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Respostas de perspectiva no

teste de Rorschach e inteligência

FRANCISCO CAMPOS

I . As respostas de perspectiva den-


tró das respostas de claro-escuro.
2. Conceituação geral das respostas
de perspectiva. 3. Limites entre di-
fumação e perspectiva, entre superfí-
cie e profundidade. 4. Respostas
duvidosas de perspectiva em casos
específicos. 5. Breve discussão.
6. Significado das respostas de pers-
pectiva. 7. A pesquisa. 8. Con-
dusão. 9. Resumo.

o teste de Rorschach é, essencialmente, um teste de personalidade. Pre-


tende-se que nos informa sôbre características a que a análise factorial de
outros testes conferiu uma certa independência, tais como a extroversão-
introversão, os mecanismos psicológicos de inibição e contrôle, as cargas
de ansiedade, os papéis prototípicos de ascendência e submissão, e muitas
outras. Isso sem falarmos de suas possibilidades para o diagnóstico mais
profundo de normalidade, neurose e nosologia psiquiátrica.
O teste de Rorschach não é um teste de inteligência. Contudo, a maio-
ria dos autores concordam em que nos pode dar preciosas informações sôbre
vários de seus aspectos funcionais: flexibilidade mental e estereotipia,
juízo crítico e objetividade, inteligência sintética ou analítica, prática,
concreta ou abstrata, criatividade ou bloqueio do funcionamento inte-
lectual. As variáveis que nos informariam a êste respeito seriam princi-
palmente o número de respostas, as respostas de movimento, certo tipo de
respostas globais, as formas bem vistas, o fator Z ou nível de organização
de Beck. Para alguns autores, as respostas de sombreado em geral e as de

Arq. bras. Psic. ap!. Rio de Janeiro 24 (1) :41-62 janjmar. 1972
perspectiva em particular teriam alguma relação com a inteligência. Esta
relação poderia ser indireta, agindo como condição básica para a pre-
sença de algumas características como a intuição e a compreensão do eu e
dos outros, ou direta, seja com a inteligência propriamente dita (Pio-
trowski), seja com a maturidade geral (Phillips e Smith).
Foi a afirmação de Piotrowski de que as respostas de perspectiva são
típicas das pessoas inteligentes, o que nos moveu a realizar êste estudo.
Antes de apresentar os resultados, faremos uma breve revisão de alguns
conceitos pertinentes ao assunto.

1. As respostas de perspectiva dentro das respostas de claro-escuro

O claro-escuro como determinante emerge paulatinamente na história do


Rorschach. As respostas de perspectiva, pela sua vez, demoram bastante
até ser-lhes reconhecida personalidade própria por parte de alguns
rorschachistas.
É, no entanto, significativo que a primeira resposta a que lhe foi
atribuído um determinante baseado na côr acromática seja uma resposta
de perspectiva. É a "alamêda rodeada de belas árvores escuras que, su-
bindo aqui, se perde ao longe, numa balaustrada, formando o conjunto
uma perspectiva", no famoso protocolo póstumo de Rorschach publicado
por Oberholzer. É "uma interpretação, diz Rorschach (18.209), em que,
além das formas, as sombras desempenham um papel determinante".
"O branco e o prêto estão aqui com o valor de côres", mas não devem
ser assimilados às respostas de côr: são respostas de claro-escuro, carac-
terizadas em grande parte por sublinharem os aspectos de espaço e pers-
pectiva. A estas respostas deu Rorschach o símbolo Fb (Farbe: côr), re-
presentado por e nas traduções anglo-latinas; são até certo ponto respostas
de côr, mas não no sentido usual; são côres que depois se chamariam acro-
máticas, isto é, "côres sem côr".
Foi Binder o primeiro a aprofundar-se' na análise das respostas de
claro-escuro em seu clássico estudo sôbre o teste do Rorschach (3). Admite
dois tipos de respostas de claro-escuro: as respostas F (Fb) ou F (e), que
Bohm define como respostas de claro-escuro detalhado, e as respostas
F (Hd) (Helldunkel: claro-escuro), traduzidas por F (elob) ou F (eles),
em que a impressão de claro-escuro se estende de maneira difusa à totali-
dade do percepto. Além de Bohm (4) segue esta classificação a maioria dos
autores europeus. Zulliger (25) a adota para seu Z-Test; Loosli-Usteri (12)
a prefere às modificações de Ombredane e Canivet; êstes mesmos auto-
res (13) não divergem grandemente de Binder; preferem apenas chamar
as respostas e de respostas E ("estompage" ou esfumaçamento), com o que,
diga-se de pasagem, não concorda Loosli-Usteri, considerando-o uma im-
propriedade de linguagem e aceitam a notação marginal de perspectiva, por
influência da chamada escola americana.
Há, todavia, autores americanos que preferem a conceituação de
Binder, com a diferença de se utilizarem do símbolo eh (Chiaroscuro) para
as respostas Clob: Rapaport (17), Schafer (20), Schachte1 (19). A de-

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finição dêste não difere da de Bohm: as respostas C apresentam dois ou mais
matizes de claro-escuro, enquanto que nas Ch o sombreado é difuso e indi-
ferenciado.
A posição de Piotrowski é um pouco diferente (respostas c ou de som-
breado claro e respostas c' ou de sombreado escuro); embora divergente em
seus critérios dos autores mencionados, não admite ainda uma dassificaqão
específica para as respostas de perspectiva, ainda que, como veremos mais
adiante, lhes empresta um significado especial.
Com a exceção relativa de Ombredane e Canivet, nenhum dos autores
mencionados aceita como autônomas as respostas de perspectiva, se bem
que para alguns dêles mereçam algumas observações quanto à análise
qualitativa (Rorschach, Bohm, Piotrowski).
Essas respostas só ganham personalidade própria a partir de 1937, com
Beck (2); são suas respostas V (de Vista), ao lado das respostas de textura.
Phillips e Smith seguem de perto o sistema de Beck, bem como Small (23)
em seu dicionário de localização e classificação de respostas. .
Deve-se, no entanto, a Klopfer (9) e (10) a classificação mais aceita
das respostas de claro-escuro:
FK, perspectiva
K, KF: difusão
Fk, kF: extensão tridimensional projetada sôbre um plano bidimensional
Fc, cF, c: textura
C': côr acromática uniforme

