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ESTUDOS NO SERMAO DO MONTE por D, MARTYN LLOYD-JONES EDITORA FIEL MISSAO EVANGELICA LITERARIA ESTUDOS NO SERMAO DO MONTE Traduzido do original em inglés: STUDIES IN THE SERMON ON THE MOUNT Copyright © Inter-Varsity Press Quinta edigdo em portugués — 2001 Todos os direitos reservados. E proibida a reproducdo deste livro, no todo ou em parte, sem a permissao escrita dos Editores. EDITORA FIEL da Missdo Evangélica Literaria Caixa Postal 81 Sao José dos Campos - SP 12201-970 XU XIV xv XVI XVII XVID XIX XXID XXII XXIV XXVI XXVII XXVIII XXIX {NDICE PREFACIO INTRODUGAO GERAL PERSPECTIVA E ANALISE GERAIS . INTRODUGAO AS BEM-AVENTURANCAS . BEM-AVENTURADOS OS HUMILDES DE ESPIRITO (5:3) . BEM-AVENTURADOS OS QUE CHORAM (5:4) . BEM-AVENTURADOS OS MANSOS (5:5) JUSTIGA E BEM-AVENTURANGA (5:6) PROVAS DE APETITE ESPIRITUAL (5:6) . BEM-AVENTURADOS OS MISERICORDIOSOS (5:7) BEM-AVENTURADOS OS LIMPOS DE CORAGAO (5: 8) BEM-AVENTURADOS OS PACIFICADORES © CRENTE E A PERSEGUICAO (5:10) . REGOZIJO NA TRIBULACAO (5:11-12) . © SAL DA TERRA (5:13) . A LUZ DO MUNDO (5:14) . ASSIM TAMBEM BRILHE A VOSSA LUZ (5: 3-16). CRISTO E O ANTIGO TESTAMENTO (5:17-18) . CRISTO CUMPRINDO A LEI E OS PROFETAS (5:17-19) .... JUSTIGA MAIOR QUE A DOS ESCRIBAS E FARISEUS (5:20) A LETRA E O ESPERITO (5:21-22) . NAO MATARAS (5:21-26) A GRANDE PECAMINOSIDADE DO PECADO A MORTIFICACAO DO PECADO (5:29-30) ... © ENSINO DE CRISTO SOBRE O DIVORCIO (5:31-32) © CRENTE E OS JURAMENTOS (5:33-37) .. OLHO POR OLHO, DENTE POR DENTE (5:38-42) . A CAPA E A SEGUNDA MILHA (5:38-42) .... NEGANDO-SE E SEGUINDO A CRISTO (5:38-42) . AMAI OS VOSSOS INIMIGOS (5:43-48) ..... QUE FAZEIS A MAIS DO QUE OS OUTROS? (5:43-48) . VII i 28 37 48 37 7 87 109 119 128 138 148 159 169 177, 186 196 206 216 225 235 244 253 261 270 279 289 XXXI XXXIT XXXII XXXIV XXXV XXXVII XXXVI XXXIX XL XLI XLII XLUI XLIV XLV XLVI XLVI XLIX ui LI LU LIV LV LVI LVI LVI LIX LX VIVENDO A VIDA RETA (6:1-4) 0.0.0. 0:0ceceeeeeee seer ees 299 COMO ORAR (6:5-8) . 310 © JEJUM (6:16-18) . 321 QUANDO ORARES (6:9) . 332 ORAGAO: ADORACAO ( 10) 343 ORACAO: PETICAO (6:11-15) 352 TESOUROS NO CEU E NA TERRA (6:19-20) 362 DEUS OU AS RIQUEZAS (6:19-24) . 370 A IMUNDA SERVIDAO AO PECADO (6:19-24) . 380 NAO ANDEIS ANSIOSOS (6:25-30) 390 AVES E FLORES (6:25-30)..... 399 A PEQUENA FE! (6:30) .... 407 AMPLIANDO A Fé (6:31-33) . 417 A PREOCUPACAO: SUA CAUSA E SUA CURA (6:34) 428 NAO JULGUEIS (7:1-2) 439 © ARGUEIRO E A TRAVE (7:1-5) .... 451 JUIZO ESPIRITUAL E DISCRIMINACAO (7:6) 462 BUSCANDO E ENCONTRANDO (7:7-11) 473 A REGRA AUREA (7:12) 483 A PORTA ESTREITA (7:13-14) ... 493 © CAMINHO APERTADO (7:13-14) . 504 OS FALSOS PROFETAS (7:15-16a) ... 515 A ARVORE E SEUS FRUTOS (7:15-20).... 526 A FALSA PAZ (7:21-23) . 535 HIPOCRISIA INCONSCIENTE (7:21-25) 546 OS SINAIS DA AUTO-ILUSAO (7:21-23) .. 556 OS DOIS HOMENS E AS DUAS CASAS 566 ROCHA OU AREIA? (7:24-27) .. A PROVA E OS TESTES DA FE : ee PREFACIO Este volume constitue-se de sessenta sermdes que foram pregados, em sua maioria, em sucessivos domingos, pela manha, no decurso de meu ministérlo regular na Capela de Westminster. Esta sendo publicado por uma tinica razdo, a saber, que no posso mais tolerar a pressdo que me é feta, por um grande n&mero de pessoas, algumas das quais ouviram meus sermées, quando os preguei, e outras que os tam lido na revista de nossa igreja. Tais