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Resumo
Apesar do crescente interesse acadêmico pelas indústrias criativas, esse campo encontra-se
em desenvolvimento. Isso posto, o objetivo do artigo é investigar a estrutura produtiva da
indústria cinematográfica brasileira, mapeando a importância das alianças para a
competitividade no setor. Utilizou-se a técnica de estudo de casos múltiplos, que se alinha à
natureza exploratória do trabalho. Constatou-se que a atuação na indústria está condicionada à
visão do empreendedor e à capacidade do mesmo em realizar alianças, em especial, com o
distribuidor e com a Globo Filmes. Observou-se também que as características estruturais da
indústria conferem um poder central ao distribuidor.
1. Apresentação
Tabela 1:
Sistema de valor do cinema
Grupo Principais atividades Principais representantes
concepção do projeto do filme, visto sob duas
formas: a criação artística e o planejamento
Produtoras nacionais - atuação
do negócio;
em parceria (com empresas de
PRODUTOR filmagens e finalização do filme;
comunicação/distribuição) ou
organização da infraestrutura (equipamentos,
produção independente.
materiais, escritório, estúdios etc.) e
engenharia financeira.
Majors (grandes estúdios
Comercialização do filme;
americanos);
Geração de cópias físicas e distribuição das
Distribuidores independentes,
DISTRIBUIDOR mesmas;
normalmente de capital nacional
Marketing e divulgação do filme (formação
(Copacabana Filmes, Rio Filmes,
de público).
etc.).
Investimento em infraestrutura e
equipamentos; Detentores de salas de projeção
Projeção de filmes nas diversas janelas ou de cinema;
EXIBIDOR
suportes audiovisuais: salas de cinema, TV TV aberta e fechada.
por assinatura, locadoras, TV aberta, internet,
novas mídias.
Fonte: MINC (1998) e MINC (2000).
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A produção é constituída por empresas envolvidas na elaboração do produto
audiovisual. A distribuição é dominada por estúdios norte-americanos, conhecidos como
majors distributers. Elas exercem um poder quase oligopolístico, dominam o segmento de
comercialização de filmes, home video e de televisão em quase todos os mercados nacionais
do globo. O grupo exibidor é composto pelas janelas de exibição: salas de cinema, home
video, TVs aberta e por assinatura, internet e novas mídias. Existe um déficit de cinemas no
país, o que prejudica o setor produtivo, já que esta janela consiste no principal canal de
escoamento da produção e na principal mídia para o filme. Segundo o IBGE (2006), apenas
8,7% dos municípios brasileiros tem salas de cinema (apud Bahia, 2012). Os mercados de
DVD, TV paga e TV aberta representam receitas crescentes (Matta e Souza, 2009), mas
marginais.
As restrições advindas da natureza da competição do setor de distribuição e da
pequena sinergia entre cinema e outras janelas, principalmente a TV aberta, constituem traços
marcantes do mercado nacional e fazem dos incentivos governamentais (tratados a seguir) a
“mola mestra” do polo produtor, opinião compartilhada por Bahia (2012).
A principal fonte de financiamento da produção cinematográfica nacional são as leis
de incentivo fiscais (MINC, 2000; Reis, 2007; Matta e Souza, 2009; Bahia, 2012). A Tabela 2
resume o funcionamento dos principais mecanismos e agentes financiadores.
Tabela 2:
Leis de incentivo audiovisuais (resumo).
LEIS DE INCENTIVO AUDIOVISUAIS
Agente Agência Nacional de Cinema (ANCINE) - através da autorização e acompanhamento dos
responsável projetos audiovisuais, promove o fomento indireto da indústria nacional.
- Artigo 1º.
Principais - Artigo 3º.
mecanismos - Lei Rouanet.
fiscais - Artigo 39 – MP 2228-1 (isenção CONDECINES).
- Artigo 41 – MP 2228-1 (FUNCINES).
Grosso modo, os instrumentos do governo federal estão apoiados nos seguintes pilares:
- isenção de taxas referentes à comercialização de obras audiovisuais;
Como - alocação de parte do imposto de renda devido para investimento na produção.
funciona? - possibilidade de incluir os investimentos em cultura no abatimento das despesas para o
cálculo do imposto de renda.