(Lembremo-nos que outros autores admitem também notações especiais


para estas côres quando são uniformes, inclusive para o branco).
No Brasil, seguem o esquema de Klopfer, com ligeiras modificações
devidas a Leme Lopes (ll), além dêste autor, Cícero Christiano de
Sousa (24), Glória Quintela, desde que introduziu o teste no ISOP, Isabel
Adrados (1). Um tanto diferente é a posição de Aníbal Silveira, quem
desde 1943 (22), admite a autonomia das respostas de perspectiva, se bem
que dentro de uma teoria muito pessoal sôbre as respostas de luminosidade,
como êle prefere denominar às de claro-escuro.
Nosso propósito ao apresentarmos de maneira tão esquemática e in·
completa a evolução da clissificação das respostas sombreadas foi o de
destacar dois enfoques divergentes: em um dêles, o de Binder-Bohm, a
determinação das respostas é extraída exclusivamente da aparência objetiva
do claro-escuro e seus matizes na lâmina: as côres estão lá, mais ou menos
nítidas e diferenciadas ou mais ou menos difusas. A outra aproximação,
de Beck e Klopfer, introduz e valoriza um elemento subjetivo *: as três
dimensões, ou melhor, a terceira dimensão que, evidentemente, não se
.. Deve-se notar que em outro aspecto alguns dos autores mencionados não deixam,
por sua parte, de lançar mão de critérios subjetivos para classificar como Clob certas
respostas, como quando lhes dão automàticamente essa notação se nelas aparecem
conceitos disfóricos, macabros ou tenebrosos.

Respostas de perspectiva
encontra na prancha. Acontece, então, a nosso parecer, um fenômeno aná-
logo ao que se dá com as respostas de movimento: a perspectiva, como o
movimento, são projetados na lâmina pelo sujeito; é, como diz Allen,
segundo citação de Vera Campo e Diana Rabinovich (5), um ceterminante
imposto pelo sujeito, diferente dos outros determinantes "inerentes" às
pr.anchas, como são a fôrma, a côr e, no sentido de Binder, o claro·escuro.
É daí, evidentemente, que advém a êsse tipo de respostas o caráter intros-
pectivo, tal qual nas respostas de movimento, e do qual se poderá inferir
sua relação com a inteligência.

2. Conceituação geral das respostas de perspectiva


Phillips e Smith (15, 97) consideram uma resposta como de perspectiva ou
vista quando "as palavras do sujeito indicam ter êle visualizado o persepto
como se estivesse a uma apreciável distância dêle. O elemento crítico é a
posição do sujeito no espaço com relação ao objeto percebido. Exemplos de
palavras ou frases que envolvem esta relação espacial são 'distante', 'muito
ao longe', 'à vista de pássaro', 'olhando embaixo', 'longe ao fundo',
'estendendo-se na água'. Ao fazer-se o inquérito, perguntar ao sujeito
'onde se encontra você?' ajudou a esclarecer casos duvidosos".
A percepção da perspectiva depende da configuração espacial exis-
tente no material-estímulo. Assim, embora tradicionalmente associada com
o cinza, a sua aparição não se limita às pranchas não coloridas. Por exem-
plo, é classificada como vista a resposta à parte central da lâmina X "uma
avenida ladeada de rosas que leva à Torre Eiffel".
Pouco depois, os mesmos autores acrescentam: "Deve-se assinalar que
aqui a resposta foi classificada como vista sem haver verbalização, porque
as respostas implicam distância entre o sujeito e o percepto e não por
serem características de maturidade genética".
Depreende-se, pois, que para Phillips e Smith o fator básico para con-
siderar uma resposta como de perspectiva é a dis.tância entre o observador
e o percepto.
Para Klopfer, as respostas de claro-escuro são quase sempre tridimen-
sionais (9, 105) e localizam-se num continuum que se estende entre as
impressões de superfície e as de profundidade. Esta impressão de profun-
didade é "uma sensação de espaço cheio de ar entre objetos separados, com
implicação de distância e perspectiva" ou vista organizada, que deverão ser
distinguidas das respostas de difusão ou difuminação não organizada. As
primeiras seriam as respostas de verdadeira perspectiva, chamadas
FK. Sua característica principal reside no reconhecimento dos objetos se-
parados, como uma paisagem ou um cenário arquitetônio estendidos no
espaço, ou como "o espaço vazio entre os dois lados de um desfiladeiro".
Nem sempre que há distância há, para Klopfer, perspectiva. "Um
templo no alto de uma colina com uma longa escadaria que leva até êle",
é uma FK, mas não o seria "um caminho entre flôres que se torna menor
com a distância", a menos que ao final do caminho se visualize, por exem-
plo, (PrX) a Torre Eiffel.

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Temos então que para Klopfer a característica discriminante das res-
postas de perspectiva é a existência de vários objetos e de um espaço vazio
entre êles. Parece exigir também que se utilizem as matizes de claro-escuro.
Em seu manual introdutório (10, 83) Klopfer parece menos exigente.
Diz, simplesmente: "Classifique-se FK quando o sombreado é utilizado
para sugerir distância entre dois ou mais objetos".
Pode-se apreciar que os critérios básicos para os dois representantes
das respostas de perspectiva são em grande parte coincidentes, sendo de
pouco relêvo suas diferenças. Mas a exata e objetiva interpretação dêsses
critérios pode apresentar alguma dificuldade.

3. Limites entre difumação e perspectiva, entre superfície e profundidade.


Klopfer tenta definir os limites para ambos os aspectos das respostas de
claro-escuro.
Em geral, diz, as respostas de difuminação ou difusão K representam
uma extensão (pura e simples, interpolamos nós) que ocupa o espaço. Mas
quando revelam algo parcialmente visível são também FK, como na
lâmina IV "vagos contornos de um arranha-céu, confusamente vistos sob
a luz velada que brilha através da noite e da névoa".
Quanto ao limite entre profundidade FK e superfície Fc, cF, dependerá
da acentuação que se dê aos elementos de superfície. Os exemplos que dá
Klopfer ao discutir o assunto representam o ponto médio entre ambos os
pólos e recebem, por tal motivo, a conotação ambivalente Fc-FK. Assim
acontece com a "pelvis" na prancha IH em que as partes mais claras são
visualizadas como "ossos das costas" e as linhas mais escuras como "ossos
da frente da bacia"; igualmente "uma fôlha murcha" (IV) se o sujeito in-
dicar diferenças entre as partes posterior e anterior da fôlha, assinalando,
por exemplo, que a parte anterior é mais aveludada. (Devemos confessar
que êste segundo exemplo nos parece pouco convincente, pois o sujeito se
limita a observar diferenças de caráter puramente tátil, mais avelu-
dado-menos aveludado, o que não parece implicar autêntica distância ou
profundidade, que são os elementos característicos das respostas de pers-
pectiva.)
Vejamos agora alguns conteúdos específicos entre os mais sucetíveis
de serem catalogados como respostas de perspectiva.

