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Literatura

Saudações aos vestibulandos!


No presente artigo tratarei de um tema muito recorrente nos grandes vestibulares do
país: o Modernismo brasileiro. Falarei, mais especificamente, sobre a Semana de Arte
Moderna, que em 2007 completou 85 anos.
Estejam atentos também quanto aos vinte anos do falecimento do nosso querido poeta
modernista (de segunda fase), Carlos Drummond de Andrade, completados no dia 17 de
agosto de 2007. Os vestibulares da FUVEST e UNICAMP exigem uma de suas obras, A Rosa
do Povo (1945), em seus exames desde o vestibular 2007, aumentando as chances do autor
ser cobrado também em outros vestibulares do país!
Bons estudos e muita concentração e garra nesta reta final, rumo a uma vaga na
Universidade!

Semana de Arte Moderna – 85 anos

Em 22 de fevereiro de 2007 a Semana de Arte Moderna (doravante SAM) completou 85


anos. Este evento é considerado o mais importante do movimento artístico brasileiro.
Organizada por um grupo de artistas e intelectuais paulistanos e cariocas (membros da
elite, os quais tinham a possibilidade de viajar à Europa e entrar em contato com as novas
artes), o evento ocorreu entre 11 e 18 de fevereiro de 1922, no Teatro Municipal de São Paulo.
Entre seus idealizadores estão Oswald de Andrade, Di Cavalcanti, Ronald de Carvalho,
Mário de Andrade, Anita Malfatti, entre outros.

Figura 1:
Cartaz publicitário do evento no Teatro Municipal de São
Paulo

Figura 2:
Catálogo de exposições, por Di Cavalcanti

Panorama Histórico

No início do século XX alguns intelectuais começam a sentir necessidade de renovação


no âmbito artístico e intelectual do país, os quais ainda permaneciam ligados ao
conservadorismo academicista e às influencias francesas da belle époque.
O momento político social deste período é bastante conturbado: a Europa vivia grandes
avanços tecnológicos, uma industrialização intensa e a pressão do pré e do pós-guerra
(Primeira Guerra Mundial – 1914/1918). A classe operária crescente, agora passa a lutar por
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melhores condições de vida e trabalho, o que acarretará na formação de sindicatos e o
fortalecimento das idéias Socialistas de Marx e Engels.

Com o início da Primeira Guerra Mundial, o homem entra em situação de conflito


consigo próprio, o que transforma radicalmente o seu modo de pensar a vida e o mundo.
É nesse período que surgem as chamadas Vanguardas Européias, que são movimentos
artísticos radicais que propunham a renovação artística. O Futurismo de Marinetti, disseminado
entre os artistas brasileiros através de Oswald de Andrade (após sua viagem de volta da
Europa, em 1912), teve grande influência sobre os modernistas brasileiros, especialmente os
da primeira geração, dentre os quais os organizadores e participantes da SAM.
No Brasil, o panorama político-social foi marcado por diversos movimentos sociais, que
datam do fim do século XIX e início do XX, como a Revolta de Canudos (1896/1897), o
fenômeno do Cangaço, o fanatismo religioso - que possui como principal figura Pe. Cícero, do
Juazeiro do Norte. Temos também a Revolta da Vacina (1904), da Chibata (1910), as Greves
Operárias (1917), entre outros, o que demonstrava a insatisfação popular diante das ações (ou
não-ações) por parte do governo. Lembremos que neste período o Brasil vive a chamada
República café-com-leite, em que São Paulo e Minas Gerais revezavam-se no poder.
Diante de tal panorama social, alguns intelectuais passam a escrever uma literatura
crítica, que denuncia a realidade do país. Euclides da Cunha publica em 1902 sua obra Os
Sertões, que revela a realidade sertaneja de total abandono pelo Estado, recorrentes a
medidas “arcaicas” como forma de driblar a miséria em que vivem. O autor retrata também os
conflitos entre o Exército brasileiro e a comunidade liderada por Antônio Conselheiro,
repudiando, ao final da obra, a covardia por parte do Estado. Monteiro Lobato também se
destaca nesse período ao retratar a condição miserável do caboclo vale-paraibano (Jeca Tatu),
que se intensificou com o fim da cafeicultura na região do Vale do Paraíba.
Ambos os artistas citados acima fazem parte do chamado Pré-modernismo, uma vez
que renovam seus temas, que agora tratam da realidade brasileira, porém, preservam o
conservadorismo formal (textual), fruto da arte acadêmica. As renovações formais ficarão por
conta da primeira geração modernista, que se inicia a partir da SAM, em 1922.

Figura 3:
Monteiro Lobato – Taubaté-SP
1882/1948

Antecedentes da Semana de Arte Moderna

As produções artísticas modernas tiveram início nas primeiras décadas do século XX, e
ao longo dos anos, sob influência dos movimentos de vanguarda da Europa, a arte foi ficando
mais “ousada” com a finalidade de romper com as “regras” ditadas pelas estéticas acadêmicas,
como o Parnasianismo, por exemplo.
Em 1911, Oswald de Andrade, em parceria com Emílio de Menezes, funda o jornal
humorístico O Pirralho, onde faz paródias e sátiras de textos parnasianos e românticos
consagrados, além de utilizar a linguagem “macarrônica” típica de algumas regiões de São
Paulo, proveniente da imigração italiana, em especial. Ao voltar da Europa, Oswald traz
consigo as influências futuristas, e se encanta pelo verso livre.
Em 1917 intensificam-se as produções artísticas modernas, dentre as quais teremos a
publicação do livro Há uma Gota de Sangue em Cada Poema, onde Mário de Andrade
compõem poemas que fazem crítica aos horrores da Primeira Guerra Mundial; é interessante
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notar que a forma ainda preserva um certo conservadorismo que só será deixado de lado a
partir de 1922.
Mas o estopim para a criação da SAM será proveniente da exposição dos quadros de
Anita Malfatti, em dezembro de 1917. Malfatti estudou na Alemanha e Estados Unidos,
trazendo em sua

