Terceira Civilização - Edição 422 - 01/10/2003 - pág.
5 - Diálogo Sobre Religião Humanística
Terceira Civilização - Diálogo Sobre Religião Humanística
[8] O coração do rei-leão: o rugido
destemido de mestre e discípulo
Esta é a oitava parte da série "Diálogo sobre a religião
humanística" publicada na revista de estudo mensal da
Soka Gakkai, Daibyakurengue, edição de agosto de
2002. Neste diálogo, o presidente da Soka Gakkai
Internacional, Daisaku Ikeda, o coordenador e o
vice-coordenador do Departamento de Estudo de
Budismo da Soka Gakkai, Katsuji Saito e Masaaki
Morinaka, enfocam vários fatos relacionados à história
do budismo e à vida de Nitiren Daishonin de forma
abrangente e profunda. Com certeza, este artigo
contribuirá para facilitar a compreensão dos
ensinamentos budistas e da filosofia humanística que
cada vez mais atrai a atenção das pessoas do mndo
inteiro.
Katsuji Saito: No dia 24 de agosto deste
ano completarão 55 anos desde que o
senhor, presidente Ikeda, ingressou na
Soka Gakkai. Durante todos esses anos, o
senhor empenhou uma série de esforços
em benefício dos membros, do
Kossen-rufu e da paz mundial. Como
resultado desses esforços, construiu uma
base sólida para nosso movimento no
Japão e no mundo inteiro. Não há palavras
que possam descrever a gratidão que
sentimos pelo senhor.
Masaaki Morinaka: Agora chegou o
momento de os jovens assumirem a
liderança. Nossos companheiros da SGI e
pessoas de consciência do mundo inteiro
anseiam pelo surgimento de jovens
sucessores que realmente coloquem em
prática esse seu espírito, presidente Ikeda,
e que se dediquem como líderes do
Kossen-rufu. Nesse sentido, ficaríamos
felizes se nesta oportunidade o senhor
falasse a respeito do significado da relação
de mestre e discípulo e da liderança do
movimento pelo Kossen-rufu à luz dos
escritos de Nitiren Daishonin.
Presidente da SGI, Daisaku Ikeda: Com
muito prazer. Mas se vamos falar da
relação de mestre e discípulo e dos
princípios de liderança, há muitos pontos a
serem tratados para uma única ocasião.
Assim sendo, para o momento, gostaria de
explorar o significado de "coração de um
rei-leão", que é a essência da relação de
mestre e discípulo exposta nos escritos de
Daishonin.
Manter a "unicidade de mestre e discípulo"
significa perpetuar o espírito de Nitiren
Daishonin, que é o 'rei-leão'. Da
perspectiva budista, ter um coração de
rei-leão é o requisito mais importante de
um líder.
Saito: Possuir um coração de rei-leão é ter
a coragem de desafiar intrepidamente até
o mais poderoso dos inimigos, por mais
temível que seja, com o propósito de
proteger a Lei.
Pres. Ikeda: A coragem é a chave. Ela é, ao
mesmo tempo, a energia vital fundamental
que brota em nossa vida quando nos
munimos desse espírito destemido. De
forma mais simples, é a força latente que
todos nós possuímos em nosso interior.
Quando lutamos com bravura para
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proteger a Lei, o poder da nossa coragem
dispersa a névoa da ilusão fundamental
que envolve nosso coração e permite que
o poder ilimitado da Lei emane de dentro
de nós. Assim, revelamos o estado de vida
iluminado do Buda, que é una com a Lei
Mística.
A coragem funde nossa vida com a energia
vital fundamental. Ela transforma-se
também em esperança inata, uma
condição que jamais é vencida por mais
desesperadora ou obscura que seja a
situação. A coragem é a força para viver
resolutamente até o fim. Quando as
nuvens sombrias da morte, do destino, da
perseguição, da adversidade, da doença,
do fracasso ou da destruição pairam sobre
a pessoa, ela tende a sucumbir ao medo, à
vacilação, covardia, angústia, ansiedade,
dúvida e ira. É o poder da esperança
interior que ilumina essa escuridão.
Levantar-se só significa fazer surgir essa
esperança de dentro de si mesmo e
desenvolver uma identidade inabalável.
Este é um dos requisitos básicos que um
líder deve ter. Somente quando a fonte da
esperança jorra de nossa vida é que
podemos ofertar coragem e esperança aos
demais que trabalham e se dedicam ao