4. Respostas duvidosas de perspectiva em casos específicos


Quando Phillips e Smith admitem a significação implícita de distância
sem que se imponha a sua verbalização, deixam margem à interpretação
subjetiva do analista do Rorschach.
Por outra parte, Klopfer, em seu continuum superfície-profundidade,
levanta a si próprio algumas dúvidas quanto ao limite que demarcaria as
respostas de perspectiva.
Ambos procuram dar normas para esclarecer êsses casos duvidosos.
Trataremos a seguir de sintetizar e sistematizar seus pontos de vista.

Respostas de perstJectiva
4.1 Montanhas, vales) cavernas

Phillips e Smith citam Beck, em cuja doutrina se inspiram: Encontrou-se


que "montanhas, vales e colinas são respostas V (Vista); a regra pode
considerar-se geral ... ; estruturalmente, abismos, poços e outras profun-
dezas são V quando podemos inferir introspeção e não temos outra escolha
senão seguir esta regra ... Entradas de caverna tem-se encontrado serem V
com tal regularidade que permitem dar esta classificação sistemàticamente,
a menos que haja boa prova em contrário ... ; a experiência com canais,
especialmente quando se utilizam os detalhes em branco e os da mancha
não deixa dúvida alguma sôbre a existência de um fator de perspectiva".
Pela sua parte acrescentam:
"Algumas destas respostas, notàvelmente montanhas, colinas e grutas
são perceptos comuns em sujeitos de pouca idade. As respostas verbalizadas
de perspectiva, no entanto, aquelas em que se exprime uma relação espacial
entre o sujeito e o percepto, só ocorrem caracterizadamente em níveis do
desenvolvimento perceptual mais elevado. De fato, a significação da inter-
pretação das V depende desta relação empírica genética. Em conseqüência,
a fim de manter o poder discriminante das respostas de perspectiva dentro
do continuum de maturidade genética, é melhor não considerar como de
perspectiva aquelas respostas correspondentes a níveis genéticos baixos se
não estiverem acompanhadas de uma verbalização explícita do elemento
'vista'. O problema com relação a respostas como 'abismos', 'poços',
'canais' e 'vales' é algo diferente. Como os outros, envolvem uma relação
espacial entre observador e percepto e quando se verbaliza o determinante,
a perspectiva é admitida quase sem exceção. À diferença dos anteriores,
não são perceptos comuns em sujeitos de pouca idade; portanto, podem
ser classificados como vista quando não houver verbalização sem conta-
mi'nar sua significação devido ao nível genético".
As montanhas) para Klopfer, são F) obviamente, quando vistas apenas
pelo contôrno. Se "vista à distância, através de ligeira névoa", é FK.
Klopfer não diz como seria classificada se a resposta fôsse simplesmente
"vista à distância", mas se pode inferir do contexto que nos casos duvidosos
se deve proceder ao inquérito para ver se êste enriquece e esclarece a res-
posta.
Desfiladeiro é citada por Klopfer como resposta sistemàticamente
avaliada como FK.
Quanto a cavernas e respostas similares como "saída de gruta ou de
túnel", "entrada de caverna", "buraco no chão" são geralmente aceitas por
Klopfer como respostas de perspectiva.
Um caso duvidoso seria, na lâmina VII invertida, "ponte natural de
rocha", devendo a questão ser dirimida no interrogatório: se o observador se
situasse de frente, quase a tocar a superfície, o claro-escuro indicaria mais
bem textura; se assinalar a impressão de profundidade, a resposta deverá
ser considerada como perspectiva.
Harrower (7), que segue a Klopfer, na sua aplicação coletiva do teste
de Rorschach, avalia sistemàticamente como FK "canal" e "corredor".

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4.2 Reflexos

Klopfer considera estas respostas como FK quando baseadas nas diferenças


de daro-escuro, como seriam nas lâminas IV, VI e IX respostas do tipo
"extensões de água que refletem a paisagem". Mas não seria FK a resposta
na lâmina VIII "animal caminhando ao longo de uma extensão d'água,
refletindo-se tôda a cena na outra metade", porque a suposta extensão de
água "é pequena demais para refletir a cena total". Aconselha que nestes
casos se pergunte ao sujeito se pode ver a água que reflete a outra metade.
Phillips e Smith são menos exigentes e generalizam a concessão de V
ou perspectiva às reflexões na água, citando explicitamente a mesma res-
posta a que Klopfer denega tal classificação. Pelas razões apontadas, dizem,
(raridade dêste tipo de respostas em crianças), os reflexos na água, em
contraste com os reflexos de luz, são classificadas como V tanto se verbaliza
a perspectiva como senão. São ilustrativas as respostas "lua nascendo re-
fletindo-se no mar", "animal atravessando um rio refletindo-se na água".
Justifica a perspectiva porque implicaria distância entre o sujeito e o
percepto.
Nenhum dos dois autores se referem a reflexos no espelho.

4.3 Perspectiva linear

Piotrowski, embora, como vimos, só admita a perspectiva como conotação


qualitativa, diz (16, 259) que "é possível criar a impressão de perspectiva
apenas com linhas, a chamada perspectiva linear. 'Uma comprida alamêda
com leões decorativos à entrada, arcos e, ao longe, algo parecido à Tôrre
Eiffel" (centro Ia lâmina X), é uma boa resposta de pronunciada perspec-
tiva linear, mas sem sombreado". A resposta não seria, portanto, de claro-
escuro, mas Piotrowski parece dar a entender que pode ser considerada de
perspectiva.
Para Klopfer, porém, uma resposta de perspectiva linear só adquire a
classificação de FK se se utilizarem as matizes de claro-escuro, conforme
assinalamos ao discutir o critério de distância como determinante de pers-
pectiva, com referência ao "caminho entre" da lâmina X.
É curioso observar como, no fim das contas e apesar das divergências
dos critérios enunciados, os quatro autores, Piotrowski, Klopfer, Phillips e
Smith, concordam em dar à mesma resposta, uma classificação análoga:
Phillips e Smith pelo conceito de distância, Piotrowski pela perspectiva
linear apesar de não reconhecer sombreado algum, Klopfer pelo apareci-
mento, ao fim do percepto, de uma figura em claro-escuro.

4.4 Paisagens e mapas


Os mapas são, para Klopfer, respostas de forma quando determinados
apenas pelo contôrno. As paisagens em geral e os mapas, quando per-
cebidos "como desde avião" ou em fotografia, ou com detalhes como Ín-
greme ou profundo, rochosos ou planos, são respostas de perspectiva.

Respostas de perspectiva 47
tste critério, é seguido por todos os autores que admitem, de uma
forma ou de outra, as respostas de perspectiva, tanto os da escola de Klopfer
(Harrower, Cícero Christiano de Sousa, I. Adrados), como os que se ins-
piram em Ombredane e Canivet (Serviço de Pesquisas e Ensino do
ISOP) (21).
Sabido é que os mapas topográficos são considerados por Klopfer e
seus seguidores como impressões atenuadas de profundidade e classificados
como Fk ou kF.

