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O volume em custódia de letras de crédito do agronegócio (LCA) na Cetip chegou a R$ 6,9 bilhões
até o dia 29 de outubro, aumento de 228,5% no ano. Entre os ativos do agronegócio, a LCA é o
que apresenta a maior taxa de crescimento. Criados em 2005 para ampliar os recursos disponíveis
ao financiamento do setor agropecuário, os títulos do agronegócio têm entre suas principais
vantagens o incentivo fiscal, como a isenção do Imposto de Renda para pessoas físicas.
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Após cair 7 meses em 10, hexa para a bolsa está mais longe
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O negócio de private banking no "day after"
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De São Paulo
Sem financiamento bancário, mais caro e escasso, as empresas têm recorrido à negociação com
clientes e fornecedores em busca de prazos para financiar estoques e matérias-primas. O
chamado crédito mercantil foi uma das saídas encontradas para driblar a falta de recursos.
A Dicico, por exemplo, negociou com fornecedores aumento de prazos para poder oferecer uma
melhor condição aos clientes, afirmou Dimitrios Markakis, presidente da rede varejista. "Todos os
setores têm sofrido com a falta de credito, mas conseguimos aumento de prazos e repassamos na
forma de parcelamentos em até 12 meses sem juros aos clientes."
No caso das pequenas empresas, a solução tem sido usar as grandes como provedora de capital.
A Basf, explica Francisco Verza, diretor de tintas da companhia, repassa recursos dos bancos para
os pequenos, na modalidade conhecida como "vendor" - quando o vendedor antecipa o
recebimento no banco e o comprador paga à instituição a prazo, avalizando a operação. "O que
conseguimos nos bancos, repassamos. Com a crise, o crédito sofreu restrições e as taxas subiram.
Mas não mudou drasticamente."
Um dos problemas dessas linhas, ressalta um banqueiro, é que nesse tipo de operação o
pagamento pode ser feito em qualquer banco, aumentando do risco. "É preciso haver uma trava
bancária, como no consignado, para garantir que o dinheiro retorne à conta onde está o recebível",
disse.
De toda forma, os bancos preferem concentrar forças nas grandes companhias. Segundo dados do
Banco Central de setembro, a média diária das concessões prefixadas (que atendem pequenas em
médias) aumentou 1,8%. Já as linhas flutuantes, que atendem as grandes corporações, saltaram
12,2%.
Lupércio Torres Neto, presidente da IRGA, empresa de transportes de cargas especiais, conta que
a maior dificuldade é o giro, que dobrou de preço. "Precisamos de capital intensivo para financiar
as operações, mas o mercado está tão louco que você não sabe quanto custa o crédito. Cada
banco vem com uma taxa diferente. Ninguém sabe quanto tem de cobrar."
Adhemar Camardella Sant'Anna, presidente do IPCE, Fios e Cabos Elétricos, afirma que alguns
bancos pararam de fazer o desconto de duplicata, essencial para do dia-a-dia. Há uma dificuldade
também com carta de crédito para importação. "Pelas ações do governo, até acredito que a
situação seja transitória." (FT)
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Agências internacionais
As bolsas de valores americanas tiveram em outubro um dos piores meses já registrados, mas
sinais de descongelamento dos mercados de crédito impulsionaram as ações na sexta-feira. O
índice Dow Jones teve alta de 1,57%, a 9.325 pontos. O Standard & Poor´s 500 subiu 1,54%, a
968 pontos. O Nasdaq avançou 1,32%, a 1.720 pontos.
Na melhor semana desde outubro de 1974, o Dow subiu 11,3%. O S&P 500 avançou 10,5% no
período, maior alta semanal desde janeiro de 1980. O Nasdaq ganhou 10,9% na semana.
Já o mês de outubro foi completamente diferente, com a pior queda percentual do Dow desde
agosto de 1998 e desde a crise de outubro de 1987 para o S&P 500. Para o Nasdaq, o recuo
mensal foi o maior desde fevereiro de 2001.
As bolsas de valores européias fecharam em alta, no quarto dia de rali, impulsionadas pelos papéis
do setor petrolífero e farmacêutico. No final da sessão, houve alta no setor bancário, apesar das
ações do Barclays terem caído depois que o banco vendeu participação a investidores do Oriente
Médio. O índice das principais ações européias FTSEurofirst 300 registrou alta de 2,79% (928
pontos).
O índice registrou valorização de 11,9% na semana, mas teve perda de 12,7% em outubro, na pior
queda desde setembro de 2002, quadro alimentado pela crise de crédito e pela consequente
desaceleração econômica.
O consenso geral é que é uma reação de vôo da galinha, segundo afirmou Gareth Williams,
estrategista de ações européias do ING. "Mas ainda é cedo para dizer. Há muitos sinais positivos
vindo de vários tipos de fontes", disse.
Houve demanda por papéis de empresas farmacêuticas dada a qualidade defensiva dessas ações,
com GlaxoSmithKline em alta de 4,36%, Roche disparando 9,6%, Novartis subindo 5% e Shire se
valorizando em 4,5%.
As ações do setor petrolífero se recuperaram ante perdas da véspera, apesar de declínio de 2,55%
no preço do barril negociado em Nova York. As ações de Total, ENI, BP e Royal Dutch Shell
registraram alta entre 2,5 e 4,3%.
Em Londres, o índice Financial Times fechou em alta de 2,0%, a 4.377 pontos. O DAX, de
Frankfutr, subiu 2,44% (4.987 pontos). Subiram as bolsas de Paris (2,33%), Milão (2,57%), Madri
(3,32%) e Lisboa (1,69%).
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Agências internacionais
O ministro português das Finanças, Teixeira dos Santos, anunciou ontem que vai propor ao
Parlamento luso a nacionalização do Banco Português de Negócios (BPN), que acumulou perdas
de 700 milhões de euros(US$ 891 milhões) e enfrenta uma "ruptura iminente" da sua capacidade
de cumprir os pagamentos. "O governo viu-se obrigado a propor à Assembléia da República a
nacionalização do Banco BPN. O governo tomou esta decisão para assegurar aos clientes que os
seus depósitos estão perfeitamente seguros", disse Teixeira dos Santos, ao final de reunião
extraordinária do conselho de ministros.
Na sexta-feira, a agência de classificação de risco Fitch já havia rebaixado os ratings nacionais de
longo e curto prazo do BNP Brasil de "AA-(bra)" e "F1+(bra)" para "A+(bra)" e "F1(bra)". Segundo a
agência, o rebaixamento reflete as preocupações da Fitch a respeito da capacidade de suporte do
controlador do BPN Brasil, o Banco Português de Negócios. No primeiro semestre, diz a Fitch, o
banco apresentou "fortes prejuízos e redução da base de capital".
O governo português informou também que vai colocar até 4 bilhões de euros para reforçar o
capital dos bancos portugueses, a exemplo do que foi feito por outros países europeus. Os
recursos poderão ser concedidos sob a forma de ações preferenciais.
O ministro português disse que o BPN será, a partir de hoje, supervisionado por dois diretores do
Banco Central português. A gestão do BPN será entregue à Caixa Geral de Depósitos,
encarregada de "gerir e apresentar um plano de desenvolvimento". Teixeira dos Santos disse que,
dos 700 milhões de euros em perdas acumuladas, 360 milhões de euros são associadas a
operações com o Banco Insular, de Cabo Verde. O ministro disse que "perdas acumuladas no
banco fizeram com que os capitais próprios se revelem negativos".
O ministro informou que o prejuízo acumulado "tem a ver com o conjunto de operações que foram
investigadas", sobretudo com o banco Insular, de Cabo Verde. Essas operações, frisou Teixeira dos
Santos, cujos indícios apontavam ilegalidade, foram comunicadas à Procuradoria-Geral da
República, que iniciou a investigação.
Segundo o presidente do Banco Central português, Vítor Constâncio, a Sociedade Lusa de
Negócios, dona do BPN, fez "um conjunto vasto de operações clandestinas que não estavam
registradas em nenhuma entidade do grupo", envolvendo centenas de milhões de euros. "Foi com
surpresa que soubemos em junho das operações. Nada faria suspeitar que pudessem existir."
Constâncio acrescentou que "este caso é muito particular" e "não tem nada a ver com as
dificuldades de financiamento do sistema financeiro em geral".
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Do Rio
O setor de fundos de pensão está passando bem pelo teste de estresse desse ano. Essa é a
avaliação do titular da Secretaria de Previdência Complementar (SPC), Ricardo Pena Pinheiro.
"O sistema está forte, é nessa hora que a supervisão e a regulação são testadas", disse o
secretário. "Aqui, os fundos só podem usar derivativos para proteção, não se pode aplicar no
exterior e há limites para aplicar em renda variável", completou Pinheiro.
O titular da SPC participou de seminário de educação previdenciária promovido pela Petros no fim
da semana passada.
O secretário afirmou que a SPC está acompanhando de perto as carteiras e os riscos dos fundos
durante essa crise financeira internacional. O órgão avalia que poucos são os que têm uma
exposição mais significativa ao mercado de ações.
Pinheiro não quis fazer uma estimativa de quanto mais se reduzirá o superávit acumulado do setor
em outubro. "Em setembro, estava em R$ 58 bilhões, pegou apenas uma parte da crise, não sei
como vai ficar em outubro", disse ele.
Mesmo assim, ele disse que ainda vai haver um saldo, resultado dos resultados muito positivos
obtidos pelos fundos entre 2003 e 2007. O patrimônio dos fundos de pensão é de cerca de R$ 470
bilhões
Os dirigentes das fundações evitam falar em perdas, mas admitem que será muito provável não
bater as metas esse ano. "Isso não é algo que nos assuste. De 2003 até antes da crise tivemos um
ganho de 193% e a meta atuarial foi de 93%", afirma o presidente da Funcef, Guilherme Lacerda.
Ele lembra ainda que parte do excedente foi usado para atualizar premissas atuariais, o que
protege o fundo.
Na Fundação Real Grandeza, situação semelhante ocorreu. Eleito dirigente do ano do setor, o
presidente Sérgio Wilson Fontes, diz que o superávit sofreu uma pequena redução, mas ainda é
bastante positivo.
"Até a crise se agravar tivemos resultados não só acima da meta como dos principais indicadores
de mercado, o que resultou nesse colchão de segurança", afirmou Fontes.
Em julho, os fundos de pensão, em média, aplicam cerca de 34% em renda variável. Porém, esse
dado é bastante distorcido pelo peso da Previ, a maior fundação do país, que chegou a ter mais de
65% da carteira nesse segmento no auge da alta do mercado.
O diretor do fundo do Banco do Brasil, Fábio Moser, afirma que no momento, esse percentual é de
60%. "Cerca de metade dessa carteira sofre diretamente as oscilações, mas a outra metade é por
meio de participações em bloco que não flutuam com as cotações em bolsa", explicou o diretor.
(CV)
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O Deutsche Bank, maior banco alemão, não irá recorrer ao fundo proposto pelo governo para
ajudar bancos atingidos pela crise, disse o presidente-executivo. "Da perspectiva de hoje, nós não
iremos fazer parte (do fundo de resgate) porque nós somos fortes", disse Josef Ackermann.
(Reuters)
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O UBS, maior banco da Suíça, não dará gratificação, referente ao ano de 2008, aos membros da
direção geral. A instituição financeira confirmou a informação à agência suíça "ATS" após notícia
que foi publicada previamente pelo jornal "SonntagsBlick".(Agências internacionais)
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O Banco do Japão cortou na sexta-feira o juro básico do país pela primeira vez em sete anos,
reduzindo a taxa para 0,30%, ante 0,50%. Com isso, o Banco do Japão entrou na lista de bancos
centrais do mundo que estão cortando os juros para tentar conter a crise financeira e o
desaquecimento econômico. (Reuters)
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A Anglo American publicou edital relativo à oferta pública de aquisição de ações dos minoritários da
Anglo Ferrous Brazil, antiga IronX, que engloba as operações de mineração vendidas pela MMX,
do empresário Eike Batista. A oferta se tornou obrigatória por conta da venda do controle da
empresa e também tem o objetivo de cancelar o registro de companhia aberta e retirar as ações do
Novo Mercado. O preço de oferta será de R$ 28,15 por ação, mesmo valor pago aos
controladores.
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A Marisol comprará 50% de participação na empresa BPK, que opera a rede de lojas Blue Pink e
dedica-se ao comércio de roupas, enxovais e móveis para bebê e moda infantil, calçados e
acessórios. O objetivo da aquisição é ampliar a atuação da companhia no ramo do vestuário, por
meio do aumento da rede de lojas em âmbito nacional, próprias e franqueadas, no conceito "Baby
Store". A operação já foi aprovada pelo conselho de administração da companhia.
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Daniele Camba
Quando o dólar se valoriza em relação ao real, as companhias exportadoras ganham, enquanto
aquelas que têm dívida na moeda americana são prejudicadas. Esse é o raciocínio correto desde
que o mercado de capitais existe. No entanto, os últimos acontecimentos com derivativos
mostraram que deve mudar a forma de analistas e investidores observarem as empresas e que
não é tão fácil decidir quem ganha e quem perde com um determinado cenário quanto parecia ser.
A principal lição que fica dos casos de perdas das companhias com derivativos cambiais é que é
preciso esmiuçar absolutamente todas as informações para se ter o mínimo de confiança no que
se está investindo.
A Aracruz é o melhor exemplo de como o que parecia regra perdeu importância. A companhia, que
exporta praticamente toda a sua produção, teve uma perda relevante com a recente valorização do
dólar. Isso porque ela tinha operações de derivativos que apostavam exatamente no contrário, na
queda da moeda americana. Da mesma forma, empresas que têm dívida em dólar e que em tese
perderiam com a alta da moeda americana podem estar se beneficiando se tiverem feito operações
no mercado futuro que trazem ganhos com essa valorização.
"Os negócios com derivativos foram uma quebra de paradigmas no mercado de capitais, eles
mostraram que a partir de agora a análise das empresas precisa ser feita de outra forma, sem
contar que trouxe insegurança aos investidores", diz o chefe de análise da Link Investimentos,
Celso Boin Júnior. Como essas operações de derivativos pelo menos até agora não ficavam
explícitas nos balanços, os analistas ficarão muito mais próximos das companhias para obterem as
informações necessárias a respeito do assunto. "Depois das notícias das perdas com essas
operações, os analistas da minha equipe ligaram para todas as empresas que fazem cobertura
para saber se também fizeram esses negócios e ter todo o tipo de detalhe relacionado a isso",
lembra Boin Júnior.
Com a crise financeira e a desaceleração da economia mundial, ele acredita que as ações de
energia elétrica são boas alternativas de investimento. No entanto, algumas dessas companhias
possuem dívida em dólar, como é o caso da Cesp, e Boin Júnior achou melhor se certificar da
estratégia de tais elétricas no mercado futuro de câmbio. "Diferente de antes, não fiquei confortável
em recomendar uma dessas ações apenas com base nos dados que constam nos balanços", diz o
executivo. Ele afirma que algumas empresas, dos mais diversos setores, se negam a dar
informações sobre possíveis negócios com derivativos ou, o que é pior, dizem que não possuem
esse tipo de operação quando na realidade possuem.
Duro aprendizado
Para o chefe de análise da BullTick Capital Markets, Sérgio Goldman, os prejuízos com as
operações de derivativos foram um duro aprendizado para as empresas, que dificilmente se
arriscarão a fazer o mesmo tipo de especulação novamente. "As companhias estavam de salto alto
achando que sabiam exatamente qual seria o movimento do dólar. Agora com o câmbio muito mais
incerto elas não serão malucas", diz Goldman. Já investidores e analistas podem ganhar no futuro,
uma vez que o mercado deve voltar a normalidade. "Retomaremos o bom e velho raciocínio de que
exportadoras ganham com a alta do dólar e que empresas endividadas na moeda perdem",
exemplifica o executivo da Bulltick. No caso das exportadoras, a única dúvida que ainda paira é se
a valorização do dólar irá compensar a queda no preço das commodities, o que não deve ocorrer,
acredita Goldman. Essa questão, no entanto, em nada tem a ver com a novela dos derivativos.
"Com as commodities em queda, as exportadoras devem apresentar resultados piores no próximo
ano", afirma. Nessa linha, ele acredita que as ações voltadas ao mercado interno podem ser as
melhores escolhas. "O crédito irá voltar e a renda do brasileiro, mesmo menos, ainda vai crescer."
Daniele Camba é repórter de Investimentos
E-mail: daniele.camba@valor.com.br
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Sergio Leo
As férias coletivas na Zona Franca de Manaus e na indústria automobilística; a pesquisa da
Confederação Nacional da Indústria que revelou, na semana passada, índice crescente de
estoques indesejados; e a previsão do ministro da Fazenda, Guido Mantega, de queda no
consumo no país são motivos suficientes para acreditar que o mercado interno é alternativa
insuficiente para a previsível queda nas exportações brasileiras. E as demandas dos empresários
por um "PAC" da exportação não devem ser arquivadas na gaveta que as autoridades brasileiras
reservam às queixas sem importância.
"A situação mudou de tal maneira que há necessidade de mudanças mais profundas", defende o
presidente da Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica (Abinee), Humberto Barbato.
"Se o Banco Central tem força para fazer as mudanças no mercado financeiro do dia para a noite,
temos de conseguir que também na área industrial e tributária sejam feitas mudanças", defende o
executivo. "Há necessidade que o governo veja isso como um crise sem precedente; se ficarmos
na mão dos banqueiros, ficaremos fritos", insiste.
O alarme de Barbato contrasta com indicadores do setor no primeiro semestre, elaborados pela
própria Abinee, que mostram crescimento constante, de 8% no primeiro trimestre do ano, e de 13%
no segundo trimestre. Os fabricantes, otimistas, tinham expectativas de aumento maior no terceiro
trimestre. Acontece que, agora, a crise ameaça enterrar as expectativas de setores que já vinham
perdendo espaço para importados e para a retração da demanda doméstica, como o de
componentes e de aparelhos domésticos; e deve afetar setores que contavam com o impulso da
boa maré da economia brasileira, como os fabricantes de equipamentos para modernização das
instalações industriais.
Os próximos indicadores mostrarão o impacto, no consumo interno, do risco de aumento do
desemprego e da iminente redução nos salários, com o corte nas horas extras. Mas parece
temerário confiar no poder do consumidor nacional para compensar a retração nos mercados
internacionais, especialmente no momento em que as autoridades admitem redução no ritmo de
crescimento da economia.
Barbato assumiu um tom de pânico ao cobrar medidas do governo, mas não exagera quando
afirma que a situação das empresas não é mais a mesma. A China dobrou o incentivo fiscal
concedido a suas empresas de eletrônicos e de brinquedos, em reconhecimento ao aperto nos
mercados internacionais. A retração mundial ameaça apressar cenários pessimistas de setores até
agora beneficiados pela crise, como o de cimento, que já discutiam em conversas reservadas o
risco de excesso de capacidade no futuro próximo, provocado pelos investimentos em produção
feitos no auge da bolha de consumo.
O maior temor dos empresários é o futuro dos mercados na América Latina, que sofrerão com a
retração na demanda dos Estados Unidos e com a queda nas receitas de produtos primários de
exportação, como minerais, petróleo e cereais. Noventa por cento das importações desses países
originada do Brasil é de produtos manufaturados, lembrava, na semana passada, o vice-presidente
da Associação de Comércio Exterior do Brasil, José Augusto de Castro.
Augusto de Castro alerta para a necessidade, também na exportação, de novos instrumentos
contra o aperto na liquidez, na disponibilidade de recursos para crédito. Não só os produtores
nacionais têm problemas de capital de giro, dinheiro para manutenção de suas atividades normais,
como os compradores de produtos brasileiros no exterior vão demandar financiamento.
Ironicamente, agora que a cotação do dólar se recuperou e começa a beneficiar os exportadores,
acabou o dinheiro lá fora, nota Augusto de Castro. Até agora, o discurso otimista em relação à crise
- que pautou as primeiras reações do governo brasileiro - sobrevive no comércio exterior. A equipe
econômica assegura que não faltará dinheiro para financiar exportações e minimiza a visível
deterioração das contas de comércio externo.
O vice-presidente da AEB sugere que o governo apresse a concretização de medidas já
anunciadas e que amplie algumas já existentes para reforçar o poder de fogo dos exportadores.
Com a desconfiança generalizada a respeito da solvência de parceiros no cenário internacional,
está na hora, por exemplo, de estender a empresas maiores o fundo de aval hoje disponível - e
pouco usado - apenas para as pequenas empresas, defende. A lista de sugestões é grande e
sujeita à discussão, mas o que incomoda os empresários é a aparente tranqüilidade da equipe
econômica que, como nota Barbato, parece ouvir apenas os alertas do sistema financeiro.
Exemplo dessa surdez seletiva é a falta de resposta à demanda insistente do diretor-
superintendente da Associação Brasileira da Indústria Têxtil (Abit), Fernando Pimentel, para que o
governo ponha em vigor uma medida anunciada em maio, como uma das principais iniciativas da
nova política industrial. É a extensão do Revitaliza, programa que traria compensações tributárias,
com financiamento mais barato para exportadores com grande emprego de mão de obra. "Não é
que não tenha saído a medida: não se tem notícia do que aconteceu ou vai acontecer com ela",
reclama Pimentel.
Lista seletiva
Na reunião ampliada do Mercosul para discutir a crise financeira internacional, surgiu um curioso
mal entendido regional em relação à media provisória 422, que permitiu a troca de reais por moeda
estrangeira. Os representantes do Paraguai informaram ter muito interesse na medida, e
consultaram publicamente o Presidente do Banco Central, Henrique Meireles sobre a possibilidade
de trocar guaranis pela moeda brasileira. Meireles desconversou.
Dois dias depois, o governo brasileiro anunciava o lançamento de uma linha de troca de reais por
dólares, no limite de US$ 30 bilhões, aberta para o Brasil até abril de 2009 pelo Federal Reserve, o
BC dos EUA.
Sergio Leo é repórter especial e escreve às segundas-feiras
E-mail sergio.leo@valor.com.br
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De São Paulo
Empresários do Mato Grosso do Sul decidiram criar um comitê de monitoramento da crise. A
Federação das Indústrias de Mato Grosso do Sul (Fiems) e Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e
Pequenas Empresas do Estado(Sebrae/MS) são os organizadores do comitê, que tem como
objetivo municiar o setor produtivo com informações sobre os efeitos da crise econômica mundial
no Estado.
No lançamento do comitê, os empresários reivindicaram ao governador André Puccinelli (PMDB)
uma ampliação, em caráter excepcional, do prazo de pagamento do Imposto sobre Circulação de
Mercadorias e Serviços (ICMS).
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Sérgio Bueno, Marli Lima e Cibelle Bouças, de Porto Alegre, Curitiba e São Paulo
Tradicionais exportadores de bens de consumo e outros manufaturados estão sendo pressionados
pelos clientes no exterior a "dividir" os ganhos da desvalorização cambial. Fabricantes de calçados,
têxteis e madeira, entre outros, têm recebido - e em muitos casos concedido - pedidos para
descontos nos preços em dólar. Alguns reclamam, outros usam a redução de preço como
marketing e estratégia para ganhar novos clientes.
Com cerca de 15% da produção destinada ao mercado externo, a Miúcha Calçados, de Três
Coroas (RS), está aproveitando o dólar mais alto para antecipar vendas da próxima coleção de
inverno para Estados Unidos e Europa. Para isso, a empresa aproveita a rentabilidade maior
proporcionada pelo câmbio mais favorável e oferece descontos nos preços em dólar aos clientes
mais tradicionais, explica o gerente de exportações, Maurício Rahmeier.
Segundo ele, com o dólar acima dos R$ 2, os descontos já chegaram a 35% em algumas linhas de
produtos. A condição é que os clientes paguem à vista e não com cartas de crédito, devido à
instabilidade cambial. "O pagamento é feito com o dólar do dia", o que também reduz a
necessidade de recorrer aos adiantamentos de contratos de câmbio (ACC), diz. Para os pedidos
que já estão em carteira nada muda, explica Rahmeier. Neste ano a empresa prevê uma produção
de 1,2 milhão de pares, igual ao ano passado.
De acordo com o gerente, o novo patamar do câmbio recupera a competitividade dos produtos
brasileiros no exterior e alguns clientes que haviam migrado para fornecedores chineses começam
a retomar as encomendas ou pelo menos voltam a fazer contato com a empresa. "O Brasil é
melhor em qualidade, na velocidade da produção e na capacidade de produzir pequenos volumes",
afirma.
Na West Coast, de Ivoti, a estratégia é mais cautelosa. Segundo o gerente de marketing, Sérgio
Baccaro Júnior, os clientes externos já começam a pedir descontos nos preços em dólar, mas a
empresa está mantendo as tabelas inalteradas. O problema, conforme Baccaro Júnior, é que parte
dos insumos e componentes utilizados na produção é importada (ele não revela quanto) e a
valorização do dólar acaba elevando os custos. "A tendência é que a próxima coleção de inverno,
que será lançada em novembro no mercado externo, tenha os preços reajustados para cima",
adianta o gerente.
A West Coast, informa, reduziu "bastante" a contratação de ACCs. Mesmo assim, e apesar da
"certa retração" identificada no mercado europeu, a empresa mantém a previsão de produção entre
2,6 milhões e 2,7 milhões de pares este ano, ante 2,4 milhões em 2007, dos quais 30% são
destinados às exportações. As projeções para 2009 ainda não foram fechadas.
A Lupo, que exporta meias e roupa íntima, tem recebido pedidos insistentes de clientes de
Argentina, Uruguai, Estados Unidos e França para reduzir os preços, de acordo com Valquírio
Cabral Júnior, diretor comercial da empresa. A empresa planejava reajustar os preços externos em
10%, mas agora negocia a redução dos preços. "No ano passado elevamos os preços porque o
real estava apreciado e ainda trabalhamos com a mesma tabela. Agora os clientes querem
desconto", afirmou.
Cabral observou que não apenas o real depreciou frente ao dólar, mas também as moedas dos
países-clientes. As negociações, segundo Cabral, referem-se aos contratos de exportação para
2009, tendo em vista que as encomendas deste ano já estavam programadas. As exportações
respondem por 6% do faturamento da Lupo, que neste ano deve crescer 28%, superando R$ 400
milhões.
Nos últimos anos, as indústrias exportadoras do segmento de madeira reclamaram do dólar
desvalorizado e da redução das vendas para a construção civil dos Estados Unidos. Com a crise
financeira, o câmbio melhorou, mas o clima continua tenso. A demanda externa diminuiu e os
clientes estão pedindo descontos. "As encomendas caíram cerca de 40% na comparação com
outubro do ano passado", conta Álvaro Scheffer, presidente da Águia Florestal, empresa de Ponta
Grossa (PR) que exporta painéis e madeira serrada.
Segundo o executivo, que também é presidente do conselho da Associação Paranaense das
Empresas de Base Florestal (Apre), o mercado europeu estava aquecido até meados do ano, e
África e Ásia também estavam comprando, o que compensou, em parte, a redução do consumo
americano. Mas o cenário mudou.
Com as oscilações constantes, a Águia Florestal definiu um nível de corte para negociar com os
compradores. Se a moeda tiver valorização acima de R$ 2,20, o cliente pode ter desconto.
"Estamos com medo do que vai acontecer. Quando eu for receber, quanto estará valendo o
dólar?", questiona Scheffer. "Teria de fazer trava cambial, mas os bancos não estão fazendo isso,
nem ACC", diz. O executivo conta que está trabalhando com o capital de giro da empresa e dias
atrás já deu descontos, "não superiores a 5%", para fechar negócios.
A Águia Florestal exporta 90% do que produz. Há dois anos a empresa reduziu o volume de
produção em 40% e, de lá para cá, ele ficou estável. "Se o dólar nivelar em R$ 2,20, nos
tornaremos competitivos e poderemos pensar em aumentar a produção. Se ele voltar a cair,
teremos problemas com a moeda e com a demanda", pondera Scheffer. Por enquanto, ele planeja
dar férias coletivas de pelo menos três semanas em dezembro e suspendeu investimentos
programados para 2009.
Um das maiores fabricantes de compensados do país, a Guararapes, de Palmas (PR), manteve o
volume de produção mas, segundo a direção da empresa, está "sentido dificuldades maiores de
venda, pois o mercado está praticamente parado". "Os clientes do mercado europeu vêm forçando
reduções nos preços em função da variação cambial e, de um modo geral, já tivemos queda de
mais ou menos US$ 35 por metro cúbico (cerca de 15%)", informou a empresa.
O diretor industrial, Ricardo Pedroso contou que, no mercado americano, a queda de preços foi
automática. "Esse mercado já estava em baixa e com a crise financeira os preços despencaram de
vez." Para depender menos das vendas externas, a Guararapes está investindo em uma nova
planta para produção de MDF, que deve ser inaugurada em janeiro. "Também já estamos
comercializando parte de nossa produção de compensados no mercado interno; antes, ela era
destinada somente ao exterior", diz o executivo. Segundo ele, as linhas de crédito para exportação
"estão bastante restritas e com taxas de juros bem maiores".
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Sin-ming Shaw
Três quartos do público dos Estados Unidos desaprova atualmente a atuação do presidente
George W. Bush. Isso considerado, e o fato de que as políticas e os valores de John McCain e sua
vice-presidente escolhida, Sarah Palin, são quase idênticos aos de Bush, seria de se esperar que
Obama liderasse nas pesquisas de intenção de voto por uma margem muito maior.
O motivo para ele não estar, suspeito, é racismo. Quando consultada nas pesquisas, a maioria dos
eleitores brancos mais idosos rejeita Obama de forma esmagadora, ainda que muitos estejam
descontentes com Bush. De fato, um terço dos democratas já disse em muitas ocasiões aos
entrevistadores que não votará num candidato negro. E uma pesquisa de voto recente, conduzida
pela Associated Press/Yahoo News, indicou que sua raça está custando a Obama seis pontos
percentuais nas pesquisas.
Na maior parte do tempo, esse racismo é dissimulado, só sugerido por meio de palavras em
código. A mídia, particularmente a mídia conservadora e os programas de bate-papo no rádio [nos
quais ouvintes se manifestam ao vivo a respeito de uma variedade de temas atuais] cada vez mais
populares, são particularmente importantes aqui. Obama é sistematicamente criticado por sua
"diversidade" e sua "arrogância", termos que trazem à mente a imagem do "crioulo arrogante" dos
dias da segregação, que na verdade não estão tão distantes assim no passado dos Estados
Unidos.
Numa entrevista recente, Bill O´Reilly, o mais popular apresentador de programa de entrevistas de
TV na Fox News, o canal de notícias mais assistido nos EUA, tratou Obama de uma forma tão
condescendente que alguns espectadores foram lembrados da imagem de um dono de escravos
num filme antigo de Hollywood que coloca um jovem negro pretensioso no seu lugar.
