Sua boca desceu sobre seus seios macios de novo. Ela estava vagamente consciente
de que ela não tinha mais uma peça de roupa para esconder seu corpo dele. Não que ele
pudesse vê-la. Mas suas mãos a estavam vendo, aprendendo, explorando cada
centímetro dela. Assim como a boca dura, quente e sensual que despertava sensações
que nunca sentiu em sua vida.
Alguma parte dela estava consciente de que agora ele se sentia diferente. Seu peito
quente, musculoso e áspero estava pressionado contra seus seios nus. Suas pernas, como
troncos de árvore, tinham pelos que ela sentia enquanto ele se movia entre suas coxas
macias.
Ela começou a entrar em pânico, mas os lábios dele pousaram gentilmente sobre os
dela e ele a tocou de novo, fazendo com que ela gemesse com sensações tão prazerosas
que pensou que ia explodir com cada movimento dos dedos dele.
Ele explorou entre suas coxas enquanto a beijava. Ela o sentiu sorrir contra sua boca.
Não seria difícil para ela. Ela estremeceu de dor, mas apenas por um segundo. Então,
ele a penetrou lentamente, e ela fez um som que parecia eletrizá-lo.
─ É isso, querida. - Ele sussurrou enquanto seus quadris arqueavam. ─ Faça isso. Faça
isso novamente. Você sente o quão fácil é? Não estou machucando você, estou?
─ Não. - Ela engasgou. Ela mal o ouviu falar. Suas unhas estavam cravadas em seus
ombros com cada movimento lento e profundo de seus quadris. Teve medo disto
durante toda a sua vida, mas não estava doendo, só um pouquinho. Além da dor, era
prazer. Muito prazer! A tensão a estava partindo ao meio. Ela ansiava por tê-lo ainda
mais profundo. Ela amava o que ele estava fazendo com ela, adorava a proximidade, a
fome, a sensação de toda aquela força quente sob suas mãos. Ela estava concentrada em
algum objetivo distante, um doce prêmio que pendurava fora do seu alcance.
─ Por favor. - Ela sussurrou enquanto os quadris dele se moviam um pouco
bruscamente, e o joelho dele afastava ainda mais suas pernas.
Uma grande mão foi para debaixo dela, para elevá-la para o forte e rápido impulso
dele.
─ Logo. - Ele sussurrou bruscamente. ─ Oh, Deus, Emma, Emma...
Ele começou a estremecer involuntariamente. Sentiu que o corpo dela
repentinamente se arqueou debaixo dele e estremeceu enquanto gritava. Então ele a
penetrou furiosamente, seu rosto enterrado em sua garganta úmida, uma mão grande
apoiando seu pescoço, a outra levantando-a ritmicamente para o rápido e brusco
movimento de seus quadris.
─ Oh, Deus! - Ele gemeu em agonia quando a satisfação o levou a convulsões reais, o
prazer tão intenso. Suas mãos a estavam machucando, mas ela quase não sentia. Seu
corpo estava pulsando com o dele, tão cheio de prazer que ela pensou que não poderia
sobreviver ao clímax.
Um minuto depois, ele estremeceu uma vez mais e seu corpo pesado colapsou sobre
o dela, molhado de suor, tremendo depois de algo que ele nunca sonhou que podia sentir
com uma mulher.
Emma deitou debaixo dele enquanto o doce prazer se desvanecia e ela ficava com
um entorpecimento frio e doentio em sua mente. Ela lhe deu o que ele queria. Ela não
conseguiu se afastar a tempo. Ela tinha trocado todos os seus ideais por alguns minutos
de prazer, e agora sua consciência a perseguiria para sempre. Lágrimas quentes
escorreram por suas bochechas.
Ele as sentiu contra sua bochecha. E levantou a cabeça e franziu o cenho.
─ Oh, Deus, sinto muito, querida. - Ele sussurrou, beijando as lágrimas. ─ Eu
machuquei você? Eu fui muito rápido? - Ele se moveu lentamente contra ela, fazendo a
carne sensível de repente ondular de prazer novamente. ─ Aqui. - Ele sussurrou
suavemente. ─ Eu posso aguentar um pouco mais. Mova-se comigo. Mova-se comigo,
bebê, vou fazer isso certo.
Ele não entendeu. Ela tentou abrir a boca, para lhe dizer, mas o prazer a dominou de
novo quase imediatamente. O que ela tinha sentido era devastador, mas aparentemente
havia níveis de prazer, e o primeiro clímax tinha sido apenas um platô. Ela subiu outra,
e outra vez, até que estremeceu com tal êxtase que apertou os dentes no ombro largo e
nu e gemeu pateticamente quando a onda de êxtase a atingiu uma e outra vez.
─ Assim. - Ele sussurrou com ternura, quando ela ficou quieta e tremendo fraca sob a
paixão dele. ─ Melhor?
Ela fez um som suave em voz baixa. Suas unhas o beliscaram e seu rosto se enterrou
na garganta úmida dele. Ele se afastou dela, de lado, e a puxou para si de novo. Sua mão
grande acariciou a bochecha dela. Ele respirou longa e exaustamente e beijou a testa
dela.
Ela colocou a mão em seu amplo peito. Os pelos grossos estavam úmidos. Sua pele
estava gelada por causa do suor. Os pelos faziam cócegas nos seus dedos. Ela estava
calada.
Seu braço se contraiu.
─ Terá que ser uma cerimônia civil, por enquanto. - Ele murmurou. ─ Nós vamos fazer
uma melhor mais tarde. Mas eu não quero estar cercado por repórteres ansiosos para
remexer todos os cantos de sua vida.
─ Uma cerimônia? - Sua mente não estava funcionando.
Ele beijou sua testa novamente e se alongou, gemendo um pouco.
─ Querida, é como comer batatas fritas. - Pensou. ─ Você não será capaz de me manter
fora de sua cama depois disto e o que sentimos transparecerá. - Ele ficou sóbrio. ─ E
maldição, eu não vou tolerar fofocas sobre você, mesmo dos meus amigos mais
próximos.
─ Uma cerimônia. - Ela ainda não estava conseguindo entender.
Ele se virou para ela. Sua grande mão acariciou seu seio firme e macio. Ele inclinou
a cabeça e beijou-o com ternura.
─ Uma cerimônia de casamento, Emma. - Ele disse gentilmente.
Ela sentiu o sangue se esvair do seu rosto.
─ Quer dizer, você quer... casar comigo? - Ela vacilou. ─ Mas eu sou comum, e eu não
sou bonita!
─ Você tem um coração tão grande quanto o mundo. - Ele respondeu. ─ Não importa a
sua aparência. Eu não posso te ver, de qualquer maneira. - Ele suspirou. ─ O único
arrependimento que tenho é de não poder ver o seu rosto esta primeira vez juntos. - Ele
acrescentou calmamente. ─ Eu nunca fui o primeiro, Emma. Nunca na minha vida. É
algo que eu valorizarei para sempre.
─ É culpa... - Começou com preocupação.
Ele colocou o dedo sobre a boca.
─ É impossível sentir culpa após uma experiência como essa. - Ele murmurou. ─ Você
era virgem e explodiu como um foguete. Minha cabeça não passaria por nenhuma porta
da casa agora.
─ Oh. - Ela riu suavemente.
─ Então não, não é culpa. Orgulho, talvez. Desejo. Prazer. - Ele bocejou. ─ E agora
estou com sono. Jet lag é letal se você se entregar a ele. Nós nos vestiremos e vamos
contar a Marie e Barnes. Eles terão que ir conosco. Nós precisaremos de testemunhas.
─ Onde nós vamos?
─ Las Vegas. - Ele disse, sorrindo. ─ Vamos nos casar e depois jogar nas máquinas
caça-níqueis.
─ Você tem certeza? - Ela se preocupou, sentindo-se cada vez mais culpada porque
sabia algo que não ousava dizer a ele.
─ Eu não sei o porquê, mas sim, tenho certeza. - Ele respondeu. E tocou suavemente o
rosto dela. ─ Tenho muita certeza.

***

Depois de dormiram um pouco nos braços um do outro, se vestiram, entre beijos, e


ele colocou o telefone no bolso.
─ Eu suponho que nós dois parecemos amaldiçoados e culpados como pecado. - Ele
disse com os olhos cintilantes.
─ Eu acho que sim.
─ Poderíamos também arcar com as consequências. - Ele pegou sua mão na dele e a
deixou levá-lo até a porta, que ela destrancou tão silenciosamente quanto possível.
Marie estava na cozinha, fazendo o jantar. Ela virou. Seus olhos se arregalaram ao
vê-los e ela teve que esconder um sorriso.
─ Nós vamos a Las Vegas nos casar. - Anunciou Connor. ─ Todos nós. - Ele sorriu. ─
Mas ninguém pode saber. Só nós.
─ Oh, senhor, parabéns! - Disse Marie. Ela abraçou Emma, lutando com as lágrimas. ─
Estou tão feliz por vocês dois!
─ Talvez devêssemos esperar. - Disse Emma com preocupação.
─ De jeito nenhum. - Disse Connor. ─ Barnes!
O homem mais velho, que estava fora, entrou.
─ Sim, senhor?
─ Nós vamos a Las Vegas nos casar. Todo mundo comece a fazer as malas.
─ Sr. Sinclair, isso é tão repentino. - Barnes falou lentamente. ─ E você nem sequer me
trouxe flores ou me levou para um encontro...
─ Jogue algo nele por mim. - Connor disse a Emma com uma risada.
─ Eu vou fazer as malas, então. Parabéns, senhorita. - Disse Barnes com um amplo
sorriso para Emma.
─ Obrigada! Mas ele provavelmente recuperará a razão no caminho e desistirá. -
Provocou Emma.
Connor procurou por sua mão.
─ Não. Ele não vai. - Ele disse com carinho em seu tom. ─ Malas.
─ Sim, chefe. - Ela disse imediatamente e correu para fazer as malas, empurrando sua
consciência e sua culpa para fora do caminho. Ela se casaria com o homem que amava.
Era o dia mais feliz de sua vida. Complicações podiam esperar, e se houvesse um custo
mais tarde, ela pagaria. Por enquanto, ela ficaria feliz, verdadeiramente feliz, pela
primeira vez em sua vida.

CAPÍTULO DOZE

Emma ficou impressionada com todas as lindas luzes de néon em Las Vegas. A
cidade parecia uma nebulosa com joias, toda decorada com as cores do arco-íris. Ela
comentou isso com Connor, sentada ao lado dele, segurando a mão dele, na parte de trás
da limusine que ele contratou.
─ É uma joia espalhafatosa. - Ele riu. E ficou quieto por um minuto. ─ Mesmo que seja
uma cerimônia civil privada, eu gostaria que você usasse um vestido de noiva.
Sua respiração ficou presa.
─ Eu tenho um vestido branco. - Disse ela.
De algum brechó, ele estava certo disso, mas não a incomodou dizendo isso. Seus
dedos grandes se contraíram.
─ Eu sou bastante conhecido, e um dia as pessoas vão descobrir sobre você. Quando
eles fizerem isso, essa fotografia de casamento será a nossa resposta a qualquer
publicidade negativa, se eles me acusarem de tratá-la mesquinhamente casando-me com
você aqui.
Ela se perguntou como e por que, mas ela apenas sorriu e disse:
─ Tudo bem.
Na verdade, ela estava emocionada de que ele a quisesse em um vestido de noiva,
independente da razão.
─ Há uma loja de vestidos de casamento de luxo na cidade. Vamos lá depois de
comprarmos os anéis.
Ela mordeu o lábio inferior. Ela não queria que ele comprasse coisas caras para ela,
mas isso era realmente uma necessidade, ela racionalizou.
Ele se aproximou de sua orelha.
─ Apenas não imagine que você vai me manter fora de sua cama, nunca. Estou
morrendo por você.
─ Oh, Deus. - Ela sentiu seu coração acelerar. ─ Eu também. - Ela sussurrou.
─ Anéis. Vestido. Casamento. Cama. Nessa ordem - Disse ele.
Ela respirou fundo.
─ Tudo bem.

***

Os anéis que Emma queria eram menos dispendiosos do que o que o balconista, à
insistência de Connor, lhe mostrava.
─ Mas catorze quilates ainda é ouro. - Ela comentou.
Connor puxou Emma para perto.
─ O ouro de 18 quilates é mais bonito. - Disse ele. ─ Olhe para os anéis mais
decorativos na vitrine. A maioria deles terá dezoito quilates. É mais delicado do que 14
quilates, sim, e muito mais adorável. - Ele beijou sua testa. ─ Faça isso por mim. Você
não quer que as pessoas pensem que seu marido é pão-duro, não é?
Ela olhou para ele com o coração nos olhos.
─ Está bem então. O que você quiser.
Ele franziu os lábios.
─ O que eu quiser? - Ele provocou.
Ela riu e se aproximou mais, o rosto recostado no ombro dele.
─ Qualquer coisa. - Ela sussurrou.
─ Então, escolha o que deseja e pare de se preocupar com o preço. - Ele instruiu.
─ Bem, eu vejo um conjunto que eu gosto. - Ela confessou. ─ E o design é
simplesmente incrível.
Ele hesitou.
─ Descreva-o para mim.
─ São rubis. O anel de casamento é um solitário de rubi em forma de lágrima. A aliança
de casamento apresenta entalhes em alto relevo em toda a volta e com rubis em forma
de lágrima dos lados. Em ouro amarelo. E eles são lindos! - Ela hesitou. ─ Mas eu só os
vejo em quatorze quilates. E esse é o conjunto que eu realmente quero.
─ Você pode refazer esse conjunto em 18 quilates? - Connor perguntou ao funcionário e
tirou um cartão de crédito preto.
─ Nós podemos fazer melhor do que isso. - O homem respondeu com uma risada. ─ O
artista que desenhou esses anéis vive aqui. Ele tentou me vender o conjunto em dezoito
quilates e eu o recusei porque era um design incomum e não tinha certeza de que eu
pudesse encontrar um cliente que desejaria comprá-los. Vou ligar para ele. Tenho
certeza de que ele estará disposto a trazer o conjunto amanhã. Será caro...
Connor entregou-lhe o cartão de crédito. A mandíbula inferior do homem caiu.
─ Sr. Sinclair! - Ele disse sem fôlego. ─ Senhor, é uma honra!
─ É uma honra muito particular. - Disse Connor rapidamente. ─ Minha noiva não está
acostumada à vida aos olhos do público. Não quero que ela seja perseguida pela
imprensa. Então fique quieto. OK?
O homem sorriu tristemente.
─ Vou fazer isso, senhor. Deixe-me fazer esse telefonema para o artista. Eu vou ver se
ele pode trazer os anéis hoje, na verdade.
─ Obrigada. - Disse Emma a Connor. ─ Eu realmente amei o design. Nunca vi nada
parecido.
─ Eu sou um homem de sorte, Emma. - Ele disse inesperadamente. E a puxou para mais
perto dele. ─ O homem mais sortudo do mundo.
Ela ficou nos braços dele e desejou com todo o coração poder voltar no tempo e não
ter entrado naquela lancha em primeiro lugar.

***

Eles comeram no melhor restaurante de Las Vegas. E foram ver um show do Cirque
du Soleil em um dos cassinos. Emma os amava porque eram tão musicais, atléticos e
criativos.
─ E você disse que não gostava de cassinos. - Ele repreendeu. ─ Mentirosa.
Ela riu em voz baixa.
─ Ok, eu gosto deles ocasionalmente.
─ E eu gosto de grilos ocasionalmente. - Ele disse, respondendo a brincadeira particular
sobre a vida glamourosa dele e a vida caseira dela.
─ Você deveria aprender a pescar. - Disse ela.
─ Pescar?
─ Sim. Você sabe, você coloca vermes em um gancho e os joga na água para pegar
peixes.
─ Eu posso pegar todos os peixes que eu gosto no supermercado. - Ele respondeu
secamente.
─ Não é tão divertido quanto pegar você mesmo. - Ela retrucou. ─ Pescar também é
relaxante.
─ Eu sei de algo mais relaxante. - Disse ele em um tom de voz aveludado. E deslizou os
dedos nos dela, enroscando-os sensualmente.
Emma se esqueceu do show no palco, das outras pessoas, do mundo inteiro.
─ Eu também. - Ela sussurrou de volta, sua voz sufocada de emoção.
─ Vamos sair daqui.
Ela segurou sua mão e guiou-o, discretamente, até o elevador de volta para seu
quarto.
Uma vez dentro, ele fechou e trancou a porta. Suas grandes mãos deslizaram em
torno de Emma e a puxaram para perto. Ele sentiu sua luta interior, mente contra o
corpo.
─ Nós vamos nos casar. - Ele sussurrou quando começou a tocá-la mais intimamente. ─
Casais comprometidos fazem isso.
─ Eu sei. - Ela inclinou sua testa contra ele quando ele começou a remover sua roupa.
Ela respirou fundo quando sentiu suas mãos calosas em sua pele nua.
─ Você é sensual, Emma. - Ele sussurrou contra a boca. ─ Eu adoro beijar você. Eu
adoro tocar em você. Você não se reprime.
─ Eu não posso. - Ela explicou tremendo. ─ Você me faz vibrar quando começa a me
tocar. ─ Oh! - Ela ofegou enquanto achava um ponto muito sensível.
─ Onde está a maldita cama?

***

Ele se inclinou sobre ela, suas mãos e boca fazendo um banquete imaginário dela
enquanto ela se retorcia debaixo dele, com o prazer que aumentava, aumentava e
aumentava.
Sua boca demorava sobre os duros mamilos, sua língua os provocava com ternura.
─ Eu adoro seus seios. - Ele murmurou. ─ Não muito grandes, nem muito pequenos. No
tamanho certo.
Ela arqueou as costas. Adorava quando ele os tocava, quando os beijava. Enquanto
ela pensava, sentiu a boca quente dele se abrir sobre um e envolvê-lo. Ele sugou, mais
forte do que pretendia, quando a excitação se acumulou nele. Ela gemeu e se arqueou
para ele, ansiando por mais do que o que ele estava fazendo.
Ele aumentou a pressão de sua boca. Ao mesmo tempo, seus dedos a tocaram de uma
maneira nova. Ela quase saltou da cama quando sentiu o ritmo incrivelmente excitante.
Suas pernas se separaram ainda mais. Ela sussurrou para ele, palavras que a teriam
envergonhado com qualquer outra pessoa. Ela se contorceu debaixo dele, seu corpo
exigindo satisfação.
Ele fez um som profundo em sua garganta enquanto se movia sobre ela e,
delicadamente, dentro dela. Ele ergueu a cabeça, ansioso por ver seu rosto, seus olhos.
Ele podia ouvir o quão excitada por ele ela estava, sentia na resposta do corpo dela, no
bater de seu coração, na sua respiração profunda e rápida. Ele era seu primeiro amante,
e ele queria desesperadamente vê-la. Mas era impossível. Ele odiava sua cegueira
porque queria ver Emma durante a paixão, ver seu rosto, seus olhos. Ele gemeu quando
o prazer se intensificou. Mas ele se moveu dentro dela tão devagar que ela gritou e
tentou puxá-lo para ela.
─ Paciência. - Ele respirou em sua boca enquanto seus quadris se aproximavam
lentamente dos dela, e ele começou a entrar nela novamente.
─ Confie em mim. Será bom, Emma. Muito, muito bom!
─ Tortura. - Gemeu, seu corpo involuntariamente se movendo contra o dele.
─ Sim. - Ele mudou o movimento trazendo um gemido áspero de Emma. ─ A tortura
mais doce que existe.
Seus quadris levantaram e abaixaram em um ritmo suave e lento, muito lento para
Emma, que estava acumulando sensações para um clímax espetacular. Sua mente
concentrou-se apenas no prazer que crescia como uma maré quente em seu corpo. Ela
estremeceu e gemeu quando ele encontrou o ritmo certo, o toque certo, para levá-la ao
êxtase absoluto.
Quando ela gritou e soluçou, ele a penetrou completamente, entrou profundamente,
tão fundo que ele pensou que poderia desmaiar pela onda de prazer. Um estridente
soluço saiu da sua garganta apertada enquanto ele disparava como um meteoro, e
estourava em mil pedaços, enquanto se entregava ao clímax alucinante.
Emma assistiu. Era a primeira vez que ela assistia. Isso intensificou o que já era um
prazer quase insuportável. Ela estremeceu enquanto ele pulsava, e seu corpo ondulava
sob o dele até que ela enrijeceu novamente, tremendo com um prazer tão incrivelmente
inteno que era quase doloroso. E, no último minuto, ela quase perdeu a consciência.
A boca quente de Connor cobriu a dela para sufocar seus gritos, que se tornaram
mais altos quando a tensão disparou e a deixou tremendo por toda parte.
─ Você é barulhenta quando fazemos amor. - Ele provocou minutos depois, quando eles
estavam enrolados juntos sob as cobertas.
─ Me desculpe. - Ela disse imediatamente, corando.
─ Não foi uma queixa, querida. - Ele sussurrou. ─ Eu adoro quando posso ouvir o
prazer que estou lhe dando. Quase compensa não poder ver isso.
A culpa a atormentou. Ela se aproximou.
─ Sinto muito, por sua visão...
Ele beijou sua têmpora.
─ A vida segue seu rumo. Não podemos olhar para trás. Temos de continuar, por mais
difícil que seja.
─ Acredito que sim . - Ele se alongou preguiçosamente.
─ Sua menstruação vem daqui a uma semana, não é? - Ele perguntou.
Ela ficou chocada por ele saber.
─ Bem, sim...
─ Eu quero que você se consulte com um médico e use algum método anticoncepcional.
- Disse ele seriamente. ─ Sem filhos. Você já sabe disso.
Ela esperava que ele pudesse mudar de ideia. Eles tiveram relações sexuais
desprotegidas por vários dias. Algumas mulheres não eram regulares em seus ciclos.
Emma não era. Ela geralmente ovulava nessa epoca do seu ciclo. Era um momento
perigoso para fazer amor. Mas ela não havia contado a ele. Ela podia sonhar com uma
criança. Ele podia querer isso. Sempre havia a esperança de que ele mudasse de ideia
quando fosse o próprio filho. Ele tinha um irmão e nenhuma irmã. Era altamente
provável que a criança fosse do sexo masculino.
─ Você está muito quieta. - Ele disse com calma. ─ Você está pensando sobre o que eu
disse?
─ Não. - Ela mentiu. ─ Eu estava pensando o quão doce é dormir com você.
Ele riu suavemente, a irritação rapidamente desapareceu. Ele a aproximou dela.
─ Sim. É doce. O sabor mais doce de mel que eu já tive, sem exceção.
─ Verdade? - Ela perguntou.
Ele a beijou suavemente.
─ Verdade. Você me dá uma satisfação insana.
Outras mulheres também devem ter dado. Ela pensou em todas as mulheres que ele
tinha tido em sua vida.
Seu braço ficou tenso.
─ Foi tudo antes de você surgir, coração ciumento. - Ele provocou, adivinhando o que a
fez ficar em silêncio novamente. ─ Experiências educacionais.
─ Não sua primeira esposa. - Ela disse calmamente.
Ele se moveu na cama.
─ Não. Eu a amava. - Ele ficou quieto por um minuto. ─ Eu nunca poderia amar mais
ninguém com essa intensidade. - Sua cabeça virou-se para ela, e ele acariciou seu rosto
suave. ─ Eu adoro dormir com você, Emma. Eu gosto da sua companhia. Mas amor...
─ Eu sei. - Ela disse levemente, tentando não demonstrar como desesperadamente ela
queria que ele a amasse.
─ É perigoso deixar uma mulher se aproximar. - Ele murmurou em voz baixa. ─ Uma
vez foi o suficiente. Nunca mais.
Emma mordeu o lábio para não chorar. Era difícil, ouvir um sonho morrer. Mas
sempre havia esperança. Sempre!
Depois de um minuto, ela bocejou audivelmente.
─ Desculpa. Estou com tanto sono. Fazer o amor sempre faz as pessoas ficarem
cansadas? - Ela se perguntou em voz alta.
─ Quando é bom, sim. - Ele respondeu. Ele suspirou e virou-a para que seus seios
macios ficassem pressionados no pelo grosso do seu peito. Ele a moveu
preguiçosamente contra ele, excitando-a novamente. Sua mão deslizou por suas costas.
Ele a puxou para mais perto, e moveu seus quadris, de modo que eles estavam deitados
lado a lado.
Ele puxou uma das pernas dela sobre seus quadris e deslizou lentamente dentro dela.
Ele ouviu seu suspiro suave, sua respiração. Ele sentiu suas unhas arranhando-o
enquanto ele se movia com ela. Ele hesitou um momento, e ela gemeu. Ele sabia, então,
que não era o cansaço que produzia essas reações. Ele pegou o quadril dela com sua
grande mão e o puxou para o seu.
Ela o sentiu entrar nela, tão avidamente que ela respondeu imediatamente. Ele já a
tinha sensibilizado para o seu toque. Esse prazer ultrapassou sua escassa experiência.
Ele parecia mais poderoso, mais... intimidante. Ela o sentiu inchar dentro de seu corpo e
enrijeceu um pouco.
─ Está tudo bem. - Ele a acalmou, sua voz fracamente instável enquanto ele puxava seu
quadril contra o dele em um ritmo rápido e quente. ─ Você pode comigo. Eu estou um
pouco mais potente desta vez, só isso.
─ Tudo bem. - Ela sussurrou. E estava tremendo diante da intensidade repentina de
prazer que assumiu seu corpo e a fez gemer como se estivesse morrendo.
Ele colocou sua boca sobre a dela enquanto aumentava o ritmo forte.
─ Assim, nossos vizinhos não vão ouvir isso também. - Ele provocou quando sua boca
desceu sobre a dela.
Seus quadris entraram com os dela em um ritmo semelhante a um pistão, rápido,
forte e profundo. Ela gritou quando se aproximou das estrelas, seu corpo inteiro se
convulsionando com tal êxtase que ela estava certa de que iria morrer.
Ele foi com ela, a cada passo do caminho. Seu grande corpo estremeceu uma e outra
vez enquanto ele pulsava e explodia profundamente no corpo dela. Por algum motivo
incrível, ele pensou em um bebê quando caiu na escuridão quente do clímax. Emma
sentia algo semelhante. Ela se agarrou a ele no rescaldo do prazer, beijando-o em
qualquer lugar que sua boca pudesse alcançar.
─ Isso foi bom. - Ele sussurrou.
─ Sim. - Sua voz ainda tremia com o eco do prazer que ele tinha lhe dado.
Ele a abraçou, contente pela reação dela a ele. E enterrou o rosto em sua garganta
macia.
─ Nunca foi tão bom para mim. - Ele expirou.
Ela o abraçou mais forte. E não gostou de ser lembrada dele ter tido muitas mulheres.
Ele sabia, mas não disse nada. Ele deslizou o corpo macio dela contra a extensão do seu.
─ Minha doce garota. - Ele sussurrou.
Seus braços o apertaram. Lágrimas queimavam os seus olhos.
─ Eu te amo tanto, Connor. - Ela sussurrou com força. ─ Mais do que tudo no
mundo!
As palavras o humilharam. O envergonharam. Ele rangeu os dentes.
─ Emma... - Ele começou.
─ Você não precisa me dizer nada. Você não sente o mesmo por mim. Está tudo bem.
Eu só queria que você soubesse. Não vou dizer novamente. - Prometeu.
Estranho o quanto as palavras o agradaram. Mas o rosto dele estava determinado.
─ Não pense que isso é permanente. - Disse ele depois de um minuto, sentindo seu
sobressalto. ─ Era o ideal para a situação, mas não sou bom em relacionamentos. Eu
não acredito no "para sempre". Estaremos juntos até que a paixão termine, então vamos
seguir em frente.
Seu coração estava despedaçado. Ela esperava... Bem, o que ela conseguiu tendo
esperança até agora? Ela se aconchegou perto dele e não disse uma palavra.
A mão dele remexeu em seu cabelo loiro desgrenhado.
─ Você ouviu o que eu disse, Emma? - Ele perguntou calmamente.
─ Eu ouvi, Connor. Eu sei que você está se casando comigo por causa da minha
consciência.
Ele deu um suspiro aflito.
─ Isso é certo. - Ele disse, e estava mentindo. Ele estava casando com ela porque queria
um sinal de "Tire as mãos" bem visível nela. Emma pertencia a ele. E não queria
homens como Cort Grier a cercando. Ele queria... um termo de posse.
Ele sentiu sua suavidade ao seu lado e experimentou pela primeira vez uma sensação
real de paz. Ela o fez diminuir o ritmo, aproveitar a vida, delegar a responsabilidade. Ela
mudou sua vida.
Mas isso não significava que ele pretendia ficar casado com ela, ele assegurou a si
mesmo. Ela queria uma família, filhos. E ele nunca quis uma criança. Nunca.

