Editoração Digital
Luis Macartney Serejo dos Santos
http://www.uema.br
http://www.uemanet.uema.br
Ficha catalográfica
Gonçalves, Ivan Veras
64 p
ISBN:
CDU: 371:13
SUMÁRIO
APRESENTAÇÃO
1.1 Sociedade 6
1.2 Educação 11
1.3 Democracia 17
1.4 Currículo
17
Referências 20
Bons Estudos!!
ÍCONES
Caro estudante,
Saiba mais
SUGESTÃO DE FILMES OU VÍDEOS
traz informações, curiosidades
filmes com temas relacionados ao
ou notícias acrescentadas ao
conteúdo do texto;
texto e relacionadas ao tema
estudado;
REFERÊNCIAS
UNIDADE
1
Para que possamos ter compreensão ampla de tudo o que
1.1Sociedade
Democracia e Currículo
distinta em alguns pontos, mas todas dizem a mesma coisa
em linhas gerais: é um conjunto de seres que vivem no mesmo
espaço de forma harmoniosa e organizada.
_______________________________________
64).
1
A Revista L`Anée Sociologique é uma revista de Sociologia fundada em 1896 por E. Durkheim, foi
publicada até 1925, depois retomou a publicação como Anais Sociológicos entre 1934 e 1942. Após
a Segunda Guerra Mundial foi novamente publicada sob o primeiro nome e sua publicação persiste
até hoje. Para saber um pouco mais sobre a Revista L`Anée Sociologique acesse: <http://gallica.bnf.
fr/ark:/12148/cb34404872n/date>
7
Durkheim formulou uma definição clara e precisa do que seria esse fato social:
Dessa conceituação podemos inferir vários fatos sociais que nos cercam, dentre
eles a Educação.
Enquanto Émile Durkheim definiu que o fato social tem um conjunto de qualidades,
para Max Weber a Ação Social possuía caráter subjetivo estando ela baseada em
regras internas dos indivíduos:
Um desses teóricos foi o historiador britânico Eric Hobsbawn que analisou a tensão
entre comunidade e sociedade exemplificados por alguns fatos da contemporaneidade
que reforçam esse argumento. Após a Segunda Guerra Mundial as angústias da
juventude dos anos 50 (sequiosa de novas emoções) tornaram-se mais evidentes, e
sendo essa a década das revoluções comportamentais e tecnológicas da segunda
metade do século XX, é também uma época marcada por uma crise de rebeldia da
juventude que para muitos teóricos ainda persiste.
8
Nessa época inicia-se um movimento chamado de Contracultura (que teve seu
apogeu na década de 1960) caracterizado pela contestação social, se valendo dos
recém-criados meios de comunicação de massas. Os jovens estavam voltados
para o antissocial, confrontando o conservadorismo das famílias, da Igreja e as
ditaduras2:
[...] era composto por grupos aparentemente heterogêneos
que procuravam viver e experimentar outros padrões de
comportamento. A procura de estados de consciência
alterados com drogas, música ou êxtase religioso, a vida
em comunidade, a preocupação ambiental, a valorização do
trabalho artesanal e o resgate de traços culturais desprezados
pelo ocidente e sua razão iluminista, como a cultura popular,
indígena e oriental caracterizou o comportamento hippies,
psicodélicos, e ecológicos e praticantes de Ioga nos anos 60 e
70. (ALBUQUERQUE,2001, p.52).
_______________________________________
2
Um exemplo claro de confrontação foi a “Marcha da Família com Deus pela Liberdade”, realizada
em São Paulo em 19 de março de 1964. Enquanto os movimentos sociais se aproximavam do
presidente da República e suas ações em favor das reformas de base, a Marcha da Família com
Deus pela liberdade, liderada por autoridades civis e religiosas, defendiam a tradição familiar e
a propriedade privada. Para saber mais sobre a marcha acesse: <https://pt.wikipedia.org/wiki/
Marcha_da_Fam%C3%ADlia_com_Deus_pela_Liberdade>.
3
Onde há ausência generalizada de respeito a normas sociais, devido a divergências ou contradições
entre estas.
9
Todo esse processo chegou aos dias atuais extremamente radicalizado no que
chamamos de Cultura Alternativa:
O processo de educação dos seres humanos foi fundamental para nossa evolução,
nos conduzindo à vida em sociedade. Quando o homem rompe o seu isolamento,
ele começa a tecer teias de alteridade que serão a base para o surgimento das
primeiras sociedades. Quando o homem primitivo começa a se relacionar com
outros homens ou grupos, ele começa a reconhecer e compreender as diferenças ao
mesmo tempo que faz aprender com ela. Essa rede de relacionamento se constitui
na primeira forma de educação, onde a educação dos mais jovens era condição
sine qua non para a perpetuação da espécie, do grupo, e para a transmissão da
cultura.
Essa prática educativa evoluiu e foram sendo criados locais específicos para a
aprendizagem. Com o tempo todo esse arcabouço de educação foi sintetizado em
linguagem e técnicas que passaram a constituir – de forma cada vez mais isolada-
o modelo de educação no período. Com isso podemos concluir que a educação no
Período Neolítico visava realizar algo, era uma educação prática. Ela visava atender
as necessidades do grupo, tais como vestuário, abrigo, obtenção de alimentos etc.
Nessas sociedades, embora não houvesse um local específico para o ensino, já
havia a figura do professor e do aluno.