nosso lado. Compartilhar esperança é a
missão fundamental de um líder.
Morinaka: Conforme Daishonin diz, "o
importante é o coração". (WND, pág. 1000.)
Pres. Ikeda: É verdade. Napoleão dizia que
"um líder é um distribuidor de esperança".
Grandes feitos são realizados quando as
pessoas conseguem despertar uma
esperança ilimitada.
Mudar o coração das pessoas é a tarefa de
um líder. O fato de as pessoas se reunirem
não significa necessariamente que estejam
unidas em espírito. Ao contrário, é provável
que seus pensamentos estejam orientados
para diferentes direções e que resultem
em um estado de confusão e desordem. A
tarefa do líder é dirigir o foco de cada
pessoa a uma meta comum, unir todos em
prol de um mesmo propósito e inspirá-los
a avançar para o seu cumprimento. Ao
líder recai a tarefa de criar união entre
pessoas que estão em discordância, de
encorajar aqueles que estão dominados
pelo medo, de instilar confiança naqueles
que se sentem impotentes.
Martin Luther King Jr., o principal líder do
Movimento pelos Direitos Civis
norte-americano, seguiu os passos da luta
não-violenta empreendida por Mahatma
Gandhi. Ele declarou: "Os dias que nos
aguardam serão difíceis, mas não perco a
esperança. Essa é a única coisa que me
mantém de pé."1
A fonte que produz essa ação intrépida se
encontra em nossa própria vida. Ninguém
pode roubá-la de nós. Se nossos esforços
derivam de nossa motivação interior, nada
poderá nos derrotar. Se, por outro lado,
nossos esforços são apenas uma
pretensão, ou uma imitação do que os
outros fazem, ou ainda, se são
involuntários, acabarão mais cedo ou mais
tarde revelando sua verdadeira natureza.
Uma raposa que se esconde sob a pele de
um tigre para emprestar sua autoridade é
covarde. Mas, um leão que avança sozinho
é indomável.
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Saito: Para nós, membros da SGI, isso
significa dedicar nossa vida à grande
missão do Kossen-rufu. Quando
despertamos para essa aspiração
grandiosa, podemos mudar todo
sofrimento cármico em alegria de cumprir
nossa missão.
Pres. Ikeda: No budismo, "coração de um
rei-leão" refere-se ao profundo estado de
vida de uma pessoa que, por meio da fé na
Lei Mística, vence a escuridão fundamental
inerente em sua vida e manifesta o poder
de sua iluminação primordial. Poderíamos
dizer também que se refere à condição de
vida iluminada do Buda, que brota quando
superamos as ilusões inatas da vida
mediante a firme fé. Portanto, o "coração
de um rei-leão" é dotado da sabedoria e
benevolência do estado de Buda.
A fé é a causa, e o estado de Buda, o
efeito. Tanto a causa como o efeito estão
contidos em cada instante da vida.
Saito: Esse é o princípio da simultaneidade
de causa e efeito.
Pres. Ikeda: Correto. Segundo esse
princípio, pode-se dizer que o "coração de
um rei-leão" é a essência do Budismo de
Nitiren Daishonin, o Budismo da
Verdadeira Causa.
Morinaka: Há muitas passagens nos
escritos de Daishonin que falam sobre o
rei-leão. Referências são encontradas em
escritos famosos como "Carta de Sado" ,
"Sobre as perseguições que recaem ao
sábio", "Resposta à Kyo'o" e "Embudaityu
Gosho" (Sobre Jambudvipa).
Saito: Podemos deduzir que Daishonin usa
a metáfora do rei-leão para descrever, de
uma maneira clara e compreensível, seu
estado de vida como Buda dos Últimos
Dias da Lei.
Pres. Ikeda: O Budismo Nitiren é de fato a
"religião do rei-leão". A razão pela qual
Daishonin se compara ao rei-leão pode ser
atribuída fundamentalmente à
manifestação do estado de Buda em sua
própria vida. Quando examinamos os
sutras, podemos perceber que o rei-leão é
o símbolo do Buda.
Morinaka: O local onde o Buda se senta é
chamado de "trono do leão", e sua
pregação, de "rugido do leão".
Pres. Ikeda: Essa simbologia do leão tem
uma razão de ser. Consideremos quais são
as associações mais comuns que fazemos
com a imagem desse animal.
Morinaka: Em primeiro lugar, a imagem de
um rei ou monarca. Desde os tempos
antigos, o leão é comumente considerado
como "o rei dos animais". Em "O sutra da
verdadeira retribuição", Daishonin descreve
