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WORKSHOP

GEOTECNOLOGIAS
APLICADAS ÀS ÁREAS DE
VÁRZEA DA AMAZÔNIA
Trabalhos apresentados no
Workshop realizado em
Manaus, de 17 a 18 de
julho de 2007.
Ministério do Meio Ambiente – MMA Assessoria de Comunicação
Marina Silva Jane Dantas, Juliana Belota e Marília Rocha

Secretaria Executiva Equipe do ProVárzea/Ibama


João Paulo Ribeiro Capobianco Alzenilson Santos Aquino, Antônia Barroso, Anselmo
de Oliveira, Arlene Souza, Aubermaya Xabregas, César
Departamento de Articulação de Ações da Teixeira, Cleilim Albert de Sousa, Cleucilene da Silva
Amazônia Nery, Flávio Bocarde, Gionete Pimentel de Miranda,
André Rodolfo de Lima José Carlos Ribeiro Reino, Karoline Souza Figueiredo,
Kate Anne de Souza, Marcelo Derzi, Márcio Bentes,
Programa-Piloto para a Proteção das Florestas Maria Luiza G. de Souza, Mário Thomé de Souza, Núbia
Tropicais do Brasil Gonzaga, Patrícia Maria Ferreira, Raimunda Queiroz
Nazaré Lima Soares de Mello, Sidineia Mota, Tathiana Oliveira, Tatiane
Patrícia Santos de Oliveira, Tatianna Silva Portes e Willer
Instituto Brasileiro do Meio ambiente e dos Hermeto.
Recursos Naturais Renováveis – Ibama
Bazileu Alves Margarido Neto Comissão Organizadora do Evento
César Teixeira
Diretoria de Uso Sustentável da Biodiversidade e Willer Hermeto
Florestas Anselmo Oliveira
Antônio Carlos Hummel Antônia Barroso

Coordenação-Geral de Autorização de Uso e Revisão


Gestão de Fauna e Recursos Pesqueiros Maria José Teixeira – Edições Ibama
José Dias Neto
Projeto Gráfico, edição e diagramação
Projeto Manejo dos Recursos Naturais da Várzea Tito Fernandes
Coordenador: Marcelo Bassols Raseira

Gerente Executivo: Manuel da Silva Lima

Perito: Wolfram Maennling (GTZ)

Projeto Manejo dos Recursos Naturais da Várzea – ProVárzea


R. Min. João Gonçalves de Souza, s/no, Distrito Industrial
Manaus - AM - Brasil - CEP 69075-830
Tel.: (92) 3613-3083/6246/6754 • Fax: (92) 3237-5616/6124
E-mail: ascom.provarzea.am@ibama.gov.br
Site: http://www.ibama.gov.br/provarzea
Centro Nacional de Informação. Tecnologias Ambientais e Editoração
Edições Ibama. SCEN Trecho 2, Bloco B - Subsolo Ed. Sede do Ibama
70818-900 - Brasília, DF. Telefone (61) 3316 1065
Correio Eletrônico: editora@ibama.gov.br

Catalogação na Fonte
Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis

W926 Workshop Geotecnologias Aplicadas às Áreas de Várzea da Amazônia (2007: Manaus, AM)
Workshop Geotecnologias Aplicadas às Áreas de Várzea da Amazônia: trabalhos apresentados no workshop
realizado em Manaus, de 17 a 18 de julho de 2007. – Manaus: Ibama, 2007.
104 p.

Realizado pelo Projeto Manejo dos Recursos Naturais da Várzea. Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e
dos Recursos Naturais Renováveis, Projeto Piatam e Petrobrás.
ISBN 978-85-7300-255-3

1. Geotécnica. 2. Várzea – Conservação. I. Projeto Manejo dos Recursos Naturais da Várzea. II. Instituto Brasileiro do
Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis. Projeto Manejo dos Recursos Naturais da Várzea. III. Projeto
Piatam. IV. Petrobrás. V. Título.

CDU (2.ed.) 626.872 (811.3)


SUMÁRIO
Apresentação 5

O Projeto ProVárzea e seus Impactos 7


Mauro Luiz Ruffino

Resultados do sub-componente Sistema de Informações 11


Geográficas do ProVárzea
César Valdenir Teixeira

Modelagem do Sistema de Informações Geográficas do ProVárzea 17


Nilson Clementino Ferreira

Atlas do Projeto Manejo dos Recursos Naturais da Várzea 25


Noely V. Ribeiro

Os Solos das Várzeas Próximas a Calha do Rio Solimões – Amazonas no 29


Estado do Amazonas
Wenceslau Geraldes Teixeira, Willer Hermeto Pinto, Hedinaldo Lima,
Rodrigo Santana Macedo, Gilvan Coimbra Martins, Warley Arruda

PERSPECTIVAS HIDROGEOMORFOLÓGICAS DA DIVERSIDADE DAS VÁRZEAS AMAZÔNICAS 37


Edgardo Latrubesse

Uso de um sistema de informações geográficas (SIG) e banco de estatística 43


pesqueira para monitoramento da pesca na Amazônia
Emerson Carlos Soares e Silva, Willer Hermeto Almeida Pinto, César Valdenir Teixeira,
Anselmo Cristiano de Oliveira, Marcelo Parise, Flavio Bocarde, Simone Nunes Fonseca

INTEGRAÇÃO DE BASES DE DADOS NA AMAZÔNIA: REALIDADES E PERSPECTIVAS 49


Edgar Fagundes Filho & Claudia A. Tocantins

Estado atual das pesquisas e aplicações do sensoriamento remoto no 53


monitoramento da várzea amazônica
Adriana Gomes Affonso, Evlyn M. Leão de Moraes Novo, Conrado Ruddorf, Eduardo Arraut,
Claudio Barbosa, João Roberto dos Santos

Programa integrado de pesquisas da bacia do rio Araguaia: aplicação de 63


técnicas e métodos geocientíficos para avaliação do seu impacto ambiental,
com enfase no transporte de sedimentos
Sâmia Aquino da Silva & Edgardo Latrubesse

Indicadores georreferenciados para gestão ambiental na 71


área de estudo do piatam
Edileuza Melo, Alexandre Rivas, Carlos Edwar Freitas, Kátia Viana Cavalcante,
Renata Reis Mourão

Textural Classification Of R99SAR Data As An Aid To Flood Mapping In 77


Coari City, Western Amazon Region, Brazil
Fernando Pellon de Miranda, Carlos Henrique Beisl, Eduardo Celso Gerbi Camargo

Balanço Do Fluxo De Sedimentos Em Suspensão Da Bacia Amazônica 83


Naziano Filizola Junior & Jean Loup Guyot

Neotectônica: A Importância para o Bioma Amazônico 93


Hailton Luiz Siqueira da Igreja

Monitoramento Hidrológico de Eventos Críticos: 97


Cheia e Vazante na Amazônia Ocidental
Marco Antônio de Oliveira, Daniel Oliveira, Emmanuel da Silva Lopes
APRESENTAÇÃO
O ProVárzea/Ibama desde 2001 tem contribuído na elaboração de políticas públicas e no
desenvolvimento de sistemas de conservação e manejo sustentáveis dos recursos naturais da
várzea. De acordo com os objetivos do projeto, o Componente 3 (Monitoramento & Controle) visa
implementar um sistema piloto integrado, participativo e descentralizado de monitoramento
e controle dos recursos naturais da várzea, aproveitando inclusive as lições aprendidas nos
outros componentes do projeto. O Sistema de Informação Geográfica da várzea faz parte
desse componente e é responsável pelo armazenamento e análise de dados, a fim de fornecer
informações de qualidade para subsidiar o processo de gestão, permitindo o acesso a informações
geograficamente referenciadas da várzea, que são importantes como subsídios para a tomada de
decisões políticas, administrativas, ambientais e sociais acerca de uma região.
As aplicabilidades dessas geotecnologias são muitas. A tecnologia permite a elaboração de
mapas, importantes para realizar o zoneamento e categorização de lagos, auxiliando no processo
de discussão e elaboração do Acordo de Pesca, por exemplo. No caso do ProVárzea, o mais
interessante é que esse processo se dá de forma participativa e os esses mapas são realizados
juntamente pelos moradores das comunidades e posteriormente aperfeiçoados a partir do uso de
geotecnologias. Possibilita ainda a identificação de tipos de vegetação de várzea e seu grau de
integridade ecológica nos lagos marginais. E, levando-se em conta que a conservação das plantas
e dos habitats aquáticos, são críticos para a sobrevivência e o crescimento dos peixes, em todas
suas fases de vida, o monitoramento da integridade da vegetação por meio dessa ferramenta, se
torna importante para a gestão dos recursos naturais de um modo geral.
Atualmente com o encerramento das atividades do projeto previsto para dezembro de 2007,
o projeto tem se concentrado na consolidação, sistematização, avaliação e divulgação das
experiências e lições do Projeto, buscando ainda, a internalização das ações do projeto. Nos dias
17 e 18 de julho, em Manaus, aconteceu 1º Workshop “Geotecnologias Aplicadas às Áreas de
Várzea da Amazônia”, realizado por meio de uma parceria entre o Projeto Piatam e o ProVárzea/
Ibama, cujo objetivo foi a disponibilização de produtos gerados pelo geoprocessamento e
georreferenciamento de dados, buscando a integração com outras instituições que também
trabalham com as geotecnologias. A partir desse evento surgiu essa publicação e esperamos que
seja uma forma de difundir as possibilidades do trabalho com dados georreferenciados como
subsídio para o planejamento de ações mais adequadas à realidade amazônica.

Marcelo Bassols Raseira


Coordenador do ProVárzea/Ibama

WORKSHOP GEOTECNOLOGIAS APLICADAS ÀS ÁREAS DE VÁRZEA DA AMAZÔNIA 5


O PROJETO PROVÁRZEA E SEUS
IMPACTOS
MAURO LUIS RUFFINO
Secretaria Especial de Aqüicultura e Pesca da Presidência da República (SEAP/PR)
mauroruffino@seap.gov.br

1. INTRODUÇÃO tabilidade e ausência de mercados para a sua produção.


O Projeto Manejo dos Recursos Naturais da Várzea (ProVár- 5- Ausência de políticas específicas. As políticas públicas ela-
zea) é o projeto que o Ibama submeteu ao Programa-Piloto boradas para a Amazônia têm negligenciado a especifici-
para a Proteção das Florestas Tropicais do Brasil (PPG-7), co- dade do ecossistema de várzea. Em geral, essas políticas
ordenado pela Secretaria de Coordenação da Amazônia, do (planejamento, desenvolvimento rural, conservação, moni-
Ministério do Meio Ambiente, com o objetivo de estabelecer toramento e controle etc.) são excessivamente genéricas e
as bases científica, técnica e política para a conservação e o voltadas às florestas de terra firme. Em parte, isso é devido
manejo ambiental e socialmente sustentáveis dos recursos à área de várzea ficar reduzida quando se trata a Amazônia
naturais das várzeas da região central da bacia amazônica, na escala regional, o que não é proporcional à sua impor-
com ênfase em recursos pesqueiros. A ênfase na pesca é con- tância ecológica e econômica.
sistente com o objetivo de promover o uso racional dos recur- 6- Gestão ineficiente. Na várzea, a extensão territorial, a com-
sos da várzea, uma vez que essa atividade é a base da dieta e plexidade do meio ambiente e a diversidade de atividades
principal fonte de renda da população ribeirinha. Além disso, econômicas impõem um grande desafio para a gestão pú-
o recurso pesqueiro representa a síntese das interações entre blica. O sistema atual, centralizador e pouco participativo,
os diversos componentes do ecossistema de várzea. tem se revelado incapaz de ordenar o processo de ocupa-
Os principais problemas abordados pelo ProVárzea foram: ção e utilização dos recursos.
1- Degradação ambiental. A várzea é um ecossistema amea-
çado pela destruição de habitats, pesca não manejada e
exploração madeireira predatória. A destruição de habi- 2. ESTRATÉGIAS DE INTERVENÇÃO
tats (especialmente, remoção da cobertura florestal) para Para enfrentar os problemas de uso e conservação dos re-
a implantação de fazendas de gado bovino e a criação de cursos naturais da várzea, o ProVárzea sugeriu três interven-
búfalos reduz a oferta de alimento e abrigo para os peixes, ções:
afetando severamente a cadeia produtiva do ecossistema, (i) Geração de informações estratégicas para auxiliar na ela-
através do impacto sobre a vegetação marginal, principal- boração de políticas públicas mais específicas e coerentes
mente macrófitas aquáticas. Tanto o consumo direto pelo para a várzea, através de Estudos Estratégicos.
búfalo como o pisoteio reduz a área dessa vegetação, im- (ii) Desenvolvimento de sistemas inovadores de manejo dos
portante como habitat para os peixes, principalmente, du- recursos naturais da várzea, que sejam econômica, social
rante a seca nas áreas alagáveis. e ambientalmente sustentáveis através de apoio a Iniciati-
2- Sobrepesca. Particularmente nas espécies de peixe que vas Promissoras desenvolvidas e executadas por morado-
têm sofrido maior esforço pesqueiro como a piramutaba res da várzea, comunidades ribeirinhas, organizações não-
(Brachyplatystoma vailantii), o tambaqui (Colossoma ma- governamentais, grupos de pescadores organizados e pela
cropomum) e o pirarucu (Arapaima gigas). Essas espécies promoção de troca de experiências, assistência técnica e
têm em comum o fato de serem muito apreciadas para o multiplicação dos conhecimentos.
consumo, atingirem tamanhos relativamente grandes e (iii) Desenvolvimento e teste de um sistema-piloto integrado
possuírem uma baixa taxa de crescimento. de monitoramento e controle, descentralizado e participati-
3- Conflitos sociais. A redução dos estoques do pescado tem vo, do uso dos recursos naturais da várzea, em duas áreas-
causado conflitos entre os pescadores profissionais e ribei- piloto, para produzir e promover conhecimento que possa
rinhos pelo direito de uso dos recursos. A escassa presen- ser utilizado no manejo dos recursos naturais da várzea.
ça governamental na região tem contribuído para agravar
esses conflitos. Na ausência do Governo, as organizações
locais (comunidades ribeirinhas) estão desenvolvendo sis- 3. PRINCIPAIS RESULTADOS
temas de manejo fora do sistema formal de gestão. Embora A atuação do ProVárzea passou a assumir um papel ino-
essas iniciativas tenham aspectos positivos e inovadores, vador no contexto das estratégias governamentais e, sobretu-
faltam amparo legal, embasamento científico e mecanis- do, rompendo um paradigma institucional, no momento que
mos para integrá-las a um modelo para a gestão dos recur- investiu nas pessoas como elementos transformadores e que
sos naturais na várzea. podem dar sustentabilidade ou não ao uso dos recursos na-
4- Escassez de sistemas de manejo. Embora haja vários estu- turais.
dos básicos sobre a ecologia de várzea (estrutura, funcio- O principal avanço na influência de políticas públicas foi,
namento e biodiversidade), há uma escassez de estudos sem dúvida, a busca da transversalidade da questão ambien-
aplicados e sistemas de manejo efetivos para esse ambien- tal nas diversas políticas que afetam a várzea amazônica, com
te. Como conseqüência, as práticas atuais de uso dos recur- destaque para:
sos naturais são largamente não-manejadas e extensivas. @@ A regularização fundiária em áreas de várzea, cujas pro-
Por exemplo, apesar de seu potencial agronômico, a agri- postas apresentadas pelo estudo do ProVárzea foram dis-
cultura da várzea continua em crise, sem alternativas para cutidas e internalizadas pela Secretaria de Patrimônio da
resolver os problemas de degradação ecológica, baixa ren- União (SPU), Instituto Nacional de Colonização e Reforma

WORKSHOP GEOTECNOLOGIAS APLICADAS ÀS ÁREAS DE VÁRZEA DA AMAZÔNIA 7


Agrária (Incra) e Ibama, estabelecidas as normas e procedi- @@ Ao todo, 115.486 pessoas foram atingidas (o equivalente a
mentos e iniciado o processo nos estados do Amazonas e cerca de 13% da população residente na várzea amazônica)
do Pará. diretamente em 32 municípios dos estados do Amazonas e
@@ Áreas prioritárias para a conservação da biodiversidade do Pará, por meio das ações dos projetos.
da várzea foram identificadas pelo estudo realizado pelo @@ Cerca de 100.266 hectares de área manejada em ecoss-
ProVárzea. Com base nos resultados se propôs que para istemas terrestres e aquáticos. Uma parcela significativa
a maior parte das comunidades biológicas, representa- das áreas aquáticas manejadas está sendo regida por in-
tivas em áreas protegidas, recomendou-se a criação de struções normativas regulamentando acordos de pesca
Unidades de Conservação distribuídas ao longo de toda a comunitários.
várzea da calha do Solimões-Amazonas, assim como defin- @@ No que tange ao processo de associativismo/cooperativis-
iu-se as áreas mínimas recomendadas em: a) estuário – 4 mo, relevantes impactos também foram observados. Novas
milhões e 200 mil hectares; b) Almeirim-Santarém – 1 mil- instituições foram criadas a partir das ações dos projetos
hão e 300 mil hectares; c) Santarém-Manaus – 2 milhões ou de suas parcerias estabelecidas:
e 250 mil hectares e d) Manaus – Tabatinga – 4 milhões e
@@ cooperativa de produtos aromáticos naturais, que
600 mil hectares. Posteriormente, essas áreas foram dis-
está comercializando os produtos para os estados do
cutidas em consultas públicas realizadas em seminários
Rio de Janeiro e São Paulo, tendo colocado amostras
municipais promovidos pelo projeto, com a indicação de
de seus produtos, por meio de exposições, em feiras
18 áreas no seminário de Parintins/AM, seis áreas em Ta-
em países como a Irlanda, Alemanha e EUA.
batinga/AM e sete áreas em Santarém/PA, totalizando 31
propostas de unidades de conservação. Tais resultados @@ criadas duas colônias de pescadores no rio São Fran-
foram diponibilizados ao Programa Áreas Protegidas da cisco, fruto da disseminação do projeto executado
Amazônia, assim como ao Conselho Nacional de Popula- pelo Movimento dos Pescadores do Oeste do Pará e
ções Tradicionais (CNPT) e vêm subsidiando o Ministério do Baixo Amazonas (Mopebam); quatro associações co-
Meio Ambiente (MMA) na revisão e atualização do “Mapa munitárias foram fortalecidas com o apoio do projeto
de Áreas Prioritárias para a Conservação, Uso Sustentável executado pela Federação de Órgãos para Assistên-
e Repartição de Benefícios da Biodiversidade Brasileira, no cia Social e Educacional (Fase) e que hoje recebem
bioma Amazônia”. recursos por meio destes últimos grupos de subproj-
etos aprovados pelo ProVárzea/Ibama.
@@ Novas propostas de ordenamento pesqueiro para a
Amazônia foram disponibilizada pelos estudos do setor @@ Formação de capital social através do fortalecimento de
pesqueiro e dos grandes bagres migradores, e outras espé- colônias de pescadores com incremento na sua movimenta-
cies de peixes de valor comercial, culminando com a pub- ção financeira e importantes conquistas sociais e políticas
licação de uma série de instruções normativas específicas – representadas por quatro vereadores eleitos que saíram
para os períodos de defeso, para o tambaqui, culminando dos quadros das diretorias das Colônias de Pescadores
com a recente criação do Comitê de Gestão do Uso Susten- de Santarém (Z-20), Juruti (Z-42), Prainha (Z-31) e Óbidos
tável dos Recursos Pesqueiros da Bacia Amazônica (CGBA) (Z-19), um secretário de pesca e 12 conselheiros municipais
composto por órgão e entidades da administração pública, de saúde.
do setor privado e das organizações não-governamentais @@ Maior participação das mulheres – aumento de 32% no
com as atribuições de: i) discutir, propor e monitorar a número de mulheres ocupando cargos de direção em as-
aplicação de medidas de gestão do uso sustentável dos re- sociações comunitárias com o apoio do ProVárzea.
cursos pesqueiros da bacia amazônica; ii) manter sistemas @@ 156 cursos de capacitação sobre cozinha regional para
de análise e informação sobre os dados bioestatísticos cooperados e comunitários, legislação ambiental, desti-
dos recursos pesqueiros da bacia amazônica, bem como lação e extração de óleos essenciais, manejo de lagos e
da conjuntura econômica e social da atividade pesqueira; implantação das unidades demonstrativas de manejo flo-
iii) propor e opinar sobre termos de cooperação técnica, in- restal madeireiro, entre outros, atingindo cerca de 2.300
clusive no âmbito de reuniões internacionais sobre gestão pessoas.
do uso dos recursos pesqueiros ou assuntos correlatos; e
@@ Novas técnicas de manejo foram desenvolvidas e aper-
iv) acompanhar a implementação dos trabalhos dos Sub-
feiçoadas, com destaque para:
comitês Científico e de Acompanhamento e dos Grupos de
Gestão dos estados e outros instrumentos de assessora- @@ o manejo e a comercialização do camarão-de-água-
mento e apoio aos trabalhos do CGBA. doce (Macrobrachium amazonicum) possibilitou a
Através de apoio a subprojetos o ProVárzea promoveu e fo- duplicação do tamanho médio do camarão captura-
mentou o desenvolvimento de sistemas inovadores de manejo do, diminuição dos custos da pescaria e incremento
dos recursos naturais da várzea ambiental, social e economi- de 67% na renda familiar.
camente sustentáveis, e fortaleceu as organizações sociais @@ o manejo de abelhas-sem-ferrão, nativas da
de maneira que esses subprojetos sirvam como catalisadores Amazônia, Mellipona spp., objetivando a produção
de mudanças nas suas regiões e possam gerar metodologias de mel e melhoria da polinização natural da floresta.
e lições para serem multiplicadas em outras áreas e regiões. Existem hoje cerca de 1.200 colméias acondicionadas
Assim, o ProVárzea promoveu a sustentabilidade nas suas em caixas padronizadas, que foram disseminadas e
múltiplas dimensões: social, ambiental, econômica, cultural replicadas em Parintins, Alvarães, Careiro da Várzea,
e ética. Altazes, Maués e Silves, no estado do Amazonas.
Ao todo, foram 25 subprojetos apoiados pelo ProVárzea, @@ extração, beneficiamento e comercialização de óleos
com recursos da ordem de R$ 10 milhões destinados a ati- essenciais de plantas da várzea – tais como o cumaru,
vidades de capacitação, manejo de recursos, escoamento e o pau-rosa, o breu-branco, o puxuri, a andiroba e a
comercialização da produção. Podemos destacar como prin- copaíba – utilizados para produzir sabonetes, velas,
cipais indicadores: óleos corporais, cremes anti-reumáticos, incensos e

8 WORKSHOP GEOTECNOLOGIAS APLICADAS ÀS ÁREAS DE VÁRZEA DA AMAZÔNIA


sachês aromáticos. No total, foram gerados dez no- do assunto por estar distante de seus interesses maiores de
vos produtos que estão sendo comercializados e ge- produzir, alimentar-se e viver com dignidade diante da situa-
rando renda. ção em que se encontram. A aproximação do mundo técnico
No que tange ao desenvolvimento e ao teste de sistemas com a comunidade não se dá sem conflitos silenciosos, em-
de co-gestão dos recursos naturais da várzea, o ProVárzea pro- bora haja um objetivo comum, de fazer com que as plantas e
moveu a participação e o controle social como formas de com- os animais nativos cumpram múltiplas funções: econômicas,
partilhar responsabilidades com a sociedade nos processos ecológicas, sociais, técnicas, culturais e estéticas. O manejo
de tomada de decisões, como por exemplo, através do manejo sustentável nada mais é do que ações baseadas em planeja-
comunitário de pesca, mas também fortaleceu o Sistema Na- mento e pesquisa para o uso e a exploração equilibrada dos
cional de Meio Ambiente – Sisnama visando à gestão compar- recursos naturais da várzea.
tilhada e descentralizada da política com os estados e municí- O manejo sustentável dos recursos naturais da várzea se
pios, através do desenvolvimento de mecanismos de controle baseia no fato de que os maiores interessados na biodiversi-
e fiscalização, abrindo à participação da sociedade através dade sempre são aqueles que dependem dela. A lida diária
dos Agentes Ambientais Voluntários, e na busca de maior efi- da população rural da Amazônia construiu uma intimidade
ciência pelos órgãos ambientais através da implementação surpreendente com a vegetação local, sendo ela nativa ou
das Unidades Integradas de Defesa Ambiental (Unidas), que não. A família rural busca nas plantas remédios e alimentos
congrega o Ibama, as Polícias Militar e Civil, a Secretaria Muni- para pessoas e animais, materiais para a construção de casas
cipal de Meio Ambiente e a Capitania dos Portos. e abrigos para animais domésticos, combustíveis e até produ-
Avanços significativos foram alcançados nas políticas e na tos ornamentais.
legislação relacionada com o manejo comunitário. Em geral, Dessa forma, o ProVárzea conseguiu iniciar o intercâmbio
as mudanças foram no sentido de fortalecer a gestão parti- do saber popular com o saber científico, procurou reunir, orga-
cipativa e o manejo comunitário. O ProVárzea consolidou o nizar e conferir as informações dessas duas fontes e também
processo de manejo comunitário de pesca como instrumento repassou esse conhecimento de uma esfera à outra. No âmbi-
de ordenamento pesqueiro para a bacia amazônica, dentro do to do ProVárzea, o manejo, de uma forma ou de outra, resultou
Ibama, com a publicação da Instrução Normativa nº. 29 que em aumento da renda das famílias envolvidas.
regulamenta e reconhece os acordos de pesca como instru- O ProVárzea incentivou a co-gestão dos recursos naturais
mento de ordenamento pesqueiro e de gestão compartilhada da várzea que, diretamente, são a fonte de subsistência e
de recursos pesqueiros para a Amazônia. Capacitou mais de renda das comunidades da região. Em algumas áreas já são
400 pessoas entre analistas ambientais do Ibama, órgãos es- percebidos impactos na vida das pessoas, com melhora na ali-
taduais de meio ambiente, ONGs e lideranças comunitárias, mentação das famílias e também aumento na renda, especial-
buscando promover a expansão desse sistema para outros mente, com a organização dos meios de produção de maneira
estados da Amazônia. Os principais pontos limitantes são: a sustentável.
capacidade organizacional do grupo e não a capacidade téc- No que se refere ao fortalecimento do recurso social da
nica, pois com uma base social forte o grupo terá melhores região, o projeto proporcionou a oportunidade de troca de
condições para resolver as questões técnicas. O problema do experiências. Fortaleceu também as organizações da socie-
manejo sustentável dos recursos naturais é raramente de falta dade civil, com a capacitação de lideranças, mobilização das
de conhecimento das limitações ambientais. A questão é or- organizações de base, incentivou os acordos de pesca e a ca-
ganizacional e o desafio está na capacidade de as comunida- pacitação dos agentes ambientais voluntários. O ProVárzea
des se estruturarem e criarem as condições necessárias para promoveu também a aproximação dos órgãos governamentais
as ações coletivas sustentadas. com a comunidade. Recuperou a cidadania e fortaleceu o cará-
Além do apoio a projetos, o ProVárzea testou novos mode- ter de cidadão, especialmente, dos pescadores.
los de gestão compartilhada de recursos naturais da várzea, O projeto investiu nas pessoas e não só nas instituições,
com excelentes resultados: com a promoção do conhecimento através de capacitações.
@@ criação de um sistema interinstitucional de controle e fis- Houve o aprimoramento técnico na agricultura, na captura de
calização – a chamada Unidade Integrada de Defesa Am- peixes, na gestão de projetos e no incentivo à participação.
biental (Unida) - que nasceu em Santarém, mas que atual- O impacto nessa área foi o empoderamento das pessoas e a
mente está se multiplicando para outros municípios do otimização das atividades de ecoturismo, pesca, educação
oeste do Pará. ambiental, manejo de lagos, manejo de espécies vegetais e
animais, tendo como exemplo o camarão.
@@ promoção da participação popular e do controle social
Não houve o apoio direto na área de infra-estrutura, embora
através de:
tenha havido o investimento em equipamentos para institui-
@@ institucionalização do Programa de Agentes Ambi- ções responsáveis por subprojetos do componente iniciativas
entais Voluntários, pelo Ibama, através das lições promissoras. No entanto, espera-se, no futuro, um impacto
extraídas do projeto; previsto de investimento em infra-estrutura por parte do Poder
@@ criação e fortalecimento de conselhos municipais de Público, por pressão das comunidades. Haverá cobrança da
desenvolvimento rural sustentável com a implemen- comunidade que buscará mais presença do Estado nas áreas
tação de planos municipais de desenvolvimento rural de saúde, educação e saneamento básico.
sustentável. O projeto não conseguiu ainda resultados significativos no
aumento dos recursos financeiros dos habitantes da várzea.
Embora esteja engatilhado o aumento da renda com o ecotu-
4. CONCLUSÃO rismo e óleos essenciais, em Silves, manejo de camarão e ma-
O ProVárzea investiu mais no ser humano, porque apesar deira, em Gurupá, além de geração de renda com a criação de
de o objetivo do projeto ser o de estimular uma utilização mais abelhas sem ferrão e criação de búfalo de forma sustentável.
adequada e sustentável dos recursos vegetais da região, difi- Essas experiências poderão contribuir com a geração de renda
cilmente ele seria alcançado com as ações voltadas só para de outras regiões da várzea devido ao intercâmbio de informa-
esse tema. O trabalhador da várzea não se mobiliza em torno ções apoiado pelo projeto. No entanto, ressaltamos que tais

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experiências exitosas são locais e pontuais e somente poderão @@ A filosofia de gestão empreendida pelo projeto e a di-
ter sustentabilidade no momento em que conseguirem ganhar sponibilidade de recursos fizeram com que, às vezes, o
escala de produção, desenvolver estratégias de escoamento projeto fosse identificado como uma instituição à parte e
da produção e acessibilidade ao mercado, uma vez que a co- não como parte de uma agência governamental - Ibama.
mercialização é um dos principais pontos de estrangulamento @@ As conexões entre as várias escalas da co-gestão evoluíram,
dos sistemas de produção desenvolvidos. porém, mais lentamente do que o esperado e muito esforço
O ProVárzea é um projeto que já conquistou as comuni- ainda deve ser investido no sentido de ampliar essas es-
dades da várzea que apontam resultados positivos dos tra- calas.
balhos implantados. Inclusive, com o perigo de o projeto ser @@ Projetos grandes e ambiciosos, com um número significati-
visto como instituição e não como um conjunto de ações, com vo de subprojetos, se assemelham mais a um programa do
começo e fim. De uma forma geral, o projeto rompeu com o que a um projeto propriamente dito e podem ser bem-suce-
paradigma de projetos ambientais que se preocupam somen- didos, mas requerem mais tempo, especialmente, quando
te com fauna e flora e conseguiu contribuir para a melhoria o projeto tem diversos subprojetos e contratos.
da qualidade de vida das comunidades da região e minimizar @@ A multiplicidade de doadores permitiu:
algumas situações de desconforto. Nos casos em que isso não @@ uma maior legitimidade ao projeto diante dos diver-
foi possível, está contribuindo para o empoderamento das sos níveis, incluindo os governos e a sociedade civil;
pessoas e instituições. O impacto disso será o aumento da @@ diferentes aportes em termos de ênfases, habili-
capacidade de reivindicação desses grupos, o que será uma dades e pontos de vista;
fonte de cobrança para o Poder Público no futuro. @@ maior cobrança uns dos outros quando em situações
A gestão da várzea tem ligação direta com a redução da po- problemáticas de desembolsos, permitindo a con-
breza e diminuição da vulnerabilidade da população. Constrói tinuidade do projeto;
também a eqüidade social e melhora a qualidade de vida. No @@ maiores custos das transações, em termos de recur-
entanto, os impactos maiores estão fora do horizonte tempo- sos financeiros e humanos, pois cada doador tem seu
ral do projeto, como a melhoria da qualidade de vida dos pes- próprio sistema financeiro, acordos e procedimentos
cadores, o fortalecimento institucional sustentável, a redução com o Governo brasileiro;
de vulnerabilidades e a efetivação da governança. Além disso, @@ para o gerenciamento do projeto muitas vezes incon-
o ProVárzea deixa como herança a esperança, a construção de sistentes entre doadores, incluindo as datas para iní-
parcerias e a promoção da estabilidade. cio e término;
@@ que doadores precisam ser mais flexíveis em relação
5. LIÇÕES APRENDIDAS aos seus próprios procedimentos administrativos e
@@ O projeto teve sucesso ao discutir as questões da várzea financeiros quando na cooperação com outros doa-
com seus habitantes, a sociedade civil, o setor privado e dores;
o governo, através da diversificação de metodologias e in- @@ que doadores com diferentes níveis de flexibilidade,
strumentos adequados aos diversos públicos (seminários, especialmente em termos de execução financeira,
estudos, diversos materiais de divulgação e inclusão das permitem maior flexibilidade no gerenciamento do
organizações de base dentro das discussões, etc.) projeto, mas também pode deixar o projeto depen-
@@ Houve um grande fortalecimento das organizações de base dente demais de um doador, sem resolver o prob-
nas várias áreas, incluindo as organizações dos pescado- lema;
res e o aumento da participação das mulheres. @@ a necessidade de incluir as questões sobre doadores
@@ Práticas de manejo dos recursos naturais na escala das co- no Marco Lógico, dentro da coluna dos riscos.
munidades e dos municípios estão sendo implementadas.
@@ O uso de diferentes instrumentos e ações – pesquisas, 6- AGRADECIMENTOS
seminários, workshops, publicações e mídia – permitiu O autor agradece à equipe do ProVárzea, assim como as
maior conhecimento sobre o projeto em escala regional. instituições parceiras e, principalmente, aos moradores da
@@ A integração entre os componentes do projeto deixou a várzea que sempre nos receberam de portas abertas e permiti-
desejar em função de atrasos de implementação e ex- ram que tais resultados e impactos pudessem ser alcançados
ecução de alguns componentes e subcomponentes, mas
também pela pesada carga de trabalho da equipe, mudan-
ças dos doadores e as demandas locais.

10 WORKSHOP GEOTECNOLOGIAS APLICADAS ÀS ÁREAS DE VÁRZEA DA AMAZÔNIA


RESULTADOS DO SUBCOMPONENTE
SISTEMA DE INFORMAÇÕES
GEOGRÁFICAS DO PROVÁRZEA
CÉSAR VALDENIR TEIXEIRA
Projeto Manejo dos Recursos Naturais da Várzea – ProVárzea e Centro de Sensoriamento Remoto – CSR / Ibama
cesar.teixeira@ibama.gov.br

1. INTRODUÇÃO um sistema de informatização que integre os dados referentes


O Projeto Manejo dos Recursos Naturais da Várzea - à cadastro, controle, documentos e gerenciamentos de
ProVárzea é um projeto do Programa-Piloto para a Proteção atividades; 3 – Proporcionar que as entidades co-executoras
das Florestas Tropicais do Brasil – PPG-7, executado pelo envolvidas realizem o levantamento de informações por meio
Ibama, coordenado pelo Ministério do Meio Ambiente e de georreferenciamento, mapeamento e digitalização nas duas
financiado pelo Fundo Fiduciário para a Floresta Tropical – áreas-piloto; 4 – Facilitar o desenvolvimento de interfaces e a
RFT, do Banco Mundial, Departamento do Desenvolvimento migração dos dados e informações pertinentes à gestão do
Internacional – DFID, do Reino Unido, Agência de Cooperação Projeto ao SIG. Tem como instituições parceiras na execução
Alemã - GTZ, Banco de Reconstrução do Governo Alemão - desse trabalho o Centro de Sensoriamento Remoto – CSR/
KfW e o Governo brasileiro. O objetivo é estabelecer base Ibama e o Sistema de Proteção da Amazônia – Sipam.
científica, técnica e política para a conservação e o manejo
ambiental e socialmente sustentável dos recursos naturais da
várzea, na calha central da bacia amazônica, com ênfase nos 2. OBJETIVO
recursos pesqueiros. Ao fim de sua execução o projeto prevê O objetivo deste trabalho é apresentar todos os resultados
que seus resultados vão influenciar mudanças nas políticas que o subcomponente SIG desenvolveu no período de sua
públicas ambientais, além de favorecer o desenvolvimento de execução.
meios de vida sustentáveis e o melhoramento dos sistemas
relacionados ao monitoramento e controle e à promoção de
co-gestão em áreas de várzea. 3. RESULTADOS
O início do trabalho foi em julho de 2000 e vem sendo
realizado em parceria com instituições governamentais e não- 3.1 Vetorização das cartas topográficas
governamentais, organizações pesqueiras e comunitárias,
através de quatro componentes: 1:100.000
Componente 1 – Estudos estratégicos: através de oito @@ Instrumento fundamental para a implementação de um
linhas de pesquisa, o componente pretende contribuir para a SIG, ao mesmo tempo que representa um dos maiores cus-
adoção da gestão integrada dos recursos naturais da várzea, tos operacionais;
fornecendo informações para o desenvolvimento de sistemas @@ A origem da base é a oficial brasileira (IBGE/DSG), que se
de manejo, monitoramento e controle. encontra defasada. O projeto tem como meta a atualização
Componente 2 – Iniciativas promissoras: atualmente este dessa base com a utilização de geotecnologias;
componente integra 13 projetos em andamento que contam
@@ A base para identificação é junto com as comunidades de
com o incentivo financeiro e técnico do ProVárzea. Através
rios, paranás e locais onde são efetuadas as capturas das
deles espera-se incentivar e desenvolver sistemas inovadores
diversas espécies de peixe;
de manejo dos recursos naturais da várzea e fortalecer as
organizações de base para a gestão desses recursos. @@ Distribuição da base cartográfica para instituições parcei-
Componente 3 – Monitoramento e controle: tendo ras, além do Sipam e CSR, fortalecendo as relações entre
como subcomponentes a Estatística Pesqueira, os Agentes elas.
Ambientais Voluntários e o Sistema de Informações Resultados finais: 42 cartas georreferenciadas, 29 cartas
Geográficas. Através dessa linha de ação busca-se desenvolver, digitalizadas, coberturas de hidrografia linear e poligonal, se-
testar e implementar um sistema integrado de monitoramento des, rodovias (estradas) e pontos cotados;
e controle em duas áreas-piloto localizadas em Santarém/PA
e Parintins/AM. 3.2 Treinamento e capacitação
4 – Coordenação do projeto: cabe à Unidade de @@ Os cursos foram distribuídos em três módulos, totalizando
Coordenação do Projeto, situada em Manaus, na sede do 120 horas:
Ibama, executar e monitorar o desenvolvimento de todas as
atividades relacionadas ao Projeto, a fim de se alcançarem os @@ Introdução ao geoprocessamento e noções básicas
objetivos propostos. de cartografia;
O subcomponente SIG que está dentro do componente @@ GPS (teoria e prática) e cadastro técnico;
3, tem como funções principais: 1 – Sistema de informações @@ Sistema de informações geográficas (ArcView).
geográficas estruturado e funcionando nas duas áreas-piloto; @@ Foram capacitadas 30 pessoas em 2003 e 17 pessoas em
2 – Proporcionar a concepção lógica, o desenvolvimento e a 2004;
implantação de um SIG para a várzea. Desenvolvimento de

WORKSHOP GEOTECNOLOGIAS APLICADAS ÀS ÁREAS DE VÁRZEA DA AMAZÔNIA 11


@@ Os participantes foram das diversas instituições parcei- Visualização de informações geográficas; base cartográ-
ras do ProVárzea: Gerências regionais do Ibama, Ipaam- fica, mapas temáticos, imagens, legenda automática, escala
AM, Sectam-PA, Ufam, Ipam, Granav, Iara, Prefeituras gráfica automática, aproximação, afastamento, deslocamen-
Municipais de Santarém e Parintins, além de técnicos do to, imagens orbitais;
ProVárzea. Pesquisa; busca de município ou área especial, exibição de
Capacitação da equipe de SIG: informações sobre localidades;
Reciclagem e atualização de conhecimentos, cursos dos Impressão automática;
programas ArcGis e extensões, Erdas Imagine e sobre rada- Endereços - http://www.ibama.gov.br/provarzea/ ou
res. http://siscom.ibama.gov.br/siteprovarzea/

3.3 Imagens 3.5 Modelagem dos dados geográficos


As imagens Landsat fora adquiridas junto ao Inpe ou dis- -“Abandono” da estrutura Shapefile;
ponibilizadas pela parceria com o Sipam. A abrangência é da -Adoção da estrutura Geodatabase;
área-piloto do projeto nos municípios de Santarém e Parintins. Diminuição do número de arquivos, Shapefile (dezenas ou
No total, foram cinco imagens de cada ano, que vai de 2002 centenas de arquivos; Geodatabase 1 arquivo). Geodatabase
até 2006. suporta arquivos vetoriais e matriciais; facilidade de manuten-
O mosaico Landsat foi elaborado para a geração da classi- ção; facilidade de backup; agrupamento de dados por temas;
ficação temática para a obtenção do Mapa de Uso e Ocupação melhor organização; rapidez; facilidade de acesso.
do Solo, que tem sua importância para a avaliação dos am- Os quatro Geodatabases do ProVárzea:
bientes de pesca. Várzea – Dados da Calha;
Classificação: STM_PIN – Áreas-Piloto Santarém e Parintins;
Outras imagens disponíveis: SRTM, R99 Sipam, JERS e Ra- Censo – Censo Agropecuário 1996 e
darSat. Pesca_UCP – Estatística Pesqueira
Geodatabases – Arquivos MDB - Dados geográficos são
3.4 Mapas On-Line tabelas Access; Cada feição (ponto, linha ou polígono) é um
registro da tabela com suas coordenadas e atributos. As tabe-
las do Geodatabase podem se relacionar com outras tabelas
do mesmo Geodatabase ou com tabelas de outros Geodata-
bases.

3.6 Atlas do Projeto Manejo dos Recursos


Naturais da Várzea
Este produto foi elaborado como uma forma de reunir e uti-
lizar todas as informações no projeto, de forma que elas sejam
referenciadas e disponibilizadas na forma de mapas.

3.7 Resultados alcançados em conjunto com


outros componentes do projeto
Figura 1 - Criação de hiperlink na página principal do Componente 1 – Estudos Estratégicos
ProVárzea para dar acesso aos “Mapas On Line”. Elaboração dos CDs para os seminários de políticas pú-
blicas para os municípios da calha dos rios Amazonas - So-
limões.
Três CDs para os seminários municipais: Médio Amazonas,
Alto e Médio Solimões e Baixo Amazonas e Estuário, conten-
do informações sobre: educação, saúde, cultura e história dos
municípios; compêndio sobre legislação ambiental; informa-
ções sobre o ProVárzea; relatórios de resultados dos estudos
estratégicos; mapas regionais; recursos pesqueiros e recursos
hídricos; links de interesse para a gestão municipal.

Figura 2 – Tela inicial do “Mapas On Line”. Figura 3. Mapa de Biodiversidade

12 WORKSHOP GEOTECNOLOGIAS APLICADAS ÀS ÁREAS DE VÁRZEA DA AMAZÔNIA


A partir dos dados levantados pelo estudo, foram selecio- @@ A espacialização realizada de acordo com as informações
nadas áreas, em conjunto com os comunitários, que seriam locais não é suficiente para cobrir toda a área em questão;
prioritárias para a conservação. Essas propostas foram apre- @@ Necessidade de setorização dos locais de pesca, identifi-
sentadas ao Projeto Arpa/MMA, ajudando na atualização das cando relação de equivalência com as unidades locais no
áreas prioritárias para a conservação, utilização sustentável e banco de dados.
repartição dos benefícios da biodiversidade do bioma Ama- Os setores de pesca das áreas-piloto foram definidos em
zônia. A maioria das áreas indicadas pelo ProVárzea foram função:
contempladas.
@@ do tipo de sistema hídrico (lago/canal);
Componente 2 – Iniciativas Promissoras @@ localização em relação ao curso do rio (margem direita,
Mapas de localização das iniciativas promissoras; esquerda e calha principal);
Idas ao campo para coletas de informações e elaboração @@ morfologia dos lagos (lagos com influência de terra firme
de mapas localizando as áreas manejadas de cada iniciativa ou predominantemente de várzea); e
promissora, e outros. @@ Informações obtidas nas reuniões com a comunidade e in-
stituições locais.
Espacialização dos dados por meio da integração entre o
banco de dados (Microsoft Access) e o Sistema de Informações
Geográficas (ArcView GIS). Automatização do processo de
recuperação de dados por meio de um menu desenvolvido no
ArcView.
A captura espacializada possibilita uma série de análises,
como por exemplo:
@@ Comparação dos resultados obtidos com aspectos fisio-
ecológicos da ictiofauna regional;
@@ Observação da evolução das capturas, ao longo do ano,
por setor;
@@ Subsídios às ações de ordenamento da pesca.

Figura 4. Área maneja no município de Fonte Boa-AM

Componente 3 – Monitoramento e Controle


Subcomponente Estatística Pesqueira
O processo de integração entre SIG e estatística inicia com
a espacialização dos dados pesqueiros:
@@ extração e listagem dos nomes dos locais de pesca;
@@ identificação desses locais nas imagens de satélites com o
apoio da população ribeirinha (comunidade) e instituições
locais, trabalho de campo e da base cartográfica digital.
@@ Os locais de pesca obtidos foram agrupados em setores de
pesca, unidades territoriais utilizadas para as análises in-
tegradas de variáveis socioambientais e ecológicas.
Problemas encontrados:

Figura 6. setores de pesca em Santarém -PA

Figura 5. Mapa que mostra o caminho percorrido na saída a


campo para localização dos lagos e rios para delimitação dos
locais de pesca. Figura 7. Setores de pesca em Parintins-AM

WORKSHOP GEOTECNOLOGIAS APLICADAS ÀS ÁREAS DE VÁRZEA DA AMAZÔNIA 13


Figura 10. Tela inicial do CD da Estatística Pesqueira

Figura 8. Customização do software para elaboração de mapas


para estatística pesqueira

Figura 11. Mapa das comunidades de Santarém

Figura 9. Mapa gerado com as informações da estatística


pesqueira.