leitores nao precisardo de qualquer explicagdo no que toca A forma em que esses sermées foram publicados, embora isso bem possa ser necessdrio no caso de outros leitores. Estes capitulos sao registros de sermées anotados taquigraficamente (néo dispunhamos, na ocasiao, de gravadores de fita), Houve um minimo de corregao e alteragdo, e nenhuma tentativa foi feita para ocultar, e muito menos para obliterar, a sua forma homilética. Isso foi observado de maneira deliberada, por diversos motivos. Estou plenamente convencido de que a maior necessidade da Igreja moderna éa volta a pregacdo sob moldes expositivos. Gostaria de salientar ambos esses vocdbulos, “pregacdo” e “expositiva”, sobretudo o primeiro. Um sermao nao é um ensaio literdrio, e ndo tem por escopo primario a publicagdo; antes, o seu propésito é ser ouvido, a fim de produzir um impacto imediato sobre os ouvintes. Isso necessariamente implica em que 0 sermao deve revestir-se de certas caracteristicas que nao se encontram e nem sao desejéveis em estudos escritos. Privar um sermao dessas caracteristicas, caso deva ser subseqiientemente publicado, parece-me ser algo totalmente errado, porque, nesse caso, um sermao deixaria de ser um sermao, tornando-se em algo que no pode ser descrito. Suspeito que a escassez da verdadeira pregacdo em nossos dias é 0 fato que a maioria dos sermonérios impressos tem sido claramente preparada para que seja lida, e nao para que seja ouvida pelo publico. Seu formato e seus gostos sdo mais literarios do que homiléticos. Uma outra qualidade da pregagao expositiva € que nao se trata de mera exposi¢ao de um versiculo ou trecho, e nem de algum comentario superficial; o que Ihe empresta carater homilético é que se trata de uma mensagem, dotada de forma e padrao distintivos, ‘Actesca-se a isso que um sermao sempre deve ser aplicado, sendo também necessario demonstrar a sua relevancia a alguma situagao contemporanea. Constantemente solicitam-me a conferenciar acerca da pregacdo expositiva. Raramente cedo diante de tais pedidos, pois creio que a melhor maneira de fazé-lo é exemplificar esse tipo de pregacdo na pratica. Minha expectativa é que o presente volume, apesar de suas muitas falhas, de alguma maneira preste ajuda quanto a esse particular; mas tal resultado nao poderia ser obtido se tivéssemos feito extirpagdes drdsticas no mesmo ou tivéssemos tentado emprestar-Ihe um aspecto literario. vil Aqui, pois, estdo os sermées, ‘com defeitos e tudo”. Tanto aqueles que nao se in- teressam pela exposicao biblica como aqueles que nao apreciam a pregacdo como uma atividade, provavelmente ficardo irritados diante dos defeitos de estilo, como, por exemplo, “a arte da repeticao” por amor a énfase, ou como os “maneirismos de pulpito” (como se isso fosse pior do que qualquer outra variedade de maneirismo)). Tudo quanto eu peco que esses sermées sejam lidos e considerados por causa daquilo que eles sao, daquilo que pretendem realizar. Minha maior esperanca e desejo é que, embora em pequena escala, esses sermées estimulem um interesse novo pela pregacdo expositiva. Alguns pregadores talvez se sintam encorajados ao tomarem conhecimento que esse tipo de sermao, que dura a média de quarenta minutos, pode ser pregado, em uma manha de domingo, em qualquer igreja comum de cidade, nestes nossos t4o agitados dias. As duas pessoas que sao as maiores responsaveis pela publicacao deste volume