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Fecha de recepción: 21 de marzo de 2007

Fecha de aceptación: 27 de junio de 2007 Dominguezia - Vol. 23(1) - 2007

Contribuição etnofarmacobotânica ao estudo de Petiveria alliacea L.


–Phytolacaceae– (“amansa-senhor”) e a atividade hipoglicemiante
relacionada a transtornos mentais

Maria Thereza Lemos de Arruda Camargo

Centro de Estudos da Religião Duglas Teixeira Monteiro. Departamento de Sociologia da Faculdade de Filosofia,
Letras e Ciencias Humanas da Universidade de São Paulo. Brasil. Rua da Consolação 3273 ap. 33 CEP-01416-001 -
São Paulo SP - Brasil.

Resumo

O presente trabalho baseou-se em dados etnofarmacobotânicos, fitoquímicos e farmacológicos de Petiveria


alliacea L. (amansa-senhor), planta empregada pelos antigos escravos do Brasil no preparo de uma poção
mágica, cuja pesquisa visou uma análise da atividade hipoglicemiante, supostamente, a responsável pelos
transtornos mentais em consumidores.

Etnopharmacobotanical contribution to a survey on Petiveria alliacea L.


–Phytolaccaceae– (“amansa senhor”) and to the hipoglucemic activity
related to mental disturbs

Summary

The present study deals with ethnopharmacobotanical, phytochemical and pharmacological surveys of
Petiveria alliacea L., the plant used by early slaves in Brazil to prepare a magic potion, whose research
intended a analysis of the hypoglicemient activity, supposedly the responsible of the mental desorders in
consumers.

Introdução eram ministradas, secretamente, doses parceladas,


por tempo prolongado, de poções à base desta plan-
“Amansa-senhor”, denominação popular da espécie ta, visando proteger as mulheres negras do assédio
Petiveria alliacea L. Phytolacaceae, planta conhe- de seus patrões.
cida popularmente por seus poderes mágicos, é o Negros e negras eram exímios manipuladores de
objeto da presente pesquisa, a qual visa compreen- ervas com fins mágicos, tanto para o preparo dos
der e explicar a relação existente entre o nome vul- filtros de amor, visando despertar o apetite sexual
gar dado a ela pelos negros do período escravagista de seus senhores, com o fim de desforrarem do des-
no Brasil e as perturbações mentais de que eram prezo das patroas brancas, tomando o coração de
acometidos os senhores de escravos, quando lhes seus maridos, como, também, sabiam preparar po-

Palavras chaves: etnofarmacobotânica - etnofarmacologia - plantas medicinais - plantas mágicas - sistema nervoso central - medi-
cina popular.
Key words: Etnopharmacobotany - Etnopharmacology - medicinal plants - magical plantas - central nervous system - folk medi-
cine.
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Arruda Camargo