11
Na transição da sociedade primitiva para a civilização, a educação começa a ser
pensada a nível da estratificação social4. Na sociedade do oriente as classes menos
abastadas não tinham acesso à mesma educação que as classes mais elevadas.
Com isso, instaura-se na educação um processo segregatício em que grande parte
da população é excluída da escola.
Essa escola é uma nova escola moderna, ela não apenas instrui e forma o aluno,
não é mais uma transmissora de conhecimentos, aliada às famílias, ela ensina
comportamentos. Todo o trabalho agora estava articulado com base na didática,
na racionalização do aprendizado, uma escola renovada. Nessa nova conformação
escolar agora temos gradações, não se ensina a mesma coisa a todos, não há
mais uma mistura confusa em profunda desordem de seres de idades diferentes
no mesmo ambiente, a gradação aboliu a heterogeneidade na escola que gerava
uma insciência educativa que, em grande parte, se dava pela negligência dos mais
velhos atuando sobre os mais novos e pela ausência de disciplina6.
Com o surgimento dos primeiros colégios, ainda no século XVI, havia uma
reformulação curricular nas escolas, uma racionalização e um controle acerca do
que era ensinado aos jovens, para tanto, foram elaborados métodos de ensino-
aprendizagem. Desses, o mais celebre foi o Ratio Studiorum7 dos Jesuítas, uma
_______________________________________
6
É dessa época a descoberta da disciplina no seio escolar. Uma disciplina constante e orgânica,
diferente da violência e autoridade não respeitada. Era buscada por sua eficácia, como necessária
ao trabalho em comum e por seu valor próprio de edificação. A classificação das pessoas em grupos
com base em condições socioeconômicas comuns.
7
Surgiu com a necessidade de unificar o procedimento pedagógico dos Jesuítas diante do grande
número de colégios confiados à Companhia de Jesus, como base de uma expansão em sua
totalidade missionária. Constituiu-se numa sistematização da pedagogia jesuítica contendo 467
regras cobrindo todas as atividades dos agentes ligados ao ensino, e recomendava que o professor
nunca se afastasse do estilo filosófico de Aristóteles e da teologia de Santo Tomás de Aquino.
13
coletânea de experiências vividas, às quais foram acrescentadas observações
pedagógicas, era, portanto, um programa detalhado de estudos e comportamento,
além da graduação do ensino-aprendizagem. (CONCEIÇÃO, 2013).
O século XVIII pode ser considerado como a Era Pedagógica por excelência, neste
período governantes e pensadores voltaram suas preocupações para as questões
educacionais (LUZURIAGA,1983, p.149), este é o século do Iluminismo e de
grandes educadores como o filósofo Jean–Jacques Rousseau (1712-1778), cuja a
obra Emílio ou Da Educação (1762), influenciou outros educadores, revolucionou a
pedagogia, e serviu de inspiração para teorias surgidas nos dois séculos seguintes.
Influenciado pela obra de Rousseau outro grande educador construiu as bases do
seu método, Johann Heinrich Pestalozzi, cuja a proposta visava um método de
ensino prático e flexível que serviu de alicerce para a educação moderna.
Como podemos ver, a escola como a conhecemos, surge no século XVIII tudo o
que aconteceu nos séculos seguintes foram tentativas de aprimoramento desse
modelo. O século XIX, foi um século agitado a nível de discussões e propostas para
a educação e para a sociedade como um todo. Podemos citar duas correntes com
visões opostas diametralmente antagônicas: o Positivismo e o Socialismo.
15
da educação no século XX, o filósofo norte americano John Dewey (1859-1952)
exerceu enorme influência no movimento escolanovista brasileiro na pessoa do
educador Anísio Teixeira.
9
O Relatório Delors é a forma popular como muitas pessoas chamam o livro “Educação um Tesouro
a Descobrir: Relatório da Comissão Internacional sobre Educação para o século XXI”, fruto de uma
pesquisa sob a coordenação de Jacques Delors, encomendada pela UNESCO e que aborda de forma
bastante didática e com muita propriedade os quatro pilares de uma educação para o século XXI. Para
saber mais sobre o assunto acesse: <http://unesdoc.unesco.org/images/0010/001095/109590por.
pdf>.
16
1.3 Democracia
Tem sua gênese em duas palavras gregas demos (povo) e kratos (poder), traduzindo
é o regime em que o poder emana do povo. Art. 1º - Todo poder emana do povo,
que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente, nos termos
desta constituição (Constituição Federal, 1988). Em países democráticos o povo
elege pessoas (parlamentares municipais, estaduais e federais), para que elas as
representem e falem em seu nome, na forma de elaboração de leis que visem a
melhoria de vida da população em todos os níveis.
1.4 Currículo
Quando nos referimos ao Currículo, mais que um conjunto de dados que denotam
algum tipo de relação a um tema específico, ou que enuncia e procura efetivar
intenções, neste caso, em relação às disciplinas escolares, vamos encontrar um
vasto número de interpretações. O que podemos afirmar com certeza em relação
ao Currículo é que: não existe uma determinação ímpar e infalível que possa
17
abranger tudo o que envolve o universo educacional. Levando-se em conta a
relação intrínseca entre currículo e cultura, uma discussão que ganhou destaque
no meio educacional nos últimos tempos, muitos defendem currículos centrados na
cultura, nos saberes e práticas do povo. Sobre isto, Jesus afirma:
18
Resumo
19
Referências
HOBSBAWN, Eric. Era dos extremos. O breve século XX (1914 1991). São Paulo:
Companhia das Letras, 1997.
