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VALOR ECONÔMICO

(ANDIMA) Opinião - O derivativo não é o responsável pelas perdas

Alfredo Neves Penteado Moraes


A atual crise de liquidez enfrentada pelos mercados financeiros mundiais trouxe à tona, como um
de seus desdobramentos, o debate sobre as condições de segurança dos instrumentos financeiros.
Dentro desta ótica, abordaremos os contratos de derivativos usados no segmento de balcão.
A característica fundamental que difere um contrato de balcão de um equivalente negociado em
mercado de apregoação seria a pessoalidade e individualidade do balcão comparativamente ao
pregão. Melhor explicando, nos contratos de balcão as partes que transacionam se conhecem e
negociam cada operação, detalhe por detalhe. No caso de pregão, comprador e vendedor
negociam com quem se apresente, e para tanto elegem uma empresa ligada à Bolsa (contraparte
central) para assumir o risco de vendedores e compradores. Por ser um contrato previamente
definido em termos de condições, valores unitários e obrigações entre as partes, na Bolsa só resta
aos envolvidos negociar entre si preço e número de contratos unitários.
No Brasil, os segmentos de balcão estão organizados há décadas por meio de um conjunto de
entidades, regulamentos, recomendações e sistemas de suporte. Diferentemente do mercado
internacional, o registro das operações, seja com instrumentos derivativos ou mesmo títulos, é
obrigatório para instituições financeiras e fundos de investimento e de previdência. Já dispomos de
infra-estrutura operacional sofisticada, que assegura a completa transparência e aderência dos
negócios bilaterais à vontade das partes e às boas práticas e ética operacional dos mercados onde
se inserem.
Outra dimensão do tópico segurança é o risco. Na sua melhor definição, risco é a possibilidade de
não recebermos o que esperávamos. Assim, se obtemos em um negócio um prêmio equivalente a
uma expectativa de perda e, ao fim, deixamos de receber o que esperávamos perder, não
podemos falar em risco. Neste caso, o valor do prêmio equivale ao que de fato perdemos - ficou
um pelo outro. Risco, portanto, independe do nível de perda esperada no negócio; relaciona-se,
isto sim, a perdas que não antecipávamos e, portanto, não nos precavemos ou cobramos por elas.
Como se trata de operações realizadas entre duas partes que mutuamente se avaliam no que diz
respeito a crédito e salvaguardas que entendem adequadas à situação específica, no balcão os
mecanismos de margens, aporte de garantias e mesmo eventos de liquidação antecipada são
ajustados contrato a contrato. Como se vê, para que o mercado de balcão fosse considerado
arriscado, comparativamente às alternativas existentes, precisaríamos assumir que os
participantes de determinado contrato falharam na sua missão de negociar adequadamente - o
que, posso afirmar, não é o caso.
Se é assim, por que esta súbita elevação do câmbio trouxe tanta agitação e desconforto aos
envolvidos, levando ao clamor de alguns pela limitação na utilização de derivativos por empresas,
especialmente as exportadoras, e até mesmo à adjetivação de "tóxico" para os mais exóticos
desses instrumentos? Arrisco um diagnóstico. Mercados de derivativos realocam riscos dentro da
economia. Portanto, exportadores são naturais vendedores de proteção contra a alta de moedas
estrangeiras, dada sua exposição financeira a perdas em caso de apreciação da moeda nacional,
como bem acompanhamos ao longo dos últimos cinco anos.
Como costuma acontecer, a "toxicidade" se relaciona à dose, não ao remédio. Se vendemos
grandes quantidades de derivativos cambiais porque menosprezamos seu risco, seremos
surpreendidos ao nos depararmos com um cenário adverso. Ao procurarmos diminuir a exposição,
acabamos sendo protagonistas do movimento altista que agrava ainda mais o quadro. Por mais
exótico que seja, o instrumento derivativo não é o responsável pelas perdas de agentes que
estavam sobreexpostos. Ao contrário, quanto mais difundidos são esses instrumentos, mais fácil
fica encontrar quem se disponha a dar-lhes a proteção para a situação de desconforto existente.
Se, ao vender proteção no mercado cambial, os exportadores estão atuando de forma
economicamente correta, então a que atribuir este imenso impacto financeiro? A resposta é que os
mecanismos de contabilização e a chamada de margens, tanto no balcão quanto nas bolsas,
debilitam a saúde financeira da empresa em um primeiro momento. O padrão de contabilidade não
reconhece o potencial de ganho futuro pelo aumento da cotação da moeda em que o exportador
vende os seus produtos, criando, assim, uma ilusão de perdas. O descompasso entre resultados
imediatos e perspectivas futuras, associado à dificuldade da companhia em comunicar a
racionalidade econômica de seu posicionamento nos contratos que firmou, dá margem à grita
geral. Sob pressão, muitas vezes, tomam-se decisões irrefletidas de zeragem dos contratos que
causam "prejuízo". Estanca-se a perda financeira, mas, aí sim, expõe-se a empresa ao risco
cambial.
Como se vê, quem trabalha com comércio internacional não pode se dar ao luxo de estar zerado
em derivativos cambiais, pois, se assim procedesse, estaria submetido à imprevisibilidade de seus
resultados futuros, pelo descompasso entre os seus custos em moeda local e suas receitas nas
moedas em que vendeu ou firmou contratos de fornecimento. A proteção cambial, nesses casos,
não é aposta ou especulação, mas um imperativo de boa gestão.
Se a solução não é vedar operações com derivativos e pouca diferença há entre mercados de
balcão ou bursáteis, o que podemos fazer para diminuir o ruído nesses momentos de crise? A
resposta é simples: vamos investir em comunicação clara, crível e expedita dos impactos
econômicos sobre as finanças dos grandes atores desses mercados. O sigilo das estratégias
individuais convive perfeitamente com informações confiáveis sobre nível de exposição a risco e
testes de robustez do aparato de controle dos participantes com relevância sistêmica.
A sociedade civil organizada, através de suas entidades representativas, dará sua contribuição
para o desenvolvimento de procedimentos e criação de arcabouço condizente para que derivativos
cumpram com seu propósito de redistribuir risco e, com isto, amenizar os efeitos localizados dos
eventuais tsunamis econômicos.
Alfredo Neves Penteado Moraes é presidente da Andima (Associação Nacional das
Instituições do Mercado Financeiro).

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(CETIP) Destaques - Títulos agrícolas

O volume em custódia de letras de crédito do agronegócio (LCA) na Cetip chegou a R$ 6,9 bilhões
até o dia 29 de outubro, aumento de 228,5% no ano. Entre os ativos do agronegócio, a LCA é o
que apresenta a maior taxa de crescimento. Criados em 2005 para ampliar os recursos disponíveis
ao financiamento do setor agropecuário, os títulos do agronegócio têm entre suas principais
vantagens o incentivo fiscal, como a isenção do Imposto de Renda para pessoas físicas.

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(Debêntures) Sem cumprir metas e com folga, fundos miram ações

Catherine Vieira e Vera Saavedra Durão, do Rio


Depois de cinco anos consecutivos de ganhos, os dirigentes de fundos de pensão admitem que
será praticamente impossível bater as metas em 2008. Mas o colchão de superávit, que era de R$
76 bilhões no início do ano, embora tenha se reduzido, ainda era de R$ 58 bilhões no fim de
setembro, segundo a Secretaria de Previdência Complementar (SPC). O valor certamente vai cair
ainda mais em outubro, mas as fundações ainda têm uma folga de caixa e são beneficiadas por
não sofrerem com os resgates que os fundos comuns estão enfrentando. Com isso, estão
aproveitando a queda generalizada nos preços dos ativos para fazer posições não só no mercado
de ações, como no de títulos públicos e privados e mesmo de participações em empresas e
projetos.
Enquanto fundos como a Petros, Valia e Funcef avançam no campo da renda variável e da infra-
estrutura por meio de compras em bolsa ou de participações, outros como Previ e Fundação Real
Grandeza atacam também no mercado de títulos públicos.
"Os prêmios subiram muito por que os fundos de investimento tiveram muitos resgates e esses
gestores precisaram vender os ativos rápido", explica Fábio Moser, diretor de investimentos da
Previ, fundo de pensão do Banco do Brasil e o que possui maior exposição ao mercado de ações:
cerca de 60% da carteira total de cerca de R$ 128 bilhões. Com isso, foi a que mais acumulou
superávit nos últimos anos, mas também a que mais deve sentir a oscilação de outubro.
Moser lembra que CDBs e debêntures de bancos e empresas também ficaram com os prêmios
em alta pelos mesmos motivos. "A NTN-B 2045 já teve um cupom inferior a 6% e agora está em
8,5%, o que é um juro real excelente para nós", diz Sérgio Wilson Fontes, presidente da Real
Grandeza.
O presidente da Petros, Wagner Pinheiro, explica que os fundos de pensão não tomam resgates e
têm necessidades de ganho no longo prazo, o que permite aproveitar muitas oportunidades em
momentos como esse. "Estamos aumentando muitas posições no mercado de ações e
aproveitando também para avançar nos projetos de infra-estrutura", diz ele.
O presidente da Valia, Eustáquio Lott, diz que o fundo está olhando também oportunidades na
renda variável. "As ações ficaram muito baratas e estamos fazendo algumas compras de ativos
que consideramos promissoras, mas não são grandes movimentos", diz Lott, que prevê voltar para
o limite de 30% do patrimônio aplicado em renda variável, nível que caiu para 25% com as quedas
da bolsa. "Esse portfólio somava R$ 3 bilhões e agora diminuiu para R$ 2,5 bilhões", completou. A
Valia continua também com apetite forte para os investimentos em infra-estrutura, basicamente por
meio de fundos de participações.
Com o aperto de crédito, os dirigentes avaliam que cenário fica muito positivo também para os
investimentos esses fundos de investimentos em participações (FIPs), com os quais os fundos de
pensão comprometeram aportes, mas só conseguiram aplicar até aqui uma pequena parcela do
total em projetos. Na Petros, por exemplo, foram aprovados cerca de R$ 1,5 bilhão em aportes de
FIPs, sendo que apenas R$ 330 milhões foram efetivamente aportados.
Nesses fundos há outros cotistas, como a Funcef, que também destinou R$ 1, 2 milhão, mas
apenas pouco mais de R$ 200 milhões já foram usados para aportes em projetos. Conforme
estimativa da Petros, os montantes totais nesses FIPs somam cerca de R$ 6 bilhões, dos quais
ainda restam cerca de R$ 5 bilhões a serem investidos.
O novo diretor de investimentos da fundação da Petros, Luís Carlos Afonso, ressalta porém que o
controle de risco também aumenta. "Os preços dos ativos ficaram mais atrativos para os fundos de
private equity, mas também é necessário aprofundar a análise dos riscos de cada empresa a
investir", diz ele, ressaltando que a fundação está fazendo isso para aproveitar o momento e elevar
a aposta nos melhores ativos.
O presidente da Funcef, Guilherme Lacerda, diz que o fundo tem focado nos investimentos em
participações. No mercado de ações, não vinha vendendo nem comprando, mas começou a
analisar oportunidades recentemente, já que o preço ficou muito atrativo. "Nosso foco tem sido as
participações, principalmente em infra-estrutura, e o setor imobiliário, no qual somos muito fortes",
diz. Lacerda pondera que embora as metas provavelmente não sejam alcançadas este ano, o
impacto para a Funcef será um pouco atenuado pela carteira de imóveis. "Ela representa 7% do
total e está com um ganho de 20% no ano", diz.

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A vez do ativo real

Alessandra Bellotto e Adriana Cotias, de São Paulo


Num momento em que há uma fuga visível de investimentos do mercado financeiro para ativos
reais, a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) dá sua contribuição e publica a esperada instrução
que promete impulsionar os fundos imobiliários. Regulamentado em 1994, o setor nunca havia
passado por uma revisão. Com a desburocratização e regras mais flexíveis, a expectativa dos
participantes, que comemoram - mas também criticam - as medidas, é de que as ofertas de fundos
imobiliários pipoquem por aí e o segmento finalmente ganhe corpo - hoje, há 72 fundos em
atividade, reunindo um patrimônio de mais de R$ 3,6 bilhões.
Enquanto o Ibovespa perdeu mais de 40% no mês passado, a capitalização de mercado dos
fundos imobiliários existentes caiu só 3%, para R$ 2,248 bilhões, o que evidencia o caráter mais
conservador desse tipo de aplicação, afirma Sérgio Belleza, sócio da Brazil Partners. Isso não quer
dizer, entretanto, que sejam aplicações com resultados a longuíssimo prazo, sustenta. Prova disso
é o histórico de rentabilidade das carteiras existentes e o fechamento da distribuição de cotas do
shopping West Plaza, em pleno período de revés do mercado.
O principal avanço da nova instrução CVM 472, na visão dos especialistas, foi a flexibilização das
regras de investimentos. Os fundos imobiliários - que só podiam aplicar seus recursos em imóveis
ou direitos sobre esses bens - passam agora a poder comprar cotas de sociedades de propósito
específicos (SPEs), fundos de participação (FIPs), fundos de recebíveis e outros fundos
imobiliários, desde que atuem no setor imobiliário, e ainda certificados de recebíveis imobiliários
(CRIs).
Para o diretor da Brazilian Mortgages, Rodrigo Machado, a possibilidade de estruturar carteiras
para investir em cotas de outros fundos imobiliários será o grande impulsionador do mercado.
"Vários players do mercado financeiro, como os grandes bancos, que não têm vocação para fazer
gestão de ativos imobiliários, mas têm demanda de clientes, vão entrar nesse mercado como
administradores de fundos de fundos", afirma.
Belleza, da Brazil Partners, espera que os bancos se tornem mais ativos na oferta e estruturação
de fundos imobiliários, o que certamente dará impulso ao setor. Ele critica, porém, a regra que
permite que as instituições criem carteiras com ativos que pertencem ao próprio banco ou com
imóveis em que sejam inquilinos. "É um ponto polêmico porque a lei 8.668, de 1993, que
regulamenta os fundos, proíbe fazer operação imobiliária em situação de conflito de interesse", diz.
A nova instrução da CVM estabeleceu que cabe à assembléia de cotistas - representando metade
das cotas emitidas - dos respectivos fundos julgarem se há ou não conflito, previamente à
realização do negócio.
A permissão para montar fundos de CRIs é outro grande avanço, na opinião de Machado, tanto
para fomentar emissões desses papéis, que têm como lastro contratos de venda ou aluguel de
imóveis, como ofertas de fundos imobiliários. Para ele, deverá haver um movimento de
administradores adquirindo carteiras de CRIs para montar fundos, cujas cotas poderão ser
compradas por investidores do varejo. "O fundo permitirá uma maior pulverização dos CRIs, hoje
concentrados nas mãos de investidores institucionais e carteiras de crédito imobiliários de bancos,
até por conta do valor mínimo das emissões em R$ 300 mil", diz.
Martim Fass, diretor de fundos imobiliários da Rio Bravo, acredita que os fundos de fundos serão
cada vez mais freqüentes, amplificando os investimentos no setor. A flexibilização fará crescer
também o giro de ativos, tornando o mercado mais dinâmico e líquido, destaca a gestora de fundos
imobiliários do Banif Banco de Investimentos, Josilda Oliveira.
"A nova instrução vai estimular novas ofertas de instituições que já operam no mercado, trazer
novos players, como os bancos, e também novos investidores, que passarão a enxergar o fundo
imobiliário como um instrumento mais versátil e moderno", resume Machado, da Brazilian
Mortgages. Isso não será amanhã, nem na semana que vem, mas ao longo de 2009.

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Após cair 7 meses em 10, hexa para a bolsa está mais longe

Adriana Cotias, de São Paulo


Os investidores chegam ao último bimestre com a sensação de que o ano está perdido para o
mercado acionário e que as oportunidades agora estão mais claras nas aplicações diretas em
renda fixa. O sonho de ver o Ibovespa galgar o sexto ano consecutivo de alta ficou mais distante
depois de a bolsa contabilizar 7 meses de queda entre os 10 transcorridos. Apesar do rali
observado na semana passada, as revisões de cenários de crescimento para a economia global,
os indicadores de risco, os investimentos e as lucratividades das empresas em 2009 é que
prosseguirão a pautar a reavaliação dos ativos - financeiros ou reais.
Alguns parâmetros econômicos mudaram, o mundo ficou mais pobre e com o processo de
desalavancagem em curso, os preços seguirão reajustados para baixo, diz o chefe da área de
Renda Variável da Fundação Cesp (Funcesp), Paulo de Sá Pereira. Neste momento em que casas
de investimentos dos mais diversos calibres encontram dificuldades para fechar um cenário para o
ano que vem, a boa notícia surge da percepção de que a fase mais aguda da crise, com quebra de
instituições financeiras, passou. "O emocional sai de cena e o racional pode começar a prevalecer."
Os próximos capítulos dessa história vão se desenrolar ao longo de 2009, construídos sob o ritmo
da atividade nas economias centrais e emergentes. As estimativas apontam para um Produto
Interno Bruto (PIB) global de 2%, com os Estados Unidos assinalando um decréscimo entre 0,4% e
0,7% nas suas riquezas. Já para o Brasil, as previsões oscilam entre 2% e 2,5%. A Funcesp
trabalha com um intervalo entre 2,5% e 3%.
Para a bolsa, Sá Pereira acredita que o Ibovespa encontrou o seu piso na casa dos 30 mil pontos.
Se terminar o ano perto disso, ou até entre 35 e 40 mil pontos, é de se esperar que a recuperação
comece a ser desenhada a partir do segundo semestre de 2009, quando os mercados começarão
a antecipar a melhora do ciclo econômico para 2010. Por ora, as ações defensivas, especialmente
aquelas relacionadas a dividendos, seguirão na preferência dos investidores. Os papéis ligados à
cadeia de commodities e que compõem grande parte do Ibovespa, continuarão sensíveis aos sinas
observados no mercado internacional.
Nesse qüiproquó global, o Brasil tem chances de ajustar mais rápido o seu ritmo de atividade do
que Estados Unidos ou Europa, que podem ter de dois a três anos difíceis pela frente, diz o chefe
de análise da Link Corretora, Celso Boin Jr. "Se o país tiver expansão de 2% em 2009, isso
equivalerá a um crescimento nulo, mas não haverá recessão." Mesmo assim, entre as nações
emergentes do bloco dos BRIC (sigla para Brasil, Rússia, Índia e China), a letra "B" é a que tem o
sistema financeiro mais sofisticado, tanto pela expertise adquirida nos anos de hiperinflação quanto
pelo reforço da regulação que veio com o Programa de Estímulo à Reestruturação e ao
Fortalecimento do Sistema Financeiro Nacional (PROER) em 1995.
Assim, Boin Jr. considera o setor bancário uma aposta defensiva e que pode ser frutífera no longo
prazo e cita Itaúsa. Para outras, que têm dívida em dólar, como Cesp, será preciso reavaliar se o
preço da ação caiu além ou não do que seria considerado justo para um ambiente de maior
restrição de crédito e liquidez.
A recessão cantada para 2009 já está no preço dos ativos, considera o professor William Eid, do
Centro de Estudos em Finanças da Fundação Getúlio Vargas (FGV). Ele também é da linha que vê
o segundo semestre de 2009 como o ponto a partir do qual os mercados começarão a antecipar
um 2010 mais sereno. Para as empresas brasileiras que foram pegas no contrapé pela via da
desvalorização cambial, a preocupação é se elas terão capacidade para manter o tema
investimentos na ordem do dia. "Algumas de primeira linha perderam fortunas, o que indica que
estamos comprando um crescimento menor para o ano que vem."
Embora algumas ações de primeiríssima linha estejam nitidamente baratas, como Vale e
Petrobras, ainda é cedo para se construir um cenário de confiança, diz Alexandre Espírito Santo,
economista-chefe da Way Investimentos e diretor do curso de relações internacionais da ESPM-
RJ. Para ele, apesar de uma expansão na casa dos 8% ainda saltar aos olhos, ficou claro que a
China não vai segurar a onda do crescimento global sozinha, reduzindo a demanda por matérias-
primas, que são o grande mote da bolsa brasileira.
Foi por conta do forte ajuste nos preços das commodities que só neste ano, o Ibovespa acumula
desvalorização superior a 40%, fechando outubro com 37.256 pontos. Os ajustes foram violentos
também no câmbio - o dólar já acumula valorização nominal de 22% em relação ao real - e nos
juros. Nos títulos com vencimento em um ano, as oscilações chegaram a 2,5% e nos prazos mais
longos a 4%, o que se traduz em prejuízos de até 10%, calcula Sá Pereira, da Funcesp.
Embora tamanho baque crie oportunidades na renda fixa, elas dificilmente serão aproveitadas
pelos fundos de investimentos, que têm privilegiado liquidez e curto prazo. O gestor de um fundo
mútuo, lembra Sá Pereira, precisa marcar seus ativos a preços de mercado e em momentos de
oscilações abruptas, se estiver exposto a papéis longos, eles trazem muita volatilidade para a
carteira ou até perdas nas cotas. Pelos sistemas de controle de risco, acaba tendo que zerar a
posição antes mesmo de o investimento maturar. Já as aplicações diretas em títulos públicos
apresentam taxas bem convidativas. As Notas do Tesouro Nacional série F (NTN-F, prefixadas)
com vencimento em 2017 pagavam, por exemplo, 18,17% na sexta-feira.
"Quando é que a bolsa vai proporcionar pelos próximos dez anos 18% líquido e certo?", questiona
Eid, da FGV. "Não acho que o Brasil vá ter uma inflação de 7,5%, 8%, talvez tenha 6% no ano que
vem, mas depois segura." Com um retorno dessa grandeza, ele recomenda que o investidor
assediado pelo seu banco para investir num Certificado de Depósito Bancário (CDB) negocie muito
bem a sua taxa de remuneração.

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O negócio de private banking no "day after"

Lywal Salles Filho


Final de 2009. O mercado dá sinais de que a queda da atividade econômica foi menor do que se
esperava e as medidas tomadas pelas autoridades realmente tiveram efeito, o crédito voltou a fluir,
a inflação está sob controle e as instituições financeiras mantêm-se seguras. As operações de
"swap" de dólar feitas pelo Federal Reserve com alguns países, inclusive Brasil, foram um marco e
ajudaram na recuperação.
Os juros no mundo giram perto dos 2% ao ano, os bancos centrais acompanham a inflação, e o
PIB brasileiro cresce próximo de 4%. A Bovespa está em 46 mil pontos e os preços das
commodities estão estáveis embora em níveis mais baixos. Os Estados Unidos, pegos de surpresa
pela crise, agiram rápido e fizeram tudo para que não se repetisse um novo Japão. Apostaram em
reduzir ao máximo o tempo da crise que no Japão durou uma década.
No segmento de clientes de grandes fortunas existe a lembrança clara de um dólar de R$ 1,60 que
subiu a R$ 2,50 e agora está próximo dos R$ 2,00; e do índice Bovespa a 30 mil pontos. Os
clientes estão machucados e a postura hoje é a de receio. Mas já se vislumbra o desejo deles de
voltar a buscar oportunidades mais rentáveis. Desapareceu a era dos retornos altos e fáceis, e os
clientes preparam-se para sair de posições "cash".
Não é fácil se esquecer de destruição de riqueza e agora a preferência é por alocações em renda
fixa atrelada ao DI e à inflação. A diversificação do portfólio como instrumento de preservação volta
a dar às Letras de Crédito Imobiliário (LCI) e Letras de Crédito do Agronegócio (LCAs) um
diferencial competitivo e a bolsa, que sofreu poucos resgates de clientes private, que, aliás,
aproveitaram os preços baixos, volta às conversas sobre alocação.
A indústria de private banking começa a sair de um "shake-out", buscando novas formas de
sobrevivência e de prosperidade. A crise de liquidez afetou todas as classes de ativos. Alguns
chegam a dizer que não houve porto seguro. Mas hoje, passado o pior, vemos alguns "players"
tradicionais fragilizados, investidores demandando mais de seus privates, uma busca por maior
diversificação, em vez de dois a três private banks, cinco ou seis, menor fidelidade, uma evidente
procura por instituições que provem que acrescentam valor. Isto tudo contribui para menor receita e
maior atenção aos custos.
Há também uma regulamentação feroz, imposta recentemente às instituições financeiras. Até os
chamados "multifamily offices" passam a ter sua auto-regulação na Associação Nacional dos
Bancos de Investimento (Anbid).
Vivemos o que se pode denominar o renascimento do "wealth management" (gestão de fortunas),
e a retenção de clientes toma posição de destaque nas estratégias. Exige-se um melhor e mais
cauteloso aconselhamento ao cliente, a implementação da arquitetura aberta, maior visibilidade
para o planejamento patrimonial, e rigor maior em "suitability" e "compliance".
Os clientes têm hoje cristalizado em suas mentes a diferença de serviço, proatividade e habilidade
de reação à crise dispensada pelos seus private banks. Há quem diga que existe um déficit de
confiança entre clientes e instituições. Sendo verdade, temos o desafio de reconstruí-la
imediatamente. Este eventual gap não existe de forma igual nas relações dos clientes com cada
uma das instituições com que opera. Ele espelha como cada banco se portou na crise .
O mundo perdeu este ano aproximadamente US$ 10 trilhões em ativos sob gestão. O sofrimento
foi enorme, chamuscou a todos, mas surge um novo modelo de negócio. Coisas como retorno
absoluto, hedge funds e produtos alavancados deram lugar a uma maior diversificação, capital
protegido, opções de menor risco e bolsa. Os fundos exclusivos estão em xeque e terão que se
reinventar. Os fundos multimercados perderam volume e expressão nos últimos dois anos por não
conseguir entregar aquilo que se propunham: "alpha". Nem juros e dólar caindo e bolsa subindo
ajudaram, os multimercados ficaram igual a todo mundo, só mais caros. Não há mais tanta gente
de calça cáqui e camisa azul caminhando alegremente pelas ruas. A volatilidade foi mais forte e os
feriu gravemente.
Alguns bancos aproveitaram melhor a crise e tiveram sucesso na captação de novos recursos e
novos clientes, além de, em alguns casos, terem aproveitado oportunidades de crescer
inorganicamente. Foram boas as chances de consolidação. A escala na nossa atividade ganhou
importância e o talento, a capacidade técnica, o domínio, a inteligência e o profissionalismo de
nossos colaboradores ganharam força na diferenciação que os clientes fazem entre as instituições.
Hoje exige-se gente mais preparada e bem mais experiente.
A Boston Consulting Group tem visão positiva sobre o futuro do mercado de grandes fortunas não
só para o Brasil como para o mundo. Aponta para 2012 com US$ 138 trilhões em ativos sob
gestão, um crescimento anual de 4,8%. Para o Brasil a taxa será o dobro. Não podemos desprezar
o poder do mercado de se reinventar. Nossa atividade de "wealth management" continuará estável
produzindo retornos interessantes, comparados com outros negócios do mundo financeiro.
A nossa atuação como private bankers tem que ser com muita humildade e de um enorme esforço
para compreender e respeitar cada vez mais os nossos clientes. Nossa missão continuará sendo
dar ao cliente o aconselhamento correto e necessário, apresentando soluções com
responsabilidade, mas sem arrogância.
Lywal Salles Filho é economista pela UFRJ, MSc em Administração pela Syracuse
University, e diretor executivo do Banco Itaú S.A.
E-mail privatebank@ itau.com.br
Este artigo reflete as opiniões do autor, e não do jornal Valor Econômico. O jornal não se
responsabiliza e nem pode ser responsabilizado pelas informações acima ou por prejuízos
de qualquer natureza em decorrência do uso destas informações.

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Juro bancário dispara em outubro

Fernando Travaglini, de São Paulo


As taxas de juros do crédito de curto prazo para empresas disparam no mês de outubro. Com o
agravamento da crise, os grandes bancos brasileiros se retraíram e elevaram os spreads em até
dois pontos percentuais para as grandes companhias. As pequenas e médias enfrentam taxas até
duas vezes maiores em relação aos meses anteriores, segundo empresas e bancos ouvidos pelo
Valor nos últimos dias.
Até meados de agosto, grandes corporações, com faturamento superior a R$ 300 milhões anuais,
tomavam empréstimos para sustentar o giro das operações com custo alguns décimos acima da
Selic, algo entre 0,5% e 1% acima do CDI. Na nova condição do mercado, essas mesmas
companhias pagam no mínimo CDI mais 1,5%. Em alguns casos, o spread (diferença entre o custo
de captação e a taxa efetivamente cobrada dos clientes) subiu para 4%, equivalente a 1,5% ao
mês.
Já as médias, com receitas de até R$ 100 milhões por ano, que se financiam a taxas prefixadas,
estão pagando juro a partir de 3% ao mês para linhas de giro, mais de 40% ao ano. Antes, esses
mesmos clientes conseguiam taxas próximas a 1,6% ao mês (20% ao ano).
Além do custo elevado, os bancos só têm renovado as operações já existentes, praticamente não
há novas concessões. Preocupados em resguardar a liquidez, as instituições preferem manter os
recursos em caixa, girando apenas o necessário para atender os atuais clientes.
Mesmo essas rolagens têm saído com volumes reduzidos e com a exigência de mais garantias.
Em teoria, essa condição seria muito boa para os bancos: spreads elevados, maior volume de
garantias, prazos reduzidos e concorrência menor. Ainda assim preferem ficar retraídos.
Retomar o crédito é o grande desafio, avalia Maércio Soncini, vice-presidente de negócios de
atacado do Banco Fibra. Segundo ele, as compras de carteiras têm solucionado o problema de
liquidez, mas não necessariamente garantindo a oferta de crédito.
O problema é que a crise de liquidez acertou em cheio a liquidez dos bancos de médio porte,
responsáveis por boa parte dos recursos para o "middle market". Como acontece em momentos de
incerteza, houve uma migração das captações dos pequenos para os grandes, chamado de "fly to
quality". Os pequenos ficaram sem funding e forçados a pagar até 135% do CDI no interbancário e
até 150% na venda de carteiras. Por outro lado, mesmo com recursos em abundância, os grandes
bancos também se retraíram e não ocuparam esta lacuna deixada pelos médios.
Segundo Soncini, as primeiras medidas para fomentar o crédito começaram na última semana. Ele
citou a capitalização do Fundo Garantidor de Crédito e do BNDES, as linhas de capital de giro para
construtoras e os leilões de linhas externas prometidos pelo Banco Central. A mais importante, no
entanto, foi a mudança na remuneração do compulsório dos depósitos a prazo. "Foi uma medida
bastante forte. Deve provocar um aumento da compra de carteiras e levar os bancos a operar
mais".
Outra conseqüência positiva deve ser a diminuição do apetite dos grandes bancos pelos
Certificados de Depósitos Bancários (CDB), já que o custo de carregamento de depósitos a prazo
subiu, resultando até mesmo em uma queda dos preços. "Os bancos médios poderão ser mais
alimentados pelos aplicadores".
O presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, comentou na quinta-feira em audiência na
Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado que já diminuiu a retração no crédito
bancário verificada em outubro. No início do mês, as concessões médias diárias dos bancos
apontavam uma queda de 18% em relação a setembro. Segundo ele, "houve uma melhora" e
outubro deve fechar com recuo de 5% perante o mês anterior - os dados até setembro já
apontavam uma desaceleração das concessões para as pequenas e médias empresas (ver
gráfico).
De fato, na última semana houve um pequeno movimento de melhora dos empréstimos, mas boa
parte disso se deve a um posicionamento defensivo dos próprios bancos, explica Eduardo Athayde,
diretor-executivo do Banco Prosper. "É preciso fornecer algum oxigênio para as empresas para que
elas não quebrem e comprometam o pagamento das dívidas existentes".
Segundo ele, empresas do setor de "middle market" são muito dependentes de recursos,
especialmente nesta época, com pagamento de décimo-terceiro salário e de compra de estoques
para o fim de ano. "O nível de endividamento cresce bastante, mas hoje os bancos que
fomentavam, que são bancos médios, não têm funding".
A sensação agora é que aos poucos os empréstimos devem voltar, especialmente entre as maiores
companhias. Grandes bancos já trabalham com cerca de 20 a 30% da capacidade de crédito,
estima Athayde, mas as pequenas empresas ainda estão desatendidas. "Já estamos tentando nos
mexer, procurando parceiros para captação e trabalhando com o pensamento no início de 2009, ou
antes". Também é esperado um movimento de consolidação bancária e de retorno aos nichos.

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Saída pelo crédito mercantil

De São Paulo
Sem financiamento bancário, mais caro e escasso, as empresas têm recorrido à negociação com
clientes e fornecedores em busca de prazos para financiar estoques e matérias-primas. O
chamado crédito mercantil foi uma das saídas encontradas para driblar a falta de recursos.
A Dicico, por exemplo, negociou com fornecedores aumento de prazos para poder oferecer uma
melhor condição aos clientes, afirmou Dimitrios Markakis, presidente da rede varejista. "Todos os
setores têm sofrido com a falta de credito, mas conseguimos aumento de prazos e repassamos na
forma de parcelamentos em até 12 meses sem juros aos clientes."
No caso das pequenas empresas, a solução tem sido usar as grandes como provedora de capital.
A Basf, explica Francisco Verza, diretor de tintas da companhia, repassa recursos dos bancos para
os pequenos, na modalidade conhecida como "vendor" - quando o vendedor antecipa o
recebimento no banco e o comprador paga à instituição a prazo, avalizando a operação. "O que
conseguimos nos bancos, repassamos. Com a crise, o crédito sofreu restrições e as taxas subiram.
Mas não mudou drasticamente."
Um dos problemas dessas linhas, ressalta um banqueiro, é que nesse tipo de operação o
pagamento pode ser feito em qualquer banco, aumentando do risco. "É preciso haver uma trava
bancária, como no consignado, para garantir que o dinheiro retorne à conta onde está o recebível",
disse.
De toda forma, os bancos preferem concentrar forças nas grandes companhias. Segundo dados do
Banco Central de setembro, a média diária das concessões prefixadas (que atendem pequenas em
médias) aumentou 1,8%. Já as linhas flutuantes, que atendem as grandes corporações, saltaram
12,2%.
Lupércio Torres Neto, presidente da IRGA, empresa de transportes de cargas especiais, conta que
a maior dificuldade é o giro, que dobrou de preço. "Precisamos de capital intensivo para financiar
as operações, mas o mercado está tão louco que você não sabe quanto custa o crédito. Cada
banco vem com uma taxa diferente. Ninguém sabe quanto tem de cobrar."
Adhemar Camardella Sant'Anna, presidente do IPCE, Fios e Cabos Elétricos, afirma que alguns
bancos pararam de fazer o desconto de duplicata, essencial para do dia-a-dia. Há uma dificuldade
também com carta de crédito para importação. "Pelas ações do governo, até acredito que a
situação seja transitória." (FT)

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Montadoras organizam-se para receber ajuda do BB e da CEF

Marli Olmos, de São Paulo


Os presidentes das montadoras se reúnem hoje, em São Paulo, para organizar a rede de
concessionários para receber a ajuda de crédito do governo federal acertada na sexta-feira com o
ministro Guido Mantega e o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles.
É bem provável que o consumidor comece a ver nas revendedoras de carros representantes e
propaganda do Banco do Brasil e da Caixa Econômica Federal. O BB já tem certa familiaridade
com o financiamento de veículos. Mas, para a CEF, instituição habituada a participar da venda de
imóveis, será uma novidade.
Se as duas instituições e mais a Nossa Caixa, do governo paulista, que também deve ajudar na
empreitada, segundo anunciou o governador José Serra (PSDB), tomarem gosto é possível que o
comércio de carros, sempre cobiçado pelos grandes bancos, passe a fazer parte das suas
carteiras de forma mais contundente.
Na reunião que as montadoras tiveram com Mantega e Meirelles foram acertadas três frentes de
atuação. Por um lado, BB e CEF podem comprar as carteiras dos bancos que trabalham com
montadoras. No caso, essa ação estaria mais voltada aos bancos menores. Outra possibilidade é
que os bancos estaduais repassem recursos aos bancos de montadoras. A terceira hipótese é o
BB e a CEF serem os próprios agentes do financiamento dos automóveis.
Para o presidente da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea),
Jackson Schneider, o mais provável é que essas instituições repassem recursos para os bancos
familiarizados com o financiamento de veículos. A liberação de recursos é uma questão chave hoje
para um setor onde o financiamento representa entre 60% e 70% das vendas. Com mais dinheiro,
as financeiras das montadoras poderiam reduzir o valor da entrada.
Antes da crise, o consumidor conseguia financiar um carro até sem entrada, ou com 10% a 20%
como parcela inicial. Hoje as prestações de até 60 meses só estão sendo liberadas com uma
entrada em torno de 50%. Foi isso que brecou o comércio de carros no país nos últimos dias de
outubro, levando Schneider a pedir ajuda ao governo.
No início da semana, o presidente da Anfavea já tinha discutido o assunto com Mantega. Depois
disso, os presidentes das montadoras aproveitaram a presença do presidente Luiz Inácio Lula da
Silva na abertura do salão do automóvel, em São Paulo, para voltar a tratar do assunto. Em seus
discursos de abertura do salão, Lula, Serra e o ministro da Indústria, Miguel Jorge, que já trabalhou
na Volkswagen, prometeram ajuda.
A reunião com Mantega e Meirelles na sexta-feira teve também a participação da indústria de
caminhões. Apesar de 70% dos negócios com caminhões serem feito por meio do Finame, linha de
crédito do BNDES, o CDC e leasing respondem pelos 30% restantes.
O lobby do setor costuma ter um efeito imediato nessas ocasiões porque os prejuízos à atividade e
aos trabalhadores aparecem de forma rápida. Como trabalham em ritmo de linha de montagem e
sem estoques de peças, as fábricas de automóveis subitamente interrompem compras de
componentes e são paralisadas ao menor sinal de aumento de volume de carros nos pátios da
indústria ou das concessionárias.
Na duas últimas semanas diversas montadoras anunciaram férias coletivas entre outubro e
novembro. No dia da reunião da Anfavea com Mantega e Meirelles, a General Motors, uma das
maiores do setor e a que tradicionalmente expõe os seus problemas ao governo com rapidez,
anunciou que as quatro fábricas do país vão parar por uns dias para adequar o nível dos estoques.
A escassez de crédito desequilibrou as vendas. Até o dia 30, um dia antes de o mês terminar, o
volume de vendas de outubro ficou 19% abaixo de setembro. Até o dia 30 de outubro foram 22 dias
úteis, exatamente o mesmo número de dias úteis de setembro e também igual ao número de dias
úteis de outubro de 2007. Do dia 1º a 30 de outubro foram vendidos 225.806 veículos. O número
total do mês será conhecido hoje. Na sexta, a indústria previa fechar outubro com 236 mil
unidades. Em setembro foram 268,7 mil e em outubro do ano passado, 244,4 mil.

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Mercado acionário tem boa semana no pior mês

Agências internacionais
As bolsas de valores americanas tiveram em outubro um dos piores meses já registrados, mas
sinais de descongelamento dos mercados de crédito impulsionaram as ações na sexta-feira. O
índice Dow Jones teve alta de 1,57%, a 9.325 pontos. O Standard & Poor´s 500 subiu 1,54%, a
968 pontos. O Nasdaq avançou 1,32%, a 1.720 pontos.
Na melhor semana desde outubro de 1974, o Dow subiu 11,3%. O S&P 500 avançou 10,5% no
período, maior alta semanal desde janeiro de 1980. O Nasdaq ganhou 10,9% na semana.
Já o mês de outubro foi completamente diferente, com a pior queda percentual do Dow desde
agosto de 1998 e desde a crise de outubro de 1987 para o S&P 500. Para o Nasdaq, o recuo
mensal foi o maior desde fevereiro de 2001.
As bolsas de valores européias fecharam em alta, no quarto dia de rali, impulsionadas pelos papéis
do setor petrolífero e farmacêutico. No final da sessão, houve alta no setor bancário, apesar das
ações do Barclays terem caído depois que o banco vendeu participação a investidores do Oriente
Médio. O índice das principais ações européias FTSEurofirst 300 registrou alta de 2,79% (928
pontos).
O índice registrou valorização de 11,9% na semana, mas teve perda de 12,7% em outubro, na pior
queda desde setembro de 2002, quadro alimentado pela crise de crédito e pela consequente
desaceleração econômica.
O consenso geral é que é uma reação de vôo da galinha, segundo afirmou Gareth Williams,
estrategista de ações européias do ING. "Mas ainda é cedo para dizer. Há muitos sinais positivos
vindo de vários tipos de fontes", disse.
Houve demanda por papéis de empresas farmacêuticas dada a qualidade defensiva dessas ações,
com GlaxoSmithKline em alta de 4,36%, Roche disparando 9,6%, Novartis subindo 5% e Shire se
valorizando em 4,5%.
As ações do setor petrolífero se recuperaram ante perdas da véspera, apesar de declínio de 2,55%
no preço do barril negociado em Nova York. As ações de Total, ENI, BP e Royal Dutch Shell
registraram alta entre 2,5 e 4,3%.
Em Londres, o índice Financial Times fechou em alta de 2,0%, a 4.377 pontos. O DAX, de
Frankfutr, subiu 2,44% (4.987 pontos). Subiram as bolsas de Paris (2,33%), Milão (2,57%), Madri
(3,32%) e Lisboa (1,69%).

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UE quer forçar bancos a elevar financiamentos

Assis Moreira, de Genebra


Medidas para forçar os bancos a aumentar os financiamentos se quiserem ajuda dos governos, e
maior participação do Brasil, China, Índia e outras economias emergentes na governança global.
Esses são alguns dos pontos que a União Européia (UE) discutirá em reunião extraordinária esta
semana para fixar sua posição comum para o encontro de cúpula do G-20 em Washington, no dia
15, para debater a reforma do sistema financeiro internacional.
No encontro de Washington, vários países vão apresentar suas visões sobre as reformas das
instituições que dirigem os mercados financeiros globais, e sobre o que fazer no curto prazo para
frear a hemorragia provocada pela crise.
O primeiro-ministro italiano, Silvio Berlusconi, informou a empresários em Roma que medidas
concretas deverão ser tomadas para forçar os bancos a emprestar mais, ainda mais se recorrerem
a ajuda do Estado para se recapitalizem. O presidente francês Nicolas Sarkozy, na presidência
rotativa da União Européia (UE), disse que os bancos franceses concordaram em aumentar os
créditos em 4% em troca de ajuda do Estado. A França quer que o G-20 discuta também a revisão
de códigos de conduta para evitar incentivos a riscos excessivos na indústria financeira, incluindo
os modelos de compensação que tem pago milhões de dólares a diretores.
Brasil, China, Índia e alguns outros emergentes estão convidados para a reunião de Washington.
Já a Espanha faz uma verdadeira campanha para ser incluída. O primeiro-ministro Zapatero já
procurou tanta gente, a ponto de o jornal britânico Financial Times observar que agora só falta
pedir ajuda do Papa para ir ao encontro de cúpula de Washington.
Enquanto isso, a França vai propor amanhã a seus parceiros da UE que a posição comum
européia estabeleça claramente mais participação do Brasil, China, Índia e outros grandes
emergentes nas decisões das instituições internacionais e no G-8, espécie de diretório econômico
do planeta. Para a França, é essencial uma maior associação dos emergentes para "incrementar a
legitimidade" de instituições como o FMI e Banco Mundial, dominadas pelos americanos e
europeus.
O chefe do governo italiano, Silvio Berlusconi, se antecipou e anunciou que o encontro de cúpula
do G-8 no ano que vem, em Nápoles (Itália), será na verdade um "super G-8", com maior
participação do Brasil, China, Índia, África do Sul, México e Egito .
Berlusconi disse que já conversou com os outros países do grupo. "Até agora, o G-8 era integrado
por países que representam 50% da economia mundial, agora queremos chegar a 80%", disse ele
à imprensa italiana.

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Perdas podem levar à nacionalização do BPN

Agências internacionais
O ministro português das Finanças, Teixeira dos Santos, anunciou ontem que vai propor ao
Parlamento luso a nacionalização do Banco Português de Negócios (BPN), que acumulou perdas
de 700 milhões de euros(US$ 891 milhões) e enfrenta uma "ruptura iminente" da sua capacidade
de cumprir os pagamentos. "O governo viu-se obrigado a propor à Assembléia da República a
nacionalização do Banco BPN. O governo tomou esta decisão para assegurar aos clientes que os
seus depósitos estão perfeitamente seguros", disse Teixeira dos Santos, ao final de reunião
extraordinária do conselho de ministros.
Na sexta-feira, a agência de classificação de risco Fitch já havia rebaixado os ratings nacionais de
longo e curto prazo do BNP Brasil de "AA-(bra)" e "F1+(bra)" para "A+(bra)" e "F1(bra)". Segundo a
agência, o rebaixamento reflete as preocupações da Fitch a respeito da capacidade de suporte do
controlador do BPN Brasil, o Banco Português de Negócios. No primeiro semestre, diz a Fitch, o
banco apresentou "fortes prejuízos e redução da base de capital".
O governo português informou também que vai colocar até 4 bilhões de euros para reforçar o
capital dos bancos portugueses, a exemplo do que foi feito por outros países europeus. Os
recursos poderão ser concedidos sob a forma de ações preferenciais.
O ministro português disse que o BPN será, a partir de hoje, supervisionado por dois diretores do
Banco Central português. A gestão do BPN será entregue à Caixa Geral de Depósitos,
encarregada de "gerir e apresentar um plano de desenvolvimento". Teixeira dos Santos disse que,
dos 700 milhões de euros em perdas acumuladas, 360 milhões de euros são associadas a
operações com o Banco Insular, de Cabo Verde. O ministro disse que "perdas acumuladas no
banco fizeram com que os capitais próprios se revelem negativos".
O ministro informou que o prejuízo acumulado "tem a ver com o conjunto de operações que foram
investigadas", sobretudo com o banco Insular, de Cabo Verde. Essas operações, frisou Teixeira dos
Santos, cujos indícios apontavam ilegalidade, foram comunicadas à Procuradoria-Geral da
República, que iniciou a investigação.
Segundo o presidente do Banco Central português, Vítor Constâncio, a Sociedade Lusa de
Negócios, dona do BPN, fez "um conjunto vasto de operações clandestinas que não estavam
registradas em nenhuma entidade do grupo", envolvendo centenas de milhões de euros. "Foi com
surpresa que soubemos em junho das operações. Nada faria suspeitar que pudessem existir."
Constâncio acrescentou que "este caso é muito particular" e "não tem nada a ver com as
dificuldades de financiamento do sistema financeiro em geral".

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Para secretaria, entidades passam bem pelo estresse

Do Rio
O setor de fundos de pensão está passando bem pelo teste de estresse desse ano. Essa é a
avaliação do titular da Secretaria de Previdência Complementar (SPC), Ricardo Pena Pinheiro.
"O sistema está forte, é nessa hora que a supervisão e a regulação são testadas", disse o
secretário. "Aqui, os fundos só podem usar derivativos para proteção, não se pode aplicar no
exterior e há limites para aplicar em renda variável", completou Pinheiro.
O titular da SPC participou de seminário de educação previdenciária promovido pela Petros no fim
da semana passada.
O secretário afirmou que a SPC está acompanhando de perto as carteiras e os riscos dos fundos
durante essa crise financeira internacional. O órgão avalia que poucos são os que têm uma
exposição mais significativa ao mercado de ações.
Pinheiro não quis fazer uma estimativa de quanto mais se reduzirá o superávit acumulado do setor
em outubro. "Em setembro, estava em R$ 58 bilhões, pegou apenas uma parte da crise, não sei
como vai ficar em outubro", disse ele.
Mesmo assim, ele disse que ainda vai haver um saldo, resultado dos resultados muito positivos
obtidos pelos fundos entre 2003 e 2007. O patrimônio dos fundos de pensão é de cerca de R$ 470
bilhões
Os dirigentes das fundações evitam falar em perdas, mas admitem que será muito provável não
bater as metas esse ano. "Isso não é algo que nos assuste. De 2003 até antes da crise tivemos um
ganho de 193% e a meta atuarial foi de 93%", afirma o presidente da Funcef, Guilherme Lacerda.
Ele lembra ainda que parte do excedente foi usado para atualizar premissas atuariais, o que
protege o fundo.
Na Fundação Real Grandeza, situação semelhante ocorreu. Eleito dirigente do ano do setor, o
presidente Sérgio Wilson Fontes, diz que o superávit sofreu uma pequena redução, mas ainda é
bastante positivo.
"Até a crise se agravar tivemos resultados não só acima da meta como dos principais indicadores
de mercado, o que resultou nesse colchão de segurança", afirmou Fontes.
Em julho, os fundos de pensão, em média, aplicam cerca de 34% em renda variável. Porém, esse
dado é bastante distorcido pelo peso da Previ, a maior fundação do país, que chegou a ter mais de
65% da carteira nesse segmento no auge da alta do mercado.
O diretor do fundo do Banco do Brasil, Fábio Moser, afirma que no momento, esse percentual é de
60%. "Cerca de metade dessa carteira sofre diretamente as oscilações, mas a outra metade é por
meio de participações em bloco que não flutuam com as cotações em bolsa", explicou o diretor.
(CV)

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Sinais de inadimplência no crédito às empresas

Cristiane Perini Lucchesi, de São Paulo


A seguradora de risco de crédito Coface, do grupo francês Natixis, está percebendo os primeiros
sinais de aumento na inadimplência de empresas médias no Brasil já como conseqüência no
aperto de crédito e liquidez no país. Resolveu ficar mais cautelosa e reduzir limites. "Tivemos
surpresas nesta última semana", afirma Fernando Blanco, presidente da Coface. "Acendeu a luz
amarela por aqui", diz.
De acordo com Blanco, duas redes de varejo regionais com faturamento em torno de R$ 500
milhões cada mostraram problemas, além de três concessionárias de veículos. As revendas de
carros estão na situação que ele definiu como de "fragilidade de liquidez". Isso significa que as
empresas não estão pagando os clientes da Coface (bancos ou empresas), que no entanto não
declararam o sinistro ainda. "Primeiro nossos clientes esgotam todas as tentativas de negociação e
buscam rolar a dívida e só depois declaram o sinistro", conta. Entre as duas redes de varejo com
pagamentos em atraso, há uma na situação de "fragilidade de liquidez" e a outro teve o sinistro
declarado.
Segundo Blanco, a Coface nunca faz o seguro de 100% do empréstimo. Vinha tentando manter
como meta buscar a aprovação de limites para níveis em torno de 80% do crédito. "Agora vamos
ficar mais conservadores, pois o risco de refinanciamento das empresas cresceu muito", afirma. A
cobertura será de 50% a 60%, no máximo.
Segundo ele, as concessionárias de veículos vivem o aperto de crédito de dois lados: o capital de
giro ficou mais escasso e caro e eles não conseguem vender os automóveis, pois o crédito ao
consumidor também ficou mais curto e caro. "Os prazos de 70 meses para compra do carro foram
reduzidos para, no máximo, 24."
Segundo ele, a crise de crédito externa começou por causa da inadimplência nos empréstimos de
alto risco imobiliários dos EUA. "Os ativos eram de qualidade ruim e houve um problema de
solvência nos bancos", lembra.
Desde a concordata da Lehman Brothers, em 15 de setembro, no entanto, o aperto de crédito
externo chegou ao Brasil. "Houve um aperto de liquidez em um ambiente no qual os ativos dos
bancos eram de qualidade", afirma. Esse aperto de liquidez foi piorando o crédito para as
empresas. "O aperto de crédito é um processo que se auto-alimenta", diz o executivo.
Esses sinais de inadimplência no Brasil, no entanto, não seriam suficientes para alterar a
classificação de risco de crédito do país, segundo Blanco. Na semana passada, a Coface reduziu a
classificação de risco de crédito do Reino Unido, da Irlanda e da Islândia. Colocou a Itália e França
em perspectiva negativa. Desde o início da crise, em meados do ano passado, já havia rebaixado
também o rating dos Estados Unidos.
No mundo todo, o índice de inadimplência registrado pela Coface subiu 36% durante o período de
janeiro a setembro de 2008, em comparação ao mesmo período de 2007. Como a carteira é nova
no Brasil, não é possível fazer a mesma comparação, segundo Fernando Blanco.
Para a Coface, o alastramento da crise por meio da demanda é menor que em crises anteriores,
graças à capacidade de recuperação dos países emergentes.

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JMalucelli entra no segmento com nova seguradora

Altamiro Silva Júnior, de São Paulo


O grupo JMalucelli, que tem mais de 40 empresas e atua em setores como construção, financeiro,
hotelaria, comunicação e energia, resolveu apostar no mercado de seguros de crédito e está
criando uma seguradora voltada para o segmento. A empresa será lançada oficialmente no dia 18
e vai se focar em apólices para médias companhias. O momento, marcado pela maior crise
financeira em décadas, é considerado o ideal pelo grupo para oferecer essas apólices, que
protegem contra inadimplência no crédito, e tendem a ser cada vez mais demandados em um
cenário de maior incerteza.
Alexandre Malucelli, vice-presidente da seguradora, diz que o grupo vem estudando há alguns
anos a entrada no mercado de crédito. No exterior, principalmente na Europa, o seguro de crédito é
muito comum e seguradoras que trabalham com o seguro garantia (que garante que uma obra será
entregue dentro do prazo previsto) também oferece a apólice de crédito. A JM é a maior no país no
mercado de garantia, com mais de 50% do faturamento do segmento.
A JM chegou a estudar a possibilidade de um acordo estratégico com alguma empresa estrangeira
para operar com crédito. Mas como optou por trabalhar apenas com o mercado de crédito interno,
resolveu tocar a operação sem parceiros. Um acordo estratégico, diz Malucelli, seria essencial
caso fosse operar também com o seguro de crédito à exportação, que exige conhecimento de
empresas em outros países.
Para cuidar da nova companhia, a JM contratou Eduardo Nóbrega, que trabalhava na seguradora
Áurea e será superintendente técnico. O outro contratado foi o ex-executivo da Coface, Eduardo
Viegas, que será superintendente comercial.
Estimativas "conservadoras" da JM indicam que o mercado de seguro de crédito deve chegar a um
volume de prêmios da ordem de R$ 500 milhões em dez anos. Este ano, até setembro,
movimentou R$ 70 milhões, considerando apenas as apólices para o crédito interno. Foi um
volume maior que em todo o ano passado, com R$ 60 milhões. Segundo Malucelli, a seguradora
tem uma menta, também conservadora, de prêmios de R$ 12 milhões em 2009.
Segundo o executivo, o principal diferencial da nova empresa, frente aos concorrentes, é que o
grupo tem um banco, o Paraná Banco, uma resseguradora e uma seguradora com nove filiais, mil
corretores e 21 mil clientes. Com isso, a nova companhia já nasce com uma estrutura pronta e
consegue ter alcance nacional, chegando a empresas de menor porte em várias regiões do país.
O mercado de seguros de crédito anda cada vez mais disputado. Além da nova seguradora da JM,
o Banco Fator também resolveu apostar na área e criou recentemente uma nova seguradora. Além
disso, há novas companhias estrangeiras entrando, como a espanhola Crédito y Caución, que está
completando pouco mais um ano de operação com forte expansão nas vendas.