em forma impressa sao a Sta. F. Hutchings, que, quase como um milagre, foi capaz de anotar ‘taquigraficamente os sermées, e minha filha, Elizabeth Catherwood. A semelhanga de muitos de meus colegas pregadores, reconhego que o mais severo e melhor critico que tenho é minha esposa. D, M. Lloyd-Jones Westminster Chapel Buckingham Gate Londres, S. W. 1 Margo de 1959. vill Capitulo I INTRODUCAO GERAL Quando se examina qualquer ensinamento, é regra sabia proceder do geral para o particular, Essa é a tinica maneira de “nao se perder de vista o bosque por causa da arvore”. Essa regra reveste-se ainda de maior importancia em conexdo com o Sermao do Monte. Cumpre-nos observar, pois, que desde o comeco precisam ser formuladas certas perguntas a respeito do tamoso Sermao do Monte e seu papel na vida, maneira de pensar e atitudes dos crentes. Aindagacdo ébvia pela qual devemos comecar é a seguinte: Por que deveriamos ao menos tecer consideracées a respeito do Sermao do Monte? Por que deveriamos cnamar a sua atengdo para esse sermao e seus ensinos? Bem, nao digo que é 0 papel de um pregador explicar os processos de seu proprio coragdo e de sua propria mente; mas é evidente que nenhum homem deveria pregar a menos que sinta que Deus Ihe deu uma mensagem. £ obrigatorio, para qualquer individuo que queira pregar e expor as Escrituras, que espere pela lideranga e orientagaéo divinas, Portanto, meu pressuposto fundamental é que a principal razdo para que eu pregue sobre o Serméo do Monte é que tenho sentido essa persuasao, essa compulsao, essa orientagado do Espirito. Afirmo-o de maneira deliberada, porquanto, se me fosse dado 0 direito de escolher, eu ndo teria preferido pregar uma série de sermées sobre o Sermdo do Monte. Conforme entendo esse senso de compulsao, sinto que a razao particular para esta série 6 a condicao peculiar da vida da Igreja Crista em geral, nestes nossos dias. Dizer que a caracteristica mais ébvia da moderna Igreja Crista ¢, infelizmente, a superficialidade, segundo penso nao é formular um juizo exageradamente severo. Esse juizo nao se alicerga somente sobre observagdes contempordaneas; fundamenta- se muito mais sobre observagées contempordneas a luz das épocas e eras anteriores da vida da Igreja. Nada existe de mais salutar para a vida crista do que a leitura da Historia da Igreja, lendo-se novamente os grandes movimentos do Espirito de Deus e tomando-se conhecimento do que tem sucedido no seio da Igreja em diversas épocas de sua existéncia. Ora, penso que qualquer pessoa que contemple o estado atual da Igreja, a luz desse pano de fundo, seré levada, ainda que com relutancia, a conciusao que a mais notdvel caracteristica da vida da Igreja atual, conforme j4 declarei, 6 a sua superficialidade. Quando assim assevero, ndo estou pensando somente na vida e atividade da Igreja, no sentido evangelistico. Quanto a esse particular, penso que todos concordarao que a superficialidade é a mais Obvia caracteristica da Igreja moderna. Todavia, ndo estou pensando somente nas modernas atividades evangelis- ticas da Igreja comparadas e contrastadas com os grandes esforgos evangelisticos no ESTUDOS NO SERMAO DO MONTE passado — a atual tendéncia para a turbuléncia, por exemplo, bem como parao usode meios que teriam chocado e horrorizado os nossos antepassados; tenho igualmente em vista a vida da Igreja em geral, onde a mesma colsa se verifica, até em