ções poderosas capazes de enfraquecer o cérebro dos O presente trabalho se concentra na atividade
senhores, fazendo-os cair em inanição e morrer len- hipoglicemiante da Petiveria alliacea L., sugerindo
tamente. Visavam, também, dar aos feitores a fim ser esta a responsável pelo quadro clínico descrito
de torná-los mais brandos na convivência diária. pelos autores consultados em exaustiva pesquisa
Chamavam as plantas utilizadas de “amansa-senhor” bibliográfica. Esta, baseou-se em estudos, cujos re-
(Bastide, 1971). Segundo este autor, o poder sobre- sultados permitiram determinar, através de uma cor-
natural das plantas, em geral, pode ser usado para relação nosológica, o possível agente causador dos
diferentes finalidades. Cada uma tem propriedades transtornos mentais ocorridos, admitindo ser este
particulares e, quando misturadas, podem produzir decorrente de uma ação secundária promovida pelo
preparações para usos diferenciados, mágicos ou princípio ativo pinitol (Lores & Cires, 1990; Lores
medicinais. et al., 2002).
É difícil, num primeiro momento, perceber Os subsídios apresentados neste trabalho com-
onde está o lado mágico, o poder delas na receita preendem uma contribuição da Etnofarmacobotânica
e as virtudes experimentalmente observáveis. É para estudos mais aprofundados das propriedades
importante se ter em conta a possibilidade de uma farmacológicas da espécie botânica popularmente
relação direta entre o nome da planta e suas qua- conhecida por “amansa-senhor”.
lidades, sendo, também, importante saber se a
planta recebe tal nome de acordo com suas virtu-
des, ou se porquê as plantas carregam aqueles Material e método
nomes que receberam em atribuição às ditas vir-
tudes, diz Verger (1966). Estas são sutilezas que O material botânico foi coletado em pesquisa de
remetem a reflexões. Porém, as pesquisas ora campo de medicina popular, na cidade de Ibiúna
desenvolvidas, sugerem indicar que o nome SP e identificado no Laboratório de Sistemática
“amansa senhor” decorre de suas virtudes, aque- do Departamento de Botânica do Instituto de
las que atendiam aos interesses dos escravos. Biociências da USP, estando o mesmo conserva-
Embora tais usos em meio aos negros, registrados do no Herbário do mesmo departamento e junto
em períodos históricos de um passado já distante, a à coleção do Herbário Etnobotânico do Centro
Petiveria alliacea L. é, ainda, lembrada pelo seu de Estudos da Religião, sediado no Departamen-
nome popular de “amansa-senhor”, apesar dos pro- to de Sociologia da Faculdade de Filosofia, Le-
pósitos de então não terem espaço, mais, na socie- tras e Ciências Humanas da USP, constando, ain-
dade brasileira contemporânea. Tais propósitos es- da, da publicação: Herbário Etnobotânico – Ban-
tão hoje sepultados sem, contudo, terem sido reali- co de Dados (Camargo, 1999).
zadas análises de seus conteúdos, de forma a enten- Os dados apresentados para análise foram coli-
dermos os porquês de seu uso e, também, de sua gidos em obras relacionadas à Medicina, Farmaco-
eficácia. logia, Etnobotânica, Antropologia, História do Bra-
A ação dos preparados denominados “amansa sil do período escravagista e em consultas a revistas
senhor” foi descrita por vários autores, a exem- científicas especializadas de interesse da pesquisa,
plo de Caminhoá em 1884, além de médicos, as quais estão arroladas no final.
como Alfredo da Matta (1913) e alguns psiquia- A pesquisa bibliográfica permitiu, levantar da-
tras antropólogos que se dedicaram aos estudos dos para a elaboração de uma ficha técnica, com-
da cultura negra, como Nina Rodrigues, em fins preendendo: nome científico, família botânica, ori-
do século XIX e começo do XX e Arthur Ramos, gem, descrição, nomes vulgares em língua nacional
tendo publicado O Negro Brasileiro em 1940. e estrangeira, local e data da coleta, principais cons-
Cita-se, ainda, Gustavo e Theodoro Peckolt tituintes químicos e atividades biológicas.
(1900), com sua História das Plantas Medicinais
e Úteis do Brasil e Lycurgo Santos Filho (1947), Ficha
em sua História da Medicina no Brasil do século - Petiveria alliacea L. Phytolacaceae
XVI ao século XIX. Inúmeros outros autores con- - Petiveria correntina Rojas Acosta
temporâneos, de uma forma ou de outra, têm fei- - Petiveria paraguayensis D. Parodi
to, ainda, referências ao “amansa-senhor”. - Mapa graveolens Vell.

