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A fotografia do filme foi pensada principalmente para evidenciar o drama da

personagem a partir de planos mais estáticos e fechados com o intuito de salientar as


expressões e os gestos das duas personagens principais como também planos mais
abertos que pudessem intensificar a solidão de Clara em seu grande apartamento e isso
se daria a partir do uso de lentes grande angulares e teleobjetivas.
Na busca pela melhor opção de câmera e lentes dentro do que poderíamos
providenciar me deparei com duas opções durante a pré-produção: uma Blackmagic
Pocket só o corpo e uma Canon 5D com duas lentes: uma 24-70mm e uma 50mm. Para
decidir levamos em conta a qualidade da imagem e as opções de lente e
armazenamento. Para a a Blackmagic tínhamos adaptador para usar qualquer lente mas
não tínhamos lentes para usar além da básica 18-55mm e as que vinham com a Canon
5D, sem contar que teríamos que levar em consideração que esta câmera em questão
cropa (corta) a imagem mais do que o normal. Já a Canon 5D nos daria uma imagem
com ótima qualidade (full HD 1920x1080), mais campo de visão e duas lentes boas que
poderiam suprir nossas necessidades, portanto decidimos por esta.
Eu ainda tenho pouca experiência prática com direção de fotografia apesar de ser meu
campo de interesse. Entrei no projeto Do Diabo no TCC 1 pois no anteprojeto pensava
em fazer monografia, porém o tempo passou e fui ficando muito confusa e incerta sobre
se era isso mesmo que queria fazer e ao conversar com Heitor ele me disse que estava
sem direção de fotografia definida e que havia um integrante do grupo que poderia sair
e perguntou se eu não aceitaria entrar no lugar então avaliei o projeto e decidi participar.
Já havia feito a fotografia do vídeo clipe de um amigo antes, mas muito
precariamente. Porém, já estava com planos de fazer um intensivo de férias de direção
de fotografia em São Paulo na Academia Internacional de Cinema e casou de ser alguns
meses antes do filme, o que me ajudou bastante. Também participei como segunda
assistente de fotografia do curta metragem independente Quarto Para Alugar, que
contou com mais recursos e uma equipe bem maior e que coincidentemente tinha muito
em comum com Do Diabo e a partir dele pude ter algumas noções do que precisaríamos
para o nosso filme.
Fizemos várias visitas à locação do filme e pude de cara observar as dificuldades que
enfrentaria. O apartamento que gravamos é enorme, com cômodos bem amplos, janelas
grandes e várias varandas sem cortinas nem nada, ou seja, como gravaríamos durante o
dia eu teria que driblar a forte luminosidade de alguma maneira pois a proposta do filme
era algo mais obscuro e já íamos trabalhar com lentes mais abertas. Nestas visitas
fizemos também ensaios com as atrizes durante os quais eu e o diretor decupamos as
cenas, posicionando-as e posicionando a câmera, neste momento com a minha câmera
mesmo, e tirando fotos para termos como base depois.
Peguei o mesmo contato de equipamento de luz do filme Quarto Para Alugar e
conseguimos um kit de luz com um set light de 1000w e dois refletores Fresnel de 350w
e dois de 600w, que no final das contas infelizmente não nos serviu muito pois não
tínhamos o suporte necessário para ligá-los na tomada, sem contar que a estrutura da
locação é muito precária, antiga e arriscada e depois que tentamos usar o set light de
1000w e este queimou, ficamos ainda mais receosos. Para complementar o material de
tínhamos gelatina azul, um tripé Manfrotto e rebatedores de pano prata, preto e dourado
que estavam extremamente sujos e infelizmente também não nos serviram. Pensei que
para melhor resolver a questão da luminosidade precisaríamos de filtros ND, porém
infelizmente não conseguimos este material, mesmo buscando emprestar em alguns
lugares e com vários contatos, e não tínhamos condições de comprá-los.
Partindo para as gravações eu tentei usar a abertura do diafragma mais fechado, entre
8.0 e 11.0, mas não foi possível obter a penumbra desejada e eu não pude contar com
