Explorar E-books
Categorias
Explorar Audiolivros
Categorias
Explorar Revistas
Categorias
Explorar Documentos
Categorias
Direitos Humanos
conquistas outrora alcançadas
de Pós-graduação em História formas de pensar a diferença, de forma a agregar conhecimentos
parecem ser novamente
da UFGD. É doutor em História e propostas de reflexão em procedimentos contrários ao questionadas, e os direitos a
pela UFPR, onde também supramencionados.
concluiu, em 2015, estágio de serem atingidos por grandes
Os Direitos Humanos
Sanduíche pela Universidade uma mudança social? Qual o
de Chicago. Mestre em Ciência, pesquisadores.
movimento que existe entre a
Tecnologia e Sociedade pela Ao tratar de Direitos Humanos não podemos admitir que estes
UFSCar. Graduação em formulação de uma agenda, que
se fundem nos preceitos de uma “pós-verdade”, pois tais direitos proporcione a definição de
Ciências Sociais, Sociologia e devem ter por escopo o humano em sua amplitude e esta
Antropologia pela Unicamp. uma prescrição jurídica, que
Engenheiro Eletricista pela FEI. compreende toda verdade, ainda que produzida socialmente por é mediada por uma política
Antes da área acadêmica atuou seu tempo e espaço. pública, e o processo de sua
por 27 anos na área industrial. Maria Silvia Rosa Santana (UEMS) inserção na sociedade? Como
Atua com os temas da Sociologia Diogo da Silva Roiz
os direitos humanos foram
das Organizações, Sociologia Geovane Ferreira Gomes discutidos no pensamento social
da Tecnologia, Sociologia da Isael José Santana brasileiro? Essas são questões
Educação, Desenvolvimento (Organizadores) fundamentais para pensarmos
Regional e Campo CTS. ISBN: 978-85-94353-16-0
a dinâmica entre os direitos
Isael José Santana humanos e o pensamento social
Doutor em Filosofia do Direito brasileiro; os direitos humanos
pela PUC/SP; Docente do Curso entre a prescrição jurídica e as
de Direito, Pós-Graduação práticas educacionais; os direitos
em Direitos Humanos; Pós- humanos no pensamento social
Graduação em Educação e do brasileiro.
Curso de Ciência Sociais da Os organizadores
Universidade Estadual de Mato
Grosso do Sul - líder do grupo
criminologia crítica: diálogos
Apoio:
Editor Chefe
Bruno César Nascimento
Conselho Editorial
Prof. Dr. Alexandre de Sá Avelar (UFU)
Prof. Dr. Arthur Lima de Ávila (UFRGS)
Prof. Dr. Cristiano P. Alencar Arrais (UFG)
Prof. Dr. Diogo da Silva Roiz (UEMS)
Prof. Dr. Eurico José Gomes Dias (Universidade do Porto)
Prof. Dr. Hans Urich Gumbrecht (Stanford University)
Profª. Drª. Helena Miranda Mollo (UFOP)
Prof. Dr. Jurandir Malerba (UFRGS)
Profª. Drª. Karina Anhezini (UNESP - Franca)
Prof. Dr. Marcelo de Mello Rangel (UFOP)
Profª. Drª. Rebeca Gontijo (UFRRJ)
Prof. Dr. Ricardo Marques de Mello (UNESPAR)
Prof. Dr. Thiago Lima Nicodemo (UERJ)
Prof. Dr. Valdei Lopes de Araújo (UFOP)
Profª. Drª Verónica Tozzi (Univerdidad de Buenos Aires)
Diogo da Silva Roiz
Geovane Ferreira Gomes
Isael José Santana
(Organizadores)
Os direitos humanos
e o pensamento social
brasileiro
Editora Milfontes
Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra poderá ser
reproduzida ou transmitida por qualquer forma e/ou quaisquer meios
(eletrônico ou mecânico, incluindo fotocópia e gravação digital) sem a
permissão prévia da editora.
Revisão
Sob a responsabilidade exclusiva dos organizadores
Coordenação Técnica
Bruno César Nascimento
Capa
Imagem da capa: Salão de Conferência da Organização das Nações Unidas
Projeto Gráfico e Editoração
Wesley Ribeiro dos Santos
Impressão e Acabamento
GM Gráfica e Editora
Inclui Bibliografia.
ISBN: 978-85-94353-16-0
CDD 341.481
Sumário
Prefácio..............................................................................7
Apresentação.....................................................................11
Parte I
Os direitos humanos entre a prescrição jurídica e a prática
educacional
Considerações acerca do liame entre os direitos
fundamentais e o direito de família................................ 21
Léia Comar Riva
Parte II
Os direitos humanos no pensamento social brasileiro
A batalha pelo uso da “temporalidade”: projetos de escrita
da história para pensar o Brasil entre os “homens de letras”
de São Paulo no início da década de 1930.........................189
Diogo da Silva Roiz
Prefácio
7
Os direitos humanos e o pensamento social brasileiro
8
Diogo da Silva Roiz, Geovane Ferreira Gomes, Isael José Santana (org.)
humanos?
Penso que esta obra pode se configurar como um exemplo
da resistência pleiteada. Primeiro, pelo próprio tema a que se propõe.
Depois, por ser fruto de um esforço coletivo, compartilhando formas
de pensar a diferença, de forma a agregar conhecimentos e propostas
de reflexão em procedimentos contrários ao supramencionados.
Em tempos difíceis, tanto no universo macro (já que a crise
instituída pelo fenômeno da “pós-verdade” parece ser universal)
quanto no micro (refletidos em todas as tentativas diretas, por parte de
uma elite brasileira golpista, de desmanche da Universidade pública
e gratuita, plural e autônoma), promover discussão sobre Direitos
Humanos no campo jurídico e educacional é mais que premente,
torna-se mais uma da funções políticas de docentes e pesquisadores.
Ao tratar de Direitos Humanos não podemos admitir que
estes se fundem nos preceitos de uma “pós-verdade”, pois tais direitos
devem ter por escopo o humano em sua amplitude e esta compreende
toda verdade, ainda que produzida socialmente por seu tempo e espaço.
Para colaborar para a construção do pensamento social
brasileiro, necessariamente é preciso refletir sobre suas raízes
fincadas na cultura eurocêntrica, que se impôs sempre partindo dos
colonizadores aos exploradores, sob um prisma de “pós-verdade”, e
permaneceu ao longo da história social do Brasil.
No fundo, não sei se há mesmo uma “pós-verdade” ou se
apenas estamos tratando que uma “verdade” estereotipada, que funda,
no desejo de exclusão, a crença de que existe uma superioridade
natural, uma inverdade que se deseja firmar em uma “pós-verdade”.
Nossa “pós-verdade” sempre ocorreu historicamente,
sem este nome, e a obra que se encontra nas mãos dos leitores busca
repensar como o país teve uma história oficiosa, um processo social
que excluiu muitos em privilégios de poucos, que se sustentam em
fatos que destoam dos direitos sociais.
Desejo que sua leitura provoque muitas outras reflexões e
9
Os direitos humanos e o pensamento social brasileiro
10
Diogo da Silva Roiz, Geovane Ferreira Gomes, Isael José Santana (org.)
Apresentação
11
Os direitos humanos e o pensamento social brasileiro
12
Diogo da Silva Roiz, Geovane Ferreira Gomes, Isael José Santana (org.)
5 Cf. Souza, J. A tolice da inteligência brasileira... Op. cit.; Idem. A elite do atraso:
da escravidão a lava jato. Rio de Janeiro: Editora LeYa, 2017.
6 Souza, J. A elite do atraso... Op. cit., p. 104.
7 Que pode ser acessado em: https://anaisonline.uems.br/index.php/sciencult/index.
13
Os direitos humanos e o pensamento social brasileiro
8 As edições anteriores dos anais do evento podem ser acessadas em: https://
anaisonline.uems.br/index.php/sciencult/issue/archive.
14
Diogo da Silva Roiz, Geovane Ferreira Gomes, Isael José Santana (org.)
15
Os direitos humanos e o pensamento social brasileiro
16
Diogo da Silva Roiz, Geovane Ferreira Gomes, Isael José Santana (org.)
Referências bibliográficas:
Luhmann, N. O direito da sociedade. São Paulo: Martins Fontes, 2016.
Rayo, J. T. Educação em direitos humanos: rumo a uma perspectiva global.
Porto Alegre: Artmed, 2004.
Reis, R. R. (org.). Política de direitos humanos. São Paulo: Hucitec, 2010.
Souza, J. A tolice da inteligência brasileira. Rio de Janeiro: Editora LeYa,
2015.
Souza, J. A radiografia do golpe. Rio de Janeiro: Editora LeYa, 2016.
Souza, J. A elite do atraso: da escravidão a lava jato. Rio de Janeiro: Editora
LeYa, 2017.
17
Diogo da Silva Roiz, Geovane Ferreira Gomes, Isael José Santana (org.)
Parte I
Os direitos humanos entre a
prescrição jurídica e a prática
educacional
19
Diogo da Silva Roiz, Geovane Ferreira Gomes, Isael José Santana (org.)
Introdução
Apesar dos inegáveis avanços teóricos e metodológicos em
praticamente todas as áreas do Direito Público e Privado, entranha-
se com a construção do processo de consagração dos Direitos
Fundamentais a procura por compreender, cada vez mais, questões
que a eles se atrelam, como as relativas a sua estrutura e aos efeitos por
eles produzidos no direito privado.
Por seu turno, a abordagem desses temas requer o estudo,
dentre outros, das diferentes teorias que procuram contribuir para a
compreensão, interpretação e aplicação da norma no caso concreto e
para proteger a dignidade da pessoa humana.
O presente trabalho tem como objetivo investigar algumas
questões inerentes aos direitos fundamentais e estabelecer a vinculação
entre eles e o Direito de Família. O procedimento metodológico
constituir-se-á de pesquisa bibliográfica e documental; a análise
interpretativa dos dados levantados junto à doutrina brasileira e
estrangeira fundar-se-á “na discussão teórica das normas ou categorias
jurídicas abstratas”, e terá como referencial os trabalhos de Severino;
21
Os direitos humanos e o pensamento social brasileiro
Eco e Marchi.2
Dada a complexidade das questões propostas, a investigação
se mostra um grande desafio a ser transposto, mesmo para os
renomados constitucionalistas, civilistas e processualistas. Por isso,
ao considerar, não só a complexidade como também a amplitude
da matéria investigada, como opção metodológica, entre os vários
institutos envolvidos, foram delimitados aqueles que, ao mesmo
tempo, atendessem ao objetivo central da pesquisa e que fossem
atuais e relevantes para as ciências jurídicas, em geral e a proteção da
família, em particular. Portanto, a escolha desse recorte nada tem de
aleatório e visa, somente, iniciar os debates acerca da relação que se
pode estabelecer entre o Direito de Família e as questões abordados.
Para alcançar os objetivos propostos, abordar-se-ão os
direitos fundamentais; os princípios constitucionais e a estrutura
normativa e interpretação dos direitos fundamentais.Atrelados a estes
institutos jurídicos será examinado o Direito de Família. No final serão
apresentadas as últimas considerações do trabalho.
22
Diogo da Silva Roiz, Geovane Ferreira Gomes, Isael José Santana (org.)
23
Os direitos humanos e o pensamento social brasileiro
24
Diogo da Silva Roiz, Geovane Ferreira Gomes, Isael José Santana (org.)
25
Os direitos humanos e o pensamento social brasileiro
17 AZAMBUJA, Darcy. Teoria geral do estado. 19 ed. Porto Alegre: Editora Globo,
1980, p. 168.
18 BOBBIO, Norberto. Teoria geral da política: a filosofia política e as lições dos
clássicos. Organização Michelangelo Bavero. Trad. Daniela BeccacciaVersiane. Rio de
Janeiro: Elsevier, 2000, p. 501.
19 MALUF, Sahid. Teoria geral do Estado. 30 ed. atual. São Paulo: Saraiva, 2010, p.
374.
26
Diogo da Silva Roiz, Geovane Ferreira Gomes, Isael José Santana (org.)
27
Os direitos humanos e o pensamento social brasileiro
28
Diogo da Silva Roiz, Geovane Ferreira Gomes, Isael José Santana (org.)
27 BONAVIDES, Paulo. Curso de direito constitucional... Op. cit. p. 299 et. seq.
28 BASTOS, Celso Ribeiro. Hermenêutica e interpretação constitucional. 4. ed. rev.
e atual. São Paulo, SP: Malheiros, 2014, p. 13.
29 BASTOS, Celso Ribeiro. Curso de direito constitucional. 18 ed. ampl. e atual. São
Paulo: Saraiva, 1997, p. 154.
30 PEREIRA, Jane Reis Gonçalves. Interpretação constitucional e direitos
fundamentais: na perspectiva da teoria dos princípios. Rio de Janeiro: Renovar, 2006,
p. 62.
29
Os direitos humanos e o pensamento social brasileiro
30
Diogo da Silva Roiz, Geovane Ferreira Gomes, Isael José Santana (org.)
34 SILVA, José Afonso da. Curso de direito constitucional positivo... Op. cit., p. 86-
87.
35 GUERRA, Sidney. Hermenêutica, ponderação e colisão de direitos
fundamentais... Op. cit., p. 7.
36 SOUZA NETO, Cláudio Pereira; SARMENTO, Daniel. Direito constitucional...
Op. cit., p. 379; SILVA, Virgílio Afonso da. A constitucionalização do direito... Op.
cit., p. 30.
31
Os direitos humanos e o pensamento social brasileiro
32
Diogo da Silva Roiz, Geovane Ferreira Gomes, Isael José Santana (org.)
43 ALEXY, Robert. Teoria dos direitos fundamentais... Op. cit., p. 87.
44 Ibidem, p. 90.
45 BONAVIDES, Paulo. Curso de direito constitucional... Op. cit., p. 292.
46 Ibidem, p. 292.
33
Os direitos humanos e o pensamento social brasileiro
47 SILVA, Virgílio Afonso da. A constitucionalização do direito... Op. cit., p. 29.
48 SARLET, Ingo Wolfgang. Dignidade (da pessoa) humana e direitos fundamentais
na Constituição Federal de 1988. 10 ed. rev., atual. e ampl. Porto Alegre: Livraria do
Advogado Editor, 2015, p. 83.
49 BARROSO, Luís Roberto; BARCELLOS, Ana Paula. O começo da história. A nova
interpretação constitucional e o papel dos princípios no direito brasileiro... Op. cit., p.
30-31.
50 HESSE, Konrad. A força normativa da constituição... Op. cit., p. 21.
34
Diogo da Silva Roiz, Geovane Ferreira Gomes, Isael José Santana (org.)
35
Os direitos humanos e o pensamento social brasileiro
55 FACHIN, Luiz Edson. Direito de família: elementos críticos à luz do novo Código
Civil brasileiro. 2 ed. Rio de Janeiro: Renovar, 2003, p. 47-49.
56 PEREIRA, Rodrigo da Cunha. Princípios fundamentais orientadores do direito
de família. Belo Horizonte: Del Rey, 2005, p. 93.
57 Ibidem, p. 93.
36
Diogo da Silva Roiz, Geovane Ferreira Gomes, Isael José Santana (org.)
58 MADALENO, Rolf. Curso de direito de família. 6 ed. rev., atual. e ampl. Rio de
Janeiro: Forense, 2015, p. 48.
59 Ibidem, p. 49.
60 PEREIRA, Jane Reis Gonçalves. Interpretação constitucional e direitos
fundamentais... Op. cit., p. 62.
37
Os direitos humanos e o pensamento social brasileiro
38
Diogo da Silva Roiz, Geovane Ferreira Gomes, Isael José Santana (org.)
39
Os direitos humanos e o pensamento social brasileiro
40
Diogo da Silva Roiz, Geovane Ferreira Gomes, Isael José Santana (org.)
41
Os direitos humanos e o pensamento social brasileiro
constitucional
o princípio da aplicabilidade imediata das normas
definidoras de direitos e garantias fundamentais (art. 5º, §
1º), e ao instituir duas novas ações constitucionais voltadas
ao propósito de efetivação da constituição: Ação Direito
de Inconstitucionalidade por omissão e o mandado de
injunção.77
Percebe-se que segundo o princípio da força normativa da
constituição a interpretação da norma deve dar-se no sentido que lhe
confira maior efetividade e, se “determinada norma constitucional
se abre a diversas interpretações, cabe ao intérprete optar pela que
produza mais efeitos práticos concretos”,78 e evitar quando possível,
normas de eficácia limitada ou programática.
