. . n en ana de Matenais
Geraldo Cechella Isa.ia (Orgaruzad or/Eclitor)
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Capítulo 11
Nico/e P. Hasparyk
Fumas Centrais Elétricas S .A.
11.1 Introdução
Os materiais cerâmicos podem ser definidos como sendo materiais formados por
compostos de elementos metálicos (Al, Na, K, Mg, Ca, Si, etc.)2 e um dos cinco
seguintes elementos não-metálicos: O, S, N, C e P3. Esses elementos são unidos por
ligações fortes iônicas e/ou covalentes, conforme mostrado no Quadro 1.
Quadro 1 - Tipos de ligação nos materiais cerâmicos (adaptado de ANDERSON et ai., 1990).
· umco
*Foi considerado um tipo , · de ligaçao
· - quando esta representa pelo menos 70%da ligação total.
1 os autores agradecem a colaboraça-o dos Engs. Mário Sérgio Jorge dos Santos e Amália Silva na elaboração deste
capítulo. , .
?
·
ª ª
~ Elementos metálicos são aqueles à esquerda e ao centro d tªbe J pen·ódica' os quais têm. como caraotenstt
. al ca perder
. tal
facilmente os seus elétrons de valência (1 ou 2 na u'1tima
· camadª)·O si'lício pode ser
_ considerad
, o met,
. ou sem1me
b
e é um dos principais elementos constituintes dos matenais ceramicos de construçao· O Capitulo 6 discorre so re essa
• • A •
temática. . .
3 Elementos não-metálicos - grupo de átomos cujas últimas camadas estão quase completas, dispostos à direita na
tabela periódica.
326 O. Cascudo, H. Carasek e N. P. Haspa,yk
distribuição dos seus ânions que obedece a ~ arranjo cúbico simples; todavia,
quanto à distribuição dos cátions nos interst1c1os, percebe-se haver um arranjo
cúbico de faces centradas6 •
A maior parte dos materiais cerâmicos, contudo, não exibe ~struturas tão
simples e de descrição tão imediata como as comentadas no subltem anterior.
Askeland ( 1998) classifica esses arranjos cerâmicos mais complexos em quatro
categorias: arranjos da perovsquita, do coríndon, do espinélio e da grafita. A
seguir, são tecidas considerações sobre cada uma dessas estruturas .
o B,t Bário
o a2· o Oxigênio
Tt Titânio
o
Figura 1 - Estrutura da perovsquita - exemplo da célula unitária do BaTiQ3•
0
2
• O Oxigênio
AIJ+ o Alumínio
o a2· o Oxigênio
Aí' o Alumlnlo
Mg
2+
o Magnésio
e o Carbono
11.3 Silicatos
7 o Sl'l'.
1c10 e o oxigênio somam d 7501 d
cerca e ,o os elementos químicos da crosta terrestre.
Microestrutura dos Materiais Cer{imicos 331
Oxigênio
(b)
(a) . .
Figura 5 - Estrutura tetraédrica do silicato, carregada nega,l·l:amente·· a) visualização
d . • . externa; b) vista interna com o
silício posicionado no interst1c10 dos átomos e ox1gemo.
a) isolado
b) duplo
ricos
ncos
epara
ossilie
rnidad
se as
e) cadeia
d) anel e) folha
Fi~ 6 -~j_o_s estru~s dos tetrae~os de silicatos: a) ilha de ortossilicato (arranjo isolado do tetraedro): b)
ilha de prross1licato (urndades tetraédncas duplas); c) estrutura em cadeia: d) estrutura na forma de anel· e)
estrutura em folha, típica do argilomineral caulinita (ASKELAND. 1990). ·
• o
SI O
(b)
(a) ·
Figura 7 _ Estrutura trimimensional da sílica: a) cristobal1ta e
b) ·ru ·
tn mita.
9 É.
importante verificar essa caracterísf · d ,· d par
difração de ~ tr (MONTE ica por meio e análises petrográficas ou de uma forma mais refina a.
neu ons IRO et ai 2001) O b. · ·á 1
s
10 . . . ·• com O ~etivo de se prevenirem reações expansivas indeseJ ve ·
0 termo cnptocnstalino refere-se a uma t tu · , . tib oso
refere-se às fibras sub · . d ex ra conSlituida por cnstais extremamente pequenos, e o termo r1
llllcrosc6picas e quartzo.
MicroeSlrutura dos Materiais Cerâmicos 335
O 01 0,2mm
1
: 1 1 1_ it,1 =--~
_ a...._
Figura 8 - Micrografia de minerais de quartzo obtida por microscopia ótica: grãos apresentando extinção ondulante
(EO) e quartzo microcristalino (M). (cortesia Mariana Zuquim - IPI').