***

Eles se casaram em uma pequena capela em Las Vegas Strip. Emma usava um
vestido de noiva de alta costura, porque não podia discutir com Connor. Era uma
sinfonia de renda e seda brancas e rosas brancas feitas a mão que realçavam o vestido e
eram visíveis em cada centímetro da renda de Bruxelas que formavam a cauda, o véu
curto e as luvas que ela usava. Debaixo de tudo era pura seda. Emma nunca teve tal
elegância em sua vida. Sentiu-se como Cinderela e se preocupou com o possível final de
sua fantasia, mesmo quando ela se emocionava pela cerimônia realizada.
Quando o ministro os declarou marido e mulher, Connor ergueu o véu, mesmo sem
poder vê-la, e se inclinou para por sua boca suavemente sobre a dela. Barnes e Marie, de
pé próximos, estavam plenos de emoção.
Um fotógrafo profissional que jurou silêncio, registrou o evento. Quando a câmera
piscou, Emma colocou uma mão macia na bochecha dura de Connor. Ela estava tão
apaixonada por ele, e tão feliz que nada poderia arruinar esse momento. E a maneira
como ela olhou para ele foi tão pungente que o fotógrafo lamentou não poder entrar em
alguma competição de fotografia. Ele nunca tinha visto esse amor no rosto de uma
mulher, ou tal tristeza. Era estranho capturar ambos em uma fração de segundo de
emoção.
─ Sra. Sinclair. - Connor provocou enquanto a beijava.
─ Sr. Sinclair. - Ela respondeu atrevidamente.
Ele sentiu um momento de posse e teve que lutar contra ele. Isso não era permanente.
Ele não podia deixar-se envolver. Então ele riu e pegou a mão dela na dele. Eles
terminaram as formalidades, a licença de casamento foi dada a Emma e eles voltaram
para o hotel para comemorar.
Emma tinha um pequeno enxoval, também por insistência de Connor, então ela
trocou o vestido de noiva por um vestido vermelho cereja para sair com seu novo
marido. Ela preocupou-se com a cor, mas ele riu e disse que, pelo menos, ela se
destacaria em uma cidade onde o brilho passava despercebido. Além disso, ele
acrescentou, ele achava que as loiras ficavam lindas em vermelho. Ela suspirou e disse-
lhe que belas loiras provavelmente ficassem, mas ela não era linda. Ele apenas a beijou,
assegurando-lhe que ela era toda a beleza que ele precisava em sua vida. As palavras
eram tão profundas que ela teve que lutar contra as lágrimas.

***

Barnes e Marie foram de Casino em Casino com eles, por toda Las Vegas. Eles
viram shows, dançaram, beberam e geralmente jogaram. Connor não foi reconhecido
nenhuma vez. Em uma cidade de forasteiros, isso não era estranho.
─ Péssima influência. - Acusou Emma quando ficaram brevemente sozinhos.
Ele riu.
─ Você precisava de um pouco de corrupção. - Ele retrucou. ─ Tudo melhora com um
pouco de tempero.
─ Eu queria que você não tivesse gasto tanto com minhas roupas. - Ela disse
calmamente. ─ Eu teria ficado feliz com apenas um vestido de noiva, mesmo que fosse
de liquidação.
Ele sabia disso e no fundo isso o comoveu.
─ Eu lhe disse o porquê. - Ele adicionou. ─ Eu não quero as pessoas dizendo que eu sou
miserável se descobrissem que estamos em lua de mel e sua roupa saiu de um brechó. -
Ele pareceu absolutamente horrorizado com a perspectiva.
Ela não estava ofendida. E apenas sorriu.
─ Eu vivo dentro das minhas posses. - Disse ela simplesmente. ─ A maioria das pessoas
faz isso. Os que não fazem estão geralmente na prisão. - Ela acrescentou. ─ Se eu fosse
jogada na prisão, quem digitaria para você? - Um arrepio passou por ela enquanto dizia
essas palavras. Ela ficou gelada por toda parte. Era uma possibilidade.
Ele apenas riu.
─ Você pode viver dentro das minhas posses agora. - Ele provocou. ─ Está se
divertindo, querida?
─ Mais do que fiz em minha vida. - Ela assegurou. ─ Eu nunca fui tão feliz!
Ele também podia ter dito isso. Mas não fez. Ela o impediu de odiar. Ele estava
obcecado com seu corpo, mas também com a mente e o coração dela. Ela o mudou de
um homem sombrio, indiferente e vingativo para alguém que se importava intensamente
com outras pessoas. Era uma mudança que talvez ela não estivesse ciente. Ela
estimulava o melhor nele, o excitava, o ajudava. Ele não podia imaginar a vida sem ela,
apesar do que ele havia dito, sobre o fim do casamento quando a paixão terminasse.
Mesmo sem paixão, Emma era parte dele. Ele sabia, mesmo que não pudesse admitir
isso.
─ Vamos encontrar outro Cassino. - Ele disse em seu ouvido. ─ Este é muito
barulhento!
Ela riu.
─ OK.

***

Eles voltaram para casa uma semana depois. Mas foi apenas a primeira das muitas
viagens que ela fez com ele. Ele a levou para Cancún, para o Marrocos. Eles passaram
um Natal mágico em Paris e comeram ganso assado e todos os acompanhamentos em
um dos restaurantes mais famosos da Cidade Luz. Depois, ele agendou um cruzeiro para
eles pelo Mediterrâneo e permaneceu anônimo durante toda a viagem, que atravessava a
Itália e as ilhas gregas, até a Espanha.
Eles pararam em sua casa em Nice, para que Emma pudesse ver como era a antiga e
elegante casa e conhecer seu jovem chef Edward, que era alto e muito atraente. Mas a
reação dela a ele era a de uma mulher apaixonada por seu marido, e isso parecia deixar a
mente de Connor descansada. Eles passaram uma semana na Riviera relaxando na praia,
e outra semana passeando pelos lugares ao redor, a bordo do iate de um dos amigos de
Connor. Emma tinha ficado nervosa no começo, mas descobriu que as pessoas com
dinheiro eram muito parecidas com as pessoas sem dinheiro. Algumas eram boas, outras
não.
No meio do redemoinho, Emma não teve tempo de consultar um médico. Ela se
perguntou se Connor realmente não pensava em ter filhos, porque ele fazia amor com
ela todo o tempo, dia e noite, e nunca se preocupou em tomar precauções. Era como se o
seu subconsciente e sua consciência estivessem em guerra sobre o pensamento de uma
criança.
Emma esperava que fosse esse o caso, porque cerca de dois meses depois de casados,
ela vomitou o café da manhã. Felizmente, estava sozinha na casa do lago quando
aconteceu. Eles chegaram em casa apenas dois dias antes, cansados da longa lua de mel.
Connor tinha recebido um telefonema que o deixou quieto e preocupado. Ele tinha ido
para a cidade com Barnes, depois de dizer apenas uma palavra a Emma.
─ Você sabe o que está acontecendo? - Emma perguntou a Marie, e esperava não
parecer tão apreensiva quanto estava.
Marie fez uma careta.
─ Algo sobre o acidente que causou sua cegueira, mas eu não sei o que. - Ela confessou,
desconhecendo a súbita angústia de Emma. ─ Ele contratou um detetive particular. Eu
não sei o que ele acha que pode descobrir depois de todo esse tempo. - Ela acrescentou
suavemente. ─ Passaram meses desde que aconteceu.
─ Eu sei. - Emma colocou de lado a alface para a salada que elas estavam fazendo. ─ O
que o detetive disse a ele, você sabe?
Marie balançou a cabeça.
─ Ele estava muito quieto sobre isso. Barnes disse que estava de mau humor, mas não
falou uma palavra. Ele pensa que o Sr. Sinclair descobriu algo sobre o acidente, que
talvez não tenha sido realmente um acidente.
Mas foi, Emma gemeu interiormente. Foi um acidente. Ela nunca quis machucá-lo,
mesmo quando pensava que ele era arrogante.
E se ele já descobriu quem era ela...
Ela fechou os olhos e estremeceu. Ele teria certeza de que ela tinha jogado com ele,
como ele pensou antes. Ele pensaria que ela o manobrou até o casamento porque queria
o que ele tinha. Nada estava mais longe da verdade. Ela o amava. Ela tinha o filho dele
crescendo em seu corpo.
Se ele descobrisse sobre o bebê, ela sabia que ele a forçaria a um aborto. Ela podia
recusar, mas ele havia dito uma vez que iria até a Suprema Corte se fosse preciso para
interromper uma gravidez que ele não queria. Havia formas, mesmo maneiras ilegais,
em que ele poderia fazê-la desistir da criança.
Ela já se sentia protetora com o bebê. Ela o queria, com todo o seu coração. Sabia
que Connor não a amava. Ele só a queria. Mas a criança fazia parte dele, uma pequena
parte que ela poderia manter, amar e nutrir.
O problema seria impedir que ele descobrisse. Ela teria que voltar para o Texas e
tentar se esconder. Ela estava preocupada com a riqueza de Connor. Se ele realmente
quisesse encontrá-la, se ele achasse que precisava encontrá-la, os Griers não poderiam
escondê-la. Não haveria lugar na terra que fosse seguro para ela e um bebê que ele não
queria.

***

Ele não voltou por horas. Quando o fez, seu rosto estava pálido sob seu bronzeado, e
ele parecia absolutamente devastado.
─ Alguma coisa errada? - Emma perguntou preocupada.
Seu maxilar apertou.
─ Estou esperando Alistair. - Ele respondeu. ─ Quando ele vier, envie-o para o
escritório.
─ Sim, claro. Você quer que eu...
─ Eu não quero nada de você, Emma. - Ele disse friamente. Virou-se e tateou o
caminho ao longo do corredor até a porta do escritório. Ele abriu a porta e entrou,
batendo-a atrás dele.
Marie lançou um olhar preocupado para Emma. Esse não parecia o homem feliz das
últimas semanas, desde o casamento deles.
Emma teve uma premonição que a deixou mais doente do que a gravidez. Ela comeu
uma salada, observando que Connor recusou qualquer comida. Ela ouviu o barulho de
gelo em um copo quando Marie foi até a porta para perguntar se ele vinha almoçar. Ele
estava bebendo, e era apenas meio-dia. Ele nunca fez isso.
Ele deve ter descoberto algo. Mas talvez, se fosse cuidadosa, pudesse fazê-lo ouvi-la.
Ela lhe diria a verdade, algo que deveria ter feito assim que o encontrou após o acidente.
Ela deveria ter dito a ele no dia em que foi trabalhar para ele. Agora era tarde demais.
Ela se perguntou por que ele não a chamou e acabou com ela. Se ele sabia, era isso o
que devia querer. Mas ele apenas esperou.
Após o almoço, um carro parou do lado de fora. Alistair Sims, seu advogado, entrou
na casa.
─ O que está acontecendo? - Ele perguntou em voz baixa, franzindo o cenho. ─ Eu não
consegui entender nem pé, nem cabeça do que ele me disse. E ele fez um telefonema... -
A abertura da porta do escritório o interrompeu.
─ Alistair, é você?
─ Sim, sou.
─ Venha aqui. Agora.
Alistair fez uma careta enquanto olhava para o rosto culpado de Emma. O que quer
que tivesse acontecido a envolvia, ele estava disposto a apostar.
─ Estou indo.
Em seguida, um outro carro parou. Uma porta foi fechada com um baque. Dois
homens saíram. Um deles estava usando o uniforme do departamento de xerife local.
Outro era da Divisão de Execução da Lei do Departamento de Recursos Naturais.
A porta do escritório se abriu quando eles entraram e Alistair os convidou para
dentro, com um olhar doloroso para Emma.
Então ele sabia. Ela estava certa disso agora. Por que os agentes da lei estavam aqui?
O coração dela parou. Certamente, ele não iria mandar prendê-la. Não depois de todo
esse tempo?
─ O que está acontecendo? - Perguntou Marie, horrorizada.
Emma queria dizer a ela, explicar. Mas mesmo quando o pensamento se apresentou,
a porta do escritório abriu uma última vez.
─ Emma. - Connor chamou friamente. ─ Venha aqui.
Ela respirou profundamente, ergueu os ombros e caminhou lentamente em direção ao
escritório, sentindo-se pequena com seu jeans, suéter e tênis, e o cabelo comprido em
torno de seu rosto contraído.
Ela entrou no escritório e fechou a porta atrás dela. Quatro faces masculinas viraram
para ela. A pena estava nos olhos de Alistair. Os outros eram menos legíveis. Connor
era implacável.
─ Você trabalhava para Mamie van Dyke. - Disse Connor sucinto.
Seu coração pulou uma batida.
─ Sim, senhor. - Disse ela suavemente.
─ Você acelerou a lancha na minha direção.
Ela respirou dolorosamente.
─ Sim. Mas não deliberadamente. O sol...
─ Eu não me importo com mais mentiras! - Ele disse, e bateu o punho duro na
superfície da mesa de carvalho, sacudindo o chão. ─ Você me atropelou. Você me
cegou! Então você se mudou para minha casa e fingiu ser alguém que você não era.
Você mentiu para mim!
Ela mordeu o lábio inferior.
─ Eu queria te contar. - Disse ela, sufocada de emoção. ─ Mas eu não sabia como.
─ Você gostou daqui, não foi? - Ele perguntou, sua expressão tão sarcástica que doía. ─
Bonitas coisas para usar, viagens caras ao redor do mundo, roupas que você não
encontra em brechós!
Seus olhos se fixaram no chão.
─ Essas coisas não importavam.
─ Maldição! Claro que importavam. Elas são tudo o que importava. Você me tocou
como um violino, Emma.
Ela tentou falar, mas ele se voltou para as pessoas responsáveis pela aplicação da lei.
─ Alistair? - Chamou ele.
Alistair deu a Emma um olhar triste e arrependido antes de tirar um papel da pasta e
entregá-lo ao delegado.
─ É um mandado de prisão. - Explicou.
Emma olhou impotente para o mandado. Ela nunca teve problemas com a lei em toda
a vida. Ela não conhecia ninguém que tivesse tido, exceto um colega de classe no ensino
médio que passou um cheque sem fundo. Ele a estava mandando para a prisão.
O pior era que ela não tinha defesa. Foi um acidente, mas ele tinha todos os motivos
para acreditar que ela tinha feito isso de propósito. Ele chamou sua atenção por causa do
excesso de velocidade da lancha, ele a fez chorar na festa de Mamie, ele a insultou na
margem do lago quando a encontrou depois da festa. Ele só conhecia a Emma do seu
contato anterior como alguém desagradável. Ele não conseguiu conectá-la com a Emma
que ele conhecia.
─ Venha aqui, Emma. - Ele disse, interrompendo seus pensamentos.
Ela foi até ele, perguntando se ele poderia mudar de ideia, se ele estava tendo
dúvidas.
Ele pegou seu braço e deslizou a mão para baixo até seus dedos. Ele arrancou seus
anéis de casamento e noivado e jogou-os violentamente pela sala.
─ Apenas para que você entenda. - Ele disse friamente. ─ Vou enviar Alistair à prisão
com os papéis do divórcio. Você vai assiná-los. - Ele acrescentou furiosamente. ─ E se
você aparecer grávida, você vai se livrar disso ou nunca vai sair da prisão. Você me
entendeu?
Ela engoliu em seco. Seu rosto estava pálido.
─ Sim, senhor. - Ele era assustador assim. Assustador como seu pai costumava ser
quando bebia, quando ele a agredia.
A respiração de Connor cheirava a álcool. O copo na mesa estava vazio. Cheirava a
uísque. Ele quase nunca ingeria bebidas fortes. Era uma indicação de quão nervoso ele
estava.
─ Tire-a daqui. - Disse Connor, afastando-se.
O delegado colocou as algemas nela. Ela ficou com os olhos presos no chão. Não
disse uma palavra, nem mesmo quando a levaram pela porta e a colocaram na viatura da
polícia. Ela ficou completamente silenciosa até chegar ao centro de detenção.

CAPÍTULO TREZE
Foi o pior dia da vida inteira de Emma. Tiraram suas impressões digitais. A
colocaram sob custódia e a levaram para o centro de detenção junto com outras
detentas. Uma delas, cerca de vinte anos mais velha do que ela, a olhou de uma maneira
tão ressentida que a fez querer se encolher e morrer. Ela acusou Emma de tê-la
prendido, por razões que Emma não conseguiu entender. Ela nunca tinha visto essa
mulher antes.
Ela sentou-se sozinha, encolhida, ao seu redor presas em vários estágios de
abstinência de drogas e álcool, ou simplesmente infelizes, sentavam-se em camas em
seus uniformes laranja e desejavam estar em qualquer outro lugar.
Emma olhou para o dedo anelar e estremeceu. Connor tirou os anéis com tanta
violência que machucou o seu dedo. Ele estava bebendo, lembrou-se, e ele
provavelmente estava tão bravo que não estava pensando claramente. Ele devia odiá-la.
Ele se lembrava da mulher que não gostava dele, que tinha se ressentido das suas
advertências sobre como dirigir a lancha de Mamie. Ele pensou que ela o atingira de
propósito. Agora ele estava se vingando. Ela pensou na pequena vida que tinha certeza
que crescia dentro dela. Ela esperava que pudesse mentir de forma convincente e fazer
Connor acreditar que não estava grávida, para que pudesse salvar seu filho. Ele disse
que estava enviando papéis de divórcio para ela, e isso significaria que Alistair os traria.
Talvez ela pudesse convencê-lo, para que ele pudesse convencer Connor.
Foi um choque estar na prisão. Eles permitiram um único telefonema. Ela queria
ligar para Mamie, mas nenhuma ligação para o exterior era permitida. Então, em
desespero, ela chamou seu pai. Ele estava, como sempre, bêbado. Quando ela lhe contou
o que queria, ele explodiu de raiva. Sua filha, uma prisioneira? Ninguém em toda a
família já havia acabado na prisão. Ela não era mais sua filha. Ele não queria mais nada
com ela, ele disse, amaldiçoando o tempo todo. Ela poderia ir para o inferno. E ele
desligou.
Ela tinha amigos. Ela poderia ter chamado Cash Grier. E não tinha dúvidas de que
ele teria voado para norte da Geórgia para resgatá-la. Mas isso o colocaria contra um
dos homens mais ricos do mundo, e Cash tinha dois filhos pequenos. Ela não podia
colocá-lo, nem a Tippy, nessa posição.
Ela não tinha dinheiro. Seu talão de cheques estava vazio, já que ela não havia
recebido salário desde o casamento, e ela gastou a última de suas economias em um
presente de casamento para Connor, uma nova carteira cara. Ela fez uma careta ao
imaginar que ele a jogaria na lareira agora. Ela tinha um pouco em sua poupança, mas
ela não tinha seu cartão do banco. Todas as coisas dela ainda estavam na casa de
Connor. Nenhuma delas somariam a quantia necessária para pagar a fiança.
Aparentemente, Connor, ou Alistair, conversou com o promotor, porque a fiança era
alta para sua acusação.
Logo após sua prisão, ela recebeu a visita de um defensor público preocupado. Ele
examinou o caso e ficou bastante otimista até ela mencionar quem prestou queixa. Então
ele ficou muito quieto. Claro que ele sabia quem era Connor Sinclair. Ele prometeu que
faria o que pudesse. E mencionou a fiança, mas ela disse que não possuía nenhum
imóvel. Um vínculo de propriedade era impossível. Ela também não tinha dinheiro. Isso
significava que ela teria que ficar na prisão até que seu caso fosse a julgamento. Ele
acrescentou que poderia levar meses, talvez possivelmente um ano, antes que
acontecesse, considerando o estado atual dos processos pendentes.
Ele a deixou ainda mais deprimida do que antes. Ela tinha uma prima em Comanche
Wells, além do pai que a rejeitou, mas envolver sua prima arriscaria que Cash
descobrisse sobre sua situação e viria salvá-la. Ela não podia deixar Connor ir atrás dele.
Cash e Tippy fizeram tanto por ela. Ela devia demais a eles para deixá-los saber sobre a
situação desesperadora em que se encontrava.
Então, sentou-se no centro de detenção, cada vez mais e mais nervosa, enquanto
esperava em vão para que seu caso fosse julgado.

***

Sudie, uma colega de prisão, muito mais velha, tornou-se sua protetora quando a
detenta hostil que conheceu no primeiro dia no centro de detenção a derrubou e a
agrediu.
─ Você aí solte-a. - Disse Sudie à outra mulher, seus cabelos grisalhos encaracolados se
afastavam de sua cabeça grande. Ela era grande, corpulenta, e a maioria das outras
presas não mexia com ela.
A outra mulher, Jackie era o seu nome, olhou para ela.
─ Essa é minha maldita irmã. - Ela apontou para Emma. ─ Ela me colocou aqui e eu
vou matá-la! Você não vai me impedir!
─ Jackie, sua irmã vive em Atlanta. - Sudie tentou convencê-la. ─ Ela não está na
prisão.
─ Sim ela está. Conheço meus parentes quando os vejo. É ela. Você vai morrer! - Ela
disse a Emma com tal veneno que Emma sentiu-se doente. ─ Eu vou te matar. Apenas
espere. Ninguém vai te salvar. Nem mesmo ela! - E apontou para Sudie.
Mas Jackie foi embora. Sudie colocou um braço em torno de Emma.
─ Não se preocupe. - Ela disse quando sentiu Emma tremendo.
─ Está tudo bem. Não vou deixar que ela te machuque.
Lágrimas correram calorosamente por suas bochechas.
─ Obrigada. Eu queria poder pagar você . - Ela começou.
Sudie acenou dispensando.
─ Estamos todas aqui porque temos problemas. Nós nos ajudamos uma as outras.
Alguns dos guardas são bons. Alguns são apenas maldade pura. Aquele... - Ela indicou
um guarda masculino alto que as observava. ─ Ele gosta de mulheres bonitas.
Certifique-se de gritar se ele tentar alguma coisa. Ele está agitado. Ele tentará algo se
não estiver sob as câmeras. Mas se você gritar, ele vai recuar.
─ Nunca sonhei que acabaria aqui. - Disse Emma, miseravelmente.
─ O que você fez, querida? - Perguntou Sudie.
─ Eu atropelei um homem com uma lancha. - Seus olhos se fecharam. ─ Ele está cego.
Eu estava tão assustada. Eu não fiz isso de propósito, mas ele pensa que eu fiz.
Sudie deu um tapinha nas costas dela.
─ Você terá a chance de contar sua história quando ficar na frente de um juiz. Já teve
problemas com a lei?
─ Nunca na minha vida. - Foi a resposta. ─ Eu nunca tive uma multa por estacionar em
local proibido!
─ Então você vai responder como ré primária. Tudo bem. - Ela franziu a testa. ─ O
homem que você atropelou, não tinha mais de sessenta e cinco anos, certo? - Ela
acrescentou com preocupação.
─ Não! Por quê?
─ A pena é maior se você machucar alguém idoso. - Ela sorriu ante a surpresa de
Emma. ─ A maioria de nós sabe algo sobre a lei. - Ela revirou os olhos. ─ Esta não é a
minha primeira vez na prisão. Estive com problemas desde os meus 14 anos. Esta
última detenção foi porque eu roubei um carro caro e fui passear nele. - Ela balançou a
cabeça. ─ Grand Theft Auto24 é um excelente videogame. Na vida real, não é muito
divertido.
24 - Grand Theft Auto (GTA) é uma série de jogos de computador e videogames. O nome da série é um termo policial utilizado nos
Estados Unidos para identificar roubos de automóveis: Grand Theft refere-se a furtos de valor elevado e Auto designa os
automóveis. O nome desse crime, no Brasil, é Roubo Qualificado de Automóveis.

Emma sorriu.
─ Obrigada por me salvar.
Sudie encolheu os ombros.
─ Sem problema. Fique comigo, criança. Vou mantê-la segura. - Ela fez sinal para outra
presa, uma que era tão magra quanto Sudie era robusta. ─ Esta é Emma. - Disse à outra
mulher com um sorriso carinhoso. ─ Estamos adotando ela.
─ Oi. Eu sou Delsa. - Disse a outra mulher. E abraçou Emma. ─ Bem-vinda à família.
Emma riu constrangida.
─ Obrigada. - Ela olhou para elas com preocupação. ─ Eu li livros sobre prisão. Eu não
tenho cigarros...
Ambas riram.
─ Nós não fumamos. - Asseguraram a ela. ─ Mas para onde iremos, os cigarros são
uma mercadoria muito valiosa. Ela deve ser processada por direção imprudente ou
atropelamento e fuga, algo assim, mas ela é ré primária. - Disse Sudie a sua amiga.
─ Ela sairá em pouco tempo. - Concordou Delsa. ─ Eles já estabeleceram uma
audiência de fiança?
─ Eu não tenho dinheiro. - Disse Emma com complacência. ─ Então eu vou ficar aqui
até que o meu caso seja levado ao tribunal.
Ambas fizeram uma careta.
─ Não é tão ruim. - Respondeu Emma com sua voz suave. ─ A comida é legal, e a
companhia também.
Ambas sorriram.
─ Obrigada, criança. - Disse Sudie gentilmente. ─ Faz muito tempo desde que fui
chamada de boa companhia.
─ As pessoas se metem em problemas por todos os tipos de razões. - Disse Emma.
─ Meus pais eram assíduos em ir à igreja. Eles me ensinaram a nunca julgar as outras
pessoas.
─ Você não pode chamar seus pais para tirar você daqui? - Perguntou Delsa.
─ Minha mãe está morta há muito tempo. - Ela baixou os olhos. ─ Liguei para o meu
pai. Ele me repudiou. - Ela suspirou e forçou um sorriso. ─ Então, obrigada por me
adotar. Acho que sou órfã.
─ Meu pai me expulsou de casa quando eu tinha dez anos. - Disse Sudie. ─ Fiquei feliz
em ir. Estava cansada de apanhar quando ele estava drogado. Ele morreu de uma
overdose, eu ouvi dizer. Minha mãe ainda está nas ruas, ganhando a vida.
─ Eu só tinha minha mãe. - Delsa disse com tristeza. ─ Ela morreu quando eu tinha
onze anos. Eu tive que ir às ruas para sobreviver. - Ela fez uma careta. ─ Meu cafetão
me ensinou como roubar. Eu tenho feito isso desde então. Não saberia levar uma vida
honesta.
─ Eu também não. - Concordou Sudie. Ela apontou um dedo para Emma. ─ Você não
ouviu isso. - Disse ela com firmeza. ─ Se você for nossa filha, você deve agir
corretamente. Entendeu?
Emma sorriu.
─ OK.
─ Vamos levantar algumas sobrancelhas quando dissermos isso. Ela é nossa criança. -
Sudie sorriu.
Era verdade. Elas eram de pele muito escura com cabelos encaracolados e olhos
negros. Emma era loira.
─ Deveríamos nos casar. - Delsa suspirou. ─ Não é fácil, ser como nós, mesmo em
2017.
Emma olhou de uma para a outra.
─ Vocês são um casal?
Ambas assentiram com a cabeça.
Emma apenas sorriu.
─ Eu acredito que a forma que as pessoas querem viver suas vidas é assunto delas.
Vocês não terão nenhum julgamento de minha parte.
Sudie a abraçou.
─ Agora eu sei que você é minha filha!
Emma riu.