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Aperto no crédito é desafio para BC

Cristiane Perini Lucchesi


Após o desmonte da maior parte da posição vendida em dólar das empresas brasileiras e do apoio
do Fundo Monetário Internacional e do Fed, banco central americano, ao governo do Brasil,
novembro poderá ser um mês mais calmo e menos volátil para o mercado de câmbio do que os
dois anteriores. Em outubro, o dólar fechou em alta de 13,45%, já menor do que os 16,45% de
setembro. Desde seu nível mínimo, em 1º de agosto, quando chegou a R$ 1,559, o dólar subiu
38,55%, para R$ 2,16. No dia 22 de outubro, bateu nos R$ 2,38, seu nível máximo de fechamento
no ano, segundo a CMA. Na mediana do mercado, as projeção para o câmbio no final do ano são
de R$ 1,95 para 2008 e em R$ 1,90 para 2009, segundo a pesquisa feita pelo Banco Central e
divulgada no "Boletim Focus". Essas projeções podem subir nesta semana.
Se o Fed tivesse apenas cortado as taxas de juros em mais 0,5 ponto percentual, para 1% ao ano,
na semana passada, sem oferecer dólar aos países emergentes escolhidos - Brasil, México,
Cingapura e Coréia, provavelmente os mercados de ações mesmo nos Estados Unidos não teriam
reagido tão bem. Segundo lembra um analista de banco estrangeiro, é importante manter o
crescimento em economias emergentes, para que os países ricos que já estão com suas
economias em contração consigam pelos menos manter suas exportações.
A falta de linhas de crédito à exportação para as empresas brasileiras, no entanto, se mantém, e,
segundo os bancos, o Banco Central deveria promover mais leilões no mercado externo, agora
aceitando as próprias carteiras de Adiantamentos de Contrato de Câmbio como garantia. No
primeiro leilão no exterior, em outubro, o BC vendeu US$ 1,6 bilhão, a maior parte para o Banco do
Brasil, pois aceitou apenas os títulos da dívida externa brasileira chamados de "Global Bonds"
como garantia, e os bancos não tinham muitos desses papéis para entregar - tinham usados esses
títulos como garantias em outros empréstimos.
As posições compradas em dólar dos investidores estrangeiros institucionais na BM&F Bovespa,
que têm girado em torno de US$ 10 bilhões a US$ 11 bilhões, mostram que os fundos
internacionais, muitos deles de propriedade de bancos estrangeiros, não vêem espaço para a
valorização do real. Os fluxos cambiais têm se mantido negativos - na quarta-feira, serão
divulgados os números até o final de outubro. Mas, aparentemente, o BC não tem visto muita
pressão de compra no mercado à vista, pois na última semana não atuou nesta frente vendendo
dólar. Optou por vender dólar no futuro, por meio dos swaps cambiais, e também fez leilões de
linha de crédito em dólar, mas no mercado interno (venda com compromisso de recompra de
dólar).
Política monetária e empoçamento
Um dos principais desafios para o governo será coordenar a política monetária de forma e não dar
sinais contraditórios ao mercado e ao mesmo tempo conseguir acabar com o empoçamento da
liquidez. Os bancos no Brasil, em meio à aversão ao risco crescente e com diversas liberações nos
depósitos compulsórios, têm emprestado quantias recordes ao BC -foram US$ 247 bilhões na
quinta-feira.
Especialista de banco médio defende que o BC use os empréstimos que toma dos bancos e faça
como o Fed - passe a dar crédito direto às empresas e bancos menores, muitos dos quais serão
cada vez mais afetados pela falta de liquidez e crédito. O Fed já comprou quase US$ 150 bilhões
em títulos de curto prazo emitidos por corporações grau de investimento chamados de "commercial
papers", espécie de nota promissória americana. As empresas maiores repassam crédito a seus
clientes e fornecedores. Isso deveria ser levado em consideração pelas autoridades monetárias
que vão definir o futuro dos juros no Brasil em meio a um dos maiores apertos de crédito da
história, que, ao que tudo indica, está apenas começando por aqui. Os comitês de crédito dos
bancos em meio à crise vão ficando cada vez mais rigorosos. É importante lembrar também que
países no mundo todo estão em um esforço coordenado de redução de juros: o Banco Central
Europeu e o Banco da Inglaterra devem reduzir suas taxas básicas nesta semana. A ata do Comitê
de Política Monetária (Copom) a ser divulgada na quinta-feira vai sinalizar os próximos passos para
a taxa Selic, que foi mantida em 13,75% ao ano na semana passada.
Cristiane Perini Lucchesi é repórter de Finanças. O titular dacoluna, Luis Sérgio Guimarães,
está em férias.
E-mail: cristiane.lucchesi@valor.com.br

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Curtas - Freedom Bank fecha

Os reguladores bancários americanos fecharam sexta-feira o banco de pequeno porte Freedom


Bank, na Flórida, o 17º a falir este ano com o enfraquecimento da economia doméstica e o impacto
nas instituições financeiras. O Fifth Third Bank irá assumir os depósitos do Freedom. (Reuters)

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Curtas - Deutsche não quer ajuda

O Deutsche Bank, maior banco alemão, não irá recorrer ao fundo proposto pelo governo para
ajudar bancos atingidos pela crise, disse o presidente-executivo. "Da perspectiva de hoje, nós não
iremos fazer parte (do fundo de resgate) porque nós somos fortes", disse Josef Ackermann.
(Reuters)

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Curtas - USB corta gratificação

O UBS, maior banco da Suíça, não dará gratificação, referente ao ano de 2008, aos membros da
direção geral. A instituição financeira confirmou a informação à agência suíça "ATS" após notícia
que foi publicada previamente pelo jornal "SonntagsBlick".(Agências internacionais)

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Destaques - Japão corta juros

O Banco do Japão cortou na sexta-feira o juro básico do país pela primeira vez em sete anos,
reduzindo a taxa para 0,30%, ante 0,50%. Com isso, o Banco do Japão entrou na lista de bancos
centrais do mundo que estão cortando os juros para tentar conter a crise financeira e o
desaquecimento econômico. (Reuters)

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Destaques - Rating do Matone


A agência de classificação de risco Fitch colocou em observação negativa os ratings do banco
Matone. Segundo a agência, a mudança na perspectiva da nota do Matone reflete a decisão do
banco de se focar no crédito consignado, "em um ambiente em que tanto a demanda pelo produto
como também a capacidade de financiar esta atividade estão sob pressão."

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Destaques - Ajuda ao FMI

O primeiro-ministro britânico Gordon Brown pediu ontem bilhões de dólares de financiamento


adicional para o Fundo Monetário Internacional escorar as economias em dificuldades, enquanto o
premiê chinês, Wen Jiabao, dizia que sua prioridade é manter o crescimento do país. Líderes de
Mumbai a Moscou tomaram medidas para escorar suas próprias economias no sábado. O banco
central da Índia reduziu os juros pela segunda vez em duas semanas e a Rússia injetou 170
bilhões de rublos (US$ 6,4 bilhões) num banco estatal. Em Riad, Brown disse que os Estados
petrolíferos do Golfo e a China precisam contribuir com dinheiro ao FMI, para que este empreste a
países em dificuldades. (Reuters)

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Santander reforça rede no Sul e Sudeste

Maria Christina Carvalho, de São Paulo


O grupo Santander Brasil vai reforçar as operações nas praças onde é mais forte com o objetivo de
se tornar o maior banco privado brasileiro, informou o presidente Fábio Barbosa ao Valor ao
detalhar o plano estratégico dos próximos três anos, divulgado pelo presidente mundial do banco
espanhol, Emilio Botín, sexta-feira, em São Paulo.
Fundamental nessa estratégia foi a compra do Banco Real, acertada no início deste ano como
parte da aquisição feita por um consórcio de bancos internacionais das operações do holandês
ABN AMRO, cuja parte brasileira era o alvo do Santander. Com a compra, tornou-se o terceiro
maior do Brasil; com 10,2% dos depósitos e 11,8% dos créditos, 12,4% da rede de agências (tem
3.551 pontos de venda e 2049 agências), 11,3% dos ativos de mercado; 8,3 milhões de
correntistas e 19 milhões de clientes no total.
A compra recebeu todas as autorizações em agosto, permitindo ao grupo espanhol deslanchar o
plano de integração das duas operações, cujos principais pontos foram delineados por Botín.
Botín anunciou que quer aumentar a participação no mercado brasileiro dos 10% a 11% atuais,
conforme o produto, para 15%, dobrar o lucro líquido até 2010 e sair do terceiro para o primeiro
lugar entre os bancos privados. O Santander é um bom ponto de partida para o projeto, disse
Barbosa.
O Real permitiu ao Santander dobrar o lucro líquido obtido no Brasil. A contribuição do país foi de
20% para os 6,935 bilhões de euros de resultado obtido pelo grupo nos primeiros nove meses
deste ano.
Botín afirmou que quer obter um lucro líquido no Brasil, em 2010, de R$ 7,9 bilhões. Isso significa
dobrar os resultados obtidos nos primeiros nove meses deste ano de R$ 3,8 bilhões pelas regras
contábeis espanholas (R$ 2,23 bilhões pelas regras brasileiras, que se diferencia em alguns pontos
como contabilização de venda de papéis e compra de folha de pagamentos). Pelas regras
espanholas, a meta deste ano é lucrar R$ 4,8 bilhões; e, para 2009, R$ 6,1 bilhões.
O presidente mundial do Santander também anunciou o investimento de R$ 2,5 bilhões nos
próximos três anos. O Santander já investiu US$ 36 bilhões na América Latina, dos quais 75% no
Brasil, ou US$ 27 bilhões, incluindo a compra do Banco Real,
O Brasil é o único país da América Latina onde o banco espanhol está investindo, informou ao
Valor o diretor geral responsável pela Divisão América, Francisco Luzón, que fez parte da comitiva
de alto nível que acompanhou Botín.
O Santander está vendendo o banco que possui na Venezuela e operações de seguros e
previdência na região. Vendeu no ano passado a administradora de fundos de pensão que possuía
na Argentina, escapando assim à estatização que o governo argentino fez neste mês; e está
vendendo as operações no México e em outros dois países.
A visita de Botín durou cinco dias; começou quarta-feira com uma reunião com os principais
executivos do banco no país e terminou domingo com sua ida a Interlagos para ver a final do
campeonato de Fórmula 1 deste ano. O Santander patrocina a McLaren e o piloto Lewis Hamilton.
Botín esteve em Interlagos pelo menos dois dias, onde encontrou com clientes brasileiros e
acionistas internacionais que acompanharam a vinda ao Brasil e a apresentação do plano
estratégico para cem jornalistas, 30 de veículos estrangeiros.
O projeto para o Brasil é de crescimento, disse Botín, que anunciou a disposição de abrir 400
agências como parte do plano de três anos, aumentando em 20% a rede atual. "Não será uma
integração de reestruturação. Esse é um projeto de crescimento. A força comercial não será
reduzida e sim ampliada. Não se abrirá mão de fatia de mercado; ela será aumentada. Nem se
perderá cliente. Não podemos permitir isso onde restam milhões de pessoas para bancarizar",
disse Botín.
Segundo Barbosa, as agências serão abertas principalmente nas regiões Sul e Sudeste e nas
grandes cidades do país. O Santander Brasil tem 16% do mercado do Sudeste; e 10% do Sul. No
Nordeste, tem 7%; no Centro Oeste, 6% e no Norte, 5%.
A integração já começou no segundo semestre, nos negócios com grandes empresas e tesouraria.
Estarão integrados em 2009 o private banking, administração de recursos, cartões, comércio
exterior, call center e jurídico. Para 2010, ficarão o cash management, banco pela internet e a rede.
A unificação de redes só está prevista para o final de 2010 porque nesse momento estará
concluída a integração tecnológica. Antes disso, disse, não há como pensar em unificar a marca,
disse Barbosa: "A marca Santander deve prevalecer. Mas, a partir de 2010 será tomada uma
decisão, que será comercial", afirmou o presidente do grupo Santander Brasil . Até lá, a idéia é
trabalhar as duas marcas separadamente e assim será por bastante tempo. Como dizia o título de
uma tela da apresentação de Barbosa, "Fim do processo de integração: marca e rede únicas".
O ganho com sinergias é 25% superior ao estimado e anunciado no momento da compra,
somando R$ 2,7 bilhões. Os maiores ganhos serão em integração tecnológica (R$ 300 milhões),
operações (R$ 350 milhões) operacional (R$ 1,1 bilhão), sourcing (R$ 350 milhões), imóveis (R$
150 milhões). Haverá ainda um ganho de R$ 300 milhões com sinergias de ingresso, boas práticas
que vão resultar em aumento de receitas.
Haverá uma racionalização dos espaços físicos. O banco ocupa hoje 15 edifícios, sendo sete
próprios e oito alugados, e vai reduzir isso para três, dois próprios e um alugado. Isso propiciará
um ganho potencial de R$ 250 milhões.

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Queda das ações dificulta ambiente para aquisições

Ana Paula Ragazzi e Claudia Fachini, de São Paulo


A perda da capacidade do mercado de fixar preços para os ativos impacta fortemente o ambiente
de negócios no país. O valor das companhias públicas, que possuem ações em bolsa, costuma ser
usado como uma referência para as privadas do mesmo setor. Agora que o valor das ações ficou
muito depreciado, por conta das preocupações com a crise internacional, as comparações ficaram
altamente distorcidas, o que já resulta em cancelamentos de negócios.
As abordagens de análise para a avaliação de ações, feitas, por exemplo, por administradores de
carteiras e analistas, além daqueles que preparam fusões e aquisições, tendem a ser distintas.
"Quem vai comprar uma empresa quer levar uma fatia muito grande dela porque, por exemplo,
pode enxergar sinergias para o seu negócio", diz Ricardo Almeida, professor do Ibmec São Paulo.
Por esta análise, uma siderúrgica tende a pagar mais por uma mineradora, uma vez que a
aquisição lhe trará a possibilidade de estar menos exposta à oscilações do preço do minério de
ferro. Se uma mineradora fosse comprar uma concorrente, talvez não pagasse tanto.
Recentemente, a CSN vendeu 40% de sua mineradora, a Namisa, para um grupo de siderúrgicas
asiáticas. Os valores acordados naquele momento conferiam à Namisa cerca de 80% do valor que
o mercado atribuía a toda a CSN.
Já os executivos da Lojas Renner não conseguiram sensibilizar os donos da Leader a baixar o
preço de compra acertado em março, portanto antes da crise que varreu as bolsas de valores.
José Carlos Hruby, diretor financeiro e de relações com investidores da Renner, prefere não revelar
quanto a companhia pediu de desconto, já que as negociações não vingaram. "Todas as empresas
de varejo estão valendo hoje na bolsa 30%, 50% menos."
Almeida, do Ibmec, lembra que nesse caso não apenas a comparação entre o valor de mercado da
Renner, que é cotado diariamente, e o da Leader, que ficou congelado em março, uma vez que a
empresa é fechada, ficou distorcido, mas também pesou o fato de que as expectativas de ganhos
com o negócio por parte da Renner diminuíram, já que a perspectiva é de desaceleração
econômica.
Além disso, a varejista de vestuário, cujo capital é pulverizado, enfrentava pressões por parte dos
investidores, que rejeitavam a aquisição da Leader por considerá-la cara demais após os
acontecimentos de setembro. A administração da companhia atribui a essa oposição boa parte da
culpa pela acentuada queda das ações. Desfeito agora o negócio com a Leader, os papéis vão
sofrer menos, prevê Hruby. A Renner aceitou pagar R$ 670 milhões pela rede fluminense e iria
tomar empréstimos para bancar a aquisição. Agora, preservará o caixa.
O professor do Ibmec lembra que o preço de mercado é sempre uma referência, mas em
momentos de crise deixa de ser eficiente. "A crise significa que há poucas informações e que elas
são difíceis de analisar", diz. O preço de uma ação em bolsa, afirma, reflete em tese as
expectativas dos otimistas e dos pessimistas para uma companhia. "Quando o tempo é de crise e
dificuldade de análise, a tendência é que o número de pessimistas aumente e as ações então
caem demais." Por outro lado, explica Almeida, quando se fala na aquisição de uma empresa, o
que está pesando é sempre o otimismo de alguém em relação aos ganhos com o negócio. Daí o
descasamento forte neste momento, em que os otimistas saíram de cena na bolsa.
Os métodos de avaliação de empresas abertas procuram o valor justo das companhias fazendo um
fluxo de caixa descontado de uma empresa no longo prazo ou fazendo qualquer tipo de análise por
múltiplos. A partir de um valor justo calculado, o analista determina um preço-alvo, que é o quanto
a ação vai atingir em determinado período. Esse valor é estabelecido a partir de premissas do
momento da empresa e do cenário econômico. "Em tempos de crise, preços-alvo tendem a ser
jogados para baixo do valor teoricamente justo", explica Alexandre Póvoa, diretor do Modal Asset.
Já em tempos de euforia, os analistas sempre encontram algum potencial de alta adicional em
seus preços-alvo, diz Póvoa.

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BR Malls e Romi esperam por momento melhor

Claudia Fachini e Nelson Niero, de São Paulo


A BR Malls, braço de shoppings do grupo GP, ainda não mexeu no seu time de fusões e
aquisições, que continua prospectando oportunidades de negócios. No entanto, as empresas
privadas, que não têm ações listadas na bolsa, ainda acreditam que seus ativos valem muito mais
do que calculam atualmente as companhias de capital aberto.
Segundo Carlos Medeiros, presidente da BR Malls, esse "descompasso" atrasa negociações. "Os
valores pedidos pelas empresas [de capital fechado] precisam ser corrigidos, mas esse é um
processo que pode demorar algum tempo."
Dinheiro não faltaria à BR Malls para ir às compras. A empresa fez várias captações quando o
momento ainda era oportuno e apresenta atualmente uma situação confortável de liquidez. No fim
do primeiro semestre, o caixa era de R$ 911 milhões e as dívidas de curto somavam R$ 87
milhões. No entanto, com a queda da Bovespa, o valor de mercado da BR Malls era de apenas R$
1,3 bilhão na semana passada, cifra pouco superior ao que a empresa tem somente em caixa.
Nos últimos dois anos, não passavam duas semanas sem que houvesse uma aquisição na
indústria de shoppings, mas esse movimento deve sofrer freada brusca devido à dificuldade das
empresas em dimensionar o valor dos seus ativos.
A própria BR Malls, que completou dois anos, é fruto de uma série de aquisições. Em pouco tempo,
transformou-se na maior proprietária de shoppings do país, com 34 empreendimentos. A
agressividade imposta nas negociações pela companhia, que tem entre os seus acionistas o
magnata americano Sam Zell, abalou o mercado e fez com que os concorrentes também
passassem a ser mais velozes nos processos de compra.
A da fabricante de máquinas Romi também está mais cautelosa nas compras. Apesar de
reconhecer que há um cenário "muito interessante" para aquisições "dentro e fora do Brasil",
Livaldo Aguiar dos Santos, presidente da empresa, acha que é preciso paciência. "Eu esperaria
mais um pouco", diz.
A companhia tem um comitê de aquisições que se reúne toda segunda-feira para avaliar novos
negócios. Nos últimos meses, as ofertas que foram feitas sempre voltavam com contrapropostas
exorbitantes. "O vendedor queria embutir no preço o que seria feito no futuro, com os nossos
recursos", afirma. Agora, a crise de crédito colocou em xeque esse tipo de avaliação que traz ao
valor presente os ganhos futuros da empresa - mesmo que esses ganhos dependam de
investimentos do comprador.
Também com dinheiro em caixa, a Romi vê oportunidade na crise para colocar em prática sua
estratégia de aquisição, que tem duas diretrizes básicas: complementação de portfólio e expansão
internacional. No entanto, Santos está ciente de que a atual desvalorização das ações na bolsa
também coloca a empresa no alvo dos concorrentes. Atualmente, o valor de mercado, próximo a
R$ 440 milhões, representa apenas 63% do patrimônio líquido da Romi em setembro.

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Com nova instrução, CVM busca destravar o mercado

Alessandra Bellotto e Adriana Cotias, de São Paulo


O grande objetivo da Comissão de Valores Mobiliários (CVM) com a nova instrução para os fundos
imobiliários foi "tirar uma série de entraves" ao crescimento do mercado, aponta o superintendente
da autarquia, Carlos Alberto Rebello. Entre as medidas, ele cita a flexibilização dos investimentos e
a desburocratização da operação do fundo, ao dispensá-lo de autorização da CVM para alterar
regulamento, fazer emissões de novas cotas, substituir administradores etc.
Pela nova regulamentação, a autorização para a constituição de um fundo será concedida pela
CVM automaticamente, no prazo de até cindo dias, após o protocolo de documentos e
informações. Outro avanço, na avaliação de Rebello, é a possibilidade de o regulamento do fundo
prever a subscrição parcial das cotas representativas de seu patrimônio, bem como o
cancelamento do saldo não colocado. "Isso não era possível, se o fundo não captasse o patrimônio
todo previsto tinha de devolver os recursos aos cotistas", diz. Hoje, exemplifica, um fundo pode ser
constituído para ter um patrimônio de R$ 200 milhões para a construção de duas torres comerciais,
mas estabelecer um valor mínimo de captação de R$ 100 milhões para dar início à operação.
Assim como num fundo de participações (FIP), o investidor da carteira imobiliária poderá fazer a
integralização da cotas à vista ou em prazo determinado no compromisso de investimento,
documento por meio do qual se obriga a aportar recursos na medida em que o administrador do
fundo fizer chamadas de capital. "Esse é um mecanismo julgado eficiente pelos participantes do
mercado, uma vez que a estrutura permitirá ao gestor montar sua estratégia de investimentos e
adequar suas necessidades de recursos ao cronograma de obras", ressalta Rebello.
Sobre a flexibilização dos investimentos, Rebello ressalta que o fundo imobiliário tem de respeitar
as regras de concentração por emissor, válidas para os fundos de investimento. No caso de tipos
de ativos como CRIs e cotas de fundos, não há limitação.
A nova instrução também promete aprimorar os mecanismos de proteção e do investidor, destaca o
superintendente da CVM. "Ampliamos os requisitos de informações no prospecto e no laudo de
avaliação", afirma.
Também, a nova instrução passou a considerar que o voto do cotista seja por via eletrônica, o que,
segundo Rebello, permitirá que um maior número de investidores participe do dia-a-dia do fundo.
Sérgio Belleza, da Brazil Partners, critica, entretanto, a necessidade de que o laudo de avaliação
para aquisição de um imóvel tenha de ser aprovado por 50% dos cotistas mais um e não pelo
quórum presente na assembléia. "Isso tira a agilidade do fundo", diz.
O diretor de fundos imobiliários da Rio Bravo, Martim Fass, destacou o bom senso da CVM em não
avançar em questões como a alavancagem. "O conservadorismo nessa hora é muito bem-vindo, a
fim de não prejudicar um mercado em amadurecimento", diz. Para Belleza, foi, entretanto,
equivocada a permissão para que os fundos imobiliários tenham derivativos em sua carteira, num
momento em que os mercados do mundo inteiro discutem esses instrumentos. Pela norma da
CVM, os derivativos só poderão ser usados para proteção da carteira.

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Curtas - Oferta da IronX

A Anglo American publicou edital relativo à oferta pública de aquisição de ações dos minoritários da
Anglo Ferrous Brazil, antiga IronX, que engloba as operações de mineração vendidas pela MMX,
do empresário Eike Batista. A oferta se tornou obrigatória por conta da venda do controle da
empresa e também tem o objetivo de cancelar o registro de companhia aberta e retirar as ações do
Novo Mercado. O preço de oferta será de R$ 28,15 por ação, mesmo valor pago aos
controladores.

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Curtas - Marisol compra

A Marisol comprará 50% de participação na empresa BPK, que opera a rede de lojas Blue Pink e
dedica-se ao comércio de roupas, enxovais e móveis para bebê e moda infantil, calçados e
acessórios. O objetivo da aquisição é ampliar a atuação da companhia no ramo do vestuário, por
meio do aumento da rede de lojas em âmbito nacional, próprias e franqueadas, no conceito "Baby
Store". A operação já foi aprovada pelo conselho de administração da companhia.

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CVM trabalha "agenda da transparência"

Graziella Valenti, de São Paulo


A Comissão de Valores Mobiliários (CVM) está trabalhando no que a presidente Maria Helena
Santana chamou de "agenda da transparência". A maior parte das iniciativas nas quais o regulador
está debruçado no momento diz respeito ao aumento da quantidade e da qualidade das
informações aos investidores. As novas regras constarão da revisão da instrução 202 e serão
levadas a consulta pública ainda neste ano. A partir dessa revisão, as companhias terão de
aumentar os detalhes sobre seus números, políticas, riscos, planos de remuneração e até sobre o
currículo dos executivos.
A despeito do esforço em andamento, o mercado brasileiro já viveu na pele, ou melhor, nos preços,
o que a falta de informação pode causar. Depois que Sadia e Aracruz divulgaram perdas
gigantescas com contratos derivativos superalavancados em dólar, os investidores entraram em
pânico, temendo a existência de prejuízos potenciais em diversas empresas. Houve uma crise de
credibilidade. A escassez de dados foi um dos principais componentes do nervosismo local, já que
os investidores não tinham onde resolver as dúvidas sobre a exposição das companhias.
Questionada, Maria Helena disse entender que a falta de transparência foi um dos componentes
da crise brasileira. No entanto, na opinião dela, não apenas os problemas locais, mas a crise como
um todo, são reflexo da falta de disciplina que tomou conta de todos os participantes do mercado
nos tempos de bonança, vividos até o ano passado.
Sadia e Aracruz surpreenderam os investidores ao noticiarem as perdas. Mesmo os leitores mais
atentos dos balanços não encontrariam ali dados necessários para concluir a quais riscos os
negócios nos quais investiam estavam expostos. As notas explicativas das companhias não
traziam medidas das perdas potenciais.
A falta de informação não significava, porém, ausência de regras. Desde 1995, com a instrução
235, a CVM pedia a marcação a mercado de instrumentos financeiros e explicações sobre a
política de risco em nota explicativa. Um detalhamento maior dessas informações passou a ser
recomendado em fevereiro de 2007, por meio de um ofício da autarquia, das superintendências de
relações com empresas e de normas contábeis. Apesar de mais completo e com um modelo
padronizado, o cumprimento de ofício não é obrigatório.
Apesar das informações serem solicitadas, as empresas não as entregavam por completo, sem
aparentemente sofrer penalidades da CVM, até então. Tal situação não seria notada nem
incomodaria não fossem os sustos com os derivativos apelidados de tóxicos.
Após o prejuízo de Sadia e Aracruz, o mercado viveu mais de 20 dias de interrogações até que a
CVM emitisse uma deliberação obrigando o detalhamento das informações que o mercado quer
saber para aliviar o pânico, com relação aos derivativos. Tal obrigação também passou a constar
de norma contábil da autarquia, emitida junto com o Comitê de Pronunciamentos Contábeis (CPC)
- no âmbito do processo de convergência do padrão nacional ao modelo internacional, o IFRS.
Antes de decidir por fazer a deliberação, logo após os comunicados das empresas, Marcos Pinto,
diretor da autarquia, chegou a dizer que "não dava para pedir algo que as companhias já deveriam
estar fazendo", quando questionado sobre uma possível iniciativa como a que acabou por ser
adotada. Mas o fato é que precisou ser à força.
Agora, os riscos estão melhor relatados. Mas mesmo de posse de tabelas e dados complexos, os
investidores ainda não receberam de Sadia e Aracruz explicações a respeito dos acontecimentos.
Depois de terem que fazer contas - e muitas - para entender que a exposição de ambas ao
derivativo mais alavancado esteve ao redor de US$ 8 bilhões, os acionistas ainda não entenderam
como as decisões que levaram a essas posições foram tomadas. Pouco sabem também como
estão as investigações internas e as providências a esse respeito. A Sadia já recebeu a conclusão
dos trabalhos realizados pela KPMG sobre o assunto.
Na sexta-feira, Maria Helena confirmou o que o mercado já dava como certo: a CVM está
investigando a conduta das empresas no caso dos derivativos. "Sim, estamos avaliando, até em
razão da queixa de investidores." Logo após o anúncio dos prejuízos, começaram a chegar na
autarquia as reclamações de investidores.
A revisão da instrução sobre as informações periódicas entregues pelas companhias abertas (202)
modificará por completo o relatório anual (IAN) e as empresas deverão trazer mais dados sobre
suas estruturas de gestão e seus executivos. Além disso, o novo texto deixará mais claro, segundo
a presidente da CVM, que o dever sobre a "veracidade e a suficiência das informações" não é
apenas do diretor de relações com investidores, mas de todos os administradores. "A Lei [das
Sociedades por Ações] já diz isso, mas vamos deixar essa posição mais evidente."
Para Maria Helena, a Lei das S.A. é suficientemente abrangente ao exigir diligência e lealdade dos
administradores. "Nosso papel é dar destaque a isso e fazer valer a lei."
A CVM está se dedicando à revisão da 202 há tempo. Segundo Maria Helena, grande parte do que
será apresentado ao mercado já estava sendo pensado. No entanto, houve influência dos
acontecimentos sobre a regra. "A norma é viva enquanto está em construção."
Quanto às potenciais falhas de governança em Sadia e Aracruz, ligadas à estrutura de gestão
interna, Maria Helena acredita que o tema não deve ser alvo de regulação. Mais uma vez, segundo
ela, ficou explícito que boa governança não é "check list". "É preciso supervisão efetiva quanto ao
cumprimento e execução das diretrizes."

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Cyrela confirma recuo do setor e apresenta queda de 43% nas vendas

Daniela D'Ambrosio, de São Paulo


Com uma queda de 43% nas vendas, a líder Cyrela confirmou a desaceleração nas vendas das
empresas de construção no terceiro trimestre. O ritmo acelerado que as companhias do setor
tiveram no primeiro semestre do ano não foi mantido. A queda média das vendas contratadas de
seis empresas que divulgaram prévia dos resultados é de 25% em relação aos três meses
anteriores.
As vendas contratadas da Cyrela somaram R$ 697 milhões de julho a setembro, contra R$ 1,27
bilhão no trimestre anterior. Somadas com os parceiros, as vendas chegaram a R$ 1,1 bilhão,
45,4% abaixo dos R$ 1,940 bilhão registrados entre abril e junho. A velocidade de vendas ficou em
25%, em linha com Rossi (25%) e MRV (22%), mas abaixo da PDG (31%).
Das vendas anunciadas, 21% ficaram no segmento luxo, 26% no médio/alto, 18% no médio e 36%
entre econômico e supereconômico, onde a companhia atua com a bandeira Living.
Relatório do Credit Suisse sobre a prévia de resultados da Cyrela afirma que os números também
vieram cerca de 8% abaixo das previsões. "O quarto trimestre deve ser muito mais fraco. As
companhias com grande exposição a alta renda tem um risco maior de desapontar na performance
de vendas", escreveu o Marcelo Telles. "Pode haver uma nova revisão das projeções de
lançamentos dessas empresas, incluindo a Cyrela."
Quando comparados ao terceiro trimestre do ano passado, os resultados são todos positivos -
prova de que o setor avançou para um novo patamar -, mas, até agora, ninguém conseguiu
ultrapassar as vendas do segundo trimestre. As vendas contratadas da PDG Realty, que tem
participação em várias empresas, somaram R$ 448 milhões, queda de 5,10% sobre o trimestre
anterior.
A MRV, tradicional no segmento econômico, apresentou vendas de R$ 480,7 milhões, uma queda
de 11,6% nas vendas contratadas em comparação ao trimestre anterior. Na Rodobens, também
voltada à baixa renda, as vendas foram de R$ 103 milhões, uma retração de 46% sobre o segundo
trimestre.
A Klabin Segall, que atua nos segmentos médio e alto, teve recuo de 25,8% de um trimestre para
outro nas vendas contratadas. A Rossi, com atuação mista, teve queda de 24,1% nas vendas
exclusivas da companhia no período.

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GP sai do controle da ALL e fundos entram

Tatiana Bautzer, Catherine Vieira e Vanessa Adachi, de São Paulo e do Rio


Onze anos depois de ter arrematado a malha Sul da Rede Ferroviária Federal no leilão de
privatização, a GP Investimentos está deixando o bloco de controle da América Latina Logística
(ALL). A gestora de fundos de private equity vai vender suas ações ordinárias (ON, com direito a
voto) que estão atreladas ao acordo de acionistas para o fundo BRZ ALL, constituído pela gestora
de fundos de investimento BRZ, também controlada pela GP. Os cotistas do fundo comprador,
entretanto, são fundos de pensão. A GP já havia se desfeito de boa parte da sua posição, mas
ainda detém 18,62% das ações ordinárias que compõem o bloco de controle. O valor atribuído à
operação está entre R$ 300 milhões e R$ 330 milhões.
Por envolver mudanças no bloco de controle, a operação ainda está sujeita à aprovação da
Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT). Espera-se que a agência divulgue uma
decisão sobre o assunto em 15 dias.
O Valor apurou que Petros (Petrobras) e Funcef (Caixa Econômica Federal) são as cotistas mais
relevantes do BRZ ALL, com 25% e 22% de participação, respectivamente. A Funcef já integra o
bloco de controle da empresa, com fatia de 5,79%. De acordo com um dos participantes, outros
cotistas do BRZ ALL são fundações como a Forluz (Cemig), a Postalis (Correios), a Valia (Vale do
Rio Doce), a Sabesprev (Sabesp) e o fundo de pensão do Boticário. Os fundos vêm fazendo
investidas no setor de infra-estrutura como um todo nos últimos tempos e não escondem seu
apetite pelo segmento de logística no qual também investem por meio de outro fundo da BRZ.
Um dirigente de fundo avalia que as perspectivas para a ALL no longo prazo são positivas e que o
negócio se mostrou uma boa oportunidade dentro de um segmento que interessa muito. A Petros e
a Funcef têm patrimônios em torno de R$ 40 bilhões e R$ 33 bilhões, respectivamente, e são os
dois maiores junto com a líder do setor, a Previ, que têm mais de R$ 120 bilhões.
Embora os acionistas estejam mudando, de certa forma há uma continuidade da gestão GP, já que
a BRZ é uma subsidiária do grupo. Esse teria sido um fator importante para facilitar a negociação
com os demais acionistas controladores.
Já está acertado que o representante desse novo grupo no conselho de administração da
companhia será Nelson Rozental, que já dirigiu a BNDESPar, a empresa de participações do
Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social, tornou-se sócio da GP em 1999 e agora
integra a subsidiária de fundos de investimento. Rozental tem trânsito entre os fundos de pensão e,
ao mesmo tempo, tem bom relacionamento com os demais acionistas controladores e com a alta
administração da ALL.
Chama a atenção o momento escolhido pela GP para desfazer-se das ações. A instabilidade é
grande, os papéis da ALL caíram 56% neste ano, na esteira da crise financeira, e estão 65%
abaixo do seu pico (R$ 28,67), alcançado em 19 de julho do ano passado, quando seu valor de
mercado atingiu R$ 18 bilhões.
Mas, segundo fonte que acompanham a transação, a gestora de private equity não está liquidando
sua posição ao preço atual. O fundo BRZ ALL está sendo criado com um patrimônio entre R$ 300
milhões e R$ 330 milhões. Esse será o valor atribuído às ações ordinárias que pertencem à GP.
Mas ainda não está definido se o pagamento será feito em dinheiro ou ações líquidas da própria
ALL ou outros instrumentos. Se recebesse o pagamento em units da ALL, por exemplo, a GP
poderia esperar uma valorização dos papéis e ganhar mais com a transação. Um problema para se
definir preço e forma de pagamento, no entanto, é a extrema instabilidade nas bolsas. As units, que
fecharam a sexta-feira a R$ 10,10, chegaram a cair a R$ 7 durante as negociações.
Os 18,62% do bloco de controle representam 3,32% apenas do capital total da ALL (o bloco de
controle concentra 51% das ações ordinárias emitidas pela empresa). Tomando a última cotação
das ações ordinárias da ALL (que são papéis de baixa liquidez), a posição da GP, sem prêmio de
controle, seria avaliada em R$ 380 milhões. Tomando por base a cotação atual da unit, que
concentra a liquidez da empresa e representa uma ON e quatro PNs, a fatia vendida pela GP
valeria cerca de R$ 190 milhões. No pico do papel, a mesma fatia chegou a valer R$ 550 milhões,
sem contar qualquer prêmio eventual pelo controle.
A GP começou a desfazer-se de sua participação na ALL a partir da abertura de capital da
empresa, em 2004. Em janeiro de 2007, a gestora vendeu uma parcela importante das ações
vinculadas ao bloco de controle ao fundo Hana Investments, com sede no paraíso fiscal de
Delaware (EUA), que reúne capital dos investidores Jorge Paulo Lemann, Carlos Alberto Sicupira e
Marcel Telles.
Hoje, o fundo Hana tem 15,9% das ações de controle. A participação da GP na ALL era o último
investimento que restava dentro do fundo GP2, depois da venda dos papéis da Telemar este ano.

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Nem tão fácil decidir quanto parecia ser

Daniele Camba
Quando o dólar se valoriza em relação ao real, as companhias exportadoras ganham, enquanto
aquelas que têm dívida na moeda americana são prejudicadas. Esse é o raciocínio correto desde
que o mercado de capitais existe. No entanto, os últimos acontecimentos com derivativos
mostraram que deve mudar a forma de analistas e investidores observarem as empresas e que
não é tão fácil decidir quem ganha e quem perde com um determinado cenário quanto parecia ser.
A principal lição que fica dos casos de perdas das companhias com derivativos cambiais é que é
preciso esmiuçar absolutamente todas as informações para se ter o mínimo de confiança no que
se está investindo.
A Aracruz é o melhor exemplo de como o que parecia regra perdeu importância. A companhia, que
exporta praticamente toda a sua produção, teve uma perda relevante com a recente valorização do
dólar. Isso porque ela tinha operações de derivativos que apostavam exatamente no contrário, na
queda da moeda americana. Da mesma forma, empresas que têm dívida em dólar e que em tese
perderiam com a alta da moeda americana podem estar se beneficiando se tiverem feito operações
no mercado futuro que trazem ganhos com essa valorização.
"Os negócios com derivativos foram uma quebra de paradigmas no mercado de capitais, eles
mostraram que a partir de agora a análise das empresas precisa ser feita de outra forma, sem
contar que trouxe insegurança aos investidores", diz o chefe de análise da Link Investimentos,
Celso Boin Júnior. Como essas operações de derivativos pelo menos até agora não ficavam
explícitas nos balanços, os analistas ficarão muito mais próximos das companhias para obterem as
informações necessárias a respeito do assunto. "Depois das notícias das perdas com essas
operações, os analistas da minha equipe ligaram para todas as empresas que fazem cobertura
para saber se também fizeram esses negócios e ter todo o tipo de detalhe relacionado a isso",
lembra Boin Júnior.
Com a crise financeira e a desaceleração da economia mundial, ele acredita que as ações de
energia elétrica são boas alternativas de investimento. No entanto, algumas dessas companhias
possuem dívida em dólar, como é o caso da Cesp, e Boin Júnior achou melhor se certificar da
estratégia de tais elétricas no mercado futuro de câmbio. "Diferente de antes, não fiquei confortável
em recomendar uma dessas ações apenas com base nos dados que constam nos balanços", diz o
executivo. Ele afirma que algumas empresas, dos mais diversos setores, se negam a dar
informações sobre possíveis negócios com derivativos ou, o que é pior, dizem que não possuem
esse tipo de operação quando na realidade possuem.
Duro aprendizado
Para o chefe de análise da BullTick Capital Markets, Sérgio Goldman, os prejuízos com as
operações de derivativos foram um duro aprendizado para as empresas, que dificilmente se
arriscarão a fazer o mesmo tipo de especulação novamente. "As companhias estavam de salto alto
achando que sabiam exatamente qual seria o movimento do dólar. Agora com o câmbio muito mais
incerto elas não serão malucas", diz Goldman. Já investidores e analistas podem ganhar no futuro,
uma vez que o mercado deve voltar a normalidade. "Retomaremos o bom e velho raciocínio de que
exportadoras ganham com a alta do dólar e que empresas endividadas na moeda perdem",
exemplifica o executivo da Bulltick. No caso das exportadoras, a única dúvida que ainda paira é se
a valorização do dólar irá compensar a queda no preço das commodities, o que não deve ocorrer,
acredita Goldman. Essa questão, no entanto, em nada tem a ver com a novela dos derivativos.
"Com as commodities em queda, as exportadoras devem apresentar resultados piores no próximo
ano", afirma. Nessa linha, ele acredita que as ações voltadas ao mercado interno podem ser as
melhores escolhas. "O crédito irá voltar e a renda do brasileiro, mesmo menos, ainda vai crescer."
Daniele Camba é repórter de Investimentos
E-mail: daniele.camba@valor.com.br

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Bancas já revisam metas para 2009

Adriana Aguiar e Laura Ignacio, de São Paulo


A crise financeira mundial já mexe com os orçamentos dos escritórios de advocacia brasileiros para
o ano de 2009. As principais bancas do país prevêem um crescimento menor no ano que vem em
comparação com o deste ano, rompendo o ciclo de taxas recordes que o setor de serviços jurídicos
vive nos últimos anos. Embora a crise não tenha causado impacto na quantidade de trabalho nos
escritórios até agora - ainda que tenha provocado mudanças qualitativas - e as metas previstas
para este ano estejam sendo mantidas, o cenário para o ano que vem é incerto.
"Se em 2009 for mantido o mesmo nível de faturamento que o esperado para este ano já será uma
vitória", diz Rogério Lessa, sócio e diretor geral do escritório Demarest e Almeida Advogados. Por
enquanto, ele afirma que o movimento no escritório ainda se mantém normal. "Não é um
movimento excepcional como tínhamos no ano passado, em que os advogados trabalhavam
intensamente nos fins de semana e de madrugada para dar conta do trabalho, mas ainda há muita
demanda." Segundo ele, como o escritório não tinha uma ênfase maior em mercado de capitais e
em IPOs (a sigla em inglês para ofertas iniciais de ações), não houve uma queda significativa no
volume trabalho. A banca, diz Lessa, deve fechar o ano com uma taxa de crescimento no
faturamento próxima à estimada no fim do ano passado - de 15%. Já para 2009, a preocupação é
a de que a crise financeira passe a ser econômica. O CEO do escritório Veirano Advogados, Carlos
Souto, afirma que a banca deve fechar 2008 com o mesmo ritmo de crescimento do ano passado -
mas também faz parte do grupo que acredita que o sentimento de otimismo geral mudou.
"Estamos mais cautelosos neste momento de incerteza", diz.
A mesma projeção de resultados mais fracos em 2009 é feita pelos escritórios TozziniFreire e
Pinheiro Neto. "Fomos até surpreendidos por termos sido contratados para quatro operações de
fusões e aquisições nos últimos 20 dias", diz o advogado José Luís de Salles Freire, sócio do
Tozzini, que afirma que a banca se mantém estável este ano e apenas duas das 50 operações do
tipo em que a banca atua foram suspensas - mas não crê em taxas de crescimento recordes para
2009. Para Alexandre Bertoldi, sócio e membro do comitê diretivo e do grupo executivo do Pinheiro
Neto, a expectativa é de um crescimento entre 2% a 3%, acompanhando a estimativa de
crescimento do PIB - o que representa uma taxa bem menor do que a experimentada nos últimos
anos. "Estamos um pouco mal acostumados a bater recordes de crescimento ano após ano, mas
já não temos essa expectativa para o ano que vem", diz.
Mas, ainda que 2009 traga previsões não tão otimistas, o ano corrente, diz Bertoldi, tem sido tão
bom quanto o anterior. Embora o Pinheiro Neto tenha sentido os primeiros impactos da crise
apenas recentemente, diante do cancelamento de algumas operações de fusões e aquisições, o
escritório tem se mantido estável e dá continuidade a planos de expansão - como a contratação de
quatro novos sócios e o plano de efetivar boa parte dos 35 estagiários em março do ano que vem.
Cortes de pessoal também não estão previstos pela banca Barbosa, Müssnich & Aragão
Advogados - inclusive porque as demandas em áreas como recuperação de empresas,
contencioso e direito bancário foram elevadas em decorrência da crise, afirma o advogado Bruno
Soter, sócio-diretor de escritório. Ele diz que a banca mantém a meta de crescimento de pouco
menos de 20% para o ano que vem, repetindo o resultado previsto para este ano e já registrado
em 2007. A aposta na manutenção do ritmo de crescimento decorre, segundo Soter, de uma
reformulação na estratégia da banca. "Justamente por conta da crise surgem outras espécies de
fusões e aquisições - como a compra de empresas em dificuldades por outras não tão afetadas",
afirma.
O mesmo sentimento é compartilhado pelo advogado Ronald Herscovici, sócio do escritório Souza,
Cescon Avedissian, Barrieu e Flesch. Segundo ele, não só a banca não sentiu qualquer
desaceleração nos negócios até agora como percebeu um movimento maior na área de
reestruturações de atividades e recuperação de empresas. "Somente algumas transações pontuais
que dependiam de financiamento bancário atrasaram", afirma. O advogado Celso Costa, sócio do
escritório Machado Meyer Sendacz e Opice Advogados, também estima que a banca manterá a
meta de crescimento deste ano em 2009. "Prova disso é que tínhamos a proposta de fazer novos
sócios em 2009 e isso não se alterou, por exemplo, e a assembléia ocorrerá em novembro", diz.
Ele afirma, no entanto, que o cenário só ficará mais claro no primeiro trimestre do ano que vem.

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Capitalização mensal de juros está na pauta do STF

Fernando Teixeira, de Brasília


O Supremo Tribunal Federal (STF) colocou em pauta nesta quarta-feira a disputa sobre a
capitalização mensal de juros, suspensa desde 2005 por um pedido de vista do ministro Nelson
Jobim, já aposentado. O caso, inicialmente tratado em uma ação direta de inconstitucionalidade
ajuizada em 2000, deve voltar à pauta em um recurso extraordinário pautado pela ministra Cármen
Lúcia, renovando o placar do julgamento. Na Adin, o caso teve dois votos contra a capitalização.
Na ação discute-se a validade da Medida Provisória nº 2.170-36, de 2001, que autorizou a
capitalização mensal de juros, até então considerada ilegal pela jurisprudência. O Superior Tribunal
de Justiça (STJ) pacificou o entendimento favorável à capitalização após sua edição. O que se
discute é um problema formal da medida provisória: ela foi editada originalmente para tratar de
finanças públicas, mas recebeu uma emenda de última hora para legalizar a capitalização.
Argumenta-se que uma medida provisória não pode tratar de um tema estranho ao seu objeto
principal.
Outros temas importantes em pauta na quarta-feira são processos questionando a contribuição
para o financiamento da iluminação pública e ações com repercussão geral reconhecida em que se
discute a taxa do lixo e a incidência dos juros de mora entre a expedição do precatório e seu
vencimento. Na quinta-feira, o tribunal também tem em pauta o fim do julgamento sobre a
possibilidade de prisão de depositário infiel. O caso já tem oito votos proferidos contra a pena, mas
ainda há um aspecto a esclarecer: se a posição abrange depositários judiciais ou apenas os
resultantes de contratos de crédito.

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O enriquecimento sem causa no novo Código Civil


Sílvio de Salvo Venosa
O Código Civil de 2002 reduziu sensivelmente os prazos extintivos, de prescrição e decadência.
Assim, o prazo geral de prescrição passou a ser de dez anos, conforme o artigo 205, enquanto no
sistema anterior era de 20 anos para as ações pessoais. É de três o prazo exíguo, por exemplo,
para a pretensão relativa a aluguéis de prédios e para a de reparação civil, como estabelece o
artigo 206, parágrafo 3º do código. Nessa premissa, são muitos os créditos, mormente de pessoas
jurídicas, que, por inúmeras razões, deixam de ser cobrados dentro dos prazos assinalados.
Há, contudo, no próprio estatuto de 2002, um instituto que pode socorrer tais situações,
remediando o prejuízo sofrido pelo credor. Trata-se do enriquecimento sem causa, previsto nos
artigos 884 a 884 do novo Código Civil. É freqüente que uma parte se enriqueça, isto é, obtenha
vantagem patrimonial em detrimento de outra. Aliás, é isso que ocorre nos contratos unilaterais e
gratuitos, como a doação. Porém, há situações que esse desequilíbrio ocorre sem fundamento,
sem causa jurídica. A função primordial do direito é justamente a de manter o equilíbrio social como
fenômeno de adequação social. O enriquecimento sem causa, definido no artigo 884 do código, é
uma das fontes das obrigações e mesmo perante a ausência de texto no sistema civil anterior,
aplicava-se como uma categoria geral, desde as origens do fenômeno em ações específicas do
direito romano. Existe enriquecimento sem causa - enriquecimento injusto, enriquecimento ilícito ou
locupletamento indevido - sempre que houver uma vantagem de cunho econômico, sem justa
causa, em detrimento de outrem.
A ação de enriquecimento sem causa ("in rem verso") tem por objeto tão-só reequilibrar dois
patrimônios, desequilibrados sem fundamento jurídico. Não se confunde com uma ação por perdas
e danos ou derivada de um contrato. Deve ser entendido como sem causa o ato ou negócio
jurídico desprovido de razão albergada pela ordem jurídica. A causa poderá existir, mas sendo
injusta, estará configurado o locupletamento. Em matéria cambial, existe referência expressa no
direito positivo à essa ação, no artigo 48 da Lei nº 2.044, de 1908. Por esse dispositivo permite-se
uma ação de rito ordinário contra o sacador ou aceitante de um título de crédito que se tenha
enriquecido indevidamente. Trata-se de uma ação subsidiária e tem como requisitos a existência
prévia de um título de crédito (nota promissória, cheque etc.), a desoneração da responsabilidade
cambial por qualquer razão (falta de protesto, de aceite ou prescrição, por exemplo) e que o
prejuízo sofrido pelo portador do título corresponda a um efetivo enriquecimento por parte do
aceitante ou sacador. Trata-se de uma situação típica de enriquecimento sem causa, a qual, como
se vê, abrange também a prescrição do título.
É importante salientar que a ação de enriquecimento sem causa será sempre subsidiária, tanto
nessa ação derivada de títulos de créditos, como nos casos de enriquecimento em geral, tal como
está no artigo 886 do Código Civil, que estabelece que "não caberá a restituição por
enriquecimento, se a lei conferir ao lesado outros meios para se ressarcir do prejuízo". Desse
modo, não caberá ação de locupletamento se for possível mover de cobrança baseada em contrato
ou indenizatória por responsabilidade civil em geral. Torna-se possível com a prescrição dessas
respectivas ações. A "actio in rem verso" não é uma ação de cobrança ou de indenização. A
aplicação da teoria do enriquecimento injustificado pertence à teoria geral do direito.
A restituição que se almeja nessa ação deve ficar entre dois parâmetros: de um lado não pode
ultrapassar o enriquecimento efetivo recebido pelo agente em detrimento do devedor; de outro, não
pode ultrapassar o empobrecimento do outro agente, isto é, o montante em que o patrimônio
sofreu diminuição. Não se trata, portanto de efeitos que se assemelhem a uma ação de nulidade
ou de resolução de negócio jurídico. Não se cuida de estabelecer uma indenização, mas de uma
reparação na medida do enriquecimento, na medida do pagamento, por exemplo, que deveria ter
sido efetuado e não o foi.
Desse modo, é possível, em princípio, promover uma ação de enriquecimento sem causa em todas
as situações nas quais não é mais possível promover a ação específica, por ter decorrido o prazo
prescricional. Como enfatizado, a ação de locupletamento indevido é subsidiária, isto é, a última de
que pode se valer o credor perante a inexistência de qualquer outro meio jurídico. Os efeitos da
ação de enriquecimento serão sempre menores do que os da ação derivada de um contrato ou da
responsabilidade aquiliana. Na primeira, apenas a efetiva perda ou empobrecimento poderá ser
concedido; nas outras, pode-se falar em indenização equivalente a prestações não cumpridas,
cláusula penal e perdas e danos. Não pode, é evidente, a ação de enriquecimento converter-se em
uma panacéia jurídica. Contudo, trata-se de um instrumento importante para a recuperação de
créditos que já se julgam perdidos por força de uma prescrição.
Note que, a exemplo da ação de enriquecimento relacionada com os títulos de crédito, o prazo
prescricional para a ação de enriquecimento sem causa é de três anos, conforme prevê o artigo
206, parágrafo 3º, inciso IV do novo Código Civil. Esse prazo, seguindo o princípio da "actio nata",
começa a fluir a partir do momento em que as outras ações não podem mais ser propostas, como
examinamos - a partir, portanto, do escoamento do prazo prescricional da ação derivada do
contrato ou de outro ato ou negócio jurídico.
Para colocar em operação uma ação "in rem verso", olvidada pela doutrina e jurisprudência, é
fundamental que nossos operadores do direito voltem seus estudos para ela, um instituto tão rico,
profícuo, útil e tradicional da teoria geral do direito e que pode recuperar créditos que já se tinham
como perdidos.
Sílvio de Salvo Venosa é autor de várias obras de direito civil, consultor e parecerista nesta
área
Este artigo reflete as opiniões do autor, e não do jornal Valor Econômico. O jornal não se
responsabiliza e nem pode ser responsabilizado pelas informações acima ou por prejuízos
de qualquer natureza em decorrência do uso dessas informações

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Ações contra o PAC crescem 50% em 5 meses

Juliano Basile, de Brasília


O governo decidiu adotar uma nova estratégia para agilizar as obras do Programa de Aceleração
do Crescimento (PAC) e está realizando sessões de conciliação com quem ingressa com ações na
Justiça para impedir a continuidade dos empreendimentos.
Essa estratégica tornou-se necessária em função de um grande salto no número de novos
processos contra obras do governo. De abril a setembro, houve um aumento de 50% nas ações
contra o principal programa do governo Lula, carro-chefe da ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff.
Eram 619 ações em abril e chegaram a 923 em setembro.
A maior parte dessas ações se refere a desapropriações realizadas para a construção de rodovias
e hidrelétricas. Um dos problemas mais comuns é que, após o anúncio de que a obra fará parte do
PAC, tem início uma verdadeira especulação imobiliária na região e os donos de propriedades
impõem uma série de dificuldades aos processos de desapropriação, utilizando principalmente a
Justiça para tanto.
O governo responde a 561 processos de desapropriação com relação ao PAC, das quais 164
surgiram num intervalo de cinco meses, entre abril e setembro deste ano. Essas ações equivalem
a 61% do total de processos na Justiça sobre o programa. Normalmente, são ações movidas
contra o Departamento Nacional de Infra-estrutura de Transporte (DNIT), no caso das rodovias, ou
contra concessionárias, no caso da construção de hidrelétricas.
A União é ré em outras 87 ações civis públicas movidas pelo Ministério Público em que são
contestados os processos de licenciamento ambiental das obras. O governo também responde por
oito ações populares de organizações não-governamentais (ONGs). Além disso, há 177 ações
ordinárias, 54 ações possessórias (direito de posse), 18 cautelares e 18 mandados de segurança.
Nessas, há todo o tipo de discussão, desde pedidos de indenização a tentativas de impedir as
obras.
"Quando se trata do PAC, o nosso trabalho sempre aumenta", afirmou Helia Bettero, diretora da
Câmara de Conciliação e Arbitragem da Advocacia-Geral da União (AGU). Segundo ela, tornou-se
cada vez mais constante a prática de convocar representantes do Ibama e do Ministério Público
para chegar a acordo e, com isso, permitir a continuidade das obras. "Procuramos convocar esses
órgãos para resolver o problema na Câmara de Conciliação da AGU." Pela conciliação, o governo
nomeia uma terceira parte para interferir diretamente no conflito, apresentando sugestões para
dirimi-lo.
Helia revelou que muitas vezes as próprias empresas interessadas na conclusão das obras
oferecem indenizações para quem recorre à Justiça na tentativa de evitar que o empreendimento
fique parado no Judiciário.
Apenas para a construção da hidrelétrica de Estreito, no Tocantins, foram necessárias 13 liminares
na Justiça para dar o direito de posse da região às concessionárias. A usina faz parte do PAC e
será construída na divisa com o Maranhão até 2010. Tratava-se de uma região de baixo valor
imobiliário, mas, logo após o anúncio da nova usina, ficou mais difícil desapropriar as terras. O
procurador-chefe da União em Tocantins, André Luís Rodrigues de Souza, reconhece que existe o
legítimo interesse de pessoas que moram há muitos anos nas áreas atingidas pelos
empreendimentos. O problema, para ele, é que as obras também levam especuladores "que só
foram para lá depois que a obra foi anunciada pelo governo".
Outra dificuldade é a quantidade de ações que o governo tem que mover para desapropriar
algumas áreas. Apenas para dar continuidade às obras ferroviárias em Araraquara, no interior de
São Paulo, foram necessários nove processos na Justiça. Em duas dessas ações, a Procuradoria
Federal obteve liminar para assegurar a posse de imóveis ao DNIT. Em outras sete foram iniciadas
audiências de conciliação para que os proprietários dos imóveis fossem indenizados. O objetivo
dessa obra é retirar os trilhos de trem do centro da cidade, o que daria maior agilidade ao
escoamento da produção para o porto de Santos, rumo à exportação.
A Câmara de Conciliação foi utilizada para evitar várias pendências que poderiam se estender por
anos no porto de Santos. Neste ano, a Agência Nacional de Transportes Aquáticos (Antaq) alegou
ao Ministério dos Transportes que havia a necessidade de licitação para o arrendamento de áreas
do porto localizadas entre as locomotivas e os navios. Criou-se um impasse e a AGU chamou
representantes da Antaq, da ANTT (transportes terrestres), do Ministério dos Transportes e da
estatal que administra o porto - a Companhia Docas do Estado de São Paulo (Codesp). Ao final do
encontro, todos concordaram que o transporte de cargas deve passar necessariamente pelo porto
e, por isso, não é preciso realizar nova licitação para mover as cargas nessas áreas. Foi uma
questão simples, só que poderia se prolongar por anos na Justiça, caso os envolvidos não
sentassem à mesa e chegassem a um acordo.

