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Responsabilidade civil
A responsabilidade civil só aparece diante de uma ação ou omissão que cause algum
dano, pois é a obrigação do dever de reparar. Ela surge em face do descumprimento
obrigacional, pela desobediência de uma regra estabelecida em um contrato, ou por
deixar determinada pessoa de observar um preceito normativo que regula a vida.
• O ato ilícito em geral pode recair a responsabilidade para outras esferas. Por
exemplo, um acidente de veículo pode ter efeitos penais e administrativos. O art. 935
traz a ideia que as esferas são independentes. Isto significa dizer que se na penal não
houver a existência de crime, não significa que na civil será extinta também. Mas é
importante pontuar que quando houver existência de fato e autoria penal, não se
discute mais na esfera civil.
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1.1 PRESSUPOSTOS
“Art. 927 – Aquele que, por ato ilícito, causar dano a outrem, fica obrigado a repará-
lo.”
Podem ser apontados quatro pressupostos do dever de indenizar:
A conduta humana, que pode ser causada por uma ação ou omissão;
A culpa genérica ou lato sensu, que abrange o dolo (violação intencional) e a
culpa estrita (imprudência, negligência e imperícia).
O nexo de causalidade que constitui o elemento imaterial da responsabilidade
civil, constituindo a relação de causa e efeito entre a conduta culposa – ou o
risco criado – e o dano suportado por alguém.
O dano que pode ser:
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c) Elementos de culpa
- Culpa concorrente: a vítima contribui com o evento danoso e ato ilícito. É importante
avaliar a culpa concorrente, pois ela tem influencia para o “quantum” indenizatório.
Exemplo: acidente de veículo sem o pedestre estar na faixa de segurança.
Enunciado CJF 459 – “A conduta da vítima pode ser fator atenuante do nexo de
causalidade na RC objetiva”.
a) Teorias:
Teoria da causalidade adequada (Von Kries): conforme esse pensamento,
somente o fato relevante ao evento danoso gera a responsabilidade civil,
devendo a indenização ser adequada aos fatos que a envolvem (arts. 944 e
945). Dano é efeito necessário de causa/conduta.
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dano moral não é visto como um acréscimo patrimonial, mas sim a compensação dos
males suportados.
Por isso possui um caráter compensatório e um caráter punitivo (pedagógico).
Nesse sentido, a Súmula 498 do STJ não permite a incidência do IR sobre os danos
morais.
Teoria do Punitive Damages ou Teoria do valor do desestímulo: essa teoria legitima o
juiz a majorar a indenização. A análise do caso concreto poderá implicar no caráter
punitivo-compensatório. Se o comportamento do agente for extremamente reprovável
é possível a majoração arbitrariamente pelo juiz em razão das circunstâncias graves do
fato.
• Tabelamento e critérios para a quantificação dos danos morais: existe uma corrente
que acredita na inconstitucionalidade de qualquer tarifa ou tabelamento dos danos
morais. Tornou-se comum a fixação em salários mínimos. O magistrado deve analisar
alguns critérios no momento da fixação, como: a extensão do dano; as condições
socioeconômicas e culturais dos envolvidos; as condições psicológicas das partes e o
grau de culpa do agente, do terceiro ou da vítima (arts. 944 e 945).
c) Danos estéticos: quando se fala em dano estético se quer significar a lesão à beleza
física. Basta a pessoa ter sofrido uma “transformação” para que seja caracterizado,
como as feridas, cicatrizes, cortes superficiais ou profundos, lesão ou perda de órgãos
internos ou externo, aleijões, entre outras anomalias.
• O STJ vem entendendo há tempos que o dano estético é diferente do dano moral,
pois há no primeiro uma “alteração morfológica de formação corporal que agride a
visão, causando desagrado e repulsa”. Já no dano moral há um “sofrimento mental –
dor da mente psíquica, pertencente ao foro íntimo”. O dano estético seria visível,
“porque concretizado na deformidade”. Consolidando esse entendimento, o teor da
Súmula 387 do STJ: “é lícita a cumulação das indenizações de dano estético e dano
moral”.
e) Danos sociais: os danos sociais são lesões à sociedade, no seu nível de vida, tanto
por rebaixamento de seu patrimônio moral – principalmente a respeito da segurança –
quanto por diminuição na qualidade de vida. Decorrem de condutas socialmente
reprováveis ou comportamentos exemplares negativos. Os danos sociais são difusos,
envolvendo direitos dessa natureza, em que as vítimas são indeterminadas ou
indetermináveis. A grande dificuldade do dano social refere-se à questão da
legitimidade, ou seja, para quem deve ser destinado o valor da indenização. Junqueira
de Azevedo aponta que, além do pagamento de uma indenização, deve ser destinado o
valor a um fundo de proteção, o que depende dos direitos atingidos. Cita também o
art. 883, parágrafo único, do CC. A ideia é: se os prejuízos atingiram toda a
coletividade, em um sentido difuso, os valores de reparação devem também ser
revertidos para os prejudicados, mesmo que de forma indireta.