um monitor para ter uma visão melhor do que eu estava gravando. O ISO preferi deixar
sempre entre 160 e 320, uma vez ou outra 640 devido a necessidade, para priorizar a
qualidade da imagem e evitar granulações e também por recomendações de amigos que
trabalham com a Canon 5D. Desta forma, a melhor maneira foi evitar ângulos contra a
luz e para isso tínhamos que escolher os horários exatos para gravar. A sala e a cozinha,
por exemplo, ficam em lados opostos do apartamento e para não pegar a luz do sol
incidindo diretamente nessas áreas só podíamos gravar de um lado de tarde, pois fica
para a nascente do sol e do outro de preferência de manhã ou final da tarde.
Quando tínhamos tempo, mesmo que já tivéssemos um take bom eu pedia para
gravarmos outra vez alterando as configurações da câmera para ficar mais escuro ou
mais claro. Todas essas questões me angustiavam bastante e além de tudo havia um
problema de gravar a partir do final da tarde em diante pois perdíamos muita luz e não
tínhamos equipamento suficiente para iluminar, como dito anteriormente. No único dia
que isso aconteceu, devido a muitos atrasos e outras questões de produção, foi durante a
cena do diálogo final na varanda e eu tive que usar um Fresnel de 350w com gelatina
azul para iluminar levemente o rosto das atrizes.
A maioria das cenas são estáticas, com pouco movimentos de câmera. Eu,
particularmente, gostaria de ter me aventurado mais nesta parte explorando mais os
planos, porém apesar de tudo também não pude contar com um foquista e nem um
Follow Focus, que proporcionaria maior facilidade e agilidade para mudar o que estava
em foco. Além disso, o filme em si já carrega diálogos longos e poucas cenas no geral e
explorar ainda mais essa questão poderia deixar o filme muito monótono. Já em relação
ao posicionamento da câmera e a escolha dos enquadramentos foi mais satisfatória uma
vez que eu e Heitor estivemos em sintonia para defini-los e eu tive muito liberdade para
sugerir e assumir novas ideias.
Após as gravações eu e Heitor assistimos a todo o material juntos na minha casa a fim
de escolher os melhores takes de cada cena de acordo com a iluminação e a atuação das
atrizes. Na minha opinião foi muito importante tê-lo feito pois pude observar de perto e
várias vezes os meus erros. Nas cenas em que Heitor abriu mão de fazer uma
panorâmica aqui ou ali, a pedidos meus, eu pude perceber que o tripé estava muito
travado e deve ter sito por eu ter esquecido de virar alguma das roscas para possibilitar
mais movimento e isso deixou o movimento muito retilíneo ou muito preso, digamos
assim. Se pudesse voltar no tempo gostaria de refazê-las. As com câmera na mão já
achei melhores apesar da câmera ser muito pesada e tremer muito na mão. Porém,
infelizmente muitos takes bons foram deixados de lado na hora da montagem em prol
de priorizar a fluxo das cenas e o encaixe dos cortes.
O ponto mais crítico da fotografia, de fato, foi a iluminação que dificultou manter o
melhor equilíbrio entre abertura, ISO e diafragma e manter tudo em foco. Eu gostaria
que tivéssemos tido mais tempo para achar outra locação e/ou mais material. A questão
das datas também influenciou muito, pois sempre tínhamos problemas para escolher
uma em que a maioria pudesse comparecer, que a locação estivesse disponível, que a
câmera pudesse ser emprestada e, principalmente, que o tempo estivesse bom, pois tudo
isso influencia em quase todas as funções da equipe.
Além disso houve a questão das atuações já que tínhamos uma atriz muito melhor e
mais preparada do que a outra. Durante as gravações, as cenas da atriz coadjuvante
ficavam de primeira satisfatórias e nos dava mais tempo para experimentar ou alterar
algo. Já com a atriz principal demorávamos mais e perdíamos o tempo extra e já nos
atrasávamos para a próxima cena. Apesar disso e no final das contas, acredito que o
filme está com uma imagem de qualidade, com nitidez e contraste satisfatórios.

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