CD Boletim Eletrônico da Estatística Pesqueira nos setores de


Santarém e Parintins.
A partir do menu automatizado serão recuperados os se-
guintes dados espacializados dos setores de pesca em San-
tarém e Parintins:
@@ Produção de espécie por mês;
Figura 12. Mapa das comunidades de Parintins
@@ CPUE (Captura por unidade de esforço) por ano;
@@ Preço médio por espécie;
Banco de dados digitalizado, aproximadamente 12.000 for-
@@ Produção e renda bruta por espécie; mulários estão digitados.
@@ Produção e renda bruta por setor; Censo Estatístico – Santarém, Parintins, Nhamundá, Maués
@@ Produção total do setor. e Boa Vista do Ramos;
Análise dos dados por meio de geração de mapas e gráfi- Todos finalizados e unidos serão disponibilizados na inter-
cos, período 2001 a 2004. net.
Regularização fundiária
Acompanhamento no processo de regularização fundiária,
Subcomponente Gestão Participativa junto aos órgãos competentes, fornecendo apoio técnico es-
Censo Estatístico – Santarém; pecializado;
Parceiros - Secretaria de Educação de Santarém e Ipam; Averiguação e localização de denúncias sobre a invasão
Início das atividades em 2003 e finalização em 2006; de grileiros (trabalho em parceria com Iteam, Idam e Sindicato

14 WORKSHOP GEOTECNOLOGIAS APLICADAS ÀS ÁREAS DE VÁRZEA DA AMAZÔNIA


Figura 15. Cartilhas das comunidades de Santarém

Figura 13. Mapa que subsidiou a Instrução Normativa


3.9 Artigos
que regulamenta o acordo, publicada no Diário Oficial em @@ Artigo aprovado para publicação no Boletim Técnico Cientí-
24/08/2006. fico do Cepnor (Centro de Pesquisa e Gestão dos Recursos
Pesqueiros do Litoral Norte);
dos Trabalhadores Rurais de Parintins); @@ Três artigos apresentados no XIII Simpósio Brasileiro de
Mapeamento dos acordos de pesca - Acordo de Pesca do Sensoriamento Remoto, Florianópolis – SC – abril/2007.
Macuricanã; @@ Um artigo aprovado para apresentação no II Simpósio
Processo participativo de discussão do acordo de pesca e Brasileiro de Geomática e V Colóquio Brasileiro de Ciências
mapeamento dos lagos; Geodésicas – julho/2007.
Ferramenta SIG como subsídio de informações à elabora-
ção do acordo.
Agentes Ambientais Voluntários –AAV 4.PERSPECTIVAS FUTURAS
Publicação das Cartilhas do Censo Comunitário de Santarém
@@ Criação de um backup para todos os produtos descritos,
com o total de sete regiões e 86 comunidades.
com documentação (metadados);
@@ Repasse de todos os dados e informações para o Ibama;
@@ Manutenção e atualização do “Mapas On Line”;
@@ Elaboração de uma forma de consulta, via web, para que
toda a comunidade possa localizar o material com formas
de solicitação e indicando as pessoas responsáveis.

AGRADECIMENTOS
À equipe do Subcomponente SIG composta por:
César Teixeira – Gerente Técnico
Willer Almeida – Gerente Administrativo
Anselmo Oliveira – Técnico em Geoprocessamento
Flávio Bocarde – Analista Ambiental
Maria Luiza G. Souza – Analista Ambiental
Às equipes de todos os componentes do Projeto ProVárzea,
em especial aos coordenadores:
Figura 14. Mapeamento da localização e atuação do AAVs nas Mauro Luis Ruffino e Marcelo Bassols Raseira
áreas pilotos. Aos colegas que trabalharam em algum momento com o
SIG – ProVárzea:
Flávio Simas de Andrade, Urbano Lopes Júnior, Nilson Fer-
reira, Emerson Carlos Soares, Simone Nunes Fonseca, Marcelo
3.8 Outros órgãos que solicitaram produtos e Parise e José Armando Silva de Oliveira.
serviços do subcomponente SIG:
Orgãos federais: Iphan, Amazonastur, Sipam, Embrapa, Se-
cretaria de Saúde e outros;
Universidades: Ufam,Uea, Ufpa ,UnB;
Outros departamentos do Ibama: Coair – Dilic, PrevFogo,
CSR – Cemam, Difap;
Prefeituras de Santarém e Parintins;
Ongs: Iara e Ipam.

WORKSHOP GEOTECNOLOGIAS APLICADAS ÀS ÁREAS DE VÁRZEA DA AMAZÔNIA 15


MODELAGEM DO SISTEMA DE
INFORMAÇÕES GEOGRÁFICAS DO
PROVÁRZEA
Nilson Clementino Ferreira
Centro Federal de Ensino Tecnológico de Goiás-CEFET-GO
Universidade Federal de Goiás – UFG/IESA
nclferreira@gmail.com

1.INTRODUÇÃO putacionais e, finalmente, os recursos humanos necessários


A Amazônia Legal brasileira ocupa uma região de aproxima- para o desenvolvimento e a execução do chamado Sistema de
damente cinco milhões de quilômetros quadrados, dos quais, Informações Geográficas que, dessa forma, é considerado um
aproximadamente, 80% correspondem às áreas de florestas ambiente computacional desenvolvido para a aquisição, pro-
tropicais (GEO Brasil, 2000). Na parte central dessa imensa flo- cessamento e produção de dados e informações geografica-
resta encontra-se as regiões de várzea que ocupam uma área mente referenciadas. Um Sistema de Informações Geográficas
aproximada de 300 km2 ao longo da calha dos rios Amazonas- é um ambiente composto por cinco elementos integrados com
Solimões, constituindo-se como o principal meio de vida para o objetivo de produzir informações geográficas. Os elementos
mais de 1,5 milhão de ribeirinhos (ProVárzea, 2007). de um SIG são, portanto, os programas computacionais, os
Devido às complexidades naturais, sociais, econômicas, equipamentos, os recursos humanos, os dados geográficos
institucionais e jurídicas, além de sua imensa extensão ter- e os métodos de trabalho. A modelagem de um SIG requer,
ritorial, que equivale a 6% da superfície da Amazônia Legal, portanto, a organização de cada um desses elementos para a
o manejo dos recursos naturais da região da várzea, para ser produção de informações geográficas em quantidade e quali-
realizado de maneira eficiente, necessita de informações ge- dade geométricas, descritivas e temporais, compatíveis com
ográficas. as demandas geradas pelo Projeto ProVárzea.
Para tomar qualquer decisão para a gestão dos recursos na- Dessa forma, este artigo trata da modelagem de todos os
turais da várzea é necessário, antes de tudo, de informações elementos do Sistema de Informações Geográficas do Projeto
sobre todas as variáveis envolvidas direta ou indiretamente no ProVárzea, apresentando o modelo físico do SIG-ProVárzea.
processo. Essas variáveis, por sua vez, possuem uma localiza-
ção no espaço geográfico, portanto, essa localização deve ser
considerada uma vez que as posições geográficas dessas vari- 2.MATERIAS E MÉTODOS
áveis podem ser determinantes nas interações das mesmas e, O SIG-ProVárzea é composto por equipamentos, para cole-
portanto, no resultado final do processo. ta, processamento e exibição de dados e informações geogra-
Com o advento da informática surgiram programas com- ficamente referenciadas, além disso, o SIG-ProVárzea possui
putacionais dedicados ao processamento de dados contendo uma extensa base de dados, que é gerenciada por aplicativos
atributos de posicionamento geográfico. Os elementos resul- computacionais, desenvolvidos sobre plataformas computa-
tantes desses processamentos são denominados de informa- cionais tecnologicamente consagradas.
ções geográficas. Os programas computacionais destinados Neste artigo, serão descritas as bases de dados, bem como
ao processamento de dados geográficos são denominados os aplicativos computacionais desenvolvidos, que integram o
Programas para Sistemas de Informações Geográficas (Ferrei- SIG-ProVàrzea.
ra, 2007).
Apesar de possuírem inúmeras funções de comandos para 2.1 Base de dados
tornar possível o processamento integrado de dados geográ- O SIG-ProVárzea possui uma base de dados geográficos
ficos, armazenados em estruturas vetoriais e matriciais, além que representa toda a área geográfica da calha dos rios So-
de dados descritivos armazenados em estruturas de dados ta- limões e Amazonas, além disso, possui outra base de dados,
bulares, somente os programas para sistemas de informações em escala de maior detalhe, que representa as áreas-piloto
geográficas são insuficientes para a produção de informações do projeto, compreendidas pelos municípios de Santarém e
geográficas em quantidade e em qualidade que projetos com- Parintins.
plexos, tais como o ProVárzea, demandam. Além dos progra- Essas duas bases de dados geográficos são armazenadas
mas para sistemas de informações geográficas, conforme o em estrutura vetorial e em estrutura matricial, tais como rede
projeto, são necessários outros programas computacionais, de drenagem, limites políticos, rede viária e outros armazena-
tais como gerenciadores de bancos de dados, programas para dos em estruturas vetoriais. Dados tais como imagens obtidas
disponibilização de informações geográficas para a Internet, por satélites e modelos digitais de terrenos são armazenados
programas computacionais para o desenvolvimento de apli- em estruturas matriciais.
cativos e vários outros. Além disso, é necessário considerar A maioria dos dados que integram a base da calha dos rios
os dados geográficos que devem ser devidamente modelados Solimões-Amazonas foi produzido pelo Instituto Brasileiro de
para representar da melhor forma possível o mundo real, os Geografia e Estatística – IBGE, para o Sistema de Proteção da
métodos de trabalho para a operação dos programas, os equi- Amazônia – Sipam, na escala 1:250.000, no sistema de coor-
pamentos para execução e iteração com os programas com-

WORKSHOP GEOTECNOLOGIAS APLICADAS ÀS ÁREAS DE VÁRZEA DA AMAZÔNIA 17


denadas geográficas no sistema de referência South American
Datum, 1969. A base de dados das áreas-piloto do projeto foi
produzida pela equipe do ProVárzea, a partir da digitalização
e vetorização de mapas na escala 1:100.000, produzidas tam-
bém pelo IBGE e pela Diretoria do Serviço Geográfico do Exér-
cito Brasileiro – DSG.
Uma importante característica dessas bases de dados é a
possibilidade de integração com dados alfanuméricos gerados
da estatística pesqueira e do censo agropecuário municipal.
Para uma melhor organização, facilidade de acesso, docu-
mentação, facilidade de transferência de dados e facilidade
de processamento, os dados geográficos foram todos armaze-
nados em estruturas de banco de dados geográficos, denomi-
nados Geodatabase, disponível no software ArcGis.
O Geodatabase permite realizar a conversão de dados ge-
ográficos armazenados em estrutura vetorial e matricial, em
tabelas do gerenciador de bancos de dados Access, produzido
pela Microsoft.
Através do programa ArcCatalog foram construídos quatro
Geodatabases, um para a área da calha, outro para as áreas-
piloto, outro para os dados censitários e um último com dados
auxiliares para a produção do Atlas do Projeto ProVárzea. Os
Geodatabases da área da calha e das áreas-piloto são cons-
tituídos por categorias de dados denominadas Feature Data-
set, dessa forma, no caso das áreas-piloto são três categorias,
sendo elas, Antropismo, Cartografia e Estatística Pesqueira, Figura 2. Estrutura do Geodatabase das áreas piloto de
Santarém e Parintins

tabelas são acessadas pelo ArcGIS para que se possa realizar


a espacialização dos dados censitários, utilizando o dado geo-
gráfico de limite municipal ou ainda a sede municipal.
Durante a construção do Atlas foi necessária a elaboração
de mais um Geodatabase, denominado Atlas. Essa base de
dados tem o objetivo de conter dados auxiliares necessários
para a produção dos mapas que integram o Atlas do Projeto
de Manejo dos Recursos Naturais da Várzea. A Figura 3 ilustra
o Geodatabase Atlas.
As modelagens dos Geodatabases da calha da várzea dos
rios Amazonas-Solimões, bem como das áreas-piloto de San-
tarém e Parintins e, finalmente, dos dados censitários foram

Figura 1. Geodatabase das áreas piloto de Santarém e


Parintins

conforme ilustra a Figura 1.


A estrutura do Geodatabase da área geográfica da calha
dos rios Solimões e Amazonas, por sua vez, esta ilustrada na
Figura 2.
A estatística pesqueira, apesar de estar em Access, não é
tratada pelo ArcGIS como um Geodatabase, contudo, todos os
dados da estatística pesqueira podem ser acessados direta-
mente pelo ArcGIS e qualquer tabela pode ser espacializada,
desde que possa ser relacionada com algum dado geográfico. Figura 3. Estrutura do Geodatabase com dados necessários
Os dados censitários estão na forma de Geodatabase, suas para os vários mapas do Atlas do ProVárzea

18 WORKSHOP GEOTECNOLOGIAS APLICADAS ÀS ÁREAS DE VÁRZEA DA AMAZÔNIA


documentadas através de diagramas-padrão que explicitam Outro elemento existente, principalmente no Geodatabase
graficamente o tipo de estrutura vetorial (ponto, linha ou po- de dados censitários e das áreas-piloto, é o relacionamento
lígono), conforme ilustra a Figura 4. entre tabelas representado na documentação do modelo de
Além dos tipos de estruturas de dados vetoriais, a docu- dados dos Geodatabases do SIG-ProVárzea, conforme ilustra
mentação gráfica das estruturas dos Geodatabases apresen- a Figura 8.
ta as descrições de todos os atributos dos dados geográficos
contidos nos Geodatabases, conforme ilustra a Figura 5.

Figura 8. Representação gráfica do relacionamento de dados


na documentação do modelo de dados dos Geodatabases.
Figura 4. Exemplo da documentação gráfica do modelo de
dados dos Geodatabases do SIG-ProVárzea
Cada relacionamento tem um nome distinto na base de
Alguns dados, pertencentes ao Geodatabase das áreas- dados, além disso, ele apresenta o tipo de cardinalidade do
piloto Santarém e Parintins, possuem atributos responsáveis relacionamento (um para um, um para muitos e muitos para
por categorizar os elementos pertencentes ao tema do mundo um), sendo possível observar os dados que estão sendo re-
real que o dado representa. Por exemplo, no caso de rodovias, lacionados, bem como suas respectivas chaves de relaciona-
mento (primária e estrangeira). O dado de relacionamento é
apresentado no diagrama, ligando os dados que por ele estão
sendo relacionados.

2.2 Aplicativos
Os aplicativos do SIG-ProVárzea estão divididos em dois
grupos, sendo que no primeiro estão os aplicativos respon-
Figura 5. Descrição dos atributos de um dado geográfico sáveis por aquisição e processamento de dados geográficos,
contido em Geodatabase do SIG-ProVárzea além da exibição de informações geográficas. No segundo
grupo, estão os aplicativos destinados à distribuição de infor-
mações geográficas.
tem-se vários tipos de rodovias, tais como rodovia pavimenta- Os dois grupos de aplicativos do SIG-ProVárzea foram con-
da, rodovia sem pavimentação, de pista simples, de pista du- cebidos utilizando-se como plataforma de desenvolvimento
pla, em construção, etc. Dessa forma, no Geodatabase é pos- os programas computacionais ArcMap e ArcReader, ambos in-
sível explicitar esses subtipos. Esse tipo de recurso é bastante tegrantes dos conjuntos de programas do ArcGIS, versão 9.2.
útil, pois preserva a integridade semântica do dado. Como linguagens de programação para o desenvolvimento
Os subtipos são muito úteis na utilização do SIG-ProVárzea, dos aplicativos foram adotados o Visual Basic 6.0 bem como
pois ao carregar o dado geográfico, ele é apresentado com os o ModelBuilder, também disponível no ArcGIS 9.2. A Figura 9
subtipos explícitos, além disso, o dado fica diretamente orien- ilustra o desenvolvimento dos aplicativos do SIG-ProVárzea no
tado às características geográficas do mundo real e não ape- ambiente do Visual Basic 6.0.
nas aos aspectos gráficos do dado, tornando, dessa forma, a
edição, manutenção e apresentação diretamente relacionada
com o mundo real que o dado representa. Essa característica
está documentada nos modelos de dados dos Geodatabases
do SIG-ProVárzea, conforme ilustra a Figura 6.

Figura 6. Dado geográfico com subtipos, o atributo Tipo do


dado geográfico Rodovia armazena dados numéricos do tipo
inteiro, no entanto, este atributo contém uma ligação com
uma tabela auxiliar, de subtipos que explicita na forma de
Figura 9. Desenvolvimento dos aplicativos do SIG-ProVárzea no
textos todos os códigos possíveis de serem encontrados no
ambiente do Visual Basic 6.0
atributo tipo.

WORKSHOP GEOTECNOLOGIAS APLICADAS ÀS ÁREAS DE VÁRZEA DA AMAZÔNIA 19


O ArcGIS disponibiliza aos usuários um ambiente para a Os aplicativos do SIG-ProVárzea, desenvolvidos para o
materialização de métodos de processamento de dados ge- ArcMap, destinam-se principalmente ao mapeamento da co-
ográficos, denominado ModelBuilder. Esse ambiente propicia bertura vegetal a partir de imagens obtidas por sensores or-
que sejam organizados procedimentos para a produção de bitais. O SIG-ProVárzea realiza o mapeamento automático de
informações geográficas, através de um ambiente de progra- desmatamentos, a partir de imagens obtidas pelo sensor de
mação gráfico-visual, que integra dados geográficos, com fun- resolução espacial moderada Modis, mais especificamente
ções de processamento, conforme a Figura 10. o produto MOD13Q1, que fornece índices de vegetação EVI e
NDVI, com 250 metros de resolução espacial. Essas imagens
são uma excelente alternativa para o mapeamento de grandes
desflorestamentos, com alta resolução temporal, uma vez que
o produto é composto pelos melhores pixels obtidos a partir
de um conjunto de imagens geradas diariamente. A Figura 12
ilustra a caixa de diálogo inicial de mapeamentos de desflo-
restamentos, a partir de produtos MOD13Q1.
Para o mapeamento de desmatamentos em pequenas áre-
as, mas com maior nível de detalhamento, o SIG-ProVárzea
fornece em sua caixa de ferramentas (toolbox), uma aplicação
que realiza o mapeamento de desflorestamentos a partir de

Figura 10. Ambiente de desenvolvimento de aplicativos


ModelBuilder

3.RESULTADOS
Os aplicativos para aquisição, processamento e exibição
de dados e informações geográficas foram desenvolvidos para
o ArcMAP e estão distribuídos em um menu e uma toolbox,
Figura 12. Caixa de diálogo para o mapeamento de
conforme a Figura 11.
desflorestamentos a partir de produtos MOD13Q1
Para que os aplicativos funcionem corretamente é neces-
sário que o usuário realize a parametrização do sistema. Essa
etapa é executada acessando a opção parâmetros do SIG-Pro- imagens de média resolução espacial (15 a 30 metros), tais
Várzea e em seguida especificando cada um dos diretórios do como os sensores ETM e CCD, a bordo dos satélites Landsat
sistema. e CBERS, respectivamente. A Figura 13 apresenta a caixa de
diálogo para o mapeamento de desmatamentos a partir de
imagens de média resolução temporal.

Figura 11. Aplicativos do SIG-ProVárzea no ArcMap Figura 13. Ferramenta para mapeamento de
desflorestamentos a partir de imagens de média resolução
temporal

20 WORKSHOP GEOTECNOLOGIAS APLICADAS ÀS ÁREAS DE VÁRZEA DA AMAZÔNIA


Após o mapeamento automático das áreas desflorestadas
é necessária a realização de uma inspeção visual para cada
área mapeada, seja através de produtos MOD13Q1, seja a
partir de imagens de média resolução (ETM ou CCD). O SIG-
ProVárzea possui uma ferramenta de inspeção visual de áreas
desflorestadas com a qual é possível navegar para cada uma
das áreas mapeadas, verificar visualmente a partir das ima-
gens de satélite se o desflorestamento realmente ocorreu e,
finalmente, qualificar a área desflorestada como sendo um
desflorestamento visualmente confirmado ou, ainda, um falso
desflorestamento mapeado devido a ruídos e interferências
atmosféricas contidos nas imagens. A Figura 14 apresenta a
ferramenta de inspeção visual.
O SIG-ProVárzea possui uma ferramenta para mapeamento
de risco ambiental. A partir de dados de antropismos, rodo-
vias existentes na várzea, e o perfil social e econômico dos
municípios, o SIG-ProVárzea constrói o mapa de risco ambien-
tal, que pode ser classificado em três categorias: áreas de alto
risco, médio e baixo risco ambiental. Na Figura 15 é possível
observar a ferramenta que produz o mapa de risco ambiental. Figura 16. Setores de pesca nas áreas piloto do projeto
Outra questão tratada pelo SIG-ProVárzea é a espacializa- ProVárzea
ção da estatística pesqueira. No SIG-ProVárzea essa espacia-
lização foi realizada nas áreas-piloto de Santarém-PA e Parin-
tins-AM, onde a rede de drenagem foi dividida em setores,
conforme a Figura 16.
A espacialização da estatística pesqueira foi realizada atra-
vés do relacionamento entre os dados oriundos do banco de
dados da estatística pesqueira e os setores de pesca. Dessa
forma, basta que os setores de pesca sejam adicionados no
ArcMap para que todos os dados da estatística pesqueira se-
jam espacialmente acessados, assim, é possível selecionar
setores, utilizando critérios lógicos ou espaciais e obter toda
a estatística pesqueira a respeito de CPUE, espécie capturada,
etc.
Na Figura 17 é possível observar os dados de CPUE de um
dado setor pesqueiro identificado no ArcMap.
Com esse tipo de relacionamento, se for realizada uma
seleção de setores de pesca, é possível visualizar e produzir
relatórios para as estatísticas pesqueiras e se for seleciona-
da alguma informação é possível visualizar espacialmente de
qual setor aquela estatística se refere. É possível produzir re-
latórios a partir dos dados de estatística pesqueira seleciona-
dos, utilizando-se a ferramenta de relatórios do ArcMap ou o
Figura 14. Ferramenta para inspeção visual do SIG-ProVárzea
programa computacional Crystal Report, disponível juntamen-

Figura 15. Ferramenta para produção do mapa de risco no


SIG-ProVárzea Figura 17. Estatística pesqueira sendo acessara através do
mapa de setores de pesca.

WORKSHOP GEOTECNOLOGIAS APLICADAS ÀS ÁREAS DE VÁRZEA DA AMAZÔNIA 21


informações geográficas organizadas. A Figura 20 apresenta
o Poesia configurado para acessar dados geográficos da ca-
lha da várzea e também das áreas-piloto de Santarém-PA e
Parintins-AM.
A interface de comunicação do Poesia é dividida em várias
partes para a visualização de dados e de mapas, conforme a
Figura 21.
Uma função bastante utilizada nos programas computacio-
nais que trabalham com dados geográficos é a identificação,
que consiste em apontar uma determinada feição geográfica e
obter seus atributos descritivos. O Poesia possui esta função,
conforme pode ser observado na Figura 22.
Outra função para a interação com os dados geográficos é a
de busca de feições geográficas, em que o usuário escreve um
texto, seleciona um tema geográfico, bem com um dos seus
atributos. Se o Poesia encontrar no dado geográfico alguma
feição com valor de atributo igual ao texto desejado, o Poesia
posiciona esta feição no centro da área de dados e pode fazer
com que a feição fique intermitente por alguns instantes. Se
existir mais de uma feição geográfica com a mesma caracterís-
Figura 18. Relacionamento entre setor de pesca selecionado
tica o usuário pode visualizar as próximas feições. Na Figura
e sua estatística pesqueira.

te com o ArcGIS. A Figura 18 ilustra o relacionamento entre os


setores e os dados de estatística pesqueira.
Em relação à exibição de informações geográficas, o usuá-
rio pode utilizar todas as ferramentas de produção cartográfi-
ca do ArcMap, no entanto, dentro do SIG-ProVárzea existe uma
coleção de, aproximadamente, 150 mapas digitais prontos que
integram o Atlas do Projeto de Manejo dos Recursos Naturais
da Várzea e que contêm mapas de aspectos geográficos, das
componentes estudos estratégicos; iniciativas promissoras;
monitoramento e controle; e co-gestão. Esses mapas podem
ser rapidamente acessados através do programa computacio-
nal ArcCatalog (Figura 19) e modificados através do programa
computacional ArcMap.
Para a distribuição de informações geográficas, foi desen-
volvido o programa computacional Poesia-ProVárzea, que é o
Programa de Observação Espacial do Projeto de Manejo dos
Recursos Naturais da Várzea-ProVárzea.
O Poesia tem como objetivo oferecer um ambiente simples
e interativo para que qualquer pessoa que tenha acesso a um
computador possa visualizar e consultar as informações ge- Figura 20. Programa POESIA, configurado para acessar
ográficas do ProVárzea. De instalação simples, padronizada informações geográficas do ProVárzea
e intuitiva, o Poesia possibilita rápido acesso a conjuntos de

Figura 19. Mapas do Atlas digital do ProVárzea sendo


Figura 21. Interface do programa POESIA
acessados através do ArcCatalog

22 WORKSHOP GEOTECNOLOGIAS APLICADAS ÀS ÁREAS DE VÁRZEA DA AMAZÔNIA


Figura 22. Identificação de feições
Figura 24. Função para executar a medida de distâncias
23 é possível observar a função de busca de feições. poligonais
Para medir distâncias poligonais (soma da distância de
vários segmentos de retas), o usuário seleciona a ferramenta
apropriada e começa interativamente a desenhar a poligonal
sobre o mapa e a obter a distância, conforme a Figura 24.
Com os avanços tecnológicos proporcionados pela Inter-
net, em 2005, a empresa norte-americana Google lançou o
site Google Maps, que possibilita a visualização de imagens
de sensoriamento remoto de médias e altas resoluções es-
paciais. Também é possível a visualização de algumas bases
cartográficas.
A fim de realizar a integração do Poesia com o Google
Maps, está disponível a função de hiperlink, que possibilita
ao usuário clicar em uma feição geográfica e acessar a ima-
gem de satélite no Google Maps e ter mais uma ferramenta de
visualização geográfica disponível. É importante mencionar
que para utilizar a ferramenta de hiperlink o computador deve
estar conectado na Internet. A Figura 25 ilustra a integração
entre o Poesia e o Google Maps.
Uma característica de grande importância do Poesia é sua
capacidade de atualização. Através do ArcMap, com a exten-
são Publisher, é possível organizar os dados para serem utili-
zados pelo Poesia, conforme a Figura 26. Figura 25. Integração entre POESIA e o google maps através
de hiperlink geográfico

Figura 26 – Atualização do POESIA através da extensão


Figura 23. Função de busca por feições geográficas
Publisher do ArcMap.

WORKSHOP GEOTECNOLOGIAS APLICADAS ÀS ÁREAS DE VÁRZEA DA AMAZÔNIA 23


4. CONCLUSÃO REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
O desenvolvimento do SIG-ProVárzea partiu da seleção FERREIRA, N. C., FERREIRA L. G., HUETE A. R. & FERREIRA
de plataformas de desenvolvimento computacional padroni- M. E. (2007). An operational deforestation mapping
zadas tais como ArcGIS e Visual Basic. A flexibilidade dessas system using MODIS data and spatial context analy-
plataformas garante a possível integração do SIG-ProVárzea
sis. International Jornal of Remote Sensing, V. 28, p.
com outros sistemas e/ou bases de dados da mesma área de
atuação do ProVárzea. Outra característica do SIG-ProVárzea é
47-62, 2007.
a possibilidade de atualização, bem como a adoção completa GEO BRASIL 2000. Perspectivas do Meio Ambiente no
de todas as funções e ferramentas disponíveis no ArcGIS, ga- Brasil / organizado por Thereza Christina Carvalho
rantindo a liberdade do usuário do SIG-ProVárzea em utilizar Santos e João Batista Drummond Câmara. Edições
os programas básicos para a integração com outras bases de IBAMA, 2000.
dados.
O SIG-ProVárzea contempla ainda um programa compu- PROVÁRZEA. Projeto de Manejo dos Recursos Naturais
tacional que pode ser distribuído gratuitamente para toda a da Várzea. Disponível em: <http://www.ibama.gov.
sociedade, que é o Poesia. Ele garante a publicação de infor- br/provarzea/>. Acesso em: julho de 2007.
mações geograficamente referenciadas, preservando sua na-
tureza digital, fornecendo aos seus usuários ferramentas de
exploração plena de dados geográficos digitais, privilegiando,
dessa forma, a integridade da informação geográfica digital
em seu meio natural de produção e consulta.

AGRADECIMENTOS
O autor deste artigo agradece a equipe do Projeto ProVár-
zea pela colaboração no fornecimento de dados e informações
relevantes à produção do artigo.

24 WORKSHOP GEOTECNOLOGIAS APLICADAS ÀS ÁREAS DE VÁRZEA DA AMAZÔNIA


ATLAS DO PROJETO DE MANEJO DOS
RECURSOS NATURAIS DA VÁRZEA
Noely Vicente Ribeiro
Universidade Federal de Goiás – Goiânia - GO
Noely.ribeiro@iesa.ufg.br

1. Introdução produzidos pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística


Um Atlas pode ser definido como uma coleção de – IBGE para o Sistema de Proteção da Amazônia – Sipam, na
mapas e outras informações cartográficas, geográficas ou escala 1:250.000, no sistema de coordenadas geográficas no
astronômicas, tradicionalmente agrupadas em um livro, mas sistema de referência South American Datum 1969. A base de
também encontradas em formatos eletrônicos como CD-ROM dados das áreas-piloto do projeto foi produzida pela equipe
ou na Internet. Os Atlas podem mostrar divisões políticas, do Projeto ProVárzea, a partir da digitalização e vetorização
geopolíticas, sociais, religiosas, econômicas, naturais (entre de mapas na escala 1:100.000, produzida também pelo IBGE
vários outros) em uma dada região. e pela Diretoria do Serviço Geográfico do Exército Brasileiro –
O Projeto de Manejo dos Recursos Naturais da Várzea DSG.
(ProVárzea) atua em uma região geográfica de grandes Os dados geográficos das áreas-piloto de Santarém
dimensões territoriais, de grande potencial social, porém de e Parintins também estão no sistema de coordenadas
enorme vulnerabilidade ecológica. Este projeto está dividido geográficas, no sistema de referência South American Datum
em quatro componentes, sendo eles: Estudos Estratégicos, 1969. Dessa forma, apesar de independente, a base de
Iniciativas Promissoras, Monitoramento e Controle & Co-gestão dados das áreas-piloto pode ser facilmente integrada com a
e, finalmente, Unidade de Coordenação do Projeto. base de dados da calha dos rios Solimões e Amazonas, pois
Os três primeiros componentes produzem ações e geram elas possuem o mesmo sistema de coordenadas e o mesmo
produtos que influenciam diretamente na área geográfica da sistema de referência geodésica.
várzea, desta forma, geram dados e informações que podem Além dessa base de dados, foram integrados outros dados
ser referenciadas geograficamente e, portanto, servem de produzidos pelos demais componentes do Projeto ProVárzea.
subsídios para a produção do Atlas do Projeto de Manejo dos Para uma melhor organização, facilidade de acesso,
Recursos Naturais da Várzea. documentação, facilidade de transferência de dados e
Este artigo tem como principal objetivo apresentar o facilidade de processamento, os dados geográficos estão todos
Atlas do Projeto de Manejo dos Recursos Naturais da Várzea, armazenados em estruturas de banco de dados geográficos,
considerando os dados e informações produzidas pelos três denominados Geodatabase, disponível no software ArcGis.
componentes do ProVárzea (Estudos Estratégicos, Iniciativas Foram criados originalmente três Geodatabases, um para a
Promissoras, Monitoramento e Controle & Co-gestão), bem área da calha, outro para as áreas-piloto e outro para os dados
como a base de dados geográficos já construída no âmbito censitários. Os Geodatabases da área da calha e das áreas-
do SIG-ProVárzea. Este documento apresenta também os piloto, são constituídos por categorias de dados, denominadas
programas computacionais utilizados na produção do atlas, Feature Dataset, desta forma, no caso das áreas-piloto são três
bem como a organização da base de dados geográficos e a categorias, sendo elas, Antropismo, Cartografia e Estatística
estrutura do atlas, que contém, além dos mapas, figuras, Pesqueira, conforme ilustra o Quadro 1 e a Figura 2.
textos e informações estatísticas.

2. MATERIAIS E PROCEDIMENTOS
METODOLÓGICOS
O Projeto de Manejo dos Recursos Naturais da Várzea
– ProVárzea tem produzido uma extensa base de dados
geográficos que integra os mais diversos tipos de dados
geograficamente referenciados. Essa base de dados
geográficos representa toda a área geográfica da calha dos rios
Solimões e Amazonas, além de outra base de dados em escala
de maior detalhe, representando as áreas-piloto do projeto,
compreendidas pelos municípios de Santarém e Parintins. A
Figura 1 ilustra a arquitetura da base de dados geográficos do
Provárzea.
A maioria dos dados que integram a base de dados Figura 1. Arquitetura da base de dados geográficos do
geográficos da calha dos rios Solimões e Amazonas, foram ProVárzea.

WORKSHOP GEOTECNOLOGIAS APLICADAS ÀS ÁREAS DE VÁRZEA DA AMAZÔNIA 25


Quadro 1 - Estrutura do Geodatabase das áreas-piloto
Santarém e Parintins.
Categoria Dados
desmatamento até 1997,
desmatamento 1997-2000,
desmatamento 2000-2001,
antropismo desmata mento 2001-2002,
desmatamento 2002-2003,
desmatamento 2003-2004 e
desmatamento 2004-2005
curvas de nível, hidrografia linear,
cartografia hidrografia poligonal, limite municipal,
ponto cotado, rodovia, sede
estatística setores de pesca de Parintins e
pesqueira setores de pesca de Santarém

Todos os dados apresentados no Quadro 1 estão


armazenados em estrutura vetorial, contudo ainda existe
no Geodatabase o dado Relevo, armazenado em estrutura
matricial.
A estrutura do Geodatabase da área geográfica da calha
dos rios Solimões e Amazonas, por sua vez, está ilustrada no
Quadro 2 e na Figura 3.

Quadro 2 - Estrutura do Geodatabase das áreas da calha


Categoria Dados
Desmat. 1997, Desmat. 1997-2000, Figura 2. Detalhe da estrutura da Geodatabase das Áreas
Desmat. 2000-2001, Desmat. 2001-2002, Piloto Santarém e Parintins no ArcCatalog (fonte: SIG
Antropismo Desmat. 2002-2003, Desmat. 2003-2004 ProVárzea).
e Desmat. 2004-2005 Garimpo, Mina/
Pedreira
Curva de Nível, Limite Estadual, Limite
Cartografia Municipal, Localidade, Ponto Cotado,
Sede Municipal, Serra e Topo de Morro
Áreas Especiais, Áreas Prioritárias,
Conservação
Corred. Ecológicos e Posto Indígena
Cachoeira, Corredeira, Estação
Fluviométrica, Est. de Qualidade D’Água,
Hidrografia
Est. Telemétrica, Hidrog. Linear, Hidrog.
Poligonal, Ilhas e Subbacias
Balsa, Caminho/Trilha, Dutovia,
Infra- Edificação, Escola, Farol, Ferrovia, Igreja,
estrutura Linha de Transmissão, Ponte, Porto,
Rodovia, Usina Hidrelétrica
Geologia, Geomorfologia, Pedologia,
Meio Físico
Vegetação

A estatística pesqueira foi acessada diretamente pelo ArcGIS


e suas tabelas com referência geográfica foram devidamente
espacializadas.
Os dados censitários, também armazenados em
Geodatabase, foram espacializados segundo o limite dos
municípios da várzea.
As páginas do Atlas foram produzidas principalmente no
Figura 3 - Detalhe da estrutura da Geodatabase da Área da
ArcGIS, porém, para as páginas de início de seção do Atlas foi
Calha dos Rios Solimões e Amazonas (Fonte: SIG ProVárzea).
utilizado um programa de editoração gráfica.
Além dos Geodatabases anteriormente mencionados foi
produzido um outro Geodatabase denominado Atlas, que
teve o objetivo de conter dados auxiliares necessários para a
produção do Atlas.
Todos os mapas e páginas produzidas no ArcMap
(programa computacional do ArcGIS) foram organizados e

26 WORKSHOP GEOTECNOLOGIAS APLICADAS ÀS ÁREAS DE VÁRZEA DA AMAZÔNIA


gravados dentro da estrutura de diretórios do SIG-ProVárzea
e faz parte do sistema, podendo ser alterado e atualizado
posteriormente.

2.1 Estrutura do Atlas


O Atlas está estruturado de acordo com as características do
projeto ProVárzea, que é dividido em componentes e, portanto
foi estruturado em quatro seções, como mostra a Figura 4.
A primeira seção tem o objetivo de ilustrar os aspectos
geográficos de toda a várzea, Figura 5, e é composta por:
Cartas-imagem de toda a área da várzea, divididas por
mesorregiões, contendo dados sociais e econômicos;
Mapas de meio físico (geologia, geomorfologia, solos,
vegetação), de cada mesorregião.
A segunda seção ilustra espacialmente o componente do
projeto ProVárzea denominado Estudos Estratégicos, como
pode ser visto na Figura 6. Esta seção é integrada por: Figura 6 – Mapa que compõe a seção dos estudos
Mapas de espacialização dos estudos estratégicos; estratégicos do Atlas.
Detalhamento dos municípios onde ocorreram estudos
estratégicos; e A quarta e última seção ilustra espacialmente o componente
Mapas temáticos dos resultados obtidos através dos do projeto ProVárzea denominado Monitoramento, Controle e
estudos estratégicos. Co-gestão, Figura 8. Esta seção é integrada por:
A terceira seção ilustra espacialmente o componente do Mapeamento de pressões nas áreas-piloto;
projeto ProVárzea denominado Iniciativas Promissoras. Esta Mapas temáticos da estatística pesqueira;
seção é integrada por mapas dos municípios onde ocorreram Mapas temáticos dos censos comunitários;
as iniciativas promissoras, com textos descritivos de cada uma Mapeamento dos acordos de pesca; e
das iniciativas, Figura 7. Mapas das comunidades nas áreas-piloto com agentes
ambientais voluntários.

Figura 4 - Páginas do Atlas que mostra a estrutuda do mesmo


Figura 7 – Mapa da seção de iniciativas promissoras.
em seções.

Figura 8 – Mapa da seção de monitoramento, controle e co-


Figura 5 – Carta-imagem de uma meso-região. gestão.

WORKSHOP GEOTECNOLOGIAS APLICADAS ÀS ÁREAS DE VÁRZEA DA AMAZÔNIA 27


3. CONSIDERAÇÕES FINAIS IBAMA. A questão Fundiária e o Manejo dos Recursos
O Atlas do Projeto de Manejo dos Recursos Naturais da Naturais da Várzea: análise para a elaboração de no-
Várzea contém aproximadamente cem páginas, sendo que vos modelos jurídicos/ José Felder Benatti, Ana Ca-
quatro seções estão distribuídas entre essas páginas. rolina Santos Surgik, Girolamo Domenico Treccani, et
Esse Atlas, além de documentar todos os aspectos al. – Manaus: Edições Ibama/ProVárzea, 2005. 104
geográficos, sociais, econômicos, ambientais e institucionais p.: il.
da várzea, serve para tornar público, de forma organizada,
todos os aspectos do Projeto ProVárzea. Ele poderá ser _______. Manejo da Pesca dos Grandes Bagres Migra-
utilizado como fonte de dados e informações para as dores: Piramutaba e Dourada no Eixo Solimões-Ama-
instituições públicas, privadas e toda a sociedade, podendo zonas/ Nídia Noemi Fabré; Ronaldo Borges Barthem,
ainda servir de base para outros projetos a serem executados organizadores – Manaus: Edições Ibama/ProVárzea,
na mesma região geográfica. 2005. 114 p.: il.
_______. Gestão do Uso dos Recursos Pesqueiros na
Amazônia/ Mauro Luis Rufino – Manaus: Edições
Agradecimentos Ibama/ProVárzea, 2005. 135 p.
Agradeço ao Projeto ProVárzea pela oportunidade; à toda a
equipe do projeto pela atenção e dedicação, em especial aos _______. Diversidade Socioambiental nas Várzeas dos
gerentes de SIGs César V. Teixeira e Willer Hermeto por serem Rios Amazonas e Solimões: Perspectivas para o de-
tão prestativos e ao Prof. Nilson Ferreira, também consultor do senvolvimento da Sustentabiliodade/ Deborah Lima,
projeto, pela colaboração. Ao Sipam, pela disponibilização da organizadora – Manaus: Edições Ibama/ProVárzea,
base cartográfica digital na escala 1:250.000. 2005. 416 p.: il.
IBGE. Atlas Geográfico Escolar – Rio de Janeiro: IBGE,
Referências bibliográficas 2002. 200 p.: il.
AGÊNCIA NACIONAL de ÁGUAS. ATLAS NORDESTE: Abas- PIATAM: espacialização dos perfis social e econômico
tecimento Urbano de Águas: alternativas de ofertas das comunidades estudadas pelo Piatam/ organiza-
de água para as sedes municipais da Região Nordes- dores, Edileuza Carlos de Melo, Michelle Gonçalves
te do Brasil e do norte de Minas Gerais. Brasília: ANA, Costa, Leonora de Oliveira Queiroz. Manaus: EDUA,
SPR, 2006. 80 p. : il. 2007. 144 p.
FUNDAÇÃO DO MEIO AMBIENTE DE SANTA CATARINA.
Atlas ambiental da região de Joinville: complexo hí-
drico da Bahia da Babitonga/ Fundação do Meio Am-
biente de santa Catarina; coordenação de Joachim L.
W. Knie Florianópolis: FATMA/GTZ, 2002. 138 p.: il.

28 WORKSHOP GEOTECNOLOGIAS APLICADAS ÀS ÁREAS DE VÁRZEA DA AMAZÔNIA


OS SOLOS DAS VÁRZEAS PRÓXIMAS
À CALHA DOS RIOS SOLIMÕES-
AMAZONAS NO ESTADO DO AMAZONAS
WENCESLAU GERALDES TEIXEIRA1
1
Embrapa Amazônia Ocidental – Rod. AM 010 – Km 29 CEP 69011-970 – Manaus – AM, Caixa Postal 319 –
lau@cpaa.embrapa.br

WILLER HERMETO PINTO2


2
Projeto Manejo dos Recursos Naturais da Várzea – ProVárzea/Ibama – Manaus – AM.
willer.pinto@ibama.gov.br

HEDINALDO LIMA3
3
Universidade Federal do Amazonas – Ufam
hedinaldo@ufam.edu.br

RODRIGO SANTANA MACEDO4


4
Universidade Federal do Amazonas – Ufam
rodrigokatiatia@gmail.com

GILVAN COIMBRA MARTINS1


gilvan@cpaa.embrapa.br

WARLEY ARRUDA5
5
Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia
warleyarruda@hotmail.com

INTRODUÇÃO Inicialmente, foi feito um levantamento das informações


As áreas denominadas várzeas compreendem as planícies pedológicas disponíveis para a área de estudo. A principal
de inundação fluvial de deposição holocênica e pleistocênica referência de informação sobre as características pedológicas
que margeiam os rios de águas barrentas, ricas em material das várzeas do rio Solimões são os mapas ao milionésimo do
em suspensão, numa área de estudo basicamente às margens Projeto RadamBrasil, nas áreas em questão nas Folhas Ma-
do rio Solimões. Essas áreas estão sujeitas a inundações sa- naus (SA 20) e Santarém (SA 21), que são apresentadas nas
zonais compondo uma planície aluvial que pode alcançar uma Figuras 1 e 2.
grande extensão, com um sistema complexo de canais, lagos, Outros trabalhos em maior escala foram recentemente
ilhas e diques marginais (Sioli, 1951). compilados por Teixeira et al. (2006) (Figura 3) e recentemente
Os principais afluentes da margem direita do rio Solimões os municípios de Iranduba, Manaquiri, Manacapuru, Anamã,
e o rio Japurá, na margem esquerda, transportam uma eleva- Anori, Codajás e Coari tiveram os mapas pedológicos compila-
da carga de sedimentos em suspensão na água. A colmatação dos da base pedológica da Amazônia Legal (Sipam), compila-
desses sedimentos nas planícies de inundação dá origem a dos e publicados (Teixeira et al., 2007).
solos com estratificação horizontal e vertical (neossolos flú- Neste trabalho foi utilizada a Base Pedológica da Ama-
vicos) e com características acentuadas de hidromorfismo zônia Legal (Sipam) (Figura 4) e utilizando ferramentas de
(gleissolos). geoprocessamento foi feito um recorte das áreas de várzeas
Os solos de várzea desenvolvem-se sobre sedimentos re- compreendida no Estado do Amazonas, próximas à calha dos
centes que, associados ao nível elevado do lençol freático e às rios Solimões-Amazonas. A seleção das áreas foi feita de for-
inundações periódicas, condicionam um processo incipiente ma semi-automática e posteriormente foi feita uma checagem
de pedogênese. Por sua natureza sedimentar recente, esses
solos guardam estreita relação com o material de origem, ou
seja, sedimentos provenientes das regiões andina e subandi-
na, que são transportados pelos rios que drenam a região e
depositados na planície aluvial (Irion, 1984).
Este estudo teve como objetivo fazer um levantamento das
áreas de várzeas, a classificação e as principais características
dos solos que ocorrem nas margens dos rios Solimões-Amazo-
nas, no estado do Amazonas.
O rio Solimões regionalmente recebe o nome de Amazonas
após a barra do rio Negro, nas proximidades da cidade de Ma-
naus. Neste trabalho será utilizado o termo rio Amazonas para
compreender o rio (Solimões e Amazonas) desde a divisa entre
o Brasil, Colômbia e Peru, na cidade de Tabatinga, até a cidade
de Nhamundá, limítrofe dos estados do Amazonas e Pará.