Para a moderna interpretação constitucional, Barroso e
Barcellos explicam que considerando os elementos do caso concreto,
os princípios a serem preservados e os
fins a serem realizados é que será determinado o
sentido da norma, com vistas à produção de solução
constitucionalmente adequada para o problema a ser
resolvido, [assim a interpretação], envolve escolhas pelo
intérprete, bem como a integração subjetiva de princípios,
normas abertas e conceitos indeterminados.79
Com seu brilhantismo, Bastos põe fim à questão ao esclarecer
que o Texto Constitucional tem compromissos com valores e nele
nada é tão suficientemente claro que não demande
interpretação. E esta há de ter por meta os valores e os
princípios arrolados na própria Constituição, e que por sua
vez sofrem o embate dos fatos sociais que regulam.80
42
Diogo da Silva Roiz, Geovane Ferreira Gomes, Isael José Santana (org.)
43
Os direitos humanos e o pensamento social brasileiro
Considerações Finais
A análise dos dados permite afirmar que o surgimento das
normas de direitos fundamentais está condicionado à presença de
diversos fatores, tais como os históricos, os políticos e os sociais; que
a mesma regulamenta relações sociais mutáveis e que o maior passo
para consagrar tais direitos, inerentes a todas as pessoas, no Brasil,
adveio com a Ordem Constitucional de 1988, a qual, após perceber
as transformações ocorridas aqui e em outros países assegura, em
Capítulos e Títulos próprios, extenso rol de direitos e garantias
fundamentais.
Ao estudo acerca dos direitos fundamentais no Brasil ligam-
se vários institutos, alguns nesta ocasião analisados, tal como o que se
refere aos princípios constitucionais fundamentais e a sua estrutura
normativa. Após o levantamento, parece não haver dúvidas no sentido
de que a atual interpretação dos direitos fundamentais deve ocorrer
de forma ampla a fim de dar efetividade às normas constitucionais.
Assim, a interpretação deve, sem dispensar o processo de subsunção
ou os métodos clássicos propostos por Savigny e Ihering, utilizar-se
daqueles citados e denominados pela atual doutrina de catálogos de
princípios de interpretação constitucional.
No tocante ao Direito de Família percebe-se que as matérias
analisadas se entrelaçam e buscam,tornar efetiva a aplicação das leis
constitucionais nas relações privadas e, ao conjugar esforços no
sentido de salvaguarda a família, consolidar um dos pilares do Estado
Democrático de Direito: Princípio da Dignidade da Pessoa Humana.
44
Diogo da Silva Roiz, Geovane Ferreira Gomes, Isael José Santana (org.)
Referências bibliográficas:
ALEXY, Robert. Teoria dos direitos fundamentais. Trad. Virgílio Afonso
da Silva. 2 ed. São Paulo: Malheiros, 2014.
ANÓN, José Garcia. Los derechos humanos como derechosmorales:
aproximación a unas teorias con problemas de concepto, fundamento y
validez. In.: BALLESTEROS, Jesús (org.). Derechos humanos: concepto,
fundamentos, sujeitos. Madrid: Editorial Tecnos S.A., 1992.
AZAMBUJA, Darcy. Teoria geral do estado. 19 ed. Porto Alegre: Editora
Globo, 1980.
BARROSO, Luís Roberto; BARCELLOS, Ana Paula. O começo da história.
A nova interpretação constitucional e o papel dos princípios no direito
brasileiro. In.: BARROSO, Luís Roberto (org.). A nova interpretação
constitucional: ponderação, direitos fundamentais e relações privadas. 3
ed. rev. Rio de Janeiro: Renovar, 2008.
BASTOS, Celso Ribeiro. Curso de direito constitucional. 18 ed. ampl. e
atual. São Paulo: Saraiva, 1997.
BASTOS, Celso Ribeiro. Curso de teoria do Estado e ciência política. 4 ed.
São Paulo: Saraiva, 1999.
BASTOS, Celso Ribeiro. Hermenêutica e interpretação constitucional. 4
ed. rev. e atual. São Paulo: Malheiros, 2014.
BITTAR, Carlos Alberto. O direito civil na Constituição de 1988. São
Paulo. Editora Revista dos Tribunais, 1990.
BOBBIO, Norberto. Teoria geral da política: a filosofia política e as lições
dos clássicos. Trad. Daniela BeccacciaVersiane. Rio de Janeiro: Elsevier,
2000.
BONAVIDES, Paulo. Curso de direito constitucional. 28 ed. atual. São
Paulo: Malheiros, 2013.
CANÇADO TRINDADE, Antônio Augusto. Tratado internacional dos
direitos humanos. 2 ed. rev. e atual. Porto Alegre: Sergio Antonio Fabris
Editor, 2003.
CANOTILHO, J. J. Gomes. Direito constitucional e teoria da constituição.
7 ed. Coimbra: Edições Almedina, 2007.
COMPARATO, Fábio Konder. A afirmação histórica dos direitos
humanos. 8 ed. rev. e atual. São Paulo: Saraiva, 2013.
COMPARATO, Fábio Konder. A afirmação histórica dos direitos
45
Os direitos humanos e o pensamento social brasileiro
46
Diogo da Silva Roiz, Geovane Ferreira Gomes, Isael José Santana (org.)
47
Diogo da Silva Roiz, Geovane Ferreira Gomes, Isael José Santana (org.)
Introdução
A educação, consagrada expressamente pela Constituição
Federal de 1988, é um direito fundamental complexo, que não se
resume à instrução. É, mais do que isso, instrumento voltado à
cidadania e à dignidade. Nesse sentido, a Carta Magna determina,
inclusive, a erradicação do analfabetismo.
Ocorre que, apesar do texto constitucional, a educação
de jovens e adultos segue um paradigma de seletividade e de
“infantilização”, que acaba mais por ceifar a identidade dos estudantes
do que propriamente construir sua cidadania. Resta prejudicado, dessa
forma, o ideal constitucional de dignidade.
Sob tal paradigma, a educação de jovens e adultos, por
49
Os direitos humanos e o pensamento social brasileiro
50
Diogo da Silva Roiz, Geovane Ferreira Gomes, Isael José Santana (org.)
Direito.3
Além disso, a Constituição Federal de 1988 demonstrou
especial preocupação com a cidadania, que também foi elevada a
fundamento. A erradicação da pobreza e a redução das desigualdades
sociais foram eleitos objetivos fundamentais da República. No
mesmo sentido, a igualdade foi expressamente eleita como direito
fundamental.4
Corroborando tais mandamentos, o direito à educação
recebeu especial atenção do constituinte originário, em vários pontos
do texto magno. Por ser um instrumento indispensável para se
alcançar tais objetivos, a educação foi especificamente erigida a direito
fundamental social, ao lado, por exemplo, da saúde, do trabalho e da
segurança.5
Além disso, a Carta estabeleceu a educação como direito
e dever do Estado e da família, a ser incentivada pela colaboração da
sociedade, com vistas ao “pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo
para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho”.6
Apesar da “fundamentalidade” conferida à educação, a
Constituição não especifica seu conteúdo ou seu alcance. Todavia, um
conteúdo mínimo pode ser estabelecido:
o direito de (igual) acesso à educação, a capacitações e
ao conhecimento básico, que devem ser oferecidos de
forma regular e organizada, atendendo às preocupações
constitucionais.7
O Poder Público tem que valorizar os profissionais da
educação e garantir um padrão mínimo de qualidade, definido, em
51
Os direitos humanos e o pensamento social brasileiro
52
Diogo da Silva Roiz, Geovane Ferreira Gomes, Isael José Santana (org.)
Educação e reconhecimento
A pretensão dos indivíduos ao reconhecimento
intersubjetivo de sua identidade resulta de uma “tensão moral” que
vai além da medida institucionalizada de progresso social, conduzindo
a um “estado de liberdade comunicativamente vivida, pelo caminho
negativo de um conflito a se repetir de maneira gradativa”. 11
No reconhecimento, o sujeito aprende que não pode
apreender a realidade apenas do ponto de vista epistemológico;
deve entendê-la como um ser vivo que se reproduz naturalmente.
Compreende que só pode desenvolver as condições necessárias para
a apreensão do conceito de vida se desenvolver uma relação prática e
ativa com o objeto.12
Além disso, restam conectadas as auto-realizações
individuais e a inclusão social de forma a permitir que as dolorosas
destruições da auto realização sejam sobrepujadas não pela dissolução
da inclusão social, mas, sim, por sua expansão, pois o sofrimento inicia
a prática crítica emancipatória por meio da qual novos vínculos sociais
são produzidos.13
A interação reconhece a identidade do sujeito por meio
de suas expectativas. Por meio delas o sujeito aprende a se conceber
como si mesmo. O acordo intersubjetivo possibilita ao sujeito o
reconhecimento de diferentes aspectos de sua identidade “própria”,
de modo que é condição necessária para o desenvolvimento da
“autoconsciência”.14
Se esses requisitos não estiverem preenchidos, o sujeito não
pode nem se apreciar positivamente nem desenvolver sua identidade
de maneira bem sucedida. Um estado de descontentamento resulta
11 HONNETH, Axel. Luta por reconhecimento: a gramática moral dos conflitos
sociais. São Paulo: Editora 34, 2003, p. 30.
12 SAAVEDRA, Giovani. Reificação versus reconhecimento: sobre a dimensão
antropológica da teoria de Axel Honneth. Teoria e cultura, v. 1, n. 2, p. 25-38, 2008.
13 SALONIA, Michele. Suffering from exclusion: on the critical impulse of the theory of
recognition. Civitas, v. 8, n. 1, p. 126, 2008.
14 Ibidem.
53
Os direitos humanos e o pensamento social brasileiro
54
Diogo da Silva Roiz, Geovane Ferreira Gomes, Isael José Santana (org.)
55
Os direitos humanos e o pensamento social brasileiro
56
Diogo da Silva Roiz, Geovane Ferreira Gomes, Isael José Santana (org.)
57
Os direitos humanos e o pensamento social brasileiro
Brasil. In.: OLIVEIRA, Inês Barbosa de. PAIVA, Jane. (org.). Educação de jovens e
adultos. Rio de Janeiro: DP&A, 2004, p. 19-25.
32 FÁVERO, Osmar. Lições da história: os avanços de sessenta anos e a relação com
as políticas de negação de direitos que alimentam as condições do analfabetismo no
Brasil. In.: OLIVEIRA, Inês Barbosa de; PAIVA, Jane (org.). Educação de jovens e
adultos... Op. cit., p. 19-25.
33 PAIVA, Jane. Novos significados para as aprendizagens da leitura na educação de
jovens e adultos. Alfabetização e cidadania: revista de Educação de Jovens e Adultos,
Leituras, São Paulo. n. 12, p. 10, Jul. 2001.
34 Ibidem, p. 11.
35 Cf. PAIVA, Jane. Novos significados para as aprendizagens da leitura na
educação de jovens e adultos... Op. cit.
58
Diogo da Silva Roiz, Geovane Ferreira Gomes, Isael José Santana (org.)
59
Os direitos humanos e o pensamento social brasileiro
60
Diogo da Silva Roiz, Geovane Ferreira Gomes, Isael José Santana (org.)
61
Os direitos humanos e o pensamento social brasileiro
62
Diogo da Silva Roiz, Geovane Ferreira Gomes, Isael José Santana (org.)
Conclusão
A educação, enquanto direito fundamental, tem sido
amplamente confundida com alfabetização e até mesmo reduzida a
ela. Faz-se necessário estudar as razões que levam a tal reducionismo,
bem como suas consequências no que tange à concretização do direito
à educação.
Além do fato de que a conjuntura e os métodos produzem
seletividade e estigmatização, a formação da identidade dos estudantes
jovens e adultos fica prejudicada, especialmente pela ocorrência
frequente da “infantilização” do ensino, apesar da proibição expressa.
A “infantilização” da educação de jovens e adultos reduz a
identidade e da dignidade dos educandos. É fator de exclusão, portanto,
incompatível com o direito fundamental à educação, pois deixa de
lado as experiências prévias dos alunos, que deveriam ser consideradas
como parte integrante do processo de alfabetização.
53 SOUZA, Ricardo Timm de. Justiça em seus termos: dignidade humana, dignidade
do mundo. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2010, p. 151-152.
54 FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa.
30 ed. São Paulo: Paz e Terra, 1996, p. 64.
63
Os direitos humanos e o pensamento social brasileiro
Referências bibliográficas:
BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil. 1988. Disponível
em: <www.planalto.gov.br>. Acesso em: 8 set. 2017.
BRASIL. Lei 9.394. Lei de diretrizes e bases da educação nacional. Brasilia:
Congresso Nacional, 1996. Disponível em: <www.planalto.gov.br>. Acesso
em: 8 set. 2017.
BRASIL. Conselho Nacional de Educação. Resolução CNE/CEB nº 1/2000.
Disponível em: <http://portal.mec.gov.br>. Acesso em: 8 set. 2017.
BRASIL. Conselho Nacional de Educação. Parecer CNE/CEB nº 11/2000.
Disponível em: <http://portal.mec.gov.br >. Acesso em: 8 set. 2017.
BRASIL. Conselho Nacional de Educação. Parecer CNE/CEB Nº: 23/2008.
Disponível em: <http://portal.mec.gov.br>. Acesso em: 8 set. 2017
CASÉRIO, Vera Mariza Regino. Uma visão histórica da educação de adultos
no Brasil. In.: CASÉRIO, Vera Mariza Regino; BARROS, Daniela Melaré
Vieira (org.). Educação de jovens e adultos na sociedade da informação e
do conhecimento: tecnologias e inovações. Bauru: Corações e Mentes, 2004,
p. 13-44.
64
Diogo da Silva Roiz, Geovane Ferreira Gomes, Isael José Santana (org.)
65
Os direitos humanos e o pensamento social brasileiro
66
Diogo da Silva Roiz, Geovane Ferreira Gomes, Isael José Santana (org.)
67
Os direitos humanos e o pensamento social brasileiro
68
Diogo da Silva Roiz, Geovane Ferreira Gomes, Isael José Santana (org.)
69
Os direitos humanos e o pensamento social brasileiro
70
Diogo da Silva Roiz, Geovane Ferreira Gomes, Isael José Santana (org.)
71
Os direitos humanos e o pensamento social brasileiro
72
Diogo da Silva Roiz, Geovane Ferreira Gomes, Isael José Santana (org.)
73
Os direitos humanos e o pensamento social brasileiro
74
Diogo da Silva Roiz, Geovane Ferreira Gomes, Isael José Santana (org.)
75
Os direitos humanos e o pensamento social brasileiro
Referências bibliográficas:
AUGÉ, Marc. Sobremodernidade: do mundo tecnológico de hoje ao
desafio essencial do amanhã. In.: BHABHA, Homi. O local da cultura. Belo
Horizonte: Ed. UFMG, 2005.
CANDIDO, A. O direito à literatura. In.: CANDIDO, A. Vários escritos. 3 ed.
São Paulo: Duas Cidades, 1995.
JAMESON, Fredric. Pós-modernismo: a lógica cultura do capitalismo tardio.
São Paulo: Ática, 2007.
MANDEL, Ernest. O Capitalismo tardio. São Paulo: Nova Cultural, 1985.
MORAIS, D. Sociedade midiatizada. Rio de Janeiro: Mauad, 2006.
cultural e saturação midiática. In.: MORAIS, D. Sociedade midiatizada. Sociedade
midiatizada. Rio de Janeiro: Mauad, 2006, p. 45.
14 BHABHA, Homi. O local da cultura... Op. cit., p. 21.
76
Diogo da Silva Roiz, Geovane Ferreira Gomes, Isael José Santana (org.)
Introdução
Para compreendermos a fase de execução da pena, temos
que fazer uma sinopse do nosso direito, dos seus avanços e retrocessos,
bem como buscar entendê-lo, além do senso comum e do casuísmo,
mas como um verdadeiro instrumento de segurança e pacificação
social.
É necessário, entretanto, uma retrospectiva histórica para se
compreender os caminhos percorridos pelas civilizações precedentes
até chegarmos ao atual estágio, sem olvidar o constante processo de
construção a que esta ciência está submetida.