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Origem a amansa-senhor, mucura-caá, erva-de-guiné,


América Tropical (Corrêa, 1984). pipi, raiz-de-guiné, lpipi.
É planta nativa da floresta amazônica e das áreas 2. África
tropicais da América do Sul, Central, Caribe e Áfri- (Ioruba) Ojúùsájú.
ca. Todavia, com relação a este continente, não cons- 3. Argentina
ta da obra Medicinal and poisonous plants of Anamu, apazoto-de-zorro, hierba-de-gallinitas,
Southern and eastern Africa ( Watt and Breyer- tipi, calauchin, mocura-caá., pipi, zorrillo, hierba
Brandwijk, 1962). Barros (1983), diz que esta plan- del toro, ajillo, ruderal.
ta teria sido levada para a costa ocidental da África, 4. Colômbia
na 2ª metade do século XIX, pelos negros libertos Anamu, jazmillo, mapurita, pipi, raiz-de-pipi.
que retornaram àquele continente. Câmara Cascudo 5. Cuba
(1964) faz, também, a mesma referência. Anamu, namu.
6. El Salvador
Descrição Epacina, hierba-de-tro, mazote.
Subarbusto perene, sublenhoso, ereto, ramifica- 7. EE.UU.
do com ramos compridos, delicados e ascenden- Guinea hen weed, gully root, garlic need.
tes; folhas curto-pecioladas, alternas, estipuladas, 8. França
membranosas, agudas no ápice e estreitas na base; Herbe aux poules, vermine puante.
flores sésseis pequenas, reunidas em 9. Guatemala
inflorescências axilares e terminais espiciformes; Apasote-de-zorro.
androceu com 4 estames, gineceu unicarpelar com 10. Haiti
ovário súpero; fruto aquênio cilíndrico, achatado Ave.
e crenado. O nome do gênero foi dado em home- 11. Honduras
nagem a Jacob Petiver, farmacêutico e amante das Ipasina.
natureza (Di Stasi, 1989). 12. Jamaica
Guinea hen weed.
Nomes vulgares 13. Martinica
1. Brasil Arada, herbe aux poules de Guiné.
Amazônia: anamu, apacin, caá, mucura, mucura- 14. México
caá, tipi, iratacaca. Hierba-de-la-gallinita, zorrillo, zorisso.
Bahia: amansa-senhor, cagambá, canganbá, 15. Nicaragua
embirenho, emirenho, emboaembo, enraiembo, Ipicina.
erva-de-alho, erva-de-guiné, e erva-de-tipi, 16. Panamá
gambá,gerataca, gorana-timbó, gorarema, Anamo, guinea hen weed, urgat.
gorazema, iratacaca, macura, mucura-caá, 17. Paraguai
ocoembro, paraacaca, pau-de-guiné, pipi, raiz- Yvyné.
de-conconha, raiz-de-gambá, raiz-de-guiné, raiz- 18. Peru
de-pipi, raiz-do-congo, tipi, tipim, ipi-verdadei- Mucura, micura, chanviro.
ro. 19. Venezuela
Mato Grosso: amansa-senhor, cacá, cagambá, Calauchín, mapurite, mapurito, pipi.
embiaiendo, embirembo, enraiembo, erva-de-tipi,
gambá-tipi. Local e data da coleta: Ibiúna SP, novembro de 1983.
Pernambuco: raiz-de-conconha, raiz-de-gambá,
raiz-de-guiné. Principais constituintes químicos
Rio de Janeiro: erva-de-guiné, pipi.
São Paulo: erva-de-guiné, gambá-tipigerataca, Raiz
gorana-timbó, goracema, gorazema, iratacaca, Contém esteroides, triterpenoides, saponina,
macura, mucura-caá, ocoembro, paraacaca, polifenois, taninos, acetato de isoarbinol, cinamato
paracoca, pau-de-guiné, raiz-de-conconha, raiz- de isoarbinol, cumarinas; nas raízes e talos estão
de-gambá, raiz-de-guiné.Sergipe: cipó-de-alho, compostos de azufre, entre os quais a tritiolaniazina