São exemplos: A fraude de um sistema de loterias (caso Toto Bola), que gerou danos à
sociedade. Fixada a indenização pelo TJ-RS, os valores foram revertidos a favor do
fundo gaúcho de proteção dos consumidores; O STJ condenou empresa de cigarro por
publicidade abusiva dirigida ao público infanto-juvenil. O julgado faz menção a danos
morais coletivos, quando, na verdade, trata de danos sociais ou difusos, pois os valores
da condenação são direcionados ao fundo de proteção dos direitos dos consumidores
do DF.
DANOS MORAIS COLETIVOS DANOS SOCIAIS OU DIFUSOS
Atingem vários direitos da personalidade Causam um rebaixamento do nível de
Direitos individuais homogêneos ou vida da coletividade
coletivos em sentido estrito – vítimas Direitos difusos – vítimas
determinadas ou indetermináveis indeterminadas. Toda a sociedade é
Indenização é destinada para as próprias vítima da conduta
vítimas Indenização para um fundo de proteção
ou instituição de caridade
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Para esclarecer o que consiste em atividade de risco, o Enunciado 38 da CJF traz que se
configura quando a atividade normalmente desenvolvida pelo autor do dano causar a
pessoa determinada um ônus maior do que aos demais membros da coletividade. Ou
seja, um risco excepcional, acima da situação de normalidade. São critérios de
avaliação a prova técnica e as máximas de experiência.
Jurisprudência nacional
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• Enunciado da CJF 443 – o caso fortuito e a força maior somente serão considerados
como excludentes da responsabilidade quando o fato gerador do dano não for conexo
à atividade desenvolvida.
Exemplo: assalto a ônibus, banco (via pública) = quebra o dever de indenizar.
• Teoria sem adoção do risco integral: cabe excludente – exclui a responsabilidade.
Exemplo: dano ao consumidor (art. 12, 18, CDC) + art. 36, §6º, CF (administração
pública).
• Responsabilidade civil por violação dos direitos dos presos: dever de custódia.
Exemplo: indenização (doenças – tuberculose, HIV, moléstias/ dano moral – recente
decisão: RE 580.252/2018).
configuração da legítima defesa, sendo certo que o agente não pode atuar além do
indispensável para afastar o dano ou a iminência de prejuízo material ou imaterial.
- Se o proprietário de uma fazenda desfere tiros contra invasores, não haverá
legítima defesa, e sim excesso da defesa (abuso de direito), configurando o dever de
indenizar.
- A legítima defesa putativa não exclui o dever de indenizar! Ocorre quando o
agente imagina que está defendendo um direito seu, o que não ocorre no plano fático.
C imagina que está sendo perseguido por D, e joga seu veiculo sobre o outro causando
estragos e acidente. Evidenciando-se que não há perseguição, o caso é legítima defesa
putativa.
- Havendo exercício imoderado da defesa ou defesa putativa e sendo o fato
causado por terceiro, é reconhecido o direito de regresso do ofensor contra aquele que
gerou a situação que causou o dano (art. 930).
II) Do estado de necessidade ou remoção de perigo iminente: conforme art. 188, II,
não constitui ato ilícito a deterioração ou destruição da coisa alheia, ou a lesão à
pessoa, a fim de remover perigo iminente, prestes a acontecer. O parágrafo único
disciplina que o ato será legítimo somente quando as circunstâncias o tornarem
absolutamente necessário, não excedendo os limites do indispensável à remoção do
perigo. Havendo excesso, tanto poderá estar configurado o abuso de direito (art. 187)
quanto o ato ilícito propriamente dito (art. 186).
Art. 929. Se a pessoa lesada, ou o dono da coisa, no caso do inciso II do art. 188, não
forem culpados do perigo, assistir-lhes-á direito à indenização do prejuízo que
sofreram.
Art. 930. No caso do inciso II do art. 188, se o perigo ocorrer por culpa de terceiro,
contra
este terá o autor do dano ação regressiva para haver a importância que tiver ressarcido
ao lesado.
- Se um pedestre que está passando na rua no momento que uma criança grita
em meio às chamas de um incêndio, vê a cena, arromba a porta da casa e salva a
criança da morte iminente, poderá ter que indenizar se o proprietário da casa não
causou o incêndio. O herói terá direito de regresso contra o real culpado pelo incêndio
(art. 930).
- O supracitado artigo representa um absurdo jurídico ao dar prioridade ao
patrimônio frente à vida humana. O STJ tem entendido que o estado de necessidade
pode influir no valor da indenização, reduzindo o quantum debeatur (quantia devida).
III) Do exercício regular de direito ou das próprias funções: não constitui ato ilícito o
praticado no exercício regular de um direito reconhecido (excludente mais debatida na
jurisprudência – art. 188, I, 2ª parte).
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No que concerne ao exercício regular das próprias funções, constitui uma espécie de
exercício regular de direito, eis que a pessoa tem uma incumbência legal ou
administrativa de atuação. É o que ocorre com o policial quanto ao combate ao crime e
no caso do bombeiro ao apagar um incêndio.
- No exemplo que foi exposto, quanto ao estado de necessidade, se um
bombeiro arromba uma porta para salvar a criança de um incêndio, sua situação não
está enquadrada no inciso II do art. 188. Assim, não se aplica o art. 929, que dispõe o
seu eventual dever de indenizar. Isso porque, para o caso do bombeiro, deve subsumir
o inciso I do art. 188.