Você está na página 1de 6

De cortiço a cortiço:

O cortiço narra historias de trabalhadores pobres, alguns miseráveis, amontoados numa


habitação coletiva.

O elemento central da narrativa é a degradação motivada pela promiscuidade agravada pelo


sexo e pela violência.

Eixo da narrativa: associação da vida do trabalhador à presença direta do explorador


econômico. A originalidade do ramance está nessa coexistência intima da exploração e do
explorador, tornado logicamente possível pela própria natureza elementar da acumulação
num pais que economicamente ainda era semicolonial( logica escravista – exploração). Aqui
ainda estavam ligados o capitalisra e o trabalhador, a começar pelo regime de escravidão que
acarretava não apenas contato, mas exploração direta e predatória do trabalho muscular.

Objeto de assunto: a acumulação do capital a partir das suas fases mais modestas e primárias )
exploração direta e predatória do trabalho muscular). O enriquecimento é feito à custa da
exploração brutal do trabalho servil, da renda imobiliária arrancada do pobre, da usura e ate
do roubo simples e puro, o que se pode qualificar como primitivismo econômico.

Narra a ascensão do taverneiro português João Romão, começando pela exploração de uma
escrava fugitiva que usou como amante e besta de carga, fingindo te-la alforriada, e que se
mata quando ele a vai devolver ao dono, pois uma vez enriquecido, precisa liquaidar os
hábitos do passado e assumir as marcas da posição nova. Mas a verdadeira matéria prima de
seu êxito é o cortiço, do qual tira o máximo de lucro sob a forma de alugueis e venda de
gêneros

Naquele tempo, o trabalho era encarado como derrogação e forma de nivelar por baixo, quase
a esfera da animalidade. João romão não se distingue, no inicio do livro da escrava Bertoleza,
mas é o principio construtor e animador da morada coletiva, de cuja exploração dura vai tirado
os meus que o elevam no fim do livro ao andar da burguesia. Quem ri melhor é João Romão,
pois ao final do livro vê as vidas destroçadas dos outros, quimados como lenha para a
acumulação brutal de seu dinheiro.

Trabalho horrivelmente derrogatório aos olhos dos brasileiros livres, traduzindo-se para ele
numa espécie de animalização do português trabalhador.

Descreveu minuciosamente o mecanismo de formação de riqueza individual. O dinheiro torna-


se central na narrativa, cujo ritmo acaba se ajustando no próprio ritmo de acumulação. Essa
acumulação assume a forma odiosa da exploração do nacional pelo estrangeiro. Dai a presença
de uma espécie de luta de raças e nacionalidades. O roubo e a exploração desalmada de joão
romão são expostos como um comportamento do prostugues forasteiro, ganhador de fortuna
à custa do natural da terra.

A obra tem baixo caráter de formulação ideológica.

Português, o exploradr capitalista: o Comendador Miranda, já posto no sobrado do vizinho do


cortiço; João Romão, labutando nest, olhando para o sobrado e lá chegando; Jeronimo, que
seguem os impulsos, nivelam-se aos da terra e perdem a vez.

Negro + mestiço: trabalhador reduzido a escravo: capoeirista Firmo e Rita Baiana

Animal: Homem alienado, rebaixado ao nível de animal.


Cortiço brasileiro é horizontal ao modo de uma senzala, embora no fim adiquira um perfil mais
umbano e um mínimo de verticalização (dois andares). Além disso cria frangos porcos, hortas
invade terrenos baldios e vai para o lado da pedreira, que joão romao também explora

O cortiço cresce, se estende, aumenta de volume e consequentemente é tratado como


realidade orgânica, por meio de imagens orgânicas que o animam e fazem dele uma espécie
da continuação do mundo natural. No começo é como se o cortiço fosse regido por lei
biológica, entretanto a vontade de joao romão parece ir atenuando o ritmo espontâneo, em
troca de um caráter mais mecânico de planejamento.

Esquematizando, teríamos que o cortiço velho, chamado Carapicus, era um aglomerado de


aparência espontânea, que todavia continha em gérmen elemento racional e dirigido do
projeto. A partir dele há um desdobramento, do qual surge o cortiço novo chamado Vila São
Romão, limpo e ordenado como um triunfo do dirigido; e há um reforço do cortiço rival, o
Cabeça-de-Gato, que mantém a espontaneidade caótica sobre a qual atuou no outro cortiço,
como força racionalizadora, o projeto de acumulação monetária do português. Mas o triunfo
desse projeto é o sobrado que João Romão constrói para si ao mesmo tempo que reforma o
cortiço, marcando a sua entrada nas classes superiores e desbancando o sobrado do vizinho
Miranda, com cuja filha acaba por casar.