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União e estatais lucram com a alta do dólar

Alex Ribeiro, de Brasília


O governo federal e suas empresas estatais tiveram um lucro de R$ 53,145 bilhões com a
valorização de 17,1% na cotação do dólar ocorrida em setembro, de acordo com dados divulgados
pelo Banco Central. Graças sobretudo e esse efeito cambial, a dívida líquida do setor público caiu
de 40,4% para 38,3% do Produto Interno Bruto (PIB) entre agosto e setembro.
O governo ganha com a valorização do dólar porque, desde 2006, tem mais créditos do que
dívidas em moeda estrangeira. Os créditos mais importantes são as reservas internacionais e os
"swaps" cambiais vendidos pelo BC no mercado futuro. Com a desvalorização cambial, o governo
teve um ganho contábil de R$ 57,564 bilhões apenas nas reservas. Os recursos são mantidos em
dólares, mas, para fins de apuração da dívida líquida do setor público, são expressas em reais.
Outro ganho expressivo do governo é nas operações de "swap", em que o BC recebe reais de
investidores privados quando o dólar se valoriza. Em setembro, essas operações renderam R$
6,507 bilhões. Os ganhos com "swap" são considerados, nas estatísticas fiscais, uma receita com
juros. O efeito dos "swaps" fez com que, entre agosto e setembro, a despesa com juros do setor
público caísse de R$ 12,527 bilhões para R$ 6,142 bilhões, apesar das recentes altas promovidas
pelo BC nos juros, que em tese deveriam pressionar os encargos da dívida pública.
Além de fatores positivos, há os impactos negativos do dólar sobre a dívida do governo em moeda
estrangeira. A dívida externa federal, por exemplo, aumentou R$ 15,7 bilhões, quando expressa em
reais.
Os efeitos positivos da valorização do dólar sobre as contas públicas devem prosseguir em
outubro. Os "swaps" deram uma receita de R$ 4,293 bilhões ao BC, nos dados colhidos até o dia
27. "Em novembro, provavelmente não se repetirá esse efeito positivo do câmbio, pois o BC está
revertendo suas posições de 'swap' cambial", disse o chefe-adjunto do Departamento Econômico
do BC, Túlio Maciel. O BC estima que a dívida líquida tenha caído a 37% do PIB em outubro.
Além do câmbio, o forte superávit primário também contribuiu para a queda da dívida. Em
setembro, o resultado chegou a R$ 10,005 bilhões, a cifra mais alta para meses de setembro
desde 2002. O governo federal apresentou um resultado positivo de R$ 12,730 bilhões, e as
estatais, de R$ 3,242 bilhões.
Nos dados acumulados em 12 meses, o superávit primário chegou a 4,6% do PIB em setembro.
Pelo mesmo critério, o déficit nominal foi de 1,32% do PIB, o mais baixo da série estatística, que
começa em 1991.

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Arrecadação vai sofrer com lucros menores

Sergio Lamucci, de São Paulo


A perspectiva de desaceleração mais forte da economia em 2009 deve fazer estragos na
arrecadação de tributos, especialmente nos que mostram crescimento mais forte neste ano. As
receitas com impostos e contribuições ligados ao lucro, ao faturamento e à formalização do
mercado de trabalho avançam a passo firme - todas elas variáveis que serão afetadas, em maior
ou menor medida, pela perda de fôlego da economia.
Dependendo da magnitude da desaceleração esperada para 2009, o governo pode ter dificuldades
para cumprir a meta de superávit primário de 3,8% do Produto Interno Bruto (PIB), dizem alguns
analistas. Essa possibilidade, porém, não causa grande preocupação: a relação entre a dívida
pública e o PIB está num nível que não é explosivo - 38,3%, bem abaixo dos mais de 50% do
começo da década - e a alta do dólar tem um impacto favorável sobre esse indicador, porque os
ativos do país em moeda forte superam os passivos.
Nos nove primeiros meses do ano, a arrecadação total administradas pela Receita Federal do
Brasil cresceu 9,27% acima da variação do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), ou R$
41,5 bilhões. Quase 48% desse total veio do aumento da receita de dois tributos que incidem sobre
o lucro - o Imposto de Renda da Pessoa Jurídica (IRPJ) e a Contribuição Social sobre o Lucro
Líquido (CSLL). De janeiro a setembro, a arrecadação dos dois subiu 24,4% reais, para R$ 101,1
bilhões. Para 2009, com um crescimento mais fraco do PIB, esses números devem ser bem mais
modestos, diz a economista Margarida Gutierrez, do grupo de conjuntura da Universidade Federal
do Rio de Janeiro (UFRJ). Os analistas ouvidos semanalmente pelo Banco Central projetam
expansão do PIB de 3,1% em 2009, abaixo dos 5,23% previstos para 2008.
O economista Fábio Silveira, da RC Consultores, considera possível que a taxa de crescimento da
arrecadação do IRPJ e da CSLL caia dos quase 25% em termos reais até setembro para metade
ou até mesmo para 10%. "A lucratividade das empresas vai cair bastante, não tem jeito", afirma
ele. Silveira projeta uma alta do PIB de apenas 2% em 2009.
A economista Fernanda Feil, da Rosenberg & Associados, acredita que a receita de impostos como
o IRPJ e a CSLL pode sofrer algum impacto da desaceleração da atividade já em dezembro deste
ano ou janeiro do ano que vem. Ela observa que as perdas de grandes empresas exportadoras
com derivativos, causadas pela alta do dólar, também pode diminuir a lucratividade de algumas
companhias. "Isso pode levar empresas a registrar prejuízos em alguns trimestres."
Segundo Fernanda, a receita de tributos ligados ao faturamento, como a Contribuição para o
Financiamento da Seguridade Social (Cofins) e o Programa de Integração Social (PIS), também
será afetada. De janeiro a setembro, a arrecadação da Cofins e do PIS-Pasep cresceu 11,69%
acima da variação do IPCA, atingindo R$ 114,8 bilhões. Em termos absolutos, o aumento foi de R$
13,7 bilhões, respondendo por 33% da alta registrada por toda os impostos administrados pela
Receita.
O menor crescimento também vai impactar a receita obtida com a contribuição previdenciária, que
aumentou 11,69% em termos reais de janeiro a setembro, atingindo R$ 128,9 bilhões. "O emprego
formal deverá crescer a um ritmo mais fraco", diz Margarida. Isso vai levar a uma inevitável
desaceleração no ritmo de expansão da receita previdenciária. De janeiro a setembro, foram
criados 2,1 milhões de postos formais de trabalho, pelo Cadastro Geral de Empregados e
Desempregados (Caged). Fernanda acredita que o efeito sobre sobre a contribuição da
Previdência deve demorar um pouco mais, pois o mercado de trabalho costuma ser afetado pela
desaceleração da atividade com mais defasagem.
Margarida observa que o Imposto de Importação (II) também não vai crescer na magnitude
registrada neste ano. Com o crescimento robusto da economia e o dólar barato, a arrecadação do
II e do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) vinculado à importação teve aumento real de
27,09% de janeiro a setembro deste ano, para R$ 19,4 bilhões. Em 2009, essa receita vai avançar
a uma velocidade menor, num cenário de câmbio mais desvalorizado e expansão mais fraca do
PIB.
Todo esse cenário indica que o projeto de lei orçamentária enviada pelo governo ao Congresso,
com base numa previsão de crescimento de 4,5% em 2009, se tornou irrealista - o próprio ministro
do Planejamento, Paulo Bernardo, diz que a expectativa oficial é de uma expansão de 3,8% a 4%.
Para que consiga cumprir a meta de superávit primário (o resultado das contas públicas excluindo
gastos com juros) de 3,8% do PIB, serão indispensáveis ajustes razoáveis na proposta, diz
Margarida.
Para ela, um crescimento do PIB de 3,8% em 2009 parece hoje muito otimista, embora não possa
ser descartado. Margarida vê algum espaço para contenção de gastos no adiamento de alguns
aumentos para o funcionalismo, nas despesas de custeio e no investimento que não se refere às
obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC).
No projeto de lei orçamentária, o governo projeta, para 2009, um aumento nominal de 13% das
receitas totais da União, estimando expansão de 16,5% para gastos com pessoal e encargos
sociais e de 14,6% para benefícios previdenciários e assistenciais. Ela acha que é possível cumprir
a meta sem grandes problemas mesmo se o crescimento do PIB ficar em algo como 3%, mas
considera que a situação pode ficar mais difícil se a economia crescer apenas 2%. Nesse caso, o
governo tenderia a admitir um esforço fiscal um pouco mais modesto, abaixo dos 3,8% do PIB.
"Mas esse não é o meu cenário básico. Acredito que o governo fará o possível para cumprir a
meta."
Fernanda, que espera um crescimento da economia de exatos 2% em 2009, projeta um superávit
primário de 3,4% do PIB no ano que vem, bem abaixo dos 4,4% do PIB previstos para este ano - a
meta para 2008 é de 4,3% do PIB. "Eu não descarto um superávit de 3,8% do PIB em 2009, mas
isso vai exigir uma revisão rigorosa dos parâmetros do orçamento do ano que vem."
A economista estima que a arrecadação administrada pela Receita vai crescer de 1,5% a 2%
acima da inflação em 2009, bem abaixo dos 8,5% a 9% esperados para 2008. O aumento de 12%
para o salário mínimo, que corrige dois terços dos benefícios do Instituto Nacional do Seguro
Social (INSS), engessa os gastos com a Previdência, enquanto os reajustes já concedidos ao
funcionalismo dificultam a contenção das despesas de pessoal. De qualquer modo, ela também
acredita que o governo poderá tentar segurar alguns dos aumentos para os servidores.
Silveira acredita que o esforço primário de 3,8% do PIB será atingido, apesar da queda do ritmo de
crescimento da arrecadação. Embora seja difícil de mensurar, ele diz que a eficiência da máquina
arrecadatória não pode ser desprezada, o que significa que a Receita pode encontrar caminhos
para obter arrecadação extraordinária.
Mesmo se o superávit primário ficar um pouco abaixo da meta em 2009, não deverão surgir
preocupações quanto à solvência do setor público, dizem Margarida e Fernanda. A situação fiscal é
hoje bem mais sólida do que no fim dos anos 90 e no começo dos anos 2000, quando a relação
dívida/PIB era ascendente e fortemente afetada por movimentos bruscos do câmbio. Hoje, a alta
do dólar derruba a dívida como proporção do PIB, uma vez que o Brasil é credor líquido em moeda
estrangeira. Graças principalmente a alta do dólar, a relação dívida/PIB caiu de 40,4% em agosto
para 38,3% em setembro.

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Brasil quer ampliar intercâmbio com o Irã

Agência Brasil, de Brasília


O ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, encerrou ontem visita a Teerã, onde participou
da abertura do encontro empresarial Brasil-Irã . Foi a primeira visita de um chanceler brasileiro
àquele país, desde 1991, e teve o objetivo de ampliar o comércio entre os dois mercados. O Irã é o
maior importador brasileiro do Oriente Médio, absorvendo no ano passado, de acordo com
segundo o Itamaraty, 28,7% das exportações nacionais para a região.
O Brasil é extremamente superavitário no comércio com o Irã. De janeiro a setembro deste ano, o
país exportou US$ 756 milhões para este país do Oriente e importou apenas US$ 7,2 milhões,
gerando um saldo positivo de US$ 748 milhões. Os principais produtos brasileiros vendidos no Irã
são carnes bovinas, óleo e bagaço de soja, açúcar e minério de ferro. Na importação, os dois
principais itens são trióxido de molibdênio (um metal) e uvas secas.
No encontro com o ministro dos Negócios Estrangeiros, Manouchehr Mottaki, o chanceler brasileiro
destacou a atual situação da economia brasileira e a distribuição de renda existente no país,
informou a assessoria de imprensa do Ministério das Relações Exteriores (MRE). "Aos governos
cabem criar as nuvens. Mas quem faz chover são os empresários", disse Celso Amorim.
Na capital iraniana, o ministro brasileiro também comentou as questões nucleares que envolvem o
Irã. Celso Amorim enfatizou que o assunto deve ser resolvido pelo diálogo. "O Brasil reconhece
que todos os países têm o direito de desenvolver programas nucleares para usos pacíficos",
acrescentou. Ele destacou ainda o papel da Agência Internacional de Energia Nuclear (AIEA) para
solucionar as divergências entre o Irã e os países que criticam o governo daquele país e sua
política energética. O Brasil se colocou à disposição para a busca de soluções para as
negociações.
Celso Amorim foi recebido no sábado, em audiência, pelo presidente do Irã, Mahmoud
Ahmadinejad, a quem entregou carta do presidente Luiz Inácio Lula da Silva com proposta de
visitas de alto nível entre os dois governos.
Eles conversaram sobre a atual crise financeira global e concluíram que também existe crise de
governança. Neste sentido, o chanceler brasileiro destacou a importância dos países se
entenderem e "procurarem influenciar o redesenho da ordem internacional".
A visita de Amorim se insere na estratégia do governo brasileiro de reforçar contatos, estimular a
diversificação dos laços comerciais e manter o diálogo entre os países em desenvolvimento. De
acordo com o Itamaraty, a última visita de um chanceler brasileiro a Teerã foi há 17 anos.

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Câmbio também eleva custos da indústria

Chico Santos e Vanessa Jurgenfeld, do Rio e Florianópolis


A alta do dólar não trouxe só expectativa de melhor rentabilidade para os exportadores. Ao mesmo
tempo em que remunera melhor a exportação, ela eleva custos (especialmente de insumos
importados) e aumenta a instabilidade dos negócios pela dificuldade de formar preços, dizem
empresários.
A Purac Sintesis, indústria química de capital holandês instalada em Campos dos Goytacazes (RJ)
que exporta conservantes derivados do açúcar, como ácido láctico e lactato de sódio, preparava-se
para fazer um reajuste de 10% a 15% em dólar nos seus produtos no quarto trimestre, para cobrir
aumento de custos. Surpreendida pela alta do dólar e pela conseqüente pressão dos clientes, foi
obrigada a retroceder. Segundo Marcos Bootz, diretor de vendas para a América Latina da
empresa, a valorização do dólar diante do real está fazendo com que os clientes não só peçam
prazos mais elásticos como preços mais módicos. A empresa normalmente oferece 60 dias de
prazo para pagamento aos clientes.
"Estamos pedindo para eles esperarem alguns meses [para redefinir preços]. Não adianta reagir
drasticamente", diz Bootz, argumentando que a volatilidade da moeda americana tem sido muito
forte, não permitindo estabelecer um patamar para os preços. Para ele, o mais importante é saber
como ficará a demanda por produtos finais. Outra preocupação do executivo é determinar o risco
de perdas em cenário de desvalorização da moeda doméstica com o alongamento dos prazos.
"Quem me garante quanto estará o dólar quando o cliente pagar?", questiona. A Purac brasileira é
uma das cinco unidades do grupo, que tem fábricas na Holanda (matriz), Espanha, Estados Unidos
e Tailândia. A filial brasileira fatura em torno de US$ 100 milhões por ano e cerca de 50% com
exportações.
Bem menor do que a Purac, a Jovin Comércio e Serviços, exportadora de radio-transmissores
especiais para plataformas de petróleo (feitos para não emitir faíscas), com sede em Macaé (RJ),
não conseguiu chegar a um acordo com seus clientes nas últimas cotações feitas, já com o dólar
valorizado sobre o real. Segundo Evandro Capistrano Cunha, diretor industrial da empresa, os
clientes querem baixar preços enquanto a Jovin estaria pressionada pela inflação nos custos,
decorrente também da alta do dólar. A empresa, que exporta produtos da marca Motorola, ganhou
dinheiro quando recebeu vendas realizadas 60 dias antes, com o dólar na faixa de R$ 1,60, diz
Cunha. Agora, ele espera uma definição mais precisa do câmbio para saber como ficará o
relacionamento com os clientes. A Jovin exportou US$ 300 milhões em 2007 e espera fechar 2008
com US$ 400 milhões, pouco menos de 10% do faturamento total da empresa. Exporta,
principalmente, para a Inglaterra.
No segmento de eletrodomésticos também existe cobrança por parte dos importadores por
alongamento de prazos e redução de preços, observa o presidente da BSH Continental para o
Mercosul, Edson Grottoli. Embora os preços (sobretudo de itens de linha branca e linha marrom)
tenham ficado mais competitivos por conta da depreciação do real, diz, a indústria teve aumento
nos custos de produção devido ao reajuste dos salários com ganhos reais e à alta do dólar - que
fez subirem os preços de alguns componentes importados, como chips, placas eletrônicas,
componentes óticos que não têm produção local. "O que a BSH tem feito é minimizar o impacto
desses custos com ganhos de produtividade. Mas há produtos que terão algum realinhamento [de
preço]", afirmou Grottoli.
Sem entrar em detalhes, Grottoli disse que a empresa avalia flexibilizar preços e prazos,
dependendo da relação entre custo e rentabilidade e também da necessidade de preservar um
mercado específico. "As negociações ocorrem caso a caso, até porque o câmbio ainda não
alcançou uma estabilidade", afirmou.
No segmento de plásticos, a situação é semelhante. O presidente do Sindicato da Indústria de
Material Plástico de Santa Catarina, Albano Schmidt, afirma que os clientes em geral pedem
desconto e mais prazo, mas a indústria não tem conseguido atendê-los por conta do aumento de
preços de matérias-primas cotadas em dólar. "Não estamos dando descontos. Estamos é
querendo repassar aumentos", diz ele, afirmando que não há liquidez para oferecer descontos nem
prazos maiores. O setor revisou sua projeção de crescimento da receita para o ano para baixo e
em outubro fez um corte de 340 pessoas em Santa Catarina por conta da crise. Há empresas que
analisam dar férias coletivas.
Neste momento de desvalorização cambial por conta da crise, a indústria de revestimentos
cerâmicos Eliane está negociando prazos e descontos com seus fornecedores e tentando retomar
clientes que foram perdidos na Europa, após recolhimento da empresa diante da forte valorização
do real ante o dólar que vigorava até então, conta o presidente da empresa, Edson Gaidzinski.
"Estamos tentando embarcar o mais rápido possível para aproveitar a boa cotação", afirma. Para
reconquistar os clientes estrangeiros, diz, não há necessidade de política agressiva de preços. "A
empresa deverá ofertar seus produtos de forma competitiva, sem a necessidade de
reposicionamento dos preços", diz ele. Sua expectativa para 2009 é manter o volume de
exportação nos patamares de 2008, "com leve tendência de crescimento".
No setor de commodities também há pressão por mais prazo e menos preço. O presidente da
Coopercentral Aurora, Mário Lanznáster, afirma que os importadores estão pedindo entre 5% e
10% de desconto na hora de comprar frangos e suínos, além de prazo maior para pagar a
mercadoria. "Não temos como dar nem prazo nem desconto porque também não está fácil o
capital de giro para a cooperativa", afirma. Segundo ele, países como Rússia, Ucrânia e Oriente
Médio, que estão entre os mais importantes compradores do segmento, sofrem com a crise
externa, sobretudo em função da queda no preço do petróleo.
Lanznáster explicou que em termos de resultado é melhor para a cooperativa vender as carnes
que estão em portos à espera do embarque no mercado interno do que dar prazo maior aos
importadores. Segundo ele, os pedidos dos importadores vão de 30 dias a 45 dias. Antes da crise,
o pagamento era feito antecipadamente e a carga era então embarcada. Hoje, só de suínos são
2,5 mil cabeças estocadas pela Aurora. (Colaborou Cibelle Bouças, de São Paulo)

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Mercado interno não basta

Sergio Leo
As férias coletivas na Zona Franca de Manaus e na indústria automobilística; a pesquisa da
Confederação Nacional da Indústria que revelou, na semana passada, índice crescente de
estoques indesejados; e a previsão do ministro da Fazenda, Guido Mantega, de queda no
consumo no país são motivos suficientes para acreditar que o mercado interno é alternativa
insuficiente para a previsível queda nas exportações brasileiras. E as demandas dos empresários
por um "PAC" da exportação não devem ser arquivadas na gaveta que as autoridades brasileiras
reservam às queixas sem importância.
"A situação mudou de tal maneira que há necessidade de mudanças mais profundas", defende o
presidente da Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica (Abinee), Humberto Barbato.
"Se o Banco Central tem força para fazer as mudanças no mercado financeiro do dia para a noite,
temos de conseguir que também na área industrial e tributária sejam feitas mudanças", defende o
executivo. "Há necessidade que o governo veja isso como um crise sem precedente; se ficarmos
na mão dos banqueiros, ficaremos fritos", insiste.
O alarme de Barbato contrasta com indicadores do setor no primeiro semestre, elaborados pela
própria Abinee, que mostram crescimento constante, de 8% no primeiro trimestre do ano, e de 13%
no segundo trimestre. Os fabricantes, otimistas, tinham expectativas de aumento maior no terceiro
trimestre. Acontece que, agora, a crise ameaça enterrar as expectativas de setores que já vinham
perdendo espaço para importados e para a retração da demanda doméstica, como o de
componentes e de aparelhos domésticos; e deve afetar setores que contavam com o impulso da
boa maré da economia brasileira, como os fabricantes de equipamentos para modernização das
instalações industriais.
Os próximos indicadores mostrarão o impacto, no consumo interno, do risco de aumento do
desemprego e da iminente redução nos salários, com o corte nas horas extras. Mas parece
temerário confiar no poder do consumidor nacional para compensar a retração nos mercados
internacionais, especialmente no momento em que as autoridades admitem redução no ritmo de
crescimento da economia.
Barbato assumiu um tom de pânico ao cobrar medidas do governo, mas não exagera quando
afirma que a situação das empresas não é mais a mesma. A China dobrou o incentivo fiscal
concedido a suas empresas de eletrônicos e de brinquedos, em reconhecimento ao aperto nos
mercados internacionais. A retração mundial ameaça apressar cenários pessimistas de setores até
agora beneficiados pela crise, como o de cimento, que já discutiam em conversas reservadas o
risco de excesso de capacidade no futuro próximo, provocado pelos investimentos em produção
feitos no auge da bolha de consumo.
O maior temor dos empresários é o futuro dos mercados na América Latina, que sofrerão com a
retração na demanda dos Estados Unidos e com a queda nas receitas de produtos primários de
exportação, como minerais, petróleo e cereais. Noventa por cento das importações desses países
originada do Brasil é de produtos manufaturados, lembrava, na semana passada, o vice-presidente
da Associação de Comércio Exterior do Brasil, José Augusto de Castro.
Augusto de Castro alerta para a necessidade, também na exportação, de novos instrumentos
contra o aperto na liquidez, na disponibilidade de recursos para crédito. Não só os produtores
nacionais têm problemas de capital de giro, dinheiro para manutenção de suas atividades normais,
como os compradores de produtos brasileiros no exterior vão demandar financiamento.
Ironicamente, agora que a cotação do dólar se recuperou e começa a beneficiar os exportadores,
acabou o dinheiro lá fora, nota Augusto de Castro. Até agora, o discurso otimista em relação à crise
- que pautou as primeiras reações do governo brasileiro - sobrevive no comércio exterior. A equipe
econômica assegura que não faltará dinheiro para financiar exportações e minimiza a visível
deterioração das contas de comércio externo.
O vice-presidente da AEB sugere que o governo apresse a concretização de medidas já
anunciadas e que amplie algumas já existentes para reforçar o poder de fogo dos exportadores.
Com a desconfiança generalizada a respeito da solvência de parceiros no cenário internacional,
está na hora, por exemplo, de estender a empresas maiores o fundo de aval hoje disponível - e
pouco usado - apenas para as pequenas empresas, defende. A lista de sugestões é grande e
sujeita à discussão, mas o que incomoda os empresários é a aparente tranqüilidade da equipe
econômica que, como nota Barbato, parece ouvir apenas os alertas do sistema financeiro.
Exemplo dessa surdez seletiva é a falta de resposta à demanda insistente do diretor-
superintendente da Associação Brasileira da Indústria Têxtil (Abit), Fernando Pimentel, para que o
governo ponha em vigor uma medida anunciada em maio, como uma das principais iniciativas da
nova política industrial. É a extensão do Revitaliza, programa que traria compensações tributárias,
com financiamento mais barato para exportadores com grande emprego de mão de obra. "Não é
que não tenha saído a medida: não se tem notícia do que aconteceu ou vai acontecer com ela",
reclama Pimentel.
Lista seletiva
Na reunião ampliada do Mercosul para discutir a crise financeira internacional, surgiu um curioso
mal entendido regional em relação à media provisória 422, que permitiu a troca de reais por moeda
estrangeira. Os representantes do Paraguai informaram ter muito interesse na medida, e
consultaram publicamente o Presidente do Banco Central, Henrique Meireles sobre a possibilidade
de trocar guaranis pela moeda brasileira. Meireles desconversou.
Dois dias depois, o governo brasileiro anunciava o lançamento de uma linha de troca de reais por
dólares, no limite de US$ 30 bilhões, aberta para o Brasil até abril de 2009 pelo Federal Reserve, o
BC dos EUA.
Sergio Leo é repórter especial e escreve às segundas-feiras
E-mail sergio.leo@valor.com.br

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Mesmo com a crise, governo gaúcho quer elevar investimentos em 2009

Marta Watanabe, de São Paulo


Mesmo com a crise e um eventual desaquecimento econômico em 2009, o Estado do Rio Grande
do Sul garante que irá elevar investimentos no próximo ano. Segundo secretário da Fazenda
gaúcha, Aod Cunha de Moraes Júnior, o Estado deve duplicar ou triplicar os valores investidos em
relação a 2008.
O próprio secretário reconhece que essa ampliação será possível porque o nível de investimento
continua baixo. Em 2007, o investimento foi de R$ 40 milhões, um valor desprezível em relação à
receita corrente líquida. Em 2008, o investimento deve chegar a 3% das receitas correntes e, para
2009, a meta é 7%. "Com receitas menores por conta da crise, os investimentos poderão ficar ficar
entre 5,5% e 6%, mas mesmo assim iremos no mínimo duplicar o que foi feito em 2008, o que
poderá ser uma vantagem em relação aos demais Estados", diz o secretário.
Segundo Aod, o orçamento do Estado para 2009 foi elaborado de forma conservadora, mesmo
levando em conta um crescimento de PIB de 5% para o próximo ano. Considerando uma alta
menor de PIB, na faixa de 2,5%, o Estado perderia R$ 300 milhões em receitas. Ele acredita,
porém, que o valor ainda possa ser compensando com ajustes nas despesas, principalmente da
administração indireta. O secretário também conta com uma compensação pela maior eficiência de
arrecadação - resultado de maior controle sobre os setores que mais pagam Imposto sobre
Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS).
Segundo o secretário, como resultado do forte ajuste de contas implementado, o Estado
conseguirá pagar este ano o décimo terceiro salário dos funcionários sem a necessidade de
financiar todo o valor. "Este ano conseguiremos pagar no mínimo 50% do décimo terceiro com
recursos do Tesouro. O ideal seria 100%, mas até o ano passado tínhamos necessidade de
financiar toda a folha desse pagamento."
Aod explica que os investimentos de R$ 1,25 bilhão previstos para 2009 deverão ser alimentados
por recursos próprios. Por isso, um eventual aumento do Índice Geral de Preços ao Consumidor -
Disponibilidade Interna (IGP-DI), indexador da dívida com a União, não irá afetar a capacidade de
investimentos em 2009. Aod acredita, porém, que uma variação do IGP-DI além dos 10% poderá
tirar o Rio Grande do Sul da trajetória de enquadramento ao limite de endividamento estabelecido
pela Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF). Por isso, planos de investimentos que estavam
previstos com base em financiamentos novos estão suspensos por enquanto.

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Empresários do MS pedem mais prazo para ICMS

De São Paulo
Empresários do Mato Grosso do Sul decidiram criar um comitê de monitoramento da crise. A
Federação das Indústrias de Mato Grosso do Sul (Fiems) e Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e
Pequenas Empresas do Estado(Sebrae/MS) são os organizadores do comitê, que tem como
objetivo municiar o setor produtivo com informações sobre os efeitos da crise econômica mundial
no Estado.
No lançamento do comitê, os empresários reivindicaram ao governador André Puccinelli (PMDB)
uma ampliação, em caráter excepcional, do prazo de pagamento do Imposto sobre Circulação de
Mercadorias e Serviços (ICMS).

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Prefeitura de Recife anuncia corte de gastos

Carolina Mandl, do Recife


Receosa do impacto que a crise econômica pode trazer para os cofres públicos, a prefeitura do
Recife decidiu cortar R$ 18 milhões do orçamento municipal de 2009. O montante equivale a uma
redução de menos de 1% da previsão inicial, que era de R$ 2,36 bilhões e foi para R$ 2,34 bilhões.
Com isso, o orçamento do próximo ano - que ainda passará por avaliação na Câmara dos
Vereadores- deve ter um aumento de 9,5% ante 2008.
O ajuste, segundo o município, será feito em todas as secretarias, reduzindo-se as despesas de
custeio delas. A ação prevê, porém, a manutenção das contrapartidas em obras do Programa de
Aceleração do Crescimento (PAC).
O anúncio da restrição no orçamento ocorre depois de o prefeito João Paulo (PT) e o prefeito eleito
João da Costa (PT) terem passado alguns dias da semana passada em Brasília, em conversas no
Ministério do Planejamento atrás de recursos para obras de infra-estrutura urbana anunciadas
durante a campanha eleitoral.
Apesar das mudanças no orçamento municipal, o Estado mantém seus números. Pernambuco
trabalha com um orçamento de R$ 16 bilhões para o próximo ano, o que corresponde a um
crescimento de 16% em relação a 2008. De acordo com Geraldo Júlio de Mello Filho, secretário de
Planejamento de Pernambuco, só deve ocorrer alteração no orçamento se o governo federal
anunciar que haverá redução no repasse do Fundo de Participação dos Estados (FPE). Essa
contribuição é o segundo item de maior importância nas receitas estaduais, com um peso de 40%.
"Elaboramos o orçamento já prevendo um cenário econômico desfavorável, por isso não vemos
necessidade de mudanças agora", afirma Mello Filho. O cálculo do orçamento de 2009 prevê um
crescimento de 13% nos recursos repassados pelo FPE. Neste ano, até setembro, o aumento foi
de 20% em relação a igual período do ano passado. Eventuais reduções de despesas podem ser
encaminhadas à Assembléia Legislativa até do dia 20 de novembro.
Para o secretário, o Nordeste não deve sofrer tanto quanto o resto do país com a crise pelo fato de
a economia da região estar bastante fundamentada no consumo interno. "O salário mínimo e o
Bolsa Família, que tanto impulsionaram o crescimento do Nordeste nos últimos anos, não foram
afetados pela crise."

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Pressionado por clientes, exportador já concede descontos

Sérgio Bueno, Marli Lima e Cibelle Bouças, de Porto Alegre, Curitiba e São Paulo
Tradicionais exportadores de bens de consumo e outros manufaturados estão sendo pressionados
pelos clientes no exterior a "dividir" os ganhos da desvalorização cambial. Fabricantes de calçados,
têxteis e madeira, entre outros, têm recebido - e em muitos casos concedido - pedidos para
descontos nos preços em dólar. Alguns reclamam, outros usam a redução de preço como
marketing e estratégia para ganhar novos clientes.
Com cerca de 15% da produção destinada ao mercado externo, a Miúcha Calçados, de Três
Coroas (RS), está aproveitando o dólar mais alto para antecipar vendas da próxima coleção de
inverno para Estados Unidos e Europa. Para isso, a empresa aproveita a rentabilidade maior
proporcionada pelo câmbio mais favorável e oferece descontos nos preços em dólar aos clientes
mais tradicionais, explica o gerente de exportações, Maurício Rahmeier.
Segundo ele, com o dólar acima dos R$ 2, os descontos já chegaram a 35% em algumas linhas de
produtos. A condição é que os clientes paguem à vista e não com cartas de crédito, devido à
instabilidade cambial. "O pagamento é feito com o dólar do dia", o que também reduz a
necessidade de recorrer aos adiantamentos de contratos de câmbio (ACC), diz. Para os pedidos
que já estão em carteira nada muda, explica Rahmeier. Neste ano a empresa prevê uma produção
de 1,2 milhão de pares, igual ao ano passado.
De acordo com o gerente, o novo patamar do câmbio recupera a competitividade dos produtos
brasileiros no exterior e alguns clientes que haviam migrado para fornecedores chineses começam
a retomar as encomendas ou pelo menos voltam a fazer contato com a empresa. "O Brasil é
melhor em qualidade, na velocidade da produção e na capacidade de produzir pequenos volumes",
afirma.
Na West Coast, de Ivoti, a estratégia é mais cautelosa. Segundo o gerente de marketing, Sérgio
Baccaro Júnior, os clientes externos já começam a pedir descontos nos preços em dólar, mas a
empresa está mantendo as tabelas inalteradas. O problema, conforme Baccaro Júnior, é que parte
dos insumos e componentes utilizados na produção é importada (ele não revela quanto) e a
valorização do dólar acaba elevando os custos. "A tendência é que a próxima coleção de inverno,
que será lançada em novembro no mercado externo, tenha os preços reajustados para cima",
adianta o gerente.
A West Coast, informa, reduziu "bastante" a contratação de ACCs. Mesmo assim, e apesar da
"certa retração" identificada no mercado europeu, a empresa mantém a previsão de produção entre
2,6 milhões e 2,7 milhões de pares este ano, ante 2,4 milhões em 2007, dos quais 30% são
destinados às exportações. As projeções para 2009 ainda não foram fechadas.
A Lupo, que exporta meias e roupa íntima, tem recebido pedidos insistentes de clientes de
Argentina, Uruguai, Estados Unidos e França para reduzir os preços, de acordo com Valquírio
Cabral Júnior, diretor comercial da empresa. A empresa planejava reajustar os preços externos em
10%, mas agora negocia a redução dos preços. "No ano passado elevamos os preços porque o
real estava apreciado e ainda trabalhamos com a mesma tabela. Agora os clientes querem
desconto", afirmou.
Cabral observou que não apenas o real depreciou frente ao dólar, mas também as moedas dos
países-clientes. As negociações, segundo Cabral, referem-se aos contratos de exportação para
2009, tendo em vista que as encomendas deste ano já estavam programadas. As exportações
respondem por 6% do faturamento da Lupo, que neste ano deve crescer 28%, superando R$ 400
milhões.
Nos últimos anos, as indústrias exportadoras do segmento de madeira reclamaram do dólar
desvalorizado e da redução das vendas para a construção civil dos Estados Unidos. Com a crise
financeira, o câmbio melhorou, mas o clima continua tenso. A demanda externa diminuiu e os
clientes estão pedindo descontos. "As encomendas caíram cerca de 40% na comparação com
outubro do ano passado", conta Álvaro Scheffer, presidente da Águia Florestal, empresa de Ponta
Grossa (PR) que exporta painéis e madeira serrada.
Segundo o executivo, que também é presidente do conselho da Associação Paranaense das
Empresas de Base Florestal (Apre), o mercado europeu estava aquecido até meados do ano, e
África e Ásia também estavam comprando, o que compensou, em parte, a redução do consumo
americano. Mas o cenário mudou.
Com as oscilações constantes, a Águia Florestal definiu um nível de corte para negociar com os
compradores. Se a moeda tiver valorização acima de R$ 2,20, o cliente pode ter desconto.
"Estamos com medo do que vai acontecer. Quando eu for receber, quanto estará valendo o
dólar?", questiona Scheffer. "Teria de fazer trava cambial, mas os bancos não estão fazendo isso,
nem ACC", diz. O executivo conta que está trabalhando com o capital de giro da empresa e dias
atrás já deu descontos, "não superiores a 5%", para fechar negócios.
A Águia Florestal exporta 90% do que produz. Há dois anos a empresa reduziu o volume de
produção em 40% e, de lá para cá, ele ficou estável. "Se o dólar nivelar em R$ 2,20, nos
tornaremos competitivos e poderemos pensar em aumentar a produção. Se ele voltar a cair,
teremos problemas com a moeda e com a demanda", pondera Scheffer. Por enquanto, ele planeja
dar férias coletivas de pelo menos três semanas em dezembro e suspendeu investimentos
programados para 2009.
Um das maiores fabricantes de compensados do país, a Guararapes, de Palmas (PR), manteve o
volume de produção mas, segundo a direção da empresa, está "sentido dificuldades maiores de
venda, pois o mercado está praticamente parado". "Os clientes do mercado europeu vêm forçando
reduções nos preços em função da variação cambial e, de um modo geral, já tivemos queda de
mais ou menos US$ 35 por metro cúbico (cerca de 15%)", informou a empresa.
O diretor industrial, Ricardo Pedroso contou que, no mercado americano, a queda de preços foi
automática. "Esse mercado já estava em baixa e com a crise financeira os preços despencaram de
vez." Para depender menos das vendas externas, a Guararapes está investindo em uma nova
planta para produção de MDF, que deve ser inaugurada em janeiro. "Também já estamos
comercializando parte de nossa produção de compensados no mercado interno; antes, ela era
destinada somente ao exterior", diz o executivo. Segundo ele, as linhas de crédito para exportação
"estão bastante restritas e com taxas de juros bem maiores".

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Governo revê meta de superávit primário de 2009 para 3,8% do PIB

Cristiano Romero, de Brasília


Por causa dos efeitos da crise financeira sobre a economia, o governo vai reduzir o esforço fiscal
em 2009, diminuindo a meta de superávit primário de 4,3% para 3,8% do Produto Interno Bruto
(PIB). Na prática, a redução será ainda maior, uma vez que o setor público consolidado (União,
Estados e municípios) vem economizando 4,5% do PIB. Em entrevista exclusiva ao Valor, o
ministro do Planejamento, Paulo Bernardo, disse que "não faz sentido" aumentar o esforço fiscal
no momento em que a economia dá sinais de desaceleração. O propósito do governo é
compensar, pelo menos em parte, a suspensão de investimentos do setor privado.
"A economia brasileira tem hoje credibilidade e o esforço do governo será no sentido oposto.
Vamos fazer o esforço que for preciso para a atividade desacelerar o menos que puder", afirmou
Bernardo, acrescentando que, apesar da crise e da esperada queda da arrecadação tributária, o
governo manterá os gastos do Bolsa Família, o reajuste do salário mínimo (estimado em mais de
12% em 2009) e as obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC).
O ministro defendeu a concessão, pelos bancos públicos, de juros mais baixos para as empresas
exportadoras que estão perdendo dinheiro nas operações com derivativos cambiais. "Se o banco
público puder ter uma taxa melhor para a empresa, para prestar um socorro financeiro, não tenho
problema nenhum com isso", afirmou. Segundo Paulo Bernardo, o governo deve rever, para baixo,
a previsão de expansão do PIB no próximo ano - de 4,5%, como estava na proposta original do
orçamento, para algo entre 3,8% e 4%. A seguir, os principais trechos da entrevista:
Valor: Por que a crise internacional está afetando o Brasil de maneira mais forte que a esperada?
Paulo Bernardo: Essa crise vai deixar um rescaldo que terá que ser administrado. Nos países
onde ela está batendo mais forte, haverá um período de 1,5 a dois anos para superar seqüelas. O
Brasil tem uma situação diferente. Estamos praticamente sendo afetados por último e em numa
intensidade menor. Tudo indica que vamos sair dela mais rapidamente. Fomos contaminados pela
crise de confiança que abalou as instituições. O problema com aplicações das empresas no
mercado de câmbio aparentemente não tem a gravidade que muitos vinham dizendo ter. O ministro
Guido Mantega diz que isso vai ficar reduzido a algo em torno de US$ 7 bilhões.
Valor: No Brasil, mas a maioria das apostas foi feita no exterior.
Bernardo: Não é o volume de que se falava, mas esse problema também foi gerado pela crise de
confiança. Quando todo mundo correu para o dólar, gerou-se um pânico e piorou a situação das
empresas que fizeram derivativos cambiais. Com o restabelecimento de cotações mais civilizadas
do dólar, o problema diminuiu. O que o governo está tentando fazer é debelar a crise de confiança,
restabelecer o crédito, mostrar que temos muita margem ainda para aumentá-lo.
Valor: Que margem?
Bernardo: Temos reservas internacionais, o depósito compulsório, do qual todo mundo sempre
reclamou, e é mesmo alto se olharmos os padrões internacionais, mas por outro lado acabou
virando um colchão de liquidez. Com a eleição americana, a tendência é termos um período
psicologicamente melhor. Independentemente do candidato que ganhar, ele vai ter interlocução
com o governo Bush, que tem interesse em dar seqüência a medidas para acabar com a crise
financeira. Depois, teremos a crise econômica por um tempo.
Valor: O Banco Central reconhece que ainda não sabe qual é o tamanho das perdas de empresas
exportadoras com derivativos lá fora. O governo está preocupado?
Bernardo: Claro que sim. Estamos dando claros sinais de que nos dispomos a ajudar nas
condições de mercado, de boa governança e boa técnica bancária. Pagar o prejuízo não temos
como pagar. Sou favorável a que ajudemos as empresas que tiverem necessidade de recorrer a
bancos oficiais.
Valor: Como será a ajuda?
Bernardo: Se a empresa tem garantias, receitas e condições de operar com banco público, o
governo tem que ajudar. Banco existe para isso. O problema é que, no Brasil, banco às vezes só
empresta a quem não precisa. Se o banco público puder ter uma taxa melhor para a empresa, para
prestar um socorro financeiro, não tenho problema nenhum com isso. Ninguém quer e não é de
bom tom exigir coisas inexeqüíveis no momento que alguém está precisando, mas também temos
que deixar claro que nem o governo nem os bancos privados vão cobrir o prejuízo de alguém que
fez uma operação que se revelou danosa para a tesouraria da empresa.
Valor: Diante da crise, qual é a previsão de crescimento para 2008 e 2009?
Bernardo: Em 2008, está dado. Vamos crescer mais de 5%.
Valor: Mesmo com a parada do último trimestre?
Bernardo: Essa parada não é geral. Aconteceu em alguns setores e não vai durar até o fim do
ano. Os dados do comércio em setembro mostram que 'bombou' de novo: 9,8% de crescimento
real. O desemprego diminuiu, a arrecadação de impostos em setembro foi muito boa. Isso é reflexo
da atividade econômica. A lógica mostra que vamos ter redução da atividade, mas está difícil
prever a intensidade.
Valor: O senhor descarta a possibilidade de uma recessão?
Bernardo: Não. A economia vai arrefecer, mas estamos trabalhando, para 2009, com um
crescimento na faixa de 3,8% a 4%.
Valor: A arrecadação no Brasil é pró-cíclica. Com a desaceleração da economia, deve cair. Como
ficarão as contas públicas?
Bernardo: Como não tivemos, até agora, uma desaceleração efetiva, tudo indica que ainda
teremos boa receita no fim do ano e no primeiro trimestre de 2009. Se a economia desaquecer
efetivamente, teremos redução da receita a partir do segundo semestre. Neste ano, tínhamos meta
de superávit primário de 3,8% do PIB, mas prometemos fazer mais 0,5% do PIB por meio da
criação do fundo soberano. Na prática, estamos fazendo 4,5%. Para 2009, vamos trabalhar com
meta de 3,8% do PIB.
Valor: Especialistas sugerem que, neste período de crise, o governo eleve o esforço fiscal para
aumentar a confiança.
Bernardo: Nossa economia já tem confiança suficiente. E quem não confiar no Brasil, que aplique
em outro lugar. Todos os países estão fazendo o contrário agora. Estão diminuindo o esforço fiscal,
aumentando os gastos para fazer um esforço anticíclico. Achar que vamos arrochar num momento
que está prenunciando que a economia vai diminuir a atividade não faz sentido. A economia
brasileira tem hoje credibilidade e o esforço do governo será no sentido oposto. Se for preciso fazer
o esforço que precisar para a atividade desacelerar o menos que puder, vamos fazer isso. Não faz
muito sentido falar em aumentar o esforço fiscal. Não vai acontecer não!
Valor: Se o Congresso não aprovar a criação do fundo soberano, o que o governo fará com o 0,5%
do PIB de superávit que foi economizado neste ano?
Bernardo: Os recursos, cerca de R$ 14 bilhões, serão esterilizados, ou seja, o governo 'perderá'
esse dinheiro, não poderá gastá-lo. Eles serão utilizados para abater a dívida pública. A oposição
quer criar mais dificuldades. Em tempos normais, isso faz parte do jogo, mas num momento como
esse é perigoso. É começar a brincar com a sorte do país.
Valor: Se o Congresso aprovar o fundo, onde serão aplicados os R$ 14 bilhões?
Bernardo: Isso é uma reserva de contingência. Poderemos usá-la para pagar dotações do
orçamento ou, se forem dotações novas, teremos que pedir autorização ao Congresso. O plano do
governo é usar o dinheiro para bancar investimentos em obras de infra-estrutura, compensando
parte da retração esperada dos investimentos do setor privado.
Valor: O senhor declarou que, por causa da crise, o governo suspenderia a realização de
concursos públicos e a concessão de novos aumentos salariais ao funcionalismo. A decisão está
mantida, mesmo com o plano de fazer um superávit fiscal menor?
Bernardo: Isso está previsto na Lei de Responsabilidade Fiscal. Quando se tem dificuldade
financeira, o governo tem que cortar programas que não foram implementados, que estejam sendo
preparados, novos aportes para pessoal, investimentos que não sejam considerados prioritários.
Tem que fazer o que o bom senso manda fazer.
Valor: O que é o bom senso nesta hora?
Bernardo: A orientação do presidente é manter o PAC (Programa de Aceleração do Crescimento).
Se não tiver dinheiro para os outros investimentos, fora do PAC, vamos cortá-los. Vou ter que
cortar até onde precisar para manter o PAC. É mais complicado cortar os programas sociais já
implementados, mas há coisas que podemos postergar.
Valor: Pela regra atual, o salário mínimo vai subir acima de 12% em 2009. O governo pode mudar
a regra para diminuir o impacto desse reajuste nas contas da Previdência?
Bernardo: Não. Não vamos mudar isso.
Valor: E o Bolsa Família?
Bernardo: Imagine o governo falar 'estamos em crise e vamos cortar o Bolsa Família'! As pessoas
vão dizer 'vocês estão dando um jeito de resolver os problemas dos bancos, das empresas, estão
socorrendo quem está em dificuldades no mercado e vão cortar o Bolsa Família?' Não é razoável.
Valor: O governo tomou medidas para dar liquidez ao mercado, mas ela continua empoçada. Há
alguma medida nova para tentar forçar o aumento da liquidez?
Bernardo: Isso vai fluir naturalmente. Como a medida provisória 443 não tinha sido aprovada
ainda, não tenha dúvida: ninguém (no mercado) fez nada, à espera da aprovação. A tendência é
que, agora, ande mais rápido. Com o dólar caindo, os ânimos estão se acalmando. Os lucros dos
bancos continuam pornográficos. Tudo indica que isso vai ajudar a acalmar o mercado.
Valor: Segundo levantamento do banco Credit Suisse, cerca de R$ 20 bilhões em investimentos
privados já foram suspensos por causa da crise. Isso não preocupa o governo?
Bernardo: Se olharmos a programação que havia antes, esse número não é muito grande. Só o
investimento da Petrobras passa de mais de R$ 100 bilhões (nos próximos quatro anos). Contando
o setor privado, é mais de R$ 300 bilhões. Esses R$ 20 bilhões devem retomar depois. Conversei
com as cooperativas agrícolas e alguns líderes do setor no Paraná e eles me informaram que uma
boa parte da safra 2008/2009 já estava plantada. Quanto à outra parte os produtores já tinham
comprado os insumos. No caso dos retardatários, dos últimos a plantar, faltou um pouco de crédito,
mas as medidas que adotamos recentemente resolveram o problema. As cotações dos produtos
caíram um pouco, mas não estão ruins. Mesmo que ocorra uma diminuição dos preços das
commodities, a verdade é que, antes da crise, todas as análises mostravam que os estoques
mundiais estão baixos e que o consumo aumentou. Não sei o que vai acontecer com o consumo,
mas os estoques não vão aumentar porque teve crise. Eles vão continuar baixo. No setor de
construção civil, há empresas que estão muito bem e outras que compraram terrenos, mas ficaram
sem dinheiro para tocar os empreendimentos. A tarefa do governo é identificar quem está nessa
situação para ver se o crédito pode resolver isso. No caso do setor de bens duráveis, como os
automóveis, por exemplo, onde o crédito parou completamente, com o nível de emprego e de
renda que temos aí, o mercado tem tudo para retomar. O mercado de automóveis cresceu 25% em
um ano. Não é possível imaginar que vai continuar desse jeito, mas tem condições de se manter
bem.

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Nova política portuária divide empresários do setor

Francisco Góes, do Rio


O decreto sobre a política portuária no Brasil, assinado esta semana pelo presidente Luiz Inácio
Lula da Silva, dividiu as opiniões de empresários. Executivos ligados ao segmento de contêineres
elogiaram o decreto por entender que, em um cenário de crise financeira global, é importante
manter o marco regulatório vigente. Já as empresas de navegação estrangeiras reunidas no
Centronave mostraram preocupação com que as exigências do decreto atrasem o início de novos
projetos.
Nelson Carlini, diretor do Centronave, disse que o aspecto positivo é que instalações portuárias já
autorizadas pelo governo não são objeto dos atos legais contemplados no decreto. O problema,
segundo ele, é que o decreto e o plano de outorgas a ser preparado pela Agência Nacional de
Transportes Aquaviários (Antaq) vão retardar novos projetos em um ou dois anos. "Não houve
surpresa (com o decreto), mas desilusão."
Especialistas avaliam que os contenciosos no setor portuário poderão até se aprofundar na Justiça.
"O decreto como está vai ser a alegria dos advogados", disse uma fonte que não quis se identificar.
Há quem entenda que o decreto ampliou as restrições sobre os conceitos de carga própria e carga
de terceiros em relação ao que já estava previsto. A carga de terceiros, pelo decreto, é definida
como "aquela compatível com as características técnicas da infra-estrutura e da superestrutura do
terminal autorizado".
Segundo interpretações, a definição poderia fazer com que um terminal privado para
movimentação de produtos siderúrgicos tenha dificuldades de mexer com outro produto, como o
carvão, por exemplo. A Comissão Portos, movimento empresarial que reúne cerca de 50 entidades,
pretende discutir o decreto com o secretário Pedro Brito, da Secretaria Especial de Portos (SEP).
A avaliação de algumas fontes é que as restrições nos conceitos de carga própria e de terceiros
vão dificultar projetos de algumas empresas. Quem quiser operar contêineres em novos terminais
privativos de uso misto, que podem movimentar carga própria e de terceiros mediante autorização
do governo, não conseguirá fazê-lo, disse um especialista. Por essa visão, o segmento de
contêineres, reunido na Associação Brasileira dos Terminais de Contêineres de Uso Público
(Abratec), foi quem saiu como vencedor.
Ao longo de 2008, a Abratec envolveu-se em uma polêmica com empresas interessadas em
investir em terminais privativos, sem licitação, para movimentar carga própria e de terceiros. A
discussão foi parar no Supremo Tribunal Federal (STF). Um executivo da área de contêineres
avaliou que o decreto confirmou o marco regulatório existente e explicitou a forma pela qual os
empresários podem propor novas concessões ao governo.
O decreto não muda a Lei dos Portos (8.630/93) nem a Constituição, disse um interlocutor. Os
terminais de uso privativo, para movimentação de carga própria, e os terminais de uso privativo
misto, para carga própria e de terceiros, continuarão a precisar de autorizações do governo. O
artigo 35 do decreto diz que os terminais privativos de uso misto terão de movimentar de forma
preponderante carga própria e, em caráter subsidiário e eventual, de terceiros. Já os novos
terminais de uso público, para prestação de serviços a terceiros, precisarão ser licitados. Os
empresários poderão sugerir ao governo projetos a serem licitados. "Perderam a oportunidade de
trabalhar na reestruturação das companhias Docas, em soluções para a mão-de-obra avulsa e na
redução da burocracia", disse Wilen Manteli, presidente da Associação Brasileira dos Terminais
Portuários.