***

Foi um processo longo, se acostumar a viver na prisão. Tantas restrições. No


banheiro, Emma sempre estava com suas duas companheiras. Se não fosse assim, Jackie
a teria atacado como um pato a uma joaninha. Ela continuou fazendo ameaças. Emma
conheceu uma dos guardas de detenção, uma mulher gentil e mais velha chamada Bess.
Ela falou sobre Jackie a ela.
─ Ela tem problemas mentais. - Bess disse calmamente. ─ Você fique atenta a ela. Mas
você está em boas mãos. - Ela indicou as amigas de Emma. ─ Ninguém vai correr o
risco de ficar mal com elas para chegar até você. Elas são perigosas.
─ Elas são tão doces. - Emma as defendeu.
Bess sorriu.
─ Eu suponho que diferentes pessoas podem trazer a tona qualidades diferentes em
outras pessoas. Elas tiveram um começo difícil de vida. Isso tem um efeito.
─ Sim.
─ Não há chance dele retirar as acusações? - Bess perguntou em voz alta.
Emma suspirou.
─ Eu o ceguei. - Disse ela simplesmente. ─ Eu deveria ter parado para ver como ele
estava. Mas eu estava com muito medo. Ele sofreu tão terrivelmente. Temos que pagar
as coisas que fazemos na vida. Deus perdoa. Mas ele exige um preço quando ferimos as
pessoas. E é assim que deve ser.
Bess fez uma careta.
─ Você é uma boa pessoa, Emma. Sinto muito por isso ter acontecido com você.
Emma sorriu.
─ Tudo acabará bem, um dia. Se ele pudesse recuperar a visão, eu ficaria aqui para
sempre. Eu faria qualquer coisa para que ele pudesse ver novamente. Eu o amo... tanto.
- Sua voz quebrou.
Bess não respondeu. Ela sentiu pena do homem que jogou Emma aos lobos. Um dia,
ele recuperaria a razão e perceberia que tinha exigido punição por um acidente. Mas
talvez já fosse tarde demais.

***

Emma enjoava todas as manhãs. Jackie percebeu e isso a irritou. Ela começou se
enfurecer porque sua irmã ia trazer uma criança ao mundo que seria corrupta e odiosa
como ela era. Ela disse a Emma que iria certificar-se de que o bebê não viveria.
Connor tinha feito a mesma ameaça. Ele não lhe enviou mais mensagens, mas
Alistair, que entrou em contato com ela por meio de seu defensor público, disse que ele
estava fora do país. Emma tinha certeza de que Connor quis dizer o que disse. Se ela
estivesse fora da prisão, poderia ter encontrado uma maneira de esconder sua gravidez.
Aqui, confinada, não havia esperança.
Ela tocou sua barriga levemente e suspirou. Se a vida dela tivesse sido menos
complicada. Se ela tivesse um pai amoroso, um casamento feliz...
Desejar era inútil. Ela se ergueu. A adversidade era como o aço temperado. Isso a
tornaria mais forte, melhor. Ela continuou dizendo isso a si mesma, repetindo como um
mantra enquanto se preocupava com as ameaças à seu pobre filho por nascer. Ela a
queria tanto. Por favor, Deus, ela pensou em silêncio, não puna o meu filho pelo que eu
fiz.

***

Eles iriam mandar Emma a um médico para ser examinada depois que Bess percebeu
que ela estava mostrando os sintomas da gravidez. Eles asseguraram-lhe que não iriam
fazer nada para prejudicá-la ou a criança, mas Emma estava preocupada.
Ela não estava prestando atenção quando voltou para sua cela, ou poderia ter
percebido que Jackie tinha se levantado da mesa com um estranho sorriso e a estava
seguindo.
No meio do corredor, com guardas ao redor, Jackie saltou sobre ela. Houve o flash
de um objeto pequeno e metálico, e Emma sentiu o impacto da lâmina no estômago.
─ Não! - Ela gritou.
─ Você está grávida, Peggy? - Jackie estava furiosa. ─ Bem, você não vai trazer uma
criança ao mundo para ser tão má como você é! Eu lhe disse que pegaria você, eu disse!
Emma tentou se defender, mas a mulher mais velha era estranhamente forte. Ela
continuou atingindo o estômago de Emma com o pequeno canivete caseiro. Emma
sentiu o sangue escorrer e esperava que fosse de suas pobres mãos, que ela usou para
tentar impedir o ataque, e não o estômago. Por favor, ela implorou silenciosamente, por
favor, não a deixe machucar meu bebê!
Bess veio correndo com outra guarda. Elas derrubaram Jackie no chão e a
algemaram. Ela ainda estava gritando ameaças e maldições quando a arrastaram para
longe.
Emma não a ouviu. Ela estava no chão, sangrando, soluçando.
─ Peça uma ambulância! - Bess disse freneticamente.

***

Connor ficou bêbado durante a maior parte de um mês. Ele mudou toda a casa para
Nice, onde passou de uma reunião de negócios para outra quando estava sóbrio o
bastante. Quando ele não estava, ele delegava as responsabilidades, conversava ao
telefone e enchia a casa com pessoas. Ele assegurou-se de que havia ruído suficiente
para afogar sua consciência.
Emma o enganou. Ela o atropelou com a lancha e o cegou, então ela o atraiu para o
casamento ao lhe negar o seu corpo até que ele estivesse tão atormentado que teria feito
qualquer coisa para colocá-la em sua cama.
Ele a odiava. Tinha se tornado tão necessária que ele ainda sentia falta dela. Bem, ela
estava pagando por isso agora, ele se assegurou com raiva. Ela seria ameaçada de
processo até que ele decidisse se ia ou não retirar as acusações.
Ele se perguntou se ela pensava nele, agora que descobriu seu segredo.
Provavelmente ela estava de volta ao rancho do pai, vivendo às custas dele. Ele lembrou
que o pai a odiava e racionalizou que ele a perdoara agora que ela estava com problemas
e a levou para a casa. Ela poderia ter voltado a trabalhar para Mamie van Dyke, por isso
ele estava em Nice. Ele não queria ter a chance de vê-la novamente, mesmo de longe.
Ele não telefonou para Mamie. Ele ouviu através de amigos comuns que ela estava
em algum lugar inacessível no Oriente Médio agora, ainda pesquisando para um livro.
Ela teria salvado Emma, mesmo que o pai não tivesse. Sortuda Emma. Tantas pessoas
que se importariam, maldição. Ele não se importava. Ele a odiava. Ela tirou sua visão.
Ele nunca a perdoaria por isso!

***

Ele acabava de voltar de uma reunião para a instalação de uma nova fábrica na
França quando deu um passo errado e caiu pelas escadas.
Ele ouviu arquejos à sua volta. Na verdade, não machucou. Ele estava em forma,
apesar da sua deficiência. Ele se exercitava em sua academia particular na propriedade
na praia todos os dias para se certificar disso. Ele conseguiu se segurar, apesar de sua
cabeça ter sofrido um forte golpe.
Ele se sentou, rindo.
─ Estou bem. - Disse ele. E então, de repente, a luz explodiu na frente do seu rosto.
Ele estremeceu. Luz. E então, oceano azul. E então areia. E então Barnes, com uma
expressão chocada no rosto.
─ Sr. Sinclair? - Ele perguntou preocupado.
─ Eu posso ver! - Exclamou Connor. Ele lutou contra uma névoa em seus olhos. ─ Meu
Deus, Barnes, eu posso ver!
─ Oh, graças a Deus! - Barnes o ajudou a levantar. ─ Você está bem, senhor?
─ Apenas abalado. Ele ignorou os expectadores. ─ Leve-me ao consultório do Dr.
Fouget, está bem?
─ Imediatamente! Senhor, que novidade maravilhosa!
─ É, não é? - Ele piscou. ─ A luz está me cegando. Não consigo focar muito.
─ Porque foi muito repentino, eu imagino. Eu vou chegar lá em um instante, senhor.

***

O médico, que Connor conhecia há muitos anos, o examinou e sorriu.


─ Não há efeitos negativos da pancada na cabeça. Exceto a volta da visão. - Ele franziu
os lábios. ─ Eu disse que era cegueira histérica. Você viu algo vindo em direção a seus
olhos, sentiu um golpe e assumiu que estava cego. Eu vi vários casos ao longo dos anos.
Nenhuma das vítimas era emocionalmente comprometida ou mentalmente instável. -
Ele acrescentou secamente.
─ Ainda não posso acreditar. - Disse Connor, com o coração acelerado. ─ Eu pensei que
passaria o resto da minha vida totalmente cego.
─ Apenas vá com calma. Não se exceda. - Informou o médico. ─ Pode ser difícil por
alguns dias. Você terá que se ajustar a volta da visão. Pode levar um pouco de tempo.
─ Eu não me importo. Eu farei qualquer coisa. Obrigado. - Ele acrescentou com voz
rouca e apertou a mão do médico.
─ Eu não fiz nada. Agradeça a escada em que você tropeçou. - O médico brincou. ─
Deixe-me saber se houver alguma complicação. E evite a luz solar por alguns dias,
apenas até a visão se ajustar.
─ Eu farei isso.

***

Marie começou a chorar.


─ Senhor, é como um milagre. - Ela choramingou. ─ Eu estou tão feliz por você!
─ Todos nós estamos. - Edward concordou, sorrindo. ─ Eu vou fazer um prato especial
em homenagem à ocasião.
─ Se for frango cremoso, você mesmo será o prato. - Ameaçou Barnes.
─ Sem frango. Eu juro.
Connor riu. Ele respirou fundo e foi ao pátio para olhar para o oceano. Ele nunca
percebeu quanta cor havia no mundo, quanta beleza. A transição do preto para o
colorido era chocante. Ele ficou um pouco tonto por que as cores eram muito vívidas,
mas sabia que se ajustaria.
Quanto a estar quieto...
Ele pegou o telefone e ligou para todos os que conhecia, convidando-os para uma
festa de comemoração. Ele instruiu Edward a contratar um bufê para ajudá-los com a
comida, e contatou um organizador de eventos para gerenciar coisas. Ele se sentiu dez
anos mais novo. Ele podia ver. Ele ficaria bem.
Ele pensou friamente em Emma, com as acusações ainda pendentes sobre sua
cabeça. Ele poderia retirar as acusações. Mas ela precisava conviver com elas por mais
um tempo. Afinal, sua visão voltou por acaso. Até onde se sabia, ela o tinha cegado para
toda a vida. Havia uma coisa que ele tinha que fazer, no entanto. Ele telefonou para
Alistair e mandou redigir os documentos do divórcio.
─ A faça assinar. - Acrescentou. ─ Você terá que rastreá-la. Ela mora em uma cidade
em algum lugar ao sul de San Antonio. E descubra se ela está grávida. - Ele
acrescentou, sentindo uma pontada de culpa porque ele não tinha feito nada para evitar
uma criança. Ele tinha ficado tão enamorado por ela que, durante uns dias, incluive, ele
até desejou engravidá-la.
─ Se ela estiver? - Perguntou Alistair com preocupação.
─ Diga-lhe que retiramos as acusações se ela se livrar disso, e não vou discutir o
assunto. - Ele disse friamente.
Alistair suspirou.
─ Sim senhor. Devo enviar os documentos durante a noite para você assinar?
─ Não. - Disse Connor. ─ Eu vou voltar para a casa do lago em alguns dias. Os
assinarei lá então. Enquanto isso, estamos fazendo uma festa para comemorar tudo aqui
esta noite.
─ Eu queria estar aí.
─ Eu poderia enviar o jato. - Connor riu.
─ Eu estava brincando. Eu não sou uma pessoa de festa. Vou arrumar os documentos e
descobrir para onde enviá-los para que Emma assine. Pode demorar alguns dias.
─ Não há pressa. Apenas faça isso.
─ Sim senhor.

***

Foi uma noite cheia de diversão e futilidade. Connor flertou com as deslumbrantes
mulheres presentes, beijou uma ou duas delas, comeu a comida gourmet requintada e
encheu o copo uma e outra vez com o champanhe mais caro.
Mas, apesar da alegria, ele ainda se sentia vazio. E continuou lembrando o
comentário de Emma sobre cassinos e grilos.
Ele não queria sentir sua falta. Mas ele sentia. Ela se tornou parte de sua vida e era
como ter um membro removido ficar sem ela. Ele tinha que ter em mente que ela
mentiu para ele. Ela o atropelou deliberadamente com a lancha. Ela poderia até querer
matá-lo.
Assim que esse pensamento se apresentou, ele se lembrou de Emma no banheiro com
ele, segurando uma toalha molhada em seu rosto depois que ele vomitou. Ela era
carinhosa com ele. E não poderia fingir isso. Ela tinha um coração suave. E se
preocupava até com pessoas completamente estranhas. Ele se lembrou de vê-la
caminhando pelo lago com a criança perdida, e era como uma faca cravada em suas
entranhas. Ela doou cinco mil dólares a uma igreja em Nassau, quando quase não tinha
um centavo.
Ele a culpou por cegá-lo. Mas será que ela o viu quando virou a curva do lago? O sol
estava atrás dele. Talvez a tenha cegado, apenas por poucos segundos, e ele estava
muito longe no lago. Ele não estava prestando atenção. Foi apenas um acidente? Ele
havia buscado uma saída para por fim a excitação que o consumia dia e noite? Ele a
havia culpado para ter uma desculpa e tirá-la da sua vida antes que ele não pudesse
deixá-la ir?
Ele odiava seus próprios pensamentos. Ele serviu outra taça de champanhe e voltou
para a banda ao vivo. Ele estava se divorciando dela. Nada mais importava. Ele passou
o braço pela primeira mulher bonita que viu e a puxou para a pista de dança.

***

Alistair Sims ficou absolutamente chocado com o que viu quando teve permissão de
entrar no hospital para ver Emma.
Ela estava chorando. Absolutamente soluçando.
─ Meu Deus. - Ele disse suavemente. ─ O que aconteceu com você?
Ela engoliu em seco. Os olhos dela estavam inchados e vermelhos.
─ Esta mulher... Ela pensou que eu era a irmã dela. Ela disse que ia ter certeza de que
eu não trouxesse um bebê para o mundo que fosse como eu. Perdi meu bebê. - Seus
olhos eram trágicos.
─ Sinto muito. - Ele conseguiu dizer. A garganta estava apertada.
Ela baixou os olhos.
─ Ela me esfaqueou, uma e outra vez. Eles disseram que o canivete tinha uma lâmina
pequena ou eu poderia ter desenvolvido peritonite e morrer. - Ela soluçou. ─ Eu gostaria
de morrer! Meu bebê! - Ela soluçou. ─ Meu bebê!
A enfermeira que a atendeu quando deu entrada disse que iriam fazer exames, mas
estava certa de que o bebê não teria sobrevivido ao ataque. Todos sentiam muito. Emma
tinha esse efeito sobre as pessoas, mesmo sabendo que ela estava na prisão.
Alistair não sabia o que dizer.
─ Eu pensei que você tinha saído sob fiança e ido para o Texas... - Ele começou.
Ela mordeu o lábio.
─ Eu não tenho dinheiro, Sr. Sims. - Disse ela simplesmente. ─ E não consegui entrar
em contato com Mamie. Meu pai me repudiou. Então eu tive que ficar na prisão até o
meu caso ser julgado. Ainda não foi.
─ Faz dois meses. - Ele gemeu.
Ela respirou fundo.
─ Eu sei. Essa mulher achava que eu era a irmã dela. Mas fiz amigas aqui dentro. Elas
me protegiam. Mas foram transferidas para outro pavilhão há dois dias, e não havia
ninguém para vigiar minhas costas. - Lágrimas caíram por suas bochechas. ─ Eu acho
que ela vai me matar quando eu voltar. - Disse com resignação silenciosa. Ela se deitou
na cama do hospital e fechou os olhos. ─ Eu não me importo mais. A vida é muito
horrível. Se acabar, estará tudo bem. Talvez eu encontre paz.
Alistair ficou lívido.
Emma abriu os olhos.
─ Por que você queria me encontrar? - Ela perguntou de repente. Ela sabia que não era
porque Connor se importasse. Ele tinha deixado isso tão claro como cristal.
Ele mordeu seu lábio inferior.
─ O Sr. Sinclair me enviou com os papéis do divórcio...
─ Oh. Isso. - Ela conseguiu esboçar um sorriso. ─ Se você tiver uma caneta, mostre-me
onde assinar os papéis. Está tudo bem, Sr. Sims. Eu nunca quis nada dele, você sabe.
Ele estava lutando contra suas próprias emoções intensas. Pobrezinha. Ele indicou os
lugares onde ela deveria assinar.
─ Existe alguma coisa que eu possa fazer por você? - Ele perguntou quando ela
entregou os papéis.
Ela sorriu tristemente.
─ Não. Mas obrigada por perguntar.
Ele dificilmente reconhecia essa mulher pálida, cansada. A Emma que ele conhecia
da casa do lago de Connor era viva, divertida e alegre. Esta Emma estava no inferno e
parecia não ter esperança de sair dele.
─ Sinto muito... pelo que aconteceu com você. - Ele disse de forma inadequada.
─ Eu tive o que merecia, Sr. Sims. - Ela disse simplesmente. ─ Eu ceguei Connor. Eu
fiz um coisa estúpida. Temos que pagar pelos nossos pecados. Este é o meu pagamento.
Está tudo bem. Não o culpo por me odiar.
Ele ia lhe dizer que a visão de Connor tinha retornado, mas ela fechou os olhos com
um suspiro cansado e virou a cabeça.
─ Eu acho que vou tentar dormir agora. - Disse ela sonolenta. E adormeceu. Ele
permaneceu ao lado da cama por um momento antes de se virar e sair do quarto para
voltar ao escritório.
Ele tentou telefonar para Connor, mas não conseguiu contato. Ainda bem, ele pensou
irritado. Se ele dissesse o que estava sentindo, não ajudaria muito seu relacionamento
profissional. Nem um pouco.
Então dois dias depois, Connor pediu-lhe para ir até a casa do lago para falar sobre o
divórcio.
─ Só estou em casa há um dia. - Comentou Connor. Ele parecia anos mais novo, em
forma e ágil. Ele estava sorrindo. ─ É como um milagre, ter minha visão de volta. Eu
tinha esquecido como me mover. Eu tive que aprender a fazer as coisas novamente. Mas
é ótimo, ser capaz de ver. - Ele fez uma careta. ─ Eu acho que eles estavam certos sobre
a causa disso. Eu assumi que ficaria cego, então minha mente me enganou pensando que
eu estava.
─ Entendo.
─ OK. Sobre o divórcio. Você encontrou Emma? Ela está de volta ao Texas?
Alistair apertou as mãos atrás de suas costas.
─ Não.
Connor franziu o cenho.
─ Por que não?
─ Ela não tinha dinheiro para a fiança.
─ Eu não pensei nisso. Todas as coisas dela ainda estão aqui, incluindo a bolsa dela.
Bem, você pode levá-los para ela... O que é? - Ele perguntou, porque o rosto de Alistair
estava marcado pela tragédia.
─ Sem dinheiro ou propriedade, você não pode pagar a fiança. - Explicou Alistair.
A expressão de Connor ficou tensa.
─ Você não quer dizer que ela ainda está na prisão, está? - Ele explodiu. ─ Bom Deus,
são quase dois meses!
─ Eu sei.
─ Por que Mamie não a salvou? Ou o pai dela? - Ele exigiu.
─ Seu pai a repudiou porque ela foi presa. - Disse Alistair. ─ Ela não conseguiu entrar
em contato com Mamie. Não havia mais ninguém.
Connor não deveria ter se sentido culpado, mas ele se sentia. Emma, gentil Emma,
em companhia de criminosas todos os dias durante semanas, sem ninguém para ajudá-
la. Emma, que teria ajudado o mundo inteiro, que tinha um coração tão grande quanto o
próprio mundo.
─ Ela não estava olhando. - Disse ele. ─ Eu também não. Foi um acidente. Eu estava
cego, ou pensei que estava, e eu reagi exageradamente. Eu deveria ter pensado nas
coisas. Emma não feriria deliberadamente ninguém. - Ele relembrou, a voz dela
engasgada pela emoção, enquanto sussurrava o quanto o amava. Ele trincou os dentes.
Ele se virou. ─Tire-a de lá. Tire-a hoje!
─ Pode não ser tão fácil...
─ Retire as acusações. Eu fui o único ferido. Se eu não a processar, eles também não
podem. - Argumentou Connor. ─ Encontre um precedente legal. Contrate especialistas.
Faça o que for preciso. Apenas tire-a de lá agora mesmo!
─ Eu sei tudo isso. - Interrompeu Alistair com paciência exagerada. ─ O que eu quis
dizer foi que não tenho certeza de que a deixem sair do hospital agora...
─ Hospital? - Ele se aproximou. ─ Que hospital? O que aconteceu?
Era mais difícil do que Alistair pensou que seria. Ele respirou profundamente.
─ Emma fez uma inimiga, uma mulher que estava mentalmente doente e pensou que
Emma era a irmã que a tinha prendido. Ela tinha um canivete caseiro. Ela... esfaqueou
Emma, muitas vezes...
─ Oh, querido Deus! - Connor inclinou-se sobre sua mesa, com as mãos brancas onde
elas se agarraram.
─ Ela vai viver. As feridas não eram tão sérias. É só... bem, ela perdeu seu bebê no
ataque.
A reação de Connor foi imediata, violenta, totalmente inesperada. Ele mantinha uma
pistola automática carregado .45 na gaveta da mesa. Ele abriu a gaveta e a pegou quase
antes de Alistair ter percebido o que ele iria fazer.
─ Barnes! - Gritou Alistair.
O homem mais velho correu. Marie ouviu sons de luta e depois um tiro. Seguiu-se
uma conversa abafada. Ela foi correndo, seu coração acelerado, em direção ao
escritório.
Ela conseguiu um vislumbre de seu patrão, quase colapsando nos braços de Alistair
Sims.
─ Não! Oh, Deus, não! - Connor soluçava. Sua voz era profunda com o tormento. Era
quase um soluço de raiva, de dor tão profunda que as palavras não eram suficientes para
expressá-lo.
─ Aqui. Tire daqui. Esconde. E feche essa porta! - Gritou Alistair. ─ Vou ligar para o
médico. Ele vai ter que ser sedado.
Barnes saiu segurando a pistola. Ele olhou para Marie, seu rosto contorcido.
─ O que aconteceu? - Ela perguntou.
Ele se aproximou.
─ Emma ainda está na prisão. Ela não tinha como pagar a fiança. Ela foi esfaqueada por
outra presa. Ela perdeu seu bebê.
Marie nem tentou impedir que as lágrimas quentes caíssem pelas bochechas. Barnes
guardou a pistola em segurança e saiu em direção ao pátio, lutando contra a névoa em
seus próprios olhos.
CAPÍTULO QUATORZE
Eles disseram a Emma que ela seria libertada, que as acusações foram retiradas. Ela
estava feliz por isso, embora não pudesse ter certeza de que Connor não fosse voltar a
acusá-la novamente, em um momento futuro. Desde há muito tempo desistiu da
esperança de que ele pudesse se arrepender. Lembranças de sua boca dura sobre a dela,
dos seus braços segurando-a, se desvaneciam lentamente na mesma substância dos
sonhos. Parecia ter sido há muito tempo que ele a queria, estava faminto por ela. Mas a
mulher que ele pensava que era não existia.
Ela o deixara casar com ela, sabendo que ele desconhecia sua verdadeira identidade,
sem deixá-lo saber que tinha sido responsável por sua cegueira. Ele pensava que ela era
honesta, gentil e livre de quaisquer impulsos criminosos. Mas ela não tinha sido sua
mulher ideal, e seu detetive particular não fez dano algum ao homem que o contratou.
Emma sabia que nunca iria esquecer o que sentiu quando viu a incredulidade, a
angústia e a raiva no rosto de Connor. Ela mentiu para ele, ele gritou. Ela o fez de
idiota. Ela era a mulher que o fez perder a visão, condenando-o a uma vida de
escuridão. E ela se casou com ele, sabendo que ele não conhecia a verdade. Ela não era
nada além de uma vigarista barata, procurando por uma vida fácil. Bem, não seria uma
vida fácil para ela! Ele se assegurou disso!
Ela lembrou com gentileza o defensor público que a visitou pouco depois de sua
prisão e da sua conversa. Ele disse que tinha um número tão grande de casos, que
parecia o Monte Rushmore,25 mas ele faria o que fosse possível por ela. Ela respondeu
suas perguntas com um tom entorpecido e desinteressado.
Ele franziu a testa.
─ Aquilo foi um acidente. Não houve má intenção...
25 - O Monte Rushmore - Localiza-se em Keystone, Dakota do Sul, nos Estados Unidos. É um monte onde estão esculpidos os
rostos de quatro presidentes americanos: George Washington, Thomas Jefferson, Theodore Roosevelt e Abraham Lincoln.

─ O Sr. Sinclair me avisou sobre o excesso de velocidade na lancha antes. - Disse ela,
suavemente, não acrescentando que ele tinha sido seu marido. ─ Ele acha que foi mal-
intencionado. - Ela olhou para o defensor público. ─ O Sr. Sinclair é um dos homens
mais ricos do mundo. - Acrescentou. ─ Mesmo um tribunal de justiça vai ter dificuldade
em ir contra ele. Ele tem os melhores advogados da América em sua folha de
pagamento. - Ela sorriu tristemente. ─ Eu vou ser condenada se ele tiver que encontrar
uma maneira de intervir com punhados de dinheiro. Ele me quer aqui.
Ele fez uma careta. Ele sabia como o sistema funcionava, melhor do que o Emma.
─ Tudo bem, vou fazer o meu melhor por você, mesmo assim. Mas e a fiança?
─ A fiança não é possível. - Disse ela suavemente. ─ Eu não tenho dinheiro, algum. Eu
tinha um pouco em uma poupança, mas eu não acho que cem dólares me levem muito
longe. Meu pai me desprezou apenas porque eu o desonrei, por estar presa. Minha
antiga chefe está em algum lugar no exterior. Eu não tinha permissão para telefonar
para ela, mesmo que eu pudesse descobrir onde ela estava. Mas eu não gostaria de pedir
a ela para se colocar contra Connor. Ela fez isso, uma vez antes, e lhe custou a carreira.
Ele é - Ela engoliu em seco. ─ Muito vingativo.
O jovem advogado a olhava tristemente.
─ Eu farei o que posso para ver se consigo tirá-la daqui.
─ Senhor, não tenho lugar para ir, mesmo que eu saia. A menos que eu possa ficar em
um abrigo... - Sua voz quebrou. Ela engoliu o orgulho e levantou os olhos brilhantes
para ele, sua boca firmemente contraída para controlar a fraqueza. ─ Eu vou lidar com
isso. Eu o ceguei, você entende? - Acrescentou. ─ Não há como contornar isso. A
intenção pode ser importante, mas fatos são fatos. - Ela baixou os olhos. ─ Então eu vou
pagar o que fiz.
Mulher valente, pensou ele silenciosamente. Ele faria o que pudesse, se conseguisse
pensar em alguma coisa. Infelizmente, sem garantias, ela não poderia sair sob fiança.
Ele pensou em enfrentar os advogados que trabalhavam para o multimilionário e
apertou os dentes. Um advogado famoso em tribunal de júri de hesitaria em lidar com
esse caso.
Ele tinha ouvido rumores de homens que Sinclair havia arruinado. Ele realmente não
queria se juntar às fileiras, embora sentisse muito pena da Sra. Copeland. Ela era ouro
puro, apesar de acidentalmente cegar o magnata. Ele realmente desejou poder ajudar.
Emma o observou sem entusiasmo real. Ela sabia como eram as coisas. Mas ela
lembraria que o jovem queria ajudá-la.