20
LAKATOS, Eva M. Sociologia Geral. 6.ed. São Paulo: Atlas,1990.
PALMA FILHO,João Cardoso. A Educação Através dos Tempos. São Paulo: Artigo,
Universidade Estadual Paulista-UNESP, 2010. Disponível em:<http://acervodigital.
unesp.br/handle/123456789/173>. Acesso em: 9 fev.2018.
21
Objetivos
• Identificar práticas pedagógicas e curriculares dentro
do ambiente escolar e suas conexões com o universo
político-social;
• Compreender as influências internas e externas de
eminentes pensadores acerca da Educação;
• Analisar o papel da escola em uma sociedade desigual.
2
UNIDADE
Uma verdade inexorável quando falamos a respeito da Educação
e da Sociedade é que são indissociáveis, já que ambas se
completam. Desde os primórdios da história humana sempre
houve a necessidade de aperfeiçoamento das capacidades
Educação e Sociedade
mentais do homem através do desenvolvimento do intelecto,
para que o mesmo pudesse servir à sociedade em todos os
níveis. Essa necessidade ancorada pelo sistema econômico
denota, claramente, que havia um processo educacional em
curso.
_______________________________________
10
Nocivos à saúde, venenosos.
23
Com a jornada de trabalho de 80 horas semanais para homens, mulheres e crianças,
pensar em uma educação adequada para os jovens era impensável. Essa nova
configuração social define claramente a separação entre patrões e trabalhadores,
ricos e pobres, principalmente no nível educacional, já que os filhos dos ricos
frequentam boas escolas, enquanto as crianças pobres precisam abdicar do direito
de frequentar um sistema educacional de qualidade para ajudar no sustento da
família.
Isso representou uma grande melhoria na educação das crianças, com o aumento
dos salários muitos jovens puderam frequentar a escola. Mas essa educação
estava longe de ser uma educação adequada, haja vista que o pouco tempo que
as crianças permaneciam na escola, na maioria das vezes não completando todo
o ciclo de estudos que as levaria da escola básica até a universidade, continuava
a ser o mínimo necessário. Só que em fins do século XIX passamos a ter uma
base sociopolítica surgida da profunda transformação das estruturas sociais que
possibilitou que os adolescentes (jovens entre 12 e 18 anos) fossem retirados do
mercado. Mas, insistimos em afirmar que era uma escola excludente, frequentada
por uma minoria de crianças, as meninas, por exemplo, raramente conseguiam
uma instrução além do ensino primário.
A escola do século XIX era uma escola conformista e que reproduzia as desigualdades
sociais. Os jovens pobres, mesmo que pudessem ser inteligentes, não tinham
condição de competir com os garotos ricos que estavam em boas instituições de
ensino. Como em outros setores sociais a profunda desigualdade estava presente
também no universo educacional.
24
A partir da metade do século XIX, questões como desigualdade, emancipação e
antagonismos de classe, passaram a ser amplamente discutidas pelas Ciências
Sociais. A sociedade encontrava-se profundamente dividida em duas classes em
confronto: Burguesia e Proletariado11. Todos os pensadores da segunda metade
do século XIX e do século XX, imbuídos na tentativa de pensar uma escola justa,
igualitária, democrática e plural, vão se debruçar nesse embate para desenvolver
suas teorias. Mais adiante vamos abordar um pouco sobre essas teorias e seus
autores.
Paulo Freire (1998 apud MORAES & TERUYA, 2007) não considerava a escola
um espaço neutro, e que insistir nessa falácia é apenas uma tentativa de deter
uma reação dos injustiçados, uma atitude de rebeldia, isso vai de encontro à ideia
adorniana de emancipação. Por isso, embora o assunto já tenha sido exaustivamente
debatido por inúmeros pesquisadores, ainda cabem novas discussões acerca
dessas ideias, em face da nova configuração que a sociedade assume a cada dia:
um mundo fractalizado e complexo, onde o próprio capitalismo se reconfigura a
nível epigênico12 e, também, no nível global, ele não se exaure.
_______________________________________
11
Por Burguesia entende-se a classe dos capitalistas modernos, donos dos meios de produção,
que empregam o trabalho assalariado. Por proletariado, a classe dos assalariados modernos, que
vendem sua força de trabalho para viver.
12
Geração por criações sucessivas.
25
A Teoria Crítica se refere a uma corrente de pensamento surgida na primeira
metade do século XX na Alemanha, formulada por teóricos ligados ao Instituto para
Pesquisa Social, conhecida como Escola de Frankfurt13. Criada por um grupo de
intelectuais marxistas, mas que não seguiam à risca as regras ou diretrizes dos
demais defensores e/ou seguidores dessa teoria, embora tendo essa manifesta
postura heterodoxa eles estavam profundamente comprometidos com uma defesa
desse marxismo, numa época de apropriações e revisionismos do mesmo. Desde
a sua criação, o instituto se mostrou comprometido com a defesa do marxismo no
campo acadêmico, através do ponto de vista da pesquisa social engajada em vários
níveis: movimento operário, movimentos de vanguarda e as relações do homem
com a sociedade (a educação como exemplo), eram prioritários naquele momento.