obra forte influência cubista e expressionista. Na ocasião, Monteiro Lobato fez a cobertura de
tal exposição em nome do jornal para o qual trabalhava, e indignado com a obra de Anita
Malfatti, escreveu duras críticas à obra desta e ao movimento modernista que via nascer
naquele momento. O artigo “Paranóia ou Mistificação?” foi publicado no dia 20 de dezembro de
1917 e marca o estopim para o desencadeamento do Movimento Modernista Brasileiro.
Indignados com a agressividade de Lobato, que criticava a inovação da obra de Anita,
chamando-a, em outras palavras, de “louca”, os artistas modernistas se uniram e passaram a
idealizar um movimento de grande impacto na sociedade paulistana, a fim de romper de vez
com a arte academicista, conservadora que havia no Brasil.
A partir de então esse grupo passa a unir esforços para a constituição da Semana de
arte Moderna, que ocorrerá anos mais tarde.

Figura 4:
A Boba – Anita Malfatti

Figura 5: O homem amarelo- Anita Malfatti

A Semana

O ano de realização da Semana de Arte Moderna não foi escolhido por acaso: 1922
marcaria o centenário da independência política do Brasil. A escolha para a realização do
evento adquire, desta forma, um caráter simbólico: marcaria a independência cultural do país, e
assim o foi.
A participação de Graça Aranha, membro da Academia Brasileira de Letras, possibilitou
que o movimento ganhasse alguma credibilidade. A Semana foi marcada por diversas
apresentações, que foram das artes plásticas à música, além de recitais, explanações teóricas
a respeito da nova arte, etc.
O intuito do movimento era chocar o público consumidor da arte acadêmica, e tal
objetivo foi alcançado. Do dia 11 ao 18 de fevereiro de 1922, destaca-se o dia 15 de fevereiro,
quando Ronald de Carvalho recitou o poema Os Sapos, de Manuel Bandeira (que não pode
comparecer ao evento), poema este que faz uma crítica ao parnasianismo, se referindo ao
poema Profissão de Fé, de Olavo Bilac. O público, furioso, começou a gritar e xingar os
modernistas, gerando uma grande confusão no Teatro Municipal de São Paulo. O poema de
Bandeira tornou-se uma espécie de hino modernista, e os ideais modernos foram semeados
durante a SAM, atingindo os ideais de seus organizadores.
Após o evento, o parnasianismo foi aos poucos perdendo sua força e dando espaço à
nova arte, que pouco a pouco foi sendo assimilada pelos apreciadores de arte por todo o país.
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Vejam a seguir um pequeno trecho do poema de Manuel Bandeira que causou grande
furor no teatro municipal de São Pulo, em 15 de fevereiro de 1922:

Os Sapos Vede como primo


(Manuel Bandeira) Em comer os hiatos!
Que arte! E nunca rimo
“Enfunando os papos, Os termos cognatos.
Saem da penumbra,
Aos pulos, os sapos. O meu verso é bom
A luz os deslumbra. Frumento sem joio.
Faço rimas com
Em ronco que aterra, Consoantes de apoio.
Berra o sapo-boi:
- "Meu pai foi à guerra!" Vai por cinqüenta anos
- "Não foi!" - "Foi!" - "Não foi!". Que lhes dei a norma:
Reduzi sem danos
O sapo-tanoeiro, A fôrmas a forma.
Parnasiano aguado,
Diz: - "Meu cancioneiro Clame a saparia
É bem martelado. Em críticas céticas:
Não há mais poesia,
Mas há artes poéticas

(...)”

Desdobramentos da Semana de Arte Moderna

Com o término do evento as produções artísticas se intensificaram, e logo artistas


adeptos das correntes anteriores passaram a participar ativamente do Modernismo, é o caso
de Cassiano Ricardo, poeta joseense.
A arte modernista foi, posteriormente, dividida em fases/gerações: a primeira geração
(fase heróica) vai de 1922 à 1930; a segunda geração inicia-se em 1930 e segue até 1945
(fase de amadurecimento) e a terceira geração data de 1945 até os nossos dias.
A primeira geração, também chamada Fase Heróica (1922/1930), teve como papel
fundamental a implantação do modernismo no país, por isso seu caráter mais radical, de busca
da identidade nacional, de uma arte que nos representasse enquanto brasileiros. Nossos
artistas queriam, neste momento, romper com as estéticas anteriores, o que explica o
radicalismo estético, o experimentalismo, a linguagem coloquial, brasileira.
As gerações seguintes iniciaram suas produções já com o Modernismo consolidado, por
isso deixaram o radicalismo de lado e passaram a se preocupar com as questões sociais e
existenciais, ao contrário da primeira geração.
Bons estudos a todos vocês!

Daniele de Aquino dos Santos


Professora de Literatura do CASD Vestibulares

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