Figura 1 – Mapa exploratório de solos – Folha SA 20 –


MATERIAIS E MÉTODOS Manaus – Projeto RadamBrasil – Escala ao milionésimo
(Fonte: Brasil, 1978).

WORKSHOP GEOTECNOLOGIAS APLICADAS ÀS ÁREAS DE VÁRZEA DA AMAZÔNIA 29


Figura 2 – Mapa exploratório de solos – Folha SA 21 –
Santarém – Projeto RadamBrasil – Escala ao milionésimo
(Fonte: Brasil, 1976).
Figura 4 – Mapa exploratório de solos compilado da Base
manual e selecionadas somente áreas com continuidade. Nas Pedológica do Sistema de Proteção da Amazônia – Escala de
confluências de tributários foi utilizado como critério um bu- detalhe compatível com a legenda 1:250.000 (Adaptado de
ffer de 10 km se os solos tivessem características de solos das SIPAM, 2001).
várzeas.
Posteriormente, foi feita a checagem das áreas utilizando nante foi os neossolos flúvicos que apresentou quatro unida-
um mosaico de radar do Projeto Suttle Radar Topographic Mis- des de mapeamento e que também apresentou características
sion (SRTM) e com a utilização em algumas área de mapas de eutróficas e distróficas. Aparecem como classes subdominan-
maior escala, como o mapa das várzeas do municípios de Ma- tes, além dos gleissolos e neossolos flúvicos, também plintos-
nacapuru (Figura 5).

Figura 3 – Figura mostrando diferentes mapas pedológicos


disponíveis próximos a calha do rio Solimões entre os
municípios de Manaus e Coari. Adaptado de Teixeira et al.
(2006).

RESULTADOS E DISCUSSÃO
Os gleissolos e os neossolos flúvicos são os solos predo-
minantes na planície aluvial ou várzea do rio Amazonas. De
idade pleistocênica e holocênica são formados principalmen-
te a partir de sedimentos provenientes de processos erosivos
naturais na Cordilheira dos Andes.
As Figuras 6, 7 e 8 apresentam os mapas compilados e a
legenda atualizada das unidades de mapeamento.
A Tabela 1 mostra as unidades de mapeamento identifica- Figura 5 – Mapa semi detalhado dos solos de várzea do
das na área de estudo. Foram identificadas 13 unidades de município de Manacapuru (Fonte: CETEC, 1986 – Adaptado
mapeamento em que a classe dominante foi o gleissolo com por Teixeira et al. 2006).
características eutróficas e distróficas. A segunda classe domi-

30 WORKSHOP GEOTECNOLOGIAS APLICADAS ÀS ÁREAS DE VÁRZEA DA AMAZÔNIA


Figura 6 - Mapas dos solos de várzea próximo a calha do rio Solimões no trecho denominado Alto Solimões, entre os
municípios de Atalaia do Norte e Tonantins – Estado do Amazonas.

Tabela 1 – Principais unidades de mapeamento das várzeas do rio Solimões – Amazonas no Estado do Amazonas (Compilado
da Base do SIPAM, 2001)

WORKSHOP GEOTECNOLOGIAS APLICADAS ÀS ÁREAS DE VÁRZEA DA AMAZÔNIA 31


Figura 7 - Mapas dos solos de várzea próximos a calha do rio Solimões no trecho denominado Médio Solimões, entre os
municípios de Fonte Boa e Beruri – Estado do Amazonas.

Figura 8 - Mapas dos solos de várzea próximos a calha do rio Solimões no trecho denominado Médio Solimões – Baixo
Amazonas, entre os municípios de Beruri e Nhamundá.

32 WORKSHOP GEOTECNOLOGIAS APLICADAS ÀS ÁREAS DE VÁRZEA DA AMAZÔNIA


Figura 9. Área de Neossolos Flúvicos com cultivo de feijão de corda, margem esquerda do rio Solimões, município de Iranduba.

Tabela 2. Áreas em hectares e os percentuais das classes velocidades reduzidas de intemperismo e do processo de
de solos dominantes das várzeas próximas à calha dos rios pedogênese, sendo por isso os solos mais novos da paisa-
Solimões–Amazonas no estado do Amazonas. gem nessa região. Solos mais novos são menos estruturados,
Classe de Solo ha % apresentam teores mais elevados de areia e silte e são mais
Gleissolos eutróficos 3.428.856 56.1 susceptíveis a perdas por erosão. Contudo, na maior parte das
várzeas estudadas o processo erosivo não causa perdas aos
Neossolos Flúvicos eutróficos 2.159.141 35.3
gleissolos, especialmente, devido a sua ocorrência em rele-
Gleissolos distróficos 508.867 8.3 vo plano e suave ondulado, onde se encontram, e à pequena
Neossolos Flúvicos distróficos 14371 0.2 diferença de cota entre o nível do solo e o nível das águas. As
Total 6.111.235 100 maiores perdas desses solos são devido ao “fenômeno das
terras caídas”, que consiste do desbarrancamento dos solos
solos e neossolos quartzarénicos. nas margens do rio, fenômeno que chega a ocorrer em grande
Na Tabela 2 são apresentadas as áreas em hectares e os extensão, em algumas áreas, mesmo sendo recobertas pela
percentuais das classes dominantes das unidades de mapea- vegetação original.
mento. Nessa análise estatística foi feita uma divisão também Os neossolos flúvicos estão associados principalmente ao
levando-se em consideração a classificação da fertilidade do dique aluvial (barranco do rio) e às partes mais elevadas do in-
solo (características eutróficas e distróficas). terior da várzea, enquanto os gleissolos ocorrem na parte mais
Na Tabela 2 verifica-se que mais de 60% dos solos da vár- interior e mais rebaixada da várzea, por isso mais freqüente-
zea, no trecho em estudo, são gleissolos, sendo que entre es- mente encontram-se saturados ou completamente submer-
tes, mais de 50% são eutróficos. Os neossolos flúvicos eutró- sos. Quando associados aos igapós, chavascais, aningais ou
ficos somam mais de 2.000.000 ha. Estes dados mostram que outras áreas muito baixas, no interior da várzea, os gleissolos
poucas áreas da várzea apresentam limitação de fertilidade não são cultivados.
para a produção agrícola. As áreas de solos com característi- Apesar de apresentarem, especialmente, os neossolos flú-
cas distróficas geralmente estão associadas às margens de la- vicos elevada fertilidade natural e elevada reserva de nutrien-
gos onde a carga de sedimentos ricos em nutrientes é menor. tes, as condições de drenagem e a elevação sazonal do nível
Essas áreas também têm a tendência de apresentar sedimen- das águas tornam-se freqüentemente limitantes ao cultivo
tos mais finos (textura argilosa e muito argilosa) em contraste desses solos em parte significativa do ano. A Figura 5 mostra
com a grande quantidade de silte que apresentam os solos uma classificação adicional pelo período de alagamento nas
próximos da calha do rio. Abaixo, são discutidas as principais diferentes posições da paisagem das várzeas próximas de Ma-
características das classes predominantes nessa área de estu- nacapuru. Esse tipo de classificação das várzeas por período
do dos gleissolos e neossolos flúvicos. provável de alagamento é de fundamental importância em es-
A natureza do material de origem, a posição na paisagem, tudos de zoneamento dessas áreas.
as condições restritas de drenagem e as inundações peri- Na várzea, os solos eutróficos, normalmente, possuem teo-
ódicas a que podem estar sujeitos esses solos resultam em res elevados de silte e de areia fina, com elevada capacidade

WORKSHOP GEOTECNOLOGIAS APLICADAS ÀS ÁREAS DE VÁRZEA DA AMAZÔNIA 33


Figura 10. Perfil de Gleissolo, a classe de solo predominante
nas margens dos rios na região estudada. Observa-se as
cores acinzentadas típicas de ambientes hidromórficos.
(Parintins - AM) Figura 11 – Perfil típico de um Neossolo Flúvico onde
se observa a estratificação das diferentes camadas de
de troca de cátions e elevados teores de cátions trocáveis, es- deposição. Paraná do Baixio – Iranduba – AM
pecialmente cálcio, magnésio e, em alguns casos, sódio. Em
dem ser gleizados ou não); e ii) precedido por qualquer tipo
contraste aos solos bem drenados de terra firme, os solos de
de horizonte B, exceto plânico e plíntico, e/ou C, com presen-
várzea apresentam reação menos ácida, níveis mais elevados
ça de mosqueados abundantes com cores de redução, sem
de nutrientes, menores teores relativos de alumínio trocável e
apresentar, contudo, os requisitos para enquadramento nas
grande quantidade de argila de atividade alta.
classes dos vertissolos, dos espodossolos, dos planossolos,
Esses solos apresentam ainda composição mineralógica
dos plintossolos ou dos organossolos. A Figura 10 apresenta
bastante variada, como reflexo da diversidade e da natureza
um perfil típico de gleissolo nas margens do rio Amazonas, no
recente do material de origem, das condições periódicas de
município de Parintins – AM.
hidromorfismo e do reduzido grau de pedogênese. Os poucos
Em condições naturais, são solos mal ou muito mal drena-
estudos sobre a mineralogia dos solos de várzea revelam a
dos, que apresentam seqüências de horizontes A-Cg, A-Big-
presença de minerais primários, notadamente mica, clorita e
Cg, A-Bi-Cg, A-Btg-Cg, A-Bt-Cg, A-E-Btg-Cg, A-Eg-Btg-Cg, Ag-Cg,
feldspatos, além de conteúdo apreciável de esmectita, cauli-
H-Cg. Esses solos, por serem mal ou muito mal drenados e se
nita e vermiculita (Sombroek, 1966; Irion, 1984). Os minerais
caracterizarem pelo processo de gleização, que implica na
considerados acessórios também são bastante variáveis, ob-
manifestação de cores acinzentadas, azuladas ou esverdea-
servando-se caulinita, mica, quartzo, feldspato, montmoriloni-
das devido à redução e solubilização do ferro, permitindo a
ta, vermiculita aluminosa, lepidocrocita, hematita e gibbsita.
expressão das cores neutras dos minerais de argila ou, ainda,
precipitação de compostos ferrosos.
Características dos solos de várzea Os gleissolos normalmente desenvolvem-se a partir de se-
Neste item são apresentados os principais critérios utili- dimentos recentes nas proximidades dos cursos d’água e em
zados segundo o Sistema Brasileiro de Classificação do Solo materiais colúvio-aluviais sujeitos a condições de hidromorfia
(Embrapa, 1999) para classificar os gleissolos e os neossolos em áreas abaciadas ou depressões e, eventualmente, em áre-
flúvicos. as inclinadas sob influência do afloramento de água subterrâ-
nea (surgentes). São solos formados sob vegetação hidrófila
Gleissolos (glei pouco húmico, glei húmico) ou higrófila herbácea, arbustiva ou arbórea.
No Sistema Brasileiro de Classificação de Solos é a clas- Em geral, apresentam textura fina e não se incluem nas
se de solos hidromórficos constituídos por material mineral classes texturais areia ou areia franca. Os solos dessa classe
que apresenta horizonte glei dentro dos primeiros 50 cm de encontram-se permanente ou periodicamente saturados por
profundidade, ou com profundidade entre 50 e 125 cm, caso água, salvo se artificialmente drenados. A água permanece
esteja: i) imediatamente abaixo de horizontes A ou E (que po- estagnada internamente ou a saturação é por fluxo lateral no

34 WORKSHOP GEOTECNOLOGIAS APLICADAS ÀS ÁREAS DE VÁRZEA DA AMAZÔNIA


solo. Em qualquer circunstância, a água do solo pode se ele- los. Essa classe admite diversos tipos de horizontes superfi-
var por ascensão capilar, atingindo a superfície. ciais, incluindo o horizonte O ou H hístico, com menos de 30
Podem ser de alta ou baixa fertilidade natural e têm nas cm de espessura quando sobrejacente à rocha ou à material
condições de má drenagem a sua maior limitação de uso. Na mineral.
área de estudo, a ocorrência dessa classe de solo é mais ex- Essa classe de solo está associada às áreas de maior eleva-
pressiva nas áreas mais rebaixadas, mais distantes da margem ção na paisagem, dentro das limitações de várzea. Na paisa-
do rio em direção à área de floresta ou dos lagos de várzea. gem de várzea do rio Solimões, também é comum a ocorrência
As classes mais freqüentes na área-foco deste estu- de neossolos flúvicos Ta eutróficos gleissólicos. Estes solos
do são os gleissolos háplicos com argila de atividade alta (Ta) apresentam horizonte glei dentro de 150 cm da superfície do
com elevada saturação de bases (eutróficos). Esses solos pos- solo.
suem argila de atividade alta (T ≥ 27 cmolc/kg de argila) e alta Os neossolos flúvicos apresentam textura bastante variável
saturação por bases (V ≥ 50%) na maior parte dos primeiros com camadas de textura arenosa, média e argilosa.
100 cm a partir da superfície do solo. Nessa classe estão incluídos os solos que foram anterior-
A potencialidade agrícola desses solos é dependente das mente classificados como solos aluviais e algumas áreas de
sérias limitações atribuídas ao lençol freático elevado e ao areias quartzosas hidromórficas.
risco de inundação freqüentes. Os horizontes subsuperficiais Os neossolos flúvicos nessa região ocorrem principalmente
apresentam estrutura maciça no horizontes Cg ou Bg. As co- às margens dos rios e lagos. Os eutróficos estão associados à
res dominantes são as escuras nas camadas superficiais e colmatagem de sedimentos ricos do rio Solimões e os distró-
acinzentadas e azuladas nos horizontes subsuperficiais. Esta ficos aos pequenos rios de água preta e proximidades de la-
característica faz com que algumas áreas com esses solos se- gos, onde a quantidade de sedimentos é reduzida e há teores
jam denominadas localmente de “barro azul”. Nestas áreas a bastante elevados de ácidos orgânicos em dissolução (Vieira
vegetação predominantemente é de solos alagados como os & Santos, 1987).
aningais e chavascais. Em grande maioria, são solos com elevada fertilidade natu-
A textura dominante parece ser dominada pela distância ral que desempenham papel de suma importância na produ-
em relação ao curso do Solimões. Os que são próximos às ção agrícola da região, pois são intensamente utilizados pelos
margens da calha são predominantemente siltosos e os que agricultores ribeirinhos durante o período de baixa das águas
se localizam mais no interior das áreas alagadas, próximos a dos rios. Entretanto, apresentam sérias restrições para as cul-
pequenos cursos de água e lagos, são predominantemente turas perenes e silvicultura devido principalmente ao excesso
argilosos. de água durante longos períodos.
A maior parte dos gleissolos nas várzeas do rio Amazonas Sua potencialidade agrícola também é em função de sua
no trecho do estudo são eutróficos, com algumas áreas apre- posição na paisagem: as várzeas onde ocorrem os neossolos
sentando caráter distrófico (Tabela 2). Os eutróficos apresen- flúvicos apresentam formações mais antigas e estáveis que
tam boa disponibilidade de nutrientes enquanto os distróficos permitem a utilização agrícola e pecuária mais intensiva. Nas
são fortemente ácidos, geralmente de textura argilosa, com várzeas instáveis ocorre o fenômeno conhecido localmente
elevada saturação por alumínio. como “terras caídas”, provocado pelo solapamento ocasiona-
Apresentam baixa suscetibilidade à erosão por ocorrer em do pelas águas e pela pouca resistência do solo em relação à
relevo plano. Há limitação forte a muito forte pela falta de oxi- força da correnteza, conforme discutido anteriormente.
gênio nas raízes devido ao excesso de água em grande parte Nas partes mais rebaixadas, próximas às margens do rio
do ano. Entretanto, nas áreas eutróficas a cultura de vazante é Solimões, é comum a ocorrência de bancos de areia, regio-
bastante disseminada e pode ser sustentável nas localidades nalmente denominado de “praia”. Essas áreas são cultivadas
próximas a centros consumidores. O excesso de água restrin- com culturas de ciclo curto, por ocasião da vazante do rio. Os
ge ou mesmo impede o acesso da maquinaria, condicionando solos mais comumente encontrados nessas áreas são os ne-
sérias limitações à utilização de implementos agrícolas, evi- ossolos quartzarênicos hidromórficos, solos com presença de
denciando também sua inaptidão para uso com cultivos pe- lençol freático elevado durante grande parte do ano, na maio-
renes e silvicultura de espécies pouco tolerantes à deficiência ria dos anos, imperfeitamente ou mal drenados.
de oxigênio.

Neossolos flúvicos (solos aluviais) CONSIDERAÇÕES FINAIS


Os neossolos flúvicos são derivados de sedimentos alu- A unidade de paisagem denominada várzea apresenta ca-
viais com horizonte A assente sobre horizonte C, constituído racterísticas bastante peculiares e distintas da paisagem de
de camadas estratificadas, sem relação pedogenética entre si, terra firme. Os solos férteis contrastam com as afirmativas de
e devem apresentar um dos seguintes requisitos: distribuição que os solos da Amazônia são pobres; as grandes extensões
irregular do conteúdo de carbono orgânico em profundidade, que a planície de inundação atinge em determinados locais
dentro de 150 cm da superfície do solo; e/ou camadas estra- levam ao questionamento da legislação fundiária e sobre áre-
tificadas em 25% ou mais do volume do solo, dentro de 150 as de proteção permanente para matas ciliares, prevista numa
cm da superfície do solo (Embrapa, 1999). Compreende solos legislação nacional baseada em rios de vales encaixados. O
apresentando pequena expressão dos processos pedogenéti- endemismo de determinados tipos de vegetação e fauna, em
cos como conseqüência de características do próprio material, alguns ambientes de várzea, condiz com a criação de áreas de
de sua resistência ao intemperismo ou composição química preservação para estes ambientes, talvez os mais ameaçados
e do relevo, que podem impedir ou limitar a evolução desses da Amazônia.
solos. Um programa de zoneamento ecológico econômico das vár-
Apresentam seqüência de horizontes A-R, A-C-R, A-Cr-R, zeas poderia selecionar áreas para atividades produtivas, sob
A-Cr, A-C, O-R ou H-C, sem atender, contudo, aos requisitos os solos férteis desta área, de forma sustentável que pode-
estabelecidos para serem enquadrados nas classes dos cher- riam contribuir de forma significativa para a produção primária
nossolos, vertissolos, plintossolos, organossolos ou gleisso- na Amazônia.

WORKSHOP GEOTECNOLOGIAS APLICADAS ÀS ÁREAS DE VÁRZEA DA AMAZÔNIA 35


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36 WORKSHOP GEOTECNOLOGIAS APLICADAS ÀS ÁREAS DE VÁRZEA DA AMAZÔNIA


PERSPECTIVAS
HIDROGEOMORFOLÓGICAS DA
DIVERSIDADE DAS VÁRZEAS
AMAZÔNICAS
EDGARDO LATRUBESSE
Universidade Federal de Goiás-Labogef e Universidad Nacional de La Plata-Argentina
latrubesse@igs.edu.ar

1. INTRODUÇÃO dos quais 11% foram estimados como cobertos por 6.510 la-
A bacia fluvial amazônica, a maior do mundo em dimensão gos, sendo que somente 10% são maiores que 2 km2 (Sippel
e vazão líquida, possui também a maior diversidade morfo- et al., 1992).
lógica de planícies aluviais ou várzeas do planeta. Se somar- Adicionalmente, Sippel et al. (1992) estimou que as várzeas
mos outras bacias que estão parcialmente cobertas pela flo- nos 400 km finais dos cursos baixos dos principais afluentes
resta amazônica, como é caso da bacia Araguaia-Tocantins e ocupam ~62.033 km2 e que a abundância de lagos varia entre
Orinoco, essa diversidade incrementa-se ainda mais. Dos 34 5 a 12% nos rios Purus, Negro, Japurá e Madeira, em relação à
maiores rios tropicais do mundo, em vazão líquida, 18 formam área total da planície aluvial.
parte da bacia fluvial amazônica ou estão relacionados com a O modelamento hidrológico da onda de cheias ao longo
floresta amazônica (Latrubesse et al., 2005). do canal principal sugere que até 30% da vazão do sistema
Os rios da Amazônia, então, podem ser classificados de do canal tem intercâmbio com a planície aluvial (Richey et al.,
forma geral dentro de dois grandes grupos em função da car- 1989).
ga de sedimentos e em diversos subgrupos relacionados aos O intercâmbio de sedimentos entre o canal principal e as
ambientes geológicos que drenam a geomorfologia de seus planícies aluviais, estimado a partir de modelos de transporte,
canais e planícies aluviais. teria que ser 12 vezes o valor de fluxo registrado na estação de
Os rios que transportam abundantes cargas de sedimentos Óbidos, no Baixo Amazonas (Dunne et al., 1998).
são ricos em nutrientes dissolvidos, enquanto os que trans- Porém, a planície aluvial do Amazonas não se inunda to-
portam baixas quantidades de sedimentos transportam pou- talmente durante cheias típicas (Tricart, 1977; Iriondo, 1982).
cos nutrientes e outros solutos (por exemplo, o rio Negro) ou Mertes et al. (1996), utilizando a interpretação geomorfológi-
um conteúdo intermediário de solutos (o rio Tapajós). ca de Iriondo estimou que 40.000 km2 da planície aluvial e
Em relação ao contexto geomorfológico-geológico, os rios 4.000 km2 de ilhas são inundadas por inundação direta entre
que fluem ao longo de faixas fluviais lineares podem ser agru- Vargem Grande e Óbidos. Cerca de 20.000 km2 de depósitos
pados em: relacionados a cinturões orogênicos montanhosos, de faixa fluvial permanecem relativamente secas ou são inun-
platôs e plataformas de rochas mesozóicas, sedimentares e dadas por águas locais providas por pequenos tributários, se-
basaltos, crátons pré-cambrianos, ou de planícies dissecadas epage subterrâneo ou água local de chuvas (Mertes, 1997).
de sedimentos cenozóicos ou de ambientes mistos (Tabela 1 - Estudos mais recentes (Hess et al., 2003), estimaram por
Anexo) (Latrubesse et al., 2005). meio do uso de imagens JERS que 70% de 1,77 milhão de km2
As planícies aluviais ou várzeas são geradas por processos de uma área retangular (quadrat) na Amazônia central, incluin-
fluviais e sustentam uma diversidade de ambientes. Na ba- do os rios Solimões-Amazonas desde águas abaixo do Napo
cia amazônica a grande variedade de padrões de canais e a até a confluência com o Tapajós, o rio Negro ao sul do Vaupés e
existência de planícies aluviais complexas em tempo e espaço os baixos cursos dos rios Tapajós, Trombetas, Madeira, Purus,
induzem à geração de um mosaico ambiental de áreas inundá- Japurá, Juruá e Içá estão ocupados por áreas alagadas (wetlan-
veis e lagos de diversas origens, formas e funcionamento. ds) inundadas entre 96% e 26% durante o período de cheias
Embora tenham avançado, significativamente, os estudos ou vazante, respectivamente. Em relação a esta estimativa, a
sobre as várzeas da Amazônia têm se concentrado no pro- metade das áreas inundáveis (wetlands) estão ocupadas por
cessamento de produtos de sensores remotos ou têm tido planícies aluviais e canais dos rios Solimões-Amazonas e seus
um enfoque puramente limnológico, direccionado à ecologia principais afluentes. Hess et al. (2003) remarcam que 70% das
de ambientes aquáticos, sem um conhecimento concreto da áreas inudáveis estão cobertas por mata de várzea ou igapó.
dinâmica hidrofísica dos sistemas e dos processos históricos Porém, as classes de fisionomias vegetacionais e suas carac-
envolvidos na sua formação. Os estudos sobre os processos terísticas de inundação mostram grandes variações quando se
físicos que conformam o arcabouço arquitetural das planícies comparam rios de águas brancas ou pretas devido às particu-
aluviais ou várzeas é muito fraco e mais ainda as pesquisas laridades geomorfológicas das planícies aluviais.
que tentam inter-relacionar aspectos físicos com os aspectos Os resultados mencionados e tantos outros de caráter mais
bióticos das planícies aluviais. específicos, obtidos na bacia, são muito valiosos, porém,
Embora valiosos, muitos resultados que existem são extre- nota-se uma falta de estudos e mapeamentos detalhados e
mamente gerais. Por exemplo, é conhecido que ao longo do o estabelecimento de relações mais claras e precisas entre
sistema principal dos rios Solimões-Amazonas (~2.800 km) a hidrogeomorfologia e vegetação, por exemplo, assim como
planície aluvial ou várzea ocupa aproximadamente 92.400km2 percebe-se o uso da hidrologia sem ter em conta a dinâmica
e a natureza do ambiente físico. Isso dificulta um melhor en-

WORKSHOP GEOTECNOLOGIAS APLICADAS ÀS ÁREAS DE VÁRZEA DA AMAZÔNIA 37


tendimento do comportamento hidrogeomorfológico e ecoló- e do Madeira podem ser utilizados como exemplo.
gico das planícies aluviais e das áreas inundáveis, em geral, Avulsão é um dos maiores processos fluviais atuantes em
incluindo os sistemas lacustres. rios tropicais. Avulsões típicas em trechos específicos de gran-
Por exemplo, a morfologia de lagos e o seu comportamento des rios da bacia amazônica, como o Solimões, Moa, Ipixuna
está relacionado não apenas ao regime fluvial, mas, também, e nos rios da depressão de Ucamara (Latrubesse e Franzinelli,
ao estilo geomorfológico dos rios, sua história paleohidrológi- 2002, Latrubesse e Rancy, 2000, Mertes et al., 1996, Dumont,
ca, as formas muitas vezes herdadas na planície ou terraços e, 1993) e da bacia de Beni (Dumont e Fournier, 1994, Parsinnen
portanto, a arquitetura sedimentar da várzea. et al., 1996) estão relacionadas à neotectonismo.
Outro grande problema ao descrever as várzeas é que elas
dominam uma visão “atualística” da geração das planícies
2. MOSAICOS ESPAÇO-TEMPORAIS DE aluviais. Porém, um sistema fluvial é um sistema físico com
história e sua planície aluvial ou arquivo morfossedimentar de
VÁRZEAS uma sucessão de eventos paleohidrológicos. A Figura 1 mos-
A diversidade e dimensões dos rios da bacia amazônica tra a várzea do rio Purus com águas acima de Boca do Acre
fazem com que os cientistas que trabalham na Amazônia te- (AM). Embora toda esta unidade pareça “recente” o sistema
nham que mudar sua concepção de uniformizar critérios so- acumula uma história de mais de ~7.000 anos (Latrubesse e
bre o funcionamento e manutenção hidrogeomorfológica das Kalicki, 2002).
várzeas. Lamentavelmente, os estudos regionais só indicam Esse tipo de resultado é fundamental ao se pretender in-
áreas inundáveis ou modelos de transmissão de nutrientes ou terpretar, por exemplo, as sucessões vegetacionais e o papel
sedimentos, sem levar em consideração a complexidade mor- do sistema fluvial como elemento interatuante na geração de
fossedimentar do sistema fluvial com suas planícies aluviais e biodiversidade.
sua história evolutiva recente. À respeito da distribuição de certas unidades vegetacionais
Rios tropicais têm uma grande variedade de formas de ca- na Amazônia, o que poderíamos dizer dos relictuais isolados
nal. Em muitos casos e, particularmente, nas grandes bacias, de savana ao lado do rio Aripuanã? Que explicação biogeo-
os rios exibem uma transição de um para outro padrão, o que gráfica isto poderia ter? Sem dúvida, uma visão atualística
dificulta, ou mesmo inviabiliza, a aplicação da terminologia baseada em controles simplemente edáficos, por exemplo,
tradicional de canais retos, meandrantes e entrelaçados. Pode presença de solos arenosos e falta de nutrientes, é totalmente
ser mais apropriada, ainda que em trechos regionais selecio- insastifatória. Por que esses solos estão nessa posicão e com
nados, a aplicação da terminologia de sistemas de canais sim- essa distribuição e não com outra? Teríamos alguma outra ex-
ples e múltiplos (Friend e Sinha, 1993) ou sistemas anabran- plicação que tenha em conta a geomorfologia e paleoclimas
ching (Nanson e Knighton, 1996). na Amazônia? Na realidade, as línguas relictuais de savanas
Os rios originados em cinturões orogênicos são caracteri- estão controladas por um padrão distributário de paleocanais
zados por uma alta carga suspensa (>80%) para uma carga de que pertenciam a um grande leque aluvial que funcionou nes-
fundo bastante reduzida (em geral oscilando entre 2 a 15%). sa região há uns 20.000 anos, quando tínhamos uma expan-
Apresentam, freqüentemente, canais sinuosos nos grandes são de vegetações mais abertas nessa zona e a floresta tinha
cursos e podem alternar trechos sinuosos e retilíneos nas dre- desaparecido da área (Latrubesse, 2002).
nagens médias e pequenas. Nas florestas pluviais desenvol- Quando vemos complexos de arquipélagos, como os de
vem meandros assimétricos e desarmônicos que, via de regra, Anavilhanas e Mariuá no rio Negro, onde se encontram as
mostram profunda incisão gerada durante o Holoceno. Bons maiores áreas de igapó de toda a Amazônia, nos pergunta-
exemplos são os rios do sudoeste amazônico como o Purus mos que idade tem as ilhas e desde quando esse igapó existe
e o Juruá (Latrubesse e Kalicki, 2002). Meandros harmônicos nessa área? Desde quando o rio Negro tem essas caracterís-
estão geralmente relacionados a rios com carga mista, que, na
maioria, drenam áreas de platôs como o rio das Mortes (im-
portante tributário da bacia Tocantins-Araguaia) e em trechos
específicos do rio Içá (ou Putumayo). Alternância de canais
simples e múltiplos se observa no rio Ucayali, no Peru. Rios
que drenam áreas cratônicas e de platô, como o Araguaia e ou-
tros, têm menor proporção de carga suspensa em relação à de
fundo e, assim, desenvolvem canais com baixa sinuosidade.
Os grandes rios de áreas florestadas, como o Negro, desenvol-
vem uma intrincada morfologia multicanal com um complexo
de arquipélagos.
Além do controle hidrológico na morfologia do canal é im-
portante mencionar dois fatores que controlam a variação es-
pacial e temporal da morfologia de muitos rios, pelo menos
localmente: neotectônica e topografia do embasamento. A
neotectônica é freqüentemente mencionada como um dos im-
portantes controles da geomorfologia dos cinturões aluviais e
dos padrões de canal dos grandes sistemas fluviais do mundo.
O rio Amazonas e outros rios tropicais exibem exemplos claros Figura 1. Planície aluvial do Rio Purus (VH) a montante
de trechos controlados tectonicamente. de Boca do Acre (AM). A “várzea” está indicada com uma
Outro fator importante é a topografia do embasamento. linha preta. Embora pareça simplesmente relacionada aos
Muitos rios, com cobertura sedimentar aluvial relativamente processos “atuais” do sistema tem uma história que se
delgada, geralmente têm a morfologia de seus canais afetada remonta a pelo menos 7.000 anos antes do presente. FSL=
pelo substrato rochoso do trecho. Rochas do embasamento Formação Solimões (Mioceno superior), TPL= Terraço do
constringem ou dividem o canal e a própria planície aluvial, Pleistoceno Superior
além de afetar seu perfil longitudinal. Certos setores do Xingu

38 WORKSHOP GEOTECNOLOGIAS APLICADAS ÀS ÁREAS DE VÁRZEA DA AMAZÔNIA


(Poff et al., 1997) são um claro exemplo. A falsa ilusão da apli-
cação do conceito de padrão de canal como uma trilogia do
contínuo (braided, meandriforme e retilíneo) é outro (Ward e
Stanford, 1995). No caso da limnologia de ambientes aquáti-
cos, temos tido estudos dominados pelo processamento esta-
tístico de algumas variáveis morfométricas e de propriedades
físico-químicas. Raramente podem se observar bons mapas
sobre a distribução dos sistemas lacustres das várzeas ou al-
guma explicação sobre a gênese e história ou suas relações
hidrogeomorfológicas com o sistema fluvial.
No que diz respeito à mudança climática, modelos físicos
que têm em consideração a relação terra-biota-atmosfera e a
geração de cenários futuros diante da mudança global têm
sido elaborados, basicamente, com um notável desconheci-
mento da realidade de campo, por parte dos modelistas, e
com falta de conhecimento da realidade física da Amazônia.
Desafortunadamente, todos esses modelos têm carên-
cias em comum: a falta de entendimento dos processos ge-
omorfológicos que levam à formação de uma planície aluvial
ou várzea, uma dinâmica de inundações baseada em certos
comportamentos hidrológicos derivados fundamentalmente
do uso de produtos de sensores remotos, uma espacializa-
cão inexistente ou insuficiente de unidades físico-bióticas,
geneticamente relacionadas, uma supervalorização de pro-
cessamentos estatísticos no caso de sistemas lacustres e uma
mitificação de modelamentos hidrológicos na avaliação da cir-
culação de nutrientes ou da visão futurista de cenários diante
da mudança global.

Figura 2: Paleo-leque aluvial do Rio Aripuanã. Os paleocanais


4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Embora grandes programas sejam implantados na Amazô-
são ocupados por vegetação de tipo savana, rodeada por nia sobre os assuntos mencionados, a informação geocientí-
floresta. fica tem sido totalmente negligenciada e excluída. Até agora,
nenhum programa tem levado a sério a implementação de
ticas? Estão as ilhas Anavilhanas aparecendo na atualidade?
projetos sistemáticos sobre paleohidrologia recente (na es-
Nenhum dos modelos acima empregados tem sequer levado
cala de uns poucos milhares de anos) para poder integrar os
em consideração qualquer variável genética, temporal e evo-
resultados com os cenários atuais e futuros da bacia.
lutiva e nenhum dos grandes programas “ambientais” ou de
Muitos dos grandes rios do mundo estão localizados na
“preservação da Amazônia” parecem ter tido interesse em re-
bacia amazônica. Esses sistemas de tributários imensos e
ponder esses tipos de perguntas. Estudos de paleohidrologia
complexos necessitam ser analisados individualmente, uma
na bacia do rio Negro mostram que as ilhas Anavilhanas e de
vez que a grande variedade de estilos dos processos sedimen-
Mariuá possuem, pelo menos, antigüidades que oscilam entre
tares e geomorfológicos neles atuantes são praticamente des-
3.000 e 900 anos e que o rio Negro teria mudado drasticamen-
conhecidos.
te seu funcionamento hidrogeomorfológico durante os últimos
O papel importante dos sistemas tropicais na transferên-
1.000 anos, por causa de uma exaustão marcada da carga de
cia de sedimento e nutrientes para os oceanos e áreas cos-
sedimentos em suspensão (Latrubesse e Franzinelli, 2005).
teiras, no estoque de sedimento nas bacias continentais e no
ciclo hidrológico global, demonstra que a geomorfologia de
rios da Amazônia não recebeu a atenção necessária quando
3. AS VÁRZEAS E OS GRANDES comparada aos avanços atingidos por outras disciplinas nes-
PROJETOS AMBIENTAIS NA sa região. Assim, não existe uma dimensão real do potencial
de informações úteis que a geomorfologia e os estudos paleo-
AMAZÔNIA: O PAPEL NEGLIGENCIADO hidrológicos podem fornecer no tocante ao gerenciamento e
DA HIDROGEOMORFOLOGIA E DA planejamento ambiental de bacias fluviais.
Os estudos ecológicos em áreas tropicais, por exemplo,
PALEOHIDROLOGIA também carecem de uma base sólida de conhecimento. A
Como fora mencionado, o conhecimento do funcionamen- ecologia de ambientes aquáticos tropicais apóia-se em uma
to hidrofísico das várzeas e sua história evolutiva recente tem base conceitual extremamente pobre, ou mesmo ausente, no
pouca atenção dos grandes programas de pesquisas. Con- tocante ao funcionamento do hidrossistema físico. Ao mesmo
siderando que grande parte dos pesquisadores das várzeas tempo, engenheiros vêm cometendo sérios enganos no ma-
estão ligados à ecologia de ambientes aquáticos, um caso nejo da água na região, não havendo boa perspectiva para os
extremo da falta de entendimento do funcionamento físico de programas de implantação de hidrovias em grandes rios brasi-
um sistema fluvial e o de certos “paradigmas” da agora cha- leiros, como no rio Araguaia, e a construção de hidroelétricas
mada Ecohidrologia. O pulso de cheias de Junk et al. (1989) e no rio Madeira e outras represas no rio Xingu.
a redescoberta da importância das variáveis hidrológicas no As geociências, e em especial a sedimentologia, poderiam
entendimento da manutenção dos ecossistemas aquáticos atingir avanços significativos para o entendimento de mode-

WORKSHOP GEOTECNOLOGIAS APLICADAS ÀS ÁREAS DE VÁRZEA DA AMAZÔNIA 39


los de fácies, reconstrução de paleoambientes e modelagem nica. IV Simpósio do Quaternário no Brasil. ABEQUA,
de bacias sedimentares, se fossem obtidos novos modelos Rio de Janeiro, Atas,pp. 323– 348.
em sistemas amazônicos.
Se no Brasil estão presentes os sistemas fluviais mais im-
JUNK, W.J., BAYLEY, P.B., E SPARKS, R.E. 1989. The
portantes do mundo, a geomorfologia de sistemas fluviais te- Flood Pulse Concept in River-Floodplain Systems. In:
ria que possuir uma relevância científica de nível internacional D.P.odge (Ed). Proceedings of the International Large
e ser uma das áreas das geociências e ciências ambientais que River Symposium. Can.Spec.Public. Fish. Aquat. Sci.
mais poderiam se desenvolver. Lamentavelmente, o país que 106: 110-127.
possui os mais fascinantes sistemas fluviais do mundo carece JUNK, W.J. E WANTZEN K.M. 2006. The flood pulse con-
de programas sistemáticos de paleohidrologia, geomorfologia
cept: new aspects, approaches and applications - an
fluvial e sedimentologia fluvial, tanto em ciência-base como
aplicada. Longe de ser um referente mundial nestes temas, update
apenas um grupo de pesquisas do CNPq, coordenado pelo LATRUBESSE, E AND FRANZINELLI, E. 2002. The Holoce-
autor deste artigo e no qual participam pesquisadores das ne alluvial plain of the middle Amazon river, Brazil.
UFG, UEM, UNG, UFS, está inteiramente dedicado ao estudo Geomorphology 44(3-4), 241-257.
dos grandes rios brasileiros e tem mantido uma presença in-
ternacional constante na comunidade geocientífica dedicada
LATRUBESSE E. AND FRANZINELLI, E. (2005). The late
a estudos hidrogeomorfológicos, paleohidrológicos e suas Quaternary evolution of the Negro River, Amazon,
aplicações nos estudos ambientais, juntamente com o supor- Brazil: implications for island and floodplain for-
te e interação de alguns pesquisadores presentes em outros mation in large anabranching tropical systems.
centros, como a Unesp. Geomorphology,70; 372-397.
A obtenção sistemática de dados proxy nos grandes sis- LATRUBESSE , E. and KALICKI, T. 2002. Late Quaterna-
temas fluvias brasileiros poderiam gerar novos paradigmas e
ry palaeohydrological changes in the Upper Purus
modelos conceituais de processos fluviais. Isso poderia reve-
lar a fraqueza de alguns modelos e conceitos criados para os basin, southwestern amazonia, Brazil. Zeitschrift fur
sistemas fluviais do Hemisfério Norte, que se transformaram Geomorphologie 129, 41-
em paradigmas incontestáveis de aplicação universal e que, LATRUBESSE, E. and RANCY, A. 2000. Neotectonic in-
lamentavelmente, muitas vezes repetimos sem entender nos- fluence on tropical rivers of southwestern Amazon
sa própria realidade. during the late Quaternary: the Moa and Ipixuna river
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40 WORKSHOP GEOTECNOLOGIAS APLICADAS ÀS ÁREAS DE VÁRZEA DA AMAZÔNIA


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WARD, J.V. E STANFORD, J.A. 1995. Ecological Connecti-

ANEXOS
Tabela 1:

Sub-Categoria/Descrição Exemplos Características/Tipos de Lagos

A. RIOS GERANDO FAIXAS LINEARES FLUVIAIS

A1: Transportam baixa quantidade de carga sedimentar

A.1.1. Áreas Cratônicas Pré-Cambrianas: cabeçeiras em áreas


estáveis de embasamento cristalino Pré-Cambriano, baixos relevos

Tapajos,
a) Vales bloqueados, vales inundados, muita baixa carga de
Xingu, Tefé, - Lagos de vales bloqueados
sedimentos suspensos
Coarí

b) Vales amplos com ilhas alternando com estreitos setores com Negro,
corredeiras ou pontos nodais, muito baixa carga de sedimentos Trombetas, - Lagos de diques e floresta de Igapó
suspensos. Aripuanã

A2: Transportam abundante carga sedimentar

A.2.1. Terras baixas de planícies em bacias sedimentares Cenozóicas


Canal único, meandros não-harmônico, bancos lamosos, alta carga Purus, Juruá - Dominantemente Oxbows
de sedimentos suspensos

A.2.2. Mistos: Rios que drenam terrenos mixtos

a) Plataformas + crátons: principalmente braided alternando com


Branco
vales cortados, dominante carga de leito

b) Orogênicos + plataformas + crátons (+ terras baixas): complexos -Lagos de diques marginais, lagos redondo de
sistemas, principalmente com tendência a braided, baixa tendência Madeira, planície de inundação, lagos de ilhas controlados
ao entrlaçamento, alguns rios exibem corredeiras alternando com Solimões por diques marginais, lagos gerados por deltas
largos setores aluviais, Alta carga de sedimentos (dominantemente Amazonas na planície de inundação, lagos gerados por
carga suspensa) espiras de meandros, lagos de canal abandonado.