Realismo alegórico segundo o qual as descrições da vida cotidiana contem implicitamente um


outro plano de significado. O cortiço de Botafogo é uma habitação coletiva que penetrou em
todas as imaginações e sempre tirou o seu prestigio do fato de parecer uma imagem poderosa
e direta da realidade. Também pode-se afirmar que é uma alegoria do Brasil, com sua mistura
de raças, o choque entre elas, a natureza fascinadora e difícil, o capitalismo estrangeiro
postado na entrada, vigiando, extorquindo, mandando e desprezando e participando.

Natureza tropical do Rio de Janeiro  Raças e tipos humanos misturados  Cortiço. Para
Aluísio a natureza que cerca o cortiço condiciona um modo de relacionamento entre diversos
grupos raciais, que por sua vez fazem do cortiço o tipo de aglomerado humano que é. E essa
serie causal encarnaria o que se passava em escala nacional.

Traduz a mistura de raças e sua convivência como promiscuidade da habitação coletiva, onde
brancos, negros e mulatos são explorados e dominados pelo português. Tinha-se uma visão
pessimista: coexitencia de todos os nossos tipos raciais, passa a representar, através dele,
aspectos que definem o pais todo.

O cortiço é o centro de convergência, o lugar por excelência, em função do qual tudo se


exprime. É a “natureza Brasileira”, que desempenha papel essencial, como explicação dos
comportamentos transgressivos, como combustível das paixões e ate a simples rotina
fisiológica. Aceita a visão romântico-exotica de uma natureza poderosa e transformadora.

O cortiço, o mestiço é capitoso, sensual irrequieto, fermento de dissolução que justifica todas
as transgressões e constitui em face do europeu um perigo e uma tentação.

O mecanismo do cortiço nele descrito é regido por um determinismo estrito, que mostra a
natureza (meio) condicionando o grupo (raça) e ambos definindo as relações humanas na
habitação coletiva. Mas há um duplo movimento: o mecanismo de exploração do português,
que rompe as contingências e a partir do cortiço, domina a raça e supera o meio. Um.
Centrípeto, é a pressão do meio e da raça pesando negativamente sobre o cortiço e fazendo
dele o que é; outro centrífugo, é o esforço do estrangeiro vencendo triunfalmente as pressões.

O Jerônimo cedeu à atração da terra, dissolveu-se nela e com isso perdeu a possibilidade de
dominá-la, como João Romão, porque deixou quebrar a relação de possuidor e coisa possuída,
ser massa dominada. Processo natural de envolvimento e queda, onde a natureza do pais
funciona como força perigosa, encarnada figuramente em Rita, que sendo personagem
atuante é ao mesmo tempo símbolo, súcubo e gênio da terra.

Jeronimo: português honrado e comedido que, ao se apaixonar pela mestiça Rita Baiana e por
causa dela abandonar mulher e filha. Jeronimo adota a comida local e sua força vai diminuindo
enquanto os sentidos se aguçam e o corpo ganha hábitos de asseio. Tudo culmina numa certa
aceitação triunfante da natureza. O abrasileiramento de Jerônimo é regido quase ritualmente
pela baiana, que o envolve em lendas e cantigas do norte, dá-lhes pratos apimentados. Este
abrasileiramento é expressivamente marcado pela perda do espirito da economia e da ordem,
“da esperança de enriquecer”.

Há no cortiço um pouco de Iracema, com a índia= virgem dos lábios de mel + licor de jurema,
transposta aqui para a baiana= corpo cheiroso + filtros capitosos que derrubam um novo
Martim Soares, cuja parte arrivista e consquistadora é João Romão, mas cuja parte romântica
e fascinada pela terra é Jeronimo. Iracema e Rita são igualmente a Terra. Lá com o filtro da
jurema, aqui, com o do café, que tem um sentido afrodisíaco e o símbolo de beberagem
através do qual penetram no português as seduções do meio.

O símbolo supremo é toda via o Sol, que percorre o livro como manifestação da natureza
tropical e principio masculino de fertilidade. Sol e calor são concebidos como chama que
queima, derrete a disciplina, fomenta a inquietação e a turbulência, fecunda como sexo.

O português tem a força, a astúcia, a tradição. O brasileiro serve a ele de inepto animal de
carga, e sua única vingança consistem absorvê-lo passivamente pelo erotismo, que, já vimos,
aparece como símbolo da sedução da terra. Para se livrar disso e poder realizar o seu projeto
de enriquecimento e ascensão social, o português do tipo João Romão precisa despir o sexo de
qualquer atrativo, recusar o encanto das Ritas Bahianas e ligar-se com a podre Bertoleza, meio
gente, meio bicho.

Esta Bertoleza, aliás, que era cafuza, serve para surpreendermos o narrador em pleno racismo,
corrente no seu tempo com apoio numa pseudo-ciência antropológica que angustiava os
intelectuais brasileiros quando pensavam na mestiçagem local. João Romão propõe a
Bertoleza morarem juntos, e ela aceita, feliz.

