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Revista Ciência Contemporânea

jan./jun. 2018, v.3, n.1, p. 126 - 134


http://uniesp.edu.br/sites/guaratingueta/revista.php?id_revista=31

ABUSO SEXUAL E REJEIÇÃO: UM ESTUDO DE CASO

Edgar Henrique Hein Trapp1


Vitória Reggi G. de Araújo Pasa2

RESUMO
O presente artigo tem como objetivo apresentar um relato de experiência de estágio clínico
supervisionado, realizada no Núcleo de Práticas Psicológicas do curso de Psicologia da
Faculdade Integrada de Ensino Superior de Colinas Tocantins (FIESC/UNIESP). A paciente
MC, 26 anos, encontrava-se em atendimento clinico e queixava-se de sua relação de
dependência e sadomasoquista com a parceira, uma necessidade excessiva de dominar a relação
e um relacionamento difícil com a mãe. Utilizando de uma discursão com diversos
pressupostos, e utilizando da interpretação para se aproximar da proeminência dos significados
inconscientes e compreender a dinâmica psíquica da paciente, se constatou as consequências
do abuso sexual sofrido na adolescência como principal meio para o surgimento de pulsões
sexuais sádicas, além de outras características adquiridas pela personalidade da paciente como
forma de defesa da rejeição sentida da mãe.

Palavras-chave: abuso sexual, rejeição e sadismo.

ABSTRACT
This article aims to present an account of supervised clinical internship experience, performed
at the Psychological Practice Center of the Psychology course of the Integrated Higher

1
Professor Supervisor possui graduação em Psicologia pela Universidade Luterana do Brasil (2003). Psicólogo
organizacional - Secretaria de Saúde do Estado do Tocantins - Coordenador do Núcleo de Educação Permanente
em Saúde, credenciado - DETRAN, Gerente Clinico da Clínica FOKUS Atendimento Médico e Psicológico; Sócio
proprietário - ESFOTEC - ESCOLA DE FORMAÇÃO TÉCNICA DE GUARAÍ LTDA, professor pós graduação
- ITOP, Professor pós-graduação na UFT; psicólogo da Prefeitura Municipal de Paraíso. Professor co CRR- Centro
Regional de Referência sobre Álcool e Drogas - UFT, professor na UNIESP - Instituto Educacional de São Paulo;
Especialista em Educação Especial; Especialista em Políticas Educacionais; Especialista em Psicologia do
Trânsito; Especialista em Preceptoria do SUS; Especializando em Psicologia Social; Especializando em Gestão do
Trabalho e da Educação na Saúde; Mestre em Ciências da Educação -ULHT - Universidade Lusófona de
Humanidades e Tecnologia -Lisboa/PT; Doutorando em Psicologia pela UCES - Universidad de Ciências
Empresariales y Sociales - Buenos Aires/AR. Tem experiência na área de Psicologia, com ênfase em Psicologia
do Desenvolvimento Humano, Atuação como redução de danos ao usuário de álcool e Drogas junto ao CAPS
História e Sistemas, Psicologia da Aprendizagem, Intervenções Psicopedagógicas, Psicologia Social, Psicologia
Cognitivo Comportamental, Psicologia da Saúde e Hospitalar, Psicologia aplicada à Administração, Psicologia do
Desenvolvimento Humano. Atuando principalmente nos seguintes temas: saúde, saúde mental, álcool e drogas,
redução de danos, educação, sexualidade, psicologia escolar, desenvolvimento, relações interpessoais e integração,
pessoas portadoras de necessidades especiais. Artigo apresentado em dezembro de 2017.
2
Acadêmica do 10º período do curso de Psicologia da FIESC/UNIESP- Faculdade de Ensino
Superior de Colinas do Tocantins.
Education Faculty of Colinas Tocantins (FIESC / UNIESP). The MC patient, 25 years old, was
in clinical care and complained of her relationship of dependence and sadomasochism with the
partner and the excessive need to master the relationship Using the psychoanalytical
assumption, and interpretation to approach the prominence of meanings unconscious and
understand the patient's psychic dynamics, where the consequences of sexual abuse suffered in
adolescence as the main means for the emergence of sadistic sexual drives were found.

Keywords: sexual abuse; rejection and sadism.