Nessa linha de raciocínio, importante dizer que a função que
o direito exerce na sociedade, justifica a estreita correlação entre ambos
(direito e sociedade), conforme demonstra o entendimento a seguir:
função ordenadora, isto é, de coordenação dos interesses
que se manifestam na vida social, de modo a organizar a
cooperação entre pessoas e compor os conflitos que se
verificarem entre os seus membros. A tarefa da ordem
jurídica é exatamente a de harmonizar as relações sociais
intersubjetivas, a fim de ensejar a máxima realização dos
valores humanos com o mínimo de sacrifício e desgaste.3
Podemos dizer que sociedade e direito são “irmãos siameses”,
1 Mestre em Educação pela Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul (UEMS).
Docente efetivo do curso de graduação em Direito da UEMS – Universidade Estadual
de Mato Grosso do Sul. E-mail: airesnpj@yahoo.com.br
2 Mestre em Direito, na área de Teoria do Direito e do Estado, pela Fundação de
Ensino “Eurípedes Soares da Rocha” (UNIVEM). Docente contratada do curso de
graduação em Direito da UEMS – Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul.
E-mail: rilker.dutra@bol.com.br
3 CINTRA, Antônio Carlos de Araújo; GRINOVER, Ada Pellegrini; DINAMARCO,
Cândido Rangel. Teoria Geral do Processo. 9 ed. São Paulo,: Malheiros, 1993, p. 23.
77
Os direitos humanos e o pensamento social brasileiro
pois são umbilicalmente ligados, como relata o adágio ubi societas ibi
jus. No entanto, o direito nem sempre se encontrou no estágio em que
hoje o concebemos.
Importante lembrar, que longo e dificultoso foi o caminho
para que o direito e, por consequência, a jurisdição, como forma
de operacionalizar o direito, se estabelecessem, firmassem, e se
mantivessem como principal instrumento estatal de controle social.
Como poderemos ver no decorre desta pesquisa,
atualmente,por razões diversas, pode-se perceber um poder
paralelo, desafiando o poder socialmente constituído com alguns
espetáculosbárbarosque nos remetem às eras primitivas, onde
prevalecia a lei do mais forte. Assim, podemos rememorar que nas
fases primitivas da civilização:
inexistia um Estado suficientemente forte para superar
os ímpetos individualistas dos homens e impor o direito
acima da vontade dos particulares [...] como não havia
sequer leis. Assim, quem pretendesse alguma coisa que
outro o impedisse de obter haveria de, com sua própria
força e na medida dela, tratar de conseguir, por si mesmo,
a satisfação de sua pretensão. A própria repressão aos atos
criminosos se fazia em regime de vingança privada. [...] A
esse regime chama-se autotutela (ou autodefesa).4
Os mesmos autores dão mostra da evolução que esse estágio
sofreu para o que lhe sucedeu, não de forma linear e excludente, mas de
maneira intercambiada em meio a progressos e retrocessos.
Assim, os autores mencionam a
autocomposição (a qual, de resto, perdura residualmente
no direito moderno): uma das partes em conflito, ou ambas,
abrem mão do interesse ou de parte dele, [mencionando
a desistência; submissão e a transação como formas de
autocomposição].5
Do estágio anterior seguiu-se uma solução um tanto quanto
4 CINTRA, Antônio Carlos de Araújo; GRINOVER, Ada Pellegrini; DINAMARCO,
Cândido Rangel. Teoria Geral do Processo... Op. cit., p. 24-25.
5 Ibidem.
78
Diogo da Silva Roiz, Geovane Ferreira Gomes, Isael José Santana (org.)
79
Os direitos humanos e o pensamento social brasileiro
80
Diogo da Silva Roiz, Geovane Ferreira Gomes, Isael José Santana (org.)
11 SOIBELMAN. Leib. Enciclopédia do Advogado. 5 ed. rev. e atual. Rio de Janeiro:
Thex, 1996, p. 120.
12 SILVA, De Plácido e. Vocabulário jurídico. 4 ed. Rio de Janeiro: Ed. Forense,
1996, p. 75.
81
Os direitos humanos e o pensamento social brasileiro
proposta pela grande massa, nada mais são do que um grito desesperado
de uma sociedade que não tem mais a quem recorrer, e, qualquer
proposta que acene com uma possível maior segurança é abraçada com
todas as forças.
O radicalismo estatal, caso seja adotada alguma das
alternativas combatidas acima, tem reflexos nefastos em uma sociedade
que clama por justiça, pois muito embora aqueles que defendem a
adoção de procedimentos austeros contra aqueles que julgam ser
criminosos incorrigíveis, não consideram o fato de que, dentre os
possíveis destinatários dessa legislação mais gravosa pode estar o
marido, filho, irmão ou si próprio.
Talvez, os fatos acima se devam à falta dealteridade do ser
humano e a uma sociedade hipócrita, uma vez que, os defensores
de uma nova ordem têm a plena convicção de que o crime por si
perpetrado é diferente do crime do qual defende a pena de morte,se
cometido por outro.
Assim, para compreender a profundidade do direito, resta
dizer que é uma tarefa quase inatingível, uma vez que traz em seu
bojo nuances e especificidades ímpares, sendo que, seus institutos e
intercâmbios com as coisas da vida adquirem peculiaridades que o
distingue das demais ciências.
Dessa forma, conceituar “direito” e sobre estabelecer uma
verdade universal é tarefa que desafia esforço Hércule, para não se
reconhecer como um objetivo inatingível.
A globalização, apesar da diversidade cultural que ainda
prevalente, está cada vez mais presentenas nações etende a criar um
núcleo cada vez mais homogêneo em várias vertentes, tendo em vista
as fontes filosóficas em que as diversas correntes do pensamento se
embebedam.
Depois desses prolegômenos, temos que nossa proposta
neste ensaio é refletir sobre a execução penal e a ressocialização que
contempla, se esta cumpre seu objetivo e o que pode ser feito para seu
aperfeiçoamento.
82
Diogo da Silva Roiz, Geovane Ferreira Gomes, Isael José Santana (org.)
13 Cf. BRASIL. Lei nº 7.210, de 11 de julho de 1984. Brasília: Casa Civil, 1984.
Disponível em: <http://www.planalto.gov.br>. Acesso em: 13 abr. de 2018.
83
Os direitos humanos e o pensamento social brasileiro
84
Diogo da Silva Roiz, Geovane Ferreira Gomes, Isael José Santana (org.)
85
Os direitos humanos e o pensamento social brasileiro
Direitos do preso
Pode-se ver no artigo 10 da LEP que
a assistência ao preso e ao internado como dever do Estado
objetiva prevenir o crime e orientar o retorno à convivência
17 MARCÃO, Renato. Lei de Execução Penal anotada... Op. cit., p. 29.
18 Ibidem, p. 29.
19 BRASIL. Governo Federal Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência da
República. Reincidência criminal no Brasil, - Relatório de pesquisa... Op. cit., p. 13.
86
Diogo da Silva Roiz, Geovane Ferreira Gomes, Isael José Santana (org.)
87
Os direitos humanos e o pensamento social brasileiro
22 Cf. VERDÉLIO, Andreia. Com 726 mil presos, Brasil tem terceira maior população
carcerária do mundo. EBC Agência Brasil. Disponível em: <http://agenciabrasil.ebc.
com.br>. Acesso em: 14 abr. 2018.
23 Cf. BRASIL.CNJ. Cármen Lúcia diz que preso custa 13 vezes mais do que um
estudante no Brasil. 2016.Disponível em: < http://www.cnj.jus.br/noticias/cnj/8381
2016.> Acesso em: 14 abr. 2018.
88
Diogo da Silva Roiz, Geovane Ferreira Gomes, Isael José Santana (org.)
cifras monetárias.
No entanto, resgatando alguns dados exarados acima,
a reincidência no Brasil gira em torno de 70%, muito embora a
cientificidade deste dado não pode ser aferida pelas ausências de
informações oficiais precisas.
Assim, no que tange à ressocialização,
entre os especialistas, predomina a opinião sobre a
incapacidade da prisão no que se refere à ressocialização
do condenado. Os ataques mais severos advêm dos adeptos
da criminologia crítica, que censuram a ressocialização por
implicar a violação do livre-arbítrio e da autonomia do
sujeito, uma vez que a ideia de ‘tratamento’ ou correção
do indivíduo que sustenta essa perspectiva pressupõe que
se deva anular a sua personalidade, suas ideologias e suas
escalas de valores para adequá-lo aos valores sociais tidos
como legítimos. Haveria ainda um paradoxo: como esperar
que indivíduos desviantes se adequem às regras sociais
segregando-os completamente da sociedade e inserindo-os
em um microcosmo prisional com suas próprias regras e
cultura?24
Sobre a reabilitação e as medidas assistenciais do Estado,
Avena ressalta que, por ser finalidade da pena, deve o Estado adotar
medidas nessa seara ao preso condenado, bem como ao egresso, pelo
prazo de um ano, da saída do estabelecimento prisional, e ao liberado
em condicional, durante o período de prova, para que logrem um
adequado retorno à sociedade.25
Entendimento relevante, também é de Mirabete, que segue
abaixo, com a finalidade de destacar quão necessário é possibilitar
uma adequada assistência ao apenado, respeitando a personalidade do
agente, conforme frisa:
é manifesta a importância de se promover e facilitar
a reinserção social do condenado, respeitadas suas
24 Cf. BRASIL. Governo Federal Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência
da República. Reincidência criminal no Brasil, - Relatório de pesquisa.... Op. cit., p. 13;
25 Cf. AVENA, Norberto C. P. Execução penal esquematizado. 2 ed. rev., atual. e
ampl. São Paulo: Método, 2015.
89
Os direitos humanos e o pensamento social brasileiro
26 MIRABETE, Júlio F.; FABBRINI, Renato N. Execução penal. 12 ed. rev. e atual.São
Paulo: Atlas, 2014, p. 48.
27 Cf. CHAVES JUNIOR, Airto. O controle penal dos excedentes: as funções
simbólicas do direito penal e a eficácia invertida quanto seus objetivos declarados.
Rev. Fac. Derecho Cienc. Polit. Univ. Pontif. Bolivar, Medellín, v. 41, n. 114, 2011.
Disponível em: <http://www.scielo.org.co/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0120-
38862011000100003&lng=en&nrm=iso>. Acesso em: 19 abr. 2018.
90
Diogo da Silva Roiz, Geovane Ferreira Gomes, Isael José Santana (org.)
Considerações finais
Qualquer conclusão que se tome, de ponto tão nevrálgico,
como o cumprimento da pena e as razões pelas quais não se cumpra as
disposições da LEP, está fadada ao erro, pois muitos são os fatores que
interferem na correta execução penal.
A apatia estatal com este problema talvez seja o maior óbice
para que o preso tenha um tratamento digno. Não é prioridade dos
governos engendrar esforços na ressocialização, que como sabemos,
despende investimentos de grande monta. Valores estes que o Estado
não está disposto a desembolsar.
Acresce-se ao encaminhamento acima o aval da sociedade
que entende que aos presos não podem ser atribuídos nenhum direito,
pois as consequências nefastas dos delitos praticado ainda estão sendo
absorvidas pela sociedade.
Tentando conciliar o legal e o real, encontram-se as
penitenciárias, seus agentes e demais profissionais. Perdidos em um
emaranhado de normatizações e também em condições precárias no
que tange ao número de funcionários, salários e condições materiais
para exercerem seu ofício.
Apenas quando sucedem espetáculos horrendos, em que
o número de mortes na penitenciária é noticiado intermitentemente
91
Os direitos humanos e o pensamento social brasileiro
Referências bibliográficas:
AVENA, Norberto C. P. Execução penal esquematizado. 2 ed. rev., atual. e
ampl. São Paulo: Método, 2015.
BRASIL. Lei nº 7.210, de 11 de julho de 1984. Brasília: Casa Civil, 1984.
Disponível em: <http://www.planalto.gov.br>. Acesso em: 13 abr. de 2018.
BRASIL. Governo Federal Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência
da República. Reincidência criminal no Brasil, - Relatório de pesquisa.
Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada. Rio de Janeiro, 2015. Disponível
em: <repositorio.ipea.gov.br/bitstream/11058/4375/1/td_2095.pdf> Acesso
em: 13 abr. 2018.
BRASIL. CNJ. Cármen Lúcia diz que preso custa 13 vezes mais do que um
estudante no Brasil. 2016.Disponível em: <http://www.cnj.jus.br/noticias/
cnj/8381 2016.> Acesso em: 14 abr. 2018.
CHAVES JUNIOR, Airto. O controle penal dos excedentes: as funções
simbólicas dodireito penal e a eficácia invertida quanto seus objetivos
declarados. Rev. Fac. Derecho Cienc. Polit. Univ. Pontif. Bolivar, Medellín,
v. 41, n. 114, 2011. Disponível em: <http://www.scielo.org.co/scielo.
php?script=sci_arttext&pid=S0120-38862011000100003&lng=en&nrm=i
so>. Acesso em: 19 abr. 2018.
CINTRA, Antônio Carlos de Araújo; GRINOVER, Ada Pellegrini;
DINAMARCO, Cândido Rangel. Teoria Geral do Processo. 9 ed. São Paulo:
Malheiros,1993.
HUNGRIA, Nelson. Comentários ao código penal. v. 1. Rio de Janeiro:
Forense, 1949, p. 80-87.
MARCÃO, Renato. Lei de Execução Penal anotada. 6 ed. rev. ampl. e atual.
São Paulo: Saraiva, 2017.
92
Diogo da Silva Roiz, Geovane Ferreira Gomes, Isael José Santana (org.)
93
Diogo da Silva Roiz, Geovane Ferreira Gomes, Isael José Santana (org.)
A constitucionalização do direito
processual civil e o modelo constitucional
do processo: as normas fundamentais no
novo código de processo civil
Gláucia Aparecida da Silva Faria Lamblem1
Juliano Gil Alves Pereira2
José Péricles de Oliveira3
95
Os direitos humanos e o pensamento social brasileiro
96
Diogo da Silva Roiz, Geovane Ferreira Gomes, Isael José Santana (org.)
97
Os direitos humanos e o pensamento social brasileiro
98
Diogo da Silva Roiz, Geovane Ferreira Gomes, Isael José Santana (org.)
99
Os direitos humanos e o pensamento social brasileiro
11 Essa ressalva de que o juiz poderá agir de ofício está espraiado por todo o Código
em vários dispositivos em que o juiz poderá agir de ofício: a) determinar a intimação
dos advogados para ciência de nova designação, no caso de antecipação ou adiamento
de audiência (art. 363); b) determinar as provas necessárias para o exame do mérito
(art. 370); c) inspecionar pessoas ou coisas (art. 481); mandar corrigir as inexatidões
materiais quando tenha havido erro na descrição dos bens no processo de partilha (art.
656); mandar alienar bem em leilão, não havendo acordo entre os interessados sobre o
modo de alienação do bem (art. 730).
12 O tema efetividade vem sendo incansavelmente repetido com o mesmo sentido da
célebre assertiva de Chiovenda que “o processo deve dar, quando possível praticamente,
a quem tenha um direito, tudo aquilo e exatamente aquilo que ele tenha a direito de
conseguir”. Cf. CHIOVENDA, Giuseppe. Instituições de Direito Processual Civil. v.
1. Campinas: Brokseller, 1998, p. 67.
100
Diogo da Silva Roiz, Geovane Ferreira Gomes, Isael José Santana (org.)
13 MARINONI, Luiz Guilherme. Curso de processo civil: teoria geral do processo. 3
ed. rev. e atual. v.1. São Paulo: RT, 2009, p. 267.
14 Ibidem, p. 267.
15 CRUZ e TUCCI, José Rogério. Tempo e Processo. São Paulo: Revista dos
Tribunais, 1997, p. 66.
101
Os direitos humanos e o pensamento social brasileiro
ações concretas.16
Colocadas tais premissas, é preciso admitir que não basta
à ordem jurídica assegurar direitos, se não disponibilizar meios de
efetivá-los, pois a ausência de instrumentos idôneos,17 bem como de
procedimentos adequados equivale a ausência de direitos. Por isso
Kelsen diz que
a norma sancionadora é mais importante do que as
demais, pois de nada adiante estabelecer uma regra de
conduta sem a necessária sanção ao seu descumprimento.