_______________________________________
13
Surgido como um anexo da Universidade de Frankfurt, o Instituto para Pesquisa Social (Institut
für Sozialforschung), foi o primeiro centro de pesquisa de tendência marxista afiliado a uma grande
universidade alemã. O termo “Escola de Frankfurt” surgiu de maneira informal para descrever seus
membros, fossem eles agregados ou só associados, mesmo que poucos teóricos tenham usado
esses termos.
26
Adorno, que ficou conhecido por ter escrito em parceria com Horkheimer o livro
“Dialética do Esclarecimento”, no qual pela primeira vez apresentaram o seu famoso
conceito de “Indústria Cultural”, desde o final da década de 1950 realizou uma série
de conferências e debates sobre os mais diversos assuntos, que vão desde debates
com estudantes de postura mais radical à análises sobre o chamado Cinema Novo
Alemão14. Entre 1959 a 1969, Adorno produziu vasto material acerca da educação,
grande parte dessa produção foi oriunda dos debates e conferências. Em alguns
dos debates ele discute suas ideias com o Dr. Helmut Becker15, que compartilhava
das mesmas teorias educacionais que ele. Esse ciclo de conferências e debates deu
origem a uma compilação de textos acerca do poder emancipatório da educação,
como uma possibilidade de não sucumbir à dominação.
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14
Produção cinematográfica alemã das décadas de 1960 e 1970 influenciada pela Nouvelle Vague
francesa e pelos movimentos de protesto de 1968.
15
Diretor do Instituto de Pesquisas Educacionais da Sociedade Max Planck em Berlim.
27
encerra algo de desumano, e nesta medida há muito sentido
em se aproveitar do ideal formativo inglês o ceticismo frente ao
saudável desejo do sucesso. (ADORNO, 1995, p.161).
Esse é o “nó górdio” que precisa ser desfeito. Para Adorno e Horkheimer a função
da teoria crítica era analisar o contexto em que tudo isso ocorre, expondo a matriz
28
desse movimento – em nada fortuito- e achando maneiras de interferir no processo.
O conceito de barbárie é bem amplo, e permeia todos os aspectos da civilização.
Uma formação cultural forte, que conduza à reflexão, e dessa forma desenvolva a
sensibilidade para que o indivíduo não veja o outro por uma relação de dominação,
violenta em todos os aspectos, mas como iguais que não podem ser tratados como
objetos, é um bom caminho para que ela (a barbárie) perca sua força. Aprofundando
mais suas reflexões sobre o papel da educação, Adorno chega à conclusão que a
função da educação é levar os indivíduos a se inserirem na nova organização e
estrutura social que está sendo construída, e essas grandes mudanças na estrutura
da sociedade, que se inserem em todas as instâncias sociais, ocorreram também
no campo educacional. Procurando inferir não apenas para quê? A educação é
necessária, mas para onde? Ela deve conduzir os indivíduos.
A força que a Teoria Crítica exerceu, e ainda exerce, sobre a filosofia da educação
é enorme, se consumando no processo de escolarização. Mesmo em sentidos
educacionais estritos, essa influência se destaca com clareza na obra de pensadores
da educação como Paulo Freire, Henry Giroux, Kathleen Weiler, entre outros.
30
Essa Contra-Educação reflexiva, embora pouco discutida e comentada nos círculos
acadêmicos, é uma contestação da situação da educação atual, cuja proposta seria
formular teorias inovadoras que confrontassem as atuais teorias que se mostraram
inoperantes e obsoletas. Da mesma forma, na concepção de Adorno e Horkheimer,
a teoria crítica tinha como propósito específico buscar uma nova realidade, mais
racional e humana. A Contra-Educação reflexiva se propunha a repensar a educação
da mesma forma, julgando todos os aspectos da mesma, buscando uma práxis cujo
foco central é o indivíduo, em oposição à ideia capitalista de educação que, no
universo da sociedade de classes, continuou transmitindo valores e conhecimentos
ao indivíduo de acordo com os interesses da classe dominante.
Sendo evidente que nesse contexto havia uma enorme discrepância entre o que se
ensinava para os filhos da classe dominante, e para os da classe trabalhadora. A
educação se encarregava de manter o estamento social intacto:
_______________________________________
16
Criadora da Escolinha de Arte do Recife e posteriormente diretora técnica da Escolinha de Arte
do Brasil.
17
Professora da pós-graduação da USP. É a principal referência no Brasil para o ensino da arte nas
escolas, tendo sido a primeira brasileira com doutorado em Arte-Educação (Boston University).
32
Como vemos, a obra de Paulo Freire, que de certa maneira foi influenciada pelos
pensadores da Teoria Crítica, foi bastante abrangente, ele entendia a educação
como prática libertadora, e foi partindo dessa concepção que sua relação com
Noêmia Varela e Ana Mae Barbosa fez surgir no Brasil a ideia de Arte/Educação,
crítica fortemente focada no pensamento e na prática destes três educadores.
Para Adorno, o fenômeno da Semiformação (Halbbildung) se estabelece entre
aqueles indivíduos que se colocam como questionadores da sua sociedade. No
livro “Dialética do Esclarecimento” (ADORNO & HORKHEIMER, 2006), vemos pela
primeira vez a citação acerca do termo semiformação, ou semicultura em seu sentido
formativo no capítulo “Elementos do antissemitismo: limites do esclarecimento”.