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Opinião - O mundo mudou

Maria Cristina Pinotti e Affonso Celso Pastore


A Europa já está em recessão, e a recessão nos Estados Unidos será provavelmente ainda mais
profunda do que a européia. Estamos diante de uma crise financeira sistêmica internacional que
vem provocando uma enorme desalavancagem, cujo resultado é a queda do estoque mundial de
crédito. O encolhimento do crédito mundial acentua a recessão nos países industrializados e
conduz à queda dos ingressos de capitais em mercados emergentes, quer na forma de
investimentos estrangeiros diretos, quer na forma de empréstimos de médio e longo prazo ao
governo e às empresas, ou de investimentos em ações. Por outro lado, ainda que o crescimento
chinês sofra apenas uma pequena desaceleração, evitando com isso uma propagação mais forte
da recessão do mundo industrializado sobre os países emergentes, a recessão nos países
industrializados reduz as exportações mundiais e deprime os preços internacionais de
commodities. Este é um quadro diametralmente oposto ao que presidiu o desempenho da
economia brasileira nos últimos anos.
Estamos assistindo a uma mudança fundamental no comportamento do câmbio real, que será
permanentemente mais depreciado do que anteriormente. Duas forças explicam essa depreciação:
o encolhimento dos ingressos de capitais, que obrigam a uma queda nos déficits nas contas
correntes; e os preços de commodities mais baixos, que desestimulam as exportações. Em
princípio, um câmbio real mais depreciado estimularia as exportações, mas não é isto o que ocorre
quando tomamos em consideração os movimentos inversos entre o câmbio real e os preços em
dólares das exportações brasileiras, que seguem muito de perto os preços internacionais de
commodities. Nos últimos anos, a elevação dos preços em dólares das exportações foi maior do
que a valorização do câmbio real, elevando a rentabilidade das exportações; agora assistimos um
movimento inverso, que desestimula as exportações, reduzindo a velocidade do seu crescimento.
Embora em condições normais o Brasil pudesse perfeitamente financiar déficits nas contas
correntes até maiores do que os atuais, não podemos supor nem que estamos diante de uma
situação normal, nem que as condições favoráveis do últimos anos voltarão a prevalecer no futuro.
No momento presente o Brasil não enfrenta apenas uma redução de fluxos de capitais, que é o
movimento que deve predominar a médio prazo, e sim uma saída líquida de capitais, que somente
não vem levando a uma depreciação cambial ainda maior devido às intervenções do Banco
Central. O Banco Central pode e deve intervir para evitar a volatilidade excessiva da taxa cambial,
mas não pode e não deve impedir que o câmbio real se ajuste à nova realidade dos fluxos de
capitais, porque são eles que determinarão o tamanho do déficit possível nas contas correntes.
Com as suas intervenções no mercado de câmbio o Banco Central pode retardar o ajuste na taxa
cambial, mas se tentasse persistentemente impedir o seu ajuste, acentuaria o desequilíbrio, em
vez de corrigi-lo.
Por outro lado, para que haja o ajuste necessário nas contas correntes é preciso que ocorra uma
queda da demanda total doméstica em relação ao PIB. O crescimento da demanda total doméstica
acima do crescimento do PIB, nos últimos anos, ocorreu predominantemente devido às elevadas
taxas de crescimento da formação bruta de capital fixo. O câmbio real se valorizou, barateando as
importações de máquinas e equipamentos, o que estimulou os investimentos e acelerou o
crescimento econômico. Agora assistimos ao movimento inverso: o câmbio real se deprecia
encarecendo as importações de máquinas e equipamentos, desestimulando os investimentos. A
depreciação cambial também eleva a inflação e, embora na última reunião do Copom o Banco
Central tenha optado por "esperar para ver", a tendência a médio prazo é de elevação da taxa real
de juros. Primeiro, porque o ajuste nas contas correntes requer uma queda da demanda total
doméstica em relação ao PIB. Segundo, porque se o Banco Central "acomodasse" a totalidade dos
efeitos inflacionários do "choque" da depreciação cambial, estaria permitindo o crescimento das
expectativas de inflação, perdendo a âncora que mantém a inflação sob controle.
A nova realidade da economia internacional impõe ao Brasil: um câmbio real mais depreciado; uma
queda na demanda total doméstica necessária para reduzir o déficit nas contas correntes; uma
queda na taxa de crescimento econômico. Quanto maior for o encolhimento necessário nas contas
correntes, maior será a queda na demanda total doméstica e maior a desaceleração do
crescimento. O câmbio real será tanto mais depreciado quanto maior for a contração nos fluxos de
capitais e quanto maior for a queda nos preços internacionais de commodities.
Apesar das dificuldades postas pelo quadro externo atual, os avanços macroeconômicos obtidos
pelo Brasil nas duas últimas décadas o colocam em uma situação privilegiada, indicando que pode
ter um desempenho muito melhor que o de vários outros países emergentes. Para que isso ocorra,
é preciso que o governo faça o diagnóstico correto e tome as medidas de política econômica de
acordo com a nova realidade. Este será um grande teste para a equipe econômica, que até agora
navegou em águas calmas e vento a favor. Embora o Banco Central venha "pilotando" muito bem
os ajustes de curto prazo, as indicações da política fiscal não são encorajadoras. Depois de muito
insistir que a crise jamais "atravessaria o Atlântico", o governo já admite que a crise é grave, e o
medo de que a recessão chegue no Brasil o tem levado a insistir na adoção de políticas contra-
cíclicas para impedir a desaceleração do crescimento. Esta é uma proposta errada. Expandir a
demanda com gastos públicos leva a um déficit maior nas contas correntes, pressionando ainda
mais a taxa cambial e acentuando o desequilíbrio. Se o Brasil fosse a China, que tem superávits
nas contas correntes, poderia elevar os gastos públicos: a conseqüência seria apenas uma
redução naqueles superávits e uma queda na exportação de capitais. Mas esta não é a nossa
situação. A estratégia correta é elevar as poupanças públicas. Com isso, o ajuste ocorrerá com
uma menor redução do consumo privado e da formação bruta de capital fixo, mantendo-se um
crescimento econômico um pouco mais alto. Este é o grande desafio.
Affonso Celso Pastore e Maria Cristina Pinotti são economistas e escrevem mensalmente às
segundas.

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Opinião - Raça e disputa presidencial nos EUA

Sin-ming Shaw
Três quartos do público dos Estados Unidos desaprova atualmente a atuação do presidente
George W. Bush. Isso considerado, e o fato de que as políticas e os valores de John McCain e sua
vice-presidente escolhida, Sarah Palin, são quase idênticos aos de Bush, seria de se esperar que
Obama liderasse nas pesquisas de intenção de voto por uma margem muito maior.
O motivo para ele não estar, suspeito, é racismo. Quando consultada nas pesquisas, a maioria dos
eleitores brancos mais idosos rejeita Obama de forma esmagadora, ainda que muitos estejam
descontentes com Bush. De fato, um terço dos democratas já disse em muitas ocasiões aos
entrevistadores que não votará num candidato negro. E uma pesquisa de voto recente, conduzida
pela Associated Press/Yahoo News, indicou que sua raça está custando a Obama seis pontos
percentuais nas pesquisas.
Na maior parte do tempo, esse racismo é dissimulado, só sugerido por meio de palavras em
código. A mídia, particularmente a mídia conservadora e os programas de bate-papo no rádio [nos
quais ouvintes se manifestam ao vivo a respeito de uma variedade de temas atuais] cada vez mais
populares, são particularmente importantes aqui. Obama é sistematicamente criticado por sua
"diversidade" e sua "arrogância", termos que trazem à mente a imagem do "crioulo arrogante" dos
dias da segregação, que na verdade não estão tão distantes assim no passado dos Estados
Unidos.
Numa entrevista recente, Bill O´Reilly, o mais popular apresentador de programa de entrevistas de
TV na Fox News, o canal de notícias mais assistido nos EUA, tratou Obama de uma forma tão
condescendente que alguns espectadores foram lembrados da imagem de um dono de escravos
num filme antigo de Hollywood que coloca um jovem negro pretensioso no seu lugar.
Sean Hannity, outro apresentador famoso na Fox News, pertencente a Rupert Murdoch, perguntou
reiteradamente em transmissão ao vivo a um entrevistado, Fareed Zakaria - um conhecido
colunista da revista semanal "Newsweek" e que tem seu próprio programa de entrevistas na CNN
-, se ele pensava que a América é o maior país na face da Terra. Zakaria, de pele escura,
americano naturalizado nascido na Índia, com um Ph.D. de Harvard, se sentiu constrangido em
admitir a sua lealdade pela América duas vezes. É difícil imaginar Hannity exigindo tal afirmação
pública de lealdade de alguém de pele branca.
Quanto, então, a raça está custando a Obama? O problema é que os institutos de pesquisa não
podem mensurar o problema eficazmente. Eles chamam isso de "efeito Bradley", observado pela
primeira vez durante a disputa de 1982, ao cargo de governador na Califórnia, quando Tom
Bradley, o então prefeito de Los Angeles, perdeu a disputa para o seu oponente branco, apesar de
ter liderado nas pesquisas pré-eleitorais durante toda a campanha.
O conceito por trás do "efeito Bradley" é que eleitores brancos não revelarão os seus preconceitos
aos institutos de pesquisa. Eles preferem mentir e dizer que votarão no candidato negro quando,
na verdade, não têm nenhuma intenção de fazê-lo.
É claro, muitas pessoas agora dizem que Obama comprovou que o "efeito Bradley" é coisa do
passado. Mas suas persistentes dificuldades com eleitores brancos da classe trabalhadora, que
nas eleições preliminares do partido democrata se alinharam com Hillary Clinton, indicam que,
possivelmente, o "efeito Bradley" continua intacto.
Americanos mais jovens aceitam relacionamentos inter-raciais como parte da paisagem sexual e
social normal. A própria velocidade com a qual a sociedade americana tem progredido, porém, tem
ameaçado a metade do país, mais idosa e majoritariamente branca, incapaz e indisposta a viver no
presente.
O moderado Partido Republicano de Dwight D. Eisenhower e dos Rockefellers foi tomado por um
público radical, em que até a bisneta de Eisenhower apóia Obama abertamente. Portanto,
confunde a cabeça de muitos não-americanos o fato de um número tão grande de pessoas nesse
grande país ainda não ter despertado para a realidade de que mais quatro anos de governo
republicano degradarão e arruinarão ainda mais o país.
Em qualquer sociedade civilizada, a ignorância não é ilegal e ser moralista é privilégio inerente de
qualquer pessoa. Mas o que alarma é como crenças religiosas e morais particulares têm moldado
gradativamente a agenda secular dos Estados Unidos, cujos fundadores conceberam a
Constituição especificamente para separar o Estado e a Igreja.
O Partido Republicano radical de hoje representa uma vasta segmento da população que acredita
que abortos e casamento no mesmo sexo são imorais. Deus enviou a América ao Iraque, e essa
ação de socorro a Wall Street é "socialismo".
Na convenção do Partido Republicano realizada em agosto, os cantos ensurdecedores de "USA!
USA!" e "Drill, baby, drill" ["perfure, garota, perfure", numa alusão à posição do seu partido, de
permitir extração de petróleo em qualquer parte dos EUA] soaram como gritos de desespero, e
também como de desafio contra um inimigo que ameaça o direito divino da América de permanecer
supremo. Palin desde então identificou o inimigo, decretando a respeito de Obama: "Este não é um
homem que vê a América como você e eu vemos a América".
Se a avaliação dela contém ou não um tom racista, como acreditam muitos observadores, as
pesquisas de voto indicam que muitos americanos concordam.
Sin-ming Shaw foi Professora Visitante de História nas universidades Oxford e Princeton. ©
Project Syndicate/Europe´s World, 2008. www.project-syndicate.org

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Editorial - Defesa contra crise passa pela contenção de gastos

O governo abandonou a persuasão e adotou uma estratégia mais agressiva na tentativa de


convencer os grandes bancos a comprarem carteiras de crédito de instituições financeiras
pequenas e médias. A ação extrema se justifica pela urgência de contornar uma crise de liquidez
bancária que, caso não seja solucionada rapidamente, poderá contaminar a economia real.
Mas há riscos, entre eles o de provocar a alta dos juros e uma restrição ainda mais severa da que
já se anunciava no crédito. O ideal seria que, ao mesmo tempo em que toma medidas
emergenciais, o governo se empenhasse em assegurar um ambiente macroeconômico previsível,
eliminando parte das incertezas que levaram à aversão de risco do sistema bancário. Ajudaria, por
exemplo, a contenção da demanda do governo em favor do consumo e dos investimentos
privados.
Na quinta-feira, o Banco Central baixou a circular nº 3.417, que na prática corta a remuneração dos
compulsórios sobre depósitos a prazos dos bancos que não comprarem carteiras de crédito. Foi
um endurecimento em relação à orientação anterior. O BC havia criado um incentivo econômico
para estimular os grandes bancos a socorrerem os menores - a liberação de compulsórios.
A atitude mais firme é compreensível diante dos resultados insatisfatórios colhidos. O BC havia
liberado pouco mais de R$ 28 bilhões dos compulsórios para a compra de carteiras. A Federação
Brasileira dos Bancos informou que, até o dia 28 de outubro, as instituições privadas haviam
comprado apenas 53 carteiras de crédito, num valor de R$ 4,85 bilhões.
A estratégia mais agressiva do BC, porém, traz riscos. Um deles é a medida não surtir os efeitos
desejados. Instrumentos coercitivos costumam ser ineficazes para mudar o comportamento dos
agentes econômicos. O país tem um longo histórico de direcionamentos obrigatórios de crédito,
com resultados pífios. Políticas macroeconômicas consistentes, como o controle da inflação e o
ajuste das contas públicas, tiveram papel central na expansão dos empréstimos nos últimos anos,
que se concentrou no segmento de crédito livre.
Num ambiente de aguda aversão a risco como o atual, deve-se contemplar a hipótese de os
bancos optarem por absorver os prejuízos impostos pelo novo compulsório, que são amargos
porém mensuráveis, a se aventurar na compra de carteiras de crédito que envolvem riscos difíceis
de serem dimensionados quando a economia mundial atravessa a sua mais grave crise desde
1929.
Pior, porém, será os grandes bancos não só deixarem de comprar as carteiras de crédito das
instituições pequenas e médias, mas também reforçarem sua posição defensiva, aumentando os
juros cobrados dos clientes e restringindo ainda mais o crédito.
Medidas coercitivas podem se mostrar ineficazes, caso não sejam acompanhadas por ações que
resgatem a confiança do sistema financeiro e demais agentes econômicos. O corte de gastos
públicos, como advoga o economista Affonso Celso Pastore, teria efeitos virtuosos sobre a
economia.
Ao contrário do que aconteceu no passado, a crise externa não cria, pelo menos por enquanto,
dúvidas sobre a solvência do governo. Graças a desvalorização do real, a dívida líquida do setor
público deverá cair a 37% do Produto Interno Bruto (PIB) em outubro, bem abaixo dos 40,8% do
PIB que, antes da crise, o BC esperava para o fim do ano.
Mas, como disse Pastore, a crise internacional trará uma restrição de financiamento externo, e a
absorção doméstica terá que ser reduzida. Há duas maneiras de fazer isso: corte de gastos do
governo ou contenção de consumo e investimentos. O ministro do Planejamento, Paulo Bernardo,
indicou que a intenção do governo é reduzir a meta de superávit primário, de 4,3% para 3,8% do
PIB, o que em contrapartida significará expansão dos gastos.
Num ambiente em que o governo aumenta de tamanho e quem encolhe é o setor privado, a
tendência é que a taxa de juros permaneça elevada para deprimir a demanda doméstica e, com
isso, controlar a inflação. As perspectivas de emprego, renda e capacidade de pagamento
piorariam , levando os bancos a buscar a segurança e a rentabilidade dos títulos públicos a
financiar o consumo das famílias e os investimentos das empresas.

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GAZETA MERCANTIL

(Debêntures) Crise global eleva custos e reduz prazos para emissão de dívidas

São Paulo, 3 de Novembro de 2008 - A restrição de crédito provocada pela crise internacional deve
dificultar a renovação das dívidas das empresas brasileiras, que somam R$ 11,38 bilhões
vencendo nos próximos seis meses no mercado interno, entre emissões de notas promissórias e
debêntures, segundo dados da Associação Brasileira de Bancos de Investimento (Anbid).
De acordo com o gerente-executivo da diretoria de mercado de capitais do Banco do Brasil,
Gustavo Henrique Santos de Sousa, diante das incertezas em relação ao desenvolvimento da
crise, muitas empresas que emitiram dívida no início deste ano optaram por operações com prazos
mais curtos, como as notas promissórias, apostando numa melhora das condições de mercado
para rolar seus papéis. Só neste ano, as emissões de notas promissórias cresceram 75,93% até
outubro em relação ao mesmo período do ano passado, somando R$ 16,4 bilhões. Por outro lado,
as captações de recursos via debêntures recuaram 5,71% no período, alcançando em torno de R$
48 bilhões.
Com o aprofundamento da turbulência no mercado financeiro, entretanto, as opções para novas
colocações no mercado de capitais ficaram muito restritas e com o custo muito elevado. "As taxas
estão mais elevadas que no início do ano. O mercado para emissões de dívida está sem referência
de preço, com os investidores institucionais mais seletivos, dando maior preferência para títulos
públicos e Certificados de Depósito Bancário (CDB) de instituições financeiras de primeira linha",
diz Sousa.
Muitas companhias com vencimento de papéis de dívida no curto prazo, já estão negociando com
os bancos a rolagem. É o caso da Companhia de Saneamento Básico do Estados de São Paulo
(Sabesp) que registrou neste mês a emissão de R$ 220 milhões em debêntures com prazo de
cinco anos, a serem emitidas em duas séries de R$ 100 milhões e R$ 120 milhões. A primeira série
terá pagamento de juros de DI mais 2,75% ao ano, e a segunda contemplará taxa de 12,87%
anuais mais a variação do Índice de Preço ao Consumidor Amplo (IPCA).
Os recursos obtidos serão destinados à liquidação das debêntures com vencimento em março de
2009, que somam R$ 200 milhões, além do pagamento de demais compromissos financeiros. O
custo da nova emissão veio acima do alcançado com a primeira operação, realizada em março de
2005, em duas séries com taxas de 101,5% do CDI e 10,8% mais variação do Índice Geral de
Preços ao Mercado (IGP-M).
Sousa destaca que o mercado de debêntures está muito restrito e a possibilidade de novas
emissões será analisada caso a caso, com prazos menores aos praticados no ano passado. "O
prazo das debêntures em 2007 estava em média de cinco a sete anos. Hoje o máximo que está
se consegue colocar são papéis com prazos de três anos", afirma Sousa.
A administradora de concessionárias de rodovias Primav Ecorodovias também estuda alongar a
dívida de R$ 430 milhões em notas promissórias, que está para vencer em janeiro de 2009.
Segundo o diretor de Relações com Investidores da empresa, Roberto Nakagome, as novas
emissões vão depender das condições do mercado. "Hoje é mais fácil fazer uma emissão de curto
prazo em notas promissórias e rolar essa dívida posteriormente via debêntures a taxas melhores",
diz.
Nakagome afirma que a companhia também não descarta a captação de recursos com linhas de
crédito bancário.
Com o acesso ao mercado de capitais restrito, as empresas devem buscar mais o crédito bancário
como alternativa para alongar suas dívidas. "As taxas do financiamento bancário já estão sendo
negociadas de acordo com uma nova realidade de preço, porém pode ser, em alguns casos, uma
alternativa para a captação de recursos com a retração do mercado de capitais", diz Sousa.
Ele afirma que, com a escassez de liquidez no mercado de crédito, muitas dessas operações estão
sendo estruturadas por meio de crédito sindicalizado.
A diretora-gerente do Bradesco Banco de Investimento (BBI), Denise Pavarina, afirma que as
empresas vêm conseguindo rolar suas dívidas seja via financiamento bancário por meio de Cédula
de Crédito Bancário (CCB) ou emissão de notas promissórias.
O vice-presidente da Associação Nacional dos Bancos de Investimento (Anbid), Luiz Fernando
Resende, o mercado está mais restrito para emissão de papéis mais longos como debêntures, por
isso as empresas têm optado por rolar os papéis de dívida via nota promissória, que têm prazo
médio de 180 dias. "A expectativa é que assim que as coisas se acomodarem, eles possam
renovar essas emissões com prazos mais longos", destaca Denise.
Algumas empresas já estão se antecipando e estão negociando com os bancos a renovação das
emissões. A Alupar anunciou neste mês a emissão de R$ 140 milhões em notas promissórias, com
prazo de 90 dias, para pagar o vencimento do primeiro lançamento previsto para novembro deste
ano. O custo da nova operação é de 140% do CDI, superior ao da primeira emissão de 118% do
CDI. A empresa também aprovou emissão de debêntures de R$ 250 milhões, com garantia do
Unibanco e do Itaú BBA.
A Alupar esclarece que a estratégia de emitir debêntures e promissórias já fazia parte do seu
plano de negócios antes da recente crise. Além disso, o grupo fechou empréstimos que somam R$
245 milhões com bancos privados, pouco antes de a turbulência se agravar, também para o
alongamento da dívida.
Segundo a diretora do BBI, há cerca de R$ 10 bilhões em notas promissórias para vencer até julho
de 2009 e R$13 bilhões em debêntures, contando com as de leasing, com vencimento em 2009.
(Gazeta Mercantil/Finanças & Mercados - Pág. 1)(Silvia Rosa)

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(Debêntures) Conjuntura dificulta rolagem externa

São Paulo, 3 de Novembro de 2008 - Se para renovar as emissões de dívida no mercado interno já
está difícil, rolar os papéis no exterior, neste momento, parece uma missão quase possível.
As empresas brasileiras têm US$ 2,22 bilhões em bônus e emissões de médio prazo (Mid Term
Notes) vencendo entre outubro e março de 2009. Das 19 operações, sete são de bancos médios,
que acessavam freqüentemente o mercado externo como alternativa para captar recursos.
De acordo com o vice-presidente da Associação Nacional dos Bancos de Investimento (Anbid),
Luiz Fernando Resende, com a retração da liquidez, o mercado para emissão de bônus ficou
praticamente fechado, com os investidores buscando ativos mais líquidos.
Para Resende, as empresas que estão capitalizadas acabarão optando por liquidar suas dívidas
em moedas estrangeiras e resgatar os títulos. Outra alternativa seria rolar essa dívida por meio de
emissões no mercado local. "Porém, essas operações deverão sair com custos mais elevados e
prazos mais curtos", afirma.
No caso dos bancos médios, que não podem fazer a oferta de notas promissórias ou debêntures,
a captação no mercado interno via emissão de Certificados de Depósito Bancário (CDB) está mais
restrita, uma vez que as taxas estão muito elevadas. "A opção para os bancos médios que estão
com papéis vencendo lá fora seria diminuir o crescimento da carteira de crédito ou vendê-las para
os bancos grandes para fazer caixa e resgatar as emissões", destaca Resende.
Mais em conta
Uma das instituições de médio porte que aproveitou-se do momento para recomprar parte de sua
dívida foi o Pine. Dos US$ 150 milhões em dívida assumida que o banco terá de rolar até julho de
2010, já recomprou quase 10%. "O ambiente é adequado para esse tipo de operação. O cenário
de turbulências faz com que investidores institucionais tenham de vender posições e torna a
recompra atrativa", afirma o vice-presidente do Pine, Clive Botelho. (Gazeta Mercantil/Finanças &
Mercados - Pág. 1)(Silvia Rosa e Luciano Feltrin)

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(Debêntures) Governança Corporativa - Perda com derivativos pressiona por mudanças

São Paulo, 3 de Novembro de 2008 - As recentes perdas registradas por empresas com o uso de
instrumentos derivativos já começa a movimentar a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) e
entidades que praticam auto-regulação.
O objetivo é diminuir os espaços para o surgimento de falhas de comunicação com acionistas e o
mercado e esclarecer os papéis e responsabilidades a que são submetidos administradores e
conselheiros das companhias do País.
Pelo lado do regulador, as novidades devem vir em forma de uma revisão da instrução 202, cujo
conteúdo trata de registro de empresas que negociam diversos tipos de valores mobiliários.
"Estamos trabalhando para incorporar novos e relevantes temas, como o uso de instrumentos
financeiros", exemplificou a presidente da autarquia, Maria Helena Santana, após participar de
palestra na Fundação Instituto de Pesquisas Contábeis, Atuariais e Financeiras (Fipecafi), na
sexta-feira.
Segundo a executiva, a idéia da CVM é obrigar as empresas - as já listadas ou que pretendam
fazê-lo - a detalhar fatores de risco de seus negócios e responsabilidade de administradores.
"Atualmente, as companhias fornecem tudo isso com muita clareza nos prospectos de ofertas
públicas. Queremos que passem a aplicar o mesmo também em relação a seu dia-a-dia", explicou
Maria Helena reconheceu que a CVM tem sido acionada sobre as operações de Sadia e Aracruz. E
disse não acreditar que outras companhias ainda comuniquem ao mercado situações similares.
"Um dos aspectos da crise é a carência de informações, o que inclui a qualidade das notas
explicativas. Mais do que isso, trata-se do efeito perda da disciplina do mercado. Depois de passar
por um longo período de altas houve um afrouxamento de controles."
A nova instrução, que deve ser colocada em período de audiência pública até o fim deste ano,
deve embutir uma antiga reivindicação de mercado: que as exigências na elaboração e entrega de
documentos sobre ofertas passe a atender ao tipo de negociação e público-alvo. Dessa maneira,
os prospectos de ofertas de ações e de debêntures e outros títulos, por exemplo, terão tamanhos
e características distintas.
Revisitando a governança
A melhora na qualidade dos padrões de governança corporativa das empresas que negociam
ações na BM&FBovespa também deve ser estimulada pela via da auto-regulação. O movimento já
começa a ganhar corpo. Na semana passada, a bolsa paulista montou um comitê com esse
objetivo. O grupo reúne 22 representantes de mercado e tem a CVM como membro observador.
"Os componentes são participantes de mercado, como empresas, advogados, bancos e entidades
representativas. Nossas discussões acontecerão para aperfeiçoar as regras para listagem e
levarão em conta o ambiente atual, como o caso recente dos instrumentos financeiros", confirmou
o diretor-presidente da bolsa, Edemir Pinto, após participar de evento organizado pelo Instituto
Brasileiro de Executivos de Finanças (IBEF) e a empresa de auditoria KPMG.
De acordo com o executivo, a comissão é presidida pelo ex-presidente da CVM, Luiz Leonardo
Cantidiano, e terá como focos revisar os regulamentos dos níveis 1,2 e Novo Mercado, além das
empresas que negociam na bolsa brasileira por meio de listagem de Brazilian Depositary Receipts
(BDRs). "Entre abril e junho de 2009 deveremos estabelecer metas para cumprimento de metas de
um cronograma", detalhou.
Outras normas, como as que abordam temas como os deveres de administradores na preparação
de assembléias e negociações entre partes relacionadas das companhias, também devem ser
colocadas à disposição para serem discutidas pelo mercado em breve. "Soltaremos um modelo
que dará destaque à remuneração dos administradores das companhias. É uma discussão
importante", afirmou Maria Helena
(Gazeta Mercantil/Finanças & Mercados - Pág. 4)(Luciano Feltrin)

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Governança Corporativa - CVM atende reivindicações e flexibiliza regras

São Paulo, 3 de Novembro de 2008 - A publicação na sexta-feira à noite da instrução 472/08, que
dispõe sobre os Fundos de Investimento Imobiliário (FII), pela Comissão de Valores Mobiliários
(CVM), animou o final de semana dos administradores e emissores de outros títulos com lastro em
imóveis. A autarquia reguladora do mercado acatou boa parte das reivindicações e sugestões da
indústria de fundos e ativos imobiliários, apresentadas durante audiência pública realizada no início
do ano, e deve alavancar a criação desses veículos de investimento.
A expectativa do mercado recaía sobre dois pontos principais: agilidade no processo de registro e
distribuição de cotas, tal como acontece com Fundos de Investimento em Participações (FIP), e a
flexibilização da carteira do FII, ampliando o leque de ativos permitidos para investimentos. Ambas
foram atendidas e o registro das ofertas públicas de distribuição de cotas subseqüentes será
automaticamente concedido no prazo de cinco dias úteis após a data de protocolo na CVM dos
documentos e informações exigidas. Além do investimento em imóveis, o FII também pode investir
em Letras Hipotecárias, Letras de Crédito Imobiliário, Certificado de Recebíveis Imobiliários e
ações de companhias do setor. "A instrução é moderna e atende a boa parte das solicitações do
mercado, com registro automático e a criação de fundos de fundos, ou seja, veículos com cotas de
diferentes FII, o que vai atrair administradores que atuam nessa indústria, mas não tinham a
expertise do produto imobiliário", considera Rodrigo Machado, diretor da Brazilian Mortgages. Além
disso, o FII também pode adquirir cota de FIP e FIDC cujo lastro é imobiliário, tal como participação
em Sociedades de Propósito Específico (SPE). A diversificação deve aumentar o número de
investidores nesses veículos, considera Machado.
Para Sérgio Belleza, especialista em fundos imobiliários e diretor da Brazil Partners, além dos
avanços numa regulação que iria debutar em 2009, será inviável para os administradores
aprovarem a compra de novos imóveis. "Sou a favor da aprovação em assembléia, mas dos
cotistas presentes, e não da deliberação de 50% mais um das cotas emitidas. Para um fundo com
mais de 600 cotistas, será inviável a aprovação dos laudos de avaliação de novos imóveis para
compra ou integralização", avalia. A determinação pode ser viável quando a CVM aprovar a
votação em assembléia por internet.
Ponto importante foi a definição sobre conflito de interesse, com a CVM passando à assembléia de
cotista a deliberação sobre o questionamento. "Os cotistas podem aprovar que um banco de varejo
administre um fundo com imóveis que eram de sua propriedade ou que ele mesmo vai locar, o que
deve atrair os bancos para este mercado", considera Belleza que, entretanto, contesta a abertura
para operação com derivativos. Apesar de manter a regra de não alavancagem do FII, a CVM abriu
a possibilidade de o fundo contratar operações com derivativos, com a condição de que a
exposição seja, no máximo, o valor do patrimônio líquido do fundo - caso autorizado no
regulamento.
(Gazeta Mercantil/Finanças & Mercados - Pág. 4)(Maria Luíza Filgueiras)

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Operação de troca de moeda com Fed é isenta de juros

Brasília, 3 de Novembro de 2008 - O Conselho Monetário Nacional (CMN) deu sinal verde para o
Banco Central captar os US$ 30 bilhões acertados na semana passada com o Federal Reserve, o
Banco Central dos Estados Unidos. Noite de quinta-feira saiu a aprovação e, na sexta-feira, uma
resolução do BC definiu as regras para o Brasil receber dólares do Fed e entregar reais em troca.
A operação não é obrigatória, mas abre a possibilidade de o Brasil reforçar suas reservas
internacionais e serve como vacina contra uma eventual especulação sobre o real.
Na operação de troca, os reais não vão sair do País. A moeda brasileira ficará em uma conta do
próprio BC brasileiro em nome do Fed. Por outro lado, os dólares emprestados também não irão
deixar os Estados Unidos e permanecerão em uma conta em nome do BC brasileiro.
A troca de moedas poderá ocorrer até o limite de US$ 30 bilhões e pode ser feitas durante seis
meses, até 30 de abril do ano que vem. Também ficou definido que as trocas entre os dois países
poderão ser feitas aos poucos ou de uma única vez.
O governo insiste que por enquanto não precisa desse dinheiro, porque as reservas já estão
bastante altas, mas o apoio dos norte-americanos reforça o poder de fogo do BC em caso de uma
emergência. Na quinta-feira, as reservas do Brasil, conforme conceito de liquidez internacional,
alcançavam US$ 203,4 bilhões, sem o reforço do Fed.
O BC diz que, mesmo que o dólar suba, não terá nenhum efeito sobre as operações, porque as
mesmas cotações serão utilizadas nas operações na entrada e na saída. Ou seja, não será
aplicada a variação cambial entre o início e o fim da troca. Também não há cobrança de juros
estabelecida na operação. É uma espécie de empréstimo entre amigos.
Segundo informações do Banco Central, a operação envolverá somente reais e não inclui outros
ativos denominados na moeda brasileira, como títulos públicos. A autoridade monetária também
informa que não haverá aumento do endividamento público, pois serão utilizados recursos do caixa
de próprio Banco Central.
Ponto da MP
Essa possibilidade de realizar operação de swap de dólares por reais com o Fed foi anunciada na
quarta-feira, mas a medida já era considerada pelo governo pelo menos uma semana antes. A
iniciativa estava presente na medida provisória n 443, de 21 de outubro. Essa MP, que tem como
tema principal a possibilidade de o Banco do Brasil e da Caixa Econômica Federal comprarem
participações em bancos, trazia também a autorização para o BC brasileiro trocar moedas com
outros bancos centrais. A MP 443 ainda terá de passar pelo crivo do Congresso Nacional. Ela
recebeu 111 emendas e deve ir a votação nesta quarta-feira.
(Gazeta Mercantil/Finanças & Mercados - Pág. 3)(Ayr Aliski)

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REGISTRO - BC DO JAPÃO REDUZ JUROS

3 de Novembro de 2008 - O banco central do Japão reduziu sua taxa de juros para 0,3% a fim de
ajudar a prevenir a instauração de uma recessão prolongada. O presidente da instituição, Masaaki
Shirakawa, foi o autor do voto decisivo pela redução da taxa, até agora de 0,5%, depois da
discordância de quatro dos oito membros do conselho. Três deles queriam reduzir a taxa para
0,25% e outro defendia a manutenção. Shirakawa passou a ser pressionado para baixar o custo do
dinheiro pela primeira vez em sete anos, depois que o Índice Nikkei 225 despencou para seu nível
mais baixo desde 1982.
(Gazeta Mercantil/Finanças & Mercados - Pág. 3)

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Ásia termina no vermelho

3 de Novembro de 2008 - O índice de ações da Ásia teve mais um dia de queda na última sexta-
feira, encerrando o pior mês já registrado pelo indicador acionário da região. Ainda assim, algumas
bolsas de valores conseguiram fechar a semana mantendo parte dos ganhos registrados nos
últimos dias, por conta de um certo otimismo em relação a novos cortes de juros que podem ajudar
a economia global se recuperar.
O Banco do Japão cortou sua taxa básica para 0,3%, a primeira redução de juro feita pelo banco
central japonês em sete anos. Mas o movimento foi menor que o esperado e veio em uma decisão
apertada. A moeda japonesa, o iene, se valorizou e o índice Nikkei da bolsa de Tóquio, acabou
ampliando as perdas que eram registradas antes da decisão, fechando em queda de 5,01%.
Ao longo da semana, o Nikkei atingiu seu menor patamar em 26 anos, mas conseguiu subir cerca
de 30% durante três sessões até a última quinta-feira. A bolsa de Seul, na Coréia do Sul, encerrou
em alta de 2,61%, enquanto o índice acionário de Taiwan subiu 3,99%. O mercado em Cingapura
registrou queda de 0,43%.
Em Hong Kong, o índice local fechou em queda de 2,52%, enquanto que em Xangai a bolsa
registrou desvalorização de 1,97%.
Reuters
(Gazeta Mercantil/Finanças & Mercados - Pág. 2)(Reuters)

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Santander quer ampliar rentabilidade no País

São Paulo, 3 de Novembro de 2008 - Que o grupo espanhol Santander não esteve exposto à crise
das hipotecas, foi às compras para aproveitar as oportunidades que o momento oferece e mantém
lucros em ascensão não é novidade no mundo financeiro. Mas as expectativas do banco para o
Brasil são, no mínimo, ousadas. Em um momento em que as previsões mostram ritmo
desacelerado de crescimento do País em 2009, com um sistema bancário com crédito mais enxuto
sob os efeitos da escassez da liquidez provocada pelo colapso do subprime, a instituição prevê
lucro 27% maior no mercado brasileiro, para R$ 6,1 bilhões no próximo ano, conforme anunciaram
na última sexta-feira os seus principais comandantes, ao detalharem o plano de integração com o
Banco Real, adquirido no ano passado. Para 2010, também nada de parcimônia: o lucro subirá
30% sobre o ano anterior, alcançando R$ 7,9 bilhões. No meio do caminho, o banco planeja
investir no País R$ 2,56 bilhões, particularmente, no aumento da rede, para sustentar o
crescimento que, asseguram os executivos, será orgânico.
"Queremos ser o melhor banco do País", afirmou Emilio Botín, presidente mundial do Santander.
Com a integração, o banco já se posicionou como o terceiro maior privado do Brasil, com 10% de
participação no total de depósitos e de captações, 12% do mercado de crédito, 11% em ativos e 19
milhões de clientes, sendo 8,3 milhões de correntistas. Mas o banco terá de afinar bem suas
estratégia de buscar maior rentabilidade, se quiser ultrapassar Bradesco e Itaú, primeiro e segundo
maiores no ranking brasileiro privado, respectivamente. O lucro pretendido pelo Santander para o
próximo ano já foi alcançado por esses bancos somente no acumulado de 2008 até setembro,
quando o grupo espanhol registrou ganhos de R$ 3,8 bilhões no País, conforme as regras
contábeis da Espanha. Para o final de 2008, a perspectiva é de lucro de R$ 4,8 bilhões, quase
estável ante o de 2007 - quando somados os resultados de Real (R$ 2,9 bilhões) e Santander (R$
1,86 bilhão), mas deverá ser percentualmente bem maior, segundo os critérios espanhóis.
A integração, com ganhos de sinergias locais e globais e reforço na área comercial voltada ao
varejo, somada aos planos de aumento de 15% a 20% no volume de negócios e nas receitas com
clientes e manutenção dos custos operacionais nos próximos dois anos, com melhoria na eficiência
e produtividade, serão as bases para se alcançar esse crescimento, explicou Fabio Barbosa,
presidente do grupo no Brasil. O aumento será resultado também da maior capilaridade. Na
estratégia traçada, estão previstas mais 400 agências, elevando a 2.442 o total em 2011. Conforme
Barbosa, os R$ 2,56 bilhões serão investidos nos próximos dois anos, principalmente, na abertura
dessas lojas, nas adaptações dos sistemas tecnológicos e na montagem da nova sede - excluindo
o prédio, avaliado em R$ 1 bilhão e adquirido este ano.
"Vamos abrir as novas agências e não fecharemos nenhuma das atuais. O Santander aprendeu
com a aquisição do Banespa (em 2000) que quando se fecha uma agência pode-se perder cliente
e não repetirá esse erro", observou Barbosa, completando que os novos pontos-de-venda
fortalecerão a presença do banco nas regiões Sul e Sudeste, onde está mais concentrado, e nas
principais cidades brasileiras. A estratégia de crescimento focada no comercial exigirá ao menos
mais cinco mil funcionários na área de vendas, que responderá em 2010 por 85% do número total
de empregados, em relação aos 76% atuais. Hoje, o grupo tem cerca de 55 mil funcionários no
País. Barbosa disse, entretanto, que não estão definidas demissões nas funções sobrepostas com
a integração. A instituição espanhola sempre afirmou, desde a aquisição do Real, que não planeja
cortes em escala.
Atualmente, as operações brasileiras respondem por 20% dos ganhos do grupo e Botín disse que
o País é parte fundamental no plano de expansão do Santander. "Será um dos motores do
crescimento do banco nos próximos anos." O comandante do maior banco da Espanha, e o que
obtém o maior lucro na América Latina, destacou que a previsão é baseada também no
crescimento econômico sustentável do Brasil, que o fez ser um dos últimos países a sentirem os
efeitos da crise atual, e o seu potencial de expansão, principalmente da classe média, o que
favorece o aumento da população bancarizada, em conseqüência o potencial do setor. "Um
crescimento de 3,5% PIB para 2009 eu acho ótimo, considerando o que se prevê para várias
economias."
Conforme as projeções do Santander, o PIB brasileiro refaz sua rota de crescimento a partir de
2010, alcançando 4,3% em 2013, quando permanecerá nesse nível. Enquanto o dos Estados
Unidos cai a 0,2% em 2009, chegando a 2,2% em 2013, e o da Zona Euro fica em 0,1% e 2,3%,
respectivamente. Botín ressaltou também que o Santander é um banco tão europeu como latino-
americano. O banco está na América Latina há 60 anos e investiu na região US$ 31 bilhões, nos
últimos 10 anos, sendo mais de US$ 23 bilhões no Brasil. "Quem não está presente no Brasil não
está na América Latina." O grupo espanhol acredita que em duas décadas o País poderá ter um
PIB entre US$ 2 trilhões e US$ 3 trilhões, se posicionando entre as cinco maiores economias do
mundo, suplantado apenas pela China, União Européia, Estados Unidos, Índia e Japão. A
bancarização, prevê, deverá dobrar em 10 anos. "O aumento da renda, a melhora do emprego e
da massa salarial e a redução dos juros têm contribuído decisivamente para a inclusão da
população no sistema bancário, também um dos mais sólidos modelos do mundo."
(Gazeta Mercantil/Finanças & Mercados - Pág. 3)(Iolanda Nascimento)

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Banco atento às novas oportunidades

3 de Novembro de 2008 - Emilio Botín, presidente mundial do Banco Santander, disse que pagaria
novamente o que pagou pelo Banco Real e até muito mais. "A aquisição tem sido extraordinária, é
perfeita para os nossos planos de continuar crescendo no Brasil." A compra foi bastante disputada
e, entre as companhias que participaram do consórcio vencedor, o Santander é hoje o único a
colher o fruto do negócio, já que a crise das hipotecas de alto risco levou quase à bancarrota os
seus parceiros de disputa.
Em abril de 2007, o Royal Bank of Scotland (RBS), o belga-holandês Fortis e o espanhol
Santander formaram um consórcio para disputar com o britânico Barclays a compra do holandês
ABN Amro, com ativos espalhados pela Europa e América Latina, incluindo o Real. A disputa foi
bastante acirrada e durou até outubro, quando o ABN fechou a transação com o consórcio, por
US$ 100 bilhões, o maior negócio da história do setor bancário mundial. Coube ao Santander as
operações do ABN na América Latina e o banco italiano Antoveta. A empresa italiana foi vendida
por € 9 bilhões um mês depois, o que significa uma prova do interesse da instituição no Brasil.
Imerso na crise do subprime, o Fortis esteve à beira da falência em setembro e foi salvo pelos
governos da Bélgica, Holanda e Luxemburgo. Já o governo britânico evitou o naufrágio do RBS
injetando 20 bilhões de libras no banco, em operação realizada no final de outubro.
Com caixa, o Santander foi às compras nesse mesmo período e nos últimos três meses realizou
três, entre elas a do Sovereign Bank, dos Estados Unidos, por US$ 1,9 bilhão. A instituição já
detinha 25% do capital do banco norte-americano. Botin disse que no momento o banco não tem
negociação em andamento, contudo, está sempre atento às oportunidades no mercado. No Brasil,
onde está desde 1982, realizou ao menos seis aquisições, entre 1997 e 2000, sendo o Banespa a
mais importante antes do Real. Com essas compras, pode erguer um grupo com ativos totais de
R$ 269,6 bilhões e patrimônio líquido de R$ 24,36 bilhões. A carteira de crédito passa de R$ 133
bilhões e a rede de agências e de postos de atendimento soma 3.551 unidades.
(Gazeta Mercantil/Finanças & Mercados - Pág. 3)(IN)

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Na busca por sinergias de R$ 2,7 bi

3 de Novembro de 2008 - O processo de consolidação do Santander com o Real está em curso


desde que o Banco Central autorizou a fusão, no final de julho, mas acontecerá paulatinamente até
o fim de 2010, quando o grupo espanhol espera já ter acumulado R$ 2,7 bilhões em ganhos com
sinergias, sendo R$ 2,4 bilhões com redução de gastos e R$ 300 milhões com ingressos de
receitas. Desse total, R$ 1,1 bilhão da integração operacional, e R$ 650 milhões de tecnologia e
operações.
Fabio Barbosa, presidente do grupo no Brasil, ressaltou que será rápida e eficiente, já que a
plataforma tecnológica facilita a consolidação. A única dúvida que permanece ainda é a respeito da
marca Banco Real, um símbolo forte, reconhecido mundialmente quando vinculado aos valores de
sustentabilidade e preservação ambiental, que o Santander se compromete a manter. "Estamos
avaliando as vantagens e desvantagens da manutenção da marca. O que é certo é que ela
continuará nos próximos dois anos, pois os sistemas não permitem uma mudança imediata.
Porém, acredito que com o tempo prevalecerá apenas a marca Santander." A decisão ficará para
2010 ou 2011.
Os produtos também continuam separados e serão integrados à medida que os sistemas
comecem a se comunicar. Em fevereiro, os clientes - que têm R$ 208 bilhões no grupo, em dados
de setembro, entre depósitos, poupança e fundos - já devem usufruir parte da estrutura dos dois
bancos, como a realização de operações em terminais de auto-atendimento (ATM), por exemplo,
explicou o executivo. Segundo o plano, até o final de 2009 todas as áreas estarão integradas,
restando para o ano seguinte apenas as de cash management e internet banking. A consolidação
será mais ágil, em especial, porque os bancos têm baixa sobreposição de clientes, sendo o
Santander mais ativo no segmento corporativo e o Real junto ao consumidor.
Entre os ganhos com sinergias, um dos destaques é a redução da estrutura administrativa, hoje
espalhada por 15 edifícios, o que ajudará a ampliar a área comercial. A instituição espera ganho
potencial de R$ 250 milhões reduzindo dos 188 mil metros quadrados hoje para 118 mil metros
quadrados em 2011.
(Gazeta Mercantil/Finanças & Mercados - Pág. 3)(IN)

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Barclays vai ceder 32% do capital ao Oriente

Londres, 3 de Novembro de 2008 - O Barclays planeja levantar £ 7,3 bilhões, ou US$ 11,8 bilhões,
com a emissão de ações para Abu Dhabi e Catar para cumprir suas novas necessidades de capital
sem ajuda do governo da Grã-Bretanha A instituição emitirá £ 5,8 bilhões em notas conversíveis, o
que pode deixar os investidores do Oriente Médio com até 32% do seu capital. Os adicionais £ 1,5
bilhão serão levantados pela emissão de ações para os acionistas novos e existentes.
"O Barclays merece crédito por ser capaz de levantar esse capital", disse Adrian Darley, gestor de
fundos da Resolution Asset Management. "Mas isso também é dilutivo para os acionistas e mesmo
sendo suficiente para manter o banco em operação, a pergunta que permanece para o Barclays é
se será suficiente para oferecer flexibilidade para o banco ir atrás de oportunidades na presente
situação do mercado", disse.
Ao contrário do Royal Bank of Scotland, HBOS e Lloyds, o Barclays rejeitou, no mês passado,
assistência do governo porque os recursos seriam disponibilizados mediante restrições sobre os
pagamentos de bonificações e dividendos.
(Gazeta Mercantil/Finanças & Mercados - Pág. 3)(The New York Times)

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Investidores protestam contra perdas

Hong Kong, 3 de Novembro de 2008 - Centenas de investidores de Hong Kong protestaram na


última sexta-feira contra as perdas ligadas a investimentos no falido banco norte-americano
Lehman Brothers. Muitos deles idosos aposentados, os investidores fizeram manifestações em oito
bancos que venderam a eles produtos estruturados pelo Lehman, incluindo o ABN Amro, o
Standard Chartered, o Bank of China, o Citic Ka Wah e o DBS Bank, clamando por compensações
por seus prejuízos.
Alguns investidores tentaram invadir uma agência do DBS em Honk Kong, entrando em conflito
com seguranças. O DBS informou que um centro dedicado aos clientes foi criado para lidar com
assunto. O banco central de Hong Kong informou que tornará disponível serviços de mediação e
arbitragem entre investidores e bancos, com o objetivo de "estabelecer acordos de uma maneira
rápida ou diminuir as questões em disputa". Investidores em Cingapura e Indonésia também foram
às ruas em protesto ante as perdas com derivativos.
(Gazeta Mercantil/Finanças & Mercados - Pág. 3)(Reuters)

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Aracruz terá taxa alta mesmo em reais

São Paulo, 3 de Novembro de 2008 - A Aracruz dificilmente se livrará de um endividamento pesado


e caro mesmo que elimine por completo a exposição em derivativos cambiais e transforme a dívida
em reais. A informação de que teria, finalmente, liquidado as posições, deu ânimo às ações da
empresa, que subiram 27,4% nos últimos dois dias no pregão da BM&F Bovespa. Com uma
exposição de pouco mais de US$ 10 bilhões, a empresa teria conseguido travar a maior parte das
posições a um câmbio de R$ 2,10.
Questionada sobre o tema pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM), a empresa negou que
tenha concluído as conversas com os bancos credores. Fontes próximas às negociações, porém,
confirmam que a maioria das posições já foi travada, embora o valor da perda não esteja definido.
Como não dispõe de recursos suficientes em caixa para liquidar os contratos, a Aracruz continuará
devedora das instituições financeiras com quem fechou os contratos. Por isso, a desmontagem das
operações com derivativos não representa o fim dos graves problemas da empresa, segundo
analistas. A expectativa é de que um acordo seja fechado nos próximos 30 dias. As instituições
financeiras já aceitaram alongar o pagamento da dívida.
Ainda que consiga um prazo mais longo, o custo dessa nova dívida em reais sairá caro, já que as
taxas de juros internas estão em patamares elevados e as condições de crédito pioraram muito.
Também pesa contra a Aracruz a perda da condição de grau de investimento por duas agências de
classificação de risco. "Independente da solução, essa dívida deverá contaminar os resultados da
empresa por muito tempo", afirma o analista Pedro Galdi, da SLW Corretora.
Em situações normais, a Aracruz teria plenas condições de arcar com os custos da dívida em um
prazo mais longo, já que possui uma forte e consistente geração de caixa. A barbeiragem com
derivativos, no entanto, aconteceu em um momento ruim para as empresas de papel e celulose,
com a queda no preço e na demanda pelos produtos. "As inversões de ciclo no setor costumam
ser violentas", lembra um profissional de mercado.
A conclusão das negociações dos derivativos não deve livrar a empresa de outros problemas,
como ações judiciais de acionistas contra a administração. Enquanto negocia com os credores, a
Aracruz ao mesmo tempo se prepara para proteger a companhia e os membros da administração
de possíveis processos. O saldo de todo o imbróglio no qual a empresa se meteu por conta da
disparada do dólar também será importante para avaliar o futuro do processo de fusão entre
Aracruz e VCP. Apesar de todos os problemas financeiros, a companhia possui ativos muito
cobiçados, não apenas pela Votorantim como por outros grupos.(Gazeta Mercantil/Finanças &
Mercados - Pág. 1)(Vinícius Pinheiro)

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Copom e dados do câmbio são destaque

São Paulo, 3 de Novembro de 2008 - O mercado inicia a semana atento à temporada de


divulgação de resultados trimestrais das companhias abertas. Os impactos da exposição das
empresas à variação cambial e as operações de derivativos nos resultados seguem no foco do
mercado.
Prometem mexer com a cotação do dólar as divulgações do movimento de câmbio e a posição dos
bancos pelo Banco Central (BC) na quarta-feira. O anúncio da ata do Comitê de Política Monetária
(Copom) na quinta-feira também atrai a atenção do mercado. O documento trará informações
sobre a recente "pausa técnica" feita pelo colegiado no ciclo de aperto monetário. O Copom decidiu
manter a taxa básica de juros (Selic) inalterada em 13,75% ao ano na última quarta-feira.
Também na quinta-feira o mercado conhecerá a decisão do Banco Central Europeu (BCE) sobre a
taxa básica de juros da zona do euro, atualmente em 4,25 % ao ano. A expectativa é de que o BCE
siga os passos do Federal Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos) e promova um novo
corte no juro básico. O Fed cortou os Fed Funds, a taxa básica de juros do país, em 0,5 ponto
percentual para 1% ao ano na semana passada.
O mercado de câmbio interrompeu a série de quatro quedas consecutivas na cotação do dólar e
fechou o pregão da última sexta-feira em alta de 2,52%, cotado em R$ 2,158 na venda. A moeda
norte-americana acumula perdas de 8,48% na semana e ganhos de 10,50% no mês e 19,42% no
ano.
No último pregão do mês, a tradicional disputa pela Ptax agitou o mercado. O vencimento de
operações de derivativos de algumas empresas adicionou volatilidade ao pregão. "Provavelmente
as empresas estão diminuindo a exposição em dólar e não querem fechar o mês com esta
pendência contábil", afirmou o gerente de câmbio do Banco Prosper, Jorge Knauer. O mercado
estima que a Aracruz tenha zerado o restante de suas operações em dólar e que a Sadia esteja
aguardando um câmbio mais favorável para liquidar os contratos.
Outros fatores que puxaram a cotação do dólar para cima é o ajuste técnico após quatro quedas
consecutivas e o fato de o mercado não querer passar o final de semana descoberto, visto que os
últimos finais de semana foram marcados por anúncios preocupantes de bancos nos Estados
Unidos.
Na Bolsa de Mercadorias e Futuros (BM&F), o contrato DI de janeiro de 2010, o mais líquido,
registrou taxa anual de 15,59%, ante 15,56% do ajuste anterior.
(Gazeta Mercantil/Finanças & Mercados - Pág. 2)(Ana Cristina Góes)

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Bolsas dos EUA têm alta

3 de Novembro de 2008 - As bolsas norte-americanas tiveram em outubro um dos piores meses já


registrados, mas sinais de descongelamento dos mercados de crédito impulsionaram as ações na
última sexta-feira.
O índice Dow Jones teve alta de 1,57% a 9.325 pontos. O índice S&P 500 subiu 1,54%, a 968
pontos. O Nasdaq avançou 1,32% a 1.720 pontos. Na melhor semana desde outubro de 1974, o
Dow subiu 11,3%. O índice S&P 500 avançou 10,5% no período, maior alta semanal desde janeiro
de 1980. O Nasdaq ganhou 10,9% de segunda a sexta-feira. Afetado por preocupações sobre o
tamanho dos danos da crise de crédito na economia global, o Dow Jones registrou a maior queda
mensal em uma década, enquanto o S&P 500 tive o pior mês desde a quebra da bolsa de outubro
de 1987. Para o Nasdaq, o recuo mensal foi o maior desde fevereiro de 2001.
As ações financeiras, lideradas pelos ganhos de quase 10% do JPMorgan Chase, impulsionaram
Wall Street à medida que as taxas de juros interbancárias de curto prazo continuavam em queda.
O recuo dos custos dos empréstimos interbancários elevou as esperanças de que os esforços
globais para impulsionar a confiança nos mercados de crédito estão se segurando após os cortes
do juro pelo Fed.
Reuters
(Gazeta Mercantil/Finanças & Mercados - Pág. 2)(Reuters)
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Europa sobe com bancos

3 de Novembro de 2008 - As bolsas de valores européias fecharam em alta na última sexta-feira,


no quarto dia de rali, impulsionadas pelos papéis do setor petrolífero e farmacêutico. No final da
sessão, houve alta no setor bancário, apesar das ações do Barclays terem caído depois que o
banco vendeu participação a investidores do Oriente Médio.
O índice das principais ações européias FTSEurofirst 300 registrou alta de 2,79% para 928 pontos.
O índice registrou valorização de 11,9% na semana, mas teve perda de 12,7% em outubro, na pior
queda desde setembro de 2002, quadro alimentado pela crise de crédito e pela conseqüente
desaceleração econômica. O consenso geral é que é uma reação de vôo da galinha, segundo
afirmou Gareth Williams, estrategista de ações européias do ING. "Mas ainda é cedo para dizer. Há
muitos sinais positivos vindo de vários tipos de fontes", disse Williams. "Mas há sinais negativos da
economia. Talvez o mercado tenha que testar as baixas novamente antes de investidores
acreditarem no rali. A eleição dos Estados Unidos na próxima semana pode ser um catalisador
para uma confiança maior.".
Em Londres, o índice Financial Times fechou em alta de 2%. Em Frankfurt, o índice DAX avançou
2,44%, para 4.987 pontos.
Reuters
(Gazeta Mercantil/Finanças & Mercados - Pág. 2)(Reuters)

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GazetaInveste - Ibovespa amarga 41% de queda no ano

São Paulo, 3 de Novembro de 2008 - A bolsa brasileira interrompeu um ciclo de três altas
consecutivas ao encerrar o pregão da última sexta-feira em queda de 0,51%, aos 37.256 pontos. A
desvalorização só não foi maior devido a inversão de tendência das bolsas norte-americanas e
papéis da Vale e Petrobras. Mesmo com a alta da semana (+18,34%), o tombo registrado no mês
reflete as turbulências vividas pelos mercados de capitais (-24,79%), assim como no ano (-
41,68%). O giro financeiro no último pregão foi de R$ 4,77 bilhões.
Nem mesmo o anuncio de paralisação das atividades em algumas minas da Vale, devido ao forte
efeito negativo sobre a produção de aço causado pelo agra-vamento da crise, derrubou os papéis
da mineradora, que fecharam o dia em leve alta. Em comunicado enviado à Comissão de Valores
Mobiliários (CVM), a Vale informou que vai reduzir a produção de minério de ferro, em um volume
equivalente a 30 milhões de toneladas métricas anuais.
"Vários ativos brasileiros ficaram muito baratos devido as fortes quedas registradas nas últimas
semanas. Mas, não podemos afirmar que a volatilidade acabou já que pode haver correções
técnicas tanto para baixo quanto para cima em função de notícias pontuais", afirma Patrícia
Branco, sócia-gestora da Global Equity.
Ainda no mercado doméstico, o barril de petróleo, que operou boa parte da sessão em queda,
acabou fechando a sexta-feira em alta, impulsionando novamente pelas ações da Petrobras, que
subiram cerca de 2%. "Os últimos dias foram de calma no front interno, uma vez que as notícias
que poderiam derrubar o índice já foram divulgadas e não mostraram surpresas", ressalta Patrícia.
Já no front externo, a percepção de que a maior economia do mundo entrará em recessão foi
reforçada com a divulgação do índice que mede os gastos dos consumidores norte-americanos.
Por lá, o índice recuou 0,3% em setembro e mostrou a primeira queda mensal em dois anos e o
maior recuo desde maio de 2005. Mas a notícia não desanimou os investidores, que voltaram a
comprar ativos de risco. Ainda nos Estados Unidos, o presidente do Fed, Ben Bernanke, declarou
que os Estados Unidos precisam ter um forte papel de atuação e apoio na securitização de
hipotecas. "Nossa tarefa agora é começar a pensar sobre a melhor maneira de restabelecer um elo
entre os compra-dores de casa e o mercado de capitais", afirmou Bernanke.
(Gazeta Mercantil/Finanças & Mercados - Pág. 4)(Vanessa Correia/InvestNews)

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GazetaInveste - Eletrobrás busca visibilidade na Nyse