***

Ela ficou surpresa de que Connor tivesse retirado as acusações. Tinha certeza de que
ele encontraria uma maneira de garantir que ela nunca saísse da prisão. Mas,
aparentemente, ele não tinha mais fome de vingança. O Sr. Sims parecia acreditar nisso.
Mas Emma estava cautelosa. Até o dia em que ela fosse liberada e o Sr. Sims a levasse
embora, ela não estava certa de que iria sair. Ela tinha aprendido a não confiar nas
pessoas nos dois meses em que havia passado no centro de detenção. Isso amargurou
sua vida. Connor podia ter algum outro propósito em mente, algum propósito mais
sombrio. Ela agradeceria por estar livre, mas teria que pensar em alguma maneira de
garantir que Connor nunca a encontrasse. Especialmente agora.

***

Connor dormiu o tempo todo, sedado por seu médico. Quando ele acordou, estava
quieto e estranhamente desanimado. Ele tomou café da manhã sem entusiasmo real e
pediu a Alistair para passar por ali. Ele estava em sua segunda xícara de café, no
escritório, quando o advogado chegou.
─ Quando vão soltá-la? - Perguntou ele.

─ Amanhã. - Respondeu Alistair. E colocou a pasta na mesa.


─ Você falou com ela sobre para onde ela quer ir? - Ele perguntou.
─Não. Ela não estava realmente em grande forma para falar. Eles a suturaram, mas ela
está quase suicidamente depressiva sobre a criança.
Isso doeu nele, pensar o quanto Emma amava crianças. Claro que ela a queria, e não
por qualquer razão ardilosa. Ela devia estar vivendo um inferno.
─ Sinto muito pela criança. - Disse Connor com força. ─ Eu a acusei de ser mercenária
quando é a última coisa que ela é. Fiquei desorientado pelo que aconteceu, pelo choque
de saber quem Emma realmente era. Eu simplesmente fiquei um pouco louco. Eu nunca
quis que ela ficasse na prisão por tanto tempo! Eu nunca quis feri-la!
─ Eles estão acusando a outra mulher por tentativa de homicídio. Seu defensor público
provavelmente implorará por agressão grave, de qualquer maneira ela terá a pena
aumentada. A mulher tem problemas mentais que nunca foram abordados.
─ A mulher esfaqueou Emma. - Connor disse friamente. ─ Ela vai cumprir o tempo,
tudo bem. Vou me certificar disso.
─ Enquanto isso. - Disse Alistair calmamente. ─ Eu tirarei Emma da prisão. - Houve
uma hesitação. ─ Sobre os papéis do divórcio... Ela os assinou. - Disse ele a Connor.
Ele abriu sua pasta e tirou os papéis. ─ Ela disse que não aceitaria pensão alimentícia,
mesmo que você a ofereça. Uma mulher orgulhosa.
A consciência de Connor o estava matando.
─ Sim. Orgulhosa. Eu falo com você mais tarde.
Ele saiu. Connor olhou para a pintura vermelha e negra na parede. Era chamado de
Desespero. Parecia um enfeite muito apropriado para o escritório agora, pensou com
tristeza. Ele colocou Emma em perigo, ajudou a prejudicar suas emoções, seu corpo e
seu espírito. Ele a jogou fora porque ela estava pilotando um barco que acidentalmente
o atropelou e causou, ou pareceu causar, sua cegueira. Ele a estava punindo por um
acidente. Se ele estivesse olhando, ele teria visto o barco se aproximando. Se ela
estivesse olhando, ela o teria visto. Foi uma maldita má sorte nos dois lados, mas isso
não era uma questão criminal. Emma nunca o teria machucado deliberadamente. Ele
deveria ter sabido disso.
A raiva o dominava quando a fez ser presa. Ele estava envergonhado e arrependido
por ter levado as coisas tão longe. Ele não achava que Emma fosse capaz de perdoá-lo
pelo que tinha sido feito a ela. Presa por dois meses inteiros com uma mulher atrás do
seu sangue. Enquanto isso ele estava relaxando em uma praia perto de Nice, curtindo o
sol, sua nova capacidade de ver, e achando que tinha o mundo ao seus pés. Ele tinha o
mundo quando estava com Emma, mas levou tempo para recuperar a razão. Agora, ele
quase desejava não ter feito.
Emma o odiaria. Ela deveria odiá-lo. Ele tinha feito coisas terríveis para ela em nome
da vingança. Ele nunca conseguiria compensar a infelicidade que causou, por não
confiar nela, por traí-la. Ela nem tinha dinheiro para ligar para Mamie no exterior,
porque ele a mandou embora sem a roupa ou a bolsa.
Pelo menos Alistair poderia financiá-la. Ela poderia ter um lugar para ficar, dinheiro
para comida e necessidades, enquanto ele pensava em formas de trazê-la de volta a sua
vida. Ele faria qualquer coisa para conseguir o seu perdão.
Os papéis do divórcio ficaram na mesa, sem serem lidos. Com um gemido de
autodesprezo, ele os agarrou e os jogou no fogo aceso da lareira. Ele os viu queimarem.
Eles ainda estavam casados, mesmo que Emma não soubesse. Ele encontraria uma
maneira de vigiá-la, para se certificar de que ela estava bem. Se ela encontrasse outra
pessoa... bem, ele a deixaria ir. Que pena, pensou, que ele não tinha percebido o que ela
significava para ele até que fosse tarde demais, até que ele tivesse destruído sua vida.
Ele passou sua vida inteira sendo vingativo, fazendo as pessoas pagarem por coisas
que tinham feito a ele, mesmo coisas insignificantes. Agora ele estava vendo o outro
lado da moeda, e não era agradável. Ele perdeu a única pessoa no mundo que realmente
se importava com ele. Emma o amava. Ele havia dito a ela que ele só a queria.
Provavelmente ela acreditava nisso agora, depois do que ele tinha feito a ela.
Vingança, ele pensou miseravelmente, era uma tragédia em si mesma. Ele desejou
poder voltar no tempo e desfazer a angústia que causara a Emma. Ele a perdeu e uma
criança que ele nem sabia que queria, tudo por causa da vingança.
Ele se sentou atrás de sua mesa. Ele tinha mais dinheiro do que a maioria das pessoas
no planeta. Mas agora, ele não tinha nada. Nada mesmo.

***

Emma estremeceu enquanto tentava andar. Ela tinha uma bengala, um presente de
Bess, a guarda que gostava dela. Ela abraçou a mulher com lágrimas nos olhos.
─ Apenas se recupere, você ouviu? - Bess perguntou suavemente, seus olhos negros
sorriram como seus lábios.
─ Você também se cuida. - Disse Emma. ─ Nunca vou esquecer sua gentileza.
─ Não é difícil ser gentil com pessoas agradáveis. Eu não conheço muitas neste
trabalho. - Ela acrescentou com um sorriso.
─ Se você puder falar com Delsa ou Sudie, você pode dizer-lhes que eu saí? E lamento
que elas não tenham.
─ Eu vou. - Ela prometeu. ─ Nós temos um amigo em comum. Elas ficarão felizes por
você.
─ Eles foram tão gentis comigo. - Sua voz estremeceu.
Bess a abraçou.
─ Você é amável, querida. Seja feliz.
─ Até logo.
Emma seguiu o advogado até o carro dele, um sedan caro como o que Connor
dirigia. Ela entrou, apoiando sua perna. As feridas em sua barriga ainda eram dolorosas,
e ela estava com cólicas como nunca imaginou ter.
─ O que eles disseram sobre essa perna? - Perguntou o advogado enquanto se afastava
da calçada.
─ O médico suturou. - Ela respondeu. ─ Ele não falou nada, exceto que eu poderia
precisar de uma cirurgia. Eu não sei para o que.
─ Eu entendo. - Ele olhou para ela. ─ Connor me disse para encontrar um lugar para
você ficar e me certifiar que você tenha dinheiro suficiente.
─ Eu não quero nada dele, Sr. Sims. - Ela disse com um orgulho tranquilo. ─ Eu só
quero uma passagem de ônibus para o Texas e uma carona para a estação de ônibus na
cidade, e isso é tudo. Eu ficarei agradecida se o Sr. Sinclair não se importar em me
emprestar. Meu pai não me quer, mas eu tenho uma prima que me deixará viver com
ela.
Ele não a olhou. Ele se perguntou se Connor algum dia conheceu essa mulher. Ela
era extremamente orgulhosa.
─ Connor queria que eu dissesse o quanto estava arrependido...
Ela levantou uma mão.
─ Ele não me deve nada. - Ela respondeu. ─ Eu paguei pelo que eu fiz com ele. Não foi
o suficiente, talvez...
Ele gemeu em voz alta.
Ela olhou para ele. Seu rosto estava fechado agora. Ele olhou para a frente. Ela se
perguntou por que Connor sentiu pena dela.
─ Você falou sobre o bebê? - Perguntou ela.
Ele desejou poder contar a ela como Connor reagiu. Ele não se atrevia. Connor é que
deveria contar a ela, se alguma vez ele decidisse.
─ Sim. Eu disse a ele.
Ela sabia algo sobre o bebê que não ia contar a ele. As feridas em seu estômago
tinham sido completamente superficiais, porque o canivete era muito pequeno, com uma
lâmina curta. O bebê ainda estava protegido em seu ventre. O médico sorriu pela
expressão de alegria em seu rosto quando ela soube.
Mas Connor não ia saber. Ele estava se divorciando dela. E não saberia, então ele
não pediria para que ela se livrasse da criança. Ele pensaria que estava esperando uma
vida fácil de luxo se ela lhe dissesse, mesmo que não insistisse em interromper a
gravidez. Então ela não ia contar ao advogado, e não ia contar a Connor.
─ E seus pertences, senhorita Copeland? - Ele perguntou de repente.
─ Oh. Eu só tinha algumas coisas na minha... Na casa do Sr. Sinclair.
─ Sua bolsa, seu telefone celular e algumas notas pequenas. Eles estão aqui. - Ele abriu
o porta-luvas e entregou-os para ela.
─ Obrigada! - Exclamou. Agora ela tinha sua identidade, seu cartão de crédito e algum
dinheiro. Depois das semanas de prisão, era como encontrar uma fortuna debaixo de
uma pedra.
Ele sorriu pelo entusiasmo dela.
─ Você tinha alguns itens de uso pessoal e roupas, mas... - Ele hesitou. Connor os jogou
fora. Ele mesmo fez que Marie queimasse as fotos do casamento que tinham sido tiradas
em Las Vegas. Mas Connor não sabia que Marie havia salvado uma, aquele que havia
capturado todo o amor e angústia do coração de Emma, ao olhar para Connor. Ela havia
dito a Alistair que simplesmente não podia jogar fora. Ele prometeu nunca contar.
─ Está tudo bem. - Ela disse, advinhando o que o homem não queria dizer a ela, sobre
suas roupas. Ela conhecia Connor e seu temperamento vingativo. ─ Tenho algumas
roupas na casa de Mamie. Eu sei onde ela mantém uma chave reserva. - Ela não
mencionou que ainda tinha sua própria chave, na bolsa. ─ Ela não se importaria. Você
poderia passar lá, no caminho para a rodoviária, por favor? - Perguntou, quando os
grandes olhos castanhos se encontraram com os dele.
Ele se sentiu culpado, apenas por olhar para ela. E se perguntou se não haveria mais
dano que o superficial na perna. Essa coxa parecia fora de lugar se houvesse apenas um
corte superficial.
─ Certo.
─ E... você poderia contornar, então não passaríamos por Pine Cottage? - Ela perguntou
tensa, sem olhar para ele.
─ Nós podemos fazer isso, também. - Ele concordou.
─ Obrigada.
Ele a deixou na porta da enorme casa do lago de Mamie e observou enquanto ela
caminhava cuidadosamente pelos degraus e fingia procurar a chave escondida. Tinha
em sua mão quando ela se virou.
Emma acenou com um sorriso e entrou. Ela foi até o quarto e olhou em volta. Parecia
uma eternidade desde que ela esteve aqui. Pelo tanto que aconteceu no meio do
caminho.
Ela recolheu suas coisas e colocou-as na mala pequena e desgastada. Ela não tinha
muito. Sentimentos eram valiosos, ocupavam um bom espaço. Mas ela tinha fotos de
sua mãe e do rancho, como ele já havia sido. Ela não tinha uma única foto de seu pai. E
não queria uma.
Ela verificou para se certificar de que tinha tudo e levou a mala para a sala de estar.
Era pesada. Doía para caminhar, quanto mais para carregar alguma coisa. Ela teria que
chamar o Sr. Sims e pedir-lhe para carregar a mala para ela.
Por um impulso, quando viu o elegante telefone francês na mesa na sala de estar, ela
o pegou e ligou para o celular de Mamie.
─ Alô?
Ela não esperava que Mamie respondesse. Ela ofegou.
─ Mamie!
─ Oi, querida! Como você está?
Emma explodiu em lágrimas.
─ Eu casei com Connor, mas ele descobriu que eu o ceguei. Ele mandou me prender.
Estive na prisão, e fui esfaqueada!
─ Devagar, devagar. Esfaqueada? Prisão? Meu Deus, por que você não me ligou?
─ Eles não me deixaram fazer uma ligação internacional. - Emma soluçou.
─ Querido Deus! Meu pobre bebê! Ouça, o que você precisa? Posso obter os melhores
advogados...
─ Eu já saí. Connor retirou as acusações. Eu ainda posso responder por condução
imprudente no lago, no entanto.
─ Você pode ficar na casa. - Disse Mamie.
─ Connor ainda está na casa do lago. - Ela disse entredentes. ─ Não posso ficar aqui no
lago, agora não.
─ Para onde você vai?
─ Texas. Eu tenho uma prima lá. Eu disse ao investigador com quem falei que eu me
certificaria de que ele soubesse onde eu estava, caso eles desejassem me processar. -
Sua voz parecia entorpecida. Cansada.
─ Emma, Connor irá para sua casa em Nice muito em breve. Ele ficará lá por vários
meses, enquanto faz negócios por toda a Europa. Ele não voltará até o final de setembro.
Você pode ficar na casa do lago, pelo menos enquanto ele estiver fora.
─ Ele não foi a qualquer lugar ainda e não posso me arriscar a esbarrar com ele por aí.
Mesmo que ele não possa me ver...
─ Mas ele pode! - Explicou Mamie. ─ Você não sabia? Estava nos jornais. - Ela
respirou fundo.
─ Ele pode ver novamente? O advogado não me disse.
─ Que advogado?
─ Alistair Sims. Ele tem sido tão gentil. Ele me tirou da prisão e convenceu Connor a
retirar as acusações. Ele vai me levar até a rodoviária. - Ela hesitou. ─ Connor pode ver.
- Ela riu quando se viu no espelho. Ela nem parecia com a velha Emma.
─ Sim. Mas ele vai viajar logo. Honestamente.
─ Mamie, há outra razão pela qual não posso deixar ele me ver. - Disse Emma. ─ Ele
acha que perdi o bebê quando fui esfaqueada, mas não perdi. Não quero que ele saiba,
nunca. Ele pensará que eu fiz isso por dinheiro. Ele pensa que é por isso que eu me casei
com ele quando ele estava cego.
─ Você está grávida? Você se casou com ele? Você foi esfaqueada?
─ Estou bem. Ele está se divorciando de mim. Já assinei os documentos. Eu estou
melhor dos ferimentos. Eles me deixaram sair.
─ Ele só viu você algumas vezes antes de perder a visão, não é? - Mamie estava
pensando em voz alta.
─ Sim. - Ela confessou. ─ Uma vez na festa, uma vez no cais, então quando eu estava
sentada em um tronco, mas ele não me olhou bem. - Ela riu. O som era triste. ─ Ele não
me reconheceria agora. Não tenho mais a mesma aparência.
─ Então fique no lago. - Disse Mamie com firmeza. ─ Ouça-me, você pode colocar um
tonalizante no seu cabelo e ficar ruiva. Você pode fingir que tem um marido que
trabalha na Arábia Saudita. Meu afilhado. Eu a contratei para tomar conta da casa
enquanto eu trabalho na pesquisa pra o meu livro na Europa. Apenas diga que você está
com dois meses a menos na gravidez do que você realmente está, então Connor não
conectaria seu bebê com o dele, mesmo que ele desconfiasse.
Mamie estava determinada e Emma estava enfraquecendo. O Texas estava muito
longe. O lago foi sua casa por muito tempo. Esta era uma cidade agradável para criar
uma criança. Se Connor só ficava em casa por algumas semanas, talvez ela pudesse se
afastar durante esse tempo. Se ele a visse apenas a distância, e ela tingisse os cabelos...
─ Eu posso ouvi-la pensar sobre isso. Apenas diga sim. Eu cuidarei de tudo.
Emma respirou fundo.
─ Você é tão gentil comigo, Mamie. - Ela disse.
─ Isso não é díficil. Você é gentil com todo mundo. Você sabe onde está tudo. Tenho
crédito com os comerciantes da cidade. Eles podem entregar comida todas as semanas.
Você apenas telefona e diz que é para mim. Ligue para a agência de limusine local e dê-
lhes o número do meu cartão de crédito, para que você possa viajar para a cidade
quando precisar de uma. Você poderia usar o carro, mas eu o emprestei a um amigo.
Sinto muito, eu não sabia que você estava aí... Mas, de qualquer forma, o dinheiro de
reserva está em uma lata na cozinha para coisas pequenas se você precisar.
─ OK.
─ Não saia à noite. Não deixe Connor saber que você está aí.
─ Eu não vou. Obrigada!
─ Você faria isso por mim. - Foi a resposta suave. ─ Se surgir algo com o qual você não
possa lidar. ligue-me.
─ Eu vou.
─ Descanse um pouco. Pobre criança. Eu sinto muito!
Emma lutou com as lágrimas.
─ Obrigada por me deixar ficar aqui.
─ Obrigada por cuidar da casa! Certifique-se de receber seu pagamento a cada duas
semanas.
─ Obrigada por isso também.
─ Você sabe que eu posso pagar isso. Eu queria voltar mais cedo, mas eu estou me
divertindo muito por aqui que eu simplesmente não queria voltar a trabalhar. Eu fiz
muitas pesquisas. Vou enviar minhas anotações para você por e-mail. Organize-as
quando tiver tempo. E mantenha-me informada. Eu quero saber como você está.
─ Vou fazer isso. - Prometeu Emma. ─ Vou deixar o advogado me levar para a
rodoviária. Quando ele partir, eu vou pegar um táxi e voltar.
─ Mulher sábia. Eu falarei com você mais tarde, Emma.
─ Ok. Você também se cuida.
─ Sempre.

***

Emma desligou. Ela foi até a a porta e chamou o Sr. Sims, para ajudá-la com a mala.
Ele subiu os degraus e levantou a mala como se não pesasse nada. Emma fechou a
porta e colocou a chave na bolsa, enquanto o advogado colocava a mala no carro. Ela
caminhou muito lentamente pelos degraus, usando a bengala que a gentil guarda lhe
deu. Ele estava segurando a porta do carro aberta para ela.
─ Você precisa que essa perna seja olhada por um especialista. - Ele comentou. Ela
conseguiu dar um sorriso. ─ Eu vou ver se minha prima conhece algum. - Ela
respondeu.
─ Boa ideia.
Ele a levou até a rodoviária.
─ Você tem dinheiro suficiente para a passagem?
─ Sim. - Ela abriu a bolsa e tirou algumas notas de vinte dólares que encontrou na lata
de reserva de Mamie.
Ele sorriu.
─ OK.
Ele carregou a mala para ela, esperou enquanto ela fingia comprar uma passagem e ia
aguardar o ônibus com ela.
─ Não. Isso não é necessário, mas obrigada por ser tão gentil. - Ela disse a ele com um
sentimento genuíno. ─ Obrigada por me tirar da prisão. - Ela engasgou e teve que piscar
a umidade nos seus olhos. ─ Não sei o que teria acontecido comigo. - Ela concluiu.
Ele também não sabia, mas ele não iria dizer isso. Ele apertou a mão dela.
─ Sobre os documentos de divórcio...
─ Está bem. Eu não o culpo. - Disse ela. ─ Não era certo, casar com alguém como eu.
Ele precisa de uma dessas mulheres sofisticadas e modernas que podem brilhar em
coquetéis e jantares elegantes. - Ela sorriu com tristeza. ─ Essa nunca fui eu, se você
sabe o que quero dizer. Obrigada novamente, Sr. Sims.
Ele apertou a mão dela.
─ Se você precisar de ajuda. - Ele disse, e pegou um cartão de visita. ─ Não vou contar
a Connor. - Ele acrescentou com um sorriso triste.
Ela retribuiu o sorriso.
─ Eu vou lembrar - Ela queria agradecê-lo novamente, mas já se sentia como um robô
por ter dito isso demais.
Ele assentiu, virou-se e se afastou. Emma esperou quinze minutos, depois pegou a
mala com algum esforço e começou a se dirigir para a porta da frente.
Um homem idoso viu o quão difícil era para ela lidar com a bengala e a mala.
─ Aqui, senhora, deixe-me ajudá-la com isso. - Ele pegou a mala. ─ Para onde?
─ Apenas para a saída. - Disse ela. ─ Eu tenho que pegar um táxi.
Ele sorriu.
─ Sem problemas. Estou acompanhando minha esposa que vai para Buffalo visitar
nossos filhos. Ela está na loja de conveniência.
─ Muito obrigada.
─ Não há de que. Apenas retribua quando puder . - Disse ele, depositando a mala onde
um táxi acabara de chegar. ─ Isso é o que nos torna humanos, ajuda mútua. Tenha uma
viagem segura.
─ Espero que sua esposa tenha também. Obrigada.
Ele acenou e voltou para dentro. O taxista sorriu, colocou a mala no porta-malas e
abriu a porta para ela.
─ Para onde? - Ele perguntou.
Ela deu-lhe o endereço. Quando chegaram lá, ela tirou uma nota de dez dólares.
─ Não, não, são apenas três dólares. - Ele disse.
─ É uma gorjeta, por você ser tão legal.
─ Senhorita, que o bom Deus te abençoe.
─ A você também. - Ela disse com um caloroso sorriso. ─ Obrigada.
─ Se você precisar que eu te leve para algum lugar, você me liga, ok? - E entregou a ela
um cartão.
─ Eu certamente vou precisar.
Ele depositou sua mala na varanda da cabana de Mamie e a deixou com um sorriso.

***

Então, Emma voltou para a casa de Mamie. Ela mantinha a cabeça baixa. E se
certificou de que as luzes de frente para a casa de Connor nunca estivessem ligadas. Ela
nunca se aventurava fora da casa. Ela ficou na casa e organizou as anotações que
Mamie enviou, manteve a casa limpa, fez tudo o que pôde para manter sua mente
afastada de Connor. Enquanto isso, sonhava com o seu bebê. Ela ia amá-lo loucamente.
Ele nunca sentiria falta de amor, mesmo que nunca tivesse dinheiro.
Ela encontrou uma parteira, recomendada por um dos homens que entregavam os
mantimentos de Mamie para ela. A parteira, uma boa mulher de quarenta e poucos anos,
vinha vê-la frequentemente, para se certificar de que as coisas estavam progredindo
bem. Ela sabia que a mãe de Emma havia morrido no parto, então ela estava vigilante
demais. Quando o bebê viesse, ela acrescentou, se suspeitasse de algum problema, ela
chamaria uma ambulância. Emma relaxou um pouco.
Ela se perguntou como Connor estaria, mas eles não tinham amigos em comum e ela
não estava prestes a estragar seu disfarce, telefonando para a casa ou mesmo para o Sr.
Sims. Imaginou que Mamie estava certa, que Connor já estaria na França agora,
aproveitando.

***

Na verdade, Connor não estava vivendo na França. Ele tinha vagado pela casa do
lago como um fantasma por dias depois de saber o que tinha feito a Emma. Marie e
Barnes estavam preocupados com ele. Ele estava tão diferente de si mesmo. Eles
ficaram abalados com a tentativa de suicídio dele. Até então, eles não tinham ideia do
quão emocionalmente envolvido com Emma ele estava, ou o que perdê-la tinha feito
com ele.
Vários dias depois, ele deu uma última olhada ao redor da casa e chamou Alistair
para lhe dizer para colocá-la à venda com todos os móveis incluídos. Alistair,
infelizmente, concordou.
Então Connor empacotou alguns itens da casa, fez as malas, colocou suas
quinquilharias em um depósito e voou com todos para a sua casa em Nice, onde Edward
os recebeu com alegria e curiosidade.
─ O que há de errado? - Perguntou a Marie quando Connor andava sem rumo para cima
e para baixo na praia. ─ Eu entendi que o Sr. Sinclair se casou?
─ É uma longa história, Edward. - Respondeu Marie com tristeza. ─ Eu vou contar a
você um dia. Ele está uma bagunça. - Ela acrescentou, acenando com a cabeça para a
figura solitária lá fora. ─ Ele colocou a casa do lago à venda e diz que nunca vai voltar
para a Geórgia. Ele pediu ao Sr. Sims para entregar os papéis do divórcio para Emma
assinar. Acho que ele já os entregou. É uma pena. - Acrescentou com tristeza. ─ Ela o
amava demais. Pensei que ele também se importasse com ela. Se o fizesse, já é tarde
demais.
─ Mas por quê? - Ele perguntou.
─ Ela o atropelou com a lancha e o cegou. - Ela respondeu.
─ Foi ela? - Exclamou Edward. ─ De propósito?
─ Claro que não. Ela não é desse tipo. Mas ele pensou que sim. Ele a mandou para a
prisão. - Ela fez uma careta. - Ela estava grávida. Outra mulher a atacou na prisão e ela
perdeu o bebê. - Ela respirou fundo, registrando a aparência de horror de Edward. ─ Ela
realmente disse ao Sr. Sims que merecia tudo o que aconteceu com ela, porque o chefe
ficou cego.
─ Uma mulher excepcional.
─ Ela se importava tanto com ele. Ela se sentava com ele quando tinha enxaquecas,
fazia tudo o que podia para mantê-lo feliz. Eu tinha certeza de que eles ficariam juntos
para sempre, mesmo quando ele estava negando que sentia algo por ela. É uma pena. -
Disse ela novamente.
─ Mas ela o perdoaria, não? - Ele perguntou.
Ela assentiu.
─ Com o tempo, sim, acho que sim. Agora, ela está emocionalmente ferida por perder o
bebê, especialmente do jeito que aconteceu. Ela precisa de tempo para superar isso. -
Ela olhou pela janela. ─ Temos que vigiá-lo. - Acrescentou. ─ Ele tentou se matar
quando descobriu o que tinha acontecido com ela. O Sr. Sims realmente lutou com ele
para tirar a pistola de suas mãos.
Edward fez o sinal da cruz.
─ Mon Dieu! - Exclamou.
─ Ele ainda não é completamente ele mesmo. Não podemos deixá-lo sozinho. Não até
que tenha tido tempo para superar isso.
─ E quanto a Srta. Emma? Onde ela está?
─ De volta ao Texas, de onde ela era. Seu próprio pai a desprezou quando soube que ela
havia sido presa.
─ Um pai e tanto. - Edward disse friamente.
─ Amém.
─ Ela tem outro parente?
─ Eu acho que sim. - Disse Marie. ─ Uma prima. Ela terá um lugar para ficar. A
vingança é uma coisa muito triste, Edward. Uma coisa muito triste, de fato.