Para Adorno esse fenômeno é oriundo de mudanças nas relações:
Por ser uma ferramenta da Indústria Cultural, segundo Adorno, esse processo só
está presente na sociedade industrializada, caracterizada pelos produtos culturais
standard. Uma breve olhada nos currículos, principalmente da escola pública,
mostra uma enorme desigualdade cultural, onde a escola está voltada apenas para
atender às necessidades do capital. Com isso ela se torna uma ferramenta geradora
de pobreza para alguns e riqueza para outros. A escola é moldada para que cada
vez mais ajuste o indivíduo aos preceitos que regem a exploração do homem no
33
mercado de trabalho. Assim,
O projeto educacional voltado para a reprodução da ordem
vem se efetivando, de um modo geral, através da negação do
conhecimento que revela as determinações do real em suas
múltiplas dimensões, acoplada à manipulação ideológica das
consciências, com vistas à naturalização da exploração e de
seus desdobramentos no plano da desumanização crescente
do próprio homem. (RABELO, SEGUNDO, JIMENEZ, 2009,
p.4).
É contra essa barbárie que os teóricos da Escola de Frankfurt, em especial, como foi
abordado em todo o texto, Theodor Adorno e Max Horkheimer se mantém presentes
em vários momentos da arte e da educação contemporâneas. Na visão deles, só
a educação concebida como formadora da consciência esclarecida e emancipada,
pode combater a barbárie. O processo de mercantilização da cultura, gerando
semicultura, que transforma a obra de arte em “produto cultural”, são processos
da Indústria Cultural que reforçam a barbárie. “A cultura converteu-se totalmente
numa mercadoria, difundida como uma informação, sem penetrar nos indivíduos
dela informados”. (ADORNO & HORKEIMER, 2006, p.162).
E por fim, não podemos nos esquecer que num ambiente de democracia, educar
serve à emancipação, e para emancipar é preciso antes de tudo esclarecer. Kant
34
(1974, apud IOP, 2009, p.23) define esclarecimento como “a saída do estado
de menoridade, sendo este auto-inculpável quando sua causa não for a falta de
compreensão, mas a falta de decisão e de coragem de utilizar a compreensão, sem
ser guiado por alguém”.
Em alguns momentos, para entendermos todo esse processo, vamos precisar fazer
algumas idas e vindas, recorrendo a antigas concepções para contextualizar o que
está acontecendo, mas como o assunto é muito amplo, temos que focar no que
está mais visível. Na sociedade atual, buscar superar velhas práticas talvez só seja
possível compilando o que de melhor cada posicionamento ideológico possua. Mas
vamos procurar evitar alguns termos muito usados nessa discussão porque não
nos interessa estar ao lado desse ou daquele teórico, mas antes de mais nada,
apreender o que de melhor eles tenham produzido. Essa nossa postura, aqui nesse
trabalho, se justifica, inclusive, pelo fato de que muitos desses termos estejam
_______________________________________
36
18
Palavra francesa que significa: fora de moda, antiquado, que não se usa mais.
completamente “démodé18”.
Falar em desigualdades no sistema educacional brasileiro, não é algo recente,
no período imperial não havia um sistema público de ensino, o que restringia a
educação apenas aos nobres e aos ricos que podiam pagar preceptores particulares
para os seus filhos (homens, cabe ressaltar), algumas famílias optavam por mandar
os filhos estudarem na Europa. A monarquia não se preocupava com a educação
da população, que nesse período era preponderantemente formada por escravos
e pessoas do campo. “A pouca escola da época atendia em torno de 10% da
população em idade escolar e ensinava apenas o básico: ler, escrever, e fazer
contas.” (ARANHA, 2008 p. 229). No final do século XIX o índice de analfabetos no
Brasil era de 67%.
Mas como a escola atual lida com esse problema histórico da educação brasileira?
Antes de mais nada, convém lembrar que a nossa sociedade não é igualitária e
muito menos homogênea, temos sim, uma imensa massa de necessitados e uma
pequena parcela de pessoas mais favorecidas. Essa discrepância não é recente
e sempre se refletiu na educação, sendo essa utilizada como uma forma de
estratificação social, onde muitas vezes o homem é impedido de alcançar um novo
patamar social mediante sua melhoria financeira, continuando a ser um indivíduo
restrito em suas oportunidades.
38
No Brasil, a escola sempre representou um instrumento de manutenção da falta
de igualdade em relação a uma escala de valores sociais. A educação brasileira
sempre privilegiou a classe dominante (grandes empresários e políticos), a partir do
ponto em que de forma seletiva, fornece conhecimento e acesso aos bens culturais
a essa classe, para as demais camadas sociais, o sistema educacional se omite
deixando que os indivíduos dessa classe social busquem e/ou produzam os bens
culturais que irão consumir. Não vamos entrar na questão da atuação da Industria
Cultural e da mass media nesse processo, por estrita falta de espaço para abordar
um assunto tão extenso.
39
Em relação à classe média, Marx já observava um comportamento passivo e
proditório19 no seu modo de vida:
A escola pública não ocupa a preocupação dos governantes no Brasil, sendo vista
como um fardo pesado e caro muitas vezes. É inadmissível que o governo corte
verbas da Educação e destine para pagamento de juros aos bancos internacionais.