o leão como "o monarca de todas as
criaturas sobre a terra".2
Há outras imagens que nos vêm à mente.
Por exemplo, o leão é um animal caçador e
o maior membro da família dos felinos, e
os machos possuem uma juba que lhe dão
um ar de imponência.
Saito: Ao que tudo indica, houve um tempo
em que os leões habitaram muitas outras
regiões do planeta. Há aproximadamente
dois mil anos, viviam em áreas do
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continente europeu como a Península
Ibérica e o norte da Grécia.
Pres. Ikeda: Em épocas antigas, os leões
eram considerados símbolos da juventude
eterna e da imortalidade.
Morinaka: É verdade. Na Mesopotâmia
acreditava-se que a pele e a gordura do
leão tinham propriedades que garantiam a
juventude eterna e a imortalidade, e que
usar a pele ou aplicar a gordura do animal
sobre o corpo concedia esses benefícios
ao ser humano.
Pres. Ikeda: Hércules, o herói da mitologia
grega, usava uma pele de leão como
manto e a cabeça desse animal como
elmo.
Por sua vez, Alexandre, o Grande, partiu
em sua expedição à Índia encorajado pelas
palavras de seu mestre Aristóteles: "Seja
como um leão." Por essa razão, ele tinha a
imagem dos olhos de um leão gravada em
sua armadura e usava um elmo com a
forma da cabeça desse felino.
Saito: A juba dourada do leão também é
associada à imagem do Sol.
Morinaka: Os olhos do leão eram símbolo
de vigilância ou cautela. Acreditava-se que
um simples olhar do animal era capaz de
petrificar o inimigo ou de fazê-lo correr de
medo. Por isso, os leões passaram a ser
representados como divindades guardiãs
nos portões dos castelos. Um exemplo
disso são as figuras de leões talhadas em
relevo no portão sul da Grande Estupa de
Sanchi.3
Pres. Ikeda: Outra imagem comumente
associada a esse animal é a constelação
de Leão. Coincidentemente, por volta de
18 de novembro do ano passado, pudemos
ver uma chuva espetacular de meteoritos
provenientes dessa constelação.
Saito: A Dra. Axinia Djourova,4 historiadora
de arte búlgara, com quem o senhor
dialogou certa ocasião, também disse que
o leão simbolizava o poder da palavra, a
vitória sobre o mal, a recompensa pelas
boas ações e a esperança da imortalidade.
Pres. Ikeda: O leão é, sem dúvida, um
símbolo da "força do bem". Sakyamuni é
descrito nos sutras budistas como um
"mestre sábio, um leão" (cf. The Lotus Sutra
[LS], cap. 1, pág. 8). E sabe-se que muitos
dos pilares com editos erigidos pelo
monarca da Índia antiga, Asoka, tinham
como adorno a figura de um leão talhada
no topo.
Morinaka: O Pilar de Asoka em Sarnath, no
Parque do Gamo, o local onde Sakyamuni
pregou a Lei pela primeira vez após atingir
a iluminação, é coroado com um capitel
que representa quatro leões e as rodas do
Darma na direção dos quatro pontos
cardeais.
Os filhotes do leão são leões
Pres. Ikeda: Um leão é valente e resoluto. É
poderoso, majestoso e por isso é
respeitado por todos os outros animais. Em
seus escritos Daishonin destaca essas
qualidades do leão. Ele cita, por exemplo,
um trecho do Sutra de Lótus que fala do
"poder da.... ferocidade do leão" (LS15, 218).
Daishonin também descreve o Buda como
o rei-leão que é bem-sucedido em refutar
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os seguidores não-budistas que
superavam em número.5
Morinaka: Daishonin diz, comparando o
Sutra de Lótus com os outros sutras, que
ele é "como um torneio de luta entre o
rei-leão e uma raposa ou um coelho".
(Gosho Zenshu, pág. 852.)
Pres. Ikeda: Nitiren Daishonin também
focaliza a tranqüilidade e a coragem do
leão.
Saito: Em uma famosa passagem,
Daishonin diz: "Onde quer que sua filha
brinque, nada de mal lhe ocorrerá; ela
poderá andar sem medo como o rei-leão."
(WND, pág. 412.) Essa frase se refere ao
benefício obtido por aqueles que
acreditam no Gohonzon.
Pres. Ikeda: Em muitos trechos de seus
escritos Dai- shonin menciona a grande
força do leão que inspira respeito e
admiração em todos os outros animais.6
Ele também faz referência às
características distintas do rei-leão que
concentra todas as suas forças no ataque,