***

Emma aventurou-se a sair uma tarde com sua bengala. Ela não viu nenhuma
atividade na propriedade de Connor e ficou curiosa. Ela caminhou até o tronco que
tinha desempenhado um papel importante em seu relacionamento com Connor e parou
lá, olhando para Pine Cottage. O que ela viu chocou-a. Havia uma enorme placa de
venda, com o nome e o número de telefone do corretor de imóveis.
Ela sentou-se no tronco pesadamente. Então ele estava desistindo de uma residência
familiar para fugir da memória dela. Ela sabia que era por isso que ele colocou a casa à
venda. Ele devia realmente odiá-la para fazer isso. Queria ter certeza de que nunca mais
a veria. Ele não precisava se preocupar. Emma nunca foi agressiva. Ela não teria se
aproximado dele, nem mesmo implorar seu perdão.
Talvez ele estivesse cansado do lugar. Ele amava a França. Certamente, isso
explicaria a venda. Exceto que ele amava Pine Cottage. Ele tinha dito a ela uma vez que
nunca teve planos de vendê-la. O lugar guardava tantas lembranças, sobretudo do irmão
que ele havia perdido.
Ele não queria correr o risco de encontrar com Emma, se ela voltasse a trabalhar para
Mamie. Tinha que ser isso.
Isso a deixou triste, saber que mesmo depois de tudo o que aconteceu, ele guardava
rancor. Ele lamentava por ela, mas isso não significava que ele a perdoasse por cegá-lo.
Ele era um homem que nunca esquecia um dano. Então, talvez fosse bom, ele ter ido
embora.
Ela pensou nos longos anos à frente, sem sequer um vislumbre dele, e lágrimas
quentes escorreram dos seus olhos. Mas ela ainda tinha o bebê que ele não sabia.
Uma pequena mão alisou o ninho duro na barriga e sorriu tristemente. Pelo menos
ela tinha uma parte dele que nunca teria que desistir.
Ela se virou e caminhou lentamente de volta para a cabana de Mamie.

CAPÍTULO QUINZE
Emma relaxou um pouco depois de ver que Pine Cottage estava à venda. Seria mais
difícil se ela tivesse sempre que vigiar Connor, com medo de ser vista.
Ela estava tão cansada. Tinha perdido peso nos dois meses em que esteve presa. Suas
roupas antigas não cabiam mais. Elas ficavam largas nela. Ela se olhou no espelho
depois do banho e fez uma careta para as cicatrizes na barriga, cobertas com anti-
séptico, e para a profunda e longa que marcava a coxa macia e encantadora. A mulher
era uma maníaca. Era um milagre que a arma não fosse mais longa. Fez um dano ao
tecido muscular da perna, mas não atingiu uma artéria.
Graças a Deus, ela ainda tinha o bebê protegido dentro dela. Ela o amaria e o
esconderia do homem vingativo que sempre disse que não queria uma criança. Ele não
usou qualquer tipo de controle de natalidade todas as vezes em que a levou para a cama,
mas sabia que ele acreditava que estava tomando a pílula depois que ele a mandou
procurar um médico. Ele tinha deixado clara, sua posição sobre crianças. Era estranho
que ele nunca tivesse realmente perguntado se ela começou a usar a pílula.
Ela estava tão cansada. As últimas semanas tinham sido uma provação que ela
esperava nunca repetir. Ela relembrou seu breve casamento com lágrimas amargas. Era
difícil esquecer a ternura que ele tinha demonstrado, a fome apaixonada que ele parecia
nunca satisfazer. Era estranho que ele a tivesse odiado tanto, quando soube quem era.
Era como a primeira noite que ela o vira no traje de noite, na casa de Mamie. Ele a
olhou furiosamente, irritou-a a e fez chorar. Quando ele a encontrou balançando os
dedos dos pés no lago, ele tinha sido horrível. Por que ele odiava uma mulher que nem
conhecia, não fazia muito sentido. Talvez, igual a essa mulher louca na prisão, ele a
tivesse confundido com alguém que o magoara. Era a única explicação que fazia sentido
para ela.
Ela o tirou da sua cabeça. Ele não a queria. Ela ficaria sozinha e teria o seu bebê. Ela
tinha um emprego, pelo menos, e um teto sobre a cabeça. Não podia pagar um obstetra,
mas tinha a parteira. Ela lembrou com um medo contido que sua mãe morreu no parto,
tentando dar a luz a outra filha, que também morreu. Se fosse uma coisa genética, ou
uma questão física que era transmitida, ela também poderia morrer no parto. Mas
certamente uma parteira saberia sobre tais coisas. Claro que sim. Emma sabia que
ficaria bem. Ela tinha que ficar.

***

Connor estava em um avião para Munique. O corretor de imóveis não estava


entusiasmado em encontrar um comprador, mesmo para uma propriedade tão exclusiva,
Alistair lhe havia dito. Além disso, o preço que Connor queria por ela não estava dentro
da realidade.
Ele não se importava. Só queria fugir da Geórgia. Ele não queria voltar nunca mais
para a casa do lago. Ela mantinha lembranças tão amargas de Emma. Emma, nos sons
suaves do anoitecer, rindo enquanto contava sobre as brincadeiras dos pássaros no lago.
Emma, preocupada com ele na noite em que sua cabeça estava se partindo. Emma,
gemendo em seus braços com tanta paixão que ele se sentiu excitado só por se lembrar
disso. Emma, soluçando e fugindo quando ele a acusou de cegá-lo...
Ele fechou os olhos e estremeceu. Emma, ele pensou com angústia, sentada em uma
cela por dois meses e sendo atacada por outra detenta tão gravemente que acabou em
uma cama de hospital. Ele tinha feito isso com ela. Queria machucá-la em um impulso
cego de vingança. Ele tinha feito isso no passado, com outras pessoas. Agora o feitiço
virou contra o feiticeiro. Ele sabia como os outros deviam ter se sentido. Estava
envergonhado de si mesmo, horrorizado com a sua própria incapacidade de controlar a
raiva.
Pobre Emma. Ele entendia seus sentimentos. Ela não o queria na sua vida. Ela tinha
medo dele, do poder que podia exercer, do que ele poderia fazer com ela. Ela fugiu para
o Texas para se afastar dele, para se certificar de que não o veria novamente. Isso bateu
no seu coração como um golpe de um marreta. E até que ele soubesse o que tinha feito
com ela, até que soubesse que diabos ele tinha feito com a sua vida, ele não percebeu...
que a amava.
O sentimento se arrastou sobre ele como uma neblina suave no lago no início de uma
manhã de outono. Ela tinha se infiltrado em seu coração suavemente, tão suavemente, a
voz cheia do amor que ela não conseguia esconder, o desejo que ela não conseguia
esconder. Ela era a única mulher que já conheceu, que parecia querer o que ele era, e
não o que tinha.
Ele a classificou como mercenária, uma mulher que o queria para ter uma vida
confortável. Mas essa classificação se adequava as mulheres que foram suas amantes.
Não a Emma. Ele se lembrou do momento em que ele a viu na praia, sentada no tronco,
e ele ridicularizou sua roupa barata. Isso o envergonhou, especialmente quando se
lembrou do extremo orgulho dela, apesar de sua falta de riqueza material. Essa mulher
não se casaria com um homem pelo que ele tinha, ou quereria uma criança por razões
egoístas.
Ele lamentava pela criança. Ele tinha mandado que ela procurasse um médico para
começar a tomar a pílula, de modo que isso não fosse uma preocupação constante. Um
filho. Ele podia imaginar Emma segurando um bebê, amando o bebê porque também era
dele. Mas isso foi no passado, antes que ele a machucasse, antes que ele a fizesse fugir.
Antes que ele lhe custasse o bebê que ela carregava, e ele nem sabia. Ele fechou os
olhos. Nunca mais a seguraria na escuridão. Nunca ouviria aquela risada ressonante que
tanto amava, ou sentiria seus dedos suaves em seus cabelos, confortando-o quando as
dores de cabeça surgiam. Ele tinha desistido de tudo isso, e por quê? Por nada. O álcool
e a vingança o haviam conduzido a um caminho sem retorno. Emma, gentil Emma, na
prisão por dois meses infernais sem saída, sem ninguém para protegê-la. Mesmo assim,
ela disse a Alistair que merecia isso pelo que tinha feito com Connor. Ele quase
engasgou com a bebida, lembrando-se disso. Merecia isso, por um acidente que tinha
sido tanto culpa dele quanto dela!
Havia um velho ditado bíblico: A vingança é minha, eu pagarei de volta, diz o
Senhor. Ele devia ter se lembrado disso mais cedo antes de destruir a vida de Emma.
Tarde demais agora. Ele terminou a bebida e segurou o copo para que o comissário de
bordo voltasse a encher. Se ele pudesse ficar bêbado o suficiente, talvez pudesse
esquecer, apenas por alguns minutos.

***

O tempo passou lentamente. Emma sentiu o corpo mudar. Ela adorava as mudanças.
Ela usou um tonalizante em seus cabelos longos para dar uma cor vermelha, e escolheu
vestidos largos e suéteres que não mostravam nada de sua forma. Ela não parecia com a
velha Emma agora. Ela ganhou peso por causa do bebê. E estava com um bonito
aspecto e um brilho ao redor que fazia as pessoas sorrirem. Ela estava feliz.
Mamie esteve fora a maior parte dos quatro meses em que Emma morava na casa.
Ela voltou por algumas semanas, apenas pelo tempo suficiente de dar outro livro para
Emma e verificar os fatos e digitar. Ela se manteve ocupada.
No final das tardes de agosto, ela gostava de se sentar à beira do lago, naquele antigo
tronco que tinha ocupado no dia em que Connor a encontrou. As lembranças eram um
pouco menos dolorosas agora com a passagem do tempo. Ela ainda tinha problemas
com a perna. Mamie queria que ela visse um médico, mas Emma recusou. Emma
também não contou a mulher mais velha sobre a parteira. Mamie tinha feito o suficiente
por ela. E não queria se tornar dependente. Talvez pudesse encontrar um emprego de
meio período em algum lugar para complementar sua renda e ajudar a pagar a conta do
hospital quando chegasse. A parteira, que era muito bem informada, disse-lhe que os
hospitais poderiam cuidar de indigentes, então ela não deveria se preocupar. Mas Emma
se preocupava do mesmo jeito.
Emma aprendeu a tricotar. E estava fazendo gorros aos montes. E os dava às crianças
que conhecia nas lojas da cidade, a pessoas idosas que encontrava sentadas em bancos
de praças. Deu alguns para a parteira distribuir na clínica médica onde era voluntária.
Sentia como se isso permitisse a ela retribuir algo ao mundo, dar um ponto de cor para
iluminar os dias das pessoas. E ficava surpresa com a forma como as pessoas reagiam
aos presentes inesperados. Isso a fazia sentir-se viva por dentro.
Ela estava desenhando na areia molhada perto do tronco quando uma sombra pairou
sobre ela. Olhou para cima e lá estava ele. Connor Sinclair.
─ Esta é uma propriedade particular. - Ele disse secamente. ─ Você está invadindo.
Ela se virou, apreensiva, porque ele certamente devia se lembrar um pouco da
aparência dela de quando enxergava. Mas seus olhos cinza-claros eram hostis. Não
havia reconhecimento neles.
Emma deu um suspiro de alívio. Ele não a reconheceu. Claro que não. Estava usando
um vestido largo que era dois números maior do que o seu tamanho. Seu rosto estava
mais redondo do que antes. E seu cabelo, tingido de vermelho, estava preso em cima de
sua cabeça. Ele lembraria de uma mulher loira, magra. Emma mudou com a gravidez.
Ela se perguntou por que ele estava de volta à casa do lago em agosto, quando só vinha
aqui em setembro. Ele tinha vindo para ver alguém que queria comprar a casa? Ela não
sabia.
Certamente ele não se lembraria de sua aparência depois de todos esses meses. Ele só
a viu uma ou duas vezes. Emma relaxou, apenas um pouco. Ela se levantou com um
esforço visível, inclinando-se pesadamente sobre a bengala que Bess lhe havia dado.
─ Realmente sinto muito. - Disse ela suavemente. ─ Eu não sabia que alguém morava
aqui. Há uma placa de venda...
Ele franziu o cenho.
─ Você mora no lago? - Ele interrompeu, e o olhar que ele lhe deu era de incredulidade.
Ele obviamente pensou que ela era uma moradora de rua.
Ela deveria se sentir insultada, mas não estava. Isso facilitava as coisas. Ela respirou
fundo para se acalmar. E se inclinou pesadamente sobre a bengala.
─ A madrinha do meu marido vive lá. - Ela apontou para a casa de Mamie. ─ Ela está
me deixando cuidar da casa para ela enquanto meu marido está na Arábia Saudita. Ele
trabalha com poços de petróleo.
Ele olhou para o vestido disforme. O vestido não escondia o tamanho de sua barriga.
─ Você está grávida.
Ela obrigou-se a levar um sorriso normal a seus lábios.
─ Oh, sim, de seis meses. - Ela mentiu, diminuindo dois meses do tempo que realmente
estava, isso o impediria de fazer conexões.
A gravidez o lembrou de tudo o que havia perdido. Ele desviou os olhos para o lago.
─ Eu suponho que seu marido esteja feliz com isso. - Disse ele.
─ Ele está muito feliz. - Ela concordou. ─ Esperamos que seja um menino.
─ Existem exames para verificar isso. Você já não sabe o sexo do bebê?
─ Nós não quisemos saber. - Disse ela simplesmente. E respirou fundo. Estava ficando
difícil de respirar enquanto o bebê crescia e pressionava contra o seu diafragma. ─ Eu
tenho que ir. Desculpe pela invasão. Não vou fazer novamente.
Ele franziu a testa. Havia algo tão familiar nela. Cabelo vermelho. Grávida de seis
meses. De jeito nenhum, poderia ser Emma. Mas ele desejava...
Ela se virou lentamente e começou a descer a costa.
─ Quem é você? - Ele perguntou de repente.
─ Mary Kathryn. - Ela disse sem se virar. Era seu nome verdadeiro. Ela nunca disse a
Connor.
─ Mary Kathryn, o quê?
─ Kilpatrick. - Ela mentiu. ─ Meu marido é irlandês.
Ele a observou, cada passo que ela dava era, obviamente, doloroso.
─ O que há de errado com sua perna? - Ele perguntou abruptamente.
─ Eu tive um... acidente. - Disse ela. ─ Pelo menos eu ainda tenho uma perna para
caminhar. - Acrescentou, tentando fazer parecer que o acidente quase a havia amputado,
para despistar. ─ Boa noite.
Ele não respondeu. Não devia tê-la deixado ir embora. Desejou poder fazer com que
voltasse. Queria falar com ela. Ela o fazia lembrar muito de Emma. Ele tinha esquecido
a aparência dela. Enquanto estava cego, aprendeu a reconhecer seu cheiro, sua voz, suas
mãos suaves, a sensação do corpo dela em seus braços. Quando sua visão voltou, estava
repleta da imagem da mulher que o atropelou com a lancha.
Ele lembrava vagamente dela. Cabelo louro, quase platinado, nariz reto, boca bonita,
altura média, grandes olhos castanhos. Mas a memória era difusa, como num sonho.
Fazia tanto tempo que a vira que não tinha certeza de que a reconheceria na rua. Triste,
porque essa era Emma. Aquela mulher indistinta, a quem ele havia amaldiçoado como a
causadora de sua cegueira, era a mesma mulher que sentava com ele quando tinha dores
de cabeça desesperadoras, a mesma mulher que nunca o deixava até que tivesse se
recuperado. Emma. Emma!
Ele nem tinha uma fotografia dela. Ele fez Marie queimar todas, todas as que tinham
sido tiradas no casamento. Ele sentia essa perda agora, quando queria desesperadamente
alimentar seu coração vazio com uma foto da mulher que ele havia perdido. Mas era
tarde demais.
A fotografia não servia de nada, porque aquela mulher que se afastava dele não era
sua Emma. Ela estava grávida de seis meses, casada, e nitidamente manca. Emma, se
não tivesse perdido o bebê, estaria com mais de oito meses.
Então a mulher no lago era uma estranha. Ele a observou com emoções confusas.
Seu marido deveria estar com ela. Deveria estar cuidando dela. Ele fez uma careta. Não
era problema seu. Nenhum mesmo. Ele se virou e voltou para sua própria casa.

***

Passaram três dias antes de vê-la novamente. Ela estava usando um chapéu de sol.
Ela e uma menina estavam colocando algo na água. Ele as ouviu falar suavemente uma
com a outra. Francês. Ele reconheceu.
─ Você acredita que vai navegar, mademoiselle? - Perguntou a criança.
─ Bien sur.26 Certamente navegará. - Foi a resposta sorridente. ─ Um dos meus bisavós
veio para a Carolina do Norte da Escócia, e ele era um construtor de barcos. Vela está
no meu sangue.
A menina riu.
─ Muito bem, então.
Emma colocou o pequeno barco na água e empurrou para longe. Ele flutuou. Ela riu
suavemente. Assim como a criança.
Connor se aproximou. Emma o viu e corou. Ela se levantou.
─ Oh, Deus. - Ela disse. - Estamos em sua propriedade? Eu sinto muito. Nós só
queríamos um lugar para colocar o barquinho no lago.
─ Está tudo bem. - Ele disse suavemente. ─ Não me importo.
Ela se moveu inquieta.
─ É hora de nós irmos, mesmo assim. Adele, você pode encontrar minha bengala, s’il
vous plaít? 27
A menina entregou a bengala a ela.
─ Obrigada. - Disse ela, e forçou um sorriso. ─ Nós devemos ir. - Ela olhou
nervosamente para Connor. Ele estava de pé na praia, seu rosto calmo e triste, apenas
observando-as.
Ela acenou com a cabeça para ele e puxou a menina para o seu lado. Elas
atravessaram a costa.
─ Você esqueceu seu barco. - Ele a chamou.
─ É feito apenas de galhos, folhas e alguma videira que encontramos. - Respondeu
Emma. ─ Ele vai afundar eventualmente.
Ela continuou andando.
Connor esperou até que estivessem fora de vista antes de ir até a água e pegar o
pequeno barco, virando-o nas mãos grandes para ver o intrincado método que era a sua
construção. Era lindo. Ele levou-o para dentro de casa e colocou-o em uma prateleira.
Marie, sua governanta, o encarou.
─ Aaaaah. - Ele advertiu. ─ Você não vai tocar nisso.
─ São apenas galhos...
─ É um exemplo raro de arte de galhos e folhas. - Argumentou. ─ Apenas deixe-o aqui.
Tem um... valor sentimental. - Acrescentou, sem entender por que disse isso.
─ Se você diz isso, senhor.
─ Eu digo.
Ele caminhou até o telefone que tinha deixado na mesa. Pegou e discou para seu
advogado.
─ Sims, ligue para a corretora de imóveis e diga a ela para vir buscar a placa de venda. -
Disse ele.
─ Eu posso fazer isso. Mudou de ideia sobre vendê-la?
─ Eu acho que sim. - Ele suspirou. ─ As memórias são portáteis. Não posso me livrar
delas vendendo a casa onde estão.
─ Eu vou fazer isso a primeira hora de amanhã.
─ Você teve notícias de Emma? - Perguntou.
─ Não.
─ Ela foi para o Texas, não é?
─ Sim. Eu a levei à rodoviária e a vi comprar uma passagem.
Ele sentiu a tristeza como uma coisa viva. Ele olhou para o chão. A mulher do lago o
incomodava. Havia algo tão familiar nela, na sua voz. Cabelos vermelhos podiam ser
tingidos. Ela poderia estar mentindo sobre o marido e os meses de gravidez.
26 - Bien sur - É claro.
27 - s’il vous plaít - Por favor.

─ Por que você está me fazendo essas perguntas? - Sims quis saber.
─ Mamie van Dyke tem uma pessoa tomando conta da casa. - Disse ele. ─ Ela... parece
com Emma. Eu acho. Mas ela diz que está grávida de seis meses e é casada. O marido é
afilhado de Mamie.
─ Emma está no Texas. - Alistair repetiu com mais segurança do que realmente sentia.
Ele encontrou Emma apenas recentemente e sentia tanto pena dela que jurou não dizer a
Connor que ela estava morando na casa de Mamie e ainda estava grávida. Ela disse que
não sabia o que Connor poderia fazer com ela. Ele poderia querer que ela se desfizesse
da criança, para não ter que suportá-la. Isso podia ser verdade. O homem era um
mistério mesmo para seu próprio advogado. Alistair não conseguiu quebrar a confiança
de Emma. Não, afinal, depois de tudo pelo que ela passou.
─ Sim. Acho que ela está no Texas. E mesmo que ainda estivesse aqui, ela não falaria
comigo. - Disse Connor com voz rouca.
─ Provavelmente. - Ele concordou.
─ Pobre Emma. - Ele disse, sua voz fraca e distante. ─ Eu a coloquei no inferno e nunca
mais olhei para trás.
─ A vida é difícil. - Disse Alistair.
─ Muito difícil e nunca fica mais fácil. - Foi a resposta. Ele olhou através da janela para
a escuridão. ─ O maldito marido da mulher está na Arábia Saudita, trabalhando em
poços de petróleo.
─ Uma profissão perigosa, embora seja lucrativa. Conheço um homem que foi para lá e
agora dirige um Rolls.
─ O ponto é que ela está grávida, e ele não está aqui! - Ele revidou. ─ Que tipo de
homem abandona uma mulher grávida?
─ Suponho que ele tem que manter seu emprego, e essa é a única maneira. Além disso,
muitos homens colocam negócios antes das obrigações familiares.
─ Malditos idiotas. - Murmurou Connor. Ele soltou um suspiro. ─ OK. Ligue para a
corretora de imóveis.
─ Eu farei isso. Ligue se precisar de mim.
─ Conte com isso.
Ele desligou. O entristeceu saber que sua vizinha não poderia ser Emma. A evidência
era forte contra isso. Ainda assim, ele ficou atraído pela mulher. Ele sentia pena dela.
Ela estava sozinha. Bem, talvez ela tenha passado algum tempo com aquela pequena
garota francesa. Mas estava sozinha na casa de Mamie. E se algo desse errado com a
gravidez?
Se importar com isso o incomodava. Ela não era Emma, ele tinha que admitir isso.
Mas ela lembrava a mulher que ele havia tratado tão mal. Talvez ele pudesse encontrar
uma maneira de ajudá-la sem ser óbvio. Ele pensou em Emma, morando no Texas, com
uma prima. Ele queria muito ir até ela de joelhos e pedir desculpas, implorar que ela
voltasse. Mas depois do que ele tinha feito a ela, ele duvidava que ela até lhe abrisse a
porta. O arrependimento era tudo o que restava.