Substrato de animalidade: todos tem na economia d’o cortiço uma espécie de destino animal
comum, acentuado pelo gosto naturalista da visão fisiológica, a tendência a conceber a vida
como soma das atividades do sexo e da nutrição, sem outras esferas significativas. Dai uma
espécie de animalidade geral, a começar pelo conjunto da habitaçãi coletiva, vista como
“aglomeração tumultuosa de machos e femeas”, que manifestam o “prazer animal de existir”

Essa animalização efetuada sistematicamente pelo narrador acarreta o uso de verbos que
eram brutais para as normas do tempo “mocinha Florinda tinha emprenhado”; comparações
que manifestavam expressamente o intuito de rebaixamento, a animalização como redução
voluntaria ao natural, ao elementar comum, que nivela o homem ao bicho, enquanto
organismo sujeitos ambos às leis decorrentes de sua estrutura.

A reduçã o à animalidade decorre da redução geral à figiologia, ou ao homem concebido como


síntese das funções orgânicas. Dai as palavras terem intuito centifico. Teta por exempl é
designativo técnico e deve portanto substituir colo dos clássicos e seio dos românticos, porque
permite abranger mais espécies do que a humana e assim impor uma visão do homem
mergulhado na vasya comunidade orgânica dos mamíferos, rompendo sua excepcionalidade
Quebra da desejada objetividade cientifica do naturalismo, a visão fisiológica se transforma em
lubricidade e ate obscenidade.

Aluisio não apenas se afasta desse gosto pelo aspecto saudável das funções fisiológicas, mas
altera a relação “função fisiológica – manifestação individual”: a natureza física. No caso,
natureza física do Brasil, encarnado pelo sol como manifestação simbólica.

Pequeno drama da nubilidade de Pombinha. A cocote Leonie protege Pombinha, se interessa


pelo seu casamento e acaba iniciando-a no homossexualismo feminino. Mas é esse ato
desnatural, que ao contrario do desabrochar espontâneo, provoca finalmente os sinais da
maturidade sexual.

Um dia depois de violentada, mas ao mesmo tempo despertada sexualmente pela cocote, a
mocinha adormece no capinzal ao fundo do cortiço e sonha que esta numa floresta vermelha
de cor de sangue, fascinada pelo sol. Pombinha acorda, sentindo a puberdade

É curioso observar como, mesmo mergulhado na objetividade naturalista, o escritor suspende


o curso da mímese e recorre ao sonho carregado de conteúdo não apenas simbólico, mas
alegórico: ao possuir figuradamente Pombinha, o Sol-Brasil, que escalda o sangue, dissolve os
costumes, desencaminha os portugueses honrados é também força de vida. Assim, Aluísio põe
entre parênteses a "explicação" determinista, encharcada de meio e raça, para recorrer à
"visão", que se interpreta na chave do símbolo e da alegoria.

No cortiço esta presente o mundo do trabalho, do lucro, da competição da exploração


econômica visível, que dissolvem a fabula e sua atemporalidade.

No livro, há ficção e realidade, porque os fatos narrados tendem a ganhar um segundo sentido,
de cunho alegórico. Visto desse ângulo, o cortiço passa a representar o brasil, na medida em
que o espaço limitado onde atua o projeto ecnomico de joão romao figura em escorço as
condições gerais do pais, visto como matéria prima de lucro para o capitalista.

Havia uma tal necessidade de auto definição nacional, que os escritores pareciam
constrangidos se não pudessem usar o discurso para representar a cada passo o país,
desconfiando de uma palavra não mediada por ele. Isso é notório no Naturalismo, que desejou
uma narrativa empenhada, cheia de realidade, e que no Brasil contribuiu de maneira
importante pelo fato de ter dado posição privilegiada ao meio e à raça como forças
determinantes

O Cortiço: um estudo dos personagens à luz da Sociologia do Romance

Trechos comentados:

Diversidade da linguagem: o narrador combina uma variedade de níveis de linguagem: a culta,


a cientifica, a linguagem coloquial correspondente a classe social e a origem das personagens,
seja ela português ou brasileiros. Incorporação de expressões populares , adequação da
linguagem ao nível e à situação vivada pelas personagens.