São Paulo, 3 de Novembro de 2008 - A companhia Centrais Elétricas Brasileiras (Eletrobrás)


estreou na Bolsa de Nova York (Nyse) em um momento pouco propício a ofertas públicas, mas
conseguiu fechar na sexta-feira com valorização. Na pré-abertura, as American Depositary Shares
(ADS, depósito de ações) valiam US$ 10,85 e abriram os negócios a US$ 12,25, encerrando a US$
12,44 - valorização de 14,65% no primeiro dia de negociação.
A obtenção do registro na Securities Exchange Comission (SEC) dependeu da adaptação da
contabilidade da Eletrobrás ao padrão contábil US GAAP e do cumprimento da Lei Sarbanes-
Oxley. Segundo o presidente da companhia, José Antonio Muniz, a listagem faz parte do
planejamento estratégico da companhia para melhorar a visibilidade com os acionistas, analistas e
investidores -o que pode tornar a empresa mais competitiva nos leilões de geração e transmissão
de energia com favorecimento de futuras captações, avalia o executivo.
A Eletrobrás já possui, desde 1995, dois programas de American Depositary Receipts do Nível 1.
(Gazeta Mercantil/Finanças & Mercados - Pág. 4)(Maria Luíza Filgueiras)

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GazetaInveste - HOME BROKER - Brascan projeta lucro do JBS

3 de Novembro de 2008 - O frigorífico JBS deverá registrar um lucro líquido de R$ 765 milhões no
terceiro trimestre deste ano, de acordo com projeções da Brascan Corretora. O resultado deve ser
puxado por um ganho financeiro de R$ 663 milhões. A Brascan possui recomendação outperform
(retorno esperado de 5 pontos porcentuais acima do Ibovespa) para os papéis do frigorífico.
Classificação
Fitch mantém nota da Ambev
A agência de classificação de risco Fitch manteve a nota (rating) da cervejaria Ambev em "BBB",
no patamar de grau de investimento e um degrau acima da nota brasileira. A agência havia
colocado a Ambev em observação negativa por conta da aquisição da Anheuser-Busch pela InBev,
controladora da companhia.
(Gazeta Mercantil/Finanças & Mercados - Pág. 4)(homebroker@gazetamercantil.com.br)

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Governança Corporativa - REGISTRO - RATING DO BPN BRASIL

3 de Novembro de 2008 - A Fitch Ratings rebaixou na última na sexta-feira os ratings nacionais de


longo e curto prazo do BPN Brasil Banco Múltiplo, reflexo das preocupações "a respeito da
capacidade de suporte do controlador da instituição, o BPN - Banco Português de Negócios".
"Apesar da Fitch acreditar na disposição de suporte do BPN, em caso de necessidade, as ações
de rating na subsidiária local refletem a possibilidade de alterações na capacidade de apoio do
controlador", informou a Fitch Ratings, em nota.
(Gazeta Mercantil/Finanças & Mercados - Pág. 4)

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Governança Corporativa - REGISTRO - Seminário

A Associação Comercial de São Paulo (ACSP) realiza, no dia 11 de novembro, o II Seminário


"Perspectivas do Crédito no Brasil", na visão da Tendências Consultoria.
(Gazeta Mercantil/Finanças & Mercados - Pág. 4)

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Capital Aberto - Ação de calçadista reflete perda de margem

São Paulo, 3 de Novembro de 2008 - Analistas e investidores aguardam ansiosos os resultados do


terceiro trimestre da indústria calçadista. Apesar do aumento de vendas e até do incremento no
lucro do primeiro semestre do ano, as empresas com ações negociadas em bolsa de valores
mostraram compressão das margens Ebitda, medida de rentabilidade, explicada pelo real ainda
valorizado e o avanço da inflação. A primeira estimulava a compra de produtos importados, em
detrimento dos nacionais, e a segunda desestimulava a aquisição de bens semi-duráveis. Agora, o
câmbio está mais favorável - mas a retração de crédito e o desaquecimento econômico tomam
lugar como possíveis empecilhos à lucratividade do setor.
Entre as quatro companhias do setor listadas na Bovespa, São Paulo Alpargatas e Grendene
apresentam melhores volumes de negociação, mas é a Vulcabras a única que conseguiu elevar
seu valor de mercado no ano - passando de R$ 1,25 bilhão para R$ 1,4 bilhão, tomando a
liderança em capitalização bursátil da Alpargatas. Já a Cambuci, dona da marca Penalty, é o papel
menos visado por ter liquidez muito baixa, não estabelecer uma política firme de comunicação de
mercado e aumentar, a cada semestre, seu prejuízo - que no primeiro semestre de 2007 foi de R$
3,19 milhões e passou para R$ 8,23 milhões no primeiro semestre deste ano.
A manutenção no azul da Vulcabras, que comanda as marcas Azaléia, Reebok e Olympikus, é
justificada nos resultados do semestre - a companhia quase triplicou receita bruta e lucro líquido no
semestre, mas a margem Ebitda caiu de 20,8% para 19%. "A companhia tem liquidez muito restrita
e quem opera esse papel são fundos e não pessoa física", diz Fausto Gouveia, analista da Alpes
Corretora. Ele avalia que, apesar da queda substancial em margem com o avanço de concorrência
principalmente chinesa, Alpargatas e Grendene tendem a ganhar mercado com a depreciação do
real. "A valorização do dólar inibe a entrada de produtos chineses e ajuda na receita de
exportação", considera.
A analista da SLW Corretora, Kelly Trentin, considera a Alpargatas uma compra de oportunidade. A
companhia, que já teve a ação negociada a R$ 158 em agosto do ano passado, é cotada hoje a R$
40,00. "A empresa já está com valor de mercado abaixo do valor patrimonial e o principal apelo é o
valor de negociação atual. Todos os setores estão sujeitos à desaceleração econômica e de
crédito, mas a companhia pode retomar ganhos no terceiro e quarto trimestre", pondera.
De acordo com a Economatica, o valor de mercado da empresa caiu de R$ 2,61 bilhões ao final de
2007 para R$ 689 milhões em 30 de outubro deste ano. O balanço de julho a setembro será um
indicativo sobre o sucesso ou não da Alpargatas em atenuar a pressão nas margens com
renegociação com fornecedores para atualizar os preços dos calçados de suas marcas. No
primeiro semestre, mesmo com o avanço de R$ 565,4 milhões para R$ 662,6 milhões na receita
líquida, de 2007 para 2008, a margem Ebitda caiu de 18,3% para 14,4%.
Na subsidiária argentina da Alpargatas, mesmo com a crise econômica latente naquele país, a
companhia também avançou em vendas e lucro no primeiro semestre - mas o lucro por ação caiu
de R$ 4,11 no ano passado para R$ 1,56 no primeiro semestre deste ano. "Comprar esta ação
agora pode ser interessante até pela sazonalidade da empresa, já que no verão consegue vender
mais sandálias, e este pode ser o ponto de virada da ação", considera Gouveia.
No caso da Grendene, apesar da margem Ebitda no comparativo do primeiro semestre ter caído de
20,9% para 18,6%, o lucro por ação aumentou de R$ 0,787 para R$ 0,808.
(Gazeta Mercantil/Finanças & Mercados - Pág. 5)(Maria Luíza Filgueiras)

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Capital Aberto - Bolsa volta ao radar após tempestade

São Paulo, 3 de Novembro de 2008 - Após mais um mês complicado no mercado financeiro, o
desempenho das aplicações em novembro estará intrinsecamente ligado aos esforços dos
governos para restabelecer a normalidade e a confiança no sistema financeiro global. A avaliação é
do administrador de investimentos Fabio Colombo. A Bolsa foi mais uma vez o pior investimento no
mês passado, com queda acumulada de 24,79%. Já o dólar comercial, mesmo após a queda na
última semana, encerrou outubro com valorização de 10,50%.
O especialista avalia que, após as pesadas perdas ocorridas no Ibovespa desde maio, o investidor
deve continuar no processo de compra gradativa de ações. Para os mais conservadores, os fundos
DI continuam interessantes, pois seguem a política de juros do Banco Central. Por outro lado, com
as perspectivas de volta da inflação após a forte alta do dólar, os juros reais podem ficar
prejudicados nos próximos meses, pondera Colombo. Como opção para diversificação de portfólio,
ele recomenda os títulos públicos indexados à variação da inflação medida pelo IPCA.
Segundo Colombo, as condições do mercado brasileiro estarão sujeitas a quatro variáveis: a
liquidez do mercado, a concessão de crédito, o comportamento do dólar e os índices inflacionários,
pressionados pela alta do dólar.
(Gazeta Mercantil/Finanças & Mercados - Pág. 5)(Redação)

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Capital Aberto - Terceirização para empresas emergentes

3 de Novembro de 2008 - Uma das características marcantes da evolução dos negócios nas
ultimas décadas é a especialização crescente. Até os mais sólidos grupos econômicos foram
levados a optar por aqueles produtos ou serviços nos quais apresentavam competitividade
destacada. A redução das barreiras comerciais e a cultura globalizada varreram do mapa as
antigas reservas de mercado.
Hoje, praticamente qualquer produto ou serviço conta com competidores internacionais. Isso
evidenciou o que já se sabia desde a época de Darwin, "sobrevivem aqueles que mais
rapidamente se adaptam às mudanças", ou também, aqueles que buscam a especialização e
focam suas energias e recursos no que sabem fazer melhor.
Essa realidade levou as empresas a focarem seus recursos na atividade-fim, gerando assim um
aumento acelerado das chamadas atividades terceirizadas, o outsourcing, através das quais a
empresa conta com especialistas externos para desempenhar certas funções que não sejam a sua
razão de existir. A terceirização proporciona enormes ganhos adicionais e flexibilidade, o que pode
significar redução de custos fixos e de necessidades de investimentos.
Atualmente, praticamente todas as companhias contam com processos terceirizados, envolvendo
desde a segurança até a produção. Nos últimos 20 anos, diversas empresas passaram a terceirizar
suas atividades de processamento, entre elas as obrigações fiscais e contábeis, a folha de
pagamento, o processamento de pagamentos e faturamento. Este processo passou a demandar
profissionais especializados e atualizados em legislações, aumentando a segurança administrativa
e diminuindo os riscos de multas e passivos.
A hora da verdadeNo mercado brasileiro surgiu um fator adicional. Pequenos e médios
empresários expostos à globalização identificaram excelentes oportunidades de expansão dos
seus negócios, associando-se a empresas globais, abrindo o capital ou simplesmente vendendo o
negócio.
Em várias situações essas empresas não contavam com um adequado sistema de geração de
informações contábeis e financeiras que lhes permitisse comparar a rentabilidade, custos de
financiamentos e outros fatores críticos com os seus competidores externos. Em outros casos,
existia a convivência com um ambiente de elevados riscos fiscais.
No momento da inserção real no ambiente globalizado aparecem os custos invisíveis de se ter
controles inadequados, na forma de redução do valor da empresa em uma transação ou
associação. A terceirização de processos de suporte surge como uma alternativa para elevar o
ambiente de controles das empresas emergentes e colocá-las no nível das empresas globais, com
significativa redução de necessidades de investimento em estrutura.
Embora a terceirização traga diversos benefícios, o processo precisa ser implementado levando
em consideração um contexto amplo dos negócios da empresa. Essa foi a conclusão de um estudo
da Deloitte finalizado no início de 2008, no qual foram entrevistados 300 executivos sêniores de
empresas nos Estados Unidos, Canadá, Reino Unido e Alemanha.
É preciso ter em mente que não basta terceirizar uma operação ou processo – é necessário
encontrar parceiros que sejam capazes de oferecer soluções integradas e avançadas, permitindo
às empresas emergentes melhorar a gestão de seus processos de negócios. E, com isso, estarem
aptas a buscar clientes, aonde quer que eles estejam.
(Gazeta Mercantil/Finanças & Mercados - Pág. 5)(Luiz Costa - Sócio da área de outsourcing da
Deloitte)

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Capital Aberto - Crise pode ajudar fundos de pensão

Rio de Janeiro, 3 de Novembro de 2008 - Mercado com potencial para crescer até 10 vezes no
Brasil, a previdência complementar fechada encontra na atual crise, por mais contraditório que
possa parecer, o momento oportuno para confirmar os prognósticos mais otimistas dos
especialistas do setor. O economista Paulo Rabello de Castro, doutor em Economia pela
Universidade de Chicago e sócio da SR Rating, justifica que a turbulência global, fruto da crise das
hipotecas subprimes, criou as condições para a retomada da reforma da Previdência. A iniciativa,
projeta Castro, pode contribuir para aumentar a até 60% do Produto Interno Bruto (PIB) o atual
patrimônio dos fundos de pensão do País, hoje equivalente a 17% do PIB.Tal crescimento - viável
no espaço de três décadas, de acordo com o economista - permitiria não só a ampliação para 30
milhões do atual contingente de 3 milhões de participantes do regime de previdência fechada,
como também incorporaria uma parcela mais ampla de trabalhadores ao sistema, hoje
praticamente limitado aos funcionários de estatais.
Popularização
"Nos momentos de crise, a população tende a fazer e buscar meios de aumentar a poupança",
avalia Rabello de Castro, que participa amanhã do painel "A Crise internacional e a Economia
Brasileira", a ser realizado durante o 29º Congresso dos Fundos de Pensão, promovido pela
Associação Brasileira das Entidades Fechadas de Previdência Privada (Abrapp). "O momento
atual, marcado pela crise global, é o mais apropriado para se discutir os instrumentos para
aumentar essa poupança. Essa é a hora de se discutir, por exemplo, a reforma da Previdência
Social."
Para o economista, a reforma poderia colaborar para a popularização dos fundos de pensão, com
o estímulo a criação de novos fundos de entidades de classe e associações organizadas - as
chamadas Fundações de Previdência Associativa (FPAs). Categoria já prevista na legislação
brasileira desde a aprovação da lei complementar 109/2001, as FPAs poderiam contribuir, na
prática, para o que o economista classifica como redistribuição estrutural da riqueza do País.Hoje,
lembra Rabello de Castro, da SR Rating, 80% da população detêm 28% da renda total do País. A
popularização das FPAs, projeta o economista, poderia aumentar para 45% o total da renda detida
pela parcela menos aquinhoada da população. Um processo mais eficiente, de acordo com o
executivo, do que programas compensatórios como o Bolsa Família.
"Hoje, todos se contentam em distribuir o que eu chamo de troco da renda total, por meio do Bolsa
Família", critica Rabello de Castro. "O que eu busco, com essa proposta de reforma dos fundos de
pensão, é uma distribuição estrutural da riqueza do País, por meio do aumento da poupança
interna."
(Gazeta Mercantil/Finanças & Mercados - Pág. 5)(Ricardo Rego Monteiro)

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Capital Aberto - REGISTRO - PAPÉIS EM PROMOÇÃO

3 de Novembro de 2008 - As ações dos mercados emergentes deverão duplicar a partir desta
semana após os bancos centrais do mundo terem baixado juros e o custo do crédito ter caído,
segundo a Merrill Lynch. "Há uma probabilidade razoavelmente alta de que, antes do fim das
baixas, possamos ver essa categoria de ativos ser reconduzida ao seu nível pré-(concordata
do)Lehman (Brothers)", disse Michael Hartnett, estrategista mundial em ações de mercados
emergentes. "As ações dos emergentes passaram por um movimento de venda exagerado e suas
avaliações estão muito baratas."
(Gazeta Mercantil/Finanças & Mercados - Pág. 5)

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Governo registra superávit de R$ 3,9 bi

Brasília, 3 de Novembro de 2008 - A desvalorização do real em 17,1% em setembro fez bem para
as contas do setor público. Os gastos com pagamentos de juros caíram e houve ganhos com
operações de swap cambial, o que contribuiu para a formação de um superávit nominal de R$ 3,9
bilhões no mês. O resultado foi o melhor para setembro em toda a série histórica, iniciada em
1991. "Os juros nominais apresentaram uma queda acentuada no período e a principal causa disso
é o resultado dos swaps feitos pelo BC, de R$ 6,5 bilhões em setembro", explicou o chefe-adjunto
do Departamento Econômico do Banco Central, Túlio Maciel. Os resultados envolvem o governo
central, estados e municípios.
O resultado do superávit primário em setembro foi de R$ 10 bilhões, praticamente o mesmo de
agosto, de R$ 10,1 bilhões. Os gastos com juros nominais, no entanto, caíram fortemente: tinham
chegado a R$ 12,5 bilhões em agosto e ficaram em R$ 6,1 bilhões em setembro. Dessa forma,
assim como setembro apresentou superávit nominal de R$ 3,9 bilhões, em agosto foi registrado
déficit nominal de R$ 2,3 bilhões. Setembro foi o quarto mês de 2008 a apresentar superávit
nominal. Antes, já havia ocorrido em janeiro (R$ 5,5 bilhões); março (R$ 3,9 bilhões) e abril (R$ 3,8
bilhões).
Dados do BC detalham a evolução da dívida líquida, que atingiu saldo de R$ 1,12 trilhão em
setembro (38,3% do PIB); frente R$ 1,18 trilhão em agosto (40,4% do Produto Interno Bruto). A
queda de R$ 55,5 bilhões foi, portanto, de 2,1% do PIB de um mês para outro, o efeito cambial foi
o que mais pesou. "A queda da dívida líquida 1,6% refere-se exclusivamente a desvalorização
cambial", disse Maciel. Para outubro, o BC prevê que a relação entre dívida e PIB deve cair para o
patamar de 37%. Nessa projeção foi considerada taxa de câmbio de R$ 2,11 por dólar.
Resultado primário
A dívida bruta do governo geral atingiu R$ 1,65 trilhão em setembro (56,3% do PIB), frente R$ 1,63
trilhões (55,9% do PIB) em agosto. Enquanto que o fluxo acumulado do resultado primário do setor
público entre janeiro e setembro registrou superávit de R$ 118 bilhões, ou 5,59% do PIB. É o
melhor resultado desde 1994, quando o superávit primário dos nove primeiros meses do ano
representou 5,92% do PIB. Em igual período de 2007, o superávit era de R$ 101 bilhões,
representando 3,97% do PIB. Já o déficit nominal no fluxo acumulado entre janeiro e setembro
deste ano chega a R$ 7 bilhões, ou 0,33%, o melhor percentual de toda a série histórica. Nos nove
primeiros meses do ano passado, o déficit nominal somava R$ 28,1 bilhões, ou 1,5% do PIB.
Meta anual
O fluxo de recursos em 12 meses indica que o superávit primário atingiu R$ 128 bilhões, ou seja,
4,60% do PIB. Está praticamente garantido, portanto, que o País irá superar a meta de superávit
primário de 4,3% do PIB. Também no acumulado em 12 meses, o déficit nominal soma R$ 36,8
bilhões, ou 1,32% do PIB, o percentual mais baixo de toda a série. O fluxo em 12 meses, portanto,
está abaixo da projeção indicada pelo próprio BC em setembro, que estimava déficit nominal de
1,65% no ano.
(Gazeta Mercantil/Caderno A - Pág. 5)(Ayr Aliski)

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Raul Castro virá ao Brasil em dezembro

Havana, 3 de Novembro de 2008 - O presidente de Cuba, Raúl Castro, assistirá à cúpula da


América Latina e Caribe que será celebrada em dezembro no Brasil, realizando, assim, sua
primeira visita oficial ao exterior, informou sexta-feira o presidente Luiz Inacio Lula da Silva, em
visita a Havana.
"Temos a alegria da notícia de que por fim sua excelência vai ao Brasil participar do primeiro
encontro do continente que vamos ter com os países da América Latina e do Caribe sem a
interferência de nenhuma potência", disse Lula, durante a inauguração de uma representação
comercial do Brasil em Havana.
A visita ao Brasil será a primeira de Raúl Castro, de 77 anos, ao exterior desde que assumiu o
comando de Cuba após o afastamento de seu irmão, Fidel Castro. Lula é amigo pessoal do líder
comunista Fidel Castro, que convalesce de um problema de saúde que o afastou do poder em
julho de 2006.
(Gazeta Mercantil/Caderno A - Pág. 5)(AFP)

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Perda de competitividade se agrava em setor de alta tecnologia

São Paulo, 3 de Novembro de 2008 - Após seis anos consecutivos de saldo positivo, a balança
comercial de bens produzidos tipicamente pela indústria de transformação brasileira encerra o
terceiro trimestre do ano no vermelho. O déficit de US$ 4,1 bilhões entre janeiro e setembro de
2008 representa uma deterioração de U$ 20 bilhões em relação ao superávit de US$ 15,5 bilhões
registrado no mesmo período do ano passado. Mas, além de divisas, o resultado mostra que o
setor também perdeu competitividade, principalmente, em segmentos de maior intensidade
tecnológica.
"Esse déficit é quantitativo, mas também qualitativo", disse o economista do Instituto de Estudos
para o Desenvolvimento Industrial (Iedi) Rogério César Souza. Ele afirma que, antes da crise
financeira mostrar o seu lado mais drástico em setembro, indústria já exibia um "deficiente"
dinamismo exportador. Na sua avaliação, a desvalorização cambial pode ser um estímulo às
exportações de manufaturados, mas o cenário de recessão que se desenha nos países centrais
dificulta a mudança de sinal na indústria. "Não será agora que irá mudar", afirmou.
Análise elaborada pela entidade mostra que só a indústria de alta intensidade tecnológica, segundo
classificação adotada pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico
(OCDE), aumentou o déficit em 52% em relação ao ano passado e acumulou saldo negativo de
US$ 16,7 bilhões até setembro, o pior desempenho desde 1997, início da série. O segmento
abrange produtos médico-hospitalares, áudio e vídeo, componentes eletrônicos, equipamentos de
informática e farmacêuticos e aeronáutico, entre outros.
O maior rombo, no entanto, foi apresentado pelo setor de média-alta intensidade, com um déficit de
US$ 22,4 bilhões no período, mais de três vezes superior aos US$ 6,6 bilhões registrados entre
janeiro e setembro de 2007. Com exceção da indústria automobilística, que apresentou superávit
de apenas US$ 1,8 bilhão, máquinas e equipamentos, química, equipamentos ferroviário e outros
segmentos de transporte registraram saldo negativo.
Souza destaca que o real valorizado favoreceu a ampliação de investimentos produtivos, com a
importação de máquinas e equipamentos. Por outro lado, o Brasil intensificou as compras de
componentes eletrônicos, equipamentos de informática, produtos farmacêuticos, de áudio e vídeo.
"O lado cruel para a economia é que País não internaliza essa tecnologia. São os principais
setores que geram o desenvolvimento tecnológico, que tem como resultado final gerar produtos
com maior valor agregado", afirmou o economista à Gazeta Mercantil.
O superávit da indústria de baixa intensidade avançou 18%, atingindo US$ 30,46 bilhões entre
janeiro e setembro de 2008. O setor de alimentos, bebidas e tabaco puxou essa expansão ao
ampliar o saldo positivo de US$ 18 bilhões para US$ 23,67 bilhões em um ano. "O crescimento,
em si, não é ruim, mas também reflete uma mudança estrutural na indústria. O País começa a
apontar para uma pauta de exportação que traduz uma economia dedicada a bens de menor valor
agregado", disse
A maior diversificação da pauta de exportações deixaria o País menos vulnerável à volatilidade do
mercado internacional. A China, exemplifica Souza, além de grande exportadora de baixa
intensidade, também produz média-alta e alta tecnologias. "Ela tem uma indústria mais
diversificada e mais equilibrada."
Os produtos de média-baixa tecnologia reduziram em relação ao ano passado o superávit de US$
7,28 bilhões para US$ 4,57 bilhões nos sete primeiros meses de 2008. A queda é atribuída à
ampliação do déficit no setor de petróleo refinado e carvão, de US$ 2,19 bilhões para US$ 5,2
bilhões no período.
(Gazeta Mercantil/Caderno A - Pág. 4)(Ana Carolina Saito)

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BB e CEF vão reforçar crédito nesta semana

São Paulo, 3 de Novembro de 2008 - O presidente da Associação Nacional dos Fabricantes de


Veículos Automotores (Anfavea), Jackson Schneider, espera que a partir desta semana comece a
ser eliminado o constrangimento de crédito no mercado automotivo com a participação do Banco
do Brasil e da Caixa Econômica Federal no financiamento de automóveis.
Schneider disse que não se chegou a uma medida efetiva para solucionar a falta de crédito no
mercado brasileiro. A afirmação foi feita depois da reunião de sexta-feira no escritório do Ministério
da Fazenda, em São Paulo, com as presenças do ministro da Fazenda, Guido Mantega, o
presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, e os presidentes das montadoras. "Neste
encontro não falamos em valor, mas houve clara receptividade dos bancos", destacou.
"Esperamos que a partir da semana que vem (esta semana), com a liberação dos compulsórios
dos bancos, haja mais liquidez no mercado", disse o presidente da Anfavea.
Schneider disse que há três formas para operacionalizar mais ativamente a participação dos
bancos nos empréstimos . "A primeira seria por meio da compras de carteira de crédito das
financeiras das montadora, o que não é a decisão mais viável, mas garante dinheiro no mercado. A
segunda, seria com o empréstimo feito pelo próprio banco e a terceira seria com o empréstimo
concedido pelo Banco do Brasil aos bancos das montadoras e a financeiras especializadas no
setor automotivo".
Na opinião de Schneider, o problema hoje do setor automotivo não é a diminuição do prazo de
financiamento e a alta taxa de juros, "mas a restrição do crédito que ainda é muito grande".
O presidente da Anfavea destacou ainda que o financiamento para as exportações de veículos já
está começando a se normalizar. "As dúvidas que existem hoje nas montadoras sobre os negócios
no exterior são estruturais. Além do ponto do equilíbrio do dólar, as empresas querem saber a que
dólar o importador vai pagar o produto brasileiro e o tamanho do mercado externo.
Schneider falou que não tinha fechamento do mês de outubro, mas admitiu que o setor automotivo
terá queda nas vendas no mercado interno.
Números preliminares indicam uma queda de 12% nas vendas sobre setembro, com o total de 236
mil veículos emplacados no mês passado.
O presidente da Anfavea destacou que a produção do mercado automotivo brasileiro - que ainda
pode chegar a 3,5 milhões neste ano - é muito importante para o País. "Temos confiança na
retomada deste setor e na qualidade dos nossos produtos".
Sobre as férias coletivas que vêm sendo anunciada pelas montadoras, Schneider falou que a
explicação para a atitude é o comportamento do mercado automotivo brasileiro. "Mas a decisão
das empresas deve-se, por ora, mais à queda nas exportações".
(Gazeta Mercantil/Caderno A - Pág. 4)(Sonia Moraes)

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Com a crise, FMI volta a ter papel central na economia

Paris, 3 de Novembro de 2008 - A expansão econômica dos últimos anos parecia ter relegado o
Fundo Monetário Internacional (FMI) à posição secundária na história, mas a devastadora crise
financeira que teve origem em Wall Street lançou novamente a instituição ao centro do cenário
mundial.
Nos últimos dias, o FMI negociou empréstimos condicionados a Hungria, Ucrânia e Islândia. As
últimas grandes intervenções do fundo datavam da crise asiática de 1997-98 e de seus efeitos
secundários na América Latina.
Esta região sofreu o trauma da década 80-90, quando estavam em vigor políticas de austeridade
impostas pela instituição internacional durante a crise da dívida externa, desencadeada pelo
default mexicano de 1982, para salvar os bancos comerciais internacionais.
Nos últimos anos de bonança, impulsionados pelo aumento do preço das matérias-primas, os
principais países latino-americanos saldaram suas dívidas com o organismo financeiro multilateral,
que deixou de supervisionar suas economias.
Mas a tormenta financeira já começou a fazer estragos, sobretudo na Europa do Leste, e ameaça
as economias emergentes golpeadas pela fuga de capitais, com a desvalorização de suas moedas
e o desaparecimento do crédito.
A Islândia, com 320.000 habitantes e uma economia dependente de seus bancos que emprestaram
no exterior nove vezes o seu PIB, foi o primeiro país da Europa Ocidental a recorrer ao FMI em 32
anos.
A entidade estendeu ao país um empréstimo stand-by, ou seja, condicionado, de US$ 2,1 bilhões,
que deve ser complementado por outros US$ 4 bilhões que seriam oriundos de recursos
emprestados por seus vizinhos nórdicos, além dos Estados Unidos e da Rússia.A Ucrânia, com
menos de duas décadas de capitalismo, já estreou com a ajuda do FMI, com o qual tem pendente
de um crédito de US$ 16,5 bilhões, mas tensões políticas internas impediram que o parlamento
aprovasse um pacote de medidas exigido pelo fundo.
Outro país do ex-campo soviético, a Hungria, endividado em euros e em risco de default depois da
desvalorização da moeda local, o forint, em 20% em outubro, fez um acordo para um empréstimo
de US$ 16,3 bilhões do FMI, que será acompanhado por outro de US$ 8,5 bilhões da UE e outro
do Banco Mundial de US$ 1,3 bilhão. O FMI também, negocia empréstimos com Paquistão e
Turquia.
Enquanto isso, a América Latina tenta evitar cair novamente nas redes do Fundo, apesar da forte
desvalorização de suas moedas nacionais.
Os bancos centrais de Brasil e México gastaram dezenas de bilhões de dólares de suas reservas
para defender o real e o peso, o primeiro desvalorizado em 40% nos últimos meses.
O Federal Reserve americano veio ajudar esses países esta semana com linhas de swap de US$
30 bilhões cada para ajudar a troca de moeda local, por considerar que suas economias estão bem
administradas. Ajudas semelhantes foram estendidas a Cingapura, Coréia do Sul e Nova Zelândia.
Ao mesmo tempo, o diretor-gerente do FMI, Dominique Strauss Kahn, anunciou esta semana em
Washington uma taxa de empréstimo a curto prazo sem condições para os países "bem
administrados".
Além de Brasil e México, o Chile também poderá ser beneficiado por esta modalidade. Entretanto,
os analistas se preocupam com os países excluídos, cuja percepção de risco pode subir.
A Argentina, com um alto nível de endividamento e sem terminar de saldar o default de 2001, ficou
excluída desta facilidade.
Strauss Kahn, um ex-ministro de finanças socialista afirma, no entanto, que o FMI já não é o
mesmo desde que chegou reformando o sistema de direitos de votação.
Strauss Kahn afirma que o FMI "aprendeu com os erros do passado" e diz que proporá no dia 15
de novembro, em Washington, aos países do G-20 "um novo plano de governabilidade" do sistema
financeiro.
(Gazeta Mercantil/Caderno A - Pág. 5)(AFP)

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Toda crise cria oportunidades, diz ex-ministro

São Paulo, 3 de Novembro de 2008 - Da "bolha econômica" furada pela concordata do Lehman
Brothers ainda escorre o crédito, ou a escassez dele, que já não sacia mais o apetite do
agronegócio brasileiro. Problema que para o ex-ministro da Agricultura Roberto Rodrigues já havia
se instalado antes mesmo do fatídico 14 de setembro, que marcou a quebra da instituição
financeira americana e o início da atual crise mundial.
O coordenador do Centro de Agronegócios da Fundação Getúlio Vargas (FGV) e presidente do
Conselho Superior de Agronegócios da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (FIESP),
é capaz até de prever o "pior dos mundos", sem no entanto acreditar nele. Escassez de crédito,
descapitalização do setor produtivo - e a conseqüente perda da capacidade de investimento -,
endividamento, inflação, perda da capacidade de exportação e o inevitável desmanche do
superávit da balança comercial. Essas seriam conseqüências que a economia brasileira poderia
experimentar caso não aproveitasse as oportunidades geradas pela crise e já avistadas por
Rodrigues.
Segundo ele, "toda crise gera também oportunidades", para aproveitá-las bastaria criar e
administrar os instrumentos de regulação adequados. Um deles seria a política de "preços
mínimos", prevista em lei e, de acordo com o ex-ministro, capaz de trazer à balança comercial
brasileira do agronegócio, mercados que certamente serão abandonados pelos países
desenvolvidos em decorrência do atual momento econômico, - solução que passa pela garantia de
viabilidade da safra 2010. Garantia essa que só poderia ser conquistada mediante a liberação de
crédito rural, recurso oferecido pelo governo federal e pela força de medidas, mas que não
consegue atravessar com tanta facilidade o caminho dos bancos para alcançar o produtor agrícola.
Em entrevista à Gazeta Mercantil, Roberto Rodrigues aponta a direção a ser seguida pelo crédito e
pelo governo para que o País encontre o atalho da maior crise financeira dos tempos modernos.
Gazeta Mercantil - Qual a conseqüência imediata dessa retração de crédito agravada pela crise
econômica?
Estamos diante de uma safra cara e com menos crédito, seja por problemas anteriores e nacionais,
seja por problemas agravados por causa da crise. Esse fato tem dois reflexos naturais, o primeiro é
uma redução da área plantada. A expectativa que se tinha de crescimento já está sendo
desmanchada, tanto é verdade que o setor de fertilizantes que teve o melhor primeiro semestre da
história, tem um dos piores segundos semestres, houve então uma reversão das expectativas. A
outra questão é a redução do padrão tecnológico. Como o crédito está muito mais caro, o agricultor
acaba usando menos tecnologia e restringe o horizonte produtivo lá na frente. Isso já é dado, já
aconteceu. O que ainda pode acontecer é um desânimo dos produtores em relação à safra que vai
ser plantada em 2009.
Gazeta Mercantil - Esse desânimo é generalizado? Como essa redução de área cultivável vai
impactar na relação oferta/demanda?
Os países desenvolvidos vão provavelmente diminuir o plantio e ficar pedalando a safra porque
terão "target price" (preço mínimo). Isso significa uma menor oferta de produtos agrícolas para
2010. Ano que vem já está garantido, não tem mais o que discutir. Na hipótese, que eu considero
pouco provável, de os preços caírem durante a colheita da nossa safra a partir de março, nós
viveríamos o pior dos mundos. Teríamos uma safra cara com pouco crédito, baixa produtividade e
preços ruins. E se isso acontecesse, haveria uma brutal descapitalização do setor, perda de
capacidade de investimento e endividamento. Ficaríamos com uma reduzida capacidade de plantar
a safra em 2009 de modo que no ano seguinte teríamos uma safra pequena no Brasil, somada à
uma safra pequena no hemisfério norte. Essa situação levaria à uma inflação de alimentos e uma
redução na capacidade de exportação desmanchando nosso superávit comercial. Seria um
desastre para o País.
Gazeta Mercantil - E como evitar esse desastre por aqui?
Precisamos transformar o risco em oportunidade, e esse instrumento já existe. Há uma lei no dos
anos 70 chamada PGPM - política de garantia de preços mínimos -, é uma lei que permite que o
governo interfira caso o mercado pratique um preço abaixo daquele estabelecido pelo governo,
seja comprando, seja financiando a estocagem, seja pagando a diferença entre o preço de
mercado e o preço mínimo de garantia. Precisamos fazer um recálculo desses preços com base no
comportamento do mercado nos últimos dias, e ainda colocar no orçamento do ministério da
Agricultura recursos orçamentários suficientes para executar a política de preços mínimos.
Gazeta Mercantil - Isso aceleraria o processo de viabilização de crédito?
A aventura acabaria porque o produtor sabe que vai plantar com garantia que vai receber um preço
mínimo lá na frente. Os bancos perdem o medo do risco porque esse preço mínimo também é
garantia de retorno de investimentos. É hora do governo ressuscitar um instrumento que já existe
por lei e basta decisão política e obviamente econômica. Se isso acontecer o governo dará ao País
uma oportunidade formidável de em 2010, com uma safra boa, ocupar mercados que serão
perdidos por outros países. E o governo está sendo muito ativo no processo. A Câmara dos
Deputados já está analisando o orçamento para voltar a praticar a política de preços mínimos.
Esse é um cenário onde a crise pode ser transformada em uma grande oportunidade para a
agricultura e para o Brasil. Mas além disso tem um outro problema ainda mais emergencial que são
os ACC’s (Adiantamento de Contrato de Câmbio).
Gazeta Mercantil - Como garantir à indústria do agronegócio o fluxo das exportações, e à balança
comercial brasileira o peso da receita que vem do mercado internacional?
O governo tá prometendo resolver isso (o problema dos ACC’s) rapidamente via BNDES (Banco
Nacional de Desenvolvimento Social), mas existem alguns setores que já estão estrangulados, um
deles, o mais estrangulado, é o setor sucroalcooleiro. As usinas que exportam açúcar e álcool não
estão conseguindo financiamento para exportação e não podem pagar os produtores de matéria-
prima, com isso a renda rural vem sendo represada lá atrás, o que tem um efeito dominó muito
negativo sob as regiões canavieiras. Este problema por enquanto está restrito à área canavieira,
mas já se aproxima dos frigoríficos, do suco de laranja e de qualquer outro segmento agroindustrial
que esteja alavancado em dólar. A alocação de recursos de ACC’s é absolutamente indispensável
para destravar a questão da renda rural nas cadeias produtivas que dependem da industrialização.
Gazeta Mercantil - A agricultura brasileira viveu uma crise em 2004 e agora, quatro anos depois, já
enfrenta uma nova turbulência. Esse curto período de alta não foi suficiente para o produtor se
recuperar. Como o governo deve intervir nessa situação de endividamento explícito?
O governo encaminhou uma solução de rolagem dessa dívida mas o assunto não foi encerrado
ainda, e é por isso que uma parcela de produtores que tinham dívidas e não puderam rolar essas
dívidas perderam acesso ao novo crédito. Aí entra a burocracia pública, que inibe a rapidez do
processo, que por sua vez se cristaliza.
Gazeta Mercantil - Qual a real capacidade de crescimento da agropecuária brasileira?
380 milhões de toneladas de grãos é o número limite da nossa capacidade de produção e não há
tempo limite para chegar lá, pode demorar 50 ou 15 anos. Temos um crescimento potencial
horizontal para dobrar a área. Nós temos hoje 72 milhões de hectares cultivados e outros 96
milhões de hectares ocupados com pastagem perfeitamente agricultáveis. Além disso existe a
possibilidade de crescimento vertical. A produtividade média de milho no Brasil hoje é de 72 sacas
por hectare, mas os campeões do Paraná chegam a 200 sacas.
Gazeta Mercantil - E como essa produção brasileira vai abastecer o mercado externo?
Nos últimos sete anos, a produção mundial de grãos foi 120 milhões de toneladas menor do que o
consumo, ou seja, houve um déficit. E o Brasil nesse período teve um superávit de 160 milhões de
toneladas. Se não fôssemos nós esse déficit global seria de quase 300 milhões de toneladas.
Então o Brasil já vem sendo um País diferenciado nesse cenário global. Em termos de mercado,
avançamos mais em relação aos países em desenvolvimento, os emergentes, porque a renda per
capita deles cresce mais que a renda per capita dos países desenvolvidos, e a população também.
Nos mesmo sete anos, nós tivemos um crescimento ao ano de 11% das exportações para os
países desenvolvidos - o dobro da média mundial -, mas para os países emergentes nós
exportamos 21% a mais. Então temos um potencial que poucos têm de conquistar esse mercado,
mas para isso nós temos que cuidar da renda rural através de instrumentos de crédito adequados,
temos que ter uma logística melhor. Nós estamos sucateados em termos de rodovias, ferrovias,
portos. Temos que fazer investimentos vigorosos e o PAC (Plano de Aceleração do Crescimento)
está aí para isso. Temos que fazer a promoção comercial e acordos bilaterais para abrir mercados.
Gazeta Mercantil - Como deve se comportar a demanda mundial, tanto por proteína animal, quanto
por grãos? E os preços?
Todas as previsões são de um crescimento da demanda mundial por proteína animal e por
oleaginosas, bem como frutas e legumes, e uma redução de raízes, tubérculos e cereais não
protéicos. Essa é uma tendência irrecorrível. Se você olhar para o mercado mundial agrícola vai
ver que os preços têm uma ciclotimia sistêmica determinada pela oferta e demanda, porém a
resultante dessa ciclotimia é uma tendência permanente declinante de preços. Isso porque a
tecnologia aumenta a oferta, e se a demanda não aumentar na mesma direção os preços
sistematicamente caem, razão pela qual eu questiono o discurso de que teria acabado o tempo dos
alimentos baratos. Isso está errado, os preços tendem a cair. O que acontece hoje é um
movimento de demanda superior à oferta determinado pela renda crescente nos países em
desenvolvimento. Com a crise passou a haver uma pressão sobre essa demanda que poderá
determinar uma redução do consumo dos produtos de maior valor agregado como a carne, mas é
uma curva da crise, tanto pode ser para baixo da tendência ou para cima, mas ela é sempre
declinante, de forma que em qualquer circunstância essa curva será superada por outra curva.
Tendência essa que continuará no longo prazo. Vales ou picos de preços, e também a demanda de
consumo, fazem parte dessa resultante.
Gazeta Mercantil - E sobre as novas fronteiras agrícolas?
Os eixos de avanço da agricultura são suportados pela logística. Quando eu era ministro, o
Maranhão tinha uma logística desenhada e vantagens tributárias dadas pelo governo de lá em
relação ao ICMS. Hoje, no Piauí tem uma logística interessante, indústrias estão indo para lá fazer
a moagem na região. Então o que vai determinar esses eixos de crescimento em direção às novas
fronteiras é a logística, que hoje ainda consome 20% do PIB brasileiro.
(Gazeta Mercantil/Finanças & Mercados - Pág. 11)(Gilmara Botelho)

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STJ muda entendimento e sócio tem que provar inocência fiscal

São Paulo, 3 de Novembro de 2008 - Apesar de o novo Código Civil já prever que nos casos de
abuso da personalidade jurídica como, por exemplo, a confusão patrimonial, a responsabilidade
caberá aos administradores e sócios e isso se estenderá aos seu patrimônio pessoal, outra
preocupação tem atraído a atenção desses profissionais. Trata-se de um novo entendimento que
tem sido adotado pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ). Até maio deste ano, a Corte sustentava
que o integrante de uma pessoa jurídica somente respondia com seu patrimônio pessoal por uma
dívida caso fosse comprovado que ele agiu com dolo, fraude, se tivesse praticado ato com excesso
de poderes, infringido a lei, contrato social e os estatutos. Além disso, o ônus da prova caberia ao
credor. Um novo posicionamento do STJ, entretanto, tem sinalizado uma mudança de
entendimento sobre o tema, "pelo menos no que se refere aos casos em que a execução fiscal é
fundada em Certidão da Dívida Ativa (CDA), na qual o nome do sócio, diretor ou gerente já vem
inscrito ao lado do nome da pessoa jurídica", explica o sócio do Suchodolski Advogados
Associados, André Pagani. Segundo ele, nesses casos, a Corte vem entendendo que cabe ao
integrante da pessoa jurídica provar sua inocência. "O problema que é que agora são os
empresários que terão de provar que agiram devidamente e, enquanto não comprovarem a
inocência, terão o patrimônio comprometido por penhoras, arrestos ou, até mesmo, pelo simples
fato de constarem como ‘executados’ nas certidões que são solicitadas para transações
imobiliárias", afirma o advogado.
Segundo Pedro Lessi, do Lessi e Advogados Associados, os problemas não param por aí porque o
administrador e o sócio não só respondem pelo ato praticado, como também solidariamente. "O
sócio, ao deixar a sociedade, continua respondendo pelo atos, da data em que se retirou da
sociedade até quando completar cinco anos, isso é uma forma de evitar a sonegação fiscal, e isso
aumenta ainda mais a carga de responsabilidade do profissional", diz.
Outro obstáculo que deve ser enfrentado pelos sócios e administradores é que, ao serem
executados pelo Fisco, "normalmente eles já se desligaram da empresa e não têm acesso aos
seus livros e documentos contábeis, o que torna praticamente impossível a sua adequada defesa
em Juízo", diz Fabiano Ferrari, do Suchodolski. "A dificuldade é que é muito comum, após ter se
desligado de uma empresa há anos, o profissional ser surpreendido com o bloqueio de sua conta",
explica José Eduardo Carneiro Queiroz, do Mattos Filho, Veiga Filho, Marrey Jr. e Quiroga
Advogados ressalta que essas não devem ser as únicas preocupações de sócios e
administradores. "O profissional não pode ser omisso ou agir com negligência, pois responderá
caso seu ato prejudique a empresa. Ele tem de lembrar que sua administração tem de ser
proativa", alerta o advogado.
Cuidados
O STJ ainda não pacificou o tema sobre a responsabilização de sócios e administradores, mas
caso prevaleça a orientação de que o ônus da prova cabe a esses profissionais, os cuidados
deverão ser redobrados, afirma André Pagani. Ele diz que medidas como um contrato social ou
estatuto bem escrito e que delimite os poderes de cada um dentro da sociedade são
imprescindíveis. Além disso, tem de integralizar o capital social e mantê-lo em valor compatível
com as atividades da empresa, cumprir a lei, manter um arquivo pessoal com cópias de todos os
atos societários praticados, bem como cópias de todos os comprovantes de recolhimentos de
tributo", aconselha. Pedro Lessi diz que é importante ter uma administração transparente, agir com
boa-fé e quando se desligar de uma sociedade, registrar o ato na junta comercial. José Eduardo
Queiroz ressalva que é necessário acompanhar e fiscalizar as ações do departamento jurídico para
saber se todas as obrigações foram cumpridas. "Tem de entrar no site da Receita e pedir a certidão
negativa de débito para saber da vida fiscal da empresa e não desviar a finalidade do negócio para
não comprometer seu patrimônio pessoal", afirma Fabiano Ferrari.
Seguros
Apesar de alguns advogados acreditarem que o aumento da responsabilidade dos sócios por
ações praticadas na empresa causarem "temor e desconforto" na hora de incluírem o nome no
contrato social, a crença maior é no sentido de que o seguro conhecido como directors & officer
(D&O) devem expandir ainda mais. "Essa prática é comum e apesar de não garantir que a conta
não será bloqueada, pode proteger o patrimônio pessoal do profissional, com exceção de fraudes",
alerta Pedro Lessi. Segundo Fernando Coelho dos Santos, proprietário da Corretora Coelho dos
Santos, o seguro arca com o valor indenizatório determinado pela Justiça (desde que não tenha
havido má-fé), cobre os honorários e fornece financiamento para que o empresário possa ter
dinheiro para cobrir as contas do dia-a-dia.
(Gazeta Mercantil/Caderno A - Pág. 9)(Andrezza Queiroga)

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Opinião - A reforma tributária e a crise financeira

3 de Novembro de 2008 - Tendo recebido a visita do eminente deputado Sandro Mabel, relator da
reforma tributária na Câmara dos Deputados, discutimos as alterações que propôs para o projeto
governamental. O eminente parlamentar melhorou, consideravelmente, a proposta oficial, embora
remanesçam questões de difícil solução, impossíveis de avaliação sem que o governo apresente
os anteprojetos de leis complementares e ordinárias correspondentes.
Em 1965, quando da promulgação da Emenda Constitucional 18/65, que deu contornos ao atual
sistema tributário, já havia o anteprojeto de Código Tributário Nacional, com o que se podia
vislumbrar como ocorreria a implantação do sistema.
Não se sabe, pelo projeto, como será conformado o novo imposto federal (IVA-F), para o qual o
deputado Sandro Mabel, no seu anteprojeto, buscou estabelecer balizas; nem como funcionarão os
Fundos de Desenvolvimento e Estabilização.
O próprio regulamento, a ser produzido por um novo Confaz (Conselho Nacional de Política
Fazendária), é uma carta branca, sem perfil definido. O deputado Sandro Mabel, sabiamente,
impôs a adesão absoluta dos Estados a sua formatação.
De qualquer forma, entendo que deveria, o governo federal, apresentar os projetos de leis
ordinárias e complementares, para que se possa avaliar o conteúdo e o alcance da reforma
proposta, lembrando que, como está, ganhando a União um novo imposto (IVA-F) e mantendo o
seu poder de criar as contribuições que quiser, por força do artigo 149 da Constituição Federal, terá
maiores possibilidades, no futuro, de aumentar a tributação, por lei ordinária, que agora.
Pessoalmente, entendo que, a par de apresentar os projetos de legislação infraconstitucional,
deveria o governo retardar sua discussão, visto que a crise internacional deverá durar, como diz o
presidente do Banco Central (BC), alguns trimestres. A situação atual não permite avaliar todas as
conseqüências que a crise trará à economia brasileira, nem a participação do governo para
neutralizá-las. Entendo, portanto, que o Brasil deveria, primeiro, enfrentar a turbulência, para,
depois, realizar a reforma tributária.
Idéia, todavia, que deve merecer atenção do governo, é a que consta de projeto de lei de deputado
do PT, no primeiro governo Lula, de anistiar-se o investidor brasileiro que tenha aplicado recursos
no exterior, sem declarar seu investimento, estabelecendo uma alíquota reduzida para pagamento
do tributo, desde que os fizesse retornar ao Brasil.
Como se calcula que esses investimentos andam em torno de US$ 150 bilhões, e como o cenário
internacional já não é mais este porto de segurança do passado, uma iniciativa desta natureza
permitiria ao governo fortalecer suas reservas, que terão que ser utilizadas, durante a crise
cambial.
Nada obstante as boas alterações propostas pelo deputado Sandro Mabel, em momento de
conturbação econômica, a reforma deveria esperar.
kicker: Entendo que o Brasil deveria, primeiro, enfrentar a turbulência, para, depois, realizar a
reforma tributária
(Gazeta Mercantil/Caderno A - Pág. 9)(Ives Gandra da Silva Martins - Professor e presidente do
Centro de Extensão Universitária (CEU). )

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Opinião - Capitalizando o cenário tecnológico global

3 de Novembro de 2008 - Uma revolução tecnológica silenciosa está em curso atualmente diante
dos nossos olhos e as economias emergentes e em desenvolvimento do mundo estão fornecendo
o exemplo. Um novo "cenário tecnológico" global está substituindo os modelos tradicionais de
adoção tecnológica e a maneira como sua infra-estrutura básica é formada.
O primeiro estágio é o telefone celular. Nas atuais economias emergentes, os telefones celulares
estão equilibrando o mercado rapidamente, pois, diferentemente dos sistemas tradicionais de
telecomunicações, os sistemas móveis viabilizam uma conexão imediata e tendem a ser mais
econômicos e fáceis de usar. Com isso, começa uma estimulante era de criação de pequenas
empresas locais em muitos países emergentes. Os números que comprovam esse fenômeno
impressionam: hoje, existem 2,7 bilhões de telefones celulares em uso, mais da metade da
população mundial. A União Internacional de Telecomunicações informa que 68% das assinaturas
de telefones celulares do mundo estão nos países em desenvolvimento.
O segundo estágio é o núcleo da computação. Uma das maiores ironias da era da internet, que é
um símbolo global de liberdade e acessibilidade, é depender, ainda, de tecnologias e padrões
restritos controlados por um pequeno número de empresas poderosas. Nos mercados emergentes,
esses sistemas são caros e, em muitos casos, seu desenvolvimento é limitado.
Mas isso está mudando. Para as companhias privadas e para o setor público, as vantagens do
software de fonte aberta e dos padrões abertos de TI estão ficando muito evidentes para serem
ignoradas. A tecnologia aberta é mais econômica, estável e oferece uma flexibilidade muito maior
para as empresas que procuram crescer e adaptar-se ao ritmo do século XXI. Para os
empreendedores das economias emergentes, a vantagem do padrão aberto pode significar o
sucesso ou o fracasso.
Recentemente, uma conferência no Brasil realizada para debater como as tecnologias abertas
estão ajudando a impulsionar o crescimento da economia, das pequenas empresas e da
competitividade em toda a América do Sul, revelou que mais de 73% das companhias no Brasil já
usam o software de fonte aberta. O motivo é simples: custos mais baixos, melhor desempenho e
maior segurança. Esse avanço se deve ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que deseja
preencher o que ele considera uma significativa lacuna tecnológica entre o Brasil e as economias
mais avançadas, e acredita que o software de fonte aberta é um meio importante para realizar isso.
O Brasil não está sozinho. Na Argentina, mais de 42% das corporações já usam software de fonte
aberta. No Chile, esse tipo de software é instalado em todo o sistema educacional e na
comunidade empresarial. No Peru, leis recentes exigem o uso de software de fonte aberta pelo
Estado para aumentar o acesso dos cidadãos aos dados e reduzir custos. Isso é importante porque
o setor público é o maior comprador de produtos de TI e software em todo o mundo. Na África do
Sul, o governo exigiu a mudança de documentos para formatos abertos nos computadores de
todos os órgãos públicos. Mas essa tendência não está presente apenas nos países em
desenvolvimento. Na Europa, vários governos e órgãos públicos também já adotaram ou estão
adotando padrões abertos e soluções de software de fonte aberta.
O instituto de pesquisas Gartner prevê que, em 2012, 90% das empresas do mundo utilizarão
software de fonte aberta. De acordo com um recente estudo do IDC, aproximadamente 60% das
companhias afirmaram que seus gastos com software de fonte aberta aumentaram em 2007 em
termos de porcentagem relativa de gastos com TI.
O ponto forte da economia digital global é sua capacidade de substituir as idéias e tecnologias
ultrapassadas por outras mais modernas e inovadoras. Vimos a eficiência da abertura em
tecnologias de telefonia celular nos mercados emergentes. Agora, chegamos a um cenário
semelhante em termos de tecnologia da informação. Nosso futuro, como mercado, será definido
pela abertura tecnológica, seja com software de fonte aberta ou sistemas de TI baseados em
padrões abertos. Este é um momento crucial e estimulante para a América Latina - a oportunidade
é significativa e apoiamos a região em sua jornada pelo software de fonte aberta.
kicker: Mais de 73% das empresas do Brasil já utilizam o software de fonte aberta
(Gazeta Mercantil/Caderno A - Pág. 3) CRAWFORD BEVERIDGE* - Presidente do Conselho de
Diretores da Sun Microsystems Inc. para Mercados Emergentes)

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JORNAL DO COMMERCIO

(Debêntures) De olho no mercado

paulo guimarães
Necessidade de uma Agenda Macroeconômica
Jeffrey D. Sachs, diretor do Instituto Terra (Earth Institute), da Universidade de Columbia,
conselheiro do secretário geral da ONU, Ban Ki-moon, é uma das mais respeitadas vozes no
mundo no que se refere aos temas desenvolvimento sustentável e erradicação da fome. Em tom
irônico, ele enfatiza que, antes dos líderes mundiais se deixarem seduzir pelo clima pomposo da
reunião desse mês em Washington, que vem sendo tratada como Bretton Woods II, na qual
pretende-se refazer o capitalismo, seria importante que eles começassem articular ações objetivas
e urgentes, as quais deveriam, inclusive, pautar a cúpula. Na sua opinião, desde que a quebra do
Lehman Brothers detonou a onda de pânico global, os governos dos EUA e da Europa foram bem
sucedidos em criar um cordão de isolamento em torno da rede bancária, para prevenir um
derretimento financeiro sem precedentes. Entretanto, o que eles não fizeram até agora, foi
coordenar um plano de políticas macroeconômicas para interromper um profundo retrocesso
global. O economista coloca esta agenda como emergencial.
Contabilizando a contração
Na sua opinião, uma reviravolta para baixo nos EUA não tem como ser evitada. Norte-americanos
não podem continuar a gastar mais do que ganham, como fizeram nos últimos anos, mesmo se o
arrocho no crédito for sendo aliviado. O consumo pessoal está fadado a cair acentuadamente. O
declínio na riqueza da família ianque, em decorrência das reversões nos mercados de imóveis e de
ações, será da ordem de US$ 15 trilhões e a resultante diminuição de consumo e investimentos
poderá atingir um décimo desse total (US$ 1,5 trilhões). Outros países também enfrentarão
recessões criadas domesticamente, aqueles que permitiram que a bolha imobiliária se
desenvolvesse. Esse parece ser o caso de Austrália, Reino Unido, Irlanda, talvez Espanha. O corte
em consumo por conta da perda de capital e desvalorização imobiliária nessas nações deve
adicionar entre US$ 300 e US$ 500 bilhões, num primeiro round da redução da demanda global.
Ainda assim, Jeffrey Sachs defende a tese de que mesmo uma recessão severa nos Estados
Unidos e outros países não necessita, obrigatoriamente, jogar o mundo inteiro na recessão.
Dinheiro do Oriente
A economia mundial é da ordem de US$ 60 trilhões. Logo, este primeiro round de recuo da
demanda, que totalizaria entre US$ 1.800 a US$ 2 trilhões, corresponderia a 3% do PIB do planeta.
Entretanto, se não houver nenhuma mudança compensatória nas políticas macroeconômicas, a
retração da demanda tende a continuar se multiplicando, podendo estender-se até 6%, segundo
seus cálculos. Ao deduzir-se desta conta os 4% de crescimento previamente estimado para o ano
que vem, teríamos como resultado uma recessão mundial de 2%. Por outro lado, até 3% de
declínio na demanda global pode ser substancialmente anulado por políticas expansionistas,
postas em prática principalmente pelas economias superavitárias da Ásia e Oriente Médio.
Diferentes leituras da crise
Perguntei a algumas pessoas, de perfis bastante distintos, como elas enxergam e sentem a atual
crise. Eis algumas respostas sucintas que colhi: Do geógrafo, acadêmico, socialista: "isto está
cheirando a mais uma grande conspiração, capitaneada pelo governo dos EUA, a fim de impedir
que a China assuma o posto de nova potência hegemônica do mundo." Da astróloga, zen-budista,
militante ecológica: "o universo conspirou para salvar a raça humana de si própria. O caos e a
posterior quebra deste sistema insustentável, forçará o homem a repensar seus valores, bem como
a forma de habitarmos o planeta. Iniciamos uma fase de desconstrução, para um recomeço muito
melhor." Da dona de casa classe média, que possui quase toda a poupança alocada em ações: "
empobreci. Esse dinheiro da bolsa vai fazer muita falta na educação dos meus filhos." Do
pipoqueiro: "que crise?" Do mochileiro viajante argentino: "una crise emocional, que começou na
Argentina." Do financista endinheirado: "é uma época repleta de oportunidades para se faturar alto.
Eu amo toda essa volatilidade."
Explicação simples
A empresária paulistana do setor de vestuário, Flávia Marins, me enviou a sua explanação do
mercado: um cabo de guerra. De um lado os touros, do outro os ursos. O lado mais forte leva. E
continua levando, até que pessoas comecem a passar de um lado para o outro da corda.
Prosseguindo no seu raciocínio, bem realista, a bolsa de São Paulo acima dos 73.000 pontos e o
dólar cotado a R$ 1,55 eram convites irresistíveis a inversões de lados. Agora, vão esticar na outra
direção, até onde der. Afinal de contas, os que arrastam a corda, seja para o lado que for, seguem
ganhando muito dinheiro. Bem simples, básico e didático. Valeu Flávia.
Investidores retraídos para crédito privado
Jorge Simão, superintendente de distribuição do Banco Standard de Investimentos, autoridade no
quesito crédito privado, autor do livro "Debêntures Conversíveis no Brasil", não notou até a
semana passada nenhum alívio no crédito empresarial, muito pelo contrário. Ele cita o exemplo da
Cosan, maior processadora de cana de açúcar do mundo, como bastante significativo.