Esse descaso com a educação pública, laica e gratuita escancarou uma exploração,
antes dissimulada, em algo aberto e brutal. Aqueles que podem pagar se rendem ao
sistema privado de ensino enquanto que aos mais desfavorecidos resta a educação
estatal. O que caracteriza essa eterna luta de classes é a forma como a classe
dominante vê todos aqueles que a ela não pertencem. Assim, a classe dominante
_______________________________________
19
Proditório- Desleal; Hipócrita.
40
Fez da dignidade pessoal um simples valor de troca; substituiu
as numerosas liberdades, conquistadas duramente, por uma
única liberdade sem escrúpulos: a do comércio [...] A burguesia
despojou de sua auréola todas as atividades até então
reputadas como dignasse encaradas com piedoso respeito.
Fez do médico, do jurista, do sacerdote, do poeta, do sábio
seus servidores assalariados. (MARX &ENGELS,2005, p.42).
Cada dia vemos planos governamentais que não são emancipadores do cidadão,
planos que propõem acima de tudo uma subordinação do indivíduo ao capital. Isso
ocorre tanto no meio urbano como no meio rural. O Estado, travestido de promotor
do bem comum, arruína todas as propostas acadêmicas e dos movimentos sociais
acerca da Educação, transformando-as em propostas pragmáticas que nada mais
fazem do que solidificar e aumentar o poder da classe dominante.
Essa proposta busca uma reinvenção do modelo escolar, uma escola que consiga
atender a pluralidade de indivíduos que a ela recorrem, uma gestão democrática
_______________________________________
20
Essa pedagogia é caracteriza por abordar a questão pedagógica por uma perspectiva que se
baseia na liberdade e na igualdade, revogando as atitudes autoritárias comuns no modelo tradicional
de educação.
41
(participativa) onde alunos, professores e funcionários tenham direitos iguais de
participação, para que se possa edificar um espaço comum, igualitário e responsável
para todos.
Uma outra premissa que se impõe nesse debate acerca da escola democrática,
é como o processo de ensino-aprendizagem se processa em sala de aula. Os
defensores da proposta pregam que o papel relevante desse processo pertença ao
aluno na obtenção de conhecimentos, enquanto os que são contra defendem que
a responsabilidade por esse conhecimento seja conduzida por uma pessoa com
saber homologado para tanto, que se preparou para a tarefa e que se apresente
aos alunos como o depositário dos conhecimentos que vai transmitir.
Os que defendem a adoção de uma escola democrática, apontam que ela é a única
alternativa possível para que se possa eliminar o autoritarismo reinante no sistema
educacional atual. Nos últimos tempos temos visto várias ações e mobilizações
estudantis contra o autoritarismo do estado em relação à educação, bem como a
participação dos estudantes em questões importantes para a sociedade como um
42
todo. Participação nos dois processos de impeachment (Collor de Melo e Dilma
Rousseff), e combate a ações governamentais de reestruturação da rede escolar
(estado de São Paulo).
Esse é um tema polêmico, pois cada educador, conforme suas convicções e suas
práticas, pode ficar ao lado de uma (Pedagogia Tradicional), ou da outra (Pedagogia
Progressista/Escola Democrática), cabe, entretanto, uma explicitação sobre o que
é realmente a escola democrática:
43
Resumo
44
Referências
RABELO, Jackline; SEGUNDO, Maria das Dores M.; JIMENEZ, Susana. Educação
para todos e Reprodução do Capital. Rio de Janeiro: Revista Trabalho Necessário,
Universidade Federal Fluminense-UFF, ano 7, nº 9, 2009. Disponível em:<http://
www.uff.br/trabalhonecessario/images/TN09%20JIMENEZ,%20S.%20et%20al.
pdf>. Acesso em: 20 fev.2018.
46
VILELA, Rita Amélia Teixeira (Org.). A Teoria Crítica da Educação de Theodor
Adorno e sua apropriação para análise das questões atuais sobre currículo
e práticas escolares. Relatório final de pesquisa. Disponível em:<http://
www.pucminas.br/imagedb/mestrado_doutorado/publicacoes/PUA_ARQ_
ARQUI20120828100151.pdf>. Acesso em: 18.fev.2018.
47
Objetivos
• Discutir práticas pedagógicas e curriculares que
contribuam para um avanço da sociedade como um todo;
• Compreender propostas de práticas curriculares
emancipadoras e antenadas com as novas tecnologias;
• Contextualizar as novas práticas curriculares, um novo
modelo de professor que esteja em concordância com o
pressuposto para uma Educação do Século XX.
UNIDADE
3
Mas como nos propomos no início a discutir qual o papel do professor na sociedade
atual, é necessário enfatizar algumas políticas de governo implementadas ao longo
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SAIBA MAIS SOBRE O CENSO 2010. Acesse : https://censo2010.ibge.gov.br
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Disponível in: <https://www.todospelaeducacao.org.br/biblioteca/1087/inaf---indicador-de-
analfabetismo-funcional/>.
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do tempo para resolver o problema do analfabetismo. Programas do passado como
o MOBRAL23 e atuais como o Programa Brasil Alfabetizado (PBA), tem um ponto
em comum: fracasso.
Essa possibilidade de fracasso se explica pelo seguinte fato, como vimos temos
crianças entre 5 a 9 anos que não leem e não escrevem, em outro ponto do índice
vemos jovens de 15 anos que também não fazem uso da leitura e da escrita.
