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O Darwinismo Social

Os negros têm pele escura porque sua região de origem, a África, recebe intensas
radiações ultravioleta. Como o excesso de sol é nocivo à saúde, a pele escura protege o organismo
e mantém o nível de ácido fólico (vitamina do complexo B) no corpo, garantindo, assim, a
descendência sadia, pois a deficiência de folato em mulheres grávidas pode causar graves defeitos
no feto. Ao migrarem para ambiente onde o sol é mais fraco, como a Europa, os seres humanos
passaram a nascer com uma pigmentação mais clara, enquanto recurso de sobrevivência para
melhor recepcionar e armazenar a escassez dos raios solares, essenciais para a formação das
vitaminas A e D, evitando, entre outros problemas, que as pessoas fiquem raquíticas e anêmicas,
pois é a vitamina D que responde pelo sistema imunológico e pelo desenvolvimento dos ossos. O
naturalista Charles Darwin resume a adaptação do homem à natureza, convencido de que a
evolução é uma série de erros bem-sucedidos.
Robert Charles Darwin (1809-1882), cientista inglês que revolucionou o pensamento da
Biologia do século XIX com a Teoria da Seleção Natural, chamada de Evolução das Espécies,
em seu livro A origem das espécies por meio da seleção natural (1859), demonstra que os
organismos vivos tendem a produzir descendentes ligeiramente diferentes dos pais, com o
processo de seleção natural favorecendo aqueles que melhor se adaptam ao ambiente. Alguns
seres têm propriedades que os tornam mais aptos para sobreviverem, evoluindo e transmitindo as
características aos seus descendentes. Darwin concluiu que as criaturas da fauna e da flora que
não se adaptam ao meio em que vivem estão fadadas ao desaparecimento.
Verifique que essa teoria se refere ao universo da vida biológica em nosso planeta e, em
nenhum momento, o cientista se arrisca em interpretações sociológicas do ambiente humano, até
porque, como médico e naturalista, esse não era seu objeto de trabalho. Quando instigado a fazer
qualquer comparação entre sua teoria e o meio social, Darwin exclamava com indisfarçável
inquietação: “se a miséria de nossos pobres não é causada pelas leis da natureza, mas por nossas
instituições, grande é a nossa culpa!”.
Todavia, difundira-se no século XIX e XX interpretações que utilizavam a Teoria da
Seleção Natural como instrumento de análise do meio social. Ideologias racistas e preconceituosas
estas que visavam explicar e legitimar, de maneira determinista e reducionista, a desigualdade em
um sistema capitalista que alega ter a igualdade como sua palavra-de-ordem.
As ideias difundidas pelo Darwinismo social acreditam que as sociedades evoluem
naturalmente de um estágio inferior para os estágios superiores e mais complexos de organização
social. Assim, povos ditos civilizados (os europeus) têm o dever de ocupar, dominar e explorar
as culturas “mais atrasadas”, a fim de levar-lhes desenvolvimento, progresso, avanços
tecnológicos e permitir-lhes que alcancem os estágios superiores de civilização.
Desafortunadamente, no Brasil do século passado, não faltaram aqueles que deturparam
o conceito evolucionista consagrado por Darwin, ora a serviço dos interesses dominantes, ou de
nações estrangeiras, ora de grupos racista ou em defesa de suas convicções pessoais ou interesses
financeiros.
Com o objetivo de descobrir se o brasileiro é racista e que tipo de racismo seria esse, o
Instituto Datafolha, depois de rigoroso levantamento em todas as regiões do País, publicou o
livro Racismo cordial (1995),concluindo que o brasileiro é racista, sim, só que esse racismo é
“cordial”. A cordialidade está representada no abismo existente entre os que consideram haver
racismo (89% dos brasileiros) e os que admitem se, eles próprios, racistas (10%).
A prova maior de nossa discriminação está na necessidade de fazer constar na
Constituição a classificação de racismo como crime. Diz o artigo 5º, inciso XLII:
A prática de racismo constitui crime inafiançável e imprescritível, sujeito à pena de reclusão, nos
termos da lei.
São atos racistas as ações discriminatórias (como não permitir que um negro entre em
uma loja, proibir que um indígena se hospede em um hotel, impedir que um branco frequente um
clube social). Crime inafiançável é aquele para o qual é vedado o pagamento de fiança (em
dinheiro), não podendo, consequentemente, o autor do crime responder por ele em liberdade; é
imprescritível quando a sentença judicial nunca perde a validade, devendo ser cumprida a
qualquer tempo; e a pena de reclusão determina que o criminoso fique preso numa penitenciária,
em regime fechado.

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