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Não obstante, em razão da grande controvérsia acerca do tema, a qual tem sido
amplamente divulgada em todos os meios de comunicação, resolvemos manifestar-nos.
Pois bem, para que o Ministério Público bem desempenhasse esta função, a
própria Constituição Federal aparelhou-o com instrumentos de atuação, especialmente
no que se refere às relações entre a Instituição e os órgãos policiais.
Ora, se o Promotor de Justiça pode (deve) ajuizar a ação penal, "a fortiori", lhe
é permitido praticar atos administrativos que possibilitem sua atuação. Em outras
palavras, e utilizando-nos de conhecida e já reiteradamente aplicada expressão, quem
pode o mais, pode o menos.
Na área criminal, podemos citar o exemplo dos crimes de ação penal privada.
Se o ofendido vem a juízo oferecer queixa contra o autor do crime, obviamente lhe
assiste o direito de trazer elementos de prova colhidos por ele próprio, não ficando
adstrito aos elementos colhidos pela autoridade policial.
Resta saber porque o Ministério Público não pode, como se tem dito, valer-se
dos elementos por ele próprio colhidos.
Tratemos, então, dos argumentos utilizados por aqueles que entendem que ao
Ministério Público é vedado realizar investigações na esfera criminal.
O legislador ordinário, nos idos de 1941, já notava que o inquérito policial tem
a única finalidade de embasar a atuação do legitimado ativo no processo penal. Se o
dispositivo legal menciona que os autos do inquérito policial acompanharão a denúncia,
sempre que aqueles servirem de base a esta, considera-se a possibilidade do Ministério
Público já possuir em mãos elementos suficientes para oferecer denúncia, dispensando
assim o inquérito policial.
Pois bem, não por outra razão, a própria Constituição Federal delegou à mesma
instituição o controle externo da atividade policial. Total coerência revela tal disposição.
Se o Ministério Público é o destinatário de todas as investigações policiais, se é este
órgão que se utiliza do inquérito policial para formar sua convicção e oferecer os
elementos suficientes ao recebimento da denúncia, nada mais correto do que conferir ao
mesmo órgão o dever de zelar pela eficaz realização da atividade policial.
Com efeito, o art. 58, § 3º, da Constituição Federal, ao tratar das Comissões
Parlamentares de Inquérito, determina que as conclusões da comissão investigativa
devem ser remetidas ao Ministério Público. Por óbvio, se o Ministério Público é o
agente responsável pelo exercício da ação penal, bem como legitimado à defesa do
patrimônio público na esfera cível, as provas obtidas por uma CPI devem ser remetidas
àquele. Fosse outro o espírito do dispositivo, determinaria ele que se remetessem cópias
ao Ministério Público e à autoridade policial.
O que tem feito o Ministério Público é simplesmente investigar fatos dos quais
pode advir responsabilidade criminal, quando for eminentemente necessário que o faça.
E. g., nos crimes de desvio de dinheiro público, nos crimes em que estejam envolvidos
agentes públicos, muitas vezes integrantes da própria polícia e em outros casos em que
não esteja havendo atuação policial eficiente.
Não obstante, é inegável que, nos últimos anos, a maioria dos membros do
Ministério Público vem fazendo o que está a seu alcance para modificar tal panorama.
Investigações e medidas judiciais diversas vêm atingindo políticos de renome,
empresários conhecidos e vários setores da população, que até então permaneciam longe
do pólo passivo da relação processual, seja ela cível ou criminal (12).
Talvez por isso, há, na atualidade, diversas tentativas de ceifar atribuições
ministeriais (13).
E o que leva a crer que o Ministério Público atua com maior efetividade do que
a Polícia em determinados casos é que aquele órgão, ao contrário deste, é cercado de
uma série de garantias e prerrogativas, justamente para que exerça com retidão as
relevantes funções que possui.
Notas
1
Já que a aplicação do direito penal, em última análise, é uma forma de tutela da
ordem jurídica e dos interesses sociais, na qual são sancionadas as condutas que atentam
da forma mais gravosa contra os bens jurídicos protegidos pelo ordenamento.
2
Em tema de investigação criminal, há que se adotar o entendimento de que
somente são considerados ilegais aqueles elementos de prova colhidos com afronta a
direito previsto na legislação penal material ou processual. E, ao menos ao que se sabe,
não existe direito assegurado pela lei pátria de não ser investigado pelo Ministério
Público.
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Dê sua opinião Texto inserido no Jus Navigandi nº 593 (21.2.2005).
sobre o artigo: Elaborado em 08.2004.
Excelente Informações bibliográficas:
Conforme a NBR 6023:2002 da Associação Brasileira de Normas Técnicas
Ótimo (ABNT), este texto científico publicado em periódico eletrônico deve ser citado
da seguinte forma:
Bom PIRES, Gabriel Lino de Paula. A investigação criminal pelo
Ministério Público . Jus Navigandi, Teresina, a. 9, n. 593,
Regular 21 fev. 2005. Disponível em:
<http://www1.jus.com.br/doutrina/texto.asp?id=6334>.
Ruim
Acesso em: 25 fev. 2005.