Ao serem inseridos no sistema escolar, como uma tentativa de erradicar esse
problema, passam pelo problema da adaptação à rotina de estudos pela falta de
“costume” (isso é mais grave nos jovens a partir dos 15 anos), sem contar que a
probabilidade de que existam outros analfabetos no seio da família que não ajudam
e/ou incentivam os jovens nessa nova rotina é grande.
23
Movimento Brasileiro de Alfabetização 50
ser realizado [...] A única solução racional: uma formação
universitária completa para os mestres de todos os níveis.
No passado, com uma menor exigência devido a uma sociedade menos complexa
em termos de transformações sociais, os currículos eram bem menos exigentes
e com um menor número de disciplinas, a formação pessoal do professor era
suficiente para a sua prática docente, era também uma escola excludente onde os
seus membros já traziam do ambiente familiar uma pré-educação iniciada pelos
pais, babás ou preceptores contratados para esse fim, muitas crianças ao chegar à
escola já sabiam ler e escrever. As que não se encaixavam nesse perfil não eram
aceitas.
Por último cabe destacar que como não há autonomia docente, os reformadores
precisam evitar a prolixidade em seus projetos e a profusão dos mesmos, bem
como adotar uma postura mais equilibrada, sem radicalismos teóricos em suas
propostas, que na maioria das vezes causam uma sensação de desamparo nos
professores, e uma insegurança nos pais e alunos em relação às reformas.
O professor tem que estar propenso a sempre utilizar os recursos que objetivam
facilitar o seu trabalho pedagógico. Das enciclopédias aos sites de busca, do quadro
negro à lousa eletrônica e computadores, todas essas mudanças foram avanços
que possibilitam ao professor um novo modo através do qual ele pode ampliar
os horizontes de suas aulas, uma nova perspectiva para se trabalhar conteúdos
dos mais diversos com os alunos, e nos mais variados formatos: fotos, vídeos,
música, infográficos (estáticos e/ou animados). Todos esses recursos possibilitam
uma mudança de cena em sala de aula, sai aquela figura estática, parada em frente
aos alunos e entra o conteúdo (o que mais importa), acompanhado por uma voz em
off apenas referenciando, destacando as dúvidas e agregando informações ao que
estiver sendo apresentado.
Essas novas tecnologias permitem que o conteúdo seja apresentado por mais de
um professor, dependendo do formato que estiver sendo apresentado (vídeo, filme,
show etc.), num trabalho interdisciplinar, fluído, eficaz e de fácil assimilação. Em
2011, o Senado Federal aprovou o projeto de nº504/2011, que prevê que o número
máximo de alunos por turma na pré-escola, ensino Fundamental e ensino Médio,
seja de 25 alunos. Essas modificações são uma tentativa de romper com o modelo
tradicional de ensino onde temos um professor como o centro das atenções e um
grupo de alunos sentados passivamente apenas ouvindo a aula, ministrada em
métodos repetitivos e antiquados. 53
Os professores que conseguem ver além, logo percebem que quando se instaura
a desmotivação, todo o processo de ensino-aprendizagem fica comprometido. É
preciso que na hora de planejar, o professor esteja atento a todas as nuances que
determinada série apresenta, identificar com clareza as necessidades dos alunos, e
assim planejar suas aulas sempre visando motivá-los. A desmotivação, entretanto,
não significa que o professor não possua o conhecimento e o aprofundamento para
o trabalho, ela é fruto da estrutura antiquada, estrutura em que ele é obrigado a
apresentar as matérias constantes do currículo. Falar e ouvir por horas se torna
enfadonho tanto para o emissor como para o receptor, e dessa forma o aluno perde
o entusiasmo pelas aulas, a falta de vontade com as aulas acaba por se transformar
na falta de vontade de aprender, e essa falta de empenho é o que podemos chamar
de desmotivação, uma perda total do interesse pela aprendizagem.
23
Para saber mais sobre o CETIC. Acesse: http://cetic.br/ 54
Nesse cenário, a Educação tem um papel essencial como formadora das futuras
gerações:
A escola tem, pois, o compromisso de reduzir a distância entre
a ciência cada vez mais complexa e a cultura da base produzida
no cotidiano, e a provida pela escolarização. Junto a isso tem,
também, o compromisso de ajudar os alunos a tornarem-se
sujeitos pensantes, capazes de construir elementos, categorias
de compreensão e apropriação crítica da realidade [...]
Diante dessas exigências a escola precisa oferecer serviços
de qualidade e um produto de qualidade, de modo que os
alunos que passam por ela ganhem melhores e mais efetivas
condições de exercício da liberdade política e intelectual. É
este o desafio que se põe à educação escolar neste final de
século. (LIBÂNEO, 2007, p.4).
25
SAIBA MAIS SOBRE O CENSO ESCOLAR.Acesse: http://portal.inep.gov.br/censo-escolar/
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tempo, o currículo passou por uma série de modificações e usos, visando atender
às mais diversas situações e pontos de vista, um desses pontos visava transformar
rapidamente e a baixo custo o processo de escolarização, a industrialização do
período exigia um processo rápido de educação das massas. Os responsáveis
pela elaboração dos currículos acreditavam, seguindo uma visão taylorista26, que
a eficácia seria alcançada tendo-se uma planificação precisa que possibilitasse
atingir objetivos claros e medíveis.
