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Fissuração em

estruturas de concreto
armado

Prof. MSc. Fábio Henrique de Melo Ribeiro


Eng. Civil & Eng. Seg. Trab.
Introdução
¾ A fissuração é um dos sintomas mais importantes das
patologias do concreto armado;
¾ Em todas as construções, nas quais intervém o concreto,
aparecem fissuras que podem manifestar-se após anos,
semanas ou, inclusive após algumas horas;
¾ As causas da fissuração podem ser várias e nem sempre
é fácil detectá-las. Conhecê-las, sem dúvida, é
importantíssimo para saber o “porquê” do seu
aparecimento a fim de aplicar uma terapêutica adequada.
Introdução
¾ Causas de fissuração:

a) cura deficiente
b) retração Causas inerentes ao concreto como material
c) expansão
d) variações de temperatura
e) ataques químicos Causas devidas à má aplicação dos
f) excesso de carga princípios da Estática, ao excesso nas
g) erros de projeto solicitações ou à negligência no
h) erros de execução projeto ou na construção.
i) recalques diferenciais
Introdução
¾ Posição das fissuras nos elementos estruturais, abertura
e trajetória – podem servir para indicar a causa ou as
causas que as motivaram;
¾ É preciso considerar a existência de fissuras que se
diferenciam de acordo com o momento em que ocorram no
concreto:
- fissura que se produz no estado plástico
- fissura que ocorre no concreto endurecido
¾As fissuras também se diferenciam de acordo com o
tratamento que deverão receber na sua reparação:
- fissuras com movimentos, ativas ou “fissuras vivas”
- fissuras sem movimento, estabilizadas, inativas ou “fissuras mortas”
Introdução
¾ Os primeiros passos para a análise de uma estrutura de
concreto fissurada:
- elaboração do mapeamento das fissuras;
- classificação das fissuras (fissura ativa ou inativa);
- determinação de suas causas;
- estabelecimento de metodologias de reparo;
- recuperação ou reforço da estrutura fissurada.

¾ É necessário sempre muita atenção e competência, pois


uma análise malfeita pode levar à aplicação de um método
de recuperação ou reforço inadequado, o que pode levar
ao ressurgimento das mesmas.
- Aspecto anti estético;
FISSURAÇÃO - Sensação de insegurança;
- Portas abertas para a corrosão das armaduras.

A abertura máxima das fissuras estão limitadas de acordo com o


ambiente ao qual está exposta a estrutura e com a utilização da mesma.
Aberturas máximas admitidas pelo Comitê Europeu do Concreto Armado (Cánovas, 1988)
Ambiente que afeta a obra Abertura máxima das fissuras
Para elementos internos em atmosfera 0,3 mm
normal.............................................................
Para elementos internos em atmosfera
úmida ou agressiva e elementos externos 0,2 mm
expostos à intempérie.....................................
Para elementos internos ou exteriores a um
ambiente particularmente agressivo ou que 0,1 mm
deva assegurar estanqueidade......................
Fissuras de retração hidráulica
¾ A retração hidráulica produz redução dos elementos
estruturais que se converterão em trações e em fissuras ou
trincas se o elemento está impedido de deformar-se;
¾ Pode ocorrer que, em vez da fissuração, ocorra no
elemento que se retrai, ocorra nos outros elementos que a
ele estão unidos.
¾ Exemplo: vigas curtas com grandes seções e muito
armadas, unidas a pilares esbeltos. Neste caso, as fissuras
não aparecem na viga mas na cabeça e nos pés dos
pilares e, com maior intensidade, nos pilares extremos.
Fissuras de retração hidráulica

¾ Pode ocorrer também uma retração diferente entre dois


pilares levando a viga à fissurar.

Fissuras em pórtico por retração diferencial dos pilares (Cánovas, 1988)


Fissuras de retração hidráulica
¾ Os muros de arrimo são elementos de grande massa e
que podem sofrer com facilidade os efeitos da retração.
Fissuras na parte superior e mais fechadas em direção ao
terreno a umidade e o abrigo que proporciona o terreno
são condições muito favoráveis para a realização de uma
boa cura.

Fissuras de retração típica de um muro de arrimo (Cánovas, 1988)


Fissuras de retração hidráulica

¾ A fissuração por retração hidráulica pode afetar


somente aos cobrimentos, como ocorre com elementos
muito armados.