- fundos privados.
- Artigo 3º da Lei do Audiovisual: as empresas que tipicamente se enquadram neste
instrumento são as majors e as programadoras estrangeiras de TV por assinatura (como
Mecanismos
Discovery, Fox, HBO e MGM, por exemplo). Este mecanismo viabilizou a parceria entre
mais relevantes
o produtor e tais empresas, dando impulso à produção.
no contexto
- Artigo 39: vem possibilitando que produções nacionais sejam incorporadas na grade de
deste trabalho
programação das programadoras de TV por assinatura, podendo também ser exibidas na
grade internacional ou em qualquer outro segmento de mercado.
Fonte: Adaptado pelos autores de ANCINE (2005).
Almeida e Butcher (2003, p. 31, apud Bahia, 2012) mencionam que “apesar de todos
os enormes avanços, a política baseada no incentivo fiscal não foi suficiente para firmar uma
efetiva base industrial para o cinema brasileiro”. A principal crítica é que “O que houve foi
uma política voltada para o estímulo da produção de filmes; mas não se buscou a implantação
de uma indústria cinematográfica dentro de um modelo de reinvestimento permanente para a
própria atividade” (Bahia, 2012, p. 70), mesmo apesar de ajustes feitos nos mecanismos
inicialmente propostos, na década de 90, pelo governo federal.
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Cabe ressaltar que no atual arranjo da indústria nacional, as distribuidoras
(especialmente as majors) têm se revelado importantes agentes de financiamento da produção.
O “adiantamento sobre futuras receitas”, que consiste no montante referente aos direitos de
distribuição do filme, liberado antecipadamente pelos distribuidores para viabilizar a
produção (filmagens e pós-produção) de um filme (Sousa, 2003; Luca, 2004), tem sido
comumente utilizado pelos produtores como uma importante fonte de financiamento.
A articulação entre a produção, distribuição e exibição, em especial entre os dois
primeiros, é um fator-chave no planejamento do projeto audiovisual (Hori 2007; Matta e
Souza, 2009). No entanto, o Ministério da Cultura (MINC, 2000) alerta que uma parcela dos
produtores desconsidera a complementaridade dos diferentes elos da cadeia produtiva. Este
fato pode ser exemplificado por meio da relação distante entre a televisão e o cinema.
O crescimento da televisão no Brasil não gerou uma fonte de renda relevante para a
sustentabilidade da indústria de cinema, fato ratificado por Bahia (2012).
Os dados sobre a rentabilidade e as funções dos agentes na indústria são escassos, às
vezes divergentes e de baixa confiabilidade. Partindo-se das informações fornecidas por Luca
(2004), a Tabela 3 mostra um panorama da distribuição de tarefas no ciclo comercial do
cinema e o percentual da receita líquida para cada agente, considerando a janela cinema.
Tabela 3:
Participações na receita e responsabilidades dos agentes na cadeia cinematográfica
PRODUTOR
É o agente que efetivamente produziu a obra e geriu esse processo.
25% da receita líquida
4. Procedimentos metodológicos
Um estudo de caráter exploratório tem como objetivo sugerir perguntas, não encontrar
conclusões; familiarizar-se com o fato; descobrir perspectivas; permitir a identificação de
problemas para estudos posteriores (Yin, 2005; Cervo, Bervian e Da Silva, 2010; Malhotra,
2011). A pesquisa apresentada neste artigo enquadra-se nesta dimensão metodológica. Foi
utilizada a técnica de entrevista em profundidade através de um roteiro semiestruturado,
contendo perguntas abertas, que buscaram incentivar uma exposição livre e profunda. Ouviu-
se quatro profissionais (sócios ou executivos principais das empresas) que trabalham em
produtoras cinematográficas na cidade do Rio de Janeiro: Domingos Oliveira (produtor
independente), Diler & Associados, Conspiração Filmes e Globo Filmes.
Os respondentes foram selecionados com base na reputação individual e na
repercussão de suas empresas, formando uma amostra por conveniência. Trata-se de uma
técnica não probabilística que possui limitações, como o viés de seleção. Outra
particularidade é que os resultados obtidos são restritos às organizações estudadas, não
permitindo generalizações e extrapolações. Quanto à adequação desta à natureza da pesquisa,
Malhotra (2011, p. 276) assevera que:
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pesquisa exploratória cujo objetivo é gerar ideias, adquirir novas
compreensões e desenvolver hipóteses.