1 INTRODUÇÃO

Este presente trabalho refere-se a um relato de experiência de estágio clínico


supervisionado, que ocorreu no Núcleo de Práticas Psicológicas do curso de Psicologia da
Faculdade Integrada de Ensino Superior de Colinas Tocantins (FIESC/UNIESP) realizado no
primeiro e segundo semestre de 2017. Que teve como objetivo propiciar um primeiro contato
com a prática clinica e assim promover uma aprendizagem e experiência em campo de atuação,
podendo o aluno, chegar ao mercado de trabalho com alguma carga extra de experiência e
conseguindo conectar as teorias da sala de aula às atividades em atendimento clinico.
Para isso, as sessões de atendimentos clínicos aconteceram semanalmente no Núcleo de
Práticas Psicológicas da FIESC/UNIESP, com duração de 50 minutos cada, assim como é
orientado no Código de Ética do Psicólogo. As supervisões também ocorreram semanalmente
e eram compostas por um grupo de dez alunos, todos atuantes no estágio clinico, e o
professor/psicólogo supervisor, assim sendo possível propiciar uma discussão sobre os vários
casos atendidos, possibilitando o debate de ideias e maior conhecimento sobre as diversas
óticas, sanar as principais dificuldades e dúvidas e ter uma orientação de um profissional já
formado e experiente, do melhor modo de conduzir as sessões.
Os atendimentos seguiam a abordagem que mais se encaixava com a demanda do
paciente, embora o supervisor fosse especialista em TCC (Teoria Cognitiva Comportamental),
alguns casos, como este aqui relatado, necessitam de outra teoria que possa melhor explicar as
vivências do paciente, por isso, neste artigo, busca-se uma discursão utilizando os mais diversos
pressupostos, que possam colaborar ao entendimento da demanda da paciente, utilizando a
interpretação dos conteúdos inconscientes das palavras, ações e produções imaginárias/reais do
indivíduo, juntamente com a entrevista e a associação livre, tudo isso a fim de propiciar, a estes
(paciente e terapeuta), um conhecimento e compreensão das manifestações do paciente.
A realização deste estágio justificou-se pelo primeiro contato com a experiência de ser
um psicoterapeuta, que possibilita, ao ainda acadêmico, utilizar das supervisões como forma de

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suporte para sanar dúvidas e dificuldades e assim, chegar ao mercado de trabalho com algo
além da teoria adquirida e com uma experiência de como fazer a melhor escuta, e experiência
de como identificar e diferenciar aquilo que é considerado normal do patológico.

2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

2.1 Abuso Sexual

Abuso sexual é popularmente conhecido como qualquer conduto sexual realizada sem
o consentimento da outra pessoa participante do ato, na maioria das vezes é acompanhada de
agressões físicas e psicológicas. Trata-se de um problema universal cada vez mais frequente na
sociedade, que não distingue idade, sexo, cor ou nível social. De acordo com Florentino (2015),
a criança e o adolescente são as maiores vítimas de atos abusivos e maus-tratos, ocasionados
por sua maior vulnerabilidade e dependência.
Este ato forçado acaba por deixar graves consequências a curto e longo prazo na pessoa
abusada, desenvolvendo problemas de desenvolvimento em crianças e adolescentes,
dificuldades de socialização, problemas de confiança em si mesmo e nos outros, estresse pós-
traumático, comportamento sexual inadequado, dentre muitos outros. Segundo Ferrari (2002,
citado por Romero, 2007, p. 15), as consequências vão depender principalmente de aspectos
como: idade da pessoa agredida e da que agride, tipo de relação entre abusador e abusado,
personalidade da vítima, duração e frequência da agressão, tipo e gravidade do ato e reação do
ambiente. Ao passar por uma experiência de violação de seu próprio corpo, elas reagem de
forma somática independentemente de sua idade, uma vez que sensações novas foram
despertadas e não puderam ser integradas (PRADO, 2004, citado por Florentino, 2015).
Uma dos dados que mais chamam atenção em estudos sobre esse assunto é de que a
maioria dos casos parte de pessoas próximas a vitima, como vizinhos, amigos, e ate mesmo
membros da própria família como tios(as) e os próprios pais e sendo este último o mais comum
e também mais nocivo a vitima. Uma pesquisa de Gabel (1997, citado por Romero, 2007)
realizada com uma amostra de 92 casos de abuso sexual mostra que 63% dos casos foram
cometidos por indivíduos conhecidos da vítima e ele também cita um estudo de Lynch
apontando que o pai estava implicado em 48% dos casos.
Pesquisar e tentar compreender as consequências dessa violência não é uma tarefa fácil,
que conta com uma escassez de informações, talvez por ser um evento traumático, as vitimas
não se submetem a pesquisas que poderiam melhor descrever e confirmar as sequelas desse tipo

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de violência. O que é consensual entre todos os estudos é que vitimas de abuso sexual tem maior
probabilidade de desenvolverem graves psicopatologias e terem sequelas que afetam todas as
áreas da vida.