Quadro 3 - Classificação dos minerais silicatos das rochas (KLEIN; HURLBU T Jr., 1999).
- Ca(2)-
(a) Si o Ca (b)
Figura 9 - Estrutura do C3S do cimento Portland, com seus dois principais elementos (adaptada de LEA.l ,rm.
- -- .,.. ..
338 O. Cascudo, H. Carasek e N. P. Hasparyk
o
SI
oo
O Ca
Figura 10 - Estrutura da fase ~-C2S. com projeção ao longo do eixo b (adaptada de LEA,1970).
(a) (b)
Figura 11 - Fases silicatos do clínquer observadas por meio de microscopia ótica: a) alita representada por cristais
idiomórficos; b) belita, apresentando cristais arredondados (cortesia Yushiro Kihara -ABCP).
12 A ta - d araçoe-s por hífen indica que tanto a relação entre CaO e Si02 (C/S) como o
no çao esse composto com sep
conteúdo de água variam.
340 O. Cascudo, H. Carasek e N. P. Hasparyk
/,---
/ --- -=~
------~,
/ 1
,- 1
1 1
1 ~ 1
1 1
1
b
1
1
o --
1
1
1
1 1
: --J
L~ ____ ____ _ _[~
,... .....1
a
o
Ca OH Tetraedro
Sl(OpH)
(Independente)
H
1
o
/
H
'H
LIGAÇÕES POSSÍVEIS
H
PONTES ENTRE CAMADAS AO LONGO DAS CAMADAS
1.
1.
X 4. 5.
~
,,
~ Ca
2. H 'H 2.
~Chr/
4Ca-0-H 'o
H ,. H
/
3. 6
Figura 14 - Estrutura do C-S-H ilustrando as ligações entre e ao longo das folhas de silicatos e sua polimerização (RAMACHANDRAN; BEAUDOIN, 2001).
342 O. Cascudo, H. Carasek e N. P. Hasparyk
14 Fase - urna parte estruturalmente homogênea (mesma composição, estrutura e propriedades) de um sistema
-
( .)
o
.........
-E
101323
N
-1 atm
-
z
o ~a,
tCO
cn
cn
~
.
~
CT
e
a.. vapor
Temperatura (ºC)
Figura 16 - Outra fonna de representar o diagrama de fase pressão-temperatura para o sistema Si0 (ASKELAND).
2
-*-- -',U
~
...__
~
ffi
Q)
e:
1,5
1
--
.!_::quartz o
-
::s
~
Q)
:.:J
o
iro
C/)
e:
1,0
1/
a.
E
ro
~ 0,5 -~ ~~
Q) w V vidro
/
o 20o 400 600 800 1000
Temperatura (ºC)
Figura 17 - Expansão linear do quartzo e do vidro com O au mento da temperatura (ASKELAND, 1998).
!
refratário contém um microconstitumte de mmto bruxo ponto eutet1co de fusao e
jeitos à não é adequado para aplicações refratárias acima de 1600ºC , temperatura
ontendo freqüentemente necessária na produção de aços. No entant? , quando ~ande
~o cone quantidade de alumina é adicionada, com o aumento da quantidade de mulita na
!quartzo microestrutura do material, ocorre um aumento considerável na temperatura de
1zida pe fusão. Assim, conteúdos de alumina acima de aproximadamente 50% geram
r que, n
17 Complementarmente, para análise das quantidades de cada fase presente nesse diagrama, sugere-se a leitura de
Jastrzebski (1959, p. 295 a 299).
O. Cascudo, H. Carasek e N. P. Hasparyk
34 6
2200
Liquido
2000
--
(_)
1600
Liq uido + Mulita Mulita
+
3000 --
LL
o
o 1600
Córindon I!!
n,
.... Cri stoba lita + Mulita
~ 2600
....
:,
~
~
'S
I!!
....
n,
O)
1400
Cristobalita + Liquido :E
Q)
e.
o. E
E 2200 ..,_
Q)
O) 1200 Tridimita + Mulita
t-
1000 40 60 80 Alp ,
o 20
60 40 20 O
Si02 60
Co mp osição
gra ma de fase s Si0i-AI 03 , sob pre ssã o con stan te (ad apt ada de VAN VL AC K, 1984).