sem jamais subestimar nenhum de seus
oponentes.7 Esse é o princípio de "avançar
três passos e então concentrar a força para
o salto".
A metáfora do rei-leão é usada no Gosho
para representar, acima de tudo, o Buda e,
em particular, Nitiren Daishonin. Daishonin
escreve: "O devoto do Sutra de Lótus é
como o Sol ou como o leão." (WND, pág.
613.) Em um outro trecho ele descreve a si
próprio como sendo "o rei-leão". (WND,
pág. 856.)
o Saito: Daishonin também compara o Sutra
de Lótus, o rei de todos os sutras, ao
rei-leão.8
Pres. Ikeda: Em todo caso, o que há de
mais importante nesses exemplos é a
unicidade de mestre e discípulo. O filhote
de um leão também será um leão. Aqui,
Daishonin ensina que nós devemos ter o
mesmo espírito do mestre.
Ele escreve: "O rei-leão não teme nenhum
outro animal e assim também agem seus
filhotes." (WND, pág. 997.) E, "uma cria do
rei dos bois será um rei dos bois; ela nunca
será o rei dos leões. Um filhote do rei dos
leões será um rei dos leões; jamais será o
rei dos homens nem o rei dos céus." (WND,
pág. 323.) Um filhote de leão, quando
adulto, transforma-se num leão. Da mesma
forma, mesmo que sejam pessoas
comuns, os filhos do Buda que se dedicam
à concretização do Kossen-rufu,
infalivelmente se tornarão budas. Essa é a
essência do ensinamento budista correto.
O budismo que afirma que o Buda existe
fora das pessoas comuns e que elas estão
destinadas a serem guiadas por ele, não é
um budismo genuíno. O Sutra de Lótus
ensina que todas as pessoas são budas, e
que Sakyamuni procurou possibilitar todos
a atingirem a mesma condição de vida que
a dele.
Saito: Sim. Apesar de os demais sutras
exporem a grandiosidade de Sakyamuni e
dos budas de outras terras, eles não
revelaram a grandeza do ser humano da
perspectiva de que todas as pessoas, sem
exceção, têm o potencial para tornarem-se
budas. Somente o Sutra de Lótus
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estabelece de forma plena uma filosofia
de respeito ao ser humano.
Pres. Ikeda: Com relação aos discípulos do
Buda, aqueles que se limitam a venerá-lo
como meros espectadores passivos, não
se qualificam como discípulos verdadeiros.
Se não empenharmos grandes esforços
pela felicidade das pessoas com a mesma
dedicação do mestre - assim como o Buda
e os Bodhisattvas da Terra têm se
empenhado juntos desde o remoto
passado - não podemos ser chamados de
"filhos do rei-leão". Pior, se somos filhos do
rei-leão cujas ações incorrem em zombaria
das "raposas", então não estamos
qualificados como sucessores do rei-leão.
Nós só mantemos o legado do Sutra de
Lótus, a escritura da unicidade de mestre e
discípulo, quando fazemos do coração do
rei-leão o nosso próprio coração e nos
empenhamos juntos com o mestre.
No início, nenhum de nós acreditava que
possuíamos um grande poder e
capacidade. Mas quando adquirimos
coragem com o mestre, a força para agir e
lutar emana de nossa vida. Na realidade,
essa força e capacidade já existem dentro
de nós, pois abraçamos a Lei Mística que é
o rei-leão.
Daishonin escreve:
"Suponhamos que um leão tenha cem
filhotes. Ao notar que suas crias estão
sendo atacadas por outras feras ou aves
de rapina, ele ruge. Com isso, os cem
filhotes se sentirão encorajados e a cabeça
das feras e das aves de rapina serão
partidas em sete pedaços." (WND, pág.
949.)
A tática empregada pelos cem filhotes,
que representam os discípulos, é reunir
coragem adquirida com o rugido do
rei-leão, o mestre, e derrotar as outras
feras e aves de rapina que ameaçam sua
vida.
Saito: Em outras palavras, se os discípulos
só ficam contando com o mestre para lutar
e derrotar as forças do mal sem se
lançarem à luta e conquistarem a vitória,
eles são incapazes de perpetuar o espírito
do mestre.
"Expor os erros dos inimigos
poderosos, sem poupar a própria
vida"
Pres. Ikeda: Nitiren Daishonin clama a seus
seguidores que pratiquem "tal como
Nitiren" (Gosho Zenshu, pág. 1589), e que
"propaguem o Sutra de Lótus como ele o
fez" (WND, pág. 994). Os discípulos que
esperam que o mestre faça algo por eles