4.5 Luz e sombra, transparência

As respostas de luz e sombra são, em geral, para Klopfer, respostas de su-


perfície, como o "farol" no alto da lâmina VI.
"Quando os efeitos de luz incidem sôbre o objeto será a resposta con-
siderada também de textura com elementos de difuminação K e de movi-
mento m, se o objeto continuar sendo o centro do conceito, mas se os ele-
mentos sólidos e concretos do percepto se submergem no jôgo de luz e
sombra, a resposta poderá ser classificada como FK (perspectiva) ou como
K (difusão).
Parece-nos que tais normas se prestam à subjetividade do interpretador
(inclusive parece discutível a concessão de m à resposta pelo fato de os
raios de luz incidirem sôbre o objeto. É dificilmente compreensível que os
raios de luz sejam visualizados em movimento; a úrlica exceção seria uma
luz pisca-pisca ou um holofote varando os céus).
Quanto às respostas de transparência, Klopfer manifesta-se assim:
"Um objeto visualizado através de uma superfície transparente não
ressalta a noção de distância. Deverá portanto tal percepto ser considerado
resposta de superfície. Se, porém, a distância cobrar importância como
'bola de cristal a cujo través se percebem cenas distantes' ou 'radiografia
onde os sombreados indicam a posição relativa dos diversos órgãos', o claro-
escuro estaria sendo empregado mais bem como profundidade e difumi-
nação".
Também aqui os limites da classificação não estão perfeitamente de-
marcados.
Adrados (1, casuística) considera FK respostas como "abajur", "lam-
pião", quando determinados pela transparência.

5. Breve discussão

Não parece haver dúvida de que as respostas de perspectiva merecem uma


consideração especial. Já o próprio Rorscharch adivinhou sua importância.
Dos rorschachistas poucos são os que não as mencionam, quer reservan-
do-lhes um lugar destacado na classificação, quer acreditando-lhes algumas
observações e sempre lhes dando um significado peculiar.
A primeira questão é de se se lhes deve conferir a categoria de deter-
minantes ou não. Dois argumentos favorecem uma resposta afirmativa:

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primeiro, têm um significado peculiar, diferente das outras respostas de
claro-escuro; segundo, são, em nossa opinião, fruto de uma aportação sub-
jetiva do sujeito ao conteúdo objetivo da lâmina. Assim consideradas, me-
recem em princípio um tratamento análogo ao dispensado às respostas
de movimento.
Admitida a conveniência de se lhes dar uma categoria especial, a se-
gunda questão é a de definir o que seja uma resposta de perspectiva. As
divergências a êste respeito entre os diversos intérpretes do teste de
Rorschach são mais aparentes do que reais.
Alguns autores consideram perspectiva sinônimo de tridimensionali-
dade. Examinada ingênuamente esta definição, a grande maioria dos
perceptos deveria ser considerada como respostas de perspectiva. Uma fi-
gura humana ou animal tem três dimensões, salvo se se indicar tratar-se
de fotografia ou caricatura.
Outro critério seria o de profundidade; neste caso seriam respostas
de perspectiva perceptos tais como poços, vales, grutas.
Para outros, o conceito definidor seria o de distância, seja a respeito
do observador, seja entre os objetos que compõem um percepto complexo
ou entre as diversas camadas de um percepto único (quando se confundiria
com a noção de profundidade).
Talvez o critério mais prático para qualificar a resposta como de pers-
pectiva seja o da existência de vários planos, situando-se, ou não, o próprio
espectador em um dêsses planos, desde que se aceitem como planos apenas
os que ocorrem nas dimensões sagitais ou verticais, mas não no horizontal
ou frontal (direita-esquerda). Também se considerariam como perspectivas
aquêles perceptos que envolvem, como característica essencial e diferen-
ciadora, uma extensão em diversos planos (sagital ou vertical), do que
túneis e poços seriam exemplos típicos.
A última questão refere-se à concessão da notação de perspectiva. Pro-
vàvelmente, deveríamos seguir um critério análogo ao empregado para as
respostas de movimento. Rochas exigem, para considerar uma resposta
como de movimento, que êste seja sentido pelo sujeito, não apenas visto.
Na prática, porém, como demonstram os "dicionários" em uso (23) (21), a
verbalização do movimento é suficiente, recorrendo-se ao inquérito nos
casos duvidosos. Nas respostas de perspectiva (e nas de textura) acontece
a mesma coisa; há ocasiões em que o sujeito "sente" a perspectiva, acom-
panhando suas palavras de gestos que acentuam a distância; em outras, a
noção de distância está claramente patente em palavras como ao longe, lá
no alto, ao fundo; em outras, estaria implícita no conteúdo, como seria o
caso de "cavernas", "abismos", etc; em alguns casos, enfim, terá que ser
explicitada, seja espontâneamente, seja no inquérito. Há casos, porém, em
que esta explicitação não confere às respostas o direito a serem classif-i~ad~s
como de perspectiva. Por exemplo, a resposta à lâmina X "no primeiro
plano, lagartas; em cima um tronco de árvore"; são duas respostas, não li-
gadas entre si, onde "primeiro plano" e "em cima" se empregam como
artifícios de localização, como acontece ocasionalmente com as côres.