questdes como © conceito de santidade expresso pela Igreja e toda a sua abordagem da doutrina da santificacdo. Para n6s, o que mais importa é descobrir as causas dessas condigdes. No que me diz respeito, gostaria de sugerir que uma das causas fundamentais é a nossa atitude para com as Escrituras, 0 fato que nao as tomamos a sério, o fato que ndo as aceitamos como elas so, € 0 fato que ndo permitimos que elas falem conosco. Paralelamente a isso, talvez devamos aludir Aquela invaridvel tendéncia que temos de passar de um extremo para outro. Contudo, a causa primaria, segundo penso, é a nossa atitude para com a Biblia, Permita-me explicar-Ihe, um tanto mais detalhadamente, o que eu quero dizer com isso. Na vida crista, coisa alguma é téo importante quanto a maneira como nos aproximamos da Biblia, quanto a maneira como a lemos. Ela é 0 nosso Gnico manual de instrugées, a nossa tinica fonte informativa, a nossa tinica autoridade. Nao fora a Biblia, nada poderfamos saber acerca de Deus e da vida crista, em qualquer sentido verdadeiro. Podemos extrair diversas dedugdes com base na natureza (e talvez com base em diversas experiéncias misticas), mediante as quais cheguemos a uma certa crenca na existéncia de um supremo Criador. Entretanto, penso que a maioria dos evangélicos concorda — segundo se tem aceito ao longo da ja prolongada e tra- dicional Histéria da Igreja — que nao possuimos qualquer outa autoridade fora desse Livro. Nao podemos depender exclusivamente das experiéncias subjetivas, porquanto existem maus espiritos tanto quanto existem espiritos bons; e também ha experiéncias espirias. Na Biblia, portanto, é onde encontramos a nossa unica autoridade. Pois bem, é obviamente importante que nos aproximemos da Biblia de uma maneira correta. E mister que comecemos a concordar que a mera leitura das Escrituras nao basta por si mesma. E possivel lermos as Escrituras de uma maneira téo mecAnica que disso nao derivemos qualquer beneficio. Eis a yazdo pela qual penso que precisamos agir com cautela diante de toda espécie de regra e regulamentagdo na questao da disciplina, na vida espiritual. E coisa recomendavel lermos diariamente a Biblia, mas tal exercicio pode ser bastante sem proveito se meramente o fizermos com a finalidade de dizermos que costumamos ler a Biblia todos os dias. Advogo ardorosamente os esquemas de leitura biblica, mas temos de cuidar para que, no uso desses esquemas, ndo nos contentemos em apenas ler a porcao didria e entdo nos afastemos das Escrituras sem pensar e sem meditar. Isso pode ser algo inteiramente inutil. Nossa abordagem da Biblia é uma atividade que se reveste de vital importancia. Ora, a propria Biblia nos ensina quanto a isso. Vocé por certo esta lembrado da famosa observacao do apéstolo Pedro, no que tange aos escritos do apéstolo Paulo. Diz Pedro que nesses escritos ha coisas “... dificeis de entender, que os ignorantes e instéveis deturpam... . para a propria destruicdo deles” (II Pedro 3:16). O que Pedro quis dizer é 0 seguinte: esses tais realmente léem as epistolas de Paulo; nao obstante, torcem-nas, deturpando-as para sua prépria condenagao. Facilmente uma pessoa 10 INTRODUGAO GERAL pode ler essas epistolas sem ter-se tornado mais sdbio do que era antes de lé-las, em face das significagdes enxertadas pelo leitor nas palavras de Paulo, tendo-as assim distorcido para sua propria perdicao. Ora, isso é algo que