Sean Hannity, outro apresentador famoso na Fox News, pertencente a Rupert Murdoch, perguntou
reiteradamente em transmissão ao vivo a um entrevistado, Fareed Zakaria - um conhecido
colunista da revista semanal "Newsweek" e que tem seu próprio programa de entrevistas na CNN
-, se ele pensava que a América é o maior país na face da Terra. Zakaria, de pele escura,
americano naturalizado nascido na Índia, com um Ph.D. de Harvard, se sentiu constrangido em
admitir a sua lealdade pela América duas vezes. É difícil imaginar Hannity exigindo tal afirmação
pública de lealdade de alguém de pele branca.
Quanto, então, a raça está custando a Obama? O problema é que os institutos de pesquisa não
podem mensurar o problema eficazmente. Eles chamam isso de "efeito Bradley", observado pela
primeira vez durante a disputa de 1982, ao cargo de governador na Califórnia, quando Tom
Bradley, o então prefeito de Los Angeles, perdeu a disputa para o seu oponente branco, apesar de
ter liderado nas pesquisas pré-eleitorais durante toda a campanha.
O conceito por trás do "efeito Bradley" é que eleitores brancos não revelarão os seus preconceitos
aos institutos de pesquisa. Eles preferem mentir e dizer que votarão no candidato negro quando,
na verdade, não têm nenhuma intenção de fazê-lo.
É claro, muitas pessoas agora dizem que Obama comprovou que o "efeito Bradley" é coisa do
passado. Mas suas persistentes dificuldades com eleitores brancos da classe trabalhadora, que
nas eleições preliminares do partido democrata se alinharam com Hillary Clinton, indicam que,
possivelmente, o "efeito Bradley" continua intacto.
Americanos mais jovens aceitam relacionamentos inter-raciais como parte da paisagem sexual e
social normal. A própria velocidade com a qual a sociedade americana tem progredido, porém, tem
ameaçado a metade do país, mais idosa e majoritariamente branca, incapaz e indisposta a viver no
presente.
O moderado Partido Republicano de Dwight D. Eisenhower e dos Rockefellers foi tomado por um
público radical, em que até a bisneta de Eisenhower apóia Obama abertamente. Portanto,
confunde a cabeça de muitos não-americanos o fato de um número tão grande de pessoas nesse
grande país ainda não ter despertado para a realidade de que mais quatro anos de governo
republicano degradarão e arruinarão ainda mais o país.
Em qualquer sociedade civilizada, a ignorância não é ilegal e ser moralista é privilégio inerente de
qualquer pessoa. Mas o que alarma é como crenças religiosas e morais particulares têm moldado
gradativamente a agenda secular dos Estados Unidos, cujos fundadores conceberam a
Constituição especificamente para separar o Estado e a Igreja.
O Partido Republicano radical de hoje representa uma vasta segmento da população que acredita
que abortos e casamento no mesmo sexo são imorais. Deus enviou a América ao Iraque, e essa
ação de socorro a Wall Street é "socialismo".
Na convenção do Partido Republicano realizada em agosto, os cantos ensurdecedores de "USA!
USA!" e "Drill, baby, drill" ["perfure, garota, perfure", numa alusão à posição do seu partido, de
permitir extração de petróleo em qualquer parte dos EUA] soaram como gritos de desespero, e
também como de desafio contra um inimigo que ameaça o direito divino da América de permanecer
supremo. Palin desde então identificou o inimigo, decretando a respeito de Obama: "Este não é um
homem que vê a América como você e eu vemos a América".
Se a avaliação dela contém ou não um tom racista, como acreditam muitos observadores, as
pesquisas de voto indicam que muitos americanos concordam.
Sin-ming Shaw foi Professora Visitante de História nas universidades Oxford e Princeton. ©
Project Syndicate/Europe´s World, 2008. www.project-syndicate.org
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GAZETA MERCANTIL
(Debêntures) Crise global eleva custos e reduz prazos para emissão de dívidas
São Paulo, 3 de Novembro de 2008 - A restrição de crédito provocada pela crise internacional deve
dificultar a renovação das dívidas das empresas brasileiras, que somam R$ 11,38 bilhões
vencendo nos próximos seis meses no mercado interno, entre emissões de notas promissórias e
debêntures, segundo dados da Associação Brasileira de Bancos de Investimento (Anbid).
De acordo com o gerente-executivo da diretoria de mercado de capitais do Banco do Brasil,
Gustavo Henrique Santos de Sousa, diante das incertezas em relação ao desenvolvimento da
crise, muitas empresas que emitiram dívida no início deste ano optaram por operações com prazos
mais curtos, como as notas promissórias, apostando numa melhora das condições de mercado
para rolar seus papéis. Só neste ano, as emissões de notas promissórias cresceram 75,93% até
outubro em relação ao mesmo período do ano passado, somando R$ 16,4 bilhões. Por outro lado,
as captações de recursos via debêntures recuaram 5,71% no período, alcançando em torno de R$
48 bilhões.
Com o aprofundamento da turbulência no mercado financeiro, entretanto, as opções para novas
colocações no mercado de capitais ficaram muito restritas e com o custo muito elevado. "As taxas
estão mais elevadas que no início do ano. O mercado para emissões de dívida está sem referência
de preço, com os investidores institucionais mais seletivos, dando maior preferência para títulos
públicos e Certificados de Depósito Bancário (CDB) de instituições financeiras de primeira linha",
diz Sousa.
Muitas companhias com vencimento de papéis de dívida no curto prazo, já estão negociando com
os bancos a rolagem. É o caso da Companhia de Saneamento Básico do Estados de São Paulo
(Sabesp) que registrou neste mês a emissão de R$ 220 milhões em debêntures com prazo de
cinco anos, a serem emitidas em duas séries de R$ 100 milhões e R$ 120 milhões. A primeira série
terá pagamento de juros de DI mais 2,75% ao ano, e a segunda contemplará taxa de 12,87%
anuais mais a variação do Índice de Preço ao Consumidor Amplo (IPCA).
Os recursos obtidos serão destinados à liquidação das debêntures com vencimento em março de
2009, que somam R$ 200 milhões, além do pagamento de demais compromissos financeiros. O
custo da nova emissão veio acima do alcançado com a primeira operação, realizada em março de
2005, em duas séries com taxas de 101,5% do CDI e 10,8% mais variação do Índice Geral de
Preços ao Mercado (IGP-M).
Sousa destaca que o mercado de debêntures está muito restrito e a possibilidade de novas
emissões será analisada caso a caso, com prazos menores aos praticados no ano passado. "O
prazo das debêntures em 2007 estava em média de cinco a sete anos. Hoje o máximo que está
se consegue colocar são papéis com prazos de três anos", afirma Sousa.
A administradora de concessionárias de rodovias Primav Ecorodovias também estuda alongar a
dívida de R$ 430 milhões em notas promissórias, que está para vencer em janeiro de 2009.
Segundo o diretor de Relações com Investidores da empresa, Roberto Nakagome, as novas
emissões vão depender das condições do mercado. "Hoje é mais fácil fazer uma emissão de curto
prazo em notas promissórias e rolar essa dívida posteriormente via debêntures a taxas melhores",
diz.
Nakagome afirma que a companhia também não descarta a captação de recursos com linhas de
crédito bancário.
Com o acesso ao mercado de capitais restrito, as empresas devem buscar mais o crédito bancário
como alternativa para alongar suas dívidas. "As taxas do financiamento bancário já estão sendo
negociadas de acordo com uma nova realidade de preço, porém pode ser, em alguns casos, uma
alternativa para a captação de recursos com a retração do mercado de capitais", diz Sousa.
Ele afirma que, com a escassez de liquidez no mercado de crédito, muitas dessas operações estão
sendo estruturadas por meio de crédito sindicalizado.
A diretora-gerente do Bradesco Banco de Investimento (BBI), Denise Pavarina, afirma que as
empresas vêm conseguindo rolar suas dívidas seja via financiamento bancário por meio de Cédula
de Crédito Bancário (CCB) ou emissão de notas promissórias.
O vice-presidente da Associação Nacional dos Bancos de Investimento (Anbid), Luiz Fernando
Resende, o mercado está mais restrito para emissão de papéis mais longos como debêntures, por
isso as empresas têm optado por rolar os papéis de dívida via nota promissória, que têm prazo
médio de 180 dias. "A expectativa é que assim que as coisas se acomodarem, eles possam
renovar essas emissões com prazos mais longos", destaca Denise.
Algumas empresas já estão se antecipando e estão negociando com os bancos a renovação das
emissões. A Alupar anunciou neste mês a emissão de R$ 140 milhões em notas promissórias, com
prazo de 90 dias, para pagar o vencimento do primeiro lançamento previsto para novembro deste
ano. O custo da nova operação é de 140% do CDI, superior ao da primeira emissão de 118% do
CDI. A empresa também aprovou emissão de debêntures de R$ 250 milhões, com garantia do
Unibanco e do Itaú BBA.
A Alupar esclarece que a estratégia de emitir debêntures e promissórias já fazia parte do seu
plano de negócios antes da recente crise. Além disso, o grupo fechou empréstimos que somam R$
245 milhões com bancos privados, pouco antes de a turbulência se agravar, também para o
alongamento da dívida.
Segundo a diretora do BBI, há cerca de R$ 10 bilhões em notas promissórias para vencer até julho
de 2009 e R$13 bilhões em debêntures, contando com as de leasing, com vencimento em 2009.
(Gazeta Mercantil/Finanças & Mercados - Pág. 1)(Silvia Rosa)
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São Paulo, 3 de Novembro de 2008 - Se para renovar as emissões de dívida no mercado interno já
está difícil, rolar os papéis no exterior, neste momento, parece uma missão quase possível.
As empresas brasileiras têm US$ 2,22 bilhões em bônus e emissões de médio prazo (Mid Term
Notes) vencendo entre outubro e março de 2009. Das 19 operações, sete são de bancos médios,
que acessavam freqüentemente o mercado externo como alternativa para captar recursos.
De acordo com o vice-presidente da Associação Nacional dos Bancos de Investimento (Anbid),
Luiz Fernando Resende, com a retração da liquidez, o mercado para emissão de bônus ficou
praticamente fechado, com os investidores buscando ativos mais líquidos.
Para Resende, as empresas que estão capitalizadas acabarão optando por liquidar suas dívidas
em moedas estrangeiras e resgatar os títulos. Outra alternativa seria rolar essa dívida por meio de
emissões no mercado local. "Porém, essas operações deverão sair com custos mais elevados e
prazos mais curtos", afirma.
No caso dos bancos médios, que não podem fazer a oferta de notas promissórias ou debêntures,
a captação no mercado interno via emissão de Certificados de Depósito Bancário (CDB) está mais
restrita, uma vez que as taxas estão muito elevadas. "A opção para os bancos médios que estão
com papéis vencendo lá fora seria diminuir o crescimento da carteira de crédito ou vendê-las para
os bancos grandes para fazer caixa e resgatar as emissões", destaca Resende.
Mais em conta
Uma das instituições de médio porte que aproveitou-se do momento para recomprar parte de sua
dívida foi o Pine. Dos US$ 150 milhões em dívida assumida que o banco terá de rolar até julho de
2010, já recomprou quase 10%. "O ambiente é adequado para esse tipo de operação. O cenário
de turbulências faz com que investidores institucionais tenham de vender posições e torna a
recompra atrativa", afirma o vice-presidente do Pine, Clive Botelho. (Gazeta Mercantil/Finanças &
Mercados - Pág. 1)(Silvia Rosa e Luciano Feltrin)
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São Paulo, 3 de Novembro de 2008 - As recentes perdas registradas por empresas com o uso de
instrumentos derivativos já começa a movimentar a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) e
entidades que praticam auto-regulação.
O objetivo é diminuir os espaços para o surgimento de falhas de comunicação com acionistas e o
mercado e esclarecer os papéis e responsabilidades a que são submetidos administradores e
conselheiros das companhias do País.
Pelo lado do regulador, as novidades devem vir em forma de uma revisão da instrução 202, cujo
conteúdo trata de registro de empresas que negociam diversos tipos de valores mobiliários.
"Estamos trabalhando para incorporar novos e relevantes temas, como o uso de instrumentos
financeiros", exemplificou a presidente da autarquia, Maria Helena Santana, após participar de
palestra na Fundação Instituto de Pesquisas Contábeis, Atuariais e Financeiras (Fipecafi), na
sexta-feira.
Segundo a executiva, a idéia da CVM é obrigar as empresas - as já listadas ou que pretendam
fazê-lo - a detalhar fatores de risco de seus negócios e responsabilidade de administradores.
"Atualmente, as companhias fornecem tudo isso com muita clareza nos prospectos de ofertas
públicas. Queremos que passem a aplicar o mesmo também em relação a seu dia-a-dia", explicou
Maria Helena reconheceu que a CVM tem sido acionada sobre as operações de Sadia e Aracruz. E
disse não acreditar que outras companhias ainda comuniquem ao mercado situações similares.
"Um dos aspectos da crise é a carência de informações, o que inclui a qualidade das notas
explicativas. Mais do que isso, trata-se do efeito perda da disciplina do mercado. Depois de passar
por um longo período de altas houve um afrouxamento de controles."
A nova instrução, que deve ser colocada em período de audiência pública até o fim deste ano,
deve embutir uma antiga reivindicação de mercado: que as exigências na elaboração e entrega de
documentos sobre ofertas passe a atender ao tipo de negociação e público-alvo. Dessa maneira,
os prospectos de ofertas de ações e de debêntures e outros títulos, por exemplo, terão tamanhos
e características distintas.
Revisitando a governança
A melhora na qualidade dos padrões de governança corporativa das empresas que negociam
ações na BM&FBovespa também deve ser estimulada pela via da auto-regulação. O movimento já
começa a ganhar corpo. Na semana passada, a bolsa paulista montou um comitê com esse
objetivo. O grupo reúne 22 representantes de mercado e tem a CVM como membro observador.
"Os componentes são participantes de mercado, como empresas, advogados, bancos e entidades
representativas. Nossas discussões acontecerão para aperfeiçoar as regras para listagem e
levarão em conta o ambiente atual, como o caso recente dos instrumentos financeiros", confirmou
o diretor-presidente da bolsa, Edemir Pinto, após participar de evento organizado pelo Instituto
Brasileiro de Executivos de Finanças (IBEF) e a empresa de auditoria KPMG.
De acordo com o executivo, a comissão é presidida pelo ex-presidente da CVM, Luiz Leonardo
Cantidiano, e terá como focos revisar os regulamentos dos níveis 1,2 e Novo Mercado, além das
empresas que negociam na bolsa brasileira por meio de listagem de Brazilian Depositary Receipts
(BDRs). "Entre abril e junho de 2009 deveremos estabelecer metas para cumprimento de metas de
um cronograma", detalhou.
Outras normas, como as que abordam temas como os deveres de administradores na preparação
de assembléias e negociações entre partes relacionadas das companhias, também devem ser
colocadas à disposição para serem discutidas pelo mercado em breve. "Soltaremos um modelo
que dará destaque à remuneração dos administradores das companhias. É uma discussão
importante", afirmou Maria Helena
(Gazeta Mercantil/Finanças & Mercados - Pág. 4)(Luciano Feltrin)
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São Paulo, 3 de Novembro de 2008 - A publicação na sexta-feira à noite da instrução 472/08, que
dispõe sobre os Fundos de Investimento Imobiliário (FII), pela Comissão de Valores Mobiliários
(CVM), animou o final de semana dos administradores e emissores de outros títulos com lastro em
imóveis. A autarquia reguladora do mercado acatou boa parte das reivindicações e sugestões da
indústria de fundos e ativos imobiliários, apresentadas durante audiência pública realizada no início
do ano, e deve alavancar a criação desses veículos de investimento.
A expectativa do mercado recaía sobre dois pontos principais: agilidade no processo de registro e
distribuição de cotas, tal como acontece com Fundos de Investimento em Participações (FIP), e a
flexibilização da carteira do FII, ampliando o leque de ativos permitidos para investimentos. Ambas
foram atendidas e o registro das ofertas públicas de distribuição de cotas subseqüentes será
automaticamente concedido no prazo de cinco dias úteis após a data de protocolo na CVM dos
documentos e informações exigidas. Além do investimento em imóveis, o FII também pode investir
em Letras Hipotecárias, Letras de Crédito Imobiliário, Certificado de Recebíveis Imobiliários e
ações de companhias do setor. "A instrução é moderna e atende a boa parte das solicitações do
mercado, com registro automático e a criação de fundos de fundos, ou seja, veículos com cotas de
diferentes FII, o que vai atrair administradores que atuam nessa indústria, mas não tinham a
expertise do produto imobiliário", considera Rodrigo Machado, diretor da Brazilian Mortgages. Além
disso, o FII também pode adquirir cota de FIP e FIDC cujo lastro é imobiliário, tal como participação
em Sociedades de Propósito Específico (SPE). A diversificação deve aumentar o número de
investidores nesses veículos, considera Machado.
Para Sérgio Belleza, especialista em fundos imobiliários e diretor da Brazil Partners, além dos
avanços numa regulação que iria debutar em 2009, será inviável para os administradores
aprovarem a compra de novos imóveis. "Sou a favor da aprovação em assembléia, mas dos
cotistas presentes, e não da deliberação de 50% mais um das cotas emitidas. Para um fundo com
mais de 600 cotistas, será inviável a aprovação dos laudos de avaliação de novos imóveis para
compra ou integralização", avalia. A determinação pode ser viável quando a CVM aprovar a
votação em assembléia por internet.
Ponto importante foi a definição sobre conflito de interesse, com a CVM passando à assembléia de
cotista a deliberação sobre o questionamento. "Os cotistas podem aprovar que um banco de varejo
administre um fundo com imóveis que eram de sua propriedade ou que ele mesmo vai locar, o que
deve atrair os bancos para este mercado", considera Belleza que, entretanto, contesta a abertura
para operação com derivativos. Apesar de manter a regra de não alavancagem do FII, a CVM abriu
a possibilidade de o fundo contratar operações com derivativos, com a condição de que a
exposição seja, no máximo, o valor do patrimônio líquido do fundo - caso autorizado no
regulamento.
(Gazeta Mercantil/Finanças & Mercados - Pág. 4)(Maria Luíza Filgueiras)
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Operação de troca de moeda com Fed é isenta de juros
Brasília, 3 de Novembro de 2008 - O Conselho Monetário Nacional (CMN) deu sinal verde para o
Banco Central captar os US$ 30 bilhões acertados na semana passada com o Federal Reserve, o
Banco Central dos Estados Unidos. Noite de quinta-feira saiu a aprovação e, na sexta-feira, uma
resolução do BC definiu as regras para o Brasil receber dólares do Fed e entregar reais em troca.
A operação não é obrigatória, mas abre a possibilidade de o Brasil reforçar suas reservas
internacionais e serve como vacina contra uma eventual especulação sobre o real.
Na operação de troca, os reais não vão sair do País. A moeda brasileira ficará em uma conta do
próprio BC brasileiro em nome do Fed. Por outro lado, os dólares emprestados também não irão
deixar os Estados Unidos e permanecerão em uma conta em nome do BC brasileiro.
A troca de moedas poderá ocorrer até o limite de US$ 30 bilhões e pode ser feitas durante seis
meses, até 30 de abril do ano que vem. Também ficou definido que as trocas entre os dois países
poderão ser feitas aos poucos ou de uma única vez.
O governo insiste que por enquanto não precisa desse dinheiro, porque as reservas já estão
bastante altas, mas o apoio dos norte-americanos reforça o poder de fogo do BC em caso de uma
emergência. Na quinta-feira, as reservas do Brasil, conforme conceito de liquidez internacional,
alcançavam US$ 203,4 bilhões, sem o reforço do Fed.
O BC diz que, mesmo que o dólar suba, não terá nenhum efeito sobre as operações, porque as
mesmas cotações serão utilizadas nas operações na entrada e na saída. Ou seja, não será
aplicada a variação cambial entre o início e o fim da troca. Também não há cobrança de juros
estabelecida na operação. É uma espécie de empréstimo entre amigos.
Segundo informações do Banco Central, a operação envolverá somente reais e não inclui outros
ativos denominados na moeda brasileira, como títulos públicos. A autoridade monetária também
informa que não haverá aumento do endividamento público, pois serão utilizados recursos do caixa
de próprio Banco Central.
Ponto da MP
Essa possibilidade de realizar operação de swap de dólares por reais com o Fed foi anunciada na
quarta-feira, mas a medida já era considerada pelo governo pelo menos uma semana antes. A
iniciativa estava presente na medida provisória n 443, de 21 de outubro. Essa MP, que tem como
tema principal a possibilidade de o Banco do Brasil e da Caixa Econômica Federal comprarem
participações em bancos, trazia também a autorização para o BC brasileiro trocar moedas com
outros bancos centrais. A MP 443 ainda terá de passar pelo crivo do Congresso Nacional. Ela
recebeu 111 emendas e deve ir a votação nesta quarta-feira.
(Gazeta Mercantil/Finanças & Mercados - Pág. 3)(Ayr Aliski)
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3 de Novembro de 2008 - O banco central do Japão reduziu sua taxa de juros para 0,3% a fim de
ajudar a prevenir a instauração de uma recessão prolongada. O presidente da instituição, Masaaki
Shirakawa, foi o autor do voto decisivo pela redução da taxa, até agora de 0,5%, depois da
discordância de quatro dos oito membros do conselho. Três deles queriam reduzir a taxa para
0,25% e outro defendia a manutenção. Shirakawa passou a ser pressionado para baixar o custo do
dinheiro pela primeira vez em sete anos, depois que o Índice Nikkei 225 despencou para seu nível
mais baixo desde 1982.
(Gazeta Mercantil/Finanças & Mercados - Pág. 3)
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3 de Novembro de 2008 - O índice de ações da Ásia teve mais um dia de queda na última sexta-
feira, encerrando o pior mês já registrado pelo indicador acionário da região. Ainda assim, algumas
bolsas de valores conseguiram fechar a semana mantendo parte dos ganhos registrados nos
últimos dias, por conta de um certo otimismo em relação a novos cortes de juros que podem ajudar
a economia global se recuperar.
O Banco do Japão cortou sua taxa básica para 0,3%, a primeira redução de juro feita pelo banco
central japonês em sete anos. Mas o movimento foi menor que o esperado e veio em uma decisão
apertada. A moeda japonesa, o iene, se valorizou e o índice Nikkei da bolsa de Tóquio, acabou
ampliando as perdas que eram registradas antes da decisão, fechando em queda de 5,01%.
Ao longo da semana, o Nikkei atingiu seu menor patamar em 26 anos, mas conseguiu subir cerca
de 30% durante três sessões até a última quinta-feira. A bolsa de Seul, na Coréia do Sul, encerrou
em alta de 2,61%, enquanto o índice acionário de Taiwan subiu 3,99%. O mercado em Cingapura
registrou queda de 0,43%.
Em Hong Kong, o índice local fechou em queda de 2,52%, enquanto que em Xangai a bolsa
registrou desvalorização de 1,97%.
Reuters
(Gazeta Mercantil/Finanças & Mercados - Pág. 2)(Reuters)
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São Paulo, 3 de Novembro de 2008 - Que o grupo espanhol Santander não esteve exposto à crise
das hipotecas, foi às compras para aproveitar as oportunidades que o momento oferece e mantém
lucros em ascensão não é novidade no mundo financeiro. Mas as expectativas do banco para o
Brasil são, no mínimo, ousadas. Em um momento em que as previsões mostram ritmo
desacelerado de crescimento do País em 2009, com um sistema bancário com crédito mais enxuto
sob os efeitos da escassez da liquidez provocada pelo colapso do subprime, a instituição prevê
lucro 27% maior no mercado brasileiro, para R$ 6,1 bilhões no próximo ano, conforme anunciaram
na última sexta-feira os seus principais comandantes, ao detalharem o plano de integração com o
Banco Real, adquirido no ano passado. Para 2010, também nada de parcimônia: o lucro subirá
30% sobre o ano anterior, alcançando R$ 7,9 bilhões. No meio do caminho, o banco planeja
investir no País R$ 2,56 bilhões, particularmente, no aumento da rede, para sustentar o
crescimento que, asseguram os executivos, será orgânico.
"Queremos ser o melhor banco do País", afirmou Emilio Botín, presidente mundial do Santander.
Com a integração, o banco já se posicionou como o terceiro maior privado do Brasil, com 10% de
participação no total de depósitos e de captações, 12% do mercado de crédito, 11% em ativos e 19
milhões de clientes, sendo 8,3 milhões de correntistas. Mas o banco terá de afinar bem suas
estratégia de buscar maior rentabilidade, se quiser ultrapassar Bradesco e Itaú, primeiro e segundo
maiores no ranking brasileiro privado, respectivamente. O lucro pretendido pelo Santander para o
próximo ano já foi alcançado por esses bancos somente no acumulado de 2008 até setembro,
quando o grupo espanhol registrou ganhos de R$ 3,8 bilhões no País, conforme as regras
contábeis da Espanha. Para o final de 2008, a perspectiva é de lucro de R$ 4,8 bilhões, quase
estável ante o de 2007 - quando somados os resultados de Real (R$ 2,9 bilhões) e Santander (R$
1,86 bilhão), mas deverá ser percentualmente bem maior, segundo os critérios espanhóis.
A integração, com ganhos de sinergias locais e globais e reforço na área comercial voltada ao
varejo, somada aos planos de aumento de 15% a 20% no volume de negócios e nas receitas com
clientes e manutenção dos custos operacionais nos próximos dois anos, com melhoria na eficiência
e produtividade, serão as bases para se alcançar esse crescimento, explicou Fabio Barbosa,
presidente do grupo no Brasil. O aumento será resultado também da maior capilaridade. Na
estratégia traçada, estão previstas mais 400 agências, elevando a 2.442 o total em 2011. Conforme
Barbosa, os R$ 2,56 bilhões serão investidos nos próximos dois anos, principalmente, na abertura
dessas lojas, nas adaptações dos sistemas tecnológicos e na montagem da nova sede - excluindo
o prédio, avaliado em R$ 1 bilhão e adquirido este ano.
"Vamos abrir as novas agências e não fecharemos nenhuma das atuais. O Santander aprendeu
com a aquisição do Banespa (em 2000) que quando se fecha uma agência pode-se perder cliente
e não repetirá esse erro", observou Barbosa, completando que os novos pontos-de-venda
fortalecerão a presença do banco nas regiões Sul e Sudeste, onde está mais concentrado, e nas
principais cidades brasileiras. A estratégia de crescimento focada no comercial exigirá ao menos
mais cinco mil funcionários na área de vendas, que responderá em 2010 por 85% do número total
de empregados, em relação aos 76% atuais. Hoje, o grupo tem cerca de 55 mil funcionários no
País. Barbosa disse, entretanto, que não estão definidas demissões nas funções sobrepostas com
a integração. A instituição espanhola sempre afirmou, desde a aquisição do Real, que não planeja
cortes em escala.
Atualmente, as operações brasileiras respondem por 20% dos ganhos do grupo e Botín disse que
o País é parte fundamental no plano de expansão do Santander. "Será um dos motores do
crescimento do banco nos próximos anos." O comandante do maior banco da Espanha, e o que
obtém o maior lucro na América Latina, destacou que a previsão é baseada também no
crescimento econômico sustentável do Brasil, que o fez ser um dos últimos países a sentirem os
efeitos da crise atual, e o seu potencial de expansão, principalmente da classe média, o que
favorece o aumento da população bancarizada, em conseqüência o potencial do setor. "Um
crescimento de 3,5% PIB para 2009 eu acho ótimo, considerando o que se prevê para várias
economias."
Conforme as projeções do Santander, o PIB brasileiro refaz sua rota de crescimento a partir de
2010, alcançando 4,3% em 2013, quando permanecerá nesse nível. Enquanto o dos Estados
Unidos cai a 0,2% em 2009, chegando a 2,2% em 2013, e o da Zona Euro fica em 0,1% e 2,3%,
respectivamente. Botín ressaltou também que o Santander é um banco tão europeu como latino-
americano. O banco está na América Latina há 60 anos e investiu na região US$ 31 bilhões, nos
últimos 10 anos, sendo mais de US$ 23 bilhões no Brasil. "Quem não está presente no Brasil não
está na América Latina." O grupo espanhol acredita que em duas décadas o País poderá ter um
PIB entre US$ 2 trilhões e US$ 3 trilhões, se posicionando entre as cinco maiores economias do
mundo, suplantado apenas pela China, União Européia, Estados Unidos, Índia e Japão. A
bancarização, prevê, deverá dobrar em 10 anos. "O aumento da renda, a melhora do emprego e
da massa salarial e a redução dos juros têm contribuído decisivamente para a inclusão da
população no sistema bancário, também um dos mais sólidos modelos do mundo."
(Gazeta Mercantil/Finanças & Mercados - Pág. 3)(Iolanda Nascimento)
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3 de Novembro de 2008 - Emilio Botín, presidente mundial do Banco Santander, disse que pagaria
novamente o que pagou pelo Banco Real e até muito mais. "A aquisição tem sido extraordinária, é
perfeita para os nossos planos de continuar crescendo no Brasil." A compra foi bastante disputada
e, entre as companhias que participaram do consórcio vencedor, o Santander é hoje o único a
colher o fruto do negócio, já que a crise das hipotecas de alto risco levou quase à bancarrota os
seus parceiros de disputa.
Em abril de 2007, o Royal Bank of Scotland (RBS), o belga-holandês Fortis e o espanhol
Santander formaram um consórcio para disputar com o britânico Barclays a compra do holandês
ABN Amro, com ativos espalhados pela Europa e América Latina, incluindo o Real. A disputa foi
bastante acirrada e durou até outubro, quando o ABN fechou a transação com o consórcio, por
US$ 100 bilhões, o maior negócio da história do setor bancário mundial. Coube ao Santander as
operações do ABN na América Latina e o banco italiano Antoveta. A empresa italiana foi vendida
por € 9 bilhões um mês depois, o que significa uma prova do interesse da instituição no Brasil.
Imerso na crise do subprime, o Fortis esteve à beira da falência em setembro e foi salvo pelos
governos da Bélgica, Holanda e Luxemburgo. Já o governo britânico evitou o naufrágio do RBS
injetando 20 bilhões de libras no banco, em operação realizada no final de outubro.
Com caixa, o Santander foi às compras nesse mesmo período e nos últimos três meses realizou
três, entre elas a do Sovereign Bank, dos Estados Unidos, por US$ 1,9 bilhão. A instituição já
detinha 25% do capital do banco norte-americano. Botin disse que no momento o banco não tem
negociação em andamento, contudo, está sempre atento às oportunidades no mercado. No Brasil,
onde está desde 1982, realizou ao menos seis aquisições, entre 1997 e 2000, sendo o Banespa a
mais importante antes do Real. Com essas compras, pode erguer um grupo com ativos totais de
R$ 269,6 bilhões e patrimônio líquido de R$ 24,36 bilhões. A carteira de crédito passa de R$ 133
bilhões e a rede de agências e de postos de atendimento soma 3.551 unidades.
(Gazeta Mercantil/Finanças & Mercados - Pág. 3)(IN)
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Londres, 3 de Novembro de 2008 - O Barclays planeja levantar £ 7,3 bilhões, ou US$ 11,8 bilhões,
com a emissão de ações para Abu Dhabi e Catar para cumprir suas novas necessidades de capital
sem ajuda do governo da Grã-Bretanha A instituição emitirá £ 5,8 bilhões em notas conversíveis, o
que pode deixar os investidores do Oriente Médio com até 32% do seu capital. Os adicionais £ 1,5
bilhão serão levantados pela emissão de ações para os acionistas novos e existentes.