são seguidores dos ensinos pré-Sutra de
Lótus. Os verdadeiros discípulos do Sutra
de Lótus são aqueles que lutam da mesma
forma que o mestre.
Em um escrito intitulado "Embudaityu
Gosho" (Sobre Jambudvipa), Daishonin
declara: "Oro para que meus seguidores
sejam filhos do rei- leão e para que jamais
sejam ridicularizados por um bando de
raposas. Lutem para expor os erros dos
inimigos poderosos, sem poupar a própria
vida, tal como faz Nitiren... É realmente raro
encontrar um leão como esse." (Gosho
Zenshu, pág. 1589.)
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Tenho conduzido minha prática de acordo
com essas palavras. Gostaria de
compartilhá-las com os membros da
Divisão dos Jovens que darão
continuidade ao legado da Soka Gakkai.
O Kossen-rufu é uma luta contra as forças
do mal. É uma luta que não pode ser
ganha com uma determinação fraca ou
com uma atitude indiferente. O próprio
Daishonin foi alvo de constantes
perseguições como o exílio e a tentativa
de execução e, durante a Perseguição de
Atsuhara, alguns de seus seguidores foram
decapitados.
O mundo do estado de Buda manifesta-se
em nossa vida quando nos empenhamos
continuamente pelo Kossen-rufu, munidos
de coragem e desafiando a nós próprios, e
quando nossa energia começa a
enfraquecer, criamos ainda mais coragem
e nos motivamos a empenhar ainda mais
esforços. Sem a força do estado de Buda,
não podemos triunfar sobre adversários
poderosos.
Além disso, se não lutarmos com o espírito
de não poupar a própria vida, não
podemos defender os interesses das
pessoas. Gravemos em nosso coração a
frase: "Empenhe-se em expor os erros dos
inimigos poderosos, sem poupar a própria
vida." (Gosho Zenshu, pág. 1589.) A
verdadeira vitória não pode ser
conquistada se não combatermos as
forças do mal e expor "os erros dos
inimigos poderosos". O primeiro presidente
da Soka Gakkai, Tsunessaburo Makiguti,
declarou que devemos nos empenhar
ativamente para que as funções malévolas
sejam reveladas.
Morinaka: No entanto, algumas pessoas se
perguntam por que razão temos de
provocar a manifestação das funções do
mal.
Pres. Ikeda: É nesse aspecto que podemos
ver a diferença fundamental de uma
pessoa com o estado de vida de um
rei-leão. O fato de não vermos essas
funções não quer dizer que elas não
existam. Elas simplesmente estão ocultas.
Portanto, se não provocarmos sua
manifestação e se não revelarmos "os
erros desses inimigos poderosos", as
pessoas acabarão sendo enganadas por
essas funções perniciosas. Em seus
últimos anos de vida, o presidente Toda
também orava para que os três poderosos
inimigos se manifestassem o quanto antes.
Morinaka: Certamente, o líder de uma
campanha não pode atingir a vitória se for
covarde e medroso e se pensar: "Que farei
se o inimigo atacar?" Um grande líder
enfrenta o inimigo diretamente e o
contra-ataca energicamente.
Pres. Ikeda: Esse espírito é ainda mais
importante para nós, os protagonistas de
uma luta espiritual extremamente
significativa. Devemos avançar com a
condição de vida indomável de um
rei-leão. Quando o rei-leão avança, as
funções da maldade fogem. E quando
chega o momento de proteger a Lei
budista, é crucial que desmascaremos
essas funções, revelando-as
resolutamente. Jamais devemos afrouxar a
guarda. Temos de enfrentar os adversários
com toda nossa força e energia. Somente
então podemos ser chamados de leões.
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Saito: Nitiren Daishonin escreve: "Designar
soldados fracos para o primeiro confronto
de uma batalha só serve para aumentar a
força e o poder do inimigo." (Gosho
Zenshu, pág. 37.) Em outras palavras, se
subestimarmos nossos oponentes e
permitirmos que nos vençam nas primeiras
etapas de uma batalha, eles se tornarão
ainda mais poderosos.
Pres. Ikeda: Correto. É justamente por ser a
luta uma questão de importância
fundamental que o rei-leão enfrenta cada
oponente concentrando todas as suas
energias, mesmo quando os que estão ao
seu redor acreditam não ser necessário
desprender tanta força para algo
insignificante.
Devemos empreender uma luta ofensiva,