Assim, a criação de um direito material seria inútil sem o
correspondente instrumento processual, hábil à efetividade
de seu cumprimento forçado.18
O direito fundamental à razoável duração do processo recebe,
também, a designação de direito fundamental a um processo sem
dilações indevidas. Conforme palavras de José Rogério Cruz e Tucci,
“ao lado da efetividade do resultado que deve conotá-la, imperioso é
também que a decisão seja tempestiva”.19 Justiça tardia é a maior forma
de injustiça. Sobre o tema Luiz Guilherme Marinoni assevera:
o direito à duração razoável exige um esforço dogmático
capaz de atribuir significado ao tempo processual. A
demora para a obtenção da tutela jurisdicional obviamente
repercute sobre a efetividade da ação. Isso significa que
102
Diogo da Silva Roiz, Geovane Ferreira Gomes, Isael José Santana (org.)
20 MARINONI, Luiz Guilherme. Curso de processo civil... Op. cit., p. 224.
21 CRUZ e TUCCI, José Rogério. Tempo e Processo... Op. cit., p. 87-88.
103
Os direitos humanos e o pensamento social brasileiro
104
Diogo da Silva Roiz, Geovane Ferreira Gomes, Isael José Santana (org.)
105
Os direitos humanos e o pensamento social brasileiro
106
Diogo da Silva Roiz, Geovane Ferreira Gomes, Isael José Santana (org.)
107
Os direitos humanos e o pensamento social brasileiro
monitório (art. 9º, parágrafo único; quando ele for inútil posto que a
decisão será favorável a parte que não foi ouvida.
De seu turno, o art. 11 trata do princípio da publicidade e
do dever de motivação das decisões judiciais. Ambos têm clara relação
com a segurança jurídica, na medida em contribuem para que se
evitem abusos no exercício do poder e torna factível eventual recurso,
onde se atacam tecnicamente os fundamentos e não a decisão em si.
São aspectos que repetem o que consta da Constituição Federal (art.
93, IX) dispondo que os julgamentos serão públicos e que as decisões
deverão ser fundamentadas, sob pena de nulidade.
Apesar do art. 11 estabelecer que os “julgamentos” dos
órgãos do Poder Judiciário serão públicos, na verdade não são públicas
apenas as decisões judiciais, mas todos os atos do processo. É direito de
todos assistirem as audiência e consultar os processos para inteirar-se
dos atos processuais.
A publicidade dos atos do processo é regra geral, afastada
nos casos previstos no art. 11, parágrafo único, em que lei estabelece o
chamado “segredo de justiça”. Essa designação é equivocada, pois não
existe justiça em segredo. Também não pode haver segredo quando
várias pessoas (partes, advogados, juízes, promotores e serventuários
da justiça) tem conhecimento dos fatos. Melhor seria que o legislador
tivesse usado a expressão “publicidade restrita” ou como diz Daniel
Amorim Assumpção Neves, “publicidade mitigada”,26 nos casos
previstos no art. 189.
Finalmente, o art. 12 prescreve uma regra de ordem técnica
que privilegia o aspecto da transparência no que se refere à atividade
desenvolvida pelo Poder Judiciário e por outro lado favorece a
maximização do princípio da razoável duração do processo. Percebe-
se que há um claro entrelaçamento entre os objetos de cada artigo
que constituem o conjunto de normas fundamentais no novo Código
Civil, cujos efeitos irradiam por todas as regras procedimentais que se
seguem.
26 NEVES, Daniel Amorim Assumpção. Novo Código de Processo Civil... Op. cit.,
p. 13.
108
Diogo da Silva Roiz, Geovane Ferreira Gomes, Isael José Santana (org.)
Conclusão
A Constitucionalização do Direito é uma realidade presente
no ordenamento jurídico pátrio. E assim se diz porque, como já
mencionado na parte introdutória deste trabalho, toda norma em
construção deve obediência aos valores e fundamentos previstos no
texto constitucional.
Sendo a Constituição a norma fundamental que dá existência
e validade a todas as demais, dele não se pode descurar, sob pena de
perda da essência do Estado criado a partir do texto constitucional, e
que deve guardar-lhe obediência estrita.
Assim, devendo a construção do ordenamento jurídico
infraconstitucional obediência aos postulados da Constituição Federal,
109
Os direitos humanos e o pensamento social brasileiro
110
Diogo da Silva Roiz, Geovane Ferreira Gomes, Isael José Santana (org.)
Referências bibliográficas:
BARROSO, Luís Roberto. O direito constitucional e a eficácia de suas
normas: limites e possibilidades da Constituição brasileira. 9 ed. Rio de
Janeiro: Renovar, 2009.
BUENO, Cassio Scarpinella. Novo código de processo civil anotado. São
Paulo: Saraiva, 2016.
CAMBI, Eduardo. Neoconstitucionalismo e Neoprocessualismo. In.: FUX,
Luiz; NERY JÚNIOR, Nelson; WAMBIER, Teresa Arruda Alvim. Processo
e Constituição: estudos em homenagem ao professor José Carlos Barbosa
Moreira. São Paulo: RT, 2006, p. 662-683.
CRUZ e TUCCI, José Rogério. Tempo e Processo. São Paulo: Revista dos
Tribunais, 1997.
DIDIER JR., Fredie. Curso de Direito Processual Civil. Introdução ao
Direito Processual Civil, Parte Geral e Processo de Conhecimento. 17 ed. v. 1.
Salvador: JusPodivm, 2015.
KELSEN, Hans. Teoria Pura do Direito. Trad. João Batista Machado. São
Paulo: Martins Fontes, 2000.
MARINONI, Luiz Guilherme. Curso de processo civil: teoria geral do
processo. 3 ed. rev. e atual. v.1. São Paulo: RT, 2009.
NEVES, Daniel Amorim Assumpção. Novo Código de Processo Civil: Lei
13.105/2015. São Paulo: Método, 2015.
THEODORO JR., Humberto. Curso de direito processual civil. 48 ed. v. I.
Rio de Janeiro: Forense 2008.
WAMBIER, Teresa Arruda Alvim; CONCEIÇÃO, Maria Lúcia Lins;
RIBEIRO, Leonardo Ferres da Silva; MELLO, Rogério Licastro Terres de.
Primeiros Comentários ao Novo Código de Processo Civil artigo por
artigo. São Paulo: RT, 2015.
111
Diogo da Silva Roiz, Geovane Ferreira Gomes, Isael José Santana (org.)
Introdução
A Educação em Direitos Humanos é fundamental para o
desenvolvimento de uma cultura voltada à criação e propagação de
valores que poderão subsidiar comportamento mais humano, solidário
e crítico. A educação aberta constitui importante mecanismo nesse
processo de educação, em especial se considerarmos as facilidades de
acesso à informação em ambiente virtual. O processo de educação aberta,
por meio das redes sociais, revela-se poderosa ferramenta para acelerar
a difusão de direitos humanos em nossa sociedade, notadamente com
o compartilhamento de ações positivas, de salvaguarda e satisfação de
direitos. O uso das redes sociais para divulgação de ações ou mesmo a
propagação de conteúdos humanitários, tais como combate à fome e
à miséria, à desigualdade de gênero, à xenofobia, à exploração sexual,
ao racismo e à intolerância religiosa constitui importante ferramenta
de educação para os direitos humanos e a cidadania. Ressalta-se,
1 Docente efetivo da Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul – Unidade
Universitária de Paranaíba; Coordenador do Curso de Pós-Graduação em Direitos
Humanos da mesma Universidade; Líder do Grupo de Pesquisa CNPq intitulado
Direitos Humanos no Estado Democrático de Direito: interdisciplinaridade e
efetivação possível; Mestre em Direito, tendo como área de concentração a Tutela
Jurisdicional no Estado Democrático de Direito; E-mail: alessandro@uems.br.
2 Doutora em Direito. Docente nos cursos de graduação em Direito e especialização
em Direitos Humanos na UEMS-Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul.
E-mail: claudiabatistadv@hotmail.com
3 Doutora em Educação. Pedagoga. Bacharel em Direito. Docente da Universidade
Estadual do Mato Grosso do Sul e da Universidade do Oeste Paulista. Avaliadora de
cursos pelo Mec-Inep. Líder do Grupo de Estudos e Pesquisas em Educação, Currículo
e Tecnologias. E-mail: raquelgitahy.rg@gmail.com
113
Os direitos humanos e o pensamento social brasileiro
114
Diogo da Silva Roiz, Geovane Ferreira Gomes, Isael José Santana (org.)
115
Os direitos humanos e o pensamento social brasileiro
116
Diogo da Silva Roiz, Geovane Ferreira Gomes, Isael José Santana (org.)
117
Os direitos humanos e o pensamento social brasileiro
118
Diogo da Silva Roiz, Geovane Ferreira Gomes, Isael José Santana (org.)
119
Os direitos humanos e o pensamento social brasileiro
120
Diogo da Silva Roiz, Geovane Ferreira Gomes, Isael José Santana (org.)
121
Os direitos humanos e o pensamento social brasileiro
Fonte: http://www.comunicaquemuda.com.br/dossie/intolerancia-nas-redes/
122
Diogo da Silva Roiz, Geovane Ferreira Gomes, Isael José Santana (org.)
17 Cf. COMUNICA QUE MUDA. Dossiê Quando A Intolerância Chega às Redes...
Op. cit.
18 Sobre o tema ver. ARENDT, Hannah. Eichmann em Jersusalém: Um relato sobre
a banalidade do mal. São Paulo: Saraiva, 2015.
123
Os direitos humanos e o pensamento social brasileiro
pessoas já têm.19
O mesmo monitoramento feito por igual período no
ano de 2017 apontou uma queda na quantidade de postagens,
compartilhamentos e comentários de cunho intolerante ou
marcadamente de ódio político-partidário, tendo em vista que
o levantamento do ano de 2016 se deu no ápice do processo de
impeachment da ex-presidenta Dilma Rousseff. Infelizmente a
redução de comentários negativos sobre política não foi acompanhada
por reduções significativas nos demais seguimentos. Ademais,
ressalta-se que os números de comentários negativos podem ser
significativamente maiores, haja vista que nem toda publicação nesse
sentido é denunciada.20
Igualmente a SaferNet, associação civil de direito privado
sem fins lucrativos fundada em 2005, com foco na promoção e defesa
dos Direitos Humanos na Internet no Brasil, tem alertado para o
crescimento de violações contra os Direitos Humanos nas redes sociais.
O site noticia entre os mais comuns:
aliciamento, produção e difusão em larga escala de imagens
de abuso sexual de crianças e adolescentes, racismo,
neonazismo, intolerância religiosa, homofobia, apologia e
incitação a crimes contra a vida.21
A entidade, que coopera com o Ministério Público e outras
instituições no combate aos crimes virtuais, também monitora o
conteúdo de publicações com o propósito de “mapear” a rede de
19 Cf. MATSUURA, S. Brasil cultiva discurso de ódio nas redes sociais, mostra
pesquisa. O Globo. Publicação em 03/08/2016. Disponível em: <https://oglobo.
globo.com/sociedade/brasil-cultiva-discurso-de-odio-nas-redes-sociais-mostra-
pesquisa-19841017> Acesso em 20 de março de 2018.
20 Cf. COMUNICA QUE MUDA. Dossiê Intolerância 2017. Disponível em: <http://
dossie.comunicaquemuda.com.br/intolerancia2017/2016-vs-2017/> Acesso em 21 de
abril de 2017.
21 Cf. SOPRANA, P. Há um aumento sistemático de discurso de ódio na rede, diz
diretor do SaferNet. Revista Época. Publicação em 07/02/2017. Disponível em: https://
epoca.globo.com/tecnologia/experiencias-digitais/noticia/2017/02/ha-um-aumento-
sistematico-de-discurso-de-odio-na-rede-diz-diretor-do-safernet.html. Acesso em 10
de março de 2018.
124
Diogo da Silva Roiz, Geovane Ferreira Gomes, Isael José Santana (org.)
Conclusão
A educação aberta, aquela que ocorre a todo momento e em
todo espaço, é a quebra do paradigma da educação formal. Na sociedade
conectada ela realiza-se em ambientes virtuais de aprendizagem
intitulados redes sociais. Mas as interações ocorridas nestes espaços
não revelam uma consciência destes ambientes como formativos.
Tal desconhecimento contribui para a propagação de conteúdo
falso, depreciativo e até mesmo criminoso, que constitui violação aos
preceitos constitucionais de uma sociedade justa, igualitária e inclusiva.
O respeito à diversidade é, ademais, essencial para que tal sociedade
125
Os direitos humanos e o pensamento social brasileiro
Referências Bibliográficas:
ARENDT, H. Eichmann em Jersusalém: Um relato sobre a banalidade do
mal. São Paulo: Saraiva, 2015.
BARROS, D.; OKADA, A.; KENSKI, V. Coletividade aberta de pesquisa:
os estilos de coaprendizagem no cenário online. Educação, Formação &
Tecnologias, v. 5, n. 2, p. 11-24, 2012.
COMUNICA QUE MUDA. Dossiê Quando A Intolerância Chega às Redes
(2016). Disponível em: <http://www.comunicaquemuda.com.br/dossie/
quando-intolerancia-chega-as-redes/>. Acesso em 20 abril de 2018.
COMUNICA QUE MUDA. Dossiê Intolerância 2017. Disponível em:
<http://dossie.comunicaquemuda.com.br/intolerancia2017/2016-vs-2017/>
Acesso em 21 de abril de 2017.
HABERLE, P. Hermenêutica constitucional: a sociedade aberta dos
intérpretes da constituição: contribuição para a interpretação pluralista
e “procedimental” da constituição. Trad. Gilmar Ferreira Mendes. Porto
Alegre: Sergio Antonio Fabris, 2002.
KENSKI, V. Educação e tecnologia: O novo ritmo da informação. 8 ed.
Campinas: Papirus, 2012.
MATSUURA, S. Brasil cultiva discurso de ódio nas redes sociais, mostra
pesquisa. O Globo. Publicação em 03/08/2016. Disponível em: <https://
oglobo.globo.com/sociedade/brasil-cultiva-discurso-de-odio-nas-redes-
sociais-mostra-pesquisa-19841017> Acesso em 20 de março de 2018.
PIOVESAN, F. Desenvolvimento histórico dos direitos humanos e a
Constituição brasileira de 1988. In.: AGRA, Walber de Moura (org.).
126
Diogo da Silva Roiz, Geovane Ferreira Gomes, Isael José Santana (org.)
127
Diogo da Silva Roiz, Geovane Ferreira Gomes, Isael José Santana (org.)
1 Benedito Cerezzo Pereira Filho: Doutor e Mestre em Direito pela UFPR, Professor
de Direito Processual Civil nos cursos de graduação e pós-graduação da Faculdade
de Direito da USP – Campus Ribeirão Preto. Ribeirão Preto – São Paulo – Brasil e
Advogado em Brasília no Escritório Marcelo Leal Advogados Associados.
2 Antônio Luis de Oliveira. Mestrando e Especialista em L. L. M. em Direitos
Humano na Faculdade de Direito da USP - Campus Ribeirão Preto – São Paulo –
Brasil e Advogado.
129
Os direitos humanos e o pensamento social brasileiro
Introdução
A positivação dos Direitos Humanos ganhou espaço no
diálogo entre as nações a partir do pós-Segunda Guerra Mundial e
em decorrência das atrocidades perpetradas por sistemas totalitários,
como o nazismo e o fascismo italiano, inseridos no rol de regimes que
cometeram atrocidades e inviabilizaram a paz através da prática de
crimes de lesa-humanidade.
Haja vista a potência destruidora dos períodos de guerra,
de regimes antidemocráticos e até mesmo dos ditos democráticos, os
Direitos Humanos passaram a ser pauta sempre presente na agenda
internacional.
Registre-se que esse assunto se desenvolve por meio de um
processo crescente de ampliação e proteção de direitos, que nunca
estará concluído, embora atualmente encontre garantias legais de
proteção muito mais robustas do que há 60 ou 70 anos. No dizer
de Hannah Arendt, os Direitos Humanos não são um dado, mas
um construído, uma invenção humana, em constante processo de
construção e reconstrução.3
Na prática, é esse processo que desencadeia o desenvolvimento
de um rol extenso de leis, convenções, pactos e declarações com
intenção de formar um ius commune, fundado não mais na razão de
império, mas no império da razão (non ratione imperii, sed imperio
rationis).