"O Barclays merece crédito por ser capaz de levantar esse capital", disse Adrian Darley, gestor de
fundos da Resolution Asset Management. "Mas isso também é dilutivo para os acionistas e mesmo
sendo suficiente para manter o banco em operação, a pergunta que permanece para o Barclays é
se será suficiente para oferecer flexibilidade para o banco ir atrás de oportunidades na presente
situação do mercado", disse.
Ao contrário do Royal Bank of Scotland, HBOS e Lloyds, o Barclays rejeitou, no mês passado,
assistência do governo porque os recursos seriam disponibilizados mediante restrições sobre os
pagamentos de bonificações e dividendos.
(Gazeta Mercantil/Finanças & Mercados - Pág. 3)(The New York Times)
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Investidores protestam contra perdas
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Copom e dados do câmbio são destaque
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São Paulo, 3 de Novembro de 2008 - A bolsa brasileira interrompeu um ciclo de três altas
consecutivas ao encerrar o pregão da última sexta-feira em queda de 0,51%, aos 37.256 pontos. A
desvalorização só não foi maior devido a inversão de tendência das bolsas norte-americanas e
papéis da Vale e Petrobras. Mesmo com a alta da semana (+18,34%), o tombo registrado no mês
reflete as turbulências vividas pelos mercados de capitais (-24,79%), assim como no ano (-
41,68%). O giro financeiro no último pregão foi de R$ 4,77 bilhões.
Nem mesmo o anuncio de paralisação das atividades em algumas minas da Vale, devido ao forte
efeito negativo sobre a produção de aço causado pelo agra-vamento da crise, derrubou os papéis
da mineradora, que fecharam o dia em leve alta. Em comunicado enviado à Comissão de Valores
Mobiliários (CVM), a Vale informou que vai reduzir a produção de minério de ferro, em um volume
equivalente a 30 milhões de toneladas métricas anuais.
"Vários ativos brasileiros ficaram muito baratos devido as fortes quedas registradas nas últimas
semanas. Mas, não podemos afirmar que a volatilidade acabou já que pode haver correções
técnicas tanto para baixo quanto para cima em função de notícias pontuais", afirma Patrícia
Branco, sócia-gestora da Global Equity.
Ainda no mercado doméstico, o barril de petróleo, que operou boa parte da sessão em queda,
acabou fechando a sexta-feira em alta, impulsionando novamente pelas ações da Petrobras, que
subiram cerca de 2%. "Os últimos dias foram de calma no front interno, uma vez que as notícias
que poderiam derrubar o índice já foram divulgadas e não mostraram surpresas", ressalta Patrícia.
Já no front externo, a percepção de que a maior economia do mundo entrará em recessão foi
reforçada com a divulgação do índice que mede os gastos dos consumidores norte-americanos.
Por lá, o índice recuou 0,3% em setembro e mostrou a primeira queda mensal em dois anos e o
maior recuo desde maio de 2005. Mas a notícia não desanimou os investidores, que voltaram a
comprar ativos de risco. Ainda nos Estados Unidos, o presidente do Fed, Ben Bernanke, declarou
que os Estados Unidos precisam ter um forte papel de atuação e apoio na securitização de
hipotecas. "Nossa tarefa agora é começar a pensar sobre a melhor maneira de restabelecer um elo
entre os compra-dores de casa e o mercado de capitais", afirmou Bernanke.
(Gazeta Mercantil/Finanças & Mercados - Pág. 4)(Vanessa Correia/InvestNews)
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GazetaInveste - Eletrobrás busca visibilidade na Nyse
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3 de Novembro de 2008 - O frigorífico JBS deverá registrar um lucro líquido de R$ 765 milhões no
terceiro trimestre deste ano, de acordo com projeções da Brascan Corretora. O resultado deve ser
puxado por um ganho financeiro de R$ 663 milhões. A Brascan possui recomendação outperform
(retorno esperado de 5 pontos porcentuais acima do Ibovespa) para os papéis do frigorífico.
Classificação
Fitch mantém nota da Ambev
A agência de classificação de risco Fitch manteve a nota (rating) da cervejaria Ambev em "BBB",
no patamar de grau de investimento e um degrau acima da nota brasileira. A agência havia
colocado a Ambev em observação negativa por conta da aquisição da Anheuser-Busch pela InBev,
controladora da companhia.
(Gazeta Mercantil/Finanças & Mercados - Pág. 4)(homebroker@gazetamercantil.com.br)
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Capital Aberto - Ação de calçadista reflete perda de margem
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São Paulo, 3 de Novembro de 2008 - Após mais um mês complicado no mercado financeiro, o
desempenho das aplicações em novembro estará intrinsecamente ligado aos esforços dos
governos para restabelecer a normalidade e a confiança no sistema financeiro global. A avaliação é
do administrador de investimentos Fabio Colombo. A Bolsa foi mais uma vez o pior investimento no
mês passado, com queda acumulada de 24,79%. Já o dólar comercial, mesmo após a queda na
última semana, encerrou outubro com valorização de 10,50%.
O especialista avalia que, após as pesadas perdas ocorridas no Ibovespa desde maio, o investidor
deve continuar no processo de compra gradativa de ações. Para os mais conservadores, os fundos
DI continuam interessantes, pois seguem a política de juros do Banco Central. Por outro lado, com
as perspectivas de volta da inflação após a forte alta do dólar, os juros reais podem ficar
prejudicados nos próximos meses, pondera Colombo. Como opção para diversificação de portfólio,
ele recomenda os títulos públicos indexados à variação da inflação medida pelo IPCA.
Segundo Colombo, as condições do mercado brasileiro estarão sujeitas a quatro variáveis: a
liquidez do mercado, a concessão de crédito, o comportamento do dólar e os índices inflacionários,
pressionados pela alta do dólar.
(Gazeta Mercantil/Finanças & Mercados - Pág. 5)(Redação)
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3 de Novembro de 2008 - Uma das características marcantes da evolução dos negócios nas
ultimas décadas é a especialização crescente. Até os mais sólidos grupos econômicos foram
levados a optar por aqueles produtos ou serviços nos quais apresentavam competitividade
destacada. A redução das barreiras comerciais e a cultura globalizada varreram do mapa as
antigas reservas de mercado.
Hoje, praticamente qualquer produto ou serviço conta com competidores internacionais. Isso
evidenciou o que já se sabia desde a época de Darwin, "sobrevivem aqueles que mais
rapidamente se adaptam às mudanças", ou também, aqueles que buscam a especialização e
focam suas energias e recursos no que sabem fazer melhor.
Essa realidade levou as empresas a focarem seus recursos na atividade-fim, gerando assim um
aumento acelerado das chamadas atividades terceirizadas, o outsourcing, através das quais a
empresa conta com especialistas externos para desempenhar certas funções que não sejam a sua
razão de existir. A terceirização proporciona enormes ganhos adicionais e flexibilidade, o que pode
significar redução de custos fixos e de necessidades de investimentos.
Atualmente, praticamente todas as companhias contam com processos terceirizados, envolvendo
desde a segurança até a produção. Nos últimos 20 anos, diversas empresas passaram a terceirizar
suas atividades de processamento, entre elas as obrigações fiscais e contábeis, a folha de
pagamento, o processamento de pagamentos e faturamento. Este processo passou a demandar
profissionais especializados e atualizados em legislações, aumentando a segurança administrativa
e diminuindo os riscos de multas e passivos.
A hora da verdadeNo mercado brasileiro surgiu um fator adicional. Pequenos e médios
empresários expostos à globalização identificaram excelentes oportunidades de expansão dos
seus negócios, associando-se a empresas globais, abrindo o capital ou simplesmente vendendo o
negócio.
Em várias situações essas empresas não contavam com um adequado sistema de geração de
informações contábeis e financeiras que lhes permitisse comparar a rentabilidade, custos de
financiamentos e outros fatores críticos com os seus competidores externos. Em outros casos,
existia a convivência com um ambiente de elevados riscos fiscais.
No momento da inserção real no ambiente globalizado aparecem os custos invisíveis de se ter
controles inadequados, na forma de redução do valor da empresa em uma transação ou
associação. A terceirização de processos de suporte surge como uma alternativa para elevar o
ambiente de controles das empresas emergentes e colocá-las no nível das empresas globais, com
significativa redução de necessidades de investimento em estrutura.
Embora a terceirização traga diversos benefícios, o processo precisa ser implementado levando
em consideração um contexto amplo dos negócios da empresa. Essa foi a conclusão de um estudo
da Deloitte finalizado no início de 2008, no qual foram entrevistados 300 executivos sêniores de
empresas nos Estados Unidos, Canadá, Reino Unido e Alemanha.
É preciso ter em mente que não basta terceirizar uma operação ou processo – é necessário
encontrar parceiros que sejam capazes de oferecer soluções integradas e avançadas, permitindo
às empresas emergentes melhorar a gestão de seus processos de negócios. E, com isso, estarem
aptas a buscar clientes, aonde quer que eles estejam.
(Gazeta Mercantil/Finanças & Mercados - Pág. 5)(Luiz Costa - Sócio da área de outsourcing da
Deloitte)
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Rio de Janeiro, 3 de Novembro de 2008 - Mercado com potencial para crescer até 10 vezes no
Brasil, a previdência complementar fechada encontra na atual crise, por mais contraditório que
possa parecer, o momento oportuno para confirmar os prognósticos mais otimistas dos
especialistas do setor. O economista Paulo Rabello de Castro, doutor em Economia pela
Universidade de Chicago e sócio da SR Rating, justifica que a turbulência global, fruto da crise das
hipotecas subprimes, criou as condições para a retomada da reforma da Previdência. A iniciativa,
projeta Castro, pode contribuir para aumentar a até 60% do Produto Interno Bruto (PIB) o atual
patrimônio dos fundos de pensão do País, hoje equivalente a 17% do PIB.Tal crescimento - viável
no espaço de três décadas, de acordo com o economista - permitiria não só a ampliação para 30
milhões do atual contingente de 3 milhões de participantes do regime de previdência fechada,
como também incorporaria uma parcela mais ampla de trabalhadores ao sistema, hoje
praticamente limitado aos funcionários de estatais.
Popularização
"Nos momentos de crise, a população tende a fazer e buscar meios de aumentar a poupança",
avalia Rabello de Castro, que participa amanhã do painel "A Crise internacional e a Economia
Brasileira", a ser realizado durante o 29º Congresso dos Fundos de Pensão, promovido pela
Associação Brasileira das Entidades Fechadas de Previdência Privada (Abrapp). "O momento
atual, marcado pela crise global, é o mais apropriado para se discutir os instrumentos para
aumentar essa poupança. Essa é a hora de se discutir, por exemplo, a reforma da Previdência
Social."
Para o economista, a reforma poderia colaborar para a popularização dos fundos de pensão, com
o estímulo a criação de novos fundos de entidades de classe e associações organizadas - as
chamadas Fundações de Previdência Associativa (FPAs). Categoria já prevista na legislação
brasileira desde a aprovação da lei complementar 109/2001, as FPAs poderiam contribuir, na
prática, para o que o economista classifica como redistribuição estrutural da riqueza do País.Hoje,
lembra Rabello de Castro, da SR Rating, 80% da população detêm 28% da renda total do País. A
popularização das FPAs, projeta o economista, poderia aumentar para 45% o total da renda detida
pela parcela menos aquinhoada da população. Um processo mais eficiente, de acordo com o
executivo, do que programas compensatórios como o Bolsa Família.
"Hoje, todos se contentam em distribuir o que eu chamo de troco da renda total, por meio do Bolsa
Família", critica Rabello de Castro. "O que eu busco, com essa proposta de reforma dos fundos de
pensão, é uma distribuição estrutural da riqueza do País, por meio do aumento da poupança
interna."
(Gazeta Mercantil/Finanças & Mercados - Pág. 5)(Ricardo Rego Monteiro)
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3 de Novembro de 2008 - As ações dos mercados emergentes deverão duplicar a partir desta
semana após os bancos centrais do mundo terem baixado juros e o custo do crédito ter caído,
segundo a Merrill Lynch. "Há uma probabilidade razoavelmente alta de que, antes do fim das
baixas, possamos ver essa categoria de ativos ser reconduzida ao seu nível pré-(concordata
do)Lehman (Brothers)", disse Michael Hartnett, estrategista mundial em ações de mercados
emergentes. "As ações dos emergentes passaram por um movimento de venda exagerado e suas
avaliações estão muito baratas."
(Gazeta Mercantil/Finanças & Mercados - Pág. 5)
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Governo registra superávit de R$ 3,9 bi
Brasília, 3 de Novembro de 2008 - A desvalorização do real em 17,1% em setembro fez bem para
as contas do setor público. Os gastos com pagamentos de juros caíram e houve ganhos com
operações de swap cambial, o que contribuiu para a formação de um superávit nominal de R$ 3,9
bilhões no mês. O resultado foi o melhor para setembro em toda a série histórica, iniciada em
1991. "Os juros nominais apresentaram uma queda acentuada no período e a principal causa disso
é o resultado dos swaps feitos pelo BC, de R$ 6,5 bilhões em setembro", explicou o chefe-adjunto
do Departamento Econômico do Banco Central, Túlio Maciel. Os resultados envolvem o governo
central, estados e municípios.
O resultado do superávit primário em setembro foi de R$ 10 bilhões, praticamente o mesmo de
agosto, de R$ 10,1 bilhões. Os gastos com juros nominais, no entanto, caíram fortemente: tinham
chegado a R$ 12,5 bilhões em agosto e ficaram em R$ 6,1 bilhões em setembro. Dessa forma,
assim como setembro apresentou superávit nominal de R$ 3,9 bilhões, em agosto foi registrado
déficit nominal de R$ 2,3 bilhões. Setembro foi o quarto mês de 2008 a apresentar superávit
nominal. Antes, já havia ocorrido em janeiro (R$ 5,5 bilhões); março (R$ 3,9 bilhões) e abril (R$ 3,8
bilhões).
Dados do BC detalham a evolução da dívida líquida, que atingiu saldo de R$ 1,12 trilhão em
setembro (38,3% do PIB); frente R$ 1,18 trilhão em agosto (40,4% do Produto Interno Bruto). A
queda de R$ 55,5 bilhões foi, portanto, de 2,1% do PIB de um mês para outro, o efeito cambial foi
o que mais pesou. "A queda da dívida líquida 1,6% refere-se exclusivamente a desvalorização
cambial", disse Maciel. Para outubro, o BC prevê que a relação entre dívida e PIB deve cair para o
patamar de 37%. Nessa projeção foi considerada taxa de câmbio de R$ 2,11 por dólar.
Resultado primário
A dívida bruta do governo geral atingiu R$ 1,65 trilhão em setembro (56,3% do PIB), frente R$ 1,63
trilhões (55,9% do PIB) em agosto. Enquanto que o fluxo acumulado do resultado primário do setor
público entre janeiro e setembro registrou superávit de R$ 118 bilhões, ou 5,59% do PIB. É o
melhor resultado desde 1994, quando o superávit primário dos nove primeiros meses do ano
representou 5,92% do PIB. Em igual período de 2007, o superávit era de R$ 101 bilhões,
representando 3,97% do PIB. Já o déficit nominal no fluxo acumulado entre janeiro e setembro
deste ano chega a R$ 7 bilhões, ou 0,33%, o melhor percentual de toda a série histórica. Nos nove
primeiros meses do ano passado, o déficit nominal somava R$ 28,1 bilhões, ou 1,5% do PIB.
Meta anual
O fluxo de recursos em 12 meses indica que o superávit primário atingiu R$ 128 bilhões, ou seja,
4,60% do PIB. Está praticamente garantido, portanto, que o País irá superar a meta de superávit
primário de 4,3% do PIB. Também no acumulado em 12 meses, o déficit nominal soma R$ 36,8
bilhões, ou 1,32% do PIB, o percentual mais baixo de toda a série. O fluxo em 12 meses, portanto,
está abaixo da projeção indicada pelo próprio BC em setembro, que estimava déficit nominal de
1,65% no ano.
(Gazeta Mercantil/Caderno A - Pág. 5)(Ayr Aliski)
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São Paulo, 3 de Novembro de 2008 - Após seis anos consecutivos de saldo positivo, a balança
comercial de bens produzidos tipicamente pela indústria de transformação brasileira encerra o
terceiro trimestre do ano no vermelho. O déficit de US$ 4,1 bilhões entre janeiro e setembro de
2008 representa uma deterioração de U$ 20 bilhões em relação ao superávit de US$ 15,5 bilhões
registrado no mesmo período do ano passado. Mas, além de divisas, o resultado mostra que o
setor também perdeu competitividade, principalmente, em segmentos de maior intensidade
tecnológica.
"Esse déficit é quantitativo, mas também qualitativo", disse o economista do Instituto de Estudos
para o Desenvolvimento Industrial (Iedi) Rogério César Souza. Ele afirma que, antes da crise
financeira mostrar o seu lado mais drástico em setembro, indústria já exibia um "deficiente"
dinamismo exportador. Na sua avaliação, a desvalorização cambial pode ser um estímulo às
exportações de manufaturados, mas o cenário de recessão que se desenha nos países centrais
dificulta a mudança de sinal na indústria. "Não será agora que irá mudar", afirmou.
Análise elaborada pela entidade mostra que só a indústria de alta intensidade tecnológica, segundo
classificação adotada pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico
(OCDE), aumentou o déficit em 52% em relação ao ano passado e acumulou saldo negativo de
US$ 16,7 bilhões até setembro, o pior desempenho desde 1997, início da série. O segmento
abrange produtos médico-hospitalares, áudio e vídeo, componentes eletrônicos, equipamentos de
informática e farmacêuticos e aeronáutico, entre outros.
O maior rombo, no entanto, foi apresentado pelo setor de média-alta intensidade, com um déficit de
US$ 22,4 bilhões no período, mais de três vezes superior aos US$ 6,6 bilhões registrados entre
janeiro e setembro de 2007. Com exceção da indústria automobilística, que apresentou superávit
de apenas US$ 1,8 bilhão, máquinas e equipamentos, química, equipamentos ferroviário e outros
segmentos de transporte registraram saldo negativo.
Souza destaca que o real valorizado favoreceu a ampliação de investimentos produtivos, com a
importação de máquinas e equipamentos. Por outro lado, o Brasil intensificou as compras de
componentes eletrônicos, equipamentos de informática, produtos farmacêuticos, de áudio e vídeo.
"O lado cruel para a economia é que País não internaliza essa tecnologia. São os principais
setores que geram o desenvolvimento tecnológico, que tem como resultado final gerar produtos
com maior valor agregado", afirmou o economista à Gazeta Mercantil.
O superávit da indústria de baixa intensidade avançou 18%, atingindo US$ 30,46 bilhões entre
janeiro e setembro de 2008. O setor de alimentos, bebidas e tabaco puxou essa expansão ao
ampliar o saldo positivo de US$ 18 bilhões para US$ 23,67 bilhões em um ano. "O crescimento,
em si, não é ruim, mas também reflete uma mudança estrutural na indústria. O País começa a
apontar para uma pauta de exportação que traduz uma economia dedicada a bens de menor valor
agregado", disse
A maior diversificação da pauta de exportações deixaria o País menos vulnerável à volatilidade do
mercado internacional. A China, exemplifica Souza, além de grande exportadora de baixa
intensidade, também produz média-alta e alta tecnologias. "Ela tem uma indústria mais
diversificada e mais equilibrada."
Os produtos de média-baixa tecnologia reduziram em relação ao ano passado o superávit de US$
7,28 bilhões para US$ 4,57 bilhões nos sete primeiros meses de 2008. A queda é atribuída à
ampliação do déficit no setor de petróleo refinado e carvão, de US$ 2,19 bilhões para US$ 5,2
bilhões no período.
(Gazeta Mercantil/Caderno A - Pág. 4)(Ana Carolina Saito)
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BB e CEF vão reforçar crédito nesta semana
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Paris, 3 de Novembro de 2008 - A expansão econômica dos últimos anos parecia ter relegado o
Fundo Monetário Internacional (FMI) à posição secundária na história, mas a devastadora crise
financeira que teve origem em Wall Street lançou novamente a instituição ao centro do cenário
mundial.
Nos últimos dias, o FMI negociou empréstimos condicionados a Hungria, Ucrânia e Islândia. As
últimas grandes intervenções do fundo datavam da crise asiática de 1997-98 e de seus efeitos
secundários na América Latina.
Esta região sofreu o trauma da década 80-90, quando estavam em vigor políticas de austeridade
impostas pela instituição internacional durante a crise da dívida externa, desencadeada pelo
default mexicano de 1982, para salvar os bancos comerciais internacionais.
Nos últimos anos de bonança, impulsionados pelo aumento do preço das matérias-primas, os
principais países latino-americanos saldaram suas dívidas com o organismo financeiro multilateral,
que deixou de supervisionar suas economias.
Mas a tormenta financeira já começou a fazer estragos, sobretudo na Europa do Leste, e ameaça
as economias emergentes golpeadas pela fuga de capitais, com a desvalorização de suas moedas
e o desaparecimento do crédito.
A Islândia, com 320.000 habitantes e uma economia dependente de seus bancos que emprestaram
no exterior nove vezes o seu PIB, foi o primeiro país da Europa Ocidental a recorrer ao FMI em 32
anos.
A entidade estendeu ao país um empréstimo stand-by, ou seja, condicionado, de US$ 2,1 bilhões,
que deve ser complementado por outros US$ 4 bilhões que seriam oriundos de recursos
emprestados por seus vizinhos nórdicos, além dos Estados Unidos e da Rússia.A Ucrânia, com
menos de duas décadas de capitalismo, já estreou com a ajuda do FMI, com o qual tem pendente
de um crédito de US$ 16,5 bilhões, mas tensões políticas internas impediram que o parlamento
aprovasse um pacote de medidas exigido pelo fundo.
Outro país do ex-campo soviético, a Hungria, endividado em euros e em risco de default depois da
desvalorização da moeda local, o forint, em 20% em outubro, fez um acordo para um empréstimo
de US$ 16,3 bilhões do FMI, que será acompanhado por outro de US$ 8,5 bilhões da UE e outro
do Banco Mundial de US$ 1,3 bilhão. O FMI também, negocia empréstimos com Paquistão e
Turquia.
Enquanto isso, a América Latina tenta evitar cair novamente nas redes do Fundo, apesar da forte
desvalorização de suas moedas nacionais.
Os bancos centrais de Brasil e México gastaram dezenas de bilhões de dólares de suas reservas
para defender o real e o peso, o primeiro desvalorizado em 40% nos últimos meses.
O Federal Reserve americano veio ajudar esses países esta semana com linhas de swap de US$
30 bilhões cada para ajudar a troca de moeda local, por considerar que suas economias estão bem
administradas. Ajudas semelhantes foram estendidas a Cingapura, Coréia do Sul e Nova Zelândia.
Ao mesmo tempo, o diretor-gerente do FMI, Dominique Strauss Kahn, anunciou esta semana em
Washington uma taxa de empréstimo a curto prazo sem condições para os países "bem
administrados".
Além de Brasil e México, o Chile também poderá ser beneficiado por esta modalidade. Entretanto,
os analistas se preocupam com os países excluídos, cuja percepção de risco pode subir.
A Argentina, com um alto nível de endividamento e sem terminar de saldar o default de 2001, ficou
excluída desta facilidade.
Strauss Kahn, um ex-ministro de finanças socialista afirma, no entanto, que o FMI já não é o
mesmo desde que chegou reformando o sistema de direitos de votação.
Strauss Kahn afirma que o FMI "aprendeu com os erros do passado" e diz que proporá no dia 15
de novembro, em Washington, aos países do G-20 "um novo plano de governabilidade" do sistema
financeiro.
(Gazeta Mercantil/Caderno A - Pág. 5)(AFP)
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São Paulo, 3 de Novembro de 2008 - Da "bolha econômica" furada pela concordata do Lehman
Brothers ainda escorre o crédito, ou a escassez dele, que já não sacia mais o apetite do
agronegócio brasileiro. Problema que para o ex-ministro da Agricultura Roberto Rodrigues já havia
se instalado antes mesmo do fatídico 14 de setembro, que marcou a quebra da instituição
financeira americana e o início da atual crise mundial.
O coordenador do Centro de Agronegócios da Fundação Getúlio Vargas (FGV) e presidente do
Conselho Superior de Agronegócios da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (FIESP),
é capaz até de prever o "pior dos mundos", sem no entanto acreditar nele. Escassez de crédito,
descapitalização do setor produtivo - e a conseqüente perda da capacidade de investimento -,
endividamento, inflação, perda da capacidade de exportação e o inevitável desmanche do
superávit da balança comercial. Essas seriam conseqüências que a economia brasileira poderia
experimentar caso não aproveitasse as oportunidades geradas pela crise e já avistadas por
Rodrigues.
Segundo ele, "toda crise gera também oportunidades", para aproveitá-las bastaria criar e
administrar os instrumentos de regulação adequados. Um deles seria a política de "preços
mínimos", prevista em lei e, de acordo com o ex-ministro, capaz de trazer à balança comercial
brasileira do agronegócio, mercados que certamente serão abandonados pelos países
desenvolvidos em decorrência do atual momento econômico, - solução que passa pela garantia de
viabilidade da safra 2010. Garantia essa que só poderia ser conquistada mediante a liberação de
crédito rural, recurso oferecido pelo governo federal e pela força de medidas, mas que não
consegue atravessar com tanta facilidade o caminho dos bancos para alcançar o produtor agrícola.
Em entrevista à Gazeta Mercantil, Roberto Rodrigues aponta a direção a ser seguida pelo crédito e
pelo governo para que o País encontre o atalho da maior crise financeira dos tempos modernos.
Gazeta Mercantil - Qual a conseqüência imediata dessa retração de crédito agravada pela crise
econômica?
Estamos diante de uma safra cara e com menos crédito, seja por problemas anteriores e nacionais,
seja por problemas agravados por causa da crise. Esse fato tem dois reflexos naturais, o primeiro é
uma redução da área plantada. A expectativa que se tinha de crescimento já está sendo
desmanchada, tanto é verdade que o setor de fertilizantes que teve o melhor primeiro semestre da
história, tem um dos piores segundos semestres, houve então uma reversão das expectativas. A
outra questão é a redução do padrão tecnológico. Como o crédito está muito mais caro, o agricultor
acaba usando menos tecnologia e restringe o horizonte produtivo lá na frente. Isso já é dado, já
aconteceu. O que ainda pode acontecer é um desânimo dos produtores em relação à safra que vai
ser plantada em 2009.
Gazeta Mercantil - Esse desânimo é generalizado? Como essa redução de área cultivável vai
impactar na relação oferta/demanda?
Os países desenvolvidos vão provavelmente diminuir o plantio e ficar pedalando a safra porque
terão "target price" (preço mínimo). Isso significa uma menor oferta de produtos agrícolas para
2010. Ano que vem já está garantido, não tem mais o que discutir. Na hipótese, que eu considero
pouco provável, de os preços caírem durante a colheita da nossa safra a partir de março, nós
viveríamos o pior dos mundos. Teríamos uma safra cara com pouco crédito, baixa produtividade e
preços ruins. E se isso acontecesse, haveria uma brutal descapitalização do setor, perda de
capacidade de investimento e endividamento. Ficaríamos com uma reduzida capacidade de plantar
a safra em 2009 de modo que no ano seguinte teríamos uma safra pequena no Brasil, somada à
uma safra pequena no hemisfério norte. Essa situação levaria à uma inflação de alimentos e uma
redução na capacidade de exportação desmanchando nosso superávit comercial. Seria um
desastre para o País.
Gazeta Mercantil - E como evitar esse desastre por aqui?
Precisamos transformar o risco em oportunidade, e esse instrumento já existe. Há uma lei no dos
anos 70 chamada PGPM - política de garantia de preços mínimos -, é uma lei que permite que o
governo interfira caso o mercado pratique um preço abaixo daquele estabelecido pelo governo,
seja comprando, seja financiando a estocagem, seja pagando a diferença entre o preço de
mercado e o preço mínimo de garantia. Precisamos fazer um recálculo desses preços com base no
comportamento do mercado nos últimos dias, e ainda colocar no orçamento do ministério da
Agricultura recursos orçamentários suficientes para executar a política de preços mínimos.
Gazeta Mercantil - Isso aceleraria o processo de viabilização de crédito?
A aventura acabaria porque o produtor sabe que vai plantar com garantia que vai receber um preço
mínimo lá na frente. Os bancos perdem o medo do risco porque esse preço mínimo também é
garantia de retorno de investimentos. É hora do governo ressuscitar um instrumento que já existe
por lei e basta decisão política e obviamente econômica. Se isso acontecer o governo dará ao País
uma oportunidade formidável de em 2010, com uma safra boa, ocupar mercados que serão
perdidos por outros países. E o governo está sendo muito ativo no processo. A Câmara dos
Deputados já está analisando o orçamento para voltar a praticar a política de preços mínimos.
Esse é um cenário onde a crise pode ser transformada em uma grande oportunidade para a
agricultura e para o Brasil. Mas além disso tem um outro problema ainda mais emergencial que são
os ACC’s (Adiantamento de Contrato de Câmbio).
Gazeta Mercantil - Como garantir à indústria do agronegócio o fluxo das exportações, e à balança
comercial brasileira o peso da receita que vem do mercado internacional?
O governo tá prometendo resolver isso (o problema dos ACC’s) rapidamente via BNDES (Banco
Nacional de Desenvolvimento Social), mas existem alguns setores que já estão estrangulados, um
deles, o mais estrangulado, é o setor sucroalcooleiro. As usinas que exportam açúcar e álcool não
estão conseguindo financiamento para exportação e não podem pagar os produtores de matéria-
prima, com isso a renda rural vem sendo represada lá atrás, o que tem um efeito dominó muito
negativo sob as regiões canavieiras. Este problema por enquanto está restrito à área canavieira,
mas já se aproxima dos frigoríficos, do suco de laranja e de qualquer outro segmento agroindustrial
que esteja alavancado em dólar. A alocação de recursos de ACC’s é absolutamente indispensável
para destravar a questão da renda rural nas cadeias produtivas que dependem da industrialização.
Gazeta Mercantil - A agricultura brasileira viveu uma crise em 2004 e agora, quatro anos depois, já
enfrenta uma nova turbulência. Esse curto período de alta não foi suficiente para o produtor se
recuperar. Como o governo deve intervir nessa situação de endividamento explícito?
O governo encaminhou uma solução de rolagem dessa dívida mas o assunto não foi encerrado
ainda, e é por isso que uma parcela de produtores que tinham dívidas e não puderam rolar essas
dívidas perderam acesso ao novo crédito. Aí entra a burocracia pública, que inibe a rapidez do
processo, que por sua vez se cristaliza.
Gazeta Mercantil - Qual a real capacidade de crescimento da agropecuária brasileira?