Respostas de perspectiva 49
6. Significado das respostas de perspectiva

As respostas de perspectiva participam do significado comum às respostas


de claro-escuro: envolve-as uma atmosfera geral de ansiedade.
A maioria dos autores avalia as respostas de perspectiva em função
dos fatôres de personalidade; uns poucos, adicionalmente, referem-se à sua
relação com a inteligência. Dedicaremos maior atenção a êste último as-
pecto, objeto dêste artigo, mas não se pode deixar de lado suas implicações
quanto à personalidade.
Rorschach diz a propósito do protocolo póstumo: "Nosso sujeito
percebe a distância, perspectiva e outras interpretações desta ordem, res-
saltando igualmente a tridimensional idade. Em nossa experiência, isto
fala em favor de uma correlação psicológica singular que aqui se encon-
tra em jôgo: um dom particular de apreciação de valôres espaciais, das
profundidades e das distâncias que parece relacionado com uma afeti-
vidade um tanto predisposta à ansiedade e à prudência ... Por tal motivo
pode-se concluir com bastante segurança que interpretações em branco-
prêto desta natureza, que mencionam estruturas arquitetônicas e apresen-
tam-se como respostas originais ou quase originais, supõem uma grande
capacidade de representação espacial e um talento construtor ... Embora
eu não conhecesse a profissão do paciente... Oberholzer apresentou-me
depois uma série de observações... que confirmam os dons construtivos
mais de uma vez demonstrados (pelo sujeito) em sua atividade profissional
de engenheiro mecânico por suas inspirações criadoras" (18, 231).
Pouco antes disse que interpretações de castelos e tôrres, de templos e
pórticos, correspondem a sentimentos internos de desagregação e impo-
tência e desarmonia e representam realizações no desejo à guisa de com-
pensação.
Bohm (5, 178), repetindo quase literalmente palavras de Rorschach,
limita-se a afirmar que indicam um sentimento de instabilidade ou inse-
gurança interior que o sujeito tenta sobrecompensar, estando relacionado
com a repressão sofropsíquica. Neste sentido representariam uma atividade
intelectual e estariam, portanto, ligados à inteligência, mas não no aspecto
quantitativo e potencial e sim no funcional e volitivo. No capítulo dedicado
ao estudo da inteligência no Rorschach, Bohm considera as F (C) originais
que representam perceptos arquitetônicos em perspectiva como indicadoras
de aptidão técnica, capacidade construtiva e certa tendência artística.
Zulliger (25) admite a perspectiva ou "percepção plástico-perspectiva"
como valor suplementar para a análise qualitativa. Quanto à sua inter-
pretação, repete Rorschach.
Para Klopfer (9) as respostas FK ou de vista parecem traduzir uma
teooência ao ajustamento consigo mesmo. Estão relacionadas com o con-
trôle constritivo, ao que emprestam uma qualidade de compreensão, e
se correspondem com a capacidade de introspecção. Ou (10, 147) indicam
que "o indivíduo está esforçando-se para compreender e tolerar sua an-
gústia".

50 A.B.P.A. 1/72
I
I1
!
As FK (e as Fc) só podem aparecer, acrescenta Klopfer (9, 189), "se o
sujeito possuir capacidade intelectual suficiente para diferenciar, elaborar
e combinar os elementos. das pranchas da forma exigida pelas resposta~
I
r
de paisagem" (ou de superfície).
Para Harrower (7, 183), que segue fielmente Klopfer, indicam capaci-
!
i'

dade de autojulgamento e intuição.


Pascual deI RoncaI, também da escola de Klopfer, diz textualmente
(14, 149): "Tais FK significam geralmente um bom nível intelectual, com
um bom desenvolvimento do autodomínio, senso da realidade, moderação
II
mais do que inibição e uma adaptação afetiva flexível".
Cícero concorda com a opinião geral. As FK são bàsicamente respostas
de introspecção, embora sua ausência não denote falta de capacidade de
I!
auto-análise, mas também "representam certo uso da imaginação e, ao que
parece, mantêm relação positiva com o grau de inteligência" (24, 127). !
Schachtel (19, 249-251) limita-se a discutir a interpretação dada às
respostas de perspectiva por Rorschach, negando-lhes a ansiedade difusa, a
não ser quando a perspectiva se perde ou se dissolve na distância.
Não encontramos menção às respostas de perspectiva em Loosli-Usteri.
Piotrowski (16, p. 265) dá às respostas de perspectiva, além dos signi-
I
!
ficados gerais que lhes correspondem como respostas de sombreado, dois
significados especiais: um, o de exprimir a ansiedade indiretamente atra-
vés de um interêsse ativo ou passivo em atividades estéticas; outro, o de
representar a inteligência. Em suas palavras "quase tôdas as respostas de
I
!

perspectiva são dadas por pessoas brilhantes pertencentes ao quinto da po-


pulação de nível intelectual mais elevado; poucos indivíduos de inteli-
gência média e provàvelmente nenhum de inteligência inferior à média
I
,I
dão respostas de perspectiva".
Isabel Adrados considera as FK como mecanismo de adaptação ao am-
biente, que se utiliza da introspecção para suavizar os choques do ego com
I
a realidade. Quanto ao aspecto intelectual, adere à opinião de Piotrowski.
Phillips e Smith estudam as respostas de perspectiva desde o ponto'
de vista que êles chamam genético, considerando-as como um reflexo de
I
maturidade quando não são do tipo elementar. Citamos suas próprias
palavras: "A sensibilidade às relações espaciais entre o eu e o ambiente ...
revelaria um comportamento igualmente avaliativo quando se trata das
relações interpessoais ... Associa-se com a tendência a manter-se à parte ...
I
e a capacidade para julgar as implicações das próprias ações com relação
aos outros ... As respostas de vista refletem uma função inibitória que
prejudica, quando é exagerada, a iniciativa em virtude de um sentimento
I
(
de impotência e de incapacidade para competir ... Dado que ... só apare- I
cem na idade adulta, as respostas de Vista podem ser usadas como medida f
da maturidade ... As respostas de Vista são raras em crianças e revelam uma
relação positiva com a idade mental" (15, 98). I
Parece, no entanto, que Cécile Beizman não comparte dessa opinião. !i
Dá-nos ela a seguinte informação (3, 161): "Notamos observações extre- i
mamente freqüentes e particulares às crianças pequenas; relacionam-se

Respostas de perspectiva 51
tanto com a extensão espacial (grande, pequeno) como com a posição
próxima ou afastada do objeto interpretado". Cito alguns de seus exem-
plos: "Homem atrás de uma árvore", dada por uma criança de cinco anos;
"uma árvore, muito longe ... , gente ao lado da fumaça que vem de longe",
criança de seis anos; "leões sentados na frente de uma caverna", por criança
de sete anos. Para Beizman tais respostas perceptivo-espaciais indicam como
essas crianças se colocam em relação com o ambiente. Neste aspecto, con-
corda com P~illips e Smith.
As opiniões passadas em revista parecem, na sua maioria, baseadas
na experiência pessoal dos autores que as formulam.
Tentamos encontrar outras de fundamentação mais objetiva, que se
apoiassem em pesquisas estatísticas. Não fomos muito afortunados em nossa
busca.
Harrower (7, 77) encontrou muito mais FK entre universitários do
que em não-universitários (normais, delinqüentes e psicóticos).
Cita também (7, 254) um trabalho de Montalto onde se comparam
alguns signos no Rorschach que diferenciam entre os alunos universitários
aprovados e reprovados. Entre os signos que diferenciam entre os dois
grupos está o número de respostas FK e Fc, a favor dos aprovados. Não
indica, porém, o nível de significância desta diferença, que parece pouco
acentuada.
Podemos ainda encontrar alguma evidência, embora tênue e indireta,
da relação das respostas de perspectiva com a inteligência nos dados apre-
sentados por Holtzman a respeito de seu teste HIT. Advirta-se que
Holtzman unifica em uma só categoria tôdas as respostas de sombreado, in-
clusive as de perspectiva, sendo, portanto, impossível identificar a parti-
cipação específica das respostas de perspectiva nesses resultados. No quadro
de normas percentis que apresenta para as respostas de sombreado (8, 199),
a mediana obtida pelos estudantes universitários supera acentuadamente a
apresentada pelos outros grupos. As percentagens mais baixas correspondem
a crianças de cinco anos e a deficientes mentais.
Em outro lugar de seu manual (p. 177), afirma Holtzman que "em
geral, o nível das correlações entre o conjunto de variáveis das manchas
de tinta era muito baixo. No entanto, foi obtido um grande número de
correlações estatisticamente significativas entre .20 e .31 entre rejeições
(correlação negativa), localização, adequação de forma, sombreado (o grifo
é nosso), movimento, integração, ansiedade, hostilidade e barreira de um
lado, e 10 testes de inteligência de outro. Todos êsses números são coerentes
com a hipótese de que existe uma correlação baixa, embora significativa,
entre inteligência geral e algumas variáveis do teste das manchas de tinta",
neste caso o HIT.