2.2 Sadismo/Masoquismo

Sadismo é um termo original de Donatien Alphonse François de Sad, conhecido por


submeter suas conquistas a humilhações e crueldades em busca do seu próprio prazer sexual,
mas foi impulsionado e popularizado através da psicanalise de Freud, com o livro Três ensaios
sobre a teoria da sexualidade. O masoquismo é o contrario do sadismo, um termo psicanalítico
designado a um sujeito que só consegue sentir prazer ao sofrer.
Para a psicanalise o sadismo/masoquismo se caracteriza como perversão sexual, em que
o prazer sexual só é atingido através da humilhação física e/ou moral, exploração e sofrimento
causado ao seu parceiro ou a si mesmo, para isso podendo utilizar desde palavras que denigrem
e humilhe o parceiro, a ferramentas, agressões físicas, estratégias de mutilação e tortura. Freud
afirme em seu artigo O instinto e suas vicissitudes (1915/1996, citado por Carvalho e Germano)
que o “sadismo consiste no exercício da violência ou poder sobre outra pessoa como objeto”.
Ao tentar se entender o sadismo/masoquismo é preciso primeiro conhecer a pulsão que
segundo Freud é uma força constante em busca de uma meta e um objeto a fim de satisfazer-
se, sendo esse objeto variável desde que sirva a satisfação. Tendo sua origem em algum
momento do desenvolvimento do sujeito, em que este teve, através de uma experiência, uma
satisfação que o marcou e assim passa a uma buscar constante a fim de reviver aquela satisfação
perdida, vivendo a repetição através de sonhos e fantasias. Tosta (2011) afirma que nesse
caminho, a psicanálise começou a ditar que a pessoa acometida pelo mal dessa perversão
(masoquismo/sadismo), possuía em seu intimo, uma pulsão de morte, ou seja, um ser humano
que inevitavelmente preferia sofre, a sentir prazer por uma via considerada saudável. Partindo
da descoberta de Freud que de que todo masoquista também apresenta em suas atitudes funções
sádicas, o mesmo autor cita a explicação de Reich (2004), que um anseio pulsional nunca estará
presente sem o outro, ou seja, masoquismo e sadismo aparecem como um par, um pode se
transformar repentinamente no outro.

3 METODOLOGIA

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Este artigo trata-se de um estudo de caso, que utilizou do método da pesquisa
bibliográfica, que de acordo com Fonseca (2002) é feita a partir do levantamento de referências
teóricas já analisadas, e publicadas por meios escritos e eletrônicos, como livros, artigos
científicos, páginas de web sites. Vale ressaltar que todo trabalho científico é também uma
pesquisa bibliográfica, pois necessita de informações já existem para embasamento dos achados
e justificativa dos mesmos, há também pesquisas onde os instrumentos utilizados para sua
elaboração é puramente a pesquisa bibliográfica sobre o determinado assunto analisado.
Neste, buscou-se compreender, através de pesquisa bibliográfica de vários estudos,
quais fatores da vivencia de MC poderiam ter contribuído para o desenvolvimento de uma
personalidade sadomasoquista e dominadora, utilizando-se de pesquisas por meios escritos e
eletrônicos, como livros, artigos científicos, páginas de web sites.
Outro método também utilizado neste artigo foi à pesquisa qualitativa, descrita por
Denzin e Lincoln (1994, p. 2 citado por Turato, 2000) como multimeto-dológica quanto ao
foco, envolvendo uma abordagem interpretativa e naturalística para seu assunto. Isto significa
que os pesquisadores qualitativos estudam as coisas no seu setting natural, tentando dar sentido
ou interpretar fenómenos em termos dos significados que as pessoas trazem. Dentro desse, a
estratégia utilizada para a coleta dos dados foram a 27 entrevistas semanais, que foram
devidamente escritas em relatórios e avaliadas pelo supervisor responsável, posteriormente
foram lacrados em envelopes e anexados ao arquivo do Núcleo de Práticas Psicológicas do
curso de Psicologia da FIESC/UNIESP. Os instrumentos utilizados foram à observação, a
escuta ativa e atenta, a associação livre e a interpretação.