-Oxbows, lagos e sepiras de meandros (Mamoré,


c) Orogênicos + terra baixas: areas de cabeçeiras bem definidas em
Japurá, Içá, Madre de Dios, Beni, Içá, Ucayali). lagos em ilhas
cinturões orogênicos e estreita planície aluvial, morfologias mistas
Mamoré. confinados por diques marginais, lagos redondos
(braided/meandriforme) ao longo de terras baixas.
da planície de inundação (Japurá,)

WORKSHOP GEOTECNOLOGIAS APLICADAS ÀS ÁREAS DE VÁRZEA DA AMAZÔNIA 41


USO DE UM SISTEMA DE INFORMAÇÕES
GEOGRÁFICAS (SIG) E BANCO DE
ESTATÍSTICA PESQUEIRA PARA O
MONITORAMENTO DA PESCA NA
AMAZÔNIA
EMERSON CARLOS SOARES E SILVA1
WILLER HERMETO ALMEIDA PINTO2
CÉSAR VALDENIR TEIXEIRA2
ANSELMO CRISTIANO DE OLIVEIRA2
MARCELO PARISE2
FLAVIO BOCARDE2
SIMONE NUNES FONSECA2

1
Universidade Federal de Alagoas/UFAL/Campus Arapiraca/Pólo Penedo – Curso de Engenharia de Pesca.
E-mail: soaemerson@gmail.com
2
Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis – ProVárzea
willer.pinto@ibama.gov.br, cesar.teixeira@ibama.gov.br, anselmo.oliveira@ibama.gov.br,
mparise13@yahoo.com.br, flaviobocarde@yahoo.com.br e monaf@uol.com.br

1. INTRODUÇÃO Sistema de Informação Geográfica (SIG) uma ferramenta fun-


Com 6.112.000 km2 a bacia amazônica ocupa mais da me- damental para a análise de informações pesqueiras na Ama-
tade do território com divisores topográficos constituídos pelo zônia. Finalmente, com tanta informação e considerando a
Planalto das Guianas, Cordilheira dos Andes e Planalto Brasi- grande mobilidade da frota pesqueira, tem sido promovida a
leiro (Cunha, 2003). junção da estatística pesqueira com o Sistema de Informações
Na bacia amazônica, a forte amplitude de variação do ní- Geográficas –ProVárzea/Ibama, facilitando a visualização es-
vel d’água ao curso hidrológico gera inundações regulares pacial e temporal dos resultados, pelos usuários dos recursos
de vastas zonas, denominadas localmente de várzea (Sioli, e os gestores, já com resultados efetivos para áreas-piloto de
1984). Essas zonas inundáveis estão localizadas, principal- Parintins/AM e Santarém/PA.
mente, nas margens dos grandes rios da bacia amazônica Assim, este trabalho tem por objetivo fornecer subsídios
(Junk, 1997). A várzea favorece a formação de uma paisagem para o mapeamento do desembarque pesqueiro nas áreas-pi-
de complexos sistemas de rios meândricos, que apresentam loto Parintins/AM e Santarém/PA do ProVárzea/Ibama, através
uma erosão fluvial dinâmica, isto é, construção e destruição de um modelo de setorização e espacialização dos ambientes
de suas margens. Os ambientes que se formam são ocupados de pesca nesses dois municípios.
por uma vegetação adaptada à alagação periódica e fornece
grande parte da energia que sustenta a cadeia trófica aquática
(Forsberg et al., 1993). 2. MATERIAL E MÉTODOS
Nesse ambiente complexo que é a várzea, uma das princi-
pais fontes de dados para estudos da ecologia de peixes da Área de estudo
região amazônica são os registros de desembarque da pesca As áreas definidas para a realização do trabalho foram as
comercial (Barthem & Fabré, 2004). Essas estatísticas forne- áreas-piloto do Projeto Manejo dos Recursos Naturais da Vár-
cem diversas informações como local de origem do pescado, zea/Provárzea/Ibama: municípios de Parintins/AM e Santa-
quantidade, tipo de espécies pescado, captura por unidade rém/PA.
de esforço – CPUE, etc. A complexidade da região amazôni-
ca e o desafio de implementar um sistema moderno de coleta
de dados, visando subsidiar informações para tomadores de
Estatística pesqueira
O sistema de monitoramento dos dados de desembarque
decisão de políticas públicas, representa desafios de ordem
pesqueiro, montado pelo ProVárzea/Ibama, consistiu de um
técnica, operacional e institucional. Esses aspectos motiva-
delineamento estratégico e participativo composto pela Uni-
ram o ProVárzea/Ibama a criar um modelo sistemático de in-
versidade Federal do Amazonas – Ufam, Sociedade Civil Mami-
formações sobre o desembarque pesqueiro em 17 municípios
rauá – SCM, Museu Paraense Emílio Goeldi – MPEG e o Institu-
ao longo da calha dos rios Solimões e Amazonas, tornando o
to Amazônico de Manejo Sustentável de Recursos Ambientais

WORKSHOP GEOTECNOLOGIAS APLICADAS ÀS ÁREAS DE VÁRZEA DA AMAZÔNIA 43


– Iara, abrangendo as coletas em 17 municípios no Alto, Médio rio principal (margem direita, esquerda e calha principal) e
e Baixo Amazonas. As amostragens foram baseadas no univer- morfologia dos lagos (lagos com influência de terra firme ou
so total de desembarques ocorridos nos locais de coleta, onde predominantemente de várzea). Nesse aspecto, o mapa dos
os dados foram processados em um banco de dados relacio- setores de pesca passa a constituir um modelo simbólico, em
nal (Access for Windows). As variáveis categóricas – definidas que os fenômenos do mundo real são representados por ex-
em reuniões técnicas e em ajustes de pesquisas – foram in- pressões matemáticas abstratas (Haggett, 1972). Assim, essas
tercambiadas e compatibilizadas, por intermédio de atributos são as unidades geográficas que fazem contato entre o banco
tais como: número e data de desembarque, código do porto de dados relacional da estatística (Access) e o SIG (Arcview).
de desembarque, tipo e origem da frota pesqueira, custos ine- A setorização foi iniciada extraindo-se do banco de dados da
rentes à atividade pesqueira, ambientes de pesca, preço de estatística pesqueira (Access for Windows) os registros dos
pescado, quantidade de pescadores embarcados e quantida- ambientes de pesca correspondentes à maior produção pes-
de e número de espécies capturadas. queira. Por intermédio desse processo foi possível obter um
índice de confiabilidade de 95% dos dados de capturas, efe-
Sistema de Informações Geográficas (SIG) tuados no entorno dos municípios estudados. Com o levanta-
As imagens digitais foram geradas pelo satélite Landsat-5 mento dessas informações fez-se o mapeamento dos referidos
do sensor TM, referente à cena 228-061, 228-062 e 229-062 locais. As Figuras 2 e 3 representam o esboço da setorização
do ano de 2002, nas bandas 3, 4 e 5; em formato digital, com dos locais de pesca no município de Santarém/PA. Os pontos
resolução radiométrica de 8 bits equivalente à 256 níveis de azuis representam as localidades de pesca, enquanto os triân-
cinza, resolução espacial de 30 metros e georreferenciadas. gulos representam as comunidades adjacentes, já os polígo-
As cartas topográficas na escala de 1: 250.000 e 1: 100.000 nos delimitam algumas ilhas e regiões de pesca.
foram produzidas pela Divisão de Serviço Geográfico (DSG) do Em seguida foi realizado o trabalho de verificação in loco
Exército Brasileiro e base digital de dados secundários (mapas junto à comunidade e entidades envolvidas com a pesca nas
de vegetação, hidrografia, solo e unidades de conservação) áreas-piloto e, posteriormente, o georreferenciamento dos lo-
elaborados pelo IBGE/Ciscea – Sivam Diretoria de Geociên- cais de pesca (Figuras 4 e 5).
cias, 2002. A setorização integrou os dados do banco de estatística as-
Para a consecução dos objetivos propostos e aplicação dos sociados aos nomes correlatos das denominações regionais,
passos operacionais para se chegar aos resultados previa- de maneira a manter uma aproximação da realidade local. No
mente definidos foram utilizados os seguintes equipamentos: município de Santarém os setores tiveram as seguintes deno-
traçador gráfico (plotter), jato de tinta formato A0; programas minações regionais: Alenquer, Curuai, Ituqui-Maicá, Monte
ArcGis e Erdas Imagine; GPS Garmin 12 canais. Alegre, Rio Amazonas, Tapajós/Arapiuns e Tapará. No caso
de Parintins, as entidades hidrográficas foram agrupadas da
Modelo de setorização e espacialização dos dados
seguinte forma: Limão, Macuricanã, Ramos, Rio Amazonas e
O modelo proposto de espacialização do Banco de Dados Urucará.
da Estatística Pesqueira foi iniciado após levantamento dos A espacialização de qualquer dado descritivo, como é o
dados no banco da estatística pesqueira nos municípios de caso da estatística pesqueira, depende de referência espacial,
Parintins/AM e Santarém/PA. Na seqüência foi realizada a que pode ser tanto raster (matricial) ou vetorial (Xavier da Sil-
extração dos registros dos locais de pesca correspondentes va, 2001). A estrutura usada inicialmente no mapeamento dos
à maior produção pesqueira e identificados nas imagens de locais de pesca das áreas-piloto foi a de polígonos e pontos.
satélites (Figura 1). Na fase final foi criado um modelo resultado da setorização
Os setores de pesca nos municípios de Parintins/AM e dos dados do banco da estatística pesqueira, com linguagem
Santarém/PA foram definidos em função do tipo de siste-
ma hídrico (lago/canal), localização em relação ao curso do

Figura 2. Definição dos setores de pesca no município de


Santarém/PA.

Figura 1. Identificação dos locais de pesca nas imagens de


satélite.

44 WORKSHOP GEOTECNOLOGIAS APLICADAS ÀS ÁREAS DE VÁRZEA DA AMAZÔNIA


de programação estruturada (SQL), onde o SIG foi integrado ao 3. RESULTADOS E DISCUSSÃO
banco de dados da estatística pesqueira. O SIG se relacionou Na área de várzea da Amazônia, um dos principais pro-
com o Sistema Gerenciador de Banco de Dados Relacional, via blemas para a espacialização dos ambientes de pesca este-
conexão SQL (Linguagem de Programação Estruturada), geran- ve relacionado com a referência geográfica, uma vez que os
do a produção pesqueira espacializada (Figuras 6 e 7). pescadores nem sempre têm informações precisas sobre os
locais de pesca e, em muitas oportunidades, um determinado
local apresenta diversos nomes. Outra dificuldade observada
foi quando o local de pesca é um rio, por exemplo: o problema
é saber exatamente em que parte do rio ocorreu a pescaria.
O banco de dados da estatística pesqueira apresentava cerca
de 2.000 a 3.000 localidades de pesca (erro de digitação no
banco e, em alguns casos, uma mesma localidade apresenta-
va duplicidade de nomes, exemplo: lago Abacaxi ou igarapé
Abacaxi muitas vezes era o mesmo local). Após o refinamento
do banco de dados da estatística pesqueira e o georreferen-
ciamento dos locais de pesca foi possível eliminar e identificar
de 100 a 300 locais de pesca onde, aproximadamente, 30% a
40% são responsáveis por mais de 90% da produção pesquei-
ra do município.
O processo de modelagem consiste em decompor o mun-
do real em uma série de sistemas simplificados para alcan-
çar uma visão sobre as características essenciais de um certo
domínio (Soares-Filho, 2000). Entre os modelos testados para

Figura 3. Definição dos setores de pesca no município de


Parintins/AM.

Figura 4. Verificação In loco das áreas de pesca em Parintins/ Figura 5. Verificação In loco das áreas de pesca em Santarém/
AM. PA.

Figura 6. Conexão do banco de dados da estatística pesqueira com o SIG.

WORKSHOP GEOTECNOLOGIAS APLICADAS ÀS ÁREAS DE VÁRZEA DA AMAZÔNIA 45


em índices de captura nos sete setores de pesca de Santarém
foram o mapará (Hypophthalmus sp.), alternando entre suru-
bim (Pseudoplatystoma coruscans), acari-bodó (Liposarcus
pardalis), pescada (Plagioscion squamosissimus), tucunaré
(Cichla sp.) e tambaqui (Colossoma macropomum) como úl-
tima espécie das cinco mais importantes. Juntas, estas espé-
cies representaram cerca de 70 a 80% do volume capturado de
pescado em Santarém (Figura 8).
Os dados de CPUE (kg/pescador/dia) identificaram o se-
tor Rio Amazonas/STM contribuiu com a captura de espécies
migradoras como dourada, piramutaba (Brachiplatystoma
vaillantii) e curimatã (Prochilodus nigricans), com os melhores
índices de produtividade pesqueira (teste de Tukey, p<0,05),
despontando como um dos principais setores de pesca da
região de Santarém, seguido do setor Lago Grande Curuai (Fi-
gura 9).
Diferentemente dos estudos realizados por Isaac et al.,
(2003), no presente trabalho houve um aumento significativo
da captura por unidade de esforço médio nos setores do Lago
Grande Curuai e Ituqui-Maicá, entretanto, a produção pesquei-
Figura 7. Relacionamento entre o Banco de Dados Access da ra nos outros setores de pesca diminuíram ou oscilaram bas-
Estatística Pesqueira e o SIG ArcView. tante nos quatro anos em análise. A explicação mais plausível
é a de que o maior nível de conscientização ambiental dos
setorização foram cogitados o de divisão por bacias, limites ribeirinhos em defesa dos lagos e os acordos de pesca que
municipais, divisão censitária e o de raio de atuação da frota vigoram nesses setores desde 1992, restringiram o acesso de
pesqueira. No entanto, o que mais se adequou ao sistema de pescadores profissionais e embarcações com maior capacida-
várzea das áreas-piloto foi o modelo de setor ou regiões de
pesca.

Dados pesqueiros espacializados em


Santarém
A produção oriunda dos setores de pesca da região de San-
tarém para os anos de 2001 a 2004 foram 3.696,0t, 3.214,9,
2.706,7 e 1.900,0t, enquanto que a produção total registra-
da no porto de Santarém foi de 3.994,6t, 3.423,0, 3.300,0 e
2.596,3t, respectivamente (Ruffino, et al., 2002; 2005; 2006).
O motivo para a diferença entre a captura de pescado seto-
rizada e a produção desembarcada no porto pode estar atre-
lado a duas hipóteses: (1) a captura é realizada em regiões
diversas da bacia amazônica (não pertencentes à região de
Santarém) e desembarcada no município de Santarém. Esta
hipótese é reforçada devido à frota pesqueira ter grande mo-
bilidade, chegando a percorrer grandes distâncias atrás do
pescado ou, ainda, que a oferta do pescado capturado nos
setores de pesca seja insuficiente para atender à demanda
cada vez mais crescente na região de Santarém, fazendo com
que a busca pelo pescado seja realizada em outros locais de
pesca, mais distantes, e em locais que não pertençam à re- Figura 8. Índice de captura das cinco espécies mais
gião do município de Santarém. (2) A pressão pesqueira nos representativas nos setores de pesca em Santarém.
setores de pesca de Santarém, nos anos de 2001 a 2004, vem
provocando quedas bruscas nos volumes de captura dos prin-
cipais estoques de pescado tais como: curimatã (Prochilodus
nigricans), moela (Pimelodina flavippinis), acari (Liposarcus
pardalis), piramutaba (Brachyplatystoma vaillantti) e mapará
(Hypophtalmus sp.).
Os efeitos proibitivos derivados das instruções normativas
de defeso e os acordos de pesca (instruções normativas IN 43,
IN 35 e IN 29 - Ibama) instituídos nas regiões do Lago Grande
Curuai, Tapará, Ituqui e Maicá, que são grandes fornecedo-
res de pescado para a região, podem ter contribuído a priori
para a diminuição do volume de pescado na região, devido
aos estoques de peixes estarem, em certos períodos do ano,
protegidos.
De uma forma global as cinco espécies mais promissoras
Figura 9. Captura por unidade de esforço (CPUE) nos setores
de Santarém.

46 WORKSHOP GEOTECNOLOGIAS APLICADAS ÀS ÁREAS DE VÁRZEA DA AMAZÔNIA


de de captura a esses ambientes, fazendo com que o esforço da FAO para a pesca responsável e com as orientações para a
de captura diminuísse e o rendimento da pesca, por pescador, estatística pesqueira em pequena escala, devendo ser aper-
obtivesse um aumento nos anos de 2001 a 2004. feiçoado e servir de referencial para as águas interiores no
Brasil.
Dados pesqueiros espacializados em A definição dos setores de pesca pela equipe do SIG-Provár-
zea foi uma excelente solução para viabilizar a espacialização
Parintins da estatística pesqueira, possibilitando a compatibilização do
A produção oriunda dos setores de pesca da região de banco de dados da estatística pesqueira com os setores de
Parintins, para os anos de 2001 a 2004, foi 2.722.0t, 2170.0, pesca. Através desse modelo de setorização foi possível fazer
2.180,0 e 1.480,0t, enquanto que a produção total registra- um reajuste no banco de dados da estatística pesqueira, isto
da no porto de Parintins foi de 2.889,0t, 2.444,1, 2.300,0 e é, diminuição do número de locais de pesca duplicados e re-
1.980,0t, respectivamente (Ruffino, et al., 2002; 2005; 2006). finamento dos dados através da associação, entre si, desses
Os valores de captura dos setores de Parintins estão aproxi- corpos d’água, antes dispersos, e agora agregados a um de-
mados dos valores desembarcados no porto do município. terminado setor.
Isso indica que a demanda de Parintins é basicamente suprida A partir de 2005 essa setorização foi inserida nos questio-
pelos setores de pesca dessa região, que pode refletir em di- nários de coleta de dados da estatística pesqueira, permitindo
minuição dos custos de captura do pescado, pois as embarca- uma associação imediata dos dados coletados a um determi-
ções gastam menos insumos para pescarem por estarem mais nado setor de pesca. Isso significa que agora é possível co-
próximas do local de desembarque. nhecer a origem do pescado, e qual a contribuição (qualitativa
De uma forma global as cinco espécies mais promissoras e quantitativa) que cada setor de pesca representa no todo da
em índices de captura nos cinco setores de pesca de Parin- produção pesqueira desembarcada em Parintins e Santarém,
tins foram o jaraqui (Semaprochilodus sp.), curimatã, mapará, aumentando assim a precisão da análise dos dados coleta-
tambaqui com o surubim e o pacu (Myleus sp. e Mylossoma dos.
sp.), alternando na quinta posição. Estas espécies representa-
ram em média cerca de 70% do volume capturado de pescado
no município (Figura 10).
Os índices de captura por unidade de esforço (CPUE) não
AGRADECIMENTOS
Ao senhor Mauro Luis Ruffino, coordenador do Projeto Pro-
apresentaram diferenças significativas ao longo dos quatro Várzea/Ibama e ao senhor Urbano Lopes Junior (WWF), pelo
anos analisados, obtendo uma CPUE de 12kg/pescador/dia, apoio na execução deste trabalho.
em média. Isso significa que nos setores de pesca da região
a produtividade de pesca mantém-se de certa forma em equi-
líbrio.
Referências bibliográficas
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HAGGETT, P. Geography: A Modern Synthesis. 2.
4. CONCLUSÃO Ed. New York, Harper & Row. 1972.
As virtudes do sistema são amplas em termos de produ- RUFFINO, M.L.; OLIVEIRA, C.; VIANA, J.P.; BARTHEM, R.B.;
tividade, participação e compatibilidade com os novos para- BATISTA, V. & ISAAC, V.J. Estatística Pesqueira do
digmas da gestão pesqueira, importantes para a tomada de Amazonas e Pará, 2001. Manaus: Ibama, ProVárzea.
decisões. Isso é o enfoque mais compatível com as diretrizes
73 p. 2002.

WORKSHOP GEOTECNOLOGIAS APLICADAS ÀS ÁREAS DE VÁRZEA DA AMAZÔNIA 47


RUFFINO, M. L.; OLIVEIRA, C.; VIANA, J. P.; FABRÉ, N. N.; B.; BATISTA, V. Estatística Pesqueira do Amazonas e
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RUFFINO, M. L.; SOARES, E. C. S.; ESTUPINÃN, G.; FON-
SECA, S. N.; PINTO, W. H.; OLIVEIRA, C.; BARTHEM, R.

48 WORKSHOP GEOTECNOLOGIAS APLICADAS ÀS ÁREAS DE VÁRZEA DA AMAZÔNIA


INTEGRAÇÃO DE BASES DE DADOS
NA AMAZÔNIA: REALIDADES E
PERSPECTIVAS
EDGAR FAGUNDES FILHO
Piatam Oeste
edgar.fagundes@gmail.com

CLAUDIA A. TOCANTINS
Atech Tecnologias Críticas
claudia@atech.br

1.INTRODUÇÃO do esse desafio a partir do desenvolvimento da Base de Dados


Ter informações confiáveis, georreferenciadas, organiza- Integrada Piatam-Sipam (BDI).
das, sistematizadas, disponíveis e acessíveis é imprescindí- O Sistema de Proteção da Amazônia (Sipam) é capaz de co-
vel para a gestão e a rápida tomada de decisão para qualquer letar, processar e armazenar dados de uma ampla variedade
instituição executiva. Para a Petrobras, que desenvolve ativi- de sensores espalhados por toda a Amazônia Legal, formando
dades de alto risco ambiental, produz petróleo e gás na Ama- um vasto acervo sobre temas diversificados. Além disso, pos-
zônia, transporta esses produtos e seus derivados por rios e sui bom acervo de imagens de satélite e capacidade para gerar
estradas da região, possui cinco grandes bases de apoio e imagens de radar aerotransportado. Tais dados, organizados
ampla rede de distribuição de combustíveis, tais informações em uma base georreferenciada, estão (ou deveriam estar) dis-
são imprescindíveis. poníveis para as instituições públicas que atuam na região e
Apesar de parecer óbvio, organizar e disponibilizar infor- até mesmo para a sociedade em geral, respeitadas algumas
mações ainda são um tabu. Padronizar técnicas e métodos, reservas.
adotar modelos, mais ainda. A CPRM - Serviço Geológico do Brasil criou no âmbito da
Em se tratando de gestão ambiental na maior biodiversi- Diretoria de Geologia e Recursos Minerais o Projeto GIS do Bra-
dade do planeta, a Amazônia, esta não é uma proposta para sil, a partir da necessidade de organizar, estruturar e divulgar,
quebrar tabus, mas podemos e devemos almejar que traba- em ambiente SIG, o acervo de dados geológicos acumulados
lhos sérios, feito por instituições capacitadas, possam ser ao longo de mais de três décadas de existência. O SIG possui
compartilhados e integrados, promovendo uma sinergia na informações geológicas básicas, algumas inéditas, incluindo
geração de conhecimento e na democratização do acesso às os temas litoestratigrafia, tectônica, estrutural e recursos mi-
informações. nerais. Tais dados estão em escala que variam entre 1:250.000
Este trabalho busca refletir sobre o estágio da utilização e 1:1.000.000 e estão publicados em mídia magnética, na in-
de modernas técnicas de geoprocessamento na Amazônia, o ternet e em livros. A base cartográfica utilizada é a do IBGE
uso de geotecnologias no Projeto Piatam III e Piatam Oeste e 1:1.000.000.
a necessidade e possibilidades de integração para usofruto A Agência Nacional de Águas – ANA, responsável por regu-
comum no âmbito de ações das diferentes instituições que lar o uso das águas dos rios e lagos de domínio da União e im-
atuam na Amazônia. É feito um apanhado geral do uso de ge- plementar o Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos
otecnologias por parte dos diversos organismos que atuam na Hídricos, disponibiliza suas informações georreferenciadas
região, gerando informações ainda pouco compartilhadas. Por através do Hidro Web – Sistema de Informações Hidrológicas.
fim, mostra que a integração das bases do Provárzea/Piatam/ (http://hidroweb.ana.gov.br/).
Sipam pode ser o começo de uma integração maior de bases, O Sigel – Sistema de Informações Georreferenciadas do Se-
por meio de um estreitamento da parceria entre o Ibama e a tor Elétrico foi concebido pela Aneel com a expectativa de tor-
Petrobras. nar-se um instrumento de referência na busca de informações
consistentes, de caráter geral, relativas às atividades-fim do
setor, tornando disponível, consolidados em um mesmo am-
biente computacional, dados e informações disseminadas em
2.ANÁLISE DO CONTEXTO vários subsistemas isolados de interesse corporativo, desen-
A seguir, são destacadas as iniciativas com SIGs de diver-
volvidos interna ou externamente (http://sigel.aneel.gov.br).
sos organismos do Governo Federal que atuam na Amazônia.
Entre as muitas ONGs que atuam na Amazônia vale a pena
São órgãos executivos, cada um com sua distinta missão ins-
destacar o trabalho do Instituto Sócio Ambiental – ISA, que
titucional. Todos eles precisam de informações precisas, pos-
possui laboratório de geoprocessamento, equipe especializa-
suem bancos de dados e por se tratarem do mesmo Governo
da e mantém um programa de monitoramento de áreas prote-
é de se esperar que necessitem, muitas vezes, atuar integra-
gidas, entre outros, que atualiza informações georreferencia-
damente. Alguns exemplos são o Ibama, a ADA, o Incra, o DPF,
das disponibilizadas na web. Ele se baseia operacionalmente
as Forças Armadas, a CPRM, a ANA, a Funai, a Eletronorte, o
num sistema de bancos de dados georreferenciados das áreas
Censipam, etc.
protegidas (terras indígenas e unidades de conservação fede-
O desenvolvimento de estudos e pesquisas na Amazônia
rais e estaduais), bem como de outras terras públicas (áreas
tem que integrar todas as informações geradas em uma única
militares e reservas garimpeiras) que congregam diferentes in-
base de dados georreferenciada multidisciplinar. A integração
formações temáticas. O ISA agrega valores a dados públicos e
dos diversos tipos de informação, com diversidade de fontes,
comercializa shapefiles de sua autoria através do site
formatos e escalas é um grande desafio. O Piatam tem encara-

WORKSHOP GEOTECNOLOGIAS APLICADAS ÀS ÁREAS DE VÁRZEA DA AMAZÔNIA 49


http://www.socioambiental.org/map/index.shtm. nósticos periódicos como subsídio ao planejamento das ati-
O SIG-ProVárzea compreende um banco de dados georrefe- vidades da indústria; c) criar uma interface segura e ágil para
renciados contendo uma grande quantidade de dados ambien- o intercâmbio de dados e análises entre o banco de dados
tais e socioeconômicos para a gestão do espaço geográfico da integrado Piatam-Sipam, as instituições participantes do pro-
área da várzea, nos rios Solimões-Amazonas. O objetivo é a jeto e a indústria do petróleo; d) implementar a utilização de
integração com outros projetos e instituições que trabalham sistemas de monitoramento e modelagem ambiental através
na região, por meio do compartilhamento de informações. Ele de recursos tecnológicos de última geração.
trabalha integrado ao Sipam, utilizando a mesma base carto- O Piatam dispõe de uma base de dados de natureza am-
gráfica, mapas temáticos, imagens de satélite, dados hidroló- biental e socioeconômica constituída de dados coletados em
gicos que estão incorporados ao SIG-ProVárzea, otimizando o campo, arquivos de imagens de sensoriamento remoto e mo-
uso das informações. Os dados do Provárzea são disponibili- saicos georreferenciados.
zados no seu site através do “Mapas on Line” (http://siscom. A gestão do conhecimento foi tratada como um conjunto de
ibama.gov.br/siteprovarzea/) técnicas que permitiram identificar, integrar, recuperar, com-
O Projeto Piatam III, no estado do Amazonas, parceria da partilhar e analisar, de forma sistêmica, o ativo informacional
Petrobras com a Ufam, Coppe-RJ, Inpa e outras instituições, do projeto.
dispõe de uma base de dados de natureza ambiental e so- A base de dados do Projeto Piatam está estruturada para
cioeconômica, consistindo de dados de trabalho de campo capturar diferentes versões dos dados e com mecanismos ca-
coletados por pesquisadores de várias áreas, ao longo dos pazes de gerenciá-las. Além disso, possui ferramenta capaz de
últimos anos, assim como arquivos de imagens de satélites e monitorar a evolução e os acessos realizados sobre a base de
de radares aerotransportados, além de mosaicos georreferen- dados através de recursos para:
ciados na área de influência do transporte de petróleo e gás Disponibilizar diferentes versões dos diversos tipos de da-
de Urucu/Coari a Manaus. dos contidos na base integrada;
O projeto Piatam Oeste, parceria da Petrobras com as uni- @@ Monitorar as operações realizadas sobre os dados, consid-
versidades federais do Acre e Rondônia, em fase de implan- erando a freqüência de inclusão e atualizações realizadas;
tação na Amazônia Ocidental, deverá dispor de uma base de
@@ Prover rotinas de atualização automática, ou semi-au-
dados de natureza ambiental e socioeconômica idêntica à do
tomática, para os dados originários da Base de Dados do
Piatam III, consistindo de dados de trabalho de campo coleta-
Sipam ou outras bases.
dos por pesquisadores de várias áreas, assim como arquivos
de imagens de satélites e radares, além de mosaicos georre- @@ Acesso remoto para pessoas credenciadas pela Petrobras,
ferenciados. para consulta e atualização da base de dados do sistema.
O Sistema de Bases Compartilhadas de Dados Sobre a Ama-
zônia - BCDAM é um sistema de compartilhamento de dados
sobre a Amazônia, em que diversas instituições participantes 4.PIATAM OESTE
podem disponibilizar, criar sem duplicidades, unir esforços, A concepção da Plataforma de TI Piatam Oeste usará como
trocar experiências e buscar informações em outros bancos de referência a concepção da BDI Piatam para facilitar o compar-
dados pertencentes ao grupo. tilhamento de dados entre elas e prevê a geração de uma nova
Não por mera coincidência, todos esses trabalhos sistemá- base de dados para o Piatam Oeste e serviços associados,
ticos desenvolvidos na Amazônia utilizam tecnologia Esri para que funcionarão numa plataforma de infra-estrutura própria e
processamento das entidades gráficas georreferenciadas, em independente. A definição do Modelo de Dados da Base de
ambiente ArcView 3.2 ou ArcGis. Embora não seja imprescin- Dados do Projeto Piatam Oeste, inclui a estrutura organizacio-
dível para a integração o uso das mesmas ferramentas, isto, nal dos dados, os relacionamentos, restrições e critérios de
por si só, já demonstra certa padronização existente e facilita segurança. Quaisquer dados espaciais existentes estão sendo
tal integração de dados. considerados características como o tipo dos dados, forma-
Esses programas e projetos também têm demonstrado pre- tos, sistemas de projeção e escalas, entre outras. Nessa con-
ocupação em disponibilizar resultados via web para os partici- cepção estão sendo considerados os seguintes aspectos:
pantes e em alguns casos para usuários externos. Compatibilidade lógica e tecnológica com a Base de Dados
Integrada Piatam/Sipam (Manaus);
Disponibilidade dos dados de interesse do projeto oriun-
3.PROJETO PIATAM dos da Base de Dados do Sipam para a área de abrangência
A Petrobras criou o Projeto Piatam a partir da necessidade do Piatam Oeste;
de monitorar as atividades de produção e transporte de gás, @@ Disponibilidade, via web, de aplicativos de acesso e gestão
petróleo e derivados na Amazônia, avaliar riscos ambientais e da Base de Dados Integrada Piatam Oeste;
prevenir possíveis acidentes. @@ Disponibilidade em rede local de ferramentas de análise
O Piatam é um grande projeto de pesquisa socioambien- espacial e processamento de imagens, de forma a apoiar
tal que reúne cientistas e técnicos das maiores instituições de atividades de gestão e análise dos dados a serem manti-
pesquisa da Amazônia, contando também com pesquisadores dos;
da Coppe/UFRJ, do Cenpes/Petrobras e de outras instituições
@@ Proteção contra acesso, modificação ou remoção não-au-
nacionais e internacionais. Entre seus objetivos destacamos:
torizada em um ambiente multiusuário; e
a) construir um sistema de informações georreferenciadas
aplicado ao planejamento, controle e prevenção de danos @@ Acomodação da Política de Segurança já implementada no
socioambientais causados pelas atividades da indústria de Sipam e no Piatam.
petróleo e gás na Amazônia, de forma a evitá-los e a reduzir Além dos dados das séries históricas a serem coletados /
seus potenciais impactos nos ecossistemas da região e nas gerados na pesquisa do Piatam Oeste, a definição do Modelo
populações; b) desenvolver uma metodologia para a análise de Dados Piatam Oeste incluirá a análise das imagens de sen-
integrada dos dados socioeconômicos e de segurança, meio soriamento remoto e dos dados do Sipam de interesse para o
ambiente e saúde, de modo a elaborar uma rotina de diag- projeto e para a Petrobras.

50 WORKSHOP GEOTECNOLOGIAS APLICADAS ÀS ÁREAS DE VÁRZEA DA AMAZÔNIA


Na sua fase de implantação o Piatam Oeste abrange sete necessário ter ferramentas adequadas que permitam que uma
temas: gigantesca montanha de dados possa ser transformada em co-
@@ Estudos ambientais; nhecimento. O conceito de Data Mining está se tornando cada
vez mais popular como uma ferramenta de gerenciamento de
@@ Socioeconomia;
informação, que deve revelar estruturas de conhecimento que
@@ indígena; possam guiar decisões em condições de certeza limitada. Re-
@@ Saúde; centemente, tem havido um interesse crescente em desenvol-
@@ do homem – arqueologia; ver novas técnicas analíticas, especialmente projetadas para
tratar questões relativas à Data Mining. No entanto, Data Mi-
@@ Hidrogeologia;
ning ainda está baseada em princípios conceituais de análise
@@ Modelagem hidrodinâmica e sensoriamento remoto. de dados exploratórios e de modelagem.
Tem como principais metas: Outro desafio é a representação da componente temporal
@@ Sistematizar as informações pretéritas em uma base no ambiente SIG. As informações espacialmente referencia-
multidisciplinar de dados georreferenciados (povoa- das são também referenciadas no tempo. Hoje, para repre-
mento da base de dados integrada com dados socio- sentar um mapa da várzea em quatro períodos do ano são
ambientais já disponíveis na área do projeto). tradicionalmente constituídas quatro layers, ou quatro planos
@@ Produzir subsídios para a confecção de mapas pre- de informação. No entanto, a variação do nível do rio, entre
liminares de sensibilidade ambiental a derramamen- outras variáveis, é contínua no tempo. Dessa forma, o desafio
tos de óleo, contemplando as diferentes fases do é trabalhar com modelos que gerem informações em um de-
ciclo hidrológico. terminado momento. Tais informações são incluídas na base e
trazidas para visualização e integração com outros dados em
um ambiente georreferenciado.
5.BASES DE DADOS INTEGRADAS
No caso do Projeto Piatam, a integração com outras bases,
como foi o caso da integração com o Sipam, permite aumen- 6.CONSIDERAÇÕES FINAIS
tar a abrangência das informações disponíveis para o projeto, Considerando o avançado uso do geoprocessamento no
reunindo uma quantidade maior de dados relacionados aos âmbito do Provárzea e do Piatam, como ampla base já con-
riscos ambientais e sociais com as atividades da Petrobras. solidada, acreditamos ser de extrema valia a busca por uma
A principal vantagem é que ferramentas de geotecnologias integração física das bases existentes, o que servirá de exem-
podem ser empregadas nos processos de tomada de decisão, plo para outras parcerias possíveis para a geração do conhe-
definindo com maior eficácia planos de contingência mais ade- cimento e uma efetiva proteção da Amazônia. Tal integração
quados às variações sazonais do ambiente amazônico (seca, não se limita a uma decisão ou à assinatura de protocolos,
enchente, cheia e vazante), representando, desse modo, um mas a esforços conjuntos através da elaboração de um plano
importante elo para a comunicação com outros programas e de trabalho envolvendo a competência técnica instalada em
sistemas de gestão da Petrobras. ambos os projetos.
Destacamos dois importantes desafios nessa integração
de bases georreferenciadas. O primeiro é a possibilidade da
“Mineração de Dados” (data mining) em bases de natureza di-
ferente. Não basta mostrar-se extremamente eficiente em cap-
turar, organizar e armazenar grandes quantidades de dados, é

WORKSHOP GEOTECNOLOGIAS APLICADAS ÀS ÁREAS DE VÁRZEA DA AMAZÔNIA 51


ESTADO ATUAL DAS PESQUISAS E
APLICAÇÕES DO SENSORIAMENTO
REMOTO NO MONITORAMENTO DA
VÁRZEA AMAZÔNICA
ADRIANA GOMES AFFONSO, EVLYN M. LEÃO DE MORAES NOVO, CONRADO RUDDORF, EDUARDO ARRAUT, CLAUDIO BARBOSA,
JOÃO ROBERTO DOS SANTOS
Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais - Inpe – São José dos Campos - SP
{affonso; jroberto; evlyn; arraut; cmr} @dsr.inpe.br ; claudio@dpi.inpe.br

1.INTRODUÇÃO o monitoramento da fauna silvestre e como o sensoriamento


A planície de inundação do rio Amazonas, também conhe- remoto pode auxiliar na identificação dessas mudanças, atra-
cida como várzea, é um dos sistemas de áreas inundáveis vés de análises espectrais da vegetação e dos corpos d´água.
mais ricos na Amazônia brasileira. Estimativas feitas por Hess
et al. (2003) com base nos mosaicos JERS-1 produzidos pelo
Global Rainforest Mapping Project (GRFM) indicam que cerca 2. DELIMITAÇÃO DA VÁRZEA
de 17% da bacia amazônica é ocupada por diferentes tipos de AMAZÔNICA
áreas inundáveis. A identificação e delimitação da extensão da várzea amazô-
As áreas inundáveis são importantes não apenas por sua nica e a sazonalidade da inundação da planície é crucial para
alta biodiversidade (Goulding et al., 1996; Junk et al., 2000), o entendimento da dinâmica dos rios (Richey et al., 1989), dos
mas também pela elevada produtividade primária das flores- processos biogeoquímicos (Melack e Forsberg, 2001; Richey
tas inundáveis (Parolin et al., 2004) e das macrófitas aquáti- et al., 1990), da ecologia dos habitats e das espécies que ali
cas (Piedade et al., 1994). vivem (Junk, 1997; Goulding, 1990; Forsberg et al., 1993).
No entanto, uma das grandes dificuldades para o seu es- Estimativas da área inundada na bacia amazônica, basea-
tudo é sua delimitação e caracterização, dada à sua grande das em medidas pontuais, indicam que ela excede a um mi-
extensão, sazonalidade, fragmentação, complexidade e difi- lhão de km² (Junk, 1997). Uma análise mais quantitativa da
culdade de acesso. Por isso, as informações derivadas de sen- dinâmica de inundação nessas regiões, entretanto, requer da-
soriamento remoto, integradas a outras fontes em ambientes dos que abranjam toda a bacia.
de sistemas de informações geográficas, mostram-se relevan- O uso de sensores ópticos para o mapeamento da vegeta-
tes no estudo dessas regiões. ção inundada na Amazônia foi testado com sucesso (Mertes
Essas informações foram úteis no mapeamento e na deli- et al., 1995; Novo e Shimabukuro, 1997), no entanto, essas
mitação da extensão e duração das inundações (Sippel, et al., imagens são limitadas pela presença de nuvens, e por isso,
1998; Hess et al., 1995, 2003), no cálculo de taxas regionais de os estudos são limitados no tempo e no espaço. Os sensores
emissão de metano e no estudo das mudanças da cobertura passivos e ativos de microondas, que são pouco influencia-
e da distribuição da vegetação aquática (Melack et al., 2004; dos pelas nuvens e podem penetrar na vegetação, vêm sendo
Novo e Silva, 1995). Novo et al. (2005) apresentaram uma vasta empregados no estudo dos ambientes alagáveis (Sippel et
revisão de estudos dedicados ao conhecimento de processos al., 1994; Melack e Hess, 1998; Melack e Wang, 1998; Hess,
e interações dos ecossistemas da região amazônica, desen- 1999; Saatchi et al., 2000; Prigent et al., 2001; Rosenqvist et
volvidos pelo Projeto LBA (Large Sale Biosphere-Atmosphere al., 2002; Hess, et al., 2003).
Experiment in Amazonia), que se revelam em escalas espa- A utilização de imagens de radar de abertura sintética
ciais e temporais passíveis de registro apenas por sensores (Sythetic Aperture Radar – SAR) na banda L, do satélite japo-
remotos. nês JERS-1 (Japanese Earth Research Satellite) no estudo de
Neste trabalho apresentamos o estado atual das pesquisas áreas alagáveis demonstrou a capacidade desse sensor em
de sensoriamento remoto para o estudo de áreas alagáveis, mapear essas áreas na bacia amazônica (Hess et al., 1990,
dando ênfase nas pesquisas desenvolvidas pelo Instituto Na- 1995). O pulso de microondas nessa região do espectro pe-
cional de Pesquisas Espaciais no monitoramento da várzea netra a vegetação e ao ser refletido pela superfície da água
amazônica. Diversos trabalhos vêm sendo desenvolvidos com interage com a vegetação inundada provocando um fenômeno
enfoques diferenciados: análises de uso e cobertura da terra e conhecido por reflexão de canto, aumentando a intensidade
os impactos dessas atividades na qualidade da água, análises da energia retroespalhada por esses ecossistemas, permitin-
dos componentes físico-químicos dos diversos tipos de água,

WORKSHOP GEOTECNOLOGIAS APLICADAS ÀS ÁREAS DE VÁRZEA DA AMAZÔNIA 53


do assim o delineamento da superfície alagada. água baixa, enchente e vazante) a partir de uma série histórica
Desse modo, Hess et al. (2003) utilizaram mosaicos SAR de nível de água diário (de 1993 a 2002) obtida na Agência Na-
de toda a bacia amazônica que foram construídos para duas cional de Águas (ANA). A partir daí foram realizadas análises
fases do ciclo hidrológico (Rosenquvist et al., 2000), nos pe- integrando as medidas limnológicas e espectrais (de campo e
ríodos de níveis de água baixa e de água alta, para mapear a obtidas nas imagens de satélite) para caracterizar o efeito do
extensão de sua planície de inundação. Foram definidas como pulso de inundação nos quatro estados do sistema.
inundáveis todas as áreas em ambas as fases do ciclo hidroló- Os resultados mostraram que, em média, ao longo do ci-
gico, bem como aquelas que, apesar de não se apresentarem clo hidrológico, 80% da área da planície é ocupada por água
inundadas nas duas datas, tinham uma contigüidade com áre- branca, sendo que na cheia sua área equivale a aproximada-
as inundadas e feições geomorfológicas compatíveis com os mente 820 km² e na baixa 650 km². Em relação à delimitação
sistemas inundáveis. Com isso, uma máscara de áreas inundá- das águas pretas e claras foi mostrado que somente na cheia
veis foi criada a partir de processamentos digitais de segmen- essas águas ocupam entre 34% e 38% da área da planície.
tação de imagens, que podem ser revistos em Barbosa et al. Provavelmente, isso é devido ao fato de que na cheia o grande
(2000) sem a presença dos ecossistemas terrestres. volume de águas brancas que atinge a planície, represa essas
A validação dessa máscara está sendo realizada através de águas nas áreas marginais. Além disso, o aumento das pre-
imagens de videografia aerotransportada do sobrevôo realiza- cipitações de verão no Hemisfério Sul nesse período (Costa,
do em 1999 sobre a Amazônia Legal brasileira. Resultados pre- 2000) acarreta o aumento do volume de águas pretas e claras
liminares (Hess et al., 2002) indicam que 92% das amostras que chegam à planície. Portanto, a dinâmica da taxa de aporte
classificadas como área inundável na máscara derivada do e da descarga de água afetam a abrangência e a distribuição
mosaico JERS-1 foram também classificadas como área inun- espacial das águas.
dável nas imagens de videografia, demonstrando a capacida- No período de água baixa e de enchente há uma predomi-
de dos dados de Radar no mapeamento dessas regiões. Essa nância de partículas inorgânicas suspensas em pelo menos
validação está sendo ampliada para toda a máscara, já que 60% da área da planície. No entanto, com o aumento do vo-
esse estudo incluiu apenas o trecho de 66º a 60º de longitude lume de água, há uma redução na concentração de partículas
Oeste e 0º a 4º de latitude Sul. inorgânicas suspensas, aumentando a zona eufótica. Desse
O mapeamento preciso da extensão dessas regiões inun- modo, o aumento da zona eufótica associado à maior disponi-
dadas fornece um novo parâmetro nas análises ecológicas do bilidade de nutrientes no final do período de enchente e início
ecossistema de várzea, permitindo o delineamento de mode- do período da cheia possibilita a proliferação de organismos
los mais acurados sobre a emissão de gases de efeito estufa, clorofilados que predominam em 60% da área na cheia e na
estoque pesqueiro, produção primária, dinâmica hidrológica, vazante.
entre outros. Todas essas informações foram agregadas para propor um
modelo conceitual da dinâmica de circulação de água pela
planície de Curuai, sendo observado que tanto a altura e a
3.A ÁGUA dinâmica do pulso de inundação do rio Amazonas quanto a
As águas amazônicas foram primeiramente classificadas alternância entre vazante e enchente entre o Amazonas e seus
em 1950 em três grupos baseados em suas características óp- tributários controlam a circulação da água na planície.
ticas: as águas pretas, com alto conteúdo de componentes hú- As informações sobre a variação espacial e temporal da
micos; as águas brancas, com alto conteúdo de partículas em massa de água e seus constituintes e sobre a sua dinâmica de
suspensão; e as águas claras, com baixa turbidez e pequeno circulação monitorada por imagens orbitais, durante o pulso
conteúdo de materiais em suspensão e substâncias húmicas. de inundação na planície, fornecem evidências que auxiliam o
O regime de cheias na Amazônia associado à presença de entendimento das inter-relações das estruturas e funções que
outras fontes de água para a planície influencia a qualidade regem o ecossistema aquático amazônico.
da água, alterando as concentrações das substâncias que Seguindo essa mesma temática, mas com abordagens me-
controlam a cor da água ao longo das estações do ano. Dessa todológicas inovadoras, Rudorff et al. (2006, 2007) utilizaram
forma, a composição da água e a sua dinâmica são aspectos imagens do sensor Hyperion/EO-1 (457-885 nm) para analisar
fundamentais para a compreensão dos processos dinâmicos a dinâmica sazonal da composição das águas da planície de
que ocorrem entre os ecossistemas aquáticos e terrestres. inundação a montante da confluência do rio Tapajós e do rio
Diversos estudos utilizando imagens de sensores remotos Amazonas.
foram realizados com o objetivo de examinar as variações es- Os corpos d’água naturais apresentam substâncias em
paciais e temporais da qualidade da água (Barbosa, 2003; suspensão e dissolvidas na coluna d’água que interferem em
2005; Carvalho, 2003; Martinez et al., 2004; Novo et al., 1995; suas propriedades ópticas. Os sedimentos em suspensão, os
2004; 2005; Novo e Shimabukuro, 1994; Rudorff et al., 2005), pigmentos fotossintetizantes e a matéria orgânica dissolvida
possibilitando a investigação da origem e o deslocamento de são os principais Constituintes Opticamente Ativos (COAs) e
determinadas substâncias em suspensão ou dissolvidas na seus efeitos sobre as propriedades espectrais da água têm
água. sido amplamente discutidos na literatura (Arst, 2003; Bukata,
Barbosa (2005) realizou um estudo para analisar a dinâmi- 2000; Kirk, 1994).
ca de circulação das águas na várzea de Curuai para saber se O Hyperion é o primeiro sensor orbital hiperespectral e pos-
há um padrão espacial recorrente de circulação de água na sui 242 bandas espectrais (10 nm de largura cada) nas faixas
planície, devido ao caráter cíclico do pulso de inundação. do visível (VIS), do infravermelho próximo (IVP) e do infra-
Esse estudo foi realizado através da caracterização das vermelho de ondas curtas (SWIR). Ele foi lançado a bordo do
massas de água presentes na planície inundável, a partir da satélite Earth Observing One (EO-1), e pesquisas preliminares
integração de imagens TM-Landsat, dados de espectros me- demonstraram a sua utilidade no estudo de habitat bentônico
didos in situ, dados limnológicos e batimétricos coletados (Kruse, 2003) e no mapeamento da qualidade de águas costei-
em 144 estações amostrais (determinados em Barbosa et al., ras (Vittorio e Dekker, 2003).
2002). Duas imagens foram selecionadas para o estudo, uma no
O autor delimitou quatro estados de nível de água (cheia, período de vazante (16/09/2001) e a outra no final do período