7. A pesquisa
Os protocolos utilizados para a pesquisa são todos de advogados que parti.-
ciparam de um concurso para defensores públicos. Entre as provas apli.
cadas estava o Rorschach, que foi aplicado ora individual, ora coletiva·

52 A.B.P.A. 1/72
mente. tsses protocolos pertencem ao acervo da ex-Divisão de 5eleção do
ISOP. Quando os testes foram aplicados não se cogitava de realizar uma
pesquisa no sentido da aqui apresentada.
A pesquisa básica objeto dêste artigo limita-se, por. motivos diversos,
aos casos em que se aplicou o teste coletivamente.

a) amostra

Constituída pelos casos aplicados coletivamente, a amostra foi selecionada


com os seguintes critérios:
sexo: masculino
idade: de 26 a 40 anos (idade média: 32,0; desvio-padrão: 4,5)
legibilidade do protocolo: apenas um caso foi excluído por serem ile-
gíveis algumas respostas.
Ficaram assim 86 protocolos.
O teste foi aplicado pelo mesmo psicólogo. A revisão da classificação
das respostas de perspectiva foi realizada pelo autor.
Marginalmente, e com o fito de estabelecer algumas comparações com o
teste aplicado individualmente, foi também consultada uma lista que
registrava alguns dados' numéricos. Não constavam, porém, dela, todos os
dados que nos interessavam e também não nos foi possível o acesso aos
protocolos originais para completar êsses dados. A amostra individual, se-
lecionada com os mesmos critérios que a coletiva, está formada por 67 pro-
tocolos. Neste grupo, os testes foram aplicados por diversos psicólogos.

b) instrumentos

Além do Rorschach foi aplicado, entre outras técnicas não consideradas


para esta pesquisa, o teste de inteligência chamado Terman coletivo.

Rorschach coletivo

Foi aplicado em grupos de até 20 candidatos. O tempo concedido para


responder a cada lâmina foi de três minutos. A aplicação era seguida de
um inquérito, com nova projeção das pranchas sem limite de tempo, tendo
por fim apurar: a) a localização das respostas, para o que se distribuía a
fôlha de contraste; b) a determinação das respostas, para o que se davam
instruções adequadas, idênticas às usadas para o teste de ZuIliger. tste
inquérito era também realizado coletivamente, mas 'Seguia um acompanha-
mento individual para orientar e resolver dúvidas.
A adoção, parcial, da aplicação coletiva prendeu-se à imposição das
circunstâncias, pois havia muito mais candidatos do que os que podiam
ser atendidos individualmente dentro dos prazos previstos para o con-
curso, Todavia, antes de se tomar essa decisão, foram ponderadas as razões
técnicas que se poderiam opor a tal sistema de aplicação. Não pareceu

Respostas de perspectiva 53
haver contra-indicações serIas, como demonstra Harrower (a êle nos re-
metemos, 7). Não podemos aqui estender-nos nesta justificação, que está
fora de lugar, mas podemos afirmar que o problema do inquérito foi re-
solvido razoàvelmente, e que a pretensa divulgação em massa do teste tam-
bém não se evitaria como sua aplicação individual. Duas outras diferenças
poderiam parecer mais relevantes: não há um contato individual, de inegá-
vel utilidade clínica, mas êsse contato era depois realizado mediante a
entrevista; poder-se-ia prever uma queda em muitos indivíduos do número
de respostas, mas outros estudos realizados a respeito sugerem que a ob-
tenção de maior número de respostas não conduz a interpretações bàsica-
mente diferentes; além do mais, em nosso grupo, não se confirmou haver
em média grande diferença quanto ao número de respostas na aplicação
individual ou na coletiva, como se pode ver na tabela intercalada abaixo.
Uma vantagem adicional em nosso caso, já mencionada, foi a unifor-
midade da aplicação, mais difícil de se conseguir nas aplicações individuais
quando feitas por diversos técnicos.
Nesta tabela apresentamos alguns dados, tanto de nossos grupos de
aplicação, individual e coletiva, como procedentes de Harrower. Lastimà-
velmente, nas listas da aplicação individual não foram apuradas as respostas
de perspectiva. O leitor poderá por si tirar suas conclusões.
TESTE DE RORSCHACH
ALGUNS DADOS DAS APLICAÇõES INDIVIDUAL E COLETIVA

Dados do ISOP Dados de Harrower


(defensores públicos) A plicaç(!o (",()letiva
Aplicaçao Aplicaç/fO
individual coletiva Universi- Cadetes
(N =86) (N =58) tários AduUo8 Aeronáutica
M s M s M M M
R 22.0 9.9 22.3 10.9 24.2 30.9
G 10.0 .5.1 12.4 7.9
D 11.2 7.8 9.2 6.8
d 0.8 1.7 0.8 1.6
G% 51.0 25.0 58.8 23.2 41.7 31.8 5.'í.2
D% 45.3 24.1 38.4 20.9 44.3 46.1 35.8
d% 3.8 4.6 2.7 4.8 5.7 12.7 2.7
FK 1.9 1.9 2.1 2.7

Do grupo de aplicação individual foram excluídos dois casos, conside-


rados aberrantes dentro do grupo, que deram, respectivamente, 159 e 101
respostas, o que elevaria a média e o DP destas, se forem incluídas, a
25.6 e 22.3.
Terman coletivo
Como teste de inteligência foi empregado o chamado Terman coletivo.
É um caderno formado por vários sub testes, essencialmente verbal, bas-

54 A.B.P.A. 1172
tante saturado de conhecimentos culturais, mas muito gerais e pouco pro-
fundos. Apenas o subteste de informações pretende avaliar diretamente a
bagagem cultural.
O teste, em sua forma adaptada para o ISOP pela saudosa Maria
Santacruz, compõe-se dos seguintes subtestes:

Informação
Melhor resposta
Significação de palavras
Seleção lógica
Aritmética
Significado de frases
Analogias
Frases misturadas
Classificação
Séries de números

Dêsses subtestes foram eliminados:


- o de aritmética, o que fizemos obedecendo ao princípio de que os testes
devem guardar uma validade aparente para o examinando;
- os de significado de frases e frases misturadas por existirem algumas frases
de significação ambígua.