4 RELATO DE CASO E DISCURSÕES

MC, 26 anos, separada, mãe de dois filhos, na época que iniciou o tratamento estava
desempregada há um mês e ficou assim por mais sete meses, ate conseguir outro emprego.
Sobre sua infância relata que cresceu na fazenda, com o pai pastor e a mãe e sendo a mais velha
de quatro irmãos, assim começou a ter responsabilidade aos 11 anos, quando os pais se
separaram e começou a ter que ajudar o pai a cuidar dos irmãos, disse que sempre foi mais
próxima de pai e distante da mãe e que acredita que isso aconteceu pelo estilo masculinizado
que tem. Relata ser bissexual, mais a preferencia é feminina e que lembra que esse desejo por
mulheres se iniciou ainda com 13 anos.

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Inicio os atendimentos com a queixa de um relacionamento conturbado e que não
conseguia sair, embora dissesse querer muito. Relatou as diversas brigas que já haviam
acontecido, algumas ate mesmo, sendo caso de policia, onde as duas se agrediam muito. Relatou
que este relacionamento se iniciou em 2015, se conheceram no bar que MC trabalhava e que
iniciaram a relação sem compromisso, mas que não demorou muito já estavam morando juntas
e que ficaram assim uns nove meses ate que, após uma briga, se separaram, mas após um mês
brigadas logo voltaram a se relacionar . Disse serem muito diferentes, MC é uma pessoa que
gosta de ficar em casa e C, baladeira e essa diferença causavam a elas diversas discursões, por
MC não gostar do estilo de vida de C, disse que elas não tinham assunto para conversar e que
o relacionamento era mais sexual, mas dizia que estava se sentindo cansada desse
relacionamento e queria muito conseguir esquece-lo com o mínimo de sofrimento possível.
Sobre os motivos dessa dificuldade, disse que talvez fosse por pena da parceira ou por sua
própria carência, pois era uma pessoa muito solitária, devido diversos acontecimento que
aconteceram em sua vida, acabou se afastando das pessoas e desenvolvendo uma personalidade
controladora, que gosta que as pessoas ajam de acordo como ela espera e se isso não acontece,
a irrita e se torna agressiva.
MC demonstra ser uma pessoa que bloqueia os demais como forma de se proteger, e ela
mesma assume isso, tem também muita dificuldade para perdoa e o que pode justificar esse
comportamento é a magoa grande que tem dá mãe, que se separou do seu pai aos 11 anos e os
deixou com o pai e MC interpreta isso como um abandono, além de sempre se sentir rejeitada
pela mãe, que nunca aceitou seu estilo masculino. Segundo Theisen (2014) quando a mãe não
é capaz de apropriar-se da criança, e consequentemente não consegue exercer as funções
necessárias, pode assim, causar patologias que afetam o desenvolvimento.
A mesma possui também um ego inflado, que segundo Jung é uma expansão da
personalidade, além dos limites individuais ou, em outras palavras, uma presunção. Em tal
estado, a pessoa ocupa um espaço que normalmente não pode preencher. (Jung, 1996 citado por
Horlle e Silva,7 200) e este a fez desenvolver uma grande autoestima e soberba, podendo ser
essa característica outro mecanismo desencadeado para sua defesa devido os diversos
julgamentos que sofreu durante seu desenvolvimento, sendo assim sua maior apoiadora e
estimuladora.
MC foi casada por dois anos com um homem, que no inicio eram muito amigos e
parceiros, mas com o tempo MC diz que se cansou dele e que o traiu muito com mulheres, pois
o desejo era muito forte, desse relacionamento nasceu sua filha mais nova. O outro mais velho