***

Emma caminhava quando a dor piorou. Provavelmente não era o que devia fazer,
uma vez que sua perna latejava às vezes, apesar do fato de parecer curada. Talvez a
lesão tenha sido mais profunda do que eles pensavam. Parecia haver mais danos do que
o médico rabugento percebeu. Ele tinha tantos pacientes na sala de emergência no dia
em que ela foi atendida. Mas isso era irrelevante. Ela não tinha dinheiro para
especialistas. Ele levaria cada centavo que ela poderia economizar para pagar a parteira.
Ela parou no tronco que gostava de se sentar. Era grande, espaçoso e de alguma
forma reconfortante. Muito antes de Connor se tornar a razão de sua vida, ela sentava-se
aqui para olhar o lago no final da tarde. Havia algo reconfortante nos sons noturnos, um
lugar solitário. Mesmo assim, quando fechava os olhos, ela podia ouvir um trânsito
distante na rodovia, cachorros latindo, até um trem passando.
Ela sentou-se cautelosamente no tronco e colocou a bengala ao seu lado. Ela amava
os sons. Só Deus sabia onde ela estaria no outono. Ela teria que ir embora, se Connor
estava voltando a viver no lago. Era curioso que ele tivesse retirado a placa de venda.
Ele permanecia no lago por pouco tempo. Por que manter a casa?
─ Está tarde para você estar aqui sozinha, não está? - Connor disse por trás dela.
Ela pulou involuntariamente quando ele contornou o tronco. Ele estava vestindo
calça e uma camisa de malha vermelha com pulôver. Ele parecia elegante e rico.
─ Eu gosto do lago à noite. - Disse ela hesitante.
─ Eu também gosto. - Ele respondeu. E respirou fundo. ─ Eu estive na Europa. Achei
que poderia superar minha consciência e minha culpa. - Ele riu. Tinha um som falso e
atormentado.
─ Consciência? - Perguntou, fingindo não entender. Saber que ele sentia culpa a
chocou. Ele tinha sido cruel quando ordenou que ela fosse presa.
Ele assentiu sem olhar para a frente.
─ Você é muito jovem para saber disso, mas na época da minha mãe havia uma música
sobre um grande táxi amarelo. - Ele sorriu para si mesmo. ─ A essência disso é que não
sabemos o que temos, ou não valorizamos o que temos até que tenha desaparecido, ou
tenhamos perdido. E isso é um fato.
─ Você perdeu alguma coisa? - Ela perguntou.
─ Perdi a coisa mais preciosa da minha vida. - Ele respondeu calmamente. ─ E eu não
sabia que a tinha, até que a perdi. Até que fosse tarde demais para desfazer o dano.
─ Foi uma mulher? - Perguntou ela.
─ Sim. Eu estava alterado pelo álcool e fiz algo imperdoável. Achei que estava certo.
Mas eu não estava.
─ Isso deve ser ruim. - Disse ela evasivamente.
─ O inferno na terra. - Ele se virou para ela. ─ Você já perdeu algo que valia a sua
própria vida?
Ela assentiu.
─ Um homem? - Ele provocou.
Ela sorriu tristemente.
─ Eu ainda o tenho. Ele está na Arábia Saudita.
─ Mas você o perdeu?
Ela hesitou.
─ Tivemos uma pequena diferença de opinião. Eu queria um bebê. Ele não.
─ Bom Deus! - Ele se aproximou um pouco mais, franzindo o cenho. ─ Por que ele não
quer a criança?
─ Ele não disse.
─ Me desculpe. - Ele disse, e pareceu querer dizer isso. ─ Então você está sozinha.
Ela olhou para o lago.
─ Eu sempre estive sozinha. Você se acostuma com isso.
Ele pensou em como estava sozinho desde que Emma partiu. Às vezes, o silêncio era
doloroso. Ele sentia falta dela em cada quarto de sua casa. Tudo o lembrava ela. A dor
aumentava ao longo do dia.
─ Dizem que você é muito rico. - Ela observou. ─ Eu suponho que você tenha mulheres
entrando e saindo da sua casa.
Ele riu inesperadamente.
─ Não. Não mais.
─ Pena.
─ Não. Não é. - Ele respirou longa e lentamente. Ele estava olhando para o lago, não
para Emma. ─ Eu passei pela vida tentando não ficar preso, como muitos dos meus
amigos. Preso no casamento por mulheres sedutoras que queriam diamantes, minks e
estavam dispostas a engravidar para obtê-los. As mulheres podem ser tão inescrupulosas
quanto os homens.
─ Você não quer filhos?
A expressão dele mostrava verdadeiramente sua tristeza.
─ Eu não queria. - Ele hesitou. E olhou para os pés. ─ Os arrependimentos não nos
levam a lugar nenhum, de verdade. As coisas são o que são. Não consigo voltar e
corrigir os erros que cometi. É tarde demais.
─ Isso é triste.
─ Eu suponho que é. - Ele virou. ─ O que você vai fazer sobre o seu marido?
─ Ele acha que uma pequena separação pode ajudar a resolver as coisas. - Disse ela
simplesmente. ─ Então, há esperança. Ele não está se divorciando de mim. Ainda não
pelo menos. - Ela sorriu. ─ Ele pode querer o bebê quando o conhecer. - Ela
acrescentou com tristeza.
Ele franziu a testa enquanto observava o que podia ver dela com a leve luz da lua em
quarto crescente.
─ Que maldito idiota. - Ele disse suavemente. Ela olhou para ele, surpresa com o
comentário.
Ele se aproximou.
─ Quando Mamie vai voltar para casa?
─ Eu não sei. - Ela respondeu. ─ Ela realmente não disse.
─ Quando você tiver o bebê, vai precisar de alguém para ligar se entrar em trabalho de
parto. Você não tem um carro, não é? - Ele perguntou abruptamente, sem nenhum
motivo aparente. Ele passou pela casa com Barnes várias vezes. Nunca havia um
veículo na entrada.
─ Não. - Ela disse sem pensar. ─ Mas Mamie deixou uma conta aberta em uma das
empresas de limusine, para que eu pudesse pedir um carro quando precisasse. Ela gosta
muito... do meu marido. - Acrescentou. ─ Ela também se preocupa comigo.
─ Eu moro bem ao lado. - Ele disse a ela. ─ Se você precisar de ajuda, ligue para mim.
Ela riu.
─ Você é um dos homens mais ricos do país. - Lembrou ela. ─ Não espero que seu
número esteja na lista telefônica. Essa era uma mentira. Ela ligou depois que o
atropelou, para ter certeza de que ele estava bem.
─Na verdade, está. - Ele respondeu. ─ Está como Pine Cottage. Você vai conseguir o
número. Eu prometo.
─ Obrigada. - Disse ela, evitando olhá-lo. ─ Mas eu posso me virar.
Ele juntou os dentes. Ela era orgulhosa. Muito orgulhosa para aceitar a ajuda de um
estranho. Ele não a culpava, mas queria ajudá-la. Era como compensar tudo o que tinha
feito com Emma. Ele odiava o que tinha feito. E não conseguia viver com isso.
─ Minha esposa está sozinha. - Ele disse inesperadamente. ─ Estávamos esperando um
filho. Eu não sabia. Ela o perdeu, por minha causa. Eu fiquei bêbado e aexpulsei da
minha vida.
Emma ficou chocada com a angústia em sua voz. Ela não esperava que ele
continuasse se sentindo culpado por mandar prendê-la.
─ Então eu tenho um motivo pessoal para querer ajudá-la. - Ele acrescentou
calmamente. ─ Eu gostaria de pensar que alguém está fazendo por ela o que eu estou
tentando fazer por você. Eu acho que isso não faz sentido.
─ Faz muito sentido. Ela sentiu sua culpa. Ele só queria ajudar. Mas ela não ousava
permitir isso. Ela se levantou e segurou sua bengala.
─ Obrigada. Eu realmente agradeço por dizer isso. Mas... eu não preciso de ajuda.
─ Lembre-se do que eu disse. - Ele disse a ela, sua voz suave e baixa. ─ Vizinhos
cuidam uns dos outros.
Ela teve que morder o lábio para não chorar. Ele era basicamente um homem gentil.
Se ao menos ela nunca tivesse pilotado aquela lancha!
─ Obrigada. - Ela conseguiu dizer em um tom exausto.
Ela estava com tanta dor que nem sequer olhou para ele enquanto caminhava pela
praia. O que ela tinha perdido!
Ele não sabia que ela ainda estava na prisão. Ele nunca quis que ela fosse ferida
assim. Ele mesmo se certificou de que ela saísse e tivesse um lugar para ir. Emma
respirou fundo. Realmente desejava poder detestá-lo. Isso tornaria a vida sem ele muito
mais fácil.
Ela tinha que vigiar todas as palavras que dizia. Não queria que ele começasse a
fazer perguntas sobre ela, desconfiasse dela. Ela sabia que ele tinha dúvidas. Mas
esperava convencê-lo de que tinha um marido na Arábia Saudita e a criança nasceria em
dois meses em vez de cerca de duas semanas. Se ele acreditasse nessas duas coisas,
nunca suspeitaria que ela era a mulher que tinha mandado para a prisão.

***

Connor a observou caminhar, viu a dor que causava a ela dar cada passo. Algo estava
errado com essa perna. Ele se perguntou por que seu médico não tinha feito mais para
curá-la. E se perguntou se ela tinha um obstetra. Ela estava sozinha na casa de Mamie. E
se algo desse errado? Era imprudente. Ela era imprudente. Havia uma atitude nela que
ele reconhecia. Ele mesmo a assumiu em sua forma maior quando perdeu Emma,
quando soube que ela o odiava. Era um olhar de derrota total, um desinteresse pelo
mundo. Era a atitude do desespero.
Ele não sabia o que fazer a seguir, o que dizer a ela. Queria ajudar, mas ela estava
deixando óbvio que não queria a ajuda dele. Era realmente orgulho? Ou ele tinha ido
longe com suas perguntas? Ele não sabia. Infelizmente, ele se virou e voltou para Pine
Cottage.
Ele chamou Alistair no dia seguinte.
─ Seu cabelo é vermelho, mas ela poderia tingir. - Ele disse abruptamente. ─ Ela diz
que está grávida de seis meses. Mas olhando sua barriga parece que ela está no final da
gravidez.
Alistair hesitou.
─ Você sabe alguma coisa. - Disse Connor curioso. ─ Conte-me!
─ Se ela imaginar que você suspeita que seja ela, ela vai fugir. - Disse Alistair
abruptamente.
─ É ela! - Connor explodiu com angústia. ─ É Emma!
Alistair respirou profundamente.
─ Ela tem certeza de que você vai insistir em se livrar dela se souber que ainda está
aqui. - Ele explicou. ─ Eu descobri muito acidentalmente. Eu a encontrei na cidade. Ela
estava comprando um vestido de grávida em um brechó. E me implorou para não
delatá-la. Nunca vi ninguém tão triste. - Ele sentiu a dor ao lembrar.
Os olhos de Connor se fecharam. Ele tentou respirar normalmente. Emma e suas
lojas de segunda mão. Ele era multimilionário, e sua esposa vestia-se em brechós.
─ Eu nunca faria nada para prejudicar a criança. - Disse ele. Emma estava grávida. Seu
bebê estava crescendo dentro dela. As emoções que o atravessaram eram desconhecidas,
humilhantes. Ele seria pai. Pela primeira vez em sua vida, o pensamento não era terrível.
─ Emma não vai acreditar nisso. - Continuou Alistair. ─ Você nunca fez segredo do que
pensa sobre crianças. Você criou uma religião de proteção. Emma sabe tudo isso. Ela
pensa que a levaria ao tribunal para que ela interrompesse a gravidez.
─ Eu não faria isso. - Disse Connor fortemente.
─ O que estou tentando explicar. - Disse Alistair pacientemente. ─ É o que ela pensa.
Você tem que ter cuidado.
─ Ela tem um obstetra pelo menos?
Alistair suspirou.
─ Não consegui que ela me dissesse. Ela disse que tem uma parteira, no entanto.
─ A mãe dela morreu no parto. - Disse Connor, a angústia em seu tom. ─ Ela sabe
disso!
─ Isso também me preocupa, Connor. - Respondeu Alistair. ─ Eu não acho que ela
esteja bem financeiramente, apesar do que Mamie paga a ela. Se ela não tem seguro e
muitos jovens não têm, não há dinheiro para pagar por especialistas ou mesmo as
vitaminas pré-natais que ela deveria tomar diariamente.
Connor recostou-se na cadeira da mesa. Aqui estava o fruto da semente detestável
que havia plantado. Emma, sozinha, grávida, sem dinheiro suficiente para cuidados
médicos competentes. Emma, com seu filho dentro dela.
─ Eu pensarei em alguma coisa. - Ele disse secamente.
─ Eu me ofereci para ajudar financeiramente. - Confessou Alistair. ─ Ela recusou. Ela é
muito orgulhosa.
─ Sim. - Connor respirou fundo. ─ Você disse a ela que eu não assinei o divórcio?
─ Ela não falou disso, então eu também não falei. - Ele hesitou. ─ No entanto, ela
inventou um marido fictício.
─ Sim, ele trabalha nos campos de petróleo na Arábia Saudita, e não pode ser
incomodado para voltar para casa e cuidar dela. - Disse Connor com um sarcasmo
mordaz.
─ Eu suponho que ela pensou que iria te despistar. - Disse Alistair. ─ Ela viu a placa da
imobiliária na propriedade. E pensou que você tinha ido embora, que nunca mais o
veria. Ela disse que se sentia segura na casa de Mamie.
Connor tamborilhou os dedos na mesa.
─ Eu vou deixá-la pensar que está segura. - Ele respondeu. ─ Mas eu vou observá-la,
para me certificar de que ela está bem. Se acontecer alguma coisa, eu cuidarei dela.
Quer ela queira ou não.
─ Não gosto desse coxear. - Disse o outro homem. ─ Se a detenta a esfaqueou na perna,
poderia significar que um tendão foi afetado ou parcialmente afetado. Ela precisava ter
visto isso. No entanto, não sei se eles estão dispostos a operar nesta fase da gravidez.
─ Meu melhor amigo, Harry Weems, é médico em Atlanta. Ele é um dos obstetras mais
renomados do país. - Disse Connor. ─ Ele tem uma filial da sua clínica em Gainesville.
Vou encontrar uma maneira de levá-la a ele.
─ Será melhor ser cauteloso.
Connor riu suavemente.
─ Eu pensarei em algo. - Ele se recostou na cadeira com um longo suspiro. ─ Eu vou ter
um filho. - Ele sorriu para si mesmo. ─ Que tal essa novidade?
─ Devo confessar, eu esperava uma reação bem diferente de você.
─ Algo parecido com ameaça e intimidação? - Perguntou Connor. ─ Isso poderia ter
sido possível, com qualquer outra mulher. Não com a minha Emma. Ela vai adorar ser
mãe
─ Eu acredito que ela vai.
─ Não vou dizer a ela que você me contou a verdade. - Prometeu Connor. ─ Mas
obrigado. Eu estava desconfiado. Foi o tempo de gravidez e o marido fictício que me
deixaram em dúvida.
─ Você não teve minha vantagem. Eu a encontrei inesperadamente.
─ Eu também, na margem do lago. Duas vezes. - Ele acrescentou com uma risada. ─
Mas ela manteve o descaramento nas duas vezes.
─ Estou feliz que você tenha cancelado a venda da casa. - Disse Alistair. ─ Ainda vivo
na casa onde morava com minha falecida esposa. Não posso imaginar viver em outro
lugar. Eu posso vê-la em todos os cômodos, em todos os lugares que eu ando. Isso me
conforta.
Connor estava apenas começando a entender como um homem podia se sentir desse
jeito.
─ Foi por isso que voltei. - Ele confessou. ─ Eu nunca vi Emma na casa, eu estava cego
então. Mas eu podia sentir sua presença, em cada sala. Era reconfortante. A vida sem ela
foi... muito solitária.
─ Talvez não por muito mais tempo. Se você tiver cuidado.
Connor sorriu.
─ Cuidado. - Disse ele. ─ É o meu novo nome do meio.

CAPÍTULO DEZESSEIS
Emma teve uma noite ruim. Sua perna latejava tanto que não conseguia dormir. Ela
se levantou, ligou as luzes e entrou na cozinha para fazer café. Às vezes isso a ajudava a
dormir. Desde que ela descobriu estar grávida, o café era descafeinado, mas ela o fez
forte.
Ela estava na metade da sua primeira xícara quando ouviu uma batida na porta. Ela
não queria atender. Era assustador ter alguém à sua porta às três da manhã.
Ela levantou-se, desejando ter uma arma. Nem estava com o celular próximo. Havia
o telefone fixo na sala de estar. Talvez ela pudesse chegar a ele se precisasse. Nunca se
preocupou com os intrusos antes. Mas ela era saudável e forte, confiava na sua
capacidade de se proteger. Agora, ela estava grávida e nervosa.
Ela foi até a porta da frente lentamente quando ouviu uma nova batida. Tomou
coragem e olhou pelo olho mágico.
Seu suspiro foi audível para o homem do outro lado da porta.
Ela abriu a porta, devagar.
─ Sr... Sr. Sinclair. - Ela vacilou, fechando com força o robe de algodão na garganta.
─ Você está bem? As luzes estavam acesas e eu fiquei preocupado. - Ele disse
calmamente. Era a última coisa que esperava ouvir. Ele estava usando calça e uma
camisa esporte com sapato. Seus olhos pareciam raiados de sangue e parecia cansado,
como se nem tivesse ido para a cama.
─ Estou bem...
Ele lhe deu uma olhada irônica.
Ela engoliu em seco.
─ Minha perna dói. - Disse ela. ─ Isso me mantém acordada.
─ O que foi isso?
─ Eu disse. Um acidente.
─ Cair do Monte Everest é um acidente. Um ataque de tubarão também.
Ela respirou fundo.
─ Você quer um café? - Perguntou ela impulsivamente.
─ Sim.
Ela abriu a porta e deixou-o entrar. Ela começou a caminhar de volta para a cozinha,
mancando. Ela ofegou quando ele se curvou e a suspendeu em seus braços.
Quão familiar ela parecia. Quão familiar ela cheirava. Era como tocar o céu, apenas
por estar tão perto dela. Mesmo que Alistair não tivesse contado a verdade, ele sabia
agora que tinha sua própria Emma em seus braços. Ele a levou para a cozinha e
colocou-a suavemente em uma cadeira.
Ela lembrou-se de sua força com dor. Ele a levou para a cama muitas vezes durante
seu breve casamento. Ela adorava a maneira como se sentia em seus braços. A tristeza a
drenava da alegria.
Ele fingiu não notar sua tristeza. Ele tirou uma xícara do armário, obviamente, ele
tinha estado na casa de Mamie mais de uma vez e se serviu de café.
─ O seu precisa aquecer? - Perguntou ele.
─ Não. Está bem.
Ele sentou-se à mesa com ela, estudando seu rosto jovem, seus olhos castanhos e
suaves, os contornos inchados de seu corpo. Posse, ele pensou enquanto sorria
suavemente. Era o que sentia. Posse. Especialmente com a gravidez fazendo seu corpo
aumentar com seu filho.
─ O que, exatamente, está errado com essa perna? - Perguntou.
Ela fez uma careta.
─ Um corte profundo. Eu acho que pode ter causado danos a um músculo ou tendão. O
médico na época só suturou, mas ele disse que eu precisava consultar um especialista.
─ Eu entendo. - Ele disse bruscamente. ─ Você obteve uma segunda opinião?
Ela lhe deu um longo olhar falante.
─ Eu não compro na Neiman Marcus, dirijo um Jaguar ou passo verões na praia. - Ela
começou.
─ Oh inferno!
Ela corou.
─ Desculpe, eu vivo dentro das minhas posses. Tive a sorte de ter todos os cortes
suturados.
─ Que diabo de médico você teve?
─ Um muito ocupado e esgotado. - Disse ela, não gostando da memória do médico que
tinha feito o trabalho de sutura rápido na enfermaria. Ela era prisioneira, não era uma
aristocrata mimada. Da mesma forma, uma enfermeira havia questionado o cuidado
apressado do residente, mas, naquele momento, outra vítima de uma colisão devastadora
na estrada havia sido trazido e ela foi esquecida.
─ Você deve ver um especialista.
─ Vou ficar na esquina com uma xícara e solicitar doações a partir de amanhã. -
Prometeu.
Ele riu abruptamente. O som o surpreendeu. Ele não tinha percebido quanto tempo
tinha passado desde que sentiu vontade de rir. Ele a estudou silenciosamente e franziu a
testa. Ela nem sequer podia ter uma assistência médica decente, e era tudo culpa dele.
Os olhos claros brilharam passando sobre ela. Ela tinha sido esfaqueada e quase morta
em um ataque que poderia ter lhe custado a criança que ele nem sabia que ela estava
carregando. Um bebê. O bebê de Emma. Seus olhos se fecharam. A dor era
indescritível.
─ O que foi? - Perguntou ela.
Ele baixou o olhar para sua xícara, seu rosto tenso como um fio.
─ Minha esposa estava grávida. - Ele disse abruptamente, odiando o tom vacilante em
sua voz profunda. ─ Ela perdeu nosso filho. Eu falei sobre isso quando nos encontramos
na floresta.
Ele tomou um gole de café, queimando o lábio.
Ela não disse mais nada. Ela não sabia o que dizer.
Ele engoliu mais café.
─ Eu nem sei onde ela está agora. - Ele disse.
─ Você tentou encontrá-la?
Ele desviou os olhos.
─ Sim. É um país grande quando se procura uma pessoa.
─ Eu acho que sim. - Seu coração tinha saltado pelo simples pensamento de que ele
podia estar arrependido, que ele tentou encontrá-la.
Seus olhos pálidos se estreitaram.
─ Por que seu marido não quer uma criança? - Perguntou abruptamente.
Ela começou.
─ Ele... ele nunca disse, realmente. - Ela balbuciou.
─ Você disse que está com seis meses. - Ele insistiu.
Ela forçou um sorriso.
─ Quase sete. - Ela concordou. ─ Ele não a quer, mas eu sim, muito!
Quase nove. Ela estava mentindo sobre a data do parto, e ele sabia disso. Ele olhou
para ela com tanta fome que teve que olhar para o seu café para escondê-la.
─ Eu entendo.
Emma estava nervosa. Ele acreditava que ela era sua Emma. Ele não disse, mas isso
estava claro, o que dava no mesmo. Ela esperou tê-lo enganado com seu casamento
fictício e a falsa data do parto. Mas viu em seu rosto que ele não acreditou em uma
palavra. Ele sabia quem ela era!
Ela levantou. Não o tinha enganado. Foi uma falta de sorte ele ter voltado para casa
inesperadamente, que ele tivesse decidido ficar no lago. E o que ela faria agora?
Ela recuou, segurando a cadeira enquanto procurava em sua mente enevoada por uma
opção, qualquer opção, para salvar seu filho.
Seus cabelos longos e suaves soltaram do prendedor e caíram sobre seus ombros
como uma nuvem de ouro vermelho. Agora que ele estava próximo, podia dizer que as
raízes eram loiras. Louro platinado.
Ela colocou uma mão protetora sobre a barriga inchada.
─ Você sabe. Não sabe? - Ela perguntou, seus grandes olhos castanhos acusadores e
assustados em seu rosto tenso, enquanto ele também se levantou.
Ele a estudou com avidez.
─ Sim querida. Eu sei.
─ Não vou fazer isso.
Ele franziu o cenho.
─ Fazer o que?
─ Eu não vou desistir da criança. - Ela disse, sua voz falhando. ─ Eu vou fugir. Eu vou
me esconder. Eu farei qualquer coisa... - Ela estava quase gritando.
Ele avançou rapidamente e a pegou em seus braços, abraçando-a fortemente contra
ele, embalando-a com desespero.
─ Já cometi muitos erros. - Ele sussurrou em sua garganta, onde seu rosto estava
enterrado, na suavidade de seus cabelos. ─ Eu não vou fazer isso. Eu juro que não vou!
Eu nunca faria nada para machucar nosso filho, Emma!
Ela estava tremendo. Ele havia dito "nosso" filho. Ela se acalmou em seus braços. E
parou de lutar contra ele.
Ele a sentiu se acalmar. Isso subiu a sua cabeça como licor. Seus braços deslizaram
ao redor dela, protegendo-a, confortando-a. Contra seu estômago, ele sentiu o abdomem
arredondado dela.
─ Você tem meu filho dentro de você. - Ele sussurrou. E ele soou... fascinado.
Maravilhado.
─ Você não... me forçará a fazer nada? - Ela implorou.
─ Oh, Emma. - Ele gemeu. ─ Não! Deus, não!
Ela deixou o medo de lado, pouco a pouco, e o abraçou.
─ Eu estava com tanto medo. - Ela engasgou.
─ Eu sei. Como eu começo a me desculpar pelo que fiz com você? - Ele perguntou com
voz rouca. ─ Eu pensei que você tinha me enganado, me seduzido para casar com você.
Eu não sabia, não suspeitava, que era você quem dirigia a lancha. Quando descobri,
fiquei louco. Não há outra maneira de explicá-lo. - Ele recuou, para poder ver o rosto
corado dela. ─ Eu estava fora do meu juízo. - Ele passou seus dedos quentes e fortes
pela bochecha dela. ─ Você estava sempre lá quando eu mais precisava de você. Eu me
acostumei a tê-la por aí. Eu queria você. Mas nunca pensei em seus sentimentos. Na
verdade, eu os ignorei. Você vê, Emma, eu não queria compromisso. Eu não acreditava
em para sempre.
─ Eu sei disso. - Disse ela, sentindo seu coração quebrar. Ele estava dizendo a ela que
ele não a queria permanentemente. Ele provavelmente também não queria o bebê,
realmente, mas ele iria fazer o melhor, por se sentir culpado.
Ele estava tentando expressar sentimentos que realmente nunca teve, e falhando
miseravelmente. Ele não era um homem que compartilhava algo sobre si mesmo,
mesmo com seus amigos mais próximos. Ele respirou fundo.
─ Depois que perdi minha primeira esposa, eu me voltei para mim mesmo. - Disse ele.
─ Eu senti tanta culpa. - Ele tentava controlar a dor da recordação. ─ E então eu fiz tudo
de novo. Eu expulsei você e não pensei no que poderia acontecer. Eu queria vingança.
─ Eu sei. - Ela disse com tristeza. ─ Foi minha culpa.
─ Foi um acidente, Emma. - Ele interrompeu. ─ Eu estava no Jet Ski, sem prestar
atenção, e você estava numa lancha rápida, sem prestar atenção. Fiquei cego, ou pensei
que estava. - Ele sorriu com tristeza. ─ Você veio trabalhar para mim, tentando corrigir
o que fez. Não foi?
Ela assentiu com tristeza.
─ Eu ia confessar, no primeiro dia em que eu te encontrei na margem do lago, depois
que você estava... cego. Mas fiquei com medo. Então, quando você me ofereceu o
trabalho, eu pensei, "Eu vou deixá-lo me conhecer, e então eu conto a ele, quando ele
souber que tipo de pessoa eu realmente sou. - Ela mordeu o lábio e ele parecia
paralisado. ─ Mas não funcionou assim dessa maneira.
Seus olhos se fecharam em uma onda de tristeza.
─ Querido Deus, o que eu fiz com você!
Emma quase engasgou em sua própria dor. Ela não sabia que ele achava que era tão
culpado quanto ela.
Ele respirou fundo.
─ Nós nos casamos. Eu estava no topo do mundo, mesmo cego. Então, meu detetive
particular me disse que eu havia me casado com a mulher que me cegou. - Ele sorriu
com tristeza. ─ Eu fui ao fundo do poço. Eu reagi sem pensar. Eu fiz você ser presa e
enviada para a prisão. Me embriaguei e fiquei assim por semanas. Então eu caí e bati a
cabeça. Quando levantei estava vendo novamente. Eles tentaram me dizer que a
cegueira era psicológica, não biológica, mas eu não queria ouvir. Demorou semanas
para me acostumar com o fato de que podia ver. - Ele baixou os olhos. ─ Deus é minha
testemunha de que pensei que seu pai ou Mamie iam resgatado você no dia seguinte a
sua prisão. Eu não tinha nenhuma ideia de que você ainda estava presa. Que você estava
em tão grande perigo. - Ele engoliu em seco, com força, para evitar não se deixar
envolver pelo sofrimento. ─ Eu queria encontrar você, para me desculpar. Mas depois
que Alistair me contou o que aconteceu, eu parei de procurar. - Ele estudou seus suaves
olhos castanhos. ─ Lembra-se do que eu disse, sobre a música que minha mãe gostava
na "Era das trevas"? - Disse ele, sorrindo. ─ Você não sabe o que tem até que tenha
perdido. - O sorriso desapareceu. ─ Eu não sabia.
Seus olhos estavam suaves, mas perturbados. Ele podia estar dizendo a verdade, ou
não. Se ele realmente não queria uma criança, ele poderia só estar fingindo. E ainda
podia ter segundas intenções.
Ela soltou-se lentamente de seus braços para lavar a cafeteira, fazendo uma careta em
cada passo dado.
─ Você precisa que alguém examine essa perna. - Ele disse com firmeza. ─ Não deve
ser fácil, com o peso extra que a gravidez coloca sobre ela.
Ela o ignorou e continuou a lavar a cafeira.
─ Eu poderia pagar o especialista. - Ele começou.
─ Mas não vai. - Ela respondeu.
─ Maldição!
Ela guardou a cafeteira e virou-se.
─ Você realmente é uma pessoa desagradável.
Ele resmungou.
─ Sim. - E se moveu para entregar-lhe sua xícara. Ela mal chegava ao seu queixo. Ele
sentiu muita falta dela. ─ Venha para casa.
Ela fez uma careta.
─ Eu estou em casa. Eu moro aqui.
─ Marie poderia cozinhar refeições nutritivas para você. - Ele fez uma pausa. ─ Você
pode ter um aparelho de TV a cores em seu quarto. Podemos comprar móveis para o
bebê.
─ Não seria certo.
─ Emma, você entende que ainda somos casados? - Ele perguntou suavemente.
Ela quase deixou cair a xícara. Ela a colocou no escorredor de pratos e virou-se, com
o rosto pálido.
─ O que?
─ Eu joguei os papéis do divórcio no fogo. - Ele disse calmamente. ─ Eles nunca foram
apresentados ao juiz.
─ Mas... por quê? - Ela indicou seu disfarce e vestido barato. ─ Quero dizer, olhe pra
mim. Sou pobre, simples, não sou nada. O que você quer comigo?
─ Você é um anjo, Emma. - Ele disse calmamente, e seus olhos a estavam comendo. ─
Você tem um coração tão grande quanto o mundo inteiro. Eu sou um dos homens mais
ricos da América, mas sou pobre sem você.
Ela mordeu o lábio e lutou com as lágrimas.
─ O bebê vai te incomodar quando nascer. - Ela disse obstinadamente. ─ Você não
gosta de interrupções. Ele vai chorar e eu vou ter que estar com ele todas as horas...
Ele avançou e a atraiu para si.
─ Nós vamos ficar com ele todas as horas. - Disse ele simplesmente. Ele olhou em
volta. ─ Este não é um lugar para você. Meu melhor amigo é um obstetra. Ele atende
em Atlanta, mas mantém um consultório aqui. Ele vai te tratar.
─ Eu não posso...
─ Se você disser pagar, eu vou ter um ataque de raiva aqui mesmo. - Ele ameaçou. Suas
mãos apertaram seus braços. ─ Bebê, sua mãe morreu no parto. Não esqueci disso. Não
vou arriscar sua vida. Não pense em me pedir isso.
Soava como se ela significasse algo para ele. Mas ela estava cautelosa. Os meses
recentes endureceram seu coração, a deixaram desconfortável em torno das pessoas,
desconfiada.
─ Eu sei. Você não confia em mim. Está tudo bem. Eu não espero que você confie.
Apenas tente acreditar que eu quero o que é melhor para você e para o nosso filho. Se
você quiser pensar que estou fazendo isso por culpa, tudo bem. Mas volte para casa
comigo. Deixe-me cuidar de você, Emma.
Ela procurou seus olhos pálidos.
─ E se eu quiser voltar para o Texas e viver com minha prima quando o bebê nascer,
você tentará me impedir?
─ Não, se eu estiver convencido de que você realmente quer ir. - Ele não acrescentou
que não havia nada no mundo que o fizesse permitir que isso acontecesse.
Ela respirou profundamente e pensou por um minuto.
─ Tudo bem então. Eu irei com você.
─ Eu vou chamar Marie para ajudá-la a fazer as malas. - Ele pegou o celular.
─ Connor, são mais de três da manhã! Ela está dormindo!
Ele hesitou, depois fez uma careta.
─ Tudo certo. Eu vou ajudá-la a fazer as malas. - Acrescentou, agindo como se estivesse
sendo convidado a ir para a forca.
Ela não conseguiu resistir a dar um sorriso fraco.
─ Se eu puder ir como estou, eu vou. Não precisarei de nada para esta noite exceto meu
remédio de azia. Está no escritório.
Ele franziu a testa.
─ Azia?
─ É comum com as mulheres grávidas.
Ele a estudou com olhos quentes e suaves.
─ Azia.
─ Ele acompanha a bexiga hiperativa.
Ele franziu os lábios.
─ Você pode ficar no quarto ao lado do meu. Se você precisar de alguma coisa à noite,
estarei por perto.
Ela ficou surpresa, e demonstrou. Ela nunca pensou que ele era do tipo cuidador.
Ele se aproximou.
─ Você se sentava comigo quando eu tinha enxaquecas. - Ele disse gentilmente. ─
Mesmo quando eu vomitei. Não consigo pensar em uma mulher em toda a minha vida,
exceto a minha mãe, que teria feito isso. Certamente, não a minha primeira esposa.
─ Ah.
Ele acariciou sua bochecha macia.
─ Eu cuidarei de você agora. - Ele disse suavemente. ─ É a minha vez. - Ele curvou-se e
passou sua boca dura com ternura sobre a dela. ─ Vamos para casa, Emma.
Ela deveria mandar examinar sua cabeça, estava pensando. Mas ela o deixou segurar
sua mão e levá-la porta afora .