Tabela 4:
Núcleos temáticos de investigação
NÚCLEO TEMÁTICO PERGUNTAS DA PESQUISA INSPIRAÇÃO TEÓRICA
- Qual a concepção do líder da empresa
Pensamento e sobre a atividade de fazer cinema e sobre
Abell e Hammond (1979); Mintzberg
posicionamento o contexto empresarial que está inserido?
(1994); Bethlem (2002).
estratégicos - Qual a relação destas percepções com o
seu posicionamento de mercado?
- Qual o desenho, a complexidade e os Powell (1990); Doz e Hamel (1998);
Formação de alianças e marcos decisórios de um projeto Burt (1999); Minc (1998); Minc
geração de resultados cinematográfico? (2000); Lampel e Shamsie (2003);
na indústria - Quais os modelos de alianças, de Luca (2004); Kirschbaum (2006);
cinematográfica financiamento e retorno do projeto de Matta e Souza (2009); Barney e
cinema? Hesterly (2011); Bahia (2012).
Fonte: Elaborado pelos autores.
5. Análise da pesquisa
Existem diferenças na percepção dos entrevistados sobre o que é fazer cinema. Qual a
importância desta constatação para a abordagem gerencial dessa pesquisa? A discussão
infindável sobre “cinema é arte” ou “cinema é indústria” será, mais uma vez, inevitável ao se
falar de cinema. Infelizmente ou felizmente, não será possível fugir deste assunto
completamente, mas, nesta análise, o tratamento dado à concepção do cinema (arte vs
indústria) será diferente do convencional, à medida que, observou-se, na prática, que a
concepção sobre a realização cinematográfica cria ou desfaz, dependendo do ponto de vista
analisado, restrições no ambiente de atuação dos entrevistados. Estas restrições, interpretadas
sobre os preceitos da estratégia, influenciam diretamente na definição do negócio destas
produtoras e nas alianças necessárias para executar o seu projeto. Esta é uma constatação
importante, dentro do recorte de pesquisa proposto neste artigo.
De fato, o levantamento de campo mostrou que o modo de compreender o cinema tem
implicações diretas sobre os modelos de produção e posicionamentos de mercado,
evidenciando um paralelismo teórico com Abell e Hammond (1979). Grosso modo, em um
extremo, tem-se Domingos Oliveira, que defende a ideia de que “cinema é arte”. No outro,
encontra-se a Diler & Associados, defensora do cinema indústria. As citações a seguir,
expressas na Figura 1, exemplificam esta dicotomia.
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É miopia achar que arte é apenas entretenimento e diversão. Essa é uma de suas
Domingos Oliveira facetas. Arte funciona como um regulador social, ela dignifica o homem, educa,
transmite valores.
A Conspiração Filmes tem ainda outro posicionamento, baseado num viés artístico
forte. Seus sócios são em grande parte diretores de filmes publicitários, documentários, etc. e,
em todo projeto, um deles é o líder. Segundo o entrevistado, este aspecto a diferencia
radicalmente da Diler & Associados. Porém, o que a difere do Domingos Oliveira, é que suas
produções são voltadas para o grande público. Pode-se dizer que a Conspiração tenta unir dois
conceitos em suas obras: liberdade de criação (capital simbólico) e orientação ao mercado
(capital financeiro). Assim, conforme apontou Bethlem (2002) – e não seria equivocado
compreender o conceito de intento estratégico de Hamel e Prahalad (1989) como semelhante -
as organizações almejam, além do sucesso financeiro, prestígio (Conspiração Filmes),
crescimento (Diler & Associados), sobrevivência (Domingos Oliveira) e
prestígio/crescimento (Globo Filmes).