380 milhões de toneladas de grãos é o número limite da nossa capacidade de produção e não há
tempo limite para chegar lá, pode demorar 50 ou 15 anos. Temos um crescimento potencial
horizontal para dobrar a área. Nós temos hoje 72 milhões de hectares cultivados e outros 96
milhões de hectares ocupados com pastagem perfeitamente agricultáveis. Além disso existe a
possibilidade de crescimento vertical. A produtividade média de milho no Brasil hoje é de 72 sacas
por hectare, mas os campeões do Paraná chegam a 200 sacas.
Gazeta Mercantil - E como essa produção brasileira vai abastecer o mercado externo?
Nos últimos sete anos, a produção mundial de grãos foi 120 milhões de toneladas menor do que o
consumo, ou seja, houve um déficit. E o Brasil nesse período teve um superávit de 160 milhões de
toneladas. Se não fôssemos nós esse déficit global seria de quase 300 milhões de toneladas.
Então o Brasil já vem sendo um País diferenciado nesse cenário global. Em termos de mercado,
avançamos mais em relação aos países em desenvolvimento, os emergentes, porque a renda per
capita deles cresce mais que a renda per capita dos países desenvolvidos, e a população também.
Nos mesmo sete anos, nós tivemos um crescimento ao ano de 11% das exportações para os
países desenvolvidos - o dobro da média mundial -, mas para os países emergentes nós
exportamos 21% a mais. Então temos um potencial que poucos têm de conquistar esse mercado,
mas para isso nós temos que cuidar da renda rural através de instrumentos de crédito adequados,
temos que ter uma logística melhor. Nós estamos sucateados em termos de rodovias, ferrovias,
portos. Temos que fazer investimentos vigorosos e o PAC (Plano de Aceleração do Crescimento)
está aí para isso. Temos que fazer a promoção comercial e acordos bilaterais para abrir mercados.
Gazeta Mercantil - Como deve se comportar a demanda mundial, tanto por proteína animal, quanto
por grãos? E os preços?
Todas as previsões são de um crescimento da demanda mundial por proteína animal e por
oleaginosas, bem como frutas e legumes, e uma redução de raízes, tubérculos e cereais não
protéicos. Essa é uma tendência irrecorrível. Se você olhar para o mercado mundial agrícola vai
ver que os preços têm uma ciclotimia sistêmica determinada pela oferta e demanda, porém a
resultante dessa ciclotimia é uma tendência permanente declinante de preços. Isso porque a
tecnologia aumenta a oferta, e se a demanda não aumentar na mesma direção os preços
sistematicamente caem, razão pela qual eu questiono o discurso de que teria acabado o tempo dos
alimentos baratos. Isso está errado, os preços tendem a cair. O que acontece hoje é um
movimento de demanda superior à oferta determinado pela renda crescente nos países em
desenvolvimento. Com a crise passou a haver uma pressão sobre essa demanda que poderá
determinar uma redução do consumo dos produtos de maior valor agregado como a carne, mas é
uma curva da crise, tanto pode ser para baixo da tendência ou para cima, mas ela é sempre
declinante, de forma que em qualquer circunstância essa curva será superada por outra curva.
Tendência essa que continuará no longo prazo. Vales ou picos de preços, e também a demanda de
consumo, fazem parte dessa resultante.
Gazeta Mercantil - E sobre as novas fronteiras agrícolas?
Os eixos de avanço da agricultura são suportados pela logística. Quando eu era ministro, o
Maranhão tinha uma logística desenhada e vantagens tributárias dadas pelo governo de lá em
relação ao ICMS. Hoje, no Piauí tem uma logística interessante, indústrias estão indo para lá fazer
a moagem na região. Então o que vai determinar esses eixos de crescimento em direção às novas
fronteiras é a logística, que hoje ainda consome 20% do PIB brasileiro.
(Gazeta Mercantil/Finanças & Mercados - Pág. 11)(Gilmara Botelho)
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São Paulo, 3 de Novembro de 2008 - Apesar de o novo Código Civil já prever que nos casos de
abuso da personalidade jurídica como, por exemplo, a confusão patrimonial, a responsabilidade
caberá aos administradores e sócios e isso se estenderá aos seu patrimônio pessoal, outra
preocupação tem atraído a atenção desses profissionais. Trata-se de um novo entendimento que
tem sido adotado pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ). Até maio deste ano, a Corte sustentava
que o integrante de uma pessoa jurídica somente respondia com seu patrimônio pessoal por uma
dívida caso fosse comprovado que ele agiu com dolo, fraude, se tivesse praticado ato com excesso
de poderes, infringido a lei, contrato social e os estatutos. Além disso, o ônus da prova caberia ao
credor. Um novo posicionamento do STJ, entretanto, tem sinalizado uma mudança de
entendimento sobre o tema, "pelo menos no que se refere aos casos em que a execução fiscal é
fundada em Certidão da Dívida Ativa (CDA), na qual o nome do sócio, diretor ou gerente já vem
inscrito ao lado do nome da pessoa jurídica", explica o sócio do Suchodolski Advogados
Associados, André Pagani. Segundo ele, nesses casos, a Corte vem entendendo que cabe ao
integrante da pessoa jurídica provar sua inocência. "O problema que é que agora são os
empresários que terão de provar que agiram devidamente e, enquanto não comprovarem a
inocência, terão o patrimônio comprometido por penhoras, arrestos ou, até mesmo, pelo simples
fato de constarem como ‘executados’ nas certidões que são solicitadas para transações
imobiliárias", afirma o advogado.
Segundo Pedro Lessi, do Lessi e Advogados Associados, os problemas não param por aí porque o
administrador e o sócio não só respondem pelo ato praticado, como também solidariamente. "O
sócio, ao deixar a sociedade, continua respondendo pelo atos, da data em que se retirou da
sociedade até quando completar cinco anos, isso é uma forma de evitar a sonegação fiscal, e isso
aumenta ainda mais a carga de responsabilidade do profissional", diz.
Outro obstáculo que deve ser enfrentado pelos sócios e administradores é que, ao serem
executados pelo Fisco, "normalmente eles já se desligaram da empresa e não têm acesso aos
seus livros e documentos contábeis, o que torna praticamente impossível a sua adequada defesa
em Juízo", diz Fabiano Ferrari, do Suchodolski. "A dificuldade é que é muito comum, após ter se
desligado de uma empresa há anos, o profissional ser surpreendido com o bloqueio de sua conta",
explica José Eduardo Carneiro Queiroz, do Mattos Filho, Veiga Filho, Marrey Jr. e Quiroga
Advogados ressalta que essas não devem ser as únicas preocupações de sócios e
administradores. "O profissional não pode ser omisso ou agir com negligência, pois responderá
caso seu ato prejudique a empresa. Ele tem de lembrar que sua administração tem de ser
proativa", alerta o advogado.
Cuidados
O STJ ainda não pacificou o tema sobre a responsabilização de sócios e administradores, mas
caso prevaleça a orientação de que o ônus da prova cabe a esses profissionais, os cuidados
deverão ser redobrados, afirma André Pagani. Ele diz que medidas como um contrato social ou
estatuto bem escrito e que delimite os poderes de cada um dentro da sociedade são
imprescindíveis. Além disso, tem de integralizar o capital social e mantê-lo em valor compatível
com as atividades da empresa, cumprir a lei, manter um arquivo pessoal com cópias de todos os
atos societários praticados, bem como cópias de todos os comprovantes de recolhimentos de
tributo", aconselha. Pedro Lessi diz que é importante ter uma administração transparente, agir com
boa-fé e quando se desligar de uma sociedade, registrar o ato na junta comercial. José Eduardo
Queiroz ressalva que é necessário acompanhar e fiscalizar as ações do departamento jurídico para
saber se todas as obrigações foram cumpridas. "Tem de entrar no site da Receita e pedir a certidão
negativa de débito para saber da vida fiscal da empresa e não desviar a finalidade do negócio para
não comprometer seu patrimônio pessoal", afirma Fabiano Ferrari.
Seguros
Apesar de alguns advogados acreditarem que o aumento da responsabilidade dos sócios por
ações praticadas na empresa causarem "temor e desconforto" na hora de incluírem o nome no
contrato social, a crença maior é no sentido de que o seguro conhecido como directors & officer
(D&O) devem expandir ainda mais. "Essa prática é comum e apesar de não garantir que a conta
não será bloqueada, pode proteger o patrimônio pessoal do profissional, com exceção de fraudes",
alerta Pedro Lessi. Segundo Fernando Coelho dos Santos, proprietário da Corretora Coelho dos
Santos, o seguro arca com o valor indenizatório determinado pela Justiça (desde que não tenha
havido má-fé), cobre os honorários e fornece financiamento para que o empresário possa ter
dinheiro para cobrir as contas do dia-a-dia.
(Gazeta Mercantil/Caderno A - Pág. 9)(Andrezza Queiroga)
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3 de Novembro de 2008 - Tendo recebido a visita do eminente deputado Sandro Mabel, relator da
reforma tributária na Câmara dos Deputados, discutimos as alterações que propôs para o projeto
governamental. O eminente parlamentar melhorou, consideravelmente, a proposta oficial, embora
remanesçam questões de difícil solução, impossíveis de avaliação sem que o governo apresente
os anteprojetos de leis complementares e ordinárias correspondentes.
Em 1965, quando da promulgação da Emenda Constitucional 18/65, que deu contornos ao atual
sistema tributário, já havia o anteprojeto de Código Tributário Nacional, com o que se podia
vislumbrar como ocorreria a implantação do sistema.
Não se sabe, pelo projeto, como será conformado o novo imposto federal (IVA-F), para o qual o
deputado Sandro Mabel, no seu anteprojeto, buscou estabelecer balizas; nem como funcionarão os
Fundos de Desenvolvimento e Estabilização.
O próprio regulamento, a ser produzido por um novo Confaz (Conselho Nacional de Política
Fazendária), é uma carta branca, sem perfil definido. O deputado Sandro Mabel, sabiamente,
impôs a adesão absoluta dos Estados a sua formatação.
De qualquer forma, entendo que deveria, o governo federal, apresentar os projetos de leis
ordinárias e complementares, para que se possa avaliar o conteúdo e o alcance da reforma
proposta, lembrando que, como está, ganhando a União um novo imposto (IVA-F) e mantendo o
seu poder de criar as contribuições que quiser, por força do artigo 149 da Constituição Federal, terá
maiores possibilidades, no futuro, de aumentar a tributação, por lei ordinária, que agora.
Pessoalmente, entendo que, a par de apresentar os projetos de legislação infraconstitucional,
deveria o governo retardar sua discussão, visto que a crise internacional deverá durar, como diz o
presidente do Banco Central (BC), alguns trimestres. A situação atual não permite avaliar todas as
conseqüências que a crise trará à economia brasileira, nem a participação do governo para
neutralizá-las. Entendo, portanto, que o Brasil deveria, primeiro, enfrentar a turbulência, para,
depois, realizar a reforma tributária.
Idéia, todavia, que deve merecer atenção do governo, é a que consta de projeto de lei de deputado
do PT, no primeiro governo Lula, de anistiar-se o investidor brasileiro que tenha aplicado recursos
no exterior, sem declarar seu investimento, estabelecendo uma alíquota reduzida para pagamento
do tributo, desde que os fizesse retornar ao Brasil.
Como se calcula que esses investimentos andam em torno de US$ 150 bilhões, e como o cenário
internacional já não é mais este porto de segurança do passado, uma iniciativa desta natureza
permitiria ao governo fortalecer suas reservas, que terão que ser utilizadas, durante a crise
cambial.
Nada obstante as boas alterações propostas pelo deputado Sandro Mabel, em momento de
conturbação econômica, a reforma deveria esperar.
kicker: Entendo que o Brasil deveria, primeiro, enfrentar a turbulência, para, depois, realizar a
reforma tributária
(Gazeta Mercantil/Caderno A - Pág. 9)(Ives Gandra da Silva Martins - Professor e presidente do
Centro de Extensão Universitária (CEU). )
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3 de Novembro de 2008 - Uma revolução tecnológica silenciosa está em curso atualmente diante
dos nossos olhos e as economias emergentes e em desenvolvimento do mundo estão fornecendo
o exemplo. Um novo "cenário tecnológico" global está substituindo os modelos tradicionais de
adoção tecnológica e a maneira como sua infra-estrutura básica é formada.
O primeiro estágio é o telefone celular. Nas atuais economias emergentes, os telefones celulares
estão equilibrando o mercado rapidamente, pois, diferentemente dos sistemas tradicionais de
telecomunicações, os sistemas móveis viabilizam uma conexão imediata e tendem a ser mais
econômicos e fáceis de usar. Com isso, começa uma estimulante era de criação de pequenas
empresas locais em muitos países emergentes. Os números que comprovam esse fenômeno
impressionam: hoje, existem 2,7 bilhões de telefones celulares em uso, mais da metade da
população mundial. A União Internacional de Telecomunicações informa que 68% das assinaturas
de telefones celulares do mundo estão nos países em desenvolvimento.
O segundo estágio é o núcleo da computação. Uma das maiores ironias da era da internet, que é
um símbolo global de liberdade e acessibilidade, é depender, ainda, de tecnologias e padrões
restritos controlados por um pequeno número de empresas poderosas. Nos mercados emergentes,
esses sistemas são caros e, em muitos casos, seu desenvolvimento é limitado.
Mas isso está mudando. Para as companhias privadas e para o setor público, as vantagens do
software de fonte aberta e dos padrões abertos de TI estão ficando muito evidentes para serem
ignoradas. A tecnologia aberta é mais econômica, estável e oferece uma flexibilidade muito maior
para as empresas que procuram crescer e adaptar-se ao ritmo do século XXI. Para os
empreendedores das economias emergentes, a vantagem do padrão aberto pode significar o
sucesso ou o fracasso.
Recentemente, uma conferência no Brasil realizada para debater como as tecnologias abertas
estão ajudando a impulsionar o crescimento da economia, das pequenas empresas e da
competitividade em toda a América do Sul, revelou que mais de 73% das companhias no Brasil já
usam o software de fonte aberta. O motivo é simples: custos mais baixos, melhor desempenho e
maior segurança. Esse avanço se deve ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que deseja
preencher o que ele considera uma significativa lacuna tecnológica entre o Brasil e as economias
mais avançadas, e acredita que o software de fonte aberta é um meio importante para realizar isso.
O Brasil não está sozinho. Na Argentina, mais de 42% das corporações já usam software de fonte
aberta. No Chile, esse tipo de software é instalado em todo o sistema educacional e na
comunidade empresarial. No Peru, leis recentes exigem o uso de software de fonte aberta pelo
Estado para aumentar o acesso dos cidadãos aos dados e reduzir custos. Isso é importante porque
o setor público é o maior comprador de produtos de TI e software em todo o mundo. Na África do
Sul, o governo exigiu a mudança de documentos para formatos abertos nos computadores de
todos os órgãos públicos. Mas essa tendência não está presente apenas nos países em
desenvolvimento. Na Europa, vários governos e órgãos públicos também já adotaram ou estão
adotando padrões abertos e soluções de software de fonte aberta.
O instituto de pesquisas Gartner prevê que, em 2012, 90% das empresas do mundo utilizarão
software de fonte aberta. De acordo com um recente estudo do IDC, aproximadamente 60% das
companhias afirmaram que seus gastos com software de fonte aberta aumentaram em 2007 em
termos de porcentagem relativa de gastos com TI.
O ponto forte da economia digital global é sua capacidade de substituir as idéias e tecnologias
ultrapassadas por outras mais modernas e inovadoras. Vimos a eficiência da abertura em
tecnologias de telefonia celular nos mercados emergentes. Agora, chegamos a um cenário
semelhante em termos de tecnologia da informação. Nosso futuro, como mercado, será definido
pela abertura tecnológica, seja com software de fonte aberta ou sistemas de TI baseados em
padrões abertos. Este é um momento crucial e estimulante para a América Latina - a oportunidade
é significativa e apoiamos a região em sua jornada pelo software de fonte aberta.
kicker: Mais de 73% das empresas do Brasil já utilizam o software de fonte aberta
(Gazeta Mercantil/Caderno A - Pág. 3) CRAWFORD BEVERIDGE* - Presidente do Conselho de
Diretores da Sun Microsystems Inc. para Mercados Emergentes)
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JORNAL DO COMMERCIO
paulo guimarães
Necessidade de uma Agenda Macroeconômica
Jeffrey D. Sachs, diretor do Instituto Terra (Earth Institute), da Universidade de Columbia,
conselheiro do secretário geral da ONU, Ban Ki-moon, é uma das mais respeitadas vozes no
mundo no que se refere aos temas desenvolvimento sustentável e erradicação da fome. Em tom
irônico, ele enfatiza que, antes dos líderes mundiais se deixarem seduzir pelo clima pomposo da
reunião desse mês em Washington, que vem sendo tratada como Bretton Woods II, na qual
pretende-se refazer o capitalismo, seria importante que eles começassem articular ações objetivas
e urgentes, as quais deveriam, inclusive, pautar a cúpula. Na sua opinião, desde que a quebra do
Lehman Brothers detonou a onda de pânico global, os governos dos EUA e da Europa foram bem
sucedidos em criar um cordão de isolamento em torno da rede bancária, para prevenir um
derretimento financeiro sem precedentes. Entretanto, o que eles não fizeram até agora, foi
coordenar um plano de políticas macroeconômicas para interromper um profundo retrocesso
global. O economista coloca esta agenda como emergencial.
Contabilizando a contração
Na sua opinião, uma reviravolta para baixo nos EUA não tem como ser evitada. Norte-americanos
não podem continuar a gastar mais do que ganham, como fizeram nos últimos anos, mesmo se o
arrocho no crédito for sendo aliviado. O consumo pessoal está fadado a cair acentuadamente. O
declínio na riqueza da família ianque, em decorrência das reversões nos mercados de imóveis e de
ações, será da ordem de US$ 15 trilhões e a resultante diminuição de consumo e investimentos
poderá atingir um décimo desse total (US$ 1,5 trilhões). Outros países também enfrentarão
recessões criadas domesticamente, aqueles que permitiram que a bolha imobiliária se
desenvolvesse. Esse parece ser o caso de Austrália, Reino Unido, Irlanda, talvez Espanha. O corte
em consumo por conta da perda de capital e desvalorização imobiliária nessas nações deve
adicionar entre US$ 300 e US$ 500 bilhões, num primeiro round da redução da demanda global.
Ainda assim, Jeffrey Sachs defende a tese de que mesmo uma recessão severa nos Estados
Unidos e outros países não necessita, obrigatoriamente, jogar o mundo inteiro na recessão.
Dinheiro do Oriente
A economia mundial é da ordem de US$ 60 trilhões. Logo, este primeiro round de recuo da
demanda, que totalizaria entre US$ 1.800 a US$ 2 trilhões, corresponderia a 3% do PIB do planeta.
Entretanto, se não houver nenhuma mudança compensatória nas políticas macroeconômicas, a
retração da demanda tende a continuar se multiplicando, podendo estender-se até 6%, segundo
seus cálculos. Ao deduzir-se desta conta os 4% de crescimento previamente estimado para o ano
que vem, teríamos como resultado uma recessão mundial de 2%. Por outro lado, até 3% de
declínio na demanda global pode ser substancialmente anulado por políticas expansionistas,
postas em prática principalmente pelas economias superavitárias da Ásia e Oriente Médio.
Diferentes leituras da crise
Perguntei a algumas pessoas, de perfis bastante distintos, como elas enxergam e sentem a atual
crise. Eis algumas respostas sucintas que colhi: Do geógrafo, acadêmico, socialista: "isto está
cheirando a mais uma grande conspiração, capitaneada pelo governo dos EUA, a fim de impedir
que a China assuma o posto de nova potência hegemônica do mundo." Da astróloga, zen-budista,
militante ecológica: "o universo conspirou para salvar a raça humana de si própria. O caos e a
posterior quebra deste sistema insustentável, forçará o homem a repensar seus valores, bem como
a forma de habitarmos o planeta. Iniciamos uma fase de desconstrução, para um recomeço muito
melhor." Da dona de casa classe média, que possui quase toda a poupança alocada em ações: "
empobreci. Esse dinheiro da bolsa vai fazer muita falta na educação dos meus filhos." Do
pipoqueiro: "que crise?" Do mochileiro viajante argentino: "una crise emocional, que começou na
Argentina." Do financista endinheirado: "é uma época repleta de oportunidades para se faturar alto.
Eu amo toda essa volatilidade."
Explicação simples
A empresária paulistana do setor de vestuário, Flávia Marins, me enviou a sua explanação do
mercado: um cabo de guerra. De um lado os touros, do outro os ursos. O lado mais forte leva. E
continua levando, até que pessoas comecem a passar de um lado para o outro da corda.
Prosseguindo no seu raciocínio, bem realista, a bolsa de São Paulo acima dos 73.000 pontos e o
dólar cotado a R$ 1,55 eram convites irresistíveis a inversões de lados. Agora, vão esticar na outra
direção, até onde der. Afinal de contas, os que arrastam a corda, seja para o lado que for, seguem
ganhando muito dinheiro. Bem simples, básico e didático. Valeu Flávia.
Investidores retraídos para crédito privado
Jorge Simão, superintendente de distribuição do Banco Standard de Investimentos, autoridade no
quesito crédito privado, autor do livro "Debêntures Conversíveis no Brasil", não notou até a
semana passada nenhum alívio no crédito empresarial, muito pelo contrário. Ele cita o exemplo da
Cosan, maior processadora de cana de açúcar do mundo, como bastante significativo.
O grupo, que em abril anunciou a compra dos ativos da Esso Brasileira de Petróleo Ltda. por US$
826 milhões, contava com as tradicionais e até então abundantes linhas de crédito do mercado,
para pagamento da operação. Muito embora, teoricamente, apresente todas as qualificações para
buscar financiamento junto a bancos comerciais, a Cosan está tendo que recorrer à emissão de
Notas Promissórias Comerciais de curto prazo, de até 180 dias, pagando os mesmos juros que
vinham sendo praticados nas debêntures de longo prazo (cinco anos), algo em torno de 120% do
CDI.
Uma anomalia, já que o risco de ocorrerem problemas durante cinco anos é muito maior do que em
meio. Quanto aos títulos de longo prazo, simplesmente desapareceram, pelo mercado estar
exigindo remunerações inviáveis. Jorge acredita que este cenário de restrição deva persistir pelo
menos até o final do ano, devido aos saques pesados que estão ocorrendo nos fundos de
investimento e porque também, até mesmo os fundos de pensão, tradicionais investidores de longo
prazo, estão avessos à compra de crédito privado, dando preferência aos títulos públicos.
O momento é realmente delicado, já que empresas não estão conseguindo financiamento, nem via
títulos de longo prazo (debêntures), nem via fundos de direitos creditórios, os FIDIC.
Petrobrás
Ao que tudo indica, a situação da gigante brasileira está bem tranqüila, em relação às possíveis
derivações da crise, em comparação com suas concorrentes internacionais. A começar, todos os
seus cálculos são feitos tomando-se como referência o preço do barril de petróleo a US$ 35, onde
estaria situado o seu break-even. Apesar da impressionante queda na cotação da commodity, um
cogitado corte na produção pela Opep garantiria preços não muito distantes da faixa dos US$ 65
atuais. Outra vantagem estratégica decorrente da própria crise pode ser o aumento de oferta e
barateamento do aluguel ou leasing de equipamentos. Atualmente, com o setor (ainda) super
aquecido, há escassez de todo tipo de máquinas ou navios destinados à exploração.
Quando são encontrados, os preços são exorbitantes, o que acaba atrasando projetos. Para fechar
o quadro otimista, o custo de exploração da camada pré-sal não deve ser tão estratosférico quanto
sugeriam dados preliminares. Principalmente porque os depósitos parecem estar agrupados e não
distantes uns dos outros, como nos campos tradicionais. Tal fato simplificaria as operações
enormemente, em termos de cabos, tubulações e demais equipamentos. E tem gente falando que
o corredor do pré-sal estende-se de Santa Catarina ao Ceará, sem contar reservas que já estão
sendo pesquisadas pela Petrobrás em continente africano.
Características da ação
A ação preferencial da Petrobrás, vulgo PETR4, nesse período de baixa, vem mantendo um Beta
de 0,99. O Beta é um indicador que afere a sensibilidade do ativo em relação às oscilações do
mercado como um todo. O beta do mercado é igual a 1 e todos os outros betas são calculados em
relação a esse valor. Acima de 1, as características são agressivas, com o papel tendendo a
apresentar picos mais extremos do que a média do mercado. Abaixo de 1 sugere que o papel seja
mais defensivo, com variações menos abruptas do que a média das ações. Nesse caso, o PETR4
anda muito próximo à média. Outro indicador, a volatilidade, avalia o grau de variação da cotação
de um título ou índice em relação à sua própria média, ou seja, a característica de subir ou cair,
mais ou menos intensamente, em um curto período de tempo. Quanto mais volátil, melhor para os
operadores de curto prazo (intraday). Quanto menos volátil, mais seguro para os investidores de
longo prazo, mais defensivo o papel. A volatilidade da Petrobrás está em 7,55, o que a confere uma
característica não muito volátil em relação ao benchmark. Está mais para segura e defensiva do
que a maioria dos ativos negociados na Bolsa de São Paulo. Uma blue chip extremamente
representativa do mercado nacional.
O preço do papel
PETR4 fechou a semana a R$23,31, praticamente em cima da linha de tendência de baixa (LTB).
As resistências a serem superadas para que o papel possa sinalizar uma reversão, ao menos no
curto prazo, são, respectivamente, R$ 23,40, R$ 24,80 e a já cravada R$ 25,81. Firmando acima
do patamar de R$ 27, só condições macroeconômicas muito ruins para haver um retorno à curva
descendente acentuada. Finalmente, aqueles que estão comprados poderão respirar aliviados
mesmo, quando a ação se consolidar acima dos R$ 36, o que praticamente garante o fim da
correção. Entretanto, a maior expectativa agora é em relação ao fundo de R$ 17,80, suporte que,
se for perdido, levará a uma mudança nas análises, enxergando essa correção dentro do escopo
de um ciclo bem mais longo, com potencial para uma queda mais acentuada e duradoura.
Brasil: IPC-S / out (FGV); Balança Comercial / out (MDIC); Indicadores de Crédito e Inadimplência /
out (ACSP).
EUA: Índice ISM da Indústria / out; Gastos com Construção / set; Vendas de Veículos / out.
terça-feira
Brasil: IPC / out (Fipe); Pesquisa Industrial Mensal / set (IBGE); Indicadores Industriais / set (CNI).
quarta-feira
EUA: Dados do Setor Hipotecário / semanal; Estoques de Petróleo / semanal ; Índice ISM de
Serviços / out.
quinta-feira
Brasil: IGP-DI / out (FGV); Ata do Copom (Bacen); Levantamento Sistemático da Produção Agrícola
/ out (IBGE); Prognóstico da Safra 2009 / 1° prognóstico (IBGE); Pesquisa Industrial Mensal -
Regional / set (IBGE); Produção e Vendas de Veículos / out (Anfavea).
EUA: Pedidos Iniciais de Auxílio Desemprego / semanal; Produtividade do Setor não-rural / 3º tri
08; Custo Unitário do Trabalho / 3º tri 08; Vendas das Redes de Lojas de Varejo.
sexta-feira
EUA: Dados do Mercado de Trabalho / out ; Estoques no Atacado / set; Vendas de Imóveis
Pendentes /set ; Crédito ao Consumidor / set.
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Após cair nas quatro sessões anteriores, o dólar comercial apresentou de 2,71, cotado a R$ 2,154
para a compra e R$ 2,16 para a venda. O dólar viva-voz subiu 2,56%, sendo negociado a R$
2,158. O giro foi de R$ 425,510 milhões. A moeda americana foi negociada nas casas de câmbio
do Rio a R$ 2,05 para a compra e a R$ 2,15 para a venda, mantendo a cotação de quinta-feira. Em
São Paulo a moeda seguiu a tendência de alta e valorizou 2,27%, sendo cotada a R$ 2,00 para a
compra e a R$ 2,25 para a venda.
Já o dólar turismo teve alta menos acentuada, 1,80%, negociado a R$ 2,04 para a compra e a R$
2,26 para a venda. O euro comercial alcançou um crescimento de 0,84%, valendo R$ 2,744 para a
compra e R$ 2,747 para a venda. O euro paralelo no Rio foi negociado na sexta-feira a R$ 2,60
para a compra e a R$ 2,80 para a venda. No mercado paulista, o euro teve queda de 1,75%, sendo
negociado a R$ 2,55 para a compra e a R$ 2,80 para a venda. Já o euro turismo manteve a
cotação do dia anterior valendo R$ 2,59 para a compra e R$ 2,87 para a venda.
O mercado cambial foi pressionado pela alta externa do dólar, as rolagens de contratos futuros na
BM&F e a liquidação residual pela Aracruz de posições de derivativos de câmbio, de acordo com
um operador de um banco estrangeiro.
Do lado externo, os fatores que levaram o dólar à vista a se ajustar à valorização externa da
moeda foram o corte de juros no Japão de 0,20 ponto, para 0,30% ao ano, menor do que o 0,25
ponto esperado pelo mercado, e a apreensão dos investidores com os fracos indicadores
econômicos e o baixo sentimento do consumidor norte-americanos, mostrados pelo índice de
preços dos gastos com consumo, o índice de atividade industrial de Chicago e o de sentimento do
consumidor da Universidade de Michigan. Às 18h20, o euro recuava 0,77%, a US$ 1,2754,
enquanto o dólar perdia 0,10%, a 98,49 ienes.
Internamente, as cotações à vista ampliaram as altas exibidas à tarde pelo impacto das rolagens
de contratos futuros de dólar na BM&F e da movimentação em torno da liquidação pela Aracruz de
uma parcela de 15% em posições de derivativos de câmbio.
Na BM&F, à exceção da queda projetada pelo contrato de dólar para maio de 2009, os oito demais
vencimentos apontaram altas. O BC fez dois leilões de swap cambial em que ofertou US$ 2,875
bilhões desses contratos com três vencimentos. Contudo, a autoridade monetária vendeu apenas
US$ 440,8 milhões no total. Um operador informou que o BC deve ter vendido um pequeno volume
de swaps na sessão por causa da concentração dos negócios dos investidores nas rolagens de
contratos futuros. Além disso, o BC está sendo seletivo nos leilões em relação as taxas propostas
pelas instituições financeiras, que estariam acima do pretendido pela autoridade monetária, e há
percepção ainda de que o mercado não estaria mais tão tomador de dólares, dada a momentânea
melhora dos mercados internacionais.
Após o fechamento do mercado, o BC informou que fará hoje , das 12h45 às 13 horas, um leilão de
até 22 mil contratos de swap cambial, com três vencimentos, equivalentes a US$ 1,1 bilhão.
JUROS. O dia foi de tensão no mercado de juros e somente as taxas de curto prazo, que embutem
menor risco, conseguiram escapar da alta vista nos vencimentos a partir de 2010.
A liquidez considerada fraca neste trecho da curva ilustra a cautela do investidor em assumir
posições prefixadas. Além do suspense trazido pela pausa na alta da Selic pelo Copom, o anúncio
ontem da mudança na forma de recolhimento dos compulsórios dos depósitos a prazo pelo Banco
Central levantou preocupações no mercado de títulos públicos.