jamais deveriamos esquecer, No que concerne a Biblia inteira. Posso estar sentado com a Biblia aberta a minha frente; posso estar lendo suas palavras, avancando capitulo apés capitulo, e, no entanto, posso estar tirando conclusdes totalmente falsas das paginas diante de meus olhos. Nao hd que duvidar que a causa mais comum de tudo isso é nossa tendéncia de tao freqiientemente nos aproximarmos da Biblia armados de alguma teoria. Aproxi- mamo-nos dela com essa teoria e, assim, tudo quanto lemos, 6 controlado por tal idéla. Estamos perfeitamente familiarizados com essa atitude. Ha um sentido verdadeiroem que se pode afirmar que qualquer coisa pode ser provada através da Biblia. Dessa maneira é que tém surgido as heresias. Os hereges ndo foram homens desonestos; foram homens equivocados. Nao deveriamos pensar que eles foram homens que deliberadamente quiseram errar ensinar erros; pois eles tém sido alguns dos mais sinceros elementos que a Igreja tem conhecido. Qual a dificuldade deles? A dificuldade deles tem sido a seguinte: desenvolveram alguma teoria, a qual Ihes pareceu especialmente atrativa, e entéo sairam a campo com essa teoria relativa a Biblia, parecendo-lhes poder encontrar comprovagées para ela por toda a parte. Se alguém ler meio versiculo e enfatizar exageradamente algum outro meio versiculo mais adiante, em breve parecer estar comprovada uma teoria qualquer. Ora, como & evidente, precisamos estar sempre vigilantes a esse respeito, Nada ha de tao perigoso como nos avizinharmos das Escrituras armados de alguma teorla, de idéias preconcebidas, de algum conceito favorito e todo nosso, porque, no momento em que assim fizermos, seremos tentados a acentuar em demasia algum aspecto da verdade e a atenuar em demasia algum outro aspecto da mesma verdade. Pois bem, esse perigo particular tende por manifestar-se na questéo do yelacionamento entre a lei e a graca. Esse pendor sempre ocorreu na Igreja, desde os seus primérdios, e continua sendo uma realidade até hoje. Algumas pessoas enfatizam de tal modo a lei que reduzem a nulidade o Evangelho de Jesus Cristo, juntamente com sua gloriosa liberdade, transformando-o em mera coletanea de maximas morais, Para essas pessoas, tudo é lei, ndo restando nenhuma graga. Falam tanto sobre o viver cristo, como algo que temos de fazer para que nos tomemos cristdos, que tudo se transmuta em legalismo puro, com 0 virtual desaparecimento da graca na vida crista, Recordemo-nos, no entanto, que também é possivel exagerarmos de tal maneira a importancia da graca divina, as expensas da lei, que, novamente, o resultado seja algo que nem mais é o Evangelho do Novo Testamento. Permita-me oferecer-lhe uma ilustracdo classica a respeito disso. O apéstolo Paulo, entre todos os homens, era aquele que tinha de enfrentar constantemente tal dificuldade. Nunca houve homem cuja prega¢ao, com sua poderosa énfase sobre a graca divina, tenha sido tantas vezes mal-entendida, Vocé deve estar lembrado das dedugdes que alguns individuos, em Roma e em outras locaiidades, estavam extraindo das palavras dele. Estavam dizendo os tais: “Ora, em face dos ensinamentos desse homem, devemos praticar males para que a graa seja abundante, pois é claro rT ESTUDOS NO SERMAO DO MONTE que esse ensino nos leva a essa conclusdo, e no outra. Paulo tem declarado: ‘Onde abundou o pecado, superabundou a graca’. Pois bem, continuaremos no pecado para que