Discurso indireto livre:

Função de permitir ao narrador mostrar a conversa do personagem consigo mesmo (monologo


interior)

Animalização⁄zoomorfização: aspecto escatológico = repulsivo

Determinismo: uso da teoria determinista, destacando especialmente a ingluencia do


ambiente sobre as personagens. O ambiente é entendido tanto de modo restrito (ocortiço)
quanto de modo mais amplo (o Brasil)
O ambiente do cortiço, com sua promiscuidade, falta de privacidade, condições precárias de
higiene e baixa escolaridade, corrompe a inocência e a pureza, como acontece com Pombinha.
O ambiente tropical, com seu sol abrasador, seu calor e sua vegetação exuberante, estimula a
preguiça, a sensualidade e os comportamentos irracionais. Sol é uma fonte que faz a vida
germinar e desperta o poder reprodutivo e a sexualidade (razão pela qual, Pombinha menstrua
pela primeira vez quando tinha ficado exposta ao sol abrasador).

O “abrasileiramento” de Jerônimo é efeito do ambiente do cortiço, com seus baixos padrões


morais e sua promiscuidade sexual, assim como do clima tropical. Jerônimo tornou-se
preguiçoso, imprevidente, dado aos prazeres físicos. Segundo o narrador, Jerônimo cedeu às
“imposições do sol e do calor”. Observe-se que a transformação de Jerônimo é comparada
com a metamorfose da crisálida em borboleta. Trata-se de mais um exemplo de animalização,
mas serve também para reforçar a ideia de que a mudança de Jerônimo foi um processo
natural e inevitável.

Julgamento moral implícita:


Em vários momentos. O narrador faz julgamentos morais que podem ser percebidos pelas
escolhas lexias (vocabulário).

Romance urbano: sua ação se passa no Rio de Janeiro


Romance de costums: dscreve de maneira ampla e detalhada os hábitos da população carioca
da época
Romance de tese: o livro tenta provar a tese de que o ambiente do cortiço tem uma ingluencia
negativa sobre os moradores. Tese determinista e pessimista

Características do naturalismo:
A literatura deve observar a realidade, evitando as idealizações.
Naturalismo procura ressaltar o lado animalesco dos personagens para ostrar que o
comportamente do ser humano é semelhante aos dos animais. Os personagens são movidos
mais por instintos do que pela razão.

É importante oberservar a ênfase no lado animalesco mostra que o naturlismo tem uma visão
pessimisra a respeito do ser humano. Referencias a problemas fisiológicos, a loucura e ao
processo de coisificação, e reificação.

Teorias aceitas pelo naturalismo: positivismo, darwinismo social e o determinismo.


Positivismo: defendia que o escritor deveria observar e descrever a sociedade com uma
postura cientifica, isto é, simplesmente narrando os fatos de maneira objetiva, sem
envolvimento emoionl ou julgamentos morais.

Darwinismo social: considerava que existe na sociedade uma competição permanente entre os
indivíduos na sociedade,. Disputa-se poder, dinheiro, prestigio e fama, nessa competição os
vencedores tem ascensão social e podem vir a fazer parte da elite, enquanto os perdedores
ficam na pobreza ou morrem.

Personagens:
Joao romão:
Ao contrario de jeronimo, ele não deixa levar pelo instinto sexual nem pela sensualidade do
ambiente. João romamo é capaz de iver uma vida de ascetismo para acumular o máximo de
riqueza. A transformação pela qual passa a personagem reflete na mudança do aspecto do
cortiço: em principio era uma serie de barracos construídos com a ajuda de bertolrza. Depois
do incêndio, é melhorado e ampliado. Os moradores mais pobres partem porque não tem
condição de pagar alugues tão caros.
, O foco da narração, a princípio, mantém uma aparência de imparcialidade, como se o
narrador se distanciasse do mundo por ele criado. Todavia, trata-se de uma ilusão, a maneira
de representar a realidade de forma objetiva já configura uma posição ideologicamente
tendenciosa, isto é, as escolhas feitas pelo narrador já indica um posicionamento, uma
intenção.

Como se tratava da
formação da cidade do Rio de Janeiro é possível percebermos, através da personagem
Bertoleza, a situação do negro enfrentada na época, isto é, quando não era explorada pelo seu
dono o era pelas outras pessoas da sociedade. Azevedo trouxe para a discussão as dificuldades
enfrentadas pelo negro e principalmente pela mulher negra que além de ser explorada ainda é
submetida ao total descaso.
Por isso pode-se dizer que “O Cortiço” não é somente um romance naturalista,
mas uma alegoria do Brasil, pois além de retratar a formação da cidade do Rio de Janeiro,
também faz referência a mistura de raças, que é uma das características brasileiras. Porém,
essa mistura se realiza como relações de poder, exclusão, ou seja, não se trata de uma
miscigenação tranquila. Os espaços fictícios narrados na obra exploravam a exuberante
natureza local como meio determinante. No que diz respeito ao fato de o cortiço e o sobrado
estar tão próximos, remeto-me a muitas situações com a qual convivemos em que
condomínios de luxo estão próximos a favelas, ou ainda, mansões próximas a vilas pobres.

Você também pode gostar