54 WORKSHOP GEOTECNOLOGIAS APLICADAS ÀS ÁREAS DE VÁRZEA DA AMAZÔNIA


de cheia (23/06/2005) do rio Amazonas, as quais foram radio- comportamentos das espécies e as respostas dos mesmos a
metricamente corrigidas para atenuar os efeitos de absorção mudanças em seu habitat natural.
e espalhamento atmosférico. Dados de campo (radiométricos O rastreamento de animais via satélite começou na década
e limnológicos) foram coletados entre os dias 23 e 29 de ju- de 70 com o monitoramento do alce, Cervus elaphus, em Wyo-
nho de 2005, quase simultâneos à aquisição da segunda ima- ming, Estados Unidos (Craighead et al., 1972). Essa tecnologia
gem. ficou mais popular na última década com o aperfeiçoamento
O Modelo Linear de Mistura Espectral (MLME) e o Método dos equipamentos de transmissão, que se tornaram mais le-
de Análise Derivativa permitiram o mapeamento das concen- ves e duradouros.
trações de sedimentos inorgânicos em suspensão e de cloro- Esses radiotransmissores já foram utilizados no monito-
fila-a. No entanto, o MLME demonstrou certas limitações pela ramento de aves marinhas (Jouventin e Weimerskirch, 1990);
influência da mistura espectral dos COAs e pelas eventuais garças (Higuchi et al., 1994; 1992); águias (Meyburg, 2001),
contaminações nos pixels (como a presença de brumas e efei- jacaré-do-pantanal (Campos et al., 2004), tartarugas marinhas
tos de reflectância especular da água). Esse modelo simplifica (Polovina et al., 2000; Godley et al., 2003), lobos-guarás (Man-
o processo de análise temporal quando se utiliza um conjunto tovani, 2001) entre outros.
único de membros de referência coletados nos diferentes perí- O conhecimento sobre a ecologia dos animais em vida livre
odos do pulso de inundação. permite uma melhor compreensão de seu comportamento, da
A primeira derivada da reflectância dos COAs foi elaborada a sua área de vida (home range), da qualidade do habitat e a
partir das análises espectrais da imagem do período da cheia, resposta das espécies às mudanças que ali ocorrem.
associadas às medidas de campo e, dessa forma, estimaram O peixe-boi-amazônico Trichechus inunguis é um mamífe-
a distribuição espacial da concentração dos sedimentos inor- ro aquático, endêmico da bacia amazônica, que pode atingir
gânicos em suspensão e da clorofila-a. Os autores verificaram cerca de 3m de comprimento, pesar 300 kg e viver cerca de 60
que a primeira derivada espectral em 711,7 nm explicou 80,9% anos (Rosas, 1994). Por ser um animal com alto valor nutritivo,
da variação da concentração dos sedimentos inorgânicos em é apreciado pela população da região Norte do país, sendo
suspensão (mg l-1); e em 691,4 nm explicou 68,3% da varia- alvo de caças de subsistência e comercial, o que resultou na
ção na concentração da clorofila-a (mg l-1). sua inclusão na lista de espécies vulneráveis à extinção (Iba-
Embora a precisão na determinação da variação espacial ma, 2004; IUCN, 2004).
das concentrações de COAs através de algoritmos empíricos Questões sobre a ecologia dessa espécie e como o ambien-
seja maior, eles são estabelecidos somente com auxílio de te influencia a sua distribuição e dinâmica ainda são divergen-
dados de campo, sendo úteis apenas no contexto sazonal em tes e obscuras. Isto provavelmente é devido à complexidade
que foram determinados. Isso é verificado pelas alterações do ambiente amazônico e à dificuldade inerente à realização
significativas no intervalo de variação das concentrações dos de trabalhos de campo na região.
COAs, imposta pelo pulso de inundação. Assim, é preciso que Arraut et al. (2005; 2007) iniciaram um estudo com o auxí-
os estudos avancem no sentido de estabelecer outros mode- lio das técnicas de sensoriamento remoto para compreender
los empíricos, visando atender aos intervalos específicos de a migração do peixe-boi, sob a suposição de que as variações
variação das concentrações dos COAs em cada período do pul- no habitat induzem esse comportamento. A hipótese é que os
so de inundação. animais preferem os lagos da planície na cheia porque ali seu
Com o desenvolvimento de sensores capazes de registrar principal alimento, as macrófitas aquáticas, são mais abun-
com maior detalhe os alvos na superfície terrestre e de méto- dantes (Colares, 1991; Rosas, 1994).
dos que permitam a extração de informações cada vez mais Esse estudo inclui o mapeamento das áreas de macrófitas
específicas dos dados coletados, tem sido aberto o caminho aquáticas nos lagos Mamirauá, Castanho (planície) e Amanã
para que a qualidade da água seja estudada por meio de téc- (terra firme) em diferentes fases do pulso de inundação; a
nicas de sensoriamento remoto. identificação da trajetória de deslocamento dos animais (via
telemetria VHF) e o mapeamento da variação temporal do ha-
bitat (nível da água e batimetria).
4.A FAUNA Para monitorar o deslocamento dos animais, dez machos
Os avanços na tecnologia científica vêm permitindo aos foram marcados com colares de telemetria durante os anos
pesquisadores a observação de espécies animais em seu de 1994 a 2006. Resultados preliminares mostram que oito
habitat através do sensoriamento remoto. O uso de colares animais foram rastreados por mais de uma fase do pulso de
transmissores, imagens de satélite e sistemas de informações inundação, sendo que todos permaneceram em lagos da pla-
geográficas para o estudo da ecologia de espécies animais é nície de inundação (lagos Mamirauá e Castanho) no período
cada vez mais freqüente. da cheia e migraram na vazante para os grandes rios (rio Japu-
A análise de imagens de satélites fornece uma visão global rá) ou para lagos de terra firme (Amanã), onde permaneceram
e extensa da estrutura e da dinâmica da paisagem. As mu- na seca. Na enchente os animais retornaram para a planície de
danças nessa mesma paisagem, devido à fragmentação ou inundação (Marmontel et al., in prep.).
agregação de habitats naturais, podem alterar os padrões de O mapeamento das macrófitas aquáticas está sendo reali-
abundância de determinadas espécies ou até de comunidades zado através da classificação digital da banda 4 de imagens
inteiras (Quinn e Harisson, 1988). A fragmentação do habitat TM- Landsat, restauradas para 15 m. Os autores demonstraram
foi reconhecida como a maior causa da perda da biodiversi- que a restauração das imagens TM-Landsat de 30 para 15 me-
dade (Turner, 1996) e os efeitos negativos desses processos tros evidencia bancos de macrófitas de pequeno porte (menor
já foram relatados para uma grande variedade de organismos que 30 metros de largura), que são mais freqüentes na região
incluindo plantas, insetos, aves e mamíferos (Lovejoy et al., de estudo.
1986; Laurance, 1991; 1994; Brown e Hutchings, 1997; Sieving Além disso, resultados iniciais indicaram que a banda 4 é
e Karr, 1997; Stevens e Husband, 1998). a mais adequada para separar os bancos de macrófitas aquá-
Essas informações sobre a dinâmica da paisagem, conju- ticas dos demais alvos, no período da cheia, pois nessa ban-
gadas a dados de deslocamentos, rastreadas por telemetria, da os bancos possuem uma reflectância mais elevada do que
auxiliam a inferência de possíveis causas para determinados a floresta e a água do entorno. Isso pode ser explicado pelo

WORKSHOP GEOTECNOLOGIAS APLICADAS ÀS ÁREAS DE VÁRZEA DA AMAZÔNIA 55


fato de que a composição florística e principal constituinte da cam disponíveis para os peixes, mas geralmente possuem um
maioria dos bancos de macrófitas na cheia são formados por valor nutritivo menor do que as espécies primárias, podendo
E. polystachya (canarana) (Piedade, 1988). Essa planta possui resultar na diminuição da taxa de crescimentos de algumas
metabolismo C4, cujo mesofilo esponjoso, mais desenvolvi- espécies de peixes e, conseqüentemente, influenciar o suces-
do, resulta em maior reflectância na faixa de comprimento de so da reprodução e a sua taxa de recrutamento (Roubach e
onda entre 0,76 e 0,9 μm, onde opera a banda 4 do TM, do Saint-Paul, 1994; Claro Jr. et al., 2004).
que aquela de plantas com metabolismo C3, característico da A extensão do desflorestamento nas várzeas da Amazô-
maioria das árvores da floresta. nia nunca foi quantificada, visto que a sua grande dimensão,
No entanto, a utilização da banda 4 para distinguir as ma- complexidade e sazonalidade dificultam a análise desse ecos-
crófitas aquáticas dos demais alvos não é adequada em locais sistema.
com ocorrência de agricultura ou pasto, em torno dos cursos Estimativas feitas pelo Prodes mostram que o desfloresta-
d’água, como ocorre nas proximidades das cidades às mar- mento na Amazônia aumentou consideravelmente nas últimas
gens dos rios Solimões e Japurá, na região de estudo, e tam- décadas, chegando a aproximadamente 661.523 km² em 2005
bém em outras regiões da Amazônia. Isso é devido à presença (Inpe, 2006). No entanto, essas estimativas não distinguem as
de espécies com metabolismo C4 na pastagem (colonizadoras áreas de floresta de terra firme das florestas de várzea.
iniciais) e na cultura agrícola, resultando em um sinal de retor- Affonso et al. (2007) identificaram e quantificaram o des-
no semelhante ao das macrófitas aquáticas. florestamento ocorrido na planície de inundação do Solimões-
Além disso, a adequação da banda 4 para o período da Amazonas, os sistemas alagáveis de maior biodiversidade e
seca precisa ser investigado, pois o sinal de retorno é influen- de maior potencial para desenvolvimento sustentável (Junk,
ciado não pela água mas pelo solo sobre o qual as plantas 2000).
crescem. Foram utilizados os dados de desflorestamento do Prodes
A continuação deste estudo constituirá na aplicação da digital dos anos de 1997, 2000 à 2002 e 2004 (Inpe, 2006). A
metodologia adequada para a classificação de uma série máscara de áreas inundáveis (Hess et al., 2003; Melack et al.,
temporal de imagens, para o entendimento da variação da 2004) foi utilizada para delimitar a região inundável, sendo
distribuição e da abundância das macrófitas aquáticas. Des- criado um buffer de 2 km da máscara, compreendendo a área
ta forma, ter-se-á um mapeamento sazonal do alimento do de floresta de terra firme na borda da planície de inundação,
peixe-boi- amazônico, informação esta que será confrontada assumindo que a planície de inundação é comumente utiliza-
com os dados de rastreamento, com o intuito de avançar o co- da pelos fazendeiros que moram na margem dos rios. Os cinco
nhecimento sobre a importância do recurso alimentar para a mosaicos foram cruzados com a máscara de áreas inundáveis
migração da espécie. e com a máscara de áreas inundáveis agregada com o buffer
de 2 km para o cálculo da área de desflorestamento por mu-
nicípio.
5.O USO DA TERRA Resultados indicaram que a área total desflorestada nas
As planícies de inundação de todo o mundo têm sido afe- áreas inundáveis no Amazonas foi de 5.012,21 km² e no Pará
tadas pela agricultura e o desenvolvimento urbano, sofrendo foi de 2.824,76 km², já na terra firme, a 2 km da planície de
alterações em sua hidrologia e configuração espacial. Em al- inundação foi de 8.386,10 km² (Amazonas) e de 6.609,07 km²
guns países da Europa, o uso dessas áreas foi tão intenso que (Pará).
foram completamente extintas, resultando na destruição de Os municípios que mais desflorestaram essa região em
toda a sua cadeia alimentar (Cashin et al., 1992). área foram Santarém, com 700,96 km² e Itacoatiara, com
Na Amazônia brasileira, o uso das planícies de inundação 602,3 km² e em relação à porcentagem do município, Belterra
tem sido constante desde a chegada dos humanos ao conti- desflorestou aproximadamente 45% de sua planície de inun-
nente. Segundo Junk (2000), a densidade populacional nas dação e Silves 50%. Os municípios que menos desflorestaram
planícies amazônicas durante o período pré-colombiano che- em relação à área e à porcentagem foram Afuá (11 km²; 0,26%
gava a ser superior à atual. Relatos de viagem dos séculos XVI da planície de inundação) e Japurá (22 km², 0,29%). Embora
e XVII indicam a existência de grandes agrupamentos huma- o desflorestamento na área inundável e na área de terra firme
nos sedentários ocupando as planícies de águas brancas do a 2 km da planície dos rios Solimões-Amazonas represente
rio Amazonas (Ohly, 2000). aproximadamente 5%, o desflorestamento dessa região repre-
A exploração das várzeas amazônicas pela população ri- senta 49% e 90% do desflorestamento total nesses municí-
beirinha estava originalmente ligada à pesca de subsistência pios do Pará e do Amazonas, respectivamente.
e à agricultura em pequena escala. No entanto, a construção Esses dados indicam que no estado do Amazonas o desflo-
de políticas públicas e os incentivos fiscais visando à integra- restamento se concentra nas áreas alagáveis e nas margens
ção da Amazônia ao Brasil fez com que o modo de exploração da planície. No estado do Pará o desflorestamento é mais
convencional da várzea sofresse alterações. O resultado foi a disperso. Apesar dessa diferença sugerir que o processo de
remoção sistemática das florestas para a exploração madeirei- ocupação desses dois estados é diferenciado, análises sobre
ra, a introdução de animais de criação (bovinos e bubalinos) a direção (inicia-se na planície de inundação seguindo para a
em grande escala, o plantio de pastagens exóticas e a criação terra firme ou o inverso) do desflorestamento nessas duas re-
de hidrelétricas de grande porte causaram um efeito deletério giões precisam ser levadas em consideração já que o processo
nesse ecossistema, como a perda de biodiversidade, alteran- de ocupação do estado do Pará é mais antigo.
do a fertilidade dos solos e dos corpos de água. Os resultados preliminares apresentados também parecem
Os impactos negativos do desflorestamento da várzea in- sugerir que o processo de desflorestamento tem avançado no
cluem ainda a mudança dos hábitos alimentares de peixes estado do Amazonas merecendo, portanto, mais atenção para
onívoros (Claro Jr. et al., 2004). Com a derrubada da floresta que não haja a destruição da floresta alagável ainda remanes-
ocorre a redução da oferta de sementes e frutos oriundos da cente na região.
vegetação ribeirinha, além disso, com o crescimento da vege- O estudo do desflorestamento das várzeas não se limita
tação secundária uma nova variedade de frutos e sementes fi- apenas a quantificar a área destruída, mas também fazer a
análise das conseqüências que a nova cobertura da terra na

56 WORKSHOP GEOTECNOLOGIAS APLICADAS ÀS ÁREAS DE VÁRZEA DA AMAZÔNIA


planície acarretará na água. região de Santarém a existência de concentrações acima dos
As atividades humanas como a agropecuária e a urbaniza- níveis normais de clorofila (Barbosa, 2005; Melack e Forsberg,
ção afetam diretamente a qualidade das águas. No entanto, 2001), o que sugere que esses lagos estão sob severa eutrofi-
o clima, a radiação solar incidente e a hidrologia afetam con- zação relacionada à criação de gado na várzea.
sideravelmente as propriedades da água tornando o estudo A eutrofização é um processo de aumento da produção pri-
desse ambiente muito complexo. mária devido ao excesso de nutrientes nos sistemas aquáticos
Essa natureza dinâmica dos sistemas aquáticos torna difícil e que, conseqüentemente, gera um aumento na produtividade
diferenciar as variações naturais da influência antropogênica de algas e acumulação da biomassa algal. Em longo prazo, a
(Chipps et al., 2006), sendo que nos lagos das planícies de eutrofização acarreta mudanças na estrutura das comunida-
inundação onde o pulso de inundação controla a dinâmica des da flora e fauna, ameaçando a biodiversidade nos lagos.
desse ecossistema, a análise é ainda mais complexa. Existem diversos índices para calcular o nível de eutrofiza-
A alternância entre a fase terrestre e a fase aquática, devido ção de um sistema aquático, baseados, por exemplo, na quí-
ao pulso de inundação, ocasiona a inundação periódica das mica da água (concentração de nitrogênio e fósforo total), na
áreas marginais (Junk et al., 1989) que geralmente são usadas óptica da água (turbidez) e na biologia da água (concentração
para assentamentos, agricultura e para a pecuária. A conver- de clorofila e composição do fitoplâncton). A concentração
são das áreas de floresta em pasto e em áreas agrícolas afeta de clorofila pode ser derivada de dados de sensoriamento re-
a circulação da água e dos materiais provenientes do ecossis- moto, como reportado por Novo et al. (2006), que utilizaram
tema terrestre para o sistema aquático. Além disso, ocasiona a imagens Modis para mapear a distribuição espacial da con-
alteração da proporção dos componentes suspensos e dissol- centração de clorofila nos lagos da planície de inundação da
vidos na água, alterando suas características físico-químicas Amazônia.
(Martinelli et al., 1996; Melack e Forsberg, 2001; Tundisi et al., Seguindo essa temática, Novo et al. (2007) investigaram a
2002) e como conseqüência, o funcionamento dos ecossiste- influência do desflorestamento na várzea e da criação de gado
mas por onde essas águas circulam (Forsberg et al., 1988) e nas condições ambientais dos lagos de várzea da Amazônia,
ainda a ecologia e a dinâmica do ciclo de vida dos organismos através da análise da concentração de clorofila, derivada de
da planície (Saint-Paul, 2000). imagens Modis (Novo et al., 2006), dados do desflorestamen-
Diversos estudos foram desenvolvidos na Amazônia com o to do Prodes (Inpe, 2006) e do número de cabeças de bovinos
objetivo de entender como o desflorestamento e as mudanças e bubalinos, por município (IBGE, 2006).
de uso e cobertura da terra afetam o clima mundial e regional, O estudo foi realizado na planície de inundação do eixo
a hidrologia e a biogeoquímica (Coe et al., 2002; Keller et al., central do Solimões desde o município de Parintins até Almei-
2004). No entanto, essas análises são focadas principalmente rim (totalizando 16 municípios). Detalhes sobre a metodolo-
em mudanças ocorridas na terra firme e a região amazônica gia aplicada para a derivação dos mapas de concentração de
possui uma extensa área inundável que está sob pressão de clorofila e do cálculo do desflorestamento na várzea podem
mudanças de uso da terra, o que ocasionará impactos no fun- ser revistos em Novo et al. (2006) e Affonso et al. (2007), res-
cionamento do sistema amazônico. pectivamente.
Estudos recentes demonstraram que há diferenças mar- Para o cálculo do Índice de Eutrofização do Lago, foi assu-
cantes no tipo de cobertura, ao longo do eixo central do rio mido que o nível-padrão da concentração de clorofila varia
Amazonas (Hess et al., 2003), sendo dominada por florestas entre 1 mg/m3 a 90 mg/m3, como reportado na literatura (Me-
alagadas a montante da confluência do rio Madeira e pela ve- lack e Forsberg, 2001).
getação herbácea ao longo do Baixo Amazonas. As análises de regressão entre o Índice de Eutrofização (IE)
Já foi bem documentado que a planície de inundação da e o desflorestamento foram feitos com um ano de diferença,
bacia amazônica é muito utilizada para a criação de gados ou seja, o IE de 2002 foi comparado com o desflorestamen-
(Ohly e Hund, 2000). Esse tipo de atividade pode afetar esse to ocorrido em 2001 e o IE de 2003 com o desflorestamento
sistema de várias formas. Alguns exemplos desses impactos em 2002, porque o impacto da criação de gado na planície de
incluem a herbivoria da vegetação aquática e a herbivoria se- inundação só ocorrerá após, pelo menos, um ano hidrológico
letiva (o que pode afetar os níveis tróficos mais elevados); o de ocupação da região.
input de nutrientes pela deposição de fezes e urina e mudan- Os resultados estatísticos demonstraram que em dois anos
ças na composição de espécies de macrófitas e algas induzi- consecutivos (2002 e 2003) o modelo de regressão mostrou
das pela entrada de nutrientes (Steiman et al., 2003). a mesma tendência geral entre o IE e o desflorestamento na
Além disso, essas áreas estão sujeitas à eutrofização pelo várzea, sugerindo que há um impacto perceptível do uso da
aumento da concentração de nutrientes, podendo afetar o re- terra na qualidade da água nos lagos da Amazônia.
gime hidrológico, a extensão de área inundada, a qualidade A análise de regressão demonstrou que a área desfloresta-
da água, o runoff, as comunidades vegetais e animais e a bio- da em 2001 explica 59,6% (α=0.05) da variação do índice de
diversidade. eutrofização para o ano de 2002 (área do lago com concentra-
Deste modo, os lagos das planícies de inundação circunda- ção de clorofila acima do nível-padrão).
das de áreas desflorestadas podem responder a esses distúr- No entanto, alguns municípios, como Santarém, Óbidos,
bios com mudanças na qualidade da água. Estudos realizados Monte Alegre e Almeirim, ficaram mais distantes desse inter-
em lagos da planície de inundação entre Parintins e Almeirim valo de confiança e isso é devido a dois fatores: 1) no caso de
(Novo et al., 2006) demonstraram que há um intervalo de seis Santarém e Óbidos: o desflorestamento é subestimado, pois
meses entre o nível máximo da água e a concentração média a linha de base do desflorestamento das áreas inundáveis,
máxima de clorofila, ou seja, os autores observaram que o ní- consideradas pelo Prodes, desconsidera uma grande área de
vel máximo de água ocorreu de abril a junho, mas a concen- floresta que foi removida antes do início do monitoramento
tração máxima de clorofila ocorreu em novembro e dezembro, por satélite; 2) no caso de Monte Alegre e Almeirim: o índice
nos dois anos observados, 2002 e 2003. Esse dado sugere que de eutrofização foi subestimado devido à alta cobertura de nu-
o pico de produção do fitoplâcton é alcançado quando o pulso vens na região e às grandes áreas de água aberta coberta por
do Amazonas retrai e os lagos são enriquecidos por nutrientes macrófitas aquáticas, naquele ano.
dissolvidos na água menos túrbida. Foi também observada na Contudo, a área desflorestada em 2002 explicou 73%

WORKSHOP GEOTECNOLOGIAS APLICADAS ÀS ÁREAS DE VÁRZEA DA AMAZÔNIA 57


(α=0.05) da variação do índice de eutrofização para o ano de AGRADECIMENTOS
2003. Em relação ao tamanho do rebanho, foi demonstrado Os autores agradecem aos Projetos MCT-Geoma, LBA-Eco-
que os municípios com os maiores valores do índice de eutro- logy Nasa, Fapesp (2003/0 6999-8), Capes, CNPq e ao Institu-
fização tinham os maiores rebanhos (com pelo menos 40 mil to Nacional de Pesquisas Espaciais, pelo suporte financeiro e
cabeças de bovinos e bubalinos). É importante salientar que logístico no desenvolvimento desses estudos citados.
em alguns municípios o gado é criado em áreas de pasto na
terra firme, no entanto, o rebanho eventualmente desloca-se
para a planície de inundação, contribuindo para a deteriora-
ção da qualidade da água dos lagos.
Referências bibliográficas
Os resultados evidenciam a importância das informações AFFONSO, A.; NOVO, E.; MELACK, J.; HESS, L. Identificação
derivadas de diversos sensores e que, integrados a sistemas e quantificação do desflorestamento nas áreas
de informações geográficas, permitem um melhor entendi- alagáveis nos municípios à margem do Rio Solimões/
mento da relação entre o desflorestamento nas áreas alagá- Amazonas nos estados do Pará e Amazonas. In:
veis e a eutrofização de lagos. Simpósio Brasileiro de Sensoriamento Remoto, 13.,
Além disso, os dados aqui apresentados indicam que o 2007, Florianópolis. Anais... São José dos Campos.
desflorestamento para a criação de gado está impactando se-
ANTAS, P.T.Z. Sob os céus do Pantanal: ecologia do
veramente a qualidade da água nos lagos amazônicos e que
estudos futuros devem ser desenvolvidos e aperfeiçoados tuiuiú. Santiago: Monsanto, 1997.
para auxiliar práticas de desenvolvimento sustentável na re- ARRAUT, E. M.; RUDORFF, C. M.;BARBOSA, C. C.;
gião. MANTOVANI, J. E.; NOVO, E. M. L. M Modelagem
da distribuição espacial do peixe-boi Amazônico
Trichechus inunguis no lago Grade de Curuai,
6.CONSIDERAÇÕES FINAIS PA, no período da cheia, através de técnicas de
Os trabalhos aqui apresentados demonstram a capacidade
sensoriamento remoto e geoprocessamento. Anais
dos sensores remotos em mapear, caracterizar e analisar as
XII Simpósio Brasileiro de Sensoriamento Remoto,
mudanças que ocorrem na planície de inundação do rio Ama-
zonas, e que com o auxílio de dados reais de campo podemos Goiânia, Brasil, 16-21 abril 2005, INPE, p. 2827-2834.
compreender um ambiente tão complexo como a várzea ama- ARRAUT, E. M.; MANTOVANI, J. E.; NOVO, E. M. L. M. Quanto
zônica. alimento há para o Peixe-boi Amazônico? Técnicas
No entanto, considerando o rápido avanço da destruição de processamento digital de imagens para estimar a
desse ecossistema há uma necessidade urgente de avanços dimensão de bancos de macrófitas aquáticas. Anais
e cooperações científicas para o estudo do ambiente alagado.
XIII Simpósio Brasileiro de Sensoriamento Remoto,
Nesse sentido, os avanços tecnológicos nos sensores remo-
tos podem auxiliar o monitoramento dessa região. Com o lan-
Florianópolis, Brasil, 21-26 abril 2007, INPE, p. 6609-
çamento de novos satélites, como o CBERS-2B (China-Brazil 6614.
Earth Resources Satellite), uma parceria entre o governo brasi- ARST, H. Optical properties and remote sensing of
leiro e chinês, programado para 2007, o Alos (Advanced Land multicomponental water bodies. Chichester: Praxis
Observing Satellite) da Agência espacial do Japão, lançado em Publishing Ltd, 2003. 231p.
janeiro de 2006, novas perspectivas se abrem para o estudo
dos ecossistemas terrestres. BARBOSA, C. C. F.; NOVO. E.M.L.M; COSTA, M. Remote
O CBERS-2B é idêntico aos seus predecessores, no entan- sensing for sampling station selection in the study
to, algumas melhorias foram incorporadas como a substitui- of water circulation from river system to and Amazon
ção do imageador IRMSS (Imageador por Varredura de Média floodplain lakes: a methodological proposal. In: II
Resolução) com 120 m de resolução para a banda no termal Conferência Científica Internacional do Experimento
e 80 m no pancromático, pelo HRC (High Resolution Camera) LBA. Anais..Manaus (AM), julho de 2002.
com uma banda pancromática com 2,7 metros de resolução
espacial. BARBOSA, C. C. F. Sensoriamento remoto da dinâmica
O satélite Alos possui três sensores: o PRISM (Panchroma- de circulação da água do sistema planície de Curai
tic Remote-Sensing Instrument for Stereo Mapping) com 2, 5 / rio Amazonas. 2005, 255f, Tese (Doutorado em
metros de resolução, que proverá imagens tridimensionais Sensoriamento Remoto) - Instituto Nacional de
da superfície terrestre, o AVNIR-2 (Advanced Visible and Near Pesquisas Espaciais, São José dos Campos, 2005.
Infrared Radiometer-2) com resolução de 10 metros e o sen- BARBOSA, C. C. F.; NOVO. E.M.L.M.; CARVALHO, J.C.;
sor de microondas Palsar (Phased Array type L-band Synthetic
FILHO, W.P.; MANTOVANI, J.E. Caracterização espectral
Aperture Radar) com resolução espacial de 10 a 100 metros.
Além disso, há ainda uma iniciativa conjunta do Brasil e da das masssas d’água Amazônicas. In: Simpósio
agência aeroespacial da Alemanha (DLR - Deutsches Zentrum Brasileiro de Sensoriamento Remoto, 11., 2003, Belo
für Luft- un Raumfahrt e.V), para a construção de um satélite, Horizonte. Anais... São José dos Campos: INPE, 2003.
tendo como carga útil um radar imageador de abertura sintéti- p. 2419 - 2425.
ca ou SAR (Synthetic Aperture Radar) dedicado à operação em BARBOSA, C., HESS, L.; MELACK, J.; NOVO, E. Mapping
área de florestas tropical (Amazônia) e boreal.
Amazon Basin Wetlands Through Region Growing
Portanto, a observação da superfície terrestre com novos
e mais avançados sensores permitirá a continuidade dos es-
Segmentation and Segmented-Based Classification
tudos dos ecossistemas amazônicos e dessa forma contribuir JERS-1 Data. In: IX Latin-American Symposium
para o entendimento de sua estrutura, funcionamento e sua on Remote Sensing, 2000, Misiones, Argentina.
influência no clima mundial. Proceedings.. Universidad Nacional de Lujan,
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58 WORKSHOP GEOTECNOLOGIAS APLICADAS ÀS ÁREAS DE VÁRZEA DA AMAZÔNIA


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WORKSHOP GEOTECNOLOGIAS APLICADAS ÀS ÁREAS DE VÁRZEA DA AMAZÔNIA 61


PROGRAMA INTEGRADO DE PESQUISAS
DA BACIA DO RIO ARAGUAIA:
APLICAÇÃO DE TÉCNICAS E MÉTODOS
GEOCIENTÍFICOS PARA A AVALIAÇÃO DO
SEU IMPACTO AMBIENTAL, COM ÊNFASE
NO TRANSPORTE DE SEDIMENTOS
SÂMIA AQUINO1,2
EDGARDO M. LATRUBESSE 1,2
1
Universidade Federal de Goiás-Labogef
2
Universidad Nacional de La Plata - Argentina
samia_aquino@yahoo.com.br

1. Introdução 1- Mapeamento e estudo sedimentológico e estratigráfi-


co dos depósitos da planície aluvial.
O rio Araguaia faz parte da bacia hidrográfica do Araguaia- 2- Mapeamento geomorfológico das unidades da pla-
Tocantins que é considerada como um dos sistemas fluviais nície aluvial. Identificação junto com o estudo sedi-
mais importantes da América do Sul. Vários aspectos fazem
mentológico de unidades morfossedimentares.
dessa bacia uma área de particular interesse para as pesqui-
sas de ambientes fluviais. Sua área de drenagem inclui duas 3- Quantificação das taxas de erosão/sedimentação na
das mais espetaculares regiões fitogeográficas que concen- área de influência do canal, nas últimas quatro dé-
tram boa parte da biodiversidade do planeta: o Cerrado e a cadas, e elaboração de um balanço de erosão-sedi-
Floresta Amazônica. Parte da bacia está inserida na planície mentação.
do Bananal que é uma das maiores e desconhecidas áreas de
4- Caracterização do regime hidrológico dos sistemas
sedimentação fluvial do continente, considerada como uma
área úmida prioritária para a conservação. para as séries históricas disponíveis.
O rio Araguaia tem sido alvo de discussões políticas, so- 5- Quantificação da carga de sedimentos em suspensão
ciais e científicas na região Centro-Oeste. Essas discussões (Qs) e carga dissolvida (Qd).
têm como ponto central os projetos do governo estadual de
6- Determinação da característica e dinâmica das for-
Goiás que pretende incentivar planos de gestão sobre desen-
volvimento regional, desenvolvimento sustentável e expansão mas de leito e estimativa da carga de fundo.
do ecoturismo. Do ponto de vista do gerenciamento foram 7- Modelos baseados em geoprocessamento de áreas
propostos planos contrastantes de manejo da bacia, como a inundadas e sedimentos suspensos no sistema ca-
hidrovia Araguaia/Tocantins e o corredor Ecológico Araguaia- nal-planície.
Bananal, assim como o planejamento para a construção de
hidroelétricas ao longo do seu curso.
8- Mapeamento de vegetação e caracterização das co-
Estudos sobre o rio, abordando diferentes focos de análi- munidades em sucessão, ao longo da planície aluvial
ses, estão sendo realizados em parcerias entre vários pesqui- do rio Araguaia.
sadores da Universidade Federal de Goiás e de outros centros 9- Avaliação de poluentes orgânicos e inorgânicos.
que fazem parte do “Grupo de Pesquisas Sistemas Fluviais
10- Sítios geomorfológicos (geomorphological sites)
e Meio Ambiente” do CNPq e estão envolvidos em distintas
áreas de conhecimento das ciências da terra, biologia e enge- móveis no rio Araguaia: elemento principal para o
nharia, com a finalidade de subsidiar a tomada de decisões e desenvolvimento turístico e geração de recursos eco-
a implementação de planos de gestão da região, fornecendo nômicos para as comunidades locais.
informações para o tipo de manejo que pode ser feito nesse Adicionalmente, essas pesquisas se inserem dentro do
sistema fluvial, tais como: viabilidade de implantação da hi- projeto internacional “Impactos das mudanças do uso da terra
drovia e represas, ecologia e biodiversidade em ambientes sobre os recursos hídricos do Cerrado brasileiro (LULCC)”, com
aquáticos, corredores ecológicos, reflorestamento das mar- suporte da Nasa, no qual participam pesquisadores da UFG,
gens, entre outros. UnB, UFV e pesquisadores do Wood Hole Institute e Universi-
O Programa Integrado de Pesquisas do Sistema Fluvial do dade de Standford, USA.
Araguaia, implementado no Laboratório de Geologia e Geo- O rio Araguaia oferece particularidades quando comparado
grafia Física-Laboef-UFG, contempla os seguintes temas prin- a outros grandes rios brasileiros. Seu canal é definido como
cipais: nabranching de baixa sinuosidade com tendência ao entrela-

WORKSHOP GEOTECNOLOGIAS APLICADAS ÀS ÁREAS DE VÁRZEA DA AMAZÔNIA 63


çamento, com fundo arenoso altamente móvel. Estudos recen-
tes têm demonstrado que o uso inadequado das terras da Alta
bacia tem provocado mudanças morfológicas e na dinâmica
fluvial no rio Araguaia durante as últimas quatro décadas.
Sendo o canal muito ativo, altas taxas de deposição e ero-
são em ilhas e bancos foram registradas para esse período
por Bayer (2002), Latrubesse e Stevaux (2002), Morais (2002,
2006), Morais e Latrubesse (2000). O conhecimento das ca-
racterísticas da dinâmica dos rios é de grande interesse não
apenas para a geomorfologia e a hidráulica fluvial, mas tam-
bém, para vários problemas concernentes à ecologia de am-
bientes aquáticos.
Se realmente a dinâmica fluvial está sendo modificada pelo
incremento da carga de sedimentos produzida pela expansão
da fronteira agrícola e pelo uso inadequado do terreno, é ne-
cessário conhecer o transporte de sedimentos sobre o canal
principal e os mecanismos de transferência de sedimentos na
planície aluvial. Por isso, estudos no rio Araguaia sobre as ca-
racterísticas do transporte de águas e sedimentos, tanto no
canal principal como no sistema rio-planície de inundação,
tornam-se uma necessidade.
O transporte de sedimentos será abordado neste trabalho
como um exemplo dos estudos que estão sendo realizados no
Araguaia, por duas razões:
a) Porque são os primeiros dados mais precisos que existem
sobre o transporte de sedimentos de fundo no Araguaia, e
suas tendências temporais providas da literatura sobre trans-
porte de sedimentos de lavado (wahs load) realizados por
agências nacionais diferem substancialmente dos resultados
obtidos pela nossa equipe. Figura 1: Localização da estação Aruanã e área de estudo. Os
b) Porque sendo geotecnologias o tema central do evento, a números representam a subdivisão em segmentos proposta
aplicação de alguns equipamentos, técnicas e métodos fun- por Morais (2006) e Latrubesse et al (submetido). A estação
damentais na avaliação de procesos hidrogeomorfológicos, Aruanã e o setor estudado encontram-se inseridos no
aplicados a estudos ambientais, pode servir como exemplo segmento 5.
e difundir a sua aplicação em outros grandes rios da bacia
amazônica, que é carente de estudos geocientíficos de campo os resultados aos obtidos em projetos já desenvolvidos pelo
sobre sistemas fluviais. grupo de pesquisa. O cálculo da carga do fundo de um canal
Neste artigo serão mostrados os resultados sobre a quan- é obtido pela determinação do tamanho das dunas (que per-
tificação do transporte de sedimentos de fundo e em suspen- mitirá o cálculo do volume de material) e a sua velocidade de
são, ao longo do canal, e a avaliação de mudanças nas taxas deslocamento a jusante, conforme Stuckrath, 1969.
de transporte de sedimentos.

3. QUANTIFICAÇÃO DA CARGA DE
2. Área de Estudo
A área de estudo está inserida no Médio rio Araguaia, de- FUNDO
limitada em um trecho de planície aluvial do Médio curso, na Para quantificar o transporte de sedimentos de fundo (Qsf),
localidade de Aruanã, pertencente ao estado de Goiás (Figura ao longo do canal, na região de Aruanã, foram utilizados dois
1). Nesse trecho de cerca de 76.300 km² de bacia hidrográfica métodos: um para estimar a carga de fundo sensu stricto e
está situada a Estação Fluviométrica de Aruanã. outro para estimar a carga total de sedimentos arenosos (de
O trecho pesquisado do rio Araguaia concentra-se em um fundo e em suspensão).
dos principais pontos turísticos de Goiás, sustentado pela A carga de fundo é a que circula pelo leito do rio e as par-
utilização de praias (na fase de estiagem) e pesca esportiva, tículas de sedimentos podem se mover de diferentes formas,
além de fazer parte de uma área úmida de grande importân- dependendo da relação existente entre seu tamanho e a capa-
cia para a biodiversidade, onde existem diversos projetos de cidade dos fluxos de transportá-las. Os mecanismos de trans-
conservação e proteção ambiental, como por exemplo, a APA porte são: rolamento, deslizamento, saltação e suspensão. A
Meandros do Araguaia, que ocupa 75% das áreas inundáveis soma total do transporte, pelos distintos mecanismos mencio-
do rio Araguaia, e representa um dos últimos remanescentes nados, representa a carga total de fundo num canal fluvial.
do Cerrado. A carga de fundo é estimada através de equações de trans-
Aruanã é uma das estações fluviométricas operadas pelo porte de hidráulica fluvial, mas a carga de fundo no sentido
CPRM-GO/Serviço Geológico do Brasil e está localizada em sensu stricto também pode ser estimada indiretamente atra-
um setor relativamente representativo dos fenômenos acon- vés de medições das morfologias móveis do fundo.
tecidos na Alta bacia e nas sub-bacias dos rios Caiapó, Claro Em um canal aluvial com leito arenoso o sedimento se
e Vermelho, algumas das mais impactadas pelo homem no move, se organiza e se movimenta segundo certos ordena-
estado de Goiás. mentos geométricos. As menores morfologias são ondas de
Este estudo tem o objetivo de caracterizar e quantificar a pequenos tamanhos (ondulações)– ripples, que apresentam
carga de fundo dos canais do Araguaia, bem como integrar perfil longitudinal triangular com declividade suave em dire-

64 WORKSHOP GEOTECNOLOGIAS APLICADAS ÀS ÁREAS DE VÁRZEA DA AMAZÔNIA


ção a montante e íngreme a jusante. As ondulações ocorrem com o barco navegando no sentido da corrente (denominadas
em velocidades de fluxo ligeiramente superiores à velocidade progressivas).
crítica de início de movimento. Enquanto isso o GPS registra a trajetória do barco para de-
As dunas são formas de leito mais desenvolvidas, chegan- terminar o registro batimétrico de cada seção. Este trabalho
do a atingir até 13 m de altura e comprimento superior a 1 km, foi repetido após vários dias, conforme sugerido por Amsler
em grandes rios como o Brahmaputra (Coleman, 1969). São e Prendes (2000). Neste caso foram tomadas com quatro dias
formas assimétricas com perfil longitudinal semelhante ao das de intervalo.
ondulações, com declividade suave para montante e íngreme Os valores de profundidade emitidos continuamente pelo
para jusante, podendo apresentar pequenas ondulações su- ecobatímetro são registrados juntamente com seu posiciona-
perpostas. São geradas sob condições de fluxo subcrítico. mento determinado pelo GPS, a cada segundo, usando-se um
No caso do Araguaia o transporte de fundo, em Aruanã, foi software de vinculação de sonda ecobatimétrica para plotar, a
estimado pelo método de deslocamento de dunas e pela utili- tempo real, a gravação contínua de dados. Neste caso se uti-
zação de equações de transporte. lizou o software Fugawi 3 que processa o sinal e armazena os
dados, os quais podem ser exportados em formato de tabelas
3.1 Método de deslocamento de dunas para outros softwares.
Esta metodologia vem sendo aplicada no Baixo curso do O produto final é uma lista dos três elementos de posicio-
rio Paraná por pesquisadores da Universidade Nacional del Li- namento do fundo do canal: latitude, longitude e profundida-
toral, Santa Fé, Argentina, (Lima et al., 1990, Amsler e Gaudin, de. Por meio do programa de computação “Surfer” os dados
1994) e foi aplicada recentemente no Alto Paraná, em território foram convertidos em perfis batimétricos georreferenciados.
brasileiro (Martins, 2004). O cálculo se obtém pela determina- O tratamento dos dados obedece a uma seqüência de cál-
ção do tamanho das dunas e a sua velocidade de deslocamen- culos que se inicia tratando cada duna separadamente (se-
to a jusante, o que permite o cálculo do volume de material ções de apoio). Num segundo passo inclui-se todas as dunas
por unidade de tempo (Stuckrath, 1969). de uma seção principal (n) para, finalmente, incluir todas as
Neste estudo foi selecionado um setor a jusante da Esta- seções 1, 2, 3 e 4 que correspondem ao próprio canal.
ção Aruanã, o que permitiu uma relação com os seus dados As seções obtidas em momentos distintos são comparadas
hidrológicos. O trecho escolhido é retilíneo e nele foram sele- e as dunas visualmente identificadas. Comparadas as seme-
cionados 4 pontos distribuídos ao longo de uma seção trans- lhanças geométricas das dunas (altura, comprimento e forma)
versal na parte de extremo montante (Figura 2) . Nessa seção elas são identificadas numericamente.
foram obtidas medições de vazão através do ADCP. O Acoustic O deslocamento de uma frente “di” é dado pela média dos
Doppler Current Profiler (ADCP), ou Correntômetro Acústico de deslocamentos onde se obtém a velocidade de deslocamento
Efeito Doppler, é um instrumento que determina a velocida- (udi ). Sendo assim: udi = di/Δt onde di é o deslocamento de
de do fluxo em perfis verticais. O instrumento se baseia pelo uma frente de duna e Δt é o tempo entre dois levantamentos
efeito Doppler, aparelho que emite uma freqüência de onda sucessivos.
sonora (600kHz) a uma velocidade de 1.400-1.570 m/s, que A altura média das dunas em uma seção, por sua vez, é
ao ser refletida por partículas em suspensão na água e no leito assim obtida : Hm = Hi/n
do rio, sofre alteração em seu comprimento de onda (modifi- Onde, Hi é a altura de cada duna da seção e n o número de
cando a freqüência). O sinal de retorno é usado para estimar dunas.
o deslocamento relativo do alvo (partículas em suspensão e O cálculo da carga de fundo para cada seção “Cfp” foi en-
leito do rio) em relação à fonte (barco). Já que a velocidade das tão: Cf = (1 – p) kf Hm udp
partículas em suspensão é a mesma do fluxo do rio, obtém-se A constante referente à forma da duna (kf) varia geralmente
a velocidade do fluxo (RDI, 2001). entre 0,50 e 0,66, conforme mencionado por Struckath (1969)
Os pontos de início de cada seção longitudinal a juzan- e Lima et al. (1990). Mais recentemente Amsler e Prendes
te foram posicionados por GPS, considerando-se cada ponto (2000) optaram pela constante 0,66 após avaliarem estatisti-
como a origem de uma seção principal ecobatimétrica, obtida camente uma série de dunas do Médio rio Paraná.
A descarga sólida resultante do deslocamento de uma fren-
te de duna pode ser dada da seguinte forma: Cfp = 0,396 Hm
udp
Onde, 1-p = 0,6 e 0,66 o coeficiente de forma de duna kf.
A descarga de fundo total, dada em unidade de largura é a
média ponderada pela largura de abrangência de cada seção.
Assim, Cf será obtido pela equação:
Cf = Σ Cfp x Lp/Σ Lp
Onde, Lp é a abrangência de cada seção A, B, C e D. Neste
caso o valor de Cf será dado em m3/dia.
Os sedimentos de fundo do Araguaia foram amostrados
por meio da utilização de draga de Peterson modificada. Um
total de 20 amostras foram analisadas por peneiramento e por
meio da utilização de um granulômetro laser mastersizer 2000.
As granulometrias do fundo estão caracterizadas por areias
grossas e médias. O tamanho médio (d50) característico para
cada setor da seção de estudo é apresentado na Figura 2
Figura 2: Seção transversal de Aruanã, médio rio Araguaia, O transporte de fundo em Aruanã foi estimado pelo método
mostrando os pontos a partir do qual se origina uma seção de deslocamento de dunas. A Figura 3A mostra o setor estu-
principal ecobatimétrica, as longitudes de influência para dado e a Figura 3C mostra as progressivas de dunas obtidas.
os cálculos de transporte de fundo (Gsf) e a distribuição A primeira campanha foi realizada no dia 5 de março de 2003,
granulométrica característica (d50) dos sedimentos de fundo. quando o rio Araguaia tinha uma cota de 430 cm e uma vazão

WORKSHOP GEOTECNOLOGIAS APLICADAS ÀS ÁREAS DE VÁRZEA DA AMAZÔNIA 65


de 1.900 m³/s na Estação Aruanã, enquanto a segunda cam- em colaboração entre a Universidade Federal de Goiás, Univer-
panha foi realizada no dia 9 de março de 2003 com cota 424 sidade Estadual de Maringá e Universidad Nacional del Litoral.
e vazão correspondente de 1.857 m³/s. A Figura 3B mostra a Durante essa campanha, o Araguaia, em Aruanã, tinha uma
sobreposição dos perfis obtidos nas duas campanhas realiza- vazão de 700-800 m3/s, as dunas se deslocavam a uma veloci-
das. A Figura 3 mostra o local de obtenção dos dados e a seção dade de 7m/d e posuíam uma altura oscilando entre 1 e 1,5m.
transversal no ponto de início das distintas progressivas.
Como fora mencionado, a seção foi dividida em quatro zo- 3.2 Estimativas do transporte total de fundo
nas de influência para poder quantificar o transporte indivi-
dual de cada uma delas e, posteriormente, obter a somatória - Gs
da seção. Com a finalidade de estimar o transporte total de fundo
Valores médios de altura e deslocamento das dunas foram (Gs), o melhor ajuste entre os dados estimados por medição
obtidos para as diferentes progressivas entre as duas campa- de deslocamento das dunas e equações de transporte de car-
nhas em m2/d. O tamanho médio de todas as dunas registra- ga de fundo (Gsf) foi obtido com a equação de Van Rijn (1993)
das é de 0,8m de altura e o deslocamento médio de 11,6 m/ (Laboef, inédito, resultados de projeto).
dia. Como a correlação para Gsf se aplicou com a equação de
Para cada progressiva foi dada uma longitude de influência Van Rijn e, considerando que a equação de cálculo de car-
na seção transversal e os valores obtidos para cada progres- ga de fundo total Gs (carga de fundo(Gsf) = carga de fundo
siva foram multiplicados pela largura do setor de influência suspensa, Gss) de Van Rijn se baseia nos mesmos princípios
correspondente, obtendo-se o valor em m3/d. que a equação de Gf, anteriomente mencionada, se estimou
Para chegar ao resultado final, em unidade de massa, foi a carga total (Gs). Posteriormente, foi obtida uma equação de
multiplicado o valor anteriormente obtido por 2.650 kg/m3, correlação com a vazão em Aruanã. A equação ofereceu um
valor referente à densidade do quartzo. alto grau de correlação e tomou a forma de: Gs = 0,022Qd1,3118,
O transporte total indica uma quantidade de 4.387,6 tone- com R2 = 0,8319
ladas/dia de areias passando pela seção estudada, com um Onde: Gs= Carga de fundo total em kg/s
valor de vazão de ~1.900 m3/s. Qmd= vazão diária em m3/s
Os valores obtidos nesta campanha foram bastante simila- Finalmente, com os valores de vazões diárias em Aruanã
res aos obtidos numa campanha anterior realizada em junho foram estimados os transportes anuais de material total do
de 2001, através do projeto Riscos Associados à Dinâmica de leito (Gs). Os valores entre 1971 e 1998 foram estimados pelo
Migração dos Talvegues nos Rios Araguaia (Brasil) e Paraná projeto anteriormente mencionado, enquanto que os valores
(Argentina): sua importância na engenharia fluvial e nos Pro- referentes ao transporte nos anos de 1999 a 2004 foram esti-
gramas de Integração Bilateral-Vitae-Antorchas desenvolvidos mados como parte dos resultados do trabalho aqui apresen-
tado. Também foram realizados controles de resultados nos
anos 1997 e 1998 (Tabela 1).