130
Diogo da Silva Roiz, Geovane Ferreira Gomes, Isael José Santana (org.)
Evolução histórica.
Pari passu aos julgamentos do Tribunal de Nuremberg
(1945-1946) e o Tribunal de Tóquio (1946-1948) os quais, não obstante
as ofensas às garantias legais, ofereceram vasta jurisprudência sobre
direitos humanos,5 pois, a partir desse triste episódio, começou-se a
pensar num importante instrumento que pudesse prever garantias
mínimas para o respeito à dignidade e condição humana: a Declaração
Universal dos Direitos do Homem, assinada em 10 de dezembro de
1948 no âmbito da Assembleia-Geral das Nações Unidas.
A partir destes fatos, e uma vez mais reaberto o debate
sobre a necessidade de um ius commune, orientado pela razão e
proteção à dignidade de qualquer indivíduo pertencente ao gênero
131
Os direitos humanos e o pensamento social brasileiro
132
Diogo da Silva Roiz, Geovane Ferreira Gomes, Isael José Santana (org.)
Estrutura
Tal Sistema, em sua forma de estruturação, é considerado
bifásico, pois conta com dois órgãos distintos, a Comissão
Interamericana de Direitos Humanos e a Corte Interamericana de
Direitos Humanos, os quais se reúnem em períodos pré-determinados,
não sendo, portanto, permanentes.
A Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH),
cuja sede é em Washington,6 é o mais importante órgão do Sistema
Interamericano de Direitos Humanos (SIDH). É composta por sete
membros independentes que atuam de forma pessoal, os quais não
representam nenhum país em particular, sendo eleitos pela Assembleia
Geral.
Outro órgão de igual importância, é a Corte Interamericana
de Direitos Humanos, com sede em São José, Costa Rica, a qual
tem por competência conhecer e julgar os assuntos relacionados ao
cumprimento dos compromissos assumidos pelos Estados-membros
da Convenção Interamericana de Direitos Humanos (CADH).
Para que haja a consideração de qualquer fato atentatório
aos Direitos Humanos, qualquer pessoa, grupo ou personalidade
jurídica, pode apresentar petição à Comissão Interamericana desde
que, os fatos estejam descritos, justificando as violações alegadas e as
respectivas vítimas, bem como indicação do Estado responsável pela
ofensa, com a respectiva demonstração de esgotamento das esferas
internas, ou mesmo ineficácia destas, para que seja, então, possível
levar à apreciação da Comissão.
133
Os direitos humanos e o pensamento social brasileiro
Desafios e Perspectivas
Em 2015, diversos pensadores e pesquisadores dos Direitos
Humanos na América Latina, empreenderam a publicação do livro
Desafios do Sistema Interamericano de Direitos Humanos – novos
tempos, velhos desafios (Desafíos del Sistema Interamericano de
Derechos Humanos - Nuevos tiempos, viejos retos).7
Após intensa e aprofundada pesquisa, alguns temas foram
selecionados como sendo os mais dignos de figurar na ordem do dia dos
debates sobre os Direitos Humanos no continente, entre eles: o debate
sobre as competências de foros e a subsidiariedade; sobre as dificuldades
e discrepâncias no financiamento do Sistema Interamericano de
Direitos Humanos; transparência e acesso à informação no interior do
Sistema Interamericano de Direitos Humanos; questões relacionadas
às atribuições da Comissão Interamericana de Direitos Humanos e
o devido processo legal, democracia, sistema de petições individuais
e, por fim, o enforcement, ou seja, a força cogente e efetividade das
decisões da Corte Interamericana de Direitos Humanos (CIDH).
Não é o objetivo deste sucinto trabalho abordar cada um
deles de modo aprofundado, senão apresentar um resumo de algumas
destas questões a fim de propor um panorama crítico não da obra
mencionada, mas do contexto atual do Sistema Interamericano de
Direitos Humanos e seus diversos desafios.
É notório que as diferenças culturais, econômicas e de
desenvolvimento político entre os países são desafios postos desde a
criação do Sistema, e esta diferença se reflete nos direitos aos quais
estão sujeitos as pessoas protegidas pelas convenções, pois, muito
embora sejam pacientes dos direitos e garantias defendidos pelo
Sistema Interamericano de Direitos Humanos, estes não perdem a
condição de cidadão de um determinado estado nacional, ainda que
seja em detrimento de um direito.
134
Diogo da Silva Roiz, Geovane Ferreira Gomes, Isael José Santana (org.)
135
Os direitos humanos e o pensamento social brasileiro
de los Estados Miembros e incluye los aportes de otros fondos por servicios de dirección
técnica y apoyo administrativo prestados por la Secretaría General. […] El destino de este
Fondo es financiar los servicios regulares de la Secretaría y de apoyo general prestados
por esta; la dirección técnica y el apoyo administrativo de los programas; y programas
de desarrollo integral de naturaleza multilateral, según se establece en el artículo 32 de
la Carta y según se identifiquen específicamente en el programa-presupuesto aprobado”.
SITE OEA. Normas generales para el funcionamiento de la Secretaría General.
Capítulo IV. Disposiciones generales de naturaleza financiera y presupuestaria.
Disponível em: <http://www.oas.org/legal/spanish/normas/espanol/NormGenCapIV.
htm>. Acesso em 26 de fevereiro de 2017.
10 Vinte e um (21 países se reuniram em Bogotá, em 1948, para a assinatura da
Carta da OEA, eram eles: Argentina, Bolívia, Brasil, Chile, Colômbia, Costa Rica,
Cuba1, Equador, El Salvador, Estados Unidos da América, Guatemala, Haiti,
Honduras, México, Nicarágua, Panamá, Paraguai, Peru, República Dominicana,
Uruguai e Venezuela (República Bolivariana da). Países que se tornaram Membros
posteriormente: Barbados, Trinidad e Tobago (1967), Jamaica (1969), Grenada (1975),
Suriname (1977), Dominica (Commonwealth da) (1978), Santa Lúcia (1979), Antígua
e Barbuda, São Vicente e Granadinas (1981), Bahamas (Commonwealth das) (1982),
St. Kitts e Nevis (1984), Canadá (1990), Belize, Guiana (1991). SITE OEA. Lista de
Estados Membros. Disponível em <http://www.oas.org/pt/sobre/estados_membros.
asp>. Acesso em 26 de fevereiro de 2017.
11 “Artículo 74. Fondos específicos. El Secretario General podrá establecer fondos
específicos en contabilidades separadas, cuyos fines y limitaciones serán definidos en
términos precisos, de acuerdo con los correspondientes actos constitutivos, informando
de ello al Consejo Permanente, al CIDI, a la AICD o a cualquier otro órgano o entidad
de la Organización que tenga interés en la disposición de esos fondos, según sea el caso.
Los fondos específicos están constituidos por contribuciones especiales --incluyendo
las recibidas sin fines ni limitaciones de los donantes-- que provengan de los Estados
Miembros, los Estados Observadores Permanentes ante la Organización y otros estados
miembros de las Naciones Unidas, así como de personas o entidades públicas o privadas,
nacionales o internacionales, destinadas a realizar o reforzar actividades o programas
de cooperación para el desarrollo de la Secretaría General y de otros órganos y entidades
de la Organización que tengan interés en la disposición de esos fondos, según acuerdos
o contratos celebrados por la Secretaría General en ejercicio de las atribuciones que
le confiere la Carta”. SITE OEA. Normas generales para el funcionamiento de la
Secretaría General. Capítulo IV. Disposiciones generales de naturaleza financiera y
presupuestaria. Disponível em: <http://www.oas.org/legal/spanish/normas/espanol/
NormGenCapIV.htm>. Acesso em 26 de fevereiro de 2017.
136
Diogo da Silva Roiz, Geovane Ferreira Gomes, Isael José Santana (org.)
137
Os direitos humanos e o pensamento social brasileiro
Conclusão
Diante destes entraves, as perspectivas para o Sistema
Interamericano de Direitos Humanos, apesar de não serem trágicas,
não ostentam um cenário animador. Se a ausência de enforcement das
decisões do Sistema Interamericano de Direitos Humanos (SIDH)
pelos seus diversos órgãos competentes é algo a ser aprofundado, a
insuficiência de recursos para se fazer presente e executar a vigilância
que se espera deste sistema é preocupante.
O Sistema Interamericano de Direitos Humanos (SIDH)
passa por um período de crise de legitimidade, um paradoxo, pois
se mostram ineficazes suas decisões, fundamentadas em pactos e
convenções ratificadas e firmadas entre os países, os quais manifestaram
livremente suas vontades de obrigarem-se, sem constrangimentos e de
14 SITE OEA. Recursos Financeiros. Disponível em: <http://www.oas.org/es/cidh/
mandato/recursos_financieros.asp>. Acesso em 26 de fevereiro de 2017.
15 SITE OEA. Tabela com dados. Disponível em: <http://www.oas.org/es/cidh/
mandato/finanzas/RecursosFinancieros-2011-2016.pdf>. Acesso em 26 de fevereiro
de 2017.
16 CETRA, Raísa; NASCIMENTO, Jefersson. Contando monedas: el financiamiento
del sistema interamericano de derechos humanos... Op. cit., p. 93.
138
Diogo da Silva Roiz, Geovane Ferreira Gomes, Isael José Santana (org.)
139
Os direitos humanos e o pensamento social brasileiro
140
Diogo da Silva Roiz, Geovane Ferreira Gomes, Isael José Santana (org.)
Referências bibliográficas:
ARENDT, Hannah. As Origens do Totalitarismo. Trad. Roberto Raposo.
Rio de Janeiro: [s. l.], 1979.
BASCH, F. e. A eficácia do Sistema Interamericano de Proteção de Direitos
Humanos: uma abordagem quantitativa sobre seu funcionamento e sobre
o cumprimento de suas decisões. Sur – Revista Internacional de Direitos
Humanos, São Paulo, v. 7, n. 12, p. 9-35, 2010.
OEA. Lista de Estados Membros. Disponível em <http://www.oas.org/pt/
sobre/estados_membros.asp>. Acesso em 26 de fevereiro de 2017.
SITE OEA. Normas generales para el funcionamiento de la Secretaría
General. Capítulo IV. Disposiciones generales de naturaleza financiera y
presupuestaria. Disponível em : <http://www.oas.org/legal/spanish/normas/
espanol/NormGenCapIV.htm>. Acesso em 26 de fevereiro de 2017.
OEA. Recursos Financeiros. Disponível em <http://www.oas.org/es/cidh/
mandato/recursos_financieros.asp>. Acesso em 26 de fevereiro de 2017.
ROJAS, Marta, org. Desafíos del Sistema Interamericano de Derechos
Humanos. Nuevos tiempos, viejos retos. Bogotá: Centro de Estudios de
Derecho, Justicia y Sociedad, Dejusticia, 2015. Disponível em <http://www.
dejusticia.org/files/r2_actividades_recursos/fi_name_recurso.759.pdf >.
Acesso em 25 de fevereiro de 2017.
SACHS, Ignacy. Desenvolvimento, Direitos Humanos e Cidadania. In.:
Direitos Humanos no Século XXI, 1998, p.156. Disponível em <http://www.
nevusp.org/downloads/down182_1.pdf > Acesso em 25 de fevereiro de 2017.
141
Diogo da Silva Roiz, Geovane Ferreira Gomes, Isael José Santana (org.)
Apresentação
O objeto de estudo neste texto é o Ensino Integral paulista.
Modalidade educacional que se constitui numa adaptação do que foi
desenvolvido no estado de Pernambuco, concebido pelo pedagogo
Antônio Carlos Gomes da Costa. Em Pernambuco, entre os anos
2007 e 2010, o Estado procurou estratégias para compor o Programa
de Modernização da Gestão Pública, que incidiu pontualmente sob a
educação.
No presente texto analisamos alguns apontamentos sobre a
vivência escolar em uma escola do estado de São Paulo, na qual o projeto
foi introduzido. Não se pretende esgotar a discussão sobre o tema,
nem mesmo fazer uma apresentação formal do Programa de Ensino
Integral do Estado de São Paulo, mas sim, e antes de tudo buscamos
por meio da análise de nossa experiência escolar junto a colegas
professores e alunos, construir uma reflexão em torno dos primeiros
anos do programa educacional implantado pelo governo do Estado de
São Paulo, denominado Ensino Integral. Partimos da vivência desse
espaço educativo, cuja implantação foi cercada de grandes expectativas
e com uma meta ambiciosa, a de colocar a Rede Paulista entre os mais
bem avaliados do mundo.
Não há dúvida de que o maior desafio da educação
contemporânea é alcançar a excelência no aprendizado. Esta é uma
143
Os direitos humanos e o pensamento social brasileiro
144
Diogo da Silva Roiz, Geovane Ferreira Gomes, Isael José Santana (org.)
145
Os direitos humanos e o pensamento social brasileiro
5 O autor Silvio Luiz Lofego é concursado como professor de História efetivo (PEB
II) do Estado de São Paulo desde 2004, exercendo desde 2014 a função de professor
coordenador de área na Escola de Ensino Integral do Estado de São Paulo na Escola
Estadual Carlos de Arnaldo e Silva.
146
Diogo da Silva Roiz, Geovane Ferreira Gomes, Isael José Santana (org.)
147
Os direitos humanos e o pensamento social brasileiro
148
Diogo da Silva Roiz, Geovane Ferreira Gomes, Isael José Santana (org.)
149
Os direitos humanos e o pensamento social brasileiro
150
Diogo da Silva Roiz, Geovane Ferreira Gomes, Isael José Santana (org.)
151
Os direitos humanos e o pensamento social brasileiro
O Ensino Integral
Diferentemente dos programas anteriores, como por
exemplo a chamada Escola de Tempo Integral, o Ensino Integral
não separa os períodos matutino do vespertino. No primeiro caso, o
aluno tem as aulas da Base Nacional Comum pela manhã e pela tarde
normalmente desenvolve diversos projetos como complemento na
formação do aluno. No Ensino Integral, segunda suas diretrizes:
na operacionalização desse modelo pedagógico a escola
terá: currículo integralizado e diversificado, com matriz
curricular flexível e as aulas e atividades complementares
se desenvolverão com a participação e a presença contínua
dos estudantes, professores e equipe gestora em todos os
espaços e tempos da escola.14
Quando temos como ideal a educação de qualidade nunca
nos cansamos de acreditar em alternativas que revertam situações
lamentáveis como as que presenciamos no cotidiano escolar. Foi neste
sentido que, assim como nós, os professores da Escola Estadual Prof.
14 Cf. SÃO PAULO. Diretrizes do Programa Ensino Integral. São Paulo: SEE, s/d,
p. 13.
152
Diogo da Silva Roiz, Geovane Ferreira Gomes, Isael José Santana (org.)
153
Os direitos humanos e o pensamento social brasileiro
154
Diogo da Silva Roiz, Geovane Ferreira Gomes, Isael José Santana (org.)
Cotidiano Escolar
Sem sombra de dúvida a implantação de um programa com
essa dimensão provoca profundas mudanças no universo escolar,
rompe com a rotina dos envolvidos e cria um mundo de expectativas
muito grande em relação aos resultados. Toda operacionalidade
educativa é alterada, seja para professores, gestores e, principalmente,
alunos e pais. Estranhamento e esperança passam dominar o ambiente
escolar. A estranheza ocorre principalmente em relação ao tempo
de permanência na escola tanto de alunos quanto de professores. A
organização do tempo passa ser um desafio para que as atividades
se materializem em algo efetivamente produtivo. Mas, desse tempo
maior no espaço escolar que advém toda esperança. O estreitamento
das relações entre professores e alunos, chamado por Antônio Carlos
Gomes da Costa de “Pedagogia da Presença”, representa a maior
esperança do programa. Acredita-se que com o tempo se possa
conhecer melhor a história de vida de cada um dos envolvidos com
a escola, e desse modo, em especial o professor seja sensibilizado para
melhor orientar seus alunos.
