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Prática 5 – Análise de campo magnético em um


circuito magnético
Daniel de Sá Araújo, Thiago Henrique G. Mello

 Temos que a permeância p, é definida como o recíproco da


relutância.
I. INTRODUÇÃO A lei de ohm (V=RI) é a relação básica para elementos de
O conceito de circuitos magnéticos está baseado na resolução circuitos magnéticos:
de alguns problemas de campo magnético utilizando a
abordagem de circuitos. Dispositivos magnéticos como 𝑭𝒎𝒎 = 𝝍𝑹
motores, transformadores, relés e geradores podem ser Equação 3
considerados circuitos magnéticos. A análise desses circuitos é
simplificada se for feita uma analogia entre circuitos elétricos e Onde 𝝍 é o fluxo magnético.
magnéticos, podendo aplicar os conceitos de circuitos elétricos
Com base nisso, as leis de Kirchhoff de tensão e corrente
para resolver os circuitos magnéticos análogos.
podem ser aplicadas às malhas e aos nós de um circuito
magnético da mesma maneira como é feito em um circuito
elétrico. Além disso, as regras de combinação de resistências
em paralelo e em série e de soma de tensões também são válidas
para as relutâncias e forças magnetomotriz. Logo, para n
elementos de um circuito magnético em sério:

𝝍𝟏 = 𝝍 𝟐 = 𝝍𝟑 = ⋯ = 𝝍𝒏
Equação 4

Figura 1: Analogia entre um circuito elétrico e um circuito


magnético. 𝑭𝒎𝒎 = 𝑭𝒎𝒎𝟏 + 𝑭𝒎𝒎𝟐 + ⋯ + 𝑭𝒎𝒎𝒏
Equação 5
Temos a força magnetomotriz (𝐹𝑚𝑚 ), dada em ampères-
espiras), definida por: Para n elementos de um circuito magnético em paralelo:
𝑭𝒎𝒎 = 𝑵𝑰 = ∮ 𝑯. 𝒅𝒍
𝝍 = 𝝍 𝟏 + 𝝍𝟐 + ⋯ + 𝝍𝒏
Equação 1 Equação 6

Normalmente a fonte de força magnetomotriz em circuitos


magnéticos é usualmente uma bobina percorrida por uma 𝑭𝒎𝒎𝟏 = 𝑭𝒎𝒎𝟐 = ⋯ = 𝑭𝒎𝒎𝒏
corrente, como mostra a figura 1. Podemos definir Relutância Equação 7
𝑹 (em ampère-espira/weber) como:

𝒍 Podemos destacar algumas diferenças entre os circuitos


𝑹= magnéticos e elétricos. Diferente de um circuito elétrico onde
𝝁𝑺
Equação 2 flui corrente 𝐼, o fluxo magnético não flui. A condutividade 𝜎 é
independente da densidade de corrente 𝐽 em um circuito
Onde 𝑙 𝑒 𝑆 são o comprimento médio e a área da seção reta elétrico, enquanto que a permeabilidade 𝜇 varia com a
do núcleo do núcleo magnético respectivamente. densidade de fluxo B em um circuito magnético. Isso acontece
porque são usualmente utilizados na maior parte dos
dispositivos magnéticos práticos os materiais ferromagnéticos,
que não são lineares. Mesmo com essas diferenças, o conceito

Belo Horizonte, 10 de maio de 2018. Relatório técnico para disciplina de D.S.Araújo. Graduando em Engenharia Elétrica.
Laboratório de Eletromagnetismo do curso de Engenharia Elétrica do Centro T.H.Mello. Graduando em Engenharia Elétrica.
Federal de Educação Tecnológica de Minas Gerais (CEFET-MG)
.
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de circuito magnético é viável para analisar aproximadamente III. DESENVOLVIMENTO


os dispositivos magnéticos práticos.
Através do software Quick Field, foram simuladas as
situações propostas na prática 9 e, como resultado, foram
II. OBJETIVOS medidos a intensidade de campo magnético no ponto P2, a
Considere o núcleo magnético da figura a seguir, no qual é densidade de fluxo magnético, energia armazenada no campo
gerado um campo magnético por uma bobina onde circula uma magnético e indutância total.
corrente𝐼 = 𝑛𝑒𝑠𝑝 𝐼𝑒𝑠𝑝 (corrente equivalente, que é igual ao Além disso, foram exigidas duas geometrias distintas, sendo
número de espiras da bobina vezes a corrente que passa em cada que uma era sem a existência de um “gap” na estrutura de ferro,
uma delas). e a outra apresentava o “gap”.
O desenho das linhas de fluxo para a primeira geometria está
mostrado na figura 1