não defensiva. Como o rei-leão, Nitiren
Daishonin atacou incessantemente a "raiz
da calúnia" e o "único mal fundamental",
que eram a origem dos sofrimentos das
pessoas.
O mesmo princípio aplica-se a nós como
indivíduos. Se, por exemplo, quando nosso
carma negativo se manifesta e poderosos". Sobre esses discípulos que
esquivamo-nos da situação, ou não
desafiamos com firme fé e tentamos fugir
valendo-nos de táticas, sem enfrentar a
verdadeira causa de nosso sofrimento, o
problema só tenderá a complicar-se.
Morinaka: Acredito que todos nós temos
amargas experiências a esse respeito!
Pres. Ikeda: A coragem e a firme fé andam
de mãos dadas. Da mesma forma, a
covardia e a dúvida estão profundamente
conectadas. Na época do exílio na Ilha de
Sado, houve discípulos que criticaram seu
mestre, Nitiren Daishonin, dizendo que a
perseguição não teria acontecido se ele
tivesse propagado seu ensino de um modo
conciliador. A perseguição os levou a
duvidar de seu mestre e até a repudiá-lo.
Saito: Mas o mestre age consciente de que
a perseguição é algo inevitável.
Pres. Ikeda: É óbvio que não devemos
provocar antagonismos nem
ressentimento como resultado de ações
irracionais ou contra o bom senso. Não
obstante, quando propagamos
corretamente a Lei, os obstáculos se
manifestam sem falta. Na realidade, se isso
não ocorre, não estamos praticando o
ensino correto. Mesmo que todos saibam
isso teoricamente, quando chega a hora de
enfrentar a perseguição, os que não têm
uma fé firme e sincera abandonam a
prática.
Quando Daishonin viu que isso ocorria
entre seus discípulos, seguramente se
perguntou por que fugiam em um
momento tão importante, quando ele havia
conseguido "expor os erros dos inimigos
criticavam sua postura, ele escreve: "Estão
se comportando de um modo tão ridículo
como um vaga-lume que ri do Sol e da
Lua, como um formigueiro que desdenha
do monte Hua, como uma fonte ou um
córrego que despreza o rio e o oceano, ou
como a gralha imitando uma fênix." (WND,
pág. 306.)
A única forma de abrir os olhos dessas
pessoas tolas não é com argumentos, mas
fazê-las tomarem contato com esse
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estado de vida imensurável e elevado. Se
uma pessoa não possui uma condição de
vida radiante de um rei-leão, um estado de
vida ilimitado como o céu e vasto como o
mar, não pode assumir a liderança do
Kossen-rufu. Saito: Em "Sobre as
perseguições que recaem ao sábio" Nitiren
Daishonin orienta rigorosamente seus
seguidores durante a Perseguição de
Atsuhara, extremamente preocupado por
ser a vida deles que estava em jogo. Nessa
atitude, podemos perceber sua ardente
determinação de que nenhum de seus
discípulos abandonaria a fé. Sempre que
leio esse escrito, comovo-me
profundamente pela sincera preocupação
do mestre com o bem-estar de seus
discípulos.
Pres. Ikeda: As rigorosas palavras de
Daishonin visavam também a derrotar as
funções do mal. Todos os mestres amam
seus discípulos.
De fato, esse princípio também se aplica à
nossa própria luta individual pelo
Kossen-rufu. É importante que todos nós
sejamos um rei-leão e que estejamos
firmemente decididos a não permitir que
as funções malignas se acerquem dos
companheiros de nossa organização.
Somente por meio dessa luta é que
podemos atingir o estado de Buda. Eis por
que Daishonin diz: "Oro para que meus
seguidores sejam filhos do rei-leão."
(Gosho Zenshu, pág. 1589.)
A cumplicidade entre sacerdotes e
governantes corruptos
Saito: É isto o que Nitiren Daishonin
transmite também na primeira parte de
"Carta de Sado". Ele descreve, com base
em sua própria experiência, o estado de
vida de um rei-leão.
Pres. Ikeda: Daishonin ensina que aqueles
que lutam com esse espírito corajoso, sem
temer nenhum adversário, conseguem
atingir o estado de Buda infalivelmente.
Saito: Sim, é verdade. Ele diz que, sem
falta, essas pessoas atingirão o estado de
Buda exatamente "como o fez Nitiren, por
exemplo". (WND, pág. 302.)
Pres. Ikeda: Daishonin tomou a iniciativa de
praticar como o Buda ensinou e conduziu
seus discípulos com seu próprio exemplo.