O DI janeiro de 2010 (135.580 contratos) subiu 15,53% para 15,68%; o DI janeiro de 2009 (86.265
contratos) recuou de 13,81% para 13,76%; e o DI janeiro de 2012 (31.240 contratos) terminou a
17,02%, de 16,65% na quinta.
O DI novembro de 2008 teve um movimento atípico de 90.000 contratos por causa de ajustes de
posições dado o fato de que venceu hoje. A taxa passou de 13,81% para 13,62%.
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Da Agência Estado
As principais bolsas européias fecharam com alta pelo quarto dia consecutivo, nesta sexta-feira,
com sinais de que o apetite dos investidores pelo risco está melhorando gradativamente. "Há
muitas oportunidades nas ações e nos bônus para aqueles corajosos o bastante para concentrar-
se no valor intrínseco dos ativos, mais dos que nas fortes variações do mercado", disse William De
Vijlder, diretor global de tecnologia da informação do Fortis Investments. As bolsas, contudo,
fecharam o mês de outubro com grandes perdas.
Em Londres, o índice FT-100 subiu 85,69 pontos (2%) e fechou com 4.377,34 pontos. Na semana,
o índice acumulou um ganho de 12,72% mas, no mês, sofreu uma queda de 10,71%. Em Paris, o
índice CAC-40 avançou 79,25 pontos (2,33%) e fechou com 3.487,07 pontos. Em Frankfurt, o
índice Dax-30 subiu 118,67 pontos (2,44%) e fechou com 4.987,97 pontos. No mês, sofreu um
tombo de 14,46%.
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Da Agência Estado
O mercado -americano de ações fechou em alta ontem, com os índices Dow Jones e S&P-500
registrando seu segundo pregão consecutivo de ganhos, o que não acontecia desde setembro.
Embora esta semana tenha sido, em termos porcentuais, a melhor desde outubro de 1974, este
mês foi o pior desde agosto de 1998. No caso do S&P-500, esta também foi a melhor semana
desde outubro de 1974, mas o pior mês desde o "crash" de outubro de 1987.
"Foi uma loucura. Houve um momento, no meio do mês em que as pessoas estavam apavoradas,
pensando: 'O que está acontecendo? Será o fim do mundo?' Se você pensa que entende o
mercado, ele vai te destruir. Ele sempre exagera, e sempre te faz sentir mais dor do que você
poderia imaginar", comentou Joseph Saluzzi, da corretora Themis Trading.
As Bolsas abriram em baixa nesta sexta-feira, em reação ao fraco indicador de gastos com
consumo em setembro, mas passaram a subir depois de o banco JPMorgan Chase anunciar um
programa de renegociação de hipotecas; as ações do JPMorgan Chase subiram 9,65%, liderando
a alta do setor financeiro, no qual outros destaques foram Bank of America (+6,10%) e Citigroup
(+4,12%).
O índice Dow Jones fechou em alta de 144,32 pontos (1,57%), em 9 325,01 pontos. O Nasdaq
fechou em alta de 22,43 pontos (1,32%), em 1.725,95 pontos. O S&P-500 subiu 14,66 pontos
(1,54%), para fechar em 968,75 pontos. O NYSE Composite subiu 86,06 pontos (1,44%), para
6.061,09 pontos.
Os preços dos títulos do Tesouro dos EUA chegaram ao fim do dia em baixa, com correspondente
alta nos juros.
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"A desvalorização cambial é, dentro de certos limites, fundamentalmente positiva para a Weg, pois
temos grande presença internacional por meio de exportações", disse o diretor de RI da Weg,
Alidor Luereds, em comunicado aos investidores. A EDP Energias do Brasil também deve anunciar,
nos próximos dias, resultados positivos. A empresa teve aumento no volume da energia vendida e
distribuída no terceiro trimestre. O volume de energia vendida nesse período cresceu 10,7% -
conseqüência da expansão da empresa, principalmente em áreas rurais. Empresas sem dívida em
dólar, com dinheiro em caixa e que não negociaram com derivativos - essas são as características
principais das "ilesas".
Outra empresa que vem sofrendo com a fuga de capitais das bolsas, mesmo com cenário positivo
para os negócios, é a Lupatech, fabricante de equipamentos para o setor de petróleo. As ações da
empresa valem hoje menos do que valiam na época do lançamento dos papéis, em 2007, e, na
opinião do diretor de relações com investidores da companhia, Thiago Alonso de Oliveira, vêm
sendo punidas por desconhecimento dos investidores. A empresa comemora um crescimento de
136% na carteira de encomendas neste último ano e deve fechar o terceiro trimestre com receita
135,5% maior do que a do mesmo período do ano anterior, segundo cálculos da Itaú Corretora.
Mas seu valor de mercado caiu 68,6% entre o início de agosto e o dia 30 de novembro. "As ações
estão valendo 15% a 20% a menos do que na época do IPO, embora a empresa seja hoje quatro
vezes maior", aponta Oliveira.Paula Kovarsky, da Itaú Corretora, lembra que a Petrobrás, principal
cliente da Lupatech, tem uma enorme carteira de projetos. "Ela vai precisar encomendar
equipamentos nos próximos anos, o que garante o fechamento de negócios." No início do ano, a
Lupatech era apontada pelo Credit Suisse como uma das mais beneficiadas pela descoberta do
pré-sal.
Oliveira acredita que a queda das ações seja fruto da baixa do preço do petróleo, do
endividamento em dólar da empresa e do fato de estar baseada em mercado emergente.Para ele,
no entanto, todas as premissas acima estão erradas.
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Na semana passada, a Bolsa chegou a registrar alta de 18,34% - a maior elevação semanal desde
a semana encerrada em 18 de setembro de 1998 (+24,29%), conforme dados da Economática, o
que não impediu a Bolsa brasileira tivesse no mês passado o pior desempenho mensal desde
agosto de 1998, em queda de 24,8%.
Com isso, no ano, o Ibovespa registrou baixa de 41,68%, variação só superada pela do IBX, o
índice Brasil da Bolsa, que recuou 42,5% no ano, após queda de 25,11% no mês, e o Índice de
Governança Corporativa (IGC), com 23% de baixa em outubro, e 46,49% no ano.
Em agosto de 1998, o principal índice da Bolsa caiu 39,55%. Melhor para o mercado acionário
brasileiro que antes do mercado abrir a semana passada o Ibovespa somava uma queda de
36,45% em outubro, contabilizando perdas de 50,72% no ano.
As principais ações negociadas na Bolsa tiveram forte queda. Petrobras ON caiu 32,23% no mês,
com baixa de 45,5% no ano; a PN caiu 33,59% em outubro; em 2008, 47,26%. Vale On apresentou
22,32% de queda no mês passado, percentual quase idêntico à PNA: 22,348%.
Na outra ponta, líder em rentabilidade, a moeda americana. O dólar comercial avançou 13,45%
este mês, seguido pelo paralelo, com 10,26%, enquanto o IGP-M fechou em 0,98%. Em 2008, a
moeda amplia a valorização para 21,69% e 12,57%, respectivamente.
Os demais ativos já encerram outubro no campo negativo. O ouro, que também surge na
seqüência, fecha o mês em recuo de 5,38%, mas mantém a valorização de 5,37% no ano.
O período foi amargo para os papéis da Bolsa, o que não surpreende em um mês em que o
principal índice, o Ibovespa, recuou 24,8%, ampliando para 41,68% as perdas no ano.
Com isso, apenas quatro ações fecharam outubro no azul: as preferenciais da Telesp, com 7,41%
de alta, seguidas pelas preferenciais da Eletropaulo, com 2,83% de elevação, as preferenciais do
Pão de Açúcar, com 1,48%, e as ações ordinárias da Natura, com ganhos de 1,08%.
Os papéis também são destaques entre os melhores resultados em 2008. A diferença está nas
ações ordinárias da Nossa Caixa que, no ano, surgem com o melhor desempenho, ao somarem
alta de 36,86%. As ações ordinárias da Natura voltam a aparecer em meio ao melhores resultados,
com a segunda maior elevação, de 10%, seguidas pelas ações ordinárias da Eletrobras, que
avançaram 9,69% desde o início do ano. As preferenciais da Telesp apresentam o quarto melhor
desempenho, ao avançarem 6,19%.
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Karina Grazina
Da Agência Reuters
Os fundos de pensão privada da Argentina irão propor uma série de reformas como alternativa à
intenção do governo de nacionalizar o sistema, informou o jornal La Nación citando uma importante
autoridade do setor neste domingo.
"Tudo isso já foi dito antes, em diferentes momentos", Palla disse ao jornal. "Nada disso é grande
novidade. O que nós estamos fazendo agora é agrupar (as idéias) enquanto discutimos isso com
urgência."
O governo da presidente Cristina Fernandez anunciou no mês passado um plano para assumir o
sistema de pensão privada da Argentina, o que foi visto como um movimento desesperado para
assegurar que os fundos saiam do espectro de um novo calote da dívida.Críticos dizem que o
governo quer usar o fluxo de US$ 4 bilhões por ano em contribuições para aposentadoria para
pagar bilhões de dólares em dívidas do próximo ano.
"Hoje, (os fundos de pensão privada da Argentina) têm 10% das contribuições de seus membros
investidas no exterior, e 55% investidas na dívida da Argentina", disse Pala. Os títulos da Argentina
caíram cerca de 60% em outubro.
O chefe do sistema de seguridade social da Argentina disse na última semana que o governo não
irá liquidar as pensões privadas ou usá-las como uma ferramenta para financiar a dívida, se o
Congresso aprovar um lei para nacionalizar os fundos.
A ação para assumir os fundos de pensão, que administram cerca de US$ 25 bilhões em
economias de aposentadoria, abalou a confiança de investidores na segunda maior economia da
América Latina.
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Acesso a crédito em pauta
Jamil Chade
DA Agência estado
O chanceler Celso Amorim irá discutir a partir de hoje na Organização Mundial do Comércio
(OMC), em Genebra, estratégias para garantir um melhor acesso de exportadores a créditos e
evitar, assim, que a crise financeira interrompa os fluxos de exportação.
Dados preliminares da OMC apontam que nem o Natal deve salvar o comércio mundial de uma
estagnação. A entidade projeta uma interrupção do crescimento dos fluxos mundiais nos últimos
três meses do ano. A estagnação, se confirmada, será a primeira em sete anos.
A OMC, inspirada em uma proposta brasileira, convocou o Fundo Monetário Internacional, bancos
e até o BNDES para uma reunião dia 12 com o objetivo de debater formas de destravar o
comércio.
O Brasil, segundo analistas, seria um dos países mais atingidos por uma falta de crédito de
exportação para o setor de commodities. Não por acaso, Amorim quer discutir com o diretor da
OMC, Pascal Lamy, formas de facilitar esse acesso a créditos e flexibilizar condições para que o
comércio não seja ainda mais afetado.
Na OMC, a estimativa era de que o comércio mundial teria um crescimento de 4,5% em 2008. No
primeiro semestre, o economista da entidade, Micheal Finger, garante que a taxa ainda foi positiva.
Mas o terceiro trimestre já demonstrou uma forte queda. "Para o quarto trimestre, não deveremos
ter crescimento", alertou.
Há mesmo a possibilidade de que, em volumes, o comércio sofra uma queda real. A desaceleração
nos Estados Unidos e Japão, além da recessão em algumas das maiores economias da Europa,
estão reduzindo de forma importante as demandas. A quebra de empresas de brinquedos na China
é, para a entidade, um sintoma dos problemas. Os chineses são hoje os maiores fabricantes de
brinquedos do mundo e a falência de uma empresa em plena época de contratos fechados para o
Natal é considerado como "revelador". "Nos Estados Unidos, as perspectivas são de um Natal com
vendas 2% abaixo do que vimos em 2007", afirmou Finger.
Cargas aéreas. No setor de cargas, as evidências já são claras de que há uma contração do
comércio. A América Latina sofreu a maior queda em todo o mundo no fluxo de cargas aéreas em
setembro, indicando que as exportações podem sofrer de forma dura nos próximos meses. Os
dados são das 240 principais empresas aéreas do mundo que registram uma queda de 14,6% no
transporte internacional de cargas da América Latina em comparação ao mesmo período do ano
passado.
No mundo, a queda é de 7,7% no fluxo internacional. Na Ásia, a queda foi de 10,6%, contra 6,8%
na Europa e 6% nos Estados Unidos. Os índices apontam que haverá certamente uma redução
nos fluxos do comércio internacional no mês de setembro. A nova comissária de Comércio da UE,
Catherine Ashton, também alertou que o comércio mundial "já está em queda".
"O comércio e fluxos de investimentos estão caindo. A demanda está caindo nos mercados
desenvolvidos diante de cortes de gastos por consumidores. Deveremos ver o mesmo nas
economias emergentes", afirmou Ashton.
No caso do Brasil, os dados preliminares da OMC apontam que as importações estão crescendo a
um ritmo bem mais elevado que as exportações. "No terceiro trimestre do ano, as importações
aumentaram em 57%, contra uma alta de 39% das exportações", alertou Finger.
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De acordo com o jornal, as duas partes concluíram que o Cerberus prefere negociar uma fusão
entre a Chrysler e a General Motors. Tanto a Nissan como o Cerberus se recusaram a comentar o
informe.
Ao longo da última semana, especulou-se que o fundo Cerberus pretendia resolver a situação da
Chrysler em poucos dias, mas não teria conseguido por falta de garantias de apoio financeiro por
parte do governo dos EUA.
Caso aconteça, a fusão entre Chrysler e GM poderá resultar no fechamento de sete das 14
fábricas da Chrysler nos EUA, segundo estimativa da consultoria Grant Thornton; contando as
próprias empresas, fornecedores e provedores de serviços, isso poderia implicar a eliminação de
até 200 mil empregos.
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DA AGÊNCIA FOLHAPRESS
Levantamento da consultoria IDC apontou que o mercado mundial de telefonia móvel teve 299
milhões de aparelhos vendidos no terceiro trimestre deste ano, uma queda de 0,4% na
comparação com os três meses anteriores.
Segundo a empresa, a causa dessa retração é reflexo da crise econômica mundial, que afeta
principalmente os Estados Unidos.
Apesar da queda em relação ao trimestre anterior, as vendas entre julho e setembro deste ano
registraram variação positiva de 3,2% em relação ao mesmo período de 2007, quando foram
vendidos 289,6 milhões de aparelhos.
Além disso, a IDC constatou que a retração nas vendas em 2008 não atingiu os celulares com
múltiplas funções -os smartphones.
A Nokia, com 117,8 milhões de aparelhos vendidos no terceiro trimestre deste ano, ampliou a
liderança sobre as concorrentes, com 39,4% do mercado mundial de celulares -contra 38,6% no
mesmo período de 2007, segundo o IDC. Em segundo lugar, mas distante da primeira colocada,
aparece a Samsung, com 51,8 milhões de aparelhos vendidos e 17,3% de participação.
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Portugal estatiza banco
DA AGÊNCIA ESTADO
O governo de Portugal estatizará o Banco Português de Negócios (BPN), informou ontem o
ministro das Finanças Fernando Teixeira dos Santos.
A estatização do banco, que não é listado na bolsa, é considerada o primeiro indício de que a crise
financeira global começa a atingir instituições financeiras de pequeno porte no sul da Europa.
Vitor Constancio, governador do Banco de Portugal, disse durante entrevista coletiva conjunta
concedida ao lado de Teixeira dos Santos que, apesar da estatização, o país não atravessa
problemas de solvência.
Numa entrevista à TV portuguesa, Teixeira dos Santos comentou que o BPN atravessava
problemas de liquidez e suas perdas eram da ordem de 700 milhões de euros.
O BPN é o menor banco de varejo de Portugal. Seu patrimônio é estimado em 8 bilhões de euros.
O banco possui 200 agências em Portugal e na França.
Com a estatização, o governo português espera assegurar aos clientes do banco que "seus
depósitos estão seguros", disse Teixeira dos Santos. O processo será conduzido por dois
interventores do governo, prosseguiu ele.
Recentemente, Portugal aprovou a criação de um fundo de até 20 bilhões de euros para dar
liquidez aos bancos do país.
Rússia. A Rússia destacou 170 bilhões de rublos (US$ 6,41 bilhões) do Fundo do Tesouro Nacional
para serem depositados no banco estatal VEB. Os recursos são para compras de ações e títulos
corporativos, com o VEB funcionando como agente. O plano vai se estender até 2013.
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Em Xangai, um executivo-sênior do Bank of China (BOC) disse em uma conferência financeira que
o impacto da crise na China começou a aparecer.
A China vislumbrou um forte declínio no crescimento do lucro industrial e na receita fiscal, disse o
vice-presidente-executivo Zhu Min em uma conferência financeira. "A economia global deve entrar
em recessão no ano que vem, com os Estados Unidos, a Europa e o Japão apresentando
crescimento negativo", disse ele. "Isso terá um impacto enorme na China", acrescentou.
Zhu também disse esperar que a volatilidade do câmbio acrescente pressões aos bancos da
China, os quais tiveram lucros robustos por anos, à medida que o país crescia. O crescimento dos
lucros agora está desacelerando, à medida que a economia se esfria com o impacto da crise.
"As incertezas nos mercados de câmbio do mundo expuseram o setor bancário chinês a maior
risco de ativos estrangeiros", disse Zhu.
Flexibilização . Para enfrentar os problemas com os ativos estrangeiros, a China vai apostar em
mais flexibilidade. O país pretende implementar em breve uma nova regulamentação para o
mercado de títulos e valores mobiliários que permitirá maior mobilidade para a realização de
operações "mais inovadoras", de acordo com o órgão regulador de valores mobiliários do país.
Pela nova regulamentação, as corretoras poderão realizar operações que não sejam proibidas pela
lei, diante da aprovação da Comissão Reguladora de Valores Mobiliários da China. Atualmente, a s
corretoras não tem permissão para realizar negócios que não estão claramente definidos pela lei.
A regulamentação provisória entra em vigor em dezembro e irá permitir que as corretoras tirem
uma licença para realizar estas operações seis meses após seu pedido anterior.
ÍNDIA. Assim como a China, a Índia - um imã de investimentos estrangeiros nos últimos anos, à
medida que sua economia decolava - reduziu inesperadamente no sábado sua taxa de juros de
curto prazo pela segunda vez em semanas, a fim de aliviar uma crescente falta de liquidez, apoiar
o crescimento da sua economia e deter os efeitos da crise financeira global.
Analistas afirmaram que a surpreendente medida do banco central indiano, que acontece uma
semana depois de o país ter deixado as taxas inalteradas durante revisão de sua política,
demonstrava uma forte preocupação da autoridade monetária sobre os problemas da terceira
maior economia da Ásia.
O banco central indiano cortou sua principal taxa de juros de curto prazo em meio ponto, para
7,5%.
"Aquelas ações eram necessárias e tiveram que ser tomadas para ter liquidez. E com as taxas
altas a situação estava piorando", disse Vikas Agarwal, estrategista do JP Morgan.
"A única pergunta que surge neste momento é porque (a decisão) não foi tomada durante a revisão
da política do banco na semana passada, e a única explicação é de que eles não anteciparam o
alcance da crise de liquidez", complementou Agarwal.
Autoridades em finanças ao redor do mundo tem cortado as taxas de juros nas últimas semanas e
injetado grandes volumes de recursos aos seus sistemas bancários, com objetivo de lutar contra os
efeitos da crise financeira mundial que está causando a paralisação dos mercados de crédito e
ameaça levar a economia mundial à recessão.
Analistas afirmaram que a medida inesperada significa que existe uma preocupação com o
crescimento e temor de que a falta de liquidez piore os problemas de inflação.
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Em Riad, na Arábia Saudita, Brown disse que os Estados petrolíferos do Golfo e a China precisam
contribuir com dinheiro ao FMI, para que este empreste a países que correm o risco de colapso
financeiro.
"Se quisermos impedir que a crise financeira se espalhe, precisaremos de uma política de seguro
global melhor para ajudar as economias com problemas", disse Brown. "Por isso estou pedindo
mais recursos para o FMI - centenas de bilhões de dólares além dos US$ 250 bilhões que o Fundo
já tem disponíveis -para emprestar aos países em risco de colapso econômico", disse Brown, que
se posicionou na dianteira da resposta global à crise.
O ministro das Finanças do Kuait disse que seu governo vai basear sua decisão (sobre o apoio aos
mercados internacionais) nas eventuais possibilidades de retorno e oportunidades de investimento.
O ministro britânico da Economia, Peter Mandelson, disse que convencer a Arábia Saudita a
contribuir para o FMI levará tempo e que não se espera nenhuma promessa de dinheiro
imediatamente. A viagem de Gordon Brown pelo Golfo precede a cúpula global que terá lugar em
Washington em 15 de novembro, na qual ele e outros líderes mundiais vão defender uma reforma
do sistema financeiro internacionais.
JUROS. Brown ressaltou que deverá haverá novos cortes de juros na Inglaterra e no resto do
mundo em resposta ao recuo nos preços dos alimentos e do petróleo.
O Banco da Inglaterra deve reduzir em meio ponto percentual sua taxa básica de juros para 4% na
próxima quinta-feira quando realizar sua reunião mensal para definir a política de juros. O banco
central norte-americano, o Fed, cortou sua taxa de juros para 1% na semana passada, dizendo que
os riscos de queda no crescimento econômico continuam.
Brown disse também, enquanto deixava a Arábia Saudita rumo ao Qatar, que ele não pode
especular sobre as decisões do banco central inglês mas que acredita que a tendência mundial é
de responder aos preços do petróleo em queda.
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Melhor prevenir
Os malabarismos da equipe econômica para corrigir o que dizem os ministros manifestam duas
situações típicas ao governo Lula: falta de coordenação segura e a formulação pensada do prato
para a boca.
Desta vez a trombada foi só uma gafe. Ao ministro do Planejamento Paulo Bernardo se atribuiu a
redução da meta do superávit primário previsto para 2009 de 4,3% do PIB para 3,8%. O ministro
da Fazenda Guido Mantega corrigiu: a meta será a mesma já vigente este ano.
O que confunde o entendimento é que a meta não aumentou para 4,3% do PIB em 2008. O que se
fez foi adicionar à meta de 3,8% cravada no orçamento mais 0,5% direcionado para o fundo
soberano aprovado pela Câmara esta semana e que vai para votação no Senado.
A valer a explicação de Mantega repassada pela sua assessoria, o adicional de 0,5%, cerca de R$
14 bilhões, está mantido para 2009.
A questão suscita duas urgências. A primeira é que enquanto a lei que a cria não é aprovada a
verba do fundo soberano fica empatada no Tesouro. O governo precisa dispor dessa quantia,
especialmente para suprir o nível de capital de giro e investimentos, reduzidos pela aversão ao
risco que tomou conta dos bancos brasileiros.
A urgência se faz necessária, porque, como Mantega ouviu durante reunião sexta-feira com vários
empresários no Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi) em São Paulo, o giro
dos negócios diminui, as exportações já sentem o efeito da recessão em importantes mercados e
se alastra a decisão de parar investimentos em curso. Muitos empresários disseram já trabalhar
com cenários de retração absoluta do PIB no primeiro trimestre de 2009.
Mais de um comentou prever o pior, mesmo que o governo pegue na unha o problema da retração
do crédito bancário. O Banco Central faz o que pode para destravar o dinheiro que a banca
estaciona no overnight de títulos do Tesouro: dos 15% de retenção compulsória dos depósitos a
prazo, decidiu remunerar à taxa Selic somente a fatia de 30%. A intenção é forçar a banca a
comprar carteiras de crédito dos bancos menores ou voltar a emprestar.
Em contrapartida, a medida amplia o risco de inadimplência, que vai crescer a partir de 2009,
segundo Élcio de Lucca, do conselho da Serasa, a maior firma de avaliação de crédito do país. A
crise externa já faz estragos amplos e irrestritos na economia.
O PIB está ameaçado
É arriscado, num cenário de risco de crédito, forçar a manutenção da atividade corrente.
Dependendo do grau da recessão global, não será trivial manter o ritmo dos negócios. Alguma
desaceleração vai acontecer. Por prudência, o governo deveria refazer as estimativas de
crescimento, inflação, juro e câmbio embutidas na formulação da Lei Orçamentária de 2009. Se o
PIB evoluir menos de 4% - e muitos falam num crescimento mais perto de 2% que de 3% ano que
vem, faça o que fizer o governo , a arrecadação tributária vai despencar.
Costuras salariais
É besteira o argumento de que o efeito arrasto, ou carry-over, do crescimento de 5% ou pouco
acima este ano para 2009 já garante um desempenho superior. Isso no papel. No caixa, que é o
que importa, a arrecadação responde à atividade corrente. Só com sacrifício dos investimentos
será possível, neste quadro, preservar os aumentos salariais já aprovados ao funcionalismo
público. Talvez convenha dilatá-los para os anos seguintes, como cogitou o ministro Paulo
Bernardo. Não se trata de gastar menos, mas de direcionar o gasto para o que multiplique mais a
renda. No caso do aumento do salário mínimo, que vai ser reajustado pelo PIB de 2007 mais a
variação do INPC de 2008, porém, pode ser saudável antecipá-lo para janeiro.
Embaraço necessário
Se há um novo padrão de crescimento no mundo, nenhum país ficará à margem, como ilha, nem a
China, onde há semanas o governo só tem feito relaxar a política monetária e fiscal. No Brasil,
equivale a rever a meta de inflação. É de 4,5%, com teto de 6,5%, para o qual está tendendo este
ano. O BC deveria fixar o teto como meta, sem faixa de variação, aliviando a tensão da Selic,
excepcionalmente, e até admitir uma meta maior, digamos, 8%. Não se trata de propor mais
inflação. Nunca dá certo. Ocorre que há cheiro de recessão e só se ajusta a Selic com meta maior.
É embaraçoso, mas assim é.
Papo furado do PAC
O contraditório da expansão do dirigismo governamental sobre os negócios privados, visto como
tendência no mundo, é que, no país, ele aponta para riscos. Não de aumento da estatização, e,
sim, de inépcia. Uma coisa é a indução por políticas. Outra é a execução. Pegue-se o superávit
primário, que deu 5,59% do PIB até setembro, R$ 118 bilhões, bem acima da meta de 4,3%, e
associe-o com o nível de investimentos públicos. O que se constata é que o governo cobra muito e
não sabe gastar nem o que tem em caixa. Até o dia 10, só pagou R$ 4 bilhões dos R$ 42,3 bilhões
de investimentos que estão disponíveis no orçamento de 2008, com o dinheiro do PAC incluído. O
superávit bate recorde por isso. E o eficiente é que sofre.
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Confidencial-Aziz Ahmed
MUNICIPAL - 2. Presidido há 24 anos por Otávio Luiz Alves, o Municipal, que já teve 80 mil
associados e hoje tem 24 mil, acumulou dívidas fiscais que estão em execução judicial.
MUNICIPAL - 3. Tendo o quadro social integrado por servidores públicos, que descontam em folha
R$ 55 por mês, o índice de inadimplência no pagamento das mensalidades do clube é zero.
VIVA AS GORDAS. Estudo publicado na revista Obstetrics & Gynecology garante: mulheres
gordinhas relatam mais experiências sexuais com homens do que as que são consideradas de
"peso normal".
ULTIMATO. O Porto de Santos e a Anvisa deram prazo até fevereiro para que 100 % dos
contêineres vazios sejam escaneados. O objetivo e zelar pelos aspectos sanitários e ímpedir o
contrabando de armas e drogas em contêineres declarados "vazios."
PAPEL PASSADO. A Minuano, de Lajeado (RS), confirmou que prepara papéis para casar com a
paulista Arante Alimentos.
FINADOS. Ontem, o túmulo mais visitado no cemitério São João Batista, em Botafogo, foi o de
Carmen Miranda, morta há 53 anos.
CIÊNCIA. O alerta é do Instituto Karolinska da Suécia: adiantar os relógios em uma hora por causa
horário de verão aumenta o risco de infartos.
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Precariamente, apenas para citar o caso dos Estados Unidos, a regulação do sistema bancário
virou uma bagunça,em que as atividades de alguns bancos eram reguladas por lei federal, a de
outros por leis estaduais e até municipais. O Banco Central Americano (o Federal Reserve Bank)
não tinha qualquer ação sobre os milhares de bancos de investimentos, alguns muito grandes,
milhares de médios e pequenos. As operações de câmbio, globalizadas, não tinham nem
regulação, nem fiscalização adequadas ao Controller of the Currency, assim como a rede de
garantias do sistema, conduzida pelo FDIC (Federal Deposit Insurance Corporation), só cobria uma
parte relativamente pequena das instituições financeiras. No mercado de capitais, a ação da CVM
americana (a SEC - Securities Exchange Commission) não alcançava as operações de derivativos,
a termo, nas Bolsas de Valores, de Mercadorias e de Futuros, muito menos o mercado de balcão,
uma espécie de instituição "fora de lei" e nem tampouco a CFIC - Commodities Future Trading
Commission.
Agora, os governos do mundo todo, dos Estados Unidos, da Europa, da Ásia acordaram e estão
procurando "tapar os buracos", para restabelecer o clima de confiança indispensável ao mercado
financeiro. Alguém já disse, há muitos anos, que o sistema bancário só navega bem em mar calmo.
Nada disso tem a ver com a "falência do capitalismo", como querem alguns analistas apressados.
O problema é de responsabilidade, ou irresponsabilidade do Estado. Por isso, é ao Estado que
cabe resolvê-lo.
O capitalismo privado e a democracia estão eivados de defeitos. Mas não se conhece alternativas
melhores.
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O ESTADO DE S. PAULO
(Debêntures) Mais de 300 grandes obras podem atrasar por falta de crédito no País
Segundo a Abdib, serão necessários R$ 90 bilhões
para concluir os empreendimentos de infra-estrutura
Renée Pereira
Hoje o País tem 324 grandes obras de infra-estrutura em construção ou já contratadas (mas não
iniciadas) correndo sério risco de atraso por causa da escassez de crédito que assola o mundo.
Para serem concluídos nos próximos anos, os empreendimentos vão demandar cerca de R$ 90
bilhões. "Estamos agora concentrados na criação de soluções para evitar que haja
descontinuidade das obras e atraso nos cronogramas", afirma o presidente da Associação
Brasileira da Infra-Estrutura e Indústrias de Base (Abdib), Paulo Godoy, responsável pelo
levantamento sobre a necessidade de financiamento nas áreas de energia elétrica, ferrovias,
rodovias e portos.
Godoy disse que cerca de 70% do volume de recursos deverá sair do Banco Nacional de
Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). "Mas esse dinheiro pode ser liberado no início, no
meio ou no fim do projeto. Até porque, diante dessa crise, todo mundo passa a contar com o banco
para tudo e não tem dinheiro para todos."
Ele explicou que, para cobrir essa lacuna, os investidores normalmente recorrem a outras fontes de
recursos para iniciar obras. Antes, além dos empréstimos bancários, as empresas faziam emissões
no mercado de capitais por meio de debêntures, notas promissórias, entre outras modalidades.