Fig ura 18 - Dia 2
ont rad os em : Van Vla ck (19 73 , p.8 0-8 2), Cal list er (19 90, p. 413 -41 6), Aske~and
18 Ess es dia gra ma s pod em ser enc
( 199 8, p. 443 -44 6) e Sha cke lfor d (20 00, p. 304-342).
alta Microestrutura dos Ma teriais CertJmicos 34 7
0,003 . - - - - - - - - - , , - - - - - - i
E
- E
:::J
Alumínio
o 0,002 1 - - - - - - - + - - - - - t - - 1
e
:.:::::
- e
L.
ro
(1)
e Aço
_J 0,001 1-- --- --+ -~- --: :;;' -!V idr o de jane la
1
~ Tijolo comum
S°' Al203
ro
o
L _ __J.f!::::.:: ..-=1 === === ==:: :::1V idro de sílica
O 50 100
Temperatura (ºC)
Figura 19 - Dilatação térmica de alguns materiais de construção (adaptada de VAN VLACK, 1973, p. 132).
AI AI AI AI AI AI
AI AI AI AI AI AI O arranjo de coordenação nos metais é o
Metal mesmo antes e após uma etapa completa
de escorregamento.
-...AI AI AI AI AI AI
AI AI AI AI AI AI..._
~
~corregamento em um cristal
b1atõm1co produziria novos vizinhos com
forças de atração e repulsão diferentes·
Mg O Mg O Mg O esse novo arranjo somente seria atingid~
com ruptura de ligações fortes entre os
O Mg O Mg O Mg íons Mg2· e 02-. Assim, o escorregamento
Cerâmica é altamente restrito, uma vez que as duas
etapas de escorregamento, necessárias
~ M g OMgOMg O para se atingir uma estrutura semelhante
à original, teriam de se realizar passando
""
O Mg O Mg O Mg . . _ por uma situação de alta energia,
resultante das repulsões de rons
negativos versus rons negativos e de rons
positivos versus rons positivos.
-
(a) (b) (e)
Figura 20 - Comparação do comportamento de materiais frágeis e dúcteis: (a) para ambos os materiais ocorre uma
concentração de tensão produzida por uma irregularidade; (b) resultado no material frágil - não ocorre alívio de
tensões e o limite de resistência à tração pode ser ultrapassado em pontos isolados, mesmo que a tensão média seja
baixa, iniciando-se urna fissura que pode propagar-se com facilidade; (c) resultado no material dúctil - através de
deformações, há uma redução na concentração de tensões.
Assim, conforme explicado, os materiais cerâmicos são muito mais resistentes Cerâmica a
à compressão do que à tração, de sorte que essa característica deve ser levada em fina, engloba
conta na seleção de materiais de construção. O concreto, a argamassa, os tijolos e artificiais, há
os blocos cerâmicos são usados basicamente em locais sujeitos à compressão. No da microes
caso do concreto, quando é necessário submetê-lo à tração, oriunda da flexão,em
IX)SSuemcara
vigas e lajes, por exemplo, empregam-se as barras de aço. Essas barras atuam
como reforço, sendo colocadas nas regiões de tração, aproveitando-se melhor o
resistência à
potencial de cada um dos materiais. No caso do vidro, quando este necessita de resistência à
certa resistência à tração, aumenta-se a sua espessura ou, então, emprega-se o
chegam até
vidro temperado, que é um material submetido ao tratamento térmico de têmpera tenacidade ai
(aquecimento seguido de resfriamento brusco), de forma a permitir o ajuste das Acerânric
tensões internas através de movimentos atômicos (ver Capítulo 21). com tnatéri
Referente à dureza, a explicação para o fato de os materiais cerâmicos ~tam
normalmente serem duros é que eles apresentam muito pouca (ou nenhuma) ~altas t
deformação plástica. Esta característica é respaldada pelos elevados níveis de AI castra
energia de ligação existentes entre os átomos (notadamente nas fases fnsex...
•'llUlhi
homogêneas), o que impede ou dificulta a mudança de posição relativa dos
átomos entre si na estrutura do material, e pela dificuldade de escon-egamento de
, );.._:~ia;
• ~q)llia;
cristais. Quando ocorre exceção a essa regra geral, isso está relacionado com
defeitos ou falhas na estrutura interna do material cerâmico (ver Capítulo 6), ou
•s.1b'eto d
mesmo com a ocorrência de poros ou vazios estruturais. Os argilominerais, por '"N~ºn (S
·~/lrtto d
ltrttõ d
Microestrutura dos Materiais Cerâmicos 35]
• Carbeto de silício;
• Carbeto de boro.
· d ades mecarucas
Quadro 6 - P ropne A· de algumas ceranu
A ·cas avançadas - valores aproximados
(adaptado de ASKELAND, 1994 ),
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99().
4.