O grupo, que em abril anunciou a compra dos ativos da Esso Brasileira de Petróleo Ltda. por US$
826 milhões, contava com as tradicionais e até então abundantes linhas de crédito do mercado,
para pagamento da operação. Muito embora, teoricamente, apresente todas as qualificações para
buscar financiamento junto a bancos comerciais, a Cosan está tendo que recorrer à emissão de
Notas Promissórias Comerciais de curto prazo, de até 180 dias, pagando os mesmos juros que
vinham sendo praticados nas debêntures de longo prazo (cinco anos), algo em torno de 120% do
CDI.

Uma anomalia, já que o risco de ocorrerem problemas durante cinco anos é muito maior do que em
meio. Quanto aos títulos de longo prazo, simplesmente desapareceram, pelo mercado estar
exigindo remunerações inviáveis. Jorge acredita que este cenário de restrição deva persistir pelo
menos até o final do ano, devido aos saques pesados que estão ocorrendo nos fundos de
investimento e porque também, até mesmo os fundos de pensão, tradicionais investidores de longo
prazo, estão avessos à compra de crédito privado, dando preferência aos títulos públicos.

O momento é realmente delicado, já que empresas não estão conseguindo financiamento, nem via
títulos de longo prazo (debêntures), nem via fundos de direitos creditórios, os FIDIC.
Petrobrás
Ao que tudo indica, a situação da gigante brasileira está bem tranqüila, em relação às possíveis
derivações da crise, em comparação com suas concorrentes internacionais. A começar, todos os
seus cálculos são feitos tomando-se como referência o preço do barril de petróleo a US$ 35, onde
estaria situado o seu break-even. Apesar da impressionante queda na cotação da commodity, um
cogitado corte na produção pela Opep garantiria preços não muito distantes da faixa dos US$ 65
atuais. Outra vantagem estratégica decorrente da própria crise pode ser o aumento de oferta e
barateamento do aluguel ou leasing de equipamentos. Atualmente, com o setor (ainda) super
aquecido, há escassez de todo tipo de máquinas ou navios destinados à exploração.

Quando são encontrados, os preços são exorbitantes, o que acaba atrasando projetos. Para fechar
o quadro otimista, o custo de exploração da camada pré-sal não deve ser tão estratosférico quanto
sugeriam dados preliminares. Principalmente porque os depósitos parecem estar agrupados e não
distantes uns dos outros, como nos campos tradicionais. Tal fato simplificaria as operações
enormemente, em termos de cabos, tubulações e demais equipamentos. E tem gente falando que
o corredor do pré-sal estende-se de Santa Catarina ao Ceará, sem contar reservas que já estão
sendo pesquisadas pela Petrobrás em continente africano.
Características da ação
A ação preferencial da Petrobrás, vulgo PETR4, nesse período de baixa, vem mantendo um Beta
de 0,99. O Beta é um indicador que afere a sensibilidade do ativo em relação às oscilações do
mercado como um todo. O beta do mercado é igual a 1 e todos os outros betas são calculados em
relação a esse valor. Acima de 1, as características são agressivas, com o papel tendendo a
apresentar picos mais extremos do que a média do mercado. Abaixo de 1 sugere que o papel seja
mais defensivo, com variações menos abruptas do que a média das ações. Nesse caso, o PETR4
anda muito próximo à média. Outro indicador, a volatilidade, avalia o grau de variação da cotação
de um título ou índice em relação à sua própria média, ou seja, a característica de subir ou cair,
mais ou menos intensamente, em um curto período de tempo. Quanto mais volátil, melhor para os
operadores de curto prazo (intraday). Quanto menos volátil, mais seguro para os investidores de
longo prazo, mais defensivo o papel. A volatilidade da Petrobrás está em 7,55, o que a confere uma
característica não muito volátil em relação ao benchmark. Está mais para segura e defensiva do
que a maioria dos ativos negociados na Bolsa de São Paulo. Uma blue chip extremamente
representativa do mercado nacional.
O preço do papel
PETR4 fechou a semana a R$23,31, praticamente em cima da linha de tendência de baixa (LTB).
As resistências a serem superadas para que o papel possa sinalizar uma reversão, ao menos no
curto prazo, são, respectivamente, R$ 23,40, R$ 24,80 e a já cravada R$ 25,81. Firmando acima
do patamar de R$ 27, só condições macroeconômicas muito ruins para haver um retorno à curva
descendente acentuada. Finalmente, aqueles que estão comprados poderão respirar aliviados
mesmo, quando a ação se consolidar acima dos R$ 36, o que praticamente garante o fim da
correção. Entretanto, a maior expectativa agora é em relação ao fundo de R$ 17,80, suporte que,
se for perdido, levará a uma mudança nas análises, enxergando essa correção dentro do escopo
de um ciclo bem mais longo, com potencial para uma queda mais acentuada e duradoura.

Para olhar durante a semana


Segunda-feira

Brasil: IPC-S / out (FGV); Balança Comercial / out (MDIC); Indicadores de Crédito e Inadimplência /
out (ACSP).

EUA: Índice ISM da Indústria / out; Gastos com Construção / set; Vendas de Veículos / out.

terça-feira

Brasil: IPC / out (Fipe); Pesquisa Industrial Mensal / set (IBGE); Indicadores Industriais / set (CNI).

EUA: Encomendas da Indústria / set; Eleição Presidencial.

Zona do Euro: PPI (Índice de Preços ao Produtor) / set.

quarta-feira

Brasil: Índices da Construção Civil / out (IBGE).

EUA: Dados do Setor Hipotecário / semanal; Estoques de Petróleo / semanal ; Índice ISM de
Serviços / out.

ReinoUnido: Produção Industrial / set.

quinta-feira

Brasil: IGP-DI / out (FGV); Ata do Copom (Bacen); Levantamento Sistemático da Produção Agrícola
/ out (IBGE); Prognóstico da Safra 2009 / 1° prognóstico (IBGE); Pesquisa Industrial Mensal -
Regional / set (IBGE); Produção e Vendas de Veículos / out (Anfavea).

EUA: Pedidos Iniciais de Auxílio Desemprego / semanal; Produtividade do Setor não-rural / 3º tri
08; Custo Unitário do Trabalho / 3º tri 08; Vendas das Redes de Lojas de Varejo.

Zona do Euro: Anúncio da Taxa de Juros (BCE).


Alemanha: Encomendas à Indústria / set.

Reino Unido: Anúncio da Taxa de Juros (BOE).

sexta-feira

Brasil: IPCA / out (IBGE); INPC / out (IBGE).

EUA: Dados do Mercado de Trabalho / out ; Estoques no Atacado / set; Vendas de Imóveis
Pendentes /set ; Crédito ao Consumidor / set.

Canadá: Taxa de Desemprego.

Alemanha: Produção Industrial / set.

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Queda de 0,51% na sexta...

Após cair nas quatro sessões anteriores, o dólar comercial apresentou de 2,71, cotado a R$ 2,154
para a compra e R$ 2,16 para a venda. O dólar viva-voz subiu 2,56%, sendo negociado a R$
2,158. O giro foi de R$ 425,510 milhões. A moeda americana foi negociada nas casas de câmbio
do Rio a R$ 2,05 para a compra e a R$ 2,15 para a venda, mantendo a cotação de quinta-feira. Em
São Paulo a moeda seguiu a tendência de alta e valorizou 2,27%, sendo cotada a R$ 2,00 para a
compra e a R$ 2,25 para a venda.

Já o dólar turismo teve alta menos acentuada, 1,80%, negociado a R$ 2,04 para a compra e a R$
2,26 para a venda. O euro comercial alcançou um crescimento de 0,84%, valendo R$ 2,744 para a
compra e R$ 2,747 para a venda. O euro paralelo no Rio foi negociado na sexta-feira a R$ 2,60
para a compra e a R$ 2,80 para a venda. No mercado paulista, o euro teve queda de 1,75%, sendo
negociado a R$ 2,55 para a compra e a R$ 2,80 para a venda. Já o euro turismo manteve a
cotação do dia anterior valendo R$ 2,59 para a compra e R$ 2,87 para a venda.

O mercado cambial foi pressionado pela alta externa do dólar, as rolagens de contratos futuros na
BM&F e a liquidação residual pela Aracruz de posições de derivativos de câmbio, de acordo com
um operador de um banco estrangeiro.

Do lado externo, os fatores que levaram o dólar à vista a se ajustar à valorização externa da
moeda foram o corte de juros no Japão de 0,20 ponto, para 0,30% ao ano, menor do que o 0,25
ponto esperado pelo mercado, e a apreensão dos investidores com os fracos indicadores
econômicos e o baixo sentimento do consumidor norte-americanos, mostrados pelo índice de
preços dos gastos com consumo, o índice de atividade industrial de Chicago e o de sentimento do
consumidor da Universidade de Michigan. Às 18h20, o euro recuava 0,77%, a US$ 1,2754,
enquanto o dólar perdia 0,10%, a 98,49 ienes.

Internamente, as cotações à vista ampliaram as altas exibidas à tarde pelo impacto das rolagens
de contratos futuros de dólar na BM&F e da movimentação em torno da liquidação pela Aracruz de
uma parcela de 15% em posições de derivativos de câmbio.

Na BM&F, à exceção da queda projetada pelo contrato de dólar para maio de 2009, os oito demais
vencimentos apontaram altas. O BC fez dois leilões de swap cambial em que ofertou US$ 2,875
bilhões desses contratos com três vencimentos. Contudo, a autoridade monetária vendeu apenas
US$ 440,8 milhões no total. Um operador informou que o BC deve ter vendido um pequeno volume
de swaps na sessão por causa da concentração dos negócios dos investidores nas rolagens de
contratos futuros. Além disso, o BC está sendo seletivo nos leilões em relação as taxas propostas
pelas instituições financeiras, que estariam acima do pretendido pela autoridade monetária, e há
percepção ainda de que o mercado não estaria mais tão tomador de dólares, dada a momentânea
melhora dos mercados internacionais.

Após o fechamento do mercado, o BC informou que fará hoje , das 12h45 às 13 horas, um leilão de
até 22 mil contratos de swap cambial, com três vencimentos, equivalentes a US$ 1,1 bilhão.

JUROS. O dia foi de tensão no mercado de juros e somente as taxas de curto prazo, que embutem
menor risco, conseguiram escapar da alta vista nos vencimentos a partir de 2010.

A liquidez considerada fraca neste trecho da curva ilustra a cautela do investidor em assumir
posições prefixadas. Além do suspense trazido pela pausa na alta da Selic pelo Copom, o anúncio
ontem da mudança na forma de recolhimento dos compulsórios dos depósitos a prazo pelo Banco
Central levantou preocupações no mercado de títulos públicos.

O DI janeiro de 2010 (135.580 contratos) subiu 15,53% para 15,68%; o DI janeiro de 2009 (86.265
contratos) recuou de 13,81% para 13,76%; e o DI janeiro de 2012 (31.240 contratos) terminou a
17,02%, de 16,65% na quinta.

O DI novembro de 2008 teve um movimento atípico de 90.000 contratos por causa de ajustes de
posições dado o fato de que venceu hoje. A taxa passou de 13,81% para 13,62%.

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Bolsas fecham em alta, mas com forte perda no mês

Da Agência Estado
As principais bolsas européias fecharam com alta pelo quarto dia consecutivo, nesta sexta-feira,
com sinais de que o apetite dos investidores pelo risco está melhorando gradativamente. "Há
muitas oportunidades nas ações e nos bônus para aqueles corajosos o bastante para concentrar-
se no valor intrínseco dos ativos, mais dos que nas fortes variações do mercado", disse William De
Vijlder, diretor global de tecnologia da informação do Fortis Investments. As bolsas, contudo,
fecharam o mês de outubro com grandes perdas.

Em Londres, o índice FT-100 subiu 85,69 pontos (2%) e fechou com 4.377,34 pontos. Na semana,
o índice acumulou um ganho de 12,72% mas, no mês, sofreu uma queda de 10,71%. Em Paris, o
índice CAC-40 avançou 79,25 pontos (2,33%) e fechou com 3.487,07 pontos. Em Frankfurt, o
índice Dax-30 subiu 118,67 pontos (2,44%) e fechou com 4.987,97 pontos. No mês, sofreu um
tombo de 14,46%.

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Alta no último pregão de outubro

Da Agência Estado
O mercado -americano de ações fechou em alta ontem, com os índices Dow Jones e S&P-500
registrando seu segundo pregão consecutivo de ganhos, o que não acontecia desde setembro.
Embora esta semana tenha sido, em termos porcentuais, a melhor desde outubro de 1974, este
mês foi o pior desde agosto de 1998. No caso do S&P-500, esta também foi a melhor semana
desde outubro de 1974, mas o pior mês desde o "crash" de outubro de 1987.

"Foi uma loucura. Houve um momento, no meio do mês em que as pessoas estavam apavoradas,
pensando: 'O que está acontecendo? Será o fim do mundo?' Se você pensa que entende o
mercado, ele vai te destruir. Ele sempre exagera, e sempre te faz sentir mais dor do que você
poderia imaginar", comentou Joseph Saluzzi, da corretora Themis Trading.
As Bolsas abriram em baixa nesta sexta-feira, em reação ao fraco indicador de gastos com
consumo em setembro, mas passaram a subir depois de o banco JPMorgan Chase anunciar um
programa de renegociação de hipotecas; as ações do JPMorgan Chase subiram 9,65%, liderando
a alta do setor financeiro, no qual outros destaques foram Bank of America (+6,10%) e Citigroup
(+4,12%).

O índice Dow Jones fechou em alta de 144,32 pontos (1,57%), em 9 325,01 pontos. O Nasdaq
fechou em alta de 22,43 pontos (1,32%), em 1.725,95 pontos. O S&P-500 subiu 14,66 pontos
(1,54%), para fechar em 968,75 pontos. O NYSE Composite subiu 86,06 pontos (1,44%), para
6.061,09 pontos.

Os preços dos títulos do Tesouro dos EUA chegaram ao fim do dia em baixa, com correspondente
alta nos juros.

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Crise descola empresas do valor de suas ações

Ana Paula Lacerda e Nicola Pamplona


Da Agência Estado
Uma das conseqüências da crise econômica foi um descolamento do mercado financeiro do
mercado real: um terço das ações da Bovespa está sendo negociado abaixo de seu valor
patrimonial, na esteira da turbulência que derrubou o preço das ações nas últimas seis semanas.
Durante a semana, dos 66 papéis que compõem o Ibovespa, 22 estavam cotados abaixo do valor
patrimonial por ação (VPA). Isso quer dizer que, na bolsa, a empresa valia menos que a soma de
todos os seus ativos reais. Antes da concordata do Lehman Brothers nos EUA, em 12 de setembro,
apenas seis ações do Ibovespa estavam cotadas abaixo de seu valor real. A empresa mais
castigada por essa diferença, atualmente, é a Eletrobrás. As ações estavam cotadas na sexta-feira
a R$ 26,25, valor quase três vezes menor que o VPA de R$ 72,25. Os analistas afirmam que, por
causa do pânico, a cotação atual das empresas não é racional. "O desempenho em bolsas não
corresponde às perspectivas de negócios das companhias", diz a analista Paula Kovarsky, da Itaú
Corretora.

Apesar da queda na Bovespa, do câmbio e da crise, várias empresas continuam apresentando


resultados positivos em seus balanços. A Weg, fabricante de peças e equipamentos, perdeu mais
de R$ 3 bilhões em valor de mercado na Bovespa desde o início do semestre. Porém, os
resultados do terceiro trimestre foram positivos: a receita operacional líquida atingiu R$ 1,2 bilhão,
um crescimento de 22% sobre o mesmo período de 2007 e de 11,6% sobre o trimestre anterior.

"A desvalorização cambial é, dentro de certos limites, fundamentalmente positiva para a Weg, pois
temos grande presença internacional por meio de exportações", disse o diretor de RI da Weg,
Alidor Luereds, em comunicado aos investidores. A EDP Energias do Brasil também deve anunciar,
nos próximos dias, resultados positivos. A empresa teve aumento no volume da energia vendida e
distribuída no terceiro trimestre. O volume de energia vendida nesse período cresceu 10,7% -
conseqüência da expansão da empresa, principalmente em áreas rurais. Empresas sem dívida em
dólar, com dinheiro em caixa e que não negociaram com derivativos - essas são as características
principais das "ilesas".

Outra empresa que vem sofrendo com a fuga de capitais das bolsas, mesmo com cenário positivo
para os negócios, é a Lupatech, fabricante de equipamentos para o setor de petróleo. As ações da
empresa valem hoje menos do que valiam na época do lançamento dos papéis, em 2007, e, na
opinião do diretor de relações com investidores da companhia, Thiago Alonso de Oliveira, vêm
sendo punidas por desconhecimento dos investidores. A empresa comemora um crescimento de
136% na carteira de encomendas neste último ano e deve fechar o terceiro trimestre com receita
135,5% maior do que a do mesmo período do ano anterior, segundo cálculos da Itaú Corretora.
Mas seu valor de mercado caiu 68,6% entre o início de agosto e o dia 30 de novembro. "As ações
estão valendo 15% a 20% a menos do que na época do IPO, embora a empresa seja hoje quatro
vezes maior", aponta Oliveira.Paula Kovarsky, da Itaú Corretora, lembra que a Petrobrás, principal
cliente da Lupatech, tem uma enorme carteira de projetos. "Ela vai precisar encomendar
equipamentos nos próximos anos, o que garante o fechamento de negócios." No início do ano, a
Lupatech era apontada pelo Credit Suisse como uma das mais beneficiadas pela descoberta do
pré-sal.

Oliveira acredita que a queda das ações seja fruto da baixa do preço do petróleo, do
endividamento em dólar da empresa e do fato de estar baseada em mercado emergente.Para ele,
no entanto, todas as premissas acima estão erradas.

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Outubro ruim para as ações

ANDRÉIA GOMES DURÃO e RAUL MARQUES


DO JORNAL DO COMMERCIO, com agências
Outubro foi um mês bastante negativo para quem optou por asplicar em ações. A forte volatilidade
imposta pela crise mundial, diante da expectativa de recessão, que trouxe danos à maioria das
ações. Quem insistiu em manter o dinheiro aplicado em ações, perdeu quase um quarto do capital
aplicado no vai-e-vém constante do Ibovespa.

Na semana passada, a Bolsa chegou a registrar alta de 18,34% - a maior elevação semanal desde
a semana encerrada em 18 de setembro de 1998 (+24,29%), conforme dados da Economática, o
que não impediu a Bolsa brasileira tivesse no mês passado o pior desempenho mensal desde
agosto de 1998, em queda de 24,8%.

Com isso, no ano, o Ibovespa registrou baixa de 41,68%, variação só superada pela do IBX, o
índice Brasil da Bolsa, que recuou 42,5% no ano, após queda de 25,11% no mês, e o Índice de
Governança Corporativa (IGC), com 23% de baixa em outubro, e 46,49% no ano.

Em agosto de 1998, o principal índice da Bolsa caiu 39,55%. Melhor para o mercado acionário
brasileiro que antes do mercado abrir a semana passada o Ibovespa somava uma queda de
36,45% em outubro, contabilizando perdas de 50,72% no ano.

As principais ações negociadas na Bolsa tiveram forte queda. Petrobras ON caiu 32,23% no mês,
com baixa de 45,5% no ano; a PN caiu 33,59% em outubro; em 2008, 47,26%. Vale On apresentou
22,32% de queda no mês passado, percentual quase idêntico à PNA: 22,348%.

No ano, as ações ordinárias da Vale caíram 52,133% e as preferenciais, 49,951%.

Na outra ponta, líder em rentabilidade, a moeda americana. O dólar comercial avançou 13,45%
este mês, seguido pelo paralelo, com 10,26%, enquanto o IGP-M fechou em 0,98%. Em 2008, a
moeda amplia a valorização para 21,69% e 12,57%, respectivamente.

As aplicações em juros também acabaram beneficiando os aplicadores, embora somente o


certificado de depósito interfinanceiro (CDI) tenha superado a inflação do IGP-M. Os CDIs
renderam 1,04% em outubro e 9,65% no ano, a terceira maior variação. Os CDBs ocupam a quarta
posição em 2008 com 8,45% de alta, dos quais 0,97% no mês passado. . Logo em seguida
aparece, mais uma vez entre os melhores desempenhos a caderneta de poupança, com elevação
de 0,7519% em outubro e 6,4311% em 2008.

Os demais ativos já encerram outubro no campo negativo. O ouro, que também surge na
seqüência, fecha o mês em recuo de 5,38%, mas mantém a valorização de 5,37% no ano.
O período foi amargo para os papéis da Bolsa, o que não surpreende em um mês em que o
principal índice, o Ibovespa, recuou 24,8%, ampliando para 41,68% as perdas no ano.

Com isso, apenas quatro ações fecharam outubro no azul: as preferenciais da Telesp, com 7,41%
de alta, seguidas pelas preferenciais da Eletropaulo, com 2,83% de elevação, as preferenciais do
Pão de Açúcar, com 1,48%, e as ações ordinárias da Natura, com ganhos de 1,08%.

O quinto melhor desempenho no período já aparece com perdas, as preferenciais da Eletrobras,


com recuo de 2,7%.

Os papéis também são destaques entre os melhores resultados em 2008. A diferença está nas
ações ordinárias da Nossa Caixa que, no ano, surgem com o melhor desempenho, ao somarem
alta de 36,86%. As ações ordinárias da Natura voltam a aparecer em meio ao melhores resultados,
com a segunda maior elevação, de 10%, seguidas pelas ações ordinárias da Eletrobras, que
avançaram 9,69% desde o início do ano. As preferenciais da Telesp apresentam o quarto melhor
desempenho, ao avançarem 6,19%.

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Fundos de pensão tentam Escapara da nacionalização

Karina Grazina
Da Agência Reuters
Os fundos de pensão privada da Argentina irão propor uma série de reformas como alternativa à
intenção do governo de nacionalizar o sistema, informou o jornal La Nación citando uma importante
autoridade do setor neste domingo.

Sebastian Palla, presidente da União Administradores de Pensão e Aposentadoria da Argentina,


enviará hoje ao governo um plano que considera investimentos mais conservadores e elimina
comissões durante meses sem lucro, informou o jornal.

"Tudo isso já foi dito antes, em diferentes momentos", Palla disse ao jornal. "Nada disso é grande
novidade. O que nós estamos fazendo agora é agrupar (as idéias) enquanto discutimos isso com
urgência."

O governo da presidente Cristina Fernandez anunciou no mês passado um plano para assumir o
sistema de pensão privada da Argentina, o que foi visto como um movimento desesperado para
assegurar que os fundos saiam do espectro de um novo calote da dívida.Críticos dizem que o
governo quer usar o fluxo de US$ 4 bilhões por ano em contribuições para aposentadoria para
pagar bilhões de dólares em dívidas do próximo ano.

"Hoje, (os fundos de pensão privada da Argentina) têm 10% das contribuições de seus membros
investidas no exterior, e 55% investidas na dívida da Argentina", disse Pala. Os títulos da Argentina
caíram cerca de 60% em outubro.

O chefe do sistema de seguridade social da Argentina disse na última semana que o governo não
irá liquidar as pensões privadas ou usá-las como uma ferramenta para financiar a dívida, se o
Congresso aprovar um lei para nacionalizar os fundos.

A ação para assumir os fundos de pensão, que administram cerca de US$ 25 bilhões em
economias de aposentadoria, abalou a confiança de investidores na segunda maior economia da
América Latina.

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Acesso a crédito em pauta

Jamil Chade
DA Agência estado
O chanceler Celso Amorim irá discutir a partir de hoje na Organização Mundial do Comércio
(OMC), em Genebra, estratégias para garantir um melhor acesso de exportadores a créditos e
evitar, assim, que a crise financeira interrompa os fluxos de exportação.

Dados preliminares da OMC apontam que nem o Natal deve salvar o comércio mundial de uma
estagnação. A entidade projeta uma interrupção do crescimento dos fluxos mundiais nos últimos
três meses do ano. A estagnação, se confirmada, será a primeira em sete anos.

A OMC, inspirada em uma proposta brasileira, convocou o Fundo Monetário Internacional, bancos
e até o BNDES para uma reunião dia 12 com o objetivo de debater formas de destravar o
comércio.

O Brasil, segundo analistas, seria um dos países mais atingidos por uma falta de crédito de
exportação para o setor de commodities. Não por acaso, Amorim quer discutir com o diretor da
OMC, Pascal Lamy, formas de facilitar esse acesso a créditos e flexibilizar condições para que o
comércio não seja ainda mais afetado.

Na OMC, a estimativa era de que o comércio mundial teria um crescimento de 4,5% em 2008. No
primeiro semestre, o economista da entidade, Micheal Finger, garante que a taxa ainda foi positiva.
Mas o terceiro trimestre já demonstrou uma forte queda. "Para o quarto trimestre, não deveremos
ter crescimento", alertou.

Há mesmo a possibilidade de que, em volumes, o comércio sofra uma queda real. A desaceleração
nos Estados Unidos e Japão, além da recessão em algumas das maiores economias da Europa,
estão reduzindo de forma importante as demandas. A quebra de empresas de brinquedos na China
é, para a entidade, um sintoma dos problemas. Os chineses são hoje os maiores fabricantes de
brinquedos do mundo e a falência de uma empresa em plena época de contratos fechados para o
Natal é considerado como "revelador". "Nos Estados Unidos, as perspectivas são de um Natal com
vendas 2% abaixo do que vimos em 2007", afirmou Finger.

Cargas aéreas. No setor de cargas, as evidências já são claras de que há uma contração do
comércio. A América Latina sofreu a maior queda em todo o mundo no fluxo de cargas aéreas em
setembro, indicando que as exportações podem sofrer de forma dura nos próximos meses. Os
dados são das 240 principais empresas aéreas do mundo que registram uma queda de 14,6% no
transporte internacional de cargas da América Latina em comparação ao mesmo período do ano
passado.

No mundo, a queda é de 7,7% no fluxo internacional. Na Ásia, a queda foi de 10,6%, contra 6,8%
na Europa e 6% nos Estados Unidos. Os índices apontam que haverá certamente uma redução
nos fluxos do comércio internacional no mês de setembro. A nova comissária de Comércio da UE,
Catherine Ashton, também alertou que o comércio mundial "já está em queda".

"O comércio e fluxos de investimentos estão caindo. A demanda está caindo nos mercados
desenvolvidos diante de cortes de gastos por consumidores. Deveremos ver o mesmo nas
economias emergentes", afirmou Ashton.

No caso do Brasil, os dados preliminares da OMC apontam que as importações estão crescendo a
um ritmo bem mais elevado que as exportações. "No terceiro trimestre do ano, as importações
aumentaram em 57%, contra uma alta de 39% das exportações", alertou Finger.

A taxa de aumento de importação é considerada pelos analistas como "incrível". Parte da


explicação é o crescimento do mercado interno nesse período. Mesmo com o desempenho
brasileiro, o comércio mundial deve sofrer. O Brasil representa apenas 1% dos fluxos mundiais e
uma elevação no País ainda tem pouco impacto no cenário internacional.

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Nissan e Renault desistem da Chrysler

DA AGÊNCIA ESTADO, COM DOW JONES


O jornal Detroit News informou que a aliança Nissan/Renault encerrou as conversações com o
fundo de investimentos Cerberus, que controla 80,1% da Chrysler, para a aquisição da montadora
norte-americana.

De acordo com o jornal, as duas partes concluíram que o Cerberus prefere negociar uma fusão
entre a Chrysler e a General Motors. Tanto a Nissan como o Cerberus se recusaram a comentar o
informe.

Ao longo da última semana, especulou-se que o fundo Cerberus pretendia resolver a situação da
Chrysler em poucos dias, mas não teria conseguido por falta de garantias de apoio financeiro por
parte do governo dos EUA.

Caso aconteça, a fusão entre Chrysler e GM poderá resultar no fechamento de sete das 14
fábricas da Chrysler nos EUA, segundo estimativa da consultoria Grant Thornton; contando as
próprias empresas, fornecedores e provedores de serviços, isso poderia implicar a eliminação de
até 200 mil empregos.

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Setor já sente desaceleração

DA AGÊNCIA FOLHAPRESS
Levantamento da consultoria IDC apontou que o mercado mundial de telefonia móvel teve 299
milhões de aparelhos vendidos no terceiro trimestre deste ano, uma queda de 0,4% na
comparação com os três meses anteriores.

Segundo a empresa, a causa dessa retração é reflexo da crise econômica mundial, que afeta
principalmente os Estados Unidos.

Apesar da queda em relação ao trimestre anterior, as vendas entre julho e setembro deste ano
registraram variação positiva de 3,2% em relação ao mesmo período de 2007, quando foram
vendidos 289,6 milhões de aparelhos.

"Os vendedores de telefones sentiram a pressão de uma situação econômica desfavorável no


terceiro trimestre, e as entregas e os lucros caíram em quase todas as partes (do mundo)'', afirmou
o analista Seth Reith, da IDC, em nota.

Além disso, a IDC constatou que a retração nas vendas em 2008 não atingiu os celulares com
múltiplas funções -os smartphones.

A Nokia, com 117,8 milhões de aparelhos vendidos no terceiro trimestre deste ano, ampliou a
liderança sobre as concorrentes, com 39,4% do mercado mundial de celulares -contra 38,6% no
mesmo período de 2007, segundo o IDC. Em segundo lugar, mas distante da primeira colocada,
aparece a Samsung, com 51,8 milhões de aparelhos vendidos e 17,3% de participação.

A lista segue com a Sony Ericsson (8,6%), Motorola (8,4%) e LG (7,7%).

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Portugal estatiza banco

DA AGÊNCIA ESTADO
O governo de Portugal estatizará o Banco Português de Negócios (BPN), informou ontem o
ministro das Finanças Fernando Teixeira dos Santos.

A estatização do banco, que não é listado na bolsa, é considerada o primeiro indício de que a crise
financeira global começa a atingir instituições financeiras de pequeno porte no sul da Europa.

Vitor Constancio, governador do Banco de Portugal, disse durante entrevista coletiva conjunta
concedida ao lado de Teixeira dos Santos que, apesar da estatização, o país não atravessa
problemas de solvência.

Numa entrevista à TV portuguesa, Teixeira dos Santos comentou que o BPN atravessava
problemas de liquidez e suas perdas eram da ordem de 700 milhões de euros.

O BPN é o menor banco de varejo de Portugal. Seu patrimônio é estimado em 8 bilhões de euros.
O banco possui 200 agências em Portugal e na França.

Com a estatização, o governo português espera assegurar aos clientes do banco que "seus
depósitos estão seguros", disse Teixeira dos Santos. O processo será conduzido por dois
interventores do governo, prosseguiu ele.

Recentemente, Portugal aprovou a criação de um fundo de até 20 bilhões de euros para dar
liquidez aos bancos do país.

Rússia. A Rússia destacou 170 bilhões de rublos (US$ 6,41 bilhões) do Fundo do Tesouro Nacional
para serem depositados no banco estatal VEB. Os recursos são para compras de ações e títulos
corporativos, com o VEB funcionando como agente. O plano vai se estender até 2013.

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Índia surpreende com corte de juros e China vê desaceleração

Da Redação, com Agências


Duas grandes potências de mercado emergentes da Ásia demonstraram neste fim de semana que
estão sentindo as consequências da crise financeira global. A Índia cortou sua principal taxa de
juros para empréstimo de curto-prazo, e a China disse que está se preparando para uma
desaceleração em sua economia.

Em Xangai, um executivo-sênior do Bank of China (BOC) disse em uma conferência financeira que
o impacto da crise na China começou a aparecer.

A China vislumbrou um forte declínio no crescimento do lucro industrial e na receita fiscal, disse o
vice-presidente-executivo Zhu Min em uma conferência financeira. "A economia global deve entrar
em recessão no ano que vem, com os Estados Unidos, a Europa e o Japão apresentando
crescimento negativo", disse ele. "Isso terá um impacto enorme na China", acrescentou.

Zhu também disse esperar que a volatilidade do câmbio acrescente pressões aos bancos da
China, os quais tiveram lucros robustos por anos, à medida que o país crescia. O crescimento dos
lucros agora está desacelerando, à medida que a economia se esfria com o impacto da crise.

"As incertezas nos mercados de câmbio do mundo expuseram o setor bancário chinês a maior
risco de ativos estrangeiros", disse Zhu.
Flexibilização . Para enfrentar os problemas com os ativos estrangeiros, a China vai apostar em
mais flexibilidade. O país pretende implementar em breve uma nova regulamentação para o
mercado de títulos e valores mobiliários que permitirá maior mobilidade para a realização de
operações "mais inovadoras", de acordo com o órgão regulador de valores mobiliários do país.

Pela nova regulamentação, as corretoras poderão realizar operações que não sejam proibidas pela
lei, diante da aprovação da Comissão Reguladora de Valores Mobiliários da China. Atualmente, a s
corretoras não tem permissão para realizar negócios que não estão claramente definidos pela lei.

A regulamentação provisória entra em vigor em dezembro e irá permitir que as corretoras tirem
uma licença para realizar estas operações seis meses após seu pedido anterior.

ÍNDIA. Assim como a China, a Índia - um imã de investimentos estrangeiros nos últimos anos, à
medida que sua economia decolava - reduziu inesperadamente no sábado sua taxa de juros de
curto prazo pela segunda vez em semanas, a fim de aliviar uma crescente falta de liquidez, apoiar
o crescimento da sua economia e deter os efeitos da crise financeira global.

Analistas afirmaram que a surpreendente medida do banco central indiano, que acontece uma
semana depois de o país ter deixado as taxas inalteradas durante revisão de sua política,
demonstrava uma forte preocupação da autoridade monetária sobre os problemas da terceira
maior economia da Ásia.

O banco central indiano cortou sua principal taxa de juros de curto prazo em meio ponto, para
7,5%.

"Aquelas ações eram necessárias e tiveram que ser tomadas para ter liquidez. E com as taxas
altas a situação estava piorando", disse Vikas Agarwal, estrategista do JP Morgan.

"A única pergunta que surge neste momento é porque (a decisão) não foi tomada durante a revisão
da política do banco na semana passada, e a única explicação é de que eles não anteciparam o
alcance da crise de liquidez", complementou Agarwal.

Autoridades em finanças ao redor do mundo tem cortado as taxas de juros nas últimas semanas e
injetado grandes volumes de recursos aos seus sistemas bancários, com objetivo de lutar contra os
efeitos da crise financeira mundial que está causando a paralisação dos mercados de crédito e
ameaça levar a economia mundial à recessão.

Analistas afirmaram que a medida inesperada significa que existe uma preocupação com o
crescimento e temor de que a falta de liquidez piore os problemas de inflação.

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Brown pede aos árabes "centenas de bilhões"

DA Redação, com Agências


O primeiro-ministro britânico Gordon Brown pediu no domingo bilhões de dólares de financiamento
adicional para o Fundo Monetário Internacional escorar as economias em dificuldades.

Em Riad, na Arábia Saudita, Brown disse que os Estados petrolíferos do Golfo e a China precisam
contribuir com dinheiro ao FMI, para que este empreste a países que correm o risco de colapso
financeiro.

"Se quisermos impedir que a crise financeira se espalhe, precisaremos de uma política de seguro
global melhor para ajudar as economias com problemas", disse Brown. "Por isso estou pedindo
mais recursos para o FMI - centenas de bilhões de dólares além dos US$ 250 bilhões que o Fundo
já tem disponíveis -para emprestar aos países em risco de colapso econômico", disse Brown, que
se posicionou na dianteira da resposta global à crise.

O ministro das Finanças do Kuait disse que seu governo vai basear sua decisão (sobre o apoio aos
mercados internacionais) nas eventuais possibilidades de retorno e oportunidades de investimento.

O ministro britânico da Economia, Peter Mandelson, disse que convencer a Arábia Saudita a
contribuir para o FMI levará tempo e que não se espera nenhuma promessa de dinheiro
imediatamente. A viagem de Gordon Brown pelo Golfo precede a cúpula global que terá lugar em
Washington em 15 de novembro, na qual ele e outros líderes mundiais vão defender uma reforma
do sistema financeiro internacionais.

JUROS. Brown ressaltou que deverá haverá novos cortes de juros na Inglaterra e no resto do
mundo em resposta ao recuo nos preços dos alimentos e do petróleo.

O Banco da Inglaterra deve reduzir em meio ponto percentual sua taxa básica de juros para 4% na
próxima quinta-feira quando realizar sua reunião mensal para definir a política de juros. O banco
central norte-americano, o Fed, cortou sua taxa de juros para 1% na semana passada, dizendo que
os riscos de queda no crescimento econômico continuam.

Brown disse também, enquanto deixava a Arábia Saudita rumo ao Qatar, que ele não pode
especular sobre as decisões do banco central inglês mas que acredita que a tendência mundial é
de responder aos preços do petróleo em queda.

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Brasil S/A - Antonio Machado

Melhor prevenir
Os malabarismos da equipe econômica para corrigir o que dizem os ministros manifestam duas
situações típicas ao governo Lula: falta de coordenação segura e a formulação pensada do prato
para a boca.

Desta vez a trombada foi só uma gafe. Ao ministro do Planejamento Paulo Bernardo se atribuiu a
redução da meta do superávit primário previsto para 2009 de 4,3% do PIB para 3,8%. O ministro
da Fazenda Guido Mantega corrigiu: a meta será a mesma já vigente este ano.

O que confunde o entendimento é que a meta não aumentou para 4,3% do PIB em 2008. O que se
fez foi adicionar à meta de 3,8% cravada no orçamento mais 0,5% direcionado para o fundo
soberano aprovado pela Câmara esta semana e que vai para votação no Senado.

A valer a explicação de Mantega repassada pela sua assessoria, o adicional de 0,5%, cerca de R$
14 bilhões, está mantido para 2009.

A questão suscita duas urgências. A primeira é que enquanto a lei que a cria não é aprovada a
verba do fundo soberano fica empatada no Tesouro. O governo precisa dispor dessa quantia,
especialmente para suprir o nível de capital de giro e investimentos, reduzidos pela aversão ao
risco que tomou conta dos bancos brasileiros.

A segunda é que a prioridade de aplicação da dotação do fundo em ativos no exterior virou um


luxo. Isso não tem mais importância.

A urgência se faz necessária, porque, como Mantega ouviu durante reunião sexta-feira com vários
empresários no Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi) em São Paulo, o giro
dos negócios diminui, as exportações já sentem o efeito da recessão em importantes mercados e
se alastra a decisão de parar investimentos em curso. Muitos empresários disseram já trabalhar
com cenários de retração absoluta do PIB no primeiro trimestre de 2009.
Mais de um comentou prever o pior, mesmo que o governo pegue na unha o problema da retração
do crédito bancário. O Banco Central faz o que pode para destravar o dinheiro que a banca
estaciona no overnight de títulos do Tesouro: dos 15% de retenção compulsória dos depósitos a
prazo, decidiu remunerar à taxa Selic somente a fatia de 30%. A intenção é forçar a banca a
comprar carteiras de crédito dos bancos menores ou voltar a emprestar.

Em contrapartida, a medida amplia o risco de inadimplência, que vai crescer a partir de 2009,
segundo Élcio de Lucca, do conselho da Serasa, a maior firma de avaliação de crédito do país. A
crise externa já faz estragos amplos e irrestritos na economia.
O PIB está ameaçado
É arriscado, num cenário de risco de crédito, forçar a manutenção da atividade corrente.
Dependendo do grau da recessão global, não será trivial manter o ritmo dos negócios. Alguma
desaceleração vai acontecer. Por prudência, o governo deveria refazer as estimativas de
crescimento, inflação, juro e câmbio embutidas na formulação da Lei Orçamentária de 2009. Se o
PIB evoluir menos de 4% - e muitos falam num crescimento mais perto de 2% que de 3% ano que
vem, faça o que fizer o governo , a arrecadação tributária vai despencar.
Costuras salariais
É besteira o argumento de que o efeito arrasto, ou carry-over, do crescimento de 5% ou pouco
acima este ano para 2009 já garante um desempenho superior. Isso no papel. No caixa, que é o
que importa, a arrecadação responde à atividade corrente. Só com sacrifício dos investimentos
será possível, neste quadro, preservar os aumentos salariais já aprovados ao funcionalismo
público. Talvez convenha dilatá-los para os anos seguintes, como cogitou o ministro Paulo
Bernardo. Não se trata de gastar menos, mas de direcionar o gasto para o que multiplique mais a
renda. No caso do aumento do salário mínimo, que vai ser reajustado pelo PIB de 2007 mais a
variação do INPC de 2008, porém, pode ser saudável antecipá-lo para janeiro.
Embaraço necessário
Se há um novo padrão de crescimento no mundo, nenhum país ficará à margem, como ilha, nem a
China, onde há semanas o governo só tem feito relaxar a política monetária e fiscal. No Brasil,
equivale a rever a meta de inflação. É de 4,5%, com teto de 6,5%, para o qual está tendendo este
ano. O BC deveria fixar o teto como meta, sem faixa de variação, aliviando a tensão da Selic,
excepcionalmente, e até admitir uma meta maior, digamos, 8%. Não se trata de propor mais
inflação. Nunca dá certo. Ocorre que há cheiro de recessão e só se ajusta a Selic com meta maior.
É embaraçoso, mas assim é.
Papo furado do PAC
O contraditório da expansão do dirigismo governamental sobre os negócios privados, visto como
tendência no mundo, é que, no país, ele aponta para riscos. Não de aumento da estatização, e,
sim, de inépcia. Uma coisa é a indução por políticas. Outra é a execução. Pegue-se o superávit
primário, que deu 5,59% do PIB até setembro, R$ 118 bilhões, bem acima da meta de 4,3%, e
associe-o com o nível de investimentos públicos. O que se constata é que o governo cobra muito e
não sabe gastar nem o que tem em caixa. Até o dia 10, só pagou R$ 4 bilhões dos R$ 42,3 bilhões
de investimentos que estão disponíveis no orçamento de 2008, com o dinheiro do PAC incluído. O
superávit bate recorde por isso. E o eficiente é que sofre.

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Confidencial-Aziz Ahmed

Trama real de um negócio da China


Lá como cá. Órgãos de segurança dos Estados Unidos estão correndo para cancelar a compra de
Scanners chineses feita pelo Porto de Los Angeles. A empresa Nuctech ofereceu o equipamento
com preço abaixo do mercado em US$ 1 milhão. Como não há almoço grátis, os americanos
desconfiaram e descobriram que a empresa é do Hu Haifeng, que vem a do ser filho de Hu jin Tau,
presidente da República da China. Isso significa que quem vai controlar a entrada e saída de
produtos por um dos maiores portos do mundo, que movimento mais de 8,5 milhões de contêineres
por ano, são os chineses. A CNN colocou o repórter Casey Wian para farejar os fatos e a coisa não
está cheirando bem. A rede de TV americana realizou pesquisa para saber o que os contribuintes
acham de ter seus portos controlados por equipamentos chineses. O resultado foi arrasador: 92 %
foram contra. Aqui no Brasil, está em curso uma megalicitação da Receita Federal para compra de
37 equipamentos para controle de nossas fronteiras. Os mesmos chineses da Nuctech estão
fazendo de tudo para vender seus equipamentos para o Brasil, mas tem gente de olho. A maior
parte do contrabando apreendido pela fiscalização brasileira é de produtos "Made in Chine". O
processo, iniciado há um ano, está parado por conta de uma liminar da empresa MRA, aliada da
Nuctech, que tem R$ 20 mil de capital e sequer participou da licitação.
Banda larga
Até o final deste ano, os negócios com banda larga devem movimentar R$ 2,3 bilhões no Brasil,
aumento de 35% em comparação com 2007, segundo a E-Consulting, especializada no
desenvolvimento de TI. Com isso, o percentual estimado para este ano já supera o do México e é
similar ao da Argentina e do Chile. A Coréia do Sul continua líder mundial na utilização relativa de
banda larga, com mais de 32% de penetração. Em 2009, o Brasil deve totalizar 17 milhões de
usuários conectados, levando o mercado a alcançar o patamar de R$ 3,1 bilhões em negócios.
Transpetro em Nova York
O presidente da Transpetro, Sergio Machado, relata hoje, em Nova York, a epopéia do Promef, o
programa, incluído no PAC, de modernização e expansão da frota da empresa. Depois de décadas
de crise, que quase aniquilou a indústria naval brasileira, o programa da subsidiária da Petrobras
fez o setor ressurgir e se modernizar. Hoje, já oferece 40 mil empregos, e, com a construção dos
49 navios, serão gerados mais 40 mil postos de trabalho. A crise mundial não assusta Machado,
pelo contrário. Para ele, países que fizeram o dever de casa, como o Brasil, têm excelente
oportunidade para superar desafios e saírem ainda mais fortalecidos, melhorando a sua posição no
cenário mundial. É esta a mensagem que leva à Big Aple.
MUNICIPAL. Ocupando área total de 13.848m2, na Rua Haddock Lobo, 359, em pleno coração da
Tijuca, vai a leilão o Clube Municipal do Rio. O lance inicial é de R$ 10,37 milhões.

MUNICIPAL - 2. Presidido há 24 anos por Otávio Luiz Alves, o Municipal, que já teve 80 mil
associados e hoje tem 24 mil, acumulou dívidas fiscais que estão em execução judicial.

MUNICIPAL - 3. Tendo o quadro social integrado por servidores públicos, que descontam em folha
R$ 55 por mês, o índice de inadimplência no pagamento das mensalidades do clube é zero.

NA CONTRAMÃO. Garante o Relatório que, no meio da crise internacional, a GP Investimentos


iniciou a montagen de um novo fundo. Pretende captar US$ 1 milhão.

VIVA AS GORDAS. Estudo publicado na revista Obstetrics & Gynecology garante: mulheres
gordinhas relatam mais experiências sexuais com homens do que as que são consideradas de
"peso normal".

ULTIMATO. O Porto de Santos e a Anvisa deram prazo até fevereiro para que 100 % dos
contêineres vazios sejam escaneados. O objetivo e zelar pelos aspectos sanitários e ímpedir o
contrabando de armas e drogas em contêineres declarados "vazios."

PAPEL PASSADO. A Minuano, de Lajeado (RS), confirmou que prepara papéis para casar com a
paulista Arante Alimentos.

AOS MORTOS. Neste domingo de Finados, a Companhia de Entrepostos e Armazéns Gerais de


São Paulo comercializou 880 toneladas de flores. As mais procuradas foram o crisântemo e a
palma.

FINADOS. Ontem, o túmulo mais visitado no cemitério São João Batista, em Botafogo, foi o de
Carmen Miranda, morta há 53 anos.

CIÊNCIA. O alerta é do Instituto Karolinska da Suécia: adiantar os relógios em uma hora por causa
horário de verão aumenta o risco de infartos.
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Opinião - Novo capitalismo?

Antonio Oliveira Santos


Presidente da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo
No mínimo, não é uma pergunta inteligente. A crise atual não é uma crise do capitalismo, nem
mesmo do capitalismo financeiro. A crise é conseqüência da absurda alavancagem e do grau de
especulação que tomou conta do mercado financeiro e das Bolsas de Valores, Mercadorias e
Futuros, devido à irresponsabilidade do sistema de regulação e fiscalização a cargo das
instituições oficiais.

Os avanços da tecnologia das comunicações e a velocidade dos sistemas de informação


produziram uma expansão fabulosa das operações de crédito e das transações financeiras virtuais.
O Estado não acompanhou essa evolução e não teve competência para impor os limites
necessários a essa expansão. "Dormiu no jogo".

Precariamente, apenas para citar o caso dos Estados Unidos, a regulação do sistema bancário
virou uma bagunça,em que as atividades de alguns bancos eram reguladas por lei federal, a de
outros por leis estaduais e até municipais. O Banco Central Americano (o Federal Reserve Bank)
não tinha qualquer ação sobre os milhares de bancos de investimentos, alguns muito grandes,
milhares de médios e pequenos. As operações de câmbio, globalizadas, não tinham nem
regulação, nem fiscalização adequadas ao Controller of the Currency, assim como a rede de
garantias do sistema, conduzida pelo FDIC (Federal Deposit Insurance Corporation), só cobria uma
parte relativamente pequena das instituições financeiras. No mercado de capitais, a ação da CVM
americana (a SEC - Securities Exchange Commission) não alcançava as operações de derivativos,
a termo, nas Bolsas de Valores, de Mercadorias e de Futuros, muito menos o mercado de balcão,
uma espécie de instituição "fora de lei" e nem tampouco a CFIC - Commodities Future Trading
Commission.

A expansão do sistema financeiro capitalista, globalizado, deu ao mundo um extraordinário período


de desenvolvimento e de prosperidade, comandado pelo financiamento das inovações. Por falta de
regulação do Estado e precária fiscalização, extravasou os limites da prudência e da segurança.
Abriu espaço para a especulação desenfreada. Por isso, a estrutura financeira quebrou.

Agora, os governos do mundo todo, dos Estados Unidos, da Europa, da Ásia acordaram e estão
procurando "tapar os buracos", para restabelecer o clima de confiança indispensável ao mercado
financeiro. Alguém já disse, há muitos anos, que o sistema bancário só navega bem em mar calmo.

Nada disso tem a ver com a "falência do capitalismo", como querem alguns analistas apressados.
O problema é de responsabilidade, ou irresponsabilidade do Estado. Por isso, é ao Estado que
cabe resolvê-lo.

O capitalismo privado e a democracia estão eivados de defeitos. Mas não se conhece alternativas
melhores.

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O ESTADO DE S. PAULO

(Debêntures) Mais de 300 grandes obras podem atrasar por falta de crédito no País
Segundo a Abdib, serão necessários R$ 90 bilhões
para concluir os empreendimentos de infra-estrutura

Renée Pereira
Hoje o País tem 324 grandes obras de infra-estrutura em construção ou já contratadas (mas não
iniciadas) correndo sério risco de atraso por causa da escassez de crédito que assola o mundo.
Para serem concluídos nos próximos anos, os empreendimentos vão demandar cerca de R$ 90
bilhões. "Estamos agora concentrados na criação de soluções para evitar que haja
descontinuidade das obras e atraso nos cronogramas", afirma o presidente da Associação
Brasileira da Infra-Estrutura e Indústrias de Base (Abdib), Paulo Godoy, responsável pelo
levantamento sobre a necessidade de financiamento nas áreas de energia elétrica, ferrovias,
rodovias e portos.

Godoy disse que cerca de 70% do volume de recursos deverá sair do Banco Nacional de
Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). "Mas esse dinheiro pode ser liberado no início, no
meio ou no fim do projeto. Até porque, diante dessa crise, todo mundo passa a contar com o banco
para tudo e não tem dinheiro para todos."

Ele explicou que, para cobrir essa lacuna, os investidores normalmente recorrem a outras fontes de
recursos para iniciar obras. Antes, além dos empréstimos bancários, as empresas faziam emissões
no mercado de capitais por meio de debêntures, notas promissórias, entre outras modalidades.
"Hoje, quem tem capacidade está usando o caixa próprio. Outros estão tentando, com muita
dificuldade, fazer empréstimo-ponte. Há ainda aqueles que já fizeram esse tipo de empréstimo e
agora precisam repactuar o contrato vencido", comenta Godoy. Segundo o levantamento da Abdib,
dos R$ 90 bilhões, cerca de R$ 57 bilhões ainda não tiveram as obras iniciadas. O restante já está
em construção, o que não significa que está livre de limitações.

A espanhola OHL, por exemplo, decidiu recorrer às subsidiárias para garantir os investimentos
iniciais nas cinco rodovias federais arrematadas no ano passado. Desde o início, a empresa tenta
conseguir financiamento para cumprir o cronograma de obras, que só no primeiro ano soma mais
de R$ 700 milhões. Para 2009, será necessário mais R$ 1,2 bilhão.

Segundo fontes, diante das dificuldades do grupo para conseguir crédito no mercado, o BNDES
teria dado sinais de uma concessão de empréstimo-ponte no início de 2009. A empresa tem de
investir R$ 4,1 bilhões nos primeiros cinco anos de concessão dos 2.078 km de estradas. Mais: por
causa dos altos deságios oferecidos no leilão, que chegaram a 60%, a empresa teria de conseguir
um financiamento com custo menor para não comprometer a rentabilidade do investimento.

CAUTELA

Quem conseguiu fazer captações antes da crise tem tentado controlar as finanças até que o crédito
seja restabelecido. A Eletrobrás, por exemplo, suspendeu a emissão de US$ 400 milhões que faria
no mercado externo no mês passado. O dinheiro seria usado para financiar os investimentos das
empresas do grupo, como a construção das hidrelétricas de Santo Antonio e Jirau e a Usina de
Angra 3.

Outra empresa que preferiu a cautela é a Sabesp. No mês passado, o conselho de administração
da empresa aprovou apenas uma das captações planejadas. Antes da crise, a intenção era fazer
duas emissões de debêntures, uma de R$ 220 milhões e outra de R$ 300 milhões. Prevaleceu a
oferta mais conservadora, que deverá ser concluída em breve. Os recursos serão usados para
refinanciar uma emissão que vencerá nos próximos meses.