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e trisulfuro de 2-hidroxietilbencilo, sulfuro de alilo fim de levá-los à imbecilidade. Este autor, citando
e benzaldehído e ácido benzóico (Chifa e Ricciardi, Caminhoá (1884), diz que os indivíduos sob a ação
2001: 20). de “mucura-caá” (“amansa senhor”), tornavam-se
apáticos e, se a dose era continuada, terminavam
Folha, caule e frutos em idiotia.
Contém fredelinol, álcool ligno-cérico, lignocerato Também, Pio Corrêa (1984), referiu-se a esta
de lignocerila, pinitol (Lores et.al., 1990); Caule: planta considerada tóxica, por levar à imbecilidade,
alantoína (Sousa, Demuner,Pedersoli & Afonso, afasia e até a morte.
1987: 645). Na primeira metade do século XX, Arthur Ra-
Embora o presente trabalho trata somente da ati- mos (1988), médico psiquiatra e antropólogo,
vidade hipoglicemiante, outras atividades foram professor de medicina legal, com dedicação à
constatadas em pesquisa bibliográfica, tais como psicopatologia forense, admitia existir, além da
diurética, anti-reumática, anti-helmíntica, Petiveria alliacea L., outras plantas que entravam
antiespasmódica, anti-convulsionante, emenagoga, nas preparações empregadas pelos escravos para
abortiva, analgésica, anti-febril, antitumoral, enfer- deixarem seus senhores em alto grau de debilidade.
midades nervosas, afrodisíaca, entre outras, nos se- Tais plantas seriam a Datura stramonium L. e
guintes autores: Da Matta (1913), Di Stasi, L.C. et Solanum americanum L.
al (1989), Font Quer (1939), Lewis & Elvin-Lewis A associação de várias plantas para tornar um pre-
(1977), Ratera & Ratera (1980), Chifa (2005), Chifa parado mais potente é uma prática, a qual não se deve
& Ricciardi (2001) citando Chirinos(1992), Croveto exclusivamente aos negros, conhecidos como grandes
(1964), Bugstaller (1994), De Lucca & Zalles detentores do conhecimento de plantas tóxicas
(1992), Gupta (1995), Domínguez (1928), Robineau indicadas para a preparação de poções mágicas, capa-
(1989), Hieronymus (1939), Soraru & Bandoni zes de efeitos surprendentes. Segundo Hohne
(1978),Torres (1992). (1939:234), índios Ticuna da Amazônia empregavam
raízes de Petiveria alliacea L. associada a cascas de
Strychnos castelnaei Wedd., folhas de Dieffenbachia
Resultados e discussâo seguine Scho., algumas Piperaceae, e, também, espé-
cies de Minespermaceae, na preparação do curare usa-
A pesquisa bibliográfica demonstrou que desde fins do para envenenar flechas. Segundo este autor, citan-
do século XIX, a Petiveria alliacea L. já despertava do Barbosa Rodrigues em Eclogae plantarum novarum
interesse de estudiosos, devido às peculiaridades que (1891), relatando como os índios preparavam curares,
envolviam seu uso pelos escravos. comenta que a adição de espécies de Minispercaceae
Peckolt & Peckolt (1900), descrevendo o qua- visava fortalecer e ativar a absorção. Quanto às
dro clínico do processo de envenenamento por Piperaceae imaginava ser para ativar a absorção da
“amansa-senhor”, diz: é lento e no período agudo curarina pela ação estimulante e evitar o sangramento
determina super excitação, insônia e quase alucina- pela ferida causada pela flecha, fazendo coagular o
ção. Depois de poucos dias, sintomas opostos: indi- sangue (fibrina), obliterando os pequenos vasos, tor-
ferença, chegando à imbecilidade, fraqueza cerebral, nando o curare mais violento, visto que o sangramento
pequenas convulsões e depois tetaniformes, mudes podia diminuir a ação do veneno.
por paralisia da laringe e morte no final de um ano, Quanto à suposição de Arthur Ramos (1988) de
dependendo da dose. Pereira (1929) refere-se à raiz que “amansa-senhor” pudesse levar as espécies:
desta planta atuando sobre os centros nervosos, pro- Datura stramonium L. e Solanum americanum L.,
vocando apatia e, mesmo, a imbecilidade. ambas da família Solanaceae, faz sentido, visto que
Santos Filho (1947) faz referência aos negros que, as duas plantas são tóxicas devido a alcalóides e
no século XVII, punham ou deitavam quebranto e a glico-alcaloide, respectivamente, de ações no siste-
vítima morria, acrescentando que, na verdade, mor- ma nervoso central (Lewis & Elvin-Lewis, 1977) e,
ria envenenado. Comenta que o nome “amansa-se- certamente, eram empregadas para potencializar os
nhor” poderia ter sido, a princípio, o nome de um efeitos dos vegetais empregados na poção mágica.
preparado à base de mais de uma espécie vegetal, Rodrigues & Carlini (2003) em pesquisa junto a
que era dada pelos escravos aos seus senhores, a quilombolas, no Estado de Matogrosso, registraram

