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Objeto de assunto: a acumulação do capital a partir das suas fases mais modestas e primárias )
exploração direta e predatória do trabalho muscular). O enriquecimento é feito à custa da
exploração brutal do trabalho servil, da renda imobiliária arrancada do pobre, da usura e ate
do roubo simples e puro, o que se pode qualificar como primitivismo econômico.
Narra a ascensão do taverneiro português João Romão, começando pela exploração de uma
escrava fugitiva que usou como amante e besta de carga, fingindo te-la alforriada, e que se
mata quando ele a vai devolver ao dono, pois uma vez enriquecido, precisa liquaidar os
hábitos do passado e assumir as marcas da posição nova. Mas a verdadeira matéria prima de
seu êxito é o cortiço, do qual tira o máximo de lucro sob a forma de alugueis e venda de
gêneros
Naquele tempo, o trabalho era encarado como derrogação e forma de nivelar por baixo, quase
a esfera da animalidade. João romão não se distingue, no inicio do livro da escrava Bertoleza,
mas é o principio construtor e animador da morada coletiva, de cuja exploração dura vai tirado
os meus que o elevam no fim do livro ao andar da burguesia. Quem ri melhor é João Romão,
pois ao final do livro vê as vidas destroçadas dos outros, quimados como lenha para a
acumulação brutal de seu dinheiro.
Trabalho horrivelmente derrogatório aos olhos dos brasileiros livres, traduzindo-se para ele
numa espécie de animalização do português trabalhador.
Natureza tropical do Rio de Janeiro Raças e tipos humanos misturados Cortiço. Para
Aluísio a natureza que cerca o cortiço condiciona um modo de relacionamento entre diversos
grupos raciais, que por sua vez fazem do cortiço o tipo de aglomerado humano que é. E essa
serie causal encarnaria o que se passava em escala nacional.
Traduz a mistura de raças e sua convivência como promiscuidade da habitação coletiva, onde
brancos, negros e mulatos são explorados e dominados pelo português. Tinha-se uma visão
pessimista: coexitencia de todos os nossos tipos raciais, passa a representar, através dele,
aspectos que definem o pais todo.
O cortiço, o mestiço é capitoso, sensual irrequieto, fermento de dissolução que justifica todas
as transgressões e constitui em face do europeu um perigo e uma tentação.
O mecanismo do cortiço nele descrito é regido por um determinismo estrito, que mostra a
natureza (meio) condicionando o grupo (raça) e ambos definindo as relações humanas na
habitação coletiva. Mas há um duplo movimento: o mecanismo de exploração do português,
que rompe as contingências e a partir do cortiço, domina a raça e supera o meio. Um.
Centrípeto, é a pressão do meio e da raça pesando negativamente sobre o cortiço e fazendo
dele o que é; outro centrífugo, é o esforço do estrangeiro vencendo triunfalmente as pressões.
O Jerônimo cedeu à atração da terra, dissolveu-se nela e com isso perdeu a possibilidade de
dominá-la, como João Romão, porque deixou quebrar a relação de possuidor e coisa possuída,
ser massa dominada. Processo natural de envolvimento e queda, onde a natureza do pais
funciona como força perigosa, encarnada figuramente em Rita, que sendo personagem
atuante é ao mesmo tempo símbolo, súcubo e gênio da terra.
Jeronimo: português honrado e comedido que, ao se apaixonar pela mestiça Rita Baiana e por
causa dela abandonar mulher e filha. Jeronimo adota a comida local e sua força vai diminuindo
enquanto os sentidos se aguçam e o corpo ganha hábitos de asseio. Tudo culmina numa certa
aceitação triunfante da natureza. O abrasileiramento de Jerônimo é regido quase ritualmente
pela baiana, que o envolve em lendas e cantigas do norte, dá-lhes pratos apimentados. Este
abrasileiramento é expressivamente marcado pela perda do espirito da economia e da ordem,
“da esperança de enriquecer”.
Há no cortiço um pouco de Iracema, com a índia= virgem dos lábios de mel + licor de jurema,
transposta aqui para a baiana= corpo cheiroso + filtros capitosos que derrubam um novo
Martim Soares, cuja parte arrivista e consquistadora é João Romão, mas cuja parte romântica
e fascinada pela terra é Jeronimo. Iracema e Rita são igualmente a Terra. Lá com o filtro da
jurema, aqui, com o do café, que tem um sentido afrodisíaco e o símbolo de beberagem
através do qual penetram no português as seduções do meio.
O símbolo supremo é toda via o Sol, que percorre o livro como manifestação da natureza
tropical e principio masculino de fertilidade. Sol e calor são concebidos como chama que
queima, derrete a disciplina, fomenta a inquietação e a turbulência, fecunda como sexo.
O português tem a força, a astúcia, a tradição. O brasileiro serve a ele de inepto animal de
carga, e sua única vingança consistem absorvê-lo passivamente pelo erotismo, que, já vimos,
aparece como símbolo da sedução da terra. Para se livrar disso e poder realizar o seu projeto
de enriquecimento e ascensão social, o português do tipo João Romão precisa despir o sexo de
qualquer atrativo, recusar o encanto das Ritas Bahianas e ligar-se com a podre Bertoleza, meio
gente, meio bicho.