"Hoje, quem tem capacidade está usando o caixa próprio. Outros estão tentando, com muita
dificuldade, fazer empréstimo-ponte. Há ainda aqueles que já fizeram esse tipo de empréstimo e
agora precisam repactuar o contrato vencido", comenta Godoy. Segundo o levantamento da Abdib,
dos R$ 90 bilhões, cerca de R$ 57 bilhões ainda não tiveram as obras iniciadas. O restante já está
em construção, o que não significa que está livre de limitações.
A espanhola OHL, por exemplo, decidiu recorrer às subsidiárias para garantir os investimentos
iniciais nas cinco rodovias federais arrematadas no ano passado. Desde o início, a empresa tenta
conseguir financiamento para cumprir o cronograma de obras, que só no primeiro ano soma mais
de R$ 700 milhões. Para 2009, será necessário mais R$ 1,2 bilhão.
Segundo fontes, diante das dificuldades do grupo para conseguir crédito no mercado, o BNDES
teria dado sinais de uma concessão de empréstimo-ponte no início de 2009. A empresa tem de
investir R$ 4,1 bilhões nos primeiros cinco anos de concessão dos 2.078 km de estradas. Mais: por
causa dos altos deságios oferecidos no leilão, que chegaram a 60%, a empresa teria de conseguir
um financiamento com custo menor para não comprometer a rentabilidade do investimento.
CAUTELA
Quem conseguiu fazer captações antes da crise tem tentado controlar as finanças até que o crédito
seja restabelecido. A Eletrobrás, por exemplo, suspendeu a emissão de US$ 400 milhões que faria
no mercado externo no mês passado. O dinheiro seria usado para financiar os investimentos das
empresas do grupo, como a construção das hidrelétricas de Santo Antonio e Jirau e a Usina de
Angra 3.
Outra empresa que preferiu a cautela é a Sabesp. No mês passado, o conselho de administração
da empresa aprovou apenas uma das captações planejadas. Antes da crise, a intenção era fazer
duas emissões de debêntures, uma de R$ 220 milhões e outra de R$ 300 milhões. Prevaleceu a
oferta mais conservadora, que deverá ser concluída em breve. Os recursos serão usados para
refinanciar uma emissão que vencerá nos próximos meses.
"Não temos ilusão, essa é uma crise prolongada", destacou o presidente da Sabesp, Gesner de
Oliveira. Embora tenha a garantia de financiamento de alguns organismos multilaterais, ele afirma
que o momento exige austeridade. O plano de investimento da empresa referente ao período
2007/2010 é de R$ 6 bilhões.
No setor portuário, os empreendimentos estão ameaçados não só pela falta de crédito, mas
também pela expectativa de redução no comércio exterior, afirma o professor da Coppead/UFRJ,
Paulo Fleury. Segundo ele, alguns empreendedores estão segurando os projetos para ver se o
cenário econômico clareia um pouco.
De acordo com os dados da Abdib, hoje há três portos em construção, no valor de R$ 3,5 bilhões.
Mas há planos de mais de R$ 9 bilhões que estão apenas no papel, completa o presidente da
Associação Brasileira de Terminais Portuários (ABTP), Wilen Manteli.
FUNDO
Para evitar que a crise comece a afetar de forma irreversível os investimentos, o presidente da
Abdib tem conversado com o governo, até mesmo com o presidente Lula, para criar alternativas de
financiamento.
Uma das propostas é montar um fundo de investimento de R$ 10 bilhões com recursos da Caixa
Econômica Federal, fundos de pensão, fundos de investimentos e bancos. Com o dinheiro
levantado, o fundo compraria papel lançado por projetos, como debêntures, notas promissórias,
por prazos entre 12 a 18 meses.
Ele explica que, até o momento, as empresas têm conseguido manter as obras. "Mas tudo tem um
limite, especialmente porque esse é um setor intensivo em capital. Uma hora as empresas não vão
ter mais caixa para levar a obra adiante. Precisamos nos prevenir."
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A entidade projeta a interrupção do crescimento dos fluxos mundiais nos últimos três meses do
ano. A estagnação, se confirmada, será a primeira em sete anos. A OMC, inspirada em uma
proposta brasileira, convocou o Fundo Monetário Internacional (FMI), bancos e até o BNDES para
uma reunião dia 12 com o objetivo de debater formas de destravar o comércio.
O Brasil, segundo analistas, seria um dos países mais atingidos pela falta de crédito para
exportação. Não por acaso, Amorim quer discutir com o diretor-geral da OMC, Pascal Lamy, formas
de facilitar esse acesso a créditos e flexibilizar condições para que o comércio não seja ainda mais
afetado.
Na OMC, a estimativa era de que o comércio mundial teria um crescimento de 4,5% em 2008. Mas
o terceiro trimestre já demonstrou uma forte queda. Há estimativas de que não haverá crescimento
no quarto trimestre. A desaceleração nos Estados Unidos e no Japão, além da recessão em
algumas das maiores economias da Europa, estão reduzindo de forma importante as demandas.
QUEBRAS
No setor de cargas, as evidências já são claras de que há uma contração do comércio. A América
Latina sofreu a maior queda em todo o mundo no fluxo de cargas aéreas em setembro. Os dados
das 240 principais empresas aéreas do mundo registram queda de 14,6% no transporte
internacional de cargas na região, em comparação ao mesmo período do ano passado.
No mundo, a queda é de 7,7% no fluxo internacional. Na Ásia, a queda foi de 10,6%, ante 6,8% na
Europa e 6% nos EUA. A nova comissária de Comércio da UE, Catherine Ashton, alertou que o
comércio mundial já está em queda. "A demanda está caindo nos mercados desenvolvidos diante
de cortes de gastos por consumidores", diz Catherine. "Deveremos ver o mesmo nas economias
emergentes."
No caso do Brasil, os dados preliminares da OMC apontam que as importações estão crescendo a
um ritmo bem mais elevado que as exportações. "No terceiro trimestre do ano, as importações
aumentaram 57%, ante alta de 39% das exportações", alertou o economista da OMC Michael
Finger. Parte da explicação é o crescimento do mercado interno nesse período. Mesmo com o
desempenho brasileiro, o comércio mundial deve sofrer.
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Jamil Chade
O chanceler Celso Amorim já quer começar a avaliar como uma definição nas eleições americanas
amanhã poderia reabrir as portas para um avanço nas negociações comerciais da Rodada Doha,
lançada em 2001.
Amanhã, Amorim se reunirá com o diretor da OMC, Pascal Lamy, e, na pauta, estará uma tentativa
de definir uma agenda para os próximos meses. Devem ser discutidas propostas de como fazer
com que o processo avance. O Brasil insiste que não há como abandonar a discussão na OMC,
mesmo que leve mais dois anos para ser concluído com a administração da Casa Branca.
Para algumas delegações em Genebra, uma eventual vitória dos democratas não abriria
necessariamente um caminho tranqüilo para a conclusão da Rodada Doha. Isso porque o partido
de Barak Obama já demonstrou que vai lutar para defender certos setores da economia americana
pouco eficientes, além de insinuar que temas como cláusulas trabalhistas e ambientais teriam de
ser relacionados com o comércio mundial.
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Leandro Modé
O professor de matemática Décio Pecequilo, de 68 anos, é a memória viva do mercado de capitais
brasileiro. Em janeiro, completa 40 anos no ramo. Nesse período, vivenciou de tudo: crises da
dívida externa, desvalorizações cambiais, escândalos financeiros, recessões ao redor do mundo,
etc. A crise atual, diz ele, é a pior. Mesmo assim, ele se mostra animado com as perspectivas para
os investimentos em bolsa de valores. "Os preços das ações estão extraordinariamente atraentes",
garante ele, que hoje é operador sênior da TOV Corretora.
As palavras do experiente profissional talvez sirvam de estímulo para aqueles que pretendem
entrar no mercado acionário, seguindo o princípio básico alardeado por 10 entre 10 analistas:
comprar na baixa e vender na alta. Mas não consolam os milhares de brasileiros que foram
engolidos pelo mergulho do Índice Bovespa de maio para cá. Uma queda, aliás, que entrará para
os livros como a quarta maior da história do indicador, criado em 1968.
O Ibovespa despencou 49,3% desde que atingiu o pico de 73.516 pontos, no dia 20 de maio. O
tamanho do tombo não era previsto nem pelo mais pessimista dos analistas e, por isso, pegou a
maioria dos investidores, principalmente as pessoas físicas, desprevenidas.
Já há especialistas que temem uma freada na migração dessas pessoas para a bolsa, como já
ocorreu em outros momentos da história. Afinal, nos últimos anos, milhares de brasileiros
venceram o medo e escolheram as ações para aplicar parte de suas economias. De 94.320
pessoas em dezembro de 2003, foram para 550.562 em setembro deste ano, ou seja, um avanço
de 484%.
"Infelizmente, a maioria das pessoas, não só no Brasil, mas no mundo todo, compra na alta e
vende na baixa", afirma o administrador de investimentos Fabio Colombo. "Tem muita gente
machucada, que não quer mais entrar na bolsa."
Olhando com atenção o gráfico histórico do Ibovespa, observa-se que foram necessários, no
mínimo, quatro anos para que o indicador se recuperasse de um tombo dessa magnitude. O
período mais longo, de quase 15 anos, foi entre 1971 (logo depois que o brasileiro "descobriu" a
bolsa) e 1986, na época do Plano Cruzado.
As perspectivas de recuperação da forte queda de 2008 são incertas. Ninguém se arrisca a estimar
um período. O que se sabe é que o movimento foi detonado por uma crise externa. Isso o difere
dos anteriores. Em 1971, havia claramente uma bolha provocada pelos investidores locais. A
retomada foi atrasada por várias crises: do petróleo, da dívida e da inflação alta nos EUA, entre
outros fatores.
O mergulho entre 1986 e 1998 também foi provocado por questões nacionais - o fracasso do
cruzado. A desvalorização do real, em 1999, derrubou o Ibovespa novamente, que só se recuperou
plenamente em 2003. Ali se iniciou o mais longo período de alta da bolsa brasileira, encerrado em
maio deste ano.
O professor Alcides Leite, da Trevisan Escola de Negócios, observa que, desde a estabilização
monetária, em 1994, com o Plano Real, a bolsa ganhou mais do que outras aplicações. Em média,
rendeu 17,49% ao ano, ante 14,95% dos CDBs pós-fixados e 12,54% da caderneta de poupança:
"A bolsa tem mesmo um risco muito alto, é instável no curto prazo, mas, em períodos mais longos,
rende mais."
Esse olhar em perspectiva parece dar razão a Pecequilo. O tamanho do longo prazo é que torna a
aposta de alto risco. Até porque, como disse o brilhante economista inglês John Maynard Keynes,
"a longo prazo, estaremos todos mortos".
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Segundo ele, considerados os "danos" até agora, já houve crises piores. "Entre 1986 e 1987, por
exemplo, a queda foi bem mais aguda", relembra. Em março de 1990, o Plano Collor, além de
confiscar as poupanças, também causou estragos na bolsa de valores : "O valor das ações foi
dividido por dez, ou seja, a perda foi muito maior do que a atual."
Ao avaliar o impacto das crises, Lyra afirma que cada uma tem um perfil diferente. "A diferença
desta é que começou lá fora e veio para cá. As outras eram crises internas", avalia. Em vez de
arrancar os cabelos, ele afirma que as pessoas deveriam aproveitar a oportunidade."Na semana
passada, o patamar da Bovespa estava ilógico. Era um bom momento para comprar barato."
Para os novatos na bolsa, ele diz que nem tudo nessa crise foram perdas. "Ganharam experiência.
Com certeza, os novos investidores estão vivendo uma boa lição."
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Na primeira entrevista desde que assumiu o cargo, há um mês, o diplomata reconhece que falta
agressividade na promoção comercial de produtos brasileiros na China, onde há um enorme
mercado a ser explorado. Segundo ele, o desconhecimento leva muitos empresários brasileiros a
concluírem, de maneira equivocada, que o país asiático só importa bens primários. "Na verdade, o
que a China menos importa é matéria-prima. A maior parte das importações chinesas é de bens
manufaturados. Do Brasil, não, mas da Ásia, da Europa, dos Estados Unidos", disse Hugueney ao
Estado.
A China hoje é uma potência global do ponto de vista econômico e tem uma influência crescente. A
manutenção do crescimento na China é fundamental para preservar o crescimento no mundo
porque as grandes economias desenvolvidas não vão crescer. Isso tem uma importância
extraordinária para o Brasil, pela exportação do Brasil de produtos básicos, como minério de ferro,
cujos preços vêm caindo. O que sustentará o mercado nos próximos anos é a demanda chinesa.
Quantas pessoas a embaixada tem hoje? Seu tamanho é comparável à de que outro país?
Quando se olha 2004, o ano da visita do presidente Lula à China e do presidente Hu Jintao
ao Brasil, a impressão que se tem é que a importância que o Brasil dava à China era maior
que dá hoje. O que aconteceu?
Não acho que isso corresponda à realidade. O Brasil dá uma grande importância à China. Mas há
uma distância geográfica muito grande, a China tem uma prioridade para seu entorno regional e
para seu relacionamento com os Estados Unidos. No ano que vem o presidente Lula vai visitar a
China, haverá reunião da Cosban no Brasil e o primeiro-ministro, Wen Jiabao, deverá ir à América
Latina, incluindo o Brasil. Também teremos a visita do ministro Celso Amorim à China e a do
chanceler chinês ao Brasil. Mas falta um programa de médio e longo prazos e o desenvolvimento
de alguns novos projetos. Biocombustíveis é uma área em que o Brasil tem liderança mundial e na
qual a China tem interesse. Nós poderemos desenvolver um diálogo sobre energia, meio ambiente
e biocombustíveis. O Brasil também tem uma liderança mundial em matéria agrícola e um diálogo
pode ser extremamente interessante.
Dá para fazer tudo isso com uma embaixada que tem apenas o senhor e mais cinco
diplomatas?
Espero que a embaixada possa paulatinamente voltar a ter sua lotação completa, que é o
embaixador e mais 10 diplomatas. Isso seria mais ou menos a lotação da Embaixada da Venezuela
em Pequim. Além disso, é necessário modernizar alguns setores. Há uma demanda crescente por
vistos e a área consular não tem condições de atender. O prazo de concessão de vistos é de 30
dias úteis, o que é muito extenso. Com a atual lotação da embaixada, não posso acompanhar a
amplitude de temas da China. Mas espero expandir um pouco, o que vai permitir à embaixada ter
uma atuação maior. Há uma questão conjuntural. A nossa carreira tem esses fluxos. Muita gente foi
removida daqui porque completou os três anos e teve a saída do embaixador Castro Neves, que
fez um excelente trabalho aqui e dinamizou muito as relações entre Brasil e China. Agora eu estou
chegando e a minha expectativa é que proximamente eu possa trazer diplomatas, funcionários e
recompor a lotação. A Apex também está se estabelecendo aqui e muita coisa vai poder ser feita
por eles.
O setor privado afirma que o Brasil não faz promoção comercial aqui. A frase mais ouvida é
"não é o Brasil que vende para a China, é a China que compra do Brasil", porque
exportamos principalmente produtos básicos que a China precisa muito, como minério de
ferro, soja e petróleo. Não falta agressividade na busca de mercados para produtos
brasileiros na China?
Eu acho que falta. A China é um mercado gigantesco e esse tipo de atividade demanda uma
estrutura muito grande. A embaixada do Canadá tem quatro ou cinco representações comerciais
em outras províncias chinesas e estão abrindo mais seis. A embaixada brasileira tem um diplomata
que se ocupa da parte de promoção comercial, além de dois funcionários chineses. Fazer uma
atividade de promoção comercial na China é impossível. Com a abertura do escritório da Apex
essa parte vai melhorar. A outra dimensão importante é melhorar o conhecimento e a imagem do
Brasil na China. A nossa imagem está muito associada a samba e futebol. Não há nenhuma
imagem do Brasil como uma economia desenvolvida e com um setor industrial moderno. As
pessoas desconhecem até o fato de o Brasil ser um grande produtor e exportador de aviões,
embora a Embraer tenha uma joint venture aqui. Para fazer projeto de imagem em um país da
dimensão da China, os recursos requeridos são enormes. O conhecimento sobre China no Brasil
também é muito limitado. O desconhecimento da parte do empresariado brasileiro sobre a China e
sobre como negociar com a China leva a perda de oportunidades, desentendimentos, frustrações e
a conclusões como "a China é meio exótica e só importa matérias-primas". Isso é um absurdo. A
China é um gigantesco importador de produtos manufaturados. Na verdade, o que a China menos
importa é matéria-prima. A maior parte das importações chinesas é de bens manufaturados. Do
Brasil, não, mas da Ásia, da Europa, dos Estados Unidos.
Quais são as principais pendências da relação bilateral? Como está a negociação para a
abertura do mercado de carnes?
A abertura do mercado de carnes tem sido difícil para o Brasil em todo o mundo. Acho que falta
aqui na China um investimento mais consistente da indústria brasileira e continuidade das
iniciativas. O Brasil seguramente vai se tornar um exportador importante para a China dos três
tipos de carne, de frango, bovina e suína. Mas isso implica também abrir o mercado brasileiro para
os produtos chineses, respeitadas as nossas regulamentações fitossanitárias. Há pendências na
área industrial, basicamente nas indústrias tradicionais nas quais os chineses são muito
competitivos: calçados de baixo custo, têxteis, armações de óculos e brinquedos. Se adotarmos
uma estratégia só de defesa e de criação de barreira, vai gerar irritação e não resolver o problema.
Mas é necessário atender a certas dificuldades conjunturais da indústria brasileira e não acho que
seja interesse dos chineses ter superávit com o Brasil. Pelo contrário. Em encontro com o ministro
Celso Amorim, em Genebra, o ministro do Comércio da China declarou textualmente que não é
política da China ter superávit com países em desenvolvimento porque eles já têm um superávit
muito grande. Há espaço para buscar soluções de curto prazo, compatíveis com as obrigações
internacionais do Brasil e de maneira que os chineses não considerem que estamos fazendo com a
China o que não fazemos com outros países.
Acho que vamos ter que ter alguma defesa, mas criar barreiras não é a resposta. A resposta está
na modernização da nossa indústria, na busca de associações com os chineses, investimentos
recíprocos, desenvolvimento de novas linhas de produção, extensão de créditos à indústria
brasileira para ela se modernizar. E sair também de alguns setores nos quais não temos mesmo
condição de competir, nos quais a produtividade chinesa é espantosa. No caso de brinquedos,
todas as grandes empresas do mundo transferiram suas linhas de produção para a China e
mantiveram nos países de origem a concepção, a marca, o design e as redes de distribuição. Tem
que haver um programa de médio prazo para mudar o perfil produtivo, modernizar certos
segmentos e abandonar outros. Mas esses são problemas que atingem uma pequena parte do
intercâmbio comercial entre o Brasil e a China, porque a maior parte não é aí. O que o Brasil
importa da China hoje é componente eletrônico, bem de capital, insumos industriais, produtos cada
vez mais sofisticados.
A China é um dos países que têm melhores condições de resistir à crise e manter uma alta taxa de
crescimento, pois não depende de poupança externa. A poupança interna chinesa é gigantesca e a
capacidade de investimento chinesa é gigantesca. A China não tem problema fiscal, acabou de
aprovar um plano ferroviário de US$ 300 bilhões, para construir 20 e tantos mil quilômetros de
ferrovias nos próximos anos. Mas, como as próprias autoridades chinesas vêm dizendo, a China
vai ser e já vem sendo afetada pela redução das exportações. Vai haver impacto no preço das
commodities e esse impacto vai se estender ao Brasil. Os preços altos que nós tivemos no período
recente vão ceder um pouco. Por outro lado, a crise abre perspectivas, principalmente de
investimentos. A China terá reservas de US$ 2 trilhões até o fim do ano. As oportunidades de
investimentos nos países centrais vão se reduzir, enquanto na África, na América Latina e no resto
da Ásia vão continuar importantes. É o momento de procurar atrair capitais chineses para o Brasil,
desenvolver projetos conjuntos e ter participação chinesa na área de infra-estrutura.
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Mariana Barbosa
A Vicunha Têxtil está negociando com bancos a liquidação antecipada de operações de derivativos
cambias. A empresa já liquidou operações com o Banco Merrill Lynch e proibiu expressamente, em
deliberação de assembléia de seu Conselho de Administração, que os membros da diretoria
assinem qualquer novo contrato de derivativos com o Merrill Lynch ou com qualquer outra
instituição financeira.
As perdas com essas operações podem chegar a US$ 150 milhões, revelam fontes do mercado. A
maior exposição da companhia era justamente com o Merrill Lynch. Essas posições foram
totalmente liquidadas no dia 12 de setembro, conforme consta em ata de reunião publicada no site
da Comissão de Valores Mobiliários (CVM). De acordo com as mesmas fontes, a liquidação
antecipada teria levado a uma perda de US$ 80 milhões. A empresa possui ainda posições em
aberto com o Citi e o Itaú BBA, que poderão levar a um prejuízo da ordem de US$ 70 milhões.
PROIBIÇÃO
A deliberação do conselho - formado por Ricardo Steinbruch, Elisabeth Steinbruch Schwartz e Luiz
Rodrigues Corvo - proibindo novos contratos de derivativos aconteceu no dia 15 de setembro, três
dias depois da renúncia da diretora, substituída por Reinaldo José Kröger.
Procurada, a Vicunha não quis se manifestar sobre o assunto. Declarou estar em período de
silêncio até o dia 14, quando será divulgado o balanço relativo ao terceiro trimestre. Merrill Lynch,
Itaú BBA e Citi também foram procurados, mas não quiseram comentar as informações.
A empresa possui aproximadamente 40% de suas receitas atreladas à exportação e vinha sofrendo
com a valorização do real ante o dólar e com a competição com tecidos fabricados na China. Com
esse cenário, a Vicunha viu a sua receita encolher nos últimos anos. A empresa, que faturou R$
1,67 bilhão em 2005, caminha este ano para algo em torno de R$ 1 bilhão. A receita acumulada no
primeiro semestre foi de R$ 542 milhões.
Grandes grupos brasileiros, como Sadia, Aracruz e Votorantim, já anunciaram perdas bilionárias
com essas operações de derivativos cambiais, apelidados pelo mercado de derivativos tóxicos ou
tarja preta.Grandes exportadoras, essas empresas buscaram nos bancos instrumentos para se
protegerem de perdas com a valorização do real.
Nesse tipo de contrato, os ganhos são limitados a um determinado valor e, quando a cotação do
dólar atinge um patamar estabelecido entre as partes, as perdas são multiplicadas por dois.
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Leandro Modé
A eleição para a Presidência dos Estados Unidos é o evento mais importante desta semana
também para o mercado financeiro. Wall Street dá como certa a vitória do candidato democrata,
Barack Obama. "Será interessante ver o que já foi antecipado e o que será capaz de provocar um
choque (nos investidores)", disse Lindsey Piegza, analista da FTN Financial.
Outros destaques são as reuniões de política monetária do Banco da Inglaterra e do Banco Central
Europeu (BCE), ambas na quinta-feira. A expectativa é de que a taxa básica de juros seja reduzida
em meio ponto porcentual pelas duas instituições. Atualmente, o juro na zona do euro é de 3,75%
ao ano e, na Inglaterra, de 4%.
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Marili Ribeiro
Há uma onda de visitas de altos executivos de grandes redes globais de propaganda ao Brasil. A
motivação é fácil de entender. Com os negócios encolhendo nos países ricos, em razão da crise,
onde estão as sedes desses conglomerados, os olhares se voltam para os países emergentes.
Michael McLaren, presidente da McCann Erickson EUA e "CEO das contas globais" da rede
McCann no mundo, é um deles. Esteve nos escritórios da empresa em São Paulo e Rio para o que
definiu de treinamento dos profissionais seniores sobre tendências e impacto do atual cenário nos
negócios dos clientes. E, mais do que destrinchar a situação de crise, preocupou-se em sinalizar
que o mundo caminha inexoravelmente para as mídias online e móveis. Ele deu a seguinte
entrevista ao Estado:
O agente fundamental de mudança tem sido a penetração da internet e integração dela à vida das
pessoas. Sempre apresento exemplos de como as diferentes mídias têm se desenvolvido com a
internet e como ela muda a maneira como as marcas falam para seus consumidores: o que
acontece comigo se eu interajo com esse meio. Antes, se podia falar diretamente para os seus
consumidores através de mídia de massa, persuadindo-os a acreditar no valor do produto. Com a
internet, isso mudou. Há um novo papel, pois o modelo de persuasão não funciona. Não temos
mais a voz da marca, mas a voz das pessoas. É uma mudança fundamental. Temos de ajudar o
cliente a enxergar esse novo modelo, ajudá-lo a ser um influenciador.
A verdade é que ainda é cedo para dizer. Não vimos mudanças em 2008. Estamos focados em
2009. Os clientes estão muito cuidadosos para montar o plano de 2009 porque eles não têm
certeza do que vai ocorrer com a demanda dos consumidores. Estamos prevendo um 2009
desafiador, mas nenhum cliente cancelou seus anúncios. O número de buscas pela palavra
"recessão" no Google subiu incrivelmente. Todos sabem que vai ser mais difícil que 2008, vamos
ajudar as marcas a enfrentar esse ambiente.
Cada cliente está em uma categoria, e cada categoria tem um cenário. Não há uma fórmula. Há
ações que eles podem tomar, se você quer construir valor e se comunicar com seus públicos-
chave. O varejo faz programas de fidelidade, novas aproximações, cria recompensas para os
clientes. Os serviços estão oferecendo valor, em vez de apenas preço. Olhe para todo o mix de sua
empresa: como ele é entregue, como se mantém, como adicionar valor a esse mix? Esse é o tipo
de dúvida que temos de analisar. A Mastercard é um bom exemplo. Criou um programa de
incentivo para as pessoas dividirem suas experiências "que não tem preço". Dão prêmios pela
participação ao enviarem suas aventuras. Estão criando fidelidade, sem gastar quase nada.
Marcas sempre precisam de clientes novos, mas, em horas difíceis, têm de trabalhar para seus
clientes leais. Consumidores estão usando seu acesso à informação antes de ir às compras. Eles
pesquisam. E eles vão pesquisar cada vez mais, até achar a oferta mais atraente para eles. Os
clientes têm de saber como se colocar nesse momento de pesquisa. Qual sua estratégia de
internet? O que você está fazendo para contar sua história? As pessoas estão cautelosas, então,
como você se mostra para elas.
As ferramentas de medição estão mais sofisticadas. A beleza do mundo digital é que você pode
monitorar transações. Saber onde as pessoas clicam e quanto tempo elas ficam em contato com a
sua mensagem. Logo, o anunciante passa a ter mais controle na internet do que ele tem sobre a
exposição do seu comercial na TV.
Há um fato relevante: o mercado é o que é, mas a história mostra que investir nos períodos de
baixa faz as marcas emergiram mais fortes quando a economia volta a crescer. Há exemplos
conhecidos em situações anteriores. A rede de cafeterias Starbucks e a marca de detergentes Tide,
nos Estados Unidos, investiram durante crises e ganharam fatias de mercado depois. É até lógico:
se os outros diminuem e você mantém, sua presença relativa aumenta.
Os níveis de audiência de TV nos EUA caíram, mas se estabilizaram. Ainda existe um valor de
entretenimento em ver televisão. Toda mídia tem seu espaço. Pode ser que ela não ocupe o
mesmo espaço de antes, nem tão dominante, mas ela não vai sumir. O interessante é olhar que
existem programas de TV com atrações online. Como por exemplo o American Idol. Eles têm o
produto televisivo e o online. As pessoas são multitarefas e vão continuar sendo. A mistura de
entretenimento e mídia, principalmente para a geração mais jovem, está dando certo.
Os mercados emergentes são essenciais para os planos de crescimento das empresas globais nos
próximos 10 ou 15 anos. Brics são a próxima onda, estatisticamente provado. O desafio é saber
que eles vivem da exportação de itens primários e pode haver queda na demanda mundial. O
crescimento do Brasil foi muito saudável nos últimos anos e o País deve continuar a crescer,
mesmo com as mudanças. A maioria dos meus clientes tem estratégias para o Brasil, que é o 5º
maior país do mundo, líder da América Latina. Todos estão focados aqui. É aqui, na China e na
Rússia.
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O governo e seus aliados precisaram utilizar um estratagema para conseguir que o parecer do
deputado Sandro Mabel (PR-GO), relator da reforma tributária na Câmara dos Deputados, fosse
lido na comissão especial que analisa a proposta, na última quarta-feira. Como o plenário da
Câmara dos Deputados estava votando o projeto que cria o Fundo Soberano do Brasil, a Comissão
Especial não podia continuar os trabalhos. A sessão da Câmara foi, então, encerrada e convocada
outra. Entre uma e outra, o relator leu o seu parecer.
A rigor, o parecer não foi lido, pois Mabel apenas fez uma apresentação, em powerpoint, das
principais mudanças e dos objetivos da reforma. Mesmo assim, o substitutivo apresentado pelo
relator foi dado como lido pelo presidente da comissão, deputado Antonio Palocci (PT-SP), e abriu-
se o prazo para a sua discussão e votação, sob protestos da oposição e de parlamentares da
própria base aliada do governo. O episódio ilustra a dificuldade de tramitação da reforma tributária
neste momento, pois não há um entendimento sobre ela.
No dia seguinte, os governadores de São Paulo, Minas Gerais, do Rio de Janeiro e Espírito Santo,
reunidos em Belo Horizonte, decidiram pressionar o Congresso para que os deputados e
senadores suspendam a tramitação da proposta de reforma tributária até que fique mais claro o
impacto da crise internacional na arrecadação dos Estados.
Na próxima quarta-feira, quando a comissão especial volta a se reunir, o resultado da pressão dos
governadores será melhor avaliado. De qualquer forma, não se faz uma mudança constitucional
como essa, que precisa de três quintos dos votos da Câmara e do Senado, sem um grande
entendimento sobre a proposta. A dificuldade será maior no Senado, onde é difícil para o governo
obter até mesmo maioria simples nas votações.
O principal motivo para a provável diminuição das receitas é a queda da lucratividade das
empresas no próximo ano. A forte elevação da receita tributária verificada durante os últimos anos
decorreu, principalmente, do grande crescimento da lucratividade das empresas instaladas no
Brasil. Isso é facilmente demonstrado porque as receitas do Imposto de Renda (IR) e da
Contribuição Social sobre o Lucro Líquido (CSLL) foram as que mais cresceram nos últimos anos.
A base desses dois tributos é o lucro.
Everardo chama a atenção para o fato de que a redução da lucratividade das empresas terá
impacto também sobre a arrecadação dos Estados e municípios, com quem a União reparte a
receita do IR. "Teremos uma repercussão sistêmica, pois a queda da arrecadação do Imposto de
Renda alcança todos os entes federativos", observou. Com menos receita do IR, as transferências
constitucionais para Estados e municípios serão menores em 2009.