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a Petiveria alliaceae L., incluindo-a na categoria de partes anteriores do bulbo. As seqüelas mais comuns
planta para mexer com a cabeça. Ainda, Rodrigues são: retardo mental, hemiparesia, ataxia, incontinên-
& Carlini (2003), em estudo comparativo entre cia, afasia, movimentos coreiformes, parkinsonismo
quilombolas do Mato Grosso e índios Krahô do e epilepsia (Goodman & Gilman, 1958).
Tocantins, registram em ambos grupos os mesmos Zanini & Oga (1985), dizem que superdosagem
usos desta espécie botânica, ou seja, para alterar a de hipoglicemiante, citando a insulina, pode causar
mente. dano cerebral irreversível.
De influência indígena, lembramos a bebida ri- Com base nos relatos dos antigos autores que des-
tual ayahuasca que entre os inúmeros aditivos em- creveram o quadro clínico dos acometidos de trans-
pregados em sua preparação, está a Petiveria tornos mentais, decorrentes do consumo do prepa-
alliacea. rado denominado “amansa-senhor”, foi possível
Na feiticiaria africana, segundo Verger (1995: comparar tal quadro com os estados confusionais
435, 219) existe receita para acalmar as bruxas, na descritos por Pitta (2005) que, segundo o autor, den-
qual são usadas duas plantas de origem americana, tre as causas relacionadas a tais estados, estão as
a folha de Ageratum conysoides L. e a folha de metabólicas, incluindo nelas, a hipoglicemia.
Petiveria alliacea L. que, depois de queimadas, são
esfregadas em uma incisão feita na cabeça da pes-
soa. Vê-se, aqui, o aproveitamento da Petiveria Conclusâo
alliacea L. para situações semelhantes àquelas que
os negros presenciaram enquanto estavam no Bra- A análise dos dados coligidos na bibliografia
sil, antes de retornarem à África, depois de libertos, consultada, deixa evidenciada que a atividade
quando, então, puderam levar as plantas rituais, já hipoglicemente da Petiveria alliacea L. poderia ser
suas conhecidas. a responsável pela ação secundária no sistema ner-
Quanto à propriedade hipoglicemiante de voso central, de indivíduos que consomem por tem-
“amansa-senhor”, pesquisas, combinando estudos po prolongado, preparados à base desta planta, cujos
fitoquímicos e farmacêuticos, demonstraram a exis- efeitos fazem desenvolver um quadro clínico carac-
tência nas folhas e caule de Petiveria alliacea L. de terizado por transtornos mentais, possivelmente
um princípio ativo hipoglicêmico. Experiências com comparáveis aos estados confusionais descritos na
extratos do pó das folhas e do caule foram realiza- literatura médica.
das em rato, em 1990, quando apresentaram dimi-
nuição do nível de açúcar no sangue em mais de
60%, após 48 horas da administração. Este efeito se Referencias bibliográficas
deve ao pinitol (3-0-metil-quiroinositol), um
fosfoglicano endógeno de baixo peso molecular, o Barros, J.F. (1983). Ewê o Osánìn: Sistema de clas-
qual exerce um efeito semelhante à insulina, no con- sificação dos vegetais nas casas de santo jêje-
trole da glicemia. Age por um mecanismo de pos- nagô, Salvador, Bahia. Tese de doutoramento em
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