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Lampel e Shamsie (2003) afirmam que a atividade cinematográfica é um
empreendimento baseado em projeto, dotado de etapas. Empiricamente, constatou-se que o
ciclo de vida de um longa-metragem possui três fases: seleção, planejamento e execução. A
primeira delas é a escolha do roteiro. A segunda pode ser compreendida como a determinação
do design do projeto e a principal tarefa realizada é a captação de recursos para execução do
filme. A última é a realização das filmagens. Estas três fases estão ligadas ao elo produtor da
indústria. Neste estágio são estabelecidas alianças com fornecedores de equipamentos, por
exemplo. Mas é também nesta etapa que se articula a participação dos agentes distribuidores
e, em menor grau, dos exibidores. Portanto, a formação de alianças com ou sem participação
acionária, utilizando a terminologia de Barney e Hesterly (2011), surge no nascimento do
filme, desde a etapa de seleção, resultado convergente com Matta e Souza (2009).
Tradicionalmente, sabe-se que as majors são um importante parceiro no projeto
cinematográfico. A Conspiração Filmes revelou que além de sua contribuição financeira, os
mesmos usam seu expertise para avaliar a viabilidade comercial de um determinado projeto.
O que acontece é que o distribuidor usa dinheiro público para ficar seu sócio
e ter garantia de distribuição. Mas isto fomenta o cinema nacional, até
porque você conversar com o distribuidor é melhor, pois ele entende de
cinema e o diretor de marketing de uma empresa não necessariamente. Ele
busca outros objetivos, são interesses distintos.
O trecho acima corrobora o texto de Rocha (2004) e Matta e Souza (2009), que
observou que a participação das majors seleciona a oferta de filmes ao mercado, exigindo que
os produtores brasileiros dediquem maiores esforços ao processo de seleção dos projetos a
serem filmados. Outro aspecto interessante sobre a rede de alianças que se estabelece um
filme, é a participação da Globo Filmes como parceira. A empresa apoia o filme de duas
maneiras: oferta de mídia e consultoria artística e, eventualmente, cedendo atores do seu
casting. A Diler & Associados trouxe um elemento novo ao revelar que a produtora recorre a
um “agente financiador externo”, ou seja, a um investidor de risco (não necessariamente
vinculado ao mercado de cinema), que decide aportar recursos e se tornar cotista do produto
cinematográfico. Nem todas as produtoras, conseguem a participação deste agente, pois ele se
une ao filme por razões financeiras, mas a identificação desse investidor “pessoa física” está
atrelada ao capital social (Burt, 1999) detido pela produtora.
Diante deste cenário, surge uma importante reflexão: qual a lógica de criação de valor
(Doz e Hamel, 1998) das alianças realizadas? Flexibilidade, instinto empreendedor e
capacidade de análise do mercado parecem guiar a formação de parcerias na Diler. Talvez
sejam estas características que conferem sustentação para a empresa cooptar seus parceiros.
Em Domingos Oliveira, flexibilidade e instinto empreendedor também devem ser ressaltados,
mas a percepção obtida é que a coespecialização é o principal imperativo estratégico na
costura das alianças. No seu caso, recursos escassos e habilidades específicas são combinados
com a expectativa de explorar nichos da indústria cinematográfica (mercado cinematográfico
independente). A Conspiração Filmes também possui uma tendência à coespecialização, com
destaque para o relacionamento da empresa com a Globo Filmes e com a major. Por fim, a
Globo Filmes tende a estabelecer suas alianças praticamente através da cooptação de seus
parceiros, dado sua visível superioridade de mercado (capacidade de seleção de projetos,
amplitude de divulgação e fôlego financeiro), frente às produtoras brasileiras de cinema.
No que diz respeito ao modelo de financiamento do setor, pelo que foi apurado, a
estrutura padrão é composta por: produtor – coprodutor – empresa privada (via artigo 1º);
distribuidor (via artigo 3º); investidor de risco (recurso próprio) – merchandising (empresa
privada). Com exceção do último, todos, em geral, tornam-se cotistas do filme.
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Podem participar do arranjo acima a Globo Filmes, os fornecedores de infraestrutura
(iluminação, equipamentos de filmagens, etc.), as produtoras complementares (edição,
finalização, etc.) e os talentos do filme (atores, diretores, produtores, roteirista e autor da
ideia). Dependendo dos acordos estabelecidos, todos podem ser cotistas. A Tabela 5 revela o
quadro societário de um filme, a partir das informações obtidas da Diler & Associados.