O deputado Sandro Mabel fez profundas mudanças na proposta de reforma tributária apresentada
pelo governo. Essas alterações poderão criar ainda mais dificuldades para a tramitação da
reforma, como, por exemplo, a incidência do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços
(ICMS) sobre petróleo e energia elétrica ou a permissão para que o governo possa criar novas
contribuições destinadas à manutenção ou expansão da seguridade social. No substitutivo de
Mabel, essa nova contribuição poderá incidir sobre as grandes fortunas. O relator corrigiu, no
entanto, o texto do governo e impediu que o Imposto sobre Valor Adicionado Federal (IVA-F), a ser
criado em substituição a outros três tributos, incida sobre movimentação financeira.
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Antonio P. Mendonça*
A Argentina acaba de nacionalizar a previdência privada do país. Daqui para frente os portenhos,
que participavam de um sistema seguro e com melhor remuneração, passam a meros números da
previdência social, com o ônus de custear os furos existentes com sua poupança pessoal,
amealhada e guardada por anos a fio de árduo trabalho.
Nada de novo debaixo do sol. Não é primeira vez que o país vizinho toma uma medida dessa
ordem. O resultado é o descrédito de uma nação pujante e com enormes potencialidades, levada
de novo ao fundo do poço pela irresponsabilidade de seus governantes e pela mais absoluta
demagogia política. Num cenário como o enfrentado pelo mundo, não serão medidas como essa
que salvarão a Argentina. Pelo contrário, uma agressão dessa natureza contra a poupança de
parte da população não será aceita pacificamente pelos grandes agentes financeiros mundiais,
que, mais uma vez, colocarão dificuldades para a concessão de novos créditos ao país.
Ainda que eventualmente resolvendo um problema imediato de caixa, além de dar mais poder ao
governo, que com a nacionalização da previdência privada passa a ser importante acionista de
grandes grupos empresariais, a médio e longo prazos a medida será um desastre para a economia
do país.
De qualquer forma, como, até um passado não tão distante, ambas as nações copiavam da outra
as más idéias implantadas pelos respectivos governos, a questão que se coloca é se uma medida
dessa natureza seria possível, atualmente, no Brasil.
E a resposta é não, pelo menos em princípio. Ainda que no governo exista gente deslumbrada com
a genialidade míope do governo portenho, a realidade político-econômica brasileira, construída
com esforço pela sociedade e respaldada por uma consistente política econômica implantada e
mantida pelo governo, não permitiria a adoção de uma medida vagamente parecida com a
nacionalização da previdência privada nacional.
Em primeiro lugar, se o governo Lula tem que se orgulhar de algo é a forma como, desde a
primeira eleição do presidente da República, as questões econômicas foram tratadas: sem
demagogia, sem concessões, sem mágicas de qualquer natureza. Pelo contrário, a ortodoxia tem
sido a palavra-chave para o surpreendente desempenho brasileiro, que nos coloca ao lado das
principais nações do mundo e nos faz importantes parceiros da ordem econômica internacional,
com situação invejável, até mesmo no momento atual, quando países tradicionalmente mais ricos e
desenvolvidos cem o pão que o diabo amassou, atingidos de modo muito mais severo do que nós
por uma crise que ninguém consegue dimensionar.
Em segundo lugar, a previdência privada brasileira tem desempenhado papel da maior importância
para esse cenário. Se somarmos as reservas dos fundos de pensão e da previdência privada
aberta encontraremos centenas de bilhões de reais investidos em atividades produtivas ou em
papéis do próprio governo, alavancando o crescimento do país.
Mais que isso, encontraremos os valores indispensáveis para o custeio da aposentadoria da parte
mais rica da população, desonerando a previdência social de uma obrigação que a impediria de
atender aos mais carentes e que representam a imensa maioria da sociedade.
Ao longo dos últimos anos, Brasil e Argentina tomaram caminhos diferentes e, por isso mesmo,
estão tendo resultados completamente diferentes. Enquanto a grande nação do sul afunda em
crises periódicas, o Brasil, ainda que sentindo os efeitos de diferentes choques econômicos, segue
firme no rumo do desenvolvimento econômico e social. Neste momento, mexer na previdência
privada nacional seria dar um tiro no pé. Quando o campeonato está bom é tolice mudar as regras
no meio. E quando o time tem um craque em campo é mais tolice ainda substituí-lo. A previdência
privada é esse craque. Então, o que ela precisa é de apoio.
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Nos tempos recentes: déficits gêmeos estruturais nos EUA; superávits comerciais estruturais de
emergentes, especialmente da China; superaquecimento dos mercados de commodities,
especialmente de petróleo e metais; embelezamento de ativos com alta propensão ao
derretimento, especialmente hipotecas nos EUA; booms imobiliários especulativos e estruturas
regulatórias insuficientemente adequadas a novos instrumentos financeiros. Nos anos 20:
convivência de reparações de guerra com dívidas de guerra entre os vitoriosos; instabilidade
macroeconômica na Europa, especialmente entre os derrotados; excesso de oferta de commodities
e sustentação artificial de preços; "rigidez" no mercado de trabalho; inconsistência entre as
políticas financeiras dos EUA, França e Grã-Bretanha; sobrevalorização de moedas e tensões
relacionadas ao gold exchange standard (padrão ouro de câmbio).
A idéia de que o impacto da crise financeira atual sobre a economia real tenha semelhança mesmo
que remota com o da crise de 1929 é o que agora tira o sono dos governantes no centro e na
periferia da economia mundial. Quedas do PIB de 30% em algumas economias desenvolvidas -
como nos EUA, entre pico e vale, em 1929-1933 - e de 5% no Brasil, no mesmo período, não se
repetirão, mas quedas significativas do nível de atividade no centro do sistema não podem ser
descartadas nos próximos semestres - talvez combinadas com crescimento muito baixo ou
estagnação entre os emergentes de crescimento relativamente lento, como é o caso do Brasil.
O temor das conseqüências da crise sobre a economia real, combinado com o seu protagonismo,
tem exacerbado a hiperatividade de alguns líderes em meio à crise, especialmente do presidente
francês, Nicolas Sarkozy, temporariamente presidente da União Européia. Sobram razões para
temer que o protagonismo possa acabar sendo contraproducente. É incerto qual poderá ser o
resultado substantivo da reunião de líderes do G8 com os do G20, em Washington, no próximo dia
15. Após as eleições, o presidente George W. Bush será então um morto-vivo político, ainda mais
morto do que hoje. Será que o novo presidente dos EUA - que será eleito amanhã - se sentará
também à mesa? E os novos responsáveis pela política econômica e financeira dos EUA? Se o
novo presidente for John McCain, antecipa-se a dificuldade dos mercados em absorver more of
almost the same (mais de quase o mesmo). É como se Herbert Hoover ganhasse a reeleição em
1932, derrotando Franklin D. Roosevelt. Mesmo com a vitória de Barack Obama, é improvável um
resultado significativo. E a explicitação das dificuldades pode ser ter conseqüências perigosas em
mercados excessivamente voláteis.
Sarkozy, em meio a manobras para assegurar a extensão de seu mandato de facto como
presidente da "Europa" - dado que os dois próximos presidentes de jure serão de países fora da
zona do euro -, tem insistido na necessidade de "reformular Bretton Woods", ignorando o contraste
essencial entre a situação em Bretton Woods e hoje. Em 1944, não havia dúvida quanto à posição
hegemônica dos EUA. A arquitetura financeira lá acordada - essencialmente sobre regimes
cambiais e sua sustentabilidade - foi proposta pelos EUA e prevaleceu, não obstante as
resistências de Keynes.
Qualquer que seja a "reformulação" que se pretenda, vai ser preciso aprender como assegurar
ação coordenada sem a regência de um protagonista hegemônico. Os que vêem como
conseqüência da atual crise o fim da hegemonia dos EUA e, conseqüentemente, o aumento do
poder de barganha de emergentes - tanto do ponto de vista econômico quanto político - deveriam
levar em conta o retrospecto histórico. Em especial, o período que marcou a transição da
combalida hegemonia britânica pré-1914 para a hegemonia norte-americana após a 2ª Guerra
Mundial. A evidência indica que cada caso foi um caso e que alguns "emergentes" se deram
bastante mal em meio a rivalidades entre os grandes.
Há clamor generalizado por um novo New Deal, um banzo rooseveltiano com laivos de
sebastianismo. Mas as políticas coordenadas substantivas que irão além da contenção do pânico
financeiro estão ainda pouco nítidas. Se a ação coordenada global evitar a adoção de políticas
econômicas, financeiras e comerciais do tipo "dane-se o meu vizinho", como ocorreu na década de
1930, já terá alcançado objetivo importante.
Ainda não é o fim do "neoliberalismo", como torcem alguns, mas a economia real ainda vai piorar
bastante antes de melhorar. E estamos longe de começar um processo de reconstrução do marco
regulatório do sistema financeiro que minimize o risco de recorrência de "tsunamis".
O resumo da semana passada é este: a crise amainou no lado financeiro, mas mostrou sua cara
no lado real.
No lado financeiro, talvez tenha sido a melhor semana. Medidas anunciadas por governos e
bancos centrais começaram a funcionar, as centenas de bilhões de dólares começaram a chegar
ao mercado e provocaram um primeiro resultado notável: acabou o pânico, aquele sentimento
desesperador de que o mundo estava à beira de um colapso financeiro, com quebradeira de
bancos e de clientes e com as empresas e as pessoas perdendo depósitos e investimentos.
Isso acabou. Não haverá esse colapso, tal é a convicção hoje. Os governos e os bancos centrais já
haviam dito isso, mas levou algum tempo para o pessoal acreditar. Mais ou menos um mês para o
pessoal se convencer de que não haveria um segundo Lehman Brothers indo à falência.
A propósito, quando o governo americano e seu banco central, o Federal Reserve, deixaram o
Lehman quebrar, alguns analistas disseram: só o tempo dirá se foram corajosos ou loucos. Hoje,
olhando para trás, está evidente que foram loucos.
De todo modo, a série de medidas tomadas no último mês indicou nova disposição: primeiro,
impedir a quebradeira; segundo, reanimar o sistema financeiro; e terceiro, suportar a recessão.
Outra grande mudança, depois do colapso do Lehman, foi a virada dos líderes mundiais. Pararam
com aquele populismo de direita e de esquerda, Sarkozy e Lula, por exemplo, dizendo que era
tudo culpa dos americanos e que eles se virassem para acabar com o cassino que haviam criado.
Todos entenderam que a crise era global, que seus sistemas financeiros e suas economias se
haviam beneficiado do "cassino" e que todos deveriam agir em conjunto.
Fizeram isso e começamos a sair do pânico. E, na última semana, foram animadores os sinais de
retomada do fluxo de empréstimos. Longe da normalidade, mas também longe da paralisia de
semanas anteriores. Foi esse ambiente que as bolsas celebraram até quinta-feira.
Mas a semana terminou com a crise mostrando sua cara no lado real, especialmente para nós,
brasileiros.
O sinal mais forte veio na sexta-feira pela manhã, quando a Vale anunciou uma redução em sua
produção mundial de minério de ferro, níquel, alumínio, ferro liga e outros produtos. A razão, a
óbvia desaceleração da economia mundial.
Outro sinal importante foi dado pelas montadoras de veículos. Ao longo da semana, várias delas
anunciaram férias coletivas para reduzir a produção e "adequá-la" ao consumo em queda.
Há, portanto, sinais de parada nas economias externa e interna. Eis o que veremos: o contrário do
que aconteceu nos cinco anos brilhantes de crescimento mundial, de 2003 a 2007.
Pode-se dizer: mas 9% está muito longe de uma recessão. Claro. Mas a "função" da China na
economia mundial é acelerar rapidamente e aumentar a demanda todos os anos. No caso, também
impressiona a rapidez com que a China reduziu seu ritmo.
Outro sinal externo: nesse mesmo terceiro trimestre, a economia americana encolheu 0,3%, o que
parece pouco diante do tamanho do estrago. Mas esse trimestre apanha apenas um mês do auge
da crise, setembro. O efeito maior se vê neste final de ano.
Além disso, os indicadores já mostram uma forte queda no consumo das famílias, que movimenta
79% do PIB americano.
Aqui, no Brasil, o sinal da indústria automobilística foi também muito forte. Notem, 70% da venda
de automóveis se faz no crediário, que havia crescido espetacularmente no Brasil nos últimos
anos, graças, entre outras coisas, ao sistema financeiro mundial, que ofereceu capital barato.
Agora que o crédito aperta, as montadoras entram em férias.
Esses sinais aparecem em todos os países, em proporções diferentes. Alguns vão desacelerar,
crescer menos; outros vão andar para trás. Às vezes, a queda nem parece tão forte, mas o que
vale é a comparação. E estamos comprando com anos de ouro, o início deste século, em que todo
o mundo cresceu acima de seu potencial.
De todo modo, ainda falta saber qual será a profundidade da desaceleração/recessão e qual a sua
duração. Isso vai dominar as expectativas. Certamente virão notícias ruins, como essa da Vale de
reduzir a produção. Mas tudo dentro de um cenário esperado, de modo que não devem mais
ocorrer esses enormes sustos das últimas semanas, quando o pessoal temia acordar e saber que
um bancão havia quebrado.
Resumo geral: parece que batemos no fundo do poço, saímos de lá e chegamos no estágio de
lidar com a recessão/desaceleração. Com menos volatilidade, mas também sem recuperação.
Em termos de Bolsa de Valores, vá lá, possivelmente já batemos no fundo do poço, mas ainda não
sabemos quando começará a recuperação. Mas sabemos que haverá recuperação, porque o
capitalismo está longe, muito longe, do fim.
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FOLHA DE S. PAULO
CLAUDIA ROLLI
FÁTIMA FERNANDES
DA REPORTAGEM LOCAL
A Receita Federal deve entregar até amanhã ao ministro da Fazenda, Guido Mantega, estudo que
avalia o impacto no caixa do Tesouro da ampliação de prazos para o recolhimento de impostos das
empresas.
O pedido para fazer o estudo foi feito na última sexta-feira pelo ministro à secretária da Receita
Federal, Lina Vieira, e tem como objetivo atender reivindicação de empresários que querem ter
mais dinheiro em caixa para enfrentar os efeitos da crise financeira global.
Lina afirma que vai apresentar ao ministro estudo sobre impostos que ainda não são recolhidos no
final do mês, como o IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados) para alguns produtos, a Cofins
(Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social) e as contribuições previdenciárias.
A idéia é permitir, por exemplo, que as empresas que pagam o IPI no dia 20 de cada mês possam
fazê-lo no dia 30, e assim ter mais capital de giro ao longo do mês.
O pedido para ampliar os prazos foi feito no mês passado pela CNI (Confederação Nacional da
Indústria), que estima que o prazo médio de pagamento de tributos é hoje de 30 dias. A
confederação sugeriu que esse prazo passe para 60 dias, durante um período de seis meses, a
partir do próximo ano.
O secretário do Tesouro, Arno Augustin, também deverá fazer um levantamento sobre o impacto do
alongamento de prazos no seu fluxo de caixa, segundo afirma a secretária da Receita. "A partir
desses dados, o ministro vai decidir quais medidas serão tomadas", diz Lina.
O governo tem compromissos a cumprir, entretanto, a partir de um cronograma já estabelecido de
arrecadação. "Quando se altera o cronograma, isso pode afetar as contas do governo. Por isso é
preciso uma avaliação detalhada da secretaria do Tesouro", afirma.
Ao estender os prazos para que as empresas paguem seus impostos, o governo federal quer
também evitar a perda de arrecadação no ano que vem, quando a desaceleração da economia
deve se intensificar.
Com os prejuízos enfrentados pelas empresas em decorrência da crise, a previsão de a Receita
arrecadar 11% a mais no próximo ano deve ser revista, segundo a secretária. "O êxito da
arrecadação está principalmente baseado em dois tributos, o Imposto de Renda da Pessoa
Jurídica e a Contribuição Social sobre o Lucro Líquido, que representam a lucratividade das
empresas. Se houver, portanto, redução na lucratividade das empresas, a arrecadação será
reduzida", afirma.
Com expansão mais forte da economia, a Receita arrecadou com tributos e impostos federais R$
508,8 bilhões de janeiro a setembro, 10% a mais que no mesmo período de 2007, apesar do fim da
CPMF. Só em setembro, foram recolhidos R$ 55,6 bilhões, novo recorde.
"Sabemos que muitas empresas vão enfrentar prejuízos porque fizeram negócios atrelados ao
dólar. Com certeza, esses prejuízos vão resultar em um crescimento menor de arrecadação [em
2009]. Não sabemos quais são os números, mas seremos afetados", diz Lina. "Pela análise de
todos os setores econômicos até setembro e pela injeção de investimentos do PAC [Plano de
Aceleração de Crescimento] era previsto para o ano que vem um retorno muito grande [para a
arrecadação]. Agora vamos ter de analisar novamente os números."
Em época de dificuldades financeiras, o recolhimento de impostos e tributos tende a cair, segundo
a secretária. "O que as empresas fazem quando entram em dificuldade é parar de recolher
impostos. Primeiro pagam funcionários e fornecedores. Se sobrar dinheiro, pagam os impostos",
afirma.
As medidas adotadas pelo governo federal e pelo Banco Central para injetar mais dinheiro na
economia e amenizar os efeitos da crise no país estão corretas, segundo avalia Lina. Tanto que a
Receita Federal mantém a previsão de arrecadar neste ano 7% mais do que no ano passado. "Não
acredito que a crise nos afete neste ano. Esperamos chegar em dezembro com a nossa meta de
arrecadação mantida, que é a de crescer 7% [sobre 2007]."
Em relação à concessão de novos benefícios fiscais a determinados setores da economia, a
secretária afirma que não devem ocorrer em momentos de dificuldades como esse. "Na época de
vacas gordas, pode se conceder benefícios porque a desoneração tem como ser compensada na
efetividade da arrecadação. Mas em momentos de maior dificuldade, não podemos olhar com
benesse a concessão de benefícios."
Mais mudanças
As mudanças na estrutura da Receita Federal vão se intensificar, segundo a secretária. "A
oxigenação vai continuar. Faço as escolhas, e elas vão continuar com base na análise dos
currículos e do perfil das pessoas, que também são sabatinadas por mim, pelo ministro [Mantega]
e pelo secretário executivo [Nelson Machado]."
Sobre as críticas de que os sindicalistas chegaram ao poder na Receita nessa nova gestão, Lina,
que assumiu a chefia do órgão em julho, diz: "Somos todos concursados. Não interessa a que
partido político as pessoas pertencem. E não é novidade [ter sindicalistas] na casa. Nas gestões
anteriores também havia pessoas que passaram por sindicatos."
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DA REPORTAGEM LOCAL
A Receita Federal vai criar câmaras setoriais com o objetivo de discutir com os contribuintes
problemas que atinjam os setores, como a informalidade ou uma legislação que possa não ser
adequada.
"Estamos viabilizando a construção dessas câmaras para resolver problemas setoriais, com a
participação de representantes da Receita e das empresas. Do lado de cá, eu tenho a visão
técnica e olho na arrecadação. Do lado de lá, existe a visão dos problemas inerentes à
determinada atividade. Então optamos por fazer uma parceria para dar resultados", afirma Lina
Vieira, secretária da Receita Federal.
As câmaras, segundo a secretária, poderão ser formadas por determinação da Receita ou por
demandas dos próprios setores. "Se a Receita vê necessidade em debater o problema da
informalidade em determinado setor, formaremos a câmara."
Lina afirma que já recebeu pedido de formação de câmara do setor de papel e celulose, que quer
discutir alteração em legislação. "Não queremos mais criar legislação para ter litígios." (FF e CR)
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FÁTIMA FERNANDES
TONI SCIARRETTA
DA REPORTAGEM LOCAL
Ao menos quatro bancos brasileiros passaram a pequenos empresários o complexo modelo de
financiamento atrelado à variação da taxa de câmbio (derivativos cambiais) que resultou em
prejuízos bilionários a grandes companhias do país.
Pouco antes de o dólar disparar, esses bancos resolveram testar com pequenas empresas um
programa piloto que previa o financiamento de capital de giro com juro mais baixo, porém, atrelado
a um risco cambial até então subestimado.
A operação, que deu bons ganhos a grandes empresas enquanto o dólar caia, é semelhante a
aquelas que deram prejuízos bilionários a gigantes exportadoras, como Sadia e Aracruz, só que
com valores menores. Com a alta do dólar, a dívida dessas empresas disparou e a discussão em
torno desses prejuízos -em alguns casos- vai acabar na Justiça.
Alegando desconhecer o risco que corria, a Damarfe Produtos Químicos, uma fabricante de
produtos para piscinas de Diadema (SP), decidiu recorrer à Justiça para cancelar um contrato
firmado com o Banco Itaú, em 15 de agosto deste ano, que já lhe trouxe uma dívida vencida de R$
95 mil em razão da alta do dólar. Até abril de 2009, a empresa tem dívida a vencer de R$ 230 mil.
João Resio, proprietário da empresa, acusa o banco de ter lhe oferecido um modelo de
financiamento que não era compatível com o porte financeiro de sua empresa -ele fatura R$ 500
mil mensais- e que o banco não lhe explicou claramente que o negócio era complexo e atrelado à
variação do dólar.
A Folha apurou que outras três empresas um pouco maiores do que a Damarfe fizeram o mesmo
tipo de financiamento - com risco cambial- com outros três bancos. Esses clientes preferiram não
expor seus nomes e os dos bancos porque ainda tentam resolver o caso por meio de negociação.
Pelo contrato assinado pela Damarfe, a empresa conseguiria como benefício a redução da taxa
mensal de juro de 1,9% para 1,6% para descontar em média R$ 400 mil mensais em duplicatas
-modalidade de crédito em que o banco adianta para a empresa o dinheiro de suas vendas a
prazo.
Em contrapartida, a empresa se comprometeria a cobrir cada centavo de parte do montante
emprestado -convertido em dólar-, caso a moeda americana passasse de R$ 1,71.
"Entendi que o banco tinha me oferecido um refinanciamento, que reduzia meu juro. Do dia para a
noite descobri que tinha uma dívida de cerca de R$ 95 mil com o Itaú por conta da alta do dólar. Aí
fui ver que o contrato, que tinha assinado no dia 15 de agosto era igualzinho ao feito pelas gigantes
Aracruz, Sadia e Votorantim. Isto é, sem eu saber de nada, o banco me induziu a assinar um
contrato, dizendo que era bom negócio para mim, sem me explicar que estava atrelado ao dólar.
Quero agora o cancelamento do contrato."
Sem saber, segundo o dono da Damarfe, a empresa se comprometeu a vender ao banco o "direito"
de comprar cerca de US$ 650 mil -ele afirma que o valor foi estipulado pelo banco- em seis
contratos com quatro diferentes datas de vencimento (14 de outubro, 15 de dezembro, 11 de
fevereiro e 13 de abril) a R$ 1,71 e a R$ 1,72, independentemente de quanto estivesse o dólar no
período, como consta no contrato.
Por esse "direito", o banco pagou à empresa seis prêmios -de pouco menos de R$ 8 mil- no
momento da assinatura do contrato. Esse crédito servia para abater o volume de juros pagos, daí a
redução da taxa final do financiamento.
A operação funcionava bem para o cliente se o dólar ficasse abaixo de R$ 1,71. Abaixo desse
valor, o banco não exerceria o direito de comprar a moeda, pois poderia adquiri-la a um preço
menor de qualquer um no mercado. Mas se o dólar subisse, o cliente teria de cobrir cada centavo
que passasse do valor estipulado. Foi o que aconteceu, no dia 14 de outubro, data dos dois
primeiros vencimentos de US$ 96.175 e de US$ 115.473,71 vendidos a US$ 1,71 cada unidade.
Naquele dia, o dólar estava em R$ 2,16, e a empresa teria de cobrir R$ 95.240. Não cobriu e ficou
inadimplente. Se quisesse desfazer a operação como um todo, naquele dia, deveria desembolsar
R$ 328.458,50.
Resio diz que há cerca de cinco anos tinha um bom relacionamento com o gerente de uma agência
Itaú em Diadema, onde fica sua empresa, e que a relação de confiança era tão sólida que fez com
que ele assinasse o contrato até sem ler.
O cliente do Itaú diz que o negócio com o banco era apenas para desconto de duplicatas da ordem
de R$ 400 mil por mês. Isto é, ele tinha esse valor de crédito a receber dos clientes, e ia
adiantando no banco e rolando essa dívida com juros mensais da ordem de 1,9%.
Carlos Alberto Barsotti, advogado da Damarfe, diz que teve de fazer um curso para "tentar
entender" a operação de financiamento que o cliente fez. Após conhecer melhor o problema em
que o empresário se envolveu, Barsotti afirma que a operação só faria sentido se a empresa fosse
exportadora e tivesse receita em dólares, como tinham Sadia e Aracruz.
""Ele [o cliente] estava na ponta errada. Meu cliente é importador. Se tivesse de fazer uma
operação que envolvesse taxa de câmbio teria de comprar dólar [a um preço fixo], como fez o
banco. Quando o dólar subiu, ele perdeu tanto com o preço dos produtos importados quanto com a
dívida. Esse é um contrato de derivativos que só pode ser feito e entendido por grandes empresas.
Um banco jamais pode oferecer uma operação tão complexa a um pequeno empresário. Vamos à
Justiça para pedir o cancelamento", diz. O advogado estuda também pedir uma indenização para o
cliente, que está inadimplente.
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DA REPORTAGEM LOCAL
O Banco Itaú afirma que o contrato feito com a Damarfe Produtos Químicos foi assinado pelo dono
da empresa João Resio, que sabia do risco da operação, tanto que recebeu várias simulações de
como ficaria sua dívida em decorrência da variação do dólar.
Para o Itaú, a Damarfe não é considerada um cliente de pequeno porte e sem conhecimento de
risco cambial. O banco informa que a empresa faz importação de produtos químicos e que,
portanto, conhece o risco cambial e financeiro aos quais o seu negócio está submetido.
O Itaú afirma que enviou por e-mail, no dia 15 de agosto, 20 simulações diferentes do
comportamento da dívida de seu cliente para cenários com o dólar cotado a R$ 1,61 até R$ 1,81.
Afirma ainda que mantém a gravação de todos os contatos telefônicos que teve com o cliente e
que poderá utilizar essa gravação em sua defesa se o caso for levado à Justiça.
O banco diz também que os mesmos clientes que hoje reclamam da operação cambial ficaram
calados quando essas mesmas operações trouxeram lucros, como aconteceu nos quatro anos em
que a cotação do dólar teve trajetória descendente em relação ao real.
"Todas as operações de crédito passam por nosso comitê de risco, que analisa inclusive a
capacidade de pagamento do cliente", afirma o banco por meio de nota.
O Itaú informa que fechou esse tipo de contrato firmado com a Damarfe com pouco mais de 300
empresas que participam do chamado "middle market" e que cerca de 300 dessas empresas estão
"exercendo a operação" (estão pagando as dívidas) por conta da alta do dólar -isto é, estão em
negociação com o banco.
O banco afirma que "oferece produtos de derivativos" de várias naturezas aos clientes, procurando
atendê-los em suas necessidades de "hedge" [proteção], em função das características de suas
atividades.
"A aprovação do crédito para uma operação de derivativos é submetida à comissão de crédito do
banco, que analisa a capacidade de o cliente liquidar o contrato, inclusive em situações de
estresse. As operações efetuadas junto a clientes são imediatamente neutralizadas junto à BM&F,
de modo a eliminar os riscos de mercado", afirma o Itaú em nota.
"Essas operações são ofertadas e vendidas aos clientes com total transparência, dando-lhes todas
as informações necessárias através de materiais explicativos, simulações, visitas, a fim de que
tenham a clara noção dos riscos. Os clientes encontram nestas operações importante instrumento
para a redução de custos em seus financiamentos", diz o banco.
(TS e FF)
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DA REPORTAGEM LOCAL
O desconhecimento dos riscos alegados por empresas de diferentes portes que tiveram prejuízo
em operações com derivativos de câmbio reacende a discussão sobre a auto-regulação e o
aperfeiçoamento de regras para financiamentos oferecidos pelos bancos.
Entidades do mercado discutem como criar incentivos para que os produtos financeiros disponíveis
sejam oferecidos de acordo com as necessidades de cada cliente. No caso da proteção cambial,
uma das propostas é que seja oferecida à empresa que realmente está exposta a esse risco, como
exportadores e importadores.
Desde o ano passado, a CVM (Comissão de Valores Mobiliários) discute internamente e com o
mercado como criar regras para a adequação de produtos oferecidos aos investidores. A idéia
proposta em consulta pública é que, por exemplo, os gerentes de bancos só ofereçam fundos de
investimento a clientes que tenham condições de compreender o risco envolvido.
Pela proposta, por exemplo, o gerente teria de ter a sensibilidade para não estimular que um
cliente idoso entre em um fundo que só se torna interessante no longo prazo, dadas as regras
tributárias.
"Se sentirmos a necessidade de criar regras de adequação para produtos com derivativos, vamos
abrir uma nova consulta pública", diz Waldir Nobre, superintendente de relações com o mercado da
CVM.
A Folha pediu para alguns advogados analisarem o contrato feito entre a Damarfe e o Banco Itaú
na operação que envolve risco cambial para avaliar se o contrato é claro e adequado ao tamanho
da empresa.
"O contrato é extremamente confuso e não esclarece que há lastro em dólar, menciona apenas
que é "um contrato cujos títulos derivam de outros contratos ou títulos", o que permite vincular o
contrato a empresas desconhecidas. O Código de Defesa do Consumidor proíbe práticas como
essa", afirma o advogado Paulo Bonadies.
Na sua avaliação, "o contrato demonstra desequilíbrio entre as partes, principalmente porque é de
crucial entendimento que um pequeno empresário, que não é aplicador e não exporta nem importa,
não tem pleno conhecimento do risco desse mercado", afirma.
Luciane Brandão, da Saddi Advogados, também vê desequilíbrio entre os ganhos que ambas as
partes teriam como argumento em defesa dos empresários. Diz que, enquanto o empresário tem
seu ganho limitado a um prêmio, o banco pode ter ganho infinito dependendo da variação cambial.
"Esses clientes desconheciam a extensão do problema. O risco máximo de pagamento a que os
bancos contratantes estão expostos é prefixado e limitado, já o da empresa é ilimitado."
Para José Eduardo Carneiro Queiroz, sócio do escritório Mattos Filho, que atende a bancos,
dificilmente a Justiça vai acolher o questionamento de empresas que assinaram contrato e agora
alegam desconhecer o risco. "Se tivessem ganho, iam questionar também? Dizer que, no Brasil, o
câmbio não varia não é razoável."
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AGNALDO BRITO
DA REPORTAGEM LOCAL
O Porto de Santos vai dobrar de tamanho. A Codesp (Companhia Docas de São Paulo) aguarda a
assinatura de um decreto presidencial que vai ampliar dos atuais 7,7 milhões para 15 milhões de
metros quadrados os limites do maior porto do país, responsável por 25% do comércio exterior
brasileiro. A minuta do decreto já passou pela Antaq (Agência Nacional de Transportes Aquaviários)
e pela SEP (Secretaria Especial de Portos) e aguarda a assinatura do presidente Lula.