Fissuras de cobrimento (Cánovas, 1988)


Fissuras de retração hidráulica
¾ Existem também fissuras provocadas devido a
deficiências na homogeneidade do concreto. È o que
acontece, por exemplo, em concretos vibrados por um
tempo excessivo, produzindo segregação.

Fissuração superficial produzida por efeito da segregação dos agregados


(Cánovas, 1988)
Fissuras de retração hidráulica
¾ Às vezes uma granulometria irregular, com excesso de
elementos muito graúdos, pode também ser prejudicial.
Formam-se fissuras ao redor dos agregados que podem
fazer com que a resistência aos 28 dias destes concretos
seja inferior a sua resistência aos 7 dias.

Microfissuração por emprego de granulometrias incorretas (Cánovas, 1988)


Fissuras de retração hidráulica
¾ Características gerais das fissuras de retração hidráulica:
- aparecimento em qualquer momento (horas, dias e, inclusive meses);
- em elementos pouco armados ou em concreto/massa, as fissuras
aparecem espaçadas e são de maior espessura;
- as fissuras em elementos estruturais retilíneos são limpas, retas, de
espessura constante e perpendiculares ao eixo da peça.

¾ Cuidados a serem tomados para prevenir a fissuração


provocada por retração hidráulica:
- empregos de juntas de retração em muros, pavimentos e pórticos de
grande comprimento;
- cura adequada ao tipo de concreto e estrutura;
- utilização de armaduras de pequenos diâmetros e de malhas eletro-
soldadas em forma de armaduras de pele.
Fissuras de retração térmica
¾ A formação de fissuras de retração térmica é devido
principalmente à baixa condutividade do concreto, que faz
com que exista um gradiente térmico entre o interior da
massa e as superfícies.
¾ Sempre que a diferença entre a temperatura ambiente e
a do núcleo seja superior a 20ºC é de se esperar que se
produzam fissuras.
¾ Os aspectos das fissuras de retração térmica é muito
parecido ao das fissuras de retração hidráulica, sendo
perpendiculares ao eixo principal dos elementos, de
largura constante e produzindo o seccionamento do
elemento.
Fissuras de retração térmica
¾ A falta ou a construção defeituosa de juntas de dilatação
dará lugar a fissuras se o concreto não puder resistir,
devido ao seu módulo de deformação que origina a
mudança de temperatura.
¾ As fissuras de retração térmica aparecem em:
- soleiras;
- pavimentos de concreto;
- lajes de grande comprimento e que estejam seguras em sua
deformação por vigas;
- muros de grande comprimento;
- local de passagem de um conduto de calor próximo, ou em contato
com elementos estruturais (chaminés ou condutores de água quente
sem isolamento conveniente, por exemplo);
Fissuras de retração térmica

¾ A retração térmica faz surgir as juntas naturais nos


edifícios quando não são deixadas juntas de dilatação
convenientemente espaçadas durante a construção.
¾ Isto ocorre, por exemplo, quando há elementos
delgados solidários a elementos de grande massa. As
peças delgadas dilatam mais rapidamente porque
aquecem mais depressa e isso faz aparecer fissuras.

Verçoza, 1991
Fissuras de retração térmica

¾ Existe um erro comum de concepção de projeto que


leva ao aparecimento de fissuras. É a fixação de grades
de ferro de grande comprimento no concreto. Como o
ferro dilata muito mais rapidamente que o concreto
aparecem fissuras típicas de tração.
¾ A solução é fazer juntas na grade.

Verçoza, 1991
Fissuras por secagem rápida
¾ As fissuras deste tipo são conseqüência de uma secagem
superficial enérgica ocorrida nas primeiras horas que o
concreto foi lançado, e quando o concreto ainda não
endureceu.
¾ Essas fissuras são mais freqüentes em elementos de
concretos de pouca espessura e de grande superfície
horizontal livre.
¾ Se o elemento é de espessura variável, como ocorre em
algumas lajes, as fissuras aparecerão com mais
profundidade sobre as partes de menor espessura do que
sobre as mais espessas.