***
Marie ficou eufórica quando acordou na manhã seguinte e encontrou Emma de volta
à residência.
─ Eu vou fazer panquecas de morango e salsichas agora mesmo! - Exclamou ela,
brincando com a mulher mais jovem, ainda sonolenta. Sabia que eram os pratos
favoritos de Emma.
Emma riu.
─ Obrigada, Marie.
─ Ovos para mim. - Connor disse da porta. Seus olhos estavam se saciando com a visão
de Emma em sua casa, em sua vida. Ele parecia um homem que tinha o mundo inteiro.
Seria perfeito se ela ainda o amasse. Mas ele não podia esperar isso. Não depois do que
tinha feito com ela. Ele se contentaria com o que pudesse ter de afeto. ─ Sem
panquecas.
─ Sim, senhor. - Disse Marie com um sorriso e partiu para cozinhar.
─ Você parece melhor esta manhã. - Connor disse a ela.
Ela afastou os cabelos desgrenhados.
─ Eu não tenho dormido bem. - Ela confessou. ─ Esta cama é muito melhor do que
aquela no quarto de hóspedes de Mamie, mas não se atreva a contar a ela! - Ela estava
rindo, mas gritou suavemente e depois riu novamente.
─ O que é? - Perguntou preocupado, aproximando-se. ─ O que há de errado, Emma?
─ Está tudo bem, tudo bem... - Ela pegou a mão dele, e a colocou na barriga inchada.
Ao lado do umbigo e esperou. Algo sob a mão dele se mexeu. Seu rosto corou e ele
tentou retirar a mão. Ela segurou a mão dele no lugar.
─ É o bebê. - Ela sussurrou. ─ Ele se move. Você consegue sentir o punho?
Ele estava fascinado agora. Se sentou ao lado dela e espalhou sua grande mão sobre a
superfície do seu ventre. Ele pressionou os dedos e sentiu um pequeno punho se
movendo contra a parede da barriga.
─ Bom Deus! - Ele suspirou. ─ Eu nunca soube que eles se moviam! - Seu rosto estava
radiante.
Ela riu suavemente.
Seus olhares se encontraram. Um choque de pura eletricidade fez as bochechas dela
corarem, e se propagou até os seus dedos dos pés. Ele percebeu isso, a besta presunçosa.
Mas o olhar no rosto não era arrogante. Era de satisfação. Satisfação completa.
Ele se levantou antes dela ter tempo para saborear o que estava sentindo.
─ Eu tenho que sair e ganhar a vida depois do café da manhã. Deus sabe, quando ele
tiver alguns anos de idade, ele vai acabar com tudo o que temos dentro de casa.
─ Ele? - Ela provocou.
Ele franziu o cenho.
─ Ela?
─ Eu não sei. - Ela confessou. ─ Eu não fiz os exames.
─ Eu vou marcar uma consulta com Harry, meu amigo médico. Você não quer correr
riscos, Emma. Nem eu. Tudo bem?
Ela concordou relutantemente. Ela ainda não confiava nele.
─ Ele não fará nada comigo, não é?
─ Não, querida. - Disse ele. ─ Eu prometo.
Ela relaxou um pouco.
─ Desculpe. - Disse ela. ─ Isso foi... grosseiro.
O rosto dele contraiu.
─ Você está segura agora. Ninguém nunca mais magoará você. - Ele se virou. ─ Vou
tomar o café da manhã. Então eu tenho que voar para Nova York para uma reunião.
Prefiro não ir, o clima é horrível, mas é uma fusão e eu tenho que assinar os papéis.
─ Compreendo.
─ Marie e Barnes vão cuidar de você. Tudo vai ficar bem.
Ela queria dizer-lhe para ter cuidado, mas estava preocupada em parecer intrometida.
Era muito cedo para começar a mostrar tanta preocupação. Ela sabia que ele estava
desconfortável com ela agora. É melhor deixar as coisas como estão.

***
Seis dias depois, ele estava de volta.
Ela estava sentada na sala de estar, tricotando, quando Marie abriu a porta e deixou-o
entrar. O cabelo preto e ondulado estava úmido da chuva. Ele estava vestindo um terno
azul-marinho com uma camisa branca cara e gravata de seda, tudo sob uma capa de
chuva igualmente cara e escura.
Ele sorriu para Marie e entrou na sala onde estava Emma.
─ Eu trouxe-lhe algo de Nova York. - Disse ele, entregando-lhe uma sacola. ─ Como
está sua perna?
─ Melhor, obrigada. - Ela olhou para a sacola.
─ Não há necessidade de tentar usar habilidades psíquicas para descobrir o que está
nela. - Disse ele, tirando sua capa de chuva. ─ Apenas abra.
Ela olhou para ele, mas abriu. Havia uma pequena gatinha de pelúcia dentro, uma
gatinha amarelo-alaranjado com olhos castanhos.
─ Oh. - Ela exclamou suavemente.
Ele sorriu.
─ Ela me lembrou de você.
Ela passou a mão sobre a pequena coisa sedosa.
─ Obrigada. - Ela disse timidamente. ─ Café?
─ Sim. Mas você precisa de descafeinado, mãezinha. - Ele provocou suavemente
enquanto caminhavam para a cozinha.
Marie viu-os chegar e riu.
─ Forte e descafeinado. - Ela adivinhou. ─ Eu cuido disso.
─ Obrigado, Marie. - Disse ele, sorrindo.
Ele puxou uma cadeira e se sentou, bocejando.
─ Eu fiquei acordado a maior parte da noite. - Ele disse quando ela olhou para ele com
curiosidade. ─ Eu acho que minha idade está me alcançando.
Ela apenas sorriu. Ela estava preocupada de que uma de suas amantes tivesse
causado a falta de sono.
Ele inclinou a cabeça e a estudou com orgulho visível.
─ Melhorou da azia?
Ela riu suavemente.
─ Nunca fica melhor. A parteira diz que são ossos do ofício.
Seu rosto contraiu.
─ Liguei para Harry Weems no caminho de casa. Sua enfermeira vai telefonar esta
manhã para marcar a consulta. ─ Você vai. - Disse ele quando ela tentou protestar. ─ Eu
não vou arriscar a sua saúde e a saúde da nossa criança com uma parteira, por mais
qualificada que ela seja, e não com o histórico médico de sua mãe.
Ela se sentiu lisonjeada de que ele se importasse mesmo com isso. Talvez ele
estivesse envolvido ao máximo por sua consciência culpada, mas ela podia fingir que
ele a amava. Uma vez, ele parecia estar perto disso. Mas o bebê lhes daria algo para
construir. Se ele pudesse amá-lo, ele poderia um dia amar Emma.
─ Tudo bem, Connor. - Ela disse, sua voz suave e calma na quietude da cozinha,
quebrada apenas pelo barulho da cafeteira.
Marie fez o café para Connor em uma máquina de café expresso. Ele gostava de café
forte. Mas ela tinha uma pequena cafeteira, e ela fez o descafeinado de Emma nela.
Felizmente, era uma grande cozinha com bastante espaço no balcão.
─ Forte e fraco. - Provocou Marie enquanto colocava uma espessa caneca de café na
frente de cada um. Ela tinha aprendido há muito tempo que Connor não se importava
com delicada porcelana chinesa na mesa da cozinha e odiava a sala de jantar formal. Ela
era usada apenas para os hóspedes.
─ Obrigada, Marie. - Disse Emma, sorrindo.
─ Você precisa beber mais leite. - Marie repreendeu. ─ E você deveria tomar vitaminas.
O telefone tocou.
─ Isso são suas vitaminas ligando para você agora. - Connor riu. Ele indicou o celular
de Emma, colocado ao lado da xícara de café. ─ Atenda.
Ela fez uma careta para ele. Era a enfermeira do Dr. Weems, que parecia muito
gentil. Ela marcou a consulta de Emma para o dia seguinte. Emma concordou,
agradeceu. E desligou.
─ Ele vai me atender pela manhã. - Disse ela, chocada. ─ Mas pensei que demorava
semanas para conseguir uma consulta com ele.
─ Ele é meu melhor amigo. - Respondeu Connor. Seus olhos estavam em Emma. ─
Quando eu disse a ele que era meu filho. - Ele disse com um sorriso. - Ele ficou quase
tão animado quanto eu.
Emma o estudou cautelosamente. Ela ainda não confiava nele.
Ele entrecruzou os dedos nos dela.
─ Você quer que ele lhe diga o sexo do bebê? - Ele perguntou suavemente.
Ela suspirou. O toque de sua mão na dela estava delicioso.
─ Acho que não. Eu estou com quase nove meses. - Disse ela devagar. ─ Nós
saberemos em breve quando o bebê nascer.
Ele trouxe a palma da mão dela até sua boca e beijou-a suavemente.
─ O que você quiser, querida . - Disse ele.
Ela procurou seu rosto duro e largo com os olhos curiosos.
─ Você teve uma irmã?
Ele sabia o que ela estava perguntando. E riu.
─ Não. Nem meu pai. Ou meu avô. - Ele franziu os lábios. ─ Então, uma menininha é
improvável. - Seu rosto suavizou enquanto ele a olhava. ─ Eu amaria uma menininha,
Emma. - Ele disse roucamente, e beijou sua palma novamente.
Ela se arrepiou por toda parte. E mal conseguia recuperar o fôlego. O bebê chutou,
forte, e ela pulou e riu.
─ O que é isso? - Ele perguntou, preocupado.
Ela colocou a mão livre em seu abdômen.
─ Eu acho que seu filho está concordando que ele não é uma garota. - Ela provocou.
Seu rosto irradiava alegria.
Ela pensou na consulta do dia seguinte e mordeu o lábio inferior.
─ Dr. Weems... ele é legal?
─ Ele é um dos melhores homens que conheço. Se você estiver nervosa, irei com você. -
Disse ele.
Ela estava chocada.
─ Mas todos saberão, se você fizer isso.
─ Saber o que? Que eu sou seu marido ou o pai do seu filho? Ou ambos? - Ele provocou
gentilmente. ─ Não me importo, Emma. Eu tenho pessoas suficientes para manter a
imprensa longe de nós. Não nos incomodarão aqui.
─ Eles vão pensar que você perdeu a cabeça quando eles me virem. - Ela se preocupou.
─ Os preços das ações cairão...
Ele apenas riu.
─ Eles vão pensar que finalmente eu recuperei o juízo. - Ele corrigiu. ─ Então está
resolvido. Iremos à consulta juntos. - Ele pegou o telefone e começou telefonar, a
primeira ligação foi para Tonia.
─ Sim, foi o que eu disse, Emma está grávida. Na verdade, ela está quase tendo o bebê
agora. - Ele sorriu enquanto ouvia. ─ Foi o que eu disse a ela... Ok. Ligue para o nosso
pessoal de relações públicas e mande-os liberar a notícia apenas para o jornal de Kane
Lombard. Dê-lhes um exclusivo. Isso deve afastar o resto deles de nossas costas, pelo
menos até o bebê nascer... Claro. Obrigado, Tonia. - Ele riu. ─ Eu vou contar a ela.
Tchau.
Ele desligou e olhou para Emma.
─ Ela pediu para eu dizer que você deveria ser colocada no livro dos recordes,
considerando quanto tempo eu evitei a paternidade.
Ela abaixou os olhos.
─ Foi minha culpa. - Disse ela, e sentiu-se culpada. ─ Eu não usei nada. - Ela
acrescentou, baixando a voz para que Marie que estava arrumando a sala de estar, não
ouvisse.
─ Nem eu. - Ele respondeu. ─ Você não percebeu? Fui de cabeça, querida. Uma vez,
quando estávamos fazendo um amor tão lento e suave, eu até pensei em fazer um bebê. -
Ele sussurrou, enterrando a boca na palma da mão dela. ─ Eu sempre fui fanático por
prevenção, mas eu nunca perguntei se você tinha começado a usar a pílula, não é?
Ela balançou a cabeça. O toque de sua boca em sua palma a eletrizava. Ela mal podia
respirar.
─ Não posso te pedir para perdoar tanto. - Ele sussurrou. ─ Mas vou tentar compensar
você, Emma. - Ele acrescentou ternamente, procurando seus grandes e suaves olhos
castanhos. ─ Eu farei qualquer coisa para te fazer feliz.
─ O bebê significará muitas mudanças. - disse ela.
Ele encolheu os ombros.
─ Vamos lidar com isso.
Ela se perguntou se ele tinha alguma ideia de como eram realmente os bebês. Ela
morava com os Griers e sabia sobre cuidar de bebês. Eles eram barulhentos e haveria
brinquedos espalhados por toda a casa. Mas talvez ele estivesse certo. Ele poderia
aprender a tolerar o bebê, mesmo que ele não estivesse tão entusiasmado com a
paternidade como parecia estar.
Os Griers. Ela gemeu interiormente. Ela não contou nada a eles. Teve muito medo de
colocá-los na linha de fogo quando estava com problemas com a lei, e não quis
importuná-los quando soube que estava grávida. Ela se comunicava com Tippy, mas ela
não mencionava a gravidez ou o casamento, nem o homem na sua vida. Ela mentiu e
disse que o trabalho a mantinha ocupada e estava feliz. Tippy acreditava nela, porque
Emma nunca tinha mentido para ela.
─ O que há de errado? Você parece preocupada. - Connor disse suavemente.
─ Eu tenho amigos no Texas. - Disse ela. ─ Eu passei a morar com eles quando meu
pai... - Ela mordeu com força o lábio inferior.
Ele estava lembrando coisas desde os primeiros dias em que conheceu Emma,
quando falou sobre seu pai alcoólatra.
─ Seu pai bebia. - Lembrou ele. Seu rosto endureceu. ─ Ele batia em você.
Ela respirou fundo.
─ Foi há muito tempo. Os Griers me levaram quando eu não tinha lugar para ir. Vivi
com eles e trabalhei como cozinheira em um café local. Muitas vezes eu cuidava de seus
dois filhos enquanto eles faziam compras ou se ela precisava viajar com ele. Ele dá
palestras na Academia do FBI uma ou duas vezes.
Ele franziu a testa.
─ Você nunca os mencionou.
Ela suspirou.
─ Eu estava tentando esconder meu passado de você, enquanto eu tentava encontrar
coragem suficiente para confessar o que eu fiz. - Disse ela com tristeza. ─ Eu estava
com medo de que, se você soubesse sobre eles, você poderia se vingar deles também, se
descobrisse quem eu era.
Ele abaixou os olhos. Seus dedos entrecruzados com os dela.
─ Eu não sou uma pessoa boa, Emma. - Disse ele depois de um minuto. ─ Eu sempre
me envolvi em vingança. Eu me vinguei de pessoas pelas ofensas mais leves. - Ele
acariciou os dedos dela com os seus. ─ É difícil mudar os hábitos de uma vida inteira.
Mas depois do que eu fiz com você, perdi o gosto por me vingar das pessoas. - Ele
sorriu maliciosamente. ─ Suponho que seja preciso uma forte sacudida para nos fazer
ver a nós mesmos. Não gostei do que vi. Fui todo o caminho para a França, tentando
não enfrentar o que fiz. - Ele acrescentou com voz rouca. ─ Eu sinto muito mais do que
você um dia saberá pelo que eu fiz com você. ─ Ele procurou seus belos olhos
castanhos. ─ Mas eu não me arrependo de deixar você grávida. - Ele acrescentou
bruscamente. ─ É a única coisa em toda a minha maldita vida condenada que eu fiz
corretamente.
Ela corou de prazer.
─ Verdade? - Ela perguntou.
Seus dedos se contraíram.
─ Verdade. - Ele respondeu. E respirou fundo. ─ Oh, bebê, tem sido longos meses.
Tanto tempo!
O rubor tornou-se mais intenso. Ele só a chamava assim, com o apelido carinhoso na
cama, e isso trouxe lembranças calorosas da paixão ardente. Ele também estava se
lembrando. Seus grandes dedos se moveram lentamente entre os dela em um
movimento lento e sensual.
─ Depois que o bebê chegar. - Ele sussurrou, tomando cuidado com os espiões. ─
Podemos nos trancar em um quarto e não sair mais.
Ela riu.
─ Connor!
Ele levou os dedos dela para os lábios e mordiscou as pontas.
─ Foi um período longo de seca para mim. - Ele disse, sua voz rouca de desejo. ─
Muito longo.
As sobrancelhas dela arquearam.
─ Um período de seca?
─ Sem mulheres, Emma.
O coração dela pulou.
─ Você n... não está falando sério. - Ela balbuciou.
─ Eu estou falando absolutamente sério. - Seus olhos se fixaram na linda boca em forma
de arco. ─ Um homem que se acostuma com o champanhe mais caro não é susceptível
de desenvolver de repente um gosto por cerveja barata. - Disse.
─ Você foi a festas na França. - Ela disse, e sua voz soava fraca. ─ Estava em todos os
jornais. Você estava dançando com uma morena alta...
─ Dançando, sim. - Ele concordou. ─ Nada além de dançar. Nunca. Com nenhuma. Não
depois de termos estado juntos. - Ele acrescentou suave e enfaticamente, cada palavra.
─ Nunca depois de você, bebê. Eu não poderia.
Lágrimas caíram dos olhos dela. Ela não esperava isso. Talvez fosse culpa, e apenas
culpa, mas as palavras a tocaram. Ela certamente estava mais emotiva nos dias de hoje,
por causa do bebê.
Ele se levantou, pegou-a e sentou-se com ela no colo. Ele beijou as lágrimas.
─ Está tudo bem. - Ele sussurrou. ─ Eu vou cuidar muito bem de você, Emma. - Sua
boca era quente, lenta e terna. ─ Você e o bebê. Meu bebê. Nosso bebê. - Ele enterrou o
rosto na garganta quente. ─ Meu Deus, eu estava louco de preocupação! Eu não sabia
onde você estava, o que tinha acontecido com você, se você estava bem. - Seus braços
se contraíram, enquanto ela se sentia como um tesouro. ─ É como voltar para casa, ter
você aqui, na minha casa, na minha vida.
Era para ela, também, mas logo que ia começar a dizer isso, Marie voltou para a sala
e sorriu com alegria aos ver os dois.
─ Você gostaria de almoçar? Ela provocou. ─ Eu fiz uma salada de macarrão.
Connor ergueu a cabeça e procurou os olhos de Emma. Ele sorriu.
─ Isso seria bom. Obrigado.
Emma sorriu de volta.

CAPÍTULO DEZESSETE
Connor foi com ela para a consulta com o Dr. Weems. Ele até entrou na sala de
exame, trocando um forte abraço com o homem mais alto e mais magro.
─ Harry e eu fomos à faculdade juntos. - Connor disse a Emma. ─ No entanto, ele era
mais inteligente. Eu me formei em negócios. Ele como o mais inteligente fez medicina.
─ Não o deixe enganá-la. Ele é inteligente. - Harry sorriu. ─ Ok, quando foi sua última
menstruação? - Perguntou a Emma, e olhou para a indignação de Connor. ─ Ela pode
me dizer. - Ele acrescentou com uma risada. ─ Eu sou o obstetra, lembra?
Connor cerrou os dentes.
─ Desculpa.
Emma estava ligeiramente surpresa com a reação dele. Ela observou o rosto dele
com curiosidade.
─ As mulheres me amam. - Harry disse a ela. ─ Elas caem sobre mim, especialmente no
último mês de gravidez antes do bebê nascer. Uma mulher até me propôs casamento
durante o parto e ela estava casada e feliz há dez anos. Ele está com ciúmes. - Ele
acrescentou, seus olhos escuros cintilando enquanto olhava para Connor.
Emma ficou fascinada.
Aparentemente, Connor não gostava que ela soubesse como ele se sentia, então ele se
desculpou enquanto Emma passava por alguns exames e respondia a algumas perguntas.
Quando ela voltou, estava corada e um pouco preocupada.
─ Ele diz que meu colo do útero está inclinado para o lado errado. - Ela disse no carro a
caminho de casa. A janela na limosine entre eles e Barnes estava fechada, então ela se
sentiu confortável conversando com Connor. ─ Ele disse que era quase um milagre eu
engravidar. O bebê está bem. Eles fizeram uma amniocentese para se certificar. É
apenas...
─ O que, querida? - Ele perguntou suavemente.
Ela respirou fundo.
─ Eu estou assustada.
Ele sabia por que, sem precisar perguntar. Ele a puxou para dentro de seus braços e a
segurou, seus lábios em sua têmpora.
─ Eu estou bem aqui. Estarei com você o tempo todo. Eu prometo.
Ela relaxou.
─ Tudo bem.
Ele a abraçou fortemente. Pelo menos ela não o odiava. Já era alguma coisa.

***
Ela dormiu agitada naquela noite. E teve um pesadelo. Connor estava longe e ela
podia vê-lo, mas ele não podia ouvi-la. Ela estava gritando que o amava, mas ele
simplesmente se afastava. Quando acordou e percebeu que era um pesadelo, ainda não
se sentiu confortável.
O sentimento piorou no café da manhã quando ele anunciou que tinha que voar para
o Arizona para assinar alguns contratos em uma parceria para sua divisão aeroespacial.
Emma sentiu calafrios enquanto ele falava.
─ Só vou ficar um dia mais ou menos. - Ele prometeu.
─ Você vai no jato da empresa? - Perguntou ela.
Ele balançou a cabeça negando.
─ Classe executiva em uma companhia aérea comercial. Pessimista. Tudo certo?
Ela sorriu.
─ Tudo.
─ Então você se preocupa comigo, não é? - Ele provocou, embora o olhar no rosto
estivesse estranhamente expectante, esperançoso.
─ Eu me preocupo com você. - Ela confessou. ─ Tenha cuidado.
Ele sorriu.
─ Sempre.

***

Dois dias se transformaram em cinco. Ele telefonou para ela todas as noites para
conversar. Ela estava preocupada por que a data do parto se aproximava, mas tentou não
deixar seu medo se infiltrar na conversa. Estava sendo fantasiosa, pensou. Se ele estava
em um voo comercial, não havia nada com que se preocupar. Todas as companhias
aéreas tinham excelentes níveis de segurança, e ele construía aeronaves. Ele deveria
saber qual companhia aérea era a mais segura.
Um carpinteiro apareceu no segundo dia após a partida de Connor. Ele disse que
havia uma restauração necessária no escritório de Connor. Emma estava desconfiada,
mas Marie entrou na sala e cumprimentou o homem como um velho amigo. Ele era
aproximadamente da idade dela.
─ Este é Danny Barton. - Marie apresentou-o. ─ Nós estivemos no colégio juntos. Ele é
um mestre carpinteiro.
─ Prazer em conhecê-lo. - Disse Emma, sorrindo. ─ Eu sou Emma.
─ A esposa do Sr. Sinclair? Prazer em conhecê-la também. E parabéns.
─ Obrigada. - Ela colocou a mão sobre a barriga. ─ Poucos dias agora. - Ela suspirou
com saudade.
─ Onde é necessário o reparo? Eu quero ver para saber quanto material eu vou precisar
e o que eu vou ter que fazer para consertá-lo.
─ Está por aqui, perto do teto. - Marie apontou para um ponto no painel de madeira. Era
uma mancha redonda, estilhaçada.
Emma franziu o cenho.
─ Isso parece um buraco de bala.
─ Isso é o que é. - Disse Marie calmamente. ─ Nós vamos deixar você trabalhar,
Danny. - Ele assentiu, já montando sua escada para escalar para fazer o conserto.
─ É um buraco de bala? - Emma perguntou quando estavam na sala de estar, fechando a
porta do escritório.
Marie parecia desconfortável.
─ Sim. - Disse ela. Ela procurou os olhos de Emma. ─ O Sr. Sinclair não lhe disse o que
aconteceu?
Ela fez uma careta.
─ Nós estamos como pisando em ovos um com o outro desde que ele me reconheceu. -
Ela confessou. Seus olhos abaixaram. ─ Eu morreria por ele, Marie, e essa é a pura
verdade. Mas ele nunca diz o que sente.
Marie sorriu e puxou-a para a cozinha.
─ Que tal uma boa xícara de chá? - Perguntou ela. ─ E eu vou falar sobre isso.

***

Marie esperou até beberem o chá antes de começar a falar.