Assim, o programa, além da parte diversificada também
instituiu a “tutoria”, em que o aluno deverá escolher um professor
ou gestor para ser seu tutor. O tutor tem a incumbência de estar mais
próximo do seu tutorando, observando seu desempenho acadêmico
de forma a estabelecer um diálogo que permita superar eventuais
155
Os direitos humanos e o pensamento social brasileiro
156
Diogo da Silva Roiz, Geovane Ferreira Gomes, Isael José Santana (org.)
157
Os direitos humanos e o pensamento social brasileiro
158
Diogo da Silva Roiz, Geovane Ferreira Gomes, Isael José Santana (org.)
159
Os direitos humanos e o pensamento social brasileiro
160
Diogo da Silva Roiz, Geovane Ferreira Gomes, Isael José Santana (org.)
Considerações finais
Neste texto, buscamos por meio de diálogos com professores
e alunos, tal como nossa experiência escolar construir uma reflexão
em torno do programa educacional implantando pelo governo do
Estado de São Paulo, denominado Ensino Integral. A vivência desse
espaço educativo revelou uma multiplicidade de determinantes que
se arrolam no processo educacional. A análise desta política pública
para a educação demonstrou que a Secretaria de educação procurou
dar suporte à equipe gestora e professores das escolas de tempo
integral, visando à viabilização de melhor desempenho dos alunos.
Novas estratégias foram elaboradas ou aperfeiçoadas. Destaca-se, um
ponto relevante com a atividade de tutoria, que representa o esforço
do programa em promover além da “Pedagogia da Presença”, uma
“Pedagogia do Suporte”. Diante, um dos maiores desafios da educação
contemporânea, que se manifesta na forma de violência simbólica e de
abandono que muitos alunos sofrem pelo afastamento de suas próprias
famílias. Deixados de qualquer maneira na escola, fazem com que o
papel exercido pelo professor/tutor passe a ser o de complementar ou
até substituir a falta do espaço familiar.
Não restam dúvidas de que a iniciativa é muito interessante,
161
Os direitos humanos e o pensamento social brasileiro
162
Diogo da Silva Roiz, Geovane Ferreira Gomes, Isael José Santana (org.)
Referências bibliográficas:
BOURDIEU, Pierre; PASSERON, Jean-Claude. A Reprodução: Elementos
para uma Teoria do Sistema de Ensino. 2 ed. Rio de Janeiro: [s. l.], Francisco
Alves: 1982.
DUTRA, Paulo Fernando de Vasconcelos. Educação integral no estado
de Pernambuco: uma realidade no ensino médio. Texto apresentado no
IV Congresso Ibero-Americano de Política e Administração da Educação
/ VII Congresso Luso Brasileiro de Política e Administração da Educação,
2014, Porto, Portugal. Disponível em: <http://www.anpae.org.br/IBERO_
AMERICANO_IV/GT2/GT2_Comunicacao/PauloDutra_GT2_resumo.
pdf>. Acesso em 07/maio/2018.
SÃO PAULO. Tutorial de Recursos Humanos Programa Ensino Integral.
2014. Disponível em: <http://www.educacao.sp.gov.br/a2sitebox/arquivos/
documentos/343.pdf>. Acesso em 07/maio/2018.
163
Diogo da Silva Roiz, Geovane Ferreira Gomes, Isael José Santana (org.)
165
Os direitos humanos e o pensamento social brasileiro
166
Diogo da Silva Roiz, Geovane Ferreira Gomes, Isael José Santana (org.)
167
Os direitos humanos e o pensamento social brasileiro
168
Diogo da Silva Roiz, Geovane Ferreira Gomes, Isael José Santana (org.)
169
Os direitos humanos e o pensamento social brasileiro
170
Diogo da Silva Roiz, Geovane Ferreira Gomes, Isael José Santana (org.)
171
Os direitos humanos e o pensamento social brasileiro
172
Diogo da Silva Roiz, Geovane Ferreira Gomes, Isael José Santana (org.)
173
Os direitos humanos e o pensamento social brasileiro
174
Diogo da Silva Roiz, Geovane Ferreira Gomes, Isael José Santana (org.)
175
Os direitos humanos e o pensamento social brasileiro
176
Diogo da Silva Roiz, Geovane Ferreira Gomes, Isael José Santana (org.)
177
Os direitos humanos e o pensamento social brasileiro
28 SILVA, Tomaz Tadeu da. Territórios contestados: o currículo e os novos mapas
políticos e culturais. In.: SILVA, Tomaz Tadeu da; MOREIRA; Antonio Flávio (org.).
Petrópolis: Vozes, 1995, p. 185.
29 PACHECO, José Augusto. Políticas de Currículo: referenciais para análise. Porto
Alegre: Artmed, 2003, p. 137-138.
30 Ibidem, p. 139.
178
Diogo da Silva Roiz, Geovane Ferreira Gomes, Isael José Santana (org.)
179
Os direitos humanos e o pensamento social brasileiro
Segundo Rosemberg:
essas reformas enquadram-se no modelo atual de políticas
sociais neoliberais, procurando responder a um enorme
desafio: obter ganhos de qualidade e ao mesmo tempo
procurar restringir o uso dos recursos públicos. Tais
reformas não são particulares ao Brasil e à América Latina,
configurando, ao contrário, um movimento internacional
que vem outorgando à educação a condição de estratégia
fundamental para a redução de desigualdades econômicas
e sociais nacionais e internacionais.35
As políticas de currículo também têm sido colocadas no
centro do debate. Importa considerar a noção de política como
processo, envolvendo negociação, contestação e luta entre grupos
rivais, destinada a um maior entendimento de como é que as coisas
funcionam.
No caso das políticas de gênero esse processo é bem
delimitado pelas tensões e reações que provoca e, pelos
instrumentos, atores e instituições envolvidos para a sua
efetivação. Logo, a prioridade concedida a uma agenda de
gênero no âmbito do Estado além de sujeita à pressão social
e à vontade política, inerentes ao contexto de cada país,
depende de haver maior ou menor consenso internacional
quanto à necessidade de sua execução. Tal agenda, então,
tanto pode ser lida pela ótica da cidadania quanto pela de
forças econômicas que direcionam o enfoque aos processos
de modernização e crescimento econômico sem considerar
seus aspectos sociais e humanos. O modelo de crescimento
adotado em países como o Brasil e na América Latina se
encaminhou nessa última direção.36
Chama atenção que a síntese feita por Rosemberg sobre
os desafios a serem enfrentados pelos países pós-Jontiem apontam
para uma questão curricular. Faz-se necessário “eliminar todos os
estereótipos de gênero, das práticas, matérias e materiais, currículos e
instalações educacionais”.37 Para isso:
35 ROSEMBERG, Fúlvia. O Brasil contemporâneo, educação formal, mulher e gênero
no Brasil. Estudos Feministas, Ano. 2, p. 515, 2001.
36 PACHECO, José Augusto. Políticas de Currículo... Op. cit., p. 139.
37 Cf. ROSEMBERG, Fúlvia. O Brasil contemporâneo, educação formal, mulher e
180
Diogo da Silva Roiz, Geovane Ferreira Gomes, Isael José Santana (org.)
181
Os direitos humanos e o pensamento social brasileiro
182
Diogo da Silva Roiz, Geovane Ferreira Gomes, Isael José Santana (org.)
183
Os direitos humanos e o pensamento social brasileiro
Referências bibliográficas:
CATINI, Carolina de Roig. Privatização da educação e gestão da barbárie:
crítica da forma do direito. São Paulo: Edições Lado Esquerdo, 2017.
FRASER, Nancy. Da redistribuição ao reconhecimento? Dilemas da justiça
numa era pós-socialista. Cadernos de campo, São Paulo, n. 14/15, p. 231-239,
2006.
FRASER, Nancy. O feminismo, o capitalismo e a astúcia da histórica. Revista
Mediações, Londrina, v. 14, n. 2, p. 11-33, 2009
HAYEK, F.A. O caminho da servidão. São Paulo: Instituto Ludwig von Mises
Brasil, 2010.
KERGOAT, Daniele. Divisão sexual do trabalho e relações sociais de sexo.
In.: Hirata, Helena [et. al.]. Dicionário Crítico do feminismo. São Paulo:
Editora UNESP, 2009.
LOURO, G. L; MEYER, D. E. Gênero e Educação. Dossiê. Revista Estudos
Feministas, v. 9, n. 2, p. 513, 2001.
MARTÍNEZ, Carmen Rodríguez. A igualdade e a diferença de
gênero no currículo. In.: SACRISTAN, José Gimeno (org.). Saberes
e incertezas sobre o currículo. Trad. Alexandre Salvaterra. Porto
Alegre: Penso, 2013.
MESZÁROS, ISTVÁN. Para além do capital. São Paulo: Boitempo Editorial,
2011.
MIGUEL, Jorge Luís. Pânicos Sexuais: do “Kit Gay” aos ataques à arte.
Disponível em: https://www.revistaforum.com.br/panicos-sexuais-do-kit-
gay-aos-ataques-arte/. Acesso em: 11/05/2018
184
Diogo da Silva Roiz, Geovane Ferreira Gomes, Isael José Santana (org.)
185
Diogo da Silva Roiz, Geovane Ferreira Gomes, Isael José Santana (org.)
Parte II
Os direitos humanos no
pensamento social brasileiro
187
Diogo da Silva Roiz, Geovane Ferreira Gomes, Isael José Santana (org.)
189
Os direitos humanos e o pensamento social brasileiro
190
Diogo da Silva Roiz, Geovane Ferreira Gomes, Isael José Santana (org.)
191
Os direitos humanos e o pensamento social brasileiro
192
Diogo da Silva Roiz, Geovane Ferreira Gomes, Isael José Santana (org.)
193
Os direitos humanos e o pensamento social brasileiro
12 Cf. RAMOS, P. A. Os partidos paulistas e o Estado Novo. Petrópolis: Vozes, 1980;
PERISSINOTTO, R. M. Estado e capital cafeeiro em São Paulo (1889-1930). São
Paulo: Annablume, 2000, 2v.
13 Cf. ABUD, K. O sangue intimorato e as nobilíssimas tradições... Op. cit.;
FERREIRA, A. C. A epopéia bandeirante. Letrados, instituições, invenção histórica
(1870-1940). São Paulo: Editora UNESP, 2002.
14 Cf. CANDIDO, A. O significado de Raízes do Brasil. In.: HOLANDA, S. B. Raízes
do Brasil. Edição comemorativa 70 anos. São Paulo: Companhia das Letras, 2006, p.
235-250.
194
Diogo da Silva Roiz, Geovane Ferreira Gomes, Isael José Santana (org.)
15 Para detalhamento desta questão, ver: Carone, 1977b; Capelato, Prado, 1980;
Prado, 1986.
16 Cf. PRADO, M. L. C. A democracia ilustrada (São Paulo, 1926-1934). São Paulo:
Ática, 1985.
17 Cf. CARDOSO, I. A. R. A universidade da comunhão paulista... Op. cit.
18 Não temos subsídios suficientes para afirmar se essa resposta foi feita diretamente
para o grupo de AEJ, que almejava tal estatura (de “novos bandeirantes”), ou se foi um
rótulo para dar exclusividade aos feitos do grupo, ou ainda se houve paralelamente o
encadeamento de ambos os fatores – que, provavelmente, tenha sido o caminho mais
plausível.
19 Cf. KOSELLECK, Reinhart. Futuro passado... Op. cit.; Hartog. F. Régimes
d’historicité. Présentisme et expériences du temps. Paris: Le Seuil, 2003c.
195
Os direitos humanos e o pensamento social brasileiro
20 Como indica Chartier: “Para situarmos melhor grandezas e misérias do presente,
talvez seja útil convocar a única competência da qual podem gabar-se os historiadores.
Foram sempre eles lastimáveis profetas, mas, algumas vezes, ao lembrarem que o
presente é feito de passados sedimentados ou emaranhados, puderam contribuir
para um diagnóstico mais lúcido sobre as novidades que seduziam ou assustavam
seus contemporâneos”. Cf. Chartier, R. Escutar os mortos com os olhos. Estudos
Avançados, v. 24, n. 69, p. 11, 2010.
21 Cf. LUCA, T. R. A revista do Brasil: um diagnóstico para a (n)ação. São Paulo:
Editora UNESP, 1999; Idem. Leituras, projetos e (re)vista(s) do Brasil (1916-1944).
São Paulo: Editora UNESP, 2011.
22 Edgar Carone se dedicou a tais classificações fundamentalmente em: Carone, 1971,
1975, 1976, 1977, 1978.
23 Cf. COSTA, C. Pequena história da República. 3 ed. Rio de Janeiro: Civilização
Brasileira, 1974.
24 Cf. BORGES, V. P. Getúlio Vargas e a oligarquia paulista. São Paulo: Brasiliense,
1979.
196
Diogo da Silva Roiz, Geovane Ferreira Gomes, Isael José Santana (org.)
197
Os direitos humanos e o pensamento social brasileiro
198
Diogo da Silva Roiz, Geovane Ferreira Gomes, Isael José Santana (org.)
34 Como já destacaram: Delacroix, Dosse, Garcia, 2009; Delacroix, Dosse, Garcia,
Offenstadt, 2010, 2v.
35 Cf. HARTOG. F. Régimes d’historicité... Op. cit.
36 Cf. HARTOG, F. Evidência da História... Op. cit.; Idem. Régimes d’historicité...
Op. cit.; Idem. O século XIX e a história... Op. cit.
37 KOSELLECK, Reinhart. Futuro passado... Op. cit.; Koselleck. Crítica e crise:
contribuição à patogênese do mundo burguês. Rio de Janeiro: Contraponto; Eduerj,
1999.
199
Os direitos humanos e o pensamento social brasileiro
200
Diogo da Silva Roiz, Geovane Ferreira Gomes, Isael José Santana (org.)
201
Os direitos humanos e o pensamento social brasileiro
202
Diogo da Silva Roiz, Geovane Ferreira Gomes, Isael José Santana (org.)
46 Como pode ser facilmente aferível pelas várias interpretações que foram propostas
no período, a exemplo das elaboradas por Gilberto Freyre, Caio Prado Jr., SBH,
Roberto Simonsen, Paulo Prado, Oliveira Vianna, dentre outros. Para uma apreciação
da questão, ver: Bresciani, 2005; Brandão, 2007.
47 Cf. DEAN, W. A industrialização de São Paulo. São Paulo: Difel/ Edusp, 1971;
LOVE, J. A Locomotiva – São Paulo na Federação Brasileira (1889 1937). Trad.
Vera Alice Cardoso Silva. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1982; CANO, W. Raízes da
concentração industrial em São Paulo. Campinas: Ed. UNICAMP, 1998a; Idem.
Desequilíbrios regionais e concentração industrial no Brasil. Campinas: UNICAMP,
1998b.
48 Cf. CANO, W. Raízes da concentração industrial em São Paulo... Op. cit.; Idem.
Desequilíbrios regionais e concentração industrial no Brasil... Op. cit.
203
Os direitos humanos e o pensamento social brasileiro
204
Diogo da Silva Roiz, Geovane Ferreira Gomes, Isael José Santana (org.)
205
Os direitos humanos e o pensamento social brasileiro
206
Diogo da Silva Roiz, Geovane Ferreira Gomes, Isael José Santana (org.)
207
Os direitos humanos e o pensamento social brasileiro
208
Diogo da Silva Roiz, Geovane Ferreira Gomes, Isael José Santana (org.)
209
Os direitos humanos e o pensamento social brasileiro
210
Diogo da Silva Roiz, Geovane Ferreira Gomes, Isael José Santana (org.)
211
Os direitos humanos e o pensamento social brasileiro
Brasil, publicado em 1933, no qual Caio Prado Jr. já esboçaria de maneira original sua
leitura do marxismo, tentando projetá-lo para pensar a história brasileira (Cf. Candido,
1984). Cf. CANDIDO, A. Prefácio. In: HOLANDA, S. B. Raízes do Brasil. 17 ed. Rio
de Janeiro: José Olympio, 1984, p. XI-XXII. (incluído a partir da 5ª edição de 1969).
73 FREITAS, S. M. Reminiscências. São Paulo: Maltese, 1993, p. 35-36.
74 Em 1947, quando foi paraninfo de uma turma de formandos da FFCL/USP,
assim já percebia a questão: “Nas Faculdades jovens, como a nossa, as distâncias entre
professôres e alunos são, felizmente, pequenas, porque todos têm o sentimento vivo
212
Diogo da Silva Roiz, Geovane Ferreira Gomes, Isael José Santana (org.)