Nas lajes, as fissuras costumam aparecer nas zonas mais esbeltas (Cánovas, 1988)
Fissuras por secagem rápida
¾ A ocorrência desta fissuração será mais freqüente e
intensa quando:
- quanto maior seja a dosagem de cimento empregada;
- a relação água/cimento;
- a categoria do cimento;
- a proporção de finos no concreto (sejam procedentes da areia
utilizada, do cimento com adições inertes ou de agregados
contaminados com argila).
¾ As principais características destas fissuras são as
seguintes:
- Aparecem nas primeiras horas de concretagem (1 a 10 horas);
- Formam grupos com uma distribuição muito irregular, cortando-se
entre si (“mapeamento hidrográfico”);
- Aparecem normalmente em clima seco, ensolarado e com vento, ou
sem ele, além de que também podem se apresentar em climas frios e
úmidos.
Fissuras por secagem rápida

Mapeamento hidrográfico de fissuras (Cânovas, 1988)


Fissuras devido à execução - estado plástico
¾ Motivos mais freqüentes de fissuração por falhas na
execução:
- deslizamento do concreto em rampas de escadas com grande
inclinação;
- movimentos de uma forma mal projetada ou mal fixada;
- deslocamentos de armaduras durante a compactação do concreto.
¾ A união de pilares a vigas corre riscos se, uma vez
concretados os pilares, não se esperar algumas horas
antes de concretar as vigas, para permitir que o concreto
fresco dos pilares assente.
¾ O mesmo pode-se dizer em relação à união das lajes ou
placas de piso com muros de concreto.
Fissuras devido ao projeto ou à execução –
estado endurecido
¾ Consolos e dentes Gerber mal projetados ou mal
executados, nos quais os apoios não funcionam
adequadamente produção de grandes esforços , que
podem fissurar o consolo ou a viga que se apóia sobre ele.

Fissuração em consolo por má execução de apoio (Cánovas, 1988)


Fissuras devido ao projeto ou à execução –
estado endurecido
¾ Às vezes ocorre o movimento dos consolos por recalque
do terreno e, se o apoio não funciona bem, pode mudar os
esforços no elemento que se apóia nele.

Fissuras no tirante, arqueado por deficiente execução do apoio (Cánovas, 1988)


Fissuras devido ao projeto ou à execução –
estado endurecido
¾ Nos balanços em que se produziu um deslocamento para
baixo das armaduras superiores positivas, durante a
concretagem, aparecerão fissuras de flexão na parte
superior.

Fissuras produzidas por deslocamento das armaduras (Cánovas, 1988)


Fissuras devido aos recalques diferenciais
¾Um recalque dos alicerces costuma
provocar fissuras nas vigas ligadas ao
pilar recalcado e próximo ao pilar
contíguo a este, sendo a distância
aproximada das fissuras ao pilar não
recalcado de um quinto do vão.
¾ Este tipo de fissura tem espessura
variável e é mais aberta na parte
superior do que na inferior das vigas.
¾ A quantidade de fissuras vai se
tornando menor conforme vão se
aproximando de vigas de andares mais
elevados. Efeito do recalque (Cánovas, 1988)
Fissuras devido à esforços mecânicos
excessivos em pilares
¾ A figura abaixo mostra o tipo de fissuração que aparece
em um pilar quando este está sofrendo uma tensão de
compressão superior à sua resistência. Este tipo de
fissuração também ocorre quando há deficiência de
estribos nos pilares.
¾ Este excesso de
compressão pode
se causado por:
- excesso de carga;
- concreto fraco;
- erro de cálculo;
- mau posicionamento
da armadura. Verçoza, 1991
Fissuras devido à esforços mecânicos
excessivos em pilares
¾ Quando um pilar está flexionando para um lado
aparecem fissuras do tipo mostrado na figura abaixo.
¾ Flexão lateral pode ser causada por ninho no interior do
concreto, ou porque a fundação correspondente está
cedendo ou porque a estrutura está sofrendo excesso de
dilatação térmica e as vigas e lajes estão empurrando o
pilar.

Verçoza, 1991
Fissuras devido à esforços mecânicos
excessivos em pilares
¾ Quando um pilar está sofrendo flambagem as fissuras
tomam a forma indicada na figura abaixo. A direção das
fissuras também serve de indicativo da direção da
flambagem. Este tipo de situação sempre deve ser
corrigido com urgência.
¾ A flambagem lateral pode ser
causada por:
- excesso de carga;
- concreto fraco;
- erro de cálculo;
- mau posicionamento da armadura;
- deficiência de estribos no pilar.
Verçoza, 1991
Fissuras devido à esforços mecânicos
excessivos em pilares
¾ Um tipo de fissura, às vezes encontrado nos pilares, é a
situada no topo, junto à laje ou viga, e paralela a esta. É
uma junta de concretagem que abriu. É que o pilar foi
enchido bastante antes que a laje ou a viga e então não
houve suficiente soldagem entre o concreto mais antigo e
o mais novo.