4. SEDIMENTOS EM SUSPENSÃO OU DE
LAVADO
Como o nome indica, a carga em suspensão ou carga de
lavado (wash load) é a carga constituída pelas partículas se-
dimentares menores (silte e argila) que são transportadas
suspensas dentro da massa d’água. Para quantificar o trans-
porte de sedimentos em suspensão (Qss), ao longo do canal
do Araguaia, a concentração de sedimentos em suspensão foi
determinada para a Estação Hidrológica de Aruanã em cinco
campanhas. As datas de coleta dos dados estão expostas na
Figura 4.
As amostras foram obtidas utilizando garrafas de Van Dorn
em pelo menos três verticais na seção transversal. As amostras
tiveram o volume de 1,0 lt, coletado (com réplica). O método
de determinação da concentração de sedimentos suspensos
utilizado é o definido por Orfeo (1991) e se constitui na filtra-
gem de uma parte da amostra através de membrana de éster
celulose de 0,45 µm de poro e 47 mm de diâmetro (Millipore),
previamente pesada. A determinação da quantidade de filtra-
do foi feita posteriormente por pesagem do filtro seco.
A estimativa da vazão de sedimentos suspensos foi obtida
mediante o valor de concentração média, obtido na seção es-
tudada, e da vazão média para o dia da coleta.
No total foram analisadas 50 amostras com uma média de
10 amostras por seção transversal, ou seja, aproximadamente
3 amostras por vertical e 4 no setor mais profundo.
As concentrações médias obtidas para a seção em cada
Figura 3: A) Ponto de localização da seção ecobatimétrica. B) campanha e os cálculos de transporte para cada dia de coleta
Sobreposição dos perfis ecobatimétricos feitos em diferentes encontram-se na Tabela 2. O cálculo de transporte foi obtido
campanhas. C) Comparação das dunas. da seguinte equação: Qss = 0,0864 x Q x C = (t/dia), onde:

66 WORKSHOP GEOTECNOLOGIAS APLICADAS ÀS ÁREAS DE VÁRZEA DA AMAZÔNIA


Tabela 1: Transporte de sedimentos de fundo (Gs) em Tabela 3: Dados de concentração e transporte diário de
toneladas por ano. sedimentos em suspensão, disponibilizados pela Agência
1979 11024136,1 Nacional de Águas.
Média da década 6.765.446 Data da Vazão Concentração Transporte
1980 13725349,0 medição (m³/s) (mg/l) (ton/dia)
1981 8435419,5 08/04/1992 449 35,48 1376,39
1982 12389522,5 27/07/2000 482 223,34 9300,94
1983 12400591,2 26/10/2000 297 43,13 1106,75
1984 6246063,6 30/01/2001 1217 157,49 16559,88
1985 8530227,6 11/01/2001 432 61,54 2296,96
1986 4068390,0 02/02/2002 2121 194,29 35604,49
1987 5171513,6 22/05/2002 645 180,90 10081,19
1988 8347418,8 27/09/2002 309 37,83 1009,97
1989 7499739,2
Média da década 8.681.423,5 Estimativas de transporte de sedimentos na bacia do Ara-
guaia-Tocantins foram feitas por Werneck et al. (2003). Porém,
1990 7034721,3 a escassa população de amostras e a falta de regularidade das
1991 9567578,4 coletas criam problemas na hora de estimar o transporte de
1992 9966700,9 sedimentos no sistema. Por exemplo, na Estação Aruanã re-
1993 7441599,0 marca-se, pelos autores citados, que somente utilizaram qua-
1994 8674016,5 tro dados hidrossedimentométricos. Além disso, os autores
remarcam também, que havia inconsistências na correlação
1995 9096131,6
entre as vazões medidas e as respectivas concentrações de
1996 6897311,0 sedimentos em suspensão, sendo necessário fazer ajustes, o
1997 13728652,0 que criou dificultades na análise.
1998 7175098,0 A equação da curva proposta por Werneck et al. (2003)
1999 7332632,0 é uma típica curva de potência relacionando a vazão com o
transporte de sedimentos em toneladas/dia, e expressa que:
Média da década 8.691.444,1
Q = 0,0123Qss 2,017 onde, R2 = 0,9946
2000 10544642,0 A partir das vazões médias mensais estimam que Qss (t/
2001 5850945,0 ano) foi de 12.612.575t/ para o período 1981-1998. Lamenta-
2002 8608490,0 velmente, este estudo não mostra as datas dos dados utili-
2003 7964213,0 zados, não sendo possível confrontar com os dados cedidos
2004 9538432,0 pela ANA para este estudo.
Werneck et al. (2003) consideram uma vazão líquida mé-
Média 8.501.344,4
dia de 1.258 m³/s, e transporte de sedimentos em suspensão
(carga de lavado) Qss = 34.555t/d e estimam um valor de 310
Q = descarga líquida em m/s³ (vazão), C = concentração em mg/l de concentração média. Os maiores transportes médios
mg/l, e 0,0864 = a constante resultante da divisão dos segun- mensais registram-se nos meses de janeiro, fevereiro e mar-
dos diários por conversões de unidades de massa, de gramas ço e os meses de menor transporte foram agosto, setembro
a toneladas. e outubro.
Além das amostras de sedimentos em suspensão apresen- Quanto aos valores de descarga sólida em suspensão es-
tadas, a ANA-Agência Nacional de Águas através da CPRM-GO pecífica, ao longo da bacia do rio Araguaia, até a estação São
tem obtido valores de concentração em 8 coletas: uma no ano Félix do Araguaia, os resultados foram classificados como mo-
de 1992 e as outras entre 2000 e 2002. derados, mas no caso da Estação Aruanã, quase foi classifi-
A Tabela 3 mostra os dados de concentração e transporte cada como alta pois chegou a 164 t/km² ano (Werneck, et al.,
diário obtidos pela ANA. A Figura 5 mostra a totalidade das 2003).
amostras e seus respectivos valores de concentração em re-
lação às amostras coletadas e as disponibilizadas pela ANA,
que se concentram nos anos 2001-2003.

Tabela 2: Concentrações médias obtidas para a seção, em


cada campanha, e cálculos de transporte para cada dia de
coleta.
Conc.
Média
Vazão na seção Transporte
Data (m3/s) (mg/l) (ton/dia)
30/05/2001 775 61,15 4.095
11/11/2001 692 75,95 9.034
10/05/2002 891 46,14 3.552
07/03/2003 1921 104 1.7261 Figura 4: Hidrograma esquemático mostrando os dias de
coletas de amostras de sedimentos em suspensão no trecho
01/09/2003 1046 21,73 1.964
Aruanã, rio Araguaia.

WORKSHOP GEOTECNOLOGIAS APLICADAS ÀS ÁREAS DE VÁRZEA DA AMAZÔNIA 67


Como fora mencionado, o problema maior com essas esti- 5. CONCLUSÃO
mativas é que não fica claro quais foram os dados utilizados. Estimativas do transporte de carga de fundo (Gsf) pelo mé-
Nenhuma amostra coletada pela autora ou pela ANA tem che- todo de deslocamento de dunas indicam que em Aruanã as
gado a valores maiores que 195 mg/l, sendo que em perío- dunas se movimentam entre 7 e 12 m/d. No período de mar-
dos de cheias (janeiro a março) os valores têm superado os gens plenas, de março de 2003, o transporte foi de 4.370t/d.
100mg/l. Os cálculos de transporte total (Gs) foram estimados desde a
Porém, esses valores nos permitem dizer que a estimati- década de 70 e indicam um incremento de 28% até os tempos
va de concentração média de sedimentos em suspensão, de atuais, onde o rio transporta uma média de mais de 8,5Mt/a.
310mg/l, como proposta por Werneck et al. (2003) está fora da O transporte de carga de lavado (wash load) ou desde o
realidade do sistema, já que embora sejam poucas, as amos- ponto de vista da geomorfologia, a carga em suspensão, foi
tras apresentadas representam uma variedade de momentos estimada em 4.6Mt/ano para o período 2000-2004.
do ciclo hidrológico anual de diversos anos e em nenhum mo- Os dados apresentados mostram valores diferentes aos
mento esses valores são atingidos. apresentados anteriormente por Werneck et al. (2003), pois os
Foi elaborada para este estudo uma curva de sedimen- valores de concentração média de sedimentos em suspensão,
tos utilizando as concentrações disponíveis e relacionando o sugeridos por esses autores, são muito maiores do que todos
transporte diário com a vazão média diária para o dia de cole- os valores do registro existentes na estação, composto por da-
ta, utilizando a mesma metodologia aplicada por Werneck et dos próprios e dados da ANA – Agência Nacional de Águas (12
al.(2003). A equação expressa: Qss = 0,3612 x Q1,4457(Figura amostragens no total).
5). Todos esses resultados indicam mudanças importantes no
O resultado da curva é diferente do apresentado pelos au- transporte de sedimentos do Araguaia. Tendo em conta outros
tores anteriormente mencionados, já que eles utilizaram va- resultados sobre balanços de sedimentos na planície aluvial,
lores médios mensais para estimar o transporte e aqui foram desenvolvidos recentemente, que sugerem uma deposição de
utilizados dados diários de vazão. Além disso, com os valores 240Mt desde o ano de 1965 (Latrubesse et al., submetido),
coletados no campo e os oferecidos pela ANA, o transporte de mais os grandes índices de desmatamento e mudanças de
sedimentos em Aruanã é significativamente menor do que o uso da terra que tem sofrido a bacia nesse mesmo período,
empregado por Werneck et al. (2003). Foi calculado o trans- sugere-se que esse incremento no transporte de sedimentos
porte de sedimentos para os anos de 2000 a 2004 e os valores de fundo e da vazão efetiva obedece a respostas do sistema
obtidos foram 38% do valor proposto pelos autores citados fluvial diante do cenário de destruição do Cerrado.
(Tabela 4), já que, com exceção do ano de 2001, que foi muito
seco, o valor médio foi de 4.867 ton/ano.
Um programa intenso de amostragens em Aruanã e outras
estações do Araguaia é necessário, já que com os dados de
AGRADECIMENTOS
À Agência Nacional de Águas, pelo fornecimento dos dados
campo aqui apresentados é extremamente arriscado utilizar
hidrológicos e sedimentométricos. Ao CNPq e ao Projeto Land
as estimativas existentes na literatura e publicadas pela pró-
Use Impacts on the Water Resources of the Cerrado Biome pe-
pria ANA.
los subsídios com a concessão das bolsas de estudos. Este
trabalho é uma contribuição ao projeto mencionado e à Rede
Tabela 4: Carga de sedimentos em suspensão (wash load,
Cabah XII K CYTED/CNPq.
granulometrias silte/argila) por ano, na Estação Aruanã.
Ano Qss (Mt/ano)
2000 5,66 Mt/a
2001 2,92 Mt/a
Referências bibliográficas
2002 4,55 Mt/a
AMSLER, M. E GAUDIN, H. E., 1994. La superposición de
2003 4,11 Mt/a dunas y el transporte de la carga de fondo en el río
2004 5,15 Mt/a Paraná. Memórias XV Congresso Nacional del Água,
La Plata, v.3:1-10.
AMSLER, M.L. E PRENDES, H.H. 2000. Transporte de se-
dimentos y procesos fluviales asociados. In: Paoli,
C., Schreider, M.I. (Eds.), El río Paraná en su tramo
medio. Contribución al conocimiento y prácticas in-
genieriles en un gran río de llanura. Centro de Publi-
caciones, Universidad Nacional del Litoral, Santa Fe,
Argentina, pp. 233-306.
BAYER, M. 2002. Diagnóstico dos processos de erosão/
assoreamento na planície aluvial do rio Araguaia: en-
tre Barra do Garças e Cocalinho. 2002. p.138.Disser-
Figura 5: Curva de sedimentos utilizando as concentrações tação (Mestrado em Geografia) – Instituto de Estudos
disponíveis. Relacionando o transporte diário com a vazão Sócio-Ambientais, Universidade Federal de Goiás,
média diária. Goiânia.2002.
COLEMAN, J., 1969. Brahamaputra River: channel pro-
cess and sedimentation. Sedimentary Geology, v. 3,
p. 129-139.
LATRUBESSE, E.M; STEVAUX, J.C. 2002. Geomorpholo-
gy and environmental aspects of the Araguaia fluvial

68 WORKSHOP GEOTECNOLOGIAS APLICADAS ÀS ÁREAS DE VÁRZEA DA AMAZÔNIA


basin, Brazil. Z.Geomorph.N.F. Berlin, Suppl.-Bd.129, e Ilha do Bananal entre as décadas de 60 e 90.- VII
p.109-127. Simpósio Nacional de Erosão-Associação Brasilei-
LATRUBESSE, E., AMSLER, M. E MORAIS, R. (submeti- ra de Engenharia e Ambiental/ABGEA (in CD room),
do). The Geomorphologic response of a large pristi- UFG. Goiânia.
ne alluvial river to tremendous deforestation in the MARTINS, D. P. 2004. Dinâmica das formas de leito e
South American tropics: the Araguaia River case. Ge- transporte de carga de fundo no Alto rio Paraná. Dis-
omorphology. sertação de Mestrado em Geografia. Universidade
LIMA, D. R., CAMPANA, N. A., AMSLER, M., SCHREIDER, Estadual de maringá. 69p.
M. I., GAUDIN, H. E., 1990. Desplazamiento de dunas ORFEO, O. 1991. Muestreo, submuestro y analisis de só-
y carga de fondo en un tramo del rio Paraná. Memó- lidos suspendidos en ambientes lóticos de la llanura
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Montevidéu, Uruguai, v.3:1203-1214. Nordeste. 82p.
MORAIS, R. P. 2002. Mudanças históricas na morfolo- STUCKRATH, T.1969. Movimento de las ondulaciones del
gia do canal do rio Araguaia no trecho entre a cidade lecho de río Paraná. Mitteilungen das Frazius Institu-
de Barra do Garças (Mt) e a foz do rio Cristalino na te. Universitat Hannover, v1:20p. (tard. espanhol por
Ilha do Bananal no período das décadas de 60 e 90. Ing. M.H. Balderiote).
2002. 176 p. Dissertação (Mestrado em Geografia) – RIJN, L.C.VAN. 1993. Principles of sediment transport in
Instituto de Estudos Sócio-Ambientais, Universidade rivers, estuaries and coastal seas.  Aqua Publications,
Federal de Goiás, Goiânia. Amsterdam, The Netherlands.
MORAIS, R.P. 2006. A Planície Aluvial do Médio Ara- WERNECK LIMA, J.E.F., DOS SANTOS, P.M.C, CARVALHO,
guaia: processos geomorfológicos e suas Implica- N.O., DA SILVA, E.M. 2003. Araguaia-Tocantins: Diag-
ções Ambientais. Tese de doutorado, CIAMB-Univer- nóstico do Fluxo de Sedimentos em Suspensão na
sidade Federal de Goiás, 145p. Bacia. Brasília: Embrapa, ANEEL, ANA. 116p.
MORAIS, R.P E E. LATRUBESSE. 2000. Dinâmica evoluti-
va dos processos de erosão e sedimentação no canal
do Rio Araguaia no trecho entre Barra do Garças (MT)

WORKSHOP GEOTECNOLOGIAS APLICADAS ÀS ÁREAS DE VÁRZEA DA AMAZÔNIA 69


INDICADORES GEORREFERENCIADOS
PARA A GESTÃO AMBIENTAL NA ÁREA DE
ESTUDO DO PIATAM
EDILEUZA MELO
Inteligência Socioambiental Estratégica da Indústria do Petróleo na Amazônia (Piatam) – Manaus - AM
edileuza.melo@piatam.org.br

ALEXANDRE RIVAS
Universidade Federal do Amazonas - Ufam – Manaus - AM
Inteligência Socioambiental Estratégica da Indústria do Petróleo na Amazônia (Piatam) – Manaus - AM
alex.rivas@piatam.org.br

CARLOS EDWAR FREITAS


Universidade Federal do Amazonas - Ufam – Manaus - AM
Inteligência Socioambiental Estratégica da Indústria do Petróleo na Amazônia (Piatam) – Manaus – AM
carlos.edwar@piatam.org.br

KÁTIA VIANA CAVALCANTE


Universidade Federal do Amazonas - Ufam – Manaus - AM
Inteligência Socioambiental Estratégica da Indústria do Petróleo na Amazônia (Piatam) – Manaus – AM
kcavalcante@ufam.edu.br

RENATA REIS MOURÃO


Inteligência Socioambiental Estratégica da Indústria do Petróleo na Amazônia (Piatam) – Manaus - AM
renata.mourao@piatam.org.br

1. INTRODUÇÃO camadas distintas de informações (layer) correspondentes à


Os indicadores deste estudo foram gerados a partir de in- demografia, condições de habitabilidade, educação, saúde
formações primárias de um Banco de Dados Georreferenciado reprodutiva e economia (Figura 1), bem como a definição da
(BDG) elaborado a partir do diagnóstico sociodemográfico do- melhor forma de representação dos dados, por meio de sof-
miciliar e individual efetuado nas nove comunidades na área tware que permita relacionar uma base cartográfica com um
de atuação do Projeto Piatam: Santa Luzia do Baixio, Nossa b anco de dados.
Senhora das Graças, Nossa Senhora de Nazaré, Bom Jesus,
Santo Antônio, Matrinxã, Lauro Sodré, Esperança II e Santa
Luzia do Buiuçuzinho. Os dados referem-se aos temas: con-
dições de habitabilidade, demografia, educação, saúde repro-
dutiva e economia, entre as quais foram selecionadas algu-
mas variáveis para o cruzamento.
Esses indicadores georreferenciados geram informações
espacializadas que expressam de forma sucinta o perfil so-
cial em diversos níveis, utilizando as geotecnologias também
conhecidas como geoprocessamento. Elas correspondem ao
conjunto de tecnologias para coleta, processamento, análise
e disponibilização de informação com referência geográfica.
As geotecnologias são compostas por soluções em hardware,
software e peopleware que, juntos, constituem poderosas fer- Figura 1 - Níveis ou camadas distintas de informações.
ramentas para tomada de decisão (Fator GIS, 2007).
Segundo Moura (2005), o geoprocessamento é o processa-
mento informatizado de dados georreferenciados que utilizam 2.1 Aquisição e organização dos dados
programas de computador permitindo o uso de informações Inicialmente, foi definida a plataforma de trabalho, isto é, o
cartográficas (mapas e plantas) e outras a que se possa asso- software e hardware, posteriormente, passou-se para o estu-
ciar suas coordenadas. do dos dados a serem utilizados no SIG.
Os mapas elaborados com os indicadores permitem a rea- O SIG é um sistema computacional que permite a associa-
lização de análises de situações complexas através de índices ção de dados gráficos (mapas) e banco de dados alfanumé-
simplificados, quantificáveis e de fácil comunicação. ricos (tabelas), servindo de base à gestão espacial. Permite
Este trabalho tem o objetivo de apresentar a espacializa- ainda a integração e a interação de dados referenciados es-
ção desses indicadores com o uso de técnicas de geoproces- pacialmente, com vistas a produzir análises espaciais como
samento para demonstrar o perfil social das comunidades es- suporte à decisão técnica ou política (Xavier-da-Silva e Zaidan,
tudadas pelo projeto. 2004).

2. METODOLOGIA 2.2 Preparação do banco de dados


A metodologia adotada caracteriza-se pela organização do georreferenciado
banco de dados georreferenciado e pela geração de níveis ou Esse passo operacional envolve a preparação da base de

WORKSHOP GEOTECNOLOGIAS APLICADAS ÀS ÁREAS DE VÁRZEA DA AMAZÔNIA 71


dados em que são inseridas as informações coletadas em 2.3 Base cartográfica
campo por ocasião da realização de entrevistas estruturadas Para a geração da base cartográfica da área das comuni-
(aplicação de questionários), referentes ao diagnóstico socio- dades estudadas foram inicialmente utilizados os arquivos
demográfico das comunidades estudadas pelo Piatam. da base de dados integrada (BDI) do Piatam, que incluem os
Os dados alfanuméricos que compõem o banco de dados limites municipais da área, sedes, localização das comunida-
georreferenciado correspondem, necessariamente, às infor- des, traçados e ramais do gasoduto Coari-Manaus, estradas
mações obtidas pelo diagnóstico e foram incorporadas ao e hidrografia, no formato Shape (SHP), referenciados em um
banco de dados estruturado por meio dos softwares IMPS e sistema de coordenadas geográficas (Figura 4).
SPSS .
O banco de dados georreferenciado (Figura 2) é composto
por dados alfanuméricos que podem ser geométrico ou espa-
cial e não-geométrico ou descritivo, os quais são armazena-
dos numa série de arquivos no computador contendo os da-
dos descritivos e espaciais sobre as feições do mapa.
A partir do banco de dados com as coordenadas X e Y (lat/
long) dos domicílios de cada comunidade, obtidas em levanta-
mento de campo, usando um GPS (Sistema de Posicionamento
Global), foram gerados layers correspondentes às informações
de interesse que serão apresentados posteriormente.

Figura 4 – Base cartográfica da área de estudo.

Figura 2 – Banco de dados georreferenciado. 2.4 Imagens de satélite


A área de estudo foi representada em um mosaico elabora-
O layer é baseado em fontes de dados tabulares que contêm do com imagens TM-Landsat-5, com composição colorida das
localizações geográficas e informações descritivas (atributos) bandas TM3(azul), TM4(verde) e TM5(vermelho). Nesse mo-
das feições. Toda feição tem um único registro na tabela que saico podem-se observar os elementos naturais como os rios
descreve suas características e cada campo da tabela contém (azul escuro/preto), vegetação (verde), as cidades, comunida-
os valores para um atributo particular. des e áreas antropizadas (rosa) e as nuvens, em branco.
No ArcView um layer criado de qualquer fonte de dado es- Esse mosaico serviu de base para a geração da carta-ima-
pacial ou tabular contém em sua tabela um campo denomi- gem (Figura 5) da área de localização das comunidades.
nado shape, que armazena o tipo de feição (ponto, linha ou
polígono) para cada feição.
O ArcView proporciona diversos meios para visualização
dos resultados, possuindo uma interface de fácil entendimen-
to para o usuário final. Por meio dos menus é possível acessar,
através da base cartográfica, o banco de dados. Para isso é
necessário que a tabela de atributos do layer, que se deseja
visualizar as informações, esteja ativa. Com um simples “clic”
sobre a base cartográfica é acessado o banco de dados e des-
tacadas todas as informações sobre a entidade pesquisada,
como mostra a Figura 3.

Figura 5 – Carta imagem da área de estudo.

2.5 Formas de apresentação no SIG


Preparada a base de dados espaciais e os atributos arma-
zenados no banco de dados, iniciou-se a fase de definição dos
procedimentos para a extração das informações que satisfa-
çam as formas de apresentação, obedecendo a critérios de
Figura 3 – Destaque do banco de dados e da base representação cartográfica.
cartográfica com a informação selecionada em amarelo. As representações cartográficas mais adequadas para os
indicadores são: mapas de símbolos proporcionais, de diagra-
mas e de fluxo.

72 WORKSHOP GEOTECNOLOGIAS APLICADAS ÀS ÁREAS DE VÁRZEA DA AMAZÔNIA


Mapas de símbolos proporcionais se referem aos pontos, Como exemplo para a espacialização de dados sobre a te-
porém variam de acordo com a quantidade que representam, mática demografia, a Figura 6 ilustra o percentual da popula-
ao contrário dos mapas de pontos, em que todos os pontos ção residente masculina e feminina das comunidades. Nesta
representam o mesmo valor. Eles podem ser usados para sim- figura os valores em percentuais dos atributos são exibidos
bolizar fenômenos discretos ou contínuos. por meio de gráfico de barra, onde cada barra possui uma cor
Os mapas de diagrama representam valores das variáveis definida pelo usuário.
que estão sendo apresentadas (gráficos de barra, gráficos de A representação percentual de imigração foi melhor espa-
pizza, histogramas, etc.). cializada utilizando símbolos proporcionais. Assim, a Figura 7
Os mapas de fluxo utilizam feições lineares com valores mostra esses percentuais representados por símbolos de co-
associados e cores diferenciadas, representando diferentes res variadas e tamanhos proporcionais ao percentual de cada
categorias para representar mobilidade. comunidade.
Em função disso, foi importante definir a forma final de
apresentação dos resultados. Essa apresentação pode ser fei-
ta através de mapas temáticos adotando os tipos de legenda
disponíveis no ArcView.
Os tipos de legenda que estão disponíveis no ArcView são:
símbolo único (single symbol), valor único (unique value), cor
graduada (graduated color), símbolo graduado (graduated
color), densidade de pontos (dot density) e cartograma (chart
symbol).
Para a apresentação dos resultados, os tipos de legenda
mais adequados foram o cartograma (chart symbol) e o símbo-
lo graduado (graduated color). O primeiro permite a exibição
de atributos de feições usando um gráfico de pizza ou coluna Figura 7 – Representação na forma de símbolos proporcionais
(barra). Cada fatia (gráfico de pizza) ou coluna (gráfico de bar- para o percentual de imigração de cada comunidade.
ra) corresponde a um atributo específico e o tamanho de cada
fatia ou coluna é determinado pelo valor de cada atributo. Este
tipo de legenda é útil para comparar os valores de múltiplos O exemplo utilizado para mostrar a informação relativa à
atributos (por exemplo, a comercialização dos principais pro- emigração foi a representação por fluxos, que simula movi-
dutos por comunidade, etc.). mento e direção (Figura 8).
O segundo tipo de legenda exibe as feições usando um As Figuras 9 e 10 mostram outra forma de exibição para re-
único símbolo que varia em tamanho, representando uma pro- presentar os atributos que caracterizam as condições de habi-
gressão de valores. São úteis para simbolizar os dados que tabilidade. A primeira figura utiliza gráficos de pizza (fatias),
mostram o tamanho ou magnitude. Está disponível no ArcView na qual cada fatia representa o valor percentual do número
para representar dados pontuais e dados lineares. de moradores, por cômodo, utilizado como dormitório, e na
segunda, as fatias representam o percentual de famílias em
relação aos domicílios.
3. APRESENTAÇÃO DOS RESULTADOS
A apresentação final dos resultados pode ser realizada
através de layouts em que estão representados os elementos
básicos que compõem um mapa. Estes elementos, que consti-
tuem a base cartográfica e a carta-imagem são: corpo do mapa,
legenda, barra de escala, seta de norte, título e bordas.
Com isso é possível a geração de mapas temáticos utilizan-
do a base cartográfica, imagem e banco de dados georreferen-
ciado. A edição de todos esses elementos pode ser feita com a
escolha de cores, tipos e tamanhos variados de textos.
As informações temáticas que foram espacializadas e re-
presentadas conforme as ferramentas disponíveis no ArcView
correspondem aos dados de: demografia, habitabilidade, eco-
Figura 8 – Emigração utilizando a forma de representação
nomia, educação e saúde reprodutiva.
tipo fluxo.

Figura 6 – Representação em diagrama (gráfico de barras) do Figura 9 – Representação em diagrama (gráfico de pizza) do
percentual da população residente nas comunidades. percentual de moradores por cômodo servindo de dormitório.

WORKSHOP GEOTECNOLOGIAS APLICADAS ÀS ÁREAS DE VÁRZEA DA AMAZÔNIA 73


Figura 10 – Representação em diagrama (gráfico de pizza) do
percentual de famílias por domicílio. Figura 13 – Representação do percentual da população em
idade escolar usando diagrama (gráfico de barras).
Os exemplos de indicadores de economia foram bem me-
lhor representados em diagrama (gráfico de barra). Assim, as
Figuras 11 e 12 mostram, respectivamente, as ocupações mais
importantes e o rendimento por sexo. O tamanho dos gráfi-
cos foi representado de acordo com os valores percentuais de
cada uma das localidades. Por esse motivo, observa-se que os
gráficos possuem tamanhos diferentes.

Figura 14 – Representação da taxa de analfabetismo usando


diagrama (gráfico de barras).

Figura 11 – Representação em diagrama (gráfico de barras)


das principais ocupações.

Figura 15 – Representação do percentual de mulheres em


idade reprodutiva usando diagrama (gráfico de barras).

Figura 12 – Representação em diagrama (gráfico de barras) 4. CONCLUSÃO


da população (masculina e feminina) que possuem As técnicas de geoprocessamento empregadas para análise
rendimento. em SIG apresentadas neste trabalho permitiram, por exemplo,
a espacialização das informações do diagnóstico sociodemo-
Os exemplos de espacialização dos dados de educação são gráfico domiciliar e individual das comunidades estudadas
observados nas Figuras 13 e 14 e utilizam diagrama (gráfico de pelo Piatam. Esses dados foram coletados e tabulados em
barra) para representar os atributos relativos à idade escolar e trabalhos de campo realizado em setembro de 2006 em cin-
à taxa de analfabetismo nas comunidades. co municípios do estado do Amazonas (Anori, Coari, Codajás,
A representação mostrada na Figura 15 também utiliza o Iranduba e Manacapuru), nas comunidades de Santa Luzia do
gráfico de barra para exemplificar um tipo de indicador em Baixio, Nossa Senhora das Graças, Nossa Senhora de Nazaré,
saúde reprodutiva. Dessa forma, o resultado exibe as barras Bom Jesus, Santo Antônio, Matrinxã, Lauro Sodré, Esperança
com tamanho determinado pelo valor de cada atributo, que II e Santa Luzia do Buiuçuzinho.
corresponde ao percentual de mulheres em idade reprodutiva Essas técnicas permitem estabelecer relacionamentos es-
em cada comunidade. paciais entre as feições geográficas (objetos) e os registros

74 WORKSHOP GEOTECNOLOGIAS APLICADAS ÀS ÁREAS DE VÁRZEA DA AMAZÔNIA


(atributos) que compõem o banco de dados georreferencia- Referências bibliográficas
dos, possibilitando o acompanhamento da dinâmica espaço-
FATOR GIS. O que são geotecnologias? Obtido no
temporal da área de estudo, por meio do manuseio e interação
de grande quantidade de dados.
site: http://www.fatorgis.com.br. Acessado no dia
Dessa maneira, para a espacialização dos indicadores am- 06/07/2007.
bientais aqui apresentados, utilizou-se as ferramentas dispo- MOURA, A.C.M. Geoprocessamento na gestão e plane-
níveis no software ArcView, que possibilitou o manuseio das jamento urbano. 2,ª ed. – Belo Horizonte: Ed. Da au-
informações de forma rápida e segura e, conseqüentemente, tora, 2005.
a realização de análises espaciais e visualização de dados de
forma individual ou associada. Piatam: espacialização dos perfis social e econômico
O conhecimento e a geração de informações adquiridos das comunidades estudadas pelo Piatam/ Melo, E.
com este estudo não encerram os levantamentos para a ge- C.; Costa, M. G.; Queiroz, L. O. (Orgs.). Manaus: EDUA,
ração dos indicadores ambientais dessas comunidades, ao 2007. 144 p.; inclui 100 mapas color, várias escalas,
contrário, abrem novas possibilidades não somente para o em folhas 42x29,7cm.
aprofundamento dos estudos específicos como também a atu-
XAVIER-DA-SILVA, J. e ZAIDAN, R.T. Geoprocessamento &
alização e/ou detalhamento de informações que constituem
um importante referencial para análises ambientais, apoio à
análise ambiental: aplicações / Xavier da Silva, Ricar-
tomada de decisões e instrumentos de gestão ambiental para do Tavares Zaidan (Orgs.). – Rio de Janeiro: Bertrand
fins de elaboração de políticas públicas. Brasil, 2004. 368p.

AGRADECIMENTOS
O desenvolvimento do diagnóstico sociodemográfico do-
miciliar e individual efetuado nas nove comunidades na área
de atuação do Projeto Piatam, que gerou dados para este tra-
balho, só foi possível devido ao apoio da Financiadora de Es-
tudos e Projetos - Finep e da empresa Petróleo Brasileiro S.A
– Petrobrás, por meio do Programa Piatam.

WORKSHOP GEOTECNOLOGIAS APLICADAS ÀS ÁREAS DE VÁRZEA DA AMAZÔNIA 75


TEXTURAL CLASSIFICATION OF R99SAR
DATA AS AN AID TO FLOOD MAPPING IN
COARI CITY, WESTERN AMAZON REGION,
BRAZIL
FERNANDO PELLON DE MIRANDA
Centro de Pesquisas e Desenvolvimento da Petrobras - CENPES
fmiranda@petrobras.com.br

CARLOS HENRIQUE BEISL


Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ/COPPE
beisl@cbrr.coppe.ufrj.br

EDUARDO CELSO GERBI CAMARGO


Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais – INPE
eduardo@dpi.inpe.br

1. Introduction 70.99 o (far range). In order to cover the entire test site initially
Synthetic Aperture Radar (SAR) L-band data constitute an requested, sixteen strips of data were obtained. The R99SAR
invaluable tool to map flood inundation beneath forest cano- data were processed at the SIPAM operational center in Ma-
pies. The accurate delineation of the extent of inundation pro- naus, generating 16-bit images geometrically co-registered
vides important information that can guide management deci- and with no radiometric calibration.
sions in the event of oil spills in a high sensitivity area such as Considering the initiative to adapt the acquired R99SAR
the Amazon floodplain. data to the MAPSAR mission, all the strips were joined together
MAPSAR (Multi Application Purpose SAR) is a Brazilian- in order to compose a resampled mosaic with approximately 10
German initiative to produce a multipolarimetric, spaceborne meters of spatial resolution. As the incidence angle interval of
L-band SAR system with high-resolution capability as an aid to MAPSAR ranges from 20o to 45o, only the interval from 39.57o
assessment and monitoring of natural resources. The objective to 45o of each strip was used in this mosaic. This corresponds
of the present study is to simulate potential MAPSAR results in to an average width of 4 km at the near range of each strip. As a
the floodplain region near Coari City. result, SAR image mosaics of LHH, LHV and LVV configurations
were composed (Figures 1, 2, and 3).
The individual R99SAR image mosaics were processed
using the Unsupervised Semivariogram Textural Classifier
2. Test Site (USTC). Promising results using this classification approach in
Petrobras built a pipeline that transports 50 thousands bar-
the Western Amazon were obtained by Miranda et al. (2005).
rels of oil per day from the Urucu oil and gas province to the
USTC is a deterministic classifier, which provides the option
Solimões Terminal (TESOL) in the vicinities of Coari City. This
of combining both textural and radiometric information. Ra-
oil is then shipped to another terminal in Manaus using the
diometric information is conveyed by the despeckled digital
fluvial route of the Solimões River. TESOL is located in an area
number (DNdsp) value. The speckle noise reduction algorithm
characterized by a flat landscape, in which topographic varia-
to be used is the adaptive Frost filter. Textural information is
tions range approximately from 35 to 70 meters. Water level
described by the shape and value of the circular semivario-
changes between dry and wet seasons usually reach a diffe-
gram function.
rence of 14 meters. As a result, the extension of flooding can
reach up to 30 kilometers beyond the Solimões River banks
at the high flood season, in which flooded forest and flooded
vegetation form the most oil-sensitive habitats. 4. Results
4.1 DN statistics and semivariogram behavior
3. Methodology The Unsupervised Semivariogram Textural Classifier (USTC)
Data acquisition at Coari City was carried out on 01 June was used to discriminate and map cover types associated
2006, high-flood season, using the L-band (quad-pol) Synthe- to the following scattering mechanisms: (1) predominantly
tic Aperture Radar (SAR) system, known as R99SAR, which is forward scattering (flooded vegetation with low to intermedia-
installed onboard the SIPAM (System for the Protection of the te values of biomass above water, but also pasture and clear
Amazon) aircraft. This acquisition is part of the MAPSAR Mis- cuts); (2) specular reflection (mostly open water and airstrips);
sion simulation. (3) diffuse backscatter (upland forest); (4) double bounce
The quad-pol L-band airborne R99SAR data were acquired (mostly flooded forest, but also urban areas).
using a NNE-SSW flight path with a swath width of 20 km (dis- Considering knowledge gained in previous field campaigns
tance from nadir varying from 14.63 km in the near range to in the Coari region, image samples of arbitrary size (11 rows by
34.62 km in the far range) and 6 meters of ground spatial reso- 11 pixels) were selected as representative of the aforementio-
lution. The incidence angle ranges from 39.57o (near range) to ned surface cover types. They were used to obtain DN statistics

WORKSHOP GEOTECNOLOGIAS APLICADAS ÀS ÁREAS DE VÁRZEA DA AMAZÔNIA 77


and semivariograms, as well as to verify the performance of and a large number of small lakes, as well as the airstrip of
the USTC classification by means of the confusion matrix. DN the Coari airport. Pixels classified as related to predominantly
statistics for each surface cover type and for different polariza- forward backscatter (cyan) are interpreted as flooded vegeta-
tion configurations are shown in Tables 1, 2, and 3. tion (macrophyte stands) that mostly surrounds water bodies
Semivariograms computed for each cover type per polariza- in the high flood season. In such a climatic context, classified
tion configuration are shown in Figure 4. Water semivariograms pixels also include the tree tops where only the canopy crown
are essentially flat for all polarizations. For flooded vegetation, is exposed above water. Furthermore, clear cuts are charac-
at LHH and LHV, γ (h) rises up to a lag distance of 4 pixels, then terized by DN range and textural signature similar to flooded
curves into a flat plateau. In LVV configuration, γ (h) rises up to vegetation. This aspect is better observed at HV and VV pola-
a lag distance of 3 pixels, curves into a flat plateau up to a lag rizations.
distanced of 7 pixels, and then regularly increases. For upland Figure 4 - Semivariograms of R99SAR 11x11-pixel samples
forest, the semivariogram at LHH presents a regular increase obtained from the (A) LHH, (B) LHV and (C) LVV image mosaic-
of γ (h). In LHV configuration, γ (h) rises up to a lag distance sAreas interpreted as upland forest (green) are characterized
of 6 pixels, and then steadily decreases. At LVV, γ (h) steadily by diffuse backscatter. This surface cover type is spatially do-
increases up to a lag distance of 7 pixels, and then reaches a minant in all three polarizations. Flooded forest is characteri-
flat plateau. Results for flooded forest indicate that γ (h) incre- zed by the double bounce mechanism (yellow), which occurs in
ases smoothly and regularly in LHH configuration. At LVV, γ (h) areas of alluvial influence. This mechanism is better observed
rises up to a lag distance of 3 pixels, then smoothly decreases. in the LHH configuration, although LVV is capable of mapping
At LHV, γ (h) rises up to a lag distance of 3 pixels, then curves some double bounce. Such an effect is not observed in the LHV
into a flat plateau. configuration.

Table 1 – DN statistics of 11x11-pixel samples in the L-band, Table 4 – Confusion matrix (LHH) for USTC classification
HH polarization

VEGETATION
LHH CONFIGURATION %

FLOODED

FLOODED
UPLAND
PIXELS

FOREST

FOREST
FLD. UPL. FLD.

WATER
DN STATISTICS WATER CLASS (HH)
VEG. FOR. FOR.
Median: 106 21 177 243 WATER 100 0 0 0
FLOODED
Mean: 104.0 20.9 174.8 241.6 0 90.9 9.1 0
VEGETATION
Variance: 231.0 4.0 462.2 81.0 UPLAND FOREST 0 0 100 0
FLOODED
0 0 0 100
Table 2 – DN statistics of 11x11-pixel samples in the L-band, FOREST
HV polarization Table 5 – Confusion matrix (LHV) for USTC classification
LHV CONFIGURATION VEGETATION
%
FLOODED

FLOODED
FLD. UPL. FLD.

UPLAND
PIXELS

FOREST

FOREST
DN STATISTICS WATER
WATER

VEG. FOR. FOR.


CLASS (HV)
Median: 63 33 136 185
Mean: 62.8 33.3 135.8 183.3 WATER 100 0 0 0
FLOODED
Variance: 70.5 7.8 313.2 256.0 0 100 0 0
VEGETATION
UPLAND FOREST 0 0 100 0
Table 3 – DN statistics of 11x11-pixel samples in the L-band,
VV polarization FLOODED
0 0 98.3 1.7
FOREST
LVV CONFIGURATION
FLD. UPL. FLD. Table 6 – Confusion matrix (LVV) for USTC classification
 DN STATISTICS WATER
VEG. FOR. FOR.
VEGETATION

%
FLOODED

FLOODED

Median: 185 20 194 242


UPLAND

PIXELS
FOREST

FOREST
WATER

Mean: 182.2 20.7 193.8 240.4 CLASS (VV)

Variance: 497.2 4.8 272.2 121.0


WATER 100 0 0 0
FLOODED
0 0 100 0
VEGETATION
4.2 USTC Classification
Semivariograms of different surface cover types for each UPLAND FOREST 0 0 100 0
polarization configuration are clearly distinct (Figure 4), justi-
FLOODED
fying the application of USTC to the R99SAR image mosaics. 0 0 0 100
FOREST
Classification results in the Coari test site for individual LHH,
LHV and LVV image mosaics are shown in Figures 1, 2 and 3, Confusion matrixes for the 11x11-pixel samples used in USTC
respectively. classification of LHH, LHV and LVV image mosaics are shown in
Pixels classified as pertaining to specular reflection (blue) Tables 4, 5 and 6, respectively. The LHH configuration presents
outline water bodies, such as the Solimões River, Coari Lake, the best classification results, where only 9.1% of flooded ve-

78 WORKSHOP GEOTECNOLOGIAS APLICADAS ÀS ÁREAS DE VÁRZEA DA AMAZÔNIA


Figure 1 – R99SAR original LHH image mosaic (A), and corresponding USTC classification result (B). Pixels are labeled as: water
(blue) = 34.8%; flooded vegetation (cyan) = 2.4%; upland forest (green) = 54.1%; flooded forest (yellow) = 8.7%.

Figure 2 – R99SAR original LHV image mosaic (A), and corresponding USTC classification result (B). Pixels are labeled as: water
(blue) = 34.6%; flooded vegetation (cyan) = 3.2%; upland forest (green) = 62.1%; flooded forest (yellow) = 0.1%.

WORKSHOP GEOTECNOLOGIAS APLICADAS ÀS ÁREAS DE VÁRZEA DA AMAZÔNIA 79


Figure 3 – R99SAR original LVV image mosaic (A), and corresponding USTC classification result (B). Pixels are labeled as: water
(blue) = 35.2%; flooded vegetation (cyan) = 3.0%; upland forest (green) = 57.8%; flooded forest (yellow) = 4.1%.

Table 7 – Covariance (A) and correlation (B) matrixes of the R99SAR image mosaics
(A) COVARIANCE MATRIX (B) CORRELATION MATRIX
  HH HV VV   HH HV VV
HH 6109.21   HH 1.0000  
HV 4257.20 3310.94   HV 0.9466 1.0000  
VV 6275.12 4583.54 6926.38 VV 0.9646 0.9571 1.0000

getation is misclassified as upland forest. processed (Figure 5). Results of LHH+LHV USTC classification
Regarding the LHV image mosaic, the confusion matrix constituted an improvement in the delineation of some surfa-
highlighted that 98.3% of flooded forest is misclassified as ce cover types (mostly flooded vegetation and clear cuts).
upland forest. This result can be explained by visual inspection The confusion matrix for LHH+LHV USTC classification is
of semivariograms in Figure 4B, in which both surface cover shown in Table 8, where 100% of pixels are correctly classified
types present similar behavior. Furthermore, the double boun- for water, upland forest and flooded forest. A limited misclas-
ce mechanism characteristic of flooded forest is not observed. sification is observed for flooded vegetation (1.7% of pixels is
The confusion matrix for the LVV image mosaic shows that pi- misclassified as upland forest). The confusion matrix of Table
xels in the flooded vegetation sample are completely misclas- 8 presents better results if compared with the ones correspon-
sified as upland forest. ding to the individual mosaics (Tables 4, 5, and 6).