213
Os direitos humanos e o pensamento social brasileiro
214
Diogo da Silva Roiz, Geovane Ferreira Gomes, Isael José Santana (org.)
82 BOTELHO, A.; SCHWARCZ, L. M. (org.). Um enigma chamado Brasil... Op. cit.
MOTA, L. D. (org.). Introdução ao Brasil. Um banquete no trópico. São Paulo: Senac,
1999; Idem. Introdução ao Brasil. Um banquete no trópico 2. São Paulo: Senac, 2001.
215
Os direitos humanos e o pensamento social brasileiro
216
Diogo da Silva Roiz, Geovane Ferreira Gomes, Isael José Santana (org.)
86 ELLIS Jr., A. A evolução da economia paulista e suas causas... Op. cit., p. 7.
Em todas as citações de documentos e obras de época procuramos não atualizar nem
a grafia, nem corrigir possíveis erros tipográficos, até para demarcarmos melhor o
próprio contexto de produção, em que foram elaborados esses estudos e documentos.
87 Ibidem.
88 ELLIS Jr., A. A evolução da economia paulista e suas causas... Op. cit., p. 30.
89 Cf. Bourdieu, Pierre; PASSERON, J-C. Los herderos: los estudiantes y la
cultura. Argentina: Siglo XXI, 2009. Idem. A reprodução: elementos para uma teoria
do sistema de ensino. Trad. Reynaldo Bairão. Petrópolis: Vozes, 2008.
217
Os direitos humanos e o pensamento social brasileiro
218
Diogo da Silva Roiz, Geovane Ferreira Gomes, Isael José Santana (org.)
92 Apesar das críticas contundentes que Ellis Jr. efetuaria ao regime Vargas, como
indica Boris Fausto (2006), Vargas trouxe uma conduta mais ética para a presidência,
lidando com maior transparência o orçamento do Estado, e contribuiu diretamente
para a promoção da industrialização, para a aprovação de leis e criação de novos
ministérios. Para ele, Vargas soube conduzir o país com austeridade, apesar do
autoritarismo; “inaugurou no Brasil as presidências carismáticas”; fez de si a imagem
de uma época, a era Vargas, e de seu estilo de governar uma marca, o varguismo; fez
o país entrar em novo patamar de desenvolvimento econômico, educacional e social;
e foi figura central mesmo quando não esteve no poder, por propiciar a criação de
partidos, pró e contra ele. Para maior detalhamento da questão, ver: Cf. BORGES,
V. P. Getúlio Vargas e a oligarquia paulista... Op. cit.; LOVE, J. A Locomotiva –
São Paulo na Federação Brasileira (1889 1937)... Op. cit.; DRAIBE, S. M. Rumos
e metamorfoses – Estado e industrialização no Brasil (1930-1960)... Op. cit.;
BRANDÃO, G. M. A esquerda positiva... Op. cit.; CORSI, F. L. Estado Novo: política
externa e projeto nacional. São Paulo: Editora UNESP/ FAPESP, 2000; TOTA, A. P. O
imperialismo sedutor: a americanização do Brasil na época da Segunda Guerra. São
Paulo: Companhia das Letras, 2000; LEVINE, R. M. Pai dos pobres? O Brasil e a era
Vargas. São Paulo: Companhia das Letras, 2001; DE DECCA, E. S. 1930: o silêncio
dos vencidos. 2 ed. São Paulo: Brasiliense, 2004; CAPELATO, M. H. R. Multidões em
cena. 2 ed. São Paulo: Ed. UNESP, 2009.
219
Os direitos humanos e o pensamento social brasileiro
220
Diogo da Silva Roiz, Geovane Ferreira Gomes, Isael José Santana (org.)
221
Os direitos humanos e o pensamento social brasileiro
Nada mais cômodo para São Paulo, como queria ele, dado
o seu desenvolvimento frente a muitos estados, naquele momento.
Amplamente engajado ao movimento “confederacionista”, com
pesquisas em fontes oficiais, o livro destinou-se à propaganda desse
movimento. Interessante notar a tensão do autor entre encarar o livro
como uma alusão a causa confederacionista e tentar manter uma
possível “imparcialidade” em seus argumentos.102 Como nos indicam
Marco Cabral dos Santos e André Mota:
o que se deve considerar é que foram múltiplos os sentidos
assumidos pela revolução nas cabeças daqueles que deram
suas vidas no front, ou daqueles mobilizados por todo o
Estado de São Paulo. Personalidades como Alfredo Ellis
Júnior, Monteiro Lobato e Mário de Andrade são apenas
alguns exemplos dessa multiplicidade de sentidos.103
E, no caso de AEJ, deve-se notar ainda, insistem os autores,
que:
para além dos aspectos econômicos, razões culturais e sociais
eram evocadas para igualmente justificar o separatismo.
O mesmo “espírito bandeirante” valorizado quando da
arregimentação de voluntários para a luta fomentava o
clamor separatista, que via em São Paulo claros sinais de
sua excepcionalidade, quase sempre comprovadores de
uma superioridade ancestral da “civilização do planalto”. A
“raça de gigantes”, delineada por Alfredo Ellis Júnior, havia
de merecer o controle de seus destinos. A paulistanidade,
portanto, era munição retórica perigosa, pois trazia em seu
bojo o recrudescimento dos latentes ideais secessionistas.104
Daí o uso intenso de símbolos do passado, como o
bandeirante, trazidos para o presente para incentivarem as investidas
dos paulistas contra a Federação.105 Com esses recursos, históricos e
retóricos, em A nossa guerra, sob um caráter de depoimento, ainda que
102 Cf. ELLIS Jr., A. Confederação ou separação... Op. cit.
103 SANTOS, M. C.; MOTA, A. São Paulo, 1932... Op. cit., p. 56.
104 Ibidem, p. 70.
105 Cf. CAPELATO, M. H. R. O movimento de 1932: a causa paulista. São Paulo:
Brasiliense, 1981; LOVE, J. A Locomotiva – São Paulo na Federação Brasileira (1889
1937)... Op. cit.; RODRIGUES, J. P. 1932 pela força da tradição... Op. cit.
222
Diogo da Silva Roiz, Geovane Ferreira Gomes, Isael José Santana (org.)
223
Os direitos humanos e o pensamento social brasileiro
224
Diogo da Silva Roiz, Geovane Ferreira Gomes, Isael José Santana (org.)
225
Os direitos humanos e o pensamento social brasileiro
de AEJ, talvez tenha sido até maior que o de Afonso de Taunay, para
realçar a importância do bandeirante na configuração histórica da
identidade do povo paulista.117 Mas, como ele próprio indicou em
vários momentos, Taunay era seu mentor e inspirador deste tema.
No início da década de 1930, em função daquelas
circunstâncias, argumentava que o problema do estado de São Paulo
não estava só no presente, mas também nas leituras e nos usos que
foram feitos do passado.118 Em seu mandato como deputado estadual
pelo PRP nos anos 1930, voltou-se para essa questão, e ao homenagear
Afonso de Taunay e sua obra na Câmara dos Deputados, diante da
Assembléia Legislativa, destacava a importância de se conhecer o
passado de São Paulo, com a cruzada dos bandeirantes e a expansão
das bandeiras paulistas por quase todo o território que formou o Brasil.
E que foram fundamentais não apenas para dar ensejo a fundação
de nossa nacionalidade, mas também na consolidação de nossa
“identidade”, “raça”, “valores”, e de nossa política, cultura, sociedade
e economia.
Assim, já em 1932, em A nossa guerra, indicava a importância
de formular uma “syntese dos acontecimentos bellicos de 1932, com as
suas causas e consequencias politicas e sociaes”, ao pretender “fazer
obra de historiador”, e “desde já fazer claro os elementos para a
historia”, para que “os vindouros saibam, por que os diversos capítulos
da guerra, tiveram o desenvolvimento que todos sabem, e foram
obrigados a seguir determinada orientação”. Para que isso fosse feito,
“eu busquei, sempre percorrer o caminho mais estricto da verdade”,
da objetividade: Oliveira Vianna entre intérpretes do Brasil. São Paulo: Ed. UNESP,
2005; MORAES, J. Q.; BASTOS, E. R. (org.). O pensamento de Oliveira Vianna.
Campinas: Ed. Unicamp, 1993.
117 “O problema com que nos pretendemos defrontar exige uma definição preliminar
e, em suma, aceitável, de ‘mitificação’ como simbolização incônscia, identificação do
objeto com uma soma de finalidades nem sempre racionalizáveis, projeção na imagem
de tendências, aspirações e temores particularmente emergentes num indivíduo, numa
comunidade, em toda uma época histórica”. Cf. Eco, U. O signo de três. São Paulo:
Perspectiva, 2008, p. 239.
118 Cf. ELLIS, M. Alfredo Ellis Júnior, 1896-1974... Op. cit.; FERREIRA, A. C. A
epopéia bandeirante... Op. cit.
226
Diogo da Silva Roiz, Geovane Ferreira Gomes, Isael José Santana (org.)
227
Os direitos humanos e o pensamento social brasileiro
120 AEJ. 25ª sessão ordinária em 9 de agosto de 1937. In.: Annaes da Assembléia
Legislativa do Estado de São Paulo. Sessão ordinária de 1937. v. 1. São Paulo:
Industria Gráfica Siqueira S. A., 1953, p. 531.
121 AEJ. Leitura da carta ‘Os estagiarios’ na 28ª sessão ordinária em 12 de agosto
de 1937. In.: Annaes da Assembléia Legislativa do Estado de São Paulo. Sessão
ordinária de 1937. v. 1. São Paulo: Industria Gráfica Siqueira S. A., 1953, p. 604.
228
Diogo da Silva Roiz, Geovane Ferreira Gomes, Isael José Santana (org.)
122 AEJ. 14ª sessão ordinária em 27 de julho de 1937. In.: Annaes da Assembléia
Legislativa do Estado de São Paulo. Sessão ordinária de 1937. v. 1. São Paulo:
Industria Gráfica Siqueira S. A., 1953, p. 320.
123 USP, FFCL. Anuário da FFCL., 1950. São Paulo: Seção Gráfica; Industria Gráfica
José Magalhães Ltda., 1952, p. 59.
229
Os direitos humanos e o pensamento social brasileiro
230
Diogo da Silva Roiz, Geovane Ferreira Gomes, Isael José Santana (org.)
231
Os direitos humanos e o pensamento social brasileiro
232
Diogo da Silva Roiz, Geovane Ferreira Gomes, Isael José Santana (org.)
233
Os direitos humanos e o pensamento social brasileiro
234
Diogo da Silva Roiz, Geovane Ferreira Gomes, Isael José Santana (org.)
235
Os direitos humanos e o pensamento social brasileiro
145 Cf. ROIZ, D. S. Dos ‘discursos fundadores’ à criação de uma ‘memória coletiva’...
Op. cit.
236
Diogo da Silva Roiz, Geovane Ferreira Gomes, Isael José Santana (org.)
237
Os direitos humanos e o pensamento social brasileiro
revista].149
No ano seguinte, em Rio-jornal, ao analisar a Pintura no
Brasil, SBH destacava que o “que todos devem desejar é o abandono
da imitação cega do passado, condenada pelos verdadeiros artistas”,150
e que o “retornelho do regionalismo cairá, por si mesmo e já é tempo
de cair”, porque só “uma forte tendência modernista absolutamente
moderna poderá criar a arte nossa, a arte brasileira”.151 Mudança
nas atitudes políticas, desconfiança com relação à política externa,
esperança num movimento de cunho nacional, o modernismo, para
mostrar “o Brasil aos brasileiros”, eram as metas que pareciam carregar
um jovem de pouco mais de 19 anos de idade, que em 1921 havia se
mudado com a família de São Paulo para o Rio de Janeiro, e estava
prestes a começar o curso de Direito.
Aos poucos, o desejo juvenil foi se definindo na mente do
jovem crítico literário, ao estreitar suas relações com os “futuristas de
São Paulo”, representando-os no Rio de Janeiro, como vendedor de
assinaturas e colaborador do projeto da revista Klaxon.152 Ao mesmo
tempo, dava andamento ao seu curso de Direito, que a revelia de sua
vontade, em função de exames, o impediu de participar da Semana de
Arte Moderna em fevereiro de 1922 na cidade de São Paulo. Aquele era
o começo do andamento de um movimento, cuja “rebeldia literária” de
Mário e Oswald de Andrade, liderando um grupo de jovens e talentosos
artistas e escritores viria, aos poucos, a invadir o cenário nacional,
ainda impregnado pelos “cânones” estabelecidos no passado.153 Para
Tania de Luca:
a entrada do grupo de Klaxon na Revista do Brasil ganha
maior relevo quando se tem em vista que, em fins de
238
Diogo da Silva Roiz, Geovane Ferreira Gomes, Isael José Santana (org.)
239
Os direitos humanos e o pensamento social brasileiro
240
Diogo da Silva Roiz, Geovane Ferreira Gomes, Isael José Santana (org.)
241
Os direitos humanos e o pensamento social brasileiro
242
Diogo da Silva Roiz, Geovane Ferreira Gomes, Isael José Santana (org.)
243
Os direitos humanos e o pensamento social brasileiro
173 Note-se ainda que a referência de SBH a Paulo Duarte não era casual. Ele foi
fundamental em vários momentos da trajetória de SBH, como em sua indicação para
o cargo de diretor do Museu Paulista em meados de 1945, junto ao interventor federal
do estado de São Paulo. Cf. VALENTE, G. L. As missões culturais de Sérgio Buarque
de Holanda. Tese (Doutorado em Memória Social). Unirio, Rio de Janeiro, 2009;
NICODEMO, T. L. Alegoria moderna: consciência histórica e figuração do passado
na crítica literária de Sérgio Buarque de Holanda. São Paulo: Editora da Unifesp, 2014.
174 HOLANDA, S. B. Escritos coligidos, 1920-1949... Op. cit., p. 507.
244
Diogo da Silva Roiz, Geovane Ferreira Gomes, Isael José Santana (org.)
245
Os direitos humanos e o pensamento social brasileiro
realmente decisiva, por paradoxal que isso pareça, deu-se algum tempo
mais tarde, quando o governo central convocou, enfim, as eleições
para a Constituinte”.182 E ao procurar compreender o movimento
do processo histórico, como lembraria em 1967 (não por acaso, num
outro momento ditatorial), em sua conferência, Elementos básicos da
nacionalidade: o homem, o autor destacava que:
para a história e para o historiador, o que acima de
tudo importa é captar em sua própria mobilidade
e transitoriedade o curso dos tempos, sem contudo
desdenhar, é claro, o que possa haver de solidariedade ou
de continuidade entre as sucessivas gerações. Pretender
destacar qualquer parte desse processo, para erigi-lo depois
em cânone perenemente válido, é o mesmo que querer
condenar as sociedades a uma esclerose mortífera. O
passado nunca se repete. Essa a aflição do historiador, que
há de sempre alertar contra as seduções do imobilismo e do
estéril saudosismo a quem quer que procure acompanhar
a procissão das eras, esforçando-se por ela retirar seu mais
escondido significado. Direi mais, que a boa inteligência
do passado é naturalmente vedada a todos quantos, por
obstinação ou incapacidade, se mostrem indiferentes aos
apelos, aos problemas, às exigências da hora presente.183
E aqui já não era apenas crítico em relação a outros autores,
mas também autocrítico de sua obra, de modo a começar a preparar
a forma pela qual seus textos deveriam ser lidos e interpretados pelo
público, ao iniciar a composição de uma “escrita sobre si”, com o objetivo
de dimensionar como sua obra deveria ficar para a posteridade.184
Considerações Finais
Ao nos debruçarmos nas trajetórias e nos projetos
182 Ellis Jr., Alfredo. A evolução da economia paulista e suas causas. São Paulo:
Companhia Editora Nacional, 1937, p. 509.
183 HOLANDA, S. B. Elementos básicos da nacionalidade: o homem (1967). In:
MONTEIRO, P. M.; EUGÊNIO, J. K. (org.). Sérgio Buarque de Holanda: perspectivas.
Campinas/SP: Ed. Unicamp; UERJ, 2008b, p. 623.
184 CARVALHO, R. G. A escrita de si de Sérgio Buarque de Holanda nos anos 1970
(notas para estudo). Revista Tempos Históricos, v. 19, n.1, p. 103-119, 2015.