"Não temos ilusão, essa é uma crise prolongada", destacou o presidente da Sabesp, Gesner de
Oliveira. Embora tenha a garantia de financiamento de alguns organismos multilaterais, ele afirma
que o momento exige austeridade. O plano de investimento da empresa referente ao período
2007/2010 é de R$ 6 bilhões.

No setor portuário, os empreendimentos estão ameaçados não só pela falta de crédito, mas
também pela expectativa de redução no comércio exterior, afirma o professor da Coppead/UFRJ,
Paulo Fleury. Segundo ele, alguns empreendedores estão segurando os projetos para ver se o
cenário econômico clareia um pouco.

De acordo com os dados da Abdib, hoje há três portos em construção, no valor de R$ 3,5 bilhões.
Mas há planos de mais de R$ 9 bilhões que estão apenas no papel, completa o presidente da
Associação Brasileira de Terminais Portuários (ABTP), Wilen Manteli.

FUNDO

Para evitar que a crise comece a afetar de forma irreversível os investimentos, o presidente da
Abdib tem conversado com o governo, até mesmo com o presidente Lula, para criar alternativas de
financiamento.

Uma das propostas é montar um fundo de investimento de R$ 10 bilhões com recursos da Caixa
Econômica Federal, fundos de pensão, fundos de investimentos e bancos. Com o dinheiro
levantado, o fundo compraria papel lançado por projetos, como debêntures, notas promissórias,
por prazos entre 12 a 18 meses.

Ele explica que, até o momento, as empresas têm conseguido manter as obras. "Mas tudo tem um
limite, especialmente porque esse é um setor intensivo em capital. Uma hora as empresas não vão
ter mais caixa para levar a obra adiante. Precisamos nos prevenir."

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Preocupada, OMC vai discutir hoje escassez de crédito


Organização tenta evitar que a crise interrompa o fluxo
de exportação; nem Natal deve escapar da estagnação

Jamil Chade, GENEBRA


O chanceler Celso Amorim vai discutir, a partir de hoje, na Organização Mundial do Comércio
(OMC), em Genebra, estratégias para garantir melhor acesso de exportadores a créditos e evitar
que a crise financeira interrompa os fluxos de exportação. Dados preliminares da OMC apontam
que nem o Natal deve salvar o comércio mundial da estagnação.

A entidade projeta a interrupção do crescimento dos fluxos mundiais nos últimos três meses do
ano. A estagnação, se confirmada, será a primeira em sete anos. A OMC, inspirada em uma
proposta brasileira, convocou o Fundo Monetário Internacional (FMI), bancos e até o BNDES para
uma reunião dia 12 com o objetivo de debater formas de destravar o comércio.

O Brasil, segundo analistas, seria um dos países mais atingidos pela falta de crédito para
exportação. Não por acaso, Amorim quer discutir com o diretor-geral da OMC, Pascal Lamy, formas
de facilitar esse acesso a créditos e flexibilizar condições para que o comércio não seja ainda mais
afetado.

Na OMC, a estimativa era de que o comércio mundial teria um crescimento de 4,5% em 2008. Mas
o terceiro trimestre já demonstrou uma forte queda. Há estimativas de que não haverá crescimento
no quarto trimestre. A desaceleração nos Estados Unidos e no Japão, além da recessão em
algumas das maiores economias da Europa, estão reduzindo de forma importante as demandas.

QUEBRAS

A quebra de empresas de brinquedos na China é, para a entidade, um sintoma dos problemas. Os


chineses são os maiores fabricantes do mundo e a falência de uma empresa em plena época de
contratos fechados para o Natal é considerada "reveladora". Na Europa, empresas de carros
fecharam as portas por algumas semanas diante da demanda fraca.

No setor de cargas, as evidências já são claras de que há uma contração do comércio. A América
Latina sofreu a maior queda em todo o mundo no fluxo de cargas aéreas em setembro. Os dados
das 240 principais empresas aéreas do mundo registram queda de 14,6% no transporte
internacional de cargas na região, em comparação ao mesmo período do ano passado.

No mundo, a queda é de 7,7% no fluxo internacional. Na Ásia, a queda foi de 10,6%, ante 6,8% na
Europa e 6% nos EUA. A nova comissária de Comércio da UE, Catherine Ashton, alertou que o
comércio mundial já está em queda. "A demanda está caindo nos mercados desenvolvidos diante
de cortes de gastos por consumidores", diz Catherine. "Deveremos ver o mesmo nas economias
emergentes."

No caso do Brasil, os dados preliminares da OMC apontam que as importações estão crescendo a
um ritmo bem mais elevado que as exportações. "No terceiro trimestre do ano, as importações
aumentaram 57%, ante alta de 39% das exportações", alertou o economista da OMC Michael
Finger. Parte da explicação é o crescimento do mercado interno nesse período. Mesmo com o
desempenho brasileiro, o comércio mundial deve sofrer.

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Eleição nos EUA pode reabrir Rodada Doha

Jamil Chade
O chanceler Celso Amorim já quer começar a avaliar como uma definição nas eleições americanas
amanhã poderia reabrir as portas para um avanço nas negociações comerciais da Rodada Doha,
lançada em 2001.

Em julho, um acordo de liberalização comercial na Organização Mundial do Comércio (OMC)


fracassou e, desde então, governos de diferentes partes do mundo hesitam em voltar a negociar,
principalmente sabendo da fragilidade do atual governo dos Estado Unidos.

Amanhã, Amorim se reunirá com o diretor da OMC, Pascal Lamy, e, na pauta, estará uma tentativa
de definir uma agenda para os próximos meses. Devem ser discutidas propostas de como fazer
com que o processo avance. O Brasil insiste que não há como abandonar a discussão na OMC,
mesmo que leve mais dois anos para ser concluído com a administração da Casa Branca.

Para algumas delegações em Genebra, uma eventual vitória dos democratas não abriria
necessariamente um caminho tranqüilo para a conclusão da Rodada Doha. Isso porque o partido
de Barak Obama já demonstrou que vai lutar para defender certos setores da economia americana
pouco eficientes, além de insinuar que temas como cláusulas trabalhistas e ambientais teriam de
ser relacionados com o comércio mundial.

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Recuperação da bolsa pode levar de 4 a 15 anos


É o que mostram os indicadores em períodos de crises como a atual

Leandro Modé
O professor de matemática Décio Pecequilo, de 68 anos, é a memória viva do mercado de capitais
brasileiro. Em janeiro, completa 40 anos no ramo. Nesse período, vivenciou de tudo: crises da
dívida externa, desvalorizações cambiais, escândalos financeiros, recessões ao redor do mundo,
etc. A crise atual, diz ele, é a pior. Mesmo assim, ele se mostra animado com as perspectivas para
os investimentos em bolsa de valores. "Os preços das ações estão extraordinariamente atraentes",
garante ele, que hoje é operador sênior da TOV Corretora.

As palavras do experiente profissional talvez sirvam de estímulo para aqueles que pretendem
entrar no mercado acionário, seguindo o princípio básico alardeado por 10 entre 10 analistas:
comprar na baixa e vender na alta. Mas não consolam os milhares de brasileiros que foram
engolidos pelo mergulho do Índice Bovespa de maio para cá. Uma queda, aliás, que entrará para
os livros como a quarta maior da história do indicador, criado em 1968.

O Ibovespa despencou 49,3% desde que atingiu o pico de 73.516 pontos, no dia 20 de maio. O
tamanho do tombo não era previsto nem pelo mais pessimista dos analistas e, por isso, pegou a
maioria dos investidores, principalmente as pessoas físicas, desprevenidas.

Já há especialistas que temem uma freada na migração dessas pessoas para a bolsa, como já
ocorreu em outros momentos da história. Afinal, nos últimos anos, milhares de brasileiros
venceram o medo e escolheram as ações para aplicar parte de suas economias. De 94.320
pessoas em dezembro de 2003, foram para 550.562 em setembro deste ano, ou seja, um avanço
de 484%.

"Infelizmente, a maioria das pessoas, não só no Brasil, mas no mundo todo, compra na alta e
vende na baixa", afirma o administrador de investimentos Fabio Colombo. "Tem muita gente
machucada, que não quer mais entrar na bolsa."

Na avaliação de Colombo e de outros especialistas, o histórico da bolsa brasileira pode ser um


guia para o que esperar daqui para frente - fazendo-se a ressalva de que o cenário econômico
pode mudar drasticamente ao longo do tempo.

O professor da Faculdade de Economia e Administração da Universidade de São Paulo (USP)


Simão Silber lembra que, nesses 40 anos de vida, o Ibovespa teve quatro grandes ondas de alta,
sucedidas por quatro grandes quedas, sendo a última a dos dias de hoje.

Olhando com atenção o gráfico histórico do Ibovespa, observa-se que foram necessários, no
mínimo, quatro anos para que o indicador se recuperasse de um tombo dessa magnitude. O
período mais longo, de quase 15 anos, foi entre 1971 (logo depois que o brasileiro "descobriu" a
bolsa) e 1986, na época do Plano Cruzado.

As perspectivas de recuperação da forte queda de 2008 são incertas. Ninguém se arrisca a estimar
um período. O que se sabe é que o movimento foi detonado por uma crise externa. Isso o difere
dos anteriores. Em 1971, havia claramente uma bolha provocada pelos investidores locais. A
retomada foi atrasada por várias crises: do petróleo, da dívida e da inflação alta nos EUA, entre
outros fatores.

O mergulho entre 1986 e 1998 também foi provocado por questões nacionais - o fracasso do
cruzado. A desvalorização do real, em 1999, derrubou o Ibovespa novamente, que só se recuperou
plenamente em 2003. Ali se iniciou o mais longo período de alta da bolsa brasileira, encerrado em
maio deste ano.

O professor Alcides Leite, da Trevisan Escola de Negócios, observa que, desde a estabilização
monetária, em 1994, com o Plano Real, a bolsa ganhou mais do que outras aplicações. Em média,
rendeu 17,49% ao ano, ante 14,95% dos CDBs pós-fixados e 12,54% da caderneta de poupança:
"A bolsa tem mesmo um risco muito alto, é instável no curto prazo, mas, em períodos mais longos,
rende mais."

Esse olhar em perspectiva parece dar razão a Pecequilo. O tamanho do longo prazo é que torna a
aposta de alto risco. Até porque, como disse o brilhante economista inglês John Maynard Keynes,
"a longo prazo, estaremos todos mortos".

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''Nem tudo foram perdas, ganhou-se experiência''


Para gestor, já houve crises piores
Ana Paula Lacerda, SÃO PAULO
O gestor de carteiras Heitor Lyra investe na bolsa há cerca de 30 anos. "Comecei quando me
tornei analista econômico e continuo até hoje", conta. Diferentemente da maioria das pessoas, não
se desesperou ao ver seus papéis na Bovespa despencarem de valor nos últimos dois meses.
"Como toda crise, um dia passa", diz o investidor, reforçando que a bolsa é um investimento de
longo prazo.

Segundo ele, considerados os "danos" até agora, já houve crises piores. "Entre 1986 e 1987, por
exemplo, a queda foi bem mais aguda", relembra. Em março de 1990, o Plano Collor, além de
confiscar as poupanças, também causou estragos na bolsa de valores : "O valor das ações foi
dividido por dez, ou seja, a perda foi muito maior do que a atual."

Ao avaliar o impacto das crises, Lyra afirma que cada uma tem um perfil diferente. "A diferença
desta é que começou lá fora e veio para cá. As outras eram crises internas", avalia. Em vez de
arrancar os cabelos, ele afirma que as pessoas deveriam aproveitar a oportunidade."Na semana
passada, o patamar da Bovespa estava ilógico. Era um bom momento para comprar barato."

Para os novatos na bolsa, ele diz que nem tudo nessa crise foram perdas. "Ganharam experiência.
Com certeza, os novos investidores estão vivendo uma boa lição."

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''Empresário brasileiro desconhece a China''


Entrevista - Clodoaldo Hugueney: embaixador do Brasil em Pequim; para diplomata, falta ao
empresariado informação, como, por exemplo, que chineses compram mais manufaturados

Cláudia Trevisan, PEQUIM


A imposição de barreiras não é o caminho para defender a indústria brasileira da concorrência
chinesa. Os fabricantes nacionais têm de se modernizar e, eventualmente, abandonar os setores
nos quais o país asiático é muito competitivo, afirma o novo embaixador do Brasil em Pequim,
Clodoaldo Hugueney, de 65 anos.

Na primeira entrevista desde que assumiu o cargo, há um mês, o diplomata reconhece que falta
agressividade na promoção comercial de produtos brasileiros na China, onde há um enorme
mercado a ser explorado. Segundo ele, o desconhecimento leva muitos empresários brasileiros a
concluírem, de maneira equivocada, que o país asiático só importa bens primários. "Na verdade, o
que a China menos importa é matéria-prima. A maior parte das importações chinesas é de bens
manufaturados. Do Brasil, não, mas da Ásia, da Europa, dos Estados Unidos", disse Hugueney ao
Estado.

Ex-embaixador do Brasil na Organização Mundial do Comércio (OMC) e com uma carreira de 45


anos no Itamaraty, o diplomata assumiu uma embaixada desfalcada e conta com apenas cinco
diplomatas para cuidar da relação com o que hoje é o segundo maior parceiro comercial do Brasil.
Apesar disso, se declara otimista e espera em breve recompor a lotação completa, de dez
diplomatas, o que deixará a representação do Brasil na China de um tamanho comparável ao da
Embaixada da Venezuela. A seguir, os principais trechos da entrevista.

Qual é hoje a importância da China para a política externa brasileira?

A China hoje é uma potência global do ponto de vista econômico e tem uma influência crescente. A
manutenção do crescimento na China é fundamental para preservar o crescimento no mundo
porque as grandes economias desenvolvidas não vão crescer. Isso tem uma importância
extraordinária para o Brasil, pela exportação do Brasil de produtos básicos, como minério de ferro,
cujos preços vêm caindo. O que sustentará o mercado nos próximos anos é a demanda chinesa.

A importância da China se reflete na representação diplomática do Brasil em Pequim?


Nós temos com a China uma relação de grande importância. O presidente Lula esteve aqui várias
vezes, e não só em Pequim, mas em outras cidades, temos contatos no mais alto nível. A China é
o segundo maior parceiro comercial do Brasil. Mas há ainda um desconhecimento muito grande,
tanto do Brasil na China como da China no Brasil, e a embaixada tem dimensões reduzidas no
contexto do novo papel da China no mundo.

Quantas pessoas a embaixada tem hoje? Seu tamanho é comparável à de que outro país?

A embaixada hoje sou eu, o ministro-conselheiro e quatro diplomatas. O número de funcionários é


um pouco inferior a 40. É comparável a de um país latino-americano pequeno ou médio. É um
pouco menor que a Embaixada de Portugal aqui, entre os países europeus. Os países asiáticos
têm representações muito maiores em Pequim. A Embaixada da Índia tem 20 diplomatas. A
embaixada dos Estados Unidos tem 1.500 funcionários e a do Canadá, 320.

Quando se olha 2004, o ano da visita do presidente Lula à China e do presidente Hu Jintao
ao Brasil, a impressão que se tem é que a importância que o Brasil dava à China era maior
que dá hoje. O que aconteceu?

Não acho que isso corresponda à realidade. O Brasil dá uma grande importância à China. Mas há
uma distância geográfica muito grande, a China tem uma prioridade para seu entorno regional e
para seu relacionamento com os Estados Unidos. No ano que vem o presidente Lula vai visitar a
China, haverá reunião da Cosban no Brasil e o primeiro-ministro, Wen Jiabao, deverá ir à América
Latina, incluindo o Brasil. Também teremos a visita do ministro Celso Amorim à China e a do
chanceler chinês ao Brasil. Mas falta um programa de médio e longo prazos e o desenvolvimento
de alguns novos projetos. Biocombustíveis é uma área em que o Brasil tem liderança mundial e na
qual a China tem interesse. Nós poderemos desenvolver um diálogo sobre energia, meio ambiente
e biocombustíveis. O Brasil também tem uma liderança mundial em matéria agrícola e um diálogo
pode ser extremamente interessante.

Dá para fazer tudo isso com uma embaixada que tem apenas o senhor e mais cinco
diplomatas?

Espero que a embaixada possa paulatinamente voltar a ter sua lotação completa, que é o
embaixador e mais 10 diplomatas. Isso seria mais ou menos a lotação da Embaixada da Venezuela
em Pequim. Além disso, é necessário modernizar alguns setores. Há uma demanda crescente por
vistos e a área consular não tem condições de atender. O prazo de concessão de vistos é de 30
dias úteis, o que é muito extenso. Com a atual lotação da embaixada, não posso acompanhar a
amplitude de temas da China. Mas espero expandir um pouco, o que vai permitir à embaixada ter
uma atuação maior. Há uma questão conjuntural. A nossa carreira tem esses fluxos. Muita gente foi
removida daqui porque completou os três anos e teve a saída do embaixador Castro Neves, que
fez um excelente trabalho aqui e dinamizou muito as relações entre Brasil e China. Agora eu estou
chegando e a minha expectativa é que proximamente eu possa trazer diplomatas, funcionários e
recompor a lotação. A Apex também está se estabelecendo aqui e muita coisa vai poder ser feita
por eles.

O setor privado afirma que o Brasil não faz promoção comercial aqui. A frase mais ouvida é
"não é o Brasil que vende para a China, é a China que compra do Brasil", porque
exportamos principalmente produtos básicos que a China precisa muito, como minério de
ferro, soja e petróleo. Não falta agressividade na busca de mercados para produtos
brasileiros na China?

Eu acho que falta. A China é um mercado gigantesco e esse tipo de atividade demanda uma
estrutura muito grande. A embaixada do Canadá tem quatro ou cinco representações comerciais
em outras províncias chinesas e estão abrindo mais seis. A embaixada brasileira tem um diplomata
que se ocupa da parte de promoção comercial, além de dois funcionários chineses. Fazer uma
atividade de promoção comercial na China é impossível. Com a abertura do escritório da Apex
essa parte vai melhorar. A outra dimensão importante é melhorar o conhecimento e a imagem do
Brasil na China. A nossa imagem está muito associada a samba e futebol. Não há nenhuma
imagem do Brasil como uma economia desenvolvida e com um setor industrial moderno. As
pessoas desconhecem até o fato de o Brasil ser um grande produtor e exportador de aviões,
embora a Embraer tenha uma joint venture aqui. Para fazer projeto de imagem em um país da
dimensão da China, os recursos requeridos são enormes. O conhecimento sobre China no Brasil
também é muito limitado. O desconhecimento da parte do empresariado brasileiro sobre a China e
sobre como negociar com a China leva a perda de oportunidades, desentendimentos, frustrações e
a conclusões como "a China é meio exótica e só importa matérias-primas". Isso é um absurdo. A
China é um gigantesco importador de produtos manufaturados. Na verdade, o que a China menos
importa é matéria-prima. A maior parte das importações chinesas é de bens manufaturados. Do
Brasil, não, mas da Ásia, da Europa, dos Estados Unidos.

Quais são as principais pendências da relação bilateral? Como está a negociação para a
abertura do mercado de carnes?

A abertura do mercado de carnes tem sido difícil para o Brasil em todo o mundo. Acho que falta
aqui na China um investimento mais consistente da indústria brasileira e continuidade das
iniciativas. O Brasil seguramente vai se tornar um exportador importante para a China dos três
tipos de carne, de frango, bovina e suína. Mas isso implica também abrir o mercado brasileiro para
os produtos chineses, respeitadas as nossas regulamentações fitossanitárias. Há pendências na
área industrial, basicamente nas indústrias tradicionais nas quais os chineses são muito
competitivos: calçados de baixo custo, têxteis, armações de óculos e brinquedos. Se adotarmos
uma estratégia só de defesa e de criação de barreira, vai gerar irritação e não resolver o problema.
Mas é necessário atender a certas dificuldades conjunturais da indústria brasileira e não acho que
seja interesse dos chineses ter superávit com o Brasil. Pelo contrário. Em encontro com o ministro
Celso Amorim, em Genebra, o ministro do Comércio da China declarou textualmente que não é
política da China ter superávit com países em desenvolvimento porque eles já têm um superávit
muito grande. Há espaço para buscar soluções de curto prazo, compatíveis com as obrigações
internacionais do Brasil e de maneira que os chineses não considerem que estamos fazendo com a
China o que não fazemos com outros países.

Qual saída é não-defensiva e atende a indústria brasileira ao mesmo tempo?

Acho que vamos ter que ter alguma defesa, mas criar barreiras não é a resposta. A resposta está
na modernização da nossa indústria, na busca de associações com os chineses, investimentos
recíprocos, desenvolvimento de novas linhas de produção, extensão de créditos à indústria
brasileira para ela se modernizar. E sair também de alguns setores nos quais não temos mesmo
condição de competir, nos quais a produtividade chinesa é espantosa. No caso de brinquedos,
todas as grandes empresas do mundo transferiram suas linhas de produção para a China e
mantiveram nos países de origem a concepção, a marca, o design e as redes de distribuição. Tem
que haver um programa de médio prazo para mudar o perfil produtivo, modernizar certos
segmentos e abandonar outros. Mas esses são problemas que atingem uma pequena parte do
intercâmbio comercial entre o Brasil e a China, porque a maior parte não é aí. O que o Brasil
importa da China hoje é componente eletrônico, bem de capital, insumos industriais, produtos cada
vez mais sofisticados.

Qual o impacto da crise global na China e o efeito sobre as exportações brasileiras?

A China é um dos países que têm melhores condições de resistir à crise e manter uma alta taxa de
crescimento, pois não depende de poupança externa. A poupança interna chinesa é gigantesca e a
capacidade de investimento chinesa é gigantesca. A China não tem problema fiscal, acabou de
aprovar um plano ferroviário de US$ 300 bilhões, para construir 20 e tantos mil quilômetros de
ferrovias nos próximos anos. Mas, como as próprias autoridades chinesas vêm dizendo, a China
vai ser e já vem sendo afetada pela redução das exportações. Vai haver impacto no preço das
commodities e esse impacto vai se estender ao Brasil. Os preços altos que nós tivemos no período
recente vão ceder um pouco. Por outro lado, a crise abre perspectivas, principalmente de
investimentos. A China terá reservas de US$ 2 trilhões até o fim do ano. As oportunidades de
investimentos nos países centrais vão se reduzir, enquanto na África, na América Latina e no resto
da Ásia vão continuar importantes. É o momento de procurar atrair capitais chineses para o Brasil,
desenvolver projetos conjuntos e ter participação chinesa na área de infra-estrutura.

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Vicunha negocia com bancos liquidação de derivativos


Perdas da empresa com essas operações podem
chegar a US$ 150 milhões, segundo fontes do mercado

Mariana Barbosa
A Vicunha Têxtil está negociando com bancos a liquidação antecipada de operações de derivativos
cambias. A empresa já liquidou operações com o Banco Merrill Lynch e proibiu expressamente, em
deliberação de assembléia de seu Conselho de Administração, que os membros da diretoria
assinem qualquer novo contrato de derivativos com o Merrill Lynch ou com qualquer outra
instituição financeira.

A revelação da alta exposição da companhia a essas operações levou à renúncia, no dia 12 de


setembro, da Diretora de Relações com Investidores da companhia, que foi quem assinou os
contratos firmados com o Merrill Lynch. Os demais contratos haviam sido assinados diretamente
pelo empresário Ricardo Steinbruch, diretor-presidente da companhia e presidente do Conselho de
Administração.

As perdas com essas operações podem chegar a US$ 150 milhões, revelam fontes do mercado. A
maior exposição da companhia era justamente com o Merrill Lynch. Essas posições foram
totalmente liquidadas no dia 12 de setembro, conforme consta em ata de reunião publicada no site
da Comissão de Valores Mobiliários (CVM). De acordo com as mesmas fontes, a liquidação
antecipada teria levado a uma perda de US$ 80 milhões. A empresa possui ainda posições em
aberto com o Citi e o Itaú BBA, que poderão levar a um prejuízo da ordem de US$ 70 milhões.

PROIBIÇÃO

A deliberação do conselho - formado por Ricardo Steinbruch, Elisabeth Steinbruch Schwartz e Luiz
Rodrigues Corvo - proibindo novos contratos de derivativos aconteceu no dia 15 de setembro, três
dias depois da renúncia da diretora, substituída por Reinaldo José Kröger.

Procurada, a Vicunha não quis se manifestar sobre o assunto. Declarou estar em período de
silêncio até o dia 14, quando será divulgado o balanço relativo ao terceiro trimestre. Merrill Lynch,
Itaú BBA e Citi também foram procurados, mas não quiseram comentar as informações.

A empresa possui aproximadamente 40% de suas receitas atreladas à exportação e vinha sofrendo
com a valorização do real ante o dólar e com a competição com tecidos fabricados na China. Com
esse cenário, a Vicunha viu a sua receita encolher nos últimos anos. A empresa, que faturou R$
1,67 bilhão em 2005, caminha este ano para algo em torno de R$ 1 bilhão. A receita acumulada no
primeiro semestre foi de R$ 542 milhões.

Grandes grupos brasileiros, como Sadia, Aracruz e Votorantim, já anunciaram perdas bilionárias
com essas operações de derivativos cambiais, apelidados pelo mercado de derivativos tóxicos ou
tarja preta.Grandes exportadoras, essas empresas buscaram nos bancos instrumentos para se
protegerem de perdas com a valorização do real.

No entanto, diferentemente de operações de hedge (proteção) cambial puras, esses derivativos,


chamados de Tarn (abreviação de Target Accrual Redemption Note), remuneram melhor em um
cenário de real valorizado, mas oferecem, em contrapartida, um risco exponencial em caso de
desvalorização do câmbio, como é o caso atual.

Nesse tipo de contrato, os ganhos são limitados a um determinado valor e, quando a cotação do
dólar atinge um patamar estabelecido entre as partes, as perdas são multiplicadas por dois.

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Eleição nos EUA concentra atenções


Wall Street aposta na vitória do democrata Barack Obama;
no Brasil, IPCA de outubro é destaque da semana

Leandro Modé
A eleição para a Presidência dos Estados Unidos é o evento mais importante desta semana
também para o mercado financeiro. Wall Street dá como certa a vitória do candidato democrata,
Barack Obama. "Será interessante ver o que já foi antecipado e o que será capaz de provocar um
choque (nos investidores)", disse Lindsey Piegza, analista da FTN Financial.

A agenda de indicadores americanos tem como destaque o relatório do mercado de trabalho


relativo a outubro, na sexta-feira. Esses números têm sido acompanhados com grande atenção por
analistas e investidores, pois são um termômetro da atividade econômica.

Outros destaques são as reuniões de política monetária do Banco da Inglaterra e do Banco Central
Europeu (BCE), ambas na quinta-feira. A expectativa é de que a taxa básica de juros seja reduzida
em meio ponto porcentual pelas duas instituições. Atualmente, o juro na zona do euro é de 3,75%
ao ano e, na Inglaterra, de 4%.

No Brasil, o principal número da semana é o IPCA de outubro, na sexta-feira. A estimativa mais


freqüente do mercado é de alta de 0,45%.

COM AGÊNCIAS INTERNACIONAIS

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''Publicidade tem de encontrar seu novo papel''

Entrevista - Michael McLaren: presidente da McCann Erickson nos Estados Unidos

Marili Ribeiro
Há uma onda de visitas de altos executivos de grandes redes globais de propaganda ao Brasil. A
motivação é fácil de entender. Com os negócios encolhendo nos países ricos, em razão da crise,
onde estão as sedes desses conglomerados, os olhares se voltam para os países emergentes.
Michael McLaren, presidente da McCann Erickson EUA e "CEO das contas globais" da rede
McCann no mundo, é um deles. Esteve nos escritórios da empresa em São Paulo e Rio para o que
definiu de treinamento dos profissionais seniores sobre tendências e impacto do atual cenário nos
negócios dos clientes. E, mais do que destrinchar a situação de crise, preocupou-se em sinalizar
que o mundo caminha inexoravelmente para as mídias online e móveis. Ele deu a seguinte
entrevista ao Estado:

O que está mudando no negócio da publicidade?

O agente fundamental de mudança tem sido a penetração da internet e integração dela à vida das
pessoas. Sempre apresento exemplos de como as diferentes mídias têm se desenvolvido com a
internet e como ela muda a maneira como as marcas falam para seus consumidores: o que
acontece comigo se eu interajo com esse meio. Antes, se podia falar diretamente para os seus
consumidores através de mídia de massa, persuadindo-os a acreditar no valor do produto. Com a
internet, isso mudou. Há um novo papel, pois o modelo de persuasão não funciona. Não temos
mais a voz da marca, mas a voz das pessoas. É uma mudança fundamental. Temos de ajudar o
cliente a enxergar esse novo modelo, ajudá-lo a ser um influenciador.

Como a crise vai se refletir no mercado publicitário?

A verdade é que ainda é cedo para dizer. Não vimos mudanças em 2008. Estamos focados em
2009. Os clientes estão muito cuidadosos para montar o plano de 2009 porque eles não têm
certeza do que vai ocorrer com a demanda dos consumidores. Estamos prevendo um 2009
desafiador, mas nenhum cliente cancelou seus anúncios. O número de buscas pela palavra
"recessão" no Google subiu incrivelmente. Todos sabem que vai ser mais difícil que 2008, vamos
ajudar as marcas a enfrentar esse ambiente.

O que você recomenda aos seus clientes?

Cada cliente está em uma categoria, e cada categoria tem um cenário. Não há uma fórmula. Há
ações que eles podem tomar, se você quer construir valor e se comunicar com seus públicos-
chave. O varejo faz programas de fidelidade, novas aproximações, cria recompensas para os
clientes. Os serviços estão oferecendo valor, em vez de apenas preço. Olhe para todo o mix de sua
empresa: como ele é entregue, como se mantém, como adicionar valor a esse mix? Esse é o tipo
de dúvida que temos de analisar. A Mastercard é um bom exemplo. Criou um programa de
incentivo para as pessoas dividirem suas experiências "que não tem preço". Dão prêmios pela
participação ao enviarem suas aventuras. Estão criando fidelidade, sem gastar quase nada.

Os anunciantes não devem buscar novos clientes?

Marcas sempre precisam de clientes novos, mas, em horas difíceis, têm de trabalhar para seus
clientes leais. Consumidores estão usando seu acesso à informação antes de ir às compras. Eles
pesquisam. E eles vão pesquisar cada vez mais, até achar a oferta mais atraente para eles. Os
clientes têm de saber como se colocar nesse momento de pesquisa. Qual sua estratégia de
internet? O que você está fazendo para contar sua história? As pessoas estão cautelosas, então,
como você se mostra para elas.

E é possível mensurar esse tipo de relação no online?

As ferramentas de medição estão mais sofisticadas. A beleza do mundo digital é que você pode
monitorar transações. Saber onde as pessoas clicam e quanto tempo elas ficam em contato com a
sua mensagem. Logo, o anunciante passa a ter mais controle na internet do que ele tem sobre a
exposição do seu comercial na TV.

Como convencer anunciantes a continuar anunciando?

Há um fato relevante: o mercado é o que é, mas a história mostra que investir nos períodos de
baixa faz as marcas emergiram mais fortes quando a economia volta a crescer. Há exemplos
conhecidos em situações anteriores. A rede de cafeterias Starbucks e a marca de detergentes Tide,
nos Estados Unidos, investiram durante crises e ganharam fatias de mercado depois. É até lógico:
se os outros diminuem e você mantém, sua presença relativa aumenta.

Mas os clientes não têm menos dinheiro para gastar?

Será uma realidade para alguns clientes. Não para todos.

O que vai acontecer com as mídias tradicionais?

Os níveis de audiência de TV nos EUA caíram, mas se estabilizaram. Ainda existe um valor de
entretenimento em ver televisão. Toda mídia tem seu espaço. Pode ser que ela não ocupe o
mesmo espaço de antes, nem tão dominante, mas ela não vai sumir. O interessante é olhar que
existem programas de TV com atrações online. Como por exemplo o American Idol. Eles têm o
produto televisivo e o online. As pessoas são multitarefas e vão continuar sendo. A mistura de
entretenimento e mídia, principalmente para a geração mais jovem, está dando certo.

Mercados emergentes são alternativa para as grandes marcas?

Os mercados emergentes são essenciais para os planos de crescimento das empresas globais nos
próximos 10 ou 15 anos. Brics são a próxima onda, estatisticamente provado. O desafio é saber
que eles vivem da exportação de itens primários e pode haver queda na demanda mundial. O
crescimento do Brasil foi muito saudável nos últimos anos e o País deve continuar a crescer,
mesmo com as mudanças. A maioria dos meus clientes tem estratégias para o Brasil, que é o 5º
maior país do mundo, líder da América Latina. Todos estão focados aqui. É aqui, na China e na
Rússia.

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RIBAMAR OLIVEIRA - A reforma vai ficar para depois


Ribamar Oliveira, email: ribamar.oliveira@grupoestado.com.br

O governo e seus aliados precisaram utilizar um estratagema para conseguir que o parecer do
deputado Sandro Mabel (PR-GO), relator da reforma tributária na Câmara dos Deputados, fosse
lido na comissão especial que analisa a proposta, na última quarta-feira. Como o plenário da
Câmara dos Deputados estava votando o projeto que cria o Fundo Soberano do Brasil, a Comissão
Especial não podia continuar os trabalhos. A sessão da Câmara foi, então, encerrada e convocada
outra. Entre uma e outra, o relator leu o seu parecer.

A rigor, o parecer não foi lido, pois Mabel apenas fez uma apresentação, em powerpoint, das
principais mudanças e dos objetivos da reforma. Mesmo assim, o substitutivo apresentado pelo
relator foi dado como lido pelo presidente da comissão, deputado Antonio Palocci (PT-SP), e abriu-
se o prazo para a sua discussão e votação, sob protestos da oposição e de parlamentares da
própria base aliada do governo. O episódio ilustra a dificuldade de tramitação da reforma tributária
neste momento, pois não há um entendimento sobre ela.

No dia seguinte, os governadores de São Paulo, Minas Gerais, do Rio de Janeiro e Espírito Santo,
reunidos em Belo Horizonte, decidiram pressionar o Congresso para que os deputados e
senadores suspendam a tramitação da proposta de reforma tributária até que fique mais claro o
impacto da crise internacional na arrecadação dos Estados.

Na próxima quarta-feira, quando a comissão especial volta a se reunir, o resultado da pressão dos
governadores será melhor avaliado. De qualquer forma, não se faz uma mudança constitucional
como essa, que precisa de três quintos dos votos da Câmara e do Senado, sem um grande
entendimento sobre a proposta. A dificuldade será maior no Senado, onde é difícil para o governo
obter até mesmo maioria simples nas votações.

Há um consenso entre os especialistas de que a arrecadação tributária crescerá menos no próximo


ano, nos três níveis de governo. A dúvida é apenas sobre a intensidade desse movimento. A razão
não é apenas o menor crescimento econômico projetado para 2009 por todos os economistas,
incluindo os do governo. Como todos sabem, quando a atividade econômica arrefece, as receitas
com impostos também diminuem.

O principal motivo para a provável diminuição das receitas é a queda da lucratividade das
empresas no próximo ano. A forte elevação da receita tributária verificada durante os últimos anos
decorreu, principalmente, do grande crescimento da lucratividade das empresas instaladas no
Brasil. Isso é facilmente demonstrado porque as receitas do Imposto de Renda (IR) e da
Contribuição Social sobre o Lucro Líquido (CSLL) foram as que mais cresceram nos últimos anos.
A base desses dois tributos é o lucro.

A crise internacional levará a uma redução do crescimento econômico do Brasil e da lucratividade


das empresas, principalmente por causa das apostas que centenas delas fizeram em derivativos
cambiais. Os prejuízos que elas tiveram - e alguns foram bilionários - vão reduzir o lucro tributável
e, por causa disso, a arrecadação do IR e da CSLL será menor. "A repercussão será direta, pois o
prejuízo come o imposto", ensinou o ex-secretário da Receita Federal Everardo Maciel, em
conversa com este colunista.

Everardo chama a atenção para o fato de que a redução da lucratividade das empresas terá
impacto também sobre a arrecadação dos Estados e municípios, com quem a União reparte a
receita do IR. "Teremos uma repercussão sistêmica, pois a queda da arrecadação do Imposto de
Renda alcança todos os entes federativos", observou. Com menos receita do IR, as transferências
constitucionais para Estados e municípios serão menores em 2009.

O deputado Sandro Mabel fez profundas mudanças na proposta de reforma tributária apresentada
pelo governo. Essas alterações poderão criar ainda mais dificuldades para a tramitação da
reforma, como, por exemplo, a incidência do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços
(ICMS) sobre petróleo e energia elétrica ou a permissão para que o governo possa criar novas
contribuições destinadas à manutenção ou expansão da seguridade social. No substitutivo de
Mabel, essa nova contribuição poderá incidir sobre as grandes fortunas. O relator corrigiu, no
entanto, o texto do governo e impediu que o Imposto sobre Valor Adicionado Federal (IVA-F), a ser
criado em substituição a outros três tributos, incida sobre movimentação financeira.

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Artigo - A previdência privada na Argentina e no Brasil

Antonio P. Mendonça*
A Argentina acaba de nacionalizar a previdência privada do país. Daqui para frente os portenhos,
que participavam de um sistema seguro e com melhor remuneração, passam a meros números da
previdência social, com o ônus de custear os furos existentes com sua poupança pessoal,
amealhada e guardada por anos a fio de árduo trabalho.

Nada de novo debaixo do sol. Não é primeira vez que o país vizinho toma uma medida dessa
ordem. O resultado é o descrédito de uma nação pujante e com enormes potencialidades, levada
de novo ao fundo do poço pela irresponsabilidade de seus governantes e pela mais absoluta
demagogia política. Num cenário como o enfrentado pelo mundo, não serão medidas como essa
que salvarão a Argentina. Pelo contrário, uma agressão dessa natureza contra a poupança de
parte da população não será aceita pacificamente pelos grandes agentes financeiros mundiais,
que, mais uma vez, colocarão dificuldades para a concessão de novos créditos ao país.

Ainda que eventualmente resolvendo um problema imediato de caixa, além de dar mais poder ao
governo, que com a nacionalização da previdência privada passa a ser importante acionista de
grandes grupos empresariais, a médio e longo prazos a medida será um desastre para a economia
do país.

De qualquer forma, como, até um passado não tão distante, ambas as nações copiavam da outra
as más idéias implantadas pelos respectivos governos, a questão que se coloca é se uma medida
dessa natureza seria possível, atualmente, no Brasil.

E a resposta é não, pelo menos em princípio. Ainda que no governo exista gente deslumbrada com
a genialidade míope do governo portenho, a realidade político-econômica brasileira, construída
com esforço pela sociedade e respaldada por uma consistente política econômica implantada e
mantida pelo governo, não permitiria a adoção de uma medida vagamente parecida com a
nacionalização da previdência privada nacional.
Em primeiro lugar, se o governo Lula tem que se orgulhar de algo é a forma como, desde a
primeira eleição do presidente da República, as questões econômicas foram tratadas: sem
demagogia, sem concessões, sem mágicas de qualquer natureza. Pelo contrário, a ortodoxia tem
sido a palavra-chave para o surpreendente desempenho brasileiro, que nos coloca ao lado das
principais nações do mundo e nos faz importantes parceiros da ordem econômica internacional,
com situação invejável, até mesmo no momento atual, quando países tradicionalmente mais ricos e
desenvolvidos cem o pão que o diabo amassou, atingidos de modo muito mais severo do que nós
por uma crise que ninguém consegue dimensionar.

Em segundo lugar, a previdência privada brasileira tem desempenhado papel da maior importância
para esse cenário. Se somarmos as reservas dos fundos de pensão e da previdência privada
aberta encontraremos centenas de bilhões de reais investidos em atividades produtivas ou em
papéis do próprio governo, alavancando o crescimento do país.

Mais que isso, encontraremos os valores indispensáveis para o custeio da aposentadoria da parte
mais rica da população, desonerando a previdência social de uma obrigação que a impediria de
atender aos mais carentes e que representam a imensa maioria da sociedade.

Ao longo dos últimos anos, Brasil e Argentina tomaram caminhos diferentes e, por isso mesmo,
estão tendo resultados completamente diferentes. Enquanto a grande nação do sul afunda em
crises periódicas, o Brasil, ainda que sentindo os efeitos de diferentes choques econômicos, segue
firme no rumo do desenvolvimento econômico e social. Neste momento, mexer na previdência
privada nacional seria dar um tiro no pé. Quando o campeonato está bom é tolice mudar as regras
no meio. E quando o time tem um craque em campo é mais tolice ainda substituí-lo. A previdência
privada é esse craque. Então, o que ela precisa é de apoio.

*Antonio Penteado Mendonça é advogado, sócio de Penteado Mendonça Advocacia,


professor da FIA-FEA/USP e do PEC da Fundação Getúlio Vargas e comentarista da Rádio
Eldorado.

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Opinião - Sebastianismo rooseveltiano

Marcelo de Paiva Abreu*


Sob dois aspectos, as grandes crises de 2008 e de 1929 são bastante semelhantes: a gravidade
do colapso dos mercados financeiros e o processo relativamente longo de acumulação de
distorções nos períodos que precederam os respectivos desenlaces. É claro que as distorções dos
anos 20 foram distintas das que se acumularam recentemente, mas o efeito cumulativo das
tensões enquanto se formava a bolha foi semelhante.

Nos tempos recentes: déficits gêmeos estruturais nos EUA; superávits comerciais estruturais de
emergentes, especialmente da China; superaquecimento dos mercados de commodities,
especialmente de petróleo e metais; embelezamento de ativos com alta propensão ao
derretimento, especialmente hipotecas nos EUA; booms imobiliários especulativos e estruturas
regulatórias insuficientemente adequadas a novos instrumentos financeiros. Nos anos 20:
convivência de reparações de guerra com dívidas de guerra entre os vitoriosos; instabilidade
macroeconômica na Europa, especialmente entre os derrotados; excesso de oferta de commodities
e sustentação artificial de preços; "rigidez" no mercado de trabalho; inconsistência entre as
políticas financeiras dos EUA, França e Grã-Bretanha; sobrevalorização de moedas e tensões
relacionadas ao gold exchange standard (padrão ouro de câmbio).

Ações compensatórias nacionais e regionais parecem ter debelado a ameaça de derretimento


financeiro. Um sinal de ação coordenada efetiva, utilizando canais tradicionais, foi o lançamento de
um programa do Fundo Monetário Internacional (FMI) de empréstimos de emergência de curto
prazo a países com boa história de gestão macroeconômica. A isso se soma a iniciativa do Federal
Reserve (Fed) de prover liquidez em dólares, por meio de swaps cambiais, a alguns países de
importância estratégica, entre os quais o Brasil.

A idéia de que o impacto da crise financeira atual sobre a economia real tenha semelhança mesmo
que remota com o da crise de 1929 é o que agora tira o sono dos governantes no centro e na
periferia da economia mundial. Quedas do PIB de 30% em algumas economias desenvolvidas -
como nos EUA, entre pico e vale, em 1929-1933 - e de 5% no Brasil, no mesmo período, não se
repetirão, mas quedas significativas do nível de atividade no centro do sistema não podem ser
descartadas nos próximos semestres - talvez combinadas com crescimento muito baixo ou
estagnação entre os emergentes de crescimento relativamente lento, como é o caso do Brasil.

O temor das conseqüências da crise sobre a economia real, combinado com o seu protagonismo,
tem exacerbado a hiperatividade de alguns líderes em meio à crise, especialmente do presidente
francês, Nicolas Sarkozy, temporariamente presidente da União Européia. Sobram razões para
temer que o protagonismo possa acabar sendo contraproducente. É incerto qual poderá ser o
resultado substantivo da reunião de líderes do G8 com os do G20, em Washington, no próximo dia
15. Após as eleições, o presidente George W. Bush será então um morto-vivo político, ainda mais
morto do que hoje. Será que o novo presidente dos EUA - que será eleito amanhã - se sentará
também à mesa? E os novos responsáveis pela política econômica e financeira dos EUA? Se o
novo presidente for John McCain, antecipa-se a dificuldade dos mercados em absorver more of
almost the same (mais de quase o mesmo). É como se Herbert Hoover ganhasse a reeleição em
1932, derrotando Franklin D. Roosevelt. Mesmo com a vitória de Barack Obama, é improvável um
resultado significativo. E a explicitação das dificuldades pode ser ter conseqüências perigosas em
mercados excessivamente voláteis.

Sarkozy, em meio a manobras para assegurar a extensão de seu mandato de facto como
presidente da "Europa" - dado que os dois próximos presidentes de jure serão de países fora da
zona do euro -, tem insistido na necessidade de "reformular Bretton Woods", ignorando o contraste
essencial entre a situação em Bretton Woods e hoje. Em 1944, não havia dúvida quanto à posição
hegemônica dos EUA. A arquitetura financeira lá acordada - essencialmente sobre regimes
cambiais e sua sustentabilidade - foi proposta pelos EUA e prevaleceu, não obstante as
resistências de Keynes.

Qualquer que seja a "reformulação" que se pretenda, vai ser preciso aprender como assegurar
ação coordenada sem a regência de um protagonista hegemônico. Os que vêem como
conseqüência da atual crise o fim da hegemonia dos EUA e, conseqüentemente, o aumento do
poder de barganha de emergentes - tanto do ponto de vista econômico quanto político - deveriam
levar em conta o retrospecto histórico. Em especial, o período que marcou a transição da
combalida hegemonia britânica pré-1914 para a hegemonia norte-americana após a 2ª Guerra
Mundial. A evidência indica que cada caso foi um caso e que alguns "emergentes" se deram
bastante mal em meio a rivalidades entre os grandes.

Há clamor generalizado por um novo New Deal, um banzo rooseveltiano com laivos de
sebastianismo. Mas as políticas coordenadas substantivas que irão além da contenção do pânico
financeiro estão ainda pouco nítidas. Se a ação coordenada global evitar a adoção de políticas
econômicas, financeiras e comerciais do tipo "dane-se o meu vizinho", como ocorreu na década de
1930, já terá alcançado objetivo importante.

Ainda não é o fim do "neoliberalismo", como torcem alguns, mas a economia real ainda vai piorar
bastante antes de melhorar. E estamos longe de começar um processo de reconstrução do marco
regulatório do sistema financeiro que minimize o risco de recorrência de "tsunamis".

*Marcelo de Paiva Abreu, Ph.D. em economia pela Universidade de Cambridge, é professor


titular do Departamento de Economia da PUC-RJ
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Opinião - Do pânico ao desânimo. E melhorou

Carlos Alberto Sardenberg*


Estamos saindo do pânico para algo como um desânimo conformado. O pânico, no caso, diante da
possibilidade de um colapso financeiro global, leva a movimentos bruscos - venda ações, compre
dólares, queime dólares, compre ienes, venda tudo, esconda o dinheiro. No desânimo, é como na
depressão, não se faz quase nada. Traduzindo, a volatilidade nas bolsas e no mercado financeiro
em geral deve dar lugar a um período de pasmaceira, lá embaixo.

O resumo da semana passada é este: a crise amainou no lado financeiro, mas mostrou sua cara
no lado real.

No lado financeiro, talvez tenha sido a melhor semana. Medidas anunciadas por governos e
bancos centrais começaram a funcionar, as centenas de bilhões de dólares começaram a chegar
ao mercado e provocaram um primeiro resultado notável: acabou o pânico, aquele sentimento
desesperador de que o mundo estava à beira de um colapso financeiro, com quebradeira de
bancos e de clientes e com as empresas e as pessoas perdendo depósitos e investimentos.

Isso acabou. Não haverá esse colapso, tal é a convicção hoje. Os governos e os bancos centrais já
haviam dito isso, mas levou algum tempo para o pessoal acreditar. Mais ou menos um mês para o
pessoal se convencer de que não haveria um segundo Lehman Brothers indo à falência.

A propósito, quando o governo americano e seu banco central, o Federal Reserve, deixaram o
Lehman quebrar, alguns analistas disseram: só o tempo dirá se foram corajosos ou loucos. Hoje,
olhando para trás, está evidente que foram loucos.

De todo modo, a série de medidas tomadas no último mês indicou nova disposição: primeiro,
impedir a quebradeira; segundo, reanimar o sistema financeiro; e terceiro, suportar a recessão.

Outra grande mudança, depois do colapso do Lehman, foi a virada dos líderes mundiais. Pararam
com aquele populismo de direita e de esquerda, Sarkozy e Lula, por exemplo, dizendo que era
tudo culpa dos americanos e que eles se virassem para acabar com o cassino que haviam criado.
Todos entenderam que a crise era global, que seus sistemas financeiros e suas economias se
haviam beneficiado do "cassino" e que todos deveriam agir em conjunto.

Fizeram isso e começamos a sair do pânico. E, na última semana, foram animadores os sinais de
retomada do fluxo de empréstimos. Longe da normalidade, mas também longe da paralisia de
semanas anteriores. Foi esse ambiente que as bolsas celebraram até quinta-feira.

Mas a semana terminou com a crise mostrando sua cara no lado real, especialmente para nós,
brasileiros.

O sinal mais forte veio na sexta-feira pela manhã, quando a Vale anunciou uma redução em sua
produção mundial de minério de ferro, níquel, alumínio, ferro liga e outros produtos. A razão, a
óbvia desaceleração da economia mundial.

Outro sinal importante foi dado pelas montadoras de veículos. Ao longo da semana, várias delas
anunciaram férias coletivas para reduzir a produção e "adequá-la" ao consumo em queda.

Há, portanto, sinais de parada nas economias externa e interna. Eis o que veremos: o contrário do
que aconteceu nos cinco anos brilhantes de crescimento mundial, de 2003 a 2007.

No lado externo, a Vale, que se beneficiou espetacularmente da forte expansão global e,


especialmente, com a China, paga agora o preço da falta de crédito, que leva à redução de
investimento e consumo. A China, que há cinco anos crescia a taxas superiores a 11% ao ano,
desacelerou para 9% no terceiro trimestre deste ano.

Pode-se dizer: mas 9% está muito longe de uma recessão. Claro. Mas a "função" da China na
economia mundial é acelerar rapidamente e aumentar a demanda todos os anos. No caso, também
impressiona a rapidez com que a China reduziu seu ritmo.

Outro sinal externo: nesse mesmo terceiro trimestre, a economia americana encolheu 0,3%, o que
parece pouco diante do tamanho do estrago. Mas esse trimestre apanha apenas um mês do auge
da crise, setembro. O efeito maior se vê neste final de ano.

Além disso, os indicadores já mostram uma forte queda no consumo das famílias, que movimenta
79% do PIB americano.

Aqui, no Brasil, o sinal da indústria automobilística foi também muito forte. Notem, 70% da venda
de automóveis se faz no crediário, que havia crescido espetacularmente no Brasil nos últimos
anos, graças, entre outras coisas, ao sistema financeiro mundial, que ofereceu capital barato.
Agora que o crédito aperta, as montadoras entram em férias.

Esses sinais aparecem em todos os países, em proporções diferentes. Alguns vão desacelerar,
crescer menos; outros vão andar para trás. Às vezes, a queda nem parece tão forte, mas o que
vale é a comparação. E estamos comprando com anos de ouro, o início deste século, em que todo
o mundo cresceu acima de seu potencial.

De todo modo, ainda falta saber qual será a profundidade da desaceleração/recessão e qual a sua
duração. Isso vai dominar as expectativas. Certamente virão notícias ruins, como essa da Vale de
reduzir a produção. Mas tudo dentro de um cenário esperado, de modo que não devem mais
ocorrer esses enormes sustos das últimas semanas, quando o pessoal temia acordar e saber que
um bancão havia quebrado.

Resumo geral: parece que batemos no fundo do poço, saímos de lá e chegamos no estágio de
lidar com a recessão/desaceleração. Com menos volatilidade, mas também sem recuperação.

Em termos de Bolsa de Valores, vá lá, possivelmente já batemos no fundo do poço, mas ainda não
sabemos quando começará a recuperação. Mas sabemos que haverá recuperação, porque o
capitalismo está longe, muito longe, do fim.

*Carlos Alberto Sardenberg é jornalista


Site: www.sardenberg.com.br

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FOLHA DE S. PAULO

Receita prepara alongamento de imposto


A pedido do ministro Mantega, órgão avalia o impacto no
caixa do Tesouro de ampliação de prazos de recolhimento

Empresários pedem mais prazo para reforçar capital de giro com


crise financeira; para a Receita, arrecadação crescerá menos em 2009

CLAUDIA ROLLI
FÁTIMA FERNANDES
DA REPORTAGEM LOCAL
A Receita Federal deve entregar até amanhã ao ministro da Fazenda, Guido Mantega, estudo que
avalia o impacto no caixa do Tesouro da ampliação de prazos para o recolhimento de impostos das
empresas.
O pedido para fazer o estudo foi feito na última sexta-feira pelo ministro à secretária da Receita
Federal, Lina Vieira, e tem como objetivo atender reivindicação de empresários que querem ter
mais dinheiro em caixa para enfrentar os efeitos da crise financeira global.
Lina afirma que vai apresentar ao ministro estudo sobre impostos que ainda não são recolhidos no
final do mês, como o IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados) para alguns produtos, a Cofins
(Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social) e as contribuições previdenciárias.
A idéia é permitir, por exemplo, que as empresas que pagam o IPI no dia 20 de cada mês possam
fazê-lo no dia 30, e assim ter mais capital de giro ao longo do mês.
O pedido para ampliar os prazos foi feito no mês passado pela CNI (Confederação Nacional da
Indústria), que estima que o prazo médio de pagamento de tributos é hoje de 30 dias. A
confederação sugeriu que esse prazo passe para 60 dias, durante um período de seis meses, a
partir do próximo ano.
O secretário do Tesouro, Arno Augustin, também deverá fazer um levantamento sobre o impacto do
alongamento de prazos no seu fluxo de caixa, segundo afirma a secretária da Receita. "A partir
desses dados, o ministro vai decidir quais medidas serão tomadas", diz Lina.
O governo tem compromissos a cumprir, entretanto, a partir de um cronograma já estabelecido de
arrecadação. "Quando se altera o cronograma, isso pode afetar as contas do governo. Por isso é
preciso uma avaliação detalhada da secretaria do Tesouro", afirma.
Ao estender os prazos para que as empresas paguem seus impostos, o governo federal quer
também evitar a perda de arrecadação no ano que vem, quando a desaceleração da economia
deve se intensificar.
Com os prejuízos enfrentados pelas empresas em decorrência da crise, a previsão de a Receita
arrecadar 11% a mais no próximo ano deve ser revista, segundo a secretária. "O êxito da
arrecadação está principalmente baseado em dois tributos, o Imposto de Renda da Pessoa
Jurídica e a Contribuição Social sobre o Lucro Líquido, que representam a lucratividade das
empresas. Se houver, portanto, redução na lucratividade das empresas, a arrecadação será
reduzida", afirma.
Com expansão mais forte da economia, a Receita arrecadou com tributos e impostos federais R$
508,8 bilhões de janeiro a setembro, 10% a mais que no mesmo período de 2007, apesar do fim da
CPMF. Só em setembro, foram recolhidos R$ 55,6 bilhões, novo recorde.
"Sabemos que muitas empresas vão enfrentar prejuízos porque fizeram negócios atrelados ao
dólar. Com certeza, esses prejuízos vão resultar em um crescimento menor de arrecadação [em
2009]. Não sabemos quais são os números, mas seremos afetados", diz Lina. "Pela análise de
todos os setores econômicos até setembro e pela injeção de investimentos do PAC [Plano de
Aceleração de Crescimento] era previsto para o ano que vem um retorno muito grande [para a
arrecadação]. Agora vamos ter de analisar novamente os números."
Em época de dificuldades financeiras, o recolhimento de impostos e tributos tende a cair, segundo
a secretária. "O que as empresas fazem quando entram em dificuldade é parar de recolher
impostos. Primeiro pagam funcionários e fornecedores. Se sobrar dinheiro, pagam os impostos",
afirma.
As medidas adotadas pelo governo federal e pelo Banco Central para injetar mais dinheiro na
economia e amenizar os efeitos da crise no país estão corretas, segundo avalia Lina. Tanto que a
Receita Federal mantém a previsão de arrecadar neste ano 7% mais do que no ano passado. "Não
acredito que a crise nos afete neste ano. Esperamos chegar em dezembro com a nossa meta de
arrecadação mantida, que é a de crescer 7% [sobre 2007]."
Em relação à concessão de novos benefícios fiscais a determinados setores da economia, a
secretária afirma que não devem ocorrer em momentos de dificuldades como esse. "Na época de
vacas gordas, pode se conceder benefícios porque a desoneração tem como ser compensada na
efetividade da arrecadação. Mas em momentos de maior dificuldade, não podemos olhar com
benesse a concessão de benefícios."