abunde mais ainda a graca”. Paulo, entretanto, replicava: “De modo nenhum!” E constantemente via-se obrigado a corrigir aquela opiniao. Dizer-se que por estarmos debaixo da graga nada mais temos a ver com a lei, e que precisamos esquecé-la, nao corresponde as doutrinas biblicas. Sem diivida, nao estamos mais sob a lei, e, sim, sob a graca. Todavia, isso ndo significa que nao mais necessitemos observar os principios da lei. Nao mais estamos debaixo da lef, no sentido que ela nos condena; ela nado mais profere juizo condenatério contra nés. Nao! mas compete-nos viver os principios fundamentais da lei, e até mesmo ultrapassd-los, O argumento do apéstolo Paulo é que eu devo viver ndo como um homem que esta sujeito a lei, mas como um liberto de Cristo. Jesus Cristo guardou a lei, viveu de conformidade com a lei, E, conforme é frisado no proprio Sermao do Monte, a nossa justiga precisa exceder a dos escribas e fariseus. De fato, o Senhor Jesus nao veio ao mundo a fim de abolira lei; cada ietilda mesma precisa ser cumprido e aperfeigoado. Ora, isso é algo que mui freqientemente percebemos haver sido olvidado nessa tentativa de se estabelecer a antitese entre a lei ea graca; eo resultado é que homens e mulheres com freqiéncia ignoram, completa e inteiramente, a lei. Permita-me, entretanto, que eu coloque como segue a situagao. Nao estamos expressando a verdade quando dizemos que muitos dentre nés, na pratica real de nosso ponto de vista da doutrina da graca, dificilmente levam a sério 0 claro ensino de nosso Senhor Jesus Cristo? Temos ressaltado de tal modo o ensino que tudo esta alicercado sobre a graca divina e que ndo deveriamos tentar imitar 0 exemplo de Cristo para que nos tornemos crentes que, virtualmente, chegamos a posigao de ignorar totalmente os Seus ensinamentos, dizendo que os mesmos ndo nos s4o obrigatérios, por estarmos debaixo da graga. Ora, pergunto a mim mesmo o quao seriamente consideramos 0 Evangelho de nosso Senhor e Salvador, Jesus Cristo. Penso que a melhor maneira de concentrarmos a aten¢ao sobre essa questdo consiste em examina 0 Sermao do Monte. Indago, qual é 0 nosso ponto de vista a respeito desse sermdo? Suponhamos que, a esta altura, eu sugerisse que todos nés anotassemos no papel as nossas respostas para as perguntas seguintes: Que significa para nés 0 Sermao do Monte? Onde o mesmo participa da nossa vida didria, e qual é seu papel em nosso modo de pensar e em nossas atitudes? Qual é a nossa relagao para com esse extraordinario sermao, o qual ocupa tao proeminente posicao nesses trés capitulos do Evangelho segundo Mateus? Penso que descobririamos que o resultado seria deveras interessante, e até mesmo surpreendente. Oh, sim, sabemos tudo a yespeito das doutrinas da graca e do perdao, e estamos olhando diretamente para Cristo. Mas aqui, nesses documentos, que consideramos autoritativos, encontra-se 0 Sermao do Monte. Em nosso esquema, onde cabe esse sermao? E isso que compreendo por pano de fundo e introdugdo. Entretanto, vamos dar ‘um passo avante, enfrentando juntos uma outra questdo vital. A quem se destina esse Sermao do Monte? A quem ele é aplicavel? Realmente, qual é 0 seu propésito? e qual é asua relevancia? Quanto a isso, tem havido certo ntimero de opiniGes conflitantes. Ja houve o chamado ponto de vista do “evangelho social” no que diz respeito ao Sermao 12

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