246
Diogo da Silva Roiz, Geovane Ferreira Gomes, Isael José Santana (org.)
Referências bibliobráficas:
ABUD, K. O sangue intimorato e as nobilíssimas tradições. A construção de
um símbolo paulista: o bandeirante. Tese (Doutorado em História). Faculdade
de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, Universidade de São Paulo, São
Paulo, 1985.
ALONSO, A. Idéias em movimento: a geração 1870 na crise do Brasil-
Império. São Paulo: Paz e Terra, 2002.
ANHEZINI, K. Um metódico à brasileira: a história da historiografia de
Afonso de Taunay (1911-1939). São Paulo: Editora UNESP, 2011.
ANHEZINI, K. Um metódico à brasileira: a história da historiografia de
Afonso de Taunay (1911-1939). São Paulo: Editora UNESP, 2011.
AZEVEDO, F. A cultura brasileira. Introdução ao estudo da cultura no
Brasil. 4 ed. rev. e ampl. Brasília: Ed. UNB, 1963.
AZEVEDO, F. História de minha vida. São Paulo: Livraria José Olympio
Editôra, 1971.
247
Os direitos humanos e o pensamento social brasileiro
248
Diogo da Silva Roiz, Geovane Ferreira Gomes, Isael José Santana (org.)
249
Os direitos humanos e o pensamento social brasileiro
250
Diogo da Silva Roiz, Geovane Ferreira Gomes, Isael José Santana (org.)
ELLIS Jr., Alfredo. Leitura da carta ‘Os estagiarios’ na 28ª sessão ordinária
em 12 de agosto de 1937. In.: Annaes da Assembléia Legislativa do Estado
de São Paulo. Sessão ordinária de 1937. .v. 1. São Paulo: Industria Gráfica
Siqueira S. A., 1953
ELLIS Jr., Alfredo. O bandeirismo paulista e o recúo do meridiano. 2 ed. São
Paulo: Companhia Editora Nacional, 1934b.
ELLIS Jr., Alfredo. O bandeirismo paulista e o recúo do meridiano. São
Paulo: Typoghaphia Piratininga, 1924.
ELLIS Jr., Alfredo. Os primeiros troncos paulistas e o cruzamento
Euroamericano. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 1936a.
ELLIS Jr., Alfredo. Populações Paulistas. São Paulo: Editora Companhia
Nacional, 1934.
ELLIS, M. Alfredo Ellis Júnior, 1896-1974. São Paulo: Editora Bentivegna,
1997.
FAUSTO, B. A revolução de 1930: história e historiografia. 16 ed. rev. e ampl.
São Paulo: Cia. das Letras, 1997.
FAUSTO, B. A revolução de 1930: história e historiografia. 16 ed. rev. e ampl.
São Paulo: Cia. das Letras, 1997.
FAUSTO, B. Getúlio Vargas: o poder e o sorriso. São Paulo: Companhia das
Letras, 2006.
FERREIRA, A. C. A epopéia bandeirante. Letrados, instituições, invenção
histórica (1870-1940). São Paulo: Editora UNESP, 2002.
FERREIRA, M. M. A História como ofício: a constituição de um campo
disciplinar. Rio de Janeiro: FGV/ Faperj, 2013.
FERREIRA, M. M. A trajetória de Henry Hauser: um elo entre gerações. In.:
NEVES, L. M. B. P.; GUIMARÃES, L. M. P.; GONÇALVES, M. A.; GONTIJO,
R. (org.). Estudos de Historiografia Brasileira. Rio de Janeiro: FGV/ FAPERJ,
2011, p. 237-260.
FERREIRA, M. M. Notas sobre a institucionalização de cursos universitários
de História no Rio de Janeiro. In.: GUIMARÃES, Manoel Luiz Salgado (org.).
Estudos sobre a escrita da história. Rio de Janeiro: Editora 7 letras, 2006, p.
139-161.
FERREIRA, M. M. O ensino da história na Faculdade Nacional de Filosofia da
Universidade do Brasil. História, Ciência, Saúde, Rio de Jabeiro, v. 19, n. 2, p.
611-639, 2012.
251
Os direitos humanos e o pensamento social brasileiro
252
Diogo da Silva Roiz, Geovane Ferreira Gomes, Isael José Santana (org.)
253
Os direitos humanos e o pensamento social brasileiro
254
Diogo da Silva Roiz, Geovane Ferreira Gomes, Isael José Santana (org.)
255
Os direitos humanos e o pensamento social brasileiro
256
Diogo da Silva Roiz, Geovane Ferreira Gomes, Isael José Santana (org.)
USP, FFCL. Anuário da FFCL., 1950. São Paulo: Seção Gráfica; Industria
Gráfica José Magalhães Ltda., 1952.
VELLOSO, M. P. A brasilidade verde-amarela: nacionalismo e regionalismo
paulista. Estudos Históricos, v. 6, n. 11, p. 89-112, 1993.
VELLOSO, M. P. Modernismo no Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: FGV, 1996.
VENTURA, R. Estilo tropical: história intelectual e polêmica literária no
Brasil (1870-1914). São Paulo: Companhia das Letras, 1991.
WEGNER, R. A conquista do oeste. A fronteira na obra de Sérgio Buarque de
Holanda. Belo Horizonte: Ed. UFMG, 2000.
257
Diogo da Silva Roiz, Geovane Ferreira Gomes, Isael José Santana (org.)
259
Os direitos humanos e o pensamento social brasileiro
social.
A organização dessa discussão faz-se a partir de quatro
momentos de atuação dessa personagem: 1) discurso sobre a questão
do monopólio da terra, proferido na sessão da Assembleia Legislativa
do Paraná (ALEP), em 13 de março de 1947; 2) panfleto escrito e
distribuído aos trabalhadores, por ocasião das comemorações do dia
1º de maio, no início da década de 1950; 3) inserção de Vieira Netto e
do PCB na luta dos camponeses em Porecatu,4 município do Paraná
(1949-1951); 4) depoimento de Vieira Netto à polícia em que teceu
duras críticas ao sistema agrário brasileiro (1964).
A trajetória de José Rodrigues Vieira Netto está ligada à
construção do projeto societário comunista no estado do Paraná.
Grande parte de sua vida esteve alicerçada na teoria marxista e na
militância no Partido Comunista Brasileiro (PCB), em particular desde
meados da década de 1940 até o início da década de 1970, quando
faleceu. Ele foi advogado de renome. Foi eleito deputado estadual
pelo PCB, tendo sido cassado seu mandato. Foi professor universitário
na Faculdade de Direito da Universidade do Paraná, sendo, também,
cassado dessa função, no início do governo militar. Perseguido, o
aprisionaram, mas não aprisionaram seu pensamento, por mais que
atribuíssem ao seu pensar os crimes de sua vida. Pelos seus acusadores
e perseguidores foi considerado um professor brilhante, mas de grande
risco à mocidade.
Ele conviveu com duas ditaduras, sendo fichado e perseguido
em ambas. Das duas ditaduras, só teve tempo de presenciar uma
redemocratização do país com o fim da ditadura do Estado Novo,
260
Diogo da Silva Roiz, Geovane Ferreira Gomes, Isael José Santana (org.)
261
Os direitos humanos e o pensamento social brasileiro
262
Diogo da Silva Roiz, Geovane Ferreira Gomes, Isael José Santana (org.)
263
Os direitos humanos e o pensamento social brasileiro
15 Cf. MEMÓRIA: Cem anos de Direito Civil na Universidade Federal do Paraná.
José Rodrigues Vieira Netto. Disponível em: <https://direitocivil100anosufpr.files.
wordpress.com/2012/05/josc3a9-rodrigues-vieira-netto.pdf>. Acesso em: 20 fev. 2017.
16 Julgamento final do concurso para Docente Livre, na cadeira de Direito Civil,
da Faculdade de Direito da Universidade do Paraná, em 12 de junho de 1957. Ata...
Disponível em: <https://direitocivil100anosufpr.wordpress.com/documentos>.
Acesso em: 26 jan. 2016.
17 Instalação da Comissão Examinadora do Concurso para professor Catedrático
de Direito Civil, em 22 de outubro de 1957. Ata... Disponível em: <https://
direitocivil100anosufpr.wordpress.com/documentos>. Acesso em: 26 jan. 2016.
264
Diogo da Silva Roiz, Geovane Ferreira Gomes, Isael José Santana (org.)
265
Os direitos humanos e o pensamento social brasileiro
266
Diogo da Silva Roiz, Geovane Ferreira Gomes, Isael José Santana (org.)
na área jurídica.20
Este item apresentou alguns aspectos da trajetória dessa
personagem paranaense, destacando sua inserção na OAB, na
Universidade do Paraná e a militância política em movimentos sociais
e no PCB. Sem dúvida é uma narrativa com muitos recortes, cujo
objetivo principal consiste em mostrar algumas facetas desse biografado
que elegeu a emancipação humana como projeto de sua luta política,
conforme atesta o item seguinte que descreve a sua atuação em defesa
da terra como direito social.
267
Os direitos humanos e o pensamento social brasileiro
268
Diogo da Silva Roiz, Geovane Ferreira Gomes, Isael José Santana (org.)
269
organizar a luta armada na região por mais de dois anos.
O tema relacionado à luta pela terra foi pautado por Vieira
Netto, já no ano de 1947, em discursos na Assembleia Legislativa do
Paraná quando exerceu seu mandato como Deputado Estadual. Desde
a primeira sessão, Vieira Netto manifestou suas posições políticas na
defesa de um projeto em que o proletariado estivesse contemplado,
tal qual o PCB se propunha em suas prerrogativas partidárias e de
consquista de poder. É nesse contexto que também se reforça que Veira
Netto, mesmo tendo suas origens ligadas à classe dominante, estava
inserido nas demandas da clase trabalhadora, manifestando visão
ampla dos acontecimentos e das ações políticas, culturais, econômicas
e sociais no âmbito do exercício do seu mandato como deputado
estadual.
Ao falar abertamente na primeira sessão na Assembleia
Legislativa, em 13 de março de 1947, pautou a situação econômica no
Brasil, definida por ele como bastante grave, pois o Brasil ainda não
tinha se libertado de sua fase semi-colonial, do monopólio da terra que
era a principal característica da economia nacional, onde imperava
o latifúndio, impedindo que a indústria nacional se desenvolvesse,
por falta de mercado interno. A crítica é dirigida também às relações
comerciais internacionais, destacando que o Brasil recebia em troca de
seus produtos
principalmente dos EE.UU, da indústria ianque bugigangas
e produtos de 2ª necessidade que nos abarrotam o mercado.
A América do Norte pretende transformar-nos em satélites
de Wall Street.27
Como se observa, a temática referente à questão da terra
estava relacionada a um conjunto de análises da estrutura sócio-
econômica. Em panfleto alusivo ao dia 1º de maio, dia do trabalhador,
intitulado Por um primeiro de maio, por aumento de salários, paz e
liberdade,assinado por Vieira Netto, Maria Olímpia Carneiro Mochel,
Manoel Jacinto Correia, Newton Câmara, João Batista Teixeira,
27 Cf. ALEP Assembleia Legislativa do Estado do Paraná. Diários da Assembleia.
Disponível em: <http://www.alep.pr.gov.br/atividade_parlamentar/diarios_da_
assembleia/300>. Acesso em: 16 out. 2017.
Diogo da Silva Roiz, Geovane Ferreira Gomes, Isael José Santana (org.)
271
Os direitos humanos e o pensamento social brasileiro
28 BNM: Plataforma Digital Brasil: Nunca Mais. Disponível em: <http://bnmdigital.
mpf.mp.br/pt-br/>. Acesso em 13 set. 2017. (BNM 391; 944-945).
29 BNM: Plataforma Digital Brasil: Nunca Mais... Op. cit., BNM 391; 944-945
30 Ibidem, BNM 391; 944-945.
272
Diogo da Silva Roiz, Geovane Ferreira Gomes, Isael José Santana (org.)
273
Os direitos humanos e o pensamento social brasileiro
274
Diogo da Silva Roiz, Geovane Ferreira Gomes, Isael José Santana (org.)
33 BNM: Plataforma Digital Brasil: Nunca Mais... Op. cit., BNM 391 953)
275
Os direitos humanos e o pensamento social brasileiro
Conclusões
A ênfase a alguns aspectos da trajetória de Vieira Netto
evidencia sua atuação como intelectual orgânico na crítica social e na
luta pela transformação social. É nessa perspectiva que se dá, segundo
Gramsci,34 a relação do intelectual com a organicidade da sociedade,
ou seja, sua inserção é parte do todo dessa sociedade, com o diferencial,
que esse sujeito tem em suas ações o empenho na elaboração e
efetivação de um projeto de sociedade voltado à classe à qual pertence,
de maneira que as concepções teóricas e o conhecimento científico
estejam diretamente ligados a atuação na sociedade.
A compreensão do intelectual engajado, atuante na defesa
34 GRAMSCI, A. Cadernos do cárcere.... Op.cit.
276
Diogo da Silva Roiz, Geovane Ferreira Gomes, Isael José Santana (org.)
277
Os direitos humanos e o pensamento social brasileiro
Referências:
Fontes:
ALEP Assembleia Legislativa do Estado do Paraná. Diários da Assembleia.
Disponível em: <http://www.alep.pr.gov.br/atividade_parlamentar/diarios_
da_assembleia/300>. Acesso em: 16 out. 2017.
ANDRADA, F. C. Discursos. Discurso pronunciado na seção solene in
memoriam do Prof. Vieira Netto, promovida pela OAB-PR no dia 29 de maio
de 1973. In: Ordem dos Advogados do Brasil seção Paraná. O Advogado José
Rodrigues Vieira Netto. [s.l.: s.n.], 1974.
BNM: Plataforma Digital Brasil: Nunca Mais. Disponível em: <http://
bnmdigital.mpf.mp.br/pt-br/>. Acesso em 13 set. 2017
HELM, C. M. V. José Rodrigues Vieira Netto: a vida e o trabalho de um
grande mestre. Curitiba: OAB, 2012.
MEMÓRIA: Cem anos de Direito Civil na Universidade Federal do Paraná.
José Rodrigues Vieira Netto. Disponível em: <https://direitocivil100anosufpr.
278
Diogo da Silva Roiz, Geovane Ferreira Gomes, Isael José Santana (org.)
files.wordpress.com/2012/05/josc3a9-rodrigues-vieira-netto.pdf>. Acesso
em: 20 fev. 2017
NEGRÃO, F. Genealogia Paranaense. Curitiba: Impressora Paranaense,
1954.
NICOLAS, M. PARANÁ Assembléia Legislativa. 130 anos de vida
parlamentar paranaense, 1854-1984. Curitiba: Assembléia Legislativa do
Estado do Paraná, 1984.
VIEIRA NETTO, J. R. Posse e domínio da herança. Curitiba: Litero-Técnica,
1957.
Bibliografia:
ALMEIDA, J. C. de; BITTENCOURT, M. D. C; COSTA, R. L. da. Memórias
do Instituto dos Advogados do Paraná: 90 anos. Curitiba: Champagnat,
2009.
DRUMOND, P. H. D.; CROCETTI, P. S. O ensino jurídico na Curitiba da
primeira metade do século XX: Filosofia do Direito, Direito Civil e Direito
Penal nos albores da Faculdade de Direito da Universidade do Paraná.
Disponível em: <http://www.direito.ufpr.br/portal/setor-2/historia/>. Acesso
em: 15 fev. 2017.
GRAMSCI, A. Cadernos do cárcere. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira,
2001.
GRAMSCI, A. Cadernos do cárcere. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira,
1999.
MICELI, S. Intelectuais à Brasileira. São Paulo: Cia das Letras, 2001.
OIKAWA, M. E. Porecatu: a guerrilha que os comunistas esqueceram. São
Paulo: Expressão Popular, 2011.
PRIORI, Â. O levante dos posseiros: a Revolta Camponesa de Porecatu e a
ação do Partido Comunista Brasileiro no Campo. Maringá: Eduem, 2011.
VIEIRA, C. E. Historicismo, cultura e formação humana no pensamento de
Antonio Gramsci. Tese (Doutorado em Educação). Pontifícia Universidade
Católica de São Paulo, São Paulo, 1999.
279