Mais mudanças
As mudanças na estrutura da Receita Federal vão se intensificar, segundo a secretária. "A
oxigenação vai continuar. Faço as escolhas, e elas vão continuar com base na análise dos
currículos e do perfil das pessoas, que também são sabatinadas por mim, pelo ministro [Mantega]
e pelo secretário executivo [Nelson Machado]."
Sobre as críticas de que os sindicalistas chegaram ao poder na Receita nessa nova gestão, Lina,
que assumiu a chefia do órgão em julho, diz: "Somos todos concursados. Não interessa a que
partido político as pessoas pertencem. E não é novidade [ter sindicalistas] na casa. Nas gestões
anteriores também havia pessoas que passaram por sindicatos."

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Órgão vai criar câmaras setoriais

DA REPORTAGEM LOCAL
A Receita Federal vai criar câmaras setoriais com o objetivo de discutir com os contribuintes
problemas que atinjam os setores, como a informalidade ou uma legislação que possa não ser
adequada.
"Estamos viabilizando a construção dessas câmaras para resolver problemas setoriais, com a
participação de representantes da Receita e das empresas. Do lado de cá, eu tenho a visão
técnica e olho na arrecadação. Do lado de lá, existe a visão dos problemas inerentes à
determinada atividade. Então optamos por fazer uma parceria para dar resultados", afirma Lina
Vieira, secretária da Receita Federal.
As câmaras, segundo a secretária, poderão ser formadas por determinação da Receita ou por
demandas dos próprios setores. "Se a Receita vê necessidade em debater o problema da
informalidade em determinado setor, formaremos a câmara."
Lina afirma que já recebeu pedido de formação de câmara do setor de papel e celulose, que quer
discutir alteração em legislação. "Não queremos mais criar legislação para ter litígios." (FF e CR)

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Emendas à MP seguem doação de campanha

MARIA CLARA CABRAL


DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Um mapa dos interesses de doadores de campanha pode ser desenhado ao se analisar as
emendas dos congressistas à medida provisória 443, editada pelo governo para autorizar a Caixa
Econômica Federal e o Banco do Brasil a comprarem instituições financeiras e ramos
complementares.
Aproveitando a MP, deputados que receberam, segundo o TSE (Tribunal Superior Eleitoral),
relativamente muito dinheiro do setor da construção civil foram responsáveis por sugestões de
mudanças que beneficiam os seus contribuintes.
O setor reagiu à medida dizendo que a possibilidade de empresas do ramo serem adquiridas
contemplaria só as "grandes". Para representantes da área, seria melhor o governo investir em
uma linha de financiamento específica ao setor.
E é isso que quer o deputado Luiz Sérgio (PT-RJ), um dos grandes beneficiados pelo dinheiro
doado por empresas de construção civil. No total, cerca de 40% do valor recebido na sua
campanha (R$ 310 mil de R$ 787 mil ) vieram do setor.
Em emenda à MP, o deputado propõe que o BNDES institua uma linha emergencial de
financiamento a longo prazo para apoio às empresas com atuação relevante no mercado da
construção e "empreendimentos estruturantes de infra-estrutura". O deputado quer ainda que o
BNDES aloque no mínimo R$ 5 bilhões até 2009 para a linha de financiamento.
Luiz Sérgio diz que conversa muito "com o pessoal das duas pontas da construção", que manifesta
a preocupação com os impactos da crise, e que, como deputado, levou essa preocupação para a
Câmara.
Outro exemplo é do deputado Cândido Vacarezza (PT-SP), que, dos R$ 726 mil recebidos na
campanha, R$ 120 mil vieram de construtoras. Sua emenda é semelhante à do colega. A sua
proposta, no entanto, é que a CEF institua, "por sua conta e risco, uma linha emergencial de
financiamento a longo prazo para a concessão de apoio às empresas construtoras nacionais com
atuação no mercado imobiliário e com empreendimentos comercializados" em 2007 e 2008.
Na emenda, Vacarezza argumenta que a MP ajuda só as empresas do setor que dispõe de ações
no mercado, exatamente a reclamação feita por representantes do setor. O deputado diz que
apresentou a proposta graças a sua preocupação com "um dos maiores setores geradores de
emprego do país". "Tive doação do setor, mas não foi tão relevante assim. Apresentei a emenda
porque a acho necessária", disse.
Outro que recebeu ajuda da construção civil foi o deputado Juvenil (PRTB-MG): R$ 100 mil de um
total de R$ 415 mil doados. Sua emenda defende que as empresas do setor sejam excluídas da
MP -não possam ser compradas por BB e CEF.
Ele nega que tenha sugerido a mudança após a reclamação de representantes do setor sobre a
possibilidade de estatização das grandes empresas do ramo. Sua intenção, diz, foi "proteger o
governo", que poderia "tapar buracos ardilosamente abertos pelas empresas". "A doação de
campanha não tem relação com a ideologia. Não represento o setor, represento a sociedade",
disse.
Já a emenda do líder do PMDB, Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), que recebeu R$ 100 mil de
construtora (de um total de R$ 733 mil), pede que o Tesouro Nacional seja autorizado a repassar
ao BNDES 30% do valor previsto dos investimentos do PAC em 2008 e 2009 para financiar apenas
construtoras com contratos de obras no programa.
Ele nega que sua emenda tenha relação com doações da campanha e diz que a intenção é "criar
mecanismos para fortalecer o PAC e melhorar a liquidez na construção civil".
As emendas podem ou não ser acatadas pelo relator da MP antes de ela ir a plenário.

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Bancos levam operação de risco cambial a pequenos


Contrato atrelado a dólar é similar ao que deu prejuízo a empresas como Aracruz

Fabricante de produtos para piscinas acumula dívida de quase


R$ 100 mil com banco; empresa diz ter sido induzida a fechar contrato

FÁTIMA FERNANDES
TONI SCIARRETTA
DA REPORTAGEM LOCAL
Ao menos quatro bancos brasileiros passaram a pequenos empresários o complexo modelo de
financiamento atrelado à variação da taxa de câmbio (derivativos cambiais) que resultou em
prejuízos bilionários a grandes companhias do país.
Pouco antes de o dólar disparar, esses bancos resolveram testar com pequenas empresas um
programa piloto que previa o financiamento de capital de giro com juro mais baixo, porém, atrelado
a um risco cambial até então subestimado.
A operação, que deu bons ganhos a grandes empresas enquanto o dólar caia, é semelhante a
aquelas que deram prejuízos bilionários a gigantes exportadoras, como Sadia e Aracruz, só que
com valores menores. Com a alta do dólar, a dívida dessas empresas disparou e a discussão em
torno desses prejuízos -em alguns casos- vai acabar na Justiça.
Alegando desconhecer o risco que corria, a Damarfe Produtos Químicos, uma fabricante de
produtos para piscinas de Diadema (SP), decidiu recorrer à Justiça para cancelar um contrato
firmado com o Banco Itaú, em 15 de agosto deste ano, que já lhe trouxe uma dívida vencida de R$
95 mil em razão da alta do dólar. Até abril de 2009, a empresa tem dívida a vencer de R$ 230 mil.
João Resio, proprietário da empresa, acusa o banco de ter lhe oferecido um modelo de
financiamento que não era compatível com o porte financeiro de sua empresa -ele fatura R$ 500
mil mensais- e que o banco não lhe explicou claramente que o negócio era complexo e atrelado à
variação do dólar.
A Folha apurou que outras três empresas um pouco maiores do que a Damarfe fizeram o mesmo
tipo de financiamento - com risco cambial- com outros três bancos. Esses clientes preferiram não
expor seus nomes e os dos bancos porque ainda tentam resolver o caso por meio de negociação.
Pelo contrato assinado pela Damarfe, a empresa conseguiria como benefício a redução da taxa
mensal de juro de 1,9% para 1,6% para descontar em média R$ 400 mil mensais em duplicatas
-modalidade de crédito em que o banco adianta para a empresa o dinheiro de suas vendas a
prazo.
Em contrapartida, a empresa se comprometeria a cobrir cada centavo de parte do montante
emprestado -convertido em dólar-, caso a moeda americana passasse de R$ 1,71.
"Entendi que o banco tinha me oferecido um refinanciamento, que reduzia meu juro. Do dia para a
noite descobri que tinha uma dívida de cerca de R$ 95 mil com o Itaú por conta da alta do dólar. Aí
fui ver que o contrato, que tinha assinado no dia 15 de agosto era igualzinho ao feito pelas gigantes
Aracruz, Sadia e Votorantim. Isto é, sem eu saber de nada, o banco me induziu a assinar um
contrato, dizendo que era bom negócio para mim, sem me explicar que estava atrelado ao dólar.
Quero agora o cancelamento do contrato."
Sem saber, segundo o dono da Damarfe, a empresa se comprometeu a vender ao banco o "direito"
de comprar cerca de US$ 650 mil -ele afirma que o valor foi estipulado pelo banco- em seis
contratos com quatro diferentes datas de vencimento (14 de outubro, 15 de dezembro, 11 de
fevereiro e 13 de abril) a R$ 1,71 e a R$ 1,72, independentemente de quanto estivesse o dólar no
período, como consta no contrato.
Por esse "direito", o banco pagou à empresa seis prêmios -de pouco menos de R$ 8 mil- no
momento da assinatura do contrato. Esse crédito servia para abater o volume de juros pagos, daí a
redução da taxa final do financiamento.
A operação funcionava bem para o cliente se o dólar ficasse abaixo de R$ 1,71. Abaixo desse
valor, o banco não exerceria o direito de comprar a moeda, pois poderia adquiri-la a um preço
menor de qualquer um no mercado. Mas se o dólar subisse, o cliente teria de cobrir cada centavo
que passasse do valor estipulado. Foi o que aconteceu, no dia 14 de outubro, data dos dois
primeiros vencimentos de US$ 96.175 e de US$ 115.473,71 vendidos a US$ 1,71 cada unidade.
Naquele dia, o dólar estava em R$ 2,16, e a empresa teria de cobrir R$ 95.240. Não cobriu e ficou
inadimplente. Se quisesse desfazer a operação como um todo, naquele dia, deveria desembolsar
R$ 328.458,50.
Resio diz que há cerca de cinco anos tinha um bom relacionamento com o gerente de uma agência
Itaú em Diadema, onde fica sua empresa, e que a relação de confiança era tão sólida que fez com
que ele assinasse o contrato até sem ler.
O cliente do Itaú diz que o negócio com o banco era apenas para desconto de duplicatas da ordem
de R$ 400 mil por mês. Isto é, ele tinha esse valor de crédito a receber dos clientes, e ia
adiantando no banco e rolando essa dívida com juros mensais da ordem de 1,9%.
Carlos Alberto Barsotti, advogado da Damarfe, diz que teve de fazer um curso para "tentar
entender" a operação de financiamento que o cliente fez. Após conhecer melhor o problema em
que o empresário se envolveu, Barsotti afirma que a operação só faria sentido se a empresa fosse
exportadora e tivesse receita em dólares, como tinham Sadia e Aracruz.
""Ele [o cliente] estava na ponta errada. Meu cliente é importador. Se tivesse de fazer uma
operação que envolvesse taxa de câmbio teria de comprar dólar [a um preço fixo], como fez o
banco. Quando o dólar subiu, ele perdeu tanto com o preço dos produtos importados quanto com a
dívida. Esse é um contrato de derivativos que só pode ser feito e entendido por grandes empresas.
Um banco jamais pode oferecer uma operação tão complexa a um pequeno empresário. Vamos à
Justiça para pedir o cancelamento", diz. O advogado estuda também pedir uma indenização para o
cliente, que está inadimplente.

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Banco afirma que o cliente conhecia riscos

DA REPORTAGEM LOCAL
O Banco Itaú afirma que o contrato feito com a Damarfe Produtos Químicos foi assinado pelo dono
da empresa João Resio, que sabia do risco da operação, tanto que recebeu várias simulações de
como ficaria sua dívida em decorrência da variação do dólar.
Para o Itaú, a Damarfe não é considerada um cliente de pequeno porte e sem conhecimento de
risco cambial. O banco informa que a empresa faz importação de produtos químicos e que,
portanto, conhece o risco cambial e financeiro aos quais o seu negócio está submetido.
O Itaú afirma que enviou por e-mail, no dia 15 de agosto, 20 simulações diferentes do
comportamento da dívida de seu cliente para cenários com o dólar cotado a R$ 1,61 até R$ 1,81.
Afirma ainda que mantém a gravação de todos os contatos telefônicos que teve com o cliente e
que poderá utilizar essa gravação em sua defesa se o caso for levado à Justiça.
O banco diz também que os mesmos clientes que hoje reclamam da operação cambial ficaram
calados quando essas mesmas operações trouxeram lucros, como aconteceu nos quatro anos em
que a cotação do dólar teve trajetória descendente em relação ao real.
"Todas as operações de crédito passam por nosso comitê de risco, que analisa inclusive a
capacidade de pagamento do cliente", afirma o banco por meio de nota.
O Itaú informa que fechou esse tipo de contrato firmado com a Damarfe com pouco mais de 300
empresas que participam do chamado "middle market" e que cerca de 300 dessas empresas estão
"exercendo a operação" (estão pagando as dívidas) por conta da alta do dólar -isto é, estão em
negociação com o banco.
O banco afirma que "oferece produtos de derivativos" de várias naturezas aos clientes, procurando
atendê-los em suas necessidades de "hedge" [proteção], em função das características de suas
atividades.
"A aprovação do crédito para uma operação de derivativos é submetida à comissão de crédito do
banco, que analisa a capacidade de o cliente liquidar o contrato, inclusive em situações de
estresse. As operações efetuadas junto a clientes são imediatamente neutralizadas junto à BM&F,
de modo a eliminar os riscos de mercado", afirma o Itaú em nota.
"Essas operações são ofertadas e vendidas aos clientes com total transparência, dando-lhes todas
as informações necessárias através de materiais explicativos, simulações, visitas, a fim de que
tenham a clara noção dos riscos. Os clientes encontram nestas operações importante instrumento
para a redução de custos em seus financiamentos", diz o banco.
(TS e FF)

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Mercado discute regulação das operações

DA REPORTAGEM LOCAL
O desconhecimento dos riscos alegados por empresas de diferentes portes que tiveram prejuízo
em operações com derivativos de câmbio reacende a discussão sobre a auto-regulação e o
aperfeiçoamento de regras para financiamentos oferecidos pelos bancos.
Entidades do mercado discutem como criar incentivos para que os produtos financeiros disponíveis
sejam oferecidos de acordo com as necessidades de cada cliente. No caso da proteção cambial,
uma das propostas é que seja oferecida à empresa que realmente está exposta a esse risco, como
exportadores e importadores.
Desde o ano passado, a CVM (Comissão de Valores Mobiliários) discute internamente e com o
mercado como criar regras para a adequação de produtos oferecidos aos investidores. A idéia
proposta em consulta pública é que, por exemplo, os gerentes de bancos só ofereçam fundos de
investimento a clientes que tenham condições de compreender o risco envolvido.
Pela proposta, por exemplo, o gerente teria de ter a sensibilidade para não estimular que um
cliente idoso entre em um fundo que só se torna interessante no longo prazo, dadas as regras
tributárias.
"Se sentirmos a necessidade de criar regras de adequação para produtos com derivativos, vamos
abrir uma nova consulta pública", diz Waldir Nobre, superintendente de relações com o mercado da
CVM.
A Folha pediu para alguns advogados analisarem o contrato feito entre a Damarfe e o Banco Itaú
na operação que envolve risco cambial para avaliar se o contrato é claro e adequado ao tamanho
da empresa.
"O contrato é extremamente confuso e não esclarece que há lastro em dólar, menciona apenas
que é "um contrato cujos títulos derivam de outros contratos ou títulos", o que permite vincular o
contrato a empresas desconhecidas. O Código de Defesa do Consumidor proíbe práticas como
essa", afirma o advogado Paulo Bonadies.
Na sua avaliação, "o contrato demonstra desequilíbrio entre as partes, principalmente porque é de
crucial entendimento que um pequeno empresário, que não é aplicador e não exporta nem importa,
não tem pleno conhecimento do risco desse mercado", afirma.
Luciane Brandão, da Saddi Advogados, também vê desequilíbrio entre os ganhos que ambas as
partes teriam como argumento em defesa dos empresários. Diz que, enquanto o empresário tem
seu ganho limitado a um prêmio, o banco pode ter ganho infinito dependendo da variação cambial.
"Esses clientes desconheciam a extensão do problema. O risco máximo de pagamento a que os
bancos contratantes estão expostos é prefixado e limitado, já o da empresa é ilimitado."
Para José Eduardo Carneiro Queiroz, sócio do escritório Mattos Filho, que atende a bancos,
dificilmente a Justiça vai acolher o questionamento de empresas que assinaram contrato e agora
alegam desconhecer o risco. "Se tivessem ganho, iam questionar também? Dizer que, no Brasil, o
câmbio não varia não é razoável."

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Área do Porto de Santos vai dobrar com novos terminais


Governo quer elevar capacidade de 100 milhões de toneladas para 200 milhões

Decreto que muda limites do maior porto do país já passou por


Codesp e Antaq e agora só aguarda assinatura do presidente Lula

AGNALDO BRITO
DA REPORTAGEM LOCAL
O Porto de Santos vai dobrar de tamanho. A Codesp (Companhia Docas de São Paulo) aguarda a
assinatura de um decreto presidencial que vai ampliar dos atuais 7,7 milhões para 15 milhões de
metros quadrados os limites do maior porto do país, responsável por 25% do comércio exterior
brasileiro. A minuta do decreto já passou pela Antaq (Agência Nacional de Transportes Aquaviários)
e pela SEP (Secretaria Especial de Portos) e aguarda a assinatura do presidente Lula.
A estratégia faz parte do plano federal de elevar de 100 milhões para mais de 200 milhões de
toneladas a capacidade movimentação de carga em Santos, uma boa parte dessa expansão feita a
partir de novos terminais de contêineres.
Hoje, dentro da área do porto organizado existem só duas áreas remanescentes com ocupações
irregulares.
Desde a última quarta-feira, a Codesp, a SEP e técnicos do BID (Banco Interamericano de
Desenvolvimento) iniciaram as discussões para a elaboração de um novo plano diretor de
investimentos. Faz parte desse plano a elaboração de um novo modelo de contrato de
arrendamento que será aplicado aos novos projetos licitados e aos atuais a partir das revisões
qüinqüenais previstas hoje, conforme antecipou a Folha.
A expansão geográfica do porto também corrige um problema. O mega projeto Barnabé-Bagres,
em fase de estudo pelos grupos Santos Brasil e Libra, está cerca de 80% fora dos limites do porto
organizado, delimitado pelo paralelo 23.
"O decreto irá delimitar os limites do porto de Santos, que é hoje definido apenas por duas
paralelas. Precisamos ter as linhas poligonais para fechar a área do porto", explicou José Roberto
Serra, presidente da Codesp.
Com a definição das novas coordenadas geográficas, a União passará a deter o direito para
desenvolvimento do porto sobre áreas privadas, com a publicação de decretos de desapropriação
conforme a necessidade.
Roberto Serra disse ainda que o aumento da área de influência do porto de Santos agregará novos
espaços para o desenvolvimento de terminais retroportuários, hoje inviáveis nos espaços
localizados às margens do canal de navegação.
A idéia da Codesp é a de utilizar por exemplo os canais fluviais na região para escoamento de
bens. "Podemos ampliar o canal de navegação desses canais e fazer com que embarcações
menores alimentem os terminais principais", afirmou. Isso reduziria, segundo avaliou, o tráfego de
caminhões nas vias próximas ao cais.

Reforma
A revisão dos contratos de arrendamento e a expansão do porto fazem parte de um plano de
reestruturação da Codesp. A Companhia Docas de São Paulo é a maior em administração
portuária no país e possui hoje passivo reconhecido e não reconhecido de R$ 880 milhões.
Em ações civis e trabalhistas, a dívidas estimada da Codesp é de R$ 180 milhões. Há cerca de
dois meses, o Portos, fundo de pensão criado ainda pela Portobrás, cobra hoje da Codesp uma
dívida de R$ 700 milhões.
A empresa havia reconhecido R$ 90 milhões, conta que está sendo paga em parcelas de R$ 3
milhões por mês. A nova conta está sob auditagem encomendada pela Codesp, mas o
reconhecimento de uma dívida dessas dimensões quase que inviabiliza a companhia.
Hoje, a Codesp tem receita de R$ 500 milhões por ano. Além de encontrar uma solução para esse
passivo, a empresa quer renegociar um crédito de R$ 500 milhões que possui com operadores
portuários.
A empresa tem planos de abrir o capital em até um ano e meio. Seria a primeira companhia docas
com ações em bolsa.

Demissão incentivada
A Codesp prepara ainda um PDI (Plano de Demissão Incentivada) para reduzir em 400 o número
de funcionários. A maior parte desse contingente é formada por servidores em condições de
aposentadoria. O incentivo financeiro para que se aposentem ainda não foi definido, disse Roberto
Serra. Hoje, a Codesp tem 1.400 funcionários. Depois da saída desse grupo, a Codesp pretende
lançar um concurso público.

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Modelo de licitação deve ser híbrido

DA REPORTAGEM LOCAL
A SEP (Secretaria Especial de Portos) deve adotar modelagem híbrida para licitar os novos portos
que serão construídos e operados pela iniciativa privada. A idéia é usar critérios como menor tarifa
de serviços, maior valor de outorga pago ao poder concedente e performance do terminal.
"Pode ser a mistura dessas coisas", disse Pedro Brito, o ministro dos Portos.
Brito quer ter a modelagem concluída até o final deste mês. Ao contrário da expectativa do
mercado -que avaliava que as primeiras concessões só sairiam depois da conclusão do plano de
outorga-, Brito disse que tem compromisso de fazer as primeiras licitações no primeiro trimestre de
2009. Segundo ele, o mercado não precisa esperar o plano de outorga que será elaborado pela
Antaq (Associação Nacional de Transportes Aquaviários).
Brito citou que o grupo Triunfo -o mesmo que arrematou o corredor da Ayrton Senna/Carvalho
Pinto no leilão de rodovias de São Paulo na semana passada-, tem um projeto para construção de
porto privado em Santos. Pelas novas regras, a área terá de ser licitada.
Isso significa que se o grupo Triunfo oferecer o projeto para licitação terá de concorrer para ganha-
lo. Se perder terá a área desapropriada para a exploração do consórcio vencedor. Brito não
acredita que essa situação vá afastar interessados. (AB)

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Fundo de banco externo registra mais saques


Fundo estrangeiro perdeu 18% em quatro meses

MARIA CRISTINA FRIAS


DA REPORTAGEM LOCAL
Clientes de fundos ligados a instituições estrangeiras resgataram mais recursos de suas aplicações
do que os investidores de bancos nacionais em outubro. De junho para cá, o percentual de saques
dos estrangeiros tem sido superior ao dobro dos nacionais.
O CEF/FGV (Centro de Estudos em Finanças da Fundação Getulio Vargas) fez, a pedido da Folha,
uma pesquisa sobre captação líquida em fundos de investimentos. O CEF adotou uma amostra de
752 fundos abertos. Foram excluídos fundos que tinham problemas com dados, como, por
exemplo, captação zero em algum mês.
Em 30 de junho deste ano, data-base do estudo, o patrimônio líquido de fundos ligados a
instituições estrangeiras era de R$ 105,34 bilhões e o de nacionais, R$ 283,14 bilhões.
Em 20 de outubro, o patrimônio líquido dos estrangeiros havia caído para R$ 86,049 bilhões,
enquanto o dos nacionais recuou para R$ 259,56 bilhões. Uma queda de 18,32% nos estrangeiros
e de 8,33% nos nacionais, em menos de quatro meses.
Para especialistas, além do temor de problemas em bancos com sede fora do Brasil, há um
movimento de cobertura de prejuízos. Investidores no exterior têm perdas mais significativas em
outros países e, no caso de necessidade de caixa, são obrigados a vender os ativos onde a
liquidez existe, como no Brasil, e onde as perdas são menores.
"Vejo duas explicações: de um lado, investidores com um pé fora do Brasil, estrangeiros e
multinacionais tiraram para acertar seu VAR ["Value at Risk", índice que mede o risco em uma
carteira de investimentos] no exterior ou para cobrir prejuízos. E de outro lado, brasileiros com
medo de quebra das instituições estrangeiras migraram para [instituições] locais", diz William Eid
Júnior, coordenador do CEF.

Risco
Para Eid Júnior, em fundos de investimentos não há com o que se preocupar, porque não existe
risco de crédito.
Em caso de quebra da instituição financeira, os cotistas elegem um novo administrador para seguir
em frente.
"No meio da crise é melhor não se mexer. O investidor de classe média não consegue se antecipar
a certos movimentos, como à cota negativa [dos fundos]. Não deve sair; quem fica no fundo,
recupera a diferença. No pânico, os ativos estão mal precificados. Imagine como está quem
comprou dólar a R$ 2,50 há poucos dias", diz.
Num fundo, o que precisa ser analisado com atenção por quem aplica é onde o fundo investe. "Os
cotistas de um fundo correm o risco dos ativos que compõem as carteiras dos fundos e, não, o
risco das empresas", afirma Márcia Dessen, da consultoria BankRisk. "O gestor presta o serviço de
gerir os recursos financeiros do investidor, por sua conta e risco (do investidor)."
Quem aplica deve observar o "mandato" do contrato, o regulamento do fundo, mas é dever do
investidor monitorar essa gestão e entender o que está sendo feito com seu patrimônio. A
composição detalhada da carteira dos fundos pode ser encontrada no site da CVM. Se for cotista
de um fundo FIC, o investidor deve procurar a carteira do FI. Além disso, pode pedir explicações ao
administrador do fundo.
"Não deve fazer disso uma exercício de fiscalização no sentido de procurar riscos não autorizados
ou ainda, fazer disso uma preocupação diária", diz Dessen.
"O monitoramento da carteira deve ser feito com uma freqüência que deixe o investidor confortável
à medida que percebe que o gestor está fazendo o que é pago para fazer. Ou o investidor acha
que o administrador sabe fazer melhor do que ele sozinho e permanece na carteira ou transfere
seus recursos para um fundo mais adequado ao seu perfil e objetivos, ou ainda, gerencia sua
própria carteira pessoalmente."

Outras aplicações
No caso de outras aplicações ou conta corrente, caso o banco quebre no exterior, "credor de um
banco estrangeiro é credor aqui e lá. O risco é o mesmo", afirma Dessen.
"Pode acontecer de outro banco se interessar por comprar a operação desse banco estrangeiro no
Brasil e seguir em frente, como ocorreu com o Itaú que comprou a operação do antigo BankBoston
no Brasil, por outras razões."
No caso de falência da instituição financeira, a perda com dinheiro em conta corrente, caderneta de
poupança e CDBs (Certificado de Depósito Bancário), dentre outras aplicações tem cobertura do
Fundo Garantidor de R$ 60 mil por CPF ou CNPJ.
Fundos não têm essa garantia porque podem ser transferidos para outro administrador.

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SOCORRO - Lisboa estatiza banco e lança ajuda de 4 bi

DA ASSOCIATED PRESS
O governo português anunciou ontem a nacionalização de um dos menores bancos do país, o
Banco Português de Negócios, devido a perdas de cerca de 700 milhões na crise financeira. O
governo decidiu ainda oferecer uma linha de crédito adicional de 4 bilhões aos bancos
portugueses.
Na Alemanha, o Deutsche Bank voltou a dizer que não usará recursos do pacote de socorro de
Berlim aos bancos, de 500 bilhões.

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Na crise, Bolsa bate recorde de negócios


Bovespa registra média de 337 mil transações diárias realizadas
em outubro, número 40% maior que média do ano

Volume maior se deve à busca de investidor por lucro com oscilação


do preço das ações em operações de compra e venda no mesmo dia

FABRICIO VIEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL
Quem observar a redução no volume financeiro movimentado na Bovespa pode ficar com a falsa
impressão de que a crise esfriou os negócios. O que tem ocorrido é exatamente o contrário: nunca
houve tantos negócios na Bovespa quanto no mês de outubro.
A média de 337,4 mil transações feitas por dia registrada em outubro nunca tinha sido atingida
antes. O resultado do mês é 40% superior à média do ano. Em 2007, o melhor mês foi novembro,
com 202,4 mil.
Com uma crise aguda que já fez a Bolsa de Valores de São Paulo acumular cinco meses seguidos
de perdas, os investidores têm elevado o número de operações que realizam por dia, na tentativa
de conseguirem algum lucro durante o pregão.
Se até o primeiro semestre deste ano era mais fácil obter resultados positivos no mercado
acionário, agora quem não quer amargar passivamente as sucessivas quedas que têm abatido as
ações de forma generalizada tem tentado comprar e vender papéis no mesmo dia, em busca de
conseguir um retorno mais vantajoso.
É o crescimento dessas operações de "day-trade" (como são chamadas as negociações de
compra e venda no mesmo dia) que têm ajudado a inflar o número de negócios diários.
Com o crescimento diário, outubro também foi o mês com o maior número total de negócios
registrados, ao bater em inéditas 6,5 milhões de transações. Se a cifra computada apenas em
outubro for comparada a outros períodos dá para se ter uma idéia de como a movimentação na
Bolsa de Valores cresceu: em todo o ano de 2004, por exemplo, houve 7,8 milhões de operações
realizadas.
"Com a Bolsa altamente volátil, crescem as oportunidades de se ganhar no "day-trade". Os
investidores têm girado muito mais por dia na tentativa de conseguir resultados melhores nesse
momento de crise", diz Luiz Antonio Vaz das Neves, analista da KNA Consultores.
O momento crítico que tem abatido o mercado acionário acaba elevando o trabalho de muitos
gestores, que tentam melhorar o retorno de suas carteiras para inibir os saques de recursos por
parte dos investidores insatisfeitos com o andamento nada animador da Bolsa. Para muitos fundos
multimercados, que podem aplicar parte de sua carteira em ações, a história é a mesma.
O que esses profissionais buscam é comprar uma ação pelo seu menor valor e tentar repassá-la,
no mesmo pregão, pelo preço mais alto possível. A oscilação da ação ON (ordinária) da Vale é um
bom exemplo de o porquê os investidores fazem operações de "day-trade".
Na sexta, entre a cotação mínima (R$ 26) e a máxima (R$ 28,53) atingida pelo papel da Vale,
houve uma diferença de 9,73%. E a ação encerrou o pregão com alta de apenas 2,15%. Como os
preços das ações estão oscilando de forma bastante expressiva nas últimas semanas, não faltam
exemplos de como isso está ocorrendo na Bolsa de Valores todos os dias.
"Mas essa volatilidade é boa apenas para os profissionais. É muito arriscado para o pequeno
investidor querer começar a lucrar dessa forma. É mais fácil acabar perdendo do que ganhando",
afirma Neves.
Para o pequeno investidor, o melhor talvez seja nesses momentos ariscos deixar o dinheiro que
está aplicado em ações quieto por um bom tempo.
"O que o investidor deve fazer é investir um pouco de cada vez, mas com regularidade. Há muitas
oportunidades na Bolsa. De um modo geral, muita empresa com bons fundamentos se depreciou
de forma exagerada", diz Théo Rodrigues, diretor-geral do INI (Instituto Nacional de Investidores).
Se o mês passado foi de recorde no número de negócios, o volume financeiro sofreu uma queda
para cerca de R$ 5,3 bilhões por pregão. Em maio, o mês em que o giro foi o maior da história,
essa cifra ficou em pouco mais de R$ 7 bilhões.

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Volatilidade elevada infla operações

DA REPORTAGEM LOCAL
A expansão recorde dos negócios na Bovespa tem ocorrido junto a um momento de pico em sua
volatilidade. Com as oscilações bruscas que o mercado acionário internacional tem sofrido e a
tentativa dos investidores em conseguir lucrar neste momento de crise, a intensidade do sobe-e-
desce das ações chegou a níveis dificilmente imaginados há não muito tempo.
O índice de volatilidade do Ibovespa no mês passado atingiu os 111,9%. No primeiro semestre,
esse índice rondava os 35%. Esse indicador mostra a intensidade e a freqüência das oscilações
nos valores das ações e é medido pela BM&FBovespa. Quanto mais elevado fica, maior são as
dificuldades em prever retornos e fazer investimentos nas ações.
Se for considerado um período mais longo, de um ano, por exemplo, o índice se reduz muito,
ficando em 48,9%. Em outras palavras, o mercado acionário está muito mais imprevisível e
arriscado.
"A volatilidade elevada justifica o atual aumento no número de negócios realizados. Nesses
momentos de grande volatilidade, em que o mercado perde as referências, é mais fácil que as
operações acabem crescendo mesmo", afirma Fausto Gouveia, analista financeiro da Win -"home
broker" da Alpes Corretora.
O pior para o pequeno investidor é que os analistas não esperam que esse cenário se altere tão
cedo. A crise internacional ainda parece distante de encontrar seu fim e a Bovespa já mostrou que
não está isolada da cena externa. (FABRICIO VIEIRA)

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Semana terá novo IPCA e decisão sobre juro europeu


Mercado brasileiro aguarda o índice de inflação oficial

DA REPORTAGEM LOCAL
Os primeiros dias da semana tendem a ser menos agitados, com a agenda de eventos econômicos
mais branda. Mas a quinta e a sexta prometem esquentar os mercados, com a decisão dos juros
na Europa e os dados de emprego nos EUA.
Apesar de outubro ter sido um mês bastante ruim para as Bolsas de Valores pelo mundo, a
semana passada foi de recuperação nos mercados acionários. Para a Bovespa, a desvalorização
de outubro, que ficou em 24,8%, foi a maior em um mês desde 1998.
Na última quarta-feira, o Fomc (comitê do BC americano que define os juros) decidiu reduzir a sua
taxa de referência de 1,5% para 1% anuais. No mesmo dia, o Copom (Comitê de Política
Monetária do BC brasileiro) optou por manter os juros básicos brasileiros em 13,75% ao ano.
Nesta quinta-feira será a vez de o Banco da Inglaterra decidir o que fará com sua taxa básica, que
está em 4,5% -o mercado espera que seja reduzida para 4%. No mesmo dia, o BCE (Banco
Central Europeu) se reúne para tomar sua decisão. Os investidores projetam que a sua taxa vai ser
cortada de 3,75% para 3,25%.
Na sexta, investidores e analistas vão se deparar com os dados do mercado de trabalho norte-
americano. Com a economia desaquecida, há expectativa de que a taxa de desemprego nos EUA
tenha subido de 6,1% para 6,3%.
"Ainda é cedo para falar em reversão de tendência, mas de fato o mercado parece estar mais
calmo e começa a olhar para os fundamentos. Mas ainda esperamos uma semana bastante
agitada por conta da série de indicadores previstos, especialmente os que se referem à atividade
nos EUA", afirma Rossano Oltramari, sócio-diretor da XP Investimentos.
Em todos os dias da semana haverá dados da economia americana para serem divulgados. A
seqüência de eventos trará resultados da indústria, de gastos com construção, de produtividade e
de crédito ao consumidor.
Já o instituto ISM vai apresentar sua pesquisa sobre o desempenho dos setores de serviços e
industrial.
Na semana passada, o governo americano divulgou que o PIB (Produto Interno Bruto) do país
apresentou recuo de 0,3% no terceiro trimestre, queda menor que a esperada pelo mercado, que
era de uma retração de 0,5%.
Os dados dos estoques no atacado americano em setembro, que vão ser apresentados na sexta,
fecham a agenda.

Inflação
Para o Brasil, o dia mais relevante é a sexta-feira, quando será apresentado o IPCA (Índice de
Preços ao Consumidor Amplo) de outubro. Esse indicador de preços é o utilizado pelo Banco
Central para monitorar a meta oficial de inflação. Dessa forma, para que o ciclo de elevações de
juros não seja retomado é importante que o IPCA não traga surpresas desagradáveis.
"Devemos ver uma aceleração da inflação nos próximos meses, dado que os impactos da
escassez de crédito sobre a atividade econômica devem ocorrer de forma mais lenta do que os
impactos da depreciação do real sobre a inflação", diz Maristella Ansanelli, economista-chefe do
banco Fibra.
"Em um horizonte de médio prazo, no entanto, acreditamos que os efeitos da depreciação do real
sobre a inflação devem ser limitados, e em grande parte compensados pelos efeitos da escassez
do crédito sobre a atividade econômica", diz.
Na semana passada, foi divulgado que o IGP-M ficou em 0,98% em outubro.

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Semana de alta na Bovespa não recupera perdas do mês

DA REPORTAGEM LOCAL
A semana passada foi de recuperação para a Bolsa de Valores de São Paulo, que encerrou com
valorização acumulada de 18,34%. Mesmo assim, o resultado de outubro foi bastante
decepcionante: a Bovespa perdeu 24,8% no mês.
A melhora do mercado na semana foi sentida na maioria das ações que estão nas carteiras
sugeridas por instituições financeiras. Muitos dos papéis tiveram ganhos semanais superiores a
20%.
Considerando os 66 papéis que estão na composição do índice Ibovespa, houve 62 altas na
semana, 3 baixas e 1 ação fechou estável.
No topo das altas apareceram os papéis Itaúsa PN (ganho de 40,9%), Duratex PN (33,38%), banco
Itaú PN (33,14%) e B2W Varejo ON (33,01%). Já as que mais caíram na semana foram Telesp PN
(-7,26%) e Lojas Renner ON (-5,07%).
"Finalmente tivemos uma semana de recuperação. Depois de intensas perdas a Bolsa brasileira
deu sinais de recuperação nessa última semana de outubro. Nos mantemos confiantes quanto a
nossas convicções para o longo prazo", afirma Rossano Oltramari, sócio-diretor da XP
Investimentos. "Mas estamos convictos de que as empresas brasileiras apresentam fundamentos
sólidos e de que representam hoje uma boa oportunidade de investimento", completa.
A Bolsa sofreu seu quinto mês seguido de baixa. Com isso, passou a registrar queda de 41,68% no
acumulado do ano. Se for considerada a variação da Bolsa em dólar, a baixa é muito mais elevada,
ficando em 51,17% em 2008.

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Líder do pregão virtual obtém ganhos de 262% no ano


DA REPORTAGEM LOCAL
Robson Costa Almeida, de São Paulo, segue à frente, com folga, na liderança do ranking anual do
pregão virtual do Folhainvest.
Com uma carteira virtual que soma retorno de 262,62% no ano, o líder vê de longe os outros
competidores se alternarem na segunda posição. Na última quinta-feira, foi a vez de Carlos Alberto,
do Rio de Janeiro, assumir o segundo lugar, com alta rentabilidade de 184,05%. O terceiro
colocado é Santiago Carreiro, com ganhos de 161,28% acumulados na disputa de 2008.
No fim do ano, quem estiver na frente da disputa vai receber de prêmio uma viagem de uma
semana para a Costa do Sauípe, na Bahia, com as despesas pagas pela Fator Administração de
Recursos.
Mesmo com a proximidade do fim de 2008, ainda é possível participar do simulado.
Para isso, basta entrar no site folhainvest.folha.com.br e fazer a inscrição.
A cada mês, o vencedor do jogo virtual no período recebe o prêmio de uma passagem aérea de ida
e volta para qualquer cidade brasileira atendida pela companhia TAM, além de uma assinatura de
três meses do sistema Enfoque Cotações Tempo Diferido.

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Crise não estimula aplicação com proteção


Produto financeiro que assegura de queda parte do capital
aplicado em ação não atrai investidor nem neste período de perdas

Sem apelo no período de alta da Bolsa, POP continua a registrar


baixo número de operações mesmo com mercado acionário instável

DA REPORTAGEM LOCAL
A atual crise se tornou um grande teste para o POP (Proteção do Investimento com Participação).
Mas parece que o apelo desse produto financeiro, lançado pela Bolsa em 2007 com a promessa de
amenizar as perdas das ações, segue baixo.
Em um momento em que a Bolsa comemora um novo recorde no número de negócios realizados
no pregão -mais de 337 mil transações por dia-, o POP não alterou sua baixíssima movimentação.
O último balanço feito pela Bovespa mostrou que em setembro houve apenas dois negócios com
POP. Em agosto, foram feitas 34 operações. Segundo operadores, o mês de outubro continuou
bem fraco e não alterou essa realidade. O mês em que o produto foi mais negociado foi em sua
estréia, em fevereiro de 2007, quando teve 249 transações.
Até o primeiro semestre, a análise corrente era de que, como a Bolsa de Valores estava em um
movimento de contínua alta, o POP perdia seu principal gancho, que era o de amortecer as perdas
para os investidores.
Mas a Bovespa teve em outubro o seu quinto mês seguido de perdas. No mês, a desvalorização
acumulada pela Bolsa ficou em 24,8% -o que fez de outubro o pior mês em uma década.
"Acho o produto interessante, mas talvez seja sofisticado demais para atrair o pequeno investidor.
É um produto difícil de vender, pois não é simples de as pessoas compreenderem como funciona e
quais as vantagens que pode trazer", diz Luiz Antonio Vaz das Neves, analista da KNA
Consultores.
O POP se utiliza de sofisticadas operações de mercado -conhecidas como opções- para diminuir o
impacto das quedas das ações. O investidor que contrata um POP protege uma parcela, algo entre
70% e 80%, de sua aplicação de eventuais desvalorizações.
Um investidor que compra um papel da Petrobras e ele cai, hipoteticamente, 30% em um mês terá
de aceitar essa depreciação no bolso. Se o investidor, em vez de ter comprado diretamente a ação,
tiver adquirido um POP de Petrobras terá uma parcela de seu capital protegido. Com isso, não
sofrerá no bolso a totalidade daquela perda de 30% exemplificada.
O custo do produto financeiro é sentido quando o mercado sobe. Nesse cenário, a pessoa tem de
ceder uma parcela de seu ganho para o investidor que vendeu o POP para ele. (FABRICIO
VIEIRA)

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LUIZ CARLOS BRESSER-PEREIRA - Nova Bretton Woods

NOS PRÓXIMOS dias os líderes políticos e econômicos dos grandes países reunir-se-ão para
discutir uma nova Bretton Woods, ou seja, uma nova arquitetura e um sistema de regulação mais
rigoroso para o sistema financeiro mundial. Aproveitarão também para repassar as medidas que já
tomaram para garantir a solvência e para aumentar a liquidez dos bancos.
Nesse ponto, o essencial já foi decidido e está sendo implementado: a recapitalização dos bancos.
O crédito, porém, está demorando a ser restabelecido, dada a natural desconfiança dos bancos em
relação às demais empresas. Nos Estados Unidos, o Fed vem se encarregando de agir nessa
direção; no Brasil, o BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) já revelou
essa disposição, embora aqui o problema dos grandes bancos não seja grave.
Entrementes as previsões quanto às conseqüências reais da crise estão se agravando. O
JPMorgan prevê para 2009 queda de 0,5% no PIB dos países ricos e crescimento de 4,2% no dos
emergentes. Para o Brasil, as previsões estão tendendo para 2%. Nouriel Roubini fala em estag-
deflação. Embora não tenha dúvida quanto à recessão dos países ricos e à diminuição das taxas
de crescimento dos emergentes, creio haver excesso de pessimismo. No momento em que as
medidas que estão sendo tomadas fizerem efeito -e farão- deixará de haver motivo para a retração
violenta da atividade econômica que está sendo prevista.
Como aconteceu em 1929, a crise financeira terá conseqüências reais, mas não serão tão graves
porque, ao contrário do que ocorreu naquela época, os governos agora agiram com rapidez e
competência para enfrentá-la. Deverão, adicionalmente, tomar medidas fortes para neutralizar a
natural contração real da demanda. Medidas dessa natureza começaram a ser tomadas ainda pelo
governo Hoover depois de 1929, mas eram tímidas; as políticas mais fortes vieram com Roosevelt,
mas em 1933 o desastre já estava feito.
O que constituirá uma nova Bretton Woods em vez de meros remendos à desgovernança montada
desde 1971? Nessa questão, é preciso diferenciar o crédito interno a empresas do crédito externo
a países para cobrir déficits em conta corrente. No crédito interno, o essencial é uma regulação
muito maior sobre os bancos de varejo, ao mesmo tempo em que se tomem medidas duras para
reduzir a desintermediação financeira -ou seja, a concessão de crédito por agências que não são
bancos comerciais. É necessário também limitar os bônus dos agentes financeiros, porque são
uma causa maior de especulação irresponsável.
No plano internacional, o fundamental é limitar o crédito dado aparentemente a empresas, mas
que, na verdade, financia déficits em conta corrente. Em Bretton Woods não havia essa
preocupação, e o Banco Mundial foi criado para viabilizar déficits em conta corrente ou
"crescimento com poupança externa".
Recentemente, ficou afinal claro que os países não crescem com poupança externa, mas com um
bom sistema de crédito interno e com suas próprias poupanças. Os déficits em conta corrente são
apenas causa de substituição da poupança interna pela externa, e por crises do balanço de
pagamentos. A agência internacional que substituir o FMI (Fundo Monetário Internacional) deverá
ter como uma de suas atribuições principais alertar publicamente os países que ultrapassarem o
limite, a ser convencionado internacionalmente, de déficit em conta corrente.

LUIZ CARLOS BRESSER-PEREIRA , 74, professor emérito da Fundação Getulio Vargas, ex-
ministro da Fazenda (governo Sarney), da Administração e Reforma do Estado (primeiro governo
FHC) e da Ciência e Tecnologia (segundo governo FHC), é autor de "Macroeconomia da
Estagnação: Crítica da Ortodoxia Convencional no Brasil pós-1994".
Internet: www.bresserpereira.org.br
lcbresser@uol.com.br

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MERCADO ABERTO

GUILHERME BARROS - guilherme.barros@uol.com.br

Energia ociosa deve ser vendida, diz Anace


As empresas que compraram energia de comercializadores ou geradores no mercado livre estão
diante de um problema que pode se agravar com a crise. A queda da atividade econômica deve
provocar sobras de parte considerável dessa energia já contratada.
Essas empresas encaminharam pedido à Aneel e ao Ministério das Minas e Energia de autorização
para a comercialização dessa sobra de energia. A legislação brasileira não permite a venda de
energia ociosa.
Segundo Paulo Mayon, presidente da Anace (Associação Nacional dos Consumidores de Energia),
que encaminhou os pedidos ao governo, a crise financeira global tem obrigado as empresas a
serem mais conservadoras em seus planos para 2009. Muitas inclusive já dispararam seus planos
de reestruturação.
"O setor produtivo, onde está o consumidor livre, é o primeiro a sentir a crise: desliga fornos,
concede férias coletivas, reduz produção, corta tudo."
A alternativa de comercialização do excedente contratual seria uma oportunidade, na opinião de
Mayon, de as empresas obterem algum ganho com esse negócio. Para isso, no entanto, há a
necessidade de o governo regulamentar a venda das sobras de energia.
"Todos serão afetados. Uns mais, outros menos. Os que continuam com investimentos poderiam
comprar a energia que sobra daqueles que tiveram a produção mais prejudicada."
Segundo o presidente da Anace, a Aneel já aprovou e encaminhou ao Ministério de Minas e
Energia a solicitação de regulamentação desse mercado. Só falta a assinatura do ministro Edison
Lobão.
O Ministério de Minas e Energia afirma que já recebeu o pedido, mas informa que ainda não há
data prevista para a aprovação do decreto.

Decisão do STF sobre planos ganha relevância


O julgamento no STF das ações de correntistas contra bancos para tentar reverter perdas com os
Planos Bresser e Verão é mais um fator de risco nesta crise. A avaliação é do presidente do
Bradesco, Márcio Cypriano.
Para ele, as ações são injustas, pois considera que os planos foram editados em prol de todos.
Cypriano diz que os bancos não ficaram com qualquer valor, pois o índice de reajuste aplicado à
poupança também foi usado em empréstimos imobiliários.
"É inacreditável que isso esteja acontecendo. É como se daqui a 20 anos surgisse alguém
achando que teve prejuízo pelas atuais decisões do governo contra a crise internacional, e
entrasse na Justiça para tentar tirar proveito."

GATILHO
A Nossa Caixa transferiu R$ 168 milhões ao FGC (Fundo Garantidor de Crédito). O valor será
descontado do montante do compulsório sobre depósitos à vista recolhido pelo banco, de acordo
com a nova norma do BC para ampliar a liquidez do mercado financeiro.

PANO DE FUNDO
As vendas do segmento de cama, mesa e banho caíram 2% em outubro, ante setembro, segundo
o Sindicato do Comércio Atacadista de Tecidos de SP. Segundo Arinos de Almeida, presidente da
entidade, isso ainda não é conseqüência da crise, mas serve de alerta. "O setor deve sentir queda
mais forte dos negócios após janeiro."

JURÍDICO
Os ministros Gilmar Mendes e Cezar Peluso, do STF, participam do Encontro Faap-Juris, dia 7, no
lançamento dos cursos jurídicos de pós-graduação e extensão oferecidos pela Faap.

SAÚDE BARATA
Os planos de saúde têm custo-benefício ruim se comparados a outros setores, segundo estudo da
CVA Solutions, empresa de pesquisa de mercado e consultoria. A pesquisa abordou 4.000 usuários
de 33 planos. Na opinião dos clientes, a nota atribuída aos planos de saúde é 6,69 -inferior à da
indústria de eletrodomésticos (9,28) e de hotéis (8,03). Entre os usuários, 53% têm plano de saúde
pela empresa onde trabalham. Cerca de 70% têm de 30 a 54 anos e 50% ganham de R$ 2.000 a
R$ 6.500. Mais de 60% estão dispostos a aderir a programas de prevenção, como antitabagismo,
se fossem oferecidos pelos planos de saúde, desde que houvesse redução de mensalidades.
Neste caso, mais de 70% aceitariam iniciar tratamentos sempre pelo clínico geral e deixariam que
o plano de saúde tivesse acesso a seus exames.

NA LINHA
A Microcity, empresa de terceirização de infra-estrutura de TI, que compra ativos e financia o
cliente, vai ampliar suas operações de financiamento. Segundo Luis Carlos Nacif, diretor-geral, a
saída para manter o patamar de negócios na crise foi aumentar as linhas de financiamento que
oferece. "Não somos banco, mas fazemos operações financeiras para viabilizar a contratação de
equipamento, e como os bancos estão dificultando o crédito, resolvemos ampliar as linhas a outras
empresas que ainda não são nossas clientes", afirma. Nacif diz que tem sido procurado por
empresas que tiveram linhas de crédito canceladas ou suspensas por bancos.

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Painel

RENATA LO PRETE - painel@uol.com.br

Leque de ofertas
A corte do PMDB a Aécio Neves não se limita à sugestão de que ele ingresse no partido para
disputar o Planalto. Em Minas, os peemedebistas viraram a página da eleição municipal, na qual
enfrentaram sem sucesso o candidato do governador em Belo Horizonte, e agora tentam atrair o
PSDB para a chapa do ministro Hélio Costa à disputa estadual. Raciocinam que Aécio carece de
um nome competitivo para a própria sucessão -não acreditam que ele venha a apoiar de fato seu
hoje parceiro Fernando Pimentel (PT).
Em troca, o PMDB sinaliza apoio ao projeto presidencial de Aécio, no PSDB ou fora dele. Segue,
assim, o roteiro do PMDB de São Paulo, que saiu da órbita lulista para se engajar na candidatura
de José Serra.

Terceiro turno 1. Documento pós-eleitoral assinado pela corrente petista Articulação em Minas
Gerais, dos ministros Patrus Ananias e Luiz Dulci, critica o "desrespeito do prefeito Pimentel e de
seu grupo à decisão do Diretório Nacional, fazendo aliança com o PSDB, compartilhando com os
tucanos o comando e a linha de campanha [de Marcio Lacerda, do PSB] e dando a Aécio Neves o
papel de líder de todo o processo".

Terceiro turno 2. O texto conclama "todos os setores do PT a um sincero esforço em prol da


unidade, criando as condições para que possamos, em 2010, derrotar o neoliberalismo em Minas e
vencê-lo mais uma vez no Brasil".

Nada disso. De Pimentel, sobre o resultado em Belo Horizonte: "Foi uma vitória da militância do
PT. Alguns preferiram ficar de fora, mas a base do partido garantiu a eleição de uma chapa que, é
sempre bom lembrar, tem um petista como vice". Pimentel e Patrus disputam a vaga de candidato
a governador.

Império. Mesmo com uma dívida milionária, o PT traça planos ambiciosos para o ano que vem,
como parte da preparação para a campanha de 2010. Planeja uma escola de formação de
quadros, investimentos em informática e comunicação. Uma das idéias em estudo é criar emissora
de TV e de rádio para transmitir ao vivo pela internet.
Contracheque. Parte da Executiva petista tenta adiar a troca da direção do partido em 2009. Pelas
novas regras, cada integrante pode ficar no máximo dois mandatos de dois anos. Isso significa que
14 dos 21 integrantes, alguns deles há quase dez anos na Executiva, devem perder suas funções
-remuneradas.

Fora da ordem. Do presidente do Supremo Tribunal Federal, Gilmar Mendes, discorrendo sobre
direito de greve do funcionalismo em palestra, sábado, na Faculdade de Direito da USP: "Acho
muito estranho greve de gente armada". Referia-se à paralisação da Polícia Civil em SP.

No mercado 1. Enquanto Michel Temer (PMDB-SP) recolhe apoios na base do governo para
presidir a Câmara a partir de fevereiro, Ciro Nogueira (PP-PI) jantou na semana passada com o
presidente do DEM, Rodrigo Maia (RJ), e com o líder na Casa, ACM Neto (BA). Ouviu de ambos
que o apoio da bancada permanece "em aberto".

No mercado 2. A tendência do DEM é acompanhar o PSDB, seu parceiro mais que preferencial
para 2010, na eleição da Câmara. Os tucanos têm um pré-acordo com Temer, mas ainda
vulnerável a divisões na bancada.

Sob ataque. Embora gente graúda aposte que o presidente da Câmara paulistana, Antonio Carlos
Rodrigues (PR), tem força para se segurar no cargo na próxima legislatura, as bancadas do PSDB
e do PT começaram, tão logo surgiu a notícia de sua condenação pelo Tribunal de Justiça, a
investir na tese de que ACR "não deveria" seguir no posto. Com o clima desfavorável, o expoente
do "Centrão" resolveu sumir por uns dias.

com FÁBIO ZANINI e SILVIO NAVARRO


Tiroteio

"Lacerda é o puxa-saco de plantão. Ele parece não lembrar, mas foi pedir apoio ao DEM na reta
final de sua campanha em Belo Horizonte."
Do presidente do DEM, RODRIGO MAIA, sobre declaração do futuro prefeito da capital mineira,
que se considerou eleito por uma aliança de "centro-esquerda" (PSDB e PT), enquanto em São
Paulo venceu a "centro-direita" (tucanos e "demos").

Contraponto

Mão na taça
Quando o São Paulo ganhou o Campeonato Brasileiro, em 2007, o governo mandou confeccionar
uma taça para presentear o time durante comemoração no Morumbi.
Recém-empossado secretário de Comunicação, o tricolor Bruno Caetano convidou o chefe da
Casa Civil, Aloysio Nunes Ferreira, para fazer a entrega, mas ele declinou. Na seqüência, procurou
outros dois integrantes do primeiro escalão, que também pularam fora. Até que abordou o
secretário de Esportes, Claury Santos Alves:
-Parece que você também não vai poder ir, né?
-Pois é, vou viajar...-, respondeu, rindo, o colega, já informado da escalada de Bruno para
conseguir a missão.

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