Tabela 5:
Quadro societário de um projeto cinematográfico.
Sócios do filme Percentual da cota
Major – artigo 3º 40% (variação: 30% a 40%)
Globo Filmes 15% (variação: 15% a 20%)
Talentos - roteirista, diretor, elenco 12%
Infraestrutura e parceiros complementares 8%
Investidor de risco 3% (variação: 3 a 10)
Coprodutoras - artigo 1º 10%
Diler & Associados 12%
Fonte: Elaborado pelos autores a partir das entrevistas realizadas.
Tabela 6:
Distribuição da receita bruta das salas de cinema (Brasil)
Conspiração Diler & Associados Globo Filmes
Exibidor 50% 52% 50%
Distribuidor 7,5-15% 15-30% 20-30%
Produtor 35-42,5% 18-33% 20-30%
Nota: A referência para o cálculo das porcentagens é a renda bruta de bilheteria; O papel de distribuidor e produtor pode ser
exercido por uma ou mais empresas. Fonte: Elaborado pelos autores a partir das entrevistas realizadas.
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A diferença maior ocorre entre a Conspiração, de um lado, e a Globo Filmes e a Diler
& Associados, de outro. Parte dela pode ser explicada pelo fato das negociações variarem em
cada produtora, em cada projeto - dependendo do orçamento do filme e do envolvimento com
outros parceiros, sugerindo que não há um modelo rígido de remuneração. Nas demais janelas
de exibição (TV e home vídeo) são praticados outros percentuais, conforme aponta a Tabela 7.
Tabela 7:
Distribuição da receita líquida de um filme entre as janelas de exibição
Diler &
Conspiração Globo Filmes
Associados
Salas de cinema 64% 52,5% 60%
6. Considerações finais
Parece sensato afirmar, que a visão sobre o fazer cinematográfico é um dos aspectos
que influencia o posicionamento de mercado das produtoras e, por sua vez, influencia os
arranjos formados para a realização de um filme, resultado que corrobora a ideia de Abell e
Hammond (1979).
O exame da natureza das alianças nos casos estudados sugere que a capacidade de
contágio e a posse de capital social são direcionadores centrais do desempenho no campo em
estudo. Kirschbaum (2006, p. 61) chegou à opinião semelhante ao afirmar que “A produção
de um filme não se realiza numa estrutura hierárquica ideal nem em uma estrutura de mercado
ideal, na qual os atores trocam mercadorias sem estabelecer laços sociais”. Dentro deste
recorte de análise, seria enriquecedor a realização de um estudo preocupado em identificar os
mecanismos associados à obtenção de capital social e de capacidade de contágio na rede.
A visão de que, em tempos atuais, há uma tendência, em variados setores econômicos,
pela extrapolação dos limites da firma (Doz e Hamel, 1998; Shapiro e Varian, 1999; Nelson e
Winter, 2005; Chesbrough, 2006; Pellegrin et al., 2007; Balestrin e Verschoore, 2008), parece
também ser verdadeira no campo cinematográfico. Kirschbaum (2006, p. 62) conclui que:
As evidências encontradas neste trabalho apontam para uma concordância com este
último autor, embora seja necessário acrescentar que o sucesso na indústria está relacionado à
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visão do empreendedor sobre o seu próprio negócio – ou seja, aos seus objetivos, à
importância simbólica do fazer cinematográfico e à equivalência estrutural entre os produtores
e distribuidores – e à sua capacidade de realizar alianças, em especial, no caso do cinema
comercial, à articulação com o distribuidor e com a Globo Filmes. Ambos contribuem na
transformação de recursos utilizados diretamente no filme (como, por exemplo, na seleção
dos projetos, na escolha do elenco, da equipe, na condução artística das filmagens) e
indiretamente (divulgação e legitimação da película). Naturalmente, essas sugestões reflexivas
não podem ser tomadas como padrão da indústria, dado que cada projeto cinematográfico é
um arranjo temporário e os papeis e os retornos financeiros podem sofrer variações em cada
filme.
Conclui-se o trabalho na expectativa de que o exame aprofundado da estrutura das
produtoras e de suas relações com os demais elos tenha proporcionado melhor compreensão
mais sensível dos condicionantes da competitividade setorial.
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