4.3 Analysis of covariance and correlation


matrixes 5. Conclusions
The analysis of covariance and correlation matrixes enables R99SAR data were successfully processed in order to ge-
the interpreter to choose pairs of images that best highlight nerate co-registered, uncalibrated multipolarimetric image
surface cover types. Such an approach was applied to the mul- mosaics (LHH, LHV, and LVV). Calculated semivariograms from
ti-polarized L-band R99SAR image mosaics (Table 7). Results selected sample sites presented distinct signatures, thus jus-
demonstrate that LHH and LVV present the best correlation, tifying the use of the USTC classifier. The observation of confu-
while the least correlated pair is LHH and LHV. sion matrixes for classification results demonstrated that the
In order to improve overall results of the USTC classification, LHH configuration yielded the best results for the individual
the least correlated pair of Table 7B (LHH and LHV) was jointly mosaics.

80 WORKSHOP GEOTECNOLOGIAS APLICADAS ÀS ÁREAS DE VÁRZEA DA AMAZÔNIA


Figure 4 - Semivariograms of R99SAR 11x11-pixel samples obtained from the (A) LHH, (B) LHV and (C) LVV image mosaics

Table 8 – Confusion matrix (LHH+LHV) for USTC classification

VEGETATION
FLOODED

FLOODED
UPLAND
%

FOREST

FOREST
WATER
PIXELS
CLASS (HH+HV)

WATER 100 0 0 0
FLOODED
VEGETATION 0 98.3 1.7 0

UPLAND FOREST 0 0 100 0


FLOODED
FOREST 0 0 0 100

In order to further improve the proposed approach, the le-


ast correlated mosaics (LHH and LHV) were jointly processed.
The resulting confusion matrix presented better results if com-
pared with the ones corresponding to the individual mosaics.
Therefore, it has been demonstrated that information derived
from R99SAR data is easy to interpret and constitutes a useful
representation of areas with high oil sensitivity in the Amazon
rain forest.

6. Reference
Miranda, F.P., Beisl, C.H., Forsberg, B.R., Arruda, W., Pe-
droso, E.C. Application of seasonal JERS-1 SAR full
resolution image mosaics for identification of oil spill
sensitivity in Western Amazonia, Brazil. In: I Congres-
Figure 5 – USTC classification result of LHH+LHV image so Internacional do Piatam: Ambiente, Homem, Gás
mosaics. Pixels are labeled as: water (blue) = 34.7%; flooded e Petróleo. Anais do 1º Congresso Piatam: Ambiente,
vegetation (cyan) = 3.2%; upland forest (green) = 54.7 %; Homem, Gás e Petróleo, Manaus, 2005, p. 153.
flooded forest (yellow) = 7.4%

WORKSHOP GEOTECNOLOGIAS APLICADAS ÀS ÁREAS DE VÁRZEA DA AMAZÔNIA 81


BALANÇO DO FLUXO DE SEDIMENTOS
EM SUSPENSÃO DA BACIA AMAZÔNICA
NAZIANO FILIZOLA
NÚCLEO DE METEOROLOGIA E HIDROLOGIA - UNIVERSIDADE DO ESTADO DO AMAZONAS – UEA
PIATAM - PETROBRAS/CEAP - AMAZÔNIA
naziano.filizola@yahoo.com.br

JEAN LOUP GUYOT


INSTITUTO FRANCÊS DE PESQUISAS PARA O DESENVOLVIMENTO – IRD, LIMA, PERU.
jean-loup.guyot@ird.fr

1. Introdução impõe, também, que se leve em conta a variabilidade tempo-


Desde a Antiguidade os rios constituem uma conexão fun- ral das concentrações. Uma terceira dificuldade diz respeito à
damental entre as civilizações. O rio Amazonas, cuja bacia é o resposta temporal da bacia de drenagem aos eventos hidroló-
objeto deste texto, não foge à regra. Por suas águas se cruzam gicos. No entanto, para uma mesma vazão podem correspon-
e depois se encontram as civilizações ameríndias e a dos con- der concentrações de MES bastante diferentes. Tal fato já foi
quistadores europeus, assim como os povos africanos, trazi- observado em diferentes cursos d’água, como por exemplo no
dos por estes últimos. rio Oubangui, no Congo (Olivry et al., 1989), no rio Madeira,
Para a ciência os rios representam um objeto de estudo especialmente na Alta bacia na Bolívia (Guyot, 1993) e no rio
privilegiado situado no cruzamento de numerosas disciplinas Amazonas, no Brasil (Filizola, 1999).
como a hidrologia, a geomorfologia, a geoquímica ou a ecolo- O essencial da literatura científica, tratando dos balanços
gia. Especificamente ao que concerne à hidrologia, o rio e sua de erosão, considera, de modo implícito, que o transporte de
bacia de drenagem constituem uma unidade funcional para o sólidos de um rio, considerado em função da superfície de
ciclo da água, bem como um espaço integrador privilegiado sua bacia de drenagem, corresponde a uma taxa de erosão
para o estabelecimento de balanços ou ainda de validação de média da bacia. Esta hipótese, raramente colocada em ques-
modelos de alteração e erosão. Portanto, os rios estão no co- tão, supõe a existência de um equilíbrio interno ao rio entre os
ração do ciclo dos elementos, transportando para os oceanos fenômenos de erosão das margens, o transporte e a sedimen-
a matéria sublevada dos continentes. tação (Chapman, 1992; Long, 1989). A erosão das margens,
Os rios respondem muito rápido às condições do meio exis- raramente medida, ou a existência de lagos ou de barragens
tente na superfície dos continentes, em alguns meses para o artificiais, por exemplo, podem modificar a quantidade de se-
caso do transporte em solução, e em alguns anos para o caso dimentos transportados e, por conseguinte, afetar a estimati-
do transporte em suspensão. Portanto, são particularmente va da taxa de erosão de uma bacia. Assim, somente um estado
sensíveis à toda mudança, seja ela climática ou resultante de estacionário entre deposição de sedimentos e sua retomada
atividades humanas (antropismo). pelo próprio rio, permite considerar que a determinação do
A erosão é um conjunto de processos complexos, responsá- fluxo sólido é uma medida direta da taxa de erosão de sua
veis por aplainar o relevo, formar os solos e transferir os sedi- bacia de drenagem.
mentos. Tais processos estão implicados no ciclo de evolução
de uma rocha, desde a sua desagregação mecânica ou de sua 1.1 Aportes globais de MES aos oceanos e o
alteração química até o seu transporte até o oceano (Mane-
papel das grandes bacias tropicais
aux, 1988). Numa rede hidrográfica os rios exportam para os
As grandes bacias fluviais tropicais representam 25% das
oceanos uma grande parte dos materiais incluídos no proces-
terras emersas dos continentes e 57% da água doce disponí-
so de erosão, tanto sob forma dissolvida como particulada. As
vel na superfície do planeta e são responsáveis por 50% dos
partículas são colocadas em movimento sob a forma de Maté-
aportes sólidos (MES) e 38%
ria Em Suspensão (MES) ou de transporte de fundo (transporte
dos aportes em solução. Ainda, as maiores taxas de ero-
por arraste). As MES, em seus componentes inorgânicos, ge-
são são observadas nas bacias hidrográficas situadas na faixa
ralmente expressas em mg.l-1, são constituídas essencialmen-
tropical e, particularmente, naquelas que drenam cadeias de
te de silte e argila e mais raramente de areia (dependendo da
montanhas ativas (Pinet & Souriau, 1988; Milliman & Syvitzki,
classificação sedimentológica utilizada) e se movimentam, por
1992; Summerfield & Hulton, 1994), como os Andes, por exem-
definição, à mesma velocidade da corrente. Assim, cada par-
plo. As taxas de erosão são condicionadas por diversos fatores
tícula é submetida à força da gravidade e, também, à força da
ligados à temperatura, à intensidade de chuvas e ao escoa-
corrente, que varia constantemente, pois no meio natural essa
mento das águas superficiais, que influenciam na desagrega-
grandeza é extremamente mutável. Desse equilíbrio de forças
ção dos solos e na cobertura vegetal. Ademais, a litologia e o
é que depende o gradiente de concentração de MES entre a
relevo determinam igualmente as condições de escoamento
superfície e o fundo do curso d’água, bem como a proporção
das águas da bacia. Os processos de erosão, de transporte e
de massa transportada em suspensão e por arraste (Edwards
de sedimentação são, portanto, sensíveis às mudanças climá-
& Glysson, 1988). Essa observação impõe dificuldades na de-
ticas globais (Julien, 1995, Aalto et al., 2003). Neste contex-
terminação da quantidade de sedimentos exportados por um
to, o relevo e o clima são os principais motores da dinâmica
rio. De um lado ela impõe a necessidade do cálculo de uma
de transferências de matéria na superfície da Terra. No caso
média integradora da totalidade das MES numa seção molha-
das grandes bacias continentais, como é a bacia amazônica,
da de um rio, em uma determinada localidade, e de outro ela
a pressão antrópica como desmatamento, atividades agríco-

WORKSHOP GEOTECNOLOGIAS APLICADAS ÀS ÁREAS DE VÁRZEA DA AMAZÔNIA 83


las, exploração mineral e urbanização, feitas sem controle e graphy and Quaternary history in Tropical Américas (Whitmore
ocorrendo já há alguns anos (Sternberg, 1975; 1995), apre- & Prance, 1987), dentre outras. As publicações científicas de
sentam uma influência não-negligenciável sobre o processo maior peso tiveram forte impacto nas políticas científicas e
de erosão. Os resultados dessas atividades humanas geram socioeconômicas de muitos países amazônicos e favoreceram
modificações na cobertura vegetal e nos solos que, em seu um engajamento importante não só da comunidade científica
tempo, induzem modificações no regime climático (Shukla et internacional, mas também de cientístas nacionais. Um outro
al., 1990). exemplo da importância dessas publicações mais diretamente
identificado com esta publicação é o texto de Junk (1982) quan-
to ao estudo e desenvolvimento das várzeas. Para o caso da
2. a importância da bacia hidrologia, propriamente, trabalhos como os do United States
Geological Survey (USGS), de universidades estadunidenses
amazônica em associação com o governo do Brasil e da Venezuela, bem
Bacia tropical, por excelência, a bacia amazônica possui um como com universidades aqueles países (Richey et al., 1986 e
dos ecossistemas mais ricos do mundo. Esta bacia se estende Meade et al., 1990) deram muito impulso aos estudos dos rios
por cerca de seis milhões de km2 (5% das terras emersas con- amazônicos. Da mesma maneira os estudos do ex-ORSTOM,
tinentais), aporta ao oceano um volume de água de aproxima- atual Instituto Francês de Pesquisas para o Desenvolvimento
damente 6,6.1012m3.ano-1, o que corresponde de 16% a 20% (IRD) possibilitaram o estabelecimento de uma rede de pes-
do total das águas doces continentais (Molinier et al., 1996), quisas hidrológicas nos diferentes países amazônicos, apoia-
dependendo do modo como se computam essas águas (ape- da nos trabalhos dos serviços nacionais de hidrologia (Filizo-
nas Brasil ou toda a área da bacia). De forma incontestável, a la, 1999 e 2003). Essa rede, atualmente em operação, envolve
bacia amazônica é a maior bacia hidrográfica do mundo. Brasil, Equador, Bolívia, Peru, Colômbia, Guiana Francesa e
Ela apresenta características climáticas e topográficas con- Venezuela, e funciona como um consórcio internacional para
trastantes. A parte oriental da bacia de drenagem é caracte- a coleta e disponibilização de dados à comunidade científica
rizada por uma cadeia de montanhas ativas, os Andes, que internacional na temática da hidrologia e da geoquímica dos
correspondem a 12% da superfície total da bacia, porém apor- rios amazônicos (www.ore-hybam.org).
tam a quase totalidade da MES transportada pelos grandes
rios amazônicos na planície (Sioli, 1950; 1964; Gibbs, 1967;
Meade et al., 1985; Guyot et al., 1994; Filizola, 1999 e Filizola, 2.1 Erosão e transporte sedimentar na bacia
2003). A vasta planície amazônica, onde áreas de sedimenta- amazônica
ção podem ser identificadas (Guyot, 1993; Baby et al., subme- O estudo do fluxo de matéria transportado pelos cursos
tido), encontra-se rodeada por terrenos geologicamente muito d’água formadores do Amazonas permite à comunidade cien-
antigos (pré-cambrianos), correspondentes aos escudos Bra- tífica aprender mais sobre: processo de erosão em curso na
sileiro e das Guianas. Englobando todas essas unidades mor- cadeia andina (Baby et al., in press); erosão/sedimentação na
foestruturais, o relevo varia desde o nível do mar até mais de planície, com a conseqüente fertilização das várzeas; e nos
6.000m de altitude, a pluviosidade varia de 100 até cerca de escudos pré-cambrianos (Brasileiro e das Guianas); proble-
5.000 mm.ano-1 e a vegetação é em grande parte constituída mas ligados ao impacto antrópico decorrente da ocupação e
por 70% de floresta tropical úmida. do desmatamento e, também, avaliar alguns possíveis efeitos
Durante os anos 70 e 80 o ecossistema amazônico come- das mudanças climáticas globais.
çou a ser estudado de modo mais intenso pela comunidade Os fluxos sólidos da bacia amazônica são estudados desde
científica internacional e também a estar bastante presente os anos 1950/1960. Esses estudos mostraram ser os Andes a
na mídia. Tal fato favoreceu a inserção de diferentes projetos principal fonte de sedimentos para os rios amazônicos (Sioli,
científicos multidisciplinares, sendo que os resultados deram 1964; 1984; Gibbs, 1967; Guyot, 1993; Filizola, 1999, 2003).
origem a diferentes publicações marcantes na literatura cien- Na região da planície amazônica, processos de estocagem
tífica internacional de síntese: The Amazon (Sioli, 1984); Key (sedimentação) e de ressuspensão já foram observados (Sch-
environments: Amazônia (Prance & Lovejoy, 1985); Biogeo- midt, 1972). Tais fenômenos foram associados a mudanças
no gradiente hidráulico ao curso do ciclo hidrológico (Meade,
1985; 1988; Richey et al., 1986; Ferreira et al., 1988; Dunne
et al., 1998). As estimativas do fluxo de MES exportadas pelo
Amazonas aos oceanos variam no tempo, segundo os autores:
500.106 ton.ano-1 (Gibbs, 1967), 800-900.106.ton.ano-1 (Meade
et al., 1979), 1.100 a 1.300.106 ton.ano-1 (Meade et al., 1985; Ri-
chey et al., 1986; Meade et al., 1988). Em 1999, Filizola propôs
uma retomada do valor inicialmente calculado por Bordas et
al. (1988; 1991) como sendo 600.106 ton.ano-1. Esses valores
foram revistos por Filizola (2003) que ampliou a faixa de va-
riação para valores entre 600-800.106.ton.ano-1, utilizando vá-
rios modos de abordagem, o que foi confirmado por Guyot et
al. (2005) e desde então vem sendo acompanhado pela rede
Ore-Hybam que, no Brasil, é gerenciada por uma base técnica
instalada em Manaus-AM (Filizola et al., submetido).

Figura 1. A Bacia Amazônica com suas 4 principais unidades 3 Objetivos e modo de abordagem
morfo-estruturais (1-Cadeia Andina; 2-Escudo das Guianas; Dentro do contexto este artigo pretende apresentar uma
3-Escudo Brasileiro e 4-Planície fluvial) e seus principais breve síntese dos últimos trabalhos desenvolvidos sobre o
cursos d’água. Fonte: modificado de Filizola (2003). fluxo de MES na bacia amazônica, em especial, destacando

84 WORKSHOP GEOTECNOLOGIAS APLICADAS ÀS ÁREAS DE VÁRZEA DA AMAZÔNIA


os resultados obtidos sob diferentes métodos de abordagem Assim, primeiramente, utilizou-se da base de dados de MES
do problema, notadamente aqueles utilizados por Filizola do Programa Hibam, obtidos em oito campanhas de campo
(2003), Guyot et al. (2005) e Laraque et al. (2005). É utiliza- realizadas no período de 1995 a 1998, ao longo dos grandes
da uma abordagem espacial buscando ilustrar um quadro ge- rios amazônicos: Negro, Solimões, Japurá, Javari, Içá, Juruá,
ral do que se imagina esteja ocorrendo atualmente na bacia Jutaí, Purus, Madeira, Tapajós, Trombetas e Xingu (Figura 3). A
amazônica em termos do fluxo de MES. Apresenta resultados metodologia de coleta utilizou de amostrador pontual de gran-
de balanços sedimentométricos compilados sobre uma base de volume desenvolvido especialmente para o estudo (Filizo-
cartográfica/hidrográfica da bacia amazônica construída no la e Guyot, 2004). Com tal equipamento foi possível realizar
escopo do Programa Hibam com uso de imagens Jers (Muller amostragens de até 12 litros de água, a várias profundidades,
et al., 2000), que leva em consideração as “áreas de contri- na seção molhada, indo desde a superfície até bem próximo
buição hidrológica” a montante de cada estação hidrométrica do fundo, sob a supervisão de um Acoustic Doppler Currente
da rede hidrometeorológica brasileira, hoje sob a responsabi- Profiler (RDInstruments, 1989), que também media a vazão do
lidade da Agência Nacional de Águas – ANA, (hidroweb.ana. rio na mesma seção. Além disso, parâmetros físico-químicos
gov.br) e também as estações operadas pelo Programa Hibam, básicos de controle (pH, temperatura, condutividade elétrica e
desde 1995 (Figura 2). turbidez) foram tomados a cada ponto amostrado. Seguindo
A abordagem aqui adotada para o balanço de MES retoma esse procedimento foram coletadas 679 amostras pontuais de
aquela de Filizola (2003), porém de forma mais resumida e água para MES em 39 localidades distintas, nas quais foram
atualizada. Assim, por essa metodologia, foram tratadas três também realizadas 89 medições de vazão no período citado,
fontes de dados básicos, cada qual implicando num modo de em diferentes épocas do ciclo hidrológico.
abordagem diferenciado, a não ser pela equação do balanço Em uma segunda abordagem, utilizou-se de dados da rede
utilizada, que é a mesma do balanço de massa, ou seja: de estações de referência do Programa Hibam construída
sobreposta à rede da ANA, aproveitando a infra-estrutura já
QSa+QSb+...+QSn+Σ=QSx (1) existente, em: Serrinha, no rio Negro; Óbidos, no rio Amazo-
nas; Manacapuru e Tabatinga, no rio Solimões; Fazenda Vista
Para o caso da equação (1), QSa é o fluxo de MES medido Alegre, no Rio Madeira; Itaituba, no rio Tapajós e Altamira, no
numa estação “a” a montante do ponto “c” num determinado rio Xingu (Figura 4). Tais estações coletaram no mesmo perí-
curso d’água A. QSb é o fluxo de MES medido numa estação odo de tempo das campanhas amostras de água a 500ml de
“b” a montante do mesmo ponto “c”, porém num curso d’água volume, para determinação de MES, com uma freqüência de
B. QSn é o fluxo de MES medido numa estação “n” a montante uma amostra a cada 10 dias. Porém, essas amostras foram
do mesmo ponto “c”, porém no enésimo curso d’água. QSx é tomadas sempre à superfície. Um trabalho de calibração efe-
o fluxo de MES na estação, ou ponto “x” num curso d’água X tuado por Filizola (2003) correlacionou essas amostras, toma-
(que pode ser um dos citados, A ou B, ou ainda um enésimo). das em superfície ([MES]sup), com as da seção total ([MES]tot),
Σ é um valor positivo ou negativo conforme o efeito havido no obtidas durante as campanhas de campo. Naquelas campa-
trecho considerado entre os pontos “a”, “b”, “n” e “c” (a área nhas, já citadas, os levantamentos pontuais na seção total
de contribuição hidrológica), ou seja, para sedimentação: Σ foram realizados em maior detalhe, em diversas verticais, em
será negativo e para ressuspensão ou produção de MES no profundidade e também em superfície, permitindo, assim, ob-
trecho: Σ será positivo. ter equações que correlacionam [MES]tot=f[MES]sup. No total,
Os valores do balanço foram tomados como representativos foram analisados os resultados de 883 amostras, obtidos de
das respectivas “áreas de contribuição hidrológica” a montan- Filizola (2003).
te de cada estação. Apesar de saber que os fenômenos acon- Finalmente, o terceiro modo de abordagem incluiu o uso
tecem verdadeiramente ao longo do canal do curso d’água e de bases de dados nacionais - Brasil e Bolívia, oriundos das
da contígua planície de inundação, adotou-se tal procedimen- redes hidrométricas daqueles países. Do Brasil, onde a rede
to apenas para facilitar uma representação espacial geral. está sob a responsabilidade da Agência Nacional da Águas
(ANA), foram utilizados resultados de mais de 9.000 amostras
coletadas desde os anos 70 até o ano 2000 (período conside-
rado neste estudo) em uma rede de 60 estações distribuídas
pela bacia no Brasil. Na Bolívia utilizou-se da base de dados

Figura 2 – Mapa com a indicação das estações


sedimentométricas da ANA (quadrados brancos) que
serviram de fechamento para a construção das “áreas de Figura 3 – Ilustração dos trechos de rios percorridos pelas
contribuição hidrológica” (linhas pretas) segundo Muller et campanhas HIBAM durante o período de 1995 a 1998 nos
al., (2000). Fonte: Filizola (2003). principais rios da Bacia Amazônica. Fonte: Filizola (2003).

WORKSHOP GEOTECNOLOGIAS APLICADAS ÀS ÁREAS DE VÁRZEA DA AMAZÔNIA 85


Solimões e Madeira contribuem praticamente com o mesmo
fluxo de MES e a tendência de deposição (sedimentação) se
amplia (-64%), para valores da mesma ordem de grandeza do
QS observado para o mês de março. No mês de maio o rio Ama-
zonas, em Óbidos, chega a seu nível máximo. Nesse período
o rio Solimões apresenta uma participação mais forte no fluxo
sólido em Óbidos do que aquele do rio Madeira. A tendência
de deposição continua (-26%) com um QS comparável àquele
observado em março e abril. Em junho, a descarga líquida em
Óbidos começa a diminuir e o fluxo sedimentar cai pela meta-
de (1,6.106ton.dia-1), o essencial dos aportes sólidos vem do
rio Solimões. A tendência se inverte com o aumento da descar-
ga sólida em Óbidos (+26%). Em julho, a descida das águas
continua em Óbidos e o rio Solimões continua a fornecer o
Figura 4 – Localização das estações de referência do essencial da descarga sólida, da mesma ordem de grandeza
Programa HIBAM sobre o mapa das estações hidrométricas que em junho. Os aportes particulados são curiosamente mais
da ANA na Amazônia. Fonte: Modificado de Filizola (2003). importantes (três vezes maiores) no rio Negro do que sobre o
rio Madeira, nessa época do ano, que se caracteriza, também,
Phicab (IRD, Semamhi, Umsa), hoje sob a responsabilidade pela continuação do aumento do fluxo sedimentar em Óbidos
do Serviço Nacional de Hidrologia e Meteorologia da Bolívia (+56%). Esse fenômeno é tradicionalmente atribuído à ressus-
(Semamhi), com mais de 27.100 amostras realizadas. Neste pensão de MES depositado no curso dos meses precedentes,
trabalho, no entanto, apenas dados das principais estações porém, é igualmente possível que boa parte das MES seja de
brasileiras serão descritos para fins de comparação dos três origem orgânica. Nenhuma campanha Hibam foi realizada em
modos de abordagem aqui descritos. agosto e setembro nos anos aqui considerados. Nas campa-
Essas amostras foram coletadas, em sua maioria, utilizando nhas realizadas em outubro (1996 e 1998), no período de des-
método de integração vertical por igual velocidade de trânsito, cida das águas, percebe-se muitas semelhanças com o fluxo
fazendo uso de amostradores da série americana (Carvalho et sedimentar observado em Óbidos, da ordem de 300 a 400
al., 2002; Guyot, 1993), no caso da Bolívia (amostradores pon- 103ton.dia-1. Papel preponderante tem o rio Solimões (QS de 74
tuais também), e a vazão foi medida com o uso de molinete a 85% do total em Óbidos). Nesse período, também, o QS do
hidrométrico. No Brasil, a maior parte das amostras foram co- rio Negro é superior ao do rio Madeira. No entanto, a tendên-
letadas pela CPRM, o Serviço Geológico do Brasil, através de cia para outubro de 1996 foi de deposição (-27%), enquanto
suas superintendências e escritórios nos estados da região. que para o mesmo mês do ano de 1998 a tendência foi de um
Os dados foram processados e enviados para a ANA de modo forte aumento (+46%). O mês de novembro (já que nenhuma
semelhante ao reportado por Filizola (1999). Após uma análise campanha foi realizada nos meses de dezembro a fevereiro), é
prévia e básica de consistência, os dados passaram a compor considerado o mês de águas mais baixas. Ele é marcado pelo
a base de dados daquela agência, acessível on-line, pelo site impacto do rio Solimões que explica 75% da vazão e 97% do
já reportado. fluxo sedimentar total observado em Óbidos. Nessa época do
Assim, nesse estudo se faz uma compilação dos resultados ano o fluxo particulado que é da mesma ordem de grandeza
dos três modos de abordagem acima indicados e se propõe do que em outubro, apresenta forte déficit (-108%), represen-
um mapa geral de situação e uma tabela de valores no que tando uma forte sedimentação na porção do Baixo Amazonas.
diz respeito ao balanço, ao fluxo de MES e também às áre- Fenômenos de histerese ou “curvas em laço” para a relação
as com tendência a sedimentar e/ou ressuspender material. QS=f(Q) foram identificadas para os rios de origem andina,
Além disso, de modo tentativo e usando recursos de SIG se porém, bem menos marcados nas áreas sobre os escudos. Em
propõe uma figura de evolução dos fluxos de MES bem como relação ao rio Madeira foi possível verificar que ele se indivi-
da irregularidade desses fluxos na bacia amazônica. dualiza por um comportamento diferenciado, segundo a es-
tação do ano, ou seja, comportamento do tipo andino ou “rio

4. resultados e discussão
Tabela 1 – Estimativa de fluxo sólido a partir de amostragem
4.1 As campanhas de campo Hibam realizada durante as campanhas Hibam, de 1995 a 1998.
Em vista da ausência de campanhas de campo do Programa Também para o mesmo período o cálculo da vazão média
Hibam, em todos os períodos do ciclo hidrológico, o valor de anual e o percentual de representatividade de cada estação
QS médio anual para o período de 1995 a 1998 foi calculado a em relação aos valores obtidos para a estação de Óbidos
partir das relações QS=f(Q), onde Q é a vazão. Essas relações (última estação com medição regular de vazão no rio
foram, então, elaboradas para cada estação de amostragem Amazonas, antes de ele alcançar o oceano). Fonte: Filizola
com dados Hibam e com o auxílio das séries de dados de (2003).
vazão fornecidos pela ANA. Os resultados permitiram propor Vazão Fluxo sólido
uma primeira avaliação geral dos fluxos de MES nas principais m3.s-1 106 ton.ano-1
estações de controle, assim como do fluxo ao Oceano Atlântico
Manacapuru, R. Solimões 96 230 447
(Tabela 1). Os mesmos resultados, apesar de pouco dispersos
no interior de um ciclo hidrológico, permitem uma avaliação Paricatuba, R. Negro 32 230 8
de sua evolução temporal (Figura 5). Em março, no início da Faz. Vista Alegre, R. Madeira 26 820 371
subida das águas, o fluxo de MES do rio Madeira é superior ao Óbidos, R. Amazonas 161 100 715
do rio Solimões e a tendência é de sedimentação (-23%) entre Sol. + Neg. + Mad. 155 280 826
Manacapuru e Óbidos. O valor de QS é próximo de 3.106ton. Diferença obs. 5 820 -111
dia-1. No mês de abril, a subida das águas continua, os rios

86 WORKSHOP GEOTECNOLOGIAS APLICADAS ÀS ÁREAS DE VÁRZEA DA AMAZÔNIA


Tabela 2 – Estimativa de fluxo sólido médio a partir de
amostragens realizadas a cada 10 dias nas estações de
referência do Programa HIBAM no período de dados comuns
a todas (1998 a 1999). Fonte: Filizola (2003)
Fluxo sólido Fluxo sólido inter-
mensal anual
ton.dia-1 106 ton.ano-1
Manacapuru, R. 1 050 383
Solimões
Paricatuba, R. Negro 32 12
Faz. Vista Alegre, R. 1 112 406
Madeira
Óbidos, R. Amazonas 1 669 609
Sol. + Neg. + Mad. 2 194 801
Diferença obs. -525 -192

Figura 5 – Contexto dos fluxos de MES observados com


resultado das campanhas do Programa HIBAM realizadas de para os rios andinos o fluxo máximo de MES acontece antes
1995 a 1998. do pico da cheia, com uma defasagem mínima para o caso do
rio Madeira (um mês) e mais importante para o caso dos rios
Solimões e Amazonas (três meses). De um modo geral, para os
de águas brancas” em época de águas altas e do tipo “rios de rios Madeira, Solimões e Amazonas os picos de máxima de QS
águas claras” em época de águas baixas. acontecem de fevereiro a abril e os valores mínimos de setem-
Assim, no global médio interanual, pelos resultados da Ta- bro a novembro. Para o rio Negro o pico de máxima ocorre por
bela 1, percebe-se que o rio Solimões fornece ao Amazonas volta do mês de junho e os menores valores por volta do mês
62% da carga líquida e 54% da carga de matéria particulada. de janeiro. Vale notar que, em média, no mês de setembro o
O rio Madeira, o segundo maior rio andino da bacia, contribui fluxo sólido do Negro supera o do Madeira por um fator de
com 17% da carga líquida e 45% da carga sólida. aproximadamente cinco, porém, os valores são sempre muito
A estação de referência de Óbidos é aqui tomada como re- baixos. Também são bastante baixos e muito semelhantes aos
presentativa dos aportes médios interanuais do rio Amazonas do rio Negro, os fluxos encontrados para os rios Xingu e Tapa-
ao Oceano Atlântico e apresenta um fluxo de MES da ordem jós, com base em dados obtidos das estações de referência
de 715 106 ton.ano-1. Esse valor corresponde a um aumento neles instaladas (Altamira e Itaituba, respectivamente). Esses
aproximado de 100 106 ton.ano-1 em relação às estimativas de dois últimos rios têm, portanto, pouca influência no cômputo
Gibbs (1967), Meade et al. (1979), Filizola (1999) e praticamen- geral dos fluxos de MES do rio Amazonas ao oceano. Os apor-
te a metade do valor proposto por Meade et al. (1985). A soma tes de QS observados em Manacapuru são superiores aos de
dos fluxos dos rios Solimões, Negro e Madeira teve como re- Óbidos de setembro a novembro e os do rio Madeira ultrapas-
sultado 826 106 ton.ano-1. A diferença entre o observado e o sam os de Óbidos entre março e abril. O QS máximo acontece
calculado corresponde a uma estocagem média anual de mais em Manacapuru em fevereiro e entre março e abril no Madei-
de 100 106ton.ano-1 de material sedimentar dentro da bacia ra (Fazenda Vista Alegre). A estação de Óbidos apresenta seu
amazônica, no trecho entre Manacapuru e Óbidos, reforçando pico de QS em março. A curva hidrossedimentológica em esca-
os resultados de Meade et al. (1985). la mensal, resultante da soma dos aportes dos três tributários
considerados, coincide grosseiramente com a curva observa-
4.2 As estações de referência Hibam da para Óbidos de maio a novembro. No entanto, no período
A rede de estações de referência Hibam foi criada visan- de águas altas a soma dos tributários é largamente superior
do cobrir eventuais lacunas no ciclo hidrológico, buscando aos valores observados, indicando importante fenômeno de
valorizar mais a influência da sazonalidade, mal demarcada estocagem de sedimentos na mesma porção da bacia indi-
pelos estudos anteriores. Assim, o procedimento evidenciou cada pelos dados das campanhas Hibam, concordando mais
diversos fenômenos. Porém, para efeito de comparação com uma vez também com o reportado por Meade et al., (1985). As-
os resultados acima apresentados, serão aqui destacados os sim, a partir desses resultados mais refinados do que aqueles
dados para as mesmas estações (localidades e rios). Como das campanhas Hibam, em termos de variação sazonal, uma
as estações da rede de referência forneceram originalmente taxa de sedimentação pode ser calculada para o trecho referi-
dados de superfície, eles foram corrigidos por equações que do como sendo de 192 106 ton.ano-1.
relacionam o fluxo de MES em superfície com o fluxo de MES Em termos de estimativa de fluxo ao oceano esse novo con-
total, em cada seção, tomadas de Filizola (2003). Dessa forma, junto de dados permite calcular um valor entre 600.106 ton.
puderam ser obtidos dados médios mensais de fluxo resumi- ano-1 (observado em Óbidos) a 800.106 ton.ano-1 (calculado a
dos na Tabela 2, para a escala anual. partir dos aportes dos principais tributários), resultados que
Os dados das estações de referência permitem conhecer de concordam sobremaneira com os de Filizola (1999), utilizando
forma mais fina, na escala mensal, o regime hidrossedimen- dados de 60 estações da rede hidrométrica brasileira da ANA e
tar do rio Amazonas e de seus principais tributários (Figura 6). que foram atualizados por Filizola (2003) para dados até o ano
Para o caso da Estação de Paricatuba, no rio Negro, os dados 2000, como será visto a seguir.
de vazão utilizados foram obtidos pela diferença entre as des-
cargas médias diárias entre as estações de Jatuarana (rio Ama- 4.3 As estações hidrométricas da ANA
zonas) adicionadas com a estação do Careiro (Paraná do Ca- As observações e cálculos realizados com base nos dados
reiro, rio Amazonas), a jusante de Manaus, e a de Manacapuru das estações da rede ANA (Filizola e Guyot, in press), atuali-
(rio Solimões), a montante. Os resultados gerais mostram que zados de Filizola (1999), mostram muita semelhança com os

WORKSHOP GEOTECNOLOGIAS APLICADAS ÀS ÁREAS DE VÁRZEA DA AMAZÔNIA 87


Figura 7 – Em destaque, indicação da zona de sedimentação
identificada pelas três abordagens sobre imagem SRTM.
Figura 6 – “Hidro-sedimentogramas” sobrepostos em escala
mensal para os principais tributários do Rio Amazonas (MAN - como sendo de 7% do total do que o Amazonas leva até o
Rio Solimões em Manacapuru; PAR - Rio Negro em Paricatuba; oceano. Confirma os valores de estimativa de fluxo ao oceano
FVA - Rio Madeira em Faz. Vista Alegre e OBI – Óbidos no Rio dentro da mesma ordem de grandeza já citada acima, porém
Amazonas). Fonte: Filizola (2003). numa faixa um pouco abaixo daqueles valores, ou seja: 500 a
700 106 ton.ano-1. Apesar de os dados da ANA terem por trás um
método de amostragem contestado por muitos autores, que
Tabela 3 – Estimativa de QS a partir de amostras coletadas na supõem que estes subestimariam os resultados, sua utilidade
rede hidrométrica da ANA, no Brasil. Fonte: Filizola e Guyot para estudos de fluxos de QS interanuais é válida por conta de
(in press). sua grande série de dados, dispersa no tempo e no espaço,
Vazão Fluxo sólido apresentar grande representatividade estatística. A série teve
m3.s-1 106 ton.ano-1 início na década de 70, com poucas estações, a maior parte
tendo iniciado as amostragens na década de 80, com uma
Manacapuru, R. Solimões 98.750 406
significativa melhora na técnica amostral a partir de meados
Paricatuba, R. Negro 32.000 7 da década. Testes comparativos entre os métodos utilizados
Faz. Vista Alegre, R. Madeira 31.250 285 pelo Hibam e pela ANA nos dias atuais foram realizados mos-
Óbidos, R. Amazonas 169.480 536 trando pouca discrepância em termos de resultados (Filizola e
Sol. + Neg. + Mad. 162.000 699 Guyot, 2004) e, por assim dizer, validando o uso daquela base
Diferença obs. 7.480 -163 de dados. Dessa forma, os dados da rede brasileira permitem
um estudo de regularidade interanual dos fluxos tanto líqui-
dos quanto sólidos. Esse estudo pode ser realizado através de
resultados obtidos no escopo do Programa Hibam (dados de uma metodologia simples utilizada por Jean Rodier, na África
campanhas e dados da rede de referência), vide Tabela 3. (1964), indicado e adaptado por Molinier et al. (1996) para a
Os dados da ANA confirmam também a zona de sedimenta- Amazônia, porém agora com o suporte de SIG – Sistema de
ção já destacada e existente entre Manacapuru e Óbidos e até Informações Geográficas. Por este método, o valor da regulari-
a ampliam um pouco para montante (estação de Itapeuá no dade é adimensional e obtido da razão entre as vazões médias
rio Solimões). A área de sedimentação indicada neste estudo extremas, ou seja: Qmax/Qmin. O mesmo conceito foi utiliza-
coincide sobremaneira com a área de baixas altitudes (entre 5 do por Filizola (2003) para os fluxos sólidos, ou seja: QSmax/
e 100m de altura em relação ao nível médio do mar) detectada QSmin. Aplicando-se os resultados às áreas de contribuição
a partir do modelo numérico de terreno construído com dados hidrológica indicadas anteriormente, obtém-se para o caso
da missão SRTM (Figura 7). Provavelmente, essa grande zona das descargas líquidas médias extremas (Figura 8), que toda
de deposição se estende a jusante de Óbidos, porém não exis- a região da calha central e meio norte da Amazônia apresenta
te nenhum dado que possa ajudar a confirmar essa hipótese um regime bem regular no que diz respeito às suas vazões.
até o momento. Ou seja, as variações entre os extremos são de baixa ordem
O estudo com dados da ANA também mostra a impossibi- (0 até 5). Os maiores valores (10 a 50) encontram-se na região
lidade do uso da relação QS=f(Q), para cálculo direto da des- sudoeste da bacia, mais especificamente na Alta bacia do rio
carga sólida (Filizola, 1999 e Filizola & Guyot, in press). Neste Madeira e também na bacia do rio Xingu (porção leste).
caso, há interferência do sinal do pico de vazão (Q), que como Com relação aos extremos de QS (Figura 9), há uma regu-
indicado pelos dados das estações de referência Hibam, não laridade razoável na porção central (5 a 10) indo até a porção
ocorre no mesmo período do pico de QS. Assim, se mostra meio-norte. Para nordeste já há maior irregularidade (10 a 50
mais adaptado o uso da relação comumente utilizada e deno- e, por vezes, de 50 a 1.000). No entanto, na porção sul e sudo-
minada por Filizola e Guyot (in press) como instantânea, para este a situação é de grande irregularidade, especialmente nas
o cálculo de balanço, dada por: bacias dos rios Purus e Madeira onde na quase totalidade os
valores estão na faixa de 50 a 1.000.
QS=Q.[MES].c (2) As taxas de regularidade de QS refletem também mudanças
No caso da equação (2), QS é a descarga sólida; [MES] é a na ordem de grandeza dos fluxos, durante o ciclo hidrológico,
concentração de matéria em suspensão e c é a constante para o que já havia sido percebido nos dados das estações de refe-
a obtenção dos resultados em ton.dia-1 e é igual a 0,0864. rência quando se verificou que o rio Madeira, em seu período
Os dados da ANA também possibilitam avaliar o percentu- de menor fluxo, é superado pelas contribuições do rio Negro,
al da carga de sedimentos produzidos na região dos escudos também muito baixas. No entanto, aquele rio andino supera

88 WORKSHOP GEOTECNOLOGIAS APLICADAS ÀS ÁREAS DE VÁRZEA DA AMAZÔNIA


em escala mensal, obtido com dados de amostras coletadas
a cada dez dias em dez estações de referência e que indicam
uma grande importância do rio Madeira no quadro geral dos
fluxos, tanto em escala mensal quanto anual ou interanual,
além de indicar uma forte irregularidade relativa tanto dos flu-
xos líquidos quanto sólidos na bacia desse rio. Ressalta tam-
bém as inter-relações existentes entre os diferentes tributários
do rio Amazonas e que geram em Óbidos um fluxo anual de
grande monta em termos globais.

Agradecimentos
Os autores agradecem aos colegas do antigo DNAEE, da
CPRM, da Aneel, da ANA e do IRD, pelo apoio na realização
dos trabalhos aqui reportados, em suas inúmeras fases. Agra-
decem o auxílio recebido do Ceap/Petrobrás e do Fundo Se-
Figura 8 – Espacialização dos índices de irregularidade das torial de Recursos Hídricos (CR-Hidro) no que diz respeito à
vazões extremas para as “áreas de contribuição hidrológica” infra-estrutura de apoio que vêm oferecendo, permitindo dar
utilizadas no estudo. Fonte: Filizola (2003). continuidade aos trabalhos aqui apresentados. Agradecem
também ao Projeto Piatam, à Universidade do Estado do Ama-
zonas – UEA e à Universidade Federal do Amazonas - Ufam,
parceiros que têm auxiliado em boa parte dos trabalhos ne-
cessários para o funcionamento da base do Programa Ore-
Hybam, em Manaus.

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tion au Brésil à partir de bilans sédimentologiques
5. Conclusão rudimentaires. In Sediment Budgets, Bordas M.P. &
Este trabalho procurou mostrar um resumo das atualidades Walling D.E. (eds.), IAHS Publ., 174 , 359-368pp.
em relação aos estudos sobre o fluxo de matéria em suspensão
Carvalho N.O., Filizola N., dos Santos P.M.C., Lima
nos principais grandes rios da bacia amazônica, realizados no
escopo do Programa Hibam, no Brasil, e que atualmente se en-
J.W. 2000. Guia de Práticas Sedimentométricas.
contram sob uma nova perspectiva num contexto mais amplo Ed.ANEEL/PNUD/OMM, Brasília. 154 p.
(Pan-Amazônia) através do consórcio internacional Ore-Hy- Chapman D. 1992. Water Quality Assessments – A
bam. Mostrou a importância desses estudos quanto ao aporte guide to the use of biota, sediments and water in en-
de MES ao oceano, carreado pelo rio Amazonas, o modo como vironmental monitoring. Pub. UNESCO/WHO/UNEP,
cada grande tributário participa nesse contexto, revelando a London. 585 p.
importância no aspecto regional dos rios andinos no cômputo
geral dos efeitos de sedimentação e ressuspensão, identifi- DUNNE T, MERTES LAK, MEADE RH, RICHEY JE, FORSBERG
cados no seio da bacia, onde áreas podem reter anualmente BR. 1998. Exchanges of sediment transport between
até 200.106.ton.ano-1 de material que depois entra novamente the floodplain and channel of the Amazon River in
em suspensão, aparentemente por efeito do gradiente hidráu- Brazil. Geological Society of America Bulletin 110(4):
lico (Meade et al., 1985). Assim, são indicadas proposições 450-467.
de valores de QS, em especial a confirmação do aporte do rio
Amazonas ao Oceano Atlântico como sendo da ordem de 600 Edwards T.K., Glysson G.D. 1988. Field methods for
a 800 106 ton.ano-1, valor também confirmado por Guyot et al. measurement of fluvial sediment. USGS OFR 86-531,
(2005). Também se apresentou um hidrossedimentograma Reston-VA. 118 p.

