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Oralidade

Estratégias para
a sala de aula

Etapa 2: Leia o texto “Oralidade na sala de aula: o mito do espontaneísmo” e


reflita sobre quais mitos são mais comuns nas escolas pelas quais já
Os mitos sobre passou e como combater cada um deles.
a Oralidade
Oralidade na sala de aula: o mito do espontaneísmo
A publicação dos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs), em
1998, iniciou uma sistematização e consolidação de diversos
experimentos cujo foco era transformar as práticas de ensino
na Educação Básica. Dentro da área de Língua Portuguesa, o
documento propunha o trabalho em três eixos:
1 – Leitura e escuta de textos;
2 – Produção de textos orais e escritos; e
3 – Práticas de análise linguística.
Considerando esses três eixos, quase 20 anos após a publicação
do documento, podemos notar que alguns foram bastante
incorporados nas práticas dos docentes de Língua, enquanto outros
ainda são abstratos para professores que atuam com a linguagem
verbal na escola. A prática da análise linguística é um dos aspectos
que ainda é um mistério para muitos de nós. Por exemplo, como
realizá-la de maneira eficaz sem reproduzir os clássicos exercícios
gramaticais? A escola, dentro de seu histórico como principal
agente de letramento, aprendeu, de maneira consistente, a
trabalhar com leitura e produção de textos escritos. O mesmo não
pode ser dito, de forma universalizada, com os textos orais.
O trabalho com a oralidade ainda é um grande desafio para a escola,
especialmente no Ensino Fundamental. Há algumas hipóteses
que tentam explicar essa dificuldade que o professor de Língua
Portuguesa tem para desenvolver a oralidade de seus alunos. São
alguns mal-entendidos. Vamos apresentá-los a seguir e, ao mesmo
tempo, tentar discutir como combatê-los.

1. Os alunos já sabem falar quando chegam à escola, portanto,


não é preciso trabalhar com oralidade.
Ensinamos Língua Portuguesa para nativos. Isso significa que,
diferente de ensinar uma língua estrangeira, nossos alunos já

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são fluentes, em certo ponto, em português. Já entendem o que


ouvem e conseguem se expressar oralmente com proficiência.
Isso significa que não precisam desenvolver sua oralidade? É aí
que mora o perigo! A língua oral é múltipla e se apresenta em
diversas modalidades. Quando nossos alunos chegam à escola, eles
conhecem apenas algumas modalidades, as quais aprenderam em
suas relações sociais (normalmente com a família). Há muito mais a
se aprender! Será que nosso aluno consegue ouvir um programa de
rádio e compreender tudo o que ouviu? Ele consegue assistir a uma
propaganda eleitoral na TV e compreender as nuances do discurso
político? Ele sabe como falar adequadamente em uma entrevista
de emprego? Se a escola não lhe ensinar essas coisas, onde ele
aprenderá? De quem é a responsabilidade de lhe ensinar isso?

2. O desenvolvimento da oralidade é pessoal: há alunos mais


falantes e outros mais silenciosos.
Sim, certamente há perfis de aprendizes: aqueles que são mais
ouvintes e outros que precisam falar o tempo todo para consolidar
seu aprendizado. Os trabalhos do psicólogo Howard Gardner já nos
alertaram para a importância de considerarmos as inteligências
múltiplas na sala de aula. Todavia, essas singularidades de nossos
alunos não justificam ignorarmos o trabalho com a oralidade na
escola. Mesmo estudantes mais silenciosos precisam desenvolver
a fala, até mesmo para poderem interagir e atender a algumas
demandas da sociedade. E isso não precisa acontecer expondo-o
à turma toda: atividades em pequenos grupos podem ser mais
adequadas para personalizar o trabalho com esse aluno, por
exemplo. O mesmo acontece com quem é falante demais: também
precisam aprender a escutar mais. Viver em sociedade significa,
também, sermos provocados, o tempo todo, a encontrar o equilíbrio
entre nossas características pessoais e os esforços necessários para
o convívio.

3. A oralidade é mais caótica, difícil de ser sistematizada.


Eis aqui outro equívoco. Os textos verbais existentes no mundo

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são escritos ou orais (ou multimodais, com fala, escrita e imagens


– outro aspecto que a escola desenvolve muito pouco!). Se nos
comunicamos na escrita por meio de gêneros discursivos – e-mail,
propaganda, postagens na internet etc. –, o mesmo fazemos na
oralidade. O mundo está repleto de gêneros orais e eles devem
ser estudados e ensinados na escola. Ao estudarmos os gêneros
orais, percebemos que, assim como os escritos, eles apresentam
temática, estrutura composicional e estilo próprios. Ou seja, eles
têm suas próprias regras e características. E assim como na escrita,
há gêneros orais primários (menos controlados, menos planejados,
como uma conversa entre amigos, por exemplo) e gêneros orais
secundários (mais planejados, como a apresentação de um
telejornal ou uma apresentação de uma conferência acadêmica). É
fundamental que os estudantes compreendam tais questões para
poderem usar os gêneros orais de forma mais adequada e produtiva
em sociedade. Uma entrevista tem características próprias,
diferente de um sermão religioso, que é diferente de uma anedota,
que é diferente de um depoimento em um julgamento, que é
diferente de uma palestra etc. São todos textos, alguns mais outros
menos, planejados e com características próprias.

4. É impossível avaliar a oralidade numa sala


com 30 ou 40 alunos.
Assim como é muito difícil personalizar a avaliação da escrita em
turmas numerosas, o trabalho será desafiador com a oralidade. Há
um agravante: o registro. Na escrita, o professor consegue levar
a produção do aluno para outro espaço/tempo para, com calma,
analisá-lo e fazer a avaliação. Com a oralidade, isso fica mais
complicado. Entretanto, há algumas estratégias que o professor
pode utilizar para poder garantir feedback às produções orais de
seus alunos: a) autoavaliação; b) avaliação por pares; c) uso de
recursos tecnológicos para gravação das produções (usando os
próprios celulares dos alunos) etc. E, assim como podemos
usar registros escritos para avaliar o desenvolvimento da
compreensão escrita (leitura), podemos fazer o mesmo nas

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atividades de compreensão oral.

Um dos aspectos fundamentais para mudar a maneira como o


professor encara a oralidade é exatamente percebê-la como uma
manifestação dos gêneros discursivos. A partir do momento em que
assumimos que há gêneros orais e que trabalhar com gêneros é um
caminho produtivo para desenvolvermos as habilidades linguísticas
de nossos alunos, a oralidade passará a fazer muito mais sentido
em nossas aulas.

Leia agora a entrevista com o pensador Bernard Schnewly,


publicada pela NOVA ESCOLA. Em seguida, responda à
questão abaixo.

Questão
Que gêneros orais, da esfera jornalística, poderiam ser trabalhados
na escola?

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