Mesmo quando teve de enfrentar várias
perseguições, combateu resolutamente as
funções insidiosas do mal sem recuar um
único passo. Conseqüentemente,
Daishonin pôde descartar sua identidade
provisória e revelar sua profunda e
verdadeira identidade, manifestando o
estado de vida do Buda dos Últimos Dias
da Lei. Ele exorta a seus discípulos a lutar
da mesma maneira e a atingir também a
iluminação.
Morinaka: Daishonin escreve em "Carta de
Sado": "A natureza dos animais é ameaçar
os fracos e temer os fortes. Os eruditos
contemporâneos das diversas escolas são
exatamente assim. Eles depreciam um
homem sábio sem poder, mas temem aos
governantes corruptos. Não passam de
vassalos aduladores. Uma pessoa
demonstra a verdadeira força somente
derrotando um poderoso inimigo. Quando
um governante perverso, em conivência
com sacerdotes de ensinos errôneos, tenta
destruir o ensino correto e eliminar um
homem sábio, os que possuem o coração
Maria Antonieta Ross de Albuquerque (12651-9) / pág. 9.
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do rei-leão atingirão sem falta o estado de
Buda. Como o fez Nitiren, por exemplo.
Não digo isto por arrogância, mas porque
estou profundamente comprometido com
o ensino correto. Uma pessoa arrogante
sempre será dominada pelo medo quando
encontrar um forte inimigo, como o
insolente asura que se encolheu e se
escondeu em uma flor de lótus no lago
Livre de Calor, ao ser repreendido por
Shakra." (WND, pág. 302.)
Pres. Ikeda: Os governantes perversos e os
sacerdotes que pregam ensinos errôneos
conspirarão para perseguir o praticante do
ensino correto. Nos dias de Sakyamuni,
essas pessoas foram o rei Ajatashatru e
Devadatta.9 E nos tempos de Daishonin,
eles foram Hei no Saemon e Ryokan do
templo Gokurakuji.10
Não há inimigo mais poderoso do que os
"governantes perversos" e os "sacerdotes
de ensinos errôneos" que agem em
conivência. Os governantes perversos
exercem tanto o poder material como o
social. Ir contra essa autoridade pode levar
uma pessoa à ruína e, talvez, à morte. Os
sacerdotes de ensinos errôneos, por sua
vez, exercem autoridade religiosa que
influencia o coração e a mente do povo.
Aquele que mantém inabalável seu
compromisso com a justiça, mesmo
quando confrontado com perseguições
derivadas desse tipo de cumplicidade, é
uma pessoa realmente sábia, que
compreendeu perfeitamente a verdade.
O "coração do rei-leão" é caracterizado
pela coragem que surge da percepção da
verdade e também que advém do respeito
e da fé no ensino correto. Por essa razão,
aquele que possui essa coragem não teme
nenhum inimigo, por mais poderoso que
seja.
Saito: Supõe-se que os monges budistas
deveriam dedicar a vida a servir ao povo,
ao seu país e ao budismo. Contudo, os
sacerdotes influentes e as autoridades
religiosas dos dias de Daishonin, como
Ryokan e Doryu,11 ignoraram a veracidade
das palavras do Buda e, ainda por cima,
fizeram do lucro imediato e da
autopreservação a base de suas ações.
Congraçando-se com as autoridades
seculares, foram os principais instigadores
das perseguições contra Daishonin.
Pres. Ikeda: Fazer julgamentos tolos com
base no lucro imediato é próprio do estado
de Animalidade. Portanto, Daishonin
descreve esses indivíduos como
possuidores da "natureza dos animais". Isso
contrasta totalmente com a natureza e o
coração de um rei-leão.
Morinaka: Esses sacerdotes budistas de
outras escolas recusaram o convite de
Daishonin para um debate. Eles não
estavam interessados em aprofundar a
compreensão da Lei. Se realmente
possuíssem espírito de procura, teriam
aceito debater com Daishonin
pessoalmente ou então tentado obter
algumas instruções dele. Contudo, não
fizeram nada disso por serem covardes.
Quando Daishonin encontrava-se longe de
Kamakura, Ryokan ganhou popularidade
bradando aos quatro ventos que estava
preparado para debater com Daishonin a
qualquer momento. Porém, quando
Maria Antonieta Ross de Albuquerque (12651-9) / pág. 10.
 Terceira Civilização - Edição 422 - 01/10/2003 - pág. 5 - Diálogo Sobre Religião Humanística