Esta Bertoleza, aliás, que era cafuza, serve para surpreendermos o narrador em pleno racismo,
corrente no seu tempo com apoio numa pseudo-ciência antropológica que angustiava os
intelectuais brasileiros quando pensavam na mestiçagem local. João Romão propõe a
Bertoleza morarem juntos, e ela aceita, feliz.
Substrato de animalidade: todos tem na economia d’o cortiço uma espécie de destino animal
comum, acentuado pelo gosto naturalista da visão fisiológica, a tendência a conceber a vida
como soma das atividades do sexo e da nutrição, sem outras esferas significativas. Dai uma
espécie de animalidade geral, a começar pelo conjunto da habitaçãi coletiva, vista como
“aglomeração tumultuosa de machos e femeas”, que manifestam o “prazer animal de existir”
Essa animalização efetuada sistematicamente pelo narrador acarreta o uso de verbos que
eram brutais para as normas do tempo “mocinha Florinda tinha emprenhado”; comparações
que manifestavam expressamente o intuito de rebaixamento, a animalização como redução
voluntaria ao natural, ao elementar comum, que nivela o homem ao bicho, enquanto
organismo sujeitos ambos às leis decorrentes de sua estrutura.
Aluisio não apenas se afasta desse gosto pelo aspecto saudável das funções fisiológicas, mas
altera a relação “função fisiológica – manifestação individual”: a natureza física. No caso,
natureza física do Brasil, encarnado pelo sol como manifestação simbólica.
Um dia depois de violentada, mas ao mesmo tempo despertada sexualmente pela cocote, a
mocinha adormece no capinzal ao fundo do cortiço e sonha que esta numa floresta vermelha
de cor de sangue, fascinada pelo sol. Pombinha acorda, sentindo a puberdade
No livro, há ficção e realidade, porque os fatos narrados tendem a ganhar um segundo sentido,
de cunho alegórico. Visto desse ângulo, o cortiço passa a representar o brasil, na medida em
que o espaço limitado onde atua o projeto ecnomico de joão romao figura em escorço as
condições gerais do pais, visto como matéria prima de lucro para o capitalista.
Havia uma tal necessidade de auto definição nacional, que os escritores pareciam
constrangidos se não pudessem usar o discurso para representar a cada passo o país,
desconfiando de uma palavra não mediada por ele. Isso é notório no Naturalismo, que desejou
uma narrativa empenhada, cheia de realidade, e que no Brasil contribuiu de maneira
importante pelo fato de ter dado posição privilegiada ao meio e à raça como forças
determinantes
Trechos comentados:
Características do naturalismo:
A literatura deve observar a realidade, evitando as idealizações.
Naturalismo procura ressaltar o lado animalesco dos personagens para ostrar que o
comportamente do ser humano é semelhante aos dos animais. Os personagens são movidos
mais por instintos do que pela razão.
É importante oberservar a ênfase no lado animalesco mostra que o naturlismo tem uma visão
pessimisra a respeito do ser humano. Referencias a problemas fisiológicos, a loucura e ao
processo de coisificação, e reificação.
Darwinismo social: considerava que existe na sociedade uma competição permanente entre os
indivíduos na sociedade,. Disputa-se poder, dinheiro, prestigio e fama, nessa competição os
vencedores tem ascensão social e podem vir a fazer parte da elite, enquanto os perdedores
ficam na pobreza ou morrem.
Personagens:
Joao romão:
Ao contrario de jeronimo, ele não deixa levar pelo instinto sexual nem pela sensualidade do
ambiente. João romamo é capaz de iver uma vida de ascetismo para acumular o máximo de
riqueza. A transformação pela qual passa a personagem reflete na mudança do aspecto do
cortiço: em principio era uma serie de barracos construídos com a ajuda de bertolrza. Depois
do incêndio, é melhorado e ampliado. Os moradores mais pobres partem porque não tem
condição de pagar alugues tão caros.
, O foco da narração, a princípio, mantém uma aparência de imparcialidade, como se o
narrador se distanciasse do mundo por ele criado. Todavia, trata-se de uma ilusão, a maneira
de representar a realidade de forma objetiva já configura uma posição ideologicamente
tendenciosa, isto é, as escolhas feitas pelo narrador já indica um posicionamento, uma
intenção.
Como se tratava da
formação da cidade do Rio de Janeiro é possível percebermos, através da personagem
Bertoleza, a situação do negro enfrentada na época, isto é, quando não era explorada pelo seu
dono o era pelas outras pessoas da sociedade. Azevedo trouxe para a discussão as dificuldades
enfrentadas pelo negro e principalmente pela mulher negra que além de ser explorada ainda é
submetida ao total descaso.
Por isso pode-se dizer que “O Cortiço” não é somente um romance naturalista,
mas uma alegoria do Brasil, pois além de retratar a formação da cidade do Rio de Janeiro,
também faz referência a mistura de raças, que é uma das características brasileiras. Porém,
essa mistura se realiza como relações de poder, exclusão, ou seja, não se trata de uma
miscigenação tranquila. Os espaços fictícios narrados na obra exploravam a exuberante
natureza local como meio determinante. No que diz respeito ao fato de o cortiço e o sobrado
estar tão próximos, remeto-me a muitas situações com a qual convivemos em que
condomínios de luxo estão próximos a favelas, ou ainda, mansões próximas a vilas pobres.