Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
ORIKI DE OXUM
Apresentação
Olá, alunos!
Sejam bem-vindos à Unidade III. Nela iremos analisar a diversidade da cultura
brasileira com foco em suas matrizes étnicas e na criação de religiões sincréticas.
Bons estudos!
Sobre esse “fazimento de si” e todo o processo de transfiguração étnica, que por séculos aprisionou
o brasileiro na “ninguendade” e que o levou à sua superação, Darcy Ribeiro vai dizer que nós “somos
um povo em ser, impedido de sê-lo. Um povo mestiço na carne e no espírito, já que aqui a mestiçagem
jamais foi crime ou pecado”. Nela, ou seja, na mestiçagem, afirma o autor, “fomos feitos e ainda conti-
nuamos nos fazendo” (1995: 453).
Darcy Ribeiro diz ainda que “Nenhum povo que passasse por isso como sua rotina de vida, através de
séculos, sairia dela sem ficar marcado indelevelmente”. Como afirma o autor, “todos nós, brasileiros,
somos carne da carne daqueles pretos e índios supliciados. Todos nós brasileiros somos, por igual, a
mão possessa que os supliciou.
A contrarreforma encontrou nos padres jesuítas uma força aliada para combater o protestantismo e
arregimentar novos católicos em terras distantes. Diante da perda de adeptos na Europa para o protes-
tantismo, ela via nas colônias do Novo Mundo, como era o caso do Brasil, a possibilidade de “salvar as
almas” dos povos nativos e de trazer, para si, uma grande quantidade de seguidores.
O Tribunal da Inquisição era um dos principais instrumentos de fiscalização da fé católica. Como afirma
Vagner Gonçalves da Silva (2005), o tribunal nunca se estabeleceu de fato no Brasil, mas fez visitações por
estados como o Grão-Pará, Bahia, Pernambuco e Maranhão, entre os séculos XVII e XVIII, caçando os bens
de muitos dos desviantes da religião, podendo também deportá-los para serem julgados em Portugal.
O fato de o catolicismo ser uma religião imposta no Brasil, segundo o autor (SILVA, 2005), fez com que
aqui imperasse uma religião de fachada. Na verdade, a convicção católica entre os fiéis brasileiros foi
se constituindo na história como sendo de pouca importância. Fundamental era parecer católico: ir à
missa aos domingos e rezar publicamente com roupa apropriada, aprender a respeitar os dias santos do
calendário cristão, batizar seus negócios com nomes dos mártires católicos etc. Contudo, isto não evitava
que muitos aspectos dos sistemas religiosos africanos, indígenas e também do paganismo português,
como é o caso dos mitos e dos ritos que aqui se perpetuaram, continuassem fortemente sincretizados no
imaginário colonial com o catolicismo português.
3.3. Religiões Brasileiras de Configuração Sincrética e suas Representações nas Artes e na Mídia
O Candomblé e a Umbanda são provavelmente as principais religiões afro-brasileiras. Ambas têm
suas raízes no passado colonial – apesar de a Umbanda ter se configurado como religião somente nas
primeiras décadas de século XX, em meio a um cenário urbano. Ambas também apresentam sincre-
tismo. No entanto, há uma diferença fundamental entre as duas. Segundo Vagner Gonçalves da Silva
(2005), no Candomblé tenta-se recriar a África no Brasil, enquanto que a Umbanda se identifica mais
com um imaginário nacional, de um diálogo mais explícito com as tradições indígenas, além de toda
a influência que ela recebeu do espiritismo kardecista e do catolicismo português. Em uma de suas
vertentes, a da “umbanda esotérica”, existe ainda a presença de referências ao Egito e à Índia.
Mas há ainda diferenças entre Candomblé e Umbanda no que concerne ao panteão, às finalidades do
culto às divindades, à concepção e finalidade do transe, ao processo de iniciação religiosa, aos modos de
comunicação com as divindades e espíritos, à hierarquia religiosa, à música e dança rituais. Para conhecer
um pouco dessas diferenças, observe o quadro elaborado por Vagner Gonçalves da Silva (2005:126-127).
Iniciação
Hierarquia religiosa
Candomblé: Estabelecida a partir do tempo de iniciação e da indicação dos
adeptos para ocuparem cargos religiosos. Fundamental na organização
sócioreligiosa dos grupo.
Música ritual
Candomblé: Predomínio de cantigas contendo expressões de origem africana.
Acompanhamento executado por três atabaques percutidos somente pelos
alabês (iniciados do sexo masculino que não entram em transe).
Dança ritual
Como vimos no texto de Lilia Moritz Schwarcz, trabalhado no tópico anterior desta disciplina, tanto o
Candomblé quanto a Umbanda começam a ser mais tolerados entre os brasileiros de maioria cristã a
partir dos anos 30. Mas é somente nos anos 60, segundo Reginaldo Prandi (1994), que eles passam a ter
uma presença realmente forte na mídia e, consequentemente, a se difundir cada vez mais pelo país e pelo
exterior. Afinal, como afirma o autor (1994: 74), os anos 60 “são os anos de contracultura, da recuperação
do exótico, do original”. Época em que, no Brasil, boa parte da intelectualidade e dos setores artísticos
vão se voltar para as tradições indígenas e para a cultura negra, especialmente a negra-baiana.
Leitura
Para conhecer mais sobre o assunto, leia do texto “As religiões negras do Brasil: para
uma sociologia dos cultos afro-brasileiros”, de Reginaldo Prandi. (http://www.revistas.
usp.br/revusp/article/view/28365).
RIBEIRO, Darcy. O povo brasileiro: a formação e o sentido do Brasil. São Paulo: Companhia das
Letras, 1995.
SILVA, Vagner Gonçalves. Candomblé e umbanda: caminhos da devoção brasileira. São Paulo: Selo
Negro, 2005.
MOURÃO, Tadeu. Encruzilhadas da cultura: imagens de Exu e Pombajira. Rio de Janeiro: Aeroplano,
2012.
VERGER, Pierre Fatumbi. Lendas africanas dos orixás. Salvador: Corrupio, 1997.
PRANDI, Reginaldo. As religiões negras do Brasil. In: REVISTA USP – dossiê povo negro 300 anos.
São Paulo: USP, 1994.
Supervisão Administrativa
Denise de Castro Gomes
Identidade Visual
Régis da Silva Pereira
Viviane Cláudia Paiva Ramos
O trabalho Arte e Cultura Brasileira- Unidade 3 – DIVERSIDADE CULTURAL E RELIGIOSA NO BRASIL de Carmen Luisa Chaves
Cavalcante, Núcleo de Educação a Distância da UNIFOR está licenciado com uma Licença Creative Commons - Atribuição-NãoCo-
mercial-SemDerivações 4.0 Internacional.