Outra modificação introduzida na aplicação diz respeito ao tempo, que


se deixou livre para todo o teste; as instruções originais determinam um
tempo limitado para cada sub teste, mas aplicações anteriores demonstraram
que êstes tempos não estavam bem dosados, havendo testes com tempo extre-
mamente curto, enquanto que para outros se concedia um tempo excessivo.
Apesar de o Terman coletivo não ser um teste de inteligência geral
analisado fatorialmente, sua correlação com o Raciocínio Abstrato do DAT
em uma amostra de 43 candidatos a professôres de nível superior da
EAESP foi de .79, o que nos permite considerá-lo um instrumento válido
para nossa pesquisa.
No grupo em estudo foi obtida uma média de 134.9 pontos, com um
desvio-padrão de ll.4 o que revela tratar-se de um grupo muito homogêneo
intelectualmente, como era de se esperar de sua formação cultural e da
auto-seleção de seus componentes.
A média do tempo gasto foi de 44,9 minutos, com um DP de 6,2, in-
dicando haver dentro do grupo maior variabilidade relativa no sentido da
rapidez do que no de potencialidade.

c) metodologia e resultados
Inicialmente, pretendia-se apenas verificar a existência, ou não, de corre-
lação entre inteligência e respostas de perspectiva, definidas segundo o
consenso dos rorschachistas que, direta ou indiretamente, as admitem.

RespostllJ de perspectiva 55
Em conseqüência, o primeiro passo foi calcular o coeficiente de cor-
relação entre as duas variáveis, seguindo-se, primeiramente, a fórmula de
Pearson; depois, visto que a distribuição do número de respostas de pers-
pectiva era muito irregular, pareceu adequado dicotomizar a amostra e
computar a correlação bisserial. Foram constituídos dois grupos: o grupo
dos que deram R de perspectiva, formado por 60 sujeitos; o grupo sem R
de perspectiva com os restantes 26 sujeitos_
Os resultados obtidos figuram no quadro a seguir:

CORRELAÇÃO ENTRE RESPOSTAS DE PERSPECTIVA


E TERMAN COLETIVO

r .22
rb .28

As correlações, embora significativas, revelaram-se bastante fracas.


Decidiu-se então analisar com mais pormenores o problema, seguindo três
linhas diferentes que deveriam responder às seguintes perguntas:

1. haveria, na bateria de inteligência, algum teste que apresentasse corre-


lação mais elevada?
2. haveria, entre os diversos tipos de respostas de perspectiva, alguns que
justificassem mais nitidamente a impressão de alguns estudiosos do
Rorschach de sua relação com a inteligência?
3. existiriam fatôres, dentro da prova do Rorschach ou dos testes de in-
teligência, que estariam influindo nos resultados e, consqüentemente,
mascarando-os?

Para respondermos à primeira pergunta, calculamos a correlação entre


a presença de respostas de perspectiva e os resultados isolados de cada um
dos testes da bateria intelectual.
Foram os seguintes:

CORRELAÇÕES ENTRE SUBTESTES DE INTELIGtNCIA E FK

Subtestes rp niv.sign.

Informação -.06 .41 .001


Melhor resposta .05 .34
Significado palavras -.21 1.51
Seleção lógica .14 .98
Analogias .06 .44
Classificação .05 .32 .01
Séries numéricas .33 2.34 .001

56 A.B.P.A. 1172
As correlações continuam sendo baixas, mais baixas, com exceção das
séries numéricas, do que com a bateria completa, aparecendo inclusive duas
correlações negativas. No entanto, se examinarmos atentamente os resul-
tados, poderemos verificar que as correlações negativas o são com os testes
mais impregnados de conhecimentos culturais, sendo positivas com os flue
requerem uma certa capacidade de abstração. De qualquer forma, os re-
sultados não são plenamente convincentes.
Para responder a segunda pergunta foram relacionadas tôdas as res-
postas de perspectiva e estabelecidos diversos grupos, de acôrdo com a sua
natureza.
Foram considerados os seguintes aspectos:

a dimensão ou tamanho da perspectiva;


a variedade de seus conteúdos;
a presença de elementos característicos, como luz e reflexos.

Com êsses critérios, foram realizados sete agrupamentos, que descre-


vemos a seguir, acompanhados de alguns exemplos:
PV: grande perspectiva variada.
"Dois guardas londrinos, olhando para trás, com a Tôrre Eiffel ao fundo"
"Em cima de um morro, estátua de uma criança (lá, no alto)"
PM: grande perspectiva monotemática, como vales, abismos, cordilheiras.
desde que não sejam F.
"Vale entre montanhas rochosas do tipo do Grand Canyon"
"Caminho aberto na neve"
pv: pequena perspetiva variada:
"Aquário"
pm: pequena perspectiva mono temática
"Poços", "Grutas"
PL: respostas de luz
"Globo de luz, visto através de um buraco"
"Beco a cuja entrada acha-se pendurado um lampião"

Nem tôdas as respostas de luz foram classificadas como de perspectiva,


sendo a maioria consideradas como c ou K.
PR: respostas com reflexos
"Canal com portas, estas refletidas na água"

Mas não foi classificada como perspectiva a resposta "Palhaço polindo


um espelho"

Respostas de perspectiva 57
PT: respostas com transparência (quando o determinante era puramente
superfície foram classificadas como c):

"Peixes dentro de um aquário" aproximando-se do vidro".

Algumas respostas foram incluídas simultâneamente em dois grupos.


Por exemplo, "beco a cuja entrada ... " foi considerado como PL e PV,
"globo de luz ... ", como PL e pm.
Eis os resultados das correlações calculadas:

CORRELAÇÕES ENTRE TERMAN COLETIVO E TIPOS DE FK

Tipo de perspectiva rp t niv.sign.