Verçoza, 1991
Fissuras devido à esforços mecânicos
excessivos em vigas
¾ Uma viga com excesso de flexão vai apresentar fissuras
dos tipos mostrados na figura abaixo.
¾ São fissuras na parte inferior, se devidas ao momento
positivo, ou na parte superior, se devidas a momentos
negativos.
¾ O ângulo, nesses casos, fica em torno de 45º nas vigas
de pouca altura e vai a 60º nas vigas altas. As fissuras
ficam uniformemente distribuídas, ou quase.

Verçoza, 1991
Fissuras devido à esforços mecânicos
excessivos em vigas
¾ Uma viga com excesso de força cortante (cisalhamento)
vai apresentar fissuras a 45º nos locais onde a força
cortante é maior, ou seja, próximo às extremidades.

Verçoza, 1991
Fissuras devido à esforços mecânicos
excessivos em vigas
¾ Uma viga com excesso de tração vai apresentar fissuras
verticais, uniformemente distribuídas, e que tanto podem
ficar na parte baixa como na parte alta, mas que,
geralmente, ficam no terço médio da altura da viga.

Verçoza, 1991
Fissuras devido à esforços mecânicos
excessivos em vigas
¾ Quando uma viga está com sua resistência à torção
comprometida, apresenta fissuras inclinadas,
uniformemente distribuídas, mas em direções opostas em
cada face da viga.

Verçoza, 1991

¾ Defeitos desse tipo acontecem:


- em marquises
- em vigas extremas marquise viga extrema
- em vigas intermediárias quando o carregamento é
desequilibrado
Fissuras devido à esforços mecânicos
excessivos em lajes
¾ Lajes armadas numa só direção apresentam fissuras
indicadas como na figura abaixo.
¾ Trata-se de:
- excesso de flexão – fissuras na parte inferior, raramente chegando à
face superior;
- excesso de tração transversal – fissuras em cima e em baixo;
- excesso de cisalhamento – fissuras em baixo, junto às paredes;
- movimentação térmica longitudinal – fissuras atravessadas

Verçoza, 1991
Fissuras devido à esforços mecânicos
excessivos em lajes
¾ Lajes armadas nas duas direções (retangulares ou
quadradas), quando excessivamente flexionadas
apresentam fissuras, que geralmente, começam no centro,
perpendiculares às direções da armadura, pela face
inferior. Essas linhas depois vão se curvando em direção
aos vértices.

Verçoza, 1991
Fissuras devido à esforços mecânicos
excessivos em lajes
¾ Outras vezes as fissuras toma linhas retas na face
superior, paralelas, acompanhando as vigas. O defeito é
a falta ou insuficiência de armadura negativa na laje.

Verçoza, 1991
Fissuras devido à esforços mecânicos
excessivos em lajes
¾ Também existe um tipo de fissura bastante encontrado
em lajes e relativamente fácil de identificar. É a fissura
devido ao eletroduto. Ela vai desde a luminária até o tubo
vertical da luz, ou outra direção que o eletroduto tome, e
é devida ao enfraquecimento da laje.
¾ Na maior parte das vezes, estabiliza com o passar dos
tempos.

Verçoza, 1991
Fissuras devido à esforços mecânicos
excessivos em lajes
¾ Há também o fissuramento típico de lajes mistas,
devido à diferença de dilatação entre os materiais.

Verçoza, 1991
Fissuras devido à reações expansivas
¾ Reação álcali-agregado:
- as peças de concreto em cuja dosagem foram empregados
agregados reativos frente aos álcalis do cimento são objetos de
fissurações.
- nesta reação ocorre a formação de um gel expansivo dentro da
massa de concreto, gerando tensões de tração, fissurando o
concreto;
- o sintoma mais aparente desta reação é a fissuração desordenada
nas superfícies expostas;
- este quadro de fissuração não costuma manifestar-se antes de um
ano após a concretagem.
¾ Agregados contaminados com pirita
- São também objetos de fissurações concretos fabricados com
agregados contaminados com pirita, que possam dar lugar à
formação de etringita (produto expansivo).
Métodos para se determinar a
abertura das fissuras

¾A determinação da abertura das fissuras se faz por


medida comparativa mediante:

- selos de gesso;
- plásticos gravados;
- fissurômetro;
- lupas especiais providas de escala graduada.
Métodos para se determinar a
abertura das fissuras

Lupa (Cánovas, 1988)

Fissurômetro (Cánovas, 1988)


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