WORKSHOP GEOTECNOLOGIAS APLICADAS ÀS ÁREAS DE VÁRZEA DA AMAZÔNIA 89


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WORKSHOP GEOTECNOLOGIAS APLICADAS ÀS ÁREAS DE VÁRZEA DA AMAZÔNIA 91


NEOTECTÔNICA: A IMPORTÂNCIA PARA
O BIOMA AMAZÔNICO
HAILTON LUIZ SIQUEIRA DA IGREJA
Universidade Federal do Amazonas

INTRODUÇÃO 2000) os três principais pulsos da neotectônica. O estudo


As feições geoestruturais como mudanças/anomalias de atual destaca a constatação de aplicações da neotectônica na
drenagem, capturas fluviais, formas de lagos e de ilhas, de sis- Amazônia, visando ressaltar sua importância na configuração
temas de relevo, irregularidades nas seqüências sedimentares geoestrutural do bioma amazônico, principalmente na sua
que resultam de movimentos crustais a partir do Terciário Su- compartimentação ambiental, elemento indispensável na ela-
perior (Mioceno-Plioceno) e do Pleistoceno Superior ao Recen- boração de macropolíticas públicas para o desenvolvimento
te, são considerados efeitos da neotectônica. De acordo com regional sustentável.
Hasui (1990 em Costa et al., 1996) essas idades são marcadas
por registros geológicos que coincidem com as manifestações
finais do evento extensional sul-atlantiano que, na Amazônia, O MODELO NEOTECTÔNICO
resultou na deposição da seqüência superior da formação al- AMAZÔNICO
ter do chão, e provavelmente, no Oligoceno, pelo desenvolvi- Para se entender o espaço amazônico, seus diferentes
mento do perfil laterítico-bauxítico sobre a mesma formação. ecossistemas, os aspectos fundamentais de sua geomorfolo-
A consideração e o estudo da neotectônica na Amazônia gia e fisiografia necessita-se conhecer, à luz da neotectônica,
se desenvolveu nos últimos 50 anos, com um início tímido e o regime tectônico direcional destral, ao qual está submetido,
limitado, sendo que a partir da década de 90 foi bastante in- e cujos movimentos – e correspondentes estruturas – gover-
tensificado com o aprimoramento dos meios de sensoriamen- nam, desde o Mioceno, a evolução ecológica de toda a parte
to remoto. central da Placa Sul-Americana.
O precursor dos estudos da neotectônica na Amazônia foi Observa-se que boa parte da região se mostra fortemente
Sternberg (1950), que através de investigações geográficas em controlada por estruturas do Pré-Cambriano, Paleozóico e Me-
mapas e fotografias aéreas mostrou que os vales da planície sozóico (entropia dos sistemas tectônicos anteriores), que a
amazônica e, sobretudo, os cursos dos rios Urubu, Preto da sintropia transcorrente ainda não conseguiu “apagar” (Igreja,
Eva e Uatumã estão condicionados a lineamentos de direção 1998). As iniciais considerações geodinâmicas de processos
NW-SE. isostáticos de uma planície estável deram lugar à revelação de
Suguio e Iriondo (1982), após estudos da geomorfologia da uma região relativamente movimentada, cujo eixo central sub-
planície quaternária do Amazonas, definiram a ocorrência de sidente-centrípeto, ao longo do qual evolui o rio Amazonas,
blocos soerguidos, subsidentes e inclinados, para justificar representa uma zona principal de deformação transcorrente,
as formas e as características de alguns trechos do curso dos essencialmente destral, compondo uma extensa e sistemáti-
rios Solimões-Amazonas e de sua planície de inundação. Es- ca malha de grandes zonas de falhas e fraturas, ao longo das
truturas devido a movimentos originados por neotectonismo quais fluem os mais piscosos e preservados rios do mundo.
foram descritas em afloramentos da formação alter do chão, Análises de dimensões, cinemática, angularidade e distribui-
na Amazônia central, por Franzinelli e Piuci (1988) e o modelo ção de tensões no âmbito da física de deformação não-coaxial
neotectônico para a região do Baixo rio Negro foi definido por permitiram, com bases em sistemas naturais, modelos teó-
Franzinelli e Igreja (1990). ricos e experimentais, estabelecer um modelo neotectônico
Um grande passo no desenvolvimento da história da ne- que explique satisfatoriamente o sistema hidrográfico e a
otectônica na Amazônia foi dado com a publicação do artigo distribuição dos grandes ecocompartimentos amazônicos (Fi-
de Costa et al. (1993) que resume três aspectos fundamentais guras 1 e 2). Desse modo, atualmente, o bioma amazônico se
para o entendimento da neotectônica na região amazônica: a desenvolve numa imensa estrutura em flor (Igreja, 1999), pe-
tectônica ressurgente, as zonas sismogênicas e a comparti- culiar de sistemas tectônicos direcionais e, neste caso, reflexo
mentação tectono-estrutural. Numerosos artigos foram publi- da interação das Placas Sul-Americana, Nazca e Caribenha. Os
cados nesta década relativos, especialmente, às feições neo- fenômenos de deposição e/ou erosão acelerada, assim como
tectônicas na calha do rio Amazonas, (Bemerguy et al.,1991 e os deslizamentos e desabamentos, eventualmente catastrófi-
1995; Franzinelli e Latrubesse, 1992; Borges et al.,1995; Costa cos quando em áreas urbanas, atribuídos à sismicidade por
et al.,1993 e 1996; Fernandes Filho et al.,1997; Villegas (1994) Sternberg (1953), na área dos rios Urubu e Careiro, ainda não
) e a calha do rio Madeira (Igreja, 2001). tiveram o necessário monitoramento sísmico, considerando
Um modelo geral da neotectônica para a região amazô- que a maioria das cidades amazônicas são perifluviais e si-
nica, inserido no campo da deformação não-coaxial rúptil, tuadas nas bordas dos lineamentos neotectônicos, em que
foi proposto e repetidamente aprimorado por Igreja (1998; pesem os históricos prejuízos materiais e principalmente de
2001; 2003) após estudos exaustivos de sensoriamento re- vidas humanas.
moto, análises de padrões de drenagens, mapas geológico- As zonas sismogênicas associadas às estruturas neotectô-
estruturais terciários e quaternários e verificações de campo. nicas estão delineadas e definidas por Mioto (1993), as quais
Foram também determinados pelo mesmo autor (Igreja et al.,

WORKSHOP GEOTECNOLOGIAS APLICADAS ÀS ÁREAS DE VÁRZEA DA AMAZÔNIA 93


Figura 1. Mapa de megacompartimentos da Província
Estrutural Amazônica. Cada megacompartimento corresponde
a uma área de endemismo que é delimitada por falhas e/
ou rios. A-Megacompartimento Madeira – Maués – Porto Figura 2. Modelo Neotectônico Atual para a Província
Velho – Serra Madre de Dios; B-Megacompartimento Estrutural Amazônica. A compressão principal está
Eirunepé – Manaus – Madeira – Guajará Mirim – Abunã; posicionada na direção W-E (Placa de Nazca), a compressão
C-Megacompartimento Solimões – Manacapuru – Eirunepé – secundária esta posicionada na direção N-S (Placa
Javari; D-Megacompartimento Rio Negro – Solimões – Iguaje; Caribenha), resultando na tensão tectônica NW-SE (eixo
E-Megacompartimento Demêni – Jauaperi – Rio Negro; regional) (Modificado de Igreja, 1998).
F-Megacompartimento Mazagão – Alenquer – Amazonas
– Urubu; G-Megacompartimento Amazonas – Tapajós –
equatorial do continente sul-americano – os Andes.
Porto Velho. H-Megacompartimento Mazagão – Janaucu
A colisão das placas de Nazca e Sul-Americana que causou
– Amazonas – Alenquer; I-Megacompartimento Amazonas –
a Orogenia Incaica na costa do Pacífico deu origem na Ama-
Caxiuanã – Porto Velho – Tapajós.
zônia à Transpressão Tapajônica. Esta movimentação neotec-
tônica miocênica propiciou na Província Estrutural Amazônica
estão praticamente restritas às intersecções dos grandes line- (Almeida, 1977) a deposição das formações Solimões, a oeste,
amentos centrais. Esses importantes conhecimentos refletem e Pirabas a leste.
a necessidade de se avançar nos estudos sismotectônicos da Depois de um possível período de estabilidade no Mioceno
região, pois se tornam fundamentais para a definição dos li- Superior associado ao pulso neotectônico andino: Orogenia
neamentos ativos, subdivisão neotectônica (blocos, falhas, Quéchua (Plioceno), ocorreu na Amazônia o pulso neotectôni-
dobras etc.), domínios estruturais, na configuração dos eco- co denominado Transtensão Manauara, que controlou a depo-
compartimentos, das áreas de riscos, das unidades geomorfo- sição das formações Içá, a oeste, e Barreiras a leste.
lógicas, inclusive da evolução holocênica da Amazônia. A retomada dos processos compressionais interplaca origi-
naram a Orogênese Diaguita na borda pacífica do continente
sul-americano e na região amazônica o presente sistema ne-
PULSOS DE NEOTECTONISMO NA otectônico transpressional a partir do Pleistoceno (Transpres-
são Marajoara).
AMAZÔNIA O Pulso Neotectônico Marajoara controla através de falhas
Na Amazônia foi possível identificar três pulsos neotec-
e dobras os aspectos fisiográficos dos rios, divisores de água,
tônicos (Igreja, 1998): Tapajônico no Mioceno, Manauara no
zonas de restrições fluviais, lagos, ilhas, terraços fluviais, as
Plioceno e Marajoara no Quaternário (Figura 3). Estes pulsos
diferentes várzeas e outras feições geomorfológicas e ecoló-
são correlacionáveis aos pulsos neotectônicos da borda oeste
gicas.
Figura 3. Carta
tectono-sedimentar
mostrando a
inter-relação dos
principais pulsos
neotectônicos das
placas de Nazca e
Sul-Americana –
Igreja, 1998.

1.Reativação Wealdeniana.

2.Transpressão Tapajônica.
(Mioceno).

3.Transtensão Manauara.
(Plioceno)

4.Transpressão Marajoara.
(Quaternário)

94 WORKSHOP GEOTECNOLOGIAS APLICADAS ÀS ÁREAS DE VÁRZEA DA AMAZÔNIA


À semelhança dos pulsos neotectônicos anteriores, a Trans- co versus desenvolvimento planejado e sustentável, possivel-
pressão Marajoara (Quaternário), com sua interdependência mente, é uma oportunidade única na terra.
aos Andes, também impôs mudanças que não se restringem
ao solo e subsolo amazônico, mas estende-se ao seu clima.
Esse aspecto precisa de estudos paleoclimáticos detalhados. Referências Bibliográficas
ALMEIDA, F.F. de,. - Províncias estruturais brasileiras.
Atas do VII Simpósio de Geologia do Nordeste. p.
IMPORTÂNCIA AMBIENTAL 363-391. Campina Grande, Brasil. 1977.
Através de estudos da neotectônica, fenômenos como frag-
mentação de ecossistemas (Franzinelli et al., 1998), origem e AMORIM, D.S. & PIRES, M.R.S. – Neotropical bioge-
evolução de várzeas e igapós (Franzinelli e Igreja, 2002), cap- ography and a method for maximum biodiversity
turas fluviais (Igreja et al., 1999), compartimentos ecológicos estimation.p. 183-219. In: Bicudo, C.E.M. & Menezes,
com suas diversas distribuições florísticas e faunísticas, pas- N. A (eds.), Biodiversity in Brazil, a first approach.
saram a ser interpretados como reflexos de deslocamentos CNPq, São Paulo. Vi + 326p.1996.
neotectônicos regionais e locais.
BEMERGUY, R. L. & COSTA, J. B. S. - Considerações sobre
De maneira geral, as megas e microformas de relevo mos-
traram-se elegantemente compatíveis ao atual sistema neotec- a evolução do sistema de drenagem da Amazônia e
tônico transcorrente amazônico e, assim, obteve-se razoáveis sua relação com o arcabouço tectônico-estrutural.
explicações para a ocorrência de lagos isomórficos, igarapés Submetido ao Boletim do Museu Paraense Emílio
dendriformes paralelos, zonas de restrições fluviais, ilhas, co- Goeldi (1995).
linas e vales sigmoidais. COSTA , J . B. S.; HASUI , Y . ; BEMERGUY , R . L .; BORGES
Em vista da importância prática da neotectônica, estudos
, M . S .; COSTA , A .R .; TRAVASSOS , W .; MIOTO , J
geológicos interagindo com outras ciências demonstraram por
exemplo, com a engenharia, que estudos neotectônicos deta-
. A .; IGREJA , H . L . S .– Aspectos fundamentais da
lhados são necessários para a construção e a manutenção de Neotectônica na Amazônia Brasileira . In: Simpósio
portos e a conservação ambiental, assim como para a pereni- Internacional do Quaternário da Amazônia , 1992 .
zação de rios (Igreja e Catique, 1997). Vol. Resumos . p.103 – 106 . 1993.
A união da neotectônica com estudos biogeográficos viria COSTA , J. B. S.; BEMERGUY , R. L.; HASUI , Y.; BORGES ,
demonstrar que o rio Madeira é um neotectonodivisor que M.S.; FERREIRA JÚNIOR , C.R.P.; BEZERRA , P.E.L.; COS-
separa regiões com características ecológicas, faunísticas e
TA , M.L.; FERNANDES , J.M.G.- Neotectônica da Região
florísticas distintas (Igreja et al., 2001). Este aspecto de im-
portante interação com a biologia – reconfiguração das áreas Amazônica : aspectos tectônicos , geomorfológicos e
de endemismo (Amorim e Pires, 1996) propiciou uma compar- deposicionais . Geonomos . Revista de Geociências
timentação ecológica mais abrangente da Amazônia do que v.4., Belo Horizonte ; UFMG . 1996 .
aquela restrita à calha do rio Amazonas. Atualmente engloba COSTA, J. B. S.; IGREJA, H. L. S.; BORGES, M. S.; HASUI,
toda a Província Estrutural Amazônica (área sedimentar) e Y. - Aspectos estruturais da tectônica mesozóica do
permite futuros estudos neotectônicos e a compartimentação
Brasil Setentrional. In: Simpósio de Geologia da Ama-
ecológica também dos escudos Pré-Cambrianos.
zônia, 3. Atas ..... Belém, SBG, 1991.
FERNANDES FILHO , L.A.; COSTA , M.L. ; COSTA , J.B.S.
CONCLUSÃO – Registros neotectônicos nos lateritos de Manaus –
É grande a utilidade da compartimentação tectônica em Amazonas . Rev. Bras. Geociências. São Paulo , 16 (1)
áreas com avançada ação antrópica para o planejamento de : 9-33 . 1997.
rodovias, ferrovias, pontes, túneis, hidrelétricas e muitos ou-
FRANZINELLI, E ; IGREJA , H . – Fragmentation of ecosys-
tros ramos da geologia urbana.
Nos estudos de áreas pouco impactadas como a Amazônia tems owing to neotectonics in the Amazon Basin .
(7%) torna-se fundamental no sentido do desenvolvimento Third International Meeting on Global Continental
regional, conservação e/ou preservação de fauna e flora sil- Palaeohydrology – GLOCOPH”98 . Abstracts of Confe-
vestres. rence Papers p.82. 1998.
A correlação de áreas endêmicas com domínios estrutu- FRANZINELLI, E. e PIUCCI, J. - Evidências de neotectonis-
rais neotectônicos permite o mapeamento de megas, mesos e mo na Bacia Amazônica. Anais VII Cong. Lat. Amer.
microcompartimentos ecológicos terrestres e aquáticos, indo
Pg. 80/90. Belém do Pará,1988.
além da gênese, evolução e dimensionamento espacial e tem-
poral do Cinturão de Várzeas Solimões-Amazonas (CVSA), por FRANZINELLI, E., IGREJA, H.L.S. - Utilização de sensoria-
ser um parâmetro natural para a sustentabilidade ambiental, mento remoto na investigação da área do Baixo Rio
fornecer bases para um desenvolvimento regional único, res- Negro e grande Manaus. VI Simp. Brás. Sens. Rem.,
peitando as peculiaridades amazônicas, tais como o aprovei- Anais, (2), pp. 641-648. 1990.
tamento dos imensos recursos hídricos, a otimização da vida
silvestre, a recuperação de ecótopos degradados, as inferên- IGREJA , H.; CATIQUE , J.A. Análise neotectônica do Li-
cias evolutivas ecoespaciais, o dimensionamento populacio- neamento de Itacoatiara , centro-leste do Estado do
nal faunístico e florístico, os princípios de geobotânica, as Amazonas , Brasil . Anais......VI SIMPÓSIO NACIONAL
bases para a agricultura, ictiologia e limnologia, mesmo em DE ESTUDOS TECTÔNICOS . Pirenópolis , Goiás. 1997
diferentes cenários do aquecimento global.
Esta propriedade da Amazônia (grande parte preservada,
original), de inter-relação ecologia versus sistema neotectôni-

WORKSHOP GEOTECNOLOGIAS APLICADAS ÀS ÁREAS DE VÁRZEA DA AMAZÔNIA 95


IGREJA , H . L . S . - Aspectos do modelo neotectônico da IGREJA, H.; FRANZINELLI, E.; CAMARGO, J.M.F.; SENA, C.;
placa sul americana na província estrutural amazôni- FORTES, M.R.- O Rio Madeira como um Neotectonodi-
ca, Brasil. Tese, Universidade Federal do Amazonas, visor do Ecossistema Amazônico. 7ª Reunião Especial
Manaus (não publicada), 155 pp. da SBPC. 25 a 27 de abril de 2001. Manaus – AM.
IGREJA, H. & FRANZINELLI, E. Division of the Amazon STERNBERG, H.O’.R. – Vales tectônicos da planície ama-
Ecosystem by Rivers that Flow along Fault Zones – zônica. Rev. Geografia. Rio de Janeiro (4) 3/26. 1950.
Fifth International Conference on Geomorphology
– Chou University, Korakuen Campus, Tokyo, Japan,
August 23-28, 2001. Abstracts of Conference Papers
Volume 22, Number 4, C – 91 e Poster.
IGREJA, H., FRANZINELLI, E., MELO, A. P.. Analisys of Ge-
ologic Joints and their relationship with Geomorpho-
logic Features of Risk of Greater Manaus, Amazonas
State, Brazil. In: Geomorfic Hazards: towards the pre-
vention of disasters. The International Association of
Geomorphologists and Mexican Society of Geomor-
phology Conference. Mexico. v. 8. 2003.

96 WORKSHOP GEOTECNOLOGIAS APLICADAS ÀS ÁREAS DE VÁRZEA DA AMAZÔNIA


Monitoramento hidrológico de
eventos críticos: cheia e vazante
na Amazônia ocidental
Marco Antonio de Oliveira
CPRM- Serviço Geológico do Brasil
moliveira@ma.cprm.gov.br

Daniel Oliveira
CPRM- Serviço Geológico do Brasil
daniel@ma.cprm.gov.br

Emmanuel da Silva Lopes


CPRM- Serviço Geológico do Brasil
emmanuel@ma.cprm.gov.br

Introdução estiagens, como aconteceu em 2005, afetando a locomoção


A bacia hidrográfica amazônica abrange uma área com cer- fluvial, isolando comunidades e dificultando o acesso à água
ca de seis milhões de km2 (60% em território brasileiro), se potável.
estende por mais de 6.000 km, da Cordilheira dos Andes até o
Oceano Atlântico e constitui o maior bioma de floresta tropical
do mundo. Esta imensa cobertura de floresta abriga rica bio- Monitoramento hidrológico na
diversidade e é mantida pelo regime de chuvas anual médio, Amazônia Ocidental brasileira
acima de 2.200 mm, cujo escoamento superficial irá alimentar No Brasil, o monitoramento hidrológico é realizado há
os igarapés e rios que fluem em direção à calha principal do mais de um século, desde a instalação de estações pluvio-
sistema Solimões-Amazonas, totalizando uma vazão média métricas pelo DNOCS - Departamento Nacional de Obras Con-
anual de 200.000 m3/s em sua foz. tra as Secas e o INMET - Instituto Nacional de Meteorologia.
A grandeza dos números revela uma abundância em recur- Posteriormente, passou a incluir estações fluviométricas para
sos hídricos, correspondendo à quase 20% do total de água a avaliação do potencial de geração de energia pelas usinas
doce que chega aos oceanos pelos continentes, para uma po- hidrelétricas (Aneel, 1997). Hoje, sob a coordenação da ANA
pulação de 20 milhões de habitantes na Amazônia brasileira. - Agência Nacional de Águas, a rede hidrometeorológica nacio-
Se não há escassez hídrica, se a agricultura ainda se mantém nal conta com aproximadamente 5.800 estações instaladas e
pelas franjas da floresta, por que monitorar as águas? visa o caráter multiusuário da água, como a irrigação, navega-
Em se tratando de recursos hídricos sempre há o que mo- ção, energia, saneamento, lazer e abastecimento.
nitorar. O trabalho de instalação, manutenção e expansão da rede
Inicialmente, há a questão da geração de energia elétrica, é feito por instituições públicas, entre as quais o CPRM – Ser-
via força hidráulica que move as turbinas das usinas hidrelé- viço Geológico do Brasil, que executa 70% desta atividade, e
tricas instaladas e a serem construídas na região, como por empresas privadas, com recursos provenientes do sistema de
exemplo, Belo Monte, no rio Xingu, Girau e Santo Antônio, no geração elétrica do país e alocados na Agência Nacional de
rio Madeira. Essa capacidade de produção energética necess- Águas, envolvendo um orçamento da ordem de R$ 18 milhões
sita de séries hidrológicas de longo prazo para que o planeja- de reais/ano. O objetivo do levantamento das informações hi-
mento e gerenciamento da oferta de energia ocorram dentro drológicas é estabelecer um processo contínuo de coleta de
do previsto pelo setor. dados, procurando alcançar séries hidrológicas sem falhas.
No entanto, o que diretamente afeta a vida das populações Na Amazônia Ocidental a rede de monitoramento hidroló-
amazônidas diz respeito ao fenômeno mais abrangente de gico abrange uma área de 2,2 milhões de km2, nos estados
toda a bacia: o ciclo anual das cheias, mudando a paisagem do Acre, Rondônia, Amazonas, Roraima, oeste do Pará e norte
e fertilizando as várzeas. Este evento hidrológico traz dificul- do Mato Grosso. Nessa região foram instaladas estações ao
dade ao morador ribeirinho, pois o período de águas altas longo da calha dos principais rios, para a coleta dos dados de
acarreta a diminuição da sua principal atividade econômica, pluviometria, fluviometria, evaporometria, descargas líquidas
a pesca. Nas cidades, a concentração populacional e a valori- e sólidas, qualidade da água e perfis transversais, configuran-
zação fundiária obrigam o homem a habitar áreas de topogra- do uma rede de monitoramento hidrológico, de acordo com os
fia baixa, sujeitas às enchentes sazonais e cuja evolução e critérios estabelecidos pela OMM – Organização Meteorológi-
previsão de sua magnitude são objeto de monitoramento pelo ca Mundial.
CPRM - Serviço Geológico do Brasil, que procura, desta forma, Historicamente, temos em 1902 a instalação da primeira
minimizar os efeitos danosos da cheia para a população. estação fluviométrica na Amazônia Ocidental, localizada no
Mais recentemente a vazante dos rios tem preocupado as Porto de Manaus. Em outubro de 1910 foi instalada a estação
autoridades e despertado a atenção da mídia e comunida- climatológica de Manaus e, em 1927 foram instaladas pelo
de científica, sob o viés das mudanças climáticas, que têm DNPV – Departamento Nacional de Portos e Vias Navegáveis
apontado cenários para a Amazônia como o aumento na in- as estações de Lábrea e Itacoatiara. No mês de julho de 1963 o
tensidade e freqüência dos eventos críticos, notadamente as

WORKSHOP GEOTECNOLOGIAS APLICADAS ÀS ÁREAS DE VÁRZEA DA AMAZÔNIA 97


USGS – United States Geological Survey, associado à Marinha Nos cursos d’água são utilizadas as réguas linimétricas
do Brasil e à Universidade do Brasil (hoje UFRJ) realizou a pri- para leitura do nível diário dos rios, realizada às 7 e 17 ho-
meira medição de vazão do Amazonas, no estreito de Óbidos ras (Foto 2). Juntamente com as medições de descarga líquida
– PA, alcançando descarga de 213.342 m3/s. Em meados da servem para a quantificação da vazão dos rios, ao estabelecer
década de 70 a CPRM – Companhia de Pesquisa de Recursos curvas-chave para a seção medida. O estudo da variação dos
Minerais se estabelece em Manaus dando início à ampliação
da Rede Hidrometeorológica Básica do antigo DNAEE.
A rede hidrometeorológica básica na Amazônia Ocidental
conta com 315 estações que servem para o monitoramento
da Bacia 1 (Amazônica), dividida nas sub-bacias 10 (Javari), 11
(Alto Solimões), 12 (Juruá), 13 (Purus), 14 (Negro), 15 (Madeira)
e 16 (Médio Amazonas), operadas pelo Serviço Geológico do
Brasil e Agência Nacional de Águas (Figura 1). A grande dimen-
são territorial, vazios demográficos, baixo nível de escolarida-
de dos observadores hidrológicos e o tempo de locomoção
nos roteiros fluviais, são fatores que acarretam na dificuldade
de ampliação da rede ou mesmo na qualidade das informa-
ções. O monitoramento da rede apresenta os seguintes dados
de produção:
As estações fora do curso d’água medem os índices de
chuva (pluviosidade), utilizando-se de pluviômetros manuais,
com leitura diária às 7 horas da manhã, e pluviógrafos (ou apa-
relho registrador contínuo de chuva) que marcam a intensida-
de horária das chuvas (Foto 1). Estes dados atendem, além do Foto 1: Estação pluviométrica (funil a direita) e pluviográfica
monitoramento dos eventos críticos de cheias e vazantes, a de Água Fria/RR.
demanda de informações pela construção civil, no dimensio-
namento de obras de drenagem e no planejamento da execu-
ção dos projetos, considerando a média de dias sem chuvas.

Tabela I: Dados de produção anual do Monitoramento da


Rede Hidrometeorológica na Amazônia Ocidental - Fonte:
CPRM (2007)
Estações 315
Estações Pluviométricas 251
Estações Fluviométricas 169
Medições Líquidas 540
Medições Sólidas 156
Medições de Qualidade da Água 156
Perfis Transversais 135 Foto 02: Estação fluviométrica do Rio Urubu/AM. Mostrando
Visitas de Inspeção 1208 lance de réguas linimétricas.

Mapa das Estações Hidrometeorológicas da Amazônia Ocidental

Foto 03: Estação telemétrica composta de sensores de


pressão para obtenção do nível d’água e de precipitação.
Figura 1: Rede Hidrometeorológica da Amazônia Ocidental. Os dados são armazenados em um “datalogger” e enviados
Em azul são as estações operadas pela diretamente pela periodicamente, via satélite, ao Instituto de Pesquisas
CPRM, em cinza as estações operadas pela empresa Cohidro Espaciais – INPE que os repassa para a ANA – Agência
(CPRM, 2006). Nacional de Águas, em Brasília. Rio Solimões, Manacapuru-
AM.

98 WORKSHOP GEOTECNOLOGIAS APLICADAS ÀS ÁREAS DE VÁRZEA DA AMAZÔNIA


níveis dos rios nas épocas de cheia e vazante gera informação
para a navegação segura e para a previsão das enchentes.
Têm sido instaladas e operadas estações com registradores
automáticos e comunicação via satélite que podem comple-
mentar as estações convencionais nos locais onde há dificul-
dade de manter um observador hidrológico (Foto 3). Porém,
em casos de defeito ou avaria no equipamento é preciso des-
locar uma equipe para sua manutenção. Devido à dificuldade
de logística isso não é feito em tempo hábil, acarretando em
perda do dado.

Eventos hidrológicos críticos –


cheias e vazantes Figura 2: Picos de cheias na Amazônia Ocidental.
A grande biodiversidade na Amazônia é, em parte, resulta-
do da conformação fisiográfica erigida pós-surgimento
da Cordilheira dos Andes, com início há cerca de 16 milhões
de anos, que ocasionou a inversão do fluxo de água para
leste, em direção ao Atlântico, formando lagos na planície,
cuja drenagem deu origem à rede hidrográfica hoje existente
(Hoorn, 2006). A partir de sua nascente nos Andes peruanos,
em Quebrada Carhuasanta, (ANA, 2007), seguem várias de-
nominações para o rio Amazonas como: Ucayali, Urubamba,
Maranõn, Solimões e Amazonas. Sua localização geográfica,
próxima à linha do Equador, faz com que seja influenciado por
variações no regime pluviométrico dos Hemisférios Norte e Sul
e, conseqüentemente, por um regime fluvial de duas cheias
(Aneel, 1997).
Os rios da margem direita da calha do Solimões-Amazonas
recebem a precipitação que inicia em dezembro no Hemisfé- Figura 3: Picos de vazantes na Amazônia Ocidental.
rio Sul, sob influência das massas de ar oriundas da Zona de
Convergência do Atlântico Sul, e são os primeiros a sofrerem
os efeitos das cheias. Assim, o pico da cheia ocorre entre fe-
vereiro e março no Alto Purus (rio Acre, em Rio Branco) e entre
março e abril no rio Madeira (Humaitá-AM). Os rios da margem
esquerda têm suas nascentes no Hemisfério Norte e recebem
as chuvas sob influência das massas de ar da Zona de Conver-
gência Intertropical, que adentram o continente sul-america-
no pela calha do rio Amazonas e do Orinoco, com o pico das
cheias ocorrendo entre o final de junho e início de julho, no Figura 04: Ilustração mostrando a correspondência entre os
Alto rio Negro, em São Gabriel da Cachoeira-AM, e entre julho eventos La Niña (em azul na parte inferior do gráfico) com as
e agosto no rio Branco, em Roraima. Na porção central da ba- grandes cheias do Rio Negro, em Manaus (em parênteses são
cia hidrográfica o pico das cheias ocorre invariavelmente em os valores das cotas máximas em cm).
junho, nos rios Solimões (Manacapuru-AM), Negro (Manaus-
AM) e Amazonas (Parintins-AM). Figura 2.
Para o período de vazante observa-se que a freqüência que o Poder Público e a sociedade possam se preparar para os
dos picos de níveis mínimos é mais dispersa, ocorrendo no eventos extremos de baixa freqüência e alta magnitude. Pois
trimestre de setembro, outubro e novembro, com exceção do eles afetam a segurança da navegação, o abastecimento de
Alto rio Negro (São Gabriel da Cachoeira – AM) e do rio Branco comunidades isoladas e põem em risco a vida e a propriedade
(Caracaraí – RR) onde as vazantes acontecem em fevereiro e nas áreas urbanas atingidas pela cheia.
março. Figura 3. Nas Tabelas II e III são listados os 15 maiores eventos de
Em ambos os eventos os sistemas climáticos de escala glo- cheias e vazantes registrados na estação do Porto de Manaus,
bal influenciam o regime de chuvas na bacia amazônica, haja no rio Negro. A Figura 5 mostra a distribuição desses registros
vista os fenômenos de El Niño e La Niña que, embora seus ao longo da série histórica secular. A maior cheia ocorrida des-
efeitos na região ainda não sejam bem compreendidos, acar- de 1902 foi a de 1953 quando o rio Negro atingiu a cota de
retam, respectivamente, em um clima mais seco ou chuvoso 29,69 m, inundando as áreas ao redor do porto e permanecen-
na região. Uma correlação entre as grandes cheias e os even- do com o nível da água acima dos 29 m por 70 dias. Considera-
tos La Niña é dada pela Figura 4. se pelos seus efeitos que cheias acima dos 29 m são catastró-
A grande extensão da bacia hidrográfica e sua baixa de- ficas para a população das palafitas de Manaus.
clividade fazem com que a propagação da “onda” de cheia A maior vazante ocorreu em 1963, tendo o rio descido até
ocorra de forma lenta, acentuando a previsibilidade do even- a cota de 13,64m. Para comparação no ano de 2005 o nível
to, cujo alcance espacial e temporal obriga a adaptação da d’água atingiu a cota de 14,75m, colocando-se como a sétima
floresta, dos animais e do homem. A despeito da convivência maior vazante da série histórica. No entanto, como reflexo de
do caboclo ribeirinho às oscilações do nível dos rios e lagos estiagem severa há de destacar o ano de 1926 quando a cheia
faz-se necessário monitorar, entender e prever o comporta- do rio Negro atingiu apenas 21,77m, permanecendo com ní-
mento desse fenômeno, de modo a gerar informações para veis abaixo da média durante todo o ano, indicando que o en-

WORKSHOP GEOTECNOLOGIAS APLICADAS ÀS ÁREAS DE VÁRZEA DA AMAZÔNIA 99


tendimento dos eventos extremos de baixa freqüência requer decaimento exponencial do cotagrama e baseado no acompa-
séries históricas mais longas. nhamento das cotas de três estações a montante: Tabatinga,
Para as cheias do rio Negro, em Manaus, foi elaborado um Itapeua e Manacapuru, no rio Solimões (Andrade et al., 2006).
modelo de previsão (Maia & Lopes, 1990) que vem sendo uti- Esse modelo de previsão das vazantes deve ser aperfeiçoado
lizado pelo CPRM – Serviço Geológico do Brasil desde 1989, inserindo outras variáveis como a influência das águas subter-
com grande eficácia, onde é feita a previsão através de três râneas no período da recessão hidrológica.
alertas de cheia enviados ao Poder Público e à imprensa em O comportamento do rio Negro durante o ano hidrológico
geral. A primeira previsão é feita com 75 dias de antecedência obedece a um lento processo de subida do rio, desde o nível
(31 de março) da cheia máxima, a ocorrer em meados de ju- mais baixo em outubro até o pico da cheia em junho, totalizan-
nho, e consegue atingir uma probabilidade de acerto de 70% do, em média, 234 dias de ascensão das águas e apenas 131
para o intervalo de 35 cm acima e abaixo da cota prevista. Já a dias de recessão (Figura 6).
previsão realizada em 31 de maio atinge um índice de confia- Apesar de a estação de Manaus ser a mais completa em
bilidade de 94%. termos da série histórica e representar um comportamento hi-
drológico médio para toda a bacia a montante é necessário
Tabela II: Vazantes máximas no Porto de Manaus. Os valores monitorar outras estações de modo a acompanhar a evolução
das cotas são arbitrários. Para determinar o valor absoluto das cheias e vazantes nas demais calhas de rios, notadamente
ao nível do mar deve-se subtrair 396cm. o rio Solimões, cujo volume de água é em média três vezes
Nº Anos Cotas (cm) superior ao volume do rio Negro e provoca seu represamento,
influenciando diretamente a cheia em Manaus.
1 1963 1364 De modo a abranger toda a amplitude da Amazônia Ociden-
2 1906 1420 tal, considerando os fatores geográficos e a disponibilidade
dos dados hidrológicos, são utilizadas 16 estações para o mo-
3 1997 1434
nitoramento dos eventos críticos (Figura 7). Os dados são se-
4 1916 1442 manalmente atualizados e geram o Boletim de Monitoramento
5 1926 1454 Hidrológico, elaborado pelo Serviço Geológico do Brasil, em
parceria com a Agência Nacional de Águas e o Sistema de Pro-
6 1958 1474 teção da Amazônia - Sipam. Este documento é encaminhado
7 2005 1475 ao Governo do estado do Amazonas, Defesa Civil Estadual,
Prefeitura de Manaus e imprensa.
8 1936 1497
No boletim há um acompanhamento da previsão climáti-
9 1998 1503 ca, feito pelo Sipam, e dos níveis dos rios nas principais ba-
10 1909 1504 cias hidrográficas, sempre comparando a evolução das cotas
atuais em relação aos máximos e mínimos já registrados nas
11 1995 1506 estações.
12 1907 1539 Há também um comparativo com o ano anterior e em rela-
ção à cota de emergência, determinada no caso das cheias,
13 1948 1569
como o valor médio das máximas mais o desvio- padrão. O
14 1950 1574 boletim é de fácil entendimento e leitura, permite ao usuário
15 1961 1596 acompanhar a tendência da curva do cotagrama e, na expec-
tativa de se atingir os níveis críticos, possibilitam a tomada de
Tabela III: Cheias máximas no Porto de Manaus. Os valores decisão no âmbito da Defesa Civil. No ano de 2006 até me-
das cotas são arbitrários. Para determinar o valor absoluto ados de 2007 foram emitidos 48 boletins de monitoramento
ao nível do mar deve-se subtrair 396cm. (Figura 8).
Nº Anos Cotas (cm)
1 1953 2969
2 1976 2961
3 1989 2942
4 1922 2935
5 1999 2930
6 1909 2917
7 1971 2912
8 1975 2911
9 1994 2905
10 1982 2897
11 1921 2897
12 1997 2896
Figura 5: Série histórica do Porto de Manaus. No gráfico
13 1908 2892 acima estão representados os valores máximos das cheias,
14 2002 2891 oscilando na média de 27,76m, e, no gráfico abaixo as
15 2006 2884 vazantes máximas, oscilando na média de 17,59 m. Há de
se destacar o ano de 1926 quando a cheia atingiu apenas
Utilizando a mesma série histórica foi elaborado um mo- 21,77m e o Rio Negro manteve níveis abaixo da média
delo preliminar de previsão para as cotas mínimas a serem durante todo o ano. Em 2005 o rio atingiu 14,75m colocando-
atingidas pelo rio Negro no mês de outubro, considerando o se como a 7a maior vazante.

100 WORKSHOP GEOTECNOLOGIAS APLICADAS ÀS ÁREAS DE VÁRZEA DA AMAZÔNIA


enfrentado pela população lacustrina da Amazônia durante a
estiagem de 2005.

Conclusão
O monitoramento hidrológico na Amazônia Ocidental tem
entre seus objetivos principais o de acompanhar a evolução
dos eventos de cheias e vazantes dos rios, que ocorrem dis-
tintamente no tempo e no espaço, na extensão continental
da bacia hidrográfica amazônica. O ciclo anual das cheias
recebe a influência do regime de chuvas do Hemisfério Sul e
do Hemisfério Norte, iniciando nos rios da margem direita do
Solimões-Amazonas, como o Madeira e o Purus, e terminando
com a enchente do rio Branco, em Roraima, no mês de agosto.
Figura 06: Cotagrama médio para o rio Negro em Manaus. Na calha central da bacia amazônica as cheias ocorrem em ju-
(Andrade&Oliveira, 2006) nho e a vazante ao final de outubro, com 234 dias de ascensão
e 131 dias de descida das águas, que são valores médios para
o rio Negro.
A previsão das cheias para Manaus e o entorno é facilitada
pela grande extensão da bacia e sua baixa declividade, o que
leva a uma lenta propagação da onda de cheia, possível de se
prever com antecedência de 75 dias do pico máximo a ser al-
cançado em junho. No caso da vazante, devido ao decaimento
exponencial das cotas, sua abrupta inflexão no final da curva
e a influência da descarga das águas subterrâneas, levam a
mais incertezas para a sua previsão. Em ambas, só foi possível
a elaboração de modelos de previsão porque existe uma série
histórica centenária para os níveis do rio Negro, no Porto de
Manaus.
Em termos de atividade econômica para a população ribei-
rinha as cheias acarretam na interrupção da pesca e da agricul-
tura, feitas intensamente no período de águas baixas. Porém,
problemas para a navegação, isolamento de comunidades e
acesso à água potável ocorrem na vazante, sendo mais acen-
Figura 7: Rede de Monitoramento para Eventos Críticos. tuados os seus efeitos nos lagos que estão topograficamente
acima do nível dos rios.
O monitoramento hidrológico na bacia amazônica é efeti-
vo com a operação permanente da rede hidrometeorológica
básica, cuja obtenção de séries hidrológicas, de longo prazo,
é fundamental. Ademais, os eventos críticos de baixa freqüên-
cia e alta magnitude são influenciados por sistemas climáticos
globais, com variabilidade natural de centenas ou milhares de
anos. Os registros dessa variação podem ser procurados nos
depósitos sedimentares dos lagos amazônicos, que guardam
as informações dos paleoambientes.
A análise das séries hidrológicas e o entendimento de sua
variabilidade no passado poderão descortinar o cenário das
mudanças climáticas na Amazônia.

Figura 8: Cotagrama do Boletim de Monitoramento de Referências bibliográficas


Eventos Crítico. ANA – AGÊNCIA NACIONAL DE ÁGUAS, 2007. Relatório
da expedição científica à nascente do rio Amazonas,
Os efeitos das cheias e das vazantes para a população ri-
Andes do Sul do Peru. Superintendência de Adminis-
beirinha são distintos, enquanto no período de águas altas há
escassez do pescado e inundação das várzeas usadas para tração da Rede Hidrometeorológica. Brasília, 48p.
plantio, tendo em conseqüência menor atividade econômica. ANDRADE PINTO, E.J.& OLIVEIRA, D. 2006. Previsão de
No período das águas baixas há a safra do pescado e terras vazante do sistema Negro-Solimões. CPRM-Superin-
para a agricultura, porém manifesta-se o problema da segu- tendência Regional de Manaus.
rança da navegação, isolamento das comunidades e dificulda-
de de acesso para a água potável, tanto pelos igarapés secos ANEEL – AGÊNCIA NACIONAL DE ENERGIA ELÉTRICA,
como pelo rebaixamento do nível freático em poços e cister- 1997. Série estudos e informações hidrológicas e
nas. Há que ressaltar que a vazante é mais acentuada nos la- energéticas – Águas. Brasília.
gos, pois na medida que o rio principal atinge seu nível mais CPRM – SERVIÇO GEOLÓGICO DO BRASIL, 2005. Relató-
baixo, os lagos, por situarem-se em cotas topográficas mais rio da Vazante de 2005. Superintendência Regional
elevadas, podem secar totalmente. Esse foi o maior problema de Manaus. Manaus, 12p.

WORKSHOP GEOTECNOLOGIAS APLICADAS ÀS ÁREAS DE VÁRZEA DA AMAZÔNIA 101


CPRM – SERVIÇO GEOLÓGICO DO BRASIL, 2007. Monito- OLIVEIRA, D.; KUWAHARA, N. 2000. Monitoramento hi-
ramento hidrológico. Boletim no 19. Superintendên- drológico na Amazônia Ocidental. Monografia apre-
cia Regional de Manaus. Manaus, 14p. sentada no curso de especialização em gerencia-
HOORN, C. 2006. A formação do Amazonas. Scientific mento de águas, Centro de Ciências do Ambiente,
American – Brasil. No50. Ediouro-Segmento-Duetto, Universidade Federal do Amazonas.
São Paulo. 98p.
MAIA NETO, R.F.; LOPES, E.S., 1990. As cheias de Ma-
naus. Revista Ciência e Tecnologia.

102 WORKSHOP GEOTECNOLOGIAS APLICADAS ÀS ÁREAS DE VÁRZEA DA AMAZÔNIA


Lista de Participantes
Nome Instituição Nome Instituição
Adriana Gomes Affonso INPE Jane Santos Dantas ProVárzea
Adriana Magalhães ProVárzea Jeú Linhares Bentes Junior IPAAM
Alexandre Deodato UFAM Jorge Catique UFAM
Alexandre Moia Vieira SIPAM José Carlos Ribeiro Reino ProVárzea Parintins
Alexandra de Souza José Luiz Nascimento IPAAM
IPAAM
Santiago José Moura Villas Boas CPRM
Alzenilson Aquino ProVárzea Parintins Juliana Belota ProVárzea
Anna Pauletti Cruz Rogério SIPAM Kate Anne Souza ProVárzea
Anselmo Cristiano de Kedma Cristiane Yamamoto PIATAM
ProVárzea CSR - Brasilia
Oliveira
Laura Adriana Chamo INPA
Antonia L. F. Barroso ProVárzea
Leonara de Oliveira Queiroz PIATAM
Antonio Carlos Witkoski SECT
Lilia Valessa PIATAM
Arlene O. Souza ProVárzea
Luciana Carvalho Crema SIPAM
Bernd Mitlewski GTZ
Luiz Alexandre Chicharo
Bruce Forsberg INPA ProVárzea
Voss
Carlos Benedito da Silva Luiz Henrique Xavier Jornal do Comércio
SIPAM
Soares
Luiz Rubens Piedade INPA
Cecília Maciel Barroso SIPAM
Manuel Ricardo Dourado SIPAM
César Valdenir Teixeira ProVárzea CSR - Brasilia
Manuel Silva Lima ProVárzea
Charlene Maria Muniz da
Pref. Municipal de Parintins Marcella Ruffino Escola da Cidade São Paulo
Silva
Claúdia de Andrade Marcelo Bassols Raseira ProVárzea
ATECH
Tocantins Marcelo Derzi Vidal ProVárzea
David Alves da Silva IPAAM Marcelo Parise SIPAM
Denise Cunha PIATAM Márcia Melo Ramos PIATAM
Edgar Fagundes Filho PIATAM Márcio Luiz da Silva SIGLAB CPCR INPA
UFG - Universid de La Plata Marco Antonio de Oliveira CPRM
Edgardo Manuel Latrubesse
ARG
Marco Antonio Horbe CPRM
Edileuza Melo PIATAM
Maria Adelaide Mansini
Elisa Xavier Costa Alves IPAAM CPRM
Maia
Elizângela de França Maria do Rosário Lobato Embrapa Amazônia
PIATAM
Carneiro Rodrigues Ocidental
Emerson Carlos Soares UFAL Maria Helena C. Mourão UFAM
Fábio Eduardo de Giusti Maria Luiza Gonçalves de
SIPAM ProVárzea Parintins
Sanson Souza
Felipe Moreira Salles SIPAM Maria Teresa Fernandez INPA CPBA Projeto Max
Fernando Pelon de Miranda PIATAM Piedade Planck
Flávio Bocarde ProVárzea Mariza Alves de Macedo SIPAM
Francimara Torres de Freitas PIATAM Mauro Luis Ruffino SEAP PR
Gleicyane Souza Feitosa IPAAM Melyse Cordeiro PIATAM
Hilton Luiz Siqueira da Igreja UFAM Naziano Filizola PIATAM
Hueliton da Silveira Ferreira IBAMA Tefé - AM Ney Robinson Petrobras
Isabel Castro PIATAM Nilson Clementino Ferreira CEFET - GO
Jaci Saraira SIPAM Noely Vicente Ribeiro UFG
Jackson Colares da Silva PIATAM Núbia Gonzaga ProVárzea

WORKSHOP GEOTECNOLOGIAS APLICADAS ÀS ÁREAS DE VÁRZEA DA AMAZÔNIA 103


Nome Instituição Nome Instituição
Patricia Maria Ferreira ProVárzea Tatianna S Portes ProVárzea
Raimunda Queiroz de Mello ProVárzea Santarém Tereza Cristina Souza de
PIATAM
Raimundo Nonato de Abreu Oliveira
INPA COPE LTSP
Aquino Thaissa Sobreiro PIATAM
Rosângela Aguiar Costa SIPAM Wanderley Rocha da Silva Santarém
UFG - Universid de La Plata Warley Arruda PIATAM
Sâmia Aquino da Silva
ARG Embrapa Amazônia
Wenceslau Geraldes Teixeira
Sandra Beltran Pedreros PIATAM Ocidental
Silvana Keyla B. Lobato Amazonastur Willer Hermeto Almeida
ProVárzea
Solange Costa SIPAM Pinto

Tathiana Oliveira ProVárzea Wolfran Maennling GTZ

104 WORKSHOP GEOTECNOLOGIAS APLICADAS ÀS ÁREAS DE VÁRZEA DA AMAZÔNIA

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