Figura 1: Linhas de campo magnético na estrutura de ferro


envolvida por uma bobina de corrente.
Figura 2: Núcleo magnético
Para ambos os problemas, foi considerada uma caixa de
a) Simular o problema do circuito magnético sem o
“gap” no QuickField (utilizar aproximação comprimento e altura iguais a 51cm, distância considerada
bidimensional) e obter: muito maior de forma que o potencial vetor magnético na
fronteira fosse zero.
 Vetor densidade de fluxo magnético no P2;
Essa condição era necessária uma vez que o problema exige
 Vetor intensidade campo magnético no P2;
condições de fronteira.
 Energia armazenada no campo magnético Outros dados obtidos com o software para a primeira
(energia total, considerando a profundidade); geometria são os vetores de intensidade de campo magnético e
 Indutância total da bobina; um mapa de contorno para a densidade de fluxo magnético.
 Comparar todos os valores simulados com os Ambas ilustrações estão expostas na figura 2.
valores analíticos.

b) Simular o problema do circuito magnético com o


“gap” no QuickField (utilizar aproximação
bidimensional) e obter:
 Vetor densidade de fluxo magnético nos
pontos P1 e P2;
 Vetor intensidade campo magnético nos
pontos P1 e P2;
 Energia armazenada no campo magnético
(energia total, considerando a profundidade).

Figura 2: Ilustração dos vetores de intensidade de campo magnético


e mapa de contorno para a densidade de fluxo magnético sem o
“gap”.
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Além dos gráficos, as medidas exigidas foram obtidas e os


valores para cada uma delas está exposto na tabela 1.

Tabela 1: Valores encontrados através da simulação para os dados


exigidos.

Mensurando Sem “gap”


B(Wb/m²) 0.043939
H(A/m) 5.8277
Energia(J) 0.00028271
Indutância(μH) 35.339

Os valores analíticos para os mensurandos foram


determinados utilizando as equações expostas abaixo.
𝐻 = 𝑁𝐼⁄𝑙 (𝐼)

𝐵 = 𝜇𝐻 (𝐼𝐼) Figura 3: Linhas de campo magnético na estrutura de ferro com


“gap” envolvida por uma bobina de corrente.
𝐿 = Ф⁄𝑁𝐼 = 𝐵𝑆⁄𝑁𝐼 (𝐼𝐼𝐼)

𝐵𝐻
𝑤= (𝐼𝑉) Juntamente com as linhas de campo, foram desenhados os
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vetores de intensidade de campo magnético e o mapa de
𝐵𝐻𝑆 contorno para a densidade de fluxo magnético. Esses desenhos
𝑊 = 𝑤𝑆 = (𝑉) estão na figura 4.
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Em que a equação I determina a intensidade de campo
magnético pela corrente e comprimento da espira, a equação II
utiliza a relação entre intensidade e densidade de campo
magnético para meios isotrópicos e homogêneos, a III dá a
indutância em função do fluxo, a IV a densidade de energia e
pro fim a V, que determina a energia.
Todas essas equações são aproximações realizadas para
evitar o cálculo através de integrais.
Os valores encontrados para cada grandeza estão expostos
na tabela 2.

Tabela 2: Valores calculados analiticamente sem “gap”.

Cálculo analítico Sem “gap”


B(Wb/m²) 0.039683
Figura 4: Ilustração dos vetores de intensidade de campo magnético
H(A/m) 5.2632 e mapa de contorno para a densidade de fluxo magnético com o
Energia(J) 0.00028572 “gap”.
Indutância(μH) 35.7149
Novamente, também foram definidas as grandezas exigidas
Terminada a análise para a primeira estrutura, foi feito o para a estrutura e essas estão na tabela 3, entretanto, nesse
mesmo procedimento para a segunda estrutura. caso, foram medidas em dois pontos distintos: um dentro do
Nessa segunda geometria, foi inserido um “gap” no ferro e ferro e o outro na região onde existe o “gap”.
essa está mostrada na figura 3, juntamente com as linhas de
intensidade de fluxo magnético. Tabela 3: Valores encontrados através da simulação para os dados
exigidos nos pontos P1 e P2.