─ Aconteceu quando voltamos da França. - Disse ela. ─ O Sr. Sinclair estava no
escritório, ela indicou a parte da casa onde estava, e o Sr. Sims veio falar sobre o
divórcio. Ele enviou os papéis para que você assinasse, você se lembra. Então, o Sr.
Sinclair perguntou onde você estava, e o Sr. Sims disse que você ainda estava na prisão.
- Ela respirou fundo e tomou um gole de chá quente, observando o olhar fixo de Emma.
─ O Sr. Sinclair pensou que você estava em liberdade durante todo o tempo. Ele podia
enxergar novamente, e não estava tão... bem, tão irritado. Ele ficou chocado. Ele disse
ao Sr. Sims para tirá-la de lá no mesmo dia, não importava o que tivesse que fazer. - Ela
brincou com a xícara. A memória era dolorosa. ─ Foi quando o Sr. Sims lhe contou o
que aconteceu com você, e que você perdeu o bebê, porque foi o que lhe foi dito.
─ Foi o que eu pensei que tivesse acontecido. - Disse Emma. ─ Só depois que o médico
suturou as minhas feridas é que ele disse que o canivete não havia penetrado muito
profundamente. Tive muita sorte!
─ De qualquer forma, eu ouvi uma briga e um tiro de pistola. Corri para ver qual era o
problema. O Sr. Sims estava gritando por Barnes e tentando conter o Sr. Sinclair. - Ela
encontrou os olhos chocados de Emma. ─ Eu nunca vi o chefe assim. Ele estava
soluçando... - Ela engoliu em seco, com dificuldade. Emma também. ─ Eles tiraram a
pistola dele e fecharam a porta.
─ Querido Deus. - Emma sussurrou as palavras com reverência ao perceber o quão
profundamente Connor gostava dela. Se eles não tivessem tirado a pistola dele a tempo!
Ela lutou com as lágrimas.
─ Eu não o culpei, você sabe. - Disse ela com força. ─ Eu o amei tanto. Eu pensei que
merecia o que aconteceu, por cegá-lo. Tinha certeza de que ele me odiava. E eu tive
medo pelo meu bebê. Você sabe o que ele sempre disse, sobre nunca querer um.
─ Certamente não é o caso agora. - Marie respondeu, e sorriu. ─ Você teve momentos
difíceis, Emma. Você está precisando de um pouco de felicidade.
─ Ele também está. - Respondeu Emma. Inspirou fundo e soltou o ar. ─ De qualquer
forma, ele sente algo por mim.
─ Algo muito profundo. - Concordou Marie. ─ Ele não é um homem de falar sobre seus
sentimentos, mas é fácil saber por sua maneira de agir. Nunca o vi mostrar ternura por
uma mulher. Qualquer mulher. E ele fala sobre esse bebê o tempo todo. - Ela riu. ─
Imagine, o chefe está ansioso para ser pai. É realmente um milagre.
─ Para mim, certamente é. - Disse Emma. Ela sorveu o chá e sentiu o calor escorrer por
ela. Um calor semelhante atingiu seu coração. Ele se importava. Ele realmente se
importava. Era mais do que ela ousaria esperar.
─ Há muitos bons dias à frente. - Disse Marie. E terminou o chá. ─ Eu vou ver o que o
carpinteiro pensa que precisamos fazer na parede. - Ela riu. E hesitou, com um olhar
preocupado em seu rosto.
─ Não vou contar a Connor o que você me disse. - Disse Emma. ─ Eu prometo.
Marie relaxou.
─ Ele pode não se importar. Mas eu prefiro não descobrir. Ah! Eu salvei algo...
Ela foi até a estante de livros e retirou uma pasta de arquivos. Ela a entregou a
Emma.
Emma, intrigada, abriu. E respirou fundo. Era a foto que o homem tirou em seu
casamento em Las Vegas. O olhar no rosto de Emma dizia muito sobre seus sentimentos
pelo homem com quem se casava. A angústia que sentia por sua culpa também estava
lá, e suas esperanças.
─ Eu nunca vi nada parecido. - Disse Emma, balançando a cabeça. ─ Eu pareço...
bonita.
─ Você é bonita, minha querida. - Marie disse gentilmente. ─ Você brilha. Quando você
olha para o chefe, você não vê um milionário. Você vê um homem. Isso é o que torna
você diferente. Guarde isso. - Acrescentou, indicando a foto. ─ É a única que resta. -
Ela fez uma careta. ─ Ele estava tão irritado, logo depois que ele os mandou levá-la
presa. Ele ordenou que tudo fosse queimado. Todas essas lindas fotos. Eu salvei esta.
Eu precisei. Era insubstituível.
─ Obrigada, Marie. - Disse ela. E hesitou. ─ Ele viu isso?
Marie balançou a cabeça negando.
─ Eu estava com medo de ser despedida se ele descobrisse que não fiz o que mandou.
─ Tudo ficará bem. Vou colocá-la em um lugar seguro.
─ Por que você não se deita um pouco e descansa? - Perguntou Marie. ─ Muito em
breve, você vai esquecer o que era deitar e descansar. - Ela riu suavemente. ─ O bebê
vai dar trabalho.
─ Estou ansiosa para isso. - Respondeu Emma. ─ Eu mal posso esperar!
─ A casa precisará de mobiliário novo para pessoas pequenas. Eu me pergunto se
poderíamos persuadir Danny a fazer para você um berço e uma cama de bebê? Ele
também faz móveis. Ele usa carvalho e o que ele faz é magnífico. Tenho certeza de que
o chefe não se importaria.
─ Então, pergunte a ele. - Disse Emma com um sorriso. ─ Eu adoro coisas artesanais.
─ Eu notei, por todos aquelas toucas que você tricota. - Marie riu.
─ Eu estou fazendo um para você. - Foi a resposta.
─ Obrigada!
─ Mas eu não vou lhe dizer como será. - Disse ela. ─ Será uma surpresa!

***

Dois dias depois, Emma teve um choque. Ela estava assistindo a um programa de
entrevistas na televisão quando uma chamada do noticiário apareceu na tela. Foi breve e
absolutamente devastadora. Dizia que millionário magnata da aviação Connor Sinclair
morreu em trágico acidente aéreo no Arizona.
O noticiário passou a falar de três passageiros que estavam no avião e que eram bem
conhecidos, um deles era um famoso cantor. Mas Emma não se deu conta disso. Ela
estava gritando. Realmente gritando.
Marie veio correndo. Ela tinha ouvido a notícia na pequena televisão na cozinha.
─ Oh, Emma. - Disse ela, destruída. ─ Emma!
Emma não a ouviu. A histeria a sufocava.
─ Ele está morto. Ele está morto. Eu nem consegui dizer adeus. Ele está morto!
Ela começou a gritar de novo. Era como o pesadelo que tinha tido, aquele em que
tentava chegar a Connor e ele continuava cada vez mais longe. Sua garganta estava
ferida. Seu estômago começou a pulsar quando o trabalho de parto iniciou.
Barnes veio correndo quando ouviu os gritos. Ele, também, tinha visto as notícias na
televisão.
─ Ligue para uma ambulância. - Disse Marie com urgência.
─ Agora mesmo.

***

Levaram Emma para o hospital. Ela teve que ser sedada, não só porque o bebê estava
vindo, mas porque Connor nunca o veria. Ela o amava mais do que qualquer coisa na
terra, e agora ele tinha ido embora. Ela não tinha ninguém.
O trabalho de parto foi longo e difícil, e finalmente o Dr. Weems não teve escolha
senão fazer uma cesariana porque ela não dilatou nem um centímetro. O choque das
notícias, ele imaginou, contribuiu para sua condição.
Eles a levaram para a cirurgia. Minutos depois, a enfermeira mostrou a criaturinha a
uma atordoada e dolorida Emma.
─ É um menino. - A enfermeira sussurrou. ─ Parabéns.
─ Ele é tão lindo. - Emma se desmanchou em lágrimas. ─ Ele está morto. Meu marido
está morto!
Ele colocou uma mão gentil em seu ombro.
─ Você ainda tem o bebê, Emma. - Ele disse suavemente. ─ Pelo menos você tem uma
parte de Connor.
Ela assentiu, mas a dor a atrapalhava. Depois que ele lhe deu um sedativo, ela
apagou como uma luz. Harry Weems suspirou. Ele perdeu seu melhor amigo. Estava em
todos os noticiários. Pobre Emma, com um bebê recém-nascido e a esperança de um
casamento feliz, tudo se foi agora. Ele se virou, escondendo a dor em seu coração.

***

Marie tinha chorado o dia todo. Ela ligou frequentemente para verificar como Emma
estava. Um dos enfermeiros de plantão era primo dela e estava disposto a transmitir a
informação. O garotinho estava bem. Emma ainda estava sedada.
Ela desejou estar sedada também. Ela chamou Tonia e elas haviam lamentado juntas.
Ninguém sabia exatamente o que fazer. As empresas eram bastante autônomas, mas o
conselho administrativo teria que nomear alguém para liderá-las. Connor tinha sido o
coração do negócio. Ninguém poderia substituí-lo. Tonia disse que transmitiria a notícia
aos gerentes das divisões, se eles ainda não tivessem ouvido falar sobre o acidente. Ela
chamou Edward em Nice, para informá-lo da tragédia que ocorreu. Edward já tinha
ouvido as notícias. Ele soluçou ao telefone, disse Tonia a Marie.
Barnes também estava triste. Ele era próximo de Connor. Ele e Marie sentaram-se à
mesa, comendo salada e tomando café preto no almoço. Era um dia miserável.
A porta da frente se abriu. Ambos levantaram, porque ela era mantida fechada o
tempo todo. Somente alguém com uma chave poderia entrar.
─ Onde diabos está todo mundo? - Connor Sinclair perguntou irritado. Ele jogou a pasta
na mesa lateral e passou a mão através dos cabelos pretos úmidos e ondulados. ─ Eu
tive um dia infernal. Meu maldito telefone celular descarregou. - Ele o levantou e o
jogou na pasta. ─ Barnes, você pode encontrar um carregador para isso? Eu costumo
manter um na pasta, mas... - Ele parou, ao notar a expressão perplexa em seus rostos. ─
O que diabos há de errado com vocês dois?
Marie correu e o abraçou. Barnes também.
─ Tudo bem, o que está acontecendo? - Ele perguntou. E franziu a testa. ─ Alguma
coisa aconteceu com Emma? - Ele perguntou de repente. E foi rapidamente para seu
quarto, abriu a porta e estava vazio. Ele virou. ─ Onde ela está? - Ele perguntou com
medo transparecendo em cada palavra.
─ Ela está no hospital, senhor. - Disse Barnes gentilmente.
─ Ela começou a gritar quando viu a notícia na televisão. - Marie explicou através do
choro de alegria. ─ Nós não conseguimos acalmá-la. Ela entrou em trabalho de parto.
Chamamos uma ambulância e o Dr. Weems.
─ Ela vai ficar bem. - Acrescentou Barnes.
─ Você tem um menininho saudável. - Marie disse calmamente, observando as
expressões cruzarem o rosto dele, a mais aparente era de exaltação absoluta.
─ Barnes, me leve ao hospital. Qual notícia na televisão a perturbou tanto? - Ele
perguntou enquanto Barnes buscava a limusine.
─ Senhor, disseram em todos os noticiários que você estava... bem... morto. - Disse ela,
fazendo uma careta. ─ O avião caiu.
As sobrancelhas dele arquearam.
─ O avião? Ah, o avião comercial. Perdi o vôo por dez minutos. O maldito tráfego
atrasou a limusine que eu contratei. Então peguei uma carona com um amigo que tem
um jato particular como o meu. - Ele fez uma careta. ─ Não é tão confortável como o
meu, eu tenho que admitir, mas eu não queria esperar que ele chegasse ao Arizona. Eu
não estou morto.
─ Graças a Deus! Eu tenho que ligar para Tonia. Ela ficará tão aliviada. Estávamos
mortas de medo, senhor. Especialmente Emma. - Acrescentou. ─ Ela disse que a vida
dela tinha acabado.
O rosto de Connor estava tão radiante que resplandecia.
─ Ela disse?
Marie hesitou, mas apenas por um minuto.
─ Eu preciso mostrar-lhe uma coisa.
Ela entrou no quarto de Emma e pegou a foto que Emma tinha emoldurado e
colocado na mesa de cabeceira. Ela mostrou a Connor.
─ Me desculpe. - Disse ela. ─ Você me mandou queimar todas elas.
Ele estava olhando o retrato dele e Emma, seus olhos enevoados. Ele nunca viu uma
foto capturar essa expressão no rosto de ninguém. Emma o amava além da medida. A
fotografia era como uma declaração de amor.
─ Obrigado. - Ele disse a Marie e a abraçou. ─ Obrigado por desobedecer. Dessa vez. -
Ele acrescentou com um tom de provocação.
─ Não há de que. Você deve conhecer o seu filho.
─ Estou indo. - Ele entregou a foto a Marie. Ele estava sorrindo de orelha a orelha.

***
Emma estava em um estado crepuscular, entre a consciência e a inconsciência. Ela
estava em um lugar calmo, livre de dor e preocupação. Mas havia uma voz. Era
profunda, lenta e terna. Queria que ela abrisse os olhos.
Ela não estava ansiosa para acordar. Ao aproximar-se da consciência, ela lembrou
por que estava no hospital. Ela abriu os olhos e as lágrimas ardiam em seus olhos. Ela
pensou ouvir a voz de Connor. Estava tão perto...
─ Bebê. - Ele sussurrou. Ele estava de pé sobre ela, seu rosto cansado, mas radiante de
alegria. ─ Meu doce bebê, nós temos um filho.
Ela olhou para ele através de uma névoa.
─ Connor? - Ela engasgou. ─ Estou sonhando?
Ele se inclinou e colocou a boca bruscamente faminta sobre a dela. ─ Estamos ambos
sonhando. E nunca vamos acordar. Eu sou real, Emma. Beije-me e descubra.
Ela o beijou de volta. E tentou levantar os braços, mas o movimento fez doer seu
estômago.
Ele sentiu que ela estremeceu e recuou. E sorriu calorosamente.
─ Pontos. - Ele sussurrou. ─ Você vai melhorar. - Sua mão grande alisou a bochecha
dela. ─ Você está cansada e com dor. Vá dormir. Estarei aqui quando você acordar. - O
sorriso desapareceu. ─ Nunca te deixarei. Nunca, enquanto viver.
─ Você não está morto? - Ela sussurrou, e as lágrimas escorreram por suas
bochechas.
Ele sorriu.
─ Eu perdi o vôo. Não, eu não estou morto.
─ Todos pensaram que você estava.
Ele roçou a boca sobre a dela.
─ Marie está telefonando para Tonia. Ela vai lidar com a imprensa. Eu vou ver nosso
filho.
Ela conseguiu dar um sorriso pálido. A dor, mesmo com a sedação, era forte.
─ Ok.
─ Que nome vamos dar a ele, querida? - Ele perguntou.
Ela estudou o rosto dele. Era forte. Bonito. Ela adorava olhar para ele.
─ Nomes?
Ele assentiu.
─ Você tem um nome do meio? - Ela perguntou.
─ Jacob.
Ela sorriu.
─ Jacob Connor Sinclair?
Ele roçou a boca sobre a dela.
─ Nós vamos chamá-lo de Jake.
Ela levantou a mão o suficiente para passar pela bochecha dele.
─ Eu gosto disso. - Ele colocou a boca sobre os olhos dela e os fechou. ─ Vá dormir.
─ Ok.

***

Ele segurou seu filho recém-nascido no berçário. Eles o vestiram e entregaram-lhe o


garotinho, que era tão pequeno. Ele nunca experimentou essas emoções na sua vida. Ele
beijou a pequena testa, olhou para os olhos que eram de um cinza prateado, como os
seus. Ele se perguntou se eles mudariam quando Jake crescesse. Ele era perfeito.
Pequeno, mas perfeito. Ele lutou com as lágrimas quando entregou a criança de volta à
enfermeira. Ele era pai. Era um evento que mudava a vida. Ele teve um súbito desejo de
comprar uma loja de brinquedos. Mas isso teria que esperar. Sua prioridade agora era
fazer com que Emma ficasse bem e voltasse para casa.

***

Demorou vários dias para conseguir isso. Emma queria amamentar o bebê, mas a dor
da cesariana era demais para ela. Ela a dominava. Então passou a alimentar Jake com
mamadeira. Connor ficou encantado, porque ele poderia fazer o mesmo por seu filho.
Emma adorava vê-lo segurando o menino. Ela nunca viu tal carinho nos olhos
pálidos como quando ele segurava Jake. Ele já amava a criança. E também amava
Emma. Ela sabia disso. Sua reação a sua situação, o buraco da bala no escritório,
disseram-lhe coisas que ele nunca poderia. Mas ela sabia como ele se sentia, e isso era o
suficiente.
Da mesma forma, sua histeria disse a ele, claramente que ela ainda o amava, apesar
do que ele tinha feito a ela. Era como um milagre, saber que Emma se importava. Ela
era dele. Ele tinha uma esposa e um filho. Ele fazia parte de uma família. E mal
conseguiu parar de sorrir.
Eles trouxeram Emma para casa na limusine e Connor a levou para dentro da casa
enquanto a enfermeira particular que haviam contratado trazia o bebê Jake no bebê-
conforto.
Emma ficou chocada quando viu que seu quarto, ao lado do de Connor, havia sido
transformado em um berçário completo, com monitor, berço artesanal, cortinas com
veleiros e todo tipo de móveis para bebês conhecidos pelo homem. Além disso, uma
seleção de móbiles para o berço e brinquedos eletrônicos feitos especialmente para
recém-nascidos completavam o quarto. Havia uma cômoda também, repleta de
macacões, meias e cobertores.
─ Você fez tudo isso? - Emma perguntou com um sorriso surpreso.
─ Eu tive uma pequena ajuda de Marie. - Ele riu.
─ É maravilhoso. - Ela beijou sua bochecha dura. ─ Eu amei isso!
Ele sorriu e beijou seus lábios suaves.
─ Estou feliz. Nós o teremos ao nosso lado, de modo que, se precisarmos levantar,
poderemos.
─ Eu posso me levantar. - Ela começou.
─ Quando você se recuperar. - Ele respondeu. ─ A enfermeira Pitts fará tudo o
necessário até você poder. Nada de peso, a menos que seja tão pesado quanto um lenço,
lembra? - Ele provocou. ─ Os bebês são pesados. O nosso pesa três quilos e pouco.
Ela suspirou.
─ Ok, então. - Ela percebeu que havia uma bonita cama extra no berçário, então ela
assumiu que a enfermeira passaria a noite aqui.
─ Nós demos a enfermeira um dos quartos de hóspedes. - Disse Connor, adivinhando
sua próxima pergunta. ─ Mas ela ficará com Jake à noite.
─ Sim, eu vou. - Disse a enfermeira Pitts com um sorriso. ─ Eu vou cuidar muito bem
dele. - Ela prometeu. ─ Então não se preocupe. Eu criei seis meus mesmo.
Emma sorriu.
─ OK. Obrigada.
─ Não há de que Sra. Sinclair.
Emma corou. Era a primeira vez que alguém a chamava assim desde que ela e
Connor se casaram.
Ele percebeu. Ele virou-se e a levou até o quarto principal, empurrando a porta para
fechá-la. Ele a colocou na cama e arrumou as almofadas para que ela pudesse sentar-se
confortavelmente e para que os pontos não repuxassem.
─ Suponho que vou dormir com você? - Ela provocou.
Ele se sentou ao lado dela.
─ Eu nunca vou deixá-la fora da minha vista. - Ele respondeu seriamente. ─ Eu já avisei
que vou tirar duas semanas para estar com minha família. Isso significa que não há
viagem, nenhum negócio, ponto final. Se Tonia não puder lidar com isso, os gerentes da
divisão precisarão. - Ele traçou sua bochecha levemente. ─ Eu sou o homem mais
afortunado da terra, Emma. - Ele sussurrou, e inclinou-se para beijá-la com uma fome
contida. ─ Eu não pensei que você poderia me perdoar...
─ Bobo. - Ela sussurrou contra seus lábios. ─ Eu te amo. Isso nunca mudou. Nunca vai
mudar. - Ela recuou e olhou nos olhos pálidos. ─ Eu nunca vou parar amar você.
Seus olhos enevoaram. Ele puxou o rosto dela para sua garganta e a embalou.
─ Eu nunca vou parar de me sentir culpado pelo que aconteceu, pelo que eu fiz com
você. - Ele disse bruscamente. ─ Mas eu vou fazer tudo o que puder para compensar
você, pelo o resto de nossas vidas. - Seus braços contraíram gentilmente. ─ Eu nunca
soube o que era o amor, até você entrar na minha vida. Eu vou te amar pelo resto da
minha vida, bebê. - Ele sussurrou com voz rouca. ─ E para sempre além disso.
Ela deixou as lágrimas caírem, lágrimas reparadoras, lágrimas purificadoras. Ele a
abraçou enquanto ela chorava. E nesses poucos minutos, parecia que eles eram as únicas
duas pessoas na terra que já haviam conhecido o amor, que já haviam falado de amor,
que já haviam compartilhado o amor. Emma sabia que, enquanto vivesse, nunca
esqueceria o dia em que ele abriu seu coração para ela. Ela fechou os olhos e sorriu
contra sua boca dura. Os sonhos realmente se tornavam realidade.

***
─ Você vai se apressar? - Connor provocou enquanto eles se arrastavam para fora da
limusine. ─ Molenga.
─ Eu não sou molenga. - Ela disse, olhando para ele enquanto lhe entregava Jake. ─
Tudo o que você tem a fazer é sair. Eu tenho que pegar Jake, a bolsa de fraldas, minha
bolsa e...
Ele se aproximou, beijou-a e pegou Jake.
─ Barnes vai pegar as malas. Vamos.
─ Nós nem sequer telefonamos primeiro. - Ela protestou enquanto caminhavam em
direção a grande casa antiga no centro de Jacobsville, no Texas.
─ Eu telefonei. - Respondeu Connor.
─ Você disse a eles quem você era? - Ela perguntou, de olho, enquanto Jake
gorgolejava em seus braços.
─ Não exatamente. Eu disse a eles que eu era seu marido e queríamos que eles
conhecessem o nosso filho.
Ela começou a falar quando a porta da frente se abriu e Tippy Grier saiu com a boca
aberta.
─ Emma? - Exclamou. ─ Você está casada! E você tem um bebê!
─ Sinto muito por não ter contado. - Disse Emma. ─ É uma história muito longa...
Tippy olhou para a limusine muito cara parada no final do caminho, o terno
exclusivo de Connor, a calça de alta costura de Emma e, ao mesmo tempo, reconheceu
seu visitante masculino.
─ Connor Sinclair? - Ela perguntou lentamente.
─ Espero que sim. Eu estou usando seu terno.
Ela explodiu em gargalhadas. E abraçou Emma.
─ Conversaremos sobre manter segredos! - Exclamou, e estendeu os braços.
Emma colocou Jake neles, radiante.
─ Eu queria te dizer, mas eu estava guardando segredos.
─ Dos grandes, aparentemente - Falou Tippy, avaliando Connor.
Ele riu.
─ Nós lhe diremos um dia.
Um homem alto e moreno com cabelos pretos presos num rabo de cavalo saiu da
porta atrás de Tippy.
─ Maldição! Um marido e uma criança, e você nem nos convidou para o casamento! -
Cash Grier provocou.
─ Eu quis contar. - Disse ela.
Cash riu. Ele apertou a mão de Connor.
─ Ouvi falar sobre você pelo meu irmão. - Disse ele.
─ Cort. - Connor assentiu. ─ Eu posso imaginar o que ele disse.
─ Algo sobre uma jovem muito atraente que ele queria conhecer melhor, e você veio até
ele como um leão de montanha. - Observou Cash. Ele estava olhando para Emma. ─ Ele
não sabia quem você era, não é?
─ Eu nunca o conheci. - Lembrou Emma. ─ Ele é muito legal.
─ A última palavra é a causa dele ainda respirar. - Connor riu. ─ Legal. Ela nunca me
chamou de legal.
─ Você é um urso pardo. - Ela disse a Connor. ─ Os ursos pardos não são legais.
─ Eu casei com um desses, também. - Tippy riu, fazendo uma careta quando Cash olhou
para ela. ─ Entrem! Eu fiz um bolo de libra e há muito café fresco! Traga seu motorista
também. - Acrescentou Tippy. ─ Nós temos muito.
─ Você a ouviu, Barnes. - Connor chamou. ─ Mas traga as dez toneladas de
equipamentos para bebês com você.
─ Pode apostar!

***
─ Obrigado por tudo que você fez por ela. - Disse Connor a Cash enquanto as mulheres
faziam fofocas. ─ Já ouvi falar muito sobre o pai dela.
─ Ele era uma figura. - Concordou Cash. ─ Tippy e eu a adotamos. Ela não tinha
nenhum lugar para ir, e ela era uma jovem tão legal. - Ele levantou ambas as
sobrancelhas. ─ Nós nunca ouvimos nada sobre tudo o que aconteceu, a cegueira, o
casamento...
─ É uma história triste. Quase uma tragédia. - Disse Connor calmamente. ─ A vida
ensina lições duras.
─ Conte-me sobre isso. - Foi a resposta de Cash.
─ O importante é que tudo se resolveu. - Respondeu Connor.
─ O pai dela acabou de se casar. - Disse Cash. ─ A mulher é muito parecida com
Emma. Ela tem um coração suave e adora ajudar as pessoas. Ela o colocou no AA e o
está ajudando a ficar sóbrio e a resolver seus problemas. Ele gostaria de ver Emma, mas
diz que ainda é cedo, ela precisa de tempo. Ele gostaria de chamá-la e conversar em
algum momento. Se ela estiver disposta.
Connor assentiu.
─ Eu vou contar a ela.
─ Ela falou sobre Steven?
Connor respirou fundo.
─ Ele era gay, certo?
─ Sim. - Respondeu Cash. ─ Nós não dissemos a ela. Ela já estava tão chateada. Mas
você pode mencionar isso. Ela acha que eles romperam porque ele odiava o trabalho do
pai dela. Isto foi a mãe dele que inventou por que odiava que as pessoas soubessem que
ela tinha um filho gay.
─ Idiota. - Connor zombou. ─ Seu filho ainda é seu filho, independente de qualquer
coisa.
─ Claro que sim.
Ele hesitou, e um brilho perverso entrou em seus olhos prateados.
─ Você pode mencionar ao seu irmão barão de gado que Emma está permanentemente
fora dos limites. Caso ele tenha uma coceira no pé, e queira dar um passeio pela a
Geórgia.
Cash explodiu em gargalhadas.
─ Eu farei isso.
Emma olhou para os homens enquanto o jovem irmão de Tippy, Rory, segurava o
pequeno Jake, e Tris e Marcus, seu novo menino, pairavam em torno de Tippy e Emma.
─ Ele é muito famoso, seu marido. - Observou Tippy com um sorriso quando viu para
onde Emma estava olhando.
─ Ele é muito querido também. - Respondeu Emma. ─ Eu nunca pensei que poderia
encaixar em qualquer parte de sua vida, mas ele fez um lugar para mim. Connor, o bebê.
- Ela balançou a cabeça. ─ Tudo parece irreal.
─ Eu me sinto da mesma maneira sobre minha própria vida. - Ela observou Emma. ─
Nós vivemos tempos difíceis. Então temos sorte. Assim é a vida.
Emma riu. Seus olhos, repletos de amor, se fixaram em seu marido, que estava
olhando para ela com os olhos igualmente amorosos.
─ Assim é a vida. - Ela concordou suavemente.

***

FIM

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