Prática e Prova", Daishonin escreve: "Ouvi dizer que, quando o sacerdote Ryokan soube
Daishonin chegou a Kamakura, Ryokan
que eu estava longe, em uma província distante, disse a todos que ansiava muito que eu
fingiu estar doente e manteve-se longe voltasse às pressas para Kamakura para debater comigo e tirar as dúvidas das pessoas.

dos olhos de todos.12 Comportar-se de Gostaria de saber se elogiar a si próprio e menosprezar os demais dessa forma é um dos

uma forma tão vergonhosa e desonesta é preceitos praticados por sua escola. O que é pior, quando realmente cheguei a

Kamakura, Ryokan fechou as portas e probiu a entrada de qualquer pessoa. Chegou até
uma manifestação das funções do mal.
mesmo a fingir-se de doente, dizendo que havia pego um resfriado." (WND, pág. 482.)

NOTAS 1. James H. Cone, Martin Malcolm America: A Dream or a Nightmare (Martin,

Malcolm e a América: Sonho ou Pesadelo). Maryknoll, Nova York, Orbis Books, 1991, pág.

241. 2. Nitiren Daishonin escreve: "Este sutra [Sutra de Lótus] é superior a todos os demais.

É como o rei-leão, o monarca de todas as criaturas sobre a terra, e como a águia, a

soberana de todas as criaturas que voam pelos céus." (WND, págs. 929-930.) 3. Grande

Estupa de Sanchi: Estupa localizada na Índia Central. Tem a forma de uma cúpula e é

circundada por balaústres de pedra. A estrutura original foi construída pelo rei Asoka por

volta do segundo século a.C. 4. Dra. Axinia Djourova: Pesquisadora especializada em

manuscritos eslavos e diretora do Centro Ivan Dujcev de Estudos Eslavo-Bizantinos da

Universidade de Sofia, Bulgária. Seu diálogo com o presidente Ikeda, Utsukushiki Shishi

no Tamashii (A beleza do coração de um leão), foi publicado em japonês, búlgaro e em

outras línguas. Somente quando a fonte da esperança jorra de nossa vida é que

podemos ofertar coragem e esperança aos demais que trabalham e se dedicam ao

nosso lado. Compartilhar esperança é a missão fundamental de um líder. 5. Nitiren

Daishonin escreve: "O Buda era um e os seguidores não-budistas eram muitos. Mas como

estes últimos eram como formigas e o primeiro era como um dragão e o rei-leão, o Buda

pôde vencê-los com firmeza." (Gosho Zenshu, pág. 1301.) 6. Daishonin diz por exemplo:

"Quando o leão ruge, todas as outras criaturas se calam" (WND, pág. 959), e "Se [um cão]

late para um leão, suas entranhas se deterioram. Um asura que tentou devorar o Sol e a

Lua teve a cabeça partida em sete pedaços. Como Devadatta feriu o Buda, a terra se

abriu e o tragou vivo". (WND, pág. 494.) 7. Daishonin escreve: "Dizem que o rei-leão

avança três passos e então concentra-se para o salto, desprendendo a mesma força

para atacar uma diminuta formiga ou um animal feroz. Ao inscrever este Gohonzon para

sua proteção [para a filha de Shijo Kingo], Nitiren agiu como o rei-leão. A isso se refere o

sutra quando fala do "poder [dos budas] que tem a ferocidade do leão". (WND, pág. 412.)

Ele também declara: "O rei-leão... sempre emprega força total no ataque,

independentemente da força de seu oponente." (WND, pág. 1039.) 8. Nitiren Daishonin diz:

"O Sutra de Lótus é como o rei-leão." (WND, pág. 949.) Ele fala também de "uma mulher

que abraça o rei-leão do Sutra de Lótus." (Ibidem.) 9. Ajatashatru e Devadatta:

Ajatashatru foi rei de Magadha nos dias de Sakyamuni. Quando ainda era príncipe,

tornou-se amigo de Devadatta, primo e discípulo de Sakyamuni. Devadatta incitou

Ajatashatru a matar seu pai, o rei Bimbisara, um grande defensor de Sakyamuni, e a

usurpar o trono. Ajatashatru também tentou matar Sakyamuni e seus discípulos soltando

uma manada de elefantes embriagados em sua direção. Devadatta, por sua vez,

abandonou a fé, ofendeu e perseguiu o Buda. Dizem que caiu vivo no inferno de

incessante sofrimento. 10. Hei no Saemon e Ryokan do templo Gokurakuji: Hei no Saemon

foi um oficial do governo Hojo que prestou serviço a dois sucessivos regentes, Hojo

Tokimune e Hojo Sadatoki. Ele chegou a exercer grande influência nas questões militares

e políticas como subchefe do Departamento de Assuntos Militares. Colaborou com

Ryokan, da escola budista Preceitos da Verdadeira Palavra e com outros sacerdotes

influentes para perseguir Daishonin e seus seguidores. 11. Doryu (1213- 1278): Sacerdote

da escola Rinzai do Zen Budismo, conhecido também como Rankei (Lan-ch'i). Nascido

na China, chegou ao Japão em 1246, e estabeleceu-se no templo Sennyuji, em Quioto.

Uniu-se a Ryokan e a outros sacerdotes com o intuito de instigar o governo a perseguir

Daishonin. Essa campanha culminou na Perseguição de Tatsunokuti. 12. Em "Ensino,

Maria Antonieta Ross de Albuquerque (12651-9) / pág. 11.