Mensurando P1 P2
B(Wb/m²) 0.00017065 0.00029246
H(A/m) 135.8 0.038789
Energia(μJ) ------------- 2.4414
Indutância(μH) ------------- 0.30517
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Para a determinação dos valores analíticos, foram utilizadas do ferro, essa configuração ainda permite que componentes que
algumas equações que diferem daquelas expressas de I a V e não são tangenciais as duas superfícies sejam criados e
estas estão expostas a seguir: influenciem no campo ao redor da fissura.
𝜇0 𝜇𝑁𝐼 Os cálculos analíticos e simulados para a estrutura sem a
𝐵= (𝑉𝐼)
𝜇0 (4𝐿 − 𝑙) + 𝜇𝑙 fissura foram próximos, mostrando que as aproximações foram
bem realizadas, mesmo com a geometria sendo distinta daquela
𝐵 imposta para a aplicação das aproximações. Entretanto, para a
𝐻= (𝑉𝐼𝐼)
𝜇 estrutura com o “gap”, os erros foram mais elevados, mostrando
que mesmo com a mudança nas formas analíticas, a fissura
𝐵 interfere consideravelmente na dinâmica do circuito magnético.
𝐻𝑔 = (𝑉𝐼𝐼𝐼)
𝜇0
V. CONCLUSÃO
𝑁𝐼
Ф= (𝐼𝑋)
(4𝐿 − 𝑙)/(𝜇𝑆) + 𝑙/(𝜇0 𝑆) Através dessa prática, foi possível observar e verificar as
Portanto, os valores analíticos para os dois pontos estão na características dos campos intensidade de campo magnético e
tabela 4.
densidade de fluxo magnético gerados por um circuito
Tabela 4: Valores calculados analiticamente com o “gap”
magnético. Também foi possível ver a interferência causada nos
campos pela inserção de uma fissura, mesmo que pequena, na
Mensurando P1 P2 estrutura do circuito.
B(Wb/m²) 0.00016687 0.00016687 Além disso, mostrou-se que aproximações, mesmo que
H(A/m) 132.8 0.02213 aparentemente não precisas são um bom ponto de partida para
Energia(μJ) ------------- 1.2015 resolução de circuitos magnéticos, mesmo que não apresentem
Indutância(μH) ------------- 0.150187 valores relativamente próximos para geometrias com fissuras.
Portando, a partir do exposto na prática foi possível perceber
Por fim, após a análise individual de cada geometria através a relevância de simulações computacionais na resolução de
do software e de forma analítica, foram expressos os erros circuitos magnéticos e sua importância em equipamentos como
relativos entre cada grandeza na tabela 5. motores e transformadores, sendo indispensável atualmente.
Outro ponto relevante é a mudança na dinâmica do circuito
Tabela 5: Erros relativos entre os valores calculados pela simulação quando é inserida uma fissura na estrutura.
e os valores calculados analiticamente para as duas geometrias.

Mensurando Erro sem “gap” Erro com “gap” REFERÊNCIAS


P2 P1 P2 [1] M. N. O. Sadiku, Elementos de eletromagnetismo, Bookman, 3a Ed.,
Porto Alegre, 2004.
B 9.7% 2.2% 42.9%
[2] Fawwaz Ulaby, Umberto Ravaioli, Fundamentals of Applied
H 9.7% 2.2% 42.9% Electromagnetics,7a Ed.
Energia 1.1% ------ 50.8%
Indutância 1.1% ------ 50.8%

IV. DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

Após o exposto no desenvolvimento, percebeu-se que


valores não lineares para a densidade de fluxo magnético e
consequentemente de intensidade de fluxo magnético foram
encontrados nas beiras das estruturas de ferro. Esse evento
provavelmente se deu devido a utilização de uma versão
limitada do software, tornando a malha mais pobre e incapaz de
dar resultados mais precisos para toda a faixa do problema.
Além disso, condições de fronteira foram incluídas devido ao
fato dos problemas exigirem condições de fronteira. Para sanar
essa necessidade, foi introduzida uma caixa quadrada de lado
51cm cujo potencial vetor magnético foi definido como zero.
Outra observação relevante é sobre a estrutura com o “gap”
e a forma da densidade de fluxo magnético em toda a região da
caixa. Nessa geometria, ouve uma dispersão do campo também
na estrutura externa ao ferro, mostrando que, apesar da
espessura do “gap” se muito fina quando comparada a largura

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