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relatou ser fruto de um abuso sexual que aconteceu por parte do seu tio, quando tinha 17 anos
e que foi uma fase muito difícil, em que seus sonhos foram destruídos e não teve nenhum apoio
da família. Desse abuso nasce nossa teoria central, que é o sadismo que MC relatou ter nas suas
relações sexuais, e que disse não ocorrer antes desse acontecimento, disse que conheceu esse
modo sexual com a parceira C, que ela sempre gostou de filmes de violência e ficava muito
excitada, e dizia que tinha vontade de fazer sexo à força e MC achava estranho essa vontade
dela, mas que um certo dia teve a oportunidade de realizar esse desejo dela e a forçou a fazer
sexo e disse que foi muito excitante, ter ela ali a seu mercê, ao seu controle total e que a parti
dai só foram experimentando mais e mais e hoje um sexo convencional não lhe dá tanto fazer.
MC também trás esse sadismo para sua vida social, só que desta vez revertido para si
(masoquismo), ela sempre faz questão que as pessoas vejam seu lado negativo, quando esta
tudo correndo bem em sua vida, dá um jeito de arranjar algum problema. E a teoria é que sua
experiência de violência sexual tenha despertado esse prazer nela, pois como afirma Florentino
(2015) o comportamento sexual inadequado pode ser considerado como sintoma muito
característico de crianças sexualmente abusadas. O autor também cita os resultados de uma
pesquisa internacional que revelam que as consequências do abuso sexual podem se manifestar
em curto prazo e a longo prazo, sendo os principais sintomas ou sinais perceptíveis através de
manifestações de alta atividade sexual; confusão e ansiedade a respeito da identidade sexual,
dentre outros. MC demonstra um amplo e diversificado apetite sexual, apresenta uma
dificuldade em aceitar sua condição de homossexual e disse acreditar que um dia voltará a ser
heterossexual e viverá feliz.
Na psicanalise, Freud fala da compulsão a repetição que seria uma tentativa de reparar
o trauma inicial através de repetição, na tentativa de dominar este, essa poderia ser de acordo
com teorias, a base do instinto de morte (Thanatos) sendo o sadismo e o masoquismo esforços
combinados de Thanatos e libidinosos em busca da preservação do individuo, tornando assim
a situação, menos perigosa. [...] a repetição está do lado da atuação movida por componentes
psíquicos recalcados que se atualizam na análise. Repete-se, ou atua-se, aquilo que não pode
ser lembrado (Almeida & Atallah, 2008). Uma parte do discurso de MC pode justificar esta
teoria psicanalítica, em que diz que seu “desejo sadista se manifesta apenas em relações
homossexuais”, sendo assim sua parceira se tornaria a vitima e ela o agressor, manifesta
também em varias ocasiões a aversão a ser vista como vitima, chegando a verbalizar a
preferencia integral a se torna vilã sempre.

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A repetição do ato pode ser visto como “[...] outra versão de uma fantasia da cena
primária que ela não poderia admitir que ainda estivesse presente nela, e ainda ativa (Green,
2007)”, ao se tornar a agressora MC consegue torna o acontecimento menos perigoso, mantendo
o Thanatos ativo, e o transferindo para o outro como forma de agressão.

5 CONCLUSÃO

Através desta experiência, aqui relatada, foi possível entender e vivenciar um caso
clínico que será valioso e levando como experiência a vida pós-formação acadêmica. Foi
possível vivenciar a prática clinica e ter um contato com comportamentos considerados
desajustados e a possibilidade de usar o conhecimento teórico como forma de melhor entender
o que acontece e como melhor o paciente pode percebe-se, sendo assim uma oportunidade de
crescimento do aprendizado do acadêmico.
O como o paciente se percebe é primordial para propiciar a ele uma melhor qualidade
de vida, utilizando o processo terapêutico como meio para que isso ocorra com mais eficiência,
fazendo o paciente perceber quais aspectos de seu desenvolvimento foram capazes de o torna o
que é hoje e como melhor lidar com as dificuldades dessa personalidade formada, a fim de
propiciar o menor sofrimento possível a este.
O feedback final é uma parte importante desse processo de formação acadêmica, poder
ter a gratidão do seu paciente, conseguir visualizar a sua evolução e percebe que alcançou seu
objetivo é motivador, propicia a este a busca constante por mais conhecimento e o sabor de
dever cumprido, aumentando sua autoconfiança para o mercado de trabalho logo afrente.
Esta experiência foi sem dúvida valiosa, foi possível, através desta, promover um
diálogo entre diversos colegas acadêmicos e seu supervisor, visando todas as possibilidades que
melhor se encaixava para entendimento da demanda de seus pacientes, além de sanar as
dificuldades que apareciam no caminho, foi possível também aprender através de óticas
diferentes, estando sempre aberto a discursões construtivas e objetivas. É indispensável presta
o agradecimento maior ao mestre supervisor/psicólogo Edgar Henrique Hein Trapp, que esteve
sempre disposto a dividir seus valiosos conhecimentos, sem esquecer do “puxão de orelha”
quando necessário e do apoio emocional tão primordial nesta fase, seu papel foi fundamental
da formação do eu profissional.

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