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Flávio de Sousa Freitas

A causa e os efeitos do novo foco

Eugine Nida junto a Charles R. Taber, ao compilarem o livro The theory and practice

of translation, propuseram através de uma abordagem científica que o foco dos

tradutores havia mudado. O que guiara tal mudança e quais os seus efeitos nas

traduções?

Pautados no argumento de que a demanda por traduções de materiais religiosos e

seculares nunca antes havia engajado tantas pessoas, os estudiosos dissertam sobre o

novo foco como uma necessidade de equalizar a oportunidade de compreensão de um

dado texto em um dado contexto cultural. Levando em consideração a partir de então, a

resposta dada pelo leitor sobre a compreensão acerca do conteúdo, sem colocar em

questão a forma, já que essa era a preocupação do antigo foco.

Utilizando-se de vários termos para designar hora o ato tradutório (translating), hora

o produto tradutológico (translation, rendering) os autores dispõem forma e conteúdo,

diferenciando-os conforme as bases estruturais das múltiplas linguagens existentes

visando à compreensão de que além dos artifícios estilísticos há estruturas que em não

havendo correspondência na língua de chegada é de maior importância que seja

sacrificada a forma ao conteúdo, mesmo que isso ultrapasse o senso dos nativos, leitores

do original.

Segundo os escritores, cujo campo de investigação principal fora os textos bíblicos,

cada língua possui sua própria genialidade. Particularidades a serem respeitadas e

utilizadas a favor da tradução e, embora a potencialidade da linguagem seja extensa, a

realidade cultural é de importância maior, não havendo possibilidade de manter a forma,


as notas de rodapé se tornam um recurso bastante útil aos tradutores que explicarão

nesses espaços as razões que desencadearam tal e tal decisão.

A partir do novo foco, a pergunta fundamental sobre um trabalho traduzido se

estende um pouco mais, passando a relativizar a qualidade do produto, pois se outrora

houve a possibilidade de uma tradução universalmente correta, com os novos conceitos,

a qualidade depende diretamente do receptor e o quanto do conteúdo corresponde ao

todo de sua capacidade cognitiva.

Dessa forma, o ato tradutório e o produto implicariam mais do que uma mera

transfiguração de palavras e, longe da impressão de complexidade exagerada causada

pela linguagem bíblica, todas as línguas se aproximariam pelo conteúdo, já que as

diferenças formais não mais seriam barreiras. Um grande avanço teórico aos estudos da

tradução e um horizonte a mais aos leitores que por ventura logram compreender as

palavras ditas por um profeta obscuro de há três mil anos.

Referências:

NIDA, Eugene A., TABER, Charles R. The theory and practice of translation. Leiden: United Bible
Societies, 1969.

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