A estratégia faz parte do plano federal de elevar de 100 milhões para mais de 200 milhões de
toneladas a capacidade movimentação de carga em Santos, uma boa parte dessa expansão feita a
partir de novos terminais de contêineres.
Hoje, dentro da área do porto organizado existem só duas áreas remanescentes com ocupações
irregulares.
Desde a última quarta-feira, a Codesp, a SEP e técnicos do BID (Banco Interamericano de
Desenvolvimento) iniciaram as discussões para a elaboração de um novo plano diretor de
investimentos. Faz parte desse plano a elaboração de um novo modelo de contrato de
arrendamento que será aplicado aos novos projetos licitados e aos atuais a partir das revisões
qüinqüenais previstas hoje, conforme antecipou a Folha.
A expansão geográfica do porto também corrige um problema. O mega projeto Barnabé-Bagres,
em fase de estudo pelos grupos Santos Brasil e Libra, está cerca de 80% fora dos limites do porto
organizado, delimitado pelo paralelo 23.
"O decreto irá delimitar os limites do porto de Santos, que é hoje definido apenas por duas
paralelas. Precisamos ter as linhas poligonais para fechar a área do porto", explicou José Roberto
Serra, presidente da Codesp.
Com a definição das novas coordenadas geográficas, a União passará a deter o direito para
desenvolvimento do porto sobre áreas privadas, com a publicação de decretos de desapropriação
conforme a necessidade.
Roberto Serra disse ainda que o aumento da área de influência do porto de Santos agregará novos
espaços para o desenvolvimento de terminais retroportuários, hoje inviáveis nos espaços
localizados às margens do canal de navegação.
A idéia da Codesp é a de utilizar por exemplo os canais fluviais na região para escoamento de
bens. "Podemos ampliar o canal de navegação desses canais e fazer com que embarcações
menores alimentem os terminais principais", afirmou. Isso reduziria, segundo avaliou, o tráfego de
caminhões nas vias próximas ao cais.
Reforma
A revisão dos contratos de arrendamento e a expansão do porto fazem parte de um plano de
reestruturação da Codesp. A Companhia Docas de São Paulo é a maior em administração
portuária no país e possui hoje passivo reconhecido e não reconhecido de R$ 880 milhões.
Em ações civis e trabalhistas, a dívidas estimada da Codesp é de R$ 180 milhões. Há cerca de
dois meses, o Portos, fundo de pensão criado ainda pela Portobrás, cobra hoje da Codesp uma
dívida de R$ 700 milhões.
A empresa havia reconhecido R$ 90 milhões, conta que está sendo paga em parcelas de R$ 3
milhões por mês. A nova conta está sob auditagem encomendada pela Codesp, mas o
reconhecimento de uma dívida dessas dimensões quase que inviabiliza a companhia.
Hoje, a Codesp tem receita de R$ 500 milhões por ano. Além de encontrar uma solução para esse
passivo, a empresa quer renegociar um crédito de R$ 500 milhões que possui com operadores
portuários.
A empresa tem planos de abrir o capital em até um ano e meio. Seria a primeira companhia docas
com ações em bolsa.
Demissão incentivada
A Codesp prepara ainda um PDI (Plano de Demissão Incentivada) para reduzir em 400 o número
de funcionários. A maior parte desse contingente é formada por servidores em condições de
aposentadoria. O incentivo financeiro para que se aposentem ainda não foi definido, disse Roberto
Serra. Hoje, a Codesp tem 1.400 funcionários. Depois da saída desse grupo, a Codesp pretende
lançar um concurso público.
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DA REPORTAGEM LOCAL
A SEP (Secretaria Especial de Portos) deve adotar modelagem híbrida para licitar os novos portos
que serão construídos e operados pela iniciativa privada. A idéia é usar critérios como menor tarifa
de serviços, maior valor de outorga pago ao poder concedente e performance do terminal.
"Pode ser a mistura dessas coisas", disse Pedro Brito, o ministro dos Portos.
Brito quer ter a modelagem concluída até o final deste mês. Ao contrário da expectativa do
mercado -que avaliava que as primeiras concessões só sairiam depois da conclusão do plano de
outorga-, Brito disse que tem compromisso de fazer as primeiras licitações no primeiro trimestre de
2009. Segundo ele, o mercado não precisa esperar o plano de outorga que será elaborado pela
Antaq (Associação Nacional de Transportes Aquaviários).
Brito citou que o grupo Triunfo -o mesmo que arrematou o corredor da Ayrton Senna/Carvalho
Pinto no leilão de rodovias de São Paulo na semana passada-, tem um projeto para construção de
porto privado em Santos. Pelas novas regras, a área terá de ser licitada.
Isso significa que se o grupo Triunfo oferecer o projeto para licitação terá de concorrer para ganha-
lo. Se perder terá a área desapropriada para a exploração do consórcio vencedor. Brito não
acredita que essa situação vá afastar interessados. (AB)
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Risco
Para Eid Júnior, em fundos de investimentos não há com o que se preocupar, porque não existe
risco de crédito.
Em caso de quebra da instituição financeira, os cotistas elegem um novo administrador para seguir
em frente.
"No meio da crise é melhor não se mexer. O investidor de classe média não consegue se antecipar
a certos movimentos, como à cota negativa [dos fundos]. Não deve sair; quem fica no fundo,
recupera a diferença. No pânico, os ativos estão mal precificados. Imagine como está quem
comprou dólar a R$ 2,50 há poucos dias", diz.
Num fundo, o que precisa ser analisado com atenção por quem aplica é onde o fundo investe. "Os
cotistas de um fundo correm o risco dos ativos que compõem as carteiras dos fundos e, não, o
risco das empresas", afirma Márcia Dessen, da consultoria BankRisk. "O gestor presta o serviço de
gerir os recursos financeiros do investidor, por sua conta e risco (do investidor)."
Quem aplica deve observar o "mandato" do contrato, o regulamento do fundo, mas é dever do
investidor monitorar essa gestão e entender o que está sendo feito com seu patrimônio. A
composição detalhada da carteira dos fundos pode ser encontrada no site da CVM. Se for cotista
de um fundo FIC, o investidor deve procurar a carteira do FI. Além disso, pode pedir explicações ao
administrador do fundo.
"Não deve fazer disso uma exercício de fiscalização no sentido de procurar riscos não autorizados
ou ainda, fazer disso uma preocupação diária", diz Dessen.
"O monitoramento da carteira deve ser feito com uma freqüência que deixe o investidor confortável
à medida que percebe que o gestor está fazendo o que é pago para fazer. Ou o investidor acha
que o administrador sabe fazer melhor do que ele sozinho e permanece na carteira ou transfere
seus recursos para um fundo mais adequado ao seu perfil e objetivos, ou ainda, gerencia sua
própria carteira pessoalmente."
Outras aplicações
No caso de outras aplicações ou conta corrente, caso o banco quebre no exterior, "credor de um
banco estrangeiro é credor aqui e lá. O risco é o mesmo", afirma Dessen.
"Pode acontecer de outro banco se interessar por comprar a operação desse banco estrangeiro no
Brasil e seguir em frente, como ocorreu com o Itaú que comprou a operação do antigo BankBoston
no Brasil, por outras razões."
No caso de falência da instituição financeira, a perda com dinheiro em conta corrente, caderneta de
poupança e CDBs (Certificado de Depósito Bancário), dentre outras aplicações tem cobertura do
Fundo Garantidor de R$ 60 mil por CPF ou CNPJ.
Fundos não têm essa garantia porque podem ser transferidos para outro administrador.
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DA ASSOCIATED PRESS
O governo português anunciou ontem a nacionalização de um dos menores bancos do país, o
Banco Português de Negócios, devido a perdas de cerca de 700 milhões na crise financeira. O
governo decidiu ainda oferecer uma linha de crédito adicional de 4 bilhões aos bancos
portugueses.
Na Alemanha, o Deutsche Bank voltou a dizer que não usará recursos do pacote de socorro de
Berlim aos bancos, de 500 bilhões.
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FABRICIO VIEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL
Quem observar a redução no volume financeiro movimentado na Bovespa pode ficar com a falsa
impressão de que a crise esfriou os negócios. O que tem ocorrido é exatamente o contrário: nunca
houve tantos negócios na Bovespa quanto no mês de outubro.
A média de 337,4 mil transações feitas por dia registrada em outubro nunca tinha sido atingida
antes. O resultado do mês é 40% superior à média do ano. Em 2007, o melhor mês foi novembro,
com 202,4 mil.
Com uma crise aguda que já fez a Bolsa de Valores de São Paulo acumular cinco meses seguidos
de perdas, os investidores têm elevado o número de operações que realizam por dia, na tentativa
de conseguirem algum lucro durante o pregão.
Se até o primeiro semestre deste ano era mais fácil obter resultados positivos no mercado
acionário, agora quem não quer amargar passivamente as sucessivas quedas que têm abatido as
ações de forma generalizada tem tentado comprar e vender papéis no mesmo dia, em busca de
conseguir um retorno mais vantajoso.
É o crescimento dessas operações de "day-trade" (como são chamadas as negociações de
compra e venda no mesmo dia) que têm ajudado a inflar o número de negócios diários.
Com o crescimento diário, outubro também foi o mês com o maior número total de negócios
registrados, ao bater em inéditas 6,5 milhões de transações. Se a cifra computada apenas em
outubro for comparada a outros períodos dá para se ter uma idéia de como a movimentação na
Bolsa de Valores cresceu: em todo o ano de 2004, por exemplo, houve 7,8 milhões de operações
realizadas.
"Com a Bolsa altamente volátil, crescem as oportunidades de se ganhar no "day-trade". Os
investidores têm girado muito mais por dia na tentativa de conseguir resultados melhores nesse
momento de crise", diz Luiz Antonio Vaz das Neves, analista da KNA Consultores.
O momento crítico que tem abatido o mercado acionário acaba elevando o trabalho de muitos
gestores, que tentam melhorar o retorno de suas carteiras para inibir os saques de recursos por
parte dos investidores insatisfeitos com o andamento nada animador da Bolsa. Para muitos fundos
multimercados, que podem aplicar parte de sua carteira em ações, a história é a mesma.
O que esses profissionais buscam é comprar uma ação pelo seu menor valor e tentar repassá-la,
no mesmo pregão, pelo preço mais alto possível. A oscilação da ação ON (ordinária) da Vale é um
bom exemplo de o porquê os investidores fazem operações de "day-trade".
Na sexta, entre a cotação mínima (R$ 26) e a máxima (R$ 28,53) atingida pelo papel da Vale,
houve uma diferença de 9,73%. E a ação encerrou o pregão com alta de apenas 2,15%. Como os
preços das ações estão oscilando de forma bastante expressiva nas últimas semanas, não faltam
exemplos de como isso está ocorrendo na Bolsa de Valores todos os dias.
"Mas essa volatilidade é boa apenas para os profissionais. É muito arriscado para o pequeno
investidor querer começar a lucrar dessa forma. É mais fácil acabar perdendo do que ganhando",
afirma Neves.
Para o pequeno investidor, o melhor talvez seja nesses momentos ariscos deixar o dinheiro que
está aplicado em ações quieto por um bom tempo.
"O que o investidor deve fazer é investir um pouco de cada vez, mas com regularidade. Há muitas
oportunidades na Bolsa. De um modo geral, muita empresa com bons fundamentos se depreciou
de forma exagerada", diz Théo Rodrigues, diretor-geral do INI (Instituto Nacional de Investidores).
Se o mês passado foi de recorde no número de negócios, o volume financeiro sofreu uma queda
para cerca de R$ 5,3 bilhões por pregão. Em maio, o mês em que o giro foi o maior da história,
essa cifra ficou em pouco mais de R$ 7 bilhões.
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DA REPORTAGEM LOCAL
A expansão recorde dos negócios na Bovespa tem ocorrido junto a um momento de pico em sua
volatilidade. Com as oscilações bruscas que o mercado acionário internacional tem sofrido e a
tentativa dos investidores em conseguir lucrar neste momento de crise, a intensidade do sobe-e-
desce das ações chegou a níveis dificilmente imaginados há não muito tempo.
O índice de volatilidade do Ibovespa no mês passado atingiu os 111,9%. No primeiro semestre,
esse índice rondava os 35%. Esse indicador mostra a intensidade e a freqüência das oscilações
nos valores das ações e é medido pela BM&FBovespa. Quanto mais elevado fica, maior são as
dificuldades em prever retornos e fazer investimentos nas ações.
Se for considerado um período mais longo, de um ano, por exemplo, o índice se reduz muito,
ficando em 48,9%. Em outras palavras, o mercado acionário está muito mais imprevisível e
arriscado.
"A volatilidade elevada justifica o atual aumento no número de negócios realizados. Nesses
momentos de grande volatilidade, em que o mercado perde as referências, é mais fácil que as
operações acabem crescendo mesmo", afirma Fausto Gouveia, analista financeiro da Win -"home
broker" da Alpes Corretora.
O pior para o pequeno investidor é que os analistas não esperam que esse cenário se altere tão
cedo. A crise internacional ainda parece distante de encontrar seu fim e a Bovespa já mostrou que
não está isolada da cena externa. (FABRICIO VIEIRA)
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DA REPORTAGEM LOCAL
Os primeiros dias da semana tendem a ser menos agitados, com a agenda de eventos econômicos
mais branda. Mas a quinta e a sexta prometem esquentar os mercados, com a decisão dos juros
na Europa e os dados de emprego nos EUA.
Apesar de outubro ter sido um mês bastante ruim para as Bolsas de Valores pelo mundo, a
semana passada foi de recuperação nos mercados acionários. Para a Bovespa, a desvalorização
de outubro, que ficou em 24,8%, foi a maior em um mês desde 1998.
Na última quarta-feira, o Fomc (comitê do BC americano que define os juros) decidiu reduzir a sua
taxa de referência de 1,5% para 1% anuais. No mesmo dia, o Copom (Comitê de Política
Monetária do BC brasileiro) optou por manter os juros básicos brasileiros em 13,75% ao ano.
Nesta quinta-feira será a vez de o Banco da Inglaterra decidir o que fará com sua taxa básica, que
está em 4,5% -o mercado espera que seja reduzida para 4%. No mesmo dia, o BCE (Banco
Central Europeu) se reúne para tomar sua decisão. Os investidores projetam que a sua taxa vai ser
cortada de 3,75% para 3,25%.
Na sexta, investidores e analistas vão se deparar com os dados do mercado de trabalho norte-
americano. Com a economia desaquecida, há expectativa de que a taxa de desemprego nos EUA
tenha subido de 6,1% para 6,3%.
"Ainda é cedo para falar em reversão de tendência, mas de fato o mercado parece estar mais
calmo e começa a olhar para os fundamentos. Mas ainda esperamos uma semana bastante
agitada por conta da série de indicadores previstos, especialmente os que se referem à atividade
nos EUA", afirma Rossano Oltramari, sócio-diretor da XP Investimentos.
Em todos os dias da semana haverá dados da economia americana para serem divulgados. A
seqüência de eventos trará resultados da indústria, de gastos com construção, de produtividade e
de crédito ao consumidor.
Já o instituto ISM vai apresentar sua pesquisa sobre o desempenho dos setores de serviços e
industrial.
Na semana passada, o governo americano divulgou que o PIB (Produto Interno Bruto) do país
apresentou recuo de 0,3% no terceiro trimestre, queda menor que a esperada pelo mercado, que
era de uma retração de 0,5%.
Os dados dos estoques no atacado americano em setembro, que vão ser apresentados na sexta,
fecham a agenda.
Inflação
Para o Brasil, o dia mais relevante é a sexta-feira, quando será apresentado o IPCA (Índice de
Preços ao Consumidor Amplo) de outubro. Esse indicador de preços é o utilizado pelo Banco
Central para monitorar a meta oficial de inflação. Dessa forma, para que o ciclo de elevações de
juros não seja retomado é importante que o IPCA não traga surpresas desagradáveis.
"Devemos ver uma aceleração da inflação nos próximos meses, dado que os impactos da
escassez de crédito sobre a atividade econômica devem ocorrer de forma mais lenta do que os
impactos da depreciação do real sobre a inflação", diz Maristella Ansanelli, economista-chefe do
banco Fibra.
"Em um horizonte de médio prazo, no entanto, acreditamos que os efeitos da depreciação do real
sobre a inflação devem ser limitados, e em grande parte compensados pelos efeitos da escassez
do crédito sobre a atividade econômica", diz.
Na semana passada, foi divulgado que o IGP-M ficou em 0,98% em outubro.
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DA REPORTAGEM LOCAL
A semana passada foi de recuperação para a Bolsa de Valores de São Paulo, que encerrou com
valorização acumulada de 18,34%. Mesmo assim, o resultado de outubro foi bastante
decepcionante: a Bovespa perdeu 24,8% no mês.
A melhora do mercado na semana foi sentida na maioria das ações que estão nas carteiras
sugeridas por instituições financeiras. Muitos dos papéis tiveram ganhos semanais superiores a
20%.
Considerando os 66 papéis que estão na composição do índice Ibovespa, houve 62 altas na
semana, 3 baixas e 1 ação fechou estável.
No topo das altas apareceram os papéis Itaúsa PN (ganho de 40,9%), Duratex PN (33,38%), banco
Itaú PN (33,14%) e B2W Varejo ON (33,01%). Já as que mais caíram na semana foram Telesp PN
(-7,26%) e Lojas Renner ON (-5,07%).
"Finalmente tivemos uma semana de recuperação. Depois de intensas perdas a Bolsa brasileira
deu sinais de recuperação nessa última semana de outubro. Nos mantemos confiantes quanto a
nossas convicções para o longo prazo", afirma Rossano Oltramari, sócio-diretor da XP
Investimentos. "Mas estamos convictos de que as empresas brasileiras apresentam fundamentos
sólidos e de que representam hoje uma boa oportunidade de investimento", completa.
A Bolsa sofreu seu quinto mês seguido de baixa. Com isso, passou a registrar queda de 41,68% no
acumulado do ano. Se for considerada a variação da Bolsa em dólar, a baixa é muito mais elevada,
ficando em 51,17% em 2008.
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DA REPORTAGEM LOCAL
A atual crise se tornou um grande teste para o POP (Proteção do Investimento com Participação).
Mas parece que o apelo desse produto financeiro, lançado pela Bolsa em 2007 com a promessa de
amenizar as perdas das ações, segue baixo.
Em um momento em que a Bolsa comemora um novo recorde no número de negócios realizados
no pregão -mais de 337 mil transações por dia-, o POP não alterou sua baixíssima movimentação.
O último balanço feito pela Bovespa mostrou que em setembro houve apenas dois negócios com
POP. Em agosto, foram feitas 34 operações. Segundo operadores, o mês de outubro continuou
bem fraco e não alterou essa realidade. O mês em que o produto foi mais negociado foi em sua
estréia, em fevereiro de 2007, quando teve 249 transações.
Até o primeiro semestre, a análise corrente era de que, como a Bolsa de Valores estava em um
movimento de contínua alta, o POP perdia seu principal gancho, que era o de amortecer as perdas
para os investidores.
Mas a Bovespa teve em outubro o seu quinto mês seguido de perdas. No mês, a desvalorização
acumulada pela Bolsa ficou em 24,8% -o que fez de outubro o pior mês em uma década.
"Acho o produto interessante, mas talvez seja sofisticado demais para atrair o pequeno investidor.
É um produto difícil de vender, pois não é simples de as pessoas compreenderem como funciona e
quais as vantagens que pode trazer", diz Luiz Antonio Vaz das Neves, analista da KNA
Consultores.
O POP se utiliza de sofisticadas operações de mercado -conhecidas como opções- para diminuir o
impacto das quedas das ações. O investidor que contrata um POP protege uma parcela, algo entre
70% e 80%, de sua aplicação de eventuais desvalorizações.
Um investidor que compra um papel da Petrobras e ele cai, hipoteticamente, 30% em um mês terá
de aceitar essa depreciação no bolso. Se o investidor, em vez de ter comprado diretamente a ação,
tiver adquirido um POP de Petrobras terá uma parcela de seu capital protegido. Com isso, não
sofrerá no bolso a totalidade daquela perda de 30% exemplificada.
O custo do produto financeiro é sentido quando o mercado sobe. Nesse cenário, a pessoa tem de
ceder uma parcela de seu ganho para o investidor que vendeu o POP para ele. (FABRICIO
VIEIRA)
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LUIZ CARLOS BRESSER-PEREIRA - Nova Bretton Woods
NOS PRÓXIMOS dias os líderes políticos e econômicos dos grandes países reunir-se-ão para
discutir uma nova Bretton Woods, ou seja, uma nova arquitetura e um sistema de regulação mais
rigoroso para o sistema financeiro mundial. Aproveitarão também para repassar as medidas que já
tomaram para garantir a solvência e para aumentar a liquidez dos bancos.
Nesse ponto, o essencial já foi decidido e está sendo implementado: a recapitalização dos bancos.
O crédito, porém, está demorando a ser restabelecido, dada a natural desconfiança dos bancos em
relação às demais empresas. Nos Estados Unidos, o Fed vem se encarregando de agir nessa
direção; no Brasil, o BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) já revelou
essa disposição, embora aqui o problema dos grandes bancos não seja grave.
Entrementes as previsões quanto às conseqüências reais da crise estão se agravando. O
JPMorgan prevê para 2009 queda de 0,5% no PIB dos países ricos e crescimento de 4,2% no dos
emergentes. Para o Brasil, as previsões estão tendendo para 2%. Nouriel Roubini fala em estag-
deflação. Embora não tenha dúvida quanto à recessão dos países ricos e à diminuição das taxas
de crescimento dos emergentes, creio haver excesso de pessimismo. No momento em que as
medidas que estão sendo tomadas fizerem efeito -e farão- deixará de haver motivo para a retração
violenta da atividade econômica que está sendo prevista.
Como aconteceu em 1929, a crise financeira terá conseqüências reais, mas não serão tão graves
porque, ao contrário do que ocorreu naquela época, os governos agora agiram com rapidez e
competência para enfrentá-la. Deverão, adicionalmente, tomar medidas fortes para neutralizar a
natural contração real da demanda. Medidas dessa natureza começaram a ser tomadas ainda pelo
governo Hoover depois de 1929, mas eram tímidas; as políticas mais fortes vieram com Roosevelt,
mas em 1933 o desastre já estava feito.
O que constituirá uma nova Bretton Woods em vez de meros remendos à desgovernança montada
desde 1971? Nessa questão, é preciso diferenciar o crédito interno a empresas do crédito externo
a países para cobrir déficits em conta corrente. No crédito interno, o essencial é uma regulação
muito maior sobre os bancos de varejo, ao mesmo tempo em que se tomem medidas duras para
reduzir a desintermediação financeira -ou seja, a concessão de crédito por agências que não são
bancos comerciais. É necessário também limitar os bônus dos agentes financeiros, porque são
uma causa maior de especulação irresponsável.
No plano internacional, o fundamental é limitar o crédito dado aparentemente a empresas, mas
que, na verdade, financia déficits em conta corrente. Em Bretton Woods não havia essa
preocupação, e o Banco Mundial foi criado para viabilizar déficits em conta corrente ou
"crescimento com poupança externa".
Recentemente, ficou afinal claro que os países não crescem com poupança externa, mas com um
bom sistema de crédito interno e com suas próprias poupanças. Os déficits em conta corrente são
apenas causa de substituição da poupança interna pela externa, e por crises do balanço de
pagamentos. A agência internacional que substituir o FMI (Fundo Monetário Internacional) deverá
ter como uma de suas atribuições principais alertar publicamente os países que ultrapassarem o
limite, a ser convencionado internacionalmente, de déficit em conta corrente.
LUIZ CARLOS BRESSER-PEREIRA , 74, professor emérito da Fundação Getulio Vargas, ex-
ministro da Fazenda (governo Sarney), da Administração e Reforma do Estado (primeiro governo
FHC) e da Ciência e Tecnologia (segundo governo FHC), é autor de "Macroeconomia da
Estagnação: Crítica da Ortodoxia Convencional no Brasil pós-1994".
Internet: www.bresserpereira.org.br
lcbresser@uol.com.br
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MERCADO ABERTO
GATILHO
A Nossa Caixa transferiu R$ 168 milhões ao FGC (Fundo Garantidor de Crédito). O valor será
descontado do montante do compulsório sobre depósitos à vista recolhido pelo banco, de acordo
com a nova norma do BC para ampliar a liquidez do mercado financeiro.
PANO DE FUNDO
As vendas do segmento de cama, mesa e banho caíram 2% em outubro, ante setembro, segundo
o Sindicato do Comércio Atacadista de Tecidos de SP. Segundo Arinos de Almeida, presidente da
entidade, isso ainda não é conseqüência da crise, mas serve de alerta. "O setor deve sentir queda
mais forte dos negócios após janeiro."
JURÍDICO
Os ministros Gilmar Mendes e Cezar Peluso, do STF, participam do Encontro Faap-Juris, dia 7, no
lançamento dos cursos jurídicos de pós-graduação e extensão oferecidos pela Faap.
SAÚDE BARATA
Os planos de saúde têm custo-benefício ruim se comparados a outros setores, segundo estudo da
CVA Solutions, empresa de pesquisa de mercado e consultoria. A pesquisa abordou 4.000 usuários
de 33 planos. Na opinião dos clientes, a nota atribuída aos planos de saúde é 6,69 -inferior à da
indústria de eletrodomésticos (9,28) e de hotéis (8,03). Entre os usuários, 53% têm plano de saúde
pela empresa onde trabalham. Cerca de 70% têm de 30 a 54 anos e 50% ganham de R$ 2.000 a
R$ 6.500. Mais de 60% estão dispostos a aderir a programas de prevenção, como antitabagismo,
se fossem oferecidos pelos planos de saúde, desde que houvesse redução de mensalidades.
Neste caso, mais de 70% aceitariam iniciar tratamentos sempre pelo clínico geral e deixariam que
o plano de saúde tivesse acesso a seus exames.
NA LINHA
A Microcity, empresa de terceirização de infra-estrutura de TI, que compra ativos e financia o
cliente, vai ampliar suas operações de financiamento. Segundo Luis Carlos Nacif, diretor-geral, a
saída para manter o patamar de negócios na crise foi aumentar as linhas de financiamento que
oferece. "Não somos banco, mas fazemos operações financeiras para viabilizar a contratação de
equipamento, e como os bancos estão dificultando o crédito, resolvemos ampliar as linhas a outras
empresas que ainda não são nossas clientes", afirma. Nacif diz que tem sido procurado por
empresas que tiveram linhas de crédito canceladas ou suspensas por bancos.
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Painel
Leque de ofertas
A corte do PMDB a Aécio Neves não se limita à sugestão de que ele ingresse no partido para
disputar o Planalto. Em Minas, os peemedebistas viraram a página da eleição municipal, na qual
enfrentaram sem sucesso o candidato do governador em Belo Horizonte, e agora tentam atrair o
PSDB para a chapa do ministro Hélio Costa à disputa estadual. Raciocinam que Aécio carece de
um nome competitivo para a própria sucessão -não acreditam que ele venha a apoiar de fato seu
hoje parceiro Fernando Pimentel (PT).
Em troca, o PMDB sinaliza apoio ao projeto presidencial de Aécio, no PSDB ou fora dele. Segue,
assim, o roteiro do PMDB de São Paulo, que saiu da órbita lulista para se engajar na candidatura
de José Serra.
Terceiro turno 1. Documento pós-eleitoral assinado pela corrente petista Articulação em Minas
Gerais, dos ministros Patrus Ananias e Luiz Dulci, critica o "desrespeito do prefeito Pimentel e de
seu grupo à decisão do Diretório Nacional, fazendo aliança com o PSDB, compartilhando com os
tucanos o comando e a linha de campanha [de Marcio Lacerda, do PSB] e dando a Aécio Neves o
papel de líder de todo o processo".
Nada disso. De Pimentel, sobre o resultado em Belo Horizonte: "Foi uma vitória da militância do
PT. Alguns preferiram ficar de fora, mas a base do partido garantiu a eleição de uma chapa que, é
sempre bom lembrar, tem um petista como vice". Pimentel e Patrus disputam a vaga de candidato
a governador.
Império. Mesmo com uma dívida milionária, o PT traça planos ambiciosos para o ano que vem,
como parte da preparação para a campanha de 2010. Planeja uma escola de formação de
quadros, investimentos em informática e comunicação. Uma das idéias em estudo é criar emissora
de TV e de rádio para transmitir ao vivo pela internet.
Contracheque. Parte da Executiva petista tenta adiar a troca da direção do partido em 2009. Pelas
novas regras, cada integrante pode ficar no máximo dois mandatos de dois anos. Isso significa que
14 dos 21 integrantes, alguns deles há quase dez anos na Executiva, devem perder suas funções
-remuneradas.
Fora da ordem. Do presidente do Supremo Tribunal Federal, Gilmar Mendes, discorrendo sobre
direito de greve do funcionalismo em palestra, sábado, na Faculdade de Direito da USP: "Acho
muito estranho greve de gente armada". Referia-se à paralisação da Polícia Civil em SP.
No mercado 1. Enquanto Michel Temer (PMDB-SP) recolhe apoios na base do governo para
presidir a Câmara a partir de fevereiro, Ciro Nogueira (PP-PI) jantou na semana passada com o
presidente do DEM, Rodrigo Maia (RJ), e com o líder na Casa, ACM Neto (BA). Ouviu de ambos
que o apoio da bancada permanece "em aberto".
No mercado 2. A tendência do DEM é acompanhar o PSDB, seu parceiro mais que preferencial
para 2010, na eleição da Câmara. Os tucanos têm um pré-acordo com Temer, mas ainda
vulnerável a divisões na bancada.
Sob ataque. Embora gente graúda aposte que o presidente da Câmara paulistana, Antonio Carlos
Rodrigues (PR), tem força para se segurar no cargo na próxima legislatura, as bancadas do PSDB
e do PT começaram, tão logo surgiu a notícia de sua condenação pelo Tribunal de Justiça, a
investir na tese de que ACR "não deveria" seguir no posto. Com o clima desfavorável, o expoente
do "Centrão" resolveu sumir por uns dias.
"Lacerda é o puxa-saco de plantão. Ele parece não lembrar, mas foi pedir apoio ao DEM na reta
final de sua campanha em Belo Horizonte."
Do presidente do DEM, RODRIGO MAIA, sobre declaração do futuro prefeito da capital mineira,
que se considerou eleito por uma aliança de "centro-esquerda" (PSDB e PT), enquanto em São
Paulo venceu a "centro-direita" (tucanos e "demos").
Contraponto
Mão na taça
Quando o São Paulo ganhou o Campeonato Brasileiro, em 2007, o governo mandou confeccionar
uma taça para presentear o time durante comemoração no Morumbi.
Recém-empossado secretário de Comunicação, o tricolor Bruno Caetano convidou o chefe da
Casa Civil, Aloysio Nunes Ferreira, para fazer a entrega, mas ele declinou. Na seqüência, procurou
outros dois integrantes do primeiro escalão, que também pularam fora. Até que abordou o
secretário de Esportes, Claury Santos Alves:
-Parece que você também não vai poder ir, né?
-Pois é, vou viajar...-, respondeu, rindo, o colega, já informado da escalada de Bruno para
conseguir a missão.
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