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26
O Taylorismo foi o sistema de organização do trabalho concebido pelo engenheiro norte-americano
Frederick Winslow Taylor, com o qual se pretende alcançar o máximo de produção e rendimento
com o mínimo de tempo e de esforço.
27
No Brasil ocorre um evento promovido pelo Jornal O Globo e pelo Jornal Extra, que já está na sua
4ª edição, chamado Educação 360. Esse encontro reúne palestrantes do Brasil e do exterior para
discutir, vivenciar e pensar a educação sob diferentes e novos pontos de vista e põem em prática
iniciativas transformadoras. Esse evento é inspirado e uma homenagem às teorias de Ralph Tyler.
56
Ainda segundo Kliebard:
Essas perguntas podem ser formuladas no processo de quatro fases através do qual
o Currículo é elaborado: enunciar objetivos, selecionar “experiências”, organizar
“experiências” e avaliar. Os princípios de Tyler são, em essência, uma elaboração
e explicitação dessas fases. A fase mais crítica, nessa doutrina, é, obviamente, a
primeira, já que todas as demais decorrem e se fundamentam no enunciado dos
objetivos. (KLIEBARD, 2011, p.24).
Mas não podemos nos levar só por propostas teóricas importantes e válidas, mesmo
que a proposta de Tyler esteja enxertada pelo pensamento de inúmeros pensadores
da Educação, por focar em objetivos, ela afasta o professor da sua formulação. Os
objetivos, é preciso não esquecer, seriam sempre o grande leitmotiv28 que iria animar
todo o planejamento didático nas décadas seguintes (SOUSA, 2002). A realidade é
que os currículos ainda são decididos de forma pouco participativa, e para contornar
tudo isso e se colocar como parte do processo, o professor precisará, muitas vezes,
ter um posicionamento para resolver e conter as situações que possam ocorrer
em sala de aula, sejam elas pedagógicas, políticas, ou de socialização. Ao aceitar
tacitamente o que é imposto através do currículo, o professor se omite com relação
às situações inesperadas que acontecem, a sala de aula é um universo complexo e
múltiplo. Um espaço onde as mudanças só ocorrem quando o professor se propõe a
recusar o que lhe é exigido, e demonstra inconformismo com as diretrizes impostas
pelo instrumento curricular.
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28
É uma técnica de composição introduzida por Richard Wagner em suas óperas, que consiste
no uso de um ou mais temas que se repetem sempre que se encena uma passagem da ópera
relacionada a uma personagem ou a um assunto.
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Adorno (1995) defendia a escola que conduzisse à responsabilidade. A ideia de
responsabilidade, proposta por Adorno, visava libertar o indivíduo da sua condição
de apadrinhado, que pensa estar sendo protegido. A sala de aula não pode continuar
sendo um lugar de conformismo, que aceite um currículo insuficiente que conduz à
semiformação, uma prática ultrapassada que não condiz com a educação que se
quer no século XXI. O currículo não pode ser visto apenas como um instrumento
técnico, elaborado de forma científica por quem conhece os princípios do mesmo ou
como um documento apolítico. Não deve ser visto com neutralidade como apenas
um organizador do conhecimento.
• Aprender a conhecer
• Aprender a fazer
29
Trata-se do Relatório para a UNESCO (Organização das Nações Unidas para a Educação, a
Ciência e a Cultura) da Comissão Internacional sobre a Educação para o Século XXI. Elaborado com
a contribuição de especialistas do mundo todo, iniciado em março de 1993 e concluído em setembro
de 1996, o documento ficou conhecido pelo nome de seu coordenador Jacques Delors.
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• Aprender a viver com os outros
• Aprender a ser
Este pilar é a porta de integração entre todos os pilares, ele depende diretamente
dos outros para se efetivar. Nesse ponto, o relatório diz que os pilares na prática
representam um só, pois há pontos de convergência e de permuta entre eles. Esses
quatro pilares só poderão acontecer na presença de um currículo inovador, isento
de influências políticas, caso contrário ele se resumirá apenas aos dois primeiros
que já podem ser encontrados nos currículos obsoletos que temos hoje em dia.
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Resumo
Nesta Unidade, vimos que numa sociedade desigual, com um alto grau de
necessidades, a educação tem sido apontada como uma ferramenta para
supri-las. Vimos o drama da educação no Brasil em relação ao grande número
de analfabetos completos e funcionais;
Vimos também que para conseguir vencer essa guerra, uma preparação
adequada do professor é primordial, e deve ser a meta das todas as reformas
pedagógicas. Outro elemento estudado na Unidade 3 diz respeito à formação
adequada do professor, que para tanto tem que estar disposto a usar todos
os recursos possíveis.
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Considerações Finais
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O Relatório de Desenvolvimento Mundial (WDR) do Banco Mundial, publicado anualmente desde
1978, é um guia inestimável para o estado econômico, social e ambiental do mundo de hoje. Em
2018 foi a primeira edição totalmente dedicada a Educação, com o título “Aprender a realizar a
promessa da educação”.
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Referências
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SOUSA, Jesus M. A. Fernandes. A Dimensão Política do Currículo. Madeira:
Univ. da Madeira, síntese, 2002. Disponível em: <http://www3.uma.pt/jesussousa/
DocumentosCCPCCDoutoramentoBrasil_ficheiros/7Adimensaopoliticadocurriculo.
pdf>. Acesso em: 9 fev.2018.
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