Grande perspectiva variada -.08 .486 .001
Grande perspectiva monotemática .14 1.065
Pequena perspectiva variada .20 1.011
Pequena perspectiva monotemática .07 .519
Perspectiva com luz .19 1.195
Perspectiva com reflexo .18 .978

Não figuram as respostas de perspectiva com transparência, pois so


foram encontradas três respostas dêsse tipo.
As correlações continuam sendo baixas, embora tôdas significativas,
mas os resultados não parecem corresponder às expectativas lógicas. Devia
esperar-se, com efeito, que a correlação mais elevada se desse com as res-
postas de grande perspectiva variada; são sempre respostas globais, carac-
terísticas, ao que se supõe, da inteligência e, ainda mais, respostas combi-
natórias em que se estabelece uma síntese inteligente de elementos mais
ou menos heterogêneos. Por outro lado, quando esta síntese é realizada
com conteúdos de menores dimensões, a correlação é bem mais elevada,
ainda que baixa; é também relativamente elevada quando a resposta se
refere a conteúdos de grandes dimensões, mas sem síntese combinatória.
Outro resultado que merece ser notado são as correlações com as res-
postas de perspectiva em que aparecem luz ou reflexos.
Resta-nos agora responder à última pergunta. Estão interferindo outras
variáveis, e em que sentido?
Do lado do teste de inteligência calculou-se a correlação bisserial da
idade dos sujeitos e do tempo gasto em responder o Terman coletivo com
as respostas de persepctiva. Foram êstes os resultados:

CORRELAÇÕES ENTRE O TEMPO NO TC E IDADE DOS S E AS FK

Variáveis rb t n.s.
Tempo no Terman coletivo .40 2.081 .001
Idade dos sujeitos .10 .225 .001

58 A.B.P .A. 1172


A correlação com a idade é muito baixa. Não é aparentemente vá-
lida para confirmar uma das interpretações dada por Phillips e Smith às
respostas de perspectiva como representativas de maturidade. Não se pode,
por outro lado, esquecer que a amostra não é adequada para apreciar essa
hipótese, pois todos os sujeitos são adultos, quando a maturidade já está
fixada ou evolui lentamente na maioria dos casos.
Mais difícil é interpretar a correlação, realmente elevada dentro do
contexto das correlações obtidas, com o tempo gasto para resolver o teste
de inteligência. É patente, no caso, a tendência ao predomínio de respostas
de pers"pectiva entre os mais lentos. Na tentativa de procurar alguma expli-
cação só podemos fazer algumas perguntas: Será que tal tendência à len-
tidão está relacionada com a tendência à reflexão? Seria esta tendência a
de demorar-se mais no exame de um assunto, o que permite ver mais e,
portanto, ver coisas diferentes, entre elas respostas de perspectiva? Isto seria
uma explicação puramente mecânica e heurística. Ou, se fôr a tendência à
reflexão o que contribui a produzir respostas de perspectiva, estaria a re-
flexão ligada à introspecção? Ou seria um reflexo ou produto da ansiedade?
Ou teria alguma relação com tendências obssessivas? Tais interpretações
seriam mais dinâmicas e ainda, algumas delas, coerentes com os significados
psicológicos dados às respostas de perspectiva como índices da capacidade
de introspecção ou como sinais de ansiedade.·
Finalmente, tentamos pesquisar até que ponto as respostas de pers-
pectiva não estariam associadas, ou talvez implicadas, em outras variáveis
do teste de Rorschach. Limitamo-nos a apurar apenas a correlação das
perspectivas com o número de respostas ao Rorschach e o número e a
percentagem de respostas globais, com os seguintes resultados:

CORRELAÇÃO DAS RESPOSTAS FK COM R, G e G%

rb t n.s.

Número de respostas .35 2.463 .001


Número de globais .23 1.647 .001
Percentagem de globais .06 .387 .001

Vê-se que a correlação é relativamente acentuada com o número de


respostas e até certo ponto significativa com o número de G, mas quase nula
com a percentagem de respostas globais. Parece, pois, poder-se inferir que
as respostas de perspectiva estão associadas com o número de respostas,
isto é, com a produtividade do sujeito, produtividade que, por sua vez, es-
taria associada com a inteligência (a correlação, pela fórmula de Pearson,
"entre R do Rorschach e o Terrnan coletivo foi, em nossa amostra, da
ordem de .26). Esta relação com a produtividade parece confirmada pela
correlação" com G, bem superior à achada com G%, que também se
supõe associada à inteligência, mas não à produtividade no seu significado
quantitativo.

Respostas de perspectiva 59
8. Conclusão

Se bem que os diversos enfoques sob que foi examinada a associação entre
respostas de perspectiva e inteligência não revelaram de maneira nítida e
inequívoca uma relação expressiva entre ambas variáveis, a constância das
correlações encontradas, significativas ainda que baixas, permitem dar
razão aos psicólogos que sustentam a existência dessa correlação. Esta
associação seria moderada, de acôrdo com nossos resultados; talvez se
veria reforçada numa amostra mais heterogênea. Todavia, os resultados
não autorizam conceituar como extremamente inteligentes os sujeitos que
dão respostas de perspectiva ou como menos inteligentes aquêles que não
as produzem.
A correlação encontrada entre FK e o tempo empregado para resolver
o teste de inteligência sugere várias possíveis interpretações. Entre elas, a
mais plausível e objetiva seria a de que as respostas de vista estariam faci-
litadas pela reflexão, como uma conseqüência da tendência à interiorização,
que é um dos significados atribuídos às respostas de perspectiva. Esta ten-
dência favoreceria a produção intelectual, mas não no sentido de agilidade
mental.

9. Resumo

Diversas alusões na literatura do Rorschach assinalam a existência de


correlação entre respostas de perspectiva e inteligência. O autor propõe-se
verificar essa hipótese, utilizando uma amostra de 86 advogados que se sub-
meteram ao teste no ISOP.
Após tentar fixar uma definição do conceito de resposta de perspec-
tiva, faz uma revisão dos significados que lhes foram atribuídos pelos prin-
cipais autores.
O teste de Rorschach foi aplicado coletivamente, seguindo a técnica
de Harrower. Como teste de inteligência foi aplicado o Terman coletivo
com tempo livre.
As correlações encontradas foram sempre baixas, porém significativas e
constantes, o que confirma, moderadamente, a hipótese. Outros achados
parecem indicar que o mecanismo que favorece as respostas de perspec-
tiva é o da reflexão, pois há uma correlação, até certo ponto elevada, entre
a lentidão no teste de inteligência e a presença de respostas de perspectiva.

Summary

Several references found in the Rorschach litterature points to the existence


of some relationship between the vista responses in the Rorschach and the
intelligence. The A. attempts to study this hypothesis in a sample of
86 lawyers who were submitted to the Inkblot Test in the ISOP.
After establishing a definition of the vista responses, the A. revises
the meaning of these responses according to several Rorschach students.

60 A.B.P.A. 1172
The test was applied in group, following the Harrower technique.
As intelligence test was chosen the Group Terman, applied without
limitation of time.
The correlations were low, although significant and systematic; this
seems to confirm, at a modera te degree, the hypothesis. Other findings
suggest that vista responses are facilitated through reflexion, a consequence
of the internalization often assigned to this category of responses. This
conclusion was assumed in view of the dose reIationship between the
presence of vista responses and the lengh in answering the intelligence testo

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